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SISTEMATIZAÇÃO PROJETO MEGAFONE GRUPO DE TRABALHO 2 o SEMESTRE DE 2011

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SISTEMATIZAÇÃO

PROJETO MEGAFONEGRUPO DE TRABALHO

2o SEMESTRE DE 2011

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Sumário:

Resumo

Apresentação

1. Introdução: concepções, princípios

teórico-metodológicos e estrutura

dos encontros com educadores

2. Os encontros do Grupo de Trabalho

2.1 Encontro de agosto: Eu estudante, Eu educador

2.2 Encontro de setembro: A escola dos nossos sonhos/Questões prioritárias do 2º segmento do Ensino Fundamental

2.3 Encontro de outubro e novembro: Debate de perguntas

2.4 Encontro de dezembro: A construção coletiva do documento para a SME

3. Considerações finais e desdobramentos

4. Anexo

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ResumoEsta sistematização é resultado de uma iniciativa do Instituto

Desiderata junto à Secretaria Municipal de Educação (SME), contando

com a parceria técnica do Instituto TEAR. Versa sobre o processo e os

resultados de um Grupo de Trabalho (GT), parte de um Projeto mais

amplo, intitulado Megafone. O GT reuniu, de agosto a dezembro

de 2011, educadores – diretores, coordenadores pedagógicos

e professores – do 2º segmento do Ensino Fundamental para a

construção de espaços de diálogo com a SME. O auge desse trabalho

foi a elaboração de um documento, construído coletivamente, com

proposições concretas e endereçado à SME. O processo de trabalho,

calcado em uma metodologia própria, permitiu não somente

a sensibilização dos educadores para determinados temas que

cercam o fazer político-pedagógico da escola e seus educadores,

mas, sobretudo, a implicação dos atores na direção da construção

de novas formas (mais democráticas, libertadoras e igualitárias) de

conceber e gerir a educação. Os estudantes e os pais/responsáveis

são percebidos como peças chaves dessa construção, e o sentido

de pertencimento, atrelado ao exercício da participação de toda

a comunidade escolar na busca por uma educação de qualidade,

norteou esse trabalho. A voz dos educadores, seus questionamentos

e inquietações transformaram-se nesse trabalho em um “motor de

reflexão”, que permitiu o abandono de uma postura de “queixa”,

substituída por “ação” e proposição de iniciativas e novos caminhos

no ser educador e fazer educação. Assim, em parceria real e concreta

com a subsecretária de ensino e sua assessora, os educadores

costuraram metas e objetivos a serem alcançados. E ainda que o

caminho seja longo e desafiador, a mola propulsora em direção a

um futuro da educação mais promissora continua, firme e forte.

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Apresentação Esta sistematização é resultado de uma parceria do Instituto Desiderata com a Secretaria Municipal de Educação (SME) e o Instituto TEAR1. O Instituto Desiderata é uma organização sem fins lucrativos que, desde 2003, trabalha no Rio de Janeiro (RJ) nas áreas da saúde e educação.

O Instituto Tear é uma organização formada por educadores que investem na melhoria da educação pública, com experiência de 30 anos na formação de professores. Tornou-se parceiro do Instituto Desiderata, em 2011, especificamente para a realização de uma colaboração técnica no quadro do Projeto Megafone (doravante Projeto).

O Projeto é uma iniciativa do Instituto Desiderata realizada desde 2010, com o compromisso de melhorar a qualidade da educação no 2º segmento do Ensino Fundamental, atuando na perspectiva da construção coletiva, articulando e mobilizando diferentes atores do processo educacional para o fortalecimento das políticas públicas.

Nos últimos anos o Projeto realizou uma pesquisa participativa com 39 escolas do Município do RJ; uma pesquisa on-line com 245 diretores; e Planos de Ação temáticos em 12 escolas. Além disso, criou um Grupo de Trabalho (GT) para debater com educadores as questões acerca da qualidade do ensino público, especialmente no que se refere ao 2º segmento do Ensino Fundamental do Município do RJ.

O Instituto TEAR assumiu a condução do GT, realizado desde 2011, voltado para a mobilização de educadores do 2º segmento do Ensino Fundamental na direção da construção de espaços de diálogo com a SME. A seguir, uma linha do tempo sumariza o percurso do Projeto, com destaque para o nascimento do GT, resultado de um encontro com 80 diretores no qual a referida pesquisa on-line foi apresentada.

1Este texto foi produzido pelo Instituto TEAR em interlocução com o Instituto Desiderata. Cabe dizer que, em itálico, estão expressões e conceitos de autores que embasaram a dis-cussão e, entre aspas, falas dos educadores e expressões que mereceram destaque crítico. Em negrito, estão as passagens e palavras que julgamos mais significativas ao longo do texto.

Linha Do TEMpo 2010 2011

Megafone na escola

Megafone na Rede

Megafone na escola

Megafone na Rede

1o encontro

agosto

250 diretores

CREs

abril e maio

280 diretores

Reunião Grupo de Trabalho

julho

35 escolas

39 escolasPesquisa

online

245 diretores

12 escolas 2o encontro com diretores

maio

80 diretores

5 encontros do Grupo de

TrabalhoPesquisa

participativaPlano de Ação

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A sistematização que será aqui apresentada visa descrever um conjunto de ações realizadas no bojo do Projeto, especificamente no âmbito do GT, e propor, a partir de um conjunto de experiências, uma visada analítica que dê conta de refletir acerca das questões que envolvem a prática pedagógica do 2º segmento. O auge deste trabalho foi a elaboração de um documento com proposições concretas entregue à SME.

É importante dizer que um diferencial desse trabalho é a metodologia utilizada nos encontros com educadores (GT), a qual, ao mesmo tempo que sustenta o fazer, cria um território de sentido para o pensar e refletir.

Além disso, outro diferencial do trabalho é a estrutura dos encontros. Esta foi permeada pela ludicidade e nutrição estética, de forma a “alimentar” a reflexão, desconstruir ideias preconcebidas e ampliar olhares e modos de perceber as relações e práticas educativas. Tal estrutura também foi perpassada pelas provocações nascidas no próprio grupo, com ênfase no sentido do encontro interpessoal voltado para fortalecer práticas coletivas, de caráter público.

Em termos da sequência lógica do texto, primeiramente realizamos uma breve Introdução, na qual discorremos acerca das concepções, dos princípios teórico-metodológicos e da estrutura dos encontros com educadores no âmbito do GT. Em seguida, percorremos a trajetória dos encontros, destacando os temas norteadores da discussão, algumas atividades desenvolvidas e seus resultados. Por fim, tecemos as considerações finais e encaminhamos os desdobramentos das ações para o ano de 2012.

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1. IntroduçãoConcepções, princípios teórico-metodológicos e estrutura dos encontros com educadores

A experiência não é descoberta, mas inventada, ela nunca é dada como o fato, é sempre

uma interpretação provável.Merleau-Ponty2

De agosto a dezembro de 2011 realizamos, no quadro do GT do Projeto Megafone, cinco encontros com educadores – diretores, coordenadores pedagógicos e professores – do 2º segmento do Ensino Fundamental do Município do RJ.

Os educadores que participaram do GT são de diferentes escolas municipais que aderiram a um convite feito pelo Instituto Desiderata para todas as escolas de 2º segmento da rede municipal de ensino do RJ.

Os 30 educadores que compuseram o grupo foram aqueles que apresentaram o desejo de participar e se mobilizaram para estar presentes em encontros mensais. Tais educadores eram representantes de 24 escolas, identificadas a seguir:

2 MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da Percepção. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

ESCOLAS BAIRRO CRE

Escola Municipal Jenny Gomes Rio Comprido 1Escola Municipal Mario Claudio Rio Comprido 1Escola Municipal Henrique Dodsworth Ipanema 2Escola Municipal República Argentina Vila Isabel 2Escola Municipal Benedito Ottoni Maracanã 2Escola Municipal Estado da Guanabara Higienópolis 3Escola Municipal José Veríssimo Rocha 3Escola Municipal Manoel Bonfim Del Castilho 3Ginásio Experimental Carioca Anísio Teixeira Jardim Guanabara 4Escola Municipal João Barbalho Ramos 4Ciep Operário Vicente Mariano Bonsucesso 4Escola Municipal Ministro Edgard Romero Madureira 5Escola Municipal Rosa Bettiato Záttera Irajá 5Escola Municipal Prof. Felicidade de Moura Castro Taquara 7Escola Municipal Rosa do Povo Taquara 7Escola Municipal Silveira Sampaio Curicica 7Escola Municipal Engenheiro João Thomé Padre Miguel 8Escola Municipal Marechal Alcides Etchegoyen Bangu 8Escola Municipal Milton Campos Bangu 8Ciep Ismael Nery Santa Cruz 10Escola Municipal Bertha Lutz Pedra de Guaratiba 10Escola Municipal Emiliano Galdino Santa Cruz 10Escola Municipal Jornalista Carlos Castelo Branco Paciência 10

Escola Municipal Professor Coqueiro Santa Cruz 10

*As escolas em destaque participaram dos dois projetos do Megafone: Planos de ação e Grupo de trabalho.

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Cabe dizer que, desde o princípio do Projeto, o Instituto Desiderata previu a parceria direta com a Secretaria Municipal de Educação (SME), também convidada a participar do GT. A presença em todos os encontros da subsecretária de ensino Helena Bomeny e de sua assessora Ana Lúcia Barros foi de fundamental importância para o amadurecimento do grupo e das relações entre os educadores e a SME.

Vale relembrar que a intenção do trabalho no GT foi favorecer o diálogo entre os educadores e destes com representantes da SME, fortalecendo e legitimando os espaços de construção colaborativa de demandas e pontos a serem trabalhados no sentido da melhoria da educação do 2º segmento.

Os princípios políticos-pedagógicos que nortearam o trabalho no GT foram: diálogo, autoria, parceria, gestão compartilhada e produção colaborativa de conhecimentos. Neste sentido, em todos os encontros os participantes foram mobilizados a atuar de forma crítica e propositiva, envolvendo-se no planejamento, na execução e avaliação das ações.

A metodologia de trabalho utilizada nos encontros do GT fundamentou-se nas concepções teóricas de Jean Piaget, Lev Vygotsky, Walter Benjamin, Paulo Freire, Herbert Read, Ana Mae Barbosa, entre outros autores.

A cada encontro era criado um planejamento específico, buscando-se atender às demandas do grupo e aos objetivos do GT: de enfrentar os desafios do 2º segmento do Ensino Fundamental.

Foram utilizadas três ferramentas para o acompanhamento e a avaliação das atividades desenvolvidas: 1) BLOG – espaço virtual aberto, no qual os participantes do GT eram instigados a postar textos, imagens e vídeos; 2) DIÁRIO DE BORDO COLETIVO – caderno para registro, realizado por um educador do grupo, da experiência vivida coletivamente; 3) Registro audiovisual e fotográfico de todos os encontros – material que subsidiou discussões em encontros posteriores e corroborou a sistematização da experiência.

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2. Os encontros do Grupo de TrabalhoEm cada encontro relatado a seguir descrevemos as principais estratégias utilizadas no planejamento das atividades em análise. Também trazemos trechos significativos dos depoimentos dos educadores a partir das atividades propostas. E de forma complementar, debruçamo-nos sobre questões reflexivas acerca dos aspectos recorrentes e significativos desses discursos, criando então novos questionamentos.

Ao longo do trabalho do GT, foram realizados, de agosto a dezembro, encontros no Museu da República, no Espaço Educação e na sede do Instituto TEAR. Sumarizamos no quadro a seguir os pontos chaves dos encontros, o perfil dos participantes e o “roteiro metodológico” dos encontros. Esse quadro também permite a visualização do todo das ações realizadas, inclusive, na sua dimensão de complementaridade.34

3 Pesquisa Megafone 2010: o Instituto Desiderata desenvolveu esta pesquisa com a parceria técnica do CEDAPS (Centro de Promoção da Saúde) e do IPM (Instituto Paulo Montenegro). 4 O Megafone na Escola em 2011 possibilitou que 12 escolas municipais do RJ desenvolvessem um Plano de Ação de sua autoria com base na metodologia de Construção Compartilhada de Soluções Locais, desenvolvida pelo parceiro técnico CEDAPS (Centro de Promoção da Saúde). Cabe ressaltar que a apresentação por parte dos educadores dos Planos de Ação desenvolvidos nas suas escolas não será abordada neste texto, por entendermos que se refere ao trabalho desenvolvido pelo CEDAPS, não sendo, portanto, resultado da parceria do Instituto TEAR com o Instituto Desiderata.

Encontros de agosto e setembro

Encontros de outubro e novembro

Encontro de dezembro Participantes “Roteiro metodológico” dos

encontros

• Reflexão sobre a “escola que queremos”, a partir da relação entre os resultados da pesquisa realizada em 2010 pelo Projeto2.

• Reflexão com base nos temas dos textos produzidos pelos educadores em suas escolas, intitulados “A escola dos sonhos” (material produzido em 2011, a partir de enquete na escola com alunos, professores, funcionários, gestores e responsáveis).

• Definição dos eixos prioritários a serem discutidos pelo GT, com os educadores organizados em subgrupos. As questões foram concebidas pelos próprios educadores nos encontros.

• Apresentação por parte dos educadores dos Planos de Ação3 desenvolvidos nas suas escolas.

• Aprofundamento da reflexão sobre as questões prioritárias do 2º segmento a serem debatidas pelo GT.

• Foco na criação coletiva de um documento a ser entregue à SME. O documento traz a síntese das questões mais relevantes escolhidas pelo grupo de educadores no GT, relacionadas às demandas prioritárias do 2º segmento do Ensino Fundamental do Município do RJ.

• 28 educadores em cada encontro, sendo: 12 Diretores; 7 Coordenadores pedagógicos e 11 Professores de disciplina específica.

• “Roda de Chegada”: atividades lúdicas de integração do grupo.

• Sensibilização: atividades envolvendo as linguagens da arte (literatura, artes visuais e música) para ampliar as sensibilidades e redimensionar a perspectiva estética e do olhar reflexivo.

• Mobilização para a reflexão, a partir das experiências vividas pelos próprios educadores.

• Trabalhos em grupo para aprofundar as reflexões. “Roda de partilha”: troca de ideias e construção coletiva de conhecimento.

• “Roda de avaliação”: análise coletiva das experiências do encontro.

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2.1 Encontro de agosto: Eu estudante, Eu educador O encontro de agosto de 2011 enfocou as reflexões sobre a “escola de ontem e hoje”, com ênfase em lembranças, marcas, memórias, avanços, retrocessos, dificuldades e possibilidades presentes nesse conjunto de experiências.

A memória permite a relação do corpo presente com o passado e, ao mesmo tempo, interfere no processo atual de representações. (...) É a conservação do passado que

sobrevive em estado inconsciente chamado pelo presente em forma de lembrança, (...)o lado subjetivo de nosso

conhecimento das coisas. Ecléa Bosi5

Atividade: minhas memórias, nossas lembranças de estudante... Nesta primeira atividade, solicitamos aos educadores que levassem para o grupo fotografias de quando eram estudantes. A partir desses registros, em pequenos grupos, cada um deles foi motivado a se apresentar para o outro, contando onde estudou e onde trabalha, mostrando as fotografias que trouxe.

Os questionamentos que perpassaram este momento foram: o que carrego na lembrança de quando era estudante? O que me lembro da escola onde estudei? Que marcas a escola me deixou? Existe alguma relação entre a escola que estudei e a escola que trabalho atualmente? O que os estudantes da escola onde hoje trabalho irão levar na lembrança sobre a escola?

Em seguida, cada grupo criou um painel coletivo com as fotos de quando eram estudantes, acompanhadas de desenhos, palavras e frases significativas acerca das marcas que a escola deixou nos educadores e das marcas que a escola deixa hoje nos estudantes.

5 BOSI, Ecléa. Memória e sociedade; lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

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Destacam-se dois objetivos desta atividade: 1) que os educadores começassem a se (re)conhecer a partir de suas memórias afetivas com a escola; 2) que os educadores, através da experiência narrada e da análise de suas práticas cotidianas, discutissem a importância de se pensar a escola e a educação a partir de um determinado contexto histórico, social, cultural e político.

Os vários sentidos da atividade...

Nossos olhos veem a partir de onde nossos pés pisam. Todo ponto de vista é a vista de um ponto.

Leonardo Boff6

Somos feitos a partir do que vivemos, das experiências que tivemos. Fomos estudantes ontem e carregamos, em nossa história, memórias, marcas e impressões do que vivemos. Ao relembrar nossa experiência como estudantes, acessamos imaginários, sentimos cheiros, sabores e saberes das nossas relações com os professores que tivemos e com as escolas que vivemos. Todos esses aspectos impactam o nosso modo de ser educador e de educar hoje...

Assim, compreendemos que narrar histórias/experiências de vida relacionadas às trajetórias formativas dos educadores, revelando suas singularidades, é um exercício de grande importância para a ampliação de compreensões e de partilha de reflexões fundamentais para a educação.

Para pensar a prática educativa que fazemos hoje, é importante tomar consciência das práticas educativas que vivemos como estudantes. Essa consciência nos auxilia a compreender concepções, pontos de vista, contextos históricos, geográficos, culturais, sociais, políticos e econômicos que fundamentam as práticas educativas e os espaços de ensino-aprendizagem.

6 BOFF, Leonardo. A águia e a galinha: uma metáfora da condição humana. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

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Com a voz, os educadoresNa “roda de partilha” os educadores começaram a “desfiar” suas memórias e compartilhar suas lembranças, fazendo relação com suas visões sobre a escola de hoje. Seguem algumas falas dos participantes do grupo, que permitem perceber a riqueza dessas experiências, bem como elencar alguns aspectos chaves para a nossa reflexão:

“Eu acho que a questão simbólica, o sentimento pela escola permanece. Os rituais é que são outros. (...) E, talvez, nós sentimos muita necessidade dessa coisa, do que é visível. Antigamente, a escola ritualizava mais, marcava: a questão do hino, a questão do modo como andar, a questão do modo como se portar. Eu acho que, quando nós voltamos ao passa-do com o olhar de hoje e fazemos o movimento inverso, nós percebemos esse amor pelo espaço, só que num outro con-texto, num outro tempo e se manifestando de outras manei-ras. Vocês falaram das pichações, de algumas coisas que não são muito legais, mas isso é sinal dos tempos, e a escola refle-te a sociedade; mas o ritual, a questão do amor pela escola, eu acho que isso está muito latente quando eles saem da escola e voltam, dizendo: Como eu fui feliz aqui! Saudade...” Diretora

“Para mim essa escola (de ontem) era espaço de brincar, de aproveitar, da paz, de ler, de encontrar os amigos. Eu faço uma comparação com a escola hoje, claro que tem escolas bem cui-dadas, bem conservadas, mas à custa de muito esforço, muita batalha. E aí se entra numa discussão profundíssima: os estu-dantes de agora têm ou não esse espírito de pertencimento, têm ou não têm esse amor ao espaço? Têm, sem dúvida. Tal-vez, nós tenhamos algo em comum (em relação aos alunos), porque só temos a descoberta daquele espaço (é, foi impor-tante) quando saímos. (...). Nós estamos lidando com alunos que são reflexo dessa sociedade maluca, vendida, presa, cal-cada nos valores de uma educação bancária. Por que você está sempre atrasado? Por que as direções estão sempre atrasadas? Porque se tem sempre que preencher planilhas, cadê o espaço da escola, para pensar a escola, o desenvolvimento humano do aluno mesmo? Eu quero saber o seguinte: o que eu posso fazer de verdade para mudarmos alguma coisa na cabeça dos nossos alunos que estão ali vivendo, tendo que passar por cima de cadáveres, cujos pais não têm emprego ou têm subempre-gos. É isso o que nós queremos, é isso o que nós sonhamos? Se estamos num projeto chamado Megafone, é o momento de colocar a boca no mundo. Nós valorizamos os equipamentos, os números... o que tem importância de verdade, o que é a educação de verdade? É isso o que interessa.” Professor

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Esses depoimentos nos trouxeram algumas reflexões...• Como falar da memória, das lembranças de quando éramos estudantes,

sem nostalgia, sem saudosismo, reconhecendo que são tempos-espaços e condições históricas, culturais, sociais, políticas distintas?

• Como não fazer comparações e julgamentos entre o tempo de ontem e o tempo de hoje?

• Como pensar a escola que construímos hoje como educadores a partir da escola que vivemos como estudantes?

• Como estabelecer diálogos e relações entre diferentes experiências e práticas educativas a partir de tempos e contextos distintos?

É interessante perceber que, nos discursos dos educadores, a escola e suas práticas foram sendo desnudadas, e as memórias foram tecidas e entretecidas a muitas mãos. Observamos que as experiências presentes dos educadores parecem sobrepor-se ao rememorar de suas histórias e experiências como alunos. Nesse sentido, notamos uma angústia por parte desses profissionais com uma série de aspectos de suas práticas pedagógicas, para os quais eles não encontram muitas saídas e soluções.

Desse modo, nas falas dos educadores são muitas as perguntas e poucas as respostas... Apesar dessa situação delicada, os educadores mostram o comprometimento com os resultados de seu trabalho, conforme ilustram alguns questionamentos por eles lançados ao grupo. Nestas questões, chamam a atenção as tensões em torno do tema da “participação”:

• Como construir sentimentos de pertencimento à escola?

• Quem se sente pertencente à escola?

• O que nos vincula, faz-nos pertencer, a alguma coisa?

• Qual o tipo de participação que temos na escola?

• Posso me sentir parte de alguma coisa da qual eu não participo?

• O que é participar? Basta frequentar?

• Participação exige escolha e tomada de decisão?

• Quem escolhe e decide as coisas na escola? Com quem está o poder de decisão? Como os estudantes e professores são mobilizados a participar e decidir, para que possam se sentir parte?

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2.2 Encontro de setembro: As Escolas dos nossos sonhos / Questões prioritárias do 2º segmento do Ensino Fundamental

Atividade 1: Leitura dos textos sobre “A Escola dos nossos sonhos”

Ela (a escola dos meus sonhos) não briga com a TV, mas leva-a para a sala de aula: são exibidos vídeos de anúncios e programas e, em seguida, analisados

criticamente. A publicidade do iogurte é debatida; o produto adquirido; sua química, analisada e

comparada com a fórmula declarada pelo fabricante; as incompatibilidades denunciadas, bem como os fatores

porventura nocivos à saúde. O programa de auditório de domingo é destrinchado: a proposta de vida subjacente,

a visão de felicidade, a relação animador-platéia, os tabus e preconceitos reforçados, etc. Em suma, não se

fecham os olhos à realidade, muda-se a ótica de encará-la. Há uma integração entre escola, família e sociedade.

A Política, com P maiúsculo, é disciplina obrigatória. As eleições para o grêmio ou diretório estudantil são

levadas a sério e, um mês por ano, setores não vitais da instituição são administrados pelos próprios alunos. Os

políticos e candidatos são convidados para debates e seus discursos analisados e comparados às suas práticas.

Frei Betto7

Foi solicitado aos educadores que realizassem uma enquete na escola perguntando para alunos, professores, funcionários e famílias: Qual é a escola dos seus sonhos? O que precisa acontecer para esta escola se tornar a escola dos seus sonhos? Posteriormente, os educadores em parceria com outros atores da escola deveriam criar um texto intitulado: “A escola dos nossos sonhos”.

7 BETTO, Frei. A Escola dos Meus Sonhos. http://www.bancodeescola.com/freibeto.htm

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Neste encontro, realizado em setembro de 2011, convidamos os educadores para ler o texto produzido na sua escola para o grupo. Elegemos categorias que permitiram a classificação, organização e análise dos discursos presentes nesse conjunto de textos. Essas categorias foram: valores, consciência, participação e ensino-aprendizagem.

Com a voz, os educadoresNo que se refere especificamente à categoria “valores”, destacamos algumas passagens que nos pareceram mais significativas no processo de trabalho no GT.

“Uma escola que trabalha com os sonhos, com realizações particulares e gerais possibilita as parcerias, ouve e é ouvi-da. E, acima de tudo, vence a adversidade com atitudes de respeito e amor.” Escola Municipal Emiliano Galdino

“Nessa escola, direção, professores e alunos são mais presen-tes, o ensino é bom, as pessoas são agradáveis e responsá-veis. Há mais educação, mais ocupação, respeito, muito amor, paz e participação de todos. É uma escola que dá orgulho aos seus alunos. (...) Os responsáveis são unidos e integrados à escola, os profissionais, dedicados e os alunos, atenciosos. Há respeito mútuo porque ele é a base sólida para qualquer rela-ção interpessoal. Há valores morais e éticos.” Escola Municipal Milton Campos

Identificamos nos discursos dos educadores dois aspectos principais: 1) o desejo de que o ambiente escolar se torne local de convivência interpessoal pautada em valores humanos; 2) a perspectiva de a escola ter como missão a prática de uma educação humanizadora. Nesse sentido, são recorrentes as palavras: “felicidade”, “amizade”, “união”, “respeito”, “harmonia”, “amor”, “parceria”, “bem comum”, “moral” e “ética”.

Pela força dos significados que essas palavras carregam, alguns questionamentos emergiram no GT:

- Como fazer com que esses valores não sejam apenas palavras desejadas, mas se transformem em atitude concreta no cotidiano das escolas?

- Como trabalhar com esses valores na relação entre estudantes, professores, familiares e funcionários? É só a escola que é responsável pela educação de valores?

- Como a escola dialoga com os valores dos contextos sociais, políticos, históricos e culturais da sociedade contemporânea?

- Como tratar de valores humanos, escola, relações interpessoais e educação sem refletir sobre os modos como a sociedade vem se organizando e enfrentando seus desafios e crises?

- Há uma crise nas relações e nos valores humanos na sociedade contemporânea? E na Educação, há uma crise em relação ao papel e à missão da escola nessa mesma sociedade? Como enfrentar essas questões?

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Essas questões não foram propriamente respondidas no GT, já que elas apontam para a necessidade de estudo, reflexão e debate acerca dos elementos que as constituem e fundamentam. Além disso, percebemos a necessidade da criação de novos paradigmas que contribuam para a maior conscientização do papel humanizador da educação e, consequentemente, para maior clareza das atribuições da escola e dos educadores neste processo.

Reflexões...

Jamais pude pensar a prática educativa intocada pela questão dos valores, portanto da ética, pela questão

dos sonhos e da utopia, quer dizer, das opções políticas, pela questão do conhecimento e da boniteza, isto é, da

gnosiologia e da estética. Paulo Freire8

Paulo Freire provoca em seus leitores a reflexão sobre a inter-relação entre ética e estética, educação, valores e política, apontando para a necessidade de se compreender a educação como prática da liberdade. Para tanto, torna-se necessária a conscientização, por parte dos educadores, acerca dos seus papéis, responsabilidades e compromissos políticos frente à construção de uma sociedade pautada em valores humanos, como a justiça, a solidariedade, a igualdade, a fraternidade e a garantia de direitos para todos.

Sabemos, no entanto, que o alcance dessa consciência não é simples; exige, como bem descreve o autor, desenvolvimento crítico da tomada de consciência.

(...) Estou absolutamente convencido de que a educação, como prática da liberdade, é um ato de conhecimento,

uma aproximação crítica da realidade (...). Ao nível espontâneo, o homem ao aproximar-se da realidade faz

simplesmente a experiência da realidade na qual está e procura. Esta tomada de consciência não é ainda a

conscientização, porque esta consiste no desenvolvimento crítico da tomada de consciência.

Paulo Freire9

Com base nesta fundamentação teórica, elegemos a categoria consciência como um dos eixos para análise dos textos dos educadores sobre a “escola dos sonhos”. Não pudemos deixar de considerar, no entanto, outras categorias empíricas e analíticas que emergiram do processo de trabalho no GT, tais como “democracia, cidadania, compromisso e responsabilidade”. Estas diziam respeito tanto ao tema da gestão da escola, ao ensino, ao espaço físico e as relações interpessoais, quanto à relação das escolas e educadores com a SME.

8 FREIRE, Paulo. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Editora UNESP, 2000. 9 FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação. Cortez e Moraes, 1980.

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“A escola (dos nossos sonhos) é democrática, igualitária, hu-manitária e prazerosa, onde a educação é a base de todo o processo. Possui regras construídas pelo grupo e respei-tadas por este. Prepara os indivíduos com valores morais e éticos bem definidos.” Escola Municipal Argentina

Tais aspectos provocaram nos educadores do GT inúmeras indagações: de que maneira a escola vivencia os princípios da democracia e igualdade? Quem constrói as regras de convivência da escola? Quais os princípios e valores que fundam as relações de convivência na escola? Como a escola entende e trabalha a relação entre autoridade e liberdade?

Especificamente em relação às dimensões da autoridade e liberdade, tão bem trabalhadas por Paulo Freire, alguns depoimentos de educadores mostraram-se reveladores dos valores e sentidos que perpassam a escola e a prática educativa:

“Na escola dos sonhos desses professores, o pensamento é único: a Educação é a mola que impulsiona o progresso. Todos reconhecem a importância e o valor da Educação. In-clusive o governo. É uma escola cidadã, com direitos e de-veres organizados pelos agentes envolvidos. Valor social da educação.” Escola Municipal Milton Campos

“Há que se fazer do ambiente escolar um local mais prazeroso possível; com diversas atividades, boas instalações, limpeza, alimentação saborosa e de qualidade e profissionais dedica-dos e conscientes de seu papel de educadores. Que essa es-cola tenha administradores que visem à condição de melhoria de seus profissionais, de seus educandos e da estrutura do ambiente escolar, esse microcosmo da sociedade.” Escola Municipal Emiliano Galdino

Com base nesses discursos, levantamos alguns questionamentos junto aos educadores do GT: é possível pensar a escola sem o exercício da cidadania? O que será uma escola cidadã? Quais são os direitos e deveres a serem exercidos por professores, alunos, funcionários, famílias e gestores públicos? Qual o valor e sentido da escola na sociedade contemporânea? Quais as relações entre educação, escola e sociedade? Como contribuir para que os educadores tomem consciência de seu papel político frente à transformação da sociedade? Como valorizar os educadores como agentes de mudança? De que maneiras desenvolver a criticidade dos educadores frente à tomada de consciência dos seus papéis políticos?

Além dos aspectos anteriormente discutidos, vale dizer que alguns educadores fizeram referência à importância do papel dos estudantes na idealização da (e busca pela) “escola dos nossos sonhos”. Concluímos que esses educadores entendem que eles próprios, tanto quanto os estudantes, devem estar comprometidos com a práxis pedagógica, inclusive na sua

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dimensão político-pedagógica. Nessa direção, novas perguntas emergiram no GT: como comprometer os estudantes e motivar os professores? Como comprometer professores e motivar os estudantes? O que nos leva a estar comprometido com a prática educativa?

“A Direção sonha... Na escola dos seus sonhos, professores, funcionários, responsáveis e alunos são mais comprometidos. Há respeito entre toda a comunidade escolar e funcionários para todas as funções.” Escola Municipal Milton Campos

“Na escola dos nossos sonhos, existe parque com brin-quedos coloridos; os alunos usam uniformes e o cardápio alimentar é escolhido por eles; as paredes são grafitadas, alguns alunos atuam como monitores de turma, onde uns ajudam os outros; o Grêmio Estudantil é participativo e atu-ante na comunidade escolar; todos são comprometidos com o estudo e as tarefas de casa; promovem festas e eventos de integração. Nesta escola “o aluno é quem faz! Nesta es-cola os responsáveis são participativos, se preocupam com o processo de aprendizagem dos filhos, são compreensivos e respeitosos com os elementos da equipe escolar e se inte-ressam pelo bem-estar físico e moral dos mesmos.” Escola Municipal Argentina

Essas reflexões também conduziram o grupo a pensar sobre o conceito de escola cidadã, aquela que, entre outros aspectos, conta com a participação de todos. Moacir Gadotti10 define alguns pilares da “escola cidadã, pública e autônoma”: é democrática na sua gestão, democrática quanto ao acesso e à permanência de todos; não pode ser dependente de órgãos intermediários que elaboram políticas das quais ela é mera executora; e cultiva a curiosidade, a paixão pelo estudo, o gosto pela leitura e pela produção de textos, escritos ou não, de toda a comunidade: educando, professores, funcionários e pais.

Ainda sobre a discussão acerca da “escola de nossos sonhos”, a reflexão sobre o compromisso de estudantes e professores com os processos de ensino-aprendizagem ganhou particular destaque no GT. Mas como participar e se sentir parte do processo? De que maneira construir sentidos e significados nos processos de ensino-aprendizagem? Destacamos a seguir algumas falas que revelam as ideias que os educadores cultivam em relação aos processos de ensino-aprendizagem:

10 GADOTTI, Moacir. Escola Cidadã. São Paulo: Cortez, 2008.

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“É uma escola que ensina a aprender e a agir diante dos de-safios de novos caminhos e que não é paternalista. É uma escola onde os conteúdos são discutidos entre os alunos e estes apontam suas opiniões.” Escola Municipal Milton Campos

“É uma escola que inspira o professor de forma poética e ele escreve: Na escola dos meus sonhos, a música paira no ar, o silêncio é eloquente, há paz em toda gente.Na escola dos meus sonhos, a aprendizagem é verdadeira, é busca da vida inteira em crescer e se tornar feliz.Na escola dos meus sonhos, os conteúdos são instigantes porque a cada novo instante é hora de descobrir.” Escola Municipal Milton Campos

Notamos nesses discursos a valorização do aprendizado relacionado à experiência de vida. Isto é, do saber da experiência se dar na relação entre o conhecimento e a vida humana, sendo a escola o espaço privilegiado para esse processo. A escola é vista, portanto, como espaço de convivência de muitos, lócus da descoberta e do desafio, um local de ser, perceber, pertencer, refletir e criar.

Atividade 2: Criação de quatro subgrupos para definição das questões prioritárias a serem trabalhadas pelo GTNesta atividade, foi proposta a leitura dos textos sobre a “escola dos nossos sonhos” de autoria dos educadores com os demais atores das escolas onde atuam. Em seguida, os educadores foram convidados a escrever palavras chaves sobre o que foi lido no grupo. Ao final das leituras, foi realizado um jogo com essas palavras. Cada educador escolheu as palavras que lhe pareceram mais significativas, e, a partir delas, eles se organizaram em quatro subgrupos.

Os subgrupos foram mobilizados a refletir sobre a relação entre essas palavras e os princípios e valores que, para eles, norteariam a escola dos seus sonhos. Em seguida, cada subgrupo recebeu uma síntese dos resultados da (antes referida) pesquisa Megafone na Escola (2010) e foi desafiado a relacionar esses resultados às dimensões que cercam o que definem como a “escola dos nossos sonhos”.

Posteriormente, cada subgrupo definiu e escreveu questões prioritárias a serem trabalhadas pelo GT, a partir de quatro eixos: infraestrutura, ensino-aprendizagem, relacionamentos e gestão. Tais eixos, inclusive, nortearam a discussão e a nomeação dos subgrupos. Cabe dizer que houve uma intensa participação dos educadores nos debates.

A nossa expectativa com essa proposta não foi no sentido de que as questões fossem respondidas ou resolvidas. O mais relevante, para nós, era que os educadores formulassem questões mobilizadoras do “pensamento inquietante”. E que nesse processo pudessem emergir as “palavras/pensamento”, como Hannah Arendt11 se referia à busca de sentido ao que somos, fazemos e queremos, nosso lugar e comprometimento com o mundo, com os outros.

11 ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 2005.

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Com essa proposta, os educadores foram confrontados a pensar se estão assumindo ou não uma educação comprometida com o bem comum. E isso envolve pensar a sério a respeito de uma educação pública, democrática e igualitária para todos.

Na tabela a seguir sintetizamos as discussões de cada grupo, bem como os apontamentos de cada um na direção de futuras mudanças.

Subgrupo Infraestrutura: Subgrupo Relacionamento: Subgrupo Gestão: Subgrupo Ensino-Aprendizagem:

Falar de Infraestrutura na escola relaciona-se não apenas a questões de espaço e estrutura física, mas também, e sobretudo, aos valores que compõem esta relação pessoas/estrutu-ra física.

Principalmente o compromisso, que faz com que todos participem da construção/con-servação do espaço físico.

Infraestrutura de pessoal administrativo, que acaba por comprometer o trabalho nos diversos setores.

Maior flexibilidade no uso das verbas municipais.

Maior suporte em materiais de consumo por parte da SME para que não haja tanto comprometi-mento do SDP.

Maior fiscalização e acompanha-mento do trabalho da COMLURB nas escolas.

Maior agilidade para chegada dos laboratórios de informática do PROINFO, com link de internet para os mesmos e Educopédia.

Espaço para que os professores de educação física da própria escola tenham DR para oficinas desportivas no contraturno e, consequente-mente, preparação para os Jogos Estudantis da PCRJ, fazendo com que o esporte seja mais valorizado nas escolas, sem necessidade de projetos externos.

Campanhas publicitárias do tipo “Esta escola é sua, conserve-a”, utilizando cenas do cotidiano de nossas escolas para aumentar a autoestima de nossos alunos, de modo que eles se sintam parte de toda essa estrutura.

“Dialogar com a alma” através das oficinas culturais no contraturno;

Oportunizar ao aluno atividades diversas ligadas ao desenvolvimento de suas aptidões para a descoberta dos talentos individuais e seus valores;

Ações conjuntas para fortalecimento do grupo escolar. Ex.: atividades culturais para os professores;

Música ambiente na escola (músicas que não façam parte da cultura dos alunos. Ex.: música clássica);

Gincanas interdisciplinares para, através do lúdico, desenvolver conceitos e habilidades;

Priorizar o diálogo e o afeto entre os elementos da escola;

Estabelecer uma relação de “pertencimento” do espaço escolar onde estão inseridos;

Fortalecimento dos segmentos através do professor como “mola propulsora” de abertura de canais;

Fortalecimento do grupo através do exemplo do “gestor” como “elo” orientador e propulsor;

Valorização profissional, tanto pedagógica quanto financeiramente.

Um número maior de Centro de Estudos, onde os professores efetivamente se encontrem para elaborar um material adequado que possibilite um ensino de qualidade. Onde haja a troca de experiências e de conhecimento, gerando a maior capacitação para a apropriação de novas tecnologias e metodologias. Isso tudo para garantir que a escola seja o espaço de conhecimento.

Para aulas mais dinâmicas, o ideal seria ter-se uma maior relação das políticas públicas de educação com outras áreas (parcerias), que possibilitasse um ensino atualizado e lúdico (Ex.: aulas em museus, em centros culturais, teatros etc.).

Instituição do professor-tutor, como um orientador, uma vez que não se tem assistente social ou orientador vocacional do aluno para despertar, no educando, a necessidade da aquisição de maior responsabilidade, de maior disciplina para a aquisição de conhecimentos que possam garantir sua preparação para o mercado de trabalho.

GESTãO

Escola Democrática;Igualitária;

Humanitária ePrazerosa

Recursos Públicos

Comprome- timento

Professores satisfeitos

Direitos e deveres

Habilidades desenvol-

vidas

Avaliação Qualitativa

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2.3 Encontro de outubro e novembro: Debate de perguntas

A construção ou a produção do conhecimento do objeto implica o exercício da curiosidade, sua capacidade crítica de

“tomar distância” do objeto, de observá-lo, de delimitá-lo, de cindi-lo, de “cercar” o objeto ou fazer sua aproximação

metódica, sua capacidade de comparar, de perguntar. Paulo Freire12

Atividade: Exibição de vídeo do encontro anterior acompanhada de roda de conversa Nesta atividade foi exibido um vídeo, construído a partir das falas dos educadores em um encontro anterior, no quadro do GT. Optou-se pela não linearidade dos depoimentos, pelo agrupamento de depoimentos que provocassem reflexão sobre o que vínhamos discutindo no GT. O vídeo foi estruturado em torno das questões desafiadoras entre a “Escola dos sonhos” e a escola que temos hoje.

Após a exibição do vídeo, foi realizada uma “roda de partilha”, na qual os educadores teceram comentários. Destacam-se as palavras ressaltadas pelos educadores: complexidade, aprendizagem, sensibilidade, pertencimento, interação, respeito, tempo, pesquisa e avaliação.

Destacamos nos discursos dos educadores a necessidade de investir no Centro de Estudos da escola como espaço privilegiado de reflexão, estudo e debate. Além disso, eles defenderam a necessidade de a escola ser espaço de pesquisa de alunos e professores, já que, segundo um dos educadores, “é preciso pensar mais em como aprender e como ensinar”. Aqui aparece a dimensão da práxis pedagógica, de como enfrentar o processo de ensino-aprendizagem, a necessidade de se estudar e pesquisar mais maneiras de como aprender e ensinar.

12 FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. p.95.

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Nas discussões provocadas pelo vídeo, uma coordenadora chamou a atenção para o tema do pertencimento, muito recorrente nos depoimentos do grupo de educadores do GT. Observamos a necessidade, por eles identificada, de que os diversos atores envolvidos na escola (alunos, familiares, educadores) sintam-se pertencentes ao espaço e ao sentido da escola. Ainda nesse debate, foi ressaltada a importância da gestão democrática da escola, com a participação de todos e disponibilidade para sugestões e críticas.

Os educadores ainda deram destaque ao tema avaliação. O que se ensina, o que se aprende, o que se cobra e o que se avalia? Notamos nas falas do educadores que essas perguntas, que são tão estruturantes do trabalho pedagógico, nem sempre são formuladas e refletidas por eles com a profundidade merecida.

Finalmente, é interessante pensar no próprio desenho desta atividade por nós proposta, em como os educadores relacionaram as imagens nas quais eles mesmos apareceram, falando no vídeo, com a dinâmica do cotidiano da escola. Em diversas passagens, notamos que o dia a dia da escola dita um ritmo, por vezes frenético, que dificulta a reflexão e a análise das ações. Também observamos o desejo de pesquisar, estudar e aprofundar suas práticas pedagógicas, com destaque para o modo como vêem a escola e se percebem no emaranhado complexo do cotidiano escolar.

Debate de perguntasPosteriomente, realizamos um exercício de debate de perguntas. Os educadores deveriam elaborar perguntas que se relacionassem com as questões que os subgrupos (infraestrutura, ensino-aprendizagem, relacionamento e gestão) tinham apontado como prioritárias nos encontros anteriores. Deste modo, as questões foram feitas e organizadas por blocos, de acordo com os temas norteadores dos subgrupos.

Vale afirmar que esse trabalho de elaboração de perguntas não tinha um compromisso com “o dar respostas”. Outrossim, baseava-se na possibilidade de identificação das “raízes” das situações/problemas do contexto escolar. Assim, procuramos instigar o “olhar pesquisador” dos educadores, na direção de refletir sobre as origens das problemáticas. Apostamos, com isso, no desenho de outras práticas e na construção de novos caminhos educativos. Portanto, a partir do debate de perguntas, os educadores foram desafiados, em vez de responder, a criar novos questionamentos que permitissem uma ampliação do olhar e uma consciência, no sentido paulofreiriano, dos rumos e direções dos seus fazeres cotidianos.

Ainda como parte desta dinâmica de trabalho, foi entregue para cada subgrupo um roteiro de questões provocativas em relação aos eixos prioritários (Infraestrutura, Ensino-aprendizagem, Relacionamento e Gestão), para que aprofundassem as reflexões. Nesta proposta, os educadores poderiam acrescentar tópicos e retirar os itens que julgassem menos estratégicos para a discussão em pauta.

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REFLEXÕES GERAIS

Subgrupo Infraestrutura Subgrupo Ensino-Aprendizagem Subgrupo Relacionamento Subgrupo Gestão

Ampliação de conhecimento e consciência sobre o sentido de pertencimento a uma instituição pública. De quem é a escola pública? Quem são os sujeitos responsáveis pela escola pública? Como desenvolver compromissos e desejos de participação no coletivo?

Terceirização de pessoal administrativo nas escolas. Como criar elos entre servidores públicos e prestadores de serviço terceirizados nas escolas?

Qual é a cultura/política de consumo de materiais nas escolas? Há debate sobre a dimensão da escola como um espaço sustentável? Como a escola lida com o desperdício?

Qual a participação da comunidade escolar no Projeto Político-Pedagógico da Escola e na construção de orçamento participativo?

Quais são os meios de diálogo da escola com a CRE e a SME?

Quantas escolas do 2º segmento têm laboratórios de informática funcionando? Como a escola reivindica, por exemplo, os laboratórios de informática à SME? (informação disponível no sistema de indicadores)

Como criar campanhas que estejam em consonância com outras ações que contribuam para a consciência do sentido público da escola – de preservação e cuidado da escola?

Que outros aspectos sobre infraestrutura gostariam de levantar?

Qual a importância dos Centros de Estudos para a escola do 2º segmento? Como criar e integrar uma equipe de professores horistas? Como discutir e refletir sobre a prática pedagógica envolvendo todos os professores? Como criar projetos multi-inter e transdisciplinares? Quantos Centros de Estudos anuais são necessários para isso? Como garantir esses Centros de Estudos em 2012? Qual o papel do coordenador pedagógico nos Centros de Estudos?

Como garantir a formação continuada dos professores? Os professores têm uma formação cultural? Como essa formação pode ser garantida pela SME? Que ações a própria escola pode realizar que contribuam para essa formação?

Que tipo de parcerias a escola gostaria de estabelecer com outras instituições? Que instituições seriam essas? Como a SME poderia se articular com outras secretarias da cidade? Desenvolvendo que ações e projetos nas escolas?

Qual seriam o perfil e formação do professor-tutor? Como ele dialogará com a equipe de professores? Qual será seu papel na escola?

Que outros aspectos sobre ensino-aprendizagem gostariam de levantar? Quais as concepções de ensino-aprendizagem que a SME e a escola têm atualmente? Como os adolescentes aprendem hoje em dia? O que a escola deveria ensinar aos adolescentes contemporâneos? Quem define o currículo da escola? Quais são os conteúdos fundamentais? Como o currículo da escola dialoga com os PCNs? Quando se conversa e se reflete sobre o currículo da escola? Como os professores se posicionam frente ao currículo da escola? Como discutir metodologias de trabalho dos professores nas escolas?

A escola é feita de múltiplas e complexas relações. Como os diversos atores que compõem a escola podem fortalecer suas relações afetivas, identitárias, interpessoais? Será que essas relações podem ser revisitadas a partir dos próprios processos de ensino-aprendizagem? Afinal, a escola tem como principal missão se tornar um espaço educador, onde todos aprendem e ensinam, todos estão implicados nos processos educativos de ensino-aprendizagem. E não estamos falando apenas do ensino curricular, mas também dos valores, das culturas, da ética, da estética.

Neste eixo prioritário estão levantadas sugestões de ações concretas que envolvem os relacionamentos interpessoais na comunidade escolar, prioritariamente entre alunos e professores. De que maneira podemos aprofundar nossas reflexões não somente sobre esses relacionamentos, mas também sobre a relação interpessoal entre todos os atores que compõem a comunidade escolar, assim como a relação da comunidade escolar com a comunidade local.

De que maneiras e quem são os atores responsáveis pela construção de uma escola democrática, igualitária, humanitária e prazerosa?

Quem é responsável pela gestão da escola? Quando se fala em gestão democrática da escola, que dimensões estão sendo consideradas? Que atores precisam ser mobilizados para a garantia da gestão democrática da escola?

De que maneira a formação política do professor pode ser desenvolvida?

Quais são os “mitos” que dificultam o professor a se posicionar politicamente frente a seu papel, seus desejos e competências?

Quais as instâncias e os canais de participação do professor na política de educação vigente? Como os professores se relacionam com a CRE e a SME?

Como os professores podem ser reconhecidos e valorizados por suas experiências e competências?

Como os recursos públicos devem ser geridos? Quem e como se participa desta gestão?

De que maneira os professores se comprometem com a educação pública?

Como enfrentar os desafios da avaliação – quantitativa e qualitativa – na escola hoje?

Após a discussão das questões que lhe eram pertinentes, cada subgrupo recebeu um quadro contendo duas colunas em branco para que fossem preenchidas e trazidas no próximo encontro do GT. Na primeira coluna, o espaço estava reservado para a lista de sugestões de ações para a SME. E, na segunda coluna, para sugestões de ações que a escola pudesse realizar enquanto iniciativa própria, independente da SME.

Cada um dos educadores levou o quadro para a escola onde atua, de forma que pudesse aprofundar as discussões com outros educadores e, assim, trazer para o encontro de dezembro as “pistas” para a construção do documento a ser entregue à SME.

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2.4 Encontro de dezembro: A construção coletiva do documento para a SME

As palavras sabem muito mais longe.Bartolomeu Campos de Queirós13

O objetivo desse encontro foi a elaboração do documento a ser encaminhado à SME, a partir das reflexões e questões apontadas pelo GT no percurso do trabalho. Vale destacar que, no início da atividade, foi lido o planejamento para os educadores, de forma que todos pudessem fazer parte da efetivação dos pontos priorizados para a reunião, na perspectiva de corresponsabilização pelo encaminhamento do encontro.

Atividade 1: Sensibilização – nutrição estética através da leitura do livro “Correspondência”, de Bartolomeu Campos de Queiróz, seguida de “roda de partilha” sobre essa história. Os educadores foram questionados a respeito da “carta” a que o autor estava se referindo em seu livro. Segue um depoimento a esse respeito:

“A Constituição. O jogo de palavras que devem ser adormeci-das e despertadas é o que nós vemos hoje em dia, que elas não estão tão adormecidas, elas estão sendo acordadas no lugar er-rado, na hora errada. Então, eu acho que não é bem despertar as palavras, elas estão aí, sempre estiveram acordadas. Eu acho que basta que nós consigamos percebê-las e vivenciá-las. Por-que eu acho que nós estamos muito acostumados, as palavras existem, as coisas existem, todo mundo sabe, mas nós estamos nos acostumando muito com a mesmice. (...) E, no fundo, ele (o livro) fala o que nós precisamos colocar em prática para se ter um livrão que venha contemplar os nossos ideais. Está na hora

13 QUEIRÓS, Bartolomeu Campos de. Correspondência. Belo Horizonte: RHJ, 2004. O livro é construído a partir de cartas enviadas de uma pessoa para outra, nas quais são acordadas e adormecidas palavras. Através dessa simbologia, de maneira poética, o autor refere-se ao processo de construção democrática da Constituição Brasileira.

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de nós começarmos a lutar para que esses ideais não fiquem só em ideias. Porque o ideal não vai existir se nós não colocarmos ele em prática. (...)É trabalhar política, sim, na escola, todo ser é político. Não adianta nós dizermos ‘ai, eu não gosto de política, eu não gosto de me envolver com política’. Você nasceu, você já passou a ser um ser político. Você tem que encarar a política como sendo algo sério e não deixar trocar a política por politicagem. A po-liticagem é o que nós estamos vendo hoje em dia, onde cada um vê o seu interesse, aonde a lei de Gerson prevalece, e não a busca por um mundo melhor. E todo mundo diz que temos que ter um mundo melhor, temos que ter honestidade, e onde está a prática disso? Então, eu acho que esse livro é importante para isso, para nós colocarmos para o aluno ou para as pessoas em si que nós temos que buscar essa prática que nós deixamos adormecer. Não são as palavras que estão adormecidas, não. Eu acho que a palavra que tinha que ser acordada é ser huma-no. “O ser humano é que precisa acordar.”Professora

Percebemos a partir dessa fala que a leitura do livro cumpriu seu papel de sensibilização. Ele mobilizou a reflexão sobre a dimensão humana e política da educação. Alcançou-se no grupo a reflexão de que a práxis educativa exige que os ideais não sejam apenas ideias, mas se transformem em ações concretas, reveladas na prática cotidiana. O que pressupõe ousar, deslocar o olhar, não reproduzir a mesmice, ver por outros ângulos, assumir o compromisso de ser educador como agente político de transformação da sociedade.

A partir desta atividade percebemos, nas falas dos educadores, a relação entre a dimensão política e humanizadora da educação. Salta à vista a consciência do papel político, da dimensão pública, democrática e cidadã da escola, que é feita de gente e, portanto, de relações, nas quais todo mundo ensina e aprende. No entanto, percebemos também nos depoimentos que esta articulação real entre as dimensões política e humanizadora da educação não é praticada e vivenciada no cotidiano escolar como poderia ser e se desejaria que fosse.

Atividade 2: Escolha das questões prioritárias para compor o documento a ser encaminhado à SMENesta atividade os educadores foram mobilizados a discutir com o subgrupo (Ensino-Aprendizagem; Relacionamento; Gestão e Infraestrutura) e selecionar as questões prioritárias (centrais e sintéticas), que julgavam fundamentais para compor o documento a ser encaminhado à SME.

A partir daí, iniciou-se a construção coletiva do documento, feita de maneira colaborativa. No percurso de elaboração do documento, o grupo reconheceu que as questões mais relevantes relacionavam-se aos processos de ensino-aprendizagem e à importância da garantia dos espaços de formação dos professores. Desta forma, esses eixos foram priorizados na feitura do documento, sem que os outros assuntos que surgiram no decorrer do encontro deixassem de ser debatidos.

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Ofertamos uma estrutura geral do documento de forma a facilitar o trabalho. Cada subgrupo apresentou as questões que escolheu para serem inseridas na carta. Conforme os educadores integrantes dos subgrupos expunham seus motes prioritários, os demais avaliavam e argumentavam acerca dos tópicos. A intenção era que todo o texto do documento fosse definido em consenso.

Segue o documento criado e assinado por todos os educadores do GT.

Rio de Janeiro, 06 de dezembro de 2011

À Subsecretaria de Ensino, Sra Helena Bomeny O Instituto Desiderata trabalha na perspectiva da construção coletiva articulando diferentes atores do processo educacional para o fortalecimento das políticas públicas de educação. Os princípios de diálogo, autoria, parceria e produção colaborativa de conhecimentos são as bases do nosso trabalho. Em 2011, o Instituto Desiderata nos convidou, gestores das escolas do 2º segmento do Ensino Fundamental do Município do Rio de Janeiro, para participar de um Grupo de Trabalho (GT) que tem como principal objetivo possibilitar a troca de experiências e a reflexão sobre as demandas específicas deste segmento: 35 escolas aderiram ao convite e 29 educadores (diretores, coordenadores pedagógicos e professores) participaram dos 5 encontros do GT. O grupo tem como premissa os quatro pilares da Educação segundo Jaques Delors: aprender a ser, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a conhecer. Nos debates sobre a qualidade do ensino público, este Grupo definiu questões prioritárias para o 2º Segmento, criando um documento que propõe ações concretas a serem desenvolvidas pelas escolas e levanta algumas questões a serem consideradas pela SME. - Analisar uma nova grade curricular com 6 tempos de aula diários de 45 min. Sugestão: 6 tempos de Língua Portuguesa e Matemática e mais 1 tempo de História, Geografia e Ciências em todos os anos. - Incentivo à realização de oficinas artísticas, culturais e esportivas no contraturno escolar com professores da própria rede. - Garantir acesso à internet a todas as escolas. - Garantir suporte técnico periódico para o uso eficiente de toda tecnologia. - Incluir, na semana de capacitação de fevereiro de 2012, a formação específica presencial com os professores voltadas ao uso do Educopédia, assim como espaços para troca de experiências, reflexão e análise do conteúdo.- Realização, em 2012, de Seminários sobre avaliação, discutindo interfaces quantitativas e qualitativas sobre ensino-aprendizagem de alunos e professores. Como estamos avaliando? Diálogo entre avaliação interna e externa. - Garantir mais clareza nas determinações com relação ao sistema de avaliação. - Garantir espaço específico para a formação dos coordenadores pedagógicos das escolas. - Garantir coordenadores pedagógicos considerando número de alunos, por segmento. - Revisão das gratificações da equipe responsável pela gestão escolar (diretor, adjunto e coordenadores pedagógicos)- Implementação do Plano de Carreira dos profissionais da educação, conforme previsto na Constituição. - Maior divulgação sobre as parcerias da SME com outras Secretarias e instituições, solicitando às CRES a difusão e democratização do acesso às informações. - Prever verba específica para as escolas, proporcional ao número de alunos, voltada à realização de ações pedagógicas e culturais externas. - Revisão de regras para a utilização do SDP, oferecendo maior flexibilidade / ampliação para os recursos serem usados de acordo com a necessidade de cada Unidade Escolar.- Rediscutir formas legais de distribuição proporcional ao número de alunos das escolas, em relação ao cargo de agentes administrativos/educadores nas instituições. - Garantir sistema único de gerenciamento de dados.

Certos de sua parceria, aguardamos ansiosamente respostas positivas e nos disponibilizamos a contribuir no que for necessário para tornar tais sugestões viáveis.

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Vale destacar alguns pontos principais e momentos auges do processo de construção deste documento. Em diálogo com os educadores, a subsecretária de ensino e a assessora trouxeram alguns esclarecimentos sobre possibilidades e limites de atuação da Secretaria. Quanto ao transporte, identificou-se que esse é um problema mais geral da cidade, não podendo ser resolvido diretamente pela SME.

Entretanto, de acordo com os relatos dos educadores, as verbas destinadas às escolas não são suficientes para a efetivação de eventos externos. A esse respeito, a subsecretária de ensino relatou, brevemente, alguns dos projetos realizados a partir da articulação da SME com outras Secretarias, como exemplo de algumas alternativas possíveis para a realização de passeios com garantia de transporte aos estudantes. Sobre essa questão os educadores apontaram a necessidade de maior divulgação acerca dessas parcerias para as escolas, de modo que pudessem conhecer e utilizar as possibilidades existentes.

Ainda como parte do processo de produção do documento, os educadores problematizaram a relação entre as Escolas e as CREs, e das CREs com a SME. De acordo com eles, parece haver uma “falha na comunicação” entre essas instâncias, e isso reflete-se negativamente nas escolas. A partir dessa discussão, indicou-se no documento a necessidade de maior divulgação dos recursos existentes nas CREs destinados às ações específicas a serem realizadas pelas escolas.

Os educadores ainda chamaram a atenção para questões de ordem estrutural que precisam urgentemente ser sanadas. Destaca-se, por exemplo, a gratificação pequena, pouco atrativa, aos cargos de coordenação pedagógica e gestão. Situação que, segundo os educadores, acaba levando à desistência dos profissionais para a ocupação desses cargos, além de dificultar que novos profissionais se candidatem às vagas.

Merece destaque, também, uma solicitação dos educadores à subsecretária: a promoção de encontros do nível central e das CREs com as escolas, para apresentar os projetos em andamento da SME, visto que, segundo os educadores, muitos desses projetos são implementados sem haver diálogo direto e permanente com os educadores das escolas.

Um último aspecto importante e significativo na produção deste documento foi o momento em que os educadores debateram em torno do parágrafo de conclusão. Como estava sendo endereçado à subsecretária Helena Bomeny, e a própria estava presente deste o início do GT, participando também da construção do documento, ela mesma solicitou ao grupo que fosse modificada a frase final: que substituíssem “certos de sua compreensão” para “certos de sua parceria”, uma vez que, segundo a própria, ela está no GT na condição de parceira.

Avaliando...No último encontro, por meio de um questionário individual, foi realizada uma avaliação com o grupo de participantes, com a intenção de reconhecer aspectos significativos do processo de trabalho, fortalezas, fragilidades e sugestões de continuidade para o GT. A maioria dos educadores reconheceu a importância do GT como espaço de diálogo, troca de experiências e reflexão sobre a prática. Destacam-se em anexo algumas opiniões dos educadores (ver no anexo)

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3. Considerações finais e desdobramentos Voltado às demandas específicas do 2º segmento do Ensino Fundamental da rede municipal, o GT consolidou uma estratégia de ação eficaz, no que diz respeito à mobilização dos educadores para o aprofundamento de suas reflexões sobre as práticas pedagógicas e a gestão da escola. Esta favorece, principalmente, o diálogo direto desses educadores com a Secretaria Municipal de Educação, através da presença efetiva da subsecretária de ensino e sua assessora nos encontros.

Apostamos que esta iniciativa é de fundamental importância para a construção de políticas públicas voltadas para esse segmento, visto que a participação efetiva dos educadores nos debates qualifica a elaboração de políticas que estejam em consonância com as demandas reais da escola e de seus educadores.

Acreditamos que estes resultados só se tornaram possíveis a partir das conquistas dos próprios participantes do GT ao longo dos encontros. Os educadores:

• construíram vínculos de confiança e de pertencimento;

• identificaram causas comuns;

• disponibilizaram-se para o diálogo plural, ultrapassando hierarquias, sem desfazer as singularidades e realidades de cada um;

• tomaram posse de pensamentos próprios para bem fazer educação como processo coletivo-público, e não particular;

• apropriaram-se de seus papéis políticos frente ao que julgam importante para o 2º segmento do Ensino Fundamental, e;

• criaram uma proposta de ação colaborativa, na sua forma e conteúdo.

Em 2012 o Projeto Megafone: Manterá o GT com educadores (diretores, coordenadores pedagógicos e diretores) de toda a rede.

Realizará, por questões estratégicas, um Curso de Formação com coordenadores pedagógicos e outro com diretores de aproximadamente 30 escolas que atuam com o 2º segmento do Ensino Fundamental, localizadas na região da Grande Tijuca (zona norte do Rio de Janeiro).

A escolha dessa região justifica-se por suas características específicas, pois trata-se de uma localidade de grande diversidade, que se apresenta tanto nas escolas quanto nas condições socioeconômicas do público a que atendem.

A intenção com este Curso é contribuir com a formação desses profissionais, criando espaços de troca, estudo, reflexão e debate, bem como ampliar suas visões e perspectivas de atuação, com foco no trabalho que eles desenvolvem com os professores nas escolas, o qual, por sua vez,

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está voltado à qualificação dos processos de ensino-aprendizagem dos adolescentes.

Por fim, com este conjunto de ações, almeja-se fortalecer os espaços democráticos de construção de políticas públicas educacionais na cidade do Rio de Janeiro, envolvendo os seus diversos atores: estudantes, professores, coordenadores e diretores em diálogo com a SME.

Dito isso, para fechar este trabalho escolhemos uma fala de um educador, a qual sumariza diversos aspectos tocados no GT, como também os desafios que estão postos por este trabalho que defendemos e apostamos rumo ao alcance de uma Educação de fato democrática, igualitária e libertadora:

“Eu trago aqui (na atividade) a palavra, a minha palavra – “corrupto”. Porque nós estamos vivendo, acordando, dor-mimos e acordamos com essa questão do corrupto. Só que corrupto, a palavra corrupto quer dizer coração corrompido. Normalmente, nós pensamos em “corrupção” ligada à parte material, a recursos, tirar alguma coisa de alguém, já que nós estamos na questão da Carta Magna, tirar alguma coisa do que é público, do que é do povo, do que é da nação. A palavra corrupção é coração rompido de qualquer um, en-tão, eu trago até essa palavra no sentido de nós refletirmos em que sentido também nós nos deixamos corromper como educador, como cidadão, em algum momento, para ceder a outras corrupções. Essa palavra corrupto nos acompanha de uma outra forma, na construção dos nossos documentos, dos nossos planejamentos, da nossa carta (documento para a SME), não é? No sentido de que nós precisamos juntar o coração. Então, eu acho que tudo o que nós temos cons-truído ao longo dos nossos encontros do Megafone hoje, principalmente, através das falas, que nós vejamos uma ou-tra perspectiva de juntar esse coração. E que não se abra mão disso, que nós não nos deixemos corromper mais. Que nós vejamos esse ensino-aprendizagem numa questão de aprender a ser Humano. Ensino e aprendizado também do professor aprender como ensinar. Como aprender para en-sinar a si próprio, a como se mover nesse mundo, a como não romper o seu coração. Então, é por isso que eu estou trazendo a palavra corrupta porque todos nós temos vivido isso intensamente. É uma palavra que não dorme, ela está em vigília permanente”. Professora

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4. Anexo A maioria dos educadores reconheceu a importância do GT como espaço de diálogo, troca de experiências e reflexão sobre a prática. Vejam algumas das justificativas:

“O GT é importante pela visão que temos de assuntos que afetam a todos independente da região em que a escola está localizada”;

“Foi um espaço que garantia a liberdade de expressão das angús-tias, revoltas e que nos fazia perceber que não éramos apenas mais um”;

“Esse espaço é importante para conhecermos melhor as vivên-cias de cada escola. Ver que todos passam pelos mesmos sofri-mentos”;

“Foi um espaço importantíssimo para discutirmos questões im-portantes do nosso dia a dia”;

“É um momento único que nos oportuniza troca de experiências e conhecer outras realidades”;

“Extremamente positiva esta troca de comportamentos, valores e possibilidades de melhorias para a aprendizagem da escola como um espaço de construções do saber”; “A troca de ideias é fundamental para a construção de uma melhor prática”;

“Importante para discussão das práticas pertinentes ao nosso trabalho”;

“Muitas práticas, experiências e reflexões aqui apresentadas fiz na minha escola”;

“Espaço e tempo muito oportunos para realimentarmos a espe-rança de uma educação de qualidade”;

“Considero importante todos por ser o somatório de ideias e a construção de nossas propostas”;

“Excelente. Essa deveria ser uma oportunidade para o maior nú-mero de escolas possível”.

No que diz respeito ao papel do GT na formação/atuação dos participantes como educadores, a maioria ressaltou sua importância:

“A participação no GT traz um ‘novo gás’ para lidar no dia a dia escolar”;

“Por ter ampliado as perspectivas, por ter proporcionado meto-dologias e por incentivar a construção coletiva”;

“Me proporcionou momentos de reflexão e ‘escuta’ dos colegas para que eu pudesse repensar a minha prática pedagógica”;

“Não me ver sozinha nesse caminho”;

“Auxiliou no sentido de ser um facilitador de troca de experiên-cia, angústias e que me fizeram, algumas vezes, repensar a mi-nha situação”;

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“Importante esse espaço de troca de informação e de experiências”;

“Momentos e espaço que possibilitaram a revisão de saberes, co-nhecimentos e a interação dos profissionais da Educação”;

“Como utilização das experiências dos outros para utilização nas nossas realidades”;

“Ouvir o depoimento dos colegas de trabalho e suas realidades nos impulsionam e nos incentivam para uma melhor prática”;

“É importante pela troca e pela diversidade”;

“Levar para a escola as discussões e sugestões de livros e textos aqui promovidos”;

“O grupo é formado por pessoas inteligentes, questionadoras, determinadas e trabalhadoras, não fogem dos desafios e der-rotas. Assim estimulando todos os presentes a nunca desistir. A luta continua!”

Outra questão que merece destaque na avaliação diz respeito à relação do GT com a Secretaria Municipal de Educação:

“A relação é boa porque há uma demonstração de boa vontade dos representantes da SME com o GT”;

“Creio que foi fundamental a participação das representantes do nível central (setor educação) para dar vitalidade ao processo”;

“Todas as interferências e solicitações dos representantes da SME pa-receram respeitosas, sérias e receptivas”;

“Foi muito bom descobrir que na SME existem pessoas abertas às críti-cas e a discutir fundamentos para uma escola de qualidade”;

“A representante da SME, Sra. Helena Bomeny, fez com que essa rela-ção fosse bem saudável, estimuladora e agradável”;

“Sempre representado por profissional da SME e que tornou o encon-tro dinâmico, democrático e eficaz”;

“Me surpreendeu a representatividade da SME em todos os encontros”;

“Excelente, nunca vi parceira assim”;

“A presença da subsecretária foi importante para algumas respostas a determinadas situações que surgiram no decorrer dos trabalhos”;

“Adorei ter a presença de integrantes da SME nos encontros. Pelo me-nos, na maioria deles. Sua participação para o próximo ano poderá até aumentar”.

O Instituto Desiderata é uma organização sem fins lucrativos que, desde 2003, trabalha no Rio de Janeiro para o fortalecimento de políticas públicas em saúde e educação que proporcionem às crianças e adolescentes: diagnóstico precoce e excelência no tratamento do câncer e ensino fundamental de qualidade. Para isso, o Desiderata atua em parceria com instituições públicas e privadas na formulação, implementação e financiamento de programas nessas áreas. Na área de Educação, o nosso compromisso é com a melhoria da qualidade no 2º segmento do Ensino Fundamental.

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