RASTREAMENTO DE MUTAÇÕES NO GENE RAS EM … · sou. OBRIGADA meus amores, minha vida, meu tudo! 8...

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1 INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER – INCA CENTRO DE PESQUISA – CPq PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM ONCOLOGIA PROGRAMA DE HEMATOLOGIA E ONCOLOGIA PEDIÁTRICOS RASTREAMENTO DE MUTAÇÕES NO GENE RAS EM LEUCEMIAS AGUDAS EM LACTENTES VICTORIA EUGENIA GIMÉNEZ PÉREZ Rio de Janeiro 2010

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1

INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER – INCA

CENTRO DE PESQUISA – CPq

PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM ONCOLOGIA

PROGRAMA DE HEMATOLOGIA E ONCOLOGIA PEDIÁTRICOS

RASTREAMENTO DE MUTAÇÕES NO GENE RAS EM LEUCEMIAS

AGUDAS EM LACTENTES

VICTORIA EUGENIA GIMÉNEZ PÉREZ

Rio de Janeiro

2010

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RASTREAMENTO DE MUTAÇÕES NO GENE RAS EM LEUCEMIAS

AGUDAS EM LACTENTES

VICTORIA EUGENIA GIMÉNEZ PÉREZ

Sob a orientação da Dra. Maria do Socorro Pombo de Oliveira

e co-orientação da Dra. Mariana Emerenciano

Rio de Janeiro

2010

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Curso de Pós-Graduação do Instituto

Nacional de Câncer, como requisito

parcial para obtenção do título de

Mestre em Oncologia

3

P438r Pérez, Victoria Eugenia Giménez.

Rastreamento de mutações no gene RAS em leucemias agudas em lactentes / Victoria Eugenia Giménez Pérez. - Rio de Janeiro: INCA, 2010.

138 f.

Dissertação (Mestrado) - Instituto Nacional de Câncer. Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Oncologia do Instituto Nacional de Câncer (INCA-RJ), 2010. Orientador: Maria do Socorro Pombo de Oliveira. Co-Orientador: Mariana Emerenciano.

1. Leucemia Mielóide Aguda. 2. Leucemia Linfóide Aguda. 3. Genes RAS/rastreamento. 4. Lactente. 5. Polimorfismo de Fragmento de Restrição. 6. Tabagismo. I. Oliveira, Maria do Socorro Pombo de. II. Emerenciano, Mariana. III. Título.

CDD 616.99419027

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RASTREAMENTO DE MUTAÇÕES NO GENE RAS EM LEUCEMIAS

AGUDAS EM LACTENTES

Victoria Eugenia Giménez Pérez

ORIENTADORA: Dra. Maria do Socorro Pombo de Oliveira

CO-ORIENTADORA: Dra. Mariana Emerenciano

Aprovada em 26 de Fevereiro de 2010

BANCA EXAMINADORA:

Dr. Claudio Gustavo Stefanoff

(INCA)

Dr. Luiz Claudio Santos Thuler

(INCA)

Dra. Mihoko Yamamoto

(UNIFESP)

Dra. Claudete Esteves Nogueira Pinto Klumb

(INCA)

5

A todas as crianças que são o nosso estímulo e nossa força para nos empenharmos

e não desistirmos de trabalhar para lhes oferecer uma vida melhor

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AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar agradeço ao Instituto Nacional de Câncer, especialmente ao programa de

pós-graduação Stricto Sensu pela oportunidade de realizar o meu projeto e descobrir a minha

verdadeira vocação.

Agradeço à Dra. Maria do Socorro Pombo de Oliveira por me orientar e ter aberto as portas

do seu laboratório para poder realizar este trabalho.

Ao Ministério da Saúde e todas as agencias de fomento que financiaram o meu mestrado já

que sem sua ajuda teria sido impossível chegar até aqui.

Aos colegas do Programa de Hematologia e Oncologia Pediátricos pela ajuda que sempre

me ofereceram.

A Dra. Mariana Emerenciano que me acolheu, me ensinou, me ajudou e praticamente foi

um anjo da guarda nessa jornada, sem ela nada disso seria possível.

A Dra. Rosane e ao Diogo da divisão de Farmacologia pela grande ajuda e paciência que

tiveram para que o meu trabalho tivesse os resultados que hoje posso mostrar.

A Isabelle Small que foi indispensável para obter os dados estatísticos do meu trabalho e que

acabou se tornando uma pessoa muito querida para mim.

7

A minha amiga Camilla Andrade que foi a minha companheira, irmã, pano de lagrimas e que

sempre soube me dar uma palavra de apoio e me deu muita força para conseguir chegar até

aqui.

Ao Dr. Juliano Javert que foi o meu suporte, meu amigo e quem soube me ouvir e me

aconselhar no começo desta jornada.

A aqueles companheiros de laboratório que de um jeito ou de outro acabaram se tornando

meus amigos e que sempre estiveram nos momentos bons e não tão bons.... a vocês Lilian,

Eliane e Juliane meu muito obrigada!

A Kelly Cristina que começou como uma simples colega e que em pouco tempo foi

conquistando a minha amizade e o meu carinho, devo muito a você amiga. Muito obrigada

pela sua amizade e por todos os momentos de risadas que tivemos.

A todas aquelas pessoas que de um jeito ou de outro foram muito importantes para alcançar

esta vitoria, são tantas que não teria espaço para colocar o nome de cada uma delas, mas cada

uma sabe o quanto significam para mim.

E por último, mas aos mais importantes quero agradecer aos meus pais. Se não fosse pela

força, pela dedicação, pelo imenso esforço que fizeram para que eu continuasse lutando e pro

acreditarem tanto em mim eu não teria conseguido metade do que consegui nem seria o que

sou. OBRIGADA meus amores, minha vida, meu tudo!

8

“Si la naturaleza se opone lucharemos contra ella y haremos que nos obedezca”

Simón Antonio de la Santísima Trinidad Bolívar y Palacios

9

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1. Ontogenia das células sanguíneas............................................................................23

Figura 2. Desenho esquemático do FLT3................................................................................32

Figura 3. Agentes mutagênicos presentes na fumaça do cigarro.............................................38

Figura 4. Localização citogenética dos genes NRAS, KRAS e HRAS......................................41

Figura 5. Via de sinalização da RAS.......................................................................................43

Figura 6. Gel de agarose 1,5% da amplificação do KRAS.......................................................62

Figura 7. Géis de agarose de 3% para digestão do KRAS........................................................63

Figura 8. Gel de agarose 1,5% da amplificação do NRAS.......................................................64

Figura 9. Cromatogramas do controle e caso analisados por dHPLC.....................................66

Figura 10. Gráfico dos resultados do KRAS demonstrando os resultados percentuais da

análise........................................................................................................................................71

Figura 11. Gráfico dos resultados do NRAS demonstrando os resultados percentuais da

análise........................................................................................................................................74

10

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1. Classificação FAB das leucemias mielóides agudas........…....................................27

Tabela 2. Principais características demográficas e clínicas das leucemias infantis, Brasil,

1998-2008.................................................................................................................................70

Tabela 3. Análises das principais variáveis demográficas e status do KRAS em leucemias

agudas no Brasil........................................................................................................................72

Tabela 4. Análises das principais alterações laboratoriais e status do KRAS em leucemias

agudas no Brasil entre 1998-2008.............................................................................................73

Tabela 5. Análises das principais variáveis demográficas e status do NRAS em leucemias

agudas no Brasil, entre 1998-2008............................................................................................75

Tabela 6. Análises das principais alterações laboratoriais e status do NRAS em leucemias

agudas no Brasil, entre 1998-2008............................................................................................76

Tabela 7. Características clínicas e coexistência de alterações genéticas com os genes RAS (K

e N) mutados e selvagens..........................................................................................................77

Tabela 8. Principais características demográficas das mães de crianças com leucemias de

lactentes no Brasil, entre 1998-2008.........................................................................................78

Tabela 9. Relação entre o status do KRAS nas crianças com leucemias e o hábito de fumar na

família.......................................................................................................................................80

Tabela 10. Relação entre o status do NRAS nas leucemias e o hábito de fumar na

família.......................................................................................................................................81

Tabela 11. Descrição sumaria dos casos com KRAS e NRAS mutados e as principais variáveis

analisadas..................................................................................................................................82

11

LISTA DE ABREVIATURAS

AF4 – gene parceiro do MLL na t(4;11)(q21;q23)

AF5α – gene parceiro do MLL na t(5;11)(q12;q23)

AF6 – gene parceiro do MLL na t(6;11)(q27;q23)

AF9 – gene parceiro do MLL na t(9;11)(p22;q23)

AKT – família de proteínas cujos membros também são chamados de proteína quinase B

Asp-12 – ácido aspártico 12

ATP – adenosine triphosphate (adenosina trifosfato)

BCR-ABL – gene híbrido resultante da translocação recíproca dos cromossomos 9 e 22

BCSGIAL – Brazilian Colaboratory Study Group of Infant Acute Leukemia

BstNI – enzima de restrição proveniente do Bacillus stearothermophilus N I

CEP – comitê de ética em pesquisa

dHPLC – denaturing high-performance liquid chromatography (cromatografia liquida

desnaturante de alta performance)

DNA – ácido desoxirribonucléico

dNTP – desoxinucleotídeos

EDTA – ácido etilenodiaminotetraacético

EGFR – epidermal growth factor receptor (receptor do fator de crescimento epidermal)

EGIL – European Group for Immunophenotyping Leukaemia

Elk-1 – proteína da família oncogênica ETS

ENL – proteína nuclear capaz de ativar a transcrição de genes reporters sintéticos em ambas

as células mielóides e linfóides

ERK – extracellular signal-regulated kinases (quinase extracelular receptor-estimulada)

12

FAB – French-American-British group (grupo Franco-Americano-Britânico)

FLT3 – tirosina quinase Fms-like 3

GAPs – GTPase activating proteins (proteínas ativadores de GTPase)

GDP – guanosina difosfato

GRB2 – growth factor receptor-bound protein 2 (receptor do fator de crescimento ligado à

proteína 2)

GTP – guanosina trifosfato

HRAS – v-Harvey RAS

HSCs – hematopoetic stem cells (células-tronco hematopoéticas)

IGF-1 – insulin-like growth factor 1 (fator de crescimento tipo insulina 1)

ITD – internal tandem duplication (duplicação em repetição interna)

kb – kilobase (quilobase)

KCl – cloreto de potássio

KIT – gene que codifica o homologo do proto-oncogene c-KIT

KRAS – Kirsten RAS

LAL – leucemia aguda em lactente

LLA – leucemia linfoblástica aguda

LLA-c – leucemia linfoblástica aguda comum

LMA – leucemia mielóide aguda

LMC – leucemia mielóide crônica

LMMC – leucemia mielomonocítica crônica

MAPK – mitogen-activated protein kinase (proteína quinase receptor-estimulada)

MEK – mitogen regulated kinase (quinase regulada por metiletilcetona-mitogénio)

MgCl2 – cloreto de magnésio

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MLL – mixed lineage leukemia (leucemia de linhagem mista)

MO – medula óssea

MUT – mutante

NaOH – hidróxido de sódio

NF1 – gene localizado no cromossomo 17 que codifica a proteína neurofibrina 1 (NF1)

NRAS – neuroblastoma RAS

PAH – polycyclic aromatic hydrocarbons (hidrocarbonetos aromáticos policíclicos)

PBX1 – pre-B-cell leukemia homeobox 1 gene

PCR – polymerase chain reaction (reação em cadeia da polimerase)

PflMI – enzima de restrição proveniente do Pseudomonas fluorescens M I

PKC412 – substância estudada no tratamento de leucemia que pertence à família de drogas

inibidoras de proteína quinases

PTPN11 – gene que codifica a proteína tirosino fosfatase

RAF – protein tyrosine receptor protein kinase (receptor com atividade tirosina quinase)

RAS – gene inicialmente identificado em sarcoma de “ratos” envolvido em diversas

neoplasias

RFLP – restriction fragment lenght polymorphism (fragmentação por enzima de restrição

polimorfismo-específica)

rpm – rotações por minuto

RTK – receptor tirosina quinase

RT-PCR – reverse transcriptase polymerase chain reaction (reação em cadeia da polimerase

por transcriptase reversa)

SH2 – SRC homology 2 (homólogo SRC 2)

SH3 – SRC homology 3 (homólogo SRC 3)

14

SNC – sistema nervoso central

SOS – son of sevenless (proteína filha daquela com perda do fotoreceptor R7)

SP – sangue periférico

SSCP – Single-Strand Conformational Polymorphism

Taq – enzima Thermus aquaticus

TCLE – termo de consentimento livre e esclarecido

TE Buffer – Tris-EDTA buffer (tampão Tris-EDTA)

TKD – tyrosine kinase domain (dominio tirosino quinase)

TLH – tampão de lise de hemácias

TLN – tampão de lise de núcleos

Tris-HCl – Tris-hydrochloride

WT – wild type (selvagem)

15

RESUMO

As proteínas RAS ativam vias de sinalização para promover proliferação,

diferenciação, sobrevida e apoptose dependendo das condições celulares. Alelos mutantes das

isoformas do RAS (N-, K-, e H-) foram relacionados com subtipos de leucemias pediátricas e

alguns estudos sugerem a ocorrência da mutação RAS associada a exposições químicas,

especificamente carcinógenos do tabaco. Para rastrear as mutações no RAS e avaliar as

mutações em leucemias de lactentes (LLs), foi realizada uma investigação em 138 DNAs de

amostras de LL do Brazilian Collaborative Study Group of Infant Acute Leukemia (Pombo-

de-Oliveira e cols., 2006). Ao diagnóstico das leucemias, as mães foram entrevistadas,

respondendo questionário com questões sobre o hábito de fumar durante a gravidez.

As mutações no KRAS foram detectadas através da técnica Restriction Fragment

Lenght Polimorphism (RFLP) e no NRAS por denaturing High-Performance Liquid

Chromatography (dHPLC). Um total de 102 casos de leucemia linfoblástica aguda (LLA), 36

de leucemia mielóide aguda (LMA) foram analisados. A idade média na época do diagnóstico

foi de 11,9 meses e entre os casos de LLA foi observada a predominância do imunofenótipo

pró-B e nas LMAs o subtipo M4. As mutações KRAS foram detectadas em 26,1% (36/138),

enquanto NRAS em 15,2% (10/66). Em contraste com resultados anteriores, encontramos um

número maior de mutações do KRAS em pacientes com LLA (26,47%) quando comparado

com LMA (19,44%). Não foi encontrada nenhuma associação estatística significativa com a

idade da criança, sexo, cor da pele, peso ao nascer ou rearranjos no gene MLL. No entanto, foi

encontrada uma relação estatisticamente significativa com leucometria elevada [NRAS

(P=0,05)] e idade materna <30 [NRAS (P=0,03)]. O hábito materno de fumar antes ou durante

a gravidez não foi associado à ocorrência de LLs com mutações do RAS. No entanto, uma

16

associação de chance de risco entre as mutações no KRAS e as mães que relataram haver

fumantes em casa (pai e outros) ou no ambiente de trabalho durante a gravidez foi de OR 2,27

CI (1,13-4,57) (P=0,02). Portanto, ainda há questões a serem exploradas em relação à

exposição indireta ao tabaco, como a ocorrência do hábito familiar de fumar, bem como as

informações importantes sobre exposições maternas e LLs.

17

ABSTRACT

RAS proteins activate several pathways to promote proliferation, differentiation,

survival, and apoptosis depending on cellular conditions. Mutant alleles RAS isoforms (N-, K-

and H-) have correlated to pediatric leukemias subtypes and several studies suggest RAS-

mutation associated with chemical exposures specifically tobacco. In order to screen RAS

mutations and evaluate these mutations in infant leukemias (IL), 138 DNAs of ILs from the

Brazilian Collaborative Study Group of IAL (Pombo-de-Oliveira et al., 2006) were analyzed.

Mothers were interviewed answering a questionnaire with related questions about the

smoking habits during pregnancy. Restriction Fragment Length Polymorphism (RFLP)

detected KRAS mutations and denaturing High Performance Liquid Chromatography

(dHPLC) analysis detected NRAS mutations. A total of 102 ALL and 36 AML were analyzed.

The mean age at diagnosis was 11.9 months and among ALL cases was observed

predominance of pro-B immunophenotype and M4 in AML. KRAS mutations were detected in

26,1% (36/138) while 15.2% (10/66) in NRAS. Differing from previous results, a higher

number of KRAS mutations was found in patients with ALL (26,47%) when compared to

AML (19,44%). No significant statistical association was found with the age at diagnosis,

gender, skin color, birth weight or MLL rearrangements. Thus, a significant statistical

association was found in WBC count of NRAS (P=0,05) and maternal age of NRAS (P=0,03).

Maternal smoking habit before or during pregnancy was not associated to ILs with RAS

mutations occurrence. Thus, the risk association found between KRAS mutations and the

mothers that related having smokers at home (father or others) or at work was of OR 2,27 CI

(1,13-4,57) (P=0,02). That is why there still questions to be explored related to the tobacco

18

exposures as the occurrence of the smoking familiar habits and the important information

about maternal exposures and ILs.

19

SUMÁRIO

Índice de figuras..........................................................................................................................9

Índice de tabelas........................................................................................................................10

Lista de abreviaturas.................................................................................................................11

Resumo......................................................................................................................................15

Abstract.....................................................................................................................................17

1. Introdução..........................................................................................................................22

1.1. Leucemia de lactentes........................................................................................................24

1.1.1. Aspectos clínicos das leucemias linfoblástica agudas....................................................25

1.1.2. Aspectos clínicos das leucemias mielóides agudas........................................................26

1.1.3. Patogênese das leucemias com alterações do MLL na banda cromossômica 11q23......28

1.1.4. Interferência com a DNA topoisomerase II na gênese das translocações......................30

1.1.5. Patogênese das leucemias com mutações no gene FLT3...............................................31

1.1.6. Exposição a fatores ambientais e risco de leucemia aguda em lactentes.......................34

1.1.6.1. Leucemias agudas e sua relação à exposição à fumaça do cigarro.............................38

1.2. Gene RAS...........................................................................................................................39

1.2.1. Localização do RAS........................................................................................................40

1.2.2. Função do RAS................................................................................................................41

1.2.3. Alterações do RAS e sua associação com leucemias......................................................44

1.2.3.1. Coexistência de alterações nos genes MLL e RAS......................................................45

1.2.3.2. Coexistência de alterações nos genes FLT3 e RAS.....................................................46

1.2.4. Mutações no gene RAS e a sua associação com fatores ambientais...............................47

2. Justificativa do estudo.....................................................................................................50

20

3. Objetivos...........................................................................................................................54

4. Material e métodos..........................................................................................................56

4.1. Desenho do estudo.............................................................................................................57

4.2. Casuística...........................................................................................................................57

4.3. Extração de DNA para realização dos PCRs do gene RAS................................................58

4.4. Quantificação do DNA.......................................................................................................60

4.5. PCR para a amplificação do KRAS....................................................................................61

4.6. Digestão do gene KRAS com endonucleases de restrição..................................................62

4.7. PCR para a amplificação do NRAS....................................................................................63

4.8. Denaturing high pressure liquid cromatography na detecção das mutações do NRAS.....65

4.9. Análise estatística...............................................................................................................67

5. Resultados..........................................................................................................................68

5.1. Análises de frequências......................................................................................................69

5.1.1. Características clínicas das amostras..............................................................................69

5.2. Rastreamento de mutações no gene KRAS.........................................................................70

5.2.1. Características clínicas das amostras com as alterações genéticas no gene KRAS.........71

5.3. Rastreamento de mutações no gene NRAS.........................................................................74

5.3.1. Características clínicas das amostras com as alterações genéticas no gene NRAS.........74

5.4. Análises epidemiológicas com as características demográficas e hábito de fumar na

família de crianças com leucemias em lactentes.......................................................................78

6. Discussão............................................................................................................................85

7. Conclusão...........................................................................................................................96

8. Referências bibliográficas................................................................................................98

9. Anexos..............................................................................................................................128

21

9.1. Ficha de encaminhamento................................................................................................129

9.2. TCLE................................................................................................................................130

9.3. Géis de RFLP...................................................................................................................133

9.4. Cromatogramas do dHPLC..............................................................................................136

1. INTRODUÇÃO

22

Fisiologicamente, a medula óssea (MO) é responsável pela formação de novas células

sanguíneas (hematopoese). Norteados pelas citosinas e pelos fatores de crescimento

23

hematopoéticos, todos os tipos celulares sanguíneos derivam de um reservatório comum de

células-tronco hematopoéticas (HSCs) pluripotentes (Fig. 1). Estas HSCs pluripotentes

possuem capacidade de auto-renovação e também são capazes de se diferenciarem em células

precursoras comprometidas com as linhagens linfóides ou não-linfóides (mielóides) (Zago e

cols., 2001) (Fig. 1). Todos estes eventos são resultantes de um processo rigorosamente

balanceado e altamente organizado de proliferação, diferenciação, maturação e sobrevivência

celular.

Figura 1: Ontogenia das células sanguíneas

Nas leucemias agudas ocorre um descontrole dos mecanismos fisiológicos de

proliferação, maturação e liberação dos leucócitos. Na maioria das vezes, devido à intensa

proliferação, há uma incapacidade dos mecanismos celulares de reparar uma mutação e a

célula alterada passa então a se multiplicar descontroladamente (Zago e cols., 2001). As

24

leucemias agudas podem ser classificadas de acordo com a origem da linhagem celular, em

leucemia linfoblástica aguda (LLA) originada de precursores da linhagem linfóide e a

leucemia mielóide aguda (LMA) originada de precursores da linhagem mielóide.

Variações genéticas contribuem para a transformação leucêmica das células-tronco

hematopoéticas e de seus progenitores comprometidos, alterando suas funções celulares. Elas

comprometem processos regulatórios essenciais, mantendo ou intensificando uma capacidade

de auto-renovação ilimitada, subvertendo os controles de proliferação normal, bloqueando a

diferenciação e promovendo resistência ao sinal de morte (apoptose) (Hanahan e Weinberg,

2000).

1.1. Leucemia de lactentes

A leucemia é a malignidade pediátrica mais comum no Brasil, contando por

aproximadamente 18% a 41% de todos os novos diagnósticos de câncer abaixo dos 19 anos de

idade (de Camargo e cols., 2010). Para lactentes abaixo dos 12 meses de idade, as leucemias

compreendem aproximadamente 16% de todas as malignidades neoplásicas (depois do

neuroblastoma) com uma taxa geral de incidência de aproximadamente 36 casos por milhão

de lactentes. Possui características epidemiológicas, biológicas e clínicas únicas (Ross, 2008).

A maioria dos casos de LLA e LMA em lactentes é caracterizada por uma contagem

leucocitária elevada, doença extramedular volumosa, uma propensão à expressão de

marcadores fenotípicos linfóides e mielóides, e alterações cromossômicas do gene MLL na

banda cromossômica 11q23 (Pui e cols., 1995; Reaman e cols., 1999; Biondi e cols., 2000).

As LLAs são mais freqüentes que as LMAs representando aproximadamente 80-85%

das leucemias (Chowdhury e Brady, 2008). A LLA em lactentes é tipicamente apresentada

25

com um fenótipo imaturo de células pró-B, algumas vezes com antígenos de marcadores

mielóides. Já as LMAs em lactentes, se apresentam principalmente com uma classificação

morfológica M4 ou M5 (Chessells, 1992). O pico de incidência anual de 10,6 casos por

milhão de LMAs pediátricas ocorre durante o primeiro ano de vida. Em contraste, o pico de

incidência anual de 76,6 casos por milhão ocorre entre os 2 e 3 anos de vida (Gurney e cols.,

1995). Ambas a LLA e a LMA ocorrem com maior freqüência em meninas do que em

meninos (Gurney e cols., 1995) e as taxas em lactentes brancos são mais elevadas que as dos

lactentes não brancos (Gurney e cols., 1995).

Como os rearranjos recíprocos envolvendo o gene MLL são as características genéticas

mais comuns nas leucemias agudas em lactentes (LALs) é importante entender como os genes

de fusão podem ter sido originados possivelmente como um efeito de exposições,

principalmente transplacentária.

1.2.5. Aspectos clínicos das leucemias linfoblásticas agudas em lactentes

No diagnóstico inicial, a LLA em lactentes está caracterizada por uma contagem

leucocitária médiana de >50X109/l, hepatoesplenomegalia frequente, e envolvimento do

sistema nervoso central (SNC) (Reaman e cols., 1999). De 14% a 41% dos lactentes tem

doença do SNC no diagnóstico, comparado com aproximadamente 5% das crianças com LLA

(Reaman e cols., 1999). Embora o fenótipo imaturo de linhagem B ocorre com maior

freqüência do que o de linhagem T, a linhagem é ambígua ou mista, com ambas as populações

linfóide e mielóide presentes na maioria das leucemias de lactentes (Matamoros e cols.,

1994). A translocação t(4;11)(q21;q23) é a mais freqüente (Behm e cols., 1996), seguida pela

t(11;19)(q23;p13) (Rubnitz e cols., 1996). Enquanto a t(5;15)(p15;q11-q13) vem sendo

26

descrita como importante, pois t(4;11)(q21;q23) confere um prognóstico ruim e resistência

terapêutica (Behm e cols., 1996; Pui e cols., 1996; Reaman e cols., 1999; Pui e cols., 2003)

enquanto t(5;15)(p15;q11-q13) confere uma boa sobrevida em 5 anos..

1.2.6. Aspectos clínicos das leucemias mielóides agudas

A LMA é uma doença bastante heterogênea com consideração nas características

clínicas e alterações genéticas adquiridas, ambas detectáveis microscopicamente como

aberrações cromossômicas estruturais e numéricas, e aquelas detectadas como mutações

genéticas sub-microscópicas e mudanças na expressão genética (Tenen, 2003; Mrózek e

Bloomfield, 2006). Caracteriza-se por um acúmulo de precursores granulocíticos e

monocíticos na MO e no sangue (Tenen, 2003). Nos lactentes se caracteriza por

hepatoesplenomegalia, leucemia cútis, doença no SNC, e uma elevada contagem leucocitária

ao diagnóstico (Lampkin, 1997). Apesar da elevada carga tumoral, os lactentes apresentam

menos acidentes cardiovasculares e leucostase pulmonar do que as crianças. Os diferentes

subtipos são categorizados no estagio no qual a diferenciação normal foi bloqueada nos

blastos leucêmicos (Bennett e cols., 1976) (tabela 1).

Tabela 1: Sumário da classificação das leucemias mielóides agudas, de acordo com os

critérios FAB

Subtipos Descrição

27

M0 Leucemia mieloblástica aguda indiferenciada

M1 Leucemia mieloblástica aguda sem maturação

M2 Leucemia mieloblástica aguda com maturação

M3 Leucemia promielocítica aguda ou promielocítica

M4 Leucemia mielomonocítica aguda

M5 Leucemia monoblástica aguda

M6 Leucemia eritróide aguda ou Eritroleucemia

M7 Leucemia megacarioblástica aguda

A translocação t(9;11)(p22;q23) é a mais comum nas LMAs de lactentes, seguida da

t(10;11)(p12;q23) (Meyer e cols., 2009). Os casos de LMAs M4 ou M5 sem translocações no

MLL incluem leucemias com inv(16), frequentemente as M4 com eosinofilia (M4eo), e

leucemias com monossomia do 7, anormalidades citogenéticas aleatórias, ou cariótipos

normais (Kalwinsky e cols., 1990).

No estudo de Jones e cols. (Jones e cols., 2010) assim como em estudos prévios

(Goemans e cols., 2005; Boissel e cols., 2006; Cairoli e cols., 2006) as mutações no KIT,

FLT3, e no RAS estão associadas com contagem leucocitária elevada, consistente com o papel

destas mutações na via do crescimento celular na leucemia e um desfecho adverso (Nguyen e

cols., 2002; Care e cols., 2003; Meshinchi e cols., 2003; Schlenk e cols., 2004; Wang e cols.,

2005; Paschka e cols., 2006; Schnittger e cols., 2006; Kim e cols., 2008). Recentemente

alguns estudos demonstraram resultados controversos entre a associação do estado mutacional

de NRAS/KRAS e o prognóstico dos pacientes adultos. (Boissel e cols., 2006; Jones e cols.,

2010). O desfecho dos pacientes com LMA com a t(9;11)(p22;q23) pode depender tanto da

idade quanto da contagem leucocitária, uma vez que um grande estudo sobre o prognóstico de

LMA, encontrou o melhor desfecho para pacientes entre 1 a 9 anos de idade com baixa

contagem leucocitária (Swansbury e cols., 1998). Há um consenso de que as translocações no

28

MLL com determinados genes parceiros confere um prognóstico desfavorável também em

LMA (Lillington e cols., 1998; Martineau e cols., 1998; Moorman e cols., 1998). Em

contraste à LLA, na LMA o fato de ser lactente por si só não é um prognóstico desfavorável

(Woods e cols., 1996; Smith, 1997). Esta diferença pode ser devido à elevada incidência de

translocações no MLL e morfologias M4/M5 em crianças até 4 anos de idade, à fusão do MLL

com parceiros que sejam menos favoráveis e o desfecho relativamente ruim para a maioria

das LMAs fora da população de lactentes (Hann e cols., 1997).

Durante a última década, vários estudos mostraram que a presença ou ausência de

mutações genéticas específicas e/ou mudanças na expressão gênica tem afetado no

prognóstico dos pacientes (Mrózek e cols., 2006). Até o momento, provavelmente o fator

prognóstico mais importante na LMA citogeneticamente normal é a duplicação em repetição

interna (ITD) do FLT3.

Em ambos os casos de leucemias de lactentes (LLA e LMA), cujos prognósticos ainda

são sombrios, as características da patogênese com os rearranjos do MLL como fator

preponderante, podem ser mais bem exploradas com investigações relevantes quanto a

compreensão da interação de fatores que induzem a leucemogênese.

1.2.7. Patogênese das leucemias com alterações do MLL na banda cromossômica

11q23

O MLL desempenha um papel importante na hematopoese maligna, regulando a

diferenciação hematopoética (Ernst e cols., 2002; Emerenciano e cols., 2005; Popovic e

Zeleznik-Le, 2005; Mullighan e cols., 2007). O MLL tem 90kb de comprimento, contém 38

éxons, e codifica 3969 aminoácidos protéicos (Rasio e cols., 1996). A proteína MLL contém

29

motivos estruturais que sugerem uma função na regulação da transcrição de outros genes

(Domer e cols., 1993). Os rearranjos do MLL incluem deleções, duplicações, inversões e

translocações recíprocas no 11q23, e estes estão implicados em aproximadamente 5-10% de

todas as leucemias em crianças e adultos (Chowdhury e Brady, 2008). Os pontos de quebra

das translocações na leucemia de lactentes e nos casos relacionados aos inibidores da DNA

topoisomerase II geralmente se encontram mesma região de freqüentes quebras (bcr) 8,3kb

entre os éxons 5 e 11 do MLL (Felix e cols., 1998).

Recentemente as alterações envolvendo o MLL foram amplamente estudadas e 104

diferentes rearranjos envolvendo a região 11q23 e 64 diferentes genes já foram caracterizados

(Borkhardt e cols., 1997; Hillion e cols., 1997; Megonigal e cols., 1998; Meyer e cols., 2006;

Meyer e cols., 2009). No entanto, as translocações mais comuns são aquelas envolvendo

genes localizados nos cromossomos 4, 6, 9, ou 19 (Ross, 2008). Os genes parceiros codificam

produtos protéicos de vários tipos diferentes e podem ser distintos quanto ao tipo de

leucemias. Por exemplo, o gene AF4 na banda cromossômica 4q21, o qual é membro de uma

família de genes transcricionais, é o parceiro mais comum do MLL nas LLAs (Nilson e cols.,

1997; Pui e cols., 2003). O AF9 na banda cromossômica 9p22 e o ENL na banda

cromossômica 19p13 também são genes parceiros comuns e codificam fatores de transcrição

(Rubnitz e cols., 1994; Pui e cols., 2003) e encontrados na LLA e LMA. No que se refere as

LMAs, os rearranjos do MLL podem ocorrer por translocações complexas que fusionam MLL

com 2 genes parceiros diferentes como o AF6 e AF5α, típicos da LMA-M5 em lactentes (Taki

e cols., 1996). Além das numerosas translocações, duplicações parciais de diversos éxons do

MLL também ocorrem dentro do bcr (Schichman e cols., 1995).

Rearranjos do MLL únicos e idênticos foram primeiramente detectados em casos de

LLA (Ford e cols., 1993; Gill-Super e cols., 1994; Mahmoud e cols., 1995), e depois em casos

30

de LMA (Megonigal e cols., 1998). Eles caracterizaram a t(4;11)(q21;q23) e a

t(11;19)(q23;p13) na maioria dos casos de LLA, enquanto que na LMA num par de gêmeos

lactentes mostraram t(11;22)(q23;q11) (Megonigal e cols., 1998). Evidências adicionais para

eventos pré-natais na gênese das leucemias em lactentes provem dos estudos de Gale e cols.

(Gale e cols., 1997). Pela amplificação por reação em cadeia de polimerase (PCR) do DNA

genômico das amostras neonatais de sangue (cartão de filtro), estes pesquisadores mostraram

que as translocações leucemo-específicas t(4;11)(q21;q23) já estavam presentes no momento

do nascimento nos pacientes diagnosticados com LLA de 5 meses até os 2 anos de idade

(Gale e cols., 1997).

1.2.8. Interferência com a DNA topoisomerase II na gênese das translocações

A DNA topoisomerase II catalisa o relaxamento do anelamento do DNA através de um

mecanismo de clivagem e re-ligamento de ambas as fitas da dupla-hélice (Corbett e Osheroff,

1993; Bromberg e cols., 2003). As epipodofilotoxinas são chamadas de inibidores da

topoisomerase II porque diminuem a taxa de re-ligamento, causando uma quebra

cromossômica (Chen e Liu, 1994). Entre os inibidores da topoisomerase II estão o benzeno,

metabólitos, como benzoquinona, isoflavonas, antraquinona, e antibióticos quinolonas (Ross e

cols., 1994). O reparo da quebra cromossômica mediado pela topoisomerase II também pode

resultar em translocações (Felix e cols., 1995). A análise da seqüência genômica mostrou

sítios de reconhecimento pela topoisomerase II co-localizados aos pontos de quebra

genômicos do MLL (Gu e cols., 1994). Os sítios abásicos (sítios com ausência de uma purina

ou pirimidina) também aumentam a clivagem da topoisomerase II o que levou a Kingma e

31

cols. a propor que os sítios abásicos também podem romper a topoisomerase II e promover

translocações (Kingma e cols., 1997).

A interferência na topoisomerase II, seja pelas drogas anti-câncer topoisomerase II

alvo-específicas, substâncias da dieta, ou sítios abásicos espontâneos, pode ser a característica

compartilhada entre a leucemia ao tratamento e à leucemia em lactentes (Felix e Lange,

1999).

As duplicações e inserções no DNA foram observadas nas junções dos pontos de

quebra das translocações do MLL (Reichel e cols., 1998). Estes achados sugerem um

mecanismo complicado de translocação que envolve a possibilidade de uma quebra

cromossômica pela topoisomerase II, um processamento, e ligação das regiões terminais

quebradas pelo reparo do DNA (Reichel e cols., 1998).

1.2.9. Patogênese das leucemias com mutações no gene FLT3

Experimentos na ablação de genes estabeleceram que o FLT3 tem um papel

importante no desenvolvimento hematopoético (Mackarehtschian e cols., 1995). Estudos mais

recentes mostraram que o FLT3 está mutado e ativo constitutivamente em aproximadamente

30% dos casos de LMA (Gilliland e Griffin, 2002). Devido ao elevado nível de expressão do

FLT3 nos pacientes com MLL rearranjado e seu perfil de expressão gênica na hematopoese,

Armstrong e cols. (Armstrong e cols., 2003) realizaram um estudo com a técnica de

microarranjo, destacando FLT3 como um exemplo de um potencial alvo terapêutico, com uma

superexpressão do gene selvagem, característica distinguível de LLA MLL+ sobre LLA MLL

-

e LMA.

32

O FLT3 é um receptor tirosino quinase expresso por células hematopoéticas imaturas e

que junto com o seu ligante, é importante para o desenvolvimento normal das células tronco e

o sistema imune (Fig. 2). Enquanto a superexpressão do FLT3 selvagem com o seu ligante é

um mecanismo potencial do envolvimento do FLT3 nas leucemias, a presença de mutações (a

maioria pontuais) ativas do FLT3, incluindo a duplicação em repetição interna (ITD) ou o

loop de ativação do domínio quinase, destacam a importância deste gene (Chowdhury e

Brady, 2008). Recentemente, as mutações FLT3 têm sido encontradas em pacientes com LLA

(1-3% dos pacientes), mielodisplasia (5-10%) e LMA (15-35%), fazendo do FLT3 um dos

genes mais freqüentemente mutados nas malignidades hematológicas (Stirewalt e Radich,

2003).

Figura 2: Desenho esquemático do FLT3. Modificado de

http://www.fleury.com.br/Medicos/SaudeEmDia/RevistaMedicinaESaude.aspx

Mutações no FLT3 em leucemias MLL foram achadas em 8 (18%) de 44 lactentes com

LLA com rearranjos no MLL (Taketani e cols., 2004). A expressão do FLT3 em 41 lactentes

com rearranjos no MLL encontrou-se significativamente elevada quando comparada às

linhagens germinativas do MLL em LLAs de lactentes e não lactentes, e as células leucêmicas

33

de MLL em lactentes foram significativamente mais sensíveis ao PKC412, inibidor da FLT3,

do que as células de LLAs dos não lactentes (Stam e cols., 2005). Enquanto os testes clínicos

de inibidores da FLT3 têm incluído principalmente pacientes adultos e a eficácia clínica ainda

tem que ser determinada, eles podem ter uma aplicação potencial também nos casos

pediátricos.

A forma mais comum da mutação no FLT3 é a ITD nos éxons 14 e 15 (anteriormente

conhecidos como éxons 11 e 12), que ocorre em 15-35% dos pacientes com LMA (Abu-

Duhier e cols., 2000; Kottardis e cols., 2001; Meshinchi e cols., 2001; Stirewalt e cols., 2001;

Schnittger e cols., 2002; Thiede e cols., 2002) e 5-10% dos pacientes com mielodisplasia

(Yokota e cols., 1997). As FLT3-ITDs são formadas quando um fragmento da seqüência

codificante do domínio justamembrana é duplicado e inserido. O comprimento do ITD varia

de 3 a ≥400pb, e a estrutura de leitura do transcrito sempre é preservada, seja pela duplicação

“in-frame” ou pela inserção de nucleotídeos na junção ITD para manter a estrutura original de

leitura (Schnittger e cols., 2002).

A segunda mutação mais comum do FLT3 é a mutação pontual missense no éxon 20

(previamente conhecido como o éxon 17) do domínio tirosino quinase (TKD). As mutações

no TKD ocorrem em pacientes com LMA (5-10%), SMD (2-5%) e LLA (1-3%) (Abu-Duhier

e cols., 2001; Yamamoto e cols., 2001; Thiede e cols., 2002), e a substituição do nucleotídeo

(GAT→TAT) que muda um acido aspártico por uma tirosina. Outras mutações no códon 835,

como deleções, também tem sido descritas, mas são menos comuns. Um único paciente pode

ocasionalmente ter ambas mutações pontuais ITD e TKD no FLT3, mas a maioria dos

pacientes só tem um tipo de mutação (Thiede e cols., 2002; Meshinchi e cols., 2003). No

total, aproximadamente 25-45% dos pacientes com LMA terão alguma forma de mutação no

FLT3 (Stirewalt e Radich, 2003).

34

Nas LMAs, as FLT3-ITDs geralmente são encontradas em pacientes com t(15;17). Foi

hipotetizado que o desenvolvimento de LMA requer pelo menos dois tipos de anormalidades

genéticas que disrompem independentemente pelo menos dois processos regulatórios nas

células hematopoéticas (Stirewalt e Radich, 2003). Esta teoria deriva da hipótese dos “dois

eventos” de Knudson que propõe que a maioria dos cânceres requer pelo menos duas

mutações, a primeira podendo ser tanto germinativa quanto somática, enquanto que a segunda

sempre é somática (Knudson e cols., 1975). Porém, apesar deste conceito ser intelectualmente

satisfatório, ainda não está claro como as mutações no FLT3 realmente cooperam no

desenvolvimento de câncer. Por exemplo, as mutações no FLT3 alteram a diferenciação,

proliferação e apoptose (Hayakawa e cols., 2000; Mizuki e cols., 2000; Meshinchi e cols.,

2001; Zheng e cols., 2002), e os componentes destas vias regulatórias apresentam elevada

redundância e o “cross-talk”. Então, uma única mutação não poderá acometer totalmente uma

via completa ou sua função regulatória, ou pode não afetar uma única via funcional. Em

alguns casos, deve haver um efeito de “dosagem da via”, através do qual as diferentes

mutações devem agir na mesma via regulatória para promover uma disrupção mais completa

da sua atividade normal (Stirewalt e Radich, 2003).

1.2.10. Exposição a fatores ambientais e risco de leucemia aguda em lactentes

Não há dúvidas de que o risco de desenvolver LAL é modulado por interações

complexas entre predisposições herdadas, exposições ambientais a agentes danificadores e

eventos ao acaso (Spector e cols., 2005). A LAL constitui um grupo único que serve como

modelo para investigações epidemiológicas, pois o período de exposição a agentes relevantes

é curto e conhecido (Ross e cols., 1994). Uma vez que exposições ocupacionais ou ambientais

35

a radiação ionizante, solventes, derivados do petróleo e pesticidas foram correlacionadas a um

risco aumentado de LMA em adultos, os primeiros estudos epidemiológicos em leucemias

pediátricas focaram nestes agentes (Buckley, 1992).

A maioria dos estudos que avaliam a relação entre a exposição a pesticidas de uso

doméstico e leucemias em lactentes sugerem que o risco aumentado de leucemia está

associado com a exposição in utero e pós-natal a pesticidas (Zaham e Ward, 1998; Meinert e

cols., 2000). Estudos mostram que o risco na exposição durante a gravidez é maior que os

riscos para exposições após o nascimento. O uso doméstico freqüente de pesticidas durante o

período pré-natal também foi associado ao aumento no risco de desenvolver LLA (Infante-

Rivard e cols., 1999; Ma e cols., 2002). Pode-se inferir que o embrião ou feto é especialmente

sensível ou susceptível a carcinógenos no ambiente. Há evidências que a LLA se inicia in

utero (Ford e cols., 1993), e tem se mostrado que algumas translocações cromossômicas

relacionadas à incidência desta leucemia em lactentes também é de origem pré-natal

(Wiemels e cols., 1999a; Wiemels e cols., 1999b).

A exposição parental a químicos relacionada à ocupação, como pesticidas e solventes,

também foi sugerida como um fator de risco para a leucemia de lactentes (Meinert e cols.,

2000). As crianças que habitam em comunidades agrícolas também podem ser expostas a

pesticidas de uso agrícola (Lu e cols., 2000). Estudos caso-controle conduzidos entre 1980 e

1984 pelo Children’s Cancer Group encontraram que as exposições parentais peri-natais a

pesticidas e marihuana, e o uso materno de etanol durante a gravidez, estavam

significativamente associadas à LMA M4 e M5 em crianças e lactentes (Buckley, 1992;

Severson e cols., 1993).

Semelhanças clínicas e moleculares observadas entre leucemias em lactentes e casos

induzidos por epipodofilotoxina serviram de base para o estudo epidemiológico no qual Ross

36

e cols. determinaram que o consumo materno de inibidores da topoisomerase II pode ser um

fator nas LMAs, mas não nas LLAs em lactentes (Ross e cols., 1996). A dieta materna com

inibidores de topoisomerase II incluía cafeína, quercitina em frutas e vegetais frescos, e

catequinas no cacau (Ross e cols., 1996). Como já foi mostrado, as associações entre o

consumo de álcool durante a gravidez e LMAs em lactentes foram sugeridas. Além disso, os

metabólitos podem interferir na topoisomerase II (Reynolds, 1998). Fórmulas a base de soja

podem expor os lactentes a altos níveis de isoflavonas, incluindo daidzeína e genisteína,

outros inibidores da topoisomerase II (Corbett e Osheroff, 1993; Setchell e cols., 1997),

levantando questões sobre a função potencial da topoisomerase II nas leucemias de lactentes.

O alto peso ao nascer também foi correlacionado com um risco aumentado de LLA e

LMA. Resultados concordantes foram observados no Grupo Brasileiro de Estudo

Colaborativo da Leucemia Aguda em Lactente (BCSGIAL), usando a informação sobre o

peso obtida a partir de questionários de 202 casos de LAL e 440 controles (Koifman e cols.,

2008). Como o fator de crescimento insulina tipo 1 (IGF-1) é importante na formação e

regulação sanguínea e foi demonstrado que é capaz de estimular o crescimento tanto de

células mielóides quanto linfóides em cultura, foi postulado que altos níveis de IGF-1 podem

gerar bebês grandes e contribuir com o desenvolvimento da leucemia (Ross e cols., 1996;

Koifman e cols., 2008).

Outro fator de risco determinado em diversos estudos epidemiológicos foi o baixo

status socioeconômico, medido pelos ingressos e a educação materna. Este fator foi associado

a um risco aumentado de LALs (Ross e cols., 1997; Pombo-de-Oliveira e cols., 2006). Estes

resultados contrastam com o de crianças com <24 meses de idade, de classe média e alta, que

tendem a ter um risco aumentado de desenvolver LLA-c associada à superproteção e aos altos

padrões de vida (Gale e cols., 1997). Esta diferença é plausível e pode ser explicada pela

37

exposição negligente a componentes ambientais nocivos entre as mães com menos educação,

baixa renda e geralmente menos conhecimento sobre os fatores de risco à saúde em geral

(Pombo-de-Oliveira e cols., 2006).

O estudo realizado por Pombo-de-Oliveira e cols. (Pombo-de-Oliveira e cols., 2006)

sugeriu que algumas exposições ambientais durante a gravidez pode levar a um aumento no

risco de LAL na descendência. Uma significância estatística notavelmente elevada foi

observada para uma exposição hormonal durante a gravidez. A associação positiva entre a

exposição materna a dipirona e a LAL oferece um suporte para estudos prévios (Alexander e

cols., 2001; Ma e cols., 2002). O consumo de dipirona durante a gravidez foi previamente

associada a tumor de Wilms’ (Sharpe e cols., 1996) e no estudo (Pombo-de-Oliveira e cols.,

2006) também se encontrou uma associação às LLAs com rearranjos no MLL, sugerindo que a

dipirona pode ser considerada nociva durante a gravidez, especialmente no Brasil onde é um

composto baixo custo e pode oferecer um risco elevado para malignidades infantis (Sharpe e

cols., 1996; Alexander e cols., 2001).

Em relação ao hábito de fumar dos pais antes ou durante a gestação ser considerado

como um fator de risco para o desenvolvimento de leucemia em lactentes é controverso

(Belson e cols., 2007). Dois estudos encontraram que a freqüência, quantidade, e duração do

hábito de fumar do pai antes da concepção foram relacionadas a um risco significativamente

elevado (Sorahan e cols., 1995; Ji e cols., 1997). Porém, outros estudos não encontraram

nenhuma associação entre a doença e o hábito paterno de fumar em algum momento

(Brondum e cols., 1999).

Estudos relacionados ao fumo passivo durante a infância, apesar de menos numerosos,

também não conseguiram mostrar uma relação com a leucemia (Sasco e Vainio, 1999).

Apesar dos resultados negativos parecerem consistentes até o momento, o hábito de fumar

38

ainda permanece como uma exposição de interesse devido ao seu potencial carcinogênico em

vários órgãos, a habilidade de vários constituintes do cigarro de atravessar a barreira

placentária e sua alta prevalência durante a gravidez (Menegaux e cols., 2005).

1.2.10.1. Leucemias agudas e sua relação à exposição à fumaça do cigarro

A fumaça do cigarro possui milhares de componentes incluindo vários agentes

mutagênicos tais como, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAH) e nitrosaminas (Fig.

3), esta mistura é considerada como um carcinogênico completo (Belpomme, 2005).

Figura 3: Agentes mutagênicos presentes na fumaça do cigarro.

O papel do hábito de fumar dos pais é pouco conhecido, mas sabe-se que é

biologicamente plausível. Recém-nascidos de mães fumantes mostraram um aumento na

freqüência de anomalias cromossômicas (Pluth e cols., 2000), assim como também se

observou associação em danos oxidativos e aneuploidias dos espermatozóides dos pais

fumantes (Shi e cols., 2001).

Um estudo de caso-controle na China no qual nenhuma das mães fumou mostrou que

o risco de leucemia aguda infantil aumentou se o pai fumou 5 ou mais maços de cigarros por

ano antes da concepção (Ji e cols., 1997). Um grande estudo de caso-controle no Reino Unido

baseado em 1630 casos de leucemia e 6987 controles mostrou uma tendência ao aumento não-

significativo na associação de leucemia infantil com o hábito de fumar do pai antes da

39

concepção e uma tendência decrescente quando a mãe fumou durante a gravidez (Pang e

cols., 2003).

Em contraste, um grande estudo caso-controle realizado nos Estados Unidos realizado

em aproximadamente 2.500 casos de leucemia e 2.500 controles não encontrou evidências de

uma associação entre o hábito de fumar do pai e da mãe antes ou durante a gravidez e a

leucemia infantil (Brondum e cols., 1999). Recentemente, um estudo populacional com uma

coorte de 1.440.542 crianças Suecas indicou que o hábito de fumar da mãe entre a oitava e a

décima segunda semana de gestação estava associado a um risco significativamente reduzido

para LLA e elevado para LMA (Mucci e cols., 2004).

Estes modelos de estudos podem explicar parcialmente os resultados inconsistentes da

relação do hábito de fumar dos pais com as leucemias em lactentes (Chang e cols., 2006).

1.3. Gene RAS

As alterações no genoma celular que afetam a expressão ou função de genes que

controlam o crescimento e diferenciação da célula são consideradas a principal causa de

câncer. A pesquisa molecular do câncer tem como propósito identificar genes que são

alterados nos vários tipos de tumores e desvendar o papel destes genes na carcinogênese. A

família de genes que freqüentemente resguarda uma mutação nos tumores humanos é a dos

genes RAS (Barbacid, 1987).

O primeiro oncogene foi isolado do tumor de bexiga humano e foi quase idêntico ao

gene humano normal e ao gene presente no vírus tumoral que infectou os camundongos

utilizados num estudo anterior. Este gene foi denominado RAS, porque foi originalmente

isolado de “ratos” (camundongos) com sarcoma e também causou sarcomas nos humanos. A

40

única diferença significativa encontrada entre o gene humano normal, o gene do tumor de

bexiga e o gene viral do roedor foi a mudança no códon 12 e, conseqüentemente uma

mudança nos aminoácidos (Singer, 1992). Logo se estabeleceu que os agentes ativos na

transformação do DNA da linhagem celular de câncer de bexiga humano eram os homólogos

do HRAS e do KRAS, oncogenes encontrados no retrovírus Harvey e Kirsten, respectivamente

(Der e cols., 1982) de sarcoma de camundongo. Eles demonstraram pela primeira vez que os

tumores humanos possuíam oncogenes ativados, relacionados a aqueles retirados de retrovírus

dos seus genomas hospedeiros.

Depois de alguns meses, os mesmos grupos encontraram que a diferença entre o gene

humano HRAS normal e a forma oncogênica encontrada nos tumores era uma única mutação

pontual. Rapidamente tornou-se claro que uma grande proporção de tumores humanos possuía

tais mutações ativadas nos oncogenes RAS (Malumbres e Barbacid, 2003; Denayer e cols.,

2008). Assim começou a pesquisa nas três proteínas intimamente relacionadas, H-, K-, e

NRAS, que coletivamente são referidas como RAS (Downward, 2006).

1.3.1. Localização do RAS

O NRAS foi localizado no braço curto do cromossomo 1 (Davis e cols., 1983). Uma

banda escura foi observada logo acima do centrômero na banda 1p13, mas foi em 1995 que

Mitchell e cols. precisaram a localização do NRAS na banda 1p13.2 (Fig. 4a). O mapeamento

do KRAS foi realizado pelo método da fragmentação por enzima de restrição polimorfismo-

específica (RFLP) que confirmou a localização aproximada do KRAS no 12p12.1 (O’Connell

e cols., 1985) (Fig. 4b). Já o HRAS foi mapeado, por hibridização de células somáticas, no

cromossomo 11p15.5 (Junien e cols., 1984) (Fig. 4c).

41

Figura 4: Localização citogenética dos genes NRAS, KRAS e HRAS

1.3.2. Função do RAS

As vias de controle de sinalização das proteínas RAS são reguladores chaves do

crescimento celular normal. Aproximadamente 20-30% de todos os tumores possuem uma

mutação de ativação em um dos RAS. Nestes tumores, a proteína RAS ativa contribui

significativamente em vários aspectos do fenótipo maligno, incluindo a desregulação do

crescimento celular, morte celular programada e invasão, e a habilidade para neo-

angiogênese. Outra importante função da RAS e dos seus efetores a jusante é seu

envolvimento nos processos neuronais como aprendizado, memória e plasticidade sináptica

(Denayer e cols., 2008).

As RAS são proteínas ligadas ao nucleotídeo guanosina que ciclam entre uma

conformação GTP-ligante ativa e GDP-ligante inativa (Fig. 5). Elas podem ser ativadas

quando um fator de crescimento se liga a um receptor tirosino quinase, como o receptor do

fator de crescimento epidermal (EGFR). Isso resulta em uma dimerização e auto-fosforilação

42

do receptor, que se liga ao domínio SH2 da proteína adaptadora GRB2. Através do seu

domínio SH3, a GRB2 se liga a SOS, que é assim recrutada para a membrana plasmática (Fig.

5). As proteínas SOS (SOS1 e SOS2) são RAS-GEFs (fatores de intercâmbio do nucleotídeo

guanosina) importantes que catalisam o intercâmbio de GDP ligada a RAS pela GTP

(Denayer e cols., 2008).

A proximidade aumentada de SOS à membrana ligada a RAS resulta em um aumento do

intercâmbio de nucleotídeos na RAS. Muitos outros tipos de receptores, incluindo os

receptores emparelhados de proteína G, podem ativar RAS através da estimulação dos fatores

de intercâmbio (Denayer e cols., 2008) (Fig. 5).

RAS-GTP tem moléculas efetoras diferentes das quais a RAF quinase serina-treonina é a

mais importante. As RAF quinases ativadas fosforilam MEK, que por sua vez fosforila e ativa

ERK. ERK/MAPK possui vários substratos nucleares e citosólicos, tais como os fatores de

transcrição e proteínas de sinalização. O resultado da sinalização por esta via é uma mudança

no padrão da expressão gênica que pode estimular a proliferação celular, promover

sobrevivência celular ou controlar a diferenciação celular (Denayer e cols., 2008) (Fig. 5).

A sinalização através desta cascata termina quando a GTP é hidrolisada à GDP e fosfato

inorgânico seja pela atividade GTPase intrínseca do RAS (lenta), ou pelas proteínas que

ativam as GTPase (GAPs; rápida) (Denayer e cols., 2008) (Fig. 5).

43

Figura 5: Via de sinalização da RAS. A ligação de fatores de crescimento aos receptores

tirosino quinase estimula a auto-fosforilação de tirosinas específicas dos receptores. O

receptor fosforilado logo se liga a uma proteína adaptadora chamada GRB2 que, por sua vez,

recruta SOS à membrana plasmática. SOS é um fator de intercâmbio de nucleotídeo guanina

que desloca GDP do RAS, subseqüentemente permitindo a ligação do GTP (RAS já está

ancorada à membrana plasmática pelos lipídeos pós-transcricionais agregados, identificados

por uma linha vermelha). RAS GTP-ligante recruta e ativa Raf. Raf inicia a cascata de

fosforilação protéica fosforilando primeiro MEK. A MEK fosforilada por sua vez fosforila

ERK. A ERK fosforilada se desloca do citoplasma até o núcleo onde subseqüentemente

fosforila uma quantidade de fatores de transcrição, incluindo o fator de transcrição específico

chamado Elk-1. Os fatores de transcrição fosforilados acionam a transcrição (expressão

gênica) de uma série específica de genes alvo. A atividade de RAS é limitada pela hidrolise da

GTP de volta á GDP pelas proteínas que ativam a GTPase (GAP). Outras abreviações são:

MEK (MAPK/ERK quinase), ERK (quinase extracelular receptor-estimulada), MAPK

(proteína quinase receptor-estimulada). As quinases são enzimas que agregam fosfatos a

moléculas usando ATP. Mitógenos são fatores (ex. fatores de crescimento) que estimulam a

divisão celular.

44

1.3.3. Alterações do RAS e sua associação com leucemias

As mutações somáticas pontuais que introduzem substituições de aminoácidos nos

códons 12, 13 (éxon 1) ou 61 (éxon 2) são encontradas em aproximadamente 30% dos

cânceres humanos (Braun e Shannon, 2008). Estes códons localizam-se entre duas regiões de

homologia, que aparentemente formam componentes importantes dos sítios da GTP-ligante

(McCormick e cols., 1985).

As mutações gênicas, cuja forma mais comum são as mutações pontuais, são

altamente prevalentes em cânceres pancreáticos (>80%), colo-retais (40%-50%), endometriais

(40%), pulmonares (30%), e cervicais (20%-30%) (Schubbert e cols., 2007). Já nas

malignidades hematopoéticas, estas mutações foram observadas numa prevalência variável,

inclusive na LMA e na LLA (Liang e cols., 2006). As mutações no RAS ocorrem em

aproximadamente 20% dos pacientes com LLA (Browett e Norton, 1989) e aproximadamente

em 30% dos pacientes com LMA (Barletta e cols., 2004). Diferentemente de outros cânceres

humanos, onde as mutações no KRAS geralmente são predominantes, as mutações no NRAS

são as mais freqüentes nas neoplasias hematológicas (Usher e cols., 2009).

Os sítios das mutações são principalmente nos códons 12, 13 e 61 do NRAS e no

códon 12 do KRAS; e, com muita pouca freqüência, no HRAS (Guo e cols., 1998). O NRAS é

duas vezes mais mutado que o KRAS nas leucemias, e 60% das mutações são transições G→A

no códon 12, resultando na substituição de glicina por ácido aspártico (Jekic e cols., 2004). A

incidência das substituições do Asp-12 pode refletir o envolvimento de um agente particular

na leucemogênese. Por exemplo, a mutação G→A é a mais freqüentemente encontrada com

agentes alquilantes (Farr e cols., 1998).

45

1.3.3.1. Coexistência de alterações nos genes MLL e RAS

O rearranjo do MLL é uma das mutações genéticas que bloqueia a diferenciação das

células leucêmicas; por outro lado, as mutações do RAS levam à proliferação dessas células.

Na literatura, apenas um estudo mostra a coexistência do rearranjo do MLL e as

mutações no RAS (Mahgoub e cols, 1998). Estes autores analisaram 32 amostras com

leucemias pediátricas que, por citogenética e análise molecular, mostraram possuir um

rearranjo no cromossomo 11q23. Embora as mutações no RAS sejam as mais comuns nas

LMAs, ambas as leucemias mielóides e linfóides foram incluídas no estudo (Pui e cols, 1995).

Este estudo mostrou padrões normais de KRAS e NRAS em 23 dos 25 casos com leucemias de

novo. Como todos os casos estudados, sem mutações detectadas, possuíam uma elevada

contagem de blastos e também foram rastreados por diferentes técnicas (single-strand

conformational polymorphism [SSCP] e allele-specific restriction enzime assay), estes dados

sugeriram que a aquisição das mutações no RAS não tem um papel principal nas leucemias

com rearranjos no MLL (Mahgoub e cols, 1998).

Uma questão importante na patogênese das leucemias com translocações no MLL é a

necessidade de mutações em outros oncogenes para o surgimento da doença. A ausência de

mutações no RAS nas 13 LLAs estudadas com translocações no MLL é similar a achados

prévios da falta de freqüência de mutações no RAS em LLAs pré-B com t(1;19)(q23;p13)

(Kawamura e cols., 1995). Estas observações sugeriram que as mutações no RAS não são

essenciais na patogênese das LLAs com translocações cromossômicas que envolve a quebra

do PBX1 ou MLL. Porém, juntas, as mutações no RAS e as translocações no MLL podem

contribuir ocasionalmente ao desenvolvimento de leucemias mielóides (Mahgoub e cols.,

1998). Os autores sugeriram também que estudos adicionais deviam ser realizados para

46

determinar a existência de formas alternativas de ativação da via da RAS no caso de

rearranjos no MLL sem mutações no RAS. Por exemplo, na leucemia mielóide crônica (LMC),

onde as mutações no RAS geralmente estão ausentes, a via de sinalização da RAS é

desregulada pela proteína de fusão BCR-ABL, que induz níveis elevados da RAS GTP-ligante

ativa (Pendergast e cols., 1993). Também, em aproximadamente metade dos pacientes com

NF1 que desenvolvem leucemia, há uma deleção do alelo normal do gene supressor de tumor

NF1 (Shannon e cols., 1994). A neurofibrina, o produto do gene NF1, ativa a GTPase e dessa

forma acelera a hidrolise do GTP nas proteínas RAS (Shannon e cols., 1994). Então, neste

contexto, a transformação leucêmica não é independente da RAS (Mahgoub e cols., 1998).

Estudos adicionais de casos podem gerar uma estimativa mais confiável da freqüência

de mutações no RAS nas leucemias com rearranjos no MLL. Apesar disso, o estudo do

Mahgoub e cols. serviu como suporte no papel das mutações do RAS nas leucemias de novo

que possuem translocações no MLL numa freqüência similar a aquela encontrada em outras

formas de LMA.

1.3.3.2. Coexistência de alterações nos genes FLT3 e RAS

Estudos tentaram relacionar as mutações no FLT3 e no RAS, já que são os genes mais

comuns nas leucemias agudas, porém sugeriram que as mutações do FLT3 e do NRAS

ocorrem de maneira independente, apesar de que não se pode descartar a possibilidade que

existam interações fracas adversas entre o FLT3 mutante e o NRAS mutante. Como ambas as

alterações genéticas estão associadas à transdução de sinais aberrantes, estas mutações podem

ser um complemento ou estarem sinergicamente associadas à progressão leucêmica. (Kiyoi e

cols., 1999).

47

Sabe-se que FLT3 ativa vários efetores a jusante, incluindo RAS, ERK, proteína

quinase B (PKB/AKT) e STAT5 (Hayakawa e cols., 2000; Mizuki e cols., 2000) e resultados

de estudos mostram uma prevalência surpreendente de mutações em ambas LMAs pediátricas

e de adultos, com mutações de alguns componentes da via ocorrendo em >50% dos casos.

Como esperado, as mutações de dois membros da mesma via (FLT3 e RAS) na mesma

leucemia são raras, assim como uma mutação adicional nesta via numa célula já mutada não

se esperaria que conferisse nenhuma vantagem de seleção (Stirewalt e Radich, 2003).

Evidências recentes de que as mutações no FLT3 podem ser também um evento

complementar na leucemia hiperdiplóide (Armstrong e cols., 2004; Taketani e cols., 2004)

são compatíveis com os resultados do Wiemels e cols. (Wiemels e cols., 2005) onde se mostra

que o FLT3 sinaliza em parte através da via RAS. Além disto, mutações em outras vias do

gene RAS, PTPN11, estão restritas geneticamente às leucemias que não possuem mutações no

RAS, e também são encontradas nas mutações TEL, no RAS, e FLT3 que são exclusivas a cada

uma delas nas LLAs infantis.

1.3.4. Mutações no gene RAS e a sua associação com fatores ambientais

Recentemente, mutações no RAS foram associadas a diferentes subgrupos de

leucemias cujas mães foram expostas a determinadas substâncias durante a gestação da

criança. Mutações no NRAS têm sido associadas com a exposição, em qualquer momento, a

produtos derivados do óleo ou carvão antes do diagnóstico do caso ou durante a gravidez, a

exposição paterna a materiais plásticos antes do início da gravidez ou outros hidrocarbonetos

durante o período pós-natal, e ao uso de psicotrópicos pelos pais. Mutações no KRAS têm sido

48

associadas à exposição materna a solventes e materiais plásticos durante a gravidez e depois

dela, e ao uso paterno de anfetaminas ou pílulas dietéticas (Shu e cols., 2004).

Estudos prévios mostraram que as mutações no RAS podem estar associadas com

exposições químicas. Dois estudos epidemiológicos tem ligado as mutações no RAS nas

LMAs em adultos a ocupações de “alto risco” para a leucemogênese (Taylor e cols., 1992;

Barletta e cols., 2004). Outro estudo caso-caso de leucemias pediátricas sugeriu um papel para

as exposições a hidrocarbonetos parentais incluindo alguns específicos para o pai para as

leucemias com mutações no RAS comparadas com aquelas que não possuíam mutações (Shu e

cols., 2004).

O estudo de Wiemels e cols. (Wiemels e cols., 2005) onde foram estudados 157 casos

diagnosticados com LLA, 31 com LMA e 2 com LMC, com mutações no RAS presentes em

20% (38/191) de todas as leucemias incluindo 17 KRAS, 18 NRAS, e 3 mutações em ambos K

e NRAS, não detectou uma prevalência elevada do hábito de fumar dos pais entre os casos

positivos para mutações no RAS comparados com os casos negativos para mutações no RAS

ou subtipos. Além disso, químicos mutagênicos do hábito de fumar da mãe atravessam a

placenta aumentando a plausibilidade de um efeito do hábito de fumar dos pais no risco de

desenvolvimento de leucemias pediátricas (Milunsky e cols., 2000). O estudo do Wiemels e

cols. (Wiemels e cols., 2005) mostrou uma associação significativa entre o hábito de fumar do

pai e a leucemia hiperdiplóide quando comparada aos outros subtipos leucêmicos. Como o

hábito de fumar dos pais não foi significativamente associado com a ocorrência das leucemias

com mutação no RAS, isto sugere que outro subtipo molecular de leucemia possa estar

associado positivamente a este hábito. Futuros estudos devem se esforçar em avaliar o papel

do hábito de fumar dos pais e outros hidrocarbonos nas leucemias pediátricas entre os vários

subtipos genéticos tumorais chave (Wiemels e cols., 2005).

49

Apesar dos mecanismos específicos das mutações do RAS ainda serem desconhecidos,

estudos epidemiológicos e em animais sugerem que mutações pontuais específicas nos genes

RAS podem ser induzidas também por certos carcinógenos químicos (Barletta e cols., 2004).

As associações encontradas servem como modelo de estudos etiológicos futuros, que

terão como objetivo encontrar as vias que causam a leucemia infantil e enfatizar a função

crítica de subgrupos de tumores genéticos em estudos epidemiológicos de leucemia pediátrica

(Wiemels e cols., 2005). Por isso, levantou-se a hipótese: as alterações no gene RAS e no

FLT3 podem ser complementares e/ou associadas a leucemogênese (com rearranjos no

MLL) e estas estarem relacionadas à exposição com os diferentes fatores de risco

avaliados?

50

2. JUSTIFICATIVA DO ESTUDO

51

É relevante lembrar que as leucemias agudas na primeira infância compreendem um

grupo de leucemias caracterizadas pelo diagnóstico de LLA ou LMA durante os primeiros

anos de vida. O termo LAL usualmente é aplicado quando o diagnóstico é feito entre os

primeiros 12 meses após o nascimento. Todavia, estudos encontraram uma percentagem

relevante de características típicas das LALs (MLL+) em crianças entre 12-23 meses

(Emerenciano e cols., 2005), assim sustentando a nossa inclusão destas crianças no presente

estudo. Apesar de não ser tão freqüente quanto o neuroblastoma, a leucemia é a causa

principal de morte de doenças neoplásicas durante o período perinatal. Embora seja a segunda

malignidade mais comum no primeiro ano de vida, ela é uma doença bastante rara em

crianças pequenas, ocorrendo com maior freqüência nas crianças mais velhas. As leucemias

são doenças progressivas que, na ausência de intervenção médica, provocam a morte em

poucos meses. Para uma intervenção cada vez mais precisa e eficaz, é necessário maior

entendimento dos mecanismos da leucemogênese. Um estudo epidemiológico-molecular já

vem sendo desenvolvido no Programa de Hematologia e Oncologia Pediátricos com o

objetivo de explorar a hipótese de que certas exposições ambientais podem aumentar o risco

das LALs, principalmente com rearranjos no MLL. Como o melhor modelo para estudo desta

doença são as leucemias que ocorrem no primeiro ano de vida (Gurney e cols., 1995),

utilizou-se material da coorte já existente, de pacientes com LALs, como objeto do nosso

estudo. Consideramos este grupo para o estudo já que o intervalo entre a exposição a fatores

de risco putativos e o começo da leucemia é mais curto, a identificação de exposição a fatores

de risco nas crianças é mais fácil, e a quantidade de fatores ambientais, aos quais os lactentes

são expostos, são menores que os associados com as leucemias em adultos (Belson e cols.,

2007).

52

Entre os eventos genéticos mais comuns que ocorrem nas crianças com menos de 12

meses de vida, tanto nas LLAs como nas LLAs, estão os rearranjos no MLL no cromossomo

11q23, que pode ser de até 85% dependendo da técnica aplicada. Os lactentes diagnosticados

com leucemia aguda que possuem um rearranjo 11q23 possuem um prognóstico

particularmente ruim quando comparadas às outras crianças com leucemias agudas. Além

disso, estudos como o de Armstrong e cols. (Armstrong e cols., 2003) demonstraram que o

receptor FLT3-TK era o gene mais comumente superexpresso nas leucemias com rearranjos

no MLL, desta forma levantando a hipótese de que um sinal constitutivo da FLT3 pode estar

relacionado com o desenvolvimento e manutenção do MLL.

Levando em consideração esses dados e seguindo a linha de estudo das pesquisas

realizadas para explorar a influência das exposições ambientais no aumento do risco de

desenvolvimento de LALs, analisamos os aspirados de MO e SP de lactentes que formam

parte do banco de amostras do laboratório para determinar possíveis mutações no RAS, que

sabemos que é um gene mutado numa grande percentagem de tumores humanos e que as suas

mutações estão correlacionadas ás leucemias infantis. Sendo assim, o nosso estudo foi

conduzido ao relacionamento das LALs, que apresentaram mutações no RAS, com possíveis

mutações no FLT3 e rearranjos no MLL e a relação destas mutações com o hábito de fumar

dos pais antes e durante à gestação e a exposição da mãe à fumaça do cigarro no ambiente de

trabalho e dentro de casa durante a gravidez. Este tipo de exposição foi do nosso interesse já

que se tem muitos estudos relacionando o cigarro a diversos tipos de câncer, mas pouco se

sabe sobre a relação entre a exposição do embrião ou do feto a este agente carcinogênico, que

é muito comum na nossa sociedade.

Fizemos a opção de utilizar a técnica de denaturing high pressure liquid

chromatography (dHPLC) por ser uma técnica bastante segura e que tem se mostrado eficaz,

53

para análises de varias amostras, num curto período de tempo com uma relação custo-

efetividade bastante econômica. A dHPLC tem uma alta sensibilidade e especificidade

estimada entre 96% e 100% nas análises. Ela tem sido empregada com sucesso na detecção de

mutações em diferentes genes de interesse médico, mostrando-se mais eficiente que outras

técnicas rotineiramente utilizadas para este fim. Além da alta sensibilidade na detecção de

mutações, esta técnica permite um alto grau de automação e não requer nenhum tratamento

especial para o produto de PCR. Desta forma, facilita a análise de um grande número de

amostras. A técnica de Restriction Fragment Length Polymorphism (RFLP) foi realizada para

consolidação dos resultados.

54

3. OBJETIVOS

55

3.1. Objetivo principal:

Rastrear as mutações no gene RAS em lactentes portadores de leucemias agudas

3.2. Objetivos Secundários:

• Estimar o papel das mutações no RAS como fatores de risco associados às leucemias

de lactentes;

• Correlacionar as possíveis mutações no gene RAS com os achados epidemiológicos

referentes às exposições maternas ao fumo durante a gestação, visando à identificação

de possíveis interações entre gene-ambiente.

56

4. MATERIAL E MÉTODOS

57

4.1. Desenho do estudo

O desenho do estudo utilizado foi o caso-caso. O estudo de caso trata-se de uma

abordagem metodológica de investigação especialmente adequada quando procuramos

compreender, explorar ou descrever acontecimentos e contextos complexos, nos quais estão

simultaneamente envolvidos diversos fatores num mesmo grupo de casos previamente

selecionados.

Nós exploramos as vantagens de uma análise pré-estabelecida do tipo caso-controle e

comparamos as magnitudes do risco das mutações no gene RAS usando a abordagem do tipo

caso-orientado (casos de leucemias em lactentes).

4.2. Casuística

Amostras de material diagnostico (aspirado de medula óssea ou sangue periférico)

provenientes de 138 lactentes foram encaminhadas por diversos hospitais de diferentes

estados do país (Rio de Janeiro, Bahia, São Paulo, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Minas

Gerais, Pernambuco e Santa Catarina) ao laboratório no Centro de Pesquisas do Instituto

Nacional de Câncer (INCA), Rio de Janeiro, no período de 1998 a 2008 foram selecionados

para este estudo. Estas amostras foram devidamente congeladas a -80°C após exames

diagnósticos. Juntamente ao material biológico foram enviados os dados demográficos e

clínicos. Todas as informações avaliadas neste estudo encontram-se nos Anexos e fazem parte

de um estudo epidemiológico do tipo caso-controle de base-hospitalar onde as informações

foram obtidas através de questionários bem estruturados e já analisados parcialmente (Pombo-

de-Oliveira e cols., 2006; Koifman e cols., 2008).

58

A primeira parte do questionário foi dedicado ao nascimento da criança e aos seus

cuidados e a segunda parte foi dedicada às exposições durante a gravidez. Perguntas sobre a

demografia incluíram o ingresso familiar, idade materna, e nível de educação. O histórico de

doenças maternas e o motivo do uso de medicamentos foram obtidos através de perguntas

relacionadas ao uso de diversos tipos de drogas devido a doenças infecciosas, tratamento por

perda fetal previa, anemia, etc., assim como a exposição a pesticidas, consumo de álcool e o

hábito de fumar dela, do pai da criança e exposição a fumaça de cigarro. Estas análises

incluíram informação sobre as exposições maternas durante o período de 3 meses antes da

gestação, durante a gravidez e depois da gravidez (Pombo-de-Oliveira e cols., 2006).

Portanto, utilizamos como critérios de seleção para este estudo: diagnóstico de LLA e

LMA em crianças, cujas mães concordaram com o estudo e responderam ao questionário

epidemiológico entre 1998-2008, cujas questões sobre o hábito de fumar estavam completas

nos questionários.

A autorização para a utilização destas amostras em pesquisas foi solicitada ao

responsável legal da criança, através da assinatura de um “Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido” (TCLE). O projeto foi aprovado em 2008 pelo Comitê de Ética em Pesquisa

(CEP) do INCA sob o número de protocolo #005/2008. A cópia da carta de aprovação do

CEP e o TCLE se encontram nos Anexos.

4.3. Extração de DNA para realização dos PCRs do gene RAS

A maioria das amostras selecionadas estava devidamente congelada como células a -

80oC ou -180oC e os DNAs já extraídos, estavam conservados em câmera fria a 4ºC.

59

Adicionalmente, material obtido de esfregaços de sangue periférico (SP), ou aspirados de

medula óssea (MO) foram adicionados para complementação do estudo.

O método de sal que não utiliza fenol-cloroformio foi então empregado para extração

de DNA (Muller, 1988). No início do procedimento foi adicionado tampão de lise de

hemácias (TLH) previamente gelado, de maneira que fique 3,5 vezes do volume total de

sangue, foi bastante homogeneizado com a pipeta e colocado em banho com gelo por 30 min.

Logo, centrifugou-se a 3000 rpm por 20 min em centrífuga refrigerada a 4°C (se possível). O

sobrenadante foi descartado e o grumo lavado com 300µL de TLH a fim de retirar o excesso

de hemácias junto aos leucócitos. Homogeneizou-se bem até soltar o grumo e ficar limpo e foi

centrifugado a 3000rpm por 10 min. Após a centrifugação, ressuspendeu-se o grumo em

300µL de tampão de lise de núcleo (TLN) e dissolveu-se completamente o grumo. Logo em

seguida, foi adicionado 1,0µL de Proteinase K (concentração final de 50µg/mL) e

homogeneizou-se para posterior incubação da amostra durante a noite a 56°C. No dia

seguinte, foram adicionados 60,0µL de NaCl 5,0M e centrifugou-se a 6000 rpm por 30 min a

4°C. Ao término da centrifugação foi retirado o sobrenadante e passado para um novo tubo

onde se adicionaram aproximadamente 900,0µL de etanol absoluto o que tornou o DNA

insolúvel e assim provocou a precipitação do mesmo. Verteu-se o tubo várias vezes e foi

incubado a –70°C por 30 min. Após a incubação, o tubo foi centrifugado a 10000 rpm por 10

min de preferência em centrífuga refrigerada a 4°C. O tubo foi invertido para a retirada do

etanol e foram adicionados 1000,0µL de etanol 70% para a retirada do excesso de sal. Foi

centrifugado novamente a 10000 rpm por 5 min a 4°C (se possível) e finalizou-se o processo

com a adição de 30-50µL de TE Buffer (Tris-EDTA) ou água milli-Q autoclavada para

posterior incubação a 68ºC por 30 min. O DNA foi armazenado na geladeira ou câmara fria a

4°C.

60

Outra metodologia utilizada para o protocolo de extração de DNA foi a do reagente

Trizol® onde após ter removido a fase aquosa foram adicionados 300,0µL de etanol 100%

(para cada 1,0ml de Trizol® utilizado) para a precipitação do DNA. Foi misturado por

inversão e incubado por 3 min a temperatura ambiente, logo se centrifugou a 2000rpm por 5

min em centrífuga refrigerada a 4°C e, após a retirada do sobrenadante, lavou-se o grumo de

DNA com citrato de sódio 0,1 M em 10% de etanol (usou-se 1,0mL de citrato de sódio para

cada 1,0 de Trizol®).

Deixou-se incubado a temperatura ambiente (15-30°C) por 30 min, homogeneizando-

se periodicamente, e centrifugou-se a 2000 rpm por 5 min em centrífuga refrigerada a 4°C.

Repetiu-se o processo 2 vezes (para lavagem) e o DNA foi ressuspendido em 1500µL de

etanol 75% e incubou-se por 15 min homogeneizando periodicamente. Após uma nova

centrifugação a 2000 rpm por 5 min em centrífuga refrigerada a 4°C, desprezou-se o

sobrenadante e secou-se o DNA com o tubo aberto por 5-15 min e se dissolveu em 50µL de

NaOH 8mM. Foi centrifugado a 12000 rpm por 10 min para remoção do DNA e o

sobrenadante contendo o DNA foi transferido para um novo tubo. O DNA foi estocado a 4°C.

4.4. Quantificação do DNA

Após a extração, o DNA foi quantificado. Para isto foi utilizado um espectrofotômetro

(NanoDrop 1000), que possui um programa específico para quantificação de DNA onde o

fator de diluição foi ajustável, a unidade de concentração foi ng/µL, a absorbância utilizada

foi de 260nm. Para a realização da quantificação foi utilizado 1,0µL de DNA e a concentração

foi dada de forma automática pela máquina, de acordo com o programa já existente nela.

61

4.5. PCR para a amplificação do KRAS

O éxon 1 foi amplificado, de acordo com os critérios do protocolo utilizado por

Bornholdt e cols. (Bornholdt e cols., 2008) sendo que este éxon contém 2 códons: 12 e 13,

onde se localizam as possíveis mutações do gene em estudo. Para os dois códons foi

necessária a realização de uma reação única.

Foram utilizadas 2 amostras diagnosticadas com leucemia mielomonocítica crônica

(LMMC) por serem portadoras de mutações no RAS, uma delas com mutação no códon 12 e a

outra no 13. Foram utilizadas como controles positivos para as reações de PCR para o RFLP.

As condições da reação de PCR, para ambos os códons 12 e 13, foram desenhadas

para um volume final de 25,0µL, utilizando tampão de PCR (50mM KCl, 20nM Tris-HCl pH

8,4); MgCl2 a uma concentração final de 2,5mM; dATP, dTTP, dCTP e dGTP a uma

concentração final de 0,2mM. O substrato foi sempre de DNA (100,0-150,0 ng/µL) e a

quantidade de enzima foi de 0,75U de Taq DNA polimerase.

O procedimento da reação de PCR foi realizado em um termociclador GeneAmp®

PCR System 9700 (Applied Biosystems), onde os perfis térmicos da reação seguiram as

seguintes condições: Uma etapa inicial de desnaturação a 94°C por 1 min, 35 ciclos de

desnaturação a 94°C por 30 seg, temperatura e tempo de anelamento de 55°C por 45 seg, e

extensão a 72°C por 45 seg; um ciclo final de extensão a 72°C por 10 min e uma etapa final a

4°C. A reação foi realizada com os oligonucleotídeos KRAS12-F e KRAS1213-R, e KRAS13-F

e KRAS1213-R, sendo que as seqüências destes oligos são:

KRAS12-F: 5’-ACT GAA TAT AAA CTT GTG GTA GTT GGA CCT-3’ 30pb

KRAS13-F: 5’-TCA AAG AAT GGT CCT GGA CC-3’ 20pb

KRAS1213-R: 5’-ATA TAA ACT TGT GGT AGT TCC AGC TGG-3’ 27pb

62

A revelação da reação deste PCR foi feita através de gel de agarose 1,5% corado com

brometo de etídeo (Fig. 6).

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

Figura 6: Gel de agarose 1,5% corado com BE para amplificação do KRAS. (1) padrão de

peso molecular de 100pb; (2) controle positivo: amostra de LMMC; (3) controle negativo

(água e mix de PCR); (4-11) amostras de pacientes com leucemias com banda amplificada.

4.6. Digestão do gene KRAS com endonucleases de restrição

Após a amplificação, o produto do PCR foi digerido por duas enzimas de restrição

BstNI e PflMI (Prodimol) para os códons 12 e 13, respectivamente.

A técnica de digestão é chamada de Restriction Fragment Length Polymorphism (RFLP) na

qual 5,0µL da amostra amplificada para o códon 12 foram digeridos por 10U da enzima BstNI

a 60ºC overnight e 5,0µL da amostra amplificada para o códon 13 foram digeridos por 2U da

enzima PflMI a 37°C por 6 horas (Bornholdt e cols., 2008). Os fragmentos gerados na

digestão foram separados por eletroforese em gel de agarose 3% e analisados em comparação

com um padrão molecular de 25pb (Invitrogen) (Fig. 7).

63

Códon 12 Códon 13

1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

(a) (b)

Figura 7: Géis de agarose de 3% corados com BE. Gel (a): (1) padrão de peso molecular de

25pb; (2 e 4) PCRs do gene KRAS de amostras de pacientes com leucemia; (3) amostra do

paciente 2 após digestão com enzima BstNI com padrão de duas bandas (padrão mutado); (5)

amostra do paciente 4 após digestão com enzima BstNI com padrão de uma banda (padrão

selvagem). Gel (b): (1,3,5,7,9) PCRs do gene KRAS de amostras de pacientes com leucemia;

(2,6,10) amostra dos pacientes 1,5,9 respectivamente, após digestão com enzima PflMI com

padrão de duas bandas (padrão selvagem); (4 e 8) amostra dos pacientes 3 e 7

respectivamente, após digestão com enzima PflMI com padrão de uma banda (padrão

mutado); (11) padrão de peso molecular de 25pb.

4.7. PCR para a amplificação do NRAS

O éxon 1 foi amplificado, de acordo com os critérios do protocolo utilizado por Liang

e cols. (Liang e cols., 2006) sendo que este éxon contém os códons 12/13, onde se localizam

as possíveis mutações do gene em estudo.

Foram utilizadas 2 amostras diagnosticadas com leucemia mielomonocítica crônica

(LMMC) por serem comprovadamente portadoras de mutações no códon 12/13 do RAS.

Foram utilizadas como controles positivos para as reações de PCR no dHPLC.

As condições da reação de PCR foram desenhadas para um volume final de 50,0µL,

utilizando tampão de PCR (50mM KCl, 20nM Tris-HCl pH 8,4); MgCl2 a uma concentração

64

final de 1,5mM; dATP, dTTP, dCTP e dGTP a uma concentração final de 0,2mM. O substrato

foi sempre de DNA (100,0-150,0 ng/µL) e a quantidade de enzima foi de 0,625U de Taq DNA

polimerase.

O procedimento da reação de PCR foi realizado em um termociclador Gene Amp®

PCR System 9700 (Applied Biosystems), onde os perfis térmicos da reação seguiram as

seguintes condições: Uma etapa inicial de desnaturação a 94°C por 5 min, 40 ciclos de

desnaturação a 94°C por 1min, temperatura e tempo de anelamento de 55°C por 1min, e

extensão a 72°C por 1min; um ciclo final de extensão a 72°C por 10 min e uma etapa final a

4°C. A reação foi realizada com os oligonucleotídeos NRAS12/13-F e NRAS12/13-R, sendo

que as seqüências destes oligos são:

NRAS12/13-F: 5’-GAC TGA GTA CAA ACT GGT GG-3’ 20pb

NRAS12/13-R: 5’-TGC ATA ACT GAA TGT ATA CCC-3’ 21pb

A revelação da reação deste PCR foi feita através de gel de agarose 1,5% corado com

brometo de etídeo (Fig. 8).

1 2 3 4 5 6 7 8 9

Figura 8: Gel de agarose 1,5% corado com BE para amplificação do NRAS. (1) padrão de

peso molecular de 100pb; (2) controle positivo: amostra de LMMC; (3) controle negativo

(água e mix de PCR); (4-5,7-9) amostras de pacientes com leucemias com banda amplificada;

(6) amostra de paciente com leucemia cuja banda não região esperada não amplificou.

65

4.8. Denaturing high pressure liquid cromatography na detecção das mutações

do NRAS

A detecção de mutações no éxon 1 do NRAS foi executada através de PCRs

submetidos à desnaturação por denaturing high pressure liquid chromatography (dHPLC)

que usou um sistema de análise de fragmentos por ondas de DNA, sendo o aparelho equipado

com uma coluna DNASep HT.

Os amplicóns para a análise das mutações foram gerados pela combinação dos

nucleotídeos citados acima. Antes da análise por dHPLC, os produtos gerados pelo PCR

foram desnaturados a 95°C por 5 minutos e passaram por uma graduação de temperatura

reduzida até 50°C usando um termociclador. O objetivo foi a formação de heteroduplexes nas

amostras em heterozigose para um alelo mutante.

Os fragmentos gerados pela PCR (40,0µL por amostra) foram injetados na coluna de

DNASep HT para a análise. Os produtos foram eluídos em um taxa de fluxo constante de

1,5mL/min com uma gradiente linear de acetonitrila determinado pelo programa

computacional Navigator (Transgenomic) baseado no tamanho e no conteúdo GC dos

amplicons. O gradiente foi produzido combinando o tampão acetato de 0,10 M (TEAA, pH 7)

(Transgenomic) e o tampão B (0,10 M TEAA com 25% acetonitrila) (Transgenomic).

Os perfis de eluição dos fragmentos de DNA, monitorados pelo sistema UV de

detecção, foram usados para gerar cromatogramas. Os picos dos homo e dos heteroduplexes

foram detectados entre o pico de injeção inicial, produzido por nucleotídeos residuais e por

oligonucleotídeos em reação, e pelo estágio de lavagem (pico de saída). Os perfis de

anelamento para os produtos do PCR (de 241 pares de bases) foram construídos usando o

programa computacional Navigator.

66

Padrão de análise: As amostras com a sequência selvagem eluiram como um único

pico (Figura 9a), enquanto picos múltiplos indicativos de heteroduplexes apareceram nas

amostras heterozigotas mutadas (Figura 9b).

(a)

(b)

Figura 9: (a) Cromatograma do controle negativo utilizando a linhagem celular HL60, com a

temperatura de formação de heteroduplex padronizada em 60.2°C como ótima para a

cromatografia por dHPLC.

(b) Cromatograma do controle positivo, paciente com LMMC e mutação no gene

NRAS com temperatura de 60.2°C.

67

4.9. Análise estatística

As análises estatísticas foram realizadas inicialmente com testes de freqüência,

buscando a significância estatística entre os diferentes grupos estudados, calculados utilizando

o teste do qui-quadrado (pearson) e o teste exato de Fisher. A associação entre a exposição às

variáveis ambientais e as LALs durante os períodos antes, durante e após a gravidez foi

realizada por o Statistical Package for the Social Sciences version 13 (SPSS, Chicago, IL).

Algumas análises foram ajustadas por sexo, idade do lactente, leucometria, diagnóstico da

LAL, se possuía rearranjo no MLL e mutação no FLT3. As análises do RAS foram ajustadas

por idade materna e por peso da criança ao nascer. Os resultados foram expressos como razão

de chances (odds ratios,OR) com intervalos de confiança de 95% (IC 95%), e todos os P

valores são bilaterais. A associação entre as mutações no RAS e as variáveis selecionadas

foram certificadas usando ORs e IC 95% ajustado para as variáveis previamente mencionadas.

68

5. RESULTADOS

69

5.1. ANÁLISES DE FREQUÊNCIAS

5.1.1. Características clínico-laboratoriais das amostras

No presente estudo, foram analisados 138 casos de leucemias agudas infantis dos quais

102 eram LLAs (73,9%), 36 eram LMAs (26,1%). As diferenças de idade variaram de 1 mês

a 24 meses com uma média de idade de 11,5 meses; com predominância do sexo masculino

56,5% e 54,3% com a cor da pele definida como branca (Tabela 2). A respeito da contagem

leucocitária verificamos que 48,5% dos casos eram hiperleucocitários, sendo igual ou superior

a 50x109/l. Também foi possível observar que a média do peso ao nascer dos pacientes foi de

3,400Kg.

Neste estudo, 125 casos foram previamente analisados por FISH e RT-PCR quanto à

presença do rearranjo no MLL, destes 55 foram positivos (39,9%) e 70 foram negativos

(50,7%). As leucemias agudas sem rearranjos no MLL apresentavam outras alterações

adquiridas como a fusão gênica TEL/AML1 ou hiperdiploidia nos casos de LLA e de

AML1/ETO nos casos de LMA.

O rastreamento em busca de mutações no gene FLT3 foi realizado previamente em 80

amostras do nosso estudo. Nestas amostras foram identificadas mutações no FLT3 em 4

(2,9%) dos 80 casos.

70

Tabela 2: Principais características demográficas e clínicas das leucemias infantis, Brasil,

1998-2008

Características das LALs Grupo Total

n (%)

Idade 0-12 76 (55,1) 13-24 62 (44,9) Sexo Feminino 60 (43,5) Masculino 78 (56,5) Cor da pele Branca 75 (54,3) Não-branca 49 (35,5) Sem informação 14 (10,2) Peso ao nascer (gr) ≤2500 7 (5,0) 2501-3499 57 (41,3) ≥3500 43 (31,2) Sem informação 31 (22,5) Leucometria (x109/l) <50 64 (46,4) ≥50 67 (48,5) Sem informação 7 (5,1) Diagnóstico de leucemia aguda Leucemia linfoblástica aguda 102 (73,9) Leucemia mielóide aguda 36 (26,1) MLL Positivo 55 (39,9) Negativo 70 (50,7) Sem informação 13 (9,4) FLT3 Mutado 4 (2,9) Selvagem 76 (55,1) Sem informação 58 (42,0) Total 138 (100)

5.2. Rastreamento de mutações no gene KRAS

No grupo total, dentre 138 casos de leucemias, 36 (26,1%) apresentaram mutações no

KRAS conforme ilustrado na Figura 10. Ressaltamos que entre os casos que foram definidos

71

como do tipo selvagens, 21 (15,2%), só puderam ser analisados para o códon 12; 81 (58,7%)

restantes foram considerados selvagens após rastreamento de mutações nos 2 códons (12 e

13).

Figura 10: Gráfico dos resultados do KRAS demonstrando os resultados percentuais da

análise. MUT= casos mutados; WT= casos selvagens.

5.2.1. Características clínicas das amostras com as alterações genéticas no gene KRAS

Analisamos as freqüências de mutações KRAS nas leucemias agudas e as variáveis

demográficas. Conforme a Tabela 3, observamos a presença de mutação no KRAS em 79,4%

(n=27) de LLAs e 20,6% (n=7) em LMAs, com percentuais diferentes, porém sem valor

estatisticamente significativos. Da mesma forma, não houve diferenças estatisticamente

significativas nos casos com mutação entre lactentes e crianças com idade superior a 12 meses

de idade. O sexo feminino parece ter uma maior tendência de mutações do KRAS [OR 1,64

CI (0,91-2,96)]. As demais variáveis tais como cor da pele, peso ao nascer e leucometria não

apresentaram valores estatisticamente significativos (Tabela 3).

72

Tabela 3: Análises das principais variáveis demográficas e status do KRAS em leucemias

agudas no Brasil

KRAS+ KRAS- OR (IC 95%)

Diagnóstico de LA

LLA (n=102) 27 (79,4%) 75 (72,1%)

LMA (n=36) 7 (20,6%) 29 (27,9%)

1,36 (0,65-2,85)

Idade

≤12 meses (n=76) 18 (52,9%) 58 (55,8%)

>12 meses (n=62) 16 (47,1%) 46 (44,2%)

0,92 (0,51-1,65)

Sexo

Feminino (n=60) 19 (55,9%) 41 (39,4%)

Masculino (n=78) 15 (44,1%) 63 (60,6%)

1,65 (0,92-2,96)

Raça

Brancos (n=75) 20 (58,8%) 55 (52,9%)

Não-Brancos (n=49) 14 (41,2%) 35 (33,6%)

Ignorados (n=14) 0 (0,0%) 14 (13,5%)

0,93 (0,52-1,66)

Peso ao nascer

≤2500gr (n=7) 0 (0,0%) 7 (6,7%)

2501-3499gr (n=57) 15 (44,1%) 42 (40,4%) 0,66 (0,25-1,72)

≥3500gr (n=43) 13 (38,2%) 30 (28,9%)

Ignorados (n=31) 6 (17,7%) 25 (24,0%)

Leucometria

<50x109/l (n=64) 16 (47,1%) 48 (46,2%)

≥50x109/l (n=67) 18 (52,9%) 49 (47,1%) 0,93 (0,52-1,66)

Ignorados (n=7) 0 (0,0%) 7 (6,7%)

Total (n=138) 34 (24,6%) 104 (75,4%)

OR= odds ratio; IC= intervalo de confiança

73

As análises moleculares foram realizadas com os marcadores mais importantes da

leucemogênese, como rearranjos no MLL e mutações no FLT3 (Tabela 4). Neste estudo, 125

casos foram analisados quanto à presença do rearranjo do MLL e 55 foram positivos (44,0%);

dentre as LALs com rearranjos no MLL, 16 casos (47,1%) apresentaram mutação no KRAS.

Em 4 casos com rearranjos do MLL foi identificada também, a presença da mutação do FLT3.

No entanto, em nenhum destes foi detectada mutação no KRAS, com possível tendência de

efeito protetor contra as duas mutações RAS e FLT3 concomitantemente (OR 0,76; IC 95%,

0,67-0,86) (Tabela 4).

Tabela 4: Análises das principais alterações moleculares e status do KRAS em leucemias

agudas no Brasil entre 1998-2008

KRAS+ KRAS- OR (IC 95%)

MLL

Positivo (n=55) 16 (47,1%) 39 (37,5%)

Negativo (n=70) 16 (47,1%) 54 (51,9%)

Ignorados (n=13) 2 (5,8%) 11 (10,6%)

1,27 (0,70-2,31)

FLT3

Mutado (n=4) 0 (0,0%) 4 (3,8%) 0,76 (0,67-0,86)

Selvagem (n=76) 18 (52,9%) 58 (55,8%)

Ignorados (n=58) 16 (47,1%) 42 (40,4%)

Total (n=138) 34 (24,6%) 104 (75,4%)

OR= odds ratio; IC= intervalo de confiança

74

5.3. Rastreamento de mutações no gene NRAS

Identificamos mutações no NRAS em 10 (15,2%) dos 65 casos (Fig. 11).

Figura 11: Gráfico representativo dos resultados percentuais demonstrando 15,2% de

mutações no NRAS

5.3.1. Características clínicas das amostras com as alterações genéticas no gene NRAS

Analisamos a relação entre as características clínicas das leucemias agudas e as mutações

no gene NRAS (Tabela 5). Encontramos 7 LLAs com mutação no gene NRAS (70,0%) e

dentre as LMAs 30,0% (n=3) apresentavam NRAS mutado. Crianças com idade inferior a 12

meses apresentaram uma freqüência maior de NRAS mutado (70,0%) quando comparados

com aqueles pacientes tinham com idade superior a 12 meses de idade (30,0%). Entretanto,

nenhuma das análises foi estatisticamente significativa.

75

Tabela 5. Análises das principais variáveis demográficas e status do NRAS em leucemias

agudas no Brasil, 1998-2008

NRAS+ NRAS- OR (IC 95%)

Diagnóstico de LA

LLA (n=39) 7 (70,0%) 32 (58,2%) 1,55 (0,44-5,47)

LMA (n=26) 3 (30,0%) 23 (41,8%)

Idade

≤12 meses (n=37) 7 (70,0%) 30 (54,5%)

>12 meses (n=28) 3 (30,0%) 25 (45,5%)

1,71 (0,48-6,06)

Sexo

Feminino (n=24) 3 (30,0%) 21 (38,2%)

Masculino (n=41) 7 (70,0%) 35 (63,6%) 0,75 (0,21-2,63)

Raça

Brancos (n=34) 6 (60,0%) 28 (50,9%)

Não-Brancos (n=20) 1 (10,0%) 19 (34,6%)

Ignorados (n=11) 3 (30,0%) 8 (15,5%)

3,43 (0,44-26,49)

Peso ao nascer

≤2500gr (n=4) 0 (0,0%) 4 (7,3%)

2501-3499gr (n=24) 4 (40,0%) 20 (36,4%)

≥3500gr (n=19) 4 (40,0%) 16 (29,1%) 1,19 (0,17-8,28)

Ignorados (n=18) 2 (20,0%) 16 (29,1%)

Leucometria

<50x109/l (n=32) 2 (20,0%) 30 (54,5%)

≥50x109/l (n=29) 7 (70,0%) 22 (40,0%) 0,25 (0,06-1,11)

Ignorados (n=4) 1 (10,0%) 3 (5,5%)

Total (n=65) 10 (15,4%) 55 (84,6%)

OR= odds ratio; IC= intervalo de confiança

76

Em relação às principais alterações moleculares não foi encontrada nenhuma

associação estatisticamente significativa conforme a Tabela 6, exceto quanto à presença de

mutação no gene FLT3 e NRAS selvagem, enquanto todos os casos de NRAS mutado

apresentavam FLT3 selvagem OR 0,86; IC 95% (0,76-0,97).

Tabela 6: Análises das principais alterações moleculares e status do NRAS em leucemias

agudas no Brasil, 1998-2008.

NRAS+ NRAS- OR (IC 95%)

MLL

Positivo (n=24) 5 (50,0%) 19 (34,5%)

Negativo (n=37) 5 (50,0%) 32 (58,2%)

Ignorados (n=4) 0 (0,0%) 4 (7,3%)

1,54 (0,50-4,76)

FLT3

Mutado (n=3) 0 (0,0%) 3 (5,5%)

Selvagem (n=44) 6 (60,0%) 38 (69,1%) 0,86 (0,77-0,97)

Ignorados (n=18) 4 (40,0%) 14 (25,4%)

Total (n=65) 10 (15,4%) 55 (84,6%)

OR= odds ratio; IC= intervalo de confiança.

77

Tabela 7: Características clínicas e coexistência de alterações genéticas com os genes RAS (K e N) mutados e selvagens

KRAS + n(%)

KRAS - n(%)

p-valor*

NRAS+ n(%)

NRAS- n(%)

p-valor*

Idade (meses) 0-12 18 (52,9) 58 (55,8) 7 (70,0) 30 (54,5) 13-24 16 (47,1) 46 (44,2)

0,46 3 (30,0) 25 (45,5)

0,29

Sexo Feminino 19 (55,9) 41 (39,4) 3 (30,0) 21 (38,2) Masculino 15 (44,1) 63 (60,6)

0,07 7 (70,0) 35 (63,6)

0,46

Peso ao nascer (gr) ≤2500 0 (0,0) 7 (6,7) 0 (0,0) 4 (7,3) 2501-3499 15 (44,1) 42 (40,4) 4 (40,0) 20 (36,4) ≥3500 13 (38,2) 30 (28,9) 4 (40,0) 16 (29,1) Ignorados 6 (17,7) 25 (24,0)

0,31

2 (20,0) 16 (29,1)

0,69

Leucometria (x109/mm) <50 16 (47,1) 48 (46,2) 2 (20,0) 30 (54,5) ≥50 18 (52,9) 49 (47,1) 7 (70,0) 22 (40,0) Ignorados 0 (0,0) 7 (6,7)

0,29 1 (10,0) 3 (5,5)

0,05

Cor da pele Branca 20 (58,8) 55 (52,9) 6 (60,0) 28 (50,9) Não-branca 14 (41,2) 35 (33,6) 1 (10,0) 19 (34,6) Ignorados 0 (0,0) 14 (13,5)

0,07 3 (30,0) 8 (15,5)

0,23

Diagnóstico LA LLA 27 (79,4) 75 (72,1) 7 (70,0) 32 (58,2) LMA 7 (20,6) 29 (27,9)

0,27 3 (30,0) 23 (41,8)

0,37

MLL Positivo 16 (47,1) 39 (37,5) 5 (50,0) 19 (34,5) Negativo 16 (47,1) 54 (51,9) 5 (50,0) 32 (58,2) Ignorados 2 (5,8) 11 (10,6)

0,52 0 (0,0) 4 (7,3)

0,50

FLT3 status Mutado 0 (0,0) 4 (3,8) 0 (0,0) 3 (5,5) Selvagem 18 (52,9) 58 (55,8) 6 (60,0) 38 (69,1) Ignorados 16 (47,1) 42 (40,4)

0,45 4 (40,0) 1 (25,4)

0,52

Mãe fumante Sim 9 (26,5) 23 (22,1) 2 (20,0) 12 (21,8) Não 20 (58,8) 59 (56,7) 6 (60,0) 29 (52,7) Ignorados 5 (14,7) 22 (21,2)

0,68 2 (20,0) 14 (25,5)

0,91

Fumou 3 meses antes da gestação

Sim 5 (14,7) 17 (16,3) 2 (20,0) 7 (12,7) Não 24 (70,6) 65 (62,5) 6 (60,0) 34 (61,8) Ignorados 5 (14,7) 22 (21,2)

0,66 2 (20,0) 14 (25,5)

0,81

Fumou durante a gestação Sim 3 (8,8) 10 (9,6) 1 (10,0) 4 (7,3) Não 26 (76,5) 72 (69,2) 7 (70,0) 37 (67,3) Ignorados 5 (14,7) 22 (21,2)

0,69 2 (20,0) 14 (25,4)

0,91

Pai fumante Sim 3 (2,9) 1 (2,0) 0 (0,0) 4 (7,3) Não 26 (82,4) 77 (74,0) 7 (70,0) 36 (65,4) Ignorados 5 (14,7) 25 (24,0)

0,11 3 (30,0) 15 (27,3)

0,68

Fumou 3 meses antes da gestação

Sim 1 (2,9) 1 (2,0) 0 (0,0) 2 (3,6) Não 28 (82,4) 77 (74,0) 7 (70,0) 37 (67,3) Ignorados 5 (14,7) 25 (24,0)

0,34 3 (30) 16 (29,1)

0,83

Fumantes em casa durante a gestação

Sim 19 (55,9) 33 (31,7) 4 (40,0) 17 (30,9) Não 9 (26,5) 47 (45,2) 4 (40,0) 22 (40,0) Ignorados 6 (17,6) 24 (23,1)

0,02 2 (20,0) 16 (29,1)

0,79

Total 34 (24,6) 104 (75,4) 10 (15,4) 55 (84,6)

78

5.4. Análises epidemiológicas com as características demográficas e hábito de fumar na

família de crianças com leucemias em lactentes

De acordo com os dados extraídos dos questionários maternos, a maioria das crianças

desta série de casos são provenientes de regiões urbanas, principalmente de cidades com

população superior a 1 milhão de pessoas (tabela 8). A maioria das mães tem distribuição de

idade entre 18 e 30 anos de idade. O nível socioeconômico predominante foi de casos

oriundos de classe média-baixa, cujas mães apresentavam um baixo índice de escolaridade.

Tabela 8: Principais características demográficas das mães de crianças com leucemias de

lactentes no Brasil, entre 1998-2008*

n(%)

Idade materna

<18 3 (2,14)

18-30 92 (65,72)

>31 45 (32,14)

Densidade populacional

<40.000-99.999 23 (16,43)

100.000-499.000 43 (30,71)

500.000-1.000.000 16 (11,43)

>1.000.000 58 (41,43)

Educação Materna (anos)

<4 72 (51,43)

5-9 51 (36,43)

>10 17 (12,14)

Renda Familiar (R$ por mês)

<400,00 69 (49,29)

500,00-999,00 35 (25,00)

1.000,00-1.999,00 24 (17,14)

>2.000,00 12 (8,57)

*As variáveis utilizadas são do estudo original tipo caso-controle (Pombo-de-Oliveira e cols., 2006)

79

De acordo com os questionários maternos, 32 mães de crianças com leucemias

(28,8%) eram fumantes, das quais 9 (26,5%) tiveram filhos com mutação no gene KRAS

(tabela 9); 22 mães relataram que só fumaram 3 meses antes da gestação. Não foi encontrada

nenhuma associação de risco entre o hábito materno de fumar e LAL com mutação no KRAS.

Em relação à exposição materna ao tabaco, pais fumantes ou outros familiares

fumantes na residência apresentaram associações de riscos (Tabela 9) estatisticamente

significativas OR 2,27 IC 95% (1,13-4,56). Os mesmos resultados foram observados em

relação às mutações encontradas no NRAS, com menor magnitude das análises de risco OR

1,20, IC 95% (1,04-1,35) (Tabela 10).

80

Tabela 9: Relação entre o status do KRAS nas crianças com leucemias e o hábito de fumar na

família

KRAS+ KRAS- OR (IC 95%)

Mãe fumante

Sim (n=32) 9 (26,5%) 23 (22,1%)

Não (n=79) 20 (58,8%) 59 (56,7%)

Ignorados (n=27) 5 (14,7%) 22 (21,2%)

1,11 (0,57-2,17)

Mãe fumou 3 meses antes da gestação

Sim (n=22) 5 (14,7%) 17 (16,3%)

Não (n=89) 24 (70,6%) 65 (62,5%)

Ignorados (n=27) 5 (14,7%) 22 (21,2%)

0,84 (0,36-1,96)

Mãe fumou durante a gravidez

Sim (n=13) 3 (8,8%) 10 (9,6%)

Não (n=98) 26 (76,5%) 72 (69,2%)

Ignorados (n=27) 5 (14,7%) 22 (21,2%)

0,87 (0,31-2,47)

Pai fumante

Sim (n=5) 3 (8,8%) 2 (2,0%)

Não (n=103) 26 (76,5%) 77 (74,0%)

Ignorados (n=30) 5 (14,7%) 25 (24,0%)

2,38 (1,08-5,23)

Pai fumou 3 meses antes da gestação

Sim (n=2) 1 (2,9%) 1 (1,0%)

Não (n=105) 28 (82,4%) 77 (74,0%)

Ignorados (n=31) 5 (14,7%) 26 (25,0%)

1,87 (0,45-7,77)

Fumantes em casa

Sim (n=52) 19 (55,9%) 33 (31,7%) 2,27 (1,13-4,57)

Não (n=56) 9 (26,5%) 47 (45,2%)

Ignorados (n=30) 6 (17,6%) 24 (23,1%)

Total (n=138) 34 (24,6%) 104 (75,4%)

OR= odds ratio; IC= intervalo de confiança.

81

Tabela 10: Relação entre o status do NRAS nas leucemias e o hábito de fumar na família.

NRAS+ NRAS- OR (IC 95%)

Mãe fumante

Sim (n=14) 2 (20,0%) 12 (21,8%)

Não (n=35) 6 (60,0%) 29 (52,7%)

Ignorados (n=18) 2 (20,0%) 14 (25,5%)

0,83 (0,19-3,64)

Mãe fumou 3 meses antes da gestação

Sim (n=9) 2 (20,0%) 7 (12,7%)

Não (n=40) 6 (60,0%) 34 (61,8%)

Ignorados (n=16) 2 (20,0%) 14 (25,5%)

1,48 (0,35-6,18)

Mãe fumou durante a gravidez

Sim (n=5) 1 (10,0%) 4 (7,3%)

Não (n=44) 7 (70,0%) 37 (67,3%)

Ignorados (n=16) 2 (20,0%) 14 (25,5%)

1,26 (0,19-8,24)

Pai fumante

Sim (n=4) 0 (0,0%) 4 (7,3%)

Não (n=43) 7 (70,0%) 36 (65,4%)

Ignorados (n=18) 3 (30,0%) 15 (27,3%)

1,19 (1,05-1,36)

Pai fumou 3 meses antes da gestação

Sim (n=2) 0 (0,0%) 2 (3,6%)

Não (n=44) 7 (70,0%) 37 (67,3%)

Ignorados (n=) 3 (30,0%) 16 (29,1%)

1,19 (1,05-1,35)

Fumantes em casa

Sim (n=21) 4 (40,0%) 17 (30,9%) 1,24 (0,35-4,37)

Não (n=26) 4 (40,0%) 22 (40,0%)

Ignorados (n=) 2 (20,0%) 16 (29,1%)

Total (n=65) 10 (15,4%) 55 (84,6%)

OR= odds ratio; IC= intervalo de confiança.

Na tabela 11 mostramos os casos mutados no KRAS e NRAS, cada um deles descritos

de acordo com a idade, o diagnóstico da leucemia e seu subtipo, as alterações adicionais (MLL

ou FLT3) e qual o tipo de exposição ao fumo, seja pela mãe, pelo pai ou pelos fumantes em

casa.

82

Tabela 11: Descrição sumaria dos casos com KRAS e NRAS mutados e as principais variáveis

analisadas

Casos

KRAS

Idade do

paciente

Tipo de

Leucemia

Alterações

Adicionais

Exposição ao

Fumo

3 9m LLA-próB MLL Fumantes em

casa

10 15m LLA-c Nenhuma Fumantes em

casa

13 7m LLA-c MLL Nenhuma

20 8m LLA-próB MLL Mãe fumante e

fumantes em

casa

22 23m LLA-c Nenhuma Fumantes em

casa

26 1m LLA-próB MLL Pai fumante e

fumantes em

casa

27 18m LLA-c Nenhuma Mãe fumante e

fumantes em

casa

28 21m LLA-c Nenhuma Fumantes em

casa

31 8m LLA-c Nenhuma Mãe fumante e

fumantes em

casa

34 3m LLA-próB MLL Fumantes em

casa

44 10m LLA-c MLL Mãe fumante e

fumantes em

casa

45 18m LLA-c Nenhuma Nenhuma

83

50 7m LLA-próB MLL Mãe fumante e

fumantes em

casa

61 16m LLA-préB Nenhuma Nenhuma

63 5m LLA-próB MLL Fumantes em

casa

64 7m LMA-M4 MLL Pais fumantes e

fumantes em

casa

65 8m LLA-próB MLL Fumantes em

casa

70 19m LLA-c Sem informação Fumantes em

casa

78 19m LMA-M5 Nenhuma Fumantes em

casa

54 17m LMA-M4 MLL Nenhuma

81 16m LMA-M4 Nenhuma Mãe fumante

86 11m LMA-M7 MLL Sem informação

101 21m LLA-c Nenhuma Sem informação

109 14m LLA-c Nenhuma Mãe fumante e

fumantes em

casa

117 2m LLA-próB MLL Nenhuma

121 9m LLA-próB MLL Sem informação

122 5m LLA-próB MLL Sem informação

128 2m LLA-próB Nenhuma Sem informação

129 23m LLA-próB Nenhuma Mãe fumante

131 10m LMA-M4 Nenhuma Nenhuma

132 0.1m (3 dias) LLA-c Nenhuma Fumantes em

casa

133 23m LLA-próB Nenhuma Nenhuma

84

139 22m LLA Nenhuma Fumantes em

casa

136 17m LMA Sem informação Nenhuma

Casos NRAS

37 9m LLA-c MLL Fumantes em casa

51 7m LLA-c Nenhuma Nenhuma 52 5m LLA-próB MLL Fumantes em

casa 55 2m LLA-próB MLL Nenhuma 94 12m LMA-M7 Nenhuma Nenhuma

105 6m LLA-próB MLL Fumantes em casa

109 14m LLA-c Nenhuma Mãe fumante e fumantes em

casa 119 8m LMA MLL Mãe fumante 123 18m LLA-c Nenhuma Sem informação 130 24m LMA-M5 Nenhuma Sem informação

85

6. DISCUSSÃO

86

Os fatores exógenos ou ambientais responsáveis pela leucemogênese ainda não foram

totalmente comprovados, porém há evidências epidemiológicas que demonstram que o

desenvolvimento de leucemias infantis está associado à predisposição hereditária, exposições

ambientais, bem como com eventos ao acaso. A ocorrência de alterações genéticas, que

envolvam genes chave para o sistema hematopoético está diretamente associada a estes

fatores (Greaves, 2002). Atualmente, estas alterações genéticas são identificadas como

marcadores importantes no diagnóstico, para o conhecimento da etiopatogênese da leucemia,

e para análises de sobrevida pós-tratamento.

Mutações gênicas, cuja forma mais comum são as mutações pontuais, são altamente

prevalentes em diversos tipos de neoplasias. As mutações no gene RAS foram identificadas

em aproximadamente 20% dos pacientes com LLA e em aproximadamente 30% dos pacientes

com LMA (Browett e Norton, 1989; Barletta e cols., 2004). Portanto, resultados encontrados

no nosso estudo coincidem na freqüência de mutações no RAS nas LMAs que se apresentaram

em aproximadamente 25-30% dos casos.

Estudos realizados mostram que diferentemente de outros cânceres humanos, onde

predominam as mutações no RAS, as que ocorrem no NRAS são as mais freqüentes nas

neoplasias hematológicas, principalmente nas LMAs (Ritter e cols., 2004; Bowen e cols.,

2005; Usher e cols., 2009). Um estudo realizado por Clementino e cols. em 2001, analisou

101 DNAs de pacientes com menos de 15 anos de idade, diagnosticados com LLA. Utilizando

as técnicas de SSCP e dot blot, eles detectaram 7% (7/101) mutações no gene NRAS neste

grupo de crianças brasileiras com LLA. Porém, a presença da mutação não foi associada

estatisticamente à idade do paciente, sexo, leucometria ou status nutricional. Nossos

resultados apresentam uma predominância de mutações no NRAS (30,0% nas LMAs) em

comparação às mutações no KRAS (20,6% nas LMAs). Uma análise crítica destes resultados

87

deve levar em consideração o pequeno número de amostras, as características biológicas dos

casos e o desenho do estudo onde foram selecionadas as amostras.

Outro aspecto para a análise crítica seria a escolha das técnicas para as análises

mutacionais disponíveis com capacidade de identificação precisa de mutações pontuais em

clones leucêmicos. Entre estas técnicas se destacam, para o rastreamento genético, a utilização

do single strand PCR polymorfism, RFLP, dHPLC e sequenciamento direto. Todas estas

técnicas possuem vantagens e desvantagens. Para estudos com um grande tamanho amostral

se preconiza a combinação das diferentes técnicas, iniciando-se com aquela com maior

sensibilidade, seguida de técnica mais especificas e confirmatórias dos resultados.

O RFLP é uma técnica com comprovadas aplicações bem sucedidas, uma técnica

rápida, de baixa complexidade e baixo custo, porém, apresenta algumas desvantagens tais

como a necessidade de DNA relativamente puro.

A técnica por dHPLC é uma ferramenta que vem sendo utilizada como um método de

rastreamento altamente automatizado para a detecção de novos polimorfismos. O principio

científico da técnica se baseia na retenção diferencial de homo- e heteroduplexes de DNA por

cromatografia por pares de íons sob condições de desnaturação parcial. As moléculas

heteroduplex são geradas em amostras heterozigóticas quando as fitas simples, do DNA

homólogo, carregam uma mutação pontual ou pequenos re-anelamentos de inserções ou

deleções. Sob condições de desnaturação parcial, as moléculas heteroduplex geralmente são

eluidas à frente das homoduplex, produzindo pelo menos um pico adicional. Os perfis de

eluição de tais amostras são diferentes daqueles que possuem seqüências homozigóticas,

fazendo com que a identificação das amostras, abrangendo polimorfismos ou mutações, um

procedimento fácil e direto. Os mutantes homozigotos podem ser detectados pela adição de

uma quantidade aproximadamente igual de DNA selvagem às espécies mutantes. Estudos

88

prévios mostraram que o dHPLC não é só uma ferramenta que proporciona uma metodologia

altamente sensitiva e automatizada que pode ser usada como uma técnica de rastreamento

poderosa para a detecção de polimorfismos (Oefner e Underhill, 1995; Liu e cols., 1998;

Schaeffeler e cols., 2001), mas também pode ser utilizada para genotipagem (Underhill e

cols., 1997; Gross e cols., 2000; Kaler e cols., 2000). A sensibilidade do dHPLC depende das

condições HPLC utilizadas para a análise. Outro passo crítico é a análise dos perfis de

eluição. Para uma máxima sensibilidade, qualquer desvio do perfil de eluição das amostras

controles deve ser considerado. A sensibilidade da dHPLC tem sido investigada em vários

estudos, com alguns deles apresentando precisão para detecção de mutações de até 100%.

Porém, em alguns casos diferentes, as mutações renderam perfis de eluição similares, o que

levou a uma má interpretação (Gross e cols., 2000; Spiegelman e cols., 2000).

Case e cols. realizaram um estudo em 2008 onde 86 casos de LLA foram analisados

com o dHPLC. A incidencia de mutações de NRAS e KRAS identificada neste estudo, ao

diagnóstico, foi de 31% e está considerada como a mais elevada quando comparada com

outros estudos e certamente é devido à sensibilidade aumentada da metodologia do dHPLC

(Case e cols., 2008).

Com estas considerações teóricas e análises críticas quanto às escolhas de ferramentas

metodológicas, no nosso estudo realizamos inicialmente uma comparação com os métodos já

usados para genotipagem e bem estabelecidos como RFLP. Nós concluímos que a dHPLC,

mostrou ser uma técnica menos laboriosa, mais rápida e com alta sensibilidade nos resultados

de rastreamento. Porém, a alta sensibilidade desta ferramenta pode criar desvantagens como

fragmento pequeno que não necessariamente é uma anomalia do DNA, por este motivo é

aconselhável complementar esta metodologia com o RFLP ou sequenciamento direto.

Portanto, acreditamos que os resultados globais de frequência de mutações nos K- e NRAS em

89

diferentes subtipos de leucemias agudas de lactentes, no nosso estudo, não foram afetados por

possíveis problemas técnicos.

Estudos prévios sustentam a hipótese de que as leucemias agudas em lactentes, com

rearranjos MLL podem ser causadas pelas exposições transplacentários de substâncias lesivas

ao DNA (Alexander e cols., 2001; Spector e cols., 2005; Pombo-de-Oliveira e cols., 2006).

Porém, o nosso estudo é um dos primeiros a relacionar as mutações do RAS com as leucemias

agudas infantis com rearranjos MLL e com as variáveis epidemiológicas numa série de

leucemias.

As hipóteses sobre os mecanismos da leucemogênese nas LALs especulam que o feto

em desenvolvimento é mais sensível aos efeitos de danos ao DNA durante o início da

gravidez. A fusão gênica resultante de translocações cromossômicas aleatórias parece ser o

primeiro evento na leucemogênese (Greaves, 1997; Greaves e Wiemels, 2003). Há evidências

de que os rearranjos recíprocos do MLL são comuns nas LALs e de que possivelmente podem

ter sido originadas como efeitos das exposições a substâncias inibidoras de topoisomerase II

que atravessaram a barreira transplacentária (Alexander e cols, 2001; Pombo-de-Oliveira e

cols., 2006). Sendo assim, é importante buscar o entendimento de como estas fusões anômalas

podem ter sido causadas.

De acordo com a teoria de Knudson (Knudson, 1975) um segundo evento deve ocorrer

para o desenvolvimento de tumores de origem embrionária, por isso, nós especulamos que as

mutações no RAS podem favorecer ao possível “acúmulo de eventos” na cadeia biológica de

eventos ao acaso relacionados às LALs. Mahgoub e cols., em um estudo realizado em 1998,

analisaram 32 leucemias pediátricas que previamente apresentaram rearranjos no MLL e não

encontraram evidências de interação funcional entre estes genes. Neste estudo 23 de 25 casos

mostraram padrões normais de KRAS e NRAS. No entanto, as nossas análises não mostraram

90

uma relação estatisticamente significativa, com o risco relativo entre as mutações no RAS e os

rearranjos MLL, onde 47,1% dos casos com mutação no KRAS possuíam rearranjos no MLL

(OR 1,27 IC 95% 0,70-2,31), e nos casos com mutação no NRAS 50,0% possuíam rearranjos

do MLL (OR 1,54 IC 95%, 0,50-4,76). Em ambas circunstâncias, as análises não foram

estatisticamente significativas. Por isso, estudos adicionais devem ser realizados para

determinar se podem existir modelos adicionais da ativação da via do RAS nos casos com

rearranjos MLL sem mutações no RAS. Por exemplo, nas leucemias mielóides crônicas

(LMC), onde as mutações no RAS geralmente estão ausentes, a via de sinalização RAS é

desregulada pela proteína de fusão BCR-ABL, que induz a um aumento nos níveis de GTP-

ligante ativa (Pendergast e cols., 1993; Mahgoub e cols., 1998). A neurofibrina, produto do

NF1, é uma proteína ativadora de GTPase que acelera a hidrolise GTP nas proteínas RAS

(Shannon e cols., 1994). Assim, a transformação leucêmica não é independente da via RAS.

Assim como na presença de rearranjos no MLL nas LALs, um estudo experimental

com cobaia realizado recentemente (Usher e cols., 2009) sugere que o RAS pode sim agir

como um evento inicial ou secundário numa neoplasia. Este estudo tentou relacionar o

acúmulo de efeitos das mutações do FLT3 e das mutações no RAS, como fatores

correlacionados com as leucemias agudas. Estas mutações podem ocorrer de maneira

independente, embora não se deve descartar a possibilidade de interações fracas adversas

entre o FLT3 mutante e o RAS mutante pela associação das mesmas na transdução de sinais

aberrantes. Não encontramos nenhum caso com concomitância das duas mutações em FLT3 e

RAS.

Um dado clínico que apresentou uma relação estatisticamente significativa foi a

leucometria elevada. Esta relação significativa com a mutação no NRAS contrasta com dados

encontrados na literatura, onde pacientes com mutações no NRAS apresentaram uma média de

91

leucometria de 28,0x109/l nos pacientes sem mutações NRAS (P<0,001) (Bacher e cols.,

2006). Porém, sabe-se que os lactentes com leucemias agudas se caracterizam por uma

contagem leucocitaria mediana de ≥50x109/l, sendo assim nossos dados de NRAS não fogem

do denominados comum das LALs e sim os do KRAS. Resta então saber se as mutações no

RAS em lactentes podem ser associadas ao prognóstico e a resposta terapêutica.

Nosso estudo foi totalmente motivado por questões referentes aos fatores de riscos

associados à exposição materna a substâncias carcinógenos que estão associadas ao RAS.

Apesar dos mecanismos específicos das mutações do RAS ainda serem desconhecidos,

estudos epidemiológicos em humanos e em animais sugerem que mutações pontuais

específicas nos genes RAS podem ser induzidas também por certos carcinógenos químicos

(Barletta e cols., 2004). Entre estes carcinógenos se encontra o cigarro que possui vários

agentes mutagênicos tais como hidrocarbonetos aromáticos policíclicos e nitrosaminas. No

entanto, os diversos estudos epidemiológicos realizados tentando demonstrar à associação

entre o hábito de fumar dos pais e as leucemias infantis encontraram resultados inconsistentes.

Por exemplo, um grande estudo caso-controle realizado nos Estados Unidos analisou 1842

casos de LLA e 517 casos de LMA através de entrevistas por telefone, e seus controles foram

questionados sobre seus hábitos de fumar no período antes, durante e depois da gravidez. O

risco de desenvolver leucemia foi estudado de acordo com o tipo histológico, a idade da

criança ao diagnostico e imunofenótipo. Este estudo mostrou que o risco de LLA não estava

associado com o fato do pai sequer ter fumado alguma vez (OR 1,04 IC 95% 0,90-1,20) ou a

mãe sequer ter fumado alguma vez (OR 1,04 IC 95% 0,91-1,19). Da mesma forma, nenhum

risco significativo de LMA foi observado para o hábito de fumar do pai (OR 0,88 IC 95%

0,67-1,16) ou da mãe (OR 0,95 IC 95% 0,74-1,22). O risco relativo de leucemia não foi

diferentemente significativo do nulo para o hábito de fumar dos pais em qualquer período

92

durante ou ao redor da gravidez, nem foi relacionado ao numero de cigarros, anos de fumo, ou

numero de maços por ano. Eles concluíram que hábito de fumar dos pais durante a gravidez

ou a exposição ao fumo por um curto período após o nascimento aparentemente não contribui

de maneira substancial no risco de desenvolvimento de leucemias pediátricas (Brondum e

cols., 1999).

Em contraste, um estudo caso-controle realizado na China em 1997 por Ji e cols.,

investigou a relação do hábito de fumar do pai, particularmente no período pré-concepção,

com cânceres infantis entre a descendência das mães que não tinham o hábito de fumar. Esta

pesquisa surgiu do fato que o hábito de fumar pode aumentar o dano oxidativo do DNA nas

células espermáticas humanas e de que a maioria dos estudos de cânceres infantis se foca

primeiramente no hábito de fumar da mãe. O estudo incluiu 642 casos de crianças com

neoplasias e seu controle, sendo que a informação relativa ao hábito de fumar foi obtida

diretamente com os pais. Foi concluído que o hábito de fumar dos pais antes da concepção

estava relacionado ao risco elevado de desenvolvimento de cânceres em crianças,

particularmente nas leucemias agudas e linfomas. Comparadas com as crianças cujos pais

jamais fumaram, as crianças com pais que tinham o hábito de fumar mais de 5 maços de

cigarro por ano antes da sua concepção mostraram um risco relativo (OR 3,8 IC 95% 1,3-

12,3) para LLAs. Os riscos estatisticamente significativos foram restritos às crianças com <5

anos de idade ao diagnostico, cujos pais fumaram durante todo o período de 5 anos até a

concepção (Ji e cols., 1997).

Recentemente num estudo do tipo caso-controle realizado nos Estados Unidos por

Chang e cols., foram avaliados 327 casos de leucemias agudas infantis (281 LLAs e 46

LMAs) e eles demonstraram que o hábito de fumar das mães não estava associado ao risco

elevado de desenvolver leucemias, seja LLAs ou LMAS. Já o hábito de fumar do pai antes da

93

concepção foi associado significativamente a um aumento no risco de LMA (OR 3,84 IC 95%

1,04-14,17). Estes resultados sugeriram que a exposição ao fumo paterno antes da concepção

e/ou o fumo passivo pós-natal pode ser importante no risco de leucemias infantis (Chang e

cols., 2006). Um estudo prévio realizado por Shu e cols. (Shu e cols.,1996) mostrou que o

hábito de fumar do pai um mês antes da gravidez também estava associado a um aumento no

risco (OR 1,56 IC 95% 1,03-2,36) nas LLAs em lactentes.

Wiemels e cols. realizaram um estudo em 2005, onde foram analisadas 161 amostras

de leucemias agudas pediátricas que possuíam aspirados de MO criopreservados obtidos do

serviço clínico que tinha previamente diagnosticado o caso. As características demográficas e

a informação sobre o hábito de fumar dos pais foram providenciadas pelas mães dos casos

(97,5%) ou pelos pais (2,5%) através de entrevistas pessoais na casa da família. As

informações do hábito de fumar dos pais foram estratificadas de acordo com o período deste

hábito tanto no pai quanto na mãe. As mutações no RAS foram relacionadas com as

informações dos pais que fumaram 3 meses antes da gravidez [12% (4/191) (P=0,13)], as

mães que fumaram 3 meses antes da gravidez (19% (4/191) (P=0,89)] e as mães que fumaram

durante a gravidez [15% (2/191) (P=0,65)]. Com estes resultados foi sugerido que não há uma

prevalência elevada do hábito de fumar dos pais entre os casos positivos para as mutações

RAS quando comparados aos casos não mutados no RAS. Também, químicos mutagênicos

provenientes do cigarro do hábito de fumar das mães atravessam a placenta levando a um

possível efeito do hábito de fumar parental no risco de leucemia pediátrica (Wiemels e cols.,

2005).

Corroborando com estas investigações anteriores, nós observamos resultados

consistentes onde as leucemias de lactentes com mutações no KRAS estão associadas com o

94

hábito de fumar do pai, antes da gestação ou durante a gravidez. Enquanto o hábito de fumar

das mães não apresenta uma relação estatisticamente significativa.

Nossa interpretação é de que estes dados precisam ser re-avaliados em estudos mais

robustos, utilizando marcadores de aferição de produtos do metabolismo do cigarro nas mães,

já que as respostas a questionários podem ser respondidas sob um efeito de censura. Por

exemplo, uma informação bastante interessante é a relação estatisticamente significativa entre

as leucemias com mutações no RAS, especificamente no KRAS, e as mães que estiveram

expostas à fumaça de cigarro durante a gravidez devido à presença de fumantes em casa ou no

ambiente de trabalho [(19/138) (P=0,02)]. Além desta relação, observamos um risco relativo

bastante significativo para esta exposição e a aparição da mutação nas LALs (OR 2,27, 95%

1,13-4,567). Não encontramos estudos na literatura que mostrassem dados desta relação,

porém podemos justificar esta relação com uma possível sensibilidade das mães à fumaça do

cigarro e, como foi mostrado nos estudos anteriores, os agentes carcinógenos da fumaça

atravessam a placenta podendo ativar mutações in utero em certas vias, como a via da RAS,

levando a um possível risco de leucemia pediátrica.

Finalmente, as conclusões deste estudo levantam diversas questões sobre fatores

ambientais associados às leucemias de lactentes, e destaca o potencial papel interativo da

mutação do RAS nas leucemias, idade materna, leucometria e o hábito de fumar dos pais antes

e durante a gravidez, assim como a exposição materna a fumaça de cigarro em casa ou no

ambiente de trabalho. As associações significativas encontradas neste trabalho devem guiar o

desenho de estudos futuros, que tenham como objetivo principal desvendar as possíveis

causas das leucemias infantis.

95

7. CONCLUSÃO

96

Com este trabalho concluímos que as mutações no gene RAS apresentam potencial papel

interativo em:

• Diagnóstico de leucemias

• Leucometria

• Idade materna

• Hábito de fumar do pai (antes ou durante a gravidez)

• Exposição materna à fumaça do cigarro

97

8. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

98

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128

9. ANEXOS

129

9.1. Ficha de encaminhamento

130

9.2. TCLE

131

132

133

9.3. Géis de RFLP

(a) (b)

Géis de agarose de 3% corados com BE. Gel (a): as setas indicam amostras de pacientes, após

digestão com enzima PflMI para o KRAS com padrão de uma banda (padrão mutado); Gel (b):

as setas indicam amostras de pacientes após digestão com enzima BstNI com padrão de duas

bandas (padrão mutado).

(c) (d)

Géis de agarose de 3% corados com BE. Gel (c): as setas indicam amostra de paciente após

digestão com enzima BstNI com padrão de duas bandas (padrão mutado) Gel (d): as setas

indicam amostras de pacientes após digestão com enzima PflMI com padrão de uma banda

(padrão mutado)

(e) (f)

Géis de agarose de 3% corados com BE. Géis (e) e (f): as setas indicam amostra de pacientes

após digestão com enzima PflMI com padrão de uma banda (padrão mutado).

134

(g) (h) Géis de agarose de 3% corados com BE. Gel (a): as setas indicam amostras de pacientes, após

digestão com enzima PflMI para o KRAS com padrão de uma banda (padrão mutado); Gel (b):

as setas indicam amostras de pacientes após digestão com enzima BstNI com padrão de duas

bandas (padrão mutado).

(i) (j)

Géis de agarose de 3% corados com BE. Géis (i) e (j): as setas indicam amostras de pacientes

após digestão com enzima BstNI com padrão de duas bandas (padrão mutado).

(k) (l)

Géis de agarose de 3% corados com BE. Gel (k): as setas indicam amostras de pacientes, após

digestão com enzima PflMI para o KRAS com padrão de uma banda (padrão mutado); Gel (l):

as setas indicam amostras de pacientes após digestão com enzima BstNI com padrão de duas

bandas (padrão mutado).

135

(m) (n) Géis de agarose de 3% corados com BE. Gel (m): (1) as setas indicam amostras de pacientes

após digestão com enzima BstNI com padrão de duas bandas (padrão mutado); Gel (n): as

setas indicam amostras de pacientes após digestão com enzima PflMI com padrão de uma

banda (padrão mutado).

136

9.4. Cromatogramas do dHPLC

Cromatogramas dos casos com mutação no gene NRAS por dHPLC a 60.2°C

(temperatura padronizada como ótima para a cromatografia).

1)

2)

3)

137

4)

5)

6)

7)

138

8)

9)

10)