Rádio-roteiro: expressões sonoro-experimentais

9
UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA CAMPUS GRANDE FLORIANÓPOLIS - UNIDADE PEDRA BRANCA CURSO DE JORNALISMO DISCIPLINA JORNALISMO EM RÁDIO - 2011/2 RÁDIO-ROTEIRO EXPRESSÕES SONORO-EXPERIMENTAIS LUCIANO BITENCOURT OUTUBRO 2011

description

Material produzido para a disciplina Jornalismo em Rádio, da segunda fase do curso de Jornalismo da Unisul, na Pedra Branca. Peça sonora e roteiro, com reflexão sobre a produção, tem o objetivo de "mostrar" as perspectivas básicas para elaboração.

Transcript of Rádio-roteiro: expressões sonoro-experimentais

Page 1: Rádio-roteiro: expressões sonoro-experimentais

UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINACAMPUS GRANDE FLORIANÓPOLIS - UNIDADE PEDRA BRANCA

CURSO DE JORNALISMO

DISCIPLINA JORNALISMO EM RÁDIO - 2011/2

RÁDIO-ROTEIROEXPRESSÕES SONORO-EXPERIMENTAIS

LUCIANO BITENCOURT

OUTUBRO 2011

Page 2: Rádio-roteiro: expressões sonoro-experimentais

! Dois objetivos principais sustentam a experiência de elaboração do roteiro aqui anexado. O primeiro, e mais importante, diz respeito à tentativa de “ilustrar” os conceitos trabalhados na disciplina Jornalismo em Rádio, da segunda fase do 2curso de Jornalismo da Universidade do Sul de Santa Catarina. É uma proposta de materialização das referências que usamos nos encontros programados todos os sábados pelas manhãs. O outro objetivo é experimentar os recursos disponíveis no cotidiano para o exercício de expressar o mundo pelos sons.! A única pretensão da peça sonora resultante desta experiência é relatar os possíveis disponíveis em termos de suporte e expressividade para o exercício jornalístico. Como responsável pela formação em um determinado contexto, cabe a um orientador na função de docente vivenciar o que está propondo às pessoas com as quais se relaciona e sistematizar suas reflexões para avaliar a si mesmo e ao contexto da proposição.! No caso específico, o trabalho com sons no cotidiano pode ganhar feições pouco usadas na produção jornalística. Não se pretende propor que o Jornalismo perca sua especificidade radiofônica de lidar com os “fatos do momento”, sempre presentes na rotina de trabalho. Contudo, há um grau de sensibilização necessário para o exercício profissional que escapa às “redações” e às escolas.! Pensar no Jornalismo como produtor de informação e conhecimento é pensar seu exercício para além das linguagens e suportes. A peça Rádio-roteiro - Expressões sonoro-experimentais expressa elementos importantes na composição de um roteiro para rádio e, portanto, explora-se enquanto linguagem. É uma livre composição de ideias e conceitos, concebidos para estimular reflexões. Produzir informação e conhecimento no campo jornalístico-sonoro pede atenção a elementos nem sempre inscritos na tradição racional do discurso científico e letrado. A enunciação ganha, aqui, tanto peso quanto o enunciado.! Toda a peça foi composta usando-se um smartphone (iPhone 3GS da Apple) para as locuções, gravações retiradas do CD que acompanha o livro de Reynaldo Tavares, Histórias que o rádio não contou (vozes de Renato Murce, Edgar Roquette-Pinto e Henrique Domingues), uma gravação com o professor Eduardo Meditsch feita pela aluna Adriana Quinaud em 2000 (arquivo pessoal), uma montagem com vozes dos alunos da disciplina Jornalismo em Rádio do semestre 2011/2 (Roberto Goral, Francielle dos Santos, Paulo Henrique Koerich, Marcelle Fernandes, Libertá Manhães, Maria Luíza Bolzan, Luiz Fernando Cavalcante, Adriana Schmidt, Aline Tacaschima, Beatriz Momm, Bianca Queda e Giovanna Dutra) e elementos sonoros e efeitos oferecidos pelo software Garageband, também da Apple. A edição foi feita num MacBook Pro.

RÁDIO-ROTEIRO - EXPRESSÕES SONORO-EXPERIMENTAIS

2

Page 3: Rádio-roteiro: expressões sonoro-experimentais

! Não há identificação dos elementos porque vozes, efeitos e trilhas estão num mesmo plano de importância nesta peça. Todas as vozes e todos os elementos sonoros expressam o roteiro. É como se ele estivesse “falando” de si mesmo. Sendo assim, não há porquê evidenciar na própria peça os nomes de todos os participantes. Todos emprestam seus sons para a construção metalinguística de expressão das ideias e conceitos sobre sons, jornalismo e rádio em roteiro.! Enquanto exercício, a peça sonora procura explorar as perspectivas de combinação dentro de critérios que passam pela “definição” dos elementos essenciais que constituem o contexto radiofônico, pela “identificação” dos planos usados para gerar sentido e pela “concepção” de organização tradicional de texto em Jornalismo. Há muitas questões a melhorar em termos de composição; mas também aqui, o exercício foi, em cerca de cinco dias, pesquisar, escrever, gravar e editar (tudo em concomitância aos afazeres diários de um gestor numa universidade). ! A versão final do roteiro é, claro, uma atualização do que a peça expressa. Da versão inicial para a que expomos aqui houve algumas mudanças significativas. E essa é uma questão importante no contexto da produção sonora. Sempre que possível, é preciso ouvir. O diálogo entre o texto escrito (o roteiro propriamente dito) e o texto sonoro (a peça montada para audição) nos mostra caminhos não pensados, efeitos de sentido descobertos no momento da montagem, informações escondidas nos sons que usamos. Portanto, editar é também “escrever” o roteiro.! Por fim, há um certo grau de complexidade na combinação dos sons na peça e que pedem um ambiente mais “adequado” para audição. É ideal o uso de um fone de ouvido acoplado à fonte de emissão. Em ambientes abertos, algumas referências se dispersam. Outra questão importante é o uso de receptores em estéreo. Como há o uso de canais exclusivos na mixagem para determinados elementos, algumas referências também não serão “tocadas”.! O efeito multiplicador da internet, a extemporaneidade da peça e dos “repositórios” que irão armazená-la (começamos com os blogs jornalismoemweb.blogspot.com e lucianobit.blogspot.com), as novas dinâmicas da produção sonora em rádio, estas características do mundo contemporâneo (à peça) também são elementos constitutivos do debate a respeito da convergência que teima em ditar a produção jornalística. Espera-se compor outras sinfonias no campo das ciências e das artes, pela reflexão.! Boa leitura-audição. Fico à espera de um diálogo...

! Palhoça, primavera de 2011.

RÁDIO-ROTEIRO - EXPRESSÕES SONORO-EXPERIMENTAIS

3

Page 4: Rádio-roteiro: expressões sonoro-experimentais

RÁDIO-ROTEIRO - EXPRESSÕES SONORO-EXPERIMENTAIS

4

TÉCNICA

Trilha Característica Abertura - Orchestra Strings 05 + vozes combinadas (32 seg.) - vai a BG

Sobe som (3 seg.) e corta...Silêncio (3 seg.)ECO e REVERB sobre a vozSilêncio (3 seg.)ECO e REVERB sobre a vozSilêncio (3 seg.)

Fade in Trilha Orchestra Strings 07 (3 seg.) - Vai a BG

Funde com Efeito Radio Stager 01

OFF

LOC - ROTEIROS SÃO ESQUEMAS DE ORIENTAÇÃO.//EM PEÇAS SONORAS / ORIENTAM UMA COMPOSIÇÃO DE VÁRIOS ELEMENTOS PRA EXPRESSAR CONCEITOS, IDEIAS, INFORMAÇÕES.// É COMBINANDO SONS QUE AS PEÇAS GANHAM VIDA.// POR ISSO O ROTEIRO PRA ESTE TIPO DE PRODUÇÃO PRECISA SER ELABORADO PELO OUVIDO.// É PRECISO OUVIR O ROTEIRO EM TODOS OS SEUS ELEMENTOS.//

LOC - SILÊNCIO.//

LOC - É O VAZIO.//

LOC - SE RECORRE AO SILÊNCIO PRA EXPRESSAR AUSÊNCIA.// NO FUNDO, NO FUNDO, UMA FALTA DE CAPACIDADE PRA OUVIR.// ÀS VEZES A GENTE SÓ ESCUTA / PERCEBE CERTOS ESTÍMULOS SONOROS.// MAS NÃO OUVE, NÃO SE AFETA POR ESTES ESTÍMULOS.//

Page 5: Rádio-roteiro: expressões sonoro-experimentais

RÁDIO-ROTEIRO - EXPRESSÕES SONORO-EXPERIMENTAIS

5

TÉCNICA

Em BG - RuídosTraffic + Traffic Helicopter + Police Car Siren Passing

Corta 1 seg. depois do offSilêncio (2 seg.)

EM BG - Combinação de violino, violoncelo e viola arco (diferentes canais)

EM BG Efeito - Batida de coração Sobe som

EM BG Funde com Trilha Cool Upright Bass 02

OFF

LOC - PODEMOS DIZER TAMBÉM / QUE O SILÊNCIO ESTÁ ESCONDIDO NOS RUÍDOS QUE PRODUZIMOS ARTIFICIALMENTE.// É POR ISSO QUE SE DIZ QUE / NO SILÊNCIO / O HUMANO ESTÁ AUSENTE.// O RUÍDO É UMA INTERFERÊNCIA.// SÃO OS SONS INDESEJÁVEIS.// NÓS PODEMOS DIZER QUE O RUÍDO É PRODUZIDO POR SONS QUE NÃO ESTÃO ORGANIZADOS / NÃO ESTÃO ORDENADOS DO JEITO QUE FAZ SENTIDO PRA NÓS.// O RUÍDO NOS TIRA DA NORMALIDADE.// E PODE SER USADO PRA PROVOCAR, PRA ROMPER, PRA DESCONECTAR, PRA MUDAR AS REFERÊNCIAS.//

LOC - ORGANIZAR OS SONS É UM PROCESSO MUITO COMPLEXO.// NÓS / OS SERES HUMANOS / SOMOS CAPAZES DE OUVIR APENAS OS SONS PRODUZIDOS EM UMA DETERMINADA FAIXA DE FREQUÊNCIA.// E NEM TUDO O QUE SOMOS CAPAZES DE OUVIR / NÓS OUVIMOS.// POR VÁRIAS RAZÕES / NOSSA LIMITAÇÃO TAMBÉM TEM A VER COM O MODO COMO NOS RELACIONAMOS COM O MUNDO.//

LOC - NÃO TOMAMOS CONSCIÊNCIA DE TODOS OS SONS QUE NOS VIBRAM DIARIAMENTE.//

Page 6: Rádio-roteiro: expressões sonoro-experimentais

RÁDIO-ROTEIRO - EXPRESSÕES SONORO-EXPERIMENTAIS

6

TÉCNICA

EM BG Trilha Cool Upright Bass 02 + Combinação Synth Zap Accent 07, Classic Rock Steel 03, Exotic Sarod 01, Bongo Grove 01 (direfentes canais)

EM BG Trilha Bongo Grove 01Montagem vozes (50 seg.)Funde em EM BG Trilha Orchestra Strings 08 (7 seg.) e corta

SONORA - EDUARDO MEDTISCH(24 seg.)

Fade in até BG TrilhaOrchestra Strings 08

Corta Trilha no fim da locução

OFF

LOC - CADA FONTE SONORA TEM UMA IDENTIDADE.// SEJAM INSTRUMENTOS MUSICAIS / SEJAM MÁQUINAS / SEJAM VOZES HUMANAS / CADA FONTE SE RECONHECE EM TIMBRES DIFERENTES QUANDO COMPARADA A OUTRAS FONTES.// É ESSA IDENTIDADE QUE DÁ CÔR À COMPOSIÇÃO DA PEÇA.// EM PEÇAS JORNALÍSTICAS / OS TIMBRES PASSAM DESPERCEBIDOS / PORQUE A PREOCUPAÇÃO MAIOR É COM A CONSTRUÇÃO DO SENTIDO PELAS PALAVRAS.// AS CARACTERÍSTICAS DAS VOZES QUE COMPÕEM A PEÇA / POR EXEMPLO / NÃO SÃO USADAS PRA TAMBÉM GERAR SENTIDO.//

LOC - NO JORNALISMO USAMOS DOIS PLANOS PRA COMPOR AS PEÇAS MAIS COMPLEXAS.// O PRIMEIRO PLANO EXPRESSA AS REFERÊNCIAS PRINCIPAIS PARA A COMPOSIÇÃO.//

DI = O RÁDIO VAI UM POUCO ALÉM DAQUELA NOÇÃO DE JORNALISMO...DF = ... LÓGICA INICIAL DO RADIOJORNALISMO QUANDO IMITAVA O JORNAL

LOC - EM SEGUNDO PLANO VEM O COMPLEMENTO.// UM SOM DE FUNDO USADO PARA COLOCAR AS VOZES NUM AMBIENTE.//E ESSES DOIS PLANOS NÃO DÃO CONTA DAS POSSIBILIDADES QUE EXISTEM AO SE TRABALHAR COM O SOM.//

Page 7: Rádio-roteiro: expressões sonoro-experimentais

RÁDIO-ROTEIRO - EXPRESSÕES SONORO-EXPERIMENTAIS

7

TÉCNICA

Moedas em diferentes pontos do espaço (9 seg.)

Som de jato atravessando o espaço (17 seg.)

Funde com Trilha Caroussel (10 seg.) - vai a BG

Sobe som + composição com sons de fax (16 seg.) - vai a BG e corta

SONORA - HENRIQUE DOMINGUES (25 seg.)

Som Identificação Rádio (5 seg.)EFEITO EMISSÃO POR RÁDIO sobre a voz

Sobe som Trilha Broadcast News Long 4(1min. 29 seg.) - vai a BG LOCUÇÃO ALUNOS

OFF

LOC - NÓS PODEMOS SITUAR UM DETERMINADO ELEMENTO SONORO NO ESPAÇO.// PELA AMPLITUDE / PODEMOS ELABORAR DIFERENTES PERSPECTIVAS DE ESPAÇO.// A AMPLITUDE DÁ UM LUGAR PARA OS ELEMENTOS SONOROS.//PRA ISSO / É PRECISO LEVAR OS ELEMENTOS SONOROS A UM PASSEIO.//

LOC - A MELODIA EXPRESSA ESSE PASSEIO.// É QUALQUER COMBINAÇÃO DE SONS.//

LOC - NA FALA / IDENTIFICAMOS A MELODIA PELAS INFLEXÕES.//

DI = E TINHA UNS VERSINHOS...DF = ... OUTRO PÃO QUE NÃO SEJA O PÃO BRAGANÇA

LOC - NO JORNALISMO EM RÁDIO / POR EXEMPLO / A FALA NÃO É NATURAL.// ELA É PLANEJADA PARA PARECER NATURAL.//

DI = UM JOVEM DE VINTE E TRÊS ANOS FOI...DF = ... DO DEBOCHE, DA IRONIA E PRINCIPALMENTE DO HUMOR

Page 8: Rádio-roteiro: expressões sonoro-experimentais

RÁDIO-ROTEIRO - EXPRESSÕES SONORO-EXPERIMENTAIS

8

TÉCNICA

Funde Trilha Boradcast News 4 com Textura Sonora (2 seg.) - vai a BG

Corta em 36 seg.

Trilha Time Lapse (5 seg.) - vai a BG

Sobe som Time Lapse (6 seg.) - vai a BG

Sobe som Time Lapse (10 seg.) - funde com piano Egberto Gismonte (10 seg.) EM BG

OFF

LOC - UM OUTRO ASPECTO DA MELODIA É QUE PODEMOS COMBINAR VÁRIOS ELEMENTOS NUM ÚNICO CONTEXTO.// ESSA COMBINAÇÃO, ESSE DIÁLOGO DE DIFERENTES LINHAS MELÓDICAS É QUE CHAMAMOS DE TEXTURA.// QUANTO MAIS ELEMENTOS A SEREM COMBINADOS / MAIS DENSA É A TEXTURA SONORA.// DIFERENTES TIMBRES / AMPLITUDES E MELODIAS PODEM DAR UMA IDEIA DE AMBIENTE / DE LUGARES POR ONDE ESTAMOS NAVEGANDO COM O SOM.//

LOC - NOS FALTA AINDA A DIREÇÃO.// É O RITMO QUE ARTICULA O PERCURSO NUM ESPAÇO DE TEMPO.//

LOC - UM RITMO REGULAR EXPRESSA O NOSSO TEMPO CRONOLÓGICO / MECÂNICO / DETERMINADO PELO RELÓGIO / E QUE CHAMAMOS DE TEMPO REAL.//

LOC - NO RÁDIO / ESSA REGULARIDADE DESENHA O QUE VAMOS OUVIR.//

LOC - ESSA REGRA É QUEBRADA PELO RITMO INUSITADO DE ACONTECIMENTOS NÃO PREVISTOS.// O TEMPO REAL NESSE CASO / SE ESPICHA E SE COMPRIME DEPENDENDO DO QUE SE TEM PARA IMPROVISAR.// É COMO QUE FUGIR DO ESQUEMA DE ORIENTAÇÃO DE UM ROTEIRO.//

Page 9: Rádio-roteiro: expressões sonoro-experimentais

RÁDIO-ROTEIRO - EXPRESSÕES SONORO-EXPERIMENTAIS

9

TÉCNICA

Característica Encerramento - Orchestra Strings 05 (10 seg.) - vai a BG

Sobe som Orchestra Strings 05 (13 seg.) - vai a BG

Sobe som Orchestra Strings 05 + vozes combinadas (30 seg.) - Fade out

OFF

LOC - ESCREVER UM ROTEIRO É COMPOR OS SONS DO MUNDO.// COM TODAS AS SUAS NOTAS, SUAS DISSONÂNCIAS E SEUS RITMOS.//

LOC - DESCREVER NOSSAS EXPERIÊNCIAS COM PALAVRAS NÃO É SUFICIENTE.// AS PALAVRAS SÃO UMA FORMA DE DESCREVER O MUNDO EM QUE VIVEMOS.//