Projeto Viva o Santa - CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO … · Suas águas eram usadas para o banho e...
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Projeto Viva o Santa Esta pesquisa foi realizada para a aprovação na disciplina de Introdução ao Projeto de
Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Católica de
Pelotas/Brasil.
CAR
ACT
ERIZ
AÇÃO DO SITIO
O Simões Lopes é caracterizado como sendo um bairro familiar, onde predominam o uso
residencial em edificações de apenas um pavimento. O comércio na zona, na grande maioria, é
de pequeno porte, sendo localizados nas próprias residências (uso misto) onde funcionários
são os próprios moradores. O bairro apresenta também carência de todo o tipo de infra-
estrutura, como rede de esgoto, pavimentação, iluminação, caracterizado também pela falta de
espaços abertos qualificados e áreas verdes para o lazer, etc.
A região às margens do Canal Santa Bárbara é caracterizada por apresentar várias ocupações
irregulares (posseiros) e constantes alagamentos, principalmente ao final Avenida João
Goulart, onde o nível é mais baixo. Há poucos dias a Prefeitura Municipal construiu um dique
provisório e colocou uma bomba para amenizar os efeitos das chuvas.
Foi feito um estudo do entorno, onde mostra os levantamentos físicos, fotográficos e
perceptivos realizados no bairro com relação ao uso do solo, acessos, infra-estrutura, etc, com
respectivas análises da qualidade do espaço urbano e as conclusões a que se chegou.
A população do bairro Simões Lopes é, na maioria, de renda baixa, e segundo questionários
aplicados aos mesmos, eles estão satisfeitos com as condições do bairro em relação à infra-
estrutura, localização, segurança, embora nos levantamentos seja encontrada falta de
iluminação pública, rede de esgotos, carência de áreas verdes, além da pavimentação das ruas
também ser precária. Segundo a população entrevistada, o bairro é tranqüilo, existem vários
serviços e comércios próximos, além da vantagem da sua localização (próximo ao centro, o
que diminui o uso do transporte coletivo).
Segundo a legislação incidente na área, o II Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de
Pelotas, esta é uma ZRM I, Zona Residencial Mista I.
O regime de usos é o seguinte:
- CONFORME: Residência Unifamiliar, Atividades Terciárias (Escritório, Comércio varejista
e pequenas lojas), Usos especiais hospitais e similares, atividades culturais, (clubes e
atividades recreativas e atividades educacionais)
- PERMISSÍVEL; Residência Multifamiliar, Residência Coletiva, Industrias (tipo 1,2 e 3)
- PROIBIDO: Atividades Terciárias (Edifícios públicos, bancos, grandes lojas,
transportadoras, comércio atacadista, oficinas), Indústrias (tipo 4 e 5) e Atividade
Agropastoril.
O índice de aproveitamento da zona é:
- CONFORME: 1
- PERMISSÍVEL: 0,8
A taxa de ocupação é:
- CONFORME: 66,6%
- PERMISSÍVEL: 50%
A altura máxima das edificações da zona em estudo pode chegar apenas a 6m ou 2
pavimentos.
Os recuos estabelecidos são:
- AJARDINAMENTO; 4m
- FRONTAL: -
- LATERAL: L/4 (mínimo 2,5m)
- FUNDOS: p/10 (mínimo 2,5m)
Nesta zona não é obrigatório o uso de marquises, nas fachadas construídas no alinhamento não
é permitido o uso de balanços (quando o logradouro possuir menos que 12m).
As áreas de ventilação, primárias e secundarias, devem atender a todas as exigências do
IIPDDU.
O CANAL SANTA BÁRBARA
“Era um arroio e cortava o centro da cidade. A poesia de suas águas espelhava a certeza de
dias pitorescos. Há quem o lembre saudoso e lamente o destino que lhe foi dado. Em outros
tempos o Arroio Santa Bárbara era límpido e suas águas inspiravam tranqüilas pescarias e
pequenas embarcações desenhavam em seu leito operosas jornadas. A indiferença o fez fétido
e o Arroio das pontes suntuosas e das tímidas passarelas de madeira, pouco a pouco foi se
tornando um incômodo para a nossa população. Até que um dia, desviaram-no para mais
longe, contrariando a natureza que o desenhava primorosamente perto da zona central da
cidade. Vez que outra, no seu antigo leito juntam-se pequenas poças d’água, que dizem da
sua vontade de voltar para o seu leito natural. A mão do homem que não teve competência
para despoluí-lo, teve forças para descaracteriza-lo e sem se importar com conseqüências o
fez mais feio e menos bucólico. Somos daqueles que até hoje lamentam o crime bárbaro
impetrado contra o Arroio da Cidade e, quanto mais o tempo passar e pudermos dizer do
nosso eterno descontentamento o faremos. Não podemos aceitar que a insensibilidade tenha
forças para dar razão as coisas ilógicas. Pena que quando foi tomada esta atitude, não se
tenha criado uma consciência coletiva para que tal ato não se cometesse. Hoje, quando
muitos sonham com a indústria sem chaminé, o TURISMO, pensamos se o Santa Bárbara com
pequenas embarcações deslizando em suas águas não seria, também, uma opção turística?…
Temos certeza que sim! Hoje, olhando fotos de época, emociona-nos a força do trabalho dos
que em outros tempos, sem tanta tecnologia, souberam com criatividade e talento fazer
Pelotas progressista. O Santa Bárbara, naquele tempo, existia e em vez de ser um estorvo
facilitava através de suas águas a locomoção de tantas pessoas, que optavam por ele para
chagarem a seus lugares de serviço. Fica aqui nossa homenagem ao ARROIO DA CIDADE e
a saudade dos tempos bucólicos, que a imagem fotográfica nos oferece. A sombra dos seus
salsos-chorões, que permanecem verdes à margem da lembrança lançamos nossos olhos nas
águas do tempo, onde submergem cenas de encantamento. E nós, meros caminhantes da
história, narramos com emoção as coisas bonitas desta cidade Princesa. Somos de Pelotas e,
lamentamos, com veemência, que tantos erros foram e ainda são cometidos, penalizando a
nossa cidade. E não venham falar em progresso, porque se houver um comparativo entre o
ontem e o hoje, facilmente constataremos que perdemos em muito para o passado. A verdade
é uma bóia de esperança, que permanece indelével e não naufraga.”
MAGALHÃES, Nelson Nobre. Pelotas Memória. Pelotas, 1999, ano 10, n.6, p.4. (Casas,
pontes e arroios)
A região de Pelotas é rica em correntes d’água que se ligam, estreitamente, à história do
município. As águas, como as ruas e praças, em geral recebiam nomes de santos, dados pelos
colonizadores. Ao arroio Santa Bárbara, deram o nome de mártir, aquela mesma a qual nossos
avós, ao ribombar do trovão e ao riscar dos relâmpagos, fechavam apressados as janelas dos
casarões, cobriam superticiosamente os espelhos. Embora o sincretismo afro-brasileiro a
identifique com orixás, Santa Bárbara sempre foi santa da Igreja Católica, eleita protetora dos
artilheiros, principalmente entre nós, povo aguerrido, afeito a invasões estrangeiras e a
revoluções internas.
O arroio Santa Bárbara tem posição importante na história de Pelotas, uma vez que o
povoamento inicial se estabeleceu, em função das charqueadas, nas várzeas do canal São
Gonçalo, do arroio Pelotas e do canal Santa Bárbara, pelo vínculo com o transporte
hidrográfico. Descreve Lopes Neto in Vieira (1997) que os moradores, antes de 1780, “por
segurança afastaram-se das charqueadas, seja pelas disparadas das tropas de gado selvagem,
pelos males das enchentes e também pelo desassossego das escravaturas recém vindas, a
cidade veio a se formar na coxilha entre o arroio Santa Bárbara, o rio Pelotas e o canal São
Gonçalo”.
Pelotas em 1835 já envolvia o arroio Santa Bárbara, neste mesmo ano, foi declarada cidade.
Suas águas eram usadas para o banho e pelas lavadeiras da época, além de servirem como
meio de locomoção para várias embarcações. A maioria das nascentes da bacia do arroio
Santa Bárbara se localizam na pedreira do Monte Bonito, situada no distrito de mesmo nome,
nas áreas altas da bacia que apresentam afloramentos rochosos.
As margens do arroio, ou canal como é comumente chamado, são zonas planas e
caracterizadas como extensas planícies de inundação. Devido a vários alagamentos que
castigaram a cidade, principalmente as grandes enchentes em agosto de 1941 e fevereiro de
1954, foram desenvolvidos projetos para canalização do arroio Santa Bárbara, na década de
50, e construção da barragem do arroio findam em 1968, e que teria as funções de
regularização de enchentes e captação de água para fins de reforço do abastecimento da cidade
de Pelotas. O leito do canal foi deslocado, pois ele cruzava nossa cidade mais ou menos onde
hoje se localiza a Avenida Saldanha Marinho, desembocando no Canal São Gonçalo (criando
o chamado braço morto do Canal).
Foram executados, ainda, outros estudos e obras iniciadas ao último triênio da década de 70,
as quais, incluem estações de bombeamento para executar a drenagem forçada em regime de
águas altas para o interior do canal supracitado. Todo o conjunto de obras constitui o sistema
de drenagem e proteção contra cheias da cidade de Pelotas.
Uma das razões da criação do SANEP, em 25 de outubro de 1965 sob a sigla SAAE – Serviço
Autônomo de Água e Esgotos -, foi a assinatura do contrato de financiamento das obras da
Hidráulica do Arroio Santa Bárbara em 1966. O projeto final foi elaborado pelo Escritório
Saturnino de Brito e executado pela construtora Pelotense Ltda. com base no “Anteprojeto do
reservatório do Arroio Santa Bárbara” concebido em 1953 pela Comissão de Estudos de Obras
de Irrigação do Estado do Rio Grande do Sul e no projeto final de barragem do Arroio, cujas
obras se encontravam em andamento sob comando do DNOS. Segue uma transcrição do
Relatório de Orçamentos do Escritório Saturnino de Brito, de 1965: “Um recurso de execução
fácil é o da captação e adução de água do Arroio Santa Bárbara, a 4 Km do Reservatório R4T.
O Departamento Nacional de Obras de Saneamento (DNOS) está construindo uma barragem
nesse arroio o qual permitiria, segundo o relatório do Rodio, uma acumulação de 16 milhões
de m3”.
Assim, foi construída a bacia do reservatório Santa Bárbara, considerada pequena com 85,5
Km², situada no município de Pelotas, abrangendo área urbana e rural, englobando também
parte do Distrito do Monte Bonito, na zona alta a norte da bacia.
A bacia do arroio Santa Bárbara foi dividida com a construção da barragem, nos trechos a
montante e a jusante do lago, que é a área de drenagem do canal Santa Bárbara barragem.
Os arroios contribuintes da represa formam 3 setores principais de contribuição hídrica, além
de outros de muito pequena extensão oriundos de drenagens urbanas e industriais. O setor do
arroio Santa Bárbara tem 4 arroios contribuintes, entre eles, os que apresentam o maior
comprimento, cerca de 10 Km em linha reta, e as nascentes nas áreas mais altas da bacia,
chegando a altitude de cerca de 130 metros no Escudo 30. Justamente as nascentes destes
arroios recebem crescente pressão urbana do distrito do Monte Bonito. O arroio Santa Bárbara
se origina na planície, pouco acima de lavoura de arroz irrigado, onde suas águas são
represadas e ainda cruzam as ocupações urbanas, industriais e comerciais situadas às margens
da BR 392.
O reservatório Santa Bárbara apresenta sérias limitações quantitativas e potenciais agravantes
qualitativos, ameaçando a cada verão os beneficiários da água com a escassez e apresentando
periodicamente odor e sabor desagradáveis na água, provenientes de florações de
cianobactérias e algas. A bacia é ocupada por indústrias, rodovias, diversos estabelecimentos
comerciais e sofre intenso e desordenado crescimento urbano, exatamente nos pontos mais
frágeis de um ecossistema flúviolacustre, as margens do lago e as nascentes da bacia de
captação.
Embora a canalização do arroio tenha sido feita, dentre outros motivos, para evitar as
enchentes, o seu antigo percurso, o braço morto, foi ocupado pela malha urbana, traz
lembranças dos tempos em que ele cortava a cidade. Estas zonas continuam sofrendo com os
alagamentos, como se a natureza teimasse em colocar o Santa Bárbara em seu trajeto original.
Até mesmo hoje, quase 30 anos depois da canalização do arroio e com o crescimento da malha
urbana, se prestarmos atenção podemos notar a existência de lembranças do que um dia foi o
Arroio Santa Bárbara.
Como o arroio cortava o centro da cidade, várias eram as pontes e pontilhões que existiam
antes do seu desvio.Dentre as inúmeras pontes que um dia existiram em nossa cidade, só uma
resta até hoje. É verdade que ela não serve mais como ponte, e muitas vezes passa
desapercebida, mas está lá, no mesmo lugar, onde hoje é o encontro da Rua Marechal Floriano
com a Praça 20 de Setembro. Onde antes passava o arroio, hoje está localizado o
camelódromo de Pelotas.
ORGANOGRAMA
PROGRAMA DE NECESSIDADES
O programa de necessidades para o projeto foi definido por setores, já que a área de trabalho é
suficientemente extensa e existem distintas necessidades ao longo da orla do canal. As pontes
como barreiras físicas facilitaram a divisão em 5 setores mais um especial para a CEntral de
Bairro.
CARACTERIZAÇÃO DA CLIENTELA
A qualificação da área visa melhorar a qualidade de vida dos moradores do Bairro Simões
Lopes, mas não se pode negar que toda a população ganha com a criação de espaços públicos
e de lazer.
O bairro possui uma carência de áreas verdes e espaços abertos para o lazer. As crianças
andam de bicicleta no meio das ruas, ou jogam bola em um campinho improvisado, não
existem bancos nem playground.
A Central de Bairro visa atender as necessidades dos moradores do bairro Simões Lopes e
proximidades, estando esta zona localizada de acordo com as divisões do Orçamento
Participativo da Prefeitura Municipal de Pelotas, dentro da região do bairro Fragata Sul.
A melhoria da infra-estrutura viária, da rede de esgoto pluvial e cloacal, e todas as outras
intervenções do tipo atenderam aos moradores do bairro, e em alguns casos a toda a
população, como por exemplo a despoluição do Canal Santa Bárbara.
Muitos dos moradores, principalmente os posseiros das margens do Canal sobrevivem de
atividades pesqueiras, portanto a criação de elementos que estimulem e facilitem a geração de
renda beneficia a toda essa população.
DEFINIÇÃO DO TEMA
O tema escolhido para a realização do trabalho final de graduação em arquitetura e urbanismo
foi a Qualificação da Orla do Canal Santa Bárbara no bairro Simões Lopes.
A cidade de Pelotas, como muitas outras em nosso país, enfrenta grandes dificuldades em
controlar e orientar os usos do solo, o crescimento, o desenvolvimento e a expansão. Pelotas é
caracterizada pela falta de Planejamento Urbano, descontrole com o uso e ocupação do solo e
do espaço municipal, constantes enchentes, entupimentos dos sistemas de drenagem, falta de
infra-estrutura adequada (água e esgoto), várias sub-habitações, carência de espaços públicos e
de lazer, patrimônio arquitetônico em estado de degradação, além das inúmeras ocupações
irregulares em diversos pontos da cidade, ficando entregue, principalmente, ao
comportamento dos mercados imobiliários que objetivam o atendimento imediato às
demandas da cidade, visando apenas aumentar seus lucros.
Mas agora, pela primeira vez na história brasileira, temos uma regulação federal para a
política urbana, definindo uma concepção de intervenção no território que se afasta do
tradicional caráter tecnocráticos que apenas aponta os usos ideais ou indesejáveis para cada
parte do território. Após mais de dez anos de lutas, foi aprovado no Congresso o ESTATUTO
DA CIDADE, lei que regulamenta o capítulo de política urbana na Constituição de 1988. Com
ele, os municípios dispõem de um marco regulatório para a política urbana, que pode levar a
importantes avanços.
O Estatuto da Cidade dá respaldo constitucional a uma nova maneira de realizar o
planejamento urbano. Sua função é garantir o cumprimento da função social da cidade e da
propriedade urbana, o que significa o estabelecimento de “normas de ordem pública e
interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da
segurança e do bem-estar dos cidadãos”. Para isso o estatuto da Cidade coloca à disposição
dos municípios uma série de instrumentos que podem intervir no mercado de terras e nos
mecanismos de produção da exclusão.
A atual prefeitura, na busca de conceder importância à dimensão espacial, urbana e rural do
Município, e retomar o planejamento do processo de produção da cidade, criou a secretaria de
Planejamento Urbano. Essa secretaria, em parceria firmada com a CEPA – Centros de Estudos
Ambientais e Projetação Ambiental – elaborou um projeto transformador da realidade, na
busca de qualidade de vida para todos, através da gestão democrática. Foram realizados vários
encontros com a comunidade, chamados Fórum Intersetoriais, onde foram definidas as bases
de um desenvolvimento ecologicamente sustentável e estabelecidas as linhas que darão
subsídios ao novo Plano Diretor de Pelotas. Nesse processo, onde se entende que todos são
responsáveis pela produção e transformação do espaço, tanto as diversas secretarias e órgãos
do poder público, quanto comunidade em geral, foram elaboradas 13 IDÉIAS FORÇA para a
Cidade de Pelotas, apresentadas do CONGRESSO DA CIDADE.
Assim, buscando um tema ligado à realidade da cidade de Pelotas, escolhi como área de
intervenção para meu projeto de graduação a Orla do Canal Santa Bárbara, no bairro Simões
Lopes, pois no local podem ser identificados vários conflitos e potencialidades, sob a ótica de
diversos temas. A Prefeitura de Pelotas aponta a hipótese de aproveitamento das áreas
adjacentes ao Canal Santa Bárbara para a implantação de áreas verdes (Parques Lineares), que
constituirão, atreladas a outras áreas, o sistema de “corredores verdes” da área urbana.
A Prefeitura também estimula esse tipo de intervenção nas Idéias Força, como, por exemplo, a
idéia Força 7, denominada Matriz Verde e Azul Urbana, que prevê a criação de parques
urbanos naturais com o objetivo de preservar a natureza e ao mesmo tempo garantir seu uso
pela população, além da criação de uma rede de canais, garantindo o turismo natural;e a Idéia
Força 11, denominada Centro Urbano Ampliado, que potencializa o Bairro Simões Lopes
como Centro de Cultura Popular.
Os principais conflitos existentes no bairro, identificados para o projeto são:
- Ocupações irregulares na orla do Canal sujeitas a constantes alagamentos;
- Carência de praças e áreas verdes;
- Falta de infra-estrutura (esgotos, pavimentação, iluminação);
- Sistema de esgoto pluvial precário, o que causa constantes
alagamentos;
No início desse ano (2002), a comunidade do Simões Lopes foi manchete em vários jornais da
nossa Cidade. A causa eram os constantes alagamentos que atingiam a população às margens
do Canal Santa Bárbara, principalmente na Av. João Goulart e Rua Tobias de Aguiar.
Assim, qualificar esta área, minimizando os conflitos e evidenciando as potencialidades,
significa:
- Garantir a qualidade de vida dos moradores do bairro que sofrem com a carência de áreas
verdes e espaços abertos para o lazer, assegurando-lhes bem-estar ecológico e conforto
ambiental;
- Viabilizar o direito à propriedade daqueles que ocupam áreas informais e de risco
(alagamentos);
- Valorizar a paisagem natural e cultural, reconhecendo o significado do local para a memória
e identidade da comunidade;
- Promover a integração social, mediante uma estratégia de reforma urbana, dotando a área de
infra-estrutura, saneamento, equipamentos e serviços urbanos;
- Definir uma estratégia de preservação, recuperação e conservação do ambiente, assegurando
sua função como ecossistema, dentro dos conceitos de sustentabilidade e eco urbanismo.
Aplicar conceito de desenvolvimento sustentável com entornos harmônicos e equilibrados é
essencial para o planejamento preocupado com os problemas sociais e ambientais do mundo
do século XXI, onde os fatores ambiente, economia e sociedade estão sempre vinculados.
Para isso, deve-se manter a qualidade de vida, o acesso aos recursos naturais, evitando
danos ambientais, através de:
- Um programa eco-lógico: ecológico e economicamente lógico, para que sua inserção no
meio contribua para sustentar a diversidade e a qualidade dos recursos naturais existentes,
interferindo o mínimo necessário na fauna e flora do Canal;
- Energias de comportamento: recriar identidades e melhores tendências de convivência
locais, estimulando o convívio social;
Deve-se reconquistar a área visando uma articulação, formulando uma estratégia espaciaL
comandada pelos projetos de estruturação urbana, e uma estratégia social baseada na
mobilização da população para a participação da definição dos programas e no
acompanhamento do processo.
O maior recurso utilizado hoje para projetos ecológicos é o conhecimento das forças vivas
interagentes. Não antagonizam capital e trabalho, mas, sendo intensivos em conhecimento,
buscam seu equilíbrio complementar. Tais projetos ecológicos devem ser acompanhados de
processo de EDUCAÇÃO AMBIENTAL, para capacitar os moradores a atuarem benéfica e
produtivamente, interferindo o mais racionalmente possível nos ciclos energéticos do seu
habitat. Deve-se capacitá-los, ainda, a produzir efeitos multiplicadores da vida, preparando-
lhes para uma verdadeira e consciente harmonia produtiva com a natureza. Assim o projeto
ganha em autonomia, dependendo bem menos das energias externas artificiais fornecidas
pelas redes públicas de água, eletricidade e abastecimento alimentar. Ainda que essa
autonomia não venha a ser completa, representará, uma economia considerável para os
moradores e o Poder Público.
Um projeto ecológico é a soma de vário elementos, entre eles:
- paisagismo produtivo: é o zoneamento ecossocial da paisagem, que consiste em diferenciar
as zonas de ocupação integrada humana e biológica do espaço.
- ecoedifício ou edificações autônomas: onde se busca conciliar ecossistema natural e edifício,
sendo um conceito dinâmico e progressivo de qualificação que integra: indivíduo, edifício e
ecossistemas, permitindo que todos se assimilem harmonicamente.
- infra-estrutura ecológica: deverá buscar alternativas naturais de ingresso (entrada) dos fluxos
energéticos no sistema. Garante a minimização do impacto ambiental gerado pelos fluxos
externalizados (saída) buscando a criação de novos ciclos produtivos até neutralizar o
potencial poluidor, integrando o paisagismo produtivo e as edificações autônomas.
Portanto, visando qualificar a área e garantir a qualidade e vida aos moradores do bairro,
viabilizar o direito e moradia, valorizar e preservar a paisagem, promovendo a integração
social e aplicando-se sempre os conceitos da sustentabilidade com consciência ecológica,
foram identificados os seguintes projetos:
PARQUE URBANO LINEAR
A reorganizar os espaços exteriores na Orla do Canal, através de um desenho urbano
definindo áreas verdes livres que aumentem a oferta cultural, favorecendo a convivência e o
intercâmbio social, através de atividades de lazer e esporte, que será chamado de parque
urbano linear.
O parque deve interferir o mínimo necessário nos elementos naturais existentes, oferecendo
opções de lazer ativo e passivo, prevendo a contenção das águas em determinados locais e o
turismo entre os canais.
No parque deverão ser utilizadas alternativas de infra-estrutura ecológica e paisagismo
produtivo.
REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA E REASSENTAMENTO
Viabiliza o direito à propriedade àqueles que ocupam áreas irregulares, formando pequenas
favelas de assentamentos populares à margem dos padrões estabelecidos pela legislação ou em
áreas consideradas e risco de alagamentos.
O projeto Prevê o reassentamento da população atingida na própria comunidade ou em áreas
muito próximas providas de infra-estrutura, mantendo assim os vínculos sociais, econômicos e
afetivos dos moradores com o local onde residiam, mantendo também a proximidade do
centro da cidade, reduzindo ao máximo os efeitos o deslocamento.
A regularização das moradias melhora as condições de saúde da população, fortalece o
espírito de convivência, organização comunitária e consciência da cidadania.
O reassentamento beneficia não apenas os moradores, mas o órgão público, que passa a ter
mais controle urbanístico e tributário do local.
As áreas de risco, depois de retirados os posseiros, devem ser recuperadas e integradas ao
tecido urbano, para evitar novas invasões.
Os novos assentamentos deverão seguir o conceito do ecoedifício.
MELHORIA DA INFRA-ESTRUTURA EXISTENTE
Aproveitar a infra-estrutura existente, abrindo vias (hoje ocupadas por posseiros) e fazendo a
devida pavimentação, ampliação das redes de esgoto (prevendo tratamento), água e
iluminação pública, drenagem, coleta de lixo e limpeza urbana, utilizando sempre que possível
o conceito de infra-estrutura ecológica.
Os posseiros construíram uma estrutura urbana fora dos parâmetros oficiais, mas é
imprescindível o aproveitamento dessa estrutura principal (quando for possível) para integrá-
la à malha urbana.
CRIAÇÃO DE UMA CENTRAL DE BAIRRO
A atual Prefeitura Municipal com o objetivo de viabilizar o planejamento participativo
descentralizado desenvolveu um programa denominado PROGRAMA DE QUALIFICAÇÃO
DE BAIRROS, onde são identificadas regiões de planejamento, facilitando o processo de
participação popular. Através desse programa para cada bairro serão criadas normas
específicas, que complementem o Plano Diretor não apenas sob o aspecto restritivo ou de
punição para determinados tipos e conduta, mas para que sejam consideradas e respeitadas as
características e peculiaridades pertinentes a cada bairro, realçando a identidade das diferentes
localidades e de seus moradores, proporcionando a melhoria da qualidade de vida das
comunidades envolvidas. Para que isso aconteça com mais facilidade, surge a necessidade de
um espaço físico em cada região de planejamento, onde a comunidade identifique-se e que
possam ser desenvolvidas atividades do planejar participativo. Portanto a criação de uma
Central de Bairro, um local de comunicação entre a Prefeitura e a população, visa manter o
contato, promovendo discussões das problemáticas e potencialidades, além de garantir a
conservação dos equipamentos e melhorias urbanas implantadas, visando também à educação
ambiental da população. Onde há participação mudam os valores e todos se sentem
responsáveis pelo espaço público.
A Central de Bairro deverá servir como modelo de habitação auto-sustentável para toda a
população, proporcionando um eco-sistema equilibrado e produtivo para o convívio
harmonioso entre os usuários e a natureza. Este eco-sistema integrado deverá promover a
facilitação generalizada de bens e serviços, tais como produtos alimentares, abastecimento de
água, entre outros. Isto permite a otimização do custo da produção e diminui o custo de
manutenção da edificação.
Concluindo, este projeto tem como objetivo recuperar a qualidade físico-ambiental das
margens do canal Santa Bárbara, no bairro Simões Lopes, o aumento da participação popular,
o respeito pelos direitos humanos e de todos os seres vivos e permitir um amplo acesso à
educação ambiental e à informação.
A preocupação com a proteção ambiental e a ecologia são recentes na nossa sociedade. Os
estudos e teorias desenvolvidos e divulgados, assim como as práticas existentes, ainda não
foram suficientes para consolidar o claro entendimento das palavras e termos normalmente
utilizados, e, principalmente, o significado destes quando aplicados a intervenções urbanas e
arquitetônicas.
Uma cidade socialmente correta deve investir ao máximo em obras de qualidade de vida, para
gerar empregos, democratizar o lazer, ampliando as áreas verdes, os parques, as ciclovias,
todos os pontos de encontro de seus habitantes.
O objetivo é a criação de sistemas, que, sendo ecologicamente corretos e economicamente
viáveis, supram suas próprias necessidades, não explorando ou poluindo, e que, sejam
sustentáveis em longo prazo. A população é parte ativa e colaboradora no contexto urbano. A
intensificação da relação entre a cidade e as obrigações dos cidadãos é que gera a cidadania.
Este sentido de participação não só viabiliza a cidade, como coloca milhares de pessoas, como
trabalhadores em prol de um bem comum. As pessoas, até mesmo as mais pobres, têm de se
sentir não isoladas nem segregadas, mas participativas, senão vão trabalhar contra a cidade.
Enfim, ética e consciência ambiental, sustentabilidade, eficiência energética, equilíbrio e
unidade são conceitos essenciais para o planejamento não apenas justo, mas preciso,
responsável e necessário das nossas cidades.
LOCALIZAÇÃO ÁREA DE ESTUDO
A área em estudo localiza-se no bairro Simões Lopes, na zona sul da cidade de Pelotas, às
margens do Canal Santa Bárbara.
O bairro é limitado a norte pela Avenida Duque de Caxias e ao sul pela BR 392, sendo
visualmente limitado à leste pela linha ferroviária e fazendo divisa com o bairro Padre Réus à
oeste. Localiza-se muito próximo da zona central da cidade, sendo atualmente considerado
como parte do Bairro Fragata Sul.
HISTÓRICO DA CIDADE DE PELOTAS
A origem do nome “Pelotas”
Dizia-se que os indígenas rio-grandenses, usando uma canoa de couro para a travessia dos
rios, batizaram-na de pelota. Hoje, uma versão nova assegura que os usos do barco e da
palavra têm origem marroquina e que foram apenas assimilados pelos aborígines. Indígenas
ou marroquinas, o certo é que o arroio Pelotas recebeu o nome das embarcações
freqüentemente utilizadas na sua travessia. Depois, a partir da proliferação das charqueadas
nas terras marginais do arroio, costa do Pelotas passou a designar, genericamente, a
movimentada região. Por fim, elevada a Vila de São Francisco de Paula à categoria de cidade,
após muita discussão foi aprovado o nome de Cidade de Pelotas, em homenagem “ao fato
histórico [estabelecimento das charqueadas] que aglomerara com a rapidez do raio a gente e a
riqueza da localidade”, na expressão de Domingos José de Almeida. Mesmo sem que todos
saibam, um distante passado sobrevive, na memória local, toda vez que se pronuncia o nome
da cidade.
A primeira charqueada
José Pinto Martins, retirante da seca de 1777 do Ceará, fundou em 1779 uma charqueada às
margens do arroio Pelotas. A prosperidade do seu estabelecimento, justificada pela localização
e pelos métodos empregados, estimulou a criação de outras charqueadas, iniciando-se a
exploração, em larga escala, da indústria saladeiril no território rio-grandense.
Até a pouco se supunha, na falta de dados mais concretos, que Pinto Martins era natural do
Ceará e que foi o pioneiro do saladeirismo no Rio Grande do Sul. Hoje se sabe, graças a
pesquisas recentes, que Pinto Martins nasceu em Portugal; ultimamente tem-se repetido,
talvez até com exagerada insistência, que antes de 1779 já se praticava a salgação da carne no
território sulino.
De qualquer modo, o que importa é que José Pinto Martins, aliando os conhecimentos
adquiridos no Ceará à sua visão de industrialista, estabeleceu uma fábrica rudimentar, de
caráter pré-industrial, nos arredores de Pelotas. Em pouco tempo, foi imitado por outros, de
maneira que a salgação da carne, já praticada no território gaúcho como atividade econômica
de subsistência, transformou-se, a partir daí, numa indústria poderosa, responsável pela
própria organização da estância, antes “mera empresa de coleta e pilhagem do gado”.
O nome de Pinto Martins, mais do que a Portugal ou ao Estado do Ceará, acha-se
historicamente ligado ao município de Pelotas. Foi ele quem, a partir de 1779, impulsionou o
desenvolvimento local. À sombra das charqueadas, Pelotas transformou-se, de incipiente
povoação, na cidade que seria, durante todo o século 19, a mais rica e adiantada da Província,
ao lado de Porto Alegre. Já em 1816, quatro anos depois da organização da freguesia, São
Francisco de Paula pareceu ao Conde de Samodães “o centro e o coração” do Continente de
São Pedro. Um outro viajante estrangeiro anotou, referindo-se aos charqueadores: “eles
quiseram que o lugar prosperasse, e o lugar prosperou”.
A primeira sesmaria
Está hoje situado o município de Pelotas numa região que, em fins do século 18, abrangia
cinco estâncias. De todas, a mais antiga, por ordem cronológica de doação, foi a que recebeu o
coronel Tomás Luís Osório, em 1758, segundo despacho de Gomes Freire de Andrade,
comandante-geral das capitanias do sul. O rincão (na terminologia da época) “extremava-se no
Sangradouro da Mirim (São Gonçalo) e arroio Pelotas até topar com o arroio Correntes e deste
à Lagoa dos Patos no lugar de Canguçu (Ilha da Feitoria)”.
Segundo a carta de sesmaria, “a região estava sendo explorada e conhecida a zona de suas
planícies”. Alguns anos mais tarde, porém, mudaria de proprietário. Envolvido em denúncias,
o coronel Tomás Osório, comandante do Regimento dos Dragões do Rio Grande, foi
enforcado em Lisboa. Em 1779, sua viúva e seus filhos venderam ao casal Manuel Bento da
Rocha e Isabel Francisca da Silveira a primeira sesmaria de Pelotas, abrangendo, entre outras
extensões, os atuais balneários do Laranjal e a colônia Z-3.
Loteamento de Dona Mariana
Em 2 de julho de 1813, o governador da capitania, dom Diogo de Souza, concedeu a dona
Mariana Eufrásia da Silveira -viúva do terceiro capitão-mor do Rio Grande, Francisco Pires
Casado-o terreno que ela provou possuir desde 1784. Dividia-se “pelo sudeste com o rio São
Gonçalo, pelo noroeste com terras de José Gonçalves da Silveira Calheca e José Aguiar
Peixoto, pelo sudoeste com o arroio Santa Bárbara, fazendo a figura de um triângulo oblíquo,
cujo terreno [sic] tem na sua maior largura 840 braças e no maior comprimento 1.304.”
Dona Mariana obrigava-se a doar, conforme prometera no requerimento, 80 braças em quadro
para uma praça, uma quadra junto à praça para uma nova igreja, 20 braças em quadro para
hospital e quartel. O compromisso foi cumprido, não por ela, mas pelos seus herdeiros, em
fins de 1822 (nesse ano, como se sabe, foi extinto o regime sesmarial).
Loteando essas terras, dona Mariana possibilitou que as 12 ruas longitudinais de Antônio dos
Anjos se prolongassem na direção do porto, acrescentando-se mais 15 às transversais. De
modo que, em 1830, quando Pelotas atinge a condição oficial de município, o sítio urbano já
se compõe de 34 logradouros: os 19 do capitão-mor mais os 15 da viúva de Francisco Pires
Casado. Nesse quadro irromperia mais tarde a Santa Cruz, completando o centro da cidade.
Em 1833, um ano depois da instalação da vila, foram cadastrados 544 prédios. Deslocava-se o
perímetro central da Praça da Matriz, hoje José Bonifácio, para a Praça da Regeneração, hoje
Coronel Pedro Osorio.
Uma nova freguesia
Em 1810, partiu para o Rio de Janeiro o vigário Felício Joaquim da Costa Pereira Furtado de
Mendonça, irmão de Hipólito da Costa, o patriarca dos jornalistas brasileiros. Levava consigo
uma petição dos moradores de Pelotas. Diziam que o elevado número de famílias e de fábricas
de carne salgada (cada uma dessas ocupando mais de cem pessoas) espelhavam o progresso da
região e justificavam a criação de uma nova freguesia. Diziam mais: que, sem contar os
empregados, aqui moravam 150 famílias, “das mais abastadas da fronteira”; que o lugar ficava
distante dez léguas “da Mirim caudalosa, e suas margens alagadiças em mais de duas léguas”;
que precisavam deslocar-se à Matriz de São Pedro “no tempo da Quaresma, que é a estação
própria de fabricar as carnes salgadas”; que, enfim, isso causava grandes prejuízos “ao
comércio e habitantes”. (Note-se que, para a conquista do status religioso, os argumentos
utilizados foram de natureza fundamentalmente econômica: havia dificuldades para conciliar
o progresso material e as obrigações do espírito.)
No requerimento não determinaram, porém, um lugar certo para a sede: tanto poderia ser no
Capão do Leão, onde havia o oratório de Nossa Senhora da Conceição, como na costa do
Pelotas, onde existia a capela de Nossa Senhora dos Prazeres.
Diante disso, como “conciliadora solução para os contraditórios desejos”, a freguesia, dois
anos depois, não se estabeleceu em nenhum dos lugares sugeridos, mas sim na extensa coxilha
entre o Santa Bárbara e o São Gonçalo. Igualmente excluídas as virgens-padroeiras dos dois
arraiais, elevou-se ao altar a imagem de São Francisco de Paula.
A fundação da freguesia
Dom João VI, príncipe regente de Portugal, foi sensível ao apelo dos nossos antecessores. Por
alvará de 7 de julho de 1812, erigiu “uma nova freguesia colada no lugar denominado
Pelotas”. Receberia o título de São Francisco de Paula, mas isso segundo uma provisão
eclesiástica datada de 18 de agosto e assinada pelo bispo do Rio de Janeiro, dom José Caetano
da Silva Coutinho, que também manda servir provisoriamente de paróquia o oratório de Nossa
Senhora da Conceição e nomeia pároco o vigário Felício Joaquim.
A primeira definição importante na história da ocupação urbana de Pelotas surge agora, e se
confunde com a discussão sobre a melhor localização da igreja. Dependendo do lugar onde ela
fosse construída, estaria configurada a zona central do povoado. Nessa discussão levou-se
cinco meses -de outubro de 1812, quando Felício investiu-se nas funções de pároco, a
fevereiro de 1813.
Três eram as alternativas: situar o templo no Laranjal; na lomba onde está hoje o Instituto
Nossa Senhora da Conceição (Asilo); ou no lugar onde se edificou, na praça José Bonifácio.
A corrente vencedora contava com a preferência do capitão-mor da região, Antônio Francisco
dos Anjos, e com a simpatia do pároco. Como os debates se prolongassem, não esperaram
acordo final: foram fazendo a obra. Aos poucos, alguns opositores concordaram; outros se
conformariam com o tempo. De qualquer modo, as divergências acabaram enterradas, em
alicerces de tijolo e meio. As paredes é que tiveram a dimensão de um só tijolo.
A primeira planta
Construiu-se, pois, a igreja, e ao redor dela formou-se o povoado. Ambos -igreja e povoado-
em terrenos que pertenciam justamente ao capitão-mor, Antônio dos Anjos. Em 23 de
dezembro de 1813, São Francisco tomou posse da sua paróquia, “sobre imensa chapada, então
triste e solitária”. Em 20 de maio de 1815, concluiu-se a medição judicial das 19 ruas do novo
agrupamento urbano. O berço da cidade foi colocado numa parcela da sesmaria que, como se
viu, pertencera originariamente a Manuel Carvalho de Souza, que poucos meses depois a
vendera; sendo de novo trespassada em 1781, a partir daí se retalhara em terrenos.
Antônio dos Anjos comprou a sua parte em 1806 de José Aguiar Peixoto, que a havia
adquirido de José Gonçalves da Silveira Calheca, que a negociara com o marchante de gados
Miguel de Lara.
Mas, onde se localizou esse primitivo povoado? Conforme a planta projetada em 1815 pelo
engenheiro Maurício Inácio da Silveira, com certeza parente de dona Mariana Eufrásia e de
“Dona Isabel de Pelotas”, no sentido norte-sul entre as atuais avenida Bento Gonçalves e rua
General Neto; no sentido oeste-leste, entre as ruas Marcílio Dias e Barroso. Formava uma
espécie de quadro, em quase perfeito xadrez, com 12 ruas longitudinais e 7 transversais.
Antônio dos Anjos -ele, hoje, nome de rua-loteou esses quarteirões à razão de 320 réis a braça.
Mas, como condição para que empreendesse o negócio, teve que doar ao poder público os
terrenos da igreja, da casa do vigário e da praça. A Praça da Matriz é a atual José Bonifácio. E
o vigário morava na atual Gonçalves Chaves entre Voluntários e Neto. No chamado Sítio dos
Coqueiros.
Em direção ao Sul
A corrente que defendera a construção da igreja na quadra do atual Asilo, ou Instituto Nossa
Senhora da Conceição, foi logo vencida. Mas não estagnou de imediato, conforme provam os
documentos. Seu argumento principal era de que seria útil para o povoado desenvolver-se
mais próximo ao São Gonçalo, na direção da Várzea e para os lados do Porto.
Dom José Caetano da Silva Coutinho, autor da provisão que elevara o lugar em freguesia,
visitou-nos em 1815 e andou retomando o curso dessa idéia. Num Diário de Viagem, pouco
divulgado, mas não inédito, anota, no dia 9 de dezembro daquele distante ano: “…ser-lhes-á
muito fácil [aos homens ricos da freguesia] edificarem a igreja 300 braças mais para o pé do
porto e das suas casas, principalmente metendo eu nas listas o comandante geral Marques e o
sr. Mateus de tal, como tenho tenção de fazer”.
Não é certo que o bispo do Rio de Janeiro visasse exatamente a lomba do Asilo, mas pelo
menos um sítio mais para o sul. Observe-se, e isto é importante, que o Instituto Nossa Senhora
da Conceição, na direção norte-sul, fica na mesma altura da praça Coronel Pedro Osório. E
que a Praça acabou se transformando no centro da cidade, ainda que a nova igreja se
restringisse aos alicerces.
Fundação de Pelotas
O aniversário de Pelotas é comemorado a cada 7 de julho porque nesse dia e mês do ano de
1812 esta porção oriental do território rio-grandense foi elevada a freguesia, com a
denominação de São Francisco de Paula. Só então, na realidade, começa a sua história oficial.
Dezoito anos depois, em 1830, atingiria a condição de vila, sob o mesmo título. E em 1835, já
com o nome de Pelotas, receberia os foros de cidade.
No entanto, desde muito antes estas terras vinham sendo procuradas, primeiro por
aventureiros paulistas, mineiros, cariocas, lagunenses, e depois por colonos originários de
Trás-os-Montes e do Minho e por ilhéus açorianos e madeirenses, esses fugitivos,
respectivamente, da Colônia do Sacramento e da Vila do Rio Grande de São Pedro, então sob
domínio dos invasores espanhóis. Uma indústria, inclusive, já florescia com êxito às margens
do Canal de São Gonçalo e do seu tributário, o arroio Pelotas.
Pelotas em 1820
Sabe-se que em 1818, nas 19 ruas, existiam 107 casas. O sábio naturalista francês Auguste de
Saint-Hilaire, em 1820, aqui encontrou “18 charqueadas esparsas e um povoado com mais de
cem casas”, já formando ruas largas e retas. Hospedou-se na sede da charqueada de Antônio
José Gonçalves Chaves (hoje, charqueada São João, de propriedade da família Mazza), que o
surpreendeu pelo fato de falar correntemente o francês e, dizem, possuir excelente biblioteca.
Vila e cidade
Por decreto de 7 de dezembro de 1830, a Freguesia de São Francisco de Paula foi elevada à
categoria de vila, sob o mesmo título. Só seria instalada, porém, um ano e quatro meses depois
-no dia 7 de abril, data nacional-, levantando-se pelourinho na Praça como símbolo de
autonomia do município. No dia 27 de junho de 1835, decreto do presidente da Província
outorgava à Vila de São Francisco de Paula os foros de cidade.
Em reunião da Assembléia Legislativa, destinada à escolha do nome, um deputado, o médico
mineiro formado em Pisa, na Itália, dr. João Batista de Figueiredo Mascarenhas, propôs que se
conservasse a denominação antiga. Aberta a discussão, Francisco Xavier Ferreira mandou à
mesa uma emenda, em que alterava o nome para Cidade de Pelotas. Depois de vários títulos
propostos, prevaleceu a emenda de Xavier Ferreira, apoiada e justificada por Domingos José
de Almeida como homenagem à região de onde adviera a riqueza do município.
Se a alguém não agrada o topônimo, fique sabendo que, a depender da vontade de alguns
deputados, Pelotas poderia se chamar São Francisco de Paula. Ou Calópolis. Ou Pelotapes. Ou
Próspera Cidade.
Municípo médio
O município tem uma área de 2.205 km2. Considerando-se a extensão dos maiores municípios
gaúchos: cerca de 7 mil km2 e dos menores: apenas 700 km2, conclui-se que Pelotas é um
município de tamanho médio. A sua extensão relativamente grande relaciona-se muito com a
localização do município na metade sul do Estado, zona de pecuária e lavoura extensiva e, por
isso, pouco povoada e pouco dividida sob o ponto de vista político-administrativo.
Latitude e longitude
O município de Pelotas está situado na Zona Temperada do Sul, ficando distante do Equador
32 graus, tendo, portanto, 31º 46′ 55″ de latitude sul. Por isso, os raios do sol chegam mais ou
menos inclinados, durante o ano e, conseqüentemente, os dias são curtos no inverno e longos
no verão.
Quanto à longitude, Pelotas encontra-se a 52º 20′ 54″ a ocidente do Meridiano Principal. Uma
conseqüência é que nossos relógios marcam três horas menos do que os da Inglaterra. Além
disso, quando aqui é meio-dia, no Japão, que se encontra a 140º de longitude, é meia-noite.
Localização do Município
Um dos fatos fundamentais da geografia de Pelotas é que o município está localizado na
região fisiográfica denominada “Encosta do Sudeste”, da qual fazem parte os municípios de
Tapes, Camaquã, São Lourenço do Sul, Capão do Leão, Pedro Osório, Arroio Grande, Morro
Redondo, Arroio do Padre e Jaguarão.
Realmente o município se estende das mais baixas ondulações da encosta oriental da Serra dos
Tapes até a planície sedimentar da margem ocidental do Canal São Gonçalo.
Portanto, Pelotas, sob o ponto de vista físico, encontra-se em uma encosta, e essa localização
teve conseqüência muito importante, pois determinou a existência, no município, de duas
grandes paisagens naturais e humanas distintas: a paisagem “serrana”, mais elevada e
ondulada, correspondente à policultura e à colonização alemã, e a paisagem de planície baixa
e plana, que corresponde à pecuária e à orizicultura e de composição étnica variada.
Cidade planície
A cidade de Pelotas localiza-se numa planície muito baixa. Nas suas partes mais elevadas – os
“terraços”- encontra-se o centro urbano tradicional e as principais avenidas dos bairros Areal,
Três Vendas e Fragata; é aí que se encontra a maioria da população. As áreas mais baixas – as
“várzeas” – são menos povoadas, inclusive porque chegam a sofrer inundações.
Pode-se, assim, observar que as diferenças de nível, na planície, influíram muito na
distribuição espacial da população e, portanto, na direção do crescimento da cidade.
Hidrografia
Pelotas, com posição hidrográfica muito favorável está situada às margens do Canal São
Gonçalo, que liga as duas maiores lagoas do Brasil: Patos e Mirim. Graças a isso, o município
dispõe, nas suas proximidades, de grandes mananciais de água doce. As lagoas e o canal são
importantes recursos hídricos e, ainda, asseguram a perenidade de abastecimento de água à
população e às indústrias.
Paisagem que se transforma
Pelotas está localizada em relevo de baixa encosta, apresentando, por isso, uma zona alta e
acidentada e outra baixa e plana; essa característica de localização é resultado do seu passado
geológico, começado há bilhões de anos.
Sabe-se, por exemplo, que a zona de planície do município formou-se devido, em grande
parte, ao depósito de rochas tanto pelos rios como pelo mar, o qual cobriu toda esta região
várias vezes. Alem disso, os atuais morros do relevo do município já foram altos e
pontiagudos, tendo, depois, ficado baixos e arredondados em conseqüência da erosão
produzida pelas águas correntes durante bilhões de anos.
A paisagem natural de Pelotas, como a de toda a Terra, é dinâmica e, por isso, em constante
transformação; assim, continuam os processos de erosão e de sedimentação da planície.
População
De acordo com o censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
em 2000, Pelotas tinha 320.471 habitantes. A população feminina é de 168.599 e a masculina
de 151.872.
Posição no Litoral
De acordo com o censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
em 1996, Pelotas tinha 304.276 habitantes. O município é um dos seis mais populosos da
Região Sul do País (PR-SC-RS) e 53º do Brasil (entre 5.507 no total).
Temperatura, chuva e vento
A temperatura média anual, em Pelotas, é de 17,6 graus. O mês mais frio é julho e o mais
quente, janeiro. A amplitude anual é relativamente baixa – 10,6 graus – pois a média de julho
é de 12,4 graus e a de janeiro 23 qraus.
A média anual de chuvas é de 1.249 milímetros. Pelotas está situada na zona menos chuvosa
do Estado, que é o litoral. Chove mais no inverno e primavera e menos no outono e verão, mas
a diferença não é muito grande.
Predominam, no município, os ventos do quadrante leste, principalmente os do nordeste; são
ventos úmidos, porque vêm do Oceano Atlântico. No inverno e no outono sopram, com
freqüência, ventos do sul e do oeste, que são frios; quando vêm do sul, são úmidos; vindos do
oeste são secos.
Pelotas – Infra-Estrutura e Potencialidades
Pelotas aparece, pela segunda vez, numa pesquisa sobre os melhores locais para investir no
Brasil. Na primeira, figurou em 6º lugar na edição 532 – ano 25 nº 11 – de 26 de maio de
1993, da revista Exame, da Editora Abril, em pesquisa encomendada por ela a Simonsen
Associada, a qual relacionou todos os municípios com mais de 150 000 habitantes. Esse
critério serviu como ponto de partida e incluiu os municípios onde normalmente já existia
alguma infra-estrutura e consumidores em número suficiente para que houvesse negócios.
Definido isso, a Simonsen estabeleceu dez critérios para julgar cada uma das cidades. Foram
analisados desde o percentual de ligações de água e esgoto e a distância do aeroporto com
linha regular diária para os grandes centros até o número de profissionais com nível superior e
de leitos hospitalares disponíveis. Daí surgiu a lista dos melhores locais para negócios. Na
segunda pesquisa, a Exame contratou a Trevisan que adotou cinco diferentes quesitos para
classificar as 126 cidades relacionadas, todas elas situadas num raio próximo a rede nacional
de fibras ópticas da Embratel.
Daqueles cinco itens, a disponibilidade de mão-de-obra qualificada foi o mais valorizado
dentre os tópicos considerados: logística, infra-estrutura, qualificação da mão-de-obra,
qualidade de vida e política de incentivos.
O resultado da pesquisa classificou Pelotas em 5º lugar e foi publicada na revista Exame,
edição 597 – ano 28 nº 24 – de 22 de novembro de 1995.
A economia
A economia de Pelotas tem sustentação na atividade primária, sendo o maior produtor de
pêssego para a indústria de conservas do País, além de outros produtos como feijão, milho,
soja, batata inglesa, cebola e fumo.
O município responde por 28% da produção de arroz do Estado, 10% da produção de grãos,
16% de todo o rebanho bovino de corte e detém uma das maiores bacias leiteiras do Estado
com produção de 30 milhões de litros/ano, alem de possuir expressiva criação de cavalos e
ovelhas (28% do rebanho eqüino e 30% da produção de lãs).
Pelotas conta com dois Centros de Pesquisas Agropecuária de Clima Temperado -, Embrapa.
Na atividade secundária, Pelotas destaca-se por possuir o maior parque agroindustrial de
conservas alimentícias do País, e a maior capacidade de abate de bovinos, através de grandes
frigoríficos exportadores de “Cota Hilton” e, conseqüentemente, a maior capacidade instalada
de frigorificação do Estado. O segundo beneficiador de peles e couros e possui 36 engenhos
de beneficiamento de arroz (maior beneficiador de arroz do Brasil, com 689.622 toneladas, em
1996). Tem ainda um importante segmento metalmecânico e construção civil, competitivos, e
com enorme potencial de crescimento.
Pelotas possui, também, um Pólo Cerâmico bastante dinâmico, que produção cerâmica de alta
qualidade.
No Setor Terciário, destacam-se o turismo e o comércio, com mais de 4.400 estabelecimentos
comerciais (varejista e atacadista), serviços bancários com 38 agências dos principais bancos,
além de seguradoras, casas de câmbio, cerca de 26 empresas de transportes. Todas as
atividades englobam um PIB de aproximadamente US$ 1.050 milhões/ano. Nesse montante
não está considerada economia informal, estimada em 30% do PIB.
Pelotas dispõe de condições excepcionais para a implantação de grandes empresas, a começar
pela área, já que dispõe de terrenos com cerca de 400 a 500 hectares. poderá dispor de
terminal portuário privado, particular e com armazéns alfandegados. some-se aos aspectos
acima, as condições excepcionais para captar água, quer tratada ou bruta, praticamente em
quantidades ilimitadas.
A infra-estrutura de segurança pública é bastante significativa por ser Pelotas um centro
concentrador de fluxos econômicos e sociais do extremo sul do Estado. No turismo, Pelotas é
o berço da história industrial, comercial e cultural rio-grandense, além de ser bastante
privilegiada em riquezas naturais que lhe dão enormes possibilidades de investimentos,
principalmente em turismo cultural e ecológico, segmentos que mais crescem em todo o
mundo.
Pelotas apresenta condições atuais, bastante competitivas, tanto no setor primário como
secundário e terciário. No setor secundário o futuro empreendimento, caso seja necessário,
poderá ser implantado em um terminal retro-portuário privativo e alfandegado, sem maresia,
dotado de energia elétrica própria, ou interligado ao sistema nacional, dotado de telefonia
moderna, infra-estrutura de transporte marítimo transoceânico, com ferrovia e rodovia, além
de condições socioeconômicas bem acima da media brasileira, será comparável com as
instaladas no primeiro mundo.
http://vivaosanta.wordpress.com/2009/07/