Projeto AEDES - Aeronave de Defesa Social · conteúdo sobre conhecimentos técnicos de aeronaves:...

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1 Projeto AEDES - Aeronave de Defesa Social Autores: Dino Lincoln Figueirôa Santos 1 Felipe Augusto Saraiva da Silva 2 Fernando de Souza Silva 3 Gabriel Filipe de Azevedo Pereira 4 Lucas Augusto Andrade de Oliveira 5 Marina Pereira Farias do Amaral 6 Resumo Este artigo apresenta os designs de dez (10) protótipos de VANTs concebidos pelos alunos da disciplina de Projeto de Produto V (Design Aeroespacial) do bacharelado em Design da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte). Devido aos problemas de segurança pública no campus universitário, sendo as principais vítimas mulheres, os alunos projetaram aeronaves que patrulhassem a região com a missão primária de proteger alunas circulando em áreas que considerem de risco. O projeto supracitado foi denominado de AEDES (Aeronave de Defesa Social). A metodologia utilizada incluiu: estudos em ciência e tecnologia aeroespacial, visitas técnicas, exploração do problema, concepção de sketches, desenho técnico, modelagem 3D, testes em túnel de vento virtual (Flow Design), impressão de miniatura em 3D, testes em mini túnel de vento e, por fim, concepção de modelo de isopor em escala. A duração total deste processo foi de 4 meses. Como resultado, este documento apresenta os modelos AEDES concebidos e uma análise técnica de cada um deles. Palavras-chave: segurança pública; VANT; defesa; aeronave; design. 1 Doutor em Design. Professor Adjunto da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Cientista do GPCTA Grupo de Pesquisa em Ciência e Tecnologia Aeroespacial. 2 Acadêmico do 9º período do bacharelado em Design da UFRN. 3 Acadêmico do 9º período do bacharelado em Design da UFRN. 4 Acadêmico do 7º período do bacharelado em Engenharia Mecânica da UFRN. 5 Acadêmico do 9º período do bacharelado em Design da UFRN. 6 Acadêmica do 8º período do bacharelado em Design da UFRN.

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Projeto AEDES - Aeronave de Defesa Social

Autores:

Dino Lincoln Figueirôa Santos1

Felipe Augusto Saraiva da Silva2

Fernando de Souza Silva3

Gabriel Filipe de Azevedo Pereira4

Lucas Augusto Andrade de Oliveira5

Marina Pereira Farias do Amaral6

Resumo

Este artigo apresenta os designs de dez (10) protótipos de VANTs concebidos pelos alunos da

disciplina de Projeto de Produto V (Design Aeroespacial) do bacharelado em Design da UFRN

(Universidade Federal do Rio Grande do Norte). Devido aos problemas de segurança pública

no campus universitário, sendo as principais vítimas mulheres, os alunos projetaram aeronaves

que patrulhassem a região com a missão primária de proteger alunas circulando em áreas que

considerem de risco. O projeto supracitado foi denominado de AEDES (Aeronave de Defesa

Social). A metodologia utilizada incluiu: estudos em ciência e tecnologia aeroespacial, visitas

técnicas, exploração do problema, concepção de sketches, desenho técnico, modelagem 3D,

testes em túnel de vento virtual (Flow Design), impressão de miniatura em 3D, testes em mini

túnel de vento e, por fim, concepção de modelo de isopor em escala. A duração total deste

processo foi de 4 meses. Como resultado, este documento apresenta os modelos AEDES

concebidos e uma análise técnica de cada um deles.

Palavras-chave: segurança pública; VANT; defesa; aeronave; design.

1 Doutor em Design. Professor Adjunto da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Cientista do

GPCTA – Grupo de Pesquisa em Ciência e Tecnologia Aeroespacial. 2 Acadêmico do 9º período do bacharelado em Design da UFRN. 3 Acadêmico do 9º período do bacharelado em Design da UFRN. 4 Acadêmico do 7º período do bacharelado em Engenharia Mecânica da UFRN. 5 Acadêmico do 9º período do bacharelado em Design da UFRN. 6 Acadêmica do 8º período do bacharelado em Design da UFRN.

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1. DESCRIÇÃO DO PROBLEMA

A segurança pública enfrenta problemas em escala nacional. No Brasil, as Forças Armadas

corriqueiramente são acionadas para missões de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) devido a

sobrecarga enfrentada pelas Forças Auxiliares em muitos estados da federação. Só em 2016,

registraram-se 61 mil homicídios no Brasil, um número de mortes equivalente ao deixado pela

bomba atômica em Nagasaki durante a Segunda Guerra Mundial. O estado do Rio Grande do

Norte fica em segundo lugar no ranking de mortes violentas por 100 mil habitantes (56,9),

perdendo apenas para o estado de Sergipe (60) (G1, 2017).

A insegurança que afronta os brasileiros não é diferente nos grandes campi universitários. O

número de roubos próximo a Universidade de São Carlos aumentou quase 43% entre 2016 e

2017. Na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (doravante UFRN), foram registrados

21 assaltos em 2017 (LIMA, 2017). Os estudantes universitários apresentam-se como alvos

atraentes, uma vez que carregam objetos de valor que atraem meliantes, como smartphones ou

notebooks. As paradas de ônibus distribuídas pelo campus são o principal ponto de abordagem

dos bandidos (G1, 2015). Neste contexto, as principais vítimas são mulheres. Sua

vulnerabilidade tem se externado no número de aproximadamente 67% delas já terem sofrido

algum tipo de assédio sexual no ambiente universitário (INSTITUTO AVON et al. 2015).

Em face a estes problemas, alinhando-se com uma política da UFRN de enfrentamento à

violência contra a mulher, fora proposto aos alunos da disciplina de Projeto de Produto V (cujo

tema é Design Aeroespacial) o projeto de uma aeronave que ajude a proteger as alunas

circulando no campus universitário. O projeto fora batizado de AEDES (Aeronave de Defesa

Social). O mesmo tem o potencial de despertar o interesse dos estudantes por questões de

Defesa vindo eventualmente a fornecer no futuro capital humano qualificado para a BID7

(BRASIL, 2008).

A disciplina é ministrada no bacharelado em design da UFRN e, durante um semestre, os alunos

ficaram imersos em ciência e tecnologia aeroespacial com o objetivo de projetar uma solução

para o problema de segurança pública supracitado. Em 2017, foram duas turmas com um total

de trinta e seis (36) alunos distribuídos em dez (10) equipes, cada qual com seu projeto. Os

requisitos estabelecidos pelo professor para o projeto de cada aeronave AEDES foram:

7 Base Industrial de Defesa – conjunto de empresas que participam do projeto, desenvolvimento e produção de

produtos de defesa.

Figura 1 - Modelo 3D do AEDES 2E LILITH desenvolvido por alunas de design da UFRN. Fonte: Os Autores

3

Ser um VANT8;

Operar equipado com FLIR (Forward Looking Infrared) ou equipamento similar;

Ser acionado por alunas através de seus respectivos smartphones (aplicativo);

Dirigir-se e patrulhar a coordenada emitida pelo smartphone por um tempo

determinado;

Pode permanecer patrulhando em voo, alternando o turno com uma frota, ou decolar no

momento que for acionado, a critério do projetista;

Pode atuar em frota simultânea para cobrir o terreno ou não, a critério do projetista;

O projeto do aplicativo de acionamento em si seria desenvolvido noutra disciplina.

Desta feita, o objetivo geral da presente pesquisa foi: o emprego da metodologia de design na

concepção de aeronaves tipo VANT para proteção das alunas circulando no campus da UFRN.

Este artigo está organizado de modo que apresentam-se os objetivos e problemática da pesquisa,

seguidos de detalhamento da metodologia adotada para conceber as aeronaves. Como

resultados apresentam-se os projetos e uma breve análise técnica de cada um, além das

conclusões. Ao longo deste documento são apresentados os projetos AEDES que receberam,

cada um dos 10 (dez) projetos, uma nomenclatura de acordo com a equipe que o projetou (Vide

Figura 1 acima).

2. METODOLOGIA

Para que os alunos de design estivessem aptos a conceber os designs de aeronaves conforme a

problemática outrora exposta neste documento, seguiu-se a metodologia de dez (10) etapas

(Tabela 1). Estas etapas foram elaboradas com base em outras metodologias do seguimento

aeroespacial, como a SMAD (Space Missions Analysis and Design) (WERTZ & LARSON,

1999).

ETAPA ATIVIDADE

Etapa 1 Estudos em ciência e tecnologia aeroespacial

Etapa 2 Visitas técnicas

Etapa 3 Exploração do problema

Etapa 4 Propostas de solução (Sketches)

Etapa 5 Desenho técnico

Etapa 6 Modelagem 3D

Etapa 7 Flow Design (Túnel de vento virtual)

Etapa 8 Tunel de vento real

Etapa 9 Prototipagem em escala

Etapa 10 Exposição para especialistas

Tabela 1- Procedimentos metodológicos

8 Veículo Aéreo Não-Tripulado, por vezes nomeado como Drone

4

A seguir, é explicitada cada uma destas etapas. No decorrer delas, é possível detalhar melhor

materiais e métodos aplicados.

2.1. Estudos em Ciência e Tecnologia Aeroespacial

Ensino de conhecimento de base sobre física: aerodinâmica, fluidos, pressão atmosférica,

pressão dinâmica, túnel de Venturi, princípio de Bernoulli, etc. (HOMA, 2012). Seguidos de

conteúdo sobre conhecimentos técnicos de aeronaves: aeródinos, aeróstatos, aerofólios, perfis

de asa, tipos estruturais, superfícies aerodinâmicas, superfícies de controle, efeitos

aeroelásticos, dispositivos hiper-sustentadores, sistemas de propulsão, alta velocidade, ondas

de choque, etc. (HOMA, 2011; SAINTIVE, 2012).

2.2. Visitas Técnicas

Após o aprendizado em sala de aula, os alunos realizaram visitas técnicas supervisionadas pelo

professor nas seguintes instituições:

PROTOLAB: Laboratório de Prototipagem da UFRN. Local onde eles posteriormente

iriam imprimir em 3D suas miniaturas dos protótipos para testes em túnel de vento.

Car-Kará Aerodesign: Equipe de competição SAE 9 em Aerodesign. Ao visitar a

oficina do Car-Kará, foi possível observar materiais, motores e demais tecnologias

aplicadas ao projeto de pequenas aeronaves, como VANTs. Posteriormente integrantes

deste grupo (em sua maioria estudantes de engenharia mecânica) integraram-se aos

projetos AEDES auxiliando a produção dos protótipos.

Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI): O primeiro centro de

lançamento de foguetes do Brasil também possui projetos de VANTs como o

SpaceVANT (Figura 2). A visita à hangares de montagem de foguetes, áreas de

lançamento e demais estruturas do CLBI ampliaram sobremaneira os conhecimentos

dos alunos sobre tecnologia aeroespacial.

Centro de Vocação Tecnológica Espacial (CVT): Infraestrutura mantida pela

Agência Espacial Brasileira dentro do território do CLBI com diversos hangares

9 Society of Automative Engineers, entidade que regula as competições de Aerodesign.

Figura 2 - Conhecendo o SpaceVANT do CLBI. Fonte: Os Autores

5

temáticos para ensino de tecnologias aeroespaciais como satélites, propulsores, rovers,

e etc.

ALA 10 - Base Aérea de Natal: Visita supervisionada pelos militares ao Esquadrão

Gavião (1º/11º GAv)10 e Esquadrão Joker (2º/5º GAv)11, com suas aeronaves H-50

Esquilo e A-29, respectivamente (Figura 3). Diversas explanações sobre a estrutura das

aeronaves, cockpit, instrumentação, armamentos, funcionamento geral, materiais

aplicados e motores foram fundamentais para a consolidação do conteúdo em

conhecimentos técnicos vistos em sala de aula.

Em sequência às visitas técnicas (que duraram 3 semanas), os alunos retornaram à sala de aula

para começar criar soluções de aeronaves para o problema de insegurança enfrentado pelas

alunas, objetivo do projeto.

2.3. Exploração do problema

Utilização de métodos comuns no design para levantar informações sobre o problema abordado

(insegurança das alunas), o local (UFRN), e a tecnologia (VANT) a ser empregada. Durante

esta etapa fora possível aos alunos entender a dimensão do problema abordado. O campus

central da UFRN é o maior de todo o Norte-Nordeste em extensão territorial. Apesar das 2.150

câmeras de segurança espalhadas, 360 profissionais de segurança contratados e 5 viaturas para

patrulhamento ostensivo, é impossível a plena proteção dos 43.000 estudantes que espalham-

se por 123 hectares de território acadêmico (LIMA, 2017). Sendo a maior parte deste vasto

território a céu aberto e com esta dificuldade para suprir as crescentes necessidades de

segurança dos alunos, em especial mulheres, o AEDES revelou-se uma ideia ainda mais

eficiente. Uma vez que VANTs tem sido cada vez mais aplicados pra segurança pública

(GALVÃO, 2017).

2.4. Propostas de solução (Sketches)

Os sketches são rascunhos de projeto comentados. Eles viabilizam que as ideias saiam do

campo abstrato, possam ser visualizadas, criticadas e alteradas pelos demais projetistas da

equipe. É o modo mais barato, em tempo e recursos, de modificar o projeto em sua etapa inicial

de concepção. Somente após aprender sobre tecnologia aeroespacial e explorar o problema a

10 Primeiro Esquadrão do Décimo Primeiro Grupo de Aviação da Força Aérea Brasileira 11 Segundo Esquadrão do Quinto Grupo de Aviação da Força Aérea Brasileira

Figura 3- Visita técnica ao Esquadrão Joker (ALA 10). Fonte: Os Autores

6

ser enfrentado que os alunos começaram, com maior conhecimento de causa, a propor soluções.

Como explicitado na Figura 4.

Figura 4 - Sketch do AEDES 2E LILITH. Fonte: Os Autores

2.5. Desenho Técnico

Após uma predefinição da estrutura da aeronave, material proposto, modelo de propulsão e tipo

de voo (VTOL/STOL/CTOL)12, os alunos conceberam desenhos técnicos precisos seguindo as

normas ABNT (Figura 5).

Figura 5 - Desenho técnico do AEDES 1D MANTA REY sob normas ABNT. Fonte: Os Autores

2.6. Modelagem 3D

12 Vertical Take-Off And Landing (VTOL), Short Take-Off and Landing (STOL) e Conventional Take-Off and

Landing (CTOL).

7

Com as dimensões e formas bem definidas pelo desenho técnico, cada equipe começou a

modelar em 3D o design da sua aeronave (Figura 6). O software utilizado dependia da expertise

de cada equipe, os utilizados foram o Blender, o Autodesk Fusion 360 ou o Solidworks.

Figura 6 - Render 3D do AEDES 1A HÓRUS. Fonte: Os Autores

2.7. Flow Design (Túnel de Vento Virtual)

Com o uso do software gratuito para uso educacional, Autodesk Flow Design, foi possível

simular as aeronaves (modelos 3D) num túnel de vento virtual. Com estas projeções eram

verificadas as zonas de baixa pressão, alta pressão e até os turbilhonamentos (Figura 7).

Conforme as zonas de baixa pressão se destacavam, era tangível saber se a sustentação da

aeronave (centro de pressão) estava se concentrando numa área próxima do centro de gravidade

ou não. Permitindo ainda no modelo virtual 3D as eventuais correções de design.

Figura 7 - Ensaio do AEDES 2A RACHEL no Flow Design. Fonte: Os Autores

8

2.8. Túnel de Vento Real

Após as correções no design, quando cabíveis, as equipes de alunos imprimiram o modelo

fisicamente em 3D utilizando uma máquina VOID3D com cartuchos de ABS, na infraestrutura

do PROTOLAB13. Levando os modelos para ensaio num mini-túnel de vento que eles próprios

construíram com sucata e material doado (exaustor de parede e fitas LED). Basicamente

replicaram as aulas sobre o túnel de Venturi. O túnel de vento comportava modelos de uma

largura (envergadura) de até 14 cm por um comprimento de 40 cm (Vide Figura 8).

Figura 8- Mini-tunel de vento em construção pelos alunos. Fonte: Os Autores

Figura 9- Modelo do AEDES 2A RACHEL em ensaio no mini-tunel de vento. Fonte: Os Autores

Com o uso de uma máquina digital Cannon EOS 1200D apoiada por um tripé não-profissional

foi possível capturar imagens a 60fps que facilitavam acompanhar em câmera lenta o fluido de

ar passando pelo modelo (Figura 9). Confirmando, ou não, o previsto no Flow Design. Em

alguns casos, novas correções de design eram necessárias para a próxima etapa.

13 Laboratório de Prototipagem da UFRN

9

2.9. Prototipagem em Escala

Etapa após etapa o design de cada protótipo foi se aperfeiçoando. Por limitações de tempo e

recursos da disciplina, a concepção dos protótipos parou nestes últimos modelos em escala,

esculpidos em isopor por intermédio de um cortador elétrico, estiletes, e lixa (Figura 10).

Processo também conhecido como “Mock-up” (MACARRÃO, 2007).

Figura 10 - Aluna usando o cortador elétrico de isopor supervisionada por técnicos. Fonte: Os Autores

As longarinas e demais estruturas eram simuladas com palitos de churrasco. Soldas, simuladas

com cola de isopor. O peso do motor com peças metálicas como parafusos ou moedas cravadas

no modelo, para o correto posicionamento do centro de gravidade. Os modelos de isopor têm a

característica e estarem balanceados, próximos do que seriam o modelo final da aeronave

(Figura 11). Portanto, quando arremessados os modelos realizaram um voo planado. Exceto os

modelos VTOL de propulsão crítica, que não permitiam voo planado sem um ajuste eletrônico

da motorização, não realizaram o planeio por razão óbvia: os modelos ainda não tinham o

motor, apenas o peso simulando eles na estrutura.

Figura 11- AEDES 2A RACHEL em escala e balanceado. Fonte: Os Autores

10

2.10. Exposição para Especialistas

Como última etapa as 10 equipes realizaram conjuntamente uma exposição de seus protótipos

ao lado de um banner expositivo para diversos especialistas (Figura 12). Em particular, aqueles

das instituições as quais eles visitaram para aprender sobre tecnologia aeroespacial como a ALA

10 e o CLBI. Professores de diversos departamentos da UFRN e outras universidades, com

expertise no seguimento aeroespacial, também prestigiaram os projetos dos alunos realizando

suas colocações de elogios e correções para cada protótipo apresentado 14 . Nesta mesma

exposição ficou em exibição o túnel de vento construído pelos alunos, além de demonstrações

de planeio dos modelos sendo arremessados.

Figura 12 - Alunas exibindo seu protótipo AEDES 2D MIGA em exposição. Fonte: Cícero Oliveira

O tempo total de percurso destas etapas foi de 4 meses. A seguir, apresentam-se em maiores

detalhes os resultados da aplicação desta metodologia.

3. RESULTADOS

Esta seção apresenta resumidamente uma análise técnica individual de cada modelo AEDES.

Os VANTs concebidos pelos alunos de design caracterizaram de forma diferente quanto a

sistemas de propulsão, aerodinâmica, materiais propostos. Os modelos a seguir representam

apenas protótipos para ilustrar a ideia criada, portanto não possuem motor ou sistema de

navegação (por limitações da disciplina). As imagens das aeronaves em voo são resultado da

modelagem 3D virtual.

A nomenclatura adotada para os projetos é composta pela identificação da turma (1 ou 2),

equipe na turma (A, B, C, etc.) seguido do nome dado pela mesma à sua aeronave, conforme é

possível observar a análise técnica de cada AEDES abaixo (Vide Quadro 1). Para esta análise

considera-se: motor, tipo e comentários técnicos. Quanto ao tipo de aeronave, convém destacar

que os alunos-projetistas adotaram VTOL ou STOL.

14 Opiniões destes especialistas disponível em vídeo no documentário online: https://youtu.be/F8ghfQRhvgw

11

Quadro 1- Projetos AEDES. Fonte: Os Autores

3.1. AEDES 1A – HÓRUS

Motores (3): Elétricos. Tipo: VTOL. Asas recuadas para melhorar a visibilidade da câmera

FLIR no intradorso. Testes no túnel de vento mostraram que sua fuselagem curva oferece

sustentação, permitindo asas menores (Facilitando armazenamento). Transição do ângulo dos

motores de ponta de asa, alternando o voo convencional (maior autonomia) (Figura 13).

Autores(as): Bárbara Rangel, Matheus Salabert e Raphaella Dominik.

Figura 13- AEDES 1A HÓRUS. Fonte: Os Autores

3.2. AEDES 1B – VANDA

Motor (1): Convencional 4 tempos. Tipo: STOL. Redesign do drone militar MQ-9 Reaper,

removendo os sistemas de armas e redimensionando para drone de patrulha conforme as

especificações do AEDES (Figura 14). Autores: Emerson José Azevedo, Michael Starllone e

Wallker Medeiros.

12

Figura 14 - AEDES 1B VANDA. Fonte: Os Autores

3.3. AEDES 1C - ORCA

Motores (3): Elétricos. Tipo: VTOL. Dois rotores nas asas para pouso, decolagem e voo pairado

com rotor de cauda para estabilidade do eixo longitudinal. Cada bloco de rotor muda de ângulo

permitindo voo convencional com sustentação das asas (Figura 15). Autores(as): Johann

Carlos, Fábio Pinheiro e Giuliana Nunes.

Figura 15 - AEDES 1C ORCA. Fonte: Os Autores

3.4. AEDES 1D - MANTA REY

Motores (3): Elétricos. Tipo: VTOL. Com suas luzes e voo pairado demonstra presença e

proteção. Permitindo não só que a vítima o visualize mas também o potencial agressor,

inibindo-o. Com previsão de curta autonomia (25 min), deve operar em frota e decolar somente

quando acionado (Figura 16). Autoras: Gabriela Flor, Larissa Alves, Luísa Castim e Marina

Amaral.

Figura 16 - AEDES 1D MANTA REY. Fonte: Os Autores

13

3.5. AEDES 2A - RACHEL

Motor (1): Elétrico. Tipo: STOL. Com um motor que mistura um "fan" com um estrato-reator,

confunde-se com uma aeronave a jato. O diedro negativo das asas permite com as wingtips

sirvam de trem de pouso tipo "ski". Modelos futuros podem ser VTOL (Figura 17). Autores(as):

Fernando Souza, Felipe Augusto, Marcelo Lago e Raquel Barth.

Figura 17- AEDES 2A RACHEL. Fonte: Os Autores

3.6. AEDES 2B - BOTO

Motor (1): Convencional 4 tempos. Tipo: STOL. Projeto de VANT de grande autonomia. Seu

corpo cilíndrico permite o armazenamento de combustível suficiente para 12 horas de voo. Asas

enflechadas para estabilidade direcional ao corpo alongado (Figura 18). Autoras: Adrielle

Barbosa, Andrieny de Paula, Beatriz Cruz e Luiza Saad.

Figura 18 - AEDES 2B BOTO. Fonte: Os Autores

3.7. AEDES 2C – TAC

Motores (2): Elétricos. Tipo: VTOL. Proposta diferenciada de decolagem e pouso vertical com

a cauda da aeronave baseada no solo (posição vertical como um foguete). Transição para voo

convencional após decolagem (Figura 19). Autores(as): Andressa Kaynara, Camilla dos Santos

e Thiago Barbosa.

14

Figura 19 - AEDES 2C TAC. Fonte: Os Autores

3.8. AEDES 2D – MIGA

Motores (1): Elétrico. Tipo: STOL. Proposta de fuselagem apropriando-se da aerodinâmica de

uma "gota". Asas elípticas para menor resistência e cauda alongada para maior controle com

superfícies pequenas (Figura 20). Autoras: Amannda Cavalcante, Clara Wanderley, Luiza

Albuquerque e Maíra Araújo.

Figura 20 - AEDES 2D MIGA. Fonte: Os Autores

3.9. AEDES 2E – LILITH

Motor (1): Elétrico. Tipo: STOL. Asas recuadas e câmera no nariz para ampliar o raio de

visibilidade. Formato em delta para encurtar a envergadura e facilitar o armazenamento.

Mínima área frontal e uso de winglets para reduzir arrasto (Figura 21). Autoras: Clara

Vasconcelos, Juciara Rodrigues, Laura Dias e Luiza Fonseca.

Figura 21- AEDES 2E LILITH. Fonte: Os Autores

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3.10. AEDES 1F - BLACK MANTA

Motor (1): Elétrico. Tipo: STOL. Design baseado em formas naturais pelo uso da biomimética,

utilizando a mecânica dos fluidos de arrais ou peixes batóides. Inspirado nos modelos RQ11-

Raven e RQ-170 Sentinel. Estrutura monocoque (Figura 22). Autores(as): André Victor, Jéssica

Almeida, Marcos Paulo e Renatta Pereira.

Figura 22- AEDES 2F BLACK MANTA. Fonte: Os Autores

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta seção apresentam-se algumas considerações sobre os resultados supracitados e algumas

notas conclusivas.

Algumas práticas comuns aos designers foram observadas nas concepções dos projetos, como

o uso da biomimética que inspira o projetista com base em tecnologias existentes na natureza

(BENYOUS, 2012). O AEDES 2D MIGA é visivelmente inspirado na aerodinâmica de uma

gota d’água. Já os AEDES 1D MANTA REY e AEDES 2F BLACK MANTA são inspirados

na fluidez das arraias.

Quanto a configuração do voo das aeronaves, apesar de 40 % (quarenta porcento) dos modelos

serem VTOL, os projetos AEDES 2A RACHEL e AEDES 2E LILITH seguiram linha de

raciocínio modular progressiva de desenvolvimento, como o caça F-35. Esta aeronave da

Lockheed Martin começou pela versão STOL (versão Alpha) e depois de amadurecido o projeto

chegaram à versão VTOL (a partir da versão Bravo). Porém a intenção inicial sempre foi

conceber um modelo de decolagem vertical. Ou seja, com o eventual desenvolvimento destes

projetos, a maioria dos projetos AEDES adeririam a uma característica de voo VTOL,

eliminando a necessidade de pistas de decolagem.

Como versão final, as aeronaves deveriam ser controladas por uma estação remota, com pelo

menos 1 (um) operador treinado. Mesmo que o voo das mesmas seja automático ou semi-

automático.

Convém destacar que os AEDES aqui apresentados para enfrentamento à violência contra a

mulher no amplo campus da UFRN são perfeitamente desdobráveis para outras missões. É

possível desenvolvê-los e adaptá-los a outros campi universitários ou mesmo, fugindo da

atuação no meio acadêmico, o patrulhamento de áreas em cidades que a defesa social tenha

identificado como “áreas quentes” no que se refere a criminalidade.

16

Este leque multimissão é amplo. Com os problemas de vigilância da vasta fronteira brasileira o

eventual desenvolvimento de algum dos designs apresentados nesta pesquisa poderia ser uma

resposta de baixo custo para questões de soberania nacional. Existe ainda possibilidade de

atendimento à operações de patrulhamento de grandes eventos, entorno de estádios, praias

densamente povoadas (vigilância e salvamento), shows, presídios, etc.

Figura 23- Alunos expondo o AEDES 2A RACHEL no Campus Future. Fonte: Campus Party

Como frutos da presente pesquisa, um dos designs foi selecionado para o Campus Future. Um

programa da Campus Party que seleciona projetos acadêmicos inovadores para lhes

proporcionar destaque perante a mídia e a sociedade. O AEDES 2A RACHEL, selecionado

dentre centenas de propostas, ficou em exposição durante a Campus Party Natal que dos dias

11 a 14 de abril de 2018 recebeu cerca de 60 mil visitantes (Figura 23 acima).

Por fim, é possível considerar que os projetos AEDES concebidos por estudantes universitários

de design revelaram propostas tangíveis de tecnologia aeroespacial aplicada à soluções de

problemas sociais e de segurança nacional. O que vem de encontro ao Programa Nacional de

Defesa, que visa nacionalizar o máximo possível os produtos de defesa bem como o capital

humano da Base Industrial de Defesa (BRASIL, 2008). Para isso, é preciso despertar a vocação

de nossos universitários que serão os futuros agentes de inovação para esta indústria, como tem

sido feito no presente programa.

5. DESDOBRAMENTOS

Por limitações de tempo e recursos da disciplina não foi possível avançar nas etapas seguintes

do desenvolvimento. Portanto, ficam como sugestões de desdobramentos ao presente projeto:

desenvolvimento estrutural dos protótipos em fibra de vidro e fibra de carbono;

desenvolvimento de superfícies de controle atuadas por servo-motores; projeto da estação de

controle AEDES; instalação sistema de telecomunicações; instalação e testes de sistemas de

propulsão; desenvolvimento e instalação de sistemas autônomos de controle.

6. AGRADECIMENTOS

Os autores gostariam prestar os devidos agradecimentos pelo apoio à realização desta pesquisa

ao(à): Força Aérea Brasileira, Centro de Lançamento da Barreira do Inferno, ALA 10,

17

Esquadrão Gavião (1º/11º GAv), Esquadrão Joker (2º/5º GAv), AEROLAB, PROTOLAB e ao

Prof. Daniel Diniz (Vice-reitor da UFRN).

REFERÊNCIAS

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G1. SÃO CARLOS. Onda de assaltos perto de universidades assusta estudantes em São Carlos.

2017 Disponível em: < https://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/onda-de-assaltos-

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G1. SP. Brasil registra o maior número de assassinatos da história em 2016; 7 pessoas foram

mortas por hora no país. 2017. Disponível em: < https://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/brasil-

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