Quem Tem Medo da Obsessão (Richard Simonetti)

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O autor é de Bauru, Estado de São Paulo. Nasceu em 10 de outubro de 1935. Filho de Francisco Simonetti e Adélia Marchioni Simonetti. Casado com Tânia Regina de Souza Simonetti. Tem quatro filhos: Graziela, Alexandre, Carolina e Giovana. Milita no movimento espírita desde 1957, quando se integrou no Centro Espírita "Amor e Caridade, que desenvolve largo trabalho no campo doutrinário e de assistência e promoção social. Funcionário aposentado do Banco do Brasil, vem percorrendo todos os Estados brasileiros, em palestras de divulgação da Doutrina Espírita. QUEM TEM MEDO DA OBSESSÃO? QUEM TEM MEDO DAOBSESSÃO? ISBN 85-86359-08-4 "",, Capa: Milton Puga ; ; Ilustrações: Celso da Silva Última edição da Gráfica São João L t d a. 10a edição - 5.000 exemplares de 49.001 a 54.000 exemplares CEAC EDITORA; 2a Edição-Agosto-2001 3.000 exemplares , 1; 3.001 a 6.000 Edição e Distribuição Rua 7 de Setembro 8-56 FONE/FAX (014) 227-0618 CEP 17015-031 - Bauru - SP Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Simonetti, Richard, 1935Quem tem medo da obsessão? / Richard

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Livro interessante que relata casos de obsessões. Vale a pena ler.

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O autor de Bauru, Estado de So Paulo. Nasceu em 10 de outubro de 1935. Filho de Francisco Simonetti e Adlia Marchioni Simonetti. Casado com Tnia Regina de Souza Simonetti. Tem quatro filhos: Graziela, Alexandre, Carolina e Giovana. Milita no movimento esprita desde 1957, quando se integrou no Centro Esprita "Amor e Caridade, que desenvolve largo trabalho no campo doutrinrio e de assistncia e promoo social. Funcionrio aposentado do Banco do Brasil, vem percorrendo todos os Estados brasileiros, em palestras de divulgao da Doutrina Esprita. QUEM TEM MEDO DA OBSESSO? QUEM TEM MEDO DAOBSESSO? ISBN 85-86359-08-4 "",,

Capa: Milton Puga ; ; Ilustraes: Celso da Silva ltima edio da Grfica So Joo L t d a. 10a edio - 5.000 exemplares de 49.001 a 54.000 exemplares CEAC EDITORA; 2a Edio-Agosto-2001 3.000 exemplares , 1; 3.001 a 6.000 Edio e Distribuio Rua 7 de Setembro 8-56 FONE/FAX (014) 227-0618 CEP 17015-031 - Bauru - SP Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Simonetti, Richard, 1935Quem tem medo da obsesso? / Richard

Simonetti; capa Milton Puga; ilustraes Celso da Silva. - 1a ed. - Bauru, SP: CEAC, 1999. Espiritismo 2. Espritos I. Ttulo 96-2396 CDD-133.901 ndices para catlogo sistemtico: Obsesso: Doutrina esprita 13.901 Abrindo novos horizontes a todas as cincias, o Espiritismo vem, tambm, esclarecer a questo nuito obscura das doenas mentais, assinalando uma cama que, at agora, no era levada em conta: causa real, evidente, provada pela experincia cuja verdade mais tarde ser reconhecida. Mas como levar a admitir-se tal causa pelos que esto sempre dispostos a mandar para o hospcio quem quer que tenha a fraqueza de acreditar que temos alma e que esta representa um papel nas funes vitais, sobrevive ao corpo e pode atuar sobre os vivos? Allan Kardec, em A OBSESSO SUMRIO 01 A PRESENA DA NUVEM 13 02 - CUSTDIO E O DIABO 17 03-TORCICOLO MENTAL 21 04-MUITO SIMPLES 27 05- INDESEJVEL CASAMENTO 31 06-A INFLUNCIA MAIOR 35 07 - HEMORRAGIA ESPIRITUAL 39 08 - PSICANLISE 43 09-TERAPIA MOSAICA 47 10-INDESEJVEL LOCATRIO 53 11 - FASCINAO AMOROSA 57 12-TERRENO FRTIL 61 13-A ASSISTIDA INSISTENTE 65 14 - O CEGO QUE NO QUER VER 71 15-A INTELIGNCIA FASCINADA 75 16- MODA DA CASA 79 17-GOZADORES DO ALM 85 18 - CUSTA DAS PRPRIAS LGRIMAS 89 19-POSSESSO DEMONACA 93 20-PORQUE NO REAGEM 97 21 - RECOMENDAO NECESSRIA 101

22 ONDE O ESPIRITISMO COMEOU 107 23-A VIRTUDE QUE FALTOU 113 24-A DIFCIL METAMORFOSE 119 25 - A BARREIRA DA SUPERTIO 123 26 - O GUARDA-CHUVA 127 27-FUROS NO GUARDA-CHUVA 131 28 - QUEM SABE FAZ A HORA 135 O CONHECIMENTO LIBERTADOR Houvssemos de eleger as expresses mais marcantes de Jesus, mereceria destaque a proclamao contida no Evangelho de Joo (8;32): "E conhecereis a Verdade e a Verdade vos far livres. Enganos e desatinos, vcios e maldades da criatura humana sustentam-se, quase sempre, na ignorncia. O mesmo ocorre em relao aos nossos temores. Lembro-me de algo marcante, em meus verdes anos. Passava freqentemente, perto de minha casa, um homem que despertava ateno com um volumoso saco de estopa que trazia s costas. Barba espessa, cabelos desgrenhados, expresso taciturna, inspirava-me temor que evoluiu para torturante pavor quando, a pretexto de imporme determinadas disciplinas, familiares afirmaram que o desconhecido carregava crianas desobedientes. com o tempo descobri tratar-se de humilde catador de papis que levava sobre os ombros o produto da coleta. Ento evaporou-se o medo. No livro "Quem Tem Medo da Morte, procurei destacar como possvel superar angustiantes expectativas sobre o fim da existncia fsica com a compreenso de que a morte apenas a alfndega da vida espiritual. No haver motivo para temores se nossos "documentos" estiverem em ordem, com atestado de boa conduta expedido pela conscincia. Algo semelhante foi feito em "Quem Tem Medo dos Espritos, enfocando os seres inteligentes da Criao, em torno dos quais milenria ignorncia sustenta superties e temores, plenamente superveis

pelo conhecimento a respeito de sua natureza. Completa-se a trilogia neste "Quem Tem Medo da Obsesso, onde procuramos desmitificara to temida influncia demonaca, que as fantasias teolgicas vm sustentando. No se trata de um compndio. apenas uma cartilha, enfocando o essencial: Muitos de nossos desajustes e enfermidades esto estreitamente relacionados com influncias espirituais. Nada, porm, passvel de sustos, desde que nos esclareamos sobre o assunto, buscando a verdade, dispostos a seguir os caminhos de libertao sinalizados pela Doutrina Esprita. Bauru, maio de 1993. A PRESENA DA NUVEM Causa estranheza queles que no esto familiarizados con a Doutrina Esprita a questo n2 459 de "O Livro dos Espritos": "Influem os Espritos em nossos pensamentos e em nossos atos?" "Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto, que de ordinrio so eles que vos dirigem." Viveremos rodeados de tantos Espritos, dotados de poderes que os habilitam a condicionar nosso comportamento? 13 Pois exatamente o que ocorre. No se trata de mera especulao. Muito menos de invencionice. Sobretudo, no novidade. Desde as culturas mais remotas vemos gente s voltas com influncias espirituais. Disso nos d conta o folclore de todas as culturas. A riqussima mitologia grega, povoada de deuses passionais que convivem com os homens, interferindo freqentemente nos destinos humanos, exemplo tpico. Os textos evanglicos revelam que Jesus conversava freqentemente com os Espritos, afastando os chamados impuros de suas vtimas.

- Que temos ns contigo, Jesus Nazareno? Vieste para perder-nos? - esta a reclamao de um perseguidor espiritual antes de ser afastado de sua vtima, conforme relata Lucas (4;31 a 37. E comenta o evangelista: "Todos ficaram grandemente admirados e comentavam entre si, dizendo: "Que palavra esta, pois com autoridade e poder ordena aos Espritos imundos e eles saem?" 14 Na primitiva comunidade crist os discpulos de Jesus realizavam idntico trabalho, de que nos d conta o captulo 5a, versculo 16, do livro "Atos dos Apstolos": "Aflua tambm muita gente das cidades vizinhas a Jerusalm, levando doenfes e atormentados de Espritos imundos, os quais eram todos curados." A dvida quanto a essa influncia nasce da errnea concepo de que o mundo espiritual, a morada dos Espritos, est situado em regio distante da Terra e inacessvel s cogitaes humanas, quando ele to somente uma projeo do plano fsico. Comea exatamente onde estamos. Assim, permanecem junto de ns aqueles que, libertando-se da carne pelo fenmeno da morte, permanecem presos aos interesses do imediatismo terrestre. E gravitam em torno dos homens, obedecendo s mais variadas motivaes: Viciados procuram satisfazer o vcio. Vtimas intentam vingar-se de seus algozes. 15 Usurrios defendem o ouro amoedado. Ambiciosos pretendem sustentar dominao. Fugitivos da luz trabalham em favor das sombras. Famintos do sexo vampirizam sexlatras. Gnios da maldade semeiam confuso. Alienados da realidade espiritual perturbam familiares. toda uma imensa populao invisvel que

nos acompanha e influencia, lembrando a observao do apstolo Paulo, na Epstola aos Hebreus (12, 1, segundo a qual somos rodeados por uma nuvem de testemunhas. Muito mais que simplesmente presenciar nossas aes, transformam-nos, no raro, em instrumentos de seus desejos, manipulando-nos como se fssemos marionetes. * CUSTDIO E O DIABO Segundo a tradio religiosa, anjos so seres incorpreos e imateriais, puros de Espritos que atuam como emissrios divinos. Custdio o simptico anjo guardio, aquele que todo ser humano tem a custo odi-lo, oferecendo-lhe amparo e proteo. Mas h tambm o anjo mau, o diabo, rebelado contra o Criador que, obstinado, intenta nossa perdio. Ver-nos em tormentos eternos seria sua mais gloriosa realizao. Aparentemente este tinhoso mais arguto e capaz do que seu benevolente irmo. Basta observar como se disseminam facilmente na sociedade terrestre a ambio, a desonestidade, o 17 vcio, a mentira, a violncia e tantos outros males que fazem a confuso do Mundo. O tempo desgastou essas idias. Elas serviram aos interesses do passado, mas no atendem racionalidade do presente quando, antes de crer, o Homem cogita de compreender. Impossvel aceitar um Deus de misericrdia infinita, como revela Jesus, que no oferea infinitas oportunidades de reabilitao para os demnios e suas vtimas. Como pode o Pai amoroso da expresso evanglica confinar seus filhos em grotesco e irremedivel inferno, que contraria a dinmica evolutiva do Universo? Admitamos que assim seja. Que existam anjos e demnios a disputarem

nossa Alma. Como se estabelece a comunicao entre eles e ns? Como assimilamos sua influncia? Forosamente h um mecanismo distinto da palavra escrita e falada. So seres espirituais agindo sobre indivduos de carne e osso. Intil especular a respeito do assunto, enveredando pelo terreno enganoso da fantasia. Imperioso pesquisar, a partir do elemento visvel 18 - aquele que sofre a influncia. o que faz a Doutrina Esprita, demonstrando a existncia da Mediunidade, o sexto-sentido, que nos permite contatar o Mundo Espiritual, assim como o tato, o paladar, a audio, a viso e o olfato nos colocam em contato com o mundo fsico. O Espiritismo vai alm. Submetendo o fenmeno medinico a rigorosos mtodos de experimentao, o que lhe permite superar crendices, mitos e superties, demonstra que anjos e demnios so apenas homens desencarnados, as Almas dos mortos, agindo de conformidade com suas tendncias. So regidos, entretanto, por leis divinas que mais cedo ou mais tarde nos conduziro todos perfeio. Esse o objetivo de Deus que, como ensinava Jesus, no quer perder nenhum de seus filhos. E no perde mesmo. Se perdesse, no seria o Onipotente. 19 TORCICOLO MENTAL A contrao dos msculos cervicais impe dolorida toro ao pescoo. O paciente v-se na contingncia de no mover a cabea, assumindo postura rgida, divertida para os que a apreciam, mas penosa para ele. Popularmente chama-se torcicolo. A obsesso uma espcie de torcicolo

mental. O indivduo sente-se dominado por determinados pensamentos ou sentimentos, como se sofresse uma paralisia da vontade que lhe impe embaraos apreciao serena e saudvel das conjunturas existenciais. O pensamento emperra num crculo vicioso, como um disco com defeito nos sulcos, 21 a repetir indefinidamente pequeno trecho da gravao. Resumindo: obsesso idia fixa. Eventualmente passamos todos por momentos obsessivos. A dona de casa que interrompe o passeio, atormentada pela possibilidade de ter deixado o ferro ligado. O motorista que retorna ao automvel estacionado para confirmar que acionou o alarme anti-furto. A me novia que acorda o beb para verificar se est respirando. Instala-se a obsesso quando no conseguimos superar nossas preocupaes, assumindo um comportamento inslito e compulsivo, como lavar as mos dezenas de vezes diariamente, a cada contato com objetos ou pessoas. Em "O Livro dos Mdiuns, no captulo XXIII, Allan Kardec usa o mesmo termo para definir a influncia espiritual inferior que perturba o intercmbio com o Alm, comprometendo o trabalho medinico: "Entre os escolhos que apresenta a prtica do Espiritismo, cumpre se 22 coloque na primeira linha a obsesso, isto , o domnio que alguns Espritos logram adquirir sobre certas pessoas. Nunca praticada seno pelos Espritos inferiores, que procuram dominar. Os boms Espritos, nenhum constrangimento infligem. Aconselham, combatem a influncia dos maus e, se no os ouvem, retiram-se. Os maus, ao contrrio, se agarram queles de que nad

a podem fazer suas presas. Se chegam de fato a dominar algum, identificam-se com o Esprito deste e o conduzem como se fora verdadeira criana." Espiritismo no sinnimo de manifestao medinica, embora o intercmbio com o alm esteja inserido na atividade esprita. Prtica esprita, portanto, seria o empenho por aplicar e vivenciar a orientao doutrinria, no apenas nas reunies medinicas, mas onde estivermos, no desdobramento de nossas iniciativas. Assim, o termo obsesso tem uma extenso mais abrangente, j que em qualquer lugar ou atividade podemos ser envolvidos por influncias espirituais desajustantes. Kardec deixa isso bem claro, ao destacar no referido captulo as motivaes dos obsessores: 23 As causas da obsesso variam, de acordo com o carter do Esprito. , s vezes, uma vingana que este toma de um indivduo de quem guarda queixas do tempo de outra existncia. Muitas vezes, tambm, no h mais do que o desejo de fazer mal; o Esp rito, como sofre, entende de fazer que os outros sofram; encontra uma espcie de gozo em os atormentar, em osvexar, e a impacincia que por isso avt ima demonstra mais o exacerba, porque esse o objetivo que colima, ao passo que a pacincia o leva a cansar-se, irritar-se, o mostrara sedespeitado, o perseguido faz exatamente o que quer o seu perseguidor. Esses Espritos agem, no raro, por dio e inveja do bem; da o lanarem suas vistas malvadezas sobre as pessoas mais honestas. Como ponto de partida para uma abordagem em torno do assunto oportuno, indispensvel mesmo, evocar novamente o Codificador, namesma fonte: "A obsesso apresenta caracteres diversos, que preciso distinguir

24 e que resultam do grau de constrangimento e da natureza dos efeitos que produz. A palavra obsesso , de certo modo, um termo genrico, pelo qual se designa esta espcie de fenmeno, cujas principais variedades so: a obsesso simples, a fascinao e a subjugao." A partir dessa definio, convidamos o leitor a nos acompanhar nesta excurso em torno daquele que um dos mais graves e subestimados problemas da existncia terrestre: o domnio que os Espritos inferiores exercem sobre as criaturas humanas. 25 MUITO SIMPLES Parece-nos que Kardec emprega a expresso simples, ao enunciar o primeiro tipo de obsesso, para situ-lo como algo comum, freqente, a que poucas pessoas se furtam, como ocorre com determinadas indisposies orgnicas. Quanto s suas conseqncias, distanciam-se da simplicidade, assumindo, no raro, propores devastadoras. Podemos usar aquele adjetivo tambm para caracterizar a estratgia dos obsessores. Eles simplesmente incursionam na mente 27 da vtima, pelos condutos da mediunidade, sugerindo pensamentos que visam acentuar suas preocupaes, fobias, dvidas, temores. Resultado: uma extrema excitao que desajusta os centros nervosos. Isso no s lhe ameaa a estabilidade fsica e psquica como a leva a adotar uma conduta irregular, ridcula, desarrazoada. Como conseguem realizar semelhante proeza

os assaltantes do alm? simples: Apenas exploram as deficincias morais da vtima, a fim de submet-la tenso e precipitla no desajuste. Quanto mais longe conseguirem levar esse processo, mais amplo ser o seu domnio. Quanto mais o obsidiado render-se s suas sugestes, mais enleado estar. Aproximando-se de um comerciante o obsessor infiltra-se em sua mente com dvidas assim: "Fechou a porta do estabelecimento?" "O movimento do dia foi devidamente trancado no cofre?" "Desligou a luz?" "Verificou as janelas?" Rendendo-se s primeiras sugestes, que 28 logo sero seguidas de outras, infindavelmente, o comerciante breve estar repetindo interminveis cuidados e verificaes. Conduta irregular, absurda - ele sabe disso -, mas no consegue evitar, porquanto est sendo explorada sua grande fixao: o apego aos bens materiais. Se os interesses do comerciante fossem menos comprometidos com a avareza; se suas motivaes girassem em torno de temas mais edificantes, aquelas idias jamais seriam assimiladas. No haveria nem sintonia nem receptividade para elas. Importante destacar que o obsessor somente consegue semear a obsesso no campo frtil formado pelo objeto de nossas cogitaes, de nossos desejos, quando exacerbados. Por isso, a obsesso simples comea geralmente como simples auto-obsesso. Empolgamo-nos com idias infelizes e acabamos envolvidos com perseguidores invisveis que acentuam nossa infelicidade. 29

INDESEJVEL CASAMENTO --? Eu retornara de um ciclo de palestras. Chegara tarde. Dormira pouco. No obstante, levantara bem disposto. Fizera a habitual caminhada e desenvolvera minhas atividades dirias, com excelente disposio. tarde um amigo comentou: -Voc est com fisionomia abatida. Parece cansado. Algum problema? Resposta negativa. - apenas impresso. Estou timo. Estava. A partir dali meu nimo murchou. Em casa, diante do espelho, vi-me com olheiras, fadiga tomando conta. 31 noite o corpo pedia cama. Foi com muito esforo que compareci s tarefas habituais no Centro, lutando contra renitente indisposio. Inncrvel! Simples observao inspirada na amizade, sem nenhuma inteno maldosa, evidenciando at preocupao com minha sade, gerou a indesejvel situao. O episdio demonstra como a natureza humana sugestionvel. Raros possuem razes de estabilidade emocional dentro de si mesmos. Nossos estados de nimo flutuam ao sabor das influncias que recebemos. H at um princpio, em Psicologia, segundo o qual as pessoas tendem a se comportar da maneira como as vemos.Imaginemos a sutilizao dessa influncia. No mais visvel. Algo que parece nascer dentro de ns mesmos. Voz interior, insistente, insidiosa, que se mistura aos nossos pensamentos, a alimentar temores e dvidas relacionados com nosso bem estar. Temos a uma das opes preferidas dos perseguidores espirituais, quando se dispem a explorar, na obsesso simples, personalidades

32 hipocondraca. O paciente reclama:Doutor, meu problema complicado. Nem sei por onde co mear. Sinto-me um compndio de patologia, tantos so os males que me afligem! Pior a facilidade para assimilar sintomas. Horroriza-me o contato com doentes. Logo comeo a sentir algo de seus padecimentos. Jamais vou a velrio. Saio com a sensao de que tenho a enfermidade que vitimou o defunto. H duas semanas um amigo foi acometido por fulminante enfarte. Desde ento experimento doloroso peso no peito, vendo-me na iminncia de um colapso cardaco! Esse o tipo hipocondraco, algum excessivamente preocupado com a prpria sade, vtima fcil das sugestes das sombras. Assim como o fazem com os indivduos empolgados pela usura e a ambio, os obsessores exacerbam suas inquietaes. Se o vem conversando com um tuberculoso, atacam: Cuidado! Os bacilos da tuberculose propagam-se facilmente. Voc lhe deu a mo ao cumpriment-lo. V lav-la imediatamente. Desinfete-a." Se aps alguns dias a vtima sente ligeira 33 fadiga, fruto de indisposio passageira ou leve pontada nas costas, nascida de um golpe de ar voltam carga: "Cuidado! Sua sade est debilitada. preciso procurarum mdico! Submeter-se radiografia dos pulmes! Eis o obsidiado inteiramente apavorado. Equivale dizer: inteiramente dominado pelos obsessores. Uma das conseqncias desse tipo de influncia o aparecimento de males fsicos variados,

resultantes de suas tenses e temores. "Namorando" a doena, o obsidiado acaba "casando-se" com ela. O obsessor o "oficiante. 34 A INFLUNCIA MAIOR No livro "Libertao, psicografia de Francisco Cndido Xavier, o Esprito Andr Luiz reporta-se experincia de uma senhora perseguida por dois obsessores que tinham duplo propsito: Comprometer sua tarefa como mdium e conturbar o trabalho de seu marido, dedicado dirigente esprita. Exploravam-lhe as vacilaes, incutindolhe a convico de que as manifestaes que transmitia eram fruto de sua prpria mente. Ao mesmo tempo atiavam nela tendncias ao cime, sugerindo que o marido usava sua posio para seduzir mulheres. 35 Eles entravam em contato com ela durante as horas de sono, quando as criaturas humanas experimentam o que Allan Kardec define como "emancipao da Alma. Enquanto nosso corpo dorme, transitamos pelo Alm, em contato com Espritos que guardam afinidade conosco. O marido, homem disciplinado e esclarecido, amigo das virtudes evanglicas, afasta-se do veculo fsico e desenvolve atividades de aprendizado e trabalho, junto de benfeitores espirituais. A esposa, imatura, frgil em suas convices e dominada por impulsos exclusivistas, presa fcil das sombras. Os obsessores conversam com ela, confundindo-a em relao ao seus compromissos medinicos e fidelidade do marido. Ao despertar, aquelas "orientaes" repercutem em seu psiquismo, inspirando-lhe desnimo

e indignao. Andr Luiz presencia uma dessas sesses de aliciamento para a perturbao e registra o deplorvel estado da mdium ao despertar. "Oh! Como sou infeliz! - bradou, angustiada - estou sozinha, sozinha!" O marido, inspirado por benfeitor espiritual, Tem imenso trabalho para pacific-la. 36 Esse episdio oferece-nos uma viso mais ampla do modos paciente a mane ira de agir dos obsessores. Geralmente imaginamos esses amigos da desordem colados s vtimas. Quais inarredveis mastins a lhes morderem os calcanhares, exacerbarn suas dvidas, exploram suas mazelas, com o propsito de aprision-las na perturbao. No bem assim. A influncia maior ocorre durante o sono. Sem a proteo da armadura de carne que inibe as percepes espirituais das criaturas humanas, os obsessores conversam vontade com elas. Apresentando-se, no raro, como "amigos" e "protetores, conquistam sua confiana. Como se programassem sua mente, incutem-lhes idias infelizes que martelaro seu crebro durante a viglia, emergindo na forma de dvidas, temores, angstias, impulsos desajustados e depresso. Seria equvoco situar as horas de sono como pginas em branco na existncia humana. So pginas escritas com tinta invisvel, to importantes quanto aquelas que escrevemos na viglia, com insuspeitada e ampla influncia sobre nossos estados de nimo, nossas idias e sentimentos. 37 imperioso, portanto, que no durmamos espiritualmente, enquanto acordados fisicamente. Proclama a sabedoria popular: : "Dize-me com quem andas e te direi quem s." Algo semelhante podemos dizerem relao

ao trnsito no Alm durante as horas de sono: Dize-me como s e te direi com quem andas. 38 HEMORRAGIA ESPIRITUAL Sentia fraqueza. Mais que isso, lassido. Dores nas pernas, inapetncia. Vontade irresistvel de amontoar-se num canto, descansar. Foi ao mdico. O exame de sangue revelou a causa: anemia. Outros testes identificaram a origem: imperceptvel e persistente hemorragia intestinal, produzida por ulcerao indolor. Por ali derramava-se sua vitalidade. Algo semelhante ocorre com a vtima da 39 obsesso simples. Assimilando as sugestes do obsessor relacionadas com a sade, os negcios, os sentimentos ou envolvendo problemas existenciais, o obsidiado passa agir sob forte tenso, perdendo energias como se sofresse uma insidiosa hemorragia espiritual. Por outro lado, h Espritos presos s impresses da vida material que literalmente sugam as energias de suas vtimas com o propsito de se revitalizarem, lembrando a fantasia do vampiro bebedor de sangue popularizada pelo cinema. Resultado: Esgotamento nervoso, caracterizado por palpitaes, angstia, dificuldade de concentrao, desnimo. O obsidiado experimenta a sensao de carregar sobre os ombros os males do Mundo. Algum informa: encosto! Procure o Centro Esprita. Definio equivocada. O obsessor no est "encostado" em sua vtima. Apenas pressiona seu psiquismo pelo pensamento, explorando-lhe as mazelas. Orientao correta. No Centro Esprita h amplos recursos que podem ser mobilizados em

favor do obsidiado. 40 A obsesso simples origina-se, no raro, na influncia exercida por Espritos que no intentam prejudicar. Perplexos no Alm, recm-chegados das lides humanas, agarram-se s pessoas com as quais tenham afinidade, particularmente familiares, impondo-lhes o reflexo de seus desajustes. Sustentam, assim, o que poderamos denominar "obsesso pacfica. Acompanhando o "encostado" so beneficiados no Centro Esprita, onde ouvem prelees nas reunies pblicas ou so encaminhados s reunies medinicas que funcionam maneira de prontos-socorros, desfazendo-se a ligao. Por essa razo ouvimos freqentemente comentrios assim: -Eu me sentia pssimo quando fui ao Centro. Idias infelizes, horrvel sensao de opresso. Agora estou muito bem. Foi como se tirassem com a mo. 41 PSICANLISE Reclinado em confortvel poltrona, o paciente fala longamente de sua vida pregressa, particularmente da infncia e da adolescncia. O mdico anota aquela enxurrada de informaes. maneira de perspicaz detetive, procura identificar a origem dos males que o afligem. Seriam recalques infantis? Frustraes da libido? Acidentes psicolgicos? Traumas? Todas as possibilidades so analisadas exaustivamente pelo profissional, garimpando aquelas lembranas em busca da chave libertadora. Descoberta a causa do mal ele comearia a ser removido. 43 Temos aqui uma imagem clssica da psicanlise, segundo a teoria proposta por Sigmund Freud, seu genial criador. Curiosamente, a vtima da obsesso simples

pode encontrar a cura de seus padecimentos submetendo-se terapia freudiana. Uma negao dos princpios espritas? Ocorre exatamente o contrrio. O sucesso da psicanlise apenas confirma o Espiritismo. A explicao simples: Iniciada a anlise, estabelece-se uma disputa entre o mdico e o obsessor. O mdico, usando a palavra articulada, procura induzir o paciente a reagir aos seus temores e angstias, conquistando a estabilidade emocional. O obsessor, pelos condutos do pensamento, trata de sugestion-lo para que permanea no desequilbrio. Se o psicanalista possuir um poder de persuaso mais avantajado provavelmente prevalecer sua iniciativa, favorecendo a recuperao do paciente. No obstante, a experincia tem demonstrado 44 que os sucessos da psicanlise, envolvendo a obsesso simples, so precrios. To logo suspenso o tratamento o obsessor volta a envolver o obsidiado, explorando-lhe as fraquezas e precipitando-o em novas crises. Muita conversa e dinheiro desperdiados porque o psicanalista, geralmente orientado por concepes materialistas, tem os olhos cerrados realidade espiritual. Conheci um especialista que, embora no fosse esprita, tinha plena conscincia da precariedade da psicanlise diante da obsesso simples. Sentindo-a presente, recomendava ao paciente associasse as sesses de anlise s reunies espritas. E dizia: -Tome passes, meu filho. Ajuda no tratamento. Raro exemplar de um doutor que reconhecia suas limitaes. 45 TERAPIA MOSAICA

Situar a Medicina como abenoado instrumento em favor da sade humana , como ressaltaria Nelson Rodrigues, o controvertido dramaturgo brasileiro, o "bvio ululante. A grande dificuldade que os mdicos, com raras excees, vinculam-se ao materialismo. Mostram-se, por isso, incapazes de diagnsticos, prognsticos e terapias mais acertadas. Ignoram que muitos males dos pacientes tm origem espiritual, relacionando-se com desajustes de vidas passadas e presses obsessivas da vida presente. Segundo a tica sarcstica de Voltaire, "receitam remdios de que sabem pouco para doenas de que sabem ainda menos, a p essoas de quem no sabem nada." 47 Principalmente no campo psquico multiplicam-se escolas psicolgicas e psicanalticas, lideradas por profissionais respeitveis que teorizam a partir de especulaes. Falta-lhes uma viso abrangente do universo interior do ser humano, com suas experincias milenrias, eivadas, no raro, de desastrosos comprometimentos com o vcio e a rebeldia, a agressividade e o crime. Divagavam os cientistas quando cogitavam das razes pelas quais os objetos caem quando perdem a sustentao, at que Newton enunciou a Lei da Gravitao Universal. Divagam os mdicos quando tentam definir por que as pessoas "caem" nos abismos das doenas mentais, por desconhecerem leis enunciadas por Allan Kardec, como Causa e Efeito, Reencarnao, Sintonia Medinica, que disciplinam nossa evoluo. O mais lamentvel que cada terapeuta tende a interpretar a moda da casa, pela tica de suas limitaes e desajustes determinados princpios da escola a que se filiam, com orientao duvidosa e compr ometedora. 48

Um paciente submeteu-se durante alguns meses a sesses semanais de anlise. O psicoterapeuta enfatizava: Emoo reprimida produz doena. preciso "explodir" para fora para no "implodir" por dentro. Se o ofenderem, responda na mesma moeda. Grite com quem erga a voz. No leve desaforo para casa, nem se curve jamais aos deseducados. A ttulo de ilustrao vou contar-lhe uma experincia de carter pessoal. Certa feita encomendei mveis a um fabricante. Paguei uma entrada de vinte porcento. Havia prazo para a entrega. No foi cumprido. Atraso de mais de trs meses. Desisti da compra e pedi a devoluo do dinheiro. O fabricante recusou e queria reajustar o preo. Discutimos. Quase nos atracamos. Contive-me, prometendo a mim mesmo que ele pagaria pelo prejuzo. Na manh seguinte passei pela fbrica. Na frente havia um "show room" com ampla vitrina. Perguntei jovem atendente: 49 -O patro est?No senhor. ~ "::-, No tem ningum? -S eu. Era o que eu esperava. Aproximei-me e com a ponta do guarda-chuva apliquei violenta pancada na vitrina, que se fez em pedaos. -Diga ao patro que estive aqui. Acabo de cobrar parte de sua dvida. Passadas algumas semanas, voltei. Recebeu-me a mesma funcionria. Estava apavorada. -Calma, menina. S quero acertar um negcio com seu patro.

-Ele no est. -timo! Repeti a "operao. A vitrina desabou. -Diga quele safado que o resto da dvida foi cobrado. Incrvel! Uma "psicanlise mosaica": olho por olho, dente por dente. Muita gente faz estgios indesejados nas prises por resolver assim suas pendncias. 50 H um grande passo a ser dado pelas cincias psicolgicas, sem o que jamais ultrapassaro estreitos limites, enveredando, no raro, por tortuosos caminhos. Trata-se de reconhecer a existncia de uma personalidade imortal, o Esprito, em jornada de progresso atravs de mltiplas existncias na carne, em gigantesca batalha contra suas prprias imperfeies. Essa realidade est admiravelmente sintetizada na mxima atribuda a Allan Kardec: "Nascer, viver, morrer, renascer ainda e progredir sempre. Esta a Lei. Prodgios'sero realizados em favor da sade humana quando a comunidade mdica descobrir o Esprito. 51 - INDESEJVEL LOCATRIO Na obsesso simples o obsidiado permanece no pleno uso de suas faculdades mentais, conservando o discernimento. Reconhece que sua conduta irregular, no raro ridcula, como lavar repetidamente as mos ou verificar exausto se trancou a porta ou desligou um aparelho eltrico. A fascinao mais envolvente. Desenvolvida por hbeis obsessores, estes no se limitam ao bombardeio de idias infelizes. Atuando com sutileza e inteligncia, tratam

de convencer o obsidiado das fantasias que lhe sugerem. como se lhe colocassem culos com lentes 53 desajustadas, confundindo-lhe a viso. Isso estabelece uma diferena fundamental entre os dois tipos de envolvimento: Na obsesso simples o obsidiado sabe que est errado nos absurdos em que incorre. Na fascinao ele no tem nehuma dvida de que est absolutamente certo. Uma comparao com a terminologia mdica: A vtima da obsesso simples situa-se numa neurose. Neurtico aquele cidado dominado por insuperveis preocupaes. Sabe que dois mais dois fazem quatro. No entanto, debrua-se sobre a possibilidade de no ser esse o resultado. -E se for cinco? Perder muito tempo nessa "transcendente" questo. Psictico aquele indivduo que no guarda nenhuma dvida quanto ao resultado daquela operao: -Dois mais dois fazem cinco! Afastou-se da realidade. Desligou o desconfimetro. 54 Diz Jerome Lawrenee, dramaturgo norte americano: O neurtico constri um castelo no ar. O psictico mora nele. E acentua, mordaz, referindo-se s sesses teraputicas: O psiquiatra cobra o aluguel. Nas duas formas de envolvimento espiritual o obsessor situa-se como funesto locatrio de nossa casa mental. Paga-nos indesejvel aluguel de inquietaes e desajustes. 55 FASCINAO AMOROSA S pensava nela.

Crebro em circuito fechado. A jovem namorada, de estonteante beleza, ocupava-lhe todos os espaos mentais. ltima lembrana ao dormir. A primeira, ao despertar. Levantava-se com ela, passava o dia pensando nela, por ela suspirava. Em seus devaneios imaginava-se a ret-la em seus braos, aspirando seu perfume, cobrindo-a de carcias, fundindo-se ambos em ardentes abraos. s vezes desligava-se. Eram momentos fugidios, como breves 57 intervalos separando msicas num disco. Logo recuperava-lhe a imagem, assustado como quem houvesse sofrido a perda da respirao por momentos. Contava os dias e as horas que os separavam. A seu lado pedia a Deus que parasse o relgio do tempo, a fim de que pudesse desfrutar indefinidamente a ventura de sua presena. Sempre acontecia o inverso: Juntos, as horas ganhavam asas. Separados, fluam com a lentido das tartarugas. com incontveis variaes, encontramos na literatura universal envolvimentos passionais semelhantes. Um paraso, quando tudo corre bem. Um inferno, se surgem problemas. Semelhantes experincias situam-se nos domnios da fascinao quando, a partir da atrao fsica, instala-se o desejo irrefrevel de comunho carnal, em paroxismos passionais. George Bernard Shaw, teatrlogo ingls, dizia, referindo-se ao casamento, que um dos paradoxos da sociedade humana que pessoas apaixonadas so obrigadas a jurar que continuaro naquele estado excitado, anormal e 58 tresloucado at que a morte as separe. Muitas unies efmeras ocorrem a partir de

envolvimentos passionais, principalmente entre jovens, empolgados por recproca fascinao, quando se rendem ao domnio dos hormnios. Justamente por inspirar-se nos instintos, a fascinao amorosa a mais freqente, responsvel por casamentos precipitados, adultrios, separaes, crimes e tragdias sem fim. Proclama a sabedoria popular que a paixo cega, o que exprime uma realidade. Paixo e bom senso raramente seguem juntos. Por isso os Espritos obsessores estimam envolver as pessoas passionais, torturando-as com anseios amorosos irrealizveis ou usando as para exercer sua ao nefasta, criando estranhas e perigosas situaes. 59 TERRENO FRTIL Quando obsessores de atilada inteligncia pretendem afastar lderes religiosos de suas tarefas, nunca descartam a fascinao afetiva, explorando suas tendncias. No meio esprita vemos respeitveis chefes de famlia, com responsabilidade na direo de instituies, envolvendo-se em perturbadoras experincias passionais patrocinadas por agentes das sombras. Desertam de compromissos conjugais e espirituais julgando atender ao glorioso chamamento do amor, ao lado de "almas gmeas. Aprendem custa de penosas frustraes que o amor legtimo jamais comete o desatino de 61 sobrepor-se ao dever. Quando no encontram receptividade naqueles que pretendem transviar, os obsessores impem-lhes embaraos envolvendo gente prxima. Exemplo marcante neste particular ocorreu com o apstolo Paulo, narrado pelo Esprito Emmanuel, no livro "Paulo Estevo, psicografia de Francisco Cndido Xavier.

Em uma de suas viagens missionrias Paulo esteve em Icnio, cidade da sia Menor, onde com sua palavra vibrante e esclarecedora, a par das curas que operava, fez muitos adeptos. Ali fundou uma igreja crist, no obstante a resistncia de rica comunidade judaica, intransigente na defesa de Moiss. O trabalho seguia firme e produtivo quando uma jovem noiva, dcil influncia de obsessores que combatiam o Cristianismo, tomou-se de amores por ele. com isso afastava-se do noivo, que via com estranheza e irritao aquela situao. Certa feita a jovem pediu-lhe entrevista reservada e, com grande surpresa do apstolo, falou-lhe de sua paixo. Paulo tentou explicar-lhe, inutilmente, que era simples servidor de Cristo, empenhado na disseminao de seus princpios, um homem 62 frgil e falvel que no deteria nenhum encanto para ela. Em dado momento surge o noivo que, exaltado e se sentindo trado, entrou em discusso com a jovem. Mal-humorada ela reiterava seus propsitos de ligar-se afetivamente ao servidor do Cristo. O apstolo tentou explicar: "-Amigo, no te acabrunhes nem te exaltes, em face dos sucessos que se originam de profundas incompreenses. a Tua noiva est simplesmente enferma. >Estamos anunciando o Cristo, mas o Salvador tem os seus inimigos ocultos em toda parte, como a luz tem por inimiga a treva permanente. Mas a luz vence a treva de qualquer natureza. Iniciamos o labor missionrio nesta cidade, sem grande s obstculos. Os judeus nos ridicularizam e, todavia, nada encontraram em nossos atos que justifique a perseguio declarada. Os gentios nos abraam com amor. Nosso esforo desenvolve-se pacificamente e nada

nos induz ao desnimo. Os adversrios invisveis, da verdade e do bem, certo se lembraram de influenciar esta pobre criana, para faz-la instrumento perturbador de nossa tarefa. possvel que no me 63 compreendas de pronto no entanto, a realidade no outra." De nada valem as ponderaes de Paulo. O noivo, transtornado, passa a insult-lo, situando-o por mistificador e sedutor de jovens ingnuas. O caso assumiu propores de grande escndalo. As autoridades religiosas de Icnio usaram daquele pretexto para providenciar a priso de Paulo, impondo-lhe o suplcio dos trinta e nove aoites. A semeadura fora feita e floresceria em coraes sensveis, mas o grande servidor do Cristo foi obrigado a deixar a cidade, ante a presso exercida pelas sombras, que se utilizaram de uma jovem invigilante, envolvida nas teias da fascinao afetiva. 64 A ASSISTIDA INSISTENTE Era um jovem trabalhador da seara esprita a quem chamaremos Ricardo. Solteiro, dedicava suas horas ao servio assistencial e s reunies doutrinrias. Integrado num dos grupos de visitao, comparecia a bairro humilde, atendendo famlias pauprrimas. Dentre elas sofredora me de vrios filhos, que enfrentava srios problemas com o marido alcolatra. Encaminhada ao Centro, freqentava reunies em que Ricardo lia e comentava livros espritas. Era admirvel a assiduidade e o interesse 65 dela, embora notoriamente no estivesse assimilando quase nada, em face de suas poucas letras. No retorno ao lar, em companhia de sua

me, Ricardo era invariavelmente procurado pela assistida, que lhe pedia explicaes sobre o estudo da noite. Acabava seguindo com eles at as proximidades do local onde tomava seu nibus. Aquela insistncia comeou a incomodar Ricardo. Pior: ficou preocupado. Ela parecia ver nele algo mais que simples servidor da casa esprita. Passou a evit-la. Deixou de participar das visitas ao seu barraco. Esquivava-se quando tentava falar com ele. Ela reagiu semelhana da jovem apaixonada pelo apstolo Paulo. Pediu uma entrevista em particular, confessando que lhe devotava imenso amor. Guardava a certeza de que era correspondida. Ricardo explicou-lhe que laborava em perigoso engano. No alimentava qualquer pretenso a seu respeito. No lhe prestara benefcios em carter pessoal. Fora apenas um intermedirio. Advertiu-a quanto ao seusv compromissos conjugais. Que respeitasse o marido e os filhos. Clamou no deserto. 66 Ela no entendeu nada. Sua nica certeza era de que havia uma ligao muito forte entre ambos e que nada haveria de separ-los. Passou a assedi-lo. Aproximava-se onde estivesse, na rua com amigos, no Centro, no local de trabalho, imiscuindo-se e causando-lhe srios embaraos. *^# O assunto foi levado direo do Centro. Um grupo de diretores encarregou-se de aconselh-la. Era preciso modificar seu comportamento ou deixaria de receber ajuda. Haveria prejuzos para ela e a famlia. No se abalou: -Faam como quiserem. No me afastarei. Ele meu! Tomando conhecimento do problema, um delegado de polcia tentou intimid-la. Falou-lhe duramente. Seria presa se no deixasse Ricardo em paz.

com a coragem dos insanos, enfrentou a autoridade: -Pode me prender. No vai adiantar. Ele meu! Um juiz esprita foi solicitado a colaborar. Determinou que a viatura policial a recolhesse em sua casa, levando-a ao Frum. Ameaou-a de processo. Perderia a casa, a famlia, os filhos. 67 E ela, inabalvel: Isso no mudar nada. No fosse to inconveniente a situao seria at cmica. No faltaram companheiros que pilheriavam: -Ricardo, Ricardo! Toma juzo menino! Andou seduzindo a pobre mulher e agora quer escapar de fininho! S por brincadeira. Prematuramente envelhecida, exibindo sorriso desdentado, expresso abatida, a triste figura da assistida era o atestado eloqente de que no houvera nada entre eles. Por outro lado, felizmente ela no era agressiva. Nunca perpetrou nenhuma violncia, nem promoveu escndalo, o que no raro em casos semelhantes. Embora seja obra de fico, o filme "Atrao Fatal, em que mulher apaixonada inferniza uma famlia, culminando em tragdia, exprime com fidelidade at onde uma fascinao afetiva pode chegar. O final de nossa histria no foi cinematogrfico, no teve lances dramticos, mas, como preferem os espectadores, foi feliz. 68 O tempo passou, o assdio foi se distanciando, at que, perto de trs anos- depois a exassistida desistiu da idia de que Ricardo era propriedade sua. Nunca mais se ouviu falar dela. 69 O CEGO QUE NO QUER VER O leitor certamente ter algumas dvidas em relao aos problemas gerados pela mulher que perseguia o jovem servidor esprita:

Onde estavam os protetores espirituais do Centro e dela prpria, que permitiram semelhante envolvimento? Por que no promoveram o afastamento dos Espritos obsessores? No pode o Bem sempre mais? Para que possamos responder satisfatoriamente preciso considerar algo fundamental: A fascinao no unilateral. A obsidiada no foi vtima de um assalto. Simplesmente rendeu-se s idias que lhe 71 eram sugeridas. E se chegou ao extremo da fascinao afetiva, foi depois de ter refugado todos os recursos de auxlio mobilizados pelos benfeitores espirituais em seu favor: Ofereceram-lhe orientao durante as horas de sono. Buscaram inspir-la durante a viglia. Utilizaram-se de instrumentos humanos para desfazer seus enganos, destacando-se o prprio Ricardo, objeto de suas investidas, e os companheiros. Aplicaram-lhe recursos magnticos tendentes a fortalecer-lhe a vontade, para que se dispusesse a romper a ligao. Aproximaram-se dos Espritos obsessores, mobilizando recursos de esclarecimento para que se afastassem. No entanto, esbarraram na dificuldade maior: Ela prpria, que cristalizou a idia de que Ricardo era seu e que nada neste mundo poderia separ-la dele. Neste estgio o obsidiado assemelha-se ao alienado mental, incapaz de reconhecer o ridculo de suas pretenses e o absurdo de suas idias. Ilude a si mesmo. Tenta justificar a rejeio do amado com idias mirabolantes, relacionadas com interferncia de familiares, de rivais, e at de influncias espirituais. 72 Espritas pouco esclarecidos e sonhadores, envolvidos em semelhante situao, flutuam longe

da realidade, convictos de que h uma milenar ligao entre eles e o objeto de seu fascnio. Quais cegos que no querem ver, afundam se no desajuste as vtimas voluntrias da fascinao afetiva. Marcam passo nos caminhos da Vida, at que as rudes lies da dor venham reajustar suas emoes e renovar suas idias. 73 s, r A INTELIGNCIA FASCINADA Uma anlise superficial poder sugerir a idia de que a fascinao atinge apenas as pessoas destitudas de inteligncia, suficientemente ingnuas para assimilar as fantasias sugeridas pelos obsessores. Kardec explica, em "O Livro dos Mdiuns", que no assim: Fora erro acreditar que este gnero de obsesso s esto sujeitas as pessoas simples, ignorantes e baldas de senso. Dela no se acham isentos nem os homens de mais esprito, os mais instrudos e os mais 75 inteligentes sobre outros aspectos, o que prova que tal aberrao efeito de uma causa estranha, cuja influncia eles sofrem." Encontramos exemplos em todos os setores da atividade humana. Homens cultos e sensveis, dotados de respeitvel acuidade mental, mas envolvidos em perturbadores processos obsessivos. Situam-se por mdiuns das sombras, fascinados por esdrxulas idias que, encontrando receptividade nas mentes distradas do Bem, geram perturbadores movimentos sociais, em semeaduras de desequilbrio, sofrimento e morte. Jean-Paul Sartre, filsofo existencialista, pregava o nilismo, o nada, a proclamar que o

homem est entregue sua prpria sorte. Inspirou, assim, muitas das loucuras da sociedade europia de aps guerra, distanciada de Deus. Friedrich Nietzsche, com sua concepo do super-homem, movido unicamente pela vontade do poder, com total desprezo pela tica crist, foi uma das inspiraes da loucura nazista. Arthur Schopenhauer ensinava ser indispensvel que o homem suprima a vontade de viver para que se liberte da dor, induzindo criaturas desavisadas aos precipcios do suicdio. 76 Vale destacar o agonizante comunismo, gerado a partir do equvoco cometido por intelectuais que julgaram possvel edificar uma sociedade igualitria sustentada por regimes totalitrios. Neles o Estado seria dono de tudo para que no faltasse nada. Resultado: Estados que no tm nada, onde falta tudo. ti *