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    Radioterapia

    Fsica Aplicada

    Proteco Radiolgica

    Docente: Discentes:

    Dr. Marta Sousa Ana Rita Coelho n 10100181

    Catarina Silva n 10100185

    Cludia Borges n 10100187

    Joana Ferreira n 10100190

    Janeiro de 2011

    http://www.google.pt/imgres?imgurl=http://www.m9.com.br/happyclin/imagens/radiacao.jpg&imgrefurl=http://www.m9.com.br/happyclin/radiacao.asp&usg=__A__YoWRJH_PuQEvUEoY6AV1LBNU=&h=250&w=235&sz=60&hl=pt-pt&start=0&sig2=6ylopSNDrPHOJ7HYtgqyMg&zoom=1&tbnid=yW6ZqbcQv4RZUM:&tbnh=125&tbnw=118&ei=-zkiTZ29M8Wp8QOcgc2yBQ&prev=/images?q=efeito+da+radia%C3%A7%C3%A3o+sobre+a+mat%C3%A9ria&um=1&hl=pt-pt&sa=X&rls=ig&rlz=1W1SVEC_pt-PTPT402PT402&biw=1579&bih=663&tbs=isch:1&um=1&itbs=1&iact=hc&vpx=245&vpy=68&dur=4930&hovh=200&hovw=188&tx=147&ty=39&oei=xjkiTZamOoOztAbz2bHYDA&esq=14&page=1&ndsp=35&ved=1t:429,r:1,s:0http://www.google.pt/imgres?imgurl=http://www.m9.com.br/happyclin/imagens/radiacao.jpg&imgrefurl=http://www.m9.com.br/happyclin/radiacao.asp&usg=__A__YoWRJH_PuQEvUEoY6AV1LBNU=&h=250&w=235&sz=60&hl=pt-pt&start=0&sig2=6ylopSNDrPHOJ7HYtgqyMg&zoom=1&tbnid=yW6ZqbcQv4RZUM:&tbnh=125&tbnw=118&ei=-zkiTZ29M8Wp8QOcgc2yBQ&prev=/images?q=efeito+da+radia%C3%A7%C3%A3o+sobre+a+mat%C3%A9ria&um=1&hl=pt-pt&sa=X&rls=ig&rlz=1W1SVEC_pt-PTPT402PT402&biw=1579&bih=663&tbs=isch:1&um=1&itbs=1&iact=hc&vpx=245&vpy=68&dur=4930&hovh=200&hovw=188&tx=147&ty=39&oei=xjkiTZamOoOztAbz2bHYDA&esq=14&page=1&ndsp=35&ved=1t:429,r:1,s:0http://www.google.pt/imgres?imgurl=http://www.m9.com.br/happyclin/imagens/radiacao.jpg&imgrefurl=http://www.m9.com.br/happyclin/radiacao.asp&usg=__A__YoWRJH_PuQEvUEoY6AV1LBNU=&h=250&w=235&sz=60&hl=pt-pt&start=0&sig2=6ylopSNDrPHOJ7HYtgqyMg&zoom=1&tbnid=yW6ZqbcQv4RZUM:&tbnh=125&tbnw=118&ei=-zkiTZ29M8Wp8QOcgc2yBQ&prev=/images?q=efeito+da+radia%C3%A7%C3%A3o+sobre+a+mat%C3%A9ria&um=1&hl=pt-pt&sa=X&rls=ig&rlz=1W1SVEC_pt-PTPT402PT402&biw=1579&bih=663&tbs=isch:1&um=1&itbs=1&iact=hc&vpx=245&vpy=68&dur=4930&hovh=200&hovw=188&tx=147&ty=39&oei=xjkiTZamOoOztAbz2bHYDA&esq=14&page=1&ndsp=35&ved=1t:429,r:1,s:0
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    ndice

    1. Introduo .................................................................................................................................. 42. Radiobiologia .............................................................................................................................. 5

    3. Radiaes Ionizantes .................................................................................................................. 5

    4. Limiar de dose ............................................................................................................................ 6

    5. Efeitos determinsticos ............................................................................................................... 6

    6. Efeitos estocsticos .................................................................................................................... 7

    7. Dose efectiva .............................................................................................................................. 8

    8. Efeitos Biolgicos ....................................................................................................................... 9

    9. Factores que influenciam a radiao ....................................................................................... 12

    9.1. LET .................................................................................................................................... 12

    9.2. RBE ................................................................................................................................... 13

    10. Interaco das radiaes ionizantes com a matria ............................................................ 14

    10.1. Abrandamento de uma partcula carregada e transferncia da energia para o meio. 15

    10.2. Radiaes gama e x ...................................................................................................... 15

    10.2.1. Efeito Compton ........................................................................................................ 16

    10.2.2. Efeito fotoelctrico ................................................................................................... 16

    10.2.3. Produo de pares inicos ....................................................................................... 17

    11. Leses moleculares produzidas pela radiao ionizante ..................................................... 18

    11.1. Transferncia s molculas de energia radiante.......................................................... 19

    11.2. Leses primrias e secundrias .................................................................................... 20

    11.3. Radilise da gua .......................................................................................................... 20

    11.4. Radicais livres ............................................................................................................... 21

    11.5. Efeitos sobre o ADN ..................................................................................................... 22

    11.6. Reparao do ADN ....................................................................................................... 23

    11.6.1. Exciso de uma base e resntese .............................................................................. 24

    11.6.2. Exciso de um nucletido e resntese ...................................................................... 24

    11.6.3. Recombinao homloga ......................................................................................... 25

    11.6.4. Recombinao no homloga .................................................................................. 26

    11.6.5. Reparao SOS ......................................................................................................... 26

    11.6.6. Reparao ................................................................................................................. 27

    11.6.7. Leses residuais do ADN .......................................................................................... 28

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    11.7. Alteraes cromossmicas ........................................................................................... 29

    11.7.1. Deleco ................................................................................................................... 29

    11.7.2. Duplicao ................................................................................................................ 30

    11.7.3. Cromossomas em anel ............................................................................................. 30

    11.7.4. Isocromossomas ....................................................................................................... 31

    11.7.5. Cromossomas dicntricos ........................................................................................ 31

    11.7.6. Translocao ............................................................................................................. 32

    11.7.7. Inverso .................................................................................................................... 32

    12. Concluso ............................................................................................................................. 33

    13. Netgrafia ............................................................................................................................... 34

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    1. IntroduoA radiobiologia a cincia que une a fsica biologia, para o entendimento da aco das radiaes

    nos tecidos sos. Noes bsicas de gentica, ciclo celular, DNA, efeitos das radiaes sobre as

    clulas e suas implicaes nos tecidos dos organismos vivos so uma mais valia para perceber de

    que forma a irradiao dos tecidos leva destruio celular controlada.

    As radiaes ionizantes so aquelas que ao atravessarem a matria, interagem com os tomos,

    ionizando-os. Este fenmeno reveste-se de uma enorme importncia, na medida em que, existe

    formao de ies livres e por conseguinte, provocam modificaes fsicas e qumicas na matria

    que os rodeia. Estas modificaes podem afectar as propriedades dos materiais e em particular,resultar em efeitos nocivos sobre a matria viva. So consideradas radiaes ionizantes todas as

    partculas carregadas, assim como, fotes com energia superior a cerca de 100 eV, (1 eV = 1,602 x

    10-19 joule).

    Deste modo, a Radioterapia utiliza, controladamente, radiaes ionizantes para fins teraputicos,

    principalmente de neoplasias malignas, uma vez que as radiaes induzem modificaes mais ou

    menos importantes nas molculas nativas. O objectivo da Radioterapia a cura total da leso ou

    o seu tratamento paliativo, por diminuio da sintomatologia decorrente da constante evoluo

    tumoral, causando o mnimo de danos possvel aos tecidos saudveis adjacentes.

    As radiaes geram nos tecidos uma cascata de eventos, que se inicia no primeiro milsimo de

    segundo da interaco. A ionizao inicial (fase fsica) seguida de leso imediata de

    macromolculas vitais a nvel celular, ou indirectamente pela ciso de molculas de gua, de que

    resultam radicais livres de oxignio, altamente reactivos a nvel molecular (fase fsico-qumica).

    Aps alguns minutos a leso bioqumica sobre as molculas de DNA e RNA potencialmente letal.

    No entanto, o dano independente da fonte de radiao (natural ou artificial), esta radiao ao

    interagir com o meio biolgico transfere energia, a qual no depositada uniformemente, mas

    sim ao longo dos percursos das partculas e em movimento provocando consequncias biolgicas.

    Os efeitos das radiaes podem surgir logo aps a exposio ou passado muito tempo, contudo

    de reforar que as radiaes apenas aumentam a frequncia das alteraes j existentes, nunca

    provocando uma nova alterao.

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    2. RadiobiologiaA Radiobiologia a disciplina da Biologia que estuda a interaco fsica da radiao com a matria

    viva e as suas consequncias.

    Num contexto biolgico, Radiaes Ionizantes (onde se incluem os Raios X), tm como

    propriedade intrnseca a capacidade para arrancar os electres dos tomos de carbono,

    hidrognio, oxignio e azoto.

    A quantidade de energia cedida por uma determinada radiao ionizante ao atravessar um

    material depende da natureza qumica desse material e da sua massa especfica.

    Salienta-se que a absoro de radiaes ionizantes pela matria um fenmeno atmico e nomolecular.

    3. Radiaes IonizantesAs radiaes ionizantes existem no Planeta Terra desde a sua origem, sendo portanto um

    fenmeno natural. No incio, as taxas de exposio a estas radiaes eram certamente

    incompatveis com a vida. Com o passar do tempo, os tomos radioactivos, instveis, foram

    evoluindo para configuraes cada vez mais estveis, atravs da liberao do excesso de energia

    armazenada nos seus ncleos. Pelas suas propriedades esta energia capaz de interagir com a

    matria, arrancando electres de seus tomos (ionizao) e modificando as molculas.

    No final do sculo XIX, com a utilizao das radiaes ionizantes em benefcio do homem, logo

    seus efeitos na sade humana tornaram-se evidentes. Ao longo da histria, estes efeitos foram

    identificados e descritos, principalmente, a partir de situaes nas quais o homem encontrava-se

    exposto de forma aguda (acidentes e uso mdico).As radiaes ionizantes caracterizam-se, essencialmente, pela emisso de partculas que podem

    ser de vrios tipos, nomeadamente, de raios , raios e raios X. Estas radiaes so divididas em

    radiaes pouco ionizantes (usadas em diagnstico : X e gama), e em radiaes altamente

    ionizantes ( neutres e alfa).

    As radiaes ionizantes podem danificar o gentipo de clulas vivas, no entanto o dano

    independente da fonte de radiao (natural ou artificial).

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    4. Limiar de doseO limiar de dose um limite mnimo de radiao que, por norma, no prejudica os organismos

    vivos. Existe danos somticos reversveis, no entanto os danos genticos so cumulativos e

    irreversveis.

    A tendncia admitir que no h limite mnimo de exposio e procurar reduzir, de todas formas

    possveis, a exposio s radiaes ionizantes.

    5. Efeitos determinsticosOs efeitos determinsticos observam-se passado pouco tempo (entre alguns dias e um ms) aps

    a exposio e por essa razo so tambm designados por

    efeitos somticos precoces.

    Estes esto relacionados com o mau funcionamento ou perda

    de funo de tecidos ou rgos, essencialmente devido morte

    de um nmero significativo de clulas, assim como a doses

    elevadas de radiao. Para estes efeitos existem limiares de

    dose, ou seja, a funo de muitos rgos e tecidos no

    afectada por pequenas redues no nmero de clulas

    saudveis existentes. S no caso de uma reduo

    suficientemente grande sero clinicamente observados efeitos patolgicos.

    A gravidade destes depender essencialmente da dose recebida e da regio irradiada, isto porque

    os vrios rgos e sistemas do organismo, so sensveis radiao em graus diferentes.

    Alguns exemplos de efeitos determinsticos ou somticos produzidos por exposio aguda so:

    No sistema hematopoitico: leucopenia, anemia, trombocitopenia No sistema vascular: obstruo de vasos, fragilidade vascular No aparelho digestivo: alteraes nas secrees, leses das mucosas

    Ilustrao 1 - Efeitos determinsticos(danos) em funo da dose de

    radiao

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    6. Efeitos estocsticosOs efeitos estocsticos resultam de modificaes provocadas pelas radiaes em clulas que

    mantm a sua capacidade de diviso. Estas clulas modificadas podem, em alguns casos, iniciar

    uma transformao maligna da clula e conduzir ao desenvolvimento maligno e, finalmente, a um

    cancro clinicamente declarado.

    Estespodem surgir muito tempo aps a exposio e incluem um aumento de probabilidade de

    ocorrncia de neoplasias e de mutaes genticas. Para se produzirem estes efeitos parece no

    existir limiar de dose, admitindo-se que possam ser induzidos por doses muito baixas de radiao,

    em funo do tempo de exposio.

    Relacionar estes efeitos com a exposio a uma fonte

    de radiao, relativamente difcil. A maioria das vezes

    no se sabe se estes advm de uma anterior exposio

    a radiaes ou se provm do processo natural de

    envelhecimento humano.

    Para os efeitos estocsticos no considerado um

    limiar e admite-se que a probabilidade da sua

    ocorrncia proporcional dose. Por isso, a

    probabilidade de induo deve ser reduzida pela manuteno da dose to baixa quanto possvel.

    Quantidade de dose Observaes

    250 mSv Sem efeito aparente

    500 mSv Ligeiras alteraes sanguneas

    1 Sv Astenia, nuseas, alteraes sanguneas

    3 SvNuseas e vmitos nos primeiros dias;

    Anorexia, astenia e diarreia; recuperao, em cerca de 3 meses

    4 Sv 50% de mortes no 1 ms

    6 Sv Morte praticamente certa

    6 a 20 Sv Perturbaes gastro-intestinais, morte certa

    20 Sv Fulminante destruio do Sistema Nervoso Central

    Ilustrao 2 - Relao linear dose-efeito nabanda dos pequenos dbitos de dose

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    7. Dose efectivaA dose efectiva a mdia aritmtica ponderada das doses equivalentes nos diversos rgos. Os

    factores de ponderao dos tecidos foram determinados de tal modo que a dose efectiva

    representa o mesmo detrimento de uma exposio uniforme de corpo inteiro.

    A unidade de dose efectiva o joule por quilograma (J/kg), tambm denominada por Sievert (Sv).

    Assim, o clculo da dose efectiva resulta da soma das doses equivalentes resultantes nos tecidos

    ou rgos (HT), multiplicada pelos factores de ponderao tecidular WT (tissue weighting factors)

    do ICRP. definida pela frmula:

    E =S HT x WT (Sv)

    Tabela 1- Doses efectivas de determinados rgos

    Exames diagnsticos Dose efectiva (mSv)

    Raios X

    Trax 0.02

    Crnio 0.07

    Coluna cervical 0.3

    Coluna dorsal 1.4Coluna lombar 1.8

    Abdmen 0.53

    Plvis/Bacia 0.83

    Extremidades 0.06

    Esfagogastroduodenal 3.6

    Clister opaco 6.4

    Mamografia 0.13

    Tomografia Computorizada

    Cabea 2.0Abdmen 10.0

    Trax 20-40

    Angio -TC trax 20-40

    PET - CT 25

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    8. Efeitos BiolgicosO efeito biolgico da radiao est relacionado com a propriedade de provocar ionizao da

    matria com a qual interage, isto , com sua capacidade de arrancar electres da matria, criando

    ies.

    A propriedade de provocar ionizao em determinado material diferente entre os trs tipos

    de radiao, com a seguinte ordem decrescente: . Alm disto, a natureza do tecido

    vivo que absorve a radiao tambm influncia o efeito biolgico observado. Por exemplo,

    quando expostos a mesma dose de radiao a tecido sseo e no sseo, o tecido sseo absorve

    aproximadamente o dobro de energia absorvida por tecidos no sseos. Assim, podemos dizerque diferentes materiais absorvem quantidades diferentes da mesma radiao. Apenas por

    curiosidade:

    1g de gua absorve aproximadamente 90 x 10-7 J de energia de uma radiao; 1g de tecido no sseo absorve aproximadamente 97 x 10-7 J de energia da mesma

    radiao;

    1g de tecido sseo absorve uma quantidade muito maior do que as anteriores de energiada mesma radiao.

    Radiaes de diferentes naturezas (raios X, raios , partculas e ), e com a mesma

    intensidade, tm capacidades diferentes de lesar o mesmo tipo de matria viva.

    Para levar em conta as diferentes capacidades de interaes biolgicas das diferentes

    radiaes, foi criado o termo dose equivalente.

    A unidade SI de dose equivalente o Sievert (Sv). A dose equivalente (H), dada pela relao:

    H = D.Q.N

    Onde: H a dose de radiao em Sv; D a dose de radiao em Gy; Q um factor de absoro efectiva da radiao em questo; N o coeficiente de absoro de radiao de determinado rgo ou tecido biolgico.

    A unidade mais antiga (sistema convencional) de dose equivalente o rem radiat ion equivalente

    for men. Esta equivalente dose de radiao cujo efeito semelhante ao de 1 rntgen no ser

    humano.

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    Quando a matria viva absorve um Gy de Raios X, a dose equivalente de 1 Sv, que corresponde

    aproximadamente a 100 rem. Sieverts ou rem so acumulativos, mas gray ou rad no o so. Por

    exemplo, uma dose de 100 rad de radiao gama no trax e uma de 5 rad de exposio de um

    feixe de neutres na cabea da mesma pessoa, no significa que o corpo todo recebeu uma dose

    de 15 rad.

    Desde que os rad absorvidos forem convertidos em rem ou Sv, as quantidades encontradas

    podem ser somadas para fornecer a dose total do corpo em rems (ou Sv).

    Como exemplo de uma dose equivalente mxima, temos 0,3 rem/semana para um trabalhador de

    uma central nuclear. Em comparao, numa radiografia ao trax a dose equivalente de 0,007

    rem.A expresso dose acumulada sugere-nos a ideia de que a radiao se acumula no organismo

    que a ela fica exposto num dado perodo de tempo. Esta ideia totalmente falsa, pois um

    organismo exposto aco das radiaes no sofre um efeito de acumulao de radiaes,

    acumula sim, doses de radiao somadas ao longo do tempo.

    Como exemplo, podemos referir um indivduo que por razes profissionais recebe 0,3 r por

    semana, no acumula no seu organismo ao fim de dez semanas uma dose de radiao 1mSv, o

    que pode ser afirmado que durante aquele perodo de tempo recebeu 1mSv que corresponde

    designao de dose acumulada. Assim sendo, o que na prtica se acumula no a dose de

    radiao, mas sim os seus efeitos.

    Desde h muito tempo que se sabe que a radiao uma fonte indutora de mutaes,

    como resultado de algumas alteraes directamente induzidas no DNA. Em ocasies mais

    notrias, os cromossomas evidenciam um aspecto normal observado ao microscpio.

    A importncia destas mutaes, qualquer que seja o seu tipo, pode levar a mudanas na

    funo e, estas mudanas/alteraes podem ser transmitidas s clulas filhas. Assim, as

    consequncias do efeito das radiaes dependem do alvo.

    As radiaes ionizantes podem

    causar dois tipos de efeitos:

    Efeito somticoSe as alteraes ocorrerem em clulas

    somticas, as consequncias dessas

    alteraes afectam apenas o prprio

    indivduo;

    Ilustrao 3 - Molculas Biolgicas

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    Efeito genticoSe estas alteraes ocorrerem em clulas germinais (clulas da linha germinativa), as leses

    causadas pela radiao, no tem consequncias no prprio indivduo, mas sim na sua

    descendncia. Isto apenas no acontece, se a dose da radiao for suficientemente elevada para

    provocar a esterilidade.

    As alteraes biolgicas da radiao so uma consequncia dos fenmenos fsicos e qumicos.

    Estas alteraes, podem causar a alterao de funes especficas das clulas, levando assim a

    uma diminuio da sua actividade celular nos tecidos. Esta alterao constitui uma das primeiras

    reaces do organismo aco da radiao ionizante e, surge normalmente para doses

    relativamente baixas, mas acima do limiar da dose.

    Alm destas alteraes funcionais, os efeitos biolgicos caracterizam-se tambm por

    modificaes morfolgicas. Entende-se por modificaes morfolgicas as alteraes em certas

    funes essenciais ou a morte imediata da clula, isto , leses na estrutura celular. Desta forma,

    as funes metablicas de determinada clula podem ser alteradas ao ponto desta perder a sua

    capacidade de realizar snteses obrigatrias para a sua descendncia.

    Actualmente sabe-se que nem todas as clulas possuem a mesma sensibilidade radiao,

    existem uma grande variedade de factores que podem afectar esta sensibilidade celular.

    As clulas que possuem uma maior actividade so as mais sensveis radiao, visto que a diviso

    celular requer que o DNA seja correctamente reproduzido para assim a nova c lula poder

    sobreviver. Em espcies multicelulares, as molculas de DNA constituem o corao dos

    cromossomas visto que estes so os constituintes essenciais do ncleo celular.

    Podemos ento concluir que todas as molculas biolgicas podem ser alteradas, em resposta

    radiao, mas as consequncias decorrentes variam segundo a importncia dessas mesmas

    molculas. As molculas de DNA so as mais afectadas pela radiao, visto que cada uma delaspossui um papel especfico no ser vivo.

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    9. Factores que influenciam a radiaoA resposta das clulas radiao pode ser afectada por vrios factores. Esta resposta depende

    muito da radiossensibilidade que as clulas apresentam. Assim, temos:

    Clulas que apresentam uma resposta potenciada, logo so mais radiossensveis; Clulas que apresentam uma resposta diminuda clulas mais radioressistentes.

    Assim, podemos dizer que a sensibilidade inerente s clulas no ter sido alterada. Isto , a

    clula basicamente a mesma, com as mesmas caractersticas (ou seja, em diviso ou no,

    diferenciada ou no diferenciada). Ento, o que ter mudado um factor externo, como por

    exemplo o LET da radiao ou o meio em que ela est a crescer, exercendo assim, uma influnciasobre a resposta da clula (do organismo) radiao.

    Os factores que afectam a resposta celular radiao agrupam-se em factores fsicos, factores

    qumicos e factores biolgicos.

    Tabela 2 - Factores que afectam a resposta da clula radiao

    FACTORES FSICOS FACTORES QUMICOS FACTORES BIOLGICOS

    Dose Radiosensibilizadores Estado proliferativo

    Taxa da dose Radioprotectores Fase do ciclo celular

    Fraccionamento da dose Antioxidantes Estado fisiolgico ou metablico

    Exposio aguda ou crnica Constituio gentica da clula

    Tipo de radiao (LET, RBE)

    9.1. LETA transferncia linear de energia (LET) a grandeza utilizada para caracterizar a interaco das

    radiaes ionizantes com a matria. definida como "a quantidade de energia dissipada por

    unidade de comprimento da trajectria" e pode ser expressa em KeV/m (kiloelectro Volt/

    nanmetro).

    As radiaes ionizantes de natureza electromagntica so os raios X (originado nas camadaselectrnicas) e os raios (originados no ncleo atmico). As radiaes ionizantes de natureza

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    corpuscular mais utilizadas so os electres, as partculas alfa (, neutres e protes. As colises

    das radiaes com as clulas originam ies e radicais livres reactivos que rompem ligaes,

    causando alteraes em molculas vizinhas.

    A distribuio das ionizaes ao longo do trajecto depende da energia, da massa e da carga da

    radiao. Cada tipo de radiao perde energia de maneira diferente. Os raios X e gama (que so

    electricamente neutros) caracterizam-se por um baixo gradiente de transferncia linear de

    energia, ou seja, geram poucos ies ao longo do seu trajecto e penetram profundamente nos

    tecidos. J as partculas dotadas de carga caracterizam-se por uma transferncia linear mais

    elevada e uma menor penetrao. Essa densidade de liberao de energia est relacionada

    capacidade de provocar leses.As radiaes com alta transferncia linear (ies pesados, protes e partculas alfa e neutres)

    produzem, em geral, mais danos do que as radiaes de baixa transferncia linear de energia

    (raios X, raios gama e electres).

    Ilustrao 4 - A-LET baixo = ionizaes dispersas; B-LET alto = ionizaes densas

    Salienta-se o facto de as radiaes com LET diferente produzirem graus diferentes dos mesmos

    efeitos, assim como doses iguais de radiaes com LET diferente no produzem o mesmo efeito.

    9.2. RBECada tipo de radiao possui a sua prpria capacidade de produzir efeitos nos sistemas biolgicos.

    Cada radiao tem o seu padro caracterstico de depositar energia no material biolgico ao

    longo do seu trajecto.

    Os Raios X, Raios , possuem uma menor capacidade de ionizao do que protes, neutres e

    partculas . A diferena desta capacidade de ionizao ao longo dos trajectos, traduz-se em RBE.

    A

    B

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    A RBE para uma dada radiao de teste calculada a partir da dose de radiao de referncia

    (Raios X), necessria para produzir os mesmos efeitos biolgicos que a radiao de teste. Assim:

    RBE =

    Tabela 3 - RBE de algumas radiaes ionizantes

    10. Interaco das radiaes ionizantes com a matriaA interaco das radiaes ionizantes com a matria um processo que se realiza a nvel atmico.

    Ao atravessarem um material, estas radiaes transferem energia para as partculas que forem

    encontradas em sua trajectria. As consequncias mais importantes destas intervenes so a

    ionizao e a excitao dos tomos e das molculas presentes.

    Uma ionizao consiste na extraco de um electro de uma orbital atmica mais perifrica (com

    menos energia de ligao ao ncleo atmico), resultando um electro e um io positivo. Para que

    tal acontea necessrio fornecer-lhe uma energia pelo menos igual energia de ligao do

    electro ao ncleo atmico.

    Numa excitao, a energia comunicada ao electro demasiado fraca para quebrar a ligao do

    electro ao ncleo, o electro passa de um nvel energtico baixo para um nvel mais elevado, que

    corresponde a uma rbita mais perifrica. O tomo torna-se instvel, denominando-se excitado.

    RRaaddiiaaoo RRBBEE

    RRaaiiooss XX 11 RRaaiiooss ggaammaa 11 RRaaiiooss bbeettaa 11 NNeeuuttrreess lleennttooss 55 PPrrootteess 1100 NNeeuuttrreess rrppiiddooss 1100 RRaaiiooss aallffaa 2200

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    10.1. Abrandamento de uma partcula carregada e transferncia daenergia para o meio

    Quando uma partcula carregada de energia cintica elevada atravessa um meio,

    progressivamente abrandada por uma srie de interaces sucessivas com os ncleos ou com os

    electres constituintes desse meio, estabilizando-se no fim do percurso.

    Em cada uma destas interaces, uma parte da energia radiante cedida ao meio, podendo

    transmitir-se total ou parcialmente ao tomo encontrado. Essa energia pode ser comunicada total

    ou parcialmente ao tomo com o qual interage, podendo lev-lo a um estado de energia superior.

    10.2.Radiaes gama e xAs radiaes e X podem ionizar os tomos de uma forma directa. No entanto, a maioria das

    ionizaes ocorrem de forma indirecta atravs de electres ejectados das suas orbitais e

    animados de uma grande energia cintica. A absoro destas radiaes electromagnticas d-se a

    partir de trs fenmenos diferentes: efeito Compton, efeito fotoelctrico e produo de pares

    inicos

    Ilustrao 5 Trs processos de interaco da radiao e X com a matria

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    10.2.1.Efeito Compton

    O efeito Compton um processo de interaco que envolve um choque elstico entre um foto eum electro livre ou pouco ligado ao tomo (camadas exteriores). O foto inicial d origem a um

    novo foto, de menor energia. A energia restante transferida para o electro Compton (ou de

    recuo) e muda de direco de propagao. Considerando que a energia e a quantidade de

    movimento tm de ser conservadas durante a coliso, conclui-se que a energia cintica do

    electro de recuo (Ec) dada pela diferena entre a energia do foto antes da coliso (foto

    incidente), h, e depois da coliso (foto dispersado ou difundido) h .

    Ilustrao 6 - Efeito ComptonNa interaco de Compton, os raios-X transferem para os tomos-alvo parte da sua energia, a fim

    de promover o deslocamento de electres que esto situados nas orbitais mais perifricas da

    nuvem electrnica. Neste tipo da interaco, o foto continua a propagar-se depois de interagir

    com o meio, seguindo, no entanto, uma direco diferente daquela que possua antes da

    interaco.

    10.2.2.Efeito fotoelctricoO Efeito Fotoelctrico ocorre quando a radiao X transfere toda a sua energia para um nico

    electro orbital, ejectando-o do tomo (ionizao). O electro ejectado passa a ser denominado

    fotoelectro e poder perder a energia recebida do foto, produzindo ionizao noutros tomos.

    A direco de sada do fotoelectro em relao direco de incidncia, varia com a energia

    deste.

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    Os fotoelectres em movimento vo, por sua vez, interagir com a matria. Em consequncia do

    rearranjo dos electres orbitais no tomo so emitidos raios X (podendo ser UV nos elementos

    mais leves), caractersticos dos tomos ionizados. A probabilidade de haver efeito fotoelctrico

    tanto maior quanto maior for a ligao do electro ao tomo, ou seja, mais provvel ocorrer

    efeito fotoelctrico numa camada electrnica mais prxima do ncleo.

    10.2.3.Produo de pares inicosA produo de pares inicos um processo de interaco electromagntica do foto com o

    campo elctrico do ncleo do tomo. Dessa interaco, o foto deixa de existir, formando-se um

    par de partculas electro/positro. Designa-se materializao de energia a este processo, uma

    vez que se produzem partculas materiais a partir de radiao electromagntica. Pela lei da

    conservao da massa-energia, a produo de pares apenas ocorrer se o foto tiver uma energia

    superior a 1,022 MeV que o dobro da energia equivalente massa de um electro em repouso.

    A energia cintica do par electro/positro ser tanto maior quanto maior for o excesso de

    energia do foto em relao a 1,02MeV. Alm disso, este processo somente ocorre na presena

    de matria, dado que necessria uma troca de quantidade de movimento com um ncleo

    pesado para que se conserve a energia e a quantidade de movimento.

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    Ilustrao 7 Produo de pares inicos

    As ionizaes induzidas num meio que atravessado por radiaes electromagnticas ocorrem

    atravs da emisso de electres secundrios. As radiaes electromagnticas so pouco

    ionizantes, uma vez que como atravessam bem a matria depositam nela pouca energia (baixa

    LET).

    11. Leses moleculares produzidas pela radiao ionizanteAs radiaes ionizantes produzem leses moleculares de forma pouco especfica e com grande

    eficcia. Estas radiaes libertam energia em forma de pacotes sub microscpicos que ionizam ou

    excitam as molculas ou os tomos.

    Dado que esta energia se transfere s molculas do meio vivo ou inerte, as radiaes ionizantescolocam em perigo a estabilidade das estruturas moleculares. As radiaes ionizantes induzem

    Os Raios-X podem serAbsorvidos

    Transmitidos

    Dispersos

    A probabilidade dainteraco depende

    Da energia do fotoincidente

    Da densidade do meio

    Da espessura do meio

    Do n atmico do meio

    Modos de interacoMais relevantes: Efeitofotoelctrico e EfeitoCompton

    Menos relevantes:Produo de pares eDisperso clssica

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    um excesso de energia no interior de uma molcula, fazendo com que alcance um nvel de

    energia superior energia de ligao de uma das suas ligaes qumicas, podendo resultar uma

    leso dessa molcula.

    Se uma partcula ionizante possuir uma energia individual suficiente para expulsar um electro de

    uma molcula, essa molcula ionizada. Pode ocorrer que um electro possa ser conduzido a um

    nvel de energia superior sem ser expulso, ento diz-se que a molcula est excitada.

    Por cada 100 ionizaes so produzidas em mdia cerca de 300 excitaes e um n ainda mais

    elevado de transferncias trmicas.

    Na matria viva uma dose de 1 Gy provoca em cada ncleo celular irradiado vrios milhares de

    leses no ADN.

    11.1.Transferncia s molculas de energia radianteA transferncia de energia sob a forma trmica no suficiente para produzir leses moleculares.

    Uma dose de 1 Gy corresponde a 0,24 calorias. Admitindo que toda a energia se encontra sob a

    forma de energia trmica, a elevao da temperatura insignificante (cerca de 0,24 milsimas de

    grau centgrado), no podendo portanto ser responsvel pelas leses observadas.As transferncias de energia por ionizao e excitao produzem leses moleculares.

    Quando se produz uma ionizao, uma parte de energia perdida pela partcula ionizante

    transferida molcula que se converte num io positivo, sendo outra parte da energia

    transportada pelo electro que libertado com uma determinada energia cintica.

    M M+ + e-

    Quando se produz uma excitao, o electro permanece ligado molcula, mas passa a um nvel

    de energia mais elevado. Diz ento que a molcula est excitada.

    M M+

    As molculas que adquiriram um excesso de energia por ionizao ou excitao tornam-se muito

    instveis, transferindo rapidamente esse excesso de energia:

    Atravs da emisso de um foto como consequncia de uma transaco electrnica, regressando

    ao seu estado inicial (fenmeno de fluorescncia). Neste caso no se produz alteraes na

    molcula.

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    Transferindo energia a uma ligao prxima podendo provocar a rotura dessa ligao. Estas

    roturas de ligaes covalentes podem ocorrer em ligaes afectadas directamente pela energia

    radiante, ou a ligaes mais distantes por migrao da energia no seio da molcula ionizada, ou

    inclusivamente a uma molcula vizinha. Deste modo produz-se uma leso molecular.

    11.2.Leses primrias e secundriasAs leses primrias do ADN podem ser induzidas por transferncia directa da energia radiante a

    uma molcula (ionizao e excitao do ADN), designando-se por efeito directo. Essas leses

    podem ser secundrias atravs da induo de reaces fsico-qumicas complexas na envolvncia

    da 46 molcula de ADN, como consequncia da ionizao ou excitao da molcula de gua mais

    prxima, designando-se por efeito indirecto.

    Quanto maior for taxa de dose, maiores sero os danos nas molculas de ADN.

    A taxa de dose corresponde variao de dose no tempo e exprime-se em Grays por hora (Gy/h).

    11.3. Radilise da guaEstdio fsico inicial:

    Dura somente uma fraco de segundo (10-16 s), em que a energia depositada na clula e causa

    ionizao. Na gua o processo pode ser descrito como:

    H2 O + radiao H2 O+ + e-

    Estdio fsico-qumico:

    Dura cerca de 10-16 segundos, em que os ies interagem com outras molculas de gua

    resultando em novos produtos. O io positivo dissocia-se:

    H2O+ H+ + OH

    Enquanto que o io negativo, que o electro, ataca uma molcula neutra de gua, dissociando-

    a:

    H2O + e- H2O

    -

    H2O- H+ + OH-

    Os produtos destas reaces so H+, OH-, H, OH e H2O2 (gua oxigenada).

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    11.4.Radicais livresOs radicais livres podem ser definidos como tomos ou molculas e resultam do metabolismo

    aerbio ou da radilise da gua (isto , decomposio da gua por efeito das radiaes ionizantes.

    Tm em comum a maneira como os electres que constituem uma boa parte da sua estrutura

    esto dispostos. Em circunstncias normais os electres esto dispostos aos pares, o que lhes

    confere estabilidade. Um radical livre contm sempre um ou mais electres soltos (singlete) na

    sua estrutura. Para tentar igualar o nmero de electres que contm e deste modo adquirir

    estabilidade tem duas opes:

    Tirar um electro de uma molcula ou tomo vizinho; Ceder um electro a uma molcula ou tomo vizinho.

    Em qualquer caso, um novo radical livre tentar sempre equilibrar o n de electres presentes na

    sua estrutura, o que dar lugar a uma cadeia de reaces.

    Os radicais livres so altamente instveis e as reaces a que do incio danificam as molculas e

    os tomos sua volta.

    Ilustrao 8 - Alguns agentes responsveis pela formao de radicais livres.

    A formao de radicais livres no organismo pode ser potenciada por diversos factores, tais como:

    Poluio ambiental; Raios X, Gama e ultravioleta; Consumo de tabaco; Consumo de lcool; Resduos de pesticidas;

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    Substncias presentes em alimentos e bebidas (aditivos qumicos, hormonas, entreoutros);

    Stress; Consumo excessivo de gorduras saturadas (fritos, fastfood, etc.).

    11.5.Efeitos sobre o ADNO cido desoxirribonucleico ADN est contido nos cromossomas e tem as suas molculas

    formadas pela unio de quatro tipos de nucletidos, todos formados por um grupo fosfato, umamolcula de desoxirribose e uma base nitrogenada: adenina, guanina, citosina e timina. a

    sequncia destes componentes que contm a informao a ser descodificada pela clula.

    Esta estrutura permite que, a partir de qualquer uma das duas cadeias

    que constituem o ADN, a molcula possa ser reconstituda, em parte ou

    na sua integra. Esta caracterstica do ADN fundamental para a

    multiplicao celular, quando o ADN deve ser duplicado. As duas cadeias

    da molcula separam-se originando dois moldes cada um dos quais, por

    complementao com os nucletidos adequados, produzir uma nova

    molcula, idntica original. Estas sero transmitidas para as clulas

    filhas, por mitose ou por meiose.

    Os efeitos das radiaes ionizantes no ADN dependem de factores como: tipo de radiao, pH do

    meio, temperatura, teor de oxignio, presena de receptores de radicais livres, caractersticas do

    prprio ADN e a possibilidade de reparao dos produtos induzidos pela radiao. Entre os efeitos

    esto:

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:ADN_animation.gifhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:ADN_animation.gif
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    Alteraes estruturais das bases nitrogenadas e das desoxirriboses Eliminao de bases Rompimento de pontes de hidrognio entre duas hlices Rotura de uma ou duas cadeias Ligaes cruzadas entre molculas de ADN e protenas

    Ilustrao 9 Efeitos sobre o DNA

    11.6.Reparao do ADNNa clula de um mamfero, uma irradiao de 1Gy provoca imediatamente cerca de 1500 roturas,

    mas se a observarmos ao fim de algumas horas verificamos que o n diminuiu para algumas

    dezenas.

    Podemos concluir que a clula possui capacidade de reparao do ADN.

    Existem numerosos mecanismos de reparao. Alguns garantem uma reparao perfeita, outros

    realizam reparaes defeituosas, que podem levar ao aparecimento de mutaes genticas.

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    11.6.1.Exciso de uma base e resntese

    Quando a leso afecta uma s base, a enzima glicosilase detecta e elimina a base deteriorada.

    Uma endonuclease corta o filamento danificado, uma fosfodiesterase elimina o fosfato da

    desoxirribose correspondente e uma ADN-polimerase permite a reconstituio do filamento

    lesionado.

    11.6.2.Exciso de um nucletido e resnteseQuando a leso mais complexa, uma parte do filamento eliminada por duas incises

    efectuadas em torno da leso, toda a cadeia depois reconstituda tomando como modelo o

    filamento complementar.

    Intervm nesta reparao mais de 13 enzimas diferentes.

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    11.6.3.Recombinao homlogaA rotura das duas fitas da dupla hlice rapou segundo recombinao homloga.

    A reconstituio efectua-se atravs de um intercmbio entre uma das fitas da hlice no

    lesionada e uma fita da cadeia afectada. Este mecanismo permite reconstituir a dupla hlice.

    A reparao exacta.

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    Ilustrao 10 - Recombinao homloga

    11.6.4.Recombinao no homlogaPermite realizar uma reparao rpida das roturas da dupla hlice, sem a complexidade da

    reparao homloga.

    Efectua-se a partir duma alterao da cadeia e/ou da perda de uma parte desta. Neste caso a

    reparao torna-se incorrecta porque no exacta.

    11.6.5.Reparao SOS induzida pelas radiaes como consequncia duma acumulao de fragmentos de ADN

    lesionados.

    Este sistema s actua quando todos os outros falham. Permite a sobrevivncia da clula (da o seu

    nome) mas custa de uma reparao incorrecta.

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    11.6.6.ReparaoNo ser humano existem determinadas doenas congnitas ligadas a anomalias de reparao do

    ADN.

    As manifestaes clnicas destas doenas so muito diferentes entre si, tendo os indivduos em

    comum uma predisposio para o cancro.

    As roturas de uma s fita so reparadas em poucos segundos, no entanto a maioria das outras

    leses requerem algumas horas.

    As enzimas presentes em cada clula devem:

    Reparar de um modo quase perfeito e no mais curto espao de tempo, os mltiploserros de incorporao dos nucletidos que ocorrem durante a replicao do ADN.

    Reparar a qualquer momento a leses de ADN resultantes da agitao trmica, ouprovocadas pelos radicais livres e pelas molculas txicas que se sintetizam durante o

    metabolismo normal.

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    11.6.7.Leses residuais do ADN

    Durante a replicao celular os erros so inevitveis. Antes de se dividirem as clulas devem

    sintetizar novas molculas de ADN rigorosamente idnticas s da clula me. Apesar da notvel

    eficcia das enzimas de reparao, algumas leses primrias do ADN podem dar lugar a leses

    residuais estveis, transmissveis ou no ao genoma da descendncia da estirpe celular.

    As leses residuais podem ter a seguinte classificao:

    Leses incompatveis com a sobrevivncia que desencadeiam apoptose ou mortecelular programada.

    Leses que apesar de compatveis com a sobrevivncia e com a diviso celular,produzem mutaes (quando se produzem em clulas somticas podem originar cancro e quando

    ocorrem em clulas germinativas, podem ser transmitidas s geraes futuras).

    A morte celular por apoptose, o cancro e as anomalias hereditrias, so as consequncias mais

    graves produzidas pelas radiaes.

    Ilustrao 11 - Leses residuais no ADN

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    11.7.Alteraes cromossmicasAs leses moleculares radioinduzidas sobre um gene da dupla hlice de ADN, no so

    directamente observveis.

    As alteraes cromossmicas so o reflexo das leses na cadeia de ADN e denominam-se

    aberraes cromossmicas

    Durante a interfase quando os cromossomas esto mais distendidos e metabolicamente activos,

    encontram-se mais vulnerveis a variaes do ambiente que provocam roturas na sua estrutura.

    As alteraes estruturais dos cromossomas resultam da fractura cromossmica seguida da

    reconstituio numa combinao anormal.A interfase o perodo do ciclo celular em que a clula aumenta o seu volume e duplica os seus

    cromossomas. erradamente considerado como o "descanso" da clula. Divide-se em trs fases:

    G1, S e G2. Aps a interfase a clula entra em diviso celular. Nesse perodo, todas as outras

    actividades celulares esto ocorrendo. Nas clulas jovens, que se dividem com maior frequncia, a

    interfase mais curta. Nas clulas adultas, diferenciadas e com menor capacidade de diviso, a

    interfase mais longa. No incio da interfase a clula possui 46 cromossomas.

    nesta fase que a influncia da LET e a taxa de dose podem ser determinantes, no que respeita s

    alteraes cromossmicas. Quanto maior, mais alta ser a possibilidade de ocorrerem mutaes

    dos cromossomas.

    11.7.1.DelecoSupresso de parte de um cromossoma (deleco). Pode ocorrer em qualquer cromossoma,

    serem terminais ou intersticiais e variar em tamanho.

    As suas consequncias dependem do tamanho da pea em falta e do tipo de genes.

    Ilustrao 12 Deleco de uma seco de um cromossoma

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    11.7.2.Duplicao

    Duplicao resulta da duplicao de uma seco de um cromossoma. Pose ser designada por

    trissomia parcial. Quando ocorre, o indivduo fica com trs cpias daquela seco em vez de duas.

    menos grave que a deleco.

    Ilustrao 13 - Duplicao de uma seco de um cromossoma

    11.7.3.Cromossomas em anel

    As deleces terminais nos dois braos de um cromossoma podem dar origem a um cromossoma

    em anel, se as extremidades livres fracturadas se soldarem. Estas alteraes continuam na

    replicao seguinte.

    Ilustrao 14 - Formao de um cromossoma em anel

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    11.7.4.Isocromossomas

    Os isocromossomas so cromossomas que apresentam deficincia total de um dos braos e

    duplicao completa do outro.

    Ilustrao 15 - Formao de um isocromossoma

    11.7.5.Cromossomas dicntricos

    Os cromossomas dicntricos so cromossomas que apresentam dois centrmeros.

    Ilustrao 16 - Cromossomas dicntricos

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    11.7.6.TranslocaoOcorre quando um segmento de um cromossoma se fractura, ligando-se a uma zona de fractura

    de outro cromossoma no homlogo.

    Ilustrao 17 - Recombinao no homloga

    11.7.7.Inverso

    Consiste na ocorrncia de duas fracturas num cromossoma unifilamentoso durante a interfase e aligao em posio invertida do fragmento ao restante do cromossoma. A inverso dita

    paracntrica se as quebras ocorrerem num mesmo brao cromossmico, e denominada

    pericntrica se o fragmento cromossmico invertido incluir o centrmero.

    Ilustrao 18 - Inverso de uma seco de um cromossoma

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    12. ConclusoTodas as molculas biolgicas podem ser alteradas pelas radiaes ionizantes, mas as

    consequncias decorrentes variam segundo a importncia dessas molculas. As clulas podem ou

    no ser danificadas. O factor limitante a quantidade de molculas reserva. As radiaes

    ionizantes podem interagir com a matria atravs do abrandamento de uma partcula carregada e

    transferncia da energia para o meio ou atravs da radiao e X , com o efeito de compton,

    efeito fotoelctrico e produo de pares inicos.

    Existem diversos factores que afectam a resposta da clula radiao. Esses factores incluem:

    factores fsicos (dose, taxa de dose, fraccionamento da dose, exposio aguda ou crnica, tipo deradiao: LET (transferncia linear de energia) e RBE (eficcia biolgica relativa), factores qumicos

    (radiossensibilizadores, radioprotectores) e factores biolgicos (fase do ciclo celular, estado

    fisiolgico ou metablico, constituio gentica da clula).

    As radiaes ionizantes podem provocar vrias leses ao nvel molecular. Estas leses devem-se

    transferncia de energia s molculas, sendo que estas leses podem atingir o ADN das clulas.

    Estas transferncias podem ocorrer devido excitao ou ionizao. Estes dois processos levam

    formao de, por exemplo, radicais livres, que tm posteriormente um grande efeito e influncia

    sobre o ADN. O ADN tem a capacidade de se reparar dependendo, no entanto, do tipo de

    radiao que esteve na origem das leses, e do seu LET.

  • 8/3/2019 Proteco_Radiolgica_Fisica_Aplicada

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    Fsica Aplicada

    Proteco Radiolgica

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