[Recensão a] Grajetzki, Wolfram - Ancient Egyptian Queens ... · Entre os nomes de esposas reais...

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[Recensão a] Grajetzki, Wolfram - Ancient Egyptian Queens: a hieroglyphic dictionary

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Se determinadas obras basilares sobre a literatura egípcia podem, e devem, ser conhecidas e manuseadas pelos nossos estudantes uni- versitários, elas não estarão tanto ao alcance do público em geral. É o caso da obra clássica, já antiga mas ainda eficaz, de Miriam Lichtheim, Ancient Egyptian Literature, em três volumes (Berkeley, Los Angeles, Londres, 1973-1980), a antologia editada por William Kelly Simpson, The Literature of Ancient Egypt (New Haven, Londres, 1972), ou a fundamental Ancient Egyptian Literature: History and Forms, com di- recção de Antonio Loprieno (Leiden, 1996), e ainda Grundzüge einer Geschichte der altägyptischen Literature, de Helmut Brunner (Darmstadt, 1984), com a dificuldade acrescida da língua alemã, para além dos vários estudos que Jan Assmann dedicou à literatura do antigo Egipto. Mais uma razão para saudar o aparecimento deste valioso livro, que é um utilíssimo e indispensável instrumento para os estudantes de His- tória, nomeadamente os do ensino universitário, mas que está ao alcance dos leitores em geral que da sua leitura tirarão certamente amplo proveito.

Luís Manuel de Araújo

WOLFRAM GRAJETZKI, Ancient Egyptian Queens. A hieroglyphic dictionary, Londres: Golden House Publications, 2005, 122 pp., ISBN 0-9547218-9-6

É caso para dizer, antes de mais, que dicionários há muitos, abarcando várias temáticas da área egiptológica. Mas a verdade é que faltava uma obra específica que apresentasse, em forma de dicio- nário cronológico, a lista das rainhas do antigo Egipto, desde os remo- tos tempos da Época Arcaica à Época Baixa. Até porque «several women even became rulers of Egypt, like a man» (p. 7), o que, em geral, não se vê nas outras civilizações pré-clássicas, embora sejam conhecidas destacadas figuras femininas do mundo sumero-acádio como Enheduanna, poetisa e filha do famoso Sargão de Akad, Kugbaba, que reinou em Kich, ou ainda Zakutu, influente na política assíria no tempo de Senaquerib, além de várias rainhas hititas.

A introdução (pp. 1-2) anuncia a estrutura da obra, com os no- mes de rainhas egípcias desde a Época Arcaica (I e II dinastias), não apenas aquelas que reinaram ao lado do rei, mas também as esposas secundárias, tendo sempre em conta que no antigo Egipto a rainha mãe (mut-nesu) sempre desfrutou de uma posição mais importante

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que a esposa real «em exercício». Note-se, entretanto, que na antiga língua egípcia nunca existiu uma palavra autónoma correspondente a «rainha» - a mulher que ocupava esse alto cargo era designada por esposa do rei (hemet-nesu) ou, em certos casos, por grande esposa do rei (hemet-nesu ueret ou hemet-nesu aat), atestado pela primeira vez na XIII dinastia, podendo ainda ser a esposa do rei, sua amada (hemet-nesu meritef).

As esposas reais podiam também ser designadas por vários epítetos de aliciante e expressiva sonoridade. Nos primeiros séculos da história egípcia, correspondendo à Época Arcaica (I e II dinastias) e ao Império Antigo (III à VI dinastia), conhecem-se títulos como «doce de coração» (beneret-ib), «a grande do ceptro hetés» (ueret- -hetes), «a que leva Hórus» (remenet-Hoi), «a que vê Hórus» (maat- -Hot), «mãe dos filhos do rei» (mut-mesut-nesu), «acompanhante de Hórus» (khetet-H01), «amiga de Hórus» (semeret-Hoi), «companheira de Hórus» (tiset-H01), «consorte amada» (semat-merit), «a de grandes favores» (ueret-hesut), «grande de encanto» (ueret-imat), entre outros. Em todo 0 caso, trata-se de mulheres que são nobres e membros da elite (irit-pat). Refira-se ainda que muitas damas de alta estirpe antes de serem esposas reais foram filhas do rei (sat-nesu), ou, de uma forma mais enfática, «filha do rei, do seu corpo» (sat-nesu net-khetet), ou ainda «filha do deus, do seu corpo» (sat-netjer net-khetef).

Entre os nomes de esposas reais da I e II dinastias (pp. 3-6) avultam os nomes de damas como Neithotep (cuja identificação é ainda hoje um tanto polémica), Meritneit e Nimaethapi. Quanto às rainhas do Império Antigo, começando pela III dinastia (p. 7), mencione-se Hetep- -hernebti, esposa de Djoser. Da IV dinastia (pp. 8-15), altura em que surge o importante título de esposa do rei (hemet-nesu), chegaram- -nos os nomes de Hetep-herés I, esposa de Seneferu e mãe de Khufu, construtor da Grande Pirâmide, Meritités I, Hetep-herés II, Meresankh II, Meresankh III, Khentikaués I, Khamerernebti I e Khamerernebti II, entre outras. O problema que ainda hoje subsiste é que não se sabe ao certo o nome dos respectivos maridos. Para a V dinastia (pp. 16-20) já estamos mais seguros, sendo de referir Neferhetepés, esposa de Userkaf, Neferthanebti, esposa de Sahuré, Khentikaués II, esposa de Neferirkaré, Repitnub, esposa de Niuserré, sendo ainda conhecidas duas rainhas de Unas, o último monarca da dinastia: Nebet e Khenut. Na VI dinastia (pp. 21-26) estão muito bem atestadas as rainhas Iput I, esposa de Teti, Ankhenesmeriré I, também chamada Ankhenespepi I, esposa de Pepi I, o qual também teve outra rainha conhecida como Ankhenesmeriré II, também chamada Ankhenespepi II (além de mais

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quatro esposas), terminando a dinastia com o duradouro Pepi II, do qual se conhecem quatro esposas, com destaque para Iput II e Neit.

Durante 0 atribulado Primeiro Período Intermediário, cerca de 2180-2040 a. C., não avultam nomes desses tempos instáveis, excep- tuando uma Neitikert ou Nitócris, mais lendária que histórica (p. 27). Depois, com a estabilidade maética do Império Médio, regressam os nomes de grandes rainhas, como Neferu I, uma das sete esposas de Mentuhotep II, reunificador do Egipto na XI dinastia (pp. 28-30). Na XII dinastia (pp. 31-35) evidenciam-se as rainhas Neferu II, esposa de Senuseret I, Ueret I (cujo nome completo era Khnemetneferhedjet- ueret), esposa de Senuseret II, Ueret II, esposa de Senuseret III, que teve ainda mais quatro mulheres, e Aat, esposa de Amenemhat III. No final da dinastia aparece Sebekneferu, esposa e irmã de Amenemhat IV, a qual teria reinado durante algum tempo. Data de finais do Impé- rio Médio a modalidade de inscrever os nomes de rainhas dentro de cartelas, o que anteriormente estava apenas reservado aos reis. Para 0 difícil Segundo Período Intermediário (pp. 36-46) temos os nomes de algumas rainhas preservados em alguns escassos monumentos e em pequenos selos, merecendo relevo Teticheri, cujo esposo foi um dos últimos reis da XVII dinastia que combateu os Hicsos.

Com 0 Império Novo surgem novos títulos das esposas reais como «doce de amor» (beneret-merut), «senhora de encanto» (nebet- -imat), «dama de doçura» (henut-nedjem-ib), «dama de todas as mu- lheres» (henut-hemut-nebut), «senhora das Duas Terras» (nebet-Taui), ou na sua variante de «dama das Duas Terras» (henut-Taui) e ainda «dama de todas as terras» (henut-tau-nebu). Algumas rainhas exibem os altos títulos de «esposa do deus» (hemet-netjei), «grande esposa real, primeira de sua majestade» (hemet-nesu ueret tepet net hemef), «esposa do touro poderoso» (hemet-ka-nakht), «superiora das nobres damas» (herit-chepesut). Conhece-se também o precipuo título de «mão do deus» (deret-netjei) que nesta obra não é mencionado - mas ele está muito bem expresso numa esteia da colecção egípcia do Museu Calouste Gulbenkian que mostra a rainha Ahmés-Nefertari com este título.

Na XVIII dinastia (pp. 49-65) destacam-se importantes rainhas como Ah-hotep, mãe de Kamés, vencedor dos Hicsos, a sua esposa Ahmés-Nefertari, Hatchepsut, que reinou como faraó, Tiaá, esposa de Amen-hotep II, Mutemuia, esposa de Tutmés IV, Tié, esposa de Amen- -hotep III, e a famosa Nefertiti, esposa de Akhenaton. Este faraó teve como esposa secundária a dama Kia, que usou o excepcional título de «grande esposa real duplamente amada» (hemet-merereti-aat net

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nesu-biti). Para a XIX dinastia (pp. 66-72) registem-se os nomes de Tuia, esposa de Seti I, Nefertari e Isitnefert, duas das principais espo- sas de Ramsés II, e Tauseret, esposa de Seti II, que após a morte do marido ocupou o trono por escasso tempo. A XX dinastia (pp. 73-77) legou-nos poucos nomes de rainhas, merecendo relevo Iset, esposa de Ramsés III.

O Terceiro Período Intermediário abre com a XXI dinastia (pp. 78- -80), dividida com uma linhagem real no Norte, os reis tanitas, e no Sul uma dinastia «independente» de sumos sacerdotes de Amon, al- guns dos quais se apresentam como reis. A rainha Tentamon foi esposa de Smendes, Mutnedjemet foi esposa de Psusennes I, e Nedjemet foi esposa do sumo sacerdote Herihor. É ainda deste tempo Henut-taui, que exibe títulos reais. As XXII, XXIII e XXIV dinastias tiveram sobera- nos de origem libia (pp. 81-88), e quanto às suas rainhas mencionem- -se os nomes de Karomat, esposa de Chechonk I, Karoma, esposa de Osorkon II, e Karomama, esposa de Takerot II. A XXV dinastia, com os reis núbios vindos de Kuch (pp. 89-92), oferece uma panóplia de rainhas das quais pouco se conhece.

Quanto à Época Baixa (pp. 93-95), sabe-se que Mehitenuesekhet foi esposa de Psametek I, fundador da XXVI dinastia, Takhuit foi esposa de Psametek II, e para as outras rainhas há dúvidas acerca dos res- pectivos maridos. A XXVII dinastia é de origem persa aqueménida (525-405 a. C.), e não há qualquer registo para as rainhas das últimas três dinastias egípcias.

Segue-se uma tábua cronológica (pp. 96-98), o índice de títulos importantes (pp. 99-106), 0 índice geral contendo os nomes das rai- nhas (pp. 107-109), e a bibliografia consultada (pp. 111-113). As habi- tuais notas de rodapé foram remetidas para o final do volume (pp. 114-121). Lamenta-se que na lista final de títulos as formas hieroglí- ficas tenham ficado demasiado juntas ao texto que logo em baixo apresenta a transliteração, o que fez com que alguns signos ficassem parcialmente cortados.

Não seria de todo descabido que o Autor prosseguisse a sua compilação com as rainhas da dinastia ptolemaica, para acabar, «em beleza», com a célebre Cleopatra, que reinou no país do Nilo entre 51 e 30 a. C. (Cleopatra VII), mas ele considerou que com a chegada de Alexandre despontou um novo Egipto e assim não incluiu a dinastia ptolemaica, terminando na XXX dinastia (380-343 a. C.), «the last dynasty when Egypt was ruled by Egyptians» (p. 93).

Luis Manuel de Araújo

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