Queluz

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66 16 AGOSTO 2012 Segurança O agente de serviço na esquadra da Polícia de Segurança Públi- ca (PSP) na Mina, Amadora, olhou incrédulo para o ho- mem que acabara de lhe con- fessar a autoria de um homicídio. Com queimaduras nos braços e na cara, Francis- co Rodrigues parecia perfeitamente calmo. Estava sozinho. Tinha estacionado o carro junto às instalações da polícia, entrado e dito ao agente que se queria entregar por- que tinha matado três pessoas. “Depois pe- diu à esquadra que fosse confirmar o que tinha acabado de dizer”, conta à SÁBADO fonte policial. “Deu a morada e tudo.” Eram 7h30 da manhã de segunda-feira, dia 13. Cercade 30 minutos antes, Mariade Lur- des Almeida, 70 anos e com muletas, e a fi- lha mais nova, Rute Almeida, 34 anos, ti- nham saído do apartamento que ocupavam no terceiro andardo edifício naruade Timor, emQueluz. ÀportaestavaàesperaAiltonPa- checo, 30 anos, o segurançaque tinhamcon- tratado há cerca de dois anos e que era co- nhecido por Jardel. Entraram juntos no ele- vador, como era habitual. As duas saíam de casa todas as manhãs à mesma hora para abrir as portas da Queluz Física, uma clíni- cade fisioterapialocalizadaa10 minutos de carro, que é da família e onde trabalhavam. ATÉ HÁ CERCA DE QUATRO ANOS, o negó- cio era gerido pelo marido de Maria de Lur- des e não se conheciam zangas na família. “Francisco Rodrigues é casado com a irmã do senhor Almeida”, diz à SÁBADO Mário Santos, dono da Pastelaria Cardoso, situa- da a poucos metros da clínica. “Eles tinham uma pequena quota do negócio, mas, se- gundo o que o Jardel me contou, pouco an- tes de morrer o senhor Almeida prometeu- lhe 50% do negócio. Só que teve um ata- que cardíaco antes de formalizar tudo e morreu”, explica. Os problemas começa- ram a partir daí. Francisco Rodrigues exi- gia o que teria acordado com o cunhado, mas Maria de Lurdes não cedia. A questão acabou por ir para tribunal e Francisco Ro- drigues terá mesmo sido impedido de se aproximar das clínicas (há uma outra, mais pequena, na Amadora). Terá sido na se- quência dessa decisão que Jardel foi con- tratado como guarda-costas à empresa de segurança privada Mama Sume. No entanto, a presença do brasileiro com dois metros de altura não dissuadiu Francis- co Rodrigues. “O Jardel só es- tava com elas durante a sema- na e há um ano e tal o cunha- do encontrou a Maria de Lurdes na escada do prédio e empurrou-a. Partiu-lhe um braço”, conta Mário Santos. Também há cerca de um ano, Francisco Ro- drigues tê-la-á mesmo ameaçado com uma pistola. “Tivemos uma denúncia por amea- ças. Fomos ao edifício e não encontrámos Francisco Rodrigues empurrou Maria de Lurdes na escada do prédio e partiu-lhe um braço QUELUZ. TRÊS PESSOAS QUEIMADAS VIVAS DENTRO DE UM ELEVADOR A suposta promessa de 50% das quotas de uma clínica deu origem a um conflito que terminou com um triplo homicídio. Por Nuno Tiago Pinto A GUERRA FAMILIAR

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66 16 AGOSTO 2012

Segurança

Oagente de serviço naesquadradaPolíciade SegurançaPúbli-ca (PSP) na Mina, Amadora,olhou incrédulo para o ho-mem que acabara de lhe con-

fessar a autoria de um homicídio. Comqueimaduras nos braços e nacara, Francis-co Rodrigues pareciaperfeitamente calmo.Estava sozinho. Tinha estacionado o carrojunto às instalações da polícia, entrado edito ao agente que se queria entregar por-que tinhamatado três pessoas. “Depois pe-diu à esquadra que fosse confirmar o quetinha acabado de dizer”, conta à SÁBADOfonte policial. “Deuamoradae tudo.” Eram7h30 da manhã de segunda-feira, dia 13.

Cercade 30minutos antes, Mariade Lur-des Almeida, 70 anos e com muletas, e a fi-lha mais nova, Rute Almeida, 34 anos, ti-nhamsaído do apartamento queocupavamno terceiro andardo edifício naruadeTimor,emQueluz. ÀportaestavaàesperaAiltonPa-checo,30anos,o segurançaquetinhamcon-tratado há cerca de dois anos e que era co-nhecido porJardel. Entraramjuntos no ele-vador, como erahabitual. As duas saíam decasa todas as manhãs à mesma hora paraabrir as portas da Queluz Física, uma clíni-cade fisioterapialocalizadaa10minutos decarro, que é da família e onde trabalhavam.

ATÉ HÁ CERCA DE QUATRO ANOS, o negó-cio eragerido pelo marido de Mariade Lur-des e não se conheciam zangas na família.“Francisco Rodrigues é casado com a irmãdo senhor Almeida”, diz à SÁBADO Mário

Santos, dono da Pastelaria Cardoso, situa-daapoucos metros daclínica. “Eles tinhamuma pequena quota do negócio, mas, se-gundo o que o Jardelme contou, pouco an-tes de morrero senhorAlmeidaprometeu-lhe 50% do negócio. Só que teve um ata-

que cardíaco antes de formalizar tudo emorreu”, explica. Os problemas começa-ram a partir daí. Francisco Rodrigues exi-gia o que teria acordado com o cunhado,mas Maria de Lurdes não cedia. A questãoacabou por ir para tribunal e Francisco Ro-

drigues terá mesmo sido impedido de seaproximardas clínicas (háumaoutra, maispequena, na Amadora). Terá sido na se-quência dessa decisão que Jardel foi con-tratado como guarda-costas à empresa desegurança privada Mama Sume.

No entanto, a presença dobrasileiro com dois metros dealtura não dissuadiu Francis-co Rodrigues. “O Jardel só es-tavacomelas durante asema-na e há um ano e tal o cunha-do encontrou a Maria de

Lurdes na escada do prédio e empurrou-a.Partiu-lhe um braço”, contaMário Santos.Tambémhácercade umano, Francisco Ro-drigues tê-la-ámesmo ameaçado comumapistola. “Tivemos umadenúnciaporamea-ças. Fomos ao edifício e não encontrámos

Francisco Rodrigues empurrouMaria de Lurdes na escadado prédio e partiu-lhe um braço

QUELUZ. TRÊS PESSOAS QUEIMADAS VIVAS DENTRO DE UM ELEVADOR

Asuposta promessa de50% das quotas de umaclínica deu origem a umconflito que terminoucom um triplo homicídio.PorNunoTiagoPinto

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