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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DIRETORIA DE PESQUISA PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA PIBIC: CNPq, CNPq/AF, UFPA, UFPA/AF, PIBIC/INTERIOR, PARD, PIAD, PIBIT, PADRC E FAPESPA RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO Período: 01/02/2015 a 31/07/2015 ( ) PARCIAL (X) FINAL IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO Título do Projeto de Pesquisa: A Trajetória da Imprensa no Pará Nome do Orientador: Netília Silva dos Anjos Seixas Titulação do Orientador: Doutora Faculdade: Comunicação Social Instituto/Núcleo: Instituto de Letras e Comunicação. Laboratório: Laboratório de Pesquisa em Comunicação da FACOM Título do Plano de Trabalho: A História da Imprensa no Pará (Plano 2) Nome do Bolsista: Camila Lima Guimarães Tipo de Bolsa: (X) PIBIC/CNPq ( ) PIBIC/CNPq AF ( ) PIBIC /CNPq- Cota do pesquisador ( ) PIBIC/UFPA ( ) PIBIC/UFPA AF ( ) PIBIC/INTERIOR ( ) PIBIC/PARD ( ) PIBIC/PADRC ( ) PIBIC/FAPESPA ( ) PIBIC/PIAD ( ) PIBIC/PIBIT

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DIRETORIA DE PESQUISA

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – PIBIC: CNPq, CNPq/AF, UFPA,

UFPA/AF, PIBIC/INTERIOR, PARD, PIAD, PIBIT, PADRC E FAPESPA

RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO Período: 01/02/2015 a 31/07/2015 ( ) PARCIAL (X) FINAL IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO

Título do Projeto de Pesquisa: A Trajetória da Imprensa no Pará Nome do Orientador: Netília Silva dos Anjos Seixas Titulação do Orientador: Doutora Faculdade: Comunicação Social Instituto/Núcleo: Instituto de Letras e Comunicação. Laboratório: Laboratório de Pesquisa em Comunicação da FACOM Título do Plano de Trabalho: A História da Imprensa no Pará (Plano 2) Nome do Bolsista: Camila Lima Guimarães Tipo de Bolsa: (X) PIBIC/CNPq ( ) PIBIC/CNPq – AF ( ) PIBIC /CNPq- Cota do pesquisador ( ) PIBIC/UFPA ( ) PIBIC/UFPA – AF ( ) PIBIC/INTERIOR ( ) PIBIC/PARD ( ) PIBIC/PADRC ( ) PIBIC/FAPESPA ( ) PIBIC/PIAD ( ) PIBIC/PIBIT

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RESUMO DO RELATÓRIO ANTERIOR Período de 01/08/2014 a 31/01/2015

O relatório parcial da bolsista anterior, Thaís Christina Coelho Siqueira1, que atuou a partir

do Plano de Trabalho 2, intitulado “A história da imprensa no Pará”, apontou que os estudos

desenvolvidos no semestre foram concentrados nos seguintes temas de pesquisa: análise da

cobertura imagética da Primeira Guerra Mundial na imprensa de Belém, abordando os jornais

Folha do Norte (1896-1974) e Estado do Pará (1911-1980); desenvolvimento da exposição “As

grandes guerras na imprensa paraense”; e o estudo sobre o fotojornalismo na mídia impressa

paraense ao longo do século XIX, pesquisa que resultou em seu Trabalho de Conclusão de

Curso, apresentado à banca avaliadora em 16 de dezembro de 2014.

Os estudos sobre as imagens da cobertura da Primeira Guerra Mundial nos jornais da

capital paraense resultaram no artigo “A cobertura imagética da Primeira Guerra Mundial na

imprensa de Belém”. O trabalho foi produzido em coautoria com a professora orientadora

Netília Silva dos Anjos Seixas, sendo apresentado no XXXVII Congresso Brasileiro de Ciências

da Comunicação (Intercom Nacional), realizado de 2 a 5 de setembro de 2014, em Foz do

Iguaçu, Paraná.

Além do artigo, a pesquisa deu origem, em 2014, à exposição “As grandes guerras na

imprensa paraense”. A mostra foi uma realização do projeto de pesquisa “A trajetória da

imprensa no Pará”, coordenado pela Prof. Dra. Netília Silva dos Anjos Seixas. O evento foi

promovido pelo Programa de Pós Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia (PPGCOM-

UFPA), Faculdade de Comunicação (FACOM), Instituto de Letras e Comunicação (ILC), com

apoio do Instituto de Ciências das Artes (ICA) e em parceria com a Biblioteca Pública Arthur

Vianna. A exposição foi montada pela equipe anterior do projeto, formada pelos bolsistas Thaís

Christina Coelho Siqueira, Jessé Andrade Santa Brígida e a colaboradora Lorena Saraiva da

Silva, com colaboração de Lucimery Ribeiro, aluna do PPGCOM-UFPA, Newton Correa, aluno

de graduação da Faculdade de Comunicação, habilitação Publicidade e Propaganda, e de

Lucas Monteiro Araújo, Jociane Melo e Luís Filipe Mosquera, estudantes de graduação do

curso de Museologia da UFPA. A exposição recebeu várias montagens em 2014 e 2015.

Montagens da exposição: 1 Apesar de não atuar mais como bolsista, Thaís C. C. Siqueira continua participando do projeto “A trajetória da

imprensa no Pará” como colaboradora, frequentando também o grupo de estudo semanal.

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Data: 1 a 5 de setembro de 2014. Local: UNICENTRO, em Foz do Iguaçu, Paraná.

Data: 23 de setembro a 03 de outubro de 2014. Local: Faculdade Paraense de Ensino

(FAPEN) e Faculdade Pan Amazônica (FAPAN), em Belém, Pará.

Data: 13 a 30 de novembro de 2014. Local: Biblioteca Pública Arthur Vianna, em

Belém, Pará.

Data: 14 de abril de 2015. Local: Faculdade de Estudos Avançados do Pará, FEAPA,

em Belém, Pará.

As pesquisas desenvolvidas pela bolsista Thaís Christina Coelho Siqueira sobre o

fotojornalismo resultaram em seu Trabalho de Conclusão de Curso, intitulado “Panorama do

fotojornalismo na imprensa de Belém: um estudo dos jornais A Província do Pará, Folha do

Norte, Estado do Pará e O Liberal (1900 – 2000)” (Anexo 1), que buscou descrever, de forma

panorâmica, o percurso do fotojornalismo na mídia impressa paraense no século XX. A

metodologia teve como base pesquisa bibliográfica, documental e análise iconográfica e

iconológica (PANOFSKY, 1976; KOSSOY, 2001) de fotografias jornalísticas publicadas na

imprensa paraense. As proposições de Joly (1996) e Flusser (2011) sobre análise de imagens

também foram referências.

Diante da quantidade de jornais editados e impressos em Belém ao longo do século XX,

foi feito um recorte com base nas edições disponíveis, a cada 10 anos, entre 1900 e 2000.

Ainda dentro dos períodos escolhidos, foi feito outro recorte de 4 meses em cada ano de

consulta: janeiro, abril, julho e outubro. O recorte permitiu o alcance dos objetivos traçados no

projeto, pois evitou saltos muito extensos na coleta de dados e também possibilitou uma visão

ampla do assunto abordado dentro do tempo estimado. Desse modo, fizeram parte da análise

edições de A Província do Pará (1876-2002), Folha do Norte (1896-1974), Estado do Pará

(1911-1980) e O Liberal (1946-atual), nos meses e anos definidos.

A pesquisa concluiu que, apesar de a imprensa paraense ter tido um breve atraso no

uso de fotografias jornalísticas, não foi uma demora significativa. Ainda no início do século XX,

percebeu-se que o jornalismo paraense já compreendia a força e a importância das fotografias,

principalmente na questão política, como denúncia das mazelas sociais, dos problemas da

cidade, mas também das belezas arquitetônicas de Belém e de outras cidades do interior do

Pará. Logo, o fotojornalismo produzido no Estado alcançou o ritmo de publicações nacionais e

se firmou no contexto nacional como um dos mais significativos. Os dados permitem concluir

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que foi mesmo entre as décadas de 1960 e 1970, sobretudo nesta última, que a fotografia se

firmou no jornalismo paraense definitivamente.

Leituras feitas pela bolsista anterior no grupo de estudo semanal:

FRANÇA, Vera. Interações comunicativas: a matriz conceitual de G. H. Mead. In: PRIMO, Alex; OLIVEIRA, Ana Cláudia de; NASCIMENTO, Geraldo Carlos do; RONSINI, Veneza Mayora. Comunicação e interações. Porto Alegre: Sulina, 2008, p. 71-91.

RODRIGUES, Adriano Duarte. O paradigma comunicacional: história e teorias. Coimbra: Fundação Calouste Gulbenkian, 2011.

Leituras específicas feitas pela bolsista anterior para o desenvolvimento das pesquisas:

FLUSSER, Vilém. Filosofia da caixa preta: ensaios para uma futura filosofia da fotografia. São Paulo: Annablume, 2011.

JOLY, Martine. Introdução à análise da imagem. Campinas: Papirus, 1996.

KOSSOY, Boris. Fotografia e história. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001.

PANOFSKY, Erwin. Iconografia e iconologia uma introdução ao estudo da arte da renascença. In: Significado nas artes visuais. São Paulo: Perspectiva, 1976, p.47-87.

SOUGEZ, Marie-Loup. História da fotografia. Lisboa: Ediciones Cátedra, 2001.

PUBLICAÇÃO:

Artigo “A cobertura imagética da Primeira Guerra Mundial na imprensa de Belém”,

apresentado no XXXVII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação

(INTERCOM), realizado de 2 a 5 de setembro de 2014, em Foz do Iguaçu, Paraná. O

objetivo foi acompanhar a cobertura da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) por

meio das imagens de dois jornais paraenses em circulação no período: Folha do

Norte (1896-1974) e Estado do Pará (1911-1980). Mesmo com as limitações da

época, percebe-se que os jornais Folha do Norte e Estado do Pará fizeram uso do

recurso imagético para informar o público leitor sobre o conflito na Europa. Como

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explicam Sougez (2001) e Kossoy (2001), as duas guerras foram importantes para o

desenvolvimento da fotografia, entre outros fatores, por apresentar aos leitores uma

realidade que não era conhecida, devido ao distanciamento geográfico. O artigo foi

publicado nos anais do evento e está disponível em:

<http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2014/resumos/R9-0155-1.pdf>. ISSN

2176-1213. (Anexo 2).

INTRODUÇÃO

O projeto “A trajetória da imprensa no Pará” (SEIXAS, 2012) é apoiado pelo CNPq,

Edital MCTI/CNPq Nº 14/2012 - Universal - Faixa A. Nele são desenvolvidas pesquisas sobre

história da mídia impressa na Amazônia, mais especificamente no Pará. Em âmbito nacional,

este campo de estudo vem crescendo a partir das contribuições de autores de referência, como

José Marques de Melo, Marialva Barbosa, Ana Paula Goulart Ribeiro, Marco Morel, Leticia

Matheus, entre outros, que buscaram sistematizar dados sobre o tema, relacionando História e

Comunicação.

As pesquisas no projeto têm acompanhado o processo pelo qual a mídia impressa vem

se desenvolvendo na capital paraense e também no interior do Estado, estudando desde o

primeiro jornal publicado na região, O Paraense (1822-1823), fundado em 22 de maio de 1822

por Filippe Alberto Patroni Martins Maciel Parente e Daniel Garção de Mello. A publicação de O

Paraense colocou o Pará entre “as primeiras Províncias brasileiras a conhecer a imprensa”

(COELHO, 2008. p. 26). Enfocando diversas temáticas e aspectos do processo de

desenvolvimento da imprensa, o projeto concorda com o ponto de vista da autora Ana Paula

Goulart Ribeiro (2008):

Uma primeira observação importante – mais ou menos óbvia para aqueles que trabalham na área – é a de que a Comunicação no Brasil sofre do que poderíamos chamar de “presentismo”. A maioria das pesquisas realizadas no país privilegia aspectos e problemas relacionados à contemporaneidade: estudos sobre pós-modernidade, globalização, novas tecnologias, etc. A análise histórica da comunicação ainda é relegada a um segundo plano. Comparativamente a outras abordagens desenvolvidas na área, há poucos trabalhos acadêmicos relevantes sobre História (RIBEIRO, 2008, p. 13).

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Nessa perspectiva, o projeto já realizou estudos com diversos enfoques envolvendo a

história do jornalismo impresso no Pará como, por exemplo, a elaboração de panoramas sobre

os periódicos que circularam em Belém no século XIX; estudo das enunciações dos jornais

sobre a região; análise da cobertura das duas grandes guerras do século XX feitas pelos

jornais de Belém, entre outras pesquisas. Ao longo do primeiro semestre de 2015, as

pesquisas no projeto se concentraram na configuração da publicidade nos jornais de Belém

entre 1820 e 1850 (considerando que a inserção da publicidade faz parte do desenvolvimento

da imprensa e da reorganização do jornalismo nos periódicos) (Plano de Trabalho 1) e na

busca por conhecer quem foram os jornalistas que fizeram parte da imprensa paraense no

século XIX (Plano de Trabalho 2, desta bolsista).

JUSTIFICATIVA:

O projeto "A trajetória da imprensa no Pará" é desenvolvido desde 2012 na Faculdade

de Comunicação Social e no Programa de Pós-Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia

da Universidade Federal do Pará. Com o objetivo de contribuir para o conhecimento da história

da imprensa paraense a partir de um olhar regional, contextual e crítico, as pesquisas

acompanham o processo de configuração dos impressos, desde o aspecto gráfico-tecnológico,

de análise de conteúdos e de sentidos, até sua relação com a sociedade. “A trajetória da

imprensa no Pará" dá continuidade aos trabalhos dos projetos anteriores2 na busca e coleta de

dados e de fontes bibliográficas e documentais da imprensa no Estado.

Para alcançar seus objetivos, o projeto foi desenvolvido em diálogo com pesquisas de

outros campos, como História (COELHO, 1993) e Análise do Discurso (VÉRON, 2004), a fim de

apurar o olhar para o passado na busca de vestígios (BARBOSA, 2010), que permitissem uma

melhor compreensão do percurso da palavra impressa no Pará. Para tanto, foi imprescindível a

busca por entender a região, a partir de autores que estudam a Amazônia, como Loureiro

(2009) e Maués (1999), uma vez que o meio apresenta uma dinâmica histórica e cultural

própria.

Para a pesquisadora Netília Silva dos Anjos Seixas et all (2012), a imprensa

desempenhou e desempenha um importante papel na sociedade paraense:

2 Jornais Paraoras: o percurso da mídia impressa em Belém (realizado entre 2009 e 2011) e Jornais Paraoaras: o

percurso da mídia impressa em Belém no século XIX, este apoiado pelo CNPq, Edital MCT/CNPq/MEC/CAPES Nº 02/2010 (realizado entre 2010 e 2012).

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Tendo isso em vista, pode-se buscar o contexto histórico da constituição da imprensa na Amazônia e, mais especificamente, no Pará. Este é um caminho sem volta, trilhado com fortalecimento da imprensa, cuja observação de sua própria produção discursiva cotidiana e das relações que estabelece evidencia o papel que passou a desempenhar na sociedade, inclusive na sociedade amazônica (SEIXAS; CARVALHO; FERNANDES, 2012, p. 69).

Ao longo de dois anos e meio, os trabalhos desenvolvidos no projeto têm promovido o

avanço do conhecimento no âmbito da História da Mídia, na área da Comunicação, por meio

das seguintes realizações:

Publicação de artigos em periódicos Qualis A2, B1 e B2, com 2 mestrandas do

Programa de Pós-Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia (PPGCOM/UFPA);

Apresentação de artigos em congressos regionais e nacionais em Comunicação, com

publicação dos trabalhos completos nos anais dos eventos;

Defesa de uma dissertação de mestrado de discente do PPGCOM/UFPA, sobre

divulgação científica na imprensa paraense ao longo de 130 anos;

Trabalhos de Conclusão de Curso (três de bolsistas e um de uma colaboradora do

projeto);

Realização, em Belém, do II Encontro Regional Norte de História da Mídia e do II

Seminário de História, Cultura e Meios de Comunicação na Amazônia (em conjunto

com o Programa de Pós-Graduação em História Social da UFPA);

Publicação de capítulos de livros com discentes da graduação e do mestrado,

montagens de exposições e palestras.

Dessa forma, a pesquisa busca enxergar a imprensa paraense como um campo propício

para análises que são cada vez mais necessárias para compor o crescente quadro nacional de

pesquisas sobre história da mídia. Reconhecendo que ainda há muito a ser feito, o projeto vem

se fortalecendo com a produção científica e contribuindo com a formação acadêmica dos

alunos envolvidos.

OBJETIVOS:

O objetivo do projeto é observar a trajetória da imprensa no Pará, do ponto de vista de

sua configuração e dos conteúdos (discursos) abordados.

Objetivos gerais:

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Observar e analisar a trajetória da mídia impressa no Pará;

Contribuir para o conhecimento da imprensa no Pará;

Contribuir para o acesso às informações sobre a história da imprensa no Estado;

Contribuir para o ensino e a pesquisa no curso de Graduação em Comunicação

Social e no Programa de Pós-Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia da

UFPA.

Objetivos específicos:

Observar a configuração histórica da imprensa na capital paraense, tanto no século

XIX como nos séculos XX e XXI.

Continuar a identificação de fontes bibliográficas e documentais a respeito da

imprensa em Belém.

Realizar coleta de dados não só nos próprios jornais como também a partir de

entrevistas de sujeitos históricos relacionados com a imprensa no Estado.

Acompanhar a produção discursiva da imprensa, identificando e observando casos de

maior significação.

Acompanhar e discutir a produção de sentidos da imprensa com relação à

espacialidades e à construção de identidades referentes à capital, ao Pará e à região

(Amazônia).

Discutir o papel da imprensa no processo de midiatização regional.

A partir dos objetivos do projeto, foram definidos os objetivos para o Plano de

Trabalho do bolsista, que são:

Observar a configuração histórica da imprensa na capital paraense.

Identificar fontes bibliográficas e documentais a respeito da imprensa em Belém.

Acompanhar a produção de sentidos da imprensa sobre Belém, o Pará e a Amazônia.

Discutir o papel da imprensa no processo de midiatização regional.

MATERIAIS E MÉTODOS:

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O projeto “A trajetória da imprensa no Pará” prevê alguns procedimentos metodológicos

como principais: análise de conteúdo (BAUER, 2002), análise enunciativo-discursiva (VERÓN,

2004; MOUILLAUD, 2012) e pesquisa bibliográfica e documental (LAKATOS; MARCONI,

2010), com destaque para as duas últimas, que foram utilizadas no desenvolvimento das

pesquisas neste primeiro semestre de 2015.

O espaço físico do projeto é na Faculdade de Comunicação, onde fica a sala com

acesso a internet, móveis, equipamentos de informática, telefone e livros que compõem o

acervo bibliográfico do projeto, sobre Comunicação, Jornalismo, Publicidade, História, História

da Imprensa, Análise do Discurso e Metodologia, por exemplo.

Os locais de pesquisa dos bolsistas do projeto são o setor de Microfilmagem e o de

Obras Raras da Biblioteca Pública Arthur Vianna, em Belém. São utilizados também os sites da

Biblioteca Nacional Digital, da Fundação Biblioteca Nacional (setor Hemeroteca Brasileira) e os

acervos das bibliotecas do Grêmio Literário Português e do Museu da UFPA.

Nos primeiros meses de atividade da atual bolsista, foram feitas leituras individuais dos

artigos e capítulos de livros provenientes de pesquisas anteriores do projeto, com a finalidade

de aproximação aos estudos já realizados. Também foram lidos e discutidos textos em grupo

com a professora orientadora, outros bolsistas e uma colaboradora, no grupo de estudo

semanal.

Leituras feitas no grupo de estudos do projeto:

BARBOSA, Marialva. História cultural da imprensa: Brasil, 1800-1900. Rio de Janeiro: Mauad X, 2010.

BARBOSA, Marialva. História cultural da imprensa: Brasil, 1900-2000. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007.

FRANCISCATO, Carlos Eduardo. Limites teóricos e metodológicos nos estudos sobre a noticiabilidade. In: SILVA, Gislene; SILVA, Marcos Paulo; FERNANDES, Mario Luiz (Org.). Critérios de noticiabilidade – problemas conceituais e aplicações. Florianópolis: Insular, 2014, p. 85-113.

GUERRA, Josenildo Luiz. Uma discussão sobre o conceito de valor notícia. In: SILVA, Gislene; SILVA, Marcos Paulo; FERNANDES, Mario Luiz (Org.). Critérios de noticiabilidade – problemas conceituais e aplicações. Florianópolis: Insular, 2014, p. 39-49.

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MEDITSCH, Eduardo. Jornalismo e construção social do acontecimento. In: BENETTI, Marcia; FONSECA, Virginia Pradelina da Silveira (Org.). Jornalismo e acontecimento: mapeamentos críticos. Florianópolis: Insular, 2010, p 19-42.

TRAQUINA, Nelson. As teorias do jornalismo. In: Teorias do jornalismo: porque as notícias são como são. Florianópolis: Insular, 2005.

TRAQUINA, Nelson. Ser ou não ser notícia. In: Teorias do jornalismo. A tribo jornalística – uma comunidade interpretativa transnacional. Florianópolis: Insular, 2008.

SILVA, Gislene. Para pensar critérios de noticiabilidade. In: SILVA, Gislene; SILVA, Marcos Paulo; FERNANDES, Mario Luiz (Org.). Critérios de noticiabilidade – problemas conceituais e aplicações. Florianópolis: Insular, 2014, p. 51-69.

SILVA, Marcos Paulo. Seleção noticiosa, critérios de noticiabilidade e valores-notícia. In: SILVA, Gislene; SILVA, Marcos Paulo; FERNANDES, Mario Luiz (Org.). Critérios de noticiabilidade – problemas conceituais e aplicações. Florianópolis: Insular, 2014, p. 71-63.

ZAMIN, Ângela; MAROCCO, Beatriz. Vertentes dos estudos de acontecimento.

In: BENETTI, Marcia; FONSECA, Virginia Pradelina da Silveira (Org.). Jornalismo e

acontecimento: mapeamentos críticos. Florianópolis: Insular, 2010, 97-120

A leitura dos livros da pesquisadora Marialva Barbosa serviu de referência para as

pesquisas que foram realizadas a partir de então, que deram prosseguimento a um estudo

iniciado no projeto anterior, em 2011, e que resultou na elaboração do artigo “Protagonistas da

imprensa belenense entre 1820 e 1830”3. Nos dois estudos, a proposta foi identificar e

conhecer melhor os jornalistas que trabalharam na imprensa paraense ao longo do século XIX.

RESULTADOS:

Desenvolvendo a pesquisa sobre os jornalistas que fizeram parte da imprensa paraense

no século XIX, a bolsista atual contabilizou a existência de aproximadamente 111 jornalistas

entre a década de 1830 e 1900 em Belém, com base no Catálogo Jornais Paraoaras, da

Biblioteca Pública do Pará (1985). O número de jornalistas listados pode ser considerado

pequeno levando em conta a quantidade de títulos catalogados que não apresentam

informações sobre redatores ou donos dos jornais. Os dados foram sistematizados no Quadro

1:

3 Trabalho escrito pelos antigos bolsistas do projeto, Julieth Correa Paula e Philippe Sendas Fernandes, em

coautoria com a orientadora Netília Silva dos Anjos Seixas, apresentado no GT História do Jornalismo, no VIII Encontro Nacional de História da Mídia, realizado em Guarapuava (PR), entre os dias 28 e 30 de abril de 2011.

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Quadro 1 – Jornalistas da imprensa paraense entre 1830 e 1900.

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Profissional

Jornal

1830

Luiz José Lazier

O Bellerophone (1831-?) O Sargitário (1829-1830)

José Ribeiro Guimarães Correio do Amazonas (1831-1834)

Silvestre Antunes Pereira da Serra

Heimall (1831-?) A Luz da Verdade (1832-1833) O Paraguassú (1832-1833) O Publicador Amazoniense (1832-1834)

João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha

A Opinião (1831) O Despertador (1832)

João Baptista Gonçalves Campos

Orphêo Paraense (1831) O Paraguassú (1832-1833) O Publicador Amazoniense (1832-1834)

Gaspar de Siqueira Queiroz

Orphêo Paraense (1831) Correio Official Paraense (1834-1835) O Vigilante (1834-?) Synopsis Ecclesiastica (1848-1849) O Bom Paraense (1851-1852)

Jeronymo Roberto Pimentel

Orphêo Paraense (1831)

Padre Felippe da Costa Teixeira (o “Caveira”)

O Amigo da Ordem (1832)

José Soares de Azevedo

O Despertador (1832)

Marcos Antonio Rodrigues Martins

O Despertador (1832)

Antônio Feliciano da Cunha e Oliveira

O Desmascarador (1834-?)

Vicente Ferreira Lavor Papagaio

Sentinella Maranhence na Guarita do Pará

Honório José dos Santos

Folha Commercial do Pará (1837-1840) Treze de maio (1840-1872)

1840

Justino Henriques da Silva

O Publicador Paraense (1841-1853)

Joaquim Mariano de Lemos

O Paraense (1842-1844) O Tribuno do Povo (1844-1845)

Victorio de Figueiredo e Vasconcellos

O Tribuno do Povo (1844-1845) O Echo Independente (1848-1849) O Tolerante (1848)

João Antônio Alves

O Doutrinário (1848-1849)

Raymundo Severino de Mattos

Synopsis Ecclesiastica (1848-1849)

Synopsis Ecclesiastica

Luiz Barroso de Bastos

(1848-1849) A Trombeta do Sanctuário (1851-1852) O Communicador (1853?) A Trombeta do Sanctuário (1851-1852) A Boa Nova (1871-1883)

Joaquim Ferreira de Souza Jacarandá

O Tolerante (1848)

Bernardo Souza Franco

O Contemporâneo (1849)

Raymundo José de Almeida Couceiro

O Planeta (1849-1853)

José Vicente Teixeira Ponce de Leão

O Planeta (1849-1853)

José Mariano de Lemos

O Planeta (1849-1853) O Velho Brado do Amazonas (1850-1853) O Piparote (1851-1853)

José Joaquim Pimenta Magalhães

O Planeta (1849-1853)

Joaquim Rodrigues de Souza

O Planeta (1849-1853)

1850

José Bernardo Santarém

O Velho Brado do Amazonas (1850-1853)

Antônio Aguiar e Silva

O Velho Brado do Amazonas (1850-1853) O Piparote (1851-1853)

Ismael de Senna Ribeiro Nery

A Voz Paraense (1850-1851) A Trombeta do Sanctuário (1851-1852) O Pelicano (1872-1874)

Manoel José de Siqueira Mendes

A Voz Paraense (1850-1851) A Trombeta do Sanctuário (1851-1852) Diário do Gram-Pará (1853-1892) A Constituição (1874-1886)

Luiz A. Monteiro Baena

A Voz Paraense (1850-1851)

Elisiario Marques O Bom Paraense (1851-1852)

Lázaro Pinto Moreira Lessa

Correio dos Pobres (1851-1853)

Tito Franco de Almeida

O Grão-Pará (1851-1852) Aurora Paraense (1853-1855) Jornal do Amazonas (1860-1868)

Dr. José Ferreira Cantão

O Observador (1851-1855) Diário do Gram-Pará (1853-1892)

Antônio Ricardo de Carvalho Penna

O Piparote (1851-1853) O Monitor (1852-?) Diário do Gram-Pará (1853-1892)

Eutychio Pereira da Rocha

O Communicador (1853?) O Pelicano (1872-1874)

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José Joaquim Mendes Cavalleiro

Diário do Gram-Pará (1853-1892) A Violeta (1853-?)

Antônio José Rabello Guimarães

Diário do Gram-Pará (1853-1892) Gazeta Official (1858-1866)

Antônio Gonçalves Nunes

Diário do Gram-Pará (1853-1892) O Agrário (1885-1887)

Frederico Carlos Rhossard

Diário do Gram-Pará (1853-1892) A Violeta (1853-?)

Manico Caetano Ribeiro Diário do Gram-Pará (1853-1892)

Thimóteo Teixeira

Diário do Gram-Pará (1853-1892)

Bento Aranha

Diário do Gram-Pará (1853-1892)

Antônio da Cunha Mendes

A Violeta (1853-?)

José Joaquim de Sá

Diário do Commércio (1854-?)

José do Ó de Almeida

O Colono de Nossa Senhora do Ó (1855-1858)

Tomaz Joaquim Celestino Nunes

O Boquinha de Moça (1856-?)

1860

Juvenal Torres (editor) Jornal do Amazonas (1860-1868)

Cypriano José dos Santos (filho de Honório José dos Santos)

Jornal do Pará (1862-1878)

Antônio Francisco Pinheiro

Diário de Belém (1868-1892)

Domingos Soares Ferreira Penna

O Colombo (1869-?)

Manoel Antônio Monteiro

O Liberal do Pará (1869-1889)

José Antônio Ernesto Pará-assu

O Liberal do Pará (1869-1889)

1870

José Lourenço da Costa Aguiar

A Boa Nova (1871-1883)

José de Andrade Pinheiro A Boa Nova (1871-1883)

Antônio Rodrigues da Luz

A Luz da Verdade (1871-1877)

Arthur Costa

O Santo Officio (1871-1876)

Joaquim José de Assis

O Tira-dentes (1871-1872) O Futuro (1872-?) O Pelicano (1872-1874) A Província do Pará (1876)

Julio César Ribeiro de Sousa

O Tira-dentes (1871-1872)

Américo Marques de Santa Rosa

O Tira-dentes (1871-1872) O Democrata (1890-1895)

Carmino Leal O Pelicano (1872-1874)

Jorge Sobrinho

O Pelicano (1872-1874)

Antônio Gonçalves da Rocha

Jornal do Commercio (1873)

Samuel Wallace Mac-Dowell

Regeneração (1873-1877)

Estudantes do Lyceu Paraense

República das Letras (1873)

Francisco de Souza Cerqueira (tipógrafo)

A Província do Pará (1876)

Antônio José de Lemos (redator gerente)

A Província do Pará (1876)

F. de P. P. Cirne Lima

Gazeta Mechanica 1879-?

P. de Alcântara C. Motta

Gazeta Mechanica 1879-?

A. Castellho da Fonseca

Gazeta Mechanica 1879-?

J. P. Borralho Sobrinho

Gazeta Mechanica 1879-?

1880

Felipe José de Lima Diário de Notícias (1880-1898)

Frederico Augusto da Gama Costa

Diário de Notícias (1880-1898)

Domingos Olympo Jornal da Tarde (1881-1884)

Vicente Carmino Leal

Jornal da Tarde (1881-1884)

João Francisco da Cruz

Correio do Norte (1882-1884)

Abimael e Silva

Vinte e Oito de Maio (1882-1886)

Octávio Pinto (editor) O Cosmopolita (1885-1889)

José Paes de Carvalho (presidente do Clube Republicano)

A República (1886-1887)

Gentil Augusto de Moraes Bittencourt (vice-presidente do Clube Republicano)

A República (1886-1887)

Acrisio Mota

Gazeta Postal (1889-1894)

Guilherme de Miranda

Gazeta Postal (1889-1894)

Raul de Azevedo

Gazeta Postal (1889-1894)

Licinio Silva

Gazeta Postal (1889-1894)

1890

João Hosannah de Oliveira

República (1890-1897)

Marques de Carvalho

República (1890-1897)

João Chaves da Costa República (1890-1897)

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Bento de Figueiredo Tenreiro Aranha

Diário Popular (1891-?) Correio Paraense (1892-1894)

Francisco Veigas

O Telephonista (1893)

Manoel Perdigão

O Telephonista (1893)

Enéas Martins (fundador) Folha do Norte (1896-1974)

Cipriano Santos (Neto de Honório José dos Santos)

Folha do Norte (1896-1974)

Paulo Maranhão

Folha do Norte (1896-1974)

Raymundo C. da Silveira

Ordem e Progresso (1896-1897)

Fulgêncio Simões

O Pará (1897-1900)

Ovídio Filho O Pará (1897-1900)

Theotonio de Brito República (1899-1902)

Martins Pinheiro

República (1899-1902)

Alberto dias (diretor) Gazeta de Belém (1900-1903)

1900

José Barata O Apóstolo (1900-?)

G. Salles O Apóstolo (1900-?)

Jeconias Silva O Apóstolo (1900-?)

Pio Ramos O Apóstolo (1900-?)

Alberto Dias Gazeta de Belém (1900-1903)

J. Marques de Carvalho O Jornal (1900)

Ismael de Castro Pastorinha (1900-1901)

Anna Sarah de Mattos Pallas (1900-?)

Mirandolina F. Damascena Pallas (1900-?)

Anísia Uchôa Brandeira Pallas (1900-?)

José Pinto Marques Pallas (1900-?)

Fonte: Biblioteca Pública do Pará, 1985.

Com os dados colhidos na pesquisa foram elaborados dois artigos:

“Jornalismo paraense da década de 1830: personagens e histórias”, que teve

por objetivo responder a questões como: quem foram os jornalistas da

imprensa paraense na década de 1830? De onde vieram? Qual sua

formação? Onde trabalharam? Respostas a estas e outras perguntas que

tinha como finalidade nos aproximar de um possível retrato dos profissionais

que ajudaram a configurar o jornalismo de Belém na década de 30 do século

XIX. Para tanto, a pesquisa partiu da identificação dos 13 redatores do

período, com base no catálogo Jornais Paraoaras da Biblioteca Pública do

Pará (1985). Em seguida, foram selecionados aqueles cujas fontes de

pesquisa consultadas apresentaram informações. Ao final foram selecionados

os seguintes nomes: João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha, Gaspar de

Siqueira Queiroz, José Soares de Azevedo, Vicente Ferreira Lavor Papagaio

e Honório José dos Santos. Outras fontes consultadas na busca de dados

foram os autores: Vicente Salles (1992), Carlos Rocque (1967-1968) e

Ricardo Borges (1986).

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O segundo artigo, “Jornalistas de destaque: profissionais da imprensa de

Belém entre 1840 e 60", mantinha o mesmo objetivo base do primeiro artigo,

mas, desta vez, estendendo-se às décadas de 1840 a 1860, utilizando como

principal critério de seleção dos jornalistas a disponibilidade de informações

nas fontes consultadas, encontradas principalmente no setor de Obras Raras

e Microfilmagem da Biblioteca Pública Athur Vianna. Selecionados os nomes

dos jornalistas, deu-se início à busca mais aprofundada sobre os seguintes

profissionais: Honório dos Santos, Cypriano Santos, Tito Franco de Almeida,

Frederico Rhossard, Bento Tenreiro Aranha e Manoel José de Siqueira

Mendes.

As pesquisas, portanto, observaram como veio se desenvolvendo o

jornalismo impresso em Belém ao longo do século XIX, com a busca pelo

conhecimento da “figura central no processo de transformação da imprensa”, o

jornalista (BARBOSA, 2010, p. 11). Esses profissionais fazem parte do registro da

memória coletiva, no entanto, nem sempre é fácil resgatar suas próprias memórias.

Por conta disso, foi de suma importância os seguintes aportes bibliográficos

utilizados como fonte de informações: Bilbioteca Pública do Pará (1985), Borges

(1986), Coelho (1989), Cunha (1970), Cruz (2013), Rocque (1967-1968 e 1976),

Sarges (2002), Salles (1992), Valente (1993) e Seixas (2012).

PUBLICAÇÕES:

Artigo “Jornalismo paraense da década de 1830: personagens e histórias”, desenvolvido em coautoria com a professora orientadora Netília Silva dos Anjos Seixas e o bolsista do projeto Danyllo Bermeguy. O artigo foi aprovado e apresentado no 10º Encontro Nacional de História da Mídia, ALCAR 2015, no GT de História da Mídia Impressa, e encontra-se aguardando publicação nos anais do evento. (Anexo 3).

Artigo “Jornalistas de destaque: profissionais da imprensa de Belém entre 1840 e 1860”, escrito em coautoria com a professora orientadora Netília Silva dos Anjos Seixas, aprovado para a XI Jornada de Iniciação Científica em Comunicação (Intercom Júnior), no XXXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom), a ocorrer entre os dias 04 e 07 de setembro de 2015, no Rio de Janeiro. (Anexo 4).

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CONCLUSÃO:

A pesquisa foi um importante exercício para compreensão da história de uma

das mais antigas imprensas do país, a imprensa paraense, partindo da ideia de que

ao compreender sua constituição no passado, é possível entender melhor sua

configuração no presente. A busca por saber quem foram os jornalistas da imprensa

de Belém no século XIX se apresentou, portanto, como um prosseguir na construção

desse conhecimento, contribuindo como uma proposta de reconstituição de parte da

memória jornalística da região amazônica.

Os resultados da pesquisa mostraram que, por volta de 1830, o jornalismo

ainda não se apresentava, na maioria das vezes, como a profissão de carreira na

vida das pessoas que fizeram parte do começo da imprensa em Belém. Na verdade,

a maioria dos profissionais estava ligada à carreira política, religiosa e aos cargos

públicos, que eram considerados ofícios estáveis para a época. Nesse ínterim, o

jornalismo se configurava como um meio vital para dar visibilidade e voz aos

discursos políticos. Especialmente entre 1835 e 1840, período em que o estado

vivenciou o conflito da Cabanagem4, aqueles que trabalharam com redação de

jornais, em seus embates entre partidos, fizeram da imprensa um importante

instrumento nas lutas ideológicas dentro de um contexto de significativas mudanças

na Província do Pará e no Brasil. Graças à participação dessas pessoas e ao modo

como trabalharam na imprensa é que foi possível observar determinadas marcas no

jornalismo: o jornalismo oposicionista, combativo e a disputa entre dois lados de

interesses distintos.

Segundo o que pôde ser observado, essa realidade começou a mudar a partir

da década de 1840, com destaque para a atuação de Honório dos Santos, uma

figura que se dedicou às folhas impressas com um caráter mais “informativo”

(ROCQUE, 1968), apesar de ainda manter forte vínculo com a política.

Já no intervalo entre 1840 e 1860, foi possível perceber que a maior parte da

formação dos jornalistas era voltada para a área de Humanidades: muitos eram 4 Segundo Rocque (1966), a Cabanagem foi um movimento revolucionário que eclodiu na Amazônia.

1835 marca o início da revolução, porém, já possuía antecedentes, terminando oficialmente em 1840. Batista Campos foi o grande líder do período pré-Cabanagem

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professores, como Tito Franco de Almeida; servidores públicos, como Cypriano

Santos; e poetas, como Frederico Rhossard. Outra constatação é de que a maior

parte daqueles profissionais tinha envolvimento com a política, seja por escrever em

um jornal oficial do Governo ou por assumir cargos em instâncias públicas como o

Senado, o Governo do Estado ou a Presidência da Província.

Para alguns, também, a imprensa havia se tornado um negócio de família: o

primeiro exemplo é o de Cypriano Santos, filho do jornalista e tipógrafo Honório José

dos Santos, de quem herdou a tipografia Santos & Menor. Mais tarde, o ofício foi

herdado também por Cypriano Santos (o neto), o terceiro da família a ter o

jornalismo como profissão. Cypriano Santos também atuou na política, sendo eleito

Senador Estadual e Intendente Municipal de Belém em 1917. Outro exemplo é o de

Bento de Figueiredo Tenreiro Aranha, redator do Diário do Gram Pará (1853-1892),

que era filho do jornalista João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha, o redator de A

Opinião (1831).

Ainda entre 1840 e 1860 percebe-se uma mudança na relação entre política e

imprensa: a política continuava presente nos periódicos, mesmo quando os veículos

não se declaravam exclusivamente partidários, como no caso do Aurora Paraense

(1853-1855). Os jornais também passaram a utilizar uma linguagem menos violenta

e insultuosa em relação às suas possíveis discordâncias políticas, diferentemente de

como acontecia durante os conflitos civis da década de 1830. Compreende-se,

portanto, que a imprensa paraense vinha se estabelecendo com um caráter mais

empresarial, atuando de forma expressiva no estado e, à altura das décadas de

1840-1860, já se encontrava bem mais desenvolvida em relação aos primeiros

decênios do século XIX.

Quanto às experiências da bolsista adquiridas por meio do projeto de

pesquisa, destaca-se a participação em atividades vinculadas ao Programa de Pós

Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia (PPGCOM-UFPA): a bolsista assistiu

à defesa de mestrado de Evelyn Cristina Ferreira de Aquino, ocorrida em 20 de

fevereiro de 2015, e participou do curso “Epistemologias da Comunicação”,

ministrado pelo professor Luiz Claudio Martino, da Universidade de Brasília, em

maio de 2015. O professor Luiz Martino é uma referência no Brasil nos estudos

teóricos sobre a Comunicação. Também foi significativa a participação da bolsista no

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curso “Método Lógico para Redação Científica Internacional”, no mês de maio,

ministrado pelo professor Gilson Luiz Volpato, da Universidade Estadual Paulista

“Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), Botucatu, SP.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARBOSA, Marialva. História cultural da imprensa: Brasil, 1800-1900. Rio de Janeiro: Mauad X, 2010.

______. História cultural da imprensa: Brasil, 1900-2000. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007.

BAUER, Martin W. GASKELL, George. Análise de conteúdo clássica: uma revisão. In: BAUER, Martin W. GASKELL, George. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 189-217. BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ. Jornais Paraoaras: catálogo. Belém: Secretaria de Estado de Cultura, Desportos e Turismo, 1985. COELHO, Geraldo Mártires. O surgimento da imprensa no Pará. In: Revista Pará Zero Zero: imprensa, idéias e poder. Publicação bissemanal da Editora Resistência, Ano II, nº 5, Ago./Set. 2008, p. 22 – 39.

______. Anarquistas, demagogos e dissidentes: a imprensa liberal no Pará de 1822. Belém: CEJUP, 1993. ______. Letras & Baionetas: novos documentos para a história de imprensa no Pará. Belém: Cultural CEJUP, 1989. HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Centauro, 2006.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 7 ed. São Paulo: Atlas, 2010. LOUREIRO, Violeta Refkalefsky. A Amazônia no século XXI – novas formas de desenvolvimento. São Paulo: Empório do Livro, 2009. MAUÉS, Raymundo Heraldo. Uma outra “invenção” da Amazônia – religiões, histórias, identidades. Belém: CEJUP, 1999. MOUILLAUD, Maurice; PORTO, Sérgio Dayrell (Org.). O jornal: da forma ao sentido. 3 ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2012.

RIBEIRO, Ana Paula Goulart; Herschmann. História da Comunicação no Brasil: um campo em construção. In: RIBEIRO, Ana Paula Goulart; Herschmann (Org.).

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Comunicação e História: interfaces e novas abordagens. Rio de Janeiro: Mauad X, 2008, p. 83 – 96.

ROCQUE, Carlos. Grande Enciclopédia da Amazônia. v. 1-6. Belém: Amazônia Editora, 1967-1968.

SARGES, Maria de Nazaré. Memórias do “Velho Intendente” Antônio Lemos (1869-1973). Belém: Paka-Tatu, 2002.

SEIXAS, Netília Silva dos Anjos. A trajetória da imprensa no Pará. Projeto de pesquisa CNPq, Edital Universal MCT/CNPq Nº 14/2012 - Faixa A. Belém: UFPA, 2012.

______. CARVALHO, Vanessa Brasil de; FERNANDES, Phillippe Sendas de Paula. Imprensa paraense: um pouco da história da mídia na Amazônia. In: MALCHER, Maria Ataíde; MARQUES, Jane; PAULA, Leandro Raphael N. de (Org.). História, Comunicação, Biodiversidade na Amazônia. São Paulo: Acquerello, 2012, p. 67-81. ______. Jornais Paraoaras: percurso da mídia impressa em Belém no século XIX. Projeto de pesquisa CNPq Edital MCT/CNPq/ MEC/CAPES N.º 02/2010 (concluído). Belém: UFPA, 2010.

VERÓN, Eliseo. Quando dizer é fazer: a enunciação no discurso da imprensa escrita. In: Fragmentos de um tecido. São Leopoldo (RS): UNISINOS, 2004, p. 315-338.

DIFICULDADES

Distribuir o tempo das pesquisas no âmbito do projeto com as atividades da graduação.

Encontrar dados sobre alguns jornalistas do século XIX, devido a poucas informações nas fontes bibliográficas consultadas.

PARECER DO ORIENTADOR: A discente Camila Lima Guimarães substituiu a bolsista Thaís Christina Coelho

Siqueira, que concluiu o curso de Comunicação Social-Jornalismo no final de 2014.

Thaís desenvolveu muito bem as atividades que lhe foram propostas a partir do

plano de trabalho e o mesmo ocorreu com Camila, quando a sucedeu. Estudante do

quinto semestre de Comunicação Social-Jornalismo na UFPA, é o primeiro projeto

de pesquisa de que Camila participa. Tem demonstrado interesse pela pesquisa e

discute os textos lidos no grupo de estudo do projeto com observações pertinentes.

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Em resumo, cumpriu bem os estudos que lhe foram destinados, resultando na

elaboração de dois artigos para congressos científicos nacionais da área de

Comunicação, um deles já apresentado e o outro a ocorrer, ambos com publicação

nos anais dos eventos. Em vista disso, o meu parecer como orientadora é favorável

às duas bolsistas, que cumpriram objetivos diferenciados nas duas fases do plano

de trabalho, tendo em vista a multiplicidade de aspectos ainda a serem abordados

no âmbito do projeto, que ainda tem muitas lacunas a preencher em termos de

pesquisa sobre a imprensa no Pará. Pelo potencial que apresenta, é viável que a

bolsista continue integrando a equipe do projeto.

DATA: Belém, 10 /08 / 2015

Netília Silva dos Anjos Seixas

_________________________________________ ASSINATURA DO ORIENTADOR

Camila Lima Guimarães

____________________________________________ ASSINATURA DO ALUNO

INFORMAÇÕES ADICIONAIS: A bolsista do primeiro semestre do plano de trabalho, Thaís Christina Coelho

Siqueira, concluiu o curso de Comunicação Social-Jornalismo em dezembro de

2014, continua como colaboradora da equipe do projeto e prepara-se para concorrer

à seleção para o curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação Comunicação,

Cultura e Amazônia no segundo semestre de 2015, com temática ligada à linha de

pesquisa do projeto.

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Anexo 1

SIQUEIRA, Thaís Christina Coelho. Panorama do fotojornalismo na imprensa de

Belém: um estudo dos jornais A Província do Pará, Folha do Norte, Estado do Pará

e O Liberal (1900 – 2000). 2014. 130 f. Trabalho de Conclusão de Curso

(Graduação) – Faculdade de Comunicação, Universidade Federal do Pará, Belém,

2014.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE LETRAS E COMUNICAÇÃO

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

THAÍS CHRISTINA COELHO SIQUEIRA

PANORAMA DO FOTOJORNALISMO NA IMPRENSA DE BELÉM:

um estudo dos jornais A Província do Pará, Folha do Norte, Estado do Pará e O Liberal

1900 - 2000

BELÉM, PA

2014

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THAÍS CHRISTINA COELHO SIQUEIRA

PANORAMA DO FOTOJORNALISMO NA IMPRENSA DE BELÉM:

um estudo dos jornais A Província do Pará, Folha do Norte, Estado do Pará e O Liberal

1900 - 2000

BELÉM, PA

2014

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

como requisito parcial para obtenção do grau

de Bacharel em Comunicação Social -

Jornalismo pela Faculdade de Comunicação

Social da Universidade Federal do Pará.

Orientadora: Profª Dra. Netília Silva dos

Anjos Seixas.

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À Ladi e ao Vivaldo,

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minhas maiores inspirações.

Agradecimentos

Um simples “obrigada” é irrisório para expressar a gratidão que tenho com aqueles que foram e

são os responsáveis por essa realização. Não foram poucos os momentos em que o cansaço e o desânimo

diante das dificuldades me fizeram questionar se o caminho que escolhi traçar era realmente o certo.

Quando essas dúvidas apareciam, sempre havia alguém para me colocar de volta no lugar, para me fazer

lembrar o porquê de estar ali.

Por isso, aproveito este espaço para agradecer, em primeiro lugar, a Deus, por agir segundo Sua

vontade na minha vida e permitir a realização dos meus sonhos. Mas, acima de tudo, por colocar em meu

caminho as pessoas certas.

Agradeço a minha mãe Ladi Siqueira, pelo amor incondicional e por todos os sacrifícios – e

sabemos que não foram poucos – para que eu conseguisse frequentar as aulas desde a infância até a

faculdade. Além disso, por ter sido a primeira pessoa a me mostrar que não estamos predestinados a nada,

mas que podemos transformar nosso futuro e temos direito ao sonho.

Agradeço também ao Gustavo Ferreira, meu namorado, pelo amor, companheirismo, paciência e

apoio, mesmo quando ele passava pelos seus próprios questionamentos e, principalmente, por me dar

tanto orgulho.

Ao Gabriel e ao Guilherme Siqueira, meus irmãos, quero agradecer pela força em todos os

momentos e por dizerem que meu percurso é uma inspiração para eles, o que é mais do que gratificante

de se ouvir. Agradeço ao Dagoberto Reis, meu pai de adoção e coração, por acreditar em mim e por

investir nos meus objetivos, mesmo sem ter obrigação alguma.

Também fazem parte da minha trajetória os meus avós, Vivaldo e Maria José. A ele por ter me

ensinado a gostar de ler, escrever, colecionar livros e ouvir rádio. A ela, por ter fé em mim e sonhar junto

comigo, pelo incentivo e “por me amar no coração”. Mesmo não estando mais aqui fisicamente, meu avô

está em cada passo dessa caminhada.

Meus agradecimentos também vão para o Álvaro e a Lúcia Braga, meus segundos pais, pelo amor

e pelos cuidados que tiveram comigo no início da minha vida; à Rafaela Cristina, Pâmela Rafaella, Karina

Cruz, Tatiana Raiol, Ingrid Silva e Erick Henrique, pela amizade e compreensão da minha ausência

durante todo o período de estudos e produção deste trabalho; aos meus amigos de faculdade: Lorena

Saraiva, Larissa Andrade, Cleonice Vianna, Rafael Sarmanho e Carlos Fernando que, ao longo desses

quatro anos, viveram comigo os desafios do percurso; à Netília Silva dos Anjos Seixas, minha

orientadora, pela paciência e por todos os ensinamentos; à todos os professores que tive, pelas lições de

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vida e pelos conhecimentos que dividiram comigo; às pessoas que algum dia e de alguma forma me

ajudaram a chegar até aqui.

Por fim, agradeço à Biblioteca Pública Arthur Vianna, em especial à Adriana, Luiza e dona Ruth,

pela ajuda nos momentos de pesquisa; e à Universidade Federal do Pará, por todas as oportunidades que

me deu, por me fazer crescer pessoal e profissionalmente e por ter realizado até aqui os meus maiores

sonhos.

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“As coisas têm vida própria”, apregoava o cigano com áspero sotaque,

“tudo é questão de despertar a sua alma”.

(Gabriel García Márquez)

Resumo

Esta pesquisa tem por objetivo investigar o percurso do fotojornalismo na imprensa de Belém do Pará ao

longo do século XX, buscando compreender, ainda que de forma panorâmica, como se configurou a

fotografia na imprensa do Estado. Para isso, procurou-se observar a presença da ilustração na imprensa,

para entender um pouco como se deu a introdução da imagem, em seu conceito geral, nas páginas; em

seguida, procurou-se identificar o uso das primeiras fotografias jornalísticas, em que momento o

fotojornalismo, de fato, se consolidou nos impressos locais e quais as mudanças ocorridas a partir do uso

da imagem fotográfica. Trata-se de um estudo exploratório, portanto, não apresenta uma análise das

fotografias, e sim uma descrição panorâmica de seu desenvolvimento durante o referido século, quando a

fotografia passou a ser utilizada pelos impressos paraenses. O estudo foi elaborado com base em pesquisa

bibliográfica, documental e análise dos dados empíricos dos jornais A Província do Pará (1876 - 2002), Folha

do Norte (1896 - 1974), Estado do Pará (1911 - 1980) e O Liberal (1946 - atual), escolhidos a partir da

relevância, periodicidade e disponibilidade do acervo para consulta na Biblioteca Pública Arthur Vianna.

Palavras-chave: Imprensa no Pará; Fotojornalismo; Século XX.

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30

Abstract

This research aims to investigate the photojournalism career in Belém do Pará press throughout the 20th

century, trying to understand, albeit in a panoramic way, as if set the photography in the press of Pará. For

this, we tried to observe the presence of illustration in press, to perceive a little how was the introduction

of image, in its general concept, in the pages; then sought to identify the use of the first news

photographs, at what time photojournalism, in fact, was consolidated in the local printed and what

changes occurred from the use of the photographic image. This is an exploratory study, therefore, does

not present an analysis of the photographs, but an overview description of its development during this

century, when the picture started to be used by press of Pará. The study was based on bibliographical

research and analysis of empirical data of the newspapers A Província do Pará (1876 - 2002), Folha do

Norte (1896 - 1974), Estado do Pará (1911 - 1980) and O Liberal (1946 - current), chosen from the relevance,

timeliness and availability of the disposable collection at the Public Library Arthur Vianna.

Keywords: Press in Pará; photojournalism; 20th

century.

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LISTA DE FIGURAS

FIG. 1 Primeiras edições dos jornais Correio Braziliense (1808) e Gazeta do Rio de

Janeiro (1808) ....................................................................................................

24

FIG. 2 O Paraense, 22 maio 1822, p. 1 ......................................................................... 38

FIG. 3 A Província do Pará, 22 ago. 1912, p. 1 ............................................................ 44

FIG. 4 Folha do Norte, 05 jan. 1896, p. 1 ..................................................................... 45

FIG. 5 O Liberal, 15 nov. 1946, p. 1 ............................................................................ 47

FIG. 6 Jornal do Commercio, 15 Nov. 1904 ................................................................ 65

FIG. 7 Folha do Norte, 03 maio 1900, p. 1 ................................................................... 77

FIG. 8 A Província do Pará, 25 Ago. 1900, p. 1 ........................................................... 78

FIG; 9 A Província do Pará, 06 maio 1901, p. 1 ........................................................... 79

FIG. 10 Estado do Pará, 17 Abr. 1912, p. 1 .................................................................... 82

FIG. 11 Estado do Pará, 01 Set. 1912, p. 1 ..................................................................... 84

FIG. 12 Estado do Pará, 26 Abr. 1920, p. 1 .................................................................... 86

FIG. 13 Estado do Pará, 30 Abr. 1920, p. 1 .................................................................... 87

FIG. 14 Folha do Norte, 10 Out. 1920, p. 1 .................................................................... 88

FIG. 15 Folha do Norte, 11 Out. 1920, p. 1 .................................................................... 89

FIG. 16 A Província do Pará, 10 Out. 1920, p. 1 ............................................................ 90

FIG. 17 A Província do Pará, 10 Out. 1920, p. 1 ............................................................ 91

FIG. 18 A Província do Pará, 15 Out. 1920, p. 1 ............................................................ 92

FIG. 19 Folha Vespertina, 22 Jan. 1940, p. 1 ................................................................. 94

FIG. 20 Folha Vespertina, 24 Jan. 1940, p. 1 ................................................................. 95

FIG. 21 Folha do Norte, 03 Out. 1940, p. 1 ................................................................... 95

FIG. 22 Folha do Norte, 09 Out. 1940, p. 1 ................................................................... 96

FIG. 23 Folha Vespertina, 06 Jan. 1940, p. 4 ................................................................. 97

FIG. 24 Folha Vespertina, 13 Abr. 1940, p. 4 ................................................................ 97

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FIG. 25 Folha do Norte, 05 Jan. 1950, p. 7 .................................................................... 98

FIG. 26 Folha do Norte, 14 Jul. 1950, p. 1 ..................................................................... 99

FIG. 27 Folha do Norte, 31 Out. 1950, p. 8 .................................................................... 100

FIG. 28 A Província do Pará, 08 Jan. 1950, p. 9 ............................................................ 101

FIG. 29 A Província do Pará, 11 Out. 1960, p. 1 ............................................................ 104

FIG. 30 A Província do Pará, 01 Jul. 1960, p. 1 ............................................................. 105

FIG. 31 Folha do Norte, 01 Jan. 1960, p.16 ................................................................... 106

FIG. 32 A Província do Pará, 05 Jan. 1970, p.5 – 3º caderno ........................................ 108

FIG. 33 A Província do Pará, 05 Jan. 1970, p.5 – 3º caderno ........................................ 108

FIG. 34 A Província do Pará, 11 e 12 Jan. 1970, p. 1 – 3º caderno ................................ 109

FIG. 35 A Província do Pará, 01 Abr. 1970, p. 1 – 1º caderno ...................................... 110

FIG. 36 Estado do Pará, 06 e 07 Jan. 1980, p. 1 – 2º caderno ........................................ 111

FIG. 37 Estado do Pará, 23 Jul. 1980, p. 1 – 1º caderno ................................................ 112

FIG. 38 O Liberal, 04 Jan. 1990, p. 12 – caderno Esporte ............................................. 116

FIG. 39 O Liberal, 10 Abr. 1990, p. 12 – caderno Esporte ............................................ 117

FIG. 40 O Liberal, 03 out. 2000, p. 10 – Caderno Atualidades ...................................... 118

FIG. 41 O Liberal, 12 jan. 2000, p. 2 – Caderno Especial ............................................. 119

FIG. 42 O Liberal, 12 jan. 2000, p. 3 – Caderno Especial ............................................. 119

FIG. 43 O Liberal, 19 Out. 2000, p. 1 – Caderno Atualidades ....................................... 122

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Número de edições observadas por jornal, de 1900 a 2000 ............................... 17

Quadro 2 Análise iconográfica e interpretação iconológica ................................................ 74

Quadro 3 Fotógrafos e estabelecimentos afins em atividade no Pará, de 1833 a

1910............................................................................................................

80

Quadro 4 Fotógrafos e agências de notícias citados nos impressos paraenses, de

1900 a 2000, por década ............................................................................

120

Quadro 5 Fotógrafos de agências de notícias citados nos impressos paraenses, de

1980 a 2000, por década ............................................................................

121

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 14

1 COMUNICAÇÃO, EXPERIÊNCIA E O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO

DA IMPRENSA NO BRASIL E NO PARÁ .......................................................

19

1.1 COMUNICAÇÃO, EXPERIÊNCIA E INTERAÇÃO .......................................... 19

1.2 O SURGIMENTO DO JORNALISMO BRASILEIRO ......................................... 22

1.3 UMA NOVA IMPRENSA PARA NOVOS LEITORES ....................................... 27

1.4 A IMPRENSA NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX .............................. 31

1.5 MODERNIZAÇÃO E GRANDES TRANSFORMAÇÕES .................................. 34

1.6 UM BREVE PERCURSO DA IMPRENSA PARAENSE NO SÉCULO XIX .... 37

1.7 OS PRINCIPAIS IMPRESSOS PARAENSES DO SÉCULO XX ........................ 42

2 O SURGIMENTO DA FOTOGRAFIA E A INTRODUÇÃO DO

FOTOJORNALISMO NO BRASIL E NO MUNDO ........................................

49

2.1 OS PRIMÓRDIOS DA FOTOGRAFIA ................................................................ 49

2.2 O FOTOJORNALISMO NO MUNDO .................................................................. 56

2.3 OS IMPRESSOS BRASILEIROS E O FOTOJORNALISMO ............................. 63

2.4 ANÁLISE DE IMAGENS: EM BUSCA DE UMA METODOLOGIA ................ 69

3 PANORAMA DO PERCURSO DO FOTOJORNALISMO NA IMPRENSA

PARAENSE DURANTE O SÉCULO XX ..........................................................

75

3.1 UMA NOVA FORMA DE LEITURA: A ILUSTRAÇÃO NOS IMPRESSOS .... 75

3.2 OS PRIMEIROS FOTÓGRAFOS E A UTILIZAÇÃO DA IMAGEM

FOTOGRÁFICA NA IMPRENSA DO PARÁ .........................................................

79

3.3 A DISSEMINAÇÃO DO FOTOJORNALISMO PARAENSE A PARTIR DOS

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ANOS 1950 ................................................................................................................ 97

3.4 OS DONOS DA IMAGEM: IMPRENSA NO PARÁ E O CRÉDITO NAS

FOTOGRAFIAS ........................................................................................................

113

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 124

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 126

INTRODUÇÃO

A fotografia é, tanto quanto o texto, um meio de produção de informações. No jornalismo atual,

ela ocupa um espaço significativo nas páginas. No entanto, nessas observações, cabem os

questionamentos: Como a fotografia foi ganhando espaço na produção jornalística? No caso da imprensa

paraense, qual a trajetória percorrida pelo fotojornalismo desde o seu surgimento nos periódicos?

Segundo Fabris (2008, p. 36), “a fotografia cria uma visão do mundo a partir do mundo, molda um

imaginário novo, uma memória não-seletiva porque cumulativa. Em sua superfície o tempo e o espaço

inscrevem-se como protagonistas absolutos...”. Para Kossoy (2007), a fotografia é memória quando

registra fatos, cenários e personagens, quando codifica um assunto real em imagem e guarda suas

características mesmo quando o próprio elemento fotografado deixa de existir na realidade. Não é um

espelho fiel dessa realidade, mas possui um “potencial informativo” (KOSSOY, 2009, p. 22) que precisa

ser relacionado ao contexto histórico ao qual se insere, demarcado pelo tempo e situado em um

determinado espaço, “caso contrário, essas imagens permanecerão estagnadas em seu silêncio:

fragmentos desconectados da memória, meras ilustrações ‘artísticas’ do passado” (KOSSOY, 2009, p.

22).

Mas o que podemos conceituar como fotojornalismo? Acreditamos, assim como Sousa (2002, p.

7), que fotojornalismo é toda fotografia que possui "valor jornalístico", no sentido de possuir um “valor-

notícia” determinado pela empresa de comunicação ao qual se vincula, e que, ao lado do texto, contribui

para a transmissão de informações sobre determinados fatos. “O termo pode abranger quer as fotografias

de notícias, quer as fotografias dos grandes projectos documentais, passando pelas ilustrações fotográficas

e pelos features (...), entre outras” (SOUSA, 2002, p. 8). Ou seja, para ser caracterizada como uma

fotografia jornalística, uma imagem fotográfica precisa, antes de tudo, informar. “A fotografia jornalística

mostra, revela, expõe, denuncia, opina. Dá informação e ajuda a credibilizar a informação textual. Pode

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ser usada em vários suportes, desde os jornais e revistas, às exposições e aos boletins de empresa”

(SOUSA, 2002, p. 5).

Neste trabalho, ao buscamos traçar um panorama do fotojornalismo no intervalo de um século,

temos consciência das limitações. A primeira, sem dúvida, consiste na impossibilidade de abarcar todas as

informações de uma atividade tão complexa. A segunda está relacionada às respostas fechadas, pois, é

quase impossível obter uma verdade definitiva sobre muitos aspectos do passado.

Objetivo geral:

Descrever, de forma panorâmica, o percurso do fotojornalismo na mídia impressa

paraense no século XX.

Objetivos específicos:

Descrever um breve percurso da ilustração, para mostrar um pouco como se deu a

introdução da imagem, em seu conceito geral, na imprensa de Belém;

Identificar quando surgiram as primeiras fotografias que podem ser consideradas

fotojornalísticas;

Evidenciar os momentos de consolidação do fotojornalismo na imprensa paraense;

Identificar as principais mudanças ocorridas na configuração dos jornais paraenses com a

introdução do fotojornalismo;

Compreender o status que a fotografia foi adquirindo nas páginas dos jornais paraenses

estudados, ao longo do século XX.

Entendemos a importância da fotografia para a imprensa, uma vez que as mudanças causadas pelo

aprimoramento tecnológico marcam – e muitas vezes modificam – o modo de fazer jornalístico no que

diz respeito à reorganização do texto e da página e à relação do texto com a imagem. Discutir assuntos

relacionados ao fotojornalismo na imprensa do passado contribui para a construção de uma memória da

mídia, exercício fundamental para a prática da comunicação, dentro e fora da academia. No entanto, ainda

que analise o passado, o assunto não deixa de ser atual, uma vez que trata de um tipo de linguagem cuja

presença é fundamental na construção das notícias.

Este trabalho segue na busca do conhecimento sobre a história da mídia, sobretudo a impressa,

com o objetivo de contribuir para as pesquisas realizadas no âmbito da Associação Brasileira de

Pesquisadores de História da Mídia, conhecida como Rede Alfredo de Carvalho (Rede Alcar), que surgiu

com a finalidade de estimular a produção de estudos em história da mídia.

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Neste estudo, considerou-se a participação da aluna como bolsista5 no projeto de pesquisa “A

Trajetória da Imprensa no Pará”,6 a necessidade de se conhecer a história do fotojornalismo na região

amazônica, bem como a importância dos jornais impressos como registro dos acontecimentos.

O projeto “A Trajetória da Imprensa no Pará” é apoiado pelo Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e realizado desde 2012 na Universidade Federal do

Pará, no âmbito do Programa de Pós-Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia e da Faculdade de

Comunicação da UFPA. Coordenado pela professora Netília Silva dos Anjos Seixas, busca contribuir

para o conhecimento da história da mídia impressa no Estado, ainda pouco abordada do ponto de vista da

comunicação.

Este é um estudo exploratório, no qual faremos uma análise das fotografias e uma descrição

panorâmica de seu desenvolvimento ao longo do século XX, quando a fotografia passou a ser utilizada

pela imprensa no Estado. O caminho escolhido para se chegar aos resultados esperados foi baseado em

pesquisa bibliográfica, documental e análise dos dados empíricos. Diante da quantidade de jornais editados e

impressos em Belém ao longo do século XX, selecionamos quatro jornais, baseados nos seguintes

critérios: relevância, periodicidade dos jornais e disponibilidade do acervo para consulta na Biblioteca

Pública Arthur Vianna.7 Desse modo, fazem parte da análise edições de A Província do Pará (1876 - 2002),

Folha do Norte (1896 - 1974), Estado do Pará (1911 - 1980) e O Liberal (1946 - atual). A pesquisa documental

foi realizada nos setores de Microfilmagem e de Periódicos da Biblioteca Pública Arthur Vianna, em Belém-PA.

Fazer um panorama que englobasse 100 anos de história não seria possível sem uma metodologia que

permitisse recortes temporais. Nesse caso, a coleta de dados foi feita com base nas edições disponíveis a cada 10

anos, a partir do ano de 1900 ao ano 2000. Ainda assim, dentro dos períodos escolhidos, foi feito outro recorte de

4 meses em cada ano de consulta: janeiro, abril, julho e outubro. Intercalando a pesquisa a cada três meses,

observou-se que esse recorte permitiu o alcance dos objetivos traçados no projeto, pois evitou saltos muito

5 Bolsista PIBIC-UFPA do projeto “A Trajetória da Imprensa no Pará”, no período de fevereiro/2014 a setembro/2014, e

bolsista PIBIC-CNPq, de outubro/2014 – atual. 6 Apoiado pelo CNPq, Edital MCT/CNPq N º 14/2012 - Universal - Faixa A e coordenado pela Prof. Dra. Netília Silva dos

Anjos Seixas, o projeto busca contribuir para o conhecimento da trajetória da mídia impressa no Pará, considerando as grandes

lacunas existentes em relação a uma das imprensas mais antigas do país. “A Trajetória da Imprensa no Pará” dá continuidade a

dois projetos anteriores, intitulados “Jornais Paraoaras: percurso da mídia impressa em Belém”, desenvolvido entre 2009 e

2011, e “Jornais Paraoaras: percurso da mídia impressa em Belém no século XIX”, entre 2010 e 2012, este apoiado pelo

CNPq, Edital MCT/CNPq/MEC/CAPES Nº 02/2010. O intuito dessas iniciativas é também fortalecer as pesquisas no âmbito

do Programa de Pós-Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia (PPGCOM) e da Faculdade de Comunicação (FACOM) da

UFPA. 7 A Biblioteca Pública Arthur Vianna foi fundada em 25 de março de 1871, em Belém, e era anexada ao Arquivo Público do

Pará. Porém, em 1956 passou a integrar a Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves (FCPTN). Atualmente, possui um acervo

de aproximadamente 770.675 volumes entre livros, folhetos, revistas, jornais, mapas, discos em vinil, fitas de vídeo, DVDs,

CDs, livros em braile, microfilmes, jogos, gibis, entre outros. É detentora do acervo de obras raras e o de periódicos do Estado,

com jornais e revistas que circularam desde o século XIX até o período atual. Atende ao público diariamente e tem frequência

média de 2.000 usuários/dia.

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extensos na coleta de dados, ao mesmo tempo em que possibilitou uma visão ampla do assunto abordado dentro

do tempo estimado. O número de edições observadas está organizado no Quadro 1:

Quadro 1: Número de edições observadas por jornal, de 1900 a 2000.

Ano

Edições

A Província

do Pará

Folha do Norte Estado do Pará O Liberal

1900 117 123 Não disponível Não disponível

1910 31 123 Não disponível Não disponível

1912 Edições não

consultadas8

Edições não

consultadas

122 Edições não

consultadas

1920 57 119 90 Não disponível

1930 Não disponível 87 Não disponível Não disponível

1940 Não disponível 121 Não disponível Não disponível

1950 101 123 Não disponível Não disponível

1960 76 117 48 121

1970 121 115 Não disponível 121

1980 Não disponível Não disponível 122 123

1990 123 Não disponível Não disponível 123

2000 123 Não disponível Não disponível 123

Total (por jornal) 749 928 382 611

Total de edições 2.670

Fonte: dados da pesquisa, a partir da Biblioteca Pública Arthur Vianna.

Segundo Seixas (2011b), o Catálogo (1985) da Biblioteca Pública Arthur Vianna contabiliza 1005

jornais e revistas publicadas no Estado do Pará entre 1822 e 1985. Porém, muitos desses impressos já se

perderam e outros não estão prontos para serem disponibilizados para pesquisa (SEIXAS, 2011b). É

necessário, portanto, prosseguir com os estudos, de forma que, por meio da elaboração desses trabalhos, a

memória dos impressos possa ser mantida e conhecida um pouco mais.

Este trabalho divide-se em três capítulos. O Capítulo 1 busca situar as discussões feitas ao longo

do tempo dentro das pesquisas em comunicação, sobretudo com as discussões de alguns autores como

Rodrigues (2011) e França (2008), a qual faz uma releitura das discussões de George H. Mead. Esses

autores analisam a relação da comunicação com a experiência dos indivíduos. No Capítulo 1 também

fazemos um rápido percurso desde o surgimento dos meios impressos no Brasil e no Pará nos séculos

XIX e XX, bem como do contexto histórico em que se deu o desenvolvimento do jornalismo.

O Capítulo 2 apresenta discussões sobre a descoberta da fotografia, suas características e avanços.

Também traça o caminho, ainda que de maneira panorâmica, da fotografia na imprensa, tanto no âmbito

mundial, quanto no nacional. Não é a pretensão deste trabalho fazer uma descrição minuciosa desse

percurso, mas sabemos a necessidade de situar o leitor em contextos que marcaram a atividade fotográfica

e impulsionaram várias transformações no fotojornalismo. No último tópico, procurou-se introduzir 8 Segundo Seixas (2014), no ano de 1912, o jornal Estado do Pará publicou fotografias que podem ser consideradas

jornalísticas. Dessa forma, com o intuito de conhecer tais imagens, buscamos incluir na pesquisa as edições do jornal, não

incluindo as edições dos outros três periódicos na coleta de dados correspondente a 1912.

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algumas discussões sobre a análise das imagens em sentido geral e da fotografia, particularmente. Assim,

são discutidas ideias de autores como Kossoy (2001), Joly (1996) e Panofsky (1976).

O Capítulo 3 mostra um pouco sobre a presença da ilustração nos impressos, a chegada dos

primeiros fotógrafos ao Pará e as primeiras fotografias na imprensa paraense. Em seguida, vai

apresentando as transformações pelas quais essa imprensa passou com a introdução gradativa do

fotojornalismo, as editorias que mais continham fotografias, as temáticas principais e alguns dos

fotógrafos9 que fizeram, junto com outros nomes ainda desconhecidos por nós, a história do

fotojornalismo paraense.

São tantas as histórias, que um único estudo é limitado para contá-las. Mas acreditamos que com o

incentivo dessas pesquisas dentro da Universidade, podemos conhecer um pouco mais a memória da

nossa imprensa.

CAPÍTULO 1

COMUNICAÇÃO, EXPERIÊNCIA E O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA IMPRENSA NO

BRASIL E NO PARÁ

Retornar às páginas de um jornal antigo pode funcionar também como folhear um

álbum de família que, embora aparentemente decrépito, está mais vivo do que nunca

(FIGUEIREDO, 2009, p. 45).

Neste Capítulo, buscamos compreender a relação entre Comunicação, experiência e interação a

partir das discussões elaboradas por Rodrigues (2011) e França (2008), influenciados pelos estudos de

George H. Mead, para em seguida, discutir o desenvolvimento da imprensa no Brasil e no Estado do Pará

e os principais impressos que circularam entre os séculos XIX e XX.

1.1. COMUNICAÇÃO, EXPERIÊNCIA E INTERAÇÃO

Ao estudar a relação da comunicação com a experiência, Rodrigues (2011, p. 29) propõe que “a

experiência compreende não só o conjunto dos fenômenos vividos pelos seres humanos, mas também o

conjunto dos saberes por eles interiorizados, ao longo do processo de socialização”. O autor (2011, p. 29)

completa afirmando que “estes dois aspectos da experiência estão, no entanto, relacionados entre si de

maneira paradoxal”.

9 Neste trabalho, não foi possível fazer uma pesquisa aprofundada sobre os fotojornalistas paraenses, assim como o recorte

feito não incluiu o estudo do fotojornalismo nas revistas publicadas no Pará. No entanto, compreender estes dois assuntos são

metas do projeto de pesquisa “A Trajetória da Imprensa no Pará” para trabalhos futuros.

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Para o autor (2011), a experiência é capaz de fornecer aos indivíduos capacidades de dar sentido

aos fenômenos vividos e adotar comportamentos que correspondem a situações específicas. Quando

pensamos essas discussões no âmbito da fotografia, podemos compreender a composição de uma

determinada cena, por exemplo, a qual está carregada de simbolismo e de representação, que será

percebida, ainda que de forma superficial, pelos leitores daquela fotografia, pois a experiência, nesse

caso, é compartilhada entre os profissionais da imprensa e o público dessa imprensa. Isso porque é na

experiência compartilhada por meio da interação com o mundo que nos cerca que se forma o que

chamamos de “senso comum”, classificado pelo autor como a “comunidade de pressupostos que torna

possível o entendimento, (...), a partir do qual não só é possível discutir, chegar a acordo ou discordar,

mas também coordenar comportamentos comuns com vista a atingir objetivos aceites por uma

comunidade de actores” (RODRIGUES, 2011, p. 37). Em outras palavras, é a experiência compartilhada

entre o mundo da imprensa, o fotógrafo e o público que observa a fotografia que torna a mensagem

contida na imagem compreensível e mais propícia a ser captada.

Como vemos, partilhar o mesmo mundo comum é identificar ou reconhecer as mesmas marcas

simbólicas que o configuram e lhe dão sentido. É adoptar os mesmos critérios de compreensão das

acções e dos discursos. Desta adocção dos mesmos critérios de compreensão dependem a

identificação e o reconhecimento dos que pertencem ao mesmo mundo comum como parceiros de

troca, quer sejam cooperantes em processos de acção comum, quer sejam interlocutores de

interacções discursivas (RODRIGUES, 2011, p. 37).

Assim, a experiência passa de um estágio pessoal para o social, alcançando experiências pessoais

de outros indivíduos de uma mesma sociedade.

A experiência faz, por conseguinte, intervir a memória, entendida aqui não enquanto faculdade da

recordação, mas sim no sentido de anamnese, de um processo dinâmico que provoca o

reconhecimento de situações familiares com as quais conseguimos interagir de maneira adequada,

pelo facto de seguirmos esquemas operatórios, previamente interiorizados, apropriados a cada uma

dessas situações (RODRIGUES, 2011, p. 34).

De acordo com Rodrigues (2011, p. 47), a experiência é composta por três mundos: “o mundo

subjectivo, o mundo intersubjectivo e o mundo natural”, cada um com suas particularidades.

O mundo natural corresponde ao “conjunto dos objectos e dos fenómenos que não dependem da

nossa vontade” (RODRIGUES, 2011, p. 47). Os processos provenientes desse mundo são desencadeados

pelas leis da natureza, fogem do nosso controle. Restar-nos-ia, portanto, interiorizar esses processos,

familiarizarmo-nos e agirmos de forma adequada ao que é imposto (RODRIGUES, 2011).

Essa experiência do mundo natural pode ser objetiva – no sentido de que “se impõe como um

quadro autónomo, tanto em relação aos dispositivos naturais de que são dotados as plantas e os animais,

como em relação à consciência e à vontade livre do homem, possuindo, por conseguinte, validade

indiscutível” (RODRIGUES, 2011, p. 48) – ou subjetiva, “porque mergulha no fluxo contínuo da nossa

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vivência, enquanto membros da nossa espécie, e tende para a sua objectivação sempre que recortamos a

posteriori fragmentos que acendem à nossa consciência reflexiva” (RODRIGUES, 2011, p. 48).

O mundo intersubjectivo é formado pelas interações entre os indivíduos (RODRIGUES, 2011).

Rodrigues (2011) explica:

A experiência deste mundo consiste na competência não só para adoptar comportamentos

adequados às diversas circunstâncias em que ocorrem estas interacções e aos conhecimentos

interiorizados das normas que as regulam, mas também para atribuir sentido tanto aos fenómenos

de interacção empreendidos quanto aos que são observados (RODRIGUES, 2011, p. 49).

Atribuir sentido denota sermos capazes não só de reagir adequadamente a uma ação, mas também

significa que somos aptos a explicar esse mesmo sentido, ainda que não seja possível a comunicação

direta, fiel, da experiência subjectiva: “os seres humanos não podem apreender directamente a experiência

dos outros seres humanos” (RODRIGUES, 2011, p. 52).

Já o mundo subjectivo está associado à experiência como “narrativa de vida” (RODRIGUES,

2011, p. 52), ou seja, é composto pelas nossas vivências, pelos saberes que adquirimos ao longo da vida.

Rodrigues (2011) também estabelece as modalidades de relação entre a comunicação e a

experiência, são elas: “o testemunho”, a “transmissão” e a “partilha” (RODRIGUES, 2011, p. 99).

Quando uma pessoa estabelece uma comunicação com uma ou um grupo de pessoas sobre uma situação

que vivenciou, mas que não foi vivida por essas mesmas pessoas, trata-se de um testemunho da

experiência. Segundo Rodrigues (2011, p. 99), “esta modalidade da comunicação distingue-se daquela em

que um destinador comunica a uma ou mais pessoas uma experiência que lhe foi comunicada, isto é, que

ele próprio não viveu diretamente”, este exemplo, no caso, consiste na segunda modalidade: a transmissão

da experiência. A partilha da experiência corresponde a um tipo de vivência comum entre duas ou mais

pessoas, comunicada entre esses indivíduos em determinado momento (RODRIGUES, 2011).

As discussões trazidas por Rodrigues (2011) sobre experiência são inspiradas nas ideias do

estudioso americano George H. Mead, o qual buscava investigar a “correlação entre a experiência e as

condições onde ela se produz” (FRANÇA, 2008, p. 74). França (2008), ao discutir a proposta de Mead,

explica que, para o autor, a sociedade, o self (persona) e o espírito são as três categorias analíticas

primordiais “para ultrapassar a dicotomia entre indivíduo e sociedade, entre consciência de si e

consciência coletiva” (FRANÇA, 2008, p. 74).

A sociedade seria o resultado das trocas dos membros que a compõe, trata-se do contexto onde

ocorrem esses atos. O self é a “personalidade social” (FRANÇA, 2008, p. 74) que guia o comportamento

de cada indivíduo nessa sociedade, mas não se restringe a uma construção social. E o espírito corresponde

à capacidade de reflexão consciente desses comportamentos, “na possibilidade de auto-avaliação

permanente do self” (FRANÇA, 2008, p. 75).

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Mesmo não tendo sido um teórico da comunicação, George H. Mead fez dela o ponto central de

suas análises. França (2008) explica:

É a comunicação que permite a superação dos dualismos contra os quais ele [Mead] se batia:

indivíduo/sociedade, interior/exterior, mente/conduta. (...). A comunicação se inscreve em sua

descrição do ato social, e diz respeito aos gestos que o realizam. Os gestos fazem parte do ato

social; eles estabelecem o início do ato e constituem um estímulo para os outros organismos que

dele participam (FRANÇA, 2008, p. 75, grifo nosso).

É justamente o gesto que constitui a base do processo social (FRANÇA, 2008). Nesse sentido,

partindo de um organismo – ou indivíduo – ele provoca estímulos em outro organismo, resultando na

construção da convivência social. São esses significados socialmente compartilhados que caracterizam a

comunicação: “a realização de um tipo de gesto, os gestos significantes, que são ao mesmo tempo

estímulos e respostas, em um ato marcado pela consciência da dupla afetação” (FRANÇA, 2008, p. 80).

A partir das discussões feitas pelos autores sobre o processo de comunicação com base nas

relações interacionais entre os indivíduos e nas experiências vividas e compartilhadas em sociedade,

buscaremos compreender um pouco a construção do fotojornalismo na imprensa, mas antes, faz-se

necessário rememorar como se deu a construção da própria imprensa. É o que veremos nos próximos

tópicos deste capítulo.

1.2. O SURGIMENTO DO JORNALISMO BRASILEIRO

O surgimento da imprensa escrita no Brasil é marcado pela discussão de qual teria sido o primeiro

jornal do país, se o Correio Braziliense (1808-1822),10

periódico editado em Londres, desde junho de

1808, por Hipólito José da Costa, ou a Gazeta do Rio de Janeiro (1808-1822), criada em 10 de setembro

de 1808 (Figura 1), após a transferência da Corte portuguesa de D. João VI para o Brasil, e a criação, em

13 de maio do mesmo ano, da Impressão Régia11

(BARBOSA, 2010).

Morel (2008) explica que a imprensa periódica de fato nasceu no século XVII, na Europa. Já em

terras americanas isso se deu em meados do século XVIII. Dessa forma, “a experiência brasileira não foi

destoante na América, embora só tenha surgido de forma sistemática a partir de 1808, com a chegada da

Corte portuguesa e a instalação da tipografia da Impressão Régia” (MOREL, 2008, p. 23).

Durante muito tempo, os impressos produzidos na Corte portuguesa sofreriam censura prévia. Os

critérios para censurar uma ou outra obra eram religiosos, políticos e morais (MOREL, 2008). A Gazeta

do Rio de Janeiro (1808-1822), como jornal oficial da Corte de D. João, publicava atas, decretos e avisos

10

Também chamado Armazém Literário (COELHO, 2008). 11

Órgão oficial “ligado ao cotidiano da burocracia imperial portuguesa” (BARBOSA, 2010, p.19), localizada na Rua do

Passeio, Rio de Janeiro-RJ. Bahia (2009) afirma que, de 1808 a 1821, a Impressão Régia foi a única grande tipografia

brasileira, cuja primeira obra foi a Relação de despachos (BAHIA, 2009, p. 116). No entanto, nesse tempo, surgiram outras

pequenas tipografias provinciais na Bahia (1811), em Recife (1817), no Maranhão (1821), em Belém (1821) e duas em Minas

Gerais, também no ano de 1821 (BAHIA, 2009).

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relacionados ao governo. Os textos eram selecionados por uma Junta Diretora, a qual examinava tudo o

que pudesse atingir negativamente ao rei. Ainda assim, de acordo com Barbosa (2010), eram incluídos

também, nesse periódico, assuntos de interesse do grande público. Cartas provenientes do continente

europeu com frequência apareciam nas páginas do jornal.

A primeira edição da Gazeta do Rio de Janeiro (1808-1822) possuía apenas uma coluna e a

organização dos textos era feita em blocos de informações semelhantes. A autora nos dá uma ideia da

configuração do periódico: formato in-quarto, medindo 19 x 13,5 cm, claramente inspirado nas gazetas

portuguesas, sobretudo na Gazeta de Lisboa (BARBOSA, 2010; MOREL, 2008). A partir de 17 de

setembro de 1808, o jornal passou a ser bissemanal (BARBOSA, 2010). Assim,

De 10 de setembro de 1808 a 29 de dezembro de 1821, publicam-se 1413 edições da Gazeta do

Rio de Janeiro e 204 números extras, num total de 1617 exemplares. A Gazeta, inicialmente, saía

às quartas-feiras e aos sábados. Já as Extraordinárias eram impressas ao sabor dos acontecimentos

que se julgavam importantes. A partir de 1821, o jornal passa a sair às terças, quintas e sábados

(BARBOSA, 2010, p. 37).

O título do periódico mudou para Gazeta do Rio em janeiro de 1822. Em dezembro do mesmo

ano, o impresso foi substituído pelo Diário do Governo (BARBOSA, 2010).

Ao contrário da Gazeta, o Correio Braziliense (1808-1822) criticava o governo e era um jornal

“crítico e bem informado” (BARBOSA, 2010, p. 23). Segundo Morel (2008, p. 29), referia-se ao Brasil

como “império” e foi o primeiro jornal a consagrar essa denominação na imprensa. Assim, de um lado

estava a Gazeta como periódico oficial e o Correio, como jornal combativo.

Outra diferença entre os dois jornais é que a Gazeta pregava a independência do país, defendendo

a separação entre Brasil e Portugal, já o Correio apoiava a ideia do “projeto do Império luso-brasileiro”

(MOREL, 2008, p. 29). A partir dessas constatações, Barbosa (2010) explica o surgimento de “uma

mítica de dois modelos para o jornalismo brasileiro (...). De um lado, o jornalismo dependente dos favores

oficiais, não afeto a controvérsias, que se coloca ao lado dos que estão no poder, e de outro, o jornalismo

de combate” (BARBOSA, 2010, p. 24).

Figura 1: Primeiras edições dos jornais Correio Braziliense (1808) e Gazeta do Rio de Janeiro (1808)

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Fonte: Jornal Correio Braziliense e Jornal Gazeta do Rio de Janeiro

12

Em 1821 ocorre a criação de duas tipografias no Rio de Janeiro: a Nova Tipografia e a Tipografia

de Moreira e Garcez. No ano seguinte, surgem mais quatro tipografias na cidade (BAHIA, 2009).

Gradativamente, o público passou a ter acesso a vários outros impressos. O Rio de Janeiro ainda era o

principal ambiente para o surgimento de periódicos no início da década de 1820. De acordo com Neves

(2002), entre os anos de 1821 e 1822, aproximadamente 20 jornais circularam na cidade, entre os quais, O

Espelho (1821), A Malagueta (1821-1823) e o Revérbero Constitucional Fluminense (1821-1822). Nesses

periódicos, têm destaque assuntos relacionados às polêmicas políticas (BARBOSA, 2010).

A partir dessa mesma década, e mais ainda na década seguinte, proliferam os jornais em outras

províncias brasileiras com o fim gradual da censura (MOREL, 2008).13

Em São Paulo, surge O Paulista,

12

Jornal Correio Braziliense. Blog Imagens Históricas. Disponível em

<http://1.bp.blogspot.com/_w1a3otOpT6g/SxSpfF4qWqI/AAAAAAAAACk/jJtenOXFNCQ/s400/DSC06045.JPG>. Jornal

Gazeta do Rio de Janeiro. Blog do Genaro. Disponível em

<http://3.bp.blogspot.com/_3IpWDXPqiK0/SMgJo_69ywI/AAAAAAAABh4/i8fg1Ml-Rug/s1600-

h/Gazeta_do_Rio_de_Janeiro_1808.png>. 13

Fim marcado primeiramente pelas medidas da Junta de Governo da Revolução constitucional portuguesa, de 21 de setembro

de 1820, decretando o respeito à liberdade de imprensa e a liberdade de circulação de impressos portugueses fora de Portugal,

decisões que afetavam diretamente o Brasil (MOREL, 2008). Em 28 de agosto de 1821 é a vez do príncipe-regente reconhecer

a liberdade de imprensa no Brasil por meio da assinatura de um alvará (BAHIA, 2009).

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periódico manuscrito que circulou de agosto a outubro de 1823. Somente em 1827, a capital paulista veria

o Farol Paulistano (1827-1833), primeiro jornal impresso na cidade. No Maranhão, o primeiro impresso

surgiria um pouco antes, em 10 de novembro de 1821, quando foi publicada a edição número 35 de O

Concicliador do Maranhão, jornal editado de forma manuscrita até o número 34 (BARBOSA, 2010).

Além desses, também circularam em outros estados a Aurora Pernambucana (1821), O Paraense (1822),

O Compilador Mineiro (1823), o Diário do Governo do Ceará (1824), a Gazeta do Governo da Paraíba do

Norte (1826), o Diário de Porto Alegre (1827), entre outros (MOREL, 2008).

Ainda assim, Barbosa (2010) explica que foi necessária uma mudança de mentalidade por parte da

população para que a imprensa fizesse parte do cotidiano das pessoas: “não é tão-somente o

analfabetismo que impede a explosão da imprensa. Numa sociedade oralizada por excelência, as letras

impressas sempre foram mais ouvidas do que lidas” (BARBOSA, 2010, p. 21).

Mais dois impressos importantes que surgem ainda na década de 1820 são o Aurora Fluminense

(1827-1839), criado por Evaristo da Veiga, e o Jornal do Commercio (1827), fundado pelo francês Pierre

Plancher. O primeiro se destacava por defender a liberdade democrática, já o segundo, pela longevidade,

já que é um dos jornais mais antigos do país ainda em circulação14

(BARBOSA, 2010).

Temas de cunho político passaram a ser a base editorial dos jornais a partir dessa década. A

imprensa se tornou um ambiente propício para os debates abolicionistas. Outra característica desses

periódicos era a republicação de notícias já divulgadas em outros jornais, sobretudo os internacionais.

Tratava-se de uma “rede de textos” (BARBOSA, 2010, p. 23) que circulava entre os periódicos. Barbosa

(2010) diz:

Além dessa fonte de notícias, recolhem os fatos e as informações, que possivelmente interessariam

ao público, das redes de boatos e conversas que chegam pelos navios, ou “por ouvir dizer”, “por se

falar”, “por chegar aos nossos ouvidos”, entre dezenas de outras expressões que dão conta também

da contaminação do mundo oral nas letras impressas (BARBOSA, 2010, p. 23).

Mas, seria justamente a política o tema principal da maioria desses impressos. Insultos e

xingamentos, ataques de um jornal contra outro, debates intensos e críticas pessoais faziam parte dos

textos publicados (BARBOSA, 2010).

O contexto desses insultos que proliferam sob a forma de impressos deve ser considerado. Numa

cidade onde o burburinho de vozes é a marca mais evidente e onde as palavras se divulgam aos

gritos, também os impressos espelham esse mundo de natureza oral. Ainda que ecoadas pela boca

dos grupos dominantes, essas falas, que são editadas pelos pasquins, possuem todos os índices do

mundo da voz. O seu contexto de produção e de circulação, a forma como eram usadas (ou seja,

também impressa) e a variedade cultural desse contexto são culturalmente determinados. Portanto,

há que se entender que essa dinâmica de um jornalismo feito de palavras muito usuais no contexto

da época é incompreensível, se considerarmos o padrão que temos hoje, no século XXI. A força da

pena, no século XIX, está inexoravelmente ligada à força da voz (BARBOSA, 2010, p. 52).

14

O periódico é o segundo mais antigo ainda em circulação, perdendo o posto apenas para o Diário de Pernambuco, fundado

dois anos antes, em 1825 (BARBOSA, 2010).

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De acordo com Morel (1999), uma das formas mais comuns dos jornais se referirem a seus

inimigos políticos entre 1820 e 1840 na Corte era fazendo uso de associações às imagens de animais, o

que ele chama de “zoologia política” (MOREL, 1999, p. 259). Para o autor, “múltiplas metáforas

‘zoológicas’ povoavam a discussão pública. Entre essas imagens, algumas se fixaram e tornaram-se quase

institucionalizadas no vocabulário da época” (MOREL, 1999, p. 252). Essa característica do discurso da

imprensa ainda foi encontrada quase um século depois em algumas ilustrações dos jornais paraenses

analisados durante esta pesquisa.

Também tinham espaço nos periódicos brasileiros assuntos relacionados a denúncias de crimes,

liberdade de imprensa, anistia política, entre outros. Mesmo ligados a interesses políticos, alguns jornais

valorizavam o acontecimento. E, segundo Ribeiro (2007), esse pode ter sido o motivo de periódicos como

o Diário do Rio de Janeiro (1821), Diário de Pernambuco (1825) e o Jornal do Commercio (1827) terem

conseguido conquistar o público e existir por tanto tempo. Barbosa (2010) afirma que o próprio Jornal do

Commercio “seria exatamente o primeiro periódico brasileiro a adotar o serviço das agências

internacionais, no caso, a Havas, em 1874, após a implantação do serviço telegráfico internacional”

(BARBOSA, 2010, p. 77). Posteriormente, a Gazeta de Notícias também utilizaria o serviço da agência.

1.3. UMA NOVA IMPRENSA PARA NOVOS LEITORES

Na segunda metade do século XIX, predominaria nas páginas dos diários brasileiros temas ligados

ao mundo dos escravos. A Gazeta de Notícias (1875), a Gazeta da Tarde (1881) e a Cidade do Rio (1887)

são exemplos de jornais do período que se colocavam contra o regime escravista (BARBOSA, 2010).15

O primeiro, fundado em 1875 por Ferreira de Araújo e tendo como redator José do Patrocínio,

circulando no período com oito páginas, distribuía entre as colunas notícias de toda natureza e telegramas

enviados pela agência Havas. Foi responsável por publicar as primeiras matérias sobre a abolição

(BARBOSA, 2010, p. 111). De acordo com Matheus (2012), a publicação dos telegramas da agência

Havas desde o primeiro número foi o diferencial do periódico em relação à imprensa da época. Todavia, a

autora destaca que “existe uma lacuna sobre o uso do telégrafo pelos jornais do Brasil, embora a

discussão sobre pioneirismo deste ou daquele jornal e a precisão das datas não importe tanto para explicar

as mudanças que ocorreram” (MATHEUS, 2012, p. 42). Entre essas mudanças, Barbosa (2013) afirma:

Se a imagem em novos suportes permitia o conhecimento de lugares desconhecidos que

precisavam ser congelados e difundidos por inúmeras razões, incluindo a necessidade de fixar em

materialidades duradouras um mundo que se transformava velozmente, o telégrafo inaugura outra

ruptura no que diz respeito aos processos comunicacionais. (...). O telégrafo trazia informações do

que ocorrera na véspera em lugares muito distantes. Tornava o mundo mais próximo e mais ágil. E

15

Segundo Bahia (2009), Pará, Ceará, Rio Grande do Norte, Sergipe, Maranhão, Piauí e Paraíba também tiveram jornais

abolicionistas, mas de curta duração, os quais se esgotaram na República.

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as imagens mostravam agora rostos e paisagens de lugares que antes só podiam ser construídos

como imagem/imaginação (BARBOSA, 2013, p. 176-177).

A Gazeta da Tarde foi fundada por Patrocínio em 1881, quando este deixou a redação da Gazeta

de Notícias. Mesmo com características gráficas semelhantes às do jornal onde seu dono trabalhou, a

Gazeta da Tarde se posicionou contra a escravidão de forma mais evidente, abrindo espaço, em 1883,

para que em suas instalações fosse fundada a Confederação Abolicionista16

(BARBOSA, 2010).

Em 1887, José do Patrocínio, ainda no comando da Gazeta da Tarde, fundou o vespertino Cidade

do Rio.17

Com quatro páginas e tamanho menor que o dos outros jornais, o periódico também se

posicionava em prol da causa abolicionista. Quando Patrocínio foi preso e enviado para o Amazonas,

devido a retaliações durante o governo de Floriano Peixoto (1891-1894), o jornal foi fechado. Patrocínio

só retornou ao comando da Cidade do Rio em agosto de 1892. A publicação do periódico foi encerrada

quase dez anos depois de sua fundação. O jornal ainda voltou a circular em 1º de maio de 1895, tendo

como redator-chefe Demerval da Fonseca, mas faliu, definitivamente, em 1902 (BARBOSA, 2010;

BAHIA, 2009).

O fechamento definitivo do jornal de Patrocínio encerra um capítulo da história da imprensa

brasileira no qual o tempo dos pequenos periódicos antecede o das grandes empresas jornalísticas.

Complexas, com centenas de profissionais em atividades, essas verdadeiras “fábricas de notícias”

traduzem, em seus prédios e no conteúdo impresso em suas páginas, a inserção num novo tempo

em que ordem, progresso, disciplina e, sobretudo, modernização são verdadeiras palavras de

ordem (BARBOSA, 2010, p. 116).

A década de 1880, a qual marca o início da segunda fase da imprensa brasileira (BAHIA, 2009),

iria conhecer não apenas novos recursos tecnológicos, mas, também, um novo jornalismo. Cresceram os

investimentos e houve uma renovação do parque gráfico e maior consumo de papel (BAHIA, 2009). Com

o avanço no sistema de transporte e dos Correios, a entrega das assinaturas foi aperfeiçoada. Cresceria

também o número de leitores e a sociedade se veria cada vez mais dentro do mundo da impressão

(BARBOSA, 2010). Além disso, o indivíduo se depararia com uma nova forma de leitura: a das imagens,

que proliferaram nas páginas na segunda metade do século (BARBOSA, 2013).18

Os últimos anos do século XIX anunciam drásticas transformações. Envolvido pela ideologia do

progresso, que iguala a ideia do novo à civilização, comparando-a com atitudes europeias,

notadamente francesas, o Rio de Janeiro se cobre não apenas de cenários de concreto que

anunciam o novo tempo, como também ecos dos jornais e revistas que disseminam pelos quatro

cantos o discurso da modernização (BARBOSA, 2010, p. 119).

16

A Confederação reunia as sociedades antiescravagistas do Rio e de Niterói (BARBOSA, 2010, p. 113). 17

Para saber mais sobre a história do jornal Cidade do Rio e a do próprio José do Patrocínio, ver Bahia (2009, p. 148-154). 18

Barbosa (2013) destaca uma ilustração da edição de 15 de outubro de 1887 da Revista Ilustrada (1876-1898) como uma das

muitas que mostram um novo tipo de leitor: o escravo. A autora nos descreve a imagem: “Narrada pelo traço do artista, a

imagem mostra onze escravos reunidos na leitura coletiva do jornal O Paiz (1884-1930). (...) no centro, um deles segura o

jornal e o lê. Os outros, sete homens, duas mulheres e uma criança escutam boquiabertos. (...). Escutam com atenção as

palavras que do mundo impresso invadem o mundo oral” (BARBOSA, 2013, p. 149-150). Para saber mais sobre os escravos

leitores, ver Barbosa (2010; 2013).

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No entanto, a autora (2013) explica que somente o século seguinte veria a fotografia se firmar

definitivamente na imprensa e de maneira mais ampla. Segundo ela, o marco inaugural do uso da

fotografia no Brasil é impreciso, mas, já na primeira década, havia 279 estabelecimentos de fotografia – e

fotógrafos – no país, desses, 67 estavam localizados em São Paulo e 42 no Rio de Janeiro (BARBOSA,

2013). Diz a autora: “construíam-se imagens para fixar representações de personagens e lugares que

estavam (ou iriam) se transformar ou desaparecer. Diante de um tempo veloz, era preciso fixar instantes.

Passava-se paulatinamente do visível para o visual” (BARBOSA, 2013, p. 193).

Os pequenos jornais, muito presentes ainda na década anterior, começaram a desaparecer mais

rápido. O próprio leitor se tornou mais exigente e os novos produtos feitos com mais rigor e sofisticação,

buscavam atender as novas necessidades da sociedade (BAHIA, 2009):

Esse processo de desenvolvimento do jornalismo, em cuja base se acha a tipografia, corresponde

ao próprio desenvolvimento da economia. Na primeira metade do século XIX, o passivo colonial,

a crise financeira, o analfabetismo e a instabilidade política bloqueiam toda a produção cultural

brasileira e, de modo particular, toda a imprensa. Já na segunda metade do século XIX, e de

maneira mais efetiva nos anos que antecedem o século XX, os jornais e a tipografia, assim como o

livro e outras manifestações do pensamento e das artes, beneficiam-se da eliminação do trabalho

escravo, do crescimento econômico que impõe melhores níveis de renda, do trabalho assalariado e

da descentralização republicana (BAHIA, 2009, p. 114).

Entre as transformações tecnológicas que ocorreram nesse período, destacam-se a implantação de

máquinas Marinonis,19

que possibilitavam uma impressão mais veloz e em maior quantidade, e uso de

inovações que permitiam a reprodução de fotografias e ilustrações com mais rapidez. A implantação

dessas máquinas corresponde à terceira das quatro “etapas fundamentais do desenvolvimento da

tipografia”, de acordo com Bahia (2009). Para o autor (2009, p. 116), as quatro etapas são: “a máquina de

papel, de Louis Robert (1798); a prensa mecânica, de Frederico Koning (1812); a prensa rotativa, de

Marinoni (1850), e a linotipo, de Mergenthaler (1885)”. A introdução da cor nos impressos foi possível

em 1907, com a implantação de uma impressora alemã pela Gazeta de Notícias (BARBOSA, 2010).

Mas as mudanças pelas quais a imprensa passaria às vésperas da virada do século não ocorreram

apenas no aspecto técnico. O próprio padrão editorial dos impressos, como se via até a década de 1880,

seria modificado. Informar os leitores se tornou primordial. Imparcialidade, neutralidade e veracidade se

tornaram as palavras-chave na forma como os jornais se conceituavam. Até mesmo a forma como as

notícias eram organizadas nas páginas mudou, foram criadas colunas fixas, de modo que a informação e a

opinião ficassem bem definidas e pudessem ser identificadas (BARBOSA, 2010). É nesse contexto que as

notícias policiais e os folhetins ganham espaço:

Editando com destaque as notícias policiais e reportagens, sob uma capa de neutralidade, e

introduzindo a entrevista nas primeiras páginas, os jornais procuram construir uma representação

19

Barbosa (2010) explica que o Jornal do Commercio, por exemplo, possuía três dessas máquinas, que juntas imprimiam “uma

tiragem de 10 mil exemplares” (BARBOSA, 2010, p. 121).

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ideal da sociedade. A opinião isola-se no artigo de fundo e a ilustração, substituída, já no século

XX, pela fotografia, publicada ao lado do texto, cumpre também esse papel (BARBOSA, 2010, p.

121).

Ainda assim, Barbosa (2010) destaca que nem todos os jornais desse período se modernizaram de

maneira uniforme, na verdade, muitos ainda se baseavam nos moldes antigos.

Os impressos que se modernizaram viram-se também imersos em uma corrida em busca de

conquistar o público antes que os outros periódicos o fizessem. É o caso do Jornal do Brasil (1891-

atual),20

do Correio da Manhã (1901-1974), da Gazeta de Notícias (1875-1942), O Paiz (1884-1834) e o

Jornal do Commercio (1827-atual), que buscaram utilizar “estratégias editoriais” (BARBOSA, 2010, p.

123) para alcançar esse objetivo. Além da separação das notícias informativas e opinativas, esses

periódicos também publicavam ilustrações, criavam seções populares para atrair o grande público, faziam

uma separação do trabalho nas redações e usavam estratégias promocionais (BARBOSA, 2010). A

Gazeta de Notícias, inclusive, introduziu um novo modelo para vender o jornal chamando a atenção do

transeunte: “sobraçando dezenas de exemplares, os pequenos vendedores passaram a gritar a partir de

1875 não apenas o nome do jornal, mas a notícia que certamente poderia mais chamar a atenção do

público” (BARBOSA, 2013, p. 151).

Com esses avanços e transformados em grandes empresas, os jornais não se mantinham somente

com o lucro das vendas e assinaturas, nem com os pequenos anúncios, mas também com a verba

proveniente do governo, em troca, bastava defender os que estavam no poder (BARBOSA, 2010, p. 180).

Se fosse possível traçar uma cronologia das relações explícitas desses periódicos com o poder

público e da importância que têm durante os primeiros anos do século XX, podemos afirmar que a

supremacia cabe ao Jornal do Commercio. Em função da sua popularidade, o Jornal do Brasil

passa também a ser visivelmente cortejado. O Correio da Manhã mantém a sua autoconstrução

como opositor de tudo e de todos e se vincula periodicamente aos grupos opositores, exercendo

um papel claramente contra-hegemônico (BARBOSA, 2010, p. 181).

Assim, os processos tecnológicos e históricos cada vez mais afetaram a forma de se fazer

jornalismo e prepararam a imprensa brasileira para o novo século.

1.4. A IMPRENSA NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX

O século XX trouxe, cada vez mais, a necessidade de atrair leitores. Ilustrações, preço, literatura,

entre outros recursos, foram utilizados pelos periódicos para alcançar esse propósito. Cresce o espaço

para as notícias policiais e esportivas, folhetins, charges e escândalos (BARBOSA, 2007; 2013):

“aceleração, velocidade e mudança são as palavras-chave do século XX desde o seu alvorecer”

(BARBOSA, 2013, p. 194). Nesse período,

Além do aparecimento de uma imprensa inteiramente sensacionalista, que fará do escândalo e dos

dramas do cotidiano o destaque de seu conteúdo, surgem não apenas jornais estruturados em

moldes empresariais, mas grupos isolados que passam a dominar mais de um título. A instalação

20

O Jornal do Brasil foi publicado impresso até setembro de 2010, quando passou a existir somente em versão digital.

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de novas agências noticiosas, desta vez norte-americanas, e a vinda das primeiras grandes agências

de publicidade dão a senha para a entrada do jornalismo num novo tempo (BARBOSA, 2007, p.

48).

Assim, a partir de 1910, as notas sensacionais passam a fazer parte das publicações diárias, e os

“horrores cotidianos” são retratados por meio das ilustrações e fotografias (BARBOSA, 2007, p. 49).

Antes de 1910, os grandes jornais já utilizavam a cor para seduzir os leitores, com o uso de “cabeçalhos

em vermelho” (BAHIA, 2009, p. 170).21

De acordo com Bahia (2009), data desse período o anúncio em

cores, mais especificamente em 1914, no Jornal do Brasil, e, no ano seguinte, no Estado de S. Paulo.

Além dessa, outras inovações na área da publicidade tornaram-se possíveis. Diz o autor:

Esse avanço de qualidade da informação paga, nos mais importantes veículos entre 1910 e 1920,

corresponde a fatores significativos que se projetam desde 1914 no mercado de publicidade. A

organização de agências, o reconhecimento da função profissional do corretor de anúncios, a

prática de preços mediante uma tabela, a caracterização do anúncio de varejo (BAHIA, 2009, p.

171).

O anúncio ilustrado, usado na imprensa desde meados de 1876, tem seu espaço ampliado nos

jornais e revistas a partir da impressão a cores, introduzindo também novos conteúdos como a poesia, o

humor e a sátira (BAHIA, 2009).

A ilustração, primeiro, e, depois, as cores lançam as bases da propaganda brasileira moderna, já

por volta da metade da segunda década de 1900. Os demais componentes dessa conquista são o

reaparelhamento gráfico, a criação das agências de publicidade e a formação de um mercado

anunciante que prospera na medida das mudanças econômicas e sociais por que passa o país

(BAHIA, 2009, p. 175).

É a época da popularização da informação diária, interesse em assuntos do exterior e, ao mesmo

tempo, em assuntos locais (BAHIA, 2009). Considerando o serviço de agências de notícias como a

Havas, por exemplo, insuficiente, além da busca por mais prestígio entre os leitores, alguns jornais

passaram a investir em correspondentes internacionais, prática comum na Europa e nos Estados Unidos.

Escritórios foram instalados ou ampliados em Roma, Londres, Paris, Lisboa, Santiago do Chile, Lisboa,

Nova York, Buenos Aires e Montevidéu. Cresceram as edições de fotogravuras nos periódicos. É também

o período dos vespertinos na imprensa, principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo (BAHIA, 2009).

Em Belém, a Folha do Norte também editou sua Folha Vespertina (1941-?) na primeira metade do século.

A notícia viaja de bonde, de trem e de navio, os meios de transporte de que se valem repórteres em

missões de maior mobilidade. O jornal é menos literário e mais noticioso. Nem por isso deixa de

atrair escritores e publicistas consagrados. Nas oficinas, a linotipo despede o motor a gás e passa a

utilizar o motor elétrico (BAHIA, 2009, p. 137).

A partir de 1918, a United Press começou a fornecer o serviço noticioso internacional aos jornais

brasileiros, prestando serviço, inicialmente, para o Estado de S. Paulo e, a partir de 1922, ao Jornal do

Brasil. Nessa época, o país já contava com o serviço de agências como a Havas e a Americana, primeira

21

Barbosa (2007, p. 85) afirma que, com a aquisição da rotativa americana Man foi possível a impressão de suplementos a

cores, destaque para o Suplemento Ilustrado do jornal A Noite, lançado em 1929.

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agência noticiosa nacional, fundada por Cásper Líbero e Olavo Bilac (BAHIA, 2009). A Associated Press

também passou a enviar notícias internacionais ao Correio da Manhã (BARBOSA, 2007).

O estilo da imprensa nacional era ainda inspirado nos moldes europeus, somente a partir dessa

década a objetividade norte-americana passou a influenciar o jornalismo brasileiro. É característica desse

período a valorização do ideal de neutralidade, isenção e prestação de serviços na narrativa jornalística

(BARBOSA, 2007).

Em agosto de 1920, os jornalistas tiveram direito a um dia de descanso durante a semana, o que

fez os matutinos pararem de circular às segundas-feiras (BAHIA, 2009).

Em 1923, os jornais foram obrigados por lei a identificar no cabeçalho os nomes de seus diretores.

A partir de 1924, ainda que de maneira embrionária, os impressos passariam a dividir a atenção pública

com o rádio, embora o novo veículo ainda transmitisse a informação de forma incompleta e imprecisa

(BAHIA, 2009).

Bahia (2009) destaca outras inovações da imprensa no final da década de 1920, como a cobertura

de eventos sociais pela revista Vida Doméstica, em 1927, e a reportagem fotográfica aérea um ano depois,

com cobertura da chegada do navio que trazia Santos Dumont ao Rio de Janeiro (BAHIA, 2009).

A década de 1930 marcou o início de um período na história brasileira onde a liberdade dos meios

de comunicação foi censurada pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) do governo Getúlio

Vargas. As empresas que não aderiram ao regime foram fechadas ou empasteladas e muitos dirigentes

foram presos. No entanto, como destaca Barbosa (2007, p. 103), “não se pode considerar de forma

unânime que toda a grande imprensa sofre negativamente com a ação política do período ditatorial de

Vargas”.

O Estado Novo, ou “Era Vargas”, teve início com a deposição do presidente Washington Luiz, em

24 de outubro de 1930, quando foi instalado um Governo Provisório (1930-1934), que dias depois

passaria o poder para Getúlio Vargas e iniciaria o chamado Governo Constitucional (1934-1937) e, em

seguida, o Período Ditatorial (1937-1945). O DIP foi criado justamente nessa terceira fase, em 27 de

dezembro de 1939, para “divulgar a ideologia estadonovista” (BARBOSA, 2007, p. 112) e se manteve até

maio de 1945. Barbosa (2007) conclui que “o DIP procura, portanto, divulgar, propagar e criar o mito

Vargas. Biografias diversas do presidente, ilustradas, em formato reduzido (...) são distribuídas nas portas

das escolas, ressaltando a figura excepcional de Vargas, a sua afeição pelos jovens e pelas crianças”

(BARBOSA, 2007, p. 119).

É nessa época que, segundo Barbosa (2007), o público passa a ser visto como massa. Mas, esse

mesmo público deixa de ser assunto e o Estado se torna o protagonista nas publicações, por coerção ou

alinhamento político. Para onde vai a voz do povo quando é silenciada nos jornais? A autora (2007)

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esclarece que no rádio e nas revistas é onde o popular encontra espaço numa época em que a política

enchia as páginas dos diários.

A Era Vargas chegava ao fim em 1945 e a Assembléia Constituinte de 1946 instaurava,

novamente, a liberdade de pensamento e o fim da censura. Para o jornalismo brasileiro, iniciava uma nova

era de transformações e reformas.

1.5. MODERNIZAÇÃO E GRANDES TRANSFORMAÇÕES

Ribeiro (2006) elege os anos de 1950 como “um marco na história da imprensa brasileira” durante

o século XX (RIBEIRO, 2006, p. 427). A autora afirma que, além de mudanças técnicas, os jornais

passaram também por transformações profissionais, mudanças inspiradas no modelo norte-americano22

de

produção jornalística. Diz Ribeiro (2006):

No cerne desse processo estava a incorporação do ideal de objetividade, que se formalizou numa

série de procedimentos técnicos de redação: lide, pirâmide invertida, copidesque, manuais de estilo

etc. As novas regras impuseram-se aos chamados “gêneros informativos” (notas, notícias,

reportagens) e passaram a marca-los pela impessoalidade, pelo anonimato, pelo distanciamento

enunciativo em relação ao universo de referência (RIBEIRO, 2006, p. 427).

No entanto, essa modernização não surgiu do nada. Ela teve início ainda na primeira década do

século, mas só encontrou um ambiente favorável para se firmar em meados de 1950, período no qual

predominava o discurso da modernização (BARBOSA, 2007).

Abreu (1996), em seus estudos sobre os suplementos literários do Rio de Janeiro, afirma que o

setor financeiro dos jornais também mudou, já não dependiam mais de “favores do Estado, de pequenos

anúncios populares ou domésticos e da publicidade das lojas comerciais” (ABREU, 1996, p. 16). A autora

afirma:

Nos anos 50 começaram os investimentos no setor publicitário e teve início a implantação no país

de grandes agências nacionais e estrangeiras de publicidade; os anúncios nos jornais se

diversificaram, encontrando-se desde anúncios de automóveis, eletrodomésticos, produtos

alimentícios e produtos agrícolas até anúncios de produtos artesanais os mais variados (ABREU,

1996, p. 16).

Ocorre, assim, o fim da fase do dito “jornalismo literário” e a imprensa brasileira entra de vez na

fase conhecida como “empresarial” (LATTMAN-WELTMAN, 1996, p. 161). É importante frisar, que a

predominância da objetividade não significou o fim do espaço da literatura ou da opinião, os quais

ganharam espaços específicos nas páginas, delimitados inclusive graficamente (ABREU, 1996).

Ganhou força também o fotojornalismo e a caricatura. A própria profissão do jornalista passou por

mudanças salariais, jurídicas, sindicais e éticas. Além disso, foram criadas faculdades de jornalismo nas

universidades (RIBEIRO, 2006). Assim, as redações passaram a ser ocupadas por outro tipo de jornalista,

22

Deve-se considerar, no entanto, como afirma Ribeiro (2006, p. 434), que a implantação desse tipo de jornalismo moderno

“encontrou limites na configuração histórico-cultural da sociedade brasileira e na estrutura das empresas de comunicação”.

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aquele com formação especializada, que se misturava com os antigos profissionais da prática,

contribuindo para uma nova forma de noticiar (ABREU, 1996).

Um exemplo de impresso que se beneficiou desse novo modelo foi o Jornal do Brasil. Fundado

por Rodolfo de Souza Dantas e Joaquim Nabuco em abril de 1891, o jornal passaria por crises financeiras

e mudanças editoriais no decorrer de sua história até a condessa Pereira Carneiro23

e seu genro, Manuel

Francisco do Nascimento Brito, assumirem a direção (FERREIRA, 1996).

De acordo com Ferreira (1996), foi uma fotografia publicada na primeira página do Jornal do

Brasil, em uma das edições de março de 1957, o marco inicial da nova apresentação do periódico:24

“introduzida a título de experiência, a foto foi incorporada definitivamente, embora a primeira página

continuasse ocupada basicamente por anúncios” (FERREIRA, 1996, p. 153).

Outras mudanças gráficas foram implantadas, como a eliminação dos fios entre as colunas de

textos, por exemplo. Assim, os leitores puderam ver um novo Jornal do Brasil.

A explicação para esse desempenho deve-se à combinação de diferentes variáveis: a conjuntura

histórica do período; a capacidade de decisão empresarial da direção para captar as demandas do

seu tempo e apostar no novo; a boa condição financeira do jornal, que lhe permitia arcar com os

custos do processo; a capacidade de atrair intelectuais e jovens jornalistas empenhados em criar e

construir novas formas de trabalho jornalístico, e a moderação política, marca registrada do jornal

desde os tempos do conde Pereira Carneiro. Foi essa modernização que preservou o JB dos

grandes vendavais políticos dos anos 50 (FERREIRA, 1996, p. 154-155).

A partir da década de 1970, os veículos de comunicação viveriam um período marcado pela forte

censura do regime militar, instaurado no Brasil desde março de 1964. A ditadura teve influência direta na

imprensa por meio da regularização da atividade do jornalista, da cobrança de impostos e manipulação

dos anunciantes a não tratarem com jornais contrários ao governo (RIBEIRO, 2006).

Assim como na Era Vargas, o regime militar também criou um órgão para regular os limites da

liberdade de pensamento e expressão na imprensa: o Serviço Nacional de Informações (SNI). Assim, o

controle das informações veiculadas sobre o governo era realizado por meio de telefonemas feitos às

redações (BARBOSA, 2007). A partir da instauração do Ato Institucional de número 5 (AI-5), em 1968, a

ação da censura se fortaleceu: “a maioria dos jornais curva-se às ordens superiores, introjetando o

discurso proibitivo antes mesmo que ele chegue às redações. Já os que tentam exercer oposição ao

regime, são submetidos à ação da censura” (BARBOSA, 2007, p. 192). Em outras palavras, muitos

periódicos praticaram uma espécie de autocensura para sobreviver.

23

Segundo Ferreira (1996), após a morte do marido, em 1953, a condessa viajou aos Estados Unidos para se inspirar nas

novidades do jornalismo praticado naquele país. 24

Apesar de muitos periódicos utilizarem fotografias na primeira página há bastante tempo, o Jornal do Brasil passou um longo

período publicando apenas anúncios na capa, desde que José Pires do Rio, no cargo de diretor-tesoureiro do jornal, implantou

esse tipo de política comercial, o qual causou muitas divergências internas e reduziu o espaço dos temas políticos, artes e

literatura nas páginas (FERREIRA, 1996).

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Com a polêmica política desaparecendo das páginas e o aumento no preço do papel, devido à crise

do petróleo na década de 1970, muitos jornais fecharam as portas (BARBOSA, 2007). No Rio de Janeiro,

por exemplo, se mantiveram no mercado apenas três grandes periódicos: O Globo,25

O Dia26

e o Jornal do

Brasil. Este último, em crise gradativa.

Nas duas últimas décadas do século, os jornais passaram a utilizar os recursos de informática,

ocorreu maior valorização da editoria de Economia, do jornalismo investigativo e um aumento no número

de cadernos especializados. Em 1994, no Brasil, 39 diários circularam em 18 capitais e o número de

edições vendidas era quase o dobro do ano anterior (BARBOSA, 2007). Marialva Barbosa (2007, p. 222)

esclarece que esse aumento está ligado a três fatores: “impulso da economia, com a implantação do Plano

Real, avanço tecnológico que aumenta a produtividade dos periódicos e esforços promocionais adotados

pela maioria dos jornais nesse momento”. Assim, a imprensa entrava no século XXI valorizando novos

aspectos editoriais e abrindo espaço para o aproveitamento de novos recursos tecnológicos.

1.6. UM BREVE PERCURSO DA IMPRENSA PARAENSE NO SÉCULO XIX

A imprensa paraense nasceu em 22 de maio de 1822, com a publicação da primeira edição de O

Paraense (1822-1823), catorze anos depois do surgimento do primeiro impresso brasileiro (Figura 2). O

jornal, fundado por Filippe Alberto Patroni Martins Maciel Parente e Daniel Garção de Mello, marcou

não só o início da imprensa no Pará, mas em toda a região amazônica, e colocou o a Província entre “as

primeiras Províncias brasileiras a conhecer a imprensa” (COELHO, 2008. p. 26).

Durante o período que estudou em Coimbra, Filippe Patroni viu de perto a eclosão da Revolução

Constitucionalista de Portugal, em 1820. Inspirado nas ideias do movimento vintista, planejou a

instalação de uma tipografia em Belém, que possibilitasse a circulação de um jornal que iria direcionar a

opinião pública a seguir os passos dos revolucionários portugueses (COELHO, 2008). É importante

ressaltar, como afirma Coelho (2008), que, após o movimento de 1820 e antes da fundação de O

Paraense, circularam em Belém alguns jornais editados em Portugal, sendo o primeiro, a Gazeta do

Pará,27

a qual era organizada por Filippe Patroni e foi publicada em Lisboa, em janeiro de 1821

(COELHO, 1989).

25

O Globo implantou diversas mudanças editoriais e estruturais, entre elas, criação de uma editoria de Economia e a adoção da

impressão offset no final da década de 1970, já usada pela Folha de S. Paulo (BARBOSA, 2007). 26

Barbosa (2007) explica que o jornal O Dia sempre se manteve firme desde a sua criação, em 5 de julho de 1951. Nos anos

1970 o diário se caracterizou por fazer um “jornalismo de sensações” (BARBOSA, 2007, p. 213), onde as notícias se

constituíam da seguinte forma: “70% de notícias de crime e polícia, 20% de política e reivindicações operárias e 10% de

esportes e divertimentos” (ANUÁRIO BRASILEIRO DE IMPRENSA, 1953, p. 4 apud BARBOSA, 2007, p. 214). 27

A Gazeta do Pará teve duração curta. Em suas publicações, tinham destaque as notícias da corte portuguesa (FERREIRA,

2005).

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Figura 2: O Paraense, 22 maio 1822, p. 1

Fonte: Coelho (2008, p. 37).

Além da Gazeta do Pará, circularam na Província, entre 1820 e 1822, outros periódicos que

defendiam o liberalismo vintista, entre os quais, o Astro da Lusitânia, O Pregoeiro Lusitano e O

Português Constitucional, todos provenientes de Lisboa. Mas também havia as edições dos jornais

portugueses de oposição a esse liberalismo, como o “Cordão da Peste, ou Medidas contra o contágio

periodiqueiro e dos Exorcismos contra periódicos e outros malefícios”, os quais também circulavam no

Pará (COELHO, 1989, p. 31).

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Predominavam, em O Paraense, conteúdos de cunho político, embora Fernandes e Seixas (2010b,

p. 6) enfatizem que “isso não exclui a existência de outras temáticas, como a religiosa, econômica,

policial e militar, que, de alguma maneira, também estabelecem uma relação com a política”.

Na quarta edição do jornal, quando Patroni foi preso e deportado para Lisboa, o cônego Batista

Campos assumiu a direção do impresso, sendo substituído, posteriormente, pelo cônego Silvestre Antunes

Pereira da Serra. O Paraense foi extinto na edição de número 70, em fevereiro de 1823, quando a

tipografia foi empastelada por militares (COELHO, 1989; 1993). Sobre o fim de O Paraense, Coelho

(1989) afirma:

Sintomático, assim, que já em fevereiro de 1923 deixasse de circular O Paraense, por força da

disolução da sociedade comercial responsável pelo periódico, a Imprensa Liberal de Daniel Garção

de Melo, e Companhia. Mesmo que de forma não objetiva, os registros documentais indicam que a

redução do número de assinantes comprometeu o equilíbrio da sociedade, situação gravada pela

retirada de um dos sócios, Domingos Simões da Cunha, motivada por divergência de ordem

administrativa com a direção do jornal. Significativo, também, nesse quadro, foi a prisão do

Cônego Batista Campos, em 14 de fevereiro de 1823, acusado pelo Promotor do Conselho dos

Juízes de Fato de abuso da liberdade de imprensa (COELHO, 1989, p. 60).

Nas duas primeiras décadas da imprensa no Pará (1820-1830), a configuração gráfica e editorial

dos jornais editados na capital era bastante diferente do que se conhece dos diários atuais. Havia pequenos

títulos, mas isso não era frequente; não havia editorias como se pode encontrar hoje nos periódicos, mas

alguns possuíam “conjuntos de matérias”(FERNANDES; SEIXAS, 2010a, p. 10). Em geral, possuíam

duas colunas. As únicas imagens vistas nas páginas eram os logotipos dos periódicos, além disso, as letras

variavam de tamanho (FERNANDES; SEIXAS, 2010a).

A imprensa paraense entrou na segunda década de existência em uma época de grandes agitações:

tinha início a Cabanagem, movimento dos cabanos, moradores de áreas periféricas da Província do Grão-

Pará que, em 1835, fizeram um levante popular o qual chegou ao poder após muita luta (SALLES, 1992).

Afirma Salles (2001):

Os Cabanos, basicamente índios, caboclos, negros, mestiços de todas as combinações étnicas,

libertos ou escravos, souberam organizar-se. E levaram sua luta às últimas consequências, até a

tomada do poder. A Cabanagem não foi, por isso, um movimento anárquico, simples explosão de

sentimentos; tomou a forma de verdadeiro mutirão guerreiro (SALLES, 2001, p. 32).

Seixas (2011a) diz que, durante essa década, permaneceram em circulação 29 jornais, sendo que

sete desses impressos foram publicados de um a cinco anos. Nesse período de tensões na Província, os

jornais foram “porta-vozes” dos conflitos (FIGUEIREDO, 2008, p. 36). Desses impressos, destacam-se o

Correio Official Paraense, que pertencia ao presidente da província Bernardo Lobo de Sousa e era

redigido pelo cônego Gaspar de Siqueira Queirós e o Sentinella Maranhense na Guarita do Pará, dirigido

por Vicente Ferreira Lavor Papagaio (FIGUEIREDO, 2008). O Sentinella, devido às críticas que fazia a

Bernardo Lobo de Sousa foi suspenso já na segunda edição, mas influenciou fortemente para as revoltas

que começavam a agitar a Província (FIGUEIREDO, 2008). O autor (2008) comenta que, mesmo com

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essa disposição para a luta política, os jornais dessas primeiras décadas do século eram caros, ficando

limitados ao consumo da elite e aos letrados, chegando ao restante da população as notícias que eram

transmitidas oralmente.

Somente em Belém, 40 jornais foram impressos nesses primeiros vinte anos. Entre 1822 e 1985,

há registros do total de 1.005 jornais editados na capital do Pará e no interior do Estado (BIBLIOTECA

PÚBLICA DO PARÁ, 1985).

Já nas décadas de 1840 e 1850, foram publicados 57 jornais (SEIXAS, 2011a). Uma das

características desses impressos era a efemeridade, mas alguns tiveram uma duração relativamente longa.

É o caso do Treze de Maio (1840-1862), jornal de propriedade de Honório José dos Santos, o qual

marcou também pela diversificação das notícias na época, quando, nos outros impressos, a política era o

assunto recorrente (SEIXAS et al, 2013). Segundo Seixas (2011a), passou a ter circulação diária em 1º de

outubro de 1855.

São exemplos de jornais que surgiram nessas duas décadas: O Publicador Paraense (1841), O

Tribuno do Povo (1844), O Cenobita (1847), Correio dos Pobres (1848), O Teo-Teo (1848), O Planeta

(1849), O Velho Brado do Amazonas (1850), O Bom Paraense (1851), O Martyr (1851), A Trombeta do

Sanctuario (1851), A Voz do Guajará (1851), O Communicador (1853), Correio das Verdades (1853),

Curupyra (1857), Jornal do Amazonas (1860), Synopsis Ecclesiastica (1848)28

entre outros

(BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ, 1985).

Os impressos, nessa época, já apresentavam certa diversificação de assuntos nas edições

publicadas. Na década de 1850, surgiria o primeiro jornal de publicação diária em Belém: o Diário do

Gram-Pará, fundado em 10 de abril de 1853, pelos portugueses José Joaquim Mendes Cavalleiro e

Antônio José Rabello Guimarães. O periódico deixou de circular quase 40 anos depois, em 15 de março

de 1892. Fernandes e Seixas (2010b), baseados em dados do catálogo de jornais da Biblioteca Pública do

Pará, afirmam que

O subtítulo do jornal sofreu alterações durante os anos de publicação, reflexo de mudanças no seu

posicionamento editorial. De “Folha Commercial, Noticiosa e Literária”, passou para “Órgão do

Partido Conservador”, “Órgão do Partido Cathólico” e, por fim, “Órgão do Partido Nacional”.O

jornal, graficamente, tinha dimensões de 42 cm de altura por 28 cm de largura, quatro páginas e

dividido em três colunas. Inicialmente, o Diário não era publicado às segundas-feiras, mudança

ocorrida a partir do dia 3 de agosto de 1857. Da mesma maneira, o periódico não era publicado aos

domingos. (FERNANDES; SEIXAS, 2010b, p. 9).

28

Fundado em 20 de setembro de 1848, tinha periodicidade mensal e estava sob a responsabilidade do Bispo Diocesano Dom

José Afonso de Moraes Torres e dos cônegos Raymundo Severino de Mattos, Gaspar Siqueira Queirós e Luis Barroso Bastos.

Se definia como o “primeiro jornal religioso” publicado na Província do Grão-Pará. Circulou até 15 de agosto de 1849

(FERNANDES; SEIXAS, 2010b).

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Depois do Diário do Gram-Pará, outros quatro jornais que, em ordem cronológica, adotaram a

impressão diária foram: A Epocha (1853), Treze de Maio (1855), Gazeta Official (1858) e Jornal do

Amazonas (1860) (SEIXAS, 2011a).

A imprensa diária trouxe outras transformações na produção dos jornais, seja no tamanho, na

diagramação e no conteúdo (SEIXAS, 2011a). Dados coletados por Seixas (2011a, p. 225) mostram que

“embora ainda mantivessem apenas quatro páginas, passaram a trazer até cinco colunas de texto, títulos

mais destacados, assuntos mais diversificados e organizados, à guisa de seções”.

A partir de 1870, o processo de circulação dos jornais passou por transformações significativas

com a ampliação do mercado da imprensa (FIGUEIREDO, 2008). Esses periódicos eram inspirados nas

mais variadas temáticas e posicionamentos políticos e religiosos, tais como a maçonaria29

ou o

catolicismo, além de temas humorísticos (FIGUEIREDO, 2008; 2009).

Dos jornais paraenses da década de 1880, um em particular se diferencia dos outros pelo uso da

imagem, trata-se do periódico A Vida Paraense (1883). Sob a assertiva de ser “crítico, literário, científico

e artístico” (BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ, 1985, p. 95; FERNANDES; SEIXAS, 2012, p. 36), o

jornal tem a primeira publicação datada de 8 de maio de 1883. Segundo Fernandes e Seixas (2012), o

jornal circulava a cada três semanas e há apenas duas edições disponíveis desse impresso para pesquisa

no acervo da Biblioteca Pública do Pará: de 30 de outubro e 20 de novembro de 1883. Ainda de acordo

com os autores, as ilustrações eram assinadas por João Affonso. “Em um país em que a maior parte da

população era analfabeta, as ilustrações têm grande importância” (FERNANDES; SEIXAS, 2012, p. 36).

É ainda no século XIX que surgem dois grandes jornais paraenses: A Província do Pará (1876-

2002) e a Folha do Norte (1896-1974). Devido terem circulado em grande parte durante o século XX,

esses dois periódicos serão apresentados com mais detalhes no tópico seguinte.

Ao longo de quase cem anos, a imprensa se firmou na Amazônia se adaptando aos processos

históricos e culturais da região. No Pará, de 1822 até 1908, 730 jornais circularam no Estado a partir da

primeira edição de O Paraense, a maioria (722) em português e alguns em espanhol, italiano e francês

(FIGUEIREDO, 2008). Dessa forma, o jornalismo paraense entrava em uma nova etapa de seu

desenvolvimento: via o nascimento de um novo século e de uma nova imprensa.

1.7. OS PRINCIPAIS IMPRESSOS PARAENSES DO SÉCULO XX

O final do século XIX e início do século XX foram marcados pelo auge da borracha na Amazônia.

Em Belém, o intendente Antônio Lemos foi o principal responsável em materializar, sobretudo na

29

O jornal O Pelicano (1872-1874) tornou-se órgão oficial da maçonaria no Estado, mesmo sendo redigido por representantes

católicos (FIGUEIREDO, 2008).

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arquitetura da cidade, as marcas desse tempo. Foi também a época da multiplicação dos jornais

humorísticos e literários (FIGUEIREDO, 2009).

Com a queda de Antônio Lemos em agosto de 1912, A Província do Pará, jornal vinculado ao ex-

intendente, também foi prejudicada (Figura 3). A sede do periódico foi incendiada naquele ano e somente

oito anos depois A Província viria a ser publicada novamente, sob a direção de Pedro Chermont de

Miranda (BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ, 1985). Antônio Lemos foi para o Rio de Janeiro, onde

faleceu em outubro de 1913 (FERNANDES; SEIXAS, 2011).

Inaugurada em 25 de março de 1876, A Província do Pará encerrou suas publicações em 2002,

sendo, portanto, considerado o periódico com maior duração no Pará (FERNANDES; SEIXAS, 2012).30

O jornal foi fundado por Joaquim José de Assis, Francisco de Souza Cerqueira e Antônio Lemos

(BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ, 1985). Para Rocque (1976), dos três fundadores, o principal era

Joaquim José de Assis, ou “Dr. Assis”. Mineiro, graduado em Ciências Jurídicas e Sociais em São Paulo,

chegou ao Pará em 1855, para assumir o cargo de secretário do presidente Rego Barros. Na sociedade que

firmou com Francisco de Souza Cerqueira e Antônio Lemos “era o chefe político de prestígio, o homem

do dinheiro”, enquanto Cerqueira cuidava da tipografia e Lemos da gerência, da parte comercial e

colaborava algumas vezes com a redação de textos (ROCQUE, 1976, p. 15). Fernandes e Seixas (2012)

descrevem como era esse periódico quando de seu surgimento:

A primeira edição d’A Província, de 25 de março de 1876, contava com cinco colunas e quatro

páginas, sendo 80 réis o número avulso, em um formato de dimensões de 54 x 37 cm. Apesar das

condições desfavoráveis para uma análise minuciosa, por conta da deterioração das páginas do

jornal, identificam-se seções como “Telegrammas” e “Secção Commercial”. As pequenas

ilustrações do periódico aparecem, principalmente, entre os anúncios das últimas páginas

(FERNANDES; SEIXAS, 2012, p. 38).

Rocque (1976) complementa: “o preço da assinatura anual era de 18 mil réis para a capital e 20

mil réis para o interior. Um aviso dizia que deveriam ser pagas adiantadamente e finalizariam sempre em

março, junho, setembro e dezembro” (ROCQUE, 1976, p. 18).

Foi com a República (1889) que o jornal ganhou sua primeira máquina rotativa, uma Marinoni, em

1897, lançando as bases para uma nova era do jornalismo que se fazia na região31

(FERREIRA, 2005).

Em 27 de julho de 1926, sob a direção de Pedro Chermont de Miranda, as publicações foram

interrompidas devido a problemas financeiros, retornando em 9 de fevereiro de 1947, comandada pelos

Diários Associados, de Assis Chateaubriand (ROCQUE, 1976).

30

Ferreira (2005) defende que além de ter sido o periódico com maior duração no Pará, foi também em toda Amazônia

brasileira. 31

Ferreira (2005) faz um paralelo dessa informação com o fato de que o jornal O Estado de S. Paulo, localizado no centro

político-financeiro do país, só adquire esse tipo de maquinário a partir de 1907 (FERREIRA, 2005, p. 4).

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Outra inovação na impressão da Província ocorreu a partir de 17 de dezembro de 1973, quando o

jornal passa a ser impresso no sistema offset.32

Em 1997, o periódico foi vendido ao empresário Gengis

Freire e em 2001 passou para as mãos do publicitário Miguel Ângelo Arraes, que no ano seguinte

encerraria as atividades por causa de dívidas trabalhistas e problemas de gestão (FERREIRA, 2005).

Figura 3: A Província do Pará, 22 ago. 1912, p. 1

32

No mesmo dia em que A Província do Pará inaugurava o novo sistema de impressão, as cinzas de Antônio Lemos

retornaram do Rio de Janeiro a Belém, a pedido do então prefeito Nélio Lobato. Os restos mortais do ex-intendente foram

levados para o Palácio da Prefeitura (ROCQUE, 1976).

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Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna.

Entre 1911 e 1930, foram publicados 71 novos jornais (BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ,

1985) com diferentes linhas editoriais e periodicidade (FERNANDES; SEIXAS, 2011). Jornais como O

Cearense (1914), de Terêncio Porto e Raimundo Proença; O Leão do Norte (1914), dirigido por

Bellarmino Almeida; Jornal Lusitano (1920-1924), órgão português no Estado, são exemplos de

periódicos que surgiram nessa fase. Outros que também circularam nesse período foram A Capital (1912),

O Imparcial (1913), Amazônia (1914), Kodak (1914), Portugal (1917), O Escoteiro (1921), Belém Nova

(1923), A Colônia (1924), Correio do Pará (1924), Belém Jornal (1926), O Guará (1927), Echo D’Italia

(1927), Brasil Novo (1930), Gazeta Estudantina (1930), entre outros (BIBLIOTECA PÚBLICA DO

PARÁ, 1985; FERNANDES; SEIXAS, 2011).

Um dos mais importantes jornais dessa época e que, como A Província do Pará, surgiu ainda no

século anterior, foi a Folha do Norte (1896-1974) (Figura 4). Fundado em 1º de janeiro de 1896, por

Enéas Martins e Cipriano Santos, e considerado o segundo impresso mais duradouro do Estado, com 78

anos de existência (SEIXAS et al, 2013), o jornal propunha-se a “lutar pelo desenvolvimento político-

social da região combatendo a política de Antônio Lemos” (BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ, 1985,

p. 154). Definia-se como periódico independente, noticioso, político e literário (BIBLIOTECA PÚBLICA

DO PARÁ, 1985).

Figura 4: Folha do Norte, 05 jan. 1896, p. 1

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Fonte: Hemeroteca Digital Brasileira, da Fundação Biblioteca Nacional.

A Folha do Norte defendia o Partido Republicano Federal, chefiado por Lauro Sodré, eleito duas

vezes para governar o Pará e, depois, por Paes de Carvalho, também ex-governador do Estado. Paulo

Maranhão assumiu a direção do periódico de 1917 até 1966, quando faleceu, deixando a administração do

jornal para o filho, Clóvis Maranhão. Em 1973, a Folha foi vendida ao jornalista e empresário do setor

lojista Romulo Maiorana, que a editou por mais um ano e encerrou suas publicações (MASSARANI;

SEIXAS; CARVALHO, 2013). O mesmo prédio onde antes eram impressas as edições da Folha passou a

ser usado para a publicação do jornal O Liberal, que existia desde 1946 e circula até os dias de hoje

(BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ, 1985).

Em 9 de abril de 1911, era fundado por Justo Chermont mais um grande periódico que marcou

presença na história da imprensa de Belém: o Estado do Pará. O jornal tinha um objetivo em comum com

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a Folha, fundada 15 anos antes, que era o de combater a política exercida pelo ex-intendente Antônio

Lemos e apoiar Lauro Sodré (BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ, 1985).

Por fazer oposição a Dionísio Ausier Bentes, então governador do Estado, foi depredado em

janeiro de 1928 por policiais civis e militares. Dois anos depois, passou a dar cobertura ao Movimento de

1930, tornando-se porta-voz dos “revolucionários”. O jornal circulou até 31 de dezembro de 1980,

quando foi extinto, devido a mudanças de direção e dificuldades financeiras (BIBLIOTECA PÚBLICA

DO PARÁ, 1985).

De acordo com Fernandes e Seixas (2011), sobre a configuração da Folha do Norte e do Estado do

Pará entre as décadas de 1910 e 1920,

(...) percebe-se, pela estruturação das informações, que as notícias ganham notoriedade, chegando

a compor seções específicas, como “Gatunagem” e “Na policia e nas ruas”, no caso da Folha do

Norte. O Estado do Pará, em relação à Folha, também garantia espaço em suas edições a esse tipo

de notícia, com destaque ao trabalho do repórter policial. (...). O jornal O Estado do Pará, apesar

de ser publicado posteriormente, utiliza mais recursos imagéticos do que a Folha do Norte,

principalmente, nas ilustrações das matérias. O Estado, nos seus primeiros números, tinha um

formato de 60 cm por 42 cm e as páginas também variavam – em sua maioria, entre seis e oito

páginas – de acordo com os acontecimentos (FERNANDES; SEIXAS, 2011, p.7-8).

Em 15 de novembro 1946, um ano após o fim da Segunda Guerra Mundial e do período ditatorial

conhecido como Estado Novo no Brasil, chegava às mãos dos leitores paraenses um novo jornal: O

Liberal, hoje, o mais antigo em circulação na cidade de Belém (Figura 5). O periódico surgiu como um

jornal político e depois de ser vendido para Romulo Maiorana, em 1966, “recebeu investimentos e outro

direcionamento editorial que o transformou, ao fim de quatro décadas, em um dos maiores jornais da

Região Norte do Brasil” (CASTRO; SEIXAS, 2013, p. 1).

O periódico fundado por Luís Geolás de Moura Carvalho, Magalhães Barata, Lameira Bittencourt,

João Camargo, Dionísio Ausier Bentes (CARVALHO, 2013) e outros era um órgão de propaganda do

Partido Social Democrático, liderado por Magalhães Barata. O vespertino tinha como slogan ser o "Órgão

do Partido Social Democrático do Pará" (BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ, 1985). Declarava-se

inimigo de outro diário, a Folha do Norte, ligada ao Partido Trabalhista Brasileiro (CASTRO; SEIXAS,

2013).

Figura 5: O Liberal, 15 nov. 1946, p. 1

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Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna.

Fotografia: Netília Silva dos Anjos Seixas

Em 1953, O Liberal teve suas oficinas incendiadas. No ano de 1965 passou a ser comandado por

Ocyr Proença, até que, no ano seguinte, passou às mãos de Maiorana (FERREIRA, 2005). Quando

assume a direção de O Liberal, Romulo Maiorana realiza algumas modificações, entre elas, no slogan,

que passa a ser "Vespertino Independente". Daí em diante, o jornal de desvincula do Partido Social

Democrático, a circulação se torna matutina, aumenta o número de páginas e, a partir de 31 de janeiro de

1972, passa a utilizar o sistema offset (CARVALHO, 2013). Além disso, o jornal fez modificações no

logotipo, assumiu uma linha menos partidária, publicou mais colunas sociais e assuntos policiais e

esportivos. O cinema também ganhou espaço nas páginas e havia mais seções e cadernos especiais

lançados em ocasiões pertinentes. Todas essas mudanças não afastaram, no entanto, o caráter político do

jornal (CASTRO; SEIXAS, 2013).

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Romulo Maiorana faleceu no ano de 1986, deixando a direção do jornal para o filho, Romulo

Maiorana Júnior, e O Liberal passou, a partir da primeira década dos anos 2000, a considerar outro

opositor:33

o jornal Diário do Pará,34

da família Barbalho, ligada diretamente à política no Estado

(CASTRO; SEIXAS, 2013).

No próximo Capítulo, apresentaremos informações sobre o surgimento da fotografia e o

desenvolvimento do fotojornalismo no mundo e seu uso pelos impressos brasileiros.

CAPÍTULO 2

O SURGIMENTO DA FOTOGRAFIA E A INTRODUÇÃO DO FOTOJORNALISMO NO

BRASIL E NO MUNDO

O instante só se detém ao passar. Por isso, o que se fotografa hoje já se torna um ontem, o que já

foi e não é mais presente. Nenhum agora se fixa sem converter-se em outrora. Esse excesso do

passado – e dum passado que lateja defronte ou perto de nós – sobre o presente e o futuro, dos

quais se distancia, é o tempo da imagem subvertendo o nosso tempo psicológico, que corre do

presente ao passado, na expectativa do futuro (NUNES, 1998, p. 32).

A partir deste Capítulo, voltaremos aos primeiros experimentos para compreender como surgiu e

como se disseminou a fotografia no mundo, por vezes, a partir de atitudes isoladas. Em seguida,

abordaremos o uso da fotografia pela imprensa, os primeiros impressos a utilizarem o fotojornalismo no

mundo e no Brasil, mais uma vez buscando entender como a técnica fotográfica se popularizou por meio

das páginas. Por fim, a partir das propostas de análise de imagens feitas por Kossoy (2001), Joly (1996) e

Panofsky (1976), discutiremos a metodologia utilizada neste trabalho.

2.1. OS PRIMÓRDIOS DA FOTOGRAFIA

A origem da fotografia suscita discussões acerca do pioneirismo do invento, já que iniciativas por

vezes isoladas contribuíram para o que se conhece hoje como técnica fotográfica. As primeiras câmaras

claras – ou câmaras lúcidas – surgiram no início do século XIX. Já as câmaras escuras eram usadas desde

o século XVII para captar imagens sem a necessidade de desenhar e são consideradas as “antepassadas

das câmaras fotográficas” (SOUGEZ, 2001, p. 18).

De acordo com Dubois (1993), a câmara clara foi inventada em 1807, por W. H. Wollaston, e

funcionava com a mesma lógica que a câmera escura, mas de uma forma mais simples:

33

A Folha do Norte foi extinta em 1974. 34

O Diário do Pará foi criado em 22 de agosto de 1982, com o principal objetivo de auxiliar nas propagadas políticas do

senador Jader Barbalho, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) (RIBEIRO, 2007; CASTRO; SEIXAS,

2013).

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(...) não passa de um olhinho de telescópio munido de um prisma, de um jogo de espelho e de lente, fixado

à extremidade de um haste imóvel, ela própria presa a uma mesa de desenho. Basta que o “pintor” ajuste

seu olho no visor, “enquadre” seu objeto e deixe sua mão correr pelo papel, trace simultaneamente na

folha o que o olho vislumbra. Nada de tela, de projeção ou de decalque: nada de intermediário. Aquilo

passa diretamente do olho à mão. É como se o próprio corpo do pintor, ou pelo menos seu cérebro,

desempenhasse o papel de câmera (escura ou clara?), de caixa de ressonância visual (DUBOIS, 1993, p.

131).

Nascido no ano de 1765, na França, Nicéphore Niepce dedicou-se a litografia,35

inventada na

Alemanha por Aloysius Senefelder, em 1796, e levada para a França em 1810. Niepce abandonou a

técnica litográfica para se dedicar a heliografia, que consiste em “fixar directamente a imagem

fotográfica, isto é, produzida pela luz, sobre um suporte mais adequado” (SOUGEZ, 2001, p. 30). Assim,

utilizando a câmara escura consegue as primeiras imagens sobre papel tratado com cloreto de prata

(SOUGEZ, 2001).

Louis-Jacques Mandé Daguerre nasceu em 1787, próximo a Paris. Data de 1826 a correspondência

que marca o primeiro contato entre Niepce e Daguerre, os quais passaram a trabalhar juntos até se

associarem em 1829, mas Niepce obteve mais sucesso nas pesquisas. Após a morte de Niepce, em 1833,

Daguerre modificou cláusulas do contrato da sociedade, com a permissão de Isidore, filho de Niepce, em

troca da segurança financeira. A partir desse momento, o nome de Daguerre aparece como único nas

descobertas e o processo desenvolvido pelos dois pesquisadores passa a se chamar Daguerreótipo. Assim,

Daguerre obtém o que se considera hoje a primeira imagem daguerreana, datada de 1837 (SOUGEZ,

2001).

No Brasil, particularmente na antiga Vila de São Carlos, atual Campinas, em São Paulo, um

pesquisador autodidata chamado Hércules Florence também já fixava imagens na câmara escura sobre

papel tratado com nitrato de prata em 1833, processo que denominou de “photographie” (SOUGEZ,

2001, p. 43), sem saber que, na Europa, Niepce realizava as mesmas atividades. Nascido em Nice no ano

de 1804, chegou ao Brasil em 1830 após realizar vários trabalhos em outros países. Florence faleceu em

1879, e seus trabalhos somente foram reconhecidos quase um século depois, em 1976, pelas pesquisas de

Boris Kossoy comprovadas e publicadas na obra “Hércules Florence 1833: a descoberta isolada da

fotografia no Brasil” (SOUGEZ, 2001).

De qualquer forma, a fotografia nasceu em uma época em que nascia também a sociedade

industrial, com a expansão das metrópoles, o crescimento industrial, o desenvolvimento das

comunicações e da democracia, como afirma Rouillé (2009, p. 16): “tudo isso, associado a seu caráter

mecânico, fez da fotografia, na metade do século XIX, a imagem da sociedade industrial, a mais

35

A técnica consiste em fazer desenhos em uma pedra utilizando substância oleosa, a qual será retida pela pedra. Depois, a

pedra é umedecida com água, as partes não oleosas a absorvem e, em seguida, espalha-se tinta a óleo sobre a pedra, a qual será

captada pela tinta e não pela parte úmida. Posteriormente, pressiona-se o papel contra a pedra e a tinta é transferida, formando

o desenho (BARBOSA, 2013).

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adequada para documentá-la, servir-lhe de ferramenta e atualizar seus valores”. Para o autor (2009), não

só a sociedade industrial se beneficiou do surgimento da fotografia, como a própria fotografia se serviu

dessa sociedade nascente para se modelar. E assim, o desenvolvimento das estradas de ferro coincidiu,

evidentemente, com as primeiras descobertas de Nièpce e Daguerre (ROUILLÉ, 2009). Para Sousa

(2000):

A fotografia nasceu no ambiente positivista do século XIX, beneficiando-se de descobertas e

inventos anteriores, como as câmeras escura e clara, e da vontade de se encontrar um meio que

permitisse a reprodução mecânica da realidade visual. O aparecimento da fotografia,

singularizadora e analógica, provocará, assim, uma crise de readaptação no universo da arte

representacional, “privada” do realismo por um outro realismo (SOUSA, 2000, p. 24).

Segundo Benjamin (1987, p. 97), a “verdadeira vítima da fotografia” foram os retratos em

miniatura, cuja rápida evolução levou muitos pintores a se tornarem fotógrafos ainda em meados de 1840.

O gosto pelos retratos em miniatura entrou em decadência quando os homens se firmaram

profissionalmente como fotógrafos e quando se popularizou o retoque. Segundo o autor, nessa época,

começaram a surgir os álbuns de família (BENJAMIN, 1987). Barthes (2011, p. 88, grifo do autor) explica

que “de resto, a fotografia começou, historicamente, como uma arte da Pessoa: de sua identidade, de seu caráter

civil, do que se poderia chamar, em todos os sentidos da expressão, o quanto-a-si do corpo”.

Em 8 de fevereiro de 1841, William Henry Fox Talbot patenteia uma descoberta que permitiria

transformar imagens em negativo para positivo: o calótipo. Sougez (2001) explica o processo:

Trata-se um papel com nitrato de prata e iodeto de potássio. Imediatamente antes de expô-lo à luz, volta a

sensibilizar-se o papel com uma solução de nitrato de prata e ácido gálico. Depois da exposição à luz,

forma-se uma imagem pouco visível. O negativo, uma vez seco, revela-se com nitrato de prata e ácido

gálico e fixa-se com hipossulfito. De seguida, o papel torna-se transparente mediante um banho de cera

derretida. Com este negativo produz-se um positivo por contacto sobre um papel idêntico, de preferência

papel salgado, sensibilizado com nitrato de prata (SOUGEZ, 2001, p. 89-90, grifos da autora).

Em meados de 1849, por intermédio de Frederick Scott Archer, o colódio úmido permitiria a

aproximação ao instantâneo nas imagens (SOUGEZ, 2001). Gradativamente, a técnica fotográfica foi se

desenvolvendo, à medida que novos recursos surgiam e eram desenvolvidas novas formas de aplicabilidade.

Benjamin (1987) assinala:

Nos primeiros tempos da fotografia, a convergência entre o objeto e a técnica era tão completa quanto foi

sua dissociação, no período de declínio. Pouco depois, com efeito, a ótica, mais avançada, passou a dispor

de instrumentos que eliminavam inteiramente as partes escuras, registrando os objetos como espelhos. Os

fotógrafos posteriores a 1880 viam como sua tarefa criar a ilusão da aura através de todos os artifícios do

retoque, especialmente pelo chamado off-set; essa mesma aura que fora expulsa da imagem graças à

eliminação da sombra por meio de objetivas de maior intensidade luminosa, da mesma forma que ela fora

expulsa da realidade, graças à degenerescência da burguesia imperialista. Desse modo, entrou na moda um

tom crepuscular, interrompido por reflexos artificiais, principalmente na época do Jugendstill; apesar dessa

penumbra, distinguia-se com clareza crescente uma pose cuja rigidez traía a impotência daquela geração

em face do progresso técnico (BENJAMIN, 1987, p. 99, grifos do autor).

O próprio autor (1987, p. 101) explica o que é a aura: “é uma figura singular, composta de

elementos espaciais e temporais: a aparição única de uma coisa distante, por mais próxima que ela esteja”.

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Segundo Benjamin (1987), por meio da reprodução, a imagem, ou a obra de arte em geral, perde sua aura, uma

vez que a reprodutibilidade aproxima a arte e o indivíduo – ou a arte e as massas.

Na América Latina, uma das características da expansão fotográfica foi a presença de fotógrafos

itinerantes de outros países durante a segunda metade do século XIX, sobretudo entre as décadas de 1840

e 1860 (KOSSOY, 2007).

A maior parte desses itinerantes permanecia pouco tempo em cada localidade; apenas alguns se

estabeleceram por períodos mais longos. Viajavam de cidade em cidade, anunciando-se nos

periódicos locais assim que chegavam. (...). Misto de empresários e “mercadores” estes

incansáveis viajantes exemplificam, através de suas atuações, o papel do itinerante levando a

daguerreotipia aos mais longínquos lugares (KOSSOY, 2007, p. 73).

Mas, para garantir a sobrevivência, era necessário exercer outras funções. Alguns se anunciavam

como dentistas, ourives, relojoeiros, comerciantes ou cabelereiros (KOSSOY, 2007).

Segundo Kossoy (2001, p. 26), com a popularização da fotografia a partir de 1860, houve o surgimento

de “verdadeiros impérios industriais e comerciais”. Gradativamente, todo tipo de expressão cultural,

acontecimentos, objetos e monumentos pode ser registrado pela câmera. O autor destaca que após a descoberta

da fotografia e, posteriormente, com a expansão da indústria gráfica e a multiplicação das imagens, os indivíduos

puderam conhecer melhor o mundo. Essa popularização se deu por volta de 1860, com a produção de retratos

em papel em formatos carte-de-visite36

(KOSSOY, 2001).

O mundo tornou-se de certa forma “familiar” após o advento da fotografia; o homem passou a ter um

conhecimento mais preciso e amplo de outras realidades que lhe eram, até aquele momento, transmitidas

unicamente pela tradição escrita, verbal e pictórica. (...). Era o início de um novo método do aprendizado

do real, em função da acessibilidade do homem dos diferentes estratos sociais à informação visual dos

hábitos e fatos dos povos distantes. Microaspectos do mundo passaram a ser cada vez mais conhecidos

através de sua representação. O mundo, a partir da alvorada do século XX, se viu, aos poucos, substituído

por sua imagem fotográfica. O mundo tornou-se assim, portátil e ilustrado (KOSSOY, 2001, p. 26-27,

grifos do autor).

Ainda assim, não foi imediatamente que a fotografia ganhou status de documento (KOSSOY, 2001). Foi

preciso ocorrer primeiro o que Kossoy (2001, p. 31) chama de uma “revolução documental”, por meio da qual se

expandiu a ideia de documento e, dessa forma, a fotografia passou a ser reconhecida como uma fonte de

investigação/pesquisa e descoberta.

Dubois (1993) classifica o percurso do realismo na fotografia em três tempos: “a fotografia como

espelho do real”, “como transformação do real” e “traço de um real” (DUBOIS, 1993, p. 26). Na primeira,

predominava um “discurso da mimese”, onde a fotografia era vista como “analogon” (DUBOIS, 1993, p. 26),

imitação perfeita da realidade, devido à semelhança entre a imagem e o que ela apresenta. Esse tipo de discurso

36

O retrato foi uma forte tendência nos primórdios da fotografia. Era considerado, inclusive, como a finalidade do ato

fotográfico. O formato carte-de-visite foi introduzido por André Adolphe Disdéri (1819-1890) em Paris, no ano de 1854, mas

os créditos da invenção pertenciam ao fotógrafo Dodéro, de Marselha. Nesse processo, oito fotografias produzidas em formato

reduzido eram recortadas e montadas no cartão. As mesmas imagens iriam compor os álbuns que surgiriam a partir de 1860

(SOUGEZ, 2001).

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acompanha a fotografia desde o início do século XIX e ainda perdura durante o século seguinte (DUBOIS,

1993).

No segundo, ocorre “o discurso do código e da desconstrução”, há uma crítica à ideia da fotografia como

“analogon”, o autor explica que “com esforço tentou-se demonstrar que a imagem fotográfica não é um espelho

neutro, mas um instrumento de transposição, de análise, (...), e assim, também, culturalmente codificada”

(DUBOIS, 1993, p. 26). Essa codificação, segundo o autor, pode ocorrer em diferentes pontos de vista, incluindo

o “técnico”, “cultural”, “sociológico” e “estético” (DUBOIS, 1993, p. 37).

Já a fotografia como traço de um real associa a fotografia à ideia de “referente”: “a imagem foto torna-se

inseparável de sua experiência referencial, do ato que a funda. Sua realidade primordial nada diz além de uma

afirmação de existência. A foto é em primeiro lugar índice. Só depois ela pode tornar-se parecida (ícone) e

adquirir sentido (símbolo)” (DUBOIS, 1993, p. 53, grifos do autor).

Fabris (2008, p. 17) enumera três momentos principais na história do desenvolvimento

tecnológico da fotografia: “primeiras experiências, colódio úmido, gelatina-bromuro”. Para a autora, esses

três processos culminaram na invenção da primeira câmera portátil, no ano de 1895.

As “primeiras experiências” vão de 1839 à década de 1850. Nesse período, a fotografia estava

restrita a um pequeno grupo de pessoas interessadas em pesquisar o assunto. O segundo momento, do

colódio úmido, é marcado pela introdução do chamado carte-de-visite photographique ou cartão de visita

fotográfico, por Disdéri, o qual possibilitava às pessoas maior alcance aos processos fotográficos devido

ao barateamento da técnica. Essa etapa segue de 1854 até a década de 1880, aproximadamente, quando

inicia a terceira etapa, caracterizada pela “massificação, quando a fotografia se torna um fenômeno

prevalentemente comercial, sem deixar de lado sua pretensão a ser considerada arte” (FABRIS, 2008, p.

17). A autora ainda afirma:

A transformação da fotografia em fenômeno de massa altera radicalmente as concepções vigentes.

A “grande fotografia” e seus esquemas pictóricos são rapidamente marginalizados diante de um

novo conceito de “qualidade”, indissoluvelmente ligado à “quantidade”. Cada vez mais a

fotografia se distancia da esfera do unicum, de preocupações estéticas alheias a seu código, apesar

da persistência da vertente pictórica, abrindo-se a novas possibilidades, como a ilustração de

jornais e revistas, que começa a delinear-se no final do século (FABRIS, 2008, p. 22, grifo da

autora).

Posteriormente, a fotografia é, de acordo com a autora, transformada em instrumento de

propaganda e passa a compor reportagens militares. Monumentos e paisagens também eram muitas vezes

tema de fotografias chamadas documentais (FABRIS, 2008). Rouillé (2009) acrescenta que nesses

primeiros anos a fotografia era eminentemente urbana, retratando, sobretudo, as cidades e suas

características predominantes no século XIX. Pouco tempo depois, os costumes e territórios não

ocidentais passaram a ser fotografados, contribuindo para o projeto da “expansão imperialista” (FABRIS,

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2008, p. 32), mas será a partir da Comuna de Paris que as pessoas passarão a ocupar o lugar dos

monumentos como temática central das fotos (ROUILLÉ, 2009).

Rouillé (2009, p. 42) explica que durante mais de um século prevaleceu a ideia da “fotografia-

documento”, fortalecida com a imprensa dos anos 1920, em que a fotografia era vista como simplesmente

utilitária, para em seguida, essa noção entrar em crise e abrir espaço para novas práticas fotográficas,

criando o ambiente ideal para o surgimento da ideia da “fotografia-expressão” (ROUILLÉ, 2009, p. 19).

Durante muito tempo, a ideia de documento na fotografia estava ligada à ideia de verdade, e uma de suas

funções – a mais importante – era a de informar (ROUILLÉ, 2009).

Nesse aspecto, Rouillé (2009) acredita que o período em que a fotografia e a mídia impressa

estiveram mais próximas tendo a fotografia como documento fiel da verdade foi dos anos 1920 à Guerra

do Vietnã (1959), época na qual se passou a valorizar fortemente a figura do fotorrepórter. “A entrada da

fotografia na área da informação aconteceu com o advento da fotografia de imprensa, na conjunção de

duas séries de transformações técnicas: uma, própria da fotografia; a outra, referente à tipografia”

(ROUILLÉ, 2009, p. 126). Assim, com o desenvolvimento das técnicas de heliogravura e do offset, se

difundiu industrialmente a informação fotográfica por meio da tipografia (ROUILLÉ, 2009).

O jornalismo moderno caracteriza-se pelo nascimento do periódico ilustrado fotográfico, um novo

híbrido, cuja particularidade é ser lido e olhado ao mesmo tempo: a informação não é mais

somente uma questão de texto, mas, também, de fotografia. O novo estilo jornalístico é, assim,

seguido por uma transformação das relações entre texto e imagem, entre o legível e o visível

(ROUILLÉ, 2009, p. 128).

O novo ator que surgiu nesse período de alianças – fotorrepórter ou repórter fotográfico –

caracterizava-se “pela maneira como, por um lado, seu corpo se mistura com seu aparelho e, por outro,

com o mundo e as coisas” (ROUILLÉ, 2009, p. 129). Um fotógrafo destacado por Rouillé (2009) é Henri

Cartier-Bresson,37

o qual, segundo o autor, representava bem esse “hibridismo de corpo e aparelho”

(ROUILLÉ, 2009, p. 129). Para o autor (2009, p. 130), era preciso “ser discreto, fundir-se com o mundo e

as coisas, passar despercebido e furtivamente ‘tirar ao natural’ ‘imagens às pressas’, essa é a postura de

Cartier-Bresson”.

Algumas situações marcam o declínio da fotografia-documento. A fotorreportagem esteve no auge

durante a Guerra do Vietnã, seguida de um pequeno declínio com a popularização da televisão

(ROUILLÉ, 2009). Com a Guerra das Malvinas, em 1982, houve um período de restrição da imagem,

mas somente com a Guerra do Golfo (1991) ficaria mais evidente a dominação e censura dos militares

sobre as fotografias de guerra (ROUILLÉ, 2009).

37

Cartier-Bresson iniciou sua carreira como fotógrafo em 1932. Desde o início sempre utilizou a câmera Leica, criada pelo

engenheiro alemão Oskar Barnack (1879-1936), e a qual implantou o chamado “formato universal (24x36 mm)” (SOUGEZ,

2001, p. 257, grifos da autora).

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A roteirização da reportagem, que se popularizou a partir de 1980 e onde os fotorrepórteres já não

saiam atrás de furos, mas com um roteiro pré-programado, contribuiria também para a queda da noção de

verdade da fotografia. Além disso, a prática cada vez mais frequente de produção de “imagens de

imagens” (ROUILLÉ, 2009, p. 144), causando uma quebra da relação do fotógrafo com o mundo, uma

vez que ele reproduz o que já foi registrado, fez com que o referente passasse a ser a própria fotografia e

não mais o fato registrado. Por último, o chamado “jornalismo de celebridade” (ROUILLÉ, 2009, p. 148),

valorizado a partir do final do século XX, viria contrariar o jornalismo de informação, já que sua

pretensão é encenar e não colocar a verdade como ponto primordial (ROUILLÉ, 2009).

2.2. O FOTOJORNALISMO NO MUNDO

Segundo Freund (1983), data de 1880 a publicação da primeira fotografia reproduzida com meios

puramente mecânicos, procedimento denominado halftone,38

o que facilitou a reprodução de fotografias

nos impressos, já que antes essas reproduções eram artesanais e feitas com xilogravura.39

Assim, de

acordo com a autora (1983), a primeira fotografia de imprensa foi publicada em 4 de março de 1880, no

Daily Herald, de Nova York, sob o título “Shantytown”.

La mecanización de la reproducción, el invento de la placa seca al gelatino – bromuro que permite

el uso de placas preparadas de antemano (1871), el perfeccionamiento de los objetivos (los

primeros anastigmáticos se construyen em 1884), la película en rollos (1884), el

perfeccionamiento de la transmisión de una imagen por telegrafía (1872) y más tarde por

belinografía, abrieron el camino a la fotografía de prensa (FREUND, 1983, p. 95).40

Sousa (2000) afirma que, com a câmara Kodak, inventada e fabricada por Eastman em 1888, “a

fotografia promove-se definitivamente a medium de uso massivo e democratiza-se – ‘You press the

botton. We do the rest!’ (‘Você Carrega no Botão. Nós Fazemos o Resto!’), sustentava a campanha

publicitária da Kodak” (SOUSA, 2000, p. 45, grifos e tradução do autor).

No século seguinte, em 1904, o Daily Mirror, da Inglaterra, foi o primeiro jornal diário a ilustrar

suas páginas somente com fotografias. Em 1919, era a vez do Illustrated Daily News, de Nova York,

fazer o mesmo (FREUND, 1983; SOUSA, 2000). No entanto, as revistas mensais e semanais, as quais

possuem um tempo maior para a produção de seu material, já imprimiam fotografias bem antes. Em 1907,

outra inovação seria feita pelas revistas: a National Geographic se torna o primeiro periódico a utilizar a

cor na fotorreportagem (SOUSA, 2000).

38

Freund (1983, p. 95, tradução nossa) explica que “essa técnica consiste em reproduzir uma fotografia através de uma tela de

retícula que a divide em uma multiplicidade de pontos. Passa-se o cliché obtido a partir de uma fotografia sob uma prensa, ao

mesmo tempo em que um texto é composto. Esse procedimento, consideravelmente melhorado hoje em dia, é a tipografia”. 39

Imagens gravadas em madeira e normalmente com a identificação “retirado de uma fotografia” (FREUND, 1983). 40

A mecanização da reprodução, o invento da placa seca ao gelatino-bromuro que permite o uso de placas preparadas

anteriormente (1871), o aperfeiçoamento dos objetivos (os primeiros anastigmáticos se constroem em 1884), o filme em rolos

(1884), o aperfeiçoamento da transmissão de uma imagem por telegrafia (1872) e mais tarde por belinografía, abriram caminho

para a fotografia de imprensa (FREUND, 1983, p. 95, tradução nossa).

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No início do século, devido à limitação técnica e outros fatores, criou-se o “cultivo da foto única”

(SOUSA, 2000, p. 18). Dessa forma, os fotógrafos precisavam compor a fotografia com o máximo de

elementos informativos possíveis. “Para isso também terá contribuído o fato de no início do século as

imagens serem valorizadas mais pela nitidez e pela reprodutibilidade do que pelo seu valor noticioso

intrínseco” (SOUSA, 2000, p. 18). Mas essa prática será abandonada a partir da disseminação do processo

negativo-positivo e da conquista do movimento e do instantâneo, dando lugar à “noção de arte-obra

múltipla” (SOUSA, 2000, p. 29).

Nessas primeiras décadas do que posteriormente se entenderia por fotojornalismo, têm destaque

iniciativas individuais de fotógrafos que tiveram ou não fotos encomendadas. O primeiro a ser citado na

maioria dos estudos sobre história da fotografia é Roger Fenton (1819-1869), que embarcou em fevereiro

de 1855 para fotografar a Guerra da Criméia (1854-1856), acompanhado de quatro assistentes e um

veículo que lhe servia de dormitório e laboratório (FREUND, 1983). Após três meses, Fenton voltou a

Londres com 360 placas, as quais

Se limitan a dar una idea muy falsa de la guerra, pues sólo representan soldados bien instalados

detrás de la línea de fuego. La expedición de Fenton había estado financiada a condición de que no

fotografiara nunca los horrores de la guerra, para no asustar a las familias de los soldados

(FREUND, 1983, p. 97).41

Foi a partir dos trabalhos do fotógrafo Matthew B. Brady e de mais vinte fotógrafos empregados

por ele durante a Guerra Americana (1861) que a fotografia pôde mostrar a realidade dos campos de

batalha. Ao contrário de Fenton, Brady não teve sua expedição financiada, foi por conta própria e com a

ajuda de empréstimos (FREUND, 1983). Para Freund (1983), a intenção do fotógrafo era vender as fotos

ao final da guerra e recuperar o que havia investido, mas não conseguiu e acabou arruinado

financeiramente.

Outras guerras também representaram marcos no percurso do fotojornalismo. Durante a Guerra

Franco-Prussiana, em 1870, foram feitas várias fotografias dos defensores da Comuna de Paris (1871), os

quais se deixavam fotografar constantemente nas barricadas. Quase todos os que foram identificados por

meio dessas fotografias pelos policiais morreram fuzilados. “Foi a primeira vez na história que a

fotografia serviu como confidente da polícia” (FREUND, 1983, p. 97, tradução nossa). Naquele mesmo

ano, chegava aos Estados Unidos o fotógrafo dinamarquês Jacob A. Riis, o qual, anos mais tarde, se

tornou jornalista do New York Tribune e foi o primeiro a recorrer à fotografia “como instrumento de

crítica social para ilustrar seus artigos sobre as miseráveis condições de vida dos imigrantes nos bairros

baixos de Nova York” (FREUND, 1983, p. 97-98, tradução nossa).

41

Limitam-se a dar uma ideia muito falsa da guerra, pois só representavam soldados bem instalados atrás da linha de fogo. A

expedição de Fenton havia sido financiada sob a condição de que não fotografaria nunca os horrores da guerra, para não

assustar as famílias dos soldados (FREUND, 1983, p. 97, tradução nossa).

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Alguns anos depois, entre 1908 e 1914, o sociólogo Lewis W. Hine se tornaria conhecido por

fotografar crianças trabalhando durante 12 horas por dia em fábricas. Essas fotos contribuíram para a

mudança de pensamento e da legislação sobre o trabalho infantil nos Estados Unidos (FREUND, 1983).

“Pela primeira vez, a fotografia atua como uma arma na luta pelo melhoramento das condições de vida

das camadas mais pobres da sociedade” (FREUND, 1983, p. 98, tradução nossa).

A partir dessas ações, a fotografia se tornou mais comum na imprensa e surgiram os primeiros

repórteres fotográficos. Mas, segundo Freund (1983), eles passaram a ter má reputação devido ao odor

produzido ao realizar fotos em ambientes internos, já que os equipamentos ainda utilizavam magnésio em

pó. Além disso, a luz produzida no ato fotográfico fazia os personagens fotografados saírem com a boca

aberta ou com posturas estranhas, o que fez com que os fotógrafos ganhassem inimizades, sobretudo de

representantes políticos (FREUND, 1983).

Já na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), “a fotografia foi utilizada como instrumento tático:

desenvolveu-se a prática das fotografias aéreas, se bem que a maior parte da informação gráfica publicada

na imprensa tenha sido feita por desenhadores” (SOUGEZ, 2001, p. 235). Com o fim da guerra, a

fotografia ganhou espaço nos livros de arte, de antropologia, em revistas especializadas, entre outros

impressos. Sougez (2001, p. 235) assinala que “o retrato comercial divulga-se por toda a parte e implanta-

se em todas as camadas sociais até à Segunda Guerra Mundial. Depois, retrocede, perante o impulso da

fotografia amadora”.

A Primeira Guerra foi “a mãe das guerras dos séculos XX e XXI” (ARARIPE, 2009, p. 319) e

deixou um legado econômico, político e social negativo para a Alemanha, mas impulsionou o

desenvolvimento de um terreno fértil para as artes. Para Freund (1983), esse “foi o país onde trabalharam

os primeiros grandes repórteres gráficos dignos desse nome, que deram prestígio ao ofício” (FREUND,

1983, p. 99, tradução nossa).

Nesse período, a Monarquia do Kaiser foi substituída pela I República, proclamada em Weimar,

em 1918. Com a república liberal, a imprensa se viu livre da censura imposta durante a guerra e tomou

novo impulso. Surgiram revistas ilustradas, das quais as mais importantes são Berliner Illustrierte e

Münchner Illustrierte Presse, que chegavam a quase dois milhões de exemplares. “Inicia-se a idade de

ouro do jornalismo fotográfico e de sua fórmula moderna. De suas páginas desaparecem cada vez mais os

desenhos para dar lugar às fotografias que refletem a atualidade” (FREUND, 1983, p. 102, tradução

nossa).

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Com a ascensão de Adolf Hitler em 1933, houve um colapso do fotojornalismo alemão. Para

Sougez (2001),

Se, (...), é um pouco difícil delimitar onde a foto live passa a ser propriamente jornalística, não há

dúvida que o grande jornalismo americano nasceu na Alemanha liberal da República de Weimar e

a subida do nazismo motivou a diáspora dos melhores repórteres alemães – na sua maioria judeus

– para o estrangeiro, sobretudo para os Estados Unidos. (SOUGEZ, 2001, p. 259-260, grifo da

autora).

Sougez (2001) destaca Eric Salomon (1886-1944) como o primeiro fotorrepórter a dar um “toque

pessoal à fotografia de informação” (SOUGEZ, 2001, p. 260). De acordo com Mauad (2006), Salomon

(1886-1933) lançou o ideal de testemunha ocular que a fotografia tem no jornalismo. O fotógrafo foi

responsável pela implantação da Dephot, primeira agência de fotógrafos fundada em 1930, a qual buscava

sempre identificar a autoria das imagens feitas. Nomes como o de Felix H. Man, André Kertesz e Brassai

estavam associados a Salomon (MAUAD, 2006). Freund (1983) explica que toda sua atividade como

fotógrafo durou de 1928 a 1933. Salomon morreu em 1944 nas câmaras de gás de Auschwitz (FREUND,

1983).

Até o ano de 1929, a maioria dos repórteres fotográficos utilizavam a “Ermanox”, uma câmera

“pequena e leve e possuía um alvo F:2 de luminosidade excepcional para a sua época” (FREUND, 1983,

p. 103, tradução nossa). Já a partir do ano seguinte, Salomon e outros fotógrafos passaram a utilizar uma

nova invenção que seria verdadeiramente a via do jornalismo moderno: a Leica, inventada por Oskar

Barnack (FREUND, 1983). A câmera de tamanho reduzido permitia fotografar as pessoas sem que essas

se dessem conta que estavam sendo fotografadas, além disso, utilizava um filme de 36 exposições, o que

facilitou o trabalho dos fotógrafos. Foi apresentada ao público pela primeira vez em 1925, mas não foi

aceita pela maioria dos órgãos de imprensa, pois seu pequeno tamanho não impunha respeito. Somente

nos anos seguintes a Leica seria valorizada no jornalismo (FREUND, 1983).

Na década de 1930, a expressão “fotografia documental” foi utilizada pela primeira vez nos

Estados Unidos e, a partir dessa época, aos poucos, adquiriu status de documento histórico e importante

fonte de pesquisas. “Isso porque a imagem permite desvendar aspectos que não ficam claros em outras

formas de registro. Por meio dela é possível recuperar memórias e detalhes da própria história”

(HOFFMANN, 2011, p. 206-207).

Foi nessa mesma década que surgiu a figura do editor de fotografias. De acordo com Mauad

(2006), “ele se originou do processo de especialização de funções na imprensa e passou a ser o

encarregado de dar sentido à imagem, articulando adequadamente palavras e imagens por meio do título,

da legenda e de breves textos que acompanhavam as fotografias” (MAUAD, 2006, p. 368). O conceito de

fotorreportagem também foi desenvolvido a partir de 1930, tendo como pioneiro na elaboração do

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conceito Stefan Lorant, que não era adepto da fotografia encenada, mas reportagens em profundidade

(MAUAD, 2006).

Nessas reportagens, geralmente apresentadas ao longo de várias páginas, fotografias detalhadas

eram agrupadas em torno da foto central. Esta tinha por missão sintetizar os elementos de uma

“história” que Lorant pedia aos fotojornalistas que contassem em imagens. Uma fotorreportagem,

segundo tal concepção, deveria ter um começo e um fim definidos pelo lugar, pelo tempo e pela

ação (MAUAD, 2006, p. 368).

No período entre guerras, o fotojornalismo encontrou espaço para seu desenvolvimento nos

Estados Unidos, sobretudo com a migração e influência de fotógrafos alemães para a América do Norte.

Se na Europa a fotografia de autor e o foto-ensaio predominaram nas revistas ilustradas, nos EUA as

mudanças ocorridas ao fotojornalismo se darão principalmente nos jornais (SOUSA, 2000). Diz Sousa

(2000):

Se as mutações na imprensa europeia e na prática fotográfica orientam o desenvolvimento do

fotojornalismo, não é menos verdade que as configurações que o produto jornalístico adquire nos

anos trinta nos EUA moldam ainda hoje o jornal moderno (SOUSA, 2000, p. 105).

Com a Segunda Guerra Mundial, as agências noticiosas como a International News Photos, Acme

News Pictures e a Associated Press foram impedidas pelos governos alemão, francês e inglês de realizar

uma cobertura mais aberta da guerra (SOUSA, 2000). Também, em muitos casos, os próprios fotógrafos

realizavam uma espécie de autocensura e enfrentavam problemas para obter suas fotografias: “ao

contrário do conflito de 1914-1918, a Segunda Guerra Mundial acarretou problemas logísticos para os

fotojornalistas, uma vez que não se tratava de uma guerra concentrada, pondo problemas de transporte,

alimentação, alojamento e comunicação” (SOUSA, 2000, p. 120).

Nessa época, surgiram várias revistas que valorizavam a técnica fotográfica (MAUAD, 2006). A

mais importante desse gênero no mundo foi a Life, dos Estados Unidos. Fundada por Henry R. Luce, não

foi a primeira revista norte-americana composta inteiramente por fotografias, já que antes dela o New

York Times havia publicado, em 1896, um suplemento semanal fotográfico, mas foi a mais influente

(FREUND, 1983).

O primeiro número da Life apareceu em 23 de novembro de 1936 e a tiragem inicial chegou a

446.000 exemplares. A revista era inspirada nos trabalhos de fotógrafos alemães e buscava conselhos com

a imprensa ilustrada alemã para realizar suas publicações. As novas técnicas fotográficas, incluindo a

introdução da cor, e principalmente, a publicidade, fizeram da Life um exemplo de periódico ilustrado

bem sucedido que entrou para a história da fotografia de imprensa (FREUND, 1983).

Em 1947, Robert Capa e outros fotógrafos como David Seymour, Henri Cartier-Bresson, George

Rodger, William Vandivert e Maria Eisner fundaram a Agência Magnum, nos Estados Unidos.

Posteriormente, entraram para o grupo Werner Bishop, Gisèle Freund, Ernst Haas, Eve Arnold, Erich

Hartmann, Erich Lessing, Denis Stock, Cornell Capa e outros (MAUAD, 2006). Os fotógrafos da

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Magnum não eram adeptos da montagem e da pose em fotografias, primavam pelo flagrante e

valorizavam o uso da Leica (MAUAD, 2006). Robert Capa é pseudônimo de Andrei Friedmann, nascido

em Budapeste, no ano de 1913. Seu primeiro trabalho foi na Guerra Civil da Espanha, após isso, se tornou

conhecido por suas fotografias de guerra. Segundo Sougez (2001, p. 263), “esse homenzito pacífico está

em todas as guerras: depois da Palestina vai para o Vietnam, onde morre ao pisar uma mina em 1954”.

No pós-guerra é a vez das agências tornarem mais frequente o uso de fotografias. Em 1946, a

Reuters passou a incluir fotos nos seus serviços, postura já assumida pela Associated Press e que também

se tornaria comum em outras como a United Press International (UPI), por exemplo (SOUSA, 2002). No

final dos anos 1950, as revistas ilustradas começam a entrar em crise devido à transferência dos

investimentos publicitários para a televisão e, gradativamente, vão encerrando suas atividades. Nesse

período surgiram os paparazzi, “fotógrafos especialistas na ‘caça às estrelas’, (...), que se servem dos

mais variados expedientes para obter fotografias tão sensacionais quanto possível de gente famosa”

(SOUSA, 2002, p. 23).

Com a Guerra da Coréia (1950-1953), Guerra do Vietnã (1955-1975), Guerra Civil no Chipre

(1963-1974) e no Biafra (1967-1970), o fotojornalismo, um pouco mais livre da censura, será responsável

pela mudança de opinião das pessoas, sobretudo dos norte-americanos, que eram a favor da guerra

(SOUSA, 2002). “Nessas guerras, tal como em acidentes e em ocasiões dramáticas, o fotojornalismo

tendeu a explorar os caminhos da sensibilidade, dirigindo-se, frequentemente, à emoção, e utilizando,

amiúde, a foto-choque” (SOUSA, 2002, p. 24).

Sousa (2002) acredita que a concorrência entre as grandes agências noticiosas como a Agence

France-Presse (AFP), Associated Press (AP) e Reuters contribuiu para a “batalha tecnológica que veio a

permitir a melhoria significativa das condições de transmissão e edição de imagem, especialmente devido

às tecnologias digitais” (SOUSA, 2002, p. 28). Ainda assim, “não se notou uma alteração substancial dos

padrões de qualidade do acto fotográfico, pois o fotojornalismo tradicional das agências noticiosas

permaneceu pouco criativo” (SOUSA, 2002, p. 28).

Nas décadas de 1980 e 1990, o mundo passava por mudanças significativas, marcadas,

principalmente, pela queda do Muro de Berlim, em 1989; o desmembramento da União das Repúblicas

Socialistas Soviéticas (URSS), em 1991; a disseminação das novas tecnologias da informação; a Guerra

do Golfo (1990-1991); a invasão do Panamá (1989) e outros conflitos étnicos; a transnacionalização; a

expansão da democracia; entre outros fatores (SOUSA, 2000). O fotojornalismo se vê, cada vez mais,

imerso no mundo digital, aumenta a presença dos paparazzi – que terão mais destaque após a morte da

Princesa Diana –, sofre novas formas de controle e passa a utilizar as facilidades tecnológicas com ainda

mais frequência na manipulação das imagens, o que vai ficar evidente na Guerra do Golfo, “um conflito

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onde a manipulação da cobertura jornalística fez notar que o jornalismo pode estar atravessando uma

crise” (SOUSA, 2000, p. 208).

2.3. OS IMPRESSOS BRASILEIROS E O FOTOJORNALISMO

Não se pode falar em fotojornalismo na imprensa sem mencionar outros processos que

antecederam sua inserção e adaptaram/sensibilizaram o olhar dos leitores para a imagem nos periódicos.

Um dos mais importantes, sem dúvida, foi a caricatura, a qual, segundo Morel (2002), surgiu

regularmente na imprensa periódica brasileira já na segunda metade do século XIX.

Para Bahia (2009), a caricatura introduz o conceito de reportagem gráfica na imprensa brasileira.

Segundo o autor, a primeira caricatura, de autoria de Manuel de Araújo Porto Alegre, foi publicada no

Jornal do Commercio, em 14 de dezembro de 1837. Tinha como título “A Campainha e o Cujo” e

criticava “um anúncio do Correio Oficial para a contratação de um redator por três contos e 600 réis”

(BAHIA, 2009, p. 128). As palavras de Bahia (2009) são importantes para entendermos a dimensão dessa

forma de leitura para a sociedade da época:

Na ausência da fotografia, a ilustração registra o mais fielmente possível as mudanças que

ocorreram na sociedade imperial e republicana. Mas também acrescenta a essa visão a sátira, a

ironia, a informalidade e o deboche. A fase de fastígio das publicações ilustradas do gênero

abrange os séculos XIX e XX e deve aos primeiros chargistas uma contribuição certamente

pioneira e principalmente normativa (BAHIA, 2009, p. 129).

Entre os primeiros caricaturistas, havia tanto brasileiros quanto estrangeiros. Bahia (2009) assinala

que o primeiro estrangeiro a trabalhar regularmente em jornais do Rio de Janeiro foi o português Rafael

Bordalo Pinheiro, seguido de Sébastien Auguste Sisson. Eles e outros caricaturistas do início do século

XX foram responsáveis, segundo o autor (2009), pela popularização da reportagem gráfica, mas isso

também se deu pelos avanços da impressão e pelo uso do clichê, resultante do processo de zincografia e

que reproduzia desenhos como se fossem fotografias.

De acordo com Buitoni (2007), existiam ilustradores que iam aos locais dos fatos e faziam gravuras

sobre o acontecido, as quais serviriam para acompanhar os textos. “Cenas da vida política, retratos, paisagens,

catástrofes, crimes, batalhas eram cuidadosamente elaboradas no intuito de trazer uma representação a mais

realista possível” (BUITONI, 2007, p. 105).

Nos dois últimos anos do século XIX, jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo começaram a

contratar fotógrafos profissionais, ainda assim, a ilustração se manteria nos jornais por muito tempo até o

surgimento da reportagem fotográfica, quando passaria a se materializar apenas na charge, no cartum, na

caricatura e nas histórias em quadrinhos (BAHIA, 2009, p. 132).

A litografia chegou ao Brasil em 1817, quando o litógrafo Arnaud Julian Pallière, acompanhado de John

Steinmann, desembarcou no Rio de Janeiro, onde ficou até o ano de 1833 (BARBOSA, 2013). De acordo com

Barbosa (2010), desde a década de 1840, o Jornal do Commercio era um diário que já utilizava litografias

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e litogravuras para compor as páginas. Mas, foi a partir de 1870 que ocorreu um processo de expansão de

estabelecimentos litográficos no Rio de Janeiro.

Barbosa (2013) explica que a popularização da litografia foi decisiva para a viabilidade das revistas

ilustradas no século XIX, mas também o ambiente era propício, visto que se fazia necessário criar outros

modos de leitura para um público que estava se formando: “as revistas ilustradas podem ser consideradas

o primeiro suporte comunicacional destinado a um público que se pretendia mais vasto e que fazia da

imagem seu arcabouço narrativo principal” (BARBOSA, 2013, p. 170). Além disso, a técnica litográfica

era mais barata e muito mais rápida que a xilogravura, facilitando a sua inserção na imprensa

(BARBOSA, 2013).

O século XIX foi o momento de dessacralização da imagem que se industrializa. A imagem a todo

o vapor, como as máquinas que construíam a nova ordem capitalista, permite a edição de

publicações destinadas a um público até então não imaginado. Por outro lado, incluir essas novas

tecnologias era ingressar numa atmosfera de modernidade e transformação. A imagem passa a

complementar o texto, tornando-se possibilidade decifradora das letras impressas que começam

também a ser vistas como “coisa visual” (...). O desafio era transformar a imagem em algo que

podia reduzir o sentido narrativo e, ao mesmo tempo, distendê-lo, já que a partir do olhar dirigido

à cena acionava-se o pensamento. Ver a imagem passa a ser produzir interpretações com sentido

crítico: a imagem se transborda em pensamentos (BARBOSA, 2013, p. 169).

De acordo com Fávaro (2009), em 15 de novembro de 1904, foi publicada no Jornal do

Commercio, do Rio de Janeiro, a primeira fotografia jornalística da imprensa brasileira. A imagem

acompanhava uma notícia sobre a revolta da população contra a obrigatoriedade da vacina contra a

varíola (Figura 6).

Figura 6: Jornal do Commercio, 15 nov. 1904

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Fonte: Fávaro (2009, p. 63).

Gradativamente, a fotografia foi substituindo o desenho na imprensa brasileira, mas essa substituição não

foi rápida nem fácil. Muitas fotografias, no início de sua utilização no jornalismo, eram usadas como modelos

para desenhistas, os quais realizavam processos que permitiam a impressão pelos jornais. Essa característica fez

parte da imprensa tanto europeia quanto brasileira (BUITONI, 2007). Foi apenas no século XX que a fotografia

de fato substituiu a litogravura e pôde ter sua versão original impressa ao lado dos textos (BARBOSA, 2013).

A fotoilustração cumpre as funções clássicas da ilustração: descrever, explicar, detalhar. O fotojornalismo

inclui a função profissional, de longa tradição histórica; e um tipo de imagem canalizada em função dos

valores de informação, atualidade, relevância política/social/cultural. O fotojornalismo também é

influenciado pela fotografia documental, que igualmente tem compromisso com a realidade, mas busca

fenômenos mais estruturais do que a conjuntura noticiosa (BUITONI, 2007, p. 107).

Um dos periódicos mais significativos no uso da fotografia no Brasil foi a Revista da Semana, a

primeira revista ilustrada a utilizar fotogravura. Suplemento do Jornal do Brasil, foi fundada por Álvaro

de Tefé, em 20 de maio de 1901 e vendida a Carlos Malheiros Dias, Aurelino Machado e Arthur Brandão

em 1915. A revista circulou até 1962, totalizando 61 anos de publicações (MAUAD, 2008).

Caracterizava-se pela utilização de fotorreportagens e pela inspiração nas tendências internacionais de

periódicos ilustrados (MAUAD, 2008).

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A revista trouxe fotos desde a primeira edição e, segundo Buitoni (2007), “durante muito tempo era a

responsável pelo imaginário visual brasileiro. Comemorações, paisagens, personagens, iam mostrando caras e

cenas posadas; um ou outro flagrante, numa estética bastante ufanista” (BUITONI, 2007, p. 105). De acordo

com Barbosa (2013), a revista, que passou a ser publicada semanalmente a partir do seu número 15 no Jornal do

Brasil, “consolidou a publicação da fotografia na imprensa” (BARBOSA, 2013, p. 188).

Quase três décadas depois do surgimento da Revista da Semana, outra revista seria detentora desse

“imaginário visual” (BUITONI, 2007, p. 105): O Cruzeiro. Criada em 1928 e inspirada na revista americana

Life, foi o impresso que, de fato, “implantou e desenvolveu uma mentalidade de fotojornalismo entre nós”

(BUITONI, 2007, p. 105).

A revista de Chateaubriand apresentava um certo Brasil aos brasileiros: cidades, paisagens, cenas

folclóricas, tipos regionais, crimes, os índios – sendo contactados e sendo trazidos para a “civilização”,

artistas do cinema americano, artistas do rádio, políticos, inaugurações, carnaval... Alguns fotógrafos,

como o francês Jean Manzon, criaram estilos de fotorreportagem (BUITONI, 2007, p. 105).

Mauad (2008) afirma ainda que somente a partir do final de 1930 as fotografias passam a ser

creditadas, mesmo assim, o crédito não era indicado com muita frequência. Na década de 1940, jornais e

revistas, sobretudo os do Rio de Janeiro, passaram a dar o crédito aos fotógrafos. Além disso, ainda nos anos

1940, com a intensificação das imagens como ilustração, cresceu o número de agências fotográficas

especializadas e “bancos de imagens, organizações que mantinham arquivos de fotos dos mais diferentes

temas, que podiam ser rapidamente acessados e fornecidos a uma ampla clientela” (KOSSOY, 2007, p.

140).

Duas décadas depois, a cor foi introduzida nas fotografias de revista (MAUAD, 2006). A autora (2006)

lista alguns fotógrafos que devem ser lembrados quando se discute a história do fotojornalismo no Brasil ao

longo do século XX, entre os quais, Jean Manzon, Davi Nasser,42

José Medeiros, Flávio Damm, Luiz Pinto,

Eugênio Silva, Indalécio Wanderley, Erno Schneider e Alberto Jacob (MAUAD, 2006).43

Nesse cenário, também se destaca a revista Realidade, criada por Paulo Patarra, em São Paulo, no

ano de 1966. O impresso se caracterizava como uma revista de reportagens e não de entretenimento

(SEVERIANO, 2013). Além disso, era mensal e pertencia ao grupo Abril, fundado no Brasil por Victor

Civita, cujo filho, Roberto, se tornou diretor da revista. A equipe de Realidade possuía um

posicionamento político predominantemente de esquerda, o que no contexto da Ditadura Militar no Brasil

(1964-1985) representava a necessidade de um maior esforço para o exercício da liberdade de imprensa.

A fotografia era um elemento muito utilizado na composição das edições de Realidade, sobretudo

na capa, e foi a causa de algumas apreensões da revista por parte das autoridades, por exemplo, as edições 42

O fotógrafo Jean Manzon e o repórter Davi Nasser formaram o primeiro “par do fotojornalismo brasileiro” (MAUAD, 2006,

p. 379). 43

Para a autora (2006, p. 381), o fotógrafo é um sujeito histórico fundamental porque “atua como mediador cultural do

processo comunicativo”.

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de janeiro e fevereiro de 1967, as quais mostravam uma moça dando à luz e o close do rosto de outra

moça brincando no carnaval com uma expressão de extremo prazer, respectivamente. Assim, segundo

Severiano (2013), não foi a segmentação do mercado nem os problemas financeiros que trouxeram o fim

do impresso, e, sim, a censura instaurada pelo regime e pela própria mentalidade da sociedade brasileira

nos anos 1960 e 1970 (SEVERIANO, 2013). As publicações da revista Realidade foram encerradas em

1976.

Entre os jornais, se destacaram a Última Hora (1951) e o Jornal do Brasil (1891). Sobre o primeiro,

Buitoni (2007) afirma que o jornal valorizava “grandes fotos na primeira página, fotos de esporte – geralmente

futebol – na contracapa do segundo caderno. Também começou a fazer uso de fotos em cor; e inovou ao

publicar os créditos dos fotógrafos” (BUITONI, 2007, p. 105-106).

Louzada (2011), ao analisar a introdução do uso da fotografia no Jornal do Brasil (JB), conclui

que a inserção gradual e lenta da técnica fotográfica no periódico é um indício de que a reação do leitor

estava sendo sondada. Foi por meio desse processo que a fotografia ganhou espaço com o público do JB a

partir de 1957, passando a ter autonomia em relação ao texto. De acordo com a autora, em meados de

1961, “se a foto é boa, é publicada, e o texto é providenciado para acompanhá-la” (LOUZADA, 2011, p.

87).

Esse processo de modernização e o maior espaço dado à fotografia no Jornal do Brasil deveu-se também

ao artista plástico Amílcar de Castro, responsável pela diagramação do periódico.

Nessa época, o diretor de redação era Odylo Costa Filho e Reinaldo Jardim chefiava o inovador

Suplemento Dominical. Jânio de Freitas dirigiu a redação a partir de 1959; em 1962 o cargo foi ocupado

por Alberto Dines. Ambos exploraram as potencialidades do discurso fotográfico, que resultaram inclusive

em Prêmios Esso. As funções de editor de fotografia foram delineadas no JB, em meio a outras estruturas

novas como comitês editoriais e a instalação do Departamento de Pesquisa. Nesse período foi editado o

Caderno de Jornalismo do Jornal do Brasil, publicação que discutia questões teóricas e práticas da área e

que serviu inclusive de apoio didático aos nascentes cursos de jornalismo da década de 1960 (BUITONI,

2007, p. 106).

De acordo com as pesquisas de Mauad (2008) sobre a imprensa ilustrada, os estados brasileiros

com o maior número dessas publicações em meados de 1950 são: Rio de Janeiro (1.246), São Paulo

(1.173), Minas Gerais (259), Santa Catarina (149), Ceará (143), Mato Grosso (38) e Amazonas (26). A

pesquisa foi realizada com base nos dados da Biblioteca Nacional, Associação Brasileira de Imprensa e

Fundação Casa Rui Barbosa e concluiu que o período mais fértil dessas publicações foi a década de 1930

(MAUAD, 2008). A autora (2008) reconhece que esses dados podem variar, uma vez que o estudo foi

realizado exclusivamente na cidade do Rio de Janeiro, mas também pode indicar o panorama da imprensa

ilustrada no país.

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Quanto ao perfil dos periódicos no Brasil no período de 1930 a 1960, Mauad (2008) afirma que

ocorreu um processo de modernização na programação visual e escrita, além da adequação aos padrões

internacionais das publicações ilustradas.

As fotografias ganham espaço nas páginas das revistas e de alguns jornais diários, evidenciando o

poder da imagem de seduzir, convencer e educar o olhar do público. Nessa época, consolidam-se

as fotorreportagens, nas quais a força da imagem estaria cada vez mais enfatizada, pelo aumento

significativo do uso de fotografias e pelo seu encadeamento narrativo. (MAUAD, 2008, p. 163).

Outro jornal que surgiu nessa época, em 1966, especificamente, foi o Jornal da Tarde, do grupo O Estado

de S. Paulo. Desde sua fundação, apresentou inovações no uso das imagens fotográficas: “diagramação

inovadora, fotos que tomavam toda a primeira página, manchetes criativas. Talvez foi um dos jornais mais

avançados do mundo, em sua época” (BUITONI, 2007, p. 106). Assim, a fotografia se firmava de vez na

imprensa nacional, conquistando espaços cada vez maiores nas páginas dos jornais e revistas.

2.4. ANÁLISE DE IMAGENS: EM BUSCA DE UMA METODOLOGIA

Joly (1996), em sua Introdução à análise da imagem, afirma que é necessário um cuidado ao se

nomear as imagens. Observa a pesquisadora:

Confundir imagem contemporânea e imagem da mídia, imagem da mídia e televisão, televisão e

publicidade, é não apenas negar a diversidade das imagens contemporâneas como também ativar

uma amnésia e uma cegueira, tão prejudiciais quanto inúteis, para a compreensão da imagem

(JOLY, 1996, p. 16).

Para realizar a análise mínima de algum tipo de imagem, seja pelo aspecto técnico, seja pelas

mensagens que carrega, é preciso um esforço de aprofundamento. Mas, além, disso, é necessário conhecer

o objeto pesquisado e o motivo pelo qual se quer compreendê-lo (JOLY, 1996). Deve-se também

considerar que a leitura de determinada imagem será individual, ligada diretamente à experiência do

vivido, temática discutida por Rodrigues (2011) e França (2008) no início deste estudo. Para Joly (1996):

“decerto existem, para a humanidade inteira, esquemas mentais e representativos universais, arquétipos

ligados à experiência comum a todos os homens. No entanto, deduzir que a leitura da imagem é universal

revela confusão e desconhecimento” (JOLY, 1996, p. 42).

A imagem é, antes de tudo, uma mensagem composta por signos, ou seja, é uma “ferramenta de

expressão e comunicação” (JOLY, 1996, p. 55). Afirma Joly (1996):

Seja ela expressiva ou comunicativa, é possível admitir que uma imagem sempre constitui uma

mensagem para o outro, mesmo quando esse outro somos nós mesmos. Por isso, uma das

precauções necessárias para compreender da melhor forma possível uma mensagem visual é

buscar para quem ela foi produzida. No entanto, identificar o destinatário da mensagem visual não

basta para compreender para que ela serve. A função da mensagem visual é também, efetivamente,

determinante para a compreensão de seu conteúdo. Assim, para distinguir o destinatário e a função

de uma mensagem visual, são necessários critérios de referência (JOLY, 1996, p.55, grifo da

autora).

A autora (1996) alerta que pode ser difícil classificar algumas imagens. Esse é o caso, por

exemplo, das fotografias de imprensa, as quais deveriam ter “uma função referencial, cognitiva, mas, na

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realidade, situam-se entre a função referencial e a função expressiva ou emotiva” (JOLY, 1996, p.58).

Joly (1996) ressalta que a fotografia de imprensa, além de testemunhar a realidade, mostra as escolhas e

sensibilidade do fotógrafo que a produziu.

Outro ponto importante nessa discussão é a relação da imagem com o texto que a acompanha. Para

a autora (1996), um não exclui o outro, sempre estão juntos, inevitavelmente, seja em forma de legenda,

comentários, autoria, títulos, textos de imprensa, entre outros aspectos. “Quanto às imagens fixas sem

texto, rompem tanto com a nossa expectativa que a legenda que as acompanha é ‘sem legenda’ ou ‘sem

palavras’ ou ainda ‘sem título’...” (JOLY, 1996, p. 116).

Para Kossoy (2001), os três componentes fundamentais no processo de construção da imagem

fotográfica são o fotógrafo, a técnica e o tema: “são estes os elementos constitutivos que lhe deram origem

através de um processo, de um ciclo que se completou no momento em que o objeto teve sua imagem

cristalizada na bidimensão do material sensível, num preciso e definido espaço e tempo” (KOSSOY, 2001, p. 37,

grifos do autor). A fotografia é, portanto, produto da junção desses três fatores, ela tem a capacidade de dar

indicações de sua elaboração e o momento histórico no qual se situa; e o espaço e o tempo são as “coordenadas

de situação” (KOSSOY, 2001, p. 37).

Para o autor (2001, p. 40), uma fotografia original é um “objeto-imagem”, nele se pode identificar traços

da época na qual foi produzida. Trata-se, portanto, de uma “fonte primária” (KOSSOY, 2001, p. 42) ou a

“primeira realidade”, “fixa, imutável e irreversível” (KOSSOY, 2009, p. 47). Já as impressões ou outros tipos de

aplicação dessa fotografia, em outras palavras, as reproduções, são carregadas de outras características que as

diferem do original, tornando-se um “objeto-imagem de segunda geração”, ou seja, uma “fonte secundária”

(KOSSOY, 2001, p. 42) ou uma “segunda realidade”, também “fixa e imutável”, mas passível de “múltiplas

interpretações” (KOSSOY, 2009, p. 47).

A própria importância dessas fontes – primária e secundária – difere, o objeto-imagem de primeira

geração tem valor para a história da técnica fotográfica, enquanto a reprodução dissemina a informação

histórico-cultural contida na imagem (KOSSOY, 2001). Essa reprodução, objeto-imagem de segunda geração,

ou ainda, “segunda realidade” é autônoma na medida em que adquire seu valor documental (KOSSOY, 2001, p.

44). Nas palavras de Flusser (2011, p. 50): “decifrar fotografias implicaria, entre outras coisas, o deciframento

das condições culturais dribladas”.

Nesse aspecto, a vivência e as experiências do fotógrafo, como sujeito histórico, são decisivas na

construção da imagem, e isso pode ser percebido quando esse sujeito escolhe um aspecto da realidade a ser

fotografado, quando organiza os elementos que compõem a cena e quando opta por recursos oferecidos por uma

tecnologia específica e não por outra. Todos esses fatores influenciam no resultado do trabalho do fotógrafo,

tornando-o uma espécie de “filtro cultural” (KOSSOY, 2001, p. 42; 2009).

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Além disso, segundo Kossoy (2009), na imagem fotográfica estão incorporados dois tipos de

componentes: os de “ordem material” e os de “ordem imaterial” (KOSSOY, 2009, p. 27). Os componentes de

ordem material “são os recursos técnicos, ópticos, químicos ou eletrônicos”, já os de ordem imaterial constituem

os “mentais e os culturais” (KOSSOY, 2009, p. 27). Avalia o autor: “estes últimos se sobrepõem

hierarquicamente aos primeiros e, com eles, se articulam na mente e nas ações do fotógrafo ao longo de um

complexo processo de criação” (KOSSOY, 2009, p. 27, grifo do autor).

Kossoy (2001) concorda com Joly (1996) ao afirmar que “o registro visual documenta, por outro lado, a

própria atitude do fotógrafo diante da realidade; seu estado de espírito e sua ideologia acabam transparecendo em

suas imagens, particularmente naquelas que realiza para si mesmo enquanto forma de expressão pessoal

(KOSSOY, 2001, p. 42-43). Dessa forma, a fotografia torna-se um “duplo testemunho” (KOSSOY, 2001, p. 50),

pois, na medida em que mostra sobre a cena passada, o contexto histórico em que foi produzida, mostra também

informações sobre quem a produziu.

Uma fotografia é um aspecto da realidade, uma “interrupção do tempo e, portanto, da vida” (KOSSOY,

2001, p. 44, grifo do autor). Para que ela passasse a existir, foi necessária, primeiramente, uma “intenção” – seja

do próprio fotógrafo ou de quem solicitou aquele registro –, em seguida, ocorreu o “ato” do clique – a

materialização da fotografia – e, finalmente, todos os caminhos e sentimentos que a imagem percorreu e

despertou (KOSSOY, 2001, p. 45). O autor assinala: “nesse caso seu conteúdo se manteve, nela o tempo parou.

As expressões ainda são as mesmas. Apenas o artefato, no seu todo, envelheceu” (KOSSOY, 2001, p. 45).

Kossoy (2001) destaca ainda que todo registro feito com o objetivo de levar consigo um valor

documental representará sempre um meio de informação, entretanto, até mesmo as imagens documentais tem

valores estéticos. “São estes fragmentos interrompidos da vida, que por vezes revemos, uma insuperável, por

vezes constrangedora, fonte de recordação e emoção. São os documentos fotográficos também um insubstituível

meio de informação” (KOSSOY, 2001, p. 101).

Claro que, como afirma o autor (2001), as fotografias, desde o seu surgimento, sempre tiveram a

possibilidade de ter algum tipo de interferência ou alteração. Antes dos programas computacionais de edição,

outros recursos eram utilizados, por exemplo, a própria técnica de retocar os negativos, atribuída ao alemão

Franz Hanfstaengl (1804-1877). Mas também a manipulação de cenários, detalhes, entre outros elementos,

possibilitavam a interferência do fotógrafo no produto imagético (KOSSOY, 2001).

Por mais isenta que seja à interpretação dos conteúdos fotográficos, o passado será visto sempre conforme

a interpretação primeira do fotógrafo que optou por um aspecto determinado, o qual foi objeto de

manipulação desde o momento da tomada do registro e ao longo de todo o processamento, até a obtenção

da imagem final (KOSSOY, 2001, p. 113).

Tradicionalmente, a fotografia esteve ligada à função de ilustrar textos, porém, como enfatiza Kossoy

(2007), as imagens fotográficas constituem uma fonte importante para se conhecer o passado, ainda que seja

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uma parte fragmentada dele. Ela pode informar e desinformar – ou manipular –, denunciar determinadas

situações ou funcionar como instrumento para os interesses de uma minoria (KOSSOY, 2007). O autor faz uma

ressalva: “a fotografia não pode ser pensada como um documento que vale por si próprio, neutro, isento de

manipulação. Não existe documento inocente. (...) deve ser submetida ao devido exame crítico que a

metodologia da história impõe aos documentos” (KOSSOY, 2007, p. 46, grifo do autor).

Outra característica da fotografia está relacionada ao tempo. Para Kossoy (2007), há o tempo da

realidade fotografada, aquele que é efêmero; e o da realidade representada na imagem, o que é eterno,

“perpétuo” (KOSSOY, 2007, p. 142). De acordo com o autor: “o fato histórico foi; o documento é, agora

e sempre. Isso vale para o documento escrito como também para o visual” (KOSSOY, 2007, p. 158).

Ao propor uma metodologia para a pesquisa de fotografias, Kossoy (2001) alerta, inicialmente, para a

primeira distinção na investigação: é preciso estabelecer diferenças entre a “história da fotografia e na história

através da fotografia” (KOSSOY, 2001, p. 53, grifos do autor).

A primeira diz respeito ao estudo sistemático desse meio de comunicação e expressão em seu processo

histórico, a um gênero de história que flui entre a ciência e a arte. A segunda remete de imediato ao

emprego da iconografia fotográfica do passado, nos mais diferentes gêneros de história e mesmo em

outras áreas da ciência nas quais os pesquisadores venham a utilizar-se desta fonte plástica como

instrumento de apoio à pesquisa, como meio de conhecimento visual da cena passada e, portanto, como

uma possibilidade de descoberta (KOSSOY, 2001, p. 53).

Ambos os caminhos necessitam de investigações aprofundadas sobre o momento histórico ao qual estão

vinculados, no primeiro caso, a fotografia é o próprio “objeto da pesquisa” e no segundo, ela funciona como

“instrumento de pesquisa” (KOSSOY, 2001, p. 55). Para o autor, “não se pode confundir a história da fotografia

de um país com a história de um país através da fotografia” (KOSSOY, 2001, p. 57). Este estudo insere-se no

primeiro caso, pois tem a fotografia de imprensa como objeto da pesquisa.

Kossoy (2001) atribui o termo “iconologia” aos estudos de Erwin Panofsky (1976). Quando

Panofsky, integrante da Escola de Warburg, em Hamburgo, na Alemanha, propôs o método da

iconografia/iconologia para a interpretação de imagens, buscava aplicar suas ideias aos trabalhos de arte,

área de estudo do autor. Segundo ele, a interpretação da imagem pode ser classificada em três grupos:

“tema primário ou natural”, “tema secundário ou convencional” e “significado intrínseco ou de conteúdo”

(PANOFSKY, 1976, p. 50-52).

A descrição pré-iconográfica, ou “tema primário ou natural” (PANOFSKY, 1976, p. 50),

identifica os objetos e os eventos, descrevendo-os, trata-se do significado natural da imagem. A análise

iconográfica, ou “tema secundário ou convencional”, permite identificar correlações dessa imagem com o

que ela representa, o que “pressupõe uma identificação exata dos motivos” (PANOFSKY, 1976, p. 50-

51). Já a interpretação iconológica possui um “significado intrínseco ou de conteúdo” (PANOFSKY,

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1976, p. 52), ou seja, “requer algo mais que a familiaridade com conceitos ou temas específicos

transmitidos através de fontes literárias” (PANOFSKY, 1976, p. 62). Exemplificaremos a análise por meio

do Quadro 2, extraído de Kossoy (2001):

Quadro 2 – Análise iconográfica e interpretação iconológica.

Fonte: KOSSOY (2001).

Assim, buscaremos reunir o maior número de informações possíveis – assunto, fotógrafo e tecnologia,

espaço e tempo –, observando e descrevendo as fotografias selecionadas, correlacionando com cada época, uma

vez que o estudo analisa um período bastante extenso, e, por fim, tentaremos compreender, com base na

interpretação dessas imagens, como se configurou o percurso do fotojornalismo na imprensa paraense.

CAPÍTULO 3

PANORAMA DO PERCURSO DO FOTOJORNALISMO NA IMPRENSA PARAENSE

DURANTE O SÉCULO XX

Fotojornalismo não é o encontro feliz com imagens acidentais, mas a produção consciente e

sofrida de visões fragmentárias, pessoais, que podem ser, muitas vezes, verdades mais amplas,

significativas e universais (HUMBERTO, 1983, p. 31).

Neste Capítulo 3, faremos uma breve discussão sobre a ilustração nos impressos paraenses, com o

intuito de observar, ainda que superficialmente, a introdução da imagem nos jornais do Pará. Após isso,

trataremos sobre os primeiros fotógrafos paraenses, as primeiras fotografias publicadas nos periódicos e

como se deu esse uso no decorrer do século XX a partir da análise de quatro grandes jornais impressos

que circularam nesse período: A Província do Pará (1876 - 2002), Folha do Norte (1896 - 1974), Estado do

Pará (1911 - 1980) e O Liberal (1946 - atual).

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3.1. UMA NOVA FORMA DE LEITURA: A ILUSTRAÇÃO NOS IMPRESSOS

O uso de recursos imagéticos ainda era escasso no início da implantação da imprensa no Pará, em

1822. Seixas (2011b) afirma que na década de 1830 pouca coisa muda a esse respeito nos jornais da

Província. A Sentinela Maranhense na Guarita do Pará e O Sagitário, por exemplo, foram dois jornais que

utilizaram alguns poucos recursos nesse período, como fios entre os textos no primeiro e a figura

mitológica do sagitário, no caso do segundo. Afirma a autora: “a questão ainda a ser verificada é qual a

técnica usada para a produção dessas imagens que são, em simples observação, desenhos de pequenas

dimensões e ainda sem expressividade” (SEIXAS, 2011b, p. 284).

Aos poucos, apareceram outros desenhos nas páginas dos impressos, sobretudo nos anúncios

(SEIXAS, 2011b). Salles (2001) destaca o nome de um importante caricaturista alemão radicado no Pará,

Hans Karl Wiegandt (1841-1908) – ou João Carlos Wiegandt –, cujo trabalho pioneiro na produção de

litogravuras e caricaturas o colocam, segundo o autor (2001), ao lado de grandes nomes do desenho

nacional, tornando-o, inclusive, “Patrono da Caricatura no Grão Pará”, nas palavras de Salles (2001, p.

97). Já eram publicados desenhos na imprensa, mas com qualidade mais baixa que as litografias do

caricaturista (SEIXAS, 2011b). Entre as contribuições de Wiegandt, Salles (2001), destaca:

João Carlos Wiegandt deu início, portanto, em 1870, a importantes atividades artísticas no Grão-

Pará: permitiu o surgimento da imprensa ilustrada, principalmente a caricata; imprimiu as

estampas de Righini; lançou inúmeras partituras musicais; executou trabalhos cartográficos, além

dos trabalhos gerais de litografia, tipografia e estamparia (SALLES, 2001, p. 97).

Além disso, João Carlos Wiegandt inaugurou a imprensa humorística ilustrada na Província. Dois

de seus discípulos, João Archibald Campbell e João Gomes Corrêa de Faria, também tiveram destaque na

produção de jornais caricatos (SALLES, 2001). Wiegandt elaborou diversos trabalhos litográficos sob

encomenda, entre “publicações ilustradas, periódicas ou avulsas, artísticas e literárias” (SALLES, 2001,

p. 102) até sua morte, em 18 de setembro de 1908.

Na década de 1880, as revistas paraenses já eram ilustradas e os jornais começavam a publicar

imagens na primeira página. Segundo Seixas (2011b), havia até imagens de página inteira de autoridades

da época, normalmente em formato de busto. Já na virada do século XIX, os jornais apresentavam maior

número de ilustrações de bustos ou até de cenas exteriores (SEIXAS, 2011b). Foi nesse período, de

acordo com a autora, que a caricatura passou a ser utilizada na imprensa de Belém, sobretudo nas revistas.

O público via-se, cada vez mais, imerso no mundo das imagens, e Belém foi uma das cidades que muito

se destacou nesse aspecto, como afirma Barbosa (2013):

Daguerreótipos, litografias, panoramas, cosmoramas, vistas, cartas de visitas, e, finalmente,

cinematógrafos, multiplicam os modos visuais do século XIX em cidades como Rio de Janeiro,

São Paulo, Belém, Recife e Salvador, entre outras, construindo um observador atento às

possibilidades que as tecnologias do olhar ofereciam para a representação daquele mundo que

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rapidamente se transformava. Não apenas no espaço público, mas também nos domínios privados

(BARBOSA, 2013, p. 179).

Essas transformações, comentadas por Barbosa (2013), ficariam ainda mais evidentes no século

seguinte. Na primeira década, apenas dois dos quatro jornais selecionados para esta pesquisa estavam em

circulação: Folha do Norte (1896-1974) e A Província do Pará (1876-2002). Os jornais Estado do Pará

(1911-1980) e O Liberal (1946-atual) foram fundados somente em 1911 e 1946, respectivamente.

Nesse período inicial do século XX, a Folha do Norte usava imagens apenas nos anúncios, mas,

ainda que de forma escassa, havia ilustrações em matérias de primeira página. No entanto, sempre se

tratava de bustos de algum personagem importante da política. Algumas dessas ilustrações eram assinadas

por “Pastor” e, ao que tudo indica, eram feitas com base em outras imagens, por exemplo, do busto de

Pedro Álvares Cabral, publicada na capa do dia 03 de maio de 1900, em comemoração aos 400 anos da

chegada dos colonizadores portugueses ao Brasil (Figura 7).

Figura 7: Folha do Norte, 03 maio 1900, p. 1

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Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna.

Essa prática também era comum em A Província do Pará, com mais frequência do que na Folha na

primeira década do século. Assim como no jornal concorrente, predominavam ilustrações nos anúncios. A

maioria das assinaturas nas ilustrações está ilegível e outras não têm nem assinatura, mas quando têm,

normalmente são de “NIC” ou “Nicephoro”, que acreditamos se tratar da mesma pessoa. Em 25 de agosto

de 1900, o jornal publicou uma ilustração com a legenda: “Bresci-photo-graphado de manhã na prisão”

(A PROVÍNCIA DO PARÁ, 25 ago. 1900, p. 1), assinada por “Nicephoro”, evidenciando que as

ilustrações eram feitas com base nas fotografias (Figura 8).

Figura 8: A Província do Pará, 25 Ago. 1900, p. 1

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Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna.

De qualquer forma, não apenas bustos ilustravam as páginas de A Província do Pará. Algumas

vezes, espaços abertos e edifícios eram reproduzidos nas páginas. Em 06 de maio de 1901, por exemplo, a

ilustração de capa é de um prédio onde ocorria “A exposição Pan-Americana de Buffalo, nos Estados

Unidos” (A PROVÍNCIA DO PARÁ, 06 maio 1901, p. 1) (Figura 9). Além disso, a seção “A Nota

Alegre” do jornal (que era publicada na 2ª ou 3ª página e, algumas vezes, na capa) trazia piadas da época

e também era sempre ilustrada com diversas situações.

Figura 9: A Província do Pará, 06 maio 1901, p. 1

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Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna.

3.2. OS PRIMEIROS FOTÓGRAFOS E A UTILIZAÇÃO DA IMAGEM FOTOGRÁFICA NA

IMPRENSA DO PARÁ

Com o objetivo de identificar os primeiros fotógrafos e estabelecimentos em atividade no Brasil

no século XIX, Kossoy (2002) realizou um mapeamento preliminar nos estados brasileiros,

correspondente ao período de 1833 a 1910. Os nomes relacionados à fotografia paraense desses primeiros

anos estão no Quadro 3:44

Quadro 3 – Fotógrafos e estabelecimentos afins em atividade no Pará, de 1833 a 1910.

44

Alguns nomes se repetem entre as décadas, pois esses fotógrafos estiveram em atividade por longos períodos.

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Período Fotógrafos/estabelecimentos

1833-1849 Charles DeForest Fredricks45

1850-1859 Guillerme Potter

Senna

Pedro Vilhote

1860-1869 Campbell

Felipe Augusto Fidanza

José Carlos Gonçalves

Antônio José de Araújo Lima

Antônio Maria de Mattos

Guillerme Potter

J.A. Veyret

1870-1879 M. H. da Costa

Lourenço Antônio Dias

Felipe Augusto Fidanza

R. H. Furman

Antônio José de Araújo Lima

José Thomaz Sabino

1880-1889 Firmo Lopes de Araújo

Fritz Bartels46

Constantino Barza

Felipe Augusto Fidanza

Guedes

Mello

Paulo Ernesto Meyer

Niels Olsen

Marcello Thomaz Pull

José Thomaz Sabino

Feliciano Verlangieri

Victor

1890-1899 Freire

J. Girard

Antônio de Oliveira

1900-1910 Felipe Augusto Fidanza

George Huebner

Julio A. Siza

Fonte: Kossoy (2002).

Felipe Augusto Fidanza foi um dos mais importantes fotógrafos em atividade em toda a região

Norte no século XIX. Kossoy (2002) acredita que ele teria chegado à capital paraense no ano de 1867 e se

dedicado ao retrato e à documentação urbana. A maioria dos fotógrafos que exerceu atividade ao longo do

século XIX e primeira década do século XX era estrangeira, “que para este lado do mundo se

aventuravam em razão, inclusive, da forte concorrência em seus países de origem e que, após reunir

algum pecúlio, embarcavam de volta” (KOSSOY, 2002, p. 11).

45

Segundo Kossoy (2002), possivelmente, foi esse fotógrafo que abriu o primeiro estabelecimento fotográfico em Belém do

Pará, no ano de 1846. 46

Autor da fotografia da visita do conde D’Eu a Belém, em 1889 (KOSSOY, 2002).

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Outra questão apresentada pelo autor trata da expansão da fotografia no Pará a partir da década de

1860, o que pode ser percebido pelo número de fotógrafos e estabelecimentos em atividade comparados

aos anos anteriores. Isso se deu

(...) em virtude, por um lado, da introdução de novos processos e de técnicas fotográficas baseadas

no princípio do negativo-positivo, que, barateando os custos de produção do retrato fotográfico, o

tornaria acessível a um público maior. Por outro lado, assiste-se a um progresso econômico:

multiplicam-se as ligações ferroviárias, a imigração europeia é incentivada, transformam-se as

feições dos mais importantes centros urbanos, há, enfim, um efetivo crescimento da classe média

nas maiores cidades (...). A clientela, nesta altura, já teria um perfil diferente daquele dos primeiros

tempos da daguerreotipia, quando o retrato era, via de regra, um representante da elite agrária ou

da nobreza oficial (KOSSOY, 2002, p. 12).

Dessa forma, esses “desconhecidos viajantes” iam de lugar em lugar divulgando seu trabalho e

contribuindo “para a fixação da imagem do homem brasileiro” (KOSSOY, 2002, p. 25), ao mesmo tempo

em que compartilhavam os conhecimentos sobre a técnica com outros e disseminavam a atividade

fotográfica.

A disseminação dessas atividades teve fundamental importância para a introdução da fotografia na

imprensa paraense, que em 1909 já estava presente nas páginas das revistas e, em 1912, nos jornais

(SEIXAS, 2011b; 2014). Mas seria a partir de 1919, segundo Seixas (2011b), que a fotografia iria ser

usada com mais frequência nos periódicos.

Enquanto as ilustrações em forma de desenho raramente traziam identificações do autor e de texto

sobre a cena/pessoa mostrada, várias fotografias vêm com legendas, mas também não trazem

assinatura. Embora a fotografia tenha chegado tarde na imprensa diária, a atividade de fotógrafos

profissionais na cidade remonta ao século XIX (...). Assim como aconteceu com outros jornais e

revistas, com suas respectivas temporalidades, próprias de seu percurso, a imprensa de Belém

configurou-se como empresa jornalística, estabelecendo suas dinâmicas e coexistências e

delimitando terrenos, inclusive profissionais. Paulatinamente, tanto a fotografia quanto as

ilustrações passaram a fazer parte da realidade da imprensa local, forjando nomes conhecidos em

suas respectivas áreas (SEIXAS, 2011b, p. 302-303).

Em 1912, o jornal Estado do Pará completava um ano de existência. Tinha dimensões de 60x42

cm, suas páginas eram compostas por seis colunas separadas por fios, os títulos eram mais destacados e as

imagens publicadas predominavam nos anúncios, mas também estavam presentes nas matérias, como

ilustrações. Em geral, tratava assuntos relacionados à política, avisos, notas comerciais, avisos marítimos,

correspondência, vida social, entre outros. Combatia a política de Antônio Lemos, ex-intendente de

Belém (BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ, 1985). Talvez por isso, esse seja o tema de muitas das suas

ilustrações, assinadas algumas vezes por “Exgottos”. Uma das mais emblemáticas traz a imagem do

“Jacaré-Lemos” (ESTADO DO PARÁ, 17 abr. 1912, p.1), sobre a qual diz a legenda:

João Coelho e Lauro Sodré examinam, indignados, a ninhada de monopólios com que o Jacaré-

Lemos – pae da fraude – mimoseou o Estado. Jacaré-Lemos, surgindo da agua, onde permanecia

occulto, prepara-se para, traiçoeiramente, saltar sobre os dois ilustres patriotas. Mas Zé-Povo, que

está de sentinella, ao lado, exclama: – Ao menor movimento que fizeres, liquido-te, animal feroz

(ESTADO DO PARÁ, 17 abr. 1912, p.1).

Era o jornal fazendo uso do poder da imagem na política (Figura 10).

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Figura 10: Estado do Pará, 17 abr. 1912, p. 1

Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna.

Uma das primeiras fotografias publicadas na imprensa paraense data de 01 de setembro de 1912

(Figura 11), no jornal Estado do Pará (SEIXAS, 2014). No entanto, a autora (2014) esclarece que não se

pode afirmar com certeza que essa seja a primeira fotografia jornalística de fato publicada, uma vez que

muitos dos impressos que circularam ao longo dos séculos XIX e XX no Pará não foram conservados e,

provavelmente, não existem mais. Assim, a conclusão de Seixas (2014) se baseia nos impressos ainda

existentes e disponíveis para consulta na Biblioteca Pública Arthur Vianna, em Belém.

De fato, durante a realização desta pesquisa, não foi encontrado nenhum registro de fotografia

jornalística nas páginas dos jornais selecionados antes de 1912. As imagens já eram utilizadas para

ilustrar as matérias, mas sempre se tratava de ilustrações a partir de fotografias. Desta forma, ainda que o

ano de 1912 não estivesse dentro do recorte estabelecido neste estudo, vimos que era fundamental inclui-

lo na análise.

Sob o título “A desafronta” (ESTADO DO PARÁ, 01 set. 1912, p. 1), a fotografia mostrava o ex-

intendente Antônio Lemos cercado pelos seus adversários políticos que o “protegiam” dos protestos do

povo. É importante observar a data em que a fotografia foi publicada, pois essa cena representou o fim de

um período marcado pelos ideais Lemistas. Como afirma Barthes (2011, p. 92), “a data faz parte da foto:

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não porque ela denote um estilo (...), mas porque ela faz erguer a cabeça, oferece ao cálculo a vida, a

morte, a inexorável extinção das gerações”.

O subtítulo contribuiu para reforçar a hostilidade ao ex-político:

A cidade volta à sua normalidade – Echos do attentado – A capangada lemista reapparece – Em

prol das famílias das victimas – Na residencia do sr. Antonio José de Lemos o povo descobre um

subterraneo – Providencias energicas das auctoridades – Prisão de capangas – Outros informes

(ESTADO DO PARÁ, 01 Set. 1912, p. 1).

Assim como a legenda:

O sr. coronel Antonio José de Lemos ao sahir da residencia do sr. dr.Virgilio de Mendonça,

intendente municipal”. “Da esquerda para a direita: dr.Virgilio de Mendonça, intendente de Belém;

major Alencastro Araujo, inspetor interino da Região; coronel Antonio José de Lemos (de chapéo

de palha á mão), ex senador do Estado; dr. Bruno Lobo, deputado eleito; major Honorino de

Almeida, do exercito, e capitão de corveta Emmanuel Braga (ESTADO DO PARÁ, 01 Set. 1912,

p. 1)

Figura 11: Estado do Pará, 01 set. 1912, p. 1

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Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna.

O jornal não identificou o fotógrafo que registrou a imagem, mas esse procedimento era comum

na época até mesmo em jornais europeus e norte-americanos, os quais já utilizavam fotografias em seus

jornais desde os primeiros anos do século XX sem dar os créditos aos fotógrafos. Leal (1998) enfatiza que

a queda de Lemos, em 1912, impulsionou a valorização do fotojornalismo: “com a queda de Lemos – este

sendo arrastado pelas ruas, apedrejado pela população, seus bens destruídos, sua casa queimada –, os

fotógrafos ficaram mais atentos aos fatos da cidade” (LEAL, 1998, p. 25). Mas, para o autor, somente nos

anos 1940 a fotografia deixaria de ser uma questão somente artística para ganhar status de fotojornalismo

(LEAL, 1998).

.

Gradativamente, as fotografias passaram a se tornar mais frequentes no jornal Estado do Pará em

1912. Isso não significa que as ilustrações foram substituídas pela imagem fotográfica, ainda demoraria

algumas décadas para que o fotojornalismo se firmasse de fato nos impressos paraenses. Outro ponto

importante é a ausência de fotografias nas páginas internas do jornal, pois, normalmente, as poucas

fotografias publicadas estavam somente na capa nesses primeiros tempos.

Cada vez mais, as fotografias de assuntos estrangeiros ganhavam espaços significativos na

imprensa. Na década de 1920, ainda eram comuns as ilustrações de bustos, mas, com a introdução das

fotografias feitas pelos fotógrafos paraenses dos bustos dos representantes políticos, as ilustrações foram

deixando de ser destaque até mesmo no interior dos impressos. As pessoas também pareciam se

acostumar com o processo de ser fotografado e com a presença do fotógrafo e demonstravam mais

naturalidade ao serem fotografadas. Imagens relacionadas aos esportes já aparecem na segunda década do

século XX, a maioria era sobre futebol.

Experimentavam-se novos ângulos e enquadramentos, tal como em uma fotografia do Estado do

Pará, de 05 de abril de 1920, em que se percebe o uso de plongeé47

para mostrar a quantidade de pessoas

presentes em uma festa de caridade de um clube de Belém (ESTADO DO PARÁ, 05 abr. 1920). As

técnicas, nesse caso, permitiam também ter uma dimensão do lugar e da decoração das barracas.

Fotografava-se em plano geral,48

mostrando mais aspectos da cena. Algumas fotografias eram publicadas

dentro de molduras no jornal Estado do Pará.

Um dos primeiros casos encontrados na pesquisa onde a fotografia é utilizada como denúncia

social data de 26 de abril de 1920, na capa do Estado do Pará. Trata-se de uma imagem que retrata a 47

Trata-se da imagem capturada de “cima para baixo”, também é chamado de “mergulho”. 48

Segundo Nogueira (2010), “tomando sempre como referência a figura humana, podemos afirmar que um plano geral nos

mostra integralmente uma personagem, dos pés à cabeça. No entanto, um plano geral pode incluir, além da personagem

completa, o cenário que a envolve” (NOGUEIRA, 2010, p. 40).

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situação de moradores de rua na capital do Estado. O texto diz: “O nosso photographado de hoje pertence

ás dezenas de pátrias que pullulam na cidade (...)” (ESTADO DO PARÁ, 26 abr. 1920, p. 1) (Figura 12).

No dia 30 do mesmo mês, a fotografia mostra a situação de moradia dos “miseráveis” (ESTADO DO

PARÁ, 30 abr. 1920, p. 1) (Figura 13).

Ainda na década de 1920, foram criadas colunas de fotografias – “Galeria Infantil” e “Galeria

Feminina” – no jornal Folha do Norte, onde eram publicadas em primeira página. A primeira trazia

sempre fotografias de crianças da sociedade belenense, como uma coluna social infantil. Na legenda eram

identificados os pais de cada criança, normalmente ligados às famílias mais tradicionais da cidade. Na

segunda, mulheres belenenses ilustravam a seção. Além dessas galerias, a Folha não fazia uso da

fotografia no jornalismo de forma muito frequente se comparado aos outros jornais que circularam na

mesma década, como o Estado do Pará e A Província do Pará. Além disso, ainda era muito comum no

jornal o uso de ilustrações.

Figura 12: Estado do Pará, 26 abr. 1920, p. 1

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Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna.

Figura 13: Estado do Pará, 30 abr. 1920, p. 1

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Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna.

Em 10 de outubro de 1920, uma das primeiras imagens relacionadas ao Círio de Nazaré49

foi

publicada na Folha do Norte. É uma fotografia da imagem da Virgem de Nazaré usada para guiar a

procissão (Figura 14).

O uso dessa fotografia para anunciar um evento que ocorre há mais de dois séculos,

especificamente naquele ano, traria um diferencial para a festa mais tradicional do Estado. Isso pode ser

concluído por causa da frequência com que fotografias seriam utilizadas daquele momento em diante,

todos os meses de outubro, o que poderia evidenciar, a partir da proposta interpretativa de Panofsky

(1976) e Kossoy (2001), a busca pela materialização da fé por meio das imagens. No dia seguinte àquela

publicação, as fotografias mostraram isso, apresentando a multidão que seguia o cortejo para representar a

fé do povo paraense (Figura 15).

49

O Círio de Nazaré é uma procissão católica realizada em Belém desde 1793. Acontece todos os anos, no segundo domingo

de outubro, e reúne pessoas de todos os lugares que são devotas de Nossa Senhora de Nazaré (IPHAN, 2006).

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Figura 14: Folha do Norte, 10 out. 1920, p. 1

Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna.

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Figura 15: Folha do Norte, 10 out. 1920, p. 1

Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna.

Em julho de 1920, A Província do Pará afirmava estar no “início da nova phase” (A PROVÍNCIA

DO PARÁ, 07 jul. 1920, p.1), após a queda de um de seus fundadores, Antônio Lemos, em 1912, e após o

incêndio ocorrido no mesmo ano que a deixou fora de circulação por oito anos. De volta ao mercado e

sob a direção de Pedro Chermont de Miranda, A Província buscava se reformular, contudo, nesse ano, o

jornal ainda não usava muitas fotografias. Assim como a Folha, a Província também publicou imagens

sobre o Círio de Nazaré, como a imagem da Santa (Figura 16), que mais parece uma ilustração, e a

fotografia da Basílica de Nazaré (Figura 17), ponto de chegada da procissão. Dois dias depois, em 12 de

outubro,50

publicou duas imagens das pessoas no cortejo, com o mesmo padrão da Folha do Norte.

50

Normalmente, o jornal não circulava às segundas-feiras, por este motivo, as fotografias feitas no domingo de Círio só foram

publicadas na terça-feira, 12.

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Figura 16: A Província do Pará, 10 out. 1920, p. 1

Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna.

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Figura 17: A Província do Pará, 10 out. 1920, p. 1

Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna.

A limpeza da cidade e as questões sociais da capital paraense eram alguns temas que preocupavam

a Província nos anos 20 (Figura 18). Preocupação essa que também se materializou por meio das

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imagens, as quais mostravam os buracos nas ruas, o lixo e as condições de saneamento (A PROVÍNCIA

DO PARÁ, 15 out. 1920, p. 1; A PROVÍNCIA DO PARÁ, 22 out. 1920, p. 1).

Figura 18: A Província do Pará, 15 out. 1920, p. 1

Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna.

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Dos grandes jornais que circularam em Belém entre 1930 e 1940, apenas a Folha do Norte está

disponível para pesquisa em microfilme. O jornal fundado ainda no século XIX, em 1º de janeiro de 1896,

por Enéas Martins e Cipriano Santos passou a incluir nas homenagens de seu aniversário diversas

fotografias na década de 1930. A página 3 da primeira edição do ano era chamada “Página de ouro”, e era

quase completamente tomada pelas imagens. Foi a primeira vez que encontramos fotografias creditadas,

isso, baseando-se no recorte definido para esta pesquisa. Quem assina as fotos é Oswaldo Gry – em

algumas, apenas Oswaldo – e, ao que parece, a assinatura era feita nas próprias fotografias de forma

manuscrita (FOLHA DO NORTE, 1º jan. 1930, p. 1).

Em geral, eram retratados nessas fotografias os parques, praças e prédios históricos de Belém,

servindo, inclusive, como uma espécie de álbum de fotografias da cidade. Há ainda fotos de governantes e

outros espaços abertos, como portos, pontes, plantações e estradas.

A fotografia conecta-se a uma realidade primeira que a gerou em algum lugar e época. Porém

perdendo-se os dados sobre aquele passado, ou melhor, não existindo informações acerca do

referente que a originou, o que mais resta? Uma imagem perdida, sem identificação, sem

identidade... sem história. Exercício fascinante é o de devolver aos rostos e cenários perdidos sua

identidade, sua localização, sua referência, resgatando assim a substância documental às

representações fotográficas daqueles que um dia viveram, amaram ou sofreram ou das coisas que

foram criadas, pensadas, construídas e que se perderam ou desapareceram (KOSSOY, 2009, p.

129).

A página de esportes, intitulada “Esportes”, estava localizada na página 2. As matérias com

fotografias eram publicadas na capa, percebe-se já uma grande valorização desse tipo de imagem.

Além das molduras, outro recurso utilizado era a ampliação de uma parte da foto para mostrar

detalhes ou rostos de uma determinada pessoa no meio de um número maior de indivíduos (FOLHA DO

NORTE, 23 jul. 1930, p. 1).

No dia 23 de julho de 1930, na Folha do Norte, há uma reportagem fotográfica sobre a visita do

“futuro presidente do Brasil aos Estados Unidos” (FOLHA DO NORTE, 23 jul. 1930, p. 1), onde as fotos

são creditadas a Arthur Coelho, o que parece ser a referência a um correspondente internacional não

exclusivo da Folha, mas que contribuía com o jornal paraense. Diz a legenda:

Devemos essas photographias, que são as primeiras publicadas em jornaes do norte do Brasil, ao

sr. Arthur Coelho, correspondente de ‘Amazonia Brasileira’ nos Estados Unidos, e que nol-as

mandou de Nova York, em amável cortesia á Folha (FOLHA DO NORTE, 23 Jul. 1930, p. 1).

Em 1940, a tradicional edição de aniversário da Folha do Norte trouxe fotografias não só de

Belém, mas de diversos outros municípios do Estado, como Santarém (FOLHA DO NORTE, 1º jan.

1940, p. 28), Alenquer (FOLHA DO NORTE, 1º jan. 1940, p. 32), Cametá (FOLHA DO NORTE, 1º jan.

1940, p. 34), Abaeté (FOLHA DO NORTE, 1º jan. 1940, p. 42), Marapanim (FOLHA DO NORTE, 1º

jan. 1940, p. 43), Marabá (FOLHA DO NORTE, 1º jan. 1940, p. 45), Monte Alegre (FOLHA DO

NORTE, 1º jan. 1940, p. 54) e Afuá (FOLHA DO NORTE, 1º jan. 1940, p. 56).

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O jornal também contava com uma edição vespertina que, assim como a matutina, publicava

fotografias. Os maiores destaques estavam na seção “No mundo dos esportes” (FOLHA DO NORTE, 1º

jan. 1940, p. 5), onde predominavam fotografias posadas dos jogadores. Os bustos reaparecem, mas com

menos frequência que nas décadas anteriores. No ano de 1940 predominaram as fotografias relacionadas à

Segunda Guerra em destaque no periódico, todas distribuídas por agências, como a Associated Press (AP)

(Figuras 19, 20, 21, 22), cujo serviço fotográfico iniciou em 1935 (SOUSA, 2000). Foi justamente de

meados dos anos 30 aos 40 que “as agências fotográficas e os serviços de fotonotícia das agências

noticiosas” tiveram impulsos significativos, inclusive na Amazônia (SOUSA, 2000, p. 105). Sousa (2000)

completa:

A fundação de agências fotográficas ou a inauguração de serviços fotográficos nas agências

noticiosas é um dos fatores que, acreditamos, promoveu a transnacionalização/transaculturação da

foto-press e o esbatimento das suas diferenças intrínsecas (SOUSA, 2000, p. 126).

Figura 19: Folha Vespertina, 22 jan. 1940, p. 1

Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna.

Figura 20: Folha Vespertina, 24 jan. 1940, p. 1

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107

Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna.

Figura 21: Folha do Norte, 03 out. 1940, p. 1

Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna.

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Figura 22: Folha do Norte, 09 out. 1940, p. 1

Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna.

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Ainda assim, mesmo com o conflito acontecendo na Europa, havia espaço para a publicação de

assuntos de cunho local no periódico. Os principais temas que ganhavam destaque e eram fotografados

estavam relacionados aos incêndios, acidentes, assassinatos (assuntos policiais, em geral), esporte e

situação da saúde e das ruas da cidade (buracos, saneamento, entre outros, mas com menor frequência que

os dois primeiros) e reuniões políticas (Figuras 23 e 24). Assim se caracterizou a produção do

fotojornalismo até o decênio de 1940 no Pará.

Figura 23: Folha Vespertina, 06 jan. 1940, p. 4 Figura 24: Folha Vespertina, 13 abr. 1940, p. 4

Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna. Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna.

3.3. A DISSEMINAÇÃO DO FOTOJORNALISMO PARAENSE A PARTIR DOS ANOS 1950

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Em 1950, os jornais brasileiros passavam por reformulações inspiradas no modelo norte-

americano (RIBEIRO, 2006). A modernização dos impressos não ocorreu de forma homogênea no país,

mas algumas mudanças já podiam ser observadas nos impressos de Belém disponíveis para consulta.

A Província do Pará passou a ter oito colunas separadas por fios, ao contrário das décadas

anteriores, quando tinha apenas seis colunas por páginas. As edições possuíam duas seções. A primeira,

com 20 páginas em média, tratava de assuntos mais gerais da sociedade; a segunda, com

aproximadamente 10 páginas, trazia assuntos relacionados à literatura, cinema, um suplemento chamado

“Gurilandia” para as crianças, mas também trazia assuntos locais, que envolviam política, acidentes na

cidade, segurança, festas em Belém e no interior do Estado. Utilizava fotografias não só na primeira

página, mas nas páginas internas também.

A Folha do Norte em 1950 também possuía oito colunas separadas por fios. Tinha as dimensões

62 x 44 cm e publicava fotografias de caráter informativo, mas não em grande quantidade, nem em todas

as matérias. Normalmente, as fotografias estavam presentes nas notícias sobre política e esportes, isso

porque os principais assuntos publicados tratavam da política do Estado e do país, esporte, assuntos

incomuns, como incêndios (FOLHA DO NORTE, 03 jan. 1950, p. 3), desabamentos, acidentes de

trânsito/atropelamentos (FOLHA DO NORTE, 05 jan. 1950, p. 7) e alguns assuntos internacionais.

Mesmo na edição de aniversário, em 1º de janeiro, há menos imagens que nas décadas anteriores. As

fotografias de corpos após acidentes ou homicídios eram comuns em todos os jornais pesquisados, um

exemplo é a imagem de um garoto de 14 anos após ser atropelado (Figura 25).

Figura 25: Folha do Norte, 05 jan. 1950, p. 7

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111

Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna.

Nesse período, as “Folhas”, como se denominavam o matutino e o vespertino, recebiam fotos

internacionais da agência ACME. Com o recebimento das informações e fotografias das agências mais

facilitado pelo sistema de telefoto e rádio, o número de fotografias de assuntos internacionais começava a

superar o de assuntos locais. Durante o ano de 1950, as fotografias de cunho local só iam para a capa da

Folha do Norte quando se tratava de encontros políticos e assembleias.

As fotos sobre esportes começavam a mudar, sobretudo as relacionadas ao futebol. Antes,

predominavam fotos posadas de um ou mais jogadores. Mas são crescentes as fotografias das partidas por

outros ângulos, mostrando detalhes das jogadas, por exemplo. Também diferem de tamanho, dependendo

do assunto abordado. Na Copa de 1950, quando a seleção brasileira se preparava para jogar contra a

Espanha, a Folha do Norte estampou na capa a imagem dos jogadores, ocupando não menos que todas as

oito colunas na parte superior da capa (Figura 26).

Figura 26: Folha do Norte, 14 jul. 1950, p. 1

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Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna.

Para as eleições daquele ano, foi dada atenção especial por meio das fotografias. A Folha

publicou, em 31 de outubro, uma reportagem fotográfica sobre as manifestações populares que ocorreram

no dia anterior (Figura 27). Segundo o jornal, os populares se revoltaram contra o resultado do pleito

(FOLHA DO NORTE, 31 Out. 1950, p. 8).

Figura 27: Folha do Norte, 31 Out. 1950, p. 8

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Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna.

Ao contrário da Folha, a Província valorizava muito mais as fotografias de temas locais. Mas, os

critérios para a publicação dessas imagens eram os mesmos: predominavam fotos sobre acidentes. As

internacionais eram enviadas pela International News Photos (INP) e pela Meridional. Palavras como

“flagrante” e “momento colhido” eram comuns nas legendas. A Província possuía um suplemento

chamado “Magazine”, publicado na 2º seção (p. 9), no qual o jornal, eventualmente, publicava fotos de

Belém. No dia 08 de janeiro de 1950, o texto e as fotos foram creditados ao historiador Ernesto Cruz

(Figura 28).

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Figura 28: A Província do Pará, 08 Jan. 1950, p. 9

Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna.

É em 1950 que se pode perceber uma pequena mudança na diagramação das páginas: em alguns

casos, as fotografias tinham tanto destaque, que eram publicadas acima do título da matéria.

Com o conflito na Coréia (1950-1953), a guerra volta às páginas dos impressos paraenses. Os

títulos apresentavam a necessidade de se lutar contra o avanço comunista e as fotografias, enviadas pela

agência INP, reforçavam os argumentos (A PROVÍNCIA DO PARÁ, 04 jul. 1950, p. 1).

A década de 1960 seria marcada pela instauração da Ditadura Militar no Brasil (1964-1985).

Nesse período, os jornais brasileiros passariam a sofrer censura, com a implantação de diversas medidas

de controle da imprensa. Em geral, os periódicos paraenses nessa época possuíam oito colunas, mas

alguns jornais como o Estado do Pará, por exemplo, já havia retirado os fios que as separavam. Os

periódicos utilizavam muitas fotografias tanto na primeira página quanto no interior, os títulos das

matérias eram grandes, mas apenas a Folha e a Província usavam subtítulos em seus textos de capa.

Predominavam nesses jornais assuntos relacionados à sociedade de Belém, polícia, comércio e

finanças, política, assuntos internacionais (desastres, conflitos), nacionais e do interior do Estado,

esportes, navegação, literatura, economia, festividades, cinema, transportes, além de seções e suplementos

para públicos definidos, como a seção para a mulher. As fotografias ainda não eram creditadas, a não ser

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nas colunas sociais e em reportagens especiais, além disso, em alguns desses jornais a imagem fotográfica

não possuía legenda.

A Província na década de 1960 já publicava três cadernos definidos, mas sem denominação

específica para cada um deles, a não ser o segundo, que se chamava “Letras e artes”. Recebia fotografias

das agências Meridional, International News Photos (INP) e United Press International (UPI), e

predominavam nas capas as fotos internacionais e de outros estados do Brasil. Na política, as fotos

geralmente mostravam as reuniões. Quando o assunto se relacionava a algum acidente, de qualquer

natureza, o jornal publicava as fotos dos cadáveres em primeira página, da forma como estivessem.

As colunas sociais foram um dos primeiros espaços que os fotógrafos paraenses tiveram para

assinar seu trabalho, o que não acontecia nas fotografias que ilustravam as matérias, embora nas

reportagens especiais também houvesse identificação dos fotógrafos. Na coluna “Síntese Social”,

assinada por Roberto Jares, em A Província do Pará, as fotos são de “Leite”. Em 26 de abril de 1960,

fotografias em uma coluna social foram assinadas por Porfírio da Rocha, um dos mais importantes

fotógrafos paraenses cujo trabalho foi reconhecido com o prêmio Esso de Fotojornalismo. Nascido em

Belém, em 30 de outubro de 1919, trabalhou no Estado do Pará, A Província e A Província do Pará

(FOTONORTE II, 1998).

Já em 03 de julho do mesmo ano, uma reportagem especial sobre a queda de uma árvore histórica

no município de Cametá, interior do Pará, tem fotografias creditadas a José Tolentino (A PROVÍNCIA

DO PARÁ, 03 jul. 1960, p. 8 – 2º caderno).51

No mesmo ano, Porfírio ainda iria assinar várias outras

fotografias em reportagens especiais (A PROVÍNCIA DO PARÁ, 10 jul. 1960, p. 8 – 2º caderno).

Também nesse período outros esportes, além do futebol, ganham mais destaque nas fotografias.

Política internacional e guerra são assuntos que tem, constantemente, fotografias no jornal. Com o tempo,

os concursos de beleza também ganharam espaço, quase todas as edições de julho de 1960 têm fotos

desses concursos, tanto na capa quanto no interior da edição.

Cada vez mais, em outubro, predominariam n’A Província temas relacionados ao Círio de Nazaré,

e com o tempo, vários aspectos da festa ganharam destaque nas páginas: os preparativos da véspera, a

Trasladação, a arrumação da berlinda, a chegada dos romeiros, entre outros assuntos. Outros ângulos

também foram explorados, por exemplo, uma fotografia aérea do cortejo, publicada no dia 11 de outubro

de 1960 (Figura 29).

51

A matéria é assinada por Eládio Malato e as fotos se referem a queda de uma árvore em Cametá-PA. A “árvore da

legalidade” (A PROVÍNCIA DO PARÁ, 03 jul. 1960, p. 8 – 2º caderno) foi assunto de quase uma página inteira e causou

comoção na cidade: “A ‘árvore da legalidade’ nasceu de uma estaca de barricada construída pelo Padre Prudêncio, para deter a

invasão cabana. Tombou derrotada por um temporal vingativo. Os cametaenses não a esquecem, jamais”, dizia uma das

legendas.

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Em 1960, o jornal Estado do Pará modificou visivelmente a diagramação para destacar fotografias,

publicando-as acima dos títulos e mesmo do nome do jornal (Figura 30). No periódico, as fotos de

esportes eram publicadas normalmente na página 6, mas algumas iam para a capa. Há fotos de reuniões

políticas, principalmente de assuntos locais. As imagens de acontecimentos em outros estados do Brasil

eram enviadas para o jornal pela Bureau-Press, mas as fotografias relacionadas a temas estrangeiros não

eram creditadas às agências de notícias.

Na edição especial de aniversário da Folha do Norte de 1º de janeiro de 1960, o jornal publicou

uma seção chamada “O mundo em fotos, durante 1959” (FOLHA DO NORTE, 01 jan. 1960, p.16). A

página faz uma retrospectiva do ano anterior em 16 fotografias relacionadas a acontecimentos

internacionais (Figura 31).

Figura 29: A Província do Pará, 11 out. 1960, p. 1

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Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna.

Figura 30: Estado do Pará, 01 jul. 1960, p. 1

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Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna.

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Figura 31: Folha do Norte, 01 jan. 1960, p.16

Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna.

O mais recente dos periódicos naquela época era O Liberal, fundado em 1946. O jovem jornal

publicava fotografias tematizando principalmente assuntos da política e dos esportes. Toda segunda-feira,

saia um suplemento chamado “O Liberal-Tabloide”, o qual tinha espaço para literatura, assuntos para as

mulheres, matérias especiais assinadas e com fotos creditadas.

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Recebia fotografias pela agência Transpress e da Agência Nacional. Essa última foi a autora de

quase todas as fotos que o jornal publicou sobre a inauguração de Brasília em abril de 1960.

Predominavam as fotografias sobre a campanha e as obras do governador Moura Carvalho, o qual

assumiu a direção do jornal após a morte de Lameira Bittencourt. Também estão presentes fotos dos

comícios e visitas aos bairros de Belém e cidades do interior do Estado. Nesse sentido, a fotografia foi

muito utilizada no jornal como propaganda política na década de 60.

Os anos 1970 representaram algumas mudanças no jornalismo paraense, foi quando as

transformações que a maioria dos impressos brasileiros estava vivendo desde a década de 1950 tiveram

suas características visíveis nas páginas mais claramente. Além disso, o período era de censura de todas

as formas de expressão, o que fazia ser um grande desafio para um jornal sobreviver naquele tempo.

As primeiras mudanças foram percebidas na diagramação: sem colunas fixas e de mesmo

tamanho, algumas não eram mais separadas por linhas. Algumas edições de O Liberal possuíam 4

cadernos e aumentou o numero de páginas em relação ao decênio anterior.

A Província do Pará já pertencia aos Diários Associados, de Assis Chateaubriand, desde 9 de

fevereiro de 1947 (CARVALHO, 2013). Publicava sobre literatura, esportes, cinema, vestibular, assuntos

internacionais, política nacional, temas locais e sociedade de Belém. As fotos internacionais eram

enviadas pela UPI e Meridional. O jornal publicava uma seção chamada “Giramundo” (A PROVÍNCIA

DO PARÁ, 05 jan. 1970, p.5), uma página inteira com fotos de acontecimentos internacionais (Figuras 32

e 33).

Figura 32: A Província do Pará, 05 jan. 1970, p.5 –

3º caderno

Figura 33: A Província do Pará, 05 jan. 1970, p.5 –

3º caderno

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Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna. Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna.

Em janeiro, o vestibular era o tema principal, tinham destaque as fotografias dos estudantes, dos

prédios das universidades e tudo o que estivesse relacionado ao assunto. As reportagens especiais ainda

eram o principal meio para os créditos52

aos fotógrafos e Porfírio da Rocha era quem mais assinava

fotografias nessas matérias. Na edição correspondente aos dias 11 e 12 de janeiro de 1970, foi publicada

uma foto feita por Porfírio, a qual ilustrava uma matéria intitulada “Fatos curiosos que antecederam a

fundação de Belém” (A PROVÍNCIA DO PARÁ, 11 e 12 jan. 1970, p. 1 – 3º caderno), assinada por

Augusto Meira Filho. A fotografia mostrava uma visão panorâmica da cidade (Figura 34).

Figura 34: A Província do Pará, 11 e 12 jan. 1970, p. 1 – 3º caderno

52

A questão dos créditos nas fotografias dos impressos paraenses será discutida em um tópico posterior.

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Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna.

Na década de 1970, percebe-se ainda maior valorização aos temas locais, ainda que outros

assuntos também ganhem espaço no jornal. Ruas esburacadas e trânsito ruim em Belém, por exemplo,

eram temas frequentes. Ainda que fosse incomum, apareciam nos jornais fotografias relacionadas ao

regime militar, mas, nessa década, os jornais não pareciam querer contrariar o sistema (Figura 35).

Para a Folha do Norte, as radiofotos eram enviadas pela Agência Jornal do Brasil (AJB) e

Associated Press. O jornal possuía um espaço para a “Página da Mulher” e outro para as “Letras e Artes”.

Assim como a Província, publicava fotos relacionadas ao vestibular. As fotografias publicadas perderam

as linhas ou bordas ao redor. Nos textos, o espaçamento ficou maior, deixando mais espaço na

diagramação para um aspecto “limpo” da página.

Figura 35: A Província do Pará, 01 abr. 1970, p. 1 – 1º caderno

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Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna.

O Liberal, em 1970, tinha como diretor-superintendente Romulo Maiorana, seu proprietário desde

1966. Possuía 16 páginas divididas em dois cadernos. Tratava temas como esporte, economia,

internacionais, polícia, vestibular e cidade. Já no caderno 2 tinha espaço para música e moda. O jornal se

denominava o “Vespertino da Amazônia”.

As radiofotos dos outros estados, principalmente do Rio de Janeiro, eram enviadas ao jornal pela

AJB, já as internacionais, pela UPI. O futebol sempre tinha destaque com fotos. Percebe-se a presença de

imagens locais em reportagens especiais e outras no restante do jornal. Quase todas as fotos publicadas no

jornal ainda vinham com retranca/título e legenda. Normalmente, na página 5 ficava a seção “Polícia”, a

qual sempre continha fotos de crimes, dos acusados, de corpos, acidentes, entre outras.

Desde a introdução do fotojornalismo na imprensa do Pará, as imagens relacionadas a crimes e

acidentes sempre ganharam mais espaço. Com a adoção de um caderno específico para a temática policial

nos jornais, sobretudo a partir da década de 1980, as fotografias se tornaram mais valorizadas ainda. Sem

pudor para publicar imagens de cadáveres, os jornais pareciam dar prioridade para esse tipo de fotografia.

Humberto (1983) explica como deveria ser o fotojornalismo nos anos oitenta:

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O fotojornalismo deve ser ágil, vivo, direto, em cima dos fatos. Isso, contudo, não implica a busca

de uma verdade que não está no registro servil de uma realidade ou na aceitação da visão primária

dos acontecimentos. Para a imagem o maior interesse não reside sempre no fato, plano e linear,

mas nos fragmentos, na riqueza dos acontecimentos paralelos muitas vezes mais próximos do

essencial. Essas imagens se tornam, com frequência, atemporais. Superadas suas necessidades

imediatas e esquecidos os nomes dos personagens, vão continuar a interessar pelo seu conteúdo

surpreendente e intrigante que estimula o espírito (HUMBERTO, 1983, p. 30).

As fotografias coloridas foram introduzidas no jornal Estado do Pará, ainda que a cor ficasse

restrita às colunas sociais (Figura 36). A maioria dessas fotos era creditada ao fotógrafo Luiz Braga, que

teve grande destaque ao usar nos anos 80 a cor e a luz para realizar “uma produção belíssima, rica em

nuances no registro da cidade, do Estado, do interior desse Estado, das pessoas anônimas que frequentam

esse interior” (LEAL, 1998, p. 28). Para Fernandes Junior (2002), foi a partir dos trabalhos de Luiz Braga,

no final dos anos setenta, que a fotografia paraense iniciou uma “mudança paradigmática”

(FERNANDES JUNIOR, 2002, p. 23). Além das colunas, os suplementos, publicados aos domingos,

também utilizavam cor nas fotos.

Figura 36: Estado do Pará, 06 e 07 jan. 1980, p. 1 – 2º caderno

Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna.

O golpe militar (1964-1985) era tratado no jornal Estado do Pará como a “revolução de 64”. Uma

das poucas imagens relacionadas à Ditadura Militar no Brasil foi publicada no jornal em 23 de julho de

1980, e mostra os jornais alternativos nas bancas antes de serem confiscados pelo regime (ESTADO DO

PARÁ, 23 jul. 1980, p. 1 – 1º caderno) (Figura 37). Nesse sentido, assinala Humberto (1983):

A fotografia pode não ser confiável como constatação de uma verdade ou mesmo pode não conter

um indicativo seguro da ideologia de seu autor, mas será certamente um resultado decorrente de

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seu relacionamento com o mundo à sua volta e portanto passível de se transformar em testemunho

importante, talvez mesmo denunciador, das angústias e aspirações de seu tempo (HUMBERTO,

1983, p. 46).

Figura 37: Estado do Pará, 23 jul. 1980, p. 1 – 1º caderno

Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna.

As fotografias do jornal Estado do Pará registravam a luta dos estudantes pela aprovação no

vestibular e as comemorações, lamentos e trotes após a divulgação do resultado. Alguns trotes faziam

com que os calouros ficassem nus e o jornal publicava na capa e nas páginas internas fotos das meninas

sem blusa. Os principais assuntos e fotografias mostravam muito mais imagens da Belém de 1980.

Carnaval, lixo nas ruas, buracos, lama, alagamentos, abandono de locais públicos, falta de saneamento e

as denúncias da situação dos conjuntos habitacionais também eram retratados nas fotos.

3.4. OS DONOS DA IMAGEM: IMPRENSA NO PARÁ E O CRÉDITO NAS FOTOGRAFIAS

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Quem observar os movimentos de um fotógrafo munido de aparelho (ou de um aparelho munido

de fotógrafo) estará observando um movimento de caça. O antiquíssimo gesto do caçador

paleolítico que persegue a caça na tundra. Com a diferença de que o fotógrafo não se movimenta

em pradaria aberta, mas na floresta densa da cultura. Seu gesto é, pois, estruturado por essa taiga

artificial, e toda fenomenologia do gesto fotográfico deve levar em consideração os obstáculos

contra os quais o gesto se choca: reconstituir a condição do gesto (FLUSSER, 2011, p. 49).

Os dados analisados sobre os créditos das fotografias em matérias comuns publicadas ainda na

década de 1980 permitem supor que o Estado do Pará foi um dos jornais que marcaram a história do

fotojornalismo nesse sentido. Uma das primeiras fotografias creditadas foi publicada em 1º de julho de

1980, no jornal Estado do Pará, e foi produzida pelo fotógrafo Wagner Bill. Cada vez mais, pode-se

identificar os nomes responsáveis pelas fotografias. O jornal tinha quatro cadernos, entre eles, o Caderno

D, com reportagens especiais, entrevistas, humor e fotografias.

Ainda a partir do mês de julho de 1980, os créditos se tornam mais comuns em fotos de assuntos

locais publicadas na capa. No interior do jornal as fotos eram menores e não eram creditadas ainda. Os

nomes de fotógrafos que surgiram a partir desse período no jornal são os de Mário Barbosa, Waldemar

Carvalho, Dirceu Sampaio, Raimundo Oliveira e Raimundo 007. Sobre como se dá a relação dos

fotógrafos com o jornal, Flusser (2011) afirma:

O fotógrafo crê estar utilizando o jornal como médium, enquanto o jornal crê estar utilizando o

fotógrafo em função de seu programa. Do ponto de vista do jornal, quando a fotografia recodifica

os artigos lineares em imagens, “ilustrando-os”, está permitindo a programação mágica dos

compradores do jornal em comportamento adequado. Ao fotografar, o fotógrafo sabe que sua

fotografia será aceita pelo jornal somente se esta se enquadrar em seu programa. De maneira que

vai procurar driblar tal censura, ao contrabandear na fotografia elementos estéticos, políticos e

epistemológicos não previstos no programa. Vai procurar submeter a intenção do jornal à sua.

Este, por sua vez, embora possa descobrir tal tentativa astuciosa, pode vir a aceitar a fotografia

com o propósito de enriquecer seu programa. Vai procurar recuperar a intenção subversiva. Pois

bem, o que vale para jornais, vale para os demais canais de distribuição de fotografias, uma vez

que todos revelarão, sob análise crítica, a luta dramática entre a intenção do fotógrafo e a do

aparelho distribuidor de fotografias (FLUSSER, 2011, p. 74, grifo do autor).

Kossoy, na obra “Os tempos da fotografia: o efêmero e o perpétuo” (2007), dedica um capítulo à

“história fotográfica dos anônimos” (KOSSOY, 2007, p. 63), ou seja, destaca a importância de pessoas

desconhecidas que fizeram e fazem a história da fotografia no seu cotidiano.

Resgatar os fotógrafos do anonimato é tarefa decisiva, seja sob o ângulo da história social e

cultural da fotografia, seja sob a perspectiva da memória histórica. Penso que todos aqueles

envolvidos com a história da fotografia devem valorizar as histórias locais e regionais, e apoiar

levantamentos sistemáticos não só dos fotógrafos que atuaram nos lugares mais remotos, mas

também de suas trajetórias, suas produções. Esse me parece ser um caminho fértil para uma

revisão historiográfica necessária (KOSSOY, 2007, p. 70).

Assim, podemos compreender a importância da utilização dos créditos nas fotografias, uma vez

que eles possibilitam a saída desses fotógrafos do anonimato.

Ainda na década de 1980, O Liberal possuía três cadernos, além de expediente na página 1. Nesse

expediente, o jornal apresentava uma lista de agências que faziam o serviço noticioso nacional e

internacional. O slogan definia-o como o “Jornal da Amazônia”. O impresso de Romulo Maiorana

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127

identificava os fotógrafos somente nas reportagens especiais e nas colunas sociais. Em abril de 1980, por

exemplo, algumas fotografias sobre a cidade de Belém eram assinadas por Pedro Pinto para uma

fotorreportagem sobre a cidade. Quem assinava as fotos das colunas sociais era “Linhares”. Pedro Pinto

teve seu primeiro emprego como repórter fotográfico na Folha do Norte na década de 30, em seguida,

trabalhou para A Província do Pará e O Liberal. Faleceu em novembro de 1995, após 43 anos de

dedicação ao fotojornalismo somente como repórter fotográfico de O Liberal (FOTONORTE II, 1998).

Kossoy (2009, p. 54) explica que o “processo de construção da representação” das fotografias que

são produzidas para serem veiculadas nos meios de comunicação não termina após o processo de criação

do fotógrafo. Ainda ocorre, depois disso, um processo de “pós-produção” (KOSSOY, 2009, p. 54), ou

seja, “quando a imagem se vê objeto de uma série de ‘adaptações’ visando sua inserção na página do

jornal, da revista, do cartaz etc. Tratam-se de alterações físicas em sua forma, como por exemplo, os

‘cortes’ ou mutilações que se fazem em seu formato original” (KOSSOY, 2009, p. 54). Assim, os meios

de comunicação impressa têm várias possibilidades de manipulação sobre a fotografia:

Desde sempre as imagens foram vulneráveis às alterações de seus significados em função do título

que recebem, dos textos que “ilustram”, das legendas que as acompanham, da forma como são

paginadas, dos contrapontos que estabelecem quando diagramadas com outras fotos etc. tudo isso

além de outras manipulações como a reutilização de uma mesma fotografia para servir de prova

numa situação diferente – e, por vezes, até antagônica – daquela para a qual foi produzida

originalmente através, simplesmente, como já foi dito, da mera invenção de uma nova legenda ou

título (KOSSOY, 2009, p. 55).

Além disso, ao ser relacionada com o texto nas páginas dos impressos, a fotografia passa a ser

parte de um novo documento, não mais o original, passa a constituir “uma nova trama, uma nova

realidade, uma outra verdade. Mais uma ficção documental” (KOSSOY, 2009, p. 55, grifos do autor).

Em 1990, O Liberal apresentava os créditos em todas as fotografias. Nomes como os de Ítalo

Gouvêa, Ary Souza, Thompson Tenório e Pedro Pinto eram alguns dos mais citados (ver Quadro 4).

Sobre o trabalho do fotógrafo, Benedito Nunes (1998) afirma:

O olho do fotógrafo não vê superiormente nem melhor do que podemos ver desarmados, sem a

máquina, mas vê diferente, de maneira nova ou inédita, não querendo isso dizer, também, que veja

de maneira certa e objetiva. Creio que devassa domínios fechados à nossa comum visão (NUNES,

1998, p. 25, grifo do autor).

A esses fotógrafos, Humberto (1983) atribui a responsabilidade de manutenção da existência da

fotografia:

Se a fotografia não acabou deve-se à existência de pessoas teimosas, obstinadas mesmo, que

enfrentam uma realidade pouco generosa e indiferente às possibilidades de uma aplicação correta

de seu trabalho, desenvolvido apesar de uma situação econômico-cultural inteiramente

desfavorável. Atuam como aparentes suicidas, simplesmente porque ao produzir fazem disso,

também, um ato de fé (HUMBERTO, 1983, p. 85).

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128

A AJB, Agência Globo e Reuter53

realizavam o serviço noticioso nacional e internacional de O

Liberal, já as fotos sobre esporte eram da Sport Press. Em 04 de janeiro de 1990, na página 12 do caderno

Esporte, Ana Catarina assina uma das fotografias (Figura 38). Também são publicadas imagens

capturadas pela fotógrafa Paula Sampaio (Figura 39), mostrando a presença feminina no fotojornalismo

paraense, assim como Elza Lima e Célia Souza, em A Província, na mesma época. Paula Sampaio nasceu

em Minas Gerais e reside em Belém, trabalha com fotojornalismo desde 1987, além de desenvolver – e

ter sido premiada – em outros projetos na área (FOTONORTE II, 1998). De acordo com Fernandes Junior

(2002, p. 35), é uma fotógrafa “extremamente ética, conhece perfeitamente o poder da imagem e, muitas

vezes, preferiu não publicar uma fotografia que, com certeza, caberia numa primeira página, em respeito

às pessoas, para não criar situações embaraçosas”. Outra importante fotógrafa é Elza Lima, a qual

começou seu trajeto pela fotografia querendo apenas fotografar melhor as filhas, mas logo desenvolveu o

gosto pelo trabalho profissional (FERNANDES JUNIOR, 2002).

Figura 38: O Liberal, 04 jan. 1990, p. 12 – caderno Esporte

53

A Reuter, assim como a France Presse, iniciou o serviço fotográfico internacional somente em 1985. Até os anos 1970,

concorriam entre si nesse tipo de serviço somente a UPI e a Associated Press (SOUSA, 2000).

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129

Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna.

Figura 39: O Liberal, 10 abr. 1990, p. 12 – caderno Esporte

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130

Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna.

Alguns dos fotógrafos que trabalhavam em A Província do Pará tiveram fotografias publicadas no

jornal O Liberal na década de 1990, entre os quais, José Miranda, Rodolfo Oliveira, Porfírio da Rocha,

Carlos Flexa, Jefferson Rodrigues, entre outros (ver Quadro 4). Já as radiofotos de cunho nacional e

internacional de O Liberal eram da Radiobrás, Agência Brasil, Agência Anda, Associated Press (AP) e

Agência Patagônica de Noticias (APP). O serviço esportivo nacional também era creditado a Sport Press.

A década de 1990 traria muitas mudanças no fazer fotojornalístico, como assinala Nakagawa

(2002):

As transformações, ocorridas ao longo da década de 90, no sistema digital, agitam mais uma vez o

mercado, os arquivos, os direitos autorais. Recomeçam as considerações sobre a imagem. Já

sabemos que a digestão é difícil, a capacidade crítica de leitura impraticável, havendo uma

diferença em relação à invasão: agora ela é indiscutível, definitiva. Vivemos a era em que a

primeira anotação, antes feita com um lápis, se dá agora com uma câmera automática digital. A

questão que se faz agora é: tudo é fotografia? (NAKAGAWA, 2002, p. 45).

Com a popularização das novas tecnologias e a aceleração da noção de tempo, a Província na

última década do século era “O jornal que não toma seu tempo”, mas, ainda nos anos 2000 passou a ter

como slogan “O jornal que todos lêem”. “No processo de um novo mundo em explosão, um novo Big

Bang, a fotografia insere-se como reveladora da sociedade que aprende a dar importância à velocidade”

(LEAL, 1998, p. 14).

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Nessa década, a cor se consolida definitivamente no fotojornalismo produzido no Pará. Em O

Liberal e n’A Província, a primeira página sempre era impressa em cores, com grande destaque para a

fotografia principal. No interior dos periódicos, as capas dos cadernos também eram coloridas (Figura

40), ainda que as fotografias internas fossem publicadas em preto e branco.

Figura 40: O Liberal, 03 out. 2000, p. 10 – Caderno Atualidades

Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna.

No aniversário da capital paraense, em 12 de janeiro de 2000, “A cara de Belém” (O LIBERAL,

12 jan. 2000, p. 3 – Caderno Especial) teve destaque nas fotografias de Paula Sampaio, Josemar

Gonçalves e Ary Souza (Figuras 40, 41 e 42). A face da cidade, captada nas fotografias de seu povo,

relembra as palavras de La Rocque Leal (1998):

Quando se trata de um retrato paraense, importa não tão somente o rosto de tantas quantas pessoas

puderam ser preservadas, eternizadas, mas também o próprio organismo vivo que foi e é a cidade

de Belém em todo o seu esplendor, ou mesmo na dor dos momentos mais agudos (LEAL, 1998, p.

21).

Essas associações podem ser entendidas, segundo Ferreira e Boni (2011), a partir da concepção de

que:

A realidade cotidiana surge por múltiplas representações. Na imprensa, o mundo é construído

simbolicamente por meio de imagens produzidas pelos repórteres fotográficos e fotojornalistas.

São representações que, diariamente, registram e modificam o cotidiano, contribuindo para a

construção social da realidade, sugerindo modos de percepção do mundo, consolidando, como

também recriando imaginários. Ao analisar a importância da imagem na imprensa, deve-se

considerar que quanto menor a prática de leitura textual para a população, mais importante se torna

a leitura de textos visuais (FERREIRA; BONI, 2011, p. 114).

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Figura 41: O Liberal, 12 jan. 2000, p. 2 – Caderno

Especial

Figura 42: O Liberal, 12 jan. 2000, p. 3 – Caderno

Especial

Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna. Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna.

Alguns fotógrafos da década de 1990 ainda eram nomes recorrentes no crédito das fotografias nos

anos 2000 em O Liberal e n’A Província (ver Quadro 4).

Quadro 4 – Fotógrafos e agências de notícias citados nos impressos paraenses, de 1900 a 2000, por

década.

Déca

da

Jornal Fotógrafo54

Agências55

1900 -- -- --

1910 -- -- --

1920 -- -- --

1930 Folha do Oswaldo Gry --

54

É importante destacar que esse panorama foi baseado na pesquisa apenas de quatro grandes jornais de longa circulação

durante o referido século, além disso, o recorte da pesquisa não permite uma definição exata da quantidade nem dos nomes de

todos os fotógrafos que atuaram na imprensa. Essa lista inclui também os fotógrafos que tinham os créditos somente nas

imagens das colunas sociais. 55

No Quadro 4, pode-se encontrar os nomes das principais agências que realizaram o serviço noticioso nacional e internacional

para os impressos paraenses, ainda que, com a escolha do corpus, possa ter havido perda de dados em outros anos que não

entraram no recorte.

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133

Norte

1940 Folha do

Norte

-- Associated Press (AP)

1950 A

Província

do Pará

Ernesto Cruz International News

Photos (INP)

Meridional

1960

A

Província

do Pará

Leite

Porfírio da Rocha

José Tolentino

INP

Meridional

United Press-

International (UPI)

Estado do

Pará

-- Bureau-Press

USIS

O Liberal -- Transpress

Agência Nacional

Folha do

Norte

-- C.P.

USIS

C.A.

UPI

1970 A

Província

do Pará

Porfírio da Rocha UPI

Meridional

O Liberal -- Agência Jornal do

Brasil (AJB)

UPI

Folha do

Norte

-- AJB

AP

1980 Estado do

Pará

Luiz Braga

Wagner Bill

Mário Barbosa

Waldemar

Carvalho

Dirceu Sampaio

Raimundo

Oliveira

Raimundo 007

--

O Liberal Linhares --

1990 O Liberal Alexandre Lima

Ana Catarina

Antônio José

(Marabá)

Antônio Silva

Ary Souza

Braz da Rocha

Celivaldo Carneiro

Cláudio Santos

Fidanza

Getúlio Barbosa

Ítalo Gouvêa

João Gomes

Marcos

Nascimento

Mira Jatene

Neldson Neves

Paula Sampaio

Paulo Amorim

Pedro Pinto

Raimundo Dias

Raimundo

Oliveira

Thompson

Tenório

Walmir Santos

Wilson Motta

AJB

Agência Globo (AG)

Reuter

Sport Press

A

Província

do Pará

Alexandre Lima

Antônio Silva

Armando Mendes

Augusto Castro

Braz da Rocha

Carlos Flexa

Célia Souza

Elza Lima

Fernando Nobre

Jefferson

Rodrigues

João Gomes

José Miranda

Octávio Cardoso

Porfírio da Rocha

Rodolfo Oliveira

Thompson

Tenório

Waldemar

Carvalho

Walter Luiz

Wilson Motta

Radiobrás

Agência Brasil

Agência Anda

AP

Agência Patagônica de

Noticias (APP)

Sport Press

2000 A

Província

do Pará

Antônio Nobre

Passarinho

Adivaldo Nobre

Alison Braga

Ângela Silva

Beg Lameira

Cláudio Pinheiro

Djalmir Silva

João Gomes

João Ramid

Eduardo Kalif

Érika Nunes

Fabian Gomes

Fernando Araújo

Jefferson

Rodrigues

José Miranda

Márcio Monteiro

Mário Quadros

Mira Jatene

Newton Ricardo

Oliveira

Nonato Batista

Ray Nonato

Reginaldo Ramos

Ribamar Botelho

AG

ASAS

Agência Estado (AE)

AF

O Liberal Antônio Silva

Ary Souza

Evaldo Barbosa

Ítalo Gouvêa

Nonato Silva

Oswaldo Santos

AE

Agence France-Presse

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134

Carlos Silva

Cláudio Santos

Cristino Martins

Delfim Vieira

Edimar Farias

Edivaldo Mendes

Elza Lima

Josemar

Gonçalves

Mário Barbosa

Maurício de

Souza

Neldson Neves

Nilson Santos

Paula Sampaio

Raimundo Dias

Raimundo Paccó

Reginaldo Ramos

Renato Chalu

Wanderlei

Almeida

(AFP)

AP

AG

BG Press

ACB Press

Folha Imagem

CB Press

Fonte: Dados da pesquisa, a partir dos jornais A Província do Pará, Folha do Norte, Estado do Pará e O Liberal. Os fotógrafos das agências também tinham seus nomes registrados nos créditos das fotografias, o

que não acontecia nas décadas anteriores (ver Quadro 5).

Quadro 5 – Fotógrafos de agências de notícias citados nos impressos paraenses, de 1980 a 2000, por

década.

Agência Fotógrafos

Agência Globo Enrich Mariti

Fernando Mai

Givaldo Barbosa

Jorge William

Luiz Carlos Santos

Marcelo Sayão

Marcos Ramos

Sérgio Tomizaki

Agência Estado Agliberto Lima

Alcyr Cavalcante

Carlos Moraes

Delfim Vieira

Dida Sampaio

Ed Ferreira

Epitacio Pessoa

Fábio Motta

Fernando Maia

Hélvio Romero

Itamar Miranda

Joedson Alves

José Cordeiro

José Paulo Lacerda

KáthiaTamanaha Márcio

Rodrigues

Marcos Mendes

Marques Mendes

Maurilio Chele

Milton Michida

Nilton Mixida

Otávio Magalhães

Paulo Amorim

Paulo Pinto

Rafael Nedermayer

Sérgio Castro

Tasso Marcelo

Toni Brasilio

Vidal Cavalcante

Agence France-

Presse

Antônio Souza

Fayez Nureldine

Gerrard Julien

Harry Melcherteram Jaff

Haynes

Joel Saget

Kevin Gilbert

Torsten Blackwood

Vanderlei Almeida

Associated Press Alessandro Bianchi John Garzinski Vanderlei Almeida

Fonte: Dados da pesquisa, a partir dos jornais A Província do Pará, Folha do Norte, Estado do Pará e O Liberal.

Como vimos em alguns momentos, a violência sempre foi um assunto presente nos jornais.

Noticiar temas que deixam a população em alerta também foi uma das prioridades da imprensa e coube ao

fotojornalismo registrar esses acontecimentos. Assim, a fotografia dos jornais na virada do século

mostrou muitas vezes a imagem do medo (Figura 43). Sontag (2003) explica:

De fato, há muitos usos para as inúmeras oportunidades oferecidas pela vida moderna de ver – à

distância, por meio da fotografia – a dor de outras pessoas. Fotos de uma atrocidade podem

suscitar reações opostas. Uma em favor da paz. Um clamor de vingança. Ou apenas a atordoada

consciência, continuamente reabastecida por informações fotográficas, de que coisas terríveis

acontecem (SONTAG, 2003, p.16).

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Figura 43: O Liberal, 19 out. 2000, p. 1 – Caderno Atualidades

Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna.

Foram esses registros que fizeram uma história do fotojornalismo. Foram os cliques, as mãos que

apertaram o botão, os olhos que miraram um aspecto da realidade e as experiências vividas que filtraram

os elementos da cena e os transportaram para a imagem, guardando na memória do papel e dos indivíduos

que a contemplam, em qualquer momento da história, as lembranças até do que não se viveu.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar de a imprensa paraense ter tido um pequeno atraso no uso de fotografias jornalísticas, não

foi uma demora significativa. Logo o fotojornalismo produzido no Estado alcançaria o ritmo de outras

publicações nacionais e se firmaria no contexto nacional como um dos mais significativos.

Mesmo no início do século, com a utilização das primeiras fotografias nos jornais impressos,

percebemos que o jornalismo paraense já compreendia a força e a importância das fotografias,

principalmente na questão política, o que se modificaria nas décadas seguintes, com a maior valorização

das imagens de polícia e esporte. Logo, também entenderia a força da fotografia como denúncia das

mazelas sociais, dos problemas da cidade, mas também das belezas arquitetônicas de Belém e de outras

cidades do interior do Pará.

Os primeiros créditos nas fotografias apareceram em 1930, na Folha do Norte, com uma assinatura

feita de forma manuscrita na própria fotografia antes que ela fosse impressa na página, o que mais parece

evidenciar um desejo do próprio fotógrafo de ter seus direitos autorais respeitados do que uma decisão do

jornal, o que ainda não pode ser confirmado de fato. Por volta dos anos 1940 e 1950, as reportagens

especiais dariam os créditos aos fotógrafos. Ainda assim, foi somente dos anos 1980 em diante que a

fotografia de imprensa mostrou, com mais frequência e em todos os tipos de matéria, a identidade dos

fotógrafos que as produziam.

Não se pode ignorar o fato de que, nesse quesito, as colunas sociais tiveram forte influência nos

avanços relacionados às fotografias nos jornais, tanto no uso dos créditos quanto da cor, mas não apenas

isso, a própria presença obrigatória de fotografias da sociedade de Belém poderia evidenciar a interação

dos jornais com um público cujo desejo era ser visto e encontrou na fotografia um meio para que isso

ocorresse, ao mesmo tempo em que o jornalismo, na busca por aproximar-se desse público, também

utilizou a fotografia como um meio de troca de experiências e interação.

Mesmo com a reformulação da diagramação dos jornais de modo a destacar mais as fotografias

em 1950, os dados permitem concluir que foi mesmo entre as décadas de 1960 e 1970, sobretudo nesta

última, que a fotografia se firmou no jornalismo paraense definitivamente.

Dos quatro periódicos analisados ao longo desta pesquisa, o de mais destaque no uso do

fotojornalismo é o Estado do Pará, pelas inovações na área, pelo uso da cor e dos créditos. Em seguida,

acreditamos que A Província do Pará também merece o reconhecimento por ter sido a casa de grandes

repórteres fotográficos que o Pará viu surgir e pelo grande espaço dado às fotografias de temas locais. A

Folha do Norte, segundo impresso mais duradouro do Pará, possibilitou o conhecimento de mundo por

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meio das fotografias internacionais que ganhavam grande espaço nas páginas. O impresso, assim como os

outros que publicavam notícias internacionais ao longo do século XX, aproximou o paraense dos assuntos

mundiais em destaque em cada época, apresentou outras culturas, outros conflitos e outros personagens.

Contou histórias distantes usando o recurso visual e abriu espaço para o trabalho das agências

fotográficas. Por fim, O Liberal inovou também em muitos aspectos, sobretudo no uso da cor nas

fotografias e na valorização das imagens fotográficas, característica até hoje percebida nas capas do

jornal.

Como afirmamos na introdução deste trabalho, é um grande desafio condensar 100 anos de

história em apenas um estudo e nem era o propósito desta pesquisa esgotar o assunto, uma vez que isso

seria impossível, devido à riqueza de histórias à disposição para serem descobertas e recontadas.

Entretanto, o que fica é o desafio de seguir no caminho dessas descobertas, trabalhar para preencher cada

vez mais as lacunas existentes sobre o percurso do fotojornalismo em uma região como a Amazônia, tão

grande e complexa. Concluímos – ou deixamos em aberto – essa discussão com as palavras de Humberto

(1983):

Ora, dirão alguns, por que tanto esforço em torno de uma coisa tão pequena como a fotografia,

quando vivemos em um país cheio de desigualdades, sofrimento e pobreza? Poderíamos

responder: é necessário acreditar firmemente no que fazemos, lutar pela qualificação do ato de

fazer e crer na consciência social do produto. Deste modo poderemos justificar o empenho para

transformar a fotografia em um fenômeno ativo, em algo que transcenda à simples afirmação

pessoal e tenha serventia real para um número maior de pessoas. Mudá-la para que se torne uma

coisa viva e atuante dentro do nosso tempo, transmutando-a em um meio de redescoberta,

reinvenção, indagação e questionamento capaz de tocar as pessoas, sensibilizar os espíritos e quem

sabe – pensando com a candura necessária – até ajudar a mudar o mundo (HUMBERTO, 1983, p.

34).

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Anexo 2 SIQUEIRA, Thaís Christina Coelho; SEIXAS, Netília Silva dos Anjos. A cobertura imagética da Primeira Guerra Mundial na imprensa de Belém. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 37, 2014, Foz do Iguaçu, PR. Anais... Foz do Iguaçu, PR: Unicentro, 2014. Disponível em: <http://www.intercom.org.br/sis/2014/resumos/R9-0155-1.pdf>. ISSN 2176-1213.

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A cobertura imagética da Primeira Guerra Mundial na imprensa de Belém56

Thaís Christina Coelho SIQUEIRA57

Netília Silva dos Anjos SEIXAS58

Universidade Federal do Pará, PA

Resumo

Este estudo59

tem o propósito de identificar a cobertura imagética da Primeira Guerra Mundial (1914-

1918) nos dois jornais de maior circulação do período em Belém-PA: Folha do Norte (1896-1974) e

Estado do Pará (1911-1980). O corpus da pesquisa é constituído pelas edições correspondentes aos

meses de junho, julho e agosto de 1914, 1915, 1916, 1917 e 1918 (quando a guerra completou mais um

ano de duração); outubro e novembro de 1917 (quando o Brasil declarou guerra à Alemanha) e outubro e

novembro de 1918 (quando a possibilidade de paz entre os países anunciava o fim do conflito). As

discussões de Verón (2005), sobre enunciação e discurso, e de Barthes (1990), a respeito da mensagem

fotográfica, constituem o referencial teórico.

Palavras-chave: Jornalismo impresso; Imagem; Fotografia; Primeira Guerra Mundial; Belém.

Introdução

“Der Krieg ist ein Element der von Gott eingesetzt Ordnung (A guerra é um elemento de divina

ordem natural das coisas)” (NUMERIANO, 1990, p. 32). O slogan da publicidade60

de cigarros alemã,

ainda no final do século XIX, previu o que o povo germânico e toda a Europa iriam viver dali a algumas

décadas: os embates da Primeira Guerra Mundial, conflito que envolveu mais de um continente entre

1914 e 1918.

No início do século XX, a imprensa já havia se firmado no mundo, o uso do telégrafo61

possibilitava o recebimento de notícias estrangeiras com maior facilidade e os recursos instantâneos da

fotografia eram usados para ilustrar jornais e revistas (GIACOMELLI, 2008). No Pará, dois jornais

56 Trabalho apresentado na Divisão Temática Jornalismo, da Intercom Júnior – X Jornada de Iniciação Científica em Comunicação, evento

componente do XXXVII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 57 Estudante de graduação do 7º semestre do Curso de Comunicação Social - Jornalismo da Universidade Federal do Pará (UFPA). Bolsista

PIBIC-UFPA do projeto A Trajetória da Imprensa no Pará. Email: [email protected]. 58 Professora da Faculdade de Comunicação e do Programa de Pós-Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia da Universidade Federal

do Pará. Orientadora e coordenadora do projeto de pesquisa “A trajetória da imprensa no Pará”. Email: [email protected] 59 Este estudo integra o projeto de pesquisa “A trajetória da imprensa no Pará”, desenvolvido na Faculdade de Comunicação e no Programa

de Pós-Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia da Universidade Federal do Pará, com apoio do Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Edital Universal MCT/CNPq N º 14/2012. 60 Numeriano (1990) não especifica a data nem o local exato em que a publicidade circulou, indica apenas que a frase foi o slogan da marca

de cigarros. 61 De acordo com Matheus (2012, p.43), o Brasil teve o primeiro telégrafo instalado em 1809, em versão ótica. As linhas do telégrafo elétrico

foram instaladas em 1852, mas o cabo transatlântico, o qual facilitaria ainda mais a troca de dados entre a Europa e a América, só foi

inaugurado em 1866.

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circularam no período da Grande Guerra: Folha do Norte (1896-1974) e Estado do Pará (1911-1980).62

Os dois periódicos foram responsáveis por difundir as informações relacionadas à guerra para a

população paraense na época.

Neste estudo, buscou-se identificar a cobertura imagética63

da Primeira Guerra Mundial nos dois

jornais, com base nas discussões de Verón (2005) sobre enunciação, aplicada à imagem de imprensa, e de

Barthes (1990), a respeito da mensagem fotográfica.

Para delimitar o corpus da pesquisa, optou-se por fazer um recorte correspondente aos meses de

junho, julho e agosto de 1914, 1915, 1916, 1917 e 1918, ou seja, sempre que a guerra completasse mais

um ano de duração. Além disso, foram selecionados também os meses de outubro e novembro de 1917,

quando o Brasil declarou guerra à Alemanha, em decorrência do torpedeamento de navios brasileiros por

submarinos alemães (ARARIPE, 2009), e outubro e novembro de 1918, quando a possibilidade de paz

entre os países anunciava o fim do conflito.

192 anos de história: a imprensa no Pará

A imprensa no Brasil surgiu com a chegada da família real e da corte portuguesa ao Rio de

Janeiro, no ano de 1808, momento no qual o Príncipe Regente Dom João VI promoveu a criação de um

órgão com o objetivo de divulgar os atos do governo. Teve início, assim, a Gazeta do Rio de Janeiro

(MOREL, 2008), em 1º de setembro de 1808. No entanto, em 1º de junho do mesmo ano, Hipólito da

Costa já havia publicado, em Londres, a primeira edição do Correio Braziliense, jornal que “referia-se ao

Brasil como Império e tornava-se pioneiro em trazer tal denominação para a imprensa” (MOREL, 2008,

p. 7).

Esses dois periódicos marcam o surgimento da imprensa no Brasil, embora haja registros de outras

obras produzidas e impressas no país, como afirma Morel (2008). Para o autor, “a imprensa, periódica ou

não, surgiu e se consolidou sob determinadas condições e características, que não eram, evidentemente, as

de uma democracia moderna, de sociedades industriais ou de uma cultura de massas” (MOREL, 2008, p.

6).

Após essas publicações, outros jornais surgiram, como A Idade d’Ouro do Brazil (1811), na

Bahia; O Patriota (1813) e O Espelho (1822), no Rio de Janeiro, e ainda Aurora Pernambucana (1821);

O Conciliador do Maranhão (1821); O Paraense (1822); O Compilador Mineiro (1823), em Vila Rica

(Ouro Preto); entre outros (MOREL, 2008). 62 Além desses, também havia os periódicos A Tarde e O Diario, porém, do primeiro, somente algumas edições de 1915 e 1916 estão

disponíveis para consulta, e, do segundo, podem ser consultadas as edições dos meses de abril, maio e junho de 1916 (BIBLIOTECA

PÚBLICA DO PARÁ, 1985). 63 Nesta pesquisa, a cobertura imagética inclui tanto as ilustrações quanto as fotografias de imprensa que começam a aparecer nos jornais

paraenses.

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Um dos jornais desse período, O Paraense, fundado em 22 de maio de 1822 por Filippe Alberto

Martins Maciel Parente e Daniel Garção de Melo, inaugurava o percurso da imprensa no Pará e em toda a

região Norte (COELHO, 1993; SEIXAS, 2011). Segundo Coelho (1993), a publicação se dava no período

da revolução constitucionalista portuguesa de 1820, a qual influenciou diretamente a política e

disseminou as ideias que possibilitaram o surgimento da imprensa na capital paraense.

O pesquisador Aldrin Figueiredo (2008) afirma que durante a Cabanagem,64

em meados de 1830,

houve um período de tensões políticas e diversidade de ideias que possibilitaram a disseminação das

gazetas como porta-vozes dos conflitos. Figueiredo (2008) acrescenta que, mesmo com essa disposição

para a luta política, os jornais dessas primeiras décadas do século eram caros, ficando limitados ao

consumo da elite e aos letrados, chegando ao restante da população as notícias que eram transmitidas

oralmente.

De acordo com o catálogo da Biblioteca Pública do Pará (1985), nessa mesma década, onze

jornais circularam em Belém, em edições semanais e bissemanais (BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ,

1985). Até o final da década de 1930, aproximadamente 40 periódicos já haviam circulado na cidade

(FERNANDES; SEIXAS, 2010).

A partir de 1870, o processo de circulação dos jornais passou a sofrer transformações

significativas com ampliação do mercado da imprensa (FIGUEIREDO, 2008). Inspirados nas mais

variadas temáticas e posicionamentos políticos e religiosos, tais como a maçonaria ou o catolicismo, além

de temas humorísticos, a diversidade dos jornais paraenses chegou ao século XX (FIGUEIREDO, 2008;

2009). Dos 840 jornais contabilizados em Belém ao longo do século XIX, os mais duradouros foram A

Província do Pará (1876-2002) e a Folha do Norte (1896-1974), os quais foram publicados por várias

décadas do século seguinte (SEIXAS, 2011).

A Folha do Norte começou a circular em 1º de janeiro de 1896 e teve duração de 78 anos. De

acordo com o catálogo da Biblioteca Pública do Pará (1985), o jornal defendia o Partido Republicano

Federal, chefiado por Lauro Sodré, eleito duas vezes para governar o Pará e, depois, por Paes de

Carvalho, também ex-governador do Estado, e combatia a política de Antônio Lemos, ex-intendente de

Belém por duas vezes e, posteriormente, senador. Paulo Maranhão assumiu a direção do periódico de

1917 até 1966, quando faleceu, deixando a administração do jornal para o filho, Clóvis Maranhão. Em

1973, a Folha foi vendida a Romulo Maiorana, que a editou por mais um ano e encerrou suas publicações

(MASSARANI; SEIXAS; CARVALHO, 2013). O mesmo prédio onde antes eram impressas as edições

64 Movimento dos cabanos, moradores de periféricas da Província do Grão-Pará que, em 1835, fizeram um levante popular o qual chegou ao

poder após muita luta (SALLES, 1992).

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da Folha passou a ser usado para a publicação do jornal O Liberal, que existia desde 1946 e circula até os

dias de hoje (BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ, 1985).

Já o Estado do Pará foi fundado por Justo Chermont, em 9 de abril de 1911. O jornal também

combatia a política de Antônio Lemos e apoiava Lauro Sodré. Por fazer oposição a Dionísio Bentes,

então governador do Estado, foi depredado em janeiro de 1928 por policiais civis e militares. Dois anos

depois, passou a dar cobertura ao Movimento de 1930, tornando-se porta-voz dos “revolucionários”. O

jornal circulou até 31 de dezembro de 1980, quando foi extinto, devido a mudanças de direção e

dificuldades financeiras (BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ, 1985).

Um atentado... um continente em guerra

Em 28 de junho de 1914, o sucessor do trono da monarquia Austro-Húngara, arquiduque

Francisco José, e sua esposa, a duquesa Sofia de Hohenberg, foram assassinados a tiros pelo estudante

bósnio Gavrilo Princip (ARARIPE, 2009). O atentado ocorreu enquanto o casal visitava Sarajevo, capital

da Bósnia-Herzegóvina, e é considerado como o estopim da primeira guerra que colocaria grandes nações

em conflito e acabaria com a tranquilidade europeia do período, como afirma Araripe (2009): “A Grande

Guerra foi a mãe das guerras dos séculos XX e XXI. (...). A Primeira Guerra Mundial pôs fim à Belle

époque, nome dado aos primeiros anos do século XX, que teriam sido felizes e despreocupados”

(ARARIPE, 2009, p. 319).

O autor (2009) afirma que, a partir desse episódio, levantou-se a suspeita da participação do Reino

da Sérvia no atentado. Após ter o pedido de investigação em território sérvio negado, os austríacos

declararam guerra aos sérvios em 29 de julho de 1914 e bombardearam Belgrado. À medida que o

conflito tomava proporções maiores, os demais países europeus envolviam-se, cada um de acordo com

seus interesses. Assim se formaram dois grupos: de um lado, a Entente, composta por França, Grã-

Bretanha e Rússia, e, de outro, os Impérios Centrais ou Tríplice Aliança, formada pela Alemanha,

Áustria-Hungria, Itália65

e Império Turco-Otomano (ARARIPE, 2009).

No total, 28 países envolveram-se no conflito, entre os quais, o Brasil, cuja participação, apesar de

pequena, contou com operações navais e aéreas. O país, que havia se mantido afastado do conflito até

meados de 1917, declarou guerra à Alemanha em 26 de outubro daquele ano. O motivo foram os ataques

alemães a um navio brasileiro no Canal da Mancha, em 3 de abril de 1917, culminando com o

rompimento de relações entre o então presidente do Brasil, Wenceslau Braz, e a Alemanha. No mês de

outubro de 1917, mais um navio de origem brasileira foi afundado na costa francesa e, em 1918, outros

dois foram torpedeados próximo à Europa (ARARIPE, 2009). 65 A Itália só mudaria para o lado dos aliados no ano seguinte, em 1915, formando a Frente Italiana, na fronteira com a Áustria-Hungria.

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Patriotismo, xenofobia, espionagem. Esses e outros assuntos tomaram as páginas dos jornais

paraenses nos dois últimos anos de conflito. Multidões foram às ruas pedindo ao Governo a quebra da

neutralidade brasileira (BRÍGIDA et al, 2014). Alemães residentes no Brasil foram perseguidos e tiveram

seus patrimônios atacados (ARARIPE, 2009).

Em 1918, quando já se falava em armistício e a paz de Versalhes, os jornais tiveram o papel de

mostrar ao mundo as condições que estavam sendo impostas aos países derrotados no conflito, sobretudo

à Alemanha. Mello e Costa (1995) enumeram algumas das consequências da Grande Guerra, entre as

quais, o deslocamento do poder econômico, político e militar da Europa para os Estados Unidos, saldo de

8 milhões de mortos e 20 milhões de mutilados, mudança no mapa político europeu, surgimento de

estados independentes, fim do regime czarista na Rússia dando lugar ao regime socialista, e as condições

necessárias para, posteriormente, se estabelecerem os regimes nazifascistas no continente europeu

(MELLO; COSTA, 1995).

Em 2014, a Primeira Guerra Mundial completa 100 anos, sendo relembrada nos meios

acadêmicos. Merece, portanto, uma análise de como foi transmitida aos leitores paraenses do início do

século XX por meio das imagens publicadas nos dois periódicos mais importantes da época no Estado.

A cobertura imagética da guerra

Era o ano de 1914, o jovem Estado do Pará tinha pouco mais de três anos de existência quando a

Primeira Grande Guerra começou na Europa. Possuía as dimensões 42x60 cm, cinco colunas por página,

títulos destacados, mas, às vezes, pouco explicativos. O periódico dava bastante espaço para assuntos

internacionais, geralmente, pelo menos um tema por edição. Publicava matérias sobre política, economia,

greves, epidemias, cinema e teatro, festas populares e acontecimentos de outros estados do país. Quanto à

publicação de imagens, era frequente no Estado do Pará, independente de estarem relacionadas à guerra.

Já a Folha do Norte, naquele período completando seus 18 anos e meio e com dimensões 67x50

cm, também tinha cinco colunas por página. Os títulos dos textos eram curtos e sintéticos, mas também,

pouco esclarecedores, às vezes. Nesse período, o jornal publicava assuntos referentes à política e à

sociedade do Pará, havia poucos temas estrangeiros em destaque na Folha, a não ser na coluna “Serviço

Telegraphico”, localizada na terceira página, e não era frequente a publicação de imagens.

A partir da publicação das primeiras notícias sobre o atentado de Sarajevo, as informações

relacionadas à guerra passaram a fazer parte do processo de enunciação dos jornais. Verón (2005) define

enunciado e enunciação como dois conceitos que não podem ser separados. Assim, “a ordem do

enunciado é a ordem do que é dito (aproximadamente poder-se-ia dizer que o enunciado é da ordem do

conteúdo); a enunciação diz respeito não ao que é dito, mas ao dizer e suas modalidades, os modos de

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dizer” (VERÓN, 2005, p.216). No entanto, o autor (2005) enfatiza que esses dois conceitos não se

limitam ao par “conteúdo/forma”.

Ao aplicar essas definições às imagens de imprensa, Verón (2005) afirma que nas composições

texto/imagem não se pode analisar o conteúdo imagético isoladamente, ou seja, deve-se sempre

considerar os “elementos linguísticos que a acompanham, que a comentam” (VERÓN, 2005, p. 169).

Na análise da revista Novel Observateur, por exemplo, a qual sempre continha uma fotografia na

capa, Verón (2005) explica que as imagens na imprensa precisam, necessariamente, ser percebidas a

partir da comparação com um tipo mais “clássico” de tratamento de imagens, que o autor denomina

imagem de imprensa testemunhal:66

A imagem de imprensa testemunhal tem o estatuto semiótico de verdadeiro fragmento de

realidade; seu valor repousa inteiramente na singularidade irredutível, única, daquilo que ela

consegue mostrar. (...). Ter estado lá, ter conseguido mostrar isso, eis o essencial. É claro, esse

modelo está historicamente ligado à constituição do imaginário social em torno do jornalista (o

perigo de seu trabalho, a habilidade necessária e, sobretudo, seu papel de go-between, de mediador

entre a atualidade e o “público”), que tomou forma ao longo da história das mass media modernas e

que as duas guerras mundiais contribuíram para cristalizar (VERÓN, 2005, p. 169).

Dessa forma, a imagem testemunhal é coerente com o discurso da imprensa de mediadora entre o

acontecimento e o público.

Se o essencial da ideologia clássica da informação se resume na senha “ter estado lá” para poder

contar-nos (paradigma no imaginário social: o jornalista no front de guerra), a imagem testemunhal

encontra seu papel e seu sentido em alguma coisa que é muito mais do que uma simples “caução do

real”: é como se, graças a ela, nós também, o público, tivéssemos estado lá (VERÓN, 2005, p.

170).

O autor enumera alguns procedimentos de análise para a capa da revista Novel Observateur que

podemos utilizar para o exercício de observar as imagens dos jornais Folha do Norte e Estado do Pará na

cobertura da guerra. O primeiro é o “fundo semântico”, onde a imagem ocupa a totalidade da capa. Nesse

procedimento, texto e imagem estão em equilíbrio, pois remetem um ao outro, mas a imagem perde seu

valor testemunhal e passa a representar um conceito, pois adquire um caráter abstrato (VERÓN, 2005).

O segundo procedimento é baseado em uma “retórica visual das personagens”. Isso significa que

terão destaque os traços de determinada personagem. Nos exemplos citados por Verón (2005),

representantes políticos surgem em plano médio e close, ocupando quase a capa inteira, evidenciando

detalhes do rosto. As “metáforas visuais”, terceiro procedimento, quase não usadas na imprensa

informativa, são compostas por uma retórica simples e explícita. Elas podem ser fotográficas ou gráficas.

66 Verón (2005) explica que esse modelo de tratamento de imagens está sendo transformado há alguns anos por um tipo de discurso mais

“moderno” da informação, do qual alguns aspectos podem ser vistos com mais facilidade na imprensa escrita, e outros, nas informações

televisivas. Trata-se, segundo o autor, de “mudanças estruturais que correspondem à implantação das sociedades ditas pós-industriais”

(VERÓN, 2005, p. 170).

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Para Verón (2005, p. 177), “a especularidade texto/imagem é, neste caso, total”. O quarto procedimento,

denominado “espacialização”, consiste em arrumar várias imagens na capa, separadas e destacadas umas

das outras. Já no quinto procedimento, não nomeado pelo autor e o mais parecido com o modelo

testemunhal clássico, as imagens apresentam um acontecimento singular, o texto fica em uma área

destacada da imagem e sempre está a frente do acontecimento registrado (VERÓN, 2005, p. 169-182).

Na cobertura imagética da Primeira Guerra Mundial pelos jornais estudados, constatou-se que os

procedimentos descritos por Verón (2005) predominantes são a retórica visual das personagens,

percebida pela presença abundante de bustos, seja por meio da ilustração ou da fotografia; a

espacialização, inclusive usada na organização dessas imagens de bustos nas primeiras páginas e de

fotografias em plano geral mostrando uma sequência; e o quinto procedimento, similar ao modelo

testemunhal clássico, como foi dito anteriormente, já que os títulos sempre acompanhavam as imagens,

ainda que não houvesse um texto jornalístico mais extenso, além disso, algumas vezes não só repetiam o

que estava apresentado nas imagens, mas acrescentavam outras informações.

A retórica visual das personagens pode ser percebida em alguns casos, como no uso de bustos

para ilustrar as matérias da guerra no Estado do Pará. O atentado de Sarajevo, por exemplo, só foi

publicado no periódico no dia 2 de julho de 1914, quatro dias depois do assassinato, mas a notícia foi

divulgada em primeira página e estava acompanhada pelo busto do arquiduque Francisco José (ESTADO

DO PARÁ, 2 jul. 1914, p. 1). Após essa data, o Estado passou a divulgar imagens dos bustos do kaiser

Guilherme II, da Alemanha, e de outros presidentes e imperadores de países europeus. Em julho e agosto

de 1916, as fotografias de bustos voltaram a ilustrar as notícias sobre a guerra no Estado do Pará.

Em 3 de agosto de 1914, há um exemplo da espacialização, onde várias imagens de bustos surgem

separadas umas das outras e com certo destaque (ESTADO DO PARÁ, 3 ago. 1916, p.1). Já o plano

geral67 foi utilizado em fotografias das praças alemães de Potsdam e Leipzig e o Palácio Real de Berlim,

sob o título “Atraves da Allemanha” (ESTADO DO PARÁ, 27 ago. 1914, p. 1). Percebe-se, inclusive, por

meio dessas fotografias, o interesse do jornal pelo país e a maior facilidade em receber imagens

provenientes da Alemanha do que de outros países em guerra.

Imagem 1 - Estado do Pará, 3 ago. 1916, p.1

67 Segundo Nogueira (2010), “tomando sempre como referência a figura humana, podemos afirmar que um plano geral nos mostra

integralmente uma personagem, dos pés à cabeça. No entanto, um plano geral pode incluir, além da personagem completa, o cenário que a

envolve” (NOGUEIRA, 2010, p. 40).

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151

Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna

Em 23 de outubro de 1917, sob a manchete “O Brasil vae declarar guerra a Allemanha”, foram

publicadas as imagens dos bustos do presidente brasileiro Wenceslau Braz e do Ministro do Exterior, Nilo

Peçanha. São imagens posadas e estão manchadas (ESTADO DO PARÁ, 23 out. 1917, p.1). A edição de

1º de dezembro de 1918 trouxe o kaiser Guilherme II como o “kaiser desmascarado” e os presidentes e

generais aliados como os “heróis da guerra” (ESTADO DO PARÁ, 1º dez. 1918, p.1).

Imagem 2 - Estado do Pará, 1º dez. 1918, p.1

Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna

Já na Folha do Norte, entre 1914 e 1916, a guerra era mencionada constantemente na coluna

“Serviços Telegráficos” – localizada na terceira página – e, eventualmente, na capa. Mas raramente havia

imagens para ilustrar os textos, e, quando havia, eram pequenas imagens de bustos.

Na edição de 6 de novembro de 1918, o periódico divulgou na capa as imagens dos bustos de três

homens: o francês Foch, o alemão Guilherme II e o italiano Diaz, com o título “Os grandes vultos da

guerra” e as legendas “Generalíssimo Foch, o encaminhador das tropas alliadas para o triumpho”,

“Guilherme II, que na quarta-feira última abdicou, capitulando deante do adversário” e “General Diaz,

que à frente do exercito italiano, acaba de recuperar Trento e Trieste” (FOLHA DO NORTE, 06 nov.

1918, p.1). Em 1º de dezembro de 1918, a Folha ocupou quase a capa inteira com os bustos de

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presidentes dos países aliados. O destaque no centro do círculo formado na imagem foi dado para

Woodrow Wilson, presidente dos Estados Unidos (FOLHA DO NORTE, 1º dez. 1918, p.1).

Imagem 3 - Folha do Norte, 06 nov. 1918,

p.1

Imagem 4 - Folha do Norte, 1º dez.

1918, p.1

Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna

O jornal também divulgou imagens de navios envolvidos no conflito, prédios históricos (como a

imagem do Parlamento Alemão em Berlim, publicada em 12 de novembro de 1918) e cidades alemãs

arrasadas pelas tropas aliadas ou mesmo da família do kaiser Guilherme II rumo ao exílio (FOLHA DO

NORTE, 30 nov. 1918, p.1).

Imagem 5 - Folha do Norte, 30 nov. 1918, p.1

Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna

O quinto procedimento, não nomeado pelo autor (2005) e o mais parecido com o modelo

testemunhal clássico, pode ser exemplificado com a edição do Estado do Pará de 15 de julho de 1915.

Nela, o título repete claramente o que se pode visualizar na imagem, mas há acréscimo de informações,

como a data de chegada e o lugar para onde se dirigia o submarino alemão U-29 e seu comandante Otto

Weddigen.

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Imagem 6 - Estado do Pará, 15 jul. 1915, p.1

Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna

As imagens apresentadas mostram que, mesmo que as ilustrações ainda predominassem nos

periódicos nos anos correspondentes à Primeira Guerra, percebe-se o espaço que a fotografia vai

ganhando gradativamente. Sougez (2001) explica:

Durante a Primeira Guerra Mundial, a fotografia foi utilizada como instrumento táctico:

desenvolveu-se a prática das fotografias aéreas, se bem que a maior parte da informação gráfica

publicada na imprensa tenha sido feita por desenhadores que faziam esboços directos ou inspirados

em fotografias. Acabado o conflito, a ilustração fotográfica em livros de arte, de viagens ou de

antropologia, assim como em revistas especializadas, difunde-se, facilitada pelos grandes

progressos registrados na fotomecânica. As distâncias, cada vez melhor ultrapassadas graças à

evolução dos transportes, encurtam-se e acumulam-se imagens procedentes do mundo inteiro

(SOUGEZ, 2001, p. 235).

Kossoy (2001) afirma que, após o advento da fotografia, o mundo adquiriu um aspecto mais

“familiar”, os indivíduos puderam visualizar situações e lugares que antes só poderiam ser imaginados

por intermédio da transmissão oral (KOSSOY, 2001, p. 26).

Era o início de um novo método de aprendizado do real, em função da acessibilidade do homem

dos diferentes estratos sociais à informação visual dos hábitos e fatos dos povos distantes.

Microaspectos do mundo passaram a ser cada vez mais conhecidos através de sua representação. O

mundo, a partir da alvorada do século XX, se viu, aos poucos, substituído por sua imagem

fotográfica. O mundo tornou-se, assim, portátil e ilustrado (KOSSOY, 2001, p. 26-27).

Para compreender o processo de transmissão da mensagem fotográfica, são pertinentes as

discussões de Barthes (1990). O autor (1990) classifica a fotografia jornalística como uma mensagem,

composta por uma fonte emissora (a redação do jornal), um canal de transmissão (o próprio jornal) e um

meio receptor (o público que lê o jornal). Além disso, para o autor, a fotografia possui uma autonomia

estrutural, a qual se relaciona com outras estruturas, como o texto (BARTHES, 1990).

A totalidade da informação está, pois, apoiada em duas estruturas diferentes (uma das quais,

linguística); essas duas estruturas são concorrentes, mas, tendo unidades heterogêneas, não se

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podem confundir; no texto, a substância da mensagem é constituída por palavras; na fotografia, por

linhas, superfícies, matizes (BARTHES, 1990, p.12).

Assim, aliado ao suporte da fotografia da guerra, estava um título que relacionava o acontecimento

à imagem e as legendas que a explicavam. A respeito do texto, Barthes (1990) faz três observações: a

palavra consiste em uma “mensagem parasita” (Barthes, 1990, p. 20) que conota a imagem, dando outros

significados a ela; quanto mais próximo da imagem, menos a palavra a conota; e é impossível o texto

duplicar a imagem, uma vez que há passagem de uma estrutura para outra, criam-se outros significados

(BARTHES, 1990).

O autor (1990) apresenta seis procedimentos de conotação: “trucagem” (quando há interferência

no interior do plano de denotação, podendo fazer passar por denotada uma fotografia extremamente

conotada), “pose” (quando a mensagem é denotada-conotada, mas é vista como denotada apenas),

“objetos” (composição de objetos pelo fotógrafo com o objetivo de transmitir uma mensagem com base

nos itens escolhidos e arrumados de uma determinada forma), “fotogenia” (a imagem é “embelezada” por

técnicas de iluminação, impressão, etc.), “estetismo” (quando se busca impor significados mais sutis que

os permitidos por outros procedimentos) e “sintaxe” (sequência de fotografias para dar um sentido, contar

uma história) (BARTHES, 1990, p. 15-19).

Dos procedimentos explicados pelo autor, predomina na cobertura da época a sintaxe, sobretudo

no quadro “A guerra pela imagem”, do jornal Estado do Pará (ESTADO DO PARÁ, 1º jul. 1916, p.1; 02

jul. 1916, p.1; 09 jul. 1916, p.1; 11 jul. 1916, p.1), e a pose, identificada nos bustos dos generais,

presidentes e demais representantes políticos das nações envolvidas no conflito (ESTADO DO PARÁ, 30

ago. 1914, p.1).

Imagem 7 - Estado

do Pará,

1º jul. 1916, p.1

Imagem 8 - Estado

do Pará,

02 jul. 916, p.1

Imagem 9 - Estado

do Pará,

09 jul. 1916, p.1

Imagem 10 - Estado

do Pará,

11 jul. 1916, p.1

Fonte: Biblioteca

Pública Arthur

Vianna

Fonte: Biblioteca

Pública Arthur

Vianna

Fonte: Biblioteca

Pública Arthur

Vianna

Fonte: Biblioteca

Pública Arthur

Vianna

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155

Imagem 11 - Estado do Pará, 30 ago. 1914,

p.1

Imagem 12 - Estado do Pará, 30 ago. 1914,

p.1

É necessário considerar que a leitura da fotografia é histórica, isto é, dependerá sempre da

experiência do observador, de sua vivência, cultura, conhecimento de mundo. Diz Barthes (1990, p. 23):

“(...) é provável que uma boa fotografia jornalística (todas o são, porque selecionadas) jogue com o

suposto saber de seus leitores, escolhendo as cópias que tragam a maior quantidade possível de

informações desse tipo, de modo a tornar a leitura mais agradável”.

Esse critério de seleção, relacionado à proximidade do público com a informação, pode ter

favorecido o uso de várias dessas imagens em comemoração a assinatura do armistício em Belém,

ocupando quase a capa inteira somente com fotografias das festas (FOLHA DO NORTE, 8 dez. 1918,

p.1). Sobre as comemorações, as fotografias mostram carros alegóricos, desfiles de soldados oficiais e

uma multidão seguindo o cortejo. Cada carro alegórico, de acordo com a legenda, representava um país

aliado, incluindo um que representava o Brasil (FOLHA DO NORTE, 08 dez. 1918, p.1).

Imagem 13 - Folha

do Norte, 8 dez.

1918, p.1

Imagem 14 - Folha do

Norte, 8 dez. 1918, p.1

(ampliada)

Imagem 15 - Folha do Norte,

8 dez. 1918, p.1 (ampliada)

Fonte: Biblioteca

Pública Arthur

Vianna

Fonte: Biblioteca Pública

Arthur Vianna

Fonte: Biblioteca Pública

Arthur Vianna

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156

Considerações finais

Mesmo com limitações, percebe-se que os jornais Folha do Norte e Estado do Pará fizeram uso

do recurso imagético para informar o público leitor sobre o conflito na Europa. Como explicam Sougez

(2001) e Kossoy (2001), as duas guerras foram importantes para o desenvolvimento da fotografia, entre

outros fatores, por apresentar aos leitores uma realdade não era conhecida, devido ao distanciamento

geográfico.

O recorte dos anos correspondentes à Primeira Guerra Mundial (1914-1918), pequeno, mas

significativo, permitiu compreender um pouco sobre a história do fotojornalismo em Belém do Pará. No

caso dos jornais pesquisados, por exemplo, percebe-se que há uma reorganização dos textos com a

inserção das fotografias de imprensa, pois, ao contrário das ilustrações de bustos, as quais, normalmente,

ocupavam um pequeno espaço na página, a fotografia ganhou espaços maiores, ocupando de três a quatro

colunas, dependendo do periódico.

Por fim, compreender como as fotografias de guerra foram introduzidas na imprensa paraense e

chegaram às mãos dos leitores é fundamental para a construção do conhecimento sobre a história do

fotojornalismo na Amazônia. Conhecer esse percurso ainda é um desafio aos pesquisadores da história da

mídia impressa na região, o que demanda a continuidade dos estudos.

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Anexo 3

SEIXAS, Netília Silva dos Anjos; GUIMARÃES, Camila Lima; BEMERGUY, Danyllo Melo

Pereira. Jornalismo paraense da década de 1830: personagens e histórias. In: ENCONTRO

NACIONAL DE HISTÓRIA DA MÍDIA, 10, 2015, Porto Alegre, RS. Trabalho apresentado no GT

de História da Mídia Impressa.

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Jornalismo paraense da década de 1830: personagens e histórias68

SEIXAS, Netília Silva dos Anjos69

GUIMARÃES, Camila Lima70

BEMERGUY, Danyllo Melo Pereira71

Universidade Federal do Pará/Pará

Resumo: Quem foram os jornalistas da imprensa paraense na década de 1830? De onde vieram? Qual sua formação? Onde

trabalharam? Respostas a estas e outras perguntas podem ser buscadas nos fragmentos do passado, com a finalidade de nos

aproximar do principal objetivo desta pesquisa: delinear um possível retrato dos profissionais que ajudaram a configurar o

jornalismo de Belém na década de 30 do século XIX. Para tanto, a pesquisa partiu da identificação dos principais redatores dos

jornais que circularam no período, com base em dados do catálogo Jornais Paraoaras e das produções de outros autores, como

Vicente Salles, Carlos Rocque e Ricardo Borges. Foram identificados 29 jornais criados no período, sendo que apenas um

deles se encontra disponível na Biblioteca Pública Arthur Vianna, o Sentinella Maranhense na Guarita do Pará, de 1834. A

pesquisa listou 13 jornalistas que trabalharam no período, mas só foram encontradas informações sobre cinco deles: João

Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha, Gaspar de Siqueira Queiroz, José Soares de Azevedo, Vicente Ferreira Lavor Papagaio

e Honório José dos Santos.

Palavras-chave: História da imprensa; Jornalistas; Pará; Amazônia; Século XIX.

Introdução

O presente trabalho se integra aos demais desenvolvidos no projeto A Trajetória da Imprensa no Pará (SEIXAS,

2012)72

, voltado para a compreensão da memória de uma das mais antigas imprensas do Brasil, levando em conta o contexto

histórico da região. De acorco com esta premissa, o objetivo central da pesquisa foi desenvolver uma investigação sobre os

jornalistas que atuaram na imprensa de Belém ao longo da década de 30 do século XIX. O trabalho dá continuidade à

investigação iniciada em 2011, com o artigo “Protagonistas da imprensa belenense entre 1820 e 1830”73

, dentro do projeto de

pesquisa Jornais Paraoaras: percurso da mídia impressa em Belém (SEIXAS, 2009).

Estudar história da imprensa é como compor um quadro a partir de fragmentos do passado que, de alguma forma,

podem ser retomados e interpretados, a fim de constituir um possível cenário da realidade de outrora. De acordo com Barbosa

(2010, p. 11) “a história só existe no presente porque o passado deixou inscritos, no nosso aqui e agora, vestígios múltiplos que

indicam a existência desse passado”. A partir disso, busca-se investigar as marcas deixadas ao longo do percurso da imprensa

paraense e, assim, compreender a formação e o desenvolvimento do jornalismo que conhecemos na atualidade.

68 Trabalho apresentado no GT de História da Mídia Impressa, integrante do 10º Encontro Nacional de História da Mídia,

2015. 69

Autora e orientadora do trabalho. Professora da Faculdade de Comunicação e do Programa de Pós-Graduação,

Comunicação, Cultura e Amazônia da UFPA. E-mails: [email protected], [email protected]

70 Coautora, estudante do quinto semestre de Comunicação Social, habilitação Jornalismo, na Universidade Federal do Pará

(UFPA), bolsista PIBIC-CNPq do projeto de pesquisa “A trajetória da imprensa no Pará”. E-mail:

[email protected] 71

Coautor, estudante do terceiro semestre de Comunicação Social, habilitação Publicidade e Propaganda, na Universidade

Federal do Pará (UFPA), bolsista PIBIC-CNPq do projeto de pesquisa “A trajetória da imprensa no Pará”. E-mail:

[email protected] 72

Este artigo integra as atividades do projeto de pesquisa “A trajetória da imprensa no Pará”, realizado na Faculdade de

Comunicação e no Programa de Pós-Graduação Comunicação Cultura e Amazônia, na Universidade Federal do Pará. O

projeto é apoiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Edital Universal MCT/CNPq nº

14/2012. 73

Trabalho apresentado no GT História do Jornalismo, integrante do VIII Encontro Nacional de História

da Mídia, realizado em Guarapuava (PR), entre os dias 28 e 30 de abril de 2011.

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161

O jornal impresso em Belém e na Amazônia teve início há quase dois séculos, com a primeira edição do periódico O

Paraense, em 22 de maio de 1822. Desde então, a existência da imprensa local esteve ligada à política, defendendo,

contestando e difundindo discursos que influenciaram a vida social. “Partindo desse pressuposto, para compreender a história e

as transformações sociais, é pertinente considerar o local de onde se fala e a participação dos autores no processo” (PAULA,

FERNANDES, SEIXAS, 2011, p. 2).

Os jornalistas fazem parte do registro da memória coletiva, no entanto, nem sempre é fácil resgatar suas próprias

memórias. Tendo como referência o trabalho da pesquisadora Marialva Barbosa, no livro “História Cultual da Imprensa –

Brasil - 1800-1900” (2010, p. 141), buscamos verificar quem eram os jornalistas de Belém no período selecionado: de onde

vieram? Qual sua formação? Onde trabalharam? O que fizeram durante suas carreiras? Algumas respostas a essas e outras

perguntas puderam ser obtidas em fragmentos que nos chegam do passado, como pontua Barbosa (2010), possibilitando

compor um retrato aproximado dos profissionais que participaram da configuração da imprensa e do jornalismo em Belém.

Para tanto, a pesquisa partiu do levantamento dos jornais que circularam na cidade durante a década de 1830, tomando

como parâmetro principal o catálogo Jornais Paraoaras, da Biblioteca Pública do Pará (1985), para, em seguida, dar início à

busca sobre os principais redatores da região, utilizando como fonte de dados autores como Rocque (1967-1968, v. 1-6), Salles

(1992) e Borges (1986).

O contexto do jornalismo paraense na década de 1830

Na década de 1830 foram criados em Belém 27 periódicos que eram impressos em pequeno número de tipografias74

,

das quais cinco eram responsáveis pela impressão dos 8 periódicos redigidos pelos profissionais tratados nesta pesquisa, de

acordo com os dados encontrados no catálogo Jornais Paraoaras (BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ, 1985). Dentre esses

títulos, apenas um encontra-se disponível para consulta na Biblioteca Pública Arthur Vianna, o Sentinella Maranhence na

Guarita do Pará, publicado em 1834. Ao todo, foram identificados 13 nomes de jornalistas que trabalharam, em média, em dois

veículos durante essa década, como redatores, auxiliares ou editores-chefes.

Na pesquisa, foram levantados dados sobre cinco profissionais da imprensa paraense, sendo eles: João Batista de

Figueiredo Tenreiro Aranha, Gaspar de Siqueira Queiroz, José Soares de Azevedo, Vicente Ferreira Lavor Papagaio e Honório

José dos Santos.

Os demais nomes que trabalharam nos periódicos no mesmo período em que os referidos acima não são apresentados

(pelo menos, não em profundidade) neste levantamento por já terem sido estudados em pesquisa precedente, já mencionada

(PAULA, FERNANDES, SEIXAS, 2011). Na referida pesquisa, foram levantados dados sobre os seguintes profissionais da

imprensa: Felippe Alberto Patroni Martins Maciel Parente, Daniel Garção de Mello, Luiz José Lazier, Silvestre Antunes

Pereira da Serra e João Batista Gonçalves Campos.

O atual estudo tomou como base principal as seguintes fontes: Vultos Notáveis do Pará (1986), de Ricardo Borges;

Grande Enciclopédia da Amazônia (1967-1968, vol. 1-6), de Carlos Rocque; e Memorial da Cabanagem (1992), de Vicente

Salles. Foram consultadas também as duas edições do jornal Sentinella Maranhense na Guarita do Pará (de 26 de setembro e

04 de outubro de 1838), sendo esse o único periódico que nasceu na década de 1830 disponível no acervo da Biblioteca

Pública Arthur Vianna, em Belém.

Para apresentação das informações provenientes da pesquisa, é preciso ter algum entendimento do contexto histórico

que precedeu a realidade da década de 1830, período que viveu os reflexos da adesão da Província do Pará à Independência do

74

A pesquisa não encontrou informação do número exato de tipografias na década analisada.

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162

Brasil, em 15 de agosto de 1823 (quase um ano após a Proclamação por D. Pedro I). Tal fato resultou em mudanças na política

nacional que influenciaram diretamente o desenvolvimento da imprensa: “A liberdade de imprensa (...) passou à condição de

direito dos cidadãos do Portugal transoceânico, de arcabouço jurídico que assegurou, no caso brasileiro, a organização dos

primeiros jornais do país” (COELHO, 1989, p. 18).

Os brasileiros passaram a compartilhar “dos mesmos direitos assegurados pelo constitucionalismo de 1820 aos

portugueses metropolitanos, fundamento do arcabouço político que haveria de conferir, por exemplo, legitimidade ao exercício

da liberdade de imprensa no Brasil” (COELHO, 1989, p. 23). É nesse contexto que emerge o jornalismo no Pará, a partir da

publicação de O Paraense, em 1822, e os reflexos dessa mudança política e ideológica se desenvolve e se acentua nos anos

seguintes, como se pode inferir da fala de Rocque (1968):

Acontece, entretanto, que mesmo tendo aderido à Independência nacional, no Pará os postos chave

da administração ainda continuaram ocupados por portuguêses e conservadores: os ferrenhamente

nacionalistas, como é o caso de Batista Campos e Félix Antônio Clemente Malcher, ficaram em

postos inferiores. (ROCQUE, 1968, v. 2, p. 346)

Dessa maneira, começava a se delinear, mais claramente, dois postos de interesses conflitantes: a população regional,

descontente em relação às suas condições de inferioridade e descaso e, do outro lado, o conservadorismo de uma elite

preocupada em manter seus privilégios e poder (SALLES, 1992, p. 41). Logo, na década de 30 do século XIX, que carrega um

dos principais marcos históricos do Pará, a Cabanagem75

, as atividades da imprensa na região se encontravam fortemente

ligadas ao grande embate da época que, de acordo com Salles (1992), se deu em razão da precária condição de vida dos povos

da região (caboclos, negros e índios), subjugados por uma elite detentora de grandes propriedades, do poder político e dos

meios de produção. Entre as manifestações das camadas populares da sociedade contra o poder déspota das classes

dominantes, pode-se perceber que a imprensa aparece na forma de um instrumento valioso no enfrentamento e difusão dos

discursos contra e a favor ao regime.

Foi em 1831 que tal conflito de interesses se acentuou, a partir do surgimento de dois partidos principais (SALLES,

1992, p. 46-47): “A Sociedade União Liberal, formada por capitalistas e proprietários brasileiros e portugueses, aliados na

defesa dos antigos privilégios de classe” e, em oposição a esses, a Sociedade Patriótica, Instrutiva e Filantrópica, fundada em

defesa da Constituição.

Ganha destaque nesse momento o embate entre os jornais Orphêo Paraense (1831), órgão da Câmara Municipal,

redigido pelo cônego Batista Campos, partidário da Sociedade Patriótica, Instrutiva e Filantrópica, e o jornal A Opinião (1831),

ligado ao governo, filiado à Sociedade União Liberal, ou “amigos da ordem”, que se opunham ao primeiro por considerarem-

no “exaltado” e “perturbador” (SALLES, 1992, p. 78-79).

Nesse ano, a política paraense vivia a destituição do general Francisco José de Souza Soares d’Andréa, apontado pelos

liberais como um tirano absolutista que, junto ao governo do presidente José Félix de Burgos, Barão de Itapicuru-Mirim,

infligiu ampla repressão contra os brasileiros da província do Pará. “Pouco depois chega ordem da Regência para que o Barão

e Andréa entregassem seus postos aos substitutos legais e retornassem à corte” (SALLES, 1992, p. 77). Chega, então, a Belém,

75

Segundo Rocque (1966), a Cabanagem foi um movimento revolucionário que eclodiu na Amazônia. 1835 marca o início da

revolução, porém, já possuía antecedentes; terminando oficialmente em 1840. Batista Campos foi o grande líder da Pré-

Cabanagem.

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no dia 16 de julho, o sucessor de Burgos, o visconde de Goiana, Bernardo José da Gama, que governou apenas até o dia 7 de

agosto de 1831.

Segundo Salles (1992), ainda em agosto, sai de circulação o Orphêo Paraense e, no mês seguinte, o jornal A Opinião.

Contudo, novos periódicos passam a ser impressos, retomando a luta ideológica no início da década: o Echo Independente

(outubro de 1831), como órgão da Sociedade União Liberal e Independente, e A Luz da Verdade, redigido pelo cônego

Silvestre Antunes Pereira da Serra, partidário da Sociedade Patriótica, Instrutiva e Filantrópica. Em agosto de 1832, ao lado de

Batista Campos, o cônego passou a redigir “o mais polêmico dos jornais na época”: O Publicador Amazoniense, republicano e

crítico à presidência da Província (SALLES, 1992, p. 79)

Logo em seguida é lançado também, pela mesma dupla de cônegos, o jornal O Paraguassu (setembro de 1832). Esses

dois jornais, de acordo com Salles (1992), passarão a refletir a “ideologia da Cabanagem”: “Uma ideologia essencialmente

combativa, de luta pelo poder, que define não só a polarização bi-partidária, mas as profundas contradições do sistema”

(SALLES, 1992, p. 79).

Os jornalistas da década de 1830

João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha

Nascido a 23 de junho de 1798, em Belém, João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha era filho do intelectual Bento

de Figueiredo Tenreiro Aranha e de Rosalina Espinosa Solkman Tenreiro Aranha. O principal destaque durante sua carreira

política foi ter assumido o cargo de primeiro presidente da Província do Amazonas, em 1852, depois de ter lutado a favor da

emancipação da Comarca anteriormente pertencente ao território do Pará (ROCQUE, 1967, v. 1, p. 167).

Tenreiro Aranha formou-se em Humanidades e, em seguida, foi nomeado como escrivão de uma escuna de guerra

ainda aos 14 anos de idade, em 1812, seguindo rumo ao Rio de Janeiro. Chegando à capital do Império, reivindicou o cargo

que seu pai havia ocupado de forma vitalícia como escrivão da Alfândega do Pará, uma vez que, segundo a lei da época, a

posição poderia ser legada ao herdeiro mais velho. Contudo, a vaga não lhe foi concedida e então, três anos depois (em 1815),

voltou a Belém e tornou-se escrevente da Contadoria da Junta da Fazenda (BORGES, 1986, p. 73).

Tenreiro Aranha também exerceu breve carreira militar, em 1818, quando se alistou no Esquadrão de Cavalaria e logo

foi promovido para o posto de alferes pelo então presidente da Província do Pará, o Conde de Villa-Flor. Contudo, segundo

Borges (1986), logo se demitiu do posto e em 1824 foi nomeado escrivão da Mesa Grande da Alfândega do Pará, assumindo,

enfim, o mesmo cargo que seu pai ocupara.

Quatro anos depois, foi-lhe legada vitaliciedade ao cargo de Administrador da Mesa da Estiva, onde trabalhou na

reestruturação da contabilidade e escrituração dos armazéns nacionais da Marinha. Pouco tempo mais tarde, em 13 de abril de

1831, Tenreiro Aranha iniciou a redação do jornal A Opinião (BORGES, 1986, p. 74).

Impresso na tipografia da Rua Formosa, atual Rua Treze de Maio, o periódico era filiado ao partido dos liberais

moderados, a Sociedade União, portanto, um dos principais opositores à facção considerada “exaltada e perturbadora”

(SALLES, 1992, p. 79), a Sociedade Patriótica Instrutiva e Filantrópica, comandada pelo cônego João Batista Gonçalves

Campos.

A Opinião gerou grandes polêmicas como órgão que apoiava o governo repressor de José Félix Pereira de Burgos e a

conduta dita “tirânica” do comandante de armas Francisco José de Souza Soares de Andréa (SALLES, 1992):

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A situação agravou-se logo no Pará e o general Andréa atraiu contra si as antipatias gerais. Em

25.5.1831, o Conselho do Governo deliberou destituí-lo do cargo. No jornal A Opinião, de

1.6.1831, editado pelo grupo que o apoiava, saiu a sua defesa, associada às inquietações

provocadas pela abdicação de D. Pedro I. (SALLES, 1992, p. 76)

A Opinião continuou em circulação até setembro de 1831. No ano seguinte, Tenreiro Aranha passou a redigir o jornal

O Despertador, ao lado de Marcos Antônio Marins e José Soares Azevedo, que durou apenas até a sexta edição. Órgão do

Partido Constitucional Moderado, “foi criado para restabelecer a ordem na Província do Pará, agitada desde a adesão à

Independência do Brasil” (ROCQUE, 1968, v.2, p. 613). Devido às críticas desenvolvidas contra o governo de Machado de

Oliveira, que esteve no poder após a destituição de José Félix Pereira de Burgos, no ano de 1832, Tenreiro Aranha e os outros

dois redatores fugiram de perseguições políticas e refugiaram-se nos Estados Unidos. Aranha voltou somente em 1834

(BORGES, 1986, p. 74).

Quando, por determinação de Carta Imperial de novembro de 1835, o general Andréa retornou a Belém, Tenreiro

Aranha foi nomeado Inspetor da Alfândega do Pará e nos anos seguintes se inseriu mais significativamente na política. Foi

eleito deputado provincial em várias legislaturas, sendo que, entre 1848 e 1850, lutou pela emancipação da Comarca do

Amazonas, até então pertencente ao território da Província do Pará. “Vitoriosa essa campanha, a nova Província foi criada a 5

de setembro de 1850; porém só veio a inaugurar-se no dia 1º de janeiro de 1852” (ROCQUE, 1967, v. 1, p. 167). Tenreiro

Aranha governou até o dia 27 de junho do mesmo ano e em seguida foi substituído pelo primeiro vice-presidente Manuel

Gomes Corrêa de Miranda. Tenreiro Aranha faleceu em 1862, na Província do Amazonas, aos 64 anos de idade (BORGES,

1986, p. 74).

José Soares de Azevedo

Poucos dados foram encontrados sobre o professor e jornalista José Soares de Azevedo, contemporâneo de Tenreiro

Aranha, que fez parte da redação do jornal O Despertador. A principal base de informações sobre esse profissional advém da

Grande Enciclopédia da Amazônia, de Carlos Rocque (1967, v. 1, p. 219).

José Soares de Azevedo nasceu na cidade do Porto, em Portugal, no ano de 1800, mas naturalizou-se brasileiro em

1824, quando se infiltrou na política paraense. Em 1832 foi expatriado, seguindo para os Estados Unidos, em razão das críticas

que fazia ao governo de Machado de Oliveira (1832-1833) por meio do jornal O Despertador. Em seguida, de volta ao Brasil,

partiu para o Rio de Janeiro, onde publicou o opúsculo O Pará, em 1832.

Azevedo morreu em Pernambuco, em 1876, aos 76 anos de idade. Outras obras dentre as de sua autoria são: Poesias

Seletas e Mangas de Jasmins, que foram publicadas após sua morte.

Gaspar de Siqueira Queiroz

Gaspar de Siqueira Queiroz foi cônego e jornalista, tendo redigido cinco jornais ao longo de sua carreira. O primeiro

deles foi o Orphêo Paraense, cujo primeiro número circulou a 28 de março de 1831. Segundo Salles (1992), Queiroz dividia a

redação com o cônego Batista Campos e Jerônimo Roberto Pimentel, com quem ajudou a fundar, a 11 de julho de 1831, a

facção da Sociedade Patriótica, Instrutiva e Filantrópica, contra o despotismo do governo em relação às classes menos

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favorecidas da sociedade. O Orphêo Paraense ganhou destaque nesse momento, sendo o principal rival no debate ideológico

contra o jornal A Opinião, partidário da Sociedade União Liberal.

Depois do fim dos jornais Orphêo Paraense, em agosto de 1831, e A Opinião, em setembro do mesmo ano, outros dois

deram prosseguimento à luta entre os discursos das duas facções políticas, sendo eles o Echo Independente, lançado em

outubro, e A Luz da Verdade, de março de 1832 (SALLES, 1992, p. 79).

Apenas em 1834 Siqueira Queiroz voltou à redação, com o periódico Correio Oficial Paraense, órgão criado pelo

então presidente da Província Bernardo Lobo de Souza, o que indica também uma mudança no seu posicionamento político.

Segundo Salles (1992), o objetivo do periódico era publicar atos do governo, mas durou por apenas seis meses, pois a

Província do Pará foi tomada pelos cabanos dia 7 de janeiro de 1835, levando o jornal ao fechamento, no dia seguinte.

Em seguida, Siqueira Queiroz escreveu mais três jornais de curta duração, O Vigilante (1834), que combatia o cônego

Batista Campos; o Synopsis Ecclesiástica (1848-1849) e O Bom Paraense (1851-1852), de cunho religioso.

Vicente Ferreira Lavor Papagaio

Panfletário, nascido no Ceará em 1801, Vicente Ferreira Lavor Papagaio foi uma figura polêmica da imprensa,

“conhecido no Nordeste, por sua linguagem atrevida e insultuosa” (ROCQUE, 1968, v. 5, p. 1292). Chegou ao Pará a pedido

de João Batista Gonçalves Campos, em 1834, para que assumisse a redação do jornal Sentinella Maranhense na Guarita do

Pará (1834), órgão que criticava o governo de Lobo de Sousa. Segundo Rocque (1968), antes disso, em sua terra natal, Lavor

Papagaio quase foi assassinado por conta de seus escritos em defesa dos ideais republicanos, o que continuou a fazer em sua

terra de refúgio, o Maranhão.

Chegando a Belém, assumiu a redação do jornal Sentinella Maranhense na Guarita do Pará, de responsabilidade do

sócio Camilo José Jacareacanga, jornalista também do Ceará. O jornal havia substituído O Publicador Amazoniense (1832)

(BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ, 1985). Contudo, apenas dois números do Sentinella Maranhense entraram em

circulação, uma vez que a linguagem agressiva logo irritou as autoridades da Província. De acordo com Borges (1986), os dois

únicos números possuíam uma escrita tão violenta que Lobo de Sousa decidiu mandar fechar o periódico e solicitou a prisão

dos seus responsáveis. Lavor Papagaio, ciente do mandato de prisão, fugiu a tempo e seguiu ao encontro de Batista Campos em

um sítio localizado em Barcarena. Juntamente com outros membros do jornal, refugiou-se, por fim, na propriedade de Félix

Antônio Clemente Malcher, em Acará-Açu, onde se encontravam outros foragidos revolucionários (ROCQUE, 1968, v. 5, p.

1296).

A partir de então, Lobo de Sousa mandou expedições de busca a Acará, que culminaram, dentre outras ações, na

prisão de Félix Malcher76

, no incêndio em sua fazenda e na descoberta da morte de Batista Campos, em 1834. O incidente

insuflou os ânimos dos revolucionários e, no dia 6 de janeiro, os cabanos invadiram a cidade de Belém e tomaram o governo,

assassinando o presidente da Província e elegendo Félix Malcher em seu lugar. “Porém, dias depois, as primeiras dissenções

fizeram-se sentir no seio dos cabanos. Panfletos contra Malcher começaram a circular” (ROCQUE, 1968, v. 5, p.1296).

76

Segundo Salles (1992), Félix Clemente Antônio Malcher foi alferes do Regimento de Milícias de Belém e membro da Junta

do Governo. Lutando ao lado dos cabanos, fez parte da rebelião de 7 de janeiro de 1835 que pôs fim ao governo de Lobo de

Sousa, tornando-se ele mesmo presidente da Província. Contudo, no dia 19 de fevereiro de 1835, Félix Malcher foi deposto,

logo após entrar em conflito com os cabanos. Uma das razões, de acordo com Rocque (1968), foi o mandato de prisão que

expediu contra Lavor Papagaio, ato que foi considerado como traição ao grupo cabano.

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O então presidente, acreditando que Lavor Papagaio era o autor das severas críticas panfletárias, mandou prendê-lo e

deportou-o para o Maranhão, onde foi retido em prisão pública. Lavor Papagaio chegou a publicar na imprensa maranhense, de

dentro da cadeia, um violento protesto contra Malcher, e desde então não mais voltou ao Pará (ROCQUE, 1968, v. 5, p. 1296).

Honório José dos Santos

Nascido no Rio de Janeiro, em 1801, Honório José dos Santos foi um importante jornalista na imprensa paraense na

primeira metade do século XIX. Transferiu-se para o Pará aos 18 anos de idade, em 1819, durante o governo do Conde de

Villa-Flor. Dentro de dois anos, incorporou-se à tropa miliciana, classificado para o 1º Regimento de Milícias.

Era um rapaz que dispunha de instrução, como se pode depreender dos documentos por êle

deixados escritos. O seu nome aparece na história regional no ano de 1823, por ocasião dos

sucessos revolucionários de 14 de abril. Embora não houvesse tomado parte ativa no movimento

sedioso, por ideias anteriormente manifestadas foi incluído na devassa que então se procedeu,

sendo pela decisão judiciária de 16 de maio de 1823 julgado inocente e sôlto. (ROCQUE, 1968, v.

6, p. 1553)

Contudo, entre 9 e 10 de julho de 1823, Honório dos Santos foi acusado de “dissidente do Sistema Constitucional”,

denunciado como tendo feito parte da guarnição que se revoltou a favor da adesão do Pará à Independência do Brasil, em 14 de

abril de 1823, que tomou o quartel e o parque de artilharia de Belém. Mesmo entrando com processo em nome de sua

inocência, Honório dos Santos foi enviado para Lisboa, no navio Andorinha do Tejo e mantido preso no Forte de São Julião da

Barra. Somente depois de aproximadamente um ano regressou a Belém (ROCQUE, 1968, v. 6, p. 1553).

Por Decreto Imperial, Honório dos Santos tornou-se servidor público, nomeado como guarda-mor da saúde, cargo que

tomou posse a 10 de fevereiro de 1826, permanecendo na carreira burocrática até sua aposentadoria, mas foi na imprensa que

realmente deixou suas marcas, como ressalta Rocque (1968):

A sua verdadeira vocação, todavia, era a imprensa. Já em 1823 era conhecido como hábil

tipógrafo. Mais tarde adquiriu o material tipográfico do extinto Correio do Amazonas e o fêz

transportar para atual rua de Cametá nº 39 e nº 15, onde sob a firma de Santos & Menor, fundou

em 1837 a Fôlha Comercial do Pará, hebdomadário cujo primeiro número circulou em agôsto do

mesmo ano, em dia até hoje não averiguado. O periódico circulou até 1840. (ROCQUE, 1968, v. 6,

p. 1553).

Após o fim da Fôlha Comercial do Pará, Honório dos Santos fundou o jornal Treze de Maio (1840), que circulou

primeiramente de forma bissemanal, passando a trissemanal, até que, em outubro de 1855, transformou-se em jornal diário

(BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ, 1985).

Denominando-se órgão oficial e noticioso, o nome Treze de Maio faz referência à data de entrada das forças do

general Soares de Andréa na capital paraense, pondo fim às lutas da Cabanagem em Belém (BIBLIOTECA PÚBLICA DO

PARÁ, 1985). A referência à data é explicitada no editorial do jornal em sua primeira edição, no dia 13 de maio de 1840

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(SEIXAS ET AL, 2012b). O jornal foi um dos de maior duração de sua época, encerrando suas atividades a 31 de outubro de

1862, substituído pelo Jornal do Pará (BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ, 1985).

Contudo, Honório dos Santos não se limitou apenas aos jornais, fundando uma oficina de impressão, com edição de

obras e trabalhos diversos, empreendimento que obteve longo sucesso. “Quando lhe iam nascendo e crescendo os filhos, ia-os

associando na propriedade da tipografia e ao manuseio do componedor” (ROCQUE, 1968, v. 6, p. 1553), por essa razão, o

nome da empresa se modificou sucessivamente de Santos & Menor para Santos & Menores, Santos & Filhos e Santos &

Irmãos.

Honório dos Santos faleceu em Belém, aos 56 anos de idade, a 23 de janeiro de 1857. Em homenagem aos seus

serviços, foram-lhe atribuídos os hábitos das Ordens de Cristo e do Cruzeiro, honrarias religiosa e militar (ROCQUE, 1968, v.

6, p. 1553).

Quadro 1 – Jornais escritos pelos profissionais encontrados na pesquisa - década 1830

Jornais Tipografia Período

A Opinião De Alvarez 1831

Orphêo Paraense Da Camara Municipal 1831

Correio Do mazonas Correio do Amazonas 1831-1834

O Despertador S.ed 1832

Correio Oficial Paraense Correio do Amazonas 1834-1835

O Vigilante S.ed 1834-?

Sentinella Maranhense na

Guarita do Pará

Federal dos Verdadeiros Liberaes 1834

Folha Commercial do Pará Restaurada: Santos & Menor 1837-1840

Fonte: Biblioteca Pública do Pará (1985).

Considerações finais Pesquisar pode ser como um quebra-cabeça: juntamos peças dispersas a fim de formar algum entendimento sobre um

objeto. A pesquisa se apresentou importante como acesso a parte de uma história, a qual precisa ser retomada para que

possamos compreender o passado, acreditando que, por vezes, é preciso voltar no tempo para entender melhor o presente.

Todavia, não é fácil imergir por completo nessa teia de histórias, construídas por uma infinidade de acontecimentos.

Assumindo esse desafio, a pesquisa buscou compreender um tempo passado revelado na configuração do presente por

estar intrinsicamente ligado ao desenvolvimento da imprensa paraense. Para isso, o estudo levantou dados de cinco

profissionais dos anos 30 do século XIX que foram responsáveis pela difusão da imprensa na Amazônia e que, a partir de seus

trabalhos, deixaram inscritos no tempo uma marca, uma ideia. O Quadro 2 traz uma síntese dos principais dados da pesquisa.

Quadro 2 – Profissionais da imprensa na Província do Pará na década de 1830

Nome Nascimento/

Falecimento

Jornais em que

trabalhou

Além dos jornais

1º presidente da Província do

Amazonas

Escrevente da Contadoria da Junta da

Fazenda

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168

João Batista

de Figueiredo

Tenreiro

Aranha

Belém,

1798-1862

A Opinião

O Despertador

Militar, alferes

Escrivão da Mesa Grande da

Alfândega do Pará

Administrador da Mesa da Estiva

Inspetor da Alfândega do Pará

Deputado provincial em várias

legislaturas

José Soares

de Azevedo

Porto

(Portugal),

1800-1876

O Despertador

Professor

Esteve na política paraense

Gaspar de

Siqueira

Queiroz

---

Orphêo Paraense

Correio oficial

Paraense

O Vigilante

O Synopsis

Ecclesiástica

O Bom Paraense

Cônego

Vicente

Ferreira

Lavor

Papagaio

Ceará

Sentinella

Maranhense na

Guarita do Pará

O Publicador

Amazoniense

Panfletário

Honório José

dos Santos

Rio de

Janeiro,

1801-1857

Folha Commercial do

Pará

Treze de Maio

Tropa Miliciana

Servidor Público como Guarda-mor

da Saúde

Fundador da Typografia Santos &

Menor

Fontes: Biblioteca Pública do Pará (1985), Salles (1992), Borges (1986), Rocque (1967-1968).

A partir da pesquisa foi possível inferir que o jornalismo não se apresentava, na maioria das vezes, como a profissão

de carreira na vida das pessoas que fizeram parte do começo da imprensa paraense. Na verdade, essas pessoas estavam mais

ligadas à política e à carreira religiosa. Cargos públicos também eram importantes e se configuravam como um ofício

considerado estável. Nesse ínterim, o jornalismo se configurava como um instrumento vital para dar visibilidade e voz aos

discursos políticos. Segundo o que pôde ser observado, essa realidade começou a mudar a partir do fim da década de 30, com

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destaque para o exemplo de Honório dos Santos, uma figura que se dedicou às folhas impressas com um caráter mais

“informativo” (ROCQUE, 1968, v.6, p. 1553), apesar de ainda manter forte vínculo com a política.

Esses nomes da história, em seus embates entre partidos, fizeram da imprensa um importante instrumento nas lutas

ideológicas dentro de um contexto de significativas mudanças na Província do Pará e no Brasil. Graças à participação dessas

pessoas e ao modo como trabalharam na imprensa é que foi possível observar determinadas marcas no jornalismo: o

jornalismo oposicionista, combativo, a disputa entre dois lados de interesses distintos.

Por fim, o valor de estudar a imprensa paraense não é apenas para o pesquisador, mas também para a sociedade, como

forma de entender um pouco do que temos hoje, ao buscar conhecer sobre a imprensa na região e sua relação com a sociedade.

Uma região plena de diversidades, que carrega em seu passado importantes momentos históricos, dentre eles uma das mais

antigas imprensas do país, a imprensa do Pará.

Referências

BARBOSA, Marialva. História cultural da imprensa: Brasil, 1800-1900. Rio de Janeiro: Mauad X, 2010.

BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ. Jornais Paraoaras: catálogo. Belém: Secretaria de Estado de Cultura, Desportos e

Turismo, 1985.

BORGES, Ricardo. Vultos notáveis do Pará. Belém: CEJUP, 1986.

COELHO, Geraldo Mártires. Letras & baionetas: novos documentos para a história de imprensa no Pará. Belém: Cultural

CEJUP, 1989.

PAULA, Julieth Corrêa; FERNANDES, Phillippe Sendas de Paula. Protagonistas da imprensa belenense entre 1820 e 1830. In:

ENCONTRO NACIONAL DE HISTÓRIA DA MÍDIA, 8, 2011, Guarapuava, PR. Anais eletrônicos... Porto Alegre: ALCAR,

2011. Disponível em: <http://paginas.ufrgs.br/alcar/encontros-nacionais-1/8o-encontro-2011-

1/artigos/Protagonistas%20da%20imprensa%20belenense%20entre%201820%20e%201830.pdf/view> ISSN: 15801780>.

Acesso em: 16 mar. 2015.

ROCQUE, Carlos. Grande Enciclopédia da Amazônia. v. 1-6. Belém: Amazônia Editora, 1967-1968.

SALLES, Vicente. Memorial da Cabanagem. Belém: CEJUP, 1992.

SEIXAS, Netília Silva dos Anjos. Jornais Paraoaras: percurso da mídia impressa em Belém no século XIX. Projeto de

pesquisa Edital MCT/CNPq/ MEC/CAPES N.º 02/2010. Concluído. Belém: UFPA, 2010.

______. Jornais Paraoaras: percurso da mídia impressa em Belém. Projeto de pesquisa concluído. Belém: UFPA, 2009.

_______. A trajetória da imprensa no Pará. Projeto de pesquisa, Edital Universal MCT/CNPq N º 14/2012. Em andamento.

Belém: UFPA, 2012a..

_____. SILVA, Camille Nascimento; PAULA, Julieth Corrêa; FERNANDES, Phillippe Sendas de Paula. O "triunfo da

legalidade": Cabanagem e discurso no jornal Treze de Maio. In: MONTEIRO, Gilson Vieira; ABBUD, Maria Emília de

Oliveira Pereira; PEREIRA, Mirna Feitoza (Org.). Estudos e perspectivas dos ecossistemas na Comunicação. Manaus:

UFAM, 2012b, p. 269-283.

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Anexo 4

GUIMARÃES, Camila Lima; SEIXAS, Netília Silva dos Anjos. Jornalistas de destaque: profissionais da imprensa de Belém entre 1840 e 1860. Trabalho submetido ao GP de Jornalismo da XI Jornada de Iniciação Científica em Comunicação, evento componente do XXXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, a ser realizado entre os dias 4 e 7 de setembro de 2015, no Rio de Janeiro.

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Jornalistas de destaque: profissionais da imprensa de Belém entre 1840 e 186077

Camila Lima GUIMARÃES

78

Netília Silva dos Anjos Seixas79

Universidade Federal do Pará, Belém, PA

Resumo

Este artigo é resultado de estudo sobre alguns dos jornalistas que atuaram em periódicos expressivos da

imprensa paraense entre as décadas 1840 e 1860, utilizando como critério para a seleção desses sujeitos a

duração do jornal em que trabalharam e a disponibilidade de acesso aos periódicos para consulta na

Biblioteca Pública Arthur Vianna. Selecionados os nomes dos jornalistas e os periódicos nos quais

trabalharam, foi realizada uma busca mais aprofundada sobre os seguintes nomes: Honório José dos

Santos, Cypriano Santos, Tito Franco de Almeida, Frederico Rhossard, Bento Tenreiro Aranha e Manoel

José de Siqueira Mendes. Trata-se de estudo bibliográfico e documental, em que as principais fontes

consultadas foram Rocque (1967-1968, v. 1-6), Salles (1992), Cunha (1970) e Barbosa (2010).

Palavras-chave: História da imprensa; Jornalistas; Pará; Amazônia; Século XIX.

Introdução

Esta pesquisa80

busca compreender melhor a imprensa paraense nas décadas de 40, 50 e 60 do

século XIX, por meio da trajetória dos profissionais que se dedicaram ao jornalismo naquele período em

Belém, Pará. Como estudo bibliográfico e documental, foram acessados periódicos e livros escritos pelos

próprios jornalistas da época e outros por historiadores ao longo das décadas seguintes, até a atualidade,

buscando conhecer um pouco mais da “figura central no processo de transformação da imprensa”, o

jornalista (BARBOSA, 2010, p. 11).

Os livros e os periódicos utilizados como fonte de informações para a pesquisa oferecem indícios

de uma realidade de outrora, vestígios, como define Barbosa (2010). Trabalhamos na mesma perspectiva

da autora, quando afirma que “a história da imprensa que vamos contar não tem a pretensão de trazer o

passado, de maneira integral, para o presente. Não se trata também de achar que a interpretação que

fazemos é única e definitiva. Ela é apenas uma das possíveis” (BARBOSA, 2010, p. 11). 77 Trabalho apresentado no GP História do Jornalismo da XI Jornada de Iniciação Científica em Comunicação, evento componente do

XXXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 78 Graduanda do 5º semestre do Curso de Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, da Universidade Federal do Pará. Bolsista

PIBIC/CNPq do projeto de pesquisa “A trajetória da imprensa no Pará”. E-mail: [email protected] 79 Professora da Faculdade de Comunicação e do Programa de Pós-Graduação, Comunicação, Cultura e Amazônia da UFPA, e-mail:

[email protected]. 80 Este artigo é resultado de estudo realizado no projeto de pesquisa “A trajetória da imprensa no Pará”, apoiado pelo CNPq, Edital Universal

MCTI/CNPq Nº 14/2012.

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É nesta perspectiva que abordamos a história de alguns dos profissionais que trabalharam em

periódicos expressivos daquele tempo, do ponto de vista da duração e da disponibilidade de acesso dos

jornais para análise. Assim, o trabalho se inicia com o levantamento do seguinte panorama, onde foram

identificados quarenta e três nomes de jornalistas entre 1840 e1860 em Belém:

Quadro 1 – Jornalistas da imprensa na Província do Grão-Pará nas décadas de 1840 a 60

1840

Nome Jornal

Honório José dos

Santos

Folha Comercial do Pará

Treze de Maio (1840)

Justino Henriques da

Silva

O Publicador Paraense

(1841-1853)

Joaquim Mariano de

Lemos

O Paraense (1842-1844)

O Tribuno do Povo

(1844-1845)

Victorio de Figueiredo e

Vasconcellos

O Tribuno do Povo

(1844-1845)

O Echo Independente

(1848-1849)

O Tolerante (1848)

João Antônio Alves

(Bacharel em

advocacia)

O Doutrinário (1848-

1849)

Raymundo Severino de

Mattos (Cônego)

Synopsis Ecclesiastica

(1848-1849)

Luiz Barroso de Bastos

Synopsis Ecclesiastica

(1848-1849)

A Trombeta do

Sanctuário (1851-1852)

O Communicador (1853?)

Joaquim Ferreira de

Souza Jacarandá

O Tolerante (1848)

Bernardo Souza Franco

O Contemporâneo (1849)

Raymundo José de

Almeida Couceiro

(editor e proprietário)

O Planeta (1849-1853)

José Vicente Teixeira

Ponce de Leão

O Planeta (1849-1853)

José Mariano de Lemos

O Planeta (1849-1853)

O Velho Brado do

Amazonas (1850-1853)

José Joaquim Pimenta

Magalhães

O Planeta (1849-1853)

Joaquim Rodrigues de

Souza

O Planeta (1849-1853)

1850

José Bernardo Santarém

O Velho Brado do

Amazonas (1850-1853)

Antônio Aguiar e Silva

O Velho Brado do

Amazonas (1850-1853)

O Piparote (1851-1853)

Ismael de Senna Ribeiro

Nery

(padre)

A Voz Paraense (1850-

1851)

A Trombeta do

Sanctuário (1851-1852)

Manoel José de Siqueira

Mendes

(padre)

A Voz Paraense (1850-

1851)

A Trombeta do

Sanctuário (1851-1852)

Diario do Gram-Pará

(1853-1892)

Luiz A. Monteiro Baena

(padre)

A Voz Paraense (1850-

1851)

Elisiario Marques

(cônego)

O Bom Paraense (1851-

1852)

Lázaro Pinto Moreira

Lessa

Correio dos Pobres

(1851-1853)

Tito Franco de Almeida

O Grão-Pará (1851-

1852)

Aurora Paraense (1853-

1855)

Dr. José Ferreira Cantão

(responsável pelo jornal

O Observador. Redator

do Diario do Gram-Pará a

partir de 1865).

O Observador (1851-

1855)

Diario do Gram-Pará

(1853-1892)

Joaquim Mariano de

O Piparote (1851-1853)

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173

Lopes

Antônio Ricardo de

Carvalho Penna

O Piparote (1851-1853)

O Monitor (1852-?)

Diario do Gram-Pará

(1853-1892)

Eutychio Pereira da

Rocha

(cônego)

O Communicador

(1853?)

José Joaquim Mendes

Cavallero

(Fundador e principal

redator)

Diario do Gram-Pará

(1853-1892)

Antônio José Rabello

Guimarães

(Proprietário do Gazeta

Official)

Diario do Gram-Pará

(1853-1892)

Gazeta Official (1858-

1866)

Antônio Gonçalves

Nunes

Diario do Gram-Pará

(1853-1892)

Frederico Rhossard

Diario do Gram-Pará

(1853-1892)

A Violeta (1853-?)

Mancio Caetano Ribeiro

(cônego)

Diario do Gram-Pará

(1853-1892)

Thimóteo Teixeira

Diario do Gram-Pará

(1853-1892)

Bento Aranha

Diario do Gram-Pará

(1853-1892)

J. J. Mendes Cavalleiro

A Violeta (1853-?)

Antônio da Cunha

Mendes (editor)

A Violeta (1853-?)

José Joaquim de Sá

(proprietário)

Diário do Commércio

(1854-?)

José do Ó de Almeida

O Colono de Nossa

Senhora do Ó (1855-

1858)

Tomaz Joaquim

Celestino Nunes

O Boquinha de Moça

(1856-?)

1860

Cypriano José dos Santos

Jornal do Pará (1862)

Anselmo Gomes de

Oliveira

Constitucional Paraense

(1864)

Antônio Francisco

Diário de Belém (1868)

Pinheiro

Domingos Soares

Ferreira Penna

O Colombo (1869)

José Antônio Ernesto

Pará-Assu

O Liberal do Pará

(1869)

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Fonte: Biblioteca Pública do Pará (1985).

Tendo como principais fontes de pesquisa o acervo da Biblioteca Pública Arthur

Vianna, nos setores de Obras Raras e Microfilmagem, o catálogo Jornais Paraoaras, da

Biblioteca Pública do Pará (1985), Rocque (1967-1968, v. 1-6), Salles (1992) e Barbosa

(2010), o estudo prossegue com levantamento sobre os seguintes jornalistas: Honório

José dos Santos, Cypriano Santos, Tito Franco de Almeida, Frederico Rhossard, Bento

Tenreiro Aranha e Manoel José de Siqueira Mendes.

1840 e o legado de Honório José dos Santos

O ano de 1840 em Belém, no contexto da imprensa, começa com destaque para a

atuação de Honório José dos Santos. Livreiro e editor, Honório contribuiu à imprensa

de Belém por meio dos jornais Folha Commercial do Pará (1837-1840) e Treze de Maio

(1840-1862) e de sua tipografia chamada Santos & Menor (BIBLIOTECA PÚBLICA

DO PARÁ, 1985).

Honório José dos Santos era carioca, nascido em 1801. Transferiu-se para Belém

no ano de 1819 e, pouco depois, com vinte anos de idade, incorporou-se ao Primeiro

Regimento de Milícias da Província do Grão-Pará (ROCQUE, 1968).

Depois de ser acusado de participar do golpe de 13 para 14 de abril de 1823, que

visava à tomada do quartel e do parque de artilharia da capital, um protesto em apoio à

Independência do Brasil, Honório dos Santos (e outros 266 homens) foi enviado para

Lisboa a bordo do navio Andorinha do Tejo, onde foi aprisionado no forte de São Julião

da Barra. Somente depois de reconhecida a Independência do Brasil, Honório José dos

Santos voltou a Belém, já em 1824 e, por Decreto Imperial, foi nomeado guarda-mor da

saúde (ROCQUE, 1968).

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Contudo, segundo Rocque (1968), a verdadeira inclinação de Honório dos

Santos era a imprensa. De posse do material tipográfico do jornal Correio do Amazonas,

suspenso em 1834 (BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ, 1985), Honório fundou a

tipografia Santos & Menor, criando em 1837 o primeiro jornal da Província pós-

Cabanagem, a Folha Commercial do Pará, que durou até 1840, quando Honório

“resolveu (...) criar um novo órgão de publicidade que melhor preenchesse os fins

utilitários da divulgação das ideias” (ROCQUE, 1968, p. 1553).

Foi então que o jornalista instituiu o Treze de Maio (Figura 1), órgão oficial do

governo e primeiro jornal de longa duração na história da Província do Grão-Pará

(BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ, 1985). O título do periódico faz referência à

entrada das tropas do general Francisco José de Souza Soares de Andréa na capital

paraense, pondo fim às lutas da Cabanagem em Belém (BIBLIOTECA PÚBLICA DO

PARÁ, 1985). No editorial da edição de 13 de maio de 1840 do jornal, acessada no

formato de microfilme na Biblioteca Pública Arthur Vianna, encontra-se o seguinte

posicionamento quanto ao seu título:

Nem um título nos pareceu mais adequado que o de = Treze de Maio = d’esse

dia memorável nos fastos da história Paraense, - dia de doces recordações, em

que a legalidade conseguiu triunphar dos desastrozos feitos e negros planos da

rebeldia, - apoderando-se da Capital da Província (TREZE DE MAIO, 13 mai.

1840, p. 1).

O conflito do dia 13 de maio foi o desfecho da revolta popular que mobilizou a

Província do Grão-Pará contra o poder político-

administrativo local. Segundo Salles (1992, p. 133), “a

Cabanagem se caracterizou como movimento tipicamente

social, com alguma expressão de autêntica guerra de

libertação”.

Os cabanos haviam tomado o poder da cidade no

dia 07 de janeiro de 1835. “Apanhados de surpresa,

apesar dos constantes rumores sobre a invasão, as forças

governistas não puderam opor grande resistência”

(ROCQUE, 1968, p. 149). Contudo, a vitória da

revolução não significou paz para a Província, devido aos

Figura 1 – Treze de Maio, n º

301, 15 de abril de 1843, p. 1.

Fonte: Biblioteca Pública Arthur

Vianna

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conflitos entre os líderes do movimento, que resultaram em sucessivas mudanças na

presidência da capital, assim como em repetitivos ataques entre a elite e os cabanos81

.

Foi então que, a 13 de maio de 1836, o general Andréa retomou o poder que havia sido

conquistado pelos revolucionários e, de acordo com Salles (1992), implantou um regime

déspota, cuja consequência, no contexto da imprensa, foi a extinção de praticamente

todos os jornais revolucionários e políticos no Pará.

Os últimos jornais publicados nessa fase revolucionária circularam em 1835: o

Paquete do Governo, em 3 de fevereiro; o Publicador Official Paraense, em 28

de março; e A Sabatina, em julho, cessando todos a publicação no mesmo ano.

O primeiro foi tirado debaixo do governo de Félix Antonio Clemente Malcher e

os dois últimos também no governo cabano de Francisco Pedro Vinagre

(SALLES, 1992, p. 120-121).

O Treze de Maio foi o segundo periódico pós-Cabanagem a circular na

Província, saindo inicialmente com periodicidade bissemanal, às quartas e sábados e, a

partir de 1º de outubro de 1855, de forma diária. O jornal foi um dos de maior duração

de sua época, encerrando suas atividades a 31 de outubro de 1862, substituído pelo

Jornal do Pará (BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ, 1985). Na edição de 13 de maio

de 1840 é possível ter acesso ao seu prospecto:

Authorizados pelo Exmº. Governo da Província a publicar os seus actos,

encarregamo-nos do cumprimento d’este dever com inexplicável satisfação

porque acreditamos que com este nosso proceder fazemos um serviço á nossa

Província, cujo estado, circunstâncias e melhoramentos levamos d’est’arte ao

conhecimento de nossos concidadaõs das mais distantes Províncias (TREZE DE

MAIO, 13 mai. 1840, p. 1).

Os primeiros tipógrafos auxiliares do jornal foram os escravos Cyrillo, Camillo e

Joaquim, aos quais Honório dos Santos ensinou o ofício (BIBLIOTECA PÚBLICA DO

PARÁ, 1985). De acordo com Rocque (1968), o objetivo de Honório, ao redigir o Treze

de Maio, era produzir uma folha mais informativa que opinativa. “Publicando também o

expediente do governo provincial, constituem as suas coleções um riquíssimo depósito

de dados históricos da vida administrativa do Pará” (ROCQUE, 1968, p. 1553). As

matérias, dispostas em duas colunas, não apresentavam assinatura e o texto era escrito

majoritariamente em terceira pessoa, inclusive quando fazia referência ao seu próprio

redator.

81 Para detalhes conferir ROCQUE, Carlos. Grande Enciclopédia da Amazônia. v. 2, 1968, p. 349-350.

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Além de seus próprios jornais, Honório dos Santos produzia obras e trabalhos de

diversos gêneros em sua tipografia Santos & Menor. Rocque (1968) destaca o

“Compêndio das Eras” (1838) e “Ensaio Corográfico” (1839), de Antonio Ladislau

Monteiro Baena82

, como obras de destaque impressas pela firma.

O legado de Honório dos Santos sobreviveu para além dele mesmo, que faleceu

em Belém a 23 de janeiro de 1857, aos 56 anos de idade. O Treze de Maio circulou até

1862 e a tipografia Santos & Menor continuou funcionando por várias gerações

(BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ, 1985). “Assim a razão social se modificou

sucessivamente de Santos & Menor para Santos & Menores, Santos & Filhos e Santos

& Irmãos” (ROCQUE, 1968, p. 1553). No acervo de Obras Raras da Biblioteca Pública

Arthur Vianna, é possível encontrar documentos de governo e livros diversos impressos

pela firma, inclusive obras de outros jornalistas, como no caso do título “Obras

Literárias de Bento de Figueiredo Tenreiro

Aranha”, publicado por João Batista Tenreiro

Aranha, no ano de 1850, e “Ordem do dia. A

questão das carnes verdes ou Apontamentos

sobre a creação do gado na Ilha do Marajó”, de

Tito Franco de Almeida, do ano de 1856.

Cypriano Santos, filho e neto: herança

familiar no jornalismo impresso de Belém

O legado de Honório José dos Santos

durou para além de sua própria existência. Seu

trabalho no jornalismo paraense prosseguiu a

cargo de seu filho Cypriano José dos Santos, que herdou a tipografia Santos & Menor e

deu seguimento à impressão dos periódicos (MENDES, 2013): o Treze de Maio, que se

encerrou a 31 de outubro 1862, e o substituto Jornal do Pará, que começou a circular a 4

de novembro de 1862 e durou até 10 de novembro de 1878. No ano de 1862, a

82 Consagrado historiador e geógrafo, nascido em Portugal, pai de Antônio Baena, importante político que exerceu

diversos mandatos no Senado de Belém (CRUZ, 2013, p.45).

Figura 2 – Jornal do Pará, n º 75, 1 de

abril de 1868, p. 1.

Fonte: Hemeroteca Digital Brasileira, da

Fundação Biblioteca Nacional.

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tipografia da família Santos já se chamava Santos & Irmãos (BIBLIOTECA PÚBLICA

DO PARÁ, 1985).

O Jornal do Pará (Figura 2) era redigido diariamente por Cypriano José dos

Santos e se declarava político, comercial, literário e noticioso, tornando-se órgão oficial

do Governo a partir de 13 de novembro de 1866 (BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ,

1985). Com essa configuração, “trazia em suas páginas um forte caráter político,

entretanto, publicava sobre diferentes assuntos, vislumbrando agradar o disputado

público” (MENDES, 2013, p. 3).

Como um negócio de família, Cypriano José dos Santos transferiu o ofício para

seu filho homônimo: Cypriano Santos. Assim, o neto de Honório dos Santos, nascido

em Belém a 11 de dezembro de 1859, foi o terceiro da geração a herdar a tipografia e a

prática do jornalismo. Antes disso, porém, fez o curso de Humanidades e, no início do

ano de 1880, viajou para a Bahia, onde se formou na Faculdade de Medicina cinco anos

mais tarde (ROCQUE, 1968). De volta a Belém, em 1886, Cypriano Santos se filiou

primeiro ao Partido Conservador e, depois, ao Partido Radical, dando início aos seus

envolvimentos políticos, como detalha Rocque (1968):

A evolução política do Estado na marcha dos acontecimentos que se foram

desdobrando desde a implantação do regime republicano, conduziu-o ao

exercício de vários cargos eletivos, entre os quais o de deputado do Congresso

ao Estado, fazendo parte da Constituinte. Com a morte de Raymundo Joaquim

Martins [pai de Enéas Martins] Cypriano Santos foi levado à Presidência da

Câmara em legislaturas sucessivas (ROCQUE, 1968, p. 1553, grifo nosso).

Ao lado do companheiro de partido Enéas Martins, Cypriano Santos fundou o

jornal Folha do Norte, em janeiro de 1896, cujo objetivo principal era “lutar pelo

desenvolvimento político e social da região”, defendendo o partido de Lauro Sodré em

oposição ao de Antônio Lemos83

(BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ, 1985, p. 154 e

155).

Contudo, a parceria se desfez durante o governo estadual de Enéas Martins

(1914), momento em que Cypriano Santos assumiu a direção da Folha do Norte e,

83 Lauro Sodré foi político, militar e líder do Partido Republicano Federal no Pará (BORGES, 1986).

“Antonio José de Lemos, considerado o responsável pela feição da belle-époque que se instaurou em Belém, foi

intendente municipal durante 14 anos, tendo sido eleito pela primeira vez em 1897 e

renunciado ao mandato, após várias reeleições, em junho de 1911” (SARGES, 2002, p. 23, grifos da autora).

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“discordando da ação política de Enéas Martins, rompeu com este, dando início à

violenta campanha contra o antigo colega de jornal” (ROCQUE, 1968, p. 1553).

Com o rompimento, Cypriano Santos se tornou o único proprietário e diretor da

Folha do Norte e, após a deposição do antigo parceiro de jornal, em 1916, “sua

influência passou a ser das maiores nas decisões políticas do Pará” (ROCQUE, 1968, p.

1553). Um ano depois, eleito Senador Estadual e Intendente Municipal de Belém,

Cypriano Santos passou a propriedade da Folha do Norte para Paulo Maranhão,84

jornalista que mudou o direcionamento político do jornal e o dirigiu até sua morte, em

1966 (BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ, 1985).

Tito Franco de Almeida e os vestígios de Aurora Paraense

Belenense, nascido a 4 de janeiro de 1829, Tito Franco de Almeida era formado

em Ciências Jurídicas e Sociais pela Academia de Olinda (1850), Pernambuco. Antes

disso, fez em Lisboa seus estudos básicos, a mando do pai Joaquim Inácio de Almeida,

advogado, e da mãe Maria Romana de Almeida (CUNHA, 1970).

Quando retornou à Província do Pará, já em janeiro de 1851, fez carreira no

Liceu Paraense, no curso de Filosofia, destacando-se por suas qualidades intelectuais,

como evidencia Cunha (1970, p. 140): “Já o ilustre paraense havia manifestado a posse

de uma inteligência privilegiada fora do comum”.

Foi nesse período, entre 1853 e 1855, quando ainda estava na docência, que Tito

Franco de Almeida deu início ao jornal Aurora Paraense, tendo o primeiro número

entrado em circulação em 16 de novembro de 1853 (BIBLIOTECA PÚBLICA DO

PARÁ, 1985). Não há números do periódico disponíveis em acervo para análise,

contudo, foi encontrada, na edição de 19 de novembro de 1853 do jornal Treze de Maio

(Figura 3), a seguinte menção ao Aurora Paraense:

84 João Paulo Albuquerque Maranhão foi jornalista, professor e literato. “Mais conhecido como Paulo Maranhão,

podia ser considerado a voz e a alma da Folha, a partir de determinado período. Ficou conhecido pelo domínio da

escrita com textos críticos, contundentes, mas também profundos e poéticos” (MASSARANI, SEIXAS,

CARVALHO, 2013, p. 289).

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Na leitura do Prospecto do Aurora Paraense é possível perceber traços de

reflexões poéticas e filosóficas, o que indica o provável nível de erudição de seu autor,

como no trecho transcrito a seguir:

Aquelle que assistio, uma vez se quer, ao maravilhoso espetaculo, que offerece

aos olhos a refração da luz formando um fraco clarão, que incessantemente

augmentando se annuncia e previne o dia; aquelle que uma vez assistio ao

erguer de Deosa da manhaã – a Aurora – que abre as portas do dia, e filha do ar

e do sol tem seo throno na athemosphera donde communica à natureza todo o

movimento e a vida; não terá de certo assistido de sangue frio a um espetaculo

taõ grande, taõ bello, taõ dilicioso... (TREZE DE MAIO, 19 nov. 1853, p. 2-3)

O texto continua fazendo metáforas e alusões, nas quais a “aurora” representa a

saída das trevas para a luz, uma “aurora dos povos”, sob a qual se encontrava a

Província do Grão-Pará, depois de passados os anos tumultuados de “dissenções civis”

e, agora, com o começo do periódico representando “a tradução da aurora social da

(nossa) terra”: “Ella (Aurora Paraense) procurará que o ponto de luz; que ora appareceu

no nosso horizonte, encha em breve todo o espaço; e que as nuvens rarefeitas naõ mais

se condensem para toldar-nos o Céo límpido e puro...” (TREZE DE MAIO, 19 nov. 1853,

p. 3).

No Prospecto também foi apresentado o posicionamento político do jornal, onde

se afirma que a bandeira que a Aurora Paraense seguirá é “nenhuma, ou todas em que se

ler a patriótica inscripção – melhoramentos, moraes e materiaes” (TREZE DE MAIO,

19 nov. 1853, p. 3). Logo à frente o texto conclui que deseja para a Província um

progresso “pausado”, “refletido” e “seguro”, e que estará do lado do partido que garantir

essas benesses ao povo paraense.

Figura 3 – Treze de Maio, nº 255, 19 de novembro de

1853, p. 2.

Fonte: Biblioteca Pública Arthur Vianna

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Apesar da aparente isenção partidária do Aurora Paraense, que circulou até 1855

(BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ, 1985), Tito Franco de Almeida possuía relações

políticas, já que, de acordo com Cunha (1970), o jornalista foi eleito por várias vezes

Deputado da Assembleia Legislativa e, em 1856, tornou-se membro da Câmara

Temporária da Nação, sendo escolhido como Primeiro Secretário por unanimidade de

votos (CUNHA, 1970, p. 141).

Nos anos seguintes da sua carreira, Tito Franco de Almeida continuou a assumir

cargos públicos, como o de Diretor Geral da Secretaria dos Negócios da Justiça,

Redator Chefe do Diário Oficial do Império, chefe do Partido Liberal, Sócio do Instituto

Histórico e Geográfico Brasileiro, da Real Academia das Ciências de Lisboa, do

Instituto dos Advogados e também Conselheiro do Estado, este já em 1864 (CUNHA,

1970).

Mesmo com essa extensa lista de atuação e o fim de Aurora Paraense, Tito

Franco de Almeida não deixou de lado a imprensa. O jornalista, que “dispunha de

linguagem fluente e fascinadora de maneira que a sua palavra era sempre recebida com

especial agrado” (CUNHA, 1970, p. 141), também teve artigos publicados no Jornal do

Comércio do Rio de Janeiro assinados com o pseudônimo “O Canonista” (CUNHA,

1970).

Tito Franco de Almeida também redigiu para outros jornais ao longo de sua

vida, tais como Diario do Gram-Pará (1853-1892), Jornal do Amazonas (1860-1868), O

Liberal do Pará (1869-1889). Depois de instaurada a República, em 1889, Tito Franco

de Almeida se declarou monarquista, “recolheu-se à vida privada e, continuando

somente a figurar brilhantemente na advocacia e na imprensa” (CUNHA, 1970, p. 143).

1853: os jornalistas do Diario do Gram-Pará

O Diario do Gram-Pará (Figura 4) foi o primeiro

jornal diário de Belém, fundado a 10 de abril de 1853.

Ao lado do Treze de Maio, foi um dos mais duradouros

durante o período imperial, chegando até 15 de março de

1892 (BILBIOTECA PÚBLICA DO PARÁ, 1985).

Figura 4 – Diario do Gram-Pará,

9 de setembro de 1853, p. 1.

Fonte: Biblioteca Pública Arthur

Vianna.

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Foi fundado pelos portugueses José Joaquim Mendes Cavalleiro e Antônio José

Rabello Guimarães. “Como em 1865 o primeiro, por questões políticas, foi deportado

para Portugal, o jornal mudou de donos e de redatores” (ROCQUE, 1976, p. 12).

Passaram a assumir a responsabilidade pelo jornal o Dr. José Ferreira Cantão, Antônio

Gonçalves Nunes, Antônio Ricardo de Carvalho Penna, Thimóteo Teixeira, Frederico

Carlos Rhossard, Bento Aranha e Cônego Siqueira Mendes (BILBIOTECA PÚBLICA

DO PARÁ, 1985). Dentre a bibliografia consultada, foram encontradas informações

sobre os três últimos nomes.

Frederico Carlos Rhossard foi poeta e jornalista, nascido em Belém na data de

23 de junho de 1868. Nas palavras de Rocque (1968), o jornalista possuía uma

personalidade que combinava arte e escrita ao mesmo tempo: “Frederico Rhossard

viveu intensamente a sua época. Sua obra conhecida continua esparsa nos jornais e

revistas do Pará” (ROCQUE, 1968, p. 1491). Rhossard começou a trabalhar na

imprensa aos 17 anos de idade, em 1885, e ao longo de vinte anos de carreira, redigiu O

Diario do Gram-Pará, Diario de Belém, Comecio do Pará e A Arena (ROCQUE, 1968).

Contudo, segundo o mesmo autor, foi em A Província do Pará que Frederico

Rhossard realmente “pôs em evidência suas múltiplas aptidões de poeta, crítico,

polemista, jornalista” (ROCQUE, 1968, p. 1491). Depois de passar quatro anos vivendo

no sul do país, seguindo até Santos, Rhossard foi nomeado guarda-mor da Alfândega,

transferido para Maceió e para a Bahia, para somente em 1897 retornar a Belém e

ingressar outra vez em A Província do Pará, onde trabalhou por mais um ano

(ROCQUE, 1968).

Também na redação do jornal Diario do Gram-Pará estava Bento de Figueiredo

Tenreiro Aranha, outro jornalista cuja imprensa paraense está presente em seu histórico

familiar. Neto de poeta homônimo e filho de João Batista de Figueiredo Tenreiro

Aranha,85

“Bento Aranha, por sua ancestralidade, estaria ligado à classe dos grandes

proprietários da região, mas a fortuna de sua família foi arruinada na época da guerra

dos cabanos” (SALLES, 1992, p. 173). Sem recursos financeiros para pagar seus

85

Bento de Figueiredo Tenreiro Aranha foi um intelectual nascido a 4 de setembro de 1769, na antiga Comarca do

Rio Negro. Foi diretor de Oeiras, vila de índios, abandonando o cargo para assumir posto de escrivão na Alfândega

do Pará. Mais tarde recebeu vitaliciedade ao ser admitido à Mesa Grande do Pará. Faleceu sem publicar nenhuma

obra, porém, em 1850 teve seus escritos publicados pelo filho, João Batista (ROCQUE, 1967). João Batista de

Figueiredo Tenreiro Aranha, por sua vez, foi político e administrador, ajudou na emancipação da província do

Amazonas, tornando-se o seu primeiro presidente. Também se destacou na imprensa do período pré-cabanagem,

defendendo ideais contrários aos de Batista Campos, um dos principais líderes do movimento cabano (SALLES,

1992).

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estudos, tornou-se autodidata e, em 1858, entrou para a redação do Diario do Gram-

Pará.

O terceiro nome encontrado na pesquisa foi o do padre Manoel José de Siqueira

Mendes, nascido em Cametá no dia 6 de setembro de 1825, onde cresceu e fez o curso

primário, mudando-se para Belém a pedido de Dom Romualdo Coelho, bispo da

Província do Pará (VALENTE, 1993).

Segundo Valente (1993), Siqueira Mendes tinha três paixões: o jornalismo, a

educação e a política. Na área da educação, foi aluno e mestre no Seminário de Belém e,

no Liceu Paraense, ministrou o curso de latim. Fundou dois colégios chamados Santa

Cruz, um na capital da Província e outro no interior, em Cametá (VALENTE, 1993).

Sua carreira jornalística se iniciou no ano de 1850, ao lado dos padres Ismael de

Senna Ribeiro Nery e Luiz Antônio Monteiro Baena, na redação do jornal A Voz

Paraense (1850-1851) e, em seguida, no jornal A Trombeta do Sanctuário (1851-1852),

que substituiu o periódico religioso Synopsis Ecclesiástica (1848-1849) (BIBLIOTECA

PÚBLICA DO PARÁ, 1995).

Siqueira Mendes também fez carreira política. Teve destaque na atuação pelo

Partido Conservador, foi deputado provincial, vice-presidente do Estado, trabalhou por

21 anos no Parlamento Nacional até que, em 1889, foi transferido para o Senado

Imperial (VALENTE, 1993). Com a Proclamação da República, o Senado foi extinto e,

segundo Valente (1993), Siqueira Mendes passou a reunir adeptos para um novo partido

de cunho republicano, até que precisou seguir viagem para o Ceará, em razão de sua

saúde abalada.

Padre, político e jornalista, Siqueira Mendes faleceu aos 67 anos de idade, em

Fortaleza, a 5 de maio de 1892. No Pará, o governo havia autorizado que uma estátua

fosse erguida em homenagem ao falecido, mas, em vez disso, o nome de Siqueira

Mendes foi dado à primeira rua de Belém, a antiga Rua do Norte (VALENTE, 1993).

No levantamento feito neste trabalho, as principais informações sobre os

jornalistas pesquisados foram reunidas para, então, ser elaborada a seguinte

sistematização de resultados:

Quadro 2 – Profissionais de destaque da imprensa paraense entre os decênios 1840 e

1860

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Nome

Nascimento

Falecimento

Nome do Pai

Jornal

Formação

Outros

empregos

Honório

José dos

Santos

1801-1857

?

Folha Commercial do

Pará (1837)

Treze de Maio (1840)

?

Tipógrafo

Editor

Livreiro

Cypriano

José dos

Santos

?

Honório José dos

Santos

Treze de Maio (1840)

Jornal do Pará (1862)

?

?

Cypriano

José dos

Santos

1859-1923

Cypriano José dos

Santos

Folha do Norte (1896)

Humanidades e

Medicina

?

Tito Franco

de Almeida

1829-1899

Joaquim Inácio de

Almeida,

advogado

Aurora Paraense (1856)

Diario do Gram-Pará

(1853)

Jornal do Amazonas

(1860)

O Liberal do Pará (1869)

Ciências

Jurídicas e

Sociais -

Academia de

Olinda

Professor de

Filosofia

Servidor

Público

Político

Frederico

Carlos

Rhossard

1868-?

?

A Província do Pará

Diario do Gram-Pará

(1869)

Diario de Belém

Comércio do Pará

A Arena

Poeta

Jornalista

Servidor

Público

Bento de

Figueiredo

Tenreiro

Araha

1840-1919

João Batista de

Figueiredo

Tenreiro Aranha

Diario do Gram-Pará

(1869)

Jornalista

Político

Fontes: Biblioteca Pública do Pará (1985), Salles (1992), Rocque (1967-1968), Cunha (1970), Valente

(1973).

O Quadro 2 foi desenvolvido com base no panorama feito pela pesquisadora

Marialva Barbosa, no livro História Cultural da Imprensa – Brasil 1800-1900 (2010, p.

146-148).

Conclusão

Para compreender melhor a forma como se constituía a imprensa paraense do

século XIX, esta pesquisa buscou conhecer alguns dos jornalistas de destaque em

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Belém, entre os decêndios de 1840 e 60, que trabalharam nos periódicos mais

expressivos da época e deixaram marcas na história do jornalismo impresso da cidade.

Com base no Catálogo de Jornais Paraoaras da Biblioteca Pública do Pará

(1985), foram identificados quarenta e três nomes de jornalistas entre 1840 e 1860. A

partir de então, foi feita uma seleção de alguns deles para análise, a partir de critérios

como a disponibilidade de informações por meio do material bibliográfico e a duração

dos jornais nos quais trabalharam. Os jornalistas pesquisados foram os seguintes:

Honório José dos Santos, Cypriano Santos, Tito Franco de Almeida, Frederico

Rhossard, Bento Tenreiro Aranha e Manoel José de Siqueira Mendes.

Foi possível perceber que a maior parte da formação dos jornalistas daquela

época era voltada para a área de Humanidades. Muitos eram professores, médicos e

servidores públicos e, de alguma maneira, a maioria deles tinha envolvimento com a

política, seja por escreverem um jornal oficial do Governo ou por assumirem cargos em

instâncias públicas como o Senado, o Governo ou a Presidência da Província. Para

alguns, também, a imprensa havia se tornado um negócio de família, como foi o caso de

Honório José dos Santos, cujo filho e neto, ambos chamados Cypriano Santos,

assumiram o jornalismo como profissão. Bento Tenreiro Aranha também era filho de

jornalista, o redator de A Opinião (1831) João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha.

Percebe-se também uma mudança na relação entre política e imprensa: a política

continuava presente nos periódicos, mesmo quando os veículos não eram

exclusivamente partidários, e os jornais passaram a ter uma linguagem menos violenta e

insultuosa em relação a que apresentavam, por exemplo, durante os conflitos civis na

década de 1830. Compreende-se, portanto, que a imprensa paraense vinha se

estabelecendo e atuando de forma expressiva no Estado e que, à altura das décadas de

1840-60, já se encontrava bem mais desenvolvida em relação aos primeiros decênios do

século XIX.

REFERÊNCIAS

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