Projeto Diretrizes - Diagnóstico e Tratamento dos Transtornos de Ansiedade

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    Projeto DiretrizesAssociao Mdica Brasileira e Conselho Federal de Medicina

    O Projeto Diretrizes, iniciativa conjunta da Associao Mdica Brasileira e Conselho Federalde Medicina, tem por objetivo conciliar informaes da rea mdica a fim de padronizar

    condutas que auxiliem o raciocnio e a tomada de deciso do mdico. As informaes contidasneste projeto devem ser submetidas avaliao e crtica do mdico, responsvel pela conduta

    a ser seguida, frente realidade e ao estado clnico de cada paciente.

    Autoria: Associao Brasileira de Psiquiatria

    Transtornos de Ansiedade: Diagnsticoe Tratamento

    Elaborao Final: 24 de janeiro de 2008

    Participantes: Versiani M

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    2 Transtornos de Ansiedade: Diagnstico e Tratamento

    DESCRIO DO MTODO DE COLETA DE EVIDNCIA:Pesquisa bibliogrfica ampla e exaustiva nas bases de referncias MEDLINE

    e EMBASE, utilizando-se vrios descritores para transtorno de ansiedade,diagnosis, treatment, clinical trial, outcome, epidemiology, meta-analysise nomesdos psicofrmacos. Artigos de reviso recentes e guidelines relevantesforam tambm consultados. A busca original foi atualizada em janeiro de2008.

    GRAU DE RECOMENDAO E FORA DE EVIDNCIA:A: Estudos experimentais ou observacionais de melhor consistncia.B: Estudos experimentais ou observacionais de menor consistncia.

    C: Relatos de casos (estudos no controlados).D: Opinio desprovida de avaliao crtica, baseada em consensos, estudosfisiolgicos ou modelos animais.

    OBJETIVOS:Fornecer orientaes sobre o diagnstico e o tratamento dos transtornosde ansiedade.

    CONFLITO DE INTERESSE:Os conflitos de interesse declarados pelo participante da elaborao desta

    diretriz esto detalhados na pgina 11.

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    DIAGNSTICO

    TRANSTORNODEPNICO1,2

    (D)

    A manifestao central do transtorno de pnico o ataquede pnico, um conjunto de manifestaes de ansiedade comincio sbito, rico em sintomas fsicos e com durao limitadano tempo, em torno de dez minutos. Os sintomas tpicos so:sensao de sufocao, de morte iminente, taquicardia,tonteiras, sudorese, tremores, sensao de perda do controleou de ficar louco, alteraes gastrointestinais.

    Os primeiros ataques de pnico costumam vir sem qualqueraviso, de modo totalmente inesperado. Depois podem surgir apartir de um nvel maior de ansiedade, a ansiedade antecipatria,ou serem precipitados pelo contato com algum tipo de situao.

    O transtorno de pnico inicia com os ataques e costumaprogredir para um quadro de agorafobia, no qual o pacientepassa a evitar determinadas situaes ou locais por causa domedo de sofrer um ataque. Situaes e locais tpicos daagorafobia so: tneis, engarrafamentos, avio, grandes espaosabertos, shopping centers, ficar sozinho, sair sozinho. Em todasessas situaes existe um denominador comum o problemaque o paciente enfrenta, caso nelas tenha um ataque. Com aprogresso do transtorno, o paciente fica cada vez maisdependente dos outros e com seu espectro de atividades cada

    vez mais limitado.

    Outros transtornos mentais so comumente associados com

    o transtorno de pnico e precisam ser bem investigados para aelaborao de um plano de tratamento adequado, comodepresso ou abuso de lcool ou drogas.

    TRANSTORNODEANSIEDADESOCIAL (FOBIASOCIAL)1,2(D)

    No transtorno de ansiedade social (fobia social), os sintomasde ansiedade ocorrem em situaes nas quais a pessoa observadapelos outros. Situaes tpicas compreendem: escrever, assinar,

    comer e fazer uma apresentao na presena dos outros.

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    Em contato com os outros, especialmenteestranhos, o paciente sofre de sintomas comotremores, sudorese, enrubescimento, dificuldadede concentrao (branco na cabea),palpitaes, tonteira e sensao de desmaio.Diferentemente dos ataques de pnico, ossintomas surgem durante as situaes sociaistemidas e duram at o contato com os outrosterminar.

    O transtorno de ansiedade social comeamuito cedo na vida da pessoa, h manifestaes

    desde a infncia, mas se torna mais evidente noincio da vida adulta na medida em que oscontatos com os outros se tornam maisobrigatrios.

    A evoluo do transtorno de ansiedade socialvai limitando cada vez mais a vida da pessoa epode gerar complicaes como o abuso edependncia de lcool ou depresso.

    TRANSTORNOOBSESSIVO-COMPULSIVO1,2(D)

    Obsesses so pensamentos, imagens eimpulsos que ocorrem de modo repetitivo,intrusivo, usualmente associados com ansiedade,que a pessoa no consegue controlar, apesar dereconhecer seu carter anormal. Compulses soatos ou comportamentos, recorrentes e repetitivos,

    que o paciente forado a realizar, sob pena deentrar em um estado de acentuada ansiedade.

    As compulses costumam se elaborar emrituais com atos relacionados com limpeza,

    verificao e contagem. O paciente toma dez,trinta banhos por dia, de acordo com um esquemapredeterminado. Lava as mos toda vez que seencosta a certo tipo de objeto. Conta as cadeiras

    de um cinema para se sentar, exatamente emdeterminada posio. Certifica-se, inmeras

    vezes, de que no deixou uma porta aberta. Asobsesses e as compulses surgem, ou tornam-seevidentes, no incio da vida adulta. Tendem apiorar com a evoluo da doena e a ocupar umaparcela cada vez maior do tempo do indivduo.O grau de incapacitao sempre considervel epode atingir extremos quando o paciente torna-se virtualmente paralisado pelos sintomas, incapazat de levar um garfo at a boca.

    TRANSTORNODEANSIEDADEGENERALIZADA1,2(D)

    No transtorno de ansiedade generalizada, asmanifestaes de ansiedade oscilam ao longo dotempo, mas no ocorrem na forma de ataques,nem se relacionam com situaes determinadas.Esto presentes na maioria dos dias e por longosperodos, de muitos meses ou anos. O sintomaprincipal a expectativa apreensiva oupreocupao exagerada, mrbida. A pessoa esta maior parte do tempo preocupada em excesso.

    Alm disso, sofre de sintomas como inquietude,cansao, dificuldade de concentrao,irritabilidade, tenso muscular, insnia e sudorese.O incio do transtorno de ansiedade generalizada insidioso e precoce. Os pacientes informam quesempre foram nervosos, tensos. A evoluose d no sentido da cronicidade.

    TRATAMENTO

    PRINCPIOSGERAIS

    Os dois componentes principais do tratamentodos transtornos de ansiedade so o emprego demedicamentos em mdio e longo prazo e/ou apsicoterapia cognitivo-comportamental3(A)4(B).

    O diagnstico deve ser abrangente para se

    elaborar um plano de tratamento com objetivosbem definidos. Os graus de incapacitao variam

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    muito de caso para caso, nos diferentes transtornosde ansiedade. Certos sintomas, mesmo osconsiderados principais, muitas vezes no resultamem melhora significativa. Nem sempre o bloqueiodos ataques de pnico resolve a agorafobia.

    A evitao fbica tanto no transtorno depnico quanto no transtorno de ansiedade socialcostuma ser vencida somente de modo gradual,na medida em que o paciente passa a enfrentarsituaes que evitava. Nesse processo, o mdicopode trabalhar com o paciente, estabelecendo,

    por exemplo, uma lista de situaes a seremenfrentadas, hierarquizadas de acordo com onvel de dificuldade5(A).

    Os pacientes precisam ser informadosquanto aos efeitos dos medicamentos,especialmente os indesejveis. Deve ser explicadoque os medicamentos demoram semanas parainduzir os efeitos teraputicos,ao contrrio dos

    indesejveis, que surgem depois do primeirocomprimido5-7(A)8(C).

    TRANSTORNODEPNICO

    Antidepressivos TricclicosA imipramina o medicamento com eficcia

    comprovada no maior nmero de casos, em ensaiosduplo-cego, placebo-controlados, no tratamento do

    transtorno de pnico. A eficcia da clomipraminatambm foi demonstrada, em menor nmero deensaios duplo-cego, placebo-controlados7(A).

    A imipramina deve ser empregada em dosesde 150 a 250 mg/dia, em dose nica, noite.

    A dose nica diria possvel por causa da meia-vida plasmtica longa. Com o medicamentotomado noite so minimizados os efeitos

    indesejveis associados com o pico plasmtico,principalmente a sedao.

    Existe dentre especialistas a noo de que aclomipramina seria superior imipraminaquanto eficcia no tratamento do transtornode pnico. Nos poucos estudos nos quais os doistricclicos foram comparados, em apenas um,com uma amostra pequena, foi encontradasuperioridade da clomipramina9(B). Em algunsestudos no-controlados, a clomipramina foieficaz em doses baixas (1050 mg/dia), mas nosestudos controlados as doses eficazes foram emtorno de 100 mg/dia. Nos estudos controladoscom a imipramina, em subgrupos de pacientes,

    doses menores, em torno de 50 mg/dia, forameficazes no controle da sintomatologia dopnico.

    Em um nico estudo controlado foiadequadamente estudada a questo da dose daimipramina eficaz no transtorno de pnico,comparando-se trs nveis, 50, 100 e 200 mg/dia. Os nveis de 100 e 200 mg/dia foram

    comparavelmente eficazes e superiores aoplacebo. O nvel de 50 mg/dia foi to eficazquanto o placebo10(A).

    Tanto em ensaios clnicos controlados quantona experincia de especialistas notada aparticular sensibilidade dos pacientes que sofremdo transtorno de pnico aos efeitos indesejveisdos tricclicos, especialmente a exacerbao da

    ansiedade no incio do tratamento. Por isso,recomenda-se que o tratamento seja iniciado comdoses muito pequenas (1020 mg/dia) e que oaumento at os nveis teraputicos habituais(100150 mg/dia) seja feito de modo gradual,ao longo de 2 a 4 semanas.

    Inibidores da Recaptao de Serotonina(IRSs)

    Dois Inibidores da Recaptao de Serotonina(IRSs), a sertralina e a paroxetina, tm eficcia

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    bem demonstrada no tratamento do transtornode pnico em estudos randomizados, duplo-cego,placebo-controlados11,12(A)13(B)14(C).

    Nos estudos com diferentes nveis de dosesfixas, os nveis de 50, 100 e 200 mg/dia desertralina foram comparavelmente eficazes etodos superiores ao placebo15(A). No estudo dedoses fixas com a paroxetina, com 10, 20 e 40mg/dia, houve clara tendncia de curva dose-resposta, tendo sido a dose de 40 mg/dianitidamente superior s outras16(A).

    Inibidores da Recaptao de Serotoninae Noradrenalina (IRSNs)

    A venlafaxina tem eficcia demonstrada notratamento do transtorno de pnico, em doisestudos randomizados, duplo-cego, placebo-controlados17,18(A).

    Benzodiazepnicos de Alta Potncia

    O alprazolam, depois da imipramina, omedicamento mais estudado no tratamento dotranstorno de pnico, com eficcia comprovadaem estudos randomizados, duplo-cego, placebo-controlados19,20(B).

    Na maioria das pesquisas com o alprazolam,as doses eficazes para o controle dasintomatologia do pnico foram em torno de 6

    mg/dia. Poucos estudos foram realizados comdoses fixas.

    Apesar da evidncia obtida em estudos dedoses fixas ser pequena, parece que o alprazolampode ser eficaz em grande proporo de casosem doses de 3 a 6 mg/dia. O alprazolam, emdecorrncia da meia-vida plasmtica curta, deveser administrado em quatro doses por dia:

    manh, almoo, jantar e ao deitar. Quando issono feito, o paciente pode sofrer de sintomas

    de ansiedade nos perodos em que o nvelplasmtico diminui.

    O clonazepam outro benzodiazepnico dealta potncia com eficcia bem demonstrada emestudos randomizados, duplo-cego, placebo-controlados, no tratamento do transtorno depnico. O espectro de doses do clonazepam quefoi eficaz, nesses estudos, foi de 1,5 a 4,0 mg/dia. Nesses estudos controlados, o clonazepamfoi administrado em duas doses por dia, porcausa de sua meia-vida plasmtica mais longa.

    Na prtica clnica, contudo, comum o empregodo clonazepam em trs doses por dia, o queinduziria um nvel plasmtico maisestvel21,22(A).

    TRANSTORNODEANSIEDADESOCIAL (FOBIASOCIAL)

    Inibidor da Monoaminooxidase (IMAO)

    A eficcia da fenelzina no tratamento dotranstorno de ansiedade social foi bemdemonstrada em estudos randomizados, duplo-cego, placebo-controlados. Em dois dessesestudos, esse medicamento foi comparado com aterapia cognitivo-comportamental e com oplacebo, em combinao ou sozinho. Essesestudos indicaram que a fenelzina altamenteeficaz. A combinao do medicamento com a

    terapia cognitivo-comportamental foi mais eficazdo que os dois tratamentos isolados23(A)4,24(B).A fenelzina foi eficaz nos estudos controladosem doses entre 60 e 90 mg/dia.

    A fenelzina no est disponvel no Brasil.O IMAO disponvel no Brasil atranilcipromina. H um estudo abertodemonstrando a eficcia da tranilcipromina no

    tratamento do transtorno de ansiedade socialem doses entre 40 e 60 mg/dia25(C).

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    Inibidor da Monoaminooxidase Reversvel(RIMA)Foram realizados quatro ensaios

    randomizados duplo-cego, placebo-contro-lados, com a moclobemida, um IMAOreversvel, no tratamento do transtorno deansiedade social. Em dois desses ensaios, amoclobemida foi superior ao placebo quanto eficcia e, em dois, no houve diferenassignificativas entre os efeitos teraputicosobservados nos grupos tratados com omedicamento e nos grupos tratados com o

    placebo26-28(A)24(B). As doses de moclobemidaempregadas nesses estudos variaram entre 600e 900 mg/dia.

    Inibidores da Recaptao de Serotonina(IRSs)

    A eficcia da paroxetina no tratamentodo transtorno de ansiedade social foidemonstrada em dois estudos randomizados,

    duplo-cego, placebo-controlados, em dosesem torno de 40 mg/dia. Esses estudos forammulticntricos e com amostras gran-des29,30(A).

    Inibidores da Recaptao de Serotoninae Noradrenalina (IRSNs)

    A eficcia da venlafaxina foi demonstradano tratamento do transtorno de ansiedade

    social em dois estudos randomizados, duplo-cego, placebo-controlados31,32(A).

    BenzodiazepnicosEm dois estudos duplo-cego, placebo-

    controlados, cada um realizado em umnico centro, foi demonstrada a eficcia doclonazepam e do bromazepam no trata-mento do transtorno de ansiedade social,

    em doses em torno de 3 e de 30 mg/dia,respectivamente33,34(B).

    TRANSTORNOOBSESSIVO-COMPULSIVO

    Inibidores da Recaptao de Serotonina(IRSs)A nica classe de medicamentos com eficcia

    comprovada em pesquisas clnicas no tratamentodo transtorno obsessivo-compulsivo a dosInibidores da Recaptao de Serotonina (IRSs).

    A clomipramina foi o primeiro medicamentoa ter sua eficcia demonstrada no tratamentodo transtorno obsessivo-compulsivo em estudosrandomizados, duplo-cego, placebo-controlados35(B). Isso explica, em parte, amelhor diferenciao entre os resultadosteraputicos da clomipramina e os do placeboobtidos nesses estudos, realizados no final dadcada de 80 do sculo passado. Nos estudosposteriores sobre o tratamento do transtornoobsessivo-compulsivo, a resposta ao placeboaumentou muito e diminuiu a diferenciao com

    os medicamentos ativos.

    Em vrios estudos randomizados, duplo-cego, placebo-controlados, foi demonstrada aeficcia no tratamento do transtorno obsessivo-compulsivo dos IRSs: clomipramina, sertralina,fluvoxamina e fluoxetina. As doses dessesmedicamentos que se mostraram eficazes foramrelativamente altas, 226, 200, 249, e 60 mg/

    dia, respectivamente36

    (A)37

    (B).

    Em duas meta-anlises foram avaliados osresultados obtidos at 1994 em estudosrandomizados, duplo-cego, placebo-controlados,no tratamento do transtorno obsessivocompulsivo36(A)37(B). Nessas duas meta-anlises, a clomipramina foi associada com umefeito teraputico em relao ao placebo maior

    do que os da sertralina, fluvoxamina oufluoxetina. Nos estudos com comparaes diretas

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    entre a clomipramina e os outros IRSs, contudo,no foram encontradas diferenas quanto

    eficcia.

    A paroxetina, outro IRS, foi compara-velmente eficaz clomipramina no tratamentodo transtorno obsessivo compulsivo em umestudo randomizado, duplo-cego, placebo-controlado38(A).

    TRANSTORNODEANSIEDADEGENERALIZADA

    (TAG)O transtorno de ansiedade generalizada

    passou a ser considerado um transtorno residualdesde a publicao dos critrios diagnsticos da

    Associao Americana de Psiquiatria (DSM-IV)e da Classificao Internacional de Doenas daO.M.S. (CID-10). Essa situao est mudandocom a demonstrao a partir de estudos

    epidemiolgicos de que o transtorno existesozinho, frequente e muito incapacitante39(A).

    Por causa das dvidas quanto importnciaclnica do transtorno de ansiedade generalizadae do predomnio do emprego de outras categoriasdiagnsticas de ansiedade, poucos estudoscontrolados foram realizados sobre o tratamentodessa condio.

    O primeiro estudo randomizado, duplo-cego, placebo-controlado, sobre o tratamentodo transtorno de ansiedade generalizada definidode acordo com o sistema DSM-IV, foi realizadocom a venlafaxina XR. Trs doses de venlafaxina

    XR, 75, 150 e 225 mg/dia foram superiores aoplacebo quanto eficcia em um perodo detratamento de seis meses. Os trs nveis de dosesforam comparavelmente eficazes e todossuperiores ao placebo40(A).

    Posteriormente, foi bem demonstrada aeficcia da sertralina no tratamento do

    transtorno de ansiedade generalizada em doisestudos randomizados, duplo-cego, placebo-controlados41,42(A).

    Pacientes que seriam diagnosticados comosofrendo do transtorno de ansiedadegeneralizada dos sistemas DSM-IV ou CID-10so tratados h trs dcadas, principalmente comos benzodiazepnicos. Em muitos ensaios

    clnicos randomizados, duplo-cego, placebo-controlados, foi demonstrada a eficcia dosvrios benzodiazepnicos no tratamento depacientes com o antigo diagnstico de neurosede ansiedade que, certamente, inclua os casosatuais de Transtorno de ansiedadegeneralizada43(D).

    Tanto os resultados de estudos realizadoscom amostras heterogneas de casos comtranstornos de ansiedade quanto o empregolargamente disseminado dos benzodiazepnicospara o tratamento da ansiedadeno so basepara a orientao quanto ao melhor tratamentodos pacientes.

    AESCOLHADOMEDICAMENTO

    A escolha do medicamento deve recair sobreum composto com eficcia determinada emensaios clnicos randomizados, duplo-cego,placebo-controlados6,7,30,44,45(A)37(B). Outroelemento o perfil de efeitos indesejveis.

    Os Inibidores da Recaptao de Serotonina(IRSs) so associados com vrios efeitosindesejveis (sonolncia, insnia, ganho de peso,disfuno sexual, boca seca, constipao, piorados sintomas no incio do tratamento, efeitos

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    extrapiramidais, bruxismo, acatisia, movimentosinvoluntrios, nusea, diarreia e sudorese). Os

    IRSs inibem enzimas do sistema P 450 do fgadoe podem aumentar o nvel plasmtico de vrioscompostos, inclusive dos antidepressivostricclicos, induzindo interaes medicamentosasperigosas46(D).

    Os antidepressivos tricclicos so associadoscom acentuados efeitos anticolinrgicos (bocaseca, constipao, efeitos anticolinrgicoscentrais dificuldade de concentrao,perturbao da memria tonteira,taquicardia, palpitaes, constipao, visoturva, reteno urinria), instabilidade motora,

    ganho de peso, disfuno sexual, efeitoscardiovasculares (hipotenso ortosttica,

    prolongamento do intervalo QTc), efeitosextrapiramidais (acatisia, rigidez, tremores). Emsuperdoses, os tricclicos induzem um quadrogravssimo de intoxicao, frequentementeletal46(D).

    Os benzodiazepnicos (alprazolam,clonazepam) so associados com sedao,distrbios cognitivos (dificuldade de concentrao,amnsia), disfuno sexual, disfuno psicomotora,toxicidade comportamental (irritabilidade,agressividade, desinibio). O uso continuado debenzodiazepnicos induz dependncia fisiolgica e

    Algoritmo

    Transtornos 1 linha mg/dia 2 linha mg/dia 3 linha mg/dia

    Pnico IRSs: Tricclicos: BZDs:

    sertralina 50 imipramina 150200 clonazepam 2 4paroxetina 20 clomipramina 100150 alprazolam 2 4IRSNs:venlafaxina 75-150

    Ansiedade lRS: BZD: RIMASocial paroxetina 40 60 clonazepam 3 6 Moclobemida 750 900

    IRSNs:venlafaxina 75 -225

    Obsessivo- IRSs: Combinaes-Compulsivo sertralina 200 IRS + antipsictico

    paroxetina 60fluvoxamina 300fluoxetina 60clomipramina 300

    Ansiedade IRSNs: IRSs: BZD: prazos curtosGeneralizada venlafaxina 75 150 paroxetina 20 40

    IRSs:

    sertralina 50 200

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    quando da suspenso, especialmente se abrupta,pode ocorrer uma sndrome de abstinncia com

    sintomas como tremores, ansiedade acentuada,sudorese, cimbras, hipersensibilidade sensorial,inquietude, insnia, cefaleia e at convulses46(D).

    Apesar de induzirem vrios efeitosindesejveis, os Inibidores da Recaptao deSerotonina (IRSs) so, no presente,considerados uma opo melhor quanto tolerabilidade do que os tricclicos ou osbenzodiazepnicos6,36(A)13,37(B)46,47(D).

    Outro fator que pode pesar na escolha de ummedicamento o custo. Os tricclicos,especialmente a imipramina, e os benzodia-zepnicos so medicamentos mais antigos,acessveis na forma de genricos e de custo menor.

    Em funo dos nveis (qualidade equantidade) de evidncias cientficas (resultados

    de ensaios clnicos randomizados, duplo-cego,placebo-controlados), descritos nessas Diretrizes,demonstrando a eficcia dos medicamentos parao tratamento dos transtornos de ansiedade e deproblemas associados tolerabilidade ou riscos,pode-se elaborar um algoritmo (Figura 1).

    Nesse algoritmo, os medicamentos soordenados como de 1, 2 ou 3 linha, como

    opes para o tratamento de um determinadotranstorno de ansiedade.

    Na avaliao de cada paciente, o mdicodever exercer o julgamento clnico e optar porum medicamento no necessariamente naordem recomendada pelo algoritmo. Porexemplo, um paciente que sofre do transtornode pnico e que hipersensvel piora inicial

    induzida pelos IRSs pode ser inicialmentetratado com o clonazepam.

    Consideraes de ordem prtica influenciamtambm na escolha das opes do algoritmo. A

    imipramina mais acessvel s pessoas de menorrenda, na forma de genrico ou distribuda porinstituies pblicas.

    Por quanto tempo deve ser mantido otratamento?H estudos que demonstram que os efeitos

    teraputicos dos medicamentos se mantmdurante perodos de seis meses a um ano notratamento do transtorno de pnico6(A). Emum estudo controlado, randomizado, duplo-cego, placebo-controlado com pacientes com otranstorno de pnico, o ndice de recidiva nogrupo que passou para o placebo aps seis mesesde tratamento bem sucedido com a imipraminafoi de 50% em um ano de seguimento48(A).

    Quanto ao transtorno de ansiedade social,h um estudo aberto demonstrando que o

    ndice de recidiva muito grande, de mais de50%, aps quatro anos de tratamentomedicamentoso bem sucedido49(B), e umestudo controlado mostrando recidiva de 40%no grupo com placebo em seis meses decontinuao50(A).

    Estudos controlados mostram que os IRSsmantm seus efeitos teraputicos em pacientes

    com o transtorno obsessivo-compulsivo durantedois anos de tratamento51(A). Em estudos deseguimento naturalstico, a frequncia derecidiva no transtorno obsessivo-compulsivo muito alta, maior do que 50% aps dois anosde seguimento8(C).

    Os estudos de seguimento em longo prazode todos os transtornos de ansiedade foram,predominantemente, naturalsticos, abertos eno-controlados.

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    Mostram que a evoluo desses transtornosno uniforme e com subgrupos diferentes de

    pacientes. Os pacientes podem ser divididos emtrs subgrupos quanto evoluo: crnica,episdica ou quadro agudo seguido deremisso47(D).

    A concluso prtica para o mdico quantoao tratamento de manuteno dos transtornosde ansiedade seria a de que perodos de cerca deseis meses de tratamento farmacolgicoestariam indicados para a maioria dos casos.

    Em muitos casos, o tratamentofarmacolgico mantido por perodos muitolongos, de anos, por motivos como a resoluoapenas parcial da sintomatologia ou pioras

    ntidas quando a dose do medicamento comeaa ser diminuda.

    CONFLITODEINTERESSE

    Versiani M: o autor recebeu reembolso porcomparecimento a simpsio e congressos da

    Associao Brasileira de Psiquiatria; honorriospor apresentao, conferncia ou palestra dasindstrias Janssen, Pfizer, Servier e

    AstraZeneca; honorrios por atividades de ensinoda UFRJ - Instituto de Psiquiatria;financiamento para pesquisa - CNPq dasindstrias Janssen, Pfizer, Servier e Organon;recurso para membro de equipe - CNPq dasindstrias Pfizer e Servier e honorrios paraconsultoria das indstrias Pfizer e Janssen.

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    REFERNCIAS

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