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158 Arbex, Marcos Abdo, et al. Queima de biomassa e suas repercussıes sobre a saœde Queima de biomassa e efeitos sobre a saœde* Biomass burning and health effects MARCOS ABDO ARBEX (TE SBPT) , JOSÉ EDUARDO DELFINI CAN˙ADO (TE SBPT) , LUIZ ALBERTO AMADOR PEREIRA, ALFÉSIO LU˝S FERREIRA BRAGA**, PAULO HIL`RIO DO NASCIMENTO SALDIVA A primeira idØia que se forma na mente das pessoas e do pesquisador Ø associar a poluiçªo do ar aos grandes centros urbanos, com a imagem de poluentes sendo eliminados por veículos automotores ou pela chaminØ de suas fÆbricas. Entretanto, uma parcela considerÆvel da populaçªo do planeta convive com uma outra fonte de poluiçªo, que atinge preferencialmente os países em desenvolvimento: a queima de biomassa. Este artigo tem como objetivo chamar a atençªo do pneumologista, da comunidade e das autoridades para os riscos à saœde da populaçªo exposta a essa fonte geradora de poluentes, seja em ambientes internos, seja em ambientes abertos. O presente trabalho caracteriza as principais condiçıes que levam à combustªo de biomassa, como a literatura tem registrado os seus efeitos sobre a saœde humana, discutindo os mecanismos fisiopatológicos envolvidos, e finaliza com a apresentaçªo de dois estudos recentes que enfatizam a importância da queima de um tipo específico de biomassa, a palha da cana-de-açœcar, prÆtica comum no interior do Brasil, e sua interferŒncia no perfil de morbidade respiratória da populaçªo exposta . J Bras Pneumol 2004; 30(2) 158-175 The first thought that comes to mind concerning air pollution is related to urban centers where automotive exhausts and the industrial chimneys are the most important sources of atmospheric pollutants. However a significant portion of the earths population is exposed to still another source of air pollution, the burning of biomass that primarily affects developing countries. This review article calls the attention of lung specialists, public authorities and the community in general to the health risks entailed in the burning of biomass, be it indoors or outdoors to which the population is exposed. This review describes the main conditions that lead to the burning of biomass and how the literature has recorded its effects on human health discussing the psychopathological mechanisms. Finally two recent studies are presented that emphasize an important type of biomass burning that of the sugar cane straw. This is a common practice in several regions of Brazil changing the respiratory morbidity standards of the population exposed. Descritores: Biomassa, poluiçªo do ar, cana-de-açœcar, fumaça, queima de vegetaçªo, doenças respiratórias. Key words: air pollution, biomass, sugar cane, smoke, vegetation fires, respiratory disease. * Trabalho realizado no laboratório de Poluiçªo AtmosfØrica Experimental da Faculdade de Medicina da Universidade de Sªo Paulo (FMUSP). ** Programa de Pediatria Ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade Santo Amaro, SP. Este estudo foi financiado pelo LIM05-FMUSP e UNISA. Endereço para correspondŒncia: Av. Dr. Arnaldo, 455, 1 o Andar, Sala 108, Cerqueira CØsar, CEP 01246-903, Sªo Paulo, SP. Tel: (16) 236-5228. E-mail: [email protected]. Recebido para publicaçªo, em 12/9/03. Aprovado, após revisªo, em 12/2/04.

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Arbex, Marcos Abdo, et al.Queima de biomassa e suas repercussões sobre a saúde

Queima de biomassa e efeitos sobre a saúde*Biomass burning and health effects

MARCOS ABDO ARBEX(TE SBPT), JOSÉ EDUARDO DELFINI CANÇADO (TE SBPT), LUIZ ALBERTO AMADOR PEREIRA,ALFÉSIO LUÍS FERREIRA BRAGA**, PAULO HILÁRIO DO NASCIMENTO SALDIVA

A primeira idéia que se forma na mente das pessoas e dopesquisador é associar a poluição do ar aos grandes centrosurbanos, com a imagem de poluentes sendo eliminados porveículos automotores ou pela chaminé de suas fábricas.Entretanto, uma parcela considerável da população doplaneta convive com uma outra fonte de poluição, que atingepreferencialmente os países em desenvolvimento: a queimade biomassa. Este artigo tem como objetivo chamar a atençãodo pneumologista, da comunidade e das autoridades paraos riscos à saúde da população exposta a essa fonte geradorade poluentes, seja em ambientes internos, seja em ambientesabertos. O presente trabalho caracteriza as principaiscondições que levam à combustão de biomassa, como aliteratura tem registrado os seus efeitos sobre a saúdehumana, discutindo os mecanismos fisiopatológicosenvolvidos, e finaliza com a apresentação de dois estudosrecentes que enfatizam a importância da queima de umtipo específico de biomassa, a palha da cana-de-açúcar,prática comum no interior do Brasil, e sua interferência noperfil de morbidade respiratória da população exposta .

J Bras Pneumol 2004; 30(2) 158-175

The first thought that comes to mind concerning airpollution is related to urban centers where automotiveexhausts and the industrial chimneys are the mostimportant sources of atmospheric pollutants. Howevera significant portion of the earth�s population is exposedto still another source of air pollution, the burning ofbiomass that primarily affects developing countries. Thisreview article calls the attention of lung specialists, publicauthorities and the community in general to the healthrisks entailed in the burning of biomass, be it indoorsor outdoors to which the population is exposed. Thisreview describes the main conditions that lead to theburning of biomass and how the literature has recordedits effects on human heal th d iscuss ing thepsychopathological mechanisms. Finally two recentstudies are presented that emphasize an important typeof biomass burning that of the sugar cane straw. This isa common practice in several regions of Brazil changingthe respiratory morbidity standards of the populationexposed.

Descritores: Biomassa, poluição do ar, cana-de-açúcar,fumaça, queima de vegetação, doenças respiratórias.

Key words: air pollution, biomass, sugar cane, smoke,vegetation fires, respiratory disease.

* Trabalho realizado no laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo(FMUSP).** Programa de Pediatria Ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade Santo Amaro, SP.Este estudo foi financiado pelo LIM05-FMUSP e UNISA.Endereço para correspondência: Av. Dr. Arnaldo, 455, 1o Andar, Sala 108, Cerqueira César, CEP 01246-903, São Paulo, SP. Tel: (16) 236-5228. E-mail:[email protected] para publicação, em 12/9/03. Aprovado, após revisão, em 12/2/04.

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INTRODUÇÃODesde o início do século passado, estudos na

l i teratura médica têm documentado umasignificativa associação entre poluição atmosféricadecorrente da emissão de combustíveis fósseis eaumento de morbi-mortalidade em humanos nospaíses desenvolvidos. Esses efeitos foramobservados inclusive para níveis de poluentes noar considerados como seguros para a saúde dapopulação exposta (1). Entretanto, poucos estudosvoltavam-se para os efeitos deletérios produzidospela queima de biomassa (qualquer matéria deorigem vegetal ou animal utilizada como fontede energia). Em 1985, um boletim da OrganizaçãoMundial da Saúde (OMS) (2) questionava qual seriaa gravidade e a extensão dos danos produzidospela poluição do ar em conseqüência dacombustão de biomassa em áreas rurais dos paísesem desenvolvimento.

A incineração de biomassa é a maior fontedomést ica de energia nos países emdesenvolvimento (3). Aproximadamente metade dapopulação do planeta, e mais de 90% das casasna região rural dos países em desenvolvimento,permanecem utilizando energia proveniente daqueima de biomassa, na forma de madeira, carvão,esterco de animais ou resíduos agrícolas, o queproduz altos índices de poluição do ar emambientes internos, onde permanecem as mulheresque cozinham e as crianças. Essa situação provocaum aumento do risco de infecção respiratória, amaior causa de mortalidade infantil nos paísesem desenvolvimento (3,4).

A queima deliberada ou acidental de vegetação,apesar do grande avanço tecnológicoexper imentado pela humanidade, ou atéjustamente por causa dele, torna-se por vezesincontrolada, atingindo grandes extensões deflorestas, savanas ou outras vegetações menosdensas. O fogo é um problema crescente no queresta das florestas tropicais do planeta e a poluiçãodevida à fumaça gerada tem um importanteimpacto sobre a saúde das populações expostas.Esse impacto inclui aumento de mortalidade, deadmissões hospitalares, de visitas à emergência ede utilização de medicamentos, devidas a doençasrespiratór ias e cardiovasculares, a lém dediminuição da função pulmonar (4).

Apesar dos anos de estudos científicos e daatenção da mídia em relação ao desmatamento e

Siglas e abreviaturas utilizadas neste trabalho:BC- Black CarbonCETESB � Companhia de Tecnologia de SaneamentoAmbientalCVF- Capacidade vital forçadaDPOC- Doença pulmonar obstrutiva crônicaEPA � Environmental Protection Agency (USA)FEF25-75%- Fluxo expiratório forçado a 25% - 75% da CVFIC95%- Intervalo de confiança para 95% de probabilidadeIVAS- Infecção de vias aéreas superioresIVAI- Infecção de vias aéreas inferioresLPAE � Laboratório de Poluição Atmosférica ExperimentalOMS � Organização Mundial da SaúdePM � Material particuladoPM10 � Material particulado com diâmetro aerodinâmico menorque 10 ¼mPM2,5 � Material particulado com diâmetro aerodinâmicomenor que 2,5 ¼mOR- Razão de chance (Odds ratio)TSP � Partículas totais em suspensãoVEF� Volume expiratório forçadoVEF1 � Volume expiratório forçado no primeiro segundoWHO � World Health Organization

às queimadas, acidentais ou intencionais, aincidência e o efeito dos incêndios florestais têmsido ignorados. As grandes queimadas em Bornéu(1983 e 1997), Tailândia (1997), Indonésia (1997),Roraima (1997-1998), Mato Grosso (1998) e Pará(1998) despertaram a atenção para o problema,mas as medidas tomadas para prevenir ou controlartais incêndios ainda são insuficientes (5).

O processo de combustão, seus produtose suas repercussões fisiopatológicas

A combustão é um processo químico pelo qualum material reage rapidamente com o oxigêniodo ar produzindo luz e calor intenso e, no casoda biomassa, se faz em três estágios: ignição(ignition), combustão com chama (flaming), ecombustão com ausência de chama (smoldering).

Cerca de 80% da combustão de biomassa ocorrenos trópicos. Ela é a maior fonte de produção degases tóxicos, material particulado e gases doefeito estufa no planeta (6), influencia a química ea física atmosférica, produz espécies químicas quemudam significativamente o pH da água da chuva(7,8), e afeta o balanço térmico da atmosfera pelainterferência na quantidade de radiação solarrefletida para o espaço (9,10). A Tabela 1 apresentauma descrição sucinta dos principais poluentesgerados no processo de queima da biomassa.

Como pode ser observado na Tabela 2, estudos

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mostram que a exposição dos seres vivos a muitosdesses elementos pode produzir, a curto e a longoprazo, efeitos deletérios à saúde.

Dentre esses elementos, o material particuladodecorrente da combustão de biomassa, seja emambientes internos, seja em ambientes abertos,é o poluente que apresenta maior toxicidade eque tem sido mais estudado. Ele é constituídoem seu maior percentual (94%) por partículasfinas e ultrafinas (Figura 1), ou seja, partículasque atingem as porções mais profundas dosistema respiratório, transpõem a barreiraepitelial, atingem o interstício pulmonar e são

responsáveis pelo desencadeamento do processoinflamatório (11-13) (Figura 2). Shi et al. (14)sugerem que os efeitos adversos do materialparticulado à saúde podem ser atribuídos àprodução de agentes oxidantes intracelulares, queseriam a resposta inicial e que agiriam como umfator estimulante da inflamação, como mostra aFigura 3. Turn et al. (15) mostraram que asqueimadas emitem poluentes que atuam não sólocalmente como também podem afetar regiõesdistantes de onde foram originadas, através dotransporte a longas distâncias, o que aumentaas proporções do impacto sobre os indivíduos.

TABELA 1Principais poluentes proveniente da queima de biomassa

Compostos Exemplos Fonte NotasPartículas Partículas Condensação após combustão Partículas finas e grossas.

inaláveis (PM10) de gases; combustão Partículas grossas nãoincompleta de material são transportadas einorgânico; fragmentos contêm principalmentede vegetação e cinzas cinzas e material do solo

Partículas respiráveis Condensação após combustão No caso de fumaçade gases; combustão proveniente daincompleta de material queima de biomassaorgânico. comporta-se como

partículas finasPartículas finas (PM2,5) Condensação por combustão Transportadas através de

de gases; combustão longas distâncias.incompleta de material Produção primária eorgânico secundária

aldeídos acroleína Combustão incompleta dematerial orgânico

formaldeido Combustão incompleta dematerial orgânico

Ácidos Monóxido de Combustão incompleta de Transportado através de longasinorgânicos carbono (CO) material orgânico distancias

ozônio Produto secundário do óxidos Presente somente adiante dode nitrogênio e fogo, transportadohidrocarbonetos através de longas distâncias

Dióxido de Oxidação em altas Espécies reativas; anitrogênio(NO2) temperaturas do concentração diminui

nitrogênio do ar com a distância do fogoHidrocarbonetos benzeno Combustão incompleta de Transporte local; também

material orgânico reage com outras formas deaerossol orgânico

Hidrocarbonetos Benzopireno (BaP) Condensação após Compostos específicos quearomáticos combustão de gases; variam de acordo com apolicíclicos(PAHs) combustão incompleta de composição da biomassa

material orgânico

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Queima de biomassa em ambientesinternos e agravos à saúde

A poluição do ar em ambientes internos existedesde os tempos pré-históricos, quando oshumanos iniciaram sua movimentação para regiõescom clima temperado, há aproximadamente 200mil anos atrás. O clima mais frio provocou anecessidade de uso de abrigos e cavernas e autilização de fogo para aquecimento, preparo dealimentos e iluminação. Ironicamente, o fogo, quefoi o que possibilitou aos humanos aproveitar osbenefícios dos abrigos, provocava uma exposiçãoa altos níveis de poluição, como ficou evidenciadopelo carvão encontrado em cavernas pré-históricas.

Fuligens encontradas em cavernas no sul da Áfricaindicam que a raça humana utiliza o fogo há 1,5milhões de anos(16).

Os efeitos sobre a saúde, decorrentes daexposição por longos períodos à fumaça produzidapela queima de biomassa em ambientes fechados,têm sido associados com infecções respiratóriasagudas em crianças, doença pulmonar obstrutivacrônica (DPOC), pneumoconiose, catarata ecegueira, tuberculose pulmonar e efeitos adversosna gestação. Esses efe itos foram bemdocumentados em países em desenvolvimento,onde mulheres acompanhadas de seus filhospermanecem várias horas cozinhando em fogões

TABELA 2Mecanismos pelos quais os poluentes presentes na fumaça gerada pela queima de

biomassa em domicílios podem aumentar o risco de doenças.

Poluentes Mecanismos Efeitos Potenciais Sobre A SaúdeMaterial particulado: Agudo: irritação, inflamação e aumento Sibilos, exacerbação de crises departículas menores de reatividade brônquica. asma brônquica.que 10m, e sobretudo Redução do transporte muco-ciliar Infecções respiratórias.as menores Redução das respostas dos macrófagos DPOCque 2,5m de diâmetro e (?) redução da imunidade local. Exacerbações de DPOCaerodinâmico (?) Reação fibrótica.

Descontrole autonômico, atividade pró-coagulante, stress oxidativo

Monóxido de carbono Produção de carboxihemoglobina com Recém natos de baixo pesoconseqüente redução da absorção de Aumento de mortes fetaisO2 por órgãos vitais etambém prejuízo dodesenvolvimento do feto

Dióxido de nitrogênio Exposição aguda aumenta a reatividade Sibilos e exacerbação de asmabrônquica brônquicaExposição crônica aumenta a suscetibilidade a Infecções respiratóriasDiminuição dainfecções respiratórias bacterianas e virais capacidade pulmonar em crianças

Dióxido de enxofre Exposição aguda aumenta a reatividade Sibilos e exacerbação de asmabrônquica brônquicaExposição crônica: é difícil dissociar dos efeitos Exacerbação de DPOC, DCVdo material particulado (?) aumento de suscetibilidade a

Formaldeido Irritação de vias respiratórias altas infecções(?) Aumento de sensibilização a alergenos. (?) pode agravar a asma brônquica.

Benzopireno Carcinogênico (uma das substancias Câncer de pulmãocarcinogênicas no carvão e na fumaça Câncer de boca, nasofaringe e laringeda biomassa).

Fumaça da biomassa Absorção das toxinas no interior da lente, Cataratacausando mudanças oxidativas.

DPOC: doença pulmonar obstrutia crônica;

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em locais sem abertura para eliminar a fumaçapara o exterior. Enquanto nos países desenvolvidosa DPOC está relacionada principalmente aotabagismo, nas regiões em desenvolvimento, ondeo tabagismo no sexo feminino não é freqüente,estudos epidemiológicos transversais e caso-controle indicam que a exposição à fumaçaproveniente da queima de biomassa é o principalfator de risco para DPOC. Padmavati et al.(17,18), naÍndia, mostraram uma relação entre exposição aospoluentes em ambientes internos e DPOCconduzindo ao cor pulmonale . Na Índia, aincidência de cor pulmonale crônico é similar entrehomens e mulheres, apesar do fato de que 75%dos homens e somente 15% das mulheres sãotabagistas. Análises comparando a incidência decor pulmonale crônico em mulheres e em homensrevelaram que a patologia era mais comum emmulheres jovens e a média de idade das pacientesera 10 a 15 anos menor que a média da idade dospacientes do sexo masculino. Em 18 necropsiasem mulheres que nunca fumaram, mas estiveramexpostas a poluentes provenientes da combustãode biomassa, todas apresentaram enfisemapulmonar, 11 bronquiectasias, 5 bronquite crônica,e 2 apresentaram tuberculose (18). A prevalênciade cor pulmonale crônico era menor nos estadosdo sul em relação aos estados do norte, fato queos autores atribuíram a uma maior ventilação nointerior das residências da região sul, área comtemperaturas mais altas no verão e que nãonecessitavam de aquecimento no inverno menosrigoroso que o da região norte. Estudo subseqüenteconfirmou esses achados (28, 19). Máster (20) avaliouhabitantes de vilas localizadas nas regiõesmontanhosas da Nova Guiné que utilizavam aqueima de biomassa para aquecimento na maioriadas noites do ano. Dos indivíduos entrevistados comidade maior que 40 anos, 78% apresentavam tosse,diminuição difusa do murmúrio vesicular, estertorescrepitantes e distúrbio ventilatório, principalmenteobstrutivo. Estudo anatomopatológico com amostrasprovenientes de indivíduos expostos mostrouenfisema centrolobular, espessamento pleural,fibrose pulmonar, hipertrofia de glândulas mucosase deposição de pigmento antracótico. Anderson,na Nova Guiné(21,22), encontrou em adultos comidade superior a 45 anos uma alta prevalência desintomas respiratórios, em proporções semelhantesem homens e mulheres, e mostrou que em 20%

Figura 1. Partículas grossa, fina e ultrafina

Figura 2. Representação esquemática dos eventos hipotéticosapós exposição a partículas ultrafinas (direita) quandocomparado com a exposição a partículas finas (esquerda). Oelemento essencial à resposta ultrafina é um grande númerode partículas fora e dentro dos macrófagos. Há liberação demediadores pelo macrófago e pela célula epitelial devido àativação de vias mediadas por stress oxidativo, que conduzemà inflamação

dos homens e 10% das mulheres havia obstruçãoao fluxo aéreo, com uma relação entre o volumeexpiratório forçado no primeiro segundo e acapacidade vital forçada (VEF1/ CVF) menor que60%. O autor chamou a atenção ainda para o fatode que indivíduos com quadro clínico compatívelcom DPOC apresentavam fibrose pulmonarintersticial difusa e bronquiectasias. No Nepal, a

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prevalência de bronquite crônica é similar entrehomens e mulheres (18,9%), apesar de o tabagismoser substancialmente mais comum entre os homens(23,24). A prevalência de bronquite crônica é tambémconsiderável em Ladakh, Índia e no Paquistão,onde a incidência de mulheres fumantes émínima(25,26). Estudos caso-controle realizados emhospitais demonstraram que indivíduos sujeitos àexposição à fumaça proveniente da combustão debiomassa apresentam mais freqüentemente quadrode obstrução ao fluxo aéreo, em relação a gruposcontroles(27-29). Esse fato se repete em estudosrealizados em comunidades (19,30,31). Os estudosrealizados em hospitais mostraram obstrução grave

em associação positiva e significante com o nívelde exposição aos poluentes, com razão de chance(OR) que variava entre 1,8 e 9,7, enquanto queum estudo realizado na comunidade mostrou ORde 2,5(31). Regalado et al.(30), no México, mostraramque a queima da biomassa como fonte de energiaestava associada a um decréscimo de 4% narelação VEF1/CVF nos indivíduos expostos e queuma concentração de 1000 µg/m3 de materialparticulado nas cozinhas estava associada a umaredução de 2% no VEF1. Na Índia, a populaçãoque utilizava biomassa como fonte de energiaapresentava CVF menor em relação àquela queutilizava gás ou querosene(19). Pandey et al.(23,24)

Figura 3. Mecanismos hipotéticos pelos quais a inalação de partículas pode levar à morte

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relataram uma relação exposição-resposta comdiminuição da VEF1 e da CVF à medida queaumentava o número de horas de exposição aospoluentes. Menezes et al.(32), em estudo transversalrealizado em área urbana no sul do Brasil paradeterminar a prevalência de bronquite crônica e asua relação com fatores de risco, entrevistaram1053 indivíduos com idade acima de 40 anos eencontraram uma associação significante entre adoença e altos níveis de poluição em ambientesinternos.

A exposição a poluentes nos estudosapresentados foi usualmente estimada porquestionários que avaliavam as horas de exposiçãodiária e o número de anos de exposição. Um estudocaso-controle considerou a medida hora-anos:anos de exposição multiplicado pela média dehoras de exposição diária. O risco de bronquitecrônica isolada e de bronquite crônica associadaa obstrução crônica de vias aéreas aumentoulinearmente com as hora-anos de exposição àfumaça de biomassa. A OR para exposição superiora 200 hora-anos comparada à não exposição erade 15, com intervalo de confiança (IC) de 95%5.6-40, para bronquite crônica e 75 (IC 95%, 18-306) para bronquite crônica associada a obstruçãocrônica de vias aéreas (29). Poucos estudosquantificaram o nível do material particulado nascozinhas, mas estes confirmaram uma altaconcentração desse poluente (33,30,31). Narboo (25)

demonstrou a relação entre o número de horasdispendido na cozinha e o nível individual domonóxido de carbono exalado. Essas e outrasevidências levaram à inclusão da poluição emambientes internos por combustão de biomassana re lação de fatores de r isco para odesenvolvimento da DPOC apresentada na GlobalStrategy for The Diagnosis, Management, andPrevention of Chronic Obstrutive Lung Disease(GOLD).

Em 1991, Narboo et al.(25,34) mostraram emLadakh, Índia, indivíduos com quadro clínico-radiológico compatível com pneumoconiose. Noentanto, não havia indústrias ou minas no local.Dois fatores foram aventados para explicar odesenvolvimento da patologia respiratória:exposição à poeira proveniente das tempestadesde areia, comuns na primavera, e exposição aomaterial particulado proveniente de combustão dabiomassa utilizada para aquecer as residências,

desprovidas de ventilação, para enfrentar origoroso frio da região. Investigações clínicas eradiológicas (35) em 449 habitantes de três vilassujeitas a tempestades de areia com intensidadesleve, moderada e grave mostraram prevalências depneumoconiose de 2,0%, 20,1% e 45,3%,respectivamente. Os radiogramas de tóraxmostravam caracter íst icas radiológicasindist inguíveis dos padrões radiológicosencontrados em indivíduos portadores depneumoconiose que trabalhavam em minas ouindústrias. A concentração de poeira em cozinhassem chaminé variava entre 3,22 e 11,30 mg/m3,com uma média de 7,50 mg/m 3. Estudosestatísticos detalhados estabeleceram que aocorrência de pneumoconiose era conseqüêncianão só das tempestades de areia, como tambémda exposição aos produtos originados pela queimada biomassa, e da idade. Outras duas doençascomumente associadas à exposição ocupacional,a antracose e a fibrose pulmonar intersticial difusa,têm sido encontradas freqüentemente emnecropsias de pacientes sujeitos à exposição àfumaça de biomassa em ambientes internos (36,37).

A infecção respiratória aguda de vias aéreasinferiores (IRVI) é a mais importante causa demortalidade em crianças com idade abaixo decinco anos, provocando aproximadamente 2milhões de mortes anualmente nessa faixa etária.Dezesseis estudos epidemiológicos, sendo onzetipo caso-controle e cinco de coorte, realizadosnos últ imos vinte anos, em paises emdesenvolvimento, mostraram uma associação entreexposição à poluição proveniente da queima dabiomassa em ambientes internos e infecçõesrespiratórias agudas de vias aéreas inferiores emcrianças. Para caracterizar a IVRI foram utilizadoscritérios da OMS e/ou evidências radiológicas, eem quase todos os estudos foi avaliada aintensidade da exposição, incluindo o tipo defogão e de combustível (38-46), se as criançaspermaneciam em contato com a fumaça duranteo preparo de alimentos (47,48), e se as mãescarregavam os fi lhos nas costas enquantocozinhavam(49-51). Armstrong e Campbell(50), porexemplo, mostraram que o risco de pneumoniaem associação com a exposição à fumaça estavaaumentado nas meninas, mas não nos meninos.Os autores sugerem que a diferença é conseqüênciada maior exposição das meninas e não em virtude

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de diferenças biológicas entre os sexos. No maisrecente estudo sobre o tema, Ezzatt i eKammen (52,53) acompanharam 345 crianças naregião rural do Quênia (93 com idade menor quecinco anos) em 55 residências em ranchos de gado,que utilizavam biomassa como fonte de energiaem fogões sem chaminés. Os autores avaliaram aexposição individual de adultos e crianças ecombinaram-na com uma avaliação de sintomaspesquisados semanalmente, utilizando os critériosda OMS para IVRI. Este foi o primeiro estudo aavaliar a relação entre exposição a particulados eincidência de IVRI em crianças (menores que cincoanos) e adultos. Foi altamente significativo oaumento do risco de doença relacionada a altosníveis de exposição. Os autores não ajustaram osresultados para a variável nível socioeconômico.A incidência de IVRI nas crianças deste estudo foiconsideravelmente mais alta, quando comparadaa estudos prévios que avaliaram populaçõessimilares. Detalhada revisão do tema foi publicadapor Smith et al.(54), que concluíram que a relaçãoentre a exposição à fumaça da combustão debiomassa e a IVRI pode ser considerada comocausal. Entretanto, o risco quantitativo ainda nãoestá bem caracterizado.

Em um único estudo que relacionoumortalidade perinatal (natimortos e mortes naprimeira semana de vida) com a queima debiomassa, foi encontrada uma associação (OR de1,5 IC 95%: 1,0-2,1 p = 0,05), com ajuste parauma ampla variedade de fatores, apesar de aexposição não ter sido diretamente quantificada.Todavia, o achado, com uma significânciaestatística marginal, é semelhante aos estudos compoluição atmosférica a céu aberto(55).

Estudo conduzido na Guatemala mostrouque o peso dos recém-natos provenientes deresidências que util izavam biomassa comocombustível era 63 g (IC 95%: 0,4-127, p = 0,049)menor em relação aos recém-natos provenientesde residências que utilizavam combustíveis�limpos�. Esta estimativa foi ajustada para fatoresconfundidores, mas a exposição aos poluentes nãofoi diretamente quantificada(56).

Os trabalhos que relacionam combustão debiomassa em ambientes internos e asma sãoconflitantes. Estudo caso controle em escolaresem Nairobi, Quênia, mostrou um aumento donúmero de indivíduos asmáticos em residências

em que havia exposição à fumaça de madeira(57).Estudo caso controle avaliando indivíduos entreonze e dezessete anos, realizado no Nepal, eutilizando o ISAAC (International Study of Asthmaand Allergies in Children) encontrou OR de 1,81(1.04-4.8) para asma ao comparar os indivíduosque utilizavam biomassa como fonte de energia eos que usavam gás ou querosene (58). Estudotransversal avaliando 1058 indivíduos entre quatroe seis anos na Guatemala, também utilizando oISAAC, encontrou OR de 1.81 (IC 95%; 1,04-3,12)para sibilos em qualquer época e OR de 2.35 (IC95%; 1,08-5,13) para sibilos nos últimos dozemeses da avaliação(59), entre crianças expostas àqueima de biomassa. Todavia, há estudos em quea mesma associação não foi encontrada(26,33,60).

Estudos recentes sugerem uma associação daqueima da biomassa em ambientes internos etuberculose pulmonar (61-63). Essa associação, seconfirmada, representa uma substancial implicaçãona saúde publica. A exposição à fumaça originadapela queima da biomassa poderia explicar as ignif icat iva diferença de prevalência datuberculose encontrada na Índia entre as zonasrural e urbana, uma vez que 59% dos casos detuberculose são provenientes da zona rural, ondea utilização de biomassa como combustível émaior, e 23% dos casos provenientes da zonaurbana. A exposição ambiental ao materialparticulado pode ser um potencializador dobinômio miséria/tuberculose, até este momentoexplicado somente pela má nutrição, aglomeraçãode pessoas e acesso inadequado aos serviços desaúde.

A Índia tem o maior número de indivíduoscegos em relação a qualquer outro país do planeta.Além disso, um em cada três episódios de cataratado planeta ocorre na Índia. A catarata éresponsável por 80% dos casos de cegueira naquelepaís. Irritação ocular, hiperemia conjuntival, elacr imejamento são s inais e s intomasuniversalmente relatados em conseqüência deexposição à fumaça, mas podem ser alteraçõespreliminares capazes de no futuro conduzirem àcegueira(64). Uma análise de aproximadamente 170mil indivíduos na Índia mostrou um OR de 1,32(IC 95%; 1,16-1,50) quando avaliou cegueirascompletas ou parciais, comparando pacientes queutilizavam preferencialmente biomassa e pacientesque utilizavam outros tipos de combustível, após

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Arbex, Marcos Abdo, et al.Queima de biomassa e suas repercussões sobre a saúde

analisar as condições sócio-econômicas, condiçõesde residência, e variáveis geográficas. Porém nãoforam avaliados tabagismo e estado nutricional(65).

Até o presente momento, os dados coletadosnão indicam associação entre o risco de câncer ealtos níveis de exposição à fumaça da queima debiomassa. Apesar da fumaça proveniente desseprocesso ser potencialmente carcinogênica, aindaassim seu poder carcinogênico é menor do que afumaça proveniente da queima dos combustíveisde veículos automotivos(16).

Os estudos abordando poluição do ar emambientes internos e seus efeitos sobre a saúde,nos países em desenvolvimento, evidenciaram umaassociação importante, apesar de apresentaremlimitações metodológicas, como por exemplo: faltade uma melhor determinação da exposição àpoluição; caráter observacional dos estudos; eelementos confundidores, via de regra, nãoavaliados adequadamente. Mas apesar daslimitações desses estudos epidemiológicos, aevidência da relação causal entre a poluição do arem ambientes internos e a DPOC e a IVRI éconsistente, especialmente quando vista emconjunto com os conhecimentos prévios adquiridosem relação à poluição tabágica e à poluiçãoatmosférica urbana (não esquecendo as diferentescomposições dos poluentes), e com as evidênciasdos estudos em animais.

Diversos estudos realizados nos EstadosUnidos da América focalizaram a relação entrequeima de madeira em lareiras e sintomas e/oumedidas de função pulmonar. A maioria dos estudosconcentrou-se em crianças com menos de cincoanos devido à maior susceptibilidade desse grupoetário, decorrente de um menor volume pulmonare do incompleto desenvolvimento de seu sistemaimune. Além disso, a ausência de tabagismo ativoe a falta de exposição ocupacional não atuariamcomo fatores de confusão nesse grupo. A Tabela3 (66-72) apresenta os estudos que estudaram oproblema de forma mais cons is tente emambientes internos. Outros estudos (Tabela 4)(73-

78) aval iaram os efeitos sobre a saúde emcomunidades em que a fumaça da queima demadeira contribui para o aumento da poluição,porém não é a única fonte de material particuladona atmosfera.

A fumaça produzida pela queima de biomassaem ambientes internos interfere no mecanismo

muco-ci l iar e diminui as propr iedadesantibacterianas dos macrófagos pulmonares, osquais têm diminuído seu poder de fagocitose(79,80).

Dois estudos toxicológicos em animais sugeremque a exposição à fumaça de madeira podeconduzir a um aumento da suscetibilidade ainfecções respiratórias. Em um estudo financiadopela Agência de Proteção Ambiental dos EstadosUnidos da América (USEPA), Selgrade comparouo efe ito da exposição a um aerosol comStreptococcus zooepidemicus, agente que causainfecção respiratória grave, sobre três grupos deratos que foram previamente expostos a uma dastrês situações: ar puro, poluentes gerados a partirda queima de óleo de caldeira, ou poluentesgerados a partir da queima de madeira. Duassemanas após a exposição, 5% dos ratos expostosao ar puro ou à fumaça do óleo de caldeiramorreram enquanto que entre os ratos expostos àfumaça da queima da madeira, a mortalidade foide 26%. Judith Zelikoff et al., da Universidade deNova York, expuseram ratos a uma concentraçãode 800 µg/m3 de fumaça proveniente da queimade madeira de carvalho por uma hora. Em seguida,os mesmos ratos foram expostos aoStaphylococcus aureus por instilação intratraqueal.Um grupo controle, não exposto à fumaça tambémrecebeu o mesmo tratamento. A bactéria mostrou-se mais virulenta nos ratos expostos à fumaça eos autores sugeriram que a fumaça suprime aatividade dos macrófagos(81).

QUEIMA DE BIOMASSA EM AMBIENTESABERTOS E AGRAVOS À SAÚDE

Se os estudos avaliando poluição em ambientesfechados por queima de biomassa são pródigosem demonstrar efeitos adversos, o mesmo nãoacontece em relação à poluição em ambientesabertos. A própr ia OMS reconhece que aintensidade e a gravidade dependem de uma sériede fatores, como: características dos poluentes,características da população exposta, exposiçãoindividual, suscetibilidade do individuo exposto efatores de confusão (4). A fumaça decorrente daqueima de biomassa em ambientes abertos produzefeitos adversos indiretos sobre a saúde, como aredução da fotossíntese, o que provoca diminuiçãodas culturas agrícolas, ou o bloqueio dos raiosultravioletas A e B, o que provoca um aumentode microorganismos patogênicos no ar e na água,

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além do aumento de larvas de mosquitostransmissores de doenças(82-84).

Em 1997, em decorrência do fenômeno ElNiño, os estados de Kalimatan (Bornéu) e Sumatra(Indonésia) foram afetados por incontroláveisincêndios florestais, que tiveram duração deaproximadamente dois meses (entre julho esetembro) e resultaram em um episódio de grandepoluição do ar, com impactos sobre a populaçãoem uma ampla região do sudoeste asiático, comona Indonésia, Malásia, Cingapura, sul da Tailândia,Brunei, e sul das Filipinas. Aproximadamente 1.500focos de incêndio provocaram a queima de 550mil hectares de florestas e uma área total dequeima de biomassa de 4,5 milhões de hectares.

A névoa decorrente desse processo cobriu 3milhões de hectares, afetando uma população de300 milhões de pessoas e provocando um gastocom saúde de 4,5 bilhões de dólares. Isso despertoua atenção das autoridades sanitárias de todo omundo(85).

Segundo a Secretaria Central de Estatística daIndonésia, entre setembro e outubro de 1997, emoito províncias do país, num total deaproximadamente 12,5 milhões de habitantes,houve aumentos nos atendimentos por asmabrônquica, bronquite crônica e infecção respiratóriaaguda, atingindo 1.802.340 casos. As patologiasrespiratórias motivaram 36.462 visitas ao prontosocorro, 15.822 internações, e 2.446.352 dias de

TABELA 3Estudos que avaliam a exposição da população à combustão de

biomassa em ambientes internos realizados em países desenvolvidos

população Desenho desfecho resultados referênciado estudo

Crianças Transversal Sintomas Aumento da tosse, sibilos, e sintomas Honichy-RE,1985 (66)

alérgicos em residências com queimade madeira.

Crianças Transversal Sintomas, Aumento da incidência de doenças Dockery et al. 1987 (67)

doenças respiratórias em residências comrespiratórias queima de madeira; não houve efeitos

em sintomas.Crianças Longitudinal Sintomas Aumento na freqüência dos sibilos e Butterfield et al, 1989(68)

da tosse com aumento de horas no usode forno a lenha

Crianças < 2 Longitudinal Patologia Aumento do risco de infecção Morris et al., 1990 (69)

anos respiratór respiratória baixa com queimaia de madeira

Criança Transversal Sintomas, Não houve aumento de sintomas ou Vedal, 1993 (70)

doenças patologias e não houverespiratór ias, decréscimo da funçãofunção pulmonar com queima de madeira empulmonar residência

Criança Caso Hospitalização Aumento de hospitalizações Vedal, 1993 (70)

controle por patologia relacionadas à queima de madeira emrespiratória residência; resultados, quando

comparados ao grupocontrole, mostraram aumentode tosse e dispnéia, nos diascom queima de madeira

Adultos Longitudinal Sintomas Aumento de tosse e dispnéia Ostro et al., 1994 (71)

asmáticos relacionadas a queima de madeira emresidência

Crianças Caso Doença Aumento de doença respiratória Robin et al., 1996 (72)

<2anos controle respiratória aguda com queima de madeira emresidências com PM10>65g/m3

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Arbex, Marcos Abdo, et al.Queima de biomassa e suas repercussões sobre a saúde

trabalho perdidos. Em várias províncias, o Total dePartículas em Suspensão (TSP) excedeu o limite de260 µ/m3, considerado como aceitável, entre três equinze vezes. Encontrou-se grande concentraçãode material particulado com diâmetro que variavaentre 0,5 µm e 5 µm em áreas próximas às regiõesmais afetadas pelo incêndio(86).

Na Malásia houve aumento de crises agudasde asma em crianças e a função pulmonar emescolares decresceu durante o período agudo(87).

O Ministério da Saúde de Cingapura monitoroua qualidade do ar em quinze estações durante oepisódio da névoa em 1997. O Pollutant StandardIndex (PSI) ficou acima de 100 por doze dias compico de 138. A relação entre o PSI e o materialparticulado com diâmetro aerodinâmico menor que10 µm (PM10) é a seguinte: 100 de PSI correspondeaproximadamente a 150 µg/m3 de PM10

(88). Foramencontradas 94% de partículas com diâmetrosinferiores a 2,5µg/m3 na névoa. Na última semanade setembro, quando os níveis de materialparticulado atingiram o pico, a vigilância sanitária

de Cingapura relatou um aumento de 30% ematendimentos ambulatoriais relacionados apatologias respiratórias. Um aumento nos níveisdo PM 10 de 50µg/m 3 para 150 µg/m 3 fo isignificativamente associado a um aumento de13%, 19% e 26% em infecção respiratória aguda,asma e rinite respectivamente(89).

Na região central de Kalimantan, Bornéu, umadas áreas mais afetadas pela névoa, por umperíodo de seis meses a partir de julho de 1997, onúmero de pacientes hospita l izados compneumonia em setembro foi 33 vezes maior doque nos doze meses prévios. Relatórios do HospitalDistrital de Jambi (Sumatra) mostram que no mêsde setembro houve aumento de internações porbronquite, laringite aguda e bronquiectasias, de1,6, 8,0 e 3,9 vezes, respectivamente, em relaçãoà média histórica.

Em Jambi (Sumatra), uma amostra de 539indivíduos respondeu a um questionário com oobjetivo de avaliar os efeitos da poluição do arsobre a população. Relataram algum tipo de

TABELA 4Estudos que avaliaram a exposição da população à combustão de biomassa em ambientes abertos

realizados em países desenvolvidos, nos quais a biomassa não é a única fonte de emissão de poluentes.

População Desenho do estudo Desfecho avaliado resultados referenciaCrianças Longitudinal Função pulmonar Decréscimo da função pulmonar Heuman et al.; 1990 (73)

durante e após a estação dequeima de madeira emcomunidade exposta, mas não emcomunidade controle

Crianças Longitudinal Função pulmonar Decréscimo da função pulmonar no Johnson et al., 1990 (74)inverno em comunidade exposta,mas não na comunidade controle

Crianças Longitudinal Espirometria Decréscimo da função pulmonar em Koenig et al., 1993(75)portadores de asma brônquicarelacionado a partículas finas

Todas as Longitudinal Visitas à Aumento de atendimentos de Schwartz et al., 1993 (76)idades emergência pacientes com crise asmática

relacionado com PM2,5 em áreasonde a fumaça da madeira contribuicom 80% do total de partículas finas

Todas as Longitudinal Visitas à Aumento de visitas relacionadas Lipsett et al.; 1997 (77)idades emergência ao PM10 em áreas onde a fumaça

da queima de madeira contribuicom 45% doPM10 no inverno

Todas as Longitudinal mortalidade Aumento da mortalidade diária Farley, 1990 (78)idades relacionada ao PM10 em áreas

onde a fumaça da queima demadeira contribui com 45% doPM10 no inverno

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sintoma 532 indivíduos (99,7%), e 491 (91,1%)referiram sintomas respiratórios. Os sintomasre latados foram considerados de médiaintensidade, mas a maioria dos entrevistadosrelatou mais de um sintoma e 85,9% relatarammais de 10 sintomas. Os entrevistados com idadeacima de 60 anos referiram sintomas graves erelataram piora significativa na qualidade devida(90).

O sul da Tailândia foi coberto pela fumaçaoriunda do incêndio durante dois meses, entresetembro e outubro de 1997. Houve umsubstancial aumento da morbidade respiratória, oque provocou aumento das internaçõeshospitalares e de consultas ambulatoriais. Adiferença percentual entre as internaçõeshospitalares e consultas ambulatoriais da regiãosul (afetada) e da região norte (controle) foi de26:18 para todas as consultas por doençasrespiratórias, 33:18 para todas as admissões pordoenças respiratórias, 36:18 para admissão porpneumonia, 40:28 para admissão por DPOC e 12:9para admissão por asma. Os relatórios mensaismostraram que a morbidade por doençasrespiratórias aumentou durante o episódio danévoa em aproximadamente 45 mil visitasambulatoriais e 1.500 admissões hospitalares nosul da Tailândia. Modelos de análise de regressãodemonstraram uma significativa associação entrea admissão hospitalar por doença respiratória eníveis mensais de PM10. Uma elevação de 10 µg/m3 na média mensal de PM10 significou aumentosno número de admissões hospitalares da ordemde 85%, 28%, 13% e 13% para doença respiratóriaem geral, pneumonia, DPOC e asma brônquica,respectivamente(91).

Tan et al.(92) avaliaram a contagem de leucócitosem 30 voluntários (militares) sem doença prévia,utilizando amostras de sangue periférico, ecompararam o período da névoa (29/09 a 27/10/1997) com o período após a névoa (21/11 a 5/12/1997) em Cingapura. O resultado mostrou quedurante o período de maior poluição do ar houveum aumento relevante no número de leucócitosdevido a um aumento no percentual depolimorfonucleares. Este efeito foi mais agudo emrelação ao PM10 (efeitos associados às concentraçõesdo poluente no dia do evento e um dia antes) doque em relação ao dióxido de enxofre (efeitoassociado à concentração do poluente três a quatro

dias antes do evento). Os autores sugerem que apoluição atmosférica causada pela queima debiomassa está associada a um aumento nacontagem de glóbulos brancos no sangue periférico,em virtude de um aumento na liberação dosprecursores dos polimorfonucleares pela medulaóssea, e que essa resposta pode contribuir para apatogênese da morbidade cárdio-respiratóriaassociada a episódios agudos de poluição do ar.Eeden et al.(93), utilizando o mesmo grupo deindivíduos, demonstraram que houve aumento dascitocinas circulantes, o que confirmou a hipóteselevantada pelo estudo de Tan et al..

Antes do episódio do sudoeste asiático, erampoucos e não devidamente valorizados os estudosque avaliavam a exposição da população à queimade biomassa a céu aberto. Relatos de efeitosadversos provocados por eventos de queimadescontrolada de vegetação remontam à décadade 1960, quando Greemburg et al.(94) relataram umepisódio ocorrido em Nova York nove anos antes,em 3/11/1952, quando a fumaça proveniente daqueima de uma floresta �apagou o sol�. Nesse diahouve um aumento de mortalidade de 20% emrelação à média diária observada no mês.

Em 1987, um incêndio de grandes proporções naCalifórnia (EUA) elevou os níveis de TSP e PM10 a valoresde até 1000 e 237 µg/m3, respectivamente. Esse fatocausou um aumento na procura de atendimentos depronto-socorro por asma, DPOC, laringite, sinusite eoutras infecções respiratórias da ordem de 40%, 30%,60%, 30%, e 50%, respectivamente(95).

Indivíduos portadores de patologiasrespiratórias crônicas mostram-se mais susceptíveisaos efeitos da poluição gerada pela queima devegetação. Durante incêndios florestais ocorridosem 1994, em Cingapura, foi registrado umaumento de 20% na procura de atendimentos empronto-socorros por crianças asmáticas emcomparação às médias anuais(96). Em relação aosadultos, a fumaça proveniente da queima de palhae resíduos agrícolas produziu em indivíduosportadores de obstrução de vias aéreas, deintensidade moderada a grave, exacerbações desintomas, como dispnéia, desconforto respiratório,tosse e sibilos (97).

Existem evidências de que não apenas osindivíduos com patologias prévias são afetadospelos poluentes do ar. Os bombeiros que atuamem incêndios florestais compreendem um grupo

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Arbex, Marcos Abdo, et al.Queima de biomassa e suas repercussões sobre a saúde

ocupacional de indivíduos com alta exposição àqueima de biomassa. Estudos realizados com essesbombeiros indicam uma associação entreexposição ao material particulado e efeitos agudossobre o sistema respiratório, além de irritação nosolhos, nar iz e garganta, e diminuição deparâmetros da função pulmonar (CVF, VEF1, efluxo expiratório forçado a 25% - 75% da CVC -FEF25-75)

(98-101). Estudos prospectivos mostraram queesses efeitos podem ser reversíveis após o individuose afastar da exposição à fumaça.

Devemos considerar, entretanto, que a políciaflorestal é uma parcela da população hígida, semdoenças prévia, e, em princípio, bem mais saudávelque a média da população em geral. Portanto, érazoável supor que efeitos similares podem serobservados na população geral em exposiçõessemelhantes ou menores.

Queima da palha de cana-de-acúcar eagravos à saúde no Brasil

Todos os estudos relacionados à queima devegetação a céu aberto dizem respeito a episódiosfortuitos. Existe, porém, uma região do planetaem que a queima da biomassa se faz de maneiraprogramada. Na década de 1970, durante a crisedo petróleo, o governo brasileiro implementou umprograma chamado Proálcool com o objetivo deproduzir um combustível alternativo, renovável, enão poluente: o etanol, derivado da cana-de-açúcar. Esse programa culminou com uma grandeprodução de veículos movidos a álcool a partir dadécada de 80, e com um grande incremento dacultura da cana-de-açúcar. Em 1996, somentecinco estados da federação não produziam cana-de-açúcar (Acre, Amapá, Pará, Rio Branco eRondônia), sendo São Paulo o maior produtor, comaproximadamente 65% do total da produçãonacional. Com a crescente utilização do álcoolcomo combustível em veículos automotores houveuma melhora na qualidade do ar nos grandescentros urbanos. Existe, porém, um contraponto:a cana-de-açúcar é uma cultura agrícola singular,uma vez que, por razões de produtividade e desegurança, sua colheita é realizada após a queimados canaviais, o que gera uma grande quantidadede elemento particulado negro denominado�fuligem da cana�. Esse material particuladomodifica as características do ambiente nas regiõesonde a cana-de-açúcar é cultivada, colhida e

industrializada. Essas regiões são laboratóriosnaturais onde a população fica exposta, poraproximadamente seis meses ao ano, aos poluentesprovenientes da queima de biomassa.

O Laboratório de Poluição AtmosféricaExperimental (LPAE) do Departamento dePatologia da Faculdade de Medic ina daUniversidade de São Paulo foi pioneiro em nossopaís na avaliação dos efeitos tóxicos dos poluentesemitidos pela queima de combustíveis fósseis nosgrandes centros urbanos e seus efeitos sobre osseres humanos (102-104). Foi também o pioneiro naavaliação dos efeitos tóxicos da combustão doálcool, da mistura álcool/gasolina e na suaposterior comparação com os efeitos tóxicos dacombustão da gasolina e da mistura chumbo/gasolina. (105,106).

A potencial gravidade da situação foi eloqüenteo suficiente para que o LPAE enveredasse por umnovo caminho de pesquisa: estimar os efeitos dapoluição do ar causada pela queima de biomassa.

Foram definidas duas regiões do Estado de SãoPaulo para sediar estes estudos: Araraquara ePiracicaba , que estão entre os maiores produtoresde cana-de-açúcar do planeta. Relatórios daCompanhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental(CETESB)(107,108), emitidos em 1986 e em 1999, sobrea qualidade do ar em Araraquara, mostravam umimportante aumento da poeira total em suspensãoe do PM10 no período da safra da cana-de-açúcar,em comparação com o período de não safra.

Do ponto de vista médico, o interesse peloproblema reside no fato de que muitos pacientescom doenças crônicas do aparelho respiratório,principalmente bronquite crônica, enfisema, easma, referem agravamento dos seus sintomas noperíodo do ano que coincide com a queimada dacana. Mas não é só. Indivíduos hígidos, na mesmaépoca do ano, referem, com freqüência, irritaçãoem vias aéreas superiores com ardor no nariz e nagarganta. A presença na atmosfera de resíduosgrosseiros resultantes da combustão da cana-de-açúcar aparece, para a população em geral, comoa evidência de que os sintomas respiratóriosdependem ou são agravados pela poluiçãoambiental gerada pelas queimadas.

Entretanto, o problema não é tão simplesquanto aparenta. Não se pode, por exemplo,descartar a possibilidade de que alteraçõesclimáticas sejam as responsáveis pelo agravamento

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dos sintomas respiratórios em uma parcela deindivíduos da população.

Franco (109), em 1992, formulou algumasconsiderações a respeito da relação entre a queimada cana-de-açúcar e agravos à saúde:

1. durante a época das queimadas dos canaviaishá uma piora na qualidade do ar na região;

2. a queimada dos canaviais não é o único fatorde agravamento da qualidade do ar, mas emconseqüência da extensão da área plantada eda duração das queimadas, final de abril ainício de novembro, as descargas de gases ede outros poluentes na atmosfera da regiãoganham um significado importante e nãopodem ser menosprezadas;

3. a população de risco, que tem sua qualidadede vida e de saúde agravada em condiçõesatmosféricas adversas, é bastante significativa;

4. a maioria das pessoas que compõem apopulação de risco demanda um número muitomaior de consultas, atendimentosambulatoriais, medicação, e internações. Issoonera não só os serviços médicos, mas aeconomia das famílias.

Considerando a escassez de trabalhoscorrelacionando os efeitos da queimada da cana-de-açúcar e a dimensão da população de risco edos ônus médico, social e econômico dessacondição, o nosso grupo de pesquisa decidiuabordar a questão.

Um estudo epidemiológico de série temporal,com o objetivo de avaliar a associação entre omaterial particulado coletado durante a queimade plantações de cana-de-açúcar e um indicadorde morbidade respiratória em Araraquara foidesenvolvido entre 26 de maio e 31 de agosto de1995. O número diár io de pacientes quenecessitaram inalações em um dos principaishospitais da cidade foi quantificado, e utilizadopara estimar a morbidade respiratória. Encontrou-se uma associação positiva significante e dose-dependente entre o número de terapias inalatóriase o peso do sedimento, utilizado como medida domaterial particulado gerado pela queima da cana-de-açúcar. Um aumento de 10 mg no peso dosedimento esteve associado a um risco relativo deterapêutica inalatória de 1,09 (IC 95%: 1,01-1,18).Nos dias mais poluídos, o risco relativo de

terapêutica inalatória foi de 1,20 (1,03-1,39). Essesresultados indicam que a queima das plantaçõesda cana-de-açúcar pode causar efeitos deletériosà saúde da população exposta(110,111).

O LPAE prosseguiu os estudos analisando ainfluência da poluição atmosférica proveniente daqueima da palha da cana-de-açúcar sobre asdoenças respiratórias na cidade de Piracicaba.Nesta cidade, havia condições propícias para odesenvolvimento de um trabalho visando avaliaras contribuições tanto da poluição gerada pelaqueima de biomassa como aquela derivada daqueima de combustíveis fósseis sobre a saúdehumana. Lara(112) coletou, entre abril de 1997 emarço de 1998, material particulado, separando-o em frações fina e grossa. Ele foi então analisadoe quantificado para black carbon (BC), Al, Si, P, S,Cl, K, Ca, Ti, V, Cr, Mn, Fe, Ni, Cu, Zn, Br, Pb(112).No mesmo período quantif icaram-se asinternações hospitalares diárias por doençasrespiratórias, em crianças e adolescentes (abaixode 13 anos de idade), e em idosos (maiores de 65anos de idade) através de dados do Departamentode Informática do Sistema Único de Saúde(DATASUS). A análise dos componentes principaisabsoluta identificou que a queima de biomassa ea re-suspensão do material erodido do solo (Fator1) são responsáveis por 80% do mater ia lparticulado fino (PM2,5). O risco relativo deinternações hospitalares por doenças respiratóriasem crianças e adolescentes foi significativamenteassociado à variação interquartil do PM10, PM2,5,

BC, Al, Si, Mn, K, e S. Um aumento de 10,2µg/m3

no PM2,5 associa-se a um aumento de 21,4% (95%CI 4,3;38,5) nas internações por doençasrespiratórias em crianças e adolescentes. Emidosos, o risco relativo de internações hospitalarespor doenças respi ratór ias está tambémsignificativamente associado à variação interquartildo PM10, BC, e K. Quando se compararam osperíodos de queima e de não queima da palha dacana-de-açúcar, o efeito foi 3,5 vezes maior noperíodo da queima, o que mostra o impacto destasobre a saúde da população na cidade dePiracicaba (113).

CONCLUSÕESAs mudanças físicas e biológicas ocorridas no

ambiente devidas à atividade humana resultaramem um enorme impacto sobre a saúde. A extensão

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dessas mudanças, que repercute nos dias de hoje,e ainda compromete o futuro, não está totalmenteestabelecida. Por exemplo, emissões passadas demonóxido de carbono e outros gases geradoresdo efeito estufa, e a depleção da camada de ozôniona estratosfera, ainda são problemas atuais comos quais nos defrontamos. Da mesma forma, acontínua modificação dos sistemas ecológicos quesustentam a vida humana poderá representar nofuturo uma ameaça à saúde de forma global.Devido aos efeitos dos gases estufa, a temperaturada superfície terrestre aumentou aproximadamente1,2°C desde 1850, sendo 0,5°C entre 1978 e osdias de hoje , o que leva a um contínuoaquecimento da superfície dos oceanos, o queprovoca mudanças de direção nas correntesmarinhas profundas, com dramáticas mudançasclimáticas regionais, acarretando problemas comoescassez de água e alimentos.

Entre as razões do contínuo desenvolvimentoda espécie humana encontra-se a proteção àsaúde. Porém, ainda há uma lentidão na avaliaçãoe implementação de medidas saneadoras quandose trata da relação ambiente e saúde, muitoespecialmente quando se trata de queima debiomassa. Segundo a American LungAssociation (114), mais de 800 novos estudoscientíficos que associam os efeitos do materialparticulado em suspensão no ar, proveniente daqueima de combustíveis fósseis, sobre a saúdehumana, foram publicados entre 1997 e 2001.Entretanto, a l i teratura é extremamenteparcimoniosa ao avaliar os efeitos sobre a saúdehumana da combustão de biomassa, seja emambientes internos, modalidade de obtenção deenergia utilizada por três bilhões de indivíduosno planeta, seja por queima de vegetação a céuaberto, em relação à qual ainda hoje não existemestimativas precisas do número de pessoasexpostas aos poluentes liberados. Ainda hoje nãose consegue determinar a causa do início do fogoem vegetação em 50% dos episódios, o que tornaa queima de vegetação a céu aberto na Ásia, naAmérica, na África e em outras partes do mundoum fenômeno recorrente. Estimativas mostramque, no ano 2000, 351 milhões de hectares devegetação do planeta foram afetados pelo fogo.A população atingida pelos produtos gerados pelacombustão de biomassa, via de regra, correspondeaos indivíduos com maior grau de pobreza, e com

menor possibilidade de acesso aos serviços desaúde, o que certamente faz piorar a sua já precáriaqualidade de vida.

Os dados apresentados nesta revisão devem iralém de simplesmente identificar as populaçõesmais afetadas pela queima de biomassa e descreveros complexos mecanismos de impactos sobre asaúde, mas também devem enviar uma mensagemaos pesquisadores, no sentido de expandir olimitado conjunto de conhecimentos e, dessaforma, possibilitar a criação de programas efetivosde intervenção com o objetivo de proporcionaruma melhor qualidade de vida aos indivíduosexpostos.

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