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QUAL EMPREGABILIDADE? A inserção no mercado de trabalho dos egressos de um
Curso Técnico em Agropecuária oferecido no Maranhão
Vespasiano de Abreu da Hora1
Gilberto Luiz Alves2
Resumo
Este artigo analisa a inserção no mercado de trabalho, no Maranhão, de egressos do Curso Técnico em Agropecuária, na modalidade de Educação a Distância da Rede e-Tec Brasil, oferecido pelo Instituto Federal do Maranhão (IFMA). Os egressos, sujeitos da pesquisa, são oriundos da primeira turma do referido curso (2009-2011). O curso foi ofertado em oito polos envolvendo 34 cidades maranhenses. Na construção deste objeto de pesquisa, adotou-se como procedimento metodológico a investigação em fontes secundárias e primárias. A inserção desses profissionais ocorreu na iniciativa privada, no serviço público e autônomos. Persistiram 14,42% sem trabalho ou ocupação, remunerada ou não. Palavras-chave: Egressos do curso Técnico em Agropecuária; Educação profissional; Mercado de trabalho; Educação a distância.
Abstract This article analyzes, in the light of a field research, the “insertion in the labor market, in Maranhão state, of graduates of the Agriculture and Livestock Technical Course, in the form of Distance Education of the Rede e-Tec Brasil, offered by the Federal Institute of Education, Science and Technology of Maranhão (IFMA)”. The graduates who were subjects of the research come from the first class of the course (2009-2011). The insertion of these professionals took place both in the private initiative, in the public service and standalones. However, 14.42% persisted declaring themselves as lacking jobs or occupations, paid or unpaid. Keywords: graduates of the Agriculture and Livestock Technical course; labor market; distance education.
1 Professor do Instituto Federal do Maranhão (IFMA), Campus São Luís / Maracanã. Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional (Universidade Anhanguera-UNIDERP/MS). E-mail: [email protected]. 2 Doutor em Educação. Professor pesquisador da Universidade Anhanguera-UNIDERP/MS. E-mail: [email protected].
INTRODUÇÃO
Analisar o mercado de trabalho no estado do Maranhão implica compreendê-lo
na dinâmica do mercado de trabalho nacional e ter consciência de que o sistema brasileiro
de produção está regido pelo capitalismo, cuja essência consiste na concentração de renda
e riqueza, na exclusão social e na geração de pobreza.
É nesse cenário que os trabalhadores empregados e desempregados alimentam
suas expectativas de ingressarem e/ou permanecerem e melhorarem sua condição nas
empresas e/ou em instituições públicas. Enquanto isso, os desempregados buscam
sofregamente ingressar num posto de trabalho. Paralelamente a esse movimento contínuo,
a dinâmica dos avanços tecnológicos tem promovido a reestruturação produtiva, a qual
impacta profundamente o processo de oferta ou supressão de postos de trabalho, pois,
promove o desemprego estrutural e recria novas formas de trabalho.
Essa verdadeira armadilha tem levado muitos empregados e desempregados à
constante busca por preparação em cursos técnicos, em instituições tanto públicas quanto
privadas. Outros, ainda, deixam-se seduzir pelo empreendedorismo, tentando abrir seus
próprios negócios, criando micros e pequenas empresas, sem levarem em conta a grande
incidência de falência desses empreendimentos.
Nessa conjuntura, delineiam-se as possibilidades de ingresso para o exercício
da profissão do egresso do Curso Técnico em Agropecuária na modalidade de Educação a
Distância da Rede e-Tec Brasil, ofertado pelo Instituto Federal do Maranhão – Campus São
Luís / Maracanã (Campus São Luís / Maracanã – IFMA). As possibilidades de ingresso
dessas pessoas no mundo do trabalho se visualizam: a) na condição de empregado; b) na
condição de empregador; e c) na condição de gerador de trabalho e renda.
2 .RESULTADOS E DISCUSSÃO
O senso comum construído pela ideologia dominante conduz a equívocos
recorrentes, entre os quais o de que o estudo de uma profissão técnica favorece a conquista
de um posto de trabalho. À luz da realidade concreta, com as evidências de cada momento
histórico, infere-se que, quando ocorrem transformações produtivas estruturantes (como a
Revolução Industrial e os subsequentes aprimoramentos dela – taylorismo, fordismo,
toyotismo -, os processos produtivos determinaram os tipos de atividades laborais e de
trabalhador necessários, determinando a importância ou não do “exército de reserva”. O
modo de produção capitalista acabou determinando os sistemas de ensino quanto à
preparação dos trabalhadores, idealizados conforme as exigências e as demandas do
processo produtivo.
O que determina o surgimento ou o desaparecimento de novos postos de
trabalho, ou ainda a ampliação do número dos existentes, são os processos de produção, o
mercado de trabalho, o crescimento econômico, a distribuição de renda e a diminuição da
taxa de juros. Hoje vive-se a dinâmica do desemprego estrutural, no curso do qual muitos
trabalhadores, antes empregados, estão agora, em decorrência do desemprego, buscando
sobreviver pela via da informalidade.
A oferta da EaD através da Rede e-Tec Brasil é apresentada como estratégia de
desenvolvimento e democratização do acesso à educação profissional de nível médio,
sobretudo para as pessoas situadas em regiões longínquas e de baixa cobertura da rede
pública federal de Educação.
Para obter uma compreensão aprofundada sobre os demandantes do Curso
Técnico de Nível Médio em Agropecuária da Rede e-Tec Brasil ofertado pelo IFMA, faz-se
necessário realizar as primeiras aproximações sobre o perfil desse egresso. Essa
caracterização será apresentada não por polos isoladamente, mas na sua totalidade, ou
seja, o resultado representará os demandantes no conjunto de oito polos distribuídos no
estado do Maranhão.
Ao analisar essa distribuição, procura-se perceber a abrangência dos polos e a sua
relação com as propostas do governo do Maranhão de regionalização do desenvolvimento
no estado. Buscando compreender tal processo de aceleração do desenvolvimento regional
no estado, deflagrado por sucessivos governos, toma-se como recorte temporal o período
de 2007 a 2015. “Em 1998 e 2006, o planejamento estadual ‘navegou’ em sucessivas
regiões pontuais, conforme a percepção de cada unidade administrativa, embora a
referência fossem as citadas gerências regionais” (IMESC, 2015, p. 12). Nova proposta foi
apresentada em 2007, dividindo o território maranhense em 32 Regiões de Planejamento,
proposta até então (2015) em vigor (Id. ibid.).
O presente estudo se utiliza dessa proposta para fundamentar algumas análises de
pertinência e elementos de escolha das cidades em que foram instalados polos da Rede e-
Tec Brasil no estado do Maranhão.
Nessa distribuição, realizada pelo estado para efeito do Plano Popular de
Desenvolvimento Regional do Estado do Maranhão (PPDR), das 32 regiões, apenas seis
foram contempladas em 2009 pelo Curso Técnico de Nível Médio em Agropecuária que
ocorreu nas seguintes regiões:
Região de Chapada das Mesas – contemplando Porto Franco;
Região da Ilha do Maranhão – contemplando São Luís;
Região do Delta do Parnaíba – contemplando Brejo;
Região do Litoral Ocidental – contemplando Cururupu;
Região do Pericumã – contemplando Pinheiro;
Região do Tocantins – contemplando Imperatriz,
Região dos Guajajaras – contemplando Barra Corda,
Região dos Timbiras - contemplando Caxias (OLIVEIRA, 2008, p. 22-560).
3 PERFIL DOS EGRESSOS
De acordo com os dados levantados quanto ao perfil, o perfil dos egressos
mostra uma leve predominância do sexo masculino (56,73%) sobre o feminino (43,2%).
Quanto à idade, quando se agrega a faixa de 20 a 39 anos apresenta o maior percentual,
que é de 69,23%; já a faixa etária de 40 a 49 anos abrange 20,19%; e, por último, os de 50
a 60 anos ou mais representam um percentual de 10,57%. Porém, desagregando esse
último grupo, percebe-se que, na faixa acima de 60 anos, o percentual é de apenas 1,92%.
A etnia autodeclarada predominante foi parda / mulata com 58,65%, mas pode-
se considerar que a possibilidade de que a autodeclararão esteja permeada pela negação
da etnia negra, o que mascararia esse resultado. Ao se agregar a etnia pardo / mulata
(58,65%) com a negra (19,23%), o resultado se altera significativamente (77,88%). Por outro
lado, a etnia branca apresentou um percentual de 21,15%.
Ao ingressarem no curso, os egressos apresentavam os seguintes percentuais
de escolaridade: 22,12% com Ensino Fundamental completo; 59,62% com Ensino Médio
completo; 8,65% com Ensino Superior incompleto; e 9,62% com Ensino Superior completo.
Quando agregado o Ensino Médio completo com o Superior incompleto e o Superior
completo, tem-se 77,89% dos egressos com o Ensino Médio completo. Juntando-se o
Ensino Superior incompleto (8,65%) com o completo (9,62%) o percentual vai para 18,27%.
Esses dados revelam que a questão essencial não é só a formação, mas a
existência, no mercado de trabalho, de oportunidades, as quais ainda são extremamente
escassas e cada vez mais seletivas. Frente a esse quadro, os alunos buscam por uma
especialização, movidos pelo senso de oportunidade e pela ideologização de que a
capacitação permanente lhes possibilitará atingir o status de empregabilidade 3 e figurar
3 Segundo Gentili (1999), o termo empregabilidade faz parte do ideário capitalista e surgiu no início do século XX na Grã-Bretanha, para distinguir os trabalhadores empregáveis dos não empregáveis. Trata-se, portanto, de uma categoria que compreende a capacidade do trabalhador pela qualificação e pela requalificação permanentes, bem como por sua inserção e permanência no mercado de trabalho, haja vista terem atingido o status de “desejáveis” pelas empresas.
como desejáveis ante o mercado de trabalho, ou ainda tornarem-se micro e pequenos
empreendedores nesse mercado seletivo e competitivo.
Observando os dados na sua totalidade, pode-se inferir que o perfil dos
egressos é constituído por homens e mulheres, com uma variação de 13,46% para mais, de
homens em relação a mulheres. A faixa etária predominante se situa de 20 a 49 anos. A
etnia autodeclarada parda / mulata com 58,65% prepondera sobre as demais. E apenas
22,12% têm escolaridade em nível de Ensino Fundamental completo, ou seja, este público
representou a demanda do PROEJA. Por outro lado 77.88% tinham o ensino médio
completo, destes 8.65% de nível superior incompleto e 9.62% de ensino superior completo.
3.1 Situação dos egressos antes do curso
Antes de iniciarem o curso, os egressos se apresentavam nas seguintes
situações: nunca tiveram ocupação remunerada (2,09%); desempregados (2,43%);
trabalhadores em atividade familiar ou comunitário (4,17%); trabalhadores em atividade
familiar ou comunitária que gera renda individual (6,26%); trabalhadores com carteira
assinada (20%); trabalhadores sem carteira assinada (3,13%); funcionários públicos
(25,57%); trabalhadores autônomos (21,91%); bico / trabalho eventual (5,22%); e atividade
do lar (6,78%).
Quando se soma os dados sobre aqueles que desejam conseguir trabalho
(7,35%), com os dos que nunca tiveram uma ocupação (2,09%), desempregados (2,43%);
os da atividade familiar ou comunitária (4,17%); trabalhador em atividade familiar ou
comunitária que gera renda individual (6,26%); os trabalhadores sem carteira assinada
(3,13%); os que vivem de bico ou trabalho eventual (5,22%); e atividade do lar (6,78%)
chega-se a 37,43%, que subliminarmente expressam o desejo da especialização para
melhorar sua condição no mercado de trabalho.
Os que desejam conseguir trabalho, os desempregados, os que nunca tiveram
uma ocupação e os que vivem de bico ou trabalho eventual e atividades do lar demandaram
o curso em busca de atingir conhecimentos e status de empregabilidade. Em tese, deverão
exercer pressão sobre o mercado de trabalho. Nessa mesma lógica, os que desejavam
aumentar ou atualizar conhecimentos e habilidades para o desempenho de uma atividade,
somados àqueles que objetivavam ampliar conhecimentos, correspondem a 46,32%,
constituindo o principal público que deseja aprimorar os conhecimentos. Os
trabalhadores/operários da iniciativa privada provavelmente buscam conhecimentos para
ampliar suas possibilidades de ingresso e/ou condições de subir na escala hierárquica
dentro das empresas.
Investimento na capacitação pessoal cria a possibilidade para funcionários
públicos serem reposicionados horizontal e verticalmente na carreira mediante melhorias no
currículo, daí decorrendo melhorias salariais. Os autônomos buscam ampliar os
conhecimentos para melhor desenvolverem suas atividades como comerciantes de insumos
agropecuários e/ou melhorarem o desempenho nas suas chácaras e prestarem assessoria
no campo das atividades agropecuárias.
3.2 Situação do egresso depois do curso
Em contato com um número substancial de egressos no processo de pesquisa
de campo, constatou-se algumas das práticas profissionais desenvolvidas por eles. Em
razão do questionário não conter nenhuma pergunta sobre o tipo de atividade profissional
que cada egresso estava desenvolvendo, fez-se o registro durante a pesquisa de campo:
operadores de caixa em supermercados, atendentes em lojas e farmácias, trabalhadores em
agências bancárias, docentes da Educação Infantil, donos de lojas de insumos
agropecuários, proprietários de sítios e/ou chácaras com atividades agrícola e pecuária,
vigilantes, servidores públicos estaduais e municipais, guardas municipais e assentados em
áreas da reforma agrária e em comunidades remanescentes de quilombos, onde
desenvolvem agricultura familiar.
Os dados levantados sobre a Situação dos egressos depois do curso
permitiram apreender quatro aspectos: 1º – se houve alteração na ocupação / trabalho do
egresso depois que concluído o curso; 2º – se o empregador manifestou alguma preferência
quanto à formação nas modalidades de educação a distancia ou presencial; 3º – a renda
individual mensal dos egressos; e 4º – quais expectativas dos egressos foram atendidas
após a realização do curso.
Ainda segundo os dados obtidos a partir da questão Ocupação/Emprego, 42%
continuam desempregados; 26,92% conseguiram o atual emprego; 5,77% passaram a
trabalhar com carteira assinada; 2,88% conseguiram montar seus próprios negócios,
tornando-se autônomos; 0,96% tornaram-se empregadores; 3,85% começaram a participar
de empreendimentos cooperativos; 2,88% passaram a participar de empreendimentos
solidários; 7,69% melhoraram seus cargos ou funções; 4,81% melhoraram seus salários e
rendas; 21,15% ficaram mais “qualificados” para o trabalho; 6,73% obtiveram mais
informação sobre mercado e trabalho.
Assim, como se pode perceber, houve uma melhora geral nas condições de
emprego e renda dos egressos, após a conclusão do curso. Quando cruzamos esses dados
com os constantes na questão que levantou a situação do egresso observa-se que: 7,35%
desejavam conseguir trabalho; 2,09% nunca tiveram ocupação remunerada; 2,43% eram
desempregados; 4,17% era trabalhador em atividade familiar/comunitária; 6,26% era
trabalhador em atividade familiar/comunitária que gera renda individual; 3,13% eram
empregados sem carteira (desde que não seja trabalho eventual nem funcionário público);
5,22% faziam bicos, ou seja, trabalhos eventuais; e 6,78% exerciam atividades do lar.
Agregados, os percentuais acima totalizam 37.43% aqui considerados em condição de
vulnerabilidade.
Comparados aos 26,92% que conseguiram o atual emprego, de acordo com a
questão que levantou tal dado, percebe-se uma melhora substancial quanto ao ingresso no
mercado de trabalho em relação a trabalhadores em atividade laboral sem carteira assinada,
que eram 3,13% antes de iniciar o curso e após a sua conclusão, pois 5,77% passaram a
trabalhar com carteira assinada, superando a condição anterior em 2,64%. Outros
conseguiram montar o próprio negócio (2,88%); tornaram-se empregadores (0,96%);
melhoraram de cargo ou função (7,69%); e melhoraram seus salários e rendas (4,81%). Na
questão que levantou a situação no mercado de trabalho eram 20% de trabalhadores com
carteira assinada, após a conclusão do curso 5,77% passaram a trabalhar com carteira
assinada. Provavelmente, esses novos trabalhadores vieram do público em condição de
vulnerabilidade e estão figurando entre os 26,92% que conseguiram o atual emprego.
Contudo, 14,42% permaneceram sem qualquer trabalho – ocupação remunerada ou não
remunerada.
O atual cenário de desemprego estrutural, promovido pela reestruturação
produtiva, e a atual correlação de forças de um lado os trabalhadores e do outro
empresários e governos são, dentre outros, os principais fatores causais da flexibilização
dos direitos trabalhistas. Esses determinantes têm levado à via da informalidade do trabalho,
ou seja, à substituição do emprego pela ocupação. Resulta disso o aumento substancial de
trabalhadores informais.
Segundo Antunes (2013, p. 14-15), ao desenvolver sua análise, “a nova
morfologia do trabalho e suas principais tendências à informalidade, infoproletariado
(i)materialidade e valor” apresenta um espectro da informalidade que abrange diversos
modos:
os trabalhadores informais tradicionais, envolvidos em atividades de baixa
capitalização em busca de renda para provimento individual e familiar, podendo
envolver o trabalho da família ou de ajudantes temporários;
os informais instáveis, que são aqueles recrutados temporariamente por serviços
realizados (carregadores, carroceiros, trabalhadores de rua ou serviços gerais);
trabalhadores informais assalariados, sem registro e sem proteção da legislação
trabalhista;
e informais por conta própria, que podem ser uma variação de produtores
simples de mercadorias contando com a própria força de trabalho, com o auxílio
de familiares ou até com trabalhadores assalariados subcontratados.
No Brasil, a informalidade representa a ruptura de contratação e da regulação da
força de trabalho:
podemos acrescentar que, se a informalidade não é sinônimo direto de condição de precariedade, sua vigência expressa, com grande frequência e intensidade, formas de trabalho desprovidas de direitos, as quais, portanto, apresentam clara similitude com a precarização. Desse modo, a informalização da força de trabalho vem se constituindo como mecanismo central utilizado pela engenharia do capital para ampliar a intensificação dos ritmos e dos movimentos do trabalho e ampliar seu processo de valorização. E fazê-lo desencadearia um importante elemento propulsor da precarização estrutural do trabalho (ANTUNES, 2013, p. 16-17).
Na atual crise do emprego formal, observa-se uma tentativa de inversão das
responsabilidades: não é mais a burguesia (através dos seus agentes capitalistas) a
responsável pela exploração, pela concentração de renda e riqueza, pelo desemprego, pela
exclusão e pelos problemas sociais – são os próprios trabalhadores. Portanto, é a eles que
cabe a busca de soluções.
A fórmula engendrada pelo ideário e pelo Estado burgueses para a superação
da crise do trabalho versus capital está nas mãos dos trabalhadores, que deverão se tornar
empreendedores e criar suas próprias empresas. Com isso, devem eles também
desenvolver suas capacidades e suas competências para vencer a concorrência do
mercado livre, que farão deles empresários de sucesso e contribuirão para a oferta de
empregos para novos trabalhadores.
Sabe-se que a questão fundamental dissimulada e com esforço para se
desresponsabilizarem e responsabilizarem a outrem – neste caso, a classe trabalhadora –
pelo conflito entre capital e trabalho. É a exploração da classe trabalhadora pela classe
burguesa, ou seja, com diz Marx (s/d, p. 31), “a condição essencial da existência e da
supremacia da classe burguesa é a acumulação da riqueza nas mãos dos particulares, a
formação e o crescimento do capital; a condição de existência do capital é o trabalho
assalariado”.
Para entender melhor a atualidade, recorre-se às crises cíclicas, há muito
previstas por Marx e consubstanciadas por Sadi Dal Rosso (2013, p. 46), através de dados
da atualidade. Para esse autor, o estourar de uma crise se dá quando o capital já não
consegue mais auferir mais-valia, em razão de ganhos que os trabalhadores obtiveram em
momentos anteriores. Em decorrência disso, a referida crise se manifesta imediatamente no
desemprego e na redução de salários, fato presente no Brasil desde 2008, com a chamada
crise do neoliberalismo.
Tal crise se aprofunda até que os salários sejam rebaixados ao limite do
insuportável, condição favorável para reorganizar a produção e o trabalho. Inicia-se, assim,
uma nova fase gradual de emprego e conquistas de direitos trabalhistas, melhores
condições de trabalho e ganhos salariais, até que ocorra uma nova crise.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a análise e interpretação dos dados coletados, pode-se, à guisa de
conclusão, afirmar que a inserção dos egressos do curso em questão ocorreu de forma
diversificada e, em certa medida, já expressa nas expectativas desses sujeitos. Tais
expectações mostraram-se permeadas pela ideologia neoliberal, que busca sedimentar a
lógica do empreendedorismo em curso diante da crise do desemprego estrutural e dos
interesses do capital, no contexto da reestruturação produtiva, de não buscar soluções para
o desemprego. Ao invés disso, o sistema capitalista tem se empenhado em encontrar novos
mecanismos geradores de mais-valia junto a essa massa de força de trabalho especializada
e desempregada, expandindo as formas de produção e circulação de mercadoria através do
espectro da informalidade, que, segundo Antunes (2013) pode ser subdividida em
trabalhadores informais tradicionais (informais instáveis, ociosos ou temporários); informais
assalariados sem registro; e informais por conta própria.
A dinâmica de inserção desses egressos ocorreu de forma diversa, na iniciativa
privada, no serviço público e como autônomo (proprietários de lojas de insumos
agropecuários, de sítios ou chácaras que desenvolvem atividades agropecuárias; e na
agricultura familiar, em assentamentos da reforma agrária e comunidades quilombolas).
Disseminados nesse universo de possibilidades, restaram ainda 14,42% que se declararam
sem trabalho, remunerado ou não. O mosaico de possibilidades, porém, é ainda mais
amplo, podendo ser apresentado nos seguintes grupos:
1. o agronegócio, em que se destacam a pecuária de corte (o Maranhão possui o
segundo maior rebanho do Nordeste) e as monoculturas voltadas à produção de
matérias-primas para a indústria, como cana-de-açúcar, algodão, eucalipto, soja,
etc., produção essa sustentada pelo capital através de seus agentes (médios e
grandes produtores);
2. a agricultura familiar, sobretudo aquela desenvolvida em assentamentos, tanto
da esfera federal quanto da estadual;
3. as instituições financeiras (carteiras agrícolas), a exemplo do Banco do Nordeste
do Brasil (BNB), que preferem técnicos agrícolas para ocupar as referidas
carteiras, em razão de seus conhecimentos específicos;
4. os órgãos estaduais reguladores – a Agência de Defesa Agropecuária Animal
(AGED) e a Agência Estadual de Pesquisa e Extensão Rural (AGERP) –, bem
como órgãos federais, tais como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais (IBAMA), o Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA),
a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) e o próprio IFMA, nos campi
oriundos das Escolas Agrotécnicas (Codó, Maracanã e Mangabeira;
5. e, finalmente, o setor de serviços, área em expansão no Brasil e também no
Maranhão.
O técnico agrícola é um profissional especializado para atuar no setor primário
(produção animal e/ou vegetal) e na área de prestação de serviços afins. Trata-se, portanto,
de profissionais preparados para atuar numa profissão definida e com lugar social, e não
trabalhadores sem instrução formal ou de baixa escolaridade. Os dados obtidos através da
pesquisa confirmam que, apesar do grau de satisfação evidenciado pelos egressos, sua
absorção pelo mercado de trabalho ocorre de forma subordinada e em campos de trabalho
distintos de sua área de formação, o que os submete a toda sorte de possibilidades. Nessa
diversidade encontram-se o campo das condições de trabalho formais e o espectro de
trabalhadores na informalidade, esta voltada quase exclusivamente para a geração de renda
com fins de sobrevivência. Face a essa falta de oportunidades na área, recorrem a outras
possibilidades existentes no mercado de trabalho, tornando-se alvo de rebaixamento
salarial. Expostos, esses profissionais à informalidade caminham para a precarização do
trabalho.
Os dados de pesquisa de campo permitem observar a dinâmica de busca de
alternativas (montaram negócios próprios – 2,88%; tornaram-se empregadores – 0,96%;
ingressaram em empreendimentos cooperativos – 3,85%; ingressaram em
empreendimentos solidários – 2,88%; além dos 14,42% que continuam desempregados).
Essa realidade é característica de contextos em que o capital entra em crise e não
consegue mais se expandir, gerando desemprego e relegando a força de trabalho à própria
sorte. O desemprego, por sua vez, impacta desde os trabalhadores não especializados até
aqueles considerados altamente especializados. Em síntese, afeta indistintamente todas as
categorias de trabalhadores, contexto no qual estão inseridos os egressos objeto desta
análise.
As melhorias na vida sinalizadas pelos egressos evidenciam que o curso
ministrado pelo Campus São Luís / Maracanã do IFMA representou importante valorização e
melhoria na qualidade de vida desses egressos. Isso, porém, não isenta o IFMA da sua
condição de subordinada à lógica capitalista, quando esta não consegue romper com a
ideologização praticada em seu interior e quando, dentre outros fatos, lança mão do
empreendedorismo como elemento de formação dos alunos, além da promoção de cursos
de pouca duração, até então imputada ao sistema S. Tudo isso pode ser afirmado apesar
das críticas e da pertinência da forma de conduzir os cursos oferecidos na modalidade EaD
(nesse caso específico, da Rede e-Tec Brasil / IFMA), sem a qual dificilmente esses
egressos teriam os benefícios que eles próprios declararam ter auferido.
Não se pode negar, porém, que essa alternativa de cursos dissimula a falta de
priorização, pelas diferentes esferas governamentais (municipal, estadual e federal), do
provimento de uma rede de educação de qualidade que possa de fato instrumentalizar a
classe trabalhadora na tomada de decisões e opções na vida. Esse ponto de vista nada tem
de romântico, mas sim de uma utópico, em prol de uma perspectiva de mundo cujos
ideólogos e intelectuais sejam compromissados com um mundo justo e igualitário, sem
deixar de incentivar e construir alternativas ao sistema dominante, mesmo nos limites da
impregnação dos valores burgueses que habita cada um de nós.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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