Programas Educativos Para Séniores

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IDOSO

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  • FACULDADE DE LETRASDA UNIVERSIDADE DO PORTO

  • 3

    Maria da Graa L. Castro PintoProfessora Catedrtica da Faculdade de Letras da Universidade do Porto

    Presidente da Comisso Coordenadora do Programa

    de Estudos Universitrios para Seniores da Universidade do Porto

    Da aprendizagem ao longo da vida ou do exemplo de uma relao ternria: agora, antes, depois

  • DA APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA OU DO EXEMPLO DE UMA RELAO TERNRIA DA APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA OU DO EXEMPLO DE UMA RELAO TERNRIA DA APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA OU DO EXEMPLO DE UMA RELAO TERNRIA 4

    Ttulo: Da aprendizagem ao longo da vida ou do exemplo de uma relao ternria: agora, antes,

    depois

    Autora: Maria da Graa L. Castro Pinto

    Ano de Edio: 2008

    Concepo Gr ca: Maria Ado

    ISBN: 978-972-8932-34-3

    Depsito Legal n: 281425/08

    Impresso e Acabamento: Tipogra a Nunes Lda - Maia

  • PREFCIO PREFCIO 5

    ndiceAgradecimentos

    Prefcio (Prof. Jorge F. Alves)

    Nota introdutria Nota introdutria Nota introdutria

    Captulo I Das Universidades da Terceira Idade em Portugal a partir de 1976 e da criao do Programa de Estudos Universitrios para Seniores na Universidade do Portoem 2006

    Captulo II Educao ao longo da vida e longevidade

    Captulo III A literacia e o envelhecimento cognitivo

    Captulo IV Os computadores vistos pelas crianas e pelos Captulo IV Os computadores vistos pelas crianas e pelos Captulo IV seniores. Alguns pensamentos sobre o uso e a in uncia das Novas Tecnologias da Informao e da Comunicao ao longo da vida

    Captulo V A linguagem e o envelhecimentoCaptulo V A linguagem e o envelhecimentoCaptulo V

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  • PREFCIO PREFCIO 7

    Aos alunos do Programa de

    Estudos Universitrios

    para Seniores da

    Universidade do Porto

    e a todos os que aceitaram

    colaborar neste projecto

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    Ao Prof. Doutor Jorge Fernandes Alves, Director da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, a expresso da minha gratido por ter manifestado interesse em publicar este volume nas Edies da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e em redigir o prefcio.

    Ao Prof. Doutor Joo Veloso, agradeo a amizade com que me acompanha to generosamente na aventura que representa a escrita, disponibilizando-se sempre para ser o meu primeiro leitor, no s comentando os textos, mas tambm ajudando-me na rdua tarefa de fazer a leitura nal.

    Agradecimentos:

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    PREFCIO

    Por razes institucionais, cabe-me a honra de enunciar algumas a r-maes em jeito de prefcio, abrindo o presente livro da Professora Maria da Graa L. Castro Pinto, tendo assim a possibilidade de antecipar o sabor derivado da sua leitura. Trata-se de um livro diferente e inovador desta docente, conceituada investigadora na rea da lingustica e professora catedrtica da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, que des-ta vez associa as suas preocupaes tradicionais aos novos desa os da aprendizagem ao longo da vida e, mais especi camente, nova proble-mtica dos estudos para seniores, qual dedica cinco estudos da maior pertinncia.

    Importa notar que a Prof Graa Pinto, na sequncia da ateno que vem devotando ao tema, promoveu a criao de um Programa de Estu-dos Universitrios para Seniores (PEUS) na Universidade do Porto, cuja primeira edio ocorreu em 2006-2007, e que veio para car. Este Pro-grama, destinado a maiores de 55 anos e detentores de uma licenciatura, equaciona uma oferta diferente no servio universitrio, jogando com a reactualizao de conhecimentos em vrios domnios, tirando partido da experincia e das competncias acumuladas, numa etapa do ciclo de vida que suscita a re exo e a sua articulao com a sageza. Previsto para uma durao de trs anos, o PEUS propicia o ensino e a pesquisa e, sobre-tudo, a interaco, favorecendo o dilogo intergeracional entre pessoas que continuam a alimentar a vontade de saber e de re ectir, revisitando reas cient cas tais como a Geogra a, a Histria, o Patrimnio, a Lngua e a Literatura, a Psicologia das Emoes, a Sade, a Comunicao, o Di-reito, a Astronomia, a Sociologia, entre outras. O PEUS tem trazido para a Universidade dezenas de pessoas que, ainda activas ou j afastadas da vida pro ssional, se misturam no espao universitrio com geraes mais jovens, alegrando, sua maneira, o ambiente acadmico, trazendo uma forte paz interior, a satisfao de uma vida calma em parte j cumprida, uma insatisfao perante os limites do saber que os motiva a aprofundar o conhecimento, uma clara vontade de partilhar saberes e momentos.

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    Pelos estudos apresentados neste volume, pode veri car-se que a proposta programtica da Prof Graa Pinto partiu de uma posio solida-mente estruturada sobre esta rea de formao ao longo da vida e da sua preocupao com o envelhecimento e seu enquadramento na sociedade actual, numa perspectiva da sua valorizao e enriquecimento.

    Na sequncia de desa os anteriores que a levaram elaborao de textos para comunicaes, aqui compilados depois de revistos e adequa-dos, a Prof Graa Pinto estrutura a presente obra em cinco textos funda-mentais.

    Assim, traa-nos, num minucioso estudo, uma perspectiva compa-rada sobre estudos para seniores, desde as impropriamente designadas universidades da terceira idade surgidas em Portugal nos anos 70 at s propostas de programas universitrios, de que o PEUS um exemplo pio-neiro em Portugal. A se discutem per s discentes, programas curriculares, modelos de aprendizagem.

    Em Educao ao longo da vida e longevidade, deparamos com uma interessante anlise sobre a pessoa idosa e os mitos que em seu redor se tem produzido, ajudando-nos a interrogar as frmulas de gerontologia educativa e de gerontagogia.

    A relao entre a literacia e o envelhecimento cognitivo constituem outro dos temas abordados em profundidade, dando origem a um dos trabalhos mais extensos e apelativos, delineando o estado da arte: aqui se abordam as diferentes con guraes que o conceito de literacia pode assumir, ao mesmo tempo que a autora se interroga sobre o sistema cognitivo ao longo do processo de envelhecimento, questionando o papel da literacia neste processo, enquanto factor de sustentabilidade cognitiva e verbal.

    O uso e a in uncia das novas tecnologias da informao e da comu-nicao nas vrias etapas da vida do lugar a outro estudo Os compu-tadores vistos pelas crianas e pelos seniores.

    Finalmente, no estudo que encerra o livro, a autora desenvolve uma abordagem a manifestaes verbais passveis de alterao com a idade, discutindo a permeabilidade da linguagem perante o processo de enve-lhecimento, salientando discontinuidades tanto no domnio do acesso le-xical como no narrativo, bem como no da comunicao interpessoal, luz dos vrios estudos dos autores que para o efeito convoca. Neste domnio,

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    sublinha que o uso da linguagem pode surgir como uma terapia, como um factor para tornar activo o envelhecimento.

    Ao aprofundar e clari car um conjunto de problemticas subjacentes s preocupaes da aprendizagem ao longo da vida, particularmente aos nvel dos estudos para seniores, o livro da Professora Graa Pinto revela-se como um instrumento indispensvel, de leitura estimulante, para todos quantos se preocupam com este domnio emergente da formao.

    Jorge Fernandes AlvesDirector da FLUP

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    Todos os dias descobrimos coisas belas, desvendamos profundidades interiores que at ento desconhecamos e o exemplo mais agrante o curso que frequentamos com a designao genrica de PEUS [Programa de Estudos Universitrios para Seniores] [...] que nos obriga a pensar, e que nos traz conhecimentos completamente desconhecidos at ento, principalmente a quem esteve ligado engenharia e indstria, isto , tcnica.

    Porto, 22 de Dezembro de 2006 Humberto Oliveira

    (Aluno do 1. ano da 1. edio do PEUS)

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    Nota introdutriaO presente volume congrega cinco captulos. Dois deles Educao

    ao longo da vida e longevidade1 e A linguagem e o envelhecimento2 co-nhecem agora a sua primeira verso escrita. A linguagem e o envelhecimen-to foi expressamente escrito para gurar nesta publicao, muito embora se tenha s vezes socorrido de ideias extradas de artigos j publicados (Pinto 2002 e 2004a). Os restantes trs captulos Das Universidades da Terceira Idade em Portugal a partir de 1976 e da criao do Programa de Estudos Universitrios para Seniores na Universidade do Porto em 20063Universitrios para Seniores na Universidade do Porto em 20063Universitrios para Seniores na Universidade do Porto em 2006 , A litera-cia e o envelhecimento cognitivo4 e Os computadores vistos pelas crianas 4 e Os computadores vistos pelas crianas 4

    e pelos seniores. Alguns pensamentos sobre o uso e a in uncia das Novas

    1 Ttulo da comunicao apresentada no III Congresso Nacional de Gerontologia, que se realizou nos dias 16 e 17 de Novembro de 2006 no Porto, organizado pelo Ncleo Norte da Associao Portuguesa de Psicogerontologia.

    2 Texto escrito expressamente para gurar neste volume e inspirado na notria investi-gao neste domnio que tem sido levada a cabo pelo Professor Onsimo Juncos-Rabadn, da Universidade de Santiago de Compostela, Espanha.

    3 Texto que toma por base duas comunicaes: uma, intitulada The situation and future prospects of university programmes for the third age in southern and Mediterranean areas of Europe: The case of Portugal, foi integrada na mesa-redonda The situation and future prospects of university programmes for the third age in southern and Mediterranean areas of Europe: Portugal, Italy, Malta and Spain, no mbito do International Symposium on Univer-sity Programmes for the Third Age, organizado pelo Vicerectorado de Extensin Universitaria y Actividades Culturales de la Universitat de les Illes Balears, Palma de Mallorca, de 6 a 9 de Maio de 2003. A outra, intitulada As Universidades da Terceira Idade em Portugal. Das origens aos novos desa os do futuro, foi apresentada a 8 de Agosto de 2003 no Encontro Envelhecer em Sade, organizado pelo Centro de Investigao em Educao Contnua de Adultos (CIECA) e pela Universidade Snior de Almeirim (USAL) no mbito do Projecto Le-arning in Senior Age (LISA), realizado em Lisboa na Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias.

    4 Texto que se inspira na comunicao Effects of literacy on cognitive aging: some no-tes apresentada no 7. Congresso Internacional da International Society of Applied Psycho-linguistics, realizado na Universidade da Silsia (Cieszyn, Polnia), de 6 a 9 de Setembro de 2004, integrada na mesa-redonda intitulada Defying problems of literacy among Portuguese speakers, organizada por Leonor Scliar-Cabral (Universidade Federal de Santa Catarina, Bra-sil), publicada em Pinto & Veloso (Eds. 2005: 119-131).

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    Tecnologias da Informao e da Comunicao ao longo da vida5 consti-tuem quer verses bastante alargadas, quer reformulaes de comunicaes apresentadas em encontros cient cos nacionais e internacionais j publica-das no estrangeiro e em Portugal (Pinto 2003a, 2003b, 2004b, 2005 e 2006) ou ainda a aguardar publicao no estrangeiro.

    Com esta obra, pretendo, num primeiro momento, justi car cienti ca-mente a pertinncia da criao de um Programa de Estudos Universitrios para Seniores na Universidade do Porto, no obstante j existir uma oferta signi cativa de programas educativos para seniores com origens diferen-tes e servindo tambm por certo objectivos distintos. Atendendo a que os programas universitrios para seniores pressupem conhecimentos tericos e prticos que no podem ser de forma alguma secundarizados, os cinco captulos/ensaios que a integram devem ser vistos como um contributo para o suporte cient co indispensvel a quem tiver a seu cargo a coordenao de um programa de estudos universitrios destinado a essa populao. Ade-mais, ela visa chegar a um pblico alargado e no necessarimente apenas a estudiosos das reas de estudo nela abordadas, razo pela qual foram tra-duzidas para portugus6 todas as citaes e, para facilitao da leitura dos diferentes captulos, listadas as respectivas referncias no nal de cada um.

    Constitui assim minha inteno partilhar com o leitor interessado al-guns tpicos ligados ao processo de aprendizagem na populao snior, bem como ao que se passa do ponto de vista cognitivo e lingustico me-dida que a idade avana. portanto natural que o leitor, nos diferentes en-saios/captulos, se venha a deparar com temas que os atravessam em guisa de leitmotiv. De facto, o surgimento de tais temas sob diferentes formas em variados momentos ao longo deste volume pretende sublinhar o carcter intrnseco e relevante desses aspectos em relao ao seu contedo geral, afastando de imediato a ideia de que se est perante um mero fenmeno de

    5 Texto que toma como ponto de partida a comunicao Some thoughts on the use and in uence of ICTs in early and later life, apresentada no 7. Congresso Internacional da Inter-national Society of Applied Psycholinguistics, realizado na Universidade da Silsia (Cieszyn, Polnia), de 6 a 9 de Setembro de 2004, integrada na mesa-redonda intitulada Computer mediated communication, organizada por Stefania Stame (Universit degli Studi di Bologna, Itlia), publicada em Pinto (2006).

    6 As tradues so da autora desta obra e, por isso, da sua inteira responsabilidade.

  • PREFCIO PREFCIO 19NOTA INTRODUTRIA

    repetio casual. A um dos temas reconheo que possa ter sido conferido um pouco mais de espao e um relevo particular. Trata-se, como bvio, atendendo aos meus interesses pessoais advindos da minha formao em psicolingustica e em neurolingustica, do tema que diz respeito lingua-gem e a assuntos que a ela respeitam.

    Ao longo de diferentes captulos, foi ainda meu intuito mostrar a ne-cessidade de se olhar a pessoa de idade sem ideias preconcebidas e de se tomarem posies muito crticas face aos mitos e preconceitos criados por outros a seu respeito e de que ela provavelmente s se libertar quando estes forem devidamente refutados ou no do ponto de vista cient co.

    Acredito que o envelhecimento da populao continuar a suscitar es-tudos cada vez mais aprofundados nas mais variadas especialidades, con-tribuindo tanto para que nos conheamos melhor, como para uma abertura de horizontes e consequentemente para um desmontar progressivo dos mitos e preconceitos acerca da populao idosa e que no deveriam ser perpetuados de modo gratuito. Tais estudos, apesar da inevitabilidade do envelhecimento siolgico, ao revelarem como ser possvel fomentar a sustentabilidade das habilidades da pessoa de idade atravs da prtica de actividades intelectuais e fsicas necessrias a um envelhecimento activo que necessita de ser preconizado com insistncia, concorrero por certo para evidenciar que a qualidade de vida no decurso da nossa existncia tem de ser vista como um necessrio.

    Fica, desta forma, o caminho aberto aos que pretenderem desenvolver um ou outro aspecto abordado neste livro por o acharem merecedor de um estudo mais aprofundado, uma vez que algumas das questes levantadas revestem unicamente a mera forma de hipteses espera, como natural, de mais pesquisa. Uma coisa poder contudo ser tida como quase certa. Quem aceitar o desa o de estudar qualquer rea de estudo respeitante populao snior ter seguramente assegurado no s um melhor conhe-cimento geral desse pblico mas tambm um melhor conhecimento de si prprio, passando ainda a deter a possibilidade de observar o seu percurso de vida com mais distncia e, como tal, mais criticamente, com tudo o que isso possa representar em termos da preparao do seu futuro. Na verda-de, nunca ser demasiado lembrar que quem aborda a populao snior nas suas diversas vertentes acabar por retirar sempre ensinamentos que o levam a um melhor auto-conhecimento e possibilidade de, em diferentes

  • DA APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA OU DO EXEMPLO DE UMA RELAO TERNRIA DA APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA OU DO EXEMPLO DE UMA RELAO TERNRIA DA APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA OU DO EXEMPLO DE UMA RELAO TERNRIA 20

    fases da sua existncia, vir a operar uma auto-anlise que s lhe pode vir a ser ben ca.

    , pois, esta a minha actual leitura de alguns tpicos que esto de uma ou de outra forma envolvidos na cognio e na linguagem da pessoa de idade, bem como na aprendizagem ao longo da vida. Espero que ela possa servir para mostrar como, na nossa existncia, sobretudo no que respeita aprendizagem ao longo da vida, o depois no pode ser perspectivado sem o recurso ao jogo de relaes entre o agora e o antes. Tendo em devida conta tal jogo ternrio (de relaes), a achega que aqui deixo s pode ser lida como uma etapa de uma investigao em curso, subordinada obviamente ao meu prprio processo de aprendizagem ao longo da vida, e sempre aberta ao que sobre o assunto nos forem revelando os estudos em desen-volvimento ou que se vierem a realizar.

    Referncias:

    PINTO, M. da G. L. C. (2002). O psicolinguista face ao interesse de que se revestem a aprendizagem ao longo da vida e as formas de intervir atravs da linguagem no idoso. Revista da Faculdade de Letras. Lnguas e Literaturas, Universidade do Porto. II Srie, XIX, 467-490.

    PINTO, M. da G. L. C. (2003a). As Universidades da Terceira Idade em Portugal. Das origens aos novos desa os do futuro. Revista da Faculdade de Letras. Lnguas e Literaturas, Universidade do Porto. II Srie, XX(II), 467-478.

    PINTO, M. da G. L. C. (2003b). The current status and future prospects of university program-mes for seniors in Southern and Mediterranean Europe: The case of Portugal. Revista da Faculdade de Letras. Lnguas e Literaturas, Universidade do Porto. II Srie, XX(I), 71-90.

    PINTO, M. da G. (2004a). Le psycholinguiste face lintrt dune politique ducative tout au long de la vie et dune intervention langagire continue auprs de personnes (trs) ges. In J. Drevillon, J. Vivier & A. Salinas (Eds.). Psycholinguistics. A multidisciplinary science. What implications? What applications? Proceedings of the VIth International Congress of the International Society of Applied Psycholinguistics (ISAPL) 28 june/1st July 2000. Paris: Europia Productions, 57-69

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    PINTO, M. da G. (2004b). Third age universities in Portugal and their programmes. In C. Orte Socas & M. Gambs Saiz (Eds.). Los programas universitarios para mayores en la construccin del espacio europeu de enseanza superior. Palma: Universitat de les Illes Balears, 77-92.

    PINTO, M. da G. C. (2005). Effects of literacy on cognitive aging: Some notes. In M. da G. Cas-tro Pinto & J. Veloso (Eds.). University programmes for senior citizens. From their rele-vance to requirements. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 119-131.

    PINTO, M. da G. L. C. (2006). Pensamentos em torno das TICs em etapas iniciais e mais avan-adas da vida. Revista UNICSUL. Ano 11, N. 13, 99-109.

    PINTO, M. da G. C. & VELOSO, J. (Eds.) (2005). University programmes for senior citizens. From their relevance to requirements. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

    NOTA INTRODUTRIA

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  • DAS UNIVERSIDADES DA TERCEIRA IDADE EM PORTUGAL A PARTIR DE 1976 DAS UNIVERSIDADES DA TERCEIRA IDADE EM PORTUGAL A PARTIR DE 1976 23

    CAPTULO ICAPTULO IDas Universidades da Terceira Idade em Das Universidades da Terceira Idade em Portugal a partir de 1976Portugal a partir de 1976e da criao do Programa de Estudos e da criao do Programa de Estudos Universitrios para Seniores na Universitrios para Seniores na Universidade do Porto em 2006Universidade do Porto em 2006

    Consideraes prviasQuando em Maio de 2003, a convite de um colega da Universidade

    de Granada, Espanha, Prof. Doutor Mariano Snchez Martnez, participei no Simposium Internacional sobre Programas Universitarios de Mayores, organizado pelo Vicerectorado de Extensin Universitaria y Actividades Culturales de la Universitat de les Illes Balears, lamentava, na qualidade de professora universitria portuguesa, ter de dizer que em Portugal no exis-tiam poca programas universitrios para seniores nas universidades ditas tradicionais, pblicas ou privadas.

    Referia ento que, por um lado, j se sentia, no entanto, em Portugal, um interesse crescente, sobretudo por parte da sociedade civil, em procurar dar resposta s exigncias de uma populao idosa que se tornava cada vez mais numerosa, oferecendo programas culturais, sociais e, de certa maneira, tambm educativos dirigidos a essa populao, e, que, por outro lado, se veri cava, de vrias provenincias, uma oferta de cursos tcnicos sobre gerontologia com vista a preparar futuros pro ssionais em diferentes reas relacionadas com pessoas de idade, bem como estudos avanados destinados a gestores de instituies ligadas, de uma maneira ou de outra, com essa populao.

    Em contrapartida, no se observava um empenhamento equivalente por parte das universidades tradicionais portuguesas no tocante oferta de programas educativos para seniores que assentassem numa preparao cient ca prvia. de notar que se usou at ao momento a expresso pro-

  • DA APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA OU DO EXEMPLO DE UMA RELAO TERNRIA DA APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA OU DO EXEMPLO DE UMA RELAO TERNRIA DA APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA OU DO EXEMPLO DE UMA RELAO TERNRIA 24

    gramas universitrios/educativos para seniores quando se fez referncia s ofertas que pudessem provir de universidades tradicionais. A escolha dessa designao de inspirao espanhola, se bem que no coincidente nos dois pases em termos do pblico-alvo (ver Alfageme 2007), resultou da necessidade de atribuir uma terminologia prpria oferta das nossas universidades tradicionais com vista a complementar a j existente nas Uni-versidades da Terceira Idade (UTI) portuguesas.

    Convm todavia acrescentar que as universidades (tradicionais) se mostravam j receptivas ao estabelecimento de protocolos de vria ordem com as UTI colaborando assim, de uma ou de outra forma, com essas instituies, o que denotava uma certa sensibilizao para actividades edu-cativas ou outras destinadas aos seniores; no entanto, no davam sinal de, na qualidade de universidades, tambm poderem dar cumprimento sua misso criando os seus prprios programas educativos, i.e., no similares aos j existentes, que seguramente se mostravam mais condizentes com o per l de seniores com outros interesses.

    De facto, como me dizia Andr Lemieux em conversa sobre este as-sunto, as universidades tradicionais deveriam chamar a si a formao, pes-quisa e interveno em termos de uma educao destinada a seniores que no prescindisse da necessria fundamentao cient ca (ver a abordagem gerontaggica de acordo este autor em Lemieux 2001 e Snchez Martnez 2003: 581). As Universidades da Terceira Idade, por sua vez, deviam dedi-car-se sobretudo, em seu entender, a programas de ndole mais cultural.

    1 A respeito de gerontagogia, em Snchez Martnez (2003: 58) pode ler-se o seguinte tomando como ponto de partida Lemieux (1997): a gerontagogia a cincia educativa inter-disciplinar cujo objecto de estudo a pessoa snior em situao pedaggica. portanto uma cincia aplicada. Segundo Lemieux (1999: 31), a gerontagogia surge ento da necessidade de dar origem a uma cincia que congregue mtodos e tcnicas especialmente destinados aprendizagem da pessoa de idade. Para este autor, ao contrrio da pedagogia com preocu-paes essencialmente sociolgicas, que assenta no modelo de aquisio de conhecimentos e que se dirige aos que vo ensinar nas escolas e ao contrrio da andragogia um modelo sobretudo econmico que tem em vista as pessoas j em exerccio no mercado de trabalho e que procuram aperfeioamento e reciclagem em termos de educao , a gerontagogia traduz uma abordagem de competncias que no tem como objecto nem a formao inicial nem a reciclagem dos conhecimentos, mas que tem como m a metacognio, i.e., o conhecimento do como se servir do seu conhecimento no princpio da contradio e da relatividade de todas as coisas (Lemieux, 1995) (Lemieux (1999: 33), citando Lemieux 1995: 480). Nesta

  • DAS UNIVERSIDADES DA TERCEIRA IDADE EM PORTUGAL A PARTIR DE 1976 DAS UNIVERSIDADES DA TERCEIRA IDADE EM PORTUGAL A PARTIR DE 1976 25

    As Universidades de Terceira Idade: da sua designao pol-mica suscitada

    Se em Portugal no existiam at 2006 Programas de Estudos Universi-trios para Seniores, convm sublinhar que j existem, desde 1976, Univer-sidades da Terceira Idade, razo pela qual se justi ca que se lhes dedique algum espao neste momento.

    Neste texto, uso deliberadamente a designao Universidade da Ter-ceira Idade para me referir de um modo genrico s instituies que se dedicam a dar resposta a um ensino de tipo informal em variados domnios e procura de actividades recreativas ou outras por parte da nossa popu-lao snior, apesar de no ignorar a polmica que o termo universidade tem suscitado nalguns meios e de ter presente o modo como, s vezes, a realidade pode ser afectada pela linguagem.

    A ausncia de consenso no tocante ao termo universidade, que ocor-re no sintagma universidade da terceira idade sintagma a que j ouso chamar xo por fora do uso que lhe conferido pelos falantes , pode explicar o facto de j se ter optado pelas designaes academia, institu-to e associao, normalmente seguidas do epteto cultural, para evitar o recurso palavra universidade. bem provvel que estas e outras de-signaes j traduzam sensibilidades particulares no tocante misso das instituies em questo, misso que nada tem a ver com a das universida-des tradicionais e que conviria deixar tambm clara em termos lingusticos. Assinalaria contudo que a utilizao do termo universidade no caso das UTI, com origem porventura numa metafra, foi j objecto de uma leitura particular, se no de uma preocupao, no incio dos anos 80 do sculo passado quando, por legislao datada de 1982, O Ministrio da Educa-o [refere que] permite o uso da denominao Universidade desde que as UTIS se comprometam a no atribuir nenhum tipo de certi cados ou

    ptica, um estilo ps-formal de pensamento (Rybash [et alii], 1986, p. 38) (Lemieux 1999: et alii], 1986, p. 38) (Lemieux 1999: et alii39) ganha espao e faz questionar o carcter nal do pensamento formal de acordo com Piaget (Lemieux 1999: 39). O novo estilo de pensamento que se pretende instalar ultrapassa, no dizer de Rybash [et alii] (1986: 56) referido por Lemieux (1999: 39), a lgica para atingir et alii] (1986: 56) referido por Lemieux (1999: 39), a lgica para atingir et aliium pensamento dialctico caracterizado pelo princpio de contradio de toda a realidade e o princpio de relatividade de todo o conhecimento.

  • DA APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA OU DO EXEMPLO DE UMA RELAO TERNRIA DA APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA OU DO EXEMPLO DE UMA RELAO TERNRIA DA APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA OU DO EXEMPLO DE UMA RELAO TERNRIA 26

    grau acadmico dos cursos ministrados (DL n. 252/82 de 28 de Junho).2. Salvaguardavam-se assim usos distintos de um lexema que normalmente era atribudo a uma realidade completamente diversa e com uma misso totalmente diferente. Por outro lado, a 20 de Maro de 2003, no II Encontro Nacional de Universidades e Academias Seniores (Almeirim e Santarm), foi-me dado observar que ainda ento se discutia a di culdade de legalizar instituies/associaes intituladas Universidades da Terceira Idade. De facto, trata-se de uma designao que pode, ainda hoje, no ser pac ca3.

    Na verdade, h pessoas que no concordam com o facto de o termo universidade ter sido adoptado para descrever as instituies (culturais) destinadas terceira idade. No comeo dos anos 70 do sculo passado, ad-mito que o uso do termo possa ter causado um certo desconforto em alguns crculos, nomeadamente no meio acadmico. Nos nossos dias, sou de pare-cer que, quando falamos das UTI, j se toma a expresso como um todo, no vendo que a sua leitura se cruze obrigatoriamente com o sentido tradicional de universidade. Julgo mesmo que a chave da no existirem interferncias entre as duas expresses reside antes nas suas misses espec cas.

    Oferecem as universidades tradicionais programas universitrios cujo contedo e qualidade so substancial e cienti camente diferentes dos pro-gramas das UTI?

    Se a resposta for a rmativa, como espero que seja, ento no h razo para perder muito tempo com a terminologia e a pergunta reveste-se de irrelevncia.

    Para aqueles que insistem na no aceitao desse termo, convido-os a pensar que se trata de uma questo que no ultrapassa a imagem acs-

    2 Cf. informao disponvel na web em http://planeta.clix.pt/usal/uti.hthttp://planeta.clix.pt/usal/uti.htm, seco Uni-versidades da Terceira Idade, p. 1 de 5, acedida em 21/02/2003.

    3 Importa acrescentar que a existncia de uma legislao para as Universidades da Ter-ceira Idade se torna cada vez mais necessria uma vez que, como refere o presidente da Rede de Universidades da Terceira Idade (RUTIS), este j um universo bastante signi cativo em Portugal. E Lus Jacob, Presidente da RUTIS, adianta ter sido j apresentada em Julho de 2005 uma proposta de legislao, esperando-se que esta venha a ser aceite (ver a este propsito o artigo Mais de 13 mil idosos frequentam universidades em Portugal (pp. 1 e 2 de 2 pp.), da autoria de Paula Cosme Pinto, datado de 13 de Setembro de 2005, disponvel na web em http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=582317&div_id=29http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=582317&div_id=291, acedido em 29/09/2005).

  • DAS UNIVERSIDADES DA TERCEIRA IDADE EM PORTUGAL A PARTIR DE 1976 DAS UNIVERSIDADES DA TERCEIRA IDADE EM PORTUGAL A PARTIR DE 1976 27

    tica/visual da palavra; por outros termos, o sentido da palavra que , na minha opinio, a sua essncia porque tem a ver com as respectivas misses no se encontra afectado.

    Ainda no que se refere a esta polmica em torno da terminologia, podia naturalmente dizer-se muito mais. No entanto, estou muito mais pre-ocupada com a qualidade da imagem que, das universidades tradicionais, possa chegar ao grande pblico.

    Estaro as universidades tradicionais a cumprir a sua misso de forma a que nos sintamos orgulhosos delas?

    Estaro os acadmicos e investigadores das universidades tradicionais a dar o seu melhor em termos de qualidade fazendo com que as universi-dades a que pertencem se sintam orgulhosos deles?

    Estaro as universidades tradicionais a contribuir, como se espera, para a necessria melhoria do nvel educativo e de pesquisa, bem como da quali cao para o trabalho dos seus estudantes?

    Pensemos agora nos estudantes: a razo principal, no meu entendi-mento, da existncia das universidades.

    Esto as universidades tradicionais a contar com a contribuio dos seus estudantes para a criao da European Higher Education Area neste milnio?

    Esto as universidades tradicionais a dar o seu melhor para criar esp-ritos independentes e crticos, i.e, uma populao cient ca e humanisti-camente bem preparada que seja capaz de resolver as diferentes situaes do dia-a-dia graas exibilidade intelectual que devem adquirir na sua passagem pela universidade?

    Esto as universidades tradicionais a estruturar as mentes dos seus estudantes de forma a que sejam capazes de traduzir a informao em co-nhecimento dentro e fora dos muros da universidade?

    Estes so, efectivamente, alguns aspectos que nos deviam preocupar quando pretendemos formar estudantes que, para alm de uma preparao de ndole cient ca e tecnolgica, estejam aptos a pensar criticamente e apresentem nveis culturais compatveis com uma formao universitria.

    Devemos pois estar preocupados mais com a essncia do que com aspectos que eu consideraria cosmticos.

    provvel que os que, apesar de tudo, continuam a levantar objeces pertinncia do uso do termo universidade quando esto em jogo as UTI

  • DA APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA OU DO EXEMPLO DE UMA RELAO TERNRIA DA APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA OU DO EXEMPLO DE UMA RELAO TERNRIA DA APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA OU DO EXEMPLO DE UMA RELAO TERNRIA 28

    o faam porque entendem que a qualidade universitria deve [...] na sua essncia veicular os trs atributos caractersticos de todas as universidades (Lemieux 1998: 226), i.e, o ensino, a pesquisa e o servio comunidade.

    A gnese das instituies destinadas ao ensino dos senioresOs que se tm dedicado ao estudo da gnese histrica das institui-

    es destinadas ao ensino dos seniores do-se, com efeito, conta de que os objectivos dessas instituies no so da mesma ordem, levando-os a considerar a existncia, no sculo ndo, de trs geraes de modelos de programas oferecidos at hoje por essas instituies.

    A primeira gerao, que os estudiosos datam dos anos 60 do sculo passado, corresponde a um modelo de servios educativos (cf. os Elders hostels) mais da ordem do convvio cultural com o objectivo de ocupar as pessoas da terceira idade e de lhes facilitar as relaes sociais (Lemieux 1998: 227). Este modelo, de acordo com Lemieux (2001: 36), embora tivesse lugar num ambiente universitrio, no oferecia um tipo de ensino necessa-riamente universitrio. Por outras palavras, a formao que era dada no era sempre de nvel universitrio e poderia mesmo ser assegurada por outros agentes educativos (Lemieux 2001: 36).

    A segunda gerao, que data dos anos 70 do mesmo sculo, tinha so-bretudo como objectivo melhorar o bem-estar mental do idoso por meio de actividades culturais consideradas de interesse e desenvolver a sua ca-pacidade de intervir socialmente. Nestas circunstncias, a pessoa de idade assiste a conferncias e debates animados por professores ou pelos seus prprios pares (ver Lemieux 1998: 227; 2001: 36). Est em causa um tipo de actividade educativa que no se reveste de caractersticas especi camente universitrias. Segundo Lemieux (1998: 227), Esta preocupao no desa-pareceu totalmente e certos socilogos acham ainda, hoje, que o educador das pessoas de idade s tem como objectivo formar agentes de mudana social [...].. No fundo, como este autor sugere, um programa com a con- gurao indicada poderia perfeitamente estar a cargo de uma associao literria ou de um clube social (Lemieux 2001: 36).

    Por m, a terceira gerao, que data dos anos 80 do sculo XX, desen-volveu-se no sentido de se aproximar das trs caractersticas de qualquer universidade tradicional: o ensino, a pesquisa e o servio comunidade em que se encontra inserida. Esta gerao procura dar resposta a uma po-

  • DAS UNIVERSIDADES DA TERCEIRA IDADE EM PORTUGAL A PARTIR DE 1976 DAS UNIVERSIDADES DA TERCEIRA IDADE EM PORTUGAL A PARTIR DE 1976 29

    pulao da terceira idade4 cada vez mais jovem e mais escolarizada que comea a exigir cursos que possam ser reconhecidos. Surge assim a ideia de organizar programas conducentes a um diploma, muito embora esses cursos possam tambm ser frequentados, a ttulo livre, por aqueles que no pretendem ser avaliados5.

    Perante estes trs modelos de instituies destinadas ao ensino(/con-vvio) dos seniores, meu entendimento que, tendo em mente a nossa realidade em termos de idades, nveis de escolaridade e interesses pessoais e regionais, teremos de admitir que a sua coexistncia perfeitamente possvel e at mesmo desejvel, bem como a colaborao que se possa estabelecer entre esses diferentes modelos, contribuindo cada um com as suas potencialidades.

    As UTI existentes no nosso pas tm dado perfeitamente resposta, a meu ver, aos objectivos traados pelas duas primeiras geraes atrs des-critas. Resta-nos portanto preparar a terceira gerao, aquela que pretende ir ao encontro dos trs atributos das verdadeiras universidades, contando com o empenhamento das universidades tradicionais pblicas ou privadas e tomando como base a formao cient co-pedaggica que os programas universitrios desta terceira gerao requerem6, mas no fazendo eviden-

    4 Por outras razes, comea tambm a ser presentemente objecto de crtica a expresso terceira idade. No surpreender, por isso, que se veri que nalguns casos a sua substituio por snior ou por para todos. Esta substituio revela-se, de facto, da maior oportunidade atendendo a que j no so s as pessoas com 65 anos e mais que recorrem ou procuram estas instituies mas tambm pessoas que apresentam idades que rondam os 50 anos. Ainda acerca da expresso terceira idade e do facto de poder ser crtica, faz todo o sentido referir que h mesmo vrios grupos de pessoas de idade (ver os trs grupos de idosos enumerados por Azeredo (2007), bem como os trs tipos de pessoas de idade apontados por Bckman et al. (2000) no captulo III deste volume) que so designados por termos que, de acordo com Bckman et al. (2000: 499), no so entidades estticas, uma vez que o seu sentido varia com os tempos e tambm culturalmente.

    5 No tocante a tudo o que foi referido sobre a gnese histrica das UTI, ver Lemieux (1998: 226-227; 2001: 36).

    6 Com efeito, todos aqueles que j tm ou desejam vir a ter a seu cargo iniciativas des-tinadas populao snior no podero ignorar que, nos dias de hoje, cada vez se exige mais pro ssionalismo em todas as reas de interveno. O estudo da populao em causa, nas mais variadas vertentes, torna-se um necessrio para quem a elege como destinatrio das suas iniciativas.

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    temente tbua rasa do que j se realizou, entre ns, neste domnio. No ser, mesmo, de pr de parte a existncia de parcerias entre instituies correspondentes s trs geraes apontadas.

    O surgimento das Universidades da Terceira IdadeNo estudo intitulado Caracterizao das UTIs7, pode ler-se na pgina

    3: As Universidades da Terceira Idade (UTI) surgiram na dcada de 70 em Frana. [...] Este movimento rapidamente alastrou ao resto da Europa, chegando a Portugal em 1976. Ultrapassou oceanos e chegou Amrica nos anos 80. 8.

    As causas para a criao deste tipo de instituies so naturalmente de vria ordem. Salientaria porm como causa principal o envelhecimento da populao e inevitveis repercusses na sua adaptao a novos estilos de vida depois da cessao das actividades exercidas at reforma9.

    Uma primeira leitura da passagem acima transcrita, extrada do estudo Caracterizao das UTIs, levar-nos-ia porventura a inferir que Portugal vivia nos anos 70 do sculo XX uma realidade scio-cultural to seme-lhante Frana que s teriam sido necessrios trs anos para concretizar um projecto que se pretenderia prximo do francs10. Efectivamente, em 1973 criada em Toulouse a primeira UTI e, de acordo com a literatura,

    7 Estudo realizado pela Universidade Snior de Almeirim, na pessoa do Dr. Lus Jacob (Jacob 2003a), distribudo no II Encontro Nacional de Universidades e Academias Seniores (Almeirim e Santarm, 20 de Maro de 2003).

    8 Em Universidades da Terceira Idade, disponvel na web em http://planeta.clix.pt/http://planeta.clix.pt/usal/uti.htm, p. 1 de 5, seco acedida em 21/02/2003, l-se ainda a este propsito na con-tinuidade do transcrito: [...] chegando a Portugal em 1976 com a criao da Universidade Internacional da Terceira Idade de Lisboa pelo Dr. Herberto Miranda.

    9 Neste texto, por opo de escrita, reforma e reformado esto tambm respectiva-mente por aposentao e aposentado, no se negligenciando todavia o que representa estar-se perante quatro entradas lexicais distintas.

    10 Ora, este projecto portugus datado de 1976, de acordo com Lemieux (2001: 43), ter sido desenvolvido graas in uncia da Association Internationale des Universits du Troisi-me ge (AIUTA) e, ainda seguindo a mesma fonte, ela no era mais do que um super-clube gerido por uma famlia com muita cultura, sem quaisquer contactos porm com a estrutura universitria do pas. (Lemieux 2001: 43). Dito de outra forma, tratava-se de um projecto que no mantinha quaisquer contactos com a estrutura universitria do pas, diferentemente do que se teria passado noutros casos.

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    no foram precisos mais de sete anos para que se estabelecessem 52 UTI em Frana (ver Lemieux, Boutin, Snchez & Riendeau s/d: 2). Aprofun-dando um pouco mais os dados avanados, posso acrescentar que foi o Prof. Pierre Vellas, (da Universidade) de Toulouse, que, em 1973, conforme refere Lemieux (2001: 27), teve a ideia corajosa de pr os servios da uni-versidade disposio dos reformados. Com base na mesma fonte, esta UTI correspondia no seu incio a um departamento da unidade de ensino e de pesquisas da faculdade de cincias sociais e tinha como objectivo o estudo dos problemas mdicos, sociais e psicolgicos dos idosos (Lemieux 2001: 27). Por outros termos, num primeiro momento estava em causa uma colaborao entre os estudantes da terceira idade e os pesquisadores jovens da universidade. Como prossegue Lemieux (2001: 27), Trata-se pois [] de uma espcie de geminao que, apesar do famoso con ito de geraes, se mostrou muito fecunda.. Este primeiro projecto deu origem, no entanto, talvez mais rapidamente do que se esperava, a um modelo que passou tam-bm a integrar cursos, conferncias e outras actividades de toda a ordem tendentes a ir ao encontro da procura entusiasta que se veri cava por parte das pessoas de idade (Lemieux 2001: 27).

    A gurou-se-me oportuno lanar um olhar rpido sobre o pas-bero das UTI, isto , a Frana, antes de abordar o nosso caso para podermos operar algumas comparaes. Sem entrar muito em pormenores, gostaria de lembrar que, no que toca Frana, a generalizao da escolaridade obrigatria passou a ser um facto na III Repblica (Harrois-Monin & Rouz 1981:43). No ser, por isso, difcil imaginar o nvel de literacia ou, se assim o desejarem, de escolaridade da populao francesa nos princpios da d-cada de 70 do sculo passado. Tambm no ser difcil entender/explicar, em resultado desse nvel de escolaridade, a existncia de uma sensibilidade particular para dar resposta s necessidades culturais e sociais dos franceses que apresentavam ento 65 anos de idade ou mais e que seriam por certo proporcionalmente mais numerosos do que os portugueses da mesma ida-de existentes poca.

    Quanto a Portugal, pode avanar-se que em 1972 existiam 34 idosos para cada 100 jovens com menos de 14 anos de idade11. Em termos de na-

    11 Cf. dados disponveis na web em http://luisjacob.planetaclix.pt/maisdados.hthttp://luisjacob.planetaclix.pt/maisdados.htm, na seco Nmeros, subseco Demogra a, p. 2 de 3, acedida em 24/02/2003.

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    talidade, o nosso pas apresentava em 1960 a mais alta natalidade da Euro-pa. Mas, em 1999, j se encontrava abaixo da mdia12. Estes dados ajudam a compreender que existam, em 1998, 90,3 idosos para cada 100 jovens com menos de 14 anos e que, em 2001, tendo sempre em considerao a populao total em Portugal, a percentagem de idosos a partir dos 65 anos tenha ultrapassado a percentagem da populao at aos 14 anos de idade (16,4% vs. 16%)13. Dito de outra forma, distintamente do que se passava nos anos 70 do sculo ndo, estamos hoje perante um claro envelhecimen-to da populao com todas as suas consequncias.

    Justi cao do surgimento mais tardio de programas educati-vos para seniores em Portugal

    A realidade portuguesa relativa oferta de programas educativos para seniores comparativamente a outras realidades no nacionais pode porm encontrar tambm uma justi cao histrica.

    Olhando para os meados da dcada de 70 do sculo passado, depara-mo-nos em Portugal com duas realidades distintas. Uma das realidades diz respeito criao em 1976, em Lisboa, da primeira UTI a Universidade Internacional para a Terceira Idade , que seguia por certo o exemplo francs (ver Lemieux, Boutin, Snchez & Riendeau s/d: 2). A partir dessa data, muitas outras foram criadas, sobretudo na dcada de 90 do sculo XX e no incio deste sculo. A outra realidade diz respeito ao baixo grau de escolaridade da populao portuguesa em geral.

    Os nmeros respeitantes aos nveis de escolaridade da nossa popula-o nessa altura obrigam-nos a admitir que nos encontrvamos perante um nvel de iliteracia, que tem obviamente de ser visto como o antnimo de literacia tal como era entendida nos anos 70 (OECD/PISA 2000: 15), i.e., quando a [l]iteracia [...] [era] considerada simplesmente a capacidade de ler e de escrever. (OECD/PISA 2000: 18) e no no sentido que se espera e exige que esse termo tenha hoje: o estado ou condio de quem no apenas sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce as prticas sociais que usam a escrita (Soares 1998: 47).

    12 Cf. semanrio Expresso, p. 24, de 13 de Maio de 2000.13 Ver pp. 2 e 1 da fonte mencionada na nota 11.

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    De acordo com um relatrio, datado de Fevereiro de 1999, do Centro de Investigao de Polticas do Ensino Superior (CIPES) (CIPES 1999: 2), a populao que frequentava o ensino superior em 1974 era de cerca de 6 a 7 % da populao com idade entre os 18 e os 24 anos. Em meados dos anos 90 do sculo XX, segundo a mesma fonte, a percentagem j se aproximava dos 40% numa populao entre os 20-24 anos (CIPES 1999: 2). Posso acrescentar, com base no Instituto Nacional de Estatstica (INE)14, que, da populao total residente em Portugal em 1981 (9.833.014), cinco anos aps a criao da primeira UTI no nosso pas, 26,35% no sabiam nem ler nem escrever; 2,64% (frequentavam ou) tinham completado o en-sino superior; cerca de 21% (frequentavam ou) tinham completado entre 5 a 12 anos de escolaridade, e 47,62% (frequentavam ou) tinham completado a escola primria, que correspondia a 4 anos de escolaridade15.

    Este cenrio, por sua vez, ajuda tambm a compreender que os que tinham a seu cargo as polticas da educao em Portugal a partir de 1974 tivessem tido, por certo, a necessidade de estabelecer prioridades. Em ter-mos do futuro do pas, teriam de intervir, o mais depressa possvel, junto da populao que, na sua opinio, era digna de uma ateno especial porque estavam certamente conscientes de que qualquer sociedade precisa de pessoas com um certo grau de escolaridade e de trabalhadores quali -cados. Dito de outra forma, tornava-se prioritrio comear por investir nos nveis de escolaridade primrio e secundrio porque urgia preparar uma populao mais escolarizada e tambm jovens que pudessem vir a entrar

    14 Agradeo ao Instituto Nacional de Estatstica (INE), D. R. Norte, e ao Ncleo de Difu-so Electrnica de Informao (NDEI) por me terem fornecido os dados relativos ao nvel de escolaridade da populao residente em Portugal em 1981, 1991 e 2001.

    15 Gostaria de acrescentar que, de acordo com os dados do INE, em 1991, 15,26% do total da populao residente em Portugal (9.867.131) no sabia nem ler nem escrever, 0,79% do total da populao residente sabia ler e escrever mas no possua qualquer grau de es-colaridade, a percentagem de iliteracia correspondia a 9,0% do total da populao residente e 4,91% do total da populao residente frequentava ou possua graus de ensino superior incompletos ou completos, incluindo o Mestrado e o Doutoramento. Em 2001, de acordo com o INE, 12,47% do total da populao residente em Portugal (10.356.117) no possua qualquer grau de escolaridade, a percentagem de iliteracia correspondia a 11% do total da populao residente, e 10,75% do total da populao residente frequentava ou possua graus de ensino superior incompletos ou completos, incluindo o Mestrado e o Doutoramento.

  • DA APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA OU DO EXEMPLO DE UMA RELAO TERNRIA DA APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA OU DO EXEMPLO DE UMA RELAO TERNRIA DA APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA OU DO EXEMPLO DE UMA RELAO TERNRIA 34

    na universidade ou em instituies de ensino superior a m de obterem um grau acadmico.

    Alm disso, no incio dos anos 70 do sculo passado, o nmero de pessoas de idade em Portugal no era to elevado como se tornou no m dos anos 90 e em 2001. Portanto, ao contrrio do que se passava noutros pases, Portugal no sentiu to cedo a necessidade de criar programas para seniores. Nos anos 90, com o aumento da populao idosa, veri cou-se uma alterao da situao. Deve, no entanto, realar-se que a oferta que passa a existir no sentido de ir ao encontro da procura educativa, cultural e social da populao snior, as j referidas UTI, tem origem sobretudo na sociedade civil e no obedece necessariamente a uma estruturao apoiada em bases cient cas.

    Se estes dados no contriburem para mais nada, podem no mnimo dar-nos uma ideia do per l do aluno que teria procurado a primeira UTI portuguesa e levar-nos a concluir que no se podem esperar ofertas total-mente idnticas por parte das mais variadas UTI criadas nos diferentes pa-ses. A poltica de cada pas, as suas realidades sociais e culturais e ainda as suas infra-estruturas moldaro inevitavelmente a estrutura, a forma organiza-cional, os objectivos e as ofertas destas instituies (Stadelhofer 1999: 2)16.

    O nmero de Universidades da Terceira Idade em territrio portugus

    Se no foram precisos sete anos para que passassem a existir 52 UTI em Frana a partir da criao da primeira em Toulouse, temos de reconhecer

    16 tambm bem provvel que a sua procura por parte de um pblico adulto mais jovem do que o que foi responsvel pela sua designao motive alteraes nos seus modos de actuar de forma a ir ao encontro de interesses que podem diferir daqueles normalmente manifestados pela terceira idade. A idade uma varivel, entre outras, que nos leva a con-siderar que as ofertas das UTI no podem ser uniformes; os seus modelos/projectos no s acabam por diferir de pas para pas mas tambm, dentro de cada pas, de regio para regio em funo de diferentes variveis. E este ajustamento de projectos s condies particulares das populaes revela-se, na minha opinio, a chave de sucesso destas instituies. Com efeito, estamos face a uma populao caracterizada por uma indiscutvel heterogeneidade que resulta dos diferentes percursos de vida e portanto tambm das variadas experincias da advenientes.

  • DAS UNIVERSIDADES DA TERCEIRA IDADE EM PORTUGAL A PARTIR DE 1976 DAS UNIVERSIDADES DA TERCEIRA IDADE EM PORTUGAL A PARTIR DE 1976 35

    que Portugal teria de esperar mais de 25 anos aps a criao da primeira UTI para poder contar com cerca de meia centena de Universidades da Terceira Idade. Nos nossos dias, o nmero destas instituies j ronda as oito deze-nas e esto a ser actualmente criadas, um pouco por todo o pas, mais dez universidades seniores17. A partir de meados dos anos 70 do sculo XX, o seu nmero tem conhecido um crescimento progressivo, registando-se, por coincidncia ou no, um aumento especialmente signi cativo durante os anos 90 desse sculo (ver Jacob 2003a: 6), dcada em que, como sabemos, foi dedicada uma maior ateno ao idoso e educao ao longo da vida.

    Em 2003, Portugal contava efectivamente com um nmero de Universi-dades da Terceira Idade prximo das cinco dezenas. Quatro ainda estavam em vias de formao, situando-se uma delas em territrio insular18. As UTI encontram-se localizadas por todo o territrio nacional, mas mais especial-mente no Norte e no Algarve se considerarmos parte as reas metropoli-tanas de Lisboa e do Porto. O nmero de alunos inscritos era nessa altura da ordem dos oito mil. Presentemente o nmero de alunos que frequentam essas instituies j ultrapassa os treze mil19.

    A oferta das Universidades da Terceira Idade portuguesas, o per l dos seus alunos e docentes e a sua vitalidade

    Algumas das UTI tm existncia autnoma e outras esto ligadas quer Santa Casa da Misericrdia, quer a associaes, a centro paroquiais ou a centros sociais. Estas ltimas podem receber apoios da Segurana Social, dos poderes locais, da Igreja ou de entidades privadas.

    As UTI portuguesas no pertencem ao ensino escolar regular. Seguem, por consequncia, os princpios bsicos do ensino informal. Por lei, no podem nem avaliar, nem certi car. Contudo, convm talvez adiantar que me foi dito que os alunos das UTI no desejam ser avaliados porque j o foram ao longo das suas vidas e no pretendem continuar a s-lo.

    17 Consultar a referncia inserida na nota 3 e www.rutis.org/apresentacao.pdwww.rutis.org/apresentacao.pdf. 18 Informao obtida na comunicao de Lus Jacob (Jacob 2003b) intitulada Carac-

    terizao das U&AS portuguesas, apresentada no II Encontro Nacional de Universidades e Academias Seniores, organizado pela Universidade Snior de Almeirim, Almeirim Santarm, 20 de Maro de 2003.

    19 Consultar a referncia inserida na nota 3.

  • DA APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA OU DO EXEMPLO DE UMA RELAO TERNRIA DA APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA OU DO EXEMPLO DE UMA RELAO TERNRIA DA APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA OU DO EXEMPLO DE UMA RELAO TERNRIA 36

    No tocante oferta na generalidade das UTI, pode dizer-se que, entre as variadssimas possibilidades existentes, os seniores podem escolher cur-sos livres sobretudo na rea das humanidades, da sociologia, das lnguas estrangeiras, da leitura e escrita, da sade e das artes (plsticas). Algumas contam ainda, nos seus programas, com iniciativas na rea das novas tec-nologias da informao e da comunicao e com conferncias sobre temas actuais. De um modo geral, dispem tambm de actividades como ginsti-ca, natao, teatro, canto coral, msica e trabalhos manuais ou lavores. As viagens de estudo no pas ou no estrangeiro constituem igualmente objecto de possvel oferta. A publicao regular de revistas ou de outros tipos de peridicos pode tambm ser referida como uma forma de marcarem a sua presena. A diversidade de nveis de escolaridade dos alunos que frequen-tam estas instituies, desde licenciados ou detentores de outros graus aca-dmicos a indivduos que possuem unicamente ou peine a antiga 4. classe, condicionar naturalmente os respectivos projectos. Depreende-se, porm, do elenco de ofertas exposto que os alunos das UTI esto to inte-ressados em aprender como em conviver.

    No tocante s pessoas que ensinam nas UTI, algumas so pro ssio-nais e recebem por consequncia honorrios simblicos ou no e outras, a maioria, trabalham em regime de voluntariado. A combinao das duas mo-dalidades tambm uma realidade e pode mesmo dar-se o caso de alguns alunos serem simultaneamente professores em reas da sua especialidade. Os professores das UTI no precisam de possuir qualquer formao peda-ggica destinada populao snior para exercerem essas funes. Ser importante referir, nesta oportunidade, que de momento tanto quanto sei tambm no existe no nosso pas quem d formao a quem deseje ensinar os seniores.

    A vitalidade das UTI portuguesas bem evidente se considerarmos, para alm do que j foi referido, a criao, em 1998, da Federao Portu-guesa das Universidades, Academias e Associaes para a Terceira Idade (FEDUATI) que j inclua 10 UTI em Maro de 200320 e a existncia da As-

    20 Para mais pormenores em torno da caracterizao das UTIs, consultar Jacob (2003a). Lembraria nesta oportunidade que j existe uma Rede de Universidades da Terceira Idade (RUTIS), que tem como presidente o Dr. Lus Jacob (consultar a este propsito a referncia inserida na nota 3, bem como www.rutis.org/apresentacao.pdfwww.rutis.org/apresentacao.pdf))www.rutis.org/apresentacao.pdf)www.rutis.org/apresentacao.pdfwww.rutis.org/apresentacao.pdf)www.rutis.org/apresentacao.pdf .

  • DAS UNIVERSIDADES DA TERCEIRA IDADE EM PORTUGAL A PARTIR DE 1976 DAS UNIVERSIDADES DA TERCEIRA IDADE EM PORTUGAL A PARTIR DE 1976 37

    sociao Rede de Universidades da Terceira Idade (RUTIS). A RUTIS uma Instituio Particular de Solidariedade Social de apoio Comunidade e s Universidades da Terceira Idade, cujo projecto s foi possvel implementar em Janeiro de 200521. De acordo com a fonte consultada22, 61 das 81 UTI existentes j eram poca associadas dessa Rede.

    A aprendizagem na populao sniorNo que respeita s UTI que existem em Portugal, embora seja neces-

    srio estar consciente dos seus principais objectivos, devem tambm ter-se presentes a pertinncia e a semntica do termo aprender relativamente populao que as frequenta e no se devem ignorar os mtodos que mais se lhe ajustam.

    Ser que as expectativas de todos os alunos das UTI coincidem com as do aluno tpico do nosso sistema de ensino regular?

    Ser que do professor destinado ao ensino do snior no se ter de exigir outro tipo de formao e outro modo de actuar?

    Ser que as matrias no tero de ser apresentadas de uma forma mais condizente com o potencial cognitivo, emocional e vivencial/experiencial da populao em questo?

    Ser que a cincia a resoluo de problemas/o problem-solving que interessa aos seniores?

    No ter antes de se eleger uma orientao que privilegie a sabedo-ria23 (o questionamento/o problem- nding)?

    Nesta rea, como noutras, preciso conhecer bem o objecto de estu-do para poder trabalhar com ele da forma mais apropriada. A investigao torna-se assim fundamental quando se pretende investir no ensino/apren-dizagem do snior.

    21 Informao disponvel na web em www.rutis.org/apresentacao.pdwww.rutis.org/apresentacao.pdf, acedido a 06.03.2007.

    22 Ver nota anterior.23 A sabedoria (wisdom), segundo Sternberg (1990a: 6), no reside no que a pessoa

    sabe, mas antes no modo como a pessoa usa o conhecimento que detm.

  • DA APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA OU DO EXEMPLO DE UMA RELAO TERNRIA DA APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA OU DO EXEMPLO DE UMA RELAO TERNRIA DA APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA OU DO EXEMPLO DE UMA RELAO TERNRIA 38

    As Universidades de Terceira Idade e os Programas de Estudos Universitrios para Seniores

    Como, nesta altura, me estou sobretudo a reportar ao contexto portu-gus, diria que as UTI ou instituies com objectivos similares deveriam oferecer programas para seniores com diferentes graus de escolaridade e as universidades tradicionais, por sua vez, deveriam oferecer programas com vista a ir ao encontro de interesses compatveis com graus mais ele-vados de escolaridade, apoiadas em pesquisa que os suportasse do ponto de vista cient co.

    Relativamente ao nosso pas, importante considerar a diferena qua-litativa entre a oferta das UTI e a que se espera dos programas universit-rios para seniores. Diria ainda que a oferta das universidades tradicionais e a das UTI podem existir em paralelo, desde que cumpram devidamente as suas misses, que no devem naturalmente ser coincidentes. Os modelos de aprendizagem no tm de ser necessariamente distintos o modelo competencial gerontaggico24 devia, de resto, ser bem conhecido de quem dirige uma instituio que se destina a oferecer cursos de ndole educativa a seniores , mas a oferta provinda das duas origens, que devem ser vistas como complementares e no como sobreponveis, deve ir ao encontro de procuras diversas.

    Contudo, no posso deixar de dizer que, num pas como Portugal, as UTI tm desempenhado e continuam a desempenhar um papel muito importante. No me estou a referir naturalmente s UTI que so frequen-tadas por alunos com graus elevados de escolaridade e cujos directores ou ignoram a existncia de uma abordagem gerontaggica ou no esto inte-ressados em seguir essa tendncia porque no desejam criar instabilidade nas suas instituies e porque temos de o aceitar podem ter di culdade em mexer no status quo. Estou a pensar sobretudo no papel que desem-penham, do ponto de vista da actividade intelectual, as UTI que servem populaes com nveis de escolaridade baixos. Ora, esses seniores podem ver nestas instituies o local ideal para adquirirem conhecimentos, para

    24 De acordo com Lemieux & Snchez Martnez (2000: 487), quem seguir este modelo adquire uma competncia em determinados cursos que lhe vai permitir melhorar o seu bem-estar social, psicolgico e fsico. Neste texto, este modelo voltar a ser retomado.

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    partilharem experincias de vida e para encontrarem a resposta adequada s suas necessidades imediatas. Efectivamente, eles no possuem a instru-o que erradamente ou no se pode achar que, no nosso contexto, deve ser exigida pelos que desejem frequentar programas universitrios para seniores, programas esses que, com mais razo do que as restantes ofertas, no deveriam prescindir de um modelo de educao de tipo ge-rontaggico, competencial (ver Lemieux & Snchez 2001: 92).

    O Programa de Estudos Universitrios para Seniores no con-texto portugus e o per l do seu aluno

    No incio do sculo XXI, a situao em Portugal modi cou-se consi-deravelmente. O nmero de reformados no s aumentou mas tambm se veri cou que a reforma comeou a ser requerida por uma populao menos idosa. Alm disso, tudo leva a crer que no estamos perante refor-mados que apresentem, na generalidade, uma escolaridade baixa. Entre eles, contam-se seguramente muitos licenciados, ou mesmo pessoas com habilitaes acadmicas superiores, e muitos funcionrios que pertenciam a quadros tcnicos. Trata-se pois de uma populao que apresenta uma instruo que obrigar indubitavelmente, no caso de pretender frequentar esses programas, a uma oferta de programas para seniores muito mais exigente. Vemo-nos, por conseguinte, confrontados com um tipo de popu-lao reformada mais jovem e mais instruda25.

    Assim, esta nova vaga de reformados mais jovens e mais escolariza-dos poder constituir um interessante desa o do ponto de vista pedag-gico para as universidades tradicionais. Por outros termos, este novo pbli-co pode fazer alterar a oferta de programas para seniores existente (entre ns). obrigando quem os passa a orientar e a leccionar a uma preparao (cient ca) compatvel com a interveno pedaggica desejada.

    No obstante o ensino destinado aos seniores em geral, independente-mente da sua escolaridade, exigir, quanto a mim, uma preparao cient ca especial, os mencionados reformados, portadores, em mdia, de uma ins-

    25 Paralelamente, as universidades tradicionais comeam a ter necessidade de abrir as suas portas a pblicos novos, em resultado, entre outros, das tendncias demogr cas que se tm veri cado na nossa sociedade.

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    truo seguramente superior at aqui registada, fazem olhar noutra ptica a oferta que possa vir a ser destinada populao em questo, implicando naturalmente alteraes de ordem qualitativa a vrios nveis. Mais uma vez, estamos perante a necessidade de considerar projectos em funo do tipo de procura das populaes tendo em ateno as suas caractersticas.

    Por que no ver ento na populao de reformados acabada de referir o possvel pblico dos programas universitrios para seniores passveis de ser oferecidos pelas universidades tradicionais portuguesas?

    Alguns desses reformados certo podem sentir-se mais atrados pelos cursos livres oferecidos pelas UTI, mas outros podem preferir outro tipo de desa os que impliquem, entre outros, questionar os seus conheci-mentos, tirar partido do seu modo de pensar, de raciocinar, de memorizar e de percepcionar, bem como aprender a olhar os seus objectos de conheci-mento diferentemente usando as suas habilidades cognitivas e o seu poten-cial emocional. De facto, estes ltimos podem estar mais interessados num processo que tome como ponto de partida o seu conhecimento, aceitando uma aventura, a nvel de aprendizagem, que no os conduza cincia, mas sim sabedoria26. Eles constituiriam seguramente os alunos perfeitos dos programas universitrios para seniores que se viessem a criar em Portugal porque tudo leva a crer que, em resultado das habilitaes literrias que possuem, das pro sses que exerceram e dos per l e potencial cognitivos desenvolvidos ao longo das suas vidas, ostentam graus de esprito crtico e de exigncia superiores.

    Vale a pena pensar nestes termos porque se trata de uma populao que pode recorrer a essa reserva cognitiva para se distanciar das suas ac-tividades tambm cognitivas e ver assim a realidade de diferentes pers-pectivas de acordo com as circunstncias e os contextos. Quer dizer que este pblico, em virtude do seu nvel mais elevado de escolaridade, pode sentir-se mais atrado por um modelo de aprendizagem, o gerontaggico ou at exigi-lo na qualidade de aprendente , que o torne consciente da capacidade que possui de tomar posies sbias perante a vida, mostrando-

    26 Ideias retiradas de uma troca de opinies sobre a gerontagogia entre A. Lemieux e a autora deste texto por correio electrnico (Abril 2003). A este respeito ver tambm Marchand (2001).

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    lhe como a nal pode tirar partido da sua sabedoria. Uma sabedoria que contar com um tipo de pensamento ps-formal ou dialctico que, tirando partido do contexto e no s da lgica, consegue dar-se conta dos variados factores que envolvem os problemas27.

    Alm disso, de acordo com Sternberg, a sabedoria joga tambm com a metacognio, ligao que no pode ser de modo algum menosprezada e muito menos ignorada. que, para Sternberg (1990b: 157), as pessoas de-tentoras de sabedoria sabem o que sabem e o que no sabem, bem como os limites do que podem ou no saber. interessante retomar aqui o pen-samento de Sternberg segundo o qual a sagacidade, enquanto caracterstica singular da sabedoria, envolve mais do que habilidades cognitivas porque tambm envolve o prprio conhecimento (Sternberg 1990b: 157). Por isso, podamos acrescentar que a sabedoria no reside no que a pessoa sabe, mas antes no modo como a pessoa usa o conhecimento que detm (Ster-nberg 1990a: 6).

    Das variadas acepes do termo sabedoria, algumas aproximam-se do modo como o senso comum a olha e outras afastam-se mesmo bastante da noo de sabedoria que nos interessa de facto neste contexto quando se aponta para um modelo de aprendizagem de tipo gerontaggico como aquele a que acabei de fazer referncia. Consequentemente, entendo que a seguinte citao de Lemieux, Boutin, Snchez & Riendeau (s/d: 6) pode ajudar a mostrar o enquadramento terico que melhor se ajusta ao conceito de sabedoria no mbito da gerontagogia: A Sabedoria, uma noo que a universidade tinha transformado em cincias nas faculdades de teologia e de loso a e que reencontra, por m, a sua verdadeira identidade em aco nas faculdades de educao. A teoria e a prtica redescobrem a sua unidade perdida durante o desenvolvimento das cincias exactas no come-o do Renascimento. (Lemieux & Snchez [Martnez] 2000).

    27 Trata-se de um tipo de pensamento que, ao ser dialctico, se caracteriza pelo princ-pio da relatividade de todo o conhecimento e pelo princpio da contradio de toda a reali-dade (ver Dumoulin & Lebrun (2003: 6/17) quando citam Lemieux (1999: 39), que se reporta, por seu lado, a Rybash, Hoyer & Roodin 1986: 38 e 56)

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    O modelo de aprendizagem destinado ao sniorO que apresentei at ao momento leva-nos a pensar que o mode-

    lo de aprendizagem que deve ser usado com os seniores no pode ser um modelo de aprendizagem que visa transmitir informao e, de acordo com o qual o professor desempenha o papel principal, i.e., um modelo cient co-tecnolgico. O modelo que se prope ser antes um modelo de educao competencial (Lemieux & Snchez 2001: 85 e segs.) baseado no conceito de actualizao do auto-conhecimento (Lemieux & Snchez 2001: 85), que visa uma melhor gesto da vida pessoal e social atravs da reactualizao dos conhecimentos (Lemieux & Snchez 2001: 85) e a problematizao do conhecimento de acordo com os contextos. Para Lemieux & Snchez (2001: 90), a gerontagogia um termo utilizado por Lessa (1978) e por Bolton (1978) para designar a cincia aplicada que al-meja a interveno educativa junto de pessoas de idade e que se localiza no limite entre a educao e a gerontologia (Lemieux & Snchez 2001: 90) insere-se precisamente na abordagem competencial. Trata-se de um modelo que tem como objectivo conhecer o modo como o pensamento funciona, remetendo para a metacognio. No tem como objecto nem a formao inicial, nem a reciclagem de conhecimentos. (Ver Lemieux & Snchez 2001: 92.) Este modelo no pe a tnica na cincia, mas sim na aquisio da sabedoria (Lemieux & Snchez 2001: 92).

    Tomando por base o exposto, no surpreende que se espere que os programas a serem desenvolvidos no mbito de um modelo gerontaggico (competencial) obedeam a um princpio de integrao ou de coordena-o de todos os cursos de que dispe com vista a levarem a pessoa de ida-de a adquirir, por meio da formao educativa que lhe oferecida, um uso da sabedoria conducente a uma melhor gesto da sua vida pessoal e social (ver Lemieux & Snchez 2001: 91). Este processo gerontaggico de conhe-cimento no tem unicamente em vista a acumulao de conhecimentos por parte da pessoa idosa, visa sim que este olhe os fenmenos estudados atravs de um conhecimento re exivo (Lemieux & Snchez 2001: 91).

    No seria razovel admitir que um tipo de abordagem educativa para seniores em que a tnica recai sobre a metacognio considerada por Le-mieux, Boutin, Snchez & Riendeau (s/d: 7) como a possibilidade de uma pessoa ser capaz de re ectir sobre os mecanismos da sua prpria re exo possa prescindir de professores detentores de competncias adequadas e

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    fundadas nas bases cient cas necessrias. Dito diferentemente, no ser de excluir a hiptese de os professores que querem trabalhar em programas educativos para seniores deverem tambm frequentar cursos (cf. Lemieux & Snchez 2001: 91-92) que os ajudem a reconhecer que, entre outras competncias, precisam de adquirir conhecimento acerca deles prprios antes de terem a seu cargo cursos para seniores, que deviam contemplar nos seus objectivos o conhecimento de si, [...] o funcionamento em grupo e en m [...] a descoberta de valores de vida. (Lemieux 1999: 36).

    Este modo de olhar o papel dos professores que venham a trabalhar com esta populao refora a necessidade de quem est envolvido nestes programas ter em mente que, para educandos diferentes, devem ser adopta-das abordagens distintas28. Por outras palavras, deve realar-se o facto de os professores que quiserem trabalhar com base numa abordagem competen-cial, no quadro da gerontagogia (ver Lemieux, Boutin, Snchez & Riendeau s/d: 6), tambm terem de estar conscientes das suas funes mentais, da sua criatividade, das suas emoes e das suas motivaes. Esta consciencializa-o deve ser enfatizada porque contribui tambm para que se d o devido valor conscincia que as pessoas idosas tm da sua criatividade, das suas funes mentais, das suas emoes e das suas motivaes (ver Lemieux, Boutin, Snchez & Riendeau s/d: 7). No fundo, quem faz pesquisa com o objectivo de conhecer o potencial cognitivo e emocional da pessoa idosa acaba por passar a conhecer-se melhor, por passar a ser capaz de se anali-sar, tanto do ponto de vista do seu funcionamento cognitivo como do ponto de vista do seu funcionamento emocional, o que lhe vai permitir incutir uma outra dinmica quando chamado a trabalhar com essa populao.

    28 No foi de modo impensado que, na qualidade de coordenadora cient ca do Pro-grama de Estudos Universitrios para Seniores da Universidade do Porto, distribu a todos os docentes que aceitaram colaborar nesta iniciativa o volume University Programmes for Senior Citizens. From their relevance to requirements, organizado por M. da G. C. Pinto e J. Veloso (2005) e editado pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Trata-se de um volume que corresponde verso escrita do ciclo de conferncias subordinado ao mesmo tema, organizado pelo Departamento de Estudos Portugueses e de Estudos Romnicos da Faculdade de Letras da Universidade do Porto em Outubro e Dezembro de 2004, com vista a sensibilizar os docentes da Universidade do Porto para a importncia de conhecer o pblico-alvo dos programas em causa a m de no agirem de forma no fundamentada, nem levados pela circunstncia do momento.

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    Faz assim todo o sentido partilhar um comentrio pessoal de Lemieux29

    segundo o qual tambm se devem criar, em certos momentos, condies para dar lugar ao trabalho dos pares, deixando ao professor o papel de guia, de pessoa que ajuda a encontrar a soluo.

    Tirando partido de um tipo analgico de pensamento, que at poder ser j visto como uma caracterstica do funcionamento intelectual do snior, ouso acrescentar que o papel deste gnero de professor vai ao encontro da ideia do facilitador, tal como tido por Lee (2001: 10) ao descrever a apren-dizagem em grupo, e da referncia de Landow ao entrenador (orientador) na altura em que este autor aborda a rede nio do papel do aprendente/professor quando est em causa o potencial tecnolgico do hipertexto (ver Landow 1992/1995:157). Embora estejamos perante situaes de aprendiza-gem diferentes (os programas universitrios para seniores e o ambiente hi-pertextual), penso que vale a pena transcrever as palavras de Landow sobre este tpico porque a recon gurao que se espera do professor at certo ponto comparvel: O hipertexto didctico rede ne o papel de quem ensina transferindo parte do seu poder e autoridade para o estudante. Esta tecnolo-gia tem o potencial de fazer com que quem ensina seja mais um orientador do que um conferencista, que seja mais um companheiro mais velho e com mais experincia do que um lder reconhecido. (Landow 1992/1995: 157).

    Importa portanto que quem tenha a seu cargo as polticas universitrias apresente um conhecimento fundamentado do que a aprendizagem por parte dos seniores. Deve ter igualmente presente que os modelos que se ajustam ao processo de aprendizagem dessa populao no so similares aos que tm como objectivo a formao cient ca que se destina a preparar as pessoas para a resoluo de problemas. Os programas universitrios para estes alunos deviam antes prepar-los para encontrarem os problemas, para questionarem, para problematizarem: uma atitude da ordem da sabedoria e no tanto da cincia. Do ponto de vista da pesquisa, possvel acrescentar que a sabedoria devia tornar-se objecto da pesquisa cient ca realizada pe-los investigadores universitrios que esto interessados em colaborar nestes programas a m de melhorar o necessrio conhecimento e o saber-fazer exigidos por este tipo de processo de aprendizagem30.

    29 Ver nota 26, primeira parte.30 Ver nota 26, primeira parte.

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    Esta abordagem educativa a gura-se-me que diferir em termos qua-litativos e cient cos das ofertas normais das UTI. As UTI oferecem cursos livres que no necessitam de seguir nem qualquer tipo de estrutura, nem qualquer modelo educativo cienti camente baseado. Poder dizer-se que no constituir seu objectivo principal pr em prtica o pensamento ps-formal dos seniores, quando estes o possuem, pensamento que lhes permi-te tirar partido das suas habilidades metacognitivas e da sua capacidade de questionar e de tomar atitudes dialcticas perante as situaes.

    Deve enfatizar-se que a populao portuguesa que frequenta as UTI muito heterognea em termos de anos de escolaridade/habilitaes liter-rias abrangendo desde pessoas que s tero a 4. classe at pessoas com cursos superiores , facto que pode constituir uma desvantagem quando se pretende implementar um modelo educativo. Temos por isso que concluir que, no que toca ao contexto portugus, em obedincia aos objectivos que se tm em mente, devem coexistir ofertas, que, apesar de tudo, deveriam assentar sempre em modelos educativos baseados cienti camente: os pro-gramas universitrios para seniores contemplando a possvel obteno de um certi cado, embora sem ns pro ssionalizantes, para os alunos que bus-cam mais e possuem habilitaes que se coadunem com essa exigncia e o clssico estilo cafetaria31 das UTI, compatvel com uma oferta de cursos livres que apresentam uma forte componente cultural e social direccionada a seniores que no buscam mais do que isso.

    A criao de um Programa de Estudos Universitrios para Se-niores na Universidade do Porto

    A importncia da criao em Portugal de programas universitrios para seniores nas universidades tradicionais que visassem complementar a oferta proporcionada pelas UTI e o facto de ter passado a existir uma populao (que se pode considerar) snior constituda sobretudo por recentes reforma-dos detentores de habilitaes literrias que os tornariam seguramente mais exigentes quando chegasse a altura de optar pela oferta que a sociedade lhes colocava disposio em termos de programas educativos constituram

    31 Expresso to do gosto de Andr Lemieux.

  • DA APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA OU DO EXEMPLO DE UMA RELAO TERNRIA DA APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA OU DO EXEMPLO DE UMA RELAO TERNRIA DA APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA OU DO EXEMPLO DE UMA RELAO TERNRIA 46

    seguramente aspectos que pesaram no processo de sensibilizao para um olhar diferente a respeito da educao desta populao.

    Ora, j no sentido de sensibilizar a nossa universidade para o que representava a educao de seniores numa abordagem gerontaggica, re-alizou-se no Porto em 2001, por iniciativa do pr-reitorado da educao contnua da Universidade do Porto, um seminrio intitulado Introduction to Gerontagogy com a presena de A. Lemieux, Professor da Universit du Qubec Montral, Canad, e de M. Snchez Martnez, Professor da Universidade de Granada, Espanha. Tinha este seminrio como objectivo mostrar que a educao dos seniores requer, antes de mais nada, que os conheamos bem a m de sabermos quais so os modelos educativos que melhor se lhes ajustam32. Por outros termos, torna-se imprescindvel toda uma pesquisa prvia a vrios nveis para que os programas educativos para seniores digam, de facto, qualquer coisa a quem os procura tendo em mente a sua heterogeneidade.

    Dois anos mais tarde, na sequncia de ter partilhado com os meus co-legas de departamento, a 9 de Abril de 2003, o que eu pensava acerca do papel das universidades tradicionais portuguesas na educao dos senio-res, decidiu-se organizar em Outubro e Dezembro de 2004, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, desta vez por inciativa do meu depar-tamento, o Departamento de Estudos Portugueses e de Estudos Romni-cos, um ciclo de quatro conferncias proferidas por colegas estrangeiros com experincia na educao de seniores33.

    Nesse mesmo ano, realizou-se na Faculdade de Letras da Universidade do Porto uma reunio sobre Educao Contnua dirigida pelo Prof. Doutor Marques dos Santos, ento Vice-Reitor e actualmente Reitor da Universi-dade do Porto. Fiquei nessa altura incumbida de comear a preparar a criao da primeira edio de um Programa de Estudos Universitrios para Seniores na Universidade do Porto que se destinaria a alunos com mais de 55 anos detentores de licenciatura.

    32 Para uma leitura crtica a respeito dos programas universitrios para seniores, ler Snchez Martnez (2005)

    33 Ver Pinto & Veloso (Eds., 2005).

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    Iniciei ento a elaborao de um programa previsto para trs anos de que ressaltassem, em cada um dos dois primeiros anos, respectivamente um tema (no primeiro ano) e dois temas (no segundo ano) abordados de diferentes ngulos em mdulos distintos, bem como disciplinas de diferen-tes reas que tivessem em vista, entre outros aspectos, criar nos alunos ba-ses para poderem vir a ter uma melhor qualidade de vida pessoal e social. No sentido de responder s exigncias actuais, cou tambm contemplada a leccionao de informtica a ttulo opcional.

    O programa revestia-se assim de uma abertura disciplinar que permitia no s contar com a colaborao de diferentes faculdades da Universida-de do Porto, mas tambm dar resposta a variados interesses uma vez que se esperavam alunos com licenciaturas em reas diversas. Para o terceiro ano, previa-se, para quem pretendesse frequent-lo, a realizao de um trabalho escolha de cada aluno sob orientao de um professor ligado a essa rea34. Periodicamente os alunos que estivessem a elaborar esse tra-balho reuniriam com os colegas, na presena dos respectivos tutores, para fazerem o ponto da situao da sua pesquisa partilhando assim entre si os diferentes temas em estudo.

    O terceiro ano, para alm de outros aspectos que podem vir a ser con-siderados como pontos positivos, tem em vista levar os alunos a aprende-rem a gerir sozinhos o seu tempo e tambm a faz-los passar a escrito as suas ideias e os resultados das suas pesquisas.

    Enquanto psicolinguista, realo do que foi referido no tocante ao ter-ceiro ano do programa o papel que a escrita enquanto processo pode ter na reformulao do pensamento treinando assim habilidades metacogni-tivas que contribuem por certo para o uso de estratgias que jogaro em termos compensatrios do ponto de vista intelectual a partir de certa altura das nossas existncias.

    O primeiro ano da primeira edio do Programa de Estudos Univer-sitrios da Universidade do Porto conhece o seu incio em Fevereiro de 2006, o segundo ano comeou um ano depois, em Fevereiro de 2007 e a

    34 Para mais informaes acerca do Programa de Estudos Universitrios para Seniores da Universidade do Porto, deve consultar-se a brochura que divulgada no incio de cada ano lectivo pela Reitoria/IRICUP Educao Contnua da Universidade do Porto.

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    13 de Maro de 2007 realizou-se a sesso de abertura do primeiro ano da segunda edio do referido programa.

    A Comisso Coordenadora do Programa de Estudos Universitrios para Seniores da Universidade do Porto, que constituda por trs elementos, conta, para alm de dois docentes, com a presena de um representante dos alunos.

    Na qualidade de Presidente da mencionada comisso, reputo da maior importncia que esta integre um aluno, em representao dos colegas, por-que se trata de uma presena que traz seguramente dados relevantes, em termos da pertinncia dos contedos e da forma como decorrem as aulas, a m de se poder assegurar a qualidade que se deseja para o programa. Acredito que o programa s pode ir avanando em qualidade se estivermos atentos s apreciaes de quem os procura. A nal, um Programa de Estu-dos Universitrios para Seniores que no tem em vista nem a formao ini-cial, nem a reciclagem com vista a quali caes pro ssionais s pode mes-mo ir ao encontro dos interesses de quem o frequenta, respeitando sempre evidentemente o esprito que se encontra subjacente sua gnese.

    Nota nalNo posso acabar este texto sem citar Andr Lemieux, a quem ouvi

    falar pela primeira vez de abordagem gerontaggica e com quem aprendi a olhar de modo diferente e por que no mais sabiamente? para certos conceitos: Eles [os universitrios] julgam que as universidades devem ter programas orientados para a cincia (problem-solving). Ainda no com-preenderam que a terceira idade requer programas com base na sabedoria (problem- nding). Quando a universidade tradicional tiver compreendi-do que a sabedoria tambm objecto da cincia, ela abrir as suas portas s pessoas da terceira idade. Ser a revoluo do pensamento universit-rio.35 .

    35 Palavras extradas dos contactos referidos na nota 26.

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