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DELAMAR APARECIDA DE SOUZA CORRÊA RELAÇÕES OCULTAS NAS CHAMINÉS ABANDONADAS DE UNIÃO DA VITÓRIA: A INDUSTRIALIZAÇÃO NA DÉCADA DE 50 CURITIBA 2008 1

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DELAMAR APARECIDA DE SOUZA CORRÊA

RELAÇÕES OCULTAS NAS CHAMINÉS ABANDONADAS DE UNIÃO DA VITÓRIA: A INDUSTRIALIZAÇÃO NA DÉCADA DE 50

CURITIBA

2008

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DELAMAR APARECIDA DE SOUZA CORRÊA

RELAÇÕES OCULTAS NAS CHAMINÉS ABANDONADAS DE UNIÃO DA VITÓRIA: A INDUSTRIALIZAÇÃO NA DÉCADA DE 50

Material apresentado como requisito parcial ao Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE-2008-História) do Governo do Estado do Paraná: Caderno Temático/Pedagógico.

Orientadora: Profª. Dra. Janaina Zito Losada

CURITIBA

2008

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DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Professor PDE: DELAMAR APARECIDA DE SOUZA CORRÊA

Área PDE: HISTÓRIA

NRE: UNIÃO DA VITÓRIA

Professor Orientador IES: JANAINA ZITO LOSADA

IES vinculada: UFPR

Escola de Implementação: COLÉGIO ESTADUAL JOSÉ DE ANCHIETA

Público objeto da intervenção: PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO

TEMA DE ESTUDO DO PROFESSOR PDE: INDUSTRIALIZAÇÃO: FORMAÇÃO

DA BURGUESIA E DO OPERARIADO

TÍTULO: RELAÇÕES OCULTAS NAS CHAMINÉS ABANDONADAS DE UNIÃO DA

VITÓRIA: A INDUSTRIALIZAÇÃO NA DÉCADA DE 50

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO......................................................................................................5

1 A INDUSTRIALIZAÇÃO: CONTEXTO E UMA LEITURA TEÓRICA....................6

2 O ESTUDO DA HISTÓRIA LOCAL E A NARRATIVA COMO

POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO DA CONSCIÊNCIA HISTÓRICA................16

3 O USO DE FONTES DOCUMENTAIS.................................................................17

3.1 Organização da pesquisa com a fonte oral..................................................20

3.1.1 Roteiro de entrevista....................................................................................21

3.1.2 Carta de cessão de uso da entrevista........................................................24

3.1.3 - Carta de cessão de uso da imagem do entrevistado.............................25

3.1.4 - Carta de cessão de uso de imagem (fotografias) ...................................26

4 EM BUSCA DAS CHAMINÉS ABANDONADAS DE UNIÃO DA VITÓRIA:

A INDUSTRIALIZAÇÃO NA DÉCADA DE 50......................................................28

5 POSSIBILIDADES DE ATIVIDADES...................................................................38

REFERÊNCIAS........................................................................................................39

FONTES DOCUMENTAIS.......................................................................................40

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APRESENTAÇÃO

O presente Caderno possui a estrutura Temática, porém com possibilidade

Pedagógica. Direcionado para professores do Ensino Fundamental e principalmente

do Ensino Médio, visto tratar dos Conteúdos Estruturantes Relação de Trabalho,

Relação de Poder e Culturais relacionando-os ao Conteúdo Específico

Industrialização, dentro da proposta de abordagem de ensino da “História Temática”.

Além da fundamentação teórica da Industrialização, apresenta

fundamentação teórica sobre a utilização de fontes nas aulas de História, quais

sejam: fonte oral, periódicos e processos trabalhistas, da exploração da História

local e da produção de narrativa como possibilidade de construção da consciência

histórica, extrapolando o saber escolarizado e problematizando o passado.

Apresenta ainda a narrativa histórica contextualizando o cotidiano da fábrica

em União da Vitória na década de 50, as ações e relações estabelecidas entre a

burguesia e o operariado.

Como possibilidade pedagógica, trás algumas sugestões possíveis de serem

vivenciadas nas aulas de História, colaborando para que o projeto elaborado como

parte de atividades do PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado

do Paraná) e as DCE (Diretrizes Curriculares Estaduais) possam ser efetivados.

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1- A INDUSTRIALIZAÇÃO: CONTEXTO E UMA LEITURA TEÓRICA

“O historiador não pode inventar nada, e sim revelar o passado que controla o presente às ocultas.” Eric Hobsbawm

FIGURA 1 - DESENHO DE TRABALHADOR

FONTE:http://www.planetaeducacao.com.br/novo/imagens/artigos/historia/Desenho-de-trabalhador_01.jpg Acesso em 02/12/2008

O conceito de industrialização está construído na memória coletiva pela

cultura escolar nos remetendo à industrialização na Europa, notadamente à

Revolução Industrial na Inglaterra.

Para tanto, contribuir para que se construa consciência histórica acerca do

tema, extrapolando estes limites e ocupando o espaço no estudo local, se faz

necessário obrigatoriamente que estes conceitos sejam reestudados de forma a

sustentar teoricamente o processo de consciência. Não apenas fixado no saber

escolarizado, na história lida e apropriada como saber sistematizado, mas sobre

tudo interpretado, ou seja, a história de tempos distantes ou não, revisitada com

problematizações de modo a provocar a consciência histórica sobre este saber. Jörn

Rüsen, se utiliza da Teoria da História para localizar a consciência histórica como

fundamento da Ciência Histórica:

Se entende por consciência histórica a suma das operações mentais com as

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quais os homens interpretam suas experiências da evolução temporal de seu mundo e de si mesmos, de tal forma que possam orientar, intencionalmente, sua vida prática no tempo.( RÜSEN,2001: 57).

Assim sendo, compreender as relações estabelecidas entre a burguesia e o

operariado: o cotidiano da fábrica, a estrutura social, política, cultural, econômica

que engendra esta relação em União da Vitória na década de 50 não pode ser

estudada e analisada fora do contexto estadual, nacional e sem reportar o estudo

aos séculos XVIII e XIX ao cotidiano da Revolução Industrial na Europa,

notadamente a Revolução Industrial Inglesa e essencialmente sem interrogar o

passado afim de que responda ao presente as indagações históricas pertinentes a

este cotidiano.

Neste contexto, serão conceituadas algumas das terminologias freqüentes

no discurso acerca da industrialização.

O termo Revolução Industrial, por exemplo, apresenta conceitos que por

vezes na história se mistura com período ou com fato, escolhemos aqui alguns

conceitos:

Tal diversidade de experiências levou autores a questionarem tanto a noção de uma “Revolução industrial” quanto a de uma “classe operária”. Não precisaremos nos deter aqui na primeira discussão: O termo é suficientemente útil nas suas conotações atuais. Para a segunda, muitos autores preferem o termo classes trabalhadoras, que enfatiza a grande disparidade em status, conquistas, habilidades e condições no seio da mesma expressão polissêmica. (THOMPSON, 2002:16/17)

A polêmica de discussão teórica está relacionada a utilização do termo

“Revolução” como marco para este período de alterações estruturais na sociedade

europeia. Nos séculos que antecedem ao período compreendido pela historiografia

como Revolução Industrial, vão acontecendo mudanças e inovações cientificas que

vão aos poucos modificando e gestando tanto o capitalismo quanto a

industrialização.

Para tanto a Europa feudal, aos poucos, em momentos mais lentamente e

em outros abruptamente, modifica seus modos de produção e a organização social,

política, cultural e econômica se modifica junto. Para Eric Hobsbawm:

[...] significa que a certa altura da década de 1780, e pela primeira vez na história da humanidade, foram retirados os grilhões do poder produtivo das sociedades humanas, que daí em diante se tornaram capazes da multiplicação rápida, constante, e até o presente ilimitada, de homens, mercadorias e serviços. Este fato é hoje tecnicamente conhecido pelos economistas como a ‘partida para o crescimento auto-sustentável’. Nenhuma sociedade anterior tinha sido capaz de transpor o teto que uma estrutura

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social pré-industrial, uma tecnologia e uma ciência deficientes, e conseqüentemente o colapso, a fome e a morte periódicas, impunham à produção. (HOBSBAWM, 2003: 50)

A estrutura social retratada na transição do período feudal para o do

capitalismo, não é homogênea e nem ocorre ao mesmo tempo em todos os países

do globo. Até porque as estruturas divergem e em outros países fora da Europa não

houve feudalismo e a passagem para o capitalismo na grande maioria dele foi

gestada num regime escravocrata, como é o caso do Brasil. Theo Santiago define a

passagem ao capitalismo:

[...] Não podemos falar de verdadeira passagem ao capitalismo senão quando regiões suficientemente extensas vivem sobre um regime social completamente novo. A passagem somente é decisiva quando as revoluções políticas sancionam juridicamente as mudanças de estrutura, e quando novas classes dominam o Estado. Por isso a evolução dura vários séculos. Ao final, é acelerada pela ação consciente da burguesia. (SANTIAGO, 1988: 37).

Mais adiante ele descreve a transição para a era capitalista como:

Substituição da ‘manufatura’ pela ‘maquinofatura’, ou seja, que permitirão multiplicar a produtividade do trabalho humano, reduzir este mesmo trabalho a um mecanismo cada vez mais barato, cada vez menos unido ao objeto produtivo (de forma contrária ao trabalho artesanal), e, por último, utilizar uma mão-de-obra de força reduzida, com a mobilização maciça do trabalho de mulheres e crianças. Estas invenções são as que concernem à metalurgia (fundição do carvão) e, por último à máquina a vapor. Este avanço das forças produtivas é necessário para subverter as estruturas econômicas e sociais. Daí em diante, a produção industrial em massa será a fonte essencial do capital, pela distância estabelecidas entre o vapor produzido pelo operário e o valor que lhe é restituído sob a forma de salário por aqueles que dispõem dos novos meios de produção (máquinas, fábricas). A era da acumulação ‘primitiva’ terminou. Tudo irá tornar-se ‘mercadoria’ e as relações sociais se estabelecerão exclusivamente em termos de dinheiro. Já não há mais ‘feudalismo’. (SANTIAGO, 1988: 47,48).

No Brasil, assim que os escravos livres passam a serem trabalhadores

assalariados das indústrias, se intensifica a passagem. Pois o trabalho assalariado

passa a ser regulado por produção e outras estruturas são acionadas, por vezes

inconscientemente e por vezes conscientemente pelas classes: burguesia e

operariado.

Karl Marx, conceitua na sociedade moderna como duas distintas e opostas

classes: burguesia e proletariado:

Burguesia significa a classe dos capitalistas modernos, que possuem meios de produção social e empregados assalariados. Proletariado, a classe dos trabalhadores assalariados modernos que, por não ter meios de produção

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próprios, são reduzidos a vender a própria força de trabalho para poder viver.( MARX,1994: 09).

Para Edward P. Thompson a palavra classe , pode ser conceituada como

fenômeno histórico que se materializa nas relações:

Por classe, entendo um fenômeno histórico, que unifica uma série de acontecimentos díspares e aparentemente desconectados, tanto na matéria - prima da experiência como na consciência. Ressalto que é um fenômeno histórico. Não vejo classe como uma ‘estrutura’, nem mesmo como uma ‘categoria’, mas com o algo que ocorre efetivamente e cuja ocorrência pode ser demonstrada nas relações humanas. (THOMPSON, 2004: 9)

Relações estas que acabam por se estabelecer de maneira conflituosa por

ser regulada por interesses que divergem. O da burguesia é obter o lucro e a mais-

valia através da expropriação do trabalho. O da classe operária é o de obter salários

e direitos que supram suas necessidades básicas de sobrevivência. Sendo que cada

grupo social em tempos e espaços diferentes culturalmente exibem um padrão

diferenciado de necessidades básicas.

Com relação à formação da Classe Operária, Edward P. Thompson relata:

Contudo, uma vez tomadas todas as precauções necessárias, o fato relevante do período entre 1790 e 1830 é a formação da ‘classe operária’. Isso é revelado, em primeiro lugar, no crescimento da consciência de classe: a consciência de uma identidade de interesses entre todos esses diversos grupos de trabalhadores, contra os interesses de outras classes. E, em segundo lugar, no crescimento das formas correspondentes de organização política e industrial. Por volta de 1832, havia instituições da classe operária solidamente fundadas e autoconscientes – sindicatos, sociedades de auxílio mútuo, movimentos religiosos e educativos, organizações políticas, periódicos – além das tradições intelectuais, dos padrões comunitários e da estrutura da sensibilidade da classe operária.(THOMPSON, 2002: 17).

O que determina o limite entre a classe burguesa e a do operariado industrial

é que a primeira detém os meios de produção enquanto a outra alimenta este

sistema. Theo Santiago argumenta que “a produção maciça de mercadorias repousa

sobre a exploração do trabalho assalariado, daqueles que nada possui, realizada

pelos possuidores dos meios de produção”. (1988:138)

Com relação ao surgimento da divisão entre as classes, relata Thompson:

Nas décadas após 1795, houve uma profunda separação entre as classes na Inglaterra, e os trabalhadores foram lançados a um estado de apartheid cujos efeitos nos detalhes da discriminação social e educacional - podem ser sentidos até hoje. É nisso que a Inglaterra diferia de outras nações européias: o fluxo de sentimentos e disciplinas contra-revolucionárias coincidiu com o fluxo da Revolução Industrial; na medida em que avançavam novas técnicas e formas de organização industrial, recuavam os direitos sociais e políticos. A

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aliança ‘natural’ entre uma burguesia industrial impaciente, com idéias radicais, e um proletariado em formação rompeu-se tão logo chegou a se formar. (THOMPSON, 2004: 196).

Quanto aos conflitos no processo de industrialização, nas relações entre

estas classes, presentes em diferentes recortes temporais e espaciais, nos

reportando ao estudo dos séc.XVIII e XIX na Inglaterra, veremos que muitos destes

males sociais presentes no contexto pesquisado, estão presentes no contexto da

Revolução Industrial Inglesa:

Podemos descobrir, em algumas das causas perdidas do povo da Revolução industrial, percepções de males sociais que ainda estão por curar. Além disso, a maior parte do mundo ainda hoje passa por problemas de industrialização e de formação de instituições democráticas, sob muitos aspectos semelhantes a revolução industrial. (THOMPSON, 2004: 13).

No Brasil, o processo mais intensivo de industrialização ocorreu tardiamente

se comparado com os séc. XVIII e XIX em que se intensificou na Europa, porém

fatores presentes na estrutura e no cotidiano desta estão presentes, embora em

tempo diferente.

As relações entre a burguesia e o operariado se estabelecem no contexto do

espaço físico da fábrica e ampliam ações no cotidiano cultural pertinente a estes

grupos ou classes.

Quanto à estrutura da fábrica, elementos presentes na atualidade

apresentam semelhanças com o cotidiano da fábrica no séc. XVIII e XIX na

Inglaterra.

A fábrica surge como símbolo das energias sociais que estão destruindo o verdadeiro ’curso da natureza’. Ela incorpora uma dupla ameaça a ordem estabelecida. A primeira, proveniente dos proprietários da riqueza industrial, esses novos ricos que desfrutam de uma vantagem injusta sobre os proprietários da terra, cuja renda estava limitada aos arrendamentos. (THOMPSON, 2002: 11).

Algumas representações marcam a memória individual e coletiva das

pessoas, relacionando a estrutura física a conceitos. Exemplo desta representação é

a chaminé. Uma estrutura de tijolos, na maioria das vezes alta a se destacar pela

sua visibilidade principalmente em épocas em que a verticalização das construções

tomava menos parte na paisagem. Para Aurélio Buarque de Holanda Ferreira

(2001:148) Chaminé é: “ Tubo que comunica a fornalha com o exterior e serve para

dar tiragem ao ar e aos produtos da combustão.”

Dentro da estrutura da fábrica, está ainda a presença da máquina. Esta

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responsável potencialmente pela passagem da manufatura para a maquinofatura e

por mudanças estruturais nas relações de trabalho.

Karl Marx em seu célebre livro O Capital, descreve a presença da máquina

como expropriadora da vida do trabalhador:

A maquinaria aumenta o material humano explorável pelo capital, ao apropriar-se do trabalho das mulheres e das crianças; como confisca a vida inteira do trabalhador; ao estender sem medida a jornada de trabalho; e como seu progresso, que possibilita enorme crescimento da produção em tempo cada vez mais curto, serve de meio para extrair sistematicamente mais trabalho em cada fração de tempo, ou seja, para explorar cada vez mais intensivamente a força de trabalho. (KARL MARX, 2001: 476,479).

O enorme crescimento da produção em tempo cada vez mais curto, é o que

Marx toma por base para explicar a mais-valia, que é diferente de lucro e que

apresenta diversas interfaces constituindo um capítulo inteiro de sua obra O Capital.

Mesmo podendo parecer uma distância de tempo muito longo o estabelecido

entre os elementos apresentados por Marx e a realidade da fábrica em União da

Vitória na década de 50, a observação nas pesquisas apontam para a necessidade

de abordar estes elementos:

Na manufatura, os trabalhadores são membros de um mecanismo vivo. Na fábrica, eles se tornam complementos vivos de um mecanismo morto que existe independente deles. O trabalho na fábrica exaure os nervos ao extremo, suprime o jogo variado dos músculos e confisca toda a atividade livre do trabalhador, física e espiritual. (KARL MARX, 2001: 482, 483).

Trazendo este contexto para a industrialização no Brasil no século XX,

constatamos que a realidade foi calamitosa, como narra Jacob Gorender :

Os salários eram muito baixos... A jornada de trabalho habitual se estendia de onze a doze horas e as condições higiênicas e de segurança, dentro das fábricas, só podem ser caracterizadas como calamitosas. Na indústria têxtil, em particular, proletariado era constituído, em sua maioria, por mulheres e crianças. Segundo testemunho insuspeito do começo do século XX, a idade mínima para o trabalho fabril era de... cinco anos! Numa das fábricas de Matarazzo, foram encontradas máquinas de proporções apropriadas ao manejo infantil. Pior ainda: os menores viam-se forçados a horários noturnos de onze horas e, com freqüência, sofriam espancamentos dentro das fábricas. (GORENDER, 1981: 48)

Descrevendo os direitos do operariado, afirma Jacob Gorender que no inicio

do século XX:

Não havia descanso semanal remunerado, férias remuneradas, seguro contra acidentes, previdência social, nada enfim, que impusesse algum limite legal à taxa de exploração da força de trabalho.(GORENDER,1981:48).

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Estes direitos vão sendo conquistados um a um e legitimados através da

CLT (Consolidação das leis do trabalho-Decreto-lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943-

DOU de 09/08/1943). Porém com sérios comprometimentos na efetivação, seguindo

um percurso de conflitos entre as classes.

Quanto ao recorte temporal selecionado para a problematização local pode

ser avaliado como uma nova fase, por Milton Santos (2003: 43): “A partir de 1945 e

1950 a indústria brasileira ganha novo ímpeto. (...) Registram-se no Brasil em 1950,

71.027 estabelecimentos industriais e 1.295.236 pessoas ocupadas”.Período relativo

ao Pós 2º Guerra Mundial, em que algumas das estruturas nas políticas públicas

promovem avanços capitalistas. Nesse mesmo sentido, segundo Cláudio Roberto

Bragueto (Geografia, Londrina, v. 11, n. 1: 33/45, 2002):

[...] foi na década dos 50 que o capitalismo monopolista entra em plena expansão no Brasil, dominando a acumulação do capital e modificando profundamente a fisionomia econômica e social do país. Inicialmente, ainda foi com o capital estatal que se criaram a Petrobrás, a Cosipa, a Usiminas e diversas companhias de eletricidade (Chesf, Furnas, etc.). Mas, no quadro de uma industrialização acelerada pela execução do Plano de Metas do presidente Juscelino Kubitschek (1956-61), capitais multinacionais foram atraídos em grande escala ao país, tornando a hegemonia do capital monopólico definitiva no Brasil.

No referido artigo, Bragueto se utilizou de dados estatísticos que

propuseram análises da realidade.

Justifica-se a escolha desta década por ter sido apontada pelos teóricos,

Milton Santos e Bragueto dentre outros, como sendo um período de grande

movimentação Industrial, no Estado do Paraná e no Brasil. Período pós 2ª Guerra

Mundial, quando o capitalismo estende seus tentáculos nos países em que a

Industrialização se apresentava timidamente e agora impulsionada por incentivos

estruturais por parte dos Governos do Estado do Paraná1 e do Brasil2. Período em

que, em nome do desenvolvimentismo, o capital estrangeiro amplia suas aplicações

nos países em desenvolvimento e se evidenciam privilégios concedidos a

determinada parcela da sociedade, a burguesia, e a influência da legitimação do

poder burguês, ou seja, a influência de benefícios oriundos da criação de leis, nesta

formação.

1 Moisés Lupion, Bento Munhoz da Rocha Neto, Antônio Anibelli, Adolpho de Oliveira Franco e

novamente Moisés Lupion.

2 Gaspar Dutra, Getúlio Vargas, café Filho, Carlos Luz, Nereu Ramos e Juscelino Kubitschek.

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O percurso da industrialização no Estado do Paraná vai acontecendo

concomitantemente a urbanização dos centros maiores e a diversidade de

necessidades de consumo a que o capitalismo vai submetendo a cultura nacional.

Cultura esta também diversa devido aos povos todos que compõem este contexto

“nacional”.

As décadas que antecedem 1950, segundo Magnus Roberto de Mello

Pereira (1996) é marcada de 1850 a 1940 por biografia orgânica do mate. Embora

sofrendo críticas pelas terminologias, Magnus se utiliza da terminologia “Indústria do

Mate” e “Burguesia do Mate” por considerar que a estrutura que alimentava esta

produção extrapolava os limites do beneficiamento primário de um produto extrativo.

Afirma o autor que “se não fosse pela utilização simultânea de mão de obra livre e

escrava, a indústria ervateira, caso localizada na Europa, incluir-se ia sem qualquer

ressalva entre tantos outros ramos indústrias que seguiram trajetórias similares.”

Para Dennison de Oliveira (2001:24), alguns fatores são determinantes: “O

início do processo de industrialização coincide com a intensificação das políticas

imigratórias e com o auge do ciclo da erva-mate”.

Porém, é quando o Estado aplica intervenções em defesa de políticas

direcionadas a servir ao modelo capitalista é que o processo de industrialização se

desenvolve mais rapidamente. Dennison de Oliveira complementa:

Esse processo só ganhou impulso, verdadeiramente, a partir de 1960, quando as condições institucionais de intervenção do Estado brasileiro na promoção da industrialização já havia produzido expressivos resultados, no plano nacional e regional. Suas manifestações mais visíveis, contudo, como a transformação dos métodos de trabalho, a generalização das formas de pagamento assalariado e a incorporação de forma sistemática de inovações tecnológicas, podem ser observadas já no final do século XIX. Assim, por meio da exploração do mate, da madeira e do café é que a industrialização no Paraná começa a se forjar. (OLIVEIRA, 2001: 25)

Ainda, fatores ligados a conjuntura nacional criados pelo governo de Getúlio

Vargas influenciam de forma sistemática. Em 1945, apresenta um governo populista

em que acima dos interesses das classes sociais, favorece o desenvolvimento do

capitalismo.

Durante o cenário político da transição da ditadura estadonovista para a

redemocratização do país quando são visíveis no cenário nacional mudanças

estruturais, sobressai no Estado do Paraná a figura política de Moyses Lupion que

dominou este cenário por mais de 15 anos. De 1946 até 1964.

Segundo Maria Cristina Colnaghi:

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Sua geração não se vinculava à atividade extrativa da erva-mate, nem ao nascente cultivo do café, mas fundamentalmente ao Boom da madeira. A madeira foi o grande negócio do chamado “Grupo Lupyon”, que se dedicava à extração, beneficiamento e exportação. ( COLNAGHI, 1991: 10)

O extrativismo vegetal marcou extensas regiões por modificação na

paisagem, conflitos intensos relacionados a legalização de terra, ocupações,

destruição da natureza, exploração desordenada ocasionando extinção de

espécies nativas como a Imbuia por exemplo.

O contexto explorado para a pesquisa, União da Vitória na década de 50, se

sobressai no cenário estadual como região destaque na indústria madeireira.

A realidade uniãovitoriense é narrada pela historiadora Leni T. Gaspari:

A história das ‘Gêmeas do Iguaçu está ligada às características culturais dos seus primeiros povoadores, aliada a fatores ambientais próprios do espaço físico onde elas estão inseridas. A historicidade desse espaço e do seu povo entrelaça-se na constituição de relações sociais e relações de poder que irão configurar-se no desenvolvimento econômico e cultural da sociedade local.No século XVIII, inúmeras expedições fluviais desceram o Rio Iguaçu, passando pelos territórios onde hoje estão as cidades sem, entretanto, estabelecer núcleos de povoamento que caracterizassem a fixação do homem no local onde viria a ser a cidade de União da Vitória.União da Vitória tem sua história ligada a ocupação dos Campos de Palmas e à criação de gado naquele local. Em função desse povoamento, abriram-se novos caminhos para escoar produção, bem como para aquisição de suprimentos necessários aos moradores. A comercialização era feita em Palmeira e Sorocaba e o abastecimento de víveres e de sal era feito por Curitiba e Paranaguá. O caminho era longo e difícil, Surge, então, a necessidade de encurtar o trajeto entre Palmas e Palmeira por onde seriam conduzidas as tropas de gado...Entre esses agrupamentos humanos surge Porto da União da vitória ( nome primitivo) como ponto de travessia do rio e como porto de desembarque do sal e outros produtos, constituindo-se assim, sua formação inicial ancorada no processo econômico. Junto ao vau estabeleceu-se o pouso dos tropeiros, nascendo nos arredores os primeiros estabelecimentos comerciais tendo entre outros produtos, artesanatos e artigos de couro para abastecer os viajantes. (GASPARI, 2005:92)

Na década de 50, o comércio prosperava e o processo de urbanização

avançava conjuntamente ao da industrialização da madeira, alterando o contexto

natural, político, social e econômico da cidade.

Porém, o acervo bibliográfico existente é difuso, as informação encontram-se

espalhadas e da forma que se apresentam, não contextualizam a situação das

indústrias em União da Vitória na década de 50. Quais eram as indústrias, suas

implicações de impacto na natureza visto que o produto de matéria-prima era com

tudo, exclusivamente a madeira.

Também os impactos sociais, políticos, culturais, econômicos advindos da

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relação entre as classes operariado e burguesia, durante o período em que ocorre o

processo de industrialização e de urbanização. Porém as fontes estão disponíveis à

pesquisa. As chaminés de fábricas desativadas, a grande maioria delas localizadas

nas margens do Rio Iguaçu estão hoje solitárias na paisagem, revelando que em

algum momento da História de União da Vitória elas movimentaram uma estrutura

que está oculta.

A sociedade uniãovitoriense na década de 50, notadamente as indústrias de

extração e beneficiamento da madeira, estabelecidas e ou que expandiram seu

capital e sua produção nesta década, foram investigadas através da pesquisa em

registros nos processos trabalhistas existentes no acervo da FAFI (Faculdade

Estadual de Filosofia Ciências e Letras) de União da Vitória, doado pelo Ministério

do trabalho; nos Jornais locais “O Comércio” e “O Caiçara” de União da Vitória, o

Jornal “Gazeta do Povo” de Curitiba, e ainda em entrevistas com trabalhadores que

vivenciaram esta década, no cotidiano da fábrica e foram partícipes dos conflitos

oriundos da relação entre operariado e burguesia.

2- O ESTUDO DA HISTÓRIA LOCAL E A NARRATIVA COMO POSSIBILIDADE

DE PRODUÇÃO DA CONSCIÊNCIA HISTÓRICA

Estudar o local, o espaço imediato de ocupação humana, pode trazer

elementos que extrapolam o micro, e dialogam com elementos de outros tempos e

espaços históricos, superando uma visão reducionista de história mundial mais

importante que história nacional e local:

Sem situar devidamente os problemas nacionais e ampliar o conhecimento sobre a realidade brasileira. Pode-se reforçar a idéia de que os conflitos internos e seus agentes sociais desempenham papel secundário na construção da nação. (BITTENCOURT, 2004: 158)

Porém, de pouco adianta para a produção do conhecimento histórico se

elementos da consciência histórica não estiverem acionados. Para Jörn Rüsen, o

processo de consciência histórica está intrinsecamente ligado a produção da

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narrativa histórica.

Só se pode falar de consciência histórica quando, para interpretar experiências atuais do tempo, é necessário mobilizar a lembrança de determinada maneira: ela é transposta para o processo de tornar presente o passado mediante o movimento da narrativa. A mera subsistência do passado na memória ainda não é constitutiva da consciência histórica. Para a constituição da consciência histórica requer-se uma correlação expressa do presente com o passado- ou seja, uma atividade intelectual que pode ser identificada e descrita como narrativa (histórica). (RÜSEN, 2001: 64)

Para que o aprofundamento da história local aconteça, com ele se realize a

inter-relação de elementos inseridos nos demais contextos e que a narrativa

histórica possa ser produzida esta história local que não está registrada como escrita

e nem sistematizada, se fundamentará em fontes. Trabalho com fontes, para além

de estruturação técnica, mas como diálogo com registros escritos e orais de

experiências humanas.

3 - O USO DE FONTES DOCUMENTAIS: HISTÓRIA LOCAL

FIGURA 2 - PROCESSO TRABALHISTA

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Foto: Delamar Aparecida de Souza Corrêa

FIGURA 3 - ENTREVISTA ORAL FIGURA 4 – ENTREVISTA ORAL

VICTOR FERNANDES DOS SANTOS AFRÂNIO BERTIER

Foto: Delamar Aparecida de Souza Corrêa Foto: Delamar Aparecida de Souza Corrêa

FIGURA 5 – JORNAL “O COMÉRCIO”

17

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Foto: Delamar Aparecida de Souza Corrêa

FIGURA 6 – JORNAL “GAZETA DO POVO” - MÁQUINA PARA LEITURA

MICROFILMADA BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARANÁ

Foto: Delamar Aparecida de Souza Corrêa

A utilização de documentos como possibilidade metodológica para análise e

estudo da década, traz subsídios que contribuem subjetivamente na produção da

narrativa histórica e na compreensão do processo histórico. “O uso de documentos

nas aulas de História justifica-se pelas contribuições que pode oferecer para o

desenvolvimento do pensamento histórico.” (BITTENCOURT, 2004: 333).

A utilização de periódicos na pesquisa requer alguns levantamentos prévios.

18

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no caso da presente pesquisa, em União da Vitória na década referenciada, existiam

os periódicos: “O Comércio” e “O Caiçara”.

O acesso ao Jornal “O Caiçara” é restrito ao professor, mediante documento

da instituição e para leitura no local. Já o Jornal “O Comércio” possui espaço

estruturado para pesquisa em grupo e sendo acompanhado pelo professor acolhe

grupo de 10 alunos em sala específica, cujo acervo é amplo, um encadernamento

por ano da década. Porém também só está disponível para consulta sem

possibilidade de fotocopiar. Quanto ao Jornal “Gazeta do Povo”, em Curitiba na

Biblioteca Pública do Paraná, existe acervo cuja organização está digitalizada em

filmes possibilitando a leitura em máquina específica, conforme ilustra a figura de

número 6, podendo ser fotocopiada.

Após a leitura em diversas edições dos periódicos, constata-se a dificuldade

de juntar informações suficientes para obtenção de subsídios que possibilitem a

produção de narrativa histórica.

Os processos trabalhistas estão em acervo do departamento de História da

FAFI, a disposição da pesquisa e cuja possibilidade está ao acesso de professores e

alunos, desde que agendada a consulta, porém em espaço que possibilita apenas

pequenos grupos. Fonte importantíssima, processos que retratam os mais diversos

conflitos entre as classes, onde queixas trabalhistas estão expostas, o cotidiano

retratado de forma muito dura, e com amplas possibilidades de abordagens.

Quanto a fonte oral, na medida em que começam os contatos para seleção

dos entrevistados, a quantidade vai se multiplicando e acaba exigindo até uma

seleção a fim de diversificar e delimitar o número deles. Enquanto fonte, trás do

passado informações preciosas que permitem serem conflitadas, comparadas,

exploradas de tal forma que a junção com as das demais fontes, permite com muita

propriedade e sutileza propiciar dados possíveis para que se efetive a narrativa

histórica do tema.

A presente pesquisa se valeu da metodologia qualitativa, utilizando a

entrevista “temática”, ou seja, da memória do entrevistado são objetivadas as

experiências individuais e coletivas relativas ao tema proposto e a década em

questão.

Lucília de Almeida Neves conceitua história oral:

A história oral é um procedimento metodológico que busca, pela construção de fontes e documentos, registrar, através de narrativas induzidas e estimuladas, testemunhos, versões e interpretações sobre a História em suas múltiplas dimensões: factuais, temporais, espaciais, conflituosas, consensuais...Portanto, a a história oral é um procedimento, um meio, um

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caminho para a produção do conhecimento histórico. (NEVES: 2003, 27/38 )

Alguns encaminhamentos são propostos pelos autores José Carlos Sebe B.

Meihy e Fabíola Holanda (2007:16-17) como prescrição para o êxito do trabalho com

fonte oral: seleção dos entrevistados; local apropriado e da concordância do

entrevistado; tempo previsto adequado; aparelho tecnológico testado com

antecedência; transcrição e conferência da informações; pedido de autorização em

carta de cessão de uso da transcrição da fala; compromisso com a devolução da

produção ao entrevistado.

As entrevistas objetivam fornecer elementos, informações, versões e

interpretações sobre a vida cotidiana em fábricas da década de 50 em União da

Vitória e as relações estabelecidas entre os sujeitos envolvidos neste cotidiano,

notadamente a burguesia e o operariado.

As versões são comparadas, analisadas e acrescidas às informações obtidas

nos periódicos e processos trabalhistas a fim de possibilitar a produção de narrativa

histórica contextualizando, dentro do tema Industrialização: a formação da burguesia

e do operariado em União da Vitória na década de 50.

3.1 - ORGANIZAÇÃO DA PESQUISA COM A FONTE ORAL

1 - Levantamento bibliográfico do trabalho com a fonte oral, comparando

informações com periódicos e processos trabalhistas;

2 - Definição do “Perfil” dos entrevistados, sua atuação no contexto das

preocupações com relação ao tema;

3 - Realização de roteiro de entrevistas;

4 - Aplicação das entrevistas;

5 - Transcrição das gravações, que aconteceram com gravador digital;

6 - Conferência de fidelidade;

7 - Análise comparativa das entrevistas e destas com as outras fontes, quais

sejam: periódicos e processos trabalhistas;

8 - Retorno aos depoentes e ou as outras fontes caso seja necessário para que

as informações sejam precisas, as evidências construídas e os objetivos

alcançados;

9 - Produção de narrativa histórica acerca das relações estabelecidas entre o

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operariado e a burguesia na década de 50 em União da Vitória no contexto da

fábrica (industrial)

10 – Possibilidades de atividades

3.1.1 - Roteiros de entrevista

Seguindo orientações do (CPDOC) Centro de Pesquisa e Documentação em

História Contemporânea do Brasil a pesquisa oral terá:

•Um roteiro Geral;

•Uma quantidade de roteiros individuais correspondentes ao número de

entrevistados, ( neste caso atenderá às especificidades das funções que

ocuparam no cotidiano da fábrica);

Após a análise, interpretação, comparação dos dados, serão incluídas

informações pesquisadas nos periódicos e processos trabalhistas, podendo

haver retorno aos questionamentos feitos aos entrevistados a fim de ampliar

qualitativamente as informações e possibilitar a produção de narrativa histórica

sobre o tema.

Realização das entrevistas:

Roteiro de entrevista aos depoentes que, aplicado de forma oral, em entrevista

aberta e gravada.

PERFIL 1 - OPERÁRIO

Ter trabalhado como operário em fábricas de União da Vitória na década de 50.

ROTEIRO DE ENTREVISTA – PERFIL 1

1) No seu setor, na sua função, pode descrever o seu trabalho?

2) Pode descrever a estrutura física interna e externa da fábrica?

3) Como era os arredores?

4) Em quantos turnos funcionava a fábrica?

5) Em que turno trabalhava?

6) Qual a carga horária que era obrigada em seu setor?

7) Existia alguma forma de compensação por trabalho fora do horário

estabelecido?

8) Seu tempo para a produção do seu trabalho era livre ou regulado por

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tempo/produção?

9) Na época, tinha conhecimento claro de seus direitos e deveres para com o seu

trabalho e para com a fábrica?

10) Que direitos trabalhistas destes que são efetivados na atualidade que já eram

na década de 50: férias, décimo terceiro salário, seguro desemprego, seguro

para acidentes de trabalho,outros;

11) Tem lembrança da idade mínima que a fábrica admitia trabalhadores?

12) Como agia com relação às ordens a serem cumpridas?

13) Como era punido o trabalhador que de alguma forma deixasse de cumprir

parcial ou totalmente as ordens estabelecidas?

14) Como era seu vínculo empregatício?(contrato, carteira assinada)

15) Onde trabalhava antes da fábrica?

16) Como chegavam até os operários as informações sindicais?

17) Onde morava? distância da residência/fábrica

18) Como era a sua relação com os outros operários, encarregado, guarda-livros

e Patrão?

19) Qual a sua opinião hoje sobre o trabalho e a fábrica em que trabalhou na

década de 50?

20) Os operários usavam algum tipo de equipamento para prevenção de

acidentes?

21) Aconteciam muitos acidentes de trabalho?

22) Qual o encaminhamento era dado aos casos?

PERFIL 2 – ENCARREGADO

Ter exercido a função de encarregado de setor no cotidiano da fábrica na década de

50 em União da Vitória;

ROTEIRO DE ENTREVISTA - PERFIL 2:

1)Qual era a sua função no cotidiano da fábrica?

2)Qual era a sua jornada de trabalho?

3)A fábrica funcionava por turnos? qual o seu turno?

4)Obtinha quais benefícios comparados aos dos operários por exercer este

cargo?

5)Como era seu salário se comparado aos demais?

6)Como agia a fim de obter a execução do seu trabalho?

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7)Como era a sua relação com os operários, guarda-livros e patrão?

8)Quais e em que ocasiões eram aplicadas sansões(punições,ganchos)?

9)Como agia com relação ao sindicato e representante dele dentro da fábrica?

10) Em que trabalhava antes de ser encarregado?

11) Tinha algum poder de decisão sobre as demissões ou nas mudanças de

setores dos operários?

12) Haviam trabalhadoras mulheres?

13) Qual a idade mínima que a fábrica exigia para os operários?

14) Haviam diferenças na exigência do cumprimento do trabalho aplicados às

mulheres e menores?

15) Tem conhecimento dos regimes de contratos trabalhistas dos

operários?(carteiras assinadas, trabalho informal)

16) Qual o regime do seu contrato de trabalho?

17) O operariado usava algum equipamento de prevenção contra acidentes?

18) Aconteciam muitos acidentes de trabalho? Quais?

ROTEIRO GERAL (APLICADO A AMBOS)

1)Qual seu nome?

2)Sexo

3)Etnia

4)Em quais indústrias trabalhou na década de 50 em União da Vitória?

5)Qual função que exerceu neste contexto?

6)Quanto tempo trabalhou?

7)Qual o produto final fabricado na fábrica em que trabalhou?

8)Qual a matéria-prima utilizada pela fábrica?

9)Tem idéia das formas utilizadas pela fábrica para aquisição da matéria prima?

10) Em que turno trabalhava?

11) Que direitos trabalhistas eram efetivados: férias, jornada de trabalho, seguro

para casos de acidentes de trabalho, dentre outros;

3.1.2 - Carta de cessão de uso da entrevista

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União da Vitória, ..................................................... de 2008.

Eu,................................................................................. estado

civil.......................RG.................................,declaro concordar que meu depoimento

oral seja transcrito e colabore na produção de Narrativa Histórica e demais

produções referentes ao Projeto: A Industrialização em União da Vitória na

década de 50: formação da burguesia e do operariado. Projeto este da autoria

da Professora de História Delamar Aparecida de Souza Corrêa, aluna do PDE

(Programa de Desenvolvimento Educacional) -2008 da SEED (Secretaria de Estado

da Educação), NRE/UVA (Núcleo Regional de Educação-União da Vitória) e

orientado pela Prof. Dra. Janaina Zito Losada da UFPR (Universidade Federal do

Paraná).

Concordo em participar voluntariamente, com acesso às produções obtidas

com base no meu e demais depoimentos, sabendo que não será utilizada para fins

lucrativos.

__________________________ ____________________________

Participante da Pesquisa Pesquisadora

Nome completo: Nome completo:

CPF: CPF:

Endereço: Endereço:

Cidade: Cidade:

Telefone: Telefone

3.1.3 - Carta de cessão de uso da imagem do entrevistado

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União da Vitória, ..................................................... de 2008.

Eu,................................................................................. estado

civil.......................RG.................................,declaro concordar que minha imagem

sendo entrevistado pela pesquisadora seja publicada e colabore na produção de

Narrativa Histórica e demais produções referentes ao Projeto: A Industrialização

em União da Vitória na década de 50: formação da burguesia e do operariado.

Projeto este da autoria da Professora de História Delamar Aparecida de Souza

Corrêa, aluna do PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional) -2008 da SEED

(Secretaria de Estado da Educação), NRE/UVA (Núcleo Regional de Educação-

União da Vitória) e orientado pela Prof. Dra. Janaina Zito Losada da UFPR

(Universidade Federal do Paraná).

Concordo em participar voluntariamente, com acesso às produções, sabendo

que não será utilizada para fins lucrativos.

__________________________

____________________________

Participante da Pesquisa Pesquisadora

Nome completo: Nome completo:

CPF: CPF:

Endereço: Endereço:

Cidade: Cidade:

Telefone: Telefone

3.1.4 - Carta de cessão de uso de imagem (fotografias)

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União da Vitória, ..................................................... de 2008.

Eu,................................................................................. estado

civil.......................RG.................................,declaro concordar que minhas imagem

(fotografias)........................................................................ sejam utilizadas e

publicadas, sendo para tal citada minha autoria, colaborando na produção de

Narrativa Histórica e demais produções referentes ao Projeto: A Industrialização

em União da Vitória na década de 50: formação da burguesia e do operariado.

Projeto este da autoria da Professora de História Delamar Aparecida de Souza

Corrêa, aluna do PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional) -2008 da SEED

(Secretaria de Estado da Educação), NRE/UVA (Núcleo Regional de Educação-

União da Vitória) e orientado pela Prof. Dra. Janaina Zito Losada da UFPR

(Universidade Federal do Paraná).

Concordo em ceder as imagens, desde que meu nome seja citado como

autoria, voluntariamente, com acesso às produções, sabendo que não será utilizada

para fins lucrativos.

__________________________

____________________________

Participante da Pesquisa Pesquisadora

Nome completo: Nome completo:

CPF: CPF:

Endereço: Endereço:

Cidade: Cidade:

Telefone: Telefone

Terminadas as entrevistas, as transcrições são comparadas entre elas, e

cruzadas com as demais fontes, com a fundamentação teórica e assim os subsídios

para a produção da narrativa vão completando uma espécie de quebra-cabeça da

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História das relações estabelecidas entre a burguesia e o operariado em União da

Vitória na década de 50.

4 – EM BUSCA DAS CHAMINÉS ABANDONADAS DE UNIÃO DA VITÓRIA:

INDUSTRIALIZAÇÃO NA DÉCADA DE 50

Seguindo itinerário que contorna o Rio Iguaçu, cujo formato se assemelha a

uma ferradura quando observado em foto aérea, perdidas ou solitárias na paisagem

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estão as chaminés. Chaminés que no passado, principalmente na década de 50,

movimentaram a estrutura de fábricas que já não existem mais, ou mudaram de

proprietários e ou de endereços.

Para além da estrutura física que está posta nos tijolos das chaminés,

quando investigadas as estruturas relacionadas às relações sociais vão saindo do

esquecimento e sendo resgatadas, interrogadas e narradas como história.

História, advinda da memória individual e coletiva do operariado de diversos

setores, suas ações e relações estabelecidas entre os iguais e principalmente com a

burguesia.

Neste contexto, o cotidiano da fábrica é descrito pelos entrevistados: a

matéria-prima utilizada (madeira na maioria dos casos), o transporte, os diversos

setores, a produção, a jornada de trabalho, as horas extras, o regime de trabalho e

as demais outras questões descritas pelo roteiro de entrevistas, e que constam nos

processos trabalhistas.

Ao confrontar as transcrições das gravações com as matérias selecionadas

nos periódicos e os processos trabalhistas, com as fontes teóricas consultadas, as

informações vão se encaixando como um quebra-cabeça e as chaminés ocultas

agora revelam uma parte da história de União da Vitória, de uma parcela de sujeitos

sociais, o operariado.

Na década de 50 em União da Vitória o comércio prosperava e a burguesia

industrial intensificava o processo de extração e beneficiamento da madeira. Outras

indústrias como a de produção de tapetes, sementes agrícolas, da produção da

erva-mate, mas essencialmente a madeira toma conta do cenário municipal.

Apresentam estrutura semelhantes entre si e também permanências se

comparadas às da Europa nos séculos referenciados pela historiografia como a

Revolução Industrial. Os setores eram diversos, neles trabalhavam operários

homens e mulheres, por vezes menores de idade.

As formas de contratos trabalhistas eram regulamentados por registros em

carteira de trabalho e empregos informais, quais sejam: contratos diários, por

empreitada e outras formas.

Cada operário era responsável por determinada parte da produção.

Diferindo do sistema da manufatura, onde o operário acompanha o produto desde a

matéria prima até o produto final.

A aquisição da matéria-prima incluía na maioria das vezes a compra da

terra. Processo conflituoso devido a situações como: a relação entre o preço e a

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realidade de mercado; proprietários que não possuíam escrituras das terras

(posseiros); o sistema de fiscalização dos registros de terra que facilitava

regulamentações indevidas por parte de cartórios em benefício dos donos do capital;

sistema de medição de terras sem muito controle, auferindo problemas relacionados

às cercas de limite das terras. Motivos estes que facilitavam a aquisição da matéria-

prima.

A matéria-prima utilizada era o Pinheiro (Araucária Augustifólia), a Imbuia

(Ocotea Porosa), o Cedro (Cedrela Odorata), dentre outras madeiras.

FIGURA 7 - TRANSPORTE DE IMBUIA – Década de 50

Foto: Acervo Foto Íris ltda.

Quanto a trajetória da matéria-prima, é descrita em detalhes pelos

entrevistados, seguindo uma estrutura semelhante: no “mato” as firmas tinham

serrarias, com gerentes e operariado diverso, que residiam em casas da serraria. Os

operários que moravam no “mato” obtinham alimento em armazéns que eram de

propriedade do patrão, na maioria das vezes. Os alimentos eram marcados em

sistema de cadernetas. Sistema este que também aparece nos relatos referentes às

fábricas na cidade. Inclusive no processo de número 4291, consta um conflito

envolvendo um gerente que foi demitido por justa causa e reivindicava na justiça

explicação do que seria a “justa causa”, e num dos argumentos do patrão consta:

[...] as ordens tem de ser feitas em nome do operário e não em nome de n/ firma, a ordem que estiver em nome da firma nós pagamos.Ordem do operário- A ordem que for dada ao, operário, e que ele não tenha crédito quer diser, não tenha “haver”, também não pagamos, o gerente da serraria é o responsável.- assim não dê, ordem para ninguém quando ele não tem haver- Assim o operário sabendo que si ele não compra si não tiver haver, ele então

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trata de trabalhar, ou então que passe fome.- assim é o único meio dele trabalhar, - porque nós não temos obrigação de sustentar quem não quer trabalhar, não acha? (Processo nº4291 de 18/5/1955)

Seguindo o mesmo processo, mais adiante vem os depoimentos de

operários trazidos pelo gerente para testemunhar a seu favor, afirmam que nem

todos tinham carteira assinada por mês, muitos deles trabalhavam por dia (emprego

informal) e que em muitos dias por diversos motivos não havia trabalho para eles e

portanto não havia registro de haver. O advogado do gerente argumenta:

[...] o declarante informa que a firma reclamada deixava de trabalhar em virtude da falta de gazolina - óleo -correias e até mesmo por falta de mantimentos aos operarios; que os operarios em geral recebem o pagamento em base de troca de alimentos e dificilmente com pagamento em dinheiro... (Processo nº 4291/57)

Quando perguntado a um dos entrevistados porque se submetiam ao

sistema de cadernetas, afirma que não tinham outras alternativas e que os salários

eram baixos. Com relação aos salários nos chama a atenção a manchete do Jornal

“O Comércio” de 17 de janeiro de 1959- nº 594- 2ª página: “Salário Mínimo somente

em fins de fevereiro. Muitas indústrias em situação precária em face do

desproporcional aumento de ordenados ultrapassar o próprio lucro auferido pelas

firma”. Discurso este muito utilizado pela burguesia para ocultar seu enriquecimento

e justificar os baixos vencimentos do operariado.

Retornando à trajetória da matéria-prima até chegar na fábrica, em casos

vinham por caminhão, trajeto bastante dificultado pela precariedade das estradas,

principalmente em dias de chuva. Os entrevistados descrevem um outro sistema de

transporte da madeira, muito utilizado na década, que é a jangada, onde as toras

eram amarradas umas nas outras e vinham pelo rio com uma pessoa sobre elas

guiando. Chegando nas margens da fábrica, seu Afrânio Bertie descreve o percurso

dela:

era descarregada na margem do rio, tinha um guincho que tirava as toras do rio, levantava encima do vagonete de uns 100 metros de distância e daí era descarregado já no pátio. .. Naquele tempo a tora era cozida. A Imbuia levava dois dias cozinhando. Não podia cozinhar com muita pressão e nem muito rápido por causa que se não ela partia.Ela rachava. Mas a madeira principal mesmo era o Pinho.O pinheiro,esse era a principal matéria prima que tinha para fazer compensado antigamente. No Bernardo Stamm fazia compensado e fábrica de caixas para a Cônsul. (Operário Afrânio Bertier em entrevista no dia 11-11-2008)

FIGURA 8 - JANGADA USADA PARA TRANSPORTE DE TORAS – Década de 50

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Foto: Acervo Foto Íris Ltda.

Depois de pronto, os produtos eram transportados de trem para São Paulo

na maioria das vezes, porém haviam outros destinos, Rio Grande do Sul por

exemplo. Esta trajetória envolve uma relação enorme de cargos e funções, como:

torno, colagem, estufas, esquadradeira e outras.

Seu Victor narra seu trabalho em uma das empresas:

[...] Entonce nóis trabaiava o dia inteiro aqui e tinha o carregamento de vagão, daí nóis ia carrega e nóis trabaiava até a meia noite. As veiz até a uma da madruga, nóis trabaiava e no outro dia às 7 hora outra veiz. Não ganhava hora extra...é que ali, a senhora sabe como é que é?era classificado porque como tem o ditado dos caboclo que “o cavalo mais manso é ocupado mais mesmo e é o que mais luta”. Então tinha otros que não. (Operário Victor Fernandez dos Santos em entrevista no dia 07-11-2008)

Já o encarregado entrevistado tem na lembrança a idéia de que a fábrica

pagava adequadamente os encargos de hora extra. Ainda neste sentido, constam

diversas reclamações a este respeito em processos trabalhistas movidos contra a

referida fábrica.

O conflito relacionado à hora extra está diretamente ligado aos mais diversos

conflitos constantes nos processos trabalhistas, dentre eles, reclamações por

demissões alegando justa causa, pedidos de indenização por acidentes de trabalho,

dentre outras.

A este respeito, dentre os inúmeros processos está o de nº 4111/56, onde

uma menor, efetiva reclamação trabalhista através de seu pai e representante legal,

por pedido de pagamento de hora extra e demais benefícios no momento do acerto

de demissão onde é alegada justa causa.

Quanto às demissões, são relatados que haviam notificações, no caso de

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faltar uma vez com os cumprimentos de trabalho, recebiam um dia de “gancho“ , ou

seja, o afastamento do trabalho por um dia sem remuneração, na segunda vez três

dias e assim se sucediam na base de três avisos para que o operário viesse a ser

demitido por justa causa. Os motivos das demissões variam desde falta no trabalho

até faltas disciplinares por desacato ao encarregado, gerente ou patrão.

Com relação aos direitos trabalhistas, o Jornal o Comércio nº 601-7 de

março de 1959 traz uma matéria que na verdade é um deboche às leis trabalhistas

vigentes e aos operários:

A amiga de todos, decreta a nova lei do trabalho para a felicidade de todos.

Art.1º- O empregado deve estar no serviço às 8 horas havendo uma

Tolerância de 2 horas, considerando-se as dificuldades de transporte, atrazo

de despertador, etc.

§ único- Antes de iniciar o serviço será servido café acompanhado de doces

no bar da churrascaria Mascote.

Art.2º Durante o serviço o empregado pode fumar, cantar, assobiar,pular,

dançar, jogar palito, e manter conversações.

Art.º 3º- Fica estabelecido um horário de três (3) horas para o almoço que

deve ser servido por donas boas, no refeitório do Estabelecimento ou na

churrascaria Mascote.

§ 1º- Durante o almoço tocará uma pequena orquestra e as quinta-feiras,

haverá “schow” com artistas nacionais e estrangeiros.

...Art 4º- Devido ao alto preço de ferramentas e materiais pertencentes ao

empregador, todos os empregados, deverão usá-las o menos possível a fim

de evitar rápido desgaste nunca fazendo em uma hora o que se pode fazer

em uma semana.

...Art. 6º - O empregador é obrigado a aceitar vales dos empregados, a

qualquer dia ficando proibido os descontos nas folhas de pagamento.

Art. 7º ...§ 2º- As moças poderão ir até a esquina conversar com os

namorados.

Art. 8º- O empregado que pegar no sono durante o serviço não poderá ser

acordado em hipótese alguma a não ser na hora da saída.

Art.9º- Duas vezes por ano o empregado terá direito em 90 dias de férias,

para um merecido repouso em Brasília. Nessa ocasião o empregador será

obrigado a emprestar seus automóveis, malas, máquinas fotográficas etc. E

ainda fornecer trajes necessários para um merecido repouso.

Art. 11º- Tratamento de doenças, dentes, manicures, engraxates, etc. devem

ser feitos de preferência nas horas do expediente, concorrendo o empregador

com 110 % das despesas.

Art. 12º - Revogadas as disposições em contrário. Sala das sessões, 3-1-59.

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José Cansado do trabalho. (Jornal ‘O Comércio” nº 601-7 de março de 1959)

O conteúdo desta matéria, juntado aos depoimentos e aos processos

trabalhistas, retratam relações bastante conflituosas estabelecidas entre a burguesia

e o operariado na década e possíveis motivos das causas de “indisciplina” do

operariado. Confrontando situações trabalhistas do operariado reivindicando direitos

salariais, com a referida matéria que retrata o poder aquisitivo da burguesia, nos

parece que de fato as classes diferem quanto ao poder aquisitivo de uma e de outra

e que há uma exploração por parte de quem detém os modos de produção e os

empregados, para com a do operariado que fornece através do trabalho, do salário e

benefícios expropriados a mais valia responsável pelo enriquecimento da burguesia

em questão.

Uma matéria no periódico Gazeta do Povo, divulgando propaganda de

escritório especializado em defender os direitos trabalhistas, em Curitiba, reafirma a

idéia dos conflitos referentes a efetivação dos direitos trabalhistas legitimados dela

CLT desde 1943:

“Trabalhador do Paraná Você tem uma questão trabalhista para resolver?

Tem férias, horas extraordinárias, aviso prévio ou indenização a pleitear na

Justiça do trabalho? Então consulte o BUREAL DE ASSISTÊNCIA LEGAL

TRABALHISTA. Uma organização a serviço dos trabalhadores com um corpo

de advogados técnicos especializados, sob a direção do Dr. Milton Vianna.

Expediente:- das 13 às 18 horas- Rua 28 de setembro, 46- Fone 2923.

(Curitiba – PR - Gazeta do Povo sexta feira, 6 de janeiro de 1950)

Os conflitos nas relações capital trabalho eram marcados pela

desarticulação do operariado que no caso de União da Vitória, na década de 50, não

contava com sindicato para fortalecer e organizar a categoria.

Os entrevistados alegam desconhecer a existência de sindicatos na década

e que se existia não tinha participação e envolvimento nenhum com o operariado.

Verificando junto ao Sindicato dos Trabalhadores da Indústria e da Construção

Mobiliária de União da Vitória, constata-se que o mesmo foi instituído enquanto

Sindicato, em 23 de abril de 1971.

No cotidiano da fábrica, as relações estabelecidas entre operários e a

burguesia, eram intermediadas por encarregados e gerentes, em relações por vezes

harmoniosas e por outras conflituosa. Os encarregados e gerentes usufruíam de

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benefícios que os tornavam responsáveis direto pelo bom funcionamento, aumento

de produção e enriquecimento do patrão. Motivo este que em partes lhe destituía do

sentimento de pertença à classe operária propriamente dita.

Um dos processos trabalhistas, movido por um operário é contra a empresa

Matarazzo e nos causa estranhamento, pois pelo que consta funcionou por décadas

uma fábrica filial , em Dorizzon município de Mallet, das S.A. Indústrias Reunidas

Francisco Matarazzo com sede em São Paulo, cujo escritório era aqui em União da

Vitória. Indústria esta citada na revisão bibliográfica como sendo expropriadora do

trabalho infantil no início do século e também presente aqui na região. É significante

a quantidade de ações de reclamações trabalhistas constantes no acervo de

processos. A empresa era administrada por um gerente que em um dos processos,

de nº 68-4188/56, trava uma luta muito intensa contra um operário que denuncia as

Indústrias Matarazzo por não recolher as contribuições do fundo de pensão:

Em meados de 1954, o reclamante apresentou uma queixa ao Instituto de aposentadoria e pensões dos industriários (I. A. P. I), pelo fato de sua empregadora nunca recolher aos cofres desta instituição de previdência as suas contribuições. Ésta queixa, ensejou uma fiscalização severa por parte do instituto, que comprovou sérias irregularidades na reclamada, que foi autuada e obrigada a recolher as contribuições atrasadas dos demais empregados. (Processo nº 68-4188/56 União da Vitória)

Em conseqüência desta denúncia trabalhista, o operário sofreu

perseguições, foi impedido de retornar ao trabalho, despejado da casa da indústria,

que residia, inclusive foi indiciado por acusação de ameaça de morte ao gerente,

dentre outros conflitos citados nos autos do processo.

Outras indústrias são citadas nos processos envolvendo inúmeras ações

trabalhistas desta década, dentre elas: Bernardo Stamm, Dissenha & Cia,

Rutemberg S/A, Irmãos Fernandes S.A, Bozanello, Nunes e Passos & Cia, Stefan &

Thomasi Ltda, Ind. Jararaca, dentre outras.

Retomando as descrições do cotidiano da fábrica, este é descrito e

relembrado pelos entrevistados com detalhes. São indivíduos do tempo presente

olhando para o passado. Portanto, em diversos momentos de suas falas, comparam

os tempos vividos com expressões como: Naquele tempo era assim, hoje em dia é

diferente. Outro detalhe é que por vezes afirmam que naquele tempo tudo era

melhor e em outras afirmam que era tudo mais difícil e valorizam o progresso em

momentos e negam em outros. Por exemplo quanto a abundância da madeira, o

entrevistado Victor Fernandes dos Santos apresenta uma consciência crítica com

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relações a destruição ambiental: “ eu fui um destruidor de Imbuia. Eu naquela época

eu tava com 16 ou 17 ano, eu conto prá minha Lurde.” Ou com relação aos

acidentes de trabalho como afirma seu Afrânio Bertier: “Naquele tempo não tinha

obrigação nenhuma de usar equipamento de segurança de trabalho. Acontecia

bastante acidente de trabalho naquele tempo.” Nos processos trabalhistas, são

freqüentes as reclamações envolvendo pedidos de indenização por perda de partes

do corpo em acidentes de trabalho, principalmente dedos das mãos, como o auto nº

4473/57, em que uma operária, pede indenização à seguradora (pelo que aparecem

nos processos e no depoimento de seu Afrânio, as empresas pagavam uma

seguradora que garantia os seguros para acidentes de trabalho), por “incapacidade

parcial permanente devida a acidente de trabalho“.

Seu Victor afirma que em uma das empresas que trabalhou na década,

haviam alguns equipamentos como luvas, mas que não conseguiam desempenhar

o trabalho no tempo necessário que precisavam, utilizando o equipamento. Somente

quando sabiam que viria alguém do ministério visitar a fábrica eram obrigados a se

equiparem. Ainda, em seu relato seu Victor demonstra consciência de que seu

trabalho era explorado, quando afirma: “Eles nos pagavam todo dia prá corta nossos

direito...nóis trabaiava todos os dias, mas não tinha férias, não tinha nada. Tiravam

nosso dinheiro e nossos direito.”

A realidade da fábrica está presente na cultura da região visto que embora a

matéria prima, madeira, na atualidade esteja escassa, o principal modelo industrial

ainda vigente na região envolve a extração, beneficiamento e fabricação de produtos

relacionados à madeira.

Uma das Indústrias que teve seu cotidiano destacado na pesquisa pelo fato

dos entrevistados terem trabalhado em momentos da década nela, de constar nos

processos e em propagandas nos jornais, é a Indústria Bernardo Stamm. A mesma

se localizava às margens do Rio Iguaçu, no bairro São Bernardo, cuja urbanização

se deu em decorrência da instalação da referida indústria e do contexto que foi se

formando por conseqüência. Inclusive, uma das chaminés abandonadas na

paisagem de União da Vitória, está nas proximidades do campo de futebol “Bernardo

Stamm”, popularmente chamado de campo do São Bernardo, e no pátio da antiga

fábrica, hoje em ruínas. Na lembrança dos entrevistados algumas situações do

contexto da década e da referida indústria estão presentes, como o fato de que todo

operário que viesse buscar emprego na fábrica Bernardo Stamm, desde que

estivesse interessado em trabalhar em algum dos setores, se jogasse bem futebol,

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seria contratado. O próprio entrevistado Afrânio Bertier afirma que teve seu emprego

assegurado por ter sido indicado como bom jogador de futebol.

Destaca-se ainda que seu proprietário enriqueceu muito, teve um único filho

e vendeu-a pelo fato de seu filho, então Juiz de Direito não querer continuar com a

indústria.

Para tanto, a realidade das fábricas, da década de 50 para o tempo presente

se modificou, a matéria-prima “a madeira” escasseou, máquinas surgiram e modelos

são acrescentados. Algumas representações permanecem como símbolos, como é o

caso das chaminés, cujas estruturas estão ainda na paisagem abandonadas, mas

vivas na lembrança de quem viveu sob sua estrutura de funcionamento. Seu Afrânio

Bertiê descreve a importância da chaminé na década, com propriedade e sabedoria:

A chaminé é alta por causa do volume de fogo que tem na caldeira, porque é muito.A madeira que vai numa caldeira são madeiras grandes né. Pedaços de madeira grande. Hoje não, hoje já mudou e ta com o tal cavaco [...] Naquele tempo era comprado a lenha de um metro de comprimento. Vinha e aquela lenha era jogada dentro da fornalha. Então é por isso que a chaminé tinha que ser alta. Quanto mais alta mais puxava, né porque se não, não fazia o calor que precisava para fazer a temperatura. Precisava ter que esquentar o fogo. Então aquela era a função da chaminé, isto é, tirar o excesso de fumaça e puxar o calor para dentro da caldeira, porque a caldeira tem uns tubos, de mais ou menos, hoje não sei, mas antes era de 7 cm, e era cheio deles. Ali o fogo passava por dentro desses tubos para esquentar a água que passava em volta, prá depois ser distribuído para as partes, as prensas e o tanque..(Afrânio Bertier em entrevista no dia 11-11-2008).

O que mais importa nestes depoimentos, são os saberes repassados para

gerações que não viveram este cotidiano tal qual é descrito e as perguntas que

podem ser feitas para este passado e respondidas através das fontes, dentre elas as

pessoas que viveram este cotidiano.

Diante destes relatos, o passado visita o presente e vice-versa, numa

construção histórica que supera a reprodução escolarizada de história e contribui

para que se construa consciência histórica a cerca das relações estabelecidas entre

a burguesia e o operariado em União da Vitória na década de 50, projetando no

pensamento dos sujeitos, perspectivas de futuro.

FIGURA 9 - CHAMINÉ ABANDONADA DA ANTIGA FÁBRICA BERNARDO

STAMM

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Foto: Delamar Aparecida de Souza Corrêa

5 - POSSIBILIDADES DE ATIVIDADES

1 - Aplicação da pesquisa, utilizando as mesmas fontes, porém com outros

entrevistados e outros processos trabalhistas;

2 - Problematização da realidade do contexto da industrialização no município em

que o aluno reside, no cotidiano do presente, ou mesmo em décadas passadas;

3 - Investigação e organização de consultas a outras possibilidades de fontes

existentes no município;

4 - Comparação do cotidiano do presente através de visitação em fábricas, com a

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realidade narrada no material apresentado;

5 - Utilização do filme “Germinal”, que contextualiza a fábrica durante o processo de

industrialização na Europa. O filme se passa na França do Século XIX e é baseado

no romance de Émile Édouard Charles Antoine Zola, possui 170 min. de duração,

seu gênero é Drama e foi produzido em 1993. O referido filme oportuniza que o

contexto da fábrica no período da Revolução Industrial seja comparado com o

contexto da fábrica narrado e ou com seu cotidiano no presente.

FIGURA 10- CAPA DO FILME GERMINAL

FONTE:http://www.sharedsite.com/hlm-derenaud/hlm/comedien/affiche_germinal.jpghttp://www.sharedsite.com/hlm

6 - Produção de “charge” retratando a industrialização: as relações estabelecidas

entre a burguesia e o operariado.

7 – Discussão a partir de letras de músicas referentes aos temas: operário,

trabalhador, burguesia, indústria, etc.

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FONTES DOCUMENTAIS

PERIÓDICOS:

A AMIGA DE TODOS, DECRETA A NOVA LEI DO TRABALHO PARA FELICIDADE DE TODOS. O Comércio. União da Vitória, nº 601, 07 mar. 1959.

EXPANSÃO DA INDÚSTRIA DO PAPEL NO PARANÁ. Gazeta do Povo. Curitiba, sexta feira, 12 set. 1958.

FALTA DE MATÉRIA PRIMA NA INDÚSTRIA METALÚRGICA. ATINGIDAS AS FÁBRICAS FORNECEDORAS DE PREGO NO PARANÁ. Gazeta do Povo. Curitiba, terça feira, 23 set. 1958.

OS DEZ MAIS COBIÇADOS DO ANO DE 1957. O Caiçara. União da Vitória, nº 46-47, 05 dez. 1957.

SALÁRIO MÍNIMO SOMENTE EM FINS DE FEVEREIRO. O Comércio. União da Vitória, nº 594, 17 jan. 1959.

TRABALHADOR DO PARANÁ VOCÊ TEM UMA QUESTÃO TRABALHISTA PARA RESOLVER? Gazeta do Povo. Curitiba, sexta feira, 6 jan. 1950.

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PROCESSOS TRABALHISTAS:

JUSTIÇA DO TRABALHO. Processo Trabalhista auto nº 4111/56. Acervo do departamento de História da Faculdade Estadual de Filosofia Ciências e Letras de União da Vitória.

JUSTIÇA DO TRABALHO. Processo Trabalhista auto nº 68 - 4188/56. Acervo do departamento de História da Faculdade Estadual de Filosofia Ciências e Letras de União da Vitória.

JUSTIÇA DO TRABALHO. Processo Trabalhista auto nº 4291/57. Acervo do departamento de História da Faculdade Estadual de Filosofia Ciências e Letras de União da Vitória.

JUSTIÇA DO TRABALHO. Processo Trabalhista auto nº 4473/57. Acervo do departamento de História da Faculdade Estadual de Filosofia Ciências e Letras de União da Vitória.

FONTES ORAIS – Entrevistas

BERTIER, Afrânio. Entrevista. União da Vitória, 11 de Nov. 2008.

SANTOS, Victor Fernandez. Entrevista. União da Vitória, 07 de Nov. 2008.

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