Provérbios 15 -...

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Provérbios 15 Silvio Dutra Mar/2016

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Provérbios 15

Silvio Dutra

Mar/2016

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A474

Alves, Silvio Dutra

Provérbios 15./ Silvio Dutra Alves. – Rio de Janeiro,

2016.

61p.; 14,8x21cm

1. Teologia. 2. Salomão. 3. Estudo Bíblico.

I. Título.

CDD 230.223

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Introdução

Nunca é demais lembrar, que as citações proverbiais que temos interpretado, e que são sacadas das Escrituras, não consistem em ditos

populares, ainda que sapienciais, nos quais o foco é a inteligência e conhecimento do próprio

homem, sem o concurso da graça divina.

Tal não é o caso do livro de Provérbios, que sendo produzido por inspiração de Deus,

registra pensamentos, atitudes e comportamentos que só podem ser adquiridos

através da ação transformadora da graça de Deus em nossos corações.

Assim, ao usar o termo “tolo” ou “insensato”, o sujeito ao qual se aplica esta adjetivação é sempre aquele que se desvia de fazer a vontade

de Deus; e, o uso da palavra sábio indica não propriamente aquele que adquiriu e faz bom uso

de conhecimentos de coisas seculares, senão aquele que conhece a vontade revelada de Deus

nas Escrituras e a pratica.

Todavia, para um comportamento honesto, não basta o conhecimento dos mandamentos

morais da Escritura, pois além de poderem ser esquecidos, podem não produzir o efeito de

temor suficiente no coração que não leve a transgredir o mandamento. Por isso, somos

chamados à conversão do nosso coração; a

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recebermos um coração de carne, no lugar do coração de pedra.

Deus sabe muito bem que, enquanto o homem

não se converter por um real conhecimento pessoal e íntimo da pessoa de Jesus Cristo, não

haverá em seu coração o verdadeiro temor e horror pelo pecado, como o amor à justiça e à santidade.

Uma vez convertido o coração, este necessita de renovações continuas por um caminhar diário no Espírito Santo, senão, de modo contrário, as

paixões carnais que guerreiam contra a alma voltarão a prevalecer.

Vemos, por conseguinte que o caminho apontado nos provérbios não é um caminho que pode ser trilhado, quando estas verdades não

são levadas em consideração.

A índole pecaminosa da natureza humana está naturalmente voltada para a desonestidade e

trapaça, e seus efeitos são vistos tanto em empresas privadas, quanto em agências

governamentais, e até mesmo em escolas, lares e instituições religiosas.

As instituições não são mais racionais do que as pessoas que as compõem, quando o assunto em pauta se refere à oportunidade de se obter

vantagens, ainda que por meio ilícitos, e isto é

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equilibrado apenas pela possibilidade real das penas que podem ser sofridas, caso a trapaça

venha a conhecimento público.

Conselheiros financeiros aconselham a jovens, até mesmo em universidades, que o caminho

mais rápido para o enriquecimento é o uso da prática desonesta, trapaceira e enganosa.

O mundo é um palco em que se multiplicam os exemplos daqueles que pretendendo

enriquecer, caminham pelas estradas da prática ilícita.

Até mesmo no meio médico, tratamentos e cirurgias desnecessários são feitos com o simples fim de se auferir vantagem financeira.

A Bíblia vê, portanto tudo isso como um fato consumado, como uma realidade ligada à natureza humana, e não há qualquer rubor ou

surpresa no escritor bíblico ao narrar esta condição caída da raça humana no pecado.

Nem tenta, como alguns fazem no mundo, estabelecer simpósios, estudos, penas e recompensas para, pelo menos, minimizar a

prática da desonestidade nos negócios, em todas as áreas que possam ser consideradas,

pois sabe que este é um mal para o qual não há cura por meio de expedientes humanos, nem

mesmo pelo simples conhecimento da letra da

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Palavra de Deus, mas por uma real conversão do coração, transformando-se o homem de

pecador inimigo e rebelde contra a vontade de Deus, em santo, que ame e pratique sua vontade,

não por obrigação, mas por uma nova disposição e hábitos implantados em sua nova natureza.

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Provérbios 15

1 A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira.

Por vezes sem conta ouvi da boca de minha esposa este provérbio, em conjunto com aquele

que diz que “no muito falar não falta transgressão”.

A razão para isto é óbvia, e não necessita ser citada. Só posso dizer que há muito tempo não ouço mais tais citações, que me vinham em

forma de advertência nas horas em que, mesmo em alegada defesa da justiça e da verdade,

procedia de forma exaltada além da que era necessária.

Onde houver a palavra dura, dificilmente haverá paz na casa, pois de fato ela dá ocasião à manifestação da ira, especialmente naqueles

que são sujeitados ao discurso áspero.

O conteúdo pode até ser justo e verdadeiro, mas

se o tom é incorreto, não será de muito proveito agir de tal forma.

A lei da física que a toda ação corresponde uma reação de mesma intensidade; em sentido contrário é aplicável também ao mundo

espiritual, pois paciência chama por paciência,

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paz chama por paz, brandura chama por brandura, e ira chama por ira.

Assim como a temperatura de um corpo é

trocada com outro de temperatura diferente, buscando-se o equilíbrio térmico; de igual forma, o que estiver mais aquecido há de

esquentar o que estiver menos quente.

Uma palavra pode ser até enérgica, mas se é proferida quando há brandura no coração, ela

tende a ser bem recepcionada pelos ouvintes, sem produzir qualquer tipo de reação iracunda.

Importa, portanto aprender de Deus, a mansidão, a gentiliza, a moderação, o domínio-próprio, a longanimidade, de modo que nossas

palavras duras sejam transformadas em palavras brandas, que brotam de um coração

pacificado pelo Espírito Santo.

Que usemos sempre a força do argumento divino, e não o argumento da força de nossa

natureza carnal.

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2 A língua dos sábios destila o

conhecimento; porém a boca dos tolos derrama a estultícia.

“Do que está cheio o coração a boca fala” -

palavras de Jesus Cristo.

Se de sabedoria divina, falará do conhecimento das coisas espirituais e celestiais. Se de estultícia, falará daquilo que é próprio aos tolos.

Se a árvore for feita boa, o fruto será bom. Mas

se permanece sendo um espinheiro, nada pode ser esperado além de espinhos.

O homem é uma árvore que foi feita má pelo pecado, cujo fruto não pode ser, portanto bom.

Mas, pela regeneração, por ser enxertado na Videira verdadeira que é Jesus Cristo poderá

produzir o fruto de justiça, segundo a natureza da Videira na qual foi enxertado.

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3 Os olhos do Senhor estão em todo lugar,

vigiando os maus e os bons.

É um grande engano pensar que Deus não se importa com os maus pensamentos e ações dos ímpios. Este provérbio, ao lado de outras

passagens bíblicas comprova a falsidade desta forma de pensar.

De outra forma, como julgará o mundo, cada

palavra ociosa, se não as mantivesse em registro?

Ele tudo vê e conhece por Sua onisciência, até mesmo o pensamento do homem antes que se

expresse por palavras em sua boca.

Certo homem vinha caminhando ao lado de seu filho ainda menino, quando observou que para o

lado de dentro de uma propriedade e próximo de seu muro havia um mamoeiro com alguns

mamões amadurecidos. Olhando ao redor e percebendo que não havia ninguém na

propriedade, colocou seu filho sobre o muro e pediu-lhe que agisse apressadamente,

enquanto ninguém estava vendo o furto. Ao estender sua mão para pegar um dos mamões o

menino gritou: “Ah pai!!!” Este indagou-lhe: “o que foi garoto? Ao que respondeu prontamente:

“Deus está vendo!” Recolhendo sua mão vazia, ambos seguiram seu caminho refletindo sobre a

verdade do fato havido.

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Esta estória me foi contada por um presbítero idoso, como um fato real que havia chegado ao

seu conhecimento, quanto ao que havia sucedido com um dos membros de sua Igreja.

Deveríamos levar em conta, em tudo o que fazemos, que nada está fora do alcance da

observação de Deus, o que deveria ser um forte motivo para refrearmos nossas ações, quando

debaixo de alguma tentação específica.

Se Deus vê e pesa os nossos atos pecaminosos para efeito de juízo, muito mais ele vigia os

nossos atos de justiça, para nos abençoar e galardoar. Nunca devemos então, ficar

desestimulados em praticar o bem, porque ainda que não sejamos recompensados e vistos

pelos homens, é certo que somos vistos e recompensados por Deus.

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4 Uma língua saudável é árvore de vida;

mas a língua perversa derruba o espírito.

Uma boa língua é cura – por curar as consciências feridas ao confortá-las; por curar o pecado de almas enfermas; por trazer paz, a

partes em conflito.

A conversação de um santo é sempre edificante, e traz a paz de Deus à alma dos ouvintes; porque as palavras que profere são espírito e vida,

conforme as tem aprendido em Jesus.

Já a língua que perverte os caminhos e preceitos de Deus, mesmo quando fala de coisas suaves e

agradáveis, o resultado é sempre o de abater o espirito daqueles a quem se dirige, pois os afasta

de Deus e da sua verdade.

O espírito não pode estar de fato, de pé na presença de Deus, a não ser que seja alimentado pelas palavras de vida, e de verdade reveladas na

Bíblia.

O Espírito do homem foi criado para se alimentar de toda palavra que procede da boca

de Deus, e é somente isto o que o alimenta.

Recreações, conquistas materiais e sentimentais podem animar a alma temporariamente, mas jamais podem levantar

um espírito que esteja caído, necessitando ser

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renovado pelo poder do Espírito Santo, e purificado do pecado.

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5 O insensato despreza a correção de seu

pai; mas o que atende à admoestação alcança a prudência.

Temos uma memória fraca para reter as

verdades espirituais, por isso o método de Deus em Sua Palavra é repetir o que é essencial para

ser atendido e praticado por nós, como, por exemplo o que se nos diz neste provérbio quanto

à importância de atender à correção e à admoestação, de modo que venhamos a alcançar corações prudentes.

Muitos pais crentes abdicam do dever de ensinarem a Palavra de Deus a seus filhos, e a cobrarem um comportamento compatível com

aquilo que lhes é ensinado, e com isto estão causando um grande mal para si mesmos,

sobretudo para seus filhos quando vê-los desviados dos caminhos do Senhor ao

chegarem à idade adulta.

Assim, como os pastores negligentes terão que responder em juízo perante o Senhor, pelo mal que causaram às suas ovelhas, por não conduzi-

las pelo caminho da disciplina da aliança que todo crente tem com Jesus; de igual modo, os

pais negligentes também responderão pela desleixo na educação cristã de seus filhos.

Todavia, tanto num caso como noutro, isto não deve ser feito pelo simples temor do juízo

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futuro, mas por amor ao Senhor, aos filhos e às ovelhas do seu rebanho, pois não somente é

digno disto, como não há mais honrada missão do que esta da qual nos incumbiu, de sermos

formadores de pessoas que também o amem tanto, quanto nós.

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6 Na casa do justo há um grande tesouro;

mas nos lucros do ímpio há perturbação.

Há uma aflição proferida pela boca de Deus, no livro do profeta Habacuque pela qual diz: “Ai daquele que ajunta em sua casa para si, bens mal

adquiridos.’

O “Ai” é declarado, em razão do terrível juízo que terão que enfrentar todos os que agem de tal maneira.

“Miserável homem que sou” – todos deveriam dizer, porque há em todo homem esta tendência pecaminosa, para não proceder de maneira

honesta em todo o tempo e em todas as circunstâncias.

E ainda: “Quem me livrará do corpo desta morte?”

Há somente uma resposta para esta pergunta: Jesus Cristo, que se ofereceu como propiciação para cobertura de todos os nossos pecados, para

que tendo nos convertido a ele, em vez de sermos servos do pecado, possamos ser servos

da justiça.

Fora de Cristo e da comunhão com ele, somos cegos para a verdade de que Deus abomina o ganho desonesto, e interpõe um juízo

correspondente a isto.

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Fora de Cristo não temos o poder de sermos inteiramente honestos, em todas as coisas e em

todo o tempo, de modo que ainda que venhamos eventualmente a falhar nisto, podemos obter

seu perdão pela confissão, pelo arrependimento, pela restituição e reparação

que forem devidas.

O grande tesouro que há, portanto na casa do justo é a bênção e aprovação do próprio Cristo.

Mas, nos lucros dos ímpios há grande perturbação e inquietação, pois sempre teme

ser apanhado pela justiça dos homens, ainda que não tema a de Deus, que certamente há de

vir sobre ele naquele dia de acerto de contas.

Quem procede impiamente, também abre as portas de sua casa e sua vida para a operação de demônios que protestam posse e autoridade

sobre suas vidas, por praticarem as mesmas obras que eles.

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7 Os lábios dos sábios difundem

conhecimento; mas não o faz o coração dos tolos.

Como a boca fala aquilo do que o coração está cheio, como poderia a boca dos tolos falar coisas

relativas ao conhecimento de Deus e Sua vontade, uma vez que ambos não habitam no

seu coração?

Mesmo quando os tolos leem a Bíblia, os seus preceitos não penetram seus corações, e não

chegam a entender o significado das verdades espirituais que leem.

Alguém disse certa ocasião, que podemos colocar um cavalo numa biblioteca e falar do

conhecimento em seus ouvidos, e nem por isso ele se tornará sábio, porque sua natureza equina

não permite que alcance tal tipo de conhecimento. De igual forma nós, quando

permanecemos apenas dotados de nossa natureza terrena pecaminosa, não podemos

compreender através dela, as coisas profundas relativas a Deus.

Por isso Jesus disse a Nicodemos, que caso ele não nascesse de novo da água e do Espírito

Santo, não poderia de modo algum compreender as coisas do reino de Deus, ainda

que fosse, como era de fato, um diligente

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estudioso das Escrituras, pela sua condição de líder religioso que era em Israel.

Temos que receber do alto, a fonte de água viva

pelo Espírito Santo, para que dela possam fluir as palavras de sabedoria divina às quais o

provérbio se refere.

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8 O sacrifício dos ímpios é abominável ao

Senhor; mas a oração dos retos lhe é agradável.

Há uma ideia errônea em voga, de que Deus aceita qualquer oração, oferta, ou sacrifício de

nossa parte, desde que seja feito com sinceridade. A noção é errônea, porque não é

isto que o próprio Deus ensina nas Escrituras.

Havia um desejo sincero em Caim, em apresentar sua oferta a Deus, a ponto de desejar até mesmo ser elogiado por seu ato, só que a

oferta que ele apresentou não era a que Deus exigia, e certamente suas mãos estavam sujas

pelo pecado da inveja, que o levaria pouco tempo depois a assassinar seu irmão Abel.

Quantos se aproximam do ofertório a Deus com

o coração cheio de queixas e falta de perdão, pelo seu próximo?

Jesus declarou, que Deus não atenta para este tipo de oferta, sem que antes o ofertante entre

em reconciliação com aquele que se encontra em contenda.

Os exemplos de ofertas apresentadas pelos motivos errados, estando erradas em sua

própria natureza se multiplicam na Bíblia e em toda a história da Igreja, pois não se leva em

conta que são uma abominação para o Senhor,

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que exige retidão de coração para que sejam aceitos, tanto nós quanto a nossa oferta.

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9 O caminho do ímpio é abominável ao

Senhor; mas ele ama ao que segue a justiça.

Quantos se importam no mundo de hoje, em andarem no caminho da justiça divina?

Nem sequer conhecem o caminho, como

também não têm o mínimo interesse em conhecê-lo. Justiça, para muitos consiste apenas

em não praticar aquelas coisas que podem conduzi-los a terem que responder perante um

juiz terreno. Especialmente os velhos, que devem ser honrados por suas cãs, conforme

determinado pela Palavra, são os mais abusados, por sua inerente fraqueza física. Muitos se regozijam em fazer isto e desprezá-

los, achando justo, porque os consideram como um estorvo e um peso em suas vidas.

Crianças e adolescentes são incentivadas por

muitos “educadores” modernos. até mesmo por decreto baixado por determinadas autoridades

civis, a não darem estrita obediência a seus pais, porque lhes despersonaliza e impede que

venham a tomar atitudes por si mesmas no futuro.

Outros são desonestos nos negócios, e não consideram isso injusto, senão demonstração

de inteligência e esperteza que lhes fornecem

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condições vantajosas nas transações que realizam.

Os outros que aprendam também a ser espertos

e inteligentes como eles, é o seu argumento para justificarem sua prática abominável aos

olhos de Deus, e de todos os que amam o que é justo e honesto.

Os olhos de Deus são contra estes que praticam

males, mas os que procedem retamente são todo o seu prazer.

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10 Há disciplina severa para o que

abandona a vereda; e o que aborrece a repreensão morrerá.

Se alguém duvida da verdade deste provérbio,

basta ler as normas de disciplina estabelecidas por Jesus em Mateus 18, para os crentes que

apostatam de um caminhar reto, chegando ao ponto extremo de se considerar como estranho

e publicano àquele que não quiser se arrepender e deixar seu mau caminho.

Se há muita tolerância de pecados grosseiros praticados por crentes na Igreja de nossos dias,

não é por conta de alguma concessão da parte de Deus para isto, mas pela omissão e negligência

daqueles aos quais compete exercer a disciplina referida.

E pensar que o grande objetivo em vista, da

repreensão e da disciplina não é o de humilhar, ferir e condenar o faltoso, senão serem usadas como um meio que o conduza ao

arrependimento, e assim à cura, pois a justiça de Deus não permite que deixe de corrigir os

apóstatas.

Do que aborrece a repreensão é dito expressamente que morrerá. Consideremos

que muitos são entregues a Satanás para este fim, para a destruição da carne, de modo que o

espirito possa ser salvo no dia do Senhor, de

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modo que nenhuma acusação se sustente contra ele no dia do juízo, da parte do diabo,

quanto a dizer que fez vistas grossas para o mal praticado pelo faltoso.

Quanto àqueles que ainda não conhecem a Cristo e rejeitam deliberadamente as ordenanças do evangelho para que se

arrependam e se convertam, o resultado não é apenas a morte física que lhes virá um dia, como

vem sobre todos, mas a morte espiritual e eterna da qual jamais poderão ser livrados.

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11 O Seol e o Abadom estão abertos

perante o Senhor; quanto mais o coração dos filhos dos homens!

Ao afirmar que o inferno está aberto perante o Senhor, o provérbio significa que ele conhece

todos os que lá estão, e também todos os que para lá irão.

Tudo isso é conhecido por Deus, por possuir os

atributos de onisciência e presciência que são demonstrados por ele em muitas passagens bíblicas, especialmente nas proféticas que já

tiveram cumprimento, e foram pronunciadas por ele séculos antes.

Assim, se conhece perfeitamente as coisas que

foram e as que serão, quanto mais patentes estão diante de seus olhos as que são, a saber, a

presente condição dos nossos corações.

O que é hipócrita na prática da religião, se soubesse disso com certeza, teria abandonado sua hipocrisia há muito tempo, por saber não

somente da sua inutilidade, como do agravamento que ela trará aos seus muitos

outros pecados, porque a estes tem acrescentado o da falsidade diante de Deus.

Por isso, Deus requer a confissão de corações verdadeiramente quebrantados pelo Espírito

Santo, para que sejamos perdoados e aceitos,

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pois não pode lidar com algo que seja diferente daquilo que realmente somos, pois seria uma

mentira perante o Deus que é inteiramente santo e verdadeiro.

Assim, é segurança para nós sabermos que ninguém irá para o inferno ou para o céu, por

um possível engano de Deus em julgar a real condição de nossos corações – se de fato

convertidos, ou não perante ele.

Seus juízos são perfeitos, assim como é perfeito o seu conhecimento.

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12 O escarnecedor não gosta daquele que

o repreende; e nem ele irá ter com os sábios.

Quando dirigia uma determinada congregação, um irmão que parecia ser muito tranquilo e

calmo, dirigiu-se até mim certa ocasião, despejando toda a sua insatisfação dizendo que

não suportava ser exortado.

Ele usou a palavra “exortação”, no sentido de repreensão, pois “exortar” significa “encorajar incentivar”, e não repreender.

A repreensão à qual ele se referia, não foi

nenhuma que lhe houvesse dirigida diretamente, mas a simples exposição das

ordenanças bíblicas contra diversos tipos de pecado, que havíamos apresentado na ocasião.

Confesso que cheguei a duvidar na ocasião, de que se aquele irmão era de fato, um genuíno

crente convertido a Jesus, pois todos estes têm prazer em ouvir e concordar com a Palavra de

Deus quando pregada ou ensinada, ainda que não tenham a força de graça suficiente para

vencer os pecados, que ainda exercem algum tipo de influência ou domínio sobre suas vidas.

Ele disse mais; que ficava muito incomodado ao ouvir aquelas coisas, pois a seu ver não

conseguia entender como alguém conseguiria

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praticá-las, procurando com isso justificar, sobretudo o fato de ser uma pessoa

extremamente iracunda, que guardava raiva e mágoa com muita facilidade por qualquer

motivo ou pessoa que o contrariasse.

Ele havia congregado por muitos anos em uma igreja grande, com centenas de membros, e ali,

podia transitar livremente, até mesmo com a fama de ser uma pessoa muito calma, pois não

se via debaixo de nenhuma pregação mais precisa em relação à autonegação, e ao carregar

da cruz, bem como não participava efetivamente de nenhum grupo de busca de

maior e real devoção, e consagração a Deus.

Assim como ele, são muitos os crentes nominais nas igrejas, mesmo protestantes e evangélicas,

cujas vidas não estão ajustadas às ordenanças do evangelho e a disciplina que Jesus determina,

para ser aplicada a todos aqueles que estão aliançados com Ele por meio da fé.

Então, não serão vistos na companhia daqueles que com um coração puro invocam o nome do Senhor, conforme o tipo de companheirismo

que convém aos que são verdadeiramente santos de Jesus.

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13 O coração alegre aformoseia o rosto;

mas pela dor do coração o espírito se abate.

Certamente, a alegria referida no provérbio não é aquela oriunda de motivos carnais e

mundanos, porque em vez de aformosear o rosto, ela o enche de irreverência e

sensualidade, dentre outras características aqui não nomeadas.

O rosto e o olho que brilham com o reflexo da alegria de Deus sobre eles, só pode ser o

daqueles que andam em santidade de vida; e desta forma possuem a alegria que é fruto do

Espírito Santo, governando seus corações, mesmos quando debaixo de aflições.

Por isso somos alertados a não nos deixarmos dominar pela melancolia, porque quando

deixamos de olhar para as boas promessas de Deus e não permitimos que nosso espirito seja

fortalecido com graça em nossas tribulações, o resultado imediato é que ele fica abatido e,

muitas vezes recusando-se até ser consolado por Deus.

Por conseguinte, o mandamento para todo e qualquer crente é: “Alegrai-vos sempre no

Senhor.”

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Não importam as circunstâncias de vida, pois se tivermos o mesmo espirito de fé que habitou em

Habacuque, diremos juntamente com Ele, que nós nos alegraremos no Senhor, ainda que todas

as circunstâncias ao nosso redor nos sejam desfavoráveis, pois a alegria do Senhor é a nossa

força.

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14 O coração daquele que tem

entendimento busca o conhecimento; mas a boca dos tolos se alimenta de estultícia.

Uma grande prova que somos primariamente

um ser espiritual, que possui um corpo físico é que uma alimentação frugal e permanente como o mel e o gafanhoto de João, pode

sustentar a vida do corpo por um longo tempo.

Mas o espirito não fica satisfeito com a primeira medida de graça que tiver recebido de Deus,

nem com o conhecimento que tem adquirido acerca da sua vontade, pois esta fome é infinita

e apesar de ser satisfeita pontualmente, sempre haverá de se manifestar em busca de maior

graça e conhecimento.

A razão disso é muito simples, pois o conhecimento, a graça, os pensamentos, não ocupam lugar, e quanto mais os gastamos em

exercício, mais nos é acrescentado sem que seja removido o que já tivermos alcançado antes.

Por isso o provérbio afirma, que o coração daquele que tem entendimento busca o

conhecimento. Ele nunca deixará de fazê-lo e adentrará pela eternidade afora, mesmo

quando estivermos na presença de Deus, razão porque não há tédio para o espírito que busca a

presença e o conhecimento de Deus.

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Agora, ao falar do tolo, não é o seu coração que é comparado ao do sábio, mas há uma simples

referência à sua boca, pois vive para satisfazer os sentidos naturais, e disto se farta, e não

necessita avançar em conhecimentos para ter um corpo por assim, dizer, mais sábio e

enriquecido por Deus.

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15 Todos os dias do oprimido são maus;

mas o coração contente tem um banquete contínuo.

Veja aqui, a grande diferença que existe entre o estado e temperamento de alguns, e o de outros

dos filhos dos homens.

Alguns são muito angustiados, de um espírito triste, e todos os seus dias são maus, como os da

maioria daqueles de idade avançada, dos quais eles dizem não ter nenhum prazer.

Quantas são as aflições dos aflitos neste mundo! Eles não devem ser censurados ou

desprezados, mas socorridos e confortados.

Nenhum de nós está livre disto, principalmente quando permitido por Deus para que sejamos

quebrantados, e conscientizados de que somente Jesus Cristo tem o poder para nos

libertar das cadeias infernais que se apoderam do nosso espírito.

Outros desfrutam de grande prosperidade e são de um espírito alegre, e têm não somente os dias

bons, como também um banquete contínuo; e se na abundância de todas as coisas servem a

Deus com alegria de coração, que é o óleo para as rodas de sua obediência (tudo isto, e o céu

também), então eles servem a um bom mestre.

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Mas na falta de dias maus, poucos aprendem acerca do poder de Deus para livrar e confortar;

melhor então seria compartilhar um pouco disso que parece ser a porção contínua de

muitos neste mundo.

Há casos também, em que muitos têm apenas momentos de alegria e risos neste mundo, mas

ao final caminharão com lágrimas para o inferno; enquanto outros que andam chorando

e sofrendo irão com um largo sorriso em seu lábios para o céu.

Não é por estas coisas então, que devemos considerar a prosperidade ou a bem-

aventurança de alguém neste mundo.

Veja o caso da breve vida de Davi Brainerd, que de ninguém escondeu a grande melancolia que

o seguia tão de perto e suas constantes enfermidades, e, no entanto poucos prestaram

tão grandes serviços ao evangelho quanto ele, e chegaram à estatura da santidade e testemunho

de ter agradado a Deus que ele alcançou.

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16 Melhor é o pouco com o temor do

Senhor, do que um grande tesouro, e com ele a inquietação.

17 Melhor é um prato de hortaliça, onde há amor, do que o boi gordo, e com ele o

ódio.

Salomão disse no verso anterior, que aquele que não tem uma grande propriedade ou um grande rendimento, mas um espírito alegre, tem um

banquete contínuo, contentamento cristão, e alegria em Deus, tornando a vida fácil e

agradável; agora ele nos diz o que é necessário para que a alegria de espírito que irá fornecer

um homem com um banquete contínuo, embora ele tenha pouco no mundo -

a santidade e o amor.

O que é santo e devoto a Deus nada teme e não conhece inquietações, porque tem a Cristo por

sua defesa.

Mas é fato notório que aqueles que não temem a Deus, apesar de terem muitas riquezas, estão

cheios de inquietações; e tantos maiores são essas inquietações, quanto maiores forem estas

riquezas, pois há não somente o temor de vir a perdê-las, como exigem muitas preocupações

para que sejam administradas e mantidas.

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O amor, ao lado do temor de Deus, e a paz com todos os homens são necessários para o

conforto desta vida.

A falta de amor entre aqueles que compartilham

uma refeição, por mais requintada que ela seja, não será de nenhum desfrute agradável, caso

estejam em contendas motivadas pelo ódio.

O homem pode ter muitos bens e sucessos, mas não achará prazer neles caso não receba da parte de Deus a condição graciosa de desfrutá-

los.

Não acharemos a paz que tanto necessitamos ao fazer viagens para lugares distantes, aprazíveis e calmos, pois carregaremos conosco, em nosso

interior, todas as nossas inquietações e dissabores.

Mas, o coração que estiver em paz com o Deus achará paz e conforto, até mesmo num quarto

de hospital, como a experiência o tem comprovado.

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18 O homem iracundo suscita contendas;

mas o longânimo apazigua a luta.

Não é aos iracundos e violentos que Cristo faz a promessa de um Reino, mas aos mansos. Com isto concordam as palavras do salmista:

“Deixa a ira, e abandona o furor; não te indignes de forma alguma para fazer o mal. Porque os malfeitores serão desarraigados; mas

aqueles que esperam no Senhor herdarão a terra.” (Salmo 37.8,9)

Jesus não somente manifestou a nós, a sua humildade e mansidão em seu ministério

terreno, como nos ordenou que seguíssemos seu exemplo, aprendendo também a sermos mansos e humildes de coração.

Deus é de paz e não de guerra. Ele ama e promove a paz. O Seu reino eterno é de paz,

porque sem paz não pode haver unidade e harmonia. Importa sermos um com o Pai e com

o Filho, e uns com os outros.

O espirito iracundo promoveria tais coisas? Ou as destruiria?

De forma que o espírito iracundo, jamais será aceito ou justificado diante de Deus.

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19 O caminho do preguiçoso é como a

sebe de espinhos; porém a vereda dos justos é uma estrada real.

A sebe aqui referida é uma cerca feita com varas de espinhos entrelaçadas.

Quem pode passar por elas sem se ferir?

É assim que o provérbio descreve o caminho do preguiçoso. Na verdade, não é um caminho, mas

uma cerca, e ainda por cima de espinhos.

Já o caminho dos justos é comparado uma estrada real, cuidada e preservada, para que por ela o rei possa transitar em segurança.

Vemos esta cerca e esta estrada, como sendo o coração do homem. Numa, a entrada do rei Jesus é vedada por uma cerca espinhosa, e na

outra, ele pode transitar livremente por caminhos seguros.

A preguiça em aprender a Palavra de Deus, em colocar por prática os seus mandamentos cria estas cercas de espinhos que impedem que Ele

tenha comunhão conosco.

Mas a estrada limpa do pecado, e pavimentada com a retidão e a santidade são um convite para

que Ele se aproxime para caminhar conosco.

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Mantenhamos então, os nossos corações sempre limpos e livres de cercas espinhosas,

sendo diligentes para isto, para que possamos desfrutar sempre da companhia do Senhor.

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20 O filho sábio alegra a seu pai; mas o

homem insensato despreza a sua mãe.

Devemos ter em conta que a sociedade de Israel era uma sociedade teocrática, ou seja, sob o governo de Deus, e sua lei era a oriunda de sua

Palavra.

Aos pais era ordenado ensinarem seus filhos nos caminhos do Senhor, e inculcar neles os seus mandamentos, como podemos ver, por

exemplo, em Deuteronômio 6.

Israel foi levantado, para ser um exemplo para todo o mundo, pois a vontade de Deus era a de

que suas leis justas e santas fossem guardadas por todas as nações.

Então, o filho sábio é aquele que é reconhecidamente obediente e praticante dos

mandamentos de Deus, conforme lhes foram ensinados por seus pais.

Um filho sábio, obediente aos preceitos de Deus era motivo de alegria para seu pai, porque veria nisto o cumprimento da missão que lhe fora

dada pelo Senhor, e sabia que significaria um viver abençoado para seu próprio filho.

Em contraposição a isto, o insensato seria conhecido pelo desprezo que devotaria à sua

mãe, por não honrá-la conforme determinado

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pela lei, uma vez que não estaria em concordância com o modo de conduzir o seu lar

e a educação de seus filhos, em submissão amorosa ao seu marido.

Uma mãe fiel confirmaria o ensino e a educação ministradas pelo seu esposo, e não se desviaria

deste alvo para facilitar um viver pecaminoso por parte dos filhos, por motivos sentimentais

ou emocionais, pois é bem conhecida a maior brandura com que as mães tratam seus filhos.

Sendo contrariado por uma mãe fiel a Deus e a seu esposo, o filho insensato desprezaria esta

condição, e em vez de se submeter à instrução de seus pais seguiria pelo seu caminho de

insensatez, no qual pode fazer a sua própria vontade sem se importar em conhecer ou

cumprir a vontade de Deus.

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21 A estultícia é alegria para o insensato;

mas o homem de entendimento anda retamente.

Não é um ponto de honra para um sábio

entendido nos caminhos de Deus, a questão de estar alegre ou não, em razão da forma como é

recepcionado pelas pessoas ou circunstância que têm que enfrentar neste mundo.

Não lhes importa o que sintam, se pela tristeza ou pela alegria, pela saúde ou pela doença, pela

vida ou pela morte, senão que o nome do Senhor Jesus seja glorificado através de suas vidas. Seu

objetivo é viver retamente nos caminhos do Senhor.

Já o insensato, em sua busca insaciável por

prazer e alegria, pouco se importa com estas coisas, e se é na estultícia que ele acha a sua

alegria, ele se dedicará a ela com todas as suas energias..

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22 Onde não há conselho, frustram-se os

projetos; mas com a multidão de conselheiros se estabelecem.

Se os homens não gastarem tempo e esforço para deliberar entre si, ou se são tão confiantes

de seu próprio julgamento que venham a desprezar o ato de consultar a outros, eles ficam

susceptíveis de não realizarem qualquer coisa considerável, e as circunstâncias podem

derrotá-los; o que, com um pouco de consulta, poderia ter sido previsto e evitado.

É uma boa regra, tanto nos assuntos públicos e domésticos, não fazer nada precipitadamente e

da própria cabeça, sem que consultemos aqueles que estão também diretamente

interessados naquilo que pretendemos fazer.

Filhos devem consultar os pais, e estes os filhos. As esposas os maridos, e estes, as suas esposas; e não podem esquecer de consultar Aquele, que

em todas as nossas deliberações deve ser sempre consultado; que é o Senhor Jesus

Cristo.

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23 O homem alegra-se em dar uma

resposta adequada; e a palavra a seu tempo quão boa é!

Muitos querem apenas concordância, e ficam satisfeitos com isto, ainda que o resultado do

acatamento de seus conselhos seja uma tragédia. Todavia, não é a este caso que se refere

o provérbio.

Temos a palavra “adequada”, qualificando a resposta que é dada, e traz alegria ao coração

daquele que a dá. Agora, não basta que a palavra seja adequada, pois há um tempo apropriado

para que seja pronunciada.

Há um dito que ensina, que a obediência depois do tempo determinado não pode ser considerada como tal.

Assim a palavra de conselho tem também um tempo em que a ocasião será propícia, para não ser somente entendida, como também acatada;

por exemplo, é de pouco ou nenhum proveito aconselhar a mansidão, a alguém no momento

em que estiver expondo toda a sua exaltação, e defendendo ardorosamente o seu ponto-de-

vista.

Paulo resume tudo isto com a expressão: “palavra temperada com sal”. Algo insípido não

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será apreciado, e muito menos engolido. Algo muito salgado também é intragável.

Daí a expressão bem temperada, para que agradando ao paladar do que a recebe, possa ser digerida.

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24 Para o sábio o caminho da vida é para

cima, a fim de que ele se desvie do Seol que é embaixo.

Se o caminho da vida é para cima, então a

sabedoria que devemos buscar é a do Pai das Luzes, a que nos vem do alto, do próprio céu, que

não tem suas raízes fundadas na terra. A doutrina do evangelho é uma doutrina celestial.

A nova natureza que recebemos na conversão, também nos vem do céu. Ela não se encontra em

nada que seja pertencente a este mundo.

Assim, se alguém quer se desviar do Seol, das profundezas do inferno, deve buscar as coisas

que são do alto e não as que são da terra, conforme o apóstolo Paulo nos ensina em sua epístola aos Colossenses.

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25 O Senhor desarraiga a casa dos

soberbos, mas estabelece a herança da viúva.

Pai dos órfãos e juiz das viúvas é o Senhor,

conforme ele próprio o declara através do profeta.

Especialmente nos dias em que o provérbio foi escrito, em que não havia planos

previdenciários, e às mulheres era vedado o acesso ao mercado de trabalho, esta proteção

divina se revelou verdadeira, particularmente no caso daquelas mulheres que eram fiéis e

obedientes à Sua vontade.

Nós vemos exemplificado no caso da viúva de Sarepta, aquela cujo marido era profeta e tendo

morrido deixou uma grande dívida para ser paga, a qual foi resgatada com a venda do azeite

que jorrou miraculosamente pela intermediação do profeta Eliseu, e muitos outros casos além do citado.

Mas, em paralelo nós temos o registro bíblico do extermínio até mesmo da casa de reis ímpios em Israel, como foi o caso de Baasa, Acabe, e outros,

como uma demonstração clara de que o ímpio será desarraigado da terra quando terminar a

dispensação da graça; e Deus não levará em conta, se estes ímpios eram grandes ou não para

o mundo.

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26 Os desígnios dos maus são

abominação para o Senhor; mas as palavras dos puros lhe são aprazíveis.

Até aquilo que o ímpio imagina é uma abominação para Deus. É uma abominação, porque seus pensamentos estão continuamente

inclinados para o que é mau.

Muitos planejam fazer coisas más, a pretexto de produzir o bem, como foi o caso de Hitler que acreditava piamente que estaria fazendo um

grande favor à humanidade, quando concluísse seu projeto iníquo. E, no seu rastro andaram

muitos reis e governantes do passado, bem como muitos deles ainda atuam no presente.

Assim, até mesmo quando o ímpio projeta algo pensando em fazer o bem, o que prevalece e surge como resultado é a impiedade do seu mau

coração.

Agora, de um coração que foi purificado pela graça e permanece nesta condição, só pode

proceder desígnios agradáveis ao Senhor, até mesmo porque todos estes desígnios serão

inspirados pelo Espírito Santo, que habita no seu coração. Suas palavras serão também, o reflexo

daquilo que seu coração está cheio, a saber, da graça de Jesus Cristo.

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27 O que se dá à cobiça perturba a sua

própria casa; mas o que aborrece o suborno viverá.

Aquele que na sua avidez de lucro aceita subornos, e utiliza formas ilícitas de obtenção de

dinheiro deixa uma maldição após si, que trará perturbações para sua própria casa,

comprometendo a segurança e paz de seus familiares, por possíveis ameaças por parte

daqueles dos quais recebeu vantagens ilícitas.

Os familiares que aprovam ou fazem concessões a um membro da família que proceda dessa

forma, pelas vantagens financeiras imediatas que desfrutam, ainda que não venham a se arrepender depois, é bem certo que terão que

arcar com os problemas que são consequentes de um comportamento desonesto.

Ainda que a polícia não venha bater à sua porta,

eles viverão em constante sobressalto sobre as múltiplas possibilidades de transtornos que a

má conduta lhes trará.

Além de toda consideração deve ser admitido, que este lar está fora da proteção e bênção do Senhor, pois ele é contra aqueles que procedem

impiamente, e seus olhos repousam apenas sobre os justos para recompensá-los e dar-lhes

paz.

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O suborno perverte a justiça e alguém sempre sai em prejuízo nesta transação.

O dinheiro que o corrupto surrupia do erário público prejudica os contribuintes, que

deveriam ter uma aplicação justa e útil dos impostos que pagaram, e certamente não foi

feito para beneficiar a um punhado de pessoas sem caráter e senso de justiça, cobiçosas dos

bens terrenos, e que desprezam totalmente os espirituais.

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28 O coração do justo medita no que há de

responder; mas a boca dos ímpios derrama coisas más.

Faz parte do caráter de um homem justo, estar convencido da conta que ele deverá dar a Deus

de suas palavras, e da boa ou má influência que elas exercem sobre os outros.

Quando se tem o caráter de justo, e se aprende

isto pelo temor devido a Deus, adquire-se o que pode ser chamado de responsabilidade no falar.

Especialmente, quando se trata de aconselhamento cristão, de ser necessário

julgar causas e consequências do comportamentos de outros, e a prescrição de

medidas adequadas para a solução de problemas, o coração deve meditar

profundamente no que deve responder, para que não se faça uma prescrição que vá ao

contrário da verdade revelada, ou do modo como Deus vê toda a situação.

Perdoar em vez de julgar. Calar em vez de falar. Interceder em vez de se omitir. O que fazer?

Somente em casos excepcionais teremos a resposta, sem que haja necessidade de uma

meditação séria, responsável, e com conhecimento de causa baseado nos princípios

revelados na Palavra do Senhor.

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Agora, qual é o compromisso e responsabilidade que os ímpios têm com as

possíveis consequências de suas palavras, especialmente no que se refere ao quanto

possam prejudicar a outros?

Por isso diz o provérbio, que a boca dos ímpios derrama coisas más.

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29 Longe está o Senhor dos ímpios, mas

ouve a oração dos justos.

Bem ilustram as palavras deste provérbio, o que lemos em I Pedro 3.10-12):

“1Pe 3:10 Pois quem quer amar a vida e ver dias felizes refreie a língua do mal e evite que os seus lábios falem dolosamente;

1Pe 3:11 aparte-se do mal, pratique o que é bom, busque a paz e empenhe-se por alcançá-la.

1Pe 3:12 Porque os olhos do Senhor repousam

sobre os justos, e os seus ouvidos estão abertos às suas súplicas, mas o rosto do Senhor está

contra aqueles que praticam males.”

Deus é onipresente, mas não atenta para aqueles que praticam males, a fim de lhes

conceder as suas bênçãos espirituais, e nem mesmo o poderia fazer, pela razão de não serem

valorizadas por eles, nem desejá-las, pois estas têm a ver, sobretudo com a santificação das

nossas vidas.

Deus não tem prazer nesta condição de vida do ímpio, nem em que ele permaneça morto

espiritualmente, antes que se converta e viva.

Mas, como todo este trabalho espiritual é feito em nossa alma, e em todas suas faculdades

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(vontade, emoção, sentimento, razão etc), deve haver a busca e o consentimento voluntário de

nossa parte para que haja esta operação conjunta da graça do Senhor, com nossas

disposições interiores.

Se lutamos contra o Espírito e não permitimos

que ele faça o seu trabalho em nós, é certo que não receberemos qualquer graça da parte de

Deus, para a nossa transformação. Mas, se o buscamos, se nos humilhamos, nos

arrependemos de nossos maus caminhos e oramos por seu auxílio, ele tem prometido que

virá infalivelmente em nosso socorro.

Desejar a bênção de Deus enquanto se

permanece na prática da impiedade, sem desejarmos ser livrados desta condição, é pura

perda de tempo e insensatez.

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30 A luz dos olhos alegra o coração, e

boas-novas engordam os ossos.

Uma expressão bíblica designativa de um bom estado de alma, boa saúde e alegria é a de que os

ossos se encontram cheios de tutano. E a que lhe é oposta, indicando uma condição espiritual

ruim e abatimento de alma, é a de ossos secos, como aqueles que assim ficaram em

consequência da morte.

É isto que o provérbio quer significar ao dizer que as boas-novas engordam os ossos; ou seja,

que as boas notícias revigoram a alma.

Que dizer então, da boa-nova que é o evangelho de Cristo? É por ela que, mais do que o engordar os ossos, saltamos da morte espiritual para a

vida eterna.

Quanto a luz dos olhos que alegra o coração, há tanto um sentido físico, quanto espiritual, pois o

olho que brilha ao contemplar as belezas ao redor conduz alegria ao coração pelo que vê,

assim como pelo olhar aquilo que é deprimente, se traz tristeza ao coração; a ponto de ter se formado o dito, “que aquilo que o olho não vê,

não entristece o coração”.

Os olhos são as janelas de entrada para alma, porque o principal sentido natural que

possuímos é o da visão, e tudo que é captado

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pelos sentidos (visão, audição, olfato, tato) afeta diretamente a nossa alma (vontade, emoção,

sentimento, razão).

Por isso somos ordenados pela Bíblia, a ocupar o

nosso pensamento (e nisso se inclui os pensamentos que formamos pelo que captamos

pelos nossos sentidos) somente com aquilo que é bom, puro, verdadeiro, agradável, e possua

motivo de louvor; em razão de sermos impactados tremendamente por tudo o que

vemos e ouvimos.

Daí Jesus ter afirmado, que se os nossos olhos

forem bons, todo o nosso corpo será iluminado. Um olhar criterioso e seletivo que faz uma justa

avaliação de todas as coisas para separar o que é vil do que é precioso, trazendo luz para a nossa

alma, e com esta luz, a alegria que procede de Deus.

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31 O ouvido que escuta a advertência da

vida terá a sua morada entre os sábios.

Faz parte do caráter de um homem sábio que

seja muito disposto a ser reprovado, de modo que possa corrigir o que outros observam, que

necessita mudar em seu comportamento, e portanto, opta por conversar com aqueles que, tanto por suas palavras e exemplo possam

contribuir para corrigir o que está errado nele.

O ouvido que pode suportar a reprovação amará o reprovador. Daí Davi, que era sábio, dizer que

se fosse ferido pelo justo, isto lhe seria um bom serviço, pois poderia emendar seu caminho.

As repreensões amigáveis e fiéis são chamadas

aqui, de advertência da vida, não somente porque elas devem ser dadas de forma animada

e com um zelo prudente, como também porque o resultado delas é o de produzir vida espiritual, conduzindo à vida eterna àqueles que as

atenderem e praticarem.

É dito também, que estes que ouvem a repreensão virão a ser achados entre os sábios,

porque passarão a ser sábios tanto quanto eles, em condições de também repreenderem a

outros com as palavras de vida, para o bem eterno de suas almas, pelo efeito que viram ser

produzido em sua própria experiência.

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É comum de ser visto que filhos, os quais nunca foram disciplinados e repreendidos tendem

também a não disciplinarem e repreenderem seus próprios filhos.

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32 Quem rejeita a correção menospreza a

sua alma; mas aquele que escuta a advertência adquire entendimento.

Este provérbio é uma reafirmação do anterior, sendo acrescentado que o resultado consequente de se rejeitar a correção

corresponde ao menosprezo da própria alma.

Quem ouve e atende as repreensões da Palavra de Deus alcança a vida, o entendimento, e

conhecimento das palavras de vida pelas quais a nossa alma é alimentada, e cresce o

crescimento que procede de Deus, rumo à estatura de varão perfeito.

É evidente, que isto nunca poderá ocorrer com aquele que rejeita as repreensões da Palavra,

especialmente aquelas que se referem à necessidade de se abandonar o pecado, os

caminhos da insensatez, e buscar a sabedoria que procede de Deus com um espírito humilde,

reverente, sincero e puro.

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33 O temor do Senhor é a instrução da

sabedoria; e adiante da honra vai a humildade.

Deus abate o que se exalta, e exalta ao que se humilha. Ele honra somente aos que o honram.

Não há maior e melhor maneira de se honrar o Senhor, do que ouvir e praticar a Sua Palavra.

Aquele que for humilde para temer o Senhor, pela demonstração prática de atender à

instrução dos seus mandamentos, será honrado por Ele, conforme Sua promessa.