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R E D E S aAGROECOLOGIAS
E X P E R I Ecirc N C I A S NO BRASIL E NA FR A N Ccedil A
Depoacutesito legal junto agrave Biblioteca Nacional conform e Lei ndeg 10994 de 14 de dezem bro de 2004
Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo-na-Publicaccedilatildeo (CIP) Bibliotecaacuteria responsaacutevel Luzia Glinski Kintopp CRB9-1535
Curitiba - PR
E314 Redes de agroecologias experiecircncias no Brasil e na Franccedila Organizadores Alfio Brandenburg Jean-Paul BillaudClaire Lamine mdash Curitiba Kairos Ediccedilotildees 2015248 p 228 cm
ISBN 978-85-63806-30-7 Vaacuterios autores
1 Agroecologia - Brasil 2 Agroecologia - Franccedila 3 Redes cientiacuteficas 4 Agricultura orgacircnica - Movimentos sociais5 Redes de mercados alternativos 6 Sustentabilidade 7 Eacutetica ambiental 8 Ecologia agriacutecola 9 Sociologia rural I Tiacutetulo
CDD 30772
IMPRESSO NO BRASILPRINTED IN BRAZIL
KAIROSE D I Ccedil Otilde E S
Antocircnia Schwinden - Coordenaccedilatildeo Editorial Thaiacutessa Falcatildeo- Assistente Editorial
Stella Maris Gazziero - Diagramaccedilatildeo Caroline Schroeder - Capa
R E D E S A L IM E N T A R E S A LT E R N A T IV A S E N O V A S R E LA Ccedil Otilde E S P R O D U Ccedil Atilde O - C O N S U M O NA F R A N Ccedil A E NO B R A S IL 1
Moacir Roberto Darolt Claire Lamine Maria de Cleacuteofas Faggion Alencar e Lucimar Santiago Abreu
1 IN TR O D U Ccedil Atilde O
As redes alimentares alternativas (alternative food networks - AFNs) como satildeo
conhecidas na literatura internacional (GOODMAN et al 2012) satildeo uma categoria
geneacuterica de anaacutelise acadecircmica para o estudo de alternativas ao modelo agroalimentar
industrial Para esses autores as AFNs tecircm algum as caracteriacutesticas centrais que
incluem cooperaccedilatildeo social e parcerias entre produtores e consumidores reconexatildeo
entre produccedilatildeo e consumo dentro de padrotildees sustentaacuteveis dinamizaccedilatildeo de mercados
locais com identidade territorial e revalorizaccedilatildeo da circulaccedilatildeo de produtos de qualidade
diferenciada como eacute o caso de produtos de base ecoloacutegica2 Para Wilkinson (2008) essas
redes e movimentos sociais favoreceram a reinserccedilatildeo econocircmica de agricultores familiares
brasileiros excluiacutedos do processo de modernizaccedilatildeo agriacutecola A institucionalizaccedilatildeo das
redes e movimentos de base ecoloacutegica aconteceu na Franccedila nos anos de 1980 e no Brasil
nos anos de 1990 pautado em princiacutepios de confianccedila equidade e novas relaccedilotildees sociais
entre produtores e consumidores que contribuem para a emergecircncia de uma democracia
alimentar fundada sobre a racionalidade socioambiental (BRANDENBURG 2002)
As redes alimentares alternativas satildeo muito diversas e privilegiam os circuitos
curtos3 (CC) de comercializaccedilatildeo (feiras do produtor entrega de cestas pequenas lojas
de produtores venda na propriedade ligada ao agroturismo venda institucional para
alimentaccedilatildeo escolar entre outras formas de venda direta) Para Marsden et al (2000)
o mais importante para caracterizar um circuito curto ou cadeia curta eacute o fato de um
1 Este trabalho integra o projeto Agroecologia na Franccedila e no Brasil entre redes cientiacuteficas movimentos sociais e poliacuteticas puacuteblicas apoiado pelo acordo CAPESCOFECUB 7162011 Texto publicado na revista Ambiente amp Sociedade (2015)
2 Neste trabalho o conceito de sistema de produccedilatildeo de base ecoloacutegica abrange os denominados orgacircnico ecoloacutegico agroecoloacutegico biodinacircmico natural regenerativo bioloacutegico permacultura e outros que atendam os princiacutepios estabelecidos pela Lei ne 108312003 que dispotildee sobre o sistema orgacircnico de produccedilatildeo agropecuaacuteria no Brasil Na Franccedila o sistema eacute conhecido como agricultura bioloacutegica (bio) a partir da legislaccedilatildeo de 1980 mas existem produtos de outras formas de agricultura alternativa (agriculture paysanne agroeacutecologie) que se dizem mais ecoloacutegicas e satildeo encontradas em circuitos curtos
3 Circuitos Curtos (CC) ou cadeias curtas de comercializaccedilatildeo satildeo definidos como um sistema de inter-relaccedilotildees entre atores que estatildeo diretamente engajados na produccedilatildeo transformaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e consumo de alimentos (RENTING et al 2012) Essa definiccedilatildeo traz dois pontos importantes (inter-relaccedilotildees e interdependecircncia) e deixa aberta uma ampla gama de formas de articulaccedilatildeo entre produccedilatildeo e consumo
111
produto chegar nas matildeos do consumidor com informaccedilotildees que lhe permitam saber onde o
produto foi produzido (lugar) por quem (produtor) e de que forma (sistema de produccedilatildeo)
ao contraacuterio da alim entaccedilatildeo padronizada da agricultura industrial caracterizada por
Ploeg (2008) como impeacuterios alimentares Entretanto Goodman (2009) alerta que essas
redes e novas formas econocircmicas se desenvolvem em sociedades capitalistas e natildeo em
um universo paralelo Por isso eacute necessaacuteria uma anaacutelise criacutetica que busque avaliar as
relaccedilotildees de poder e a distribuiccedilatildeo social dos ganhos entre os atores envolvidos
As vendas em circuitos curtos canalizaram metade do valor total das compras
da produccedilatildeo orgacircnica certificada no m ercado interno brasileiro em 2010 (BLANC e
KLEDAL 2012) No Brasil 42 dos consum idores jaacute compram produtos orgacircnicos em
lojas especializadas e 35 em feiras do produtor apesar de a maioria (72) ainda comprar
em canais longos como eacute o caso de superm ercados (KLUTH BOCCHIJR CENSKOWSKY
2011) Na Franccedila a situaccedilatildeo eacute similar 79 dos consumidores compram em super e
hipermercados o que representou 46 do valor total das compras de produtos orgacircnicos
(bio) em 2013 Cabe destacar que na Franccedila a maioria das compras de alimentos em geral
eacute feita em circuitos longos Entretanto parte dos consumidores ainda prefere comprar
em circuitos curtos (33 compram em feiras do produtor (marcheacute paysan) 29 em lojas
especializadas e 19 diretamente nas propriedades o que representou 48 do valor
total das compras) principalmente por motivos de sauacutede qualidade sabor e seguranccedila
alim entar (AGENCE BIO 2014) Em am bos os paiacuteses uma das especificidades dessas
redes eacute o fato de questionar alguns princiacutepios baacutesicos do sistema convencional como
a homogeneizaccedilatildeo a padronizaccedilatildeo de produtos e o grande nuacutemero de intermediaacuterios
na com ercializaccedilatildeo em grandes d istacircncias (LAM INE 2012) Nesse sentido as redes
alternativas propotildeem novos princiacutepios de troca relocalizaccedilatildeo dos alimentos retomam
valores tradiccedilotildees e novos tipos de relaccedilotildees entre produtores e consumidores
Um dos p rin c ip a is q u e stio n am e n to s levantados pela literatura cientiacutefica
internacional eacute a capacidade de essas redes alimentares alternativas gerarem mudanccedilas
estru tura is em uma escala m aior (G O O D M A N 2003 DEVERRE LAM INE 2010)
Para esses autores as redes podem contribuir para uma transformaccedilatildeo das relaccedilotildees
de poder no acircmbito dos sistem as alim entares incluindo um maior peso e participaccedilatildeo
de consumidores e produtores na definiccedilatildeo dos modos de produccedilatildeo troca e consumo
(a noccedilatildeo de autonomia) Enfatizam ainda a ligaccedilatildeo necessaacuteria entre experiecircncias concretas
e movimento social e poliacutetico de oposiccedilatildeo ao modelo convencional dominante
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Nesse sentido os movimentos sociais devem adotar diferentes estrateacutegias para
tornar os cidadatildeos mais ativos tais como a construccedilatildeo de formas alternativas de compra
e troca investimento em educaccedilatildeo do consumidor campanhas de conscientizaccedilatildeo e lobby
poliacutetico (DUBUISSON-QUELLIER et a 2011) A educaccedilatildeo para o consumo consciente eacute
um desafio na perspectiva de requalificar os consumidores em oposiccedilatildeo agrave aceitaccedilatildeo e
agrave conformidade aos alimentos ofertados pelo sistema convencional (JAFFE GERTLER
2006) O aprendizado proporcionado por essas redes alternativas de comercializaccedilatildeo
considerando as praacuteticas agriacutecolas e seus impactos as praacuteticas culinaacuterias e as praacuteticas
democraacuteticas em si que envolvem pessoas e instituiccedilotildees satildeo fontes de empoderamento
(empowerment) dos consumidores contribuindo para tornaacute-los cidadatildeos conscientes
de sua alim entaccedilatildeo ou consum idores c id ad atildeo s (food c itizen s) (W ILKIN S 2005
LEVKOE 2006)
Do lado dos produtores Brandenburg e Ferreira (2012) acrescentam que os
agricultores ecoloacutegicos inseridos num m ovim ento social organizado contribuem para
a ecologizaccedilatildeo de um rural que se situa para aleacutem das praacuteticas agriacutecolas Nesse caso
recuperam-se os interesses individuais dos agricultores transform ando-os em projetos
coletivos e apontando para uma racionalidade socioambiental
Alguns trabalhos questionam as possibilidades e limitaccedilotildees das redes alternativas
para superar as desigualdades sociais entre produtores e consumidores Outros discutem
as possibilidades de as populaccedilotildees vulneraacuteveis terem acesso agrave alimentaccedilatildeo de qualidade
via circuitos curtos Para garantir uma visatildeo de equidade numa perspectiva de seguranccedila
alimentar vaacuterios autores tecircm demonstrado o papel crucial da sociedade civil e as inovaccedilotildees
sociais que emergem dessas experiecircncias em termos de tomada de decisatildeo e modelos
de gestatildeo participativa Alguns trabalhos apontam ainda para a noccedilatildeo de democracia
alimentar (HASSANEIN 2008 WILKINS 2005) agricultura cidadatilde (LYSON 2004) ou
ainda redes alimentares cidadatildes (RENTING et a 2012)
Outros autores questionam o uso do term o Rede Alim entar Alternativa (AFN
em inglecircs) argumentando que muitas vezes ele eacute usado de maneira polarizada como
parte de um dualism o entre convencional - alternativo (HOLLOW AY et a l2007)
A proposta eacute que se supere a dicotomia convencional-alternativo que reduz a questatildeo da
produccedilatildeo e consumo alimentar como dividido entre as diversas iniciativas alternativas
que se posicionam contra um convencional sistema alimentar monoiiacutetico Concordamos
que eacute possiacutevel encontrar formas hiacutebridas re lacionais e com plem entares de redes
alimentares como mostrou Maye (2013)
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De fato podem existir com plem entaridades entre redes alternativas e
convencionais como destaca Lamine (2012) que podem contribuir no processo de
transiccedilatildeo A autora considera que para garantir uma transiccedilatildeo ecoloacutegica pira redes
alimentares mais sustentaacuteveis deve-se buscar mais do que a participaccedilatildeo de produtores
e consumidores e considerar a rede de atores e instituiccedilotildees em um sentiio amplo
com envolvim ento de outros atores da cadeia alimentar como a exteniatildeo rural
a pesquisa o ensino a sociedade civil e o poder puacuteblico Quando o foco do etudo satildeo
produtos da agricultura de base ecoloacutegica concordamos com Perez-Cassarho (2013)
que a constituiccedilatildeo de redes alimentares alternativas potencializa o surgimentc de novas
sociabilidades resgate e reconstruccedilatildeo de valores e princiacutepios centrados na confianccedila
reputaccedilatildeo eacutetica e solidariedade
O que se pretende discutir neste trabalho por meio de experiecircncias francesas
e brasileiras eacute que as essas redes alimentares alternativas trazem inovaccedilotildees sociais
diversidade e valores associados que podem contribuir na reconexatildeo entre produccedilatildeo e
consumo valorizar os mercados locais por meio de circuitos curtos de comercializaccedilatildeo e
facilitar a transiccedilatildeo para sistemas de produccedilatildeo e consumo mais sustentaacuteveis
Vamos mostrar que o desenvolvimento da agricultura familiar de base ecoloacutegica
eacute potencializado quando associado a circuitos curtos e redes alimentares alternativas
com plem entado por parcerias e poliacuteticas puacuteblicas voltadas ao fortalecim ento
dessas iniciativas
Algumas questotildees de pesquisa guiam essa investigaccedilatildeo Quais satildeo o tipos de
circuitos curtos de alimentos ecoloacutegicos Quais as caracteriacutesticas das propriecades que
participam dessas redes e como se organizam Em que condiccedilotildees os circuitos curtos de
comercializaccedilatildeo satildeo viaacuteveis Quais os aprendizados as dificuldades e as oporunidades
para produtores e consumidores em participar de redes alternativas de comercalizaccedilatildeo
Enfim o objetivo geral do trabalho eacute analisar as particularidades das redes
alternativas de comercializaccedilatildeo de produtos ecoloacutegicos e as relaccedilotildees produccedilatildeoconsumo
na Franccedila e no Brasil Para isso apresenta-se uma tipologia desses circuitos cirtos (CC)
como funcionam as caracteriacutesticas principais as oportunidades e as dificuldades para
produtores e consumidores
2 O M EacuteTODO DE P ESQ U ISA E AS EX P E R IEcirc N C IA S ESTU D ADA S
A metodologia de trabalho envolveu a pesquisa descritiva e qualitativa a partir
de experiecircncias selecionadas na Franccedila e no Sul do Brasil Num primeiro monento foi
realizada uma revisatildeo da literatura internacional seguida de um estudo preacutevio err conjunto
114
com uma equipe de especialistas franceses e brasileiros selecionando experiecircncias
de redes alternativas de com ercializaccedilatildeo com produtos e serviccedilos da agricultura de
base ecoloacutegica Os criteacuterios para seleccedilatildeo das experiecircncias foram representatividade
regional tempo da experiecircncia reconhecimento local trabalho com produtos ecoloacutegicos
mecanismos de certificaccedilatildeo prioridade para circuitos curtos e redes alternativas
Foram realizadas no total 40 visitas teacutecnicas sendo seis feiras em Paris Marseille
e Regiatildeo Provence-Alpes-Cocircte dAzur (PACA) dois Pontos de Venda Coletiva (PVC)
duas Associaccedilotildees de Consum idores (AMAP - Associaccedilatildeo para M anutenccedilatildeo de uma
Agricultura Camponesa) cinco lojas especializadas em produtos orgacircnicos (conhecidos
como bio) uma loja de cooperativa de agricultores duas experiecircncias de venda na
propriedade (Bienvenue agrave la Ferme) uma experiecircncia de acolhida na propriedade (Accueil
paysan) e entrevistas qualitativas com diferentes atores da rede de comercializaccedilatildeo
sendo sete agricultores orgacircnicos em sistema de olericultura fruticultura ovinocultura e
bovinocultura sete especialistas de diferentes instituiccedilotildees que trabalham com agricultura
orgacircnica aleacutem de informaccedilotildees coletadas em sete seminaacuterios de pesquisa sobre o tema
O estudo foi realizado entre novembro de 2011 e marccedilo de 2012 sendo selecionadas
20 entrevistas mais consistentes para responder aos objetivos da pesquisa O estudo
foi realizado na Franccedila nas regiotildees PACA Rhocircne-Alpes e lie de France e no Sul do Brasil
Para comparar qualitativamente as experiecircncias francesas com as experiecircncias
do Brasil utilizamos os relatos de experiecircncias de trabalhos com as redes alternativas
de com ercializaccedilatildeo de alim entos ecoloacutegicos no Sul do Brasil (destaque para a rede
Ecovida4) descritos por Darolt (2012) A etapa de campo permitiu a construccedilatildeo de um
diagnoacutestico com base em informaccedilotildees coletadas em visitas entrevistas participaccedilatildeo
em eventos e fontes secundaacuterias descrevendo as caracteriacutesticas principais (definiccedilatildeo
funcionamento estrutura meacutetodos de distribuiccedilatildeo e marketing dos produtos vantagens
para consum idores e produtores) aleacutem de destacar dificuldades e oportunidades
A partir de informaccedilotildees coletadas foi criada uma tipologia das diferentes experiecircncias
e realizada uma anaacutelise qualitativa e comparativa dos resultados com base no niacutevel de
desenvolvimento de cada experiecircncia estudada
As experiecircncias francesas e brasileiras logicamente se desenvolvem em contextos
econocircmicos socioculturais am bientais e poliacuteticos que necessitam ser levados em
consideraccedilatildeo Percebemos na discussatildeo teoacuterica precedente que as redes alimentares
4 O circuito de circulaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo da Rede Ecovida eacute formado por 27 nuacutecleos regionais abrangendo 200 municiacutepios 400 grupos e associaccedilotildees (cerca de 3800 famiacutelias) envolvendo em torno de 200 feiras agroecoloacutegicas nos trecircs estados do Sul do Brasil (wwwecovidaorgbr) (REDE ECOVIDA 2014)
115
apresentam caracteriacutesticas e tendecircncias sem elhantes nos debates internacionais
poreacutem tecircm diferentes raiacutezes histoacutericas No Brasil muitos dos pioneiros da agricultura
de base ecoloacutegica surgiram no final da deacutecada de 1970 como parte de um movimento
para resistir ao processo de modernizaccedilatildeo agriacutecola (com os seus efeitos conhecidos de
concentraccedilatildeo de terra exclusatildeo da agricultura fam iliar e intensificaccedilatildeo da migraccedilatildeo
rural-urbana) e foram apoiados por organizaccedilotildees religiosas e da sociedade civil
Movimentos mais recentes surgiram no Brasil com a institucionalizaccedilatildeo da agricultura
orgacircnica e agroecologia e satildeo formados por iniciativas de grupos de agricultores familiares
e consumidores organizados com o apoio de organizaccedilotildees natildeo governamentais (ONGs)
e instituiccedilotildees puacuteblicas (Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio instituiccedilotildees de pesquisa
extensatildeo rural entre outras) Na Franccedila a institucionalizaccedilatildeo da agricultura de base
ecoloacutegica (bio) aconteceu mais cedo - nos anos de 1980 - o que se refletiu num maior
desenvolvimento do setor (393 da aacuterea plantada com orgacircnicos 54 do nuacutemero
de produtores e 2 do mercado - AGENCE BIO 2014) enquanto no Brasil aconteceu
um pouco mais tarde nos anos de 1990 com crescimento menor (cerca de 1 de aacuterea
plantada e 15 do mercado - MAPA 2012)
Enquanto o perfil socioloacutegico dos consumidores nos casos franceses e brasileiros
pode ser comparado (consum idores de classe meacutedia com exceccedilatildeo dos programas
governamentais para famiacutelias de baixa renda no Brasil) no caso dos agricultores existem
algumas diferenccedilas marcantes Na Franccedila os participantes das redes alternativas satildeo
frequentemente agricultores neorrurais (com origens e influecircncias urbanas) com um
niacutevel de educaccedilatildeo e renda mais elevado e maior ligaccedilatildeo com o meio urbano o que facilita
a interaccedilatildeo com os consumidores No Brasil a maioria dos agricultores ecoloacutegicos tem
origem no meio rural com baixo niacutevel de escolaridade e poucos recursos financeiros
caracteriacutestico da agricultura familiar brasileira Entretanto segundo Darolt (2012) existe
tambeacutem uma participaccedilatildeo de agricultores neorrurais na agricultura orgacircnica sobretudo
proacuteximo aos grandes centros urbanos
Neste trabalho vamos mostrar que apesar de particularidades as diferentes
experiecircncias estudadas de circuitos curtos apresentam caracteriacutesticas comuns que
permitem aos agricultores um melhor padratildeo de vida o fortalececimento de laccedilos sociais
com consumidores e a contribuiccedilatildeo na requalificaccedilatildeo de produtores e consumidores
em contraste com a desqualificaccedilatildeo induzida por redes alimentares industriais
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3 D EFIN IN D O C IR C U ITO S CU RTO S DE C O M ER C IA LIZA Ccedil Atilde O
O debate cientiacutefico tem trazido elementos importantes para melhor definir os
circuitos curtos (CC) em termos de redes alimentares assim como para avanccedilar em
tipologias e classificaccedilatildeo das experiecircncias Numa visatildeo com vieacutes na dimensatildeo econocircmica
a distinccedilatildeo entre canais curtos e longos de distribuiccedilatildeo de alimentos eacute para alguns
especialistas uma questatildeo do nuacutemero de intermediaacuterios que operam entre a produccedilatildeo
e o consumo Assim quanto maior o nuacutemero de atravessadores mais longo eacute o canal
e vice-versa Entretanto o nuacutemero de intermediaacuterios natildeo deve ser uma questatildeo uacutenica
e prioritaacuteria Outras caracteriacutesticas que aportam dimensotildees socioculturais podem ser
destacadas para definir um circuito curto de comercializaccedilatildeo como 1) a capacidade de
socializar e localizar o produto alimentar gerando viacutenculo com o local e a propriedade
2) a redefiniccedilatildeo da relaccedilatildeo produtor-consumidor dando sinais da origem do alimento
3) o desenvolvimento de novas relaccedilotildees considerando um preccedilo justo e a qualidade
(ecoloacutegica) 4) a conexatildeo entre o consumidor e o produto alimentar (MARSDEN et a i
2000) Seguindo essas caracteriacutesticas os mesmos autores identificaram alguns tipos de
CC resumidos da seguinte forma 1 venda direta cara a cara no qual a confianccedila estaacute na
relaccedilatildeo interpessoal 2 proximidade espacial incluindo o que eacute produzido e distribuiacutedo
numa regiatildeo reconhecida pelos consumidores e 3 espaciaimente estendido nesse caso
a confianccedila eacute transmitida por um processo de garantia da qualidade (certificaccedilatildeo) Assim
considera-se natildeo soacute a distacircncia mas tambeacutem os paracircmetros organizativos (produtores e
consumidores) fatores culturais transmitidos pela confianccedila pela valorizaccedilatildeo do mercado
local e pelo produto agroecoloacutegico
Os autores espanhoacuteis Guzmaacuten et a i (2012) acrescentam ainda que num circuito
curto de comercializaccedilatildeo as relaccedilotildees de poder dentro da rede alimentar devem estar a
favor dos produtores e consumidores e natildeo dos intermediaacuterios e grandes distribuidores
No Brasil o debate teoacuterico sobre redes alimentares alternativas (PLOEG 2008
WILKINSON 2008) e circuitos curtos de alimentos ecoloacutegicos (FERRARI 2011 DAROLT
2012) ainda eacute emergente poreacutem existem muitas experiecircncias diversificadas e inovadoras
que surgem a cada ano mostrando que nos canais de distribuiccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos
haacute caracteriacutesticas similares a outros paiacuteses com destaque para mais informaccedilotildees sobre
a qualidade do produto busca de relacionamento direto e interdependecircncia entre
agricultores e consumidores
117
Os representantes do setor agroalimentar na Franccedila tecircm utilizado uma definiccedilatildeo
mais pragmaacutetica de circuito curto (CC) caracterizando os circuitos de distribuiccedilatildeo que
mobilizam ateacute - no m aacutexim o-um intermediaacuterio entre produtor e consumidor (CHAFOTTE
e CHIFFOLEAU 2007 MESSMER 2013) Dois casos podem ser distinguidos a venda direta
(quando o produtor entrega em matildeos proacuteprias a mercadoria ao consumidor) e a venda
indireta via um uacutenico intermediaacuterio (que pode ser um outro produtor uma cooperativa
uma associaccedilatildeo uma loja especializada um restaurante ou ateacute um pequeno mercado)
Na Franccedila e na Europa outras denominaccedilotildees como circuitos de proxim idade
(AUBRY CHIFFOLEAU 2009) ou circuitos locais (MARECHAL 2008) tecircm sido utilizadas
para reforccedilar a proximidade geograacutefica e o aspecto socialrelacional como a ligaccedilatildeo entre
consumidor e produtor e o desenvolvimento de mercados locais Deverre e Lamine (2010)
preferem utilizar ainda o termo sistemas alternativos numa perspectiva de questionar
o modelo convencionai propor novos princiacutepios de troca e relaccedilotildees mais justas entre
produtores e consumidores Neste trabalho consideramos que as diferentes dimensotildees
(econocircmica social ecoloacutegica e poliacutetica) satildeo importantes para classificar e analisar os
circuitos curtos
4 T IP O LO G IA E C A R A C T E R IacuteST IC A S DOS C IR C U ITO S CURTOS DE A LIM EN TO S ECO LOacute G ICO S
A classificaccedilatildeo dos tipos de circuitos curtos de comercializaccedilatildeo propostos neste
trabalho (Fig 1) segue as indicaccedilotildees teoacutericas de Marsden et a i (2000) Renting et a i
(2003) e Mundler (2008) considerando que temos circuitos relacionados com a venda
direta (em que o produtor tem relaccedilatildeo direta com o consumidor) e venda indireta
em que existe apenas um intermediaacuterio conhecedor e pessoas engajadas no processo
denotando uma interdependecircncia entre os atores Essa tipologia considera diferentes
dimensotildees econocircmicas e sociais (pela melhoria direta de renda dos agricultores e trocas
entre produtores e consumidores) mas traz embutida a dimensatildeo ecoloacutegica e poliacutetica por
se tratar de alimentos de base ecoloacutegica e com a participaccedilatildeo do poder puacuteblico (no caso
de programas de governo para alimentaccedilatildeo escolar que atingem um nuacutemero significativo
de pessoas)
118
FIGURA 1 - TIPOLOGIA DE CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE PRODUTOS ECOLOacuteGICOS
Tipologia de Circuitos Curtos
Venda Direta(relaccedilatildeo direta entre produtor e consumidor)
Venda Indireta(intervenccedilatildeo de um uacutenico intermediaacuterio
I iNa Propriedade Fora da Propriedade Lojas especializadas independentes
Lojas de cooperativas de produtores e consumidores ecoloacutegicos
Cestas para grupos ou individual Venda direta na propriedade ldquoColheita na propriedade
Feiras ecoloacutegicas direto do produtorCestas em domiciacutelio e para empresasVenda para programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo de baixa renda)
Lojas de associaccedilatildeo de produtoresVenda para grupos de consumidores organizados Venda em beira de estradasFeiras agropecuaacuterias salotildees eventos
bullRestaurantes coletivos e individuais Pequenos mercados de produtos
Serviccedilos na propriedadeAgroturismo gastronomia pousada esporte e lazer
naturais (orgacircnicos e convencionais) Lojas virtuais (Vendas pela Internet)
FONTE Elaborado pelos autores a partir de Chaffotte e Chiffoleau (2007) Mundler (2008)
Pode parecer surpreendente encontrar tipos similares de iniciativas em contextos
histoacutericos e geograacuteficos diferentes Todavia os movimentos sociais em prol das agriculturas
de base ecoloacutegica no mundo tecircm compartilhado ideais muito semelhantes com um
significado poliacutetico forte que permite em certa medida readequar a produccedilatildeo para
sistemas mais sustentaacuteveis e repensar dietas e haacutebitos alimentares reforccedilando laccedilos
entre aacutereas rurais e urbanas
Nas experiecircncias brasileiras estudadas (Tabela 1) observamos que a maioria dos
produtores utiliza simultaneamente mais de um canal destacadamente 1) feiras do
produtor 2) cestas em domiciacutelio e mais recentemente 3) os programas de governo
(Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar)
Percebemos ainda inovaccedilotildees como as vendas nas propriedades associadas em circuitos
de turismo rural e restaurantes no meio rural lojas especializadas e pontos de venda de
agricultores cooperativas de consumidores vendas em rede via circuitos de circulaccedilatildeo
(caso da Rede Ecovida de certificaccedilatildeo participativa) aleacutem de vendas em lojas virtuais
pela internet
A tabela 1 traz uma siacutentese das experiecircncias com uma anaacutelise qualitativa do niacutevel
de desenvolvimento dos circuitos curtos em redes alternativas na Franccedila e no Brasil
de forma comparativa De modo geral o maior niacutevel de escolaridade e a renda dos
agricultores familiares associados ao maior niacutevel de conscientizaccedilatildeo dos consumidores
na Franccedila permitem uma vantagem comparativa em relaccedilatildeo ao desenvolvimento dessas
redes Em ambos os paiacuteses a cooperaccedilatildeo entre os atores e o engajamento poliacutetico de
produtores e consumidores permitem atingir um maior niacutevel de desenvolvimento
119
TABELA 1 - ANAacuteLISE COMPARATIVA DO NIacuteVEL DE DESENVOLVIMENTO DE CIRCUITOS CURTOS DECOMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS NA FRANCcedilA E BRASIL
TIPOS DE CIRCUITOS ALTERNATIVOS FRANCcedilA BRASILFeira de produtores (orgacircnicosagroecoloacutegicos)
Pontos de Venda Coletiva (PVC) -AMAP (Associaccedilatildeo de Consumidores) -Cestas entregues em domiciacutelio
Lojas de produtos orgacircnicos independentes
Lojas de cooperativas de produtores e consumidores
Rede de comercializaccedilatildeo (Certificaccedilatildeo Participativa) -
Venda na propriedade
Acolhida na propriedade (gastronomia lazer esporte alojamento propriedade pedagoacutegica)
Programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo em risco alimentar)
Restaurantes coletivos puacuteblico ou privado restaurantes tradicionais
Lojas virtuais (site internet de produtos ecoloacutegicos)
FONTE elaborado pelos autoresNOTA - ausente ou raro pouco desenvolvido medianamente desenvolvido muito
desenvolvido (niacutevel de desenvolvimento)
As feiras do produtor satildeo os mecanismos de comercializaccedilatildeo mais difundidos no
Brasil e a principal porta de entrada de agricultores ecoloacutegicos para o mercado local
As feiras satildeo espaccedilos educativos e de lazer que permitem grande interaccedilatildeo entre
produtores e consumidores possibilitando maior autonomia aos agricultores Pesquisa
do IDEC (2012) identificou 140 feiras orgacircnicas em 22 das 27 capitais brasileiras
O estudo aponta que nas regiotildees onde a agricultura familiar eacute forte (Sul e Nordeste
p ex) as vendas em feiras satildeo mais pronunciadas No caso da Franccedila observamos que
as feiras (marcheacutes paysans) satildeo mais sazonais (com maior expressatildeo no veratildeo) sendo
menos preferidas pelos produtores do que as lojas especializadas independentes e lojas
coletivas de produtores (PVC) que funcionam o ano todo sobretudo em funccedilatildeo das
dificuldades clim aacuteticas deslocam entos frequentes horaacuterios predefinidos e do tempo
que a feira leva para se consolidar As feiras tradicionais (marcheacutes forains classiques)
satildeo muito populares entre os consumidores e misturam produtores convencionais (com
produtos coloniais artesanais natildeo certificados) e orgacircnicos certificados (bio) Nessas feiras
tradicionais os produtores bio satildeo minoria Nos dois paiacuteses as feiras totalmente orgacircnicas
tecircm tido maior expressatildeo nas m eacutedias e grandes cidades De acordo com Chiffoleau
(2008) a consolidaccedilatildeo das feiras de produtores se daacute basicamente em quatro etapas a
saber 1) criaccedilatildeo no iniacutecio muitos consumidores aparecem para conhecer a novidade e
impulsionam o mercado 2) queda (depois de dois a trecircs anos) apoacutes a novidade alguns
120
clientes deixam de frequentar a feira acom panhado por agricultores 3) recuperaccedilatildeo
(pelo 39 e 45 anos) os clientes mais fieacuteis acabam por fazer uma divulgaccedilatildeo boca-a-boca
e ocorre uma retomada do crescimento e 4) estabilizaccedilatildeo (apoacutes cinco anos) apoacutes esse
periacuteodo ocorre uma estabilizaccedilatildeo do nuacutemero de produtores e do nuacutemero de clientes fieacuteis
O mesmo fenocircmeno tem sido verificado no Brasil (DAROLT 2012)
Na Franccedila sobretudo na regiatildeo Rhocircne Alpes estaacute bem difundida a venda em
Pontos de Venda Coletiva (PVC - Points de Vente Collectifs) surgido no final dos anos de
1970 e que conta com 56 lojas tendo no iniacutecio uma forte participaccedilatildeo de agricultores
neorurais (Lamine 2012) Os PVC satildeo pequenas lojas mantidas e adm inistradas pelos
proacuteprios agricultores que vendem produtos de uma determ inada regiatildeo (ateacute 100 km
em meacutedia) com caracteriacutesticas e tradiccedilotildees com uns (produtos do terroir) O objetivo
dessas lojas coletivas eacute melhorar as condiccedilotildees de trabalho do agricultor d im inuir o
tempo gasto na comercializaccedilatildeo e oferecer aos consumidores diversidade regularidade e
qualidade de produtos tiacutepicos da regiatildeo Os PVC demandam dos agricultores aquisiccedilatildeo de
novas competecircncias (transformaccedilatildeo de produtos adoccedilatildeo de princiacutepios de agroecologia)
e readequaccedilatildeo do trabalho na propriedade para atender agraves demandas das lojas (novos
produtos relaccedilatildeo social com os clientes) Sempre eacute possiacutevel encontrar agricultores na
loja (cada produtor deve ficar na loja um meio-dia por sem ana o que permite que o
consumidor encontre sempre um produtor na loja) e todo marketing eacute direcionado no
sentido de valorizar os produtores e a regiatildeo
Outra modalidade bem estabelecida na Franccedila e em fase de crescim ento no
Brasil (por meio de cooperativas de consum idores e grupos de com pras coletivas)
satildeo as cestas diversificadas para grupos organizados de consum idores Na Franccedila as
chamadas AM APs -Associations pourle Maintien dune Agriculture Paysanne (Associaccedilatildeo
para M anutenccedilatildeo de uma Agricultura Cam ponesa) surgiram a partir dos anos 2000
inspiradas nas Community Supported Agriculture (Agricultura Apoiada pela Comunidade)
e representam um contrato de parceria entre consumidores e produtores (LAMINE 2008)
Na Franccedila haacute maior engajamento social dos consumidores e participaccedilatildeo em grupos de
inserccedilatildeo social quando comparados agraves experiecircncias brasileiras que ainda satildeo incipientes
Em contrapartida no Brasil as cestas individuais vecircm ganhando simpatia do consumidor
pela praticidade e pelos preccedilos m enores quando com parados aos superm ercados
mas ainda haacute pouca organizaccedilatildeo e engajam ento social do con su m idor brasileiro
no processo
121
As lojas especializadas de produtos ecoloacutegicos existem haacute vaacuterios inos na Franccedila
em cidades grandes meacutedias e pequenas contando com redes bem estabelecidas
espalhadas por todo o paiacutes com um discurso de solidariedade e pa-ceria com os
produtores como eacute o caso de Biocoop5 Segundo a Agence Bio (2014) eses dispositivos
representaram 35 do valor total das vendas com productos bio em ZD13 No Brasil
parte dos consumidores orgacircnicos (41) com plem entam suas com pns em lojas de
produtos especializados sobretudo nas capitais (KLUTH BOCCFIIJR CENSIOWSKY 2011)
Em cidades de menor porte as lojas podem estar associadas a organiza ccedilotildeesde produtores
familiares e consumidores ecoloacutegicos (p ex Ecotorres e Cooperativa deConsumidores
Ecoloacutegicos de Trecircs Cachoeiras no Rio Grande do Sul) ou funcionar com o poio do poder
puacuteblico municipal A maioria das lojas trabalha com entregas em domiciacuteio via internet
ou telefone permitindo ao consumidor escolher os produtos de uma lita de opccedilotildees
com maior comodidade e com preccedilos inferiores aos praticados pelos suparmercados
As vendas nas propriedades estatildeo bem difundidas na Franccedilasobretudo no
tocante a vinhos queijos e produtos do terroir No Brasil as vendas na propriedades
estatildeo em fase de expansatildeo e tecircm sido associadas a propriedades que fazem parte de
circuitos de turismo rural e agroecoloacutegico (Accueil paysan na Franccedila e Acohida na colocircnia
no Brasil) e satildeo mais comuns em cidades periurbanas proacuteximas agraves regiotildees netropolitanas
As lojas virtuais de produtos ecoloacutegicos ganham espaccedilo tanto na Franccedila quanto
no Brasil e com tendecircncia de crescimento para os proacuteximos anos sobretido nas regiotildees
metropolitanas todavia nem sempre representam um circuito curto conforme discutido
neste trabalho Entretanto satildeo procuradas pela facilidade de compra ccmodidade nas
entregas ao consumidor e preccedilos inferiores aos supermercados atendencb agraves exigecircncias
da vida moderna
5 PRO G RA M A S DE G O VERN O O P O R T U N ID A D E S PARA A A G RO ECO LO G IA NO BRA SIL
A com ercializaccedilatildeo de produtos agroalim entares por meio de orogramas do
governo ou m ercado institucional surgiu no Brasil em 2003 com o Program a de
Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e vem ganhando espaccedilo conforme Schimitte Grisa (2013)
O mercado institucional atende ao consumidor coletivo (instituiccedilotildees de assistecircncia social
5 Biocoop eacute uma rede francesa com 330 lojas e atores independentes militantes e engajados no desenvolvimento da agricultura orgacircnica (conhecida como bio) (wwwbiocooporg)
122
hospitais creches escolas) dentro de um circuito curto de comercializaccedilatildeo considerado
como venda direta pelo governo brasileiro Assim por meio de programas de governo
os alimentos da agricultura familiar satildeo comprados diretamente dos agricultores ou
das associaccedilotildees e cooperativas de produtores e chegam ateacute a populaccedilatildeo via entidades
de assistecircncia social do governo e escolas puacuteblicas Satildeo programas que se inserem nas
poliacuteticas puacuteblicas voltadas agrave seguranccedila alimentar e nutricional Nos uacuteltimos anos no Brasil
dois programas se destacaram na compra de produtos de base ecoloacutegica o Programa
de Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE)
Os produtos da agricultura fam iliar que apresentam certificaccedilatildeo orgacircnica
comercializados pelo PAA e PNAE recebem um precircmio de 30 em relaccedilatildeo ao similar
da agricultura convencional valorizando a qualidade nutricional e os demais aspectos
socioambientais envolvidos A garantia de compra dos produtos pelo governo estimula a
transiccedilatildeo agroecoloacutegica Ademais esses programas tecircm uma dimensatildeo social importante
pois atingem um grande puacuteblico (escolas) e trabalham com uma diversidade de produtos
seguindo a sazonalidade e as realidades locais
Para Scnimitt e Grisa (2013) existem algumas limitaccedilotildees operacionais que precisam
ser superadas na construccedilatildeo do mercado institucional no Brasil tais como atraso na
liberaccedilatildeo dos recursos problemas de acesso dos agricultores agrave documentaccedilatildeo exigida
(necessidade de desburocratizaccedilatildeo) falta de interaccedilatildeo entre diferentes instrumentos de
poliacutetica puacuteblica que poderiam dar suporte agraves accedilotildees dos programas falta de planejamento
e problemas de gestatildeo das organizaccedilotildees locais no acompanhamento das entregas e na
formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos beneficiaacuterios (nutricionistas merendeiras professoras
alunos) Triches e Schneider (2010) acrescentam ainda que um dos desafios na aquisiccedilatildeo
de alimentos da agricultura familiar para programas institucionais eacute a legalizaccedilatildeo das
agroinduacutestrias familiares com a regulaccedilatildeo da qualidade dos alimentos (sobretudo para
leite carnes e derivados)
Na Franccedila o recente Plano Nacional para a Agricultura Orgacircnica (Plan Ambition
Bio 2017) fixou objetivos ambiciosos para colocar 20 de produtos orgacircnicos na merenda
escolar e em restaurantes coletivos ateacute 2017 Esses objetivos variam de uma regiatildeo
para outra privilegiando produtos natildeo somente orgacircnicos (bio) mas tambeacutem locais
(normalmente o produto local tem maior peso) pois favorece o desenvolvimento regional
Em todo caso esse desenvolvimento segue associado a novas formas de organizaccedilatildeo
plataformas logiacutesticas redes de trabalho negociaccedilatildeo e planejamento das necessidades
de produtos entre escolas e produtores
123
Experiecircncias em outros paiacuteses europeus com alimentaccedilatildeo escolar mostram que o
poder puacuteblico tem papel decisivo em relaccedilatildeo aos mecanismos de aquisiccedilatildeo de alimentos
ao incentivo de determinados modelos de produccedilatildeo sustentaacuteveis e de sauacutede puacuteblica
O poder puacuteblico pode utilizar o seu poder de regulaccedilatildeo de decisatildeo sobre alocaccedilatildeo de
recursos e de ator-chave no abastecimento alim entar para promover mudanccedilas no
comportamento da sociedade (MORGAN SONNINO 2008)
O mercado institucional reforccedila outras iniciativas de comercializaccedilatildeo em circuitos
curtos fortalece as redes de organizaccedilotildees sociais e potencializa o diaacutelogo entre os atores
envolvidos com a agroecologia Tal situaccedilatildeo traz perspectivas otimistas para estimular
a produccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos e saudaacuteveis contribuir no sentido de potencializar
processos de transiccedilatildeo agroecoloacutegica e promoccedilatildeo da agroecologia bem como respeitar
os modos de vida das populaccedilotildees tradicionais fortalecer a cultura alimentar regional e
promover a valorizaccedilatildeo da sociobiodiversidade
6 C IR C U IT O S DE C IR C U LA Ccedil Atilde O E C O M E R C IA LIZA Ccedil Atilde O EM REDE
Uma experiecircncia pioneira vem sendo desenvolvida pelo circuito de circulaccedilatildeo
e com ercializaccedilatildeo da Rede Ecovida de Agroecologia no sul do Brasil Os princiacutepios
se g u id o s pela rede satildeo os produtos co m ercia lizad o s pelo circu ito tecircm de ser
agroecoloacutegicos com selo de certificaccedilatildeo participativa da Rede Ecovida a organizaccedilatildeo
ou grupo de agricultores para participar do circuito deve fazer parte da rede quem
vend e deve tam beacutem com prar produtos dos dem ais produtores (intercacircm bio e
circulaccedilatildeo de produtos) (MAGNANTI 2008)
Esse sistema tem permitido a troca e circulaccedilatildeo de produtos entre as regiotildees aleacutem
de atender agrave diversidade manter uma regularidade e a qualidade bioloacutegica dos produtos
visto que se trabalha exclusivamente com produtos certificados de forma participativa
A discussatildeo de circuitos curtos nesse sentido se daacute natildeo pela distacircncia fiacutesica e nuacutemero de
intermediaacuterios mas pela dimensatildeo social e poliacutetica estabelecida pelo sistema participativo
de garantia e pela organizaccedilatildeo do movimento social
Em torno de 50 itens satildeo ofertados pelo circuito divididos entre hortaliccedilas (100)
frutas (80) gratildeos (80) farinhas (70) accediluacutecar (50) e processados (20)(REDE
ECOVIDA 2014) Os produtos tecircm circulado principalmente em feiras agroecoloacutegicas
em Programas de Governo como o PAA e PNAE pequenos comeacutercios e distribuidores e
grupos de trocas de alimentos (autoconsumo) garantindo tambeacutem a autonomia alimentar
dos agricultores da rede
124
Os desafios para esse tipo de com ercializaccedilatildeo segundo Perez-Cassarino
(2013) satildeo a padronizaccedilatildeo de documentos para comercializaccedilatildeo entre os estados
a padronizaccedilatildeo de embalagens prioritariamente ecoloacutegicas a padronizaccedilatildeo de produtos
entre os nuacutecleos investim ento em recursos hum anos para operacionalizaccedilatildeo do
processo de comercializaccedilatildeo melhoria e investimentos em logiacutestica e um planejamento
de produccedilatildeo para atender a uma dem anda em expansatildeo destacadam ente para
alimentaccedilatildeo escolar
7 C A R A C T E R IacuteST IC A S E O R G A N IZA Ccedil Atilde O DAS PR O PR IED A D ES EM C IR C U ITO S CU RTO S
Tanto no Brasil como na Franccedila as experiecircncias estudadas que comercializam em
circuitos curtos satildeo majoritariamente provenientes da agricultura familiar com destaque
para a categoria de agricultores neorurais que se desenvolvem em aacutereas pequenas (em
meacutedia menor que 20 hectares no total) quando comparadas agravequelas em circuitos longos
Um dos pilares de sustentaccedilatildeo eacute a matildeo de obra familiar que tem uma carga de trabalho
intensa e deve aliar diferentes competecircncias (produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo)
no intuito de diminuir custos e agregar valor ao produto
Na Franccedila a maior parte das propriedades estudadas que vendem em circuitos
curtos eacute especializada em um determinado sistema de produccedilatildeo (fruticultura olericultura
leite ovos queijo) estando de acordo com Mundler (2008) No Brasil as propriedades
orgacircnicas estudadas mostraram-se mais diversificadas contando com sistemas vegetais
e anim ais mais com plexos Se por um lado isso eacute desejado porque atende aos
princiacutepios agroecoloacutegicos por outro torna o planejamento produtivo mais complexo
Nos dois paiacuteses a gama de produtos eacute em geral mais diversificada quando comparada
agrave agricultura convencional mesmo quando as propriedades satildeo especializadas em
determinados sistemas Observou-se ainda uma tendecircncia agrave diversificaccedilatildeo em serviccedilos
com a pluriatividade da propriedade (agroturismo gastronomia lazer e descoberta
alojamentos e propriedades pedagoacutegicas) conforme jaacute apontaram Schneider (2005)
Mundler Guermonprez Pluvinage (2007)
Outra caracteriacutestica a destacar em circuitos curtos eacute a maior autonomia do agricultor
em relaccedilatildeo aos circuitos longos No Brasil os agricultores que trabalham integrados com
empresas para vendas em supermercados tecircm menor autonomia na gestatildeo sendo o
planejamento de produccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo realizados pelas empresas Segundo Darolt
125
(2012) o sistema de produccedilatildeo eacute simplificado e especializado em um ou dois produtos
Eacute com um nesses casos uma repeticcedilatildeo da loacutegica comercial e industrial utilizada em
sistemas convencionais para produccedilatildeo em escala
A figura 2 resume as diferentes caracteriacutesticas observadas nas propriedades
que comercializam em circuitos curtos Segundo Mundler (2008) a combinaccedilatildeo entre
agricultura ecoloacutegica e circuitos curtos tem impactos positivos em diferentes dimensotildees
como na economia local trazendo oportunidades de trabalho e de renda na dimensatildeo
social com a aproximaccedilatildeo de produtores e consumidores na dimensatildeo ambiental com
a valorizaccedilatildeo dos recursos naturais e da paisagem e na dimensatildeo poliacutetica como uma
nova opccedilatildeo de consumo
FIGURA 2 - CARACTERIacuteSTICAS COMUNS OBSERVADAS EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS (BRASIL E FRANCcedilA)
A organizaccedilatildeo do trabalho observada nas experiecircncias se mostrou mais ou menos
complexa em funccedilatildeo dos recursos humanos e econocircmicos disponiacuteveis na propriedade
Em propriedades familiares de pequeno porte concordando com Dedieu et a i (1999)
eacute fundam ental agregar valor ao produto (com a transformaccedilatildeo) vender sempre que
possiacutevel de forma direta e potencializar os serviccedilos na propriedade (turismo e acolhida
do consumidor na propriedade por exemplo)
A forma de comercializaccedilatildeo mais adequada a cada tipo de produtor pode variar
em funccedilatildeo da matildeo de obra da organizaccedilatildeo do sistema de produccedilatildeo e da infraestrutura
disponiacutevel Observamos que na maioria dos canais estudados as praacuteticas agriacutecolas
utilizadas os volumes de produccedilatildeo os tipos de produtos e a organizaccedilatildeo do trabalho
se adaptam para responder agraves demandas dos consumidores Assim concordando com
M undler et a i (2007) notamos que a loacutegica de desenvolvimento em circuitos curtos
126
vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste
entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em
circuitos curtos quando comparado a um circuito longo
8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O
Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo
ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que
isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo
semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao
consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis
Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental
pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte
Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na
comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam
que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com
o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e
menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento
em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo
satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta
e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores
brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando
o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a
agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia
e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel
127
TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO
ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES
Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)
bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod
Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo
bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)
FONTE Elaborado pelos autores
Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades
para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto
a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo
saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes
alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas
rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar
que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos
consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento
das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de
regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial
e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica
128
9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O
Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos
ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais
circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar
dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo
De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo
imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona
o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e
tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma
o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar
soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes
contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de
desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-
produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais
Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito
agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo
e consumo
O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem
as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo
ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos
agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da
paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)
Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas
puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais
organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de
distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa
como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas
de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores
(AMAPs) na Franccedila
O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser
superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as
poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas
129
como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade
na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de
infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente
com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em
circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave
alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo
de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo
distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas
especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na
fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica
Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara
do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como
as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem
de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas
singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores
procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos
valores e resgate da autonomia dos agricultores
Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas
envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o
consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados
locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-
distribuiccedilatildeo-consumo
130
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Depoacutesito legal junto agrave Biblioteca Nacional conform e Lei ndeg 10994 de 14 de dezem bro de 2004
Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo-na-Publicaccedilatildeo (CIP) Bibliotecaacuteria responsaacutevel Luzia Glinski Kintopp CRB9-1535
Curitiba - PR
E314 Redes de agroecologias experiecircncias no Brasil e na Franccedila Organizadores Alfio Brandenburg Jean-Paul BillaudClaire Lamine mdash Curitiba Kairos Ediccedilotildees 2015248 p 228 cm
ISBN 978-85-63806-30-7 Vaacuterios autores
1 Agroecologia - Brasil 2 Agroecologia - Franccedila 3 Redes cientiacuteficas 4 Agricultura orgacircnica - Movimentos sociais5 Redes de mercados alternativos 6 Sustentabilidade 7 Eacutetica ambiental 8 Ecologia agriacutecola 9 Sociologia rural I Tiacutetulo
CDD 30772
IMPRESSO NO BRASILPRINTED IN BRAZIL
KAIROSE D I Ccedil Otilde E S
Antocircnia Schwinden - Coordenaccedilatildeo Editorial Thaiacutessa Falcatildeo- Assistente Editorial
Stella Maris Gazziero - Diagramaccedilatildeo Caroline Schroeder - Capa
R E D E S A L IM E N T A R E S A LT E R N A T IV A S E N O V A S R E LA Ccedil Otilde E S P R O D U Ccedil Atilde O - C O N S U M O NA F R A N Ccedil A E NO B R A S IL 1
Moacir Roberto Darolt Claire Lamine Maria de Cleacuteofas Faggion Alencar e Lucimar Santiago Abreu
1 IN TR O D U Ccedil Atilde O
As redes alimentares alternativas (alternative food networks - AFNs) como satildeo
conhecidas na literatura internacional (GOODMAN et al 2012) satildeo uma categoria
geneacuterica de anaacutelise acadecircmica para o estudo de alternativas ao modelo agroalimentar
industrial Para esses autores as AFNs tecircm algum as caracteriacutesticas centrais que
incluem cooperaccedilatildeo social e parcerias entre produtores e consumidores reconexatildeo
entre produccedilatildeo e consumo dentro de padrotildees sustentaacuteveis dinamizaccedilatildeo de mercados
locais com identidade territorial e revalorizaccedilatildeo da circulaccedilatildeo de produtos de qualidade
diferenciada como eacute o caso de produtos de base ecoloacutegica2 Para Wilkinson (2008) essas
redes e movimentos sociais favoreceram a reinserccedilatildeo econocircmica de agricultores familiares
brasileiros excluiacutedos do processo de modernizaccedilatildeo agriacutecola A institucionalizaccedilatildeo das
redes e movimentos de base ecoloacutegica aconteceu na Franccedila nos anos de 1980 e no Brasil
nos anos de 1990 pautado em princiacutepios de confianccedila equidade e novas relaccedilotildees sociais
entre produtores e consumidores que contribuem para a emergecircncia de uma democracia
alimentar fundada sobre a racionalidade socioambiental (BRANDENBURG 2002)
As redes alimentares alternativas satildeo muito diversas e privilegiam os circuitos
curtos3 (CC) de comercializaccedilatildeo (feiras do produtor entrega de cestas pequenas lojas
de produtores venda na propriedade ligada ao agroturismo venda institucional para
alimentaccedilatildeo escolar entre outras formas de venda direta) Para Marsden et al (2000)
o mais importante para caracterizar um circuito curto ou cadeia curta eacute o fato de um
1 Este trabalho integra o projeto Agroecologia na Franccedila e no Brasil entre redes cientiacuteficas movimentos sociais e poliacuteticas puacuteblicas apoiado pelo acordo CAPESCOFECUB 7162011 Texto publicado na revista Ambiente amp Sociedade (2015)
2 Neste trabalho o conceito de sistema de produccedilatildeo de base ecoloacutegica abrange os denominados orgacircnico ecoloacutegico agroecoloacutegico biodinacircmico natural regenerativo bioloacutegico permacultura e outros que atendam os princiacutepios estabelecidos pela Lei ne 108312003 que dispotildee sobre o sistema orgacircnico de produccedilatildeo agropecuaacuteria no Brasil Na Franccedila o sistema eacute conhecido como agricultura bioloacutegica (bio) a partir da legislaccedilatildeo de 1980 mas existem produtos de outras formas de agricultura alternativa (agriculture paysanne agroeacutecologie) que se dizem mais ecoloacutegicas e satildeo encontradas em circuitos curtos
3 Circuitos Curtos (CC) ou cadeias curtas de comercializaccedilatildeo satildeo definidos como um sistema de inter-relaccedilotildees entre atores que estatildeo diretamente engajados na produccedilatildeo transformaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e consumo de alimentos (RENTING et al 2012) Essa definiccedilatildeo traz dois pontos importantes (inter-relaccedilotildees e interdependecircncia) e deixa aberta uma ampla gama de formas de articulaccedilatildeo entre produccedilatildeo e consumo
111
produto chegar nas matildeos do consumidor com informaccedilotildees que lhe permitam saber onde o
produto foi produzido (lugar) por quem (produtor) e de que forma (sistema de produccedilatildeo)
ao contraacuterio da alim entaccedilatildeo padronizada da agricultura industrial caracterizada por
Ploeg (2008) como impeacuterios alimentares Entretanto Goodman (2009) alerta que essas
redes e novas formas econocircmicas se desenvolvem em sociedades capitalistas e natildeo em
um universo paralelo Por isso eacute necessaacuteria uma anaacutelise criacutetica que busque avaliar as
relaccedilotildees de poder e a distribuiccedilatildeo social dos ganhos entre os atores envolvidos
As vendas em circuitos curtos canalizaram metade do valor total das compras
da produccedilatildeo orgacircnica certificada no m ercado interno brasileiro em 2010 (BLANC e
KLEDAL 2012) No Brasil 42 dos consum idores jaacute compram produtos orgacircnicos em
lojas especializadas e 35 em feiras do produtor apesar de a maioria (72) ainda comprar
em canais longos como eacute o caso de superm ercados (KLUTH BOCCHIJR CENSKOWSKY
2011) Na Franccedila a situaccedilatildeo eacute similar 79 dos consumidores compram em super e
hipermercados o que representou 46 do valor total das compras de produtos orgacircnicos
(bio) em 2013 Cabe destacar que na Franccedila a maioria das compras de alimentos em geral
eacute feita em circuitos longos Entretanto parte dos consumidores ainda prefere comprar
em circuitos curtos (33 compram em feiras do produtor (marcheacute paysan) 29 em lojas
especializadas e 19 diretamente nas propriedades o que representou 48 do valor
total das compras) principalmente por motivos de sauacutede qualidade sabor e seguranccedila
alim entar (AGENCE BIO 2014) Em am bos os paiacuteses uma das especificidades dessas
redes eacute o fato de questionar alguns princiacutepios baacutesicos do sistema convencional como
a homogeneizaccedilatildeo a padronizaccedilatildeo de produtos e o grande nuacutemero de intermediaacuterios
na com ercializaccedilatildeo em grandes d istacircncias (LAM INE 2012) Nesse sentido as redes
alternativas propotildeem novos princiacutepios de troca relocalizaccedilatildeo dos alimentos retomam
valores tradiccedilotildees e novos tipos de relaccedilotildees entre produtores e consumidores
Um dos p rin c ip a is q u e stio n am e n to s levantados pela literatura cientiacutefica
internacional eacute a capacidade de essas redes alimentares alternativas gerarem mudanccedilas
estru tura is em uma escala m aior (G O O D M A N 2003 DEVERRE LAM INE 2010)
Para esses autores as redes podem contribuir para uma transformaccedilatildeo das relaccedilotildees
de poder no acircmbito dos sistem as alim entares incluindo um maior peso e participaccedilatildeo
de consumidores e produtores na definiccedilatildeo dos modos de produccedilatildeo troca e consumo
(a noccedilatildeo de autonomia) Enfatizam ainda a ligaccedilatildeo necessaacuteria entre experiecircncias concretas
e movimento social e poliacutetico de oposiccedilatildeo ao modelo convencional dominante
112
Nesse sentido os movimentos sociais devem adotar diferentes estrateacutegias para
tornar os cidadatildeos mais ativos tais como a construccedilatildeo de formas alternativas de compra
e troca investimento em educaccedilatildeo do consumidor campanhas de conscientizaccedilatildeo e lobby
poliacutetico (DUBUISSON-QUELLIER et a 2011) A educaccedilatildeo para o consumo consciente eacute
um desafio na perspectiva de requalificar os consumidores em oposiccedilatildeo agrave aceitaccedilatildeo e
agrave conformidade aos alimentos ofertados pelo sistema convencional (JAFFE GERTLER
2006) O aprendizado proporcionado por essas redes alternativas de comercializaccedilatildeo
considerando as praacuteticas agriacutecolas e seus impactos as praacuteticas culinaacuterias e as praacuteticas
democraacuteticas em si que envolvem pessoas e instituiccedilotildees satildeo fontes de empoderamento
(empowerment) dos consumidores contribuindo para tornaacute-los cidadatildeos conscientes
de sua alim entaccedilatildeo ou consum idores c id ad atildeo s (food c itizen s) (W ILKIN S 2005
LEVKOE 2006)
Do lado dos produtores Brandenburg e Ferreira (2012) acrescentam que os
agricultores ecoloacutegicos inseridos num m ovim ento social organizado contribuem para
a ecologizaccedilatildeo de um rural que se situa para aleacutem das praacuteticas agriacutecolas Nesse caso
recuperam-se os interesses individuais dos agricultores transform ando-os em projetos
coletivos e apontando para uma racionalidade socioambiental
Alguns trabalhos questionam as possibilidades e limitaccedilotildees das redes alternativas
para superar as desigualdades sociais entre produtores e consumidores Outros discutem
as possibilidades de as populaccedilotildees vulneraacuteveis terem acesso agrave alimentaccedilatildeo de qualidade
via circuitos curtos Para garantir uma visatildeo de equidade numa perspectiva de seguranccedila
alimentar vaacuterios autores tecircm demonstrado o papel crucial da sociedade civil e as inovaccedilotildees
sociais que emergem dessas experiecircncias em termos de tomada de decisatildeo e modelos
de gestatildeo participativa Alguns trabalhos apontam ainda para a noccedilatildeo de democracia
alimentar (HASSANEIN 2008 WILKINS 2005) agricultura cidadatilde (LYSON 2004) ou
ainda redes alimentares cidadatildes (RENTING et a 2012)
Outros autores questionam o uso do term o Rede Alim entar Alternativa (AFN
em inglecircs) argumentando que muitas vezes ele eacute usado de maneira polarizada como
parte de um dualism o entre convencional - alternativo (HOLLOW AY et a l2007)
A proposta eacute que se supere a dicotomia convencional-alternativo que reduz a questatildeo da
produccedilatildeo e consumo alimentar como dividido entre as diversas iniciativas alternativas
que se posicionam contra um convencional sistema alimentar monoiiacutetico Concordamos
que eacute possiacutevel encontrar formas hiacutebridas re lacionais e com plem entares de redes
alimentares como mostrou Maye (2013)
113
De fato podem existir com plem entaridades entre redes alternativas e
convencionais como destaca Lamine (2012) que podem contribuir no processo de
transiccedilatildeo A autora considera que para garantir uma transiccedilatildeo ecoloacutegica pira redes
alimentares mais sustentaacuteveis deve-se buscar mais do que a participaccedilatildeo de produtores
e consumidores e considerar a rede de atores e instituiccedilotildees em um sentiio amplo
com envolvim ento de outros atores da cadeia alimentar como a exteniatildeo rural
a pesquisa o ensino a sociedade civil e o poder puacuteblico Quando o foco do etudo satildeo
produtos da agricultura de base ecoloacutegica concordamos com Perez-Cassarho (2013)
que a constituiccedilatildeo de redes alimentares alternativas potencializa o surgimentc de novas
sociabilidades resgate e reconstruccedilatildeo de valores e princiacutepios centrados na confianccedila
reputaccedilatildeo eacutetica e solidariedade
O que se pretende discutir neste trabalho por meio de experiecircncias francesas
e brasileiras eacute que as essas redes alimentares alternativas trazem inovaccedilotildees sociais
diversidade e valores associados que podem contribuir na reconexatildeo entre produccedilatildeo e
consumo valorizar os mercados locais por meio de circuitos curtos de comercializaccedilatildeo e
facilitar a transiccedilatildeo para sistemas de produccedilatildeo e consumo mais sustentaacuteveis
Vamos mostrar que o desenvolvimento da agricultura familiar de base ecoloacutegica
eacute potencializado quando associado a circuitos curtos e redes alimentares alternativas
com plem entado por parcerias e poliacuteticas puacuteblicas voltadas ao fortalecim ento
dessas iniciativas
Algumas questotildees de pesquisa guiam essa investigaccedilatildeo Quais satildeo o tipos de
circuitos curtos de alimentos ecoloacutegicos Quais as caracteriacutesticas das propriecades que
participam dessas redes e como se organizam Em que condiccedilotildees os circuitos curtos de
comercializaccedilatildeo satildeo viaacuteveis Quais os aprendizados as dificuldades e as oporunidades
para produtores e consumidores em participar de redes alternativas de comercalizaccedilatildeo
Enfim o objetivo geral do trabalho eacute analisar as particularidades das redes
alternativas de comercializaccedilatildeo de produtos ecoloacutegicos e as relaccedilotildees produccedilatildeoconsumo
na Franccedila e no Brasil Para isso apresenta-se uma tipologia desses circuitos cirtos (CC)
como funcionam as caracteriacutesticas principais as oportunidades e as dificuldades para
produtores e consumidores
2 O M EacuteTODO DE P ESQ U ISA E AS EX P E R IEcirc N C IA S ESTU D ADA S
A metodologia de trabalho envolveu a pesquisa descritiva e qualitativa a partir
de experiecircncias selecionadas na Franccedila e no Sul do Brasil Num primeiro monento foi
realizada uma revisatildeo da literatura internacional seguida de um estudo preacutevio err conjunto
114
com uma equipe de especialistas franceses e brasileiros selecionando experiecircncias
de redes alternativas de com ercializaccedilatildeo com produtos e serviccedilos da agricultura de
base ecoloacutegica Os criteacuterios para seleccedilatildeo das experiecircncias foram representatividade
regional tempo da experiecircncia reconhecimento local trabalho com produtos ecoloacutegicos
mecanismos de certificaccedilatildeo prioridade para circuitos curtos e redes alternativas
Foram realizadas no total 40 visitas teacutecnicas sendo seis feiras em Paris Marseille
e Regiatildeo Provence-Alpes-Cocircte dAzur (PACA) dois Pontos de Venda Coletiva (PVC)
duas Associaccedilotildees de Consum idores (AMAP - Associaccedilatildeo para M anutenccedilatildeo de uma
Agricultura Camponesa) cinco lojas especializadas em produtos orgacircnicos (conhecidos
como bio) uma loja de cooperativa de agricultores duas experiecircncias de venda na
propriedade (Bienvenue agrave la Ferme) uma experiecircncia de acolhida na propriedade (Accueil
paysan) e entrevistas qualitativas com diferentes atores da rede de comercializaccedilatildeo
sendo sete agricultores orgacircnicos em sistema de olericultura fruticultura ovinocultura e
bovinocultura sete especialistas de diferentes instituiccedilotildees que trabalham com agricultura
orgacircnica aleacutem de informaccedilotildees coletadas em sete seminaacuterios de pesquisa sobre o tema
O estudo foi realizado entre novembro de 2011 e marccedilo de 2012 sendo selecionadas
20 entrevistas mais consistentes para responder aos objetivos da pesquisa O estudo
foi realizado na Franccedila nas regiotildees PACA Rhocircne-Alpes e lie de France e no Sul do Brasil
Para comparar qualitativamente as experiecircncias francesas com as experiecircncias
do Brasil utilizamos os relatos de experiecircncias de trabalhos com as redes alternativas
de com ercializaccedilatildeo de alim entos ecoloacutegicos no Sul do Brasil (destaque para a rede
Ecovida4) descritos por Darolt (2012) A etapa de campo permitiu a construccedilatildeo de um
diagnoacutestico com base em informaccedilotildees coletadas em visitas entrevistas participaccedilatildeo
em eventos e fontes secundaacuterias descrevendo as caracteriacutesticas principais (definiccedilatildeo
funcionamento estrutura meacutetodos de distribuiccedilatildeo e marketing dos produtos vantagens
para consum idores e produtores) aleacutem de destacar dificuldades e oportunidades
A partir de informaccedilotildees coletadas foi criada uma tipologia das diferentes experiecircncias
e realizada uma anaacutelise qualitativa e comparativa dos resultados com base no niacutevel de
desenvolvimento de cada experiecircncia estudada
As experiecircncias francesas e brasileiras logicamente se desenvolvem em contextos
econocircmicos socioculturais am bientais e poliacuteticos que necessitam ser levados em
consideraccedilatildeo Percebemos na discussatildeo teoacuterica precedente que as redes alimentares
4 O circuito de circulaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo da Rede Ecovida eacute formado por 27 nuacutecleos regionais abrangendo 200 municiacutepios 400 grupos e associaccedilotildees (cerca de 3800 famiacutelias) envolvendo em torno de 200 feiras agroecoloacutegicas nos trecircs estados do Sul do Brasil (wwwecovidaorgbr) (REDE ECOVIDA 2014)
115
apresentam caracteriacutesticas e tendecircncias sem elhantes nos debates internacionais
poreacutem tecircm diferentes raiacutezes histoacutericas No Brasil muitos dos pioneiros da agricultura
de base ecoloacutegica surgiram no final da deacutecada de 1970 como parte de um movimento
para resistir ao processo de modernizaccedilatildeo agriacutecola (com os seus efeitos conhecidos de
concentraccedilatildeo de terra exclusatildeo da agricultura fam iliar e intensificaccedilatildeo da migraccedilatildeo
rural-urbana) e foram apoiados por organizaccedilotildees religiosas e da sociedade civil
Movimentos mais recentes surgiram no Brasil com a institucionalizaccedilatildeo da agricultura
orgacircnica e agroecologia e satildeo formados por iniciativas de grupos de agricultores familiares
e consumidores organizados com o apoio de organizaccedilotildees natildeo governamentais (ONGs)
e instituiccedilotildees puacuteblicas (Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio instituiccedilotildees de pesquisa
extensatildeo rural entre outras) Na Franccedila a institucionalizaccedilatildeo da agricultura de base
ecoloacutegica (bio) aconteceu mais cedo - nos anos de 1980 - o que se refletiu num maior
desenvolvimento do setor (393 da aacuterea plantada com orgacircnicos 54 do nuacutemero
de produtores e 2 do mercado - AGENCE BIO 2014) enquanto no Brasil aconteceu
um pouco mais tarde nos anos de 1990 com crescimento menor (cerca de 1 de aacuterea
plantada e 15 do mercado - MAPA 2012)
Enquanto o perfil socioloacutegico dos consumidores nos casos franceses e brasileiros
pode ser comparado (consum idores de classe meacutedia com exceccedilatildeo dos programas
governamentais para famiacutelias de baixa renda no Brasil) no caso dos agricultores existem
algumas diferenccedilas marcantes Na Franccedila os participantes das redes alternativas satildeo
frequentemente agricultores neorrurais (com origens e influecircncias urbanas) com um
niacutevel de educaccedilatildeo e renda mais elevado e maior ligaccedilatildeo com o meio urbano o que facilita
a interaccedilatildeo com os consumidores No Brasil a maioria dos agricultores ecoloacutegicos tem
origem no meio rural com baixo niacutevel de escolaridade e poucos recursos financeiros
caracteriacutestico da agricultura familiar brasileira Entretanto segundo Darolt (2012) existe
tambeacutem uma participaccedilatildeo de agricultores neorrurais na agricultura orgacircnica sobretudo
proacuteximo aos grandes centros urbanos
Neste trabalho vamos mostrar que apesar de particularidades as diferentes
experiecircncias estudadas de circuitos curtos apresentam caracteriacutesticas comuns que
permitem aos agricultores um melhor padratildeo de vida o fortalececimento de laccedilos sociais
com consumidores e a contribuiccedilatildeo na requalificaccedilatildeo de produtores e consumidores
em contraste com a desqualificaccedilatildeo induzida por redes alimentares industriais
116
3 D EFIN IN D O C IR C U ITO S CU RTO S DE C O M ER C IA LIZA Ccedil Atilde O
O debate cientiacutefico tem trazido elementos importantes para melhor definir os
circuitos curtos (CC) em termos de redes alimentares assim como para avanccedilar em
tipologias e classificaccedilatildeo das experiecircncias Numa visatildeo com vieacutes na dimensatildeo econocircmica
a distinccedilatildeo entre canais curtos e longos de distribuiccedilatildeo de alimentos eacute para alguns
especialistas uma questatildeo do nuacutemero de intermediaacuterios que operam entre a produccedilatildeo
e o consumo Assim quanto maior o nuacutemero de atravessadores mais longo eacute o canal
e vice-versa Entretanto o nuacutemero de intermediaacuterios natildeo deve ser uma questatildeo uacutenica
e prioritaacuteria Outras caracteriacutesticas que aportam dimensotildees socioculturais podem ser
destacadas para definir um circuito curto de comercializaccedilatildeo como 1) a capacidade de
socializar e localizar o produto alimentar gerando viacutenculo com o local e a propriedade
2) a redefiniccedilatildeo da relaccedilatildeo produtor-consumidor dando sinais da origem do alimento
3) o desenvolvimento de novas relaccedilotildees considerando um preccedilo justo e a qualidade
(ecoloacutegica) 4) a conexatildeo entre o consumidor e o produto alimentar (MARSDEN et a i
2000) Seguindo essas caracteriacutesticas os mesmos autores identificaram alguns tipos de
CC resumidos da seguinte forma 1 venda direta cara a cara no qual a confianccedila estaacute na
relaccedilatildeo interpessoal 2 proximidade espacial incluindo o que eacute produzido e distribuiacutedo
numa regiatildeo reconhecida pelos consumidores e 3 espaciaimente estendido nesse caso
a confianccedila eacute transmitida por um processo de garantia da qualidade (certificaccedilatildeo) Assim
considera-se natildeo soacute a distacircncia mas tambeacutem os paracircmetros organizativos (produtores e
consumidores) fatores culturais transmitidos pela confianccedila pela valorizaccedilatildeo do mercado
local e pelo produto agroecoloacutegico
Os autores espanhoacuteis Guzmaacuten et a i (2012) acrescentam ainda que num circuito
curto de comercializaccedilatildeo as relaccedilotildees de poder dentro da rede alimentar devem estar a
favor dos produtores e consumidores e natildeo dos intermediaacuterios e grandes distribuidores
No Brasil o debate teoacuterico sobre redes alimentares alternativas (PLOEG 2008
WILKINSON 2008) e circuitos curtos de alimentos ecoloacutegicos (FERRARI 2011 DAROLT
2012) ainda eacute emergente poreacutem existem muitas experiecircncias diversificadas e inovadoras
que surgem a cada ano mostrando que nos canais de distribuiccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos
haacute caracteriacutesticas similares a outros paiacuteses com destaque para mais informaccedilotildees sobre
a qualidade do produto busca de relacionamento direto e interdependecircncia entre
agricultores e consumidores
117
Os representantes do setor agroalimentar na Franccedila tecircm utilizado uma definiccedilatildeo
mais pragmaacutetica de circuito curto (CC) caracterizando os circuitos de distribuiccedilatildeo que
mobilizam ateacute - no m aacutexim o-um intermediaacuterio entre produtor e consumidor (CHAFOTTE
e CHIFFOLEAU 2007 MESSMER 2013) Dois casos podem ser distinguidos a venda direta
(quando o produtor entrega em matildeos proacuteprias a mercadoria ao consumidor) e a venda
indireta via um uacutenico intermediaacuterio (que pode ser um outro produtor uma cooperativa
uma associaccedilatildeo uma loja especializada um restaurante ou ateacute um pequeno mercado)
Na Franccedila e na Europa outras denominaccedilotildees como circuitos de proxim idade
(AUBRY CHIFFOLEAU 2009) ou circuitos locais (MARECHAL 2008) tecircm sido utilizadas
para reforccedilar a proximidade geograacutefica e o aspecto socialrelacional como a ligaccedilatildeo entre
consumidor e produtor e o desenvolvimento de mercados locais Deverre e Lamine (2010)
preferem utilizar ainda o termo sistemas alternativos numa perspectiva de questionar
o modelo convencionai propor novos princiacutepios de troca e relaccedilotildees mais justas entre
produtores e consumidores Neste trabalho consideramos que as diferentes dimensotildees
(econocircmica social ecoloacutegica e poliacutetica) satildeo importantes para classificar e analisar os
circuitos curtos
4 T IP O LO G IA E C A R A C T E R IacuteST IC A S DOS C IR C U ITO S CURTOS DE A LIM EN TO S ECO LOacute G ICO S
A classificaccedilatildeo dos tipos de circuitos curtos de comercializaccedilatildeo propostos neste
trabalho (Fig 1) segue as indicaccedilotildees teoacutericas de Marsden et a i (2000) Renting et a i
(2003) e Mundler (2008) considerando que temos circuitos relacionados com a venda
direta (em que o produtor tem relaccedilatildeo direta com o consumidor) e venda indireta
em que existe apenas um intermediaacuterio conhecedor e pessoas engajadas no processo
denotando uma interdependecircncia entre os atores Essa tipologia considera diferentes
dimensotildees econocircmicas e sociais (pela melhoria direta de renda dos agricultores e trocas
entre produtores e consumidores) mas traz embutida a dimensatildeo ecoloacutegica e poliacutetica por
se tratar de alimentos de base ecoloacutegica e com a participaccedilatildeo do poder puacuteblico (no caso
de programas de governo para alimentaccedilatildeo escolar que atingem um nuacutemero significativo
de pessoas)
118
FIGURA 1 - TIPOLOGIA DE CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE PRODUTOS ECOLOacuteGICOS
Tipologia de Circuitos Curtos
Venda Direta(relaccedilatildeo direta entre produtor e consumidor)
Venda Indireta(intervenccedilatildeo de um uacutenico intermediaacuterio
I iNa Propriedade Fora da Propriedade Lojas especializadas independentes
Lojas de cooperativas de produtores e consumidores ecoloacutegicos
Cestas para grupos ou individual Venda direta na propriedade ldquoColheita na propriedade
Feiras ecoloacutegicas direto do produtorCestas em domiciacutelio e para empresasVenda para programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo de baixa renda)
Lojas de associaccedilatildeo de produtoresVenda para grupos de consumidores organizados Venda em beira de estradasFeiras agropecuaacuterias salotildees eventos
bullRestaurantes coletivos e individuais Pequenos mercados de produtos
Serviccedilos na propriedadeAgroturismo gastronomia pousada esporte e lazer
naturais (orgacircnicos e convencionais) Lojas virtuais (Vendas pela Internet)
FONTE Elaborado pelos autores a partir de Chaffotte e Chiffoleau (2007) Mundler (2008)
Pode parecer surpreendente encontrar tipos similares de iniciativas em contextos
histoacutericos e geograacuteficos diferentes Todavia os movimentos sociais em prol das agriculturas
de base ecoloacutegica no mundo tecircm compartilhado ideais muito semelhantes com um
significado poliacutetico forte que permite em certa medida readequar a produccedilatildeo para
sistemas mais sustentaacuteveis e repensar dietas e haacutebitos alimentares reforccedilando laccedilos
entre aacutereas rurais e urbanas
Nas experiecircncias brasileiras estudadas (Tabela 1) observamos que a maioria dos
produtores utiliza simultaneamente mais de um canal destacadamente 1) feiras do
produtor 2) cestas em domiciacutelio e mais recentemente 3) os programas de governo
(Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar)
Percebemos ainda inovaccedilotildees como as vendas nas propriedades associadas em circuitos
de turismo rural e restaurantes no meio rural lojas especializadas e pontos de venda de
agricultores cooperativas de consumidores vendas em rede via circuitos de circulaccedilatildeo
(caso da Rede Ecovida de certificaccedilatildeo participativa) aleacutem de vendas em lojas virtuais
pela internet
A tabela 1 traz uma siacutentese das experiecircncias com uma anaacutelise qualitativa do niacutevel
de desenvolvimento dos circuitos curtos em redes alternativas na Franccedila e no Brasil
de forma comparativa De modo geral o maior niacutevel de escolaridade e a renda dos
agricultores familiares associados ao maior niacutevel de conscientizaccedilatildeo dos consumidores
na Franccedila permitem uma vantagem comparativa em relaccedilatildeo ao desenvolvimento dessas
redes Em ambos os paiacuteses a cooperaccedilatildeo entre os atores e o engajamento poliacutetico de
produtores e consumidores permitem atingir um maior niacutevel de desenvolvimento
119
TABELA 1 - ANAacuteLISE COMPARATIVA DO NIacuteVEL DE DESENVOLVIMENTO DE CIRCUITOS CURTOS DECOMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS NA FRANCcedilA E BRASIL
TIPOS DE CIRCUITOS ALTERNATIVOS FRANCcedilA BRASILFeira de produtores (orgacircnicosagroecoloacutegicos)
Pontos de Venda Coletiva (PVC) -AMAP (Associaccedilatildeo de Consumidores) -Cestas entregues em domiciacutelio
Lojas de produtos orgacircnicos independentes
Lojas de cooperativas de produtores e consumidores
Rede de comercializaccedilatildeo (Certificaccedilatildeo Participativa) -
Venda na propriedade
Acolhida na propriedade (gastronomia lazer esporte alojamento propriedade pedagoacutegica)
Programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo em risco alimentar)
Restaurantes coletivos puacuteblico ou privado restaurantes tradicionais
Lojas virtuais (site internet de produtos ecoloacutegicos)
FONTE elaborado pelos autoresNOTA - ausente ou raro pouco desenvolvido medianamente desenvolvido muito
desenvolvido (niacutevel de desenvolvimento)
As feiras do produtor satildeo os mecanismos de comercializaccedilatildeo mais difundidos no
Brasil e a principal porta de entrada de agricultores ecoloacutegicos para o mercado local
As feiras satildeo espaccedilos educativos e de lazer que permitem grande interaccedilatildeo entre
produtores e consumidores possibilitando maior autonomia aos agricultores Pesquisa
do IDEC (2012) identificou 140 feiras orgacircnicas em 22 das 27 capitais brasileiras
O estudo aponta que nas regiotildees onde a agricultura familiar eacute forte (Sul e Nordeste
p ex) as vendas em feiras satildeo mais pronunciadas No caso da Franccedila observamos que
as feiras (marcheacutes paysans) satildeo mais sazonais (com maior expressatildeo no veratildeo) sendo
menos preferidas pelos produtores do que as lojas especializadas independentes e lojas
coletivas de produtores (PVC) que funcionam o ano todo sobretudo em funccedilatildeo das
dificuldades clim aacuteticas deslocam entos frequentes horaacuterios predefinidos e do tempo
que a feira leva para se consolidar As feiras tradicionais (marcheacutes forains classiques)
satildeo muito populares entre os consumidores e misturam produtores convencionais (com
produtos coloniais artesanais natildeo certificados) e orgacircnicos certificados (bio) Nessas feiras
tradicionais os produtores bio satildeo minoria Nos dois paiacuteses as feiras totalmente orgacircnicas
tecircm tido maior expressatildeo nas m eacutedias e grandes cidades De acordo com Chiffoleau
(2008) a consolidaccedilatildeo das feiras de produtores se daacute basicamente em quatro etapas a
saber 1) criaccedilatildeo no iniacutecio muitos consumidores aparecem para conhecer a novidade e
impulsionam o mercado 2) queda (depois de dois a trecircs anos) apoacutes a novidade alguns
120
clientes deixam de frequentar a feira acom panhado por agricultores 3) recuperaccedilatildeo
(pelo 39 e 45 anos) os clientes mais fieacuteis acabam por fazer uma divulgaccedilatildeo boca-a-boca
e ocorre uma retomada do crescimento e 4) estabilizaccedilatildeo (apoacutes cinco anos) apoacutes esse
periacuteodo ocorre uma estabilizaccedilatildeo do nuacutemero de produtores e do nuacutemero de clientes fieacuteis
O mesmo fenocircmeno tem sido verificado no Brasil (DAROLT 2012)
Na Franccedila sobretudo na regiatildeo Rhocircne Alpes estaacute bem difundida a venda em
Pontos de Venda Coletiva (PVC - Points de Vente Collectifs) surgido no final dos anos de
1970 e que conta com 56 lojas tendo no iniacutecio uma forte participaccedilatildeo de agricultores
neorurais (Lamine 2012) Os PVC satildeo pequenas lojas mantidas e adm inistradas pelos
proacuteprios agricultores que vendem produtos de uma determ inada regiatildeo (ateacute 100 km
em meacutedia) com caracteriacutesticas e tradiccedilotildees com uns (produtos do terroir) O objetivo
dessas lojas coletivas eacute melhorar as condiccedilotildees de trabalho do agricultor d im inuir o
tempo gasto na comercializaccedilatildeo e oferecer aos consumidores diversidade regularidade e
qualidade de produtos tiacutepicos da regiatildeo Os PVC demandam dos agricultores aquisiccedilatildeo de
novas competecircncias (transformaccedilatildeo de produtos adoccedilatildeo de princiacutepios de agroecologia)
e readequaccedilatildeo do trabalho na propriedade para atender agraves demandas das lojas (novos
produtos relaccedilatildeo social com os clientes) Sempre eacute possiacutevel encontrar agricultores na
loja (cada produtor deve ficar na loja um meio-dia por sem ana o que permite que o
consumidor encontre sempre um produtor na loja) e todo marketing eacute direcionado no
sentido de valorizar os produtores e a regiatildeo
Outra modalidade bem estabelecida na Franccedila e em fase de crescim ento no
Brasil (por meio de cooperativas de consum idores e grupos de com pras coletivas)
satildeo as cestas diversificadas para grupos organizados de consum idores Na Franccedila as
chamadas AM APs -Associations pourle Maintien dune Agriculture Paysanne (Associaccedilatildeo
para M anutenccedilatildeo de uma Agricultura Cam ponesa) surgiram a partir dos anos 2000
inspiradas nas Community Supported Agriculture (Agricultura Apoiada pela Comunidade)
e representam um contrato de parceria entre consumidores e produtores (LAMINE 2008)
Na Franccedila haacute maior engajamento social dos consumidores e participaccedilatildeo em grupos de
inserccedilatildeo social quando comparados agraves experiecircncias brasileiras que ainda satildeo incipientes
Em contrapartida no Brasil as cestas individuais vecircm ganhando simpatia do consumidor
pela praticidade e pelos preccedilos m enores quando com parados aos superm ercados
mas ainda haacute pouca organizaccedilatildeo e engajam ento social do con su m idor brasileiro
no processo
121
As lojas especializadas de produtos ecoloacutegicos existem haacute vaacuterios inos na Franccedila
em cidades grandes meacutedias e pequenas contando com redes bem estabelecidas
espalhadas por todo o paiacutes com um discurso de solidariedade e pa-ceria com os
produtores como eacute o caso de Biocoop5 Segundo a Agence Bio (2014) eses dispositivos
representaram 35 do valor total das vendas com productos bio em ZD13 No Brasil
parte dos consumidores orgacircnicos (41) com plem entam suas com pns em lojas de
produtos especializados sobretudo nas capitais (KLUTH BOCCFIIJR CENSIOWSKY 2011)
Em cidades de menor porte as lojas podem estar associadas a organiza ccedilotildeesde produtores
familiares e consumidores ecoloacutegicos (p ex Ecotorres e Cooperativa deConsumidores
Ecoloacutegicos de Trecircs Cachoeiras no Rio Grande do Sul) ou funcionar com o poio do poder
puacuteblico municipal A maioria das lojas trabalha com entregas em domiciacuteio via internet
ou telefone permitindo ao consumidor escolher os produtos de uma lita de opccedilotildees
com maior comodidade e com preccedilos inferiores aos praticados pelos suparmercados
As vendas nas propriedades estatildeo bem difundidas na Franccedilasobretudo no
tocante a vinhos queijos e produtos do terroir No Brasil as vendas na propriedades
estatildeo em fase de expansatildeo e tecircm sido associadas a propriedades que fazem parte de
circuitos de turismo rural e agroecoloacutegico (Accueil paysan na Franccedila e Acohida na colocircnia
no Brasil) e satildeo mais comuns em cidades periurbanas proacuteximas agraves regiotildees netropolitanas
As lojas virtuais de produtos ecoloacutegicos ganham espaccedilo tanto na Franccedila quanto
no Brasil e com tendecircncia de crescimento para os proacuteximos anos sobretido nas regiotildees
metropolitanas todavia nem sempre representam um circuito curto conforme discutido
neste trabalho Entretanto satildeo procuradas pela facilidade de compra ccmodidade nas
entregas ao consumidor e preccedilos inferiores aos supermercados atendencb agraves exigecircncias
da vida moderna
5 PRO G RA M A S DE G O VERN O O P O R T U N ID A D E S PARA A A G RO ECO LO G IA NO BRA SIL
A com ercializaccedilatildeo de produtos agroalim entares por meio de orogramas do
governo ou m ercado institucional surgiu no Brasil em 2003 com o Program a de
Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e vem ganhando espaccedilo conforme Schimitte Grisa (2013)
O mercado institucional atende ao consumidor coletivo (instituiccedilotildees de assistecircncia social
5 Biocoop eacute uma rede francesa com 330 lojas e atores independentes militantes e engajados no desenvolvimento da agricultura orgacircnica (conhecida como bio) (wwwbiocooporg)
122
hospitais creches escolas) dentro de um circuito curto de comercializaccedilatildeo considerado
como venda direta pelo governo brasileiro Assim por meio de programas de governo
os alimentos da agricultura familiar satildeo comprados diretamente dos agricultores ou
das associaccedilotildees e cooperativas de produtores e chegam ateacute a populaccedilatildeo via entidades
de assistecircncia social do governo e escolas puacuteblicas Satildeo programas que se inserem nas
poliacuteticas puacuteblicas voltadas agrave seguranccedila alimentar e nutricional Nos uacuteltimos anos no Brasil
dois programas se destacaram na compra de produtos de base ecoloacutegica o Programa
de Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE)
Os produtos da agricultura fam iliar que apresentam certificaccedilatildeo orgacircnica
comercializados pelo PAA e PNAE recebem um precircmio de 30 em relaccedilatildeo ao similar
da agricultura convencional valorizando a qualidade nutricional e os demais aspectos
socioambientais envolvidos A garantia de compra dos produtos pelo governo estimula a
transiccedilatildeo agroecoloacutegica Ademais esses programas tecircm uma dimensatildeo social importante
pois atingem um grande puacuteblico (escolas) e trabalham com uma diversidade de produtos
seguindo a sazonalidade e as realidades locais
Para Scnimitt e Grisa (2013) existem algumas limitaccedilotildees operacionais que precisam
ser superadas na construccedilatildeo do mercado institucional no Brasil tais como atraso na
liberaccedilatildeo dos recursos problemas de acesso dos agricultores agrave documentaccedilatildeo exigida
(necessidade de desburocratizaccedilatildeo) falta de interaccedilatildeo entre diferentes instrumentos de
poliacutetica puacuteblica que poderiam dar suporte agraves accedilotildees dos programas falta de planejamento
e problemas de gestatildeo das organizaccedilotildees locais no acompanhamento das entregas e na
formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos beneficiaacuterios (nutricionistas merendeiras professoras
alunos) Triches e Schneider (2010) acrescentam ainda que um dos desafios na aquisiccedilatildeo
de alimentos da agricultura familiar para programas institucionais eacute a legalizaccedilatildeo das
agroinduacutestrias familiares com a regulaccedilatildeo da qualidade dos alimentos (sobretudo para
leite carnes e derivados)
Na Franccedila o recente Plano Nacional para a Agricultura Orgacircnica (Plan Ambition
Bio 2017) fixou objetivos ambiciosos para colocar 20 de produtos orgacircnicos na merenda
escolar e em restaurantes coletivos ateacute 2017 Esses objetivos variam de uma regiatildeo
para outra privilegiando produtos natildeo somente orgacircnicos (bio) mas tambeacutem locais
(normalmente o produto local tem maior peso) pois favorece o desenvolvimento regional
Em todo caso esse desenvolvimento segue associado a novas formas de organizaccedilatildeo
plataformas logiacutesticas redes de trabalho negociaccedilatildeo e planejamento das necessidades
de produtos entre escolas e produtores
123
Experiecircncias em outros paiacuteses europeus com alimentaccedilatildeo escolar mostram que o
poder puacuteblico tem papel decisivo em relaccedilatildeo aos mecanismos de aquisiccedilatildeo de alimentos
ao incentivo de determinados modelos de produccedilatildeo sustentaacuteveis e de sauacutede puacuteblica
O poder puacuteblico pode utilizar o seu poder de regulaccedilatildeo de decisatildeo sobre alocaccedilatildeo de
recursos e de ator-chave no abastecimento alim entar para promover mudanccedilas no
comportamento da sociedade (MORGAN SONNINO 2008)
O mercado institucional reforccedila outras iniciativas de comercializaccedilatildeo em circuitos
curtos fortalece as redes de organizaccedilotildees sociais e potencializa o diaacutelogo entre os atores
envolvidos com a agroecologia Tal situaccedilatildeo traz perspectivas otimistas para estimular
a produccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos e saudaacuteveis contribuir no sentido de potencializar
processos de transiccedilatildeo agroecoloacutegica e promoccedilatildeo da agroecologia bem como respeitar
os modos de vida das populaccedilotildees tradicionais fortalecer a cultura alimentar regional e
promover a valorizaccedilatildeo da sociobiodiversidade
6 C IR C U IT O S DE C IR C U LA Ccedil Atilde O E C O M E R C IA LIZA Ccedil Atilde O EM REDE
Uma experiecircncia pioneira vem sendo desenvolvida pelo circuito de circulaccedilatildeo
e com ercializaccedilatildeo da Rede Ecovida de Agroecologia no sul do Brasil Os princiacutepios
se g u id o s pela rede satildeo os produtos co m ercia lizad o s pelo circu ito tecircm de ser
agroecoloacutegicos com selo de certificaccedilatildeo participativa da Rede Ecovida a organizaccedilatildeo
ou grupo de agricultores para participar do circuito deve fazer parte da rede quem
vend e deve tam beacutem com prar produtos dos dem ais produtores (intercacircm bio e
circulaccedilatildeo de produtos) (MAGNANTI 2008)
Esse sistema tem permitido a troca e circulaccedilatildeo de produtos entre as regiotildees aleacutem
de atender agrave diversidade manter uma regularidade e a qualidade bioloacutegica dos produtos
visto que se trabalha exclusivamente com produtos certificados de forma participativa
A discussatildeo de circuitos curtos nesse sentido se daacute natildeo pela distacircncia fiacutesica e nuacutemero de
intermediaacuterios mas pela dimensatildeo social e poliacutetica estabelecida pelo sistema participativo
de garantia e pela organizaccedilatildeo do movimento social
Em torno de 50 itens satildeo ofertados pelo circuito divididos entre hortaliccedilas (100)
frutas (80) gratildeos (80) farinhas (70) accediluacutecar (50) e processados (20)(REDE
ECOVIDA 2014) Os produtos tecircm circulado principalmente em feiras agroecoloacutegicas
em Programas de Governo como o PAA e PNAE pequenos comeacutercios e distribuidores e
grupos de trocas de alimentos (autoconsumo) garantindo tambeacutem a autonomia alimentar
dos agricultores da rede
124
Os desafios para esse tipo de com ercializaccedilatildeo segundo Perez-Cassarino
(2013) satildeo a padronizaccedilatildeo de documentos para comercializaccedilatildeo entre os estados
a padronizaccedilatildeo de embalagens prioritariamente ecoloacutegicas a padronizaccedilatildeo de produtos
entre os nuacutecleos investim ento em recursos hum anos para operacionalizaccedilatildeo do
processo de comercializaccedilatildeo melhoria e investimentos em logiacutestica e um planejamento
de produccedilatildeo para atender a uma dem anda em expansatildeo destacadam ente para
alimentaccedilatildeo escolar
7 C A R A C T E R IacuteST IC A S E O R G A N IZA Ccedil Atilde O DAS PR O PR IED A D ES EM C IR C U ITO S CU RTO S
Tanto no Brasil como na Franccedila as experiecircncias estudadas que comercializam em
circuitos curtos satildeo majoritariamente provenientes da agricultura familiar com destaque
para a categoria de agricultores neorurais que se desenvolvem em aacutereas pequenas (em
meacutedia menor que 20 hectares no total) quando comparadas agravequelas em circuitos longos
Um dos pilares de sustentaccedilatildeo eacute a matildeo de obra familiar que tem uma carga de trabalho
intensa e deve aliar diferentes competecircncias (produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo)
no intuito de diminuir custos e agregar valor ao produto
Na Franccedila a maior parte das propriedades estudadas que vendem em circuitos
curtos eacute especializada em um determinado sistema de produccedilatildeo (fruticultura olericultura
leite ovos queijo) estando de acordo com Mundler (2008) No Brasil as propriedades
orgacircnicas estudadas mostraram-se mais diversificadas contando com sistemas vegetais
e anim ais mais com plexos Se por um lado isso eacute desejado porque atende aos
princiacutepios agroecoloacutegicos por outro torna o planejamento produtivo mais complexo
Nos dois paiacuteses a gama de produtos eacute em geral mais diversificada quando comparada
agrave agricultura convencional mesmo quando as propriedades satildeo especializadas em
determinados sistemas Observou-se ainda uma tendecircncia agrave diversificaccedilatildeo em serviccedilos
com a pluriatividade da propriedade (agroturismo gastronomia lazer e descoberta
alojamentos e propriedades pedagoacutegicas) conforme jaacute apontaram Schneider (2005)
Mundler Guermonprez Pluvinage (2007)
Outra caracteriacutestica a destacar em circuitos curtos eacute a maior autonomia do agricultor
em relaccedilatildeo aos circuitos longos No Brasil os agricultores que trabalham integrados com
empresas para vendas em supermercados tecircm menor autonomia na gestatildeo sendo o
planejamento de produccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo realizados pelas empresas Segundo Darolt
125
(2012) o sistema de produccedilatildeo eacute simplificado e especializado em um ou dois produtos
Eacute com um nesses casos uma repeticcedilatildeo da loacutegica comercial e industrial utilizada em
sistemas convencionais para produccedilatildeo em escala
A figura 2 resume as diferentes caracteriacutesticas observadas nas propriedades
que comercializam em circuitos curtos Segundo Mundler (2008) a combinaccedilatildeo entre
agricultura ecoloacutegica e circuitos curtos tem impactos positivos em diferentes dimensotildees
como na economia local trazendo oportunidades de trabalho e de renda na dimensatildeo
social com a aproximaccedilatildeo de produtores e consumidores na dimensatildeo ambiental com
a valorizaccedilatildeo dos recursos naturais e da paisagem e na dimensatildeo poliacutetica como uma
nova opccedilatildeo de consumo
FIGURA 2 - CARACTERIacuteSTICAS COMUNS OBSERVADAS EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS (BRASIL E FRANCcedilA)
A organizaccedilatildeo do trabalho observada nas experiecircncias se mostrou mais ou menos
complexa em funccedilatildeo dos recursos humanos e econocircmicos disponiacuteveis na propriedade
Em propriedades familiares de pequeno porte concordando com Dedieu et a i (1999)
eacute fundam ental agregar valor ao produto (com a transformaccedilatildeo) vender sempre que
possiacutevel de forma direta e potencializar os serviccedilos na propriedade (turismo e acolhida
do consumidor na propriedade por exemplo)
A forma de comercializaccedilatildeo mais adequada a cada tipo de produtor pode variar
em funccedilatildeo da matildeo de obra da organizaccedilatildeo do sistema de produccedilatildeo e da infraestrutura
disponiacutevel Observamos que na maioria dos canais estudados as praacuteticas agriacutecolas
utilizadas os volumes de produccedilatildeo os tipos de produtos e a organizaccedilatildeo do trabalho
se adaptam para responder agraves demandas dos consumidores Assim concordando com
M undler et a i (2007) notamos que a loacutegica de desenvolvimento em circuitos curtos
126
vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste
entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em
circuitos curtos quando comparado a um circuito longo
8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O
Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo
ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que
isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo
semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao
consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis
Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental
pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte
Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na
comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam
que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com
o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e
menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento
em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo
satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta
e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores
brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando
o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a
agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia
e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel
127
TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO
ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES
Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)
bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod
Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo
bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)
FONTE Elaborado pelos autores
Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades
para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto
a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo
saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes
alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas
rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar
que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos
consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento
das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de
regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial
e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica
128
9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O
Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos
ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais
circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar
dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo
De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo
imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona
o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e
tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma
o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar
soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes
contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de
desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-
produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais
Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito
agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo
e consumo
O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem
as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo
ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos
agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da
paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)
Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas
puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais
organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de
distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa
como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas
de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores
(AMAPs) na Franccedila
O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser
superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as
poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas
129
como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade
na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de
infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente
com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em
circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave
alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo
de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo
distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas
especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na
fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica
Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara
do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como
as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem
de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas
singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores
procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos
valores e resgate da autonomia dos agricultores
Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas
envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o
consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados
locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-
distribuiccedilatildeo-consumo
130
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Moacir Roberto Darolt Claire Lamine Maria de Cleacuteofas Faggion Alencar e Lucimar Santiago Abreu
1 IN TR O D U Ccedil Atilde O
As redes alimentares alternativas (alternative food networks - AFNs) como satildeo
conhecidas na literatura internacional (GOODMAN et al 2012) satildeo uma categoria
geneacuterica de anaacutelise acadecircmica para o estudo de alternativas ao modelo agroalimentar
industrial Para esses autores as AFNs tecircm algum as caracteriacutesticas centrais que
incluem cooperaccedilatildeo social e parcerias entre produtores e consumidores reconexatildeo
entre produccedilatildeo e consumo dentro de padrotildees sustentaacuteveis dinamizaccedilatildeo de mercados
locais com identidade territorial e revalorizaccedilatildeo da circulaccedilatildeo de produtos de qualidade
diferenciada como eacute o caso de produtos de base ecoloacutegica2 Para Wilkinson (2008) essas
redes e movimentos sociais favoreceram a reinserccedilatildeo econocircmica de agricultores familiares
brasileiros excluiacutedos do processo de modernizaccedilatildeo agriacutecola A institucionalizaccedilatildeo das
redes e movimentos de base ecoloacutegica aconteceu na Franccedila nos anos de 1980 e no Brasil
nos anos de 1990 pautado em princiacutepios de confianccedila equidade e novas relaccedilotildees sociais
entre produtores e consumidores que contribuem para a emergecircncia de uma democracia
alimentar fundada sobre a racionalidade socioambiental (BRANDENBURG 2002)
As redes alimentares alternativas satildeo muito diversas e privilegiam os circuitos
curtos3 (CC) de comercializaccedilatildeo (feiras do produtor entrega de cestas pequenas lojas
de produtores venda na propriedade ligada ao agroturismo venda institucional para
alimentaccedilatildeo escolar entre outras formas de venda direta) Para Marsden et al (2000)
o mais importante para caracterizar um circuito curto ou cadeia curta eacute o fato de um
1 Este trabalho integra o projeto Agroecologia na Franccedila e no Brasil entre redes cientiacuteficas movimentos sociais e poliacuteticas puacuteblicas apoiado pelo acordo CAPESCOFECUB 7162011 Texto publicado na revista Ambiente amp Sociedade (2015)
2 Neste trabalho o conceito de sistema de produccedilatildeo de base ecoloacutegica abrange os denominados orgacircnico ecoloacutegico agroecoloacutegico biodinacircmico natural regenerativo bioloacutegico permacultura e outros que atendam os princiacutepios estabelecidos pela Lei ne 108312003 que dispotildee sobre o sistema orgacircnico de produccedilatildeo agropecuaacuteria no Brasil Na Franccedila o sistema eacute conhecido como agricultura bioloacutegica (bio) a partir da legislaccedilatildeo de 1980 mas existem produtos de outras formas de agricultura alternativa (agriculture paysanne agroeacutecologie) que se dizem mais ecoloacutegicas e satildeo encontradas em circuitos curtos
3 Circuitos Curtos (CC) ou cadeias curtas de comercializaccedilatildeo satildeo definidos como um sistema de inter-relaccedilotildees entre atores que estatildeo diretamente engajados na produccedilatildeo transformaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e consumo de alimentos (RENTING et al 2012) Essa definiccedilatildeo traz dois pontos importantes (inter-relaccedilotildees e interdependecircncia) e deixa aberta uma ampla gama de formas de articulaccedilatildeo entre produccedilatildeo e consumo
111
produto chegar nas matildeos do consumidor com informaccedilotildees que lhe permitam saber onde o
produto foi produzido (lugar) por quem (produtor) e de que forma (sistema de produccedilatildeo)
ao contraacuterio da alim entaccedilatildeo padronizada da agricultura industrial caracterizada por
Ploeg (2008) como impeacuterios alimentares Entretanto Goodman (2009) alerta que essas
redes e novas formas econocircmicas se desenvolvem em sociedades capitalistas e natildeo em
um universo paralelo Por isso eacute necessaacuteria uma anaacutelise criacutetica que busque avaliar as
relaccedilotildees de poder e a distribuiccedilatildeo social dos ganhos entre os atores envolvidos
As vendas em circuitos curtos canalizaram metade do valor total das compras
da produccedilatildeo orgacircnica certificada no m ercado interno brasileiro em 2010 (BLANC e
KLEDAL 2012) No Brasil 42 dos consum idores jaacute compram produtos orgacircnicos em
lojas especializadas e 35 em feiras do produtor apesar de a maioria (72) ainda comprar
em canais longos como eacute o caso de superm ercados (KLUTH BOCCHIJR CENSKOWSKY
2011) Na Franccedila a situaccedilatildeo eacute similar 79 dos consumidores compram em super e
hipermercados o que representou 46 do valor total das compras de produtos orgacircnicos
(bio) em 2013 Cabe destacar que na Franccedila a maioria das compras de alimentos em geral
eacute feita em circuitos longos Entretanto parte dos consumidores ainda prefere comprar
em circuitos curtos (33 compram em feiras do produtor (marcheacute paysan) 29 em lojas
especializadas e 19 diretamente nas propriedades o que representou 48 do valor
total das compras) principalmente por motivos de sauacutede qualidade sabor e seguranccedila
alim entar (AGENCE BIO 2014) Em am bos os paiacuteses uma das especificidades dessas
redes eacute o fato de questionar alguns princiacutepios baacutesicos do sistema convencional como
a homogeneizaccedilatildeo a padronizaccedilatildeo de produtos e o grande nuacutemero de intermediaacuterios
na com ercializaccedilatildeo em grandes d istacircncias (LAM INE 2012) Nesse sentido as redes
alternativas propotildeem novos princiacutepios de troca relocalizaccedilatildeo dos alimentos retomam
valores tradiccedilotildees e novos tipos de relaccedilotildees entre produtores e consumidores
Um dos p rin c ip a is q u e stio n am e n to s levantados pela literatura cientiacutefica
internacional eacute a capacidade de essas redes alimentares alternativas gerarem mudanccedilas
estru tura is em uma escala m aior (G O O D M A N 2003 DEVERRE LAM INE 2010)
Para esses autores as redes podem contribuir para uma transformaccedilatildeo das relaccedilotildees
de poder no acircmbito dos sistem as alim entares incluindo um maior peso e participaccedilatildeo
de consumidores e produtores na definiccedilatildeo dos modos de produccedilatildeo troca e consumo
(a noccedilatildeo de autonomia) Enfatizam ainda a ligaccedilatildeo necessaacuteria entre experiecircncias concretas
e movimento social e poliacutetico de oposiccedilatildeo ao modelo convencional dominante
112
Nesse sentido os movimentos sociais devem adotar diferentes estrateacutegias para
tornar os cidadatildeos mais ativos tais como a construccedilatildeo de formas alternativas de compra
e troca investimento em educaccedilatildeo do consumidor campanhas de conscientizaccedilatildeo e lobby
poliacutetico (DUBUISSON-QUELLIER et a 2011) A educaccedilatildeo para o consumo consciente eacute
um desafio na perspectiva de requalificar os consumidores em oposiccedilatildeo agrave aceitaccedilatildeo e
agrave conformidade aos alimentos ofertados pelo sistema convencional (JAFFE GERTLER
2006) O aprendizado proporcionado por essas redes alternativas de comercializaccedilatildeo
considerando as praacuteticas agriacutecolas e seus impactos as praacuteticas culinaacuterias e as praacuteticas
democraacuteticas em si que envolvem pessoas e instituiccedilotildees satildeo fontes de empoderamento
(empowerment) dos consumidores contribuindo para tornaacute-los cidadatildeos conscientes
de sua alim entaccedilatildeo ou consum idores c id ad atildeo s (food c itizen s) (W ILKIN S 2005
LEVKOE 2006)
Do lado dos produtores Brandenburg e Ferreira (2012) acrescentam que os
agricultores ecoloacutegicos inseridos num m ovim ento social organizado contribuem para
a ecologizaccedilatildeo de um rural que se situa para aleacutem das praacuteticas agriacutecolas Nesse caso
recuperam-se os interesses individuais dos agricultores transform ando-os em projetos
coletivos e apontando para uma racionalidade socioambiental
Alguns trabalhos questionam as possibilidades e limitaccedilotildees das redes alternativas
para superar as desigualdades sociais entre produtores e consumidores Outros discutem
as possibilidades de as populaccedilotildees vulneraacuteveis terem acesso agrave alimentaccedilatildeo de qualidade
via circuitos curtos Para garantir uma visatildeo de equidade numa perspectiva de seguranccedila
alimentar vaacuterios autores tecircm demonstrado o papel crucial da sociedade civil e as inovaccedilotildees
sociais que emergem dessas experiecircncias em termos de tomada de decisatildeo e modelos
de gestatildeo participativa Alguns trabalhos apontam ainda para a noccedilatildeo de democracia
alimentar (HASSANEIN 2008 WILKINS 2005) agricultura cidadatilde (LYSON 2004) ou
ainda redes alimentares cidadatildes (RENTING et a 2012)
Outros autores questionam o uso do term o Rede Alim entar Alternativa (AFN
em inglecircs) argumentando que muitas vezes ele eacute usado de maneira polarizada como
parte de um dualism o entre convencional - alternativo (HOLLOW AY et a l2007)
A proposta eacute que se supere a dicotomia convencional-alternativo que reduz a questatildeo da
produccedilatildeo e consumo alimentar como dividido entre as diversas iniciativas alternativas
que se posicionam contra um convencional sistema alimentar monoiiacutetico Concordamos
que eacute possiacutevel encontrar formas hiacutebridas re lacionais e com plem entares de redes
alimentares como mostrou Maye (2013)
113
De fato podem existir com plem entaridades entre redes alternativas e
convencionais como destaca Lamine (2012) que podem contribuir no processo de
transiccedilatildeo A autora considera que para garantir uma transiccedilatildeo ecoloacutegica pira redes
alimentares mais sustentaacuteveis deve-se buscar mais do que a participaccedilatildeo de produtores
e consumidores e considerar a rede de atores e instituiccedilotildees em um sentiio amplo
com envolvim ento de outros atores da cadeia alimentar como a exteniatildeo rural
a pesquisa o ensino a sociedade civil e o poder puacuteblico Quando o foco do etudo satildeo
produtos da agricultura de base ecoloacutegica concordamos com Perez-Cassarho (2013)
que a constituiccedilatildeo de redes alimentares alternativas potencializa o surgimentc de novas
sociabilidades resgate e reconstruccedilatildeo de valores e princiacutepios centrados na confianccedila
reputaccedilatildeo eacutetica e solidariedade
O que se pretende discutir neste trabalho por meio de experiecircncias francesas
e brasileiras eacute que as essas redes alimentares alternativas trazem inovaccedilotildees sociais
diversidade e valores associados que podem contribuir na reconexatildeo entre produccedilatildeo e
consumo valorizar os mercados locais por meio de circuitos curtos de comercializaccedilatildeo e
facilitar a transiccedilatildeo para sistemas de produccedilatildeo e consumo mais sustentaacuteveis
Vamos mostrar que o desenvolvimento da agricultura familiar de base ecoloacutegica
eacute potencializado quando associado a circuitos curtos e redes alimentares alternativas
com plem entado por parcerias e poliacuteticas puacuteblicas voltadas ao fortalecim ento
dessas iniciativas
Algumas questotildees de pesquisa guiam essa investigaccedilatildeo Quais satildeo o tipos de
circuitos curtos de alimentos ecoloacutegicos Quais as caracteriacutesticas das propriecades que
participam dessas redes e como se organizam Em que condiccedilotildees os circuitos curtos de
comercializaccedilatildeo satildeo viaacuteveis Quais os aprendizados as dificuldades e as oporunidades
para produtores e consumidores em participar de redes alternativas de comercalizaccedilatildeo
Enfim o objetivo geral do trabalho eacute analisar as particularidades das redes
alternativas de comercializaccedilatildeo de produtos ecoloacutegicos e as relaccedilotildees produccedilatildeoconsumo
na Franccedila e no Brasil Para isso apresenta-se uma tipologia desses circuitos cirtos (CC)
como funcionam as caracteriacutesticas principais as oportunidades e as dificuldades para
produtores e consumidores
2 O M EacuteTODO DE P ESQ U ISA E AS EX P E R IEcirc N C IA S ESTU D ADA S
A metodologia de trabalho envolveu a pesquisa descritiva e qualitativa a partir
de experiecircncias selecionadas na Franccedila e no Sul do Brasil Num primeiro monento foi
realizada uma revisatildeo da literatura internacional seguida de um estudo preacutevio err conjunto
114
com uma equipe de especialistas franceses e brasileiros selecionando experiecircncias
de redes alternativas de com ercializaccedilatildeo com produtos e serviccedilos da agricultura de
base ecoloacutegica Os criteacuterios para seleccedilatildeo das experiecircncias foram representatividade
regional tempo da experiecircncia reconhecimento local trabalho com produtos ecoloacutegicos
mecanismos de certificaccedilatildeo prioridade para circuitos curtos e redes alternativas
Foram realizadas no total 40 visitas teacutecnicas sendo seis feiras em Paris Marseille
e Regiatildeo Provence-Alpes-Cocircte dAzur (PACA) dois Pontos de Venda Coletiva (PVC)
duas Associaccedilotildees de Consum idores (AMAP - Associaccedilatildeo para M anutenccedilatildeo de uma
Agricultura Camponesa) cinco lojas especializadas em produtos orgacircnicos (conhecidos
como bio) uma loja de cooperativa de agricultores duas experiecircncias de venda na
propriedade (Bienvenue agrave la Ferme) uma experiecircncia de acolhida na propriedade (Accueil
paysan) e entrevistas qualitativas com diferentes atores da rede de comercializaccedilatildeo
sendo sete agricultores orgacircnicos em sistema de olericultura fruticultura ovinocultura e
bovinocultura sete especialistas de diferentes instituiccedilotildees que trabalham com agricultura
orgacircnica aleacutem de informaccedilotildees coletadas em sete seminaacuterios de pesquisa sobre o tema
O estudo foi realizado entre novembro de 2011 e marccedilo de 2012 sendo selecionadas
20 entrevistas mais consistentes para responder aos objetivos da pesquisa O estudo
foi realizado na Franccedila nas regiotildees PACA Rhocircne-Alpes e lie de France e no Sul do Brasil
Para comparar qualitativamente as experiecircncias francesas com as experiecircncias
do Brasil utilizamos os relatos de experiecircncias de trabalhos com as redes alternativas
de com ercializaccedilatildeo de alim entos ecoloacutegicos no Sul do Brasil (destaque para a rede
Ecovida4) descritos por Darolt (2012) A etapa de campo permitiu a construccedilatildeo de um
diagnoacutestico com base em informaccedilotildees coletadas em visitas entrevistas participaccedilatildeo
em eventos e fontes secundaacuterias descrevendo as caracteriacutesticas principais (definiccedilatildeo
funcionamento estrutura meacutetodos de distribuiccedilatildeo e marketing dos produtos vantagens
para consum idores e produtores) aleacutem de destacar dificuldades e oportunidades
A partir de informaccedilotildees coletadas foi criada uma tipologia das diferentes experiecircncias
e realizada uma anaacutelise qualitativa e comparativa dos resultados com base no niacutevel de
desenvolvimento de cada experiecircncia estudada
As experiecircncias francesas e brasileiras logicamente se desenvolvem em contextos
econocircmicos socioculturais am bientais e poliacuteticos que necessitam ser levados em
consideraccedilatildeo Percebemos na discussatildeo teoacuterica precedente que as redes alimentares
4 O circuito de circulaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo da Rede Ecovida eacute formado por 27 nuacutecleos regionais abrangendo 200 municiacutepios 400 grupos e associaccedilotildees (cerca de 3800 famiacutelias) envolvendo em torno de 200 feiras agroecoloacutegicas nos trecircs estados do Sul do Brasil (wwwecovidaorgbr) (REDE ECOVIDA 2014)
115
apresentam caracteriacutesticas e tendecircncias sem elhantes nos debates internacionais
poreacutem tecircm diferentes raiacutezes histoacutericas No Brasil muitos dos pioneiros da agricultura
de base ecoloacutegica surgiram no final da deacutecada de 1970 como parte de um movimento
para resistir ao processo de modernizaccedilatildeo agriacutecola (com os seus efeitos conhecidos de
concentraccedilatildeo de terra exclusatildeo da agricultura fam iliar e intensificaccedilatildeo da migraccedilatildeo
rural-urbana) e foram apoiados por organizaccedilotildees religiosas e da sociedade civil
Movimentos mais recentes surgiram no Brasil com a institucionalizaccedilatildeo da agricultura
orgacircnica e agroecologia e satildeo formados por iniciativas de grupos de agricultores familiares
e consumidores organizados com o apoio de organizaccedilotildees natildeo governamentais (ONGs)
e instituiccedilotildees puacuteblicas (Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio instituiccedilotildees de pesquisa
extensatildeo rural entre outras) Na Franccedila a institucionalizaccedilatildeo da agricultura de base
ecoloacutegica (bio) aconteceu mais cedo - nos anos de 1980 - o que se refletiu num maior
desenvolvimento do setor (393 da aacuterea plantada com orgacircnicos 54 do nuacutemero
de produtores e 2 do mercado - AGENCE BIO 2014) enquanto no Brasil aconteceu
um pouco mais tarde nos anos de 1990 com crescimento menor (cerca de 1 de aacuterea
plantada e 15 do mercado - MAPA 2012)
Enquanto o perfil socioloacutegico dos consumidores nos casos franceses e brasileiros
pode ser comparado (consum idores de classe meacutedia com exceccedilatildeo dos programas
governamentais para famiacutelias de baixa renda no Brasil) no caso dos agricultores existem
algumas diferenccedilas marcantes Na Franccedila os participantes das redes alternativas satildeo
frequentemente agricultores neorrurais (com origens e influecircncias urbanas) com um
niacutevel de educaccedilatildeo e renda mais elevado e maior ligaccedilatildeo com o meio urbano o que facilita
a interaccedilatildeo com os consumidores No Brasil a maioria dos agricultores ecoloacutegicos tem
origem no meio rural com baixo niacutevel de escolaridade e poucos recursos financeiros
caracteriacutestico da agricultura familiar brasileira Entretanto segundo Darolt (2012) existe
tambeacutem uma participaccedilatildeo de agricultores neorrurais na agricultura orgacircnica sobretudo
proacuteximo aos grandes centros urbanos
Neste trabalho vamos mostrar que apesar de particularidades as diferentes
experiecircncias estudadas de circuitos curtos apresentam caracteriacutesticas comuns que
permitem aos agricultores um melhor padratildeo de vida o fortalececimento de laccedilos sociais
com consumidores e a contribuiccedilatildeo na requalificaccedilatildeo de produtores e consumidores
em contraste com a desqualificaccedilatildeo induzida por redes alimentares industriais
116
3 D EFIN IN D O C IR C U ITO S CU RTO S DE C O M ER C IA LIZA Ccedil Atilde O
O debate cientiacutefico tem trazido elementos importantes para melhor definir os
circuitos curtos (CC) em termos de redes alimentares assim como para avanccedilar em
tipologias e classificaccedilatildeo das experiecircncias Numa visatildeo com vieacutes na dimensatildeo econocircmica
a distinccedilatildeo entre canais curtos e longos de distribuiccedilatildeo de alimentos eacute para alguns
especialistas uma questatildeo do nuacutemero de intermediaacuterios que operam entre a produccedilatildeo
e o consumo Assim quanto maior o nuacutemero de atravessadores mais longo eacute o canal
e vice-versa Entretanto o nuacutemero de intermediaacuterios natildeo deve ser uma questatildeo uacutenica
e prioritaacuteria Outras caracteriacutesticas que aportam dimensotildees socioculturais podem ser
destacadas para definir um circuito curto de comercializaccedilatildeo como 1) a capacidade de
socializar e localizar o produto alimentar gerando viacutenculo com o local e a propriedade
2) a redefiniccedilatildeo da relaccedilatildeo produtor-consumidor dando sinais da origem do alimento
3) o desenvolvimento de novas relaccedilotildees considerando um preccedilo justo e a qualidade
(ecoloacutegica) 4) a conexatildeo entre o consumidor e o produto alimentar (MARSDEN et a i
2000) Seguindo essas caracteriacutesticas os mesmos autores identificaram alguns tipos de
CC resumidos da seguinte forma 1 venda direta cara a cara no qual a confianccedila estaacute na
relaccedilatildeo interpessoal 2 proximidade espacial incluindo o que eacute produzido e distribuiacutedo
numa regiatildeo reconhecida pelos consumidores e 3 espaciaimente estendido nesse caso
a confianccedila eacute transmitida por um processo de garantia da qualidade (certificaccedilatildeo) Assim
considera-se natildeo soacute a distacircncia mas tambeacutem os paracircmetros organizativos (produtores e
consumidores) fatores culturais transmitidos pela confianccedila pela valorizaccedilatildeo do mercado
local e pelo produto agroecoloacutegico
Os autores espanhoacuteis Guzmaacuten et a i (2012) acrescentam ainda que num circuito
curto de comercializaccedilatildeo as relaccedilotildees de poder dentro da rede alimentar devem estar a
favor dos produtores e consumidores e natildeo dos intermediaacuterios e grandes distribuidores
No Brasil o debate teoacuterico sobre redes alimentares alternativas (PLOEG 2008
WILKINSON 2008) e circuitos curtos de alimentos ecoloacutegicos (FERRARI 2011 DAROLT
2012) ainda eacute emergente poreacutem existem muitas experiecircncias diversificadas e inovadoras
que surgem a cada ano mostrando que nos canais de distribuiccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos
haacute caracteriacutesticas similares a outros paiacuteses com destaque para mais informaccedilotildees sobre
a qualidade do produto busca de relacionamento direto e interdependecircncia entre
agricultores e consumidores
117
Os representantes do setor agroalimentar na Franccedila tecircm utilizado uma definiccedilatildeo
mais pragmaacutetica de circuito curto (CC) caracterizando os circuitos de distribuiccedilatildeo que
mobilizam ateacute - no m aacutexim o-um intermediaacuterio entre produtor e consumidor (CHAFOTTE
e CHIFFOLEAU 2007 MESSMER 2013) Dois casos podem ser distinguidos a venda direta
(quando o produtor entrega em matildeos proacuteprias a mercadoria ao consumidor) e a venda
indireta via um uacutenico intermediaacuterio (que pode ser um outro produtor uma cooperativa
uma associaccedilatildeo uma loja especializada um restaurante ou ateacute um pequeno mercado)
Na Franccedila e na Europa outras denominaccedilotildees como circuitos de proxim idade
(AUBRY CHIFFOLEAU 2009) ou circuitos locais (MARECHAL 2008) tecircm sido utilizadas
para reforccedilar a proximidade geograacutefica e o aspecto socialrelacional como a ligaccedilatildeo entre
consumidor e produtor e o desenvolvimento de mercados locais Deverre e Lamine (2010)
preferem utilizar ainda o termo sistemas alternativos numa perspectiva de questionar
o modelo convencionai propor novos princiacutepios de troca e relaccedilotildees mais justas entre
produtores e consumidores Neste trabalho consideramos que as diferentes dimensotildees
(econocircmica social ecoloacutegica e poliacutetica) satildeo importantes para classificar e analisar os
circuitos curtos
4 T IP O LO G IA E C A R A C T E R IacuteST IC A S DOS C IR C U ITO S CURTOS DE A LIM EN TO S ECO LOacute G ICO S
A classificaccedilatildeo dos tipos de circuitos curtos de comercializaccedilatildeo propostos neste
trabalho (Fig 1) segue as indicaccedilotildees teoacutericas de Marsden et a i (2000) Renting et a i
(2003) e Mundler (2008) considerando que temos circuitos relacionados com a venda
direta (em que o produtor tem relaccedilatildeo direta com o consumidor) e venda indireta
em que existe apenas um intermediaacuterio conhecedor e pessoas engajadas no processo
denotando uma interdependecircncia entre os atores Essa tipologia considera diferentes
dimensotildees econocircmicas e sociais (pela melhoria direta de renda dos agricultores e trocas
entre produtores e consumidores) mas traz embutida a dimensatildeo ecoloacutegica e poliacutetica por
se tratar de alimentos de base ecoloacutegica e com a participaccedilatildeo do poder puacuteblico (no caso
de programas de governo para alimentaccedilatildeo escolar que atingem um nuacutemero significativo
de pessoas)
118
FIGURA 1 - TIPOLOGIA DE CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE PRODUTOS ECOLOacuteGICOS
Tipologia de Circuitos Curtos
Venda Direta(relaccedilatildeo direta entre produtor e consumidor)
Venda Indireta(intervenccedilatildeo de um uacutenico intermediaacuterio
I iNa Propriedade Fora da Propriedade Lojas especializadas independentes
Lojas de cooperativas de produtores e consumidores ecoloacutegicos
Cestas para grupos ou individual Venda direta na propriedade ldquoColheita na propriedade
Feiras ecoloacutegicas direto do produtorCestas em domiciacutelio e para empresasVenda para programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo de baixa renda)
Lojas de associaccedilatildeo de produtoresVenda para grupos de consumidores organizados Venda em beira de estradasFeiras agropecuaacuterias salotildees eventos
bullRestaurantes coletivos e individuais Pequenos mercados de produtos
Serviccedilos na propriedadeAgroturismo gastronomia pousada esporte e lazer
naturais (orgacircnicos e convencionais) Lojas virtuais (Vendas pela Internet)
FONTE Elaborado pelos autores a partir de Chaffotte e Chiffoleau (2007) Mundler (2008)
Pode parecer surpreendente encontrar tipos similares de iniciativas em contextos
histoacutericos e geograacuteficos diferentes Todavia os movimentos sociais em prol das agriculturas
de base ecoloacutegica no mundo tecircm compartilhado ideais muito semelhantes com um
significado poliacutetico forte que permite em certa medida readequar a produccedilatildeo para
sistemas mais sustentaacuteveis e repensar dietas e haacutebitos alimentares reforccedilando laccedilos
entre aacutereas rurais e urbanas
Nas experiecircncias brasileiras estudadas (Tabela 1) observamos que a maioria dos
produtores utiliza simultaneamente mais de um canal destacadamente 1) feiras do
produtor 2) cestas em domiciacutelio e mais recentemente 3) os programas de governo
(Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar)
Percebemos ainda inovaccedilotildees como as vendas nas propriedades associadas em circuitos
de turismo rural e restaurantes no meio rural lojas especializadas e pontos de venda de
agricultores cooperativas de consumidores vendas em rede via circuitos de circulaccedilatildeo
(caso da Rede Ecovida de certificaccedilatildeo participativa) aleacutem de vendas em lojas virtuais
pela internet
A tabela 1 traz uma siacutentese das experiecircncias com uma anaacutelise qualitativa do niacutevel
de desenvolvimento dos circuitos curtos em redes alternativas na Franccedila e no Brasil
de forma comparativa De modo geral o maior niacutevel de escolaridade e a renda dos
agricultores familiares associados ao maior niacutevel de conscientizaccedilatildeo dos consumidores
na Franccedila permitem uma vantagem comparativa em relaccedilatildeo ao desenvolvimento dessas
redes Em ambos os paiacuteses a cooperaccedilatildeo entre os atores e o engajamento poliacutetico de
produtores e consumidores permitem atingir um maior niacutevel de desenvolvimento
119
TABELA 1 - ANAacuteLISE COMPARATIVA DO NIacuteVEL DE DESENVOLVIMENTO DE CIRCUITOS CURTOS DECOMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS NA FRANCcedilA E BRASIL
TIPOS DE CIRCUITOS ALTERNATIVOS FRANCcedilA BRASILFeira de produtores (orgacircnicosagroecoloacutegicos)
Pontos de Venda Coletiva (PVC) -AMAP (Associaccedilatildeo de Consumidores) -Cestas entregues em domiciacutelio
Lojas de produtos orgacircnicos independentes
Lojas de cooperativas de produtores e consumidores
Rede de comercializaccedilatildeo (Certificaccedilatildeo Participativa) -
Venda na propriedade
Acolhida na propriedade (gastronomia lazer esporte alojamento propriedade pedagoacutegica)
Programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo em risco alimentar)
Restaurantes coletivos puacuteblico ou privado restaurantes tradicionais
Lojas virtuais (site internet de produtos ecoloacutegicos)
FONTE elaborado pelos autoresNOTA - ausente ou raro pouco desenvolvido medianamente desenvolvido muito
desenvolvido (niacutevel de desenvolvimento)
As feiras do produtor satildeo os mecanismos de comercializaccedilatildeo mais difundidos no
Brasil e a principal porta de entrada de agricultores ecoloacutegicos para o mercado local
As feiras satildeo espaccedilos educativos e de lazer que permitem grande interaccedilatildeo entre
produtores e consumidores possibilitando maior autonomia aos agricultores Pesquisa
do IDEC (2012) identificou 140 feiras orgacircnicas em 22 das 27 capitais brasileiras
O estudo aponta que nas regiotildees onde a agricultura familiar eacute forte (Sul e Nordeste
p ex) as vendas em feiras satildeo mais pronunciadas No caso da Franccedila observamos que
as feiras (marcheacutes paysans) satildeo mais sazonais (com maior expressatildeo no veratildeo) sendo
menos preferidas pelos produtores do que as lojas especializadas independentes e lojas
coletivas de produtores (PVC) que funcionam o ano todo sobretudo em funccedilatildeo das
dificuldades clim aacuteticas deslocam entos frequentes horaacuterios predefinidos e do tempo
que a feira leva para se consolidar As feiras tradicionais (marcheacutes forains classiques)
satildeo muito populares entre os consumidores e misturam produtores convencionais (com
produtos coloniais artesanais natildeo certificados) e orgacircnicos certificados (bio) Nessas feiras
tradicionais os produtores bio satildeo minoria Nos dois paiacuteses as feiras totalmente orgacircnicas
tecircm tido maior expressatildeo nas m eacutedias e grandes cidades De acordo com Chiffoleau
(2008) a consolidaccedilatildeo das feiras de produtores se daacute basicamente em quatro etapas a
saber 1) criaccedilatildeo no iniacutecio muitos consumidores aparecem para conhecer a novidade e
impulsionam o mercado 2) queda (depois de dois a trecircs anos) apoacutes a novidade alguns
120
clientes deixam de frequentar a feira acom panhado por agricultores 3) recuperaccedilatildeo
(pelo 39 e 45 anos) os clientes mais fieacuteis acabam por fazer uma divulgaccedilatildeo boca-a-boca
e ocorre uma retomada do crescimento e 4) estabilizaccedilatildeo (apoacutes cinco anos) apoacutes esse
periacuteodo ocorre uma estabilizaccedilatildeo do nuacutemero de produtores e do nuacutemero de clientes fieacuteis
O mesmo fenocircmeno tem sido verificado no Brasil (DAROLT 2012)
Na Franccedila sobretudo na regiatildeo Rhocircne Alpes estaacute bem difundida a venda em
Pontos de Venda Coletiva (PVC - Points de Vente Collectifs) surgido no final dos anos de
1970 e que conta com 56 lojas tendo no iniacutecio uma forte participaccedilatildeo de agricultores
neorurais (Lamine 2012) Os PVC satildeo pequenas lojas mantidas e adm inistradas pelos
proacuteprios agricultores que vendem produtos de uma determ inada regiatildeo (ateacute 100 km
em meacutedia) com caracteriacutesticas e tradiccedilotildees com uns (produtos do terroir) O objetivo
dessas lojas coletivas eacute melhorar as condiccedilotildees de trabalho do agricultor d im inuir o
tempo gasto na comercializaccedilatildeo e oferecer aos consumidores diversidade regularidade e
qualidade de produtos tiacutepicos da regiatildeo Os PVC demandam dos agricultores aquisiccedilatildeo de
novas competecircncias (transformaccedilatildeo de produtos adoccedilatildeo de princiacutepios de agroecologia)
e readequaccedilatildeo do trabalho na propriedade para atender agraves demandas das lojas (novos
produtos relaccedilatildeo social com os clientes) Sempre eacute possiacutevel encontrar agricultores na
loja (cada produtor deve ficar na loja um meio-dia por sem ana o que permite que o
consumidor encontre sempre um produtor na loja) e todo marketing eacute direcionado no
sentido de valorizar os produtores e a regiatildeo
Outra modalidade bem estabelecida na Franccedila e em fase de crescim ento no
Brasil (por meio de cooperativas de consum idores e grupos de com pras coletivas)
satildeo as cestas diversificadas para grupos organizados de consum idores Na Franccedila as
chamadas AM APs -Associations pourle Maintien dune Agriculture Paysanne (Associaccedilatildeo
para M anutenccedilatildeo de uma Agricultura Cam ponesa) surgiram a partir dos anos 2000
inspiradas nas Community Supported Agriculture (Agricultura Apoiada pela Comunidade)
e representam um contrato de parceria entre consumidores e produtores (LAMINE 2008)
Na Franccedila haacute maior engajamento social dos consumidores e participaccedilatildeo em grupos de
inserccedilatildeo social quando comparados agraves experiecircncias brasileiras que ainda satildeo incipientes
Em contrapartida no Brasil as cestas individuais vecircm ganhando simpatia do consumidor
pela praticidade e pelos preccedilos m enores quando com parados aos superm ercados
mas ainda haacute pouca organizaccedilatildeo e engajam ento social do con su m idor brasileiro
no processo
121
As lojas especializadas de produtos ecoloacutegicos existem haacute vaacuterios inos na Franccedila
em cidades grandes meacutedias e pequenas contando com redes bem estabelecidas
espalhadas por todo o paiacutes com um discurso de solidariedade e pa-ceria com os
produtores como eacute o caso de Biocoop5 Segundo a Agence Bio (2014) eses dispositivos
representaram 35 do valor total das vendas com productos bio em ZD13 No Brasil
parte dos consumidores orgacircnicos (41) com plem entam suas com pns em lojas de
produtos especializados sobretudo nas capitais (KLUTH BOCCFIIJR CENSIOWSKY 2011)
Em cidades de menor porte as lojas podem estar associadas a organiza ccedilotildeesde produtores
familiares e consumidores ecoloacutegicos (p ex Ecotorres e Cooperativa deConsumidores
Ecoloacutegicos de Trecircs Cachoeiras no Rio Grande do Sul) ou funcionar com o poio do poder
puacuteblico municipal A maioria das lojas trabalha com entregas em domiciacuteio via internet
ou telefone permitindo ao consumidor escolher os produtos de uma lita de opccedilotildees
com maior comodidade e com preccedilos inferiores aos praticados pelos suparmercados
As vendas nas propriedades estatildeo bem difundidas na Franccedilasobretudo no
tocante a vinhos queijos e produtos do terroir No Brasil as vendas na propriedades
estatildeo em fase de expansatildeo e tecircm sido associadas a propriedades que fazem parte de
circuitos de turismo rural e agroecoloacutegico (Accueil paysan na Franccedila e Acohida na colocircnia
no Brasil) e satildeo mais comuns em cidades periurbanas proacuteximas agraves regiotildees netropolitanas
As lojas virtuais de produtos ecoloacutegicos ganham espaccedilo tanto na Franccedila quanto
no Brasil e com tendecircncia de crescimento para os proacuteximos anos sobretido nas regiotildees
metropolitanas todavia nem sempre representam um circuito curto conforme discutido
neste trabalho Entretanto satildeo procuradas pela facilidade de compra ccmodidade nas
entregas ao consumidor e preccedilos inferiores aos supermercados atendencb agraves exigecircncias
da vida moderna
5 PRO G RA M A S DE G O VERN O O P O R T U N ID A D E S PARA A A G RO ECO LO G IA NO BRA SIL
A com ercializaccedilatildeo de produtos agroalim entares por meio de orogramas do
governo ou m ercado institucional surgiu no Brasil em 2003 com o Program a de
Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e vem ganhando espaccedilo conforme Schimitte Grisa (2013)
O mercado institucional atende ao consumidor coletivo (instituiccedilotildees de assistecircncia social
5 Biocoop eacute uma rede francesa com 330 lojas e atores independentes militantes e engajados no desenvolvimento da agricultura orgacircnica (conhecida como bio) (wwwbiocooporg)
122
hospitais creches escolas) dentro de um circuito curto de comercializaccedilatildeo considerado
como venda direta pelo governo brasileiro Assim por meio de programas de governo
os alimentos da agricultura familiar satildeo comprados diretamente dos agricultores ou
das associaccedilotildees e cooperativas de produtores e chegam ateacute a populaccedilatildeo via entidades
de assistecircncia social do governo e escolas puacuteblicas Satildeo programas que se inserem nas
poliacuteticas puacuteblicas voltadas agrave seguranccedila alimentar e nutricional Nos uacuteltimos anos no Brasil
dois programas se destacaram na compra de produtos de base ecoloacutegica o Programa
de Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE)
Os produtos da agricultura fam iliar que apresentam certificaccedilatildeo orgacircnica
comercializados pelo PAA e PNAE recebem um precircmio de 30 em relaccedilatildeo ao similar
da agricultura convencional valorizando a qualidade nutricional e os demais aspectos
socioambientais envolvidos A garantia de compra dos produtos pelo governo estimula a
transiccedilatildeo agroecoloacutegica Ademais esses programas tecircm uma dimensatildeo social importante
pois atingem um grande puacuteblico (escolas) e trabalham com uma diversidade de produtos
seguindo a sazonalidade e as realidades locais
Para Scnimitt e Grisa (2013) existem algumas limitaccedilotildees operacionais que precisam
ser superadas na construccedilatildeo do mercado institucional no Brasil tais como atraso na
liberaccedilatildeo dos recursos problemas de acesso dos agricultores agrave documentaccedilatildeo exigida
(necessidade de desburocratizaccedilatildeo) falta de interaccedilatildeo entre diferentes instrumentos de
poliacutetica puacuteblica que poderiam dar suporte agraves accedilotildees dos programas falta de planejamento
e problemas de gestatildeo das organizaccedilotildees locais no acompanhamento das entregas e na
formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos beneficiaacuterios (nutricionistas merendeiras professoras
alunos) Triches e Schneider (2010) acrescentam ainda que um dos desafios na aquisiccedilatildeo
de alimentos da agricultura familiar para programas institucionais eacute a legalizaccedilatildeo das
agroinduacutestrias familiares com a regulaccedilatildeo da qualidade dos alimentos (sobretudo para
leite carnes e derivados)
Na Franccedila o recente Plano Nacional para a Agricultura Orgacircnica (Plan Ambition
Bio 2017) fixou objetivos ambiciosos para colocar 20 de produtos orgacircnicos na merenda
escolar e em restaurantes coletivos ateacute 2017 Esses objetivos variam de uma regiatildeo
para outra privilegiando produtos natildeo somente orgacircnicos (bio) mas tambeacutem locais
(normalmente o produto local tem maior peso) pois favorece o desenvolvimento regional
Em todo caso esse desenvolvimento segue associado a novas formas de organizaccedilatildeo
plataformas logiacutesticas redes de trabalho negociaccedilatildeo e planejamento das necessidades
de produtos entre escolas e produtores
123
Experiecircncias em outros paiacuteses europeus com alimentaccedilatildeo escolar mostram que o
poder puacuteblico tem papel decisivo em relaccedilatildeo aos mecanismos de aquisiccedilatildeo de alimentos
ao incentivo de determinados modelos de produccedilatildeo sustentaacuteveis e de sauacutede puacuteblica
O poder puacuteblico pode utilizar o seu poder de regulaccedilatildeo de decisatildeo sobre alocaccedilatildeo de
recursos e de ator-chave no abastecimento alim entar para promover mudanccedilas no
comportamento da sociedade (MORGAN SONNINO 2008)
O mercado institucional reforccedila outras iniciativas de comercializaccedilatildeo em circuitos
curtos fortalece as redes de organizaccedilotildees sociais e potencializa o diaacutelogo entre os atores
envolvidos com a agroecologia Tal situaccedilatildeo traz perspectivas otimistas para estimular
a produccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos e saudaacuteveis contribuir no sentido de potencializar
processos de transiccedilatildeo agroecoloacutegica e promoccedilatildeo da agroecologia bem como respeitar
os modos de vida das populaccedilotildees tradicionais fortalecer a cultura alimentar regional e
promover a valorizaccedilatildeo da sociobiodiversidade
6 C IR C U IT O S DE C IR C U LA Ccedil Atilde O E C O M E R C IA LIZA Ccedil Atilde O EM REDE
Uma experiecircncia pioneira vem sendo desenvolvida pelo circuito de circulaccedilatildeo
e com ercializaccedilatildeo da Rede Ecovida de Agroecologia no sul do Brasil Os princiacutepios
se g u id o s pela rede satildeo os produtos co m ercia lizad o s pelo circu ito tecircm de ser
agroecoloacutegicos com selo de certificaccedilatildeo participativa da Rede Ecovida a organizaccedilatildeo
ou grupo de agricultores para participar do circuito deve fazer parte da rede quem
vend e deve tam beacutem com prar produtos dos dem ais produtores (intercacircm bio e
circulaccedilatildeo de produtos) (MAGNANTI 2008)
Esse sistema tem permitido a troca e circulaccedilatildeo de produtos entre as regiotildees aleacutem
de atender agrave diversidade manter uma regularidade e a qualidade bioloacutegica dos produtos
visto que se trabalha exclusivamente com produtos certificados de forma participativa
A discussatildeo de circuitos curtos nesse sentido se daacute natildeo pela distacircncia fiacutesica e nuacutemero de
intermediaacuterios mas pela dimensatildeo social e poliacutetica estabelecida pelo sistema participativo
de garantia e pela organizaccedilatildeo do movimento social
Em torno de 50 itens satildeo ofertados pelo circuito divididos entre hortaliccedilas (100)
frutas (80) gratildeos (80) farinhas (70) accediluacutecar (50) e processados (20)(REDE
ECOVIDA 2014) Os produtos tecircm circulado principalmente em feiras agroecoloacutegicas
em Programas de Governo como o PAA e PNAE pequenos comeacutercios e distribuidores e
grupos de trocas de alimentos (autoconsumo) garantindo tambeacutem a autonomia alimentar
dos agricultores da rede
124
Os desafios para esse tipo de com ercializaccedilatildeo segundo Perez-Cassarino
(2013) satildeo a padronizaccedilatildeo de documentos para comercializaccedilatildeo entre os estados
a padronizaccedilatildeo de embalagens prioritariamente ecoloacutegicas a padronizaccedilatildeo de produtos
entre os nuacutecleos investim ento em recursos hum anos para operacionalizaccedilatildeo do
processo de comercializaccedilatildeo melhoria e investimentos em logiacutestica e um planejamento
de produccedilatildeo para atender a uma dem anda em expansatildeo destacadam ente para
alimentaccedilatildeo escolar
7 C A R A C T E R IacuteST IC A S E O R G A N IZA Ccedil Atilde O DAS PR O PR IED A D ES EM C IR C U ITO S CU RTO S
Tanto no Brasil como na Franccedila as experiecircncias estudadas que comercializam em
circuitos curtos satildeo majoritariamente provenientes da agricultura familiar com destaque
para a categoria de agricultores neorurais que se desenvolvem em aacutereas pequenas (em
meacutedia menor que 20 hectares no total) quando comparadas agravequelas em circuitos longos
Um dos pilares de sustentaccedilatildeo eacute a matildeo de obra familiar que tem uma carga de trabalho
intensa e deve aliar diferentes competecircncias (produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo)
no intuito de diminuir custos e agregar valor ao produto
Na Franccedila a maior parte das propriedades estudadas que vendem em circuitos
curtos eacute especializada em um determinado sistema de produccedilatildeo (fruticultura olericultura
leite ovos queijo) estando de acordo com Mundler (2008) No Brasil as propriedades
orgacircnicas estudadas mostraram-se mais diversificadas contando com sistemas vegetais
e anim ais mais com plexos Se por um lado isso eacute desejado porque atende aos
princiacutepios agroecoloacutegicos por outro torna o planejamento produtivo mais complexo
Nos dois paiacuteses a gama de produtos eacute em geral mais diversificada quando comparada
agrave agricultura convencional mesmo quando as propriedades satildeo especializadas em
determinados sistemas Observou-se ainda uma tendecircncia agrave diversificaccedilatildeo em serviccedilos
com a pluriatividade da propriedade (agroturismo gastronomia lazer e descoberta
alojamentos e propriedades pedagoacutegicas) conforme jaacute apontaram Schneider (2005)
Mundler Guermonprez Pluvinage (2007)
Outra caracteriacutestica a destacar em circuitos curtos eacute a maior autonomia do agricultor
em relaccedilatildeo aos circuitos longos No Brasil os agricultores que trabalham integrados com
empresas para vendas em supermercados tecircm menor autonomia na gestatildeo sendo o
planejamento de produccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo realizados pelas empresas Segundo Darolt
125
(2012) o sistema de produccedilatildeo eacute simplificado e especializado em um ou dois produtos
Eacute com um nesses casos uma repeticcedilatildeo da loacutegica comercial e industrial utilizada em
sistemas convencionais para produccedilatildeo em escala
A figura 2 resume as diferentes caracteriacutesticas observadas nas propriedades
que comercializam em circuitos curtos Segundo Mundler (2008) a combinaccedilatildeo entre
agricultura ecoloacutegica e circuitos curtos tem impactos positivos em diferentes dimensotildees
como na economia local trazendo oportunidades de trabalho e de renda na dimensatildeo
social com a aproximaccedilatildeo de produtores e consumidores na dimensatildeo ambiental com
a valorizaccedilatildeo dos recursos naturais e da paisagem e na dimensatildeo poliacutetica como uma
nova opccedilatildeo de consumo
FIGURA 2 - CARACTERIacuteSTICAS COMUNS OBSERVADAS EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS (BRASIL E FRANCcedilA)
A organizaccedilatildeo do trabalho observada nas experiecircncias se mostrou mais ou menos
complexa em funccedilatildeo dos recursos humanos e econocircmicos disponiacuteveis na propriedade
Em propriedades familiares de pequeno porte concordando com Dedieu et a i (1999)
eacute fundam ental agregar valor ao produto (com a transformaccedilatildeo) vender sempre que
possiacutevel de forma direta e potencializar os serviccedilos na propriedade (turismo e acolhida
do consumidor na propriedade por exemplo)
A forma de comercializaccedilatildeo mais adequada a cada tipo de produtor pode variar
em funccedilatildeo da matildeo de obra da organizaccedilatildeo do sistema de produccedilatildeo e da infraestrutura
disponiacutevel Observamos que na maioria dos canais estudados as praacuteticas agriacutecolas
utilizadas os volumes de produccedilatildeo os tipos de produtos e a organizaccedilatildeo do trabalho
se adaptam para responder agraves demandas dos consumidores Assim concordando com
M undler et a i (2007) notamos que a loacutegica de desenvolvimento em circuitos curtos
126
vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste
entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em
circuitos curtos quando comparado a um circuito longo
8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O
Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo
ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que
isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo
semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao
consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis
Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental
pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte
Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na
comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam
que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com
o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e
menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento
em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo
satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta
e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores
brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando
o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a
agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia
e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel
127
TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO
ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES
Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)
bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod
Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo
bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)
FONTE Elaborado pelos autores
Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades
para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto
a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo
saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes
alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas
rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar
que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos
consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento
das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de
regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial
e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica
128
9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O
Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos
ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais
circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar
dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo
De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo
imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona
o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e
tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma
o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar
soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes
contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de
desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-
produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais
Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito
agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo
e consumo
O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem
as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo
ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos
agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da
paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)
Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas
puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais
organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de
distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa
como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas
de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores
(AMAPs) na Franccedila
O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser
superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as
poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas
129
como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade
na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de
infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente
com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em
circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave
alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo
de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo
distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas
especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na
fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica
Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara
do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como
as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem
de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas
singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores
procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos
valores e resgate da autonomia dos agricultores
Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas
envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o
consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados
locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-
distribuiccedilatildeo-consumo
130
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produto chegar nas matildeos do consumidor com informaccedilotildees que lhe permitam saber onde o
produto foi produzido (lugar) por quem (produtor) e de que forma (sistema de produccedilatildeo)
ao contraacuterio da alim entaccedilatildeo padronizada da agricultura industrial caracterizada por
Ploeg (2008) como impeacuterios alimentares Entretanto Goodman (2009) alerta que essas
redes e novas formas econocircmicas se desenvolvem em sociedades capitalistas e natildeo em
um universo paralelo Por isso eacute necessaacuteria uma anaacutelise criacutetica que busque avaliar as
relaccedilotildees de poder e a distribuiccedilatildeo social dos ganhos entre os atores envolvidos
As vendas em circuitos curtos canalizaram metade do valor total das compras
da produccedilatildeo orgacircnica certificada no m ercado interno brasileiro em 2010 (BLANC e
KLEDAL 2012) No Brasil 42 dos consum idores jaacute compram produtos orgacircnicos em
lojas especializadas e 35 em feiras do produtor apesar de a maioria (72) ainda comprar
em canais longos como eacute o caso de superm ercados (KLUTH BOCCHIJR CENSKOWSKY
2011) Na Franccedila a situaccedilatildeo eacute similar 79 dos consumidores compram em super e
hipermercados o que representou 46 do valor total das compras de produtos orgacircnicos
(bio) em 2013 Cabe destacar que na Franccedila a maioria das compras de alimentos em geral
eacute feita em circuitos longos Entretanto parte dos consumidores ainda prefere comprar
em circuitos curtos (33 compram em feiras do produtor (marcheacute paysan) 29 em lojas
especializadas e 19 diretamente nas propriedades o que representou 48 do valor
total das compras) principalmente por motivos de sauacutede qualidade sabor e seguranccedila
alim entar (AGENCE BIO 2014) Em am bos os paiacuteses uma das especificidades dessas
redes eacute o fato de questionar alguns princiacutepios baacutesicos do sistema convencional como
a homogeneizaccedilatildeo a padronizaccedilatildeo de produtos e o grande nuacutemero de intermediaacuterios
na com ercializaccedilatildeo em grandes d istacircncias (LAM INE 2012) Nesse sentido as redes
alternativas propotildeem novos princiacutepios de troca relocalizaccedilatildeo dos alimentos retomam
valores tradiccedilotildees e novos tipos de relaccedilotildees entre produtores e consumidores
Um dos p rin c ip a is q u e stio n am e n to s levantados pela literatura cientiacutefica
internacional eacute a capacidade de essas redes alimentares alternativas gerarem mudanccedilas
estru tura is em uma escala m aior (G O O D M A N 2003 DEVERRE LAM INE 2010)
Para esses autores as redes podem contribuir para uma transformaccedilatildeo das relaccedilotildees
de poder no acircmbito dos sistem as alim entares incluindo um maior peso e participaccedilatildeo
de consumidores e produtores na definiccedilatildeo dos modos de produccedilatildeo troca e consumo
(a noccedilatildeo de autonomia) Enfatizam ainda a ligaccedilatildeo necessaacuteria entre experiecircncias concretas
e movimento social e poliacutetico de oposiccedilatildeo ao modelo convencional dominante
112
Nesse sentido os movimentos sociais devem adotar diferentes estrateacutegias para
tornar os cidadatildeos mais ativos tais como a construccedilatildeo de formas alternativas de compra
e troca investimento em educaccedilatildeo do consumidor campanhas de conscientizaccedilatildeo e lobby
poliacutetico (DUBUISSON-QUELLIER et a 2011) A educaccedilatildeo para o consumo consciente eacute
um desafio na perspectiva de requalificar os consumidores em oposiccedilatildeo agrave aceitaccedilatildeo e
agrave conformidade aos alimentos ofertados pelo sistema convencional (JAFFE GERTLER
2006) O aprendizado proporcionado por essas redes alternativas de comercializaccedilatildeo
considerando as praacuteticas agriacutecolas e seus impactos as praacuteticas culinaacuterias e as praacuteticas
democraacuteticas em si que envolvem pessoas e instituiccedilotildees satildeo fontes de empoderamento
(empowerment) dos consumidores contribuindo para tornaacute-los cidadatildeos conscientes
de sua alim entaccedilatildeo ou consum idores c id ad atildeo s (food c itizen s) (W ILKIN S 2005
LEVKOE 2006)
Do lado dos produtores Brandenburg e Ferreira (2012) acrescentam que os
agricultores ecoloacutegicos inseridos num m ovim ento social organizado contribuem para
a ecologizaccedilatildeo de um rural que se situa para aleacutem das praacuteticas agriacutecolas Nesse caso
recuperam-se os interesses individuais dos agricultores transform ando-os em projetos
coletivos e apontando para uma racionalidade socioambiental
Alguns trabalhos questionam as possibilidades e limitaccedilotildees das redes alternativas
para superar as desigualdades sociais entre produtores e consumidores Outros discutem
as possibilidades de as populaccedilotildees vulneraacuteveis terem acesso agrave alimentaccedilatildeo de qualidade
via circuitos curtos Para garantir uma visatildeo de equidade numa perspectiva de seguranccedila
alimentar vaacuterios autores tecircm demonstrado o papel crucial da sociedade civil e as inovaccedilotildees
sociais que emergem dessas experiecircncias em termos de tomada de decisatildeo e modelos
de gestatildeo participativa Alguns trabalhos apontam ainda para a noccedilatildeo de democracia
alimentar (HASSANEIN 2008 WILKINS 2005) agricultura cidadatilde (LYSON 2004) ou
ainda redes alimentares cidadatildes (RENTING et a 2012)
Outros autores questionam o uso do term o Rede Alim entar Alternativa (AFN
em inglecircs) argumentando que muitas vezes ele eacute usado de maneira polarizada como
parte de um dualism o entre convencional - alternativo (HOLLOW AY et a l2007)
A proposta eacute que se supere a dicotomia convencional-alternativo que reduz a questatildeo da
produccedilatildeo e consumo alimentar como dividido entre as diversas iniciativas alternativas
que se posicionam contra um convencional sistema alimentar monoiiacutetico Concordamos
que eacute possiacutevel encontrar formas hiacutebridas re lacionais e com plem entares de redes
alimentares como mostrou Maye (2013)
113
De fato podem existir com plem entaridades entre redes alternativas e
convencionais como destaca Lamine (2012) que podem contribuir no processo de
transiccedilatildeo A autora considera que para garantir uma transiccedilatildeo ecoloacutegica pira redes
alimentares mais sustentaacuteveis deve-se buscar mais do que a participaccedilatildeo de produtores
e consumidores e considerar a rede de atores e instituiccedilotildees em um sentiio amplo
com envolvim ento de outros atores da cadeia alimentar como a exteniatildeo rural
a pesquisa o ensino a sociedade civil e o poder puacuteblico Quando o foco do etudo satildeo
produtos da agricultura de base ecoloacutegica concordamos com Perez-Cassarho (2013)
que a constituiccedilatildeo de redes alimentares alternativas potencializa o surgimentc de novas
sociabilidades resgate e reconstruccedilatildeo de valores e princiacutepios centrados na confianccedila
reputaccedilatildeo eacutetica e solidariedade
O que se pretende discutir neste trabalho por meio de experiecircncias francesas
e brasileiras eacute que as essas redes alimentares alternativas trazem inovaccedilotildees sociais
diversidade e valores associados que podem contribuir na reconexatildeo entre produccedilatildeo e
consumo valorizar os mercados locais por meio de circuitos curtos de comercializaccedilatildeo e
facilitar a transiccedilatildeo para sistemas de produccedilatildeo e consumo mais sustentaacuteveis
Vamos mostrar que o desenvolvimento da agricultura familiar de base ecoloacutegica
eacute potencializado quando associado a circuitos curtos e redes alimentares alternativas
com plem entado por parcerias e poliacuteticas puacuteblicas voltadas ao fortalecim ento
dessas iniciativas
Algumas questotildees de pesquisa guiam essa investigaccedilatildeo Quais satildeo o tipos de
circuitos curtos de alimentos ecoloacutegicos Quais as caracteriacutesticas das propriecades que
participam dessas redes e como se organizam Em que condiccedilotildees os circuitos curtos de
comercializaccedilatildeo satildeo viaacuteveis Quais os aprendizados as dificuldades e as oporunidades
para produtores e consumidores em participar de redes alternativas de comercalizaccedilatildeo
Enfim o objetivo geral do trabalho eacute analisar as particularidades das redes
alternativas de comercializaccedilatildeo de produtos ecoloacutegicos e as relaccedilotildees produccedilatildeoconsumo
na Franccedila e no Brasil Para isso apresenta-se uma tipologia desses circuitos cirtos (CC)
como funcionam as caracteriacutesticas principais as oportunidades e as dificuldades para
produtores e consumidores
2 O M EacuteTODO DE P ESQ U ISA E AS EX P E R IEcirc N C IA S ESTU D ADA S
A metodologia de trabalho envolveu a pesquisa descritiva e qualitativa a partir
de experiecircncias selecionadas na Franccedila e no Sul do Brasil Num primeiro monento foi
realizada uma revisatildeo da literatura internacional seguida de um estudo preacutevio err conjunto
114
com uma equipe de especialistas franceses e brasileiros selecionando experiecircncias
de redes alternativas de com ercializaccedilatildeo com produtos e serviccedilos da agricultura de
base ecoloacutegica Os criteacuterios para seleccedilatildeo das experiecircncias foram representatividade
regional tempo da experiecircncia reconhecimento local trabalho com produtos ecoloacutegicos
mecanismos de certificaccedilatildeo prioridade para circuitos curtos e redes alternativas
Foram realizadas no total 40 visitas teacutecnicas sendo seis feiras em Paris Marseille
e Regiatildeo Provence-Alpes-Cocircte dAzur (PACA) dois Pontos de Venda Coletiva (PVC)
duas Associaccedilotildees de Consum idores (AMAP - Associaccedilatildeo para M anutenccedilatildeo de uma
Agricultura Camponesa) cinco lojas especializadas em produtos orgacircnicos (conhecidos
como bio) uma loja de cooperativa de agricultores duas experiecircncias de venda na
propriedade (Bienvenue agrave la Ferme) uma experiecircncia de acolhida na propriedade (Accueil
paysan) e entrevistas qualitativas com diferentes atores da rede de comercializaccedilatildeo
sendo sete agricultores orgacircnicos em sistema de olericultura fruticultura ovinocultura e
bovinocultura sete especialistas de diferentes instituiccedilotildees que trabalham com agricultura
orgacircnica aleacutem de informaccedilotildees coletadas em sete seminaacuterios de pesquisa sobre o tema
O estudo foi realizado entre novembro de 2011 e marccedilo de 2012 sendo selecionadas
20 entrevistas mais consistentes para responder aos objetivos da pesquisa O estudo
foi realizado na Franccedila nas regiotildees PACA Rhocircne-Alpes e lie de France e no Sul do Brasil
Para comparar qualitativamente as experiecircncias francesas com as experiecircncias
do Brasil utilizamos os relatos de experiecircncias de trabalhos com as redes alternativas
de com ercializaccedilatildeo de alim entos ecoloacutegicos no Sul do Brasil (destaque para a rede
Ecovida4) descritos por Darolt (2012) A etapa de campo permitiu a construccedilatildeo de um
diagnoacutestico com base em informaccedilotildees coletadas em visitas entrevistas participaccedilatildeo
em eventos e fontes secundaacuterias descrevendo as caracteriacutesticas principais (definiccedilatildeo
funcionamento estrutura meacutetodos de distribuiccedilatildeo e marketing dos produtos vantagens
para consum idores e produtores) aleacutem de destacar dificuldades e oportunidades
A partir de informaccedilotildees coletadas foi criada uma tipologia das diferentes experiecircncias
e realizada uma anaacutelise qualitativa e comparativa dos resultados com base no niacutevel de
desenvolvimento de cada experiecircncia estudada
As experiecircncias francesas e brasileiras logicamente se desenvolvem em contextos
econocircmicos socioculturais am bientais e poliacuteticos que necessitam ser levados em
consideraccedilatildeo Percebemos na discussatildeo teoacuterica precedente que as redes alimentares
4 O circuito de circulaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo da Rede Ecovida eacute formado por 27 nuacutecleos regionais abrangendo 200 municiacutepios 400 grupos e associaccedilotildees (cerca de 3800 famiacutelias) envolvendo em torno de 200 feiras agroecoloacutegicas nos trecircs estados do Sul do Brasil (wwwecovidaorgbr) (REDE ECOVIDA 2014)
115
apresentam caracteriacutesticas e tendecircncias sem elhantes nos debates internacionais
poreacutem tecircm diferentes raiacutezes histoacutericas No Brasil muitos dos pioneiros da agricultura
de base ecoloacutegica surgiram no final da deacutecada de 1970 como parte de um movimento
para resistir ao processo de modernizaccedilatildeo agriacutecola (com os seus efeitos conhecidos de
concentraccedilatildeo de terra exclusatildeo da agricultura fam iliar e intensificaccedilatildeo da migraccedilatildeo
rural-urbana) e foram apoiados por organizaccedilotildees religiosas e da sociedade civil
Movimentos mais recentes surgiram no Brasil com a institucionalizaccedilatildeo da agricultura
orgacircnica e agroecologia e satildeo formados por iniciativas de grupos de agricultores familiares
e consumidores organizados com o apoio de organizaccedilotildees natildeo governamentais (ONGs)
e instituiccedilotildees puacuteblicas (Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio instituiccedilotildees de pesquisa
extensatildeo rural entre outras) Na Franccedila a institucionalizaccedilatildeo da agricultura de base
ecoloacutegica (bio) aconteceu mais cedo - nos anos de 1980 - o que se refletiu num maior
desenvolvimento do setor (393 da aacuterea plantada com orgacircnicos 54 do nuacutemero
de produtores e 2 do mercado - AGENCE BIO 2014) enquanto no Brasil aconteceu
um pouco mais tarde nos anos de 1990 com crescimento menor (cerca de 1 de aacuterea
plantada e 15 do mercado - MAPA 2012)
Enquanto o perfil socioloacutegico dos consumidores nos casos franceses e brasileiros
pode ser comparado (consum idores de classe meacutedia com exceccedilatildeo dos programas
governamentais para famiacutelias de baixa renda no Brasil) no caso dos agricultores existem
algumas diferenccedilas marcantes Na Franccedila os participantes das redes alternativas satildeo
frequentemente agricultores neorrurais (com origens e influecircncias urbanas) com um
niacutevel de educaccedilatildeo e renda mais elevado e maior ligaccedilatildeo com o meio urbano o que facilita
a interaccedilatildeo com os consumidores No Brasil a maioria dos agricultores ecoloacutegicos tem
origem no meio rural com baixo niacutevel de escolaridade e poucos recursos financeiros
caracteriacutestico da agricultura familiar brasileira Entretanto segundo Darolt (2012) existe
tambeacutem uma participaccedilatildeo de agricultores neorrurais na agricultura orgacircnica sobretudo
proacuteximo aos grandes centros urbanos
Neste trabalho vamos mostrar que apesar de particularidades as diferentes
experiecircncias estudadas de circuitos curtos apresentam caracteriacutesticas comuns que
permitem aos agricultores um melhor padratildeo de vida o fortalececimento de laccedilos sociais
com consumidores e a contribuiccedilatildeo na requalificaccedilatildeo de produtores e consumidores
em contraste com a desqualificaccedilatildeo induzida por redes alimentares industriais
116
3 D EFIN IN D O C IR C U ITO S CU RTO S DE C O M ER C IA LIZA Ccedil Atilde O
O debate cientiacutefico tem trazido elementos importantes para melhor definir os
circuitos curtos (CC) em termos de redes alimentares assim como para avanccedilar em
tipologias e classificaccedilatildeo das experiecircncias Numa visatildeo com vieacutes na dimensatildeo econocircmica
a distinccedilatildeo entre canais curtos e longos de distribuiccedilatildeo de alimentos eacute para alguns
especialistas uma questatildeo do nuacutemero de intermediaacuterios que operam entre a produccedilatildeo
e o consumo Assim quanto maior o nuacutemero de atravessadores mais longo eacute o canal
e vice-versa Entretanto o nuacutemero de intermediaacuterios natildeo deve ser uma questatildeo uacutenica
e prioritaacuteria Outras caracteriacutesticas que aportam dimensotildees socioculturais podem ser
destacadas para definir um circuito curto de comercializaccedilatildeo como 1) a capacidade de
socializar e localizar o produto alimentar gerando viacutenculo com o local e a propriedade
2) a redefiniccedilatildeo da relaccedilatildeo produtor-consumidor dando sinais da origem do alimento
3) o desenvolvimento de novas relaccedilotildees considerando um preccedilo justo e a qualidade
(ecoloacutegica) 4) a conexatildeo entre o consumidor e o produto alimentar (MARSDEN et a i
2000) Seguindo essas caracteriacutesticas os mesmos autores identificaram alguns tipos de
CC resumidos da seguinte forma 1 venda direta cara a cara no qual a confianccedila estaacute na
relaccedilatildeo interpessoal 2 proximidade espacial incluindo o que eacute produzido e distribuiacutedo
numa regiatildeo reconhecida pelos consumidores e 3 espaciaimente estendido nesse caso
a confianccedila eacute transmitida por um processo de garantia da qualidade (certificaccedilatildeo) Assim
considera-se natildeo soacute a distacircncia mas tambeacutem os paracircmetros organizativos (produtores e
consumidores) fatores culturais transmitidos pela confianccedila pela valorizaccedilatildeo do mercado
local e pelo produto agroecoloacutegico
Os autores espanhoacuteis Guzmaacuten et a i (2012) acrescentam ainda que num circuito
curto de comercializaccedilatildeo as relaccedilotildees de poder dentro da rede alimentar devem estar a
favor dos produtores e consumidores e natildeo dos intermediaacuterios e grandes distribuidores
No Brasil o debate teoacuterico sobre redes alimentares alternativas (PLOEG 2008
WILKINSON 2008) e circuitos curtos de alimentos ecoloacutegicos (FERRARI 2011 DAROLT
2012) ainda eacute emergente poreacutem existem muitas experiecircncias diversificadas e inovadoras
que surgem a cada ano mostrando que nos canais de distribuiccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos
haacute caracteriacutesticas similares a outros paiacuteses com destaque para mais informaccedilotildees sobre
a qualidade do produto busca de relacionamento direto e interdependecircncia entre
agricultores e consumidores
117
Os representantes do setor agroalimentar na Franccedila tecircm utilizado uma definiccedilatildeo
mais pragmaacutetica de circuito curto (CC) caracterizando os circuitos de distribuiccedilatildeo que
mobilizam ateacute - no m aacutexim o-um intermediaacuterio entre produtor e consumidor (CHAFOTTE
e CHIFFOLEAU 2007 MESSMER 2013) Dois casos podem ser distinguidos a venda direta
(quando o produtor entrega em matildeos proacuteprias a mercadoria ao consumidor) e a venda
indireta via um uacutenico intermediaacuterio (que pode ser um outro produtor uma cooperativa
uma associaccedilatildeo uma loja especializada um restaurante ou ateacute um pequeno mercado)
Na Franccedila e na Europa outras denominaccedilotildees como circuitos de proxim idade
(AUBRY CHIFFOLEAU 2009) ou circuitos locais (MARECHAL 2008) tecircm sido utilizadas
para reforccedilar a proximidade geograacutefica e o aspecto socialrelacional como a ligaccedilatildeo entre
consumidor e produtor e o desenvolvimento de mercados locais Deverre e Lamine (2010)
preferem utilizar ainda o termo sistemas alternativos numa perspectiva de questionar
o modelo convencionai propor novos princiacutepios de troca e relaccedilotildees mais justas entre
produtores e consumidores Neste trabalho consideramos que as diferentes dimensotildees
(econocircmica social ecoloacutegica e poliacutetica) satildeo importantes para classificar e analisar os
circuitos curtos
4 T IP O LO G IA E C A R A C T E R IacuteST IC A S DOS C IR C U ITO S CURTOS DE A LIM EN TO S ECO LOacute G ICO S
A classificaccedilatildeo dos tipos de circuitos curtos de comercializaccedilatildeo propostos neste
trabalho (Fig 1) segue as indicaccedilotildees teoacutericas de Marsden et a i (2000) Renting et a i
(2003) e Mundler (2008) considerando que temos circuitos relacionados com a venda
direta (em que o produtor tem relaccedilatildeo direta com o consumidor) e venda indireta
em que existe apenas um intermediaacuterio conhecedor e pessoas engajadas no processo
denotando uma interdependecircncia entre os atores Essa tipologia considera diferentes
dimensotildees econocircmicas e sociais (pela melhoria direta de renda dos agricultores e trocas
entre produtores e consumidores) mas traz embutida a dimensatildeo ecoloacutegica e poliacutetica por
se tratar de alimentos de base ecoloacutegica e com a participaccedilatildeo do poder puacuteblico (no caso
de programas de governo para alimentaccedilatildeo escolar que atingem um nuacutemero significativo
de pessoas)
118
FIGURA 1 - TIPOLOGIA DE CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE PRODUTOS ECOLOacuteGICOS
Tipologia de Circuitos Curtos
Venda Direta(relaccedilatildeo direta entre produtor e consumidor)
Venda Indireta(intervenccedilatildeo de um uacutenico intermediaacuterio
I iNa Propriedade Fora da Propriedade Lojas especializadas independentes
Lojas de cooperativas de produtores e consumidores ecoloacutegicos
Cestas para grupos ou individual Venda direta na propriedade ldquoColheita na propriedade
Feiras ecoloacutegicas direto do produtorCestas em domiciacutelio e para empresasVenda para programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo de baixa renda)
Lojas de associaccedilatildeo de produtoresVenda para grupos de consumidores organizados Venda em beira de estradasFeiras agropecuaacuterias salotildees eventos
bullRestaurantes coletivos e individuais Pequenos mercados de produtos
Serviccedilos na propriedadeAgroturismo gastronomia pousada esporte e lazer
naturais (orgacircnicos e convencionais) Lojas virtuais (Vendas pela Internet)
FONTE Elaborado pelos autores a partir de Chaffotte e Chiffoleau (2007) Mundler (2008)
Pode parecer surpreendente encontrar tipos similares de iniciativas em contextos
histoacutericos e geograacuteficos diferentes Todavia os movimentos sociais em prol das agriculturas
de base ecoloacutegica no mundo tecircm compartilhado ideais muito semelhantes com um
significado poliacutetico forte que permite em certa medida readequar a produccedilatildeo para
sistemas mais sustentaacuteveis e repensar dietas e haacutebitos alimentares reforccedilando laccedilos
entre aacutereas rurais e urbanas
Nas experiecircncias brasileiras estudadas (Tabela 1) observamos que a maioria dos
produtores utiliza simultaneamente mais de um canal destacadamente 1) feiras do
produtor 2) cestas em domiciacutelio e mais recentemente 3) os programas de governo
(Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar)
Percebemos ainda inovaccedilotildees como as vendas nas propriedades associadas em circuitos
de turismo rural e restaurantes no meio rural lojas especializadas e pontos de venda de
agricultores cooperativas de consumidores vendas em rede via circuitos de circulaccedilatildeo
(caso da Rede Ecovida de certificaccedilatildeo participativa) aleacutem de vendas em lojas virtuais
pela internet
A tabela 1 traz uma siacutentese das experiecircncias com uma anaacutelise qualitativa do niacutevel
de desenvolvimento dos circuitos curtos em redes alternativas na Franccedila e no Brasil
de forma comparativa De modo geral o maior niacutevel de escolaridade e a renda dos
agricultores familiares associados ao maior niacutevel de conscientizaccedilatildeo dos consumidores
na Franccedila permitem uma vantagem comparativa em relaccedilatildeo ao desenvolvimento dessas
redes Em ambos os paiacuteses a cooperaccedilatildeo entre os atores e o engajamento poliacutetico de
produtores e consumidores permitem atingir um maior niacutevel de desenvolvimento
119
TABELA 1 - ANAacuteLISE COMPARATIVA DO NIacuteVEL DE DESENVOLVIMENTO DE CIRCUITOS CURTOS DECOMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS NA FRANCcedilA E BRASIL
TIPOS DE CIRCUITOS ALTERNATIVOS FRANCcedilA BRASILFeira de produtores (orgacircnicosagroecoloacutegicos)
Pontos de Venda Coletiva (PVC) -AMAP (Associaccedilatildeo de Consumidores) -Cestas entregues em domiciacutelio
Lojas de produtos orgacircnicos independentes
Lojas de cooperativas de produtores e consumidores
Rede de comercializaccedilatildeo (Certificaccedilatildeo Participativa) -
Venda na propriedade
Acolhida na propriedade (gastronomia lazer esporte alojamento propriedade pedagoacutegica)
Programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo em risco alimentar)
Restaurantes coletivos puacuteblico ou privado restaurantes tradicionais
Lojas virtuais (site internet de produtos ecoloacutegicos)
FONTE elaborado pelos autoresNOTA - ausente ou raro pouco desenvolvido medianamente desenvolvido muito
desenvolvido (niacutevel de desenvolvimento)
As feiras do produtor satildeo os mecanismos de comercializaccedilatildeo mais difundidos no
Brasil e a principal porta de entrada de agricultores ecoloacutegicos para o mercado local
As feiras satildeo espaccedilos educativos e de lazer que permitem grande interaccedilatildeo entre
produtores e consumidores possibilitando maior autonomia aos agricultores Pesquisa
do IDEC (2012) identificou 140 feiras orgacircnicas em 22 das 27 capitais brasileiras
O estudo aponta que nas regiotildees onde a agricultura familiar eacute forte (Sul e Nordeste
p ex) as vendas em feiras satildeo mais pronunciadas No caso da Franccedila observamos que
as feiras (marcheacutes paysans) satildeo mais sazonais (com maior expressatildeo no veratildeo) sendo
menos preferidas pelos produtores do que as lojas especializadas independentes e lojas
coletivas de produtores (PVC) que funcionam o ano todo sobretudo em funccedilatildeo das
dificuldades clim aacuteticas deslocam entos frequentes horaacuterios predefinidos e do tempo
que a feira leva para se consolidar As feiras tradicionais (marcheacutes forains classiques)
satildeo muito populares entre os consumidores e misturam produtores convencionais (com
produtos coloniais artesanais natildeo certificados) e orgacircnicos certificados (bio) Nessas feiras
tradicionais os produtores bio satildeo minoria Nos dois paiacuteses as feiras totalmente orgacircnicas
tecircm tido maior expressatildeo nas m eacutedias e grandes cidades De acordo com Chiffoleau
(2008) a consolidaccedilatildeo das feiras de produtores se daacute basicamente em quatro etapas a
saber 1) criaccedilatildeo no iniacutecio muitos consumidores aparecem para conhecer a novidade e
impulsionam o mercado 2) queda (depois de dois a trecircs anos) apoacutes a novidade alguns
120
clientes deixam de frequentar a feira acom panhado por agricultores 3) recuperaccedilatildeo
(pelo 39 e 45 anos) os clientes mais fieacuteis acabam por fazer uma divulgaccedilatildeo boca-a-boca
e ocorre uma retomada do crescimento e 4) estabilizaccedilatildeo (apoacutes cinco anos) apoacutes esse
periacuteodo ocorre uma estabilizaccedilatildeo do nuacutemero de produtores e do nuacutemero de clientes fieacuteis
O mesmo fenocircmeno tem sido verificado no Brasil (DAROLT 2012)
Na Franccedila sobretudo na regiatildeo Rhocircne Alpes estaacute bem difundida a venda em
Pontos de Venda Coletiva (PVC - Points de Vente Collectifs) surgido no final dos anos de
1970 e que conta com 56 lojas tendo no iniacutecio uma forte participaccedilatildeo de agricultores
neorurais (Lamine 2012) Os PVC satildeo pequenas lojas mantidas e adm inistradas pelos
proacuteprios agricultores que vendem produtos de uma determ inada regiatildeo (ateacute 100 km
em meacutedia) com caracteriacutesticas e tradiccedilotildees com uns (produtos do terroir) O objetivo
dessas lojas coletivas eacute melhorar as condiccedilotildees de trabalho do agricultor d im inuir o
tempo gasto na comercializaccedilatildeo e oferecer aos consumidores diversidade regularidade e
qualidade de produtos tiacutepicos da regiatildeo Os PVC demandam dos agricultores aquisiccedilatildeo de
novas competecircncias (transformaccedilatildeo de produtos adoccedilatildeo de princiacutepios de agroecologia)
e readequaccedilatildeo do trabalho na propriedade para atender agraves demandas das lojas (novos
produtos relaccedilatildeo social com os clientes) Sempre eacute possiacutevel encontrar agricultores na
loja (cada produtor deve ficar na loja um meio-dia por sem ana o que permite que o
consumidor encontre sempre um produtor na loja) e todo marketing eacute direcionado no
sentido de valorizar os produtores e a regiatildeo
Outra modalidade bem estabelecida na Franccedila e em fase de crescim ento no
Brasil (por meio de cooperativas de consum idores e grupos de com pras coletivas)
satildeo as cestas diversificadas para grupos organizados de consum idores Na Franccedila as
chamadas AM APs -Associations pourle Maintien dune Agriculture Paysanne (Associaccedilatildeo
para M anutenccedilatildeo de uma Agricultura Cam ponesa) surgiram a partir dos anos 2000
inspiradas nas Community Supported Agriculture (Agricultura Apoiada pela Comunidade)
e representam um contrato de parceria entre consumidores e produtores (LAMINE 2008)
Na Franccedila haacute maior engajamento social dos consumidores e participaccedilatildeo em grupos de
inserccedilatildeo social quando comparados agraves experiecircncias brasileiras que ainda satildeo incipientes
Em contrapartida no Brasil as cestas individuais vecircm ganhando simpatia do consumidor
pela praticidade e pelos preccedilos m enores quando com parados aos superm ercados
mas ainda haacute pouca organizaccedilatildeo e engajam ento social do con su m idor brasileiro
no processo
121
As lojas especializadas de produtos ecoloacutegicos existem haacute vaacuterios inos na Franccedila
em cidades grandes meacutedias e pequenas contando com redes bem estabelecidas
espalhadas por todo o paiacutes com um discurso de solidariedade e pa-ceria com os
produtores como eacute o caso de Biocoop5 Segundo a Agence Bio (2014) eses dispositivos
representaram 35 do valor total das vendas com productos bio em ZD13 No Brasil
parte dos consumidores orgacircnicos (41) com plem entam suas com pns em lojas de
produtos especializados sobretudo nas capitais (KLUTH BOCCFIIJR CENSIOWSKY 2011)
Em cidades de menor porte as lojas podem estar associadas a organiza ccedilotildeesde produtores
familiares e consumidores ecoloacutegicos (p ex Ecotorres e Cooperativa deConsumidores
Ecoloacutegicos de Trecircs Cachoeiras no Rio Grande do Sul) ou funcionar com o poio do poder
puacuteblico municipal A maioria das lojas trabalha com entregas em domiciacuteio via internet
ou telefone permitindo ao consumidor escolher os produtos de uma lita de opccedilotildees
com maior comodidade e com preccedilos inferiores aos praticados pelos suparmercados
As vendas nas propriedades estatildeo bem difundidas na Franccedilasobretudo no
tocante a vinhos queijos e produtos do terroir No Brasil as vendas na propriedades
estatildeo em fase de expansatildeo e tecircm sido associadas a propriedades que fazem parte de
circuitos de turismo rural e agroecoloacutegico (Accueil paysan na Franccedila e Acohida na colocircnia
no Brasil) e satildeo mais comuns em cidades periurbanas proacuteximas agraves regiotildees netropolitanas
As lojas virtuais de produtos ecoloacutegicos ganham espaccedilo tanto na Franccedila quanto
no Brasil e com tendecircncia de crescimento para os proacuteximos anos sobretido nas regiotildees
metropolitanas todavia nem sempre representam um circuito curto conforme discutido
neste trabalho Entretanto satildeo procuradas pela facilidade de compra ccmodidade nas
entregas ao consumidor e preccedilos inferiores aos supermercados atendencb agraves exigecircncias
da vida moderna
5 PRO G RA M A S DE G O VERN O O P O R T U N ID A D E S PARA A A G RO ECO LO G IA NO BRA SIL
A com ercializaccedilatildeo de produtos agroalim entares por meio de orogramas do
governo ou m ercado institucional surgiu no Brasil em 2003 com o Program a de
Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e vem ganhando espaccedilo conforme Schimitte Grisa (2013)
O mercado institucional atende ao consumidor coletivo (instituiccedilotildees de assistecircncia social
5 Biocoop eacute uma rede francesa com 330 lojas e atores independentes militantes e engajados no desenvolvimento da agricultura orgacircnica (conhecida como bio) (wwwbiocooporg)
122
hospitais creches escolas) dentro de um circuito curto de comercializaccedilatildeo considerado
como venda direta pelo governo brasileiro Assim por meio de programas de governo
os alimentos da agricultura familiar satildeo comprados diretamente dos agricultores ou
das associaccedilotildees e cooperativas de produtores e chegam ateacute a populaccedilatildeo via entidades
de assistecircncia social do governo e escolas puacuteblicas Satildeo programas que se inserem nas
poliacuteticas puacuteblicas voltadas agrave seguranccedila alimentar e nutricional Nos uacuteltimos anos no Brasil
dois programas se destacaram na compra de produtos de base ecoloacutegica o Programa
de Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE)
Os produtos da agricultura fam iliar que apresentam certificaccedilatildeo orgacircnica
comercializados pelo PAA e PNAE recebem um precircmio de 30 em relaccedilatildeo ao similar
da agricultura convencional valorizando a qualidade nutricional e os demais aspectos
socioambientais envolvidos A garantia de compra dos produtos pelo governo estimula a
transiccedilatildeo agroecoloacutegica Ademais esses programas tecircm uma dimensatildeo social importante
pois atingem um grande puacuteblico (escolas) e trabalham com uma diversidade de produtos
seguindo a sazonalidade e as realidades locais
Para Scnimitt e Grisa (2013) existem algumas limitaccedilotildees operacionais que precisam
ser superadas na construccedilatildeo do mercado institucional no Brasil tais como atraso na
liberaccedilatildeo dos recursos problemas de acesso dos agricultores agrave documentaccedilatildeo exigida
(necessidade de desburocratizaccedilatildeo) falta de interaccedilatildeo entre diferentes instrumentos de
poliacutetica puacuteblica que poderiam dar suporte agraves accedilotildees dos programas falta de planejamento
e problemas de gestatildeo das organizaccedilotildees locais no acompanhamento das entregas e na
formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos beneficiaacuterios (nutricionistas merendeiras professoras
alunos) Triches e Schneider (2010) acrescentam ainda que um dos desafios na aquisiccedilatildeo
de alimentos da agricultura familiar para programas institucionais eacute a legalizaccedilatildeo das
agroinduacutestrias familiares com a regulaccedilatildeo da qualidade dos alimentos (sobretudo para
leite carnes e derivados)
Na Franccedila o recente Plano Nacional para a Agricultura Orgacircnica (Plan Ambition
Bio 2017) fixou objetivos ambiciosos para colocar 20 de produtos orgacircnicos na merenda
escolar e em restaurantes coletivos ateacute 2017 Esses objetivos variam de uma regiatildeo
para outra privilegiando produtos natildeo somente orgacircnicos (bio) mas tambeacutem locais
(normalmente o produto local tem maior peso) pois favorece o desenvolvimento regional
Em todo caso esse desenvolvimento segue associado a novas formas de organizaccedilatildeo
plataformas logiacutesticas redes de trabalho negociaccedilatildeo e planejamento das necessidades
de produtos entre escolas e produtores
123
Experiecircncias em outros paiacuteses europeus com alimentaccedilatildeo escolar mostram que o
poder puacuteblico tem papel decisivo em relaccedilatildeo aos mecanismos de aquisiccedilatildeo de alimentos
ao incentivo de determinados modelos de produccedilatildeo sustentaacuteveis e de sauacutede puacuteblica
O poder puacuteblico pode utilizar o seu poder de regulaccedilatildeo de decisatildeo sobre alocaccedilatildeo de
recursos e de ator-chave no abastecimento alim entar para promover mudanccedilas no
comportamento da sociedade (MORGAN SONNINO 2008)
O mercado institucional reforccedila outras iniciativas de comercializaccedilatildeo em circuitos
curtos fortalece as redes de organizaccedilotildees sociais e potencializa o diaacutelogo entre os atores
envolvidos com a agroecologia Tal situaccedilatildeo traz perspectivas otimistas para estimular
a produccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos e saudaacuteveis contribuir no sentido de potencializar
processos de transiccedilatildeo agroecoloacutegica e promoccedilatildeo da agroecologia bem como respeitar
os modos de vida das populaccedilotildees tradicionais fortalecer a cultura alimentar regional e
promover a valorizaccedilatildeo da sociobiodiversidade
6 C IR C U IT O S DE C IR C U LA Ccedil Atilde O E C O M E R C IA LIZA Ccedil Atilde O EM REDE
Uma experiecircncia pioneira vem sendo desenvolvida pelo circuito de circulaccedilatildeo
e com ercializaccedilatildeo da Rede Ecovida de Agroecologia no sul do Brasil Os princiacutepios
se g u id o s pela rede satildeo os produtos co m ercia lizad o s pelo circu ito tecircm de ser
agroecoloacutegicos com selo de certificaccedilatildeo participativa da Rede Ecovida a organizaccedilatildeo
ou grupo de agricultores para participar do circuito deve fazer parte da rede quem
vend e deve tam beacutem com prar produtos dos dem ais produtores (intercacircm bio e
circulaccedilatildeo de produtos) (MAGNANTI 2008)
Esse sistema tem permitido a troca e circulaccedilatildeo de produtos entre as regiotildees aleacutem
de atender agrave diversidade manter uma regularidade e a qualidade bioloacutegica dos produtos
visto que se trabalha exclusivamente com produtos certificados de forma participativa
A discussatildeo de circuitos curtos nesse sentido se daacute natildeo pela distacircncia fiacutesica e nuacutemero de
intermediaacuterios mas pela dimensatildeo social e poliacutetica estabelecida pelo sistema participativo
de garantia e pela organizaccedilatildeo do movimento social
Em torno de 50 itens satildeo ofertados pelo circuito divididos entre hortaliccedilas (100)
frutas (80) gratildeos (80) farinhas (70) accediluacutecar (50) e processados (20)(REDE
ECOVIDA 2014) Os produtos tecircm circulado principalmente em feiras agroecoloacutegicas
em Programas de Governo como o PAA e PNAE pequenos comeacutercios e distribuidores e
grupos de trocas de alimentos (autoconsumo) garantindo tambeacutem a autonomia alimentar
dos agricultores da rede
124
Os desafios para esse tipo de com ercializaccedilatildeo segundo Perez-Cassarino
(2013) satildeo a padronizaccedilatildeo de documentos para comercializaccedilatildeo entre os estados
a padronizaccedilatildeo de embalagens prioritariamente ecoloacutegicas a padronizaccedilatildeo de produtos
entre os nuacutecleos investim ento em recursos hum anos para operacionalizaccedilatildeo do
processo de comercializaccedilatildeo melhoria e investimentos em logiacutestica e um planejamento
de produccedilatildeo para atender a uma dem anda em expansatildeo destacadam ente para
alimentaccedilatildeo escolar
7 C A R A C T E R IacuteST IC A S E O R G A N IZA Ccedil Atilde O DAS PR O PR IED A D ES EM C IR C U ITO S CU RTO S
Tanto no Brasil como na Franccedila as experiecircncias estudadas que comercializam em
circuitos curtos satildeo majoritariamente provenientes da agricultura familiar com destaque
para a categoria de agricultores neorurais que se desenvolvem em aacutereas pequenas (em
meacutedia menor que 20 hectares no total) quando comparadas agravequelas em circuitos longos
Um dos pilares de sustentaccedilatildeo eacute a matildeo de obra familiar que tem uma carga de trabalho
intensa e deve aliar diferentes competecircncias (produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo)
no intuito de diminuir custos e agregar valor ao produto
Na Franccedila a maior parte das propriedades estudadas que vendem em circuitos
curtos eacute especializada em um determinado sistema de produccedilatildeo (fruticultura olericultura
leite ovos queijo) estando de acordo com Mundler (2008) No Brasil as propriedades
orgacircnicas estudadas mostraram-se mais diversificadas contando com sistemas vegetais
e anim ais mais com plexos Se por um lado isso eacute desejado porque atende aos
princiacutepios agroecoloacutegicos por outro torna o planejamento produtivo mais complexo
Nos dois paiacuteses a gama de produtos eacute em geral mais diversificada quando comparada
agrave agricultura convencional mesmo quando as propriedades satildeo especializadas em
determinados sistemas Observou-se ainda uma tendecircncia agrave diversificaccedilatildeo em serviccedilos
com a pluriatividade da propriedade (agroturismo gastronomia lazer e descoberta
alojamentos e propriedades pedagoacutegicas) conforme jaacute apontaram Schneider (2005)
Mundler Guermonprez Pluvinage (2007)
Outra caracteriacutestica a destacar em circuitos curtos eacute a maior autonomia do agricultor
em relaccedilatildeo aos circuitos longos No Brasil os agricultores que trabalham integrados com
empresas para vendas em supermercados tecircm menor autonomia na gestatildeo sendo o
planejamento de produccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo realizados pelas empresas Segundo Darolt
125
(2012) o sistema de produccedilatildeo eacute simplificado e especializado em um ou dois produtos
Eacute com um nesses casos uma repeticcedilatildeo da loacutegica comercial e industrial utilizada em
sistemas convencionais para produccedilatildeo em escala
A figura 2 resume as diferentes caracteriacutesticas observadas nas propriedades
que comercializam em circuitos curtos Segundo Mundler (2008) a combinaccedilatildeo entre
agricultura ecoloacutegica e circuitos curtos tem impactos positivos em diferentes dimensotildees
como na economia local trazendo oportunidades de trabalho e de renda na dimensatildeo
social com a aproximaccedilatildeo de produtores e consumidores na dimensatildeo ambiental com
a valorizaccedilatildeo dos recursos naturais e da paisagem e na dimensatildeo poliacutetica como uma
nova opccedilatildeo de consumo
FIGURA 2 - CARACTERIacuteSTICAS COMUNS OBSERVADAS EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS (BRASIL E FRANCcedilA)
A organizaccedilatildeo do trabalho observada nas experiecircncias se mostrou mais ou menos
complexa em funccedilatildeo dos recursos humanos e econocircmicos disponiacuteveis na propriedade
Em propriedades familiares de pequeno porte concordando com Dedieu et a i (1999)
eacute fundam ental agregar valor ao produto (com a transformaccedilatildeo) vender sempre que
possiacutevel de forma direta e potencializar os serviccedilos na propriedade (turismo e acolhida
do consumidor na propriedade por exemplo)
A forma de comercializaccedilatildeo mais adequada a cada tipo de produtor pode variar
em funccedilatildeo da matildeo de obra da organizaccedilatildeo do sistema de produccedilatildeo e da infraestrutura
disponiacutevel Observamos que na maioria dos canais estudados as praacuteticas agriacutecolas
utilizadas os volumes de produccedilatildeo os tipos de produtos e a organizaccedilatildeo do trabalho
se adaptam para responder agraves demandas dos consumidores Assim concordando com
M undler et a i (2007) notamos que a loacutegica de desenvolvimento em circuitos curtos
126
vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste
entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em
circuitos curtos quando comparado a um circuito longo
8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O
Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo
ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que
isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo
semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao
consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis
Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental
pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte
Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na
comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam
que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com
o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e
menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento
em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo
satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta
e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores
brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando
o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a
agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia
e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel
127
TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO
ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES
Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)
bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod
Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo
bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)
FONTE Elaborado pelos autores
Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades
para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto
a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo
saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes
alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas
rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar
que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos
consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento
das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de
regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial
e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica
128
9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O
Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos
ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais
circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar
dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo
De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo
imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona
o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e
tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma
o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar
soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes
contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de
desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-
produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais
Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito
agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo
e consumo
O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem
as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo
ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos
agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da
paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)
Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas
puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais
organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de
distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa
como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas
de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores
(AMAPs) na Franccedila
O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser
superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as
poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas
129
como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade
na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de
infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente
com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em
circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave
alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo
de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo
distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas
especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na
fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica
Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara
do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como
as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem
de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas
singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores
procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos
valores e resgate da autonomia dos agricultores
Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas
envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o
consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados
locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-
distribuiccedilatildeo-consumo
130
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Nesse sentido os movimentos sociais devem adotar diferentes estrateacutegias para
tornar os cidadatildeos mais ativos tais como a construccedilatildeo de formas alternativas de compra
e troca investimento em educaccedilatildeo do consumidor campanhas de conscientizaccedilatildeo e lobby
poliacutetico (DUBUISSON-QUELLIER et a 2011) A educaccedilatildeo para o consumo consciente eacute
um desafio na perspectiva de requalificar os consumidores em oposiccedilatildeo agrave aceitaccedilatildeo e
agrave conformidade aos alimentos ofertados pelo sistema convencional (JAFFE GERTLER
2006) O aprendizado proporcionado por essas redes alternativas de comercializaccedilatildeo
considerando as praacuteticas agriacutecolas e seus impactos as praacuteticas culinaacuterias e as praacuteticas
democraacuteticas em si que envolvem pessoas e instituiccedilotildees satildeo fontes de empoderamento
(empowerment) dos consumidores contribuindo para tornaacute-los cidadatildeos conscientes
de sua alim entaccedilatildeo ou consum idores c id ad atildeo s (food c itizen s) (W ILKIN S 2005
LEVKOE 2006)
Do lado dos produtores Brandenburg e Ferreira (2012) acrescentam que os
agricultores ecoloacutegicos inseridos num m ovim ento social organizado contribuem para
a ecologizaccedilatildeo de um rural que se situa para aleacutem das praacuteticas agriacutecolas Nesse caso
recuperam-se os interesses individuais dos agricultores transform ando-os em projetos
coletivos e apontando para uma racionalidade socioambiental
Alguns trabalhos questionam as possibilidades e limitaccedilotildees das redes alternativas
para superar as desigualdades sociais entre produtores e consumidores Outros discutem
as possibilidades de as populaccedilotildees vulneraacuteveis terem acesso agrave alimentaccedilatildeo de qualidade
via circuitos curtos Para garantir uma visatildeo de equidade numa perspectiva de seguranccedila
alimentar vaacuterios autores tecircm demonstrado o papel crucial da sociedade civil e as inovaccedilotildees
sociais que emergem dessas experiecircncias em termos de tomada de decisatildeo e modelos
de gestatildeo participativa Alguns trabalhos apontam ainda para a noccedilatildeo de democracia
alimentar (HASSANEIN 2008 WILKINS 2005) agricultura cidadatilde (LYSON 2004) ou
ainda redes alimentares cidadatildes (RENTING et a 2012)
Outros autores questionam o uso do term o Rede Alim entar Alternativa (AFN
em inglecircs) argumentando que muitas vezes ele eacute usado de maneira polarizada como
parte de um dualism o entre convencional - alternativo (HOLLOW AY et a l2007)
A proposta eacute que se supere a dicotomia convencional-alternativo que reduz a questatildeo da
produccedilatildeo e consumo alimentar como dividido entre as diversas iniciativas alternativas
que se posicionam contra um convencional sistema alimentar monoiiacutetico Concordamos
que eacute possiacutevel encontrar formas hiacutebridas re lacionais e com plem entares de redes
alimentares como mostrou Maye (2013)
113
De fato podem existir com plem entaridades entre redes alternativas e
convencionais como destaca Lamine (2012) que podem contribuir no processo de
transiccedilatildeo A autora considera que para garantir uma transiccedilatildeo ecoloacutegica pira redes
alimentares mais sustentaacuteveis deve-se buscar mais do que a participaccedilatildeo de produtores
e consumidores e considerar a rede de atores e instituiccedilotildees em um sentiio amplo
com envolvim ento de outros atores da cadeia alimentar como a exteniatildeo rural
a pesquisa o ensino a sociedade civil e o poder puacuteblico Quando o foco do etudo satildeo
produtos da agricultura de base ecoloacutegica concordamos com Perez-Cassarho (2013)
que a constituiccedilatildeo de redes alimentares alternativas potencializa o surgimentc de novas
sociabilidades resgate e reconstruccedilatildeo de valores e princiacutepios centrados na confianccedila
reputaccedilatildeo eacutetica e solidariedade
O que se pretende discutir neste trabalho por meio de experiecircncias francesas
e brasileiras eacute que as essas redes alimentares alternativas trazem inovaccedilotildees sociais
diversidade e valores associados que podem contribuir na reconexatildeo entre produccedilatildeo e
consumo valorizar os mercados locais por meio de circuitos curtos de comercializaccedilatildeo e
facilitar a transiccedilatildeo para sistemas de produccedilatildeo e consumo mais sustentaacuteveis
Vamos mostrar que o desenvolvimento da agricultura familiar de base ecoloacutegica
eacute potencializado quando associado a circuitos curtos e redes alimentares alternativas
com plem entado por parcerias e poliacuteticas puacuteblicas voltadas ao fortalecim ento
dessas iniciativas
Algumas questotildees de pesquisa guiam essa investigaccedilatildeo Quais satildeo o tipos de
circuitos curtos de alimentos ecoloacutegicos Quais as caracteriacutesticas das propriecades que
participam dessas redes e como se organizam Em que condiccedilotildees os circuitos curtos de
comercializaccedilatildeo satildeo viaacuteveis Quais os aprendizados as dificuldades e as oporunidades
para produtores e consumidores em participar de redes alternativas de comercalizaccedilatildeo
Enfim o objetivo geral do trabalho eacute analisar as particularidades das redes
alternativas de comercializaccedilatildeo de produtos ecoloacutegicos e as relaccedilotildees produccedilatildeoconsumo
na Franccedila e no Brasil Para isso apresenta-se uma tipologia desses circuitos cirtos (CC)
como funcionam as caracteriacutesticas principais as oportunidades e as dificuldades para
produtores e consumidores
2 O M EacuteTODO DE P ESQ U ISA E AS EX P E R IEcirc N C IA S ESTU D ADA S
A metodologia de trabalho envolveu a pesquisa descritiva e qualitativa a partir
de experiecircncias selecionadas na Franccedila e no Sul do Brasil Num primeiro monento foi
realizada uma revisatildeo da literatura internacional seguida de um estudo preacutevio err conjunto
114
com uma equipe de especialistas franceses e brasileiros selecionando experiecircncias
de redes alternativas de com ercializaccedilatildeo com produtos e serviccedilos da agricultura de
base ecoloacutegica Os criteacuterios para seleccedilatildeo das experiecircncias foram representatividade
regional tempo da experiecircncia reconhecimento local trabalho com produtos ecoloacutegicos
mecanismos de certificaccedilatildeo prioridade para circuitos curtos e redes alternativas
Foram realizadas no total 40 visitas teacutecnicas sendo seis feiras em Paris Marseille
e Regiatildeo Provence-Alpes-Cocircte dAzur (PACA) dois Pontos de Venda Coletiva (PVC)
duas Associaccedilotildees de Consum idores (AMAP - Associaccedilatildeo para M anutenccedilatildeo de uma
Agricultura Camponesa) cinco lojas especializadas em produtos orgacircnicos (conhecidos
como bio) uma loja de cooperativa de agricultores duas experiecircncias de venda na
propriedade (Bienvenue agrave la Ferme) uma experiecircncia de acolhida na propriedade (Accueil
paysan) e entrevistas qualitativas com diferentes atores da rede de comercializaccedilatildeo
sendo sete agricultores orgacircnicos em sistema de olericultura fruticultura ovinocultura e
bovinocultura sete especialistas de diferentes instituiccedilotildees que trabalham com agricultura
orgacircnica aleacutem de informaccedilotildees coletadas em sete seminaacuterios de pesquisa sobre o tema
O estudo foi realizado entre novembro de 2011 e marccedilo de 2012 sendo selecionadas
20 entrevistas mais consistentes para responder aos objetivos da pesquisa O estudo
foi realizado na Franccedila nas regiotildees PACA Rhocircne-Alpes e lie de France e no Sul do Brasil
Para comparar qualitativamente as experiecircncias francesas com as experiecircncias
do Brasil utilizamos os relatos de experiecircncias de trabalhos com as redes alternativas
de com ercializaccedilatildeo de alim entos ecoloacutegicos no Sul do Brasil (destaque para a rede
Ecovida4) descritos por Darolt (2012) A etapa de campo permitiu a construccedilatildeo de um
diagnoacutestico com base em informaccedilotildees coletadas em visitas entrevistas participaccedilatildeo
em eventos e fontes secundaacuterias descrevendo as caracteriacutesticas principais (definiccedilatildeo
funcionamento estrutura meacutetodos de distribuiccedilatildeo e marketing dos produtos vantagens
para consum idores e produtores) aleacutem de destacar dificuldades e oportunidades
A partir de informaccedilotildees coletadas foi criada uma tipologia das diferentes experiecircncias
e realizada uma anaacutelise qualitativa e comparativa dos resultados com base no niacutevel de
desenvolvimento de cada experiecircncia estudada
As experiecircncias francesas e brasileiras logicamente se desenvolvem em contextos
econocircmicos socioculturais am bientais e poliacuteticos que necessitam ser levados em
consideraccedilatildeo Percebemos na discussatildeo teoacuterica precedente que as redes alimentares
4 O circuito de circulaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo da Rede Ecovida eacute formado por 27 nuacutecleos regionais abrangendo 200 municiacutepios 400 grupos e associaccedilotildees (cerca de 3800 famiacutelias) envolvendo em torno de 200 feiras agroecoloacutegicas nos trecircs estados do Sul do Brasil (wwwecovidaorgbr) (REDE ECOVIDA 2014)
115
apresentam caracteriacutesticas e tendecircncias sem elhantes nos debates internacionais
poreacutem tecircm diferentes raiacutezes histoacutericas No Brasil muitos dos pioneiros da agricultura
de base ecoloacutegica surgiram no final da deacutecada de 1970 como parte de um movimento
para resistir ao processo de modernizaccedilatildeo agriacutecola (com os seus efeitos conhecidos de
concentraccedilatildeo de terra exclusatildeo da agricultura fam iliar e intensificaccedilatildeo da migraccedilatildeo
rural-urbana) e foram apoiados por organizaccedilotildees religiosas e da sociedade civil
Movimentos mais recentes surgiram no Brasil com a institucionalizaccedilatildeo da agricultura
orgacircnica e agroecologia e satildeo formados por iniciativas de grupos de agricultores familiares
e consumidores organizados com o apoio de organizaccedilotildees natildeo governamentais (ONGs)
e instituiccedilotildees puacuteblicas (Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio instituiccedilotildees de pesquisa
extensatildeo rural entre outras) Na Franccedila a institucionalizaccedilatildeo da agricultura de base
ecoloacutegica (bio) aconteceu mais cedo - nos anos de 1980 - o que se refletiu num maior
desenvolvimento do setor (393 da aacuterea plantada com orgacircnicos 54 do nuacutemero
de produtores e 2 do mercado - AGENCE BIO 2014) enquanto no Brasil aconteceu
um pouco mais tarde nos anos de 1990 com crescimento menor (cerca de 1 de aacuterea
plantada e 15 do mercado - MAPA 2012)
Enquanto o perfil socioloacutegico dos consumidores nos casos franceses e brasileiros
pode ser comparado (consum idores de classe meacutedia com exceccedilatildeo dos programas
governamentais para famiacutelias de baixa renda no Brasil) no caso dos agricultores existem
algumas diferenccedilas marcantes Na Franccedila os participantes das redes alternativas satildeo
frequentemente agricultores neorrurais (com origens e influecircncias urbanas) com um
niacutevel de educaccedilatildeo e renda mais elevado e maior ligaccedilatildeo com o meio urbano o que facilita
a interaccedilatildeo com os consumidores No Brasil a maioria dos agricultores ecoloacutegicos tem
origem no meio rural com baixo niacutevel de escolaridade e poucos recursos financeiros
caracteriacutestico da agricultura familiar brasileira Entretanto segundo Darolt (2012) existe
tambeacutem uma participaccedilatildeo de agricultores neorrurais na agricultura orgacircnica sobretudo
proacuteximo aos grandes centros urbanos
Neste trabalho vamos mostrar que apesar de particularidades as diferentes
experiecircncias estudadas de circuitos curtos apresentam caracteriacutesticas comuns que
permitem aos agricultores um melhor padratildeo de vida o fortalececimento de laccedilos sociais
com consumidores e a contribuiccedilatildeo na requalificaccedilatildeo de produtores e consumidores
em contraste com a desqualificaccedilatildeo induzida por redes alimentares industriais
116
3 D EFIN IN D O C IR C U ITO S CU RTO S DE C O M ER C IA LIZA Ccedil Atilde O
O debate cientiacutefico tem trazido elementos importantes para melhor definir os
circuitos curtos (CC) em termos de redes alimentares assim como para avanccedilar em
tipologias e classificaccedilatildeo das experiecircncias Numa visatildeo com vieacutes na dimensatildeo econocircmica
a distinccedilatildeo entre canais curtos e longos de distribuiccedilatildeo de alimentos eacute para alguns
especialistas uma questatildeo do nuacutemero de intermediaacuterios que operam entre a produccedilatildeo
e o consumo Assim quanto maior o nuacutemero de atravessadores mais longo eacute o canal
e vice-versa Entretanto o nuacutemero de intermediaacuterios natildeo deve ser uma questatildeo uacutenica
e prioritaacuteria Outras caracteriacutesticas que aportam dimensotildees socioculturais podem ser
destacadas para definir um circuito curto de comercializaccedilatildeo como 1) a capacidade de
socializar e localizar o produto alimentar gerando viacutenculo com o local e a propriedade
2) a redefiniccedilatildeo da relaccedilatildeo produtor-consumidor dando sinais da origem do alimento
3) o desenvolvimento de novas relaccedilotildees considerando um preccedilo justo e a qualidade
(ecoloacutegica) 4) a conexatildeo entre o consumidor e o produto alimentar (MARSDEN et a i
2000) Seguindo essas caracteriacutesticas os mesmos autores identificaram alguns tipos de
CC resumidos da seguinte forma 1 venda direta cara a cara no qual a confianccedila estaacute na
relaccedilatildeo interpessoal 2 proximidade espacial incluindo o que eacute produzido e distribuiacutedo
numa regiatildeo reconhecida pelos consumidores e 3 espaciaimente estendido nesse caso
a confianccedila eacute transmitida por um processo de garantia da qualidade (certificaccedilatildeo) Assim
considera-se natildeo soacute a distacircncia mas tambeacutem os paracircmetros organizativos (produtores e
consumidores) fatores culturais transmitidos pela confianccedila pela valorizaccedilatildeo do mercado
local e pelo produto agroecoloacutegico
Os autores espanhoacuteis Guzmaacuten et a i (2012) acrescentam ainda que num circuito
curto de comercializaccedilatildeo as relaccedilotildees de poder dentro da rede alimentar devem estar a
favor dos produtores e consumidores e natildeo dos intermediaacuterios e grandes distribuidores
No Brasil o debate teoacuterico sobre redes alimentares alternativas (PLOEG 2008
WILKINSON 2008) e circuitos curtos de alimentos ecoloacutegicos (FERRARI 2011 DAROLT
2012) ainda eacute emergente poreacutem existem muitas experiecircncias diversificadas e inovadoras
que surgem a cada ano mostrando que nos canais de distribuiccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos
haacute caracteriacutesticas similares a outros paiacuteses com destaque para mais informaccedilotildees sobre
a qualidade do produto busca de relacionamento direto e interdependecircncia entre
agricultores e consumidores
117
Os representantes do setor agroalimentar na Franccedila tecircm utilizado uma definiccedilatildeo
mais pragmaacutetica de circuito curto (CC) caracterizando os circuitos de distribuiccedilatildeo que
mobilizam ateacute - no m aacutexim o-um intermediaacuterio entre produtor e consumidor (CHAFOTTE
e CHIFFOLEAU 2007 MESSMER 2013) Dois casos podem ser distinguidos a venda direta
(quando o produtor entrega em matildeos proacuteprias a mercadoria ao consumidor) e a venda
indireta via um uacutenico intermediaacuterio (que pode ser um outro produtor uma cooperativa
uma associaccedilatildeo uma loja especializada um restaurante ou ateacute um pequeno mercado)
Na Franccedila e na Europa outras denominaccedilotildees como circuitos de proxim idade
(AUBRY CHIFFOLEAU 2009) ou circuitos locais (MARECHAL 2008) tecircm sido utilizadas
para reforccedilar a proximidade geograacutefica e o aspecto socialrelacional como a ligaccedilatildeo entre
consumidor e produtor e o desenvolvimento de mercados locais Deverre e Lamine (2010)
preferem utilizar ainda o termo sistemas alternativos numa perspectiva de questionar
o modelo convencionai propor novos princiacutepios de troca e relaccedilotildees mais justas entre
produtores e consumidores Neste trabalho consideramos que as diferentes dimensotildees
(econocircmica social ecoloacutegica e poliacutetica) satildeo importantes para classificar e analisar os
circuitos curtos
4 T IP O LO G IA E C A R A C T E R IacuteST IC A S DOS C IR C U ITO S CURTOS DE A LIM EN TO S ECO LOacute G ICO S
A classificaccedilatildeo dos tipos de circuitos curtos de comercializaccedilatildeo propostos neste
trabalho (Fig 1) segue as indicaccedilotildees teoacutericas de Marsden et a i (2000) Renting et a i
(2003) e Mundler (2008) considerando que temos circuitos relacionados com a venda
direta (em que o produtor tem relaccedilatildeo direta com o consumidor) e venda indireta
em que existe apenas um intermediaacuterio conhecedor e pessoas engajadas no processo
denotando uma interdependecircncia entre os atores Essa tipologia considera diferentes
dimensotildees econocircmicas e sociais (pela melhoria direta de renda dos agricultores e trocas
entre produtores e consumidores) mas traz embutida a dimensatildeo ecoloacutegica e poliacutetica por
se tratar de alimentos de base ecoloacutegica e com a participaccedilatildeo do poder puacuteblico (no caso
de programas de governo para alimentaccedilatildeo escolar que atingem um nuacutemero significativo
de pessoas)
118
FIGURA 1 - TIPOLOGIA DE CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE PRODUTOS ECOLOacuteGICOS
Tipologia de Circuitos Curtos
Venda Direta(relaccedilatildeo direta entre produtor e consumidor)
Venda Indireta(intervenccedilatildeo de um uacutenico intermediaacuterio
I iNa Propriedade Fora da Propriedade Lojas especializadas independentes
Lojas de cooperativas de produtores e consumidores ecoloacutegicos
Cestas para grupos ou individual Venda direta na propriedade ldquoColheita na propriedade
Feiras ecoloacutegicas direto do produtorCestas em domiciacutelio e para empresasVenda para programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo de baixa renda)
Lojas de associaccedilatildeo de produtoresVenda para grupos de consumidores organizados Venda em beira de estradasFeiras agropecuaacuterias salotildees eventos
bullRestaurantes coletivos e individuais Pequenos mercados de produtos
Serviccedilos na propriedadeAgroturismo gastronomia pousada esporte e lazer
naturais (orgacircnicos e convencionais) Lojas virtuais (Vendas pela Internet)
FONTE Elaborado pelos autores a partir de Chaffotte e Chiffoleau (2007) Mundler (2008)
Pode parecer surpreendente encontrar tipos similares de iniciativas em contextos
histoacutericos e geograacuteficos diferentes Todavia os movimentos sociais em prol das agriculturas
de base ecoloacutegica no mundo tecircm compartilhado ideais muito semelhantes com um
significado poliacutetico forte que permite em certa medida readequar a produccedilatildeo para
sistemas mais sustentaacuteveis e repensar dietas e haacutebitos alimentares reforccedilando laccedilos
entre aacutereas rurais e urbanas
Nas experiecircncias brasileiras estudadas (Tabela 1) observamos que a maioria dos
produtores utiliza simultaneamente mais de um canal destacadamente 1) feiras do
produtor 2) cestas em domiciacutelio e mais recentemente 3) os programas de governo
(Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar)
Percebemos ainda inovaccedilotildees como as vendas nas propriedades associadas em circuitos
de turismo rural e restaurantes no meio rural lojas especializadas e pontos de venda de
agricultores cooperativas de consumidores vendas em rede via circuitos de circulaccedilatildeo
(caso da Rede Ecovida de certificaccedilatildeo participativa) aleacutem de vendas em lojas virtuais
pela internet
A tabela 1 traz uma siacutentese das experiecircncias com uma anaacutelise qualitativa do niacutevel
de desenvolvimento dos circuitos curtos em redes alternativas na Franccedila e no Brasil
de forma comparativa De modo geral o maior niacutevel de escolaridade e a renda dos
agricultores familiares associados ao maior niacutevel de conscientizaccedilatildeo dos consumidores
na Franccedila permitem uma vantagem comparativa em relaccedilatildeo ao desenvolvimento dessas
redes Em ambos os paiacuteses a cooperaccedilatildeo entre os atores e o engajamento poliacutetico de
produtores e consumidores permitem atingir um maior niacutevel de desenvolvimento
119
TABELA 1 - ANAacuteLISE COMPARATIVA DO NIacuteVEL DE DESENVOLVIMENTO DE CIRCUITOS CURTOS DECOMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS NA FRANCcedilA E BRASIL
TIPOS DE CIRCUITOS ALTERNATIVOS FRANCcedilA BRASILFeira de produtores (orgacircnicosagroecoloacutegicos)
Pontos de Venda Coletiva (PVC) -AMAP (Associaccedilatildeo de Consumidores) -Cestas entregues em domiciacutelio
Lojas de produtos orgacircnicos independentes
Lojas de cooperativas de produtores e consumidores
Rede de comercializaccedilatildeo (Certificaccedilatildeo Participativa) -
Venda na propriedade
Acolhida na propriedade (gastronomia lazer esporte alojamento propriedade pedagoacutegica)
Programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo em risco alimentar)
Restaurantes coletivos puacuteblico ou privado restaurantes tradicionais
Lojas virtuais (site internet de produtos ecoloacutegicos)
FONTE elaborado pelos autoresNOTA - ausente ou raro pouco desenvolvido medianamente desenvolvido muito
desenvolvido (niacutevel de desenvolvimento)
As feiras do produtor satildeo os mecanismos de comercializaccedilatildeo mais difundidos no
Brasil e a principal porta de entrada de agricultores ecoloacutegicos para o mercado local
As feiras satildeo espaccedilos educativos e de lazer que permitem grande interaccedilatildeo entre
produtores e consumidores possibilitando maior autonomia aos agricultores Pesquisa
do IDEC (2012) identificou 140 feiras orgacircnicas em 22 das 27 capitais brasileiras
O estudo aponta que nas regiotildees onde a agricultura familiar eacute forte (Sul e Nordeste
p ex) as vendas em feiras satildeo mais pronunciadas No caso da Franccedila observamos que
as feiras (marcheacutes paysans) satildeo mais sazonais (com maior expressatildeo no veratildeo) sendo
menos preferidas pelos produtores do que as lojas especializadas independentes e lojas
coletivas de produtores (PVC) que funcionam o ano todo sobretudo em funccedilatildeo das
dificuldades clim aacuteticas deslocam entos frequentes horaacuterios predefinidos e do tempo
que a feira leva para se consolidar As feiras tradicionais (marcheacutes forains classiques)
satildeo muito populares entre os consumidores e misturam produtores convencionais (com
produtos coloniais artesanais natildeo certificados) e orgacircnicos certificados (bio) Nessas feiras
tradicionais os produtores bio satildeo minoria Nos dois paiacuteses as feiras totalmente orgacircnicas
tecircm tido maior expressatildeo nas m eacutedias e grandes cidades De acordo com Chiffoleau
(2008) a consolidaccedilatildeo das feiras de produtores se daacute basicamente em quatro etapas a
saber 1) criaccedilatildeo no iniacutecio muitos consumidores aparecem para conhecer a novidade e
impulsionam o mercado 2) queda (depois de dois a trecircs anos) apoacutes a novidade alguns
120
clientes deixam de frequentar a feira acom panhado por agricultores 3) recuperaccedilatildeo
(pelo 39 e 45 anos) os clientes mais fieacuteis acabam por fazer uma divulgaccedilatildeo boca-a-boca
e ocorre uma retomada do crescimento e 4) estabilizaccedilatildeo (apoacutes cinco anos) apoacutes esse
periacuteodo ocorre uma estabilizaccedilatildeo do nuacutemero de produtores e do nuacutemero de clientes fieacuteis
O mesmo fenocircmeno tem sido verificado no Brasil (DAROLT 2012)
Na Franccedila sobretudo na regiatildeo Rhocircne Alpes estaacute bem difundida a venda em
Pontos de Venda Coletiva (PVC - Points de Vente Collectifs) surgido no final dos anos de
1970 e que conta com 56 lojas tendo no iniacutecio uma forte participaccedilatildeo de agricultores
neorurais (Lamine 2012) Os PVC satildeo pequenas lojas mantidas e adm inistradas pelos
proacuteprios agricultores que vendem produtos de uma determ inada regiatildeo (ateacute 100 km
em meacutedia) com caracteriacutesticas e tradiccedilotildees com uns (produtos do terroir) O objetivo
dessas lojas coletivas eacute melhorar as condiccedilotildees de trabalho do agricultor d im inuir o
tempo gasto na comercializaccedilatildeo e oferecer aos consumidores diversidade regularidade e
qualidade de produtos tiacutepicos da regiatildeo Os PVC demandam dos agricultores aquisiccedilatildeo de
novas competecircncias (transformaccedilatildeo de produtos adoccedilatildeo de princiacutepios de agroecologia)
e readequaccedilatildeo do trabalho na propriedade para atender agraves demandas das lojas (novos
produtos relaccedilatildeo social com os clientes) Sempre eacute possiacutevel encontrar agricultores na
loja (cada produtor deve ficar na loja um meio-dia por sem ana o que permite que o
consumidor encontre sempre um produtor na loja) e todo marketing eacute direcionado no
sentido de valorizar os produtores e a regiatildeo
Outra modalidade bem estabelecida na Franccedila e em fase de crescim ento no
Brasil (por meio de cooperativas de consum idores e grupos de com pras coletivas)
satildeo as cestas diversificadas para grupos organizados de consum idores Na Franccedila as
chamadas AM APs -Associations pourle Maintien dune Agriculture Paysanne (Associaccedilatildeo
para M anutenccedilatildeo de uma Agricultura Cam ponesa) surgiram a partir dos anos 2000
inspiradas nas Community Supported Agriculture (Agricultura Apoiada pela Comunidade)
e representam um contrato de parceria entre consumidores e produtores (LAMINE 2008)
Na Franccedila haacute maior engajamento social dos consumidores e participaccedilatildeo em grupos de
inserccedilatildeo social quando comparados agraves experiecircncias brasileiras que ainda satildeo incipientes
Em contrapartida no Brasil as cestas individuais vecircm ganhando simpatia do consumidor
pela praticidade e pelos preccedilos m enores quando com parados aos superm ercados
mas ainda haacute pouca organizaccedilatildeo e engajam ento social do con su m idor brasileiro
no processo
121
As lojas especializadas de produtos ecoloacutegicos existem haacute vaacuterios inos na Franccedila
em cidades grandes meacutedias e pequenas contando com redes bem estabelecidas
espalhadas por todo o paiacutes com um discurso de solidariedade e pa-ceria com os
produtores como eacute o caso de Biocoop5 Segundo a Agence Bio (2014) eses dispositivos
representaram 35 do valor total das vendas com productos bio em ZD13 No Brasil
parte dos consumidores orgacircnicos (41) com plem entam suas com pns em lojas de
produtos especializados sobretudo nas capitais (KLUTH BOCCFIIJR CENSIOWSKY 2011)
Em cidades de menor porte as lojas podem estar associadas a organiza ccedilotildeesde produtores
familiares e consumidores ecoloacutegicos (p ex Ecotorres e Cooperativa deConsumidores
Ecoloacutegicos de Trecircs Cachoeiras no Rio Grande do Sul) ou funcionar com o poio do poder
puacuteblico municipal A maioria das lojas trabalha com entregas em domiciacuteio via internet
ou telefone permitindo ao consumidor escolher os produtos de uma lita de opccedilotildees
com maior comodidade e com preccedilos inferiores aos praticados pelos suparmercados
As vendas nas propriedades estatildeo bem difundidas na Franccedilasobretudo no
tocante a vinhos queijos e produtos do terroir No Brasil as vendas na propriedades
estatildeo em fase de expansatildeo e tecircm sido associadas a propriedades que fazem parte de
circuitos de turismo rural e agroecoloacutegico (Accueil paysan na Franccedila e Acohida na colocircnia
no Brasil) e satildeo mais comuns em cidades periurbanas proacuteximas agraves regiotildees netropolitanas
As lojas virtuais de produtos ecoloacutegicos ganham espaccedilo tanto na Franccedila quanto
no Brasil e com tendecircncia de crescimento para os proacuteximos anos sobretido nas regiotildees
metropolitanas todavia nem sempre representam um circuito curto conforme discutido
neste trabalho Entretanto satildeo procuradas pela facilidade de compra ccmodidade nas
entregas ao consumidor e preccedilos inferiores aos supermercados atendencb agraves exigecircncias
da vida moderna
5 PRO G RA M A S DE G O VERN O O P O R T U N ID A D E S PARA A A G RO ECO LO G IA NO BRA SIL
A com ercializaccedilatildeo de produtos agroalim entares por meio de orogramas do
governo ou m ercado institucional surgiu no Brasil em 2003 com o Program a de
Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e vem ganhando espaccedilo conforme Schimitte Grisa (2013)
O mercado institucional atende ao consumidor coletivo (instituiccedilotildees de assistecircncia social
5 Biocoop eacute uma rede francesa com 330 lojas e atores independentes militantes e engajados no desenvolvimento da agricultura orgacircnica (conhecida como bio) (wwwbiocooporg)
122
hospitais creches escolas) dentro de um circuito curto de comercializaccedilatildeo considerado
como venda direta pelo governo brasileiro Assim por meio de programas de governo
os alimentos da agricultura familiar satildeo comprados diretamente dos agricultores ou
das associaccedilotildees e cooperativas de produtores e chegam ateacute a populaccedilatildeo via entidades
de assistecircncia social do governo e escolas puacuteblicas Satildeo programas que se inserem nas
poliacuteticas puacuteblicas voltadas agrave seguranccedila alimentar e nutricional Nos uacuteltimos anos no Brasil
dois programas se destacaram na compra de produtos de base ecoloacutegica o Programa
de Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE)
Os produtos da agricultura fam iliar que apresentam certificaccedilatildeo orgacircnica
comercializados pelo PAA e PNAE recebem um precircmio de 30 em relaccedilatildeo ao similar
da agricultura convencional valorizando a qualidade nutricional e os demais aspectos
socioambientais envolvidos A garantia de compra dos produtos pelo governo estimula a
transiccedilatildeo agroecoloacutegica Ademais esses programas tecircm uma dimensatildeo social importante
pois atingem um grande puacuteblico (escolas) e trabalham com uma diversidade de produtos
seguindo a sazonalidade e as realidades locais
Para Scnimitt e Grisa (2013) existem algumas limitaccedilotildees operacionais que precisam
ser superadas na construccedilatildeo do mercado institucional no Brasil tais como atraso na
liberaccedilatildeo dos recursos problemas de acesso dos agricultores agrave documentaccedilatildeo exigida
(necessidade de desburocratizaccedilatildeo) falta de interaccedilatildeo entre diferentes instrumentos de
poliacutetica puacuteblica que poderiam dar suporte agraves accedilotildees dos programas falta de planejamento
e problemas de gestatildeo das organizaccedilotildees locais no acompanhamento das entregas e na
formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos beneficiaacuterios (nutricionistas merendeiras professoras
alunos) Triches e Schneider (2010) acrescentam ainda que um dos desafios na aquisiccedilatildeo
de alimentos da agricultura familiar para programas institucionais eacute a legalizaccedilatildeo das
agroinduacutestrias familiares com a regulaccedilatildeo da qualidade dos alimentos (sobretudo para
leite carnes e derivados)
Na Franccedila o recente Plano Nacional para a Agricultura Orgacircnica (Plan Ambition
Bio 2017) fixou objetivos ambiciosos para colocar 20 de produtos orgacircnicos na merenda
escolar e em restaurantes coletivos ateacute 2017 Esses objetivos variam de uma regiatildeo
para outra privilegiando produtos natildeo somente orgacircnicos (bio) mas tambeacutem locais
(normalmente o produto local tem maior peso) pois favorece o desenvolvimento regional
Em todo caso esse desenvolvimento segue associado a novas formas de organizaccedilatildeo
plataformas logiacutesticas redes de trabalho negociaccedilatildeo e planejamento das necessidades
de produtos entre escolas e produtores
123
Experiecircncias em outros paiacuteses europeus com alimentaccedilatildeo escolar mostram que o
poder puacuteblico tem papel decisivo em relaccedilatildeo aos mecanismos de aquisiccedilatildeo de alimentos
ao incentivo de determinados modelos de produccedilatildeo sustentaacuteveis e de sauacutede puacuteblica
O poder puacuteblico pode utilizar o seu poder de regulaccedilatildeo de decisatildeo sobre alocaccedilatildeo de
recursos e de ator-chave no abastecimento alim entar para promover mudanccedilas no
comportamento da sociedade (MORGAN SONNINO 2008)
O mercado institucional reforccedila outras iniciativas de comercializaccedilatildeo em circuitos
curtos fortalece as redes de organizaccedilotildees sociais e potencializa o diaacutelogo entre os atores
envolvidos com a agroecologia Tal situaccedilatildeo traz perspectivas otimistas para estimular
a produccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos e saudaacuteveis contribuir no sentido de potencializar
processos de transiccedilatildeo agroecoloacutegica e promoccedilatildeo da agroecologia bem como respeitar
os modos de vida das populaccedilotildees tradicionais fortalecer a cultura alimentar regional e
promover a valorizaccedilatildeo da sociobiodiversidade
6 C IR C U IT O S DE C IR C U LA Ccedil Atilde O E C O M E R C IA LIZA Ccedil Atilde O EM REDE
Uma experiecircncia pioneira vem sendo desenvolvida pelo circuito de circulaccedilatildeo
e com ercializaccedilatildeo da Rede Ecovida de Agroecologia no sul do Brasil Os princiacutepios
se g u id o s pela rede satildeo os produtos co m ercia lizad o s pelo circu ito tecircm de ser
agroecoloacutegicos com selo de certificaccedilatildeo participativa da Rede Ecovida a organizaccedilatildeo
ou grupo de agricultores para participar do circuito deve fazer parte da rede quem
vend e deve tam beacutem com prar produtos dos dem ais produtores (intercacircm bio e
circulaccedilatildeo de produtos) (MAGNANTI 2008)
Esse sistema tem permitido a troca e circulaccedilatildeo de produtos entre as regiotildees aleacutem
de atender agrave diversidade manter uma regularidade e a qualidade bioloacutegica dos produtos
visto que se trabalha exclusivamente com produtos certificados de forma participativa
A discussatildeo de circuitos curtos nesse sentido se daacute natildeo pela distacircncia fiacutesica e nuacutemero de
intermediaacuterios mas pela dimensatildeo social e poliacutetica estabelecida pelo sistema participativo
de garantia e pela organizaccedilatildeo do movimento social
Em torno de 50 itens satildeo ofertados pelo circuito divididos entre hortaliccedilas (100)
frutas (80) gratildeos (80) farinhas (70) accediluacutecar (50) e processados (20)(REDE
ECOVIDA 2014) Os produtos tecircm circulado principalmente em feiras agroecoloacutegicas
em Programas de Governo como o PAA e PNAE pequenos comeacutercios e distribuidores e
grupos de trocas de alimentos (autoconsumo) garantindo tambeacutem a autonomia alimentar
dos agricultores da rede
124
Os desafios para esse tipo de com ercializaccedilatildeo segundo Perez-Cassarino
(2013) satildeo a padronizaccedilatildeo de documentos para comercializaccedilatildeo entre os estados
a padronizaccedilatildeo de embalagens prioritariamente ecoloacutegicas a padronizaccedilatildeo de produtos
entre os nuacutecleos investim ento em recursos hum anos para operacionalizaccedilatildeo do
processo de comercializaccedilatildeo melhoria e investimentos em logiacutestica e um planejamento
de produccedilatildeo para atender a uma dem anda em expansatildeo destacadam ente para
alimentaccedilatildeo escolar
7 C A R A C T E R IacuteST IC A S E O R G A N IZA Ccedil Atilde O DAS PR O PR IED A D ES EM C IR C U ITO S CU RTO S
Tanto no Brasil como na Franccedila as experiecircncias estudadas que comercializam em
circuitos curtos satildeo majoritariamente provenientes da agricultura familiar com destaque
para a categoria de agricultores neorurais que se desenvolvem em aacutereas pequenas (em
meacutedia menor que 20 hectares no total) quando comparadas agravequelas em circuitos longos
Um dos pilares de sustentaccedilatildeo eacute a matildeo de obra familiar que tem uma carga de trabalho
intensa e deve aliar diferentes competecircncias (produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo)
no intuito de diminuir custos e agregar valor ao produto
Na Franccedila a maior parte das propriedades estudadas que vendem em circuitos
curtos eacute especializada em um determinado sistema de produccedilatildeo (fruticultura olericultura
leite ovos queijo) estando de acordo com Mundler (2008) No Brasil as propriedades
orgacircnicas estudadas mostraram-se mais diversificadas contando com sistemas vegetais
e anim ais mais com plexos Se por um lado isso eacute desejado porque atende aos
princiacutepios agroecoloacutegicos por outro torna o planejamento produtivo mais complexo
Nos dois paiacuteses a gama de produtos eacute em geral mais diversificada quando comparada
agrave agricultura convencional mesmo quando as propriedades satildeo especializadas em
determinados sistemas Observou-se ainda uma tendecircncia agrave diversificaccedilatildeo em serviccedilos
com a pluriatividade da propriedade (agroturismo gastronomia lazer e descoberta
alojamentos e propriedades pedagoacutegicas) conforme jaacute apontaram Schneider (2005)
Mundler Guermonprez Pluvinage (2007)
Outra caracteriacutestica a destacar em circuitos curtos eacute a maior autonomia do agricultor
em relaccedilatildeo aos circuitos longos No Brasil os agricultores que trabalham integrados com
empresas para vendas em supermercados tecircm menor autonomia na gestatildeo sendo o
planejamento de produccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo realizados pelas empresas Segundo Darolt
125
(2012) o sistema de produccedilatildeo eacute simplificado e especializado em um ou dois produtos
Eacute com um nesses casos uma repeticcedilatildeo da loacutegica comercial e industrial utilizada em
sistemas convencionais para produccedilatildeo em escala
A figura 2 resume as diferentes caracteriacutesticas observadas nas propriedades
que comercializam em circuitos curtos Segundo Mundler (2008) a combinaccedilatildeo entre
agricultura ecoloacutegica e circuitos curtos tem impactos positivos em diferentes dimensotildees
como na economia local trazendo oportunidades de trabalho e de renda na dimensatildeo
social com a aproximaccedilatildeo de produtores e consumidores na dimensatildeo ambiental com
a valorizaccedilatildeo dos recursos naturais e da paisagem e na dimensatildeo poliacutetica como uma
nova opccedilatildeo de consumo
FIGURA 2 - CARACTERIacuteSTICAS COMUNS OBSERVADAS EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS (BRASIL E FRANCcedilA)
A organizaccedilatildeo do trabalho observada nas experiecircncias se mostrou mais ou menos
complexa em funccedilatildeo dos recursos humanos e econocircmicos disponiacuteveis na propriedade
Em propriedades familiares de pequeno porte concordando com Dedieu et a i (1999)
eacute fundam ental agregar valor ao produto (com a transformaccedilatildeo) vender sempre que
possiacutevel de forma direta e potencializar os serviccedilos na propriedade (turismo e acolhida
do consumidor na propriedade por exemplo)
A forma de comercializaccedilatildeo mais adequada a cada tipo de produtor pode variar
em funccedilatildeo da matildeo de obra da organizaccedilatildeo do sistema de produccedilatildeo e da infraestrutura
disponiacutevel Observamos que na maioria dos canais estudados as praacuteticas agriacutecolas
utilizadas os volumes de produccedilatildeo os tipos de produtos e a organizaccedilatildeo do trabalho
se adaptam para responder agraves demandas dos consumidores Assim concordando com
M undler et a i (2007) notamos que a loacutegica de desenvolvimento em circuitos curtos
126
vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste
entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em
circuitos curtos quando comparado a um circuito longo
8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O
Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo
ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que
isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo
semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao
consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis
Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental
pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte
Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na
comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam
que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com
o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e
menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento
em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo
satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta
e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores
brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando
o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a
agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia
e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel
127
TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO
ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES
Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)
bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod
Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo
bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)
FONTE Elaborado pelos autores
Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades
para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto
a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo
saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes
alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas
rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar
que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos
consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento
das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de
regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial
e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica
128
9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O
Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos
ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais
circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar
dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo
De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo
imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona
o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e
tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma
o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar
soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes
contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de
desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-
produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais
Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito
agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo
e consumo
O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem
as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo
ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos
agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da
paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)
Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas
puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais
organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de
distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa
como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas
de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores
(AMAPs) na Franccedila
O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser
superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as
poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas
129
como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade
na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de
infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente
com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em
circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave
alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo
de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo
distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas
especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na
fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica
Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara
do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como
as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem
de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas
singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores
procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos
valores e resgate da autonomia dos agricultores
Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas
envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o
consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados
locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-
distribuiccedilatildeo-consumo
130
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De fato podem existir com plem entaridades entre redes alternativas e
convencionais como destaca Lamine (2012) que podem contribuir no processo de
transiccedilatildeo A autora considera que para garantir uma transiccedilatildeo ecoloacutegica pira redes
alimentares mais sustentaacuteveis deve-se buscar mais do que a participaccedilatildeo de produtores
e consumidores e considerar a rede de atores e instituiccedilotildees em um sentiio amplo
com envolvim ento de outros atores da cadeia alimentar como a exteniatildeo rural
a pesquisa o ensino a sociedade civil e o poder puacuteblico Quando o foco do etudo satildeo
produtos da agricultura de base ecoloacutegica concordamos com Perez-Cassarho (2013)
que a constituiccedilatildeo de redes alimentares alternativas potencializa o surgimentc de novas
sociabilidades resgate e reconstruccedilatildeo de valores e princiacutepios centrados na confianccedila
reputaccedilatildeo eacutetica e solidariedade
O que se pretende discutir neste trabalho por meio de experiecircncias francesas
e brasileiras eacute que as essas redes alimentares alternativas trazem inovaccedilotildees sociais
diversidade e valores associados que podem contribuir na reconexatildeo entre produccedilatildeo e
consumo valorizar os mercados locais por meio de circuitos curtos de comercializaccedilatildeo e
facilitar a transiccedilatildeo para sistemas de produccedilatildeo e consumo mais sustentaacuteveis
Vamos mostrar que o desenvolvimento da agricultura familiar de base ecoloacutegica
eacute potencializado quando associado a circuitos curtos e redes alimentares alternativas
com plem entado por parcerias e poliacuteticas puacuteblicas voltadas ao fortalecim ento
dessas iniciativas
Algumas questotildees de pesquisa guiam essa investigaccedilatildeo Quais satildeo o tipos de
circuitos curtos de alimentos ecoloacutegicos Quais as caracteriacutesticas das propriecades que
participam dessas redes e como se organizam Em que condiccedilotildees os circuitos curtos de
comercializaccedilatildeo satildeo viaacuteveis Quais os aprendizados as dificuldades e as oporunidades
para produtores e consumidores em participar de redes alternativas de comercalizaccedilatildeo
Enfim o objetivo geral do trabalho eacute analisar as particularidades das redes
alternativas de comercializaccedilatildeo de produtos ecoloacutegicos e as relaccedilotildees produccedilatildeoconsumo
na Franccedila e no Brasil Para isso apresenta-se uma tipologia desses circuitos cirtos (CC)
como funcionam as caracteriacutesticas principais as oportunidades e as dificuldades para
produtores e consumidores
2 O M EacuteTODO DE P ESQ U ISA E AS EX P E R IEcirc N C IA S ESTU D ADA S
A metodologia de trabalho envolveu a pesquisa descritiva e qualitativa a partir
de experiecircncias selecionadas na Franccedila e no Sul do Brasil Num primeiro monento foi
realizada uma revisatildeo da literatura internacional seguida de um estudo preacutevio err conjunto
114
com uma equipe de especialistas franceses e brasileiros selecionando experiecircncias
de redes alternativas de com ercializaccedilatildeo com produtos e serviccedilos da agricultura de
base ecoloacutegica Os criteacuterios para seleccedilatildeo das experiecircncias foram representatividade
regional tempo da experiecircncia reconhecimento local trabalho com produtos ecoloacutegicos
mecanismos de certificaccedilatildeo prioridade para circuitos curtos e redes alternativas
Foram realizadas no total 40 visitas teacutecnicas sendo seis feiras em Paris Marseille
e Regiatildeo Provence-Alpes-Cocircte dAzur (PACA) dois Pontos de Venda Coletiva (PVC)
duas Associaccedilotildees de Consum idores (AMAP - Associaccedilatildeo para M anutenccedilatildeo de uma
Agricultura Camponesa) cinco lojas especializadas em produtos orgacircnicos (conhecidos
como bio) uma loja de cooperativa de agricultores duas experiecircncias de venda na
propriedade (Bienvenue agrave la Ferme) uma experiecircncia de acolhida na propriedade (Accueil
paysan) e entrevistas qualitativas com diferentes atores da rede de comercializaccedilatildeo
sendo sete agricultores orgacircnicos em sistema de olericultura fruticultura ovinocultura e
bovinocultura sete especialistas de diferentes instituiccedilotildees que trabalham com agricultura
orgacircnica aleacutem de informaccedilotildees coletadas em sete seminaacuterios de pesquisa sobre o tema
O estudo foi realizado entre novembro de 2011 e marccedilo de 2012 sendo selecionadas
20 entrevistas mais consistentes para responder aos objetivos da pesquisa O estudo
foi realizado na Franccedila nas regiotildees PACA Rhocircne-Alpes e lie de France e no Sul do Brasil
Para comparar qualitativamente as experiecircncias francesas com as experiecircncias
do Brasil utilizamos os relatos de experiecircncias de trabalhos com as redes alternativas
de com ercializaccedilatildeo de alim entos ecoloacutegicos no Sul do Brasil (destaque para a rede
Ecovida4) descritos por Darolt (2012) A etapa de campo permitiu a construccedilatildeo de um
diagnoacutestico com base em informaccedilotildees coletadas em visitas entrevistas participaccedilatildeo
em eventos e fontes secundaacuterias descrevendo as caracteriacutesticas principais (definiccedilatildeo
funcionamento estrutura meacutetodos de distribuiccedilatildeo e marketing dos produtos vantagens
para consum idores e produtores) aleacutem de destacar dificuldades e oportunidades
A partir de informaccedilotildees coletadas foi criada uma tipologia das diferentes experiecircncias
e realizada uma anaacutelise qualitativa e comparativa dos resultados com base no niacutevel de
desenvolvimento de cada experiecircncia estudada
As experiecircncias francesas e brasileiras logicamente se desenvolvem em contextos
econocircmicos socioculturais am bientais e poliacuteticos que necessitam ser levados em
consideraccedilatildeo Percebemos na discussatildeo teoacuterica precedente que as redes alimentares
4 O circuito de circulaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo da Rede Ecovida eacute formado por 27 nuacutecleos regionais abrangendo 200 municiacutepios 400 grupos e associaccedilotildees (cerca de 3800 famiacutelias) envolvendo em torno de 200 feiras agroecoloacutegicas nos trecircs estados do Sul do Brasil (wwwecovidaorgbr) (REDE ECOVIDA 2014)
115
apresentam caracteriacutesticas e tendecircncias sem elhantes nos debates internacionais
poreacutem tecircm diferentes raiacutezes histoacutericas No Brasil muitos dos pioneiros da agricultura
de base ecoloacutegica surgiram no final da deacutecada de 1970 como parte de um movimento
para resistir ao processo de modernizaccedilatildeo agriacutecola (com os seus efeitos conhecidos de
concentraccedilatildeo de terra exclusatildeo da agricultura fam iliar e intensificaccedilatildeo da migraccedilatildeo
rural-urbana) e foram apoiados por organizaccedilotildees religiosas e da sociedade civil
Movimentos mais recentes surgiram no Brasil com a institucionalizaccedilatildeo da agricultura
orgacircnica e agroecologia e satildeo formados por iniciativas de grupos de agricultores familiares
e consumidores organizados com o apoio de organizaccedilotildees natildeo governamentais (ONGs)
e instituiccedilotildees puacuteblicas (Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio instituiccedilotildees de pesquisa
extensatildeo rural entre outras) Na Franccedila a institucionalizaccedilatildeo da agricultura de base
ecoloacutegica (bio) aconteceu mais cedo - nos anos de 1980 - o que se refletiu num maior
desenvolvimento do setor (393 da aacuterea plantada com orgacircnicos 54 do nuacutemero
de produtores e 2 do mercado - AGENCE BIO 2014) enquanto no Brasil aconteceu
um pouco mais tarde nos anos de 1990 com crescimento menor (cerca de 1 de aacuterea
plantada e 15 do mercado - MAPA 2012)
Enquanto o perfil socioloacutegico dos consumidores nos casos franceses e brasileiros
pode ser comparado (consum idores de classe meacutedia com exceccedilatildeo dos programas
governamentais para famiacutelias de baixa renda no Brasil) no caso dos agricultores existem
algumas diferenccedilas marcantes Na Franccedila os participantes das redes alternativas satildeo
frequentemente agricultores neorrurais (com origens e influecircncias urbanas) com um
niacutevel de educaccedilatildeo e renda mais elevado e maior ligaccedilatildeo com o meio urbano o que facilita
a interaccedilatildeo com os consumidores No Brasil a maioria dos agricultores ecoloacutegicos tem
origem no meio rural com baixo niacutevel de escolaridade e poucos recursos financeiros
caracteriacutestico da agricultura familiar brasileira Entretanto segundo Darolt (2012) existe
tambeacutem uma participaccedilatildeo de agricultores neorrurais na agricultura orgacircnica sobretudo
proacuteximo aos grandes centros urbanos
Neste trabalho vamos mostrar que apesar de particularidades as diferentes
experiecircncias estudadas de circuitos curtos apresentam caracteriacutesticas comuns que
permitem aos agricultores um melhor padratildeo de vida o fortalececimento de laccedilos sociais
com consumidores e a contribuiccedilatildeo na requalificaccedilatildeo de produtores e consumidores
em contraste com a desqualificaccedilatildeo induzida por redes alimentares industriais
116
3 D EFIN IN D O C IR C U ITO S CU RTO S DE C O M ER C IA LIZA Ccedil Atilde O
O debate cientiacutefico tem trazido elementos importantes para melhor definir os
circuitos curtos (CC) em termos de redes alimentares assim como para avanccedilar em
tipologias e classificaccedilatildeo das experiecircncias Numa visatildeo com vieacutes na dimensatildeo econocircmica
a distinccedilatildeo entre canais curtos e longos de distribuiccedilatildeo de alimentos eacute para alguns
especialistas uma questatildeo do nuacutemero de intermediaacuterios que operam entre a produccedilatildeo
e o consumo Assim quanto maior o nuacutemero de atravessadores mais longo eacute o canal
e vice-versa Entretanto o nuacutemero de intermediaacuterios natildeo deve ser uma questatildeo uacutenica
e prioritaacuteria Outras caracteriacutesticas que aportam dimensotildees socioculturais podem ser
destacadas para definir um circuito curto de comercializaccedilatildeo como 1) a capacidade de
socializar e localizar o produto alimentar gerando viacutenculo com o local e a propriedade
2) a redefiniccedilatildeo da relaccedilatildeo produtor-consumidor dando sinais da origem do alimento
3) o desenvolvimento de novas relaccedilotildees considerando um preccedilo justo e a qualidade
(ecoloacutegica) 4) a conexatildeo entre o consumidor e o produto alimentar (MARSDEN et a i
2000) Seguindo essas caracteriacutesticas os mesmos autores identificaram alguns tipos de
CC resumidos da seguinte forma 1 venda direta cara a cara no qual a confianccedila estaacute na
relaccedilatildeo interpessoal 2 proximidade espacial incluindo o que eacute produzido e distribuiacutedo
numa regiatildeo reconhecida pelos consumidores e 3 espaciaimente estendido nesse caso
a confianccedila eacute transmitida por um processo de garantia da qualidade (certificaccedilatildeo) Assim
considera-se natildeo soacute a distacircncia mas tambeacutem os paracircmetros organizativos (produtores e
consumidores) fatores culturais transmitidos pela confianccedila pela valorizaccedilatildeo do mercado
local e pelo produto agroecoloacutegico
Os autores espanhoacuteis Guzmaacuten et a i (2012) acrescentam ainda que num circuito
curto de comercializaccedilatildeo as relaccedilotildees de poder dentro da rede alimentar devem estar a
favor dos produtores e consumidores e natildeo dos intermediaacuterios e grandes distribuidores
No Brasil o debate teoacuterico sobre redes alimentares alternativas (PLOEG 2008
WILKINSON 2008) e circuitos curtos de alimentos ecoloacutegicos (FERRARI 2011 DAROLT
2012) ainda eacute emergente poreacutem existem muitas experiecircncias diversificadas e inovadoras
que surgem a cada ano mostrando que nos canais de distribuiccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos
haacute caracteriacutesticas similares a outros paiacuteses com destaque para mais informaccedilotildees sobre
a qualidade do produto busca de relacionamento direto e interdependecircncia entre
agricultores e consumidores
117
Os representantes do setor agroalimentar na Franccedila tecircm utilizado uma definiccedilatildeo
mais pragmaacutetica de circuito curto (CC) caracterizando os circuitos de distribuiccedilatildeo que
mobilizam ateacute - no m aacutexim o-um intermediaacuterio entre produtor e consumidor (CHAFOTTE
e CHIFFOLEAU 2007 MESSMER 2013) Dois casos podem ser distinguidos a venda direta
(quando o produtor entrega em matildeos proacuteprias a mercadoria ao consumidor) e a venda
indireta via um uacutenico intermediaacuterio (que pode ser um outro produtor uma cooperativa
uma associaccedilatildeo uma loja especializada um restaurante ou ateacute um pequeno mercado)
Na Franccedila e na Europa outras denominaccedilotildees como circuitos de proxim idade
(AUBRY CHIFFOLEAU 2009) ou circuitos locais (MARECHAL 2008) tecircm sido utilizadas
para reforccedilar a proximidade geograacutefica e o aspecto socialrelacional como a ligaccedilatildeo entre
consumidor e produtor e o desenvolvimento de mercados locais Deverre e Lamine (2010)
preferem utilizar ainda o termo sistemas alternativos numa perspectiva de questionar
o modelo convencionai propor novos princiacutepios de troca e relaccedilotildees mais justas entre
produtores e consumidores Neste trabalho consideramos que as diferentes dimensotildees
(econocircmica social ecoloacutegica e poliacutetica) satildeo importantes para classificar e analisar os
circuitos curtos
4 T IP O LO G IA E C A R A C T E R IacuteST IC A S DOS C IR C U ITO S CURTOS DE A LIM EN TO S ECO LOacute G ICO S
A classificaccedilatildeo dos tipos de circuitos curtos de comercializaccedilatildeo propostos neste
trabalho (Fig 1) segue as indicaccedilotildees teoacutericas de Marsden et a i (2000) Renting et a i
(2003) e Mundler (2008) considerando que temos circuitos relacionados com a venda
direta (em que o produtor tem relaccedilatildeo direta com o consumidor) e venda indireta
em que existe apenas um intermediaacuterio conhecedor e pessoas engajadas no processo
denotando uma interdependecircncia entre os atores Essa tipologia considera diferentes
dimensotildees econocircmicas e sociais (pela melhoria direta de renda dos agricultores e trocas
entre produtores e consumidores) mas traz embutida a dimensatildeo ecoloacutegica e poliacutetica por
se tratar de alimentos de base ecoloacutegica e com a participaccedilatildeo do poder puacuteblico (no caso
de programas de governo para alimentaccedilatildeo escolar que atingem um nuacutemero significativo
de pessoas)
118
FIGURA 1 - TIPOLOGIA DE CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE PRODUTOS ECOLOacuteGICOS
Tipologia de Circuitos Curtos
Venda Direta(relaccedilatildeo direta entre produtor e consumidor)
Venda Indireta(intervenccedilatildeo de um uacutenico intermediaacuterio
I iNa Propriedade Fora da Propriedade Lojas especializadas independentes
Lojas de cooperativas de produtores e consumidores ecoloacutegicos
Cestas para grupos ou individual Venda direta na propriedade ldquoColheita na propriedade
Feiras ecoloacutegicas direto do produtorCestas em domiciacutelio e para empresasVenda para programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo de baixa renda)
Lojas de associaccedilatildeo de produtoresVenda para grupos de consumidores organizados Venda em beira de estradasFeiras agropecuaacuterias salotildees eventos
bullRestaurantes coletivos e individuais Pequenos mercados de produtos
Serviccedilos na propriedadeAgroturismo gastronomia pousada esporte e lazer
naturais (orgacircnicos e convencionais) Lojas virtuais (Vendas pela Internet)
FONTE Elaborado pelos autores a partir de Chaffotte e Chiffoleau (2007) Mundler (2008)
Pode parecer surpreendente encontrar tipos similares de iniciativas em contextos
histoacutericos e geograacuteficos diferentes Todavia os movimentos sociais em prol das agriculturas
de base ecoloacutegica no mundo tecircm compartilhado ideais muito semelhantes com um
significado poliacutetico forte que permite em certa medida readequar a produccedilatildeo para
sistemas mais sustentaacuteveis e repensar dietas e haacutebitos alimentares reforccedilando laccedilos
entre aacutereas rurais e urbanas
Nas experiecircncias brasileiras estudadas (Tabela 1) observamos que a maioria dos
produtores utiliza simultaneamente mais de um canal destacadamente 1) feiras do
produtor 2) cestas em domiciacutelio e mais recentemente 3) os programas de governo
(Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar)
Percebemos ainda inovaccedilotildees como as vendas nas propriedades associadas em circuitos
de turismo rural e restaurantes no meio rural lojas especializadas e pontos de venda de
agricultores cooperativas de consumidores vendas em rede via circuitos de circulaccedilatildeo
(caso da Rede Ecovida de certificaccedilatildeo participativa) aleacutem de vendas em lojas virtuais
pela internet
A tabela 1 traz uma siacutentese das experiecircncias com uma anaacutelise qualitativa do niacutevel
de desenvolvimento dos circuitos curtos em redes alternativas na Franccedila e no Brasil
de forma comparativa De modo geral o maior niacutevel de escolaridade e a renda dos
agricultores familiares associados ao maior niacutevel de conscientizaccedilatildeo dos consumidores
na Franccedila permitem uma vantagem comparativa em relaccedilatildeo ao desenvolvimento dessas
redes Em ambos os paiacuteses a cooperaccedilatildeo entre os atores e o engajamento poliacutetico de
produtores e consumidores permitem atingir um maior niacutevel de desenvolvimento
119
TABELA 1 - ANAacuteLISE COMPARATIVA DO NIacuteVEL DE DESENVOLVIMENTO DE CIRCUITOS CURTOS DECOMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS NA FRANCcedilA E BRASIL
TIPOS DE CIRCUITOS ALTERNATIVOS FRANCcedilA BRASILFeira de produtores (orgacircnicosagroecoloacutegicos)
Pontos de Venda Coletiva (PVC) -AMAP (Associaccedilatildeo de Consumidores) -Cestas entregues em domiciacutelio
Lojas de produtos orgacircnicos independentes
Lojas de cooperativas de produtores e consumidores
Rede de comercializaccedilatildeo (Certificaccedilatildeo Participativa) -
Venda na propriedade
Acolhida na propriedade (gastronomia lazer esporte alojamento propriedade pedagoacutegica)
Programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo em risco alimentar)
Restaurantes coletivos puacuteblico ou privado restaurantes tradicionais
Lojas virtuais (site internet de produtos ecoloacutegicos)
FONTE elaborado pelos autoresNOTA - ausente ou raro pouco desenvolvido medianamente desenvolvido muito
desenvolvido (niacutevel de desenvolvimento)
As feiras do produtor satildeo os mecanismos de comercializaccedilatildeo mais difundidos no
Brasil e a principal porta de entrada de agricultores ecoloacutegicos para o mercado local
As feiras satildeo espaccedilos educativos e de lazer que permitem grande interaccedilatildeo entre
produtores e consumidores possibilitando maior autonomia aos agricultores Pesquisa
do IDEC (2012) identificou 140 feiras orgacircnicas em 22 das 27 capitais brasileiras
O estudo aponta que nas regiotildees onde a agricultura familiar eacute forte (Sul e Nordeste
p ex) as vendas em feiras satildeo mais pronunciadas No caso da Franccedila observamos que
as feiras (marcheacutes paysans) satildeo mais sazonais (com maior expressatildeo no veratildeo) sendo
menos preferidas pelos produtores do que as lojas especializadas independentes e lojas
coletivas de produtores (PVC) que funcionam o ano todo sobretudo em funccedilatildeo das
dificuldades clim aacuteticas deslocam entos frequentes horaacuterios predefinidos e do tempo
que a feira leva para se consolidar As feiras tradicionais (marcheacutes forains classiques)
satildeo muito populares entre os consumidores e misturam produtores convencionais (com
produtos coloniais artesanais natildeo certificados) e orgacircnicos certificados (bio) Nessas feiras
tradicionais os produtores bio satildeo minoria Nos dois paiacuteses as feiras totalmente orgacircnicas
tecircm tido maior expressatildeo nas m eacutedias e grandes cidades De acordo com Chiffoleau
(2008) a consolidaccedilatildeo das feiras de produtores se daacute basicamente em quatro etapas a
saber 1) criaccedilatildeo no iniacutecio muitos consumidores aparecem para conhecer a novidade e
impulsionam o mercado 2) queda (depois de dois a trecircs anos) apoacutes a novidade alguns
120
clientes deixam de frequentar a feira acom panhado por agricultores 3) recuperaccedilatildeo
(pelo 39 e 45 anos) os clientes mais fieacuteis acabam por fazer uma divulgaccedilatildeo boca-a-boca
e ocorre uma retomada do crescimento e 4) estabilizaccedilatildeo (apoacutes cinco anos) apoacutes esse
periacuteodo ocorre uma estabilizaccedilatildeo do nuacutemero de produtores e do nuacutemero de clientes fieacuteis
O mesmo fenocircmeno tem sido verificado no Brasil (DAROLT 2012)
Na Franccedila sobretudo na regiatildeo Rhocircne Alpes estaacute bem difundida a venda em
Pontos de Venda Coletiva (PVC - Points de Vente Collectifs) surgido no final dos anos de
1970 e que conta com 56 lojas tendo no iniacutecio uma forte participaccedilatildeo de agricultores
neorurais (Lamine 2012) Os PVC satildeo pequenas lojas mantidas e adm inistradas pelos
proacuteprios agricultores que vendem produtos de uma determ inada regiatildeo (ateacute 100 km
em meacutedia) com caracteriacutesticas e tradiccedilotildees com uns (produtos do terroir) O objetivo
dessas lojas coletivas eacute melhorar as condiccedilotildees de trabalho do agricultor d im inuir o
tempo gasto na comercializaccedilatildeo e oferecer aos consumidores diversidade regularidade e
qualidade de produtos tiacutepicos da regiatildeo Os PVC demandam dos agricultores aquisiccedilatildeo de
novas competecircncias (transformaccedilatildeo de produtos adoccedilatildeo de princiacutepios de agroecologia)
e readequaccedilatildeo do trabalho na propriedade para atender agraves demandas das lojas (novos
produtos relaccedilatildeo social com os clientes) Sempre eacute possiacutevel encontrar agricultores na
loja (cada produtor deve ficar na loja um meio-dia por sem ana o que permite que o
consumidor encontre sempre um produtor na loja) e todo marketing eacute direcionado no
sentido de valorizar os produtores e a regiatildeo
Outra modalidade bem estabelecida na Franccedila e em fase de crescim ento no
Brasil (por meio de cooperativas de consum idores e grupos de com pras coletivas)
satildeo as cestas diversificadas para grupos organizados de consum idores Na Franccedila as
chamadas AM APs -Associations pourle Maintien dune Agriculture Paysanne (Associaccedilatildeo
para M anutenccedilatildeo de uma Agricultura Cam ponesa) surgiram a partir dos anos 2000
inspiradas nas Community Supported Agriculture (Agricultura Apoiada pela Comunidade)
e representam um contrato de parceria entre consumidores e produtores (LAMINE 2008)
Na Franccedila haacute maior engajamento social dos consumidores e participaccedilatildeo em grupos de
inserccedilatildeo social quando comparados agraves experiecircncias brasileiras que ainda satildeo incipientes
Em contrapartida no Brasil as cestas individuais vecircm ganhando simpatia do consumidor
pela praticidade e pelos preccedilos m enores quando com parados aos superm ercados
mas ainda haacute pouca organizaccedilatildeo e engajam ento social do con su m idor brasileiro
no processo
121
As lojas especializadas de produtos ecoloacutegicos existem haacute vaacuterios inos na Franccedila
em cidades grandes meacutedias e pequenas contando com redes bem estabelecidas
espalhadas por todo o paiacutes com um discurso de solidariedade e pa-ceria com os
produtores como eacute o caso de Biocoop5 Segundo a Agence Bio (2014) eses dispositivos
representaram 35 do valor total das vendas com productos bio em ZD13 No Brasil
parte dos consumidores orgacircnicos (41) com plem entam suas com pns em lojas de
produtos especializados sobretudo nas capitais (KLUTH BOCCFIIJR CENSIOWSKY 2011)
Em cidades de menor porte as lojas podem estar associadas a organiza ccedilotildeesde produtores
familiares e consumidores ecoloacutegicos (p ex Ecotorres e Cooperativa deConsumidores
Ecoloacutegicos de Trecircs Cachoeiras no Rio Grande do Sul) ou funcionar com o poio do poder
puacuteblico municipal A maioria das lojas trabalha com entregas em domiciacuteio via internet
ou telefone permitindo ao consumidor escolher os produtos de uma lita de opccedilotildees
com maior comodidade e com preccedilos inferiores aos praticados pelos suparmercados
As vendas nas propriedades estatildeo bem difundidas na Franccedilasobretudo no
tocante a vinhos queijos e produtos do terroir No Brasil as vendas na propriedades
estatildeo em fase de expansatildeo e tecircm sido associadas a propriedades que fazem parte de
circuitos de turismo rural e agroecoloacutegico (Accueil paysan na Franccedila e Acohida na colocircnia
no Brasil) e satildeo mais comuns em cidades periurbanas proacuteximas agraves regiotildees netropolitanas
As lojas virtuais de produtos ecoloacutegicos ganham espaccedilo tanto na Franccedila quanto
no Brasil e com tendecircncia de crescimento para os proacuteximos anos sobretido nas regiotildees
metropolitanas todavia nem sempre representam um circuito curto conforme discutido
neste trabalho Entretanto satildeo procuradas pela facilidade de compra ccmodidade nas
entregas ao consumidor e preccedilos inferiores aos supermercados atendencb agraves exigecircncias
da vida moderna
5 PRO G RA M A S DE G O VERN O O P O R T U N ID A D E S PARA A A G RO ECO LO G IA NO BRA SIL
A com ercializaccedilatildeo de produtos agroalim entares por meio de orogramas do
governo ou m ercado institucional surgiu no Brasil em 2003 com o Program a de
Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e vem ganhando espaccedilo conforme Schimitte Grisa (2013)
O mercado institucional atende ao consumidor coletivo (instituiccedilotildees de assistecircncia social
5 Biocoop eacute uma rede francesa com 330 lojas e atores independentes militantes e engajados no desenvolvimento da agricultura orgacircnica (conhecida como bio) (wwwbiocooporg)
122
hospitais creches escolas) dentro de um circuito curto de comercializaccedilatildeo considerado
como venda direta pelo governo brasileiro Assim por meio de programas de governo
os alimentos da agricultura familiar satildeo comprados diretamente dos agricultores ou
das associaccedilotildees e cooperativas de produtores e chegam ateacute a populaccedilatildeo via entidades
de assistecircncia social do governo e escolas puacuteblicas Satildeo programas que se inserem nas
poliacuteticas puacuteblicas voltadas agrave seguranccedila alimentar e nutricional Nos uacuteltimos anos no Brasil
dois programas se destacaram na compra de produtos de base ecoloacutegica o Programa
de Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE)
Os produtos da agricultura fam iliar que apresentam certificaccedilatildeo orgacircnica
comercializados pelo PAA e PNAE recebem um precircmio de 30 em relaccedilatildeo ao similar
da agricultura convencional valorizando a qualidade nutricional e os demais aspectos
socioambientais envolvidos A garantia de compra dos produtos pelo governo estimula a
transiccedilatildeo agroecoloacutegica Ademais esses programas tecircm uma dimensatildeo social importante
pois atingem um grande puacuteblico (escolas) e trabalham com uma diversidade de produtos
seguindo a sazonalidade e as realidades locais
Para Scnimitt e Grisa (2013) existem algumas limitaccedilotildees operacionais que precisam
ser superadas na construccedilatildeo do mercado institucional no Brasil tais como atraso na
liberaccedilatildeo dos recursos problemas de acesso dos agricultores agrave documentaccedilatildeo exigida
(necessidade de desburocratizaccedilatildeo) falta de interaccedilatildeo entre diferentes instrumentos de
poliacutetica puacuteblica que poderiam dar suporte agraves accedilotildees dos programas falta de planejamento
e problemas de gestatildeo das organizaccedilotildees locais no acompanhamento das entregas e na
formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos beneficiaacuterios (nutricionistas merendeiras professoras
alunos) Triches e Schneider (2010) acrescentam ainda que um dos desafios na aquisiccedilatildeo
de alimentos da agricultura familiar para programas institucionais eacute a legalizaccedilatildeo das
agroinduacutestrias familiares com a regulaccedilatildeo da qualidade dos alimentos (sobretudo para
leite carnes e derivados)
Na Franccedila o recente Plano Nacional para a Agricultura Orgacircnica (Plan Ambition
Bio 2017) fixou objetivos ambiciosos para colocar 20 de produtos orgacircnicos na merenda
escolar e em restaurantes coletivos ateacute 2017 Esses objetivos variam de uma regiatildeo
para outra privilegiando produtos natildeo somente orgacircnicos (bio) mas tambeacutem locais
(normalmente o produto local tem maior peso) pois favorece o desenvolvimento regional
Em todo caso esse desenvolvimento segue associado a novas formas de organizaccedilatildeo
plataformas logiacutesticas redes de trabalho negociaccedilatildeo e planejamento das necessidades
de produtos entre escolas e produtores
123
Experiecircncias em outros paiacuteses europeus com alimentaccedilatildeo escolar mostram que o
poder puacuteblico tem papel decisivo em relaccedilatildeo aos mecanismos de aquisiccedilatildeo de alimentos
ao incentivo de determinados modelos de produccedilatildeo sustentaacuteveis e de sauacutede puacuteblica
O poder puacuteblico pode utilizar o seu poder de regulaccedilatildeo de decisatildeo sobre alocaccedilatildeo de
recursos e de ator-chave no abastecimento alim entar para promover mudanccedilas no
comportamento da sociedade (MORGAN SONNINO 2008)
O mercado institucional reforccedila outras iniciativas de comercializaccedilatildeo em circuitos
curtos fortalece as redes de organizaccedilotildees sociais e potencializa o diaacutelogo entre os atores
envolvidos com a agroecologia Tal situaccedilatildeo traz perspectivas otimistas para estimular
a produccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos e saudaacuteveis contribuir no sentido de potencializar
processos de transiccedilatildeo agroecoloacutegica e promoccedilatildeo da agroecologia bem como respeitar
os modos de vida das populaccedilotildees tradicionais fortalecer a cultura alimentar regional e
promover a valorizaccedilatildeo da sociobiodiversidade
6 C IR C U IT O S DE C IR C U LA Ccedil Atilde O E C O M E R C IA LIZA Ccedil Atilde O EM REDE
Uma experiecircncia pioneira vem sendo desenvolvida pelo circuito de circulaccedilatildeo
e com ercializaccedilatildeo da Rede Ecovida de Agroecologia no sul do Brasil Os princiacutepios
se g u id o s pela rede satildeo os produtos co m ercia lizad o s pelo circu ito tecircm de ser
agroecoloacutegicos com selo de certificaccedilatildeo participativa da Rede Ecovida a organizaccedilatildeo
ou grupo de agricultores para participar do circuito deve fazer parte da rede quem
vend e deve tam beacutem com prar produtos dos dem ais produtores (intercacircm bio e
circulaccedilatildeo de produtos) (MAGNANTI 2008)
Esse sistema tem permitido a troca e circulaccedilatildeo de produtos entre as regiotildees aleacutem
de atender agrave diversidade manter uma regularidade e a qualidade bioloacutegica dos produtos
visto que se trabalha exclusivamente com produtos certificados de forma participativa
A discussatildeo de circuitos curtos nesse sentido se daacute natildeo pela distacircncia fiacutesica e nuacutemero de
intermediaacuterios mas pela dimensatildeo social e poliacutetica estabelecida pelo sistema participativo
de garantia e pela organizaccedilatildeo do movimento social
Em torno de 50 itens satildeo ofertados pelo circuito divididos entre hortaliccedilas (100)
frutas (80) gratildeos (80) farinhas (70) accediluacutecar (50) e processados (20)(REDE
ECOVIDA 2014) Os produtos tecircm circulado principalmente em feiras agroecoloacutegicas
em Programas de Governo como o PAA e PNAE pequenos comeacutercios e distribuidores e
grupos de trocas de alimentos (autoconsumo) garantindo tambeacutem a autonomia alimentar
dos agricultores da rede
124
Os desafios para esse tipo de com ercializaccedilatildeo segundo Perez-Cassarino
(2013) satildeo a padronizaccedilatildeo de documentos para comercializaccedilatildeo entre os estados
a padronizaccedilatildeo de embalagens prioritariamente ecoloacutegicas a padronizaccedilatildeo de produtos
entre os nuacutecleos investim ento em recursos hum anos para operacionalizaccedilatildeo do
processo de comercializaccedilatildeo melhoria e investimentos em logiacutestica e um planejamento
de produccedilatildeo para atender a uma dem anda em expansatildeo destacadam ente para
alimentaccedilatildeo escolar
7 C A R A C T E R IacuteST IC A S E O R G A N IZA Ccedil Atilde O DAS PR O PR IED A D ES EM C IR C U ITO S CU RTO S
Tanto no Brasil como na Franccedila as experiecircncias estudadas que comercializam em
circuitos curtos satildeo majoritariamente provenientes da agricultura familiar com destaque
para a categoria de agricultores neorurais que se desenvolvem em aacutereas pequenas (em
meacutedia menor que 20 hectares no total) quando comparadas agravequelas em circuitos longos
Um dos pilares de sustentaccedilatildeo eacute a matildeo de obra familiar que tem uma carga de trabalho
intensa e deve aliar diferentes competecircncias (produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo)
no intuito de diminuir custos e agregar valor ao produto
Na Franccedila a maior parte das propriedades estudadas que vendem em circuitos
curtos eacute especializada em um determinado sistema de produccedilatildeo (fruticultura olericultura
leite ovos queijo) estando de acordo com Mundler (2008) No Brasil as propriedades
orgacircnicas estudadas mostraram-se mais diversificadas contando com sistemas vegetais
e anim ais mais com plexos Se por um lado isso eacute desejado porque atende aos
princiacutepios agroecoloacutegicos por outro torna o planejamento produtivo mais complexo
Nos dois paiacuteses a gama de produtos eacute em geral mais diversificada quando comparada
agrave agricultura convencional mesmo quando as propriedades satildeo especializadas em
determinados sistemas Observou-se ainda uma tendecircncia agrave diversificaccedilatildeo em serviccedilos
com a pluriatividade da propriedade (agroturismo gastronomia lazer e descoberta
alojamentos e propriedades pedagoacutegicas) conforme jaacute apontaram Schneider (2005)
Mundler Guermonprez Pluvinage (2007)
Outra caracteriacutestica a destacar em circuitos curtos eacute a maior autonomia do agricultor
em relaccedilatildeo aos circuitos longos No Brasil os agricultores que trabalham integrados com
empresas para vendas em supermercados tecircm menor autonomia na gestatildeo sendo o
planejamento de produccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo realizados pelas empresas Segundo Darolt
125
(2012) o sistema de produccedilatildeo eacute simplificado e especializado em um ou dois produtos
Eacute com um nesses casos uma repeticcedilatildeo da loacutegica comercial e industrial utilizada em
sistemas convencionais para produccedilatildeo em escala
A figura 2 resume as diferentes caracteriacutesticas observadas nas propriedades
que comercializam em circuitos curtos Segundo Mundler (2008) a combinaccedilatildeo entre
agricultura ecoloacutegica e circuitos curtos tem impactos positivos em diferentes dimensotildees
como na economia local trazendo oportunidades de trabalho e de renda na dimensatildeo
social com a aproximaccedilatildeo de produtores e consumidores na dimensatildeo ambiental com
a valorizaccedilatildeo dos recursos naturais e da paisagem e na dimensatildeo poliacutetica como uma
nova opccedilatildeo de consumo
FIGURA 2 - CARACTERIacuteSTICAS COMUNS OBSERVADAS EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS (BRASIL E FRANCcedilA)
A organizaccedilatildeo do trabalho observada nas experiecircncias se mostrou mais ou menos
complexa em funccedilatildeo dos recursos humanos e econocircmicos disponiacuteveis na propriedade
Em propriedades familiares de pequeno porte concordando com Dedieu et a i (1999)
eacute fundam ental agregar valor ao produto (com a transformaccedilatildeo) vender sempre que
possiacutevel de forma direta e potencializar os serviccedilos na propriedade (turismo e acolhida
do consumidor na propriedade por exemplo)
A forma de comercializaccedilatildeo mais adequada a cada tipo de produtor pode variar
em funccedilatildeo da matildeo de obra da organizaccedilatildeo do sistema de produccedilatildeo e da infraestrutura
disponiacutevel Observamos que na maioria dos canais estudados as praacuteticas agriacutecolas
utilizadas os volumes de produccedilatildeo os tipos de produtos e a organizaccedilatildeo do trabalho
se adaptam para responder agraves demandas dos consumidores Assim concordando com
M undler et a i (2007) notamos que a loacutegica de desenvolvimento em circuitos curtos
126
vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste
entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em
circuitos curtos quando comparado a um circuito longo
8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O
Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo
ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que
isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo
semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao
consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis
Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental
pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte
Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na
comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam
que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com
o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e
menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento
em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo
satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta
e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores
brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando
o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a
agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia
e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel
127
TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO
ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES
Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)
bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod
Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo
bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)
FONTE Elaborado pelos autores
Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades
para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto
a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo
saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes
alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas
rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar
que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos
consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento
das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de
regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial
e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica
128
9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O
Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos
ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais
circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar
dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo
De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo
imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona
o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e
tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma
o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar
soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes
contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de
desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-
produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais
Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito
agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo
e consumo
O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem
as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo
ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos
agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da
paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)
Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas
puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais
organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de
distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa
como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas
de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores
(AMAPs) na Franccedila
O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser
superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as
poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas
129
como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade
na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de
infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente
com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em
circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave
alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo
de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo
distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas
especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na
fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica
Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara
do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como
as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem
de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas
singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores
procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos
valores e resgate da autonomia dos agricultores
Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas
envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o
consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados
locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-
distribuiccedilatildeo-consumo
130
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com uma equipe de especialistas franceses e brasileiros selecionando experiecircncias
de redes alternativas de com ercializaccedilatildeo com produtos e serviccedilos da agricultura de
base ecoloacutegica Os criteacuterios para seleccedilatildeo das experiecircncias foram representatividade
regional tempo da experiecircncia reconhecimento local trabalho com produtos ecoloacutegicos
mecanismos de certificaccedilatildeo prioridade para circuitos curtos e redes alternativas
Foram realizadas no total 40 visitas teacutecnicas sendo seis feiras em Paris Marseille
e Regiatildeo Provence-Alpes-Cocircte dAzur (PACA) dois Pontos de Venda Coletiva (PVC)
duas Associaccedilotildees de Consum idores (AMAP - Associaccedilatildeo para M anutenccedilatildeo de uma
Agricultura Camponesa) cinco lojas especializadas em produtos orgacircnicos (conhecidos
como bio) uma loja de cooperativa de agricultores duas experiecircncias de venda na
propriedade (Bienvenue agrave la Ferme) uma experiecircncia de acolhida na propriedade (Accueil
paysan) e entrevistas qualitativas com diferentes atores da rede de comercializaccedilatildeo
sendo sete agricultores orgacircnicos em sistema de olericultura fruticultura ovinocultura e
bovinocultura sete especialistas de diferentes instituiccedilotildees que trabalham com agricultura
orgacircnica aleacutem de informaccedilotildees coletadas em sete seminaacuterios de pesquisa sobre o tema
O estudo foi realizado entre novembro de 2011 e marccedilo de 2012 sendo selecionadas
20 entrevistas mais consistentes para responder aos objetivos da pesquisa O estudo
foi realizado na Franccedila nas regiotildees PACA Rhocircne-Alpes e lie de France e no Sul do Brasil
Para comparar qualitativamente as experiecircncias francesas com as experiecircncias
do Brasil utilizamos os relatos de experiecircncias de trabalhos com as redes alternativas
de com ercializaccedilatildeo de alim entos ecoloacutegicos no Sul do Brasil (destaque para a rede
Ecovida4) descritos por Darolt (2012) A etapa de campo permitiu a construccedilatildeo de um
diagnoacutestico com base em informaccedilotildees coletadas em visitas entrevistas participaccedilatildeo
em eventos e fontes secundaacuterias descrevendo as caracteriacutesticas principais (definiccedilatildeo
funcionamento estrutura meacutetodos de distribuiccedilatildeo e marketing dos produtos vantagens
para consum idores e produtores) aleacutem de destacar dificuldades e oportunidades
A partir de informaccedilotildees coletadas foi criada uma tipologia das diferentes experiecircncias
e realizada uma anaacutelise qualitativa e comparativa dos resultados com base no niacutevel de
desenvolvimento de cada experiecircncia estudada
As experiecircncias francesas e brasileiras logicamente se desenvolvem em contextos
econocircmicos socioculturais am bientais e poliacuteticos que necessitam ser levados em
consideraccedilatildeo Percebemos na discussatildeo teoacuterica precedente que as redes alimentares
4 O circuito de circulaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo da Rede Ecovida eacute formado por 27 nuacutecleos regionais abrangendo 200 municiacutepios 400 grupos e associaccedilotildees (cerca de 3800 famiacutelias) envolvendo em torno de 200 feiras agroecoloacutegicas nos trecircs estados do Sul do Brasil (wwwecovidaorgbr) (REDE ECOVIDA 2014)
115
apresentam caracteriacutesticas e tendecircncias sem elhantes nos debates internacionais
poreacutem tecircm diferentes raiacutezes histoacutericas No Brasil muitos dos pioneiros da agricultura
de base ecoloacutegica surgiram no final da deacutecada de 1970 como parte de um movimento
para resistir ao processo de modernizaccedilatildeo agriacutecola (com os seus efeitos conhecidos de
concentraccedilatildeo de terra exclusatildeo da agricultura fam iliar e intensificaccedilatildeo da migraccedilatildeo
rural-urbana) e foram apoiados por organizaccedilotildees religiosas e da sociedade civil
Movimentos mais recentes surgiram no Brasil com a institucionalizaccedilatildeo da agricultura
orgacircnica e agroecologia e satildeo formados por iniciativas de grupos de agricultores familiares
e consumidores organizados com o apoio de organizaccedilotildees natildeo governamentais (ONGs)
e instituiccedilotildees puacuteblicas (Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio instituiccedilotildees de pesquisa
extensatildeo rural entre outras) Na Franccedila a institucionalizaccedilatildeo da agricultura de base
ecoloacutegica (bio) aconteceu mais cedo - nos anos de 1980 - o que se refletiu num maior
desenvolvimento do setor (393 da aacuterea plantada com orgacircnicos 54 do nuacutemero
de produtores e 2 do mercado - AGENCE BIO 2014) enquanto no Brasil aconteceu
um pouco mais tarde nos anos de 1990 com crescimento menor (cerca de 1 de aacuterea
plantada e 15 do mercado - MAPA 2012)
Enquanto o perfil socioloacutegico dos consumidores nos casos franceses e brasileiros
pode ser comparado (consum idores de classe meacutedia com exceccedilatildeo dos programas
governamentais para famiacutelias de baixa renda no Brasil) no caso dos agricultores existem
algumas diferenccedilas marcantes Na Franccedila os participantes das redes alternativas satildeo
frequentemente agricultores neorrurais (com origens e influecircncias urbanas) com um
niacutevel de educaccedilatildeo e renda mais elevado e maior ligaccedilatildeo com o meio urbano o que facilita
a interaccedilatildeo com os consumidores No Brasil a maioria dos agricultores ecoloacutegicos tem
origem no meio rural com baixo niacutevel de escolaridade e poucos recursos financeiros
caracteriacutestico da agricultura familiar brasileira Entretanto segundo Darolt (2012) existe
tambeacutem uma participaccedilatildeo de agricultores neorrurais na agricultura orgacircnica sobretudo
proacuteximo aos grandes centros urbanos
Neste trabalho vamos mostrar que apesar de particularidades as diferentes
experiecircncias estudadas de circuitos curtos apresentam caracteriacutesticas comuns que
permitem aos agricultores um melhor padratildeo de vida o fortalececimento de laccedilos sociais
com consumidores e a contribuiccedilatildeo na requalificaccedilatildeo de produtores e consumidores
em contraste com a desqualificaccedilatildeo induzida por redes alimentares industriais
116
3 D EFIN IN D O C IR C U ITO S CU RTO S DE C O M ER C IA LIZA Ccedil Atilde O
O debate cientiacutefico tem trazido elementos importantes para melhor definir os
circuitos curtos (CC) em termos de redes alimentares assim como para avanccedilar em
tipologias e classificaccedilatildeo das experiecircncias Numa visatildeo com vieacutes na dimensatildeo econocircmica
a distinccedilatildeo entre canais curtos e longos de distribuiccedilatildeo de alimentos eacute para alguns
especialistas uma questatildeo do nuacutemero de intermediaacuterios que operam entre a produccedilatildeo
e o consumo Assim quanto maior o nuacutemero de atravessadores mais longo eacute o canal
e vice-versa Entretanto o nuacutemero de intermediaacuterios natildeo deve ser uma questatildeo uacutenica
e prioritaacuteria Outras caracteriacutesticas que aportam dimensotildees socioculturais podem ser
destacadas para definir um circuito curto de comercializaccedilatildeo como 1) a capacidade de
socializar e localizar o produto alimentar gerando viacutenculo com o local e a propriedade
2) a redefiniccedilatildeo da relaccedilatildeo produtor-consumidor dando sinais da origem do alimento
3) o desenvolvimento de novas relaccedilotildees considerando um preccedilo justo e a qualidade
(ecoloacutegica) 4) a conexatildeo entre o consumidor e o produto alimentar (MARSDEN et a i
2000) Seguindo essas caracteriacutesticas os mesmos autores identificaram alguns tipos de
CC resumidos da seguinte forma 1 venda direta cara a cara no qual a confianccedila estaacute na
relaccedilatildeo interpessoal 2 proximidade espacial incluindo o que eacute produzido e distribuiacutedo
numa regiatildeo reconhecida pelos consumidores e 3 espaciaimente estendido nesse caso
a confianccedila eacute transmitida por um processo de garantia da qualidade (certificaccedilatildeo) Assim
considera-se natildeo soacute a distacircncia mas tambeacutem os paracircmetros organizativos (produtores e
consumidores) fatores culturais transmitidos pela confianccedila pela valorizaccedilatildeo do mercado
local e pelo produto agroecoloacutegico
Os autores espanhoacuteis Guzmaacuten et a i (2012) acrescentam ainda que num circuito
curto de comercializaccedilatildeo as relaccedilotildees de poder dentro da rede alimentar devem estar a
favor dos produtores e consumidores e natildeo dos intermediaacuterios e grandes distribuidores
No Brasil o debate teoacuterico sobre redes alimentares alternativas (PLOEG 2008
WILKINSON 2008) e circuitos curtos de alimentos ecoloacutegicos (FERRARI 2011 DAROLT
2012) ainda eacute emergente poreacutem existem muitas experiecircncias diversificadas e inovadoras
que surgem a cada ano mostrando que nos canais de distribuiccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos
haacute caracteriacutesticas similares a outros paiacuteses com destaque para mais informaccedilotildees sobre
a qualidade do produto busca de relacionamento direto e interdependecircncia entre
agricultores e consumidores
117
Os representantes do setor agroalimentar na Franccedila tecircm utilizado uma definiccedilatildeo
mais pragmaacutetica de circuito curto (CC) caracterizando os circuitos de distribuiccedilatildeo que
mobilizam ateacute - no m aacutexim o-um intermediaacuterio entre produtor e consumidor (CHAFOTTE
e CHIFFOLEAU 2007 MESSMER 2013) Dois casos podem ser distinguidos a venda direta
(quando o produtor entrega em matildeos proacuteprias a mercadoria ao consumidor) e a venda
indireta via um uacutenico intermediaacuterio (que pode ser um outro produtor uma cooperativa
uma associaccedilatildeo uma loja especializada um restaurante ou ateacute um pequeno mercado)
Na Franccedila e na Europa outras denominaccedilotildees como circuitos de proxim idade
(AUBRY CHIFFOLEAU 2009) ou circuitos locais (MARECHAL 2008) tecircm sido utilizadas
para reforccedilar a proximidade geograacutefica e o aspecto socialrelacional como a ligaccedilatildeo entre
consumidor e produtor e o desenvolvimento de mercados locais Deverre e Lamine (2010)
preferem utilizar ainda o termo sistemas alternativos numa perspectiva de questionar
o modelo convencionai propor novos princiacutepios de troca e relaccedilotildees mais justas entre
produtores e consumidores Neste trabalho consideramos que as diferentes dimensotildees
(econocircmica social ecoloacutegica e poliacutetica) satildeo importantes para classificar e analisar os
circuitos curtos
4 T IP O LO G IA E C A R A C T E R IacuteST IC A S DOS C IR C U ITO S CURTOS DE A LIM EN TO S ECO LOacute G ICO S
A classificaccedilatildeo dos tipos de circuitos curtos de comercializaccedilatildeo propostos neste
trabalho (Fig 1) segue as indicaccedilotildees teoacutericas de Marsden et a i (2000) Renting et a i
(2003) e Mundler (2008) considerando que temos circuitos relacionados com a venda
direta (em que o produtor tem relaccedilatildeo direta com o consumidor) e venda indireta
em que existe apenas um intermediaacuterio conhecedor e pessoas engajadas no processo
denotando uma interdependecircncia entre os atores Essa tipologia considera diferentes
dimensotildees econocircmicas e sociais (pela melhoria direta de renda dos agricultores e trocas
entre produtores e consumidores) mas traz embutida a dimensatildeo ecoloacutegica e poliacutetica por
se tratar de alimentos de base ecoloacutegica e com a participaccedilatildeo do poder puacuteblico (no caso
de programas de governo para alimentaccedilatildeo escolar que atingem um nuacutemero significativo
de pessoas)
118
FIGURA 1 - TIPOLOGIA DE CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE PRODUTOS ECOLOacuteGICOS
Tipologia de Circuitos Curtos
Venda Direta(relaccedilatildeo direta entre produtor e consumidor)
Venda Indireta(intervenccedilatildeo de um uacutenico intermediaacuterio
I iNa Propriedade Fora da Propriedade Lojas especializadas independentes
Lojas de cooperativas de produtores e consumidores ecoloacutegicos
Cestas para grupos ou individual Venda direta na propriedade ldquoColheita na propriedade
Feiras ecoloacutegicas direto do produtorCestas em domiciacutelio e para empresasVenda para programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo de baixa renda)
Lojas de associaccedilatildeo de produtoresVenda para grupos de consumidores organizados Venda em beira de estradasFeiras agropecuaacuterias salotildees eventos
bullRestaurantes coletivos e individuais Pequenos mercados de produtos
Serviccedilos na propriedadeAgroturismo gastronomia pousada esporte e lazer
naturais (orgacircnicos e convencionais) Lojas virtuais (Vendas pela Internet)
FONTE Elaborado pelos autores a partir de Chaffotte e Chiffoleau (2007) Mundler (2008)
Pode parecer surpreendente encontrar tipos similares de iniciativas em contextos
histoacutericos e geograacuteficos diferentes Todavia os movimentos sociais em prol das agriculturas
de base ecoloacutegica no mundo tecircm compartilhado ideais muito semelhantes com um
significado poliacutetico forte que permite em certa medida readequar a produccedilatildeo para
sistemas mais sustentaacuteveis e repensar dietas e haacutebitos alimentares reforccedilando laccedilos
entre aacutereas rurais e urbanas
Nas experiecircncias brasileiras estudadas (Tabela 1) observamos que a maioria dos
produtores utiliza simultaneamente mais de um canal destacadamente 1) feiras do
produtor 2) cestas em domiciacutelio e mais recentemente 3) os programas de governo
(Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar)
Percebemos ainda inovaccedilotildees como as vendas nas propriedades associadas em circuitos
de turismo rural e restaurantes no meio rural lojas especializadas e pontos de venda de
agricultores cooperativas de consumidores vendas em rede via circuitos de circulaccedilatildeo
(caso da Rede Ecovida de certificaccedilatildeo participativa) aleacutem de vendas em lojas virtuais
pela internet
A tabela 1 traz uma siacutentese das experiecircncias com uma anaacutelise qualitativa do niacutevel
de desenvolvimento dos circuitos curtos em redes alternativas na Franccedila e no Brasil
de forma comparativa De modo geral o maior niacutevel de escolaridade e a renda dos
agricultores familiares associados ao maior niacutevel de conscientizaccedilatildeo dos consumidores
na Franccedila permitem uma vantagem comparativa em relaccedilatildeo ao desenvolvimento dessas
redes Em ambos os paiacuteses a cooperaccedilatildeo entre os atores e o engajamento poliacutetico de
produtores e consumidores permitem atingir um maior niacutevel de desenvolvimento
119
TABELA 1 - ANAacuteLISE COMPARATIVA DO NIacuteVEL DE DESENVOLVIMENTO DE CIRCUITOS CURTOS DECOMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS NA FRANCcedilA E BRASIL
TIPOS DE CIRCUITOS ALTERNATIVOS FRANCcedilA BRASILFeira de produtores (orgacircnicosagroecoloacutegicos)
Pontos de Venda Coletiva (PVC) -AMAP (Associaccedilatildeo de Consumidores) -Cestas entregues em domiciacutelio
Lojas de produtos orgacircnicos independentes
Lojas de cooperativas de produtores e consumidores
Rede de comercializaccedilatildeo (Certificaccedilatildeo Participativa) -
Venda na propriedade
Acolhida na propriedade (gastronomia lazer esporte alojamento propriedade pedagoacutegica)
Programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo em risco alimentar)
Restaurantes coletivos puacuteblico ou privado restaurantes tradicionais
Lojas virtuais (site internet de produtos ecoloacutegicos)
FONTE elaborado pelos autoresNOTA - ausente ou raro pouco desenvolvido medianamente desenvolvido muito
desenvolvido (niacutevel de desenvolvimento)
As feiras do produtor satildeo os mecanismos de comercializaccedilatildeo mais difundidos no
Brasil e a principal porta de entrada de agricultores ecoloacutegicos para o mercado local
As feiras satildeo espaccedilos educativos e de lazer que permitem grande interaccedilatildeo entre
produtores e consumidores possibilitando maior autonomia aos agricultores Pesquisa
do IDEC (2012) identificou 140 feiras orgacircnicas em 22 das 27 capitais brasileiras
O estudo aponta que nas regiotildees onde a agricultura familiar eacute forte (Sul e Nordeste
p ex) as vendas em feiras satildeo mais pronunciadas No caso da Franccedila observamos que
as feiras (marcheacutes paysans) satildeo mais sazonais (com maior expressatildeo no veratildeo) sendo
menos preferidas pelos produtores do que as lojas especializadas independentes e lojas
coletivas de produtores (PVC) que funcionam o ano todo sobretudo em funccedilatildeo das
dificuldades clim aacuteticas deslocam entos frequentes horaacuterios predefinidos e do tempo
que a feira leva para se consolidar As feiras tradicionais (marcheacutes forains classiques)
satildeo muito populares entre os consumidores e misturam produtores convencionais (com
produtos coloniais artesanais natildeo certificados) e orgacircnicos certificados (bio) Nessas feiras
tradicionais os produtores bio satildeo minoria Nos dois paiacuteses as feiras totalmente orgacircnicas
tecircm tido maior expressatildeo nas m eacutedias e grandes cidades De acordo com Chiffoleau
(2008) a consolidaccedilatildeo das feiras de produtores se daacute basicamente em quatro etapas a
saber 1) criaccedilatildeo no iniacutecio muitos consumidores aparecem para conhecer a novidade e
impulsionam o mercado 2) queda (depois de dois a trecircs anos) apoacutes a novidade alguns
120
clientes deixam de frequentar a feira acom panhado por agricultores 3) recuperaccedilatildeo
(pelo 39 e 45 anos) os clientes mais fieacuteis acabam por fazer uma divulgaccedilatildeo boca-a-boca
e ocorre uma retomada do crescimento e 4) estabilizaccedilatildeo (apoacutes cinco anos) apoacutes esse
periacuteodo ocorre uma estabilizaccedilatildeo do nuacutemero de produtores e do nuacutemero de clientes fieacuteis
O mesmo fenocircmeno tem sido verificado no Brasil (DAROLT 2012)
Na Franccedila sobretudo na regiatildeo Rhocircne Alpes estaacute bem difundida a venda em
Pontos de Venda Coletiva (PVC - Points de Vente Collectifs) surgido no final dos anos de
1970 e que conta com 56 lojas tendo no iniacutecio uma forte participaccedilatildeo de agricultores
neorurais (Lamine 2012) Os PVC satildeo pequenas lojas mantidas e adm inistradas pelos
proacuteprios agricultores que vendem produtos de uma determ inada regiatildeo (ateacute 100 km
em meacutedia) com caracteriacutesticas e tradiccedilotildees com uns (produtos do terroir) O objetivo
dessas lojas coletivas eacute melhorar as condiccedilotildees de trabalho do agricultor d im inuir o
tempo gasto na comercializaccedilatildeo e oferecer aos consumidores diversidade regularidade e
qualidade de produtos tiacutepicos da regiatildeo Os PVC demandam dos agricultores aquisiccedilatildeo de
novas competecircncias (transformaccedilatildeo de produtos adoccedilatildeo de princiacutepios de agroecologia)
e readequaccedilatildeo do trabalho na propriedade para atender agraves demandas das lojas (novos
produtos relaccedilatildeo social com os clientes) Sempre eacute possiacutevel encontrar agricultores na
loja (cada produtor deve ficar na loja um meio-dia por sem ana o que permite que o
consumidor encontre sempre um produtor na loja) e todo marketing eacute direcionado no
sentido de valorizar os produtores e a regiatildeo
Outra modalidade bem estabelecida na Franccedila e em fase de crescim ento no
Brasil (por meio de cooperativas de consum idores e grupos de com pras coletivas)
satildeo as cestas diversificadas para grupos organizados de consum idores Na Franccedila as
chamadas AM APs -Associations pourle Maintien dune Agriculture Paysanne (Associaccedilatildeo
para M anutenccedilatildeo de uma Agricultura Cam ponesa) surgiram a partir dos anos 2000
inspiradas nas Community Supported Agriculture (Agricultura Apoiada pela Comunidade)
e representam um contrato de parceria entre consumidores e produtores (LAMINE 2008)
Na Franccedila haacute maior engajamento social dos consumidores e participaccedilatildeo em grupos de
inserccedilatildeo social quando comparados agraves experiecircncias brasileiras que ainda satildeo incipientes
Em contrapartida no Brasil as cestas individuais vecircm ganhando simpatia do consumidor
pela praticidade e pelos preccedilos m enores quando com parados aos superm ercados
mas ainda haacute pouca organizaccedilatildeo e engajam ento social do con su m idor brasileiro
no processo
121
As lojas especializadas de produtos ecoloacutegicos existem haacute vaacuterios inos na Franccedila
em cidades grandes meacutedias e pequenas contando com redes bem estabelecidas
espalhadas por todo o paiacutes com um discurso de solidariedade e pa-ceria com os
produtores como eacute o caso de Biocoop5 Segundo a Agence Bio (2014) eses dispositivos
representaram 35 do valor total das vendas com productos bio em ZD13 No Brasil
parte dos consumidores orgacircnicos (41) com plem entam suas com pns em lojas de
produtos especializados sobretudo nas capitais (KLUTH BOCCFIIJR CENSIOWSKY 2011)
Em cidades de menor porte as lojas podem estar associadas a organiza ccedilotildeesde produtores
familiares e consumidores ecoloacutegicos (p ex Ecotorres e Cooperativa deConsumidores
Ecoloacutegicos de Trecircs Cachoeiras no Rio Grande do Sul) ou funcionar com o poio do poder
puacuteblico municipal A maioria das lojas trabalha com entregas em domiciacuteio via internet
ou telefone permitindo ao consumidor escolher os produtos de uma lita de opccedilotildees
com maior comodidade e com preccedilos inferiores aos praticados pelos suparmercados
As vendas nas propriedades estatildeo bem difundidas na Franccedilasobretudo no
tocante a vinhos queijos e produtos do terroir No Brasil as vendas na propriedades
estatildeo em fase de expansatildeo e tecircm sido associadas a propriedades que fazem parte de
circuitos de turismo rural e agroecoloacutegico (Accueil paysan na Franccedila e Acohida na colocircnia
no Brasil) e satildeo mais comuns em cidades periurbanas proacuteximas agraves regiotildees netropolitanas
As lojas virtuais de produtos ecoloacutegicos ganham espaccedilo tanto na Franccedila quanto
no Brasil e com tendecircncia de crescimento para os proacuteximos anos sobretido nas regiotildees
metropolitanas todavia nem sempre representam um circuito curto conforme discutido
neste trabalho Entretanto satildeo procuradas pela facilidade de compra ccmodidade nas
entregas ao consumidor e preccedilos inferiores aos supermercados atendencb agraves exigecircncias
da vida moderna
5 PRO G RA M A S DE G O VERN O O P O R T U N ID A D E S PARA A A G RO ECO LO G IA NO BRA SIL
A com ercializaccedilatildeo de produtos agroalim entares por meio de orogramas do
governo ou m ercado institucional surgiu no Brasil em 2003 com o Program a de
Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e vem ganhando espaccedilo conforme Schimitte Grisa (2013)
O mercado institucional atende ao consumidor coletivo (instituiccedilotildees de assistecircncia social
5 Biocoop eacute uma rede francesa com 330 lojas e atores independentes militantes e engajados no desenvolvimento da agricultura orgacircnica (conhecida como bio) (wwwbiocooporg)
122
hospitais creches escolas) dentro de um circuito curto de comercializaccedilatildeo considerado
como venda direta pelo governo brasileiro Assim por meio de programas de governo
os alimentos da agricultura familiar satildeo comprados diretamente dos agricultores ou
das associaccedilotildees e cooperativas de produtores e chegam ateacute a populaccedilatildeo via entidades
de assistecircncia social do governo e escolas puacuteblicas Satildeo programas que se inserem nas
poliacuteticas puacuteblicas voltadas agrave seguranccedila alimentar e nutricional Nos uacuteltimos anos no Brasil
dois programas se destacaram na compra de produtos de base ecoloacutegica o Programa
de Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE)
Os produtos da agricultura fam iliar que apresentam certificaccedilatildeo orgacircnica
comercializados pelo PAA e PNAE recebem um precircmio de 30 em relaccedilatildeo ao similar
da agricultura convencional valorizando a qualidade nutricional e os demais aspectos
socioambientais envolvidos A garantia de compra dos produtos pelo governo estimula a
transiccedilatildeo agroecoloacutegica Ademais esses programas tecircm uma dimensatildeo social importante
pois atingem um grande puacuteblico (escolas) e trabalham com uma diversidade de produtos
seguindo a sazonalidade e as realidades locais
Para Scnimitt e Grisa (2013) existem algumas limitaccedilotildees operacionais que precisam
ser superadas na construccedilatildeo do mercado institucional no Brasil tais como atraso na
liberaccedilatildeo dos recursos problemas de acesso dos agricultores agrave documentaccedilatildeo exigida
(necessidade de desburocratizaccedilatildeo) falta de interaccedilatildeo entre diferentes instrumentos de
poliacutetica puacuteblica que poderiam dar suporte agraves accedilotildees dos programas falta de planejamento
e problemas de gestatildeo das organizaccedilotildees locais no acompanhamento das entregas e na
formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos beneficiaacuterios (nutricionistas merendeiras professoras
alunos) Triches e Schneider (2010) acrescentam ainda que um dos desafios na aquisiccedilatildeo
de alimentos da agricultura familiar para programas institucionais eacute a legalizaccedilatildeo das
agroinduacutestrias familiares com a regulaccedilatildeo da qualidade dos alimentos (sobretudo para
leite carnes e derivados)
Na Franccedila o recente Plano Nacional para a Agricultura Orgacircnica (Plan Ambition
Bio 2017) fixou objetivos ambiciosos para colocar 20 de produtos orgacircnicos na merenda
escolar e em restaurantes coletivos ateacute 2017 Esses objetivos variam de uma regiatildeo
para outra privilegiando produtos natildeo somente orgacircnicos (bio) mas tambeacutem locais
(normalmente o produto local tem maior peso) pois favorece o desenvolvimento regional
Em todo caso esse desenvolvimento segue associado a novas formas de organizaccedilatildeo
plataformas logiacutesticas redes de trabalho negociaccedilatildeo e planejamento das necessidades
de produtos entre escolas e produtores
123
Experiecircncias em outros paiacuteses europeus com alimentaccedilatildeo escolar mostram que o
poder puacuteblico tem papel decisivo em relaccedilatildeo aos mecanismos de aquisiccedilatildeo de alimentos
ao incentivo de determinados modelos de produccedilatildeo sustentaacuteveis e de sauacutede puacuteblica
O poder puacuteblico pode utilizar o seu poder de regulaccedilatildeo de decisatildeo sobre alocaccedilatildeo de
recursos e de ator-chave no abastecimento alim entar para promover mudanccedilas no
comportamento da sociedade (MORGAN SONNINO 2008)
O mercado institucional reforccedila outras iniciativas de comercializaccedilatildeo em circuitos
curtos fortalece as redes de organizaccedilotildees sociais e potencializa o diaacutelogo entre os atores
envolvidos com a agroecologia Tal situaccedilatildeo traz perspectivas otimistas para estimular
a produccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos e saudaacuteveis contribuir no sentido de potencializar
processos de transiccedilatildeo agroecoloacutegica e promoccedilatildeo da agroecologia bem como respeitar
os modos de vida das populaccedilotildees tradicionais fortalecer a cultura alimentar regional e
promover a valorizaccedilatildeo da sociobiodiversidade
6 C IR C U IT O S DE C IR C U LA Ccedil Atilde O E C O M E R C IA LIZA Ccedil Atilde O EM REDE
Uma experiecircncia pioneira vem sendo desenvolvida pelo circuito de circulaccedilatildeo
e com ercializaccedilatildeo da Rede Ecovida de Agroecologia no sul do Brasil Os princiacutepios
se g u id o s pela rede satildeo os produtos co m ercia lizad o s pelo circu ito tecircm de ser
agroecoloacutegicos com selo de certificaccedilatildeo participativa da Rede Ecovida a organizaccedilatildeo
ou grupo de agricultores para participar do circuito deve fazer parte da rede quem
vend e deve tam beacutem com prar produtos dos dem ais produtores (intercacircm bio e
circulaccedilatildeo de produtos) (MAGNANTI 2008)
Esse sistema tem permitido a troca e circulaccedilatildeo de produtos entre as regiotildees aleacutem
de atender agrave diversidade manter uma regularidade e a qualidade bioloacutegica dos produtos
visto que se trabalha exclusivamente com produtos certificados de forma participativa
A discussatildeo de circuitos curtos nesse sentido se daacute natildeo pela distacircncia fiacutesica e nuacutemero de
intermediaacuterios mas pela dimensatildeo social e poliacutetica estabelecida pelo sistema participativo
de garantia e pela organizaccedilatildeo do movimento social
Em torno de 50 itens satildeo ofertados pelo circuito divididos entre hortaliccedilas (100)
frutas (80) gratildeos (80) farinhas (70) accediluacutecar (50) e processados (20)(REDE
ECOVIDA 2014) Os produtos tecircm circulado principalmente em feiras agroecoloacutegicas
em Programas de Governo como o PAA e PNAE pequenos comeacutercios e distribuidores e
grupos de trocas de alimentos (autoconsumo) garantindo tambeacutem a autonomia alimentar
dos agricultores da rede
124
Os desafios para esse tipo de com ercializaccedilatildeo segundo Perez-Cassarino
(2013) satildeo a padronizaccedilatildeo de documentos para comercializaccedilatildeo entre os estados
a padronizaccedilatildeo de embalagens prioritariamente ecoloacutegicas a padronizaccedilatildeo de produtos
entre os nuacutecleos investim ento em recursos hum anos para operacionalizaccedilatildeo do
processo de comercializaccedilatildeo melhoria e investimentos em logiacutestica e um planejamento
de produccedilatildeo para atender a uma dem anda em expansatildeo destacadam ente para
alimentaccedilatildeo escolar
7 C A R A C T E R IacuteST IC A S E O R G A N IZA Ccedil Atilde O DAS PR O PR IED A D ES EM C IR C U ITO S CU RTO S
Tanto no Brasil como na Franccedila as experiecircncias estudadas que comercializam em
circuitos curtos satildeo majoritariamente provenientes da agricultura familiar com destaque
para a categoria de agricultores neorurais que se desenvolvem em aacutereas pequenas (em
meacutedia menor que 20 hectares no total) quando comparadas agravequelas em circuitos longos
Um dos pilares de sustentaccedilatildeo eacute a matildeo de obra familiar que tem uma carga de trabalho
intensa e deve aliar diferentes competecircncias (produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo)
no intuito de diminuir custos e agregar valor ao produto
Na Franccedila a maior parte das propriedades estudadas que vendem em circuitos
curtos eacute especializada em um determinado sistema de produccedilatildeo (fruticultura olericultura
leite ovos queijo) estando de acordo com Mundler (2008) No Brasil as propriedades
orgacircnicas estudadas mostraram-se mais diversificadas contando com sistemas vegetais
e anim ais mais com plexos Se por um lado isso eacute desejado porque atende aos
princiacutepios agroecoloacutegicos por outro torna o planejamento produtivo mais complexo
Nos dois paiacuteses a gama de produtos eacute em geral mais diversificada quando comparada
agrave agricultura convencional mesmo quando as propriedades satildeo especializadas em
determinados sistemas Observou-se ainda uma tendecircncia agrave diversificaccedilatildeo em serviccedilos
com a pluriatividade da propriedade (agroturismo gastronomia lazer e descoberta
alojamentos e propriedades pedagoacutegicas) conforme jaacute apontaram Schneider (2005)
Mundler Guermonprez Pluvinage (2007)
Outra caracteriacutestica a destacar em circuitos curtos eacute a maior autonomia do agricultor
em relaccedilatildeo aos circuitos longos No Brasil os agricultores que trabalham integrados com
empresas para vendas em supermercados tecircm menor autonomia na gestatildeo sendo o
planejamento de produccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo realizados pelas empresas Segundo Darolt
125
(2012) o sistema de produccedilatildeo eacute simplificado e especializado em um ou dois produtos
Eacute com um nesses casos uma repeticcedilatildeo da loacutegica comercial e industrial utilizada em
sistemas convencionais para produccedilatildeo em escala
A figura 2 resume as diferentes caracteriacutesticas observadas nas propriedades
que comercializam em circuitos curtos Segundo Mundler (2008) a combinaccedilatildeo entre
agricultura ecoloacutegica e circuitos curtos tem impactos positivos em diferentes dimensotildees
como na economia local trazendo oportunidades de trabalho e de renda na dimensatildeo
social com a aproximaccedilatildeo de produtores e consumidores na dimensatildeo ambiental com
a valorizaccedilatildeo dos recursos naturais e da paisagem e na dimensatildeo poliacutetica como uma
nova opccedilatildeo de consumo
FIGURA 2 - CARACTERIacuteSTICAS COMUNS OBSERVADAS EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS (BRASIL E FRANCcedilA)
A organizaccedilatildeo do trabalho observada nas experiecircncias se mostrou mais ou menos
complexa em funccedilatildeo dos recursos humanos e econocircmicos disponiacuteveis na propriedade
Em propriedades familiares de pequeno porte concordando com Dedieu et a i (1999)
eacute fundam ental agregar valor ao produto (com a transformaccedilatildeo) vender sempre que
possiacutevel de forma direta e potencializar os serviccedilos na propriedade (turismo e acolhida
do consumidor na propriedade por exemplo)
A forma de comercializaccedilatildeo mais adequada a cada tipo de produtor pode variar
em funccedilatildeo da matildeo de obra da organizaccedilatildeo do sistema de produccedilatildeo e da infraestrutura
disponiacutevel Observamos que na maioria dos canais estudados as praacuteticas agriacutecolas
utilizadas os volumes de produccedilatildeo os tipos de produtos e a organizaccedilatildeo do trabalho
se adaptam para responder agraves demandas dos consumidores Assim concordando com
M undler et a i (2007) notamos que a loacutegica de desenvolvimento em circuitos curtos
126
vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste
entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em
circuitos curtos quando comparado a um circuito longo
8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O
Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo
ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que
isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo
semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao
consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis
Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental
pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte
Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na
comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam
que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com
o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e
menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento
em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo
satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta
e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores
brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando
o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a
agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia
e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel
127
TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO
ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES
Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)
bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod
Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo
bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)
FONTE Elaborado pelos autores
Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades
para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto
a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo
saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes
alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas
rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar
que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos
consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento
das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de
regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial
e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica
128
9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O
Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos
ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais
circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar
dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo
De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo
imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona
o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e
tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma
o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar
soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes
contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de
desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-
produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais
Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito
agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo
e consumo
O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem
as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo
ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos
agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da
paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)
Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas
puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais
organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de
distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa
como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas
de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores
(AMAPs) na Franccedila
O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser
superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as
poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas
129
como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade
na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de
infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente
com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em
circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave
alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo
de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo
distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas
especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na
fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica
Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara
do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como
as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem
de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas
singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores
procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos
valores e resgate da autonomia dos agricultores
Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas
envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o
consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados
locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-
distribuiccedilatildeo-consumo
130
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apresentam caracteriacutesticas e tendecircncias sem elhantes nos debates internacionais
poreacutem tecircm diferentes raiacutezes histoacutericas No Brasil muitos dos pioneiros da agricultura
de base ecoloacutegica surgiram no final da deacutecada de 1970 como parte de um movimento
para resistir ao processo de modernizaccedilatildeo agriacutecola (com os seus efeitos conhecidos de
concentraccedilatildeo de terra exclusatildeo da agricultura fam iliar e intensificaccedilatildeo da migraccedilatildeo
rural-urbana) e foram apoiados por organizaccedilotildees religiosas e da sociedade civil
Movimentos mais recentes surgiram no Brasil com a institucionalizaccedilatildeo da agricultura
orgacircnica e agroecologia e satildeo formados por iniciativas de grupos de agricultores familiares
e consumidores organizados com o apoio de organizaccedilotildees natildeo governamentais (ONGs)
e instituiccedilotildees puacuteblicas (Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio instituiccedilotildees de pesquisa
extensatildeo rural entre outras) Na Franccedila a institucionalizaccedilatildeo da agricultura de base
ecoloacutegica (bio) aconteceu mais cedo - nos anos de 1980 - o que se refletiu num maior
desenvolvimento do setor (393 da aacuterea plantada com orgacircnicos 54 do nuacutemero
de produtores e 2 do mercado - AGENCE BIO 2014) enquanto no Brasil aconteceu
um pouco mais tarde nos anos de 1990 com crescimento menor (cerca de 1 de aacuterea
plantada e 15 do mercado - MAPA 2012)
Enquanto o perfil socioloacutegico dos consumidores nos casos franceses e brasileiros
pode ser comparado (consum idores de classe meacutedia com exceccedilatildeo dos programas
governamentais para famiacutelias de baixa renda no Brasil) no caso dos agricultores existem
algumas diferenccedilas marcantes Na Franccedila os participantes das redes alternativas satildeo
frequentemente agricultores neorrurais (com origens e influecircncias urbanas) com um
niacutevel de educaccedilatildeo e renda mais elevado e maior ligaccedilatildeo com o meio urbano o que facilita
a interaccedilatildeo com os consumidores No Brasil a maioria dos agricultores ecoloacutegicos tem
origem no meio rural com baixo niacutevel de escolaridade e poucos recursos financeiros
caracteriacutestico da agricultura familiar brasileira Entretanto segundo Darolt (2012) existe
tambeacutem uma participaccedilatildeo de agricultores neorrurais na agricultura orgacircnica sobretudo
proacuteximo aos grandes centros urbanos
Neste trabalho vamos mostrar que apesar de particularidades as diferentes
experiecircncias estudadas de circuitos curtos apresentam caracteriacutesticas comuns que
permitem aos agricultores um melhor padratildeo de vida o fortalececimento de laccedilos sociais
com consumidores e a contribuiccedilatildeo na requalificaccedilatildeo de produtores e consumidores
em contraste com a desqualificaccedilatildeo induzida por redes alimentares industriais
116
3 D EFIN IN D O C IR C U ITO S CU RTO S DE C O M ER C IA LIZA Ccedil Atilde O
O debate cientiacutefico tem trazido elementos importantes para melhor definir os
circuitos curtos (CC) em termos de redes alimentares assim como para avanccedilar em
tipologias e classificaccedilatildeo das experiecircncias Numa visatildeo com vieacutes na dimensatildeo econocircmica
a distinccedilatildeo entre canais curtos e longos de distribuiccedilatildeo de alimentos eacute para alguns
especialistas uma questatildeo do nuacutemero de intermediaacuterios que operam entre a produccedilatildeo
e o consumo Assim quanto maior o nuacutemero de atravessadores mais longo eacute o canal
e vice-versa Entretanto o nuacutemero de intermediaacuterios natildeo deve ser uma questatildeo uacutenica
e prioritaacuteria Outras caracteriacutesticas que aportam dimensotildees socioculturais podem ser
destacadas para definir um circuito curto de comercializaccedilatildeo como 1) a capacidade de
socializar e localizar o produto alimentar gerando viacutenculo com o local e a propriedade
2) a redefiniccedilatildeo da relaccedilatildeo produtor-consumidor dando sinais da origem do alimento
3) o desenvolvimento de novas relaccedilotildees considerando um preccedilo justo e a qualidade
(ecoloacutegica) 4) a conexatildeo entre o consumidor e o produto alimentar (MARSDEN et a i
2000) Seguindo essas caracteriacutesticas os mesmos autores identificaram alguns tipos de
CC resumidos da seguinte forma 1 venda direta cara a cara no qual a confianccedila estaacute na
relaccedilatildeo interpessoal 2 proximidade espacial incluindo o que eacute produzido e distribuiacutedo
numa regiatildeo reconhecida pelos consumidores e 3 espaciaimente estendido nesse caso
a confianccedila eacute transmitida por um processo de garantia da qualidade (certificaccedilatildeo) Assim
considera-se natildeo soacute a distacircncia mas tambeacutem os paracircmetros organizativos (produtores e
consumidores) fatores culturais transmitidos pela confianccedila pela valorizaccedilatildeo do mercado
local e pelo produto agroecoloacutegico
Os autores espanhoacuteis Guzmaacuten et a i (2012) acrescentam ainda que num circuito
curto de comercializaccedilatildeo as relaccedilotildees de poder dentro da rede alimentar devem estar a
favor dos produtores e consumidores e natildeo dos intermediaacuterios e grandes distribuidores
No Brasil o debate teoacuterico sobre redes alimentares alternativas (PLOEG 2008
WILKINSON 2008) e circuitos curtos de alimentos ecoloacutegicos (FERRARI 2011 DAROLT
2012) ainda eacute emergente poreacutem existem muitas experiecircncias diversificadas e inovadoras
que surgem a cada ano mostrando que nos canais de distribuiccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos
haacute caracteriacutesticas similares a outros paiacuteses com destaque para mais informaccedilotildees sobre
a qualidade do produto busca de relacionamento direto e interdependecircncia entre
agricultores e consumidores
117
Os representantes do setor agroalimentar na Franccedila tecircm utilizado uma definiccedilatildeo
mais pragmaacutetica de circuito curto (CC) caracterizando os circuitos de distribuiccedilatildeo que
mobilizam ateacute - no m aacutexim o-um intermediaacuterio entre produtor e consumidor (CHAFOTTE
e CHIFFOLEAU 2007 MESSMER 2013) Dois casos podem ser distinguidos a venda direta
(quando o produtor entrega em matildeos proacuteprias a mercadoria ao consumidor) e a venda
indireta via um uacutenico intermediaacuterio (que pode ser um outro produtor uma cooperativa
uma associaccedilatildeo uma loja especializada um restaurante ou ateacute um pequeno mercado)
Na Franccedila e na Europa outras denominaccedilotildees como circuitos de proxim idade
(AUBRY CHIFFOLEAU 2009) ou circuitos locais (MARECHAL 2008) tecircm sido utilizadas
para reforccedilar a proximidade geograacutefica e o aspecto socialrelacional como a ligaccedilatildeo entre
consumidor e produtor e o desenvolvimento de mercados locais Deverre e Lamine (2010)
preferem utilizar ainda o termo sistemas alternativos numa perspectiva de questionar
o modelo convencionai propor novos princiacutepios de troca e relaccedilotildees mais justas entre
produtores e consumidores Neste trabalho consideramos que as diferentes dimensotildees
(econocircmica social ecoloacutegica e poliacutetica) satildeo importantes para classificar e analisar os
circuitos curtos
4 T IP O LO G IA E C A R A C T E R IacuteST IC A S DOS C IR C U ITO S CURTOS DE A LIM EN TO S ECO LOacute G ICO S
A classificaccedilatildeo dos tipos de circuitos curtos de comercializaccedilatildeo propostos neste
trabalho (Fig 1) segue as indicaccedilotildees teoacutericas de Marsden et a i (2000) Renting et a i
(2003) e Mundler (2008) considerando que temos circuitos relacionados com a venda
direta (em que o produtor tem relaccedilatildeo direta com o consumidor) e venda indireta
em que existe apenas um intermediaacuterio conhecedor e pessoas engajadas no processo
denotando uma interdependecircncia entre os atores Essa tipologia considera diferentes
dimensotildees econocircmicas e sociais (pela melhoria direta de renda dos agricultores e trocas
entre produtores e consumidores) mas traz embutida a dimensatildeo ecoloacutegica e poliacutetica por
se tratar de alimentos de base ecoloacutegica e com a participaccedilatildeo do poder puacuteblico (no caso
de programas de governo para alimentaccedilatildeo escolar que atingem um nuacutemero significativo
de pessoas)
118
FIGURA 1 - TIPOLOGIA DE CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE PRODUTOS ECOLOacuteGICOS
Tipologia de Circuitos Curtos
Venda Direta(relaccedilatildeo direta entre produtor e consumidor)
Venda Indireta(intervenccedilatildeo de um uacutenico intermediaacuterio
I iNa Propriedade Fora da Propriedade Lojas especializadas independentes
Lojas de cooperativas de produtores e consumidores ecoloacutegicos
Cestas para grupos ou individual Venda direta na propriedade ldquoColheita na propriedade
Feiras ecoloacutegicas direto do produtorCestas em domiciacutelio e para empresasVenda para programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo de baixa renda)
Lojas de associaccedilatildeo de produtoresVenda para grupos de consumidores organizados Venda em beira de estradasFeiras agropecuaacuterias salotildees eventos
bullRestaurantes coletivos e individuais Pequenos mercados de produtos
Serviccedilos na propriedadeAgroturismo gastronomia pousada esporte e lazer
naturais (orgacircnicos e convencionais) Lojas virtuais (Vendas pela Internet)
FONTE Elaborado pelos autores a partir de Chaffotte e Chiffoleau (2007) Mundler (2008)
Pode parecer surpreendente encontrar tipos similares de iniciativas em contextos
histoacutericos e geograacuteficos diferentes Todavia os movimentos sociais em prol das agriculturas
de base ecoloacutegica no mundo tecircm compartilhado ideais muito semelhantes com um
significado poliacutetico forte que permite em certa medida readequar a produccedilatildeo para
sistemas mais sustentaacuteveis e repensar dietas e haacutebitos alimentares reforccedilando laccedilos
entre aacutereas rurais e urbanas
Nas experiecircncias brasileiras estudadas (Tabela 1) observamos que a maioria dos
produtores utiliza simultaneamente mais de um canal destacadamente 1) feiras do
produtor 2) cestas em domiciacutelio e mais recentemente 3) os programas de governo
(Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar)
Percebemos ainda inovaccedilotildees como as vendas nas propriedades associadas em circuitos
de turismo rural e restaurantes no meio rural lojas especializadas e pontos de venda de
agricultores cooperativas de consumidores vendas em rede via circuitos de circulaccedilatildeo
(caso da Rede Ecovida de certificaccedilatildeo participativa) aleacutem de vendas em lojas virtuais
pela internet
A tabela 1 traz uma siacutentese das experiecircncias com uma anaacutelise qualitativa do niacutevel
de desenvolvimento dos circuitos curtos em redes alternativas na Franccedila e no Brasil
de forma comparativa De modo geral o maior niacutevel de escolaridade e a renda dos
agricultores familiares associados ao maior niacutevel de conscientizaccedilatildeo dos consumidores
na Franccedila permitem uma vantagem comparativa em relaccedilatildeo ao desenvolvimento dessas
redes Em ambos os paiacuteses a cooperaccedilatildeo entre os atores e o engajamento poliacutetico de
produtores e consumidores permitem atingir um maior niacutevel de desenvolvimento
119
TABELA 1 - ANAacuteLISE COMPARATIVA DO NIacuteVEL DE DESENVOLVIMENTO DE CIRCUITOS CURTOS DECOMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS NA FRANCcedilA E BRASIL
TIPOS DE CIRCUITOS ALTERNATIVOS FRANCcedilA BRASILFeira de produtores (orgacircnicosagroecoloacutegicos)
Pontos de Venda Coletiva (PVC) -AMAP (Associaccedilatildeo de Consumidores) -Cestas entregues em domiciacutelio
Lojas de produtos orgacircnicos independentes
Lojas de cooperativas de produtores e consumidores
Rede de comercializaccedilatildeo (Certificaccedilatildeo Participativa) -
Venda na propriedade
Acolhida na propriedade (gastronomia lazer esporte alojamento propriedade pedagoacutegica)
Programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo em risco alimentar)
Restaurantes coletivos puacuteblico ou privado restaurantes tradicionais
Lojas virtuais (site internet de produtos ecoloacutegicos)
FONTE elaborado pelos autoresNOTA - ausente ou raro pouco desenvolvido medianamente desenvolvido muito
desenvolvido (niacutevel de desenvolvimento)
As feiras do produtor satildeo os mecanismos de comercializaccedilatildeo mais difundidos no
Brasil e a principal porta de entrada de agricultores ecoloacutegicos para o mercado local
As feiras satildeo espaccedilos educativos e de lazer que permitem grande interaccedilatildeo entre
produtores e consumidores possibilitando maior autonomia aos agricultores Pesquisa
do IDEC (2012) identificou 140 feiras orgacircnicas em 22 das 27 capitais brasileiras
O estudo aponta que nas regiotildees onde a agricultura familiar eacute forte (Sul e Nordeste
p ex) as vendas em feiras satildeo mais pronunciadas No caso da Franccedila observamos que
as feiras (marcheacutes paysans) satildeo mais sazonais (com maior expressatildeo no veratildeo) sendo
menos preferidas pelos produtores do que as lojas especializadas independentes e lojas
coletivas de produtores (PVC) que funcionam o ano todo sobretudo em funccedilatildeo das
dificuldades clim aacuteticas deslocam entos frequentes horaacuterios predefinidos e do tempo
que a feira leva para se consolidar As feiras tradicionais (marcheacutes forains classiques)
satildeo muito populares entre os consumidores e misturam produtores convencionais (com
produtos coloniais artesanais natildeo certificados) e orgacircnicos certificados (bio) Nessas feiras
tradicionais os produtores bio satildeo minoria Nos dois paiacuteses as feiras totalmente orgacircnicas
tecircm tido maior expressatildeo nas m eacutedias e grandes cidades De acordo com Chiffoleau
(2008) a consolidaccedilatildeo das feiras de produtores se daacute basicamente em quatro etapas a
saber 1) criaccedilatildeo no iniacutecio muitos consumidores aparecem para conhecer a novidade e
impulsionam o mercado 2) queda (depois de dois a trecircs anos) apoacutes a novidade alguns
120
clientes deixam de frequentar a feira acom panhado por agricultores 3) recuperaccedilatildeo
(pelo 39 e 45 anos) os clientes mais fieacuteis acabam por fazer uma divulgaccedilatildeo boca-a-boca
e ocorre uma retomada do crescimento e 4) estabilizaccedilatildeo (apoacutes cinco anos) apoacutes esse
periacuteodo ocorre uma estabilizaccedilatildeo do nuacutemero de produtores e do nuacutemero de clientes fieacuteis
O mesmo fenocircmeno tem sido verificado no Brasil (DAROLT 2012)
Na Franccedila sobretudo na regiatildeo Rhocircne Alpes estaacute bem difundida a venda em
Pontos de Venda Coletiva (PVC - Points de Vente Collectifs) surgido no final dos anos de
1970 e que conta com 56 lojas tendo no iniacutecio uma forte participaccedilatildeo de agricultores
neorurais (Lamine 2012) Os PVC satildeo pequenas lojas mantidas e adm inistradas pelos
proacuteprios agricultores que vendem produtos de uma determ inada regiatildeo (ateacute 100 km
em meacutedia) com caracteriacutesticas e tradiccedilotildees com uns (produtos do terroir) O objetivo
dessas lojas coletivas eacute melhorar as condiccedilotildees de trabalho do agricultor d im inuir o
tempo gasto na comercializaccedilatildeo e oferecer aos consumidores diversidade regularidade e
qualidade de produtos tiacutepicos da regiatildeo Os PVC demandam dos agricultores aquisiccedilatildeo de
novas competecircncias (transformaccedilatildeo de produtos adoccedilatildeo de princiacutepios de agroecologia)
e readequaccedilatildeo do trabalho na propriedade para atender agraves demandas das lojas (novos
produtos relaccedilatildeo social com os clientes) Sempre eacute possiacutevel encontrar agricultores na
loja (cada produtor deve ficar na loja um meio-dia por sem ana o que permite que o
consumidor encontre sempre um produtor na loja) e todo marketing eacute direcionado no
sentido de valorizar os produtores e a regiatildeo
Outra modalidade bem estabelecida na Franccedila e em fase de crescim ento no
Brasil (por meio de cooperativas de consum idores e grupos de com pras coletivas)
satildeo as cestas diversificadas para grupos organizados de consum idores Na Franccedila as
chamadas AM APs -Associations pourle Maintien dune Agriculture Paysanne (Associaccedilatildeo
para M anutenccedilatildeo de uma Agricultura Cam ponesa) surgiram a partir dos anos 2000
inspiradas nas Community Supported Agriculture (Agricultura Apoiada pela Comunidade)
e representam um contrato de parceria entre consumidores e produtores (LAMINE 2008)
Na Franccedila haacute maior engajamento social dos consumidores e participaccedilatildeo em grupos de
inserccedilatildeo social quando comparados agraves experiecircncias brasileiras que ainda satildeo incipientes
Em contrapartida no Brasil as cestas individuais vecircm ganhando simpatia do consumidor
pela praticidade e pelos preccedilos m enores quando com parados aos superm ercados
mas ainda haacute pouca organizaccedilatildeo e engajam ento social do con su m idor brasileiro
no processo
121
As lojas especializadas de produtos ecoloacutegicos existem haacute vaacuterios inos na Franccedila
em cidades grandes meacutedias e pequenas contando com redes bem estabelecidas
espalhadas por todo o paiacutes com um discurso de solidariedade e pa-ceria com os
produtores como eacute o caso de Biocoop5 Segundo a Agence Bio (2014) eses dispositivos
representaram 35 do valor total das vendas com productos bio em ZD13 No Brasil
parte dos consumidores orgacircnicos (41) com plem entam suas com pns em lojas de
produtos especializados sobretudo nas capitais (KLUTH BOCCFIIJR CENSIOWSKY 2011)
Em cidades de menor porte as lojas podem estar associadas a organiza ccedilotildeesde produtores
familiares e consumidores ecoloacutegicos (p ex Ecotorres e Cooperativa deConsumidores
Ecoloacutegicos de Trecircs Cachoeiras no Rio Grande do Sul) ou funcionar com o poio do poder
puacuteblico municipal A maioria das lojas trabalha com entregas em domiciacuteio via internet
ou telefone permitindo ao consumidor escolher os produtos de uma lita de opccedilotildees
com maior comodidade e com preccedilos inferiores aos praticados pelos suparmercados
As vendas nas propriedades estatildeo bem difundidas na Franccedilasobretudo no
tocante a vinhos queijos e produtos do terroir No Brasil as vendas na propriedades
estatildeo em fase de expansatildeo e tecircm sido associadas a propriedades que fazem parte de
circuitos de turismo rural e agroecoloacutegico (Accueil paysan na Franccedila e Acohida na colocircnia
no Brasil) e satildeo mais comuns em cidades periurbanas proacuteximas agraves regiotildees netropolitanas
As lojas virtuais de produtos ecoloacutegicos ganham espaccedilo tanto na Franccedila quanto
no Brasil e com tendecircncia de crescimento para os proacuteximos anos sobretido nas regiotildees
metropolitanas todavia nem sempre representam um circuito curto conforme discutido
neste trabalho Entretanto satildeo procuradas pela facilidade de compra ccmodidade nas
entregas ao consumidor e preccedilos inferiores aos supermercados atendencb agraves exigecircncias
da vida moderna
5 PRO G RA M A S DE G O VERN O O P O R T U N ID A D E S PARA A A G RO ECO LO G IA NO BRA SIL
A com ercializaccedilatildeo de produtos agroalim entares por meio de orogramas do
governo ou m ercado institucional surgiu no Brasil em 2003 com o Program a de
Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e vem ganhando espaccedilo conforme Schimitte Grisa (2013)
O mercado institucional atende ao consumidor coletivo (instituiccedilotildees de assistecircncia social
5 Biocoop eacute uma rede francesa com 330 lojas e atores independentes militantes e engajados no desenvolvimento da agricultura orgacircnica (conhecida como bio) (wwwbiocooporg)
122
hospitais creches escolas) dentro de um circuito curto de comercializaccedilatildeo considerado
como venda direta pelo governo brasileiro Assim por meio de programas de governo
os alimentos da agricultura familiar satildeo comprados diretamente dos agricultores ou
das associaccedilotildees e cooperativas de produtores e chegam ateacute a populaccedilatildeo via entidades
de assistecircncia social do governo e escolas puacuteblicas Satildeo programas que se inserem nas
poliacuteticas puacuteblicas voltadas agrave seguranccedila alimentar e nutricional Nos uacuteltimos anos no Brasil
dois programas se destacaram na compra de produtos de base ecoloacutegica o Programa
de Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE)
Os produtos da agricultura fam iliar que apresentam certificaccedilatildeo orgacircnica
comercializados pelo PAA e PNAE recebem um precircmio de 30 em relaccedilatildeo ao similar
da agricultura convencional valorizando a qualidade nutricional e os demais aspectos
socioambientais envolvidos A garantia de compra dos produtos pelo governo estimula a
transiccedilatildeo agroecoloacutegica Ademais esses programas tecircm uma dimensatildeo social importante
pois atingem um grande puacuteblico (escolas) e trabalham com uma diversidade de produtos
seguindo a sazonalidade e as realidades locais
Para Scnimitt e Grisa (2013) existem algumas limitaccedilotildees operacionais que precisam
ser superadas na construccedilatildeo do mercado institucional no Brasil tais como atraso na
liberaccedilatildeo dos recursos problemas de acesso dos agricultores agrave documentaccedilatildeo exigida
(necessidade de desburocratizaccedilatildeo) falta de interaccedilatildeo entre diferentes instrumentos de
poliacutetica puacuteblica que poderiam dar suporte agraves accedilotildees dos programas falta de planejamento
e problemas de gestatildeo das organizaccedilotildees locais no acompanhamento das entregas e na
formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos beneficiaacuterios (nutricionistas merendeiras professoras
alunos) Triches e Schneider (2010) acrescentam ainda que um dos desafios na aquisiccedilatildeo
de alimentos da agricultura familiar para programas institucionais eacute a legalizaccedilatildeo das
agroinduacutestrias familiares com a regulaccedilatildeo da qualidade dos alimentos (sobretudo para
leite carnes e derivados)
Na Franccedila o recente Plano Nacional para a Agricultura Orgacircnica (Plan Ambition
Bio 2017) fixou objetivos ambiciosos para colocar 20 de produtos orgacircnicos na merenda
escolar e em restaurantes coletivos ateacute 2017 Esses objetivos variam de uma regiatildeo
para outra privilegiando produtos natildeo somente orgacircnicos (bio) mas tambeacutem locais
(normalmente o produto local tem maior peso) pois favorece o desenvolvimento regional
Em todo caso esse desenvolvimento segue associado a novas formas de organizaccedilatildeo
plataformas logiacutesticas redes de trabalho negociaccedilatildeo e planejamento das necessidades
de produtos entre escolas e produtores
123
Experiecircncias em outros paiacuteses europeus com alimentaccedilatildeo escolar mostram que o
poder puacuteblico tem papel decisivo em relaccedilatildeo aos mecanismos de aquisiccedilatildeo de alimentos
ao incentivo de determinados modelos de produccedilatildeo sustentaacuteveis e de sauacutede puacuteblica
O poder puacuteblico pode utilizar o seu poder de regulaccedilatildeo de decisatildeo sobre alocaccedilatildeo de
recursos e de ator-chave no abastecimento alim entar para promover mudanccedilas no
comportamento da sociedade (MORGAN SONNINO 2008)
O mercado institucional reforccedila outras iniciativas de comercializaccedilatildeo em circuitos
curtos fortalece as redes de organizaccedilotildees sociais e potencializa o diaacutelogo entre os atores
envolvidos com a agroecologia Tal situaccedilatildeo traz perspectivas otimistas para estimular
a produccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos e saudaacuteveis contribuir no sentido de potencializar
processos de transiccedilatildeo agroecoloacutegica e promoccedilatildeo da agroecologia bem como respeitar
os modos de vida das populaccedilotildees tradicionais fortalecer a cultura alimentar regional e
promover a valorizaccedilatildeo da sociobiodiversidade
6 C IR C U IT O S DE C IR C U LA Ccedil Atilde O E C O M E R C IA LIZA Ccedil Atilde O EM REDE
Uma experiecircncia pioneira vem sendo desenvolvida pelo circuito de circulaccedilatildeo
e com ercializaccedilatildeo da Rede Ecovida de Agroecologia no sul do Brasil Os princiacutepios
se g u id o s pela rede satildeo os produtos co m ercia lizad o s pelo circu ito tecircm de ser
agroecoloacutegicos com selo de certificaccedilatildeo participativa da Rede Ecovida a organizaccedilatildeo
ou grupo de agricultores para participar do circuito deve fazer parte da rede quem
vend e deve tam beacutem com prar produtos dos dem ais produtores (intercacircm bio e
circulaccedilatildeo de produtos) (MAGNANTI 2008)
Esse sistema tem permitido a troca e circulaccedilatildeo de produtos entre as regiotildees aleacutem
de atender agrave diversidade manter uma regularidade e a qualidade bioloacutegica dos produtos
visto que se trabalha exclusivamente com produtos certificados de forma participativa
A discussatildeo de circuitos curtos nesse sentido se daacute natildeo pela distacircncia fiacutesica e nuacutemero de
intermediaacuterios mas pela dimensatildeo social e poliacutetica estabelecida pelo sistema participativo
de garantia e pela organizaccedilatildeo do movimento social
Em torno de 50 itens satildeo ofertados pelo circuito divididos entre hortaliccedilas (100)
frutas (80) gratildeos (80) farinhas (70) accediluacutecar (50) e processados (20)(REDE
ECOVIDA 2014) Os produtos tecircm circulado principalmente em feiras agroecoloacutegicas
em Programas de Governo como o PAA e PNAE pequenos comeacutercios e distribuidores e
grupos de trocas de alimentos (autoconsumo) garantindo tambeacutem a autonomia alimentar
dos agricultores da rede
124
Os desafios para esse tipo de com ercializaccedilatildeo segundo Perez-Cassarino
(2013) satildeo a padronizaccedilatildeo de documentos para comercializaccedilatildeo entre os estados
a padronizaccedilatildeo de embalagens prioritariamente ecoloacutegicas a padronizaccedilatildeo de produtos
entre os nuacutecleos investim ento em recursos hum anos para operacionalizaccedilatildeo do
processo de comercializaccedilatildeo melhoria e investimentos em logiacutestica e um planejamento
de produccedilatildeo para atender a uma dem anda em expansatildeo destacadam ente para
alimentaccedilatildeo escolar
7 C A R A C T E R IacuteST IC A S E O R G A N IZA Ccedil Atilde O DAS PR O PR IED A D ES EM C IR C U ITO S CU RTO S
Tanto no Brasil como na Franccedila as experiecircncias estudadas que comercializam em
circuitos curtos satildeo majoritariamente provenientes da agricultura familiar com destaque
para a categoria de agricultores neorurais que se desenvolvem em aacutereas pequenas (em
meacutedia menor que 20 hectares no total) quando comparadas agravequelas em circuitos longos
Um dos pilares de sustentaccedilatildeo eacute a matildeo de obra familiar que tem uma carga de trabalho
intensa e deve aliar diferentes competecircncias (produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo)
no intuito de diminuir custos e agregar valor ao produto
Na Franccedila a maior parte das propriedades estudadas que vendem em circuitos
curtos eacute especializada em um determinado sistema de produccedilatildeo (fruticultura olericultura
leite ovos queijo) estando de acordo com Mundler (2008) No Brasil as propriedades
orgacircnicas estudadas mostraram-se mais diversificadas contando com sistemas vegetais
e anim ais mais com plexos Se por um lado isso eacute desejado porque atende aos
princiacutepios agroecoloacutegicos por outro torna o planejamento produtivo mais complexo
Nos dois paiacuteses a gama de produtos eacute em geral mais diversificada quando comparada
agrave agricultura convencional mesmo quando as propriedades satildeo especializadas em
determinados sistemas Observou-se ainda uma tendecircncia agrave diversificaccedilatildeo em serviccedilos
com a pluriatividade da propriedade (agroturismo gastronomia lazer e descoberta
alojamentos e propriedades pedagoacutegicas) conforme jaacute apontaram Schneider (2005)
Mundler Guermonprez Pluvinage (2007)
Outra caracteriacutestica a destacar em circuitos curtos eacute a maior autonomia do agricultor
em relaccedilatildeo aos circuitos longos No Brasil os agricultores que trabalham integrados com
empresas para vendas em supermercados tecircm menor autonomia na gestatildeo sendo o
planejamento de produccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo realizados pelas empresas Segundo Darolt
125
(2012) o sistema de produccedilatildeo eacute simplificado e especializado em um ou dois produtos
Eacute com um nesses casos uma repeticcedilatildeo da loacutegica comercial e industrial utilizada em
sistemas convencionais para produccedilatildeo em escala
A figura 2 resume as diferentes caracteriacutesticas observadas nas propriedades
que comercializam em circuitos curtos Segundo Mundler (2008) a combinaccedilatildeo entre
agricultura ecoloacutegica e circuitos curtos tem impactos positivos em diferentes dimensotildees
como na economia local trazendo oportunidades de trabalho e de renda na dimensatildeo
social com a aproximaccedilatildeo de produtores e consumidores na dimensatildeo ambiental com
a valorizaccedilatildeo dos recursos naturais e da paisagem e na dimensatildeo poliacutetica como uma
nova opccedilatildeo de consumo
FIGURA 2 - CARACTERIacuteSTICAS COMUNS OBSERVADAS EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS (BRASIL E FRANCcedilA)
A organizaccedilatildeo do trabalho observada nas experiecircncias se mostrou mais ou menos
complexa em funccedilatildeo dos recursos humanos e econocircmicos disponiacuteveis na propriedade
Em propriedades familiares de pequeno porte concordando com Dedieu et a i (1999)
eacute fundam ental agregar valor ao produto (com a transformaccedilatildeo) vender sempre que
possiacutevel de forma direta e potencializar os serviccedilos na propriedade (turismo e acolhida
do consumidor na propriedade por exemplo)
A forma de comercializaccedilatildeo mais adequada a cada tipo de produtor pode variar
em funccedilatildeo da matildeo de obra da organizaccedilatildeo do sistema de produccedilatildeo e da infraestrutura
disponiacutevel Observamos que na maioria dos canais estudados as praacuteticas agriacutecolas
utilizadas os volumes de produccedilatildeo os tipos de produtos e a organizaccedilatildeo do trabalho
se adaptam para responder agraves demandas dos consumidores Assim concordando com
M undler et a i (2007) notamos que a loacutegica de desenvolvimento em circuitos curtos
126
vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste
entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em
circuitos curtos quando comparado a um circuito longo
8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O
Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo
ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que
isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo
semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao
consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis
Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental
pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte
Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na
comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam
que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com
o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e
menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento
em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo
satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta
e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores
brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando
o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a
agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia
e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel
127
TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO
ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES
Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)
bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod
Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo
bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)
FONTE Elaborado pelos autores
Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades
para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto
a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo
saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes
alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas
rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar
que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos
consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento
das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de
regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial
e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica
128
9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O
Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos
ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais
circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar
dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo
De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo
imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona
o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e
tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma
o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar
soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes
contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de
desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-
produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais
Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito
agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo
e consumo
O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem
as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo
ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos
agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da
paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)
Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas
puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais
organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de
distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa
como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas
de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores
(AMAPs) na Franccedila
O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser
superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as
poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas
129
como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade
na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de
infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente
com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em
circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave
alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo
de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo
distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas
especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na
fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica
Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara
do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como
as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem
de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas
singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores
procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos
valores e resgate da autonomia dos agricultores
Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas
envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o
consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados
locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-
distribuiccedilatildeo-consumo
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3 D EFIN IN D O C IR C U ITO S CU RTO S DE C O M ER C IA LIZA Ccedil Atilde O
O debate cientiacutefico tem trazido elementos importantes para melhor definir os
circuitos curtos (CC) em termos de redes alimentares assim como para avanccedilar em
tipologias e classificaccedilatildeo das experiecircncias Numa visatildeo com vieacutes na dimensatildeo econocircmica
a distinccedilatildeo entre canais curtos e longos de distribuiccedilatildeo de alimentos eacute para alguns
especialistas uma questatildeo do nuacutemero de intermediaacuterios que operam entre a produccedilatildeo
e o consumo Assim quanto maior o nuacutemero de atravessadores mais longo eacute o canal
e vice-versa Entretanto o nuacutemero de intermediaacuterios natildeo deve ser uma questatildeo uacutenica
e prioritaacuteria Outras caracteriacutesticas que aportam dimensotildees socioculturais podem ser
destacadas para definir um circuito curto de comercializaccedilatildeo como 1) a capacidade de
socializar e localizar o produto alimentar gerando viacutenculo com o local e a propriedade
2) a redefiniccedilatildeo da relaccedilatildeo produtor-consumidor dando sinais da origem do alimento
3) o desenvolvimento de novas relaccedilotildees considerando um preccedilo justo e a qualidade
(ecoloacutegica) 4) a conexatildeo entre o consumidor e o produto alimentar (MARSDEN et a i
2000) Seguindo essas caracteriacutesticas os mesmos autores identificaram alguns tipos de
CC resumidos da seguinte forma 1 venda direta cara a cara no qual a confianccedila estaacute na
relaccedilatildeo interpessoal 2 proximidade espacial incluindo o que eacute produzido e distribuiacutedo
numa regiatildeo reconhecida pelos consumidores e 3 espaciaimente estendido nesse caso
a confianccedila eacute transmitida por um processo de garantia da qualidade (certificaccedilatildeo) Assim
considera-se natildeo soacute a distacircncia mas tambeacutem os paracircmetros organizativos (produtores e
consumidores) fatores culturais transmitidos pela confianccedila pela valorizaccedilatildeo do mercado
local e pelo produto agroecoloacutegico
Os autores espanhoacuteis Guzmaacuten et a i (2012) acrescentam ainda que num circuito
curto de comercializaccedilatildeo as relaccedilotildees de poder dentro da rede alimentar devem estar a
favor dos produtores e consumidores e natildeo dos intermediaacuterios e grandes distribuidores
No Brasil o debate teoacuterico sobre redes alimentares alternativas (PLOEG 2008
WILKINSON 2008) e circuitos curtos de alimentos ecoloacutegicos (FERRARI 2011 DAROLT
2012) ainda eacute emergente poreacutem existem muitas experiecircncias diversificadas e inovadoras
que surgem a cada ano mostrando que nos canais de distribuiccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos
haacute caracteriacutesticas similares a outros paiacuteses com destaque para mais informaccedilotildees sobre
a qualidade do produto busca de relacionamento direto e interdependecircncia entre
agricultores e consumidores
117
Os representantes do setor agroalimentar na Franccedila tecircm utilizado uma definiccedilatildeo
mais pragmaacutetica de circuito curto (CC) caracterizando os circuitos de distribuiccedilatildeo que
mobilizam ateacute - no m aacutexim o-um intermediaacuterio entre produtor e consumidor (CHAFOTTE
e CHIFFOLEAU 2007 MESSMER 2013) Dois casos podem ser distinguidos a venda direta
(quando o produtor entrega em matildeos proacuteprias a mercadoria ao consumidor) e a venda
indireta via um uacutenico intermediaacuterio (que pode ser um outro produtor uma cooperativa
uma associaccedilatildeo uma loja especializada um restaurante ou ateacute um pequeno mercado)
Na Franccedila e na Europa outras denominaccedilotildees como circuitos de proxim idade
(AUBRY CHIFFOLEAU 2009) ou circuitos locais (MARECHAL 2008) tecircm sido utilizadas
para reforccedilar a proximidade geograacutefica e o aspecto socialrelacional como a ligaccedilatildeo entre
consumidor e produtor e o desenvolvimento de mercados locais Deverre e Lamine (2010)
preferem utilizar ainda o termo sistemas alternativos numa perspectiva de questionar
o modelo convencionai propor novos princiacutepios de troca e relaccedilotildees mais justas entre
produtores e consumidores Neste trabalho consideramos que as diferentes dimensotildees
(econocircmica social ecoloacutegica e poliacutetica) satildeo importantes para classificar e analisar os
circuitos curtos
4 T IP O LO G IA E C A R A C T E R IacuteST IC A S DOS C IR C U ITO S CURTOS DE A LIM EN TO S ECO LOacute G ICO S
A classificaccedilatildeo dos tipos de circuitos curtos de comercializaccedilatildeo propostos neste
trabalho (Fig 1) segue as indicaccedilotildees teoacutericas de Marsden et a i (2000) Renting et a i
(2003) e Mundler (2008) considerando que temos circuitos relacionados com a venda
direta (em que o produtor tem relaccedilatildeo direta com o consumidor) e venda indireta
em que existe apenas um intermediaacuterio conhecedor e pessoas engajadas no processo
denotando uma interdependecircncia entre os atores Essa tipologia considera diferentes
dimensotildees econocircmicas e sociais (pela melhoria direta de renda dos agricultores e trocas
entre produtores e consumidores) mas traz embutida a dimensatildeo ecoloacutegica e poliacutetica por
se tratar de alimentos de base ecoloacutegica e com a participaccedilatildeo do poder puacuteblico (no caso
de programas de governo para alimentaccedilatildeo escolar que atingem um nuacutemero significativo
de pessoas)
118
FIGURA 1 - TIPOLOGIA DE CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE PRODUTOS ECOLOacuteGICOS
Tipologia de Circuitos Curtos
Venda Direta(relaccedilatildeo direta entre produtor e consumidor)
Venda Indireta(intervenccedilatildeo de um uacutenico intermediaacuterio
I iNa Propriedade Fora da Propriedade Lojas especializadas independentes
Lojas de cooperativas de produtores e consumidores ecoloacutegicos
Cestas para grupos ou individual Venda direta na propriedade ldquoColheita na propriedade
Feiras ecoloacutegicas direto do produtorCestas em domiciacutelio e para empresasVenda para programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo de baixa renda)
Lojas de associaccedilatildeo de produtoresVenda para grupos de consumidores organizados Venda em beira de estradasFeiras agropecuaacuterias salotildees eventos
bullRestaurantes coletivos e individuais Pequenos mercados de produtos
Serviccedilos na propriedadeAgroturismo gastronomia pousada esporte e lazer
naturais (orgacircnicos e convencionais) Lojas virtuais (Vendas pela Internet)
FONTE Elaborado pelos autores a partir de Chaffotte e Chiffoleau (2007) Mundler (2008)
Pode parecer surpreendente encontrar tipos similares de iniciativas em contextos
histoacutericos e geograacuteficos diferentes Todavia os movimentos sociais em prol das agriculturas
de base ecoloacutegica no mundo tecircm compartilhado ideais muito semelhantes com um
significado poliacutetico forte que permite em certa medida readequar a produccedilatildeo para
sistemas mais sustentaacuteveis e repensar dietas e haacutebitos alimentares reforccedilando laccedilos
entre aacutereas rurais e urbanas
Nas experiecircncias brasileiras estudadas (Tabela 1) observamos que a maioria dos
produtores utiliza simultaneamente mais de um canal destacadamente 1) feiras do
produtor 2) cestas em domiciacutelio e mais recentemente 3) os programas de governo
(Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar)
Percebemos ainda inovaccedilotildees como as vendas nas propriedades associadas em circuitos
de turismo rural e restaurantes no meio rural lojas especializadas e pontos de venda de
agricultores cooperativas de consumidores vendas em rede via circuitos de circulaccedilatildeo
(caso da Rede Ecovida de certificaccedilatildeo participativa) aleacutem de vendas em lojas virtuais
pela internet
A tabela 1 traz uma siacutentese das experiecircncias com uma anaacutelise qualitativa do niacutevel
de desenvolvimento dos circuitos curtos em redes alternativas na Franccedila e no Brasil
de forma comparativa De modo geral o maior niacutevel de escolaridade e a renda dos
agricultores familiares associados ao maior niacutevel de conscientizaccedilatildeo dos consumidores
na Franccedila permitem uma vantagem comparativa em relaccedilatildeo ao desenvolvimento dessas
redes Em ambos os paiacuteses a cooperaccedilatildeo entre os atores e o engajamento poliacutetico de
produtores e consumidores permitem atingir um maior niacutevel de desenvolvimento
119
TABELA 1 - ANAacuteLISE COMPARATIVA DO NIacuteVEL DE DESENVOLVIMENTO DE CIRCUITOS CURTOS DECOMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS NA FRANCcedilA E BRASIL
TIPOS DE CIRCUITOS ALTERNATIVOS FRANCcedilA BRASILFeira de produtores (orgacircnicosagroecoloacutegicos)
Pontos de Venda Coletiva (PVC) -AMAP (Associaccedilatildeo de Consumidores) -Cestas entregues em domiciacutelio
Lojas de produtos orgacircnicos independentes
Lojas de cooperativas de produtores e consumidores
Rede de comercializaccedilatildeo (Certificaccedilatildeo Participativa) -
Venda na propriedade
Acolhida na propriedade (gastronomia lazer esporte alojamento propriedade pedagoacutegica)
Programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo em risco alimentar)
Restaurantes coletivos puacuteblico ou privado restaurantes tradicionais
Lojas virtuais (site internet de produtos ecoloacutegicos)
FONTE elaborado pelos autoresNOTA - ausente ou raro pouco desenvolvido medianamente desenvolvido muito
desenvolvido (niacutevel de desenvolvimento)
As feiras do produtor satildeo os mecanismos de comercializaccedilatildeo mais difundidos no
Brasil e a principal porta de entrada de agricultores ecoloacutegicos para o mercado local
As feiras satildeo espaccedilos educativos e de lazer que permitem grande interaccedilatildeo entre
produtores e consumidores possibilitando maior autonomia aos agricultores Pesquisa
do IDEC (2012) identificou 140 feiras orgacircnicas em 22 das 27 capitais brasileiras
O estudo aponta que nas regiotildees onde a agricultura familiar eacute forte (Sul e Nordeste
p ex) as vendas em feiras satildeo mais pronunciadas No caso da Franccedila observamos que
as feiras (marcheacutes paysans) satildeo mais sazonais (com maior expressatildeo no veratildeo) sendo
menos preferidas pelos produtores do que as lojas especializadas independentes e lojas
coletivas de produtores (PVC) que funcionam o ano todo sobretudo em funccedilatildeo das
dificuldades clim aacuteticas deslocam entos frequentes horaacuterios predefinidos e do tempo
que a feira leva para se consolidar As feiras tradicionais (marcheacutes forains classiques)
satildeo muito populares entre os consumidores e misturam produtores convencionais (com
produtos coloniais artesanais natildeo certificados) e orgacircnicos certificados (bio) Nessas feiras
tradicionais os produtores bio satildeo minoria Nos dois paiacuteses as feiras totalmente orgacircnicas
tecircm tido maior expressatildeo nas m eacutedias e grandes cidades De acordo com Chiffoleau
(2008) a consolidaccedilatildeo das feiras de produtores se daacute basicamente em quatro etapas a
saber 1) criaccedilatildeo no iniacutecio muitos consumidores aparecem para conhecer a novidade e
impulsionam o mercado 2) queda (depois de dois a trecircs anos) apoacutes a novidade alguns
120
clientes deixam de frequentar a feira acom panhado por agricultores 3) recuperaccedilatildeo
(pelo 39 e 45 anos) os clientes mais fieacuteis acabam por fazer uma divulgaccedilatildeo boca-a-boca
e ocorre uma retomada do crescimento e 4) estabilizaccedilatildeo (apoacutes cinco anos) apoacutes esse
periacuteodo ocorre uma estabilizaccedilatildeo do nuacutemero de produtores e do nuacutemero de clientes fieacuteis
O mesmo fenocircmeno tem sido verificado no Brasil (DAROLT 2012)
Na Franccedila sobretudo na regiatildeo Rhocircne Alpes estaacute bem difundida a venda em
Pontos de Venda Coletiva (PVC - Points de Vente Collectifs) surgido no final dos anos de
1970 e que conta com 56 lojas tendo no iniacutecio uma forte participaccedilatildeo de agricultores
neorurais (Lamine 2012) Os PVC satildeo pequenas lojas mantidas e adm inistradas pelos
proacuteprios agricultores que vendem produtos de uma determ inada regiatildeo (ateacute 100 km
em meacutedia) com caracteriacutesticas e tradiccedilotildees com uns (produtos do terroir) O objetivo
dessas lojas coletivas eacute melhorar as condiccedilotildees de trabalho do agricultor d im inuir o
tempo gasto na comercializaccedilatildeo e oferecer aos consumidores diversidade regularidade e
qualidade de produtos tiacutepicos da regiatildeo Os PVC demandam dos agricultores aquisiccedilatildeo de
novas competecircncias (transformaccedilatildeo de produtos adoccedilatildeo de princiacutepios de agroecologia)
e readequaccedilatildeo do trabalho na propriedade para atender agraves demandas das lojas (novos
produtos relaccedilatildeo social com os clientes) Sempre eacute possiacutevel encontrar agricultores na
loja (cada produtor deve ficar na loja um meio-dia por sem ana o que permite que o
consumidor encontre sempre um produtor na loja) e todo marketing eacute direcionado no
sentido de valorizar os produtores e a regiatildeo
Outra modalidade bem estabelecida na Franccedila e em fase de crescim ento no
Brasil (por meio de cooperativas de consum idores e grupos de com pras coletivas)
satildeo as cestas diversificadas para grupos organizados de consum idores Na Franccedila as
chamadas AM APs -Associations pourle Maintien dune Agriculture Paysanne (Associaccedilatildeo
para M anutenccedilatildeo de uma Agricultura Cam ponesa) surgiram a partir dos anos 2000
inspiradas nas Community Supported Agriculture (Agricultura Apoiada pela Comunidade)
e representam um contrato de parceria entre consumidores e produtores (LAMINE 2008)
Na Franccedila haacute maior engajamento social dos consumidores e participaccedilatildeo em grupos de
inserccedilatildeo social quando comparados agraves experiecircncias brasileiras que ainda satildeo incipientes
Em contrapartida no Brasil as cestas individuais vecircm ganhando simpatia do consumidor
pela praticidade e pelos preccedilos m enores quando com parados aos superm ercados
mas ainda haacute pouca organizaccedilatildeo e engajam ento social do con su m idor brasileiro
no processo
121
As lojas especializadas de produtos ecoloacutegicos existem haacute vaacuterios inos na Franccedila
em cidades grandes meacutedias e pequenas contando com redes bem estabelecidas
espalhadas por todo o paiacutes com um discurso de solidariedade e pa-ceria com os
produtores como eacute o caso de Biocoop5 Segundo a Agence Bio (2014) eses dispositivos
representaram 35 do valor total das vendas com productos bio em ZD13 No Brasil
parte dos consumidores orgacircnicos (41) com plem entam suas com pns em lojas de
produtos especializados sobretudo nas capitais (KLUTH BOCCFIIJR CENSIOWSKY 2011)
Em cidades de menor porte as lojas podem estar associadas a organiza ccedilotildeesde produtores
familiares e consumidores ecoloacutegicos (p ex Ecotorres e Cooperativa deConsumidores
Ecoloacutegicos de Trecircs Cachoeiras no Rio Grande do Sul) ou funcionar com o poio do poder
puacuteblico municipal A maioria das lojas trabalha com entregas em domiciacuteio via internet
ou telefone permitindo ao consumidor escolher os produtos de uma lita de opccedilotildees
com maior comodidade e com preccedilos inferiores aos praticados pelos suparmercados
As vendas nas propriedades estatildeo bem difundidas na Franccedilasobretudo no
tocante a vinhos queijos e produtos do terroir No Brasil as vendas na propriedades
estatildeo em fase de expansatildeo e tecircm sido associadas a propriedades que fazem parte de
circuitos de turismo rural e agroecoloacutegico (Accueil paysan na Franccedila e Acohida na colocircnia
no Brasil) e satildeo mais comuns em cidades periurbanas proacuteximas agraves regiotildees netropolitanas
As lojas virtuais de produtos ecoloacutegicos ganham espaccedilo tanto na Franccedila quanto
no Brasil e com tendecircncia de crescimento para os proacuteximos anos sobretido nas regiotildees
metropolitanas todavia nem sempre representam um circuito curto conforme discutido
neste trabalho Entretanto satildeo procuradas pela facilidade de compra ccmodidade nas
entregas ao consumidor e preccedilos inferiores aos supermercados atendencb agraves exigecircncias
da vida moderna
5 PRO G RA M A S DE G O VERN O O P O R T U N ID A D E S PARA A A G RO ECO LO G IA NO BRA SIL
A com ercializaccedilatildeo de produtos agroalim entares por meio de orogramas do
governo ou m ercado institucional surgiu no Brasil em 2003 com o Program a de
Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e vem ganhando espaccedilo conforme Schimitte Grisa (2013)
O mercado institucional atende ao consumidor coletivo (instituiccedilotildees de assistecircncia social
5 Biocoop eacute uma rede francesa com 330 lojas e atores independentes militantes e engajados no desenvolvimento da agricultura orgacircnica (conhecida como bio) (wwwbiocooporg)
122
hospitais creches escolas) dentro de um circuito curto de comercializaccedilatildeo considerado
como venda direta pelo governo brasileiro Assim por meio de programas de governo
os alimentos da agricultura familiar satildeo comprados diretamente dos agricultores ou
das associaccedilotildees e cooperativas de produtores e chegam ateacute a populaccedilatildeo via entidades
de assistecircncia social do governo e escolas puacuteblicas Satildeo programas que se inserem nas
poliacuteticas puacuteblicas voltadas agrave seguranccedila alimentar e nutricional Nos uacuteltimos anos no Brasil
dois programas se destacaram na compra de produtos de base ecoloacutegica o Programa
de Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE)
Os produtos da agricultura fam iliar que apresentam certificaccedilatildeo orgacircnica
comercializados pelo PAA e PNAE recebem um precircmio de 30 em relaccedilatildeo ao similar
da agricultura convencional valorizando a qualidade nutricional e os demais aspectos
socioambientais envolvidos A garantia de compra dos produtos pelo governo estimula a
transiccedilatildeo agroecoloacutegica Ademais esses programas tecircm uma dimensatildeo social importante
pois atingem um grande puacuteblico (escolas) e trabalham com uma diversidade de produtos
seguindo a sazonalidade e as realidades locais
Para Scnimitt e Grisa (2013) existem algumas limitaccedilotildees operacionais que precisam
ser superadas na construccedilatildeo do mercado institucional no Brasil tais como atraso na
liberaccedilatildeo dos recursos problemas de acesso dos agricultores agrave documentaccedilatildeo exigida
(necessidade de desburocratizaccedilatildeo) falta de interaccedilatildeo entre diferentes instrumentos de
poliacutetica puacuteblica que poderiam dar suporte agraves accedilotildees dos programas falta de planejamento
e problemas de gestatildeo das organizaccedilotildees locais no acompanhamento das entregas e na
formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos beneficiaacuterios (nutricionistas merendeiras professoras
alunos) Triches e Schneider (2010) acrescentam ainda que um dos desafios na aquisiccedilatildeo
de alimentos da agricultura familiar para programas institucionais eacute a legalizaccedilatildeo das
agroinduacutestrias familiares com a regulaccedilatildeo da qualidade dos alimentos (sobretudo para
leite carnes e derivados)
Na Franccedila o recente Plano Nacional para a Agricultura Orgacircnica (Plan Ambition
Bio 2017) fixou objetivos ambiciosos para colocar 20 de produtos orgacircnicos na merenda
escolar e em restaurantes coletivos ateacute 2017 Esses objetivos variam de uma regiatildeo
para outra privilegiando produtos natildeo somente orgacircnicos (bio) mas tambeacutem locais
(normalmente o produto local tem maior peso) pois favorece o desenvolvimento regional
Em todo caso esse desenvolvimento segue associado a novas formas de organizaccedilatildeo
plataformas logiacutesticas redes de trabalho negociaccedilatildeo e planejamento das necessidades
de produtos entre escolas e produtores
123
Experiecircncias em outros paiacuteses europeus com alimentaccedilatildeo escolar mostram que o
poder puacuteblico tem papel decisivo em relaccedilatildeo aos mecanismos de aquisiccedilatildeo de alimentos
ao incentivo de determinados modelos de produccedilatildeo sustentaacuteveis e de sauacutede puacuteblica
O poder puacuteblico pode utilizar o seu poder de regulaccedilatildeo de decisatildeo sobre alocaccedilatildeo de
recursos e de ator-chave no abastecimento alim entar para promover mudanccedilas no
comportamento da sociedade (MORGAN SONNINO 2008)
O mercado institucional reforccedila outras iniciativas de comercializaccedilatildeo em circuitos
curtos fortalece as redes de organizaccedilotildees sociais e potencializa o diaacutelogo entre os atores
envolvidos com a agroecologia Tal situaccedilatildeo traz perspectivas otimistas para estimular
a produccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos e saudaacuteveis contribuir no sentido de potencializar
processos de transiccedilatildeo agroecoloacutegica e promoccedilatildeo da agroecologia bem como respeitar
os modos de vida das populaccedilotildees tradicionais fortalecer a cultura alimentar regional e
promover a valorizaccedilatildeo da sociobiodiversidade
6 C IR C U IT O S DE C IR C U LA Ccedil Atilde O E C O M E R C IA LIZA Ccedil Atilde O EM REDE
Uma experiecircncia pioneira vem sendo desenvolvida pelo circuito de circulaccedilatildeo
e com ercializaccedilatildeo da Rede Ecovida de Agroecologia no sul do Brasil Os princiacutepios
se g u id o s pela rede satildeo os produtos co m ercia lizad o s pelo circu ito tecircm de ser
agroecoloacutegicos com selo de certificaccedilatildeo participativa da Rede Ecovida a organizaccedilatildeo
ou grupo de agricultores para participar do circuito deve fazer parte da rede quem
vend e deve tam beacutem com prar produtos dos dem ais produtores (intercacircm bio e
circulaccedilatildeo de produtos) (MAGNANTI 2008)
Esse sistema tem permitido a troca e circulaccedilatildeo de produtos entre as regiotildees aleacutem
de atender agrave diversidade manter uma regularidade e a qualidade bioloacutegica dos produtos
visto que se trabalha exclusivamente com produtos certificados de forma participativa
A discussatildeo de circuitos curtos nesse sentido se daacute natildeo pela distacircncia fiacutesica e nuacutemero de
intermediaacuterios mas pela dimensatildeo social e poliacutetica estabelecida pelo sistema participativo
de garantia e pela organizaccedilatildeo do movimento social
Em torno de 50 itens satildeo ofertados pelo circuito divididos entre hortaliccedilas (100)
frutas (80) gratildeos (80) farinhas (70) accediluacutecar (50) e processados (20)(REDE
ECOVIDA 2014) Os produtos tecircm circulado principalmente em feiras agroecoloacutegicas
em Programas de Governo como o PAA e PNAE pequenos comeacutercios e distribuidores e
grupos de trocas de alimentos (autoconsumo) garantindo tambeacutem a autonomia alimentar
dos agricultores da rede
124
Os desafios para esse tipo de com ercializaccedilatildeo segundo Perez-Cassarino
(2013) satildeo a padronizaccedilatildeo de documentos para comercializaccedilatildeo entre os estados
a padronizaccedilatildeo de embalagens prioritariamente ecoloacutegicas a padronizaccedilatildeo de produtos
entre os nuacutecleos investim ento em recursos hum anos para operacionalizaccedilatildeo do
processo de comercializaccedilatildeo melhoria e investimentos em logiacutestica e um planejamento
de produccedilatildeo para atender a uma dem anda em expansatildeo destacadam ente para
alimentaccedilatildeo escolar
7 C A R A C T E R IacuteST IC A S E O R G A N IZA Ccedil Atilde O DAS PR O PR IED A D ES EM C IR C U ITO S CU RTO S
Tanto no Brasil como na Franccedila as experiecircncias estudadas que comercializam em
circuitos curtos satildeo majoritariamente provenientes da agricultura familiar com destaque
para a categoria de agricultores neorurais que se desenvolvem em aacutereas pequenas (em
meacutedia menor que 20 hectares no total) quando comparadas agravequelas em circuitos longos
Um dos pilares de sustentaccedilatildeo eacute a matildeo de obra familiar que tem uma carga de trabalho
intensa e deve aliar diferentes competecircncias (produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo)
no intuito de diminuir custos e agregar valor ao produto
Na Franccedila a maior parte das propriedades estudadas que vendem em circuitos
curtos eacute especializada em um determinado sistema de produccedilatildeo (fruticultura olericultura
leite ovos queijo) estando de acordo com Mundler (2008) No Brasil as propriedades
orgacircnicas estudadas mostraram-se mais diversificadas contando com sistemas vegetais
e anim ais mais com plexos Se por um lado isso eacute desejado porque atende aos
princiacutepios agroecoloacutegicos por outro torna o planejamento produtivo mais complexo
Nos dois paiacuteses a gama de produtos eacute em geral mais diversificada quando comparada
agrave agricultura convencional mesmo quando as propriedades satildeo especializadas em
determinados sistemas Observou-se ainda uma tendecircncia agrave diversificaccedilatildeo em serviccedilos
com a pluriatividade da propriedade (agroturismo gastronomia lazer e descoberta
alojamentos e propriedades pedagoacutegicas) conforme jaacute apontaram Schneider (2005)
Mundler Guermonprez Pluvinage (2007)
Outra caracteriacutestica a destacar em circuitos curtos eacute a maior autonomia do agricultor
em relaccedilatildeo aos circuitos longos No Brasil os agricultores que trabalham integrados com
empresas para vendas em supermercados tecircm menor autonomia na gestatildeo sendo o
planejamento de produccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo realizados pelas empresas Segundo Darolt
125
(2012) o sistema de produccedilatildeo eacute simplificado e especializado em um ou dois produtos
Eacute com um nesses casos uma repeticcedilatildeo da loacutegica comercial e industrial utilizada em
sistemas convencionais para produccedilatildeo em escala
A figura 2 resume as diferentes caracteriacutesticas observadas nas propriedades
que comercializam em circuitos curtos Segundo Mundler (2008) a combinaccedilatildeo entre
agricultura ecoloacutegica e circuitos curtos tem impactos positivos em diferentes dimensotildees
como na economia local trazendo oportunidades de trabalho e de renda na dimensatildeo
social com a aproximaccedilatildeo de produtores e consumidores na dimensatildeo ambiental com
a valorizaccedilatildeo dos recursos naturais e da paisagem e na dimensatildeo poliacutetica como uma
nova opccedilatildeo de consumo
FIGURA 2 - CARACTERIacuteSTICAS COMUNS OBSERVADAS EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS (BRASIL E FRANCcedilA)
A organizaccedilatildeo do trabalho observada nas experiecircncias se mostrou mais ou menos
complexa em funccedilatildeo dos recursos humanos e econocircmicos disponiacuteveis na propriedade
Em propriedades familiares de pequeno porte concordando com Dedieu et a i (1999)
eacute fundam ental agregar valor ao produto (com a transformaccedilatildeo) vender sempre que
possiacutevel de forma direta e potencializar os serviccedilos na propriedade (turismo e acolhida
do consumidor na propriedade por exemplo)
A forma de comercializaccedilatildeo mais adequada a cada tipo de produtor pode variar
em funccedilatildeo da matildeo de obra da organizaccedilatildeo do sistema de produccedilatildeo e da infraestrutura
disponiacutevel Observamos que na maioria dos canais estudados as praacuteticas agriacutecolas
utilizadas os volumes de produccedilatildeo os tipos de produtos e a organizaccedilatildeo do trabalho
se adaptam para responder agraves demandas dos consumidores Assim concordando com
M undler et a i (2007) notamos que a loacutegica de desenvolvimento em circuitos curtos
126
vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste
entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em
circuitos curtos quando comparado a um circuito longo
8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O
Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo
ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que
isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo
semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao
consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis
Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental
pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte
Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na
comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam
que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com
o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e
menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento
em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo
satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta
e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores
brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando
o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a
agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia
e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel
127
TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO
ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES
Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)
bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod
Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo
bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)
FONTE Elaborado pelos autores
Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades
para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto
a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo
saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes
alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas
rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar
que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos
consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento
das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de
regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial
e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica
128
9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O
Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos
ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais
circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar
dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo
De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo
imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona
o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e
tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma
o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar
soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes
contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de
desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-
produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais
Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito
agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo
e consumo
O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem
as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo
ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos
agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da
paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)
Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas
puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais
organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de
distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa
como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas
de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores
(AMAPs) na Franccedila
O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser
superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as
poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas
129
como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade
na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de
infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente
com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em
circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave
alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo
de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo
distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas
especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na
fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica
Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara
do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como
as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem
de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas
singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores
procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos
valores e resgate da autonomia dos agricultores
Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas
envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o
consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados
locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-
distribuiccedilatildeo-consumo
130
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Os representantes do setor agroalimentar na Franccedila tecircm utilizado uma definiccedilatildeo
mais pragmaacutetica de circuito curto (CC) caracterizando os circuitos de distribuiccedilatildeo que
mobilizam ateacute - no m aacutexim o-um intermediaacuterio entre produtor e consumidor (CHAFOTTE
e CHIFFOLEAU 2007 MESSMER 2013) Dois casos podem ser distinguidos a venda direta
(quando o produtor entrega em matildeos proacuteprias a mercadoria ao consumidor) e a venda
indireta via um uacutenico intermediaacuterio (que pode ser um outro produtor uma cooperativa
uma associaccedilatildeo uma loja especializada um restaurante ou ateacute um pequeno mercado)
Na Franccedila e na Europa outras denominaccedilotildees como circuitos de proxim idade
(AUBRY CHIFFOLEAU 2009) ou circuitos locais (MARECHAL 2008) tecircm sido utilizadas
para reforccedilar a proximidade geograacutefica e o aspecto socialrelacional como a ligaccedilatildeo entre
consumidor e produtor e o desenvolvimento de mercados locais Deverre e Lamine (2010)
preferem utilizar ainda o termo sistemas alternativos numa perspectiva de questionar
o modelo convencionai propor novos princiacutepios de troca e relaccedilotildees mais justas entre
produtores e consumidores Neste trabalho consideramos que as diferentes dimensotildees
(econocircmica social ecoloacutegica e poliacutetica) satildeo importantes para classificar e analisar os
circuitos curtos
4 T IP O LO G IA E C A R A C T E R IacuteST IC A S DOS C IR C U ITO S CURTOS DE A LIM EN TO S ECO LOacute G ICO S
A classificaccedilatildeo dos tipos de circuitos curtos de comercializaccedilatildeo propostos neste
trabalho (Fig 1) segue as indicaccedilotildees teoacutericas de Marsden et a i (2000) Renting et a i
(2003) e Mundler (2008) considerando que temos circuitos relacionados com a venda
direta (em que o produtor tem relaccedilatildeo direta com o consumidor) e venda indireta
em que existe apenas um intermediaacuterio conhecedor e pessoas engajadas no processo
denotando uma interdependecircncia entre os atores Essa tipologia considera diferentes
dimensotildees econocircmicas e sociais (pela melhoria direta de renda dos agricultores e trocas
entre produtores e consumidores) mas traz embutida a dimensatildeo ecoloacutegica e poliacutetica por
se tratar de alimentos de base ecoloacutegica e com a participaccedilatildeo do poder puacuteblico (no caso
de programas de governo para alimentaccedilatildeo escolar que atingem um nuacutemero significativo
de pessoas)
118
FIGURA 1 - TIPOLOGIA DE CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE PRODUTOS ECOLOacuteGICOS
Tipologia de Circuitos Curtos
Venda Direta(relaccedilatildeo direta entre produtor e consumidor)
Venda Indireta(intervenccedilatildeo de um uacutenico intermediaacuterio
I iNa Propriedade Fora da Propriedade Lojas especializadas independentes
Lojas de cooperativas de produtores e consumidores ecoloacutegicos
Cestas para grupos ou individual Venda direta na propriedade ldquoColheita na propriedade
Feiras ecoloacutegicas direto do produtorCestas em domiciacutelio e para empresasVenda para programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo de baixa renda)
Lojas de associaccedilatildeo de produtoresVenda para grupos de consumidores organizados Venda em beira de estradasFeiras agropecuaacuterias salotildees eventos
bullRestaurantes coletivos e individuais Pequenos mercados de produtos
Serviccedilos na propriedadeAgroturismo gastronomia pousada esporte e lazer
naturais (orgacircnicos e convencionais) Lojas virtuais (Vendas pela Internet)
FONTE Elaborado pelos autores a partir de Chaffotte e Chiffoleau (2007) Mundler (2008)
Pode parecer surpreendente encontrar tipos similares de iniciativas em contextos
histoacutericos e geograacuteficos diferentes Todavia os movimentos sociais em prol das agriculturas
de base ecoloacutegica no mundo tecircm compartilhado ideais muito semelhantes com um
significado poliacutetico forte que permite em certa medida readequar a produccedilatildeo para
sistemas mais sustentaacuteveis e repensar dietas e haacutebitos alimentares reforccedilando laccedilos
entre aacutereas rurais e urbanas
Nas experiecircncias brasileiras estudadas (Tabela 1) observamos que a maioria dos
produtores utiliza simultaneamente mais de um canal destacadamente 1) feiras do
produtor 2) cestas em domiciacutelio e mais recentemente 3) os programas de governo
(Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar)
Percebemos ainda inovaccedilotildees como as vendas nas propriedades associadas em circuitos
de turismo rural e restaurantes no meio rural lojas especializadas e pontos de venda de
agricultores cooperativas de consumidores vendas em rede via circuitos de circulaccedilatildeo
(caso da Rede Ecovida de certificaccedilatildeo participativa) aleacutem de vendas em lojas virtuais
pela internet
A tabela 1 traz uma siacutentese das experiecircncias com uma anaacutelise qualitativa do niacutevel
de desenvolvimento dos circuitos curtos em redes alternativas na Franccedila e no Brasil
de forma comparativa De modo geral o maior niacutevel de escolaridade e a renda dos
agricultores familiares associados ao maior niacutevel de conscientizaccedilatildeo dos consumidores
na Franccedila permitem uma vantagem comparativa em relaccedilatildeo ao desenvolvimento dessas
redes Em ambos os paiacuteses a cooperaccedilatildeo entre os atores e o engajamento poliacutetico de
produtores e consumidores permitem atingir um maior niacutevel de desenvolvimento
119
TABELA 1 - ANAacuteLISE COMPARATIVA DO NIacuteVEL DE DESENVOLVIMENTO DE CIRCUITOS CURTOS DECOMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS NA FRANCcedilA E BRASIL
TIPOS DE CIRCUITOS ALTERNATIVOS FRANCcedilA BRASILFeira de produtores (orgacircnicosagroecoloacutegicos)
Pontos de Venda Coletiva (PVC) -AMAP (Associaccedilatildeo de Consumidores) -Cestas entregues em domiciacutelio
Lojas de produtos orgacircnicos independentes
Lojas de cooperativas de produtores e consumidores
Rede de comercializaccedilatildeo (Certificaccedilatildeo Participativa) -
Venda na propriedade
Acolhida na propriedade (gastronomia lazer esporte alojamento propriedade pedagoacutegica)
Programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo em risco alimentar)
Restaurantes coletivos puacuteblico ou privado restaurantes tradicionais
Lojas virtuais (site internet de produtos ecoloacutegicos)
FONTE elaborado pelos autoresNOTA - ausente ou raro pouco desenvolvido medianamente desenvolvido muito
desenvolvido (niacutevel de desenvolvimento)
As feiras do produtor satildeo os mecanismos de comercializaccedilatildeo mais difundidos no
Brasil e a principal porta de entrada de agricultores ecoloacutegicos para o mercado local
As feiras satildeo espaccedilos educativos e de lazer que permitem grande interaccedilatildeo entre
produtores e consumidores possibilitando maior autonomia aos agricultores Pesquisa
do IDEC (2012) identificou 140 feiras orgacircnicas em 22 das 27 capitais brasileiras
O estudo aponta que nas regiotildees onde a agricultura familiar eacute forte (Sul e Nordeste
p ex) as vendas em feiras satildeo mais pronunciadas No caso da Franccedila observamos que
as feiras (marcheacutes paysans) satildeo mais sazonais (com maior expressatildeo no veratildeo) sendo
menos preferidas pelos produtores do que as lojas especializadas independentes e lojas
coletivas de produtores (PVC) que funcionam o ano todo sobretudo em funccedilatildeo das
dificuldades clim aacuteticas deslocam entos frequentes horaacuterios predefinidos e do tempo
que a feira leva para se consolidar As feiras tradicionais (marcheacutes forains classiques)
satildeo muito populares entre os consumidores e misturam produtores convencionais (com
produtos coloniais artesanais natildeo certificados) e orgacircnicos certificados (bio) Nessas feiras
tradicionais os produtores bio satildeo minoria Nos dois paiacuteses as feiras totalmente orgacircnicas
tecircm tido maior expressatildeo nas m eacutedias e grandes cidades De acordo com Chiffoleau
(2008) a consolidaccedilatildeo das feiras de produtores se daacute basicamente em quatro etapas a
saber 1) criaccedilatildeo no iniacutecio muitos consumidores aparecem para conhecer a novidade e
impulsionam o mercado 2) queda (depois de dois a trecircs anos) apoacutes a novidade alguns
120
clientes deixam de frequentar a feira acom panhado por agricultores 3) recuperaccedilatildeo
(pelo 39 e 45 anos) os clientes mais fieacuteis acabam por fazer uma divulgaccedilatildeo boca-a-boca
e ocorre uma retomada do crescimento e 4) estabilizaccedilatildeo (apoacutes cinco anos) apoacutes esse
periacuteodo ocorre uma estabilizaccedilatildeo do nuacutemero de produtores e do nuacutemero de clientes fieacuteis
O mesmo fenocircmeno tem sido verificado no Brasil (DAROLT 2012)
Na Franccedila sobretudo na regiatildeo Rhocircne Alpes estaacute bem difundida a venda em
Pontos de Venda Coletiva (PVC - Points de Vente Collectifs) surgido no final dos anos de
1970 e que conta com 56 lojas tendo no iniacutecio uma forte participaccedilatildeo de agricultores
neorurais (Lamine 2012) Os PVC satildeo pequenas lojas mantidas e adm inistradas pelos
proacuteprios agricultores que vendem produtos de uma determ inada regiatildeo (ateacute 100 km
em meacutedia) com caracteriacutesticas e tradiccedilotildees com uns (produtos do terroir) O objetivo
dessas lojas coletivas eacute melhorar as condiccedilotildees de trabalho do agricultor d im inuir o
tempo gasto na comercializaccedilatildeo e oferecer aos consumidores diversidade regularidade e
qualidade de produtos tiacutepicos da regiatildeo Os PVC demandam dos agricultores aquisiccedilatildeo de
novas competecircncias (transformaccedilatildeo de produtos adoccedilatildeo de princiacutepios de agroecologia)
e readequaccedilatildeo do trabalho na propriedade para atender agraves demandas das lojas (novos
produtos relaccedilatildeo social com os clientes) Sempre eacute possiacutevel encontrar agricultores na
loja (cada produtor deve ficar na loja um meio-dia por sem ana o que permite que o
consumidor encontre sempre um produtor na loja) e todo marketing eacute direcionado no
sentido de valorizar os produtores e a regiatildeo
Outra modalidade bem estabelecida na Franccedila e em fase de crescim ento no
Brasil (por meio de cooperativas de consum idores e grupos de com pras coletivas)
satildeo as cestas diversificadas para grupos organizados de consum idores Na Franccedila as
chamadas AM APs -Associations pourle Maintien dune Agriculture Paysanne (Associaccedilatildeo
para M anutenccedilatildeo de uma Agricultura Cam ponesa) surgiram a partir dos anos 2000
inspiradas nas Community Supported Agriculture (Agricultura Apoiada pela Comunidade)
e representam um contrato de parceria entre consumidores e produtores (LAMINE 2008)
Na Franccedila haacute maior engajamento social dos consumidores e participaccedilatildeo em grupos de
inserccedilatildeo social quando comparados agraves experiecircncias brasileiras que ainda satildeo incipientes
Em contrapartida no Brasil as cestas individuais vecircm ganhando simpatia do consumidor
pela praticidade e pelos preccedilos m enores quando com parados aos superm ercados
mas ainda haacute pouca organizaccedilatildeo e engajam ento social do con su m idor brasileiro
no processo
121
As lojas especializadas de produtos ecoloacutegicos existem haacute vaacuterios inos na Franccedila
em cidades grandes meacutedias e pequenas contando com redes bem estabelecidas
espalhadas por todo o paiacutes com um discurso de solidariedade e pa-ceria com os
produtores como eacute o caso de Biocoop5 Segundo a Agence Bio (2014) eses dispositivos
representaram 35 do valor total das vendas com productos bio em ZD13 No Brasil
parte dos consumidores orgacircnicos (41) com plem entam suas com pns em lojas de
produtos especializados sobretudo nas capitais (KLUTH BOCCFIIJR CENSIOWSKY 2011)
Em cidades de menor porte as lojas podem estar associadas a organiza ccedilotildeesde produtores
familiares e consumidores ecoloacutegicos (p ex Ecotorres e Cooperativa deConsumidores
Ecoloacutegicos de Trecircs Cachoeiras no Rio Grande do Sul) ou funcionar com o poio do poder
puacuteblico municipal A maioria das lojas trabalha com entregas em domiciacuteio via internet
ou telefone permitindo ao consumidor escolher os produtos de uma lita de opccedilotildees
com maior comodidade e com preccedilos inferiores aos praticados pelos suparmercados
As vendas nas propriedades estatildeo bem difundidas na Franccedilasobretudo no
tocante a vinhos queijos e produtos do terroir No Brasil as vendas na propriedades
estatildeo em fase de expansatildeo e tecircm sido associadas a propriedades que fazem parte de
circuitos de turismo rural e agroecoloacutegico (Accueil paysan na Franccedila e Acohida na colocircnia
no Brasil) e satildeo mais comuns em cidades periurbanas proacuteximas agraves regiotildees netropolitanas
As lojas virtuais de produtos ecoloacutegicos ganham espaccedilo tanto na Franccedila quanto
no Brasil e com tendecircncia de crescimento para os proacuteximos anos sobretido nas regiotildees
metropolitanas todavia nem sempre representam um circuito curto conforme discutido
neste trabalho Entretanto satildeo procuradas pela facilidade de compra ccmodidade nas
entregas ao consumidor e preccedilos inferiores aos supermercados atendencb agraves exigecircncias
da vida moderna
5 PRO G RA M A S DE G O VERN O O P O R T U N ID A D E S PARA A A G RO ECO LO G IA NO BRA SIL
A com ercializaccedilatildeo de produtos agroalim entares por meio de orogramas do
governo ou m ercado institucional surgiu no Brasil em 2003 com o Program a de
Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e vem ganhando espaccedilo conforme Schimitte Grisa (2013)
O mercado institucional atende ao consumidor coletivo (instituiccedilotildees de assistecircncia social
5 Biocoop eacute uma rede francesa com 330 lojas e atores independentes militantes e engajados no desenvolvimento da agricultura orgacircnica (conhecida como bio) (wwwbiocooporg)
122
hospitais creches escolas) dentro de um circuito curto de comercializaccedilatildeo considerado
como venda direta pelo governo brasileiro Assim por meio de programas de governo
os alimentos da agricultura familiar satildeo comprados diretamente dos agricultores ou
das associaccedilotildees e cooperativas de produtores e chegam ateacute a populaccedilatildeo via entidades
de assistecircncia social do governo e escolas puacuteblicas Satildeo programas que se inserem nas
poliacuteticas puacuteblicas voltadas agrave seguranccedila alimentar e nutricional Nos uacuteltimos anos no Brasil
dois programas se destacaram na compra de produtos de base ecoloacutegica o Programa
de Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE)
Os produtos da agricultura fam iliar que apresentam certificaccedilatildeo orgacircnica
comercializados pelo PAA e PNAE recebem um precircmio de 30 em relaccedilatildeo ao similar
da agricultura convencional valorizando a qualidade nutricional e os demais aspectos
socioambientais envolvidos A garantia de compra dos produtos pelo governo estimula a
transiccedilatildeo agroecoloacutegica Ademais esses programas tecircm uma dimensatildeo social importante
pois atingem um grande puacuteblico (escolas) e trabalham com uma diversidade de produtos
seguindo a sazonalidade e as realidades locais
Para Scnimitt e Grisa (2013) existem algumas limitaccedilotildees operacionais que precisam
ser superadas na construccedilatildeo do mercado institucional no Brasil tais como atraso na
liberaccedilatildeo dos recursos problemas de acesso dos agricultores agrave documentaccedilatildeo exigida
(necessidade de desburocratizaccedilatildeo) falta de interaccedilatildeo entre diferentes instrumentos de
poliacutetica puacuteblica que poderiam dar suporte agraves accedilotildees dos programas falta de planejamento
e problemas de gestatildeo das organizaccedilotildees locais no acompanhamento das entregas e na
formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos beneficiaacuterios (nutricionistas merendeiras professoras
alunos) Triches e Schneider (2010) acrescentam ainda que um dos desafios na aquisiccedilatildeo
de alimentos da agricultura familiar para programas institucionais eacute a legalizaccedilatildeo das
agroinduacutestrias familiares com a regulaccedilatildeo da qualidade dos alimentos (sobretudo para
leite carnes e derivados)
Na Franccedila o recente Plano Nacional para a Agricultura Orgacircnica (Plan Ambition
Bio 2017) fixou objetivos ambiciosos para colocar 20 de produtos orgacircnicos na merenda
escolar e em restaurantes coletivos ateacute 2017 Esses objetivos variam de uma regiatildeo
para outra privilegiando produtos natildeo somente orgacircnicos (bio) mas tambeacutem locais
(normalmente o produto local tem maior peso) pois favorece o desenvolvimento regional
Em todo caso esse desenvolvimento segue associado a novas formas de organizaccedilatildeo
plataformas logiacutesticas redes de trabalho negociaccedilatildeo e planejamento das necessidades
de produtos entre escolas e produtores
123
Experiecircncias em outros paiacuteses europeus com alimentaccedilatildeo escolar mostram que o
poder puacuteblico tem papel decisivo em relaccedilatildeo aos mecanismos de aquisiccedilatildeo de alimentos
ao incentivo de determinados modelos de produccedilatildeo sustentaacuteveis e de sauacutede puacuteblica
O poder puacuteblico pode utilizar o seu poder de regulaccedilatildeo de decisatildeo sobre alocaccedilatildeo de
recursos e de ator-chave no abastecimento alim entar para promover mudanccedilas no
comportamento da sociedade (MORGAN SONNINO 2008)
O mercado institucional reforccedila outras iniciativas de comercializaccedilatildeo em circuitos
curtos fortalece as redes de organizaccedilotildees sociais e potencializa o diaacutelogo entre os atores
envolvidos com a agroecologia Tal situaccedilatildeo traz perspectivas otimistas para estimular
a produccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos e saudaacuteveis contribuir no sentido de potencializar
processos de transiccedilatildeo agroecoloacutegica e promoccedilatildeo da agroecologia bem como respeitar
os modos de vida das populaccedilotildees tradicionais fortalecer a cultura alimentar regional e
promover a valorizaccedilatildeo da sociobiodiversidade
6 C IR C U IT O S DE C IR C U LA Ccedil Atilde O E C O M E R C IA LIZA Ccedil Atilde O EM REDE
Uma experiecircncia pioneira vem sendo desenvolvida pelo circuito de circulaccedilatildeo
e com ercializaccedilatildeo da Rede Ecovida de Agroecologia no sul do Brasil Os princiacutepios
se g u id o s pela rede satildeo os produtos co m ercia lizad o s pelo circu ito tecircm de ser
agroecoloacutegicos com selo de certificaccedilatildeo participativa da Rede Ecovida a organizaccedilatildeo
ou grupo de agricultores para participar do circuito deve fazer parte da rede quem
vend e deve tam beacutem com prar produtos dos dem ais produtores (intercacircm bio e
circulaccedilatildeo de produtos) (MAGNANTI 2008)
Esse sistema tem permitido a troca e circulaccedilatildeo de produtos entre as regiotildees aleacutem
de atender agrave diversidade manter uma regularidade e a qualidade bioloacutegica dos produtos
visto que se trabalha exclusivamente com produtos certificados de forma participativa
A discussatildeo de circuitos curtos nesse sentido se daacute natildeo pela distacircncia fiacutesica e nuacutemero de
intermediaacuterios mas pela dimensatildeo social e poliacutetica estabelecida pelo sistema participativo
de garantia e pela organizaccedilatildeo do movimento social
Em torno de 50 itens satildeo ofertados pelo circuito divididos entre hortaliccedilas (100)
frutas (80) gratildeos (80) farinhas (70) accediluacutecar (50) e processados (20)(REDE
ECOVIDA 2014) Os produtos tecircm circulado principalmente em feiras agroecoloacutegicas
em Programas de Governo como o PAA e PNAE pequenos comeacutercios e distribuidores e
grupos de trocas de alimentos (autoconsumo) garantindo tambeacutem a autonomia alimentar
dos agricultores da rede
124
Os desafios para esse tipo de com ercializaccedilatildeo segundo Perez-Cassarino
(2013) satildeo a padronizaccedilatildeo de documentos para comercializaccedilatildeo entre os estados
a padronizaccedilatildeo de embalagens prioritariamente ecoloacutegicas a padronizaccedilatildeo de produtos
entre os nuacutecleos investim ento em recursos hum anos para operacionalizaccedilatildeo do
processo de comercializaccedilatildeo melhoria e investimentos em logiacutestica e um planejamento
de produccedilatildeo para atender a uma dem anda em expansatildeo destacadam ente para
alimentaccedilatildeo escolar
7 C A R A C T E R IacuteST IC A S E O R G A N IZA Ccedil Atilde O DAS PR O PR IED A D ES EM C IR C U ITO S CU RTO S
Tanto no Brasil como na Franccedila as experiecircncias estudadas que comercializam em
circuitos curtos satildeo majoritariamente provenientes da agricultura familiar com destaque
para a categoria de agricultores neorurais que se desenvolvem em aacutereas pequenas (em
meacutedia menor que 20 hectares no total) quando comparadas agravequelas em circuitos longos
Um dos pilares de sustentaccedilatildeo eacute a matildeo de obra familiar que tem uma carga de trabalho
intensa e deve aliar diferentes competecircncias (produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo)
no intuito de diminuir custos e agregar valor ao produto
Na Franccedila a maior parte das propriedades estudadas que vendem em circuitos
curtos eacute especializada em um determinado sistema de produccedilatildeo (fruticultura olericultura
leite ovos queijo) estando de acordo com Mundler (2008) No Brasil as propriedades
orgacircnicas estudadas mostraram-se mais diversificadas contando com sistemas vegetais
e anim ais mais com plexos Se por um lado isso eacute desejado porque atende aos
princiacutepios agroecoloacutegicos por outro torna o planejamento produtivo mais complexo
Nos dois paiacuteses a gama de produtos eacute em geral mais diversificada quando comparada
agrave agricultura convencional mesmo quando as propriedades satildeo especializadas em
determinados sistemas Observou-se ainda uma tendecircncia agrave diversificaccedilatildeo em serviccedilos
com a pluriatividade da propriedade (agroturismo gastronomia lazer e descoberta
alojamentos e propriedades pedagoacutegicas) conforme jaacute apontaram Schneider (2005)
Mundler Guermonprez Pluvinage (2007)
Outra caracteriacutestica a destacar em circuitos curtos eacute a maior autonomia do agricultor
em relaccedilatildeo aos circuitos longos No Brasil os agricultores que trabalham integrados com
empresas para vendas em supermercados tecircm menor autonomia na gestatildeo sendo o
planejamento de produccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo realizados pelas empresas Segundo Darolt
125
(2012) o sistema de produccedilatildeo eacute simplificado e especializado em um ou dois produtos
Eacute com um nesses casos uma repeticcedilatildeo da loacutegica comercial e industrial utilizada em
sistemas convencionais para produccedilatildeo em escala
A figura 2 resume as diferentes caracteriacutesticas observadas nas propriedades
que comercializam em circuitos curtos Segundo Mundler (2008) a combinaccedilatildeo entre
agricultura ecoloacutegica e circuitos curtos tem impactos positivos em diferentes dimensotildees
como na economia local trazendo oportunidades de trabalho e de renda na dimensatildeo
social com a aproximaccedilatildeo de produtores e consumidores na dimensatildeo ambiental com
a valorizaccedilatildeo dos recursos naturais e da paisagem e na dimensatildeo poliacutetica como uma
nova opccedilatildeo de consumo
FIGURA 2 - CARACTERIacuteSTICAS COMUNS OBSERVADAS EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS (BRASIL E FRANCcedilA)
A organizaccedilatildeo do trabalho observada nas experiecircncias se mostrou mais ou menos
complexa em funccedilatildeo dos recursos humanos e econocircmicos disponiacuteveis na propriedade
Em propriedades familiares de pequeno porte concordando com Dedieu et a i (1999)
eacute fundam ental agregar valor ao produto (com a transformaccedilatildeo) vender sempre que
possiacutevel de forma direta e potencializar os serviccedilos na propriedade (turismo e acolhida
do consumidor na propriedade por exemplo)
A forma de comercializaccedilatildeo mais adequada a cada tipo de produtor pode variar
em funccedilatildeo da matildeo de obra da organizaccedilatildeo do sistema de produccedilatildeo e da infraestrutura
disponiacutevel Observamos que na maioria dos canais estudados as praacuteticas agriacutecolas
utilizadas os volumes de produccedilatildeo os tipos de produtos e a organizaccedilatildeo do trabalho
se adaptam para responder agraves demandas dos consumidores Assim concordando com
M undler et a i (2007) notamos que a loacutegica de desenvolvimento em circuitos curtos
126
vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste
entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em
circuitos curtos quando comparado a um circuito longo
8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O
Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo
ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que
isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo
semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao
consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis
Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental
pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte
Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na
comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam
que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com
o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e
menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento
em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo
satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta
e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores
brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando
o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a
agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia
e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel
127
TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO
ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES
Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)
bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod
Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo
bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)
FONTE Elaborado pelos autores
Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades
para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto
a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo
saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes
alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas
rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar
que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos
consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento
das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de
regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial
e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica
128
9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O
Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos
ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais
circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar
dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo
De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo
imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona
o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e
tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma
o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar
soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes
contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de
desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-
produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais
Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito
agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo
e consumo
O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem
as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo
ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos
agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da
paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)
Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas
puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais
organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de
distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa
como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas
de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores
(AMAPs) na Franccedila
O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser
superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as
poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas
129
como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade
na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de
infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente
com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em
circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave
alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo
de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo
distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas
especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na
fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica
Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara
do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como
as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem
de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas
singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores
procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos
valores e resgate da autonomia dos agricultores
Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas
envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o
consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados
locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-
distribuiccedilatildeo-consumo
130
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FIGURA 1 - TIPOLOGIA DE CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE PRODUTOS ECOLOacuteGICOS
Tipologia de Circuitos Curtos
Venda Direta(relaccedilatildeo direta entre produtor e consumidor)
Venda Indireta(intervenccedilatildeo de um uacutenico intermediaacuterio
I iNa Propriedade Fora da Propriedade Lojas especializadas independentes
Lojas de cooperativas de produtores e consumidores ecoloacutegicos
Cestas para grupos ou individual Venda direta na propriedade ldquoColheita na propriedade
Feiras ecoloacutegicas direto do produtorCestas em domiciacutelio e para empresasVenda para programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo de baixa renda)
Lojas de associaccedilatildeo de produtoresVenda para grupos de consumidores organizados Venda em beira de estradasFeiras agropecuaacuterias salotildees eventos
bullRestaurantes coletivos e individuais Pequenos mercados de produtos
Serviccedilos na propriedadeAgroturismo gastronomia pousada esporte e lazer
naturais (orgacircnicos e convencionais) Lojas virtuais (Vendas pela Internet)
FONTE Elaborado pelos autores a partir de Chaffotte e Chiffoleau (2007) Mundler (2008)
Pode parecer surpreendente encontrar tipos similares de iniciativas em contextos
histoacutericos e geograacuteficos diferentes Todavia os movimentos sociais em prol das agriculturas
de base ecoloacutegica no mundo tecircm compartilhado ideais muito semelhantes com um
significado poliacutetico forte que permite em certa medida readequar a produccedilatildeo para
sistemas mais sustentaacuteveis e repensar dietas e haacutebitos alimentares reforccedilando laccedilos
entre aacutereas rurais e urbanas
Nas experiecircncias brasileiras estudadas (Tabela 1) observamos que a maioria dos
produtores utiliza simultaneamente mais de um canal destacadamente 1) feiras do
produtor 2) cestas em domiciacutelio e mais recentemente 3) os programas de governo
(Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar)
Percebemos ainda inovaccedilotildees como as vendas nas propriedades associadas em circuitos
de turismo rural e restaurantes no meio rural lojas especializadas e pontos de venda de
agricultores cooperativas de consumidores vendas em rede via circuitos de circulaccedilatildeo
(caso da Rede Ecovida de certificaccedilatildeo participativa) aleacutem de vendas em lojas virtuais
pela internet
A tabela 1 traz uma siacutentese das experiecircncias com uma anaacutelise qualitativa do niacutevel
de desenvolvimento dos circuitos curtos em redes alternativas na Franccedila e no Brasil
de forma comparativa De modo geral o maior niacutevel de escolaridade e a renda dos
agricultores familiares associados ao maior niacutevel de conscientizaccedilatildeo dos consumidores
na Franccedila permitem uma vantagem comparativa em relaccedilatildeo ao desenvolvimento dessas
redes Em ambos os paiacuteses a cooperaccedilatildeo entre os atores e o engajamento poliacutetico de
produtores e consumidores permitem atingir um maior niacutevel de desenvolvimento
119
TABELA 1 - ANAacuteLISE COMPARATIVA DO NIacuteVEL DE DESENVOLVIMENTO DE CIRCUITOS CURTOS DECOMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS NA FRANCcedilA E BRASIL
TIPOS DE CIRCUITOS ALTERNATIVOS FRANCcedilA BRASILFeira de produtores (orgacircnicosagroecoloacutegicos)
Pontos de Venda Coletiva (PVC) -AMAP (Associaccedilatildeo de Consumidores) -Cestas entregues em domiciacutelio
Lojas de produtos orgacircnicos independentes
Lojas de cooperativas de produtores e consumidores
Rede de comercializaccedilatildeo (Certificaccedilatildeo Participativa) -
Venda na propriedade
Acolhida na propriedade (gastronomia lazer esporte alojamento propriedade pedagoacutegica)
Programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo em risco alimentar)
Restaurantes coletivos puacuteblico ou privado restaurantes tradicionais
Lojas virtuais (site internet de produtos ecoloacutegicos)
FONTE elaborado pelos autoresNOTA - ausente ou raro pouco desenvolvido medianamente desenvolvido muito
desenvolvido (niacutevel de desenvolvimento)
As feiras do produtor satildeo os mecanismos de comercializaccedilatildeo mais difundidos no
Brasil e a principal porta de entrada de agricultores ecoloacutegicos para o mercado local
As feiras satildeo espaccedilos educativos e de lazer que permitem grande interaccedilatildeo entre
produtores e consumidores possibilitando maior autonomia aos agricultores Pesquisa
do IDEC (2012) identificou 140 feiras orgacircnicas em 22 das 27 capitais brasileiras
O estudo aponta que nas regiotildees onde a agricultura familiar eacute forte (Sul e Nordeste
p ex) as vendas em feiras satildeo mais pronunciadas No caso da Franccedila observamos que
as feiras (marcheacutes paysans) satildeo mais sazonais (com maior expressatildeo no veratildeo) sendo
menos preferidas pelos produtores do que as lojas especializadas independentes e lojas
coletivas de produtores (PVC) que funcionam o ano todo sobretudo em funccedilatildeo das
dificuldades clim aacuteticas deslocam entos frequentes horaacuterios predefinidos e do tempo
que a feira leva para se consolidar As feiras tradicionais (marcheacutes forains classiques)
satildeo muito populares entre os consumidores e misturam produtores convencionais (com
produtos coloniais artesanais natildeo certificados) e orgacircnicos certificados (bio) Nessas feiras
tradicionais os produtores bio satildeo minoria Nos dois paiacuteses as feiras totalmente orgacircnicas
tecircm tido maior expressatildeo nas m eacutedias e grandes cidades De acordo com Chiffoleau
(2008) a consolidaccedilatildeo das feiras de produtores se daacute basicamente em quatro etapas a
saber 1) criaccedilatildeo no iniacutecio muitos consumidores aparecem para conhecer a novidade e
impulsionam o mercado 2) queda (depois de dois a trecircs anos) apoacutes a novidade alguns
120
clientes deixam de frequentar a feira acom panhado por agricultores 3) recuperaccedilatildeo
(pelo 39 e 45 anos) os clientes mais fieacuteis acabam por fazer uma divulgaccedilatildeo boca-a-boca
e ocorre uma retomada do crescimento e 4) estabilizaccedilatildeo (apoacutes cinco anos) apoacutes esse
periacuteodo ocorre uma estabilizaccedilatildeo do nuacutemero de produtores e do nuacutemero de clientes fieacuteis
O mesmo fenocircmeno tem sido verificado no Brasil (DAROLT 2012)
Na Franccedila sobretudo na regiatildeo Rhocircne Alpes estaacute bem difundida a venda em
Pontos de Venda Coletiva (PVC - Points de Vente Collectifs) surgido no final dos anos de
1970 e que conta com 56 lojas tendo no iniacutecio uma forte participaccedilatildeo de agricultores
neorurais (Lamine 2012) Os PVC satildeo pequenas lojas mantidas e adm inistradas pelos
proacuteprios agricultores que vendem produtos de uma determ inada regiatildeo (ateacute 100 km
em meacutedia) com caracteriacutesticas e tradiccedilotildees com uns (produtos do terroir) O objetivo
dessas lojas coletivas eacute melhorar as condiccedilotildees de trabalho do agricultor d im inuir o
tempo gasto na comercializaccedilatildeo e oferecer aos consumidores diversidade regularidade e
qualidade de produtos tiacutepicos da regiatildeo Os PVC demandam dos agricultores aquisiccedilatildeo de
novas competecircncias (transformaccedilatildeo de produtos adoccedilatildeo de princiacutepios de agroecologia)
e readequaccedilatildeo do trabalho na propriedade para atender agraves demandas das lojas (novos
produtos relaccedilatildeo social com os clientes) Sempre eacute possiacutevel encontrar agricultores na
loja (cada produtor deve ficar na loja um meio-dia por sem ana o que permite que o
consumidor encontre sempre um produtor na loja) e todo marketing eacute direcionado no
sentido de valorizar os produtores e a regiatildeo
Outra modalidade bem estabelecida na Franccedila e em fase de crescim ento no
Brasil (por meio de cooperativas de consum idores e grupos de com pras coletivas)
satildeo as cestas diversificadas para grupos organizados de consum idores Na Franccedila as
chamadas AM APs -Associations pourle Maintien dune Agriculture Paysanne (Associaccedilatildeo
para M anutenccedilatildeo de uma Agricultura Cam ponesa) surgiram a partir dos anos 2000
inspiradas nas Community Supported Agriculture (Agricultura Apoiada pela Comunidade)
e representam um contrato de parceria entre consumidores e produtores (LAMINE 2008)
Na Franccedila haacute maior engajamento social dos consumidores e participaccedilatildeo em grupos de
inserccedilatildeo social quando comparados agraves experiecircncias brasileiras que ainda satildeo incipientes
Em contrapartida no Brasil as cestas individuais vecircm ganhando simpatia do consumidor
pela praticidade e pelos preccedilos m enores quando com parados aos superm ercados
mas ainda haacute pouca organizaccedilatildeo e engajam ento social do con su m idor brasileiro
no processo
121
As lojas especializadas de produtos ecoloacutegicos existem haacute vaacuterios inos na Franccedila
em cidades grandes meacutedias e pequenas contando com redes bem estabelecidas
espalhadas por todo o paiacutes com um discurso de solidariedade e pa-ceria com os
produtores como eacute o caso de Biocoop5 Segundo a Agence Bio (2014) eses dispositivos
representaram 35 do valor total das vendas com productos bio em ZD13 No Brasil
parte dos consumidores orgacircnicos (41) com plem entam suas com pns em lojas de
produtos especializados sobretudo nas capitais (KLUTH BOCCFIIJR CENSIOWSKY 2011)
Em cidades de menor porte as lojas podem estar associadas a organiza ccedilotildeesde produtores
familiares e consumidores ecoloacutegicos (p ex Ecotorres e Cooperativa deConsumidores
Ecoloacutegicos de Trecircs Cachoeiras no Rio Grande do Sul) ou funcionar com o poio do poder
puacuteblico municipal A maioria das lojas trabalha com entregas em domiciacuteio via internet
ou telefone permitindo ao consumidor escolher os produtos de uma lita de opccedilotildees
com maior comodidade e com preccedilos inferiores aos praticados pelos suparmercados
As vendas nas propriedades estatildeo bem difundidas na Franccedilasobretudo no
tocante a vinhos queijos e produtos do terroir No Brasil as vendas na propriedades
estatildeo em fase de expansatildeo e tecircm sido associadas a propriedades que fazem parte de
circuitos de turismo rural e agroecoloacutegico (Accueil paysan na Franccedila e Acohida na colocircnia
no Brasil) e satildeo mais comuns em cidades periurbanas proacuteximas agraves regiotildees netropolitanas
As lojas virtuais de produtos ecoloacutegicos ganham espaccedilo tanto na Franccedila quanto
no Brasil e com tendecircncia de crescimento para os proacuteximos anos sobretido nas regiotildees
metropolitanas todavia nem sempre representam um circuito curto conforme discutido
neste trabalho Entretanto satildeo procuradas pela facilidade de compra ccmodidade nas
entregas ao consumidor e preccedilos inferiores aos supermercados atendencb agraves exigecircncias
da vida moderna
5 PRO G RA M A S DE G O VERN O O P O R T U N ID A D E S PARA A A G RO ECO LO G IA NO BRA SIL
A com ercializaccedilatildeo de produtos agroalim entares por meio de orogramas do
governo ou m ercado institucional surgiu no Brasil em 2003 com o Program a de
Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e vem ganhando espaccedilo conforme Schimitte Grisa (2013)
O mercado institucional atende ao consumidor coletivo (instituiccedilotildees de assistecircncia social
5 Biocoop eacute uma rede francesa com 330 lojas e atores independentes militantes e engajados no desenvolvimento da agricultura orgacircnica (conhecida como bio) (wwwbiocooporg)
122
hospitais creches escolas) dentro de um circuito curto de comercializaccedilatildeo considerado
como venda direta pelo governo brasileiro Assim por meio de programas de governo
os alimentos da agricultura familiar satildeo comprados diretamente dos agricultores ou
das associaccedilotildees e cooperativas de produtores e chegam ateacute a populaccedilatildeo via entidades
de assistecircncia social do governo e escolas puacuteblicas Satildeo programas que se inserem nas
poliacuteticas puacuteblicas voltadas agrave seguranccedila alimentar e nutricional Nos uacuteltimos anos no Brasil
dois programas se destacaram na compra de produtos de base ecoloacutegica o Programa
de Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE)
Os produtos da agricultura fam iliar que apresentam certificaccedilatildeo orgacircnica
comercializados pelo PAA e PNAE recebem um precircmio de 30 em relaccedilatildeo ao similar
da agricultura convencional valorizando a qualidade nutricional e os demais aspectos
socioambientais envolvidos A garantia de compra dos produtos pelo governo estimula a
transiccedilatildeo agroecoloacutegica Ademais esses programas tecircm uma dimensatildeo social importante
pois atingem um grande puacuteblico (escolas) e trabalham com uma diversidade de produtos
seguindo a sazonalidade e as realidades locais
Para Scnimitt e Grisa (2013) existem algumas limitaccedilotildees operacionais que precisam
ser superadas na construccedilatildeo do mercado institucional no Brasil tais como atraso na
liberaccedilatildeo dos recursos problemas de acesso dos agricultores agrave documentaccedilatildeo exigida
(necessidade de desburocratizaccedilatildeo) falta de interaccedilatildeo entre diferentes instrumentos de
poliacutetica puacuteblica que poderiam dar suporte agraves accedilotildees dos programas falta de planejamento
e problemas de gestatildeo das organizaccedilotildees locais no acompanhamento das entregas e na
formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos beneficiaacuterios (nutricionistas merendeiras professoras
alunos) Triches e Schneider (2010) acrescentam ainda que um dos desafios na aquisiccedilatildeo
de alimentos da agricultura familiar para programas institucionais eacute a legalizaccedilatildeo das
agroinduacutestrias familiares com a regulaccedilatildeo da qualidade dos alimentos (sobretudo para
leite carnes e derivados)
Na Franccedila o recente Plano Nacional para a Agricultura Orgacircnica (Plan Ambition
Bio 2017) fixou objetivos ambiciosos para colocar 20 de produtos orgacircnicos na merenda
escolar e em restaurantes coletivos ateacute 2017 Esses objetivos variam de uma regiatildeo
para outra privilegiando produtos natildeo somente orgacircnicos (bio) mas tambeacutem locais
(normalmente o produto local tem maior peso) pois favorece o desenvolvimento regional
Em todo caso esse desenvolvimento segue associado a novas formas de organizaccedilatildeo
plataformas logiacutesticas redes de trabalho negociaccedilatildeo e planejamento das necessidades
de produtos entre escolas e produtores
123
Experiecircncias em outros paiacuteses europeus com alimentaccedilatildeo escolar mostram que o
poder puacuteblico tem papel decisivo em relaccedilatildeo aos mecanismos de aquisiccedilatildeo de alimentos
ao incentivo de determinados modelos de produccedilatildeo sustentaacuteveis e de sauacutede puacuteblica
O poder puacuteblico pode utilizar o seu poder de regulaccedilatildeo de decisatildeo sobre alocaccedilatildeo de
recursos e de ator-chave no abastecimento alim entar para promover mudanccedilas no
comportamento da sociedade (MORGAN SONNINO 2008)
O mercado institucional reforccedila outras iniciativas de comercializaccedilatildeo em circuitos
curtos fortalece as redes de organizaccedilotildees sociais e potencializa o diaacutelogo entre os atores
envolvidos com a agroecologia Tal situaccedilatildeo traz perspectivas otimistas para estimular
a produccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos e saudaacuteveis contribuir no sentido de potencializar
processos de transiccedilatildeo agroecoloacutegica e promoccedilatildeo da agroecologia bem como respeitar
os modos de vida das populaccedilotildees tradicionais fortalecer a cultura alimentar regional e
promover a valorizaccedilatildeo da sociobiodiversidade
6 C IR C U IT O S DE C IR C U LA Ccedil Atilde O E C O M E R C IA LIZA Ccedil Atilde O EM REDE
Uma experiecircncia pioneira vem sendo desenvolvida pelo circuito de circulaccedilatildeo
e com ercializaccedilatildeo da Rede Ecovida de Agroecologia no sul do Brasil Os princiacutepios
se g u id o s pela rede satildeo os produtos co m ercia lizad o s pelo circu ito tecircm de ser
agroecoloacutegicos com selo de certificaccedilatildeo participativa da Rede Ecovida a organizaccedilatildeo
ou grupo de agricultores para participar do circuito deve fazer parte da rede quem
vend e deve tam beacutem com prar produtos dos dem ais produtores (intercacircm bio e
circulaccedilatildeo de produtos) (MAGNANTI 2008)
Esse sistema tem permitido a troca e circulaccedilatildeo de produtos entre as regiotildees aleacutem
de atender agrave diversidade manter uma regularidade e a qualidade bioloacutegica dos produtos
visto que se trabalha exclusivamente com produtos certificados de forma participativa
A discussatildeo de circuitos curtos nesse sentido se daacute natildeo pela distacircncia fiacutesica e nuacutemero de
intermediaacuterios mas pela dimensatildeo social e poliacutetica estabelecida pelo sistema participativo
de garantia e pela organizaccedilatildeo do movimento social
Em torno de 50 itens satildeo ofertados pelo circuito divididos entre hortaliccedilas (100)
frutas (80) gratildeos (80) farinhas (70) accediluacutecar (50) e processados (20)(REDE
ECOVIDA 2014) Os produtos tecircm circulado principalmente em feiras agroecoloacutegicas
em Programas de Governo como o PAA e PNAE pequenos comeacutercios e distribuidores e
grupos de trocas de alimentos (autoconsumo) garantindo tambeacutem a autonomia alimentar
dos agricultores da rede
124
Os desafios para esse tipo de com ercializaccedilatildeo segundo Perez-Cassarino
(2013) satildeo a padronizaccedilatildeo de documentos para comercializaccedilatildeo entre os estados
a padronizaccedilatildeo de embalagens prioritariamente ecoloacutegicas a padronizaccedilatildeo de produtos
entre os nuacutecleos investim ento em recursos hum anos para operacionalizaccedilatildeo do
processo de comercializaccedilatildeo melhoria e investimentos em logiacutestica e um planejamento
de produccedilatildeo para atender a uma dem anda em expansatildeo destacadam ente para
alimentaccedilatildeo escolar
7 C A R A C T E R IacuteST IC A S E O R G A N IZA Ccedil Atilde O DAS PR O PR IED A D ES EM C IR C U ITO S CU RTO S
Tanto no Brasil como na Franccedila as experiecircncias estudadas que comercializam em
circuitos curtos satildeo majoritariamente provenientes da agricultura familiar com destaque
para a categoria de agricultores neorurais que se desenvolvem em aacutereas pequenas (em
meacutedia menor que 20 hectares no total) quando comparadas agravequelas em circuitos longos
Um dos pilares de sustentaccedilatildeo eacute a matildeo de obra familiar que tem uma carga de trabalho
intensa e deve aliar diferentes competecircncias (produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo)
no intuito de diminuir custos e agregar valor ao produto
Na Franccedila a maior parte das propriedades estudadas que vendem em circuitos
curtos eacute especializada em um determinado sistema de produccedilatildeo (fruticultura olericultura
leite ovos queijo) estando de acordo com Mundler (2008) No Brasil as propriedades
orgacircnicas estudadas mostraram-se mais diversificadas contando com sistemas vegetais
e anim ais mais com plexos Se por um lado isso eacute desejado porque atende aos
princiacutepios agroecoloacutegicos por outro torna o planejamento produtivo mais complexo
Nos dois paiacuteses a gama de produtos eacute em geral mais diversificada quando comparada
agrave agricultura convencional mesmo quando as propriedades satildeo especializadas em
determinados sistemas Observou-se ainda uma tendecircncia agrave diversificaccedilatildeo em serviccedilos
com a pluriatividade da propriedade (agroturismo gastronomia lazer e descoberta
alojamentos e propriedades pedagoacutegicas) conforme jaacute apontaram Schneider (2005)
Mundler Guermonprez Pluvinage (2007)
Outra caracteriacutestica a destacar em circuitos curtos eacute a maior autonomia do agricultor
em relaccedilatildeo aos circuitos longos No Brasil os agricultores que trabalham integrados com
empresas para vendas em supermercados tecircm menor autonomia na gestatildeo sendo o
planejamento de produccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo realizados pelas empresas Segundo Darolt
125
(2012) o sistema de produccedilatildeo eacute simplificado e especializado em um ou dois produtos
Eacute com um nesses casos uma repeticcedilatildeo da loacutegica comercial e industrial utilizada em
sistemas convencionais para produccedilatildeo em escala
A figura 2 resume as diferentes caracteriacutesticas observadas nas propriedades
que comercializam em circuitos curtos Segundo Mundler (2008) a combinaccedilatildeo entre
agricultura ecoloacutegica e circuitos curtos tem impactos positivos em diferentes dimensotildees
como na economia local trazendo oportunidades de trabalho e de renda na dimensatildeo
social com a aproximaccedilatildeo de produtores e consumidores na dimensatildeo ambiental com
a valorizaccedilatildeo dos recursos naturais e da paisagem e na dimensatildeo poliacutetica como uma
nova opccedilatildeo de consumo
FIGURA 2 - CARACTERIacuteSTICAS COMUNS OBSERVADAS EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS (BRASIL E FRANCcedilA)
A organizaccedilatildeo do trabalho observada nas experiecircncias se mostrou mais ou menos
complexa em funccedilatildeo dos recursos humanos e econocircmicos disponiacuteveis na propriedade
Em propriedades familiares de pequeno porte concordando com Dedieu et a i (1999)
eacute fundam ental agregar valor ao produto (com a transformaccedilatildeo) vender sempre que
possiacutevel de forma direta e potencializar os serviccedilos na propriedade (turismo e acolhida
do consumidor na propriedade por exemplo)
A forma de comercializaccedilatildeo mais adequada a cada tipo de produtor pode variar
em funccedilatildeo da matildeo de obra da organizaccedilatildeo do sistema de produccedilatildeo e da infraestrutura
disponiacutevel Observamos que na maioria dos canais estudados as praacuteticas agriacutecolas
utilizadas os volumes de produccedilatildeo os tipos de produtos e a organizaccedilatildeo do trabalho
se adaptam para responder agraves demandas dos consumidores Assim concordando com
M undler et a i (2007) notamos que a loacutegica de desenvolvimento em circuitos curtos
126
vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste
entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em
circuitos curtos quando comparado a um circuito longo
8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O
Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo
ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que
isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo
semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao
consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis
Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental
pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte
Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na
comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam
que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com
o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e
menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento
em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo
satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta
e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores
brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando
o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a
agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia
e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel
127
TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO
ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES
Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)
bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod
Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo
bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)
FONTE Elaborado pelos autores
Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades
para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto
a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo
saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes
alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas
rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar
que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos
consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento
das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de
regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial
e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica
128
9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O
Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos
ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais
circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar
dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo
De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo
imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona
o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e
tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma
o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar
soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes
contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de
desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-
produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais
Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito
agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo
e consumo
O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem
as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo
ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos
agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da
paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)
Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas
puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais
organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de
distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa
como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas
de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores
(AMAPs) na Franccedila
O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser
superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as
poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas
129
como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade
na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de
infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente
com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em
circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave
alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo
de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo
distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas
especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na
fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica
Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara
do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como
as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem
de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas
singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores
procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos
valores e resgate da autonomia dos agricultores
Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas
envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o
consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados
locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-
distribuiccedilatildeo-consumo
130
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TABELA 1 - ANAacuteLISE COMPARATIVA DO NIacuteVEL DE DESENVOLVIMENTO DE CIRCUITOS CURTOS DECOMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS NA FRANCcedilA E BRASIL
TIPOS DE CIRCUITOS ALTERNATIVOS FRANCcedilA BRASILFeira de produtores (orgacircnicosagroecoloacutegicos)
Pontos de Venda Coletiva (PVC) -AMAP (Associaccedilatildeo de Consumidores) -Cestas entregues em domiciacutelio
Lojas de produtos orgacircnicos independentes
Lojas de cooperativas de produtores e consumidores
Rede de comercializaccedilatildeo (Certificaccedilatildeo Participativa) -
Venda na propriedade
Acolhida na propriedade (gastronomia lazer esporte alojamento propriedade pedagoacutegica)
Programas de governo (alimentaccedilatildeo escolar populaccedilatildeo em risco alimentar)
Restaurantes coletivos puacuteblico ou privado restaurantes tradicionais
Lojas virtuais (site internet de produtos ecoloacutegicos)
FONTE elaborado pelos autoresNOTA - ausente ou raro pouco desenvolvido medianamente desenvolvido muito
desenvolvido (niacutevel de desenvolvimento)
As feiras do produtor satildeo os mecanismos de comercializaccedilatildeo mais difundidos no
Brasil e a principal porta de entrada de agricultores ecoloacutegicos para o mercado local
As feiras satildeo espaccedilos educativos e de lazer que permitem grande interaccedilatildeo entre
produtores e consumidores possibilitando maior autonomia aos agricultores Pesquisa
do IDEC (2012) identificou 140 feiras orgacircnicas em 22 das 27 capitais brasileiras
O estudo aponta que nas regiotildees onde a agricultura familiar eacute forte (Sul e Nordeste
p ex) as vendas em feiras satildeo mais pronunciadas No caso da Franccedila observamos que
as feiras (marcheacutes paysans) satildeo mais sazonais (com maior expressatildeo no veratildeo) sendo
menos preferidas pelos produtores do que as lojas especializadas independentes e lojas
coletivas de produtores (PVC) que funcionam o ano todo sobretudo em funccedilatildeo das
dificuldades clim aacuteticas deslocam entos frequentes horaacuterios predefinidos e do tempo
que a feira leva para se consolidar As feiras tradicionais (marcheacutes forains classiques)
satildeo muito populares entre os consumidores e misturam produtores convencionais (com
produtos coloniais artesanais natildeo certificados) e orgacircnicos certificados (bio) Nessas feiras
tradicionais os produtores bio satildeo minoria Nos dois paiacuteses as feiras totalmente orgacircnicas
tecircm tido maior expressatildeo nas m eacutedias e grandes cidades De acordo com Chiffoleau
(2008) a consolidaccedilatildeo das feiras de produtores se daacute basicamente em quatro etapas a
saber 1) criaccedilatildeo no iniacutecio muitos consumidores aparecem para conhecer a novidade e
impulsionam o mercado 2) queda (depois de dois a trecircs anos) apoacutes a novidade alguns
120
clientes deixam de frequentar a feira acom panhado por agricultores 3) recuperaccedilatildeo
(pelo 39 e 45 anos) os clientes mais fieacuteis acabam por fazer uma divulgaccedilatildeo boca-a-boca
e ocorre uma retomada do crescimento e 4) estabilizaccedilatildeo (apoacutes cinco anos) apoacutes esse
periacuteodo ocorre uma estabilizaccedilatildeo do nuacutemero de produtores e do nuacutemero de clientes fieacuteis
O mesmo fenocircmeno tem sido verificado no Brasil (DAROLT 2012)
Na Franccedila sobretudo na regiatildeo Rhocircne Alpes estaacute bem difundida a venda em
Pontos de Venda Coletiva (PVC - Points de Vente Collectifs) surgido no final dos anos de
1970 e que conta com 56 lojas tendo no iniacutecio uma forte participaccedilatildeo de agricultores
neorurais (Lamine 2012) Os PVC satildeo pequenas lojas mantidas e adm inistradas pelos
proacuteprios agricultores que vendem produtos de uma determ inada regiatildeo (ateacute 100 km
em meacutedia) com caracteriacutesticas e tradiccedilotildees com uns (produtos do terroir) O objetivo
dessas lojas coletivas eacute melhorar as condiccedilotildees de trabalho do agricultor d im inuir o
tempo gasto na comercializaccedilatildeo e oferecer aos consumidores diversidade regularidade e
qualidade de produtos tiacutepicos da regiatildeo Os PVC demandam dos agricultores aquisiccedilatildeo de
novas competecircncias (transformaccedilatildeo de produtos adoccedilatildeo de princiacutepios de agroecologia)
e readequaccedilatildeo do trabalho na propriedade para atender agraves demandas das lojas (novos
produtos relaccedilatildeo social com os clientes) Sempre eacute possiacutevel encontrar agricultores na
loja (cada produtor deve ficar na loja um meio-dia por sem ana o que permite que o
consumidor encontre sempre um produtor na loja) e todo marketing eacute direcionado no
sentido de valorizar os produtores e a regiatildeo
Outra modalidade bem estabelecida na Franccedila e em fase de crescim ento no
Brasil (por meio de cooperativas de consum idores e grupos de com pras coletivas)
satildeo as cestas diversificadas para grupos organizados de consum idores Na Franccedila as
chamadas AM APs -Associations pourle Maintien dune Agriculture Paysanne (Associaccedilatildeo
para M anutenccedilatildeo de uma Agricultura Cam ponesa) surgiram a partir dos anos 2000
inspiradas nas Community Supported Agriculture (Agricultura Apoiada pela Comunidade)
e representam um contrato de parceria entre consumidores e produtores (LAMINE 2008)
Na Franccedila haacute maior engajamento social dos consumidores e participaccedilatildeo em grupos de
inserccedilatildeo social quando comparados agraves experiecircncias brasileiras que ainda satildeo incipientes
Em contrapartida no Brasil as cestas individuais vecircm ganhando simpatia do consumidor
pela praticidade e pelos preccedilos m enores quando com parados aos superm ercados
mas ainda haacute pouca organizaccedilatildeo e engajam ento social do con su m idor brasileiro
no processo
121
As lojas especializadas de produtos ecoloacutegicos existem haacute vaacuterios inos na Franccedila
em cidades grandes meacutedias e pequenas contando com redes bem estabelecidas
espalhadas por todo o paiacutes com um discurso de solidariedade e pa-ceria com os
produtores como eacute o caso de Biocoop5 Segundo a Agence Bio (2014) eses dispositivos
representaram 35 do valor total das vendas com productos bio em ZD13 No Brasil
parte dos consumidores orgacircnicos (41) com plem entam suas com pns em lojas de
produtos especializados sobretudo nas capitais (KLUTH BOCCFIIJR CENSIOWSKY 2011)
Em cidades de menor porte as lojas podem estar associadas a organiza ccedilotildeesde produtores
familiares e consumidores ecoloacutegicos (p ex Ecotorres e Cooperativa deConsumidores
Ecoloacutegicos de Trecircs Cachoeiras no Rio Grande do Sul) ou funcionar com o poio do poder
puacuteblico municipal A maioria das lojas trabalha com entregas em domiciacuteio via internet
ou telefone permitindo ao consumidor escolher os produtos de uma lita de opccedilotildees
com maior comodidade e com preccedilos inferiores aos praticados pelos suparmercados
As vendas nas propriedades estatildeo bem difundidas na Franccedilasobretudo no
tocante a vinhos queijos e produtos do terroir No Brasil as vendas na propriedades
estatildeo em fase de expansatildeo e tecircm sido associadas a propriedades que fazem parte de
circuitos de turismo rural e agroecoloacutegico (Accueil paysan na Franccedila e Acohida na colocircnia
no Brasil) e satildeo mais comuns em cidades periurbanas proacuteximas agraves regiotildees netropolitanas
As lojas virtuais de produtos ecoloacutegicos ganham espaccedilo tanto na Franccedila quanto
no Brasil e com tendecircncia de crescimento para os proacuteximos anos sobretido nas regiotildees
metropolitanas todavia nem sempre representam um circuito curto conforme discutido
neste trabalho Entretanto satildeo procuradas pela facilidade de compra ccmodidade nas
entregas ao consumidor e preccedilos inferiores aos supermercados atendencb agraves exigecircncias
da vida moderna
5 PRO G RA M A S DE G O VERN O O P O R T U N ID A D E S PARA A A G RO ECO LO G IA NO BRA SIL
A com ercializaccedilatildeo de produtos agroalim entares por meio de orogramas do
governo ou m ercado institucional surgiu no Brasil em 2003 com o Program a de
Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e vem ganhando espaccedilo conforme Schimitte Grisa (2013)
O mercado institucional atende ao consumidor coletivo (instituiccedilotildees de assistecircncia social
5 Biocoop eacute uma rede francesa com 330 lojas e atores independentes militantes e engajados no desenvolvimento da agricultura orgacircnica (conhecida como bio) (wwwbiocooporg)
122
hospitais creches escolas) dentro de um circuito curto de comercializaccedilatildeo considerado
como venda direta pelo governo brasileiro Assim por meio de programas de governo
os alimentos da agricultura familiar satildeo comprados diretamente dos agricultores ou
das associaccedilotildees e cooperativas de produtores e chegam ateacute a populaccedilatildeo via entidades
de assistecircncia social do governo e escolas puacuteblicas Satildeo programas que se inserem nas
poliacuteticas puacuteblicas voltadas agrave seguranccedila alimentar e nutricional Nos uacuteltimos anos no Brasil
dois programas se destacaram na compra de produtos de base ecoloacutegica o Programa
de Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE)
Os produtos da agricultura fam iliar que apresentam certificaccedilatildeo orgacircnica
comercializados pelo PAA e PNAE recebem um precircmio de 30 em relaccedilatildeo ao similar
da agricultura convencional valorizando a qualidade nutricional e os demais aspectos
socioambientais envolvidos A garantia de compra dos produtos pelo governo estimula a
transiccedilatildeo agroecoloacutegica Ademais esses programas tecircm uma dimensatildeo social importante
pois atingem um grande puacuteblico (escolas) e trabalham com uma diversidade de produtos
seguindo a sazonalidade e as realidades locais
Para Scnimitt e Grisa (2013) existem algumas limitaccedilotildees operacionais que precisam
ser superadas na construccedilatildeo do mercado institucional no Brasil tais como atraso na
liberaccedilatildeo dos recursos problemas de acesso dos agricultores agrave documentaccedilatildeo exigida
(necessidade de desburocratizaccedilatildeo) falta de interaccedilatildeo entre diferentes instrumentos de
poliacutetica puacuteblica que poderiam dar suporte agraves accedilotildees dos programas falta de planejamento
e problemas de gestatildeo das organizaccedilotildees locais no acompanhamento das entregas e na
formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos beneficiaacuterios (nutricionistas merendeiras professoras
alunos) Triches e Schneider (2010) acrescentam ainda que um dos desafios na aquisiccedilatildeo
de alimentos da agricultura familiar para programas institucionais eacute a legalizaccedilatildeo das
agroinduacutestrias familiares com a regulaccedilatildeo da qualidade dos alimentos (sobretudo para
leite carnes e derivados)
Na Franccedila o recente Plano Nacional para a Agricultura Orgacircnica (Plan Ambition
Bio 2017) fixou objetivos ambiciosos para colocar 20 de produtos orgacircnicos na merenda
escolar e em restaurantes coletivos ateacute 2017 Esses objetivos variam de uma regiatildeo
para outra privilegiando produtos natildeo somente orgacircnicos (bio) mas tambeacutem locais
(normalmente o produto local tem maior peso) pois favorece o desenvolvimento regional
Em todo caso esse desenvolvimento segue associado a novas formas de organizaccedilatildeo
plataformas logiacutesticas redes de trabalho negociaccedilatildeo e planejamento das necessidades
de produtos entre escolas e produtores
123
Experiecircncias em outros paiacuteses europeus com alimentaccedilatildeo escolar mostram que o
poder puacuteblico tem papel decisivo em relaccedilatildeo aos mecanismos de aquisiccedilatildeo de alimentos
ao incentivo de determinados modelos de produccedilatildeo sustentaacuteveis e de sauacutede puacuteblica
O poder puacuteblico pode utilizar o seu poder de regulaccedilatildeo de decisatildeo sobre alocaccedilatildeo de
recursos e de ator-chave no abastecimento alim entar para promover mudanccedilas no
comportamento da sociedade (MORGAN SONNINO 2008)
O mercado institucional reforccedila outras iniciativas de comercializaccedilatildeo em circuitos
curtos fortalece as redes de organizaccedilotildees sociais e potencializa o diaacutelogo entre os atores
envolvidos com a agroecologia Tal situaccedilatildeo traz perspectivas otimistas para estimular
a produccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos e saudaacuteveis contribuir no sentido de potencializar
processos de transiccedilatildeo agroecoloacutegica e promoccedilatildeo da agroecologia bem como respeitar
os modos de vida das populaccedilotildees tradicionais fortalecer a cultura alimentar regional e
promover a valorizaccedilatildeo da sociobiodiversidade
6 C IR C U IT O S DE C IR C U LA Ccedil Atilde O E C O M E R C IA LIZA Ccedil Atilde O EM REDE
Uma experiecircncia pioneira vem sendo desenvolvida pelo circuito de circulaccedilatildeo
e com ercializaccedilatildeo da Rede Ecovida de Agroecologia no sul do Brasil Os princiacutepios
se g u id o s pela rede satildeo os produtos co m ercia lizad o s pelo circu ito tecircm de ser
agroecoloacutegicos com selo de certificaccedilatildeo participativa da Rede Ecovida a organizaccedilatildeo
ou grupo de agricultores para participar do circuito deve fazer parte da rede quem
vend e deve tam beacutem com prar produtos dos dem ais produtores (intercacircm bio e
circulaccedilatildeo de produtos) (MAGNANTI 2008)
Esse sistema tem permitido a troca e circulaccedilatildeo de produtos entre as regiotildees aleacutem
de atender agrave diversidade manter uma regularidade e a qualidade bioloacutegica dos produtos
visto que se trabalha exclusivamente com produtos certificados de forma participativa
A discussatildeo de circuitos curtos nesse sentido se daacute natildeo pela distacircncia fiacutesica e nuacutemero de
intermediaacuterios mas pela dimensatildeo social e poliacutetica estabelecida pelo sistema participativo
de garantia e pela organizaccedilatildeo do movimento social
Em torno de 50 itens satildeo ofertados pelo circuito divididos entre hortaliccedilas (100)
frutas (80) gratildeos (80) farinhas (70) accediluacutecar (50) e processados (20)(REDE
ECOVIDA 2014) Os produtos tecircm circulado principalmente em feiras agroecoloacutegicas
em Programas de Governo como o PAA e PNAE pequenos comeacutercios e distribuidores e
grupos de trocas de alimentos (autoconsumo) garantindo tambeacutem a autonomia alimentar
dos agricultores da rede
124
Os desafios para esse tipo de com ercializaccedilatildeo segundo Perez-Cassarino
(2013) satildeo a padronizaccedilatildeo de documentos para comercializaccedilatildeo entre os estados
a padronizaccedilatildeo de embalagens prioritariamente ecoloacutegicas a padronizaccedilatildeo de produtos
entre os nuacutecleos investim ento em recursos hum anos para operacionalizaccedilatildeo do
processo de comercializaccedilatildeo melhoria e investimentos em logiacutestica e um planejamento
de produccedilatildeo para atender a uma dem anda em expansatildeo destacadam ente para
alimentaccedilatildeo escolar
7 C A R A C T E R IacuteST IC A S E O R G A N IZA Ccedil Atilde O DAS PR O PR IED A D ES EM C IR C U ITO S CU RTO S
Tanto no Brasil como na Franccedila as experiecircncias estudadas que comercializam em
circuitos curtos satildeo majoritariamente provenientes da agricultura familiar com destaque
para a categoria de agricultores neorurais que se desenvolvem em aacutereas pequenas (em
meacutedia menor que 20 hectares no total) quando comparadas agravequelas em circuitos longos
Um dos pilares de sustentaccedilatildeo eacute a matildeo de obra familiar que tem uma carga de trabalho
intensa e deve aliar diferentes competecircncias (produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo)
no intuito de diminuir custos e agregar valor ao produto
Na Franccedila a maior parte das propriedades estudadas que vendem em circuitos
curtos eacute especializada em um determinado sistema de produccedilatildeo (fruticultura olericultura
leite ovos queijo) estando de acordo com Mundler (2008) No Brasil as propriedades
orgacircnicas estudadas mostraram-se mais diversificadas contando com sistemas vegetais
e anim ais mais com plexos Se por um lado isso eacute desejado porque atende aos
princiacutepios agroecoloacutegicos por outro torna o planejamento produtivo mais complexo
Nos dois paiacuteses a gama de produtos eacute em geral mais diversificada quando comparada
agrave agricultura convencional mesmo quando as propriedades satildeo especializadas em
determinados sistemas Observou-se ainda uma tendecircncia agrave diversificaccedilatildeo em serviccedilos
com a pluriatividade da propriedade (agroturismo gastronomia lazer e descoberta
alojamentos e propriedades pedagoacutegicas) conforme jaacute apontaram Schneider (2005)
Mundler Guermonprez Pluvinage (2007)
Outra caracteriacutestica a destacar em circuitos curtos eacute a maior autonomia do agricultor
em relaccedilatildeo aos circuitos longos No Brasil os agricultores que trabalham integrados com
empresas para vendas em supermercados tecircm menor autonomia na gestatildeo sendo o
planejamento de produccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo realizados pelas empresas Segundo Darolt
125
(2012) o sistema de produccedilatildeo eacute simplificado e especializado em um ou dois produtos
Eacute com um nesses casos uma repeticcedilatildeo da loacutegica comercial e industrial utilizada em
sistemas convencionais para produccedilatildeo em escala
A figura 2 resume as diferentes caracteriacutesticas observadas nas propriedades
que comercializam em circuitos curtos Segundo Mundler (2008) a combinaccedilatildeo entre
agricultura ecoloacutegica e circuitos curtos tem impactos positivos em diferentes dimensotildees
como na economia local trazendo oportunidades de trabalho e de renda na dimensatildeo
social com a aproximaccedilatildeo de produtores e consumidores na dimensatildeo ambiental com
a valorizaccedilatildeo dos recursos naturais e da paisagem e na dimensatildeo poliacutetica como uma
nova opccedilatildeo de consumo
FIGURA 2 - CARACTERIacuteSTICAS COMUNS OBSERVADAS EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS (BRASIL E FRANCcedilA)
A organizaccedilatildeo do trabalho observada nas experiecircncias se mostrou mais ou menos
complexa em funccedilatildeo dos recursos humanos e econocircmicos disponiacuteveis na propriedade
Em propriedades familiares de pequeno porte concordando com Dedieu et a i (1999)
eacute fundam ental agregar valor ao produto (com a transformaccedilatildeo) vender sempre que
possiacutevel de forma direta e potencializar os serviccedilos na propriedade (turismo e acolhida
do consumidor na propriedade por exemplo)
A forma de comercializaccedilatildeo mais adequada a cada tipo de produtor pode variar
em funccedilatildeo da matildeo de obra da organizaccedilatildeo do sistema de produccedilatildeo e da infraestrutura
disponiacutevel Observamos que na maioria dos canais estudados as praacuteticas agriacutecolas
utilizadas os volumes de produccedilatildeo os tipos de produtos e a organizaccedilatildeo do trabalho
se adaptam para responder agraves demandas dos consumidores Assim concordando com
M undler et a i (2007) notamos que a loacutegica de desenvolvimento em circuitos curtos
126
vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste
entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em
circuitos curtos quando comparado a um circuito longo
8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O
Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo
ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que
isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo
semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao
consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis
Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental
pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte
Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na
comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam
que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com
o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e
menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento
em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo
satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta
e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores
brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando
o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a
agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia
e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel
127
TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO
ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES
Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)
bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod
Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo
bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)
FONTE Elaborado pelos autores
Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades
para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto
a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo
saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes
alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas
rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar
que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos
consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento
das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de
regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial
e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica
128
9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O
Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos
ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais
circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar
dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo
De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo
imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona
o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e
tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma
o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar
soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes
contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de
desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-
produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais
Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito
agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo
e consumo
O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem
as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo
ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos
agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da
paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)
Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas
puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais
organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de
distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa
como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas
de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores
(AMAPs) na Franccedila
O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser
superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as
poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas
129
como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade
na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de
infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente
com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em
circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave
alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo
de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo
distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas
especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na
fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica
Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara
do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como
as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem
de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas
singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores
procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos
valores e resgate da autonomia dos agricultores
Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas
envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o
consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados
locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-
distribuiccedilatildeo-consumo
130
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clientes deixam de frequentar a feira acom panhado por agricultores 3) recuperaccedilatildeo
(pelo 39 e 45 anos) os clientes mais fieacuteis acabam por fazer uma divulgaccedilatildeo boca-a-boca
e ocorre uma retomada do crescimento e 4) estabilizaccedilatildeo (apoacutes cinco anos) apoacutes esse
periacuteodo ocorre uma estabilizaccedilatildeo do nuacutemero de produtores e do nuacutemero de clientes fieacuteis
O mesmo fenocircmeno tem sido verificado no Brasil (DAROLT 2012)
Na Franccedila sobretudo na regiatildeo Rhocircne Alpes estaacute bem difundida a venda em
Pontos de Venda Coletiva (PVC - Points de Vente Collectifs) surgido no final dos anos de
1970 e que conta com 56 lojas tendo no iniacutecio uma forte participaccedilatildeo de agricultores
neorurais (Lamine 2012) Os PVC satildeo pequenas lojas mantidas e adm inistradas pelos
proacuteprios agricultores que vendem produtos de uma determ inada regiatildeo (ateacute 100 km
em meacutedia) com caracteriacutesticas e tradiccedilotildees com uns (produtos do terroir) O objetivo
dessas lojas coletivas eacute melhorar as condiccedilotildees de trabalho do agricultor d im inuir o
tempo gasto na comercializaccedilatildeo e oferecer aos consumidores diversidade regularidade e
qualidade de produtos tiacutepicos da regiatildeo Os PVC demandam dos agricultores aquisiccedilatildeo de
novas competecircncias (transformaccedilatildeo de produtos adoccedilatildeo de princiacutepios de agroecologia)
e readequaccedilatildeo do trabalho na propriedade para atender agraves demandas das lojas (novos
produtos relaccedilatildeo social com os clientes) Sempre eacute possiacutevel encontrar agricultores na
loja (cada produtor deve ficar na loja um meio-dia por sem ana o que permite que o
consumidor encontre sempre um produtor na loja) e todo marketing eacute direcionado no
sentido de valorizar os produtores e a regiatildeo
Outra modalidade bem estabelecida na Franccedila e em fase de crescim ento no
Brasil (por meio de cooperativas de consum idores e grupos de com pras coletivas)
satildeo as cestas diversificadas para grupos organizados de consum idores Na Franccedila as
chamadas AM APs -Associations pourle Maintien dune Agriculture Paysanne (Associaccedilatildeo
para M anutenccedilatildeo de uma Agricultura Cam ponesa) surgiram a partir dos anos 2000
inspiradas nas Community Supported Agriculture (Agricultura Apoiada pela Comunidade)
e representam um contrato de parceria entre consumidores e produtores (LAMINE 2008)
Na Franccedila haacute maior engajamento social dos consumidores e participaccedilatildeo em grupos de
inserccedilatildeo social quando comparados agraves experiecircncias brasileiras que ainda satildeo incipientes
Em contrapartida no Brasil as cestas individuais vecircm ganhando simpatia do consumidor
pela praticidade e pelos preccedilos m enores quando com parados aos superm ercados
mas ainda haacute pouca organizaccedilatildeo e engajam ento social do con su m idor brasileiro
no processo
121
As lojas especializadas de produtos ecoloacutegicos existem haacute vaacuterios inos na Franccedila
em cidades grandes meacutedias e pequenas contando com redes bem estabelecidas
espalhadas por todo o paiacutes com um discurso de solidariedade e pa-ceria com os
produtores como eacute o caso de Biocoop5 Segundo a Agence Bio (2014) eses dispositivos
representaram 35 do valor total das vendas com productos bio em ZD13 No Brasil
parte dos consumidores orgacircnicos (41) com plem entam suas com pns em lojas de
produtos especializados sobretudo nas capitais (KLUTH BOCCFIIJR CENSIOWSKY 2011)
Em cidades de menor porte as lojas podem estar associadas a organiza ccedilotildeesde produtores
familiares e consumidores ecoloacutegicos (p ex Ecotorres e Cooperativa deConsumidores
Ecoloacutegicos de Trecircs Cachoeiras no Rio Grande do Sul) ou funcionar com o poio do poder
puacuteblico municipal A maioria das lojas trabalha com entregas em domiciacuteio via internet
ou telefone permitindo ao consumidor escolher os produtos de uma lita de opccedilotildees
com maior comodidade e com preccedilos inferiores aos praticados pelos suparmercados
As vendas nas propriedades estatildeo bem difundidas na Franccedilasobretudo no
tocante a vinhos queijos e produtos do terroir No Brasil as vendas na propriedades
estatildeo em fase de expansatildeo e tecircm sido associadas a propriedades que fazem parte de
circuitos de turismo rural e agroecoloacutegico (Accueil paysan na Franccedila e Acohida na colocircnia
no Brasil) e satildeo mais comuns em cidades periurbanas proacuteximas agraves regiotildees netropolitanas
As lojas virtuais de produtos ecoloacutegicos ganham espaccedilo tanto na Franccedila quanto
no Brasil e com tendecircncia de crescimento para os proacuteximos anos sobretido nas regiotildees
metropolitanas todavia nem sempre representam um circuito curto conforme discutido
neste trabalho Entretanto satildeo procuradas pela facilidade de compra ccmodidade nas
entregas ao consumidor e preccedilos inferiores aos supermercados atendencb agraves exigecircncias
da vida moderna
5 PRO G RA M A S DE G O VERN O O P O R T U N ID A D E S PARA A A G RO ECO LO G IA NO BRA SIL
A com ercializaccedilatildeo de produtos agroalim entares por meio de orogramas do
governo ou m ercado institucional surgiu no Brasil em 2003 com o Program a de
Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e vem ganhando espaccedilo conforme Schimitte Grisa (2013)
O mercado institucional atende ao consumidor coletivo (instituiccedilotildees de assistecircncia social
5 Biocoop eacute uma rede francesa com 330 lojas e atores independentes militantes e engajados no desenvolvimento da agricultura orgacircnica (conhecida como bio) (wwwbiocooporg)
122
hospitais creches escolas) dentro de um circuito curto de comercializaccedilatildeo considerado
como venda direta pelo governo brasileiro Assim por meio de programas de governo
os alimentos da agricultura familiar satildeo comprados diretamente dos agricultores ou
das associaccedilotildees e cooperativas de produtores e chegam ateacute a populaccedilatildeo via entidades
de assistecircncia social do governo e escolas puacuteblicas Satildeo programas que se inserem nas
poliacuteticas puacuteblicas voltadas agrave seguranccedila alimentar e nutricional Nos uacuteltimos anos no Brasil
dois programas se destacaram na compra de produtos de base ecoloacutegica o Programa
de Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE)
Os produtos da agricultura fam iliar que apresentam certificaccedilatildeo orgacircnica
comercializados pelo PAA e PNAE recebem um precircmio de 30 em relaccedilatildeo ao similar
da agricultura convencional valorizando a qualidade nutricional e os demais aspectos
socioambientais envolvidos A garantia de compra dos produtos pelo governo estimula a
transiccedilatildeo agroecoloacutegica Ademais esses programas tecircm uma dimensatildeo social importante
pois atingem um grande puacuteblico (escolas) e trabalham com uma diversidade de produtos
seguindo a sazonalidade e as realidades locais
Para Scnimitt e Grisa (2013) existem algumas limitaccedilotildees operacionais que precisam
ser superadas na construccedilatildeo do mercado institucional no Brasil tais como atraso na
liberaccedilatildeo dos recursos problemas de acesso dos agricultores agrave documentaccedilatildeo exigida
(necessidade de desburocratizaccedilatildeo) falta de interaccedilatildeo entre diferentes instrumentos de
poliacutetica puacuteblica que poderiam dar suporte agraves accedilotildees dos programas falta de planejamento
e problemas de gestatildeo das organizaccedilotildees locais no acompanhamento das entregas e na
formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos beneficiaacuterios (nutricionistas merendeiras professoras
alunos) Triches e Schneider (2010) acrescentam ainda que um dos desafios na aquisiccedilatildeo
de alimentos da agricultura familiar para programas institucionais eacute a legalizaccedilatildeo das
agroinduacutestrias familiares com a regulaccedilatildeo da qualidade dos alimentos (sobretudo para
leite carnes e derivados)
Na Franccedila o recente Plano Nacional para a Agricultura Orgacircnica (Plan Ambition
Bio 2017) fixou objetivos ambiciosos para colocar 20 de produtos orgacircnicos na merenda
escolar e em restaurantes coletivos ateacute 2017 Esses objetivos variam de uma regiatildeo
para outra privilegiando produtos natildeo somente orgacircnicos (bio) mas tambeacutem locais
(normalmente o produto local tem maior peso) pois favorece o desenvolvimento regional
Em todo caso esse desenvolvimento segue associado a novas formas de organizaccedilatildeo
plataformas logiacutesticas redes de trabalho negociaccedilatildeo e planejamento das necessidades
de produtos entre escolas e produtores
123
Experiecircncias em outros paiacuteses europeus com alimentaccedilatildeo escolar mostram que o
poder puacuteblico tem papel decisivo em relaccedilatildeo aos mecanismos de aquisiccedilatildeo de alimentos
ao incentivo de determinados modelos de produccedilatildeo sustentaacuteveis e de sauacutede puacuteblica
O poder puacuteblico pode utilizar o seu poder de regulaccedilatildeo de decisatildeo sobre alocaccedilatildeo de
recursos e de ator-chave no abastecimento alim entar para promover mudanccedilas no
comportamento da sociedade (MORGAN SONNINO 2008)
O mercado institucional reforccedila outras iniciativas de comercializaccedilatildeo em circuitos
curtos fortalece as redes de organizaccedilotildees sociais e potencializa o diaacutelogo entre os atores
envolvidos com a agroecologia Tal situaccedilatildeo traz perspectivas otimistas para estimular
a produccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos e saudaacuteveis contribuir no sentido de potencializar
processos de transiccedilatildeo agroecoloacutegica e promoccedilatildeo da agroecologia bem como respeitar
os modos de vida das populaccedilotildees tradicionais fortalecer a cultura alimentar regional e
promover a valorizaccedilatildeo da sociobiodiversidade
6 C IR C U IT O S DE C IR C U LA Ccedil Atilde O E C O M E R C IA LIZA Ccedil Atilde O EM REDE
Uma experiecircncia pioneira vem sendo desenvolvida pelo circuito de circulaccedilatildeo
e com ercializaccedilatildeo da Rede Ecovida de Agroecologia no sul do Brasil Os princiacutepios
se g u id o s pela rede satildeo os produtos co m ercia lizad o s pelo circu ito tecircm de ser
agroecoloacutegicos com selo de certificaccedilatildeo participativa da Rede Ecovida a organizaccedilatildeo
ou grupo de agricultores para participar do circuito deve fazer parte da rede quem
vend e deve tam beacutem com prar produtos dos dem ais produtores (intercacircm bio e
circulaccedilatildeo de produtos) (MAGNANTI 2008)
Esse sistema tem permitido a troca e circulaccedilatildeo de produtos entre as regiotildees aleacutem
de atender agrave diversidade manter uma regularidade e a qualidade bioloacutegica dos produtos
visto que se trabalha exclusivamente com produtos certificados de forma participativa
A discussatildeo de circuitos curtos nesse sentido se daacute natildeo pela distacircncia fiacutesica e nuacutemero de
intermediaacuterios mas pela dimensatildeo social e poliacutetica estabelecida pelo sistema participativo
de garantia e pela organizaccedilatildeo do movimento social
Em torno de 50 itens satildeo ofertados pelo circuito divididos entre hortaliccedilas (100)
frutas (80) gratildeos (80) farinhas (70) accediluacutecar (50) e processados (20)(REDE
ECOVIDA 2014) Os produtos tecircm circulado principalmente em feiras agroecoloacutegicas
em Programas de Governo como o PAA e PNAE pequenos comeacutercios e distribuidores e
grupos de trocas de alimentos (autoconsumo) garantindo tambeacutem a autonomia alimentar
dos agricultores da rede
124
Os desafios para esse tipo de com ercializaccedilatildeo segundo Perez-Cassarino
(2013) satildeo a padronizaccedilatildeo de documentos para comercializaccedilatildeo entre os estados
a padronizaccedilatildeo de embalagens prioritariamente ecoloacutegicas a padronizaccedilatildeo de produtos
entre os nuacutecleos investim ento em recursos hum anos para operacionalizaccedilatildeo do
processo de comercializaccedilatildeo melhoria e investimentos em logiacutestica e um planejamento
de produccedilatildeo para atender a uma dem anda em expansatildeo destacadam ente para
alimentaccedilatildeo escolar
7 C A R A C T E R IacuteST IC A S E O R G A N IZA Ccedil Atilde O DAS PR O PR IED A D ES EM C IR C U ITO S CU RTO S
Tanto no Brasil como na Franccedila as experiecircncias estudadas que comercializam em
circuitos curtos satildeo majoritariamente provenientes da agricultura familiar com destaque
para a categoria de agricultores neorurais que se desenvolvem em aacutereas pequenas (em
meacutedia menor que 20 hectares no total) quando comparadas agravequelas em circuitos longos
Um dos pilares de sustentaccedilatildeo eacute a matildeo de obra familiar que tem uma carga de trabalho
intensa e deve aliar diferentes competecircncias (produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo)
no intuito de diminuir custos e agregar valor ao produto
Na Franccedila a maior parte das propriedades estudadas que vendem em circuitos
curtos eacute especializada em um determinado sistema de produccedilatildeo (fruticultura olericultura
leite ovos queijo) estando de acordo com Mundler (2008) No Brasil as propriedades
orgacircnicas estudadas mostraram-se mais diversificadas contando com sistemas vegetais
e anim ais mais com plexos Se por um lado isso eacute desejado porque atende aos
princiacutepios agroecoloacutegicos por outro torna o planejamento produtivo mais complexo
Nos dois paiacuteses a gama de produtos eacute em geral mais diversificada quando comparada
agrave agricultura convencional mesmo quando as propriedades satildeo especializadas em
determinados sistemas Observou-se ainda uma tendecircncia agrave diversificaccedilatildeo em serviccedilos
com a pluriatividade da propriedade (agroturismo gastronomia lazer e descoberta
alojamentos e propriedades pedagoacutegicas) conforme jaacute apontaram Schneider (2005)
Mundler Guermonprez Pluvinage (2007)
Outra caracteriacutestica a destacar em circuitos curtos eacute a maior autonomia do agricultor
em relaccedilatildeo aos circuitos longos No Brasil os agricultores que trabalham integrados com
empresas para vendas em supermercados tecircm menor autonomia na gestatildeo sendo o
planejamento de produccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo realizados pelas empresas Segundo Darolt
125
(2012) o sistema de produccedilatildeo eacute simplificado e especializado em um ou dois produtos
Eacute com um nesses casos uma repeticcedilatildeo da loacutegica comercial e industrial utilizada em
sistemas convencionais para produccedilatildeo em escala
A figura 2 resume as diferentes caracteriacutesticas observadas nas propriedades
que comercializam em circuitos curtos Segundo Mundler (2008) a combinaccedilatildeo entre
agricultura ecoloacutegica e circuitos curtos tem impactos positivos em diferentes dimensotildees
como na economia local trazendo oportunidades de trabalho e de renda na dimensatildeo
social com a aproximaccedilatildeo de produtores e consumidores na dimensatildeo ambiental com
a valorizaccedilatildeo dos recursos naturais e da paisagem e na dimensatildeo poliacutetica como uma
nova opccedilatildeo de consumo
FIGURA 2 - CARACTERIacuteSTICAS COMUNS OBSERVADAS EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS (BRASIL E FRANCcedilA)
A organizaccedilatildeo do trabalho observada nas experiecircncias se mostrou mais ou menos
complexa em funccedilatildeo dos recursos humanos e econocircmicos disponiacuteveis na propriedade
Em propriedades familiares de pequeno porte concordando com Dedieu et a i (1999)
eacute fundam ental agregar valor ao produto (com a transformaccedilatildeo) vender sempre que
possiacutevel de forma direta e potencializar os serviccedilos na propriedade (turismo e acolhida
do consumidor na propriedade por exemplo)
A forma de comercializaccedilatildeo mais adequada a cada tipo de produtor pode variar
em funccedilatildeo da matildeo de obra da organizaccedilatildeo do sistema de produccedilatildeo e da infraestrutura
disponiacutevel Observamos que na maioria dos canais estudados as praacuteticas agriacutecolas
utilizadas os volumes de produccedilatildeo os tipos de produtos e a organizaccedilatildeo do trabalho
se adaptam para responder agraves demandas dos consumidores Assim concordando com
M undler et a i (2007) notamos que a loacutegica de desenvolvimento em circuitos curtos
126
vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste
entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em
circuitos curtos quando comparado a um circuito longo
8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O
Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo
ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que
isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo
semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao
consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis
Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental
pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte
Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na
comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam
que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com
o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e
menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento
em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo
satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta
e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores
brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando
o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a
agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia
e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel
127
TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO
ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES
Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)
bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod
Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo
bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)
FONTE Elaborado pelos autores
Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades
para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto
a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo
saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes
alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas
rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar
que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos
consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento
das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de
regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial
e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica
128
9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O
Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos
ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais
circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar
dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo
De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo
imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona
o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e
tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma
o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar
soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes
contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de
desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-
produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais
Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito
agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo
e consumo
O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem
as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo
ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos
agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da
paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)
Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas
puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais
organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de
distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa
como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas
de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores
(AMAPs) na Franccedila
O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser
superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as
poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas
129
como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade
na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de
infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente
com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em
circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave
alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo
de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo
distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas
especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na
fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica
Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara
do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como
as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem
de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas
singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores
procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos
valores e resgate da autonomia dos agricultores
Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas
envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o
consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados
locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-
distribuiccedilatildeo-consumo
130
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As lojas especializadas de produtos ecoloacutegicos existem haacute vaacuterios inos na Franccedila
em cidades grandes meacutedias e pequenas contando com redes bem estabelecidas
espalhadas por todo o paiacutes com um discurso de solidariedade e pa-ceria com os
produtores como eacute o caso de Biocoop5 Segundo a Agence Bio (2014) eses dispositivos
representaram 35 do valor total das vendas com productos bio em ZD13 No Brasil
parte dos consumidores orgacircnicos (41) com plem entam suas com pns em lojas de
produtos especializados sobretudo nas capitais (KLUTH BOCCFIIJR CENSIOWSKY 2011)
Em cidades de menor porte as lojas podem estar associadas a organiza ccedilotildeesde produtores
familiares e consumidores ecoloacutegicos (p ex Ecotorres e Cooperativa deConsumidores
Ecoloacutegicos de Trecircs Cachoeiras no Rio Grande do Sul) ou funcionar com o poio do poder
puacuteblico municipal A maioria das lojas trabalha com entregas em domiciacuteio via internet
ou telefone permitindo ao consumidor escolher os produtos de uma lita de opccedilotildees
com maior comodidade e com preccedilos inferiores aos praticados pelos suparmercados
As vendas nas propriedades estatildeo bem difundidas na Franccedilasobretudo no
tocante a vinhos queijos e produtos do terroir No Brasil as vendas na propriedades
estatildeo em fase de expansatildeo e tecircm sido associadas a propriedades que fazem parte de
circuitos de turismo rural e agroecoloacutegico (Accueil paysan na Franccedila e Acohida na colocircnia
no Brasil) e satildeo mais comuns em cidades periurbanas proacuteximas agraves regiotildees netropolitanas
As lojas virtuais de produtos ecoloacutegicos ganham espaccedilo tanto na Franccedila quanto
no Brasil e com tendecircncia de crescimento para os proacuteximos anos sobretido nas regiotildees
metropolitanas todavia nem sempre representam um circuito curto conforme discutido
neste trabalho Entretanto satildeo procuradas pela facilidade de compra ccmodidade nas
entregas ao consumidor e preccedilos inferiores aos supermercados atendencb agraves exigecircncias
da vida moderna
5 PRO G RA M A S DE G O VERN O O P O R T U N ID A D E S PARA A A G RO ECO LO G IA NO BRA SIL
A com ercializaccedilatildeo de produtos agroalim entares por meio de orogramas do
governo ou m ercado institucional surgiu no Brasil em 2003 com o Program a de
Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e vem ganhando espaccedilo conforme Schimitte Grisa (2013)
O mercado institucional atende ao consumidor coletivo (instituiccedilotildees de assistecircncia social
5 Biocoop eacute uma rede francesa com 330 lojas e atores independentes militantes e engajados no desenvolvimento da agricultura orgacircnica (conhecida como bio) (wwwbiocooporg)
122
hospitais creches escolas) dentro de um circuito curto de comercializaccedilatildeo considerado
como venda direta pelo governo brasileiro Assim por meio de programas de governo
os alimentos da agricultura familiar satildeo comprados diretamente dos agricultores ou
das associaccedilotildees e cooperativas de produtores e chegam ateacute a populaccedilatildeo via entidades
de assistecircncia social do governo e escolas puacuteblicas Satildeo programas que se inserem nas
poliacuteticas puacuteblicas voltadas agrave seguranccedila alimentar e nutricional Nos uacuteltimos anos no Brasil
dois programas se destacaram na compra de produtos de base ecoloacutegica o Programa
de Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE)
Os produtos da agricultura fam iliar que apresentam certificaccedilatildeo orgacircnica
comercializados pelo PAA e PNAE recebem um precircmio de 30 em relaccedilatildeo ao similar
da agricultura convencional valorizando a qualidade nutricional e os demais aspectos
socioambientais envolvidos A garantia de compra dos produtos pelo governo estimula a
transiccedilatildeo agroecoloacutegica Ademais esses programas tecircm uma dimensatildeo social importante
pois atingem um grande puacuteblico (escolas) e trabalham com uma diversidade de produtos
seguindo a sazonalidade e as realidades locais
Para Scnimitt e Grisa (2013) existem algumas limitaccedilotildees operacionais que precisam
ser superadas na construccedilatildeo do mercado institucional no Brasil tais como atraso na
liberaccedilatildeo dos recursos problemas de acesso dos agricultores agrave documentaccedilatildeo exigida
(necessidade de desburocratizaccedilatildeo) falta de interaccedilatildeo entre diferentes instrumentos de
poliacutetica puacuteblica que poderiam dar suporte agraves accedilotildees dos programas falta de planejamento
e problemas de gestatildeo das organizaccedilotildees locais no acompanhamento das entregas e na
formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos beneficiaacuterios (nutricionistas merendeiras professoras
alunos) Triches e Schneider (2010) acrescentam ainda que um dos desafios na aquisiccedilatildeo
de alimentos da agricultura familiar para programas institucionais eacute a legalizaccedilatildeo das
agroinduacutestrias familiares com a regulaccedilatildeo da qualidade dos alimentos (sobretudo para
leite carnes e derivados)
Na Franccedila o recente Plano Nacional para a Agricultura Orgacircnica (Plan Ambition
Bio 2017) fixou objetivos ambiciosos para colocar 20 de produtos orgacircnicos na merenda
escolar e em restaurantes coletivos ateacute 2017 Esses objetivos variam de uma regiatildeo
para outra privilegiando produtos natildeo somente orgacircnicos (bio) mas tambeacutem locais
(normalmente o produto local tem maior peso) pois favorece o desenvolvimento regional
Em todo caso esse desenvolvimento segue associado a novas formas de organizaccedilatildeo
plataformas logiacutesticas redes de trabalho negociaccedilatildeo e planejamento das necessidades
de produtos entre escolas e produtores
123
Experiecircncias em outros paiacuteses europeus com alimentaccedilatildeo escolar mostram que o
poder puacuteblico tem papel decisivo em relaccedilatildeo aos mecanismos de aquisiccedilatildeo de alimentos
ao incentivo de determinados modelos de produccedilatildeo sustentaacuteveis e de sauacutede puacuteblica
O poder puacuteblico pode utilizar o seu poder de regulaccedilatildeo de decisatildeo sobre alocaccedilatildeo de
recursos e de ator-chave no abastecimento alim entar para promover mudanccedilas no
comportamento da sociedade (MORGAN SONNINO 2008)
O mercado institucional reforccedila outras iniciativas de comercializaccedilatildeo em circuitos
curtos fortalece as redes de organizaccedilotildees sociais e potencializa o diaacutelogo entre os atores
envolvidos com a agroecologia Tal situaccedilatildeo traz perspectivas otimistas para estimular
a produccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos e saudaacuteveis contribuir no sentido de potencializar
processos de transiccedilatildeo agroecoloacutegica e promoccedilatildeo da agroecologia bem como respeitar
os modos de vida das populaccedilotildees tradicionais fortalecer a cultura alimentar regional e
promover a valorizaccedilatildeo da sociobiodiversidade
6 C IR C U IT O S DE C IR C U LA Ccedil Atilde O E C O M E R C IA LIZA Ccedil Atilde O EM REDE
Uma experiecircncia pioneira vem sendo desenvolvida pelo circuito de circulaccedilatildeo
e com ercializaccedilatildeo da Rede Ecovida de Agroecologia no sul do Brasil Os princiacutepios
se g u id o s pela rede satildeo os produtos co m ercia lizad o s pelo circu ito tecircm de ser
agroecoloacutegicos com selo de certificaccedilatildeo participativa da Rede Ecovida a organizaccedilatildeo
ou grupo de agricultores para participar do circuito deve fazer parte da rede quem
vend e deve tam beacutem com prar produtos dos dem ais produtores (intercacircm bio e
circulaccedilatildeo de produtos) (MAGNANTI 2008)
Esse sistema tem permitido a troca e circulaccedilatildeo de produtos entre as regiotildees aleacutem
de atender agrave diversidade manter uma regularidade e a qualidade bioloacutegica dos produtos
visto que se trabalha exclusivamente com produtos certificados de forma participativa
A discussatildeo de circuitos curtos nesse sentido se daacute natildeo pela distacircncia fiacutesica e nuacutemero de
intermediaacuterios mas pela dimensatildeo social e poliacutetica estabelecida pelo sistema participativo
de garantia e pela organizaccedilatildeo do movimento social
Em torno de 50 itens satildeo ofertados pelo circuito divididos entre hortaliccedilas (100)
frutas (80) gratildeos (80) farinhas (70) accediluacutecar (50) e processados (20)(REDE
ECOVIDA 2014) Os produtos tecircm circulado principalmente em feiras agroecoloacutegicas
em Programas de Governo como o PAA e PNAE pequenos comeacutercios e distribuidores e
grupos de trocas de alimentos (autoconsumo) garantindo tambeacutem a autonomia alimentar
dos agricultores da rede
124
Os desafios para esse tipo de com ercializaccedilatildeo segundo Perez-Cassarino
(2013) satildeo a padronizaccedilatildeo de documentos para comercializaccedilatildeo entre os estados
a padronizaccedilatildeo de embalagens prioritariamente ecoloacutegicas a padronizaccedilatildeo de produtos
entre os nuacutecleos investim ento em recursos hum anos para operacionalizaccedilatildeo do
processo de comercializaccedilatildeo melhoria e investimentos em logiacutestica e um planejamento
de produccedilatildeo para atender a uma dem anda em expansatildeo destacadam ente para
alimentaccedilatildeo escolar
7 C A R A C T E R IacuteST IC A S E O R G A N IZA Ccedil Atilde O DAS PR O PR IED A D ES EM C IR C U ITO S CU RTO S
Tanto no Brasil como na Franccedila as experiecircncias estudadas que comercializam em
circuitos curtos satildeo majoritariamente provenientes da agricultura familiar com destaque
para a categoria de agricultores neorurais que se desenvolvem em aacutereas pequenas (em
meacutedia menor que 20 hectares no total) quando comparadas agravequelas em circuitos longos
Um dos pilares de sustentaccedilatildeo eacute a matildeo de obra familiar que tem uma carga de trabalho
intensa e deve aliar diferentes competecircncias (produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo)
no intuito de diminuir custos e agregar valor ao produto
Na Franccedila a maior parte das propriedades estudadas que vendem em circuitos
curtos eacute especializada em um determinado sistema de produccedilatildeo (fruticultura olericultura
leite ovos queijo) estando de acordo com Mundler (2008) No Brasil as propriedades
orgacircnicas estudadas mostraram-se mais diversificadas contando com sistemas vegetais
e anim ais mais com plexos Se por um lado isso eacute desejado porque atende aos
princiacutepios agroecoloacutegicos por outro torna o planejamento produtivo mais complexo
Nos dois paiacuteses a gama de produtos eacute em geral mais diversificada quando comparada
agrave agricultura convencional mesmo quando as propriedades satildeo especializadas em
determinados sistemas Observou-se ainda uma tendecircncia agrave diversificaccedilatildeo em serviccedilos
com a pluriatividade da propriedade (agroturismo gastronomia lazer e descoberta
alojamentos e propriedades pedagoacutegicas) conforme jaacute apontaram Schneider (2005)
Mundler Guermonprez Pluvinage (2007)
Outra caracteriacutestica a destacar em circuitos curtos eacute a maior autonomia do agricultor
em relaccedilatildeo aos circuitos longos No Brasil os agricultores que trabalham integrados com
empresas para vendas em supermercados tecircm menor autonomia na gestatildeo sendo o
planejamento de produccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo realizados pelas empresas Segundo Darolt
125
(2012) o sistema de produccedilatildeo eacute simplificado e especializado em um ou dois produtos
Eacute com um nesses casos uma repeticcedilatildeo da loacutegica comercial e industrial utilizada em
sistemas convencionais para produccedilatildeo em escala
A figura 2 resume as diferentes caracteriacutesticas observadas nas propriedades
que comercializam em circuitos curtos Segundo Mundler (2008) a combinaccedilatildeo entre
agricultura ecoloacutegica e circuitos curtos tem impactos positivos em diferentes dimensotildees
como na economia local trazendo oportunidades de trabalho e de renda na dimensatildeo
social com a aproximaccedilatildeo de produtores e consumidores na dimensatildeo ambiental com
a valorizaccedilatildeo dos recursos naturais e da paisagem e na dimensatildeo poliacutetica como uma
nova opccedilatildeo de consumo
FIGURA 2 - CARACTERIacuteSTICAS COMUNS OBSERVADAS EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS (BRASIL E FRANCcedilA)
A organizaccedilatildeo do trabalho observada nas experiecircncias se mostrou mais ou menos
complexa em funccedilatildeo dos recursos humanos e econocircmicos disponiacuteveis na propriedade
Em propriedades familiares de pequeno porte concordando com Dedieu et a i (1999)
eacute fundam ental agregar valor ao produto (com a transformaccedilatildeo) vender sempre que
possiacutevel de forma direta e potencializar os serviccedilos na propriedade (turismo e acolhida
do consumidor na propriedade por exemplo)
A forma de comercializaccedilatildeo mais adequada a cada tipo de produtor pode variar
em funccedilatildeo da matildeo de obra da organizaccedilatildeo do sistema de produccedilatildeo e da infraestrutura
disponiacutevel Observamos que na maioria dos canais estudados as praacuteticas agriacutecolas
utilizadas os volumes de produccedilatildeo os tipos de produtos e a organizaccedilatildeo do trabalho
se adaptam para responder agraves demandas dos consumidores Assim concordando com
M undler et a i (2007) notamos que a loacutegica de desenvolvimento em circuitos curtos
126
vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste
entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em
circuitos curtos quando comparado a um circuito longo
8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O
Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo
ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que
isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo
semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao
consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis
Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental
pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte
Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na
comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam
que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com
o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e
menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento
em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo
satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta
e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores
brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando
o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a
agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia
e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel
127
TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO
ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES
Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)
bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod
Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo
bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)
FONTE Elaborado pelos autores
Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades
para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto
a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo
saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes
alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas
rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar
que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos
consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento
das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de
regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial
e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica
128
9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O
Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos
ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais
circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar
dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo
De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo
imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona
o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e
tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma
o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar
soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes
contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de
desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-
produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais
Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito
agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo
e consumo
O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem
as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo
ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos
agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da
paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)
Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas
puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais
organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de
distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa
como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas
de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores
(AMAPs) na Franccedila
O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser
superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as
poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas
129
como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade
na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de
infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente
com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em
circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave
alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo
de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo
distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas
especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na
fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica
Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara
do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como
as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem
de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas
singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores
procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos
valores e resgate da autonomia dos agricultores
Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas
envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o
consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados
locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-
distribuiccedilatildeo-consumo
130
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133
hospitais creches escolas) dentro de um circuito curto de comercializaccedilatildeo considerado
como venda direta pelo governo brasileiro Assim por meio de programas de governo
os alimentos da agricultura familiar satildeo comprados diretamente dos agricultores ou
das associaccedilotildees e cooperativas de produtores e chegam ateacute a populaccedilatildeo via entidades
de assistecircncia social do governo e escolas puacuteblicas Satildeo programas que se inserem nas
poliacuteticas puacuteblicas voltadas agrave seguranccedila alimentar e nutricional Nos uacuteltimos anos no Brasil
dois programas se destacaram na compra de produtos de base ecoloacutegica o Programa
de Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE)
Os produtos da agricultura fam iliar que apresentam certificaccedilatildeo orgacircnica
comercializados pelo PAA e PNAE recebem um precircmio de 30 em relaccedilatildeo ao similar
da agricultura convencional valorizando a qualidade nutricional e os demais aspectos
socioambientais envolvidos A garantia de compra dos produtos pelo governo estimula a
transiccedilatildeo agroecoloacutegica Ademais esses programas tecircm uma dimensatildeo social importante
pois atingem um grande puacuteblico (escolas) e trabalham com uma diversidade de produtos
seguindo a sazonalidade e as realidades locais
Para Scnimitt e Grisa (2013) existem algumas limitaccedilotildees operacionais que precisam
ser superadas na construccedilatildeo do mercado institucional no Brasil tais como atraso na
liberaccedilatildeo dos recursos problemas de acesso dos agricultores agrave documentaccedilatildeo exigida
(necessidade de desburocratizaccedilatildeo) falta de interaccedilatildeo entre diferentes instrumentos de
poliacutetica puacuteblica que poderiam dar suporte agraves accedilotildees dos programas falta de planejamento
e problemas de gestatildeo das organizaccedilotildees locais no acompanhamento das entregas e na
formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo dos beneficiaacuterios (nutricionistas merendeiras professoras
alunos) Triches e Schneider (2010) acrescentam ainda que um dos desafios na aquisiccedilatildeo
de alimentos da agricultura familiar para programas institucionais eacute a legalizaccedilatildeo das
agroinduacutestrias familiares com a regulaccedilatildeo da qualidade dos alimentos (sobretudo para
leite carnes e derivados)
Na Franccedila o recente Plano Nacional para a Agricultura Orgacircnica (Plan Ambition
Bio 2017) fixou objetivos ambiciosos para colocar 20 de produtos orgacircnicos na merenda
escolar e em restaurantes coletivos ateacute 2017 Esses objetivos variam de uma regiatildeo
para outra privilegiando produtos natildeo somente orgacircnicos (bio) mas tambeacutem locais
(normalmente o produto local tem maior peso) pois favorece o desenvolvimento regional
Em todo caso esse desenvolvimento segue associado a novas formas de organizaccedilatildeo
plataformas logiacutesticas redes de trabalho negociaccedilatildeo e planejamento das necessidades
de produtos entre escolas e produtores
123
Experiecircncias em outros paiacuteses europeus com alimentaccedilatildeo escolar mostram que o
poder puacuteblico tem papel decisivo em relaccedilatildeo aos mecanismos de aquisiccedilatildeo de alimentos
ao incentivo de determinados modelos de produccedilatildeo sustentaacuteveis e de sauacutede puacuteblica
O poder puacuteblico pode utilizar o seu poder de regulaccedilatildeo de decisatildeo sobre alocaccedilatildeo de
recursos e de ator-chave no abastecimento alim entar para promover mudanccedilas no
comportamento da sociedade (MORGAN SONNINO 2008)
O mercado institucional reforccedila outras iniciativas de comercializaccedilatildeo em circuitos
curtos fortalece as redes de organizaccedilotildees sociais e potencializa o diaacutelogo entre os atores
envolvidos com a agroecologia Tal situaccedilatildeo traz perspectivas otimistas para estimular
a produccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos e saudaacuteveis contribuir no sentido de potencializar
processos de transiccedilatildeo agroecoloacutegica e promoccedilatildeo da agroecologia bem como respeitar
os modos de vida das populaccedilotildees tradicionais fortalecer a cultura alimentar regional e
promover a valorizaccedilatildeo da sociobiodiversidade
6 C IR C U IT O S DE C IR C U LA Ccedil Atilde O E C O M E R C IA LIZA Ccedil Atilde O EM REDE
Uma experiecircncia pioneira vem sendo desenvolvida pelo circuito de circulaccedilatildeo
e com ercializaccedilatildeo da Rede Ecovida de Agroecologia no sul do Brasil Os princiacutepios
se g u id o s pela rede satildeo os produtos co m ercia lizad o s pelo circu ito tecircm de ser
agroecoloacutegicos com selo de certificaccedilatildeo participativa da Rede Ecovida a organizaccedilatildeo
ou grupo de agricultores para participar do circuito deve fazer parte da rede quem
vend e deve tam beacutem com prar produtos dos dem ais produtores (intercacircm bio e
circulaccedilatildeo de produtos) (MAGNANTI 2008)
Esse sistema tem permitido a troca e circulaccedilatildeo de produtos entre as regiotildees aleacutem
de atender agrave diversidade manter uma regularidade e a qualidade bioloacutegica dos produtos
visto que se trabalha exclusivamente com produtos certificados de forma participativa
A discussatildeo de circuitos curtos nesse sentido se daacute natildeo pela distacircncia fiacutesica e nuacutemero de
intermediaacuterios mas pela dimensatildeo social e poliacutetica estabelecida pelo sistema participativo
de garantia e pela organizaccedilatildeo do movimento social
Em torno de 50 itens satildeo ofertados pelo circuito divididos entre hortaliccedilas (100)
frutas (80) gratildeos (80) farinhas (70) accediluacutecar (50) e processados (20)(REDE
ECOVIDA 2014) Os produtos tecircm circulado principalmente em feiras agroecoloacutegicas
em Programas de Governo como o PAA e PNAE pequenos comeacutercios e distribuidores e
grupos de trocas de alimentos (autoconsumo) garantindo tambeacutem a autonomia alimentar
dos agricultores da rede
124
Os desafios para esse tipo de com ercializaccedilatildeo segundo Perez-Cassarino
(2013) satildeo a padronizaccedilatildeo de documentos para comercializaccedilatildeo entre os estados
a padronizaccedilatildeo de embalagens prioritariamente ecoloacutegicas a padronizaccedilatildeo de produtos
entre os nuacutecleos investim ento em recursos hum anos para operacionalizaccedilatildeo do
processo de comercializaccedilatildeo melhoria e investimentos em logiacutestica e um planejamento
de produccedilatildeo para atender a uma dem anda em expansatildeo destacadam ente para
alimentaccedilatildeo escolar
7 C A R A C T E R IacuteST IC A S E O R G A N IZA Ccedil Atilde O DAS PR O PR IED A D ES EM C IR C U ITO S CU RTO S
Tanto no Brasil como na Franccedila as experiecircncias estudadas que comercializam em
circuitos curtos satildeo majoritariamente provenientes da agricultura familiar com destaque
para a categoria de agricultores neorurais que se desenvolvem em aacutereas pequenas (em
meacutedia menor que 20 hectares no total) quando comparadas agravequelas em circuitos longos
Um dos pilares de sustentaccedilatildeo eacute a matildeo de obra familiar que tem uma carga de trabalho
intensa e deve aliar diferentes competecircncias (produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo)
no intuito de diminuir custos e agregar valor ao produto
Na Franccedila a maior parte das propriedades estudadas que vendem em circuitos
curtos eacute especializada em um determinado sistema de produccedilatildeo (fruticultura olericultura
leite ovos queijo) estando de acordo com Mundler (2008) No Brasil as propriedades
orgacircnicas estudadas mostraram-se mais diversificadas contando com sistemas vegetais
e anim ais mais com plexos Se por um lado isso eacute desejado porque atende aos
princiacutepios agroecoloacutegicos por outro torna o planejamento produtivo mais complexo
Nos dois paiacuteses a gama de produtos eacute em geral mais diversificada quando comparada
agrave agricultura convencional mesmo quando as propriedades satildeo especializadas em
determinados sistemas Observou-se ainda uma tendecircncia agrave diversificaccedilatildeo em serviccedilos
com a pluriatividade da propriedade (agroturismo gastronomia lazer e descoberta
alojamentos e propriedades pedagoacutegicas) conforme jaacute apontaram Schneider (2005)
Mundler Guermonprez Pluvinage (2007)
Outra caracteriacutestica a destacar em circuitos curtos eacute a maior autonomia do agricultor
em relaccedilatildeo aos circuitos longos No Brasil os agricultores que trabalham integrados com
empresas para vendas em supermercados tecircm menor autonomia na gestatildeo sendo o
planejamento de produccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo realizados pelas empresas Segundo Darolt
125
(2012) o sistema de produccedilatildeo eacute simplificado e especializado em um ou dois produtos
Eacute com um nesses casos uma repeticcedilatildeo da loacutegica comercial e industrial utilizada em
sistemas convencionais para produccedilatildeo em escala
A figura 2 resume as diferentes caracteriacutesticas observadas nas propriedades
que comercializam em circuitos curtos Segundo Mundler (2008) a combinaccedilatildeo entre
agricultura ecoloacutegica e circuitos curtos tem impactos positivos em diferentes dimensotildees
como na economia local trazendo oportunidades de trabalho e de renda na dimensatildeo
social com a aproximaccedilatildeo de produtores e consumidores na dimensatildeo ambiental com
a valorizaccedilatildeo dos recursos naturais e da paisagem e na dimensatildeo poliacutetica como uma
nova opccedilatildeo de consumo
FIGURA 2 - CARACTERIacuteSTICAS COMUNS OBSERVADAS EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS (BRASIL E FRANCcedilA)
A organizaccedilatildeo do trabalho observada nas experiecircncias se mostrou mais ou menos
complexa em funccedilatildeo dos recursos humanos e econocircmicos disponiacuteveis na propriedade
Em propriedades familiares de pequeno porte concordando com Dedieu et a i (1999)
eacute fundam ental agregar valor ao produto (com a transformaccedilatildeo) vender sempre que
possiacutevel de forma direta e potencializar os serviccedilos na propriedade (turismo e acolhida
do consumidor na propriedade por exemplo)
A forma de comercializaccedilatildeo mais adequada a cada tipo de produtor pode variar
em funccedilatildeo da matildeo de obra da organizaccedilatildeo do sistema de produccedilatildeo e da infraestrutura
disponiacutevel Observamos que na maioria dos canais estudados as praacuteticas agriacutecolas
utilizadas os volumes de produccedilatildeo os tipos de produtos e a organizaccedilatildeo do trabalho
se adaptam para responder agraves demandas dos consumidores Assim concordando com
M undler et a i (2007) notamos que a loacutegica de desenvolvimento em circuitos curtos
126
vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste
entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em
circuitos curtos quando comparado a um circuito longo
8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O
Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo
ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que
isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo
semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao
consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis
Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental
pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte
Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na
comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam
que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com
o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e
menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento
em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo
satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta
e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores
brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando
o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a
agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia
e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel
127
TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO
ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES
Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)
bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod
Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo
bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)
FONTE Elaborado pelos autores
Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades
para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto
a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo
saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes
alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas
rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar
que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos
consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento
das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de
regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial
e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica
128
9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O
Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos
ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais
circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar
dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo
De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo
imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona
o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e
tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma
o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar
soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes
contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de
desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-
produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais
Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito
agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo
e consumo
O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem
as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo
ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos
agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da
paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)
Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas
puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais
organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de
distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa
como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas
de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores
(AMAPs) na Franccedila
O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser
superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as
poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas
129
como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade
na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de
infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente
com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em
circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave
alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo
de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo
distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas
especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na
fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica
Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara
do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como
as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem
de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas
singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores
procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos
valores e resgate da autonomia dos agricultores
Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas
envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o
consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados
locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-
distribuiccedilatildeo-consumo
130
R E FE R Ecirc NC IA S
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133
Experiecircncias em outros paiacuteses europeus com alimentaccedilatildeo escolar mostram que o
poder puacuteblico tem papel decisivo em relaccedilatildeo aos mecanismos de aquisiccedilatildeo de alimentos
ao incentivo de determinados modelos de produccedilatildeo sustentaacuteveis e de sauacutede puacuteblica
O poder puacuteblico pode utilizar o seu poder de regulaccedilatildeo de decisatildeo sobre alocaccedilatildeo de
recursos e de ator-chave no abastecimento alim entar para promover mudanccedilas no
comportamento da sociedade (MORGAN SONNINO 2008)
O mercado institucional reforccedila outras iniciativas de comercializaccedilatildeo em circuitos
curtos fortalece as redes de organizaccedilotildees sociais e potencializa o diaacutelogo entre os atores
envolvidos com a agroecologia Tal situaccedilatildeo traz perspectivas otimistas para estimular
a produccedilatildeo de alimentos ecoloacutegicos e saudaacuteveis contribuir no sentido de potencializar
processos de transiccedilatildeo agroecoloacutegica e promoccedilatildeo da agroecologia bem como respeitar
os modos de vida das populaccedilotildees tradicionais fortalecer a cultura alimentar regional e
promover a valorizaccedilatildeo da sociobiodiversidade
6 C IR C U IT O S DE C IR C U LA Ccedil Atilde O E C O M E R C IA LIZA Ccedil Atilde O EM REDE
Uma experiecircncia pioneira vem sendo desenvolvida pelo circuito de circulaccedilatildeo
e com ercializaccedilatildeo da Rede Ecovida de Agroecologia no sul do Brasil Os princiacutepios
se g u id o s pela rede satildeo os produtos co m ercia lizad o s pelo circu ito tecircm de ser
agroecoloacutegicos com selo de certificaccedilatildeo participativa da Rede Ecovida a organizaccedilatildeo
ou grupo de agricultores para participar do circuito deve fazer parte da rede quem
vend e deve tam beacutem com prar produtos dos dem ais produtores (intercacircm bio e
circulaccedilatildeo de produtos) (MAGNANTI 2008)
Esse sistema tem permitido a troca e circulaccedilatildeo de produtos entre as regiotildees aleacutem
de atender agrave diversidade manter uma regularidade e a qualidade bioloacutegica dos produtos
visto que se trabalha exclusivamente com produtos certificados de forma participativa
A discussatildeo de circuitos curtos nesse sentido se daacute natildeo pela distacircncia fiacutesica e nuacutemero de
intermediaacuterios mas pela dimensatildeo social e poliacutetica estabelecida pelo sistema participativo
de garantia e pela organizaccedilatildeo do movimento social
Em torno de 50 itens satildeo ofertados pelo circuito divididos entre hortaliccedilas (100)
frutas (80) gratildeos (80) farinhas (70) accediluacutecar (50) e processados (20)(REDE
ECOVIDA 2014) Os produtos tecircm circulado principalmente em feiras agroecoloacutegicas
em Programas de Governo como o PAA e PNAE pequenos comeacutercios e distribuidores e
grupos de trocas de alimentos (autoconsumo) garantindo tambeacutem a autonomia alimentar
dos agricultores da rede
124
Os desafios para esse tipo de com ercializaccedilatildeo segundo Perez-Cassarino
(2013) satildeo a padronizaccedilatildeo de documentos para comercializaccedilatildeo entre os estados
a padronizaccedilatildeo de embalagens prioritariamente ecoloacutegicas a padronizaccedilatildeo de produtos
entre os nuacutecleos investim ento em recursos hum anos para operacionalizaccedilatildeo do
processo de comercializaccedilatildeo melhoria e investimentos em logiacutestica e um planejamento
de produccedilatildeo para atender a uma dem anda em expansatildeo destacadam ente para
alimentaccedilatildeo escolar
7 C A R A C T E R IacuteST IC A S E O R G A N IZA Ccedil Atilde O DAS PR O PR IED A D ES EM C IR C U ITO S CU RTO S
Tanto no Brasil como na Franccedila as experiecircncias estudadas que comercializam em
circuitos curtos satildeo majoritariamente provenientes da agricultura familiar com destaque
para a categoria de agricultores neorurais que se desenvolvem em aacutereas pequenas (em
meacutedia menor que 20 hectares no total) quando comparadas agravequelas em circuitos longos
Um dos pilares de sustentaccedilatildeo eacute a matildeo de obra familiar que tem uma carga de trabalho
intensa e deve aliar diferentes competecircncias (produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo)
no intuito de diminuir custos e agregar valor ao produto
Na Franccedila a maior parte das propriedades estudadas que vendem em circuitos
curtos eacute especializada em um determinado sistema de produccedilatildeo (fruticultura olericultura
leite ovos queijo) estando de acordo com Mundler (2008) No Brasil as propriedades
orgacircnicas estudadas mostraram-se mais diversificadas contando com sistemas vegetais
e anim ais mais com plexos Se por um lado isso eacute desejado porque atende aos
princiacutepios agroecoloacutegicos por outro torna o planejamento produtivo mais complexo
Nos dois paiacuteses a gama de produtos eacute em geral mais diversificada quando comparada
agrave agricultura convencional mesmo quando as propriedades satildeo especializadas em
determinados sistemas Observou-se ainda uma tendecircncia agrave diversificaccedilatildeo em serviccedilos
com a pluriatividade da propriedade (agroturismo gastronomia lazer e descoberta
alojamentos e propriedades pedagoacutegicas) conforme jaacute apontaram Schneider (2005)
Mundler Guermonprez Pluvinage (2007)
Outra caracteriacutestica a destacar em circuitos curtos eacute a maior autonomia do agricultor
em relaccedilatildeo aos circuitos longos No Brasil os agricultores que trabalham integrados com
empresas para vendas em supermercados tecircm menor autonomia na gestatildeo sendo o
planejamento de produccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo realizados pelas empresas Segundo Darolt
125
(2012) o sistema de produccedilatildeo eacute simplificado e especializado em um ou dois produtos
Eacute com um nesses casos uma repeticcedilatildeo da loacutegica comercial e industrial utilizada em
sistemas convencionais para produccedilatildeo em escala
A figura 2 resume as diferentes caracteriacutesticas observadas nas propriedades
que comercializam em circuitos curtos Segundo Mundler (2008) a combinaccedilatildeo entre
agricultura ecoloacutegica e circuitos curtos tem impactos positivos em diferentes dimensotildees
como na economia local trazendo oportunidades de trabalho e de renda na dimensatildeo
social com a aproximaccedilatildeo de produtores e consumidores na dimensatildeo ambiental com
a valorizaccedilatildeo dos recursos naturais e da paisagem e na dimensatildeo poliacutetica como uma
nova opccedilatildeo de consumo
FIGURA 2 - CARACTERIacuteSTICAS COMUNS OBSERVADAS EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS (BRASIL E FRANCcedilA)
A organizaccedilatildeo do trabalho observada nas experiecircncias se mostrou mais ou menos
complexa em funccedilatildeo dos recursos humanos e econocircmicos disponiacuteveis na propriedade
Em propriedades familiares de pequeno porte concordando com Dedieu et a i (1999)
eacute fundam ental agregar valor ao produto (com a transformaccedilatildeo) vender sempre que
possiacutevel de forma direta e potencializar os serviccedilos na propriedade (turismo e acolhida
do consumidor na propriedade por exemplo)
A forma de comercializaccedilatildeo mais adequada a cada tipo de produtor pode variar
em funccedilatildeo da matildeo de obra da organizaccedilatildeo do sistema de produccedilatildeo e da infraestrutura
disponiacutevel Observamos que na maioria dos canais estudados as praacuteticas agriacutecolas
utilizadas os volumes de produccedilatildeo os tipos de produtos e a organizaccedilatildeo do trabalho
se adaptam para responder agraves demandas dos consumidores Assim concordando com
M undler et a i (2007) notamos que a loacutegica de desenvolvimento em circuitos curtos
126
vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste
entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em
circuitos curtos quando comparado a um circuito longo
8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O
Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo
ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que
isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo
semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao
consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis
Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental
pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte
Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na
comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam
que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com
o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e
menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento
em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo
satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta
e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores
brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando
o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a
agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia
e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel
127
TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO
ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES
Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)
bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod
Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo
bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)
FONTE Elaborado pelos autores
Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades
para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto
a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo
saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes
alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas
rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar
que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos
consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento
das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de
regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial
e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica
128
9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O
Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos
ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais
circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar
dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo
De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo
imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona
o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e
tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma
o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar
soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes
contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de
desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-
produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais
Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito
agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo
e consumo
O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem
as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo
ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos
agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da
paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)
Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas
puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais
organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de
distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa
como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas
de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores
(AMAPs) na Franccedila
O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser
superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as
poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas
129
como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade
na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de
infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente
com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em
circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave
alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo
de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo
distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas
especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na
fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica
Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara
do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como
as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem
de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas
singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores
procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos
valores e resgate da autonomia dos agricultores
Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas
envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o
consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados
locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-
distribuiccedilatildeo-consumo
130
R E FE R Ecirc NC IA S
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133
Os desafios para esse tipo de com ercializaccedilatildeo segundo Perez-Cassarino
(2013) satildeo a padronizaccedilatildeo de documentos para comercializaccedilatildeo entre os estados
a padronizaccedilatildeo de embalagens prioritariamente ecoloacutegicas a padronizaccedilatildeo de produtos
entre os nuacutecleos investim ento em recursos hum anos para operacionalizaccedilatildeo do
processo de comercializaccedilatildeo melhoria e investimentos em logiacutestica e um planejamento
de produccedilatildeo para atender a uma dem anda em expansatildeo destacadam ente para
alimentaccedilatildeo escolar
7 C A R A C T E R IacuteST IC A S E O R G A N IZA Ccedil Atilde O DAS PR O PR IED A D ES EM C IR C U ITO S CU RTO S
Tanto no Brasil como na Franccedila as experiecircncias estudadas que comercializam em
circuitos curtos satildeo majoritariamente provenientes da agricultura familiar com destaque
para a categoria de agricultores neorurais que se desenvolvem em aacutereas pequenas (em
meacutedia menor que 20 hectares no total) quando comparadas agravequelas em circuitos longos
Um dos pilares de sustentaccedilatildeo eacute a matildeo de obra familiar que tem uma carga de trabalho
intensa e deve aliar diferentes competecircncias (produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo)
no intuito de diminuir custos e agregar valor ao produto
Na Franccedila a maior parte das propriedades estudadas que vendem em circuitos
curtos eacute especializada em um determinado sistema de produccedilatildeo (fruticultura olericultura
leite ovos queijo) estando de acordo com Mundler (2008) No Brasil as propriedades
orgacircnicas estudadas mostraram-se mais diversificadas contando com sistemas vegetais
e anim ais mais com plexos Se por um lado isso eacute desejado porque atende aos
princiacutepios agroecoloacutegicos por outro torna o planejamento produtivo mais complexo
Nos dois paiacuteses a gama de produtos eacute em geral mais diversificada quando comparada
agrave agricultura convencional mesmo quando as propriedades satildeo especializadas em
determinados sistemas Observou-se ainda uma tendecircncia agrave diversificaccedilatildeo em serviccedilos
com a pluriatividade da propriedade (agroturismo gastronomia lazer e descoberta
alojamentos e propriedades pedagoacutegicas) conforme jaacute apontaram Schneider (2005)
Mundler Guermonprez Pluvinage (2007)
Outra caracteriacutestica a destacar em circuitos curtos eacute a maior autonomia do agricultor
em relaccedilatildeo aos circuitos longos No Brasil os agricultores que trabalham integrados com
empresas para vendas em supermercados tecircm menor autonomia na gestatildeo sendo o
planejamento de produccedilatildeo e a comercializaccedilatildeo realizados pelas empresas Segundo Darolt
125
(2012) o sistema de produccedilatildeo eacute simplificado e especializado em um ou dois produtos
Eacute com um nesses casos uma repeticcedilatildeo da loacutegica comercial e industrial utilizada em
sistemas convencionais para produccedilatildeo em escala
A figura 2 resume as diferentes caracteriacutesticas observadas nas propriedades
que comercializam em circuitos curtos Segundo Mundler (2008) a combinaccedilatildeo entre
agricultura ecoloacutegica e circuitos curtos tem impactos positivos em diferentes dimensotildees
como na economia local trazendo oportunidades de trabalho e de renda na dimensatildeo
social com a aproximaccedilatildeo de produtores e consumidores na dimensatildeo ambiental com
a valorizaccedilatildeo dos recursos naturais e da paisagem e na dimensatildeo poliacutetica como uma
nova opccedilatildeo de consumo
FIGURA 2 - CARACTERIacuteSTICAS COMUNS OBSERVADAS EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS (BRASIL E FRANCcedilA)
A organizaccedilatildeo do trabalho observada nas experiecircncias se mostrou mais ou menos
complexa em funccedilatildeo dos recursos humanos e econocircmicos disponiacuteveis na propriedade
Em propriedades familiares de pequeno porte concordando com Dedieu et a i (1999)
eacute fundam ental agregar valor ao produto (com a transformaccedilatildeo) vender sempre que
possiacutevel de forma direta e potencializar os serviccedilos na propriedade (turismo e acolhida
do consumidor na propriedade por exemplo)
A forma de comercializaccedilatildeo mais adequada a cada tipo de produtor pode variar
em funccedilatildeo da matildeo de obra da organizaccedilatildeo do sistema de produccedilatildeo e da infraestrutura
disponiacutevel Observamos que na maioria dos canais estudados as praacuteticas agriacutecolas
utilizadas os volumes de produccedilatildeo os tipos de produtos e a organizaccedilatildeo do trabalho
se adaptam para responder agraves demandas dos consumidores Assim concordando com
M undler et a i (2007) notamos que a loacutegica de desenvolvimento em circuitos curtos
126
vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste
entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em
circuitos curtos quando comparado a um circuito longo
8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O
Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo
ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que
isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo
semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao
consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis
Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental
pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte
Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na
comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam
que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com
o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e
menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento
em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo
satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta
e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores
brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando
o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a
agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia
e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel
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TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO
ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES
Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)
bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod
Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo
bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)
FONTE Elaborado pelos autores
Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades
para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto
a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo
saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes
alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas
rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar
que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos
consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento
das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de
regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial
e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica
128
9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O
Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos
ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais
circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar
dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo
De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo
imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona
o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e
tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma
o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar
soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes
contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de
desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-
produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais
Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito
agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo
e consumo
O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem
as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo
ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos
agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da
paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)
Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas
puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais
organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de
distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa
como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas
de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores
(AMAPs) na Franccedila
O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser
superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as
poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas
129
como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade
na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de
infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente
com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em
circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave
alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo
de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo
distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas
especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na
fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica
Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara
do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como
as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem
de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas
singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores
procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos
valores e resgate da autonomia dos agricultores
Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas
envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o
consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados
locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-
distribuiccedilatildeo-consumo
130
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133
(2012) o sistema de produccedilatildeo eacute simplificado e especializado em um ou dois produtos
Eacute com um nesses casos uma repeticcedilatildeo da loacutegica comercial e industrial utilizada em
sistemas convencionais para produccedilatildeo em escala
A figura 2 resume as diferentes caracteriacutesticas observadas nas propriedades
que comercializam em circuitos curtos Segundo Mundler (2008) a combinaccedilatildeo entre
agricultura ecoloacutegica e circuitos curtos tem impactos positivos em diferentes dimensotildees
como na economia local trazendo oportunidades de trabalho e de renda na dimensatildeo
social com a aproximaccedilatildeo de produtores e consumidores na dimensatildeo ambiental com
a valorizaccedilatildeo dos recursos naturais e da paisagem e na dimensatildeo poliacutetica como uma
nova opccedilatildeo de consumo
FIGURA 2 - CARACTERIacuteSTICAS COMUNS OBSERVADAS EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO DE AUMENTOS ECOLOacuteGICOS (BRASIL E FRANCcedilA)
A organizaccedilatildeo do trabalho observada nas experiecircncias se mostrou mais ou menos
complexa em funccedilatildeo dos recursos humanos e econocircmicos disponiacuteveis na propriedade
Em propriedades familiares de pequeno porte concordando com Dedieu et a i (1999)
eacute fundam ental agregar valor ao produto (com a transformaccedilatildeo) vender sempre que
possiacutevel de forma direta e potencializar os serviccedilos na propriedade (turismo e acolhida
do consumidor na propriedade por exemplo)
A forma de comercializaccedilatildeo mais adequada a cada tipo de produtor pode variar
em funccedilatildeo da matildeo de obra da organizaccedilatildeo do sistema de produccedilatildeo e da infraestrutura
disponiacutevel Observamos que na maioria dos canais estudados as praacuteticas agriacutecolas
utilizadas os volumes de produccedilatildeo os tipos de produtos e a organizaccedilatildeo do trabalho
se adaptam para responder agraves demandas dos consumidores Assim concordando com
M undler et a i (2007) notamos que a loacutegica de desenvolvimento em circuitos curtos
126
vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste
entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em
circuitos curtos quando comparado a um circuito longo
8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O
Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo
ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que
isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo
semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao
consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis
Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental
pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte
Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na
comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam
que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com
o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e
menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento
em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo
satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta
e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores
brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando
o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a
agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia
e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel
127
TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO
ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES
Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)
bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod
Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo
bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)
FONTE Elaborado pelos autores
Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades
para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto
a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo
saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes
alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas
rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar
que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos
consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento
das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de
regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial
e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica
128
9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O
Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos
ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais
circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar
dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo
De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo
imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona
o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e
tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma
o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar
soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes
contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de
desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-
produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais
Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito
agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo
e consumo
O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem
as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo
ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos
agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da
paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)
Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas
puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais
organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de
distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa
como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas
de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores
(AMAPs) na Franccedila
O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser
superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as
poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas
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como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade
na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de
infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente
com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em
circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave
alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo
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especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na
fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica
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singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores
procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos
valores e resgate da autonomia dos agricultores
Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas
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WILKINSON J Mercados redes e valores o novo mundo da agricultura familiar Porto Alegre UFRGS 2008
133
vai repercutir sobre a organizaccedilatildeo da propriedade Em outras palavras existe um ajuste
entre demanda e oferta que pode ser mais facilmente gerenciado pelos agricultores em
circuitos curtos quando comparado a um circuito longo
8 O PO R TU N ID A D ES E D IF IC U LD A D ES NA RELACcedilAtilde O P R O D U Ccedil Atilde O -C O N SU M O
Idealmente os circuitos curtos requerem proximidade geograacutefica participaccedilatildeo
ativa do consumidor e ligaccedilatildeo entre produtor e consumidor A pesquisa verificou que
isso varia de acordo com os contextos estudados Todavia algumas caracteriacutesticas satildeo
semelhantes tais como remuneraccedilatildeo mais correta ao produtor preccedilos mais justos ao
consumidor incentivo agrave produccedilatildeo local e a transiccedilatildeo para sistemas mais sustentaacuteveis
Ainda destacamos que comprar nessas redes alternativas diminui o impacto ambiental
pela reduccedilatildeo de embalagens (plaacutesticas) e pelo menor gasto energeacutetico com transporte
Do lado do produtor existem mais vantagens do que desvantagens na
comercializaccedilatildeo via circuitos curtos como mostrado na tabela 2 Os resultados apontam
que os circuitos curtos permitem maior autonomia do agricultor contato direto com
o consumidor transaccedilotildees financeiras sem intermediaacuterios remuneraccedilotildees mais justas e
menor risco de perdas na comercializaccedilatildeo Como vimos na seccedilatildeo anterior o investimento
em capacitaccedilatildeo dos produtores a gestatildeo da propriedade e o planejamento de produccedilatildeo
satildeo chaves para minimizar as dificuldades de falta de matildeo de obra ajustes entre oferta
e demanda investimento em infraestrutura e logiacutestica Nesse aspecto os agricultores
brasileiros tecircm muito mais dificuldades quando comparados aos franceses considerando
o contexto histoacuterico social e econocircmico As experiecircncias estudadas confirmam que a
agricultura familiar de base ecoloacutegica associada a circuitos curtos possuem uma sinergia
e simbiose favoraacutevel ao desenvolvimento sustentaacutevel
127
TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO
ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES
Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)
bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod
Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo
bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)
FONTE Elaborado pelos autores
Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades
para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto
a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo
saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes
alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas
rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar
que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos
consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento
das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de
regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial
e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica
128
9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O
Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos
ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais
circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar
dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo
De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo
imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona
o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e
tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma
o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar
soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes
contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de
desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-
produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais
Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito
agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo
e consumo
O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem
as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo
ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos
agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da
paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)
Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas
puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais
organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de
distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa
como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas
de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores
(AMAPs) na Franccedila
O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser
superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as
poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas
129
como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade
na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de
infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente
com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em
circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave
alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo
de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo
distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas
especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na
fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica
Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara
do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como
as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem
de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas
singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores
procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos
valores e resgate da autonomia dos agricultores
Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas
envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o
consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados
locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-
distribuiccedilatildeo-consumo
130
R E FE R Ecirc NC IA S
AGENCE BIO Baromegravetre de consommation et de perception des produits biologiques en France Paris Agence Bio eacutedition 2014 Disponiacutevel em lthttpwwwagencebioorggt Acesso em 20 ago 2014
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TABELA 2 - OPORTUNIDADES E DIFICULDADES PARA PRODUTORES E CONSUMIDORES EM CIRCUITOS CURTOS DE COMERCIALIZACcedilAtildeO
ATORES OPORTUNIDADES DIFICULDADES
Produtor bullMaior margem de lucro recebimento do dinheiro no ato da entrega e em periacuteodos mais frequentes (semanal) bullReforccedilar a ligaccedilatildeo com o consumidor pelo contato direto bullDiversificaccedilatildeo de prod que permite diminuiccedilatildeo de riscos bullNo caso de cestas e grupos organizados haacute garantia de venda de toda a mercadoriaAutonomia de trabalho e maior independecircncia financeira (por receber a maior parte do dinheiro no curto prazo e fidelizar consumidores)bullReduccedilatildeo do risco de comercializaccedilatildeo pela possibilidade de combinar canais de vendabullValorizaccedilatildeo de espeacutecies de plantas (sementes crioulas) e animais locaisbullValorizaccedilatildeo da profissatildeo e reconhecimento como um agricultor ecologistabullOrganizaccedilatildeo de produtores para venda em circuitos de comerc em rede (troca de produtos diversificaccedilatildeo)
bullFalta de matildeo de obra especializada dificuldades com a legislaccedilatildeo trabalhista e falta de tempo para a produccedilatildeo bullNecessidade de muacuteltiplas competecircncias para a gestatildeo do processo de produccedilatildeo transformaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo (agricultores satildeo preparados mais para a produccedilatildeo do que para a venda) bullNecessidade de invest em estrutura de transformaccedilatildeo e treinamento de pessoal para venda diretabullMaior investimento em logiacutestica (transporte refrigerado equipamentos para vendas em feiras informatizaccedilatildeo) bullRegras restritivas da vigilacircncia sanitaacuteria bullComplexidade no planej de produccedilatildeo pela grande diversidade de prod
Consumidor bullProximidade com o produtor (conhecimento da origem e local de produccedilatildeo)bullOferta de alimentos da estaccedilatildeo e da regiatildeo (melhor sabor frescor e educaccedilatildeo para o consumo alimentar) bullAcesso a produtos com qualidade de origem transparecircncia e preccedilos justosbullAprendizado de novas receitas culinaacuterias pelo contato direto com outros clientes e produtoresbullEducaccedilatildeo para o consumo (menor uso de embalagens compra local reciclagem de materiais)bullInclusatildeo de novos consumidores no processo e oportunidade para organizaccedilatildeo de grupos de consumo
bullNecessita de maior disponibilidade de tempo para compra horaacuterios preacute- determinados e dificuld de compra com intempeacuteries climaacuteticas (feiras ao ar livre) bullProblemas de regularidade de alguns produtos Oferta de produtos pode ser limitada e concentrada em eacutepocas conforme a sazonalidadebullPreccedilos mais elevados do que os convencionais para determinados prod bullPouca diversidade de produtos como frutas produtos de origem animal e seus derivados (carne leite etc)
FONTE Elaborado pelos autores
Do ponto de vista do consumo essas redes alternativas trazem oportunidades
para estimular mudanccedilas de haacutebitos alimentares o incentivo agrave educaccedilatildeo para o gosto
a organizaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo de consumidores em campanhas por uma alimentaccedilatildeo
saudaacutevel (contra agrotoacutexicos e transgecircnicos por exemplo) Nesse sentido essas redes
alternativas se constituem em experiecircncias que podem ajudar a criar poliacuteticas puacuteblicas
rumo a padrotildees mais sustentaacuteveis de consumo Entretanto eacute preciso considerar
que esse eacute um processo lento de em poderam ento e tom ada de consciecircncia dos
consumidores sobre aspectos como sazonalidade da produccedilatildeo ecoloacutegica conhecimento
das dificu ldades dos produtores m udanccedila de va lores em relaccedilatildeo a quesitos de
regularidade quantidade e diversidade facilmente atendidos pela agricultura industrial
e deficiente na produccedilatildeo ecoloacutegica
128
9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O
Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos
ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais
circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar
dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo
De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo
imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona
o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e
tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma
o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar
soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes
contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de
desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-
produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais
Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito
agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo
e consumo
O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem
as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo
ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos
agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da
paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)
Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas
puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais
organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de
distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa
como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas
de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores
(AMAPs) na Franccedila
O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser
superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as
poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas
129
como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade
na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de
infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente
com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em
circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave
alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo
de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo
distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas
especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na
fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica
Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara
do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como
as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem
de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas
singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores
procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos
valores e resgate da autonomia dos agricultores
Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas
envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o
consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados
locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-
distribuiccedilatildeo-consumo
130
R E FE R Ecirc NC IA S
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133
9 C O N S ID E R A Ccedil Otilde E S F IN A IS NOVAS RELA CcedilOtilde ES PR O D U CcedilAtilde O -CO N SU M O
Neste trabalho estudam os experiecircncias de redes alternativas de alim entos
ecoloacutegicos na Franccedila e no Brasil que permitiram construir uma tipologia dos principais
circu itos curtos (CC) de com ercializaccedilatildeo analisar suas caracteriacutesticas e observar
dificuldades e oportunidades nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo e consumo
De fato a compra em circuitos curtos eacute uma forma de fugir da padronizaccedilatildeo
imposta pelo sistema agroalimentar industrial que uniformiza modos de vida e direciona
o consum o M ais do que enquadrar as experiecircncias estudadas numa definiccedilatildeo e
tipologia estaacuteticas a diversidade de tipos encontrados na Franccedila e no Brasil confirma
o potencial inovador das redes alimentares alternativas em mobilizar atores e buscar
soluccedilotildees adaptadas agrave agricultura familiar de base ecoloacutegica considerando os diferentes
contextos Essas iniciativas abrem espaccedilo para a discussatildeo de novas proposiccedilotildees de
desenvolvimento local e poliacuteticas puacuteblicas que incorporem natildeo apenas variaacuteveis teacutecnico-
produtivas econocircmicas e ambientais mas tambeacutem valores sociais eacuteticos e culturais
Princiacutepios como autonomia solidariedade seguranccedila alimentar justiccedila social respeito
agrave cultura e agraves tradiccedilotildees locais podem ser incorporados nas relaccedilotildees entre produccedilatildeo
e consumo
O estudo confirma a hipoacutetese de que os circuitos curtos satildeo viaacuteveis e fortalecem
as redes alimentares alternativas quando associados com as caracteriacutesticas da produccedilatildeo
ecoloacutegica (pequenas aacutereas matildeo de obra familiar produccedilatildeo diversificada autonomia dos
agricultores ligaccedilatildeo com o consumidor preservaccedilatildeo da biodiversidade valorizaccedilatildeo da
paisagem qualidade alimentar e produto saudaacutevel)
Nas experiecircncias em que se verifica a formaccedilatildeo de redes com apoio de poliacuteticas
puacuteblicas e interaccedilatildeo entre atores (poder puacuteblico entidades natildeo governam entais
organizaccedilotildees de agricultores e consumidores) observam-se avanccedilos no processo de
distribuiccedilatildeo de alimentos na tomada de decisatildeo e novos modelos de gestatildeo participativa
como eacute o caso do circuito de comercializaccedilatildeo da rede Ecovida no Sul do Brasil os programas
de alim entaccedilatildeo escolar (Brasil e Franccedila) e o caso das associaccedilotildees de consum idores
(AMAPs) na Franccedila
O trabalho aponta oportunidades mas destaca dificuldades que precisam ser
superadas no campo da produccedilatildeo da distribuiccedilatildeo e do consumo Nesse sentido as
poliacuteticas puacuteblicas e os trabalhos futuros devem ser direcionados para superar problemas
129
como o reduzido volume de produccedilatildeo agroecoloacutegica pouca diversidade e regularidade
na oferta de produtos ecoloacutegicos desarticulaccedilatildeo entre oferta e demanda problemas de
infraestrutura e logiacutestica Ademais investimento em educaccedilatildeo para o consumo consciente
com informaccedilatildeo qualificada aos consumidores A evoluccedilatildeo de mercados baseados em
circuitos curtos pode contribuir para mudanccedila de haacutebitos de consumo em relaccedilatildeo agrave
alimentaccedilatildeo saudaacutevel ao mesmo tempo em que cria novos mercados para a produccedilatildeo
de base ecoloacutegica Os desafios passam pela criaccedilatildeo de estruturas de apoio agrave produccedilatildeo
distribuiccedilatildeo e comercializaccedilatildeo com suporte institucional financeiro e poliacuteticas puacuteblicas
especialmente nos casos que envolvem grupos organizados de produtores familiares na
fase inicial do processo de transiccedilatildeo agroecoloacutegica
Nas novas relaccedilotildees produccedilatildeo-consumo o consumidor busca produtos com a cara
do produtor em que sejam ressaltadas as caracteriacutesticas locais das comunidades como
as tradiccedilotildees o modo de vida a valorizaccedilatildeo do saber-fazer o cuidado com a paisagem aleacutem
de produtos ecoloacutegicos de eacutepoca e com preccedilos justos Esse conjunto de caracteriacutesticas
singulares presentes nos circuitos curtos eacute por si soacute a marca que os consumidores
procuram num avanccedilo em termos de qualidade Isso cria novas relaccedilotildees sociais novos
valores e resgate da autonomia dos agricultores
Finalmente o ato de participar em circuitos curtos e redes alimentares alternativas
envolve valores sociais econocircmicos ambientais e poliacuteticos que contribuem para o
consumo consciente Este trabalho evidenciou a necessidade de reinventar os mercados
locais reconectar produtores e consumidores e criar novas relaccedilotildees entre produccedilatildeo-
distribuiccedilatildeo-consumo
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