Relatório final PROUFBA2012 Procedimentos Zorzo.doc
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UFBA - Universidade Federal da Bahia
IHAC - Instituto de Humanidades, Artes e Ciências
PROGRAMA PROUFBA
EDITAL PROPCI-PROEXT-PROPG/UFBA 01/2011 – PROUFBA
RELATÓRIO FINAL DE PESQUISA
Procedimentos interdisciplinares dos docentes em interação com o alunado dos BI’s do IHAC/UFBA
Coordenador:Francisco Antônio Zorzo
Agosto de 2014
I IDENTIFICAÇÃO
Projeto de Pesquisa: Procedimentos Interdisciplinares
Nome do Coordenador: Francisco Antônio Zorzo
Instituição: Universidade Federal da Bahia
Unidade: Instituto de Humanidades, Artes e Ciências
Cargo: Professor Adjunto
Equipe:
Jorge Augusto de Jesus da Silva (vice coord.)
Bolsistas (estudantes dos BI’s da UFBA)
Ramon Maia Gomes
Illana Mascarenhas
Geice Geice Sousa Pinho
Isabel Aquino e Silva
Endereço Institucional: Barão de Jeremoabo, s/n. PAF 3 Campus da UFBA de
Ondina CEP 40 170-115 Cidade: Salvador / Bahia
Telefone IHAC (71)32836790 FAX (71)32836796
II INTRODUÇÃO
Este documento vem relatar as atividades realizadas por um grupo de
pesquisa lotado no Instituto de Humanidades Artes e Ciências – Milton Santos,
durante doze meses, de dezembro de 2012 a dezembro de 2013. A pesquisa
consistiu em identificar as experiências pedagógicas e explanar sobre as
formas modelos de interação construídos na prática dos professores do IHAC/
UFBA em relação ao seu alunado.
Essa pesquisa, seguindo a demanda do edital PROUFBA 2012, teve o
propósito de contribuir para a construção de conhecimento de alta relevância
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não só para o recente instituto, mas para toda a universidade, podendo servir
como subsídio para a ampliação do debate sobre a interdisciplinaridade posta
em ação pelos BI’s na comunidade acadêmica da UFBA.
Para isso, o presente relatório vem aportar informações úteis e ampliar a
discussão referente à aplicação da interdisciplinaridade e suas práticas
acadêmicas na universidade nos últimos anos. Os dados aportados, em
grande parte, foram coligidos a partir de entrevistas junto ao corpo docente do
IHAC e dos alunos egressos dos bacharelados interdisciplinares da UFBA.
Estas entrevistas, depois de transcritas, constituíram o núcleo do corpus
documental de trabalho voltado à identificação dos procedimentos utilizados no
IHAC, que favorecem a interdisciplinaridade, tanto em sala-de-aula como em
outros espaços acadêmicos.
O projeto se mostrou valioso, do ponto de vista dos resultados da pesquisa,
para a ampliação de uma visão construtiva a respeito do papel da
interdisciplinaridade na universidade atual. Certamente, as práticas de ensino
e aprendizagem nos BI’s tem se mostrado significativas em seus efeitos
cognitivos, visando a inovação e a produção do conhecimento.
As concepções contemporâneas de produção do conhecimento demandam
estudos que identifiquem de que forma a universidade tem respondido aos
desafios impostos pelos pressupostos da multi, inter e transdisciplinaridade,
tão difundidos nas teorias cognitivas recentes.
As reflexões alcançadas durante a pesquisa mostraram-se férteis, pois
potencializam o dialogo sobre a realidade educacional concreta em que
estamos inseridos. Os resultados da pesquisa, aqui relatados, devem subsidiar
futuras avaliações do projeto pedagógico dos bacharelados interdisciplinares
sediados no IHAC/UFBA. Esse diálogo deve espraiar-se em outros contextos,
como o de outros grupos de pesquisa do próprio IHAC, e como o Programa de
Pós-graduação em Estudos Interdisciplinares sobre a Universidade – EISU. A
própria Pró-reitoria de Pesquisa Criação e Inovação – PROPCI também
participou desse debate, em eventos tais como o seminário que ocorreu no
ACTA 2013.
Este relatório encontra-se dividido em tópicos. Os principais tópicos, a seguir,
contém, primeiro, os materiais e métodos da pesquisa (a metodologia do
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trabalho, a maneira como esse foi realizado, bibliografia utilizada etc.), em
segundo lugar, resultados e discussão (os relatos e percepções colhidas entre
docentes e discentes egressos), bem como, por fim, as reflexões pedagógicas
alcançadas na pesquisa.
III MATERIAIS E MÉTODOS
O objetivo geral colocado pelo trabalho era refletir sobre a interação dos
docentes com os alunos, voltada ao processo de ensino e aprendizagem
interdisciplinar na universidade. Para isso a pesquisa procurou entrevistar
professores e alunos visando à produção de um conhecimento acadêmico
sobre a própria dinâmica da universidade, além de levantar questionamentos,
discussões, debates, avaliar problemas, avanços e como se estabelecem as
relações do ensino e aprendizagem interdisciplinar.
O objetivo do estudo, portanto, foi mapear experiências em atividades
interdisciplinares do corpo docente e discente do IHAC/UFBA. A
interdisciplinaridade, como diz Gadotti, visa garantir a construção de um
conhecimento multidimensional, articulado e integrado, rompendo as fronteiras
das disciplinas e entre professores e alunos. No IHAC, desde 2009, os
bacharelados interdisciplinares chegaram à UFBA trazendo um modelo
acadêmico diferenciado, levando também a necessidade da formação de um
novo perfil docente e discente.
Do ponto de vista operacional, a investigação seguiu os caminhos
comprovados da pesquisa social aplicada, que considera a necessidade da
explicitação dos pressupostos teóricos que balizam a interpretação dos
materiais, o que requer os cuidados de crítica e de sistematização dos dados e
das fontes.
A pesquisa se estruturou da seguinte maneira: primeiro, a partir de um
levantamento bibliográfico referente às abordagens contemporâneas das
práticas interdisciplinares. Depois, será construído um banco de dados sobre
os procedimentos interdisciplinares no IHAC/UFBA através de duas séries de
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entrevistas e questionários: a) na aplicação de entrevistas de aprofundamento
junto ao quadro docente do IHAC/UFBA, a fim de efetuar o levantamento da
utilização da interdisciplinaridade em sua atuação docente; a abrangência do
estudo vai atingir os professores do IHAC e os professores que participam das
áreas de concentração dos Bacharelados interdisciplinares que estão locadas
fora do instituto. b) na aplicação de questionários com um grupo focal de
alunos egressos do IHAC/UFBA, no intuito de identificar se, e como, a
interdisciplinaridade contribuiu no processo de formação dos discentes.
No fundo, a ideia da interdisciplinaridade é simples e vem sendo praticada em
atividades educativas correntes. Entretanto, a universidade brasileira foi
montada por agrupamento de escolas formadas com especialidades. Isso
posto, no mundo de hoje, para reatar o saber, é preciso desatar certos nós
disciplinares. Os BI’s aplicam no curso universitário um abrangente grupo de
conhecimentos e podem ser cursos de terminalidade própria, se o estudante
assim quiser, podendo também conduzir a um curso de progressão linear,
contemplando esse objetivo numa continuação da formação.
Os BI’s oferecem a opção, ao ingressante na universidade, de contar com um
diploma superior em três anos, sem precisar atingir uma especialidade. Mais
do que uma proposta de graduação ampla e diferenciada, o verdadeiro desafio
desse tipo de formação é de alcançar uma educação sem discriminação
cultural, étnica, de gênero ou de qualquer espécie, como bem prescreveram
educadores como Paulo Freire (1996). É claro que existem muitos outros
desafios para a educação na Bahia além da interdisciplinaridade, mas todos
sabem que é bom insistir em introduzir novas práticas na educação superior
para evitar o círculo que reproduz o sistema e trabalhar na construção de um
sujeito cognoscente com um novo perfil.
É um risco a correr, mas não se pode negar que o BI é uma graduação, no
mínimo, criativa. Os nexos que se estabelecem entre as suas razões e a
educação atingem um plano de composição que vai além do enfoque
profissionalizante tradicional, proporcionando uma formação ampla e, ao
mesmo tempo, mais diversificada do ponto de vista da trajetória do aluno. Por
isso, temos boa expectativa para com o novo grupo de recém-formados da
UFBA, que podem configurar uma frente de avanço na educação superior.
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Alguns acreditam que o projeto teria que ser mais ousado, mas, inicialmente,
devido a um senso de realidade local e por uma conjuntura política, partiu-se
em quatro conjuntos interdisciplinares de conhecimento: Humanidades,
Ciência e Tecnologia, Artes e Saúde. A formação se alarga durante o percurso
de qualquer um desses quatro BI´s, pois o estudante pode fazer muitos
cruzamentos para fora dos bacharelados e do próprio Instituto. Os alunos dos
BI’s podem compor uma boa parte da sua grade curricular, com matérias
cursadas em qualquer espaço da UFBA, tornando os estudantes dos BI’s mais
autônomos do que os discentes que compõem os cursos disciplinares.
Nos Bacharelados Interdisciplinares surgem novos estudos sobre o fenômeno
humano, sobre a saúde coletiva e sobre as demais áreas científicas. Não se
pretende suplantar, por exemplo, as humanidades clássicas ou os cursos
regulares, mas introduzir certos desvios ou alternativas da rota. Os BI’s
ampliam a visão dos estudantes sobre os objetos estudados para além do
enfoque tradicional, isso é inegável, mas o resultado depende do interesse e
comprometimento do estudante em expandir seus objetivos acadêmicos.
A educação humanista tradicional visava educar o jovem na leitura dos textos
clássicos. A interdisciplinaridade vai além, buscando algo inimaginado nesse
esquema, promovendo uma superação do atual quadro das coisas. Ir além da
especialidade significa outra abordagem para as questões comunitárias
recentes. Ela pretende enfrentar as questões complexas que limitam e que
criam barreiras cognitivas, impedindo o aprendizado de avançar. A pedagoga
Ivani Fazenda (1998) ratifica essa função da interdisciplinaridade:
“(...) não é apenas uma panacéia para assegurar a evolução das universidades, mas, um ponto de vista capaz de exercer uma reflexão aprofundada, crítica e salutar sobre o funcionamento da instituição universitária, permitindo a consolidação da autocrítica, o desenvolvimento da pesquisa e da inovação.”
Não se trata de uma proposta exclusivista e muito menos homogênea. Por um
rol de motivos, que não cabe aqui alongar, vale somente lembrar que ela faz
parte de uma construção acadêmica que se articula com redes de educadores
e pesquisadores de todas as universidades brasileiras.
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É bom dizer que os bacharelados interdisciplinares, que obtiveram a conclusão
das primeiras turmas, fazem parte de tendências que integram um processo
contínuo de construção da universidade como um todo. Nos bacharelados
interdisciplinares da UFBA, os cursos duram, no mínimo, seis semestres, e são
compostas por uma grade curricular de trinta componentes, no qual o número
de obrigatórios é reduzido. No caso, por exemplo, do BI em Humanidades, os
componentes obrigatórios são apenas seis, sendo eles: Estudos da
Contemporaneidade I, Estudos das Humanidades, Língua Portuguesa, Poder e
Diversidade Cultural, Estudos da Contemporaneidade II, Leitura e Produção de
Textos em Língua Portuguesa e Oficina de Textos em Humanidades. Os
demais componentes são três optativos específicos, chamadas pelos
estudantes de “optatórias” dentro de um grupo de cinco estudos (Estudos das
Culturas, Estudos do Desenvolvimento, Estudos das Sociedades e Estudos
dos Poderes) – por terem que cursar obrigatoriamente três dos cinco
componentes fornecidos – além de duas culturas artísticas e duas culturas
científicas, seis componentes livres e onze optativos.1
III. 1 Metodologia
Os dados obtidos nas entrevistas, que vem sendo operados até a presente
data, foram convertidos em textos escritos e vídeos. O material transcrito foi
organizado segundo as categorias de análise constantes no escopo da
pesquisa. Trechos selecionados do material transcrito foram organizados em
quadros para formalizar resultados, contendo falas, segundo categorias de
análise e avaliação do relato ou discurso. Isso coloca cada depoimento em
relação ao plano geral da pesquisa e permite a produção de conhecimento, por
exemplo na forma de artigos científicos. Desse modo pode-se examinar o
discurso de cada sujeito entrevistado (COLIN e KNOBEL, 2008, P. 223-249) e
armar a teia que forma uma reflexão sobre a prática da educação superior.
1 Ver o Projeto Pedagógico do BI em Humanidades, IHAC/UFBA, 2010.
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Abordaram-se três instâncias estreitamente relacionadas, procurando
compreender a interdependência da interação acadêmica com a implantação
de cursos interdisciplinares num primeiro ciclo de formação universitária numa
instituição tradicionalmente disciplinar. A primeira instância, o próprio
conhecimento do processo acadêmico em que se insere a
interdisciplinaridade. Para isso, ao longo da pesquisa foi sendo ampliado o
levantamento bibliográfico disponível, percorrendo-se bibliotecas da UFBA e
acessando relatórios, artigos, dissertações e teses, disponíveis na Internet em
que emerge o tema da interdisciplinaridades e demandas pedagógicas nesse
sentido. Como outros grupos de pesquisa participaram do PROUFBA com o
tema da interdisciplinaridade, dentro do possível houve troca de relatórios e
informações pertinentes no correr dos trabalhos.
A segunda instância, está relacionada ao levantamento das interações e
práticas acadêmicas face à dinâmica do ensino-aprendizagem, sobre as
condições de trabalho vigentes na UFBA. Essa segunda parte do estudo
empírico consiste, primeiramente, em identificar informantes-chaves
(pesquisadores e agentes ligados às instituições que se relacionam com as
experiências voltadas ao tema da interdisciplinaridade). Foi desenvolvido um
mapeamento de atores e experiências, cujo preenchimento que esteve
acompanhado de entrevistas visando a realização de uma avaliação do
alcance das experiências levantadas. Tais atividades de registro são
indispensáveis para construir um corpus de informações confiáveis para
embasar a pesquisa (LAKATOS E MARCONI, 1991).
Por fim, a terceira instância previu a avaliação dos relatos. Essa análise
compreende a análise do conteúdo das entrevistas. O desenho dos cursos e
das pesquisas que são desenvolvidos pelos docentes do IHAC tendem a ser
interativos e ter caráter interdisciplinar. Essa qualidade foi investigada no
presente estudo. Há indicadores para isso, tais como o objeto das pesquisas
ser voltado para o ensino, para a linguagem, para uma diversidade de áreas
de conhecimento, todos esses são fatores de alta relevância que foram
observadas nas pesquisas em andamento no instituto.
Nessa instância de interpretação e análise de falas, vale uma ressalva
metodológica, quanto ao distanciamento e proximidade da pesquisa com os
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sujeitos. A pesquisa proposta não visou obter nenhuma explicação causal ou
funcional, mas aprofundar nosso conhecimento e compreensão dos processos
educacionais interdisciplinares praticados na universidade. Para construir a
análise desse processo, os pesquisadores realizaram o estudo participando, o
que contou com o engajamento presente no ato de conhecer (GONSALVES,
2006, p. 251 e 257).
Outra questão de método, que cabe aqui relatar, trata-se da abordagem da
pesquisa que se detém na percepção do processo de aprendizagem e ensino.
Ou seja, na pesquisa interessa constatar como os professores e
pesquisadores respondem aos problemas que enfrentam, através de
mediações teóricas e práticas. A percepção dos docentes por si só não basta
ao estudo da proposta pedagógica interdisciplinar, pois pode vir toldada por
subjetivações episódicas, mas a obtenção dessa informação constante nas
falas do grupo de professores é indispensável para dar significado às
hipóteses da ciência social aplicada.
Tabela 1 – Professores Entrevistados
Professores EntrevistadosAdalberto SantosAleksei Santana TurenkoAnamélia FrancoAndré MattediÂngela FrancoAntônio LaranjeiraCarmen TeixeiraCaroline BarretoDavid IanitelleGenaro CostaJorge Augusto SilvaLeandro CollingLuciano Amaral (Letras)Luis Augusto VasconcelosLuiz Alberto Luz de AlmeidaMarcio Luis NascimentoMarcos Vinícius de AraújoMaria Constantina CaputoMaria Thereza Ávila D. CoelhoMaurício Matos
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Messias BandeiraRafael Levi - CeTRenato da SilveiraSérgio FariasSuzane Costa (Letras)Vanessa Prado
A proposta do estudo consiste em tratar da interlocução entre pares e das
experiências de ensino e pesquisa como um mote para discutir a interatividade
e as práticas interdisciplinares. Dentro das práticas docentes, a interlocução
competente e a argumentação coerente são, certamente, uma conquista
coletiva. Interlocução deve ser levada em consideração, pois é uma qualidade
de quem se apresenta ao debate de modo sincero e responsável e promove
avanços cognitivos coletivos. Essas interações foram ser avaliadas e
mapeadas no correr da pesquisa.
Os intentos de interatividade são, portanto, as formas do sujeito se orientar e
conseguir se relacionar com os outros colegas e alunos, na construção do
conhecimento. Uma das principais qualidades do interlocutor competente está
em formular questões, procurando resolvê-las em conjunto com os colegas e
alunos. O processo deve oferecer confiança e uma relação intersubjetiva séria
e comprometida, senão o processo de construção do conhecimento fica
comprometido. Quando as pessoas percebem que seu mundo tem as suas
margens tocadas pelo dos outros, evitam ser atropelados pelos fluxos do
poder acadêmico que, hoje em dia, exigem cada vez maiores escores de
produção científica.
Como os graus de interatividade podem ser muito variáveis, sujeito a sujeito, é
preciso encontrar procedimentos para cada caso levantado. As pessoas
podem propor uma maior radicalização das proposições e colocar na interação
através o envolvimento de singularidades. Apesar de parecer algo complicado,
isso não deixa de ser muito produtivo. As diferenças individuais não podem ser
limadas ou descartadas, sob pena de negar o processo a que se destina o
IHAC e os bacharelados interdisciplinares.
A abrangência do estudo se limitou, por exigências de recorte empírico, aos
professores do IHAC e aos professores que participam das áreas de
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concentração dos BI’s que estão locadas fora do instituto, bem como alguns
docentes que ensinam para os alunos dos BI’s (p. ex. foram entrevistados
professores do Instituto de Letras). Essa seleção metodológica se traduziu no
desenho da pesquisa. O desenho metodológico adotado, não podendo ser
global e de abordagem quantitativa, nem pretender uma neutralidade, mas sim
partilha e participação, veio enfocar estrategicamente os níveis de análise e o
número de casos (VASCONCELOS, 2002). De toda a realidade de uma
organização, como é o caso da UFBA, desagrega-se alguns níveis para
priorizar a investigação. Para aprofundar o estudo deve-se atentar para o
número de entrevistados, em função do material a dispor e dos instrumentos
considerados apropriados, no caso as entrevistas dentro de um prazo de
pesquisa de um ano. O desenho da pesquisa, portanto, implica em estabelecer
estratégia e número de entrevistas, no presente caso, focando nos professores
em suas interações com os alunos, nos processos de construção de
conhecimento e procedimentos interdisciplinares.
Tabela 2 – Alunos Egressos Entrevistados
Egressos EntrevistadosAnne Carneiro – BI em HumanidadesBarbara da Silva – BI em SaúdeBrisa Moura – BI em SaúdeCaio Rocha – BI em HumanidadesCaique – BI em SaúdeDeise – BI em SaúdeEledison Sampaio – BI em HumanidadesGabriel Machado – BI em ArtesGezilda Borges – BI em SaúdeIrlurdes Pinheiro – BI em SaúdeJaqueline – BI em HumanidadesJucielene Maranhão – BI em SaúdeMarinaldo – BI em CETMateus da Cunha – BI em ArtesRafael Levi – BI em CeTReginaldo BI em Humanidades ou artes?Simone de Lacerda BI em HumanidadesTalita Cerqueira – BI em ArtesVinícius Almeida de Oliveira – BI em ArtesVitória Sampaio – BI em Artes
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Yasmin Ferraz – BI em Saúde
Desse modo, a pesquisa pode ajudar na prática interdisciplinar propondo
reflexões sobre debates e mudanças sobre prática curricular tradicional.
Segundo Gadotti “A ousadia de experimentar na prática curricular a
interdisciplinaridade trouxe elementos imprescindíveis para a compreensão do
seu conceito”. Estudar as práticas da interdisciplinaridade, que contribuem para
a formação desse alunado e de um novo modelo de saber na UFBA, é de suma
importância para se estabelecer reflexões sobre os possíveis novos rumos da
universidade. Um dos debates em curso na UFBA é sobre se a instituição como
um todo deverá ou não seguir o regime de dois ciclos que os bacharelados
introduziram.
A realidade atual expressa a necessidade de diferenciados métodos de estudo
e de formação acadêmica. É preciso a formação de um sujeito ativo em
diferenciados âmbitos sociais, sendo assim o método de estudos
interdisciplinares, fugindo das visões tradicionais de ensino acadêmico
induzem o educando e ao docente a amplitude de conhecimento. Essa ideia
veicula a articulação do processo de ensino e de aprendizagem com novas
demandas da sociedade contemporânea, que sofistica o modo de pensar
(MORIN, 1996) e inova na organização curricular (JAPIASSU, 1976).
III. 2 RESULTADOS
Nesta parte do relato se encontram as percepções a respeito das práticas de
interação entre os professores e alunos do IHAC e de como os procedimentos
pedagógicos contribuem para a formação interdisciplinar discente.
O grupo de pesquisa buscou identificar a percepção do grupo docente e
alunos egressos no entendimento do inter-relacionamento dos componentes
disciplinares dos cursos dos BI’s, que são ofertados no IHAC e em outras
unidades da UFBA.
Junto com esse trabalho está sendo feito o levantamento do próprio material
documental teórico da pesquisa em vídeos entrevistando o grupo docente e os
discentes egressos do IHAC/UFBA. Os roteiros das entrevistas, que foram
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criados pelo grupo, após estudo bibliográfico, em reuniões, contêm perguntas
pertinentes à realidade e cotidiano do instituto, voltando-se para o tema das
práticas interdisciplinares no ensino superior.
Sendo assim, se estabeleceu um corpus de informações a respeito das
implicações práticas notadas no cotidiano do alunado e do corpo docente do
IHAC. Essas informações coletadas em entrevistas vão além da discussão
conceitual sobre a melhor forma de definir e teorizar a interdisciplinaridade,
dirigindo-se para uma aplicação direta à vida acadêmica da UFBA e suas
particularidades. A pesquisa procurou fazer um mergulho nas percepções e
práticas do grupo docente e como estes produzem procedimentos interativos e
integrativos, proporcionando um alunado diferenciado. Outra atividade de pesquisa consistiu na interpretação critica dos depoimentos
sobre a didática dos processos interdisciplinares. Isso visa indicar caminhos de
futuras investigações e discutir as estratégias e procedimentos de atuação
interdisciplinar do corpo docente. A pesquisa proporcionou também o debate
sobre a questão, na forma de seminários de pesquisa e da apresentação de,
artigos científicos em congressos acadêmicos, ampliando o debate acadêmico
sobre procedimentos interdisciplinares levantados.
A produção de artigos científicos contou com as fontes produzidas dentro do
grupo de pesquisadores do IHAC, articulando-se de forma interdisciplinar com
outros grupos de pesquisa do IHAC como, por exemplo, um estudo feito pelo
Observatório da Vida Estudantil- OVE, projeto desenvolvido pela professora
Ângela Franco que visava, entre outras coisas, constituir dados e tabelas com
os perfis do alunado do IHAC.
Essa articulação de conhecimento foi de suma importância para o
desenvolvimento dos artigos, cujos temas abordam relação professor aluno no
IHAC e a produção do conhecimento sobre como o este alunado compõe sua
trajetória interdisciplinar em outros departamentos, institutos e faculdades da
UFBA, como são tratados por estas e quais as diferenças entre as práticas
docentes encontradas em outras unidades comparadas às práticas
encontradas nos bacharelados interdisciplinares.
Está incluído abaixo um quadro com os procedimentos coletados. A seguir
entra, a exemplificação com citações diretas de docentes e egressos
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entrevistados durante o trabalho e percepções destas para que assim se
possa estabelecer um referencial para a compreensão dos resultados da
pesquisa.
Quadro 1 – Procedimentos interdisciplinares levantados
PROCEDIMENTOS INTERDISCIPLINARES1. Elaboração de um objeto teórico por diferentes ângulos 2. Ensino coletivizado: compor o curso com professores de outras áreas ou de fora da instituição3. Aula interativa com equipe de colaboradores em sala de aula ou em campo4. Dialogar com teóricos que sejam de áreas de conhecimento diversas5. Estudos dirigidos com ênfase interdisciplinar6. Trabalhos em equipe de alunos e apresentação de seminários7. Ensino com grupo de professores (Cursos modulares/com ou sem interrelações com convidados externos)8. Elaboração da ementa e planejamento do curso com visão interdisciplinar9. Discussões, debates, construção do conhecimento em conjunto 10. Ensino com base na resolução de problemas 11. Atividade prática na comunidade - ACC 12. Grupo de pesquisa interdisciplinar 13. Exercícios cênicos de interação do grupo14. Outras práticas de grupo na via virtual e analógica15. Usar diversas linguagens, filmes, músicas, vídeos e outras modalidades de artes para16. Oficina de estudo interdisciplinar
Antes de descrever os procedimentos contidos na tabela acima segue esta
importante reflexão sobre o pensamento a respeito dos procedimentos
interdisciplinares do IHAC contida na fala de um dos professores entrevistados:
“A primeira coisa eu acho que é importante a gente entender um pouco sobre a noção
de interdisciplinaridade. Não há um consenso efetivo sobre os diversos termos desse
campo: multidisciplinaridade, interdisciplinaridade, transdisciplinaridade, é... Estão se
falando hoje de pluridisciplinaridade, na verdade com a relação não só com as
disciplinas acadêmicas, mas também com os conhecimentos de fora da universidade.
Mas, eu entendo, primeira coisa, pra que você tenha, na verdade, uma interdisciplina é
preciso que você tenha campos disciplinares bastante consolidados e que você possa
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fazer com que esses campos disciplinares possam contribuir pra produção de novos
conhecimentos. Efetivamente, Bourdieu já falava isso, os campos disciplinares são
porosos – sempre foram porosos – e muitos conhecimentos se estabeleceram nas
fronteiras desses conhecimentos,? O que estamos apostando hoje não é não só uma
relação de fronteira, mas uma relação de interdisciplina, e que os diversos corpos
teóricos, os diversos corpos metodológicos são constituído por diversos campos do
saber e possam contribuir para dar conta de determinados setores que não podem ser
entendidos de maneira disciplinar, isso não implica, efetivamente, no desaparecimento
da condição disciplinaridade, porque há determinados campos do saber que são
notadamente disciplinares. A complexidade da vida contemporânea implica, na
verdade, em conhecimentos mais complexos, conhecimentos mais interdisciplinares,
mais congruentes entre os diversos campos do saber.” (A.S – Docente do BI em
Humanidades)
Este trecho de entrevista em que o professor indica a necessidade conceitual
sobre a interdisciplinaridade é de essencial para o começo deste trabalho. O
IHAC instituiu na UFBA um modelo de formação acadêmica antes presente
somente a partir da pós-graduação, instaurando os bacharelados
interdisciplinares como uma opção de primeiro ciclo da graduação acadêmica.
Porém, muitos discentes do IHAC estão ainda desfamiliarizados com esse
modelo, assim como seus conceitos e a modalidade como a
interdisciplinaridade é aplicada no seu cotidiano. Segundo o depoimento do
docente, é importante antes de tudo, entender, situar-se sobre os conceitos
para depois aplicar e discutir suas práticas.
Pode-se apontar como a interdisciplinaridade vem sendo colocada em ação,
no processo de ensino e aprendizagem, conforme o quadro acima, começando
através do procedimento de análise de um objeto de estudo por diferentes
ângulos do saber. Este procedimento mostrou-se fundamental na didática dos
BI’s da UFBA. Ele está colocado antes dos demais porque consiste em uma
verdadeira base metodológica. Didaticamente consiste em abrir com
amplitude o olhar teórico através da análise de um ou mais objetos de estudo
dentro e fora do componente curricular por diferentes ângulos, utilizando
recursos de diferentes áreas da ciência oferecendo ao alunado um olhar
diversificado sobre o objeto estudado. Veja-se o depoimento abaixo:
“[...] Outras tentativas que a gente tem feito - eu particularmente – é a possibilidade de
você articular é cometer um pouco um pé nas artes, um pouco um pé nas ciências
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humanas, nas ciências sociais, articular esses dois campos do saber na produção das
minhas aulas. Tanto do ponto de vista teórico quanto do ponto de vista empírico.
Agora, por exemplo, eu estou trabalhando com Organização e Sociedade que tem
elementos que são eminentemente elementos do campo da Administração da
Sociologia das Organizações; mas, ao mesmo tempo é um curso que está voltado pros
alunos do campo da cultura, então o que a gente tenta fazer é associar um pouco as
experiências do campo da administração, mas ao mesmo tempo trazer eles pra um
entendimento um pouco dos campos das organizações culturais do nosso conteúdo
contemporâneo; e esses conhecimentos, essas práticas nos compostas. (A.S –
docente do BI em Humanidades)”.
Neste exemplo acima, além do trabalho de articulação com o corpo docente, o
professor traz a questão da interdisciplinaridade na prática do componente
curricular que ministra. Neste caso, ele utiliza recortes de Administração e
Sociologia das organizações e pensa em articulações possíveis entre essas
ciências, as ciências humanas e as artes e culturas, objeto para o qual seus
alunos trabalharão, construindo uma importante ferramenta interdisciplinar.
O mesmo ocorre segundo o depoimento de outro professor sobre a prática
interdisciplinar. Esta fala contém importantes reflexões a respeito de como ele
concebe a interdisciplinaridade e como esta vem sendo implementada no
IHAC. Sua experiência atual é bem diferente de como atuou na sua formação
original em análise do discurso, pois agora a interdisciplinaridade é constituinte
na formação dos novos bacharéis e, segundo ele, tem de ser pensada,
colocada em prática, em métodos:
“[...] A gente fala interdisciplinaridade, a gente fala que prática. A gente fala que pratica
ela nos cursos de formação tradicional, por exemplo: eu disse que a Análise do
Discurso ela é interdisciplinar etc., mas a gente não pensa muito sobre isso, a gente
faz isso. E aqui no IHAC quando eu cheguei pra disciplina que eu vim dar que era
contemporaneidade eu fui obrigado a ir pensando isso porque a disciplina tem uma
demanda teórica muito grande, as aulas são de quatro horas e o próprio instituto
quando eu fiz a seleção, os pontos das provas teóricas e da banca apontavam para
interdisciplinaridade então eu me pus a pensar isso [...] Quando a gente fala de
interdisciplinaridade eu sempre pensei que a gente tá propondo um conhecimento que
ele é construído de várias fontes. Epistemologicamente falando a gente sempre fala de
várias fontes teóricas de conhecimento, mas eu quis propor uma dimensão micro
disso.”
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O modo como a interdisciplinaridade vem a ser conscientizada é uma questão
pedagógica fundamental. Cada integrante do processo, seja professor ou
aluno, deve estar consciente do processo compositivo em que o saber é
construído, segundo “várias fontes”. Na prática esse processo concreto é
variável, por exemplo, quando um mesmo componente é oferecido em várias
turmas e professores distintos. O plano de aula de turma varia com as
estratégias docentes pois o mesmo conceito atua de maneiras diferentes entre
os professores, afinal, além da formação diferenciada, são sujeitos distintos
com formações diferenciadas. Esse é o argumento do professor entrevistado,
o que se articula diretamente com próximo tópico do quadro acima: a
organização da ementa: plano de aula interdisciplinar.
O plano de aula é um instrumento muito enriquecedor, didaticamente, quando
concebido de um modo articulado e abrangente. Na prática interdisciplinar no
IHAC, o plano de aula funciona de maneiras distintas. Segundo o depoimento
do entrevistado acima, o cruzamento de disciplinas deve que ser pensado
desde a organização da ementa curricular e do programa do componente,
chegando ao plano de aulas que será ministrado, assim como a escolha da
bibliografia utilizada, métodos, dinâmicas etc. Sobre esta prática, o depoimento
de outro docente entrevistado diz que: “a gente tenta ter um abordagem bastante interdisciplinar na escolha da ementa, nos
temas que são discutidos. É interessante pensar que embora a gente tenha que ter
disciplinas, que aqui a gente chama de componentes, tem uma, uma, uma ênfase de
que se a gente estuda estudos das sociedades não tem como não dar uma abordagem
de política e economia. Não é meramente sociologia não é? e isso tá presente na
escolha da escolha da bibliografia, dos temas que serão debatidos com os alunos sem
que haja uma censura”. (D. A. – BI em Humanidades)
Desde a organização da ementa e do plano do curso há de fato a preocupação
com a reunião do material bibliográfico que será utilizado no componente
curricular. Estes materiais no IHAC aléem de constituir uma importante
ferramenta de conhecimento, devem ser organizados de uma maneira que
promovam autonomia do aluno, de modo que se abra um debate, e
principalmente que ajude na articulação das áreas de conhecimento
intervenientes.
17
É essa prática, que o terceiro tópico da tabela aborda, qual seja, dialogar com
teóricos provenientes de outras áreas de conhecimento. Se um componente é
do BI em Saúde, por exemplo, pode articular-se conceitualmente com a área
de conhecimento das ciências humanas, ou com ciência e tecnologia, e assim
por diante. Dialogando com outros campos de saber, o docente parte de
conteúdos que domina, consolidados em sua carreira de formação, mas dá um
passo adiante, pois necessita de insinuar uma relação com autores de
diferentes áreas para fundamentar teoricamente o seu trabalho interdisciplinar.
Veja-se o depoimento de docente que ensina componente no eixo das
linguagens:
“Como eu disse o meu foco principal gira em torno de texto e a partir de autores
distintos eu tento promover essa interdisciplinaridade, por exemplo, no semestre
atual eu estou ensinando LETE43, que é Língua Portuguesa, Poder e Diversidade
cultural. Há textos ali claro que tratam da variação linguística, isso é uma coisa
importante, assim como a gente trabalha com o texto da UNESCO sobre o Estatuto da
Diversidade Cultural. Eu trago vozes pra sala como Todorov, de Foucault, de Bordieu,
de Bauman, que são intelectuais que são atuais mesmo que não sejam alguns deles
contemporâneos, mas continuam atuais em termo de suas teorias, seus pensamentos
que é pra oportunizar aos estudantes o contato com esses pensadores”.
A articulação com diferentes campos de saberes proporciona o diálogo
conceitual com teóricos diversos e dá acesso ao discente ao debate em curso
no estado da arte das pesquisas da área. Esse esforço conceitual, certamente,
amplia a análise e a percepção sobre um objeto de estudo. Outra prática que
se articula com esta, mas que vai além do uso de teorias e autores de diversos
campos científicos, consiste em contar com outras modalidades e linguagens
no acesso a um determinado tema.
O uso de diferentes linguagens, tais como filmes, músicas e vídeos é um
excelente veículo para introduzir a interdisciplinaridade. O emprego de
diferentes materiais didáticos, junto com outros signos vindos de diferentes
áreas do conhecimento, faz parte das práticas interdisciplinares do IHAC.
Segue-se um depoimento explicando como o uso de diferentes recursos
artísticos ou técnicos, através de outras plataformas de ensino que fogem da
tradicional aula, entram no leque de procedimentos interdisciplinares do IHAC.
18
Veja-se como o depoimento abaixo explica que a interdisciplinaridade pode ser
colocada em ato através da exposição de diferentes linguagens:
“A interdisciplinaridade ela não tem um modelo, um padrão que todo professor tenha
que seguir”. Eu acho que cada professor acha o seu modo de ser interdisciplinar e a
disciplina (Estudos sobre a contemporaneidade) é bem isso. Por ela ser uma disciplina
relativamente aberta ela proporciona que cada um possa ser criativo. Eu penso que
interdisciplinaridade é, sobretudo criatividade [...] A teoria é uma caixa de ferramentas,
você vai usar aquilo ali do seu jeito e de um jeito que é bom que seja criativo. Eu acho,
sempre que eu penso em interdisciplinaridade eu penso em criatividade porque não
tem fórmula e agente tenta ser criativo. Nessa disciplina mesmo a gente tenta colocar
vídeos e trazer coisas que não são obvias praquele vídeo mesmo. Coisas que
ultrapassam, que ampliam o objeto discutido em sala. Assim, a gente não sabe se
consegue ou não, mas a gente tenta porque é uma teoria que se constitui ainda pela
prática aqui. Aqui ou em qualquer lugar eu acho. (J. A. – BI em Humanidades)
O lugar da interdisciplinaridade vai além do limite de uma disciplina e incorpora
novas linguagens e novas percepções e avaliações sobre os signos colocados
em jogo em sala de aula, como disse o professor. Cada docente nos
componentes dos BI’s tem liberdade de aplicar seus métodos e compor os
cursos em módulos, constituindo assim um ambiente criativo que proporciona
a inovação. Estudos Sobre a Contemporaneidade é uma matéria obrigatória
para todos os B.I’s constituindo um elemento base na concepção dessas
práticas interdisciplinares que ampliam o olhar sobre os objetos e ferramentas
de aprendizado. Veja-se o depoimento de um docente desse componente:
“Na sala de aula eu uso muito vídeo como elemento de provocação, de antecipação
de uma discussão, Então, geralmente, o vídeo é colocado antes do texto para
aproveitar o que vem com o aluno. A interdisciplinaridade atua nesse sentido de
respeitar também o que é possível o aluno trazer para o campo de diálogo como sala
de aula. Então o vídeo tem essa função de antecipar o debate a partir daquilo que o
aluno traz.”. (M. M. - BI em Humanidades)
Nesse sentido, além do uso da ferramenta audiovisual, surge um diferenciado
olhar sobre o objeto através da ótica desta produção (em vídeo) sugerida por
demanda discente, de tal modo que o professor aponta a importância do
estímulo vindo do aluno para estimular o debate. Esse artifício se adéqua,
19
confluindo para a construção de novos conhecimentos ao decorrer do curso,
articulando-se com o cronograma pré-estabelecido e com as teorias propostas
e servindo como ferramenta de aplicação do conhecimento. Nota-se, vale
repetir, uma diferente aplicação das linguagens, não aquela consagrada nos
cursos tradicionais, engessada, finita e previsível em si mesma, mas uma
teorização em andamento, que se aplica à ampliação dos olhares sobre os
estudos da contemporaneidade, junto com outras ferramentas e contando com
o conhecimento trazido pelo aluno.
Na citação de outro docente entrevistado a prática se faz de maneira muito
presente como instrumento de articulação e produção de conhecimentos:
“[...] trabalho também com mostras fílmicas, por exemplo, a gente vai assistir em
breve um filme que filme que é Robson Crusoé que é pra gente problematizar
as questões de identidade, das relações de poder do colonizador e do colonizado,
antes disso nós vamos estudar um texto do Bauman que é sobre identidade, sobre
construções identitárias e após a discussão do filme a gente vai ler um texto sobre
Ser índio em português. Então a gente tem que trazer essa diversidade pra sala de
aula e isso acontece através de aulas expositivas, trabalhos em duplas, trabalhos em
grupo e trabalhos com outros recursos visuais como filmes e raramente eu trabalho
com slides.” (M.M. - BI em Humanidades)
Conforme o Quadro 1, outro item relativo às práticas pedagógicas que foram
muito referidas nos depoimentos são a discussão, o debate e a construção do
conhecimento em grupo. Esses procedimentos são fundamentais para a
construção de um aprendizado interdisciplinar voltado aos desafios
contemporâneos fazendo com que o conhecimento sempre esteja em
mutação. O compartilhamento de saberes e as práticas em conjunto são de
considerável importância para a promoção da interdisciplinaridade. Neste
depoimento é possível notar a preocupação do professor com sua metodologia
de trabalho em cima de debates e discussões, estimulando a proatividade
discente e integração desses com a construção do saber. Deslocando o
docente do papel de detentor do conhecimento para o de um interlocutor e
articulador do conhecimento a ser analisado.
“Outras coisas que eu uso são estudos dirigidos em sala de aula, trabalho em equipe,
a coisa da pesquisa da equipe e tal para apresentar para as outras equipes criando
também um espaço de diálogo na sala de aula. Claro que no meio disso tudo a aula
20
expositiva tem um papel localizado cada vez mais, também voltado para a ideia da
bibliografia para poder ser cobrada essa bibliografia. Então no que diz respeito à
interdisciplinaridade eu acho legal colocar que ela prevê o diálogo, a aula como um
espaço de diálogo e ao mesmo tempo, o respeito a determinados saberes que o aluno
traz e que concorrem para a construção desse conhecimento em sala de aula.”
Mais uma vez nos é dado à questão da construção do conhecimento através
do diálogo, adicionando no discente uma postura crítica e reflexiva, utilizando
seu conhecimento prévio também como uma ferramenta interdisciplinar para a
construção de novos saberes que farão parte do repertório do aluno, este, tem
a oportunidade de trabalhar de maneira cooperativa com o docente,
enriquecendo o debate na construção do componente. Como se pode
perceber na fala do professor a seguir:
[...] eu sinto, por exemplo, isso nas minhas observações, por exemplo: os alunos
propõem coisas pro componente. De modo geral o aluno tem esse espaço de pensar
e eu acho que dentro, pensando que eu converso com outros colegas, eu acho que há
essa disponibilidade de reconhecer . .. Problemas, dificuldades e também uma
abertura para mudar alguma coisa. (L. A. V. – Docente do BI em Saúde)
O procedimento de empregar grupos de professores para ministrar um
componente (cursos modulares/interação com convidados) foi bastante
utilizado nos primeiros anos do IHAC. Ele consiste em compor o curso em
conjunto por um grupo de professores, com aulas reunidas através de cursos
modulares, dado em parte por um professor gestor, ora por seus convidados,
ou por parceiros permanentes. Ou também no estabelecimento de módulos
dados, em parte, por um docente e, em parte, pelo coletivo. Veja-se o
depoimento abaixo:
[...] Políticas Culturais, por exemplo, nós tentamos desde o inicio a inter-relação de
professores produzindo com diversos campos dos saberes, cursos modulares regidos
por um professor, que isso é importantíssimo, na verdade a regência da classe se dá
por um professor que está constantemente em classe. Ao mesmo tempo, você tem
professores visitantes que podem tratar de temas congêneres, temas semelhantes a
partir de perspectivas diferenciadas. Tudo isso sendo filtrado, sendo traduzido pelo
professor regente. Essa é uma experiência que eu acho interessante. É uma
experiência que eu acho que carece de certas reformulações, carece de repensar um
21
pouco sobre os conteúdos, mas é uma experiência que me pareceu bastante salutar
e bastante inovadora [...].
Este procedimento se encontra nas praticas didáticas dos B.I´s e se constituiu
de maneira interativa e integrativa, pois proporciona ao discente diferentes
olhares sobre temas estabelecidos em sala de aula, assim como o
aprendizado de maneira mais abrangente e também aumenta a interação
entre o corpo docente do instituto. Além disso, oferecem ao discente uma
concepção ampliada sobre os temas estudados, pois estes são abordados
através de diferentes visões, contribuindo para que o mesmo também possa
ampliar suas perspectivas.
O trabalho em equipe se constitui como uma importante prática na
contemporaneidade. No âmbito de práticas interdisciplinares, estas são
fundamentais para estimular o debate e a reflexão. Elas são um elemento
constituinte de consolidação de sistemas de ação coletiva entre os docentes e
os discentes exigindo uma cultura muito maior de do que adesões ou ações
individuais.
Sobre essa prática, uma docente afirma ser uma importante ferramenta
interdisciplinar. Este procedimento em sua prática de ensino se articula com os
que foram postos em tópicos anteriores deste trabalho.
“[...] Usamos trabalho em grupo para que os alunos construam uma reflexão crítica a
partir de diferentes disciplinas e campos, inclusive o campo das artes e o campo da
mídia, então não só o campo científico, mas também, por exemplo, esse ano em
campo da saúde a gente introduziu uma questão também de pensar na perspectiva
popular, não científica.” (T. C. - BI em Artes)
No IHAC, este procedimento, junto com outros já elencados, tem função de
integrar, promover o debate em grupo, fazendo o conhecimento não vir do
professor para o aluno, mas ocorrendo mediante andamento coletivizado. Ele
proporciona maior autonomia ao educando para produzir as diferentes análises
necessárias no componente com o seu grupo de trabalho.
O ensino com base em resolução de problemas emergiu no depoimento de
alguns professores do IHAC. Esta prática é de sumo interesse e eleva o nível
de exigência de autonomia dos discentes. Esla pode ser realizada através de
22
prática em campo, ou um problema dado em sala de aula para ser debatido e
assim se propor as soluções etc. A importância desse procedimento se
constitui em articular os aspectos teóricos aprendidos nas disciplinas com a
prática voltada à solução de um problema que cerca o cotidiano do educando.
Assim, além de estabelecer o debate, o aluno tem de ser tornar proativo e
atuante. Este procedimento promove não só a interdisciplinaridade, mas a
formação de um sujeito sensível aos problemas da contemporaneidade, se
tornando um profissional melhor colocado e atuante no âmbito social do
mundo do trabalho.
“Em termos de habilidades nós trabalhamos com elaboração de projetos de
intervenção na perspectiva de realizar uma ação cultural. Então cada aluno precisava,
como tarefa da matéria, fazer uma proposta, só que antes disso, eles discutiam e
refletiam sobre diversos projetos existentes de ação e mediação cultural, desenvolvidos
por instituições ou por grupos ou até por pessoas isoladamente. Então, eu levo, nessa
matéria, pra classe uma série de folhetos, de publicações, de relatórios, de cartazes de
programas, de espetáculos e de realizações de festivais, por exemplo, projetos
específicos, como cinema para cegos, não é? Um projeto desenvolvido em Brasília... A
questão da divulgação de pinturas de pessoas que têm uma deficiência física, que
pintam com a boca, com os pés... (S. F. – Docente BI em Artes)”.
Como visto acima, a articulação com o campo se torna de essencial para a
metodologia de resolução de problemas, e é sobre esta prática que o próximo
item do Quadro 1, as atividades em campo, introduzem para a reflexão no
presente relatório.
As atividades em campo além de uma prática interdisciplinar importante
constituem também a abertura discente a novas possibilidades através do
contato direto com o objeto de estudo. Este procedimento constrói novas
possibilidades e ideias e é importante também por quebrar as barreiras do
ensino restrito aos muros da universidade:
“No primeiro ano, por exemplo, meus alunos foram pra rua entrevistar profissionais do
sexo. A gente tava discutindo a questão da AIDS e eles foram nas boates. No segundo
ano no curso de racionalidades eles viajaram para Caldas de Cipó e Jorro pra fazer
estudos em loco sobre águas termais, ou seja, eles também têm muita iniciativa. Eu
23
acho que o pessoal da área de saúde tem essa perspectiva de se envolver logo com a
prática [...]” (Egresso do BI em Saúde)
Outra modalidade são os projetos permanecer, na citação abaixo de um dos
egressos entrevistados, ele relata a experiência que teve no Permanecer SUS,
um projeto da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia faz em parceria com
estudantes de diferentes áreas de saúde, visando à integração destes futuros
profissionais e a humanização e a melhoria das emergências de grandes
hospitais. Esse projeto propõe ao educando, além da prática direta com o
mundo do trabalho, a articulação com outros profissionais da área de saúde
realizando as atividades de forma coletiva, integrando conhecimentos de
diferentes áreas. Nesse caso a educação interdisciplinar vem dá própria
prática no grupo de trabalho:
“Fiz o permanecer SUS durante um ano. Boa parte da formação eu passei no
permanecer que foi... Não sei nem como descrever a importância do permanecer na
minha formação. Tive alguns trabalhos que a gente trabalhava com pesquisa,
basicamente matérias de Saúde Coletiva. A gente fez uma pesquisa em relação a
matérias de Saúde Coletiva no curso de Medicina e a importância que é dada pelas
pessoas e aí a gente diferenciava os alunos egressos do B.I e os que entraram pelo
vestibular e era clara essa diferença da importância da saúde coletiva na formação do
profissional de saúde. Basicamente foram estes. Durante os três anos do B.I a minha
formação eu não consegui fazer muitas coisas em relação a isso”.
Esta prática em campo está diretamente vinculada com o tópico abaixo, outra
forma institucionalizada da prática interdisciplinar levantada neste trabalho.
A atividade curricular em comunidade (ACC) é uma atividade de extensão com
a particularidade de estar inserida às vezes na grade curricular de
componentes optativos. São atividades que devem privilegiar a
interdisciplinaridade e a interação entre a Universidade e a comunidade,
proporcionando aos estudantes a prática dos conhecimentos adquiridos em
sala de aula. Sobre essa enriquecedora prática esse egresso entrevistado diz:
“Fiz uma ACC de promoção da saúde, que foi até que resultou no vídeo “Até
quando”?”, e desde o inicio a gente fez uma pesquisa meio que histórica no bairro de
São Cristovão, a gente tentou conhecer a área, conhecer os determinantes sociais,
24
conhecer as políticas envolvidas naquela cidade e depois a gente foi – através de
dinâmicas e outras atividades – envolvendo a comunidade... A gente ia nas escolas e
íamos nas reuniões de bairro tentar conversar, Fazer uma troca de conhecimentos
entre a universidade e a comunidade em relação aos direitos daquela população.”
Além de uma importante prática para o discente, ela se torna de suma
importância para a construção do sujeito contemporâneo atuante e sensível
aos problemas da contemporaneidade.
A pesquisa é um outro procedimento notadamente estimulante para o grupo.
Na interação nos grupos de pesquisa ocorre um maior convívio e contato de
maneira direta entre docentes e os grupos de discentes envolvidos. Os grupos
de pesquisa instauram um ambiente de diálogo mais fundamentado, onde a
interdisciplinaridade tem um significativo papel. Sobre esse fator fala a egressa
entrevistada.
“Na área da pesquisa eu acho que a interdisciplinaridade tem muito espaço, não é?
Porque imagine que se pesquisas inovadoras são de grandes dúvidas, de grandes
questionamentos das pessoas, então, eu acho que esses questionamentos eles
surgem nas diversas áreas e aí um eu acho que pode ajudar a esclarecer a dúvida do
outro, acho que quanto mais com o crescimento tecnológico que a gente vê hoje em
dia, então essa área de tecnologia de informação, computação... Então, tudo isso tá
ampliando as fronteiras, Então, eu acho que a interdisciplinaridade eu acho que é
fundamental na pesquisa.”
O grupo de pesquisa, segundo a egressa entrevistada, se constitui num
importante espaço de ultrapassar fronteiras produzindo novos conhecimentos
a partir de debates interdisciplinares. Um docente entrevistado tem a mesma
opinião
“[...] grupos de pesquisa, que tem pesquisas inovadoras, que tem grande impacto
nessas áreas, são compostas por membros das diversas áreas”. Não vejo pesquisa
como uma coisa fechada, na medida em que às vezes cada um tem um pouco a
contribuir. E aí essas pessoas se ajudam. Aqui mesmo, a gente tem vários grupos de
pesquisa que tem... Agora mesmo a gente tem uma pesquisa que tem professores de
Saúde, de CeT, de Humanidades, de Artes, e é superinteressante quando junta todo
mundo porque cada um tem uma ideia diferente. Eu vejo muito espaço para a
interdisciplinaridade na pesquisa.”
25
Essa outra egressa entrevistada fala da importância da pesquisa como
elemento constituinte de amadurecimento discente para a vida acadêmica:
“Eu acho que a pesquisa te dá um suporte, um amadurecimento e outra visão porque
você vai adquirindo experiência para o próprio mestrado, por exemplo, porque na
pesquisa você é “obrigado” a produzir, então você acaba criando uma disciplina: “Fiz
esse recorte, to estudando, então eu vou apresentar.” Facilita nesse sentido, então
você acaba ganhando experiência. A ser mais sucinto, a ter o controle dos vinte
minutos, fazer um slide mais reduzido, menos carregado de informação. Eu acho que
isso facilita, eu acho que você tem essa facilidade”.
O depoimento chama a atenção para a realidade agitada em que a
universidade está embebida. Por isso, convém recordar dos procedimentos
interativos pela via virtual. A contemporaneidade está permeada de novas
tecnologias que possibilitam a comunicação imediata. Barreiras podem ser
ultrapassadas e novos conhecimentos podem ser produzidos através dessas
ferramentas. Que também já começam a se incorporar não só como
ferramenta, mas como prática, método constituinte do componente curricular.
“ ... então, pra isso, uma coisa é tentar incentivar um aluno, mas isso é uma coisa
dificílima de fazer, de que a aula não pode acabar quando acaba o horário da aula;
então eu criei e sempre uso muito blogs da disciplina. Fico alimentando esse blog a
semana toda com coisas que são bem atuais que tem haver com as coisas que nós
estamos discutindo pra ver, se além de ler os textos, de fazer os trabalhos da disciplina
se o aluno continua pensando sobre o componente fora da sala de aula”.
A partir do uso dessa tabela é possível estabelecer reflexões sobre o uso dos
procedimentos interdisciplinares no IHAC como ferramenta enriquecedora de
produção de conhecimento para a UFBA e para todo o Brasil, instaurando um
debate sobre os caminhos da universidade a partir desse novo modelo de
educação superior.
No formato do presente relatório, não cabe exaurir todos os tipos de
estratégias de ensino e aprendizagem praticas nos BI’s da UFBA. Os
procedimentos são diversificados e variam de acordo com a área de
conhecimento, sejam de artes, humanidades, saúde, ciência e tecnologia. Por
26
exemplo, no campo das artes cênicas, um dos procedimentos mais
característicos consiste em laboratórios cênicos de improvisação, que tem um
grande potencial criativo. Esse procedimento tem sido empregado em
laboratórios do IHAC e no BI em Artes. Por fim, vale registrar como um
propósito englobante do projeto de pesquisa, qual seja o de indicar uma
proposta geral, a de integrar diversos procedimentos na forma de oficina de
estudos interdisciplinares.
IV DISCUSSÃO
A partir do material levantado e das informações produzidas, é possível
entabular uma discussão a respeito do alcance das práticas interdisciplinares
utilizadas no Instituto de Humanidades Artes e Ciências da UFBA. Essas
práticas, acima explanadas, podem subsidiar a discussão sobre um modelo
de educação mais abrangente, que ultrapasse as fronteiras da produção do
conhecimento do IHAC e possam contribuir para a formação de novas
perspectivas de educação na UFBA e em outras universidades da Bahia.
A aposta pedagógica aqui vai no sentido de um desafio multiplicador. Ou seja,
se um professor tem habilmente atitude interdisciplinar desenvolvida e
manifestada em suas práticas docentes, ele pode ser um convite vivo para que
os egressos desenvolvam essa disposição, e estes, por sua vez, com esta
formação diferenciada, tendem a ser agentes que contribuem para um novo
perfil profissional e um novo perfil de sujeito para atuar frente aos problemas
contemporâneos.
A atividade interdisciplinar encontra consideráveis desafios no IHAC. Depois
de alguns anos de implantação do projeto REUNI, a UFBA se deparou com um
novo modelo de educação superior, os B.I’s, que, segundo Almeida Filho
(2008) “[...] compreende uma nova modalidade de curso de graduação que se
caracteriza por agregar formação geral humanística, científica e artística a um
aprofundamento num dado campo do saber, constituindo a etapa inicial dos
estudos superiores. Tem como objetivo promover o desenvolvimento das
27
competências e habilidades que possibilitarão ao egresso a aquisição de
ferramentas cognitivas que conferem autonomia para a aprendizagem ao
longo da vida, bem como uma inserção mais plena na vida social.”
Em vigor no ano desde 2009, os BI’s da UFBA, mesmo não conseguindo ter
exercido seus desígnios em plenitude, devido ao fato de que o regime de
ciclos não ser a forma de entrada para toda a universidade, converteram-se
em nova maneira de educação superior. Como essa concepção pedagógica
está convivendo com a antiga, e não a substituindo, os bacharelados
interdisciplinares impõem-se como uma realidade presente no ensino superior
na UFBA. Isso possibilitando ao alunado além desta nova experiência em
formação acadêmica, a convivência com outros institutos, em uma grade
curricular flexível e gerando uma enriquecedora experiência acadêmica
interdisciplinar, provendo novos olhares sobre a instituição.
Além de participar de um amplo debate sobre os modelos vigentes que
imperam na educação brasileira e de conceber um modo de superar as
barreiras que freiam a universidade, os BI’s da UFBA promovem um diferencial
na esfera da interatividade acadêmica. Certamente, eles vão ser úteis para os
grupos de professores irem se reforçando mutuamente não só no sentido de
realacionamento com o alunado, mas também de se pensar medidas
integrativas de formação do caráter constitutivo interdisciplinar na
universidade.
Esta pesquisa se mostrou eficaz para efeito de mapear os procedimentos de
promoção da interdisciplinaridade e de levantar os processos construtivo do
conhecimento que se tornaram presentes nos BI’s da UFBA. O IHAC, portanto
avançou nesse empreendimento de compor uma pedagogia apropriada para
os bacharelados interdisciplinares e disparar uma experiência pioneira no
Estado da Bahia. Pode-se afirmar que o IHAC vem obtendo conquistas na
produção de saberes diferenciados, integrativos, além de formar novos sujeitos
críticos e com ativa percepção sobre os dilemas culturais da
contemporaneidade.
Para exemplificar esse fato, uma outra série de atividades-resultados da
pesquisa que merece ser lembrada no presente relatório, é a da participação
do grupo em debates e eventos ocorridos no período. Podem ser relatadas as
28
seguintes participações com comunicação visando divulgar resultados de
pesquisa: uma, no X Colóquio Nacional e III Congresso Internacional do
Museu Pedagógico, na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, em
agosto de 2013; outra participação foi a mesa redonda com comunicação oral
no ACTA, na UFBA, em outubro de 2013; por fim, mas não a última, uma
comunicação no seminário de pesquisa do EXPOIHAC, no Paf III da UFBA em
março de 2014.
Como se verá a seguir, dois aspectos ficaram acentuados nos depoimentos
gravados ao longo do levantamento de dados feito dentro de um significativo
grupo de professores e de alunos egressos dos BI’s. O primeiro aspecto está
na busca de procedimentos de integração do componente curricular
ministrado. O segundo aspecto que foi muito recorrente entre os depoimentos
de professores e egressos, é a busca de procedimentos pedagógicos para
promover a interdisciplinaridade se apoiando em processos interativos
interpessoais que são menos frequentes em cursos de orientação disciplinar.
A interdisciplinaridade do conceito e a da interação se completam tanto na
ênfase teórica como na prática; a interdisciplinaridade do conceito parte da
necessidade de reformulação teórica, da crítica às doutrinas disciplinares com
vistas a fornecer um método alternativo, inovativo e mais flexível e abrangente
dos temas conduzidos em sala de aula. A pedagogia do conceito procura
compor as disciplinas buscando foco nas pontes conceituais que integrem os
saberes. A interdisciplinaridade da interação se volta para o trabalho coletivo e
para as dificuldades práticas encontradas na construção do conhecimento.
Um dos aspectos mais acentuados nos depoimentos, é a constatação de que
os procedimentos pedagógicos utilizados para promover a interdisciplinaridade
nos BI’s se apóiam em processos interativos. Podemos concluir que isso
ocorre porque a busca interdisciplinar impõe novas exigências na forma
cooperativa de trabalho. Os integrantes do processo percebem que precisam
estar mais atentos aos demais sujeitos, ultrapassando barreiras e cruzando
fronteiras, criando novas abordagens e constelações do saber (JAPIASSÚ,
1976, p. 32-35).
Alguns dos desafios do processo ensino-aprendizagem, visando explorar
novas possibilidades interativas, podem ser podem ser encontrados nos
29
depoimentos. É preciso vencer primeiro o desafio da aproximação, em que o
docente deve sair da “zona de conforto”, e depois alcançar o nível de compor
atividades em conjunto, procurando construir o conhecimento coletivamente,
além disso, é preciso estimular o autoconhecimento e ampliar a leitura de
aspectos que não são desvendados nas práticas cotidianas (FAZENDA, 1998).
Uma professora do BI em Saúde explica como é feito, em sala de aula, o
trabalho de interação por uma visão ampliada de saúde:
“Feito sob minha responsabilidade, mas por um conjunto de professores porque a gente tem muitos convidados; pessoas, inclusive, de fora da Universidade, porque, dentro da Universidade, o que rege é a Biomedicina, e então a gente tem convidado pessoas que tratam da Medicina Tradicional Chinesa, que tratam da Homeopatia, que tratam da Ayurvédica, não é? (...) Tanto a gente tem abordado as medicinas, as práticas tradicionais, como agora a gente tem pensado as práticas contemporâneas.” (AF, BI em Saúde).
O trecho acima depõe no sentido de destacar a interação de diversos
professores e profissionais ao longo do componente curricular ligado à saúde.
Ele exemplifica a abordagem interdisciplinar e ampliada da saúde para além
do “paradigma da biomedicina”, promove uma interação com os saberes
tradicionais, dialogando com as diversas práticas na área de saúde.
Os docentes manifestaram sua opinião sobre as dificuldades e potencialidades
para o ensino interdisciplinar. A abordagem interdisciplinar requer algumas
práticas interativas que precisam ser preparadas e contar com uma
disponibilidade maior da parte do docente. Foram consideradas pertinentes,
conforme mostram os depoimentos dos professores entrevistados, práticas tais
como: ensino de componentes curriculares compartilhado, a construção
coletiva do conhecimento, entre outras práticas. Convém lembrar, conforme os
depoimentos de professores e de egressos, que as atuações em grupo de
professores levam a dividir o curso em blocos. Isso foi tentado em vários
componentes.
Outro ponto que chamou a atenção nas entrevistas foi a noção de que existem
dois tipos de estratégias de interação, as institucionais e as interpessoais. As
institucionais são bem conhecidas, envolvendo várias entidades, tais como a
formação de grupos de pesquisa e comissão de montagem de atividades. As
30
interpessoais são várias e heterogêneas, tais como os grupos de pesquisa,
relações que viabilizam solução de dificuldades subjetivas e tomada de
decisão quanto a qualquer problema cotidiano principalmente em sala de aula.
Esse tipo de relação que podemos classificar como mais amena concede a
essa interação uma fluidez maior, pois é mais aberta à convivência.
As relações interpessoais no ambiente de trabalho são concretas,
historicamente relevantes e culturalmente potencializadas. Vale ressaltar que o
grupo de pesquisa começa como uma relação institucional e parte, muitas
vezes, para uma relação interpessoal. Outra aluna egressa da turma do BI de
2009, explicou a interação entre os professores no sentido de uma abordagem
interdisciplinar:
“Em algumas disciplinas eu percebi isso claramente. No primeiro semestre foi o que mais me chamou atenção. O que me fez acreditar no BI com [o componente de] as políticas culturais, com os professores AA, CR e PCM. Eles faziam em blocos, faziam com tanta paixão que eu naquele momento já tinha decidido logo no primeiro semestre que queria fazer área de concentração com eles. Eles faziam bloco de professores, cada bloco de conteúdo um professor iria aplicar com as turmas, havia um rodízio nas salas, e deu muito certo com eles.” (G.B.S., Egressa do BI em Humanidades)
Conforme se nota no depoimento, o que mais dignificou o começo do curso e
esclareceu o sentido da interdisciplinaridade, segundo a fala supracitada, foi a
interação entre os professores, que no começo do curso articularam em
conjunto e por blocos o programa e o ensino do componente curricular ligado
às políticas culturais. A importância da declaração acima está em depositar
confiança na criatividade dos agentes que compõem esse cenário, na inteireza
das relações, na visão articuladora que rompe com o pensamento
dicotomizado e dogmatizado que marcou por muito tempo a concepção
disciplinar da educação (THIESEN, 2008).
A segunda via da promoção da interdisciplinaridade supõe a integração
conceitual e o intercâmbio de conteúdos das disciplinas em um caminho rico
de possibilidades. A preparação dos cursos nos Bacharelados
Interdisciplinares, por exemplo, organizando programas e articulações
epistemológicas oferecem ao professor a oportunidade de desenvolver uma
pedagogia interdisciplinar do conceito a ser trabalhado no curso ou
31
componente curricular, além de proporcionar liberdade para que possa utilizar
metodologias próprias e diversificadas.
Assim o ato pedagógico concorre para traçar pontes conceituais (ZORZO,
2011), visando elaborar um conceito que articula diversas áreas de
conhecimento. Seguindo essa linha de pensamento os procedimentos do tipo
ponte conceitual entre conceitos diretores são desenvolvidos com uma didática
que integra conteúdos e conhecimentos (GADOTTI, s/d). Interdisciplinaridade
é o que se coloca na interface entre o educador/educando e o objeto. Uma
cunha, intencionalmente colocada pela razão para desencadear mudanças na
educação. Aqui neste trabalho, não interessa teorizar e definir a
interdisciplinaridade, mas observar suas práticas e fazer algumas
generalizações a partir dos casos relatados nas entrevistas de professores do
IHAC e egressos dos BI’s.
Como diz uma professora entrevistada (A.F., docente do BI em Humanidades):
“para ensinar nos BI’s conjugando saberes e práticas, sem simplificar e sem
perder qualidade, é preciso oferecer aos alunos referências teóricas de autores
que se preocupam com “a juventude e com o hoje”, com as novas ferramentas,
tanto “na crítica, como no enaltecimento delas”. Como afirma Thiesen (2008), a
interdisciplinaridade é um movimento contemporâneo na pedagogia que
assume uma concepção mais integradora, dialética e totalizadora na
construção do conhecimento e da prática pedagógica.
Um dos professores do BI em Artes explicou como trabalha o conceito de
cultura e “articula em termos metodológicos as várias áreas do conhecimento
numa perspectiva multi-inter-transdisciplinar”:
“Então, trabalhando a questão do conceito de cultura associado ao conceito de arte, como é que a gente pode lidar com essas questões numa perspectiva de alterar o quadro cultural de um determinado grupo social, o que seria a ação e a mediação cultural utilizando a arte. Então em termos de conteúdo já havia essa pluralidade, porque também quando você fala de cultura, você fala de linguagem, quando você fala de cultura, você fala de política, você fala de poder, de arranjo social, fala de história, enfim quando você fala de arte, você, além de tocar nas questões referentes a sentimento, a sensações, a intuição (...).” (S. F., docente, BI em Artes)
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Uma aluna, que é egressa da turma de 2009 no BI em Saúde, relatou sua
experiência e a sua percepção diante desses mecanismos utilizados pelos
docentes na promoção da interdisciplinaridade:
“O que eu acho que os professores estimulavam muito a gente também a fazer seminários, (...) a gente construir mesmo o conhecimento em determinado ponto. (...) acho que essa liberdade que era muito legal assim, e não simplesmente eles apresentarem o conteúdo pra gente (...) Também exibição de filmes sobre a saúde, de como a saúde funcionava e debater em cima daquilo, daquele material que era apresentado... As vezes a gente era estimulado a fazer assim: uma análise da saúde no cinema em tal década; então, assim, era uma coisa que a gente passeava por mentalidades de outros países que produziam aqueles filmes através de um meio artístico, né? Que é o cinema. Então, assim, essas misturas que eu achava bem legal. Bem ricas.” (B.M.S. Aluna do BI em Saúde)
Internamente ao IHAC, como vê, a promoção da interdisciplinaridade produz
otimismo, por outro lado, tem havido oposição ao projeto dentro da própria
universidade. O projeto da implantação dos BI’s sofreu impedimento
acadêmico forte dentro da UFBA, pois foi inicialmente concebido como um
curso de primeiro ciclo que seria a entrada única de todos os alunos
ingressantes da universidade, questão até hoje pendente na nossa instituição.
Em geral a crítica feita aos BI’s da UFBA é baseada em pressupostos
excessivamente exigentes, tendo por modelo os cursos que já estavam
instalados com ênfase disciplinar. Todo imaginário dominante, sempre é o
resultado de uma relação de forças, forma uma reação que ronda os
processos de mudança, como no caso de novos projetos pedagógicos de
cunho interdisciplinar. Mas acreditamos que é preciso ultrapassar o medo do
desconhecido, que tem causado uma espécie de paralisia ou engessamento
no ensino superior. Enfim, podemos esperar que os BI’s venham trazer um
traço indelével de avanço no cenário acadêmico da Bahia.
Mesmo sabendo-se das dificuldades de implantação da interdisciplinaridade na
UFBA, ficou claro, com a pesquisa, o ganho em refletir sobre os procedimentos
que buscam a integração dos saberes, contando com o entrelaçamento
epistemológico renovado de temas e abordagens. Como foi visto na percepção
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dos egressos e nas propostas dos professores, os estudantes dos BI’s cursam
componentes em todas as unidades da UFBA, de modo que os métodos de
avaliação variam bastante. Ainda que na prática, encontrem-se, com
freqüência, os velhos e tradicionais métodos de ensino e aprendizagem com
um enfoque fragmentário, as entrevistas mostram que há boas alternativas em
curso.
V CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ficou claro para todos os que se envolveram na pesquisa aqui relatada que,
para o sucesso da introdução da interdisciplinaridade no ambiente
universitário, sejam desenvolvidos procedimentos articuladores do ensino e
da aprendizagem. Conforme o resultado da presente pesquisa, tornou-se
fundamental a necessidade de explicitar a conceituação de procedimento
interdisciplinar. Se isso não ficar claro para os estudantes e professores, os
bacharelados interdisciplinares ficarão em débito para com a comunidade e
terão seu potencial rebaixado.
Então, pode-se partir da afirmação que o procedimento interdisciplinar se
insere no campo das práticas. Enquanto prática pode ser individual ou coletivo,
sempre visando a realização de um projeto coletivo maior. Por outro lado, o
procedimento é construtivo, relativo a um amplo quadro de ideias que envolva
diversos saberes e disciplinas.
Fazenda (2001), após realizar pesquisas sobre interdisciplinaridade por muitos
anos no país, coloca a questão desafiadora para a formação de educadores e
educandos na prática interativa: é preciso preparar alunos e professores nos
procedimentos que promovam a interdisciplinaridade. Isso exige uma profunda
imersão no trabalho cotidiano para que a afetividade e ousadia da proposta
venha a se efetuar, no caminho de formar parcerias e trocas intersubjetivas
que favoreçam a integração de disciplinas e grupos de pessoas.
A prática educacional, que envolve docentes e educandos, permite perceber
que a construção do conhecimento é um processo crítico em que se adotam
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sérios critérios para reunir saberes componentes que se associaram. Aqui, um
componente que depende da práxis é o grau de compromisso dos
educadores e dos educandos em realizar e efetivar tal proposta de cunho
interdisciplinar. Esse componente, em outras palavras, é a interação educativa.
Assim, é fundamental para superar os desafios encontrados na prática
interdisciplinar uma ação bem orientada para que possa de fato haver uma
possibilidade de prática que venha conjugar saberes. Essa visão clara e
potente somente se potencializa com procedimentos interativos e compositivos
aplicados na atividade.
Se a interdisciplinaridade é a interação entre duas ou mais disciplinas ou o
reconhecimento com graus distintos de inter-relação, transferência e
integração de conhecimentos provindo de campos teóricos distintos"
(CARBONELL, 2002:65), é preciso encontrar uma nova prática pedagógica a
ser integrada no projeto educativo. A equipe deve assumir o compromisso de
trabalhar cooperativamente, que tem como objetivo, entre outros, a
compreensão crítica da realidade. Os estudiosos da interdisciplinaridade
destacam que não é só uma questão de método, mas, sobretudo, de vontade
e atitude, de coerência entre o discurso e a prática.
Nesse campo da educação brasileira, Fazenda (2001) considera que a
interdisciplinaridade deve, sem se desfazer de autodidatismo e da intuição,
mas visando ultrapassar esse patamar de improvisação, ser concebida sob
bases específicas, apoiadas por trabalhos desenvolvidos na área, trabalhos
esses referendados na prática. A atuação de professores e alunos se
concretiza com o processo de esclarecimento conceitual que pressupõe certo
grau de amadurecimento intelectual e prático do educador professor, uma
aquisição no processo reflexivo.
Coll (2001:13) propõe dentre os princípios para a promoção da
interdisciplinaridade, desenvolver "procedimentos, ou seja, habilidades,
estratégias e outras formas de ação que articulam os demais conteúdos com
os objetivos, resultados e os meios de alcançá-los.” Nesse sentido, conforme o
quadro que reuniu acima um conjunto de práticas educacionais levantadas nos
BI’s, a interdisciplinaridade é central nas atividades dentro e fora da sala de
aula e no convívio de alunos e professores do Ihac/Ufba. Ela assume um papel
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de grande importância, em interação presencial e virtual, dentro e fora dos
muros da universidade.
Essas experiências interdisciplinares podem ser encontradas em muitos
relatos (KNECHTEL, 2001). A interdisciplinaridade está presente na aplicação
da ações integradas entre a pesquisa e o ensino, bem como a dinâmica das
interações entre as ciências sociais, as pedagógicas e as da natureza e do
ambiente.
O procedimento interdisciplinar facilita e permite uma maior compreensão do
processo de construção do conhecimento. Sendo uma proposta que não se
limita a receituário pré-estabelecido, deve-se, no entanto, além do seu
entendimento e compreensão, ter claro os procedimentos básicos que
caracterizam a sua prática.
Assim, ainda que seja complexa e que exija uma postura diferenciada em
relação aos tradicionais métodos e práticas educativas, a interdisciplinaridade
pode ser promovida com procedimentos que enriquece e dão significado à
nossa presença na universidade. Como afirmam os pesquisadores da
educação brasileira, citados neste relatório, além da aprendizagem técnica e
formal, o processo permite mobilizar aspectos afetivos, intelectuais e sociais,
possibilitando inovação e produção de conhecimento inédito.
Mas como lembra Japiassu (1976): “Não podemos tecer ilusões: ainda está
para ser construída uma teoria do interdisciplinar. Para tanto, talvez fosse
preciso confrontar as experiências já realizadas e suscitar novas experiências,
a fim de precisar em que condições se fazem as descobertas e se efetuam os
progressos da ciência”. A interdisciplinaridade é um desafio ainda presente no
ensino-aprendizagem em se tratando da graduação na universidade brasileira.
Nesse sentido, este estudo procurou refletir sobre a problemática de como o
docente e discente podem encontrar uma estratégia para a construção do
conhecimento e de novos saberes. Para tal, é preciso que docente e discente
se comportem de modo cooperativo em sala de aula, e buscar quais as
metodologias e abordagens mais adequadas, (LENOIR, 1998).
O objetivo deste relatório foi exibir resultados de uma pesquisa realizada com
professores do IHAC e egressos do BI’s da UFBA, na qual se sondaram
procedimentos interdisciplinares usados em sua interação. A resposta a esta
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importante questão conduziu a dois pontos de vista: um deles o da integração
do conceito e da criação de pontes conceituais; o outro à busca de soluções
didáticas com procedimentos de interação entre os participantes. Dito de outro
modo, de um lado a integração dos conhecimentos, de outro a reunião do
ensino e aprendizagem pela interatividade.
Para finalizar as reflexões aqui registradas, vale dizer que os bacharelados
interdisciplinares da UFBA produzem uma expectativa tripla. Tanto para os
cursos de progressão linear da universidade, os egressos dos BI’s vão emular
experiências novas nas unidades de destino, principalmente as dotadas de
áreas de concentração acopladas ao projeto. Quanto para os cursos de pós-
graduação que os receberem, haverá o ganho de novos questionamentos que
podem trazer inovação na pesquisa. E para além do universo acadêmico, os
BI’s estão, provavelmente, fazendo uma diferença na comunidade baiana,
devido à sua perspectiva do processo de construção do conhecimento e
formação de novos sujeitos, buscando uma atitude vibrante em grande sintonia
com as carências da sociedade contemporânea.
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