Psicologia comunitária
Transcript of Psicologia comunitária
Psicologia comunitária
UNIVERSIDADE DO PLANALTO CATARINENSE
CURSO DE PSICOLOGIA – OITAVO SEMESTRE
DISCIPLINA DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM PSICOLOGIA
COMUNITÁRIA
PSICOLOGIA COMUNITÁRIA E PRESÍDIO REGIONAL DE LAGES
JUNTOS EM BUSCA DE PRATICAS HUMANIZADAS
Ivete de Oliveira Fontoura (Acadêmica)
Tatiane Muniz Barbosa (Orientadora)
______________________________________________________________________
_____
Resumo
Este artigo aborda as atividades desenvolvidas pela estagiária do
curso Psicologia da
Universidade do Planalto Catarinense durante o Estágio
Supervisionado em Psicologia
Comunitária no Presídio Regional de Lages, SC. O estágio teve como
principal objetivo a
humanização do Presídio, buscando um ambiente que proporcione
relações de “comunidade
onde todos são chamados pelo nome, sendo que ao ser chamado pelo
nome mantém a
identidade e a singularidade das pessoas, possibilitando assim a
manifestação do pensamento
e da opinião” (MARX apud CAMPOS, 1996, p. 95). Para alcançar o
objetivo foram
realizados oficinas duas vezes ao mês com oito reeducandas,
propondo reflexões (dinâmicas e
leituras comentadas de textos) referentes à auto-estima, afetividade,
auto-conhecimento,
violência domestica, relações de gênero, direitos humanos e
cidadania. Logo a psicologia
comunitária, e a psicologia social proporcionam o desenvolvimento
de ações que visem
autonomia, melhoria nas condições de vida, buscando uma
transformação social e a
diminuição da exclusão, partindo da realidade das pessoas e
respeitando os valores, as crenças
e a singularidade das mesmas.
Palavras-Chave: Psicologia Comunitária, Presídio, Humanização.
______________________________________________________________________
_____
Introdução
No sétimo e oitavo semestre do curso de Psicologia da Universidade
do Planalto
Catarinense (UNIPLAC), tive a oportunidade de realizar o Estágio
Supervisionado em
Psicologia Comunitária, no Presídio Regional de Lages SC. O estágio
foi realizado com
acadêmicas de Psicologia e Serviço Social em parceria com o
Ministério Publico da comarca
de Lages e UNIPLAC no ano de 2008.
A seguir serão abordadas neste artigo as ações desenvolvidas junto
às reeducandas
da instituição visando propiciar a humanização no cotidiano do
Presídio para presas nas
questões psicológicas e sociais. De acordo com Rey (2004, p. 174), “a
psicologia social deve
entender o sujeito em seu cotidiano, conhecê-lo nas condições sociais
em que atua e tentar
compreender seu comportamento a partir do contexto social ao qual
está inserido”. Portanto a
psicologia social busca a autonomia do sujeito de acordo com as suas
potencialidades. Diante
disto faz-se necessário ressaltar a potencialidade da instituição
prisional que possui como
direção a Lei de Execução Penal.
Para melhor compreender o Presídio, enquanto instituição é
importante conhecer a
Lei de Execução Penal (LEP), Segundo Human Rights Watch, “a LEP,
foi adotada em 1984 é
uma obra extremamente moderna de legislação, que tem por objetivo
reconhecer os direitos
dos presos tais como tratamento individualizado, e garantindo
assistência médica, jurídica,
educacional, social, religiosa e material. Vista como um todo, o foco
desta lei não é a punição,
mas, ao invés disso a ressocialização das pessoas condenadas”.
Percebe-se que a lei de
execução penal é bastante nova, porém busca garantir ao preso à
efetividade de programas
que proporcione a educação e profissionalização visando a
ressocialização.
De acordo com o histórico do Presídio Regional de Lages, o mesmo
foi fundado em
meados de 1963, como cadeia pública da Comarca de Lages, sendo
administrada por um
oficial. Posteriormente a cadeia foi administrada por um policial civil.
Em 1983, o Presídio
passou a ser administrado por um terceiro policial civil, que se
encontra na administração do
Presídio Regional de Lages atualmente.
O presídio custodia os presos das comarcas de Correia Pinto, Otacílio
Costa, Anita
Garibaldi, Campo Belo do Sul e Bom Retiro. A cidade de São Joaquim
possui uma Unidade
Penal Avançada (UPA), administrada pelo Presídio Regional de
Lages, que custodia os presos
das comarcas de Urubici, Bom Jardim da Serra e Bom Retiro, sendo
que o último município é
custodiado por ambas as unidades citadas anteriormente. A cidade
de Correia Pinto possui
uma UPA também administrada pelo Presídio Regional de Lages que
custodia os presos das
comarcas de Correia Pinto e Ponte Alta.
Segundo informações colhidas pela estagiária através de conversas
informais com os
funcionários durante a realização do estágio (maio/2008), o Presídio
Regional de Lages tem
um total de 245 presos em regime fechado (sendo este total
composto por 21 mulheres e 224
homens), porém o mesmo possui capacidade para 80 homens e 14
mulheres. Diante disto
percebe-se um dos problemas do local, pois o mesmo não possui
espaço para acomodar seus
detentos, sofrendo com a superlotação, porém esta situação não é
um problema apenas do
Presídio Regional de Lages, mas do Sistema Penitenciário Brasileiro.
Segundo o Departamento Penitenciário Nacional (2005), “o sistema
penitenciário
brasileiro não possui capacidade suficiente para acomodar todos os
presos que o constituem, e
a superlotação é talvez o mais crônico problema que os afligem.
Sendo que quanto maior a
concentração de presos em determinado estabelecimento carcerário,
piores serão as condições
pelas quais os presos serão submetidos”.
Logo, a temática humanização do Presídio Regional de Lages esbarra
na
superlotação e no pouco espaço físico do local, sendo que ao pensar
em ações tais como
profissionalização, educação e grupos para discutir temas
relacionados à droga, família,
sexualidade e mercado de trabalho, enfim temas que os próprios
preso (as) estejam
interessados em saber, refletir e discutir requer um ambiente
adequado para desenvolver as
ações citadas anteriormente.
O presídio conta com 21 funcionários, sendo um Gerente Prisional,
uma Assistente
Social, dois Policiais Militares aposentados convocados que exercem
atividades junto com os
agentes prisionais, um agente prisional na administração, um agente
prisional na execução
penal, um chefe de segurança responsável por toda parte funcional,
e quatorze agentes
prisionais (composto por 4 mulheres). O presídio conta com agentes
prisionais formados no
ensino superior em cursos como: administração, contabilidade,
ciências sociais e educação
física, mesmo o concurso exigindo para este cargo o ensino médio
completo.
Os funcionários são subordinados ao Departamento de
Administração Prisional
(DEAP) da Secretaria de Segurança Pública do Estado de SC, que
apresenta como missão, ser
reconhecido pela sociedade como órgão de excelência, permanente e
consolidado, na custodia
e reinserção social dos reclusos, já a visão do DEAP, é de administrar
o sistema prisional
catarinense, de forma integrada, visando custodiar os reclusos e
contribuir para sua reinserção
social. Assim como a Lei de Execução Penal (LEP) abordada
anteriormente, o DEAP
assegura os direitos do preso, e a reinserção social, mas na prática
tais direitos encontram-se
utópicos.
Segundo informações colhidas através de conversas informais com
os funcionários,
percebeu-se que os mesmos não acreditam na humanização do
Presídio, devido ao fato das
condições precárias que o mesmo se encontra tais como
superlotação, falta de atividade,
ambiente frio, úmido, com ratos e baratas; diante de tal situação
percebe-se que os
funcionários apresentam uma visão diferente dos ideais do DEAP e
LEP e consequentemente
do processo de reeducação e ressocialização que a Lei prescreve e o
Presídio visa.
O Presídio proporciona para seus presos (as) visitas, aos sábados e
domingos das
8h30min às 14h para a entrada, e até às 16h horas para permanecer
no local. A rotina do preso
inicia às 7h30min com a “passagem do pão”1 sendo que o café os
próprios presos fazem, às
8h30min “pátio de sol”2 , as 11h40min se dá início o almoço e às 14h
os presos são liberados
novamente para o “pátio de sol”, às 18h30min são “recolhimento”3 e
as 19h30min início do
jantar.
As visitas são proporcionadas para parentes de primeiro grau, sendo
pai, mãe,
irmãos, esposa e filhos, menores de 12 anos não precisam de
“carteirinha” de identificação e
cada preso tem direito a três visitas por final de semana, de acordo
com a galeria que o preso
se encontra. Nas visitas de finais de semana é permitida a entrada de
alimentos cozidos, já na
quarta-feira pela manhã a galeria “B” e “C” recebem alimentos, tais
como batata, arroz,
açúcar, café enfim, alimentos crus, em sacos transparentes e
embalagens plásticas, para
melhor procedimento da revista. Na quinta pela manhã as demais
galerias recebem seus
alimentos.
A galeria A5 (ala de segurança) conta com 81 presos, a mesma
engloba “asilo”,
“favela” e “malharia”. No “asilo” se encontram os presos por falta de
pagamento de pensão, e
os presos mais idosos, na “favela” encontram-se os presos que
cometeram crime contra
crianças e mulheres, sendo que os mesmos são separados dos
demais por segurança, pois os
presos criam suas próprias leis, e não aceitam agressões contra
crianças e mulheres. Quando
os presos da galeria “B” e “C” encontram-se no seu horário de
almoço, os presos da ala de
segurança, saem para o pátio de sol, na “malharia” encontram-se os
presos “regalia”6, aqueles
indicados pelos agentes prisionais como presos com bom
comportamento e escolhidos pelo
Diretor do Presídio.
As galerias “B” e “C” (galeria geral) contam com 146 presos, sendo
que a galeria
“B” possui 74 e a galeria “C” 72 presos. A galeria “Torre”
(segurança) possui 15 presos
separados dos demais, pois são considerados presos que estimulam
rebeliões, sendo que os
mesmos já possuem condenação.
1 Expressão utilizada pelos presos e funcionários para designar o
momento do café da manhã.
2 Refere-se à saída das celas para o pátio.
3 Como se referem ao momento de retorno, por parte dos detentos,
para as celas.
5 Nome este dado para designar uma das galerias, que também é
composta pelos espaços denominados
“asilo, favela, malharia e torre”.
6 Esses são os presos considerados com bom comportamento que
devido a isso têm certas vantagens
cotidianas em relação aos demais presos.
A galeria “Feminina”7 conta com 21 presas que por Lei não podem
ficar no mesmo
ambiente masculino, as mesmas possuem seu próprio pátio de sol.
De acordo com o Formulário Categoria e Indicadores preenchidos
(em anexo), o
Presídio conta com 431 presos (destes, 245 encontram-se no regime
fechado sendo que deste
total 39 são mulheres), no regime fechado, semi-aberto, aberto e
provisório. Tal formulário
aborda as características da população prisional de Lages, sendo que
a seguir serão abordados
aleatoriamente alguns itens do formulário a fim de caracterizar a
instituição.
Em relação ao grau de instrução dos presos, 41,76% possuem o
ensino fundamental
incompleto, já as mulheres são 30,76% também com o mesmo grau
de instrução; logo há um
número elevado de presos (as) com o ensino fundamental
incompleto. Em relação aos crimes
cometidos entre homens e mulheres a maior porcentagem é tráfico
de drogas ilícitas, sendo
para os homens a porcentagem de 37,84, e para as mulheres 90%.
Diante disto as mulheres
possuem um número elevado de aprisionamento por tráfico de
drogas.
Em relação à reincidência, os homens possuem uma porcentagem de
8,47%, sendo
que a maior porcentagem de presos são os primários (com uma
condenação), em uma
porcentagem de 54,23%. Já as mulheres possuem um nível de
reincidência equivalente a
23,52% possuindo uma maior porcentagem entre presas primárias
com mais de uma
condenação sendo esta 41,11%. Logo, as porcentagens apresentadas
acima, mostram que as
mulheres apresentam um número significativo de reincidência, com
mais de uma condenação.
Em relação à faixa etária os homens apresentam suas idades
bastante diversas e sua
maior porcentagem é entre 18 a 24 anos sendo esta 25,52%. Já entre
as mulheres a maior
porcentagem é na faixa etária de 30 a 34 anos sendo esta 21,50%,
percebe-se que as mulheres
possuem sua maior porcentagem na idade adulta e os homens jovens
adultos, porém ambos
com idades consideradas economicamente ativas, para iniciar no
mercado de trabalho ou
curso de graduação.
Com relação à cor de pele e etnia a maior porcentagem entre
homens e mulheres
concentra-se na cor branca, sendo esta 48,72% para homens e
47,22% para mulheres, em
segundo a maior porcentagem é na cor negra sendo esta 39,90%
para homens e 33,33% para
mulheres. Percebe-se que as porcentagens de cor dos presos (as) são
bastante próximas. Em
relação ao tempo total de penas a maior porcentagem entre homens
e mulheres é de até 4 anos
sendo esta 58,98% para os homens e 59,29% para a mulher. O
documento apresenta mais
7 Nome dado para designar a galeria das presas.
informações, mas a estagiária privilegiou algumas características
que davam conta de
contextualizar a realidade da instituição.
Levando em consideração o número total de presos percebeu-se que
há poucas
atividades no Presídio, já que existe apenas a fabricação de grampos
de roupa, artesanatos e
futebol, não há uma atividade específica para o preso que está saindo
do local e para o preso
que está em semi-liberdade, pois o mesmo tem o direito de trabalhar
no ambiente prisional
dentro do local ou no pátio em frente ao presídio. Vale destacar,
também, que o preso em
semi-liberdade tem o direito de sair cinco vezes ao ano, por sete dias
cada vez.
Segundo Mameluque (2006), o sistema prisional brasileiro que causa
profunda e
justificada preocupação devido à crescente criminalidade, não
poderá resolver-se com a
modificação de leis, o acréscimo de penas e construção de
penitenciária. A segurança depende
muito mais de construir escolas, oferecer trabalho, educação e saúde
a todos os cidadãos. A
preocupação com o aumento da segurança apenas pela prisão, sem o
seu objetivo maior,
ressocializar, na busca de soluções para seus efeitos, e não para suas
causas. Percebe-se na
colocação do autor, que a solução para diminuir a superlotação dos
presídios não está apenas
na construção de presídios e penitenciárias, mas na efetividade dos
direitos a saúde, educação,
lazer e projetos sociais, que visem à prevenção da entrada do jovem
adulto na criminalidade.
Logo, a realidade do Presídio onde foi realizado o estágio mostra a
faixa etária
(apresentada anteriormente neste artigo), dos presos com idade de
busca e permanência na
educação, lazer, projetos sociais e trabalho. Mas tais atividades
apresentam-se de forma
precária contribuindo assim para a entrada na criminalidade.
Portanto, o Ministério Público da comarca de Lages em parceria com
a UNIPLAC,
realizou o estágio interdisciplinar com os cursos de Psicologia e
Serviço Social com o
objetivo do estágio de propiciar a humanização do Presídio para
presos. Diante disto em
relação à temática humanização do presídio vale lembrar que
“humanizadas são todas as
criações humanas, que se diferenciam dos demais animais, logo o
homem criou casa, roupas e
sapatos, mas tais criações não estão ao acesso de todas as pessoas,
diante disto, tal situação é
considerada desumana” (informações colhidas com FRIZZO, 2008,
docente do curso de
Psicologia da UNIPLAC). Diante disto, a realidade do Presídio
Regional de Lages apresentase
com ações desumanas devido ao fato da instituição estar sofrendo
com a superlotação a
sala designada para as aulas, de reeducandos foi transformada em
cela para acomodar o auto
número de presos do Presídio, consequentemente o direito
educacional (criação humana), e
fundamental que a LEP assegura esta sendo negligenciado.
È importante ressaltar que o Presídio é uma criação humana para
prender pessoas
que violaram as leis vigentes no País. Logo o Presídio afasta as
pessoas da sociedade, com o
objetivo de reeducá-los e socializá-los. Mas, nos dias atuais as
práticas de reeducação e
ressocialização encontram-se precárias, pois os presos passam seu
tempo na ociosidade sem
atividades que visem seu retorno à sociedade, enfim, o tempo que os
mesmos permanecem
nas prisões não proporciona a reeducação e socialização.
Segundo Foucault 1975 (apud BARRETO, 2006, p. 587), “a
superlotação das
prisões, as condições de vida a que os presos são submetidos e a
violência existente no
interior dos cárceres torna aversivo o ambiente do recluso”. Logo o
preso permanece em um
ambiente hostil, longe de transformar os criminosos em gente
honesta, servindo apenas para
reforçar atitudes criminosas. Diante disto acredita-se na importância
de atividades
humanitárias no cotidiano prisional, pois um ambiente inimigo não
contribui para a mudança
do comportamento, dos presos (as).
A humanização do presídio tem como potencialidade a busca de um
ambiente que
proporcione relações de “comunidade onde todos são chamados pelo
nome, sendo que ao ser
chamado pelo nome mantém a identidade e a singularidade das
pessoas, possibilitando assim
a manifestação do pensamento e da opinião” (MARX apud CAMPOS,
1996, p. 95). Logo a
psicologia comunitária, e a psicologia social buscam desenvolver
ações que proporcionem
para as pessoas autonomia, melhoria nas condições de vida,
buscando uma transformação
social e a diminuição da exclusão, partindo da realidade das pessoas
e respeitando os valores,
as crenças e a singularidade das mesmas. Dentre as atividades
realizadas apresenta-se a seguir
neste artigo o trabalho desenvolvido com as reeducandas do Presídio
Regional de Lages.
Desenvolvimento do Tema
De acordo com Foucault (1986 apud FONSECA, 2006, p. 534) “as
primeiras formas
de se castigar um criminoso eram através dos suplícios da exibição
pública da dor e do
sofrimento. O criminoso era humilhado e torturado por meio de
suporte legal e social”. Ainda
para o mesmo autor não mais são realizadas torturas ao corpo, mas
sobre o coração e o
intelecto, na alma dos indivíduos aprisionados.
Genericamente a Psicologia é a ciência que estuda o comportamento,
principalmente
do ser humano. A psicologia social é uma teoria que segundo Lane
(1981) busca estudar as
influências sociais sobre o comportamento do indivíduo.
Ainda para a mesma autora as influências são histórico-sociais com
significados
atribuídos por um grupo social, por uma cultura, determinando uma
visão de mundo, um
sistema de valores e conseqüentemente ações, sentimentos e
emoções decorrentes.
Inicialmente foi elaborado um folder (apêndice A), a produção do
folder teve por
objetivo propiciar para os familiares as informações que os mesmos
buscam no presídio, na
seguinte ordem, quais os familiares que podem realizar visita para os
presos (as), quais os
documentos necessários para fazer a carterinha de visitas, quais os
alimentos que podem ser
levados no dia das visitas, dia e hora de visitas, dia e hora de levar
alimentos crus. Este folder
ficou à disposição de presos e familiares no Presídio, tendo por
objetivo informar os mesmos.
Diante do exposto, buscou-se desenvolver oficinas temáticas duas
vez por mês com
dois grupos compostos por aproximadamente nove mulheres (as
oficinas não foram propostas
para o público masculino pelo fato de não haver espaço físico seguro,
em caso de tentativa de
fuga ou rebelião dos presos, assim colocado pela diretoria do
presídio), as oficinas foram
realizadas para discutir sobre os temas auto-estima, afetividade e
auto-conhecimento,
violência doméstica e relação de gênero, direitos humanos e
cidadania, estas oficinas
aconteceram de outubro a novembro de 2008, abordando o mesmo
tema por duas vezes em
um mês, para atender o público interessado em participar das
oficinas. Estas oficinas tiveram
duração de cerca de 1h30min, cada uma delas, totalizando seis
encontros durante os meses de
outubro, novembro e dezembro.
Levando em consideração as influências sociais sobre o
comportamento dos seres
humanos acredita-se na importância de desenvolver trabalhos em
grupos, pois, segundo
Campos (1996), “a Psicologia Social busca analisar a relação do
homem com a sociedade,
juntamente com a Psicologia Comunitária desenvolvendo trabalhos
nos grupos, colaborando
para o desenvolvimento da consciência crítica e para a construção de
uma identidade social e
individual”.
Segundo Campos (1996, p. 11), “A psicologia social estuda a
atividade do
psiquismo decorrente do modo de vida onde o sujeito está inserido, a
mesma estuda o sistema
de relações e representações, identidade, níveis de consciência e
identificação”. Logo, a
psicologia social contribui para o desenvolvimento das oficinas junto
às presas sendo que
iniciamos as atividades a partir do conhecimento das mesmas
apresentando aos poucos novas
idéias e compreensão que serão abordas juntamente com referencial
teórico e prática a seguir.
As oficinas realizadas buscaram possibilitar às participantes um
momento de
discussão, reflexão sobre “Auto-estima, afetividade e auto-
conhecimento” (I oficina) em
relação ao seu nome, seus afetos, suas emoções, limites, valores e
propiciar um resgate da
auto-estima e da afetividade que dirigem a si próprias. Também foi
realizada uma reflexão
com o grupo de presidiárias sobre “Violência doméstica e Relação de
Gênero” (II Oficina)
salientando que a mesma é uma construção histórica, nesse sentido,
pode-se reconstruir novas
formas de relacionamentos sem a existência da violência. Fez-se
necessário abordar a
diferença entre sexo e gênero, entendendo que a violência contra a
mulher é produto de uma
socialização de gênero, o que gera desigualdades e violências,
precisando ser discutida e
superada por homens e mulheres na sociedade atual. Também foi
abordada a Lei Maria da
Penha, com objetivo de proporcionado um conhecimento e reflexão
da mesma. O objetivo da
oficina III “Direitos Humanos e Cidadania”, foi de oportunizar e
estimular a reflexão e o
debate sobre direitos humanos, permitindo a construção de uma
nova ética e um novo tipo de
convivência social, salientando que a cidadania se constrói pelo
reconhecimento e respeito às
diferenças individuais, pelo combate aos preconceitos e às
discriminações (econômica,
política, sexual, cultural, etc.) e pela ampliação da consciência em
relação aos direitos,
deveres e pela confiança no potencial de transformação social de
cada um.
Na primeira oficina foi realizada uma dinâmica denominada
“Conscientização do
nome” que teve por objetivo conscientizar as participantes do grupo
acerca do nome de cada
uma, descobrindo o que as pessoas sentem acerca de seu próprio
nome, e como suas
percepções influenciam seu próprio desenvolvimento, oportunidades
e relacionamentos. Para
realizar esta atividade foram utilizados os seguintes materiais: um
crachá para cada
participante (confeccionado por cada uma das participantes),
revistas, jornais, canetinhas,
lápis de cor, gliter, cola e lantejoulas. Sendo que cada participante
compartilhou com as
demais seu conhecimento sobre seu próprio nome, sua origem,
significado, sua escolha, seu
apelido e outras atitudes que cada uma teve ou tem a respeito do
nome. E para finalizar a
atividade foram utilizadas duas frases (em anexo A) a fim de
complementar as discussões.
Na segunda oficina foi realizada uma dinâmica denominada
“Soltando as amarras”
(em anexo B), com o objetivo de propiciar para as presas um
momento de reflexão sobre a
identidade da mulher, direitos e deveres de homens e mulheres e os
papéis dos mesmos
perante a sociedade. Para realizar esta atividade foram utilizados os
seguintes materiais: papel
pardo, canetinhas e fotocópia de uma cartilha que aborda a Lei
Maria da Penha (em anexo C),
e discutido o significado das mesmas sobre as percepções que estão
registradas dentro de nós.
Também foi abordada a Lei Maria da Penha, com objetivo de
proporcionar o conhecimento e
a reflexão da mesma.
Na terceira oficina foi realizada uma Dinâmica inicial sobre “Os
direitos humanos”, os
materiais utilizados foram cópias dos Princípios da Declaração dos
Direitos Humanos (em
anexo D), cópias da Rede de assistência do município de Lages S/C
(em apêndice) papel
metro, cola, e revistas. Neste dia, por se tratar da última oficina, foi
realizada uma
confraternização com a leitura de uma mensagem (em anexo E) e
entrega de uma lembrança,
para finalizar os encontros e dar “fechamento” às demandas
psicológicas levantadas até o
momento.
Para dar início às atividades, anteriormente citadas, as estagiárias
foram até a galeria
fazer o convite para as presidiárias, após a realização do convite as
primeiras oficinas foram
realizadas, mas em dias diferentes para acomodar o número de
participantes na sala
disponível. A primeira oficina foi realizada no dia 11/09/2008 com o
grupo denominado “A”
e a segunda oficina foi realizada no dia 18/09/2008 com o grupo
denominado “B” abordando
o tema “Auto-estima, afetividade e auto-conhecimento” para ambos
os grupos denominados.
Os grupos foram denominados “A” e “B” apenas por uma questão
didático-operacional sendo
que o grupo “A” sempre era o primeiro a abrir as temáticas.
As participantes do grupo (denominado) “A” têm entre 18 e 25 anos,
se mostraram à
vontade durante as atividades propostas, participativas e
interessadas. Participaram do grupo
”B” mulheres com idade de aproximadamente 20 a 45 anos, o grupo
era composto por
mulheres com mais experiência de vida, muitas delas não sabiam da
escolha de seu nome e
origem, porém algumas gostavam e se identificavam com o nome,
outras falaram o apelido e
afirmaram preferir o mesmo ao invés do nome. O grupo não
participava espontaneamente se
comparado ao grupo “A”. Porém, quando questionadas as presas
sempre colocavam suas
percepções, todas as participantes se mostraram à vontade na
construção do crachá e
discussão dos temas.
Esses encontros começaram com a dinâmica “Conscientização do
nome”, para iniciar
as apresentações das presidiárias, bem como das estagiárias.
Inicialmente as presas criaram
um crachá, logo após a criação do mesmo, todas falaram seu nome,
quem escolheu e a
origem, sendo que na maioria das vezes a escolha do nome das
participantes se deu por
familiares, sobretudo pais, tios e avôs.
Também foi questionado se gostavam ou não de seu nome, algumas
responderam que
sim e se identificavam com o nome escolhido, que o nome fazia parte
da história de vida com
muitas lembranças da escolha feita pelos pais, outras não gostavam e
não sabiam dizer o
porquê e nem qual nome gostariam de ter. As estagiárias apontaram
sobre a importância de
sabermos a origem e escolha de nossos nomes já que este faz parte
do nosso autoconhecimento
e história de vida. Percebeu-se diante das colocações das
participantes uma
identidade familiar que, segundo Papalia (2000), é um sentimento
em relação aos pais e
atmosfera familiar, onde desenvolveu sua identidade psicológica
sendo este a capacidade de
controlar seus impulsos, oscilações no humor, emoções e
sentimentos em relação a seus
corpos. A partir das construções apresentadas desenvolve-se a
identidade social sendo que
esta é a relação com pares e com a sociedade. Logo tais
considerações são significativas para
a forma de apresentação perante o mundo e conseqüentemente a
identidade familiar,
psicologia e social influenciam o jeito de ser e viver de todas as
pessoas.
Com relação à auto-estima a fala das presas indica que é estar
alegre, “ser feliz com os
objetos e estética que cada uma possui” (sic). Foi questionado com
as participantes se é
possível ser feliz todos os dias e horas, as mesmas falaram que não,
ainda, mais longe da
família, vivendo apenas com as lembranças de seus pais, filhos e
netos, afirmam que ficam
tristes e choram. Porém, pontuam que ali, no cotidiano prisional, elas
formam uma família
onde uma ajuda e conforta a outra. É importante lembrar que,
segundo Minuchin (2002), a
família é um grupo natural que desenvolve padrões de
comportamento. Estes padrões
constituem a estrutura familiar, que por sua vez governa o
funcionamento dos membros da
família, delineando sua gama de comportamento e facilitando sua
interação social. Logo a
interação das participantes forma uma família extensa, onde as
mesmas desenvolvem um
significativo sistema de apoio.
Levando em consideração o número total de presas foi planejada
uma terceira oficina
com um grupo “C”, objetivando abordar o mesmo tema das oficinas
realizadas anteriormente,
para atender ao número total de presas. Porém as reeducandas não
se dispuseram em
participar e o terceiro grupo não foi formado. Diante da situação
buscou-se saber porque as
reeducandas não queriam participar, e estas colocaram que não
gostavam destas atividades,
uma em particular falou que “Só iria se fosse para ela nos ensinar”
(sic). Diante de tal situação
foi respeitada a autonomia e decisão do sujeito em questão. Porém
vale lembrar a resistência
de algumas mulheres em participar das atividades propostas.
Por fim, 4 mulheres participaram (sendo que uma já havia
participado das atividades
anteriores) da atividade, este grupo foi mais difícil de se trabalhar
pois eram poucas mulheres
e não houve integração entre as participantes do grupo. Este
pequeno grupo foi difícil de
conduzir, parece que não houve reflexão e discussão e sim pedidos e
reclamações, porém
algumas participantes avaliaram o encontro de forma positiva.
Todas as três oficinas apresentaram grupos com características
próprias, sendo a
primeira oficina com grupo “A” que se apresentou participativo,
integrado, participantes
jovens e falante, que apresentaram uma avaliação positiva. Na
segunda oficina, o grupo “B”
também se mostrou integrado, com participantes mais experientes,
que pensam antes de falar
e a avaliação foi igualmente positiva. A terceira oficina com o grupo
“C”, (este grupo foi
subdividido e integrado nos demais grupos) se caracterizou por um
grupo desintegrado, pouco
participativo, pessoas adultas e avaliação do encontro mista entre
positiva e negativa. Estas
oficinas foram importantes, pois proporcionaram um momento de
reflexão sobre o autoconhecimento,
história de vida e identidade das participantes.
As realizações desses encontros grupais deixam como experiência,
que trabalhar com
grupos é fundamental para o desenvolvimento individual. Pois
segundo Zimerman (1997),
desde o nascimento o indivíduo participa de diferentes inter-
relacionamentos grupais, numa
constante dialética entre a busca de sua identidade individual e a
necessidade de uma
identidade grupal e social. Já que um conjunto de pessoas constitui
um grupo uma
comunidade e um conjunto interativo das comunidades e assim se
configura a sociedade.
Logo, salienta-se a importância de se trabalhar com grupo de
presidiárias, pois as mesmas
encontram-se confinadas em um mesmo ambiente e se auto-
denominam uma família, que
necessita de atividades que vão ao encontro do desenvolvimento e
reflexão da identidade
familiar, psicológica e social, preparando-se assim para o retorno à
sociedade.
A segunda oficina foi realizada com o grupo, “A” no dia 02/10/2008 e
“B” no dia
16/10/2008. Na oficina com o grupo “A” tivemos como convidada
uma Promotora Legal
Popular (na realização do encontro com o grupo “B” a mesma não
compareceu), a mesma
falou sobre seu trabalho e violência doméstica. Foi abordada uma
Cartilha sobre “Violência
contra a mulher: fique alerta para os sinais e denuncie”, para
falarmos sobre a Lei Maria da
Penha e realizada a entrega do folder.
Segundo Cunha (2006), esta lei definiu a violência doméstica contra
a mulher como
qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe causa morte,
lesão, sofrimento físico,
sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial. Ao perguntar
sobre os tipos de violência
para as participantes, as mesmas falaram das agressões físicas como
tapas, socos e pontapés,
das agressões verbais como palavras de “baixo calão”, das agressões
psicológicas
desvalorizando a auto-imagem da mulher. Ao questionar qual das
violências é marcante, as
participantes falaram que a verbal e a psicológica são mais sentidas,
pois por mais que a física
deixe marcas no corpo, o agressor as visualizam, diante disto não se
aproxima. Durante a
atividade foi realizada uma dinâmica nomeada “Soltando as
amarras”, com frases onde as
participantes tinham que completar. Diante desta atividade as
participantes trouxeram as
seguintes percepções em relação ao homem e a mulher: Que a
mulher é amiga, especial,
vaidosa, importante, trabalhadora e forte, que a mulher não pode
ficar sem os filhos, desistir
e tem que ser feliz. Já em relação aos homens as participantes
falaram que o homem é
machista, egoísta, porém o mesmo pode chorar, trabalhar e ser
carinhoso (sic).
Após a realização desta atividade foi refletido sobre as colocações
delas e como se
sentiram durante a realização da atividade. As presas relataram que
foi um momento de
desabafar. Foi questionado com as participantes se todas elas
concordavam com o que estava
escrito. Foi abordado o porquê desta diferença entre homens e
mulheres, as participantes
colocaram que é uma questão de criação, que meninos são
preparados para o serviço fora de
casa de modo mais independente e as meninas são educadas para os
afazeres domésticos. Deu
para perceber que as participantes fizeram uma reflexão sobre as
diferenças de gênero.
De acordo com Papalia (2000) o desenvolvimento de gênero, a
identidade de gênero e
a consciência de gênero e de tudo que ele implica, é um aspecto
importante na formação do
autoconceito. Consequentemente o significado de gênero pode ser
fortemente influenciado,
por meio da socialização e da cultura a qual o ser humano está
inserido. Logo, estas
influências vão afetar a forma como meninos e meninas se sentem a
respeito de si mesmo e
como agem perante a sociedade. Mas devem-se buscar uma
igualdade entre ambos os sexos
para estabelecer um convívio harmonioso.
Também foi abordada a Lei Maria da Penha, nesses encontros foi
questionado se as
participantes sabiam a origem do nome da Lei. Então foi colocado
que era sobre uma mulher
que havia sofrido agressões do marido, e que a mesma batalhou pela
Lei. Apresentou-se para
as presas um pouco mais da origem do nome, sendo esta uma mulher
casada com um
Boliviano que agrediu ela durante seis anos e por duas vezes o
marido de Maria da Penha
havia tentado assassiná-la em um primeiro momento com arma de
fogo que a deixou
paraplégica e uma segunda tentativa por afogamento.
Então Maria da Penha batalhou para que seu marido fosse punido, e
a mesma foi
homenageada tento seu nome para identificar a lei contra violência
doméstica e familiar,
sendo a violência qualquer ato ou ação que leve ao sofrimento físico,
psicológico e sexual.
Segundo Cunha (2006), a unidade doméstica é o espaço de convívio
permanente de pessoas,
com ou sem vinculo familiar. Já a família é compreendida como a
comunidade formada por
indivíduos que são ou se consideram, unidos por laços naturais, por
afinidade ou por vontade
expressa.
Foi abordada uma Cartilha sobre “Violência contra a mulher” onde a
mesma
caracteriza a violência, os tipos de violência e as mudanças após a
aprovação da Lei. As
participantes falaram que a violência se caracteriza por agressões
físicas e psicológicas.
Diante disto foi colocado para elas que a violência é qualquer ato que
leve ao sofrimento
físico e psicológico de outras pessoas, pode ser de diferentes tipos
tais como física, sexual,
social, moral e psicológica e, assim, foram abordados os aspectos de
cada uma delas,
proporcionando para as presas maiores informações.
As participantes colocaram que entre a violência física e psicológica
a mais marcante é
a psicológica. Pois a física deixa o hematoma e a pessoa que agride
está vendo, logo não
chega perto do agredido (sic). A violência, psicológica envolve
palavras, acusações sem
sentido (você é uma vagabunda, não faz nada) que magoa, e a pessoa
que fala esquece,
porém a que sente não, fica marcado (sic). Em ambos os grupos as
participantes verbalizaram
sobre o sofrimento psicológico. As participantes falaram que a
violência verbal e psicológica
é difícil de superar, levando em consideração que a agressão a física
deixa marcas no corpo a
mesma passa, o agressor se afasta da agredida, pois as marcas vão
ser vistas com freqüência e
o mesmo vai lembrar da agressão cometida.
De acordo com a cartilha abordada para reflexão sobre as agressões
psicológicas
enfatiza-se que essas são as ameaças de agressão física e de morte,
xingamentos ou ofensas à
mulher ou a família dela, humilhação em público ou doméstica,
manipulação, chantagem e
acusações sem fundamentos, calúnia, difamação enfim, qualquer ato
ou ação que cause dano
emocional. A definição abordada na cartilha vai ao encontro das
colocações apresentada pelas
participantes consequentemente uma reflexão entre as diferentes
causas de uma violência para
a outra.
Também foi colocado para as participantes que existem mulheres
que agridem seus
maridos, com palavrões, chutes e pontapés e que a Lei também pode
amparar estes tipos de
situações. Segundo Cunha (2008), a finalidade da Lei é, sobretudo,
preventiva e assistencial,
criando mecanismos para impedir essa modalidade de agressão. Não
querendo deduzir que
apenas a mulher é vítima de violência doméstica. Também o homem
pode ser vítima, logo
abrange ambos os sexos, porém a Lei limita as medidas de proteção
e assistência sendo estas
aplicadas somente à ofendida vítima mulher. As agressões podem ser
realizadas de um irmão
para uma irmã, de pai para filha e de uma mulher contra um homem.
Por fim, a avaliação do encontro foi realizada com as revistas onde as
participantes
tinham que encontrar palavras e ou imagens para descrever o
encontro. Então surgiram as
diferentes formas de descrevê-lo, tais como um bebê para descrever
o filho e a presa, frases,
palavras, informações e questionamentos. Uma das participantes
escolheu um grupo de
pessoas que foi descrito como uma família para representar todas as
participantes. De acordo
com Osório (2002), a família proporciona o marco adequado para a
definição e a conservação
das diferenças humanas, dando forma aos papéis distintos, porém
mutuamente vinculados.
Devido ao fato das participantes estarem confinadas em um mesmo
ambiente as mesmas
desenvolvem relações vinculares, sendo estas relações de
fundamental importância para o
desenvolvimento humano.
Bowlby (1990) assinala que o vínculo é meio de proteção e
sobrevivência e quando
desenvolvido de forma satisfatória as expectativas em relação ao
mundo serão positivas.
Percebe-se que o comportamento do ser humano vai se delineando
de acordo com a
proximidade e ou vinculo do individuo que convive e se identifica
este vinculo torna o ser
humano apto para lidar com o mundo e as adversidades do mesmo.
Para dar início à terceira oficina com o grupo “A”no dia 06/11/2008
as estagiárias
sinalizaram sobre os objetivos do encontro bem como a finalização
do mesmo. Logo após foi
feito uma busca do que seria direitos humanos, para partir do
conhecimento das participantes
com a discussão do tema proposto. Então se manifestaram as mais
diversificadas formas de
direitos. Sendo estas como a saúde, educação, alimentação, trabalho
e o livre pensar. Foi
salientado o direito das crianças garantido pelo Estatuto da Criança
e Adolescente (ECA), as
participantes colocaram o desrespeito da mídia em situações de
aprisionamento em especial
quando estão com suas crianças. Pois muitas vezes saem as
seguintes informações: foi
apreendida uma mula com sua cria de três anos (sic). A
nomenclatura de “mula” refere-se às
pessoas que transportam drogas e “cria” refere-se às crianças das
mesmas.
Diante disto as participantes ressaltaram que estas publicações
ferem os direitos dos
humanos. Sendo que a mídia em geral, por meio de sua prática, tem
prestado um serviço a
construção do medo generalizado e do modelo de criminoso que
passa a ser reconhecido pela
sociedade. Nos casos em que as notícias são transmitidas sem a sua
devida contextualização e
de forma tendenciosa, aquele que cometeu o delito passa a ser alvo
de vingança e punição
perante a sociedade, sendo que tais atitudes apresentam-se como a
única forma de solução à
criminalidade, ocorrendo assim a distorção da realidade8. Diante
disto percebe-se o dano que
as notícias causam na vidas das pessoas aprisionadas causando
preconceito, estigma e rótulos,
conseqüentemente, desrespeitando a identidade dos mesmos.
Percebe-se que as notícias
preocupam-se apenas com a divulgação, sem querer apurar os
verdadeiros fatos juntamente
com as causas.
Foi questionado com as participantes se todos os direitos estão ao
alcance de todas as
pessoas. As participantes manifestaram suas opiniões de forma
reflexiva salientando que nem
todos os direitos estão garantidos, porém cabem as pessoas lutarem
por seus direitos.
_______________________
8 Informações colhidas do site http:// humaniza.vila.bol.com.br.
Diante disto foi entregue os endereços das redes de apoio do
município, onde se deve buscar
orientação, esclarecimento e apoio quando houver a necessidade de
buscar a garantia dos
direitos dos seres humanos.
De acordo com Lane (1981), a Psicologia Comunitária vem para
desenvolver relações
que se efetivem, através da comunicação e cooperação entre
pessoas, relação onde não haja
dominação de um sobre os outros, por meio de procedimentos
educativos. Logo a psicologia
comunitária busca agir nos grupos de relações familiares, escolares,
hospitalares,
organizações empresariais, grupos de vizinhos, bairros, presídios e
penitenciárias. Sendo que
tais grupos devem identificar-se por necessidades em comum, para
serem satisfeitas. A
satisfação das necessidades se dá através de atividades planejadas
em conjunto e que implique
em ações, de vários indivíduos, unidos para atingir o objetivo
proposto.
Levando em consideração o fazer da Psicologia Comunitária buscou-
se desenvolver
ações no Presídio voltadas para encontros, discussão e reflexão.
Sendo que tais ações tinham
por objetivo potencializar o sujeito como um ser ativo e independente
com sua própria
historia de vida e identidade. Capaz de pensar, sentir e agir diante
das situações de sua vida.
Considerações Finais
O estágio de psicologia comunitária, realizado na unidade prisional
de Lages, foi o
primeiro, para muitos (comunidade, funcionários), tais práticas são
desconhecidas. Tal
desconhecimento traz como conseqüência um relacionamento do
trabalho deste profissional
com as atividades clínicas, deixando de lado as atividades escolares,
organizacionais, saúde,
comunidades, Presídios e penitenciárias.
Esta falta de conhecimento prejudica as ações do psicólogo nas
unidades prisionais,
pois durante a realização das atividades, pôde-se perceber uma
desconsideração por parte de
alguns funcionários, pois algumas vezes durante os encontros
realizados agiam com intuito de
perturbar (falando alto, desconsiderando as ações com falas e
comentários desprezíveis com
relação às atividades realizadas e presas). Mas, em contrapartida
havia os funcionários que
elogiavam e davam novas idéias para as ações, também vale lembrar
que as presas foram o
principal foco das ações e as mesmas estavam satisfeitas com as
atividades, pois os encontros
sempre foram bem avaliados.
O primeiro encontro, realizado proporcionou uma aproximação entre
estagiária e
realidade prisional e consequentemente a partir da realização das
atividades as presas tiveram
a oportunidade de vivenciar momentos de descontração e reflexão
com as atividades
propostas. Com a realização dos encontros obteve-se o conhecimento
do dialeto próprio do
Presídio
Após a realização do estágio ficou claro que o trabalho de
humanização do presídio
não está encerrado, pois os resultados não se apresentaram de forma
concreta, mas sim através
de significações subjetivas em longo prazo. Acredita-se na
importância de desenvolver ações
para a população carcerária masculina, pois existe um grande
número de presos sem
atividades, devido ao espaço existente no local não proporcionar
segurança, logo os presos
ficam a margem de toda e qualquer ação realizada no presídio.
Também ficou claro que a humanização do presídio requer um
trabalho com os
funcionários buscando trabalhar, as dificuldades da equipe de
trabalho que esta a frente do
atendimento prestado para presos, bem como uma reflexão sobre os
direitos e deveres de tais
funcionários inserida no cotidiano prisional. Através da reflexão das
atitudes tomadas até
então, as presas, os presos e os funcionários podem pensar se
precisam e como podem fazer
para melhorar suas atitudes e mudanças.
Enfim o trabalho de humanização do presídio proporcionou inúmeros
desafios, mas
ficou claro que o trabalho não esta encerrado os resultados não se
apresentam de forma
concreta, pois as atividades realizadas apresentarão seus resultados
a longo prazo de acordo
com a percepção, assimilação e grau de desenvolvimento de cada
participante. A psicologia
comunitária e a psicologia social foram à base do trabalho, pois
ambas, buscam desenvolver
ações que visam proporcionar para as pessoas autonomia, reflexão e
melhoria nas condições
de vida, buscando uma transformação social e diminuição da
exclusão, partindo da realidade e
conhecimento das pessoas e respeitando os valores, as crenças a
singularidade das mesmas,
pois se acredita que ao pensar em humanização no presídio é
importante trabalhar com a visão
citada a cima.
Referências
BARRETO, S. C. M. Depois das grades: um reflexo da cultura
prisional em indivíduos
libertos. Psicologia Ciência e Profissão, v. 1, n. 4, p. 587, 2006.
BOWLBY, J. Trilogia Apego e Perda. São Paulo: Martins Fontes,
1990.
CAMPOS, R. M. F. Psicologia Social Comunitária. Petrópolis: Vozes,
1996.
CUNHA, R; S: PINTO, R, B: Violência Domestica: lei Maria da Penha.
São Paulo: Revista
comentada artigo por artigo, 2006.
CUNHA, R; S: PINTO, R, B: Violência Domestica: lei Maria da Penha.
São Paulo: Revista
dos tribunais, 2008.
DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO PRISIONAL. Histórico.
Disponível em:
ssp.sc.gov.br. Acesso em Junho de 2008
DEPARTAMENTO PENITENCIARIO NACIONAL. Sistema
Penitenciário no Brasil. De
25/09/2005- Diagnostico e propostas. Disponível
em:htt://www.mj.gov.br.Acesso em Maio de
2008.
FONSECA, Karina Prates da. (Re)Pensando o crime como uma
relação de antagonismo entre
seus autores e a sociedade. Psicologia Ciência e Profissão. Disponível
em: pepsic.bvspsi.
org.br/scielo.php?scripe=sc. Acesso em: 23 Abr. 2008.
HUMAN RIGHTS WATCHO Brasil atrás das grades. Uma análise do
sistema
penitenciário. Dísponivel em:
www.hrw.org/portuguese/reporst/meros/sistema.htm. Acessado
em: 23 Abr. 2008.
LANE, S. T. M. O que é psicologia social. 1. ed. São Paulo:
Brasiliense, 1981.
MAMELUQUE, C. G. M. A subjetividade do encarcerado, um desafio
para a psicologia.
Psicologia Ciência e Profissão, v. 1, n. 4, p. 626, 2006.
MINUCHIM, S. Técnicas de Terapia Familiar. Porto Alegre: Artes
Médicas, 2002.
OSORIO, L; C. Casais e Famílias: uma visão contemporânea. Porto
Alegre: Artmed, 2002.
PAPALIA, D; E. OLDS, N.S. Desenvolvimento Humano. Porto Alegre:
Artes Médicas,
2000.
Projeto de humanização do presídio de Joinville. Disponível em:
http://humaniza.vila.bol.com.br.Acesso. Mai/2008.
REY, F. L. G. O social na Psicologia e a Psicologia social: a
emergência do sujeito.
Petrópolis: Vozes, 2004.
ZEMERMAN, D; E. OSORIO, L; C. Como Trabalhar com Grupos.
Porto Alegre: Artes
medica, 1997.
ANEXOS
ANEXO A
“A AUTO-ESTIMA É O QUE
ERA DE MAIS DIVINO NO
SER HUMANO. POIS
QUANDO NADA LHE
RESTA, RESTA-LHE A SI
MESMO”
AUTOR DESCONHECIDO
O CORRER DA VIDA
EMBRULHA TUDO, A
VIDA É ASSIM:
ESQUENTA E ESFRIA,
APERTA E DAÍ AFROUXA,
SOSSEGA
E DEPOIS DESINQUIETA O
QUE ELA QUER DA GENTE
É
CORAGEM.
GUIMARÃES ROSA
Anexo B
Dinâmica “Soltando as Amarras” (ZIMERMAN, 1997)
As mulheres são_____________________________________________
Mulher é muito______________________________________________
Homem pode_______________________________________________
Quando uma mulher_________________________________________
Mulher não pode____________________________________________
Mulher tem que_____________________________________________
Todo homem_______________________________________________
Os homens são_____________________________________________
Tem homem que só_________________________________________
Mulher casada_____________________________________________
Se os homens______________________________________________
Anexo C
“Lei Maria da Penha
Anexo D
“Princípios da declaração dos Direitos Humanos”
Anexo E
Árvore dos amigos
APÊNDICES
Apêndice A
Folder
Apêndice B
REDE DE ATENDIMENTOS PÚBLICO DO MUNICIPEL DE LAGES
S/C