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REALIZAÇÃO:

APOIO:

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Organização do evento

Comissão Geral

Anete Abramowicz (UFSCar), Gabriela Guarnieri de Campos Tebet (FPEI e UNICAMP),

Mairise Ap. Souza (FPEI e Consultora em Ed. Inf. e Ed. Ambiental), Maria Walburga dos

Santos (FPEI e UFSCar), Peterson Rigatto da Silva (FPEI, MIEIB, Diretor de Creche

Municipal /Piracicaba), Renata Cristina Dias Oliveira (FPEI e Coord. Pedag. SP), Solange

Estanislau dos Santos (FASS), Suely A. Mello (UNESP), Tatiana Noronha Souza (FPEI e

UNESP/Jaboticabal).

Comissão Local (São Carlos)

Alexandre Rodrigo N. Silva (FPEI e Coord. Pedag. Creche/ USP), Anete Abramowicz

(UFSCar), Beatriz Boriollo (Fórum Regional S. Carlos e UFSCar), Cleonice Maria

Tomazzetti (UFSCar), Gabriela Guarnieri de Campos Tebet (FPEI e UNICAMP), Maria

Auxiliadora Farias (Fórum Regional S. Carlos e Creche Comunitária Estrela da Manhã),

Maria Walburga dos Santos (FPEI e UFSCar). Suely Mello (UNESP), Tatiane Cosentino

(Fórum Regional S. Carlos e UFSCar)

Comissão Científica

Ana Lúcia Goulart de Faria (UNICAMP), Ana Paula Soares (USP), Anete Abramowicz

(UFSCar), Cyntia Graziella Guizelim Simões Girotto (UNESP/Marília), Elieuza Aparecida

de Lima (UNESP), Eloisa Acires Candal Rocha (UFSC), Gabriela Guarnieri de Campos

Tebet (FPEI e UNICAMP), Ivone Garcia Barbosa (UFG), Jader Janer Lopes (UFF), Ligia

Maria Leão de Aquino (UERJ), Lucia Maria Lombardi (UFSCar/Sorocaba), Marcia Gobbi

(USP), Maria Carmem Barbosa (UFRGS), Maria Letícia Nascimento (USP), Maria

Walburga dos Santos (UFSCAR), Michelle de Freitas Bissoli (UFAM), Mônica Apezzato

Pinazza (USP), Silvia Cruz (UFC), Suely Amaral Mello (UNESP), Tizuko Morchida

Kishimoto (USP), Vera Vasconcellos (UFF)

Comissão de Divulgação

Débora Alves Neto (Fórum Regional Santos, FPEI e Consult. Ed. Inf. de Santos),

Alexandre Rodrigo N. Silva (FPEI e Coord. Pedag. Creche/ USP), Flávia Cristina O.

Murbach de Barros (FPEI e Docente Ens. Superior/Ourinhos), Indyra A. P. Castellanos

(FPEI e Coord. Pedg. SP), Márcia Satomi Tsuda (FPEI/Gestora – SME/Presidente

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Prudente), Railda Barreto (FPEI – Gestora-SME/Presidente Prudente), Renata Cristina D.

Oliveira (FPEI e Coord. Pedag. SP), Solange Estanislau dos Santos (FASS)

Comissão Orçamentária e Financiamento

Anete Abramowicz (UFSCar), Maria Walburga dos Santos (FPEI e UFSCar)

Colaboradoras/es

Adriana Maimone Aguillar (UFTM), Alexandre Rodrigo N. Silva (Creche/ USP), Alex

Barreiro (Faculdades Integradas Maria Imaculada), Ana Lúcia Goulart de Faria

(UNICAMP), Ana Maria Orlandina Tancredi Carvalho (UFPA), Anamaria Santana da Silva

(UFMS), Ana Paula Cordeiro (UNESP/Marília), Anete Abramowicz (UFSCar), Angela Maria

Scalabrin Coutinho (UFPR), Beatriz Boriollo (Creche/USP), Cassiana Magalhães (UEL),

Celia Regina Batista Serrão (Universidade Presbiteriana Mackenzie), Cleonice Maria

Tomazzetti (UFSCar), Cleriston Izidro dos Anjos (UFAL), Conceição de Maria Moura

Nascimento Ramos (UFMA), Daniela Finco( UNIFESP), Dourivan Camara Silva de Jesus

(UFMA), Elieuza Aparecida de Lima (UNESP), Fabiana de Oliveira (UNIFAL), Flávio

Santiago (Doutorando FE/UNICAMP), Flávia Cristina Oliveira Murbach de Barros (FIO),

Gabriela Guarnieri Campos Tebet (UNICAMP), Gabriel de Andrade Junqueira Filho

(UFRGS), Jaqueline Pasuch (UNEMAT), José Milton de Lima (UNESP/Presidente

Prudente), Juliana Campregher Pasqualini (UNESP/Bauru), Lúcia Lombardi

(UFSCar/Sorocaba), Luciane Muniz Ribeiro Barbosa (UNICAMP), Mairise Aparecida

Souza (Fórum Paulista de Educação Infantil), Márcia Anacleto (SME/Campinas), Márcia

Satomi Tsuda (Gestora – SME/Presidente Prudente), Marcos Garcia Neira (USP), Maria

Walburga dos Santos (UFSCar), Mariete Félix Rosa (FCG/FACSUL), Maristela Angotti

(UNESP/Araraquara), Marlene Oliveira dos Santos (UFBA), Mirian Lange Noal (UFMS),

Nara Soares Couto (SEE/SP), Narda Helena Jorosky (FIO), Paulo Fochi (UNISINOS),

Peterson Rigato Silva (Prefeitura Municipal de Piracicaba), Regina Aparecida Marques de

Souza (UFMS), Renata Cristina Dias Oliveira (Prefeitura do Município de São Paulo),

Rosali Rauta Siller (SME/SMJ), Rosânia Campos, Roselene Crepaldi (Instituto

Singularidades), Sandra Regina Simonis Richter (UNISC), Solange Estanislau dos

Santos(FASS), Sônia Regina dos Santos Teixeira (UFPA), Soraya Franzoni Conde

(UFSC), Sueli Palmen (SME/Campinas), Suely A. Mello (UNESP), Sylvie Bonifacio Klein

(Prefeitura do Município de São Paulo), Tatiana Noronha de Souza (UNESP/Jaboticabal),

Vera Lucia Guerra (UEMS), Viviane Drumond(UFT), Zoia Ribeiro Prestes (UFF)

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O COPEDI - VII Congresso Paulista de Educação Infantil

III Simpósio Internacional de Educação Infantil

O Congresso Paulista de Educação Infantil – COPEDI – em sua sétima versão e o III

Simpósio Internacional de Educação Infantil é um evento tradicional de reconhecida

importância no cenário nacional na área de Educação Infantil. Organizado pelo Fórum

Paulista de Educação Infantil, congrega pesquisadores/as, professores/as, especialistas,

estudantes e demais interessados/as nos debates, pesquisas e proposições em relação à

infância, às crianças e seus direitos e à Educação Infantil, ancorado em três pilares:

políticas, práticas e teorias refletidos, em 2015, na temática “Eu ainda sou criança…

Educação Infantil e resistência: os lugares das infâncias na educação e nas lutas

políticas”. As duas últimas versões ocorreram na Universidade de São Paulo/USP. Pela

primeira vez, a realização do evento ocorre em uma Universidade Federal, no interior do

estado, a UFSCar, localizada em São Carlos.

Com metodologia própria dos congressos contou com conferências de abertura e

fechamento, mesas de debates temáticos, apresentação de trabalhos de pesquisa ou

relatos de experiências (nas formas de Comunicação Oral, Pôster e Vídeo), além de

Oficinas Pedagógicas e Atividades Culturais, prevendo a participação de convidados

estrangeiros e do Brasil como um todo, a partir do trabalho efetivado realizado por uma

Comissão Científica referendada pelo campo.

Durante o evento, ocorre também a assembleia do Fórum Paulista de Educação Infantil,

com processo de escolha do grupo gestor do Fórum para o próximo triênio.

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Índice Geral

Eixo 1 ............................................... p.0001

Eixo 2 ............................................... p.0379

Eixo 3 ............................................... p.0813

Eixo 4 ............................................... p.1372

Eixo 5 ............................................... p.2003

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Eixo 1

Políticas públicas para a Educação

Infantil e para a Infância

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Índice – Eixo 1

A construção do ambiente educativo: Uma metodologia participativa na área de projetos de

intervenção em edifícios escolares ...........................................................................................4

Projeto Parques Sonoros: um espaço de descobertas .............................................................. 20

Implicações da obrigatoriedade de matrícula das crianças de 4 e 5 anos na educação infantil:

problematizações necessárias ................................................................................................. 27

O Currículo da Educação Infantil na Secretaria Municipal de Educação de Manaus:

reconstruções no contexto amazônico .................................................................................... 36

A construção da concepção da infância como sujeito de direitos na Colômbia ...................... 43

O Brincar e o Educar na Educação Infantil: uma análise de dados de pesquisa com as

professoras da rede municipal de São Carlos ......................................................................... 55

Discussão Curricular da Educação Infantil com Assistentes Pedagógicas: Uma experiência

entre setores da Prefeitura de Santo André ............................................................................. 70

Obrigatoriedade da pré-escola: ............................................................................................... 79

A Importância do Lúdico na Educação para o Trânsito .......................................................... 80

“Pedagogias das raízes”: Por uma educação infantil no/do campo ......................................... 81

Movimento, arte e ludicidade na educação infantil: o papel do PIBID em uma turma de pré-

escola de uma EEEF do município de São Francisco de Paula/RS ......................................... 95

As DCNEI no contexto das práticas educativas com bebês e crianças pequenas ................. 105

Relato de práticas de estágio em Gestão da educação infantil .............................................. 117

As lutas nas tramas da pesquisa: um salto para a institucionalidade das creches universitárias

uspianas ................................................................................................................................ 131

O Protagonismo da Escola e da Criança no Foco da Formação Profissional e das Políticas

Públicas da Educação de Zero a Três Anos. ......................................................................... 144

Movimentos sociais e a luta pelo acesso e qualidade na Educação Infantil no Brasil ........... 157

O Embate entre a Assistência e a Educação no Campo da Educação Infantil ....................... 171

Construindo coletivamente uma proposta para a escola pública de educação infantil .......... 185

Fórum Sul Mineiro de Educação Infantil: Participação social desde 1999 ........................... 191

Educação Infantil: regiões fronteiriças entre infância, educação e subjetividade ................. 191

Proposta pedagógica municipal de educação infantil: mais que um documento, uma

identidade coletiva ............................................................................................................... 206

Gestão escolar da educação infantil: Estudo de caso em um município paulista .................. 220

Gestão democrática na educação infantil: em foco as reuniões com as famílias................... 221

Integração entre família e escola: retrato da experiência de professores no papel de

pesquisadores iniciantes ....................................................................................................... 233

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Expansão da oferta de educação infantil no contexto dos planos de educação: um estudo sobre

a evolução da matrícula em municípios do Rio Grande do Sul ............................................ 245

Os Indicadores da Qualidade na Educação Infantil Paulistana e o processo formativo

promovido pela Equipe de Educação Infantil na DOT-P/DRE-JT - 1º Sem 2015 ................ 257

Educação infantil indígena na legislação e na produção do conhecimento ........................... 264

Relato de práticas da coordenação pedagógica na educação infantil: os desafios da

implementação do Conselho de turma .................................................................................. 277

Avaliação da educação infantil: um aspecto de qualidade .................................................... 286

A formulação de políticas de Educação Infantil com base nos documentos do Conselho

Municipal de Educação de Duque de Caxias: desafios entre o público e o privado............ 287

Entre lá e aqui: um mundo de descobertas além dos muros da Creche ................................. 300

Mapeamento da situação das escolas municipais de educação infantil (EMEI’s) da cidade de

Assis/SP em relação às metas propostas pelo Plano Nacional de Educação (PNE 2001-2010)

nas questões de oferta, atendimento e infra-estrutura. .......................................................... 308

Projeto Onuki de Musicalização na Primeira Infância .......................................................... 325

Experiência em Creches Públicas da Prefeitura Municipal de Cubatão ................................ 325

A Formação do Gestor de Educação Infantil: Desafios Atuais ............................................. 334

A Expansão da Educação Infantil por meio do PROINFÂNCIA ......................................... 335

O Programa Proinfância nos municípios da região central, noroeste e norte do Estado do Rio

Grande do Sul uma análise do assessoramento e acompanhamento pedagógico nas redes e

sistemas de ensino ................................................................................................................ 349

Construindo coletivamente uma proposta para a escola pública de educação infantil ......... 361

Educação infantil indígena na legislação e na produção do conhecimento .......................... 367

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A construção do ambiente educativo: Uma metodologia participativa na área de

projetos de intervenção em edifícios escolares

Adriana Freyberger1

A construção do ambiente educativo é uma metodologia de projeto em parceria com

crianças e profissionais da educação e arquitetura. A criação partilhada parte da necessidade dos

espaços para infância serem democráticos, autorais, flexíveis, vivos e foquem o protagonismo

da criança.

O resultado é uma tipologia de espaço que aliada ao projeto pedagógico compõe uma

proposta inovadora suscitando situações mais ricas e que possibilitam às instituições qualificar e

compreender melhor seu espaço/ambiente como um elemento ativo na construção da qualidade.

Os projetos são desenvolvidos em diversos encontros entre arquiteto e usuários

trabalhando dentro de uma metodologia participativa e formativa (Dewey, Malaguzzi, Freire,

Kishimoto, Oliveira-Formosinho, Bronfenbrenner e Navir). As maquetes associadas aos

desenhos possibilitam intervenções com mais propriedade e segurança, onde os usuários

(crianças, professoras e funcionários) participam ativamente de todo o processo.

1. Introdução

Compreender o espaço para a infância como um ambiente vivo e participativo. Para a escola,

qualificar o espaço ou o ambiente implica em usos diferenciados e materiais que revelem uma

prática comprometida com a criança (Campos e Cruz, 2006; Oliveira-Formosinho, 2002; Lima,

1995). O respeito, a valorização da identidade cultural e de saberes se traduz pelas imagens,

lócus, materiais e elementos culturais dispostos no ambiente escolar e ou urbano (faz parte da

escola o entorno no qual está inserida).Uma escola viva e comprometida com suas práticas esta

associada a sua comunidade (Candau, 2006; Gimenez, 2000; Frago y Escolano 2001;

Malaguzzi, 1999; Cabanellas, 2011; Freire 1999).

1 Adriana Freyberger é arquiteta com doutorado em educação pela FEUSP,professora

universitária nos cursos de arquitetura em São Carlos e Araraquara e consultora na área de

projetos educacionais para infância na temática do espaço, do jogo e da brincadeira.

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A complexidade da escola hoje tem a ver com a complexidade do mundo

atual. Freire (2000) nos lembra de que não é possível defender a visão

restrita da escola como um espaço exclusivo de aulas que devem ser dadas e

lições e que devem ser aprendidas imunes as lutas e aos conflitos que estão

fora da escola. Conflitos e lutas que nos lembra Hargreaves(1994), ocorrem

num tempo de insegurança de mudanças aceleradas, de vivência intensa do

tempo e do espaço, de reconhecimento da diversidade cultural, de

complexidade tecnológica crescente , de rápida evolução científica, num

tempo de questionamentos morais universais, como nos lembra Kolhberg

(1994) (Oliveira Formosinho, 2002 p.9)

Lopes e Macedo (2011) indicam que se deve garantir uma proposta

curricular intercultural e critica onde “o comum como direito de todos à

educação precisa ser reconstruído de modo que todas as culturas sejam

capazes de se reconhecer” e cujos conteúdos expressem no aluno o

desenvolvimento de valores plurais, o diálogo e as interações(Ibdem, p.193

apud Candau, 2006).

A identidade é construída no contexto vivido, assim, ao prever a utilização de materiais

qualificados e diferenciados, associados às praticas culturais, possibilita-se que a identidade

daquele grupo seja construída de forma profunda, respeitosa e valorada, inserindo a escola no

seio da comunidade.

O apoio do arquiteto à escola, em similaridade a projetos de pesquisas (CIEI) e a programas de

inovação (grupos de pesquisa e formação continuada na escola) relaciona conhecimentos

teórico-práticos (arquitetura e pedagogias) aos construídos na escola, construindo uma

metodologia de intervenção baseada nos seguintes parâmetros: 1. Associar elementos culturais,

estéticos e saberes construídos, enriquecendo as propostas pedagógicas, os currículos escolares

e os ambientes2. Oferecer subsídios e materiais/culturais para criar espaços diferenciados,

ampliando repertório cultural para potencializar as propostas e as práticas. 3.Assessorar

intervenções no ambiente escolar com foco nas praticas educativas e na ação da criança.

Os processos de formação-criação nas escolas experenciadas, foram construídos com base na

aprendizagem partilhada e em contextos democráticos, têm como referencial teórico o

envolvimento dos participantes e a formação continuada (Dewey, 1929, 1934, 1959a,

1959b; Oliveira-Formosinho, 2000, 2002; Oliveira-Formosinho e Kishimoto, 2002

Bronfenbrenner, 1996; Fullan e Hargreaves,2000),na construção de um espaço educador

(Navir, 1994, 1996; Lima, 1989, 1995; Edwards, Gandini e Forman, 1999; Almeida,1997;

Pinto e Almeida 2002, Bencostta, 2005; Montoya, 1997; Frago e Escolano, 2001 Frago, 2005 in

Bencostta 2005; Hoyuelos, 2006ª, 2006b; Cabanellas e Eslava, 2005 ), as perspectivas dos

componentes da arquitetura2e as áreas de percepção ambiental (Arnheim, 1980; Munari,

1981,1979; Hall, 1986; Tuan, 1983), a construção de um currículo crítico, multi-

intercultural (Lopes e Macedo, 2011, Arroyo, 2011; Gimenez, 2000) e que revelem a cultura

do adulto e a da criança (Tonucci, 1997).

2 Cor, plano, escala, textura, volume, etc.

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Os projetos para espaços e equipamentos destinados à criança precisam apreender

que é necessário estimular a iniciativa e a curiosidade da criança, sem querer

adiantar-se aos próprios projetos de apropriação da criança. Em outras palavras,

os adultos que projetam para crianças têm de perceber o difícil limite que separa a

produção das condições espaciais que permite à criança criar e construir seus

projetos e o ato inconsciente do adulto que quer se colocar no lugar das crianças,

projetando a priori suas fantasias e sonhos. (Lima, 1989 p.102)

2. Justificativa

No contexto brasileiro, conforme estudo de Bencostta (2005) o edifício escolar é construído

com viés de políticas sociais de apoio às classes menos favorecidas. Utiliza-se de parcos

recursos financeiros e projetos arquitetônicos racionais/higienistas que se proliferaram pelo

território nacional redundando em construções econômicas, com plantas simples, sistemas

modulares e estéticas simplistas, com poucas ou nenhuma diferenciações entre si cujo vínculo

com a proposta pedagógica é inexistente.

Nos anos 70, as teorias sociais sobre Nova Sociologia da Educação (NSE) (Young, 1978),

afirmam que o conhecimento é construído socialmente e pelas interações dos sujeitos; todo

conhecimento é válido se for constituído de valores éticos, portanto não possui superioridade

aos de valor científico, igualando em importância saberes populares e acadêmicos. Contextos

diferentes informam e constroem saberes diferenciados (currículo oculto), e o

edifício/território/lugar reflete para a comunidade o currículo vigente naquele contexto.

O grupo de pesquisa da Domus Academy Research Center, (arquitetos Giulio Ceppi e

Michele Zini), coordenou uma pesquisa em parceria a Reggio Children e as escolas de

educação infantil associadas, no norte da Itália, aponta as influências das nuanças arquitetônicas

no ambiente para a formação do individuo:

A riqueza de critérios das diferentes tonalidades do espaço é sensória e cultural.

A riqueza das cores e tonalidades do espaço possibilita a criança a desenvolver certas

capacidades sensitivas e de compreensão que se não forem postas nesta idade são muito difíceis

de serem recuperadas quando adulto. Assim as cores não são intrínsecas ou aplicadas, mas são

opacas e transparentes, quentes e frias, e possuem variações táteis e de texturas como

brilhantes, lisas ou rugosas o que oferece uma complexidade sensorial de identificação e maior

possibilidades exploratórias das sensações (CEPPI e ZENNI, 2003, pag. 68)

No Brasil, o padrão de construção dos prédios escolares está associado ao governo/gestão. -

edifícios escolares possuem tipologias construtivas que possam identificar o prédio e marcar o

nome do governo, lembrando a população de quem o construiu como revelam Moussatche,

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Alves Mazzotti e Mazzotti (1996), nos Estudos da Teoria da Representação Social3 (RS) -

Falta-nos compreender que o edifício escolar, a cultura local, os processos de aprendizagem e o

desenvolvimento social, físico e de identidade da criança,são indissociáveis.

Autores como Rabitti (1999), e Lima (1989), indicam a importância do entorno, do bairro e da

cidade para o edifício escolar, e Dewey (1959a) revela o aluno como participante da sociedade:

o aprendiz é participe do seu projeto educativo, tal quais é a professora, seus pais e a

comunidade educativa que o rodeia.

O espaço físico dá suporte às estruturas e objetos, mas são as pessoas e suas relações /

percepções e culturas que o qualificam como ambiente. Do objeto à paisagem urbana - a

percepção, a cultura e os costumes são determinantes na configuração espacial, caracterizando

as atividades e as relações sociais que ali se estabelecem.

Por isso o espaço em que se vive, ou o espaço que a memória preserva, funde em si tanto o calor

do ambiente e a cor das paredes quanto à alegria e a segurança que nele se sente (Lima, 1989,

p.13)

Assim, o espaço físico puro só existe na mente dos homens públicos, dos arquitetos e dos

projetistas.

O espaço material é, pois, um pano de fundo, a moldura, sobre o qual as sensações se revelam e

produzem marcas profundas que permanecem, mesmo quando as pessoas deixam de ser

crianças. É através dessa qualificação que o espaço físico adquire nova condição: a de ambiente.

(Ibidem p.13)O espaço da escola é um material riquíssimo para a população, professores e

crianças que será por eles transformado intencionalmente. Essa transformação não é só uma

questão de projeto arquitetural, limitada à ação do arquiteto, mas, sobretudo, à transformação do

modo de pensar o espaço/serviço educativo como local da propriedade coletiva pública e, por

isso, de sua apropriação dinâmica, a cada novo grupo que entre na escola, reelaborando a

história da sua produção e dos seus produtores. (Lima, 1989 p. 102)

Contrariamente aos conceitos da pós-modernidade (Fullan e Hargreaves, 2000) de flexibilidade,

individualidade, preservação da cultura local, a arquitetura escolar dos Centros de Educação

Infantil (CEI) e Escolas Municipais de Educação Infantil (EMEI) paulistas é caracterizada pelo

padrão repetitivo, por formas internas retangulares e ambientes consecutivos.

A repetição está dentro do contexto escolar. Não só a repetição de um conteúdo, através de

exercícios de memorização ou mecanização, mas também a repetição de uma forma, presente na

configuração das salas de aula e de todo o ambiente escolar, ajudando a garantir o controle e a

disciplina. (França, 1994 p.93)

Campos e Cruz (2006) realizaram uma pesquisa sobre qualidade em escolas situadas em

diversos municípios brasileiros, denominada Consulta Sobre Qualidade da Educação

3 Estudo que promove uma articulação teórica entre Arquitetura, Educação e Psicologia Social e

se insere no conjunto de trabalhos que utilizam a chamada “abordagem humano-ambiental” da

Arquitetura.

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Infantil: o que pensam e querem os sujeitos deste direito. As crianças ouvidas revelam que

faltam em suas escolas: beleza, qualidade ambiental e brinquedos (materiais).

Na voz de uma diretora de CEI (São Carlos, 2015), explicando o porquê de que só havia uma

boneca negra no seu acervo, constrói-se a importância do material nos contextos multiculturais

das Creches, informando e formando desde os anos iniciais os valores sociais, étnicos, raciais e

culturais naquele grupo. Sobre o canto das bonecas ela argumenta:

...As brancas eu ganho, as negras eu tenho que comprar e são essas as que eu mais tenho

demanda para as crianças. Nesse ano ainda não recebemos a verba. (Farias, março 2015)

Essa mesma diretora, ainda se preocupa que suas bonecas possuam além dos traços étnicos e

raciais, o gênero, explicando as dificuldades de encontrar bonecas/os com gênero para as

crianças brincarem.

O espaço escolar carrega concepções diversas e complexas que impactam nos alunos,

professoras e comunidade escolar. Para Bronfenbrenner (1996), os múltiplos ambientes sociais

nos quais as crianças vivem e suas relações pessoais, do microssistema ao macrossistema, são

fatores que refletirão em seu desenvolvimento pleno. Um bom ambiente escolar tal quais seus

materiais, ampliam repertórios e potencializam a percepção da criança, (Cabanellas e Eslava,

2005).

Um ambiente é um local onde as pessoas podem facilmente interagir face a face - casa, creche,

playground e assim por diante. Os fatores de atividade, papel, relação interpessoal constituem os

elementos, ou blocos construtores, do microssistema (BRONFENBRENNER, 1996, p.19)

O elo afetivo, negativo ou positivo entre a pessoa e o lugar alimenta e é alimentado pelas

imagens do ambiente (MOUSSATCHE, ALVES MAZZOTTI E MAZZOTTI, 1996, p. 146)

Tomando novamente o norte da Itália como uma proposta inovadora de educação infantil em

seu aspecto cultural, estético, o design, a arquitetura, a arte, a integração e interação social são

parte do projeto pedagógico: O PROJETO ZEROSEI4teve uma profunda preocupação com a

qualidade no quesito de valores éticos e estéticos (Hoyuelos, 2006).

O cunho artístico, o valor da cultura infantil e a qualidade da produção dos trabalhos

apresentados, são referências importantes para inúmeros projetos educativos. Para nós, ele

4 Projeto Zerosei é o nome do projeto educativo aplicado na região da Emilia Romana, norte da

Itália, que tornou-se referencia para sistemas educacionais que têm a criança como

protagonista e como ser de direito. A produção do material construído nessas escolas tornou-se

famoso mundialmente por utilizar recursos artísticos profissionais focados para a criança,

inclusive com a participação de artistas locais que inserem e produzem em conjunto com a

criança obras de arte. Os espaços e a arquitetura dos seus edifícios são frutos de pesquisas e

parcerias entre arquitetos e pedagogos, pois há uma profunda relação entre arquitetura,

espaços, educação, criança e a cultura local.

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revela: 1. A importância da qualidade ambiental associada aos projetos educacionais de cada

contexto educativo. 2. Entendem a criança/aluno e seu entorno de forma holística. Escola,

família e o espaço urbano (cidade, bairro) são microssistemas e mesossistemas nos quais a

criança atua, como parte de um único processo do seu desenvolvimento pleno (motor, social,

cognitivo, cultural, racial e de gênero). 3. Considera a diversidade uma riqueza, sinônimo de

qualidade e equidade. Para as professoras e atelieristas o intercâmbio multicultural e social é

essencial para aprendizagem. 4. Os projetos são elaborados com diversidade de recursos

materiais, quantidade e qualidade, que refletem o respeito e o investimento em propostas

pedagógicas comprometidas com a valorização e qualificação do contexto cultural/social/étnico

na qual estão inseridas.

O ambiente arquitetônico não pode ser isolado das práticas pedagógicas e dos usos que são

feitos pelos alunos. Por mais que os pesquisadores busquem isolar os efeitos do espaço sobre as

práticas pedagógicas, é certo que estas interferem sobre os resultados (Derouet-Besson,1996

p.103)

Metodologia

A experiência do trabalho no estudo de doutoramento (Freyberger, 2005) revelou a importância

de uma metodologia que se utiliza de modelos como o estudo de caso em uma pesquisa-ação-

colaborativa para realizara formação em contexto, referendar as práticas partilhadas. A

experiência de formação externa ao ambiente da escola, e a participação de especialistas

no contexto do trabalho apontando novas formas de construir o mesmo projeto e a

oportunidade de agregar novos materiais/brinquedos nas práticas e nas experiências

construídas com as crianças, possibilitando aos projetos, que buscam a qualidade na educação

de forma permanente, sejam exitosos.

Nesse contexto podemos afirmar que arquiteto utiliza-se dos conceitos e metodologias da:

Pesquisa-ação-colaborativa, metodologia que se utiliza de estratégias, tal quais a formação e a

intervenção no formato colaborativo entre a equipe(s)do contexto(s) pesquisado e o pesquisador

para alcançar pelo desenvolvimento pessoal e profissional de professores e pesquisadores a

melhoria na qualidade da educação (Oliveira-Formosinho e Formosinho, 2000; Nóvoa, 2000).

Oficinas com atelieristas/artistas e especialistas para valorização estética e cultural dos

materiais no interior da escola.

Qualificação do ambiente educativo, por meio de intervenções partilhadas relacionando

espaços/lugares/currículos e práticas (ver metodologia do escritório de arquitetura NAVIR)

buscando a integração da criança e seu reconhecimento identitário cultural/social no ambiente

educacional e no interior da comunidade.

Levantamento iconográfico da escola apoiada como forma de documentação e construção

identitária.

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O modo de fazer e o exemplo de dois escritórios de arquitetura: NAVIR e CENÁRIOS

PEDAGÓGICOS

A metodologia do processo projetual, baseia-se na experiência de dois escritórios de arquitetura,

o francês NAVIR, e o brasileiro /paulista CENÁRIOS PEDAGÓGICOS5, que se utilizam de

metodologias de construção participativa – mutirão6, (Miagusko, 2010

7) – associadas à

formação em contexto e metodologias de projeto participativo para elaboração de projetos

de arquitetura educacional.

Nos projetos para espaços/arquitetura das creches na França e projetos de creches e escolas de

período integral (CEUs) no Brasil, esses escritórios são referências com trabalhos junto a

prefeituras, ministérios, associações de bairros, incluindo em suas propostas a voz das

professoras e educadores; crianças e suas famílias; e as políticas dos bairros em que estão

inseridos. Eles partem da premissa coletiva, interdisciplinar e reflexiva para que cada

participante atue da programação à concepção e da concepção à realização no processo

projetual.

Os projetos desses escritórios compõem-se das seguintes etapas de trabalho:

Técnicas e Instrumentos oriundos da arquitetura (levantamentos, croquis, maquetes de estudos,

desenhos gráficos);

Visitas ao lócus da ação;

Levantamento fotográfico e iconográfico da área a ser reformulada;

Levantamento iconográfico de como os usuários enxergam seu espaço - desenhos e fotos;

Coleta de entrevistas / escuta das opiniões de crianças, pais e funcionários sobre suas

necessidades e anseios em relação àquele espaço;

Construir espaços de intervenção com o grupo por maquetes;

Inserir a maquete no ambiente, tornando o projeto mais próximo da realidade;

Utilizar novos materiais e testá-los antes de aplicá-los nas intervenções;

Construir com o Grupo a intervenção para a reformulação do espaço.

5Dirigido pela arquiteta Bia Goulart Faria, MS estruturas Urbanas pela FAU e autora de inúmeras parcerias

com órgãos públicos para qualificação do ambiente educativo na primeira infância.

6 Essa metodologia de mutirão é comumente utilizada em projetos de construções coletivas comumente denominadas

de mutirão, relacionadas a programas habitacionais de interesse social; e foi transposta para projetos de arquitetura

educacional.

7 CADERNO CRH, Salvador, v. 24, n. 61, p. 167-181, Jan./Abr. 2011

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A prática de um PROJETO DE PESQUISA/FORMAÇÃO/INTERVENÇÃO é possibilitar que

a instituição apoiada e sua comunidade educativa possam encontrar apoio às práticas

pedagógicas inovadoras. A qualidade do ambiente e dos materiais educativo é indissociável do

edifício e da proposta pedagógica, constitui um conjunto único, sua unidade fortalece nas

professoras, crianças e comunidade o senso de pertencimento ao lugar e forma uma imagem

positiva e de excelência da escola na sua comunidade e como bem público para todos.

3. Relato de uma intervenção

4.1 Primeiros contatos

A partir de uma sessão de formação sobre espaços de brincar e ambientes para educação

infantil a EMEI “A” firmou uma parceria com o arquiteto para renovação dos seus

espaços/ambientes cujo foco era a qualidade do ambiente educativo e suas praticas na

construção da qualidade dos serviços prestados as crianças.

O primeiro projeto de intervenção surgiu a partir da demanda das professoras sobre as

interferências do ruído vindo do refeitório. O barulho extremamente alto era fator de estresse

entre professoras, crianças e funcionários, prejudicando os trabalhos tanto no local quanto nos

outros ambientes da escola. O ruído das crianças no refeitório irradiava por todo edifício.

Melhorar a acústica era prioridade numero1, no entanto, nas queixas das professoras e

funcionárias a questão do ruído não era identificada como um problema passível de solução, era

inerente ao edifício, elas não viam como realizar essa solução, indicar a possibilidade de uma

consultoria especializada e instalação de um forro acústico foi apresentar uma solução

inovadora e inédita para aquele grupo que ingenuamente não via possibilidades de melhora no

ruído e má qualidade acústica do edifício.

Outra demanda no mesmo espaço era o saguão de entrada e o refeitório, um ambiente

contínuo,escuros, impessoal, não funcional para os usos que se faziam com as crianças, além

das questões acústicas já apresentadas.

As demandas:

Valorizar a alimentação e a autonomia, associada ao projeto da alimentação com autosserviço.

Trazer aconchego e intimidade para as refeições. - a cor resumia-se a alguns desenhos

ilustrados na parede indicando o local como área de alimentação.

Entender as dificuldades, como a questão acústica traz para o espaço e gera outras

problemáticas não perceptíveis no cotidiano da escola, mas resulta em estresse geral nos mais

diversos ambientes e práticas com as crianças.

As ações:

Estudo acústico para instalação de forro acústico para absorção do ruído (contratação de

técnicos externos)

Estudo cromático para pintura do saguão/refeitório.

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Fazer da entrada um ambiente de acolhimento

Com uma paleta cromática diferenciada escolhida em parceria com a comunidade educativa, o

saguão recebeu tons de azuis, verdes,um laranja e um amarelo e um rosa (indicação da presença

feminina na escola, na voz das professoras).

Ir além do padrão das cores primárias para criar um espaço diferenciado e de qualidade,

ampliando o repertório e transformando a identidade cultural da escola. A direção após a

intervenção ouviu de fornecedores externos que tal trabalho não era necessário para aquele

espaço naquele lugar, isso era coisa de “outra gente”, referindo-se ao espaço/cor/ambiente do

contexto da escola em relação ao bairro de periferia que se localiza a instituição.

A tinta de primeira linha ofereceu maior durabilidade aos serviços, qualidade cromática

diferenciada e a escola entendeu que ao custear ela mesma esses serviços (sem apoio da

prefeitura e das regionais) era importante investir em qualidade. A tinta feita sob medida (cor

escolhida e feita em máquina) possibilitou retoques e manutenção do espaço com maior

facilidade.

Estar em um espaço cuja qualidade ambiental acústica, luminosa, térmica é melhor, é também

poder trabalhar e vivenciar ações com mais qualidade. Foi a partir desse projeto que a equipe ao

receber a noticia que a escola receberia novos serviços de pintura, buscou ações para dar

continuidade aos trabalhos iniciado.

Novo projeto para pintura da fachada

A EMEI A situa-se em um vale,em um terreno que possui um declive. A divisa da parte baixa

dá para uma rua com um conjunto de moradias em situação precária. A situação de caos visual

ocorre tanto na paisagem externa quanto interna.

O objetivo da segunda intervenção foi criar uma identidade visual para escola, valorizar o

edifício e criar um marco na paisagem.

A proposta de trabalho surgiu a partir da oportunidade de uma obra de manutenção do edifício

para pintura e restauração da fachada e das salas do andar superior. Para a Direção da escola

(diretora e coordenadora pedagógica), a pintura do prédio ia além, era a possibilidade de

renovação. A partir de um projeto cromático de qualidade que oferecesse uma identidade ao

edifício, a escola, suas crianças e professoras, estavam repensando a imagem da escola como

edifício inserido no bairro em uma paisagem desoladora, na periferia de São Paulo. A situação

do prédio era precária, as cores originais estavam apagadas, era uma massa cinza, sem vida, sem

identidade em um ambiente urbano totalmente desolador.

Durante a sessão de formação continuada com toda a equipe foi discutido as questões sobre

como:

Pensar cores para sala, criar uma identidade e uma paleta cromática para a escola.

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Remover a linha divisória da parede nas salas de atividades, aquilo incomodava as professoras e

limitava o uso das paredes para pendurar trabalhos, etc.

Necessidade de uma tinta reforçada para limpeza, não necessariamente indica a necessidade de

paredes de duas cores (função x usos)

Grades evidenciavam um ambiente opressor. Retira-las estava fora de questão, como suavizar

sua presença na sala de atividades?

Corredor, possibilidade de colocar pastilhas para facilitar a manutenção, mas teria que ser algo

que pudesse trazer significado, vida e valorização ao espaço e as atividades da escola.

Refazer o quiosque que tinha sido construído de forma bastante precária e a equipe tinha

conseguido autorização para reconstrução do espaço

Pensar em uma fachada para escola

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Projeto Parques Sonoros: um espaço de descobertas

Alessandra Arrigoni8

Maria Cristina de Campos Pires9

Sonia Larrubia Valverde10

Viviane De La Nuez Cabral11

O presente relato comunica a experiência em curso no Município de São Paulo que visa

à implementação do Projeto Parques Sonoros que compõe o Programa São Paulo

Carinhosa do governo Municipal de São Paulo cujo objetivo é promover uma Política

para o desenvolvimento integral da primeira infância. O referido projeto garante aos

bebês e as crianças a expressão e criatividade pelas linguagens artísticas. Foi planejado

com foco na formação das Professoras12 que atuam nas Unidades de Educação Infantil

da Rede Municipal de Ensino. As formações são realizadas em lócus por profissionais

com experiência em arte educação e formados na linguagem artística da música. Os

encontros de formação acontecem semanalmente, nos momentos de formação coletiva

das Unidades Educacionais onde são organizadas e planejadas propostas pelas

professoras com orientação direta dos formadores, da assessora e equipe da Divisão de

Orientação Técnica de Educação Infantil. Esses momentos oportuniza as crianças,

vivências, experiências sonoras, incentivando-os a brincar, construir, desconstruir,

ressignificar objetos sonoros “cotidiáfonos”, dando oportunidade de realizarem e

apresentarem suas descobertas e composições. Essas experiências acontecem em vários

8 Integrante da Divisão de Orientação Técnica da Educação Infantil - SME- SP DOT E.I

9 Assessora do Projeto Parques Sonoros

10 Diretora da Divisão de Orientação Técnica da Educação Infantil - SME- SP DOT E.I

11 Integrante da Divisão de Orientação Técnica da Educação Infantil - SME- SP DOT E.I

12 Nesse texto opta-se pela palavra professoras para fazer referência a todos os professores e

professoras da Rede Municipal de Ensino de São Paulo. Da mesma maneira utilizaremos a

composição “bebês e crianças” para fazer referência a todas as crianças independente da cor,

etnia, classe social, gênero, entre outras variáveis.

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espaços das Unidades que podem ser, nas áreas externas, nos parques, nos corredores ou

até mesmo na sala.

Palavra chave: Formação de professores, Parques Sonoros, linguagens.

Por que implantar o projeto Parques Sonoros nas Unidades Educacionais de

Educação Infantil?

O “Projeto Parques Sonoros: espaços de descoberta” foi planejado com o objetivo de

garantir aos bebês e crianças a expressão e criatividade através da linguagem artística,

da música. Ele integra o Programa São Paulo Carinhosa publicado no Decreto nº

54.278, de 28 de agosto de 2013 que institui a Política Municipal para o

desenvolvimento integral da primeira infância, tendo com principal diretriz a atuação

intersetorial, articulando e integrando ações entre todas as Secretarias Municipais

envolvidas e nos territórios em articulação com as subprefeituras bem como com outras

esferas do poder público, a comunidade e suas representações e, considerando ainda, um

dos objetivos presentes no Programa de Metas estabelecidas na gestão do município de

São Paulo para 2013-2016 que diz respeito a ampliação da qualidade da Educação

Infantil, a Divisão de Orientação Técnica de Educação Infantil da Secretaria Municipal

de Educação coordena desde 2013 ações que integraram o Programa a fim de ampliar e

fortalecer na cidade atividades voltadas às crianças bem pequenas, em especial aquelas

moram em regiões consideradas em situação de vulnerabilidade social.

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a educação Infantil, bem como os

documentos publicados pela Secretaria Municipal de São Paulo SME/SP: Programa

mais Educação São Paulo e Orientação Normativa nº 01 de 2013: “Avaliação na

Educação Infantil: aprimorando os olhares”, destacam em cada um em seu âmbito, a

busca da qualidade social da educação infantil que entre outros princípios, ressalta a

importância de se considerar a criança enquanto protagonista, sujeito histórico, capaz e

de direitos que se expressa e conhece o mundo por meio de múltiplas linguagens.

O que se pretende com o Projeto?

A música enquanto linguagem precisa ser explorada nas Unidades de Educação infantil

a fim de proporcionar aos bebês e crianças, a expressão do seu imaginário e o prazer de

descobrir e inventar novos sons. Essas experiências possibilitam que as crianças

explorem e vivenciem situações de um processo criativo musical por meio da

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exploração dos sons do ambiente, pesquisando, criando, imaginando individualmente ou

em grupos sons e objetos sonoros construídos com diferentes materiais do cotidiano e

reciclados. Outro aspecto a considerar é a formação in lócus nos horários de formação

coletivo para as professoras das Unidades Educacionais. Nesses momentos busca-se a

ressignificar e problematizar conceitos de música, instrumentos musicais e escuta

musical no trabalho que desenvolvido com os bebês e crianças. O ponto de partida

para a formação são as experiências das professoras como pesquisadoras que em

parceria com assessoria de um arte educador com especialização em musica, ajuda a

unidade educacional a rever suas práticas cotidianas identificando que a música está

presente nas Unidades de Educação Infantil em forma de cantos , eventos, na cantoria

nos horários de entrada, de refeições e de atendimento ao calendário escolar,

apresentando uma outra possibilidade do trabalho com a linguagem musical para as

crianças pequenas.

Caminhos Percorridos

Na busca de uma nova forma de trabalho, ou ao menos uma boa reflexão sobre esta

temática na formação a Divisão de Orientação Técnica de Educação Infantil, selecionou

pesquisadores e estudiosos que ajudam a pensar como acrescentar maiores desafios para

os bebês e crianças e a compreender melhor toda a musicalidade que envolve as

crianças bem pequenas.

Schafer (1991) nos leva à busca dos sons em seu timbre mais puro ao destacar o ouvido

pensante, que limpa os ouvidos, seleciona os sons e os analisa. Ao olhar para a infância,

percebe-se que as crianças já fazem esta escuta de forma atenta como uma experiência

lúdica. Bem pequenos, eles descobrem os sons do corpo e os experimentam de

diferentes maneiras: choro, balbucios, emitindo sons com a boca, sorrindo, entre outros

sons. Depois com objetos estruturados ou não pegam, jogam, batem, colocam na boca,

enfim, realizam experiências e mais experiências com os sons.

Além de Schafer (1991), Delalande (1993), músico francês que fez uma pesquisa com

um grande grupo de crianças bem pequenas em suas incursões sonoras experimentais

concluiu certa aproximação com a música contemporânea, nada tradicional.

No Brasil, Brito (2003) enriquece este olhar para a infância, através do seu trabalho com

crianças a partir dos quatro anos de idade e pesquisas permanentes com alunos da escola

de música.

Na Rede Municipal de Educação Infantil temos as professoras que trabalham com as

crianças pequenas nos Centros de Educação Infantil (CEI), nas Escolas Municipais de

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Educação Infantil (EMEI), algumas delas nos territórios dos Centros de Educação

Unificado (CEU), nos Centros Municipais de Educação Infantil (CEMEI) e nas Escolas

Municipais Bilíngüe para Surdos (EMEBS) instituições que atendem crianças entre

zero e cinco anos. A maioria destas profissionais da infância recebem uma formação

inicial que não contempla as linguagens artísticas e a lúdica.

Diante disso a formação do professor da primeira infância precisa ser pensada no

sentido de aprimorar olhos e ouvidos para a escuta de bebês e crianças, respeitando à

sua música nada convencional, porém muito séria e que resulta numa paisagem sonora,

que vai se construindo ao longo da vida.

Nesta construção, os bebês e crianças mostram autonomia para escolhas e seleções de

sons, desde que não sejam tolhidas disso. Ou seja, quando as professoras compreendem

este barulho das crianças, acabam por ajudá-los a afinar seus ouvidos, termo utilizado

por Shafer (1991). Neste contexto, as professoras precisam conhecer as propriedades

dos sons, experimentar a escuta dos ambientes internos e externos e assim começar a

compreender os sons da infância.

Malaguzzi (apud Zoccatelli, 2003, p.44), educador italiano diz destaca que para termos

adultos ouvintes, precisamos ter crianças ouvintes e ouvidas. Este é um convite a todos

os adultos que trabalham com bebês e crianças exercitarem suas escutas dos sons mais

simples aos mais sofisticados produzidos por eles.

O convite é para aquele que sabe escutar o que às vezes está à nossa volta e não temos

tempo e paciência para escutar... Nossa teoria diz que se não aprendermos a escutar as

crianças teremos dificuldades para aprender a arte de estar e conversar com elas. Não só

será difícil, como talvez impossível compreender como e por que pensam e falam, como

fazem, pedem, supõem, teorizam, desejam; quais as descobertas das crianças, o que

preferem, para entender como realizam explorações e fazem suas escolhas, para chegar

a atingir bons resultados de conhecimento (p.39).

Nos espaços educativos há a necessidade de ampliação das possibilidades lúdicas com

os sons e outras brincadeiras, para que as crianças possam exercitar a autonomia,

construam suas identidades e culturas infantis.

O fenômeno sonoro é a matéria prima da música. Suas diversas manifestações e formas

de apresentação, naturais, industriais, tecnológico, virtuais entre outros, merecem

atenção e exploração por todos, desde a mais tenra idade.

Para Sedioli (2005), a criança pequena constrói sua identidade como pessoa através do

corpo e dos sons. Quando nos dedicamos à formação musical de bebês e crianças

verificamos a semelhança feliz entre a riqueza sonora que existe, as necessidades e

possibilidades sonoras deles.

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Akoschky (2001) apresenta uma proposta a qual chama de cotidiáfonos os materiais do

cotidiano que podem ser usados na exploração dos sons, termo que adotamos também

para este trabalho do Projeto Parques Sonoros. Os espaços musicais e os Parques

Sonoros, construídos com materiais do cotidiano (cotidiáfonos) favorecem a autoria e o

protagonismo das crianças.

Para que os bebês e as crianças possam realizar suas pesquisas sonoras, pensamos que

as professoras deveriam receber uma formação para a compreensão deste movimento

das crianças e ao mesmo tempo, também realizar suas pesquisas sonoras.

Assim, uma parte integrantedo Projeto Parque Sonoros é a formação que acontece in

lócus envolvendo todas as professoras e professores nos horários coletivos de formação

(Projeto Especial de Ação ou Jornada Especial Integral de Formação) e dialoga com os

Projetos Político Pedagógico das Unidades Educacionais considerando os territórios e

seus diversos contextos culturais.

Conquista e ressignificações

Os Parques Sonoros possibilitam aos bebês e crianças, realizarem seus estudos sonoros

com liberdade tendo a oportunidade de levar suas descobertas para os espaços externos.

Próximo aos seus brinquedos do parque, os brinquedos sonoros possibilitaram ouvir de

diferentes formas os “Cotidiáfonos”.

O Projeto também favorece e amplia a interação das crianças e equipe escolar com sons,

pois incentiva a troca de experiências sonoras entre crianças/crianças, crianças/adultos,

incluindo a comunidade escolar e seu entorno.

A proposta do Projeto Parques Sonoros leva para dentro das Unidades de Educação

Infantil, a música, o lúdico, a formação das professoras e a intervenção sonora nos

espaços internos e externos da unidade, numa ação conjunta de toda a equipe escolar,

com a ajuda de um formador que se dedica a cada unidade onde atua, durante os

horários coletivos, viabilizando o estudo para as professoras e os professores e

discussões e reflexões sobre as ações que acontecem dentro da sala com os pequenos e

aos poucos vão saindo e se tornando instrumentos e brinquedos do lado de fora. É uma

ocupação dos espaços com brinquedos sonoros construídos por diferentes atores,

sobretudo as crianças.

Em 2014 foram atendidas 54 Unidades de Educação Infantil, 1635 educadoras e

educadores, 19.804 bebês e crianças. Em 2015 estão sendo atendidas 58 Unidades de

Educação Infantil.

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Os formadores realizam os encontros de formação semanalmente e são apoiados pela

assessora do Projeto e pela equipe da DOT-EI que subsidiam propondo reflexão,

problematização das ações desenvolvidas nos diferentes territórios nos quais estão

atuando.

O Projeto possui princípios claros, mas dentro de uma proposta aberta, na qual cada

Unidade Educacional deve se sentir autora nesta construção. Em 2014 houve a

organização de muitos “Parques Sonoros”, alguns em espaços internos das Unidades de

Educação Infantil , outros em espaços externos transformando espaços em verdadeiros

ambientes de exploração sonora.

Com o acompanhamento das formações nas Unidades Educacionais e dos momentos

propostos para bebês e crianças podemos constatar o maravilhamento e a aprendizagem

significativa que perpassa estes espaços.

Apesar do sucesso dessa proposta, ainda lidamos com muitos desafios, como exemplo é

possível destacar: a resistência de algumas professoras nas Unidades Educacionais em

trabalhar de forma coletiva; dificuldade em encontrar formadores com experiência em

arte educação e formação em música considerando enquanto linguagem expressiva .

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Referências

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cotidianos. Buenos Aires: Ricordi, 2001.

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Implicações da obrigatoriedade de matrícula das crianças de 4 e 5 anos na

educação infantil: problematizações necessárias

Aliandra Cristina Mesomo Lira

Comunicação oral

Resumo: O objetivo desse trabalho é problematizar questões decorrentes da Lei 12.796

(BRASIL, 2013) que institui como obrigatória a matrícula em pré-escolas de crianças de

4 e 5 anos de idade. Trata-se de um estudo teórico que busca refletir sobre os principais

aspectos envoltos em tal determinação. Tais ponderações são relevantes uma vez que a

educação infantil, embora figure como direito das crianças desde a LDB 9394/96

(BRASIL, 1996), continua marginalizada nas políticas públicas. Infelizmente, a

despeito da possibilidade de que uma parcela maior de crianças tenha garantido seu

direito à educação infantil com a extensão da obrigatoriedade do ensino, temos

acompanhado com preocupação os encaminhamentos para atender a determinação legal,

com atendimentos acontecendo em estruturas inadequadas, sem profissionais do quadro

próprio do magistério da educação infantil e com práticas que por vezes antecipam

forçadamente atividades preparatórias para a alfabetização.

Introdução e justificativa

O debate acerca da importância da educação infantil para a formação e

desenvolvimento humanos já há algumas décadas vem consolidando-se, em especial no

meio acadêmico e nos fóruns de debate e defesa da educação das crianças de 0 a 5 anos

de idade. A Lei 12.796 (BRASIL, 2013) que institui como obrigatória a matrícula em

pré-escolas de crianças de 4 e 5 anos de idade indica que os municípios têm até 2016

para universalizar esse atendimento. Tal encaminhamento também está explicitado na

Meta 1 da Lei 13.005, de junho de 2014, que aprovou o Plano Nacional de Educação a

vigorar para os próximos dez anos. Segundo o texto legal deve-se “Universalizar, até

2016, a educação infantil na pré-escola para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) anos de

idade e ampliar a oferta de educação infantil em creches de forma a atender, no mínimo,

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50% (cinquenta por cento) das crianças de até 3 (três) anos até o final da vigência deste

PNE” (BRASIL, 2014).

Objetivos

O intuito desse texto é problematizar as implicações da extensão da obrigatoriedade do

ensino para as crianças de 4 e 5 anos de idade, buscando refletir acerca das condições

práticas para a efetivação do encaminhamento legal e os impactos diretos aos

atendimentos das crianças nessa faixa etária.

Referencial teórico

Embora em termos legais a educação infantil, como primeira etapa da educação

básica, figure como direito das crianças desde a LDB 9394/96 (BRASIL, 1996), na

prática esse nível de ensino continua marginalizado nas políticas públicas. Nesse

cenário, a extensão da obrigatoriedade ao mesmo tempo que procura garantir o

atendimento de todas as crianças de 4 e 5 anos, ao excluir as crianças de 0 a 3 anos,

focaliza em apenas um segmento da educação infantil. Segundo Campos (2012, p. 99),

como decorrência dessa forma de segmentação destaca-se

[...] aquela produzida pela introdução da obrigatoriedade na educação

infantil, que tende a romper com a unidade pedagógica e de gestão

arduamente conquistada nessa etapa educativa. Adotada pela maioria

dos países na região, tem produzido efeitos paradoxais e instaurado

uma nova dinâmica na composição e gestão dos sistemas educativos.

No que se refere ao primeiro aspecto, a focalização no ciclo etário

final - 4 a 5 anos de idade - tem induzido ao crescimento das

matrículas, verificando-se em alguns países a universalização de

acesso. No entanto, essa universalização tem sido feita em detrimento

da educação das crianças de 0 a 3 anos, destinatárias cada vez mais de

programas de caráter assistencial e de qualidade precária.

Assim, para atender o direito à educação infantil é necessário, por parte dos

gestores públicos, bastante empenho e responsabilidade para garantir o acesso de todas

as crianças (CAMPOS, 2010). Além disso, infelizmente, a despeito da possibilidade de

que uma parcela maior de crianças tenha garantido seu direito à educação infantil com a

extensão da obrigatoriedade do ensino, temos acompanhado com preocupação os

encaminhamentos dados para atender a determinação legal, com atendimentos

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acontecendo em estruturas inadequadas, sem profissionais do quadro próprio do

magistério da educação infantil e com práticas que por vezes antecipam forçadamente

atividades preparatórias para a alfabetização.

Segundo o texto das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil –

DCNEI (BRASIL, 2009) a educação infantil deve considerar as crianças como centro

das propostas pedagógicas, organizando um trabalho educativo com vistas à ampliação

das vivências e experiências infantis, de modo a interferir positivamente e contribuir

com o desenvolvimento infantil em seus múltiplos aspectos. Para tal, o documento

destaca como eixos norteadores do trabalho na educação infantil as interações e

brincadeiras, as quais se efetivarão no sentido do desenvolvimento infantil em contextos

estruturais adequados e por meio de intervenções e mediações de qualidade por parte

dos adultos envolvidos e da multiplicidade de relações das crianças entre si.

No que se refere à matrícula obrigatória na educação infantil para as crianças de

4 e 5 anos, nesse momento nos colocamos na posição de perguntadores, com inúmeras

dúvidas acerca da imposição decorrente da determinação legal. Se até então a educação

infantil era reconhecida como um direito da criança, agora associa-se o dever da família

em matricular os filhos de 4 e 5 anos, devendo o poder público garantir as vagas. Cury e

Ferreira (2010) lembram que durante muito tempo a obrigatoriedade à educação remetia

ao compromisso do cidadão, e não ao dever dos governos em fornecer educação para

todos.

Campos (2010) ressalta que no contexto dos países da América Latina os

governos têm optado pela focalização, tanto das políticas quanto dos atendimentos, no

segmento das crianças de 4 e 5 anos, transferindo para organizações da sociedade civil a

responsabilização pelas crianças de 0 a 3 anos de idade. Embora de modo geral a

maioria dos países iniciem a obrigatoriedade do ensino a partir dos 3 ou 4 anos, há

diferenças entre eles nessa orientação, configurando muitas vezes uma ‘universalização

sem direitos’.

Metodologia

O recorte apresentado nesse momento apresenta reflexões com base na

legislação e em autores como Campos (2013; 2012), Rosemberg (2009) e Serrão

(2012), que discutem sobre a educação infantil, em especial, as políticas públicas

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educacionais com impacto na educação das crianças de 0 a 5 anos de idade. Cabe

registrar que tais reflexões fazem parte do projeto “Implementação da matrícula

obrigatória das crianças de 4 e 5 anos na educação infantil: tensões, desafios e

possibilidades no município de Guarapuava-Pr”, financiado pelo CNPq, que se encontra

em execução. Assim, apresentam-se nesse momento considerações preliminares

decorrentes do desenvolvimento dessa pesquisa.

Desenvolvimento da pesquisa

As reflexões ora apresentadas são o resultado dos estudos teóricos que sustentam

a investigação acima mencionada, pois embora já tenhamos coletado alguns dados junto

ao município investigado esses encontram-se me fase de análise. Também

problematizamos algumas questões já constatadas, considerando as experiências prévias

e o conhecimento dos encaminhamentos tomados pela gestão municipal com vistas a

atender a determinação legal da universalização do atendimento na educação infantil

para as crianças de 4 e 5 anos, até 2016.

A preocupação com as implicações da obrigatoriedade do ensino para a

educação infantil é explicitada por Serrão (2012, p. 135), cujos questionamentos

compartilhamos:

Não compartilho da defesa da obrigatoriedade da educação infantil,

não estou convencida de que seja a melhor e única alternativa para a

formação das novas gerações e, por consequência, que todas as

crianças devam frequentar instituições de educação infantil. [...] para

atender a exigência legal da obrigatoriedade, a pré-escola será

impulsionada a expandir sob quais parâmetros de qualidade? A

resposta do poder público será o que temo presenciado na rede

municipal de São Paulo, com 3 turnos de atendimento e turmas de 35

a 40 crianças sob a responsabilidade de um único professor,

contrariando o que está disposto nas DCNEI? A expansão da pré-

escola será viabilizada sem prejuízo da ampliação das vagas para as

crianças de 0 a 3 anos de idade? A não garantia de direitos é

preocupante. Igualmente preocupantes são as práticas escolares

presentes nas instituições de educação infantil.

Ao discutir as concepções políticas relacionadas à democratização da educação

infantil Campos (2010) registra a necessidade de não se dissociar a expansão do acesso

da qualidade, uma vez que quantidade e qualidade são dimensões indissociáveis.

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Considerando-se esse cenário, elencamos alguns aspectos que consideramos de maior

relevância par a presente discussão.

Estrutura física

Segundo as DCNEI (BRASIL, 2009) as instituições de educação infantil devem

estar organizadas do ponto de vista estrutural de modo a atender as necessidades e

especificidades das crianças pequenas, permitindo a vivência de experiências e

atividades, coletivas e individuais, no sentido de ampliar o desenvolvimento infantil.

Dessa forma, as salas devem ser amplas e arejadas, com mobiliário adequado ao

tamanho das crianças, com brinquedos variados e em quantidade suficiente à altura das

crianças, livros de literatura, dentre outros aspectos.

Embora muitas vezes as instituições de educação infantil, mesmo tendo sido

pensadas e projetadas especialmente para atender as crianças de 0 a 5 anos de idade, não

atendam por completo os padrões de infraestrutura, elas ainda são os locais mais

adequados para atender os pequenos. Dada a necessidade de ampliar o número de vagas

e considerando a insuficiência das vagas disponíveis, muitos municípios, por meio das

gestões locais, têm lançado mão de estratégias que podem estar desconsiderando as

especificidades infantis.

No caso do município analisado sabe-se que as crianças de 4 e 5 anos têm sido

retiradas dos Centros de Educação Infantil e estão sendo criadas turmas em escolas de

ensino fundamental já existentes. Assim, as crianças passam a frequentar uma

instituição inicialmente projetada para atender crianças maiores, e que não passou por

adequações estruturais para receber as crianças menores. De modo geral, do ponto de

vista da estrutura, temos constatado que os parques não têm brinquedos da altura das

crianças de 4 e 5 anos, as salas têm sua ‘decoração’ na altura do adulto e o mobiliário é

o mesmo utilizado pelas crianças do ensino fundamental. Além disso, as crianças que

anteriormente frequentavam as instituições de educação infantil em jornada integral (no

mínimo 7 horas) passam agora a ser atendidas em jornada parcial de apenas 4 horas.

A partir disso, consideramos que essa estratégia aumenta o número de vagas nas

instituições de educação infantil, mas opera de forma negativa sobre as crianças da pré-

escola que são atendidas em instituições que não foram pensadas para essa faixa etária,

evidenciado a distância entre os parâmetros de quantidade e qualidade no atendimento.

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Formação de professores

As pesquisas que se debruçam sobre a formação de professores registram que

essa incide sobremaneira na qualidade das práticas pedagógicas. Assim, um profissional

bem formado terá melhores condições de desenvolver um bom trabalho com as

crianças, reconhecendo as características de desenvolvimento e da cultura infantis, e

lançando mão de atividades e encaminhamentos adequados para a faixa etária da

educação infantil.

Na última década pode-se reconhecer um avanço em termos do número de

crianças atendidas, contudo em muitos municípios a questão da formação ainda não está

no foco das políticas educacionais. Embora a LDB 9394/96 (BRASIL, 1996) coloque

como desejável a formação em nível superior, curso de licenciatura, muitos editais de

concurso público não têm respeitado essa orientação, mantendo a exigência mínima

permitida que é a formação em nível médio, Magistério. Além disso, em nosso

município os profissionais da educação infantil não fazem parte da categoria

professores, mas são enquadrados como educadores, com plano de carreira

diferenciado, o que acaba por manter e aprofundar o desprestígio associado a carreira

docente na educação infantil.

Com a ida das turmas de pré-escola para instituições de ensino fundamental há

outro agravante, esse relacionado com a formação do professor que atua com essas

turmas. Há no município uma cláusula do estatuto dos educadores infantis que não

permite que atuem fora dos Centros Municipais de Educação Infantil, assim, nessas

turmas de pré-escola quem trabalha como professor são profissionais concursados para

atuar com o ensino fundamental, que geralmente já atuam na instituição em outro turno

e fazem dobra de contrato, assumindo uma turma de educação infantil. Também,

comumente, são profissionais recém-chegados na escola, seja por transferência ou

porque assumiram recentemente o concurso, e por ‘não terem escolha’ ficam com as

turmas de educação infantil.

Além disso, o município não conta com uma política de formação continuada,

mantendo uma prática de encontros esporádicos, de curta duração, que muitas vezes não

discutem sobre temas importantes para a educação infantil e a formação docente.

Prática pedagógica

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A despeito das determinações legais que discutem de forma ampla e bem

fundamentada como devem estar organizadas as práticas na educação infantil,

efetivamente no cotidiano das instituições temos enfrentado inúmeros desafios para

concretizar tais orientações. Assim, por exemplo, as DCNEI (BRASIL, 2009) registram

a necessidade de que as práticas considerem as questões relacionadas à diversidade das

crianças, suas individualidades e também as questões relacionadas à cultura,

trabalhando com as múltiplas linguagens infantis. Asseveram, também, que o trabalho

com a linguagem escrita não deve sobrepor-se às outras formas de linguagem, em

especial as atividades que envolvem a música, o corpo, o teatro, a literatura.

Contudo, mesmo antes da Lei 12.796 (BRASIL, 2013) observávamos com

preocupação o ensino de letras e números de forma insistente e contínua, com registros

de cópias e treinos com o intuito de que as crianças chegassem ao primeiro ano

alfabetizadas. Com a ida das crianças para as escolas de ensino fundamental tanto o

contexto quanto a organização pedagógica reforçaram esse direcionamento, inclusive

antecipando esses encaminhamentos para as crianças de 4 anos.

Resultados

Como resultados preliminares, a partir das considerações apresentadas acima,

reconhecemos que a extensão da obrigatoriedade do ensino para parte da educação

infantil tem encaminhado uma série de ações por parte dos municípios que infringem os

direitos das crianças. Além disso, ao focalizar a escolarização obrigatória para apenas

uma parcela da educação infantil corre-se o risco de negligenciar os direitos das

crianças de 0 a 3 anos de idade. Como afirma Campos (2013, p. 204), “[...] o

reconhecimento da especificidade ou particularidade social da infância e as diversas leis

e declarações em favor de seus direitos não se traduziram em sinônimo de uniformidade

ou garantia de boas condições de vida a todas as crianças. Esse aparente descompasso

entre o proclamado e o efetivado é visível [...]”.

Além disso, as estratégias pensadas e implementadas configuram uma condição

problemática em termos de estrutura física, da formação dos profissionais que atuam

com as turmas de pré-escola e nas práticas pedagógicas, com efeitos que ainda não

podem ser avaliados uma vez que se trata de um cenário novo.

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Considerações finais

Considerando que a Lei 12.796 (BRASIL, 2013) indica que os municípios têm

até 2016 para implementar a matrícula obrigatória para as crianças de 4 e 5 anos são

necessários maiores estudos e investigações que desnudem e reflitam acerca dos

encaminhamentos tomados, bem como dos desdobramentos e impactos para os

envolvidos, em especial as crianças e professores. Como registra Campos (2010, p.

306),

Uma breve análise dos últimos vinte anos força-nos a reconhecer os

avanços já feitos. No entanto, em que pesem os avanços já

estabelecidos é preciso também confrontar a situação do atendimento

educativo das crianças de zero-cinco anões e as condições de sua

oferta, examinando, assim, se as políticas públicas dirigidas a esta

faixa etária têm logrado a democratização desta etapa educativa.

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Referências bibliográficas

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Acesso em: 19 de maio de 2013.

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CAMPOS, R. F. “Política pequena” para as crianças pequenas? Experiências e desafios

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SERRÃO, C. R. B. A política da construção ou da justaposição- A educação infantil

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O Currículo da Educação Infantil na Secretaria Municipal de Educação de

Manaus: reconstruções no contexto amazônico

Ana Paula Lima Carvalho de Oliveira13

As ressignificações orientações pedagógicas da educação infantil do município

de Manaus vêm passando por ressignificaAsressignificaçõesmplantação das Diretrizes

Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (Dcneis/Resolução CNE/CEB nº

05/09). Buscar alternativas de entendimento sobre os papéis da docência na infância em

contexto amazônico, a partir do documento das DCNEIs, é ação constante da Divisão de

Educação Infantil da Secretaria Municipal de Educação (Semed) de Manaus. Os

instrumentos de registro também passaram por modificações para atender ao documento

oficial do Ministério da Educação e buscar a identidade da etapa nas dinâmicas de

educação com as crianças de 0 a 5 anos. A atividade propôs reflexão sobre a concepção

de currículo na educação infantil de maneira a refleti-la nos documentos de registros

oficiais da Semed Manaus. Esta ação está resultando, processualmente, em práticas e

escritas que respeitam a relação educativa dos professores e professoras com as crianças

da cidade de Manaus.

Palavras Chave: Educação Infantil. Prática de Currículo. Identidade.

A gestão do currículo da educação infantil na cidade de Manaus

A ressignificação de práticas pedagógicas é uma constante na educação. Em

atendimento às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEIs /

Resolução CNE/CEB nº 05/09), a Secretaria Municipal de Educação de Manaus (Semed

Manaus) iniciou, em 2012, o processo de reestruturação de seus documentos e

orientações pedagógicas aos envolvidos com a primeira etapa da educação básica

pública de Manaus.

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Professora e Pedagoga da Secretaria Municipal de Educação de Manaus.

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Sobre a ressignificação das práticas educativas na escola, o relatório das

Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação contribui com a seguinte

afirmação:

A escola, face às exigências da Educação Básica, precisa ser reinventada:

priorizar processos capazes de gerar sujeitos inventivos, participativos,

cooperativos, preparados para diversificadas inserções sociais, políticas,

culturais, laborais e, ao mesmo tempo, capazes de intervir e problematizar as

formas de produção e de vida. A escola tem, diante de si, o desafio de sua

própria recriação, pois tudo que a ela se refere constitui-se como invenção: os

rituais escolares são invenções de um determinado contexto sociocultural em

movimento (2013, p. 16).

A Proposta Pedagógico-Curricular da primeira etapa da Educação Básica da

Semed Manaus passou por processo de reestruturação no ano de 2012 para atender o

que preconiza as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEIs /

Resolução CNE/CEB nº 05/09). Consigo trouxe reestruturação de pensamentos e

fazeres na educação infantil pública da cidade.

O processo de construção desse instrumento considerou vozes de atores

institucionais e sociais da rede, incluindo diretores, professores, pais e crianças. Contou,

ainda, com a consultoria de representantes da Universidade Federal do Amazonas,

Universidade do Estado do Amazonas e Fórum Amazonense pela Educação Infantil.

O desafio foi esclarecer a concepção dos temas expostos na etapa da educação

infantil (criança, infância, currículo, avaliação) de maneira a refleti-la nos registros dos

documentos oficiais da Semed Manaus, sendo eles os diários de classe, fichas de

planejamento pedagógico e parecer descritivo do desenvolvimento da criança.

A Semed conta com uma consultoria de gestão que, dentre outras funções,

mensura o cumprimento do currículo nas etapas do ensino fundamental e da educação

infantil. Sendo assim, outro desafio foi esclarecer aos assessores de gestão que realizam

essa mensuração a concepção de currículo e avaliação na educação infantil e como esse

entendimento difere do ensino fundamental.

Assim, havia dois públicos alvos de trabalho: profissionais da etapa específica e

profissionais que ainda não haviam vivenciado nenhuma dinâmica da educação infantil

e ainda mensurariam o trabalho pedagógico na etapa.

Oliveira aponta que na educação infantil:

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O currículo busca articular as experiências e os saberes das crianças com os

conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, científico e

tecnológico da sociedade por meio de práticas planejadas e permanentemente

avaliadas que estruturam o cotidiano das instituições (2010, p.4).

Este entendimento de currículo norteia as orientações pedagógicas dadas aos

professores e pedagogos da rede municipal de ensino de Manaus pela assessoria

pedagógica da Divisão de Educação Infantil. Equilibrar esta definição de currículo com

instrumentos de mensuração do desenvolvimento da criança e da prática pedagógica do

professor foi o caminho a ser trilhado.

A reestruturação da proposta pedagógico-curricular de educação infantil

no município de Manaus

Após a conclusão da Proposta Pedagógico-Curricular de Educação Infantil, foi

necessário reestruturar o formato e as orientações dos instrumentos de acompanhamento

e registro à linguagem das DCNEIs. São eles: diário de classe, ficha de planejamento e

parecer descritivo do desenvolvimento da criança.

O objetivo de reestruturar as orientações aos professores quanto ao registro

nesses instrumentos foi de buscar uma escrita coerente com a etapa, que evidenciasse a

ação intencional que deve se propor qualquer ação pedagógica com crianças. A questão

do registro das atividades diárias, por exemplo, foi um dos principais focos de atuação

para ressignificações, pois o hábito era a escrita de conteúdos soltos e que não deixavam

clara a intencionalidade da atividade e que vencesse a concepção conteudista na

educação infantil.

Segundo Barbosa e Horn (2008, p 44) “presta-se atenção a tudo o que se passa

na escola, propiciando-se aos alunos as aprendizagens consideradas mais significativas,

na medida em que são oferecidas múltiplas possibilidades para a intervenção

pedagógica”.

A assessoria pedagógica então buscou dialogar com pedagogos e professores da

educação infantil na intenção de aproximar as Diretrizes das práticas pedagógicas. Esses

diálogos se deram em encontros bimestrais em 2014 e 2015 com temas voltados para o

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entendimento da nova Proposta Pedagógico-Curricular, Avaliação, Planejamento e

Currículo na Educação Infantil.

Em encontros como esse também participou a assessoria de gestão, equipe que

estava diariamente em contato com professores para mensurar o cumprimento do

currículo e que, portanto, causava impacto no entendimento destes temas.

Interessante foi perceber a profissão docente na primeira infância porque, através

dos processos de ressignificações de currículo e avaliação, notou-se necessidade de

entendimento das concepções de criança/infância e educação infantil no dia a dia da

escola.

Houve falas quanto à dificuldade do tempo para olhar a criança em sua

individualidade – de maneira que a avaliação na educação infantil de fato fosse

intervenção pedagógica – e para formação continuada de maneira a intensificar os

estudos sobre as fases do desenvolvimento infantil. Essas falas nessa prática em 2015 se

referem a uma das comprovações de Jussara Hoffman quando, em 1996, afirmou que:

(...) existe um longo caminho a percorrer nesse sentido, pois são muitas as

dificuldades e as resistências entre educadores, uma vez que elaborar

relatórios de avaliação exige estudo, tempo e muita observação das crianças.

Mas é justamente nesse último ponto que se encontra o maior significado

dessas tentativas, uma vez que a grande maioria das instituições aponta,

como resultado mais importante desse processo, a compreensão muito mais

aprofundada das crianças pelos os professores.

O trabalho da assessoria pedagógica foi de ressignificar a escrita das ações dos

professores com as crianças nos instrumentos de registros oficiais de planejamento e

avaliação. O cuidado com o registro se deve pelo fato de ser comprovação documental

da ação mediadora dos professores e professoras da primeira infância. Sobre a avaliação

na educação infantil, Hoffman (2012) aponta que:

A ação avaliativa precisa considerar as crianças em sua diversidade: sua

realidade sociocultural, sua idade, suas oportunidades de conhecimento, etc.,

e a diversidade dos professores que atuam com elas. Muitas de suas

percepções, o que esses pensam sobre as crianças, podem revelar o grau de

importância que atribuem ao espaço institucional em termos do futuro dessas

crianças e em relação ao seu desenvolvimento global, nem sempre

considerados (p. 26).

No caso do parecer descritivo, voltou-se a fala para a concepção de relatório de

desenvolvimento infantil, respaldando-nos com textos e vídeos de Jussara Hoffman

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através da obra “Avaliação na pré-escola: um olhar sensível e reflexivo sobre a criança”

e de Hilda Micarello através do texto “Avaliações e Transições na Educação Infantil”

contido nos Anais do I Seminário Nacional: Currículo em Movimento – Perspectivas

Atuais. O vídeo foi “Avaliação na Educação Infantil”, de Jussara Hoffman, da Univesp

TV, elaborado em 2011, exposto em seu formato integral.

Sobre o diário de classe da educação infantil, no campo das atividades diárias, a

orientação foi que se deixasse clara a intencionalidade da atividade descrita no

documento, evidenciando a identidade própria e específica desta etapa da educação

básica. Outra característica deste documento é o registro da frequência em folhas por

criança, mostrando-a em sua individualidade e obtendo-se um mapa de sua frequência

na escola ao longo de um ano letivo.

A resistência se deu pela dificuldade de registrar a intencionalidade das

atividades propostas, tanto pelo fato de re-planejar as ações conforme as manifestações

das crianças – o que pressupõe conhecê-las em sua condição de criança – quanto pela

orientação de atender a um currículo com 12 experiências propostas pelas Diretrizes

Curriculares, e que pela qual passariam por mensuração de cumprimento.

Essa dinâmica confundiu o processo de entendimento do currículo na educação

infantil pelos professores e professoras da rede pública de ensino de Manaus. De um

lado, o discurso atual da criança como centro do planejamento da ação mediadora e, de

outro, os registros de planejamento e de atividades diárias terem que, obrigatoriamente,

demonstrar o cumprimento de experiências entendidas como disciplinas isoladas.

Estávamos diante de orientações dúbias.

Criou-se, então, uma tabela que buscou atender às duas solicitações: o caráter

próprio de currículo na educação infantil e a assessoria de gestão na função de mensurar

o cumprimento do currículo da educação infantil e do ensino fundamental de Manaus.

A tabela relaciona as 12 experiências, a partir dos eixos interações e brincadeira,

e consiste em cinco espaços: eixo interações e brincadeiras – experiências – aspectos

experienciais – objetivos de desenvolvimento – procedimentos metodológicos – marco

de desenvolvimento.

A ideia foi orientar que esses espaços se relacionam entre si e caracterizam a

promoção das 12 experiências e seus aspectos com intencionalidade, que cada

procedimento é oriundo de um objetivo que, por sua vez, atende a uma experiência ou

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vivência proposta pelas Diretrizes. Dentre elas, tudo está relacionado na prática

educativa com as crianças. Oliveira lembra que as Diretrizes destacam:

(...) a necessidade de estruturar e organizar ações educativas com qualidade,

articulada com a valorização do papel dos professores que atuam junto às

crianças de 0 a 5 anos. Esses são desafiados a construir propostas

pedagógicas que, no cotidiano das creches e pré-escolas, deem voz às

crianças e acolham a forma delas significarem o mundo e a si mesmas (2010,

p. 1)

Considerações Finais

Após essas orientações, foi possível visualizar processos de escritas das ações

pedagógicas que buscam demonstrar a identidade da etapa considerando as realidades

das crianças em contexto amazônico – uma cidade que, apesar de rodeada pela selva, se

vive a infância em construções urbanas e cujos igarapés já não existem mais – ao

mesmo tempo em que buscar oportunizar experiências propostas para as infâncias de

todo o país.

Assim, o entendimento do currículo e da avaliação para a ação pedagógica com

a primeira infância se reflete como um dos critérios da educação de qualidade como

direito da criança. Fica a certeza da dúvida – assim como a vontade de continuar nas

tentativas – sobre qual prática, de fato, pode atender ao cumprimento de documentos

legais e garantir oportunidades de aprendizagem aos curumins e cunhantãs da cidade de

Manaus.

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Referências

BARBOSA, Maria Carmem Silveira. HORN, Maria da Graça Souza. Projetos

Pedagógicos na Educação Infantil. Porto Alegre: Grupo A, 2008.

BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica / Ministério da

Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Currículos e Educação Integral.

Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013.

HOFFMANN, Jussara M. L. Avaliação na pré-escola: um olhar sensível e reflexivo

sobre a criança. Porto Alegre: Mediação, 1996.

OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos de. O currículo da educação infantil: o que

propõem as novas diretrizes nacionais? Anais do I Seminário Nacional: Currículo em

Movimento – Perspectivas Atuais. Belo Horizonte, novembro de 2010.

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A construção da concepção da infância como sujeito de direitos na Colômbia

Andrea Rodríguez Vega14

O presente trabalho apresenta um recorrido histórico das ações desenvolvidas na

Colômbia a partir de 1960 e lembra as estratégias dos planos de governo dos presidentes

da Colômbia começando com o período de 1978 até a atualidade com o objetivo de

conhecer a perspectiva de atendimento a à infância durante finais do século XX e

começos de século XXI quando muda a concepção da infância pela influencia da Teoria

do Capital Humano; para fazer esse trajeto se expõem os antecedentes da infância na

América Latina. Assim mesmo se faz um analise do atendimento da infância hoje em

relação com as políticas e a mudança de perspectiva do Estado quando concebe a

criança como um sujeito de direitos e ator ativo na vida social. Este artigo é resultado de

uma pesquisa documental onde se ressalta a concepção da infância como uma categoria

histórica construída socialmente e que tem influencia de aspectos: sociais, culturais,

políticos e econômicos que determina o atendimento que recebem as crianças na

atualidade na Colômbia.

Introdução

Na atualidade os estados reconhecem a infância como um sujeito autônomo na

família, na escola e na sociedade, e é por isso que a infância muda os patrões da família

transformando-se em o centro da família moderna, porque a criança determina o

começo do desenvolvimento da dinâmica familiar. É assim que desde uma observação

sociológica, reconhecer a autonomia das crianças se torna a principal característica de

civilização das sociedades como derivação do reconhecimento como sujeito ao interior

da família e a sociedade contemporânea.

Na Colômbia a primeira infância tem importância nos últimos anos, pela

amplia mobilização mundial tecida ao redor do tema. Resultado das pesquisas cientifica

em diferentes disciplinas, apresentam que durante os primeiros anos de vida se

14 Estudante de Mestrado em Educação – Universidade do Estado de Matto Grosso, Licenciada em Educação Básica com Ênfase em

Educação Especial – Universidade Pedagógica Nacional, Colômbia, Assistente Social – Universidade Nacional da Colômbia.

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constroem a maioria das conexões fisiológicas e psicológicas que determinam as

condições físicas e emocionais do ser humano.

Por isso, qualquer intervenção no desenvolvimento nessa etapa da vida é

fundamental para estabelecer as características das pessoas e a sociedade do futuro na

teoria do capital humano. Por esta razão diferentes países na atualidade desenvolvem

ações de intervenção na primeira infância. Em relação com esta visão economicista da

inversão na infância os governos têm apoio e promoção de organizações multilaterais

como o Banco Mundial (BM) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID),

quem reconhecem a efetividade que tem a atenção da primeira infância como meio da

transformação social, econômica e cultural.

Quando se fala das crianças como sujeitos, se fez referência a um processo de

naturalização, socialização e subjetivação dos meninos e as meninas, reconhecendo-lhes

como sujeitos históricos. Assim, a configuração da condição da infância, implica a

construção de significados constituídos as crianças por meio de processos mediados

através da linguagem e as suas relações, daí a importância das pessoas que fazem parte

de um grupo num contexto particular. Por isso, é relevante refletir frente à necessidade

de ampliar o horizonte de possibilidades a respeito da potenciação dos recursos

individuais das crianças e dos recursos coletivos que surgem das relações com as outras

pessoas que fazem parte da vida das crianças.

As pesquisas a respeito de crianças e infância envolve inicialmente conhecer as

concepções históricas da categoria, por isso é necessário saber a origem do conceito da

infância no século XVIII, destaca uma concepção uma condição vulnerável da infância,

inocente e que precisava de proteção e governabilidade pelos governos por meio da

educação e atenção especializada. Assim, a infância no início do século XX

transformou-se sua concepção em produto da Convenção dos direitos das crianças em

1989.

Além das concepções de crianças é necessário um olhar histórico, pois também

são construções socioculturais da sociedade, no qual se consideram pessoas dependentes

biológica e economicamente das pessoas adultas que habitam o mundo de maneira

diferente. Nesse sentido, as crianças também constroem seu mundo através de patrões

culturais, produto de sua experiência e relação com a realidade na escola, na família e

em ambientes, como o parque.

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A imagem da criança é, por tanto um reflexo do que o adulto e a sociedade

pensam de si mesmos. A criança define-se assim, ela própria como referência

ao que o adulto e sociedade esperam dela. Esta relação é um espelho do que

os adultos e as sociedades querem, eles próprios. Um jogo de projeções

daquilo que os adultos gostariam de ser, eles mesmos (CHARLOT, 1997).

Antecedentes da Infância para América Latina

Durante o século XX marca-se o início de pensar e falar sobre a infância. No ano

1900 Ellen Key escreve o livro Barnets Arhundrade em Estocolmo que versa sobre a era

dos meninos a partir da chegada do século XX, retomando a importância e

reconhecimento das crianças como sujeitos parte integrante de uma sociedade.

Desde 1900 até 1912, se desenvolveram uma série de escritos e eventos com

relação às crianças e a importância de seu cuidado, assim em 1905 em Paris, se

organizou o Congresso sobre problemas da alimentação da infância, seguido em 1907

com o Congresso de Proteção da Primeira Infância em Bruxelas e em 1909 se faz 7

Congressos Estadunidenses sobre infância até 1970, dedicado a melhorar a condições

das crianças na institucionalização para assegurar e garantir o bom convívio na família e

a vida no lar.

Com a linha das infrações e institucionalização dos menores em 1911 em Paris,

se desenvolve o Primeiro Congresso Internacional de Tribunais de menores e em 1912

em Bruxelas se faz o Primeiro Congresso de Proteção à infância, uma iniciativa

constituinte do desenvolvimento das novas teorias psicológicas, com base nos seguintes

autores: Freud (1856 – 1939), Adler (1870 – 1937), Piaget (1896 - 1980), Erikson (1902

– 1994), Bowlby (1907 – 1990). Estas teorias fazem referências desde o nascimento da

criança, os diferentes pontos de vista do afeto, cuidado da mãe e estabilidade familiar,

que são fatores indispensáveis para o seu maior desenvolvimento.

Com o desenvolvimento destes eventos e finalizada a segunda década do

século XX, em consequência da primeira e segunda guerra mundial se gero uma visão

da criança em situação de vulnerabilidade que precisava de proteção, tomado como

elemento fundamental o conflito armado em Síria través das crianças refugiadas,

abandonadas, rechaçadas e nascidas em áreas de conflito. E assim na primeira guerra

mundial, as irmãs Dorothy e Eglantyne Jebb, constituíram em Londres um grupo

Fightthe Famine Council (Luta do Conselho de Fome) para exercer preção sobre o

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governo britânico frente ao bloqueio sobre Alemanha e Áustria que deixavam as

crianças com fome.

Estas inciativas permitiram visibilizar a infância durante a época. Por isso, em

1923 a Organização Save Children faz uma redação da declaração dos direitos da

criança, aprovada em 1924 pela liga de nações. Este ato faz articulação com a

Convenção das Nações Unidas sobre os direitos das crianças em 1989, com esta

ratificação se faz um reconhecimento jurídico dos primeiros 18 anos de vida como uma

etapa diferencial do crescimento humano com: características, necessidades, demandas

e direitos específicos das crianças e jovens, estabelecendo os princípios de “superior

interesse da infância” deste modo, a infância é social e culturalmente construída que

gera respostas a uma época, espaço e sistema socioeconômico particular.

História da Infância na Colômbia

A evolução da infância na Colômbia tem haver com a pluralidade das suas

configurações e contextos, sobre os quais se constituem as políticas e os planos do

governo durante a história do país. Assim, a infância é um conceito histórico cuja

significação é variável de acordo as condições: econômicas, políticas, sociais, culturais,

demográficas e pedagógicas.

Durante a década dos anos de 1960, a família como primer do contexto

socializador da criança, reconhece a importância da reivindicação do diálogo da

paternidade afetiva e responsável por esse vinculo afetivo. Deste modo, surge a

preocupação pelo desconhecimento da criança, procurando encontrar maneiras que

beneficiassem o equilíbrio e o bem-estar dos meninos e meninas, esta perspectiva

transformou olhar da concepção da família moderna que procura o equilíbrio da criança

nas relações do afeito, do amor num núcleo familiar saudável.

Com esta perspectiva, nos anos de 1970 surgem novos discursos frente à

criança referente às relações entre o adulto e criança, destaca-se que se o adulto pode

estabelecer uma corrente de compreensão e simpatia com as crianças, esse fator pode

gerar um ambiente de felicidade em que as crianças podem encontrar formas de

expressão legitimas. Estas novas concepções tem influencias nas práticas educativas na

Colômbia, pois começa-se apensar e discutir sobre a Educação pré-escolar e a

importância de desenhar novas ferramentas para a aprendizagem da leitura e escritura,

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de modo que exista uma nivelação entre os papéis dos pais e dos filhos com maior

familiaridade nas relações, transformando-se a concepção da severidade pela disciplina.

Desta maneira, se cria em 1968 o Instituto Colombiano de Bienestar Familiar

(ICBF) como entidade para a proteção da família e infância. Com a preocupação dos

governos pela infância, cada um desenvolve uma política frente à atenção das mulheres

e crianças, articulado por Alfonso Lopez Michelsen com seu programa Para cerrar la

Brecha (1974–1978).Michelsen formulou um programa nacional de alimentação e

nutrição (PAN) para garantir as condições mínimas que devia ter qualquer criança na

Colômbia, estabelece ainda, a garantia de participação na Pré-escola como nível

educativo em dois graus não obrigatórios o que se reconhece em 1976 para aprovar o

Decreto n. 088 do ano corrente.

Posteriormente, no governo de Julio Cesar Turbay Ayala (1978–1982),

consolidou-se a política nacional de atenção das crianças e teve como marco o Plano de

Integração Social para a atenção das crianças menores dos sete anos de idade em saúde

e socialização. Durante este governo se consolida o Sistema Nacional de Bienestar

Familiar (SNBF) que tinha por objetivo integrar a família como garantia dos direito das

crianças e coordenar as instituições do Estado em relação aos problemas da família e

das crianças.

Entre os anos de 1982 e 1986 durante o governo de Belisario Betancurt, em seu

plano de Cambio com Equidad, incluiu-se a atenção da família, como as mães e as

crianças de grupos vulneráveis, ampliando a cobertura da atenção das crianças menores

de cinco anos, criando-se, assim, creches “menores” (consideradas com espaço físico

limitado e por isso o atendimento são os cuidados básicos às crianças, tais como:

higiene e o programa de complementação da alimentação).

Com a nova concepção da família moderna se cria em 1985 o Plano Nacional

para a Supervivência e Desenvolvimento Infantil (SUPERVIVIR) que acentua a

importância da vinculação afetiva, jogo promovendo formas de relação entre os adultos

e as crianças, e estimulação adequada ao desenvolvimento intelectual e afetivo.

Posterior a esse governo, no mandato de Virgilio Barco que compreende os

anos de 1986 a 1990, cria-se o Plano Economia Social que promove o bem-estar e

seguridade social da família em: nutrição, aluguel, saúde e educação para a promoção

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do desenvolvimento integral que melhora as condições de vida das classes sociais em

especial do proletariado.

No governo de César Gaviria (1990–1994) La Revolución Pacifica ̧ se

consolida a ratificação de várias normas de construção do Marco Jurídico para o

atendimento das crianças entre os 2 aos 6 anos de idade. Nesse Marco ratificam:

Programa Nacional de Atenção em Favor da Infância (PAFI) em 1993 e se inscreve no

Acordo de 19 de 1993 para a organização de creches “maiores” da comunidade para

atendimento às crianças em idade pré-escolar, ademais, se proclama a Lei 100 de 1993

de Seguridade Social, formalizando-seatendimento às mães gestantes, população infantil

menor de um ano de idade e mulheres que mantém financeira e estruturalmente a

família. Nessa perspectiva, se proclama a Lei Geral de Educação em 1994, em que se

advoga como obrigatório a pré-escola para o atendimento da Primeira Infância.

Durante o Governo de Gaviria se assina a Constituição Política de 1991,

proclamando a Colômbia com um Estado Social de Direito, ou seja, todas as populações

adquirem a condição de sujeitos de direito para participar na vida: social, política,

econômica e cultural do país. A infância se converte em uma condição de superioridade

sobre outras populações porque esta perspectiva posiciona as crianças como cidadãos e

sujeitos na vida social.

Com a modificação da Constituição Política de 1991, pode-se pensar que as

políticas e programas paternalistas desenvolvidos no passado tinham seu fim, mas a

cada governo que sucedia mantinham o desenvolvimento dos programas

assistencialistas para a infância.

Durante o governo de Ernesto Samper Pizano que corresponde ao período de

1994 a 1998 se formulou o Plano El Salto Social, que determinava como objetivo o

desenvolvimento nacional e o bem-estar da infância, consequentemente melhorar as

condições sócias para o aceso ao sistema educativo, frente a programas de paternalismo

e Instituto Colombiano de Bienestar Familiar (ICBF), fazendo a entrega de

complemento nutricional as: gestantes, lactantes e filhos entre os 6 e 24 meses de idade.

Durante este governo, escreve-se o primeiro documento do Conselho Nacional de

Politica Econômica e Social CONPES em 1995 como Política Pública sobre Infância e

qual e seguido por um Pacto pela Infância em 1997, onde se busca fazer uma

abordagem integral em Saúde, educação, recreação, proteção, justiça, serviços públicos,

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pessoas com deficiência e a Violência. Produto de isso se conhece a primeira

experiência local para acolhimento de crianças na Cidade de Bogotá chamado Por uma

cidade ao alcance de os meninos e meninas, esta iniciativa propõe a universalização da

educação pré-escolar em as escolas publicas da cidade.

Nos anos 2002 – 2010 durante o governo de Álvaro Uribe Velez se proclama o

Plano do governo Hacia um Estado Comunitario, onde para a democratização das

politicas publicas se adopta a figura de conselhos para a politica social. Em relação a

infância o planeamento de reestruturação de ICBF e o Sistema de Identificación y

Clasificación de PotencialesBeneficiarios para programas sociales SISBEN focado

para atenção das crianças menores de cinco anos, também se instaura a implementação

da estratégia “Creciendo y Aprendiendo” que tem por objetivo qualificar e progresso

das crianças desde sua gestação, por isso se implementam estratégias de capacitação a:

pais, agentes educativos e cuidadores.

No ano de 2010 começa o governo de Francisco Santos com a Política para

atenção integral para a “Primeira Infância de Zero a Sempre”, outorgando a infância

prioridade nacional, determinando as carências que tem Colômbia frente à atenção das

crianças tendo em conta as normas internacionais:

1. Declaração Universal dos Direitos Humanos.

2. Convenção sobre os Direitos das Crianças.

3. Educação para todos, Marco de Ação para as Américas.

4. Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.

5. Conferência Mundial da UNESCO sobre a atenção e educação da Primeira

Infância.

Esta normatividade leva a determinar as argumentações para escrever as ações

de desenvolvimento da infância no marco dos lineamentos do desenvolvimento de uma

nação em assuntos econômicos e sócias. E assim que se reconhecem os postulados de

Van Der Gaag (2002) em relação com o Desenvolvimento Humano quando estabelece

relação entre o progresso econômico e desenvolvimento da infância,melhorará as

condições nutricionais, de saúde, desenvolvimento cognitivo e a interação social

possibilitam o desenvolvimento humano para o crescimento das nações. Determina

também um foco na relação entre a Infância e os Direitos Humanos, na medida em que

inverter em educação, saúde, formação do capital social e igualdade das crianças,

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contribuem para reduzir a delinquência, desigualdade e podendo melhorar as

motivações e autoestima para que os adultos do futuro aceitem as normas e valores

culturais construindo para uma sociedade mais igualitária com equiparação de

oportunidades.

Esta nova perspectiva da infância faz das crianças uma inversão para os

Estados porque gera: aportes científicos, legais e jurídicos, económicos, sócio –

culturais,institucionais e éticos.

Neste período se investemnas crianças, os valores de acordo a projeção que

podem ter na visão do progresso de uma nação, com o reconhecimento do período

gestacional como etapa fundamental para a aprendizagem, comunicação, socialização e

desenvolvimento das habilidades, capacidades e competências do sujeito, assim se

estimula o desenvolvimento cerebral na infância para evitar danos nos homens e

mulheres do futuro, como revela Mustard (2002)

E estímulo externo e interno que se recebe durante e período de

gestação é imediatamente depois do nascimento, e por tanto,

determinante para o desempenho na idade adulta.

Na Colômbia cada período presidencial trouxe contribuições às concepções da

infância que hoje são importantes para o desenho de políticas e estágios relacionados

com a infância, as quais não são distantes aos interesses frente às crianças a nível

internacional, já que se problematizam situações e conceitos deste grupo da população

que respondem a uma lógica social e econômica.

A infância na Colômbia

As mobilizações internacionais em relação da infância contribuíram na existência da

politica publica da primeira infância na Colômbia. Assim durante os começos do século

XXI na Colômbia se tem uma intensa mobilização social na que confluem instituições e

pessoas dos diferentes setores da sociedade para pensar e propor de maneira conjunta

ações prioritárias de intervenção de parte do Estado para o atendimento das crianças

nesta etapa da vida, tendo como referencia os avances científicos e políticos a nível

internacional na primeira infância.

Como resposta a esse processo o governo da Colômbia recolhesse as reflexões

numa politica nacional formalizada no documento CONPES Social 109 de 2007

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chamado “Colômbia pela Primeira Infância” esta se converte na primeira política

pública que ao longo da historia se dirige de maneira explicita a este grupo da

população.

Assim mesmo, Colômbia foi testemunha das defesas ao redor dos direitos da

infância, resultado da ratificação em 1992 da convenção sobre os direitos das crianças,

realizada no marco das Nações Unidas no novembro de 1989, este processo levo a uma

mudança da perspectiva frente a à relação que estabelece-se entre menino, meninas e a

sociedade, onde eram considerados como objetos de proteção e atendimento especial

para pensar-lhes como sujeitos ativos e protagonistas de sua vida e da vida social.

Esta perspectiva torna-se como filosofia para a formulação da politica e a

promulgação da Lei 1098 de 2006 o “Código de Infância e Adolescência”,

institucionalizando a perspectiva dos direitos e a maneira de entender o papel da

infância na sociedade colombiana. Assim mudam a visão do Estado em relação com as

crianças determinando princípios constitutivos a partir do enfoque de direitos; se

reconhece as crianças como sujeitos titulares de seus direitos, se concebe o interesse

superior da infância, se prevalecem os direitos da infância sobre os outros, existe

interdependência entre os direitos, a intersectorialidade é a forma de intervenção do

Estado, existe uma corresponsabilidade entre: o Estado, a sociedade e a família na

proteção dos direitos das crianças. Estes princípios convertem-se o cenário para a

compreensão da infância como avance em comparação com as ações de décadas

anteriores onde a criança tinha um papel passivo na sociedade.

Esta nova perspectiva levo a transformações no ordenamento das instituições

frente a intervenção direita a primeira infância como: o Ministério da Proteção Social

(MPS), o Ministério de Educação Nacional (MEN), o Ministério de Ambiente, Moradia

e Desenvolvimento Territorial, o Ministério de Cultura e outras instituições que devem

fazer vigilância no cumprimento dos direitos da infância. Assim mesmo os governos

locais assumem responsabilidades que antigamente eram só da ordem nacional.

Desta maneira configura-se uma organização institucional distinta a à

predominante historicamente, ágora o Estado designa as responsabilidades para com a

realização dos direitos da primeira infância e ressalta como obrigação primordial em

todos os níveis do governo, porém estas iniciativas entram em contradição com outras

lógicas do âmbito institucional, assim a efetividade na nova organização institucional

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para a atenção da infância deve atravessar por discussões e transformações, de modo

que se convertam em princípios de atuação do Estado.

Considerações Finais

Colômbia apresenta uma problemática social caracterizada pela: violência,

pobreza, migração forçada e exploração infantil, em que as crianças a cada dia são

participantes ativas desta dinâmica, de modo que, as ações apontam o fortalecimento

das redes familiares e sociais como garantes para o cuidado e socialização das crianças

em condições que seja possível a transmissão de valores, tradições e costumes das

populações.

Dessa maneira, infere-se que a configuração da infância implica a construção

de significados acerca dos meninos e meninas, partindo de processos mediados pela

linguagem e suas relações, sendo importante ampliar o horizonte das possibilidades em

relação com a potenciação dos recursos individuais das crianças e de aqueles recursos

coletivos.

Percebe-se que a história da Colômbia em relação com a atenção da população

em condições vulneráveis e da infância foi paternalista, procurando ter um impacto

imediato em relação à cobertura dos serviços sociais e nutricionais. Isso porque as

políticas da infância pretendem responder de maneira coerente aos acordos

internacionais com relação ao desenvolvimento das nações, fazendo uma inversão

importante nos cuidados da primeira infância em idade escolar como inversão para a

formação do capital humano do futuro de nossos povos.

Nesta lógica é importante reconhecer a visão integral da infância, porque seu

discurso responde a uma lógica internacional de caráter econômico, social e político.

Por este motivo, Colômbia na atualidade reconhece suas carências frente à atenção

integral da infância e da família, já que não conta com uma política de bem-estar

familiar que clarifique o papel que tem o Estado na vida da família como unidade para

oferecer atendimento a cada um de seus membros.

Para a Colômbia, pensar em fortalecer a infância, implica ter clara uma política

de fortalecimento da família como unidade básica da sociedade e primer responsável do

desenvolvimento das crianças. Por isso, percebe-se a importância de se conhecer a

história e as políticas formuladas em cada um dos planos do governo, porque se

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identificam as carências e incoerências com os discursos internacionais para

desenvolver ações pertinentes e coerentes com as necessidades de nossa população no

contexto local.

As relações que se estabelecem com nossas crianças a partir das novas políticas

respondem uma lógica de desenvolvimento e são fundamentais na educação dos novos

cidadãos colombianos com uma responsabilidade ética, social, cultural e política. Por

tanto, é necessário fazer uma reflexão destas condições para determinar as mudanças

substanciais no setor educacional e social.

Para o trabalho Inter setorial é preciso assinar responsabilidades a as diferentes

instituições do Estado e da ordem territorial, tendo em conta a participação de novas

fontes de recursos, assim como a construção de estratégias de articulação e coordenação

entre as diferentes instituições e ordens do governo para gerar mudanças nas

perspectivas antigas para o atendimento da infância.

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O Brincar e o Educar na Educação Infantil: uma análise de dados de pesquisa com

as professoras da rede municipal de São Carlos15

Andreina de Melo Louveira16

Lidiane Cristina Marques17

Resumo

Esta comunicação apresenta, em análise parcial, os dados coletados por meio do projeto

Políticas Públicas Municipais de Educação Infantil: diagnóstico e pesquisa, integrado ao

programa “Observatório da Educação”, desenvolvido na rede municipal de Educação

Infantil de São Carlos (SP). Neste projeto, foram coletados dados do grupo das

professoras que atuam na rede com o objetivo de realizar um diagnóstico de políticas

para a Educação Infantil (EI). A coleta de dados foi feita a partir da aplicação de um

questionário por autopreenchimento e sem identificação durante o horário de HTPC.

Para esta análise foram escolhidos os resultados de duas questões que evidenciam

concepções na EI sobre “brincar” e “educar” e, divergem de documentos que orientam a

construção da prática na EI. A proposta que se apresenta não é confrontar os dados da

pesquisa com a prática pedagógica das professoras, mas sim apresentar indicadores da

EI que contribuam para a construção de uma EI que respeite as crianças.

Palavras-chave: Brincar. Educar. Educação Infantil. Professoras.

Introdução

A proposta desta comunicação é apresentar uma análise parcial referente aos

dados coletados por meio do projeto Políticas Públicas Municipais de Educação Infantil:

15

O projeto, coordenado pela Prof.ªDrª Anete Abramowicz, é financiado pela Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, por meio do programa Observatório da

Educação - OBEDUC, e tem como objetivo a realização de um diagnóstico da referida rede para

a construção de indicadores que permitam subsidiar uma avaliação desta etapa da educação

básica

16Professora de educação infantil, integrante da equipe do Projeto “Políticas Públicas Municipais de

Educação infantil: diagnóstico e pesquisa” e bolsista CAPES pelo Programa OBEDUC.

17Professora de educação infantil na rede municipal de São Carlos, integrante da equipe do Projeto

“Políticas Públicas Municipais de Educação infantil: diagnóstico e pesquisa” e bolsista CAPES pelo

Programa OBEDUC.

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diagnóstico e pesquisa, desenvolvido na rede municipal de Educação Infantil (EI) de

São Carlos (SP). Neste projeto foram coletados dados de dois grupos: o grupo dos

pais/responsáveis, que forneceram informações sobre as crianças e o grupo das

professoras18

, que é o foco deste texto.

A coleta de dados foi organizada considerando as especificidades dos dois

grupos consultados, pais/responsáveis das crianças matriculadas na rede e professoras

que atuam na EI. Para a etapa de coleta de dados junto às famílias das crianças e com as

professoras, o projeto contou com um grupo de professoras de educação infantil que

atuam na cidade de São Carlos (SP), como parte da equipe de pesquisa, que se

constituiu como uma forma efetiva e eficaz de interação da escola da educação básica

com a universidade. Convém salientar que contribuiu para a pesquisa o fato das

professoras estarem familiarizadas com o ambiente onde a pesquisa foi realizada. Para o

levantamento dos dados das famílias e suas crianças adotou-se o Survey como método

e, foram realizadas entrevistas, com horários agendados pelas pesquisadoras.

Na pesquisa com as professoras de Educação Infantil, optou-se por realizar um

censo a partir do autopreenchimento de questionário, com o objetivo de atingir o maior

número de professoras da área. O questionário foi aplicado às professoras atuantes em

turmas da EI durante os encontros do horário de trabalho pedagógico coletivo (HTPC)19

em todas as instituições de EI.

Com os dados coletados e categorizados, as características da EI foram se

apresentando de forma sucinta e até mesmo surpreendente. Nesta comunicação,

apresentaremos os resultados relacionados as concepções do “brincar” e “educar20

18

Utilizamos a terminologia no gênero feminino, pois corresponde a 95% do total de professoras que

preencheram o questionário (HENRIQUES, 2015).

19O HTPC (horário de trabalho pedagógico coletivo) acontece uma vez por semana em todos os Centros

Municipais de Educação Infantil, neste horário as professoras se reúnem para discutir problemas, planejar

suas atividades, realizar estudos e trabalhos em equipe. Tudo sob orientação e coordenação do diretor da

unidade.

20 Compreendemos que o termo “educar” utilizado nesta comunicação está relacionado às

questões do ensino, mais precisamente como uma preparação das crianças para o ensino

fundamental, porém apresentamos a categoria educar por ter sido o termo que mais se destacou

nas respostas das professoras. Salientamos que esta categorização poderá sofre alterações, pois

as análises do projeto estão em construção.

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expressas pelas professoras. Os índices nos deixaram intrigadas na análise das respostas

das professoras sobre quais os principais objetivos da EI e o que seria uma EI de

qualidade, pois, apresentam contradições em relação aos documentos oficiais

norteadores21

e a produção teórica que discute acerca da importância do brincar na

educação infantil.

Justificativa

Duas premissas foram consideradas para justificar a necessidade desta

comunicação. Primeiro, diante do objetivo deste projeto, a premência de diagnóstico de

políticas para a EI, já que, muitas não têm a preocupação nas crianças, sendo assim “a

única maneira de evitar o negativo ou de promover o positivo dessas políticas quando

elas afetam as crianças e a infância é fazer um diagnóstico” (QVORTRUP, 2010, p.

783).

A segunda premissa se refere- ao retorno à comunidade apresentando dados

importantes para a avaliação da rede municipal de EI, referimo-nos aos indicadores

apresentados nas duas questões respondidas pelas professoras no questionário aplicado.

As duas questões fornecem subsídios para futuras discussões e estudos sobre ações na

política pública voltada para a Educação Infantil.

Entre esses conhecimentos, os resultados de pesquisas sobre a

educação infantil no Brasil podem alertar os profissionais sobre

os problemas mais frequentes encontrados nas creches e pré-

escolas, que precisam ser levados em conta no processo de

avaliar e aprimorar a qualidade do trabalho realizado nas

instituições de educação infantil (BRASIL, 2009, p, 15).

Objetivos

21

Os documentos utilizados para desenvolver a análise destes dados foram: Brinquedos e Brincadeiras de

Creches (2012); Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2010); Critérios para um

Atendimento em Creches que Respeitem os Direitos Fundamentais das Crianças (2009); Indicadores de

Qualidade (2009)

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Objetivo geral

O objetivo deste trabalho é discutir dois dos dados levantados em duas questões

na pesquisa com as professoras, contrastando à luz das concepções de EI que nortearam

esta análise. As questões analisadas são: Quais são os três principais objetivos da

educação infantil e o que é uma Educação Infantil de qualidade.

Objetivo específico

● Apresentar a contradição dos dados analisados entre as concepções do

brincar e educar das professoras de EI por meio de gráficos;

Referencial teórico

Existe uma ampla produção teórica sobre a importância do brincar na educação

infantil. A proposta deste trabalho não é apresentar o que foi ou o que está sendo

produzido sobre a temática, mas, analisar os dados desta pesquisa a partir do que tem

fundamentado nossa prática docente. Relacionar a criança e o brincar é resultado de

uma discussão que considera o brincar como atividade inata a criança, neste sentido é

importante destacar que “ Brincar não é uma dinâmica interna do indivíduo, mas uma

atividade dotada de uma significação social precisa que, como outras necessita de

aprendizagem” (BROUGÈRE, 1998, p.104).

Os documentos que subsidiaram esta análise dialogam no sentido de apresentar

o brincar como parte fundamental à experiência da infância. As “Diretrizes Curriculares

Nacionais da Educação Infantil” (201022

), são constituídas por exigências para orientar

“as políticas públicas e a elaboração, planejamento, execução e avaliação de propostas

pedagógicas curriculares de Educação Infantil” (p.11). Em suas propostas apresenta o

princípio estético, contemplando a ludicidade, ou seja, o brincar. Como este documento

considera a criança enquanto sujeito de direitos, o brincar é reconhecido como um

22

Resolução do CEB nº 1, de 7 de abril de 1999 institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a

Educação Infantil. Resolução nº 5, de 17 de dezembro de 2009 fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais

para a Educação Infantil. No ano de 2010 o MEC realizou a publicação das Diretrizes Curriculares

Nacionais para a Educação Infantil.

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direito e mais, “As práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular da

Educação infantil devem ter como eixos norteadores as interações e a brincadeira”

(p.25).

Para corroborar este direito, destacamos a concepção do brincar presente nas

“Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica” (2013):

Cada criança apresenta um ritmo e uma forma própria de

colocar-se nos relacionamentos e nas interações, de manifestar

emoções e curiosidade, e elabora um modo próprio de agir nas

diversas situações que vivencia desde o nascimento conforme

experimenta sensações de desconforto ou de incerteza diante de

aspectos novos que lhe geram necessidades e desejos, e lhe

exigem novas respostas. Assim busca compreender o mundo e

a si mesma, testando de alguma forma as significações que

constrói, modificando-as continuamente em cada interação,

seja com outro ser humano, seja com objetos. Uma atividade

muito importante para a criança pequena é a brincadeira.

Brincar dá à criança oportunidade para imitar o conhecido e

para construir o novo, conforme ela reconstrói o cenário

necessário para que sua fantasia se aproxime ou se distancie da

realidade vivida, assumindo personagens e transformando

objetos pelo uso que deles faz (BRASIL, 2013, p. 87).

Outro documento que apresenta a relação do brincar com a EI, é o “Critérios

para um atendimento em creches que respeite os direitos fundamentais das crianças”

(2009), que também considera o brincar como direito da criança. Na constituição do

direito ao brincar, o documento amplia a discussão para questões sobre a importância do

brinquedo, a organização de espaços para brincar, a inclusão do brincar na rotina

enfatizando que “as rotinas da creche são flexíveis e reservam períodos longos para as

brincadeiras livres das crianças” (p.14). Ainda neste documento, são apresentados

critérios relativos à definição de diretrizes e normas políticas para as creches e,

novamente, o direito ao brincar se destaca em seus princípios. A política da creche deve

reconhecer que a criança tem direito à brincadeira e nesse aspecto, destacamos alguns

critérios.

● (...)A construção das creches prevê a possibilidade de

brincadeiras em espaço interno e externo

● As creches dispõem de número de educadores

compatível com a promoção de brincadeiras interativas

(...)

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● A formação prévia e em serviço reconhece a

importância da brincadeira e da literatura infantil para

o desenvolvimento da criança

● A programação para as creches reconhece e incorpora o

direito das crianças à brincadeira (BRASIL, 2009, p.

38)

O brincar enquanto direito, o brincar incluído na prática pedagógica e o brincar

como possibilidade de experiência, são questões discutidas no manual de orientação

pedagógica “Brinquedos e brincadeiras de creche” (2012). Este manual apresenta uma

gama de orientações para implementar o brincar na prática docente. São apresentadas

possibilidades diversificadas para garantir o direito à brincadeira e, quando o brincar se

faz como eixo de uma proposta curricular compreende-se que é a criança quem inicia a

experiência, também, apresenta possibilidades para a construção da prática, o manual

ainda ressalta que:

Um currículo que adota a brincadeira como eixo precisa

valorizar a dimensão brincante e brincalhona da professora

como condição importante. Essa atitude da professora é

essencial para criar vínculos com a criança e para organizar

situações nas programações curriculares, em que as interações

e as brincadeiras estejam presentes (2013, p.54)

As orientações que os documentos apresentam para incluir o brincar na prática

pedagógica incidem diretamente na prática do professor. Desta forma, quando

refletimos sobre a importância do professor na relação do brincar com a criança,

compreendemos que o brincar é uma prática social e cultural. Brougère (1998)

conceitua esta prática como cultura lúdica, que é produto da interação social, interação

que a criança estabelece a princípio com a mãe e, quando começa a frequentar outros

espaços sociais estabelece, como na instituição de EI estabelece com as professoras e

seus pares.

A criança adquire, constrói sua cultura lúdica brincando. É o

conjunto de sua experiência lúdica acumulada, começando

pelas primeiras brincadeiras de bebê, evocadas anteriormente,

que constitui sua cultura lúdica (p.110)

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Apresentamos estes argumentos para evidenciar que brincar é uma prática na EI

que se constituiu enquanto direito da criança e, também, uma orientação especifica da

prática docente para a EI. Após todas essas análises, uma questão chamou bastante a

atenção do grupo, sabendo que o brincar é uma experiência fundamental na primeira

infância, garantido por direito e recomendado por documentos norteadores da educação,

tornou-se intrigante os índices obtidos após a categorização das perguntas feitas na

pesquisacom as professoras da rede. Além disso, nos surpreendeu os resultados diante

da convicção que tínhamos de que para as professoras o brincar era prioridade na

Educação Infantil. Foi a partir destes resultados que organizamos esta comunicação,

com o propósito de apresentar análises23

de um recorte dos dados do projeto.

Metodologia

Para compreender como os dados foram coletados é importante destacar que os

dados da pesquisa correspondem a dois grupos, para cada grupo foi utilizada uma

metodologia. Para coletar os dados com o grupo dos pais/responsáveis das crianças

matriculadas na EI optou-se por utilizar o método de pesquisa por amostragem

(Survey), devido ao número de crianças 8.096 crianças matriculadas na educação

infantil. De acordo com Babbie24

apud Henriques (2015, p.19) (2003), “surveys

amostrais quase nunca são realizados para descrever a amostra particular estudada. São

realizados para se entender a população maior da qual a amostra foi inicialmente

selecionada”.Após a seleção das amostras para o Survey, iniciou-se o processo de

entrevistar os responsáveis pelas crianças e, para isso, entramos em contato com a

direção das unidades e realizamos agendamentos de horários com esses responsáveis.

Conforme o horário agendado, a entrevista era realizada na unidade e em alguns casos

nas casas ou no trabalho dos pais/responsáveis. Foram entrevistados 1.300 pessoas.

23

É importante destacar que estas análises estão em construção. Este projeto ainda está em andamento e,

os dados apresentados correspondem ao um recorte de duas questões do questionário aplicado nas

professoras da rede municipal de EI em São Carlos.

24 BABBIE, E. Métodos de pesquisa Survey. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.

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A coleta de dados do grupo das professoras foi feita a partir da aplicação de um

questionário25

. Diversas reuniões foram realizadas para a elaboração da metodologia de

aplicação do questionário, até a decisão do grupo de que a aplicação de questionário

com as professoras seria por autopreenchimento e sem identificação, pois acreditamos

que dessa forma a profissional se sentiria mais livre para expressar suas ideias e

opiniões. O horário escolhido foi o Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC),

em que todas as professoras da unidade estariam reunidas para realizar seus trabalhos, o

que facilitaria a aplicação dos questionários e atingiria o maior número de professoras.

Os questionários continham perguntas fechadas onde o respondente deveria selecionar

as alternativas, e perguntas abertas, duas das quais foram objetivo deste trabalho.

Encerrado o processo de levantamento dos dados, iniciou-se a codificação das

perguntas abertas realizadas com os pais/responsáveis e professoras. Foram realizadas

reuniões e estudos dos integrantes da equipe para elaborar e categorizar as respostas

obtidas. Os dados coletados apresentaram subsídios suficientes para levantarmos alguns

pontos intrigantes em relação ao que o grupo esperava. Dois deles relataremos nesse

trabalho, baseado nas concepções teóricas apresentadas.

Nesse momento o projeto encontra-se na etapa de elaboração da apresentação

dos dados coletados à comunidade, tendo como público principal as professoras de

educação infantil, gestores, pais/responsáveis e representantes do conselho escolar.

Esta comunicação, no entanto, apresentará um estudo sobre as categorias

“brincar” e “educar”, relacionadas as questões abertas respondidas pelas professoras a

respeito dos objetivos da educação infantil e o que é uma educação infantil de

qualidade. Nos tópicos seguintes apresentaremos gráficos que demonstrarão os

indicadores obtidos.

Desenvolvimento da pesquisa

Após finalizar a categorização das respostas do questionário aplicado nas

professoras, os resultados foram surgindo e instigando discussões sobre nossas

percepções diante dos resultados. Neste sentido, para esta comunicação escolhemos

25

O questionário foi desenvolvido pela Prof.ªDrª Fabiana Luci de Oliveira.

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duas perguntas que se destacaram diante das nossas percepções iniciais na pesquisa. São

elas; “Quais são os três principais objetivos do ensino infantil? ” e “O que é uma

Educação Infantil de qualidade? ”.

Confrontaremos dois dos dados escolhidos nessas questões, o “brincar” e o

“educar”. Na categorização das respostas, “educar” refere-se sempre às colocações das

professoras quando se remetem a ideia de aprendizagem, alfabetização e educar. Nesta

análise não discutiremos o sentido de “educar”, apenas apresentaremos os dados que

evidenciam que o “educar” sobressai ao brincar na EI. A categoria “brincar” refere-se às

respostas das professoras em que aparecem a palavra brincar, e quando citam sobre

brincadeiras, brinquedos e atividades lúdicas.

Os dados apresentados mostraram a grande diferença que existe na concepção

das professoras de educação infantil deste município sobre a importância do brincar

para as crianças. Nos gráficos que apresentaremos a seguir, o índice referente ao brincar

aparecerá muito abaixo do esperado, contrapondo alguns dos estudos realizados para

essa etapa da educação básica, até mesmo as Diretrizes Curriculares Nacionais:

Deve-se entender, portanto, que, para as crianças de 0 (zero) a 5

(cinco) anos, independentemente das diferentes condições físicas,

sensoriais, mentais, linguísticas, étnico-raciais, socioeconômicas, de

origem, religiosas, entre outras, no espaço escolar, as relações sociais

e intersubjetivas requerem a atenção intensiva dos profissionais da

educação, durante o tempo e o momento de desenvolvimento das

atividades que lhes são peculiares: este é o tempo em que a

curiosidade deve ser estimulada, a partir da brincadeira orientada

pelos profissionais da educação. (BRASIL, 2013, p. 36)

Segundo Kishimoto (2010), “todo o período da educação infantil é importante

para a introdução das brincadeiras” (p.1), pois essa atividade é característica dessa fase

na qual a criança se expressa, se relaciona, aprende e se desenvolve.

Para a criança, o brincar é a atividade principal do dia-a-dia. É

importante porque dá a ela o poder de tomar decisões, expressar

sentimentos e valores, conhecer a si, aos outros e o mundo, de repetir

ações prazerosas, de partilhar, expressar sua individualidade e

identidade por meio de diferentes linguagens, de usar o corpo, os

sentidos, os movimentos, de solucionar problemas e criar. Ao brincar,

a criança experimenta o poder de explorar o mundo dos objetos, das

pessoas, da natureza e da cultura, para compreendê-lo e expressá-lo

por meio de variadas linguagens. Mas é no plano da imaginação que o

brincar se destaca pela mobilização dos significados. Enfim, sua

importância se relaciona com a cultura da infância, que coloca a

brincadeira como ferramenta para a criança se expressar, aprender e

se desenvolver (KISHIMOTO, 2010, p.1)

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Encontraremos nos gráficos que representam esse estudo, várias categorias que

indicam as concepções das professoras sobre a Educação Infantil, mostrando claramente

suas prioridades e até mesmo uma realidade desta etapa da educação básica na rede

municipal. Para exemplificar a construção dos gráficos apresentaremos alguns excertos

dos questionários respondidos pelas professoras. Esta realidade poderá nortear novos

questionamentos e estudos com o intuito de analisar a situação desta rede de ensino.

Resultados

Após a análise das respostas das professoras e a categorização dos temas que surgiram,

elaboramos um gráfico para cada questão aberta do questionário aplicado com as

professoras. Durante os estudos, alguns itens nos chamaram a atenção devido a

frequência que apareciam nas respostas. Com isso, a atenção de todo o grupo de estudo,

inclusive a nossa, voltou-se para os índices relacionados ao “brincar” e ao “educar”. A

diferença entre ambos nos instigou a alguns questionamentos sobre quais os

pensamentos estão norteando os educadores da Educação Infantil.

Sobre o “Educar” é visível a importância que o professor atribui a essa categoria

na educação infantil. Lembrando que educar, nesta pesquisa, se refere as respostas das

professoras categorizadas como aprendizagem, alfabetização e educar. Para compor esta

comunicação selecionamos algumas respostas que as professoras expressaram nos

questionários, as professoras serão identificadas por números, conforme tabulação dos

Professora 35: “Ensinar – Educar para o convívio em sociedade – Socializar”.

Professora 73: “Preparar para o fundamental – Socialização”

Professora 75: “Preparar a criança para os demais níveis de escolaridade – Socialização”.

Professora 109: “Promoção de educação – Promoção de socialização”.

Professora 179: Preparar para o ingresso no fundamental”.

Professora 193: “Educar – Socializar”.

Professora 196: “Educar – Ensinar”.

Professora 203: “Educar formar indivíduos pensantes, criativos, alegres, capazes de enfrentar o

mundo que os cerca”.

Professora 223: “Ensinar socializar desenvolver a identidade de forma positiva”.

Professora 228: “Educar no sentido de ensinar”.

Professora 257: “Aprendizagem de conceitos, letras, números, etc”.

Professora 259: “Preparar para o ensino fundamental”.

Professora 263: “Ensino e aprendizagem (letramento) ”.

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dados26

.

Esses indicadores são baseados nas repostas que as professoras deram às

questões abertas sobre sua opinião a respeito dos objetivos da educação infantil e o que

elas consideram como uma educação infantil de qualidade. Compreendemos que o

educar está presente nos princípios das Diretrizes Curriculares Nacionais para a

Educação Infantil. Tais princípios citam que o cuidar é um fator indissociável ao educar

nessa fase da primeira infância.

Educar exige cuidado; cuidar é educar, envolvendo acolher, ouvir, encorajar,

apoiar, no sentido de desenvolver o aprendizado de pensar e agir, cuidar de

si, do outro, da escola, da natureza, da água, do Planeta. Educar é, enfim,

enfrentar o desafio de lidar com gente, isto é, com criaturas tão imprevisíveis

e diferentes quanto semelhantes, ao longo de uma existência inscrita na teia

das relações humanas, neste mundo complexo. Educar com cuidado significa

aprender a amar sem dependência, desenvolver a sensibilidade humana na

relação de cada um consigo, com o outro e com tudo o que existe, com zelo,

ante uma situação que requer cautela em busca da formação humana plena.

(BRASIL, 2013, p. 18)

O cuidar não está entre os índices mais altos (conforme vemos no gráfico 1),

quando se trata de falar em objetivos da educação infantil, na opinião das professoras,

os destaques se referem ao educar, a relação interpessoal e ao desenvolvimento. Ainda

neste gráfico 1 podemos notar que o índice do brincar se apresenta muito baixo em

relação aos outros. Esse índice é o que causou alguns questionamentos a respeito. No

questionário aplicado às professoras a pergunta era muito clara: Quais são os três

principais objetivos do ensino infantil? Analisando esta questão no gráfico podemos

perceber que os três maiores índices se referem ao educar, a relação interpessoal e ao

desenvolvimento, ou seja, de uma forma geral estes são os três principais objetivos da

Educação Infantil para as professoras dessa rede municipal.

O brincar, no entanto, escalado num grau de importância, segundo o gráfico 1,

ocuparia o 5° lugar entre as 7 categorias. Em contrapartida, nota - se que o educar

ocupa o maior índice na opinião das professoras, ressaltando que educar também irá se

referir a alfabetização e aprendizagem de um modo geral.

26

Afonso Canella Henriques, integrante do projeto, desenvolveu um sistema informatizado para

gerenciamento do banco de dados, que recebeu todas as informações coletadas na pesquisa com

os dois grupos consultados. Ver Henriques (2015).

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Gráfico 1 - Quais são os três principais objetivos do ensino infantil?

No gráfico 2 é apresentada a concepção das professoras em relação ao que seria

uma Educação Infantil de qualidade. O índice referente ao brincar aparecerá entre os

mais baixos das categorias. Dentre as categorias que as professoras julgam serem

necessárias para garantir uma educação infantil de qualidade, percebemos que o brincar

tem a mesma importância que o cuidar, isto é, numa escala de importância,

desenvolvimento, valorização profissional, pessoas/profissionais, espaço, educar e

direito da criança, ocupariam prioridade na questão sobre qualidade.

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Cuidar encontra-se no mesmo patamar de igualdade que brincar, sendo

considerado um dos itens menos importantes, praticamente um dos últimos índices entre

as categorias. Após essas, estariam as categorias que englobam aquelas consideradas

sem resposta, não declaradas e outros.

Novamente, notamos que este também não compõe uma prioridade no universo

de qualidade para as professoras. Interessante que nesta questão, educar já não ocupa

lugar de destaque entre as categorias como mostrado no gráfico 1, mas sim, num mesmo

patamar de consideração que a categoria brincar.A partir destes resultados

apresentaremos algumas considerações de análise dos dados e também para

continuidade da pesquisa.

Considerações finais

A proposta dessa comunicação não é confrontar os dados coletados na pesquisa

com a prática pedagógica das professoras da rede municipal de Educação Infantil, mas

sim apresentar indicadores que estão sendo produzidos na EI. Esta análise realizada nos

leva a pensar nas prioridades que as professoras da educação infantil estão considerando

em suas concepções.

Gráfico 2 – O que é uma educação infantil de qualidade?

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Os índices apresentados nos gráficos levantam questionamentos interessantes a

respeito do que se considera importante nessa etapa da educação básica e nos conduz a

refletir sobre qual a consequência disso na educação das crianças. Os documentos

norteadores dessa comunicação evidenciam o que consideramos fundamental para a

prática na EI.

Poderíamos nos estender e apresentar argumentos da Psicologia sobre a

importância do brincar para o desenvolvimento da criança, porém este não é nosso

objetivo. O que buscamos apresentar, ainda que a pesquisa esteja em andamento, é que

há um desencontro entre o que se tem produzido no campo teórico da EI com as

concepções das professoras. Se considerarmos que a prática docente é permeada por

concepções do que é ser criança, ter infância e de EI.

Podemos ter como pressuposto, a partir dos dados, que a EI, no ambiente

pesquisado, está se construindo como preparação para o ensino fundamental. Esta

comunicação, no entanto, possibilita direcionamentos para futuras discussões sobre a

realidade apresentada acerca das concepções e da formação das professoras e,

principalmente para a construção de uma EI que respeite as crianças.

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Referências bibliográficas

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica (SEB). Diretrizes

curriculares nacionais da educação básica. Brasília. 2013

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica (SEB). Diretrizes

curriculares nacionais para a educação infantil. Brasília. 2010

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica (SEB). Critérios

para um atendimento em creches que respeite os direitos fundamentais das

crianças. 2.ed. Brasília. 2009.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica (SEB). Indicadores

da qualidade na educação infantil. 2009.

BROUGÈRE, G. A criança e a cultura lúdica. Revista da Faculdade de Educação. São

Paulo, vol.24, n.2, p.103-116, jul/dez. 1998. Disponível em:

<http://www.revistas.usp.br/rfe/article/view/59630/62727>. Acesso em: ago. 2015.

HENRIQUES, A. C.Educação infantil: retrato de uma rede municipal de ensino. 2015.

104 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Centro de Educação e Ciência Humanas,

Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2006.

KISHIMOTO, T. M. Brinquedos e brincadeiras na educação infantil. In: I SEMINÁRIO

NACIONAL: CURRÍCULO EM MOVIMENTO- perspectivas atuais, 1., 2010, Belo

Horizonte. Anais, Belo Horizonte, 2010, p. 1-20.

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Discussão Curricular da Educação Infantil com Assistentes Pedagógicas: Uma

experiência entre setores da Prefeitura de Santo André

Carolina Mariane Miguel27

Jussara da Silva28

Este trabalho propõe a relatar uma prática de encontros formativos entre 3 setores da

Secretaria de Educação de Santo André, com a presença das assistentes pedagógicas. As

coordenadoras destes setores organizaram as pautas com o grupo, que já vinha

solicitando uma discussão curricular para a Educação Infantil. Assim realizamos

encontros periódicos, aproximadamente a cada 15 dias, desde o início de 2015, em que

realizamos estudos e vivências de formação continuada com as assistentes pedagógicas.

O objetivo foi o fortalecimento das mesmas para a discussão curricular da Educação

Infantil em suas escolas ao estudar os documentos oficiais e os livros do acervo das

escolas, trocar práticas e estabelecer relações com o Projeto Político Pedagógico (PPP)

de cada unidade escolar, buscando estratégias formativas para as reuniões pedagógicas,

o acompanhamento de sala de aula e do planejamento das professoras.

Palavras-chave – Educação Infantil, currículo, formação de formadores.

Contextualizando a experiência

A Prefeitura de Santo André organiza as Escola Municipal de Educação Infantil

e Ensino Fundamental (EMEIEF) e Creches da cidade em setores de escolas próximas,

cada qual com cerca de quatro a seis escolas, que ficam sob a responsabilidade de uma

Coordenadora de Serviços Educacionais. Estas são professoras da rede, porém exercem

uma função gratificada na Secretaria de Educação do Município.

O relato de experiência a seguir trata dos encontros de formação com as

assistentes pedagógicas, que exercem função de coordenadoras de escola e compõem as

equipes gestoras das unidades escolares destes setores, que tem como objetivo realizar

uma discussão sobre o currículo da Educação Infantil.

27 Coordenadora de Serviços Educacionais da Prefeitura de Santo André.

28Coordenadora de Serviços Educacionais da Prefeitura de Santo André.

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Dois destes setores iniciaram os encontros em março de 2015 e são compostos

de seis EMEIEF que atendem crianças de três a dez anos aproximadamente. Outro setor

se juntou a esta discussão em agosto deste mesmo ano, sendo este composto por três

EMEIEF e duas creches.

Iniciamos os encontros motivadas pelas solicitações das assistentes pedagógicas

em realizar discussões curriculares voltadas à Educação Infantil. Desde 2014 iniciou-se

uma formação na rede com o foco na infância e na produção das culturas infantis, tal

formação despertou nas CSE a inquietação de como cada escola de seus setores estavam

entendendo as propostas trazidas, suscitando a necessidade de discutir com maior

profundidade este tema nas concepções e práticas educativas de cada escola.

Temos momentos quinzenais com as equipes gestoras, intitulados Setoriais,

porém as discussões são amplas considerando tanto aspectos pedagógicos como

administrativos. Assim vimos a necessidade de aprofundar as discussões e reflexões

acerca da infância, sendo este mais um motivo para os encontros com as assistentes

pedagógicas serem em horários diferenciados, as quais tem em sua função o

acompanhamento mais próximo das salas de aula.

A experiência do encontro

A metodologia dos encontros inclui vivências nas diversas linguagens, pois

entendemos que o adulto que experiência tais linguagens pode ser tocado de forma mais

efetiva. Bondía (2002) diz que “A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o

que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca”, sendo portanto

muito mais importante que a informação e ressignificando o que consideramos ser o

conhecimento ou a sabedoria.

Considerando que as experiências compõem a vida do ser humano desde a tenra

infância discutimos e contextualizamos os conceitos sobre o currículo na Educação

Infantil, situações de aprendizagem significativas, a arte, a leitura e a escrita, entre

outros,como parte do processo de reflexão conceitual da experiência.

A fundamentação teórica partiu das Diretrizes Curriculares Nacionais da

Educação Infantil. Como o referencial valoriza a questão da experiência e destaca que

os dois eixos do currículo da infância são a brincadeira e a interação, as vivências

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propostas colocam os adultos para também aprender por meio da brincadeira e da

interação.

Iniciamos os encontros com o filme “Tarja Branca – a revolução que faltava”,

que traz justamente a relação da brincadeira na sociedade atual, independente da nossa

idade como seres humanos.A partir daí fizemos uma breve pesquisa onde questionamos

quais eram seus brinquedos, brincadeiras e comidas preferidos da infância. Em cada

encontro explorávamos um destes temas através de vivencias corporais, da arte e da

linguagem, resgatando as memórias de infância de cada um. Essas experiências iam

ressignificando as discussões conceituais que partiram do PPP, já que estávamos no

inicio do ano, discutindo nos primeiros encontros as caracterizações das turmas, as

rotinas, os tempos e espaços, analisando quais as experiências que temos proporcionado

às crianças na escola.

Nos encontros que se seguiram continuamos com as vivências e, em paralelo,

realizamos um aprofundamento dos estudos das Diretrizes Curriculares Nacionais da

Educação Infantil (DCNEI) e dois livros que as escolas receberam do Ministério da

Educação (MEC), portanto estava disponível à todas. Consideramos que os livros

ofereceriam uma boa fundamentação para as discussões, principalmente por estarem se

baseando nas DCNEI.

O livro “Currículo na Educação Infantil: Diálogo com os demais elementos da

Proposta Pedagógica” (SALLES e FARIA, 2012), destaca no capítulo 1 a orientação

das DCNEI de que o currículo seja organizado no Proposta Pedagógica (PP) de cada

escola, considerando que a rede municipal adota o termo Projeto Político-Pedagógico

(PPP) para designar o plano que cada escola desenvolve para o ano letivo. No segundo

capítulo destacam algumas concepções e pressupostos norteadores e propõem uma

organização por Campos de Experiência. O terceiro capítulo destaca como articular e

dinamizar o currículo, concretizando-o em ações pedagógicas. No final comentam

obras, sugerem filmes e sites para repertoriar o leitor.

O segundo livro selecionado foi “O trabalho do professor na Educação Infantil”

(OLIVEIRA org., 2012), que faz uma breve retomada histórica da Educação Infantil e

destaca aspectos importantes das DCNEI, iniciando com uma explanação das

concepções, o planejamento das práticas pedagógicas ea construção de ambientes de

convivência e aprendizagem. Em seguida relata possibilidades de práticas pedagógicas

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para crianças de 0 a 2 anos e de 3 a 5 anos respectivamente. Finaliza destacando o

cuidar como eixo do trabalho pedagógico e trata da avaliação e registro.

No segundo semestre tínhamos como objetivo observar os objetivos destacados

no PPP e buscar fundamentação teórica nas DCNEI, nos livros destacados acima e nos

documentos oficiais: Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Infantil (RCN) e

um documento produzido coletivamente em Santo André, intitulado “Ressignificação

das Práticas”.

Ao longo dos encontros fomos discutindo quais seriam as nossas prioridades nas

discussões curriculares e o grupo apontou cinco eixos do trabalho pedagógico que

gostariam de discutir: Artes, Oralidade, leitura e escrita, matemática, natureza e

sociedade e movimento/corporeidade.

Iniciamos esta discussão com o eixo das artes, que já vinha sendo refletido

através das vivências. As coordenadoras organizaram uma proposta de estudo em que

foram selecionados nos referenciais teóricos e documentos oficiais, descritos acima, os

objetivos relacionados às artes. Nesta ocasião foi feita a vivência relacionada às obras

impressionistas e as Assistentes Pedagógicas (AP) foram convidadas à um passeio na

história e na arte da França e, posteriormente,experimentaram realizar uma pintura ao ar

livre em uma escola que possui um espaço externo arborizado. As assistentes

pedagógicas trouxeram a importância de experimentarem os materiais que normalmente

se oferecem às crianças, como tintas e pinceis, num contexto não tão comum das

práticas pedagógicas: pintura ao ar livre, contextualização do movimento artístico da

época e discutimos o conceito de releitura de obra de arte, pois ainda é comum nas

escolas propor às crianças que pintem cópias ou tentem copiar os quadros de artistas

famosos.

Após a vivencia a sala estava preparada para recebê-las com cartazes

sistematizados pelas coordenadoras com os objetivos encontrados para o eixo de Arte

nos materiais que estávamos estudando.

Numa parte os cartazes mostravam a forma de organização curricular de cada

referencial teórico.

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RCNEI - por

eixos

• Movimento

• Música

• Artes visuais

• Linguagem oral e escrita

• Natureza e sociedade

• Matemática

Ressignificação

das práticas -

por Conteúdos-

linguagem

Conteúdos-linguagem:

• Artes

• Jogos e brincadeiras

• Leitura e escrita

• Linguagem corporal

• Mundo físico e natural

• Matemática

• Mundo social e cultural

• Novas tecnologias de informação

• Pesquisa

• Roda de conversa

• Tempos e espaços

• Saúde

Oliveira (2012)

por Campos de

Experiência

Práticas Pedagógicas para Crianças de

0 a 2 anos - Campos de Experiência

1. Brincar e Movimentar

2. Ter experiências com a

linguagem Visual: a

exploração plástica e a

Produção de Marcas

3. Ter experiências com a

Linguagem Musical

4. Experiências com a

Linguagem Verbal

5. Aspectos do Ambiente

Práticas Pedagógicas para Crianças

de 3 a 5 anos - Campos de

Experiência

1. Brincar

2. Experiências com a

Linguagem Verbal

3. Experiências com as

Linguagens Artísticas e a

Fruição de Arte

4. Explorar o Mundo Natural e

Social e suas Relações

5. Explorar Conhecimentos

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Matemáticos

Salles e Faria

(2012) - por

Campos de

Experiência

Campos de Experiências:

• Linguagens e Artes

Linguagem corporal, movimento,

teatro e dança

Brincar como linguagem e cultura

Linguagem verbal e literatura

(linguagem oral – linguagem escrita)

Linguagem e artes visuais e plásticas

Linguagem e arte musical

• Matemática

(conhecimentos sobre

números e quantidades,

medidas e noções

espaçotemporais)

• Eu no mundo social e

natural

Conhecimentos sobre o mundo

social

Conhecimentos sobre o mundo

físico e natural

Conhecimentos sobre si e o outro

No espaço ao lado, podiam observar os objetivos destacados para Arte em cada

material.

As assistentes pedagógicas observaram a organização curricular de seus PPP e

os objetivos de arte destacados em cada escola, comparando-os com as sistematizações

e fazendo uma análise de como poderiam qualificar as discussões com seus grupos de

professores.

No começo algumas reações foram expressas, em que as assistentes pedagógicas

se sentiram compelidas às mudanças imediatas, porém foram feitas ponderações pelas

coordenadoras e pelo próprio grupo, em que o processo de discussão com a equipe

docente de cada unidade escolar é que poderia de fato trazer mudanças significativas

para as concepções e práticas docentes e não somente a mudança de nomenclatura e/ou

estruturação.

No encontro seguinte foi proposto que se dividissem em grupos e fizessem a

mesma pesquisa que fizemos em Arte, com os outros componentes curriculares que o

grupo havia apontado que gostaria de estudar: oralidade, leitura e escrita, matemática,

natureza e sociedade e movimento/corporeidade. As coordenadoras levaram uma

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sistematização, indicando que os livros e documentos oficiais fazem diferentes

organizações, mas todos tratam destes temas. É importante destacar que foi interessante

ter ficado de fora somente as questões de desenvolvimento de identidade e autonomia,

justamente tratando-se de crianças da Educação Infantil. Foi destacado também que a

música é tratada com especial atenção, encontrando-se separada da arte como um todo.

Nos próximos encontros pretendemos que socializem o que cada grupo discutiu

a respeito do eixo que ficou responsável. Ressaltamos que sempre que realizamos as

discussões, retomamos o PPP para que as assistentes pedagógicas estabeleçam relações

e tracem planos de ação para sua escola.

Posteriormente combinamos com o grupo de nos aprofundarmos em Arte ao

socializar os projetos coletivos e as práticas das escolas e realizar vivências e discussões

com músicas, uma vez que, até então, temos focado mais as artes plásticas. Ainda este

ano pretendemos estudar também os eixos de oralidade, leitura e escrita, sendo que esta

é uma solicitação que o grupo sempre retoma.

Considerações finais

Temos tido muitos retornos positivos das assistentes pedagógicas que dizem

estar percebendo que há muitas formas de organizar o currículo na Educação Infantil, de

modo que se respeite a infância e a necessidade de experiências da criança, não

reproduzindo o currículo do Ensino Fundamental ou apenas fazendo pequenas

adaptações, mas realmente considerando o que é importante para esta faixa etária.

Nas reuniões pedagógicas das escolas observamos que as vivências e discussões

conceituais tem se transformado, as assistentes pedagógicas estão levando esta prática

para os momentos formativos com o coletivo escolar. Além disso, muitas propostas de

arte têm se incorporado aos projetos coletivos das escolas, atingindo inclusive o Ensino

Fundamental, que tem participado das reflexões acerca da infância, considerando que

trabalhamos com crianças de 0 a 12 anos.

Ainda é necessário focar mais nas estratégias de formação das assistentes

pedagógicas, percebemos como foi dito acima que algumas práticas de formação têm se

modificado, mas ainda não conseguimos efetivar discussões sobre o acompanhamento

de sala de aula e do planejamento do professor. Sabemos que muita coisa já é feita nas

escolas, algumas assistentes pedagógicas têm maior facilidade com o grupo de

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professores e outras enfrentam dificuldades, seja por resistência do professor ou por

ainda estarem buscando formas de participação legitima no planejamento e nas práticas

de sala de aula. Este é um objetivo que pretendemos ainda persistir e encontrar formas

de fortalecer ainda mais o trabalho de acompanhamento pedagógico das assistentes

pedagógicas.

Ao longo dos encontros começaram a surgir as propostas de Discussão do

Currículo Nacional da Educação Básica aberto à participação popular. Estamos

mobilizando o grupo para se cadastrar e participar da discussão nacional,

potencializando nossos encontros formativos. Esperamos assim, organizar uma proposta

para o ano de 2016, dando continuidade nas discussões de assistentes pedagógicas entre

setores, qualificando suas práticas e fortalecendo-as para as discussões pedagógicas nas

escolas.

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REFERÊNCIAS:

BONDÍA, Jorge Larrosa. Notas sobre experiência e o saber de experiência. In: Revista

Brasileira de Educação. n. 19. São Paulo, p. 20 – 28, jan/fev/mar/abr, 2002.

BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Ministério da

Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília, MEC/SEF,

1998.

BRASIL. Diretrizes curriculares nacionais para a educação infantil. Secretaria de

Educação Básica / Ministério da Educação. Brasília: MEC, SEB, 2010.

DIAS, Fátima Regina Teixeira de Salles e FARIA, Vitória Líbia Barreto de. Currículo

na Educação Infantil: diálogo com os demais elementos da proposta pedagógica. São

Paulo: Scipione, 2007. (Percursos)

SANTO ANDRÉ. Ressiginificação das Práticas Pedagógicas e Transformações nos

tempos e espaços escolares. São Paulo, 2008.

OLIVEIRA, Zilma Ramos (Org). O trabalho do professor na Educação Infantil. São

Paulo, SP: Biruta, 2012.

Vídeo:

Tarja Branca – a revolução que faltava. Direção: Cacau Rhoden. Produção: Estela

Renner, Luana Lobo e Marcos Nisti. Maria Farinha Produções: Brasil,2014.

Documentário (1’20”)

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Obrigatoriedade da pré-escola:

Implementação em uma microrregião no estado de São Paulo

Caroline Barreto Brunelli Barbosa29

Analisamos a implementação da pré-escola na microrregião de Ribeirão Preto/SP,

segundo a Emenda Constitucional nº59/2009 e a Lei nº12.796/2013, analisando o

número de matrículas e a população até cinco anos de idade, identificando escolas e

salas e comparando-as ao número de crianças e professores da educação infantil.

Comparamos esses dados à legislação sobre direito e obrigatoriedade da pré-escola, sua

qualidade e os recursos orçamentários disponíveis. Consideramos a organização

adequada da gestão para uma oferta de qualidade, importando conhecer a situação da

infância e suas políticas para identificar os limites e possibilidades da gestão

democrática diante dos recursos disponíveis. A cooperação e contribuição técnica e

financeira entre os entes federados e seu regime de colaboração é imprescindível na

garantia de padrões mínimos de qualidade, possibilitando a integral implementação da

obrigatoriedade e ampliação do direito.

Palavras-chave: Educação Infantil. Políticas Públicas. Obrigatoriedade.

29

Mestranda em Educação pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto -

USP

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A Importância do Lúdico na Educação para o Trânsito30

Claudinete de Oliveira Carvalho31

A proposta dessa pesquisa concentra-se em mostrar que a educação para o

trânsito é importante na educação infantil e anos iniciais, visto que a grande causa de

morte externa em crianças é por motivo de acidente automobilístico. Promover o tema

trânsito é garantir os direitos previstos nos documentos oficiais como: a Constituição

Federal e ECA, além de proporcionar o ensino-aprendizagem de consciência como os

previstos na LDB e a PCN. Nesse sentido a pesquisa teve como objetivo verificar se o

tema Trânsito (sugerido no eixo transversal) é trabalhado nas escolas e qual meio

utilizado para educar as crianças na educação infantil e anos iniciais. Aqui foram

tratados os aspectos históricos da educação e o que os grandes teóricos do século XX

nos fala das características dos jogos e brincadeiras na fase do desenvolvimento infantil

e no que se refere ao ensino e aprendizagem. Para tanto se usou do método qualitativo

em que 25% dos professores nos últimos dois anos trabalharam a educação para o

trânsito em sala na educação infantil ou na semana do trânsito. Quanto aos anos iniciais

o tema é irrelevante nas disciplinas e inclusive em setembro (que é a semana do

trânsito). Quanto ao método foi constatada a palestra ou a pintura como principal meio

para levar e trabalhar um tema tão importante que é a educação para o trânsito. Conclui-

se que o lúdico como ferramenta metodológica é um grande aliado desse ensino-

aprendizado, pois o tema trânsito além de rico dentro das disciplinas, exige ludicidade

que é capaz de gerar nos alunos o gosto e o prazer no aprendizado, despertando nos

pequenos, os futuros motoristas, boas atitudes nas vias, que é um espaço social e

democrático.

Palavras-chave: Trânsito. Educação para o Trânsito. Lúdico.

30 Este texto é fruto de uma pesquisa apresentado como requisito para a conclusão do curso de

licenciatura em Pedagogia, realizado no período de setembro de 2014 a maio de 2015 na

Universidade Estadual do Maranhão.

31 Professora de Educação Infantil do Centro de Educação e Desenvolvimento para Ação

Comunitária – CEDAC localizado no Município de São Luis-MA.

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“Pedagogias das raízes”: Por uma educação infantil no/do campo32

Crisliane Boito33

Simone Santos de Albuquerque34

RESUMO: Este trabalho apresenta parte dos dados da pesquisa “Caracterização do

atendimento às crianças de 0 a 6 anos residentes em áreas rurais no Rio Grande do

Sul/Brasil”, que busca conhecer as condições de oferta de Educação Infantil do Estado

do Rio Grande do Sul. Neste artigo o foco é dado a voz das famílias assentadas e de um

representante do Movimento Social, a partir dos dados coletados através de entrevistas e

registros de observação, no assentamento Integração Gaúcha- IRGA, localizado na

cidade de Eldorado do Sul/RS. Os sujeitos da pesquisa indicam uma proposta vinculada

a “Pedagogia das Raízes”, ou seja, a uma escola de educação infantil no campo que

reconheça a identidade, a realidade e a cultura local através de experiências educativas

significativas compartilhadas entre famílias, crianças e comunidade.

Palavras-chave: Educação Infantil do Campo; Famílias assentadas; escola; Movimento

Social.

1. Por que: Uma coisa é a lei, outra é a realidade 35. 32

Este texto é fruto de Pesquisa de Iniciação Científica “Caracterização das práticas educativas com

crianças de 0 a 6 anos residentes em áreas rurais no Rio Grande do Sul”, realizada no período de 2012 a

2015 na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

33 Crisliane Boito - Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Mestranda na Linha Estudos da

Infância.

34 Simone Santos de Albuquerque -Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professora do

Departamento de Estudos Especializados- DEE e Coordenadora do Curso de Especialização

Docência em Educação Infantil, na mesma Universidade.

35 O título do capítulo expressa uma fala de um dos líderes do movimento social. (Entrevista

realizada em 12/05/2014).

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Este estudo resulta da pesquisa “Caracterização das práticas educativas com

crianças de 0 a 6 anos residentes em áreas rurais no Rio Grande do Sul/RS”, que vem

sendo desenvolvida desde o ano de 2012 através de um Projeto de Pesquisa aprovado

pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A pesquisa no âmbito do estado foi

desencadeada pelas reflexões das pesquisadoras36 quando participaram da Pesquisa

Nacional “Caracterização das práticas educativas com crianças de 0 a 6 anos residentes

em áreas rurais”37, desenvolvida a partir de um Projeto de Cooperação Técnica entre o

Ministério de Educação e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul- UFRGS em

2011/2012.

Os estudos realizados durante a pesquisa nacional evidenciaram a importância

do tema para a Educação Infantil, frente à ausência de políticas públicas que

contemplem as crianças do campo. Rosemberg e Artes (2013, p. 64) apontam que,

relacionado a oferta de educação infantil em contexto rural, existem três principais

qualitativos para caracterizá-la: a insuficiência, a discriminação e a precariedade. As

pesquisadoras alertam ainda sobre a necessidade de olhar o campo, as crianças pequenas

que residem em área rural, e particularmente os bebês.

Nos últimos anos através de mobilizações dos povos do campo38 juntos aos

sindicatos, movimentos sociais, associações e militantes vem se conquistando avanços

36 A coordenadora da Pesquisa Nacional na Região Sul foi a Profa. Dra. Simone Santos de

Albuquerque, que é a orientadora da pesquisa que resulta este artigo. A autora Crisliane Boito

participou da referida pesquisa de âmbito nacional como Bolsista de Iniciação Científica

Voluntária, também desenvolveu parte da pesquisa em âmbito estadual e, atualmente inicia a

escrita de um projeto de Mestrado vinculado a esta temática. Ana Paula Preto Flores é integrante

do grupo de pesquisa como bolsista PIBIC/CNPq desde 2013. O Projeto de Pesquisa foi

aprovado pela Comissão de Pesquisa em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do

Sul e está registrado pelo número 23125.

37 A pesquisa resultou em um livro intitulado “Oferta e demanda de educação infantil no campo”

e relatórios de pesquisa, disponíveis no site do Ministério da Educação e também publicado pela

Editora Evangraf, Porto Alegre/2012.

38 Nesta pesquisa reconhecemos como sujeitos do campo agricultores familiares, extrativistas,

pescadores artesanais, ribeirinhos, assentados e acampados da Reforma Agrária, quilombolas,

caiçaras, indígenas e outros, conforme as Diretrizes Complementares normas e princípios para o

desenvolvimento de políticas públicas da Educação Básica do Campo (2008).

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na legislação educacional brasileira das pautas reivindicadas historicamente. Neste

tocante os povos do campo estão legalmente apoiados em diferentes documentos tais

como: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL,1996); Diretrizes

Operacionais para a Educação Básica do Campo (BRASIL, 2002); Diretrizes

complementares, normas e princípios para o desenvolvimento de políticas públicas de

atendimento da educação básica do campo (BRASIL, 2008); Diretrizes Curriculares

Nacionais de Educação Infantil (BRASIL, 2009), entre outros. Mas, entendemos, que é

necessário substituir a prerrogativa expressa no início desta sessão: “uma coisa é a lei,

outra é a realidade”. Acreditamos que é urgente passar do reconhecimento legal para o

real, isto é, que as crianças do campo possam vivenciar no cotidiano de suas vidas e das

práticas nas escolas o que já está previsto legalmente e nos documentos oficiais, que

legitimam o direito a uma oferta de educação infantil de qualidade.

Neste sentido, a pesquisa “Caracterização das práticas educativas com crianças

de 0 a 6 anos residentes em áreas rurais no Rio Grande do Sul/RS”, tem como objetivo

principal conhecer aspectos no que se refere a qualidade da oferta da educação das

crianças de 0 a 6 anos residentes no campo, bem como aprofundar conhecimentos no

que se refere às especificidades da infância do campo, as condições de vida, e suas

expectativas, desejos e necessidades no que se refere a educação das crianças pequenas.

2. Caminhos metodológicos

A primeira etapa (2012/2013) da referida pesquisa teve abordagem quantitativa e

o foco foi a análise no Banco de Dados elaborado pela pesquisa nacional à respeito do

atendimento das crianças de 0 a 6 anos residentes em área rural no estado do Rio

Grande do Sul. O relatório relacionado a esta etapa de pesquisa, vol.I, está

disponibilizado para acesso na Biblioteca Faced/UFRGS.

A segunda etapa da pesquisa (2013/2014/2015) tem abordagem qualitativa de

cunho etnográfico e se configura a partir da imersão em dois contextos que contemplam

a diversidade dos sujeitos do campo. A escolha dos locais de estudo se deu após a

realização de análise de dados levantados pelo Tribunal de Contas do Estado- TCE/RS

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(2011), Estudo-Situação de municípios que aderiram ao Proinfância no Rio Grande do

Sul -MEC/SEB/UFRGS- (2013), com base em dados do INEP (2010) e IBGE(2010),

onde mapeamos 53 municípios no RS que possuem oferta de EI para crianças que

residem no campo.

Nosso critério de seleção para a realização de estudo qualitativo em dois

municípios no estado visou dar conta de objetivos centrais, como ter escola em área

rural que atendesse crianças de 0 a 6 anos, ter aceitação da Secretária da Educação e da

escola para estudo e ser localizada o mais próximo de Porto Alegre, possibilitando o

deslocamento via setor de transporte da Universidade. Desse modo, selecionamos uma

comunidade quilombola, localizada no município de Gravataí e o assentamento

Integração Gaúcha localizado em Eldorado do Sul.

O método qualitativo, de abordagem etnográfica, subsídio desta pesquisa, foi

escolhido, pois, contempla a relação entre pesquisador, pesquisado e o contexto da

pesquisa. Víctoria, Knauth e Hassen (2000) elucidam que “o método que contempla esta

abordagem procura fazer com que os investigadores trabalhem e treinem o seu olhar

com profundidade sobre seus sujeitos de pesquisa, possibilitando ao pesquisador

compreender a forma da vida das pessoas do qual pretende investigar” (p.37).

Outro fator relevante a ser destacado aqui, é a forma como nós pesquisadoras

nos apresentamos aos sujeitos que constituíram nossa pesquisa. Nos apresentávamos

como pesquisadoras da UFRGS e falávamos à respeito da pesquisa Nacional já

realizada, em cooperação com o Ministério da Educação – MEC, bem como a segunda

etapa – analisando os dados do Rio Grande do Sul.

Dávamos destaque a importância da historicidade da pesquisa, e da importância

deles como sujeitos do estudo, dando início a uma relação importante e necessária.

Partindo desta premissa não poderíamos deixar de levar em consideração o que revela

Víctoria, Knauth e Hassen (2000) a respeito da interação entre pesquisador e pesquisado

aonde “Numa investigação sobre a realidade social, deve-se considerar o fato de que a

pesquisa de campo implica em uma relação social entre o pesquisador e pesquisado” e

que “a qualidade dos dados obtidos depende em grande parte da maneira como essa

interação social se estabelece” (p.55).

Esta perspectiva foi evidenciada em nossas imersões de campo, onde

reconhecemos, a partir de Caria (2002, p.12) que a abordagem etnográfica possibilita

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estranhamento, reflexão e a ruptura para que assim se possa pensar na diversidade

cultural.

Sendo assim, consideramos que inspiradas nos estudos qualitativos de

abordagem etnográfica, apoiadas em Fonseca (1998), Bogdan e Biklen (1994), Caria

(2002) e Víctoria, Knauth e Hassen (2000) tivemos aportes metodológicos

consideráveis para a realização do estudo, buscando sempre interagir com os sujeitos de

forma não intrusiva e não ameaçadora como sugerem Bogdan e Biklen (1994, p.68) .

O estudo foi realizado na comunidade de um assentamento, área rural do

município de Eldorado do Sul. Para subsidiar a escrita deste artigo, os dados referem-se

ao contexto de seis famílias que residem no assentamento IRGA, cujos filhos (as)

frequentam ou frequentaram a EMEI Flor da Terra, e de dois representantes do

Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra/MST. Foram realizadas entrevistas semi-

estruturadas, nas residências das famílias e no salão da Associação Comunitária do

referido movimento social, buscando sempre manter a clareza dos objetivos da

pesquisa, conforme indicam Víctoria, Knauth e Hassen (2000, p.64).

Neste artigo, abordaremos as vozes das famílias residentes no assentamento, e de

um representante do Movimento Social à respeito da necessidade do reconhecimento de

suas identidades e seus valores, procurando traçar algumas reflexões no que estes

sujeitos denominaram no estudo como uma proposta vinculada a “Pedagogia das

Raízes”

3. Situando o contexto pesquisado

O Assentamento Integração Gaúcha39

surgiu em 1991, quando um grupo de

pessoas integrantes do MST, tomaram posse da terra cedida pelo Governo do Estado do

Rio Grande do Sul/RS através do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária-

39Segundo Campos (2006), o nome dado ao assentamento deve-se ao fato ter se constituído

em uma propriedade de autarquia do governo Estadual-IRGA /Instituto Rio Grandense do

Arroz. Como as famílias que constituem o assentamento eram oriundas de diversas regiões do

Estado, as pessoas que moravam na cidade passaram a nominar os assentados como “os

colonos do IRGA”.

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INCRA. Ser assentado pelo Governo do Estado e não diretamente pelo INCRA

implicou a não obtenção de recursos destinados a moradia e custeio inicial, sendo que a

condição imposta é de que deveriam trabalhar, por um período, em cooperativas.

O representante do movimento social relata sobre a chegada ao assentamento,

quando não tinham infraestrutura, apenas a posse da terra:

“[...]já temos aqui a terra, mas aí começa todo um outro processo né, luz,

água, moradia, até mesmo estrada. Tinha aqui um atoleiro, a gente passava

aqui não tinha aquela estrada mais abaixo ali que tá empedrada agora, não

faz atoleiro em dia de chuva né... Vem toda a ação da educação, saúde né,

então isso, tem que ser trabalhado com o tempo. A gente nem sonhava como

taria hoje...”(Entrevista realizada em 12/05/2014)

Foi se formando então, conjuntos de trabalho com o intuito de garantir tais bens.

Esse arranjo possibilitou que este grupo fosse se constituindo de forma coletiva neste

novo espaço.

A condição imposta pelo Governo do Estado, do trabalho em cooperativa, fez

com que surgisse a necessidade de ter um local para permanecer o pequeno número de

crianças, filhas dos trabalhadores do grupo. No primeiro momento, as crianças ficavam

aos cuidados de uma militante formada pelo movimento, debaixo de uma árvore.

Depois, o movimento social construiu uma varanda e, com a chegada de dias frios e

chuvosos (típicos do inverno gaúcho) construiu-se um “galpãozinho” de madeira que

consistia em uma sala pequena, um banheiro e uma cozinha.

Outro aspecto constatado é que no início do assentamento a maioria dos

assentados eram homens e solteiros. Campos (2006) em seu estudo sobre a autonomia

das mulheres-mães neste assentamento aponta que:

Quando o grupo chegou a Eldorado havia muitas pessoas solteiras,

especialmente homens, e muitos casais jovens que haviam se conhecido no

acampamento. Com o passar dos anos a quantidade de crianças foi

aumentando significativamente. Os jovens casais passaram a ter filhos e a

maioria dos solteiros se casou e constituiu família. Com isso as mulheres

assentadas passaram a enfrentar dificuldades de conciliar os trabalhos da casa

e nas atividades agropecuárias com o cuidado das crianças pequenas.

(CAMPOS, 2006, p.11)

Com o passar do tempo, a condição de trabalho em cooperativa foi sendo

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repensada e a maioria das famílias deixou de integrar o grupo da cooperativa, não tendo

mais onde deixar seus filhos enquanto trabalhavam. Algumas famílias buscaram

matrícula para as crianças no centro da cidade de Eldorado do Sul, uma vez que as

famílias ainda passavam por dificuldades e muitas mulheres buscavam trabalho como

empregadas domésticas na própria cidade e, em cidades vizinhas para acrescentar na

renda da família.

Concomitante a isso, com as novas constituições familiares, o número de

crianças foi aumentando, fator que foi intensificando o desejo local para a construção de

uma escola de Educação Infantil.

Destaque deve ser dado ao fato de que as famílias do IRGA, diferentes da

maioria dos outros assentamentos, não optaram por cirandas40

pela razão de que estas

são espaços de educação não formais, predominantemente mantidas por cooperativas, o

que não era mais o caso do assentamento do IRGA. E, ainda conforme nos apresentou o

líder do movimento social, “a gente tinha a intenção de ter ajuda do poder público”

(Entrevista realizada em 12/05/2014).

Além das justificativas pela busca de Educação Infantil dentro do Assentamento

apresentadas acima, Campos (2006) contribui apontando outros fatores que levaram as

famílias entrevistadas a lutarem pela Educação Infantil dentro do IRGA:

“[...] o desejo de que esse lugar fosse no assentamento para que as crianças

pudessem ficar próximas das famílias; grande quantidade de crianças

pequenas no assentamento, em 2004 haviam 32 crianças de zero a seis anos;

consciência do direito das crianças e a falta de vagas na creche no centro da

cidade.”(CAMPOS, 2006, p.12)

No documento “Educação Infantil do Campo- Proposta para a expansão da

política” (2014), é entendido que,

40 Um espaço educativo da infância Sem Terra, organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais

Sem Terra (MST) e mantidos por cooperativas, centros de formação e pelo próprio MST, em seus assentamentos e acampamentos. O nome foi escolhido pelo fato de ciranda remeter à cultura popular e estar presente nas danças, brincadeiras e cantigas de roda vivenciadas pelas crenças no coletivo infantil. (ROSSETTO, 2012, p.125)

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“[...] a reivindicação de escolas de educação infantil em áreas rurais implica,

na realidade em direito das mulheres e das crianças. A socialização dos

cuidados entre a família, o Estado e a sociedade possibilita à mulher

participar, autonomamente, da vida social e econômica, ao mesmo tempo em

que se consolida um novo paradigma de responsabilização do ato de “cuidar

e educar” de maneira compartilhada à educação das crianças em espaços

coletivos” (p.9)

Conforme Campos (2006), a oferta de educação infantil no assentamento

contribuiu para a emancipação das mulheres:

[...] Nas famílias cujas mulheres trabalham no assentamento, a redução do

tempo com o cuidado das crianças possibilitou “pegar junto” com os

companheiros nas atividades agropecuárias e com isso elas passaram a ter

mais poder de intervir nas decisões sobre o que produzir, bem como o que

fazer com o dinheiro. (CAMPOS, 2006, p. 18).

A conquista da construção da escola, em 2006, deu-se após um conjunto de

reivindicações das famílias e do movimento. As famílias entrevistas recordam da

marcha que fizeram até a cidade, em 2003, e das audiências com o prefeito e a

Secretária de Educação do município. Em 2004 uma comissão de mulheres/mães

acamparam com seus filhos no gabinete do prefeito. Um dos líderes do movimento

descreve a forma como se deu essa mobilização:

“Levamo lá na prefeitura, no saguão, a criança mobilizada lá. Naquela época

o prefeito primeiramente disse que ia fazer, depois viu que o negócio não era

bem assim, era mais complexo...mas daí fomos pressionando, “vamo

participar, vamo contribuir, vamo ajudá” e fomo mobilizando, levando gente

para lá. Chamei algumas reuniões aquí também né, mobilizar o pessoal daqui.

Teve reunião que o prefeito veio até aquí também, mas olha, não foi fácil, o

pessoal bastante resistente, até porque era a primeira experiência, eles não

sabiam como é que ia se dar isso. Mas se colocamo à disposição, o pessoal

querendo né... Enfim, depois de muita luta nós conseguimo..” (Entrevista

realizada em 12/05/2014).

As mobilizações fizeram e fazem parte da história do assentamento e a busca por

uma escola de educação infantil neste espaço reflete a consciência de um direito

fundamental a todo o sujeito, a educação.

Atualmente, segundo informações da professora responsável41

, 44 crianças estão

41

A organização das Instituições de Educação Infantil de Eldorado do Sul até pouco tempo era

através de uma Unidade de Educação, que congregava cada quatro escolas com uma diretora, nas

outras três existem professoras responsáveis. Ainda não foram realizadas eleições para diretores

e então o cargo ainda é de professor responsável.

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matriculadas na escola: 6 no berçário, (fila de espera de 5 crianças); 13 crianças no

maternal I; 13 crianças no maternal II e 12 crianças no Pré142

. Na EMEI Flor da Terra

todas as crianças são atendidas em turno integral. Ainda, algumas crianças que residem

na cidade de Eldorado do Sul, realizam um processo inverso ao que tradicionalmente

conhecemos, fazendo deslocamento cidade43

para campo.

4. “A creche é uma benção!” A Escola de Educação Infantil no contexto do

assentamento

A partir de dados coletados, através das entrevistas com os representantes do

movimento social e as famílias, é marcante o reconhecimento da importância da EMEI

Flor da Terra no contexto do assentamento.

No período em que as famílias assentadas foram entrevistadas foi recorrente as

demonstrações referentes a importância que a Escola de Educação Infantil tem em suas

vidas: “A creche é uma benção!” (mãe de família entrevistada em 17/06/2014); “a

escola do assentamento é muito bom, é muito tudo de bom” (pai de família entrevistada

em 30/05/2014).

Outra mãe de família entrevistada sobre a importância da Escola de Educação

Infantil apresenta que:

[...] aqui a gente tem acesso com os professores, de ajudar a planejar o ano também com os

professores, que lá na cidade a gente só entregava no portão da recepção e tu não sabia como e que era

lá. E aqui não, aqui tu tem contato com o professor. Tu vai e conversa, lá com a cozinheira, com a

diretora, tu tem bem mais acesso. Então é muito mais melhor [...] (Entrevista realizada em

14/02/2014).

42

Em virtude da falta de salas de aula, o pré II está locado na Escola de Ensino Fundamental

Almirante Tamandaré, que fica ao lado, com 9 crianças, atendidos no turno da manhã.

Informação obtida em 14/09/2015.

43As crianças que vêm da cidade são trazidas pelos pais ou por transporte privado, (vans

escolares pagas pelos pais), não sendo atendidas, portanto, por transporte público.

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Ainda, foi possível observar o orgulho das famílias quando apontavam que a

Escola dentro do IRGA também atende crianças da cidade.

[...] os professores saem da sala de aula com as crianças, levam pra horta,

levam pra conhecer os animais, fazem alguns piqueniques, saem pra fora. E

agora tem bastante criança da cidade, nãos são só filhos de assentados, como

a escola é municipal então ela abrange mais famílias não só os filhos de

assentados. (mãe de família entrevistada em 14/02/2014)

Entendemos que, para as famílias assentadas, possibilitar que as crianças e as

famílias da cidade percebam que no assentamento também existem experiências

interessantes, potencializadoras de aprendizagens é motivo de orgulho, que pode,

como relatado na entrevista abaixo, diminuir o preconceito em relação ao campo:

[...] porque chega lá na cidade vem o preconceito. Ah, porque tu é colono né!

Então queira ou não, sempre tem aquela gurizada. Ah, porque tu é colono,

porque não sei o que... mas, só que eles também são inocentes, não conhecem

a realidade do que é um assentamento né? Pra eles, acham que sendo colono

tem que ser feio, sujo, sei lá.É uma realidade diferente (mãe de família

entrevistada em 14/02/2014).

No que trata do tema, Pasuch e Santos (2013), apontam que:

“Percebido como um lugar atrasado, desorganizado e com poucas

potencialidades, o campo era visto como uma oposição ao urbano, este

último entendido como espaço de desenvolvimento, moderno [...]. [...]É

preciso destacar que, por conta dessa realidade atribuída ao campo, as

populações que nele viviam e produziam também eram consideradas como “

de segunda classe”. (p.112, 113).

Nesta perspectiva, a interação desde muito pequenas entre as crianças do campo

e da cidade e consequentemente de suas famílias, possibilita uma aprendizagem mútua e

coletiva destes dois contextos de vida, desenvolvendo experiências coletivas e

desconstruindo estereótipos, tornando a escola mais plural.

Para o representante do movimento social, há outra questão que emerge para

além da garantia de acesso das crianças pequenas a educação infantil: a relação entre

movimento social, famílias assentadas e escola. E, no decorrer da entrevista aponta

outros elementos, como a qualificação profissional específica para a educação do

campo, que a seu ver, precisa de uma atenção especial.

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O primeiro registro trazido pelo entrevistado evoca a questão dos profissionais,

professores e direção, que trabalham na EMEI Flor da Terra:

“[...] até mesmo pedagógico, pessoas que não tão preparadas pra isso.

Pessoas ali... Pessoas que eles não querem lá no centro... Aí eles mandam pra

cá que é meio periferia, né? E acaba dando conflito aqui dentro, e aqui os

pais não aceitam muitas coisas, é batido o pé, discutido no Conselho. Os

professores e até diretores foram trocados a pedido, né? Foi feito reunião... Ai

depende quando muda a direção da escola, esse ano eles querem retomar essa

questão educativa da escola, da horta né, como educativa né? Os professores

não são daqui né... Não precisa ser daqui, mas que tivesse mente aberta, para

conhecer. O ideal era que fosse daqui. Ele tem que estar aberto ao que vai

encontrar aquí.” (entrevista realizada em 12/05/2014)

No que diz respeito “as propostas ligadas ao que considera as “raízes do campo”,

recorda da horta, de projetos que envolviam a reciclagem do lixo, a questão ambiental,

bem como saídas de campo pelo assentamento mostrando as crianças o trabalho de suas

famílias. Considera importante que seja continuamente feito um resgate mais

aprofundado, com as crianças, a respeito da história do assentamento, contextualiza que:

“Tem umas pessoas já que pensam: “não, mas isso já é do passado”. Mas, é

contruir o passado para valorizar o futuro. Mostrar para crianças que a gente

não chegamos aquí e tava tudo prontinho que nem tá hoje. Não tá tudo

maravilha, mas tá melhor do que nós chegamos né. Então que eles valorizem

isso né, então esse é o sentido. Então conseguimos aprofundar muito ainda,

mas é uma coisa que a gente pode avançar melhor e é um espaço para gente

poder trabalhar.” (entrevista realizada em 12/05/2014)

Esse posicionamento do entrevistado está vinculado ao reconhecimento da

identidade cultural e política. Leal e Ramos (2013) em pesquisa realizada na região

Nordeste apontaram que dos municípios estudados não havia sido constatado

“direcionamentos pedagógicos sistemáticos que contemplem as especificidades do

modus vivendi e, portanto, da identidade do homem do campo” (p.170) , demonstrando

que esta é uma realidade encontrada em outras regiões do país.

Questionado sobre sugestões para o trabalho pedagógico sugere que:

“[…]essa questão envolvendo mais professores e a comunidade, pais, podia

fazer uma espécie assessoria técnica na escola e voltar a questão para nossas

raízes, mostrar de onde vem o alimento, reciclar, plantar, Esse é o nosso

ambiente daqui, que a gente tira o nosso sustento, aqui que as famílias vivem,

então valorizar essa terra que a gente conquistou. A escola não trabalha as

coisas daqui! Isso precisa aprofundar, esse trabalho é sempre isolado. Tinha

que ser permanente. Tinha que tá bom, as professoras vem aquí, tem que tá

no sangue, tem que circular né? A qualidade da alimentação, né. A prefeitura

arrecada a alimentação dos produtores. Mas podia ser assim, cada um pega a

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cesta e levar lá e depois passa para prefeitura o que cobriu e não cobriu, eu

não me importaria desde que fosse levado alí e valorizassem. Por que não

levam por exemplo: as mães sabem fazer alí um bolinho de espinafre, vamos

trazer um dia essa mãe. Isso é valorizar as raizes que a gente chama. Leva as

crianças na horta, mostrar a riqueza que a gente tem né. Mostrar tudo o que

sai da terra. Servir como exemplo isso, dizendo: bah! hoje aprendemos a

fazer a horta, cuidamos dos alimentos. Os professores tem que se inteirar das

coisas. Se integrar no ambiente.”

5. Por uma Escola de EI com a Pedagogia das raízes: considerações finais.

A partir das entrevistas, entendemos que as famílias e o representante do

movimento reconhecem a conquista da escola de educação infantil como um marco

importante, legitimador de direitos das crianças, das mulheres, das famílias e do

movimento. Um espaço que garante que trabalhem com mais tranquilidade e que além

disso, vem legitimando uma desconstrução histórica de campo de local estereotipado

como atrasado .

Mas, emerge também, neste estudo no IRGA, e de modo mais intenso a partir da

entrevista com o representante do movimento social, a demanda de uma escola de

educação infantil vinculada a uma “pedagogia das raízes” que envolva escola,

comunidade e movimento social, com experiências culturais, políticas e sociais do

campo.

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6. Referencias:

BARBOSA, Maria Carmen Silveira et al. Oferta e demanda de educação infantil no

campo. Porto Alegre: Evangraf, 2012.

BRASIL. Diretrizes complementares, normas e princípios para o desenvolvimento de

políticas públicas de atendimento da Educação Básica do campo. Brasília, DF: MEC,

2008.

_____. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da

Educação Nacional. Brasília, DF, 1996. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/leis/L9394.htm>. Acesso em 20 de agosto de

2015.

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Movimento, arte e ludicidade na educação infantil: o papel do PIBID em uma

turma de pré-escola de uma EEEF do município de São Francisco de Paula/RS

Denise Madeira de Castro e Silva44

Resumo

Este trabalho tem por objetivo relatar as práticas de oficinas desenvolvidas no

Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência- PIBID, que pretendiam

disponibilizar atividades e materiais oportunizando interações e brincadeiras em que o

movimento, a arte e a ludicidade fossem os eixos condutores, em uma turma de pré-

escola da rede pública da cidade de São Francisco de Paula/RS. Essas oficinas foram

definidas a partir de um diagnóstico inicial feito através de observações, entrevistas e

leitura de documentos oficiais. O presente momento histórico em que a pré-escola

torna-se obrigatória é tensionado teoricamente, através de autores que alertam para o

fato de que garantir o acesso não necessariamente garantirá a qualidade. Desse modo,

conclui-se que as oficinas desenvolvidas podem contribuir para efetivar uma pré-escola

com mais qualidade, pois oferecem situações de experimentação, de aprendizagem e de

expressão, ampliando conhecimentos e saberes.

Palavras-chave: Pré-escola. Obrigatoriedade. Oficinas.

O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID visa

valorizar e incentivar a formação docente da educação básica. No município de São

Francisco de Paula/RS este programa vem sendo executado desde 2012 com alunas do

curso de Pedagogia, da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul – UERGS.

44

Professora assistente da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul – UERGS e aluna do

Doutorado em Educação doPrograma de Pós-graduação da Universidade Federal de Santa Maria

– UFSM.

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O subprojeto desenvolvido nessa cidade intitula-se Alfabetização, letramento,

multiculturalismo e educação ambiental. A partir de 2015 com a entrada de nova

coordenadora de área e de troca de escola, a educação infantil foi incluída como

possibilidade para realização do PIBID.

Iniciou-se a prática das oficinas em uma turma de crianças de quatro e cinco

anos integrante de uma escola de ensino fundamental motivada pela indicação da

supervisora escolar, membro da equipe diretiva, em que o trabalho pedagógico

desenvolvido, na sua ótica, necessitaria de uma proposta mais lúdica e envolvente para

as crianças pequenas. As turmas em que as bolsistas realizam suas intervenções são,

inicialmente, indicadas em reuniões com a equipe diretiva e coordenadoras de área.

Cabe salientar, que a organização do PIBID designa coordenadoras de área, vinculadas

as IES (Instituições de Ensino Superior) e supervisoras da própria escola que

coordenam o trabalho desenvolvido pelos alunos das licenciaturas, havendo reuniões

mensais para avaliação do projeto e ajustes necessários ao mês subsequente.

Desse modo, o projeto elaborado para essa realidade foi desenvolvido com a

utilização de oficinas que objetivaram disponibilizar atividades e materiais que

oportunizassem interações e brincadeiras em que o movimento, a arte e a ludicidade

fossem os eixos condutores, podendo contribuir para a melhoria da qualidade da

educação infantil ofertada nessa escola.

Contextualizando a educação infantil municipal e estadual

Iniciaremos contextualizando o município de São Francisco de Paula, situado na

região dos campos de cima da serra do estado do RS. Sua população é de

aproximadamente 25.000 habitantes de acordo com o último Censo Demográfico 2010

do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A rede municipal está

organizada com apenas duas escolas de educação infantil e acompanha a dificuldade

nacional da ampliação de vagas para as crianças da pré-escola, desde a emenda nº

59/2009. Por essa razão, as escolas estaduais e municipais de ensino fundamental

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começaram, desde 2014, a ofertar também essa etapa. De acordo com Krammer, Nunes

e Corsino (2011, p.72)

A ideia de educação infantil é uma construção histórica e social, sendo,

portanto, impossível conhecê-la apenas pelos critérios legais que a envolvem.

O termo é circunstanciado na legislação, mas adquire significação a partir da

experiência e do lugar que creches e pré-escolas ocupam no sistema de

ensino no Brasil e em outros países.

A autora adverte que pensar a educação infantil como um grupo constituído

reafirma essa etapa como a de ingresso à educação, porém dissimula contradições nas

condições de acesso e frequência, nos tipos de equipamentos existentes, na formação de

docentes, e sobre a sua importância educativa para as crianças na sociedade em geral.

Historicamente, as diferenças no acesso, na permanência e na qualidade da

educação infantil no Brasil têm sido um problema a ser superado. Considerada a

primeira etapa da educação básica de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases nº9394/96,

sua história denota diferenças existentes na oferta e na qualidade entre os diversos

segmentos da sociedade. Ao refletir sobre as políticas públicas, Pereira (2012, p.245)

afirma que elas “atendem aos interesses do Estado e, por conseguinte, aos interesses do

macro e dos microssistemas”; ainda conforme a autora, tais interesses “caracterizam

uma estrutura de reprodução das relações sociais”. Desse modo, na atualidade, a

educação infantil é constituída simultaneamente pelas escolas da rede privada, com

projetos pedagógicos aparentemente de vanguarda e dedicadas aos filhos das classes

mais abastadas, e pelas escolas públicas, para as classes menos privilegiadas, sem

garantias de qualidade e com imensa dificuldade de abarcar a totalidade da demanda.

O Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul vem desenvolvendo um

estudo intitulado Radiografia da Educação Infantil no Estado do Rio Grande do Sul.

Este estudo aponta para o fato de o estado do Rio Grande do Sul apresentar um déficit

de 215 mil vagas em creches e pré-escolas. A universalização pretendida ainda está

longe de ser alcançada. O estado em pré-escolas atinge o índice de 67,84% de

atendimento, enquanto o resto do Brasil já superou os 80%.

Desde a emenda constitucional nº 59/2009 que estabelece a obrigatoriedade e

gratuidade do ensino dos quatro aos dezessete anos o debate em torno do processo de

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escolarização precoce de nossas crianças vem sendo destacado por diversos autores. De

acordo com Krammer, Nunes e Corsino (2011, p.71)

O ingresso da educação infantil nos sistemas de ensino tem implicações nas

demais etapas, modalidades e níveis de ensino, conduzidos a repensar

concepções, rever práticas e adequar posições a partir das novas relações

estabelecidas. Por outro lado, tem provocado o retorno, o reforço e a

continuidade de práticas que associam educação à instrução, com atividades

mecânicas onde as crianças são treinadas a seguir instruções (cobrir

pontilhado, copiar e repetir).

Os caminhos percorridos na prática

Em março de 2015 iniciou-se a percorrer os caminhos metodológicos dessa

prática. Esse processo começou com o diagnóstico realizado por duas alunas bolsistas

do PIBID em uma turma de pré-escola de uma escola estadual situada no município de

São Francisco de Paula. Essa fase em que se desenvolve o chamado diagnóstico tem por

objetivo apreender as reais necessidades pedagógicas da escola e sobretudo da turma,

visando orientar o trabalho a ser desenvolvidos nas oficinas.

Essa análise foi composta da leitura de documentos oficiais da escola,

especialmente o Projeto Político Pedagógico e o Regimento Escolar. Também foram

realizadas entrevistas semiestruturadas com a professora da turma, com a supervisora e

com a direção. Essas entrevistas visavam compreender em que contexto a turma da pré-

escola havia sido montada, qual concepção de criança, de infância e de educação

infantil a equipe diretiva e a professora dispunham.

Ao longo dos meses de março e de abril foram realizadas observações, uma vez

por semana, em turno de quatro horas, conforme planejamento prévio do PIBID

realizado pela coordenadora de área. A referida turma é composta de crianças de quatro

e cinco anos, sendo sete meninas e cinco meninos.

De acordo com os achados propiciados na fase do diagnóstico, parecia haver um

nível de despreparo ao receber as crianças de quatro e cinco anos na escola.

Primeiramente, porque a leitura do Projeto Pedagógico mostra que a educação infantil

não estava contemplada, pois não havia esse nível na escola. A turma foi formada a

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partir da obrigatoriedade da inclusão das crianças de quatro e cinco anos. A direção ao

ser questionada sobre isso afirma que “o projeto pedagógico necessita ser mudado,

refletido, porque quando pensamos esse PPP não tinha isso da obrigatoriedade”.

A gestão democrática dos sistemas públicos de ensino é um princípio constitucional expresso no

artigo 206 e ratificado pela LDB nº 9394/1996. Esse processo de gestão começa com a construção do

projeto pedagógico da escola que é uma tarefa coletiva, de acordo com o artigo 14, incisos I e II. O

projeto pedagógico é a identidade da escola, é o que poderá garantir a permanência com qualidade.

Apenas a igualdade no acesso não garante qualidade, mas o projeto pedagógico voltado aos interesses

sociais, buscando não reproduzir situações de exclusão, pode garantir o ponto de chegada para todos.

Veiga (2002, p. 34) afirma que

[...] o projeto político-pedagógico tem a ver com a organização do trabalho

pedagógico em dois níveis: como organização da escola como um todo e

como organização da sala de aula, incluindo sua relação com o contexto

social imediato, procurando preservar a visão de totalidade. Nesta caminhada

será importante ressaltar que o projeto político-pedagógico busca a

organização do trabalho pedagógico da escola na sua globalidade.

Essa organização pedagógica começa desde a delimitação do espaço destinado à educação infantil,

a escolha da professora, ao planejamento do uso dos espaços coletivos como parquinhos e pátio, e

também a biblioteca. A professora da turma, que por muitos anos lecionou para o primeiro ano, durante a

entrevista relata que “pelo fato da pré-escola estar junto a uma escola, parece que a responsabilidade é

maior de mandar as crianças preparadas para a alfabetização no ano seguinte”.

Como não havia salas de aula suficientes para inserir as crianças da pré-escola, a sala destinada ao

primeiro ano, foi dividida em duas. Desse modo, para entrar na turma da educação infantil, há a

necessidade de adentrar na sala do primeiro ano. Apesar de a sala ser grande, o fato de comportar duas

turmas distintas, sendo repartidas apenas por uma divisória de madeira que não isola o som, dificulta a

concentração das crianças e da professora, assim como não respeita as singularidades pertinentes a esses

dois diferentes níveis de ensino.

Nesse sentido, Flores, Santos e Klemann (2010, p.49) advertem que “a obrigatoriedade, agora da

família, de matricular seus filhos [...] não pode ser usada como justificativa para camuflar a omissão do

Estado” e seguem afirmando “a obrigatoriedade não garante a universalização nem a qualidade da

educação infantil”.

O projeto pedagógico da escola tem papel preponderante para uma gestão que visa

buscar a escola de qualidade voltada aos interesses sociais, formando cidadãos críticos e

comprometidos com a transformação social. A reflexão em torno da concepção de

criança, infância e de educação infantil necessitam ficar contemplados no projeto

pedagógico. A falta dessa reflexão pode indicar práticas que visem apenas a inclusão

sem a necessária qualidade. Sobre esse importante documento Pereira (2008, p.339)

afirma que,

o projeto pedagógico é o resultado de decisões que envolvem a comunidade

escolar como um todo no sentido de fazer da escola, não uma instituição

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produtora de fracassos, coadjuvante da exclusão, e sim uma instituição social

promotora da humanização de seus cidadãos. Nesta perspectiva, pensar e

construir um projeto pedagógico que tenha como horizonte o resgate da

função social da escola, implica uma revisão de sua organização

administrativo-pedagógica [...].

Inúmeras pesquisas realizadas em diversos países, inclusive no Brasil,

demonstram a importância positiva da frequência, de pelo menos dois anos, na escola de

educação infantil de qualidade para todas as crianças. Conforme Campos et.al. (2011,

p.29-30), a literatura especializada reconhece que

a criança se beneficia, tanto no presente como em sua escolaridade futura, da

oportunidade de acesso à EI, e esses efeitos são tão mais positivos quanto

melhor a qualidade dessa educação e são mais significativos para as crianças

mais pobres. [...] controlando-se o efeito de outros fatores, o acesso a uma

pré-escola de boa qualidade faz, sim, diferença nos resultados de

aprendizagem no segundo ano, tal como medidos na Provinha Brasil. Note-se

que a amostra foi composta por crianças de escolas públicas, a maioria delas

com renda familiar abaixo de dois salários mínimos.

Cumpre ressaltar que essa qualidade expressa no projeto pedagógico, voltada aos

interesses sociais, deverá priorizar práticas que valorizem a iniciativa da criança:

oferecer situações de experimentação, de aprendizagem e de expressão; valorizar as

brincadeiras de faz de conta; considerar a indissociabilidade entre cuidado e educação;

ampliar conhecimentos e saberes; ter compromisso com a sociabilidade cotidiana;

oportunizar qualidade nas relações estabelecidas entre crianças e adultos. (CAMPOS

et.al., 2011).

De acordo com Mota (2012), parece haver uma diluição de fronteiras entre o

ensino fundamental e a educação infantil. Essa diluição de fronteiras se faz presente

quando as práticas pedagógicas próprias da infância deixam de ser desenvolvidas e se

passa a aplicar atividades próprias do ensino fundamental. Conforme Krammer, Nunes e

Corsino (2011), essas práticas são observadas quando há ênfase na organização do

currículo de forma disciplinar,na pouca utilização das múltiplas linguagens,no uso da

pedagogia centrada na figura do professor,na exposição de conteúdos que devem ser

memorizados e, finalmente, no treino e repetição por parte dos alunos.

A pré-escola de qualidade, com compromisso social que fecunda o processo de

humanização e que poderá reduzir o fracasso escolar, não é aquela preparatória para o

ensino fundamental. Ainda sobre a antecipação da escolarização, pode se dizer que

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A obrigatoriedade de frequência das crianças de 4 e 5 anos à escola pode

levar à compreensão de que é aí que a educação básica começa, reiterando a

antiga cisão entre creches e pré-escolas e trazendo de volta à cena o ideário

de preparação para o ensino fundamental. Corre-se o risco de desvincular a

educação infantil dos princípios formulados para a creche e a pré-escola e

não se enfrenta a verticalidade do processo escolar, nem no que se refere à

formulação das políticas nem no que diz respeito aos projetos curriculares.

Acentua-se a fragmentação da educação básica sem atentar para as transições.

(KRAMMER, NUNES e CORSINO 2011, p. 75)

A partir da constatação, propiciada pela fase do diagnóstico, de que as práticas desenvolvidas na

turma da educação infantil estavam mais associadas a atividades mnemônicas e preparatórias à

alfabetização, e também como a professora apresentava uma grave lesão na bacia o que a impossibilitava

de se deslocar adequadamente, as oficinas desenvolvidas buscaram incorporar como eixo condutor o

movimento, a arte e a ludicidade. Outro dado curioso constatado é o fato do recreio ser realizado sempre

dentro da sala de aula, independente das questões climáticas. Essa delimitação do recreio, característica

própria do ensino fundamental, se dá pelo fato de a escola não organizar uma rotina própria para a

educação infantil, acompanhando, desse modo, as crianças dos anos iniciais. O pátio tão pouco é utilizado

para outras finalidades como brincadeiras livres ou dirigidas.

As oficinas estão sendo desenvolvidas de desde maio até o presente o momento, uma vez por

semana, em turno de quatro horas, conduzidas por duas alunas bolsistas. As oficinas foram constituídas

de dois momentos, o primeiro deles era a produção de jogos pedagógicos e de todos os materiais que

seriam necessários para a consecução das atividades e, o segundo momento a própria participação nas

brincadeiras propiciadas pelas oficinas. De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a

educação infantil “as práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular da Educação infantil

devem ter como eixos norteadores as interações e a brincadeira” (DCNEI, 2010, p. 25).

Desse modo, os caminhos percorridos para o desenvolvimento da prática das oficinas buscavam

que a interação e a brincadeira estivessem presentes, trazendo ao cotidiano dessa turma de pré-escola,

momentos mais lúdicos e menos próximos as atividades tradicionalmente atribuídas ao ensino

fundamental, como as que haviam sido apontadas na fase do diagnóstico.

A primeira oficina foi intitulada de Construção de quebra-cabeça do corpo humano. Teve como

objetivos incentivar o desenvolvimento do hábito do desenho e estimular a confecção de brinquedos

através de sucata. As crianças foram o “modelo” em painéis de papel pardo. Puderam se perceber no

espelho e posteriormente foram desenhadas por colega. Esses moldes foram ornamentados com diversos

materiais como lã, roupas usadas, botões. Foi feito uma exposição desses painéis e, na aula seguinte o

recorte dos quebra-cabeças gigantes.

De acordo com o relato das alunas bolsistas, ao propiciarem um trabalho coletivo, as crianças

puderam aprimorar seu relacionamento interpessoal, pois necessitavam um do outro em clima

colaborativo e interativo. Todas as oficinas aqui apresentadas foram registradas através de fotografia e

vídeos que serviram de parâmetro para a avaliação e para a tomada de decisão dos novos planejamentos.

A segunda oficina foi denominada Brincando com as cores e as vogais, teve por objetivos

desenvolver a percepção das cores e ampliar o vocabulário. Foram utilizadas garrafas pet e aros

confeccionados e pintados pelas crianças. Essas garrafas continham as vogais. Desse modo, ao

arremessarem o aro deveriam falar um objeto que tivesse a cor relacionada e também uma palavra com a

vogal indicada. Essa atividade foi realizada no pátio da escola, o que muito alegrou as crianças, além do

desenvolvimento do trabalho coletivo propiciado. Os vídeos produzidos a partir das oficinas foram

disponibilizados aos pais e crianças em convite realizado para uma sessão de “cinema” em final de tarde.

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A terceira oficina foi o Jogo do Twister, que objetivou trabalhar o equilíbrio e a lateralidade

através de uma atividade lúdica. A turma foi dividida em pequenos grupos. Cada grupo ficou responsável

pelo desenho e pintura com moldes de seis círculos de cores diferentes, em quatro colunas. O

desenvolvimento dessa atividade foi muito divertido propiciando descontração e movimento entre as

crianças. Várias crianças externaram que gostariam de levar para brincar em casa. Desse modo, as

bolsistas incluíram mais um dia para a confecção de novos jogos de Twister a fim de que pudessem

efetivar esse intento das crianças.

Mais oficinas serão desenvolvidas nos próximos meses, dentro da metodologia de as crianças

construírem os brinquedos e artefatos necessários e, nas aulas seguintes a execução propriamente dita da

oficina. Cumpre ressaltar, o caráter simples dessas atividades feitas com a utilização prioritariamente de

sucata.

Porém, retomando o eixo do nosso subprojeto do PIBID, alfabetização, letramento e educação

ambiental, consideramos que as oficinas desenvolvidas contribuem no processo de formação educativa

das crianças. O reaproveitamento das sucatas para a construção dos artefatos e brinquedos foi permeado

pelo debate da questão do meio ambiente. A importância da diminuição do consumo e a

consequentemente redução da produção de lixo, foi debatido também com a participação dos pais na

ocasião da mostra dos vídeos.

Considerações Finais

Podemos citar como desdobramento das práticas desenvolvidas a aproximação da escola com as

famílias contribuindo para afinar uma relação que é fundamental para colaborar na aprendizagem das

crianças. O fato de as crianças se reconhecerem no vídeo juntamente com seus pais colaborou para a

afirmação da autoestima. Esse reforço positivo foi importante para que cada vez mais as crianças se

envolvessem na confecção dos brinquedos e artefatos necessários às oficinas, tendo como incentivo à

mostra para os familiares através dos vídeos. O incremento no processo de alfabetização com práticas de

letramento também foi bastante destacado pela professora da turma. Além disso, o divertimento, a

descontração e alegria das crianças superaram todas as nossas expectativas.

Alfabetizar com atividades de letramento, dentro de uma proposta lúdica, em que o movimento e

arte foram os fios condutores trouxe momentos de descoberta de dimensões pouco trabalhadas no

cotidiano dessa pré-escola. Acreditamos que as oficinas desenvolvidas no PIBID cumprem o papel de

contribuir para o resgate dos princípios da educação infantil

As propostas pedagógicas de Educação Infantil devem respeitar os seguintes

princípios: Éticos: da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade e do

respeito ao bem comum, ao meio ambiente e às diferentes culturas,

identidades e singularidades. Políticos: dos direitos de cidadania, do

exercício da criticidade e do respeito à ordem democrática. Estéticos: da

sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e da liberdade de expressão nas

diferentes manifestações artísticas e culturais. (DCNEI, 2010, p.16)

Nesse sentido, trabalhar resgatando os princípios da educação infantil também pode contribuir para

diminuir o impacto de práticas escolarizantes tão presentes no cotidiano das pré-escolas, como destacam

vários autores em suas pesquisas discorridas nesse trabalho. Esperamos que a obrigatoriedade da pré-

escola não contribua com o retorno do modelo preparatório ao ensino fundamental, pois contraria o estofo

do pensamento pedagógico desenvolvido em décadas de pesquisa em torno da infância e sua educação.

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O momento histórico atual, em que a crise política e econômica vem tomando proporções inimagináveis

com inúmeros cortes orçamentários na pasta da educação, destacar o papel do PIBID na formação dos

estudantes de licenciaturas é buscar mostrar a sua importância na construção de um currículo em que

prática e teoria se imbricam. Além da importância para a formação acadêmica dos estudantes é inegável o

colorido que as atividades desenvolvidas oportunizam, trazendo frescor e novo ânimo às práticas tão

estéreis ainda percebidas nos diferentes segmentos da educação básica em todo o Brasil.

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As DCNEI no contexto das práticas educativas com bebês e crianças

pequenas45

Diolinda Franciele Winterhalter46

Cleonice Maria Tomazzetti47

Resumo

O artigo apresenta resultados da pesquisa de Mestrado-PPGE/UFSM e integra trabalhos do Grupo de

Investigação e Estudos Contemporâneos em Educação e Infância – GIECEI. O objetivo foi

compreenderas especificidades das práticas educativas com crianças na creche considerando os

apontamentos da Resolução nº 5 - Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil –

CNE/CEB/DCNEI, como orientadora das propostas curriculares para essa etapa. A partir de observações

participantes em uma Escola Municipal de Educação Infantil, em duas turmas de berçário e, por meio do

método da pesquisa-intervenção (CHIZZOTTI, 2006; CASTRO; BESSET, 2008), foram propostas

intervenções pedagógicas com as crianças e diálogos formativos com as educadoras. Com base nos

registros em diário de campo e filmagens de vivências cotidianas, foi possível elaborar e analisar os dados

da pesquisa, que possibilitaram compreender especificidades das práticas educativas com bebês e crianças

pequenas,guiadas pelas DCNEI.

Palavras-chave: Bebês e crianças pequenas. Práticas educativas. DCNEI.

1. Introdução

Contemporaneamente, a Educação Infantil é reconhecida como a primeira etapa

da Educação Básica, o que ocorreu com a proposição da Lei 9.394 em 1996, a qual

45Este texto é fruto de Pesquisa de Mestrado realizada no período de 2013 a 2015 na

Universidade Brasileira.

46Mestranda em Educação no Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE, da

Universidade Federal de Santa Maria - UFSM. Integrante do Grupo de Investigação e Estudos

Contemporâneos em Educação e Infância – GIECEI. Bolsista Capes Demanda Social. E-mail:

[email protected]

47Doutora em Educação. Coordenadora do Grupo de Investigação e Estudos Contemporâneos em

Educação e Infância – GIECEI. Professora na Universidade Federal de São Carlos – UFSCAR.

Pesquisadora no Programa de Pós Graduação – PPGE/UFSM. E-mail: [email protected]

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instituiu as Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN. Desde então, outras

legislações, entendidas como políticas educacionais, passaram a implementar mudanças

na educação institucional das crianças pequenas. A partir disso, a preocupação das

políticas é não só regulamentar as práticas educativas, mas também, possibilitar o

acesso e condições de permanência na escola desde a infância (BRASIL, 1996;

AKKARI, 2011).

Como uma das principais políticas para a Educação Infantil, está a Resolução Nº

5, de 17 de dezembro de 2009, CNE/CBE, a qual institui novas Diretrizes Curriculares

Nacionais para a Educação Infantil – DCNEI (BRASIL, 2009). Tendo em vista a

perspectiva contemporânea em que se estrutura, a Resolução é considerada o documento

orientador para a organização das propostas curriculares na Educação Infantil, sendo

assim, referência para as escolas e profissionais da Educação Infantil (OLIVEIRA,

2010).

Tomando tal política como base para as práticas educativas com bebês e crianças

pequenas na Educação Infantil, desenvolveu-se a pesquisa48ora apresentada sobre as

especificidades das práticas educativas com crianças na creche, observando as

interações produzidas entre crianças e suas educadoras, crianças e crianças e, crianças e

o ambiente coletivo, em duas turmas de berçário de uma escola da rede municipal de

Santa Maria-RS. A observação participante foi adotada como procedimento

metodológico (CHIZZOTTI, 2006; TRIVIÑOS, 2010) para que fosse possível analisar

práticas educativas desenvolvidas com bebês e crianças pequenas e, a partir

disso,identificar especificidades para essas práticas na Educação Infantil, de acordo com

necessidades/desejos expressados pelos bebês e crianças pequena sem suas diferentes

linguagens e, tendo em vista, os apontamentos da política DCNEI.

2. A política DCNEI, o currículo na Educação Infantil e a especificidade da docência com

bebês e crianças pequenas

48

Estudo desenvolvido no âmbito do curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em

Educação – PPGE, na Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, com a orientação da

professora Cleonice Maria Tomazzetti.

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As contribuições de Oliveira (2010) acerca das Diretrizes como documento

orientador das práticas educativas na Educação Infantil corroboram para a compreensão

de sua importância, bem como da necessidade de que sejam tomadas como base para a

estruturação das propostas pedagógicas a partir de sua publicação, o que as torna uma

referência para pensar o currículo e as práticas pedagógicas com as crianças de zero a

cinco anos de idade.Esta, portanto, é uma perspectiva teórica e também política que

justifica a consideração das ideias apontadas pelo documento neste estudo, pois foram

amplamente consideradas durante a pesquisa.

Entende-se que as concepções defendidas nesta política estão de modo a

contemplar as necessidades da criança, a partir de uma perspectiva que visa o seu

desenvolvimento de modo integral e, desse modo, considera-a sujeito em seus processos

de aprendizagem. Tais aspectos evidenciam a visibilidade atribuída às crianças, bem

como implicam a valorização dos profissionais e a organização de propostas

pedagógicas que considerem a criança o centro do planejamento curricular, não só

possibilitando que se expressem, mas também as correspondendo em suas formas de

interagir e se comunicar (BARBOSA, 2009; BRASIL, 2009).

Nessa perspectiva, as crianças são compreendidas como sujeitos capazes, que

interagem no mundo,constroem relações, possuem saberes, sentem desejos e

necessidades. Desse modo, entende-se que o cotidiano, ou seja, as ações que compõem

as práticas educativas com os bebês e crianças pequenas na Educação Infantil precisam

estar de acordo com esta concepção e correspondendo às necessidades das crianças.

Barbosa (2009) considera que o currículo são as ações que acontecem nos

estabelecimentos educacionais, ou seja, o que ocorre, de fato, nas situações cotidianas

vivenciadas pelos sujeitos adultos e crianças: escolhas, decisões, planejamento e outros.

Nesse sentido, segundo a autora, é necessário um currículo que vise o desenvolvimento

das crianças, de modo integralem sua expressividade motora, afetiva, cognitiva,

linguística, ética, estética e sociocultural, o que vai ao encontro das DCNEI.

Art. 3º O currículo da Educação Infantil é concebido como um conjunto de

práticas que buscam articular as experiências e os saberes das crianças com

os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico,

ambiental, científico e tecnológico, de modo a promover o desenvolvimento

integral de crianças de 0 a 5 anos de idade (BRASIL, 2009).

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O currículo é, portanto, compreendido como prática social e linguagem, já que

as aprendizagens das crianças são as práticas sociais e as linguagens. Especificamente

sobre o currículo para os bebês e crianças pequenas, Barbosa (2009) também entende

que deve se dar com práticas sociais que possibilitem a vivência de linguagens e a

expressão de saberes, em experiências vividas com o corpo, nas brincadeiras e relações

construídas com os outros.

Richter e Barbosa (2010) também tratam das propostas curriculares e, já

pensando as especificidades da creche, reconhecem as capacidades dos bebês e crianças

pequenas como seres linguageiros, que interagem com e no mundo. E, nesse sentido,

afirmam a função docente na co-produção do currículo, o que segundo as autoras, se dá

pela organização do espaço educativo que oportuniza experiências com diferentes

linguagens, práticas sociais e culturais.

Nesse sentido, surge a especificidade da docência nas práticas pedagógicas com

os bebês e crianças pequenas. As concepções construídas durante o processo de

pesquisa conduzem ao entendimento de que a professora de bebês e crianças pequenas

precisa ser atenta no sentido de perceber, e também atenciosa no sentido de

corresponder aos desejos e necessidades expressos pelas crianças, por meio de

diferentes linguagens, utilizadas em suas formas de comunicar.

Essas linguagens são compreendidas como forma de expressão, de comunicação

daquilo que se deseja ou necessita. Tais expressões ocorrem por meio do corpo da

criança, seja com gestos, ações, expressões faciais, balbucios, fala, choro, mordida ou

outras, o que irá depender do repertório expressivo de cada criança e, de acordo também

com sua faixa etária, o que constitui, portanto, as diferentes linguagens utilizadas pelos

bebês e crianças pequenas para se comunicar e interagir com o mundo que as cercam

(FARIA; DIAS, 2007; BARBOSA, 2009; OLIVEIRA, 2010; RICHTER; BARBOSA,

2010; FORMOSINHO; OLIVEIRA - FORMOSINHO, 2007; 2013).

Estas seriam, portanto, características essenciais para este profissional, as quais

foram sendo observadas, percebidas e compreendidas durante o processo de pesquisa a

que se refere este texto. Gonçalves (2014) contribui para a compreensão da

especificidade docente nas práticas pedagógicas com os bebês afirmando:

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Na medida em que agimos com responsividade mediante as formas

comunicacionais dos bebês, suas necessidades, atendendo seu chamado – seja

corporalmente, com um choro, um bocejo, um sorriso -, informamos para

essa criança que seus sentimentos e desejos são considerados (p. 30).

A partir disso, compreende-se que a ação docente junto às crianças inclui: o

planejamento, o preparo e organização do espaço; a receptividade e acolhimento na

chegada das crianças, tanto delas, quanto de suas famílias. Nos espaços preparados para

situações de interação e brincadeiras, a docência exige a mediação das explorações e

conflitos surgidos, possibilitando também que as crianças atuem de modo autônomo,

sentindo em sua presença uma referência e também segurança (BARBOSA, 2010).

Tendo em vista a compreensão das crianças como sujeito social em uma

perspectiva integral do seu desenvolvimento, a faixa etária dos bebês e crianças

pequenas demanda ações de cuidado indissociadas das práticas de educação, ou seja, as

práticas educativas incluem também ações de cuidado; de si, de seu corpo e do

outro(BRASIL, 2009; SAYÃO, 2010). Nesse sentido, considerando que os bebês e

crianças pequenas têm necessidade de alimentação, higiene corporal e sono e que, para

isso, dependem dos adultos, seus educadores no contexto coletivo institucional, estes

profissionais são responsáveis por realizar essas ações junto às crianças em caráter

formativo, ou seja, ensinando-as a se alimentarem, a re-conhecer seu corpo em suas

características e necessidades fisiológicas, a identificar suas necessidades de repouso e

descanso, a cuidar de sua higiene e saúde, bem como a conviver com outros e suas

necessidades em um mesmo ambiente coletivo.

A partir dessas ideias, compreende-se a ação docente possibilitando a

atuação/participação das crianças. Richter e Barbosa (2010), além da participação das

crianças pequenas, compreendem o currículo como tempo e espaço, a possibilidade

pedagógica de oportunizar a experiência de uma infância rica, diversificada, lúdica que

possa oferecer sentido às aprendizagens. Momentos em que os bebês e crianças possam

participar, “[...] aprender a operar corporalmente linguagens e narrativas a partir das

brincadeiras e das repetições lúdicas” (p. 94).

Além disso, destacam a diversão, o encontro com sons, cheiros, cores, sabores e

outros, definindo que o currículo, na educação das crianças pequenas, tem o desafio de

proporcionar experiência de vida coletiva entre adultos, crianças pequenas e bebês. As

DCNEI trazem ainda outro conceito importante relacionado ao currículo:

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Art. 4º As propostas pedagógicas da Educação Infantil deverão considerar

que a criança, centro do planejamento curricular, é sujeito histórico e de

direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia,

constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja,

aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a

natureza e a sociedade, produzindo cultura (BRASIL, 2009, p.1) [grifos

nossos].

A partir do que é apontado pelas autoras destacadas e também pela política

tomada como base durante o desenvolvimento da pesquisa, observou-se e compreendeu-

se que as concepções de currículo, de acordo com as DCNEI, estavam presentes nas

vivências produzidas nos contextos Berçário I e Berçário II. Esse entendimento,

resultante da pesquisa e construído pela pesquisadora, dá-se em razão das diferentes

situações observadas em que foi proposto pelas educadoras, havendo para tanto a oferta

de objetos em determinado espaço e que as crianças puderam explorar.

Assim, as interações se constituíram em situações cotidianas vivenciadas por

adultos e crianças em que foram tomadas decisões, houve um planejamento, mas

também foi possibilitada a participação dos pequenos sujeitos a partir de seus saberes,

desejos e necessidades de exploração, expressados por meio de diferentes linguagens

(BARBOSA, 2009). Um exemplo disso foi a observação do preparo de uma atividade

por uma das educadoras na turma Berçário I. A professora tinha organizado o espaço

com objetos a serem explorados a partir de escolhas em seu planejamento e

intencionalidade inicial, exercendo assim, conforme Richter e Barbosa (2010), sua

função na co-produção do currículo.

No entanto, as necessidades e desejos de experiência das crianças, como sujeitos

ativos e que possuem saberes, deu outro direcionamento à atividade, o que foi

possibilitado pela educadora. A partir da situação observada, nota-se que a exploração

do material (papel pardo) ocorreu na própria mão, em um dos pilares da sala, no chão,

próximo ao pilar (local da intencionalidade da educadora), mas também em outro

espaço, longe dali, no movimento de rasgar e com o corpo todo, em um momento de

interação entre as crianças; que se observaram e agiram após as ações das outras, com a

educadora; quem conversava com elas e com os objetos do ambiente coletivo; o pilar da

sala, o papel pardo, o chão, os espaços próximos e distantes dali, brinquedos e outros.

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Assim, compreende-se que estas formas de exploração utilizadas pelas crianças

são as linguagens que utilizaram para expressar seus desejos, suas necessidades de

descobrir, modificar, transformar, tocar, rasgar, observar e sentir com o corpo todo por

meio de olhares, gestos, movimentos pela sala, a observação, a imitação do outro, o

deitar-se sobre o papel e outros (EDWARDS et. al., 1999; TARDOS; SZANTO, 2004;

GUIMARÃES, 2006; FARIA; DIAS, 2007; BARBOSA; 2009; BRASIL, 2009;

RICHTER; BARBOSA, 2010; FORMOSINHO; OLIVEIRA - FORMOSINHO, 2007;

2013).

Entende-se que a possibilidade de atuação das crianças nos contextos observados

traduz o que é defendido pelas DCNEI enquanto percepção de que elas – as crianças -

são sujeitos que possuem necessidades e saberes, bem como são capazes de atuar,

modificando o planejamento e a organização do espaço propostos pela educadora com

suas formas de expressão, por meio das diferentes linguagens, conforme seus desejos e

necessidades (MALAGUZZI; RINALDI, 1999; FARIA; DIAS, 2007;

ABRAMOWICZ; OLIVEIRA, 2010; BARBOSA, 2010).

Tal entendimento também pode ser percebido na fala da professora do Berçário

I, Corroborando com os aspectos apontados pelas DCNEI com relação ao currículo e a

criança como o centro do planejamento curricular (EDWARDS et. al, 1999;

BARBOSA, 2009; RICHTER; BARBOSA, 2010; FORMOSINHO; OLIVEIRA -

FORMOSINHO, 2007; 2013):

Essa parte do planejamento é bem interessante mesmo porque eles nos

surpreendem no sentido de que a gente pensa o planejamento, pensa que eles

vão fazer algo, na hora eles constroem, eles próprios constroem um outro

planejamento, eles fazem porque eles são umas crianças assim, é muito

natural, é deles realizar aquele tipo de [...] exploração (Professora Berçário

I - Intervenção Direta com as educadoras).

Nesse sentido, compreende-se que mesmo que as educadoras tenham planejado e

proposto algo de acordo com o que consideravam ser adequado para as crianças,

também permitiam que elas próprias atuassem sobre o que foi proposto e, como elas

mesmas afirmaram, recriando o planejamento. Tal fato evidencia também a concepção

delas em relação às crianças como sujeitos ativos e, com isso, permitiam suas

participações (DELGADO, MÜLLER, 2005; RICHTER; BARBOSA, 2010).

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No mesmo sentido, Oliveira (2010) afirma que o desenvolvimento da criança se

dá nestas interações, relações e práticas com adultos e outras crianças de diferentes

idades e, em contextos culturais e sociais nos quais estão inseridas. Assim, compreende-

se a importância de considerar os apontamentos das DCNEI nas práticas pedagógicas

com bebês e crianças pequenas.

Considerações finais

Com base nos dados produzidos durante o processo de pesquisa, considerando-

se a Educação Infantil como a primeira etapa da educação básica e como um direito das

crianças, entende-se que as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil -

DCNEI se apresentam como política educacional que, contemporaneamente

compreende a criança como sujeito ativo e capaz de construir relações com outros

sujeitos.

A partir disso, o contexto educativo institucional que partilha com as famílias as

responsabilidades pelos processos de educação e desenvolvimento das crianças precisa

se adequar às suas necessidades. Elas que passaram a ser vistas, compreendidas e

significadas pelos adultos como parte do movimento de visibilidade alcançado por estes

pequenos sujeitos.

Assim, as DCNEI cumprem seu papel de política ao servir de referência, mas

são as escolas e docentes, professores de bebês e crianças pequenas que, materializando

ou não na prática pedagógica com as crianças, é que darão sentido e tornarão seus

pressupostos possíveis. Este estudo mostra que sim, é possível implementá-la nas

práticas educativas com bebês e crianças pequenas.

Dito de outro modo: os marcos legais estão postos, e sua adoção pelos sistemas,

redes, instituições e seus profissionais está em andamento, mas dependem, ainda, em

grande parte, da aceitação teórica e prática de que existem especificidades nos modos

como as crianças aprendem nos diversos momentos de sua vida, especialmente no

período entre zero e três anos de idade, e em espaços não domésticos, extra-familiares.

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Relato de práticas de estágio em Gestão da educação infantil

Flávio Caetano da Silva

RESUMO

Há anos desenvolvemos trabalhos vinculados ao Estágio Supervisionado em

Administração Educacional – Educação Infantil no curso de Licenciatura em Pedagogia,

na UFSCar, levando estagiários/as da graduação a inserir-se em escolas da rede

municipal voltada para a faixa etária em questão. O presente texto refere-se ao relato

dessas práticas contendo, nossas propostas, nossos desafios, nossas dificuldades e

nossas aprendizagens. Consideramos momento propício para compartilharmos essas

experiências para enriquecer o debate em torno da gestão da oferta educacional para

unidades escolares que abrigam crianças pequenas. Destacamos, neste texto, nossas preocupações com diversos temas que envolvem a gestão, mas nos dedicaremos, em

particular a um deles, devido a sua importância no atual cenário de políticas públicas

para a E.I.: o financiamento. Relatamos e analisamos as práticas de estágio para a E.I.

no âmbito da Licenciatura em Pedagogia, modalidade presencial, da UFSCar.

Palavras-Chave: Gestão educacional na E.I.; Gestão Escolar; Políticas Públicas na E.I.

Financiamento da Educação.

1. Considerações Iniciais

Os estágios supervisionados em gestão da Educação Infantil49 representam

significativa etapa na formação dos estudantes da Pedagogia, pois encerram debates

sobre modelos teóricos e práticos de políticas educacionais e escolares. Estas

representam o conjunto de práticas efetivadas no âmbito do processo decisional em

unidades escolares, baseadas nas políticas gerais para a Educação, de âmbitos mais

gerais. Em síntese, é no chão da escola que podemos visualizar essas políticas

educacionais em estado prático. É essa a idéia-força que nos move nos estágios em

gestão da Educação Infantil, do curso de Pedagogia da UFSCar.

A partir de 2007 iniciamos os trabalhos de supervisão de estágio no curso de

Pedagogia, junto a outros professores com os quais vimos acumulando aprendizagens

até o presente. As práticas de estágio em gestão da E.I. nos levaram a compartilhar essa

experiência. Relatamos aqui as abordagens das concepções de gestão que percorrem os

textos de pesquisadores da área, à luz das vivências que nossos estudantes que são

49

Utilizaremos daqui em diante a sigla E.I. para identificar a Educação Infantil.

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levados a vivenciar junto àqueles profissionais que se dedicam a organizar o trabalho

desenvolvido nas escolas públicas. Esses educadores compartilham conosco o processo

de formação de futuros professores que irão atuar junto às escolas da rede municipal.

2. Educação Infantil no âmbito de políticas públicas educacionais – recortes

históricos

Michel Foucault, ao escrever sobre a arte de governar indicou que, dentre os

governados, estão as crianças, “problemática central da pedagogia, que aparece e se

desenvolve no século XVI” (FOUCAULT, 1998, p. 277). A partir daí, podemos dizer

que a Pedagogia pode servir como instrumento nas mãos do Estado, que, ao governar a

Pedagogia através das escolas, governa a população, em primeira instância, as crianças,

nesse caso, e as famílias, a cidade e a nação, em última. Analisar as opções de governo

das crianças na trajetória institucional em que se inscreveu o Brasil, sobretudo na

dimensão municipal, é nossa meta no presente texto, ressalvando que não almejamos,

nos limites deste texto, escrever o histórico da Educação Infantil no Brasil, mas, lançar

luzes sobre a temática em tela – Políticas Públicas em E.I. – a partir de nossas andanças

enquanto pesquisador e formador de professores e gestores de unidades escolares nesse

nível de ensino, nos últimos anos e pelas aulas que vimos ministrando no Estágio

Supervisionado em Administração – Educação Infantil – na Pedagogia da UFSCar.

Pretendemos compartilhar aprendizagens ao longo de anos de atuação nesse

estágio, por considerando duas grandes oportunidades de formação do gestor escolar na

E.I.: o curso de Pedagogia e as práticas da vida cotidiana de escolas da E.I.

Nas suas raízes, a E.I. surgiu no território das antigas creches, em um momento

histórico que a saída da mulher-mãe das atividades domésticas para atender às

demandas do capital e das necessidades que as famílias dos extratos mais baixos na

estratificação social, apresentavam. Nota-se aí que um determinado viés político-

conceitual se manifesta para fundamentar esse movimento e dar à luz dois novos

personagens: a mãe-de-criança-pequena, que precisa trabalhar e a criança-filha-de-mãe-

trabalhadora que precisa de intensivos cuidados. Ambas vistas como dependentes de

políticas compensatórias por parte do Estado, que, ao final das contas se interessava por

aquela mão de obra, mas necessitava responder a uma questão simples, porém, crucial:

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onde e com quem ficariam as crianças? Nunes nos auxilia a examinar aquele contexto

quando indica que,

O viés ideológico e moralizante ocultou as raízes sociopolíticas das

necessidades sociais e, no caso particular das creches e pré-escolas, fixou o

lugar social da mãe operária como o lugar desenraizado da moral e

responsável pela formação de crianças propensas a serem problemáticas. As

creches seriam, então, um “mal necessário” um lugar de formação

compensatória dos deslizes higienistas e moralistas da então nascente classe

operária.(2009, p.87-88).

Por razões que nos parecem explícitas, tanto essas mães quanto suas crianças

foram constituídas em sua gênese como desviantes, problemáticas e dignas de pena. A

transição desse cenário conceptivo para outro, no qual a criança e mãe figuram como

sujeitos de direitos – direito da mãe ao trabalho remunerado extra-doméstico e direito da

criança à educação – concebidos como subjetivos pela Constituição Federal, Art. 205

(BRASIL, 1988) e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN –

que em seus artigos 29, 30 e 31 estabelecem parâmetros para a Educação Infantil

(BRASIL, 1996) não configurou na prática social uma passagem das velhas concepções

para novas, mas, afirmamos que aquelas se reproduzem na nova configuração não do

direito educacional, preconizado nas leis, mas nos discursos que percorrem os

corredores escolares na E.I., bem como nas mentes de pais de crianças de zero a cinco

anos de idade.

Apesar de Nunes (2009) atestar um “significativo avanço”, segundo suas

palavras (p.89), considerando que se tenha obtido um resultado positivo do amplo

debate em que educadores, políticos, pais, mídia e outros agentes, tenham efetivado a

consolidação desse direito ao nível da lei, uma vez que entre o Código de Menores

(BRASIL, 1979) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990) e a LDB de

1996 (BRASIL, 1996), se passou de uma concepção de criança como ser depositário e

dependente de políticas compensatórias, sobretudo aquelas oriundas das categorias

sociais mais baixas, para um ser portador de direito subjetivo, porém, sem mudar as

velhas concepções no âmbito das políticas educacionais, em particular aquelas afetas ao

financiamento da educação. Essa é a tese que aqui pretendemos explicitar e

fundamentar em tópicos adiante.

3. Situando o Estágio em E.I. da Pedagogia/UFSCar

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Antes de entrarmos nas questões do financiamento e da importância de

discussões dessa matriz discursiva na Pedagogia, em particular no Estágio, vamos

expor, sucintamente nossa proposta de formação dos estudantes, matriculados no

Estágio, para, nesse contexto, compreender a inserção das questões que envolvem tal

recorte das políticas públicas.

Há oito anos atuando na condução da disciplina de estágio em gestão

educacional e escolar, pautamos nosso trabalho com vistas a propiciar experiências dos

estudantes nos ambientes escolares, desenvolvendo atividades que envolvem a

organização escolar, o planejamento, a avaliação de atividades que compreendem

aquele universo, considerando os diferentes agentes, suas relações, suas dificuldades,

seus conflitos, enfim, suas vivências, na E.I.

O estágio está localizado no 8º semestre do curso, composto, neste momento de

três créditos teóricos, três créditos de estágio e dois créditos práticos, contabilizando, ao

final, 8 créditos. Reservamos uma parte dos créditos às discussões sobre políticas

públicas voltas à gestão educacional e escolar, examinando questões organizadas em

eixos temáticos nos quais se encontram temas fundamentais, como a E.I. no escopo do

processo de criação das redes municipais e dos processos de municipalização do ensino,

bem como a democratização das escolas entre o previsto na legislação e as vivências no

cotidiano escolar e a relação escola-família na E.I., a partir de publicações da área.

Outro aspecto que destacamos é a participação de agentes escolares, tais como diretores

ou servidores da Secretaria Municipal de Educação de São Carlos que atendem ao nosso

convite para relatar suas experiências nas escolas do município, em nossas aulas,

permitindo um momento de rica discussão entre os estudantes e aqueles que já possuem

as práticas de gestão em seus currículos.

Dentre as principais atividades que realizamos no estágio está a inserção dos

estudantes nas escolas da rede municipal de E.I. de São Carlos que ocorre

simultaneamente às discussões em torno dos textos realizados em nossas aulas.

Totalizando trinta horas de inserção, a atividade coloca nossos estudantes em contato

direto com eventos que ocorrem no interior das escolas, permitindo o aprofundamento

das questões analisadas em aula, bem como o trabalho desenvolvido por profissionais

da educação infantil. Essa atividade é pautada em uma extensa relação de demandas

planejadas em conjunto com as gestões escolares, enriquecendo o currículo dos

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estudantes-estagiários. Após diversas inserções, os estudantes trazem para as aulas as

experiências vividas nas escolas, favorecendo a ampliação dos conhecimentos sobre a

rede municipal de E.I. Todo o esforço realizado ao longo da disciplina – aulas e

inserções – culminam na escrita de um Relatório de Estágio que é elaborado ao final,

em caráter de avaliação e aprovação. Tal relatório, é encaminhado à escola que recebeu

os estagiários para que possam tomar conhecimento das questões abordadas com base

em toda o estágio. Temos desenvolvido, ao longo desses anos, respeito ao trabalho

realizado pelos profissionais da rede municipal que abrem suas portas aos nossos

estudantes, participando de sua formação, o que para nós é extremamente valioso.

3.1 Demandas, desafios e dificuldades na efetivação do estágio

A título de expor as demandas que vimos surgir ao longo de nossa experiência

na supervisão desse estágio, podemos citar duas categorias principais: a primeira refere-

se ao cumprimento tanto da legislação de estágio quanto das determinações da LDB

para o curso, portanto, buscamos atender ao estabelecido no projeto pedagógico, o que

leva os estudantes a identificar, inicialmente, como exigências da disciplina, mas que,

aos poucos, apercebem-se da importância no processo de sua formação.

Por outro lado, as demandas das escolas e dos gestores que, em seu dia a dia, se

encontram assoberbados de tarefas, os levam a solicitar apoio dos estagiários, o que

orientamos que atendam, na medida do possível. Assim, atividades como auxiliar na

realização de eventos, decoração para datas comemorativas e outras, ocorrem

simultaneamente àquelas em que os estudantes passam a ter contato com documentos,

dentre eles o Projeto Político Pedagógico da unidade, bem como participam de reuniões

pedagógicas ou do Conselho Escolar; atendimento aos pais, contato com as crianças e

suas professoras, e, o que sempre nos chama a atenção, o exercício da coordenação

pedagógica que, mesmo não se tendo, na maioria das escolas, uma educadora específica

para essa função, é efetivada pela própria gestora em meio aos afazeres burocráticos e

administrativos, o que nos tem levado a classificá-las como “bombeiros da educação”,

denominação com a qual elas concordam plenamente.

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3.2 Conceitos, debates e aprendizagens

O desenvolvimento do trabalho teórico em nossas aulas do estágio, em torno de

grandes temas da gestão escolar, supõe debruçar-se sobre uma literatura que, a cada dia,

se aprofunda no debate de políticas educacionais. Assim destacamos alguns conceitos e

aprendizagens que têm nos afetado nesse processo.

Entre o direito à educação, hoje consolidado na legislação educacional e na

Constituição Federal, e as práticas gestionárias escolares na E.I., encontram-se embates

que remontam à história da oferta educacional nesse nível de ensino, no Brasil. Como já

indicamos anteriormente, não foram superados alguns dos princípios que determinaram

um caráter assistencialista e compensatório na E.I., herança de concepções autoritárias,

patrimonialistas nas políticas educacionais. Decorre dessa trajetória de políticas de

educação infantil a oposição entre a obrigação das famílias em levar crianças, desde os

quatro anos de idade à escola e o caráter suplementar que pulsa no imaginário social

sobre a mesma (FERNANDES, CAMPOS e GIMENES, 2013), o que nos leva a

questionar sobre as possibilidades de formas e práticas de participação esperadas e

efetivadas nesse âmbito educacional, o que tem representado disputas entre pais e

educadoras num efeito gangorra: ora os pais são mais valorizados pela hierarquia

superior à escola, ora os professores. Isso indica que os conflitos latentes nessa relação,

por vezes, estão submetidos a uma névoa discursiva que tende a caracterizar,

apressadamente, a escola como democrática (BARROSO, s/d).

O cenário está pronto: as famílias são obrigadas a levar as crianças à escola, a

escola recebe as crianças, mas evita os pais e as práticas são nomeadas como

democráticas, forçosamente, através de representações que, por vezes, não representam,

reuniões que não têm efetivo poder de decisão sobre questões que realmente interessam

aos pais. O discurso que permeia essas práticas é aquele que enuncia uma dada

compreensão de democracia, na qual uma lógica denegativa se apresenta. À escola se

atribui um caráter suplementar à educação que a família realiza no âmbito doméstico

com duplo efeito de negação: por um lado a família demanda políticas compensatórias

por questões de ordem social e econômica, por outro, a escola e seus agentes, que

abrigam crianças pequenas não é um ambiente visto como organizado e assumido por

profissionais, mas cuidadores de crianças.

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Faz-se necessário registrar que, nesse cardápio de desencontros, políticas de

gestão concebidas no chão da escola e reveladoras das políticas educacionais gerais, são

atravessadas e temperadas por um sem número de práticas políticas que têm endereço

certo, o de garantir que se oferece a E.I., mas sob condições que não efetivam uma

qualidade aceitável. Estamos a tratar de eventos que estão sempre presentes à mesa, tais

como, provimentos de cargo de diretor, feitos na forma de indicação pelo poder público,

listas de espera para novas matrículas e condições de infraestrutura que denotam

carências múltiplas e decisões que afetam a disponibilidade de vagas via convênios, que

tangenciam os problemas enfrentados, trazendo ao caldo, novas situações de difícil

solução (Fernandes, Campos e Gimenes, 2013). Alves (s/d) nos alerta que esse quadro

decorre de decisões tomadas em organismos internacionais que incitam gestores

públicos a estabelecerem políticas na E.I. que se aproximam da informalidade pois

representam baixos custos, voltadas para o atendimento de clientes (Barroso, s/d).

3.2 Políticas de financiamento na E.I.

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Nosso foco tem recaído, nos últimos anos, sobre questões vinculadas às políticas

de financiamento da educação pública (Silva, 2011, 2012, 2014), entre outros temas.

Dentre as principais preocupações destacamos a necessidade de se repensar políticas de

financiamento, uma vez que têm se pautado em algumas distorções, dentre as quais

podemos indicar: confusão entre custo aluno e gasto aluno, valores mínimos

considerados como máximos em investimento educacional, aporte de recursos com base

em impostos gerando oscilações e risco de desinvestimento em momentos de crise na

produção e circulação de bens, investimentos questionáveis por falta de clareza ou

opções equivocadas, baixos aportes de recursos, programas que transferem recursos mas

que podem ser encerrados da noite para o dia, enfim, diversos problemas que vem

acompanhando a garantia de investimento na Educação pública.

Desde o Subsídio Literário50 até os dias atuais, a trajetória do financiamento

público à educação, no Brasil tem apresentado muitos atalhos e peripécias contábeis

para se mascarar o desinvestimento no setor.

Atualmente, as políticas públicas de investimentos em educação supõem as

seguintes fontes básicas:

Art. 68. Serão recursos públicos destinados à educação os originários de:

I - receita de impostos próprios da União, dos Estados, do Distrito Federal e

dos Municípios;

II - receita de transferências constitucionais e outras transferências;

III - receita do salário-educação e de outras contribuições sociais;

IV - receita de incentivos fiscais;

V - outros recursos previstos em lei (BRASIL, 1996).

50 Valor estabelecido pela Coroa Portuguesa, em 1772, para manutenção, ainda que precária

das “Aulas Régias” em substituição ao modelo jesuítico. (PINTO e ADRIÃO, 2006)

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A primeira refere-se a receitas provenientes de impostos auferidos pela União,

receitas provenientes dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. A segunda

refere-se a receitas de transferências constitucionais – denominadas transferências

voluntárias realizadas pela União – e outras transferências. A terceira refere-se às

receitas oriundas do salário-educação e de outras contribuições sociais. A quarta é

relativa à receita de incentivos fiscais de acordo com os entes federados. A quinta indica

que podem haver outras receitas previstas em legislações dos Estados, Distrito Federal e

dos Municípios.

A passagem do FUNDEF para o FUNDEB, feita no apagar das luzes de 2006,

prazo em que expirava a vigência do primeiro, se fez no âmago das históricas disputas

entre privatistas e defensores da escola pública, além de manobras de cunho

orçamentário que viria, mais uma vez, consolidar uma realidade há muito conhecida dos

educadores em nosso país: a União, ente federado que mais arrecada, é o que menos

investe na educação (PINTO, 2007). Esse quadro deve mudar com a atual política de

financiamento após a aprovação do Plano Nacional de Educação que, em sua Meta 2051,

segundo a qual a União passará, até o final da vigência do Plano, a investir 10% do PIB

em Educação (BRASIL, 2014).

As formas de investimentos públicos em educação têm sido muito variadas e

indicam claros aspectos de baixo investimento em geral. Quando tratamos desse tema

voltado para a Educação Infantil duas circunstâncias se destacam: a primeira se refere

ao fato de que, nas atuais políticas educacionais, a obrigatoriedade se estende dos 4 aos

17 anos de idade (BRASIL, 2008) e a segunda refere-se ao fato de que até 2006, último

ano de vigência do FUNDEF, a Educação Infantil não estava incluída nas contas do

financiamento público da União, quadro que foi modificado com sua inclusão no

FUNDEB, após pressão de setores sociais, ligados à E.I.

Tem se destacado o aporte público, sobretudo de municípios, ao setor privado,

com ou sem fins lucrativos para atendimento da E.I. Oliveira e Borghi (2013) indicaram

a tendência à celebração de convênios entre o poder público municipal e entidades que

se encaixam nas duas categorias, ressaltando que, transferências dessa natureza indiciam

51 Meta do PNE em que se registra as formas de financiamento da educação pública no Brasil

no decênio entre 2014 e 2024.

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aspectos privatistas na educação, sob uma clara justificativa de economia para os cofres

públicos, conforme já o anotara Domiciano, citado pelas autoras.

3.3 Discussão sobre financiamento da educação com estudantes do Estágio

em Gestão da E.I.

Ao abordar a temática do financiamento da educação com os estudantes da

disciplina Estágio em Gestão da E.I. notamos o completo desconhecimento da turma.

Isto nos levou a conjecturar sobre o que sabem os formados em Pedagogia sobre esse

tema e suspeitamos de que pouco conhecem a respeito. Se isso se pode verificar de fato,

cabe perguntarmos se o curso de formação de professores e gestores escolares não

deveria abrigar, ao menos, uma disciplina em que se abordem as políticas de

financiamento em educação. Provavelmente, muitos alunos, após a conclusão do curso,

vão atuar nas redes municipais, nas quais eventos relativos à temática estarão nas

discussões da escola, mas os recém-formados, talvez não estejam em condições de saber

de que se trata.

Por essas razões, resolvemos abordar, ao menos alguns desses temas – citados

anteriormente, com os alunos do estágio, sub-temas do financiamento. Em primeiro

lugar a confusão que é bastante comum entre custo aluno e gasto aluno. Diversos

autores que estudam o tema já nos deram pistas sobre a substituição do custo-aluno pelo

gasto-aluno, e podemos traduzi-la de forma bem simples. O custo-aluno supõe o

mínimo que se deve aplicar – o Município, o Estado ou a União – para que ofereça uma

educação de qualidade a todos os alunos. Já o gasto-aluno supõe partir-se do montante

de que se dispõe a aplicar, dividido pelo total de alunos que se vai atender. A diferença

é clara. A política pública estabelecida a partir do custo-aluno objetiva determinada

meta de qualidade pela via do investimento. A política do gasto-aluno objetiva otimizar

os recursos.

Outro aspecto apresentado e debatido com os alunos é um princípio em questões

do financiamento da educação básica. As determinações legais, dentre elas a CF/88 e a

LDBEN/96 estabelecem os marcos legais a partir dos quais a matéria encontra-se

normatizada. O art. 212 da CF/88 indica que “A União aplicará, anualmente, nunca

menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por

cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de

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transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino” (BRASIL, 1988, grifos

nossos). O que se verifica em muitos municípios é que os valores mínimos se tornam

máximos por duas razões básicas. Em primeiro lugar, pelo fato de muitos municípios

não disporem de recursos suficientes para ampliar os investimentos previstos na CF/88.

Em segundo lugar, pelo fato de que, uma vez cumprido o dispositivo legal, nada obriga

os gestores municipais a investir mais do que o estabelecido.

Até a aprovação do atual Plano Nacional de Educação, que entrou em vigor em

2014, a vinculação dos investimentos aos impostos determinava, por si, uma variação,

para cima ou para baixo. Sendo assim, o volume maior ou menor de recursos investidos

em educação dependia de uma melhor performance da produção e circulação de bens e

serviços. A conquista de vinculação ao PIB do país representa um avanço nas políticas

de investimento pois, pode dar mais solidez aos aportes de recursos e menos

instabilidade.

Por fim, apresentamos aos estudantes aspectos do Programa Dinheiro Direto na

Escola – PDDE – que transfere recursos da União, via FNDE, a contas bancárias de

Unidades Executoras – UEx – criadas para essa finalidade. A despeito dos problemas

oriundos do fato de se ter uma empresa privada dentro da escola pública (ADRIÃO,

2007), analisamos com os estudantes o fato desse tipo de política pública, denominada

de transferência voluntária – pois, pode simplesmente desaparecer da noite para o dia,

apesar de ter dezoito anos de existência – foi criado pela Resolução Nº 03, de 04 de

março de 1997, do FNDE (BRASIL/FNDE, 1997).

4. Considerações Finais

Debatemos políticas públicas em educação e questões relacionadas ao

financiamento da educação, analisadas com estudantes de Estágio em Gestão da

Educação Infantil, no curso de Pedagogia, na UFSCar. Nosso objetivo está voltado ao

debate das práticas de estágio na E.I. como processo de formação dos licenciandos em

Pedagogia e de futuros gestores escolares.

Ao analisar as práticas de estágio e, nelas, as discussões sobre o financiamento

da educação básica, descortinamos temáticas que não são amplamente tratados com

alunos da Graduação. Objetivamos trazer à tona a necessidade de se ampliar os debates

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com os estudantes da Pedagogia para expor-lhes temas que, certamente, farão parte do

cotidiano de suas atividades profissionais.

Diversos autores têm se debruçado sobre as questões relativas ao financiamento

da educação e, em sua maioria, têm indicado que estamos longe de alcançar patamares

de investimentos ideais para o atendimento das demandas da Educação Infantil, em

nossos municípios. Estes carecem de condições, em sua grande maioria, e de recursos

para ultrapassar os mínimos previstos na CF/88 e na LDB/96. Para esses municípios, as

transferências efetivadas pela União, voltadas para o investimento na educação,

constituem a única fonte de recursos disponíveis.

Os investimentos em educação, por si mesmo, não garantem a melhoria da

qualidade na educação. No entanto, sem recursos suficientes com continuidade

assegurada em Lei e sob uma cultura de que a Educação é direito subjetivo, não se pode,

sequer, sonhar com uma oferta educacional que atenda às necessidades, sobretudo da

Educação Infantil, para que a primeira etapa do processo de escolarização seja efetivado

nas melhores condições possíveis.

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As lutas nas tramas da pesquisa: um salto para a institucionalidade das creches

universitárias uspianas52

Flávia Maria de Menezes53

Introdução: questões que interpelam nosso pensamento e nos colocam em debate

As creches universitárias estaduais paulistas se apresentam no enredo da

educação infantil pública brasileira como contextos muito específicos de infância e de

educação da criança pequena. São unidades de educação infantil funcionando no seio e

na efervescência das universidades estaduais de São Paulo. Tiveram sua origem no final

da década de 1970 e início da década de 1980, na e pela luta legítima de mulheres, mães

e trabalhadoras, estudantes universitários, movimentos sociais e coletivos da sociedade

paulistana pelo direito à creche no local de trabalho.

Essa reivindicação da mulher trabalhadora decorreu do aumento da sua

inserção no mercado de trabalho, a partir de transformações na sociedade,

como a expansão industrial, o crescimento das cidades e as modificações na

organização e estrutura da família contemporânea, uma luta determinada por

razões concretas, ou seja, devido à necessidade de ter um local onde

pudessem deixar seus filhos para aumentar a renda familiar por meio do

trabalho remunerado (RAUPP, 2004, p. 4).

Raupp (2002, 2004) direciona seus estudos para as creches universitárias

vinculadas às universidades federais, enfatizando que as primeiras unidades de

educação infantil (universitárias) surgiram em algumas dessas instituições, em função

da necessidade do acolhimento dos filhos dos servidores e dos estudantes universitários

para que estes pudessem desenvolver suas atividades de trabalho. Entretanto, considera

que as creches universitárias, tanto federais quanto estaduais, representam um local

privilegiado de produção de conhecimento sobre a pequena infância, uma vez que

propõem um diálogo permanente entre o trabalho realizado com as crianças e suas

52

Este texto é fruto de pesquisa de conclusão do Curso de Mestrado em Educação realizada no

período de março de 2013 a agosto de 2015 na Universidade do Estado do Rio de Janeiro

(UERJ).

53Mestre em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Professora de Educação

Básica Técnica e Tecnológica do Colégio Pedro II campus São Cristóvão I

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famílias e as funções indissociáveis de ensino, pesquisa e extensão, o que nos leva a

articular as duas situações como questões que se enredam na constituição desses

espaços nas universidades (Raupp, 2004, p. 4).

As lutas e mobilizações, por serem legítimas e íntegras, foram geradoras de

muitas ações e transformações nas formas como o poder público configurou seu papel

na sociedade e, nesse enredo, pode-se considerar o Decreto nº 18.370, de 8/01/1982, que

cria os Centros de Convivência Infantil (CCI), um programa do Fundo de Assistência

Social do Palácio do Governo de São Paulo (FASPG) destinado aos “filhos de

funcionárias públicas, na faixa etária de 3 meses a 6 anos e 11 meses, em todas as

Secretarias de Estado” (Palmen, 2005, p. 60). Para a comunidade das universidades

estaduais paulistas, a criação dos CCI representou um salto na expansão das creches

universitárias, uma vez que efetivamente foram criadas, a partir do ano de 1982, 25

unidades de educação infantil nos campi da Universidade Estadual Paulista Julio de

Mesquita Filho (UNESP), da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMPI) e da

Universidade de São Paulo (USP), na qual as creches universitárias uspianas, seus

sujeitos e suas tramas, estão vinculados através da Superintendência de Assistência

Social (SAS) da universidade.

As creches e pré-escolas da USP recebem, hoje, cerca de 400 crianças com

idades entre 4 meses e 6 anos, filhos de professores, funcionários e estudantes

universitários da USP, embora a capacidade de atendimento seja de, aproximadamente,

600 crianças. Os processos históricos que constituíram as creches uspianas revelaram

que a luta legítima de seus sujeitos deram origem a instituições de educação infantil

com potência para expandir suas funções para além do cuidar e educar, tornando-se um

território fértil para a afirmação da infância brasileira, no sentido da relevância do

conhecimento que produziram ao longo de seus 30 anos de existência.

Todavia, a pesquisa de mestrado já referida anteriormente, e o Dossiê em Defesa

das Creches/Pré-Escolas da Universidade de São Paulo trouxeram questões para

pensarmos as condições em que as creches universitárias se encontram, sofrendo

pressões da própria universidade, através da SAS. Neste ano de 2015, por determinação

da Reitoria da universidade, em concordância com a SAS, houve um corte de 141 vagas

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nas cinco creches vinculadas à USP, impossibilitando a entrada de novas crianças, o que

representa a garantia da continuidade das instituições54

.

O referido Dossiê fez um levantamento da produção de conhecimento na/pela

creches/pré-escolas da USP realizada no período de 2009 a 2014, com a ideia de

fundamentar sua militância na relevância que essas instituições têm para o

fortalecimento da infância paulistana e brasileira. Sendo assim, foram localizados 99

trabalhos de pesquisa em iniciação científica, mestrado e doutorado; 182 trabalhos

apresentados pelas equipes das creches em congressos, seminários, oficinas e outros

eventos acadêmicos e de formação contínua de profissionais da educação infantil; 6632

visitas monitoradas que as creches receberam, inclusive de visitantes internacionais que

estiveram nas creches; a presença de 681 estagiários da graduação e da pós-graduação

de diferentes campos do saber da USP, o que mostra que a pulsação infância e

universidade continua vibrante, já que a pesquisa de mestrado referida neste projeto

investigou esta pulsação até o ano de 201255

.

É neste sentido que o trabalho aqui proposto se configura: trazer elementos que

foram capturados na leitura contemplativa e tradução responsiva dos textos que

integraram o material documental referente à pesquisa de mestrado citada neste texto;

estabelecer um diálogo entre tais elementos e as tramas relatadas no Dossiê em Defesa

das Creches/Pré-Escolas da Universidade de São Paulo, no sentido de enriquecer o

debate aqui proposto com algumas questões que representariam as contradições, os não-

ditos e os ruídos não capturados na e pela produção de conhecimento realizada pelas

creches em questão, que atualmente representa, em sua militância, um forte potencial na

defesa de seu funcionamento vinculada à universidade.

Justificativa e Objetivos

O presente trabalho foi escrito com o propósito de trazer para o debate questões

que saltaram a partir da referida pesquisa de mestrado, assinada pela autora deste texto e

54Narrativa construída em diálogo com as informações contidas no item 01 do Dossiê em Defesa

das Creches/Pré-Escolas da Universidade de São Paulo.

55 Idem à nota de rodapé de nº1.

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pelo Grupo de Pesquisa Infância e Saber Docente, coordenado pela Profª Dra. Ligia

Maria M. L. de Aquino, do qual esta pesquisa faz parte. O objetivo central desta

pesquisa foi realizar uma investigação nas relações de alteridade entre pesquisador e

crianças, a partir da tradução dos encontros de pesquisa e produção de conhecimento

que aconteceram no decorrer das atividades de ensino, pesquisa e extensão envolvendo

pesquisadores e profissionais das universidades estaduais paulistas, em especial a

Universidade de São Paulo, e a Creche Carochinha, uma instituição de educação infantil

vinculada à USP, funcionando no campus Ribeirão Preto desta universidade.

Nas traduções do percurso histórico das creches universitárias paulistas,

principalmente da Creche Carochinha, processo necessário no enredo desta pesquisa,

percebemos nas lutas travadas a origem da transformação de um espaço que surgia para

atender as necessidades da comunidade universitária em um lugar para os encontros

entre a universidade e a infância, onde os acontecimentos desses encontros permitiriam

emergir ideias sobre as crianças e seu desenvolvimento, sobre as creches e o educar e

cuidar no coletivo, sobre os adultos e as formas como cuidam e educam as crianças,

principalmente os bebês, possibilitando novas configurações nos fazeres e nos saberes

sobre a educação das crianças pequenas nas instituições.

Pensamos que o recorte temporal eleito pelo grupo Infância e Saber Docente

para as investigações nesta pesquisa, permitiu localizar um tempo-espaço em que novas

configurações sobre as crianças e a infância surgiam no cenário da educação infantil,

principalmente no que tange às mudanças que aconteceram na legislação, mesmo que

não tenha encontrado trabalhos cujo objeto de investigação tenha se debruçado nessas

configurações, mas encontramos indícios delas nos discursos em boa parte dos textos

escritos pelos pesquisadores, como se desejassem enunciar a necessidade de um diálogo

entre as ideias tecidas sobre as crianças e o que de fato nos provocam quando

mergulhamos nos cenários onde as experiências infantis acontecem.

Todavia, a forma como desfocaram as políticas públicas, nas nossas traduções

pareceu acontecer em função do foco estar centrado no cenário das creches

universitárias estaduais paulistas, que, no seio dessas políticas, se configuram como

territórios de infância muito específicos. Os pesquisadores demonstraram querer

anunciar a importância desses espaços no cenário da infância, pelo menos no tocante à

produção de conhecimento.

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O Dossiê em referência neste trabalho revela o enfrentamento de novos desafios

para as creches universitárias, pois o que parece transparecer nesse documento é que o

que está posto em questão é a razão desses espaços de educação infantil existirem no

interior das universidades. Os estudos de Raupp (2002) trouxeram para o debate sobre

as creches universitárias o fato de que no início dos anos 2000 os fóruns de discussão da

área buscavam alternativas que pudessem sustentar o funcionamento das unidades

universitárias federais, já que, naquele momento, questionava-se a necessidade dessas

instituições, sendo de educação infantil, estarem vinculadas às universidades federais,

uma vez que a administração desta etapa da educação, por lei, é destinada à esfera

municipal.

Portanto, uma história que se atravessa nos enredos das creches universitárias

estaduais paulistanas. Entretanto, diferentes do contexto destas, as unidades de educação

infantil universitárias federais mantiveram, ao longo de sua trajetória, suas funções

fundamentadas no cuidado e na educação das crianças pequenas, filhas de servidores

das universidades das quais são vinculadas. Nesse âmbito, instalou-se a questão que

motivou os estudos da referida autora, visto que, como unidades universitárias, as

creches deveriam expandir sua função “para além do cuidado e educação das crianças”

(Raupp, 2002, p. 147), assumindo o caráter acadêmico o que “significa estar em

consonância com o princípio norteador da universidade, que é a indissociabilidade entre

o ensino, a pesquisa e a extensão” (Idem, p. 149).

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Em relação às unidades de educação infantil federais, Raupp sinalizou em seus

estudos que a homologação da Constituição Federal de 1988, assim como as medidas

legais para a oferta da educação infantil no Brasil oriundas da carta magna, trouxeram

tensionamentos para essas instituições uma vez que a C.F. direciona o direito à

educação a todas as crianças, sendo elas filhas de trabalhadores ou não, o que não

justificaria a existência de instituições públicas de educação infantil com critérios

específicos para o ingresso das crianças. Neste caminho, as unidades de educação

infantil federais se viram pressionadas a repensar não somente sua função como também

os seus critérios de atendimento, “direcionando essas questões para a realização de um

projeto institucional com definições claras do papel dessas unidades no interior das

universidades” (Raupp, 2002, p. 147).

No enredo que constitui os processos históricos das unidades de educação

infantil federais, algumas tramas saltam como contradições a serem refletidas no

contexto da luta que atualmente as creches universitárias uspianas estão mobilizando em

prol da sua sobrevivência. Tanto a dissertação de mestrado referida neste projeto quanto

as informações contidas no Dossiê sinalizam que ao longo de seus 30 anos de existência

as creches universitárias uspianas trilharam uma trajetória de trabalho que expandiu

suas funções para além da educação e do cuidado das crianças pequenas, definindo-se

como campo para experimentação, observação e investigação para os cursos de

formação inicial das universidades; como campo para a produção e aprofundamento do

conhecimento produzido por pesquisadores, pertencentes ou não à universidade; como

um local privilegiado para formação em serviço de educadores da infância, uma vez que

muitas dessas instituições são abertas à visitação e à prática de vivências que articulam

teoria e prática em cursos de extensão. Portanto, um espaço fértil de formação e

produção não somente para a universidade em que a creche está vinculada, como

também para pesquisadores da área e profissionais da educação infantil que atuam em

outras instâncias.

Nesta perspectiva percebe-se que as creches universitárias uspianas

compartilham do princípio norteador que sustenta a universidade, que é a

indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão (Raupp, 2002, p. 149), e este fato já

se apresenta no enredo desta luta como uma contradição uma vez que a pesquisa, a

produção e a disseminação de conhecimento não acenaram para o salto da

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institucionalização que poderia configurar para essas creches uma outra realidade em

relação a sua afirmação como instituição pública de educação básica e sua inserção nas

políticas de financiamento destinadas à educação infantil.

As lutas foram o marco na origem das creches uspianas e vêm sendo a condição

de sua existência, pois resistem bravamente às condições adversas que estão lhes sendo

impostas pela Superintendência de Assistência Social (SAS) a qual estão vinculadas à

universidade, segundo o referido Dossiê. Embora a pulsação acadêmica lhes tenha

conferido um papel distinto no contexto das unidades universitárias de educação

infantil, no que tange as suas funções, a pesquisa de mestrado aqui inscrita revelou em

suas narrativas que a produção de conhecimento que se constituiu nessa trajetória na e

pela relação creche e universidade pareceu caminhar irmanada com as contradições que

emergiram ao longo do percurso histórico dessas creches, nos seus 30 anos de

funcionamento.

A Constituição Federal de 1988 e o ordenamento legal para a educação infantil

no Brasil, que se estabeleceu a partir da C.F., trouxeram questões que implicariam para

as creches uspianas e seus sujeitos a necessidade de definir claramente o lugar dessas

instituições no contexto das universidades, como a sua forma de vinculação à Educação

e não à Assistência Social, como se mantiveram vinculadas todos esses anos; o acesso

igualitário a todas as crianças na faixa etária que se destinam a atender; ocupar os

quadros de funcionários com profissionais habilitados para o exercício de suas funções

na educação infantil e garantir o ingresso desses profissionais por meio de concurso

público de provas e títulos. O que se pretende argumentar com o disposto anteriormente,

não é que não tenham ocorrido esforços institucionais, tanto das creches e seus gestores,

como da SAS e da própria USP, para a construção de um projeto institucional que

pudesse sustentar as creches, projetando uma outra situação diferente da que enfrentam

atualmente, mas sim que a referida pesquisa de mestrado não localizou, nos documentos

que investigou indícios que pudessem acenar para este processo, e, portanto, as

implicações legais para a educação infantil foram se colocando, ao longo desta

trajetória, como um alarme de incêndio.

Parafraseando Benjamin (1987), cuja filosofia histórica denunciava a visão

romântica da representação das lutas de classe, alertando para o fato de que vencer o

vencedor não garantiria ao oprimido o lugar de protagonista na sua história, o

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argumento aqui proposto faz referência ao fato de que a luta da comunidade uspiana

pelo direito à creche no interior da universidade e a criação dessas instituições

representaram a origem de um acontecimento que deveria se consolidar com a garantia

de sua institucionalização, no e pelo reconhecimento da universidade das práticas

institucionais e dos esforços institucionais para a produção das pesquisas na e pelas

creches, a partir de incentivos e políticas institucionais destinados a esta produção,

acordados entre as creches uspianas e seus coletivos e os gestores da universidade.

Não existe nenhum grande sucesso ao qual não correspondam esforços reais.

Seria um erro, no entanto, admitir que esses esforços sejam sua base. Os

esforços são a consequência. Consequência da elevada autoestima e da

elevada disposição para o trabalho daquele se se vê reconhecido. Por

conseguinte, uma grande existência, uma hábil réplica e uma feliz transação

são os verdadeiros esforços subjacentes aos verdadeiros sucessos

(BENJAMIM, 2011, p. 177).

Os pensamentos de Mikhail Bakhtin e Walter Benjamin trouxeram questões

fundamentais para o lugar dos processos históricos nos objetos de pesquisa, já que suas

ideias mostraram que a história perde seu sentido na medida em que ancora suas bases

em uma forma continuísta de pensar, negando as contradições, e é nesse enredo que o

texto aqui disposto fundamenta seu debate: pensar o lugar ou não-lugar da luta dos

coletivos das creches uspianas nos textos de pesquisa, propondo um debate acerca da

seguinte questão: como traduzir a luta e suas tramas quando esta foi invisibilizada na

produção de conhecimento?

Metodologia e Fundamentação Teórica

Através da leitura contemplativa e da tradução responsiva, atravessadas

em Bakhtin, seus leitores, outros pensadores que trouxemos em diálogo na

escrita do texto da pesquisa Onde estão as crianças da carochinha? Uma

investigação na relação pesquisador/criança na produção de conhecimento de

uma creche universitária foi possível “escutar” o que falam os textos (material

documental) e com essa escuta produzir uma escrita que permitisse transparecer

a identidade desta produção, ou seja, o que os fazeres e os saberes produzidos

pelos profissionais e pesquisadores da/na Creche Carochinha revelaram; o que

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essa produção traduz em relação à identidade acadêmica da instituição, já que se

trata de uma creche universitária; as tonalidades perceptíveis da relação

ensino/pesquisa/extensão que atravessam e aproximam a universidade e a

infância na Creche.

No trabalho de produção do corpus da pesquisa foram encontrados 107

documentos relacionados às atividades de ensino, pesquisa e extensão envolvendo a

Creche Carochinha, suas crianças, famílias e funcionários (profissionais, pesquisadores,

demais trabalhadores), que identificamos como Os tesouros da Carochinha. Todos

esses documentos foram organizados em uma planilha Excel, agrupados em

quinquênios56

, no período de 1989 a 2012, e representam o material documental da

pesquisa em questão neste texto. Portanto, sendo referentes à comunicações (57),

dissertações (18), projetos (6), monografias (7), teses de doutorado (7), documentos

referentes à legislação (2), programas desenvolvidos na Creche (4), relatórios de

assessoria técnica (1), trabalho de conclusão de curso - TCC (1), relatórios de estágio

(3).

O Grupo de Pesquisa Infância e Saber Docente embarcou navegando em sítios

na internet, utilizando as palavras Creche Carochinha e creche universitária como

bússolas, orientando esta navegação ao encontro do conhecimento desejado. Como na

web a navegação não se dá em uma direção linear, muitas possibilidades de caminhos se

colocaram para o Grupo neste processo, como por exemplo, a Plataforma Lattes e osite

do Scientific Eletronic Library Online – Scieloque também contribuíram nesta pesquisa,

pois nestes locais foram encontrados trabalhos de extrema relevância na produção

acadêmica que tratava a Creche Carochinha e seus contextos como objeto de

investigação. Nessas possibilidades, outras palavras foram surgindo revelando novos

caminhos para a busca e outras tantas produções, como crianças em creches, pesquisas

com bebês.

Os tesouros da Carochinha, assim, se constituíram em 107 documentos que

foram produzidos num processo de “artesanato intelectual” como denomina Castro e

“assim o define na pesquisa com documentos” (Aquino, 2012, p. 5-6).

56 Uma opção adotada pelo próprio grupo de pesquisa, para favorecer o trabalho de investigação

e análise dos documentos.

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“[...] a imaginação sociológica é o resultado de um trabalho intelectual que se

assemelha ao de um artesão numa oficina, aperfeiçoando seus instrumentos e

métodos de trabalho (e a si mesmo, bem como aquilo que produz), a medida

que vai trabalhando. Esta perspectiva, válida para qualquer pesquisa social e

histórica, é particularmente apropriada à pesquisa em arquivos. A habilidade

em transformar um conjunto singular de documentos em algo útil para a

pesquisa é um processo que se aprende fazendo. Não há uma ‘receita’ para

seu sucesso.” (Castro, 2008 apud Aquino, 2012, p. 6).

Como a pesquisa que desenvolvemos não contemplou a relação direta com o

espaço/tempo do campo e os sujeitos, nossa investigação esteve centrada no corpus, ou

melhor, nos tesouros da Carochinha. Foram com esses tesouros que dialogamos; foram

eles que nos interrogaram, nos inquietaram e nos trouxeram revelações, possibilidades

para nutrir o objeto da pesquisa, mapeando nossos caminhos. Foi através da leitura

contemplativa e da tradução responsiva que se deu a relação com o objeto da pesquisa,

processos estes nos quais nos atravessamos com as ideias de Bakhtin.

Os documentos encontrados foram catalogados nos seguintes campos,

definidos pelo Grupo Infância e Saber Docente em função do objetivo da

pesquisa e do material encontrado: tipo de documento, finalidade, área de

conhecimento, autoria, orientador ou coordenador, instituição, ano de

publicação, número de páginas, suporte, linguagem, palavras-chave, local

depositado, institucional (tipo de pesquisa). Este último campo identifica os

trabalhos pela sua vinculação com a universidade, sendo institucional todos os

trabalhos cujos autores são docentes e/ou pesquisadores da Universidade de São

Paulo (USP).

Portanto, os tesouros da Carochinha se constituem em um conjunto de textos

elaborado por profissionais e estudantes das diferentes áreas do conhecimento, que

realizaram suas atividades de ensino, pesquisa e extensão tendo a Creche como campo

de investigação e produção de saberes sobre e com a infância e as crianças nesses

contextos.

Nos os vinte e três anos de produção em ensino, pesquisa e extensão no cronotopo

da Creche Carochinha foi visível o investimento da instituição na elaboração de

documentos cuja finalidade é a disseminação de conhecimentos elaborados na pulsação

do cotidiano da Creche, fundamentados na relação entre os saberes e os fazeres que

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constituem este cotidiano e se atravessam com a infância, a docência e a universidade,

através das atividades das crianças, dos educadores, estudantes e profissionais das

universidades paulistanas, principalmente a Universidade de São Paulo (USP).

Tecendo considerações finais

Em vistas de todas as questões narradas até então, percebe-se que no processo de

constituição acadêmica das creches uspianas há desencontros, ruídos e fragilidades no

que diz respeito à importância que a contribuição histórica desta produção de

conhecimento conferiu ou não para o salto da institucionalidade das creches, que hoje

lutam pela sua sobrevivência como instituição de educação infantil universitária.

Ainda que os resultados da referida pesquisa de mestrado demonstrem o

potencial das creches universitárias em relação à função social das universidades,

incentivando a pesquisa e a investigação científica; desenvolvendo a divulgação de

conhecimentos culturais, científicos e técnicos; comunicando o saber através das

atividades de ensino, pesquisa e extensão que produzem e outras formas de publicação

(BRASIL, 1996), tais ações não acenaram nas políticas da universidade como um ganho

para a institucionalização das creches, que continuam sendo entendidas como espaços

para o atendimento dos filhos dos servidores e estudantes universitários e, nesta

perspectiva, uma atividade-meio e não uma atividade-fim como de verdade se

configuram nas tramas da USP.

Portanto, se as creches uspianas tiveram sua origem na luta e se esta luta

continua sendo o objeto de sua história, o que se pode entender é que a pesquisa e a

produção de conhecimento que hoje estão colocadas em relevância no cenário desta luta

ficaram como ruídos não capturados pelas investigações, interrogações e traduções que

constituíram essas pesquisas e toda a produção de saberes e fazeres que se desenvolveu

ao longo dos 30 anos de trajetória das creches universitárias.

Pensar a história atravessada no pensamento benjaminiano implica tratar as

contradições como uma potência para os diálogos que se estabelecem no aqui-agora;

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significa se envolver na grande temporalidade, trazendo para o presente os rastros da

história que “saltam como lampejos no momento do perigo” (Benjamin, 1987, p. 224).

Assim sendo, entendemos que os processos de produção de conhecimento que se

constituiu ao longo dos 30 anos de trajetória das creches universitárias uspianas, apesar

de pulsarem sua identidade acadêmica, não estiveram ancorados na luta pela

institucionalização das creches. No mesmo sentido, também entendemos que embora os

processos de produção de conhecimento tenham revelado a necessidade da construção

de um projeto institucional que pudesse sustentar as creches uspianas, este fato ecoou ao

longo destes 30 anos de história como um alarme de incêndio não percebido pelas

creches uspianas e sua comunidade ou melhor dizendo, a produção de conhecimento

não acenou na história das creches uspianas e de sua comunidade como um devir-luta

(Abramowicz, Levcovitz e Rodrigues, 2009, p. 195) que possibilitasse sua

institucionalização.

Encontrar, no aqui-agora, o lugar da luta nos enredos da produção de

conhecimento implicará para as creches uspianas e seus sujeitos pensar a história que

atravessa essa produção. Implicará, sem dúvida, rememorar a produção de

conhecimento para que essa rememoração possa dizer sobre os atos de pensamento

desses autores/pesquisadores, no lugar de autores desses pensamentos e do lugar em que

estão interpelados pelo cronotopo atual em que as creches uspianas se encontram. Para

pensar o lugar ou o não-lugar da luta no enredo da pesquisa é necessário reencontrar os

fazeres e saberes que esse coletivo produziu na sua temporalidade, ou seja, nos 30 anos

de história de trabalho e produção desses saberes e fazeres, no tempo da militância que

marcou o princípio desta trajetória e no aqui-agora da luta no enfrentamento das

adversidades que se colocam para esse sujeitos na medida em que a sobrevivência

dessas creches no contexto da USP está sendo ameaçada.

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O Protagonismo da Escola e da Criança no Foco da Formação Profissional e das

Políticas Públicas da Educação de Zero a Três Anos.

Angela Maria Roveri¹

Celia Cerqueira Araujo²

Elisete Cristiane Sacramoni³

Giuliana Trazzi Marcellino4

Karen Renata Zuppinger5

Patrícia Malvina Maestrello6

Rose Cristina de Aguirre Bernardes Dezena7

Resumo

O presente trabalho se refere ao relato de práticas da Diretoria de Educação Infantil do

segmento de zero a três anos da Secretaria Municipal de Educação de Jundiaí, São

Paulo, e objetiva apresentar o percurso de ações desencadeadas ao longo dos últimos

três anos no intuito de potencializar a autoria dos educadores e educadoras e

consequentemente o protagonismo das crianças bem como participação e o

envolvimento das famílias e comunidades. Considerou-se a importância da formação

continuada dos diversos atores envolvidos no processo educativo para a ressignificação

de suas práticas, oportunizando temáticas e metodologias que favoreceram o

empoderamento dos mesmos nas diferentes ações no interior das escolas. As diversas

frentes formativas contribuíram para a valorização de profissionais reflexivos,

pesquisadores, autores e observadores das manifestações infantis e das culturas

escolares, refletindo no reconhecimento da criança como sujeito potente que vive o

momento presente.

Palavras chave: autoria, pesquisa, reflexão sobre a prática, ressignificação da prática,

formação continuada.

1. Introdução

No ano de 2013, ao assumir na Secretaria Municipal de Educação, a Diretoria

de Educação Infantil do segmento de zero a três anos,foi considerado pelas profissionais

nomeadas, como ponto de partida fundamental, o levantamento do percurso profissional

constituído até o momento. Contou-se com a memória dos parceiros, profissionais do

segmento, nas diversas atribuições, para assim, ter-se um panorama real das

necessidades formativas, justificando portanto os caminhos escolhidos para trilhar o

percurso dos quatro anos de atuação que se iniciara.

A referida diretoria atende em média três mil e quatrocentas crianças em trinta

escolas, sendo atualmente, 23 em período integral e 7 em período parcial (organização

instituída no ano de 2014 visando servir a demanda da população). As equipes

pedagógicas das unidades escolares são compostas por diretor, coordenador, um

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professor por grupo e agentes de desenvolvimento infantil, bem como cozinheiros e

agentes de serviços operacionais, todos considerados educadores e educadoras, sujeitos

da formação continuada.

Foi estabelecido como objetivo principal a busca do pleno desenvolvimento da

criança, a valorização de seu repertorio cultural, da brincadeira, e da garantia de sua

especificidade em seus aspectos físico, afetivo, intelectual, linguístico e social,

conforme preconizam as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, a

partir de uma perspectiva de criança potente.

O trabalho pedagógico almejado foi voltado aos interesses socioculturais das

crianças, respeitando a autonomia dos educadores e educadoras. Dessa forma, buscou-se

o aproveitamento das experiências dos educadores e educadoras da rede vinculadas à

abordagem educacional que proposta.

Objetivava-se desenvolver políticas de formação voltadas para a reflexão e o

aprimoramento profissional, não restrita às fórmulas mágicas e técnicas frias,

contemplando a dimensão ético política da prática docente que estão relacionadas aos

fazeres pedagógicos e a potencialidade das crianças.

Também intencionou-se valorizar a humanização das relações entre os sujeitos,

a autonomia para o desenvolvimento dos projetos educacionais e a democratização da

gestão escolar, com propostas de ampliar a participação das comunidades locais nos

debates em torno dos projetos e destinos da escola.

Diagnosticadas as potencialidades e as necessidades formativas, iniciou-se o

estabelecimento de parcerias como Instituto Avisa Lá, por alinhar-se às expectativas

com relação a temáticas e estratégias formativas para docentes e equipes gestoras, e

desenvolveu-se modalidades formativas paralelas por nossa equipe com a diversidade

de profissionais das escolas.

Com as Agentes de Desenvolvimento Infantil, foi iniciado um processo de

formação em temáticas básicas e diretamente relacionadas ao quotidiano, no qual

gestores e profissionais convidados planejaram e ministraram, mensalmente, nove temas

de formação denominado “Ciclos do Conhecimento”, de forma a aproveitar e valorizar

os múltiplos saberes dos profissionais do sistema municipal nas ações de formação.

Parcerias e convênios foram estabelecidos para realização de formação inicial em

pedagogia para estes profissionais.

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Para alimentar as discussões foram chamados especialistas e estudiosos que

abarcam a educação infantil e a formação humana, em seus estudos, destacando aqui as

palestras ministradas pelo Professor Marcos Cesar de Freitas, da UNIFESP, acerca das

concepções de infância e de escola.

Paralelamente às formações externas, ofertou-se suporte de qualificação das

formações internas das escolas, que já ocorriam em horários de estudos, de acordo com

as demandas próprias inter-relacionadas com seu o Projeto Político Pedagógico.

Concomitantemente a estes processos, as supervisoras escolares iniciaram com

seu grupo de escolas, processos de formações com as duplas gestoras, buscando

aprofundar os olhares e entendimentos pertinentes a cada realidade, em formato de

grupos de estudos.

Com o intuito de socializar as práticas desenvolvidas nas escolas à partir dos

elementos formativos e de suas individualidades, foram organizadas a Primeira e a

Segunda Semana da Educação Infantil, em julho de 2014 e julho de 2015,

respectivamente.

No decorrer do processo outras modalidades formativas iniciaram, permitindo

que a coletividade dos profissionais das escolas aderisse a cursos livres de curta

duração, através da criação do “Centro de Imaginação e Estudos da Infância Moinhos de

Vento”, posteriormente transformado em Núcleo da Secretaria da Educação.

Os processos formativos iniciados culminaram com os estudos e revisão da

Proposta Curricular Municipal para a Educação Infantil, segmento zero a três anos,

iniciando com seminários preparatórios acerca de questões inerentes ao currículo, em

um processo de adesão voluntária com profissionais representantes das escolas, das

variadas atribuições.

2. Caminhos Percorridos

No início do ano de 2013 foi elaborada uma pesquisa de interesse por temáticas

que fossem ao encontro da coletividade de profissionais das escolas, considerando as

diversas especificidades do segmento, em relação ao educar e cuidar indissociáveis e a

diversidade da formação profissional. Essa pesquisa se fez presente em outros

momentos para definição de outros assuntos.

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Acerca das diversas formações anteriormente mencionadas, há especificidades

sobre cada uma das propostas, seja pela temática, público ou formato, que valem a pena

serem descritas, por suas contribuições para a ressignificação das práticas escolares,

conforme abordagem no decorrer do texto.

Tendo sido iniciados em tempos distintos, os caminhos formativos ainda estão

sendo percorridos na atualidade e passam por processos avaliativos constantes,

considerando a importância da reflexão e retomada das ações pelos diversos atores.

2.1 Formação em Rede

Em relação a Formação em Rede, realizada em parceria com o Instituto Avisa

Lá, que atendeu aos gestores e professores foram perpassadas as temáticas “Brincar”,

“Leitura com Crianças Pequenas”, “Movimento e Espaço”, “Gestão Democrática”e

“Tematização da prática”. O formato em rede, que subentende uma formação orgânica

direcionada às supervisoras, equipes gestoras e docentes simultaneamente com questões

similares e específicas para cada grupo, objetivava tornar a formação mais efetiva

possibilitando sua avaliação no processo.

A partir desta parceria fortaleceu-se o papel formador das equipes gestoras e

também da equipe de supervisão, que são compreendidas como coparticipes das práticas

pedagógicas realizadas no interior das escolas.

O “brincar” foi desenvolvido no ano de 2013, prevendo seu aprimoramento nos

anos subsequentes. A “leitura para crianças pequenas” foi desenvolvida ao longo do ano

de 2014. Havia muitas dúvidas sobre estratégias e pertinência de se ler para bebês com

seleção e zelo na escolha das obras literárias.

A partir desta formação ocorreu um movimento no sentido de valorizar

aquisição de livros de qualidade, reconhecer a potência das crianças e a reorganizar os

espaços favorecendo no interior das escolas momentos de leitura individual e coletiva,

bem como a contação de histórias.

A temática “movimento e espaço”,surgiu a partir de um novo diagnostico de

demanda formativa que apontava a necessidade de aprimoramento de estratégias do

trabalho docente que contemplassem a profundidade e extensa relação entre criança

pequena e movimento corporal,sendo desenvolvida no ano de 2015. Paralelamente, e

especificamente com equipes gestoras foram abordadas questões pertinentes ao

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processo de formação, como a tematização de práticas, e a qualificação do processo

democrático a partir de discussões e estudos sobre gestão democrática escolar.

2.2 Formação das Agentes de Desenvolvimento Infantil

Integram o quadro de profissionais do segmento as Agentes de

Desenvolvimento Infantil. Essas profissionais tem como exigência de formação o

ensino médio, embora boa parte já possua formação em Pedagogia. Reconhecendo a

importância desta formação, a Secretaria de Educação tem incentivado, através de

convênio com universidade local, o curso de Pedagogia com o seu financiamento

parcial. Para suprir a necessidade formativa das equipes foram organizados os “Ciclos

do Conhecimento”, como formação continuada.

Os “Ciclos do Conhecimento” consistem em mini cursos com duração de nove

horas. Em sistema de rodízio,em que todas as oitocentas Agentes de Desenvolvimento

Infantil do município percorrem as nove temáticas de formação: Sexualidade e

Desfralde, Noções Básicas de Musicalização Infantil, Aprendizagem e Autonomia,

Leitura e Contação de Histórias, Desenvolvimento Motor, Nova Ortografia e Redação

Básica, Legislação Municipal, Ética e Serviço Público, Educador que Protege:

Combatendo a Violência contra Crianças e Adolescentes, Primeiros Socorros.

O princípio dessa formação está em sua constituição teórica e prática sendo

ministrada por profissionais da rede com estudos, pesquisas ou afinidades com as

temáticas elencadas. Um grande desafio foi proporcionar coesão entre todas as

temáticas para que os sujeitos envolvidos percebessem a continuidade do processo

formativo mesmo que em temas distintos.

No momento este processo formativo que teve início em 2013 encontra-se em

processo de finalização. Para o ano de 2016 novas temáticas serão elencadas, bem como

outros possíveis formatos.

A dedicação dos profissionais envolvidos, formadores e cursistas é um ponto

que merece ser destacado. Percebe-se no percurso o fortalecimento do vínculo entre as

Agentes de Desenvolvimento Infantil com a equipe de formação, que em sua maioria é

composta por duplas gestoras das escolas do segmento. Na prática é possível perceber

transformações significativas, tanto com as propostas realizadas com as crianças, como

na postura de educadores e educadoras.

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2.3 Grupos de Estudo de Gestores

As supervisoras escolares, a partir de reflexões e estudos, assumiram sua

função formativa junto às suas equipes. Em busca do aprofundamento dos olhares

pertinentes às realidades escolares, cada supervisora iniciou com seus grupos de duplas

gestoras, encontros em formato de grupos de estudo.

Os assuntos e as abordagens partiram de diagnósticos mas também

consideraram as demandas apontadas pelos participes tanto no início quanto no

percurso. Inicialmente, as temáticas versaram sobre variadas questões como gestão

democrática e participativa, gestão de pessoas, organização dos espaços, autonomia da

criança, princípios éticos, estéticos e políticos, entre outros, de acordo com as demanda

então apresentadas.

Nesse processo, além do aprofundamento de questões que partiram da

tematização das práticas, foram fortalecidos os laços profissionais entre gestores e

gestoras bem como a descaracterização do papel da supervisão como uma função à

parte do contexto escolar, consolidando sua parceria com as unidades.

No ano de 2015, a partir do consenso sobre a importância dos estudos para

reelaboração da Proposta Curricular de Educação Infantil, foi proposto o estudo comum

dessa temática, respeitando a diversidade das equipes, possibilitando que cada grupo

pudesse traçar seu próprio percurso.

2.4 Semana da Educação Infantil

A socialização de práticas escolares tem sido valorizada através da “Semana da

Educação Infantil”. Com edição anual, ocorreram em 2014 e 2015, durante cinco dias

no mês de julho. Durante a semana as escolas apresentaram suas propostas através de

painéis e de comunicação oral. Participaram do processo e da apresentação os diversos

profissionais envolvidos bem como familiares das crianças e comunidade.

Em 2014, a temática norteadora foi “Leitura”e, em 2015, “Educação de Corpo

Inteiro”. Comunicar práticas escolares de maneira reflexiva permitiu às equipes um

avanço no senso investigador e cientifico. O público, formado por educadores e

educadoras do sistema e de outras instancias, estudantes, outros profissionais e também

membros da comunidade local e familiares, foi levado a conhecer o interior de cada

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escola, podendo compreender sua história, sua trajetória e especificidades, e reconhecer

a pedagogia da criança pequena como campo de estudo.

A participação das famílias e comunidades locais não apenas como público,

mas como comunicadores das propostas apresentadas transmite a sensação de que há

um movimento considerável sobre a abertura das escolas, o que torna-se bastante

relevante, especialmente ao analisar historicamente o conceito de creche como

instituição assistencialista, e que atualmente é entendida em sua especificidade

educacional, com vínculos fortalecidos nos bairros, comunidades e culturas,

estabelecendo relação de respeito e parceria mútuos.

2.5 Centro de Imaginação e Estudos da Infância Moinhos de Vento

O Centro de Imaginação e Estudos da Infância Moinhos de Vento foi uma

iniciativa da referida Diretoria para contribuir com o processo de formação integral de

educadores e educadoras, prioritariamente no que concernia a educação infantil de 0 a 3

anos, mas estendendo a proposta a todos os segmentos da Secretaria Municipal de

Educação. Assumiram a coordenação e ministram cursos e vivencias, arte-educadores

do sistema municipal de educação e profissionais convidados.

Tendo como proposta a constituição em um espaço contínuo de vivência,

experimentação, intercâmbio de estudos e práticas, construção e divulgação de

conhecimento, as investigações dialogam com perspectivas histórica, científica, estética,

ética, sensível, imaginativa, corporal e criativa, como com políticas e práticas relativas à

infância e a escola.

Os temas oferecidos aos profissionais da escola, ocorrem fora do horário de

trabalho por adesão voluntária. As temáticas oferecidas até o momento consideram

vivencias corporais como pressuposto para as reflexões e a dialogicidade, incluindo a

necessidade e a valorização das criações manuais, como construção de brinquedos

personalizados, de elementos naturais numa concepção da integralidade do sujeito.

Os assuntos abordados relacionam-se com o contexto escolar e com a formação

humana, sendo: experimentação e estudos sobre a cultura afro-brasileira, a arte de

contar histórias, formação instrumental de arte-educadores e a arte de criar com as

mãos.Destaca-se a participação de Renata Meireles e Teca de Alencar, convidadas a

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ministrar cursos de curta duração aos profissionais da rede sobre os diferentes tempos

do brincar e o fazer musical com crianças pequenas, respectivamente.

2.6 Reelaboração da Proposta Curricular de Educação Infantil

O processo de reelaboração da Proposta Curricular de Educação Infantil do

segmento de zero a três anos, inseriu-se num contexto mais amplo de revisão das

Propostas Curriculares dos demais segmentos no Município, e teve início com

seminários preparatórios. Os temas desenvolvidos tiveram a intenção de alimentar

teoricamente seus participantes para as discussões que ocorreriam durante o processo de

elaboração coletiva do documento. Foram convidados palestrantes que, pelo seu

trabalho de pesquisa, tivessem propriedade para lidar com os diferentes temas

fundamentais do Currículo em Educação Infantil.

Cisele Ortiz introduziu os estudos com a palestra “Desvendando o Currículo na

Educação Infantil”, seguida da pesquisadora Silvia Maria Pereira de Carvalho, com o

tema Adaptação, escola e família. Bruna Ribeiro discutiu sobre Avaliação na Educação

Infantil, Silvana Augusto salientou a diversidade da infância com a temática das

Linguagens de Crianças; a pesquisadora Elsa Corsi, trouxe a discussão da proteção, do

cuidado e afeto com as crianças pequenas, Isabel Porto Filgueiras abordou a

corporeidade, Isabel Aparecida Mayer discutiu conosco a questão da diversidade e

Virgínia Gastaldi desenvolveu o tema Crianças da Natureza.

Para que esta construção se tornasse realmente significativa e conferisse

comprometimento à sua consecução, a adesão voluntária foi fundamental e garantiu um

público atento e envolvido, com disponibilidade para participar dos seminários

preparatórios, permitindo a representatividade das escolas do segmento nestes encontros

coletivos.

Os representantes das escolas discutiram com seus grupos, em reuniões

pedagógicas, os temas abordados nas palestras. O mesmo colegiado formado pelos

profissionais em cada unidade escolar, estudou textos sugeridos relacionados ao

currículo nos grupos de estudos de gestores.

Atualmente a Proposta Curricular está em fase de análise e reelaboração, sendo

o princípio desse processo a construção coletiva e participativa. Os estudos acontecem

em pequenas comissões formadas por supervisores, diretores, coordenadores

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pedagógicos, professores e agentes de desenvolvimento infantil. As etapas contemplam

reflexão sobre as práticas, pesquisa, leituras, análise e seleção bibliográfica, análise dos

textos produzidos pelas equipes escolares para discussão das ideias a serem agregadas

ao texto do documento da proposta curricular.

O trabalho coletivo entre todos os sujeitos da escola foi intencional, para que a

Proposta Curricular seja reconhecida e seja refletida nas práticas diárias. Com caráter

amplo e não prescritivo busca-se a escrita de um documento que ofereça subsídios aos

educadores e educadoras na garantia dos saberes essenciais às crianças, mas que

valorize e proponha o trabalho autoral e singular, considerando a especificidades e

diversidades.

3. Pressupostos Teóricos

Inserida em um contexto maior, a Diretoria de Educação Infantil do segmento

de 0 a 3 anos participou, como as demais Diretorias, de estudos para definição das

“Diretrizes Pedagógicas Fundamentais Iniciais da Secretaria Municipal de Educação”.

Este processo, que contemplou equipes gestoras, educadores e educadoras das unidades

escolares, dos segmentos de educação infantil de 4 e 5 anos e fundamental, bem como

os membros da Secretaria, norteou a escrita do documento com embasamento teórico da

Pedagogia Crítica, com forte influência do pensamento de Paulo Freire, e também

Michael W. Apple, Hannah Arendt, Henry Giroux, Antonio Joaquim Severino, Miguel

Arroyo, entre outros,sendo intitulada “Educação como Ação Política Transformadora”.

Desta forma, buscou-se no âmbito das formações deste segmento, caminhar em

comunhão com os princípios da Pedagogia Crítica conversando com autores e propostas

que consideram a criança como sujeito histórico e de direitos. A pedagogia Crítica

compromete-se com uma educação transformadora, voltada para a humanização dos

sujeitos, através da construção dos ideais de paz, liberdade e justiça social, por meio da

instauração de processos dialógicos e participativos de gestão que levem em

consideração a reflexão sobre a prática dos educadores e educadoras, potencializando

sua busca pela emancipação.

Defende assim, novas formas de organização do processo de ensino e

aprendizagem, que considerem a integralidade do educando, valorizando e incorporando

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os seus saberes ao processo educativo, considerando-os em suas diversidades e

singularidades.

Fundamentalmente organizou-se o estudo aprofundado das Diretrizes

Curriculares Nacionais para a Educação Básica e Educação Infantil, não somentepelo

entendimento de seu caráter mandatório mas, principalmente, pela percepção da

possibilidade de ampliação do olhar à partir de seus desdobramentos, como os “Anais

do I Seminário Nacional: Currículo em Movimento – Perspectivas Atuais”, (2010), e

autores como Zilmade Moraes Ramos de Oliveira, Marcia Aparecida Gobbi, Mônica

Appezzato Pinazza, Rita Coelho, Maria Carmem Silveira Barbosa, Tizuko Morchida

Kishimoto, Lea Tiriba, Ana Lucia Goulart de Faria, Cisele Ortiz,entre outros.

4. Desdobramentos da Experiência

Refletindo acerca dos caminhos percorridos, foi verificado nos processos

formativos que consideram inscrições voluntárias, com público diversificado, um salto

na possibilidade de oportunizar o envolvimento de educadoras e educadores autores e

autônomos em relação a sua prática. Nesta perspectiva são incluídos profissionais de

apoio, nem sempre entendidos e valorizados como educadores em potencial.

Desta forma vislumbrou-se ofertar novas formações e permanecer investindo

nas temáticas que estão em andamento, possibilitando aos profissionais a busca da

formação continuada fora de seu horário de trabalho além da permanência das

formações específicas.

O potencial formativo dos educadores e educadoras da rede também é um

diferencial sob a ótica do reconhecimento e da valorização profissional. No caminho

percorrido até o presente momento foram identificadas figuras que se destacam no perfil

de formadores tanto pelo aprofundamento cientifico e teórico quanto pela qualidade de

suas formações estabelecendo vínculos afetivos e colaborando com a transformação das

práticas escolares.

Acredita-se que com isso seja possível propiciar formações cujas temáticas,

metodologias e equipe formadora seja pensada e gerenciada pelos próprios

profissionais, em sistema de coautoria.

Outro ponto percebido foi a necessidade de permitir que profissionais da

educação iniciassem um caminho formativo considerando a corporeidade como

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fundamental dimensão a ser estudada, mas acima disso, vivenciada e experimentada, o

que tem sido fomentado nas formações atuais e tendencialmente será um dos eixos para

os anos sequentes.

5. Resultados Obtidos

Atualmente, as equipes escolares tem procurado melhorar suas práticas, se

arriscando mais, repensando suas atitudes e questionando seu papel profissional:ponto

imprescindível para a produção de conhecimento.

As escolas têm liberdade para colocar em prática seus saberes adormecidos, e

ora apresentam excelentes resultados, ora faz-se necessário o repensar, e assim através

do diálogo com as supervisoras e com os outros formadores, novos saberes são

construídos e crenças são renovadas.

O elo criado entre equipes gestoras com os sujeitos de suas escolas, numa

proposta democrática e participativa, aponta para a permanência dos educadores e

educadoras no mesmo local de trabalho em oitenta porcento ao final de um ano letivo.

Seja pela proposta de trabalho que se configura geralmente como bi ou tri anual, seja

pelas relações humanas fortalecidas.

Professores e professoras apresentam propostas planejadas considerando a

parceria com as agentes de desenvolvimento infantil que consideram o respeito ao

tempo da criança, sua necessidade de interagir com crianças de idades diferentes, em

espaços distintos e com diversidade de materiais, repercutindo em períodos de

adaptação mais tranquilos, escolas vivas, com movimento criativo a todo tempo.

A criança, vista então como protagonista das ações é quem torna-se o foco das

observações dos profissionais, bem como é compreendida e valorizada em sua

autonomia para fazer escolhas, manifestar e apropriar-se de saberes. Rompe-se desta

maneira o formato de aulas em que o professor é o centro da proposta. Educadores e

educadoras trabalham em parceria para que a criança tenha seus direitos garantidos,

inclusive o da livre escolha, em ambientes convidativos, desafiadores e diversos.

Alguns paradigmas foram rompidos, trazendo à tona a valorização do vínculo

afetivo - essencial para o processo indissociável entre cuidar e educar - a atenção e

respeito às linguagens não verbais e expressividades, e a qualidade das propostas

planejadas, que cada vez mais se desenvolvem pela a criança do que sobre ou para a

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criança. Desta forma, regras ocultas que permeavam as escolas em seu processo

histórico começam a ser questionadas e rompidas interna e externamente.

As equipes escolares envolvem familiares e comunidade local para que ocorra

um real entrosamento entre a instituição e a sociedade. Observa-se diversos projetos

acontecendo nas unidades escolares com a participação efetiva desses sujeitos ao longo

do ano, assim como nos momentos de reunião de pais em que são realizadas palestras,

oficinas ou mesmo bate papos, com temáticas de interesse daquela escola ou

comunidade.

Há maior compreensão e valorização do trabalho realizado dentro da escola, e

propostas em que a criança seja protagonista do momento da entrada até a saída tiveram

valor agregado. Familiares encontram suas crianças brincando, interagindo,se possível,

brincam juntos. A preocupação das famílias em receber a criança limpa e alimentada,

pronta para dormir, pouco existe, tanto quanto o número de queixas recebidas na

Secretaria Municipal de Educação, que reduziu noventa porcento.

6. Considerações Finais

O presente trabalho objetivou apresentar a importância das políticas públicas

voltadas para a formação profissional. Os caminhos percorridos pela Diretoria de

Educação Infantil do segmento de 0 a 3 anos à partir da concepção adotada, da

Pedagogia Crítica e da criança como protagonista das ações educativas.

Há consenso, nesta perspectiva pedagógica, de que o trabalho com a formação

prioriza o movimento “ação reflexão ação” dos sujeitos envolvidos em todo o processo

e nos diferentes papeis assumidos, os que promovem a formação,os que participam dela

e os que assumem o papel de formadores.

Nesse processo agiu-se à partir de um diagnóstico, que permitiu valorizar o

percurso trilhado por toda a rede, estabelecendo algumas ações que pudessem colaborar

com as problemáticas levantadas, proporcionando subsídios para as mudanças

vislumbradas.

Enfim, a qualidade do atendimento às crianças de 0 a 3 anos teve um

crescimento notável, porém há e sempre haverá muitos caminhos a serem percorridos,

sendo o principal deles a ressignificação da formação profissional que aprimora,

fortalece e valoriza os educadores e educadoras sem perder de vista o principal sujeito

deste processo, que é a criança.

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Movimentos sociais e a luta pelo acesso e qualidade na Educação Infantil no

Brasil57

Janaína Vargas de Moraes Maudonnet58

Introdução

Esse artigo tem como finalidade apresentar o projeto de pesquisa: “Movimentos

sociais e infância: Um estudo sobre Fóruns Municipais de Educação Infantil no

Brasil”, iniciado em fevereiro de 2015, na Faculdade de Educação da Universidade de

São Paulo. Trata-se de uma pesquisa empírica em um Fórum Municipal de Educação

Infantil, na qual pretende-se analisar como esse movimento se articula localmente para

o enfrentamento dos desafios nessa etapa de educação, compreender suas dinâmicas

internas e como são estabelecidas as relações com o poder público e com outros

movimentos sociais.

A história da Educação Infantil no Brasil, em especial após o final da década de

1970, foi marcada por intensas mobilizações sociais em torno do acesso e da qualidade

do atendimento nessa modalidade de educação. Com o processo de redemocratização do

país, a sociedade civil encontrou espaço para a luta por direitos, e os movimentos

relacionados à educação infantil floresceram e se fortaleceram. O movimento de

mulheres na luta por creches na cidade de São Paulo é um exemplo dessa mobilização.

Rosemberg, Campos e Haddad (1991) e Gohn (1985) assinalam o papel decisivo desses

grupos na ampliação do atendimento público em creches nessa época.

Na Constituição Federal de 1988 aparece pela primeira vez, como dever do

Estado, “o atendimento em creches e pré-escolas às crianças de 0 a 6 anos” (Artigo 208,

Inciso IV); e como um direito de trabalhadores homens e mulheres, na zona rural e

57

Este texto trata-se de Projeto de Pesquisa de Doutorado iniciado em Fevereiro de 2015 na Universidade

de São Paulo/ USP. 58

Doutoranda em Educação na Universidade de São Paulo/USP

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urbana, “a assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 6 anos

de idade em creches e pré-escolas” (Artigo 7º, Inciso XXV).

A promulgação da Constituição Federal e doEstatuto da Criança e do

Adolescente (1990) que visaram garantir, entre os direitos fundamentais das crianças, o

acesso e a qualidade do atendimento na Educação Infantil, juntamente com as pesquisas

na área que constatavam a falta de uma política nacional e a precariedade das

instituições (CANAVIEIRA, 2010; NASCIMENTO, 2003; ROSEMBERG, 2002;

CAMPOS; FULLGRAF; WIGGERS, 2006; MONÇÃO, 2013) impulsionaram, nos anos

1990, um amplo debate sobre essa etapa de educação no país, com seminários nacionais

e a participação ampla de profissionais da área, pesquisadores, universidades e

movimentos sociais, o que gerou a produção de diversos documentos (ROSEMBERG,

2002), que visavam estabelecer uma política de Educação Infantil.

Entre os anos de 1994 e 1996, a Coordenadoria de Educação Infantil – COEDI,

do Ministério da Educação – MEC, na busca de socializar o conhecimento produzido na

área pelas universidades e grupos de pesquisa, lançou uma série de publicações que

traduziram esses conhecimentos em práticas que respeitassem as crianças nas

instituições educativas. Dentre eles, destaca-se os Critérios para um atendimento em

creche que respeitem os direitos fundamentais das crianças (BRASIL, 1995). O

documento estabelecia doze direitos que visavam garantir o respeito à singularidade da

Educação Infantil e à integralidade do atendimento à criança em suas necessidades

físicas, emocionais e sociais.

Publicada em 1994, a Política Nacional de Educação Infantil estabelecia metas

para a ampliação e permanência nas instituições de educação infantil públicas com

qualidade. Foi finalizada no Governo Itamar Franco (1992/1994) após ampla discussão

com segmentos governamentais e não governamentais envolvidos na área e teve o apoio

da Comissão Nacional de Educação Infantil (BARRETO, 2002).

Dois anos depois foi promulgada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional (Lei nº 9.394/96), que definiu a Educação Infantil pela primeira vez como

“primeira etapa da educação básica”, afirmando que esta etapa educativa deveria ser

submetida a “padrões mínimos de qualidade”, operacionalizados “por variedade e

quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis para o desenvolvimento do

processo ensino-aprendizagem” (Art. 5o. §2

o.).

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Após o ano de 1996, houve uma quebra na condução das políticas de educação,

em especial de Educação Infantil, segundo Rosemberg (2002). A autora aponta que o

período fértil de debate sobre a área da Educação Infantil no país foi interrompido em

meados do primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso (1995-1998), que adotou

as regulamentações do Fundo Monetário Internacional (FMI) e os princípios do Banco

Mundial para a implantação das políticas educacionais, retomando as propostas dos

anos de 1970 e 1980, com a “prioridade absoluta de investimentos públicos no ensino

fundamental e a retomada de propostas de programas ‘não formais’ a baixo

investimento público de Educação Infantil para crianças pequenas pobres”

(ROSEMBERG, 2002, p. 42).

Embora a política do Ministério da Educação tenha se modificado, e os debates

com a participação de associações civis, pesquisadores e universidades promovidos por

esse órgão tenham sido interrompidos, o debate na área continuou intenso no Brasil. Em

1998, o Conselho Nacional de Educação, estabeleceu um “amplo diálogo com

segmentos responsáveis pelo atendimento de crianças de 0 a 6 anos” (CONSELHO

NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 1999, p. 2) e publicou as primeiras Diretrizes

Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. De caráter mandatório, tinha como

principal objetivo orientar as instituições de Educação Infantil na organização, na

articulação, no desenvolvimento e na avaliação de suas propostas, além de estabelecer

paradigmas para a concepção de programas de cuidado e educação, visando discutir e

propor melhorias na qualidade do atendimento.

Os debates da área não ocorreram apenas em escala nacional, uma vez que as

mudanças legislativas na Educação Infantil criaram demandas para os gestores das

políticas públicas nos municípios e estados brasileiros. Esses gestores passaram a

realizar, em seus respectivos níveis, encontros para a discussão de políticas para a

infância. Os encontros envolveram entidades, movimentos sociais, estudiosos e

militantes, cujas atuações “a partir de mobilização social e sistematização de ações,

levam à criação de fóruns de Educação Infantil, engajados na defesa do direito e na

proposição de políticas, somando-se aos demais atores envolvidos” (FLORES, 2010, p.

30).

A criação de fóruns de Educação Infantil em diferentes regiões do país

impulsionou a instituição, em 1999, do Movimento Interfóruns de Educação Infantil do

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Brasil – MIEIBI. Movimento que se constituiu como um relevante espaço de pressão

sobre as políticas públicas nacionais e que, a partir do 1º Governo Lula (2003-2006),

com a retomada dos debates entre Estado e sociedade civil, passou a contribuir na

elaboração de diversas publicações produzidas tanto no âmbito do Ministério da

Educação, quanto do Conselho Nacional de Educação (CNE).

Entre esses documentos, destaca-se a nova versão da Política Nacional para a

Educação Infantil, lançada em 2006. Constituída a partir da realização de oito

seminários nas diferentes regiões do país com representantes de secretarias municipais

de educação e da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME),

ampliou as metas do Plano Nacional de Educação (Lei nº 10.172/2001)59 – e apontou

as estratégias do Ministério da Educação para alcançá-las. Entre elas estavam a inclusão

da Educação Infantil no sistema de financiamento da Educação Básica, de modo a

responsabilizar também a União no atendimento as crianças de 0 a 6 anos, em

consonância com o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e

de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb); a definição de parâmetros

nacionais de qualidade para o atendimento nas instituições de Educação Infantil,

considerando as legislações vigentes, as teorias e as pesquisas da área e a elaboração de

padrões de infraestrutura para o funcionamento adequado das instituições de Educação

Infantil, considerando as características regionais.

Mais recentemente, no intuito de auxiliar no processo de elaboração das novas

Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, a Coordenadoria de

Educação Infantil do Ministério da Educação – COEDI – estabeleceu convênio de

cooperação técnica com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Dessa parceria,

gerou o documento Práticas cotidianas na Educação Infantil: bases para a reflexão

sobre as orientações curriculares, que também emergiu “de um processo significativo

de consulta e participação de várias instâncias comprometidas com a Educação Infantil

no Brasil, desenvolvido no segundo semestre de 2008” (BARBOSA, 2009, p. 6) e que

teve como uma das fontes:

59

Dentre as metas para a Educação Infantil no Plano Nacional de Educação, destaca-se: o atendimento de

50% da população de até 3 anos de idade e 80% das crianças de 4 e 5 anos até 2010; o estabelecimento de

um Programa Nacional de Formação de Profissionais da área; a definição de políticas municipais de

Educação Infantil e de projetos pedagógicos para essa etapa; a implantação de sistema de

acompanhamento, controle e supervisão na forma de apoio técnico-pedagógico, inclusive em parceria

com universidades.

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a voz de professores e militantes que há muitos anos atuam em defesa da

educação infantil, através da análise tanto das respostas aos questionários

enviados ao Movimento Interfóruns de Educação Infantil Brasileiro – MIEIB

– quanto da discussão sobre práticas cotidianas na Educação infantil,

realizada em encontro nacional ocorrido em Porto Alegre. (BARBOSA,

2009, p. 6)

A evidência da participação das associações civis organizadas, especialmente o

MIEIBI, nas políticas públicas, é explicitada tanto nos documentos oficiais, quanto nas

pesquisas que se debruçam sobre o tema, em especial Rosemberg (2002); Nunes (2010);

Flores (2010); Canavieira (2010). Todavia, essa participação não se deu sem fortes

embates. As políticas públicas destinadas às crianças sempre foram palco de

contradições e concepções diferenciadas por parte dos diferentes atores sociais. Apesar

dos diversos documentos pautados na garantia do acesso e do atendimento com

qualidade na Educação Infantil, a área é marcada por grandes controvérsias e tensões

que se refletem nas políticas públicas e nas práticas cotidianas vividas com as crianças

pequenas.

Um caso exemplar desse tensionamento entre políticas públicas nacionais e

movimentos sociais foi o “Movimento Fraldas Pintadas”, encabeçado pelo MIEIBI.

Com o slogan: “Direito à educação começa no berço e é pra toda a vida", diversas

entidades sociais - entre elas, Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Fundação

Abrinq, Marcha Mundial de Mulheres, Articulação de Mulheres Brasileiras, Frente

Parlamentar da Criança e do Adolescente - saíram em passeata em frente ao Congresso

Nacional exigindo a inclusão do segmento de 0 a 3 anos no Fundeb, o que mais tarde

aconteceu, fruto dessa pressão.

Em que pesem os tensionamentos entre as políticas públicas e as associações

civis, é incontestável o avanço legal na área de Educação Infantil. Mas, ao mesmo

tempo que pesquisadores concordam com esses avanços, os mesmos vêm apontando o

distanciamento entre os preceitos legais e o cotidiano vivido nessas instituições

(ROSEMBERG, 2002; COUTINHO, 2002; CORREA, 2003; CAMPOS, FÜLLGRAF;

WIGGERS, 2006; HADDAD, 2006; MONÇÃO, 2013).

Um dos principais desafios da área é o acesso, em especial no segmento creches,

que atende bebês e crianças bem pequenas – 0 a 3 anos de idade. Há um aumento

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crescente da demanda pela Educação Infantil derivado da maior participação das

mulheres no mercado de trabalho 60 e do aumento do número de pesquisas que

demonstram a importância das instituições de educação coletiva para o desenvolvimento

infantil. Todavia, a oferta de vagas ainda está bem abaixo da demandada61.

Para além da falta de vagas para grande parte da população que demanda o

acesso a creches no país, a fragmentação entre creche e pré-escola - e destas com os

anos iniciais do Ensino Fundamental - com políticas públicas e financiamento

diferenciados; as tensões que envolvem o currículo para a área – ainda polarizados

historicamente entre um caráter tutelar/substitutivo da família ou através de objetivos

preparatórios/compensatórios – a falta de uma formação de educadores coerente com a

especificidade dessa etapa de educação têm sido alguns dos desafios da área enfatizados

nas pesquisas.

Esses desafios são reveladores de que é imprescindível a manutenção das lutas

dos movimentos sociais para a garantia dos direitos fundamentais das crianças

pequenas. A pesquisadora Maria Malta Campos ressalta a importância e a necessidade

da atuação desses atores sociais para vencê-los:

Existem grupos e setores importantes que lutam para transformar em

realidade as conquistas legais: os Fóruns Municipais e Estaduais de Educação

Infantil e o Mieibi – Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil,

assim como a Campanha Nacional pelo Direito à Educação, são exemplos

desses esforços. Outras organizações, como a Undime – União Nacional dos

Dirigentes Municipais de Ensino, a Anped – Associação Nacional de Pós-

Graduação e Pesquisa em Educação, sindicatos e entidades da sociedade civil

também têm se mobilizado em favor da Educação Infantil. O desafio está

posto e a sociedade brasileira possui condições para enfrentá-lo no presente.

(CAMPOS, 2006, p. 99)

60Dados do PNAD/IBGE apontam o crescimento da participação das mulheres no mercado de

trabalho. Em 1992, essa participação correspondia a 52,5% , já em 2012 essa porcentagem subiu

para 61%,

61 Segundo dados do IBGE; MEC/INEP de 2012, a população no Brasil correspondente a faixa

etária de 0 a 3 anos, é de 11.234.753, das quais apenas 2.531.129 – ou seja, 22,53% - estão

matriculadas em creches. O Plano Nacional de Educação de 2001 tinha como meta a cobertura

de 50% dessas crianças, meta mantida no novo Plano aprovado em 2014.

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Movimentos sociais no Brasil: um breve histórico

A demanda pela Educação Infantil e, especificamente por creches, é histórica e

pautou muitas ações coletivas nos bairros das periferias da cidade de São Paulo. A

história das organizações sociais de luta pelo acesso e a qualidade dessa etapa educativa

possui pontos de convergência em relação à trajetória dos movimentos sociais no país.

Intensas mobilizações, especialmente de mulheres trabalhadoras, foram

observadas no final da década de 70. O movimento de “mulheres na luta por creches” na

cidade de São Paulo é um exemplo. Rosemberg; Campos; Haddad (1991) assinalam o

papel decisivo desses grupos na ampliação do atendimento público institucional para a

educação e cuidado dos bebês e crianças pequenas nessa época.

Entre as décadas de 70 e 80 foram muitas as experiências da condição proletária

que compunham o cotidiano das populações de São Paulo, uma heterogeneidade que

prenunciava movimentos e valores muito diversos (SADER, 1988, p. 142). Contudo, é

notável a vitalidade de movimentos sociais que reelaboraram as condições vividas pelos

trabalhadores na época, marcadas por: uma constante remodelação da paisagem urbana,

definida por Sader, como “Voragem do progresso”; uma grande migração e como

consequência um “desenraizamento” dos lugares de origem; mobilização das relações

informais para superar os desafios cotidianos e; experiências tanto de desemprego como

de exploração nos empregos formais nas indústrias.

Desses condicionantes emergiram novos significados, por onde esses agentes -

proletários moradores da cidade de São Paulo - identificaram suas realidades e

elaboraram suas representações. Para essa elaboração, afirma Sader, três grandes

matrizes discursivas – categorias de nomeação e interpretação - se constituíram na

“nomeação do vivido”: a Igreja Católica – através da imagem de Cristo como

referência para luta e libertação; a esquerda revolucionária de matriz marxista e; o

sindicalismo institucional. Os movimentos sociais recorreram a essas matrizes ao se

constituírem e as adaptaram, mesclaram e transformaram dependendo da situação.

Nesse contexto, um novo sujeito emergiu em um novo espaço político, marcado

pela experiência do cotidiano, pela reivindicação de direitos a partir da consciência de

seus interesses e vontades próprias e pela criação de novas práticas, constituídas pela

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imprevisibilidade dos acontecimentos e por uma solidariedade nascente. É nesse

contexto que se insere a luta das mulheres por creche entre as décadas de 70 e 80.

As classes populares se organizam em uma extrema variedade de planos,

segundo o lugar de trabalho ou de moradia, segundo algum problema

específico que as motiva ou segundo algum princípio comunitário que as

agrega. Em cada forma de organização se manifesta a obsessiva preocupação

com a própria autonomia. Suas formas de expressão são as mais variadas,

mas privilegiam as “ações diretas”, através das quais manifestam suas

vontades. Por isso tudo são muito intermitentes, mutáveis, ágeis, tanto quanto

instáveis”. (SADER, 1988, p. 313).

Doimo (1995) observa uma significativa mudança discursiva após o período de

redemocratização do país e demonstra que expressões como “democracia como valor

universal”, “movimentos sociais organizados”, “participação da sociedade e nas

decisões”, passam a ser utilizadas em lugar dos conceitos de “democracia de base”,

movimentos populares” e “luta contra o Estado”, comumente utilizadas no período

anterior.

Os grupos de esquerda que antes estavam comprometidos com a revolução

social, passaram a assumir crescentes compromissos com o sistema partidário e com o

Estado; as Organizações Não Governamentais passaram a incorporar critérios de

eficácia e focaram na elaboração de ações propositivas para políticas públicas em

detrimento das assessorias aos movimentos populares; e a Igreja Católica “oficial”,

antes comprometida com os movimentos populares adquiriu uma outra orientação que a

afastou desse segmento. (DOIMO, 1995)

Novos arranjos de força e novas formas de reacomodação das lideranças dos

movimentos sociais aconteceram nesse período. Se antes havia uma negação

indiscriminada à participação institucional e se privilegiava a ação direta como

estratégia de reivindicação, após a abertura política, afirma Doimo (1995), percebe-se

uma redefinição e uma nova postura nas relações entre sociedade e Estado, através de

ações ativo-propositivas na busca de alteração dos aparatos políticos e maiores

reivindicações e conquistas de dispositivos institucionais de participação mais direta.

A institucionalização da participação dos movimentos sociais significava para

esses sujeitos, a possibilidade do atendimento das demandas por meio de negociações,

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tendo em vista o orçamento disposto. Tratava-se da capacidade dos grupos de interesse

em influenciar, direta ou indiretamente as prioridades, diretrizes e formulações das

políticas públicas. É no contexto de institucionalização da participação dos movimentos

sociais que proliferaram os fóruns municipais, regionais e estaduais de Educação

Infantil no Brasil, que impulsionaram a criação do Movimento Interfóruns do Brasil -

MIEIBI.

O estudo da trajetória dos movimentos sociais no Brasil apontam questões

orientadoras para a pesquisa a ser desenvolvida: Que marcas esses diferentes momentos

históricos vividos pelos movimentos sociais no país trazem para as identidades dos

militantes na área de Educação Infantil? Quais são as matrizes discursivas atuais dos

movimentos e em que medida se aproximam ou se distanciam dos ciclos anteriores?

Quais as mudanças e permanências entre as formas de atuação contemporânea e as

estratégias dos ciclos anteriores?

O quadro teórico dessa pesquisa está embasado nos estudos de Tilly (1981;

1999), Tarrow (2009) e Castells (1974 e 1978), que ressaltam a perspectiva de

movimento social enquanto sujeito social coletivo, que precisa ser analisado em seu

contexto histórico e conjuntural, de modo a compreender como organizam as ações

coletivas e a partir de que frames e repertórios orientam suas ações.

Metodologia de Pesquisa

O Projeto de Doutorado “Movimentos sociais na Educação Infantil:

dinâmicas internas e interfaces com o Estado”, tem como objetivo conhecer e analisar

o papel que Fóruns de Educação Infantil têm desempenhado na defesa dos direitos das

crianças e na proposição de políticas públicas para a infância. Pretende-se, a partir de

um estudo de caso,reconstruir a história de um Fórum Municipal de Educação Infantil,

identificando os princípios defendidos coletivamente; a natureza de sua mobilização; as

dinâmicas internas - posicionamentos, disputas, tensões e contradições entre seus atores;

suas estratégias de atuação e; as dinâmicas de interlocução, colaboração e/ou

enfrentamento tanto com os órgãos governamentais, como com outros movimentos

sociais, quer sejam locais e/ou nacionais.

Os instrumentos de registro serão compostos por notas de campo, coleta e

análise das produções do grupo, entrevistas com os militantes do Fórum – tanto aqueles

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que participaram de sua fundação quanto àqueles que se agregaram ao longo da

trajetória do movimento - e gravações por meio de áudio ou vídeo das falas e ações

observadas.

Considerações Finais

Reconstruir e analisar a história de um movimento social possibilita

compreender o papel que esses grupos têm desempenhado e podem desempenhar na

defesa dos direitos das crianças ao atendimento na Educação Infantil, o que pode

contribuir com o avanço das lutas na área.

Há pesquisas sobre movimentos sociais e suas lutas por creches, especialmente

na década de 1980, durante o processo de redemocratização do Brasil (ROSEMBERG;

CAMPOS; HADDAD, 1991; MUNERATO, 2001; FARIA, 2005), mas poucas se

debruçam sobre esses movimentos a partir da década de 1990 até o presente, com

destaque para os trabalhos de Flores (2010), Nunes (2010) e Canavieira (2010) que

discutem especificamente a contribuição do Movimento Interfóruns de Educação

Infantil do Brasil – MEIBI para o avanço da área de educação infantil.

Tanto Flores (2010) como Canavieira (2010) analisam algumas marcas

históricas da construção do direito à Educação Infantil, retomando o ordenamento legal

que marca essa etapa de educação. Neste percurso, apresentam o Movimento

Interfóruns de Educação Infantil e elencam algumas estratégias utilizadas por esse

movimento para o enfrentamento dos desafios da área, evidenciando que a conquista de

direitos foi fruto da mobilização de movimentos sociais, mais especificamente do

MIEIB.

Já Nunes (2010) sistematiza os estudos realizados pelo Grupo de Pesquisa

“Educação Infantil e Movimentos Sociais: um estudo sobre o Movimento Interfóruns de

Educação Infantil Brasileiro” coordenado por ela na Universidade Federal Fluminense.

A autora realiza uma análise geral desse movimento, baseando-se nos documentos

referentes aos encontros nacionais por ele promovidos. Para tanto, apresenta um breve

histórico de seu surgimento, alguns desafios enfrentados ao longo dos anos na busca de

expansão e articulação nacional e sua agenda de lutas, na qual se destaca a preocupação

com o fortalecimento da Educação Infantil enquanto campo de conhecimentos, de

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atuação profissional e de política educacional pública. Nunes conclui evidenciando que

o MIEIBI se transformou em um espaço público, participativo e combativo diante das

demandas da área.

As definições legais e as políticas nacionais têm criado uma identidade para a

Educação Infantil e impulsionado uma série de políticas públicas em nível municipal.

Políticas essas, nem sempre coerentes com os avanços da legislação e das publicações

oficiais da área. Considerando que é em nível municipal que as condições objetivas de

funcionamento das instituições se dão, a articulação local da sociedade civil –

juntamente com os movimentos nacionais – para o monitoramento, a proposição dessas

políticas e o enfrentamento dos desafios da área é de grande relevância. Todavia, não

foram encontradas evidências de estudos relativos à atuação de Fóruns estaduais,

regionais ou municipais de Educação Infantil no país, o que traz a essa pesquisa um

caráter inédito.

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O Embate entre a Assistência e a Educação no Campo da Educação Infantil62

Joselaine Cordeiro Pereira63

Este artigo, fruto do texto dissertativo, intitulado “Educação Infantil no

município de Juiz de Fora: múltiplas dimensões de um campo social” (PEREIRA,

2008), apresenta as múltiplas dimensões da Educação Infantil entendidas como um

campo denso que congrega vários agentes sociais em disputa. Partiu-se do pressuposto

de que as investigações em torno da temática do atendimento à infância demandam

interpretá-la como denso campo de disputa. Assim, o objetivo da pesquisa foi analisar a

constituição no campo do atendimento à infância, especificamente no Município de Juiz

de Fora, Minas Gerais, a partir dos processos históricos e políticos inscritos no período

de 1978 a 1988, mapeando o atendimento à infância, buscando caracterizar os agentes

sociais desse campo.

A pesquisa qualitativo-exploratória, sob o enlace interpretativo, dialogou com

os pressupostos teóricos de Pierre Bourdieu (1983, 2000), bem como dos autores que

tratam da Educação Infantil no Brasil como Lívia Maria Fraga Vieira (2002), Maria

Malta Campos (1991, 1999, 1993), Moysés Kuhlmann Jr. (1998, 2005), Sônia Kramer

(1984) e Márcia Veiga (2005). Os métodos e as técnicas demarcaram a base de dados

documental, ou seja, as análises do conjunto de informações contidas em documentos

oficiais e periódicos locais de circulação diária, regional como: Diário Mercantil (1978

a 1983), Tribuna de Minas (1984 ao primeiro semestres de 1986) e Tribuna da Tarde

(1986 a 1988) e os 41 boletins do movimento social Unibairros (1980 a 1989). Esse

percurso se justificou pela possibilidade de aproximação empírica singular dos

acontecimentos locais enleados por processos e agentes sociais não captados pelos

estudos macro históricos.

Realizar tal percurso propiciou a compreensão dos meandros da constituição

do campo, no qual se edificou a educação infantil, isso porque teve o privilégio de

62

Este texto é fruto de Pesquisa de Mestrado realizada no período de 2007 a 2008 na

Universidade Federal de Viçosa.Agência Financiadora: CAPES

63 Professora do Ensino Fundamental e Coordenadora Pedagógica na rede municipal de ensino

do município de Juiz de Fora, Minas Gerais. E-mail [email protected]

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perscrutá-lo sob as lentes do arcabouço teórico e legislativo atual acerca do direito à

educação infantil entendida como cuidado e educação da criança de 0 a 6 anos de idade.

Assim, os esforços investigativos construídos e concatenados estão dispostos a seguir.

A disposição do campo da educação infantil juiz-forana

Numa rápida síntese, percebe-se que o atendimento das mais variadas

necessidades da infância juiz-forana foi demarcado por um conjunto de instituições,

órgãos, entidades, associações, movimentos sociais e outros, aqui considerados agentes

sociais. A presença desses agentes compôs um quadro complexo caracterizado por

orientações e objetivos diversos. Entende-se que esse quadro se configurou, portanto,

como o produto histórico da realidade social na qual se ergueu a Educação Infantil do

Município de Juiz de Fora.

Para proceder à organização desse quadro multifacetado, recorreu-se à noção

de “campo”, conforme a delineada por Bourdieu (1983), uma vez que o objeto de estudo

foi apreendido em sua multidimensionalidade social, considerando-o produzido por

diferentes agentes em relativa aliança ou conflito.

Por essas lentes, percebeu-se a incorporação das necessidades das crianças ao

conjunto de ações empreendidas pelos diferentes agentes sociais que, na verdade,

concorreram para a constituição da própria concepção de atendimento à infância. A

partir da problematização de temas recorrentes como vacinação, preparação para

escolaridade compulsória, prevenção, abandono, nutrição, etc. tornou-se possível

vincular o tema infância aos preceitos médicos, jurídicos, religiosos, políticos,

econômicos e educacionais, entre outros. Essa vinculação, lida sob a ótica da disputa,

apresentou-se, pois, como continuidade do tenso conflito que demarcou a constituição

do campo da assistência no Brasil64 – herança histórica que tende a fadar ao fracasso,

ainda hoje, algumas políticas públicas.

64 Apesar de, no Brasil, o interesse de diferentes segmentos pela infância e sua proteção registrar-

se apenas no final do século XIX (KRAMER, 1984), os marcadores históricos podem ser

evidenciados na Europa dois séculos antes, considerando “A História Social da Criança e da

Família(1981)” – obra na qual Ariès apontou a descoberta da particularidade infantil enquanto

valor e sentimento, constituindo uma consciência social da criança, legitimada, sobretudo, por

médicos, moralistas e juristas.

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De um lado, a busca do poder público, influenciado pelos organismos

internacionais e pela expansão do atendimento através de programas de baixo custo que

demarcassem paulatina saída da questão do provimento social; por outro, entidades

assistenciais confessionais com atendimento precário apelando não só ao Estado, mas

também às comunidades e ao empresariado, o apoio à manutenção de seus préstimos

sociais. Em mesma instância, as comunidades cunhavam práticas associativistas,

ambicionando ser ativas e ampliar seus espaços de ação coletiva. Igualmente, o

empresariado, almejando a recolocação tradicional no êxito do desenvolvimento social.

A ainda nesse ínterim, as famílias carentes, cujas mulheres necessitavam trabalhar fora

do domicílio para o seu sustento.

Num quadro que em nada sugere regularidades estavam não só diferentes

agentes, mas também interesses variados, os quais estruturaram o campo do

atendimento infantil. Isso posto, aportou-se para a visualização na forma das relações

que, consoante Bourdieu (1983), são relações de conflito ou alianças entre seus diversos

agentes.

Interessante notar que, no município de Juiz de Fora, mesmo antes de o poder

público local elaborar e definir os critérios para a implantação dos programas

específicos de pré-escolas e creches, os quais iriam requerer a participação de diferentes

agentes, outras formas existentes de atendimento inauguraram relações diferenciadas

neste campo, estabelecendo arranjos diferenciados entre os agentes, como foi o caso de

abrigos e orfanatos.

Esses arranjos impeliram aos agentes sociais papéis específicos e, dentro do

campo de disputa, esses papéis tiveram fundamental importância no estabelecimento de

novas relações, de novos arranjos, imprimindo dinamicidades ao campo, legitimidade

aos agentes sociais e, por conseguinte, a definição de novos interesses. Isso significa

admitir, no caso em estudo, que os diferentes agentes transitaram no campo,

promovendo ações em prol da infância como forma de demarcarem sua competência no

atendimento.

Com o interesse de diferentes segmentos sociais pelas problemáticas que

inscreviam as crianças e, por consequência, suas famílias, especialmente as carentes,

acirraram-se conflitos em torno das demandas específicas sobre as quais dado modelo

de assistência foi demarcando categorias, competências e projetos balizadores da rede

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de proteção social que se formava. À exemplo, as associações filantrópicas, coligadas,

regra geral às igrejas, oferecendo, por meio da ação caritativa, o atendimento à infância

carente.

A segmentação do campo

O atendimento institucionalizado das crianças menores de 6 anos no município,

até o final da década de 1970, consistia mormente nas inúmeras obras sociais ligadas às

confissões religiosas que ofereciam abrigos, creches e pré-escolas, numa composição

bastante variada destes, incluindo também a prestação de serviços, como doações de

alimentos e roupas, consultas médicas, orientação familiar e outros. Havia também

instituições particulares compostas tanto por creches quanto por pré-escolas

aprovisionadas por um discurso incipiente de qualidade; instituições de ensino pré-

escolar mantidas pelo poder público através dos programas de controle dos problemas

sociais que acometiam crianças antes da escolarização compulsória; instituições de

guarda mantidas pelas comunidades nas periferias, porém subvencionada pelo poder

público; e instituições de guarda e educação categorizadas como comunitárias mantidas

pelo poder público e comunidade, em conjunto.

A segmentação do atendimento à infância refletia a fragmentação na qual a

criança era concebida, na verdade, sua peculiaridade geracional. No conjunto, puderam-

se localizar homologias nos tipos de atendimento dispostos para a infância, sendo estes

categorizados em: abrigos confessionais e públicos; creches dos tipos confessionais,

particulares, comunitárias autogeridas e comunitárias conveniadas, e cada uma obedecia

às regras específicas de organização e de funcionamento; e pré-escolas confessionais,

particulares e públicas. O conjunto dos agentes sociais e seus papéis estão dispostos na

tabela abaixo.

Tabela 1 – Agentes sociais: seus objetivos e papéis AGENTE SOCIAL OBJETIVOS PAPÉIS

Compensar carências, materiais,

morais e afetivas das crianças

pobres;

Garantir manutenção de benefícios

Assistência social aos pobres

Articulação com os demais agentes

para políticas de interesse comum

Articulação políticas nas esferas

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ENTIDADES

ASSISTENCIAIS

fiscais;

Exigir participação nos repasses de

recursos;

Legitimar-se no atendimento

assistencial;

governamentais para manter

posição nos programas de

assistência

Equilibrar socialmente os desvios

sociais;

PODER PÚBLICO

Compensar carências culturais das

crianças pobres;

Reduzir os gastos públicos com a

paulatina retirada do campo da

assistência e o chamamento da

sociedade

Regular as atividades no campo, na

forma de legislação e subvenções;

Articular interesses políticos

Provimento da assistência e da

educação no âmbito público;

Articulação com os demais agentes

para políticas de interesse comum

Regulador das atividades por meio

de normatizações;

Regulador das atividades por meio

de repasses financeiros;

MOVIMENTOS

SOCIAIS

Legitimar o direito ao atendimento

em instituições públicas e gratuitas;

Influenciar na formulação legal e no

controle do campo;

Articular interesses políticos;

Articulação política entre os pares,

a comunidade e poder público;

Organização das necessidades

transformando-as em demandas

reivindicativas;

Interlocução com o Estado para

encaminhamento de demandas;

ORGANISMOS

INTERNACIONAIS

Legitimar a autoridade técnica-

científica;

Influenciar a formulação legal e no

controle do campo;

Orientação das ações em prol da

infância pobre;

INICIATIVA

PRIVADA

Desempenho e crescimento

econômico;

Supressora das deficiências do

Estado no provimento da

assistência e da educação;

FAMÍLIA

Solicitar intervenção do Estado na

proteção e promoção social;

Guardar, proteger e educar os

filhos;

Articulação com os demais agentes

para políticas de interesse comum

EMPRESARIADO

LOCAL

Legitimação da atuação tradicional

na cena social juiz-forana;

Receber incentivos fiscais;

Assegurar contra os potenciais

marginais;

Supressor da deficiência do Estado

no provimento da assistência;

Articuladora dos interesses dos

demais agentes;

Mantenedor de obras sociais

Sendo considerado campo, o atendimento à infância correlacionava-se com os

demais campos num espaço social mais denso e complexo, agregando, regularidades em

torno das negociações, estratégias e embates assumidos pelos agentes sociais. Decorre,

pois, que os campos sociais não são estanques ou, mesmo, estáticos; ao contrário,

produzem-se a partir das relações sociais empreendidas por agentes, portanto relações

humanas complexas. Isso significa que “os campos não são espaços com fronteiras

estritamente delimitadas, totalmente autônomas (...) existe uma interpenetração dos

campos” (BONNEWITZ, 2003, p. 63).

Fonte: PEREIRA, J. C. (2008, p. 198-214)

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Partindo do pressuposto bourdieuniano de que a lógica de determinado campo

tende a permear outros, percebe-se que o atendimento infantil, especialmente em Juiz de

Fora, conforme Figura 1, manteve relações com outros campos que incisivamente

influenciaram sua constituição, como o campo da Educação Pública, por exemplo. Este,

a partir de suas instituições e programas voltados para a educação formal, sob a

premissa de compensação e preparação para o ensino primário, sobressaiu em relação aos

demais, provocando coalizões.

O campo da Previdência e Assistência Social, bem como o da Saúde Pública e

do Judiciário, voltava-se para a proteção e promoção social da criança pobre e suas

famílias. Sublinha-se, ainda, o campo político com o aparato legal vindo dos diferentes

ministérios; os campos judiciário, econômico e religioso; as diferentes entidades

específicas para a defesa da criança e do adolescente, que foram se constituindo a partir

da década de 1980; e os organismos internacionais que subscreviam orientações e

modelos de atendimento à infância.

Figura 1 – Campo da Educação Infantil Juiz-forana

Fonte: Pereira (p. 220, 2008)

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Cabe destacar que o conjunto de formas de atendimento institucionalizadas

confluiu-se na amplitude da condição social da infância, ou seja, toda a multiplicidade

temática, todos os interesses ao redor da competência pelo atendimento desvelaram a

particularidade de uma categoria geracional: a concomitância entre educação e cuidado.

Assim, parece possível afirmar que todo o embate do atendimento à infância, pela

própria variação de temas e distinção entre os agentes, conformaram a Educação Infantil

no município.

A instauração de redes oficiais de pré-escolar – a partir da construção das

Escolas Municipais de Educação Infantil em 1979 – e de creches – com as Creches

Comunitárias no ano de 1984 – assim como a ampliação do atendimento aos menores

de 6 anos em outras instituições por meio da prática de convênio, expressaram não só

reivindicações e demandas, mas a concretude da particularidade da infância juiz-forana

se fazendo presente no campo.

A própria abordagem historiográfica da Educação Infantil brasileira e seus

marcadores no campo da assistência e da educação refletem o acentuado campo de

forças arraigadas na redefinição do papel do Estado brasileiro, justamente no momento

em que as transformações históricas e políticas ocorriam. São os marcos

historiográficos que apontaram para uma possível percepção de que a Educação Infantil,

considerada em sua particularidade e diretamente ligada à categoria social geracional a

que se destina, tem sua constituição a partir do embate dos diferentes agentes sociais

num jogo de disputa no qual se inscreviam formas de atendimento, em tese,

antagônicas.

Entre outros, foi o momento em que diferentes olhares sobre a infância e a

família foram cunhados de forma a projetá-los na perspectiva da Segurança Nacional65 e

do Desenvolvimento de Comunidade66. Entretanto, ao mesmo tempo em que o Estado se

65

Para Rosemberg (2001), a Doutrina Brasileira de Segurança Nacional e Desenvolvimento tinha como

objetivo a integridade territorial; integração nacional; democracia; progresso social; paz social; e

soberania. Sintetizada durante os cinco governos militares – instaurados de 1964 a 1985 – “como

segurança e desenvolvimento”, tal doutrina apregoava a atuação nos bolsões de pobreza por meio de

políticas de assistência, de forma a prevenir a desordem nacional, impelindo à própria comunidade a ação

coletiva tutelada – intencionalmente no custeio dos programas –, com vistas ao progresso nacional.

66Conforme Ammann apud Rosemberg (2001), a origem teórica e política do DC advém do

contexto da Guerra Fria e ensejada pela concepção na qual os pobres eram suscetíveis à

propaganda comunista. Compunha-se de um referencial que co-responsabilizava a população

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colocava no provimento das políticas públicas, também se retirava paulatinamente da

assunção do atendimento à infância, ao passo que o fazia co-responsabilizando os

demais seguimentos sociais através de programas comunitários, mutirões, subvenções e

conveniamento.

Antes, pôde-se ler a Educação Infantil, expressa por uma cultura política de

caráter assistencialista e compensatório, legitimada pelos processos de expansão a

baixos custos, bem como pela necessidade de preparação para a escolarização

obrigatória. Em meados da década de 1980, consoante o processo de redemocratização

nacional e Nova República, empreendeu outros debates, apontando a coexistência de

uma forma alternativa para se pensar o atendimento, sob a ótica da outra cultura

política, edificada na concepção do direito.

Devido à atuação dos diferentes agentes sociais, o atendimento à infância

angariou um debate político67, sob a ótica de outra cultura política edificada na

concepção de direito68. Alvarez et al. (2000) e Gohn (2005) pontuaram que a cultura

política é inerente à prática dos movimentos sociais, mas a partir da apreensão dos

demais agentes do campo social mais amplo percebeu-se que a complexidade das

relações de força pressupõe outros agentes que ajudam a compor as regras do jogo,

estabelecendo novos arranjos relacionais e construindo novos significados.

Ressalta-se que essa disposição se refere a um recorte parcial dos referidos

campos, nos quais foram privilegiados alguns agentes. Além disso, mesmo constando

de elementos que denotam disposição hierárquica – e a despeito da teoria

bourdiueniana, todo campo a tem devido à posse de diferentes volumes de capitais, por

seus agentes. Marcadamente, através do conjunto de agentes sociais que estiveram

circunscritos no atendimento à infância juiz-forana, podem-se, grosso modo, considerar

os campos político, religioso, científico e econômico que, entre os campos do espaço

pela busca de alternativas à solução das mazelas sociais que a assolavam, buscando evitar focos

comunistas no Ocidente.

67 No sentido apontado por Gohn (2005), referente aos argumentos e debates de temas públicos e

que constrói uma cultura política pública.

68 As próprias produções científicas demonstram isso quando, no final da década de 1980, ante a

diversidade de alternativas de educação para crianças pequenas geradas na luta dos movimentos

sociais e sua conseqüente expansão, angariam uma discussão política. Ver: ROCHA. E. A. C. (et

al) Educação Infantil (1983 – 1996). Brasília: MEC/INEP/COMPED, 2001 (Série Estado do

Conhecimento)

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social, confluíram para a constituição do campo específico da Educação Infantil,

conforme mostra a Figura 2.

Figura 2 – Confluência dos campos sociais na constituição da Educação Infantil em JF

Apesar de ser uma representação bastante limitada, tende a ilustrar a

conformação da Educação Infantil por diferentes campos. O campo político pode ser

considerado o grupamento dos partidos políticos, movimentos sociais, Sociedades Pró-

Melhoramentos de Bairros e o poder público em suas três esferas; leiam-se também os

campos da educação, da assistência social e da saúde; o campo religioso, que agrega as

iniciativas caritativas vinculadas às confissões católicas, metodistas e espíritas; o campo

científico inscreve os diversos especialistas: médicos, assistentes sociais, psicólogos,

pedagogos e juristas, também advindos de campos diversos, distinguindo-se pelas áreas

de conhecimentos específicos; e, por fim, o campo econômico, a partir do empresariado

local e de programas de orientação e subvenção internacionais.

Um estudo aprofundado acerca das posses de capitais dos diferentes agentes e,

consequentemente, a percepção do capital predominante no conjunto mais amplo de

relações desses agentes poderiam contribuir para apreender a posição que cada um

ocupa no campo específico da educação infantil juiz-forana. Seria bastante pertinente tal

aprofundamento para visualizar as relações de poder, bem como a compreensão dos

arranjos relacionais, nos quais se denotam os limites e possibilidades das ações dentro

do campo. Isso poderia, por exemplo, apontar para o protagonismo dos movimentos

sociais na constituição de políticas públicas para a Educação Infantil ou, ainda, apontar

CP

CR

CC

CE

CEI

CP = Campo Político

CR – Campo Religioso

CC = Campo Científico

CE = Campo Econômico

CEI = Campo da Educação Infantil

Fonte: PEREIRA, 2008, p. 219

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novos arranjos interacionais, os quais – por exemplos, os conselhos – sirvam ou não de

canais de novas sociabilidades em que a concepção de criança, de atendimento infantil,

e de direito, entre outros, possam ou circular não, angariando novos elementos.

O objeto de disputa no campo da Educação Infantil juiz-forana

Na analogia empreendida por Bourdieu 1983 apud Bonnewitz (2003), como

num jogo o campo também possui móveis de disputa, ou seja, produto da competição

entre jogadores que têm história própria. Assim, essa história própria e turbulenta do

campo da Educação Infantil juiz-forana foi demarcada por uma disputa específica que

girava em torno da competência pelo atendimento. Tal disputa ainda é acirrada, ao

passo que o processo de transferência das creches do setor da assistência social para o

setor da educação ainda não se processou a contento da Lei 9.394/96 (COSTA, 2006).

Desde as iniciativas caritativas sob o forte preceito da piedade e salvação,

perpassando a filantropia com a profilaxia social, além da proteção social divulgada

pelo Estado, das práticas compensatórias inferidas pelos organismos internacionais até o

debate pelo direito social encampado pelos movimentos sociais, o atendimento da

infância servia aos diferentes interesses dos agentes sociais, conforme o jogo de força,

por estes empreendido.

O objeto de disputa foi, assim, legitimado por agregar conteúdos dos diferentes

agentes sociais que o disputavam, acionando e, ao mesmo tempo, sofrendo o jogo de

forças balizado pela diversidade de interesses, reconstituindo-os dinamicamente; ao

incorporar novos agentes, redistribuíam o poder no interior do campo.

Nesse sentido, a segmentação do campo da educação infantil juiz-forana no

período estudado – poder público, instituições particulares, movimentos sociais,

organismos internacionais, entidades assistenciais, família e empresariado – denotou

uma luta concorrencial, em que a relação de forças em torno da competência pelo

atendimento à infância conferiu diferentes conotações à Educação Infantil. Já para os

movimentos sociais e família, por exemplo, passou a significar objeto de direito social,

uma vez que apontava para o oferecimento de bens e de serviços por parte do poder

público ao cidadão; para o poder público, organismos internacionais e até mesmo

entidades assistenciais, mecanismo disciplinador da população carente, tendo em vista

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que apaziguaria as diferenças sociais; também para o poder público significou

possibilidade de alavancar financiamentos externos, bem como compor índices de

desenvolvimento social, além de recolocar o município no rol do desenvolvimento

regional, conforme exposto nas seções anteriores; para os movimentos sociais, tornou-

se instância de participação popular, tendo ampliado o leque de militância, os espaços

de interlocução e até mesmo de atuação; e para as instituições privadas, entre outros,

pôde significar a maximização de inserções no mercado; assim como para o

empresariado local pôde significar a contrapartida necessária na qual, por meio de

subvenção, não se viu obrigado ao cumprimento da lei trabalhista.

Considerações finais

O atendimento à infância configurou-se como objeto histórico, motor de

relações de conflito e aliança entre diferentes agentes sociais, fazendo-o materializar-se

em instituições específicas como creches e pré-escolas; atendimento que comportava

funções educativas, bem como de cuidados e de assistência. Entretanto, os múltiplos

agentes concorrentes carregaram consigo interesses que estigmatizaram tendências

distintas para essas instituições, fazendo que o atendimento ficasse cindido entre a

assistência e a educação.

As funções educativas voltaram-se à pré-escola e, conforme os processos

históricos arraigados pelo projeto de expansão a baixo custo, com vistas ao pré-escolar,

priorizaram o atendimento à faixa etária de 4 a 6 anos. Distintamente, as creches

voltaram-se para a faixa etária de 0 a 3 anos, permeada pelas funções de guarda e

assistência, como forma de dar possibilidade à mulher-mãe-trabalhadora condições de

manter os filhos em instituições onde seriam assistidos enquanto trabalhassem fora do

domicílio.

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Construindo coletivamente uma proposta para a escola pública de educação

infantil

Juliana Campregher Pasqualini69

Com o presente relato, intentamos compartilhar uma experiência de extensão

universitária em parceria com a Secretaria Municipal da Educação de Bauru que tem

como objetivo organizar, orientar e fundamentar teoricamente o processo de construção

coletiva e implementação de uma (nova) proposta pedagógica para o segmento da

educação infantil do sistema de ensino municipal.

Iniciada em 2011, essa experiência foi motivada pela perspectiva de possibilitar: i)

a construção colaborativa de uma proposta de trabalho que oriente a ação pedagógica

nas unidades escolares do segmento da educação infantil que integram o sistema

municipal de ensino; ii) a sistematização dessa proposta em um documento escrito,

apresentando diretrizes, princípios e orientações didáticas para a (re)organização do

trabalho pedagógico na educação infantil; iii) a criação de espaços de discussão coletiva

e formação continuada de professores e gestores da rede municipal visando o

aprofundamento teórico e a reflexão acerca da prática pedagógica, tendo em vista seu

aprimoramento.

As ações do projeto foram organizadas e operacionalizadas tendo em vista

contribuir para a consolidação de uma unidade teórico-prática no sistema municipal e

para a melhoria na qualidade da educação ofertada, potencializando, assim, o

desenvolvimento humano de todos os envolvidos no processo educativo (alunos,

professores, gestores, funcionários, familiares).

Caminhos percorridos

A primeira ação para viabilizar a realização do projeto foi a formação de uma

Equipe de Coordenação, formada basicamente por profissionais alocados na Secretaria

Municipal da Educação, que assumiu a tarefa de organizar e planejar as ações. A

primeira etapa dos trabalhos consistiu na realização de reuniões periódicas de estudo

com a equipe de Coordenação, o que ocorreu durante o 2º semestre de 2011 e o 1º

semestre de 2012, permitindo aprofundar alguns temas imprescindíveis no campo

69 Docente do Departamento de Psicologia, Faculdade de Ciências, UNESP/Bauru e do Programa

de Pós-Graduação em Educação Escolar da UNESP/Araraquara.

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teórico no qual se basearia todo o trabalho subseqüente, a saber, a psicologia histórico-

cultural em unidade com a pedagogia histórico-crítica. Nessa etapa, foram estudadas

pelo grupo as seguintes temáticas: concepção de desenvolvimento infantil,

desenvolvimento das funções psíquicas, periodização do desenvolvimento infantil,

relação entre desenvolvimento e ensino, planejamento do ensino na educação infantil.

Nesse momento inicial, foi também realizado um movimento de pesquisa e estudo de

propostas pedagógicas de outros municípios que pudessem iluminar a natureza da tarefa

e os desafios a serem enfrentados. Após a fase inicial de preparação da equipe gestora,

as reuniões de coordenação continuaram ocorrendo quinzenalmente ao longo de todo o

projeto.

A segunda etapa envolveu a participação direta de professoras e diretoras por

meio da formação de Grupos de Trabalho (GTs) por área de conhecimento e

realização de encontros periódicos com as diretoras das unidades escolares. Os GTs

foram constituídos por profissionais do sistema municipal interessadas e dispostas a

colaborar mais diretamente no processo de construção da proposta pedagógica. Foram

formados seis grupos nas áreas definidas pela coordenação, a saber: Língua Portuguesa,

Matemática, Ciência, Artes Visuais, Música e Cultura Corporal. Cada grupo tinha a

tarefa de produzir um texto que delimitasse o objeto da área e sistematizasse objetivos,

conteúdos e encaminhamentos metodológicos, articulando o conteúdo específico da área

de conhecimento aos conceitos gerais da base teórica/pedagógica, tendo em vista a

particularidade do segmento da educação infantil, tarefa que se mostrou altamente

desafiadora dada sua complexidade. Os GTs concluíram a sistematização preliminar no

final do primeiro semestre de 2012 e o material foi submetido a um exame da

coordenação, que identificou a necessidade de maior articulação entre os fundamentos

teórico-filosóficos e as proposições pedagógicas específicas das áreas de conhecimento,

bem entre as áreas entre si, tendo em vista garantir maior unidade e articulação. Com

isso, verificou-se a necessidade de continuidade do trabalho dos Grupos por área, que

finalizaram o trabalho de sistematização das áreas no final de 2014.

A outra ação estruturante do projeto anteriomente mencionado que iniciou-se

ainda em 2011 foi a realização de Encontros com as Diretoras das unidades

escolares. Foram realizados quatro encontros em 2011, dois encontros no ano de 2012,

quatro encontros em 2013 e um encontro em 2014. Esses encontros foram dedicados ao

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estudo teórico e a debates sobre a estrutura do documento da proposta pedagógica e

sobre o andamento de seu processo de construção e implementação, visando sua

construção de forma colaborativa e coletiva. Considerando que o sistema municipal

congrega 64 escolas de educação infantil, as reuniões com as diretoras forem realizadas

subdividindo-as em dois grupos, de modo a criar maior possibilidade de diálogo e

discussão.

Paralelamente a essas ações, uma versão preliminar do capítulo de fundamentação

teórica do documento referente à proposta pedagógica foi elaborado pela docente

coordenadora do projeto, incluindo um breve resgate histórico da teoria, seus principais

autores e os principais conceitos da base teórica. Este material foi disponibilizado a toda

a rede no segundo semestre de 2012, tendo em vista obter um retorno a partir da

apreciação e avaliação da versão preliminar por todas as escolas municipais de

educação infantil. As devolutivas escritas enviadas pelas escolas e as avaliações

verbais colhidas em encontro com as diretoras foram sistematizadas e categorizadas,

para futura incorporação ao documento final. De modo geral, o documento foi bem

avaliado pelas equipes das unidades escolares, que destacaram a clareza da linguagem e

acessibilidade do texto e apresentaram sugestões de aprofundamento e acréscimo de

temáticas específicas.

Em sua terceira etapa, o projeto passou a oferecer um curso de formação de

professores, ministrado diretamente pelos alunos de graduação envolvidos sob

supervisão da docente responsável, com o objetivo de proporcionar aos professores um

espaço de estudo e aprofundamento teórico. O curso adotou como texto-base a versão

preliminar do capítulo de fundamentação teórica da proposta pedagógica. No segundo

semestre de 2012, foram oferecidas duas turmas do curso, que foi intitulado

“Desenvolvimento Infantil Segundo a Escola de Vigotski” e teve duração total de 30

horas (10 encontros semanais com duração de 3 horas). No ano de 2013 foram

realizadas duas edições do curso, com duração estendida para 36 horas (12 encontros

semanais). Em 2014 o curso foi oferecido em versão reduzida (8 encontros semanais)

em função da paralisação das atividades da universidade durante movimento paredista.

No primeiro semestre de 2015 foi oferecido um novo curso abordando a periodização

do desenvolvimento infantil e no corrente semestre está em andamento mais uma turma

do curso introdutório sobre a teoria da Escola de Vigotski. Nota-se, assim, que as ações

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de formação continuada têm sido privilegiadas no contexto do projeto como ação

permanente, por serem compreendidas como canal para fortalecer o caráter participativo

da construção da proposta, permitindo captar necessidades e dificuldades das

professoras e obter seu retorno com relação às versões preliminares do documento da

proposta pedagógica.

A partir do oferecimento dos cursos, por solicitação das próprias participantes,

foram criados grupos de estudo para aprofundamento em temáticas específicas, como a

brincadeira de papéis sociais e o desenvolvimento afetivo-emocional na idade pré-

escolar. No corrente semestre está sendo realizado um grupo de estudos sobre atividades

lúdicas e produtivas na educação infantil. Os grupos de estudos são também

coordenados diretamente pelos alunos de graduação extensionistas e têm se mostrado

um espaço propício para a articulação entre ensino-pesquisa-extensão, na medida em

que as temáticas propostas vinculam-se, de alguma forma, aos projetos de iniciação

científica dos alunos, cuja elaboração teve como ponto de partida problemas

identificados a partir da experiência de extensão.

No presente momento, encontra-se em fase de finalização, revisão e diagramação

o documento que objetiva a proposta pedagógica e planejamento da etapa mais

diretamente dedicada à implementação da proposta no município.

Dificuldades e desafios

A principal dificuldade enfrentada no projeto é a amplitude da rede municipal,

que torna grandemente desafiadora a perspectiva de construção colaborativa da

proposta. Dadas as condições objetivas, inclusive de número reduzido de profissionais

disponíveis para coordenação e operacionalização das ações do projeto, o envolvimento

de todos os professores do sistema no processo só é possível de modo indireto, por meio

da ação multiplicadora e mediadora das diretoras das unidades escolares, ou ainda pelo

mecanismo da consulta/apreciação das versões preliminares dos materiais produzidos.

Outra dificuldade refere-se à disponibilidade limitada de participação dos

profissionais da rede de ensino, uma vez que as professoras, diretoras e supervisoras da

Secretaria Municipal de Educação que integram a equipe de coordenação e os grupos de

trabalho acumulam um grande número de tarefas e atribuições, reduzindo as

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possibilidades objetivas de dedicação e envolvimento com o projeto de construção da

proposta pedagógica.

Apresentou-se ainda como complicador, em especial para a condução dos

trabalhos pelos GTs, a ausência de profissionais que tenham simultaneamente formação

na área de conhecimento específica e na teoria pedagógica e psicológica que

fundamenta o novo currículo. Para alguns grupos, foi possível obter a colaboração de

pesquisadores das áreas específicas; para os grupos em que isso não se mostrou

possível, a tarefa de sistematização do currículo de modo articulado com a perspectiva

teórico-metodológica da pedagogia histórico-crítica e psicologia histórico-cultural tem

se mostrado extremamente desafiadora.

Desdobramentos da experiência

Uma das principais conquistas do trabalho realizado é, sem dúvida, o

estreitamento da parceria com a Secretaria Municipal que tem sido alcançada e se

materializou na realização de um evento conjunto em julho de 2015, o “Congresso

Pedagogia Histórico-Crítica: educação e desenvolvimento humano” que contou com a

participação expressiva de professoras da rede básica do município bem como de

pesquisadores e estudantes de diversos Estados do país.

Decorridos cinco anos de seu início, consideramos que o projeto tem produzido

resultados bastante expressivos e frutíferos no sentido de colaborar para a consolidação

de um senso de unidade no segmento da educação infantil do sistema municipal,

contribuindo para a requalificação da ação pedagógica mediante o estudo e

aprofundamento teórico por parte dos professores orientado por um projeto coletivo

comum.

A participação dos alunos de graduação tem sido recorrentemente bem avaliada

pelos professores participantes dos cursos e grupos de estudo, bem como pelos próprios

alunos, que demonstram envolvimento e compromisso com o projeto, apresentam

visível desenvolvimento profissional e passam a dedicar-se a estudos e investigações

científicas de problemas relacionados à realidade concreta da educação infantil

brasileira.

O projeto tem permitido aos envolvidos alcançar uma inédita visão de totalidade

do trabalho pedagógico no segmento da educação infantil, abrindo novos caminhos para

a pesquisa nesse campo.

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Fórum Sul Mineiro de Educação Infantil: Participação social desde 1999

Kátia Batista Martins70

Cláudia Maria Ribeiro71

Desde 1999 o Departamento de Educação da Universidade Federal de Lavras,

atua na implementação/monitoramento/avaliação do Fórum Sul Mineiro de Educação

Infantil – espaço suprapartidário articulado por diversas instituições, órgão e entidades

comprometidas com a expansão e melhoria da Educação Infantil no Sul de MG,

instância de discussão, mobilização e divulgação das políticas para a Educação Infantil.

Tem caráter mobilizador, informativo e propositivo com vistas a congregar esforços

para promover a Educação Infantil no Sul de MG e subsidiar a atuação das instituições

participantes. A concepção de Educação Infantil que sustenta as ações do FSMEI é

comprometida com os direitos fundamentais das crianças como cidadãs e com a

importância dos primeiros anos de vida no desenvolvimento do ser humano.

Palavras-chave: Participação social. Educação infantil. Formação de Educadoras.

Educação Infantil: regiões fronteiriças entre infância, educação e subjetividade

Késia D’Almeida72

70 Mestranda em Educação – Departamento de Educação da Universidade Federal de Lavras.

Integrante do Fesex.

71 Professora Associada do Departamento de Educação da Universidade Federal de Lavras. Líder

do Fesex.

72 Doutora em Políticas Públicas e Formação Humana - PPFH/UERJ, Pedagoga da Creche da

Fundação Oswaldo Cruz/Fiocruz; Coordenadora e Professora do módulo de Fundamentos

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Resumo

Objetivamos discutir a educação infantil no Brasil com foco na institucionalização da

criança desde a tenra idade, buscando embasar as análises na correlação entre infância,

educação e subjetividade. Entendemos a infância não como fato natural, mas como

acontecimento sócio e culturalmente produzido, organizado por regulações potentes que

instituem maneiras de cuidar e educar a criança seja na família ou nos demais espaços,

como a escola. Imergirmos nas ações que caminham pela vertente de

institucionalização de crianças pequenas, ponderando na perspectiva foucaultiana, a

possibilidade de se estabelecer na educação infantil um espaço de correlação entre

campos de saber, tipos de normatividade e formas de subjetividade. A análise

genealógica e a análise institucional são metodologias viáveis para compreensão dos

processos em curso no campo da educação da infância, acreditando que precisamos

tensionar as práticas diárias, a fim de constituir, possivelmente, “linhas de fuga”.

Palavras chave: Infância, Educação e Subjetividade

Introdução: Campo de análise

Este trabalho se insere no âmbito da articulação entre a produção da tese de

doutoramento no Programa de Pós-Graduação de Políticas Públicas e Formação

Humana da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e da prática desenvolvida na

Creche da Fundação Oswaldo Cruz73 – Creche Fiocruz74 – e no Centro de Referência de

Pedagógicos do Curso de Desenvolvimento Profissional para Educadores Infantis - Creche

Fiocruz/EPSPJV-Fiocruz; e Professora Supervisora do Município de São Gonçalo/SG/RJ –

[email protected]

73 Instituição vinculada ao Ministério da Saúde do Brasil desenvolve ações na área da ciência e

tecnologia em saúde, incluindo atividades de pesquisa básica e aplicada, ensino assistência

hospitalar e ambulatorial de referência, formulação de estratégias de saúde pública,

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Educação e Formação Continuada/CREFCON, do Município de São Gonçalo75·.

Objetivamos discutir a educação infantil no Brasil com foco na institucionalização da

criança desde a tenra idade, buscando embasar as análises na correlação entre infância,

educação e subjetividade, partindo de “especial curiosidade em conhecer suas regiões

fronteiriças” (ROLNIK, 2006).

Para alcançar os objetivos propostos elegemos a análise genealógica de Michel

Foucault (1993) e a análise institucional de René Lourau (1993), como metodologias

viáveis para a compreensão dos processos em curso no campo da Educação Infantil.

Não há “nascedouros” e sim uma série de movimentos, situações que vão ajudar a

entender a produção da realidade posta, pois genealogia é

[...] chegar a uma análise que possa dar conta da constituição do

sujeito na trama histórica. É isto que eu chamaria de genealogia,

isto é, uma forma de história que dê conta da constituição dos

saberes, dos discursos, dos domínios de objeto, etc. sem ter que

se referir a um sujeito, seja ele transcendente com relação ao

campo de acontecimentos, seja perseguindo sua identidade vazia

ao longo da história (FOUCAULT, 1993, p.7).

informação e difusão, formação de recursos humanos, produção de vacinas, medicamentos,

kits de diagnósticos e reagentes, controle de qualidade e desenvolvimento de tecnologias para

a saúde.

74 Creche institucional, voltada a cuidar e educar de filhos dos trabalhadores servidores da

Fundação Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro/Brasil.

75 Centro de Referência integrante da Secretaria Municipal de Educação/SEMED da Prefeitura

do Município de São Gonçalo. Destina-se a realização cursos, oficinas, palestras, encontros,

entre outros, voltados à formação continuada a profissionais da Rede Municipal de São

Gonçalo/RJ/Brasil.

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“A genealogia, como análise da proveniência está no ponto de articulação do

corpo com a história. Ela deve mostrar o corpo inteiramente marcado de história e a

história arruinando o corpo” (FOUCAULT, 1993, p. 16). Ao mesmo tempo, não

podemos elucidar a realidade com o que falta a ela, mas por algo que está nela, bem

como não é possível dizer qualquer coisa em qualquer tempo, conforme apontado por

Foucault (1996). Igualmente, não há preocupação com julgamentos de verdades, pois a

própria verdade é histórica e não existe uma, porém várias verdades. Reflexões acerca

das questões que se apresentam como verdades instituídas são necessárias, à medida que

a história é contada por forças hegemônicas de determinado momento, compondo uma

história linear mantenedora de um olhar único sobre as ideias e as práticas. Todavia, a

história não é concebida por uma linearidade dos fatos, mas para ligar fatos às relações

produzidas por eles e para eles.

Sob esta perspectiva qualquer que seja a história – ou as histórias – da infância –

ou das infâncias – encontraremos muitos enunciados sobre a criança e sobre as práticas

pedagógicas que se configuraram no universo infantil, conformando paradigmas e

paradoxos sobre a infância como fenômeno moderno, à medida que, de acordo com

Orlandi (1985), não podemos falar da população infantil de forma homogênea, visto que

“falar da infância de maneira geral é abstrair a idéia de infância. Existem na verdade,

várias populações infantis” (p.15).

Com base neste pressuposto pretende-se, então, analisar nossas implicações,

conforme propõe René Lourau (1993): o que nos une ao campo da educação infantil

enquanto direito das crianças de zero a cinco anos, problematizando a própria condição

dos especialismos que atravessam e são atravessados pelas práticas que se concretizam

nos estabelecimentos de atendimento.

Rastrear as práticas pedagógicas, em particular as escolares, tendo a infância

como objeto de controle, como prática discursiva no nosso próprio fazer, é uma maneira

de fazer emergir os fundamentos de sua forma contemporânea que, no Brasil, se

inscreve em códigos legais sustentados na noção de direitos sociais e obrigatoriedade,

visto que o direito, neste contexto, se apresenta como aparelho de governo, um

mecanismo de poder.

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Sob esta perspectiva, colocamos em análise a institucionalização da criança nos

ambientes de educação infantil, no sentido de problematizar a produção de

subjetividades existentes na prática pedagógica com crianças de zero a cinco anos,

compreendendo que, de acordo com Foucault (1986), os conceitos necessitam ser

analisados partindo do próprio discurso, à medida que as normas para sua constituição

“não residem na mentalidade nem na consciência dos indivíduos; pelo contrário, elas

estão no próprio discurso e se impõem a todos aqueles que falam ou tentam falar dentro

de um determinado campo discursivo” (p.70). O discurso, e consequentemente os

conceitos instituídos, estão intimamente ligados aos enunciados que os constitui; com

algo que nos identificamos e adotamos, com a materialidade dos fatos, com as

correlações existentes com outros discursos e efetivamente com outros enunciados

estabelecidos socialmente e, portanto, reconhecidos pelos sujeitos.

A perspectiva trazida por Foucault (1986) nos direciona a desnaturalizar as

práticas que estão postas, “estranhando” as questões que se apresentam como verdades

instituídas, entendendo que se na história da infância nunca houve tanta preocupação

com as crianças como acontece atualmente – com falas voltadas à valorização da

expressão infantil e da espontaneidade – também se conserva a disseminação do

discurso acerca de como devem viver e comportar-se. Discutir, portanto, os

enquadramentos propostos, com muito mais dúvidas e questionamentos, do que

respostas e certezas, mas compreendendo a pluralidade de idéias e a necessidade

premente de renovar e revigorar a prática pedagógica, colocando em análise as ações, as

relações sócio-políticas que se apresentam, bem como as formas de exercício de poder.

O conceito pedagogia, “pedagógico”, – as práticas pedagógicas – há de ser entendido de

forma mais ampla e não o restrito às práticas escolares, à medida que “pedagogizar” os

acontecimentos nos aproxima, com freqüência, de padronagens e moldes.

Infância tecida pela falta: Tecendo a análise pela “Falta que nos move”.

Os mecanismos de governo dos corpos infantis não foram produzidos a partir de

um único movimento e sim balizados em um número maior de normalizações,

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enquadramentos e discursos que surgiram a partir do século XVI (ALVAREZ-URÍA e

VARELA, 1991). Historicamente, a infância é efeito de demandas sócio/econômicas e

da decorrente importância política que a preservação das crianças passou a ter. Com o

decorrer dos anos, à medida que as demandas sociais, culturais e do mercado de

trabalho aumentaram, a educação se voltou gradativamente para crianças cada vez mais

novas e a proposta de cuidados pedagógicos e médicos em uma perspectiva higiênica

caracterizou-se efetivamente pela normalização de procedimentos e práticas desde a

mais tenra idade. A partir do século XVIII há uma prática educativa voltada às

adequações do homem aos pressupostos imperantes na sociedade capitalista, vinculando

o ideário de uma pedagogia liberal e não crítica, através da qual se expressa a concepção

burguesa de infância, família, educação, sociedade e mundo de maneira geral,

favorecendo a construção do conceito de infância na Modernidade.

E sob este referencial, entendemos a infância não como fato natural, mas como

acontecimento sócio e culturalmente produzido. Deste modo, é imprescindível

estremecer as verdades instituídas, pois segundo Foucault (1993) a sociedade legitima

certos poderes que se amparam em conhecimentos tidos como verdades, pois “[...] a

verdade não existe fora do poder ou sem poder [...] a verdade é deste mundo; ela é

produzida nele graças a múltiplas coerções e nele produz efeitos regulamentados de

poder” (p.10).

No campo da educação infantil observamos que, a partir da Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional de 1996 (LDB 9394), proliferaram verdades através de

propostas pedagógicas, metodologias, normas e regras direcionadas a espaços, tempos,

rotinas, aprendizagem e construção do conhecimento. Todas reguladas por conceitos

que determinam espaços, seguindo programas, previsões e currículos. Foucault (2006)

alerta que “a idéia de um programa e de preposições é perigosa. Desde que um

programa se apresenta, ele faz a lei, é uma proibição de inventar”. (p.05).

Certo dia ao passar frente à chamada de uma peça de teatro intitulada “A falta

que nos move” fiquei por alguns instantes pensando na frase ali disposta no cartaz preso

à parede. Embora tímida e solta – e por certo nem sequer notada ou mesmo esquecida

pelos transeuntes que passam frente à mensagem impressa no cartaz – a afirmativa

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emana intensidades múltiplas e a exímia proliferação de demandas produzidas pelo

contexto social contemporâneo: atualização, requalificação, direitos, deveres,

flexibilização, relações mais fugazes, transitoriedade, “vestir a camisa” como uma

segunda pele – algo que gruda em nós como natural –, entre outros, indicando uma falta

ininterrupta.

Permaneci fazendo conexões a partir do apelo feito com minha realidade,

minhas expectativas, propostas sobre a educação infantil e a demanda atual de tornar

esta etapa da Educação Básica obrigatória. O que presenciamos em diversas situações

no dia-a-dia com crianças de zero a cinco anos em instituições de educação infantil é a

busca – em nome dos novos olhares e fazeres – pela ruptura com os propósitos voltados

à assistência e aos parâmetros compensatórios de instituições voltadas a cuidar e educar

crianças de zero a cinco anos de idade. Mas o quanto está atravessada a busca pela

ruptura pelo tão intenso ímpeto de suprir a falta de algo dito melhor ou fundamental? A

falta que nos move.

Contudo, mesmo que a escola se encarregue de produzir e manter na prática um

modelo a ser seguido, um padrão a ser mantido, um comportamento dito normal, seja

ele de desenvolvimento, gênero, religioso ou qualquer outro, Rocha e Aguiar (2003)

afirmam que “conflitos e tensões são as possibilidades de mudança, pois evidenciam

que algo não se ajusta, está fora da ordem, transborda os modelos” (p.7).

Para a discussão que se propõe, coloca-se em análise inicial a afirmação “A falta

que nos move”, à medida que a subjetividade que a mobiliza impõe sistematicamente o

prover algo mais – “o plus” – como condição sine qua non de existência do sujeito.

Grandiosa inquietação e grandes os impactos provocados frente à tentativa de

relacionar impressão e contexto produzidos pelo cartaz, imediatamente arrolados à

infância, à institucionalização de sua educação e ao processo de subjetivação – o

pensamento do tempo presente. O que somos nós? O que somos hoje? Jogos de

verdade que nos fazem ser o que somos, de pensar o que pensamos, de estar no presente

como estamos. Discursos que se propagam nos vaivens sociopolítico-culturais de

veracidade inquestionável e que acabam por controlar indubitavelmente as formas de

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contemplar os modos viventes. Conforma, enquadra, molda, determina saberes e

fazeres. Para Foucault, segundo Castro (2009),

[...] tudo isto começou a ser descoberto no século XVIII.

Percebe-se, consequentemente, que a relação do poder com o

sujeito, ou melhor com o indivíduo, não deve ser simplesmente

essa forma de sujeição que permite ao poder tomar dos sujeitos

bens, riquezas e, eventualmente, seu corpo e seu sangue, mas

que o poder deve exercer-se sobre os indivíduos, uma vez que

eles constituem uma espécie de entidade biológica que deve ser

levada em consideração, se queremos, precisamente, utilizar

essa população como máquina de produzir riquezas, bens, para

produzir outros indivíduos. O descobrimento da população é, ao

mesmo tempo que o descobrimento do indivíduo e do corpo

adestrável, o outro núcleo tecnológico em torno ao qual os

procedimentos políticos do ocidente se transforma (p.59).

Com base nesta perspectiva podemos afirmar que o sujeito constituído reside,

então, em um corpo sustentado pelos diversos campos de saberes instituídos. Um

“corpo capitalista”– que segue a lógica capitalista – que se fragmenta balizado em um

sistema científico usado de forma arbitrária e que constrói a ideia de um único caminho

para o que seria educação, saúde, poder, justiça, direito. Um corpo que se constitui em

faltas, em ausências, em infinita procura do que lhe falta. Falta produzida e deflagrada

socialmente pela captura dos desejos, possibilidades e potências, bem como por

agenciamentos existenciais. O “sujeito” moderno é por si só o sujeito que já nasce

estreito, sujeito da moral, homem da verdade conduzido pela falta. Sujeito

“empoderado”, mas em dívida permanente, dívida infinita oriunda da sua própria

existência. Dívida produtora da culpa que emana da falta. Culpa inerente à vida

“inventada” de condutas, moral e costumes sociais pautados na afirmação de um único e

bom modo de viver que não compreende e/ou aceita outras formas de ser e fazer. Uma

invenção ativa que produz um modo de viver, um ideal moral de bem e mal, no qual os

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modos viventes são enquadrados e fixados em condições ideais de existência.

Consequentemente, a culpa produz o desejo intrínseco de prover a falta, de sanar a

dívida.

Há instituída uma lógica mercadológica que entende o sujeito como corpo

avulso, fraturado, vulnerável, ligado à capacidade de produzir valor, amparado pelo

valor que produz. Corpo que tem um preço produzido por um cálculo social, que

procura colocar preços naquilo que não tem preço e transforma em quantidade o que

não é mensurável.

Sociedade imprevisível, ofuscada e cega às diferenças e desigualdades que vão

sendo lançadas cotidianamente, estabelecendo condições muitas vezes catastróficas de

sobrevivência àqueles que “habitam o lado oposto” do modelo determinado como ideal.

Segundo Rolnik (1999, p.206) “O medo não é mais o de não conseguir configurar-se

segundo certo mapa, pois múltiplos são os mapas possíveis. O medo agora é de não

conseguir reconfigurar-se de todo, de forma minimamente eficaz”.

Assim, estabelecem-se medidas – normativas ou não – que visam à proteção, ao

direito e à prevenção constantes, modelando os modos viventes por meio de uma

regulação permanente – e muitas vezes sutil. Organiza-se uma biopolítica, “[...] uma

tecnologia de poder que se dirige ao homem vivo, como espécie” (TÓTORA, 2011,

p.85) e que “[...] se exerce na regularização da vida, na maneira de viver, no “como” da

vida e no seu prolongamento”. Em Nascimento da Biopolítica, Foucault (2008) afirma

entender por “[...] biopolítica o modo como, desde o século XVII, a prática

governamental tem tentado racionalizar os fenômenos projetados pelo conjunto de seres

vivos constituídos em população: problemas relativos à saúde, higiene, natalidade,

longevidade, às raças e outros” (p. 313). “Trata-se de um poder contínuo, que não

prescinde dos recursos da ciência, que visa a fazer viver” (TÓTORA, 2011, p.86),

confiscando ideias, conhecimentos, diferenças, apossando-se do que há de diverso,

controlando tudo e todos a partir de práticas e políticas que objetivam salvaguardar os

padrões estabelecidos como civilizados, corretos, bons, justos e fundamentais.

Normaliza-se, então, a partir da criação de comportamentos que seguem padrões

determinados e normatiza-se instituindo leis e normas.

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A produção de uma subjetividade calcada em vigilância, controle, moldes,

pautada na máxima do “sujeito de direitos” opera pela criminalização, punição e

regulação de práticas e comportamentos. De forma geral, pode-se dizer que o conceito

de sujeito de direito é um conceito abstrato que traz a intenção ideológica dos princípios

da Era Moderna. Os princípios liberais de igualdade, liberdade e fraternidade, que

respondem à finalidade de sustentar o modo de produção capitalista, sob a perspectiva

de que todos os homens são iguais em valor e em direito.

A subjetividade, de tal modo, é processual e efeito de intercruzamentos, um

conjunto de elementos heterogêneos que vai sendo assumida por cada um. São vários os

campos que atravessam a lógica do sujeito de direitos. Para Foucault (2008), sujeito de

direitos é o homem que aceita a renuncia a ele mesmo, visto ter um contrato entendido

como parte da sua vida. De acordo com Marshall (2002, p.28), “[...] a construção de

identidades ou de sujeitos é, para Foucault, um ato altamente politizado. Essas

identidades são os efeitos daquilo que ele chama de poder/saber”.

É preciso, contudo, ter cuidado com a ideia lançada de que há duas sociedades,

à medida que existe um “atolamento” de todos na sociedade, nas práticas e dinâmicas

produzidas e reproduzidas socialmente e que acabam capturadas frente às contestações e

à heterogeneidade dos modos e fazeres viventes, transformando os diferentes arranjos

de vida em – ou os entendendo como – distorções e divergências do que é dado e

refletido como ideal culpabilizando os que não se “enquadram” e/ou não se “moldam”.

Nós somos a sociedade.

Sob esta perspectiva, é indispensável se deslocar da pessoa como uma questão e

da naturalização do sujeito, pensando o sujeito não como um princípio, mas como

formas que podem compreender as práticas que agem sobre o sujeito e as tecnologias

que operam na sua constituição, como propõe Nikolas Rose (2001). Compondo-se, o

sujeito, por práticas de assujeitamento ou libertárias, restringindo-se à reprodução de

modelos previamente estabelecidos ou singularizando-se e legitimando a criação de

outros modos viventes. Que forças, práticas e técnicas estão presentes em conceitos

como o de infância, por exemplo?

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Na perspectiva da falta que nos movimenta, igualmente na educação infantil a

todo instante somos conduzidos à ausência constante, capturados pelo desejo que é

produzido. A educação da infância produz, permanentemente, novos saberes,

atualizando não só as formas de poder, mas a disseminação fundada na relação

inequívoca da imperativa necessidade da educação das crianças. Educação infantil que

se relaciona, muitas vezes, analogamente com as práticas de “vigiar e punir”

(FOUCAULT, 2001), controlar e moldar, partindo de saberes e forças consideradas

fundamentais para “modernizar” cada vez mais a vida dos homens. Instrução

direcionada aos infantes cujos padrões são determinados por aqueles que julgam saber

as “reais” necessidades da criança sem ao menos ter escuta ou tempo para elas; sem

questionar se as crianças precisam ir à escola ou o que havia antes da escolarização ou

ainda quais outras formas são possíveis.

Educação Infantil: estranhamentos constitutivos de um repensar – Algumas

considerações finais

O modelo determina o comportamento existente a partir deste. São lógicas

produzidas que mantêm as formas de vida, de fazeres, de procedimentos. As normas,

regras e leis paralisam, assim, a diversidade e assumem um caráter identitário,

produzindo identidades que padronizam e enquadram em moldes (pré) decididos.

Suscitam uma cisão moral entre bem e mal, melhor e pior, correto e incorreto. No

entanto nos damos conta dos modelos que vão sendo produzidos e que também

produzimos? Problematizamos os processos de subjetivação subalternos agenciados e

que também promovemos? Discutimos as práticas, colocando-as em análise a fim de

constituir caminhos de entendimento sobre as produções que vão se firmando? O

desafio, então, é colocar em análise as atribuições de papéis e as identidades fixas que

acabam nos imobilizando, buscando desnaturalizá-las à medida que também nos

constituem.

Carecemos permanecer “metendo” coisas na cabeça das crianças? É esta a

prática que buscamos, queremos e promovemos? É imprescindível continuar a

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propagação de ensinamentos sem contexto e significados? Perguntamos-nos o que

sabem as crianças? O que consideramos importante? Ou ainda o que é de fato

importante e para quem? Por que não fazemos estes questionamentos? Ainda há a

perpetuação da crença – seja por meio dos discursos instituídos ou pelas práticas

voltadas à infância ou por ambos – que a criança não tem um saber, mantendo a lógica

que entende a infância como “sujeito da falta”, daquele que necessita de cuidado e

educação enquanto modelação, enquadramento, controle e disciplinarização e, ainda,

com o argumento de que será bom para o futuro daquele “futuro cidadão”.

As identidades nos conformam em protótipos aceitáveis e tidos como “normais”,

sendo necessário comportar-se conforme o esperado e o determinado. O conceito de

identidade é modulado e nos engessa em movimentos pré-estabelecidos, fazendo com

que as dinâmicas grupais nos levem, muitas vezes, ao fechamento identitário, no qual os

comportamentos precisam seguir um modelo único determinado por modos

homogêneos de falar, vestir, proceder, agir.

Sob esta base, a prática na educação infantil volta-se, muitas vezes, para o

diagnóstico do atendimento escolar, sem problematizar a institucionalização

compulsória de crianças tão pequenas, gerando uma adequação das práticas às regras

liberais, ao situar a educação como mecanismo para que as crianças sejam moldadas e

enquadradas, acolhendo as demandas de eficiência.

Contudo, é preciso analisar nossas próprias práticas, perceber nossas

implicações, os atravessamentos e as relações de saber-poder que produzimos ou que

ajudamos a produzir e pelas quais também somos produzidos. É necessário “ler” nosso

cotidiano, tensionar nossas verdades, estar atento às resistências e potências que se

anunciam diariamente, uma vez que, segundo Passetti (2009), é “no perigo que pulsa a

vida [...] Estamos num momento propício para arruinar condutas – como são todos os

momentos –, livres de guias e propenso a ensaios de existências”. Momento propício

para uma vida libertária que implica práticas inovadoras, andando por fora das

prevenções alardeadas e, sob essa perspectiva, corremos riscos e temos que corrê-los, e

isso não tem a ver com direito e muito menos com direitos naturais, mas com prestar

atenção ao que acontece na vida, no mundo e na sociedade. Só assim, tentaremos

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romper com o mundo de adesão e assujeitamento, tentando ações libertárias que

compreendam práticas inovadoras e contrárias à uniformização das diferenças.

“Desconstruir para construir” – não a desconstrução para nada termos, mas para

possibilitar novas formas de agir e de pensar, pois para entender as diferenças é

necessário pensar nas relações estabelecidas e buscar estudar como se instituem as

práticas. E, em um contexto tão fragmentado, buscar “juntar” pontas que se encontram e

que estão imbricadas e não desconexas. Deleuze (1992) diz que “não cabe temer ou

esperar, mas buscar novas armas”, desta forma consideramos necessário ponderar, na

perspectiva foucaultiana, a possibilidade de se estabelecer na educação infantil um

espaço de correlação entre campos de saber, tipos de normatividade e formas de

subjetividade, dentro de uma determinada cultura (FOUCAULT, 1983). Espaço este

possível para trocas, interações, redimensionado como fluxo de resistências

(PASSETTI, 2007), de insurreição e de movimento de aversão à sociedade de controle

onde o rompimento ao modelo seja possível e não entendido como defeituoso e

violento.

Precisamos, talvez na educação infantil, tensionar as práticas cotidianas, dando

visibilidade a outras formas de fazer. Questionar as posições arraigadas e as

naturalizações das práticas, discutindo o processo de trabalho e estratégias de

resistência. Ver o mundo como diferença e as verdades em suas transitoriedades,

compreendendo que onde há poder há resistência e, principalmente, há potência.

Estabelecer regiões limítrofes de possibilidade de outros espaços de discussão. Outros

espaços criativos, mas não absorto na criatividade como exigência de vida. Assim,

constituiremos, possivelmente, na educação infantil, “linhas de fuga” – como proposto

por Deleuze e Guattari – em busca de “uma vida não fascista”, como convida Foucault.

Assim, discutir como se produzem historicamente as práticas e os conceitos, e

como se constituem em “nós”, são dimensões fundamentais para a análise que se

apresenta no campo da educação infantil para trazer à tona as implicações que estão

presentes nas normalizações produzidas, nas naturalizações cotidianas, nas modelações

instituídas, no sistema de regras cada vez mais sofisticado que vivenciamos dia a dia

nestes espaços.

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Proposta pedagógica municipal de educação infantil: mais que um documento,

uma identidade coletiva

Lilian Francieli Morais de Bastos76

Eduarda de Mello Porciuncula77

Mara Rúbia Garcia Pedroso78

Maria Angélica Noble Machado79

RESUMO:

O presente trabalho visa apresentar a Proposta Pedagógica Municipal de educação

Infantil da cidade de Rio grande/RS, dando ênfase ao seu processo coletivo e

democrático de construção. A PPMEI é um documento que busca ilustrar a identidade, a

organização e a gestão de trabalho da Educação Infantil no município e servirá de apoio

na sistematização e na organização da prática educativa na Educação Infantil,

respeitando as especificidades de cada instituição. O mais importante é destacar as

concepções trazidas pelas professoras sobre as temáticas que emergem do trabalho com

as crianças, bem como o protagonismo das crianças e das famílias na elaboração do

documento.

PALAVRAS CHAVE: Educação Infantil; Proposta Pedagógica; Participação.

76

Pedagoga (FURG), mestre em Educação (FURG), professora da Educação Infantil na Rede

Municipal de Ensino de Rio Grande/RS e assessora do Núcleo de Educação Infantil da Secretaria

de Município da Educação – Rio Grande/RS. E-mail: [email protected]

77 Pedagoga (FURG), mestranda em Educação (FURG), professora da Educação Infantil na Rede

Municipal de Ensino de Rio Grande/RS e assessora do Núcleo de Educação Infantil da Secretaria de

Município da Educação – Rio Grande/RS. E-mail: [email protected]

78 Pedagoga (FURG), especialista em Educação Infantil (UFPel), professora da Educação Infantil na Rede

Municipal de Ensino de Rio Grande/RS e assessora do Núcleo de Educação Infantil da Secretaria de

Município da Educação – Rio Grande/RS. E-mail: [email protected]

79 Pedagoga (FURG), especialista em Psicopedagogia, professora da Educação Infantil na Rede

Municipal de Ensino de Rio Grande/RS e assessora do Núcleo de Educação Infantil da Secretaria de

Município da Educação – Rio Grande/RS. E-mail: [email protected]

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A Educação Infantil no município de Rio Grande/RS: conhecer para

contribuir

A Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, se configura como

um direito constitucional a todas as crianças de zero a 5 (cinco) anos de idade. Porém,

muito mais que a garantia do acesso e permanência das crianças nas instituições

escolares, cabe também priorizar a qualidade do atendimento oferecido a elas.

Imbricados à oferta deste serviço estão as concepções de criança, de

desenvolvimento infantil, de tempo, de espaço, de educação que definem os objetivos e

as funções das ações pedagógicas nos estabelecimentos educacionais, cujo foco

principal é o respeito às crianças. Segundo Ostetto

[...]o respeito à criança ganha concreticidade na medida em que, nas

práticas efetivas no interior da instituição de educação infantil,

estejam previstos: brincadeiras; atenção individual; ambiente

aconchegante, seguro e estimulante; contato com a natureza; higiene e

saúde; alimentação sadia; desenvolvimento da curiosidade,

imaginação e capacidade de expressão; movimento em espaços

amplos; proteção afeto e amizade; expressão de sentimentos; especial

atenção durante o período de adaptação; desenvolvimento da

identidade cultural, racial e religiosa. (2012, p.16).

O excerto acima demonstra o quão complexo é o trabalho com crianças de zero

a 5 anos de idade. Requer, tanto do poder público, quanto dos profissionais, um olhar

voltado às políticas públicas para a Educação Infantil na efetivação e no compromisso

com a qualidade do atendimento prestado às crianças.

Desde o momento em que a Educação Infantil surge como um direito das

crianças há também a necessidade de se criar espaços que visam a garantia desta

demanda, tanto pela rede púbica, quanto privada. No município do Rio Grande/RS, a

Secretaria de Município da Educação80, após realizar visitas nas instituições de

Educação Infantil – públicas e privadas – e apropriar-se das propostas administrativas e

80

Através do Núcleo de Educação Infantil – NEI/SMEd, composto pelas assessoras autoras deste

trabalho.

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pedagógicas que orientam o trabalho com as crianças, percebeu grandes disparidades

entre as realidades observadas81.

Diante do que foi observado, cabe salientar que as práticas pedagógicas na

Educação Infantil, pautavam-se numa perspectiva já superada, como por exemplo, nos

Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Infantil (2008). Em algumas

instituições, havia práticas e concepções expostas em documentos – Projeto Político

Pedagógico e Regimento Escolar – que fragmentavam os saberes e as aprendizagens das

crianças. Também foram notadas algumas práticas muito voltadas a preparação das

crianças para o ingresso no primeiro ano do Ensino Fundamental, ação esta negada pela

resolução Nº 05, de 17 de dezembro de 200982.

A partir do diagnóstico feito através das visitas às escolas, utilizou-se como

primeira ação a apresentação e discussão das Diretrizes Curriculares Nacionais para a

Educação Infantil (DCNEI) que, apesar de ser um documento de caráter mandatório,

criado em 2010, ainda não era de conhecimento de todos os profissionais que trabalham

com as crianças da Educação Infantil no município. As discussões foram feitas em um

encontro de formação continuada em serviço, onde cerca de aproximadamente 250

professores/as participaram. Neste, foi apresentada a resolução Nº05/2009, bem como

os temas que orientaram a elaboração das DCNEI (2010).

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil

articulam-se às Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica

e reúnem princípios, fundamentos e procedimentos definidos pela

Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, para

orientar as políticas públicas e a elaboração, planejamento, execução e

avaliação de propostas pedagógicas e curriculares de Educação

Infantil. (BRASIL, 2010, p.11)

O encontro de formação sobre as DCNEI marcou o inicio de um processo de

debate democrático acerca das propostas e concepções presentes nas práticas com as

crianças de zero a cinco anos de idade nas instituições que ofertam Educação Infantil,

81

Cabe destacar que este documento foi elaborado com bases nas visitas realizadas a partir de

janeiro de 2013.

82 Esta resolução “Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil”.

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visto que era necessário que todos os profissionais que trabalham na Educação Infantil

conheçam os documentos e as normativas que regem a primeira etapa da Educação

Básica.

Por meio das visitas e do encontro inicial de formação, verificou-se ainda a

necessidade de elaborar um documento cujo intuito fosse ilustrar a identidade, a

organização e a gestão de trabalho da Educação Infantil no município e também, uma

orientação que auxilie na sistematização e na organização da prática educativa na

Educação Infantil, respeitando as especificidades de cada instituição. Foi então que se

pensou na construção da PROPOSTA PEDAGÓGICA MUNICIPAL PARA A

EDUCAÇÃO INFANTIL – PPMEI. Trata-se de um documento teórico, conceitual e

metodológico que espelha a prática cotidiana do trabalho na Educação Infantil

municipal e estará sempre aberto para acompanhar a dinâmica da realidade apresentada.

É de extrema importância salientar que, os primeiros estudos giraram em torno

da temática “Proposta Pedagógica”, onde foram encontrados respaldos na obra de Salles

& Farias (2012) intitulada “Currículo na Educação Infantil: diálogo com os demais

elementos da proposta pedagógica”. Segundo as autoras, uma Proposta Pedagógica

[...] reconhece e legitima a instituição educativa como histórica e

socialmente situada, construída por sujeitos culturais que se propõem

a desenvolver uma ação educativa a partir de uma unidade de

propósitos. Assim, são compartilhados desejos, crenças, valores,

concepções, que definem os princípios da ação pedagógica e vão

delineando, em um processo de avaliação contínua e marcado pela

provisoriedade, suas metas, seus objetivos, suas formas de

organização e suas ações. (p.20)

Cabe destacar ainda que a estrutura e os elementos que a constituem a proposta

pedagógica foram pautados nas orientações das autoras acima citadas.

O que mais impressiona neste documento, que será apresentado a seguir, é o

seu processo de construção. Não se trata de uma política pública feita “em gabinete”, ou

uma proposta que não dialoga com a realidade. Muito pelo contrário, os grandes autores

da proposta são os profissionais que atuam na Educação Infantil no município de Rio

Grande, as crianças e as famílias.

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Conhecendo a Proposta Pedagógica Municipal para a Educação Infantil

A PROPOSTA PEDAGÓGICA MUNICIPAL PARA A EDUCAÇÃO

INFANTIL inicia trazendo um breve resgate histórico da Educação Infantil no Brasil e

no município de Rio Grande. Para tanto, buscou-se respaldo nas obras que relatam a

história do atendimento às crianças e também nos projetos pedagógicos das escolas da

rede municipal. O interessante neste capítulo é perceber que os discursos produzidos

sobre a história e os históricos das instituições nos PPP’s apresentam uma educação

Infantil com caráter, inicialmente, assistencialista, voltado aos cuidados e atendimento

das crianças cujas mães trabalham. Com o passar do tempo, os movimentos e as

políticas públicas nos levaram a perceber a Educação Infantil como direito das crianças.

Este capítulo foi construído com base nos estudos de Kuhlmann Jr (2011). Este autor

apresenta um resgate histórico da concepção de infância, bem como os movimentos que

nos levam a perceber a trajetória da Educação Infantil no país. Segundo ele

A caracterização das instituições de educação infantil como parte dos

deveres do Estado com a educação, expressa já na Constituição de

1988, trata-se de uma formulação almejada por aqueles que, a partir

do final da década de 1970, lutaram – e ainda lutam – pela

implementação de creches e pré-escolas que respeitem os direitos das

crianças e das famílias. (p.179).

Os capítulos 2, 3 da PPMEI abordam as concepções referentes ao trabalho

pedagógico com as crianças de zero a 5 anos e foram construídos através de encontros

periódicos83 com as professoras que atuam na Educação Infantil na rede municipal.

Nesses encontros, eram disponibilizados textos, artigos, imagens, vídeos que suscitavam

as discussões sobre cada temática e, ao final, as professoras faziam registros do que

havia sido dialogado. Foi um momento de alinhar os conceitos e fundamentar as

concepções.

De forma a evidenciar os debates e discussões promovidas nos encontros, serão

apresentadas a seguir as temáticas levantadas pelas professoras como as mais

pertinentes ao trabalho com as crianças na Educação Infantil, defendidas a partir dos

83

Os encontros de formação aconteceram durante o ano de 2013, nos sábados de formação.

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registros feitos por elas e também os referenciais teóricos que subsidiaram as

discussões:

TEMÁTICA REGISTRO REFERENCIAL

Educação infantil:

ações de cuidado

e educação

“Entendemos ser determinante que

fique claro neste documento que a

Educação Infantil faz parte do

sistema de educação e é a primeira

etapa da Educação Básica e é

decisiva nos processos posteriores

de desenvolvimento e deve ser

respeitada como tal. Para tanto,

práticas como brincar, vivências,

afetos, trocas, interações, o cuidado

e a educação, favorecem e

possibilitam para o desenvolvimento

e a aprendizagem”. (Registro das

professoras, 2013)

DCNEI (2010)

LDB (1996)

Crianças e

Infâncias

“[...] criança é um sujeito ativo em

constante formação que deve ser

respeitada em sua totalidade,

particularidades e especificidades.

Traz consigo vontades, anseios,

necessidades e acima de tudo

vivências que são construídas ao

longo de seu desenvolvimento”.

(Registros das professoras, 2013).

DCNEI (2010)

Sarmento (2004)

Currículo na

Educação Infantil

“[...] deve levar em consideração os

questionamentos e as curiosidades

das crianças, partindo destes para a

formação de projetos,

DCNEI (2010)

Cerisara (2002)

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desvinculando-se assim da ideia de

“conteúdo” e valorizando a

construção, articulação e produção

de aprendizagens que acontecem no

encontro entre sujeitos e ambiente

social”. (Registro das professoras,

2013)

Salles e Faria (2012)

Tempo e espaço

na Educação

Infantil

“Acreditamos que o tempo e espaço

na Educação Infantil devem

possibilitar novos aprendizados

dentro dos ambientes internos

quanto externos e, a melhor

utilização do tempo com atividade

que promovam o conhecimento hás

diversas áreas cognitivas, plástica,

verbal, motora, efetiva entre

outras”. (Registro das professoras,

2013)

DCNEI (2010)

Barsosa e Horn (2010)

Linguagens na

Educação Infantil

“Contemplar as diversas linguagens,

de forma não estanque e que

favoreçam a valorização da

individualidade, vivências e

experiências das crianças”.

(Registro das Professoras, 2013)

DCNEI (2010)

Gobbi (2010)

Barbosa (2009)

Avaliação na

Educação Infantil

“O grupo acredita que a avaliação

na Educação Infantil deve se dar a

todo o momento, retratando o

cotidiano das crianças, seu

desenvolvimento e vivências,

valorizando o melhor que cada

DCNEI (2010)

Ostetto (2000)

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indivíduo demonstra, respeitando

seu tempo e suas especificidades. A

avaliação também inclui a visão do

adulto em relação a essas questões

para aprimorar o trabalho a ser

desenvolvido, enriquecendo as

aprendizagens de acordo com as

características de cada criança e de

cada grupo. É um PROCESSO,

acima de tudo!” (Registro das

professoras, 2013)

Articulação entre

a Educação

Infantil e o Ensino

Fundamental

“Um currículo assim montado, que

permita ao aluno escolher e usar

seus recursos cognitivos para

resolver os problemas do cotidiano,

certamente estará propiciando a

estruturação do pensamento lógico

de que a criança necessita para

aprender a ler, escrever e contar”.

(Registro das professoras, 2013)

DCNEI (2010)

Kramer (2006)

Ferreiro (2000)

Diante dos relatos das professoras, é possível vislumbrar as concepções

imbricadas em cada registro. O papel da Secretaria de Educação foi sistematizar os

registros, buscando articular com os referenciais teóricos que corroboram com o

defendido pelas professoras.

Os capítulos 4 e 5 tratam da Educação Inclusiva e da Educação no Campo,

respectivamente. O trecho que aborda a Educação Infantil na perspectiva da Educação

Inclusiva foi elaborado tendo como base a legislação municipal84

. Em conversa com as

84

Resolução Nº 039/2014 do Conselho Municipal de Educação, que “Estabelece Diretrizes

Operacionais para Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva e para o Atendimento

Educacional Especializado dos estudantes com Deficiências, Transtornos Globais de Desenvolvimento

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professoras, foi possível perceber o quanto esta temática é nova e que muitas delas

possuem dúvidas sobre como trabalhar a inclusão na Educação Infantil85

. Já em se

tratando da Educação Infantil no campo, o respaldo foi na publicação de Silva & Pasuch

(2010), quando defendem que as experiências vivenciadas nas Escolas do Campo

precisam se aproximar da realidade das crianças, valorizando os saberes do campo, sem

perder o contato com outras culturas, para além do campo.

No capítulo seguinte da PPMEI, está definido o papel dos profissionais que

atuam no cuidado e educação das crianças nas instituições escolares – equipe gestora,

professoras e funcionárias. Nesta perspectiva, as professoras relataram nos encontros

que formação que

“o real papel do professor de Educação Infantil é principalmente o de

mediar experiências, construir conhecimentos, proporcionar as mais

diversas linguagens, para que a criança aprenda sobre si e sobre o

mundo que o cerca, facilitar a socialização, propor desafios, estimular

a autonomia e a identidade, organizar ambientes, tempos e materiais.

Considerar os desejos e interesses das crianças, contemplando, assim,

o desenvolvimento integral da criança”. (Registro das professoras,

agosto de 2013)

Uma das professoras, utilizando a ideia de Lóris Malazugi (As cem

Linguagens), cria um poema relatando as Cem Linguagens da professora:

A professora também tem cem linguagens....

Ela também é feita de cem.

Ela tem:

Cem modos de ensinar,

Cem modos de amar,

Cem modos de falar,

Cem modos de escutar,

Cem modos de entender e

Cem modos de revelar as vozes de seus alunos, que aqui seguem

registrados. (Professora Eloisa Andrada, 2013)

(TGD) e Altas Habilidades/Superdotação para todas as etapas e modalidades da Educação Básica

Pública e de Educação Infantil Privada, pertencentes ao Sistema Municipal de Educação da Cidade do

Rio Grande” disponível em http://www.riogrande.rs.gov.br/smed/wp-

content/uploads/2014/12/20141219-cme-resolucao_039-educacao_especial.pdf

85 Cabe destacar que a Secretaria de Município da Educação possui um Núcleo de Diversidade e

inclusão que realizam encontros de formação períodos com as professoras da rede municipal,

com o intuito de orientar as práticas de educação inclusiva nas escolas.

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Nos capítulos finais da PPMEI é possível vislumbrar a participação das

crianças e das famílias na construção deste importante documento para o trabalho na

Educação Infantil municipal.

Quando se pensou numa proposta que identificasse a Educação Infantil no

município, de imediato foi lançado um desafio às professoras da rede municipal: ouvir

as manifestações das crianças, a respeito da escola onde estão inseridas, para que tais

manifestações também viessem a integrar a PPMEI. A proposta era elaborar um registro

que contemplasse as vozes/manifestações das crianças sobre a escola, respondendo a

seguinte questão: O que você pensa sobre a tua escola? Não ficou estabelecida

nenhuma metodologia para a produção deste material. As professoras puderam explorar

o máximo a capacidade criativa do grupo.

O material foi apresentado em uma reunião com as coordenadoras pedagógicas

das escolas. Neste encontro, foi possível vislumbrar a riqueza dos registros e também o

quanto as professoras se dedicaram em ouvir o que as crianças realmente tinham a dizer,

respeitando assim, seus desejos e suas vontades. Dentre os registros apresentados cabem

citar os vídeos com gravações das crianças, cartazes, fotografias, portfólios, cartas,

maquetes e atividades de recorte e colagem.

Com este material em mãos, a função da Secretaria da Educação foi sistematizar

as informações e elaborar uma escrita que viesse a contemplar os dados produzidos. Neste

sentido, percebeu-se que as crianças apontaram duas categorias: elas demonstraram a

necessidade de explorar as múltiplas linguagens e também a reorganização e valorização

dos espaços/ambientes nas escolas.

Quanto à exploração das múltiplas linguagens:

Brincar, pintar, desenhar, dançar, festejar, cantar, modelar, é o que as crianças

mais gostam de fazer nas escolas de Educação Infantil de nosso município. Com isso,

percebe-se uma forte relação com as diferentes linguagens da criança na satisfação em

experimentar, explorar, vivenciar diferentes formas de se manifestar.

Sabemos que as crianças expressam-se utilizando várias linguagens,

com as quais constroem a si mesmas e as culturas nas quais estão

inseridas levando-as ao encontro entre palavras, choros, sons,

movimentos, traçados, pinturas, todos imbricados em ricas

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manifestações, mas que, por vezes, encontra-se enfraquecida no

cotidiano infantil devido à ausência de propostas, que mesmo simples,

procurem garantir processos de criação em que os questionamentos, a

busca criativa por diferentes materiais, o respeito pelo trabalho

individual e coletivo, estejam presentes. (GOBBI, 2010)

É importante perceber as linguagens como formas da criança exteriorizar suas

sensações, seus sentimentos, que vão para além da expressão oral e/ou escrita. Nas

escolas da infância, as crianças devem, e a partir das manifestações foi possível afirmar

que experimentam e desfrutam das mais diversas formas de manifestação.

Quanto aos espaços/ambientes nas escolas:

A maioria das crianças prefere brincar na praça e ou pátio da escola, mas apontam

para falta de opções e fragilidade da maioria das praças das escolas, mostrando que

precisam do espaço e tempo adequado para o brincar, como foi relatado:

“Eu gosto de brincar. Brincar de um monte de coisas, água e gelo, de graça,

de bola, na pracinha. Ah e de esconde também, mas aqui não da né? Tinha

que ter árvore aqui nesse pátio, ai dava pra se esconder.” (Relato das

crianças, 2013).

Mas há também aquelas que preferem o aconchego da sala, da proximidade dos

colegas e o olhar da professora sobre ela. Como expresso uma criança:

“Minha escola é muito linda, eu gosto de vir para escola, para aprender

bastante coisa com a minha professora, também brincar, adoro dançar, ouvir

histórias, fazer teatro e também é muito bom ir na praça e brincar muito”.

(Relato das crianças, 2013)

A proposta de ouvir necessita da acolhida do adulto frente às manifestações das

crianças e estas estão em constantes descobertas no tempo e espaço a que pertencem e (re)

organizando-o conforme suas necessidades do momento. Foi observado também, através

dos relatos, que para as crianças não importa a dimensão do espaço/tempo, elas querem e

precisam aproveitar através das brincadeiras e interações com os colegas e as professoras.

Isto ficou claro nas palavras, desenhos, vídeos expressos pelas crianças nos registros.

A PPMEI além de afinar conceitos, de orientar o trabalho pedagógico na

Educação Infantil do município, de compreender a relação entre o que as crianças

desejam e as políticas públicas para a infância, buscou também possibilitar a criação de

parcerias entre as Instituições de Educação Infantil com as famílias.

As contribuições das famílias para a PPMEI se deu através de um questionário,

onde elas puderam destacar os principais pontos sobre a escola na qual seus filhos estão

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inseridos. Este instrumento foi um dos mecanismos escolhidos pelas instituições como

sendo o mais eficazes na relação entre família e escola. Staccioli (2013, p.149) destaca que

“O bem-estar de cada criança está estritamente ligado à relação que os educadores

conseguirão estabelecer com seus familiares.”

As questões contidas nos questionários giram em torno dos horários de

atendimento às crianças, organização de entrada e saída na escola, espaços físicos, as

relações entre a professora e as crianças, entre outros. Porém, cabe destacar aqui as

expectativas das famílias frente o trabalho da instituição.

Muitas famílias esperam que a Educação Infantil inicie com o processo de

sistematização da alfabetização das crianças. Para tanto, percebeu-se a necessidade de

salientar às famílias os objetivos da educação Infantil, mostrando o trabalho que é

desenvolvido com as crianças e que as prioridades na ação com elas giram em torno do

brincar e das interações, confirme disposto nas DCNEI (2010).

Durante uma reunião com as coordenadoras pedagógicas, uma delas relatou

que, a partir do questionário encaminhado às famílias, percebeu a necessidade de

chama-las para destacar o trabalho desenvolvido com as crianças na Educação infantil,

declarando que as aprendizagens acontecem através das experiências oportunizadas às

crianças no cotidiano da escola e que a prática de leitura e escrita sistematizada acontece

nos primeiros anos do ensino fundamental.

Avaliando a PPMEI

Após os movimentos, os encontros, as discussões que originaram o texto

referência da PPMEI, retornamos às escolas tal documento para que os profissionais da

educação Infantil pudessem ler, analisar, indicar alterações e /ou modificações que se

fizessem necessárias.

A devolutiva das escolas foi positiva, pois destacaram a importância do documento

para orientação das práticas educativas com as crianças na educação infantil no município.

Porém, sentiu-se a necessidade de algo mais concreto, mais metodológico que viesse a

definir as especificidades do trabalho na creche e na pré-escola.

Foi então que, após o estudo e aprofundamento teórico do que está estabelecido

pelas DCNEI (2010), verificou-se a necessidade de estabelecer as Diretrizes

Municipais para a Educação Infantil, de forma a elucidar aos profissionais as

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principais ações do seu fazer pedagógico, junto às crianças. Essas diretrizes, longe de

engessar o trabalho das professoras, busca orientar as propostas curriculares de cada

profissional e das instituições.

Na construção dessas diretrizes, de forma a não fragmentar os conhecimentos

por áreas, ou subordinar as práticas pedagógicas às etapas do desenvolvimento da

criança ou às datas comemorativas, está defendida uma concepção de currículo

integrado que leve em consideração as necessidades e interesses das crianças. Tanto as

DCNEI (2010), quanto as Diretrizes Municipais, visam a garantia das experiências

mínimas a serem vivenciadas no cotidiano da Educação Infantil. As Diretrizes

Municipais defendem que o professor da Educação Infantil deve oferecer às crianças da

creche e da pré-escola, experiências que valorizem as interações e as brincadeiras. É

importante destacar que as Diretrizes Municipais foram construídas com as

coordenadoras pedagógicas das instituições.

Encaminhamentos a partir da PPMEI

Após a versão final da PPMEI ser encaminhada às escolas da rede municipal, a

indicação era que ela pudesse dialogar com os Projetos Políticos Pedagógicos (PPP) das

instituições. Além da revisão dos PPP’s, também se lançou às escolas uma proposta de

formação continuada para 2015, cuja finalidade era que o processo formativo ocorra

“por dentro da escola”, buscando constituir grupos de trabalho que possam pensar na

formação a partir da realidade que vivenciam, dialogando, problematizando, refletindo e

propondo estratégias pedagógicas que promovam ações e planos de trabalho que atendam as

necessidades e peculiaridades de cada instituição escolar86

.

Por fim, a Proposta Pedagógica Municipal para a Educação Infantil, afirma a

importância deste, que é considerado um documento voltado à politica pública da

Educação Infantil municipal. A forma coletiva e democrática na qual se pautou sua

construção garante a lisura do seu conteúdo.

86

Cabe destacar que esta estratégia ainda está em andamento, e teremos uma avaliação da

mesma no final do ano.

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Referências

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes

curriculares Nacionais para a educação infantil / Secretaria de Educação Básica. –

Brasília: MEC, SEB, 2010.

GOBBI, Márcia. Múltiplas linguagens de meninos e meninas no cotidiano da educação

infantil. 2010. Acessado em

http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=6678-

multiplaslinguagens&category_slug=setembro-2010-pdf&Itemid=30192

KUHLMANN JUNIOR, Moysés. Infância e educação infantil: uma abordagem

histórica. 5ª ed. Porto Alegre: Mediação, 2010.

OSTETTO, Luciana Esmeralda. Encontros e encantamentos na educação

infantil: partilhando experiências de estágio. 10ª ed. Campinas, SP: Papirus, 2012.

SALLES, Faria.; FARIA, Vitória. Currículo na Educação Infantil: diálogo com os

demais elementos da proposta pedagógica. 2° edição. São Paulo: Ática, 2012.

SILVA, Ana Paula Soares da; PASUCH, Jaqueline. Orientações curriculares para a

educação infantil no campo. 2020. Acesso em

http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=6675-

orientacoescurriculares&Itemid=30192

STACCIOLI, GIANFRANCO. Diário do acolhimento da infância. Campinas, SP.

Autores Associados, 2013.

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Gestão escolar da educação infantil: Estudo de caso em um município paulista

Marcella Paluan87

Esta pesquisa, em nível de Mestrado, encontra-se em andamento e decorre de

uma pesquisa mais ampla intitulada “Gestão de sistemas e unidades públicas de

Educação Infantil: análise de uma microrregião no estado de São Paulo”. O município

escolhido para este estudo de caso, de tipo etnográfico (André, 2005), apresenta certa

especificidade na organização da estrutura administrativa da Educação Infantil em sua

rede municipal. A rede conta com duas diretoras para oito creches e uma diretora e vice

para sete pré-escolas. Diante disso, temos acompanhado a rotina de quatro unidades de

Educação Infantil, sendo duas consideradas como “sede” (em que a diretora permanece)

e duas como “não-sede”. Admitindo a gestão democrática como elemento indispensável

para se atingir os fins pedagógicos da educação (PARO, 2012), buscamos compreender

como essa estrutura organizacional da gestão educacional influencia na qualidade da

Educação Infantil.

Referências bibliográficas

ANDRÉ. M. E. D. A de. Estudo de caso em Pesquisa e Avaliação Educacional.

Brasília: Líber Livro Editora, 2005. 68p. (Série Pesquisa; vol 13).

PARO, V. H. Administração Escolar: Introdução Crítica. 17ª ed. São Paulo, Cortez,

2012.

Palavras-chave: Educação Infantil. Gestão. Gestão democrática.

87

Mestranda em Educação pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto,

Universidade de São Paulo.

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Gestão democrática na educação infantil: em foco as reuniões com as

famílias88

Maria Aparecida Guedes Monção89

Resumo

O propósito deste trabalho é analisar a comunicação entre famílias e educadores nas reuniões.

Trata-se de um excerto de uma tese de doutorado cujo objetivo geral é analisar a interação entre

famílias e educadores em um Centro de Educação Infantil (CEI), com vistas a identificar a

especificidade da administração educacional nesse segmento. É uma pesquisa qualitativa,

mediante estudo de caso de cunho etnográfico, realizado no período de 2010 e 2011, em um CEI

da rede municipal de São Paulo, que atende crianças de 0 a 4 anos. Os procedimentos

metodológicos conjugaram observação participante, análise documental e entrevista

semiestruturada com os profissionais e com as famílias. Os resultados da pesquisa

evidenciaram que a relação entre educadores e familiares é permeada por conflitos e no que se

refere à comunicação entre educadores e famílias nas reuniões constatou-se que há pouco

diálogo e na maioria das vezes as famílias ouvem os profissionais e pouco se pronunciam. Palavras-chave: Educação Infantil; Relação entre Educadores e Famílias; Gestão Democrática.

Introdução

A gestão90

democrática não é um tema novo em nosso cenário educacional. Desde 1988,

ela figura como um princípio de nossa educação nacional, expresso na Constituição Brasileira.

Alicerçada pelos princípios da descentralização, autonomia e participação, a gestão democrática

possibilita aos sujeitos envolvidos diretamente na educação definir os rumos do projeto político

pedagógico e das políticas públicas educacionais, de modo a garantir transparência e exercer o

controle social sobre o Estado.

Partindo da concepção de educação democrática, emancipatória, a função da escola é a

formação integral do ser humano, nas dimensões individual e social. Nessa perspectiva, a

“educação para a democracia” é um dos eixos que deve nortear o projeto político-pedagógico

das escolas, por meio da gestão democrática, referendando a dimensão dialógica da educação,

que deve ser expressa nas práticas de administração no âmbito dos sistemas de ensino e das

unidades escolares.

88 Este texto é fruto de pesquisa de doutorado realizada no período de 2009 a 2013 na

Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.

89 Professora do curso de Mestrado em Educação da Universidade Cidade de São Paulo

(UNICID).

90 Neste texto utilizo os termos “administração escolar” e “gestão” como sinônimos.

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O conceito amplo de administração como a “utilização racional de recursos para a

realização de fins determinados” (PARO, 2000, p. 18) serve como ponto de partida para analisar

a administração escolar considerando sua especificidade, tendo em vista a existência de

objetivos antagônicos entre a área empresarial, movida pelos interesses capitalistas, e a

educacional, fundamentada na educação emancipatória.

A gestão escolar democrática volta-se para a mudança social, rompendo com o senso

comum de administração escolar originado na ótica empresarial capitalista, baseada em relações

autoritárias em que predomina a submissão. Acrescenta-se também, como condição necessária

para a constituição da gestão democrática a compreensão de que a gestão escolar envolve a

articulação de todos os trabalhos desenvolvidos na escola, integrando atividades, meios e fins

para seu funcionamento e organização: “[...] se o administrativo é a boa mediação para a

realização do fim e se o fim é o aluno educado, não há nada mais administrativo do que o

próprio pedagógico, ou seja, o processo de educá-lo” (PARO, 2002, p. 20).

Esse conceito crítico de gestão escolar, voltado para a mudança social, só pode ter como

fim o pedagógico e, portanto, a busca da educação para a democracia. Esta, por sua vez, exige a

democratização das relações internas da escola, seja no que tange ao interior da sala de aula,

seja no que se refere às relações estabelecidas entre os diferentes sujeitos que compõem a

escola: estudantes, professores, famílias, profissionais de apoio e equipe de gestão.

A educação infantil é a primeira etapa da educação básica, cuja função é integrar o

cuidado e a educação em ação complementar à família e à comunidade, de modo a promover o

desenvolvimento integral da criança e a garantia de seus direitos e de suas famílias. A

especificidade das instituições de educação infantil evidencia-se na integração entre o cuidado e

a educação e em seu compartilhamento entre educadores e famílias.

Compartilhar a educação da criança entre profissionais e famílias é um elemento-chave

para a constituição de uma educação infantil democrática e de qualidade. Trata-se de ampliar a

visão da educação das crianças pequenas nas sociedades contemporâneas, considerando as

novas configurações das organizações familiares e reconhecendo as instituições de educação

infantil como um dos contextos atuais de socialização da primeira infância.

O compartilhamento da educação da criança pequena situa-se em dois âmbitos: nas

políticas públicas, no que diz respeito ao papel do Estado, que é o de garantir a universalização

e a qualidade das creches e pré-escolas por meio de uma política pública que se paute nos

direitos fundamentais das crianças; e nas práticas cotidianas nas unidades de educação infantil,

ao consolidar uma cultura de diálogo e negociação, entre famílias e educadores, sobre a

educação das crianças pequenas.

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No cotidiano das unidades de educação infantil, para garantir os direitos e necessidades

das crianças pequenas, é necessário um permanente diálogo entre os adultos responsáveis por

sua educação – famílias e educadores –, para definir objetivos comuns e partilhar experiências.

A faixa etária das crianças que frequentam educação infantil exige um acompanhamento dos

adultos que lhes são próximos, para subsidiá-las, dentre outras coisas, a construir conhecimentos

sobre si e sobre o mundo.

Segundo o parecer sobre a revisão das Diretrizes Curriculares Nacionais para a

Educação Infantil, o atendimento integral dos direitos da criança:

[...] requer que as instituições de educação infantil, na organização de sua

proposta pedagógica e curricular, assegurem espaços e tempos para a

participação, o diálogo e a escuta cotidiana das famílias, o respeito e a

valorização das diferentes formas em que elas se organizam. (BRASIL, 2009,

p. 13)

A participação das famílias no cotidiano das instituições de educação infantil é

considerada como um dos elementos que definem a qualidade do atendimento (CORRÊA, 2001;

BRASIL, 2006; SILVA, 2011). Entretanto, apesar da importância dessa interação, esse é um

dos aspectos mais delicados e complexos que permeia o cotidiano das instituições de educação

infantil e desencadeia conflitos permanentes (HADDAD, 1993; MONÇÃO, 1999). Há muitas

dificuldades no contato diário entre professoras e famílias para promover o compartilhamento

do cuidado e a educação da criança pequena. Os estudos sobre essa temática evidenciam que as

concepções de família, de maternidade e do papel da mulher são elementos centrais para

compreensão dessa relação (CASTELLO, 1992; FRANSCISCATO, 1996; VITÓRIA, 1997).

As crianças ouvem e acompanham cotidianamente as insatisfações das professoras com

as famílias, como também a insatisfação das famílias com relação às professoras, por meio de

comentários e reclamações realizados na sua presença, na maioria das vezes, sem nenhum

cuidado. Apesar de ser o mote de tais conflitos, a criança fica “invisível” para os adultos, que

pouco atentam aos seus sentimentos, esquecendo-se que as crianças aprendem ao observar e

participar das interações, as quais podem contribuir positiva ou negativamente para a

constituição da imagem que elas constroem sobre si, sobre sua família e sobre os educadores.

Nesse sentido, a natureza do compartilhamento evidencia-se especialmente pela sua

dimensão relacional, que historicamente é fonte de conflitos e tensões entre famílias e

educadores. As emoções, expectativas e valores que circundam essa relação exigem, tanto das

famílias quanto dos educadores, um olhar crítico e uma escuta cuidadosa a respeito das

impressões e sentimentos, nesse processo, bem como a compreensão de que as tensões e

contradições daí originadas provêm de questões sociais, econômicas, políticas e de gênero, não

se restringindo apenas às dificuldades individuais.

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Estudos italianos (BONOMI, 1998) assinalam a necessidade de se vincularem

necessidades e direitos das crianças, educadores e famílias, a fim de construir relacionamentos

que alicercem um atendimento de qualidade e a assunção de toda sociedade quanto à

responsabilidade na educação das crianças pequenas, considerando educação infantil um projeto

da comunidade.

Reconhecer a criança, em sua integralidade, como um compromisso de todos e não

apenas da família pressupõe ter como base o diálogo e a negociação, conhecendo as famílias e

suas expectativas, na trilha de uma cultura de partilha de ideias e experiências a respeito da

educação da primeira infância.

Com a preocupação de analisar as relações existentes entre famílias e profissionais da

educação infantil, no processo de compartilhamento da educação da criança pequena,

realizamos pesquisa empírica em um Centro de Educação Infantil – CEI – da rede municipal de

São Paulo, no período de 2010 a 2011.91

Os dados foram coletados por meio de observação

participante, análise documental e entrevistas semiestruturadas com 11 professoras, um

professor, três coordenadoras pedagógicas, uma diretora, dois agentes técnicos de educação, um

agente escolar, uma auxiliar de limpeza, uma auxiliar de cozinha, uma supervisora de ensino e

18 famílias92

.

A observação foi realizada para compreender o cotidiano da instituição em diferentes

momentos da rotina, e nas diferentes modalidades de reuniões: de formação continuada, com as

famílias e conselho de CEI.

A análise documental envolveu a leitura e análise dos documentos internos da unidade e

da Secretaria Municipal de educação.

As entrevistas realizadas foram do tipo semiaberto, utilizando-se um roteiro pré-

estabelecido. Ao compor o grupo de professoras que seriam entrevistadas, buscou-se garantir

91 Este texto é parte de um capítulo da tese Gestão democrática na educação infantil: o

compartilhamento da educação da criança pequena, defendida no Programa de Pós-Graduação

em Educação da Universidade de São Paulo, em 2013, sob a orientação do Professor Dr. Vitor

Henrique Paro.

92 Os nomes do CEI, dos profissionais, das famílias e das crianças são fictícios. Todos os

profissionais e famílias foram devidamente informados quanto ao teor desta investigação e

consultados no que diz respeito ao seu interesse em participar. Ao concordar em participar da

pesquisa, foi apresentado o Termo de Consentimento para cada sujeito, deixando uma cópia

com cada participante e uma com a pesquisadora.

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que entre elas estivessem representadas: 1) professoras de todos os agrupamentos – Berçários,

Minigrupo 1 e Minigrupo 2; 2) professoras dos dois turnos de trabalho – manhã e tarde; 3)

professoras oriundas da Secretaria de Assistência Social – SAS –, professoras de módulo e

professoras que eram membros do conselho de CEI.

Para a escolha das famílias a serem entrevistadas, os critérios estabelecidos foram: 1)

mãe ou pai de crianças de todos os grupos do CEI; 2) mãe ou pai cujo filho utiliza transporte

escolar e que não comparece no CEI, e mãe ou pai que comparece ao CEI cotidianamente para

levar e buscar seu filho; 4) mãe ou pai que participa das reuniões e mãe ou pai que não participa

das reuniões; e 6) mãe ou pai que participa do conselho de CEI e da APM.

A coleta e a organização dos dados foram realizadas a partir de três eixos analíticos: 1) a

relação entre professoras e crianças; 2) a relação entre professoras e equipe de gestão; e 3) a

relação entre educadores e destes com as famílias.

A análise dos dados deu-se ao longo de todo o processo de coleta, foi realizado um

minucioso trabalho de categorização buscando a relação com a bibliografia utilizada. A partir de

cada eixo analítico foram identificadas as categorias de análise.

As categorias analisadas no eixo relação entre educadores e famílias foram: 1) formas

de comunicação com as famílias; 2) o compartilhamento da educação e cuidado da criança; 3)

participação das famílias no conselho de CEI.

O presente artigo trata do conteúdo de uma subcategoria “reuniões com famílias” da

categoria “Formas de comunicação com as famílias”.

Formas de comunicação no CEI: em foco as reuniões com as famílias

A qualificação da comunicação entre famílias e educadores no dia a dia é essencial para

constituir uma relação profícua que permita aproximação e integração entre o contexto familiar

e o educacional.

As reuniões entre familiares, professoras e equipe de gestão são momentos importantes

para aprofundar o processo de compartilhamento da educação das crianças pequenas, ocasião

privilegiada para trocas de informações sobre as crianças entre professoras e famílias. Estas

últimas podem socializar a maneira como educam seus filhos, seus dilemas e suas inquietações

sobre o desenvolvimento das crianças. São ocasiões propícias também para estreitar os laços

entre as famílias, compartilhar experiências e reflexões e ampliar suas concepções sobre o papel

parental, a infância e a política pública de educação infantil.

Entretanto, é comum nas instituições de educação infantil esse momento transformar-se

em repasse de informações sobre regras de funcionamento, eventos, calendário da unidade.

Ouso dizer que em muitas instituições há um monólogo das professoras; as famílias escutam e,

algumas vezes, timidamente falam sobre seus filhos ou perguntam sobre algo.

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No pesquisado, as reuniões ocorrem em duas modalidades: a reunião geral, com todas

as famílias, equipe de gestão e professoras, realizada normalmente no início do ano; e em

momentos em que é preciso informar e encaminhar questões como: calendário da unidade,

reposição de aula e reuniões específicas de cada agrupamento.

Por dois anos consecutivos, observei as duas modalidades de reuniões, que ocorriam de

forma muito similar. A primeira reunião do ano é realizada de acordo com os agrupamentos:

berçários ou minigrupos. A primeira parte acontece no auditório, sendo conduzida pela diretora

e pela coordenadora pedagógica; na sequência, os familiares dirigem-se às salas em que suas

crianças permanecerão, para a reunião com as professoras.

No auditório, a reunião tem início com a apresentação das professoras. Os informes das

reuniões são sempre os mesmos e ressaltam exclusivamente as responsabilidades das famílias

com relação a cumprimento de horários cotidianamente e no período de adaptação, autorização

atualizada para buscar a criança na unidade, cuidados com a higiene e saúde das crianças,

organização das mochilas, leitura da agenda diariamente, colocação de nomes nas roupas e

materiais das crianças.

O segundo momento da reunião é realizado nas salas em que as crianças ficam

diariamente, e é coordenado pelas professoras. Em apenas uma das salas que observei foi

realizada uma dinâmica, em que as professoras solicitavam que as famílias escrevessem quais

eram suas expectativas com relação ao CEI. Nessa sala, as professoras acolhiam afetivamente as

famílias e suas perguntas, tentando tranquilizá-las e demonstrar a qualidade do atendimento.

Os informes são repetidos, enfatizando a necessidade de as famílias cumprirem as

regras e horários de funcionamento da unidade. Esse foi um aspecto que me chamou a atenção,

pois são os mesmos informes em todas as reuniões durante todo o ano, mas são passados como

se fosse pela primeira vez. Inexiste uma ação compartilhada entre as partes, apenas a

responsabilização das famílias com relação a seus deveres. Talvez pelo fato de não haver um

processo de matrícula que envolva e dialogue com as famílias de maneira a conhecer sua forma

de educar, tais informações parecem que não fazem muito sentido para elas ou não condizem

com suas condições de efetivá-las, sem contar que essas regras são constantemente retomadas

por meio de cartazes em frente às salas das crianças.

Apesar da importância da primeira reunião para a constituição do vínculo entre famílias

e educadores, o tom predominante nesse encontro é prescritivo, com ênfase exclusiva nas

normas, que, apesar de repetidas continuamente, não promovem reflexão a respeito de seu

significado para a educação da criança. São regras elaboradas para as famílias e não com elas.

Porém, a ausência de reflexão sobre isso impede os educadores de perceber que, introduzidos

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dessa maneira, os informes em nada contribuem para modificar as relações com as famílias; ao

contrário, mesmo sem perceber as professoras reforçam uma relação impositiva e pouco

inclusiva.

Não há espaços que permitam às famílias socializar seus sentimentos; algumas até

expressam suas inseguranças, que são tratadas pelas professoras como algo individual e com

destaque na necessidade de a família confiar no trabalho realizado.

A recorrente afirmação das professoras com relação à necessidade da confiança da

família no trabalho realizado no CEI dá a entender que elas não concebem a confiança como

uma construção que requer tempo e conhecimento entre as partes envolvidas; ao que parece,

compreendem que a instituição já é revestida de uma “aura” que exala confiança, simplesmente

por existir e ter um quadro de profissionais com formação pedagógica.

Além da primeira reunião do ano, existem as reuniões bimestrais nos grupos específicos

– berçários ou minigrupos – ora no período da manhã ora no período da tarde, e as professoras

revezam-se na coordenação e definição da pauta. Essa forma de organização não garante a

reflexão sobre o planejamento e avaliação das reuniões entre as professoras dos dois períodos.

Os conteúdos abordados não são analisados coletivamente: ocorre apenas a socialização de

dinâmicas de grupo, textos ou vídeos, que podem ser utilizados por todos. Algumas professoras

preparam a reunião de modo a proporcionar diálogo com as famílias e estimulam que façam

perguntas, mas isso não é uma ação coletiva.

Há uma regularidade em iniciar a reunião com a leitura de um texto, seguida por uma

dinâmica de grupo e informes que são sempre os mesmos. Após os informes, as professoras

relatam o trabalho desenvolvido, descrevem os projetos, socializam as produções das crianças –

desenhos e, semestralmente, os relatórios de avaliação. Quando a reunião ocorre para repor

algum dia de funcionamento do CEI, em geral é realizada aos sábados, nos moldes de uma

oficina, e conta com a participação das crianças, tal como aconteceu na última reunião na sala

do Berçário 2, em 2010, em que as professoras realizaram uma roda de música com as famílias

e seus filhos, entregaram os relatórios de avaliação das crianças e depois as crianças e seus

familiares participaram de outra atividade recreativa.

Geralmente, os relatórios das crianças são entregues para que as famílias leiam, assinem

e devolvam para a professora. Não há nenhuma discussão sobre eles, é uma ação bem formal.

Pareceu-me que muitos pais nem compreendem seu conteúdo, além das questões

comportamentais. Apesar das reflexões para a sua elaboração, a apresentação dos relatórios para

as famílias parece não ter sentido, não tem efeito formativo.

Nessas reuniões, assim como na reunião geral, as famílias ouvem muito e pouco se

expressam. Quando falam, sempre fazem perguntas sobre a rotina, alimentação e

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comportamento das crianças, especialmente se batem em outras crianças, indagações às quais as

professoras respondem prontamente.

Mas a preocupação com o comportamento das crianças é reforçada muitas vezes pelas

professoras. Ilustrativo disso é o caso de uma reunião do Minigrupo 2, em que a professora

Zoraia falou sobre a agressividade das crianças e disse ter enviado bilhetes para as mães cujas

crianças apresentaram esse comportamento no CEI, o que desencadeou uma série de

manifestações das famílias, solicitando informações sobre seus filhos, como nos exemplos a

seguir:

Tatiana, mãe de Rosiska, diz: “Igual à questão do palavrão, eu não falo, mas

meu marido fala. Eu sabia que um dia ia acontecer isso na escola. Até no

posto de saúde, esses dias ele [filho] xingou porque doeu.”

Na sequência, Veruska, mãe de Karina, pergunta sobre sua filha e a

professora responde: “A Karina tem o gênio forte, mas ela não me responde

quando falo com ela. Ela tem dificuldade para comer.” A mãe pergunta em

que momento se manifesta essa dificuldade e a professora informa que é na

hora do almoço.

Núbia, mãe de Julieta, do Minigrupo 2, relata que sua filha fala sempre de

namorados e a professora Zoraia afirma: “Aqui a gente não deixa eles

ficarem com essas gracinhas, são amigos.”

Pode-se perceber que não há propriamente um diálogo, mas um conjunto de perguntas

que a professora responde sem promover nenhuma reflexão além de sua observação pessoal,

que pouco retrata os pressupostos teóricos educacionais ou os princípios do projeto pedagógico.

Outra questão que chama a atenção na reunião do Minigrupo 2 e que observei também

em outras salas refere-se a quando as famílias perguntam sobre algum momento da rotina ou

situação que não corresponde ao período em que a professora que está coordenando a reunião

trabalha: ela responde solicitando que os familiares conversem com a docente do outro período,

o que demonstra a falta de integração entre elas.

Percebi muito envolvimento das famílias quando há relatos sobre como seus filhos estão

se desenvolvendo. Os pais ficam felizes e demonstram grande satisfação com o trabalho do CEI.

Dona Floriana, mãe de Ademar, do Berçário 1, diz: “Ele já corre [quando chega ao CEI], quer

ver os amiguinhos dele, ele gosta daqui e eu fico tranquila com isso, ele é bem tratado.”

Tal como acontece nas reuniões do ensino fundamental, ao final permanecem alguns

familiares para tirar dúvidas ou por solicitação da professora.

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Em uma das salas do Minigrupo 1, em 2010, as famílias demonstraram muito interesse

e insegurança com relação à passagem das crianças para a Emei93

no final do ano; entretanto, as

professoras não haviam colocado esse assunto na pauta e, quando as famílias se manifestaram,

abordaram a temática sem aprofundamento.

Noélia, mãe de Fausto, que estava ao meu lado na mesma reunião, durante todo o tempo

falou-me sobre sua preocupação, pois seu filho estava muito acostumado no CEI e ela

acreditava que ele estranharia a nova escola. Essa mãe ficou após a reunião, para conversar com

as professoras sobre isso.

É conhecida, por parte das professoras e educadores do CEI, a preocupação e o receio

das famílias ao transferirem seus filhos para a Emei. A insegurança se dá, especialmente, por

conta do grande número de crianças por sala, com apenas uma professora, e da diminuição do

período de permanência da criança na escola, que passa do integral para o parcial. Entretanto, a

ciência desse fato não é suficiente para mobilizar ações que promovam um processo de

transição a fim de contemplar os cuidados necessários com as crianças e suas famílias.

Novamente, a política da secretaria trata esse momento como mais uma atividade formal, como

se fosse possível desconectá-la da proposta pedagógica.

A transição da criança do CEI para a Emei precisa ser melhor analisada, buscando-se

compreender as repercussões no desenvolvimento infantil, considerando, especialmente, a

ausência de integração entre essas instituições e a diferença em suas propostas pedagógicas.

O dia da família no CEI é um evento previsto para ocorrer semestralmente e tem como

proposta realizar atividades que envolvam as professoras, as crianças e as famílias.

Nesses encontros há sempre uma produção coletiva: desenhos, pintura da cortina da

sala, confecção de brinquedos. Os familiares apreciam muito realizar essas atividades com as

crianças.

As famílias entrevistadas teceram muitos elogios a esse momento, destacando a

importância da participação das famílias para as crianças. Relatam que, por diversas vezes,

ficaram comovidos em ver as crianças cujos familiares não compareceram, percebendo que,

mesmo com a acolhida das professoras, ficavam tristes e solitárias.

Apesar de seu caráter pontual, esse momento demonstra ser muito frutífero para

potencializar a relação com as famílias, talvez pelo seu formato de oficina, com um ambiente

descontraído e alegre. A análise desses encontros pode dar pistas para se repensar a metodologia

usual das reuniões com as famílias. Porém, a maioria das avaliações realizadas trata de aspectos

93

Escola Municipal de Educação Infantil que atende crianças de 4 e 5 anos.

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de ordem organizacional – espaços e materiais –, sem nenhuma vinculação com a importância

do compartilhamento da educação da criança.

Considerações Finais

A comunicação entre educadores e famílias, é uma das dimensões presentes no

cotidiano de uma instituição de educação infantil, e que constitui o compartilhamento da

educação e do cuidado entre educadores e famílias, compreendendo-o como a natureza da

especificidade da gestão democrática nas instituições educacionais destinadas à primeira

infância.

A constituição de um projeto coletivo pressupõe compreender que a prática

democrática não é linear, tem contradições e, paradoxalmente, na busca da democracia podem-

se também promover ações autoritárias, como é o caso das reuniões: apesar de sua natureza

democrática, a forma como tem sido constituído na prática, além de burocrática, pouco favorece

a participação das famílias.

É preciso reafirmar o sentido da educação pública e o direito dos cidadãos de participar

das instituições educacionais, tanto nos espaços coletivos – reuniões com as famílias, conselhos

de escola e APM -, quanto na participação cotidiana direta sobre a educação das crianças.

Romper com a “invisibilidade” das famílias, nas reuniões e no dia a dia, pode contribuir

para inverter a visão negativa da maioria das professoras sobre as famílias e promover a

efetivação do compartilhamento da educação das crianças.

É preciso ter claro que, se o compartilhamento da educação da criança pequena é uma

das finalidades da educação infantil, é salutar enfrentar o debate sobre a especificidade do papel

de cada instituição, da família e do CEI. Mas, como identificar a linha tênue que marca o limite

entre essas duas instituições? Onde é o ponto em que elas se entrelaçam? Como garantir

interações que sejam minimamente invasivas, tanto por parte do CEI como da família?

A luta pelos direitos fundamentais das crianças associa-se à luta pelos direitos dos

trabalhadores que possuem filhos de 0 a 6 anos, a terem garantidos em lei dispositivos que

efetivem o compartilhamento da educação da criança pequena entre o Estado e a família, com

medidas que proporcionem tanto à mãe quanto ao pai a possibilidade de participar das reuniões

e acompanhar o trabalho desenvolvido com a criança no CEI, sem nenhum prejuízo financeiro

ou na carreira. Nessa batalha, os profissionais da Educação devem perceber as famílias como

aliadas.

A discussão sobre a importância da participação das famílias nas instituições de

educação infantil deve extrapolar o contexto educacional e somar força com as lutas por

melhores condições de vida, extinção das desigualdades sociais, pelos direitos das mulheres à

igualdade de oportunidades.

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2009. Revisão das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília,

DF, 2009a. Disponível em:

<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12992>.

Acesso em: 18 setembro 2015.

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Grupo Operativo. 1992. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Instituto de Psicologia,

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CORRÊA, Bianca Cristina. Possibilidades de participação familiar e qualidade na

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Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001.

FRANCISCATO, Irene. As famílias das crianças atendidas pela creche segundo a ótica

de seus profissionais. 1996. Dissertação (Mestrado em Psicologia da Educação) –

Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Educação, Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo, São Paulo, 1996.

HADDAD, Lenira. A creche em busca de identidade. São Paulo: Loyola, 1993.

MONÇÃO, Maria A. Guedes. Subalternidade ou parceria? Um estudo das

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(Mestrado em Psicologia da Educação) – Programa de Pós-Graduação em Psicologia da

Educação, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 1999.

______. Gestão democrática na educação infantil: o compartilhamento da educação da

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Integração entre família e escola: retrato da experiência de professores

no papel de pesquisadores iniciantes

Ana Paula de Barcellos Almeida1

Helen Karina Alexandre Vicente2

Jaime de Freitas Vieira3

Maria Goreti Mião4

Núbia Gomes Mendes da Silva5

Prefeitura Municipal de São Carlos

Resumo:Neste artigo há um relato da experiência de 7 professores-pesquisadores da

Educação Infantil de São Carlos, bolsistas da CAPES pelo programa OBEDUC6, que

visa estabelecer uma relação orgânica entre a escola básica e a universidade através da

pesquisa “Políticas Públicas Municipais de Educação Infantil: diagnóstico e

pesquisa”.Neste trabalho há idéias sobre expectativas dos pais de crianças da pré-

escola, melhoria da relação família e escola e qualidade na Educação Infantil.

Palavras-chave: Infância, Família e Escola, Qualidade na Educação Infantil.

1Professora de Educação Infantil da Prefeitura Municipal de São Carlos

2Professora de Educação Infantil da Prefeitura Municipal de São Carlos

3Professor de Educação Infantil da Prefeitura Municipal de São Carlos

4Professora de Educação Infantil da Prefeitura Municipal de São Carlos

5Professora de Educação Infantil da Prefeitura Municipal de São Carlos

6OOBEDUC(Observatório da Educação) foi coordenado pela Prof.ªDr.ªAnete Abramowicz da

UFSCar.

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Este trabalho conterá um breve relato da prática de um grupo de cinco professores em

efetivo exercício na Educação Infantil da Prefeitura Municipal de São Carlos, que são

bolsistas pesquisadores financiados pela CAPES em parceria com o Programa

Observatório da Educação (OBEDUC). A experiência como pesquisadores iniciantes foi

possível através da coleta de dados realizados para o desenvolvimento do projeto de

pesquisa “Políticas Públicas Municipais de Educação Infantil: diagnóstico e pesquisa”.

A partir de um projeto piloto desenvolvido atualmente no município de

São Carlos – SP pode-se afirmar que o objetivo principal da pesquisa é a elaboração

de indicadores para a realização de um diagnóstico da rede municipal de Educação

Infantil dos municípios brasileiros, com o intuito de subsidiar a avaliação das políticas

públicas considerando a qualidade do atendimento às crianças nesta primeira etapa do

ensino básico.

Para a oportunidade de vivência da prática como pesquisadores no

referido projeto, participamos de um processo seletivo realizado pela UFSCar em

parceria com a Prefeitura Municipal de São Carlos no início de 2013, no qual

respondemos um questionário sobre quais objetivos tínhamos para trabalhar com a

pesquisa e noções sobre a qualidade na Educação Infantil.

O processo seletivo dos bolsistas foi desenvolvido em seis Centros

Municipais de Educação Infantil de São Carlos (CEMEIs) que atendem tanto crianças

de creche (0 a 3anos) quanto de pré-escola (4 a 5anos) no início do anode2013.

A motivação do grupo de professores para iniciar a prática como

pesquisadores se relaciona com a necessidade de atualização de conhecimentos e a

percepção de que para existir qualidade no trabalho com a educação infantil é

imprescindível que o professor seja pesquisador e reflita sobre práticas que garantam

o direito da criança de ser criança, ou seja, não adiantem conteúdos e aprendizagens

que serão proporcionadas no ensino fundamental.

Cabe ressaltar que a metodologia utilizada foi por amostragem e a coleta

de dados ocorreu através da aplicação de questionário com as famílias das crianças

atendidas, possibilitando investigações do perfil socioeconômico dos

responsáveis, nível de escolaridade, raça e profissão dos mesmos, além do

conhecimento do tipo de interações que as famílias têm com as crianças dentro e fora

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do ambiente escolar; dos motivos pelos quais as famílias colocam as crianças nas

escolas e ainda considerações sobre aspectos positivos e negativos da unidade escolar.

Para a realização das entrevistas cada professor-pesquisador recebia uma

lista de alunos de uma unidade escolar especificamente selecionada por um

representante da Secretaria Municipal de Educação (Afonso Canella Henriques,

responsável pela atualização do sistema de cadastro de alunos –SIAED) e contava

com o apoio da direção para adquirir os números dos telefones dos responsáveis e

realizar agendamento de horários.

A primeira visita à escola era basicamente para nos apresentarmos e falar

sucintamente sobre o projeto com a diretora, mostrar-lhe a lista de crianças pré-

selecionadas e pedir autorização para que pudéssemos usar o espaço, o telefone e os

contatos dos responsáveis com o intuito de dar credibilidade à proposta da pesquisa.

Posteriormente, ligávamos para cada responsável e agendávamos um

horário para que comparecessem à escola. Na presença destes realizávamos uma

entrevista que durava cerca de15a 30minutos, variando de acordo com o interesse do

respondente em expor sua opinião detalhadamente.

No total foram 47 CEMEIs participantes da pesquisa e a coleta de dados

durou aproximadamente um ano, nesse período dentre as principais dificuldades

encontradas pode- se destacar o acesso aos números dos telefones dos responsáveis

pelas crianças, pois muitas vezes os pais não atualizam a mudança do número;

momentos em que o telefone da escola era utilizado por outras pessoas ou estava

quebrado e não era possível realizar os agendamentos; caso de crianças afastadas,

transferidas ou que abandonaram a escola e o não comparecimento dos pais aos

encontros marcados.

Para superar essas dificuldades com os pais que não conseguíamos

comunicar por telefone, abordávamos os mesmos na entrada ou saída das crianças na

escola, com ajuda da direção ou professor, e o agendamento era feito pessoalmente ou

ainda por bilhetes enviados nas mochilas. Quando o telefone da escola estava

quebrado usávamos o nosso celular ou íamos à escola mais próxima. Com relação aos

pais que não compareciam aos agendamentos remarcávamos a entrevista em outros

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horários, às vezes até depois do horário escolar, fazíamos por telefone ou na

residência dos mesmos. Para evitar o não comparecimento enviávamos mensagem

por SMS com aproximadamente uma hora de antecedência lembrando-os da

entrevista.

O fato das entrevistas serem realizadas nas escolas contribuiu para

contarmos com o apoio dos diretores e professores, pois já conheciam os pais e nos

auxiliavam em aspectos como a maneira adequada para interagir, melhor horário para

marcar a entrevista, confirmação se a criança foi transferida de escola, se os pais eram

separados e quem buscava ou levava a criança no espaço escolar (se era motorista de

van, irmãos, tios ou avós) etc.

Um momento marcante para o grupo durante o período de entrevistas com

as famílias ocorreu quando uma professora/pesquisadora perguntou a uma mãe sobre

a raça/cor de sua filha, ela respondeu com firmeza que sua filha era negra, e se

orgulhava de ser da raça negra. Ainda se posicionou a favor dos negros se aceitarem

da “cor que são”, ressaltando que não concordava quando uma pessoa negra se define

como morena.

Ao final, a entrevistadora se impressionou com a firmeza com que a mãe

expôs suas idéias e da autoestima desta como pertencente a raça negra. Após um mês

aproximadamente, esta, emocionada, pediu um abraço e agradeceu por ter participado

da entrevista, disse que as palavras a incentivaram cursar a graduação em Ciências

Sociais.

Outra situação relevante para o grupo foi numa escola localizada em um

bairro periférico, no geral, percebemos que neste bairro a maioria das crianças é criada

pelos avós. No dia combinado com os responsáveis pela criança selecionada

apareceram a avó e o avô.

Quando a entrevistadora explicou o motivo do contato, eles demonstraram

certa apreensão, pois disseram que não sabiam ler e nem escrever, após o

esclarecimento de que a entrevista era apenas uma conversa ficaram mais a vontade.

No entanto, quando as perguntas dirigiam-se aos pais da criança os avós ficavam com

os olhos cheios de lágrimas, já que a mãe era usuária de drogas e o pai estava preso.

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Ainda sobre esta entrevista, impressionou a percepção de que nas questões

sobre a convivência em casa diziam que o que eles mais queriam era salvar o neto e se

culpavam de não terem conseguido salvar a filha. Citaram também a importância do

professor, da educação e o quanto gostavam da escola. Ao final da aplicação do

questionário, a avó agradeceu muito porque naquele momento ela se sentiu importante

e respeitada. Parece uma história trivial das classes marginalizadas, mas representou

muito para todos nós.

Cabe ressaltar que os resultados gerais da pesquisa estão sendo

compilados em dados estatísticos, para serem divulgados a Secretaria de Educação e a

toda equipe escolar dos CEMEIs participantes, com o intuito do conhecimento da

clientela atendida na rede pública, possibilitando um direcionamento maior de

investimentos para a primeira etapa da Educação Básica e contribuindo para a futura

elaboração de indicadores de qualidade para a educação infantil.

Porém, através da relação com as famílias das crianças pudemos refletir

sobre a expectativa dos pais ao matricularem seus filhos nas creches e/ou pré-escolas,

estimulando a reflexão sobre concepção de infância, importância da melhoria das

interações entre família e escola e concomitantemente a necessidade de redefinir

políticas públicas para que exista qualidade no atendimento às crianças de 0 a 5 anos

de idade.

O que mais surpreendeu o grupo de professores-pesquisadores foi a

contradição entre o que os documentos legais indicam com o adequados para a prática

pedagógica dos docentes na Educação Infantil e o que pais esperam que a escola

proporcione a seus filhos.

Este fato trouxe à tona questões referentes a importância da atualização do

PPP (Projeto Político Pedagógico) com a participação das famílias, para que haja

reflexão sobre concepção de infância e o que é adequado proporcionar às crianças nos

ambientes escolares.

Segundo Ariès (1981) durante séculos a criança foi considerada como

“um adulto em miniatura”, sem a valorização de suas especificidades, dessa forma

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“mal adquiria algum desembaraço físico, era logo misturada aos adultos, e partilhava

de seus trabalhos e jogos”

(p.4).

No Brasil, a primeira abordagem do reconhecimento da Educação Infantil

como “uma extensão do direito universal da educação” é destacada na Constituição de

1988e é resultado das reivindicações de movimentos populares.

Segundo Moruzzi (2010) a partir desta conquista iniciou-se o debate sobre

qual modelo de educação infantil as creches e pré-escolas pretendiam oferecer, ao

mesmo tempo desencadeou a preocupação com a formação dos profissionais ligados à

áreada educação.

Em seu artigo primeiro, a LDB trata da educação de uma forma muito

ampla e reconhece que a escola compartilha a responsabilidade de educar as novas

gerações com várias outras instituições da sociedade; a família, a convivência

humana,o trabalho,as instituições de ensino e pesquisa, os movimentos sociais e as

manifestações culturais. Portanto, a família e a escola compartilham a

responsabilidade pela educação com várias outras instituições, por isso, os

estabelecimentos de ensino já não podem mais, por imposição legal, serem geridos de

costas para a família e a comunidade.

Assim como existem nas escolas projetos pedagógicos e planos de gestão,

deve existir também uma estratégia de comunicação para promover uma relação de

qualidade entre professores, alunos, funcionários e direção e, destes, com as famílias.

Os pais, além de informações regulares sobre a frequência e o rendimento

de seus filhos na escola, devem ter acesso ao conhecimento da proposta educativa

(projeto pedagógico) da escola, de modo a ter condições de acompanhar a sua

execução. Sem o respeito a esse direito, as famílias não têm como avaliar e contribuir

para melhorar a qualidade da educação oferecida a seus filhos.

Ainda segundo a referida lei, a melhoria das relações da escola com a

família e a comunidade não é um dever apenas da direção da escola. O professor por

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ser aqueleque se relaciona mais diretamente com as crianças desempenha um papel

fundamental nesta integração.Esta é uma questão que precisa ser encarada não só para

a melhoria das relações escola-família-comunidade como também para o resgate do

prestígio e da função social do Magistério.

Silva (2011)indica a necessidade da aproximação “entre os adultos que

compartilham os cuidados e a educação das crianças dentro e fora dos espaços

coletivos e ressalta a importância de não existir uma “hierarquização de poder”, mas

que as relações entre a família e a escola sejam pautadas na abertura para o diálogo,

na confiança e na aceitação das diversas culturas participantes da instituição

educativa.

Segundo a autora as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação

Infantil

(2009) especificam como deve ser a relação família-escola de modo a promover

trocas recíprocas, pois

apresentam a educação infantil como um espaço educativo que tem

o importante papel de compartilhar, de forma indissociável, a

educação e o cuidado das crianças pequenas com suas famílias.

Assegurar o direito à participação, o diálogo e a escuta cotidiana das

famílias, o respeito e a valorização de suas formas de organização

deve ser o desafio constante dos adultos que convivem com essas

crianças nos espaços coletivos das creches e pré-escolas, para que

as culturas infantis possam ser reconhecidas e valorizadas

(SILVA,2011,p.115).

Nesse sentido, pode-se afirmar que os aspectos referentes à prática

docente são primordiais para definir qual o tipo de relação que as famílias

estabelecerão com o ambiente escolar, se serão participativas e que visão terão sobre o

papel da instituição para o desenvolvimento integral da criança.

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Outro aspecto que chamou a atenção deste grupo, após o contato com os

pais pesquisados, foram estudos no campo da Sociologia da Educação, como o de

Vianna que nos fizeram refletir e mudar nosso ponto de vista, demonstrando que nem

sempre os destinos escolares improváveis podem ser explicados pelos “processos

familiares de mobilização escolar”(Laacher,1990; Lahire,1997; apud Viana,1998).A

noção de "mobilização escolar familiar" tem sido entendida como atitudes e

intervenções práticas voltadas para o rendimento escolar dos filhos, ou seja,

participação ativa na escola. Esses estudos apontam para a necessidade de melhor

qualificar e caracterizar as relações das famílias das camadas populares com a

escola.

Uma constatação das pesquisas acerca das relações das famílias populares com a

escola foi que estas não são omissas e indiferentes com relação à escolarização dos

filhos, a despeito da idéia disseminada, sobre tudo entre nós, docentes de que os pais

não se importam com a educação de seus filhos e filhas.

Pelas entrevistas realizadas, o grupo de professores-pesquisadores

puderam observar que uma parte dos pais demonstrou interesse em participar da vida

escolar de seus filhos ao irem à unidade escolar, outra parte avaliou a escola como um

lugar importante para o bom desenvolvimento deles e não sabem como participar da

vida escolar, e uma terceira parcela, apesar de demonstrar pouco conhecimento do

cotidiano destes no interior da escola, acreditavam na instituição como um lugar

seguro e bom para seus filhos.

Concluímos a esse respeito que a omissão escolar dos pais das camadas

populares é um mito produzido pelos docentes, nós pedimos e exigimos a presença

dos pais, ou de alguns pais, geralmente queremos os que não comparecem, e

raramente nos ocupamos em saber os motivos pessoais; fechamos as portas para a

maioria dos pais que querem entrar, tememos de alguma forma estes pais. Ora, não há

omissão dos pais das famílias populares, com relação à escola, “ao contrário, os meios

populares expressam uma forte demanda com relação à escola.” (CHARLOT apud

VIANNA1997, p. 70).

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Durante as entrevistas observamos diariamente e posteriormente na

tabulação dos dados a preocupação dos responsáveis com a alfabetização. Não

estamos falando em letramento (apresentação do mundo letrado), mas em pré-

alfabetização para que as crianças segundo os pais “entrem no primeiro ano sabendo

ler e escrever”. As falas indicavam pedidos para que seus filhos fossem mais

estimulados na área das letras e números, que a escola preparasse melhor as crianças,

que soubessem escrever o nome completo e o nome dos pais, aprender números pelo

menos até 30, dentre outros.

Nesse sentido, pode-se perceber que mesmo com o surgimento da

lei11.274/06 que instituiu a obrigatoriedade das matrículas no Ensino Fundamental

aos 6 anos de idade e a ampliação deste nível de ensino para 9 anos, as famílias

querem adiantar a fase de alfabetização na Educação Infantil.

Dessa forma, pode-se afirmar que é essencial esclarecer aos pais das

crianças de pré-escola que a função docente

Se desenvolve muito mais sobre a organização de contextos estruturantes

que sobre a proposta de estímulos diretos no fazer das crianças, muito mais

sobre a capacidade de reconhecimento e expansão das diversidades dos

estilos de condutas das crianças que sobre a ânsia de conduzi-las para

atuações precisas e pré-definidas (FORTUNATIAPUDSILVA,2009,P.38).

De acordo com o Manual de Orientação Pedagógica do MEC sobre

Brincadeira e Interações nas Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil (2012)

tanto na creche quanto na pré-escola as crianças vão “experimentando ler o mundo

para explorá-lo: vendo, falando, movimentando-se, fazendo gestos, desenhos, marcas,

encantando-se com suas descobertas” (MEC, p. 8).

Sendo assim, cabe ao professor de Educação Infantil explicar às famílias

que o objetivo principal da escola nessa etapa da educação básica é proporcionar

contextos em que as crianças tenham o direito de “poder brincar, criar, refletir,

analisar, pensar com cores, sons e com o corpo” (CUNHA, 2002,p.6).

Considerando a importância de refletir sobre teoria e prática

enquanto professores-pesquisadores,vale ressaltar que este trabalho influenciou de

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inúmeras formas nossa atuação no ambiente escolar, tanto para o planejamento da

rotina pedagógica quanto para a relação com as famílias das crianças.

A participação no projeto foi importante para conhecer melhor a realidade

das famílias da unidade escolar em que trabalhamos e isto influenciou positivamente

em nossa convivência com as crianças.

Além disso, a possibilidade de coletar dados em diversos bairros

nos proporcionou conhecimentos sobre diferenças na renda e escolaridade das

famílias.Tal fato permitiu analisar, portanto, se existem influencias desses aspectos na

visão delas sobre a importância do ambiente escolar para seus filhos.

Nesse sentido, a experiência como pesquisadores permitiu a constatação

de como as ações dos professores podem impactar positivamente na formação social

não só das crianças, mas também de suas famílias.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CUNHA,S.R.V.Cor,som emovimento:aexpressãoplástica,musicaledramáticano

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http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-

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Expansão da oferta de educação infantil no contexto dos planos de

educação: um estudo sobre a evolução da matrícula em municípios do Rio

Grande do Sul94

Msc. Ariete Brusius95

Drª. Maria Luiza Rodrigues Flores96

Resumo

O trabalho apresenta dados de pesquisa sobre a oferta da educação infantil em dois municípios

do Estado do Rio Grande do Sul. A metodologia da pesquisa se configura como estudos de caso

múltiplos (YIN, 2005), apoiada em uma abordagem quali-quantitativa em educação (ANDRÉ,

2013), envolvendo estudo documental e análise de dados estatísticos demográficos e

educacionais, usando como fonte três estudos do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande

do Sul e considerando a evolução desta oferta educacional no período 2006-2013. As análises se

apoiam em uma perspectiva histórico-crítica na pesquisa em política educacional (KRAWCZIC,

2013a; 2013b), abordando a oferta de educação infantil em seu contexto (DAHLBERG, MOSS,

PENCE, 2003). Os resultados apontaram que os dois municípios, com patamares semelhantes

em 2006, apresentavam, em 2013, desempenho aproximado em relação às taxas de atendimento

para a creche e para a pré-escola, ressalvando-se algumas diferenças nas políticas

implementadas.

Palavras-chave: Educação Infantil; Creche; Obrigatoriedade da Pré-escola; Plano Nacional de

Educação.

Apresentação do estudo

Este artigo apresenta dados de uma pesquisa que monitora a expansão da oferta da

educação infantil em um conjunto de municípios gaúchos no contexto das determinações da

Constituição Federal de 1988 (CF/88) em relação ao direito das crianças de até seis anos e de

suas famílias a esta oferta educacional. Sua relevância se justifica em função da necessidade de

monitoramento e avaliação da oferta de atendimento, especialmente, a partir da obrigatoriedade

de matrícula escolar na pré-escola para a faixa etária de quatro e cinco anos, consequência da

alteração constitucional promovida pela Emenda Constitucional 59/09 (EC 59/09). O objetivo

principal do recorte aqui apresentado foi analisar a evolução da matrícula em creche e pré-

94

Este texto é resultante da pesquisa “Monitoramento de Políticas Públicas de Educação Infantil

no Rio Grande do Sul: estudo sobre a implementação da Emenda Constitucional 59/09 –

obrigatoriedade de matrícula na pré-escola”, desenvolvida desde 2012 sob a coordenação da

Profª. Drª. Maria Luiza Rodrigues Flores, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul

(UFRGS).

95 Mestre em Educação, professora da Rede Municipal de Ensino de Novo Hamburgo

96 Doutora em Educação, professora Adjunta da Faculdade de Educação da Universidade Federal

do Rio Grande do Sul.

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escola em dois municípios do Rio Grande do Sul (RS), São Leopoldo (SL) e Novo Hamburgo

(NH). Como objetivos específicos, pretendíamos mapear o alcance das metas do Plano Nacional

de Educação (PNE): 2001-2010 (Lei 10.172/01) para a creche e a pré-escola em cada um dos

municípios e, ainda, sinalizar quanto às possibilidades por parte dos mesmos de efetivarem a

universalização da matrícula escolar na pré-escola até 2016. Nossa perspectiva de análise

pressupõe que cada município realize diagnóstico e estabeleça estratégias em relação à

universalização da pré-escola, desde que essa expansão não se constitua em justificativa para a

retração das vagas destinadas à faixa etária de até três anos, e nem mesmo para a ampliação de

vagas para as crianças de quatro a cinco anos com comprometimento de padrões mínimos de

qualidades necessários a esta oferta educacional no âmbito dos sistemas municipais de educação

(MALTA CAMPOS, 2010; ROSELANE CAMPOS, 2010).

Metodologia

Do ponto de vista teórico-metodológico, o estudo se enquadra em uma abordagem

quali-quantitativa em educação, desenvolvendo análises a partir da sistematização de dados

estatísticos demográficos e educacionais destes dois municípios, caracterizando-se como

estudos de caso múltiplos, nos quais procedemos, também, à análise documental (YIN, 2005;

ANDRÉ, 2013). Os dois municípios da amostra localizam-se na Região Metropolitana do

estado, próximos à Capital, possuindo perfil sociopolítico-econômico, cultural e educacional

com muitas características que aproximam suas histórias, o que permitiu que pudéssemos

colocar em relação a trajetória de ambos, no que se refere à oferta de educação para crianças de

até seis anos.

As principais fontes utilizadas para a coleta de dados estatísticos foram os estudos

disponíveis no site do Tribunal de Contas do Estado (TCE/RS, 2007, 2012, 2015), que

sistematizam informações referentes à evolução das matrículas nos municípios gaúchos, com

base no Censo Escolar do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

Teixeira (INEP) e no Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE).

As análises se apoiam em uma perspectiva histórico-crítica no campo da pesquisa em

política educacional (KRAWCZIC, 2013a; 2013b), abordando as diferentes realidades de

maneira particular em seus contextos, sem incorrer no desenvolvimento de um estudo

comparativo linear. Inspiramos-nos em Dahlberg, Moss e Pence (2003), quando estes afirmam a

impossibilidade de analisarmos diferentes realidades mundiais quanto à atenção à primeira

infância sem considerar contextos locais.

Base legal e revisão da literatura

Resgatando o ordenamento legal vigente, iniciamos pela Constituição Federal de

1988 (CF/88), que determina a responsabilidade do Estado para com o atendimento às crianças

de até seis anos, elevando o direito educacional à categoria de direito fundamental.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9394/96 (LDBEN), alterada

pela Lei nº 12.796, de 2013, afirma a educação escolar pública obrigatória e gratuita dos quatro

aos 17 anos de idade, definindo a educação infantil como a primeira etapa da educação básica.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei 8069/90, coloca a criança como prioridade

absoluta no acesso às políticas sociais, fortalecendo o direito destas à educação. No ano de

2009, a Resolução CEB/CNE 01/99 foi revogada pela Resolução CEB/CNE 05/09, que instituiu

Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação infantil (DCNEI), consolidando neste

documento de caráter mandatório uma concepção de criança e de infância que busca reconhecer

a diversidade brasileira, afirmando a necessidade de espaços e tempos adequados para esta etapa

da educação.

Como consequência de um processo histórico-social, político e pedagógico havido nas

últimas décadas, a educação infantil, vem se consolidando como espaço/tempo voltado à

vivência da infância, hoje entendida como plural dada à diversidade de formas para a sua

manifestação em cada contexto. Abramowicz e Oliveira (2011) destacam, neste quesito, que

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para pensarmos uma sociologia da infância na atualidade, considerando a realidade brasileira, é

mister incluirmos aportes teóricos sobre outras categorias, tais como as questões “[...] étnico-

raciais, de gênero, sexualidade e classe social [...]”(ABRAMOWICZ e OLIVEIRA, 2011, p.

49).

Contudo, no Brasil, em que pesem alguns avanços recentes, ainda se colocam grandes

desafios vinculados ao financiamento adequado desta etapa de maneira a garantir a

implementação de padrões de qualidade próprios, sem inspiração em modelos vinculados à

educação formal ou a atendimentos alternativos de baixo custo (ARELARO, 2012).

Reconhecida como primeira etapa da Educação Básica e presente desde o primeiros plano

decenal de educação do Brasil instituído por lei, o PNE 2001-2010, a educação infantil constou

na Meta 1, sendo determinada a ampliação de sua oferta de forma a atender, em cinco anos, no

mínimo, a 30% da população de até três anos de idade e a 60% da população de quatro a seis

anos (ou quatro e cinco anos)97

. Até o final daquela década, a meta era alcançar o percentual de

50% da população de zero a três anos de idade e de 80% da faixa entre quatro a seis anos.

Em termos de metas de atendimento, para o caso da creche, comparando-se o

determinado no PNE anterior e no atual, criado pela Lei 13.005/14 e com vigência para o

decênio 2014-2024, percebemos que o texto da Meta 1 para o grupo etário correspondente à

creche não foi alterado. Se considerarmos que o país, ao final da vigência do PNE 2001-2010

alcançou apenas 20,93% para esta sub-etapa (TCE-RS, 2012), verificamos que esta meta de

atendimento permanece, ainda, como um grande desafio. Para a pré-escola, ao final daquela

década, o país alcançou, na média, o percentual de 80,23%, atingindo o previsto. Contudo,

vários estudos apontam para as desigualdades regionais e estaduais no acesso a esse direito.

Como exemplo, em 2011, o RS havia alcançado apenas 63,39% de atendimento na faixa da pré-

escola (TCE-RS, 2012). No PNE atual, a Meta 1 determina a universalização da pré-escola até

2016 em consonância a alteração na faixa etária de matrícula escolar obrigatória efetivada pela

EC 59/09.

Estudos sobre eventuais impactos da obrigatoriedade de matrícula escolar para as

crianças de quatro e cinco anos (MALTA CAMPOS, 2010; ROSELANE CAMPOS, 2010;

FLORES et al., 2011 e VIEIRA, 2011) alertam quanto a indesejados processos de escolarização

precoce, ao risco do recurso a atendimentos de baixo custo para crianças bem pequenas, a uma

possível cisão entre creche e pré-escola, à redução do direito ao tempo integral ou, ainda, ao

congelamento das vagas para a creche.

Rosemberg (2012, 2014) destacou a recorrente inobservância por parte de alguns

gestores municipais no que se refere à efetivação do direito educacional para as crianças de até

três anos. A autora afirma a existência de discriminação para com este grupo etário no que se

refere ao acesso à educação, destacando que, quando desagregamos os dados por idade, fica

ainda mais evidente esta desigualdade, pois, quanto menor a criança, menos percentual de

atendimento observamos.

Aspectos como a situação de vulnerabilidade social das famílias e o nível de escolaridade

dos pais, também, já foram sinalizados como aspectos que interferem na efetivação do direito à

educação infantil (CAMPANHA NACIONAL PELO DIREITO À EDUCAÇÃO, 2014). De

forma complementar às políticas de equidade no acesso a uma vaga, destacamos que também se

faz necessária a implementação de políticas que avancem em termos de qualidade da oferta,

enfocando áreas como a formação inicial e continuada de docentes, infraestrutura e materiais,

assim como a organização curricular, para que o país efetive o direito à educação para as

crianças de até seis anos.

Desenvolvimento da pesquisa e resultados

97 Em 2006, a Lei 11.274 determinou a ampliação do ensino fundamental para nove anos de

duração com ingresso aos seis anos de idade.

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Tomando como mote o papel do Estado em relação ao seu dever para com a oferta

educacional, o TCE-RS publicou, em 2007, um estudo divulgando a situação do estado quanto à

oferta de educação infantil, evidenciando importante defasagem deste estado em relação às

metas intermediárias do PNE 2001-2010. Com base neste estudo, o órgão desencadeou um

processo de monitoramento de 45 municípios gaúchos que concentravam 70% do déficit de

atendimento nesta etapa.

O mesmo Tribunal vem, desde então e periodicamente, divulgando uma análise

individualizada por Município (2011, 2012, 2013 e 2015), tornando públicos os dados

municipais. Este acompanhamento objetivou contribuir para a ampliação da oferta de vagas,

tendo o órgão avaliado que aqueles municípios monitorados aumentaram suas matrículas em um

percentual acima daqueles que não foram monitorados, a partir dos resultados do Censo

Educacional do INEP do ano de 2011. (TCE-RS, 2011). Chamadas de “Radiografias”, estes

estudos apresentam dados populacionais e de matrícula escolar correspondentes à faixa etária da

educação infantil, indicando percentuais de atendimento e demanda de novas vagas, tendo como

referência as metas dos planos de educação.

As trajetórias de NH e de SL compartilham um conjunto de características sócio-

históricas, demográficas, econômicas e educacionais que os coloca em posições muito próximas

em diversas estatísticas nos estudos do TCE-RS e em vários outros indicadores. NH é a maior

cidade em concentração de população de origem alemã do Rio Grande do Sul e SL, município

fundado em 1824, é o berço da colonização alemã no Brasil. No Censo do IBGE (2010), a

população de NH era de 238.940 habitantes e o grupo etário de zero a quatro anos incluía

14.750 crianças, representando 6,2% do total da população. Se compararmos ao ano 2000, NH

tinha 21.342 crianças, correspondendo a 9% do total da população. No município de SL, com

população de 214.087 habitantes (IBGE, 2010), observamos que para o grupo etário de zero a

quatro anos, no ano 2000, SL tinha 17.776 crianças. Em 2010, assim como em NH, houve uma

redução deste número para 14.381.

Utilizando o Índice de Desenvolvimento da Educação (IDEB) como um dos indicadores

educacionais, observamos que NH apresentou um IDEB médio de 5,6 para os anos iniciais do

ensino e 3,8 para os anos finais (2013). SL, no mesmo período, apresentou um IDEB médio de

5,3 para os anos iniciais do ensino e 3,7 para os anos finais.

Escolhemos três estudo do TCE-RS para evidenciar a evolução no percentual de

atendimento destes dois municípios: o relatório publicado em 2007, servindo como base para a

avaliação das metas intermediárias do PNE 2001-2010; a Radiografia de 2012, por conter os

dados censitários do INEP correspondentes ao primeiro ano após o término da vigência do PNE

2001-2010 e, por fim, utilizamos dados da última Radiografia (TCE-RS, 2015), referentes ao

Censo Escolar de 2013, conforme apresenta o Quadro1, a seguir98

:

Quadro 1: Evolução do atendimento da Creche NH e SL (2006; 2011; 2013)

Municípios 2006 2011 2013

População Matrícula Taxa bruta População Matrícula Taxa bruta População* Matrícula Taxa bruta

NH 18.504 989 5,34% 11.591 1.949 16,81% 11.810 2.720 23,03

98 Neste Quadro, reproduzimos os dados constantes nos estudos do TCE/RS, que colocam em relação

duas bases diferentes: INEP e IBGE. Os estudos de Rosemberg (2012, 2014) evidenciaram que um

conjunto de elementos, tais como, momento de coleta, pergunta e informante levariam a diferenças

nos resultados relativos à população/ano, matrículas e percentuais de atendimento.

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SL 15.537 626 4,03% 11.433 2.369 20,72% 11.706 2.715 23,12

Fonte: TCE-RS (2007, 2012, 2015). *Estimativa populacional do ano de 2012 (IBGE). Sistematização

das autoras (2015).

Ao verificarmos as matrículas para a sub-faixa correspondente à creche, no ano de 2006,

observamos que a taxa bruta de atendimento em NH era de 5,34%, enquanto em SL a mesma se

encontrava em 4,03%. Em relação ao final da década, os dados da tabela indicam que NH

triplicou o atendimento em cinco anos passando de 5,34% para 16,81%; contudo, não havia

alcançado a meta intermediária prevista para 2006, que era de 30%. Em relação a SL, o alcance

do percentual de 20,72% de atendimento significa que a ampliação da capacidade foi

quadriplicada, mas, ainda assim, este município chega a 2011 abaixo do percentual de

atendimento exigido como meta intermediária, confirmando os estudos de Rosemberg (2011,

2012, 2014).

Os dados apresentados na última Radiografia do TCE-RS (2015), também evidenciam o

descrito por Rosemberg (2011) em relação a uma discriminação interna no subagrupamento

creche, uma vez que em NH, no ano de 2013, o percentual da população atendida, de acordo

com a faixa etária, era 6,9% para crianças menores de um ano; 15%, para aquelas entre um e

dois anos; e 31% para crianças de dois a três anos. O mesmo estudo do TCE-RS (2015) aponta

que em SL, encontravam-se matriculadas 7,4% das crianças menores de um ano; 19,2%

daquelas entre um e dois anos; e 30,4% das crianças entre dois a três anos. Assim, em 2013,

ambos os municípios atingiram a meta intermediária apenas para o grupo de crianças entre dois

e três anos de idade. É neste sentido que Rosemberg (2012) afirma a necessidade de que os

estudos acerca do acesso à educação infantil procedam, também, análises por grupos por idade,

de maneira a identificar se a ampliação havida, de fato, vem garantindo equidade no acesso para

as crianças de até dois anos.

Quadro 2: Evolução do atendimento da Pré-escola em Novo Hamburgo e São Leopoldo (2006, 2011, 2013)

Município

2006 2011 2013

População Matrícula Taxa bruta População Matrícula Taxa bruta População Matrícula Taxa bruta

NH 14.649 2.732 18.65% 6.459 4.202 65,06 % 6.029 4.200 69,65%

SL 11.982 1.736 14,48% 6.098 3.387 55,54% 5.825 3.865 66,23%

Fonte: TCE-RS, 2015. *Estimativa populacional do ano de 2012/ IBGE. Sistematização das autoras

(2015).

O Quadro 2 evidencia os dados referentes à faixa etária de pré-escola, onde podemos

observar que NH apresentava a taxa bruta de atendimento de 18,65%, no ano de 2006, não

alcançando um terço da meta intermediária do PNE vigente, enquanto SL tinha uma taxa de

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atendimento de apenas 14,48% da população entre quatro e seis anos de idade. Para 2011, a

meta projetada era de atendimento a 80% desta população e os dados demonstram que a cidade

de NH apesar de triplicar o atendimento existente em 2006, atingindo a taxa de 65,06%, ainda

assim, não alcançou a determinação daquele PNE. SL evoluiu de 14,48%, em 2006, para

55,54% no final daquela década, o que significa uma ampliação do percentual de atendimento

em aproximadamente quatro vezes, mas, com esta taxa percentual, o município apenas se

aproximou, em 2011, da meta determinada para 2006.

Em 2013, NH apresentava um percentual de atendimento de 69,65% para a faixa etária

de quatro e cinco anos, enquanto SL atingiu 66,23%. É consenso entre pesquisadores a

importância do controle social para que o direito à matrícula na pré-escola não traga em seu

bojo a perda de outros direitos para as crianças (ROSELANE CAMPOS, 2010; FLORES et. al.,

2010; VIEIRA, 2011). Nesse sentido, nossa análise destaca os dados presentes no último estudo

do TCE (2015) sobre a oferta de educação preponderantemente em tempo parcial para esta faixa

etária no município de NH. Sanchez (2010) destaca a necessidade de um financiamento

adequado para sustentar esta expansão de acordo com os padrões de qualidade necessários,

enfatizando a sobrecarga hoje colocada para os gestores municipais, como consequência do

processo de municipalização da oferta desta etapa educacional, especialmente, para

atendimentos em tempo integral.

Outro aspecto que precisamos considerar em análises qualitativas se refere à dependência

administrativa das vagas ofertadas nestes dois municípios do estudo. De acordo com os dados

do IBGE (2012), em termos do número total de escolas que ofereciam matrículas para a

educação infantil, em SL esta oferta ocorre em 13 escolas a mais do que em NH. Analisando-se

a dependência administrativa desta oferta, percebemos que o número de escolas privadas em SL

(70) é muito superior ao número de NH (22), invertendo-se essa situação no que se refere ao

número de escolas mantidas pelo município, uma vez que em SL este número é de apenas 29,

enquanto em NH há um total de 64 escolas públicas municipais onde ocorre essa oferta.

Na Radiografia da Educação Infantil divulgada pelo TCE-RS em 2015, constatamos que

a Rede Municipal de Educação de SL ofereceu 2.190 matrículas, em 2013, enquanto a rede

privada era responsável por 4.390 matrículas. Na mesma fonte (TCE/RS, 2015) identificamos

que a Rede Municipal de Educação de NH oferecia 4.808 matrículas e a rede privada, um total

de 2.111 matrículas. Como ambos os municípios tem recorrido a conveniamentos para a

ampliação da oferta de atendimento, futuros estudos deverão focar na qualidade da oferta

educacional nas diferentes tipologias de atendimento, uma vez que o grupo das instituições

conveniadas pode incluir escolas privadas particulares, filantrópicas, confessionais, ou ainda,

comunitárias. Igualmente, no total de matrículas informadas como municipais, torna-se

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necessário identificar se todas são de fato de mantença exclusiva pelo poder público municipal,

uma vez que a urgência em relação à expansão de matrículas na pré-escola pode levar alguns

municípios brasileiros a arranjos e parcerias diversas, colocando em risco a qualidade na

conquista de um direito que, em primeiro lugar, é responsabilidade constitucional do Estado,

como analisam Susin e Peroni (2011); Flores e Susin, (2013); Pereira e Pinto (2011); Oliveira e

Borghi (2013).

Nos casos em que o recurso repassado às instituições conveniadas seja menor do que

aquele investido na rede própria, a perda em algum dos parâmetros de qualidade pode envolver,

por exemplo, a contratação de profissionais que não atenda à formação mínima exigida, a falta

de acesso cotidiano a materiais, espaços e oportunidades adequadas ou, ainda, a cobrança de

mensalidades das famílias, mesmo que a título de “contribuição espontânea”. Já considerando a

expansão do atendimento na rede própria, outros aspectos, tais como a duração da jornada diária

de atendimento, a relação adulto/criança/faixa etária, a existência de plano de carreira e a

remuneração docente, também, se constituem em aspectos que precisam ser investigados em

estudos futuros, de maneira a que possamos analisar a qualidade existente nas vagas que cada

município vem criando de maneira a atender às metas do PNE vigente.

Considerações finais

Considerando o término da vigência do PNE 2001-2010 e o fato de que o país encerrou

aquela década com 20,93% de atendimento para o grupo etário creche e 80,23%, em relação à

população de quatro e cinco anos, observamos que estes municípios acompanharam o

movimento nacional no que se refere à primeira sub-faixa, mantendo atendimentos próximos a

23% daquela população. Neste sentido nenhum deles alcançou a meta intermediária de 30%

prevista para 2006, nem àquela estabelecida para o final da década, que indicava a matrícula de,

no mínimo, 50% das crianças na faixa de até três anos.

No que se refere ao alcance do percentual de 50% no atendimento às crianças de até três

anos, observamos que ambos encontram-se significativamente distantes deste índice, ainda que

tenham mantido trajetória regular de ampliação ao longo do período aqui analisado.

Em relação às matrículas na pré-escola, evidenciou-se que ambos se encontravam

aquém da média nacional, não atingindo o percentual de 70% da população em 2011. Tomando

como indicador a exigência imposta pela CF/88 no sentido de que a matrícula na pré-escola

deve ser universalizada até março 2016, ambos os municípios ainda possuem um longo percurso

a ser realizado para o alcance desta determinação. Destaque-se que, além das metas previstas no

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atual PNE para toda a faixa etária da educação infantil, a expansão de vagas deve contemplar os

parâmetros de qualidade consensuados na área e referendados em normativas e documentos

oficiais.

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Os Indicadores da Qualidade na Educação Infantil Paulistana e o processo

formativo promovido pela Equipe de Educação Infantil na DOT-P/DRE-JT - 1º

Sem 2015

Maria Matilde de Flório Costa

Sueli Ramos dos Santos Pereira99

RESUMO

Nesse relato de prática, pretendemos revelar como a Equipe de Educação

Infantil da Divisão de Orientação Técnico Pedagógica (DOT-P) da Diretoria Regional

de Educação Jaçanã-Tremembé (DRE-JT) da Secretaria Municipal de Ensino de São

Paulo (SME-SP), buscou promover e qualificar o processo formativo relacionado aos

Indicadores da Qualidade na Educação Infantil Paulistana(São Paulo, 2015) na região.

A Equipe priorizou à temática nas formações do 1º semestre de 2015, atendendo

boa parte dos/as educadores/as e realizando formações mensais com as equipes gestoras,

encontros com rede conveniada/indireta, cursos optativos e formação in loco (horários

coletivos das Unidades Educacionais).

Buscou-se subsidiar as equipes educacionais no entendimento da proposta e

qualificação de todos os processos que antecediam a data da aplicação, contribuindo

para a viabilização da auto avaliação institucional na perspectiva da gestão democrática

e participativa e potencializando esse momento como importante para o atendimento de

qualidade aos bebês e às crianças.

PALAVRAS-CHAVE:

DOT-P/DRE-JT; Formação; Educação Infantil; Indicadores da Qualidade na Educação

Infantil Paulistana; Auto Avaliação Institucional; Gestão Democrática e Participativa.

99

Ambas são Coordenadoras Pedagógicas - PMSP, atualmente atuam na Equipe de Educação Infantil da

DOT-P/DRE-JT

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QUAL A MOTIVAÇÃO PARA INICIAR A PRÁTICA?

A Equipe de Educação Infantil da Divisão de Orientação Técnico Pedagógica

(DOT-P) da Diretoria Regional de Educação Jaçanã-Tremembé (DRE-JT)da SME-SP

tinha como desafio qualificar o processo formativo relacionado aos Indicadores da

Qualidade na Educação Infantil Paulistana(São Paulo, 2015).

Esclarecemos que, em virtude da Portaria nº 6.570 de 25/11/2014 que dispõe

sobre as diretrizes e orientações para a elaboração do calendário de atividades e da

Portaria nº 6.569 de 25/11/2014 que dispõe sobre o cronograma e execução de serviços

nos CEIs Indiretos e nas Creches/CEIs da Rede Conveniada, ficou estabelecido que em

maio as Unidades aplicariam os Indicadores da Qualidade na Educação Infantil

Paulistana em todas as Unidades de Educação Infantil e em junho elaborariam o Plano

de Ação da Unidade Educacional.

É importante destacar que, em 2013 e 2014 por adesão voluntária, algumas

Unidades da região aplicaram os Indicadores da Qualidade na Educação Infantil (Brasil,

2009), entretanto, em 2015 vimosa obrigatoriedade do processo pela aplicação do

documento em construção no município de São Paulo.

Dessa forma, a Equipe deu prioridade à temática em suas formações no 1º

semestre e buscou promover ações formativas que garantissem a aplicação dos

Indicadores da Qualidade na Educação Infantil Paulistana e a elaboração do Plano de

Ação, esclarecendo quanto à perspectiva de Auto Avaliação Institucional e de Gestão

Democrática e Participativa.

Priorizou o atendimento de boa parte dos/as educadores/as, dando visibilidade

aos bons trabalhos realizados em 2013 e 2014e realizando formações mensais com as

equipes gestoras, encontros com rede conveniada/indireta, cursos optativos e formação

in loco.

O QUE SE PRETENDIA COM ESSA PRÁTICA?

No intuito de articular a política da SME com as demandas da região no que diz

respeito a auto avaliação instituicional, buscamos subsidiar os equipes das Unidades no

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entendimento da proposta e qualificação de todos os processos (estudo do documento

juntos aos diferentes segmentos nos espaços formativos das Unidades, sensibilização e

convite às famílias e Comunidades, tratamento do assunto em reuniões de Conselho de

Escola, troca de experiências com as Unidades que já haviam aplicado por adesão,

preparação dos materiais, dentre outros) que antecediam a data da aplicação, procurando

resignificar práticas e contribuir para a viabilização da aplicação na perspectiva da

gestão democrática e participativa.

Ainda manifestou-se a preocupação em realizar o processo formativo no que

tange o trabalho que garanta a qualidade da educação oferecida (e construída

conjuntamente) aos bebês e crianças atendidos em nossa rede, sendo procurado enfatizar

a importância dessa aplicação para além do cumprimento burocrático da Portaria. Ou

seja, como avaliação que, de fato, possibilitasse conhecer, reconhecer, levantar,

priorizar, pensar, planejar, replanejar, a partir do observado coletivamente, sendo

concretizada no Plano de Ação da Unidade no que se refere às demandas encontradas

que garantam o atendimento de qualidade dos bebês e das crianças.

QUAIS OS CAMINHOS PERCORRIDOS PARA O DESENVOLVIMENTO DA

PRÁTICA E AS REFERÊNCIAS TEÓRICAS UTILIZADAS?

A partir no contido nas das Portarias e das orientações e formações da DOT-

EI/SME, a Equipe de Educação Infantil da DOT-P/DRE-JT planejou ações formativas

na região, buscando atender tanto a rede direta como a indireta/conveniada, assim como

diferentes segmentos que atuam nas Unidades de Educação Infantil.

Dessa forma realizou as seguintes ações:

Encontros Formativos Mensais de Coordenações Pedagógicas – Rede Direta,

Indireta e Conveniada, tendo estendido a participação aos demais Gestores/as

(Diretores/as e Assistentes) e envolvido cerca de 150 profissionais;

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Encontro Semestral com os/as educadores/as da Rede Indireta e Conveniada,

sendo atendidos todos os segmentos que atuam na rede conveniada/indireta e

oferecidas 400 vagas;

Curso Optativo: “Diálogos com os educadores das Infâncias: construção e

aplicação dos Indicadores da Qualidade na Educação Infantil Paulistana”,

sendo atendidos todos os segmentos que atuam na rede direta e oferecidas 400

vagas;

Curso Optativo: “Gestão Democrática e Participativa nas Unidades

Educacionais: construção e aplicação dos Indicadores da Qualidade na

Educação Infantil Paulistana”, sendo formadas 2 turmas de 60 vagas,

atendendo professores/as, gestores/as e supervisores/as;

Formação in loco: “Diálogos com os educadores/as das infâncias no interior

dos Territórios”, caracterizando-se por visitas às Unidades da Rede Direta, em

horário coletivo (JEIF, PEA) ou em reuniões pedagógicas, com a intenção de

dialogar com as equipes quanto às dúvidas ou dificuldades, às conquistas, à

organização, às experiências já realizadas anteriormente, além de esclarecermos,

localmente, quanto à proposta da auto avaliação institucional da rede.

QUAIS OS DESDOBRAMENTOS DA EXPERIÊNCIA RELATADA?

Inicialmente, avaliamos que o processo vivido no 1º semestre de 2015

aproximou a Equipe da Educação Infantil da DOT-P da DRE-JT às Unidades da região,

sendo estabelecido diálogo constante, por meio de diferentes ações formativas: grandes

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encontros, formações mensais, cursos mensais e ida aos espaços formativos (in loco)

das Unidades.

Além disso, estabelecemos a estratégia de problematizar, a partir dos relatos das

experiências vividos pelas Unidades, quanto à metodologia inerente aos Indicadores e

oferecer subsídios teóricos que pudessem contribuir com os singulares processos de

cada Unidade.

Percebemos que o grande desafio mencionado pelas Unidades dizia respeito à

participação das famílias e Comunidade. Após a aplicação, boa parte das escolas

relataram que os pais ou membros da Comunidade participaram, se interessaram e

tiveram a possibilidade de dialogar com o Projeto Político Pedagógico da Unidade.

Ressaltamos que nem sempre a qualidade da participação refere-se à porcentagem alta

de pais presentes nas datas de maio e junho.

Outra questão dizia respeito ao receio de que a Equipe de Apoio talvez não

compreendesse todas as questões inerentes aos Indicadores ou não se envolvessem com

o processo. Da mesma forma, após o processo vivido, foram muitos os apontamentos de

colaboração, entendimento e envolvimento desse segmento.

Foi interessante notar que esses paradigmas foram quebrados, sendo verificado

que, principalmente, os/as gestores/as conseguiram resignificar o ‘olhar’ sobre e a

própria participação desses importantes segmentos: Família/Comunidade e Equipe de

Apoio.

Mencionamos ainda que, na elaboração do Plano de Ação, pudemos observar

certa dificuldade em compreender a real importância desse instrumento que deve ser

fruto de diálogo e negociação coletiva, organizando os resultados obtidos e definindo

prioridades na geração das demandas.

Verificamos que há, pelo menos, quatro desafios quanto ao Plano de Ação: a) a

credibilidade que essa construção deve ter; b) a elaboração para além do cumprimento

burocrático; c) ser instrumento de constante revisitar nos diferentes momentos coletivos

da Unidade e d) consolidar critérios comuns de qualidade, inegociáveis, para bebês e

crianças paulistanas.

Por meio das demandas que foram encaminhadas pelas Unidades à DOT-P/JT,

pudemos encontrar diversos dados que nos deram pistas para as prioridades quanto às

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nossas ações formativas do 2º semestre de 2015, sendo elas: a) Importância do brincar,

b) Documentação pedagógica e relatórios descritivos e c) Currículo integrador.

Vale ressaltar que daremos continuidade às nossas formações, sempre

retomando as questões contidas nos Indicadores da Qualidade da Educação Infantil

Paulistana, articulando os textos introdutórios ou os descritores com as temáticas

atualmente trabalhadas.

Essa escolha visa dar visibilidade constante à esse importante documento que

mobilizou a rede municipal e proporcionou diversos processos significativos e

singulares a cada uma das Unidades da rede, estreitando vínculos com as

famílias/Comunidade e resignificando relações internas das escolas, bem como apontou

a interessante possibilidade de construção de um currículo para e com os bebês e as

crianças de forma democrática e participativa.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Educação infantil indígena na legislação e na produção do conhecimento100

Marta Coelho Castro Troquez101

Resumo: Este trabalho apresenta resultados de pesquisa bibliográfica e

documental no campo das pesquisas qualitativas em educação. Objetivou investigar

pressupostos legais e teóricos sobre a educação infantil indígena, como primeira etapa

da educação básica nacional. Elegeu para análise documentos que normatizam a

educação básica no país, dando ênfase à sua primeira etapa. Procedeu a uma busca no

banco de teses e dissertações da CAPES e nos sites de busca para localizar artigos e

publicações sobre a temática. No que diz respeito à legislação educacional, a pesquisa

evidenciou, entre outros resultados, que, embora a educação infantil seja um direito

subjetivo da criança, para a educação indígena é facultativa. Na produção do

conhecimento, evidenciou grande contribuição de estudos da antropologia da criança

para esta área de estudos, contudo, no que diz respeito à especificidade da educação de

crianças indígenas em instituições de educação infantil (creches, pré-escolas, centros de

educação infantil) o estudo aponta mais questões para o debate/estudos que respostas.

Palavras-chave: Educação infantil; educação escolar indígena; educação

infantil indígena.

Introdução

A educação escolar indígena é um campo relativamente novo de investigação

no Brasil (CAPACLA, 1995; GRUPIONI, 2003; 2008; TROQUEZ, 2009; 2012). A

produção acadêmica sobre questões relacionadas a ela intensificou-se em meio ao

processo de “virada” no que diz respeito às políticas oficiais de escolarização dos

indígenas, sobretudo a partir da Constituição Federal de 1988 que garantiu, entre outros

direitos, o direito a uma educação escolar diferenciada para os indígenas, tomados

enquanto grupos ou povos específicos (BRASIL, 1988; 2002; 2009; 2010). Dentro deste

100

Este texto é fruto de Pesquisa iniciada em maio de 2015 na Universidade Federal da Grande

Dourados, MS, Brasil.

101 Professora Adjunta da Faculdade de Educação/UFGD.

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campo de estudos, podemos dizer que estudos sobre a educação infantil indígena são

considerados raros (MIEIB, 2005, p. 06).

Contudo, estudos desenvolvidos no campo da História (ARIÈS, 1978), das

Ciências Sociais (BEGNAMI, 2010) e, sobretudo no campo da Antropologia, mais

especificamente da antropologia da criança (NUNES, 1997; 2003; CONH, 2000a, 2005;

Buss-Simão, 2009) tem trazido grandes contribuições para pensarmos a criança

indígena, sujeito da educação infantil indígena. Tais estudos tem desconstruído ou

desmistificado noções naturalizadas de criança e infância e nos levam a considerar a

dinâmica cultural e a produção social da infância de acordo com cada contexto

sociocultural específico. Nos levam ainda a considerar a criança como sujeito produtor

de cultura, como ser social pleno (CONH, 2005, p. 21) e diferenciado. Como colocado

por Conh,

Precisamos ser capazes de entender a criança e seu mundo a partir do

seu próprio ponto de vista [...] Não podemos falar de crianças de um

povo indígena sem entender como esse povo pensa o que é ser criança

e sem entender o lugar que elas ocupam naquela sociedade – o mesmo

vale para as crianças nas escolas de uma metrópole. E é aí que está a

grande contribuição que a antropologia pode dar aos estudos das

crianças: a de fornecer um modelo analítico que permite entendê-las

por si mesmas. (COHN, 2005, p. 09).

De acordo com cada povo ou sociedade indígena há que se considerar

diferentes formas de ser criança, de socialização, de transmissão e aprendizagem de

conhecimentos. Precisamos considerar como é ser criança em cada grupo étnico

específico e em cada situação histórica e sociocultural específicas (TASSINARI, 2007).

Nesse sentido, podemos relacionar, entre outros, estudos que apontam para essas

especificidades: A criança indígena: a concepção Xikrin de infância e aprendizado

(CONH, 2000b); Crianças indígenas na cidade: a educação infantil no Centro Social

Mitangue-Nhiri (VIEIRA, 2012); Infância, participação e aprendizagens de meninos

indígenas Xakriabá (SILVA, 2012 ); Tornar-se aluno(a) indígena – Uma etnografia de

uma escola Guarani Mbya (MARQUI; CONH, 2011; MARQUI, 2012), As

transformações no modo de ser criança em Te’ýikue – 1950 - 2010 (CARIAGA, 2012).

Outras obras coletivas trazem mais contribuições a este campo de estudos (LOPES DA

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SILVA; FERREIRA, 2001; LOPES DA SILVA; MACEDO, 2002; TASSINARI;

GRANDO; ALBUQUERQUE, 2012).

Os avanços legais impulsionaram não só a produção acadêmica sobre educação

de crianças indígenas, como possibilitaram a construção de escolas específicas em áreas

indígenas e ampliação do número de matrículas de crianças indígenas em todas as

modalidades educativas (INEP/MEC, 2012).

De acordo com dados do IBGE (2012), em 2010, a população indígena no país,

ultrapassava 800.000 pessoas, cerca de 36,2% de indígenas residiam em área urbana, o

que correspondia a 379.534 indígenas vivendo nas cidades. Os dados indicam que nem

todos os alunos estão em escolas específicas, dentro das áreas indígenas. Há muitos

indígenas que estudam em escolas públicas rurais, de periferias e mesmo em escolas

particulares. Isso demanda a proposição de políticas públicas que atentem para as

diferenças socioculturais e linguísticas dos povos indígenas nas aldeias e fora delas.

Segundo Vieira,

[...] a educação infantil oferecida às crianças indígenas não se preocupa em

compreender a cosmovisão daquelas, a sua socialização primária ou, antes

disso, buscar o entendimento do que vem a ser criança para aqueles povos.

[...] pode- se afirmar que as políticas educacionais direcionadas às crianças

indígenas são iguais às oferecidas às crianças da sociedade nacional,

portanto, entende-se que para o Estado crianças são iguais em todo e

qualquer contexto. (VIEIRA, 2012, p. 181).

Diante do exposto, cabe questionarmos sobre as políticas públicas de educação

formal destinadas a crianças indígenas, especificamente, neste trabalho, atentamos para

as crianças de 0 a 5 anos, alvo da educação infantil, primeira etapa da educação básica.

Entendendo que a legislação educacional do país deve orientar as ações dos governos e,

consequentemente, a construção das políticas públicas, é importante investigar/conhecer

o que diz a legislação educacional sobre a o assunto. Também é preciso conhecer o que

está sendo produzido na academia. Há trabalhos acadêmicos específicos sobre a

educação infantil de crianças indígenas em instituições formais? O que apontam?

Pressupostos legais

No que diz respeito aos aspectos legais, a pesquisa considerou as conquistas da

Constituição Federal de 1988 e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

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(1996) para a realização da educação básica, o que inclui a educação das crianças de 0 a

6 anos, como direito subjetivo considerando as especificidades linguísticas e culturais

dos povos indígenas garantindo-lhes o direito a uma educação específica e diferenciada.

Foram foco da análise as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a

Educação Básica (BRASIL, 2010); as Diretrizes Curriculares Nacionais para a

Educação Infantil (BRASIL, 2009); as Diretrizes Curriculares Nacionais para a

Educação Escolar Indígena na Educação Básica (BRASIL, 2012) e o Plano Nacional

de Educação – Lei N. 13.005, de 25-06-2014 (BRASIL, 2014).

Na legislação educacional brasileira, a educação infantil é institucionalizada

como a primeira etapa da educação básica dedicada ao cuidar e ao educar a ser

oferecida enquanto um direito da criança em creches (0 a 3 anos) e pré-escolas (4 a 5

anos). Todas as crianças têm este direito o que inclui as crianças indígenas. Assim, é

obrigação do Estado oferecer a educação infantil para todas as famílias que buscarem

vagas para suas crianças.

Entretanto, o oferecimento da Educação Infantil aos povos indígenas é

opcional, cabendo a cada comunidade indígena decidir sobre seu oferecimento

(BRASIL, 2009; 2012). Como segue:

Art. 8º A Educação Infantil, etapa educativa e de cuidados, é um

direito dos povos indígenas que deve ser garantido e realizado

com o compromisso de qualidade sociocultural e de respeito aos

preceitos da educação diferenciada e específica.

§ 1º A Educação Infantil pode ser também uma opção de cada

comunidade indígena que tem a prerrogativa de, ao avaliar suas

funções e objetivos a partir de suas referências culturais, decidir

sobre a implantação ou não da mesma, bem como sobre a idade

de matrícula de suas crianças na escola. (BRASIL, 2012)

Cabe destacar que a oferta da educação infantil deve considerar as

especificidades e os direitos à diferença e à autodeterminação dos povos indígenas, bem

a participação da comunidade no processo.

No que diz respeito ao Plano Nacional de Educação de 2014-2024 (BRASIL,

2014), destaco a Meta 1 que trata da ampliação da oferta da Educação Infantil e duas

estratégias para atingi-la:

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Meta 1: universalizar, até 2016, a educação infantil na pré-

escola para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) anos de idade e

ampliar a oferta de educação infantil em creches de forma a

atender, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) das crianças de

até 3 (três) anos até o final da vigência deste PNE.

[...]

1.10) fomentar o atendimento das populações do campo e das

comunidades indígenas e quilombolas na educação infantil nas

respectivas comunidades, por meio do redimensionamento da

distribuição territorial da oferta, limitando a nucleação de

escolas e o deslocamento de crianças, de forma a atender às

especificidades dessas comunidades, garantido consulta prévia e

informada;

[...]

1.16) promover a busca ativa de crianças em idade

correspondente á educação infantil, em parceria com órgãos

públicos de assistência social, saúde e proteção a infância,

preservando o direito de opção da família em relação ás crianças

de até 3 (três) anos. (BRASIL, 2014)

Considero nesta análise que o plano trata a questão da educação infantil indígena

de forma inespecífica e tangenciada, pois prevê “fomentar o atendimento (...) por meio

do redimensionamento da distribuição territorial da oferta (...)”. Dando a impressão que

as dificuldades que envolvem este oferecimento dizem respeito a questões de

localização apenas.

Mesmo que inclua as comunidades indígenas em suas estratégias para a

ampliação da educação infantil, o documento associa a oferta da educação infantil para

estas comunidades à presença das escolas. Segundo Rosemberg (2006): “creche não é

escola”. As instituições de educação infantil não precisam ter o formato de “escolas”.

Produção do conhecimento

Para este estudo, busquei artigos científicos disponíveis on line e resultados de

pesquisas no banco de teses e dissertações da Capes. Como queria investigar trabalhos

específicos sobre a temática, fiz uma pesquisa refinada usando os seguintes termos:

educação infantil indígena, educação infantil na educação indígena, educação infantil na

educação escolar indígena, centro de educação infantil indígena.

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Na busca, observei que há estudos que tratam de questões mais gerais sobre a

infância indígena, especialmente no campo da antropologia da infância. Alguns

mencionam a questão da educação infantil indígena oferecida por instituições escolares

ou centros de educação infantil e fazem breves comentários a respeito, sem que o

objetivo do trabalho seja a educação de crianças indígenas na educação infantil formal

(centros de educação infantil, creches, pré-escolas, escolas específicas indígenas ou em

áreas urbanas). Neste campo de produção, além dos trabalhos já referendados

anteriormente, podemos incluir: ALVAREZ, 2004; CODONHO, 2007; LIMULJA,

2007; JESUS, 2011; ANDRIOLI, 2012.

A maioria dos trabalhos no campo da educação escolar indígena (em interface

com a antropologia e a história) focalizam a presença da escola de modo genérico nas

comunidades indígenas ou relacionada a outras etapas da educação básica. Desta forma,

muitos trabalhos buscam “refletir sobre o papel que a escola assume no processo de

educação dessas crianças, nas aldeias ou fora delas” (TASSINARI; GRANDO;

ALBUQUERQUE, 2012).

Entretanto, para este estudo, considerei artigos e pesquisas que tratam

especificamente da questão da educação infantil indígena formal, como definida na

legislação educacional. A pesquisa confirma a raridade de estudos deste tipo.

No banco de teses e dissertações da CAPES, localizei apenas um trabalho

dentro desta especificidade. Trata-se do trabalho de Edna Ferreira: A criação do Centro

de Educação e Cultura Indígena (CECI) e a educação infantil indígena na aldeia

Krukutu (FERREIRA, 2012). A pesquisa investiga a educação infantil indígena

destinada a um povo específico e analisa os desafios para a realização de uma educação

diferenciada e intercultural. As conclusões do trabalho apontam para a importância dada

pelos indígenas à educação infantil indígena102

.

No que se refere a artigos ou publicações acadêmicas, deixando de lado (por

hora) artigos publicados em blogs educativos, entre outros, considerei os artigos

publicados em revistas científicas, livros e anais de eventos acadêmicos. Apresento

artigos/estudos identificados por ordem cronológica de publicação: NASCIMENTO; ET

102 Tive acesso apenas ao resumo do trabalho, o que dificulta aprofundamento na análise.

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AL, 2006; ROZEMBERG, 2006; MIEIB, 2006; VENERE; VELANGA, 2008; VIEIRA,

2012; SILVA; MOTA, 2014.

Os trabalhos identificados trazem excelentes discussões para a área. Um ponto

importante e recorrente é o caráter inconclusivo das discussões. Como colocado por

Toneto, em uma reportagem:

De modo geral, os parcos trabalhos que dedicam-se sobre a

temática revelam mais questões do que respostas no que diz

respeito à educação infantil indígena. O oferecimento de

educação infantil para as crianças indígenas tem suscitado

muitas críticas e um intenso debate entre especialistas,

lideranças e povos indígenas. Muitos defendem que a educação

infantil atenta contra as tradições indígenas, mas algumas

comunidades indígenas têm reivindicado espaços educativos

para suas crianças pequenas. (TONETO, 2007, p. 34)

O caráter de inconclusão, de não respostas rápidas à complexidade da questão

pode ser evidenciada em praticamente todos os trabalhos. Os trabalhos apontam também

os limites da educação infantil oferecida aos indígenas em relação a seus modos

próprios de socialização e transmissão de conhecimentos. Segundo Nascimento et al

(2006, p. 10):

[...] podemos afirmar que a educação infantil familiar, no âmbito

das aldeias Kaiowá e Guarani, segue parâmetros distintos

daquela percebida na proposta de educação infantil escolar.

Enquanto esta, por mais que seja suavizada, segue padrões de

organização da escolaridade formal, com todas suas

peculiaridades e consequências, aquela, como vimos

anteriormente, fundamenta-se completamente em um cotidiano

aberto e integrado no ritmo da convivência, em constante

contato com a natureza e os “afazeres” da própria comunidade.

Na conclusão do estudo afirmam:

Está claro que é necessário pesquisar mais para se chegar a um

posicionamento mais consistente sobre a necessidade ou não da

educação infantil escolar nas comunidades Kaiowá e Guarani.

Pesquisas que informem a respeito do outro lado da infância

indígena, suas aspirações, visão de mundo e, desejo de

autonomia. (P. 11)

O seminário do MIEIB aponta na mesma direção:

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Entretanto, no que se refere ao atendimento das crianças de 0 a 6

de idade fora da comunidade educativa, ou seja, que não seja no

ritual, na família, no trato com a terra, mas, em espaço próprio

para educação infantil mantido pelo Estado, é ainda um desafio

que está em processo de construção de um entendimento. De

modo que esse texto tenta somente dar um panorama de como os

professores, professoras, lideranças indígenas e o Centro de

Cultura Luiz Freire - CCLF vêm amadurecendo essa discussão.

Isto quer dizer também que não há ainda certezas construídas

sobre essa etapa da educação básica entre os povos indígenas em

Pernambuco. (MIEIB, 2006, p. 05)

Gostaria de destacar o artigo de Rozemberg (2006, p. 16) que compõe os textos

da publicação do seminário do MIEIB. A autora pontua a novidade da temática da

educação infantil indígena, aspectos teóricos e práticos das posições em debate

envolvendo a oferta desta etapa da educação básica aos indígenas opondo: expansão

irrestrita versus cautela e prudência e, ainda, propõe ricas sugestões para avançar o

debate.

Do artigo de Venere e Velanga (2008), destaquei os seguintes pontos:

As reflexões apontam para a necessidade de pesquisas na área e de um

currículo multicultural para atender a diversidade e promover a aprendizagem

a partir de conteúdos culturais significativos, bem como para a formação de

professores que atendam a estas necessidades. (p. 01)

[..]

A prática cotidiana nos revela, no entanto, que nem sempre uma legislação

progressista e elogiada internacionalmente significa que os direitos humanos

e da criança estejam, de fato, assegurados [...]. (p. 04)

[...] Sendo a infância uma etapa percorrida para se aprender a viver em

sociedade, as crianças aprendem brincando, imitando os mais velhos,

participando da tradição oral, das atividades do dia-a-dia e dos rituais

inerentes a cada cultura, aprendendo assim as regras do convívio social. (p.

05)

Desta forma, um limite da educação infantil indígena relaciona-se à dificuldade

da realização de uma educação intercultural que considere as vivências das crianças

indígenas para além dos espaços escolares.

Vieira (2012) analisa a educação infantil de crianças Kaingang e Guarani na

cidade de Maringá e aponta para o caráter de assistencialismo que acaba assumindo.

Segundo a autora,

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[...] a educação infantil oferecida nas cidades impõe-se como uma

necessidade de assistência, em razão da ausência da mãe trabalhadora; já nas

terras indígenas, mesmo com o advento da colonização que gerou grande

perda territorial e, por sua vez, alterou todo o modelo econômico das aldeias,

a educação das crianças continuou sendo de responsabilidade dos mais velhos

e das mulheres que permaneceram aldeados. (p. 180)

A autora considera a distância entre os modos próprios de socialização destas

crianças no seio de suas famílias e a socialização realizada na instituição educativa com

profissionais/pedagogas formados nas universidades. E levanta um questionamento

sobre esta formação: “ Essa profissional está sendo preparada na universidade para lidar

com esta situação? O tema da diversidade cultural está sendo tratado de modo eficaz

dentro das universidades? A melhor alternativa seria a contratação de uma professora

indígena?” (VIEIRA, 2012, p. 189).

Já o artigo de Silva e Mota (2014), “traz análises acerca da concepção e

implementação da educação infantil na educação escolar indígena com ênfase no

princípio da facultatividade”. Segundo as autoras:

Às escolas indígenas foi salvaguardado o direito de ser ou não implementada

a educação infantil, tendo em vista a necessidade de manutenção da língua,

dos costumes e tradições de modo a contribuir para valorização e manutenção

da identidade étnica e cultura. Importa destacar que a política de educação

infantil de modo geral que traz à tona essas recomendações quando diz que o

trabalho na educação infantil deve integrar escola, cultura e a sociedade.

Essa política se contrapõe ao princípio de obrigatoriedade da educação das

Crianças de 04 a 17 anos na Educação Básica definido na Lei 12.796/2013

que altera a Lei 9394/96 – LDB. A adesão a esta lei traz à baila uma

discussão acerca da Educação Básica como um direito público subjetivo.

Acreditamos que o que está em questão não é a oferta mais a possibilidade de

cada etnia bem como cada sujeito fazer suas escolhas. E as crianças, público

alvo da educação infantil, enquanto sujeitos de direitos são ouvidas?

Essas questões postas devem ser objeto de reflexão para não incorrer em

velhos erros de exclusão educacional.

O trabalho evidencia a defesa da educação infantil pelos índios da etnia Ticuna:

Evidenciamos que os índios da etnia Ticuna são categóricos em defender e

reivindicar a educação escolar em suas aldeias e para todos os Ticuna porque

veem a escola como um instrumento que vai levá-los para um patamar de

igualdade na relação com a sociedade envolvente. Malgrado, tenha havido

uma resistência por parte do sistema de ensino na oferta da educação infantil,

os Ticuna se mantiveram e se mantém firme na defesa dessa etapa da

educação para suas crianças cuja importância está associada ao

desenvolvimento intelectual, mas conectada com os saberes da sua vivência.

(p. 14)

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Na defesa do direito à educação, mais especificamente, da educação infantil, as

autoras defendem que “É necessário uma igualdade que reconheça as diferenças mas

também uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades”.

Considerações

Busquei através desta pesquisa mapear questões legais e teóricas (ou da

produção do conhecimento) sobre a educação infantil indígena. No sentido de recolher

um arcabouço amparado na legislação e nas produções acadêmicas para pensar o

assunto e realizar outras pesquisas. Acredito que este trabalho poderá apontar caminhos

ou indagações para outras pesquisas.

Muitas são as questões postas, como as discutidas e não esgotadas no

seminário do MIEIB (2006, P. 05):

É grande o desconhecimento sobre a realidade da educação infantil ofertada à

população indígena. Também são muitas as dúvidas e questionamentos. As

creches são uma necessidade social destes grupos? São uma demanda

declarada? Os pais, avós e a comunidade, ao serem os principais responsáveis

pela educação das crianças nos primeiros anos de vida, conseguem garantir as

condições adequadas para tal? Existem circunstâncias que determinam outras

opções? Como garantir que crenças e valores das diferentes etnias sejam

respeitadas no atendimento em creches e pré-escolas? Como garantir a

formação do professor da educação infantil para aqueles membros da

comunidade que optam por cumprir este papel? Como incluir a

especificidade da realidade indígena na formação de professores? Quem deve

lecionar nesses

lugares, professores não-índios ou aqueles que fazem parte da comunidade?

Qual o papel do Estado, frente ao direito constitucional das crianças

indígenas à educação infantil?

A pesquisa bibliográfica também evidenciou grande contribuição de estudos da

antropologia da criança para esta área de estudos, sobretudo por considerarem as

crianças seres sociais ativos e produtores de cultura. Quem sabe muitas das respostas

elas mesmas nos darão.

Referências

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Relato de práticas da coordenação pedagógica na educação infantil: os desafios da

implementação do Conselho de turma

Talita Ananda Corrêa103

Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA

Milca Aline Colares Gualberto

Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA

EIXO 1 Políticas públicas para a Educação Infantil e para a Infância

RESUMO:

A concepção de educação infantil com o objetivo de promover o

desenvolvimento integral da criança ainda é muito recente, perdurando ainda nas

instituições de educação a cultura de alfabetizar a criança pequena como um

preparatório para o ensino fundamental. Este relato baseia-se na prática de trabalho de

duas coordenadoras pedagógicas realizada no ano de 2012 em duas Unidades

Municipais de Educação Infantil (UMEI’s) localizadas na área urbana na cidade de

Santarém - Pará. O objetivo da prática foi promover a compreensão do trabalho

educativo e da concepção da educação infantil como a primeira etapa da educação

básica. Neste sentido foi implementado o Conselho de Turma nas instituições de

educação infantil como instrumento de interação família-escola. Como resultados

percebe-se que as diferentes ideias sobre educação infantil iniciais vão se

desconstruindo e sendo transformadas no decorrer do envolvimento maior entre todos

os envolvidos no processo.

Palavras-chave: Educação Infantil. Coordenação Pedagógica. Conselho de

Turma.

Serão descritos, neste relato, os desafios da atuação do coordenador pedagógico

a partir da implementação do Conselho de Turma em duas Unidades Municipais de

Educação Infantil (UMEIS’s) localizadas na área urbana de Santarém- Pará.

103

Acadêmicas do Programa de Pós-Graduação em Educação/Mestrado Acadêmico em Educação da

Universidade Federal do Oeste do Pará- PPGE/UFOPA- e membros do Grupo de Estudos e Pesquisas em

Educação Infantil- GEPEI- vinculado à Universidade Federal do Oeste do Pará.

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A motivação para iniciar essa prática ocorreu devido às dificuldades encontradas

no desenvolvimento do trabalho educativo e na compreensão das divisões de tarefas de

cada segmento das UMEI’s. Percebemos que inicialmente havia uma realidade de

descompasso entre a fala das professoras e a fala dos familiares das crianças referente

ao papel dos partícipes no processo educativo, bem como a concepção de educação

infantil para os mesmos.

O objetivo deste relato é compreender os desafios da função de coordenação

pedagógica, a partir das vivencias de duas coordenadoras pedagógicas na gestão de duas

instituições de educação infantil no ano de 2012.

Nesse sentido, os caminhos percorridos para o desenvolvimento dessa prática se

deu com a promoção dos encontros de formação continuada e reuniões com os pais ou

responsáveis pelas crianças, culminando com a implementação dos Conselhos de

Turma.

Segundo Leontiev (1978) podemos dizer que cada indivíduo aprende a ser

humano. O que a natureza lhe possibilita quando nasce não é suficiente para sua

humanização. Por isso, é necessário adquirir aquilo que foi alcançado no decurso do

desenvolvimento histórico da sociedade humana. Mello e Cação (2006) defendem que,

dentro da teoria Histórico-Cultural, o papel das professoras de educação infantil é criar

novas necessidades humanizadoras nas crianças.

Nesse sentido, a infância é uma etapa da vida significativa para o

desenvolvimento das potencialidades da criança, a qual necessita ter experiências

vivenciais diversificadas. E a instituição de educação infantil, que é o espaço de

atendimento para a primeira etapa da educação básica, deve ser o melhor lugar para a

educação das crianças até os 5 anos de idade.

Segundo Mello (2007) estudos desenvolvidos sob o enfoque da Teoria

Histórico-Cultural apontam como condição essencial para o desenvolvimento integral

da criança e sua apropriação das qualidades humanas o respeito às suas formas

peculiares de atividades como o tateio, a exploração de objetos, a interação entre ela e

outras crianças e entre elas e os adultos, o brincar.

Para tanto, se faz necessário que se transforme as salas de educação infantil

caracteristicamente organizadas como a sala de aula do ensino fundamental e se

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modifiquem as práticas que pouco favoreçam o desenvolvimento da criança como um

ser completo.

DESDOBRAMENTOS DA PRÁTICA

O primeiro desafio encontrado em nosso trabalho consistiu em diagnosticar as

concepções dos professores e dos familiares das crianças referentes ao conceito de

educação infantil, pois a fala de ambas as categorias destoava da concepção apresentada

nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil (BRASIL, 2009). Neste

sentido, realizamos uma discussão informal com as professoras e procuramos sondá-las

sobre o papel de cada um neste processo (professor, família, unidade municipal de

educação infantil). E assim, foram constatadas algumas dúvidas das professoras sobre o

papel da educação infantil e sobre como desenvolver atividades para crianças de 0 a 5

anos de idade. Então foi necessário promovermos uma formação continuada durante

todo o período em que permanecemos nas instituições, a fim de melhor desenvolver este

trabalho e compreender as práticas que levam ao desenvolvimento integral da criança

pequena. Buscamos refletir nas formações sobre as fases do desenvolvimento da criança

e as atividades apropriadas para cada faixa etária, discutindo quais os tipos de atividades

e projetos educativos poderíamos promover nas unidades durante o ano letivo, para

promoção do desenvolvimento integral das crianças.

Em Santarém, a educação infantil passou por um processo significativo de

mudanças na redefinição das responsabilidades e papéis atribuídos às Secretarias

Municipais no ano de 2008. A educação infantil deixou de fazer parte da Secretaria

Municipal de Trabalho e Assistência Social (SEMTRAS), passando a integrar à

Secretaria Municipal de Educação e Desporto (SEMED). Para Waltrick (2008):

A municipalização da educação infantil, contemplada na Constituição

Federal/88 e reiterada pela LDB 9394/96, produziu mudanças importantes na

organização e gestão dos sistemas de ensino, especialmente pela transferência

das creches até então vinculadas às Secretarias de Assistência Social,

Promoção Social, Desenvolvimento Social para a Educação, num processo

longo e complexo de integração desses segmentos (p. 35-36).

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A função de coordenação pedagógica na educação infantil no município de

Santarém funciona equivalente à função do diretor na escola de ensino fundamental,

pois em seu trabalho tem o papel de proporcionar aos professores formações

continuadas para ressignificarem suas propostas, resgatando a autonomia sobre o seu

trabalho sem, no entanto, se distanciar do trabalho coletivo da unidade, partindo do

princípio da gestão democrática, visto que esta deva ser:

o eixo norteador do trabalho da coordenação pedagógica, absolutamente

necessária para a possibilidade de construção de um trabalho coletivo,

assentado na participação efetiva nos momentos de tomada de decisões,

unificando planejamento, execução e avaliação (ALVES, 2007, p.258).

Assim a coordenação pedagógica na educação infantil não pode se dar de outra

maneira que não a compartilhada entre todos que participam do trabalho com as

crianças pequenas incluindo nessa participação o papel importante dos funcionários

como as serventes, assistentes administrativos e familiares dos educandos, numa

perspectiva que todos entendam as questões de funcionamento que envolvem a

instituição de educação infantil.

O objetivo de nosso trabalho consistia, inicialmente, em investigar a visão que as

pessoas envolvidas no processo de inserção da criança pequena na educação infantil

apresentavam sobre concepção desta modalidade a fim de diagnosticar, analisar a

produção dessa visão e contribuir para a sua ruptura. Para tanto, realizamos uma

formação sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil (BRASIL,

2009) com as professoras das instituições, visando discutir a dinâmica do trabalho da

comunidade escolar e nosso papel no desenvolvimento integral da criança. Essa

formação nos possibilitou embasamentos legais para compreender a atuação dos

profissionais da educação infantil.

Neste sentido, foi realizada a confecção de fichas cadastrais, juntamente com as

professoras, para o levantamento de informações individuais de cada criança e de sua

família. A ficha foi aplicada no ato da matrícula das crianças, realizando assim, um

diagnóstico individual de cada uma, a partir de suas dificuldades, anseios da família

entre outros pontos.

Posteriormente, realizamos encontros de formação com as professoras, a fim de

discutirmos alguns aspectos peculiares de cada faixa etária das turmas que iriam ser

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atendidas pelas UMEI’s,analisamos as fichas e chegamos à conclusão de que a família

espera que a instituição de educação infantil ensine as crianças a ler e a escrever. Isso

nos preocupou. Então, pensamos uma maneira de modificar a concepção que os

familiares tem em relação ao espaço de educação infantil e quais as atividades que as

crianças realizam no decorrer do dia nas unidades. Assim tivemos a ideia de introduzir

nas turmas de creche e pré-escolar das UMEI’s, o conselho de turma.

O conselho de turma é uma reunião particular de cada turma da educação infantil

que é elaborada pela coordenação e as professoras com intuito de abordar aspectos

particulares das crianças, suas atividades, alimentação, saúde e rotinas com a família.

Esta era convidada a participar uma vez no bimestre. Quem dirigia o andamento das

reuniões eram as professoras da turma e eram livres para introduzir qualquer assunto

que diagnosticasse como importante antes de cada encontro. Os participantes deste

conselho eram os pais e/ou responsáveis de cada criança de uma turma e as professoras

destas turmas. A coordenação pedagógica era mera observadora de cada conselho,

ajudando na confecção dos relatórios do que ocorrera.

Nos dias em que ocorriam os conselhos, as UMEI’s organizavam suas rotinas e

atividades de forma diferenciada, pois iriam receber um dos seus maiores aliados: a

família. Assim as professoras buscavam arrumar suas salas com as atividades

desenvolvidas pelas crianças, se organizando inicialmente para oferecer lanche e

direcionar tudo o que haviam planejado com antecedência. Os pais eram recebidos e

encaminhados às salas de atividades e o conselho era iniciado. A dinâmica do encontro

era ditada pelas professoras. Algumas decidiam planejar juntas e na hora do encontro

uma tomava frente às discussões ou ambas se responsabilizavam por cada parte.

A coordenação pedagógica ajudava com escolhas de dinâmicas e algum pequeno

texto que lhe fosse pertinente pelas professoras, que aceitavam ou não a sugestão, pois

tinham autonomia para organizar suas pautas e assuntos, tendo somente que apresentar

seu planejamento para apreciação. Alguns temas abordados durante esses conselhos

foram: Objetivo da Educação Infantil, rotinas da educação infantil, projetos da turma,

higiene corporal das crianças, saúde bucal, avaliação na educação infantil.

Os conselhos de turma duravam em média uma hora e ocorria bimestralmente

em cada turma e foram momentos de maior envolvimento entre os familiares e as

professoras, pois cada qual tinha sua forma autônoma de abordar assuntos peculiares de

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sua turma como: atrasos, passeios, doenças, atividades, culminância de projetos, entre

outros que minimizasse a distância entre a instituição e a família. Para enriquecer os

conselhos de turma realizávamos encontros de discussão em grupo com as professoras

para refletir sobre um determinado tema escolhido por elas com base em textos

acadêmicos que contribuíssem para sua fundamentação teórica, bem como na troca de

experiências e estratégias utilizadas pelos próprios participantes do grupo. Também

levávamos parceiros para esclarecimentos sobre esses temas, contando com o apoio de

palestras de professores das instituições de Ensino Superior do município, Conselho

Tutelar, Delegacia da Mulher, Presidente da Associação dos moradores dos bairros

entre outras entidades e instituições. Durante esse processo, buscávamos propiciar a

ruptura de preconceitos e estereótipos (inclusive os nossos) que se constituem em torno

do contexto da educação infantil.

Estes conselhos não tinham o mesmo papel que aqueles difundidos no ensino

fundamental e ensino médio que tinham intuito de falar das notas dos alunos, envolviam

todos os professores e tinham como participantes todos os professores de uma turma

com um representante da classe estudantil e um representante dos pais. Ele tinha

objetivo de aproximar as famílias e os professores das instituições com a intenção de

estreitar laços entre estes dois sujeitos do processo de promoção do desenvolvimento

integral da criança pequena; tendo como diferencial a dinâmica pensada pelo professor

para envolver e ouvir os pais e/ou demais familiares sobre o que tem sido desenvolvido

dentro da instituição como um todo e buscando envolver todos no trabalho com os

projetos.

Conforme nos lembra a pedagogia da infância defendida por Oliveira-

Formosinho (2007) o professor deixa de ser um mero transmissor de conhecimento,

como a pedagogia tradicional o definiu, mas no centro da construção dos saberes estão

as pessoas: os professores e os alunos, as crianças e os adultos. Isso fica claro no

desenvolvimento deste trabalho com as famílias.

Sempre ao final dos Conselhos de Turma fazíamos relatório sobre os assuntos

tratados e todos os aspectos que poderíamos melhor trabalhar num próximo Conselho.

Através dele, conseguimos envolver os pais em 90% dos projetos realizados entre eles:

aulas passeio, atividades dentro da instituição, dentro da turma e do próprio município

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envolvendo a instituição nas programações realizadas pela Secretaria Municipal de

Educação.

Ao final do ano letivo, após todas essas atividades e implementação do Conselho

de Classe como instrumento de intercâmbio entre família e escola, aplicamos uma

avaliação com todas as famílias envolvidas e percebemos a mudança nas falas quanto ao

objetivo da educação infantil, nas percepções sobre as atividades e recebemos a

aprovação quanto aos projetos realizados. Essa avaliação se deu na entrega dos

relatórios finais de cada criança sendo feita pelas professoras e analisada por todos os

funcionários de cada instituição.

Ao todo foram envolvidas aproximadamente 300 famílias das duas instituições

atendidas, 24 professoras, 7 estagiárias da graduação e 24 funcionários de apoio entre

serventes, vigias e auxiliares administrativos. Ressalta-se ainda que as UMEI’s

funcionavam durante o período diurno, em período integral e parcial.

O conselho de turma se tornou um forte instrumento para a aproximação das

famílias e das instituições de educação infantil. Foi responsável pela quebra de barreiras

entre o papel das instituições e o papel das famílias na promoção do desenvolvimento

integral da criança. A aproximação só foi possível com a abertura de cada ator ao novo

e ao desconhecido por base da conquista dos atores. Assim todos ganham

principalmente a criança que é para quem voltamos toda nossa atenção neste trabalho.

Claro que, nem tudo fora perfeito ao longo deste trabalho, deparando-nos com

diversas conquistas e frustrações ao longo das atividades efetivadas. Nelas contamos

com a parceria voluntária de profissionais, doações de instituições educacionais, visto

que os recursos e investimentos no sistema público de educação é precário. Porém

conseguiram possibilitar questionamentos e reflexões sobre a educação infantil no

interior das instituições.

Lidar com as limitações de conhecimento sobre o desenvolvimento da criança

tornou-se um dos principais desafios da atuação da coordenação pedagógica da

educação infantil, pois essa etapa da educação básica era pouco conhecida e difundida

com objetivo de promover o desenvolvimento integral da criança. Porém o processo de

desconstrução dessa concepção, inicialmente concebida pelas professoras, família e

comunidade escolar, possibilitou inúmeras contribuições para a construção do

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entendimento da educação infantil. Sabemos que esse processo é lento e gradual e

requer o comprometimento de todos os envolvidos no âmbito educacional.

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Avaliação da educação infantil: um aspecto de qualidade

Natália Francine Costa Cançado104

O atual Plano Nacional de Educação em sua estratégia 1.6 da meta 1, define que

até o seu segundo ano de vigência devem ser implantadas, pelos municípios, formas de

Avaliação da Educação Infantil. Diante deste contexto e considerando que ainda são

escassos os estudos acerca desta temática no Brasil (ROSEMBERG, 2013), este

trabalho, em nível de mestrado, tem como objetivo compreender quais ações e/ou

ferramentas o(s) município(s) tem desenvolvido para realizar a avaliação, bem como se

esta segue orientada pelos documentos do MEC. Além disso, acreditando na interface

entre avaliação e qualidade da educação, pretende-se analisar o impacto destas formas

de avaliação na qualidade do atendimento. Este trabalho é desenvolvido como parte de

uma pesquisa mais ampla que envolve 16 municípios paulistas, deste modo, após a

revisão, da literatura e legislação vigente, será desenvolvido um estudo de tipo

etnográfico (ANDRÉ, 2005) em um dos dezesseis municípios.

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São Paulo, v. 43, n. 148, p. 44-75, jan./abr. 2013.

Palavras-chave: Avaliação. Qualidade. Educação Infantil

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Mestranda em Educação pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto –

Universidade de São Paulo.

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A formulação de políticas de Educação Infantil com base nos documentos do

Conselho Municipal de Educação de Duque de Caxias: desafios entre o público e

o privado

Priscila Basílio

EEI/UFRJ

RESUMO

No atual cenário da educação brasileira, verifica-se uma grande discussão acerca da

necessidade de políticas públicas que possam garantir a qualidade do ensino e gestões

de cunho democrático, que venham incentivar, possibilitar e valorizar a participação da

sociedade civil nas ações do Estado. Nesse cenário, o Conselho Municipal de Educação

assume um papel fundamental no planejamento da educação municipal. Esse trabalho

tem como objetivo compreender o quanto o Conselho Municipal de Educação de Duque

de Caxias lócus da pesquisa contribui ou não para a efetivação das políticas públicas de

Educação Infantil. De modo mais específico, é objetivo desta pesquisa é também

compreender as estratégias utilizadas para o credenciamento, autorização e fiscalização

das instituições de Educação Infantil pública e privada municipais, e refletir se os

critérios adotados contribuem para um atendimento de qualidade para as crianças de 0 a

6 anos de idade.

Palavras Chaves: Conselho Municipal de Educação; Educação Infantil; Público e

Privado.

Este texto busca refletir sobre os avanços e percalços do funcionamento do Conselho

Municipal de Duque de Caxias (CME/DC). Assim como apresenta debates e tensões

que sucedem no seu interior e procura saber de que modo podem ou não afetar o

processo de democratização das relações Estado e sociedade civil. Tomando como base

os desafios encontrados na pesquisa de campo, o texto se propõe a apresentar e

desenvolver reflexões acerca dos efeitos desta institucionalização na capacidade de

contribuir de fato para políticas de Educação Infantil (EI) do município. A partir das

diferentes técnicas de pesquisa, principalmente atas e entrevistas, foi possível colher um

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rico material que permitiu a investigação da dinâmica de funcionamento do CME/DC.

Sabe-se que a interação dos representantes da sociedade civil e do Governo afeta o

conjunto de questões que são encaminhadas e decididas no CME/DC.

1. Participação da sociedade civil : cooptação ou empoderamento?

Como referência para o desenvolvimento do trabalho, apresentam-se estudos de

autores, que ao longo dos anos de 1980 até os dias atuais, vêm discutindo esta temática,

em distintas perspectivas, propondo formas mais abrangentes de refletir sobre os

Conselhos, quais sejam: CURY, 2006, 2010; BORDENAVE, 1994; GOHN, 2001,

2010; AVRITZER, 2010 entre outros. Tendo como base a relevância dos Conselhos na

institucionalização da participação, os autores apontam questões importantes, que

permitem avançar na relação entre o Estado e a sociedade civil, dando subsídios para

pensar as complexidades das interações nesse processo.

Outra fonte de pesquisa utilizada são textos produzidos pelo Ministério da

Educação (MEC) que mantém o Programa Nacional de Capacitação de Conselheiros

Municipais de Educação (Pró-Conselho), orienta a formação de CMEs e financia

programas de capacitação. Esses documentos serão referenciais para dialogar com o

CME/DC; pois, constitui-se, na principal medida do MEC, em âmbito nacional, para

fortalecer a gestão democrática em todos os entes federados e contribuir para o

desenvolvimento de uma educação de qualidade, pensada com a sociedade.

Tendo em vista essas questões, os estudos chamam atenção, na perspectiva em

que os Conselhos gestores representam avanço e inovação em termos de políticas

públicas. Esse novo caminho na administração pública brasileira propicia um espaço de

aproximação dos diferentes atores e exige uma atuação diferenciada de diálogos e

negociação dentro dos espaços públicos. Compostos por representantes do aparelho

estatal e da sociedade civil possuem atribuições legais amplas com poderes consultivos,

deliberativos, até os mais recentes de proposição e mobilização.

No, inicio, pensava-se que a presença da sociedade civil, nesses espaços, já se

constituiria elemento democratizante, mas a automaticidade mostra-se insuficiente com

o tempo, “segundo diversos autores, não ficava suficientemente claro se a presença dos

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atores da sociedade civil nos Conselhos de políticas públicas permitia de fato sua

democratização”. (AVRITZER, 2010, p.22)

Constata-se, portanto, um avanço quando se amplia a intervenção da sociedade

no Governo, possibilitando, nesses ambientes a democratização das decisões. “A

sociedade civil não é amorfa ou inerte. Mas é preciso qualificar estas ações, que tanto

podem ter caráter emancipatório e transformador, como meramente integrativo e

conservador”. (Gohn, 2010, p.27).

Desse modo, Bordenave (1994) fornece ponderações as quais auxiliam

compreender que a participação vem aumentando nos últimos anos, no Brasil, de

diferentes formas: organizações não governamentais, associações, Conselhos entre

outras. O autor define que: “de fato, a palavra participação vem da palavra parte.

Participação é fazer parte, tomar parte ou ter parte”. (p.22) e continua a discussão

informando que essas “partes” podem ser abordadas de forma diferenciada e que uma

não está, necessariamente, atrelada a outra. Por exemplo, um pai de aluno pode estar

integrado ao Conselho Escolar, mas não age frente às discussões e lutas diretas para

reivindicações de melhorias da escola – o que exemplifica o que é uma participação

ativa ou passivo

Desse modo, a participação institucionalizada é complexa, requer um (re) fazer

contínuo porque precisa ser aprendida e aperfeiçoada na prática. A qualidade depende

da construção diária, pois quanto maior a atuação, mais capacitados estarão os

indivíduos para negociar e dialogar com o Estado. A participação é um processo de

conquista, lugar ocupado recentemente pela sociedade civil, segundo Bordenave (1994):

participação ser uma necessidade básica, o homem não nasce sabendo

participar. A participação é uma habilidade que se aprende e se

aperfeiçoa. Isto é, as diversas forças e operações que constituem a

dinâmica da participação devem ser compreendidas e dominadas pelas

pessoas. (p.46)

É preciso reconhecer que a incorporação das diferentes partes da sociedade, no

processo de tomada de decisões tende a ampliar a representação democrática e

modificar a dinâmica da negociação dos conflitos. Mas não se deve perder de vista que

a exigência de um órgão paritário para fazer valer o interesse do coletivo é, no mínimo,

contraditória, pois não pode o Poder Público pelejar por uma parcela da população. Faz-

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se necessário uma diluição dos interesses particulares nos órgãos públicos que, eleitos

pelo processo democrático deveria lutar pelo bem estar de todos. Portanto, compreender

se a sociedade civil é transformadora ou meramente integrativa e conservadora nesse

processo é o desafio. A “ausência” de uma participação efetiva é evidenciada no

primeiro dia de observação das reuniões pelos conselheiros:

__se o Conselho acabasse hoje não faria diferença em nada para a

sociedade. Não existe parceria com a sociedade. Ficamos dentro do

Conselho, discutindo os processos, mas o que fazemos para

transformar a educação do município? (Conselheiro da sociedade

civil)

__em alguns momentos, ficamos muito incomodados, mas não é

simples, pois somos indicados. Então, quando queremos alguma

mudança na SME temos que ir devagar. (Conselheiro governamental)

__para colocarmos temas de interesse da comunidade na pauta é

difícil, eles (SME) sempre querem fazer do Conselho um espaço de

resolução das suas prioridades. (Conselheiro da sociedade civil )

Nos relatos, observa-se que os mesmos ficam incomodados com a dificuldade de

discutir as políticas e se sentem “encurralados” pela pressão feita pelo Executivo. Esses

problemas também aparecem nos fóruns de saúde como descreve Cardoso (2007) “a

dessimetria entre os participantes, a falta de acesso a informações; o uso da linguagem

técnica; a manipulação política; as atitudes ambíguas por parte do Governo que ora

incentiva a participação, ora a boicota” (p.10).

Constata-se que, nas diferentes áreas, os Conselhos contribuem para a

democracia do país, mas não garantem que as decisões sejam acatadas e deliberadas.

Será que a participação da sociedade civil é legitimada nas decisões ou só quando é

conveniente para Executivo? Sua ação traz benefícios para as áreas específicas e o

controle ativo das ações públicas? Sabe-se que a participação cidadã tem como objetivo

a aproximação das discussões da realidade local. Gohn (2001), “diz que a participação

dos cidadãos provê informações e diagnósticos sobre os problemas públicos, gerando

conhecimentos e subsídios à elaboração de estratégias para resolução dos problemas e

conflitos envolvidos” (p.43).

A abertura de novos canais de comunicação entre os cidadãos e o Estado passou

a constituir um instrumento fundamental da gestão pública, demonstrando inusitados

aspectos da dinâmica política. A sociedade civil apresenta dificuldade de realizar

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proposições diante das situações críticas dos assuntos locais, além de não perceber esse

lugar como conquista, mas como uma concessão do Governo, o que torna o

procedimento de “compartilhar decisões”, fragilizado.

Por outro lado, existe uma dificuldade do Estado em legitimar essas culturas

participativas. Percebe-se a resistência em alguns Governos em aderir essa dinâmica

social, o que nos leva a observar que a sociedade civil só controlará efetivamente as

políticas do Governo, ao desenvolver aptidões que são necessárias para participação.

Conforme Freire (2003) será necessário propiciar espaços de aprendizado de

participação, pois somente através do diálogo e do confronto de ideias é que se constrói

uma gestão democrática. A palavra conselho, como esclarece Pereira (2008), “remete a

significados que postulam à coletividade, à convocação para discussão, à reunião de

uma assembléia” (p.29).

Destaca-se que a existência da Lei não garante por si só a transformação da

realidade, não se pode deixar de assinalar que a dificuldade de participação da sociedade

civil também aponta para um baixo grau de cidadania. Pois, uma sociedade com um

histórico mais atuante poderia significar uma participação mais eficaz no processo.

Além dessas questões, outros fatores podem ser considerados, nessa

dinâmica social, que sinalizam para um contexto desfavorável à participação da

sociedade civil, já que seus representantes estão ligados a diferentes instituições e

podem representar interesses particulares. Existem muitas contradições que são latentes

nos Conselhos e que, ao longo do tempo, vêm se mostrando insuficientes para dar conta

da complexidade dessa institucionalização a qual supera a dicotomia Governo e

sociedade Civil.

Nesse sentido, a sociedade organizada tem de aprender a operar dentro

dessa arena política do CME de encontros, desencontros, conflitos e negociações.

Portanto, é necessário adquirir habilidades que são básicas para influenciar a política:

formular, projetar, acompanhar, fiscalizar e mobilizar a sociedade como um todo, mas

principalmente, os atores educacionais. Compete, também, aos respectivos

representantes eleitos pela base de um movimento, o compromisso de trazê-los para

reflexão dos problemas locais.

Na verdade, existe um rompimento da sociedade civil, que cansada de se ver

excluída das políticas, no processo de implementação e formulação, pressionam para

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construção de um cenário diferente para política educacional. Pois o que acontecia

anteriormente, era a tomada de conhecimento, pelos movimentos, quando as políticas já

estavam sendo introduzidas, ou seja, na finalização do processo, produzindo assim

resistência, que na maioria das vezes resultavam em políticas “vazias” que não atendiam

à necessidade da população local

2. Instituições de Educação Infantil: a unificação da normatização do público e o

do privado.

A unificação do processo de normatização de funcionamento das

creches públicas e privadas deve entrar na pauta da reunião. O

conselheiro propôs que alguém o convença de que há dois grupos de

crianças nas creches: o da rede pública e o da rede privada com

tratamentos bem diferenciados. (Ata 2011)

As normas internas do CME/DC, no art. 2º inciso XIX, consta como atribuição

“autorizar, credenciar e supervisionar os estabelecimentos do seu sistema de ensino”.

Na elaboração da primeira deliberação do CME/DC para EI 02/2005 segundo seu

depoimento, o entrevistado revela: “olha que coisa mais hilária que sempre colocaram

para gente: Não. Aqui, a pública, não. Tentaram incutir isso na gente. Fiscalização, só

para a privada e a pública, não. Mas agora, eu sei que a pública também tem que ser

fiscalizada”. (Conselheiro governamental). Até hoje, essa questão da rede pública e

privada tem-se colocado como questão central nas plenárias, gerando embates entre a

sociedade civil e o Governo. Na entrevista o conselheiro alega, “que se hoje o Conselho

não existisse, não faria falta nenhuma para a rede municipal”.

conselheiro perguntou se esta deliberação norteia as escolas

particulares de EI e as da rede pública municipal de ensino. A

presidente respondeu que o documento norteia as escolas particulares

de EI. O conselheiro perguntou como ter acesso à legislação que

normatiza as escolas da rede pública municipal de ensino. A

professora respondeu que a SME deve ter as normatizações. (Ata,

10/11/ 2011)

Nesse dia, a observação do campo possibilitou vivenciar certo “silêncio” diante do

questionamento do conselheiro sobre a rede pública. Afinal, o Decreto nº 4238/2003

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que institui o Sistema Municipal de Duque de Caxias e CME assegura que o órgão é

responsável pela rede pública e privada. Em um dos debates da plenária, “a conselheira

falou que leu o regimento no qual os estabelecimentos da rede municipal estão sob a

nossa competência”

O conselheiro explicou a sua fala, propondo a unificação da legislação e

aproveitou para informar que a Câmara de EI está revisando a Deliberação

CME/DC nº 02/2005, que trata das instituições de EI. E relatou quatro

situações da rede pública municipal: a)uma creche X que funciona sem

professor, somente com estimulador materno infantil; b) Escola Y onde as

cadeiras e o banheiro não são compatíveis com a idade das crianças de pré-

escola; c)creche K que ele não falará nada porque até parece coisa de terror e

d) creche W, no bairro Figueira, onde as crianças estudam no pátio, porque

nas salas de aula não há condições. (Ata, 10/02/2011)

Com base no relato acima, o conselheiro propôs a unificação da legislação que

autoriza o funcionamento das instituições pública e privada e diz que não compreende o

porquê da equipe da Supervisão, ao constatar a precariedade das unidades de EI

municipais, não encaminham para o CME/DC. A partir do seguinte diálogo, foi

analisada essa separação:

__ gostaria de ouvir a conselheira responsável pela Supervisão das unidades

de EI da SME. Quando tem denúncia quais são os encaminhamentos?

(Conselheiro da sociedade civil)

__nós vamos até o local, realizamos a visita e elaboramos um relatório.

(Conselheiro governamental)

__ vocês vão até o local, verificam que realmente aquela situação da creche é

verdadeira e encontra-se em péssimas condições e fazem o que? Porque

nunca vi nenhum caso no CME para ser discutido quais seriam os

procedimentos da rede pública. Por isso que a deliberação nova tem que

contemplar as instituições públicas e privadas. Por que a rigidez que o CME

tem com as privadas, não acontece com as públicas. Bem, a gente nem sabe o

que acontece com a pública. Isso é um absurdo! (Conselheiro da sociedade

civil).

A partir da observação do avanço nos questionamentos dos conselheiros, uma

inquirição surge: estaria a simples presença do pesquisador, provocando esse

movimento? Pois o desconforto era visível. Em muitos momentos, com o olhar, na mesa

de reunião, os conselheiros buscavam uma interlocução; porque, as perguntas realizadas

na entrevista, demonstravam-lhes que a mesma poderia assumir o papel de uma

interlocutora qualificada.

Como fica então o atendimento nas nossas creches públicas? A conselheira

fez a proposta de ser ter mais cuidado na aprovação do funcionamento das

creches públicas. Continua falando que o Conselho deve se responsabilizar

pela autorização de funcionamento dos espaços públicos de educação. (Ata,

1/10/2009)

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Para atender às creches e pré-escolas públicas, a SME conta com o serviço da

supervisão escolar que realiza visitas periódicas, acompanhamentos e formações

continuadas com a parceria do Departamento da EI. Já a Inspeção precisaria criar

estratégias para aumentar seu quadro de recursos humanos com formação adequada, dar

assessoria também no trabalho pedagógico da rede privada e realizar proposições que

garantissem um acompanhamento mais sistemático: “somos poucos para dar conta de

tantos processos, visitas e formação. Isso compromete nosso trabalho” (Conselheiro

governamental).

As ações mais importantes da Secretaria e do Conselho são garantir que as

instituições sejam credenciadas e autorizadas. Mas para realização desse trabalho é

preciso que haja um investimento da SME, pois há a necessidade de profissionais

especializados nessa área, deslocamentos, elaboração de relatórios e flexibilidade.

3. A Câmara da Educação Infantil no CME/DC

O conselheiro disse que no Conselho também deve transitar a questão da

educação de um modo geral. Não apenas a análise de processos e emissão de

pareceres. (Ata, 03/09/ 2009)

As Câmaras têm caráter permanente e deliberam sobre os temas que lhe foram

apresentados e suas deliberações não precisam ser aprovadas. Essa estrutura de câmaras

é mais adequada para municípios onde os Conselhos efetivamente tenham atuação em

todas as suas funções, realizando um trabalho mais complexo, inclusive a composição

de comissões formadas por profissionais com competência em legislação, planejamento

e administração educacional.

As Comissões dão suporte para auxiliar o trabalho das Câmaras em situações

mais difíceis, as quais são escolhidas juntamente com a plenária e as câmaras – mas em

caráter provisório. A Comissão é constituída pelo Presidente do Conselho para estudo

de determinado assunto e, após a conclusão dos trabalhos, é desfeita. Portanto, os

conselheiros afirmam que a maioria do que é levado para plenária, após discussão nas

Câmaras, é aprovado.

Entende-se que a Câmara de EI, dentro dos Conselhos, possibilita um debate

mais consistente das questões especificas do tema. O CME/DC possui três Câmaras: EI,

Ensino fundamental e Ensino Médio. As reuniões acontecem de acordo com a demanda.

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O fato de ter, no CME, câmaras que se debrucem para estudar sobre determinados

assuntos, fortalece suas ações e agiliza o andamento de algumas situações.

Na entrevista com o informante que compõe a Câmara de Ensino Fundamental, a

exposição foi a seguinte: “a nossa Câmara não está se reunindo, pois não estamos tendo

demanda nesse momento para discutirmos.” (Conselheiro governamental). Será que o

CME/DC foi criado com a perspectiva de responder as demandas que chegam? Ou cabe

a esse órgão, através de suas Câmaras, realizar uma função de proposição e política para

qualidade da educação no município? Deve a Câmara funcionar como um órgão

burocrático, respondendo as demandas emergenciais?

No entanto, durante o período de um ano e meio de pesquisa, a Câmara de EI

reuniu efetivamente quatro vezes. Sendo que para discutir mudanças na deliberação nº

02/2005 da EI, sendo feito esses debates com a presença do assessor técnico e a chefe

da inspeção escolar, nenhum encontro foi feito após a resolução dessa reformulação.

Apesar da EI pública e privada serem temas constantes na plenária e suscitar embates

“fervorosos”.

Vale a pena lembrar, que o fato do CME/DC possuir Câmara de EI aponta um

investimento para que as políticas sejam mais elaboradas e discutidas, garantindo um

empenho por parte desse órgão na qualidade da educação, ou seja, deram um passo

importante na política do município ao elaborar uma nova legislação que define

parâmetros de qualidade tanto para o privado quanto para o público. As discussões

travadas nessa Câmara eram enriquecedoras, pois contava com a representante do

governo (presidente da Câmara) possuidora de uma longa experiência, com seus

conhecimentos técnicos; tornando assim, mais eficaz o diálogo com os gestores

públicos, e favorecendo o desenvolvimento de determinados assuntos.

Durante a reformulação da deliberação da EI, o presidente (indicado pelo

Governo) foi substituído no final do ano passado pelo subsecretário do Prefeito.

Destaca-se que até chegar à plenária, a deliberação passou por intensos debates, dentro

da Câmara, contando com a participação dos conselheiros, assessoria técnica, secretária

executiva e chefe da inspeção. Até hoje, a nova deliberação não foi aprovada, pois o

novo presidente da Câmara solicitou a realização de outra revisão.

A Inspeção escolar após juntar as peças dos processos, encaminha as próprias

para o CME/DC, que são entregues aos participantes da Câmara de EI para emitirem

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pareceres favoráveis ou desfavoráveis. Esses pareceres realizados pelos conselheiros

têm sua importância, o que não pode é se tornar um ato mecânico, pois a partir das

análises desses processos é possível encontrar pistas para a política da EI no município.

Considerações finais

Após a reflexão sobre a organização, funcionamento e atribuições do CME de

Duque de Caxias, nas políticas de EI, é possível apontar algumas conclusões, não com a

intenção de finalizar o assunto, mas de despertar novas indagações. Os Conselhos

Municipais de Educação constituem um novo modelo de relação entre o Governo e a

sociedade civil, instituídos nos municípios com o objetivo de contribuir para pensar a

gestão pública, a organização e os problemas educacionais na busca de garantir a

qualidade da educação para todos.

Apesar do CME/DC funcionar regularmente, muitas são as questões que

precisam ser (re)pensadas, já que seu funcionamento, a princípio, trouxe para a

sociedade civil organizada certo receio de ela ser cooptada pelo Estado. Permanece

nessa relação um tom de “desconfiança”, tanto do governo, quanto da sociedade civil, já

que vem de uma história de luta em Duque de Caxias de “bater panela na rua” e então

ficou com temor de a instauração de um CME ser uma forma de conter o movimento,

afirmou o conselheiro da sociedade civil.

O CME/DC começou a funcionar de maneira efetiva, há, somente, sete anos.

Sendo assim, a maioria dos conselheiros concorda que esse órgão constitui um caminho

para participação nas decisões da gestão do município, permitindo que essas aconteçam

de forma coletiva, compartilhando com a sociedade civil e o Governo os rumos da

educação municipal. Embora alguns conselheiros da sociedade civil tenham clareza de

sua representatividade e importância do seu compromisso com as políticas

educacionais, esses reconhecem que existe uma assimetria informacional entre eles e os

representantes governamentais, o que dificulta suas ações e os torna frágeis em

determinados encaminhamentos.

Desse modo, é certo que, por parte do governo, existe uma maior unidade nas

tomadas de decisões, o que também pode colocar em xeque a funcionalidade do órgão,

pois, ao pensar que as deliberações do CME/DC precisam contribuir para o bem

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coletivo, a unidade governamental pode representar uma fragilidade que implica

diretamente nas decisões do CME/DC, já que todos os representantes governamentais

são indicados pelo Prefeito e essa notável unidade entre eles inviabiliza discordância e

questionamento. Por meio das entrevistas, os conselheiros apontaram que, para uma

gestão mais democrática, é imprescindível um maior desempenho, sobretudo, da

sociedade civil para entusiasmar os debates.

Constata-se que existe uma pluralidade nas representações do conselho, no

entanto, a população de um modo geral ainda desconhece esse órgão e sua importância

no planejamento das ações municipais. Nas leituras das atas, foi possível constatar que

até os próprios funcionários, que trabalham no mesmo prédio em que funciona o

conselho, desconhecem não só suas atribuições, mas sua existência. Desse modo, o

CME/DC também deixa a desejar quando não dá publicidade aos atos decididos nesse

espaço, seja por meio de folhetos, folders ou cartilhas elaboradas pelo mesmo, como

vem propondo desde sua implementação.

Nesta pesquisa, foi possível concluir que embora exista um grande avanço nas

legislações como: Constituição Federal, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Estatuto

da Criança e do Adolescente e todos os outros documentos que fazem referências à EI, a

realidade ainda é muito distante do que preconizam as legislações. Os estudos

envolvidos neste texto identificam, até hoje, práticas assistencialistas instituídas no

município estudado para o atendimento às camadas mais pobres dessa população. Ao

pensar nas atribuições que o MEC/2009, no seu curso de capacitação e fortalecimento

dos conselhos, aponta – deliberar, normatizar, assessorar e fiscalizar o sistema

municipal (público e privado) –, deixa claro o papel imperioso do CME na política de

EI.

No entanto, verifica-se que ao sair da esfera Nacional para a local, as

deliberações deixam muito a desejar, provocando um distanciamento enorme entre a

realidade e as instituições de atendimento de criança de 0 a 6 anos de idade, provocando

retrocesso e continuidade de um trabalho improvisado e inadequado para as crianças,

violando diferentes direitos. Portanto, chega-se a conclusão que além de toda

infraestrutura precária, no que se refere aos recursos físicos e materiais (ausência de

brinquedos, livros, materiais pedagógicos e pátio), esses espaços ainda funcionam,

atendendo as crianças com a problemática dos profissionais mal remunerados, com

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pouca formação e baixos salários. Assim, pode-se afirmar que o direito da infância à

educação de qualidade, garantido nas legislações, é negligenciado, fortalecendo a

manutenção da atual estrutura social injusta.

A preocupação dos conselheiros com a demanda de vagas para a EI e com a

insuficiência de vagas na rede de Duque de Caxias, apreendidas nas entrevistas e atas,

torna se um argumento para o não fechamento de algumas unidades que já estão

atendendo a boa parte da população dessa faixa-etária há mais de dez anos de modo

precário, em que o discurso principal é a incapacidade de o Governo assumir toda a

procura.

Responsável pela normatização da EI e com a finalidade de garantir a sua

qualidade, o CME tem em suas mãos o compromisso de não fechar os olhos para o que

vem acontecendo, no que diz respeito ao atendimento oferecido às crianças: salas sem

brinquedos, com odor de urina; crianças que se alimentam sentadas em um pedaço de

jornal e dividem o precário espaço com animais. Diante de tal realidade fica uma

pergunta: será que a prioridade nas políticas sociais são, mesmo, as crianças? Pois, não

se justifica entregar as crianças a esses espaços precários por falta de infraestrutura na

EI, ou seja, calar-se diante de argumentos como “não temos capacidade de absorver

essas crianças”, pois é competência do conselho tomar providências com relação a essa

situação por meio de mobilizações, pareceres e, principalmente, fiscalizações.

Outro aspecto é a inexistência de diálogo do CME/DC com os profissionais da

educação e toda comunidade escolar, o que demonstra a falta de acompanhamento e de

construção coletiva na qualidade da EI, tanto pela ausência de regulamentações para

impulsionar esse processo, quanto pela falta de parceria, com a SME/DC para agilizar o

processo de autorização. A superação desse quadro exige uma atuação coletiva com o

poder público que tem manifestado interesse em ampliar o atendimento para essa faixa

etária.

As poucas creches credenciadas e autorizadas se constituem mais um limitador

para o alcance e avanço na qualidade desses espaços de educação; pois, uma vez

reconhecidas pelo CME, sofrem mais uma fiscalização sujeita a avaliação institucional

periódica. O ESTADO terá de dar respostas às exigências das ofertas da EI avançando

do patamar atual para o desejável. Apesar de se entender a importância dos conselhos de

um modo geral para o cenário da Educação. Pode-se concluir diante de todo trabalho

que o CME/DC ainda precisa avançar no que se refere à amplitude de suas influências

na elaboração e fiscalização das políticas educacionais da EI

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REFERÊNCIAS

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Caxias. 29/12/05.

__________. Lei n.º 1869/05 de 15 de abril de 2005 – Dispõe sobre a reformulação do

CME e dá outras providências. Diário Oficial do Município de Duque de Caxias.

Duque de Caxias, 15 de abril de 2005.

_____________. Deliberação do CME nº 2 de 1 de dezembro de 2005 – Fixa normas

para autorização de funcionamento de instituições privadas de EI que assistem e

educam de 0 (zero) a 5 (cinco) anos e onze meses. Duque de Caxias, 1 de dezembro

de 2005.

CURY, Carlos Roberto Jamil. Os conselhos de educação e a gestão dos sistemas. In:

FERREIRA, Naura S. C. e AGUIAR, Márcia A. da S. (org.) Gestão da Educação:

impasses, perspectivas e compromissos. São Paulo: Cortez Associados, 2000.

FREIRE, Paulo. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. 10. ed. Rio de Janeiro: Paz

e Terra, 2003.

GOHN, Maria da Gloria. Conselhos gestores e Participação Sociopolítica. São Paulo:

Cortez, 2001.

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Entre lá e aqui: um mundo de descobertas além dos muros da Creche

Sandra Alves Naletto 105

O trabalho propõe apresentar uma das práticas construída na Creche/Pré-Escola

Oeste, pertencente ao programa de creches da USP, que envolve os profissionais dos

diferentes segmentos na organização para saídas culturais com as crianças. O relato

demonstra a importância de avançar além dos muros da instituição para descobrir uma

infinidade de possibilidades do brincar, conhecer e explorar o mundo em diferentes

contextos. É necessário compreender a importância das saídas das crianças como uma

situação de aprendizagem, de forma a ampliar o seu repertório quanto às diversas

formas de expressão cultural e científica. As saídas também passaram a ser

desenvolvidas com os adultos durante os encontros de formação continuada permitindo,

assim, o resgate de memórias, reflexão sobre as relações nas diferentes maneiras de

estar, permanecer, compreender, elaborar, expressar e se constituir no mundo como um

sujeito histórico e social.

Palavras- chave: Educação, Arte-Educação, Formação

Apresentação: motivação para iniciar a prática

Ao entrar em um espaço cultural, muitas questões fluem no contato entre o

visitante e a expressão cultural ali exposta. São informações, sensações, encontros e

estranhamentos que compõem o diálogo com as produções, sejam elas de qual

linguagem expressiva for, e um entendimento intrínseco dos conceitos que o indivíduo

social constrói ao longo de sua existência.

Na compreensão da criança como sujeito histórico e cultural, que não apenas a

recebe, mas intervém, produz e reelabora, nas últimas décadas, principalmente com a

elaboração dos dispositivos legais: Leis de Diretrizes e Bases da Educação (LDB),

Referenciais Curriculares e Parâmetros Curriculares Nacionais em todas as etapas da

105 Professora de Educação Infantil da Creche/Pré-Escola Oeste- Divisão de Creches- SAS-USP

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educação nacional, a cultura, em seu caráter mais amplo, passa a ser direito comum aos

cidadãos brasileiros seja qual for sua idade ou classe social.

Art. 3º - o ensino será ministrado com base nos seguintes

princípios: I – Igualdade de condições para o acesso e

permanência na escola; II – liberdade de aprender, ensinar,

pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber.

(LDB 9394/96)

A Creche/Pré-Escola Oeste, assim como as demais unidades da rede,

construíram, no decorrer dos anos, a prática de explorar diferentes espaços com as

crianças de 4 – 6 anos106

. Como uma atividade permanente, a visita aos espaços

culturais passou a fazer parte do planejamento anual dos grupos.

Adultos e crianças foram se apropriando desses momentos e hoje contamos com

as sugestões para visitação de espaços vindas de toda a comunidade: professores,

funcionários dos diferentes segmentos, famílias e crianças. A sistematização dessa

atividade envolve um trabalho de pesquisa de espaços e eventos na cidade, mais

precisamente nas cercanias da Universidade, conhecimento prévio do espaço, da

proposta a ser explorada na visita, preparação de material para apresentar aos

professores e crianças, contratação de transporte, aviso às famílias e alterações de rotina

que envolvem as outras equipes de apoio.

Organizando as saídas

Para que as saídas com as crianças acontecessem de forma a dar segurança para

poder desfrutar desses momentos, foi construída uma grande organização de

106 As saídas da Creche/Pré-Escola Oeste, com crianças de 0-3 anos foram bastante discutidas

entre a direção, coordenação, professores e funcionários . Por questões de segurança e a

demanda que envolve a saída com crianças que necessitam de estrutura de trocador, rotina de

alimentação diferenciada, transporte adequado e contingente para locomoção, foi constatado de

que não haveria condições de desenvolver tal prática com essa faixa etária. Na conversa com

os pais, houve também consenso quanto a isso. Vale ressaltar que embora os dispositivos legais

citem como direito da criança, independentemente da faixa etária, o acesso à cultura, os

diferentes espaços ainda não se organizaram quanto ao oferecimento de infraestrutura para o

atendimento às crianças pequenas, como sanitários adequados, acessibilidade etc.

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procedimentos com todos os envolvidos - crianças, famílias, professores e demais

profissionais.

As visitas aos espaços externos são organizadas de acordo com as solicitações

das crianças, dos professores e eventos culturais que estão acontecendo na cidade. São

Paulo se transformou, no último quinquênio, em um pólo importante principalmente

para as exposições de arte dos grandes nomes das artes plásticas, a exemplo de Miró,

Kandinsky e Frida Khalo.

É importante que as crianças possam ter contato com a obra original, observar as

nuances e fazer as leituras e correspondências com a ideia do autor e as suas vivências

anteriores. Da mesma forma, poder entender a dinâmica da convivência em diferentes

espaços sociais: o comportamento é o mesmo em um museu e em um parque? Ou em

uma biblioteca?

Em alguns momentos atendemos as demandas dos projetos desenvolvidos em

grupo, buscando que as crianças possam pesquisar sobre seus temas em outros espaços

e em conversas com profissionais diversos. Um exemplo aconteceu com o Grupo

Meteoro, formado por crianças de seis anos, que estava pesquisando planetas, meteoros

e estrelas. Realizamos uma visita bastante interessante ao Museu de Geociências, onde

puderam conhecer uma réplica em tamanho natural do esqueleto de um dinossauro,

observar as rochas e meteoritos reais e conversar com um geólogo do museu que

explicou os processos de formação desses elementos. As crianças trocaram ideias e

saíram de lá com muitas informações que enriqueceram a pesquisa que estavam

realizando. A experiência de estarem em um museu, descobrirem que há peças que

podemos tocar e outras não e o porquê não, de terem acesso ao conhecimento científico

e relacioná-lo com sua realidade comporão, ao longo do tempo, os recursos para suas

relações em sociedade.

Antonio Joaquim Severino107 nos faz pensar, ao observar o repertório que vai se

construindo no cotidiano das crianças, no fortalecimento dos elementos subjetivos que

107

SEVERINO, Antonio Joaquim. Educação, Sujeito e história. São Paulo: 2006.

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compõe a cultura e na qual eles se fazem sujeitos de ação e, cuja reação, se transporá

para as relações sociais do presente e do futuro.

Da mesma forma, colocá-los em contato direto com as esferas de pesquisa, dá às

crianças a possibilidade de dialogar com outros produtores de conhecimento, nesse

caso, no centro da academia.

Visitação prévia aos espaços

Mesmo sendo defendido e promulgado em lei o direito da criança, de acesso à

cultura, enquanto cidadã, os espaços não estão adaptados para acolher as crianças

pequenas. Dessa forma, encontramos locais com vãos em escadas, degraus altos, difícil

acessibilidade aos banheiros, além das dificuldades de acesso aos locais e de paradas

para desembarque adequadas. Assim, além do conteúdo do programa, é preciso verificar

a viabilidade da visitação e calcular qual o número de adultos necessários para uma

supervisão que propicie desfrutar da visitação com segurança e tranqüilidade.

A visitação prévia do educador possibilita pensar num recorte do espaço

expositivo ou as delimitações de áreas para visitação. Vale lembrar que o tempo de

visita, em caso de exposições ou monitoramento em centro de pesquisa não ultrapassam

40 minutos, por isso é interessante escolher um roteiro que mais atenda às intenções dos

professores e o interesse das crianças.

Agendamento no espaço, quando necessário, na data disponível

Os agendamentos atendem à organização dos espaços. Hoje, mesmo os parques

públicos, precisam, muitas vezes, serem avisados da visitação de um determinado grupo

de crianças. Outro elemento importante é poder contar com a monitoria em espaços

expositivos e um tempo na ação educativa (ações de interação dirigida), mas nem

sempre os espaços contam com esse atendimento para as crianças nesta faixa etária.

Assim, a visita prévia auxiliará o professor a organizar e mediar essa visitação.

Disponibilidade do ônibus

Quando o transporte era realizado por veículo da Universidade a questão era

apenas organizar as agendas entre as três unidades da capital. Hoje, com a

impossibilidade de utilizar esse transporte, é preciso agendar, dentro da disponibilidade

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de um perueiro escolar, dia e horário. Isso reduziu a área em que buscamos espaços para

levar as crianças e o tempo de permanência fora da Creche. É importante salientar que a

questão de confiabilidade e segurança das crianças é de responsabilidade da Instituição,

portanto, cabe ao organizador verificar as condições do veiculo, os equipamentos de

segurança e se o condutor age de acordo com as leis de trânsito.

Disponibilidade de educadores para acompanhar o passeio

Para as saídas contamos sempre com o acompanhamento de professores do

grupo, professor volante e professora que acompanha e sistematiza os passeios na

instituição. Espaços muito abertos ou com grande número de visitantes demandam o

acompanhamento de muitos professores. Os agendamentos não podem coincidir com

eventos internos da Instituição e que envolvem saídas de professores.

Alterações de rotina- cozinha, módulos, limpeza, coordenação

A rotina dentro da instituição envolve diversas equipes, além dos professores e

crianças. Dessa forma, é preciso prever e informar quais alterações são necessárias para

o dia da saída: mudanças de horários de refeição, por exemplo.

Comunicação às famílias

As famílias participam desse planejamento dando sugestões, custeando o

transporte e precisam se organizar para que nos dias de saídas com as crianças elas

possam cumprir os horários, principalmente quando se diferenciam dos comumente

cumpridos, e não deixar de trazer a crianças na Creche.

Com uma antecedência de ao menos uma semana, as comunicações nas portas

das salas e via e-mail são importantes para colocar as famílias a par da programação das

crianças e das alterações dessa rotina. Vale lembrar que muitas delas ainda sentem

algumas dúvidas quanto ao que é seguro fora da creche. Com essa antecedência, as

famílias também podem expressar e terem respondidas suas preocupações. Os eventos

fora da instituição demandam muita organização do grupo de profissionais e da

confiança das famílias.

Identificação das crianças

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É importante criar uma forma de identificação do grupo de crianças,

principalmente quando a escola não adota um uniforme, como na Creche/Pré-Escola

Oeste. Depois de muitas conversas, e com o exemplo do que já ocorria na Creche

Central, o grupo sugeriu à Coordenação que fosse incluída na lista de material, no inicio

década ano, a solicitação de uma camiseta na cor laranja. Dessa forma, todas as crianças

em espaços externos vestem a mesma cor e tem discriminado em cada uma o nome da

criança, da instituição e os telefones.

Além da Creche, também com os adultos

“No meu tempo, parte da alegria de brincar estava na alegria de

construir o brinquedo. Fiz caminhõezinhos, carros de rolemã,

caleidoscópios, periscópios, aviões, canhões de bambu, corrupios,

arcos e flechas, cataventos, instrumentos musicais, um telégrafo,

telefones, um projetor de cinema com caixa de sapato e lente feita com

lâmpada cheia d’água, pernas de pau, balanços, gangorras, matracas

de caixas de fósforo, papagaios, artefatos detonadores de cabeças de

pau de fósforo, estilingues. Fazendo estilingues desenvolvi as virtudes

necessárias à pesquisa: só se conseguia uma forquilha perfeita de

jabuticabeira depois de longa pesquisa”108

.

Há três anos, iniciamos uma prática, nas Formações em Serviço, com as equipes

de diferentes setores propondo resgatar e ampliar as vivências dos funcionários nos

espaços culturais de São Paulo. Dessa forma, entraram em contato com sua cultura de

origem (regionais), conheceram outras formas de pensar o folclore, as tradições, a

cultura e os conhecimentos científicos. A receptividade do grupo frente a essa proposta

nos possibilitou observar as muitas manifestações: silêncio, espanto, rejeição,

admiração etc. Esse encontro resultou em uma maior compreensão do trabalho

pedagógico desenvolvido na Creche, onde esses sujeitos inferem também no cotidiano

das crianças. Embora Jorge Coli, em O que é arte109,

fale mais diretamente sobre a

relação do indivíduo com a expressão da arte, a concepção que traz é importante para

representar a relação dos grupos de outros setores com a compreensão do processo de

aprendizagem:

A fruição da arte não é imediata, espontânea, um dom, uma graça.

Pressupõe um esforço diante da cultura. Para que possamos

emocionar-nos, palpitar com o espetáculo de uma partida de

108

ALVES. Rubem. Cenas da vida. Campinas: Papirus, 2009, p. 119. 109

COLI, Jorge. O que é arte. São Paulo: Editora Brasiliense, 2006. p 117 e 119

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futebol, é necessário conhecermos as regras desse jogo, do

contrário tudo nos passará despercebido, e seremos forçosamente

indiferentes (...) “Gostar” ou “não gostar” não significa possuir

uma “sensibilidade inata” o ser capaz de uma “fruição

espontânea” – significa uma reação do complexo de elementos

culturais que estão dentro de nós dentro do complexo cultural que

está fora de nós (...)”, seja uma obra de arte ou outros

conhecimentos adquiridos pela humanidade.

Considerações finais

Segundo Dewey, “para a experiência ter valor e significado educacional, o

indivíduo deve experimentar o desenvolvendo a habilidade de lidar inteligentemente

com problemas que ele inevitavelmente encontrará no mundo”. Isso se refere ao homem

em seu processo de educação, ou seja, pela vida afora. O cerne da discussão está na

compreensão da importância do acesso a cultura e de sua apropriação pelos diversos

sujeitos históricos e sociais que constituem o ambiente educacional.

A Creche, como espaço de educação, tem buscado propiciar o encontro e

reencontro entre sujeitos e a cultura. As saídas para as crianças ampliaram o repertório

verbal, de conhecimento artístico e cientifico, proporcionando a busca por pesquisas

dentro de seus grupos, a troca de informações e percepções expressando as relações

entre o que se conhece e o que se observou. A troca de informações entre o objeto de

observação/experimentação e o seu observador, e que deve ser precedida de um

conteúdo anterior, acontece no encontro da criança que já refletiu e discutiu junto com

seu grupo de maneira prévia, antes de entrar em contato direto com os ambientes

visitados e suas proposições. O objeto, ou o espaço, foi concebido para essa interação,

trazendo consigo uma provocação explícita para travar um diálogo; o observador, da

mesma forma, apresenta-se não despido de intenções e de uma diversidade de

experiências que o constituem como um ser social. Todas as outras interações já

vivenciadas influenciarão direta e indiretamente nesse novo encontro. Aquele conjunto

de informações pré-concebidas direcionam o olhar e as demais sensações.

No grupo da Creche, vemos crianças produzindo conhecimentos diversos em

diálogo com essas observações vivenciadas nas visitações e na interação com o grupo

de adultos que agora contribui com um repertório de experiências reencontradas e

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valorizadas pela história que representa. A valorização desses sujeitos, historicamente

colocados à margem do processo educativo, trouxe em diversos momentos da rotina

uma riqueza ímpar e que constitui hoje, um patrimônio que dá identidade ao percurso da

Creche/Pré-Escola Oeste.

Referências

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Vozes: Petrópolis, RJ. 2ª edição: 2012.

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da União. Brasília, DF, 23 dez. 1996.

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Mapeamento da situação das escolas municipais de educação infantil (EMEI’s) da

cidade de Assis/SP em relação às metas propostas pelo Plano Nacional de

Educação (PNE 2001-2010) nas questões de oferta, atendimento e infra-

estrutura.110

Carlos da Fonseca Brandão111

Sandra Regina Gregório Oliveira112

Maria Cristina Bigele113

RESUMO

O objetivo de nossa pesquisa foi mapear a situação em 2013 das Escolas Municipais de

Educação Infantil (EMEI’s) da cidade de Assis, localizada no centro-oeste paulista.

Nossa análise centrou-se nas questões relativas à oferta, ao atendimento e à questão da

infraestrutura física e material das escolas pesquisadas, partindo de dados e informações

fornecidas pela respectiva Secretaria Municipal de Educação. Tomamos como

referência as metas propostas pelo PNE 2001-2011 e detectamos que no município

citado essas foram alcançadas no que se refere às questões de oferta, atendimento e

infraestrutura da educação infantil.

Palavras-chave: política educacional. Sistemas de ensino municipal. Educação infantil.

110Este texto é fruto de pesquisa do COPPE – Coletivo de Pesquisa em Políticas Educacionais,

realizada em 2013, na UNESP – Marília.

111Professor da Pós–graduação em Educação - UNESP - Marília e Coordenador do COPPE.

112Professora do Instituto Educacional de Assis, Coordenadora Pedagógica da Educação Infantil,

da SME – Assis e doutoranda em Educação – UNESP – Marília.

113Doutoranda em Educação – UNESP – Marília.

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1INTRODUÇÃO

As primeiras instituições de Educação Infantil na Europa e nos Estados Unidos

tinham como objetivos, cuidar das crianças e protegê-las, enquanto as mães saíam para

o trabalho. Dessa maneira, a origem e a expansão destas instituições estão associadas à

transformação da família na sociedade ocidental, que, segundo Didonet (2001), baseia-

se no trinômio: mulher-trabalho-criança. Desta maneira, as creches, escolas maternais e

Jardins de Infância tiveram, somente no seu início, o objetivo assistencialista, cujo

enfoque era a guarda, a higiene, a alimentação e os cuidados físicos das crianças.

Apesar da origem voltada para as questões assistenciais, Kuhlmann Jr. (2001)

ressalta que essas instituições também se preocuparam com questões relacionadas à

educação, pois se apresentaram como pedagógicas já em seu início. Para esse autor, as

propostas pedagógicas variam, “[...] seja em função da instituição ou da idade da

criança, seja por opção por um método pedagógico ou por um conjunto de objetivos

educacionais específicos” (KUHLMANN JR., 1998, p. 184)114.

Para esse autor, essa educação não seria sinônimo de emancipação, haja vista

que a pedagogia para as crianças pobres se constituía em submissão, “[...] uma educação

assistencialista marcada pela arrogância que humilha para depois oferecer o

atendimento como uma dádiva, como favor aos poucos selecionados para o receber”

(KUHLMANN JR., 1998, p. 186).

A partir da segunda metade do século XIX, o quadro das instituições

destinadas à primeira infância era formado, basicamente, pela creche e pelo Jardim de

Infância, ao lado de outras modalidades educacionais que foram absorvidas como

modelos em diferentes países.

114Kuhlmann Jr. (1998) utiliza o termo “pedagógico”, para as instituições de atendimento à

infância que não se preocupavam apenas com os cuidados voltados ao corpo da criança, mas às

atividades que estimulavam a inteligência infantil, o desenvolvimento de habilidades, o

conhecimento das letras e as primeiras noções de moral e religião.

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2 JUSTIFICATIVA

No Brasil, por exemplo, a creche foi criada exclusivamente com caráter

assistencialista, o que diferenciou essa instituição das demais criadas nos países

europeus e norte-americanos, que tinham objetivos de caráter pedagógico. Um fator que

contribuiu para o surgimento das creches, dos asilos e dos orfanatos brasileiros foi à

iniciativa de acolhimento aos órfãos abandonados que, com o apoio da alta sociedade,

tinha como finalidade, segundo Rizzo (2003), esconder a vergonha da mãe solteira.

Fatores como o alto índice de mortalidade infantil, a desnutrição generalizada e

o número significativo de acidentes domésticos, fizeram com que alguns setores da

sociedade, dentre eles, a dos religiosos, dos empresários e dos educadores começassem

a pensar num espaço de cuidados da criança fora do âmbito familiar; “[...] foi por esse

lado, ou seja, como problema, que a criança começou a ser vista pela sociedade e com

um sentimento filantrópico, caritativo, assistencial, é que começou a ser atendida fora

da família” (DIDONET, 2001, p.13). Já para Kuhlmann Jr. (1998),o objetivo do

trabalho assistencialista se voltava mais para uma educação moral do que intelectual.

Ainda no final do século XIX, período da abolição da escravatura no país,

quando se acentua a migração para as grandes cidades e se dá a Proclamação da

República, surgem iniciativas isoladas de proteção à infância, com o objetivo de

combater os altos índices de mortalidade infantil. O discurso presente era de cunho

médico-higienista, cuja preocupação centrava-se nos cuidados e higiene do corpo da

criança. Mesmo com o trabalho desenvolvido nas Casas de Misericórdia, por meio da

roda dos expostos, foi criado um número significativo de creches não pelo poder

público, mas, exclusivamente, por organizações filantrópicas.

Assim, entendia ser fundamental uma reforma no sistema educacional

brasileiro que atendesse os pequenos. Rui Barbosa considerava que o Estado deveria

ofertar escolas gratuitas e obrigatórias para a população, cabendo à família a

responsabilidade de enviar seus filhos às mesmas (LARA; LUCAS; MACHADO,

2007).

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Com o mesmo ponto de vista, seu contemporâneo, o médico Menezes de

Vieira, defendeu a criação e a implementação dessas instituições com caráter educativo

e não com objetivos em si mesmas, tanto para as classes mais favorecidas, quanto para

as classes mais baixas. Apesar da profissão, inaugurou, no ano de 1875115, o primeiro

Jardim de Infância particular e oficial do Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, no Colégio

Menezes Vieira.

Este médico foi propagador do pensamento de Froebel, ao propor a adaptação

de seu método para nossa realidade local, ou seja, a nacionalização dos materiais e das

atividades froebelianas, para serem utilizados com as crianças brasileiras. O objetivo

desse estabelecimento, segundo Bastos (2001), era atender crianças do sexo masculino,

de três a seis anos de idade, sendo essas oriundas das classes mais abastadas da

sociedade. A proposta pedagógica dessa instituição priorizava atividades de ginástica,

pintura, desenho, exercícios de linguagem e de cálculo, escrita, leitura, história,

geografia e religião. O método utilizado era o intuitivo e tinha como objetivos o

desenvolvimento da percepção das crianças e a graduação do ensino, partindo sempre

do concreto ao abstrato116.

As tendências que acompanharam a implantação de creches e Jardins de

Infância, no Brasil, no final do século XIX e durante as primeiras décadas do século

XX, foram a jurídico-policial, a médico-higienista e a religiosa, já que “[...] cada saber

apresentava as suas justificativas para a implantação de creches, asilos e Jardins de

Infância, onde seus agentes promoveram a constituição de associações assistenciais

privadas em nosso país” (KUHLMANN JR., 1998, p. 88).

115 Em 1877, foi inaugurada, em São Paulo, uma turma de Jardim de Infância junto à Escola

Americana, ambas particulares.

116Apesar dessa instituição não ter sido a primeira do Brasil, sua criação representou um marco

na realidade brasileira, já que, pelo trabalho desenvolvido, recebeu inúmeros prêmios, o que

propiciou a criação de outras instituições no Rio de Janeiro, décadas depois.

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Ainda nesse período117, foi criado o Instituto de Proteção à Infância do Rio de

Janeiro, o IPAI, pelo médico Arthur Moncorvo Filho118. Essa instituição tinha como

objetivos não só atender às mães grávidas pobres, mas proporcionar assistência aos

recém-nascidos, fazer a distribuição de leite, a consulta de lactantes, a vacinação e a

higiene dos bebês. Foi considerada umas das entidades mais importantes, sobretudo por

ter expandido seus serviços por todo o território brasileiro. A filosofia da instituição era

justamente contribuir para a diminuição do alto índice de mortalidade infantil nas

camadas populares da sociedade.

Até a década de 1950, as poucas instituições existentes, fora das indústrias, eram

de responsabilidade de entidades filantrópicas ou particulares. Depois desse período,

com o avanço da industrialização e com o aumento das mulheres da classe média no

mercado de trabalho, cresceu a demanda pelo serviço das instituições de atendimento à

infância (OLIVEIRA, 1992). Haddad (1993) considera que a ideia do atendimento à

criança, fora do lar, possibilitaria a superação das precárias condições sociais a que ela

estava sujeita, por meio de uma educação compensatória, já estava presente em meados

de 1970.

Naquele momento, enquanto as instituições públicas atendiam as crianças das

camadas populares, as propostas das particulares, de cunho pedagógico, funcionavam

em meio turno, dando ênfase à socialização e à preparação para o ensino regular, pois,

enquanto as crianças das classes menos favorecidas eram atendidas com propostas de

trabalho que partiam de uma ideia de carência e deficiência; as crianças das classes

117 Em 1889 foi inaugurada a primeira creche da Companhia de Fiação e Tecidos de Corcovado

(RJ) para filhos de operários. Em meados de 1901, outras iniciativas de assistência à infância

foram criadas, dentre elas, às creches coordenadas por Anália Franco em São Paulo. Em 1906,

foi criado o Patronato de Menores, fundado por juristas brasileiros e em 1908, foi criado o Asilo

de Menores Desamparados no Distrito Federal.

118 Por seu trabalho de utilidade pública, o IPAI recebeu diferentes premiações como, medalha

de prata na Exposição da Louisiana no ano de 1904, medalha de ouro na Exposição de Higiene

em 1909, no Rio de Janeiro, e Diploma de Honra no ano de 1912, na Exposição de Higiene, em

Roma. Na década de trinta, possuía vinte e duas filiais em todo o país (KUHLMANN JR., 1998).

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sociais mais abastadas recebiam uma educação que privilegiava a criatividade e a

sociabilidade infantil (KRAMER, 1995).

Verifica-se que, até o final de 1970, pouco se fez, em termos de legislação, para

se garantir a oferta desse nível de ensino. Na década de 1980119, diferentes setores da

sociedade, como organizações não governamentais, pesquisadores da área da infância,

comunidade acadêmica, população civil e outros, uniram forças com o objetivo de

sensibilizar a sociedade sobre a necessidade de se garantir o direito da criança a uma

educação de qualidade desde o seu nascimento. Transcorreu-se quase um século para

que a criança tivesse garantido o seu direito à educação na legislação, pois foi somente

com a Carta Constitucional de 1988 que esse direito foi efetivamente reconhecido.

Assim, no Brasil, desde a promulgação da atual Constituição e da sanção da Lei

nº 8.069/90, que instituiu o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a concepção

de criança como sujeito de direitos120, que é detentora de potencialidades a serem

plenamente desenvolvidas, está em sintonia com as principais normas internacionais

sobre o direito da criança à Educação, quer sejam, a Declaração Universal dos Direitos

da Criança (UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância –, 1959) e Convenção

sobre os Direitos da Criança (ONU/UNICEF, 1989) (TIRIBA, 2001, p. 73 e LEITE

FILHO, 2001, p. 31).

Por determinação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB –

Lei nº 9.394/96), a Educação Infantil possui a finalidade de promover o

desenvolvimento integral das crianças de 0 a 5 anos, em seus aspectos físico,

psicológico, intelectual e social, de forma a complementar a ação da família e da

comunidade, sendo considerada como a primeira etapa da Educação Básica

(BRANDÃO, 2006, p. 84). A LDB também determina que a Educação Infantil seja

dividida em creches e pré-escolas, as primeiras (creches) atendendo crianças de 0 a 3

119Em 1982, o Ministério da Educação criou o Programa Nacional de Educação Pré-escolar que

estabelecia as metas, diretrizes, prioridades e planos de ação da política para essa faixa etária.

120Sobre as diversas formas de se interpretar essa concepção de criança como sujeito de

direitos, ver SARMENTO, 2001, p. 24-27.

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anos, ficando a faixa de 4 e 5 anos para as pré-escolas, que, por sua vez, deverão adotar

objetivos educacionais, transformando-se em instituições de educação, segundo as

diretrizes curriculares nacionais específicas para a Educação Infantil.

A seguir apresentamos a situação atual das escolas municipais de educação

infantil (EMEI’s) do município de Assis, em relação às metas propostas pelo antigo

Plano Nacional de Educação (PNE – Lei nº 10.172/01), que vigorou de 2001 a 2011,

nas questões relativas à oferta, ao atendimento e à infraestrutura.

3 O CENÁRIO DE ASSIS

3.1. Assis: um breve histórico

José Teodoro de Souza, um desbravador de terras provenientes do Estado de

Minas Gerais, chegou às proximidades de onde hoje se localiza a cidade de Assis por

volta de 1850. José Teodoro, com a intenção de conquistar a região habitada pelos

indígenas (PRADO, 2013), tomou posse das terras e fundou em 1855 os distritos de

Campos Novos do Paranapanema e Conceição de Monte Alegre.

Neste período, o Capitão Francisco de Acis Nogueira, também nascido em

Minas Gerais, adquiriu alqueires de terras que José Teodoro de Souza havia se

apoderado e em primeiro de julho de 1905, doou cerca de 80 alqueires dessas terras para

a construção de um patrimônio,nomeado de “Acis”, em homenagem ao homem que

ofertou as terras para a sua constituição.

O povoado de Acis foi reconhecido como distrito, com a promulgação da Lei

Estadual nº 1496 de 30 de dezembro de 1915, tendo também, a partir da citada lei, a

grafia do nome do distrito alterada para “Assiz”. Em 1917 o distrito de Assiz foi

elevado à categoria de município, mas apenas em 1944, por conta do decreto-lei

estadual 14.334, passou-se a grafar o nome utilizado até o presente momento “Assis”.

A cidade de Assis está localizada a 434 quilômetros da capital do Estado de São

Paulo, possuindo, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

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(IBGE) cerca de 100.204 habitantes (IBGE Cidades, 2013). Com a extensão de

aproximadamente 460 km², Assis faz fronteira ao norte com a cidade de Lutécia, ao sul

com Cândido Mota e Tarumã, ao leste com Platina e Echaporã e a oeste com as cidades

de Paraguaçu Paulista e Maracaí, todos localizados dentro do Estado de São Paulo.

No ranking do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), a

cidade de Assis figura na 28ª posição com o índice de 8,05, o que é considerado um

indicador alto segundo a escala de avaliação do IDHM. Na área de educação, o índice

de Assis é de 0,781 (considerado médio); o índice de longevidade é de 0,865

(considerado alto); e o de renda é de 0,771 (considerado médio).

Fonte: PNUD, IPEA e FJP. Disponível em:

<http://atlasbrasil.org.br/2013/perfil/assis_sp>. Acesso em 23 out. 2013.

3.2A Educação em Assis

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A cidade de Assis possui cinco escolas de ensino superior, sendo essas a

Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), a Universidade

Paulista (UNIP), a Fundação Educacional do Município de Assis (FEMA), o Instituto

Educacional de Assis (IEDA) e a Universidade do Norte do Paraná (UNOPAR).

De acordo com os dados colhidos pelo IBGE na pesquisa sobre “Ensino -

Matrículas, Docentes e Rede Escolar 2012”, há em Assis 40 escolas que ofertam o

Ensino Fundamental, sendo 19 escolas públicas municipais, 12 escolas públicas

estaduais e 9 escolas privadas. Há 21 escolas com Ensino Médio, das quais 13 escolas

são públicas estaduais e 8 escolas são particulares. O ensino pré-escolar está presente

em 35 escolas, sendo 22 escolas públicas municipais, uma escola pública estadual e 12

escolas privadas.

No gráfico a seguir temos o resultado do IDHM de Educação da cidade de Assis,

o qual é formado pela proporção de crianças e jovens frequentando, ou que já

completaram determinados ciclos escolares, indicando a situação da educação da

população com idade escolar. De acordo com o PNUD, o IPEA e a FJP (2010), a

porcentagem de crianças assisenses de 5 e 6 anos frequentando a escola no ano de 1991

era de 43,32%, em 2000 a percentagem foi de 82,83% e em 2010 o número atingido foi

de 97,18%. Dessa maneira, a proporção de crianças de 5 e 6 anos frequentando a escola

entre os anos 1991 a 2000 teve um aumento de 91,20% e entre o ano 2000 a 2010 essa

proporção aumentou 17,32%.

Em 1991, Assis tinha um percentual de 69,36% de suas crianças, na faixa etária

de 11 a 13 anos, que frequentavam os anos finais do ensino fundamental. Em 2000, a

quantidade de crianças nessa situação e faixa etária subiu para 86,18% e no ano de 2010

esse percentual alcançou o patamar de 93,08%. Assim, houve um aumento significativo

(aproximadamente 24%) do percentual de crianças, nessa faixa etária, que passaram a

frequentar os níveis finais do ensino fundamental entre os anos de 1991 a 2000, ao

passo que entre os anos de 2000 a 2010, esse aumento foi de 8,01%.

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Fonte: PNUD, IPEA e FJP. Disponível em:

<http://atlasbrasil.org.br/2013/perfil/assis_sp>. Acesso em 23 out. 2013.

Comparando a média do Fluxo Escolar por Faixa Etária de Assis com a média

do Estado de São Paulo e do Brasil, verificamos que a quantidade de crianças e jovens

nas escolas da cidade de Assis está acima da média estadual e da média nacional.

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Fonte: PNUD, IPEA e FJP. Disponível em:

<http://atlasbrasil.org.br/2013/perfil/assis_sp>. Acesso em 23 out. 2013.

3.3 A Educação Infantil em Assis

A Educação Infantil em Assis teve início na década de 1980, que pretendia

atender as necessidades educacionais dessa faixa etária. Em 1984 foram instaladas as

primeiras unidades de ensino infantil, que receberam o nome de Setores Municipais de

Educação Infantil de Assis (SEMEIAS). A maior parte dos SEMEIAS não tinham boa

infraestrutura, tanto que o funcionamento de tais setores ocorria em condições precárias,

em lugares públicos. Alguns SEMEIAS foram implantados mais próximos das

periferias, em locais cedidos pelo próprio poder público, por igrejas e por comunidades

de bairros para que o atendimento de alunos dessas regiões da cidade também pudesse

acontecer.

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As EMEI’s (Escolas Municipais de Educação Infantil) e EMEIF’s (Escolas

Municipais de Educação Infantil e Fundamental) que atualmente constituem o ensino

municipal de Assis originaram-se dos SEMEIAS. Foi no final da década de 1990, ao

municipalizar todo o primeiro ciclo do ensino fundamental (do primeiro ao quinto ano,

como são designados atualmente), que a cidade de Assis ampliou o atendimento da

educação infantil dando origem as EMEIF’s.

Além das EMEI’s e EMEIF’s, o município também possui as EMEF’s (Escolas

Municipais de Ensino Fundamental), Escolas de Ensino Profissionalizante, escola de

Educação Ambiental, entre outros projetos. Ao todo a rede municipal possui 29

unidades escolares, as quais atendem cerca de 10.000 crianças matriculadas na educação

infantil e ensino fundamental.

A Secretaria Municipal de Educação (SME) alterou significativamente sua

filosofia de trabalho a partir do ano de 2009, procurando, segundo a própria SME, focar

no aluno de maneira humanizada, primando pela eficiência dos processos de ensino e

aprendizagem e assim contribuir para o crescimento pessoal e social dos habitantes da

cidade. Além disso, ainda de acordo com a SME, a qualidade dos serviços prestados à

comunidade assisense é uma prioridade, tendo como um dos principais objetivos

pedagógicos fazer com que as crianças estejam totalmente alfabetizadas quando

encerrarem seus ciclos na rede municipal.

3.4. O caminho da pesquisa

3.5 A coleta de dados

A pesquisa foi quali-quantitiativa (Triviños,1987).A coleta de dados foi

realizada diretamente na Secretaria Municipal de Educação do Município de Assis

(SME). O objetivo da pesquisa foi obter dados quantitativos referentes à oferta (número

de escolas e número de vagas), ao atendimento (número de matrículas realizadas) e à

infraestrutura (tanto a infraestrutura dos prédios físicos, como a disponibilidade de

materiais e recursos didáticos) da educação infantil municipal.

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A partir dos dados disponibilizados pela SME, constatamos que a cidade de

Assis possui 11 escolas de educação infantil, localizadas por vários bairros da cidade,

atendendo um total de 4332 crianças, sendo que as creches atendem 1419 crianças e as

escolas de educação infantil atendem 2913 crianças. A educação infantil no município

de Assis possui, como um todo, um quadro profissional composto por 299 professores,

sendo que 50% desses docentes são temporários contratados a partir de processos

seletivos realizados anualmente, e cerca de 90 estagiários-bolsistas, que são estudantes

do ensino médio e/ou estudantes do ensino superior, também contratados

temporariamente.

Algumas dessas escolas oferecem educação em período integral, perfazendo um

total de 10 ou 11 turmas, disponibilizando oficinas de alfabetização em matemática,

alfabetização e letramento, informática, artes visuais, além de outras atividades, nos

horários de contraturno das aulas regulares. Afora essas escolas que possuem período

integral, há cinco “escolas polos” que funcionam durante o ano inteiro, tendo

revezamento de funcionários nos períodos do recesso no mês de julho e das férias de

final/início de ano. Além disso, a rede municipal como um todo possui salas de

estimulação pedagógica, sala de recursos, além de vários projetos específicos aplicados

nas escolas.

Mesmo atendendo a mais de 4000 crianças na educação infantil, a SME

registrou uma quantidade de alunos que não conseguiram se matricular em nenhuma

creche e escola de educação infantil municipais. Cerca de 660 crianças estão fora das

creches porque não conseguiram vaga, e um número aproximado de 20 a 30 crianças

não estão matriculadas no ensino pré-escolar, também por falta de vagas nas escolas.

Com a tentativa de amenizar essa situação, a SME está reformando e ampliando

algumas creches, além de estar finalizando a construção de quatro novas unidades nos

bairros Jardim Paraná, Vila Xavier, Vila Ribeiro e Inocoop, e planeja a construção de

uma creche no bairro Residencial Parque do Bambú. A previsão com essas ampliações e

construções é atender mais 210 crianças nas creches e mais 132 crianças na pré-escola.

Mesmo com a entrega das creches já construídas e com a construção de uma nova, o

número de vagas a ser ofertado (342 vagas) não conseguirá suprir a necessidade que a

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cidade apresenta para toda a educação infantil (no total, cerca de 690 vagas), portanto,

para a SME, o foco do seu trabalho, nesse nível de ensino, a partir de 2013, é atender a

essa demanda.

Sobre a infraestrutura, as EMEI’s de Assis, segundo a SME, possuem prédios

em boas condições físicas, cozinhas próprias para cada unidade com refeições

balanceadas. Porém, ao mesmo tempo, as EMEI’s de Assis são deficientes com relação

aos parquinhos de brinquedos para os momentos de lazer das crianças atendidas,

havendo também falta de brinquedos, pois a quantidade que as escolas possuem

atualmente não é suficiente para que as crianças brinquem da mesma maneira em todas

as escolas da rede municipal. Também foi apontada a falta de instrumentos musicais,

que seriam necessários para o desenvolvimento musical das crianças.

A SME de Assis possui a preocupação de configurar as suas EMEI’s,

prioritariamente, como espaços educativos, relativizando o caráter assistencialista, que,

muitas vezes, é imputado a esse nível de ensino. Para isso, as creches desenvolvem uma

série de atividades educativas, como noções de higiene pessoal, musicalização, a “Hora

do Conto”, jogos pedagógicos, entre outros. Por fim, SME de Assis não possui uma

diretriz curricular própria, sendo que alguns livros utilizados pela sua rede municipal

são enviados pelo MEC e outros são adquiridos pela própria SME de Assis, conforme o

planejamento dos currículos pelas suas escolas.

4CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nossa pesquisa constatou que a SME de Assis atende uma considerável

quantidade de crianças de 0 a 5 anos (mais de 4300 crianças) e possui uma demanda

ainda não atendida de aproximadamente 690 crianças, apresentando assim, um déficit

de, aproximadamente, 13,7% de vagas na educação infantil. Este déficit deverá ser

diminuído, no médio prazo para, aproximadamente, a metade. Porém, quando

separamos as vagas a serem criadas para a creche das vagas a serem criadas para a pré-

escola, temos que a SME de Assis diminuirá em apenas 1/3 o déficit de vagas nas

creches e, por outro lado, apresentará uma “sobra” de, aproximadamente, 100 vagas na

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pré-escola, considerando que não estamos levando em conta o aumento vegetativo da

população do município de Assis.

A respeito da infraestrutura, tanto a estrutura física como a oferta de espaços,

mobiliários e materiais das escolas de educação infantil de Assis, verificamos que, nessa

questão, o sistema municipal de educação de Assis possui prédios novos e outros em

boas condições físicas, cozinhas próprias para cada unidade e parquinhos de lazer em

boas condições em quase todas as escolas.

Por outro lado, verificamos que a fragilidade do sistema de educação infantil em

Assis está na falta de valorização da carreira docente. Faltam editais de concursos

públicos para a contratação de professores efetivos, o que implica nas escolas de

educação infantil terem 50% de seus docentes trabalhando em regime precário (os

chamados “temporários”). Com esse percentual tão elevado, torna-se muito difícil que o

trabalho pedagógico tenha continuidade, já que todo início de ano o professor precisa

participar do processo seletivo, ser classificado na prova e passar pela atribuição de

aulas.

Observando as atribuições realizadas no ano de 2013 disponíveis no site da SME

de Assis, notamos a grande quantidade de desistências desses professores temporários

(em 2013, aproximadamente 20% desistiram durante o ano), o que faz com que, durante

todo o ano, novos professores temporários tenham que ser contratados, nos mais

diferentes momentos do ano letivo, dificultando o trabalho pedagógico das atividades

realizadas com os alunos.

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Projeto Onuki de Musicalização na Primeira Infância

Experiência em Creches Públicas da Prefeitura Municipal de Cubatão

Sonia Maria da Silva Onuki

Idealizadora e Coordenadora do Projeto Onuki de Musicalização na PMC

Luciane Gouvêa de Sant’Anna

Coordenadora da Pratica do Projeto Onuki em Sala de Aula

Cecilia Maria Mondelo

Organizadora do Repertório para as Aulas de Musicalização

Projeto Onuki de Musicalização

Uma Experiência em Creche Publica na Prefeitura Municipal de Cubatão

Resumo: O presente trabalho tem como foco, a inserção da Educação Musical na

Escola Publica de Educação Infantil I. A motivação foi a Lei Federal nº 11.769/08, que

altera a Lei 9.394/96 (LDB), que dispõe sobre a obrigatoriedade do ensino da música na

educação básica. A Educação Musical aplicada à Escola tem como foco a sensibilização

do aluno, a ampliação de sua cultura, a valorização do ser humano, além dos objetivos

pedagógicos musicais. O objetivo específico do trabalho é a formação cognitiva,

psicomotora, afetiva, o desenvolvimento auditivo e respiratório, o estimulo da criança a

autoconfiança, a curiosidade, a disciplina, a criatividade, a análise, a cidadania, ao

respeito mútuo, ao conhecimento, ao desenvolvimento cultural e social, ao equilíbrio

emocional, além do desenvolvimento do canto e a utilização correta da voz. É aplicado

na Educação Infantil I com bebês entre um ano e meio e três anos, nas UMEs de

Educação Infantil I da Rede de Ensino da Prefeitura Municipal de Cubatão.

Palavra Chave: Educação Infantil I, Creche, Bebês, Musicalização de Bebês,

Musicalização na Educação Infantil I, Musica em Escola Publica.

Desenvolvimento do Projeto: O presente trabalho tem como foco, a inserção da

Educação Musical na Escola Publica de Educação Infantil I. A motivação foi a Lei

Federal nº 11.769/08, que altera a Lei 9.394/96 (LDB), que dispõe sobre a

obrigatoriedade do ensino da música na educação básica.

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A Educação Musical aplicada à Escola tem como foco a sensibilização do aluno, a

ampliação de sua cultura, a valorização do ser humano, além dos objetivos pedagógicos

musicais. O objetivo específico do trabalho é a formação cognitiva, psicomotora,

afetiva, o desenvolvimento auditivo e respiratório, a autoconfiança, a curiosidade, a

disciplina, a criatividade, a análise, a cidadania, ao respeito mútuo, o conhecimento, o

desenvolvimento cultural e social, além dos objetivos específicos da Musica como o

desenvolvimento do canto e a utilização correta da voz. É aplicado na Educação Infantil

I com bebês entre um ano e meio e três anos, nas UMES de Educação Infantil I da Rede

de Ensino da Prefeitura Municipal de Cubatão.

Foi em 2009, que a oportunidade de iniciar um trabalho de Educação

Musical no Município de Cubatão aconteceu. De encontro à lei 11.769/2008, que

alterava a LDB, que a música deveria ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, do

componente curricular.

Com a nova legislação, as discussões acerca da Música na Escola

permearam diversas redes de ensino, e na Prefeitura Municipal de Cubatão não foi

diferente. A preocupação com o tema surgiu principalmente sobre quem deveria realizar

estas aulas.

Em uma primeira avaliação se acreditou que seriam os professores de Arte,

já atuantes no Município, a assumirem. Porém no perfil da maioria dos Professores de

Educação Fundamental II – Artes, não há formação em Educação Musical. A maioria

dos profissionais, são especialistas em Artes Visuais e em alguns casos, não havia

interesse de estudar outra linguagem.

Administrativamente havia mais um impasse: a lei não cita a criação de

cargos e a falta de regulamentação dificulta ainda mais o processo.

Foi um dilema, sendo necessário realizar um trabalho de capacitação em

vários níveis do ensino com professores ou não, para que compreendessem que ensinar

música ou desenvolver a educação musical em sala de aula iria além do cantar e da

realização de movimentos estereotipados.

Ao oferecer as capacitações através de oficinas, organizou-se um

levantamento sobre quais pedagogos da Rede Municipal, até então em sala de aula,

teriam conhecimento ou formação em música.

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Entre encontros e a união de sugestões possíveis, chegou se a um senso que

foi bem recebido por professores e dirigentes.

Após reuniões com os representantes dos setores na Secretaria de Educação

do Município de Cubatão, Departamento de Educação, Setor de Creches e Educação

Infantil, Setor de Ensino Fundamental e Divisão de Ensino definiu-se pela Educação

Infantil I, o inicio do trabalho. Iniciamos como um projeto piloto, cujo nome, a

principio foi Musicalização na Primeira Infância.

É muito comum nos depararmos com ideias equivocadas sobre a Educação

Musical. Preocupados com a questão das festividades, muitas vezes profissionais não

especialistas, se restringe ao repertório conhecido, repetindo canções e estimulando as

crianças a cantarem sem os devidos cuidados com a voz infantil.

Quando pensamos em Musicalizar, não podemos nos ater somente a

indústria fonográfica e nem a atividades passivas de escuta repetindo jargões prontos ou

expondo cidadãos em formação a conteúdo duvidoso.

Buscando caminhos possíveis, nos últimos anos com um olhar específico

para esta problemática, algumas ações foram realizadas. Entre capacitações de

profissionais, aquisição de materiais específicos, buscou-se uma proposta pedagógica

atuante, viva e efetiva para a comunidade escolar.

Em 2010 foi iniciado um projeto piloto na UME Vereador Domingos

Pucciariello e por ser bem sucedido, estendeu-se a todas as UMES de Educação Infantil

I, a partir do ano de 2014.

Nestas aulas explora-se percepção rítmica e melódica, expressão corporal,

repertório, canto, pulso e subdivisões, tudo apresentado de forma divertida para as

crianças. As aulas ocorrem uma vez por semana, 30 minutos de duração. São aplicadas

por professor adequadamente treinado para desenvolver a aula. Estes pedagogos são

Professores de Desenvolvimento Inicial da Prefeitura Municipal de Cubatão e que tem

formação em Musica. No passado estudaram, mas não exerceram como primeira

profissão. Foram convidadas a resgatar este conhecimento e aceitaram o desafio.

Tem como referência a Musicalização de Bebês, adaptado a realidade da

Educação Infantil I, onde a mãe está ausente e a criança participa sozinha.

Desenvolvimento do Projeto: As turmas são divididas por idades aproximadas e são

realizadas em espaço previamente organizado pelo gestor da Unidade de Ensino. As

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aulas ocorrem sempre no espaço escolhido, não sendo permitidas migrações durante o

processo de trabalho.

As professoras de Musicalização trabalham em duplas e apenas uma

interage com as crianças. Antes e durante o desenvolvimento do projeto participaram de

formações semanais.

São utilizados materiais de apoio para as aulas como brinquedos e

instrumentos musicais infantis.

O planejamento de aula é organizado por objetivos e a cada aula a escolha

do repertório respeita os objetivos previamente estudados. As musicas devem ser

escolhidas visando uma aula ativa e estimulando os sentidos do bebê e da criança.

Propor brincadeiras onde os alunos descrevem os sons que emitem quando

acordam, escovam os dentes, comem e colocam suas roupas e sapatos. Eles ainda

podem reproduzir sons de animais, cachorros, cavalos e o som dos carros. BRITO

(2003) relata em especifico que “esses jogos usando ações do cotidiano dão base para

desenvolver muito a criatividade e atenção das crianças”.

O ensino de música não tem o objetivo de formar músicos, a ela cabe

incentivar a criatividade, já que algumas vezes a escola deixa pouco espaço para a

criança criar e a música pode ser um caminho muito fértil para essa prática.

Durante as aulas, a Pedagogia Afetiva (ROSSINI, 2001) norteia a pratica

das professoras de musicalização, buscando desenvolver indivíduos sensíveis,

conscientes, solidários, recebendo cultura e afetividade; atenção e respeito, fundamentos

básicos para a mudança da sociedade.

A afetividade é a base da vida. Se o ser humano não está bem afetivamente,

sua ação como ser social estará comprometida. Isto vale independentemente de sexo,

idade, cultura.

O desenvolvimento sócio-afetivo está relacionado aos sentimentos e as

emoções em virtude de uma série de interesses, solidariedade, cooperação, motivação e

respeito, visando desenvolver o indivíduo como pessoa, estimulando a formação de uma

personalidade estável e equilibrada, desenvolvendo também o aspecto cognitivo, que é o

desenvolvimento intelectual e a operação dos processos reflexivos e motor, que trata

diretamente do movimento e do desenvolvimento da criança. Esses processos visam

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garantir a formação integral (sócio, afetivo, cognitivo, motor, espiritual) do aluno.

(RODRIGUES, 2003, p.41).

A música promove no ser humano um apelo fortemente afetivo. Ouvir música

pode fazer lembrar, rir, chorar, dançar, cantar, desenhar, escrever, estudar e até

trabalhar. Portanto, o processo da escuta musical envolve todas as dimensões que

constituem uma pessoa e, desta forma, favorece o desenvolvimento como um todo.

A música está sempre presente em todas as sociedades e faz parte de ritos e

cerimônias, como nascimento, casamento e até a morte. Permite uma forma de

linguagem acessível a todos, contribuindo para o desenvolvimento de um nível de

escuta mais crítico e prazeroso. Contribui para o desenvolvimento integral da criança

nas suas dimensões afetiva, cognitiva, motora e social. Ela provoca sentimentos de bem-

estar, organiza os movimentos, promove uma melhor interação, desenvolve a atenção e

a concentração.

A função cultural, social e de expressão de sentimentos da música é

inquestionável. Trabalhar a musicalização a partir dos bebês trata se da continuidade de

suas vivencias desde a concepção. Elementos rítmicos e melódicos estão no seu dia a

dia e que ele capta sem filtrar. Daí a importância do trabalho de musica bem organizado

para uma vivencia construtiva.

Não se pensa apenas na construção de conceitos musicais ou aprendizados de

instrumentos musicais, mas em desenvolvimento que ultrapasse os limites da escola.

Outro fator a importante neste trabalho foi a formação do professor. Quem pode

dar aula de Musica? Através desta experiência entendemos que Educação Musical

acontece profundamente, quando os profissionais envolvidos, tem conhecimento sólido

sobre o assunto. Foi essencial que os pedagogos participantes do projeto, tivessem

conhecimento aprofundado dos conceitos musicais, para que pudessem aplicar os

objetivos e praticas com segurança para o educando.

A partir do Projeto Piloto, podemos apontar grandes mudanças no

desenvolvimento dos professores participantes e das crianças que participaram do

Projeto. As mudanças não apenas na afetividade e na tranquilidade com que as crianças

se desenvolvem, mas também no desenvolvimento intelectual, social e cultural.

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Entendemos que essa pratica pode contribuir para que seja repensado o papel da

Música na Educação, mostrando que é possível uma prática consistente e

transformadora a partir desta linguagem, na Educação Infantil.

ANEXOS

Coordenadora Sonia Onuki apresentando o Projeto para gestores das Escolas Municipais

de Educação Infantil I

Coordenadora Sonia Onuki – Ministrando curso para Professores da Rede Municipal de

Ensino da Prefeitura Municipal de Cubatão

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Professoras de Musicalização desenvolvendo aula aberta - 2014

Professora de Musicalização em aula aberta - 2015

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Professoras de Desenvolvimento Inicial que desenvolvem o trabalho de Musicalização nas

Creches Municipais de Cubatão – em Curso com a Dra. Enny Parejo

Equipe de Pedagogas Participantes do Projeto (foto anexa)

Além da Coordenadora e Organizadora do Projeto Professora Sonia Onuki e da

Coordenadora das Aulas de Musicalização Luciane Gouvêa, participaram ativamente

como Pedagogas Musicais as seguintes professoras:

Elenivalda Castelhano Alencar

Mariangela Gonçalves dos Santos Barbosa

Adriana Valeria Vilaverde de Mello

Christiane Magalhães Martins

Aline de Souza Figueiredo

Maricelma da Silva Rodrigues

Sara Faustino Ferreira da Silva

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Referencias Bibliográficas:

FERES, Luciana – Musicalização de Bebês – Apostila EMJ – 2012,

FERES, Josette - Bebê Musica e Movimento – Ed. Independente 2008,

BRITO, Teca de Alencar de. - Musica na E. Infantil – Ed. Peirópolis,

JEANDOT, Nicole. Explorando o Universo da Música –Ed. Scipione.

MARSICO, Leda Osório - A Criança e a Musica - Ed. Globo,

VASCONCELOS, Antônio Ângelo. Ensino da Musica. - Ministério da Educação

http://pedagogiaaopedaletra.com/analise-critica-do-livro-pedagogia-afetiva-de-maria-

augusta-sanches-rossini/ - consulta em 23/08/2015

GOMIDE, Rafaela Vale S. A Afetividade e o Processo de Ensino e Aprendizagem. -

Publicado em 05/03/2007. Disponível em: http://www.webartigos.com. – acesso em

17/09/2015

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A Formação do Gestor de Educação Infantil: Desafios Atuais

Suely Regina Ripamonti Calazans Dias¹

O avanço no campo da legislação não garante que os direitos das crianças sejam respeitados,

especialmente no que se refere ao acesso e a qualidade do atendimento nas creches e pré-

escolas.Nos estudos sobre qualidade na educação infantil um dos elementos destacados refere-se

a importância da formação continuada dos educadores. Entretanto, há poucos estudos sobre a

formação de diretores de educação infantil.Considerando que o diretor é um elemento chave

para favorecer a constituição de um trabalho pedagógico que atenda os direitos das crianças,

esta pesquisa tem como objetivo analisar como se tem efetivado a formação continuada do

diretor na rede conveniada de educação infantil na cidade de São Paulo.A pesquisa empírica

será realizada em quatro creches conveniadas, por meio de entrevistas e análise documental. Os

principais autores utilizados são Vitor Paro, Maria M Campos, Fúlvia Rosemberg, Maria C

Barbosa e Maria A Monção.

Palavras-chave: Creche. Gestão escolar. Formação continuada.

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A Expansão da Educação Infantil por meio do PROINFÂNCIA121

Thais Andrea Carvalho de Figueirêdo Lopes122

RESUMO

Essa pesquisa analisa o funcionamento do Programa Nacional de Reestruturação e

Aquisição de Equipamentos para a Rede Escolar Pública de Educação Infantil -

PROINFÂNCIA, abrangendo as dimensões políticas e pedagógicas do programa. Têm

como fundamentação teórica os estudos e pesquisas da história e da política de

educação infantil, tomando por base autores como Kramer (1982), Kishimoto (1988),

Kuhlmann Jr. (1998), Correa (2002), Arelaro (2005), Faria (2005), Nascimento (2008),

além de autores que analisam as relações entre os entes federados na educação,

Farenzena (2000), Pinto (2007, 2014), Cury (2008), Oliveira (2010), dentre outros.Com

uma abordagem qualiquantitativa, serão coletados dados no MEC e FNDE e serão

verificadas as impressões de municípios participantes sobre o programa. Considerando a

necessidade de assegurar o disposto em relação ao direito das crianças a uma educação

de qualidade, os resultados dessa pesquisa podem contribuir para a melhoria da

qualidade do programa.

PALAVRAS-CHAVE: Educação Infantil, Direito à Educação, Política Educacional.

1. INTRODUÇÃO

Em conformidade com as indicações de estudiosos da área de financiamento

da educação e da educação infantil como Bassi (2011), Pinto (2012) e Correa (2011),

essa nova situação de garantia de recursos para a educação infantil não foi suficiente

para atender à demanda e manter uma educação infantil de qualidade.

Previsto também na Constituição Federal de 1988, o Plano Nacional de

Educação (PNE) constitui-se em instrumento necessário para a organização e

planejamento da educação no país, com vigência por períodos sucessivos de dez anos, a

partir de sua formulação e edição. Nesses planos, o primeiro e o atual, podem-se

verificar as metas de expansão em face da demanda por vagas na educação infantil.

121 Esta pesquisa foi iniciada em 2014 e resultará na minha tese de Doutorado em 2017.

122 Professora da Universidade Federal do Maranhão. Doutoranda do Programa de Pós-

Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.

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No primeiro PNE, instituído pela Lei 10.172/2001, com vigência de 2001 a

2010, foram traçados objetivos e metas para ampliar o acesso e melhorar a qualidade da

educação infantil. A meta que dizia respeito à expansão do atendimento de zero a três

anos, postulava que deveriam ser atendidas 30% das crianças dessa faixa em cinco anos

e, em 2010, esse atendimento deveria chegar a 50%. Essa meta não foi cumprida, pois,

em 2010, somente 23,6% das crianças brasileiras nessa faixa etária estavam

matriculadas em creches. (BRASIL, 2010).

No novo PNE (2014-2024), aprovado pela Lei 13.005/2014, a meta que

trata da ampliação do atendimento à criança de zero a três anos continua com o

propósito de atender, até 2024, o mesmo percentual de 50% de crianças estabelecido no

Plano anterior, o que demonstra que o acesso está longe de ser um problema resolvido

na educação infantil.

De acordo com os dados disponíveis, Cara e Araújo (2011, p.76) calcularam

a demanda em 3.134.000 novas vagas para o atendimento de 50% das crianças de zero a

três anos em creche em 2020,o que exigirá uma priorização desta etapa de ensino para

atingir este total.

Em relação à pré-escola, a meta do primeiro PNE estabelecia que, até 2006,

60% das crianças de quatro a seis anos deveriam ser atendidas e, em 2010, esse índice

deveria chegar a 80%. Já o PNE atual determina que o atendimento às crianças de

quatro e cinco anos (faixa atual da pré-escola) seja universalizado até 2016, no entanto,

em 2012, as matrículas na pré-escola representaram pouco mais de 80%. (BRASIL,

2012). Considerando os estudos de demanda realizados, “para a universalização do

atendimento das crianças de quatro e cinco anos até 2016, foi considerada a demanda de

1.361.000 novas vagas” (CARA, ARAÚJO, 2011, p. 76), expressando um aumento de

18,6% do total de crianças já atendidas.

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Embora os resultados de pesquisas científicas internacionais e nacionais

evidenciem que as crianças realizam aprendizagens significativas, desde que nascem,

necessitando de oportunidades para crescerem em ambientes adequados que favoreçam

o desenvolvimento mais integrado e humanizado de seus aspectos biopsicossociais e

suas potencialidades, historicamente a ausência do poder público é notória no

atendimento a esse segmento da população.

Essa ausência fez com que a educação infantil permanecesse por muito

tempo vinculada à assistência social, período em que, em diversas localidades do país,

as creches e pré-escolas eram majoritariamente comunitárias, conveniadas ou não com o

poder público, contribuindo para a tendência à privatização do atendimento.

2. JUSTIFICATIVA

Em face da constatação dessa defasagem de atendimento, o Governo

Federal instituiu, em 2007, o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), Decreto n.

6.094/2007, e como parte das ações do PDE foi criado o Programa Nacional de

Reestruturação e Aquisição de Equipamentos para a Rede Escolar Pública de Educação

Infantil (PROINFÂNCIA).

Esse programa é considerado a principal ação do Fundo Nacional de

Desenvolvimento da Educação Básica (FNDE) no campo da infraestrutura educacional

e foi criado para prestar assistência técnica e transferir recursos financeiros a municípios

e ao Distrito Federal para a construção de creches e pré-escolas, além de adquirir

equipamentos e mobiliários para essas escolas.

O referido programa passou a fazer parte da segunda etapa do Programa de

Aceleração do Crescimento (PAC), prioridade do Governo para investimento de

recursos públicos, objetivando ampliar a capacidade de construção, reforma e aquisição

de equipamentos e mobiliário de escolas de educação infantil.

Para que o município possa pleitear a construção de uma unidade de

educação infantil é necessário que tenha aderido ao Termo de Compromisso “Todos

pela Educação” e tenha elaborado um Plano, que passou a ser denominado Plano de

Ações Articuladas (PAR), indicando a necessidade de construção da escola.

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Os projetos arquitetônicos das escolas de educação infantil construídas pelo

PROINFÂNCIA obedecem aos critérios estabelecidos nos Parâmetros Básicos de

Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil (2006) e nas normas que dispõem

sobre a acessibilidade nas escolas, para garantir o acesso às crianças com deficiência.

São divididos em cinco tipos denominados A, B, C, 1 e 2. As escolas de educação

infantil do tipo A são aquelas para as quais a prefeitura municipal poderia desenvolver

projetos próprios e as do tipo B, C, 1 e 2deverão ser construídas com base em projetos

padronizados.

Para pleitear uma creche tipo B é preciso que o município tenha uma

demanda de 240 crianças a serem atendidas em dois turnos ou 120 em turno integral, e

para a tipo C, 120 crianças atendidas em dois turnos ou 60 em turno integral, assim

como o preenchimento de outros critérios, tais como a disponibilidade do terreno e o

cadastramento dos dados necessários no Sistema de Monitoramento, Execução e

Controle (SIMEC), do Ministério da Educação. A partir de 2015 foram criados também

os projetos tipo 1 e tipo 2, que deverão atender 188 e 94 crianças em tempo integral,

respectivamente.

Consultando o SIMEC a respeito da quantidade de escolas construídas pelo

programa é possível verificar que a maior parte dos recursos previstos foi destinada aos

projetos do tipo B, cerca de 80% do total, seguidos do tipo C, 16% do total, e do tipo A,

4% no ano de 2014.

Os recursos do programa atingiram o montante de R$9.252.297.149,24,

provenientes de convênios e emendas no período Pré-PAC, que totalizaram

R$2.401.358.515,28 (26%). No período PAC-2 (2011-2012) os investimentos foram de

R$3.420.938.633,96 (37%) e a estimativa para o PAC-2 (2013-2014) era de

R$3.430.000.000,00 (37%), segundo informações do Relatório de Auditoria do Tribunal

de Contas da União (2007-2013).

Para a compra de equipamentos e mobiliário para as unidades escolares de

educação infantil do PROINFÂNCIA, em fase final de construção ou com a obra já

concluída deverão ser repassados recursos financeiros, sendo que essa compra deverá

ser realizada de acordo com as normas do FNDE e do Inmetro.

A Medida Provisória 533/2011, convertida na Lei 12.499/2011, dispôs sobre

o repasse de recursos financeiros para as novas unidades educacionais construídas pelo

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governo federal, com o objetivo de mantê-las por, no máximo, dezoito meses, até que

recebam recursos do FUNDEB.

A referida legislação prevê a transferência automática de recursos via FNDE

mediante depósito em conta corrente específica, visando a atender mais rapidamente as

necessidades imediatas relacionadas a despesas correntes para a manutenção da

educação infantil pública.

Consoante as informações obtidas no site do FNDE, foram construídas

8.728 novas unidades escolares em todo o país, de 2007 a 2014, aumentando, sem

dúvida, o número de vagas na educação infantil brasileira, o que não significa que o

programa não tenha problemas em sua concepção e execução.

De acordo com os dados apresentados pelo FNDE relacionados à

distribuição geográfica do atendimento do PROINFÂNCIA, 27% das escolas de

educação infantil foram construídas nas Regiões Sul e Sudeste, 26% no Nordeste, 11%

no Centro Oeste e 9% na Região Norte. No que diz respeito à previsão de atendimento

em 2013 e 2014, a distribuição estimada era maior na Região Nordeste, com 34%, em

seguida no Sudeste, com 25%, no Sul, 17%, no Norte, 13% e Centro Oeste, com 11%.

A assistência financeira do governo federal para a construção de unidades

escolares de educação infantil é uma iniciativa importante, ainda que seja atribuída ao

município a competência e os encargos financeiros relativos à gestão, funcionamento,

manutenção da estrutura e pagamento de todos os profissionais que serão necessários.

Outra dificuldade é que mais da metade da população brasileira, 114,6 milhões de

habitantes ou 56% vivem em apenas 304 ou 5,5% dos municípios com mais de cem mil

habitantes (IBGE, 2015), ou seja, quase a metade da população vive nos 94,5% dos

municípios restantes, justamente os que tem a menor capacidade de arrecadação.

Ao analisar as políticas de educação infantil no Brasil desde o período FHC

até o governo Lula, relacionando-as à concretização do direito das crianças a uma

educação infantil de qualidade, Correa (2011, p. 26) avalia positivamente a criação do

PROINFÂNCIA, afirmando a importância da visibilidade dessa ação objetiva de

complementação financeira destinada aos municípios, por parte do governo federal.

Considerando que os municípios têm a responsabilidade da oferta do ensino

fundamental, atualmente ampliado para nove anos, além de ter que cumprir até 2016 a

determinação de ofertar educação infantil para todas as crianças de quatro e cinco anos,

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de acordo com a EC 59/2009, teme-se pelo não incremento das matrículas na faixa

etária de zero a três anos.

Essas iniciativas governamentais produzem resultados quantitativos

importantes em termos de expansão do atendimento às crianças na educação infantil,

porém ainda não suficientes para a universalização dessa oferta. Farenzena (2010, p.1)

estudou políticas de assistência financeira da União, dentre as quais está o

PROINFÂNCIA, e apontou “a insuficiência de recursos para implementar políticas

universalizantes que tenham resultados redistributivos e para que as focalizações surtam

efeitos de equalização de oportunidades educacionais”.

O objetivo geral deste trabalho é analisar a política de expansão e a

qualidade do atendimento educacional ofertado à criança de zero a cinco anos, mediante

a implementação do PROINFÂNCIA e os objetivos específicos são: analisar os dados

estatísticos populacionais e do atendimento educacional à criança de zero a cinco anos,

visando a caracterizar a oferta e a demanda, para identificar em que medida está

ocorrendo a materialização do acesso à educação; analisar de que forma o MEC está

realizando assessoria pedagógica aos municípios que sediam unidades escolares de

educação infantil construídas pelo PROINFÂNCIA, seja por meio da celebração de

convênios com organizações não governamentais, seja com universidades públicas ou

privadas;identificar e avaliar junto aos municípios que participam do PROINFÂNCIA

como está ocorrendo o processo de articulação e colaboração entre os entes federados,

nos aspectos político e pedagógico.

No Brasil, a história da infância é sistematizada e analisada por autores

como Priore (2004) e Rizzini (2008) e a história das instituições de educação infantil é

pesquisada também por Kramer (1982), Kishimoto (1988), Kuhlmann Jr. (1998), Faria

(1999). Esses autores têm dado uma contribuição significativa a novos estudos e

pesquisas sobre as políticas de educação infantil, o que faz da produção consolidada dos

referidos autores aporte teórico fundamental para o desenvolvimento deste trabalho.

Com enfoques mais voltados para os aspectos políticos da educação infantil,

Rosemberg (1985), Oliveira (1992), Campos (2001), Craidy (2001), Faria (2000),

Machado (2002), Corrêa (2002), Vasconcellos (2005), Arelaro (2005), Nascimento

(2008), empreenderam estudos e pesquisas que merecem destaque pela profundidade e

amplitude de suas análises, dentre outros pesquisadores que se propuseram a produzir

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conhecimento em uma área tão marcada pelas desigualdades e restrições, no que diz

respeito ao tratamento da infância nas suas particularidades, relativas à sua origem

social, econômica, étnica, dentre outros.

Os estudos e pesquisas mapeados sobre o PROINFÂNCIA, em geral buscam analisar a

ampliação da oferta de vagas na educação infantil em determinados municípios

brasileiros. Machado (2012) realiza seu estudo sobre os municípios alagoanos, Simões

(2013) circunscreve seu texto aos municípios de Pernambuco, Garcia (2014) analisa o

município de Chapadão do Sul, Martins (2011) examina a situação de municípios no

Estado de Minas Gerais, Flores e Mello (2012) e Schabbach e Ramos (2013) analisam a

implementação de unidades escolares do programa do Rio Grande do Sul, Mattos,

Moreira e Micarello (2014) estudaram o programa em Juiz de Fora e Ramos (2011)

analisa o programa em um município da região Nordeste e dois municípios localizados

na região Sudeste.

O Grupo de Pesquisa “Educação Infantil e Políticas Públicas” da Universidade Federal

do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) realizou uma pesquisa no período de 2011 a

2013, intitulada “Repercussões das Políticas de Educação Infantil no Estado do Rio de

Janeiro: o Programa PROINFÂNCIA e as estratégias municipais de atendimento a

crianças de 0 a 6 anos” com o objetivo de acompanhar e avaliar a implementação do

programa nos municípios do Rio de Janeiro. Essa pesquisa deu origem aos artigos de

Ricci (2014), Gomes (2014) e Almeida e Tavares (2014).

Também oriundo da UNIRIO, a pesquisa de Silva (2014) analisa as

condições de trabalho docente em unidades escolares do PROINFÂNCIA em quatro

municípios do Rio de Janeiro.

Algumas questões estão sendo indicadas pelas pesquisas nos municípios,

como assinala Ricci (2014), a respeito dos “importantes ajustes para que a relação

política de cooperação entre os entes federados se dê de forma menos burocratizada e

mais equânime e transparente” (p.5) e sobre a “eficácia da implantação desse Programa,

que tem sido comprometida pela escassez de estrutura organizacional” (p.10).

Rezende (2013) fez uma pesquisa sobre o PROINFÂNCIA na qual analisa o

desenvolvimento das ações do programa em nível nacional e propôs uma metodologia

de monitoramento e avaliação para pontos críticos do programa.

Nessa perspectiva de maior abrangência,um dos pontos centrais de

investigação desta pesquisa é o desenvolvimento do programa, analisando a distribuição

de unidades escolares em relação às demandas por vagas na educação infantil em todo o

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país, o montante de recursos públicos envolvidos e a adequação do programa aos

objetivos educacionais.

3. METODOLOGIA

A presente pesquisa parte de uma abordagem qualiquantitativa, na qual o

levantamento de fontes e a revisão de literatura constituirão o primeiro passo desse

trabalho de investigação.A estrutura e desenvolvimento do PROINFÂNCIA, incluindo

relatórios, dados estatísticos e informações relativas ao financiamento do programa,

serão alvo de exame e análise, junto ao FNDE.

A pesquisa de campo será realizada por meio da distribuição de

questionários a uma amostra de 30% dos municípios que constarem nos relatórios do

MEC como participantes do referido programa.Esta pesquisa também visa a apreender

quais os critérios utilizados pelo MEC para essa assessoria pedagógica aos municípios,

que sediam unidades escolares de educação infantil construídas pelo PROINFÂNCIA,

mediante a celebração de convênios com organizações não governamentais e

universidades públicas ou privadas.

O conjunto das análises fundamentadas em dados estatísticos da

implementação do PROINFÂNCIA possibilitará ainda uma avaliação do processo de

articulação e colaboração entre os entes federados, mediante a utilização de

questionários dirigidos aos entes envolvidos, conforme mencionado.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O direito das crianças a uma educação infantil de qualidade está assegurado

na legislação brasileira desde a Constituição vigente.Entretanto, as políticas de garantia

do acesso e permanência nas creches e pré-escolas, principalmente no que se refere às

crianças de zero a três anos, ainda não obedecem integralmente aos dispositivos legais,

tendo em vista que, de acordo com o Censo Escolar 2014, são atendidas menos de 25%

das crianças nesta faixa etária na educação infantil brasileira.

Daí a necessidade de maior controle e acompanhamento dos recursos

públicos destinados à educação e da participação mais ampla e qualitativa da sociedade

na definição das políticas educacionais para essa etapa de ensino, decisiva para

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proporcionar as crianças o desenvolvimento de suas capacidades e potencialidades,

respeitando as diferenças inerentes a todos os seres humanos.

É interessante observar que diferentemente de muitas das creches e pré-

escolas existentes nas mais diversas regiões brasileiras, que não possuem espaços

adequados e funcionam em locais improvisados, sem equipamentos e mobiliários

apropriados, as estruturas físicas das escolas de educação infantil construídas pelo

programa foram pensadas visando atender às necessidades educacionais das crianças.

Portanto, em princípio o programa pode ser considerado uma ação positiva, mesmo que

vários questionamentos possam ser feitos acerca de seu formato e execução.

Ao realizar esse levantamento mais amplo do funcionamento do programa

em nível nacional, as conclusões desse trabalho poderão contribuir com os estudos e

pesquisas já existentes sobre o PROINFÂNCIA, indicando possibilidades de melhoria

da qualidade deste, além de poder também subsidiar os estudos sobre a expansão da

educação infantil no Brasil.

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5. REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Fernanda Bezerra de. TAVARES, Leandro Henrique de Jesus. Percorrendo

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incidente sobre os recursos destinados à manutenção e desenvolvimento do ensino de

que trata o art. 212 da Constituição Federal, dá nova redação aos incisos I e VII do art.

208, de forma a prever a obrigatoriedade do ensino de quatro a dezessete anos e ampliar

a abrangência dos programas suplementares para todas as etapas da educação básica, e

dá nova redação ao § 4º do art. 211 e ao § 3º do art. 212 e ao caput do art. 214, com a

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da comunidade, mediante programas e ações de assistência técnica e financeira, visando

a mobilização social pela melhoria da qualidade da educação básica.

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O Programa Proinfância nos municípios da região central, noroeste e norte

do Estado do Rio Grande do Sul uma análise do assessoramento e

acompanhamento pedagógico nas redes e sistemas de ensino

Débora Teixeira de Mello123

Viviane Ache Cancian124

O presente artigo é uma análise do Projeto de assessoramento e

acompanhamento pedagógico às redes e sistemas de ensino na implementação do

PROINFÂNCIA em municípios da região central, norte e noroeste do estado do

Rio Grande do Sul que tem oportunizado aos pesquisadores e formadores de

profissionais da Educação Infantil o enfrentamento dos “antigos e os novos problemas”

da área, buscando a integração de ações para fazer cumprir o papel do Estado como

instrumento político de igualdade para o acesso a Educação Infantil. O projeto integra a

Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a Universidade do Noroeste do Rio

Grande do Sul (UNIJUÍ) e a Universidade de Passo Fundo (UPF). E tem permitido

desenvolver parcerias entre a Universidade e a Educação Básica, articulando ações da

pesquisa, da gestão, e das práticas pedagógicas para a Educação Infantil. Constata-se

através desse estudo que até o presente momento através das ações desenvolvidas a

universidade cumprirá sua função de ensino, pesquisa e extensão assessorando as redes

e sistemas de ensino na implementação do PROINFÂNCIA e qualificando a Educação

Infantil.

Introdução

Impulsionados pelos movimentos sociais e pelas pesquisas acadêmicas, muitos

foram os desafios que os anos de 1980 e 1990 impuseram sobre as políticas públicas

para a educação de zero a seis anos, para a formação de profissionais e para o

conhecimento que temos das crianças como cidadãs de direitos, demandando

elaborações que ampliavam o conhecimento desse campo. No entanto, como a realidade

dos municípios nos informam, muitas dessas questões, apesar de terem obtido um

significativo avanço, ainda necessitam de mais estudos e, principalmente, de maior

123 Professora do CE/UFSM

124 Professsora do CE/UFSM

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inserção e integração entre as políticas de formação para a Educação Básica,

especialmente da Educação Infantil, e as políticas de ampliação do atendimento às

crianças menores de seis anos.

O novo marco legal que garantiu o direito à educação na Constituição Federal de

1988 – CF/88, considerada uma linha demarcatória pelos especialistas da área, no

sentido de que é a partir desta normativa que a criança pequena tem seu direito público

subjetivo à educação reconhecido como um dever do Estado (CAMPOS,1999).

Contudo, este direito reconhecido legalmente não é, ainda, de todo implementado, seja

do ponto de vista do acesso, seja no que se refere à qualidade desta oferta, quando

consideramos os índices de atendimento à população, especialmente àquelas crianças

dos grupos considerados mais vulneráveis. Nesse contexto, mesmo com as conquistas

na LDB 9394/96 e a consolidação da educação infantil como primeira etapa da

Educação Básica, assistimos a uma ampliação da municipalização da Educação

Infantil. Mas, este processo teve como consequências uma expansão da Educação

Infantil, muitas vezes, num padrão de infraestrutura de instalações e equipamentos que

não atendem as diretrizes da legislação. Diante desse cenário, esse projeto procurou

analisar as determinações e os impactos da legislação educacional nas políticas e

programas direcionados à pequena infância e a configuração das instituições

responsáveis pelo atendimento a essa população, nesse caso a implementação do

programa PROINFÂNCIA em municípios da região central, norte e noroeste do estado

do Rio Grande do Sul.

Em dados do INEP 2005 e 2007, encontramos dados dos municípios da região, em

termos educacionais, no IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) em

relação à região Sul, onde os índices encontrados são nas séries inicias Ensino

Fundamental de 4,8, e, nas séries finais do Ensino Fundamental de 4,1 - em municípios

da região no ano de 2007, como Agudo apresentam um desempenho de índice 3,9 nas

séries iniciais do Ensino Fundamental e nas séries finais do Ensino Fundamental 3,8. O

municípios de São Sepé, em 2007, apresenta índices preocupantes de 3,9 nos anos

iniciais do Ensino Fundamental e 3,6 nos anos finais do Ensino Fundamental. E em

Santa Maria, encontramos índices de 4,2 nos anos Iniciais do Ensino Fundamental e 3,8

nos anos Finais do Ensino Fundamental. Diante desse quadro, alguns municípios da

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região receberam apoio técnico do MEC para elaboração do PAR (Plano de Ações

Articuladas)125.

Com inclusão dos municípios da região no Plano de Metas Compromisso de

Todos pela Educação - os municípios que elaboraram o Plano de Ações Articuladas

(PAR) foram beneficiados com o Programa PROINFÂNCIA o Ministério da Educação

(MEC) considera que a construção de creches e escolas de educação infantil bem como

a aquisição de equipamentos para rede física escolar desse nível educacional são

indispensáveis à melhoria da qualidade de ensino. Instituído pela Resolução n 6 de 24

de abril de 2007 e fazendo parte do Plano de Desenvolvimento Educacional (PDE). O

MEC e o FNDE estabeleceram critérios para classificação dos municípios que foram

estabelecidos segundo três dimensões : a) populacional: prioridade aos municípios com

maior população na faixa etária considerada, maior taxa de crescimento da população

nessa faixa etária e como maior concentração de população urbana; b) educacional:

prioridade aos municípios com menores taxas de defasagem idade-série no ensino

fundamental e com maiores percentuais de professores com formação em nível

superior; c) vulnerabilidade social: prioridade dos municípios com maiores

percentuais de mulheres chefes de família, com maiores percentuais de jovens em

situação de pobreza e com menores disponibilidades de recursos para financiamento de

educação infantil (MEC, 2008).

Neste sentido, o conhecimento acumulado pela área nos remete a novas

intervenções e elaborações pautadas, em muitos casos, por “antigos/novos” problemas.

Dentre estes, podemos citar a redução de vagas para as crianças da faixa etária dos zero

aos três anos (creche) em função da obrigatoriedade do atendimento às crianças de 4-5

anos (pré-escola), pois mesmo sendo considerada a primeira etapa da Educação Básica

temos, no Brasil, o desafio de “oferecer acesso à educação desde os primeiros meses de

vida” (Brasil, PDE, 2011). Segundo dados publicados no Plano de Desenvolvimento da

125 A partir do lançamento do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), em 2007, todas as

transferências voluntárias e assistência técnica do MEC aos municípios, estados e Distrito Federal estão vinculadas à adesão ao Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação. E a elaboração do Plano de Ações Articuladas (PAR) — instrumentos fundamentais para a melhoria do IDEB. Atualmente todos os 26 estados, o Distrito Federal e os 5.563 municípios assinaram o Termo de Adesão ao Plano de Metas do PDE. (INEP, 2009).

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Educação (Brasil, MEC, PDE), “das 12 milhões de crianças brasileiras de até 3 anos,

18,4% estão matriculadas na educação infantil.” Além disso, as crianças da zona rural

dispõem de 8% das matrículas nesta etapa. Acrescente-se a isto, a necessidade de

garantir a oferta de educação infantil com qualidade, destacado no Relatório Técnico

Final da Consulta sobre Qualidade da Educação Infantil126.

A formação inicial e continuada dos professores da educação básica

encontra-se entre as prioridades do Ministério da Educação explicitadas no Plano de

Desenvolvimento da Educação (PDE), para garantir educação de qualidade, centrada no

aprendizado do educando. A criação da Política Nacional de Formação de Profissionais

do Magistério da Educação Básica é uma das respostas a esse compromisso. Dentre os

princípios da política nacional está a formação docente construída em bases científicas e

técnicas sólidas, como compromisso público de Estado. Pretende o Ministério aumentar

o número de professores formados por instituições públicas de educação superior e

garantir um referencial de qualidade para os cursos de formação inicial e continuada,

sintonizando-os às necessidades formativas da educação básica e aos problemas da sala

de aula.

Tais especificidades estão explicitadas nas Diretrizes Curriculares Nacionais

para a Educação Infantil, instituídas pela Resolução CNE/CEB nº 5, de dezembro de

2009. Resultado de amplo processo de discussão entre especialistas e dirigentes da área,

as diretrizes definem a concepção e o currículo da educação infantil, como primeira

etapa da educação básica. Para que sejam de fato implementadas, é fundamental que os

professores de educação infantil tenham sua formação, inicial e/ou continuada, baseada

na mesma concepção e que sua prática pedagógica seja orientada pelo currículo

explicitado nas DCNEI (2009). Daí ser estratégico que o MEC invista em ações de

formação de professores com essa característica.

Frente às demandas explicitadas, em parceria com a Coordenação Geral de

Educação Infantil (COEDI), da Diretoria de Concepções e Orientações Curriculares

para Educação Básica, a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), juntamente com

126

CAMPOS, M. M.; COELHO, R. de C.; CRUZ, S. H. V. Relatório Técnico Final:

Fundação Carlos Chagas. Departamento de Pesquisas Educacionais. 2006.

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a Universidade do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), e a

Universidade de Passo Fundo (UPF), Universidades parceiras do MEC, executoras do

PROINFÂNCIA, elaboraram um projeto com o objetivo de assessorar e acompanhar

pedagogicamente as redes e sistemas de ensino na implementação do PROINFÂNCIA,

visando qualificar a Educação infantil nos municípios do Estado do Rio Grande do Sul

para alcançar a excelência em qualidade no atendimento à criança de zero a seis anos.

O projeto através de suas ações realiza a formação continuada de gestores e

docentes das redes e sistemas públicos de educação infantil, das instituições do

PROINFÂNCIA, com vistas à implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais

para a Educação Infantil (DCNEI), abrangendo um total de 150 (cento e cinquenta)

municípios da região centro, noroeste e norte do Estado do Rio Grande do Sul. Os

municípios foram organizados em 3 (três) municípios polos: (1 (um) para a região

central, 1 (um) para região noroeste e 1 (um) para a região norte. Além da formação

para professores e gestores dos 150 municípios, 24 (vinte e quatro) desses municípios,

distribuídos em oito municípios, para cada um dos 03 três polos entre a Região Central,

Noroeste e norte recebem visitas técnicas, e formação em contexto nas Unidades do

PROINFÂNCIA. Busca-se acompanhar a organização da estrutura e o funcionamento

das instituições de Educação Infantil e contribuir para o fortalecimento das políticas

públicas municipais de Educação Infantil.

Os referenciais teóricos que assumimos no projeto baseiam-se em estudos

desenvolvidos que têm focalizado muito mais elementos da pesquisa educacional –

metodologias para pesquisar crianças em ambientes coletivos (Faria, 2002; Faria e

Mello, 2005), e também, pesquisas acerca de processos pedagógicos para creches e

escolas infantis, como demonstram os estudos de Kishimoto e Formosinho (2008). O

que buscamos destacar é, sobretudo, a necessidade de produzir um estudo que

evidencie o estado atual da oferta desse atendimento numa esfera municipal à luz de

referências internacionais e nacionais cujo foco seja identificar os componentes desse

atendimento que estejam relacionados à qualidade da educação.

Neste sentido, a pesquisa realizada junto a esse assessoramento técnico

pedagógico circunscreve-se num conjunto de reflexões próprias de nossas atuações

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acadêmicas e profissionais sobre a Pedagogia no escopo da Educação Infantil e das

Séries Iniciais do Ensino Fundamental. Conforme Ardoino (1996) considera-se a

Educação uma ciência de natureza mestiça e poliglota e, como tal, ela dialoga, nesta

pesquisa, com a Sociologia, com a Economia, com a Antropologia, com a Pedagogia,

com a Psicologia. Esta afirmação, antes de qualquer coisa, ressalta aspectos específicos

das ciências da educação que a diferenciam de outras no que diz respeito à produção de

conhecimento, pois se há uma especificidade no campo da educação, essa deve ser

buscada via as pesquisas que geram o conhecimento neste campo de saber, o que

implica que devemos procurar desenvolver nossas práticas e análises no quadro de sua

especificidade epistemológica e metodológica, das linguagens a que recorrem e dos

objetivos que perseguem.

O assessoramento em 150 municípios:

A interação entre experiência vivida e o conhecimento educacional estabelece as

possibilidades de conexão entre o desenvolvimento profissional, a melhoria das práticas

educativas e a produção de conhecimento a partir das necessidades formativas. A partir

da experiência no ensino universitário, elaboramos uma perspectiva de formação

educacional cujas bases estão presentes na investigação-ação, que fornece as referências

do trabalho investigativo e colaborativo como princípio educativo.

Ao buscar a ampliação do entendimento de nossa atuação como professores(as)

formadores(as) no âmbito da universidade, situamos o trabalho a partir de experiências

de formação em contexto, a partir de estudos da Formosinho (2001), e as discussões a

partir das atuais Políticas de Educação para a Educação Infantil. O foco principal do

projeto de assessoramento tem considerado as práticas educativas como elemento

articulador da formação docente, assim como os formadores (que atuam nas três

universidades) e os profissionais das Unidades do PROINFÂNCIA. Com a finalidade

de criar movimentos que potencializem a aprendizagem, porque não dizer, criar formas

de aprender a partir dos problemas vivenciados e experienciados pelas unidades,

gestores, professores, pais, crianças-infâncias.

A realização desse trabalho das Universidades junto as Unidades e do

Proinfância tem no seu amâgo quatro princípios: sensibilização, problematização,

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investigação e criação. O primeiro princípio: a sensibilização é construído e

reconstruído durante todo o processo, com todos os sujeitos envolvidos a fim de que

todos se impliquem. O segundo princípio: a problematização busca interferir na

dimensão pedagógica das práticas educativas na E.I. através dos pressupostos políticos,

pedagógicos, sociais e culturais. O terceiro princípio: a investigação tem sido um

desafio para as três Universidades envolvidas, pois demanda rever conceitos, saberes e

concepções. O quarto princípio: a criação é um devir de possibilidades, que esperamos

com esse projeto, através das ações dos sujeitos envolvidos poder contribuir com a

Política Nacional de Educação Infantil.

Destaca-se as ações já executadas pelo projeto: reuniões semanais de estudo das

equipes das três Universidades; o planejamento, a realização e a avaliação do Ciclo

Formativo I, II, III e IV realizado nos micropolos de referência pelas equipes do polo de

Santa Maria, Ijuí e Passo Fundo; a realização de visitas técnicas das auxiliares de

pesquisa (algumas vezes acompanhadas pela coordenadora do projeto, professoras

formadoras e supervisoras de pesquisa) aos municípios; estudo dos relatórios das visitas

técnicas para a composição de documento de base para a devolutiva e formação na

unidade; devolutivas nas 24 unidades do PROINFÂNCIA com gestores, coordenadores

pedagógicos e professores das unidades que receberam visita técnica para entrega da

devolutiva. Nessas reuniões de devolutivas foram realizadas orientações para que as

Unidades pudessem resolver os problemas pontuados pela equipe técnica do

PROINFÂNCIA e foi solicitado um Plano de Ação para 2014; constituição de rede de

comunicação com as coordenações pedagógicas das Secretarias Municipais de

Educação dos municípios escolhidos como municípios referência do Polo Regional de

Santa Maria, Ijuí e Passo Fundo; Seminário Regional PROINFÂNCIA: Ciclo Formativo

e Auto Formativo dos Coletivos. II Seminário do Curso de Especialização em docência

na Educação Infantil. As temáticas abordadas foram relacionadas ao Currículo na

Educação Infantil e as Linguagens. O número de participações, inscrições foi de (340)

pessoas, (2) representantes por município. Mas de participação efetiva foi de 450

participantes, pois alguns municípios trouxeram mais participantes do que o previsto.

Elaboração primeiro produto; Participação no Fórum Gaúcho; Participação no II

Encontro Estadual de Educação Infantil MEC/COEDI/UFRGS na mesa de abertura:

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Políticas de Educação Infantil no Brasil: contextos de implementação do

PROINFÂNCIA no Brasil e no RS – Representantes do MEC e do FNDE; da UFRGS e

da UFSM; Participação no VI Encontro do Projeto PROINFÂNCIA MEC/SEB-

COEDI/UFRGS por Polos; Participação no IX ENCONTRO REGIONAL SUL DO

MIEIB, IX ENCONTRO ESTADUAL DO FÓRUM GAÚCHO DE EDUCAÇÃO

INFANTIL no Painel: O PROINFÂNCIA no Brasil e na Região Sul: avanços e desafios

no contexto da política municipal Representantes do FCEI, FEIPAR e FGEI; Reunião

com os gestores( Prefeitos, secretarias de Educação, Coordenações Pedagógicas das

Secretarias de Educação e Equipes Diretivas das Unidades do PROINFÂNCIA nos

Municípios) nos Polos de Santa Maria Ijuí e Passo Fundo.

Ao estudarmos o desenvolvimento do projeto, ao longo dos Ciclos Formativos,

temos vivenciado uma mudança significativa no que se refere ao que abordar na

formação nos municípios polos, quanto como fazer o movimento de constituição das

redes formativas a partir do município e de sua política de formação continuada.

Realizar as visitas às unidades que receberam as visitas técnicas e que

participaram dos ciclos formativos, foi muito importante, pois foi possível identificar

nas unidades qual tem sido a contribuição do projeto de assessoramento para o

desenvolvimento de atividades pedagógicas comprometidas com concepção e prática de

Educação Infantil pautada pelas orientações das políticas.

Os desafios das Universidades e do coletivo nas Unidades do PROINFÂNCIA.

O projeto está em funcionamento, portanto em pleno processo, e nesse período

marca-se o estreitamento e a qualificação das relações de troca, entre as três

Universidades, UFSM, UNIJUÍ, UPF e as 150 municípios participantes do projeto,

numa constante interlocução e apropriação a partir dos quatro princípios que norteiam o

projeto, sensibilização, problematização, investigação e criação.

Ao assumirmos esse compromisso junto ao MEC tínhamos a clareza da

responsabilidade ao longo desses dois anos propostos pelo projeto através do

assessoramento junto aos municípios. Principalmente no que se refere à formação

coletiva, na constituição de redes formativas a partir dos municípios e de suas políticas

de formação continuada.

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ISSN 2448-1157

Destacam-se até o momento, as reuniões com os gestores (Prefeitos, secretarias

de Educação, Coordenações Pedagógicas das Secretarias de Educação e Equipes

Diretivas das Unidades do PROINFÂNCIA nos Municípios) nos Polos de Santa Maria,

Ijuí e Passo Fundo como extremamente importante para pactuar responsabilidades,

propor rupturas em práticas cristalizadas nos Municípios e nas Unidades do

PROINFÂNCIA, a partir das visitas técnicas, devolutivas, formação em contexto e

processos formativos.

Avaliou-se, no âmbito deste estudo, que a realidade da inclusão das crianças de 0

a 3 anos no sistema municipal de educação é um dos desafios dos municípios frente à

necessidade de expansão da educação infantil pós-Constituição de 1988 e LDB

9394/96. Ao avaliarmos a inclusão da criança de 0 a 3 anos nas instituições de educação

infantil, podemos constatar que apesar de terem se passado mais de 19 anos da

aprovação da LDB 9394/96, grande parte do contingente de crianças dessa faixa etária

não tem sido prioridade nas políticas de expansão da educação infantil. Essa realidade é

explicada muitas vezes pela dificuldade de recursos financeiros até 2006, com a

vigência da Lei do FUNDEF, que não contemplava o segmento creche na distribuição

de recursos, ou ainda, pela dificuldade de incorporar ao sistema de ensino as

educadoras, monitoras que fazem parte dos recursos humanos dessa instituição.

Nessa ótica, outro desafio a ser enfrentado pelos municípios com a expansão da

educação infantil na garantia de uma educação infantil de qualidade é a expectativa da

formação de professores para atuar junto às crianças de 4 e 6 anos e, especialmente,

junto aquelas de 0 a 3 anos, atendendo as diretrizes da legislação. Consagrada na LDB

9394/96 art.62: a formação de professores para atuar junto à Educação Infantil e nos

Anos Iniciais do Ensino Fundamental – far-se-á em nível superior, em curso de

licenciatura, de graduação plena, admitindo-se como formação mínima a oferecida em

nível médio, na modalidade normal. O perfil do professor para atuar junto às

instituições de atendimento a crianças pequenas, como as creches vêm sendo

conquistado muito recentemente. A necessidade de formação desses grupos de

educadoras, é um desafio colocado aos estados e municípios.

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Outra dimensão de análise é a construção de uma proposta pedagógica para

essas unidades do PROINFÂNCIA, os municípios encontram-se, diante do desafio da

inclusão das crianças de 0 a 3 anos na unidade com uma proposta pedagógica para esse

grupo de crianças. Exigindo do sistema educacional reformulação curricular, formação

em serviço dos professores, programas de apoio com material pedagógico.

Em nossa investigação, ainda constatamos que é pauta de discussão nos

municípios a definição da faixa etária a ser atendida. As orientações do próprio MEC do

atendimento das crianças de 0 a 5 anos nas unidades, nem sempre são consideradas,

buscando-se matricular primeiramente o grupo de 4 e 5 anos, e com menor prioridade o

grupo de crianças de 0 a 3 anos. Encontra-se também ainda indefinida, a questão dos

critérios para a distribuição de vagas, contatamos que a análise da situação de

vulnerabilidade social da criança, nem sempre é atendida, prevalecendo como critério à

condição de mãe trabalhadora. E para alcançar um número maior de matrículas opta-se

pelo atendimento em turno integral para um número menor de crianças.

Esses dados demonstram que, apesar da legislação vigente, a situação de

atendimento educacional e de cuidados às crianças dessa faixa etária desde 1988, vem

se modificando lentamente, a iniciativa de uma cobertura nacional, a partir do

PROINFÂNCIA poderá ser uma política de ampliação de vagas na educação infantil. E

será uma política de maior impacto se os municípios conseguirem garantir a inclusão

das crianças de 0 a 3 anos na educação infantil e a formação de professores para atuar

nessa etapa da educação básica. Deve-se apontar que a expansão da educação infantil,

nesses municípios, depende de uma política de continuidade na consolidação da

ampliação ao acesso da educação infantil às crianças de 0 a 5 anos.

Essa experiência tem permitido que as universidades envolvidas se aproximem

das realidades vividas nos 150 municípios, refletindo, problematizando, dialogando e

socializando conhecimentos. Essa aproximação com a Educação Básica permitirá que se

crie culturas institucionais outras, culturas que superem a visão adultocêntrica nas

práticas pedagógicas na Educação Infantil, e que se institua processos auto-formativos,

formativos e formativos em contexto para os professores que atuam na área.

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Construindo coletivamente uma proposta para a escola pública de educação

infantil

Juliana Campregher Pasqualini127

Com o presente relato, intentamos compartilhar uma experiência de extensão

universitária em parceria com a Secretaria Municipal da Educação de Bauru que tem

como objetivo organizar, orientar e fundamentar teoricamente o processo de construção

coletiva e implementação de uma (nova) proposta pedagógica para o segmento da

educação infantil do sistema de ensino municipal.

Iniciada em 2011, essa experiência foi motivada pela perspectiva de possibilitar: i)

a construção colaborativa de uma proposta de trabalho que oriente a ação pedagógica

nas unidades escolares do segmento da educação infantil que integram o sistema

municipal de ensino; ii) a sistematização dessa proposta em um documento escrito,

apresentando diretrizes, princípios e orientações didáticas para a (re)organização do

trabalho pedagógico na educação infantil; iii) a criação de espaços de discussão coletiva

e formação continuada de professores e gestores da rede municipal visando o

aprofundamento teórico e a reflexão acerca da prática pedagógica, tendo em vista seu

aprimoramento.

As ações do projeto foram organizadas e operacionalizadas tendo em vista

contribuir para a consolidação de uma unidade teórico-prática no sistema municipal e

para a melhoria na qualidade da educação ofertada, potencializando, assim, o

desenvolvimento humano de todos os envolvidos no processo educativo (alunos,

professores, gestores, funcionários, familiares).

Caminhos percorridos

A primeira ação para viabilizar a realização do projeto foi a formação de uma

Equipe de Coordenação, formada basicamente por profissionais alocados na Secretaria

Municipal da Educação, que assumiu a tarefa de organizar e planejar as ações. A

primeira etapa dos trabalhos consistiu na realização de reuniões periódicas de estudo

127

Docente do Departamento de Psicologia, Faculdade de Ciências, UNESP/Bauru e do

Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar da UNESP/Araraquara.

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com a equipe de Coordenação, o que ocorreu durante o 2º semestre de 2011 e o 1º

semestre de 2012, permitindo aprofundar alguns temas imprescindíveis no campo

teórico no qual se basearia todo o trabalho subseqüente, a saber, a psicologia histórico-

cultural em unidade com a pedagogia histórico-crítica. Nessa etapa, foram estudadas

pelo grupo as seguintes temáticas: concepção de desenvolvimento infantil,

desenvolvimento das funções psíquicas, periodização do desenvolvimento infantil,

relação entre desenvolvimento e ensino, planejamento do ensino na educação infantil.

Nesse momento inicial, foi também realizado um movimento de pesquisa e estudo de

propostas pedagógicas de outros municípios que pudessem iluminar a natureza da tarefa

e os desafios a serem enfrentados. Após a fase inicial de preparação da equipe gestora,

as reuniões de coordenação continuaram ocorrendo quinzenalmente ao longo de todo o

projeto.

A segunda etapa envolveu a participação direta de professoras e diretoras por

meio da formação de Grupos de Trabalho (GTs) por área de conhecimento e

realização de encontros periódicos com as diretoras das unidades escolares. Os GTs

foram constituídos por profissionais do sistema municipal interessadas e dispostas a

colaborar mais diretamente no processo de construção da proposta pedagógica. Foram

formados seis grupos nas áreas definidas pela coordenação, a saber: Língua Portuguesa,

Matemática, Ciência, Artes Visuais, Música e Cultura Corporal. Cada grupo tinha a

tarefa de produzir um texto que delimitasse o objeto da área e sistematizasse objetivos,

conteúdos e encaminhamentos metodológicos, articulando o conteúdo específico da área

de conhecimento aos conceitos gerais da base teórica/pedagógica, tendo em vista a

particularidade do segmento da educação infantil, tarefa que se mostrou altamente

desafiadora dada sua complexidade. Os GTs concluíram a sistematização preliminar no

final do primeiro semestre de 2012 e o material foi submetido a um exame da

coordenação, que identificou a necessidade de maior articulação entre os fundamentos

teórico-filosóficos e as proposições pedagógicas específicas das áreas de conhecimento,

bem entre as áreas entre si, tendo em vista garantir maior unidade e articulação. Com

isso, verificou-se a necessidade de continuidade do trabalho dos Grupos por área, que

finalizaram o trabalho de sistematização das áreas no final de 2014.

A outra ação estruturante do projeto anteriomente mencionado que iniciou-se

ainda em 2011 foi a realização de Encontros com as Diretoras das unidades

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escolares. Foram realizados quatro encontros em 2011, dois encontros no ano de 2012,

quatro encontros em 2013 e um encontro em 2014. Esses encontros foram dedicados ao

estudo teórico e a debates sobre a estrutura do documento da proposta pedagógica e

sobre o andamento de seu processo de construção e implementação, visando sua

construção de forma colaborativa e coletiva. Considerando que o sistema municipal

congrega 64 escolas de educação infantil, as reuniões com as diretoras forem realizadas

subdividindo-as em dois grupos, de modo a criar maior possibilidade de diálogo e

discussão.

Paralelamente a essas ações, uma versão preliminar do capítulo de fundamentação

teórica do documento referente à proposta pedagógica foi elaborado pela docente

coordenadora do projeto, incluindo um breve resgate histórico da teoria, seus principais

autores e os principais conceitos da base teórica. Este material foi disponibilizado a toda

a rede no segundo semestre de 2012, tendo em vista obter um retorno a partir da

apreciação e avaliação da versão preliminar por todas as escolas municipais de

educação infantil. As devolutivas escritas enviadas pelas escolas e as avaliações

verbais colhidas em encontro com as diretoras foram sistematizadas e categorizadas,

para futura incorporação ao documento final. De modo geral, o documento foi bem

avaliado pelas equipes das unidades escolares, que destacaram a clareza da linguagem e

acessibilidade do texto e apresentaram sugestões de aprofundamento e acréscimo de

temáticas específicas.

Em sua terceira etapa, o projeto passou a oferecer um curso de formação de

professores, ministrado diretamente pelos alunos de graduação envolvidos sob

supervisão da docente responsável, com o objetivo de proporcionar aos professores um

espaço de estudo e aprofundamento teórico. O curso adotou como texto-base a versão

preliminar do capítulo de fundamentação teórica da proposta pedagógica. No segundo

semestre de 2012, foram oferecidas duas turmas do curso, que foi intitulado

“Desenvolvimento Infantil Segundo a Escola de Vigotski” e teve duração total de 30

horas (10 encontros semanais com duração de 3 horas). No ano de 2013 foram

realizadas duas edições do curso, com duração estendida para 36 horas (12 encontros

semanais). Em 2014 o curso foi oferecido em versão reduzida (8 encontros semanais)

em função da paralisação das atividades da universidade durante movimento paredista.

No primeiro semestre de 2015 foi oferecido um novo curso abordando a periodização

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do desenvolvimento infantil e no corrente semestre está em andamento mais uma turma

do curso introdutório sobre a teoria da Escola de Vigotski. Nota-se, assim, que as ações

de formação continuada têm sido privilegiadas no contexto do projeto como ação

permanente, por serem compreendidas como canal para fortalecer o caráter participativo

da construção da proposta, permitindo captar necessidades e dificuldades das

professoras e obter seu retorno com relação às versões preliminares do documento da

proposta pedagógica.

A partir do oferecimento dos cursos, por solicitação das próprias participantes,

foram criados grupos de estudo para aprofundamento em temáticas específicas, como a

brincadeira de papéis sociais e o desenvolvimento afetivo-emocional na idade pré-

escolar. No corrente semestre está sendo realizado um grupo de estudos sobre atividades

lúdicas e produtivas na educação infantil. Os grupos de estudos são também

coordenados diretamente pelos alunos de graduação extensionistas e têm se mostrado

um espaço propício para a articulação entre ensino-pesquisa-extensão, na medida em

que as temáticas propostas vinculam-se, de alguma forma, aos projetos de iniciação

científica dos alunos, cuja elaboração teve como ponto de partida problemas

identificados a partir da experiência de extensão.

No presente momento, encontra-se em fase de finalização, revisão e diagramação

o documento que objetiva a proposta pedagógica e planejamento da etapa mais

diretamente dedicada à implementação da proposta no município.

Dificuldades e desafios

A principal dificuldade enfrentada no projeto é a amplitude da rede municipal,

que torna grandemente desafiadora a perspectiva de construção colaborativa da

proposta. Dadas as condições objetivas, inclusive de número reduzido de profissionais

disponíveis para coordenação e operacionalização das ações do projeto, o envolvimento

de todos os professores do sistema no processo só é possível de modo indireto, por meio

da ação multiplicadora e mediadora das diretoras das unidades escolares, ou ainda pelo

mecanismo da consulta/apreciação das versões preliminares dos materiais produzidos.

Outra dificuldade refere-se à disponibilidade limitada de participação dos

profissionais da rede de ensino, uma vez que as professoras, diretoras e supervisoras da

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Secretaria Municipal de Educação que integram a equipe de coordenação e os grupos de

trabalho acumulam um grande número de tarefas e atribuições, reduzindo as

possibilidades objetivas de dedicação e envolvimento com o projeto de construção da

proposta pedagógica.

Apresentou-se ainda como complicador, em especial para a condução dos

trabalhos pelos GTs, a ausência de profissionais que tenham simultaneamente formação

na área de conhecimento específica e na teoria pedagógica e psicológica que

fundamenta o novo currículo. Para alguns grupos, foi possível obter a colaboração de

pesquisadores das áreas específicas; para os grupos em que isso não se mostrou

possível, a tarefa de sistematização do currículo de modo articulado com a perspectiva

teórico-metodológica da pedagogia histórico-crítica e psicologia histórico-cultural tem

se mostrado extremamente desafiadora.

Desdobramentos da experiência

Uma das principais conquistas do trabalho realizado é, sem dúvida, o

estreitamento da parceria com a Secretaria Municipal que tem sido alcançada e se

materializou na realização de um evento conjunto em julho de 2015, o “Congresso

Pedagogia Histórico-Crítica: educação e desenvolvimento humano” que contou com a

participação expressiva de professoras da rede básica do município bem como de

pesquisadores e estudantes de diversos Estados do país.

Decorridos cinco anos de seu início, consideramos que o projeto tem produzido

resultados bastante expressivos e frutíferos no sentido de colaborar para a consolidação

de um senso de unidade no segmento da educação infantil do sistema municipal,

contribuindo para a requalificação da ação pedagógica mediante o estudo e

aprofundamento teórico por parte dos professores orientado por um projeto coletivo

comum.

A participação dos alunos de graduação tem sido recorrentemente bem avaliada

pelos professores participantes dos cursos e grupos de estudo, bem como pelos próprios

alunos, que demonstram envolvimento e compromisso com o projeto, apresentam

visível desenvolvimento profissional e passam a dedicar-se a estudos e investigações

científicas de problemas relacionados à realidade concreta da educação infantil

brasileira.

O projeto tem permitido aos envolvidos alcançar uma inédita visão de totalidade

do trabalho pedagógico no segmento da educação infantil, abrindo novos caminhos para

a pesquisa nesse campo.

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Educação infantil indígena na legislação e na produção do conhecimento128

Marta Coelho Castro Troquez129

Resumo: Este trabalho apresenta resultados de pesquisa bibliográfica e documental no

campo das pesquisas qualitativas em educação. Objetivou investigar pressupostos legais

e teóricos sobre a educação infantil indígena, como primeira etapa da educação básica

nacional. Elegeu para análise documentos que normatizam a educação básica no país,

dando ênfase à sua primeira etapa. Procedeu a uma busca no banco de teses e

dissertações da CAPES e nos sites de busca para localizar artigos e publicações sobre a

temática. No que diz respeito à legislação educacional, a pesquisa evidenciou, entre

outros resultados, que, embora a educação infantil seja um direito subjetivo da criança,

para a educação indígena é facultativa. Na produção do conhecimento, evidenciou

grande contribuição de estudos da antropologia da criança para esta área de estudos,

contudo, no que diz respeito à especificidade da educação de crianças indígenas em

instituições de educação infantil (creches, pré-escolas, centros de educação infantil) o

estudo aponta mais questões para o debate/estudos que respostas.

Palavras-chave: Educação infantil; educação escolar indígena; educação infantil indígena.

Introdução

A educação escolar indígena é um campo relativamente novo de investigação

no Brasil (CAPACLA, 1995; GRUPIONI, 2003; 2008; TROQUEZ, 2009; 2012). A produção

acadêmica sobre questões relacionadas a ela intensificou-se em meio ao processo de

“virada” no que diz respeito às políticas oficiais de escolarização dos indígenas,

sobretudo a partir da Constituição Federal de 1988 que garantiu, entre outros direitos,

o direito a uma educação escolar diferenciada para os indígenas, tomados enquanto

grupos ou povos específicos (BRASIL, 1988; 2002; 2009; 2010). Dentro deste campo de

estudos, podemos dizer que estudos sobre a educação infantil indígena são

considerados raros (MIEIB, 2005, p. 06).

128 Este texto é fruto de Pesquisa iniciada em maio de 2015 na Universidade Federal da Grande

Dourados, MS, Brasil.

129 Professora Adjunta da Faculdade de Educação/UFGD.

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Contudo, estudos desenvolvidos no campo da História (ARIÈS, 1978), das

Ciências Sociais (BEGNAMI, 2010) e, sobretudo no campo da Antropologia, mais

especificamente da antropologia da criança (NUNES, 1997; 2003; CONH, 2000a, 2005;

Buss-Simão, 2009) tem trazido grandes contribuições para pensarmos a criança

indígena, sujeito da educação infantil indígena. Tais estudos tem desconstruído ou

desmistificado noções naturalizadas de criança e infância e nos levam a considerar a

dinâmica cultural e a produção social da infância de acordo com cada contexto

sociocultural específico. Nos levam ainda a considerar a criança como sujeito produtor

de cultura, como ser social pleno (CONH, 2005, p. 21) e diferenciado. Como colocado

por Conh,

Precisamos ser capazes de entender a criança e seu mundo a partir do seu

próprio ponto de vista [...] Não podemos falar de crianças de um povo

indígena sem entender como esse povo pensa o que é ser criança e sem

entender o lugar que elas ocupam naquela sociedade – o mesmo vale para as

crianças nas escolas de uma metrópole. E é aí que está a grande contribuição

que a antropologia pode dar aos estudos das crianças: a de fornecer um

modelo analítico que permite entendê-las por si mesmas. (COHN, 2005, p.

09).

De acordo com cada povo ou sociedade indígena há que se considerar

diferentes formas de ser criança, de socialização, de transmissão e aprendizagem de

conhecimentos. Precisamos considerar como é ser criança em cada grupo étnico

específico e em cada situação histórica e sociocultural específicas (TASSINARI, 2007).

Nesse sentido, podemos relacionar, entre outros, estudos que apontam para essas

especificidades: A criança indígena: a concepção Xikrin de infância e aprendizado

(CONH, 2000b); Crianças indígenas na cidade: a educação infantil no Centro Social

Mitangue-Nhiri (VIEIRA, 2012); Infância, participação e aprendizagens de meninos

indígenas Xakriabá (SILVA, 2012 ); Tornar-se aluno(a) indígena – Uma etnografia de

uma escola Guarani Mbya (MARQUI; CONH, 2011; MARQUI, 2012), As

transformações no modo de ser criança em Te’ýikue – 1950 - 2010 (CARIAGA, 2012).

Outras obras coletivas trazem mais contribuições a este campo de estudos (LOPES DA

SILVA; FERREIRA, 2001; LOPES DA SILVA; MACEDO, 2002; TASSINARI;

GRANDO; ALBUQUERQUE, 2012).

Os avanços legais impulsionaram não só a produção acadêmica sobre educação

de crianças indígenas, como possibilitaram a construção de escolas específicas em áreas

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indígenas e ampliação do número de matrículas de crianças indígenas em todas as

modalidades educativas (INEP/MEC, 2012).

De acordo com dados do IBGE (2012), em 2010, a população indígena no país,

ultrapassava 800.000 pessoas, cerca de 36,2% de indígenas residiam em área urbana, o

que correspondia a 379.534 indígenas vivendo nas cidades. Os dados indicam que nem

todos os alunos estão em escolas específicas, dentro das áreas indígenas. Há muitos

indígenas que estudam em escolas públicas rurais, de periferias e mesmo em escolas

particulares. Isso demanda a proposição de políticas públicas que atentem para as

diferenças socioculturais e linguísticas dos povos indígenas nas aldeias e fora delas.

Segundo Vieira,

[...] a educação infantil oferecida às crianças indígenas não se preocupa em

compreender a cosmovisão daquelas, a sua socialização primária ou, antes

disso, buscar o entendimento do que vem a ser criança para aqueles povos. [...] pode- se afirmar que as políticas educacionais direcionadas às crianças indígenas são iguais às oferecidas às crianças da sociedade nacional, portanto, entende-se que para o Estado crianças são iguais em todo e qualquer contexto. (VIEIRA, 2012, p. 181).

Diante do exposto, cabe questionarmos sobre as políticas públicas de educação

formal destinadas a crianças indígenas, especificamente, neste trabalho, atentamos para

as crianças de 0 a 5 anos, alvo da educação infantil, primeira etapa da educação básica.

Entendendo que a legislação educacional do país deve orientar as ações dos governos e,

consequentemente, a construção das políticas públicas, é importante investigar/conhecer

o que diz a legislação educacional sobre a o assunto. Também é preciso conhecer o que

está sendo produzido na academia. Há trabalhos acadêmicos específicos sobre a

educação infantil de crianças indígenas em instituições formais? O que apontam?

Pressupostos legais

No que diz respeito aos aspectos legais, a pesquisa considerou as conquistas da

Constituição Federal de 1988 e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

(1996) para a realização da educação básica, o que inclui a educação das crianças de 0 a

6 anos, como direito subjetivo considerando as especificidades linguísticas e culturais

dos povos indígenas garantindo-lhes o direito a uma educação específica e diferenciada.

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Foram foco da análise as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a

Educação Básica (BRASIL, 2010); as Diretrizes Curriculares Nacionais para a

Educação Infantil (BRASIL, 2009); as Diretrizes Curriculares Nacionais para a

Educação Escolar Indígena na Educação Básica (BRASIL, 2012) e o Plano Nacional

de Educação – Lei N. 13.005, de 25-06-2014 (BRASIL, 2014).

Na legislação educacional brasileira, a educação infantil é institucionalizada

como a primeira etapa da educação básica dedicada ao cuidar e ao educar a ser

oferecida enquanto um direito da criança em creches (0 a 3 anos) e pré-escolas (4 a 5

anos). Todas as crianças têm este direito o que inclui as crianças indígenas. Assim, é

obrigação do Estado oferecer a educação infantil para todas as famílias que buscarem

vagas para suas crianças.

Entretanto, o oferecimento da Educação Infantil aos povos indígenas é

opcional, cabendo a cada comunidade indígena decidir sobre seu oferecimento

(BRASIL, 2009; 2012). Como segue:

Art. 8º A Educação Infantil, etapa educativa e de cuidados, é um direito dos

povos indígenas que deve ser garantido e realizado com o compromisso de

qualidade sociocultural e de respeito aos preceitos da educação diferenciada e

específica. § 1º A Educação Infantil pode ser também uma opção de cada comunidade

indígena que tem a prerrogativa de, ao avaliar suas funções e objetivos a

partir de suas referências culturais, decidir sobre a implantação ou não da

mesma, bem como sobre a idade de matrícula de suas crianças na escola.

(BRASIL, 2012)

Cabe destacar que a oferta da educação infantil deve considerar as

especificidades e os direitos à diferença e à autodeterminação dos povos indígenas, bem

a participação da comunidade no processo.

No que diz respeito ao Plano Nacional de Educação de 2014-2024 (BRASIL,

2014), destaco a Meta 1 que trata da ampliação da oferta da Educação Infantil e duas

estratégias para atingi-la:

Meta 1: universalizar, até 2016, a educação infantil na pré-escola para as

crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) anos de idade e ampliar a oferta de

educação infantil em creches de forma a atender, no mínimo, 50% (cinquenta

por cento) das crianças de até 3 (três) anos até o final da vigência deste PNE.

[...]

1.10) fomentar o atendimento das populações do campo e das comunidades

indígenas e quilombolas na educação infantil nas respectivas comunidades,

por meio do redimensionamento da distribuição territorial da oferta,

limitando a nucleação de escolas e o deslocamento de crianças, de forma a

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atender às especificidades dessas comunidades, garantido consulta prévia e

informada;

[...]

1.16) promover a busca ativa de crianças em idade correspondente á

educação infantil, em parceria com órgãos públicos de assistência social,

saúde e proteção a infância, preservando o direito de opção da família em

relação ás crianças de até 3 (três) anos. (BRASIL, 2014)

Considero nesta análise que o plano trata a questão da educação infantil indígena

de forma inespecífica e tangenciada, pois prevê “fomentar o atendimento (...) por meio

do redimensionamento da distribuição territorial da oferta (...)”. Dando a impressão que

as dificuldades que envolvem este oferecimento dizem respeito a questões de

localização apenas.

Mesmo que inclua as comunidades indígenas em suas estratégias para a

ampliação da educação infantil, o documento associa a oferta da educação infantil para

estas comunidades à presença das escolas. Segundo Rosemberg (2006): “creche não é

escola”. As instituições de educação infantil não precisam ter o formato de “escolas”.

Produção do conhecimento

Para este estudo, busquei artigos científicos disponíveis on line e resultados de

pesquisas no banco de teses e dissertações da Capes. Como queria investigar trabalhos

específicos sobre a temática, fiz uma pesquisa refinada usando os seguintes termos:

educação infantil indígena, educação infantil na educação indígena, educação infantil na

educação escolar indígena, centro de educação infantil indígena.

Na busca, observei que há estudos que tratam de questões mais gerais sobre a

infância indígena, especialmente no campo da antropologia da infância. Alguns

mencionam a questão da educação infantil indígena oferecida por instituições escolares

ou centros de educação infantil e fazem breves comentários a respeito, sem que o

objetivo do trabalho seja a educação de crianças indígenas na educação infantil formal

(centros de educação infantil, creches, pré-escolas, escolas específicas indígenas ou em

áreas urbanas). Neste campo de produção, além dos trabalhos já referendados

anteriormente, podemos incluir: ALVAREZ, 2004; CODONHO, 2007; LIMULJA,

2007; JESUS, 2011; ANDRIOLI, 2012.

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A maioria dos trabalhos no campo da educação escolar indígena (em interface

com a antropologia e a história) focalizam a presença da escola de modo genérico nas

comunidades indígenas ou relacionada a outras etapas da educação básica. Desta forma,

muitos trabalhos buscam “refletir sobre o papel que a escola assume no processo de

educação dessas crianças, nas aldeias ou fora delas” (TASSINARI; GRANDO;

ALBUQUERQUE, 2012).

Entretanto, para este estudo, considerei artigos e pesquisas que tratam

especificamente da questão da educação infantil indígena formal, como definida na

legislação educacional. A pesquisa confirma a raridade de estudos deste tipo.

No banco de teses e dissertações da CAPES, localizei apenas um trabalho

dentro desta especificidade. Trata-se do trabalho de Edna Ferreira: A criação do Centro

de Educação e Cultura Indígena (CECI) e a educação infantil indígena na aldeia

Krukutu (FERREIRA, 2012). A pesquisa investiga a educação infantil indígena

destinada a um povo específico e analisa os desafios para a realização de uma educação

diferenciada e intercultural. As conclusões do trabalho apontam para a importância dada

pelos indígenas à educação infantil indígena130

.

No que se refere a artigos ou publicações acadêmicas, deixando de lado (por

hora) artigos publicados em blogs educativos, entre outros, considerei os artigos

publicados em revistas científicas, livros e anais de eventos acadêmicos. Apresento

artigos/estudos identificados por ordem cronológica de publicação: NASCIMENTO; ET

AL, 2006; ROZEMBERG, 2006; MIEIB, 2006; VENERE; VELANGA, 2008; VIEIRA,

2012; SILVA; MOTA, 2014.

Os trabalhos identificados trazem excelentes discussões para a área. Um ponto

importante e recorrente é o caráter inconclusivo das discussões. Como colocado por

Toneto, em uma reportagem:

De modo geral, os parcos trabalhos que dedicam-se sobre a temática revelam

mais questões do que respostas no que diz respeito à educação infantil

indígena. O oferecimento de educação infantil para as crianças indígenas tem

suscitado muitas críticas e um intenso debate entre especialistas, lideranças e

povos indígenas. Muitos defendem que a educação infantil atenta contra as

tradições indígenas, mas algumas comunidades indígenas têm reivindicado

espaços educativos para suas crianças pequenas. (TONETO, 2007, p. 34)

130 Tive acesso apenas ao resumo do trabalho, o que dificulta aprofundamento na análise.

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O caráter de inconclusão, de não respostas rápidas à complexidade da questão

pode ser evidenciada em praticamente todos os trabalhos. Os trabalhos apontam também

os limites da educação infantil oferecida aos indígenas em relação a seus modos

próprios de socialização e transmissão de conhecimentos. Segundo Nascimento et al

(2006, p. 10):

[...] podemos afirmar que a educação infantil familiar, no âmbito das aldeias

Kaiowá e Guarani, segue parâmetros distintos daquela percebida na proposta

de educação infantil escolar. Enquanto esta, por mais que seja suavizada,

segue padrões de organização da escolaridade formal, com todas suas

peculiaridades e consequências, aquela, como vimos anteriormente,

fundamenta-se completamente em um cotidiano aberto e integrado no ritmo

da convivência, em constante contato com a natureza e os “afazeres” da

própria comunidade.

Na conclusão do estudo afirmam:

Está claro que é necessário pesquisar mais para se chegar a um

posicionamento mais consistente sobre a necessidade ou não da educação

infantil escolar nas comunidades Kaiowá e Guarani. Pesquisas que informem

a respeito do outro lado da infância indígena, suas aspirações, visão de

mundo e, desejo de autonomia. (P. 11)

O seminário do MIEIB aponta na mesma direção:

Entretanto, no que se refere ao atendimento das crianças de 0 a 6 de idade

fora da comunidade educativa, ou seja, que não seja no ritual, na família, no

trato com a terra, mas, em espaço próprio para educação infantil mantido pelo

Estado, é ainda um desafio que está em processo de construção de um

entendimento. De modo que esse texto tenta somente dar um panorama de

como os professores, professoras, lideranças indígenas e o Centro de Cultura

Luiz Freire - CCLF vêm amadurecendo essa discussão. Isto quer dizer

também que não há ainda certezas construídas sobre essa etapa da educação

básica entre os povos indígenas em Pernambuco. (MIEIB, 2006, p. 05)

Gostaria de destacar o artigo de Rozemberg (2006, p. 16) que compõe os textos

da publicação do seminário do MIEIB. A autora pontua a novidade da temática da

educação infantil indígena, aspectos teóricos e práticos das posições em debate

envolvendo a oferta desta etapa da educação básica aos indígenas opondo: expansão

irrestrita versus cautela e prudência e, ainda, propõe ricas sugestões para avançar o

debate.

Do artigo de Venere e Velanga (2008), destaquei os seguintes pontos:

As reflexões apontam para a necessidade de pesquisas na área e de um

currículo multicultural para atender a diversidade e promover a aprendizagem

a partir de conteúdos culturais significativos, bem como para a formação de

professores que atendam a estas necessidades. (p. 01)

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[..]

A prática cotidiana nos revela, no entanto, que nem sempre uma legislação

progressista e elogiada internacionalmente significa que os direitos humanos

e da criança estejam, de fato, assegurados [...]. (p. 04)

[...]

Sendo a infância uma etapa percorrida para se aprender a viver em

sociedade, as crianças aprendem brincando, imitando os mais velhos,

participando da tradição oral, das atividades do dia-a-dia e dos rituais

inerentes a cada cultura, aprendendo assim as regras do convívio social. (p.

05)

Desta forma, um limite da educação infantil indígena relaciona-se à dificuldade

da realização de uma educação intercultural que considere as vivências das crianças

indígenas para além dos espaços escolares.

Vieira (2012) analisa a educação infantil de crianças Kaingang e Guarani na

cidade de Maringá e aponta para o caráter de assistencialismo que acaba assumindo.

Segundo a autora,

[...] a educação infantil oferecida nas cidades impõe-se como uma

necessidade de assistência, em razão da ausência da mãe trabalhadora; já nas

terras indígenas, mesmo com o advento da colonização que gerou grande

perda territorial e, por sua vez, alterou todo o modelo econômico das aldeias,

a educação das crianças continuou sendo de responsabilidade dos mais velhos

e das mulheres que permaneceram aldeados. (p. 180)

A autora considera a distância entre os modos próprios de socialização destas

crianças no seio de suas famílias e a socialização realizada na instituição educativa com

profissionais/pedagogas formados nas universidades. E levanta um questionamento

sobre esta formação: “ Essa profissional está sendo preparada na universidade para lidar

com esta situação? O tema da diversidade cultural está sendo tratado de modo eficaz dentro

das universidades? A melhor alternativa seria a contratação de uma professora indígena?”

(VIEIRA, 2012, p. 189).

Já o artigo de Silva e Mota (2014), “traz análises acerca da concepção e

implementação da educação infantil na educação escolar indígena com ênfase no

princípio da facultatividade”. Segundo as autoras:

Às escolas indígenas foi salvaguardado o direito de ser ou não implementada

a educação infantil, tendo em vista a necessidade de manutenção da língua,

dos costumes e tradições de modo a contribuir para valorização e manutenção

da identidade étnica e cultura. Importa destacar que a política de educação

infantil de modo geral que traz à tona essas recomendações quando diz que o

trabalho na educação infantil deve integrar escola, cultura e a sociedade.

Essa política se contrapõe ao princípio de obrigatoriedade da educação das

Crianças de 04 a 17 anos na Educação Básica definido na Lei 12.796/2013

que altera a Lei 9394/96 – LDB. A adesão a esta lei traz à baila uma

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discussão acerca da Educação Básica como um direito público subjetivo.

Acreditamos que o que está em questão não é a oferta mais a possibilidade de

cada etnia bem como cada sujeito fazer suas escolhas. E as crianças, público

alvo da educação infantil, enquanto sujeitos de direitos são ouvidas?

Essas questões postas devem ser objeto de reflexão para não incorrer em

velhos erros de exclusão educacional.

O trabalho evidencia a defesa da educação infantil pelos índios da etnia Ticuna:

Evidenciamos que os índios da etnia Ticuna são categóricos em defender e

reivindicar a educação escolar em suas aldeias e para todos os Ticuna porque

veem a escola como um instrumento que vai levá-los para um patamar de

igualdade na relação com a sociedade envolvente. Malgrado, tenha havido

uma resistência por parte do sistema de ensino na oferta da educação infantil,

os Ticuna se mantiveram e se mantém firme na defesa dessa etapa da

educação para suas crianças cuja importância está associada ao

desenvolvimento intelectual, mas conectada com os saberes da sua vivência.

(p. 14)

Na defesa do direito à educação, mais especificamente, da educação infantil, as

autoras defendem que “É necessário uma igualdade que reconheça as diferenças mas

também uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades”.

Considerações

Busquei através desta pesquisa mapear questões legais e teóricas (ou da

produção do conhecimento) sobre a educação infantil indígena. No sentido de recolher

um arcabouço amparado na legislação e nas produções acadêmicas para pensar o

assunto e realizar outras pesquisas. Acredito que este trabalho poderá apontar caminhos

ou indagações para outras pesquisas.

Muitas são as questões postas, como as discutidas e não esgotadas no

seminário do MIEIB (2006, P. 05):

É grande o desconhecimento sobre a realidade da educação infantil ofertada à

população indígena. Também são muitas as dúvidas e questionamentos. As

creches são uma necessidade social destes grupos? São uma demanda

declarada? Os pais, avós e a comunidade, ao serem os principais responsáveis

pela educação das crianças nos primeiros anos de vida, conseguem garantir as

condições adequadas para tal? Existem circunstâncias que determinam outras

opções? Como garantir que crenças e valores das diferentes etnias sejam

respeitadas no atendimento em creches e pré-escolas? Como garantir a

formação do professor da educação infantil para aqueles membros da

comunidade que optam por cumprir este papel? Como incluir a

especificidade da realidade indígena na formação de professores? Quem deve

lecionar nesses

lugares, professores não-índios ou aqueles que fazem parte da comunidade?

Qual o papel do Estado, frente ao direito constitucional das crianças

indígenas à educação infantil?

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A pesquisa bibliográfica também evidenciou grande contribuição de estudos da

antropologia da criança para esta área de estudos, sobretudo por considerarem as

crianças seres sociais ativos e produtores de cultura. Quem sabe muitas das respostas

elas mesmas nos darão.

Referências

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