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EM PROFISSIONAIS DE Valéria Paes de Castro Barreto Orientadora: Prof.ª Dr.ª Simone Cruz Machado Ferreira Mary da Silva Correia Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Mestrado em Enfermagem Assistencial da Escola de Enfermagem Aurora Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense para obtenção do Título de Mestre em Enfermagem. Linha de Pesquisa: O Contexto do DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DE HARDINESS EM PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO: ESTUDO QUANTITATIVO Valéria Paes de Castro Barreto Orientadora: Prof.ª Dr.ª Simone Cruz Machado Ferreira Co-Orientadora: Prof.ª Dr.ª Dayse Mary da Silva Correia Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Mestrado em Enfermagem Assistencial da Escola de Enfermagem Aurora Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense para obtenção do Título de Mestre em Enfermagem. Linha de Pesquisa: O Contexto do Cuidar em Saúde.

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DIAGNSTICO SITUACIONAL DE HARDINESS EM PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM DE UM HOSPITAL UNIVERSITRIO: ESTUDO

QUANTITATIVO

Valria Paes de Castro Barreto

Orientadora: Prof. Dr. Simone Cruz Machado Ferreira

Co-Orientadora: Prof. Dr. Dayse Mary da Silva Correia

Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de

Mestrado em Enfermagem Assistencial da Escola de

Enfermagem Aurora Afonso Costa da Universidade

Federal Fluminense para obteno do Ttulo de Mestre

em Enfermagem. Linha de Pesquisa: O Contexto do

Cuidar em Sade.

Niteri

Fevereiro de 2017

DIAGNSTICO SITUACIONAL DE HARDINESS EM PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM DE UM HOSPITAL UNIVERSITRIO: ESTUDO

QUANTITATIVO

Valria Paes de Castro Barreto

Orientadora: Prof. Dr. Simone Cruz Machado Ferreira

Co-Orientadora: Prof. Dr. Dayse Mary da Silva Correia

Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de

Mestrado em Enfermagem Assistencial da Escola de

Enfermagem Aurora Afonso Costa da Universidade

Federal Fluminense para obteno do Ttulo de Mestre

em Enfermagem. Linha de Pesquisa: O Contexto do

Cuidar em Sade.

Niteri

Fevereiro de 2017

VALRIA PAES DE CASTRO BARRETO

DIAGNSTICO SITUACIONAL DE HARDINESS EM PROFISSIONAIS DE

ENFERMAGEM DE UM HOSPITAL UNIVERSITRIO: ESTUDO QUANTITATIVO

Linha de Pesquisa: O Contexto do Cuidar em Sade

Dissertao de mestrado apresentada ao Programa de Mestrado em Enfermagem Assistencial da Escola de Enfermagem Aurora Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense para obteno do Ttulo de Mestre em Enfermagem. Linha de Pesquisa: O contexto do Cuidador em Sade.

Orientadora: Prof. Dr. Simone Cruz Machado Ferreira (UFF)

Coorientadora: prof. dr. Dayse Mary da Silva Correia (UFF)

Niteri 2017

B 273 Barreto, Valria Paes de Castro. Diagnstico situacional de Hardiness em profissionais de enfermagem de um hospital universitrio: estudo quantitativo. / Valria Paes de Castro Barreto. Niteri: [s.n.], 2017.

163 f.

Dissertao (Mestrado Profissional em Enfermagem Assistencial) Universidade Federal Fluminense, 2017.

Orientador: Prof. Simone Cruz Machado Ferreira.

Coorientado: Prof. Dayse Mary da Silva Correia.

1. Enfermagem. 2. Trabalho. 3. Esgotamento Profissional. I. Ttulo. CDD 616.9803

VALRIA PAES DE CASTRO BARRETO

DIAGNSTICO SITUACIONAL DE HARDINESS EM PROFISSIONAIS DE

ENFERMAGEM DE UM HOSPITAL UNIVERSITRIO: ESTUDO QUANTITATIVO

Linha de Pesquisa: O Contexto do Cuidar em Sade

Dissertao de mestrado apresentada ao Programa de Mestrado em Enfermagem Assistencial da Escola de Enfermagem Aurora Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense para obteno do Ttulo de Mestre em Enfermagem. Linha de Pesquisa: O contexto do Cuidador em Sade.

Aprovada em __________

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________ Presidente - Prof. Dr. Simone Cruz Machado Ferreira (UFF) (orientadora)

_________________________________________________ 1 Examinadora- Prof. Dr. Renata Flvia Abreu da Silva (UNIRIO)

___________________________________________________________ 2 Examinadora - Prof. Dr. Dayse Mary da Silva Correia (UFF) (coorientador)

_________________________________________________ Suplente- Prof. Dr. Karinne Cristinne da Silva Cunha (UNIRIO)

________________________________________________ Suplente - Prof. Dr. Brbara Pompeu Christovam (UFF)

Niteri 2017

AGRADECIMENTOS

Agradeo a Deus por ter me apoiado sempre. Nesta caminhada, fazendo-se

mais que presente, atravs de pessoas que me conduziram neste desafio.

s Professoras Simone Cruz e Dayse Correia, minhas orientadoras que me

receberam com ateno, gentileza, incentivando cada etapa do trabalho.

Profissionais brilhantes que, com pacincia e sabedoria, orientaram a construo

deste estudo.

Aos profissionais de enfermagem do Hospital Universitrio, pois sem vocs

este trabalho no existiria. Foi atravs da convivncia de anos de trabalho, em

diversas situaes e setores, que cresci como ser humano. Aprendi tudo que no

pude encontrar nos livros de Enfermagem, lidar com tantas adversidades e manter

intocvel o respeito ao paciente e sua famlia.

s minhas filhas Ana Carolina e Mariana, minha base de vida, sem vocs

nada seria construdo, pois foi com o nosso crescimento e amadurecimento que

pude encontrar o equilbrio, fora e determinao.

s Tcnicas de Enfermagem Berenice e Rosane, agradeo pela colaborao

to importante.

Minha irm Andra, sempre me apoiando incondicionalmente em todos

momentos de minha vida.

Aos colegas do Mestrado Profissional, onde formamos um grupo com muita

unio e solidariedade, sempre com cooperao.

Que os nossos esforos desafiem as

impossibilidades, lembrando que as grandes

realizaes do homem foram conquistadas do que

parecia impossvel.

(Charles Chaplin)

RESUMO

O tema deste estudo trata-se da elaborao de um diagnstico situacional do

profissional de Enfermagem de um hospital universitrio em relao personalidade

resistente, Hardiness, visando preveno da Sndrome de Burnout (SB). O

objetivo principal foi realizar o diagnstico situacional utilizando a Escala Hardiness

em profissionais de Enfermagem do Hospital Universitrio Antnio Pedro (HUAP).

Est apoiado em bases conceituais nas quais a Enfermagem um dos grupos com

mais expostos Sndrome de Burnout, a qual se caracteriza pelo estresse crnico

relacionado ao trabalho, ocasionando o adoecimento fsico e psquico, e

comprometendo os resultados do trabalho. As estratgias pessoais eficazes podem

significar mais resistncia ao estresse, denominado Hardy personality ou Hardiness,

ou seja, personalidade resistente. Para a qual h trs dimenses de estimativa:

compromisso, controle e desafio. Metodologia: estudo descritivo-exploratrio, com

abordagem quantitativa, cuja amostra foram 171 profissionais de Enfermagem do

contexto hospitalar, no perodo de abril a outubro de 2016. Para coleta de dados

utilizou-se a Escala Hardiness, tipo Likert, composta por 30 itens Resultados:

somente trs (1,8%) dos profissionais possuem Hardiness elevado no referido

hospital, enquanto os demais profissionais tm alta pontuao no escore

compromisso e baixo no escore desafio. As correlaes foram apresentadas em 05

(cinco) dimenses de anlise que compem este estudo. Ou seja, perfil

sociodemogrfico da amostra, associao dos domnios de Hardiness com variveis

qualitativas nominais, associao dos domnios de Hardiness com variveis

qualitativas ordinais e quantitativas, anlise descritiva de escores dos domnios de

Hardiness, associao dos profissionais de Hardiness elevado com variveis

qualitativas nominais e ordinais e quantitativas. Concluso: o produto de pesquisa

apresentado no estudo como um Diagnstico Situacional de Hardiness de

profissionais de Enfermagem apoiar medidas preventivas na instituio.

Palavras-chave: Enfermagem. Estresse. Trabalho. Esgotamento Profissional.

ABSTRACT

The object and the main topic of this research aims to conduct a situational diagnosis

of the staff nurses of a university hospital in connection with the resistant personality,

Hardiness. In order to address the Burnout Syndrome prevention (SB) and

management, the situational diagnosis was performed using the Hardiness Scale to

assess staff nurses at Antnio Pedro University Hospital (HUAP). It is supported by

conceptual basis where Nursing is one of the groups most exposed to Burnout

Syndrome, which main characteristic is chronic stress related to work, causing

physical and psychic illnesses, and compromising the job performance outcomes.

Effective personal strategies lead to more stress resistance, called Hardy personality

or Hardiness, to which there are three estimation of dimensions: commitment, control

and challenge. Methodology: a descriptive and exploratory study, with a quantitative

approach, and a sample of 171 nurses in hospital environment, from April to October

2016. A 30-item Hardiness Scale, Likert type, was used for collecting data. Results:

only three (1.8%) of the professionals have high Hardiness in the mentioned hospital,

whereas the other professionals have high level on commitment and low level on

challenge. The correlations were presented in 05 (five) dimensions of analysis, which

this study is consisted of. That is, the sample socio-demographic profile, association

of Hardiness domains with nominal qualitative variables, association of Hardiness

domains with ordinal and quantitative qualitative variables, descriptive analysis of

Hardiness domain levels, association of Hardiness professionals with nominal

qualitative variables, and Ordinal and quantitative. Conclusion: the research findings

presented in the study as "Situational Diagnosis of Hardiness among staff nurses"

will support preventive measures in the institution.

Keywords: Nursing; Stress; Job; Professional Exhaustion; Adaptation Psychological.

RESUMEN

El tema de este estudio se trata de la elaboracin de un diagnstico de la situacin

de los profesionales de enfermera en un hospital universitario en relacin con la

personalidad resistente, Hardiness, para la prevencin del Sndrome de Burnout

(SB). El principal objetivo era hacer el diagnstico de situacin con el profesional de

enfermera utilizando la Escala de Hardiness en el Hospital Universitario Antonio

Pedro (HUAP). Se apoya en las bases conceptuales en que la enfermera es uno de

los grupos ms expuestos al agotamiento, el sndrome que se caracteriza por el

estrs laboral crnico, que causa la enfermedad fsica y mental, y compromentiendo

los resultados del trabajo. Las estrategias efectivas personales pueden significar

ms resistencia al estrs, llamada personalidad resistente, Hardiness, es decir, el

carcter resiliente. Para lo cual existen tres dimensiones estimadas: compromiso,

control y reto. Metodologa: Estudio descriptivo y exploratorio con enfoque

cuantitativo, cuya muestra fueron 171 profesionales de enfermera del hospital de

contexto, de abril a octubre de 2016. Para la recoleccin de datos se utiliz la Escala

de Hardiness, Likert, que consta de 30 artculos Resultados: slo tres (1,8%) de los

profesionales tienen un alto Hardiness en el hospital, mientras que los otros

profesionales tienen puntuaciones ms altas en el compromiso y la puntuacin baja

en desafo. Las correlaciones se presentan en 05 dimensiones (cinco) de anlisis

que componen este estudio. Es decir, el perfil sociodemogrfico de la muestra, la

asociacin de dominios Hardiness con variables cualitativas nominales, la asociacin

de las zonas de Hardiness con variables cuantitativas y cualitativas ordinales,

anlisis descriptivo de las puntuaciones del dominio de la resistencia, la asociacin

de profesionales de alta hardiness con variables cualitativas nominales y ordinales y

cuantitativas. Conclusin: el producto de la investigacin presentada en el estudio

como medidas preventivas de apoyo a los profesionales de enfermera "Diagnstico

situacional de Hardiness 'en la institucin.

Palabras clave: Enfermera; el estrs; trabajar; El agotamiento profesional.

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Ensaio comparativo entre itens geradores de estresse ocupacional conforme a OMS e fatores estressantes do trabalho de Enfermagem. Niteri, 2016................................ 30

Quadro 2 - Domnios da Escala de Hardiness e itens correspondentes ................................ 45

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Quadro de busca de artigos nas Bases de Dados .......................................................... 34

Figura 2 - Distribuio do sexo dos profissionais de Enfermagem ................................................... 51

Figura 3 - Histograma da distribuio da idade dos profissionais. ................................................... 52

Figura 4 - Mdias de idade dos profissionais, global e por sexo. ..................................................... 53

Figura 5 - Distribuio de frequncias do estado civil dos profissionais de Enfermagem, por sexo e global ......................................................................................................................................... 54

Figura 6 - Distribuio de frequncias do cargo dos profissionais, por sexo e global. ....................... 55

Figura 7 - Distribuio de frequncias do setor que o profissional atua. ........................................... 57

Figura 8 - Distribuio de frequncias dos profissionais nos setores crticos .................................... 58

Figura 9 - Histograma da distribuio do tempo de atividade profissional dos participantes da pesquisa. .................................................................................................................................... 59

Figura 10 - Mdias do tempo de atividade profissional, global e por sexo. ....................................... 60

Figura 11 - Histograma da distribuio de trabalho na instituio dos participantes da pesquisa. ...... 61

Figura 12 - Mdias do tempo de atividade profissional, global e por sexo ........................................ 63

Figura 13 - Distribuio do vnculo com a instituio ...................................................................... 64

Figura 14- Distribuio de frequncias do turno de trabalho dos profissionais, por sexo e global ...... 65

Figura 15 - Distribuio do nmero de empregos dos profissionais, por sexo e global ...................... 66

Figura 16 - Distribuio do tempo dedicado ao sono diariamente.................................................... 67

Figura 17 - Distribuio de frequncias para as frias anuais. ........................................................ 68

Figura 18 - Distribuio de frequncias do nmero de dependentes dos profissionais de enfermagem, por sexo e global. Niteri,2016 ..................................................................................................... 69

Figura 19 - Mdia dos escores dos domnios da escala Hardiness por sexo.................................... 70

Figura 20 - Mdia dos escores dos domnios da escala Hardiness por estado Civil .......................... 71

Figura 21 - Mdia dos escores dos domnios da escala Hardiness por Cargo. ................................. 72

Figura 22 - Mdia dos escores dos domnios da escala Hardiness para setor no Crtico e Crtico. .. 73

Figura 23 - Mdia dos escores dos domnios da escala Hardiness por Turno .................................. 74

Figura 24 - Mdia dos escores dos domnios da escala Hardiness por nmero de empregos. .......... 75

Figura 25 - Mdia e Mediana dos escores dos domnios da Escala Hardiness para os profissionais da enfermagem. ............................................................................................................................... 78

Figura 26 - Distribuio de Frequncias da classificao do escore em cada domnio e na Escala Global Hardiness ......................................................................................................................... 79

LISTA DE TABELA

Tabela 1 - Distribuio de Frequncias da Idade dos Profissionais ................................................. 51

Tabela 2 - Principais estatsticas de idade dos profissionais, global e por sexo ................................ 53

Tabela 3 - Distribuio do Estado Civil dos profissionais de Enfermagem, por sexo e global ............ 54

Tabela 4 - Distribuio de frequncias do Cargo exercido pelos profissionais de Enfermagem, por sexo e global ............................................................................................................................... 55

Tabela 5 - Distribuio de frequncias do setor que o profissional atua, por sexo e global ............... 56

Tabela 6 - Distribuio de frequncias dos setores crticos que o profissional atua, por sexo e global .................................................................................................................................................. 57

Tabela 7 - Distribuio de Frequncias do tempo de trabalho no HUAP .......................................... 60

Tabela 8 - Principais estatsticas do tempo de trabalho na instituio, global e por sexo. Niteri,2016. .................................................................................................................................................. 62

Tabela 9 - Distribuio de frequncias do vnculo com a instituio, por sexo e global .................... 63

Tabela 10 - Distribuio de frequncias do turno de trabalho na instituio dos profissionais de Enfermagem, por sexo e global .................................................................................................... 64

Tabela 11 - Distribuio de frequncias do turno de trabalho na instituio dos profissionais de enfermagem, por sexo e global. ................................................................................................... 65

Tabela 12 - Distribuio de frequncias do tempo dedicado ao sono pelos profissionais de Enfermagem, por sexo e global. ................................................................................................... 66

Tabela 13 - Distribuio de frequncias sobre as frias anuais, por sexo e global. Niteri, 2016. ...... 67

Tabela 14 - Distribuio de frequncias do nmero de dependentes dos profissionais de enfermagem, por sexo e global. ........................................................................................................................ 68

Tabela 15 - Mdia dos escores dos domnios da escala Hardiness por sexo .................................. 70

Tabela 16 - Mdia dos escores dos domnios da escala Hardiness por estado civil ......................... 71

Tabela 17 - Mdia dos escores dos domnios da escala Hardiness por Cargo ................................ 72

Tabela 18 - Mdia dos escores dos domnios da escala Hardiness para setor no Crtico e Crtico. . 73

Tabela 19 - Mdia dos escores dos domnios da escala Hardiness por Turno ................................ 74

Tabela 20 - Mdia dos escores dos domnios da escala Hardiness por nmero de empregos .......... 75

Tabela 21 - Coeficiente de Correlao de Spearman entre as variveis quantitativas e os escores dos Domnios da Escala Hardiness. .................................................................................................... 76

Tabela 22 - Principais Estatsticas dos Escores dos Domnios da Escala Hardiness ........................ 77

Tabela 23 - Distribuio de Frequncias da classificao do escore em cada domnio e na Escala Global Hardiness ......................................................................................................................... 78

Tabela 24 - Distribuio de Frequncias das variveis categricas nos grupos que tem Escore Elevado nos trs domnios: Compromisso, Controle e Desafio ....................................................... 80

Tabela 25 - Perfil dos trs profissionais que tinham Hardiness elevado, variveis qualitativas .......... 81

Tabela 26 - Perfil dos trs profissionais que tinham hardiness elevado, variveis quantitativas. Niteri,2016. ............................................................................................................................... 82

Tabela 27 - Distribuio de Frequncias das variveis categricas nos grupos que tm Escore Elevado em cada domnio: Compromisso, Controle e Desafio ........................................................ 83

Tabela 28 - Mdia das variveis quantitativas nos grupos que tem Hardiness Elevado nos trs domnios: Compromisso, Controle e Desafio ................................................................................. 84

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AIS American Institute of Stress

APA American Psychological Association

BVS Biblioteca Virtual de Sade

CAAE Certificado de Apresentao para Apreciao tica

CASQ Coordenao de Ateno Integral Sade e Qualidade de vida

CEP Comit de tica e Pesquisa

CLT Consolidao das Leis Trabalhistas

COFEN Conselho Federal de Enfermagem

CTI Centro de Terapia Intensiva

CV Coeficiente de Variao

DECS Descritores em Cincia da Sade

DIP Doenas Infecto Parasitrias

EUA Estados Unidos da Amrica

HSE Health Safety Executive

HUAP Hospital Universitrio Antnio Pedro

LFS Labor Force Survey

LILACS Literatura Latino-Americana e do Caribe em Cincias da Sade

MPOG Ministrio do Planejamento Oramento e Gesto

MPS Ministrio Previdncia Social

NSS Nursing Stress Scale

OMS Organizao Mundial da Sade

PASS Poltica de ateno sade do servidor

PNPIC Poltica Nacional de Prticas Integrativas e Complementares

PROGEPE Pr-Reitoria de gesto de pessoas

PTSD Ps Traumatic stress disorder

SAG Sndrome Geral de Adaptao

SIASS Subsistema integrado de ateno sade do servidor:

SPSS Statistical Package for the Social Science

SUS Sistema Nacional de Sade

UCO Unidade Coronariana

UFF Universidade Federal Fluminense

UTI Unidade de Terapia Intensiva

SUMRIO

1 INTRODUO....................................................................................................................... 18

1.1 IDENTIFICAO DO PROBLEMA ............................................................................... 18

1.2 OBJETIVOS ................................................................................................................... 21

1.3 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................. 21

2 BASES CONCEITUAIS ......................................................................................................... 24

2.1 CONTEXTUALIZAO DOS RISCOS DE ADOECIMENTO NO TRABALHO DE ENFERMAGEM............................................................................................................... 24

2.2 ESTRESSE .................................................................................................................... 26

2.2.1 Alteraes fisiolgicas.............................................................................................. 28

2.2.2 Estressores no trabalho de Enfermagem ................................................................ 29

2.3 SNDROME DE BURNOUT .......................................................................................... 31

2.4 PERSPECTIVAS DE ENFRENTAMENTO DO ESTRESSE ........................................ 35

2.4.1 Hardiness ................................................................................................................. 35

2.4.2 Mindfulness .............................................................................................................. 37

3 METODOLOGIA ................................................................................................................... 42

3.1 TIPO DE ESTUDO......................................................................................................... 42

3.2 CAMPO DE PESQUISA ............................................................................................... 42

3.3 DETERMINAO DO TAMANHO AMOSTRAL ........................................................... 43

3.4 PROCEDIMENTOS DA PESQUISA ............................................................................. 44

3.4.1 Instrumentos de Abordagem.................................................................................... 44

3.4.2 Coleta de Dados....................................................................................................... 45

3.4.3 Estudo Piloto ............................................................................................................ 46

3.5 ANLISE ESTATSTICA ............................................................................................... 47

3.6 PRECEITOS TICOS.................................................................................................... 49

4 RESULTADOS ...................................................................................................................... 50

4.1. PERFIL SOCIODEMOGRFICO DA AMOSTRA ..................................................... 50

4.2 ASSOCIAO DOS DOMNIOS DE HARDINESS COM VARIVEIS QUALITATIVAS NOMINAIS ........................................................................................... 69

4.3 ASSOCIAO DOS DOMNIOS DE HARDINESS COM VARIVEIS QUALITATIVAS ORDINAIS E QUANTITATIVAS...................................................................................... 76

4.4 ANLISE DESCRITIVA DE ESCORES DOS DOMNIOS DE HARDINESS ............... 77

4.5 ASSOCIAO DOS PROFISSIONAIS DE HARDINESS ELEVADO COM VARIVEIS QUALITATIVAS NOMINAIS, ORDINAIS E QUANTITATIVAS ..................................... 81

5 DISCUSSO .......................................................................................................................... 85

6 CONCLUSO .......................................................................................................................114

REFERNCIAS .......................................................................................................................116

APNDICE 1............................................................................................................................141

APNDICE 2............................................................................................................................143

APNDICE 3............................................................................................................................145

APNDICE 4............................................................................................................................145

ANEXO 1 .................................................................................................................................146

ANEXO 2 .................................................................................................................................149

ANEXO 3 .................................................................................................................................150

18

1 INTRODUO

1.1 IDENTIFICAO DO PROBLEMA

O objeto deste estudo o Hardiness ou personalidade resistente, definido

como um conjunto de caractersticas da personalidade que funciona como fonte de

resistncia aos acontecimentos estressantes1. Portanto, o Hardiness pode ser

entendido como uma estratgia de enfrentamento ao estresse ocupacional e apoio

preveno da Sndrome de Burnout 2. Para sua avaliao, utiliza-se a Escala de

Hardiness, cuja adaptao transcultural para a lngua portuguesa foi realizada em

2009, com a autorizao do Dr. Paul T. Bartone, autor da Hardiness Scale 1.

O propsito da referida escala consiste na anlise de 03 (trs) dimenses, ou

seja, compromisso, controle e desafio, as quais compem a personalidade

resistente, ou Hardiness. Este diagnstico situacional trar subsdios para que o

Hardiness possa ser desenvolvido e aprimorado, tornando o profissional de

Enfermagem mais resistente ao estresse ocupacional1.

As questes do trabalho, suas formas de organizao em diferentes

processos de produo e seus reflexos, especialmente no que diz respeito sade

dos trabalhadores, se intensificaram com o desenvolvimento do capitalismo e tm

sido longamente discutidos. Tal fato foi ocasionado pelo aumento de trabalhadores

no setor tercirio de produo, especialmente no ramo dos servios, onde est

includo o trabalho em sade, o qual compartilha ao mesmo tempo caractersticas do

processo de produo e da economia. Logo, sofre profunda influncia da lgica de

acumulao de capital, pela tecnologia e formas de organizao de trabalho

utilizados nas indstrias3,4. Por estimativa, no setor da sade, estariam envolvidos 59,8 milhes de

trabalhadores, aproximadamente divididos em 2/3 de prestadores de servio, e 1/3

restante, composto de gestores em diferentes nveis. E que ainda, 57 pases

necessitariam de mais de quatro milhes de trabalhadores de sade para cobrir as

carncias5.

Contudo, as ltimas estimativas, do perodo 2013-2014, sob elaborao da

Labor Force Survey (LFS), da Health Safety Executive (HSE), rgo regulador da

sade do trabalhador da Gr-Bretanha, demonstram que o nmero total de casos

19

novos e antigos de estresse ocupacional, depresso e ansiedade foram de 487.000,

(30%) do total de 1.241.000 casos de adoecimentos relacionados ao trabalho no

pas. E os setores que apresentaram maior ndice de profissionais adoecidos por

estresse ocupacional foram os profissionais de sade, previdncia social, educao

e segurana pblica6.

Diante da preocupao com o trabalhador de sade e o aumento das

estatsticas de adoecimento deste profissional pelo mundo, a Organizao Mundial

da Sade (OMS) destacou, para o decnio 2006-2016, a valorizao deste

profissional5. Portanto, em funo de inmeros trabalhadores de Enfermagem, das

caractersticas deste trabalho, dos riscos a que esto expostos, e das mudanas no

modelo de organizao num mundo globalizado, faz-se necessrio buscar auxiliar

este profissional para o enfrentamento do estresse ocupacional6.

No Brasil, as estatsticas do Ministrio da Previdncia Social (MPS),

referentes ao ano de 2013, apresentam o ndice de afastamento do trabalho, com

concesso de auxlio-doena, igual a 6.635 casos, devido aos transtornos mentais e

comportamentais, e em sua subdiviso, transtornos neurticos, transtorno

relacionado com o estresse, dos quais foi concedido o total de 3.816 auxlios-

doena, que caracterizam 57,51%, do total da concesso deste benefcio7,8.

A Previdncia Social Brasileira reconhece a Sndrome de Burnout como

agente patognico, e o Decreto n 3.048, de 06 de maio de 1999, aprovou o anexo II

do Regulamento da Previdncia Social, que trata dos Agentes Patognicos que

causam Doenas Profissionais, onde citado como sensao de estar acabado

(Sndrome de Burnout, Sndrome de Esgotamento Profissional)9.

Dentre os transtornos relacionados com o estresse, identifica-se a Sndrome

de Burnout ou estresse ocupacional, definida como um fenmeno psicossocial que

emerge da resposta crnica aos estressores ocorridos em situaes de trabalho

influenciadas pela organizao inadequada do trabalho e pelas demandas da

atividade desenvolvidas em conjunto com as caractersticas individuais e cognitivas

do trabalhador10. Essa sndrome caracterizada por exausto emocional,

despersonalizao e baixa realizao profissional11; na qual, a exausto emocional

tida como uma falta ou carncia de energia, entusiasmo e um sentimento de

esgotamento de recursos. Enquanto a despersonalizao caracteriza-se por tratar

os clientes, colegas e a organizao de forma distante e impessoal. E a baixa

20

realizao profissional remete o trabalhador para uma auto-avaliao negativa. Tal

quadro pode levar as pessoas a se sentirem infelizes e insatisfeitas com seu

desenvolvimento profissional, experimentando um declnio no sentimento de

competncia e xito no trabalho12,13.

Como consequncia para as instituies de trabalho, pode-se enumerar, alm

da diminuio da produo, baixa qualidade do trabalho, aumento do absentesmo,

alta rotatividade, elevao da taxa de acidentes ocupacionais, aumento de gastos,

ocasionando prejuzos financeiros14, e o presentesmo entendido como presena

fsica do profissional, porm mentalmente e emocionalmente ausente; sintoma

silencioso, considerado como indicador de estresse, depresso, tendo efeitos

negativos no desenvolvimento do trabalho15.

Como enfermeira do HUAP, tive a oportunidade de atuar em diversos setores

de internao e exames, tanto na coordenao e na assistncia quanto na

superviso. Enquanto Supervisora de Enfermagem, portanto com uma viso geral

da grande maioria dos profissionais de Enfermagem deste hospital, pude perceber,

com apreenso, as declaraes e comentrios que expressavam desmotivao,

insatisfao e desnimo. A sobrecarga de trabalho, aliada a exigncias econmicas

pessoais, parece favorecer que o profissional se apresente, muitas vezes, para

trabalhar sem estmulo em buscar aprimoramento profissional, descontente com a

organizao em geral do hospital e, em muitos casos, com a prpria profisso. Tal

situao demanda que algo precisa ser feito, a partir de uma interveno sria e

aprofundada, buscando conhecer este trabalhador para que se possa traar o seu

perfil, criando meios de suporte a este profissional em risco de adoecimento fsico

e/ou psquico, uma vez que essa situao poder afetar no somente sua atividade

profissional ou social, mas a assistncia ao paciente e comunidade.

Nesse movimento de reflexo, emerge o seguinte questionamento: como os

profissionais de Enfermagem do Hospital Universitrio Antnio Pedro esto diante

do enfrentamento do estresse a partir da auto-avaliao pela Escala Hardiness?

O contexto hospitalar, de maneira geral, reconhecido como insalubre

penoso e perigoso para os que nele trabalham. Muitos so os estressores

ocupacionais vivenciados pelos trabalhadores do campo da sade e que afetam

diretamente o seu bem-estar, principalmente, o profissional da Enfermagem,

independente do tipo de instituio, regio ou pas onde o mesmo se d. Seu

21

exerccio profissional marcado por mltiplas exigncias como lidar com a dor,

sofrimento, morte e perdas, condies desfavorveis de trabalho, baixa

remunerao e pouco reconhecimento profissional 13,16,17.

Acredito ser importante entender esse problema, buscar ouvir esse

profissional que, por muitas vezes, nas instituies, no encontra espao para

colocar suas questes emocionais e profissionais. Da a relevncia de aprofundar o

conhecimento junto ao profissional de sade e sua capacidade de enfrentamento no

dia a dia.

1.2 OBJETIVOS

Objetivo Geral

-Realizar diagnstico situacional utilizando a Escala Hardiness em profissionais de

Enfermagem do Hospital Universitrio Antnio Pedro.

Objetivos Especficos

- Caracterizar o perfil sociodemogrfico dos profissionais de Enfermagem do HUAP.

- Aplicar a Escala Hardiness junto aos profissionais de Enfermagem no HUAP.

- Analisar o Hardiness dos profissionais de Enfermagem do HUAP, estabelecendo o

diagnstico situacional.

1.3 JUSTIFICATIVA

A organizao do trabalho exerce sobre o homem um impacto no aparelho

psquico que, em certas condies, emerge sofrimentos relacionados sua histria

individual, portadora de projetos, esperanas e desejos, frente a um contexto que o

ignora.

Dessa maneira, novas enfermidades surgem decorrentes das mudanas

introduzidas ao mundo do trabalho, e uma das consequncias psquicas geradas

nos trabalhadores a Sndrome de Burnout, que corresponde a resposta emocional

s situaes de estresse crnico, em razo de relaes intensas de trabalho com

22

outras pessoas. Pode acometer profissionais que apresentem grandes expectativas

com relao a seu desenvolvimento profissional e dedicao profisso, porm sem

alcanar o retorno esperado. Tambm, uma organizao de trabalho que gera

sobrecarga e tenso ocupacional favorece o desenvolvimento da Sndrome de

Burnout. O desenvolvimento da sndrome decorre de um processo gradual de

desgaste no humor e desmotivao acompanhado de sintomas fsicos e psquicos 2,13,17,18,19.

Nessa perspectiva, percebe-se a necessidade de ateno no gerenciamento

da situao de sade dos trabalhadores de Enfermagem e da sua qualidade de vida,

pois possuindo maior proximidade fsica e psicolgica com doentes/familiares, ou

seja, um relacionamento mais efetivo com pessoas, necessita de maior apoio

institucional para o desenvolvimento de sua atividade e meios para enfrentamento

do estresse ocupacional. Do ponto de vista organizacional, o profissional em estado

de Burnout prejudicar o processo de trabalho, afetando a qualidade da assistncia

de Enfermagem prestada. A relao de trabalho e existncia de suporte social tem

impacto positivo na qualidade de vida do trabalhador, uma vez que a satisfao no

trabalho ir contribuir com melhor sade mental e enfrentamento do estresse 20.

Na Universidade Federal Fluminense (UFF), desde maro de 2011, a

Coordenao de Ateno Integral Sade e Qualidade de Vida (CASQ), vinculada

Pr-Reitoria de Gesto de Pessoas (PROGEPE), responsvel pela coordenao

da promoo de sade e qualidade de vida do servidor da UFF. Ela tem como

objetivo integrar as aes de ateno integral ao servidor, agilizando os trs eixos

bsicos: Promoo/Vigilncia em Sade; Percia em Sade; Assistncia em Sade.

Visam atender Poltica de Ateno Sade do Servidor (PASS) e tambm ao

Subsistema Integrado de Ateno Sade do Servidor (SIASS) regulamentada pelo

Decreto de lei no 6. 833, de 29/04/2009, do Ministrio do Planejamento Oramento e

Gesto (MPOG).

Os resultados deste estudo sero apresentados CASQ, no intuito de

fornecer um diagnstico situacional que possa subsidiar aes articuladas com

outros profissionais de sade, visando apresentar, aos servidores da equipe de

Enfermagem, ferramentas de enfrentamento do estresse ocupacional e,

consequentemente, preveno da Sndrome de Burnout, melhor qualidade de vida,

23

refletindo positivamente na assistncia de Enfermagem e relacionamento com os

trabalhadores, usurios, docentes e discentes.

24

2 BASES CONCEITUAIS

2.1 CONTEXTUALIZAO DOS RISCOS DE ADOECIMENTO NO TRABALHO DE ENFERMAGEM

A Enfermagem subdividida em trs categorias profissionais: enfermeiros,

tcnicos de Enfermagem e auxiliares de Enfermagem. Essas categorias constituem

a equipe de Enfermagem e tm seu exerccio regulamentado pela Lei 7498/8621,

com foco no cuidado direto ao paciente, em toda a integralidade, como ser biolgico

e social 4.

Em junho de 2016, segundo dados do Conselho Federal de Enfermagem

(COFEN), est registrado um total de 1.896.293 profissionais, sendo

444.535(23,44%) enfermeiros, 1.014.755(53,51%) tcnicos de Enfermagem,

436.742(23,03%) auxiliares de Enfermagem e 261(0,01%) obstetrizes22.

Na organizao do trabalho de Enfermagem, ocorre diviso parcelar ou

pormenorizada, cabendo a diferentes categorias profissionais o cuidado direto4.

Entretanto, cabe somente ao enfermeiro atividades de administrao de setores e de

grupos profissionais, que atendem a um mesmo conjuntos de pacientes. Dessa

forma, h uma ciso entre os momentos de concepo e execuo do cuidado.

uma profisso de grande representatividade numrica entre as profisses

de sade, a qual mantm contato direto com os pacientes por 24 horas e em

consequncia dos cuidados prestados, h exposio a fluidos orgnicos, roupas,

instrumentos e aparelhos utilizados em procedimentos diagnsticos e teraputicos23.

Sua atividade permeada pela constante incorporao de tecnologias

denominadas: duras, representadas por equipamentos, dispositivos materiais; leves-

duras, constitudas pelos saberes profissionais e cientficos; e leves, cuja expresso

dar-se- no relacionamento com usurios e trabalhadores, elemento essencial no

trabalho de sade24. Na produo do cuidado, utiliza-se as trs tecnologias,

arranjando de modo diferente uma com a outra, conforme o seu modo de produzir o

cuidado25.

Os profissionais de Enfermagem, para atender as necessidades dos cidados

e do prprio sistema de sade, devem ampliar o conhecimento, habilidades e

mltiplas funes que, associadas, repercutem em novas prticas e dinmicas de

trabalho. Toda diversidade do processo de trabalho, no setor sade, implicar

25

exposio a riscos variados e frequentemente sobrepostos, afetando vrios sistemas

do organismo3.

Suas atividades fazem com que convivam diariamente com a morte e o

morrer, com o sofrimento alheio, com as carncias da populao e com a dificuldade

no processo de assistir. Situaes que trazem impacto na vida desses profissionais

e, de certa forma, pela histria e problemtica daqueles de quem cuidam, resultando

num cotidiano repleto de emoes26.

Desde sua organizao, a profisso predominantemente subordinada e

assalariada, inserida no sistema capitalista, tendo sua fora de trabalho vendida ao

empresrio hospitalar ou Estado. Apesar de ser assalariada e no participar dos

lucros da empresa, assume a posio de gerente da assistncia de Enfermagem e,

at certo ponto, da organizao institucional4,27.

A Enfermagem enfrenta uma sobrecarga de trabalho tanto quantitativa,

evidenciada pela responsabilidade por mais de um setor hospitalar, quanto

qualitativa, verificada na complexidade das relaes humanas, por exemplo,

enfermeiro/cliente, enfermeiro/profissional de sade; enfermeiro/familiares28, e

enfermeiro/equipe.

O exerccio de Enfermagem desenvolve-se em local de grande interposio

de atividades e a Enfermagem encontra-se no centro dessas interferncias,

coordenando a assistncia ao paciente, assegurando a interface do tratamento

mdico, por vezes adiando-as ou antecipando-as. Alm de suas prprias funes

administrativas, possui uma viso ampla de todo processo envolvido na assistncia

ao paciente29.

O ambiente laboral compe-se de um conjunto de fatores que, de forma direta

ou indireta, podem provocar riscos ao profissional, camuflando ou retardando sinais

e sintomas de comprometimentos sade do trabalhador30. Existem fatores no meio

ambiente de trabalho que so nocivos ao organismo, tais como as condies fsicas,

biolgicas e emocionais31.

A soma das atribuies do enfermeiro para com sua equipe, vivncia com

fatores estressantes, longas jornadas de trabalho que diminuem o pensamento

cognitivo, o desgaste dirio e a baixa remunerao podem ocasionar adoecimento,

se o trabalhador no estiver preparado para trabalhar com esses elementos

26

estressores que, quando acumulados e associados a emoes, aumentam os riscos

de adoecimento.

Os trabalhadores de Enfermagem vm enfrentando situaes danosas

sade por meio do uso de estratgias coletivas de defesa frente s adversidades no

ambiente de trabalho, tais como o distanciamento que assumem frente morte e a

despersonalizao, que se constata pela frieza/humor em suas atitudes no

trabalho32.

O estresse psicolgico est em nossas rotinas de trabalho, e o organismo

precisa reagir contra este, como uma resposta natural e necessria. Quando a

resposta negativa, pode levar ao adoecimento do trabalhador 33,34.

2.2 ESTRESSE

O interesse mdico pelo estresse remonta a Hipcrates (470-377 a.C.), mas

somente em 1929, com os trabalhos do fisiologista Cannon, formulando o conceito

de homeostase, a reao ao estresse passou a ser compreendida como um

fenmeno relacionado interao corpo-mente35.

Hans Selye ampliou os estudos de Cannon, definindo o estresse em sua

dimenso biolgica. Observou que todos doentes, independentemente da

enfermidade que apresentavam, produziam certas modificaes na estrutura e na

composio qumica do corpo, as quais podem ser observadas e mensuradas. O

estresse o estado que se manifesta atravs da Sndrome Geral de Adaptao

(SGA)36,37.

Sndrome Geral de Adaptao (SAG) encerra trs fases: alarme, resistncia e

exausto. Contudo o estresse pode ser positivo, necessrio e estimulante, desde

que ocorra dentro dos limites fisiolgicos e psicolgicos de cada organismo. Por

natureza, o ser humano procura manter um equilbrio de suas foras internas com

todos os rgos, de maneira que seu organismo possa trabalhar em harmonia.

Entretanto, quando esse equilbrio passa a ser alterado por algum agente estressor,

ou seja, por qualquer situao que desperte uma emoo boa ou m, isso se

constituir numa fonte de estresse38.

A fase de alarme caracterizada por uma resposta do organismo ao impacto

psicolgico e fisiolgico do estresse, visando estabilizar a homeostase, nessa

27

situao, as respostas corporais entram em prontido, o organismo mobilizado

sem o envolvimento especfico de algum rgo, preparando para luta ou fuga. Na

fase resistncia, o organismo permanece na tentativa de restabelecer o equilbrio e

acostumar-se aos estressores por um perodo de tempo. A reao ao estressor pode

ser canalizada para um rgo ou um sistema especfico. Na fase exausto, o

organismo submetido ao estressor, de uma forma mais severa, perder sua

capacidade adaptativa; e ocorrer sinais semelhantes aos sinais da fase de alarme

de forma mais intensa, caracterizando a deteriorizao do organismo, podendo

originar doenas ou mesmo levar a morte10,38.

Na dcada de 1980, foi desenvolvido o conceito do modelo de traos de

personalidade, na qual variveis pessoais explicam e determinam a maioria de

condutas do indivduo. O modelo interacionista ou transacional considera as

variveis da situao, ou seja, a forma como o sujeito a valoriza, percebe e

interpreta o ambiente, somadas a caractersticas de personalidade, reaes

emocionais e cognitivas1,18,38.

O processo de trabalho em sade de carter relacional, no qual a busca

centrada em tecnologias e modelos de gesto do trabalho voltados para o usurio,

gerando consequncias positivas e negativas, caracterstica de todas as relaes

humanas24. O estresse ocupacional crnico, que pode culminar com a sndrome do

esgotamento profissional (Burnout) e transtornos mentais comuns, tem sido cada

vez mais identificado e pesquisado entre profissionais de sade 10,13,14,17,18,19,20,40.

Podendo causar incapacitao e alto custo social, econmico e individual,

absentesmo, queda da produtividade, alta rotatividade de profissionais, elevao da

demanda de servios de sade, uso abusivo de tranquilizantes, lcool e outras

drogas afetando negativamente a sade, satisfao no trabalho, produtividade,

qualidade da assistncia e risco para o paciente40.

As causas desse processo de adoecimento so, alm da caracterstica

relacional do trabalho em sade, a estrutura organizacional da atividade, condies

ergonmicas e de proteo, exposio constante aos acidentes e contaminao,

burocracia dos servios e o contato com o sofrimento e morte, situaes que exigem

do indivduo muito equilbrio emocional13, mas, sobretudo, com alteraes

fisiolgicas do indivduo.

28

2.2.1 Alteraes fisiolgicas

O corpo ir utilizar suas fontes de energia para combater as alteraes que o

agente estressor lhe causa. A reao iniciada no hipotlamo, onde um dos trs

eixos fisiolgicos, quais sejam, eixos I, II, III, respectivamente, Neural,

Neuroendcrino e Endcrino, sero ativados41.

O hipotlamo corresponde a uma pequena rea no Sistema Nervoso Central,

localizado na regio central do crebro, protegido pela calota craniana.

responsvel por funes vitais do organismo. Comanda a endocrinologia em geral,

exercendo ao direta sobre a hipfise e indireta sobre outras glndulas41.

O Eixo I, Eixo Neural acionado imediatamente diante da situao de alerta

ativa o Sistema Nervoso Simptico, aumentando a frequncia respiratria, ritmo

cardaco, presso arterial, liberao da glicose e sistema nervoso perifrico 18,42.

No Eixo II, Eixo Neuroendcrino, ocorre a ativao da Medula Adrenal, sendo

liberadas Epinefrina e Noradrenalina (catecolaminas), assegurando suprimento

rpido de oxignio e glicose para os tecidos, principalmente cerebral, aumentando o

tnus cardiovascular e alterando a atividade digestiva. O risco de infarto agudo do

miocrdio, hipertenso arterial sistmica, formao de trombos, angina e outras

alteraes cardacas aumentam 18,42. A ativao do Eixo Neuroendcrino depende

de como o indivduo vai interpretar a situao de alerta e de sua capacidade de

enfrent-la.

O Eixo III, Eixo endcrino, onde os efeitos mais crnicos do estresse so

includos, ser ativado caso a situao estressante no puder ser controlada. A

hipfise ser ativada e ocorre a liberao de glicocorticoides (cortisol e

corticosterona), aumentando a produo de glicose, ureia, liberao de cidos

graxos, produo de corpos cetnicos, suco gstrico, e, como consequncia, maior

risco de arteriosclerose, necrose de miocrdio, reduo do mecanismo imunolgico,

depresso18,42.

Assim, estresse um estado manifesto por uma sndrome especfica,

constituda por todas as alteraes no especficas produzidas num sistema

biolgico.

29

2.2.2 Estressores no trabalho de Enfermagem

O trabalho de Enfermagem possui caractersticas particulares associadas

sua essncia e contexto, citados por vrios autores como estressante13, 16, 17, 18, 23, 28,

29, 31, 34, 40, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 55. Assim, apresenta fragmentao, tcnicas

normatizadas, rotatividade de horrios, trabalho por turnos, exigncia de constante

atualizao tcnica, contato com o sofrimento, dor e morte, alm de exigncias

administrativas burocrticas sempre maiores, carga de responsabilidade elevada e

exigncia de relacionamento interpessoal16, 17, 18, 20, 23, 28, 31,40.

Dependendo de onde se insere, apresenta dificuldades de estrutura para

desenvolver suas aes devido falta de material e pessoal, tanto quantitativamente

quanto qualitativamente, devido insalubridade e sobrecarga de trabalho; alm do

pouco status profissional que a Enfermagem possui, apesar de sua grande

importncia na equipe de sade, associado baixa remunerao. Apesar de todas

as dificuldades citadas, muitos profissionais lutam para exercer suas atividades com

qualidade respeito e competncia, enquanto outros no conseguem suportar as

presses e acabam abandonando a profisso12,17.

O ambiente hospitalar apresenta uma srie de condies passveis de gerar

insalubridade e sofrimento aos profissionais de Enfermagem - considerada a mais

numerosa, dentre as equipes que compe o quadro de profissionais intra-hospitalar.

Convive com um alto nvel de estresse ocupacional, como a exposio ao sofrimento

do paciente, forte carga emocional e fsica, horrios de trabalho atpicos, falta de

material ou mesmo material inadequado, ao desenvolvimento das atividades, longas

jornadas de trabalho, nmero insuficiente de profissionais, falta de autonomia e de

motivao 3,4.

A Organizao Mundial da Sade (OMS) elaborou, em 2008, um guia visando

ao esclarecimento e preveno dos riscos psicossociais do estresse ocupacional

devido grande prevalncia de agravos relacionados ao estresse no trabalho, bem

como violncia, bullying e assdio43.

Entendendo que o risco psicossocial para o desenvolvimento do estresse

ocupacional originado de diversos fatores de risco, o quadro abaixo busca

relacionar aspectos e estgios apontados pela OMS, os quais tm grande

pertinncia com a Enfermagem, segundo a literatura.

30

Quadro 1 - Ensaio comparativo entre itens geradores de estresse ocupacional conforme a OMS e fatores estressantes do trabalho de Enfermagem. Niteri,

2016. Organizao Mundial da Sade (OMS) Fatores estressantes associados ao trabalho da

Enfermagem

Organizao do trabalho: M

comunicao, baixo nveis de apoio para

resoluo de problemas e

desenvolvimento pessoal, falta de

definio ou acordos sobre objetivos

organizacionais43, 44.

Conflito e ambiguidade de papis, falta de participao

nas decises, plantes (diurno/noturno), longas

jornadas de trabalho, rodzio de horrios, nmero

insuficiente de pessoal, recursos escassos, sobrecarga

de trabalho, falta de treinamento, excesso de

burocracia, excesso de horas extras13, 18, 45, 46, 47, 48,49.

Relaes interpessoais no trabalho:

Isolamento social e fsico, relao ruim

com superiores hierrquicos ou colegas

de trabalho, conflitos interpessoais, falta

de apoio social 43,44.

Relacionamento muitas vezes conflituoso com a equipe

mdica, falta de apoio e/ou suporte social, falta de

reconhecimento profissional, alta competitividade,

presses por produtividade, falta de confiana e

companheirismo, pouco contato com demais

integrantes da equipe. 13,18,45,46,47,48,49.

Ambiente e equipamento: Eficcia dos

equipamentos, adequao e manuteno,

ms condies ambientais tais como falta

de espao, m iluminao e excesso de

rudo43,44.

Ambiente com riscos qumicos (medicamentos,

desinfetantes), biolgicos (bactrias, fungos, vrus,

etc.), fsicos (rudos, radiaes, etc.), mecnicos

(transporte e/ou movimentao de pacientes, preparo

de materiais, etc.) e psicossociais (contato com

pacientes agitados, descontrolados, agressivos) 13, 18, 45,

46, 47, 48,49.

Interface casa/trabalho: Demandas

conflitantes no trabalho e em casa, pouco

apoio em casa, problemas de dupla

jornada43,44.

Turnos rotativos dificultando a convivncia social e

familiar, dificuldade em conciliar o trabalho com

atividades extraprofissionais. 13,18,45,46,47,48,49.

Contedo do trabalho: Ausncia de

variao de ciclos de trabalho, curtos e

fragmentados, uso de habilidades, alto

grau de incerteza, trabalho com contnua

exposio a outras pessoas43,44.

Interao prxima com o paciente, ateno constante

(medicao, horrio de procedimentos, etc.), contato

constante com o sofrimento, a dor e muitas vezes a

morte, complexidade de alguns procedimentos,

responsabilidade com a vida de outrem. 13,18,45,46,47,48,49.

Fonte: Organizao Mundial de Sade

Sendo o estresse ocupacional um fenmeno frequentemente relacionado aos

profissionais de Enfermagem, na prtica, existem instrumentos sistematizados para

31

avaliar a problemtica. Foram desenvolvidas diversas formas de mensurar o

estresse ocupacional do enfermeiro, dentre as quais podemos citar a entrevista livre,

o registro cursivo e a utilizao de questionrios, identificando os estressores, a

intensidade e a frequncia destes na profisso 49.

Quanto ao uso de escalas, destaca-se a NSS (Nursing Stress Scale), ou

Escala de estresse na Enfermagem com categorias referentes sobrecarga de

trabalho, morte e ao morrer, incerteza, ao conflito com os mdicos, ao conflito

com outras enfermeiras, falta de suporte e preparao inadequada. Outro

instrumento de auto relato estruturado o Inventrio para Estresse no Trabalho com

Enfermeiros em Oncologia (Work Stressor Inventory for Nurses in Oncology), que foi

desenvolvido usando metodologia quantitativa e qualitativa, subdividida em cinco

sub escalas relacionadas a temas como carga de trabalho, processo de morte,

sofrimento, conflitos interpessoais, relao com pacientes e familiares50.

No Brasil, a Escala Bianchi de Stress51 foi desenvolvida para avaliar o nvel de

estresse do enfermeiro hospitalar no desempenho bsico de suas atividades. A

escala autoaplicvel, formado por domnios compostos por atividades envolvendo

a assistncia e o gerenciamento do cuidado. Com sua utilizao, pode-se verificar o

domnio mais estressante para o grupo de enfermeiros ou para cada indivduo, e

tambm avaliar as atividades mais estressantes naquela instituio52.

A maneira como os profissionais de Enfermagem conseguem enfrentar as

situaes do cotidiano de trabalho pode gerar estresse ocupacional, que surge como

responsvel pelo adoecimento fsico e/ou psquico, comprometendo os resultados

do trabalho, em resposta aos estmulos deletrios provenientes do ambiente laboral,

originando a ocorrncia de Sndrome de Burnout como um agravo do estresse

ocupacional nos profissionais de Enfermagem13,53.

2.3 SNDROME DE BURNOUT

A partir da obra de Ramazzini54, publicada em 1700, primeiro estudo

sistematizado sobre os efeitos do trabalho nos processos de adoecimento dos

trabalhadores, a epidemiologia passa a ter relao com o campo da sade dos

trabalhadores 55.

32

Os estudiosos afirmam que a Sndrome de Burnout um desequilbrio

que determinados indivduos desenvolvem consequente ao trabalho e seu ambiente,

caracterizado principalmente, por alteraes psicolgicas e comportamentais2.

Freudenberg (1974) caracteriza Burnout como um conjunto de sintomas que podem

progredir para depresso e suicdio, e que surge decorrente da atividade laboral,

com grande participao de caractersticas individuais. Para Malash e Jackson,

Burnout, uma sndrome psicolgica que envolve exposio prolongada a

estressores interpessoais crnicos decorrentes do ambiente laboral, caracterizados

por trs dimenses: desgaste emocional ou exausto, despersonalizao ou

ceticismo e incompetncia profissional ou reduzida realizao profissional12.

Estudos recentes evidenciam essa problemtica em diversas profisses,

porm verificado que os profissionais de sade se apresentam como um grupo de

risco extremo, cujas consequncias podem refletir-se em nvel da qualidade dos

servios prestados aos doentes, bem como na qualidade de vida e bem-estar dos

profissionais 2,5,12,17,23,56.

O estresse inevitvel, pois adaptativo. Entretanto, quando o

estresse ocorre no ambiente ocupacional, ele pode levar a um grande desgaste para

o profissional e isso pode refletir na sua produtividade, ocasionando assim prejuzos

individuais e para a organizao14. Mudana nas organizaes e, especificamente,

nos servios de sade (sobrecarga de trabalho, insegurana, mudanas frequentes

nas equipes, conflito e ambiguidade de papis), somada aos fatores de natureza

humana em contexto organizacional podem traduzir-se em fatores de resilincia ou

risco para o bem-estar dos indivduos. Nesse mbito, o desenvolvimento e uma

gesto adequada dos recursos humanos, tm vindo a assumir uma importncia

crescente em nvel organizacional, no sentido da promoo da qualidade de vida

dos profissionais56.

Para a realizao desta investigao, foi realizada uma pesquisa bibliogrfica

visando construo dos fundamentos tericos do estudo, para a qual foram

utilizadas as seguintes bases: Biblioteca Virtual de Sade (BVS); Bases de Dados

de Enfermagem (BDENF); Literatura Latino-Americana do Caribe em Cincias da

Sade (LILACS); Literatura Internacional da rea Mdica e Biomdica (MEDLINE);

Biblioteca COCRHANE, referente aos ltimos cinco anos, mediante os Descritores

em Cincias da Sade (DECS) Enfermagem (Nursing), Estresse (Stress); Trabalho

33

(Work); Esgotamento profissional (Burnout) e palavra chave Hardiness. Com a

elaborao dessa etapa, objetivou-se identificar a afinidade do tema proposto com

os achados capturados da literatura especializada, assim como verificar a relevncia

dessa construo, e por fim, elencar novos conhecimentos, s lacunas, que possam

existir sobre a temtica proposta.

Os artigos foram selecionados com textos completos, escritos em portugus

ou lngua estrangeira, publicados no espao temporal assinalado, que traziam no

ttulo um dos descritores supracitados e que tinham realizado estudo da associao

da Enfermagem, estresse ocupacional e Hardiness. Foram excludos os artigos

repetidos e que no apresentavam conotao com os propsitos do estudo.

Posteriormente, o resultado destas buscas foi disponibilizado conforme os conceitos

embasadores: os objetivos, metodologia utilizada; identificao das informaes a

serem utilizadas na discusso e categorizao; avaliao; correlao e amostragem

dos mesmos em formas de fluxogramas a serem criados57.

Na BVS, a busca foi realizada atravs dos descritores acima citados no

campo de busca avanada, utilizando o recurso boleando and. O resultado da

busca inicial foi 1.727 artigos; aplicado o filtro relacionado a textos disponveis,

permaneceram 527 artigos. Com os filtros de recorte temporal e critrios de incluso

e excluso acima citados, permaneceram 61 artigos, destes, 10 repetidos e 22 sem

relao com o trabalho proposto. Finalizando com 29 artigos, sendo 05 da LILACS e

24 MEDLINE, conforme a figura abaixo.

34

Figura 1 - Quadro de busca de artigos nas Bases de Dados

Fonte: Dados da pesquisa

35

2.4 PERSPECTIVAS DE ENFRENTAMENTO DO ESTRESSE

2.4.1 Hardiness

O mundo moderno do trabalho e de relaes sociais traz, ao ser humano,

cada vez mais complexas e maiores exigncias, que envolvem tecnologia,

especializaes, produo, falta de estabilidade, com consequente desumanizao

dos contatos humanos e afetivos dentro do ambiente de trabalho. Dentro deste

contexto, existem profisses que tm como objetivo o contato com o ser humano e

suas necessidades como os professores, enfermeiros, mdicos e policiais, por

exemplo, que com longas jornadas de trabalho, ambiente insalubre e potencialmente

gerador de conflitos, esto lidando constantemente com a dificuldade do outro.

Assim, esto sujeitos, no seu dia a dia de trabalho, a situaes estressantes com

muita frequncia 2,13,20,46,55,58.

A viso romntica, ideologicamente citada pelos ditos populares, do trabalho

enobrecedor, tem sido contestada pelos resultados de pesquisas realizadas, que

buscam identificar a natureza do sofrimento proveniente das relaes de trabalho.

Dejours, em seus estudos sobre a psicopatologia do trabalho, desde os anos 90,

destacou a associao de trabalho e sofrimento e chamou de organizao de

trabalho a diviso do trabalho, o contedo das tarefas, os sistemas de hierarquia, as

modalidades de comando e as relaes de poder e responsabilidade, estabelecendo

as interferncias dessas instncias no adoecimento do trabalhador, demonstrando

que o trabalhador adoece em virtude da organizao no local e das condies de

trabalho2.

Alguns trabalhadores possuem maior resistncia ao estresse ocupacional,

mesmo se submetidos constantemente a ele. Estratgias pessoais eficazes podem

significar maior resistncia ao desenvolvimento da Sndrome de Burnout. A

constatao desse fato levou inquietao acerca da Hardy personality ou

hardiness, personalidade resistente, que comeou a ser estudada na dcada de

1970, e a denominao que recebe este grupo de profissionais que possuem, em

sua personalidade, estrutura que os tornam capazes de no desenvolver o estresse

ocupacional, ou seja, Burnout. O conceito terico do Hardiness provm do

existencialismo, que defende que o indivduo ao longo de sua vida vai elaborando

36

sua personalidade com mudanas inevitveis associadas situao estressantes 1, 2,

10, 11, 16,17.

O conjunto das caractersticas da Personalidade Resistente, tambm

conhecido como Hardiness, uma varivel que est associada a uma sade melhor,

sendo uma das caractersticas importantes para o no desenvolvimento da

Sndrome de Burnout 1,10.

Outra definio de Hardiness encontrada refere que seria um conjunto de

caractersticas da personalidade, que funciona como fonte de resistncia aos

acontecimentos estressantes, caracterizada por trs dimenses: compromisso,

controle e desafio 58.

Alguns indivduos possuem a Personalidade Resistente, ou seja, diante do

estresse se sentem comprometidos com o trabalho (Compromisso), se percebem

com o domnio de controlar e modificar a situao estressante (Controle), diante das

mudanas, no as percebem como ameaas, mas como estmulo para o

desenvolvimento pessoal e profissional, ou seja, uma oportunidade positiva

(Desafio)1,2,10,16,17.

O processo individual e dinmico que cada indivduo desenvolve diante das

situaes estressantes, no intuito de resolv-las e control-las, foi denominado de

coping, que so estratgias na maioria das vezes inconscientes, que serviro no

enfrentamento das situaes de estresse, porm no evitaro que tais situaes

afetem o bem-estar do indivduo 59,60.

Hardiness considerado um caminho para resilincia, termo da Fsica e

Engenharia, que se refere capacidade que um material tem de absorver energia

sem sofrer deformaes permanentes. Foi emprestado para as cincias da sade, e

entendido como enfrentamento de adversidades e de adaptao de maneira flexvel

s situaes estressantes e conflituosas sem perder o equilbrio e sade, tornando

fonte para alcanar os objetivos propostos61,62.

Hardiness pode ser medido com a Hardiness Scale (Escala de Hardiness),

encontrada na Literatura Internacional, bem como aprendido e aprimorado,

proporcionando melhor qualidade de vida para o profissional de Enfermagem,

tornando-o mais resistente ao estresse ocupacional1, 2, 10, 16,17. A Escala de

Hardiness tem por objetivo avaliar quais caractersticas Hardiness esto presentes

no indivduo. No Apndice 1, pode ser observado um levantamento bibliogrfico de

37

estudos relacionados diante da aplicao da Escala Hardiness e a profisso de

Enfermagem.

2.4.2 Mindfulness

As questes do trabalho, suas formas de organizao em diferentes

processos de produo e seus reflexos, especialmente no que diz respeito sade

dos trabalhadores, que se intensificaram com o desenvolvimento do capitalismo, tm

sido longamente discutidos. Tal fato foi ocasionado pelo aumento de trabalhadores

no setor tercirio de produo, especialmente no ramo dos servios, onde est

includo o trabalho de sade, o qual compartilha ao mesmo tempo de caractersticas

do processo de produo e da economia. Logo, sofre profunda influncia da lgica

de acumulao de capital, pela tecnologia e formas de organizao de trabalho

utilizado nas indstrias 3,4.

Sendo um dos setores que apresentaram maior ndice de profissionais

adoecidos por estresse ocupacional, os profissionais de sade6, a Organizao

Mundial da Sade (OMS) destacou a valorizao desses profissionais5,63. Portanto,

em funo de inmeros trabalhadores de Enfermagem, das caractersticas desse

trabalho, dos riscos a que esto expostos, e das mudanas no modelo de

organizao num mundo globalizado, faz-se necessrio buscar auxiliar este

profissional para o enfrentamento do estresse ocupacional64.

Atualmente, h estudos que evidenciam ajuda nesse enfrentamento, nos

quais o Mindfulness tem recebido ateno em pesquisas internacionais, porm de

forma reduzida no Brasil. Consiste em um termo que pode ser traduzido para

portugus como Ateno Plena, no qual seu construto deriva de tradies orientais

com razes no Budismo Thevarada, e foi ocidentalizado por Jon Kabat-Zinn, no

Centro Mdico da Universidade de Massachusetts EUA64, 65,66. A efetividade do

Mindfulness vem sendo estudada em uma variedade de grupos, incluindo pessoas

com cncer, depresso, doenas cardacas e profissionais de sade.64,65,66,67,68,69.

Segundo a literatura, no possui nenhuma ligao religiosa ou esotrica, estando a

neurocincia na base dessa prtica. Pois, com o conhecimento da neuroplasticidade

do crebro, sabe- se que a maneira como utilizamos a ateno tem um papel

determinante no funcionamento do crebro. Dessa forma, o treinamento da ateno

38

pode aperfeioar as nossas capacidades mentais, e, quando aplicado em equipes,

pode melhorar a capacidade de comunicao e resoluo de conflitos 70.

No Brasil, a Poltica Nacional de Prticas Integrativas e Complementares

(PNPIC) no mbito do Sistema nico de Sade71, com origem no documento

Traditional Medicine Strategy 2002-2005, da OMS72, tem por finalidade combater o

racionalismo tecnoassistencial biomdico, onde prticas como a de Mindfulness

estariam inseridas por corresponder com suas metas: preveno de agravos,

promoo e recuperao da sade, com nfase na ateno bsica, voltada para o

cuidado continuado, humanizado e integral em sade; contribuio ao aumento da

resolubilidade e ampliao do acesso, garantindo qualidade, eficcia, eficincia e

segurana no uso; promoo e racionalizao das aes de sade; e, estmulo das

aes de controle/participao social, promovendo o envolvimento responsvel e

continuado dos usurios, gestores e trabalhadores da sade 71,72,73.

Pesquisa realizada nas bases de dados encontrou 84 artigos, dos quais foram

selecionados 12, publicados no perodo de 2010 a 2015. Ao analisar o perodo de

publicao, observa-se que recente, nos ltimos anos, na literatura, a associao

do Mindfulness na rea de Enfermagem para profissionais (Apndice 2), no qual, o

ano de 2013 agrega 75 % (4) das publicaes. Enquanto 25% (3) das publicaes

so direcionadas aos estudantes (Apndice 3).

Em sade, o cuidado com o outro seria uma finalidade primordial do

trabalho, tendo como foco tecnologias relacionais, como acolhimento do usurio, de

suas queixas e o estabelecimento de vnculo com essa razo, pela qual os

envolvidos nesse processo de trabalho no esto livres de complicaes, incluindo

custos, principalmente em sua qualidade de vida 3,5,63.

Igualmente, o profissional de sade vive em seu dia a dia a influncia direta

da presso de seu objetivo, o cuidado, bem como sofre com decises a serem

tomadas em situaes adversas, por exemplo, com materiais e recursos fsicos

reduzidos ou ineficientes, falta de pessoal, falta de autonomia e reconhecimento da

sociedade e do governo64, 65.

Tais aspectos tm impacto direto como estressor, os quais influenciam em

nvel espiritual, biolgico e emocional este profissional; considerada, entre as

categorias profissionais, juntamente com a dos professores, uma das mais expostas

Sndrome de Burnout13,40,58,74,75.

39

No cotidiano, a predisposio ao adoecimento do trabalhador em sade

parece resultar da falta de acordo das exigncias de trabalho e prticas de gesto,

ou seja, as exigncias atuais do trabalho em sade no so observadas pelas

prticas de gesto tradicionais4,40,75. Portanto, associado a todos os efeitos para a

vida do profissional de Enfermagem, soma- se o impacto econmico.

Dada a dificuldade de avaliar exatamente o dano causado pelo estresse, o

American Institute of Stress (AIS) e American Psychological Association (APA)

estimam um prejuzo em torno de US$ 250 bilhes anuais76.

Dentre estratgias de enfrentamento, o Mindfulness particularmente efetivo

para reduzir o estresse, ansiedade, depresso e outras emoes negativas, com a

prtica regular. A meditao baseada no Mindfulness pode mudar o crebro,

fortalecendo reas associadas alegria e relaxamento e enfraquecendo as

envolvidas em emoes negativas e estresse. Alguns resultados, como a mudana

na produo de hormnios, foram observados por pesquisadores do Davis Center

for Mind and Brain da University of California, onde se analisou o nvel de

adrenalina, cortisol e endorfinas antes e depois de um grupo de voluntrios que

meditaram77. O nvel de cortisol elevado em condies de estresse, interferindo na

memria e processamento de informaes, funo digestiva, incluindo lceras,

sndrome do intestino irritvel, colite ulcerativa, doenas cardiovasculares como

hipertenso65.

O Mindfulness aplicado em diversas clnicas de tratamento de estresse, e

vrias universidades possuem centro de estudo sobre prtica como: University of

Massachussets, University of Harvard, ambas nos Estados Unidos da Amrica

(EUA), e Oxford University na Inglaterra, alm de grandes empresas como: Google,

Nike e Apple77. Foi comprovado que quanto mais profundo o estado de relaxamento,

menor a produo de hormnios do estresse78.

Entretanto, o Mindfulness como estratgia de enfrentamento ao estresse

ocupacional, aos profissionais e estudantes de Enfermagem, tem sido descrito mais

recentemente. Dos 12 artigos selecionados e analisados, foi possvel apontar duas

categorias sobre a temtica: Mindfulness aplicado a enfermeiros (as) e Mindfulness

aplicado a estudantes de Enfermagem.

40

Mindfulness aplicado aos enfermeiros (as)

Os trabalhos relatam a aplicao de treinamento de Mindfulness em grupos

de enfermeiros, em diversas locais de atuao, como oncologia, pediatria, terapia

intensiva e sade mental.

Em estudos, foram utilizados pr e ps teste como Malash Iventory Burnout;

Escala de depresso; ansiedade e estresse; Escala de Sade Geral; bem como

anlise qualitativa, buscando aferir a efetividade do treinamento de

Mindfullness79,80,81,82.

Como resultado, os estudos ressaltavam a importncia da resilincia como

estratgia essencial de resposta ao estresse ocupacional do trabalho do enfermeiro,

ajudando o profissional no equilbrio emocional e encontrando ferramentas internas

para enfrentar as adversidades. Vale ressaltar a citao em vrios trabalhos da alta

rotatividade e escassez desse profissional em diversos pases, sendo estes mais um

ponto de estresse para os profissionais de Enfermagem, alm de causar elevado

custo para as instituies de sade 79,80,81,82,83,84.

Um recente estudo, utilizado como teste piloto, nos Estados Unidos e Israel,

em grupo de profissionais de sade, composto em sua maioria de enfermeiros,

apresentou ndice de aproximadamente 100% dos profissionais com sinais de

Burnout. Aps o treinamento, no foi observado melhoria significativa dos nveis de

Burnout, ou escala de depresso, porm revelou diminuio do estresse, sensao

de paz interior, compaixo, alegria, conscincia de si prprio e diminuio dos

sintomas somticos associados ao estresse79.

Outra investigao com um grupo de 28 enfermeiras com idade entre 45 e 66

anos no Hospital da Universidade de Novo Mxico, associou o treinamento de

Mindfulness, exerccio de respirao profunda, anlise de nveis de cortisol no

sangue, e questionrio de avaliao de nvel de Distrbio de Estresse Ps-

Traumtico (Pos-traumatic stress disorder-PTSD). O nvel de cortisol sanguneo foi

medido nas 4a, 8a e 16a semanas durante o treinamento, sendo constatado que o

nvel de cortisol se normalizou e os nveis de PTSD foram reduzidos aps oito

semanas de treinamento 83. Dessa forma, ampliando perspectivas para a

necessidade eminente de enfrentamento causa do pela ocupao profissional.

41

Mindfulness aplicado aos estudantes de Enfermagem

Para os estudos que envolveram os estudantes de Enfermagem, h o relato

de experincias de treinamento em Mindfulness 85,86, no qual foram aplicados pr e

ps testes, utilizando o Self rating anxiety scale, Self rating depression, com o intuito

de verificar a efetividade do treinamento, e apontando resultados para reduo dos

nveis de depresso, ansiedade e estresse, bem como melhor qualidade de sono 85,86.

Um estudo chins associou testes para verificao de nveis de ansiedade e

depresso, avaliao do funcionamento do sistema nervoso autnomo atravs da

medida de presso arterial sistlica, antes e aps o treinamento em Mindfulness. O

grupo que passou pelo treinamento apresentou grande melhora nos ndices de

ansiedade e de estresse, alm de diminuio em mdia de 2,2 mmHg na presso

arterial sistlica, sendo observado que os participantes que obtiveram mximo

benefcio com o treinamento, eram aqueles que possuam nvel mdio de ansiedade 85.

Mindfulness um treinamento de ateno, no qual possvel, segundo os

estudos, se aprimorar as capacidades mentais como: manter o foco; capacidade de

meta-cognio; inteligncia emocional; capacidade de auto-regularo e bem-estar

fsico e emocional. H tambm atributos associados: um processo transformador,

no qual, a pessoa desenvolve uma habilidade aumentada de experincia de estar

presente com aceitao e ateno; um conceito significativo para a disciplina de

Enfermagem, com aplicao prtica para o bem-estar do enfermeiro no

desenvolvimento e sustentao das qualidades da Enfermagem e promoo da

sade holstica. Pois o bem-estar do profissional de Enfermagem importante e

deve ser foco de pesquisas e educao tanto na graduao quanto exerccio de sua

funo.

Demonstra ser uma interveno de baixo custo, eficiente e em pouco tempo

consegue controlar os sintomas do Burnout e melhorar o bem-estar. Contudo, mais

estudos so necessrios para confirmar seus efeitos no contexto complexo da interao

entre estresse profissional, cuidado ao paciente, satisfao profissional, custos

administrativos e estudantes em formao, vislumbrando programas de suporte aos

envolvidos com a Enfermagem, melhorando sua qualidade de vida e o cuidado ao

paciente.

42

3 METODOLOGIA

3.1 TIPO DE ESTUDO

A trajetria metodolgica escolhida, com vistas ao alcance dos objetivos

traados por esta investigao cientfica, foi o estudo descritivo, com abordagem

quantitativa. A pesquisa descritiva correlaciona os fatos, as variveis; observa,

registra e analisa sem manipulaes, descrevendo as caractersticas existentes em

uma comunidade, formulando claramente os problemas apresentados87. O objetivo

principal explicar, ao invs de simplesmente descrever, uma situao a qual se

isola os efeitos de variveis especficas e o entendimento dos mecanismos de

ao87. Visa tambm implementar investigaes empricas, com o objetivo de

formular questes ou problemas, no intuito de desenvolver hipteses, aumentar

familiaridade do pesquisador com o ambiente, fato ou fenmeno, para realizao de

pesquisa futura ou entender conceitos88. Em relao ao tipo de comparao utilizado

para esclarecer os processos, o intersujeitos foi o mais apropriado, pois sero

incorporadas comparaes para interpretao dos resultados 88.

As pesquisas com abordagens quantitativas usam o raciocnio dedutivo para

gerar predies, movimentando-se de modo sistemtico, ou seja, segundo uma srie

de passos em concordncia com o plano de pesquisa pr-estabelecido. Renem

evidncias empricas, que tm razes na realidade objetiva57.

Portanto, esta pesquisa constitui-se de um estudo descritivo-exploratrio, com

abordagem quantitativa, no Hospital Universitrio Antnio Pedro (HUAP) da

Universidade Federal Fluminense (UFF).

3.2 CAMPO DE PESQUISA

A formulao de dados empricos teve como cenrio o Hospital Universitrio

Antnio Pedro (HUAP), situado na cidade de Niteri Regio Metropolitana do Rio

de Janeiro. Atualmente, o HUAP a maior e mais complexa unidade de sade da

grande Niteri e, portanto, considerado, na hierarquia do SUS, como hospital de

nvel tercirio e quaternrio, isto , unidade de sade de alta complexidade de

atendimento. Atende a populao da Regio Metropolitana II, que engloba, alm de

43

Niteri, as cidades de Itabora, Maric, Rio Bonito, So Gonalo, Silva Jardim e

Tangu. Sua rea de abrangncia atinge uma populao estimada em mais de dois

milhes de habitantes e, pela proximidade com a cidade do Rio de Janeiro, atende

tambm parte da populao desse municpio.

Como participantes da pesquisa, foi solicitado a colaborao dos

componentes da equipe de Enfermagem, compreendidos entre enfermeiros,

tcnicos e auxiliares de Enfermagem, que aceitaram participar e no se

encontravam de licena mdica, frias ou afastados por qualquer outro motivo por

ocasio da realizao da pesquisa. A equipe de Enfermagem, no perodo da

pesquisa, no Hospital Universitrio, era composta de 749 trabalhadores de

Enfermagem, distribudos nas categorias da seguinte forma: 184 enfermeiros, 342

tcnicos de Enfermagem e 205 auxiliares de Enfermagem.

3.3 DETERMINAO DO TAMANHO AMOSTRAL

A populao deste estudo foi determinada a partir de todos os profissionais de

Enfermagem que trabalham no HUAP. Registros da instituio mostram que, no ano

de 2016, o hospital tinha 307 profissionais aptos para a pesquisa, entendidos como

os que prestam assistncia direta ao paciente internado nas unidades crticas e

enfermarias de internao para tratamento clnico ou cirrgico, sendo excludos os

setores de diagnsticos e ambulatoriais, diretoria, gerncias, superviso e diversas

comisses hospitalares. Assim, a populao de interesse teve tamanho estimado

de 307 casos.

Para consecuo dos resultados de interesse e pela impossibilidade envolver

toda a populao na pesquisa, foi determinada uma amostra aleatria da populao

definida anteriormente. Considerando-se uma seleo por amostragem aleatria

simples e margem de erro global resultante de no mximo 5% na estimao de

frequncias relativas para a classificao do escore Hardiness, o tamanho total da

amostra ( n ), corrigido pelo tamanho da populao , foi determinado por:

2

2

2

2

1Nd

pqzd

pqz

n

44

Aqui, z refere-se ao valor da varivel aleatria com distribuio normal padro

para o qual o valor da funo de distribuio acumulada igual a 2/)1( ( nvel

de confiana). Sendo assim, o valor de z est intimamente ligado ao intervalo de

confiana desejado para as propores de interesse. No presente caso, foi usado

um intervalo de confiana de 95%, cujo valor correspondente a esta rea na curva

normal de 1,96; p a estimativa preliminar da proporo de interesse e pq 1 .

Devido insuficincia preliminar de estimativa para as propores desejadas, o

produto pq foi substitudo pelo seu valor mximo: 0,25 e d refere-se a margem de

erro (no caso, 0,05)89. Assim, o tamanho mnimo da amostra de estudo determinado

para este trabalho foi de 171 profissionais. Com este tamanho amostral e

populacional, a presente pesquisa est sujeita a erros mximos de 5% nas

propores estimadas, ao nvel de 95% de confiana. A determinao dos

profissionais que compuseram a amostra foi feita de forma aleatria simples.

3.4 PROCEDIMENTOS DA PESQUISA

3.4.1 Instrumentos de Abordagem

Aps ajustes no estudo piloto, os questionrios foram apresentados aos

profissionais, bem como a finalidade da pesquisa, sendo observado que o

profissional se sentia interessado em participar, relatando vrias dificuldades de sua

atividade diria e a carncia de ateno para suas necessidades. Alguns

profissionais preferiram responder durante o planto, no horrio de menor carga de

trabalho. Enquanto, os lotados nas unidades de terapia intensiva e emergncia

optaram, em sua grande maioria, em preencher os questionrios em horrio mais

livre ou mesmo em sua residncia.

Para coleta de dados, foram utilizados dois instrumentos. O primeiro, um

questionrio para Caracterizao da Amostra (Apndice 4), elaborado para este

estudo e composto de 13 perguntas estruturadas de mltipla escolha ou de

complemento, com abrangncia de diferentes esferas da vida do participante como:

sexo, idade, estado civil, nmero de dependentes, tempo de exerccio profissional,

cargo, rea de atuao, turno de trabalho, tempo de trabalho na instituio, situao

contratual, nmero de empregos, horas de sono, e frias anuais.

45

E o segundo instrumento utilizado foi a Escala de Hardiness (Anexo 1),

originalmente elaborada por Maddi, Bartone e Pucetti (1989)11 dos Estados Unidos

da Amrica, adaptada culturalmente por Patrcia Serrano, em 2009, para o idioma

portugus, com enfermeiros que atuam em sade pblica, e obtendo a consistncia

interna atravs do Alfa de Cronbach de 0,741.

Trata-se de uma escala tipo Likert, com escores que variam de 0 (nada

verdadeiro) a 3 (totalmente verdadeiro), com 30 itens divididos em trs domnios:

compromisso, controle e desafio, com o objetivo medir o quanto de Hardiness o

indivduo tem e qual dos domnios ele apresenta maior desempenho. Cada domnio

possui 10 itens, sendo 5 em cada um deles invertidos, como apresentado no quadro

abaixo:

Quadro 2 Domnios da Escala de Hardiness e itens correspondentes

DOMNIOS ITENS

Compromisso 1, 6, 7, 11, 16, 17, 22, 27,28 e 30

Controle 2, 3, 8, 9, 12, 15, 18, 20, 25 e 29

Desafio 4, 5, 10, 13, 14, 19, 21, 23, 24 e 26

Adaptado de Serrano, P.M. Adaptao Cultural da Hardiness Scale (HS). Escola de Enfermagem da Universidade de So Paulo.2009

O resultado desta escala obtido atravs da soma dos itens, tendo os

escores dos itens 3, 4, 5, 6, 8, 13, 16, 18, 19, 20, 22, 23, 25, 28 e 30 invertidos para

ento ser somados, permitindo o resultado por domnio e pela composio total da

escala, classificando a presena das atitudes hardy em Baixo (0-30), Mdia (31-

60) e Alto (61-90). Cada domnio possui 10 itens, sendo 5 em cada um deles

invertidos.

3.4.2 Coleta de Dados

A coleta de dados do estudo piloto deu-se em maro de 2016, enquanto da

investigao, foi realizada de abril a outubro de 2016 pela pesquisadora, com

durao mdia de 30 minutos por profissional, nos trs turnos de trabalho (planto

diurno, planto noturno, diarista) do Hospital Universitrio Antnio Pedro. Os setores

foram escolhidos de maneira aleatria a saber: Clnica Mdica, Clnica Cirrgica,

46

Centro de Terapia Intensiva (CTI), Emergncia, Ambulatrio, Unidade Coronariana

(UCO), Hematologia, Centro Cirrgico, Central de Material, Pediatria, Maternidade,