Qual o Segredo Da Criatividade CRESCER

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Qual o segredo da criatividade? Tweet É possível uma criança ser mais criativa do que a outra? Os pais podem estimular o potencial dos filhos? Tudo o que você precisa saber e pensar a respeito do assunto para garantir um futuro ainda mais feliz para o seu filho Cristiane Rogerio e Simone Tinti - Produção Fátima Santos Criatividade. Qual é a primeira coisa que vem à sua cabeça quando você pensa nessa palavra? Nós listamos algumas. Expressar-se da forma mais espontânea possível. Recriar algo ou inventar o que ainda não existe. Ter ideias fora do padrão. Brincar. Vestir-se do jeito que quiser, ler um livro de trás para frente. Realizar objetivos de uma forma diferente. Pensar o que não foi pensado. Ousar. Resolver problemas por caminhos não convencionais. Uma maneira de ser e viver. Tornar o imaginário algo real. Intuição, despudor da imaginação. Quem aí não se pegou em imagens da própria infância? Liberdade boa aquela de fazer o que bem entende, de ficar perguntando o tempo todo. O prazer da ignorância, poderíamos dizer. E para onde foram esses sentimentos? Em que momento de nossas vidas esse sabor pelo novo escondeu-se em nós? Segundo os estudiosos, pode ter acontecido por volta dos 8 ou 9 anos de idade. É aí que passamos a entender como as coisas funcionam e nos chegam em formato de normas as noções do que é certo e errado. A criança começa a discernir melhor o que é e o que não é aceito pela sociedade. E passa a ter respostas prontas. “Na primeira infância, a criança é um pequeno cientista, tem sempre uma teoria para tudo. Se você perguntar como nasce uma estrela, ela terá uma explicação. Dos 8 anos, em diante, se fizer perguntas assim, ela já tem uma resposta: ‘Não sei’”, diz a educadora e socióloga Lourdes Atié. Essa fase é acompanhada da alfabetização, e isso não é coincidência. O desafio da nova etapa transforma o aprendizado em “coisa séria”. Antes, a criança brincava. Agora, precisa começar a estudar “de verdade”. E, sabe-se lá por que, alguém decidiu que estudo e brincadeira não podem caminhar juntos, como se um pudesse atrapalhar o outro. O fato é que, quando nos tornamos adultos, nos deparamos com um retorno ao que nos foi priorizado na infância. Criatividade é pré-requisito em classificados de empregos, nos mais diversos setores. Encontros motivacionais em empresas colocam adultos para brincar. Livros sobre empreendedorismo nos convencem que romper com o convencional revela-se a única saída. “A ênfase exagerada na lógica inibe o processo criativo, porque a vida é cheia de ambiguidades. O sistema educacional é eficiente no desenvolvimento do pensamento concreto, mas não estimula o pensamento difuso. Pelo contrário, tenta eliminá-lo. Os testes de QI não medem o talento para música, pintura etc. Para o sistema, pensar é ter lógica”, escreve Fernando Dolabela em Quero Construir Minha História (Ed. Sextante), no capítulo dedicado à criatividade. O problema é que, ao entrar no mercado de trabalho, exige-se justamente capacidade criativa, sensibilidade e coragem de ousar. E não é só na vida profissional. Quantas vezes precisamos de soluções criativas na nossa vida pessoal? Por tudo isso, aproveite a infância do seu filho, ainda dá tempo de fazer algo por ela! Primeiro passo: não dá para ser criativo sem liberdade para pensar diferente. Se você, desde que seu filho for bebê, construir em volta dele um universo somente voltado ao que pode e não pode, ou impedir que ele faça descobertas sozinho, já começa a minar esse potencial. Começa cedo, nos primeiros cuidados. As caras e caretas que fazemos, o toque, os jeitos de se expressar, os tons de voz, tudo é referência. “Cada gesto que o bebê tenta imitar é músculo em movimento. É o bebê aprendendo a se expressar”, diz a educadora Vânia Cavallari, especialista em psicomotricidade. O mesmo acontece com a criatividade. Segundo a neuroeducação, tudo que aprendemos fica registrado em nossas células. Isso vale, então, para os estímulos, seja qual for a natureza, os bons e os ruins. potencial dos filhos? Tudo o que você precisa saber e pensar a respeito do assunto para garantir um futuro ainda mais feliz para o seu filho Cristiane Rogerio e Simone Tinti - Produção Fátima Santos

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Artigo da revista Crescer sobre criatividade.

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Qual o segredo da criatividade?

TweetÉ possível uma criança ser mais criativa do que a outra? Os pais podem estimular o potencial dos filhos? Tudo o que você precisa saber e pensar a respeito do assunto para garantir um futuro ainda mais feliz para o seu filho

Cristiane Rogerio e Simone Tinti - Produção Fátima Santos

Criatividade. Qual é a primeira coisa que vem à sua cabeça quando você pensa nessa palavra? Nós listamos algumas. Expressar-se da forma mais espontânea possível. Recriar algo ou inventar o que ainda não existe. Ter ideias fora do padrão. Brincar. Vestir-se do jeito que quiser, ler um livro de trás para frente. Realizar objetivos de uma forma diferente. Pensar o que não foi pensado. Ousar. Resolver problemas por caminhos não convencionais. Uma maneira de ser e viver. Tornar o imaginário algo real. Intuição, despudor da imaginação.

Quem aí não se pegou em imagens da própria infância? Liberdade boa aquela de fazer o que bem entende, de ficar perguntando o tempo todo. O prazer da ignorância, poderíamos dizer. E para onde foram esses sentimentos? Em que momento de nossas vidas esse sabor pelo novo escondeu-se em nós? Segundo os estudiosos, pode ter acontecido por volta dos 8 ou 9 anos de idade. É aí que passamos a entender como as coisas funcionam e nos chegam em formato de normas as noções do que é certo e errado. A criança começa a discernir melhor o que é e o que não é aceito pela sociedade. E passa a ter respostas prontas. “Na primeira infância, a criança é um pequeno cientista, tem sempre uma teoria para tudo. Se você perguntar como nasce uma estrela, ela terá uma explicação. Dos 8 anos, em diante, se fizer perguntas assim, ela já tem uma resposta: ‘Não sei’”, diz a educadora e socióloga Lourdes Atié. Essa fase é acompanhada da alfabetização, e isso não é coincidência. O desafio da nova etapa transforma o aprendizado em “coisa séria”. Antes, a criança brincava. Agora, precisa começar a estudar “de verdade”. E, sabe-se lá por que, alguém decidiu que estudo e brincadeira não podem caminhar juntos, como se um pudesse atrapalhar o outro.

O fato é que, quando nos tornamos adultos, nos deparamos com um retorno ao que nos foi priorizado na infância. Criatividade é pré-requisito em classificados de empregos, nos mais diversos setores. Encontros motivacionais em empresas colocam adultos para brincar. Livros sobre empreendedorismo nos convencem que romper com o convencional revela-se a única saída. “A ênfase exagerada na lógica inibe o processo criativo, porque a vida é cheia de ambiguidades. O sistema educacional é eficiente no desenvolvimento do pensamento concreto, mas não estimula o pensamento difuso. Pelo contrário, tenta eliminá-lo. Os testes de QI não medem o talento para música, pintura etc. Para o sistema, pensar é ter lógica”, escreve Fernando Dolabela em Quero Construir Minha História (Ed. Sextante), no capítulo dedicado à criatividade. O problema é que, ao entrar no mercado de trabalho, exige-se justamente capacidade criativa, sensibilidade e coragem de ousar. E não é só na vida profissional. Quantas vezes precisamos de soluções criativas na nossa vida pessoal?

Por tudo isso, aproveite a infância do seu filho, ainda dá tempo de fazer algo por ela! Primeiro passo: não dá para ser criativo sem liberdade para pensar diferente. Se você, desde que seu filho for bebê, construir em volta dele um universo somente voltado ao que pode e não pode, ou impedir que ele faça descobertas sozinho, já começa a minar esse potencial. Começa cedo, nos primeiros cuidados. As caras e caretas que fazemos, o toque, os jeitos de se expressar, os tons de voz, tudo é referência. “Cada gesto que o bebê tenta imitar é músculo em movimento. É o bebê aprendendo a se expressar”, diz a educadora Vânia Cavallari, especialista em psicomotricidade. O mesmo acontece com a criatividade. Segundo a neuroeducação, tudo que aprendemos fica registrado em nossas células. Isso vale, então, para os estímulos, seja qual for a natureza, os bons e os ruins.

potencial dos filhos? Tudo o que você precisa saber e pensar a respeito do assunto para garantir um futuro ainda mais feliz para o seu filho

Cristiane Rogerio e Simone Tinti - Produção Fátima Santos

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Um baú de ideias 

Brincadeiras para pôr a criatividade à prova!

0 A 18 MESES • Brincar de “cadê, achou!” • Fazer caretas, sons e imitar gestos • Bater palmas • Pegar e soltar objetos • Ouvir música e dançar • Encaixar blocos grandes18 a 36 MESES • Brincar de boneca • Brincar com tinta • Fazer construções com blocos • Imitar cenas (como lavar o rosto e limpar o chão) • Observar as formigas3 a 6 ANOS• Simular conversas ao telefone • Inventar histórias e vestir fantasias • Usar fantoches • Brincar com miniaturas • Desenhar e pintar com giz de cera e lápis de corA PARTIR DE 6 ANOS• Inventar novas regras para os jogos • Fazer coleções • Realizar experiências científicas • Construir com sucata • Ler poesias • Encenar uma história de um livro ou um filme • Apostar corrida, jogar peteca, pular corda etc.

Criatividade e alegria O mestre dos livros em pop-ups conta como o prazer pelo que faz influencia em seu trabalho 

Dá para imaginar o prazer de Robert Sabuda criando cada livro seu. Por isso, talvez suas obras deixem qualquer um de queixo caído. Aqui no Brasil temos traduzido os livros Dinossauros e Fadas (pela Editora Salamandra) e Peter Pan (Editora Publifolha). São páginas e páginas com diversas dobraduras que saltam aos nossos olhos sempre de uma forma surpreendente, criativa e inesquecível. 

CRESCER: Sua mãe tinha uma escola de dança e seu pai era carpinteiro. O trabalho deles influenciou você? 

Robert Sabuda: Eu passava muito tempo olhando meu pai trabalhar com as mãos. Quando eu o via construindo algo, entendia que a criatividade é também a alegria de observar simples objetos unidos para se tornarem algo bonito. E o amor da minha mãe pela dança me ensinou que toda história visual deve ter um grande senso de movimento. 

C.: Como passou a se interessar por livros diferentes? 

R.S.: Eu sempre fui apaixonado por livros, desde muito cedo. E me intrigava especialmente por livros que não fossem tradicionais, como os muito grandes ou muito pequenos. Quando eu vi o primeiro livro em pop-up, ainda garoto, disse a mim mesmo: “Este é o livro mais incrível que eu já vi!” E assim começou um amor pelos pop-ups pela vida toda. 

C.: Por que, mesmo que não seja para se tornarem artistas, as crianças devem ser encorajadas a ser criativas? 

R.S.: Uma mente criativa se torna também uma mente curiosa. E a curiosidade é o combustível para o fogo do aprendizado.

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