RAQUEL, MARIA E INÊS: TRÊS MULHERES NO COTIDIANO ... · O autor diz, também, que há uma prova...

14
Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012 1 RAQUEL, MARIA E INÊS: TRÊS MULHERES NO COTIDIANO EDUCACIONAL DE CLARA DE ASSIS DIAS, Ivone Aparecida (UEM) 1 OLIVEIRA, Terezinha (UEM) 2 O objetivo deste texto é refletir sobre a importância educacional que Raquel, esposa de Jacó – personagens do Antigo Testamento –, Maria, a mãe de Jesus, e Inês 3 , mártir da Igreja cristã primitiva, exerceram na vida de Clara de Assis no século XIII, influenciando-a em suas atitudes, em seu comportamento e, portanto, em sua prática educativa. Um dos pressupostos para esta reflexão é que os homens nunca vivem completamente imersos em seu presente, mas transitam por diferentes temporalidades: pela memória, no passado; pela vivência, no presente; pela expectativa, no futuro, como insiste Santo Agostinho: [...] Existem na minha alma estas três espécies de tempo e não as vejo em outro lugar: memória presente respeitante às coisas passadas, visão presente respeitante às coisas presentes, expectação presente respeitante às coisas futuras. Se me permitem dizê-lo, vejo e afirmo três tempos, são três (SANTO AGOSTINHO, 2008, XI, XX, 26). Analisando os escritos de Clara verificamos que ela não desconsidera essas três dimensões de temporalidade registradas por Santo Agostinho: guarda na memória a atuação histórica de grandes personagens bíblicas – toma-os como exemplos; atua, age a partir da consideração de sua realidade presente, das situações com as quais se defronta; vive na expectativa de uma vida futura, a vida eterna, motivação maior para sua atuação 1 Doutoranda em Educação / PPP-UEM. 2 Professora Orientadora / PPE-UEM. 3 É importante atentar para o fato de que, no texto, nos referiremos a Inês e a Inês de Praga. A primeira, mártir da Igreja cristã primitiva, é tomada por Clara de Assis como modelo de fé, de fortaleza, de perseverança para ensinar a Inês de Praga, sua contemporânea, como se comportar diante de algumas dificuldades que enfrentava em relação à cúria romana.

Transcript of RAQUEL, MARIA E INÊS: TRÊS MULHERES NO COTIDIANO ... · O autor diz, também, que há uma prova...

Page 1: RAQUEL, MARIA E INÊS: TRÊS MULHERES NO COTIDIANO ... · O autor diz, também, que há uma prova evidente de que a generalidade dos cristãos conhecia a Bíblia, pelo menos em linhas

Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012

1

RAQUEL, MARIA E INÊS: TRÊS MULHERES NO COTIDIANO

EDUCACIONAL DE CLARA DE ASSIS

DIAS, Ivone Aparecida (UEM)1

OLIVEIRA, Terezinha (UEM)2

O objetivo deste texto é refletir sobre a importância educacional que Raquel,

esposa de Jacó – personagens do Antigo Testamento –, Maria, a mãe de Jesus, e Inês3,

mártir da Igreja cristã primitiva, exerceram na vida de Clara de Assis no século XIII,

influenciando-a em suas atitudes, em seu comportamento e, portanto, em sua prática

educativa.

Um dos pressupostos para esta reflexão é que os homens nunca vivem

completamente imersos em seu presente, mas transitam por diferentes temporalidades:

pela memória, no passado; pela vivência, no presente; pela expectativa, no futuro, como

insiste Santo Agostinho:

[...] Existem na minha alma estas três espécies de tempo e não as vejo em outro lugar: memória presente respeitante às coisas passadas, visão presente respeitante às coisas presentes, expectação presente respeitante às coisas futuras. Se me permitem dizê-lo, vejo e afirmo três tempos, são três (SANTO AGOSTINHO, 2008, XI, XX, 26).

Analisando os escritos de Clara verificamos que ela não desconsidera essas três

dimensões de temporalidade registradas por Santo Agostinho: guarda na memória a

atuação histórica de grandes personagens bíblicas – toma-os como exemplos; atua, age a

partir da consideração de sua realidade presente, das situações com as quais se defronta;

vive na expectativa de uma vida futura, a vida eterna, motivação maior para sua atuação

1 Doutoranda em Educação / PPP-UEM. 2 Professora Orientadora / PPE-UEM. 3 É importante atentar para o fato de que, no texto, nos referiremos a Inês e a Inês de Praga. A primeira, mártir da Igreja cristã primitiva, é tomada por Clara de Assis como modelo de fé, de fortaleza, de perseverança para ensinar a Inês de Praga, sua contemporânea, como se comportar diante de algumas dificuldades que enfrentava em relação à cúria romana.

Page 2: RAQUEL, MARIA E INÊS: TRÊS MULHERES NO COTIDIANO ... · O autor diz, também, que há uma prova evidente de que a generalidade dos cristãos conhecia a Bíblia, pelo menos em linhas

Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012

2

em seu presente. Nesse sentido, mulheres do Antigo Testamento (Raquel), do Novo

Testamento (Maria) e da Igreja cristã primitiva (Inês) são consideradas por ela como

exemplos, já que teriam vivido de tal forma que se tornaram memoráveis para os

homens, devido à sua fé e ao seu comportamento, sendo este, expressão daquela.

No período medieval era comum a consideração de personagens bíblicas como

modelos. Se percorrermos as páginas das obras dos autores daquele tempo, facilmente

observaremos tal fato, tanto em obras de autores leigos como em escritos de mulheres e

homens religiosos. Objetivava-se, com a propagação do modo de ser das personagens

de épocas anteriores, a produção e desenvolvimento de um modus vivendi. No século

IX, Dhuoda, por exemplo, uma dama da casa dos carolíngios, ao escrever o “Manuel

pour mon fils”, retirou da Bíblia trechos das histórias de personagens que poderiam

contribuir com o processo educacional de seu filho, Guilherme. Ela apresenta a

Guilherme o exemplo de personagens que ele deveria imitar, assim como lhe narra

histórias de figuras cujo modo de ser seu primogênito não deveria seguir. Para a nobre

Dhuoda, o filho obediente e respeitoso para com o pai, como Sem, filho de Noé, era

premiado com vida longa e muitos bens. Ao contrário, o filho rebelde sofria uma morte

horrenda além de ser privado da glória do Reino (DHUODA, 1975).

Nos primeiros séculos do cristianismo, nas Regras e obras dirigidas

especialmente às mulheres e homens religiosos, seus autores também fundamentavam

seus ensinamentos tomando como exemplos os modelos de vida de personagens das

Sagradas Escrituras. Ora consideravam suas histórias, ora simplesmente utilizavam

trechos de suas falas para referendar a mensagem desejada ou o ensinamento a ser

transmitido. Ou seja, a vida virtuosa e exemplar de homens e mulheres do passado e

suas relações com Deus, transmitida de geração em geração e registrada na Bíblia, era

considerada como fonte educacional. A Bíblia era, em suma, a autoridade que

sustentava a atividade educacional; seus ensinamentos davam respaldo àquilo que os

homens da Igreja desejavam ensinar por meio de seus escritos ou de suas pregações.

Essa tradição de buscar nas personagens bíblicas os modelos desejados de

comportamento, de vida virtuosa – e também de apresentar aqueles que não deviam ser

imitados, como Eva, por exemplo, por terem tido um comportamento reprovado –

Page 3: RAQUEL, MARIA E INÊS: TRÊS MULHERES NO COTIDIANO ... · O autor diz, também, que há uma prova evidente de que a generalidade dos cristãos conhecia a Bíblia, pelo menos em linhas

Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012

3

permaneceu viva em todos os séculos medievais4. Assim, no século XIII, na Itália,

encontramos nos escritos de Clara de Assis a presença marcante de três mulheres que

sustentaram sua atuação como educadora: Raquel, Maria e Inês. Dessas três, a mais

citada é, seguramente, Maria. Entretanto, é importante ressaltar que, além da referência

direta a essas pessoas, nas Cartas de Clara a Inês de Praga, também encontramos muitas

citações de falas que nos remetem a outras figuras bíblicas, como Ana, Jó e Paulo de

Tarso (ou São Paulo). Assim, por exemplo, ao expressar sua alegria pela opção de Inês,

utiliza palavras que se aproximam muito daquelas ditas por Ana em seu cântico de

louvor (cf. I Sm 2,1-10); quando respondeu a Inês sobre os jejuns, aconselhando-lhe

prudência, Clara cita uma passagem do livro de Jó (cf. Jó 6, 12) ao dizer o seguinte:

“Entretanto, como não temos carne de bronze nem a robustez de uma rocha [...]” (3 CtI

38, grifos na obra). Quanto a Paulo de Tarso, são muitos os trechos de suas cartas que

são utilizados por Clara para validar sua ação educativa.

Em todos os escritos de Clara, ou seja, na Regra, no Testamento, na Bênção e

em suas Cartas, é possível observar uma grande preocupação e uma clareza evidente

sobre a importância de ser exemplo, tanto para as Irmãs quanto para as pessoas que nem

sequer integravam diretamente a sua comunidade. No Testamento ela afirma o seguinte:

“Pois o próprio Senhor colocou-nos não só como modelo, exemplo e espelho para os

outros, mas também para nossas irmãs, que ele vai chamar para nossa vocação, para que

também elas sejam espelho para os que vivem no mundo” (TestC 3).

Em outro trecho também podemos observar a preocupação de Clara em relação à

necessidade da abadessa ser exemplar para as outras integrantes da comunidade. Para

ela, aquela que estivesse a serviço das demais Irmãs – como se refere à abadessa

(BARTOLI, 1998) – devia “[...] estar à frente das outras Irmãs mais por virtudes e

santos costumes do que pelo ofício, de forma que suas Irmãs, provocadas por seu

exemplo, não obedeçam tanto por dever como por amor” (TestC 61-62).

Também em outros textos do período e referentes à Clara – como a Bula e o

Processo de Canonização e as Legendas – o destaque que aqueles que falaram dela 4 Aliás, em todas as épocas históricas recorre-se a exemplos de homens reais ou lendários para modelar o comportamento de seus pares. O que representam as personagens de Homero, por exemplo, na Antiguidade grega?

Page 4: RAQUEL, MARIA E INÊS: TRÊS MULHERES NO COTIDIANO ... · O autor diz, também, que há uma prova evidente de que a generalidade dos cristãos conhecia a Bíblia, pelo menos em linhas

Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012

4

deram à sua preocupação com a exemplaridade é significativo quando intencionamos

compreender seu papel como educadora em seu tempo. Irmã Filipa, a terceira das

testemunhas ouvidas em seu processo de canonização, se refere ao comportamento

exemplar de Clara como mulher de oração e como serva das demais:

Era assídua na oração, e tanto seu comportamento como seu falar eram sobre coisas de Deus, tanto que nunca prestava seus ouvidos às coisas mundanas. [...] Punha as outras Irmãs à sua frente, fazendo-se inferior a todas, servindo-as, derramando água em suas mãos e até lavando os pés das serviçais (ProcC 3, 3; 9).

A leitura que fazemos da preocupação de Clara com a exemplaridade é de que a

mesma buscava os fundamentos de sua prática educativa nas figuras bíblicas que lhe

eram acessíveis e que lhe serviram como modelos em seu próprio processo de formação

como religiosa. Ou seja, Clara, mulher que expressa de maneira muito viva as

características de seu tempo, ao se comprometer intensamente com a educação “dos

outros e de suas Irmãs” (TestC 3), busca os fundamentos de sua formação pessoal e de

sua prática educativa nos elementos legados pela tradição cristã e, portanto, na Sagrada

Escritura.

Segundo Rops (1993, p. 57), uma das características da religião cristã nos

grandes séculos medievais – o que certamente inclui o século de Clara (XIII) –, era o

seu “[...] caráter profundamente escriturístico [...]. A Sagrada Escritura, a Bíblia, é sem

dúvida alguma conhecida pela generalidade dos homens, ao menos por alto”.

O autor diz, também, que há uma prova evidente de que a generalidade dos

cristãos conhecia a Bíblia, pelo menos em linhas gerais:

A prova de que os cristãos da Idade Média conheciam as Sagradas Escrituras está nas esculturas e nos vitrais das catedrais. Por que motivo os mestres-de-obras teriam multiplicado as páginas dessas “bíblias de pedras” e desses evangelhos transparentes, se os que freqüentavam esses edifícios só podiam ver nelas um enigma? Já se disse que a catedral “falava aos iletrados”, o que é o mesmo que admitir que estes eram capazes de compreender a sua linguagem (ROPS, 1993, p. 58).

Page 5: RAQUEL, MARIA E INÊS: TRÊS MULHERES NO COTIDIANO ... · O autor diz, também, que há uma prova evidente de que a generalidade dos cristãos conhecia a Bíblia, pelo menos em linhas

Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012

5

Tratando da arte dos vitrais, é expressiva a consciência de Teófilo, um monge

alemão do século XII, a respeito da função educacional dessa arte nas igrejas:

[...] Tudo ali deve deslumbrar a vista humana; os tectos devem assemelhar-se a brocados; as paredes lembrarem o Paraíso; a profusão da luz das janelas maravilhar, graças à infinda beleza dos vitrais, a variedade e riqueza da composição. Tratando-se da Paixão do Senhor na arte, é preciso que as almas piedosas dos observadores se sintam, na Sua presença, aguilhoadas pela dor. Se contemplarem os tormentos que os santos sofreram nos corpos e as recompensas de vida eterna que receberam, hão-de resolver-se fàcilmente a ter melhor vida. Se virem como são grandes as alegrias do Céu e tormentosas as chamas do Inferno, hão-de ser animadas pela esperança das suas boas acções, tomadas pelo medo, ao pensar nos seus pecados (apud BROOKE, 1972, p. 112-113)5.

Desse modo, as artes dos vitrais eram inspiradas na narração de acontecimentos

bíblicos, como a Paixão de Cristo e em outros ensinamentos cristãos, como a cultura

hagiográfica. Conforme Gombrich (1995), no século VI o papa Gregório Magno já

havia dito que a pintura podia fazer por aqueles que não eram letrados, o que a escrita

fazia pelos letrados. Desse modo, entende-se que aqueles que não podiam ler a Bíblia

pelas letras, liam-na pelas imagens ricamente trabalhadas nos vitrais das igrejas.

Essas reflexões evidenciam que, de uma forma ou de outra, pela letra ou pela

imagem (pintura ou escultura), os ensinamentos bíblicos direcionavam a vida cotidiana

dos homens, ensinando-lhes os valores cristãos e como vivê-los em sociedade. Assim,

não se pode pensar a História da Educação na Idade Média sem o seu apoio maior, a

Bíblia.

No caso de Clara, a abundância de passagens bíblicas em seus escritos indica a

sua familiaridade – direta ou indiretamente - com a Sagrada Escritura. Esta é uma das

fontes onde ela buscava os elementos necessários para a sua própria formação e a de

suas Irmãs, próximas ou distantes, como é o caso de Inês de Praga (na Boêmia). Ao

saber que esta enfrentava dificuldades com o papado em relação à sua opção por uma

vida de pobreza radical, Clara buscou em Raquel – cuja história é narrada no livro do

5 Nesta passagem é muito nítida a concepção do autor em relação à importância do processo educacional no presente articulado à expectação do futuro, ainda que seja um futuro escatológico, que, para aquele contexto, é muito significativo.

Page 6: RAQUEL, MARIA E INÊS: TRÊS MULHERES NO COTIDIANO ... · O autor diz, também, que há uma prova evidente de que a generalidade dos cristãos conhecia a Bíblia, pelo menos em linhas

Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012

6

Gênesis (Gên 29-46) – um modelo para indicar-lhe a necessidade da perseverança, da

firmeza de propósito diante de sua escolha. Desse modo, na Segunda Carta a Inês, Clara

diz:

[...] Lembre-se da sua decisão como uma segunda Raquel6: não perca de vista seu ponto de partida, conserve o que você tem, faça o que está fazendo e não o deixe (cf. Ct 3,4) [...]. Não confie em ninguém, não consinta com nada que queira afastá-la desse propósito, que seja tropeço no caminho (cf. Rom 14, 13) [...] (2CtI 11.14, grifos na obra).

Observamos, assim, que Inês de Praga e Clara estavam diante de uma situação

que despertava grande apreensão devido a algumas imposições papais em relação à

vivência da pobreza7. Tal como uma diretora espiritual e como alguém que se sentia

responsável pela disseminação de comunidades com o mesmo ideal dela

(ROTZETTER, 1994), visando fortalecer a decisão da amiga, Clara escolhe uma figura

de mulher do Antigo Testamento de grande relevo para os cristãos no período medieval:

Raquel (TRIVIÑO, 1984). Esta, apesar de todos os obstáculos, não vacilou, não

fraquejou até conseguir alcançar seus objetivos: primeiramente, tornar-se esposa de

Jacó, em seguida, conceber, tornar-se mãe, depois de uma longa espera e muitas

humilhações.

Entre as grandes matriarcas cujas histórias são narradas no Antigo Testamento,

Raquel se destaca por sua constância na fé, por seu comportamento perseverante em

busca de seus objetivos (BRUNELLI, 1998).

Sara parece estar conformada com sua sorte e quem deseja filhos é Abraão (cf. Gn 15,2; 16,1s). Também Rebeca é estéril, mas é Isaac quem implora ao Senhor que a torne fecunda (cf. Gn, 25,21). Raquel, ao contrário, busca ativamente realizar seu grande desejo de ser mãe. Suplica a Deus e insiste com Jacó, preferindo a morte a permanecer estéril (cf. Gn 30, 1.22) (BRUNELLI, 1998, p. 141).

6 É interessante observar que Clara apenas menciona o nome de Raquel, sem entrar em pormenores a respeito de sua história Certamente, os contratempos da vida de Raquel narrados no Antigo Testamento eram conhecidos por Inês. Entretanto, relembrada por Clara no contexto de suas próprias vivências, a história de Raquel ganha novo sentido para Inês. 7 Não apresentaremos os pormenores desse debate neste artigo por entendermos que escapa ao objetivo estabelecido.

Page 7: RAQUEL, MARIA E INÊS: TRÊS MULHERES NO COTIDIANO ... · O autor diz, também, que há uma prova evidente de que a generalidade dos cristãos conhecia a Bíblia, pelo menos em linhas

Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012

7

Eis, portanto, a razão por que Clara teria citado Raquel e não outra matriarca

para assinalar a Inês como ela também deveria manter-se firme em sua escolha frente a

qualquer adversidade.

Herdeira de uma longa tradição e em sintonia com o seu tempo, essencialmente

marcado pela religiosidade cristã, outra figura feminina citada abundantemente por

Clara em seus escritos é Maria, a mãe de Jesus. Para Rops (1993), o culto à Maria é

uma importante característica da religião medieval. Contudo, para ele, esse culto não se

originou entre os séculos XI e o XIII, ou seja, não foi estruturado nesse contexto, mas

esteve presente desde os primeiros séculos cristãos: “[...] Nascida desde as origens da

Igreja, a devoção a Nossa Senhora não cessou de crescer ao longo dos séculos [...]”

(ROPS, 1993, p. 62).

Santo Agostinho, no século V, em sua obra Acerca de la santa virginidad,

exaltou a figura de Maria como aquela que mais perfeitamente realizara em sua vida a

vontade de Deus, tornando-se, por isso, exemplo para aquelas mulheres que se decidiam

pela vida religiosa. No século VI, ao escrever a Regla o libro de la formacion de las

virgenes y desprecio del mundo, dirigido à sua irmã Florentina, o bispo de Sevilha,

Leandro, apresentou Maria, a mãe de Jesus, como o exemplo maior a ser imitado pelas

mulheres virgens para viverem como esposas de Cristo:

Medita como uma paloma, piadosa virgen, y aviva em tu corazón el pensamiento de la gloria perdurable que te aguarda a ti, que no transigiste con la carne y con la sangre, que no abandonaste a la corrupción esse cuerpo santísimo. [...] con que expectación te aguardará todo el coro de las vírgenes al verte subir apresurada la escalinata altísima que conduce al cielo, por los mismos peldaños por los que ellas llegaron a Cristo! Allí está Santa Maria, la Madre del Señor, que no cabe em sí de gozo. Ella es la cima y el modelo de la virginidad [...] (SAN LEANDRO, 1949, p. 928).

Esses dois exemplos são esclarecedores no sentido de evidenciar que o culto a

Maria, quando chegou ao século XIII, já tinha uma longa tradição. Entretanto, como o

próprio Rops (1993) salienta,

[...] A partir do século XI [...] no Ocidente [...] se forma uma verdadeira corrente de amor dirigida à Mãe de Jesus. Por quê? Pela

Page 8: RAQUEL, MARIA E INÊS: TRÊS MULHERES NO COTIDIANO ... · O autor diz, também, que há uma prova evidente de que a generalidade dos cristãos conhecia a Bíblia, pelo menos em linhas

Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012

8

mesma razão por que cresceu o culto dos santos e se acentuaram os aspectos humanos de Cristo: o desejo de contar com mediadores entre o homem e a temível majestade de Deus; quem melhor do que a Mãe poderia interceder junto do Filho? (ROPS, 1993, p. 62-63).

Conforme este autor, geralmente se atribui a São Bernardo, a São Boaventura e à

pregação dos mendicantes a responsabilidade pela grandiosa corrente mariana

desenvolvida no “tempo das catedrais e das cruzadas” (ROPS, 1993). Entretanto, para

ele, na verdade, do século XI ao XIII “[...] não há nenhuma figura espiritual [...] que

não tenha trabalhado para reforçá-la e difundi-la” (ROPS, 1993, p. 63). Clara não é

exceção, afinal, em todos os seus escritos a referência à Maria está presente. Do mesmo

modo, também é possível observar o destaque da espiritualidade mariana de Clara em

outros documentos do período, como o seu Processo a Bula de Canonização e a

Legenda.

Um aspecto que tem sido bastante relevante na historiografia referente à Clara é

a consideração feita por ela da maternidade espiritual das religiosas a partir da

maternidade de Maria. É o que podemos observar em Zavalloni (1995), Bartoli (1998),

Brunelli (1998), Triviño (2003), entre outros. Nos estudos desses autores, Clara é

mostrada como exemplar na identificação com Maria. Para a religiosa de São Damião,

assim como Maria gerara Cristo materialmente, as Irmãs deviam imitá-la de tal modo

que fossem capazes de gerá-lo espiritualmente, tornando-se, desse modo, mães

espirituais. Clara entendia, com base no Evangelho que diz “Aquele que fizer a vontade

de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mt 12, 50;

Mc 3, 35), que as religiosas deviam basear suas vidas na escuta da palavra de Deus e na

vivência da mesma, como fizera Maria. Para ela, aquele que escutava a Palavra de Deus

Pai era capaz de gerar em sua vida o Deus Filho pobre.

No Processo de Canonização de Clara, muitas de suas Irmãs falam da maneira

como ela teria concretizado em sua vida, no mosteiro, o exemplo de Maria, em especial,

evidenciara essa exemplaridade no serviço às demais Irmãs. A nosso ver, esse serviço

era compreendido como uma forma de gerar espiritualmente o Cristo, visto que era, ao

mesmo tempo, imitar Maria como a servidora que gerara o filho de Deus que, por sua

vez, também dera o exemplo de serviço.

Page 9: RAQUEL, MARIA E INÊS: TRÊS MULHERES NO COTIDIANO ... · O autor diz, também, que há uma prova evidente de que a generalidade dos cristãos conhecia a Bíblia, pelo menos em linhas

Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012

9

Muitos outros aspectos podem ser destacados da espiritualidade mariana de

Clara. Contudo, nosso objetivo neste artigo é tão somente indicar que, se para Clara,

Maria era um modelo a ser imitado, logo, a mãe de Jesus teria desempenhado um papel

de extrema relevância na atividade educacional dela, seja no sentido de procurar imitá-

la, seja na exortação às Irmãs para viverem tal como Maria.

No contexto dessas discussões é fundamental salientar que o aspecto que nos

interessa diretamente no interior dessas reflexões é compreender o sentido educacional

do papel desempenhado por Clara em suas relações concretas com os homens de seu

tempo. Portanto, é preciso atentar para o fato de que a sua devoção à Maria e à segunda

Pessoa da Trindade, o Filho, está diretamente relacionada aos movimentos espirituais de

sua época. Como afirma Le Goff (2010, p. 38), esse período, o século XIII, foi um

século especial no que se refere ao desenvolvimento do culto ao Deus Filho. Embora

durante toda a Idade Média a fé no Deus que se encarnou e viveu entre os homens

tivesse acompanhado as ações humanas, no século XIII, a pessoa do Filho atraiu “[...]

mais as orações e a devoção dos fiéis”. Nesse contexto, coexistiram duas devoções: a do

Cristo sofredor e a do Cristo glorioso da Eucaristia (LE GOFF, 2010). Atuante em seu

mundo, em seus escritos, ao lado da devoção à Maria, Clara expressa também essas

duas devoções às quais se refere Le Goff.

Quando consideramos o aspecto educacional dessas devoções é possível destacar

que, para os homens medievais, a fé era o componente motivacional de suas vidas.

Naquele período o homem era essencialmente um ser religioso ou um homem de fé.

“[...] tudo e todos só existem em função da fé cristã. Ela é a pedra angular do edifício”

(ROPS, 1993, p. 43). Ou, como diz Le Goff (2010, p. 82), referindo-se ao mundo

feudal: “ [...] penso que nada de importante se passa sem que seja relacionado a Deus”.

Nesse sentido, Deus e aqueles que Lhe eram próximos, como Maria e os outros santos,

eram constantemente invocados pelos homens em quaisquer situações, seja para aliviar

as dificuldades de vida, seja para se sair bem em atividades do dia-a-dia, como nas

atividades do comércio, por exemplo. Entretanto, para que fosse assim, o conhecimento,

seja do poder divino ou do poder intercessor dos santos junto a Deus, era fundamental.

E para que tal conhecimento fosse possível, muitas estratégias educacionais eram

utilizadas: a exortação, as pregações, os sermões, as correspondências, entre outras.

Page 10: RAQUEL, MARIA E INÊS: TRÊS MULHERES NO COTIDIANO ... · O autor diz, também, que há uma prova evidente de que a generalidade dos cristãos conhecia a Bíblia, pelo menos em linhas

Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012

10

Observamos que Clara, dirigindo-se a Inês, participa desse processo educacional ao

divulgar por meio de suas Cartas, as devoções que se destacavam naquele período.

Portanto, Clara se revela como uma expressiva educadora dos homens de seu tempo ao

se apropriar das devoções constitutivas da religiosidade daquele período e divulgá-las

em seus escritos.

Além dos exemplos de Raquel e de Maria, Clara também foi buscar em Inês8,

mártir da Igreja cristã primitiva, os fundamentos para sua ação educacional. Assim, em

sua quarta Carta a Inês de Praga, Clara diz à sua correspondente: “[...] tal como a outra

virgem, Santa Inês, desposaste o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo [...]” (4

CtI 8). Da mesma forma como na segunda Carta falara de Raquel, referindo-se apenas

ao seu nome, em sua última Carta Clara diz tão somente “[...] a outra virgem, Santa Inês

[...]” (4 CtI 8), sem tratar diretamente da história dessa mártir, indicativo de que sua

Irmã da Boêmia já tinha conhecimento suficiente da vida Inês.

Com base em Migne (1844) e Cremaschi e Acquado (1994), Brunelli (1998)

assinala que conforme o breviário que foi reformado pelo papa Inocêncio III, a Paixão

de Santa Inês era lida inteiramente no dia de sua festa durante a oração do Matutino.

Nas antífonas do Ofício de Santa Inês e durante o rito de consagração das virgens do

Pontifical da cúria romana, alguns trechos de sua Paixão eram retomados. A partir

dessas informações e considerando que Clara – como recordam Tomás de Celano na

Legenda e as testemunhas que depuseram no Processo de Canonização9 – atribuía um

papel de grande relevo à pregação, podemos dizer que sua desenvoltura ao tratar do

tema do martírio de Inês, articulando-a às dificuldades de Inês de Praga em relação às

decisões da cúria romana, deveu-se, em grande parte, a essas pregações. Entretanto, não

podemos afirmar que o martírio de Inês tenha sido conhecido por Clara a partir dos

pregadores, pois, como afirma Bartoli (1998) desde a infância ela esteve exposta à

cultura hagiográfica, isto é, às narrações das vidas de santos.

8 A vida de Santa Inês mártir é narrada brevemente por Santo Ambrósio (1949) na obra “Sobre las vírgenes” (cf. referência). 9 “Por meio de devotos pregadores, cuidava de alimentar as filhas com a palavra de Deus [...]. Quando ouvia a santa pregação [...]” (LSC 37); “[...] Dona Clara gostava muito de ouvir a palavra de Deus [...] ouvia de boa vontade as pregações literatas” (ProcC 10,8).

Page 11: RAQUEL, MARIA E INÊS: TRÊS MULHERES NO COTIDIANO ... · O autor diz, também, que há uma prova evidente de que a generalidade dos cristãos conhecia a Bíblia, pelo menos em linhas

Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012

11

[...] Não é possível saber, com certeza, que relatos hagiográficos Clara conheceu em sua juventude. Praticamente é certo que entrou em contato com vários deles. Pode-se supor, sobretudo, que desde muito jovem deve ter conhecido a história de Inês, virgem e mártir, que havia prometido amor ao Senhor e que, para permanecer fiel a este compromisso, recusou o amor de homens ilustres e, ainda muito jovem, enfrentou o martírio (BARTOLI, 1998, p. 38).

De acordo com Rops (1988), desde as comunidades cristãs dos primeiros séculos

o testemunho dos mártires em defesa da fé cristã era registrado e transmitido. Para ele,

devido ao fato daquelas comunidades considerarem

[...] os dramas ocasionados pela morte de tantos dos seus não apenas como calamidades, mas como brilhantes manifestações de fé, comunicavam sempre aos seus irmãos aquilo que se havia passado, mesmo no meio da tormenta. Expediam umas às outras relatórios, muitas vezes minuciosos, dos “combates” que tinham travado e dos “triunfos” que tinham alcançado aqueles que o Divino Mestre designara para a sua messe (ROPS, 1988, p. 155-6, grifos na obra).

Observamos, assim, que a vida daqueles que haviam sido martirizados em nome

da fé cristã era considerada digna de registro e divulgação. Intencionava-se com esses

escritos o fortalecimento da fé de outros homens e mulheres. Portanto, o martírio era um

componente educacional forte entre os cristãos dos primeiros séculos, embora não se

possa considerá-lo apenas em si mesmo, mas, articulado aos valores, às virtudes a ele

agregados, como a fé, a fortaleza, a coragem, a persistência.

Nos séculos que se seguiram, o martírio em nome da fé diminuiu

consideravelmente. Contudo, a vida dos mártires não deixou de ser considerada como

instrumento modelador de atitudes e de comportamentos. Clara herdou, portanto, essa

tradição e participou ativamente do processo de sua manutenção, e talvez com a certeza

de que as ações dos homens do passado podem orientar muitas decisões no contexto em

que se vive. Por isso é que, para fortalecer a decisão de Inês de Praga em viver a

pobreza tal como a viveram ela e Francisco, e apesar das dificuldades interpostas pela

Cúria romana – não sem suas razões –, Clara se apoiou nos relatos da vida da jovem

mártir romana Inês.

Page 12: RAQUEL, MARIA E INÊS: TRÊS MULHERES NO COTIDIANO ... · O autor diz, também, que há uma prova evidente de que a generalidade dos cristãos conhecia a Bíblia, pelo menos em linhas

Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012

12

Considerações Finais

Os homens constroem a sua humanidade na relação com outros homens.

Entretanto, não a fazem imersos tão somente na temporalidade presente. Há uma

necessidade ou dependência das condições produzidas e legadas pelos homens do

passado às novas gerações. De alguma forma, o presente continua vivo entre os homens

do presente. Santo Agostinho já dissera que o homem não é um ser apenas do presente,

mas que, ao contrário disso, articula em si mesmo, devido à sua memória e à sua

capacidade de pensar, uma tríplice dimensão de temporalidade: presente, passada e

futura.

Esses pressupostos nos auxiliaram na reflexão sobre o cotidiano educacional de

Clara de Assis no século XIII. Em seus escritos, observamos que o passado, por meio

do registro da vida de personagens bíblicas e de uma mártir do cristianismo primitivo,

foi invocado por ela para referendar sua ação educativa no período em que viveu. Por

outro lado, as figuras de mulheres por ela retomadas também foram consideradas como

mulheres exemplares em sua fé. Esse elemento indica que, para Clara, aquilo que se

realiza no presente vivido articula-se com a expectação que se tem do futuro. É a partir

dessa perspectiva que ganharam relevância a matriarca do Antigo Testamento – Raquel

–, a mulher símbolo do Novo Testamento – Maria, a mãe de Jesus –, e a mártir romana

– Inês.

Destacamos, por fim, que, neste texto, não era nossa pretensão apresentar as

vidas de santos ou de “heróis” da Bíblia em si mesmas. Personagens bíblicas e aquelas

consideradas santas só têm sentido para nós, pesquisadores da História da Educação, à

medida que contribuem para o entendimento de como os homens constroem a história

ao longo do tempo e, nesse processo, elaboram alguns suportes teóricos que são

validados social e historicamente. Nesse sentido, observamos que, encravada na história

de seu tempo e conforme as condições reais de vida produzidas até então, Clara estava

sintonizada com os processos educacionais de sua época, quando a tradição, a memória

e a história eram entendidas como fundamentais para educar. Foi essa sintonia que lhe

permitiu valer-se das figuras de Raquel, Maria e Inês para sustentar sua ação como

educadora a partir de São Damião.

Page 13: RAQUEL, MARIA E INÊS: TRÊS MULHERES NO COTIDIANO ... · O autor diz, também, que há uma prova evidente de que a generalidade dos cristãos conhecia a Bíblia, pelo menos em linhas

Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012

13

REFERÊNCIAS: BARTOLI, Marco. Clara de Assis. Petrópolis: Vozes, 1998. BÍBLIA SAGRADA. I Samuel; Jó; Cartas de São Paulo. São Paulo; Evangelho de Mateus: Edições Paulinas, 1986. BRUNELLI, Delir. Ele se fez caminho e espelho: o seguimento de Jesus Cristo em Clara de Assis. Petrópolis: Vozes, 1998. BROOKE, Christopher. O renascimento do século XII. Lisboa: Editorial Verbo, 1972. CLARA DE ASSIS. Cartas. In: Fontes Franciscanas e Clarianas. Petrópolis: Vozes, 2008. ______. Testamento. In: Fontes Franciscanas e Clarianas. Petrópolis: Vozes, 2008. DHUODA. Manuel pour mon fils. Paris: Sources Chrétiennes, 1975. GROMBRICH, Ernst. A história da arte. Tradução de Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Guanabara, 1995. LEGENDA DE SANTA CLARA. In: Fontes Franciscanas e Clarianas. Petrópolis: Vozes, 2008. LE GOFF, Jacques. O Deus da Idade Média: conversas com Jean-Luc Pouthier. Tradução de Marcos de Castro. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2010. PROCESSO DE CANONIZAÇÃO DE SANTA CLARA. In: Fontes Franciscanas e Clarianas. Petrópolis: Vozes, 2008. ROPS, Daniel. A Igreja das catedrais e das cruzadas. Tradução: Américo da Gama São Paulo: Quadrante, 1993. ______. A Igreja dos apóstolos e dos mártires. Tradução: Américo da Gama São Paulo: Quadrante, 1988. SÃO LEANDRO. Regla o libro de la formacion de las virgenes y desprecio del mundo In: VIZMANOS, Francisco de B. (1949). Las virgenes cristianas de la Iglesia primitiva: estúdio histórico-ideológico seguido de uma antologia de tratados patrísticos sobre la virginidad. Madrid: Biblioteca de autores cristianos, 1949. SANTO AGOSTINHO. Confissões. Covilhã: Lusosofia, 2008.

Page 14: RAQUEL, MARIA E INÊS: TRÊS MULHERES NO COTIDIANO ... · O autor diz, também, que há uma prova evidente de que a generalidade dos cristãos conhecia a Bíblia, pelo menos em linhas

Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012

14

______. Acerca de la santa virginidad. In: VIZMANOS, Francisco de B. Las vírgenes cristianas de la Iglesia primitiva: estúdio histórico-ideológico seguido de uma antologia de tratados patrísticos sobre la virginidad. Madri: BAC, Biblioteca de Autores Cristianos, 1949. SANTO AMBRÓSIO. Sobre las vírgenes. In: VIZMANOS, Francisco de B. Las vírgenes cristianas de la Iglesia primitiva: estúdio histórico-ideológico seguido de uma antologia de tratados patrísticos sobre la virginidad. Madri: BAC, Biblioteca de Autores Cristianos, 1949. p. 669-753. TRIVIÑO, Maria Victoria. La vía de la belleza: temas espirituales de Clara de Asís. Madrid: BAC, Biblioteca de Autores Cristianos, 2003. ______. Clara ante el espejo. Madrid: Paulinas. 1984. ZAVALLONI, Roberto. A Personalidade de Santa Clara de Assis. Petrópolis: FFB, 1995.