Qualidade Do Emprego
Transcript of Qualidade Do Emprego
-
7/24/2019 Qualidade Do Emprego
1/211
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CINCIAS HUMANASPROGRAMA DE PS-GRADUAO EM SOCIOLOGIA
QUALIDADE DO EMPREGO EM CONTEXTO DE MUDANA TECNOLGICA:O caso das operadoras de telefonia mvel celular
Dissertao de Mestrado
Daniel Gustavo Mocelin
Porto Alegre, 9 de dezembro de 2006.
-
7/24/2019 Qualidade Do Emprego
2/211
2
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SULINSTITUTO DE FILOSOFIA E CINCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM SOCIOLOGIA
Dissertao de Mestrado
QUALIDADE DO EMPREGO EM CONTEXTO DE MUDANA TECNOLGICA:O caso das operadoras de telefonia mvel celular
Dissertao apresentada bancaexaminadora do Programa de Ps-
Graduao em Sociologia/UFRGS comorequisito para a obteno do ttulo deMestre em Sociologia.
OrientadoraSnia Maria Karam Guimares
Daniel Gustavo MocelinAluno de Mestrado Acadmico, PPG Sociologia/UFRGS, 2005
Porto Alegre, 9 de dezembro de 2006.
-
7/24/2019 Qualidade Do Emprego
3/211
3
Agradecimentos
Devo gratido a algumas pessoas,
Sonia Maria Karam Guimares, orientadora, seu profissionalismo e dedicao
pesquisa so, para mim, exemplos a serem seguidos.
Lus Fernando Santos Corra da Silva, primeiro colega no desbravamento da
sociologia do trabalho, nos estudos sobre os call centers.
Maurcio Rombaldi, colega que me indicou para a bolsa de apoio tcnico no grupo de
pesquisa, sem o qual eu no poderia ter iniciado a trajetria que me trouxe at aqui.
Elvis Vitoriano da Silva, interlocutor nos dois anos de trabalho conjunto; companheiro
de discusses, muitas vezes rspidas; e parceiro em eventos pelo Brasil.
Gonzalo Graa Oliveira, amigo de todas as horas e que ficou por algum tempo como
tcnico de nosso grupo.
Mara Yoshara Catacora Salas, por sua disponibilidade em me ajudar a interpretar e
traduzir a vasta literatura referente ao tema, e principalmente por seu coleguismo.
Lucas Rodrigues Azambuja, pelas bibliografias enviadas e pelas crticas sempre
pertinentes, porm nem sempre aceitas.Leandro Raizer, pelo dilogo intelectual que sempre conseguimos estabelecer.
Agradecimentos se fazem necessrios s professoras que contriburam decisivamente
na minha formao: Maria Estela Dal Pai Franco, que me apresentou a pesquisa; Clarissa
Eckert Baeta Neves, que me resgatou para a rea de sociologia;Anita Brumer, incentivadora,
e sempre presente nas fazes decisivas de minha trajetria profissional; Cnara Lerrer
Rosenfield, debatedora.
Agradeo Gislaine Fraga Medeiros, companheira amada, que entrou na minha vida
quando ingressei no curso de mestrado, me acompanhando nesse desafio.
Agradeo tambm ao Conselho Nacional de Desenvolvimento cientfico e
Tecnolgico CNPq, e a Coordenao de Aperfeioamento do Pessoal de Nvel Superior
Capes, pelos subsdios financeiros necessrio ao desenvolvimento dessa pesquisa.
Dedico este trabalho aos meus pais, Joo Carlos Mocelin e Leocdia Lykawka
Mocelin, que forneceram os suportes para eu chegar at aqui.
-
7/24/2019 Qualidade Do Emprego
4/211
4
Resumo
QUALIDADE DO EMPREGO EM CONTEXTO DE MUDANA TECNOLGICA: O caso das operadoras detelefonia mvel celular.
O estudo discute conceitualmente a qualidade do emprego seguindo um vis crtico de abordagem do temaconsiderando-se o contexto da sociedade informacional. O estudo desenvolvido realizando um diagnstico
sobre a qualidade do emprego no segmento de telefonia mvel celular brasileiro, entendendo que em segmentosemergentes de emprego estabelecem-se processos particulares que implicam em diferenciais ao discutir aconcepo da qualidade do emprego. Qualidade do emprego uma matria indefinida e polmica que foi tratadaa partir de modelos padres de emprego, geralmente sustentados na sociedade industrial. No mbito dastransformaes da realidade do trabalho e do surgimento de uma mo-de-obra de perfil diferenciado, sugere-seuma lgica distinta de avaliao da qualidade do emprego, condizente com os padres vigentes. No estudoinvestigou-se como se expressa a qualidade do emprego nas operadoras de telefonia mvel celular a partir daconjugao entre as caractersticas gerais dos empregos e o perfil dos trabalhadores que esto empregados nestasempresas. A rotina do trabalho passa a ser marcada pela capacidade de ajustar-se e de estar sempre motivado,por isso, nestas empresas, buscam-se trabalhadores com perfil voltil, aspectos que tm caracterizado uma mo-de-obra jovem. As condies de emprego parecem condizer com as aspiraes do perfil de trabalhadordemandado. A qualidade do emprego nas empresas investigadas tambm reside na formao de uma culturaque desperta no trabalhador a necessidade de reforar a sua empregabilidade. Nessa conjugao entre exigncias
do emprego e aspiraes dos trabalhadores os empregos podem demonstrar-se satisfatrios, expressando-secomo empregos de qualidade. Qualidade do emprego mais palpvel quando se refere a este circuito deaspectos, e no a uma pr-concepo de um emprego de qualidade.
Palavras-chave: emprego; qualidade do emprego; telefonia mvel celular
Abstract
QUALITY OF JOB IN CONTEXT OF TECHNOLOGICAL CHANGE: The case of the operators of cellularmobile telephony
Quality of job is an indefinite and controversial subject that was dealt with from models standards job, generallysupported in the industrial society. In the scope of the transformations of the reality of the work and thesprouting of a work force of differentiated profile, a logic distinct of evaluation of the quality of the job issuggested, understanding with the effective standards. In the study it was investigated as if express the quality ofthe job in the operators of cellular mobile telephony from the conjugate enters the general characteristics of the
jobs and the profile of the workers who are used in these companies. The routine of the work passes to bemarked by the capacity to adjust themselves and to be always motivated, therefore, in these companies, theysearch diligent with volatile profile, aspects that have characterized a young work force. The job conditions seemto understanding with the aspirations of the profile of demanded worker. The quality of job in the companies alsoinvestigated inhabits in the formation of a culture that awakes in the worker the necessity to strengthen itsempregability. In this conjugate between requirements of the job and aspirations of the workers the jobs can bedemonstrated satisfactory, expressing itself as quality jobs. Quality of job is more concrete when it ismentioned to this circuit of aspects, and not to a preconception of a quality jobs.
Word-Keys: job; quality of job; wirelless
-
7/24/2019 Qualidade Do Emprego
5/211
5
Sumrio
Pg.
Agradecimentos ......................................................................................................... 3
Resumo ...................................................................................................................... 4
Abstract ...................................................................................................................... 4
Lista de Ilustraes .................................................................................................... 7
Introduo ................................................................................................................ 11
Abordagens sobre qualidade do emprego ........................................................ 18
Instrumentalizao da qualidade do emprego e metodologia .......................... 23
Procedimentos metodolgicos ................................................................... 24
Coleta de dados sobre o caso ..................................................................... 25
Tcnica de anlise ...................................................................................... 27
Experincia de campo ................................................................................ 28
Desenho da dissertao .............................................................................. 30
Captulo 1 Qualidade do emprego: um fenmeno em mutao?........................ 32
1.2 Das origens s controvrsias ...................................................................... 33
1.2 Uma definio em aberto ........................................................................... 45
1.3 Qualidade do emprego e emprego de qualidade .................................... 56
1.4 Existem correntes de pensamento sobre a qualidade do emprego? ....... 60
1.5 Qualidade do emprego no Brasil ............................................................... 63
1.6 Qualidade do emprego e satisfao com o emprego ................................. 65
1.7 Qualidade do emprego e recentes consideraes sobre o emprego emcontexto de mudana tecnolgica ....................................................................
69
1.8 Concluso: mais um passo ......................................................................... 79
Captulo 2 Empregos nas telecomunicaes.......................................................... 84
2.1 Mudanas no setor de telecomunicaes: expanso e diversificao ........ 84
2.2 Quantidade de empregos no setor de telecomunicaes ............................ 89
2.3 Condies de emprego e perfil da mo-de-obra nas atividades detelecomunicaes .............................................................................................
92
2.4 Expanso das telecomunicaes e mudanas no perfil da mo-de-obra .... 108
2.5 Concluso ................................................................................................... 113
-
7/24/2019 Qualidade Do Emprego
6/211
6
Captulo 3 O contexto de mudana tecnolgica e as implicaes no ambienteempresarial ...............................................................................................................
114
3.1 Surgimento e formao da telefonia mvel celular no Brasil .................... 115
3.2 Expanso e competio no segmento de telefonia mvel celular .............. 117
3.3 Lucro ou sobrevivncia .............................................................................. 1253.4 Concluso ................................................................................................... 128
Captulo 4 Qualidade do emprego nas operadoras de telefonia mvel celular.. 130
4.1 Caractersticas dos empregos ..................................................................... 131
4.2 Perfil dos empregados nas operadoras de telefonia mvel celular ............ 141
4.3 Condies de emprego nas operadoras de telefonia mvel celular ........... 149
4.3.1 Contrato, remunerao, benefcios, tempo de emprego .................... 149
4.3.2 Responsabilidade corporativa ........................................................... 156
4.4 Reforo da empregabilidade e mercado de trabalho ................................. 160
4.5 Representao e organizao dos interesses dos trabalhadores ................ 167
4.6 Algumas pistas sobre a satisfao com o emprego .................................... 169
4.7 Concluso ................................................................................................... 174
Concluso................................................................................................................. 177
Bibliografia e Referncias Bibliogrficas .............................................................. 181
ANEXO 1 Instrumento metodolgico ...................................................................... 191
ANEXO 2 Tabelas e quadros complementares ......................................................... 192
-
7/24/2019 Qualidade Do Emprego
7/211
7
Lista das ilustraes
Quadros
*Anexo 2Pg.
Quadro 1:Fontes de informaes do estudo-de-caso 27
Quadro 2:Evoluo da produtividade nas empresas de telefonia mvel celular Empresa A, B e C, 2003-2005 122
Quadro 3:Perfil dos empregados por reas nas operadoras de telefonia mvel celular 147
Quadro 4: Dispndio financeiro das operadoras de telefonia mvel celular com salrio Empresa A, Empresa Be Empresa C, 2003 e 2004
149
Quadro 5: Dispndio financeiro das operadoras de telefonia mvel celular com benefcios Empresa A,Empresa B e Empresa C, 2003 e 2004
151
Quadro 6:Condies de emprego por reas nas operadoras de telefonia mvel celular 153
Quadro 7:Indicadores sociais, diversidade Empresas A, B e C, 2004. 155
Quadro 8: Informaes sobre responsabilidade social Empresa A, Empresa B e Empresa C, 2004 159
Quadro 9: Contedos dos acordos coletivos de trabalho Empresas A, B e C 168
Quadro 10:Mdias de satisfao do emprego segundo as atribuies do emprego na opinio dos empregados Empresa B (Regional Sul), 2004
171
Quadro 11: Atribuies do emprego na opinio dos empregados (satisfao) por atividade segundo ordemdecrescente dos melhores aos piores ndices* Empresa B (Regional Sul), 2004
172
Quadro 12:Atribuies do emprego na opinio dos empregados (satisfao) por funo e tempo de empresasegundo ordem decrescente dos melhores aos piores ndices* Empresa B (Regional Sul), 2004
173
Quadro 13:Qualidade do emprego por reas nas operadoras de telefonia mvel celular
*Quadro 14: Distribuio do percentual de empregos formais por faixa de rendimento mdio para o sexomasculino e feminino Brasil, setor de servios, telecomunicaes, agregado de telecomunicaes e obras emtelecomunicaes e obras em telecomunicaes, 2004 199
*Quadro 15:Distribuio do percentual de empregos formais por tempo de emprego para o sexo masculino efeminino Brasil, setor de servios, telecomunicaes, agregado de telecomunicaes e obras emtelecomunicaes e obras em telecomunicaes, 2004
201
*Quadro 16:Distribuio do percentual de empregos formais por escolaridade para o sexo masculino e feminino Brasil, setor de servios, telecomunicaes, agregado de telecomunicaes e obras em telecomunicaes eobras em telecomunicaes, 2004
203
Grficos
Grfico 1:Evoluo do nmero de acessos instalados na telefonia fixa e na telefonia mvel celular Brasil,1990-2005
86
Grfico 2:Evoluo da densidade na telefonia fixa e na telefonia mvel celular Brasil, 1990-200587
Grfico 3:Evoluo do nmero de empregos nas empresas de telefonia fixa Brasil, 1990-200589
Grfico 4:Evoluo do nmero de empregos no setor de telecomunicaes Brasil, 1994-200490
Grfico 5:Evoluo do nmero de empregos em trs empresas de telefonia mvel celular Brasil, 2002-200591
Grfico 6:Evoluo da participao percentual dos empregados no setor de telecomunicaes por faixa deremunerao (em salrios mnimos) Brasil 1994-2004
93
Grfico 7:Evoluo da relao entre maiores e menores rendimentos no setor de telecomunicaes Brasil,1994-2004
93
Grfico 8:Distribuio percentual por faixas de rendimento Brasil, 200494
Grfico 9:Distribuio percentual por faixas de rendimento Setor de Servios, 200495
Grfico 10:Distribuio percentual por faixas de rendimento Telecomunicaes, 200495
Grfico 11:Remunerao mdia individual Brasil, Setor de Servios e Telecomunicaes, 200496
Grfico 12:Evoluo da participao percentual dos empregados no setor de telecomunicaes por faixa detempo de emprego (em meses) Brasil 1994-2004
97
Grfico 13: Distribuio percentual do nmero de empregados por tempo de emprego Brasil, Setor deServios e Telecomunicaes, 2004 98
Grfico 14: Evoluo da participao percentual dos empregados no setor de telecomunicaes por tipoadmisso Brasil 1994-2004
99
-
7/24/2019 Qualidade Do Emprego
8/211
8
Grfico 15:Evoluo da participao percentual dos empregados no setor de telecomunicaes por faixa dehoras contratadas (jornada de trabalho semanal) Brasil 1994-2004
100
Grfico 16:Evoluo da participao percentual dos empregados no setor de telecomunicaes por sexo Brasil 1994-2004
101
Grfico 17: Evoluo da participao percentual dos empregados por sexo Brasil, Setor de Servios eTelecomunicaes, 2004
101
Grfico 18:Distribuio de faixas de remunerao por sexo* Telecomunicaes, 2004102
Grfico 19:Evoluo da participao percentual dos empregados no setor de telecomunicaes por faixa etria(em anos de idade) Brasil 1994-2004
103
Grfico 20:Distribuio percentual do nmero de empregados por faixa etria Brasil, Setor de Servios eTelecomunicaes, 2004
103
Grfico 21:Idade mdia Brasil, Setor de Servios e Telecomunicaes, 2004104
Grfico 22: Idade mdia por tempo de emprego Brasil, Setor de servios e Telecomunicaes, 2004104
Grfico 23: Evoluo da participao percentual dos empregados no setor de telecomunicaes porescolaridade Brasil 1994-2004
105
Grfico 24:Distribuio percentual do nmero de empregados por faixa de escolarizao Brasil, Setor deServios e Telecomunicaes, 2004
105
Grfico 25:Rendimento mdio individual em Reais (R$) por nvel de escolaridade Brasil, Setor de Servios e
Telecomunicaes, 2004
107
Grfico 26:Relao entre a evoluo de acessos telefnicos instalados (fixa e celular) e a evoluo do nmerode empregados com mais de 10 anos de emprego Telecomunicaes, 1994-2004
108
Grfico 27:Relao entre a evoluo de acessos telefnicos instalados (fixa e celular) e a evoluo do nmerode empregados com at 29 anos de idade Telecomunicaes, 1994-2004
109
Grfico 28:Relao entre a evoluo de acessos telefnicos instalados (fixa e celular) e a evoluo do nmerode empregados que no foram admitidos no ano Telecomunicaes, 1994-2004
109
Grfico 29:Relao entre a evoluo de acessos telefnicos instalados (fixa e celular) e a evoluo do nmerode empregados com escolaridade maior que o ensino mdio Telecomunicaes, 1994-2004
110
Grfico 30: Relao entre a evoluo do percentual de empregados com at 12 meses de emprego e aevoluo do percentual de empregados com rendimento superior a 20 salrios mnimos no setor detelecomunicaes Brasil, 1994-2004
111
Grfico 31:Relao entre a evoluo do percentual de empregados com at 29 anos de idade e a evoluo dopercentual de empregados com at 12 meses de emprego no setor de telecomunicaes Brasil, 1994-2004 111
Grfico 32: Distribuio dos empregos por grande grupo de ocupaes, segunda a CBO Setor deTelecomunicaes, 2004
112
Grfico 33:Evoluo da participao percentual dos tipos de planos da telefonia mvel celular, Brasil, 1998-2005
116
Grfico 34:Competio no segmento de telefonia mvel celular por banda Brasil, 1997-2005119
Grfico 35:Competio no segmento de telefonia mvel celular por tecnologia Brasil, 2002-2005120
Grfico 36:Competio no segmento de telefonia mvel celular por participao de mercado das empresas(Market Share) Brasil, 2002-2005
121
Grfico 37:Evoluo e distribuio do nmero de clientes por regio (filiais regionais) Empresa A, 2002-2005123
Grfico 38:Evoluo e distribuio da receita lquida por regio (filiais regionais) Empresa A, 2002-2005123
Grfico 39:Evoluo e distribuio do nmero de empregos por regio (filiais regionais) Empresa A, 2002-2005
124
Grfico 40: Evoluo da produtividade (nmero de clientes por empregados) por regio (filiais regionais) Empresa A, 2002-2005
124
Grfico 41:Evoluo da participao de mercado (Market Share) por regio (filiais regionais) Empresa A,2002-2005
125
Grfico 42:Evoluo do lucro (prejuzo) lquido (em milhes de R$) e evoluo dos investimentos (em milhesde R$) Empresa A, 2002-2005
126
Grfico 43:Relao entre a evoluo do nmero de clientes e a evoluo do nmero de empregados (total) Empresa A, 2002-2005
127
Grfico 44:Relao entre a evoluo da participao de mercado (Market Share) e a evoluo da produtividade(nmero de clientes por empregado) Empresa A, 2002-2005
127
Grfico 45:Evoluo e distribuio do nmero de empregos por reas Empresa A, 2002-2005 136
Grfico 46:Evoluo e distribuio do nmero de empregos por reas Empresa C, 2002-2005136
Grfico 47:Distribuio percentual de empregos por reas Empresa B, 2004137
-
7/24/2019 Qualidade Do Emprego
9/211
9
Grfico 48:Distribuio dos empregados em operadoras de telefonia mvel celular por sexo Empresa A,2004-2005; Empresa C, 2004
142
Grfico 49:Distribuio percentual dos empregados por sexo Empresa B, 2005142
Grfico 50:Distribuio dos empregados em operadoras de telefonia mvel celular por faixa etria EmpresaA, 2004-2005; Empresa C, 2004
143
Grfico 51:Distribuio percentual dos empregados por faixa etria Empresa B, 2005144
Grfico 52:Distribuio dos empregados em operadoras de telefonia mvel celular por escolaridade EmpresaA, 2004-2005; Empresa C, 2004
145
Grfico 53:Distribuio percentual dos empregados por escolaridade Empresa B, 2005146
Grfico 54:Distribuio dos empregados em operadoras de telefonia mvel celular por tempo de empresa Empresa A, 2004-2005; Empresa C, 2004
154
Grfico 55:Distribuio dos empregados por tempo de empresa Empresa B, 2004155
Tabelas
Tabela 1:Distribuio do nmero de vnculos de emprego, massa salarial e rendimento mdio individual porfaixa etria* Brasil, Setor de Servios e Telecomunicaes, 2004
106
Tabela 2:Distribuio do nmero de vnculos de emprego, massa salarial e rendimento mdio individual por
grau de instruo* Brasil, Setor de Servios e Telecomunicaes, 2004
107
Tabela 3:Evoluo da telefonia mvel celular por banda Brasil, 1990-2005118
Tabela 4:Evoluo da rede de distribuio (comrcio de produtos e servios*) Empresa A, 2003-2005133
Tabela 5:Perfil dos salrios mdios por cargo, sexo e cor Empresa A, 2003150
Tabela 6:Perfil dos salrios mdios por cargo e sexo Empresa C, 2004150
Tabela 7:Dinmica do mercado de trabalho Empresas A, B e C, 2003-2004160
*Tabela 8:Evoluo da distribuio de vnculos de emprego no setor de telecomunicaes por sexo Brasil,1994-2004
192
*Tabela 9:Evoluo da distribuio de vnculos de emprego no setor de telecomunicaes por escolaridade Brasil, 1994-2004
192
*Tabela 10:Evoluo da distribuio de vnculos de emprego no setor de telecomunicaes por faixa etria
Brasil, 1994-2004193
*Tabela 11:Evoluo da distribuio de vnculos de emprego no setor de telecomunicaes por faixa de tempode emprego Brasil, 1994-2004
193
*Tabela 12:Evoluo da distribuio de vnculos de emprego no setor de telecomunicaes por faixa de horascontratadas Brasil, 1994-2004
194
*Tabela 13: Evoluo da distribuio de vnculos de emprego no setor de telecomunicaes por tipo deadmisso Brasil, 1994-2004
194
*Tabela 14: Evoluo da distribuio de vnculos de emprego no setor de telecomunicaes por faixa deremunerao em dezembro Brasil, 1994-2004
195
*Tabela 15: Distribuio do nmero de empregos formais por faixa de rendimento mdio Brasil, setor deservios, telecomunicaes, agregado de agregado de telecomunicaes e obras em telecomunicaes e obrasem telecomunicaes, 2004
196
*Tabela 16:Distribuio do nmero de empregos formais por faixa de rendimento mdio para o sexo masculino Brasil, setor de servios, telecomunicaes, agregado de telecomunicaes e obras em telecomunicaes eobras em telecomunicaes, 2004
197
*Tabela 17:Distribuio do nmero de empregos formais por faixa de rendimento mdio para o sexo feminino Brasil, setor de servios, telecomunicaes, agregado de telecomunicaes e obras em telecomunicaes eobras em telecomunicaes, 2004
198
*Tabela 18:Distribuio do nmero de empregos formais por tempo de emprego Brasil, setor de servios,telecomunicaes, agregado de agregado de telecomunicaes e obras em telecomunicaes e obras emtelecomunicaes, 2004
200
*Tabela 19:Distribuio do nmero de empregos formais por tempo de emprego para o sexo masculino Brasil,setor de servios, telecomunicaes, agregado de telecomunicaes e obras em telecomunicaes e obras emtelecomunicaes, 2004
200
*Tabela 20:Distribuio do nmero de empregos formais por tempo de emprego para o sexo feminino Brasil,setor de servios, telecomunicaes, agregado de telecomunicaes e obras em telecomunicaes e obras em
telecomunicaes, 2004
201
*Tabela 21: Distribuio do nmero de empregos formais por escolaridade Brasil, setor de servios,telecomunicaes, agregado de telecomunicaes e obras em telecomunicaes e obras em telecomunicaes,2004
202
-
7/24/2019 Qualidade Do Emprego
10/211
10
*Tabela 22:Distribuio do nmero de empregos formais por escolaridade para o sexo masculino Brasil, setorde servios, telecomunicaes, agregado de telecomunicaes e obras em telecomunicaes e obras emtelecomunicaes, 2004
202
*Tabela 23:Distribuio do nmero de empregos formais por escolaridade para o sexo feminino Brasil, setorde servios, telecomunicaes, agregado de telecomunicaes e obras em telecomunicaes e obras emtelecomunicaes, 2004
203
*Tabela 24:Distribuio do nmero de empregos formais por faixa etria dos empregados Brasil, setor deservios, telecomunicaes, agregado de telecomunicaes e obras em telecomunicaes e obras emtelecomunicaes, 2004
204
*Tabela 25: Distribuio dos vnculos de emprego por faixa de rendimento segundo a faixa de tempo deemprego Setor de Telecomunicaes (Brasil), 2004
205
*Tabela 26: Distribuio dos vnculos de emprego por faixa de rendimento segundo a faixa de tempo deemprego Setor de Servios (Brasil), 2004
205
*Tabela 27: Distribuio dos vnculos de emprego por faixa de rendimento segundo a faixa de tempo deemprego Brasil, 2004
206
*Tabela 28:Distribuio do nmero de empregos formais por tipo de vinculo empregatcio Brasil, setor deservios, telecomunicaes, agregado de telecomunicaes e obras em telecomunicaes e obras emtelecomunicaes, 2004
207
*Tabela 29:Distribuio do nmero de empregos formais por tipo de vinculo empregatcio por grandes setoreseconmicos Brasil, 2004
208
*Tabela 30:Distribuio do nmero de vnculos de emprego inativos (em 31 de dezembro) segundo a causa dodesligamento Telecomunicaes, 2004
209
*Tabela 31:Distribuio do nmero de vnculos de emprego inativos (em 31 de dezembro) segundo a causa dodesligamento Setor de servios, 2004
210
*Tabela 32:Distribuio do nmero de vnculos de emprego inativos (em 31 de dezembro) segundo a causa dodesligamento Brasil, 2004
210
-
7/24/2019 Qualidade Do Emprego
11/211
11
Introduo
Nessa dissertao investigou-se como se expressa a qualidade do emprego nas
operadoras de telefonia mvel celular a partir da conjugao entre as caractersticas gerais dos
empregos e o perfil dos trabalhadores que esto empregados nestas empresas. A escolha destesegmento deveu-se ao fato de serem as empresas que o compem tecnologicamente de ponta,
bastante recentes e marcadas pela produo de servios, campo de investigao condizente
com a realidade atual e sugestivo para estudos sobre a qualidade do emprego. Nesse estudo,
abordou-se a qualidade do emprego privilegiando a diferenciao das situaes de emprego
na sociedade contempornea. Um pressuposto da investigao que qualidade do emprego
est associada caracterizao do ambiente social, cultural e institucional em que se analisam
os empregos, e dos processos que operam neste contexto, que incluem mudanas nas formasde organizao produtiva, nos sistemas de organizao do trabalho, no mercado de trabalho,
nas condies de emprego e no perfil e comportamento da mo-de-obra.
Uma abordagem sobre qualidade do empregoprecisaria estar atenta s implicaes de
processos como o desenvolvimento e o ritmo da introduo das inovaes tecnolgicas nas
empresas, a liberalizao do mercado, o funcionamento dos mercados de trabalho, a
rotatividade da mo-de-obra, as exigncias de uma formao permanente, entre outros. Esses
so processos que atingem em diferente grau os setores e as atividades econmicas,
implicando as avaliaes da qualidade do empregotambm distintamente. Com isso, destaca-
se que o que foi analisado neste estudo a partir do caso das operadoras de telefonia mvel
celular no necessariamente se reproduza em outros setores, embora possa apontar para uma
tendncia: estar se argumentando sobre o que haveria de mais avanado em termos de
desenvolvimento produtivo e de relaes de emprego no setor de servios.
Qualidade do empregono uma questo acabada. Abordar o tema consiste em lidar
com matria polmica e ainda pouco definida. Em muitos casos, a expresso qualidade do
emprego utilizada, sobretudo, como expresso adjetiva sobre uma dada situao de
emprego e menos como uma questo de anlise: do ponto de vista sobre o trabalhador,
-
7/24/2019 Qualidade Do Emprego
12/211
12
geralmente refere-se s condies de emprego. Infante e Vega-Centeno (1999) afirmaram que
a qualidade do emprego poderia ser considerada desde a perspectiva dos diferentes agentes
que atuam no mercado, sejam os trabalhadores, as empresas ou os governos. Para os
trabalhadores, qualidade do empregoestaria vinculada a fatores que redundam no aumento
sustentado de seu bem-estar. Nesta perspectiva, a concepo de qualidade do empregosuporia a existncia de atributos objetivos das condies de emprego como remunerao,
benefcios, incluso e segurana, e de atributos mais subjetivos como a satisfao e gosto pelo
que se faz. Para as empresas, qualidade do empregoestaria relacionada necessidade destas
organizaes em serem competitivas, exigindo alta produtividade e crescimento. Uma das
preocupaes das empresas seria a necessidades de reduzir custos no curto prazo, o que, em
geral, seria alcanado atravs da reduo de pessoal e, muitas vezes, atravs da
subcontratao; processos que implicariam na deteriorao das condies contratuais e deproteo dos trabalhadores, prejudicando a qualidade do emprego desde a perspectiva dos
empregados, mas incrementando certos aspectos desde a perspectiva das empresas. Para o
Estado, qualidade do empregoestaria vinculada a aspectos distributivos, isto , a reduo da
pobreza e da desigualdade social, requisitos para alcanar a estabilidade econmica e reduzir
a taxa conhecida como risco pas. Neste estudo, adota-se a perspectiva sobre os
trabalhadores, contudo, essas distintas perspectivas no precisam ser consideradas
isoladamente, pois possvel encontrar entre elas convergncias. Alm disso, deve-se estar
atento para o tratamento de coisas distintas que o dimensionamento expresso por Infante e
Vega-Centeno aponta quando tratam dos diferentes agentes de mercado.
A literatura apresenta divergncias sobre a definio de qualidade do emprego. A
sociedade salarial do sculo XX forneceu parmetros para a compreenso da qualidade do
emprego, porm estes no se ajustam como fonte de referncia frente atual realidade do
trabalho de alguns segmentos econmicos, especialmente os que lidam com tecnologia
avanada e informao. No setor de telecomunicaes, contexto maior do caso investigado
neste estudo, por exemplo, princpios como estabilidade e permanncia, que fundamentaram a
concepo tradicional da qualidade do emprego, so desafiados por processos como
rotatividade e mobilidade. Os aspectos questionveis no debate sobre qualidade do emprego
consistem na considerao de parmetros de anlise no condizentes com os padres do
presente, como, por exemplo, as caractersticas da produo com nfase na qualidade e na
diferenciao ou a alterao na composio e no perfil da mo-de-obra disponvel no mercado
de trabalho. Independente de controvrsias importante ter presente que em toda a literatura a
seu respeito, qualidade do emprego compe um complexo conceitual, em que circulam
-
7/24/2019 Qualidade Do Emprego
13/211
13
diversos conceitos, demonstrando o quanto essa temtica intercala dimenses, conecta
contextos, permeia ideologias, e, conseqentemente, gera dvidas.
A ausncia de um consenso conduziu a maioria dos pesquisadores a adotar e a sugerir
aspectos-chave que muitas vezes convergem, porm, em outras, tornam-se questionveis. Os
princpios que esto sempre presentes nos estudos sobre o tema so: a formalizao doemprego e a manuteno dos direitos legais vinculados aos empregos em benefcio dos
trabalhadores; a melhoria das condies de emprego para os trabalhadores; a integridade da
sade dos trabalhadores, o desenvolvimento profissional ou scio-ocupacional dos
trabalhadores. Tais princpios constituem-se a partir do que poderia ser compreendido como
uma rede de suportes em que se destaca a remunerao, os benefcios, a segurana no
emprego, a escolaridade dos trabalhadores, elementos que diro respeito ao bem-estar
individual e social dos trabalhadores e que de alguma forma esto vinculados ao trabalho.Segundo Clestin (2002, p. 22), existe uma interdependncia entre as caractersticas do
emprego e as caractersticas do trabalhador e, assim, a qualidade do empregodependeria da
adequao do trabalhador ao emprego. Segundo a OCDE (2001), a interdependncia entre as
caractersticas do emprego e as dos trabalhadores faz com que toda e qualquer medida da
qualidade dos empregos deva ser interpretada com prudncia porque o mesmo emprego pode
ser qualificado consoante o caso como sendo bom ou medocre. Essa perspectiva sugere
pensar que no seria qualquer trabalhador que estaria empregado em qualquer emprego, mas
que existe uma prvia combinao entre os trabalhadores e os empregos. Por exemplo,
trabalhadores que no possuem habilidades com o uso de computador no estaro empregados
numa operadora de telefonia mvel celular, em que se espera que todos os empregados
utilizem essa ferramenta no desempenho de suas atribuies; ou, um trabalhador pouco
escolarizado e pouco motivado no buscar se ajustar ao trabalho que muda constantemente;
ou, um trabalhador que no tenha gosto por tecnologia, no teria interesse por trabalhar em
empresas de tecnologia. Tais consideraes tambm indicam a preocupao das abordagens
mais recentes em considerar as expectativas dos trabalhadores quanto aos empregos como
diferentes das expectativas dos trabalhadores que viveram o fordismo, principalmente
considerando que os indivduos so cada vez mais escolarizados, com competncias
cognitivas mais elevadas e tm novos valores e aspiraes dificilmente compatveis com o
modelo taylorista, tais como autonomia, responsabilidade, desenvolvimento pessoal e
profissional e participao(Cf. Kovcs, 2001, p. 46).
Em geral, a literatura tende a definir qualidade do empregode forma muito geral, no
intuito de lhe oferecer o campo de aplicao mais amplo possvel (Clestin, 2002; Macas,
2004). Com isso, j est implcita a idia de que a avaliao da qualidade do empregopode
-
7/24/2019 Qualidade Do Emprego
14/211
14
variar de caso a caso. Neste estudo, seguindo tal tendncia, entendeu-se, provisoriamente,
qualidade do emprego como um fenmeno referente rede de suportes relacionada aos
empregos que implicam o bem-estar individual e social dos empregados, e que tenham ou
possam ter algum efeito sobre a vida do trabalhador, tanto dentro quanto fora do emprego.
Nesta definio, est inscrita a idia de que qualidade do empregono se refere simplesmenteao emprego em sua forma institucional. Ao se referir qualidade, sobretudo, est se
sugerindo que o emprego est intrinsecamente relacionado s aspiraes do trabalhador nele
empregado, afinal, o bem-estar refere-se ao trabalhador. Portanto, no caso sob investigao,
qualidade do empregose expressar de acordo com a conjugao entre as caractersticas dos
empregos e o perfil dos trabalhadores que esto empregados. Nesta acepo, as condies de
emprego por si prprias no definem qualidade do emprego, mas fazem a mediao entre o
emprego e o trabalhador. Isso significa que a qualidade do emprego uma construo,estruturada entre o emprego e o empregado, sofrendo influncia tanto do contexto dos
empregos como das aspiraes dos empregados.
No Brasil, as operadoras de telefonia mvel celular constituem um segmento
empresarial consolidado e em expanso, que atua em ambiente competitivo caracterizado pela
imprevisibilidade do mercado, decorrente do ritmo acelerado de mudana tecnolgica.
difcil saber o que vai ocorrer nos prximos anos neste segmento: enquanto se realizam os
processos de crescente expanso comercial e de intensa competio de mercado, as
operadoras de telefonia mvel celular convivem com a convergncia tecnolgica, o que
significa a combinao de diferentes tipos de servios, que vo desde o trfego de voz,
passando pelo trfego de dados e imagens, at a recente expectativa da televiso digital. A
expanso dos servios de telefonia mvel celular, alm de linear (crescimento do nmero de
clientes), espiral (crescimento do nmero de servios por cliente).
A produo nas operadoras de telefonia mvel celular cada vez mais agrega
servios, caracterizando um ciclo exponencial de novidades, e isso algo que acontece desde
o incio da implantao dos servios. Os primeiros telefones celulares basicamente foram
utilizados para trfego de voz, e seu sucesso se estabeleceu pela personificao do terminal.
Os telefones celulares de terceira gerao, por exemplo, permitem aos usurios conciliarem
trabalho, educao e lazer, pois com tais aparelhos alm de estabelecerem conversaes por
trfego de voz, podem enviar e receber mensagens e e-mails, realizar transaes bancrias,
acessar a Internet, entreter-se com jogos eletrnicos, rdio FM e msicas em formato MP3, e
registrar situaes cotidianas com fotografias e filmagens.
Essas empresas comandam uma extensa rede operacional e comercial, que
complementada por indstrias que fornecem as tecnologias renovadas. Atualmente, todos os
-
7/24/2019 Qualidade Do Emprego
15/211
15
meses chegam ao mercado consumidor novos aparelhos de telefone celular, que permitem o
desenvolvimento de novos servios por parte das operadoras, desencadeando novos portflios
de servios e cabendo a tais empresas distribu-los socialmente atravs de campanhas
fundadas em estratgias de marketing e vendas; operacionaliz-los na rede; e fornecer suporte
aos usurios no ps-venda. Ocorre, ainda, a renovao das plataformas, das centrais decomutao e das estaes de rdio-base, necessria para a operao dos servios.
Nestas empresas, demanda-se mo-de-obra que deve ajustar-se s freqentes
mudanas para ser capaz de dar suporte comercial, estratgico e operacional atividade: a
gerao de empregos est focada no marketing, nas vendas e na prospeco e reteno de
clientes, no sendo menos importante a operao. O que se observa nestas empresas que
esto agregados trabalhadores que prestam servios e trabalhadores que so tcnicos.
Tambm surge um agente de participao constante, o cliente, que est vigilante quanto aoproduto final da produo. O dinamismo do segmento implica que o trabalho seja
caracterizado por uma rotina no rotineira, ou seja, o contedo do trabalho o mesmo por
pouco espao de tempo, o que quer dizer que a novidade e a agilidade caracterizam o trabalho
nas operadoras de telefonia mvel celular. As mudanas neste setor ocorrem por ciclos.
Quando as empresas implantam campanhas com alguma novidade, gera-se um ambiente de
agitao que se estabiliza com a superao das metas, at que uma nova campanha seja
lanada. Essas caractersticas do trabalho se estendem desde quem concebe os servios at
quem presta o atendimento ao cliente. Toda a mo-de-obra empregada para prestar o servio
de alguma maneira afetada pelo dinamismo gerado pelas condies do ambiente empresarial.
A informao sobre o mercado e o conhecimento dos servios so o carro-chefe
em termos de qualificao para quem trabalha nas operadoras de telefonia mvel celular,
elementos que sempre so renovados. Assim, diferentemente de uma especializao
definitiva, os empregados precisam passar por treinamentos. A mo-de-obra est segmentada,
mas todos os empregados, independente do grau de responsabilidade, gestores ou no
gestores, tcnicos ou no, esto envolvidos na implementao de uma cultura comum: a
necessidade de ser adaptvel s mudanas, a capacidade de lidar com o risco e a necessidade
de sobreviver na instabilidade. Os trabalhadores do marketing precisam projetar
constantemente planos de servios adequados aos variados perfis de consumidores e, para
isso, precisam estar atentos aos servios da concorrncia, desenvolvendo vantagens para no
perderem clientes. Os trabalhadores da operao precisam fornecer o suporte tecnolgico que
permite a qualidade do servio, garantido que se ponha em prtica o que foi planejado e
vendido ao consumidor. Os vendedores e os atendentes so os elos com o consumidor, e
precisam ter a aptido para convencer o cliente a contratar novos servios, garantindo receita
-
7/24/2019 Qualidade Do Emprego
16/211
16
s operadoras, convencendo, permanentemente, o usurio que o servio prestado por uma
operadora melhor que o servio prestado pelas concorrentes. Todos os empregados,
independente da atividade, so vendedores, o que condiciona um intenso trabalho em nome
da produtividade e da qualidade do servio.
A adaptao implica em escolarizao elevada, na capacidade de aprender aaprender e na condio de ser voltil. Por isso, nestas empresas, buscam-se trabalhadores
flexveis, propensos s mudanas, aspectos que tm caracterizado uma mo-de-obra jovem.
Os trabalhadores jovens trazem consigo a habilidade de manusear tecnologia, o gosto pela
inovao e a ambio de se profissionalizar; visionrio e produtivo. Essa mo-de-obra sofre
com a incerteza do futuro e est motivada para afastar-se dessa.
O envolvimento dos empregados com os objetivos da empresa indica que h um
comprometimento considervel do empregado para com a empresa. Em mercado de intensaconcorrncia, no acompanhar as mudanas implicaria em prejuzos para a empresa, e em
ameaa para o trabalhador. O empregado precisaria cumprir metas e vender a qualquer custo,
pois ao final do processo, alm de garantir tranqilidade, uma vez que o empregado afasta-se
do sentimento de incerteza quanto ao futuro, os ganhos reverteriam em benefcio do
empregado atravs de instrumentos como a participao nos lucros e resultados, premiaes
por produtividade, o que implementaria a remunerao do trabalhador. Nas operadoras de
telefonia mvel celular os salrios so mais elevados dos que os da economia em geral, tanto
para os cargos de chefia como para os cargos de produo, o que faz os empregos serem
atrativos para os trabalhadores.
Todo esse envolvimento, porm, gera carga ao trabalhador, que muitas vezes no
consegue acompanhar a evoluo de um mercado cambiante em que h intensificao do
trabalho. Isso significa que h tambm graves problemas nestas empresas. Ao mesmo tempo
em que so concedidos largos benefcios, estes podem ser perdidos a qualquer momento, pois
podem ocorrer nas operadoras mudanas estruturais como, por exemplo, processos de fuso
ou centralizao, o que implica em reduo de pessoal; processos de externalizao de
atividades, o que implica em transferncia de quadros para outras empresas, ou realocao de
atividades em outras regies, o que pode implicar em demisses ou migrao dos
empregados. Enquanto muitos trabalhadores sofrem com a incerteza e acabam desligados ou
desligando-se destas empresas, outros empregados se dedicam de tal forma que constroem
carreiras nas empresas ou no mercado, com ateno total s oportunidades que surgem em
outras empresas, em outros setores ou em outras localidades.
A conjugao entre as caractersticas dos empregos criados nas operadoras de telefonia
mvel celular e o perfil da mo-de-obra empregada ser tratada neste estudo. Esse foi o
-
7/24/2019 Qualidade Do Emprego
17/211
17
caminho entendido como o mais conciso para tratar sobre qualidade do empregono caso sob
investigao. O estudo ora proposto orientou-se por quatro indagaes: Um ambiente
empresarial de mudana tecnolgica pode garantir qualidade do emprego? Como se
expressa a qualidade do emprego a partir das caractersticas de um segmento marcado por
expanso comercial e competio de mercado? Esse ambiente empresarial pode oferecerbem-estar aos trabalhadores? Esse ambiente empresarial tende a favorecer ou desfavorecer
o bem-estar dos empregados?
O que se mostra interessante no caso das operadoras de telefonia mvel celular o
fato de que o dinamismo do mercado no segmento pode combinar-se com a qualidade do
emprego e no necessariamente deterior-la. No caso especfico destas empresas no so
necessariamente desestabilizadas as condies que providenciam o bem-estar dos
trabalhadores empregados, pelo contrrio, so constitudos mecanismos diferentes quesuperam, no destroem, as redes de suporte tradicionais que o emprego aufere ao empregado.
Alm disso, esses mecanismos estariam relacionados aos interesses dos trabalhadores de
determinado perfil.
A anlise realizada justifica-se no apenas por debater o recente e controverso tema
qualidade do empregono contexto de mudana tecnolgica, mas tambm em abordar o caso
das operadoras de telefonia mvel celular, empresas recentes e pouco investigadas. As
operadoras de telefonia mvel celular so empresas de tecnologia avanada, estando entre as
principais empresas de tecnologia do Brasil. O foco sobre tais empresas reporta-se, primeiro,
ao grau de desenvolvimento destas e ao potencial de penetrabilidade scio-econmica, no a
sua recorrncia no presente; segundo, presena, nestas empresas, de um perfil de trabalhador
cada vez mais em evidncia no mercado de trabalho. De te fabula narratur1. Por um lado,
espera-se que o estudo possa superar debates convencionais sobre a precarizao dos
empregos ou as anlises que evidenciam as mudanas no mundo do trabalho com um olhar
passado: essa proposta de investigao incorpora acerca da qualidade do empregouma srie
dessas discusses sobre uma mesma linha de argumentao. Por outro lado, o estudo no teve
a pretenso de definir a qualidade do empregonuma perspectiva ps-moderna, em que todos
os aspectos que definiram a qualidade do empregoseriam substitudos por novos. A inteno
foi de contribuir com a discusso sobre a qualidade do emprego, propondo um exame de
como esto se definindo novas maneiras de qualificar o emprego, observadas no caso tomado
por estudo.
Duas ressalvas talvez sejam centrais para o leitor. Por um lado, importante
considerar que no existe um osis de bons empregos nas operadoras de telefonia mvel
1A histria a teu respeito. Karl Marx, Prefcio a Primeira Edio de O Capital.
-
7/24/2019 Qualidade Do Emprego
18/211
18
celular, da mesma maneira que no h um celeiro de precariedade. Por outro lado, quem
sobrevive neste mercado obtm ganhos scio-profissionais importantes, pois os empregados
nestas organizaes so trabalhadores com empregabilidade reforada, adaptados a um
contexto de mudana tecnolgica, orientados para aprenderem sempre e formados para
conviver com o risco, adquirindo, portanto, uma lgica de avaliao da qualidade do empregodistinta da lgica de avaliao da qualidade do empregofordista.
Abordagens sobre qualidade do emprego
Existem diferentes formas de analisar qualidade do emprego. Em grande parte dos
casos, as investigaes sobre qualidade do empregoanalisam as conjunturas de mercado detrabalho, observando o que acontece com o conjunto de empregos todo o mercado de
trabalho de um pas, de uma regio ou de alguns setores econmicos em perodos de tempo
especificados. Variados mtodos foram desenvolvidos para a realizao de diagnsticos sobre
a qualidade do emprego, cada um com caractersticas especficas, mas todos com
contribuies para o desenvolvimento metodolgico da temtica.
Nos estudos sobre qualidade do empregodestacam-se quatro2mtodos de abordagem.
Em primeiro lugar destacam-se as anlises por extenso ou contraste. Como observa Farn
(2003), uma definio por extenso consiste na enumerao ou lista de atributos ou
caractersticas que deveria ter um emprego, enquanto que a definio por contraste faz uma
oposio entre um emprego de qualidade e um que no seria, ou seja, propondo uma
comparao entre duas ou mais situaes de emprego em que uma seria a situao ideal. Ao
abordar a qualidade do empregoatravs de um padro idealizado de emprego, a anlise peca
em no enfatizar caractersticas intrnsecas a um determinado caso, desconsiderando, muitas
vezes, o contexto econmico de empregos em particular.
Entretanto, algumas perspectivas que adotam a anlise por contraste so cuidadosas e
contribuem com a melhor compreenso do tema em questo. O estudo de Ferranti et alli
(2002), sobre os novos postos de trabalho no comrcio, adverte que os empregos neste setor
devem ser considerados como formas de oportunidade para os trabalhadores frente s
alternativas de emprego existentes3. No estudo, considera-se que o ponto de referncia da
qualidade do emprego no caso do comrcio no deveria ser um trabalho similar no mundo
2Um quinto mtodo de abordagem seria o que entende que a qualidade do emprego define-se pela satisfaocom o emprego. Sobre isso, ver Captulo 1.3No estudo, o autor adota o seguinte exemplo: prefervel para as jovens que esto cursando o ensino mdioserem vendedoras do que empregadas domsticas, o que seria o mais comum no passado.
-
7/24/2019 Qualidade Do Emprego
19/211
19
industrializado, ou seja, mesmo que os empregos recentemente criados possam parecer
precrios em relao a uma realidade mais distante, esses deveriam antes ser considerados em
relao ao seu entorno recente e com as situaes que se apresentam ao indivduo que busca
um emprego.
Prximas s abordagens por contraste ou extenso esto as anlises por modelos.Alguns autores propem a construo de tipologia de empregos, utilizando certos parmetros
correspondentes qualidade do emprego. Chacn (1999), em estudo sobre os empregos na
Colmbia, props um modelo formado por quatro tipos de emprego: empregos de boa
qualidade, empregos de mdia qualidade, empregos de remunerao baixa e empregos de
baixa qualidade ou precrios. Os empregos de boa qualidade seriam aqueles em que um
conjunto de requisitos considerados como centrais fossem contemplados: possuem contrato de
trabalho, estariam protegidos pela seguridade social (cotizam no sistema previdencirio) e asremuneraes do trabalho seriam superiores a um valor determinado4. Os empregos de mdia
qualidade seriam aqueles com alguma carncia de contrato ou seguridade social (uma ou
outra), porm as remuneraes do trabalho seriam superiores a um valor determinado. Os
empregos com remunerao baixacompor-se-iam de todos os ocupados com ou sem contrato
de trabalho, estando ou no cotizados, suas remuneraes entre a metade e o valor
determinado. Os empregos de baixa qualidade ou precrios compor-se-iam de todos os
ocupados que, tendo ou no contrato ou estando ou no cotizados, recebem remuneraes
inferiores metade do valor determinado.
Nesta forma de anlise, toma-se por objeto um conjunto de empregos do mercado de
trabalho para, segundo as caractersticas que definem os tipos de emprego, enquadr-los no
modelo. As abordagens por modelo parecem ser mais adequadas para anlises que pretendem
comparar os empregos entre os setores econmicos, destacando os que oferecem empregos
de qualidade como, por exemplo, empregos do setor pblico ou do setor privado, empregos
da indstria ou dos servios. Todavia, como no caso das anlises por extenso ou contraste,
no se consideraram peculiaridades dos casos. Alm disso, a atribuio de uma faixa salarial
ideal pode ser arbitrria.
Outra abordagem que se destaca so as anlises por ndice ou indicador. Os ndices
so construdos tendo por objetivo avaliar a qualidade do emprego com preciso,
estabelecendo um valor que expresse o grau de qualidade em setores ou em localidades, como
pases, regies ou cidades. Esses instrumentos foram desenvolvidos para obter generalizaes,
em que a qualidade do empregoficaria definida por uma pontuao ou uma mdia final, que
4O valor determinado pelo estudo de Chacn refere-se a um indicador chamado de linha de pobreza per capta(LPP), ver Chcon, 1999, p. 186 e 218.
-
7/24/2019 Qualidade Do Emprego
20/211
20
serve para realizar diagnsticos mais precisos e menos complexos. Por isso, os ndices
acabam sendo mais restritivos devido a seu carter necessariamente quantitativo e dependente
de dados disponveis, o que impede considerar algumas peculiaridades quando se estudam
casos especficos. Os ndices so instrumentos rgidos e, para serem comparveis, implicam
que o mesmo instrumento seja aplicado s diferentes situaes.Campos, Moutinho e Campos (s/ano, p. 9-10) propuseram um ndice para medir a
qualidade do emprego formal no Brasil a partir de alguns dados disponveis na base Rais-
Caged5do Ministrio do Trabalho e Emprego (MTE):
O ndice de Qualidade do Emprego Formal (IQEF) tem sua sistemtica de clculosimilar ao ndice de desenvolvimento humano (IDH) das Naes Unidas ecompreende a mdia simples de quatro indicadores: a) grau de instruo; b)
rotatividade; c) mdia salarial e d) concentrao salarial. Cada indicador transformado em um ndice, que varia de 0 a 1, por interpolao linear. Assim, opior resultado possvel do indicador equivale a zero e o melhor resultado possvelou o resultado desejvel equivale a 1. O ndice resulta da frmula: i = vo-pv/mv-pv, onde vo o valor observado do indicador, pve mvso os piores e o melhoresvalores possveis, respectivamente. Os parmetros utilizados para o clculo do
IQEF foram: a) para o grau de instruo: o percentual de funcionrios com pelomenos o primeiro grau completo, variando de zero a 100%; b) para arotatividade: nmero de admitidos ou desligados (o que for menor) em relao aonmero total de empregados, variando de 5% a 100%; c) para mdia salarial:variando de 1 a 8 salrios mnimos; d) concentrao salarial: percentual de
pessoas que ganham acima de 2 salrios mnimos, variando de zero a 100%.
Contudo, a praticidade das anlises por ndices criticada por muitos pesquisadores
quando tratam sobre a qualidade do emprego.
La naturaleza multidimensional de la calidad del empleo hace imposible lageneracin de un orden sin ambigedades. Tal vez, algunos mtodos para lageneracin de ndices se podrn desarrollar, pero ello inevitablementeinvolucrar un sistema de ponderaciones que tiene pocas probabilidades de ser
universalmente vlido(Rodgers, 1997, p. 4 apudFarn, 2003, p. 22)
Essa uma posio que tem se demonstrado consensual nas anlises recentes sobre a
qualidade do empregotanto na Amrica Latina como na Europa. Verdera (2001) sublinha que
un indicador compuesto que agregue otros indicadores siempre es arbitrario por la
necesidad de dar pesos y porque se trata de sumar unidades de medidas diferentes entre s
5A Relao Anual de Informaes Sociais (RAIS), instituda em 1975, fornece informaes estatsticas sobre o
mercado de trabalho formal no Brasil, funcionando em conjunto com o Cadastro Geral de Empregados eDesempregados (Caged), criado em 1965, que instituiu o registro permanente de admisses e dispensa deempregados; so mantidos pelo Ministrio do Trabalho e Emprego. As bases estatsticas podem ser acessadas emhttp://www.mte.gov.br, mediante cadastro como pesquisador.
-
7/24/2019 Qualidade Do Emprego
21/211
21
(p. 11). Segundo a Comisin de las Comunidades Europeas (2001) debido a su natureza
relativa y pluridimensional, no se puede definir una medida o un ndice de calidad de trabajo
nicos. Adems, la importancia que se concede a las distintas dimensiones variar segn las
circunstancias y las aspiraciones (p. 8).
As anlises por dimenses so as mais enfatizadas pela literatura, e fundamentaram aconstruo do instrumento metodolgico seguido neste estudo. As anlises por dimenses
destacam a muldimensionalidade da qualidade do emprego. Os estudos por dimenses
propem anlises mais detalhadas e descritivas que as formas de abordagem anteriormente
destacadas, embora sejam menos precisas. A anlise por dimenses no busca avaliar se os
empregos so bons ou ruins, ou se preocupa em classificar se os empregos de um
segmento so melhores que os empregos de outro segmento (Reinecke e Valenzuela, 2000, p.
30), buscando constatar em que aspectos haveria deficincias. Tais anlises so abertas snovidades analticas, permitindo a incluso de dimenses de acordo com o interesse do
pesquisador. Alm disso, as anlises por dimenses so apropriadas tanto para estudos
conjunturais como para estudos sobre setores, atividades ou segmentos especficos, pois
permitem analisar particularidades inerentes a certos contextos, permitindo incluso de
categorias ou temas de anlise que podem ser prprios aos contextos analisados.
Segundo Abrantes (2005, p. 19), devido amplitude dos processos envolvidos com a
qualidade do emprego, convencionou-se encontrar um padro mais consciencioso para avaliar
o emprego. A Comisso Europia props e o Conselho Europeu de Laeken, de dezembro de
2001, em consenso com a Fundao Europia para a Melhoria das Condies de Vida e a
Agncia Europia para a Segurana e a Sade no Trabalho, aprovou uma listagem constituda
por dez dimenses da qualidade do emprego, a serem tomadas em considerao para
acompanhar os respectivos progressos na Unio Europia. Essas dimenses agrupam-se, por
sua vez, em duas grandes categorias ou dimenses-chave: uma relativa s caractersticas do
emprego e uma segunda que abrange o contexto dos empregos e do mercado de trabalho. A
primeira dimenso-chave estaria vinculada ao reforo da empregabilidade do trabalhador e se
comporia de dois temas: 1) A qualidade intrnseca do emprego, que diz respeito
compatibilidade das capacidades pessoais dos empregados com as exigncias do emprego, um
nvel e um sistema de remunerao adequados atividade; 2) formao permanente,
qualificao e progresso na carreira do trabalhador, em que se considera o
desenvolvimento profissional do trabalhador, a promoo de sua formao permanente e o seu
potencial de insero no mercado de trabalho, o que est relacionado capacidade de uso do
computador e a capacidade de adaptao, tendo em vista a incluso do trabalhador numa
economia baseada no conhecimento.
-
7/24/2019 Qualidade Do Emprego
22/211
22
A segunda dimenso-chave estaria vinculada dinmica do mercado de trabalho,
observando os mecanismos constitudos e institudos que favoream os trabalhadores, que
estabeleam critrios de equidade, salubridade, proteo social, informao profissional e
representatividade, tendo em vista a produtividade econmica e garantindo adequada
qualidade de vida, em que estejam conciliadas a vida profissional e a vida privada. Essadimenso-chave compe-se de nove dimenses: 3) Igualdade entre homens e mulheres, em
que se considera a isonomia tanto em termos de salrios quanto em possibilidades de carreira
para ambos os sexos; 4) Sade e segurana no emprego, em que se consideram as condies
adequadas de trabalho, desde o ponto de vista fsico e psicolgico; 5) Proteo social e
benefcios, em que se consideram o cumprimento dos direitos legais e os benefcios
oferecidos; 6) Insero e acesso ao mercado de trabalho, em que se considera a entrada e
permanncia dos trabalhadores no mercado de trabalho e as possibilidades de mobilidadeprofissional e geogrfica dos trabalhadores e a sua capacidade de encontrar novas colocaes
tanto em caso de desligamento por iniciativa do empregado quanto em caso de demisso; 7)
Equilbrio entre a vida profissional e a vida privada, em que se consideram as licenas e
jornadas menores e flexveis, que compatibilizem os interesses extra-emprego do empregado;
8)Dilogo social e participao dos trabalhadores, considerando o nvel de informao dos
trabalhadores sobre sua vida profissional, o desenvolvimento das empresas, a situao do
setor ou segmento e novas oportunidades de emprego, considerando as formas e contedos da
negociao coletiva; 9)Diversidade e no-discriminao, que consiste em analisar o grau de
igualdade dispensado no tratamento dos trabalhadores independentemente de sua idade, etnia,
religio, deficincia, ou opo sexual; e 10) Resultados econmicos e produtividade, que
consiste em considerar o crescimento da produtividade do trabalho, que garanta benefcios
para os trabalhadores e para as empresas. Qualidade do emprego implica que todos os
elementos estejam reforados positivamente, contemplando o interesse tanto dos
trabalhadores quanto das empresas (Clestin, 2002). No Captulo 1, observar-se- que tais
dimenses so recorrentes na literatura atual sobre qualidade do emprego. Essas dimenses
foram delineadas pelo trabalho de Clestin (2002) e discutidas por diversos outros estudos
(Marcos e Goni, 2003; Aierb, 2004; Abrantes, 2005; Fremigacci e Lhorty, 2005).
A abordagem desenvolvida no presente estudo considera algumas dimenses e alguns
temas sobre a qualidade do emprego referidos pela literatura, propondo-se a analisar tais
dimenses no mbito das operadoras de telefonia mvel celular tomadas por objeto de
investigao. O modelo proposto implementa o padro desenvolvido pelos estudos da
Comisso Europia do Emprego (2001), segundo uma abordagem por dimenses. Destaca-se,
porm, que a aplicao do instrumento foi ajustada para o estudo de empresas especficas. O
-
7/24/2019 Qualidade Do Emprego
23/211
23
instrumento preserva uma srie de temas mais tradicionais e evidencia temas da qualidade do
empregodefinidos recentemente pela literatura.
Instrumentalizao da qualidade do emprego e metodologia
O instrumento analtico6 desenvolvido para esta pesquisa operacionaliza a qualidade
do emprego atravs de trs dimenses-chave, constitudas cada uma delas por temas ou
dimenses, por sua vez, compostos por indicadores: caractersticas dos empregos, perfil do
trabalhador que est empregado e condies de emprego. As trs dimenses esto inter-
relacionadas, e a qualidade do empregose expressaria nesse fenmeno.
As caractersticas dos empregos referem-se ao como se trabalha e s atribuiesnecessrias ao desempenho de uma atividade, configurando as exigncias do emprego. Nessa
dimenso, delimita-se a organizao do trabalho, o contedo do trabalho, os meios de
trabalho, as habilidades necessrias aos empregados no desempenho do trabalho como
autonomia, capacidade de adaptao. No caso investigado, as caractersticas dos empregos
sofrem o impacto do contexto de mudana tecnolgica, bem como do ambiente empresarial
com expanso comercial e com competio de mercado.
O perfil dos trabalhadores remete identificao de qualidades dos trabalhadores que
esto empregados. Nessa dimenso, verifica-se o perfil da mo-de-obra empregada (sexo,
idade, escolaridade) e suas competncias esperadas, para que se possam apreender algo sobre
as aspiraes dos trabalhadores de um caso investigado. O perfil dos trabalhadores precisa ser
considerado em relao ao contexto social. Haveria uma considervel determinao das
caractersticas dos empregos sobre o perfil dos trabalhadores, uma vez que, num caso
investigado, estaria sendo analisado o perfil da mo-de-obra empregada nas empresas ou
organizaes tomadas por objeto.
As condies de emprego referem-se aos aspectos objetivos dos empregos, aos
elementos institucionalizados, que definem as caractersticas da relao de emprego entre
empregador e trabalhador. Busca-se evidenciar aqueles elementos que equacionariam a
conjugao entre as caractersticas dos empregos e o perfil dos trabalhadores empregados.
Nessa dimenso, analisam-se remunerao, benefcios, contrato de trabalho, polticas
particulares de remunerao, benefcios e/ou promoo dos casos, para verificar se e como as
condies de emprego sofrem alteraes em conseqncia das caractersticas dos empregos e
do perfil dos trabalhadores.
6Elaborao Grfica no Anexo 1.
-
7/24/2019 Qualidade Do Emprego
24/211
24
Cada uma dessas dimenses contempla temas, ou critrios, com indicadores
especficos. Cada um dos temas, ou critrios, foi aberto para a incluso tanto de dados
quantitativos quanto para dados qualitativos.
Abordada como um fenmeno, a qualidade do emprego resulta, primeiro, de uma
correspondncia entre as exigncias dos empregos e as aspiraes dos empregado; segundo,da estruturao de condies de emprego com a formao de mecanismos de proteo,
equidade, informao, negociao e conciliao de vida profissional e privada, que
concretizam o bem-estar dos trabalhadores que esto empregados; por ltimo, da plena
evoluo das relaes de emprego em sintonia com a conjugao entre as caractersticas dos
empregos e o perfil dos trabalhadores empregados, para que os empregos demonstrem-se
satisfatrios.
Procedimentos metodolgicos
Esta pesquisa foi realizada como um estudo-de-caso, por isso, os resultados provm de
diferentes fontes de informaes, que foram tratadas tendo em vista a apreender evidncias
sobre o emprego nas operadoras de telefonia mvel celular e a realizar inferncias sobre a
qualidade do emprego nas empresas investigadas. Algumas das informaes no tiveram
tratamento uniforme, como seria desejvel, devido ao acesso aos dados, que nem sempre
puderam ser averiguados no mesmo grau em todas as empresas.
O estudo-de-caso um estudo emprico que investiga um fenmeno atual em seu
contexto, quando as fronteiras entre o fenmeno e o contexto no so claramente definidas e
no qual so utilizadas vrias fontes de evidncia. O estudo-de-caso procuraria responder a
questes do tipo como e por que, ou seja, o investigador j teria uma boa idia geral do que
est acontecendo, ele j sabe quais decises so tomadas, e quer saber como e por que elas
so tomadas, como elas so implementadas e qual o seu resultado (Yin, 1989, p. 23). Segundo
Bruyene e Schoutheete (1991) apud Roese, 1998, p. 191) o estudo-de-caso rene
informaes to numerosas e to detalhadas quanto possveis com vistas a apreender a
totalidade de uma situao (p. 224-225).Roese (1998) afirma que
(...) a especificidade de um caso o elemento fundamental (...). O estudo-de-casonos permite responder como e por que aquelas caractersticas especficas queobservamos so possveis, em um quadro terico mais amplo, como as grandestendncias se manifestam, ou no em realidades sociais concretas. Portanto a
especificidade de um caso o trao diferenciador desta tcnica o que, aocontrrio de ser uma caracterstica fragilizadora, a sua grande fora. O estudo-de-caso diferencia-se do estudo biogrfico e da histria de vida por tratar
-
7/24/2019 Qualidade Do Emprego
25/211
25
preferencialmente, de instituies ou movimentos sociais e, especialmente, pelofato de abordarem casos com algo novo para o ponto de vista da cincia (p. 193).
O estudo-de-caso abordou trs empresas, as quais foram chamadas no estudo como
Empresa A, Empresa B e Empresa C. As trs empresas tomadas por amostra neste estudo so
empresas de capital internacional e de grande porte, tanto em receita como em nmero de
empregados. Estas empresas so as trs maiores empresas prestadoras de servios de telefonia
mvel celular atuantes no Brasil. Segundo dados da Revista InfoExame (Agosto, 2004), em
2003, as trs empresas movimentaram US$ 6,8 bilhes em vendas; juntas, tinham 17 mil
empregados, o que representa na mdia7US$ 31,6 mil vendas/ms por empregado. No ano
seguinte, as vendas aumentam para US$ 8,7 bilhes e US$ 44,9 mil vendas/ms por
empregado (InfoExame, Agosto, 2005). Em 2005, as vendas continuaram crescendo e
alcanaram US$ 11,9 bilhes e a produtividade chegou a US$ 47,8 mil vendas/ms porempregado. A Empresa A est no mercado de telefonia mvel celular desde a privatizao,
em 1998. A Empresa B entrou no mercado em 1999, como empresa espelho da primeira. A
Empresa C entrou como concorrente das duas anteriores com a liberalizao do mercado de
telefonia mvel celular, que ocorreu em 2002.
Coleta de dados sobre o caso
As informaes da pesquisa emprica foram obtidas atravs de dados primrios e de
dados secundrios. Os dados primrios consistem naqueles de procedncia direta e foram
obtidos atravs de entrevistas ou depoimentos dos informantes. Foram selecionados diferentes
tipos de informantes, sujeitos participantes e conhecedores da realidade destas empresas, de
alguma forma envolvidos com as operadoras de telefonia mvel celular, que fossem capazes
de contribuir com informaes que correspondessem aos temas de anlise sobre a qualidade
do emprego: gestores das empresas, empregados e dirigentes sindicais.As entrevistas foram realizadas de forma aberta e semi-diretiva. Os roteiros das
entrevistas foram elaborados tendo em vista a apreenso de temas propostos a partir da
operacionalizao de aspectos da qualidade do emprego, mas tambm exploraram diversos
outros aspectos a fim de proceder a um conhecimento profundo do caso das operadoras de
telefonia mvel celular. No caso das entrevistas com os gestores, estas foram realizadas nas
empresas, com formalizao da pesquisa. No caso das entrevistas com os empregados, estas
7Essa mdia uma ilustrao, pois considera a diviso do valor total das vendas (receita operacional bruta) pelonmero de empregados das operadoras, sem considerar o custo operacional, os impostos transferidos e o custodos trabalhadores externos.
-
7/24/2019 Qualidade Do Emprego
26/211
26
foram realizadas fora da empresa, possibilitando fugir de entrevistas viciadas pelo
ambiente de trabalho. No caso dos depoimentos de alguns empregados, estes ocorreram
casualmente, o que no oportunizou um dilogo formalizado, com base num roteiro
estruturado.
Os dados secundrios, de procedncia indireta, foram obtidos de diversas formas. Osdados sobre o emprego e os empregados nas operadoras de telefonia mvel celular so de
procedncia das prprias empresas. Os dados foram divulgados nos Relatrios Anuais das
Empresas e nos Relatrios de Balano Social. Os relatrios foram coletados junto s
homepages das empresas e divulgados por elas com fins de informar seus investidores.
Muitos dados tambm foram obtidos junto s empresas durante as visitas, inclusive obteve-se
um relatrio completo de pesquisa sobre satisfao com o emprego em uma das empresas.
Tambm foram utilizados dados quantitativos sobre o setor de telecomunicaes e osegmento de telefonia mvel celular para caracterizar o contexto econmico das respectivas
atividades. Neste caso, selecionaram-se fontes de dados da Agncia Nacional de
Telecomunicaes (Anatel), rgo regulador das telecomunicaes no Brasil, alm de
materiais obtidos na imprensa e em sites especializados no setor de telecomunicaes.
Os dados quantitativos sobre o Brasil, o setor de servios e o setor de
telecomunicaes provm da base Rais-Caged (ver nota nmero 5), do Ministrio do Trabalho
e Emprego. Aplicou-se a base Rais para caracterizar de forma mais ampla o mercado de
trabalho no setor de telecomunicaes e compar-lo com o mercado de trabalho formal no
Brasil e no setor de servios. O esforo foi importante para obter uma perspectiva histrica.
Esse procedimento permitiu ponderaes mais gerais quando se analisou o segmento de
telefonia mvel celular, foco principal da pesquisa. Esse procedimento se justifica pela
ausncia de sries histricas de dados sobre o segmento de telefonia mvel celular, mas que
esto disponveis para o seu entorno mais prximo, as atividades de telecomunicaes, e para
o seu entorno maior, o setor de servios e o mercado de trabalho formal do Brasil. Tais dados
foram contrastados com as informaes dos relatrios das operadoras de telefonia mvel
celular.
Embora a problemtica deste estudo tenha sido desenvolvida durante o curso de
mestrado (2005 e 2006), as dados foram coletados desde Outubro de 2002, perodo em que o
autor participou, na condio de bolsista de apoio tcnico, do Projeto Integrado
Telecomunicaes no Brasil: Relaes de Trabalho e Emprego Ps-privatizao, este
coordenado pela Dra. Snia Guimares, e financiado pelo Conselho Nacional de
Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq).
-
7/24/2019 Qualidade Do Emprego
27/211
27
Quadro 1:Fontes de informaes do estudo-de-caso
Nvel de Informaes
OrganizaoDados Primrios
(informantes)Dados secundrios
Empresa A
- Uma entrevista com Gerente RH(2004)- Duas entrevistas com Gerente deOperaes (2004)
- Uma entrevista com Gerente deMarketing (2004)- Duas entrevistas com trabalhadores(2004, 2005)- Visita empresa (2004)- Depoimento de um trabalhador, emloja prpria da empresa* (2006)- Atualizao de informaes sobreentrevistas anteriores em dilogo pelaInternet com gerentes (2006)
- Relatrios Anuais 2002, 2003, 2004,2005- Relatrios de Balano Social 2003,2004, 2005
- Resultados Operacionais 2002,2003, 2004, 2005
Empresa B- Uma entrevista com Gerente de RH(2006)- Visita empresa (2006)- Cinco entrevistas com trabalhadores(2005 e 2006)- Um depoimento de trabalhador*
(2006)- Uma entrevista de ex-trabalhador daEmpresa B que abriu uma micro-empresa para comercializar produtoscorporativos da empresa B (2005)
- Relatrios de Balano Social 2004,2005- Resultados Operacionais 2004, 2005- Pesquisa de Satisfao no Emprego2004
Empresa C- Dois depoimentos* de trabalhadores(2006)
- Relatrios Anuais 2004, 2005- Entrevista jornalstica do Gerente deRH ** (2004)- Entrevista de televiso com opresidente da empresa (2006)
Sindicato deTelecomunicaes
- Duas entrevistas sindicato RioGrande do Sul (2005 e 2006)- Duas entrevistas sindicato Rio deJaneiro*** (2005 e 2006)- Uma Entrevista sindicato SoPaulo*** (2006)
- Acordos coletivos de trabalho dasempresas de telefonia mvel celular- Pautas de reivindicaes dostrabalhadores
Agncia Nacional deTelecomunicaes (Anatel)
-- Dados estatsticos sobretelecomunicaes e sobre telefoniamvel celular- Documentos gerais sobre o setor detelecomunicaes
Ministrio do Trabalho eEmprego
-- Aplicao da Base de dados da Rais,em especial sobre telecomunicaes,setor de servios e mercado detrabalho formal.
Imprensa especializada -- Diversas notcias, estatsticas epublicaes sobre resultados dasoperadoras de telefonia mvel celular
* Dilogo informal ** Gerncia de RH da Empresa C est sediada em Curitiba *** Entrevistas realizadas pela orientadora.
Tcnica de anlise
Adotou-se uma tcnica de experimentao indireta a partir das informaes obtidas.
Foi executado tratamento sistemtico de dados quantitativos e qualitativos, devido variedade
de dados e diversidade das fontes de dados. A experimentao foi realizada em trs nveis.
O primeiro nvel de experimentao buscou elementos que se repetiam no mbito das
empresas investigadas, para verificar se ocorria uma tendncia comum entre os casos. Nesse
nvel, a anlise dos dados secundrios, especialmente os documentos publicados pelas
-
7/24/2019 Qualidade Do Emprego
28/211
28
empresas, foi contrastada com os dados primrios, obtidos junto aos informantes, a fim de
localizar evidncias que justificassem a ocorrncia dos fenmenos. Esse procedimento
permitiu tambm observar os aspectos semelhantes e as peculiaridades em cada empresa. A
observao de aspectos semelhantes indicou as tendncias comuns entre as empresas, o que
permitiu delimitar as caractersticas mais gerais do caso investigado. A observao daspeculiaridades permitiu compreender diferenas no comportamento de algumas categorias em
cada caso, porm sem desvirtuar a anlise do caso em si, uma vez que essas peculiaridades
estavam, na maioria das vezes, relacionadas etapa de desenvolvimento das empresas.
O segundo nvel de experimentao remeteu as observaes realizadas no primeiro
nvel de experimentao ao seu contexto mais amplo, o setor de telecomunicaes. Esse
procedimento foi fundamental para se definir tendncias mais gerais para o caso das
operadoras de telefonia mvel celular e demonstrar que o caso especfico ao contexto dastelecomunicaes, diferindo da realidade brasileira e do setor de servios. Isso foi possvel
porque se tinham dados sobre o setor de telecomunicaes comparveis com o setor de
servios e o mercado de trabalho formal do Brasil no seu conjunto. Esse movimento de
aproximao garantiu maior confiabilidade para as observaes realizadas sobre o caso
investigado, pois no foram observadas discrepncias entre os dados obtidos nas empresas em
relao s informaes oficiais (Rais) sobre as atividades de telecomunicaes.
O terceiro nvel da experimentao consistiu em cruzar os elementos de caracterizao
do ambiente empresarial das empresas investigadas com aqueles correspondentes qualidade
do emprego. Nesse nvel, foi traado o panorama do mercado das operadoras de telefonia
mvel celular e analisado o modelo organizacional desenvolvido nestas empresas em funo
do seu ambiente empresarial. Esse procedimento permitiu a apreenso das caractersticas dos
empregos no caso investigado e do perfil de trabalhador demandado por tais empresas e que
est sendo empregado pelas mesmas. Esse processo de entender a conjugao entre as
caractersticas dos empregos nas operadoras de telefonia mvel celular e o perfil dos
trabalhadores que esto empregados nas mesmas empresas, controlados pela observao dos
dados referentes s condies de emprego, permitiu inferncias para expressar a qualidade do
empregono caso investigado.
Experincia de campo
Alguns aspectos chamaram ateno na experincia de campo. Em primeiro lugar,
deve-se destacar a receptividade das empresas escolhidas por objeto de estudo, considerada a
disponibilidade dos informantes. No caso da Empresa A, em algumas situaes houve
-
7/24/2019 Qualidade Do Emprego
29/211
29
dificuldade em marcar algumas entrevistas, pois alguns informantes estavam em movimento
de trabalho entre Porto Alegre e So Paulo e, por isso, optou-se por reutilizar entrevistas
anteriores8. Porm, estes concordaram em responder perguntas por telefone e por e-mail,
dentro de sua disponibilidade, o que permitiu manter um dilogo distncia retomando
informaes de entrevistas antigas. Com os empregados tambm se manteve dilogo pelaInternet, o que permitiu explorar diversos aspectos aps as entrevistas.
No caso da Empresa B, foi necessrio tomar um caminho indireto para agendar a visita
e entrevista com gerente de recursos humanos, uma vez que se abordou, por e-mail, o diretor
de recursos humanos da matriz no Rio de Janeiro, solicitando contato com o gerente de
recursos humanos em Porto Alegre, o que foi bem sucedido e com receptividade por parte do
informante.
Trabalhar com esse tipo de empresa foi uma experincia interessante e agradveldevido transparncia e ao grau de ateno dispensado pelas mesmas para com a pesquisa.
Todos os representantes destas empresas fizeram questo de destacar a sua falta de tempo
para atender o pesquisador, porm sempre encontraram um espao, considerando esse dilogo
muito importante. O dilogo com as empresas permanece aberto.
Acima: Empresa B, filial Porto Alegre.
No caso do sindicado no Rio Grande do Sul, deve-se destacar a dificuldade em
estabelecer um dilogo e o desinteresse por parte deste em contribuir com a pesquisa. Isto no
8No caso da Empresa A, foram recuperados dados do trabalho realizado em 2004. Naquela oportunidade, foramentrevistados o diretor de operaes, a gerente de recursos humanos, a gerente de marketing e dois empregadosda rea de operaes, num total de cinco entrevistas. Essas entrevistas tambm serviram para delineardeterminados aspectos que foram re-explorados nas entrevistas e depoimentos em 2005 e 2006.
-
7/24/2019 Qualidade Do Emprego
30/211
30
ocorreu nos casos dos sindicatos de So Paulo e do Rio de Janeiro, nos quais o contato foi
bem recebido.
As pessoas que trabalham nestas empresas so bastante ativas, tanto os gerentes
entrevistados quanto os empregados de operaes ou de atendimento. Todos se comunicam
bem, fazem relaes nas suas respostas entre perspectivas pessoais e aspectos objetivos dosegmento, querem mostrar que conhecem a atividade e o contexto de seus empregos. Nos
dilogos fizeram muita referncia tecnologia, necessidade de se adaptar e conhecer
novidades e concorrncia.
Os gerentes relatam que todos os empregados precisam saber lidar com frustraes, o
que caracteriza uma ambientao definida pelo risco. Mas isso no considerado como algo
prejudicial, pelo contrrio, est sendo definido pelos gerentes e pelos empregados como fator
de motivao e de seleo.Em segundo lugar, cabe destacar a impresso sobre o ambiente fsico das empresas.
As duas empresas visitadas esto sediadas em prdios de construo imponente, em que se
destacam a estrutura e a modernidade das instalaes. Na Empresa A, o local visitado foi o
centro administrativo, mas tomou-se conhecimento tambm de outros dois prdios, que so
rplicas na arquitetura, sendo que em um deles existe uma torre envolta em antenas de
diferentes tipos. Na Empresa B, o local visitado compe-se tanto do centro administrativo
como da base tecnolgica, e acima da estrutura observa-se tambm uma grande torre, com 92
metros de altura. Em ambos os casos se observaram tambm o ambiente fsico de lojas das
operadoras.
Desenho da dissertao
Esta dissertao compe-se de quatro captulos, alm desta introduo e da concluso.
Na introduo delineou-se o estudo, expondo problemtica, objetivos, forma de abordagem da
qualidade do empregoe procedimentos metodolgicos da pesquisa.
No primeiro captulo, situa-se a discusso terica e a problematizao da qualidade do
emprego, principalmente no que se refere a sua delimitao. Este captulo consiste, portanto,
no levantamento terico das perspectivas sobre a qualidade do emprego e num retrato do
estado do conhecimento sobre a temtica, discutindo alcances, limitaes e desdobramentos.
Optou-se por realizar uma reviso densa do tema em razo da sua baixa recorrncia no Brasil.
No final do capitulo exposta a hiptese geral que orientou o estudo.
No segundo captulo, adotou-se uma prtica de aproximao ao objeto de estudo, cujo
objetivo foi realizar uma anlise da evoluo do quadro de empregos do setor de
-
7/24/2019 Qualidade Do Emprego
31/211
31
telecomunicaes. No processo de construo do argumento, demonstra-se que o mercado de
trabalho em telecomunicaes diferencia-se do mercado de trabalho brasileiro e do mercado
de trabalho no setor de servios, principalmente no que se refere s condies de emprego e
ao perfil dos empregados.
No terceiro captulo discorre-se sobre o desenvolvimento scio-histrico do segmentode telefonia mvel celular a fim de caracterizar o ambiente empresarial analisado. Observou-
se o quanto essas empresas passam por mudanas, especialmente em termos tecnolgicos.
Neste captulo, foi analisado o ambiente empresarial de mudanas tecnolgicas com
implicao direta sobre as caractersticas dos empregos no segmento investigado.
No quarto captulo, procedeu-se a uma avaliao da qualidade do emprego nas
operadoras de telefonia mvel celular, destacando a segmentao por reas, quais as
exigncias dos empregos, a implementao de treinamentos e a adaptao necessria para ostrabalhadores serem empregados em tais empresas. Tambm se caracterizou o perfil da mo-
de-obra, analisando as qualificaes dos empregados por reas. Pde-se observar que os
empregados nas operadoras de telefonia mvel celular formam um grupo bastante
escolarizado, de baixa idade e com grande participao feminina. No que se refere s
condies de emprego, observou-se as mdias salariais e os instrumentos elaborados para
motivar, atrair e reter os trabalhadores. Tambm se analisaram as negociaes coletivas de
trabalho, com a inteno de constatar que tipo de pautas os empregados destas empresas tm
promovido, o que indicou alguns dos aspectos demandados pelos trabalhadores. Observou-se
a constituio de uma cultura estabelecida nestas empresas voltada para o fortalecimento da
preocupao com a qualidade de vida dos empregados, em que se destacaram as campanhas
de responsabilidade social e corporativa elaboradas pelas empresas, a ateno das empresas
para a satisfao dos empregados.
Finalmente, retoma-se o trabalho em seu conjunto, examinando a hiptese formulada,
sugerindo-se uma alternativa de resposta ao problema de pesquisa.
-
7/24/2019 Qualidade Do Emprego
32/211
32
Captulo 1
Qualidade do emprego: um fenmeno em mutao?
A discusso sobre qualidade do emprego tem repercusso no campo da economia e
nas polticas sociais de emprego. Ao considerarem-se as questes abordadas sobre o tema,
pode-se identificar que muitas delas j foram bastante discutidas pela sociologia, como aorganizao do trabalho, as condies de emprego, o mercado de trabalho, as relaes de
trabalho e de emprego. Este captulo tem o objetivo de revisar a literatura sobre qualidade do
emprego, procurando refletir sobre algumas questes que permitam abordar o tema com maior
abrangncia. A inteno foi cercar a discusso sobre qualidade do emprego, destacando a
origem da discusso, suas diversas abordagens e os aspectos sociais que lhe dizem respeito,
aproximando-se de uma situao a ser problematizada.
A literatura examinada reconhece que a conceituao precisa tem sido um problemametodolgico fundamental nos estudos sobre o tema, uma vez que as anlises, muitas vezes,
no explicitam os fundamentos tericos para a construo do conceito. A discusso sobre
qualidade do emprego aborda a questo sobre o que o emprego significa social e
individualmente para o trabalhador9. Se os empregos abstratamente consistem na
formalizao de uma relao de prestao de trabalho por parte de um trabalhador para um
empregador, a qualidade do empregoconsiste em analisar em que os empregos diferenciam-
se e em que grau implicam o bem-estar do trabalhador. Ao implicar o bem-estar dotrabalhador supe averiguar o trabalhador nesse processo. Sendo assim, essa discusso no se
pautaria apenas em listar os aspectos formais do emprego. Ou seja, um emprego pode ter sua
qualidade fundada em certos padres definidos como, contrato de trabalho, inscrio
previdenciria, segurana no desempenho das atividades, porm, no consideraria elementos
particulares que podem ser constitudos a partir das prprias relaes de trabalho
estabelecidas em funo das caractersticas de empregos especficos, do seu ambiente e do
9Quando se expressa o conceito trabalhador, est se