Psicanálise, Cinema e Envelhecimento

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Ciências Humanas 859 PSICANÁLISE, CINEMA E ENVELHECIMENTO. Andre Oliveira Costa, Liliane Seide Froemming (orient.) (Departamento de Psicanálise, Psicopatologia e Clín, Instituto de Psicologia, UFRGS). Há uma tendência a perceber o tempo associado a características cronológicas e físicas. Trata-se de considerar, também em dimensão subjetiva, os instrumentos de determinação do tempo. Velho, velhice e terceira idade são mais do que adjetivos atribuídos a pessoas. São significantes que podem ser pensados através do tempo da 171 memória, do tempo do inconsciente. A memória é despertada por diversos tipos de elementos, como cores, sons, paisagens, ligando estes a uma lembrança. É através dessa reconstrução do passado a partir do presente que pode-se construir imaginariamente uma identidade. Entretanto, esse elo associativo nem sempre é consciente. O objetivo deste trabalho é investigar como construções imaginarias de envelhecimento se produzem a partir do cinema. Qual seria, então, a possibilidade de construção de identidades a partir do que é veiculado em filmes que abordam essa temática? Que dispositivos podem ser elaborados para trabalhar com grupos de terceira idade, utilizando recursos fílmicos? Será tratada, portanto, a questão relativa à construção do imaginário do envelhecimento utilizando como fonte de dados relatos clínicos de pacientes da terceira idade em situação de psicoterapia e o acompanhamento do Núcleo de Cinema da Universidade para a Terceira Idade (UNITI). Os aportes psicanalíticos para interpretação do material e elementos derivados do campo da analise fílmica servirão de parâmetro para a analise dos dados. A memória é despertada por sabores, cores, paisagens que fazem elos, ligando o tempo.O elo associativo entre o elemento ativador e a lembrança nem sempre é consciente; Freud aproxima a melancolia do luto, estados em que o eu se queixa de uma perda e nos quais o eu fica cheio de vazio. É uma doença do tempo, em que o sujeito não vislumbra mais futuro, aproximando-se da morte. Três escritos consecutivos dos anos de guerra, datados de 1915, são produzidos por Freud: Luto e Melancolia, Considerações sobre a guerra e sobre a morte e A transitoriedade. É neste último que ele aborda o tema do efeito psíquico produzido pelo fato de percebemos que não somos perenes. Esta percepção não ocorre sem impacto.Provavelmente, a maior dificuldade que os homens têm ao lidar com a velhice deriva da associação da velhice com a morte. Logo, mais do que a velhice, o alvo dos preconceitos é a morte.Há que se tomar o envelhecer como um significante para além da associação com a idéia de uma pessoa velha. (FAPERGS/IC).

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    859

    PSICANLISE, CINEMA E ENVELHECIMENTO. Andre Oliveira Costa, Liliane Seide Froemming (orient.) (Departamento de Psicanlise, Psicopatologia e Cln, Instituto de Psicologia, UFRGS). H uma tendncia a perceber o tempo associado a caractersticas cronolgicas e fsicas. Trata-se de

    considerar, tambm em dimenso subjetiva, os instrumentos de determinao do tempo. Velho, velhice e terceira idade so mais do que adjetivos atribudos a pessoas. So significantes que podem ser pensados atravs do tempo da

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    memria, do tempo do inconsciente. A memria despertada por diversos tipos de elementos, como cores, sons, paisagens, ligando estes a uma lembrana. atravs dessa reconstruo do passado a partir do presente que pode-se construir imaginariamente uma identidade. Entretanto, esse elo associativo nem sempre consciente. O objetivo deste trabalho investigar como construes imaginarias de envelhecimento se produzem a partir do cinema. Qual seria, ento, a possibilidade de construo de identidades a partir do que veiculado em filmes que abordam essa temtica? Que dispositivos podem ser elaborados para trabalhar com grupos de terceira idade, utilizando recursos flmicos? Ser tratada, portanto, a questo relativa construo do imaginrio do envelhecimento utilizando como fonte de dados relatos clnicos de pacientes da terceira idade em situao de psicoterapia e o acompanhamento do Ncleo de Cinema da Universidade para a Terceira Idade (UNITI). Os aportes psicanalticos para interpretao do material e elementos derivados do campo da analise flmica serviro de parmetro para a analise dos dados. A memria despertada por sabores, cores, paisagens que fazem elos, ligando o tempo.O elo associativo entre o elemento ativador e a lembrana nem sempre consciente; Freud aproxima a melancolia do luto, estados em que o eu se queixa de uma perda e nos quais o eu fica cheio de vazio. uma doena do tempo, em que o sujeito no vislumbra mais futuro, aproximando-se da morte. Trs escritos consecutivos dos anos de guerra, datados de 1915, so produzidos por Freud: Luto e Melancolia, Consideraes sobre a guerra e sobre a morte e A transitoriedade. neste ltimo que ele aborda o tema do efeito psquico produzido pelo fato de percebemos que no somos perenes. Esta percepo no ocorre sem impacto.Provavelmente, a maior dificuldade que os homens tm ao lidar com a velhice deriva da associao da velhice com a morte. Logo, mais do que a velhice, o alvo dos preconceitos a morte.H que se tomar o envelhecer como um significante para alm da associao com a idia de uma pessoa velha. (FAPERGS/IC).