Questões sobre Immanuel Kant e a Crítica da Razão Pura.

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FAF 1051- DCG: Tópicos de Filosofia Moderna II. Prof.º Dr. Róbson Ramos dos Reis. Aluno: Juliano Gustavo Ozga. Avaliação I: Sobre a “Crítica da Razão Pura” de I. Kant. Questões sobre o Prefácio. 1- No que constitui a Revolução Copernicana na história da razão e das ciências? (B XI- B XVIII). Revolução Copérnico: Até B XVII. R.: “Toda mudança de lugar apreendida deve-se ou ao movimento do objeto observado ou do observador, ou então a diferenças nos movimentos que estão ocorrendo simultaneamente em ambos. Pois, se o objeto observado e o observado estão se movendo com a mesma velocidade e na mesma direção, então nenhum movimento pode ser detectado. Ora, é a partir da Terra que apreendemos as revoluções nos céus. Então, se algum movimento é atribuído para a Terra, este movimento irá gerar a aparência de si mesmo em todas as coisas exteriores a ele, apesar de ocorrer na direção oposta, como se tudo estivesse passando acima da Terra. Isto será especificamente verdadeiro da revolução diurna. Isto parece acontecer em todo o mundo, e, conseqüentemente, sobre tudo o que se passa em torno da Terra, apesar de que não com a própria Terra... Como os céus, que contém e abarcam tudo, são o lugar natural das coisas, não é de todo evidente porque o movimento deveria ser atribuído ao que contém e não ao que é contido, ao que localiza e não ao que é localizado. A primeira e mais elevada das esferas é aquela das estrelas fixas, que contém a si mesma e a tudo mais, sendo imóvel, conseqüentemente. Em resumo, ela é o locus do universo, em relação ao qual o movimento e a posição de todos os outros corpos celestes devem ser calculados.

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FAF 1051- DCG: Tópicos de Filosofia Moderna II.

Prof.º Dr. Róbson Ramos dos Reis.

Aluno: Juliano Gustavo Ozga.

Avaliação I: Sobre a “Crítica da Razão Pura” de I. Kant.

Questões sobre o Prefácio.

1- No que constitui a Revolução Copernicana na história da razão e das ciências? (B XI- B XVIII). Revolução Copérnico: Até B XVII.

R.: “Toda mudança de lugar apreendida deve-se ou ao movimento do objeto observado ou do observador, ou então a diferenças nos movimentos que estão ocorrendo simultaneamente em ambos. Pois, se o objeto observado e o observado estão se movendo com a mesma velocidade e na mesma direção, então nenhum movimento pode ser detectado. Ora, é a partir da Terra que apreendemos as revoluções nos céus. Então, se algum movimento é atribuído para a Terra, este movimento irá gerar a aparência de si mesmo em todas as coisas exteriores a ele, apesar de ocorrer na direção oposta, como se tudo estivesse passando acima da Terra. Isto será especificamente verdadeiro da revolução diurna. Isto parece acontecer em todo o mundo, e, conseqüentemente, sobre tudo o que se passa em torno da Terra, apesar de que não com a própria Terra... Como os céus, que contém e abarcam tudo, são o lugar natural das coisas, não é de todo evidente porque o movimento deveria ser atribuído ao que contém e não ao que é contido, ao que localiza e não ao que é localizado. A primeira e mais elevada das esferas é aquela das estrelas fixas, que contém a si mesma e a tudo mais, sendo imóvel, conseqüentemente. Em resumo, ela é o locus do universo, em relação ao qual o movimento e a posição de todos os outros corpos celestes devem ser calculados. (Copérnico, De Revolutionibus Orbium Coelestium, I v e x, 1543).

Com referência ao modelo de ciência empregado pelos matemáticos desde a antiguidade (teórico-puro [a priori (necessário/universal) e ampliativo]) e também pelos físicos (teórico, mas não totalmente puro, devido ao fato de haver dependência de demonstração empírica dos seus postulados), servindo-se também da lógica, como modelos formais puro de verdade, podemos argumentar que a Revolução de Copérnico (apresentar e tratar o conhecimento humano não sobre o objeto observado [Conhecimento se regula pelos objetos e fracassa], mas sim, inverter o esquema, e operar com um esquema/método que privilegia o sujeito-observador que almeja o conhecimento dos objetos [Objetos se regulam pelo conhecimento]), pressupõe o fato de ser importante por excelência, o limite e a possibilidade necessária do ser humano conhecer, o que expressa o caso de ser limitado o conhecimento humano ao fenômeno aos quais os objetos se nos apresentam em forma de representações. Diante dessa análise, o que foi sugerido seria o caso de tratar a ciência dentro desse esquema/método “invertido”, o que consequentemente apresentava o problema da falta de acordo sobre os

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procedimentos para atingir o objetivo comum do conhecimento sobre os objetos do mundo físico. Dentre esses problemas está o objetivo comum do conhecimento das ciências, ou seja, os objetos físicos, os métodos de descoberta científica aplicados aos mesmos, e os métodos de justificação resultantes para a validação dos resultados, o que deveria não contemplar um modelo formal lógico, como no caso da matemática (Revolução na Matemática, expressa pelo exemplo do triângulo eqüilátero de Tales, onde através da criação de conceitos puros [a priori], seria possível a aplicação e construção da figura do triângulo equilátero no mundo físico, respeitando os conceitos inseridos nos postulados).

Nessa problematização, a Revolução Copernicana expressou sua característica evolutiva desde Bacon, Galileu, Torricelli, Stahl, onde o que se tentou foi “apontar/nortear” um ingresso para o caminho da ciência, podendo se valer da Revolução Copernicana, como um dos ápices dessa tentativa, e que veio a influenciar todo um contexto de pensamento científico e filosófico, em evolução com o movimento da “ilustração/iluminismo” do renascimento.

Disso decorre a busca por um esquema/método aplicado às ciências, de forma que as torne um conhecimento a priori dos fatos e objetos do mundo físico, podendo assim ser caracterizada a ciência em conformidade com o sistema da matemática e da física.

Dessa forma o que se propôs foi a inversão da forma/modelo de pensar, que era focalizado na questão do objeto (podendo ou não ser conhecido, e podendo ou não existir uma realidade exterior ao nosso intelecto subjetivo), e que agora com a Revolução Copernicana, pretendia conhecer o que era possível o ser humano conhecer, dentro de suas limitações e possibilidades, onde o que era importante era o sujeito que conhecia. Essa revolução expõe o fato de haver um limite do conhecimento humano sobre os objetos físicos e fatos do mundo. Disso decorre a questão de ser possível ao ser humano conhecer e compreender o que ele mesmo produz e elabora intelectualmente. E através da produção de princípios, leis constantes aplicadas à natureza, e que através de experimentos, há a possibilidade necessária do ser humano conhecedor vir a tornar-se um interrogador/questionador da natureza, aplicando um esquema lógico puro, com modelo na matemática, e assim pretender tornar-se quase um juiz, referente aos conhecimentos por ele mesmo adquirido.

2- Quais os resultados da aplicação na Metafísica do assim chamado método transformado do pensar? Resposta: B XVII-B XX.

R.: Abordando a metafísica como conhecimento especulativo da razão, sendo inteiramente isolado, e que se expressa por simples conceitos, a sua diferença para com a matemática reside no fato de ser a metafísica aplicada na intuição de conceitos. Disso decorre a não necessidade de experiência como critério de validação dos seus postulados e conclusões.

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Dessa problemática decorre a pretensão da aplicação do esquema/método utilizado pela Revolução Copernicana na ciência, na metafísica e assim trabalhar o método/esquema copernicano sobre a intuição de conceitos. Dessa maneira houve a consequente indagação pelo motivo pelo qual a metafísica não se tornou ciência, e se há a possibilidade de haver essa transformação.

Desse elemento podemos apontar o interesse da razão, em buscar a verdade, através do caminho da ciência, e ver a possibilidade da metafísica também trilhar esse caminho, demonstrando sim, que a metafísica se expressa como um dos grandes problemas da razão humana, devido ao fato de aspirar por um método científico, necessitar de demonstração de seus postulados, ou pelo menos da aplicação dos mesmos. Essa situação problemática da metafísica expõe a fragilidade da própria razão frente ao aspecto metafísico. Disso decorre o fato de nos indagarmos se a razão nos enganar, nos entreter com simulações e perturbações sensíveis, afetando nosso entendimento e juízo dos fatos e objetos físicos, perante nossa validação de verdade sobre o mundo físico tornar-se limitada, devido ao nosso limitado aparato cognitivo. Disso podemos elaborar um projeto para a metafísica, como uma forma de conhecimento a priori, ao mesmo tempo necessário e universal, e não empírico. Disso há a dependência de ser necessário o esclarecimento e limitação dos objetos a ser abordado, o que pode ser estabelecido como algo sobre os objetos como apenas pensados. Disso decorre a possibilidade de sugerir a hipótese a ser analisada. Isso mostra o caso de ser o objeto regulado pelo conhecimento e não o contrário, podendo ser examinado se isso é possível com a metafísica e se isso lhe causa algum progresso, de igual maneira observado nas ciências até hoje.

Portanto, se isso é possível de ser pensado, se torna possível a suposição de poder ser possível o teste deste método/esquema na metafísica, e essa tarefa é que se impõe ao experimento e aplicação da razão pura.

3- Qual a relação entre limitação (extensão) (BXXIII-BXXIV) da razão especulativa (pto. Negativo) e ampliação (restrição) (BXXV) prática da razão pura (pto. Positivo)? (B XXII-B XXVI).

R.: O problema gerado sobre a limitação (extensão) da razão especulativa e a ampliação (restrição) prática da razão pura expressa a consequência da razão pura (a priori) referente ao método de investigação e obtenção do conhecimento interferir na ampliação prática da razão pura, sendo essa última restritiva em relação ao agir moral humano.

Diante da tentativa de limitação (da extensão) da razão especulativa, pode haver o impedimento para o supra-sensível e incondicionado, e isso ocorre devido ao fato de ser projetado o procedimento crítico, que irá limitar a extensão da razão especulativa. Isso gera a ampliação do espaço de ação da razão pura, porém de forma restritiva, sendo o espaço especulativo limitado, haverá um limite do conhecimento sobre o mundo físico, e isso gera a possibilidade de restrição crítica

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do espaço da ciência, e ao mesmo tempo uma ampliação da prática da razão pura, criando assim um espaço de ação com base na razão especulativa limitada, donde pode devir um espaço prático, operado pela metafísica de cunho moral e prático.

Da utilidade negativa podemos argumentar que a razão especulativa avança com princípios teóricos, podendo ultrapassar seus limites, nisso há uma tentativa de ampliação, mas o que se sucede é uma não ampliação, ou seja, uma restrição dos princípios da razão especulativa, e assim uma restrição do conhecimento teórico da ciência. O que gera a restrição e não a ampliação dos princípios é a contradição da razão, pelo fato de haver uma dinâmica interna no método/esquema. O fato de haver a possibilidade de uma contradição da razão expõe um resultado contrário ao pretendido, gerando assim os paradoxos, ou seja, a dialética do esclarecimento. Essa dialética é entendida como lógica da ilusão, aplicada aos objetos representados pela razão. Ao constatarmos a restrição da razão, limitamos a extensão dos princípios da razão especulativa. Porém, ao ampliarmos, estamos estendendo o limite para todas as coisas, e todas essas coisas pertencem ao conjunto dos objetos físicos, sendo então esse limite referente aos domínios da sensibilidade. Para isso, há a necessidade de determinação temporal da limitação, que pode abranger apenas objetos da experiência ou dados sensíveis, dentro do espaço e tempo limitados.

Decorrente disso é o fator causalidade, que opera sobre os objetos da experiência, na pretensão de usá-los para os objetos em geral do mundo físico. Essa pretensão possui uma consequência imediata ao ameaçar anular o uso prático (restrição) da razão pura, o que acarretará problemas na esfera moral do agir. Disso decorre uma disputa (teórica ou prática) entre a razão especulativa (limitada em sua extensão) e a razão prática (ampliada em sua restrição do agir moral).

Sobre a utilidade positiva, em uma primeira análise, pode-se se mostrar negativa, para o âmbito restritivo da ciência, mas posteriormente, se expressa o significado positivo da limitação crítica na esfera da razão especulativa, em favor da questão moral. Disso decorre o exemplo no caso da liberdade da vontade, onde não há a possibilidade de inferir liberdade ao indivíduo que está sujeito à uma lei natural necessária e que impossibilita a sua atuação e vontade geral. Nesse caso, ao constatar que uma lei natural limita tanto o conhecimento do indivíduo, e consequentemente, o seu agir, não podemos inferir que o homem é totalmente livre em seu agir, e sim, limitado em seu agir devido a sua limitação de conhecer.

Essa limitação pode gerar a suposta conclusão de uma perda total referente à limitação da razão especulativa (ciência), que confere uma eliminação do conhecimento transcendente e consequentemente do conhecimento do absoluto/incondicionado. Dessa conclusão pode se constatar uma suposta perda total, no qual uma perda parcial pode se mostrar total, onde a crítica da razão pura se mostra nociva pelo fato de implicar uma perda total. Porém a crítica da razão pura não possui apenas uma utilidade negativa para a razão especulativa e para a

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ciência, se analisarmos a sua utilidade positiva, dentro de uma compatibilidade entre uma doutrina da natureza e uma doutrina da moralidade. Ao haver uma perda para a razão especulativa haverá uma utilidade para o agir moral, o que pode resolver o conflito da razão consigo mesma, eliminando assim o obstáculo restritivo à razão prática. Há uma restrição da necessidade natural, porém, isso possibilita a liberdade e a moralidade.

Portanto, a limitação da razão teórica possibilita a razão prática, ou seja, a limitação (restrição) da extensão da ciência possibilita a expansão da moralidade. Em outras palavras, a perda teórica impede a perda prática, de onde provém que, a perda elimina a contradição da razão.

4- A crítica implica uma perda para a razão especulativa. Explique porque essa não atinge o interesse geral dos seres humanos. (B XXVI).

R.: (Deus, Liberdade e Imortalidade). “Contra o Dogmatismo e não contra o procedimento dogmático da razão no seu conhecimento puro.” (BXXXV- B XXXVI).

Sobre a perda para a razão especulativa, podemos definir uma generalização do resultado, onde pode haver o caso de pensar as ideias sem contradição, portanto, Deus e ateísmo, Liberdade e não liberdade e Imortalidade e fé na vida futura. Da limitação teórica a respeito desses conceitos anteriores, há uma ampliação prática decorrente do mesmo. O que se deve evitar é a confusão entre fenômeno e coisa em si, e isso muitas vezes acarreta na contradição dos termos anteriores, e que consequentemente impede a ampliação prática da razão. No entanto, havendo uma perda parcial, gerará uma perda total. O problema é para quem essa perda total será negativa. Nesse caso, entra o impacto que isso gerará nas escolas (instituições), usando como argumento o fato de que perdas teóricas no âmbito do conhecimento afetam em grande parte o público. Porém, o interesse geral dos humanos, esse sim permanece inalterado. Disso decorre um mesmo estado vantajoso, onde se atinge um monopólio das escolas e consequentemente uma arrogância das escolas em relação ao público, não afetará o natural interesse dos homens.

Desse fato, pode-se levantar a questão sobre a metafísica e o interesse do público, onde na maioria das vezes, os argumentos metafísicos não atingem o interesse humano, não havendo uma influência nítida na convicção pública. Disso decorre que as posses da razão irão influenciar os interesses do público em relação à esperança em uma vida futura (Imortalidade), também uma consciência (ilusória ?) de Liberdade (propriedade da vontade: Princípios práticos situados na razão; impossíveis sem a pressuposição da Liberdade), e por último uma fé no sábio e grande autor do mundo (Deus). Isso, porém, decorre de uma disposição e interesse natural do ser humano e que é provocada por uma necessidade e naturalidade, havendo o caso de que o público não tem acesso aos argumentos metafísicos, e isso é uma convicção não promovida pelas escolas e instituições. Disso decorre que as escolas ganham prestígio, porém, ao serem instruídas elas

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não devem tomar como próprio seus conhecimentos, não havendo compreensão mais alta para difundir, mas também havendo compreensões relativas ao interesse geral. Desse fato levanta-se a questão sobre o destino das escolas/instituições, onde seu âmbito não deve pretender mais do que o cultivo de argumentos, sendo esses acessíveis a todos e principalmente, sua excelência relativa ao propósito moral.

Questões sobre a diferença entre fenômeno e númeno/noumeno.

5- Explique a diferença entre fenômeno e coisa em si (B XXVIII) e a diferença entre fenômeno e númeno/noumeno. (A 236-A 259).

R.: Partindo do pressuposto de que há um uso dos conceitos do entendimento, podemos dividi-los em dois grupos: os de uso transcendental, que abordam as coisas em si e as coisas em geral; e os de uso empírico, que abordam os fenômenos e os objetos da experiência possível.

Diante disso podemos caracterizar o conceito de fenômeno como relativo aos entes dos sentido-dados sensíveis, sendo esses relativos ao nosso modo de intuição, bem como relativos às formas Espaço/Tempo (Estética Transcendental), donde deriva uma distinção entre entes em relação à nossa sensibilidade e entes não em relação à nossa sensibilidade. Isso possibilita distinguir o modo de intuí-los e os objetos em si, sendo “a coisa”: tal como intuída/ tal como é em si. Consequentemente, ocorre a distinção entre fenômeno e coisa em si, que deriva das condições do sentido das categorias.

a) Fenômeno: “objetos de uma experiência possível”; “fenômeno é o que não pertence ao objeto em si mesmo, mas se encontra sempre na relação entre ele e o sujeito, sendo inseparável da representação que este tem dele. Por isso mesmo, os predicados do espaço e do tempo são atribuídos aos objetos dos sentidos como tais, e nisso não há ilusão.” (Crítica da Razão Pura, Estética Transcendental, 8.).

b) Coisa em si: “objectos que não nos são dados em nenhuma intuição e são, portanto, não sensíveis”.

c) Númeno/Noumeno: “O conceito de númeno/noumeno, isto é, de uma coisa que deve ser pensada não como um objeto dos sentidos, mas como coisa-em-si (unicamente para o intelecto puro), não é em nada contraditório, pois não se pode afirmar que a sensibilidade é o único modo de intuição.”

6- Caracterize a diferença entre os significados positivo e negativo do conceito de noumeno. (A 236-A 259).

R.: Usando o conceito de númeno/noumeno com a definição: “de uma coisa que não deve ser pensada como objeto dos sentidos, mas como coisa em si

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(exclusivamente por um entendimento puro), não é contraditório, pois não se pode afirmar que a sensibilidade seja a única forma possível de intuição.” (B310).

Significado Positivo: Quando entendemos por númeno/noumeno “o objeto de uma intuição não sensível”, estamos dando ao mesmo uma conotação positiva pelo fato de ser criadora ou divina.

Significado Negativo: Porém, isso é vazio, dentro da concepção de que nosso intelecto não pode estender-se além da experiência senão problematicamente; não com a intuição nem com o conceito de uma intuição possível, tornando-se assim, o conceito de númeno/noumeno, um conceito-limite (Grenzbegriff), pretendendo circunscrever as pretensões da sensibilidade, portanto, de uso puramente negativo. “Mas nem por isso é uma ficção arbitrária, pelo contrário, encadeia-se com a limitação da sensibilidade, sem, todavia poder estabelecer algo de positivo fora do âmbito desta.” (B311).

A restrição negativa ao conceito de númeno/noumeno não apresenta relação referente à intuição, bem como, não sendo objeto de nossa intuição, abstraindo o modo de intuição, ao mesmo tempo sem determinar o modo de intuição.

A extensão positiva do conceito de númeno/noumeno está relacionada ao objeto da intuição não sensível, podendo assim ser admitido algum modelo/modo de intuição, não sendo a nossa, e sim um modo intelectual da intuição.

Questões gerais sobre a Dialética Transcendental.

7- Qual o propósito e as perguntas da Dialética Transcendental? (A 293)

R.: “... A idéia de uma ciência relativa ao conhecimento puro do entendimento e da razão mediante o qual pensamos objetos de modo inteiramente a priori. Tal ciência, que determinasse a origem, o âmbito e a validade objetiva de tais conhecimentos, teria que se denominar lógica transcendental porque só se ocupa com as leis do entendimento e da razão, mas unicamente na medida em que é referida a priori a objetos e não, como na lógica geral, indistintamente tanto aos conhecimentos empíricos quanto aos conhecimentos puros da razão.” (B 81-2).

A lógica transcendental vai preocupar-se com “a aparência transcendental, que influi sobre os princípios cujo uso nunca se aplica à experiência, pois nesse caso teríamos uma pedra de toque da sua validade, mas que, contra todas as advertências da crítica, nos arrasta totalmente para além do uso empírico das categorias, enganando-nos com a miragem de uma extensão do entendimento puro.” (B 352).

Partindo do pressuposto de que a lógica transcendental parte da lógica geral (ciência das regras entendimento em geral, ou seja, regras para pensar

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corretamente) para a lógica pura, onde a abstração destas condições é o foco principal. A lógica pura também é um cânone do entendimento e da razão, não havendo princípio empírico/Psicologia.

A lógica transcendental tomada como um esquema/método apresenta a peculiaridade de não excluir todo o conteúdo, havendo a diferenciação do conteúdo empírico (a posteriori) com o conteúdo puro (a priori). Desta inferência podemos expor a suposta origem do conhecimento dos objetos, não como coisa-em-si, mas como fenômeno, possível de conhecimento dentro de nossas possibilidades cognitivas. Isso pode gerar a inferência à origem não objetiva dos conhecimentos, partindo do pressuposto subjetivo do sujeito transcendental, onde reside a origem das faculdades de representação.

Sobre a dialética transcendental, tomando o termo “dialética” por “não arte, mas crítica da ilusão”, ou seja, a dialética como lógica da ilusão transcendental, que paira na razão pura humana, sendo essa uma ilusão especial, diferente da ilusão empírica (a posteriori: ótica; desvio pela imaginação) e lógica (a priori: desatenção; falácias formais; atenção e concentração) , porém apresentando uma relação especial com a ilusão lógica.

A dialética transcendental pretende o esclarecimento do esquematismo que surge na razão, essa como sede da ilusão e da metafísica, onde a crítica da ilusão tenta operar modalmente, pretendendo obter um melhor entendimento de nossos processos cognitivos, porém afastados da ilusão transcendental.

Porém, essa tarefa da dialética transcendental não elimina o erro, sendo que o erro reside fora do entendimento, como desvio das forças naturais, sendo não espontâneo. Nesse caso, o erro atua no entendimento, sendo o entendimento que erra, ou seja, julga erroneamente, nas ocasiões em que sobre influência da sensibilidade, tornando-se despercebido, fundamentando juízos subjetivos, tomados por fundamentos objetivos. E eis aí que reside o erro, ou causa da ilusão, i.e., tomar a necessidade subjetiva como necessidade objetiva.

Portanto, podemos definir a pretensão e objetivo da dialética transcendental como sendo o “descobridor” (desocultar/mostrar) da ilusão, esclarecendo seu mecanismo/esquema de funcionamento, podendo assim desviar-se do erro, o que não necessariamente eliminará a ilusão, devido ao fato de essa mesma ser natural e inevitável. Porém, a dialética transcendental pode identificar a sede da ilusão (razão pura) que age sobre o entendimento, donde se pode inferior a razão como não apenas faculdade de conhecer, onde decorre consequentemente a constatação de um uso prático da razão, residente na esfera da moralidade (liberdade) e da esperança (imortalidade).

8- Caracterize a noção de conceito puro da razão. (A 310)

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R.: Esses conceitos são obtidos por conclusão, assim como os conceitos do entendimento são pensados a priori. Os conceitos da razão possuem a finalidade de conceber, e os do entendimento de entender. O incondicionado é peculiar àquele (conceito da razão), não sendo esse um objeto da experiência. Os conceitos da razão pura são designados ideias transcendentais

Ideias transcendentais: (A 321) “São conceitos da razão pura, porque consideram todo o conhecimento de experiência determinado por uma totalidade absoluta de condições.”.

“São transcendentais e ultrapassam os limites de toda a experiência, na qual, por conseguinte, nunca pode surgir um objeto adequado à idéia transcendental.”

Dividida em três classes:

1- Contém a unidade absoluta (incondicionada) do sujeito pensante;

2- Contém a unidade absoluta da série das condições do fenômeno;

3- Contém a unidade absoluta da condição de todos os objetos do pensamento em geral.

9- Apresente o procedimento kantiano para a obtenção das ideias da razão. (A 312)

R.: “Em toda a inferência de razão concebo primeiro uma regra (maior) pelo entendimento. Em segundo lugar, subsumo um conhecimento na condição dessa regra (minor) mediante a faculdade de julgar. Por fim, determino o meu conhecimento pelo predicado da regra (conclusio), por conseguinte a priori, pela razão”. (B 361).

Em outra inferência apresentada observamos: “Por aqui se vê que a razão, no raciocínio, procura reduzir a grande diversidade dos conhecimentos do entendimento ao número mínimo de princípios (de condições gerais) e assim alcançar a unidade suprema dos mesmos” (A 305).

Através de um conceito que possui a condição pela qual é dado o predicado (asserção em geral) do juízo e, depois de subsumido o predicado nesta condição em toda a sua extensão, determino deste modo o conhecimento do meu objeto, como no exemplo “Caio é mortal”.

O conjunto completo da extensão, com referência a tal condição, é chamado universalidade, sendo o conceito transcendental da razão o conceito da totalidade das condições relativamente a um condicionado dado, sendo que somente o incondicionado possibilita a totalidade das condições e consequentemente a totalidade das condições é sempre em si mesma incondicionada, do qual um conceito puro da razão pode ser definido em geral como o conceito incondicionado, na medida em que contém um fundamento da síntese do condicionado. (B 379).

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Desse modo, o número de conceitos da razão pura depende das espécies de relações que o entendimento se representa mediante as séries:

1- Um incondicionado da síntese categórica num sujeito;

2- Um incondicionado da síntese hipotética dos membros de uma série;

3- Um incondicionado da síntese disjuntiva das partes de um sistema.

10- Quais as três idéias da razão, formuladas a partir da noção do incondicionado das séries? (320).

R.: 1- Um incondicionado da síntese categórica num sujeito (raciocínios categóricos);

2- Um incondicionado da síntese hipotética dos membros de uma série (raciocínios hipotéticos);

3- Um incondicionado da síntese disjuntiva das partes de um sistema (raciocínios disjuntivos).

1- Ideia em relação com o sujeito;

2- Ideias em relação ao diverso do objeto no fenômeno;

3-Ideias em relação com todas as coisas em geral.

Disso inferimos que “a conclusão é apresentada como um juízo, para ver se este se deduz de juízos já dados, pelos quais é pensado outro objecto completamente diferente, procuro no entendimento a asserção desta conclusão, a fim de ver se ela não se encontra antecipadamente no entendimento, sob certas condições, segundo uma regra geral. Se subsumir na condição dada, a conclusão a condição é então extraída duma regra que também é valida para outros objectos do conhecimento.” (A 305).

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