PROJETAR A MUDANÇA - acenfermeiros.pt

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A MUDANÇA PROJETAR N.º 4 > AGO > OUT'14 ISSN 2182-8261 Cuidar da Criança e Família após o Transplante Cardíaco A Influência do Ensino Pré-operatório de Enfermagem na Redução da Ansiedade Intra-operatória em Cirurgia Ambulatória de Extração de Catarata À Procura da Excelência Análise da Qualidade numa unidade clínica do CHLC Enfermagem em contínuo movimento Ideias Lista: - Formação - Congresso - Ações enfermagem Projetos #1 ACE

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A MUDANÇAPROJETAR

N . º 4 > A G O > O U T ' 1 4 I S S N 2 1 8 2 - 8 2 6 1

Cuidar da Criança e Famíliaapós o Transplante Cardíaco

A Influência do Ensino Pré-operatóriode Enfermagem na Redução da Ansiedade Intra-operatória

em Cirurgia Ambulatória de Extração de Catarata

À Procura da ExcelênciaAnálise da Qualidade numa unidade clínica do CHLC

Enfermagem em contínuo movimento

Ideias

Lista:

- Formação

- Congresso

- Ações

enfermagem

Projeto

s#1

ACE

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editorial

Filomena LealPresidente

Nem Nem todostodosconseguemconseguemver o arco-írisver o arco-íris

Conselho DirectivoFilomena LealElsa FolgadoHelena XavierPaula SantosLuís Pereira[[email protected]]

Conselho RedatorialHelena XavierMaria FalcãoPaula DuarteIvete Monteiro[[email protected]]

Conselho CientíficoAna MarinhoDelmira PomboLígia MalaquiasMaria das Neves DinisPedro Jácome[[email protected]]

SedeDireção dos Serviços de EnfermagemR. José António Serrano, 1150 LisboaTelefones 21 8841896/1573Fax 21 8864616

Design GráficoCogniçãowww.cognição.pt

Revista DigitalPeriocidade Quadrimestral

ISSN 2182-8261

Caros Colegas,

É um regozijo sentir, como presidente desta Associação, que apesar das adversidades experienciadas para darresposta a inúmeras solicitações pessoais e profissionais, os elementos dos corpos sociais tem desenvolvidodiversas atividades ao longo do ano. Estas atividades só têm sido possíveis com a colaboração de sócios e dediferentes profissionais do CHLC assim como de outras instituições. A todos o meu sincero agradecimento.

Como sabem, acredito seriamente nas capacidades inovadoras e no empenho dos Enfermeiros e com a criaçãoda ACADEMIA ACE (podem consultar o regulamento no site da Associação) já atingimos um dos seus objetivosque é realizar workshops de cariz multidisciplinar que promovam debate e reflexão acerca dos temas apresen-tados e sejam impulsores da divulgação de novas orientações na arte do cuidar. Até ao final do ano já estãoprogramadas mais duas atividades referenciadas na agenda deste número da revista.

Como Associação cujo objeto visa a formação dos Enfermeiros é para nós imperioso evidenciar as boas práticase incentivar o desenvolvimento de trabalhos de investigação. Pesquisar, investigar, são meios de estimulaçãocognitiva que desenvolvem as nossas capacidades intelectuais. A investigação, como sabem, é uma procurade conhecimentos, ou de soluções para certos “enigmas”.

Citando a tomada de posição da Ordem dos Enfermeiros, também nós acreditamos, que a Investigação emEnfermagem:

• É exercida em todos as áreas de atividade de Enfermagem;

• Permite a expansão do conhecimento em Enfermagem;

• É fundamental para a Excelência da Enfermagem;

• Contribui para os cuidados seguros;

• Promove o desenvolvimento profissional.

Na campanha eleitoral para os novos corpos sociais prometemos que iríamos promover um Prémio de Inves-tigação bianual e como diz o provérbio “o prometido é devido”. Convidamos todos a ler o regulamento dispo-nível para consulta em www.acenfermeiros.pt. O trabalho deverá ser inovador nas áreas da Prática Clínica,Gestão/Liderança em Enfermagem, Formação em Enfermagem. O prazo de entrega de candidaturas termina a11 de Março de 2016. O prémio a atribuir é de 2500 euros. É nosso propósito realizar o nosso Congresso nosdias 12 e 13 de Maio de 2016 onde serão apresentados os trabalhos de investigação selecionados.

Caros Colegas, deixo o repto de navegarem no site para terem conhecimento de novos protocolos realizados.Contamos também com as vossas propostas para a evolução e prestígio da Associação.

Dirijo-vos um apelo: Participem nas atividades planeadas. Disseminar o conhecimento é fulcral para a aquisiçãode competências e com elas construir novos saberes importantes para um Cuidar de excelência. Um dosnossos objetivos como Associação é ter no mínimo mil associados. Lutemos por isso.

Parafraseando Fernando Pessoa: “Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o quetemos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso”.

No último editorial escrevi algo que reforço: “Acredito que nada se faz sozinho e a Enfermagem não estánuma redoma, pelo contrário, somos do Mundo e para o Mundo”. Nesse mundo nem todos conseguem vero arco-íris porque só olham para si próprios, não olham para cima… para o céu.

O significado simbólico da palavra arco-íris provém da mitologia grega, onde Íris era uma deusa que exercia afunção de arauto divino. Na sua tarefa de mensageira, deixava um rasto multicolorido ao atravessar os céus.Podemos ver o arco-íris de diferentes tamanhos, mais perto, mais longe, mas ele está ali e resplandece beleza,cor, esperança e força.

Penso que representa o que somos para os Utentes.

Desejo que todos tenham umas férias felizes e um bom regresso ao trabalho.

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1414À procura da ExcelênciaAnálise da Qualidade

numa unidade clínica do CHLC

Isa Félix e Manuela Sarmento

Cuidar da Criança e Famíliaapós o Transplante Cardíaco

Ana Inês Lourenço da Costa

2222

A influência do ensinopré-operatório em enfermagemna redução da ansiedade intra-operatória

em cirurgia ambulatória de extraçãode catarata

Marta de Jesus Borges Fonseca

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141405Enformação agosto-outubro 2014 | www.acenfermeiros.pt

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Ajude-nos a conseguir mais parceiros ins�tucionais.

Promova o nosso site!

www.acenfermeiros.pt

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1212AGENDAAGENDACalendárioEventos e atividades ACE

3535

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1111

EMPENHOEMPENHOEntrevistaVia Verde AVCMaria João Duarte, Ana Paiva Nunese Ricardo Braga

Marcar a diferençaAssociações do CHLCAssociações do CHLC

Liga de Amigos do Hospital S. JoséLiga de Amigos do Hospital S. José

José Abelha

Viver VerdeDecorar com pneus Decorar com pneus passo a passopasso a passoReutilizar

VIS IB IL IDADEVIS IB IL IDADE

0808

0909

CHLC sempre a mexerNotícias e outras novidades do Centro Hospitalar Lisboa Central, EPE

Enfermagem na atualidade

Prémio de Boas Práticas ClínicasPrémio de Boas Práticas Clínicas

Helena Xavier

3737Aconteceu

Workshop ACEWorkshop ACERefletir a NutriçãoRefletir a Nutrição

Paula Duarte

3939 Dia Internacional do EnfermeiroDia Internacional do Enfermeiro

ENFERMEIROS: A FORÇA DA MUDANÇAENFERMEIROS: A FORÇA DA MUDANÇA

Recurso vital para a saúdeRecurso vital para a saúde

Paula Pinheiro

EVIDENCIAEV IDENCIA

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3535

3737

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2.º Prémio de Boas Práticas ClínicasAs Equipas de Enfermagem do Hospital de Dia de Hemato--Oncologia e Hematologia Clínica e o Gabinete de Risco rece-beram o 2.º Prémio de Boas Práticas Clínicas na Administraçãode Quimioterapia Intratecal.

O prémio foi concedido pela Associação de Enfermagem Onco-lógica Portuguesa, no âmbito da sua 7.ª Reunião Nacional, queteve lugar no final de Maio.

sempre mexeraV

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V Jornadas Antonianas do Hospitalde Santo António dos Capuchos Sob o título “Linha SOS: Senhora da Saúde, Santo António, São Gens” decorreram nomês de Junho as V Jornadas Antonianas do Hospital de Santo António dos Capuchos.

Desta vez o tema foram as devoções populares aos Santos de Lisboa.

O programa teve início no dia 1 de Junho, com a conferência “Religiosidade popular:a procissão da Senhora da Saúde”. Foram ainda abordados os temas “Santo Antóniode Lisboa: metamorfoses de um culto” e “Um mito (mal) sentado: a cadeira de SãoGens”.

Para o dia 13 de Junho realizou-se o “Concerto de Primavera em louvor a Santo Antó-nio", da autoria de Rui de Luna para piano e guitarra portuguesa.

As V Jornadas encerraram dia 28 com a peça de teatro “Santo António”, com autoriae encenação de Hélder Costa e representação a cargo do Grupo de Teatro “A Barraca”.

Esta foi uma iniciativa conjunta do GELUS - Gabinete de Estudos Lusófonos/ Faculdadede Letras UL, Capelania do Hospital de Santo António dos Capuchos e Centro Hospi-talar de Lisboa Central (CHLC).

Hospital de Santa Marta realiza100.º transplante pulmonarO Centro Hospitalar de Lisboa Central comemorou o 100.º transplante pulmonarrealizado no Hospital de Santa Marta.

Com a presença de muitos dos doentes transplantados ao longo dos 12 anosdeste programa, o Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE assinalou a realiza-ção do 100.º transplante pulmonar efetuado no Polo Hospital de Santa Marta.

A intervenção inicial esteve a cargo da Sr.ª Presidente do Conselho de Adminis-tração do CHLC, Dr.ª Teresa Sustelo.

A cooperação entre Portugal e Espanha na área dos transplantes pulmonares foio tema da intervenção do Dr. José M.ª Borro Maté, do Centro Hospitalar JuanCanalejo, da Corunha enquanto o Dr. Andréas Varella, do Hospital Puerta d’Hierro,em Madrid, destacou os novos desenvolvimentos na transplantação pulmonar.

O director do Programa de Transplantação Torácica no H.S.M., Prof. José Fragata,apresentou a história, os factos e os da transplantação pulmonar em Santa Marta.

O Sr. Ministro da Saúde, Dr. Paulo Macedo, encerrou a iniciativa.

Fátima PalmeiroGabinete de Assessoria e Comunicação

Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE - CHLC

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Enfermagem

na atualidade VIS

IBIL

IDA

DE

VIS

IBIL

IDA

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Enf. Helena Xavier

O trabalho desenvolvido em parceria por umgrupo de enfermeiros do Hospital de Dia Hemato--Oncologia, Hematologia Clínica e Gabinete deGestão do Risco do Pólo do HSAC, foi distin-guido com o 2.º Prémio de Boas Práticas Clínicas,na 7.ª Reunião Nacional da Associa ção de Enfer-magem Oncológica Portu gue sa, que decorreu nomês de Maio, no Grande Hotel do Luso.

INTRODUÇÃO

A administração de quimioterapia intratecal (IT) é um procedi-mento de elevado risco de morbilidade/mortalidade, estandodocumentadas mais de 50 mortes a nível mundial por erros devia de administração com vincristina (OMS, 2006).

Neste contexto definiu-se como projecto de melhoria noâmbito da segurança do doente, a administração de quimiote -rapia por via IT.

Elaborado procedimento sectorial para a “Administração dequimioterapia IT”, incluindo uma lista de verificação de segu-rança que define os procedimentos a executar pelos diferentesprofissionais envolvidos no processo, desde a prescrição àadministração, estabelecendo um circuito individualizado emcada tratamento.

Definidos protocolos terapêuticos, disponíveis em sistema deprescrição electrónica; estabelecido um intervalo de segurançaentre a administração IT e EV, e a diluição obrigatória dos “Alca-loides da Vinca”.

OBJECTIVOS

- Definir boas práticas para administração segura de quimio-terapia IT;

- Uniformizar práticas e procedimentos;

- Monitorizar o cumprimento do procedimento sectorial “Admi -nistração de quimioterapia por via IT” na Área Hemato-Onco -lógica; através de 10 observações, consulta documental eentrevistas informais aos profissionais;

- Identificar áreas de melhoria, implementar medidas de segu-rança do doente.

AÇÕES DE MELHORIA

- Revisão/divulgação do procedimento setorial com a equipamultidisciplinar, designadamente a equipa de farmacêuticos;

- Elaboração de instrumento de registo com campos de preen-chimento obrigatório no processo clínico;

- Monitorização anual do procedimento e divulgação dos resul-tados à equipa multiprofissional;

- Reformulação do rótulo de identificação exterior da terapêu-tica IT;

- Definição no manual de integração de novos profissionais don.º mínimo de participações na técnica com necessidade desupervisão e avaliação das competências adquiridas e/oudesenvolvidas;

- Elaboração de instrumento de registo da frequência de parti-cipação dos profissionais nesta técnica, garantindo compe-tências e equidade de oportunidades.

CONCLUSÃO

Este projeto na área de administração de terapêutica ITé um processo dinâmico de melhoria continua visando asegurança do doente e do profissional.

Boas práticas na administração de quimioterapia intratecal- Monitorização de um projeto de melhoriaEnf. Helena Xavier; Enf. Cândida Damião; Enf. Cristina Martins; Enf. Liliana Queirós; Enf. Márcia Caeiro; Enf. Sofia Antunes;Enf. Rosa Romão; Enf. Ana Marinho

RESULTADOS DA MONITORIZAÇÃO

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arcar a diferença

A Liga de Amigos do Hospital de São José foi formalmente criada a 15 de Julhode 1991, através de escritura pública, conforme publicação na 3.ª série do Diário daRepublica, n.º 230/91 de 7 Outubro, sendo sócios fundadores o Dr. Fernando JoséAragão de Barros, o Dr. João Manuel Bentes de Jesus e o Dr. António Manuel VitalMorgado.

A Liga de Amigos do Hospital de São José é uma associação apolítica sem finslucrativos, atuando na área de influência do Hospital de São José, local onde seencontra sediada, tendo como objetivos o apoio através de ações voluntárias ebenemerentes a vários aspectos da vida hospitalar, particularmente os de incidênciahumanitária e social.

A Liga funciona na base do voluntariado, no entanto atendendo aos fins a que sedestina, necessita de um apoio financeiro, que no fundo é o resultado das receitasordinárias das quotizações dos seus sócios, bem como de donativos e outras fon-tes de receita. Os sócios designam-se de amigos.

A solidariedade e o apoio aos Utentes do Hospital de São José é o lema principalda Liga, neste contexto a Liga apresenta-se como entidade promotora do volunta-riado no Hospital, que em complementaridade com os profissionais proporcionaum apoio e uma ajuda no acompanhamento aos utentes que acorrem à nossa ins-tituição. O voluntariado neste hospital tem mais de 30 anos de existência, contandodiariamente com um grupo que assegura a sua atividade os 7 dias da semana.

Paralelamente às ações de voluntariado que a Liga promove, a mesma tem tambémcontribuído com donativos para o hospital, com vista à melhoria das condiçõesassistenciais e apoio aos utentes como sejam:• A oferta de uma ambulância medicalizada;• Telefones portáteis para que os doentes impossibilitados de se deslocarem

pudessem comunicar com os seus familiares e amigos;• Oferta de televisores para salas de espera, entre outros.

São os seus sócios e os beneméritos que proporcionam a sua atividade e a suamissão, pelo que quantos mais formos, maior será a Liga e maior será a sua par-ticipação na comunidade hospitalar, pelo que contamos que com esta divulgaçãopossamos aumentar o número de amigos e fazer mais e melhor em prole dos uten-tes do Hospital de São José.

Contactos: Telm: 919 638 783 | email: [email protected]

Tendo iniciado no número anterior a divulgação

do trabalho desenvolvido pelas Associações do CHLC, em

prol da solidariedade e justiça social dos utentes/família,

iremos dar sequência a esta iniciativa, dando a conhecer o

projeto da Liga de Amigos do Hospital S. José.

Enf. José Abelha

Liga de Amigosdo Hospital S. José

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Através da reutilização de utensílios e materiais "supostamente" in-reutilizáveis de forma sustentável, é possível criar objetos de decoração que são verdadeiras obras de arte e que cada vez mais, estão na moda.

Com um pouco de paciência e criatividade, podemos descobrir muitas maneiras de reutilizar os mais diversos materiais que perderam a sua utilidade inicial, porque estão velhos, avariados ou porque simplesmente não os queremos, mas também temos pena de os deitar fora.

Por isso, lançamos-lhe o desafio: Aproveite um fim de semana e tente descobrir uma nova utilidade para algo que estava a pensar deitar fora. Além do conceito ecológico, vai ver que fica com uma peça exclusiva! Experimente esta ideia.

REUTILIZAR

ou até banquetas para todos os gostos...

De uns pneus velhos é possível fazer originais pufs, mesas e vasos de jardim em croché,

Decorar com pneus passo a passo

Viver Verde

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agenda

12Enformação agosto-outubro 2014 | www.acenfermeiros.pt

11-13 setembro5.ª Bienal de Cardiologia da TerceiraHotel Terceira Mar, Angra do Heroísmo

Organização: Serviço de Cardiologia do Hospital SantoEspírito. Inclui curso sobre "O coração do idoso".

12-13 setembroPrimeiras Jornadas de Educaçãopara a SaúdeAuditório do Teatro Campo Alegre, Porto

Organização: Departamento de Educação para aSaúde do Núcleo Regional do Norte da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC). Tema central: “A Arte da Prevenção do Cancro”.

18-19 setembro7.º Curso de Reumatologia Práticaem Cuidados PrimáriosHotel Sana Metropolitan

Organização: Disciplina de Reumatologia da Facul-dade de Ciências Médicas da Universidade Nova deLisboa e Serviço de Reumatologia do CHLO, EPE- Hospital Egas Moniz.

18-19 setembro4.º Encontro Nacional de Utentes eCuidadores na Área da Saúde MentalCentro de Congressos dos HUC, Coimbra

Organização: Comissão Consultiva de Utentes e Cuidadores (CCPUC) do Programa Nacional paraa Saúde Mental, da Direção-Geral da Saúde (DGS).Tema central: (Con)viver com a Doença Mental.

19 e 20 setembroReabilitação da Pessoa com AVCCuidados de Enfermagem(Módulo do Curso de Pós-Graduação emAcidente Vascular Cerebral)Auditório 1 - Escola Superior de EnfermagemS. Francisco das Misericórdias, Lisboa

Organização: Escola Superior de EnfermagemS. Francisco das Misericórdias.

19 a 21 setembroCongresso sobre Medicinas Naturaisdedicado às Doenças Reumáticas eAutoimunesQuinta das Lágrimas, Coimbra

A Expo Saúde e o Congresso "Naturales Medicinae2014" vão realizar-se sob o tema central “As DoençasReumáticas e Auto-Imunes” a promover a partilha deconhecimentos e práticas na prevenção e tratamentodestas doenças". A entrada é livre.

7o CURSO DE

REUMATOLOGIAPRÁTICA EM CUIDADOS PRIMÁRIOS

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agenda25-26 setembroCongresso Internacional Prevenir eCombater as Infeções Associadasaos Cuidados de Saúde - Métodosde Atuação TranslacionalCentro de Congressos dos Hospitaisda Universidade de Coimbra - CHUC

Organização: Associação Portuguesa de InfeçãoHospitalar (APIH)

26 setembroWorkshop ACEA Problemática da Criança/Jovem eFamília com Doença Crónica: Par -tilha de Experiências de EnfermagemHospital da Estefânia, Lisboa

A ACE está a realizar, neste ano de 2014, diversasações formativas gratuitas para todos os profissionaisde saúde.

02 a 05 outubro20.º Congresso de Obstetrícia e GinecologiaCentro de Congressos Altis Lisboa

Organização: Federação das Sociedades Portuguesas de Obstetrícia e Ginecologia (FSPOG)

02-03 outubroIV Congresso Nacional de Saúde PúblicaFórum Lisboa (antigo Cinema Roma)

Organização: Conselho Nacional de Autoridades deSaúde, Departamento Universitário de Saúde Públicada Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa, Dire-ção-Geral da Saúde, Direção Regional da Saúde daRA Açores, Escola Nacional de Saúde Pública, Insti-tuto de Administração da Saúde da RA Madeira, Ins-tituto de Higiene e Medicina Tropical, Instituto Nacio-nal de Saúde Dr. Ricardo Jorge e Instituto de SaúdePública da Universidade do Porto

10-11 outubroXXIX Jornadas de Cardiologia do Sule Regiões Autónomas e IX Jornadasde Cardiologia de ÉvoraÉvora Hotel

Organização: Serviço de Cardiologia do Hospital doEspírito Santo de Évora. Tema central: "Inovar na crise".

Além da apresentação e discussão de posters, a rea-lização de duas mesas redondas de Enfermagem ede Cardiopneumologia, o programa inclui ainda aconferência "Informação, Inovação e Sustentabilidadenum contexto de crise".

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RESUMO

Atualmente, a satisfação do cliente figura-se como um indicador fundamentalna avaliação da qualidade do serviço. Medir a qualidade do serviço tem sidoum grande desafio para os profissionais de marketing da saúde e na literaturahá uma lacuna na investigação nesta área em Portugal. Esta investigação denatureza quantitativa propõe-se analisar os determinantes da satisfação dosclientes numa unidade clínica de Medicina Interna do Centro Hospitalar de Lis-boa Central e a qualidade percebida, através da aplicação de 72 inquéritos,fundamentados no Modelo de Satisfação do Cliente. Os resultados mostramque o nível de satisfação dos utentes é neutro com uma forte tendência paraa satisfação. As dimensões da qualidade que representam maior grau de satis-fação são a cortesia, a empatia e a competência. Espelha ainda que as ques-tões que envolvem o relacionamento e formação dos profissionais são formasde incitação à satisfação. Por outro lado, caraterísticas como o ruído internoe externo, a lotação do quarto e a atratividade visual das instalações penalizama qualidade percebida. Prova-se que o contexto distingue-se pela competên-cia e profissionalismo dos prestadores de cuidados e que, por oposição, pre-cisa melhorar aspetos como a reforma de instalações e equipamentos, a capa-cidade dos quartos e aumentar o conforto.

Palavras-Chave: Satisfação do Cliente, Qualidade do Serviço; Serviços deSaúde

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, os conceitos e valores de gestão evoluíram significati-vamente como resposta às problemáticas nos diferentes períodos históricos.Das variadas contribuições científicas para a gestão das organizações des-taca-se a desenvolvida por Taylor que se centrou na organização das tarefasindividuais, na análise de métodos e tempos e na divisão do trabalho, desig-nada de teoria da organização científica. Assistiu-se posteriormente aodesenvolvimento da teoria clássica sobre a estrutura organizativa, onde sedestacam as conceções de Max Weber (1947) e Henry Fayol (1949) acercado processo administrativo. Apenas depois surgem as teorias centradasnas pessoas e nos aspetos comportamentais. Atualmente, as teorias dossistemas e da contingência salientam a importância das variáveis exógenasà organização como base para a tomada de decisões sobre a estrutura orga-nizativa e os aspetos comportamentais (Sarmento, 2003). As decisões devemser contingenciais, sendo tomadas em função dos contextos interno e externoà empresa. Presentemente, a gestão prima pela flexibilidade com especialênfase nos recursos humanos e orientada para o cliente (Lopes & Capricho,2007).

À procurada ExcelênciaAnálise da Qualidadenuma unidade clínica do CHLC

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...o sucesso de uma política de qualidadenuma organização passa pela consciência de que

a gestão de qualidade é deter minante para sealcançar a plena satisfação dos clientes e o próprio

desenvolvimento da organização.

BIO

BIOIsa Félix, Enfermeira. Investigadora da UI&DE. Pós-Graduada em Gestão de Serviços

de Saúde. Mestre em Gestão. Hospital de São José. Manuela Sarmento, ProfessoraCatedrática. Doutorada em Engenharia e Gestão. Universidade Lusíada de Lisboa.

Da Qualidade:a implicação do conceito

O desenvolvimento do conceito da qualidade estáestreitamente relacionado com a evolução das teoriasdescritas e consequentemente com as diversas orien-tações das organizações perante o mercado (Kotler,1994). Considera-se que o conceito de qualidade evoluiuprogressivamente ao longo do século XX e podem-sedestacar quatro fases distintas, dotadas de caraterísticase metodologias diferentes: inspeção caraterizada porausência de know-how especializado (Brocka, 1992);controlo, com a criação de padrões, monitorização doprocesso, análise de desvios e aplicação de medidascorretivas; garantia, através da aplicação de um sis-tema de planeamento e controlo da qualidade (Bank,1998; Madu, 1998); gestão, objetivando a melhoriacontínua; e sustentabilidade (Lopes & Capricho,

2007). Atualmente assiste-se à era do marketing socialem que a qualidade é um suporte que garante osucesso económico, social e ambiental e que permiteatingir a excelência e o desenvolvimento sustentável.

Apreende-se então que a qualidade tem assumido par-ticular relevância ao longo das últimas décadas, consti-tuindo-se alvo de estudo e de desenvolvimento de pers-petivas acerca da problemática (Garvin in Paladini, 1990;Brocka, 1992; Oakland, 1992; Juran, 1997; Madu,1998; Goetsch, 2000). As definições de qualidade sãoinúmeras e como se constata têm emergido em res-posta às constantes mudanças empresariais. Conside-rando a globalização dos mercados, as mudançasconstantes das expetativas dos clientes, as desconti-nuidades tecnológicas e a concorrência global comofatores que modificam as fontes de vantagem competi-tivas, a adoção de um sistema direcionado para a qua-

lidade torna-se a resposta com mais êxito no enquadra-mento competitivo atual. Assim, é aceite que a quali-dade tem implicações positivas na performance e naposição competitiva das organizações (Lovelock, 1991;Cronin & Taylor, 1992; Grönroos, 2004; González,Comesaña & Brea, 2007).

Podem-se estabelecer grosseiramente quatro enfoquesbásicos e fundamentais da qualidade (Tse & Wilton,1988; Bolton & Drew, 1991; Oakland, 1992):

• Qualidade é excelência (Tuchman in Llorens Montes& Fuentes, 2001).

• Qualidade é valor (Madu, 1998).

• Qualidade é conformidade com as especificações(Juran, 1997).

• Qualidade é igualar ou exceder as expetativas dosclientes (Grönroos, 2004).

Entende-se portanto que a ênfase se deslocou da oti-mização financeira dos ativos para a satisfação docliente e para a melhoria contínua, através de umafilosofia de gestão pela qualidade total (Parasuraman,Zeithaml & Berry, 1988; Brown & Swartz, 1989; Chiave-

nato, 1999). Os padrões dos serviços são mais exigen-tes porque os clientes estão efetivamente mais sensíveisà qualidade e o focus mudou de eficientemente produ-zido para um modelo flexibilizado à resposta do consu-midor e estreitamente relacionado com outros conceitosde marketing tais como as intenções comportamentais,a retenção de pessoas, os lucros, o valor e com inte-resse crescente a satisfação do cliente (Lovelock,1991; Cronin and Taylor, 1992; Fernandes, 2000; Gron-röos, 2004; Lovelock e Wirtz, 2006).

Assim, o sucesso de uma política de qualidade numaorganização passa pela consciência de que a gestão dequalidade é determinante para se alcançar a plena satis-fação dos clientes e o próprio desenvolvimento da orga-nização (Llorens Montes and Fuentes, 2001). Entenda-sea simples definição de satisfação do cliente propostapor Kotler (1994) como o resultado da perceção dodesempenho do serviço e da produção do bem, emrelação às suas expetativas. De facto, o cliente ficasatisfeito quando as suas expetativas são igualadas ousuperadas, ou seja, a organização prestou um serviçocom nível elevado de qualidade (Harris & Hawinston,2000).

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Pretende-se assim definir e mensurar a qualidade docontexto em estudo com base na seguinte questão deinvestigação: qual o nível de qualidade do serviçoprestado ao cliente de uma unidade clínica deMedicina Interna do Centro Hospitalar de LisboaCentral?

2. MÉTODOS

A presente pesquisa enquadra-se no tipo quantitativadescritiva e pretende analisar a satisfação do clientenuma unidade clínica de Medicina Interna do CentroHospitalar de Lisboa Central. Com base nos objetivosdefinidos, optou-se pela aplicação de inquéritos comoinstrumento de recolha de dados, fundamentados napesquisa de Sarmento acerca do Modelo de Satisfaçãodo Cliente (SATCLI) e onde estão inscritas as compo-nentes da qualidade que influenciam a sua satisfação(Sarmento, 2003).

O Modelo de Satisfação do Cliente encerra setedimensões da qualidade do serviço e é baseado nomodelo LODGSERV proposto por Knutson, Stevens,Wullaert, Patton & Yokoyama (1991) para a avaliação dasatisfação do cliente no setor turístico. As sete dimen-sões definidas e aplicadas são confiança, segurança,resposta, tangibilidade, empatia, competência ecortesia. Considerando a sua aplicabilidade apenasestudada ao setor hoteleiro, mas conhecendo as simili-tudes entre os setores em estudo, decidiu-se pela utili-zação do modelo SATCLI, adaptado ao setor da saúdee modificado o questionário, através da realização deum pré-teste, resultando em mudanças formais simplese na escala de concordância para 7 níveis, tornando-omais preciso.

Optou-se por uma amostra aleatória, fundamentadaem critérios de seriação estabelecidos, que permitemobter dados que refletem com precisão os clientes emestudo. Por forma a garantir a qualidade da informaçãorecolhida, estabeleceram-se os seguintes critérios deseleção: alfabetismo, alta clínica, nacionalidade portu-guesa e capacidade cognitiva adequada, excluindoutentes com patologia de Alzheimer, demência e esta-dos confusionais agudos. A dimensão da amostra éassim constituída por todos os clientes que no períodode julho e novembro de 2011, intervalo de tempo auto-rizado para a realização do estudo, apresentavam oscritérios de inclusão.

Para a análise de dados, recorreu-se a ferramentasestatísticas descritivas, através do estabelecimento damédia, desvio padrão, máximo, mínimo, moda, medianae cálculo de percentagens, com a construção de base dedados em Microsoft Office Excel version 2007, possibili-tando o conhecimento e análise dos dados recolhidos.

3. RESULTADOS

Setenta e dois clientes da unidade clínica de MedicinaInterna constituíram a amostra em estudo e têm idades

Da Qualidade: uma avaliação impreterível

Sendo a qualidade um input fundamental para alcançara satisfação do cliente, deverão os planos de qualidadeimplementados nas organizações encerrar mecanismosimprescindíveis para conseguir esse objetivo primordiale procurar manter e melhorar continuamente os proces-sos e os serviços como resposta atempada e adequadaàs mudanças (Bateson, 1991; Bolton and Drew, 1991).

Torna-se assim fundamental a avaliação da qualidadeatravés de diversos modelos cientificamente validadoscomo o modelo SERVQUAL (Parasuraman, Zeithaml &Berry, 1985; Parasuraman, Zeithaml and Berry, 1988;Parasuraman, Zeithaml & Berry, 1994; Carman, 1990;Babakus and Boler, 1992; Buttle, 1996), o modeloLODGSERV (Knutson, Stevens, Wullaert, Patton &Yokoyama, 1991) e o modelo SATCLI (Sarmento, 2003).Os modelos encerram as dimensões que caraterizam aqualidade e avaliam a satisfação do cliente e a qualidadepercebida, um fator abstrato e complexo inerente àsparticularidades dos serviços (Anderson e Sullivan,1993). Estes modelos permitem determinar quais ascaraterísticas chave que contribuem para a satisfaçãodo cliente, analisada através da metodologia analítica.

Neste âmbito surge o presente estudo descritivo quepretende explorar como os clientes de uma uni-dade clínica de Medicina Interna do Centro Hospi-talar de Lisboa Central percecionam e avaliam aqualidade do serviço prestado, através da análise dasatisfação do entrevistado. Primeiro, analisa-se a satis-fação do usuário no serviço de saúde, por meio domodelo de SATCLI (Sarmento, 2003) e definem-se entreas dimensões da qualidade – confiabilidade, resposta,segurança, tangibilidade, empatia, competência e cor-tesia – aquelas que representam maior grau de satisfa-ção para os clientes. Em seguida, determina-se as variá-veis que incrementam e as que penalizam a qualidadepercebida. Finalmente interessa reportar as vantagenscompetitivas do contexto e reconhecer áreas de insu-cesso para posteriores ações corretivas, promovendo amelhoria contínua da organização.

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Valor Médio

Cortesia

Empatia

Competência

Resposta

Confiança

Segurança

Tangibilidade

1 2 3 4 5

4,97

5,35

5,13

5,06

5,03

5,03

4,82

4,74

compreendidas entre 18 e 97 anos, sendo que 36,11%têm entre 58 a 77 anos. São 35 do género masculino e37 do género feminino, com percentagens de 48,61%e 51,39%, respetivamente. Dos clientes incluídos naamostra, 52,78% são casados, 15,28% são divorciadose com 19,44% surge a resposta viúvo. Predominam osinquiridos, 68,06%, com habilitações literárias com-preendidas entre o 1º ciclo e o ensino secundário.

Caraterização da Satisfaçãodo Cliente

As sete dimensões estudadas e que integram a quali-dade do serviço encerram-se entre os valores médiosxm=5,35 e xm=4,74. O valor médio máximo é assumidopela cortesia e o mínimo pela dimensão tangibilidade.Destaca-se ainda que, com valor médio mínimo, adimensão tangibilidade distingue-se com o desviopadrão mais elevado de todo o inquérito, indicando aexistência de respostas extremadas e heterogeneidadedas mesmas.

No Gráfico 1 estão representadas as sete dimensões daqualidade da unidade clínica de Medicina Interna e osrespetivos valores médios.

Pode-se distinguir ainda que o valor médio assumidopelas dimensões da qualidade é de xm=4,97 coms=1,06, que transpondo para a escala de concordânciaadotada localiza-se na posição não concordo, nem dis-cordo.

Relativamente às caraterísticas que compõem cadauma das dimensões da qualidade, apenas uma contraio valor médio inferior a xm�4. Das restantes 18 estãocompreendidas entre xm=4,38 e xm=4,97 e 15 estãocompreendidas entre xm=5,03 e xm=5,71.

São de destacar os quatro valores médios máximos nascaraterísticas: competência e formação dos presta-dores de cuidados (xm=5,71 e s=0,97), prestadoresde cuidados simpáticos (xm=5,67 e s=1,09), hones-tidade dos prestadores de cuidados (xm=5,58 es=0,95) e bom relacionamento (xm=5,53 e s=0,99) eque correspondem às dimensões competência, res-posta, cortesia e empatia, respetivamente.

O Gráfico 2 representa as respostas à variável compe-tência e formação dos prestadores de cuidados epermite constatar que 90% dos clientes assumem res-postas entre o concordo e o concordo totalmente.

A caraterística prestadores de cuidados simpáticosapresenta como valor de moda 6, correspondendo oposicionamento concordo muito àquele que ocorre commaior frequência. Já na caraterística honestidade dosprestadores de cuidados, as respostas estão extre-madas nos limites discordo e concordo totalmente,mínimo 3 e máximo 7, respetivamente. Por último, 83%dos clientes posicionam-se entre concordo e concordototalmente na caraterística bom relacionamento.

Por oposição, as caraterísticas com valores médiosmínimos relatadas são o ruído interno e externo da

unidade (xm=3,93 e s=1,29), a lotação do quarto(xm=4,38 e s=1,16) e a atratividade visual das instala-ções (xm=4,43 e s=1,15). Enfatiza-se o facto de seremvariáveis relativas à dimensão tangibilidade que con-traem os valores médios mais baixos.

O ruído interno e externo da unidade representa acaraterística com valor médio mínimo entre as 34 variá-veis incorporadas pelas dimensões, muito embora tam-bém encerre o desvio padrão mais elevado. Num totalde 72 clientes, 37% remetem as respostas para as posi-ções entre o discordo totalmente e o discordo. Especi-ficamente o valor percentual mais elevado na orientaçãodiscordo totalmente é destinado à caraterística descrita,com 6% de respostas. Convém ainda distinguir outrascaraterísticas inclusas noutras dimensões que descre-vem também valores médios baixos, tais como a segu-rança do serviço (xm=4,50) e as instalações de qua-lidade (xm=4,50).

Gráfico 1: Satisfação do cliente na unidade clínica de Medicina Interna

Concordo Muito

51%

ConcordoMuitíssimo

ou Totalmente

17%

Não Concordonem discordo

7%

Concordo

22%

Discordo Muito

1%

Discordo

1%

Gráfico 2: Respostas à variável competência e formação dos prestadores de cuidados

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de neutralidade assumida revele forte tendência para asatisfação, sendo considerada a dimensão mais pena-lizadora da qualidade percebida pelos clientes da uni-dade clínica de Medicina Interna.

Não negligenciando as caraterísticas que esta abarca eque se destacam como determinantes na avaliação daqualidade do serviço, o ruído interno e externo daunidade, a lotação do quarto e a atratividade visualdas instalações são aquelas que alcançam os níveismenores de satisfação. Concretamente, as duas últimasdescritas apontam a neutralidade na escala de satisfa-ção, porém o ruído interno e externo da unidadedestaca-se como fomentador de insatisfação dos clien-tes. Globalmente constitui-se como a única caraterísticaem que se posicionam como insatisfeitos.

Muito embora a literatura não as descreva como funda-mentais, é clara e convergente a conceção de que ascaraterísticas tangíveis que encerram a estética, oambiente, as instalações e a aparência dos profissionaise dos equipamentos e materiais são o primeiro aspetoavaliativo da qualidade porque são facilitadoras da com-preensão imediata desta, pela particularidade dos ser-viços e a dificuldade de avaliação da qualidade dosmesmos (Lovelock, 1991).

Antagonicamente e com valores médios superiores a5,5, as caraterísticas determinantes da avaliação da uni-dade, são a competência e formação dos presta-dores de cuidados, prestadores de cuidados sim-páticos, honestidade dos prestadores de cuidadose bom relacionamento e com as quais os clientes seencontram satisfeitos com tendência para o muito satis-feitos. Discriminadamente, nas três primeiras caraterís-ticas descritas e em cada uma delas, mais de 60% daspessoas se encontram muito satisfeitas ou totalmentesatisfeitas com a qualidade do serviço prestado.

Estas caraterísticas determinam que o serviço é dispen-sado por prestadores de cuidados profissionais comboa formação e simpáticos e que geram uma atmosferarelacional adequada. Já em 1985, a Organização Mun-dial de Saúde, ao publicar As Metas da Saúde paraTodos, reflete a sua preocupação com a garantia daqualidade dos serviços e determina mecanismos efica-zes para tal (OMS, 1985). Ao produzir esta meta, des-tacou a necessidade de requerer a todos os profissio-nais de saúde uma adequada formação, de forma agarantir a qualidade dos serviços e ainda uma maioratenção à humanização dos mesmos enquadrados nosDireitos e Deveres dos cidadãos. Ora esta premissa estáintegrada na satisfação dos clientes da unidade clínicade Medicina Interna como se constata anteriormente.

A avaliação determinada neste trabalho está embutidana perspetiva de Hesbeen (2001), em que a prestaçãode um serviço de qualidade “ (…) requer particular aten-ção para com as pessoas, criada pela preocupaçãocom o respeito por elas. (…) Procede da utilização coe-rente e complementar dos diversos recurso de que aequipa de profissionais dispõe e constitui a prova detalentos destes profissionais (…) ” e “ (…) inscreve-senum contexto político, económico e organizacional comorientações, meios e limites pertinentes e claramenteidentificados (Hesbeen, 2001, p. 7).

4. DISCUSSÃO

Os resultados demonstram que as dimensões da qua-lidade são consideradas distintamente pelos clientes.Porém, apresentam conformidades idênticas na escalae são globalmente representativas do nível de satisfaçãodo cliente.

As dimensões da qualidade que representam maioresníveis de satisfação dos clientes são a cortesia, aempatia e a competência. Pode-se determinar que ocliente se encontra satisfeito nestas vertentes.

Constata-se que a confiança e a resposta são dimen-sões que satisfazem igualmente o cliente. A segurançae a tangibilidade são as dimensões que originammenor grau de satisfação. Ainda assim não atingem ograu de insatisfação, porém distinguem-se como neu-tras na escala de satisfação.

Demonstra-se assim que os aspetos que envolvem arelação terapêutica entre o prestador de cuidados e ocliente com base na humanização e valores éticos sãoincitadores de satisfação e são valorizados peranteoutras dimensões da qualidade. Esta perspetiva encaixana vertente interpessoal da qualidade definida por Dona-bedian (2003). Também Sarmento (2003) no estudosemelhante noutro setor concluiu que a dimensão cor-tesia encerrava o maior grau de satisfação, consoli-dando a ideia que esta dimensão é fulcral na avaliaçãoda qualidade dos serviços.

Não se exclui também a revelação que a unidade clínicade Medicina Interna tem a capacidade de oferecer umaassistência digna com profissionais competentes, com-provado pela dimensão competência. Distingue-seainda que os prestadores de cuidados estão atualizadosperante a constante inovação e que têm capacidade degerir uma panóplia de situações desconhecidas e com-plexas.

A vertente ambiental defendida por Donabedian (2003)e encerrada na dimensão tangibilidade neste estudoincorpora os aspetos relativos ao conforto e bem-estardo cliente e concretamente a atratividade e envolvênciadas instalações e como se desenrola toda a atividadenaquele espaço. Nesta ótica, os clientes em estudo nãoestão nem satisfeito nem insatisfeitos, embora a posição

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A qualidade em saúde implica assim a existênciade culturas, competências e métodos de avaliação

focalizados no cidadão e na excelência.

Parece assim que a vertente interpessoal entre o pres-tador de cuidados e o cliente é uma vantagem compe-titiva destacável na unidade clínica de Medicina Internaem estudo. A humanização dos cuidados implica o res-peito pela individualidade do ser humano, pelo que oprofissional de saúde deve ser capaz de se conhecer asi próprio e ao outro, tendo consciência dos valores éti-cos de cada um. Isto implica a capacidade de o acolher,de o ouvir, de estar disponível e ser criativo na prestaçãode cuidados e respeitar as opções do outro, e issoparece ser valorizado neste contexto.

No cômputo geral, a qualidade do serviço prestado ori-gina um nível neutro de satisfação, embora com fortetendência para a satisfação, demonstrado pelo valormédio das sete dimensões da qualidade.

ConclusãoAtualmente, as organizações têm implementado medidas e políticas centradas nodesenvolvimento de uma cultura da qualidade dos serviços, demonstrando uma cres-cente preocupação com este paradigma. Pode-se concluir que o estudo permite a iden-tificação de um conjunto de variáveis da qualidade que influenciam a satisfação dosclientes da unidade clínica de Medicina Interna.

Na avaliação da qualidade dos serviços, a satisfação do cliente é um contributo essen-cial e pode constituir-se como um factor relevante e promotor de mudanças ou solidi-ficação de políticas.

Reconhece-se que o paradigma do serviço prestado pelo contexto em estudo centra-se no indivíduo e na vertente relacional, técnica e científica, aquela que envolve conhe-cimentos e experiência. Mas simultaneamente é negligenciada a componente tangíveldo local. A relação estreita existente entre a formação e competência dos prestadoresde cuidados e a satisfação gerada é notória. Para os clientes, a sua satisfação rela-ciona-se com o atendimento, com a informação e com a confiança expressa na relaçãoestabelecida, aquela que sobre a qual é mais difícil parametrizar a qualidade.

Desta forma, a organização tem também um papel essencial nas políticas de recruta-mento e formação dos profissionais. Deverá manter o investimento nas competênciastécnicas e relacionais e reconhecer e incutir este aperfeiçoamento constante, atravésda formação contínua. Uma política de recrutamento criteriosa poderá ser também umadas principais estratégias da organização.

O resultado da alteração das políticas e das estruturas poderá estar na base da quali-dade do serviço prestado e tal como refere Donabedian (2003), a organização da estru-tura é necessária para proporcionar a qualidade. Está estreitamente contida numatríade de causa-efeito – estrutura, processos e resultados, em que sem a estruturasadequadas, a qualidade estará sempre comprometida e, consequentemente, a satisfa-ção do cliente. Deste modo, a manutenção das instalações é condição necessária parao acolhimento e procedimentos a realizar.

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Conclusão (continuação)

Conforme se constata através da aplicação do modelo de satisfação do cliente, adimensão tangibilidade destaca-se como desvantagem competitiva da unidade clínicade Medicina Interna e as caraterísticas que engloba como as que geram menor satis-fação. Assim, este contexto deverá aprimorar alguns aspetos que se expõem:

• Melhoria da construção, nomeadamente a insonorização dos quartos, por forma aminimizar o ruido interno e externo do local.

• Remodelação das instalações e equipamento, sendo estabelecido um plano de remo-delação e manutenção periódico e promovendo a qualidade das mesmas.

• Reformular a lotação dos quartos, promovendo redução da capacidade de cada um,privilegiando a privacidade.

• Incrementar o conforto das instalações, através do conhecimento das expectativasdos utentes.

• Maximizar a segurança do serviço, certificando-se que são cumpridos os requisitosexigidos pelos clientes.

• Resposta rápida à chamada ou necessidades do utente, considerando-o como centralno momento da prestação do serviço.

Com a evolução dos processos de qualidade e assumindo-se o cliente como rigorosoe informado, a missão do serviço terá que ser imperiosamente centrada sobre a estru-tura e os processos, admitindo-se os resultados como secundários ao sistema avalia-tivo. Nesta perspetiva, a organização deverá antecipar-se na avaliação da satisfaçãodo cliente, não só como uma questão ética e deontológica, mas também, e obrigato-riamente, como principal indicador de qualidade.

Assim, a avaliação da satisfação do cliente e da qualidade percebida deverá ser efe-tuada periodicamente e analisada criteriosamente, sendo concetualizada como impul-sionadora da melhoria contínua e da modernização organizacional. E não determinaruma política de avaliação da satisfação centrada nas reclamações, porque os clientesapenas reclamam quando estão insatisfeitos.

A qualidade em saúde implica assim a existência de culturas, competências e métodosde avaliação focalizados no cidadão e na excelência. Contudo, além da conscienciali-zação da importância da qualidade no setor da saúde e na economia portuguesa, éimprescindível compreender a sua realidade e só posteriormente definir ações deter-minantes à sua qualidade. O descrito estudo espelha então informação pertinente parao desenvolvimento da unidade clínica de Medicina Interna do Centro Hospitalar de Lis-boa Central e proporciona um conhecimento global sobre a prestação do mesmo, dasua qualidade e da satisfação dos seus clientes.

Assim e à semelhança do que acontece noutros setores de atividade económica, prevê-se que se exigia a certificação da qualidade nos serviços de saúde e a implementaçãode sistema promotores da mesma.

As limitações neste estudo estão maioritariamente associadas a circunstâncias tem-porais que limitaram a quantidade de respostas. Também o elevado grau de iliteracia einadequada capacidade cognitiva limitaram o número de indivíduos respondentes eainda a recusa de algumas pessoas a participar no estudo.

Estudos futuros podem permitir ao investigador considerar hipóteses mais alargadasde medição e particularizar a própria prestação de cuidados. Na conjetura atual, oconhecimento demonstrado neste estudo, e para os organismos de gestão do CHLC,distingue-se como impulsionador para a investigação desta problemática, através dasua replicação noutras unidades funcionais ou mesmo a análise comparativa da quali-dade entre contextos e diferentes Centros Hospitalares.

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RESUMO

O transplante cardíaco é um tratamento cirúrgico querepresenta uma alternativa para crianças com situaçõesde doença cardíaca grave e incapacitante. A vivência dotransplante cardíaco tem impacto a nível social, psico-lógico, físico e económico. A prevenção das complica-ções mais frequentes deste tratamento (a rejeição e ainfeção) envolve uma série de desafios para os profis-sionais de saúde, para a criança e família e requeremapoios comunitários.

O enfermeiro pode ajudar a minimizar o impacto psico-lógico e social do transplante cardíaco na vida da criança e da família, alicerçando a sua intervenção noModelo de Cuidados Centrados na Família. A consultade enfermagem permite a continuidade de cuidadoscom base numa relação de confiança, comunicação efi-caz e educação da criança transplantada e família, faci -litando o seu envolvimento e estabelecimento de expe-tativas, que se assumem como fundamentais para aadaptação no pós-transplante.

Palavras-Chave: Criança, Família, Transplante deCoração, Cuidados de Enfermagem

INTRODUÇÃO

O transplante cardíaco pediátrico é um procedimentocirúrgico alternativo quando ocorre uma deterioraçãoprogressiva do estado de saúde da criança. A cardio-patia congénita surge como a principal indicação parao transplante cardíaco em crianças menores de um anode idade e à medida que aumenta a idade do recetor, amiocardiopatia é a indicação mais frequente (Conway eDipchand, 2010).

Todavia, a criança transplantada cardíaca é consideradaportadora de uma doença crónica pelas limitações eperdas que a situação envolve, influenciando a dinâmicafamiliar. A doença e a hospitalização da criança trans-plantada constituem-se como focos de destabilizaçãofamiliar. Assim, é necessário compreender que os pro-cessos de saúde e doença são experiências que envol-vem todo o sistema familiar, de modo que cuidar dacriança submetida a transplante cardíaco e família, nopós-transplante, constitui um desafio para a prática deenfermagem. Neste artigo reflectir-se-á sobre o impactodos cuidados no pós-transplante cardíaco na criança efamília, realçando as intervenções da consulta de enfer-magem que contribuem para promover a adesão aoregime medicamentoso, a avaliação do crescimento edo desenvolvimento, a adaptação do estilo de vida fami-liar e a identificação precoce de sinais de alarme.

Cuidar da Criança e Famíliaapós o Transplante Cardíaco

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A consulta de enfermagem permitea continuidade de cuidados com base numa relação

de confiança, comunicação eficaz e educaçãoda criança transplantada e família, ...

BIO

BIOAna Inês Lourenço da Costa, Licenciatura em Enfermagem; Pós-graduação em Gestão

e Organização de Cuidados de Saúde Primários; Mestrado e Pós-licenciatura em Enfer-magem de Saúde Infantil e Pediatria; Serviço Cardiologia Pediátrica – Hospital SantaMarta, CHLC, E.P.E.

Cuidados Centrados na Família

Cuidar da criança submetida a transplante cardíaco efamília requer o estabelecimento de uma relação tera-pêutica entre a criança, a família e o enfermeiro. Esteprofissional tem um contacto privilegiado com os pais ecrianças transplantadas e, como tal, compreende asmudanças que o tratamento acarreta nas suas vidasdiárias. Deste modo, os enfermeiros podem contribuirpara a adaptação ao transplante das crianças e pais,através do ensino de novos conhecimentos (por exem-plo, cuidados com a lavagem das roupas, limpeza edesinfeção da casa), e na capacitação para cuidar dacriança transplantada por exemplo, a nível da gestão doregime medicamentoso.

Neste contexto, o enfermeiro desenvolve a sua práticaalicerçada no Modelo de Cuidados Centrados na Famí-

ponsável pela inibição da resposta proliferativa (“Mico-fenolato de Mofetil”) (Luikart, 2001). É crucial a monito-rização dos níveis sanguíneos de Ciclosporina e Tacro-limus, sendo atualmente o segundo o mais utilizado,cujos valores de referência são 5 - 15 ng/ml para trans-plante �180 dias e 4 - 7 ng/ml para transplante �180dias). Níveis baixos favorecem a rejeição e níveis eleva-dos propiciam o aparecimento de infeções oportunistasbem como o efeito adverso dos fármacos. Os inibidoresda calcineurina (“Tacrolimus” e “Ciclosporina”) apresen-tam uma variedade de efeitos adversos, tais como neu-rotoxicidade, hepatoxicidade, desequilíbrio hidroelectro-lítico, hiperglicemia, hipercolesterolemia, hipertensão,anemia, bem como diarreia e náuseas. Apesar dos efei-tos secundários da “Ciclosporina” apresentarem maiorimpacto a nível estético e visual, como hirsutismo ehiperplasia gengival, relativamente ao “Tacrolimus”,ambos os fármacos provocam alopécia. Por sua vez, otratamento prolongado com corticoesteroídes provocaefeitos adversos já conhecidos como retenção de flui-dos, obesidade, corpo cushingoide, aumento do ape-tite, acne, cataratas e atraso no crescimento. Já o“Micofenolato de Mofetil” apresenta como efeitos adver-sos a toxicidade sobre o aparelho digestivo (Bueno et

zação de recursos comunitários para apoiar nas neces-sidades da família (Green e Ray, 2006).

A transmissão de informação à criança e família e oestabelecimento de uma relação de ajuda e confiançapromovem a redução do stresse e a capacitação paraa tomada de decisão. O enfermeiro deve fornecer ins-trumentos de ensino com informação escrita relevantesobre os cuidados a ter com a criança (tais como, pre-venção de infeções, sinais de alarme, alimentos que nãodeve ingerir, vacinas que deve fazer), que incluem des-dobráveis, livros para pintar, apropriados a cada estádiode desenvolvimento, validando sempre a informaçãofornecida.

Medicação Imunossupressora

No pós-transplante cardíaco, a terapêutica imunossu-pressora tem como objectivo prevenir a rejeição doórgão transplantado de forma eficaz e com o mínimo deefeitos secundários para a criança, que manterá estamedicação ao longo da sua vida. Os principais imunos-supressores utilizados são “Tacrolimus” e “Ciclosporina”,que inicialmente se associam a corticoesteroides (“Pred-nisolona”) e normalmente, a um outro medicamento res-

lia, que é uma filosofia no qual se garante que os cuida-dos são planeados contemplando a família e, nos quaisos membros da família são simultaneamente recetorese prestadores de cuidados (Hockenberry, 2006). Os Cui-dados Centrados na Família baseiam-se em princípiosde mutualismo e parceria com os pais de modo a res-ponder às suas necessidades de cuidados de saúde,através de um envolvimento dinâmico (Newton, 2000).Por seu lado, Titoneet al (2004) apresentam como com-ponoentes-chave dos Cuidados Centrados na Família orespeito, a escolha, a informação, a colaboração, oreconhecimento dos pontos fortes da família, a flexibili-dade, o suporte e a capacitação. Os componentes des-tes cuidados incluem a educação da família, a avaliaçãodo crescimento e desenvolvimento da criança, a identi-ficação precoce das alterações e sua intervenção, oapoio na “normalização” dos estilos de vida familiar, apromoção da adesão ao regime terapêutico e a mobili-

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al, 2003). Deste modo, é imprescindível conhecer osefeitos adversos da medicação imunossupressora, etambém as interações com outros fármacos. Algunsmedicamentos interagem com os imunos supressores,podendo alterar o efeito, pelo que a introdução denovos medicamentos requer o conhecimento da equipade saúde.

Nos cuidados prestados pelo enfermeiro à criança sub-metida a transplante cardíaco e sua família inclui-se, odever de informar sobre a importância da medicação ea sua função, complementando a informação oral coma escrita; treinar com os pais e criança a preparação damedicação, dando o tempo necessário para a adapta-ção na fase pós-transplante; respeitar o horário damedicação, que foi previamente adaptada à rotina diáriada criança e família; alertar para a necessidade denunca parar nenhum medicamento ou alterar a suadose, sem contactar a equipa de saúde; não tomar Ibu-profeno, uma vez que afeta a função renal quandousado em combinação com os imunossupressores; eem caso de esquecimento de tomar algum medica-mento comunicar à equipa de saúde. É de salientar quealguns medicamentos não estão disponíveis nas farmá-cias comunitárias, pelo que os pais devem assegurarque existe medicação suficiente em casa.

O risco de cancro de pele é elevado para as criançasque tomam medicação imunossupressora (ITNS, 2002),deste modo a criança submetida a transplante cardíaconecessita de proteção da exposição solar, pelo que,quando sai à rua deve colocar creme protector solar,chapéu e blusa, que devem ser usados em qualquerhora de exposição solar

Rejeição

A rejeição é uma das complicações mais frequentesapós o transplante, mas geralmente os episódios derejeição respondem eficazmente à terapêutica. Estesapresentam-se através de manifestações clínicas e/oualterações histopatológicas, que se desenvolvem emsurtos denominados por episódios de rejeição. Estes,podem ser classificados considerando o tempo pós-

-transplante e a participação dos elementos agressorese agredidos, em rejeição hiperaguda, aguda e crónicaou doença vascular do enxerto (Luikart, 2001; Blume,2003).Os sinais e sintomas de rejeição aguda são: aste-nia, anorexia, náuseas, dor abdominal, aumento rápidodo peso, taquicardia, alteração do ritmo cardíaco, febree hepatomegália. Em caso de rejeição crónica podeverificar-se síncope, edema intermitente, intolerância aoexercício físico e, raramente, dor torácica (Blume, 2003).

Infeção

As infeções após o transplante cardíaco são tambémcomplicações frequentes e podem ser agrupadas emtrês grupos: primárias, intermédias e tardias. As infeçõesprimárias surgem durante o primeiro mês após o trans-plante e estão directamente associadas ao procedi-mento cirúrgico. Nesta etapa são comuns infeções dasvias respiratórias, do aparelho urinário, da ferida cirúr-gica e as relacionadas com os cateteres intravasculares.No período intermédio (2.º e 6.º mês pós-transplante)as infeções estão associadas a complicações do pós-operatório ou com alterações que a imunossupressãopode desenvolver. As infeções verificadas no períodotardio dependem significativamente do resultado dotransplante e do grau de imunossupressão.

As infeções respiratórias bacterianas adquiridas nacomunidade são as mais frequentes, seguindo-se asinfeções causadas por vírus, fungos e protozoários. Jáas infeções sistémicas por Citomegalovírus, são as maisfrequentes e podem apresentar-se como uma infeçãoprimária, uma reativação ou uma reinfeção (Fonseca-Aten e Michaels, 2006).

O enfermeiro assume um papel de destaque no ensinosobre a prevenção das infeções da criança submetidaa transplante cardíaco, especialmente quando estasregressam ao domicílio. Recomenda-se que a criançae família lavem as mãos frequentemente, especialmenteantes da preparação e ingestão das refeições, após uti-lização do WC e mudança da fralda. É crucial encorajara família a lavar as mãos antes de cuidar alguma feridaou preparar medicação. A família e criança devem serinformadas sobre a importância de não partilharemescovas de dentes, equipamentos de manicure e pédi-cure e utensílios de cozinha (como talheres, chávenasou copos) (ITNS, 2002).

É fundamental evitar o contacto da criança transplan-tada com pessoas que estejam doentes, nomeada-mente com febre, tosse e/ou espirros para reduzir aexposição da criança, e evitar a visita de amigos e fami-liares doentes, aglomerados de pessoas (como em res-taurantes, centros comerciais, e locais de construção edemolição de casas). A higiene oral e as visitas regularesao dentista são importantes para a prevenção de focosinfeciosos. Habitualmente antes da visita ao dentista eda intervenção cirúrgica faz-se profilaxia antibiótica, demodo a prevenir a endocardite bacteriana. É aconselhá-vel que a família da criança transplantada cardíaca não

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tenha animais de estimação em casa devido ao elevadorisco de infeção, caso estes animais existam, devegarantir-se que estão vacinados, desparasitados, limpose com controlo veterinário (Bahruth, 2004).

Se a criança não está vacinada contra a varicela deveevitar a exposição a essa doença e, em caso de con-tacto com pessoas infectadas deve informar a equipade saúde. A criança submetida a transplante cardíacotoma medicação imunossupressora e, portanto, nãopode receber algumas vacinas, nomeadamente vacinasde vírus vivos (por exemplo, varicela e rubéola). Acriança pode retomar o restante esquema vacinal entre3 a 6 meses após o transplante, mediante ausência deperíodos de rejeição e infeção e sempre com indicaçãomédica. É recomendada a vacina contra a gripe sazonalà criança transplantada e família, bem como a atualiza-ção do plano nacional de vacinação a toda família (Bah-ruth, 2004).

Assim, o enfermeiro deve informar dos principais sinto-mas de complicações do transplante cardíaco (rejeiçãoe infeção) que são semelhantes aos das complicaçõesda medicação imunossupressora, sendo eles: febre(temperatura superior a 38ºC); náuseas, vómitos e diar-

reia, que interferem com a administração da medicação;dispneia, taquipneia, tosse produtiva, astenia e anorexia;aumento da irritabilidade; toracalgia, lipotímia e sensa-ção de frequência cardíaca anormal; edema dos olhos,mãos ou pés; disúria; cortes e ferimentos que não cica-trizam normalmente e que parecem estar infectados.Perante qualquer um destes sinais de alarme, a criança

As crianças submetidas a transplante cardíacoapresentam diminuição da interação social...

é crucial uma intervenção da equipamultidisciplinar com o intuito de apoiar social

e psicologicamente estas famílias,...

cognitivo, comportamental com implicações a nível aca-démico devido às lesões cérebro-vasculares, que ocor-rem durante a transplantação, aos efeitos secundáriosda medicação, ao absentismo escolar devido às hospi-talizações e à dificuldade em desenvolver estratégias decoping para lidar com o stress decorrente do processode transplante. O estudo de Brosiget al (2006) mostrouque 46% das crianças transplantadas apresentavamatraso cognitivo, 22% problemas com a leitura e a falae 43% problemas na matemática.

As crianças que apresentam longos períodos de hospi-talização por complicações após o transplante apresen-tam elevado risco de alterações comportamentais.Estas crianças geralmente têm níveis elevados deabsentismo podendo apresentar dificuldades na reinte-gração escolar, e manifestar agressividade, ansiedadee depressão.

Os adolescentes transplantados cardíacos podem sen-tir-se diferentes dos seus pares, devido a alterações daimagem associados à existência da ferida cirúrgica ecom os efeitos secundários da medicação imunossu-pressora. Por vezes, estes adolescentes sentem-se

e família devem contactar rapidamente a equipa desaúde (Bahruth, 2004).

Crescimento e Desenvolvimento

A preocupação com o crescimento e desenvolvimentoda criança deve envolver a equipa multidisciplinar,desempenhando o enfermeiro um papel de destaque nadeteção de sinais de perigo, promovendo uma interven-ção precoce, através da articulação entre profissionais.Para além da avaliação do desenvolvimento, recorrendoà Escala de Desenvolvimento de Mary Sheridan, é essen-cial a observação da interação da criança com os pais.

A avaliação física e psicossocial da criança é importante,mas deverá atender-se ao comportamento da criançaem casa, com a família e na escola, com os colegas;aos problemas que surgem na escola; e à capacidadeda criança para se envolver em atividades do quotidiano(Green e Ray, 2006).

A criança submetida a transplante cardíaco tem um ele-vado risco de sofrer alterações do seu desenvolvimento

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superprotegidos e impedidos de fazer algumas ativida-des que os seus pares fazem, podendo verificar-sesituações de bullying e ou provocações, que podemocasionar sentimentos de inferioridade e baixa auto-estima (Olaussonet al, 2006). O enfermeiro deve encorajara participação da criança em atividades apro priadas àsua idade e desenvolvimento.

A monitorização do crescimento da criança após otransplante é primordial, embora habitualmente não severifique alterações no desenvolvimento, atingindo aaltura prevista rapidamente. O crescimento deve seravaliado e registado na sua própria curva, usando asCurvas de Percentis propostas pela Direção Geral deSaúde (2005). Quando as crianças apresentam atrasono crescimento resultante do período pré-transplante, afamília deve ser informada sobre o impacto da doençaanterior no potencial de crescimento. A criança e os paisdevem ainda ser informados que o crescimento será deacordo com o padrão da criança (Teets e Borisuk, 2004).

Relativamente à alimentação realça-se a necessidadeda criança consumir nutrientes suficientes para prevenira perda de peso, promover a cicatrização e coadjuvarna proteção contra as infeções. As recomendaçõesnutricionais devem envolver a equipa multidisciplinar,especialmente o dietista. Assim sendo, é essencialconhecer os hábitos alimentares da criança e da família,com o intuito de ajustar a alimentação aconselhada. Oscuidados alimentares à criança submetida a transplantecardíaco e família dirigem-se para dois objetivos funda-mentais, sendo eles: um teor microbiológico reduzidode forma a evitar infeções e uma dieta equilibrada e sau-dável atendendo às caraterísticas dos alimentos, umavez que a dieta visa a prevenção de doenças secundá-rias à corticoterapia prolongada e imunossupressão.

Atividade Física

Gradualmente, a criança submetida a transplante car-díaco vai readquirindo a capacidade para, iniciar a ativi-dade física. Daqui se depreende que não existem res-trições à atividade na criança transplantada, pelo queesta poderá participar nas mesmas atividades físicas,

jogos e desportos que as crianças da sua idade. Éimportante realçar que o regresso à escola da criança éuma decisão tomada em conjunto com a família e acriança, podendo ser realizada de forma gradual eadaptada.

Este regresso ocorre normalmente seis meses pós-transplante, mas depende sempre da condição de cadacriança. A informação detalhada dos cuidados a ter comuma criança transplantada cardíaca é fundamental paraque os professores e toda a comunidade escolar conhe-çam a situação da criança, a sua medicação e se sintamconfortáveis ao receber uma criança com necessidadesde saúde especiais. É recomendável uma articulaçãoentre a equipa de saúde e os profissionais da escolapara que o regresso da criança transplantada à escolaocorra com confiança e sem dúvidas (Weil, Rodgers,Rubovits, 2006).

Consulta de Enfermagem à Criançasubmetida a Transplante Cardíacoe Família

Reconhecendo os desafios que a criança e família enfren-tam, iniciaram-se consultas de enfermagem dirigidas àcriança transplantada cardíaca e sua família, com o intuitode as acompanhar no pós-transplante, promovendo acontinuidade de cuidados entre o pós-operatório ime-diato, a consulta e as diferentes hospitalizações. Trata-sede promover a qualidade de vida, facilitando as transiçõesque todos os intervenientes vivenciam.

Esta consulta apresenta como principais objetivos aredução do número de episódios de infeções e rejeiçãodecorrentes do transplante cardíaco na criança, devidoa não adesão ao regime terapêutico; a redução daansiedade e o medo das crianças submetidas a trans-plante cardíaco e família, no pós-transplante; e, por fim,a realização de educação para a saúde aos três níveisde prevenção à criança transplantada cardíaca e família,no pós-transplante. O suporte à criança e família nassuas necessidades, dúvidas, expectativas, a promoçãoda saúde, proteção, recuperação e reabilitação consti-tuem intervenções da prática de enfermagem.

O enfermeiro considerado de referência das criançastrans plan tadas e família responsabiliza-se pela continui-dade de cuidados de enfermagem à criança e famíliadurante o processo assistencial, desempenhando acoordenação dos cuidados de enfermagem prestados.O suporte de enfermagem, desde o diagnóstico danecessidade de transplante até ao acompanhamentoda criança no pós-operatório, dirige-se para os cuida-dos de saúde, o apoio emocional, a presença, o escla-recimento de dúvidas e receios e as ações educativas,que se podem desenrolar em meio hospitalar como nodomicílio ou na escola. Este suporte baseado numarelação de confiança e comunicação sincera facilita oenvolvimento da criança e família, o estabelecimento deexpectativas reais e a transmissão de informação, queé fundamental para a adaptação dos intervenientes aopós-transplante.

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Conclusão

As crianças submetidas a transplante cardíaco apresentam diminuição da interação

social, em parte, devido aos longos períodos de hospitalização, ao absentismo

escolar e à hiperproteção dos pais, pelo que é crucial uma intervenção da equipa

multidisciplinar com o intuito de apoiar social e psicologicamente estas famílias,

facilitando a adaptação à nova situação e paralelamente a continuidade de cuida-

dos. Deste modo, inclui-se como intervenções a articulação com o psicólogo, o

assistente social, o enfermeiro de saúde escolar, o apoio na visita dos colegas da

escola à criança durante a hospitalização, o uso das novas tecnologias (por exem-

plo: as vídeo chamadas) para comunicar com os colegas da escola, o incentivo à

troca de mensagens, livros e jogos, o incentivo aos pais a deixar a criança sair/pas-

sear com os amigos, a realização de visitas domiciliárias de enfermagem de forma

a ajudar a família a lidar com a transição do pós-transplante.

A intervenção do enfermeiro, baseada nos Cuidados Centrados na Família, surge

como a chave para minimizar o impacto desta doença crónica e maximizar o poten-

cial de desenvolvimento da criança. A relação terapêutica entre o enfermeiro, a

criança e a família, fundamentada na confiança é indispensável para minimizar a

perceção do sentimento de diferença da criança relativamente aos seus pares,

incorporar o regime medicamentoso no dia-a-dia e reduzir o impacto da doença na

vida quotidiana da família.

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RESUMO

O ensino pré-operatório inicia-se com o acolhimento docliente, sendo este um processo contínuo , dinâmico efavorável ao desenvolvimento de uma relação de ajuda.

Todas as pessoas que são submetidas a uma cirurgiadeparam-se com sintomas como medo, insegurança eansiedade face ao desconhecido (Dugas, 1984). Oensino pré-operatório é o meio que o enfermeiro tem aodispor para fazer face a esta sintomatologia apresen-tada pelos seus clientes.

Em cirurgia oftalmológica, a extração da catarata é oprocedimento mais frequentemente realizado, sendofeito atualmente em regime de ambulatório.

Existem diversos estudos (McDonald et al., 2004;Johansson et al., 2005) que demonstram a importânciado ensino pré-operatório em regime de internamento,mas desconhece-se qual a sua relevância no regime decirurgia de ambulatório. Sabendo-se que na cirurgia deambulatório o tempo de permanência do doente nohospital é reduzido, o enfermeiro peri-operatório terámenos tempo para o acompanhar pelo que deverá ade-quar as suas práticas.

Pretende-se com este trabalho conhecer a relação entrea realização do ensino pré-operatório de enfermagem aclientes a serem submetidos a cirurgia de extração decatarata, em regime de ambulatório, e os níveis deansiedade que manifestam no período intra-operatório.

Foram selecionados 120 sujeitos com idade igual ousuperior a 50 anos e que iam ser submetidos pela pri-meira vez a cirurgia de extração da catarata sob anes-tesia tópica em regime de ambulatório. Os sujeitosforam randomizados em dois grupos, um dos quais foisubmetido a visita de enfermagem pré-operatória.

O nível de ansiedade, nos dois grupos, foi medido coma Escala STAY-estado, no período intra-operatório.

Conclui-se que a realização da visita pré-operatóriainfluencia significativamente os níveis de ansiedade noperíodo intra-operatório dos clientes que são submeti-dos (pela primeira vez) a extração de catarata em cirur-gia de ambulatório.

Palavras-Chave: Ansiedade, Ensino pré-operatório,Escala de ansiedade STAY, Cirurgia de ambulatório,Enfermagem.

A influência do ensino pré-operatóriode enfermagem na redução daansiedade intra-operatória em cirurgiaambulatória de extração de catarata

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Todas as pessoas que são submetidasa uma cirurgia deparam-se com sintomas

como medo, insegurança e ansiedadeface ao desconhecido...

BIO

BIOMarta de Jesus Borges Fonseca, Licenciada em Enfermagem. Pós-graduada em Sis-

temas de Gestão de Saúde. Bloco Operatório de Oftalmologia do Hospital dos Capuchos– Centro Hospitalar de Lisboa Central

INTRODUÇÃO

O internamento hospitalar implica uma rutura no quoti-diano, e desencadeia incertezas quanto ao futuro, e éface à intervenção cirúrgica que o indivíduo se confrontacom uma ameaça objetiva à sua integridade corporal.A consciência da incapacidade face ao controlo dasituação leva muitas vezes a fantasias de abandonodurante a intervenção cirúrgica, ou que durante esta,possa haver comprometimento da sua visão. Às rea-ções emocionais consequentes da hospitalização,somam-se factores de stress específicos da operação,e que no essencial comportam “...o medo da dor e dadestruição da imagem corporal, a crença de não acor-dar da anestesia e o receio das complicações pós-ope-ratórias” (Mechas, 1991).

O ensino pré-operatório “é uma das atividades de enfer-magem no pré-operatório, tendo como objectivo conhe-cer o doente, identificar os problemas existentes e pre-pará-lo, psicologicamente, para a cirurgia” (AESOP,1994).

O ensino pré-operatório é uma atividade do enfermeirode bloco operatório que permite o atendimento intra-operatório do cliente no seu todo e tem segundo Fer-reira e Sequeira (2006) como objectivos:

1. Avaliar as necessidades físicas e psicológicas dodoente;

2. Descrever os procedimentos cirúrgicos, desde aadmissão, até à alta;

3. Envolver a família/adulto responsável no plano deassistência proposto;

4. Fornecer documentação existente (manual doutente, indicações pré-operatórias);

5. Fazer o ensino para a alta e pós-operatório fora dainstituição hospitalar.

Segundo Dugas (1980) “…o bom ensino no pré-opera-tório, ajuda a preparar o cliente para a cirurgia e torna arecuperação mais fácil… Numerosos estudos docu-mentaram os reais benefícios do ensino pré-operatório,para tornar o cliente menos ansioso, tanto antes comoapós a cirurgia e ainda para minimizar as complicaçõespós-operatórias e apressar a sua recuperação”.

A necessidade dos enfermeiros terem um atendimentocada vez mais centrado no cliente tem vindo a ser lar-gamente reconhecido, tendo o fornecimento de infor-mação e educação tido um papel cada vez mais rele-vante nos cuidados de saúde modernos. A esta noção,junta-se ainda a necessidade dos clientes receberem otratamento dos seus problemas de saúde juntamentecom um ensino e participação assertiva dos seus fami-liares (Scott, 2004).

Os cuidados de enfermagem a prestar aos clientes quevão ser submetidos a extração de catarata em regimede ambulatório, englobam diversas especificidades degrande importância para os resultados do procedimentocirúrgico. O ensino incide sobre a explicação ao clientede todos os procedimentos a que será sujeito antes deentrar no bloco operatório (avaliação de sinais vitais,cateterização de veia periférica e colocação de colíriosmidriáticos) e de uma forma incisiva sobre a sua partici-pação ativa no procedimento cirúrgico, para que estese possa realizar.

A extração da catarata ocorre sob anestesia tópica e,como é imprescindível que o cliente permaneça com acabeça imóvel, é essencial que a informação pré-ope-ratória recaia sobre o modo como o cliente deve proce-der no sentido de prevenir complicações intra e pós-operatórias.

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Os clientes devidamente informados acerca do seu tra-tamento apresentam um maior auto-controle e segu-rança (Brewster, 1992) e um menor grau de ansiedade(Mendes et al., 2005).

Summers (1984) afirma que clientes ansiosos retêmsomente 30 a 40% da informação verbal que recebem,é por isso que é importante a quantidade de informaçãoque deverá ser fornecida, de modo a diminuir e não aaumentar a ansiedade, por ser fornecida informação des-necessária, tal como demonstrou Cheetham em 1993.

Têm sido utilizadas uma grande variedade de instru-mentos de avaliação após o ensino pré-operatório:

1. Ansiedade

Tem sido uma das medidas mais usadas na investiga-ção, sendo utilizada isolada (Hathaway, 1986 citado porShuldham, 1999; Soares et al., 1997; Delmas et al.,1997; Mendes et al., 2005) ou juntamente com outras;medo e ansiedade (Mavrais et al., 1990 citados porShuldham, 1999; Nelson, 1996), ansiedade e conheci-mentos sobre o processo cirúrgico (Allen et al., 1992;Lepcsyk et al., 1990; Raleigh et al., 1990) e ansiedadee dor (Esteve et al., 2002; Lin e Wang, 2005).

2. Dor

Devine e Cook (1986) e Johnston e Vogele (1993) cita-dos por Shuldham (1999) mostram que a intervençãopsico-educacional reduz significativamente a dor cirúr-gica num estudo de meta-análise.

Esteve et al., (2002) e Lin e Wang (2005) voltam a obser-var a redução da dor pós-cirúrgica após terem sidotomadas estratégias de ensino pré-operatório.

3. Conhecimento

Alguns estudos (Wallace, 1986 citado por Shuldham,1999; Raleigh et al., 1990, Allen et al., 1992; Cupples,1991 citado por Shuldham, 1999) estudaram o impactoda educação no conhecimento que os clientes têm dasua doença e como é que isso se repercute na suarecuperação.

Todos os estudos demonstram um aumento de conhe-cimentos entre o pré e o pós-teste, no entanto nemtodos apresentam diferenças significativas entre o grupoexperimental e o controlo (Allen et al., 1992).

4. Dias de internamento

Devine e Cook (1986) citados por Shuldham (1999)encontram uma relação negativa entre o número de diasde internamento e o ensino pré-cirúrgico. O mesmo resul-tado foi confirmado em 1993 por Johston e Vogele cita-dos por Shuldham, 1999 na meta-análise que efetuaram.

5. Satisfação

Existem vários estudos que demonstram que o nível desatisfação dos clientes sujeitos a ensino pré-cirúrgico émesmo superior à da sua recuperação. Wallace (1986)citado por Shuldham (1999) demonstra que o programaeducacional que é prestado é avaliado positivamente,tendo o mesmo resultado sido encontrado por Ramoset al., 2003.

Pretende-se com este estudo, conhecer a relação entreo ensino pré-operatório de enfermagem prestado aclientes submetidos a cirurgia de extração de catarata,em regime de ambulatório, e os níveis de ansiedademanifestados no período intra-operatório.

METODOLOGIA

A população deste trabalho é composta pelos clientessujeitos pela primeira vez a cirurgia da catarata, emregime de ambulatório, no bloco operatório do CentroHospitalar de Lisboa Central, Hospital de Santo Antóniodos Capuchos.

Para a constituição da amostra deste estudo, selecio-naram-se por ordem de aparecimento todos os sujeitoscandidatos a cirurgia da catarata que satisfizessem osseguintes critérios de inclusão:

• A cirurgia da catarata ser em regime de ambulatório;

• Idade igual ou superior a 50 anos;

• Ausência de alterações neurológicas ou psiquiátricas;

• Operado a cirurgia da catarata pela primeira vez.

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Os clientes que preencheram os critérios de inclusãoforam selecionados para o grupo experimental (Grupo1) ou para o grupo de controlo (Grupo 2) através da uti-lização de uma tabela de números aleatórios (Spiegel,1971:568) com base no sexo.

O grupo experimental (Grupo 1) é constituído por 60sujeitos, 30 homens e 30 mulheres, com uma média deidade de 73,7 ± 6,99 (quadros 1 e 2).

O grupo de controlo (Grupo 2) é constituído por 60 sujei-tos, 30 homens e 30 mulheres, com uma média deidade de 72,23 ± 8,11 (quadros 1 e 2).

Quadro 1Tabela de frequências da idade dos dois grupos

Classes Frequência no Frequência node idade Grupo Experimental Grupo de Controlo

50 - 60 1 8

60 – 70 18 14

70 – 80 30 30

80 - 90 11 8

Total 60 60

A comparação das médias das idades, entre os doisgrupos, não mostrou diferenças significativas (χ2= 35,4;p= .35) (quadro 2).

Quadro 2Caraterização da idade da população

N Idade (anos) VariabilidadeMédia dp Min Máx.

Grupo experimental (1) 60 73,7 6,9 58 90

Grupo de controlo (2) 60 72,2 8,1 51 87

Estatística χ2= 35,4 p=.35 n.s.

O Grupo 1 apresenta uma média de escolaridade de 2,73 anos e o Grupo 2, igualmente, uma média de 2,73(gráfico 1 e quadro 3).

Quadro 3Caraterização da escolaridade da população

N Escolaridade (anos)Média dp

Grupo experimental (1) 60 2,73 1,83

Grupo de controlo (2) 60 2,73 1,99

Seleção do instrumento de medida

No que se refere à avaliação da ansiedade, constatou-seque, na pesquisa bibliográfica efetuada, o STAY (forma Y)tem sido amplamente utilizado para avaliar a ansiedadeem contextos médicos e hospitalares: por exemplo, aansiedade pré-cirúrgica, a ansiedade em doentes de car-diologia, pneumologia, ginecologia, odontologia, serviçosde urgência, etc. (Ribeiro, Couto-Soares, Lima Ribeiro,1996; Porgesz, 2000; White, 1999; Bally, Campbell, Che-nick & Tranmer, 2003; Fleet et al., 2003; Colt, Poewrs &Shanks, 1999; Hong et al., 2003; Munafò & Stevenson,2001; etc. citados por Vale, 2007).

Tendo em conta que existe uma versão do STAY (formasY1 e Y2) traduzida, adaptada e aferida para a população

31Enformação agosto-outubro 2014 | www.acenfermeiros.pt

portuguesa (Silva e Campos, 1988; Vale, 2007), deci-diu-se aplicar esta versão do STAY (forma Y1 – Escalade Ansiedade – Estado) aos doentes que viessem rea-lizar em regime de ambulatório, cirurgia de extração decatarata, na situação intra-cirúrgica.

Procedimentos

Os sujeitos do Grupo Experimental foram sujeitos arecolha de dados biográficos e a ensino pré-operatórioestruturado. Após serem preparados para entrarem nobloco operatório foram conduzidos para a sala de cirur-gia onde foram recebidos por uma enfermeira que fez aavaliação da ansiedade no período intra-operatório. Estaenfermeira desconhecia a que grupo (experimental oucontrole) é que o doente pertencia.

Convém referir que a escala de ansiedade-estado(STAY) foi elaborada como uma escala de autopreenchi-mento. No entanto, neste estudo isso não era possível,pela diminuição da acuidade visual dos clientes, inerenteà patologia visual grave, acrescida pela influência decolírios midriáticos a que são submetidos na preparaçãopré-operatória que os impossibilita de terem uma acui-dade visual adequada para o preenchimento da escala.Por outro lado, dado que se optou por avaliar o nível deansiedade no período intra-operatório, como forma demaximizar esse sentimento/emoção, os clientes encon-tram-se em posição de decúbito dorsal, o que impossi-bilita o auto-preenchimento da escala.

Aos sujeitos do Grupo de Controlo foi feita, igualmente,a recolha de dados biográficos e após a preparaçãopara ingresso no bloco operatório foram transportadospara a sala de cirurgia onde foram submetidos, tal comoos sujeitos do grupo experimental, a avaliação da ansie-dade intra-operatória.

RESULTADOS

Efetuou-se a comparação das médias dos resultados daEscala de Ansiedade (STAY) com o teste Mann-Whitney,verificando-se a existência de diferenças muito significati-vas entre os dois grupos (U= 2,0; p= .000) (quadro 4).

40

30

20

10

00

1818

2 3 49

Grupo Controlo Grupo Experimental

3639

41

1 2 10

Gráfico 1: Frequência da escolaridade dos doisgrupos

Page 32: PROJETAR A MUDANÇA - acenfermeiros.pt

Quadro 4Comparação das médias da STAY

Grupo Experimental Grupo de Controlo(n=60) (n=60)

Média Somatório Média Somatório U Pde Rank de Rank de Rank de Rank

STAY 30,53 1832,00 90,47 5428,00 2,0 .002

O grupo que não foi submetido a visita pré-operatóriade enfermagem (Grupo 2) apresenta uma média de50,77 no valor total da STAY, enquanto o grupo sujeitoa visita pré-operatória (Grupo 1) tem uma média de25,28, isto é, o grupo não sujeito a visita pré-operatóriaapresenta um resultado no total da STAY significativa-mente mais elevado do que o grupo sujeito a visita pré--operatória (quadro 5).

Quadro 5Caraterização da STAY

N Média dp Min. Máx.Grupoexperimental 60 25,28 4,2 15 40Grupode controlo 60 50,77 5,87 35 67

Os homens e mulheres do grupo sujeito a visita pré--operatória de enfermagem não diferem significativa-mente nos valores da STAY (U=404,500, p=.498). Ape-sar de as mulheres apresentarem valores da STAY supe-riores (Média de Rank=32,02) à dos homens (Média deRank=28,98), essas diferenças não são significativas(quadro 6).

Quadro 6Comparação das médias dos valores da STAYentre homens e mulheres do grupo experimental

Grupo Experimental Grupo de ControloHomens (n=30) Mulheres (n=30)

Média Somatório Média Somatório U Pde Rank de Rank de Rank de Rank

STAY 28,98 869,5 32,02 96,050 404,500 .498 n.s.

A variável género não apresenta igualmente diferençassignificativas (U=396,000, p=.424) em relação aos valo-res da STAY no grupo que não foi submetido a visitapré-operatória de enfermagem. As mulheres apresen-tam, tal como no grupo experimental, valores mais ele-vados na STAY (Média de Rank=32,3) do que oshomens (Média de Rank=28,7), não sendo contudoessas diferenças significativas (quadro 7).

Quadro 7Comparação das médias dos valores da STAYentre homens e mulheres do grupo de controlo

Grupo Experimental Grupo de ControloHomens (n=30) Mulheres (n=30)

Média Somatório Média Somatório U Pde Rank de Rank de Rank de Rank

STAY 28,7 861,00 32,3 969,00 396,000 .424 n.s.

Compararam-se as respostas dos clientes às questõesrelacionadas com os seus antecedentes de internamen-tos, antecedentes cirúrgicos, antecedentes relativos aalgumas doenças, comportamento perante a medica-ção, presença em consulta de anestesia e nível deconhecimento acerca do procedimento cirúrgico (qua-dro 8). Em todas as questões não se encontraram dife-renças significativas entre os dois grupos.

Quadro 8Antecedentes Clínicos

Grupo Experimental Grupo de Controlo Estatística

SIMValor Bruto 22 38

Antecedentes % 36,7 63,3de Internamentos

NÃOValor Bruto 15 45

% 25 75

SIMValor Bruto 14 46

Antecedentes % 23,3 76,7Cirúrgicos

NÃOValor Bruto 13 47

% 21,7 78,3

SIMValor Bruto 19 41

Antecedentes % 31,7 68,3de Doenças

NÃOValor Bruto 23 37

% 38,3 61,7

SIMValor Bruto 23 17

Tomou hoje % 38,3 28,3a Medicação

NÃOValor Bruto 20 21

% 33,3 35NÃO Valor Bruto 17 22

TOM A % 28,3 36,7

SIMValor Bruto 32 28

Consulta % 53,3 46,7de Anestesia

NÃOValor Bruto 28 32

% 46,7 53,3

SIMValor Bruto 8 11

Conhecimentos % 13,3 18,3

NÃOValor Bruto 52 49

% 86,7 81,7

χ2= 1.915p= .235 n.s.

χ2= .048p= 1.0 n.s.

χ2= .586p= .56 n.s.

χ2= 1.56p= .45 n.s.

χ2= .533p= .58 n.s.

χ2= .563p= .618 n.s.

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Page 33: PROJETAR A MUDANÇA - acenfermeiros.pt

...o ensino pré-operatório de enfermagemreduz significativamente a ansiedade intra-operatória

e que a sua implementação poderá melhorar a qualidade do atendimento prestado.

O stress potencia a ansiedade (Grillon et al., 2007) ecomo diz Sandra et al. (2008) “… a alteração psicosso-cial mais difícil de gerir é a ansiedade dos doentes”.

Neste trabalho destacou-se que os clientes dos doisgrupos apresentavam valores de conhecimento da cirur-gia muito baixos. O facto de se introduzir precisamenteesta variável, através do ensino estruturado aquando doensino pré-operatório pela enfermeira do bloco opera-tório, fez com que o comportamento emocional, mani-festado pelo aumento da colaboração, aumentasse aprobabilidade de sucesso da intervenção cirúrgica ediminuísse a probabilidade de complicações cirúrgicas.

Outro aspecto relevante, prende-se com a economiapara a saúde, pois a implementação desta atuação deenfermagem vai originar uma diminuição dos custosdesta cirurgia visto que, se os clientes estiverem menosansiosos:

• Aumenta a colaboração e o tempo operatório émenor, sendo possível aumentar o número de atoscirúrgicos diários,

• Diminui a necessidade de administração de fármacoshipotensores,

• Diminui o número de complicações cirúrgicas.

Enformação agosto-outubro 2014 | www.acenfermeiros.pt 33

DISCUSSÃO

A visita pré-operatória de enfermagem é uma ação queos enfermeiros têm vindo a implementar desde as últi-mas décadas.

Com o evoluir da técnica cirúrgica de extração de cata-rata é possível atualmente realizar-se este procedimentoem regime de ambulatório e sob anestesia tópica.

Apesar desta forma de atuação clínica já estar bemimplementada, não nos foi possível consultar qualquerestudo que incidisse sobre a atuação dos enfermeirosde sala de operações em período pré-cirúrgico, emcirurgias em regime de ambulatório, e em que a avalia-ção do nível de ansiedade se efetuasse em períodointra-operatório.

Tal como nas cirurgias em regime clássico se verificauma diminuição da ansiedade e maior colaboração dosclientes no período pós-cirúrgico, os dados desteestudo em cirurgia ambulatória revelam, igualmente,uma clara diferença nos valores de ansiedade noperíodo intra-operatório entre o grupo de clientes quefoi sujeito a visita de enfermagem pré-operatória e ogrupo de clientes que não a teve.

Não se encontraram quaisquer diferenças entre os doisgrupos no número de internamentos prévios, nos seusantecedentes cirúrgicos e de problemas clínicos, taiscomo presença de diabetes, hipertensão arterial edoença cardíaca; na toma de medicação no dia dacirurgia, na ida a consulta de anestesia e no conheci-mento que tinham acerca da cirurgia a que iam ser sub-metidos.

Page 34: PROJETAR A MUDANÇA - acenfermeiros.pt

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Mechas, E., S. (1992). Preparação pré-operatória na cirurgia.Psicologia da Saúde. Actas do VI Seminário ISPA. Lisboa,AEISPA.

Conclusão

Neste estudo foi possível observar que, para esta amostra estudada, a relação

entre o ensino pré-operatório e os níveis de ansiedade é bastante elevada. Veri-

fica-se que os clientes que foram sujeitos a esse ensino apresentavam níveis de

ansiedade significativamente mais baixos que os clientes que não o tiveram.

A partir da vigilância da ansiedade, através de uma escala, podemos verificar se

esta aumenta ou diminui de intensidade e a sua relação com a implementação das

intervenções de enfermagem.

Este trabalho vem demonstrar que, tal como já demonstrado em outras patologias

e em cirurgias com internamento, também na cirurgia de ambulatório e, em espe-

cialmente, na cirurgia de extração de catarata, o ensino pré-operatório de enfer-

magem reduz significativamente a ansiedade intra-operatória e que a sua imple-

mentação poderá melhorar a qualidade do atendimento prestado.

Mendes, A.C.; Silva, A.; Nunes, D.; Fonseca, G. (2005). Influên-cia de um programa psico-educativo no pré-operatório nosníveis de ansiedade do doente no pós-operatório. Referên-cia II.ª Série n.º 1 Dezembro.

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entrevista

Revista ACE: Quando foi criada a UCV e qual a sua missão?

Enf. Maria João Duarte: A Unidade CerebroVascular do CHLC é uma Unidade com a lotaçãode 8 camas para tratamento de doentes com AVC e iniciou o seu funcionamento em Outubrode 2003. Tem como missão prestar cuidados de saúde diferenciados a doentes com AcidenteVascular Cerebral agudo, numa procura permanente da excelência do exercício profissional.

O AVC isquémico (que representa 75% de todos os AVC) resulta da oclusão de uma artériacerebral. O objetivo terapêutico na fase aguda do AVC isquémico é o de repermeabilizar aartéria ocluída, por meios farmacológicos/mecânicos, permitindo a reperfusão dos territórioscerebrais em risco e a consequente reversibilidade das lesões provocadas pela oclusão arte-rial. A redução da mortalidade e morbilidade pelas terapêuticas de reperfusão é tanto maiorquanto mais precoce for esta repermeabilização.

Desde o início a organização da Via Verde AVC exigiu um trabalho concertado entre médicose enfermeiros, para que o tempo intra-hospitalar de acesso do doente à terapêutica fosse omenor possível.

Revista ACE: Como funciona o Projecto da Via Verde do AVC?

Dra. Ana Paiva Nunes: De acordo com o Documento Orientador sobre Vias Verdes do AltoComissariado da Saúde, define-se Via Verde como uma estratégia organizada para a abor-dagem, encaminhamento e tratamento mais adequado, planeado e expedito, nas fases pré,intra e inter-hospitalares, de situações clínicas mais frequentes e/ou graves que importam serespecialmente valorizadas pela sua importância para a saúde das populações.

A ativação da Via Verde é feita através de:

• CODU;

• Via Verde Externa (Inter-hospitalar);

• Via Verde Interna (Intra-hospitalar).

Com a experiência adquirida ao longo dos anos e tornando-se a UCV a Unidade de AVC dopaís com maior número de ativações de Via Verde pelo CODU, foi possível ir melhorandoprogressivamente o nosso protocolo de abordagem visando um decréscimo do tempo quemedeia entre a chegada do doente ao Hospital e a administração de terapêutica fibrinolítica(tempo porta-agulha).

Via Verde AVCEquipa multidisciplinar da UCV do CHLC, nomeadamente, Enf. Maria JoãoDuarte, responsável da UCV, especialista em enfermagem de reabilitação,Dra. Ana Paiva Nunes, médica da UCV, assistente hospitalar de MedicinaInterna e Enf. Ricardo Braga, especialista de enfermagem de reabilitação.

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Legenda: Médica e Enfermeiro na sala de TC

Este tipo de abordagem permitiu, além dadiminuição do tempo porta-agulha que era o seu

objectivo primordial, fortalecer a cumplicidade entreo trabalho médico e de enfermagem,...

fibrinolítica directamente na sala de TC em Março de2013, o que nos permitiu poupar cerca de 20 minutosem média por doente.

Ficou estipulado que seria feita a triagem destes doen-tes na sala de TC por um dos enfermeiros do Serviçode Urgência, evitando assim uma possível demora nasala de triagem.

Revista ACE: Como é constituída a equipa e comose organizam?

Enf. Ricardo Braga: Actualmente a equipa da UCV éconstituída por 5 médicos (3 Neurologistas e 2 de Medi-cina Interna) e 17 enfermeiros.

O enfermeiro acompanha o médico na avaliação dosdoentes de Via Verde AVC. Nesse sentido, em cadaturno, fica um enfermeiro responsável por assegurar ocorrecto funcionamento da Via Verde.

Foi criada uma mala de transporte com todo o materialnecessário para a administração de terapêutica fibrino-lítica.

Quando o doente chega à sala de TC é realizado oexame neurológico e colheita de dados adicional, deforma a identificar critérios de inclusão/exclusão paraterapêutica fibrinolítica. São canalizadas dois acessos

venosos periféricos, efetuada avaliação de glicémiacapilar e INR, e sinais vitais, com especial ênfase napressão arterial. O doente realiza TC craneo encefálicoe se não existirem contra indicações inicia trombólise nolocal. Com a trombólise em curso, faz angio TC e étransferido para a UCV.

Este tipo de abordagem permitiu, além da diminuiçãodo tempo porta-agulha que era o seu objectivo primor-dial, fortalecer a cumplicidade entre o trabalho médicoe de enfermagem, realçando a importância da aborda-gem interdisciplinar do doente e motivando os profissio-nais de saúde.

Houve no entanto necessidade de reforçar a equipa deenfermagem com mais um enfermeiro nos turnos daManhã e da Tarde.

Revista ACE: Como funciona o Projecto da ViaVerde do AVC?

Dra. Ana Paiva Nunes: A administração precoce deterapêutica fibrinolítica correlaciona-se com uma melho-ria do prognóstico funcional do doente. Sendo a recuperação funcional um dos grandes objetivos dosprofissionais da UCV, torna-se evidente que este desafioé uma mais-valia para os nossos doentes pois “tempoé cérebro” e em cada minuto que passa perdem-se 1,9milhões de neurónios.

Desde Março de 2013, o protocolo de trombólise nasala de TC permitiu reduzir o tempo porta-agulha emcerca de 20 minutos em média por doente.

Temos como objetivos aumentar o número de doentestratados, incentivar e formar os profissionais de saúdepara a necessidade de rapidez do acesso destes doen-tes ao tratamento.

Foi feita formação em serviço e elaborado um fluxo-grama para que os enfermeiros do Serviço de Urgênciana sala de triagem pudessem ativar a via verde interna.

De acordo com o registo internacional SITS onde sãoregistados todos os doentes submetidos a terapêuticafibrinolítica, o tempo intra-hospitalar da nossa Unidadeera cerca de 40 minutos de 2009 a 2012. As normasinternacionais tanto europeias como americanas reco-mendam um tempo porta-agulha inferior a 60 minutos.

Constatámos contudo que, na nossa realidade noCHLC os doentes têm um tempo entre o início de sin-tomas e a chegada ao Hospital superior aos outros Hos-pitais da área de Lisboa, o que se deve provavelmenteao facto de recebermos 24/h/dia doentes de todo opaís, tanto por ativação pelo CODU, como por outroshospitais pertencentes ou não ao nosso Centro.

Nesse sentido, e não podendo modificar esta demora,iniciámos um protocolo de administração da terapêutica

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Aconteceu

Realizou-se mais um Workshop, organizadopela ACE, subordinado ao tema “Refletir aNutrição”. Decorreu a 13 de Março das 9.00às 12.00 horas no Auditório da Área da Ges-tão da Formação do Hospital de Santo Antó-nio dos Capuchos.Tivemos o privilégio de contar com excelente oradores que nosajudaram a refletir sobre esta temática tão presente nos nossoscontextos.

Começamos com a Dra. Paula Ravasco que abordou o tema“Nutrição em Oncologia”. Ao longo da sua brilhante preleçãofoi enfatizada a importância da ação nutricional no doenteoncológico, pois a desnutrição influencia a progressão clínica.A terapêutica nutricional reveste-se de especial importância notratamento do doente oncológico. Considerada como Evidên-cia de nível A, sabe-se que um aconselhamento nutricional indi-vidualizado com alimentos correntes coadjuvado ou não comsuplementos, aumenta a ingestão nutricional e consequente-mente previne a perda de peso associada aos tratamentosbem como a interrupção dos mesmos. Terminou reforçando opapel da nutrição como peça fundamental no contexto de umaabordagem terapêutica multiprofissional.

Na segunda parte abordou-se a “Nutrição em Contexto Hos-pitalar”. O dietista Nuno Rebelo abordou o tema “O doenteOncológico” e a dietista Diana Mendes “O doente comferida”. Ambos foram peremtórios na necessidade da avalia-ção do risco nutricional, aquando da admissão dos doentes,de forma a poderem ser elaborados planos dietéticos dirigidos.Terminou-se com a intervenção da Enfermeira Marisa Salgadoa qual falou sobre “O papel do Enfermeiro”. Este passaessencialmente pela triagem das necessidades dietéticas dosdoentes e posterior referenciação para o Serviço de Nutriçãoe Dietética, pelo levantamento das preferências alimentares eprincipalmente pela monitorização dos alimentos ingeridos.Este último aspecto foi bastante enfatizado pois se não tiver-mos a percepção do que o doente efetivamente ingere nãopoderemos avaliar a eficácia do Plano Dietético estabelecidocom vista a correção dos problemas identificados.

Este Workshop foi dirigido a todos os profissionais de saúdedo CHLC e contou com uma audiência numerosa e participa-

Enf. Paula Duarte

tiva nos momentos de debate. Houve ainda um momento deconvívio durante o qual foram servidos alimentos saudáveis.

Pensamos ter contribuído para despertar as nossas “consciên-cias” e perceber que podemos “fazer diferente” com os recur-sos existentes. Consideramos a Nutrição como um tema trans-versal a todo o CHLC pelo o que planeamos futuramente aabordagem da mesma noutros contextos.

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200082008

20000044 2004

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Apesar de todas as intempéries, desde2000 que estamos a crescer e a apoiar

cada vez mais os nossos sócios.

Crescimento do número de sócios2000 - 2012

Faz-te sócio em www.acenfermeiros.pt VEM CRESCER CONNOSCO!

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No dia 21 de Maio de 2014 a ACE comemorou o Dia Internacional doEnfermeiro, no Salão Nobre do Hospital de São José.A conferência comemorativa teve como base o tema definido pelo ICNpara o Dia Internacional do Enfermeiro.

ENFERMEIROS: A FORÇA DA MUDANÇARecurso vital para a saúde

Sendo os Enfermeiros parceiros ativos em todos os processos demudança nas diferentes organizações de saúde, torna-se necessáriovisualizar o global, partilhar o conhecimento e basear a tomada de decisãona evidência, considerando a segurança uma prioridade de todos.

A evolução técnico-científica, a globalização dos cuidados, o contextosócio-económico conduzem a mudanças de estar e de cuidar que podem,por vezes, estarem em desacordo com os valores profissionais definidospelos enfermeiros. Será que a enfermagem é recurso vital para amudança? Será que a enfermagem tem conhecimento real da sua força,valor e contributo?

Os 3 preletores convidados partilharam experiências no âmbito das suasáreas de desempenho:

• FORMAÇÃO - Enf.º João Paulo Nunes Director da Escola Superior deEnfermagem São Francisco das Misericórdias;

• GESTÃO - Enf.ª Palmira Silva Enfermeira Directora Adjunta CHLC,EPE– HDE;

• PRESTAÇÃO DE CUIDADOS - Enf.ª Filomena Pestiço Enfermeira doBloco Operatório Central do CHLC, EPE – HDE.

A ACE agradece aos preletores pela excelente conferência, aos músicosque nos animaram e a todos os que estiveram presentes, possibilitando osucesso da comemoração do Dia Internacional do Enfermeiro.

A todos um BEM HAJA e até para o ano.

Enf. Paula Pinheiro

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