Relatorio Ultimo Voo Do Flamingo

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Relatório do Filme “O Último Voo do Flamingo” Aluno: Eder Dante Gomes Silva Número: 21005417 Curso: Comunicação e Artes Filme: ''O Último Voo do Flamingo'', inspirado na obra homónima do escritor moçambicano Mia Couto Realização: João Ribeiro Locais de produção: Moçambique, Espanha, Brasil, Itália e França Ano: 2009 – (estreado oficialmente em 2010) Nos primeiros minutos do filme o que se vê explicitamente é a imagem de um pénis decepado, em plena estrada nacional até a entrada da vila de “Tizangara”. O grande plano do pénis decepado assim aparece, mas pode não representar toda uma sequencia de atrocidades ao longo do filme. Antes do choque causado por tal explicitude, nos são apresentados os flamingos em todo o seu semblante. Aqui temos um país colapsado e dilacerado pela corrupção nos meados da década de 90, mas que ganha grande actualidade com uma então revolta popular, que edifica racionalmente a ideia de que, ''O africano será para sempre escravo'', o que muda são apenas os senhores brancos. O filme se encontra focalizado na figura de Massimo Rizi, um italiano enviado juntamente com uma delegação de forças militares das nações unidas para vigiarem o processo de paz no país. Parecendo tudo estar a correr bem, os soldados começam a desaparecer misteriosamente através de explosões, que por sua vez não eram causadas por nenhum engenho explosivo tipo minas, ficando apenas como sinal de existência do corpo ''o pénis'', através do qual a prostituta da vila viria a descobrir a sua identidade. Apartir daqui entra em cena o italiano Massimo Rizi, delegado das nações unidas, incumbido de descobrir a causa das explosões e somente a morte dos capacetes azuis. Essa será a porta de entrada para um mundo estranho e bizarro. Para entrar nesse mundo há que entrar com um sexto sentido porque ali tudo deixa de fazer sentido e já nada é compreendido pela razão, deixando assim uma quase dúvida permanente entre o ser e o parecer, em que o real e o sobrenatural estão ao mesmo nível. Ou ainda mais do que isso, a realidade mágica, de uma pátria dominada por ritos ancestrais e práticas de magia negra é enaltecida, como que invertendo e quase ridicularizando o racionalismo ocidental: "Um branco será sempre um branco", a personagens riem-se, quando, em depois de se ter rendido às evidências espíritas, o soldado pergunta: "Mas afinal o que realmente aconteceu?" O filme evoca a derrota da razão, exigindo que as mais profundas, mas também as mais profanas realidades do mundo se entendam através do espiritual do que através da mente. A pequena vila de Tizangara (vila de nome fictício) é usada para ilustrar o estado geral de Moçambique, o que é tambem uma denúncia à corrupção generalizada pelo pequeno poder. Moçambique no geral é resumido numa vila, só que não descola do resto de África. Pior do que isso, fecha-se em si próprio, à espera de melhores dias. Como é dito no final do filme: "Só nos resta ficar a espera de sermos outra vez um país". Outro flamingo há-de passar para trazer Moçambique de volta.

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Relatório do Filme “O Último Voo do Flamingo”

Aluno: Eder Dante Gomes Silva

Número: 21005417

Curso: Comunicação e Artes

Filme: ''O Último Voo do Flamingo'', inspirado na obra homónima do escritor moçambicano Mia Couto

Realização: João Ribeiro

Locais de produção: Moçambique, Espanha, Brasil, Itália e França Ano: 2009 – (estreado oficialmente em 2010)

Nos primeiros minutos do filme o que se vê explicitamente é a imagem de um pénis decepado, em plena estrada nacional até a entrada da vila de “Tizangara”. O grande plano do pénis decepado assim aparece, mas pode não representar toda uma sequencia de atrocidades ao longo do filme. Antes do choque causado por tal explicitude, nos são apresentados os flamingos em todo o seu semblante. Aqui temos um país colapsado e dilacerado pela corrupção nos meados da década de 90, mas que ganha grande actualidade com uma então revolta popular, que edifica racionalmente a ideia de que, ''O africano será para sempre escravo'', o que muda são apenas os senhores brancos.

O filme se encontra focalizado na figura de Massimo Rizi, um italiano enviado juntamente com uma delegação de forças militares das nações unidas para vigiarem o processo de paz no país. Parecendo tudo estar a correr bem, os soldados começam a desaparecer misteriosamente através de explosões, que por sua vez não eram causadas por nenhum engenho explosivo tipo minas, ficando apenas como sinal de existência do corpo ''o pénis'', através do qual a prostituta da vila viria a descobrir a sua identidade. Apartir daqui entra em cena o italiano Massimo Rizi, delegado das nações unidas, incumbido de descobrir a causa das explosões e somente a morte dos capacetes azuis. Essa será a porta de entrada para um mundo estranho e bizarro. Para entrar nesse mundo há que entrar com um sexto sentido porque ali tudo deixa de fazer sentido e já nada é compreendido pela razão, deixando assim uma quase dúvida permanente entre o ser e o parecer, em que o real e o sobrenatural estão ao mesmo nível. Ou ainda mais do que isso, a realidade mágica, de uma pátria dominada por ritos ancestrais e práticas de magia negra é enaltecida, como que invertendo e quase ridicularizando o racionalismo ocidental: "Um branco será sempre um branco", a personagens riem-se, quando, em depois de se ter rendido às evidências espíritas, o soldado pergunta: "Mas afinal o que realmente aconteceu?"

O filme evoca a derrota da razão, exigindo que as mais profundas, mas também as mais profanas realidades do mundo se entendam através do espiritual do que através da mente. A pequena vila de Tizangara (vila de nome fictício) é usada para ilustrar o estado geral de Moçambique, o que é tambem uma denúncia à corrupção generalizada pelo pequeno poder.

Moçambique no geral é resumido numa vila, só que não descola do resto de África. Pior do que isso, fecha-se em si próprio, à espera de melhores dias. Como é dito no final do filme: "Só nos resta ficar a espera de sermos outra vez um país". Outro flamingo há-de passar para trazer Moçambique de volta.