Ranking das Escolas: a prova dos 9 de que ensino público é melhor

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Ranking: a prova dos nove de que a escola pública é melhor A prova dos nove O MEC disponibilizou para consulta pública a base de dados com os resultados de todas as escolas nos exames nacionais (http://www.dge.mec.pt/jurinacionalexames/index.php?s=directorio&pid=4). Dediquei-me a explorar essas bases de dados (estão em formato Access) e resolvi testar se, de facto, a escola pública é melhor ou pior em termos de resultados. O raciocínio é simples. Se tomarmos os melhores alunos das escolas privadas melhor classificadas no ranking divulgado nos media, encontrariam eles nas escolas públicas de Braga vias abertas para obterem resultados iguais ou ainda melhores que aqueles que obtiveram nos seus colégios? Por outras palavras, se tivessem frequentado escolas públicas em Braga ou arredores, teriam eles a possibilidade de resultados tão bons ou ainda melhores do que nos seus colégios? Se a resposta for afirmativa, então as escolas públicas são mesmo melhores. Caso contrário, confirma-se a imagem transmitida pelos rankings publicados pelos jornais e noticiados nas televisões. Para esta prova dos nove selecionámos 3 escolas privadas (Academia de Música de Santa Cecília - Lisboa, Colégio s, João de Brito - Lisboa e Colégio D. Diogo de Sousa – Braga) e 4 escolas públicas (Sá de Miranda, Carlos Amarante, Alberto Sampaio e Póvoa de Lanhoso). Constituímos também frações de alunos de acordo com os universos de alunos que realizaram provas nas escolas privadas, isto é, considerámos nas escolas públicas a mesma fração de melhores alunos que definimos nas escolas privadas. Fração 1: 181 alunos Consideremos agora o caso da prova de Matemática, que podemos tomar como o exame por excelência. Se a uma fração de alunos de uma escola privada corresponder igual número de classificações iguais ou melhores numa escola pública, então essa escola púbica será tão boa ou melhor que a escola privada de onde foi tomada essa fração. Comecemos pelo Colégio com maior número de provas de Matemática, o colégio D. Diogo de Sousa. Poderiam os seus 181 alunos fazer, em média, percurso igual ou melhor numa escola pública? A tabela seguinte prova que sim, pois na Escola Secundária Alberto Sampaio ou na Escola Secundária Carlos Amarante a média do exame nacional para esta fração de alunos é substancialmente melhor. E se o exame é indicador seguro de um bom ensino e aprendizagem, então nestas duas escolas públicas ensina-se e aprende-se melhor. TABELA 1 - P ODIAM OS ALUNOS DO D. DIOGO FAZER MELHOR PERCURSO NOUTRAS ESCOLAS? ESCOLA FRAÇÃO EXAME E.S. Alberto Sampaio 181 139,0 E.S. Carlos Amarante 181 137,6 Colégio D. Diogo 181 120,9 Fração 2: 141 alunos Acrescentemos agora uma fração igual ao total de alunos que realizaram provas no Colégio S. João de Brito: TABELA 2 - PODIAM OS ALUNOS DO S. J OÃO DE BRITO APRENDER MELHOR EM BRAGA? ESCOLA FRAÇÃO EXAME E.S. Alberto Sampaio 141 149,6 E.S. Carlos Amarante 141 146,7 Colégio D. Diogo 141 135,1 Col. S. João de Brito 141 130,3 ES Sá de Miranda 141 121,2 ES da Póvoa de Lanhoso 141 93,9

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Análise da base de dados dos exames nacionais mostra que se ensina e aprende melhor nas escolas públicas.

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Ranking: a prova dos nove de que a escola

pública é melhor

A prova dos nove O MEC disponibilizou para consulta pública a base de dados com os resultados de todas as escolas nos exames

nacionais (http://www.dge.mec.pt/jurinacionalexames/index.php?s=directorio&pid=4). Dediquei-me a explorar

essas bases de dados (estão em formato Access) e resolvi testar se, de facto, a escola pública é melhor ou pior

em termos de resultados. O raciocínio é simples. Se tomarmos os melhores alunos das escolas privadas melhor

classificadas no ranking divulgado nos media, encontrariam eles nas escolas públicas de Braga vias abertas para

obterem resultados iguais ou ainda melhores que aqueles que obtiveram nos seus colégios? Por outras palavras,

se tivessem frequentado escolas públicas em Braga ou arredores, teriam eles a possibilidade de resultados tão

bons ou ainda melhores do que nos seus colégios? Se a resposta for afirmativa, então as escolas públicas são

mesmo melhores. Caso contrário, confirma-se a imagem transmitida pelos rankings publicados pelos jornais e

noticiados nas televisões.

Para esta prova dos nove selecionámos 3 escolas privadas (Academia de Música de Santa Cecília - Lisboa,

Colégio s, João de Brito - Lisboa e Colégio D. Diogo de Sousa – Braga) e 4 escolas públicas (Sá de Miranda, Carlos

Amarante, Alberto Sampaio e Póvoa de Lanhoso). Constituímos também frações de alunos de acordo com os

universos de alunos que realizaram provas nas escolas privadas, isto é, considerámos nas escolas públicas a

mesma fração de melhores alunos que definimos nas escolas privadas.

Fração 1: 181 alunos Consideremos agora o caso da prova de Matemática, que podemos tomar como o exame por excelência. Se a

uma fração de alunos de uma escola privada corresponder igual número de classificações iguais ou melhores

numa escola pública, então essa escola púbica será tão boa ou melhor que a escola privada de onde foi tomada

essa fração.

Comecemos pelo Colégio com maior número de provas de Matemática, o colégio D. Diogo de Sousa. Poderiam

os seus 181 alunos fazer, em média, percurso igual ou melhor numa escola pública? A tabela seguinte prova que

sim, pois na Escola Secundária Alberto Sampaio ou na Escola Secundária Carlos Amarante a média do exame

nacional para esta fração de alunos é substancialmente melhor. E se o exame é indicador seguro de um bom

ensino e aprendizagem, então nestas duas escolas públicas ensina-se e aprende-se melhor.

TABELA 1 - PODIAM OS ALUNOS DO D. DIOGO FAZER MELHOR PERCURSO NOUTRAS ESCOLAS?

ESCOLA FRAÇÃO EXAME

E.S. Alberto Sampaio 181 139,0

E.S. Carlos Amarante 181 137,6

Colégio D. Diogo 181 120,9

Fração 2: 141 alunos Acrescentemos agora uma fração igual ao total de alunos que realizaram provas no Colégio S. João de Brito:

TABELA 2 - PODIAM OS ALUNOS DO S. JOÃO DE BRITO APRENDER MELHOR EM BRAGA?

ESCOLA FRAÇÃO EXAME

E.S. Alberto Sampaio 141 149,6

E.S. Carlos Amarante 141 146,7

Colégio D. Diogo 141 135,1

Col. S. João de Brito 141 130,3

ES Sá de Miranda 141 121,2

ES da Póvoa de Lanhoso 141 93,9

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Mais uma vez verificamos que se esses alunos se matriculassem na escola Carlos Amarante ou Alberto Sampaio

teriam, em média, a possibilidade de aprender melhor e obter melhores resultados no exame nacional.

Fração 3: 100 alunos Apertemos a malha um pouco mais e consideremos apenas os 100 melhores alunos desses colégios privados tão

afamados pelo seu desempenho naquele ranking que os políticos e meios de comunicação não se cansaram de

comentar:

ESCOLA FRAÇÃO EXAME

E.S. Alberto Sampaio 100 161,2

E.S. Carlos Amarante 100 157,9

Col. S. João de Brito 100 152,0

Colégio D. Diogo 100 148,2

ES Sá de Miranda 100 131,3

ES da Póvoa de Lanhoso 100 113,1

Mais uma vez, a prova dos nove resulta inequivocamente a favor das escolas públicas. Em Braga, numa escola

pública, ensina-se e aprende-se melhor.

Fração 4: 50 alunos Apertemos ainda mais o critério de exigência. E se fossem apenas os 50 melhores alunos dos colégios privados a

frequentar as escolas públicas de Braga? Poderiam estas escolas ajudá-los a obter resultados tão bons como

aqueles que custam tão caro nos colégios privados? Também para este caso, verificamos que os alunos dos

colégios privados encontram iguais ou melhores possibilidades nas escolas públicas.

ESCOLA FRAÇÃO EXAME

E.S. Alberto Sampaio 50 177,6

Col. S. João de Brito 50 173,9

E.S. Carlos Amarante 50 173,5

Colégio D. Diogo 50 166,5

ES Sá de Miranda 50 147,7

ES da Póvoa de Lanhoso 50 138,4

Fração 5: 26 alunos E se fosse apenas uma turminha de excelência, apenas com os 26 melhores alunos, tantos quantos os alunos da

Academia de Música de Santa Cecília, tão bem classificada no ranking dos jornais e televisões?

ESCOLA FRAÇÃO EXAME

E.S. Alberto Sampaio 26 186,1

Col. S. João de Brito 26 185,7

E.S. Carlos Amarante 26 183,9

Colégio D. Diogo 26 178,5

ES Sá de Miranda 26 162,2

ES da Póvoa de Lanhoso 26 154,2

Col. ST Cecília 26 140,3

Ainda assim, nas escolas públicas de Braga, mesmo naquelas situadas em contextos económicos menos

favorecidos, ensina-se e aprende-se melhor. E numa escola inclusiva e aberta a todos e todas.

© António Mendes 2013