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[Recensão a] Ribeiro, J. S. 2004 - Antropologia visual: da minúcia do olhar ao olhardistanciado

Autor(es): Barradas, Carlos; Gomes, Carina Sousa

Publicado por: CIAS - Centro de Investigação em Antropologia e Saúde

URLpersistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/29929

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Ribeiro, J. S. 2004. Antropologia visual: da minúcia do olhar ao olhar distanciado. Porto, Edições Afrontamento. 202pp. (Biblioteca das Ciências Sociais/ Antropo‑logia 10). ISBN 972‑36‑0719‑0. € 10

“As imagens constituem excelentes instrumentos de trabalho e de investigação em ciências sociais, na compreensão das actividades humanas e dos processos de interacção social e com a natureza, na educação e na formação” (p. 183). É a partir da defesa desta ideia que José da Silva Ribeiro desenvolve o texto que aqui analisamos.

De acordo com o autor, o título deste trabalho – Antropologia visual – remete para questões distintas: o aspecto visual não pretende delimitar o campo da pesquisa, uma vez que não se restringe à fotografia, ao cinema e ao audiovisual. Pelo contrário, o visual relaciona‑se “com as diferentes formas possíveis do «ver». Por fazer parte da cultura analisada antropologicamente, o visual refere‑se às muitas linguagens que ele veicula…” e “aos diferentes géneros que podem utilizar as mesmas linguagens ou inventar outras novas…” (p. 12).

O subtítulo do trabalho – Da minúcia do olhar ao olhar distanciado – dirige‑se, por sua vez, não só para uma descrição etnográfica profunda como, também, para um olhar distanciado e criativo e para todos os olhares que se cruzam e entrecruzam no processo de pesquisa.

A versão original do texto que José da Silva Ribeiro nos apresenta foi escrita no âmbito de um programa de mestrado na Universidade Aberta. Segundo o autor, a revisão desse texto impôs‑se devido a dois factores principais:

1. O debate que o texto original provocou e, também, a evolução que a antropologia visual entretanto conheceu, tanto no contexto nacional como internacional;

2. A (re)contextualização do texto original a partir de dois pontos de vista: (1) situar historicamente três momentos cruciais no desenvolvimento da antropologia e das tecnologias da imagem e do som e (2) apresentar o contexto de realização deste trabalho.

Esta obra enfatiza três momentos essenciais na história do cinema e da antropologia: o primeiro que incide na segunda metade do século XIX e os segundo e terceiro, respectivamente, nas décadas de 1920 e de 1960.

O primeiro momento refere‑se ao período em que a fotografia e o cinema surgem não só como invenções tecnológicas importantes, mas também contribuem para as ciências, para as artes e para a criação de novas relações entre elas. Este

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período é marcado pela necessidade de documentar, ou seja, “de criar algo portador de informação, que traz em si a inscrição, o registo de um acontecimento, de uma realidade (ou realidades) observável e verificável” (p. 8).

No segundo momento, referente à década de 1920, emergem Robert Flaherty, Bronislaw Malinowski e Dziga Vertov ensaiando metodologias semelhantes de abordagem da realidade social. Robert Flaherty, com o filme Nanook of the North, através da observação, da imersão profunda na sociedade que está a ser observada, da permanência longa no terreno e do contributo dos observados na constituição do filme, rompe com o cinema de Hollywood e opõe‑se‑lhe.

Bronislaw Malinowski, por sua vez, desviou‑se das práticas até então utilizadas convencionalmente pela antropologia ao empreender a deslocalização do antropólogo. O facto de ter contrariado a ideia vigente do antropólogo de gabinete tornou‑o indubitavelmente um ícone da história e da construção da antropologia. A elaboração do texto etnográfico far‑se‑ia para além dos artefactos ou das entrevistas, com o trabalho de campo a assumir‑se como elemento fundador de todo o processo.

Por fim, Dziga Vertov notabilizou‑se pela defesa do cinema olhar, captando um mundo na sua essência, sem máscara, em oposição ao cinema de ficção. É o grande leque de possibilidades técnicas que motiva Vertov a iniciar esta viagem pelo cinema verdade, registando as várias facetas do real, adicionando e subtraindo elementos, tendo sempre em mente a superioridade do olhar mecânico em relação ao olhar humano. Esta defesa do olhar mecânico baseia‑se nas possibilidades de organização das percepções que ele oferece, “esquematizando […] os processos inacessíveis ao olhar humano” (Vertov cit. Granja, 1981: 45).

Dir‑se‑á, assim, que este período, marcado indelevelmente por estas figuras incontornáveis, tem também uma forte componente associada à crescente relevância adquirida pela linguagem cinematográfica e pelo discurso da antropologia.

Por último, no terceiro período, que ocorre desde o início da década de 1960, surge Jean Rouch, personalidade fundamental na história do cinema e da antropologia, cuja influência se sente até aos dias de hoje. Não se confinando às práticas cinematográficas correntes, usou‑as como um registo científico fundamental não descurando a sua vertente poética.

É a sua ideia de relação dinâmica entre observador e observado que vai alterar radicalmente o tipo de documentário feito até ao momento. A noção de câmara participante, dotada de mobilidade na mão do operador, possibilita um contacto mais autêntico com o real observado, permitindo “penetrar na realidade mais do que deixá‑la desenrolar‑se diante do observador” (p. 90).

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José da Silva Ribeiro interroga‑se, agora, sobre a existência de um quarto momento nesta história de paralelismos entre a antropologia e o cinema. Um momento provocado pela emergência dos novos media digitais que, numa sociedade do conhecimento, diluindo as fronteiras e incorporando todos os media anteriores, poderão trazer novos desafios a esta história.

O uso das imagens na antropologia acompanha as inovações tecnológicas, que vão permitindo ou limitando o seu avanço. Daí que a história, por um lado, do uso das imagens na antropologia e, por outro, do desenvolvimento tecnológico, se confundam.

A utilização do filme etnográfico e das práticas audiovisuais é cada vez mais aceite nos meios científico e universitário mas não adquiriu ainda, segundo o autor, o estatuto que a escrita detém. O reconhecimento destes métodos tem sido progressivo mas lento.

Em jeito de conclusão, José da Silva Ribeiro refere algumas das mudanças que têm vindo a ocorrer neste contexto: (1) criação de associações de antropologia visual que visam, além de produzir, adquirir e divulgar o filme etnográfico, apoiar a formação e a comunicação entre antropólogos; (2) realização de seminários e fomentação de redes de contacto entre investigadores; (3) organização de mostras, festivais e ciclos de cinema; (4) criação de laboratórios de pesquisa e produção; (5) generalização dos ateliers pessoais e das microempresas de produção e (6) apresentação de alguns resultados em forma de trabalhos académicos.

Toda a parte conclusiva nesta obra é pautada por pareceres do autor a vários níveis, principalmente, no que respeita à necessidade de organizar programas de formação, de nível inicial e avançado, sobre a utilização da imagem na Antropologia Visual. As suas sugestões vão, ainda, no sentido da necessidade de formar professores neste domínio do conhecimento para que as práticas educacionais se diversifiquem e tornem mais criativas.

A nosso ver, o livro merece alguns reparos tendo em conta o que julgamos ser os seus limites. O primeiro que apontamos prende‑se com uma exacerbada atenção nos aspectos técnico‑práticos que rodeiam a utilização dos meios humanos e tecnológicos utilizados na produção de narrativas visuais. Cremos, assim, que apesar de algumas referências incontornáveis ao longo do livro, existem descrições demasiado longas e esquematizadas, que tendem a minimizar um pouco daquilo que é o trabalho de campo do antropólogo, nas dimensões associadas à sua experiência no terreno e consequentes respostas, por vezes irreflectidas, a estímulos exteriores.

No entanto, a grande valência desta obra situa‑se fundamentalmente no aspecto de que é simultaneamente um grande e fiel repositório não só da história

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que sustenta e compõe a antropologia visual tal como nos é apresentada hoje, bem como de um olhar, essoutro direccionado em frente, para as novas formas, conceitos e apropriações disponíveis numa panóplia de transformações tecnológicas que permitem, em última instância, a captação de novos públicos para a antropologia. A sua vertente inovadora, olhando para o passado em busca de referências, torna este livro um óptimo e claro manifesto reivindicativo dirigido ao redireccionamento e valorização das práticas antropológicas utilizando recursos audiovisuais.

Outras referências:Granja, V. 1981. Dziga Vertov. Lisboa, Livros Horizonte.

Carlos Barradas Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra

Colégio de S. Jerónimo, Apartado 3087

3001‑�01 Coimbra

[email protected]

Carina Sousa GomesCentro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra

Colégio de S. Jerónimo, Apartado 3087

3001‑�01 Coimbra

[email protected]

Silva, M. O. 2005. Sete teses sobre o aborto. Lisboa, Caminho. 134 pp. ISBN 972‑21‑1746‑7. € 7,35

Este livro foi publicado pouco antes do segundo referendo sobre a despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG) em Portugal, cujo resultado foi uma vitória do Sim à despenalização com 59,25 por cento dos votos enquanto que o Não à despenalização perdeu com 40,75 por cento dos votos. A abstenção cifrou‑se num total de 56,40 por cento do total dos/as votantes inscritos/as. Num contexto no qual não se conseguia descortinar a intenção de voto mais generalista dos cidadãos portugueses, Miguel Oliveira da Silva, um obstetra‑ginecologista pertencente ao Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida e docente na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa nas disciplinas de Ética Médica e Filosofia do Conhecimento, propôs‑nos este livro como algo que poderia contribuir para um esclarecimento pessoal sobre uma matéria de moldes tão complexos.