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Cistermúsica 2014

Alexandre Delgado e Rui Morais, direção artística

Rui Morais, diretor executivo

Susana Martins, diretora de produção

EN Consulting, consultoria financeira

Vítor Santos, Henrique Bértolo, coordenação técnica

David Mariano, diretor de comunicação

Ana Cláudia Costa (estágio), secretariado

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ÍndiceQuorum Ballet 8

Orquestra Sinfónica Portuguesa 18

Miguel Yisrael 32

Banda Sinfónica de Alcobaça 36

Quarteto Alfama 44

Cappella Musical Cupertino de Miranda 54

António Rosado 64

IncertusTrio 68

Fussion Percussion Duo 74

Pulsat Percussion Group 80

Hopkinson Smith 86

Gabriel Antão e Pedro Costa 90

Os Músicos do Tejo 96

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Nota de AberturaLendas e Heróis, sob este tema Alcobaça é palco de mais uma edição do Festival Cistermúsica

Um evento cujo nome já fala por si, sinónimo de uma programação cuidada e de muita quali-

dade, tanto a nível musical como também a nível da dança, uma arte que não mais deixou de

estar representada neste festival

Heróis não são apenas os personagens das histórias, fruto da imaginação dos autores Heróis

são todos os seres humanos que compreendem e fazem jus à verdadeira dimensão do que é ser

efetivamente humano, no fundo o que nos distingue na nossa Humanidade Neste sentido, não

podia deixar de referenciar a homenagem que esta edição do Cistermúsica faz a Aristides de

Sousa Mendes, um verdadeiro Herói, dedicando-lhe o espetáculo de abertura do festival, obra

encomendada e estreia mundial, pelo reconhecido Quorum Ballet

Lendas são também as histórias que temos no nosso imaginário, com fundo de verdade ou não,

onde se cruzam acontecimentos e factos reais com o imaginário fantasioso E logo Alcobaça, que

tem uma das mais belas lendas de amor que o mundo alguma vez conheceu, girando em torno

de Pedro e Inês, fonte inesgotável de inspiração

Ambos os temas não podiam ser mais inspiradores e daí resultaram magníficas obras e peças

musicais que a edição deste ano do Cistermúsica vai fazer ecoar pelo nosso Concelho De 28 de

junho a 27 de julho, Alcobaça fica ainda mais rica com a presença de grandes músicos de todas as

gerações, que vão fazer um percurso por seis séculos de música

O Festival Cistermúsica é, sem dúvida, uma aposta ganha na programação cultural do Concelho

de Alcobaça O Município reconhece a excecional qualidade e empenho que é demonstrado

pelo Diretor Artístico, Alexandre Delgado, que a cada nova edição nos surpreende com uma

programação de grande nível, que é também a imagem de marca deste festival

À Direção da Academia de Música de Alcobaça uma palavra de apreço pela organização que,

em parceria com este Município, faz do Cistermúsica um evento de referência, mas igualmente

pelo trabalho de grande nível que desenvolve todos os dias na formação e divulgação do ensino

artístico da Música e da Dança

Visitem Alcobaça, deixem-se encantar por esta terra mágica, pela música e pela dança que

vamos ter a oportunidade de assistir, desfrutem de mais uma grande edição de Cistermúsica!

Paulo Jorge Marques Inácio

Presidente da Câmara Municipal de Alcobaça

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ApresentaçãoO Cistermúsica 2014 percorre seis séculos de música numa programação eclética e variada, sob o

tema “Lendas e Heróis”

No concerto de abertura, que sintetiza bem o tema do festival, são comemorados os 150 anos do

nascimento de Richard Strauss com uma rara audição do poema sinfónico Don Quixote Num

concerto da Orquestra Sinfónica Portuguesa, sob a direção de Emil Tabakov, o “cavaleiro da

triste figura” será interpretado pela violoncelista Irene Lima, num programa que inclui o genial

poema sinfónico Tamara do russo Mili Balakirev, obra de 1882 que provavelmente nunca foi

ouvida em Portugal e que evoca a lenda aterradora da princesa do Cáucaso que matava cada um

dos seus amantes No âmbito do património musical português (uma das imagens de marca do

Cistermúsica), destaque para a audição o poema sinfónico In Memoriam Alexandre Herculano de

Frederico de Freitas, obra notável da fase final do compositor, que não é ouvida desde 1977

Os 300 anos do nascimento de Pedro António Avondano, nome maior da música portuguesa

setecentista, são a mais importante efeméride musical portuguesa de 2014 Para assiná-la ouvi-

remos a ópera Il Mondo della Luna (1765), uma das primeiras versões musicais do célebre libreto

com laivos de ficção científica de Carlo Goldoni (12 antes anterior à ópera de Haydn), interpretada

pelos Músicos do Tejo, sob a direção de Marcos Magalhães

A estreia moderna de um requiem do século XVI, conservado na Biblioteca de Coimbra, será

feita pela Cappella Musical Cupertino de Miranda, grupo vocal especializado em polifonia

portuguesa que fará igualmente a estreia de uma obra encomendada ao mais português dos

compositores ingleses, Ivan Moody Outra encomenda do Cistermúsica é Tágides de Eugénio

Rodrigues, obra que será estreada pela Banda Sinfónica de Alcobaça, num programa dirigido

especialmente aos mais novos que inclui o adorado Carnaval dos Animais de Camille Saint-Saëns

e que conta com a participação da Academia de Dança de Alcobaça

Prosseguindo a sua aposta em novos valores, o festival apresenta os vencedores do Concurso

Internacional de Música de Câmara “Cidade de Alcobaça” 2013, o Incertus Trio (trio de flautas) e

dois grupos de percussão, Fussion Percussion Duo e Pulsat Percussion Group, que percorrerão

vários espaços do Mosteiro numa noite Non Stop Quanto aos jovens vencedores do Concurso

de Interpretação do Estoril 2013, Gabriel Antão e Pedro Costa, trazem-nos um invulgar recital de

trombone e piano

Na componente internacional, é com orgulho que o Cistermúsica recebe o consagrado alau-

dista Hopkinson Smith, num recital de tiorba dedicado a suites de Bach O premiado alaudista

luso-francês Miguel Yisrael traz-nos repertório da corte de Luís XIV, enquanto o Quarteto Alfama,

jovem e excelente agrupamento belga, tocará Beethoven, Britten, Webern e Debussy Saúde-se

ainda o regresso ao Cistermúsica de um dos maiores pianistas portugueses, António Rosado,

num recital dedicado à integral dos prelúdios de Debussy

Quanto ao espetáculo de pré-abertura, homenageia um herói de carne e osso: Aristides Sousa

Mendes “30 000” é o título de um espetáculo do Quorum Ballet que recorda o número de vidas

que foram salvas pelo Cônsul de Bordéus, numa coreografia de Daniel Cardoso criada proposita-

damente para o Cistermúsica

Alexandre Delgado

Direção Artística

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Quorum Ballet“30.000”*Baseado na Vida de Aristides de Sousa Mendes Espetáculo de Abertura

28 de junho, sábado, 21h30 Cine-Teatro de Alcobaça – João d’Oliva Monteiro

Estreia Absoluta – Encomenda do Cistermúsica

Patrocínio

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Quorum BalletDaniel Cardoso, coreografia, desenho de luz e espaço cénico

Filipe Narciso, Elson Ferreira, Mathilde Guilhet, Inês Godinho e Kim Potthoff, bailarinos

Raquel Vieira de de Almeida, produção

Olafur Arnalds, Max Richter e Jean-Filipe Goude, música

Daniel Cardoso, sonoplastia e figurinos

Rui Alves, responsável técnico

Maria Dolores, comunicação Quorum Ballet

Cristina Bernardino, administração

Co-Produção Quorum Ballet

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Notas à Margem

“30.000”

O Quorum Ballet apresenta uma nova criação de Daniel Cardoso explorando o tema “Lendas e

Heróis”, desafio proposto pelo Cistermúsica 2014 – XXII Festival de Música de Alcobaça

Aristides de Sousa Mendes foi Cônsul de Portugal em Bordéus no ano da invasão da França pela

Alemanha Nazi durante a Segunda Guerra Mundial Sousa Mendes desafiou ordens expressas do

seu Ministro dos Negócios Estrangeiros, António de Oliveira Salazar (cargo ocupado em acumu-

lação com a chefia do Governo), e durante cinco dias concedeu indiscriminadamente vistos de

entrada em Portugal a refugiados de todas as nacionalidades que desejavam fugir de França em

1940 O número de vistos concedidos é ainda hoje controverso, alguns estimam cerca de 30 000

Aristides de Sousa Mendes terá salvo dezenas de milhares de pessoas do Holocausto Sendo

chamado de “o Schindler português”, Sousa Mendes também teve a sua lista e salvou a vida de

milhares de pessoas, das quais cerca de 10 mil judeus

Através da já conhecida linguagem coreográfica do Quorum Ballet pretendemos fazer uma

homenagem a esta incontornável figura portuguesa e revisitar este importante capítulo da nossa

história

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Quorum BalletO Quorum Ballet é uma companhia de dança contemporânea de repertório que apresenta um

elevado nível de exigência, rigor e qualidade nos seus espetáculos Foi fundada em 2005 pelo

seu diretor artístico, coreógrafo residente e bailarino Daniel Cardoso

Em 2009, o Quorum Ballet obteve o seu primeiro apoio da Direção Geral das Artes (DGA),

Secretaria de Estado da Cultura Desde então, tem tido a possibilidade de manter estabilidade

na execução das várias atividades Com uma estrutura definida e permanente, o Quorum Ballet

é composto por 8 bailarinos e pelos departamentos de produção técnica e administração Em

outubro de 2007, em parceria com a associação sem fins lucrativos AQK - Associação Quorum

Cultural e a Câmara Municipal de Amadora, abriu a Quorum Academy, de onde derivou o

“Projeto Quorum”, com aulas abertas a crianças, jovens e adultos

O Quorum Ballet tem apresentado diversas peças da autoria de Daniel Cardoso e de vários coreó-

grafos convidados como Thaddeus Davis, Jonathan Hollander, Iolanda Rodrigues, Rita Galo,

Elson Ferreira, Gonçalo Lobato, Pedro Dias, António Cabrita, Inês Godinho, Freddie Moore ou

Barbara Griggi, entre outros Foram criadas mais de 25 produções, nas quais se incluem trabalhos

coreográficos para a infância e jovens

O rigor e profissionalismo do Quorum Ballet têm originado uma frequente renovação de convites

por parte dos teatros e instituições nacionais e internacionais com as quais tem trabalhado Tem

exibido os seus trabalhos em inúmeras cidades do país, incluindo algumas das mais conceitua-

das salas como o Teatro Camões, CCB, Teatro Tivoli, Teatro Municipal de Faro, Teatro Tempo

em Portimão, Casa da Música do Porto, Santa Maria da Feira, entre muitas outras Internacional-

mente, apresentou-se na Dinamarca, EUA/Nova Iorque, Polónia, Singapura, Macau, China, Chipre,

Sérvia, Equador, Holanda, Tailândia, Espanha, Alemanha e Suíça

O reconhecimento internacional tem vindo a consolidar-se através de críticas extremamente

positivas em diversos jornais e revistas, destacando-se a Dance Europe Magazine. O Quorum

Ballet foi considerado uma companhia de dança de “seis estrelas”

Entre as parcerias estabelecidas, destaca-se aquela feita com a Vaganova Academy (Escola

do Ballet Kirov) de São Petersburgo, com a apresentação do programa “Do Bailado Clássico ao

Contemporâneo”, que esteve em digressão nacional em 2009

Ainda em 2009 o Quorum Ballet recebeu o prémio de Melhor Companhia de Dança Contempo-

rânea na 1 ª edição dos Portugal Dance Awards e em 2011, na 14 ª edição do Festival de Castilla y

Léon (Espanha) foi considerada (em ex-aequo) a Melhor Companhia em Palco com o espetáculo

“Correr o Fado”

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Daniel CardosoDaniel Cardoso formou-se na Escola de Dança do Conservatório Nacional, onde recebeu o respe-

tivo diploma de Bailarino profissional Foi bolseiro na Martha Graham School of Contemporary

Dance, onde recebeu a Coca-Cola Award for Artistic Excellence pela Fundação Coca-Cola, nos

EUA, e, na Joffrey Ballet School na cidade de Nova Iorque

Nos Estados Unidos dançou em companhias como Martha Graham Dance Ensemble, Martha

Graham Dance Company (Solista), Donald Byrd/The Group (Solista) e como bailarino convidado

no Westchester Ballet Company, Pearl Lang Dance Theater, Battery Dance Company, Coyote

Dancers, entre outras Em Nova Iorque dançou trabalhos de coreógrafos como Martha Graham,

Robert Wilson, Maurice Béjart, Donald Byrd, Susan Stroman, Steve Rooks, Kenneth Topping,

Ginger Thatcher, Pearl Lang, Maher Benham, Milton Meyers, Terry Weikel, Thaddeus Davis,

Richard Move, Jonathan Hollander, Steven Pier, entre muitos outros

Em 2001, assinou contrato até 2005 com o Peter Schaufuss Ballet onde ascendeu a bailarino

principal No mesmo ano foi convidado a montar o bailado “Maple Leaf Rag”, de Martha Graham,

no Teatro Municipal do Rio de Janeiro no Brasil para a Martha Graham Trust

De volta a Portugal no verão de 2005, formou o Quorum Ballet (QB) do qual é coreografo resi-

dente e Diretor Artístico Desde 2006 é professor e bailarino convidado para o Peter Schaufuss

Ballet No mesmo ano é convidado para participar numa produção na Casa da Música do Porto “A

Little Madness in the Spring” com direção e coreografia de Giuseppe Frigeni

A sua experiência como coreógrafo inclui mais de 20 trabalhos para o QB, peças para a Peter

Schaufuss Ballet School (Dinamarca), Vaganova Academy (Rússia), CeDeCe Companhia de

Dança, Companhia de Dança de Almada, Conservatório Nacional, Conservatório da Madeira,

entre outros O seu trabalho tem sido altamente reconhecido a nível nacional e internacional

pela crítica

Desde 2007, é professor e coreógrafo convidado na Vaganova Academy, escola do Kirov

Ballet em Sant Petersburgo, na Rússia, para onde criou a peça “Encounters” estreada no Teatro

Marinsky em junho de 2008 A experiência de Daniel Cardoso, como professor, inclui também

o Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Vaganova Dance Academy, Martha Graham Center of

Contemporary Dance, Peter Schaufuss Ballet and PSB School, Escola Superior de Dança, CeDeCe

Companhia de Dança, entre muitos outros

Atualmente Daniel Cardoso é membro do Conselho Geral da Escola de Dança do Conservatório

Nacional em Lisboa

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Filipe NarcisoFilipe Narciso, de nacionalidade portuguesa, começou os seus estudos na área de dança com

seis anos de idade no “Estúdio de Dança Jazzbel”, com Anabela Botica Afonso como professora

Em 1997 ingressa na “Escola de Dança do Conservatório Nacional” onde se graduou em 2005,

recebendo o respetivo diploma de Bailarino Profissional

Durante o seu percurso académico participou em trabalhos com coreógrafos como José Luís

Vieira, Armando Luna, Benvindo Fonseca, David Fielding, Nicolas Marckmann, Nils Christe,

Barbara Griggi e Nicolaas Marckmann Participou no “E U –China Arts Summer School” organi-

zado pelo British Council

Recebeu a medalha de “1 º Lugar no II Concurso de Dança do Algarve – Dançarte” na categoria

de Solista com organização de Beliaev “Centro Cultural e Companhia de Dança do Algarve” A

convite da Companhia Nacional de Bailado integrou como bailarino a produção do bailado

“Quebra-nozes”

Em 2005 após terminar os seus estudos recebeu convite para ingressar na Companhia Nacional

de Bailado onde dançou em produções como “D Quixote” de Mehmet Balkan, “Lauriane” (uma

Ópera do Teatro de São Carlos) de Ron Howell, e “Giselle” de George Garcia

Em setembro de 2006 tornou-se membro do Quorum Ballet Desde então dançou todo o reportó-

rio da companhia incluindo mais de 14 obras de Daniel Cardoso Trabalhou também com Itzik

Galili, Barbara Griggi, Iolanda Rodrigues, Thaddeus Davis, Rita Galo, Xavier Carmo, Freedie Moore

e Jonathan Hollander

Em 2009/2010 Filipe foi bailarino convidado da CeDeCe - Companhia de Dança Contemporânea

Em 2011 é convidado a fazer parte do Júri do I Leiria Dance Competition

Em 2012 estreia-se como coreógrafo do Quorum Ballet com a peça infantil “A Cidade Verde e a

Cidade Azul”, no mesmo ano em que é juri convidado dos exames de Composição da Academia

de Dança Contemporânea de Setúbal Em abril de 2013 coreografa “Impetus” para o Projeto

Quorum (Um grupo semi-profissional da Quorum Academy) e “Roof Drops” um dueto premiado

com um 2 º lugar no Festival de Dança de Viana

A sua experiência como professor inclui os cursos livres da Escola de Dança do Conservatório

Nacional, Quorum Academy, Estúdio de Dança Jazzbel, Academia Art!st, XV Estágio de Dança de

Aveiro, Dance Factory, Soffiart-Atelier Dança e Movimento, Diarte Dance, Arabesque - Academia

de Dança e Representação e o Espaço Dançatitude

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Inês GodinhoInês Godinho, nascida em Lisboa a 28 de outubro de 1989, iniciou-se na dança no ano 1992 no

Ginásio Clube do Sul e estudou na Royal Academy of Dance Em 1999 ingressou na Escola de

Dança do Conservatório Nacional que finalizou em 2007, obtendo o diploma de Bailarina Profis-

sional No Conservatório trabalhou com professores como George Garcia, Ulrike Caldas, Irina

Zavialova, Mikahall Zavialova, Cristina Pereira, Antonio Carallo e Margarida Bettencourt, entre

outros Ao longo do seu percurso no Conservatório trabalhou com os seguintes coreógrafos: Nils

Christe, David Fielding, César Moniz, Daniel Cardoso, Megumi Nakamura, Nikolaas Marckmann

Entre 2001 e 2007 frequentou vários workshops e cursos de dança, nomeadamente na Royal

Ballet School Enquanto estudante teve oportunidade de trabalhar com a Companhia Nacional

de Bailado nas produções “Quebra-Nozes” e “Lago dos Cisnes” sob orientação do coreógrafo

Mehmet Balkan Dançou na Ópera infantil “A Floresta” produzida no Teatro São Luis, dirigida por

Jorge Salavisa

Em outubro de 2007 tornou-se membro do Quorum Ballet e desde então, tem dançado todo o

repertório da Companhia Trabalhou com coreógrafos como: Daniel Cardoso, Itzik Galili, Barbara

Griggi, Pedro Dias, Elson Ferreira, António Cabrita, Filipe Narciso, Thaddeus Davis, entre outros

Em 2011 coreografa para o Quorum Ballet a sua primeira peça “Eventually we find our way”

A sua experiência como coreografa inclui também “Toque” para a Escola de Dança do Conser-

vatório Nacional e “Alice no País das Maravilhas”, uma peça infantil que integra o reportório do

Quorum Ballet A sua experiência como professora inclui as aulas na Quorum Academy e Escola

de Dança Cruz-Quebrada/SIMECQ

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Elson FerreiraElson Ferreira, de nacionalidade portuguesa, deu os primeiros passos na área de dança ainda no

ensino básico, no ano de 1994, no ginásio denominado Gold Gym sob a orientação de Fernanda

Mafra, entrando em espetáculos vários Em 1997 ingressou na Escola de Dança do Conservatório

Nacional onde fez a sua formação profissional, que conclui no ano letivo de 2005/2006, altura

em que lhe foi entregue o respetivo diploma, graduando-se como Bailarino profissional

Frequentou cursos de verão no Ginásio Clube Português de 1997 a 2000 sob a orientação dos

professores Wendy Artilles, Miguel Montañez e Sergiu Sefanschi Durante o seu percurso acadé-

mico participou em trabalhos com coreógrafos como David Fielding, Nicolas Marckmann, Clara

Andermatt, Cesar Moniz e Daniel Cardoso A convite da Companhia Nacional de Bailado integrou

os seguintes espetáculos: “Romeu e Julieta”, “Petruchka” e “Quebra-nozes”

Entre 2003 e 2005 participou, no verão, nos cursos de Hip-Hop ministrados na Escola Superior

de Dança sob a orientação dos professores Diego Sacco e Miguel Angelo, e consequentemente

integrou espetáculos, eventos e competições de Hip-Hop

Em setembro de 2006 tornou-se membro do Quorum Ballet Desde então dançou todo o

reportório da Companhia incluindo mais de 14 obras de Daniel Cardoso Trabalhou também com

Barbara Griggi, Iolanda Rodrigues, Thaddeus Davis, Rita Galo, Xavier Carmo, Freedie Moore e

Jonathan Hollander

Em 2009 Elson foi bailarino convidado da CeDeCe - Companhia de Dança Contemporânea Em

dezembro de 2010 coreografou para o Quorum Ballet o seu primeiro trabalho intitulado “Limbo”

Em dezembro de 2011 coreografou “Inner Change”, solo inserido em espetáculo da Companhia

Para o Projeto Quorum/Quorum Academy, coreografou “Polos Atrativos” e “meus… Persona ”

Mathilde GilhetMathilde Gilhet, de nacionalidade francesa, iniciou os seus estudos em 2004 na École du Centre

Chorégraphique National Carolyn Carlson, em França

Em 2007 ingressa no Ballet Junior de Genève, onde teve a oportunidade de trabalhar com

Alexander Ekman, Itzik Galili, Stijn Celis, Andonis Foniadakis, Patrick Delcroix, Gustavo Ramirez

Sansano, Lucinda Childs, Thierry Malandain, Guilherme Botelho, Gilles Jobin, Yuval Pick, Ken

Ossola, Nina Vallon (Forsythe Company), Company 7273, entre outros

Entre 2008 e 2010 trabalhou regularmente com a Alias Company na Suiça É, desde setembro de

2010, membro do Quorum Ballet, onde desde então trabalhou com Daniel Cardoso, Itzik Galili,

Gonçalo Lobato, António Cabrita, Pedro Dias, Elson Ferreira e Inês Godinho

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Kim PotthoffKim Potthoff é natural de Porto Alegre, Brasil Aos 3 anos de idade iniciou seus estudos de dança

no Ballet Vera Bublitz, com o método de Balanchine Em 1998, com 10 anos de idade, ingressou

na Escola de Dança Ballet Lenita Ruschel Pereira, onde se formou com distinção pelo método da

Royal Academy of Dance

Durante o seu percurso académico e profissional teve a oportunidade de trabalhar com destaca-

dos professores e coreógrafos tais como: Rejane Duarte Carlla Bublitz, Carla Korbes, Vera Bublitz,

Lenita Ruschel, Déborah Ruschel, Cecília Kerche, Ronaldo Martins, Ana Botafogo, Sílvia Sukie-

niky, Elizabeth Santos, Helena Py, Emílio Martins, Tíndaro Silvano, Toshie Kobaiashy, Patrício

Torres, Hans-Joachim Tappendorff, Vladimir Klos, Guiivalde de Almeida, Dalal Achar, Raymond

Chai, Denzil Bailey, Celia Grannum, Boris Van-dueren, Oscar Recaldé, Laura Alonso, Jorge Peña,

Lina Lapertosa, Ilara Lopes, Joan Hewson, Ian Knowles, Susan Zalcman, Roland Price, Maggie

Paterson, Guilherme Dias, José Grave, Vítor Garcia, César Moniz, Isabel Viladino, Mônica Proença,

Andréia Spollaor, Amélia Bentes e Bárbara Griggi

Participou de concursos e festivais, entre eles, o Festival de Dança de Joinville, Youth America

Grand Prix, Congresso Brasileiro de Dança e o Seminário Internacional de Dança de Brasília

Recebeu o prémio de Melhor Bailarina e Melhor Bailarina de Repertório Clássico em 2005 e

2007, no Festival Latino Americano de Danças Em 2006, recebeu o prémio de Melhor Bailarina

Neo-Clássica no Festival Bento em Dança

Em 2007 mudou-se para Londres, onde estudou na Royal Academy of Dance, e posteriormente

para Portugal, ingressando na Escola Superior de Dança de Lisboa no ano letivo 2009/2010

Em Portugal, trabalhou com a Kamusuna Ballet Company, Vórtice Dance Company e no Teatro

Nacional São Carlos Em setembro de 2012, ingressou no Quorum Ballet para o projeto “Lago dos

Cisnes”, tornando-se membro da companhia em 2014

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Orquestra Sinfónica PortuguesaLendas e Heróis

Emil Tabakov, direção Irene Lima, violoncelo

3 de julho, quinta-feira, 21h00 Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça Claustro do Rachadouro

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ProgramaFrederico de Freitas · In Memoriam Alexandre Herculano, poema sinfónico

Mili Balakirev · Tamara, poema sinfónico

Richard Strauss · Don Quixote, poema sinfónico op 35

Orquestra Sinfónica PortuguesaPavel Arefiev, Leonid Bykov, Alexander Mladenov, Iskrena Yordonova, Nicholas Cooke, Anabela

Guerreiro, António Figueiredo, Regina Stewart, Luís Santos, Pedro Teixeira da Silva, Hasmike

Duarte, Ewa Michalska, Natália Roubtsova, Margareta Sandros, I violinos

Paula Carneiro, Narinné Dellalian, Mário Anguelov, Inna Rechetnikova, Carmélia Silva, Kamé-

lia Dimitrova, Sónia Carvalho, Lurdes Miranda, Filomena Sousa, Aurora Varonova, Slawomir

Sadlowski, Tatiana Gaivoronskaia, II violinos

Pedro Muñoz, Ceciliu Isfan, Galina Savova, Ventzislav Grigorov, Cecília Neves, Etelka Dudás, Vladi-

mir Demirev, Sandra Moura, Bistra Anastasova*, Sofia Gomes*, violas

Hilary Alper, Ajda Zupancic, Diana Savova, Luís Clode, Emídio Coutinho, Gueorgui Dimitrov,

Bárbara Duarte*, Carlos Tony Gomes*, violoncelos

Petio Kalomenski, Pedro Wallenstein, Anita Hinkova, Duncan Fox, Svetlin Chichkov, João Diogo

Duarte, contrabaixos

Nuno Ivo Cruz, Anthony Pringsheim, Katharine Rawdon (Picc), flautas

Ricardo Lopes, Elizabeth Kicks, Luís Marques (C i), oboés

Francisco Ribeiro, Horácio Ferreira (+ Cl Mib)*, Jorge Trindade (+ClB), clarinetes

David Harrison, Daniel Faria*, Piotr Pajak, Carolino Carreira (+Cfg), fagotes

Paulo Guerreiro, Augusto Rodrigues, Laurent Rossi, Carlos Rosado, Gabriel Correia*, Tracy Nabais,

trompas

Jorge Almeida, Latchezar Goulev, António Quítalo, Pedro Monteiro, trompetes

Hugo Assunção, Vítor Faria, Kevin Hakes (Trbn B), trombones

Ilídio Massacote, Pedro Lopes*, tubas

Carmen Cardeal, harpa

Richard Buckley, tímpanos

Elizabeth Davis, Lídio Correia, Pedro Araújo e Silva, João Nuno Moreira*, Luís Neiva*, Laura Llardia

de Miguel*, percussão

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Notas à Margem

Frederico de Freitas: In Memoriam Alexandre Herculano

Nascido em Lisboa a 15 de novembro de 1902 e falecido na capital a 12 de janeiro de 1980, Frede-

rico de Freitas deixou uma produção incontornável na música portuguesa do século XX, cuja

importância e riqueza não têm sido devidamente avaliadas Ele foi o caso, raro entre nós, de um

compositor de música erudita extraordinariamente bem sucedido no domínio da música ligeira,

o que lhe valeu invejas e snobismo do meio musical O seu dom excepcional como compositor

para teatro de revista e a capacidade de criar a quintessência dum idioma popular no cinema

originou melodias que desde A Severa de Leitão de Barros (primeiro filme sonoro português, 1931)

fazem parte do nosso imaginário coletivo

No extremo oposto, Frederico de Freitas é o autor de obras como o Quarteto Concertante, a Missa

Solene, a sinfonia Os Jerónimos, a ópera A Igreja do Mar, a cena lírica D. João e as Sombras A sua

produção no campo da música erudita é das mais vastas e multiformes escritas no nosso país e

abarca todos os géneros, revelando um admirável saber do ofício e uma inesgotável energia criadora

Entre essas duas tendências opostas – que o compositor dizia traduzirem a sua “bipersonalidade”

– houve um domínio que as conciliou na perfeição: o bailado, porventura o mais original e impor-

tante contributo de Frederico de Freitas para o reportório português e internacional, abarcando

também o domínio do poema sinfónico, género musical em que Frederico de Freitas operou

uma simbiose com a dança Tudo começou com A Lenda dos Bailarins (1925), poema sinfónico

escrito quando o autor ainda não completara 23 anos Outro exemplo foi Ribatejo (1934), que o

compositor designou como “poema coreográfico”

Já em 1930 Frederico de Freitas manifestava numa entrevista a vontade de organizar uma

grande companhia de bailados e em 1940 integrou o núcleo duro da criação do grupo de bailado

Verde Gaio, ao lado do bailarino Francis Graça e do pintor Paulo Ferreira, sob a égide de António

Ferro A Frederico de Freitas ficou o grupo a dever o melhor do seu reportório, a começar por

Muro do Derrete (1940), delicioso exemplo de um estilo “Copland à portuguesa”1, a que se seguiria

a consagrada Dança da Menina Tonta (1941), a que até a pena afiada de Fernando Lopes-Graça

não poupou elogios Outros notáveis bailados escritos expressamente para o Verde Gaio foram

Imagens da Terra e do Mar (1943) e Nazaré (1948)

Ainda no universo de Terpsicore, são de referir as belas Duas Danças do século XVII que chega-

ram a ser dançadas pelo Verde Gaio, Pavana e Galharda (1940); bem como a delicada Suite medie-

val (1958), primeira e única obra de Frederico de Freitas que integrou o reportório da Companhia

Nacional de Bailado (em 1977)

Outras obras mostram mais declaradamente os laços com a música popular: é o caso da Suite

Portuguesa para orquestra e quarteto de cordas (1935) e dos pequenos bailados Fado corrido

(1937) e Noite de São João (1938), escritos para o bailarino Francis no âmbito do teatro de revista

Mas aí já entramos noutro campo, valendo a pena recordar que Frederico de Freitas fez música

para 4 operetas, 17 revistas, 6 filmes e 18 peças de teatro

1) Interpretado no Cistermúsica em 2002, pela orquestra da ESMAE, sob a direção de António Saiote

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Que o compositor conservou a atração pela dança até ao fim da vida, são testemunho os bailados

A Dama Pé de Cabra (incompleto, 1976) e Farsa de Inês Pereira (1979), cuja partitura ultimava

quando faleceu

O poema sinfónico In Memoriam Alexandre Herculano resultou de uma encomenda para as

comemorações do centenário da morte desse escritor e historiador que tanto contribuiu para o

nosso imaginário histórico coletivo com as suas Lendas e Narrativas e os seus romances históri-

cos A obra, estreada em 1977 pela Orquestra Sinfónica da RDP, nas Ruínas do Carmo em Lisboa,

não é ouvida desde a estreia Pelo aspeto da partitura, dir-se-ia ser um fresco sinfónico que evoca

as narrativas medievais de Herculano (eventualmente do romance O Bobo), ao mesmo tempo

que parece querer reatar elos com os admiráveis bailados que o compositor escreveu nos anos

40 Uma vez que não existe uma única gravação, a presente execução no Cistermúsica é um

momento de grande expectativa

Mili Balakirev: Tamara

A importância de Balakirev para a história da música está longe de se reduzir ao papel de

ideólogo do nacionalismo musical russo e impulsionador dos seus colegas do “Grupo dos Cinco”

Duas obras suas bastam para ter alguma ideia da sua estatura: a fantasia oriental Islamey para

piano, de 1868, e o poema sinfónico Tamara, de 1882, geniais exemplos de orientalismo que fasci-

naram e influenciaram Debussy e Ravel

Mili Bakirev nasceu em Nijni-Novgorod a 2 de Janeiro de 1837 O pai era funcionário do governo

e a mãe deu-lhe as primeiras lições de música Aos 10 anos foi para Moscovo estudar piano com

Alexander Dubuque, um discípulo do irlandês John Field; estudou depois com Karl Eisrich,

músico alemão que o apresentou a um abastado patrono musical Este revelou-lhe a música de

Chopin e de Glinka, duas influências que se viriam a revelar decisivas

Partindo para São Petersburgo em 1855, Balakirev aí conheceu o “pai da música russa” Mikhail

Glinka, que apontou algumas falhas na sua técnica de compositor mas ficou impressionado com

o seu talento Desistindo do curso da matemática (no qual ingressara dois anos antes), decidiu

então optar pela carreira musical e começou por destacar-se como pianista Em fevereiro de 1856

estreou o primeiro andamento de um concerto para piano de sua autoria e em 1857, com apenas

21 anos, já era suficientemente conceituado para tocar o Concerto ‘Imperador’ de Beethoven

diante da família imperial No verão desse ano começou a escrever a abertura e a música de

cena para a tragédia King Lear, uma das raras tentativas bem conseguidas de abordagem musical

dessa tragédia de Shakespeare

O descontentamento com a sua produção e o abandono de obras a meio foi uma constante ao

longo da vida de Balakirev Um período de aguda depressão sobreveio em 1861, deixando-o indi-

ferente à música, sem desejo de viver e querendo destruir todos os seus manuscritos (algo que

felizmente não concretizou) No ano seguinte abriu a Escola Gratuita de Música de São Peters-

burgo, que se propunha contrariar o ensino convencional do Conservatório através de concertos

públicos; muita da sua energia passou a ser canalizada para os seus discípulos Mussorgski,

Rimski-Korsakov e Borodine

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As obras mais ambiciosas de Mili Balakirev tiveram períodos de gestação invulgarmente longos,

pois as suas melhores inspirações da juventude foram sujeitas a demorados períodos de pousio,

só ganhando forma acabada ao fim de décadas É o caso da 1 ª Sinfonia, começada em 1864 e só

concluída em 1897; e da 2 ª sinfonia, começada em 1864 e só terminada em 1908, dois anos antes

da morte do compositor, que se deu a 29 de maio de 1910 em São Petersburgo

A obra-prima de Balakirev é o poema sinfónico Tamara, começado por volta de 1863 e só

concluído em 1882 Paradigma do orientalismo na música russa, é uma obra que, ainda antes

de estar terminada, inspirou obras hoje bem conhecidas como Nas Estepes da Ásias Central e

Príncipe Igor de Borodine ou Sheherazade de de Rimski-Korsavok, bem como a Sinfonia “Antar”

deste último

Curiosamente, o orientalismo que nascera com o «pai da música russa» tinha como matriz

música espanhola e cigana Para Balakirev, foi o folclore do Cáucaso — dessa Geórgia que faz a

ponte entre a Europa e a Ásia, entre o Ocidente e o Oriente — que inflamou a sua imaginação

desde que aí passou férias de Verão em 1862 e 1863

O título inicial de Tamara era Lez guinkha, fogosa dança caucasiana que Glinka utilizara na sua

ópera Russlan e Ludmila Não se sabe quando é que Balakirev escolheu Tamara como tema, inspi-

rando-se no poema homónimo de Lermontov sobre uma letal enfeitiçadora de homens, espécie

de Lorelei georgiana Segundo a lenda, essa princesa que viveu numa torre sobre o rio Terek, no

desfiladeiro Darial, atraía os homens e depois de uma noite de sexo atirava-os ao rio Tal viúva

negra teria como nome Daria, mas Lermontov preferiu dar-lhe o nome duma heroína georgiana

do século XII, a rainha Tamara, cujo reinado foi uma espécie de Renascença precoce e cuja vida

conjugal foi um modelo de virtudes Mas ao que parece Tamara tinha uma filha ninfomaníaca,

chamada Rusudan, que aprisionava no seu castelo dois amantes em simultâneo; também há

quem diga que ela tinha uma irmã debochada que foi aprisionada na torre do desfiladeiro Darial,

onde se vingava sobre os homens que ali passavam Lermontov terá optado por lhe atribuir o

nome, decerto mais evocativo, da própria rainha Tamara, por muito herético que isso pudesse

parecer aos georgianos

É inesquecível o começo ominoso da obra, Andante maestoso: as negras águas do rio Terek no

desfiladeiro Dardial são evocadas num ruminar de violoncelos e contrabaixos, sobre as quais se

incrustam notas longas de trombone e tuba A tonalidade é a a mesma que Mendelssohn utilizou

para descrever as ilhas Hébridas (si menor), mas aqui soa incomparavelmente mais sombria: as

águas do Terek à noite metem obviamente mais medo que a espuma do mar da Escócia de dia

Nos violinos com surdina ouvem-se sussurros orientalizantes e no corne inglês surge o motivo

de cinco notas que está na base do canto enfeitiçador de Tamara Surge depois, no clarinete, um

tema que anuncia claramente Sheherazade de Rimski-Korsakov (seis anos posterior a Tamara)

Aos poucos o tempo anima-se, num crescendo empolgante (Allegro moderato, ma agitato, ré

bemol maior) Representando o homem incauto que se aproxima do desfiladeiro maldito,

Balakirev usa um tema que ouvira tocado por orientais da escolta do czar e cujo aspecto mais

interessante é a irregularidade dos acentos O ritmo torna-se ainda mais fogoso, prenunciando

posteriores clímaxes orgiásticos, mas acalma-se (Meno mosso) com um novo tema lançado

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por flauta e oboé, cujos ingredientes orientalizantes têm irresistível poder de sedução É esse o

primeiro canto de Tamara para seduzir o incauto; o segundo surge, mais aveludado, no clarinete,

com eflúvios de harpa A partir daí há vagas sucessivas dos dois temas da feiticeira, numa espiral

que se vai tornar orgiástica até ela revelar a sua natureza assassina: a parte central deste poema

sinfónico é uma dança desenfreada que conduz à morte Genial orquestrador e criador de textu-

ras, Balakirev sobrepõe camadas sobre camadas e não admira o fascínio que Tamara exerceu

sobre Debussy (pois há momentos em que nos parece estar a ouvir música do autor de La mer)

É de notar liberdade da construção deste poema sinfónico, que não se sujeita de forma alguma

ao rigor duma forma-sonata: não há verdadeira reexposição, mas sim um contínuo adensar

polifónico e metamorfosear dos temas até ao transe final, que é inesperadamente doce se

considerarmos que o homem é assassinado depois de fazer amor Significativamente, os temas

dele não são reexpostos, exemplo letal de Liebestod à maneira caucasiana Os temas de Tamara,

em contrapartida, adoptam a tonalidade dos temas do homem que ela atraiu (ré bemol maior)

Embora no fim haja um regresso circular à música que evocava as negras águas do rio Terek no

início da obra, este poema sinfónico termina um tom acima da tonalidade em que começou,

num exemplo de tonalidade evolutiva anterior a Mahler

Richard Strauss: Don Quixote

Um dos maiores compositores de finais do século XIX e da primeira metade do século XX,

Richard Strauss é autor de poemas sinfónicos, óperas, Lieder e obras concertantes que ganharam

um lugar permanente no reportório mundial

Nascido em Munique a 11 de junho de 1864, Strauss era filho de um excelente trompista do

Teatro de Munique que tocara nas estreias de Tristão e Isolda e Os Mestres Cantores, sendo muito

elogiado por Wagner (embora detestasse o compositor e tenha tentado manter o filho afastado

de tal influência) A mãe provinha da família dos fabricantes da cerveja Pschorr, não faltando

conforto material ao pequeno Richard e sua irmã mais nova

Strauss começou a compor aos seis anos e a fê-lo copiosamente até ao fim da vida, sem que

nunca tenha frequentado uma escola de música Iniciou-se no piano aos quatro anos, com um

colega do pai, no violino aos oito com um primo, e na composição oficialmente aos onze, com

Friedrich Wilhelm Meyer, sempre com o pai como mentor Depois de concluir o liceu, assistiu

a aulas de filosofia, estética e história da arte na Universidade de Munique, às quais preferia a

leitura de Goethe e dos clássicos gregos, duas paixões de toda a vida

Entre a obras de juventude de Strauss destaca-se a Serenata para Sopros op 7 (1881), que levou

Hans von Bülow a considerá-lo “de longe a mais notável personalidade musical de Brahms”

Aos 20 anos já escrevera duas sinfonias e já compusera alguns dos seus Lieder ainda hoje mais

apreciados (Zueignung, Die Nacht, Allerseelen) Hans von Bülow, que dirigiu em 1885 a estreia do

1 º concerto para trompa de Strauss, recomendou-o para o lugar de maestro da Orquestra de

Meiningen, impulsionando uma carreira como regente que prosseguiria nas Ópera de Munique,

Weimar, Bayreuth e Berlim, atingindo uma estatura equivalente à de Mahler

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Em Meiningen, o convívio com o violinista Alexander Ritter aproximou-o da chamada “Nova

Escola Alemã” de Wagner e Liszt, cujo lema “novas ideias exigem novas formas” adoptou como

seu, afastando-se assim das tendências mais conservadoras defendidas pelo pai Depois da

fantasia sinfónica Aus Italien, escreveu entre 1888 e 1898 uma sucessão de poemas sinfónicos

que lhe deram a reputação do mais importante compositor “progressista” alemão posterior a

Wagner Exemplos de genial ultra-polifonismo, virtuosismo orquestral e inédita capacidade

descritiva (Strauss gabava-se de ser capaz de descrever musicalmente um copo de cristal), entre

eles sobressaem Don Juan, Morte e Transfiguração, Till Eulenspiegel, Assim falou Zaratustra, Dom

Quixote e Uma Vida de Herói

Em 1894 Strauss desposou Pauline de Ahna, soprano temperamental e excêntrica com quem

criou uma família feliz, ao mesmo tempo que prosseguiu uma fulgurante carreira internacional

como maestro (que o trouxe inclusivamente a Lisboa, à frente da Orquestra Filarmónica de

Berlim, em 1902 e 1904) Em 1920, fez parte do grupo fundador do Festival de Salzburgo

A partir do virar do século a ópera passou a absorvê-lo completamente como compositor e foi

nessa categoria que reinou incontestavelmente, sendo ainda hoje (a par de Puccini) o autor do

século XX mais levado à cena Depois de duas óperas muito influenciadas por Wagner (Guntram

e Feuersnot), a sua originalidade revelou-se plenamente em 1905 com Salomé, ópera baseada na

peça decadentista de Oscar Wilde, que causou escândalo e sensação, gerando-lhe proventos que

lhe permitiram construir a sua vivenda de sonho em Garmisch, na Baviera Elektra culminou em

1909 as ousadias modernistas do compositor, revisitando Sófocles em clima freudiano e com a

cumplicidade de Hugo von Hofmannsthal, libretista ideal com quem fez parceria durante mais

de duas décadas

Em 1911, O Cavaleiro da Rosa constituiu um volte-face inesperado, com Strauss a afastar-se do

modernismo para recuar deliciadamente à Viena do tempo de Mozart Ariadne auf Naxos, conce-

bida em 1912 como parelha para Le bourgeois gentillhomme de Molière, foi uma aproximação à

commedia dell’arte que constituiu uma antecipação muito pessoal do neoclassicismo Seguiu-se

A Mulher sem Sombra (1918), sumptuosa metamorfose pós-wagneriana d’A Flauta Mágica Depois

de Intermezzo (1923), A Helena Egípcia (1928) e Arabella (1932), a morte de Hofmannsthal obrigou

Strauss a procurar outro libretista e Stefan Zweig foi o escolhido: em conjunto escreveram ópera

cómica A Mulher Silenciosa, após cuja estreia em 1935 o escritor teve que fugir para o Brasil,

devido à perseguição dos nazis (que proibiram a ópera ao fim de três récitas)

Em novembro de 1933, o novo regime nomeou Strauss (então com 69 anos) presidente da

Reichsmusikkammer, servindo-se do prestígio do mais célebre compositor alemão para ganhar

respeitabilidade Strauss, apesar do seu desinteresse pela política e do seu desprezo pelo regime

nazi, aceitou o cargo para proteger a sua nora judia e os seus netos Eis o que ele escrevia no seu

diário em 1933: “Considero a perseguição aos judeus de Streicher e Goebbels uma ignomínia para

a honra alemã, uma prova de incompetência – a arma mais baixa da mediocridade preguiçosa e

sem talento contra uma inteligência superior e maior talento ” (Goebbels, ministro da propaganda

nazi, retribuía-lhe na mesma moeda: “Infelizmente ainda precisamos dele, mas um dia teremos a

nossa própria música e deixaremos de precisar desse neurótico decadente”, escreveu ele numa

carta )

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Em junho de 1935, Strauss escrevia a Zweig: “Acredita que alguma vez, em qualquer uma das

minhas ações, eu me guio pela ideia de que sou ‘germânico’? Acha que Mozart era consciente-

mente ‘ariano’ quando compunha? Para mim só há dois tipos de pessoas: as que têm talento e as

que não têm ” A Gestapo interceptou a carta e Strauss foi demitido de presidente da Reichsmu-

sikkammer, embora nos Jogos Olímpicos de Berlim em 1936 se tocasse o hino que escrevera dois

anos antes Strauss continuou a necessitar da sua influência junto do regime para impedir que

os seus netos e a sua nora Alice fossem para um campo de concentração, tendo tentado em vão

salvar também os parentes de Alice

Em 1938 estrearam-se Friedenstag (Dia de Paz) – ópera anti-belicista que seria proscrita com

o eclodir do conflito – e Daphne, ópera que se refugia nos mitos da Grécia antiga, tal como O

Amor da Danae, também com libreto de Stefan Gregor, que foi terminada em 1939 mas já não

chegaria a estrear durante a guerra O alastrar da barbárie fez Strauss refugiar-se cada vez mais

em Garmisch (onde o seu filho e a sua nora ficariam em prisão domiciliária), onde, perante o

campo de destroços em que se tornou a Alemanha, compôs em 1945 Metamorfoses para cordas,

pungente despedida da cultura germânica depois do “reino da bestialidade, da ignorância e da

anti-cultura” (palavras suas) Quando os soldados americanos avançaram para o prender, em

abril de 1945, bastou-lhe dizer “Sou Richard Strauss, autor d’O Cavaleiro da Rosa e Salomé” para

que o deixassem em paz e não lhe confiscassem a casa

Nos cinco últimos anos de vida Strauss compôs algumas das suas obras-primas, intemporal

fusão de romantismo e classicismo: além de Metamorfoses, sobressaem a ópera Capriccio, o 2 º

Concerto para Trompa, o Concerto para Oboé e especialmente as Quatro Últimas Canções2,

sublime despedida de um mundo que chegara ao fim

Strauss estava em Florença, em 1896, quando pela primeira vez lhe ocorreu a ideia de converter

a obra-prima de Cervantes num poema sinfónico Concluída em Munique em dezembro do ano

seguinte, a partitura tem como subtítulo Variações fantásticas sobre um tema de caráter cavalei-

resco. Depois das ideias filosóficas de Nietzsche em Assim falou Zaratustra, esse genial romance

picaresco publicado em 1605 inspirou-lhe um universo fantasioso e burlesco, entre o cómico e o

trágico, o paródico e o comovente O violoncelo solista encarna D Quixote (partilhando por vezes

esse papel com o violino solo ou outras cordas); o gordo escudeiro Sancho Pança é representado

sobretudo pela violeta (secundada pela tuba e pelo clarinete baixo) A estrutura de tema e varia-

ções garante unidade e diversidade a esta partitura de inesgotável imaginação e poder evocativo,

para a qual Strauss selecionou vários episódios do livro, que correspondem a cada um dos

números (e que passamos a descrever com base na análise do grande especialista straussiano

Norman del Mar)

Introdução: “D Quixote perde a razão lendo romances de cavalaria e decide tornar-se ele próprio

cavaleiro andante ” A orquestra apresenta os temas principais do protagonista (em ré maior): o

primeiro com fanfarras e escalas velozes nos sopros de madeira, a sugerir a sua natureza cavalei-

resca, o segundo com meneios graciosos nos violinos e nas violetas, a traduzir a sua galanteria

No terceiro tema, um arpejo descendente do clarinete conduz a acordes deslizantes que são

exemplo das “falsas modulações” típicas de Strauss que sugerem aqui o delírio mental do perso-

nagem Uma doce melodia entoada pelo oboé ao som da harpa é o tema da bem-amada Dulci-

2) Interpretadas no Cistermúsica 2013 pela soprano Cristiana Oliveira e pelo pianista Jaime Mota

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neia, a rapariga rural que elege como dama e que logo se imagina a defender de algum gigante

ou dragão (sugerido por tubas e contrabaixos) Segue-se breve dueto de amor, visão dourada

que se desfaz como uma bola de sabão Quixote continua sozinho no seu gabinete, mas as ideias

fervilham-lhe no cérebro e dão-lhe a volta à cabeça: a complexidade contrapontística atinge um

patamar inédito até para Strauss, com todos os motivos a reaparecer num turbilhão sonoro que

culmina em selváticas dissonâncias, seguidas dum silêncio total

Tema: “Dom Quixote, o cavaleiro da triste figura e o seu escudeiro Sancho Pança ” O protagonista

surge em pessoa, encarnado pelo violoncelo solo, que retoma os três temas principais do perso-

nagem no modo menor Segue-se Sancho Pança, cujos três temas são no modo maior: o primeiro

a ilustrá-lo como simplório do campo (clarinete baixo e tuba tenor), o segundo a sugerir a

maneira como ele dá à língua (violeta solo) e o terceiro a espelhar a sua mania de usar provérbios

(com a violeta a desfilar cómicos lugares comuns)

1.ª Variação: “Saída a cavalo da estranha parelha sob o estandarte da bela Dulcineia de Toboso

e aventura com os moinhos de vento” (livro I, capítulo 8) Os temas do cavaleiro e do escudeiro

surgem sobrepostos, acrescentando-se depois por cima o tema de Dulcineia É bem nítida a

aparição dos “gigantes”, contra os quais D Quixote investe com arrojo; gigantes que são moinhos

movidos pelo vento e o fazem cair a pique do cavalo Mas D Quixote reergue-se, faz uma prece a

Dulcineia e com a ajuda de Sancho volta a montar no seu cavalo Rocinante, partindo sem inter-

rupção para a aventura seguinte

2.ª Variação: “Combate vitorioso contra os exércitos do imperador Ali-Fanfaron (combate contra

o rebanho de carneiros)” (livro I, capítulo 18) Com a indicação “belicoso”, o arrojo leonino do cava-

leiro depara-se com a calma pachorrenta do rebanho, que ele julga ser o poderoso exército de

Al-Fanfaron e de Pentapolim, rei dos Garamantas Num dos mais célebres momentos descritivos

da obra, os choques de meio-tom em tremolo dos metais imitam os balidos dos carneiros, que se

tornam frenéticos e ensurdecedores com a investida de D Quixote, gerando um pandemónio

que acaba em bem (Strauss poupa ao herói o desfecho humilhante dado por Cervantes, duas

costelas e um dente partidos)

3.ª Variação: “Perguntas, exigências e provérbios de Sancho; conselhos, tentativas apaziguadoras

e promessas de D Quixote ” A mais longa das dez variações começa com um diálogo em que D

Quixote vai respondendo com calma e paciência ao seu escudeiro; depois de este dizer tudo o

que lhe vai na cabeça, o cavaleiro explode em fúria Então o tempo detém-se e D Quixote passa

a expor a sua visão das coisas, o sonho de beleza e grandeza das suas aventuras, comovente

clímax expressivo da obra O próprio Sancho Pança se mostra convencido, embora a sua prosaica

observação final faça explodir de novo o cavaleiro, mergulhando-nos no tumulto da variação

seguinte

4.ª variação: “Incidente com uma procissão de penitentes” (livro I, capítulo 52) D Quixote galopa

em fúria até ver aproximar-se um grupo de penitentes vestidos de branco, que carrega uma

imagem da Virgem e entoa um canto litúrgico, sussurrando avé-marias (em cómicas frases

onomatopaicas de clarinetes e oboés) Tomando-os por um bando de malfeitores, o cavaleiro

ataca-os com o intuito de salvar aquela que julga ser uma jovem raptada, mas é neutralizado e

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cai no chão sem sentidos, enquanto a procissão se afasta Sancho Pança julga que o seu amo está

morto, mas os seus lamentos têm o condão de reanimar D Quixote, o que faz o escudeiro dar um

pulo de alegria

5.ª Variação: “A vigília das armas de D Quixote: doces transportes a pensar na distante Dulcineia”

(livro I, capítulo 3) Recuando a um episódio do início do romance, em que D Quixote vela as suas

armas na noite anterior a “armado cavaleiro”, esta variação é um interlúdio poético em que o

cavaleiro/violoncelo mergulha dentro de si próprio, entre o taciturno, o sombrio e o enlevado

6.ª Variação: “Encontro com uma camponesa que Sancho descreve ao seu amo como sendo

uma metamorfose de Dulcineia” (livro II, capítulo 10) Num episódio especialmente cómico do

livro, D Quixote decide conhecer Dulcineia e vai com Sancho até El Toboso, mas não conseguem

encontrá-la porque nenhum deles faz a mínima ideia da sua aparência Sancho, já sem saber o

que fazer, aponta para três camponesas montadas em burros e diz serem Dulcineia acompa-

nhada de duas donzelas D Quixote, convencido de que aquela rapariga com nariz espalmado

e cheiro a alho é a sua nobre dama sob algum feitiço, presta-lhe homenagem e Sancho imita-o,

fazendo com que as três moças fujam a sete pés Tocada pelos oboés em desengonçado

compasso quinário, ao som de pandeireta, uma patusca dança derivada do 1 º tema de Sancho

representa a rapariga

7.ª Variação: “Cavalgada pelos ares” (livro II, capítulo 41) D Quixote e Sancho são recebidos por

um duque e uma duquesa que o tratam como se ele fosse um verdadeiro cavaleiro andante,

acabando por lhe pregar uma partida: dizem-lhe que tem que ir salvar uma mulher de barbas

a 9,681 léguas de distância, montado num cavalo voador como nas Mil e Uma Noites Ele aceita

o disparatado desafio e até Sancho, de olhos vendados, é convencido a montar o animal de

brinquedo A viagem que ambos acreditam fazer, ao som de uma orquestra de foles, é descrita

num dos momentos mais geniais do poema sinfónico, em que a orquestra “voa” literalmente ao

som de uma máquina de vento, sobre um pedal de ré que mostra que o cavalo permanece bem

colado ao chão

8.ª Variação: “Infeliz travessia na barca encantada (ritmo de barcarola)” (livro II, capítulo 29) Junto

à margem dum rio, os dois viajantes encontram um barco que D Quixote acredita estar ali para

os levar numa importante missão, mas que na verdade os arrasta para um açude entre moinhos

de água, onde são quase despedaçados; quando o barco se vira e eles caem à água, são salvos

por moleiros que D Quixote tomara por demónios Ilustrando o momento em que chegam a terra

firme, é extraordinário como os pizicatos e acordes soam “molhados”; no fim, Sancho Pança faz

uma oração pedindo a Deus que o livre dos planos imprudentes do seu amo

9.ª Variação: “Combate contra dois pretensos feiticeiros, dois monges beneditinos montados nas

suas mulas” (livro I, capítulo 8) Ao ver dois monges que julga serem feiticeiros, D Quixote ataca-os

e eles põe-se em fuga Dois fagotes solo representam os dois monges e a variação seguinte enca-

deia-se com estrondo

10.ª Variação: “Grande combate singular contra o Cavaleiro da Lua Branca D Quixote, prostrado,

faz o seu adeus às armas, decidindo tornar-se pastor e voltar para casa” (livro II, capítulo 64) Um

vizinho de D Quixote, preocupado com o bem-estar do seu amigo e querendo que ele desista

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de ser cavaleiro andante, disfarça-se de Cavaleiro da Lua Branca e desafia-o para um duelo;

derrotado, D Quixote aceita retirar-se com dignidade Depois de uma empolgante descrição do

embate, Strauss descreve o regresso a casa de forma lancinante, ao som de inexoráveis pancadas

dos tímpanos A ideia de D Quixote se tornar pastor faz regressar a gaita pastoril do episódio

dos carneiros, em paralelo com os comentários de Sancho (que imagina converter-se no pastor

Panzino) Depois duma última pontada de dor e angústia, as nuvens da loucura começam a

dissipar-se

Final: “Recuperando o bom senso, D Quixote vive os seus últimos dias em contemplação; a sua

morte” O fim da loucura deixa D Quixote muito fraco e ele recolhe-se ao leito pela última vez Tal

como nos capítulos finais do livro, o fim deste poema sinfónico é mais pungente do que trágico

Uma meiga versão do tema principal, no violoncelo, conduz ao primeiro estertor da morte;

depois duma recordação da vigília da 5 ª variação, regressam os três temas que abriram a obra,

com infinita nostalgia Pela primeira e única vez, o tema da loucura é tocado com uma límpida

cadência perfeita Uma frase pungente do violoncelo termina com o último respiro do herói,

antes duma última reaparição do tema da loucura, que se prolonga numa conclusão de inefável

poesia

Alexandre Delgado

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Emil TabakovEmil Tabakov é um maestro internacionalmente conhecido e

apresenta-se com regularidade na Alemanha, Inglaterra, Dina-

marca, Suécia, Polónia, França, Itália, Rússia, Espanha, Roménia,

Áustria, Suiça, Bélgica, Estados Unidos, Austrália, Canadá, Japão,

Coreia do Sul, Singapura, Taiwan, Brasil, Israel, Holanda, África do

Sul, Equador, Cuba e Colômbia Dirigiu produções de ópera no

Teatro “La Fenice” e no Teatro Reggio de Torino, concertos com

as Orquestras Nacional de França, Philharmonique de Radio

France, Nacional d’Île de France, Nacional de Lille, Nacional de

Loraine, de Avignon, de Cannes e de Nantes, Orquestra Sinfónica da Arena de Verona, Orquestra

Sinfónica Tchaikovski da Rádio de Moscovo, Orquestra Filarmónica de Moscovo, Nova Orquestra

Russa, Nova Filarmonia da Vestfália, Orquestra Sinfónica de Bochum, Orquestras Filarmónicas

de Seul, Tóquio e Atenas, Orquestras Sinfónicas do Rio de Janeiro, de São Paulo, do México e de

Monterrey, Orquestra Filarmónica ”George Enescu” de Bucareste, Orquestra Estatal de Istam-

bul, Orquestra Sinfónica Bourusan (Istambul), Orquestra Sinfónica Presidencial de Ancara,

entre outras O seu repertório é vasto e ilustrativo de uma variedade de estilos, do clássico e do

romântico ao contemporâneo Efetuou inúmeras gravações, incluindo as sinfonias completas de

Mahler num conjunto de 15 CDs, as sinfonias completas, aberturas, Requiem alemão e concertos

para piano de Brahms, a Sinfonia Alpina de Richard Strauss, Sheherazade de Rimski-Korsakov, as

sinfonias completas de Scriabin, a totalidade dos concertos para piano de Beethoven, o concerto

para orquestra e O Mandarim Maravilhoso de Bartók, o Requiem de Verdi e excertos de Il trovatore,

Rigoletto, Un ballo in maschera, La forza del destino, entre outras obras, para as etiquetas Balkanton

e Pentagon (Bulgária), Elan (EUA), Capriccio Delta (Alemanha), Mega-Music,(Holanda) e Gega-

-New (Bulgária) Foi-lhe outorgado o prestigiante prémio de Músico do Ano pela Rádio Nacional

da Bulgária (1992) e o “Crystal Lyre” (2009) pelo Sindicato dos Músicos da Bulgária Foi nomeado

Homem do Ano (1992) pelo International Bibliographic Center de Cambridge e foi classificado

entre os 100 melhores profissionais de 2012, pela mesma instituição

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Irene LimaIrene Lima, natural de Lisboa, iniciou os estudos musicais com

Adriana de Vecchi e Fernando Costa na Fundação Musical dos

Amigos das Crianças Estudou em Paris com André Navarra e

Philippe Muller Apresentou-se a solo com orquestra e em forma-

ções de câmara em vários países, designadamente Espanha,

França, Bélgica, Países Baixos, Luxemburgo, Itália, Brasil e Macau

É de referir a sua atuação com a Orquestra Sinfónica da RTL, com

a qual executou o Concerto de Câmara com Violoncelo obligato de

Fernando Lopes-Graça, que lhe valeu elogiosa crítica, assim como

atuações a solo com a Orquestra Sinfónica de Macau e a Sinfonia de Varsóvia, entre outras Forma

um duo com o pianista João Paulo Santos Gravou para a EMI-Classics a Sonata para Violoncelo

e Piano, de Luís de Freitas Branco, e um disco com obras de Vivaldi, Boccherini e Bréval É atual-

mente Primeiro Violoncelo da Orquestra Sinfónica Portuguesa, lugar que ocupou igualmente

na Orquestra do Teatro Real de Liège e na Orquestra do Teatro Nacional de São Carlos Leciona

música de câmara na Escola Superior de Música de Lisboa Apresenta-se regularmente em diver-

sos festivais internacionais e temporadas de concertos, como o Festival Internacional EUROPA-

MÚSICA, em Itália, ou a Festa da Música, e com pianistas como Bruno Canino, Tânia Achot, Jorge

Moyano, Roberto Arosio, Sónia Rubinsky Filipe de Sousa e Alexandre Delgado dedicaram-lhe

obras para violoncelo solo

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Orquestra Sinfónica PortuguesaA Orquestra Sinfónica Portuguesa (OSP), criada em 1993, é um dos corpos artísticos do Teatro

Nacional de São Carlos e tem vindo a desenvolver uma atividade sinfónica própria, incluindo

uma programação regular de concertos, participações em festivais de música nacionais e

internacionais No âmbito de outras colaborações destaque-se a sua presença nos seguintes

acontecimentos: 8 º Torneio Eurovisão de Jovens Músicos, transmitido pela Eurovisão para cerca

de quinze países (1996); concerto de encerramento do 47 º Festival Internacional de Música e

Dança de Granada (1997); concerto de Gala de Abertura da Feira do Livro de Frankfurt; concerto

de encerramento da Expo 98; Festival de Música Contemporânea de Alicante (2000); e Festival

de Teatro Clássico de Mérida (2003) Colabora regularmente com a Rádio e Televisão de Portugal

através da transmissão dos seus concertos e óperas pela Antena 2, designadamente a Tetralo-

gia “O Anel do Nibelungo” transmitida na RTP2, e da participação em iniciativas da RTP como o

Prémio Pedro de Freitas Branco para Jovens Chefes de Orquestra, o Prémio Jovens Músicos-RDP

e a Tribuna Internacional de Jovens Intérpretes No âmbito das temporadas líricas e sinfónicas,

a OSP tem-se apresentado sob a direção de notáveis maestros, tais como Rafael Frühbeck de

Burgos, Alain Lombard, Nello Santi, Alberto Zedda, Harry Christophers, George Pehlivanian,

Michel Plasson, Krzysztof Penderecki, Djansug Kakhidze, Milán Horvat, Jeffrey Tate e Iuri

Ahronovitch, entre outros A discografia da OSP inclui dois CDs para a etiqueta Marco Polo, com

as sinfonias números 1, 3, 5 e 6, de Joly Braga Santos, que gravou sob a direção do seu primeiro

maestro titular, Álvaro Cassuto, e “Crossing Border” (obras de Wagner, Gershwin e Mendels-

sohn), sob a direção de Julia Jones, numa gravação ao vivo pela Antena 2 No cargo de maestro

titular seguiram-se José Ramón Encinar (1999/2001), Zoltán Peskó (2001/2004) e Julia Jones

(2008/2011); Donato Renzetti desempenhou funções de Primeiro Maestro Convidado entre 2005

e 2007 Atualmente a direção musical está a cargo de Joana Carneiro

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Miguel YisraelRecital de Alaúde O Alaúde do Rei: Música Barroca de Versalhes

5 de julho, sábado, 21h30 Convento de Santa Maria de Cós

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Programa1.ª Parte

Germain Pinel · Suite em fá maior

Prélude

La belle allemande

Courante

Sarabande

Courante

Double

Germain Pinel · Suite em ré menor

Entrée de luth

Allemande

Courante

Sarabande

Branle des frondeurs

Gigue

Germain Pinel · Suite em sol menor

Prélude

Allemande

Courante

La Savante (Sarabande)

Chaconne

2.ª Parte

Robert de Visée · Suite em ré menor

Allemande

Courante

Sarabande

Courante

Gigue

Robert de Visée · Suite em lá menor

Le Tombeau de Tonty (Allemande)

Gavotte

La Montfermeil (Rondeau)

Tombeau du Vieux Gallot (Allemande)

Chaconne

Miguel Yisrael, alaúde barroco de 11 cordas

Alaúde construído por Cezar Mateus, Princeton, E.U.A.

Apoio: Paróquia e Junta de Freguesia de Cós

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Notas à MargemTal como seu pai Luís XIII, o Rei Sol (1638 – 1715) tinha um amor indefectível pelo alaúde e, já no

fim da vida, pela guitarra O soberano teve como professores dois ilustres músicos e composito-

res que eram também prodigiosos intérpretes do alaúde: Germain Pinel e Robert de Visée Com

Pinel, Luís XIV formou-se neste instrumento de 1647 a 1659, entre os 9 e os 18 anos, e praticou-o

depois com Robert de Visée, de 1695 até à data da sua morte, entre os 57 e os 77 anos Este

programa ilustra o gosto musical do rei, devolvendo aos dois mais famosos intérpretes do alaúde

do Grande Século o lugar legítimo que estes detinham junto do monarca melómano, tanto Pinel

durante a adolescência do monarca como Visée já na última fase do seu reinado em Versalhes

Germain Pinel (c 1600 – 1661) e Robert de Visée (c 1665 – c 1732) fazem parte da história da música

francesa do período barroco Pertencentes a gerações diferentes, trata-se de duas eminentes

personagens do alaúde cujos caminhos são comparáveis Ambos disfrutaram de prestigiantes

cargos oficiais no seio dos músicos de Câmara do Rei A juntar a este título, reconhecido e reve-

renciado, Pinel teve o privilégio de ensinar alaúde ao jovem Luís XIV, enquanto o segundo benefi-

ciou da mesma posição a partir de 1695, tendo também tido oportunidade de entreter o monarca

ao som da sua guitarra durante serões privados, no final do reinado A música de ambos, refinada

e inventiva, é o reflexo estético de dois períodos importantes e distintos: o apogeu do bailado de

corte e o nascimento da ópera francesa

Germain Pinel

Alaudista e compositor francês nascido em Paris em 1600 e falecido em outubro de 1664,

Germain Pinel é filho de Pierre Pinel, também ele alaudista, como muitos outros membros da sua

família, fazendo parte de uma dinastia de músicos Germain é mencionado como alaudista pela

primeira vez em 1630 Em 1645, aos 15 anos, regressa ao serviço de Margarida de Lorena, duquesa

de Orleães Em 1647 é nomeado professor de alaúde de Luís XIV, que tinha então nove anos, cargo

que ocupou até 1656, sendo o alaudista mais bem pago da corte No mesmo ano, participou num

bailado de Lully (Psyché) com o seu irmão mais novo, François, e o seu filho mais novo, Séraphin,

ao lado de Louis Couperin e inúmeros outros músicos Germain Pinel figura na orquestra dos

bailados de Lully em 1657 e 1659 Em 1658, é compositor permanente da música do Rei No total,

Pinel compôs 78 danças e oito prelúdios sem compasso para alaúde, bem um prelúdio sem

compasso para tiorba A difusão particularmente ampla dos seus manuscritos assegura-lhe um

estatuto incomparável: é um dos maiores compositores de alaúde do século XVII

Robert de Visée

Alaudista, tiorbista, guitarrista, gambista e compositor francês nascido em 1650 e falecido em

1732 ou 1733, Robert de Visée foi provavelmente aluno de Corbetta É mencionado pela primeira

vez como tiorbista e guitarrista por Le Gallois em 1680, período em que se torna músico de

câmara de Luís XIV Em 1686, o diário do Conde de Dangeau menciona que ele toca regularmente

guitarra à beira do leito do rei, em serões privados Entre 1694 e 1705, de Visée afirma-se na corte

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de Versalhes, especialmente nos serões de Madame de Maintenon, a segunda esposa de Luís

XIV Em 1719 é oficialmente nomeado professor de guitarra do rei, embora na realidade tenha

assegurado esta posição desde 1695 Dois livros publicados para guitarra contêm um total de 12

suites e várias peças Os trabalhos de Robert de Visée para o alaúde barroco e a tiorba integram

os mesmos tipos de danças que podemos encontrar na sua música para guitarra, sendo difícil

determinar para que instrumentos as versões originais foram escritas As pontuações incluem

também vários Tombeaux e muitas melodias e arranjos de peças de Jean Baptiste Lully, Marin

Marais, Antoine Forqueray e François Couperin

Miguel Yisrael

Miguel YisraelMiguel Yisrael nasceu em Lisboa, onde começou a sua carreira artística e musical, obtendo o seu

diploma em Guitarra Clássica em 1994 Entre 1999 e 2004, depois de estudar alaúde no Conser-

vatório de Paris com Claire Antonini, Miguel Yisrael completou a sua educação musical com

Hopkinson Smith, em Basileia, Suíça, na Schola Cantorum Basiliensis Como solista, Miguel Yisrael

deu recitais em França, Portugal, Reino Unido, Alemanha, Bélgica, Suíça, China, Canadá e EUA

Em 2000, participou num documentário televisivo dedicado ao alaudista Hopkinson Smith,

emitido pelos canais Mezzo, Classica, RTBF e TSR Miguel Yisrael gravou três CDs a solo para

a editora holandesa Brilliant Classics em 2008, 2010 e 2012, conquistando um “Diapason d’Or

Découverte” pelo CD “The Court of Bayreuth” e um “5 Diapason” pelo CD “Les Baricades Mistérieu-

ses” Faz parte, desde maio de 2013, da Antologia da música de alaúde “Awake, Sweet Love” para a

editora holandesa Brilliant Classics É também autor de um grande tratado sobre alaúde barroco,

publicado em Itália pela Ut Orpheus em 2008 Em 2010, criou para a mesma editora uma nova

coleção de partituras de música para alaúde barroco chamado “La Rhétorique des Dieux” Miguel

Yisrael toca com alaúdes construídos por Cezar Mateus, Princeton, EUA Atualmente vive e

ensina alaúde renascentista e barroco em Paris

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Banda Sinfónica de AlcobaçaRui Carreira, direção

6 de julho, domingo, 11h00 Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça Claustro do Rachadouro

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Programa1.ª Parte

Ernest Guiraud · Carnaval da Suite para Orquestra n.º 1

(transcrição de Laurent Arandel)

Steve Winstead · Dancing with animals

I. Fanfarra Introdutória

II. Hipopótamo

III. Canguru

IV. Vaca

V. Elefante

VI. Lagarto

Camille Saint-Saëns · Suite d’O Carnaval dos Animais

(arranjo de Geoffrey Brand)

I. Introdução e Marcha Real dos Leões

II. O Elefante

III. O Cuco ao Longe no Bosque

IV. Fósseis

V. O Cisne

VI. Final

Com a participação da Academia de Dança de Alcobaça

Luís Sousa, Eliana Mota e Rita Abreu, coreografia

2.ª Parte

Richard Strauss · Assim Falou Zaratustra (Introdução)

(transcrição de R Mark Rogers)

Eugénio Rodrigues · Tágides ESTREIA MUNDIAL*

Richard Strauss · Allerseelen

(arranjo de Albert O Davis)

Antero Ávila · Flashback to a Dream

Paul Hindemith · Marcha das Metamorfoses Sinfónicas sobre Temas de Carl Maria von Weber

(transcrição de Keith Wilson)

*Obra encomendada pelo Cistermúsica

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Notas à MargemEste concerto tem dois eixos musicais: no primeiro, os dois “atores” – banda e grupo de dança –

interpretam música francesa de final do século XIX e música de um jovem compositor americano;

no segundo, a banda a solo executa música alemã e de dois jovens compositores portugueses

Na primeira parte é apresentada uma dupla perspetiva de música descritiva baseada numa

mesma temática: “animais” Pode-se afirmar que a obra de Saint-Saëns, embora 120 anos anterior

à obra de Winstead, serviu de inspiração a este jovem compositor americano tanto na temática

como na forma e, em parte, no humor da linguagem utilizada Pela perspetiva da dança, é dada

oportunidade ao público de apreciar a recriação dessas estórias contadas com mais de um

século de intervalo

A abrir o concerto, o 4 º andamento da Suite n º 1 de Ernest Guiraud, um contemporâneo de Sain-

t-Saëns, foi transcrito pela pena do igualmente francês Laurent Arandel; trecho que nos permite

imaginar os mais diversos cenários, desenrolando-se por vezes em catadupa num divertido

desfile de Carnaval que é o prelúdio ideal para as obras que se seguem

Tendo como pano de fundo uma das temáticas deste festival, pretende-se homenagear Richard

Strauss nos 150 anos do seu nascimento Assim falava Zaratustra é um poema sinfónico composto

em 1896, que se tornou mundialmente conhecido desde que Stanley Kubrick usou a sua introdu-

ção como banda sonora do filme “2001 Odisseia no Espaço” (1968) Allerseleen é a última canção

do ciclo Oito Poesias de Hermann von Gilm, inicialmente escrita para voz com piano e posterior-

mente transcrita pelo autor para voz e orquestra Ao ouvir esta canção num recital, Albert Davis

apaixonou-se por ela e propôs-se, com o incentivo do maestro Frederick Fennell, utilizar as ideias

base de Strauss para escrever uma obra mais longa e com um efetivo instrumental maior, sem

voz Escrevendo esta obra para banda, acrescentou-lhe uma secção central onde desenvolveu as

ideias base da canção de Strauss, terminando do mesmo modo que ela Nas palavras de Fennell,

“esta é a obra para Banda que Strauss não escreveu”

As composições de Weber para sopros de madeira, nomeadamente o clarinete, bem como o

Concertino para Trompa e Orquestra, ocupam um lugar relevante no repertório musical dos

dias de hoje Hindemith apreciava e tocava com frequência a música de Weber Inicialmente

foi-lhe proposto que transcrevesse várias músicas de Weber para a criação de um ballet que

redundou, após alguns revezes, numa obra orquestral com quatro andamentos, Metamorfoses

Sinfónicas sobre temas de Carl Maria von Weber, que termina com a Marcha que será ouvida

neste programa

Para o desenvolvimento das bandas em Portugal nas duas últimas décadas, tem contribuído de

forma muito relevante a crescente formação quer dos instrumentistas, quer dos compositores,

estando ambas umbilicalmente ligadas Com o aumento da formação, os músicos manifestam a

necessidade de tocar repertório que explore diferentes estilos e formas Os compositores, por seu

lado, face à melhoria do nível das bandas e vendo as formações instrumentais de elevada quali-

dade técnica, tímbrica e expressiva em que estas se tornaram, capazes de tocar repertório com a

mesma qualidade que qualquer orquestra sinfónica, sentem-se aliciados a escrever para elas

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É neste contexto que surgem as obras Tágides (ver breve nota de Eugénio Rodrigues) e Flashback

to a Dream. Esta última foi escrita em 2012 pelo compositor terceirense Antero Ávila Embora

utilizando uma escrita perfeitamente mensurada, a forma, as técnicas de escrita e os efeitos

conseguidos evidenciam características de modernidade, conseguindo fazer com que os

diferentes flashbacks/regressos, alternados com pequenas secções melódicas, nunca deixem de

captar a atenção do ouvinte do princípio ao fim da peça

Rui Carreira

Eugénio Rodrigues: Tágides

Desde criança que o mundo sonoro das bandas me fascina pela energia, pelo volume, pelo

estado de espírito celebratório e de exaltação que consegue transmitir Foi esse estado celebra-

tório que encontrei na invocação de Camões às musas do Tejo, as Tágides, e que tentei transmitir

através da música

E vós, Tágides minhas, pois criado

Tendes em mi um novo engenho ardente,

Se sempre, em verso humilde, celebrado

Foi de mi vosso rio alegremente,

Dai-me agora um som alto e sublimado,

Um estilo grandíloco e corrente, …

Dai-me uma fúria grande e sonorosa,

E não de agreste avena ou frauta ruda,

Mas de tuba canora e belicosa,

Que o peito acende e a cor ao gesto muda

(Os Lusíadas, canto I, 4-5)

Eugénio Rodrigues

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Eugénio RodriguesEugénio Rodrigues nasceu na Lousã, onde começou a tocar música tradicional no acordeão,

ainda jovem, e durante a sua adolescência tocou bateria numa banda de rock local Nos Estados

Unidos fundou e dirigiu um conjunto de música tradicional portuguesa, “Os Romeiros”, que

atuou por toda a área da Nova Inglaterra, enquanto trabalhava como mecânico de automóveis

Mais tarde enveredou por uma carreira em composição musical e estudou na Western Connec-

ticut State University (1989), na Yale School of Music de Verão (1990), na Universidade de Duke

(1993) e no Conservatório Real de Música, em Haia, na Holanda (1994) Estudou composição

com Louis Andriessen, Martin Bresnick, Scott Lindroth, Richard Moryl e Howard Rovics Em

1994 foi premiado com o 1 º Prémio no Concurso Internacional de Washington para Composi-

tores pelo seu quarteto de cordas Mata Hari e recebeu uma menção honrosa no Concurso de

Composição Coral Roger Wagner em 1993 pela sua obra coral Matutinal A sua obra Dança foi

selecionada para o festival ISCM World Music Days 1995 em Essen, Alemanha A sua música tem

sido apresentada e encomendada por instituições e agrupamentos como a Companhia Nacional

de Bailado, American Dance Festival, Arditti Quartet, Ciompi Quartet, Chicago Ensemble, Dale

Warland Singers, Ives Chamber Orchestra, Minneapolis Vocal Consort, New Jersey Percussion

Ensemble, Schola Cantorum de Oxford, Coro Ricercare, Quarteto Lacerda, Expo 98, Cistermúsica

e Fundação Gulbenkian, entre outros Tem recebido o apoio generoso de instituições como

a Jerome Foundation, Meet the Composer, Phillip Morris Companies, American Composers

Forum, National Endowment for the Arts, The Pew Charitable Trusts, The Helen W Buckner Trust

e da Fundação Luso-Americana As suas obras têm sido apresentadas na Europa e nos Estados

Unidos, incluindo na Galeria Corcoran de Washington D C e no Lincoln Center de Nova York A

sua obra Oda al mar y otras odas foi encomendada e estreada na Expo’98 Na primavera de 1999

a Companhia Nacional de Bailado estreou seu trabalho de dança Tormenta e Harmonia, escrito

em colaboração com o coreógrafo Israelita Hillel Kogan O festival Cistermúsica encomendou e

estreou em 2002 a obra Fontis amorum para soprano e orquestra de cordas, com base na temá-

tica de Inês de Castro O oboísta Andrew Swinnerton encomendou e estreou Escape Velocity

na temporada da Gulbenkian de Música de Câmara Trabalhos recentes incluem Telúrico para

barítono e orquestra de câmara, Bascia mille para vozes contralto, percussão, harpa e cordas,

El Vino para voz e quarteto de saxofones, Olhos d’Ouro para vozes contralto e orquestra, e Fado

para instrumento solo (clarinete em mi bemol, corno di bassetto, saxofone tenor ou violoncelo),

cordas, percussão e celeste Atualmente está a compor Oriana, uma ópera baseada no conto A

Fada Oriana de Sophia de Mello Breyner Andresen As suas obras estão gravadas nas editoras

Etcetera e Hyperion Records

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Banda Sinfónica de AlcobaçaA Banda Sinfónica de Alcobaça teve, na sua origem, um agrupamento musical composto apenas

por instrumentos de metal que se chamava Fanfarra Alcobacense e cuja atividade durou de

1900 a 1912, tendo alcançado um alto nível artístico-musical que lhe valeu o honroso título de

Real Fanfarra Alcobacense, concedido pelo rei D Carlos e pela rainha Dona Amélia Fundada

em 19 de março de 1920, durante quase 40 anos a Banda de Alcobaça (BA) levou a sua música a

inúmeras localidades, atuando numa vasta área do território nacional Depois de um interregno

de 28 anos, voltou à atividade em janeiro de 1985, graças ao empenho de um grupo de alcoba-

censes que criou para o efeito uma escola de música, cujos frutos permitiram à BA afirmar-se

no panorama musical português, não só pela qualidade dos seus jovens músicos, mas também

pelo repertório executado, mais próximo de uma orquestra de sopros ou mesmo de uma banda

sinfónica do que de uma banda filarmónica tradicional Destaque-se a participação da BA no

“Concurso de Bandas do Ateneu Vilafranquense”, desde a primeira edição, única competição

de bandas filarmónicas a nível nacional, onde nas últimas duas edições, venceu a 2 ª catego-

ria (2010) e conquistou o 2 º Lugar na 1 ª Categoria (2012), bem como a gravação de um disco

comemorativo dos 90 anos da fundação da BA, com algumas das obras mais emblemáticas que

executou nos últimos anos A Banda Sinfónica de Alcobaça (BSA) foi recentemente selecionada

para o Certame Internacional de Bandas de Música “Ciudad de Valencia” 2014 (Espanha), um dos

mais relevantes do género a nível internacional A participação da BSA nesta importante compe-

tição com mais de 100 anos de história terá lugar a 17 de julho deste ano no Palau de la Música,

um dos mais emblemáticos espaços culturais daquela cidade espanhola, confirmando não

só o dinamismo atual deste agrupamento musical, mas também o nível de qualidade que tem

atingido A BSA ultimou agora a gravação ao vivo de várias obras que integrarão um CD dedicado

unicamente a repertório para solistas que será lançado em breve, projeto que pretende ampliar

o apoio da BSA à formação de jovens músicos, criando as condições para que estes toquem e

gravem a solo, experiência que normalmente lhes é algo inacessível A atual temporada da BSA

tem o apoio da Direção-Geral das Artes

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Rui CarreiraRui Carreira, natural de Leiria, começou a estudar Direção Coral com Eli Camargo, em 1990 Poste-

riormente teve aulas de Técnicas de Ensaio e Direção Coral com Edgar Saramago Paralelamente

frequentou Cursos Internacionais de Direção Coral em Espanha e Portugal sob orientação de

Lluis Virgili, Montserrat Rios, Maite Oca, Josep Ramon Gil, Ger Hovius, John Ross, Vianey da Cruz,

Alain Langrée e Hübert Velten Frequentou, de 1999 a 2004, o Curso de Direção de Orquestra em

Dijon (França) e, de 2004 a 2007, os Estágios Internacionais de Direção de Orquestra de Leiria,

ambos sob orientação de Jean-Sébastien Béreau Atualmente é mestrando em Música no Curso

de Direção de Orquestras de Sopros Fundou e dirigiu o Coro da Casa de Pessoal do Hospital de

Santo André (Leiria) entre 1993 e 1997 Colaborou com os maestros Paulo Lourenço e Mário Nasci-

mento e na Direção dos Corais Misto e Masculino do Orfeão de Leiria de 2000 até 2007 Em 2005

colaborou com o maestro Pedro Figueiredo na Direção do Coro de Câmara da Escola de Música

do Orfeão de Leiria, assumindo as funções de Maestro Titular em 2006 e 2007 Em 2007 dirigiu

a OML Júnior no Concerto de Aniversário da Orquestra Metropolitana de Lisboa (OML) Em

2007 e 2008 dirigiu os X e XI Cursos de Aperfeiçoamento para Jovens Músicos promovidos pela

Federação de Bandas do Distrito de Leiria e INATEL Em 2008 dirigiu o 1 º Estágio de Orquestra

de Sopros e Percussão, em Ponta Delgada, numa parceria entre a OML e o Conservatório local

Dirigiu também a Orquestra de Sopros da OML Júnior nos projetos “1001 Músicos” e “Música

nas Praças” Entre 2008 e 2010 colaborou com o maestro Jean-Sébastien Béreau na direção da

Orquestra Sinfónica de Leiria De 2009 a 2011 dirigiu em concerto, no âmbito do Mestrado em

Direção de Orquestra de Sopro, as Bandas Sinfónicas da PSP, da GNR e do Exército, sob a orienta-

ção, respetivamente, dos Maestros F Hauswirth, J S Béreau e M Fennell Em 2011 dirigiu o Grupo

de Música Contemporânea de Lisboa, estreando obras de três compositores portugueses Desde

2002 é maestro da Banda de Alcobaça e desde 2006 dirige os workshops de Páscoa e de verão

para Sopros e Percussão da OML Dirige ainda o “CcC – Coro de Câmara Colliponensis” de Leiria

desde a sua fundação em 2007

Academia de Dança de AlcobaçaA Academia de Dança de Alcobaça (ADA) é a designação dada aos cursos de dança ministrados

na Academia de Música de Alcobaça (AMA), uma escola de ensino especializado de música

e dança, autorizada pelo Ministério da Educação (ME) desde o ano de 2002 Com um corpo

docente composto por cerca de 100 professores, a AMA é frequentada por 600 alunos nos

Cursos de Iniciação, Básico e Secundário de Música e Dança Para além de outras atividades, é

de destacar a conquista pela ADA de uma dezena de prémios em competições como a Semana

Internacional de Bailado do Porto (2013), a Leiria Dance Competition (2012 e 2013) e o Festival de

Dança de Viana do Castelo (2012)

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Quarteto Alfama BÉLGICA

Quarteto de Cordas Viena – Londres – Paris

6 de julho, domingo, 19h00 Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça Celeiro

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Programa1.ª Parte

Ludwig van Beethoven · Quarteto n.º 3 em ré maior, op 18 n º 3

I. Allegro

II. Andante con moto

III. Allegro

IV. Presto

Anton Webern · Langsamer Satz

2.ª Parte

Benjamin Britten · Alla Marcia

Claude Debussy · Quarteto de Cordas em sol menor

I. Animé et très décidé

II. Assez vif et bien rythmé

III. Andantino, doucement expressif

IV. Très modéré - Très mouvementé

Quarteto AlfamaElsa de Lacerda, violino

Céline Bodson, violino

Tony Nys, viola

Renaat Ackaert, violoncelo

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Notas à Margem

Ludwig van Beethoven: Quarteto n.º 3 em ré maior

Para Beethoven (Bona, 17 de dezembro de 1770 – Viena, 26 de março de 1827) havia algo de intimi-

dante em géneros como o quarteto e a sinfonia, por serem a suprema especialidade de Haydn,

o maior compositor vivo Por isso, só ao aproximar-se dos trinta anos escreveu os primeiros

quartetos, a primeira sinfonia

Os seis quartetos opus 18 foram compostos entre 1798 e 1800 e são dedicados ao Príncipe

Lobkowitz, incansável defensor e propulsionador da carreira de Beethoven Embora próximos

de Haydn e Mozart, já são um manifesto de uma nova época O terceiro da série, em ré maior,

foi escrito primeiro que os outros e com ele Beethoven mostrou estar em busca de um novo

conceito de música de câmara, de maior fôlego e com proporções mais vastas No seu longo tema

inicial, que parece ter toda a calma do mundo, repare-se no grande salto com que o 1 º violino

começa, como quem se lança pelo ar e depois plana sonhadoramente, amparado pela calma

subida dos restantes Depois de um tema de transição com algo de impertinente, o 2 º tema

começa numa tonalidade inortodoxa (dó maior, num andamento em ré maior) O desenvolvi-

mento, tipicamente beethoveniano, é veemente e temperamental, usando com grande clareza

os dois temas principais e o tema de transição, para culminar numa furiosa explosão (um acorde

de dó sustenido menor) que deixa a terra em tumulto; entre a poeira, brota o tema inicial na

tónica, qual fénix renascida, momento mágico do andamento

No Andante con moto o tema principal é apresentado pelo 2 º violino, que toca a voz superior

enquanto o 1 º violino toca uma voz mais grave; inversão de papéis que vinca a concepção do

quarteto de cordas como um conjunto de quatro parceiros em pé de igualdade A estrutura do

andamento é difícil de definir: o mesmo tema regressa cinco vezes em evoluções contínuas,

exemplo beethoveniano de metamorfose e densificação progressivas de um único tema, num

clima de cálido lirismo que termina com um exemplo de liquidação temática – o tema vai sendo

cortado e encurtado até se desfazer em nada

Embora designado como minueto, o terceiro andamento é um scherzo rápido e curtíssimo,

com trio ou secção central no modo menor (ré menor) Beethoven usa um procedimento que

se tornará uma regra nas suas sinfonias: escreve por extenso o da capo (ou seja, o regresso da

primeira parte do andamento), permitindo-se fazer variantes As dinâmicas vão de piano a

pianíssimo e pouco mais, neste scherzo sussurrante e misterioso

Os cadernos de esboços de Beethoven levam a crer que o último andamento, Presto, foi escrito

bastante tempo depois dos outros, mostrando um grau superior de elaboração Num ritmo quase

frenético de tarantela, Beethoven explora o espaço sonoro com um afã experimentalista, usando

as mesmas células de base em todas as combinações, densidades e tessituras possíveis, como

um pintor que não deixa um milímetro da tela por preencher Beethoven parece ter querido

deslocar o centro de gravidade do quarteto para o fim, numa forma-sonata que é um verdadeiro

“tour de force” e confirma o novo grau de ambição que quis imprimir ao género

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Anton Webern: Langsamer Satz

Nascido em Viena a 3 de dezembro de 1883 e falecido em Mittersill a 15 de setembro de 1945,

Anton Webern estaria longe de imaginar que o seu nome viria a ser usado como bandeira de

cerebralismo vanguardista depois da 2 ª Guerra Mundial: nada podia estar mais longe do espírito

contemplativo e próximo da natureza desse austríaco A recusa de retórica e de ornamentação

faz da sua obra o caso mais espantoso de concisão da história da música: toda reunida dura

pouco mais de três horas, alguns dos seus trechos quase não ultrapassam os trinta segundos

Webern teve as primeiras aulas de piano com a mãe e chegou a pensar tornar-se violoncelista

Depois de estudar musicologia com Guido Adler na Universidade de Viena, em 1904 tornou-se

aluno particular de Arnold Schönberg, à semelhança do seu colega Alban Berg Este trio, que

veio a ser conhecido como a “Segunda Escola de Viena” – por paralelo com a “Primeira”, consti-

tuída por Haydn, Mozart e Beethoven –, representaria uma das correntes mais importantes da

música do século XX Schönberg, que deu o salto para a atonalidade em 1908 (ao mesmo tempo

que Kandinsky se lançava na pintura abstrata), definiu em 1921 as novas regras do “método de

composição com doze sons” ou sistema serial dodecafónico, que Webern e Berg partilhariam de

forma muito pessoal

Forçado durante boa parte da sua carreira a dirigir operetas, Webern era pouco conhecido como

compositor quando morreu aos 52 anos, alvejado acidentalmente por um soldado americano

Foi com fascínio que a nova geração vanguardista (a chamada “Escola de Darmstadt” de Boulez,

Stockhausen e Nono) descobriu a sua música e a usou como fonte de inspiração do chamado

“serialismo integral”

O Langsamer Satz (“andamento lento”) que hoje ouviremos é uma obra de juventude romântica e

tonal, que só foi publicada vinte anos depois da morte do compositor Escrita em junho de 1905, é

uma forma-canção (ABA) em dó menor, influenciada por Brahms, com grande riqueza polifónica

e emotividade

Benjamin Britten: Alla marcia

Nascido em Lowestoft a 22 de novembro de 1913 e falecido em Aldeburgh a 4 de dezembro de

1976, Benjamin Britten é um compositor do século XX cuja música entrou no cânone perma-

nente da vida musical, nomeadamente com óperas como Peter Grimes ou The Turn of the Screw

e obras como Les illuminations, War Requiem ou o célebre Young Persons’s Guide to the Orchestra,

entre muitas outras

Aluno de Frank Bridge e de John Ireland, Britten – que foi também um excelente pianista –

chamou a atenção do meio londrino com a sua Sinfonietta em 1932, firmando a sua reputação

cinco anos depois com as Variações sobre um tema de Frank Bridge Entre 1939 e 1942 viveu nos

Estados Unidos, onde a sua Sinfonia da Requiem foi estreada no Carnegie Hall sob a direcção de

Barbirolli De regresso ao país natal, Britten instalou-se em Aldeburgh, na costa do Mar do Norte,

aí criando com o tenor Peter Pears (seu companheiro de toda a vida) um festival de grande

reputação Da sua produção vastíssima e multiforme, construída com o espírito laborioso do

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artesão-artista, a ópera ganharia especial destaque a partir do impacto internacional de Peter

Grimes em 1945

Britten teve sempre a preocupação de escrever para um vasto público sem sacrificar a qualidade

A sua produção, essencialmente tonal mas não “neoclássica”, pretende, mais do que reencontrar

cânones do passado, criar uma nova tradição a partir dessas raízes, o que no caso do Reino Unido

foi decisivo para dar à música do país um estatuto universal que ela perdera desde a morte de

Henry Purcell em 1695

Escrito antes de completar 20 anos, em 1933, Alla marcia é um trecho para quarteto de cordas que

Britten chegou a pensar como primeiro andamento de uma obra intitulada Alla quarteto serioso,

da qual desistiu e só aproveitou três outros andamentos, a que chamou “Três Divertimentos

para Quarteto de Cordas” (1936) Alla marcia, publicada postumamente, partilha o mesmo tipo

de linguagem desses divertimentos, caracterizada por uma verve juvenil A sua progressão de

acordes tonais é contrariada por uma nota dissonante da melodia do violino, com um misto de

elegância e impertinência

Claude Debussy, Quarteto de Cordas em sol menor

Nascido em Saint-Germain-en-Laye em 1862 e falecido em Paris em 1918, Claude Debussy fez

os mais rigorosos estudos académicos antes de ser tornar um libertino musical Aluno durante

12 anos do Conservatório de Paris, recebeu o Prix de Rome que o levou até à Villa Medici em

Roma; mas depois desse primeiro capítulo institucional, a sua carreira tornou-se um manifesto

contra o academismo Quebrando as regras escolásticas, o Prelúdio à Sesta de um Fauno foi em

1894 a proclamação orquestral dum novo estilo musical que, por analogia com a pintura, ficou

conhecido como estilo impressionista Nas últimas décadas do século XX tornou-se de bom tom

preferir a designação “simbolista”, mas Debussy detestaria que lhe colassem qualquer etiqueta

Embora na sua música haja paralelos com essas duas correntes, a sua atitude artística também

tem muito a ver com a voluptuosa liberdade orgânica do estilo Arte Nova, que florescia em Paris

na mesma época Mestre do arabesco, Debussy afirmou (nos deliciosos escritos de Monsieur

Croche) que o princípio do “ornamento” é a base de todas as formas de arte, ao mesmo tempo

que elevava o “prazer do ouvido” a supremo ditame musical, algo que também o aproxima do

hedonismo dos decadentistas

O Quarteto de Cordas em sol menor op 10, escrito aos 30 anos, é simultaneamente uma demons-

tração de capacidade técnica e um manifesto de liberdade Debussy mostrou ser capaz de conce-

ber uma arquitetura cíclica à maneira de César Franck – nomeadamente uma obra de música

pura em quatro andamentos, unificada por um tema “cíclico” – ao mesmo tempo que proclamava

uma nova lógica do discurso musical que privilegia a liberdade e o deleite sonoro, criando um

novo paradigma do quarteto de cordas de que o século XX seria herdeiro

O primeiro andamento (“Animado e muito decidido”) abre com o tema cíclico num gesto arre-

batado, exemplo de arabesco pela sua plasticidade rítmica e pelo pequeno ornamento que é o

seu traço mais marcante Uma segunda ideia pentatónica, cantada pelo violino, deriva também

do tema cíclico e é acompanhada por uma textura evanescente típica do impressionismo (essa

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ideia não reaparece, sendo como que pulverizada ao longo do andamento) Igualmente oriundo

do tema cíclico, o verdadeiro “2 º tema” surge (inortodoxamente) durante o desenvolvimento

desta forma sonata, que inclui páginas de um esplendor quase orquestral

O segundo andamento (“Bastante vivo e bem ritmado”) abre com a violeta a repetir o tema cíclico

obsessivamente, como que numa ronda Este andamento, com carácter de scherzo mas com

uma estrutura mais livre, vive sobretudo do timbre e das texturas: a oposição pizicato-arco fica

explícita desde o início, com a violeta a responder em arco aos acordes aguitarrados do violino e

do violoncelo; sobre o desenho cíclico que se repete surda e obstinadamente, os pizicatos criam

uma teia inefável que opõe ritmos binários e ternários, com uma sensação de lúdica liberdade

Uma lufada aquática traz outra versão do tema cíclico, que se espraia no violino sobre uma

textura turbilhonante, espécie de trio-relâmpago

O terceiro andamento (“Andantino, docemente expressivo”) banha-nos num clima noturno,

com as surdinas a dar aos instrumentos uma cor velada, numa tonalidade repleta de bemóis (ré

bemol maior) Prenunciado pelo 2 º violino e pela violeta, o tema principal surge no 1 º violino,

com uma melancolia recolhida; é dele que deriva o tema da secção central do andamento, um

pouco mais rápida Os parentescos com o tema cíclico tornam-se mais evidentes e são confirma-

dos por uma melodia particularmente expressiva O regresso da secção inicial é condensado e

tem redobrada melancolia, diluindo-se etérea e apaziguadamente nos compassos finais

O último andamento (“Muito moderado”) leva mais longe a liberdade formal e harmónica, num

momento de recapitulação e de síntese que ilude quaisquer vestígios da forma sonata A intro-

dução glosa o tema cíclico como quem improvisa, com encadeamentos harmónicos ousados

Depois dum silêncio, a violeta lança um novo tema derivado do tema cíclico, acompanhado por

sibilinas quintas paralelas (“muito agitado”) Em vez de construir blocos como nos 1 º e 2 º anda-

mentos, Debussy vai transformando imperceptivelmente as ideias em outras ideias, incluindo

alusões ao scherzo. Em vez desenvolvimento e reexposição, há um encadeamento de texturas

e atmosferas ligadas por uma ideia comum, como um prisma em rotação A única “concessão” à

tradição é o acorde de sol maior com que tudo termina

Esta obra foi estreada pelo Quarteto Ysaye em dezembro de 1893, na bastante conservadora

Societé Nationale de Musique em Paris, onde recentemente se haviam estreado os quartetos

de cordas de César Franck e Vincent d’Indy Causou grande estranheza, mas um dos críticos foi

perspicaz a avaliar a sua importância: chamava-se Paul Dukas

Alexandre Delgado

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Quarteto AlfamaO Quarteto Alfama é uma das mais destacadas jovens formações da paisagem musical belga,

tendo como marcas a subtileza, a elegância e o dinamismo O grupo seguiu os ensinamentos de

Walter Levin do Quarteto LaSalle e de Rainer Schmidt do Quarteto Hagen, de Eberhard Feltz e

dos membros do Quarteto Danel Em 2011 o Quarteto Alfama lançou o seu terceiro CD, Quarte-

ttesatz, na etiqueta Fuga Libera, acolhido unanimemente pela crítica belga e internacional A

formação prepara ainda um disco que será inteiramente dedicado a Schumann O Quarteto

Alfama tem-se multiplicado em compromissos na Bélgica (Festival de Stavelot, Salle Philharmo-

nique de Liège, Flagey, Ostbelgienfestival, Festival de Wallonie) e no estrangeiro (Auditorium du

Musée d’Orsay, Opéra de Bordeaux, Festival du Périgord Noir, Jeudis musicaux de Royan, Festival

de Sully/Loire), nomeadamente na companhia do jovem pianista francês Guillaume Coppola,

do pianista Julien Libeer, da meio-soprano Albane Carrère ou ainda da violoncelista Camille

Thomas O Quarteto Alfama tem o apoio da Comunidade Musical da Bélgica e da Tournées Arts

et Vie Com a atriz Ariane Rousseau, criaram Le Rêve d’Ariane Delicado e com uma clareza rara,

este espetáculo permite às crianças a descoberta do quarteto de cordas, sem dúvida a mais

prodigiosa e misteriosa formação da história da música Este espetáculo irá levá-los na próxima

temporada às Óperas de Dijon e de Bordéus, à Cité de la Musique de Paris e à Filarmonia do

Luxemburgo

Elsa de LacerdaVIOLINO

Elsa de Lacerda começou os seus estudos musicais aos 7 anos de idade com Nadine Wains

Vencedora premiada dos concursos Charles de Bériot, Jeunes Talents, Jeunes Solistes, Horlait

Dapsens, venceu também, aos 15 anos, o concurso Crédit Communal (hoje em dia Axion Classics)

que lhe deu a oportunidade de tocar como solista com a Orquestra Filarmónica de Liège, sob

a direção de Pierre Bartholomée Estudou depois com Jerrold Rubenstein Em 1994, após uma

audição no Conservatório Nacional Superior de Música de Paris, foi admitida entre os oito fina-

listas europeus que subiram ao palco do “Eastern Music Festival” na Carolina do Norte, EUA Em

1998 ganhou uma bolsa de estudos para a Accademia Chiggiana de Siena, em Itália, com Boris

Belkin No Conservatório Real de Música de Bruxelas, obteve o seu Diploma Superior de violino

com a mais alta distinção na classe de Endré Kleve Detém igualmente um 1 º Prémio de Música

de Câmara e Violino, obtido com a mais Alta Distinção Depois de terminar os seus estudos em

2003, Elsa de Lacerda dedica-se ao estudo do Quarteto de Cordas, apresentando-se na Bélgica e

no exterior: Palais des Beaux-Arts, Flagey, Académie de Saintes, Palácio Real de Bruxelas, Festival

de Stavelot, Festival de Midis-Minimes, Radiodifusão Portuguesa, etc Elsa de Lacerda apresenta e

produz programas de rádio de música clássica na Musiq’ 3, RTBF

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Céline BodsonVIOLINO

Céline Bodson começou a tocar violino aos 5 anos de idade Depois de cursar humanidades

artísticas, estudou violino no Conservatório de Maastricht e música de câmara no Conservatório

de Liège Prosseguiu a sua formação através de várias masterclasses na Bélgica e no estrangeiro

com, entre outros, L Prunaru, P Hirschhorn e H Krebbers Obteve o mestrado na classe de M

Kugel no Conservatório de Gand e especializou-se no ensino de violino para crianças Criou a

escola de violino Twinkle em Bruxelas, que inicia as crianças neste instrumento com a idade

de 4 anos Apaixonada pela música de câmara, multiplica as oportunidades de atuar em trio

(fundou o trio Sarrasine), quarteto e quinteto Aprofundou os seus conhecimentos de repertório

com Eberhard Feltz, Heime Müller e membros do Quarteto Danel, que lhe transmitiram a sua

paixão pelo quarteto de cordas Decide então dedicar-se ao quarteto de cordas e é, desde 2008,

2 º violino do Quarteto Alfama É membro da Fundação Carlo van Neste que apoia o percurso

profissional de jovens artistas Céline Bodson toca com um violino do luthier belga Matthieu

Devuyst datado de 2009, o “Valentine”

Tony NysVIOLA

Tony Nys iniciou a sua carreira musical aos cinco anos de idade, na classe do violinista Tomiko

Shida Prosseguiu os seus estudos no Koninklijk Conservatorium de Bruxelas junto de Clemens

Quatacker e Philippe Hirschhorn 1 º violino do quarteto de cordas Fétis entre 1994 e 1997,

frequentou masterclasses dos quartetos Alban Berg, Borodin e Amadeus Desde então, o mundo

da música de câmara tornou-se-lhe familiar Como violinista do Quarteto Danel, entre 1998

e 2005 viajou pelo mundo participando em festivais, gravações e na interpretação de peças

contemporâneas inéditas Dividiu o palco com inúmeros artistas e formações de renome,

incluindo o Quarteto Borodin, o Quarteto Brodsky, o Quarteto Petersen, Vladimir Mendelssohn,

Garth Knox, Gérard Caussé e Frank Braley Com um interesse especial pela música contem-

porânea, Tony Nys tem colaborado com compositores como Helmut Lachenmann, Wolfgang

Rihm e Pascal Dusapin Com o Quarteto Danel, lecionou na Universidade de Witten-Herdecke,

na Alemanha, e no CNSM de Lyon Desde 2005, participa regularmente como free-lancer em

vários ensembles, tais como Prometheus, Ictus, Ensemble Modern, Explorations, Trio Fenix ou

TertraLyre Como músico de orquestra, Tony Nys ocupa o lugar de violino solo na Orquestra

Sinfónica de la Monnaie desde 2007 Foi igualmente convidado para o mesmo lugar no seio da

Frankfurter Rundfunkorchester Ensina violino e música de câmara no Koninklijk Conservato-

rium de Bruxelas e na Fontys Hogeschool voor de Kunsten em Tilburg

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Renaat AckaertVIOLONCELO

Renaat Ackaert fez os seus estudos musicais no Conservatório de Gand, onde obteve o diploma

de mestrado na classe de violoncelo de France Springuel Especializou-se depois em Antuér-

pia, na classe de Ilia Laporev Venceu o concurso “Jong Tenuto” e ganhou o Primeiro Prémio

no Concours National du Crédit Communal (Axion Classics) É chefe de naipe na Orquestra

Sinfónica de Flandres e trabalhou com várias orquestras e formações, incluindo a Beethoven

Academie e I Fiamminghi Como músico de câmara, frequentou cursos de mestrado sob a dire-

ção de Alexander Lonquich em Itália Adquiriu grande experiência com o Quarteto Con Spirito, o

Trio Feniks e o Ensemble Walter Boeykens Renaat Ackaert é atualmente professor de violoncelo

e ensemble instrumental e chefe de orquestra do Ensemble Da Capo

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Cappella Musical Cupertino de MirandaLuís Toscano, direção artística

11 de julho, sexta-feira, 21h30 Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça Nave Central

Patrocínio

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Programa1.ª Parte

Enfoque no Livro dos Defuntos, manuscrito do século XVI com a cota MM34, preservado no

Fundo Musical da Universidade de Coimbra (estudo e transcrição de José Abreu)

Circumdederunt me · Bartolomeu Trosylho

Introitus (da Missa Pro Defunctis) · [Afonso Perea] Bernal

Kyrie (da Missa Pro Defunctis) · [Afonso Perea] Bernal

Gradual (da Missa Pro Defunctis) · Francisco Guerrero/[Afonso Perea] Bernal

Offertorium (da Missa Pro Defunctis) · [Afonso Perea] Bernal/Fernão Gomes

Sanctus & Benedictus (da Missa Pro Defunctis) · [Afonso Perea] Bernal

Heu mihi Domine · António Lopez

Agnus Dei (da Missa Pro Defunctis) · [Afonso Perea] Bernal

Communio (da Missa Pro Defunctis) · [Afonso Perea] Bernal

2.ª Parte

Ivan Moody · O Luce Etterna* (Dante Trilogy I) ESTREIA ABSOLUTA*

Cappella Musical Cupertino de MirandaLuís Toscano, direção artística

Cantus: Eva Braga Simões, Joana Pereira

Altus: Brígida Silva, Gabriela Braga Simões

Tenor: Luís Toscano, Pedro Marques

Bassus: Pedro Silva, Pedro Lopes

Apoio: Paróquia de Alcobaça

*Obra concebida para a Cappella Musical Cupertino de Miranda e encomendada pelo Cistermúsica

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Notas à Margem

[Afonso Perea] Bernal: Missa Pro Defunctis(Livro dos defuntos da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, MM 34)

O alinhamento da primeira parte deste concerto foi inteiramente preparado a partir de uma

fonte musical manuscrita, presumivelmente compilada no final da segunda metade do século

XVI, fazendo parte da preciosa coleção de manuscritos do fundo musical da Biblioteca Geral da

Universidade de Coimbra Intitulado Livro dos defuntos (com a cota MM 34), este códice peculiar,

cuidadosamente planificado e estruturado, reúne um conjunto relevante de repertório para as

celebrações de defuntos - Ofício e Missa - com diversas autorias atribuídas a compositores que

terão desenvolvido a sua atividade musical em Coimbra É quase certo que este livro tenha sido

copiado nesta cidade, provavelmente para uso da capela musical da Sé Devido, sobretudo, ao

tipo de tinta usada na escrita musical, o Livro dos defuntos encontra-se num estado de conserva-

ção muito débil, tendo sido necessário proceder a alguma reconstrução musical na edição das

obras hoje apresentadas

Um dos aspetos singulares deste manuscrito prende-se com as autorias atribuídas ao seu

repertório, constituindo algumas das peças testemunhos raros ou mesmo únicos da produção

de diversos compositores É este o caso de Bernal, ao qual está atribuído este Requiem Trata-se,

provavelmente, de Afonso Perea Bernal, lente de música da Universidade de Coimbra entre

1553 e 1593, do qual não se conhece mais nenhuma obra especificamente atribuída Apenas

encontramos o seu nome associado à parte final de um tratado de cantochão publicado em

Coimbra em 1597 - João Martins, Arte de cantochão

Também o motete Heu mihi Domine é a única peça identificada até ao momento do compositor

António Lopez, não sendo conhecidas informações precisas sobre este compositor De

Bartolomeu Trosylho – que terá sido cantor e, durante duas décadas, mestre de capela da Capela

Real de D João III – será apresentado o motete Circumdederunt me, uma das raras obras atribuí-

das a este compositor O mesmo acontece com o verso Hostias et preces do Offertorium, atribuído

a Fernão Gomes Este compositor, do qual se conhece apenas mais uma obra, terá estado ao

serviço do bispo de Coimbra na primeira metade do século XVI Não deixa de ser curioso o

comentário elogioso deixado no manuscrito – Optimus Lusitanus. Et optimus in arte –, segura-

mente revelador do reconhecido mérito deste compositor

A inclusão no Requiem de secções atribuídas a outros compositores também se verifica no

Gradual onde, para além da versão de Bernal para o verso In memoria, o copista integra ainda o

Gradual do compositor espanhol Francisco Guerrero (1528-1599) Este Gradual faz parte da missa

de Requiem publicada em 1566 no Liber primus missarum, dedicado ao rei D Sebastião

Por certo a música para as cerimónias de defuntos constitui um dos repertórios mais distintivos

e provavelmente mais singulares da música ibérica cuja matriz inicial perdurou durante mais

tempo Esta música que nos remete para dimensões tão profundas e misteriosas continua hoje

tão intensa que parece imbuída de um poder imortal

José Abreu

Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos Universidade de Coimbra

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Ivan Moody: O Luce Etterna (Dante Trilogy I)

Encomenda do Cistermúsica para a Cappella Musical Cupertino de Miranda, O Luce Etterna é

a primeira parte de uma trilogia que trata textos tirados do Paradiso e da Vita Nuova de Dante

Alighieri

A poesia de Dante é uma rica mistura de teologia, política, metafísica e comentário cultural É

também ume fonte extraordinária de imagens inesquecíveis; embora a minha abordagem a

estes textos seja sobretudo teológica, a riqueza imagética também funciona como uma espécie

de iman para o compositor Na verdade, vários compositores e pintores já foram inspirados pelas

imagens inesquecíveis do Inferno, dando a impressão talvez de que o Paraíso seja menos interes-

sante De facto, pode ser menos rico em episódios dramáticos e didáticos como o de Francesca

da Rimini, mas Dante é o poeta paradisíaco por excelência, descrevendo o indescritível na sua

narrativa metafísica

Sendo também o primeiro grande poeta da língua italiana, a junção do seu riquíssimo vocabu-

lário e o seu conhecimento teológico fazem com que muitos trechos do Paraíso sejam perfeitos

para um género de “madrigal espiritual” que possa providenciar um fio paralelo à música sacra

estritamente litúrgica

Ivan Moody

Estoril, 11 de junho de 2014

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Textos

Circumdederunt me

Circumdederunt me gemitus mortis, dolores

inferni circumdederunt me: et in tribulatione

mea invocavi Dominum, et exaudivit me.

Cercaram-me os gemidos da morte, as dores

do inferno cercaram-me: e na minha angústia

invoquei o Senhor, e Ele ouviu-me

Introitus

Requiem aeternam dona eis Domine: et lux

perpetua luceat eis.

Te decet hymnus Deus in Sion, et tibi reddetur

votum in Jerusalem:

exaudi orationem meam, ad te omnis caro venit.

Requiem aeternam dona eis Domine: et lux

perpetua luceat eis.

Dai-lhes, Senhor, o eterno descanso: e sobre

eles resplandeça a luz perpétua

A ti, Senhor, dirigimos estes hinos em Sião e

oferecemos estes votos em Jerusalém:

ouve a minha oração, porque a Ti virá toda a

carne

Dai-lhes, Senhor, o eterno descanso: e sobre

eles resplandeça a luz perpétua

Kyrie

Kyrie eleison, Kyrie eleison, Kyrie eleison.

Christe eleison, Christe eleison, Christe eleison.

Kyrie eleison, Kyrie eleison, Kyrie eleison.

Senhor, tem piedade de nós

Cristo tem piedade de nós

Senhor, tem piedade de nós

Gradual

Requiem aeternam dona eis Domine: et lux

perpetua luceat eis.

In memoria aeterna erit justus: ab auditione

mala non timebit.

Dá-lhes, Senhor, o eterno descanso: e sobre

eles resplandeça a luz perpétua

O justo deixará eterna memoria: e não temerá

as palavras dos maus

Offertorium

Domine Jesu Christe, Rex gloriae,

libera animas omnium fidelium defunctorum

de poenis inferni, et de profundo lacu:

libera eas de ore leonis, ne absorbeat eas tartarus,

ne cadant in obscurum:

sed signifer sanctus Michael repraesentet eas in

lucem sanctam:

Quam olim Abrahae promisisti, et semini ejus.

Hostias et preces tibi Domine laudis offerimus:

tu suscipe pro animabus illis, quarum hodie

memoriam facimus:

fac eas, Domine, de morte transire ad vitam.

Quam olim Abrahae promisisti, et semini ejus.

Senhor Jesus Cristo, Rei de glória,

liberta as almas de todos os fieis defuntos das

penas do inferno e do lago profundo:

liberta-as da boca do leão, para que não as

absorva o abismo nem caiam nas trevas:

mas que o porta-estandarte São Miguel as

conduza à luz santa:

como outrora prometeste a Abraão e à sua

descendência

Hóstias e orações de louvor nós Vos oferece-

mos, Senhor: aceitai-as pelas almas daqueles

de quem hoje nos recordamos:

Fazei, Senhor, que passem da morte para a vida,

como outrora prometeste a Abraão e à sua

descendência

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Sanctus | Benedictus

Sanctus, Sanctus, Sanctus Domine Deus

Sabaoth

Pleni sunt caeli et terra gloria tua.

Hosanna in excelsis.

Benedictus qui venit in nomine Domini.

Hosanna in excelsis.

Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus do

universo

Os céus e a terra estão cheios da Tua glória

Hosana nas alturas

Bendito o que vem em nome do Senhor

Hosana nas alturas

Heu mihi, Domine,

Heu mihi, Domine,

quia peccavi nimis in vita mea.

Quid faciam miser?

ubi fugiam?

nisi ad te Deus meus.

Miserere mei Deus, dum veneris in novissimo

die.

Ai de mim, Senhor,

porque tenho pecado muito na minha vida:

que farei infeliz?

onde refugiar-me?

só em ti, Senhor

Tende piedade de mim, Senhor, quando vieres

no último dia

Agnus dei

Agnus dei qui tollis peccata mundi:

dona eis requiem.

Agnus dei qui tollis peccata mundi:

dona eis requiem.

Agnus dei qui tollis peccata mundi:

dona eis requiem sempiternam.

Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo:

dai-lhes descanso

Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo:

dai-lhes descanso

Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo:

dai-lhes descanso eterno

Communio

Lux aeterna luceat eis, Domine:

Cum sanctis tuis in aeternum, quia pius es.

Requiem aeternam dona eis Domine: et lux

perpetua luceat eis.

Cum sanctis tuis in aeternum, quia pius es.

Resplandeça sobre eles a luz eterna, Senhor:

para sempre com os Teus santos, porque és

piedoso

Dá-lhes, Senhor, o eterno descanso: e sobre

eles resplandeça a luz perpétua

Para sempre com os Teus santos, porque és

piedoso

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Dante Alighieri: Il Paradiso, Canto XXX

O luce etterna che sola in te sidi,

sola t’intendi, e da te intelletta

e intendente te ami e arridi!

Quella circulazion che sì concetta

pareva in te come lume reflesso,

da li occhi miei alquanto circunspetta,

dentro da sé, del suo colore stesso,

mi parve pinta de la nostra effige:

per che ’l mio viso in lei tutto era messo.

Qual è ’l geomètra che tutto s’affige

per misurar lo cerchio, e non ritrova,

pensando, quel principio ond’ elli indige,

tal era io a quella vista nova:

veder voleva come si convene

l’imago al cerchio e come vi s’indova;

ma non eran da ciò le proprie penne:

se non che la mia mente fu percossa

da un fulgore in che sua voglia venne.

A l’alta fantasia qui mancò possa;

ma già volgeva il mio disio e ’l velle,

sì come rota ch’igualmente è mossa,

l’amor che move il sole e l’altre stelle.

Lume eterno, que a sede em ti só tendo,

Só tu entendes, de ti sendo entendido,

E te amas e sorris só te entendendo!

O girar, que, dessa arte concebido

Via em ti como flama reflectida,

Quanto foi dos meus olhos abrangido,

No seio seu da própria cor tingida

A própria efigie humana oferecia:

Foi nela a vista minha submergida!

Geómetra, que o espírito crucia

para o cir’lo medir, em vão procura

Princípio, que ao seu fim mais conviria;

Assim eu ante a nova visão pura

Ver anelara como a image’ humana

Ao círculo se adapta e ali perdura

As asas minhas fora empresa insana,

Se clareado a mente não me houvesse

Fulgor, que a posse da verdade aplana

À fantasia aqui valor fenece;

Mas a vontade minha a ideias belas,

Qual roda, que ao motor pronta obedece,

Volvia o Amor, que move sol e estrelas

Tradução de José Pedro Xavier Pinheiro (1822-1882)

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Ivan MoodyIvan Moody (n 1964) estudou música e teologia nas Universidades de Londres, Joensuu e York,

onde se doutorou Estudou composição com Brian Dennis, Sir John Tavener e William Brooks

A sua música tem sido executada e transmitida em todo o mundo e gravada em etiquetas

prestigiadas tais como Hyperion, ECM, Telarc, Warner Classics e Sony Classical As suas obras

mais importantes até hoje são a oratória Passion and Resurrection (1992), gravada na Hyperion, o

Akáthistos Hymn (1998), gravado por Cappella Romana na Gothic Records e The Dormition of the

Virgin (2003), uma encomenda da BBC Outras obras importantes incluem o concerto para piano

Linnunlaulu (2003), o concerto para contrabaixo The Morning Star (2003), Passione Popolare

(2005), encomenda do Antidogma Festival, Ravenna Sanctus, (2006) encomendado pelos Chan-

ticleer e gravado em Warner Classics R2 146364, Lacrime d’ambra (2006) para harpa e ensemble

(encomendado pelo Grupo de Música Contemporânea de Lisboa e gravado pela La Mà de Guido,

Stabat Mater (2008), para coro e quarteto de cordas, encomendada pelo Festival Internacional de

Música Sacra de Oslo, e Moons and Suns (2008), escrito para Ars Nova Copenhagen e o Raschèr

Saxophone Quartet Encomendas significativas em anos recentes incluem Canti della Rosa

(2008), para os King’s Singers, o quarteto com piano Nocturne of Light (2009) para Paul Barnes e

o Chiara Quartet, Birth of Leaves (2009) para bonang e ensemble, estreado por Elizabeth Davies

e a Orchestrutopica em Lisboa em novembro de 2009, Canticum Canticorum IV (2010) para o

Seattle Pro Musica, Sub tuum praesidium (2010) para o Coro de Câmara Inglês, e Simeron (2012)

para Vox Luminis e o Goeyvaerts Trio, gravado em julho de 2013 e lançado na etiqueta holandesa

Challenge em março de 2014 Obras terminadas recentemente incluem Fioriture, para o pianista

Paul Barnes, estreada no Lincoln Center, Nova York, em maio de 2014, Qohelet, uma obra de

grandes dimensões para o agrupamento italiano De Labyrintho, que será estreada e gravada em

2014, as três obras que formam a Dante Trilogy (O Luce Etterna, Oltre la Spera e Cielo della Luna), e

The Land that is Not, para os BBC Singers e o violoncelista Nicolas Altstaedt Em outubro de 2014

será Artista Residente na Universidade de Biola, na Califórnia Como maestro, tem trabalhado

regularmente com vários coros e ensembles na Europa e nos EUA, incluindo o Kastalsky Cham-

ber Choir (Londres), a Capilla Peña Florida (Espanha), o coro da Catedral de S Jorge, Novi Sad

(Sérvia), o Coro de Câmara Ortodoxo da Universidade da Finlândia Oriental, a Cappella Romana

(EUA) e o Odyssea Choir (Lisboa) Tendo sido investigador integrado no CESEM – Universidade

Nova, Lisbon, Ivan Moody é atualmente Professor de Música Sacra na Universidade da Finlândia

Oriental É também protopresbítero de Igreja Ortodoxa (Patriarcado Ecuménico de Constanti-

nopla) e Presidente da International Society for Orthodox Church Music Como musicólogo, tem

publicado artigos sobre questões da música sacra, sobre a música da Sérvia e da Bulgária, e sobre

compositores contemporâneos como Górecki, Gubaidulina, Pärt, Schnittke e Tavener O seu livro

recém-terminado sobre o modernismo e a espiritualidade ortodoxa será publicado ainda em

2014

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Luís ToscanoDIREÇÃO ARTÍSTICA

Luís Toscano iniciou a sua atividade como coralista no Coro dos Pequenos Cantores de Coimbra

e prosseguiu os seus estudos musicais no Conservatório de Música de Coimbra, obtendo em

simultâneo a Licenciatura em Economia na Universidade de Coimbra Concluiu em 2009 o

Mestrado em Música na Universidade de Aveiro Especializando-se na música vocal, tanto a solo

como em conjunto, dos períodos Renascentista e Barroco, fundou, com Tiago Matias, o grupo

La Farsa (com enfoque no repertório para voz e instrumentos de corda pulsada) e foi bolseiro

da Fundação para a Ciência e a Tecnologia num projeto de investigação, edição e interpretação

de música portuguesa dos séculos XVI e XVII É diretor artístico e membro da Cappella Musical

Cupertino de Miranda É também membro do Grupo de Fado Aeminium, da Capela Gregoriana

Psalterium, do Coro Casa da Música e do Ars Nova Copenhagen Colabora regularmente com

outros reputados grupos europeus – Vocal Ensemble, Ludovice Ensemble, Mercurius Company,

Contrapunctus, The Brabant Ensemble, Musica Ficta e Theatre of Voices

Cappella Musical Cupertino de MirandaEnquanto alcançava a linha dianteira no contexto geopolítico mundial, Portugal vivia, nos

séculos XVI e XVII, um momento único de criação artística, internacionalmente aclamado como

a “Idade de Ouro” da música portuguesa Para celebrar e retomar esta tradição, alicerçada num

núcleo de compositores de renome mundial como Duarte Lobo (c 1565-1646), Manuel Cardoso

(1566-1650), Filipe de Magalhães (c 1571-1652) ou Pedro de Cristo (c 1550-1618), a Fundação Cuper-

tino Miranda lançou, em 2009, a Cappella Musical Cupertino Miranda Deste modo, a Fundação

Cupertino de Miranda assumiu como uma das suas missões fundamentais a divulgação do

riquíssimo repertório da Música Renascentista Portuguesa Através dos mais de 60 concertos

realizados pela Cappella Musical Cupertino de Miranda em ambientes selecionados e adequa-

dos, tanto a nível histórico como acústico – em particular em Igrejas Barrocas, que representam

uma realidade verdadeiramente grandiosa no património artístico do Norte de Portugal –, a

difusão da Polifonia do Renascimento tem sido uma prioridade na programação da Fundação

Cupertino de Miranda Neste contexto, a Cappella Musical (constituída por oito elementos com

formação académica específica e uma relevante experiência coral, sob direção artística de

Luís Toscano) apresentou já cerca de uma centena de obras, incluindo mais de três dezenas de

estreias modernas

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António RosadoRecital de Piano

12 de julho, sábado, 21h30 Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça Claustro D Dinis

Patrocínio

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ProgramaClaude Debussy · Prelúdios para Piano

Primeiro Livro

I. Danseuses de Delphes

II. Voiles

III. Le vent dans la plaine

IV. “Les sons et les parfums tournent dans l’air du soir”

V. Les collines d’Anacapri

VI. Des pas sur la neige

VII. Ce qu’a vu le vent d’Ouest

VIII. La fille aux cheveux de lin

IX. La sérénade interrompue

X. La cathédrale engloutie

XI. La danse de Puck

XII. Minstrels

Segundo Livro

I. Broulliards

II. Feuilles mortes

III. La Puerta del Vino

IV. “Les fées sont d’exquises danseuses”

V. Bruyères

VI. General Lavine – eccentric

VII. La terrasse des audiences du clair de lune

VIII. Ondine

IX. Hommage à S.Pickwick Esq. P.P.M.P.C.

X. Canope

XI. Les tierces alternées

XII. Feux d’Artifice

António Rosado, piano

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Notas à Margem

Claude Debussy: Prelúdios para Piano

Claude Debussy, músico e compositor francês que viveu entre 1862 e 1918, foi um dos mais

proeminentes compositores desse período Associado à criação da música impressionista, termo

que o compositor recusava intensamente, Debussy surge como um prodigioso dinamizador de

diversos movimentos musicais de outros países

A sua obra, bastante diversificada, remete-nos para um contexto absolutamente novo e de

descoberta, substituindo a anterior conceção temática Entre a sua produção para piano distin-

guem-se obras do início do desenvolvimento da sua linguagem como Deux Arabesques ou Claire

de lune da Suite Bergamasque (ca 1890) Avançando para um período mais rico nesta escrita,

encontramos a suite Children´s Corner (1908) dedicada a sua filha Claude-Emma, e os dois livros

de Préludes (1909-1913), repletos de harmonias tão coloridas como pouco usuais Em 1915 escreve

Études considerados um verdadeiro desafio técnico para qualquer pianista

No momento em que compõe o primeiro livro de Préludes, Claude Debussy tinha já publicado

uma boa parte das obras que hoje se consideram verdadeiramente importantes para a história

da música, tendo alcançado um elevado estatuto enquanto compositor Os vinte e quatro prelú-

dios compostos entre 1909 e 1913 expõem não só as representações musicais de Debussy como

também as de maior maturidade Cada prelúdio é completo e singular, com traços de mestria

ao nível da cor, expressão, harmonia, melodia, textura e ritmo Debussy contribuiu, por isso, para

uma importante evolução na música para piano

Carlos Filipe Cruz

António RosadoAntónio Rosado tem uma carreira reconhecida nacional e internacionalmente, corolário do seu

talento e do gosto pela diversidade, expressos num extenso repertório pianístico que integra

obras de compositores tão diferentes como George Gershwin, Aaron Copland, Isaac Albéniz ou

Franz Liszt Esta versatilidade permitiu-lhe apresentar, pela primeira vez em Portugal, destacadas

obras como as Sonatas de Enescu ou as Paráfrases de Liszt, sendo o primeiro pianista português

a realizar as integrais dos Prelúdios e também dos Estudos de Claude Debussy No registo dos reci-

tais pode incluir-se também a interpretação da integral das sonatas de Mozart e de Beethoven

Este último ciclo foi realizado durante nove recitais no Teatro Constantino Nery, em Matosinhos

Dele disse a revista francesa Diapason que é um “intérprete que domina o que faz. Tem tanto de

emoção e de poesia, como de cor e de bom gosto.” Atuou em palco, pela primeira vez, aos quatro

anos de idade Os estudos musicais, iniciados com o pai, tiveram continuidade no Conservatório

Nacional de Música de Lisboa, sob orientação Gilberta Paiva, onde terminou o Curso Superior

de Piano, com vinte valores Aos dezasseis anos parte para Paris, e aí vem a ser discípulo de Aldo

Ciccolini no Conservatório Superior de Música e nos cursos de aperfeiçoamento em Siena e

Biella (Itália) Em 1980 estreou-se em concerto com a Orchestre National de Toulouse, sob a dire-

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ção de Michel Plasson, e desde essa data tem tocado com inúmeras orquestras internacionais

e notáveis maestros como: John Neshling, Georg Alexander Albrecht, Moshe Atzmon, Franco

Caracciolo, Pierre Dervaux, Arthur Fagen, Léon Fleischer, Silva Pereira, Claudio Scimone, David

Stahl, Marc Tardue e Ronald Zollman Também na música de câmara tem atuado com prestigia-

dos músicos como Aldo Ciccolini, Maurice Gendron, Margarita Zimermann, Gerardo Ribeiro ou

Paulo Gaio Lima, com o qual apresentou a integral da obra de Beethoven para violoncelo e piano

Laureado pela Academia Internacional Maurice Ravel e pela Academia Internacional Perosi,

António Rosado foi distinguido pelo Concurso Internacional Vianna da Motta e pelo Concurso

Internacional Alfredo Casella de Nápoles Estes prémios constituem o reconhecimento interna-

cional do seu virtuosismo e o impulso para uma brilhante carreira, com a realização de recitais

e concertos por todo o Mundo, e a participação em diversos festivais Na década de 1990, foi o

pianista escolhido pela TF1 para a gravação e transmissão de três programas – música espanhola

e portuguesa, Liszt e, por fim, um recital preenchido com Beethoven, Prokofiev, Wagner–Liszt

Desde a década de 1980, participou inúmeras vezes no Festival de Macau, nomeadamente com

a Orquestra Gulbenkian, Orq N da China – no concerto inaugural do Centro Cultural de Macau –

Orq de Xangai, Orq de Câmara de Macau e ainda com o clarinetista António Saiote Em 2007 foi

distinguido pelo Governo Francês com o grau de Chevalier des Arts et des Lettres. O seu primeiro

disco gravado na década de 1980, em Paris, é dedicado a Enescu. Outros discos se seguiram,

nomeadamente: as obras para piano de Viana da Mota; um CD comemorativo dos 150 anos

da passagem de Liszt por Lisboa; a Fantasia de Schumann e a Sonata de Liszt Com o violinista

Gerardo Ribeiro gravou as Sonatas para piano e violino de Brahms e, com o pianista Artur Pizarro,

um disco intitulado Mozart in Norway Com a NDR Sinfonieorchestra de Hamburgo gravou o

Concerto n.º 2 e Rapsódia sobre um tema de Paganini de Rakhmaninov Gravou os dois Concertos

de Brahms com a Orquestra Nacional do Porto Em 2004 gravou a integral das Sonatas para piano

de Fernando Lopes-Graça e em 2006 as oito suites “In Memoriam Béla Bartók” do mesmo compo-

sitor Gravou também os Prelúdios de Armando José Fernandes e Luís de Freitas Branco Entre

outras obras portuguesas, editou uma Sonata para Piano de António Victorino d´Almeida A sua

forte ligação à obra de Fernando Lopes-Graça continuou durante 2012-2013, com a gravação das

Músicas Festivas

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IncertusTrioTrio de Flautas

16 de julho, quarta-feira, 21h30 Igreja Matriz de Évora de Alcobaça

17 de julho, quinta-feira, 21h30 Igreja Matriz de Pataias

18 de julho, sexta-feira, 19h00 Forte de São Miguel Arcanjo · Nazaré

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ProgramaShin’ya Takahashi · Sete Peças para Trio de Flautas

Friedrich Kuhlau · Grande Trio em si menor, op 90

I. Allegro non tanto

II. Scherzo

III. Adagio

IV. Finale

Gordon Jacob · Introduction and Fugue

IncertusTrio*Ana Rita Oliveira, flauta

Beatriz Baião, flauta

Inês Pinto, flauta

Apoios: Paróquia e Junta de Freguesia de Évora de Alcobaça; Paróquia e Junta de Freguesia de

Pataias

Parceria:

*1 º Prémio da Categoria Júnior do III Concurso Internacional de Música de Câmara “Cidade de Alcobaça” (CIMCA)

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Notas à Margem

Shin’ya Takahashi, Sete Peças para Trio de Flautas

Nascido em 1962 na cidade de Sendai, no Japão, Shin’yaTakahashi foi aluno em composição da

Kunitachi College of Music, onde mais tarde concluiu também os seus estudos em Investigação

Musical Takahashi é membro da Federação Japonesa de Compositores e as suas composições

centram-se em música para instrumentos de sopro, indo de obras para instrumento solo a obras

para grupos de grande dimensão como bandas sinfónicas e bandas militares Shin’ya Takahashi

é regularmente maestro convidado tanto de orquestras de jovens como de orquestras profissio-

nais, por todo o Japão As suas apresentações têm sido aclamadas pela crítica, bem como as suas

composições

Friedrich Kuhlau: Grande Trio em si menor

De origem dinamarquesa, Friedrich Kuhlau nasceu em 1786 em Lüneburg Apesar de não ser

flautista, é considerado um dos maiores compositores para o instrumento A sua amizade com

Beethoven levou-o a divulgar a música deste por toda a Dinamarca e até a copiar um pouco do

seu estilo nas suas próprias composições Foi considerado “o Beethoven da Flauta” Enquanto

compositor, as suas obras para flauta incluem todas as formações possíveis, de flauta solo a duos,

trios, quartetos e outras formações de música de câmara com flauta Apesar das mais de 200

obras publicadas, muito do seu trabalho foi perdido quando um incêndio destruiu a sua casa

Diz-se que a inalação do fumo provocou a sua morte meses mais tarde, em 1832, na Dinamarca O

seu “Grande Trio” op 90 foi publicado em Paris em 1828

Gordon Jacob: Introduction and Fugue

Nascido em Londres em 1895 e falecido em Saffron Walden em 1984, Gordon Jacob estudou no

Dulwich College, na sua cidade natal Apesar de ter estudado com Vaughan Williams e Charles

Stanford no Royal College of Music, sempre preferiu o barroco e o classicismo ao romantismo

A maior parte da sua obra é dedicada a instrumentos de sopro, tendo contribuído para que as

bandas sinfónicas ganhassem maior importância como orquestras de sopro de concerto Entre

15 e 20 de abril de 2013, Gordon Jacob foi escolhido como “compositor da semana” na Radio 3

da BBC A par das suas numerosas composições para madeiras e metais, Jacob publicou alguns

livros: Orchestral Technique (1931), How to Read a Score (1944), The Composer and his Art (1955) e

The Elements of Orchestration (1962) A presente “Introdução e Fuga” data de 1947

IncertusTrio

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Incertus TrioO Incertus Trio, constituído por Ana Rita Oliveira, Beatriz Baião e Inês Pinto, foi formado em

agosto de 2013 e pretende divulgar a música erudita para trio de flauta transversal Grupo

Convidado no I Encontro Luso-Brasileiro de Flautistas, no Conservatório de Música do Porto,

foi-lhe dedicada uma obra do compositor português António Ribeiro, estreada no Conserva-

tório de Música do Porto em setembro de 2013 O grupo apresenta-se regularmente em vários

conservatórios, academias de música e salas de espetáculo do país Em outubro de 2013 obteve

o 1 º Prémio da Categoria Júnior do III Concurso Internacional de Música de Câmara “Cidade de

Alcobaça” (CIMCA)

Ana Rita OliveiraAna Rita Oliveira concluiu o curso secundário de Flauta Transversal no Conservatório de Música

de Aveiro, na classe da professora Ana Maria Ribeiro, com a mais alta classificação Foi vencedora

de uma dezena de concursos nacionais e internacionais, entre os quais o Concurso Luso-Ga-

laico Albertino Lucas, o Concurso Internacional de Instrumentos de Sopro “Terras de La Salette”

na categoria Júnior e Sénior, o Concurso Internacional Santa Cecília, o Prémio BPI e o Prémio

Ernestina Silva Monteiro Com apenas 18 anos obteve o 3 º Prémio no Concurso Internacional de

Interpretação do Estoril É membro do IncertusTrio, com o qual obteve o 1 º Prémio da Categoria

Júnior do III Concurso Internacional de Música de Câmara “Cidade de Alcobaça” (CIMCA) Foi

Artista Convidada no I Encontro Luso-Brasileiro de Flautas (2012), na Semana Cultural do CMACG

(2013, 2014) e no Festival de Saint Mesnil des Arts (França, 2014) Em orquestra tem colaborado

com a oj com, a OCP, a Orquestra Clássica do Conservatório de Música de Aveiro, a Orquestra de

Jovens de Bremen, a Orquestra Filarmonia das Beiras, a Orquestra Sinfónica da ESMAE, a Orques-

tra de Jovens de Santa Maria da Feira, a Orquestra Gulbenkian, a Orquestra de Câmara da Maia e

a Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música Apresentou-se a solo com a Orquestra Filarmonia

das Beiras, a Orquestra Clássica do Conservatório de Música de Aveiro e a Banda Sinfónica do

Conservatório de Música de Aveiro É membro de reserva da Orquestra de Jovens do Mediter-

râneo, da Penderecki Musik Akademie - Westfalen, e da Mahler Academy - Fondazione Gustav

Mahler É desde 2014 membro da Gustav Mahler Jugendorchester Atualmente frequenta o 1 º

ano de Licenciatura na Universidade de Aveiro, na classe de Jorge Correia

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Beatriz BaiãoBeatriz Baião nasceu a 17 de março de 1997 e iniciou os seus estudos musicais aos 10 anos,

na Banda Filarmónica de Mira Aos 11 anos ingressou no Conservatório de Música de Aveiro

Calouste Gulbenkian, onde frequenta a classe da professora Ana Maria Ribeiro Trabalhou

com os professores Jorge Correia, Angelina Rodrigues, Gil Magalhães, Eva Morais, Felix Renggli,

Celso Woltzenlogel, Rogério Wolf e Marta Gonçalves; e em orquestra sob a direção dos maestros

Pedro Neves, Paulo Martins, Javier Vicero, Jean-Sébastion Béreau, Pedro Carneiro, Jan Wierzba

e Cesário Costa, entre outros Em 2013 foi vencedora do Concurso “Prémio Jovens Músicos” e

apresentou-se a solo com a Orquestra Gulbenkian Foi premiada em vários concursos nacionais

e internacionais, tais como: Concurso “Jovem com”, Concurso Internacional de Instrumentos de

Sopro “Terras de La Salette”, Concurso Luso Galaico “Albertino Lucas”, Concurso “Flautamente”,

Concurso “Marília Rocha”, Concurso “Santa Cecília” e Concurso Interno do Conservatório de

Música de Aveiro Em música de câmara, integra o trio “IncertusTrio”, premiado em outubro de

2013 com o 1 º Prémio da Categoria Júnior do III Concurso Internacional de Música de Câmara

“Cidade de Alcobaça” (CIMCA) Colabora regularmente com algumas Orquestras, sendo membro

da OCPzero – Jovem Orquestra Portuguesa

Inês PintoInês Pinto nasceu a 4 de outubro de 1996 e iniciou o seu estudo de flauta em fevereiro de 2006

com Angelina Rodrigues Em setembro do mesmo ano ingressou no Conservatório de Música

de Aveiro na classe da professora Ana Maria Ribeiro Em 2007 foi-lhe atribuído o 1 º Prémio

no Concurso de Flauta da Cidade de Beja Em 2008 ganhou o 1 º Prémio no Concurso Interna-

cional de Instrumentos de Sopro “Terras de La Salette”, o 1 º Prémio no Concurso Nacional do

Conservatório de Música de Aveiro Calouste Gulbenkian e o 1 º Prémio no Concurso Nacional

da Academia de Paços de Brandão Em novembro de 2009 participou no concurso Luso-Galaico

Albertino Lucas Em 2010 o prémio “Marília Rocha”, o 1 º Prémio no Concurso “Paços’ Premium”,

o 1 º lugar no Concurso Internacional de Instrumentos de Sopro “Terras de La Salette” e o 1 º lugar

no Concurso Luso-Galaico Albertino Lucas Em 2011 ganhou o 1 º Prémio no Concurso “Flauta-

mente”, uma Menção Honrosa no concurso Jovem com e o 2 º lugar no Concurso Interno do

Conservatório de Música de Aveiro Ainda em 2011 entrou na orquestra “oj com” onde trabalhou

com o Maestro Eduardo García Barrios Concluiu o 5 º grau com 20 valores Em 2012 ganhou o 1 º

Prémio no Concurso Internacional de Instrumentos de Sopro “Terras de La Salette”, participou no

estágio “oj com” com o maestro Jean Sébastien Bereau e tocou a solo com a orquestra Filarmonia

das Beiras Faz parte da Orquestra de Câmara Portuguesa Zero, sob a orientação do Maestro

Pedro Carneiro e da banda da ARMAB Em 2013 ganhou o 1 º Prémio da Categoria Júnior do III

Concurso Internacional de Música de Câmara “Cidade de Alcobaça” (CIMCA) com o IncertusTrio

Em 2013 ingressou na ESMAE e em 2014 participou no estágio “oj com” sob direção do Maestro

Cesário Costa Participou em masterclasses e trabalhou com professores como Jacques Zoon,

Jorge Correia, Luciano Pereira, Angelina Rodrigues, Quarteto aTraversus, Julie Wright e Nicholas

Foster, Marina Camponês, Lisa Nelsen e Vasco Gouveia

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Fussion Percussion Duo ESPANHA

19 de julho, sábado, 21h00 Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça Sala D Afonso VI

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ProgramaKeiko Abe · Prism II

Manuel de Falla · El Sombrero de Tres Picos, excerto (arr Solum)

Maki Ishii · Fourteen Percussions

Adi Morag · Octabones

Nebojsa Jovan Zivkovic · Trio per Uno, 1 º andamento (arr Tuópali Dúo)

Emmanuel Séjourné · Departures

Minoru Miki · Marimba Spiritual II (arr Safri Duo)

Fussion Percussion Duo*Rubén Laraja Ángel, percussão

Héctor Castelló Sánchez, percussão

*2 º Prémio ex-aequo da Categoria Sénior do III Concurso Internacional de Música de Câmara “Cidade de Alcobaça” (CIMCA)

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Notas à Margem

Keiko Abe: Prism II

Escrita originalmente para uma só marimba em 1986, esta obra da compositora japonesa e

virtuosa do instrumento Keiko Abe (n Tóquio, 1937) ganhou em 1992 uma segunda voz de

marimba, passando a intitular-se Prism II para duas marimbas A peça presenteia-nos com um

enorme virtuosismo e uma conjugação entre ambas as vozes, dividindo-se em três secções

claramente identificadas: introdução (com uma apresentação do tema marcada por diferentes

tempos e ritmos), desenvolvimento (onde apreciamos um virtuosismo de alta claridade técnica)

e final (com a reexposição dos temas iniciais)

Manuel de Falla: El Sombrero de Tres Picos

Manuel de Falla (Cádis, 1876 – Alta Gracia, 1946) compôs para os Ballets russes de Diaghilev o

bailado El Sombrero de Tres Picos, com argumento baseado na novela de Pedro Antonio de

Alarcón eestreado na versão definitiva em Londres em 1919 Musicalmente a obra é influenciada

pelo impressionismo francês, tendo sido composta durante a estadia do compositor em Paris,

onde conheceu Debussy, Dukas e Ravel O assunto é uma farsa que um moleiro e a sua esposa

montam contra o tirânico corregedor da cidade O velho apaixonado, perseguindo a moleira,

cai num riacho e livra-se da roupa, refugiando-se no moinho O moleiro descobre o casaco e o

chapéu do corregedor e veste-os, deixando uma mensagem irónica onde avisa que irá fazer uma

visita à corregedora O corregedor, furioso, vê-se obrigado a vestir a roupa do moleiro, com a qual

é detido pelos seus próprios oficiais, facto celebrado por todos os camponeses com enorme alga-

zarra Ouviremos aqui uma adaptação para duas marimbas do duo de percussão Solum A obra

consiste em duas suites, das quais escolhemos quatro números: Introducción, La tarde, Fandango

o Danza de la Molinera e Farruca o Danza del Molinero

Maki Ishii: Fourteen Percussions

Em Fourteen Percussions (2000) para dois percussionistas, cada um dos intérpretes deve esco-

lher sete idiofones: dois de metal, dois de madeira, dois de membrana de curta duração e um de

membrana de longa duração Antes de proceder à escolha, devem pôr-se de acordo de modo a

que um use apenas instrumentos que se movam nos registos médio e grave, e outro os que se

movam nos registos médio e agudo Estruturada numa série de ciclos, o mais interessante desta

peça é a mistura de timbres, que em certas ocasiões pode resultar algo absurda, e a dinâmica

marcada pelo contraste É uma das obras mais reconhecidas do célebre compositor japonês

Maki Ishii (Tóquio 1936 – id. 2003), que sempre caminhou entre a tradição oriental e a escola

ocidental

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Adi Morag: Octabones

Peça vencedora do Prémio de Composição da Percussive Composition Society, Octabones para

duas marimbas foi composta em 1998 por Adi Morag (compositor nascido em Israel em 1976),

destinando-se à IPCL Percussion Competition O título Octabones é uma deturpação ortográfica

propositada da palavra octatones, que se refere à escala octatónica (de oito sons) em que a peça

se baseia Octabones requer dois marimbistas altamente qualificados, sendo as duas marimbas

colocadas frente a frente, para que cada um possa alcançar algumas das lâminas da marimba do

outro intérprete A obra está estruturada em quatro secções distintas, das quais a primeira é um

allegro emocionante, pejado de acordes em bloco e rápidas passagens melódicas, e a segunda

é mais lenta e suave Na terceira secção regressa-se ao tempo primordial, mas o material é inter-

pretado com baquetas de madeira A secção final volta a expôr a matéria inicial, mas com uma

conclusão emotiva

Mario Gaetano

(a partir de um artigo inserido em “Percussive Notes”)

Nebojsa Jovan Zivkovic: Trio per Uno

O compositor sérvio e virtuoso da marimba Nebojsa Jovan Zivkovic (nascido em 1962 em

Sremska Mitrovica, na ex-Jugoslávia) concebeu Trio per Uno em três andamentos, sendo o

primeiro e o terceiro baseados numa semelhança rítmica, como se tratasse de um culto ritual

arcaico Por contraste, o segundo andamento é construído com base numa melodia lírica e

contemplativa Aqui num arranjo do Tuópali Dúo, este andamento exige um tambor (disposto

na horizontal) tocado pelos dois percussionistas, um jogo de bongos e dois gongos para cada um

deles O facto de se usarem os mesmos instrumentos provoca um efeito interessante, sobretudo

nos momentos de estritos uníssonos, contrastando com outros momentos de construção meló-

dica entre ambos os intérpretes, sem deixar de mencionar o brilhante efeito visual para gáudio

do público

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Emmanuel Séjourné: Departures

Departures, um duo para duas marimbas, foi composto em 2002 graças à iniciativa de Nancy

Zeltsman – a quem o trabalho é dedicado – para o seu duo Nancy Zeltsman/Ria Ideta A peça

explora todas as possibilidades musicais de duas marimbas Faz uso de uma grande variedade

de géneros musicais e combina-os dentro de um estilo nunca antes ouvido – tal como indica o

título Departures Uma introdução melodiosa e quase aveludada é seguida por uma passagem

virtuosa, que se distingue por um som de cadência neoclássica Depois da lenta introdução,

desenvolve-se um enérgico e persistente groove Nesta secção podem-se ouvir temas ante-

riormente apresentados O ritmo, que nunca perde o seu virtuosismo implacável, reflete ainda

um vínculo com o flamenco espanhol, que valorizo muito Tenho sido influenciado por toda

a música que escutei e amo até à data (desde Ravel a Stravinsky passando por Corea até ao

flamenco) e por toda a música que compus Mesmo hoje quando componho, todas as minhas

memórias ressurgem

Emmanuel Séjourné

(n Limoges, 1961)

Minoru Miki, Marimba Spiritual II

Marimba Spiritual II (1988) é um arranjo para dois intérpretes de Marimba Spiritual I (1983 – 1984),

escrita originalmente para marimba e três instrumentos de percussão por Minoru Miki (Tokushi,

1930 – Tóquio, 2011), um dos compositores mais relevantes da vanguarda musical japonesa A

nova versão foi realizada pela dupla de percussionistas Safri Duo e o compositor gostou tanto

que acabou por autorizar a sua publicação Após as suas duas primeiras composições para

marimba, Tiempo de Marimba (1968) e Concerto para Marimba e Orquestra (1969), Minoru Miki

começou um período dedicado principalmente à composição cénica e ao estudo dos princi-

pais instrumentos tradicionais do seu país Quando Keiko Abe lhe volta a pedir em 1983 uma

composição para o seu instrumento, o compositor encontra-se num estado emocional crítico;

a angustiante situação de fome e ruína que sofre grande parte da população africana leva-o a

recordar a sua penosa experiência durante a Segunda Guerra Mundial, decidindo aproveitar este

instrumento de origem africana para prestar uma homenagem através da sua expressão artís-

tica Assim, divide Marimba Spiritual em duas partes: uma primeira secção lenta, em modo de

requiem, onde se destacam os idiofones de metal e madeira, e a segunda secção, mais viva e de

caráter contrastante, descrevendo a ressurreição do povo O êxito da versão do Safri Duo torna-se

evidente se tivermos em conta as mais de 700 interpretações de Marimba Spiritual II durante a a

década de 1990

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Fussion Percussion DuoO Fussion Percussion Duo nasceu em 2008 como proposta de dois jovens músicos de Alicante

com o objetivo de dar a conhecer e difundir o mundo da percussão Começam a sua viagem sob

a tutela de Joan Soriano e no mesmo ano da sua criação obtêm o 1 º Prémio no V Certame de

Interpretação Musical “Tot Armonia” de Santa Pola (Alicante) Além da experiência adquirida por

cada um dos seus membros, o Fussion Percussion Duo tem sido sempre orientado por alguns do

melhores profissionais da Percussão, como Joan Soriano, Jordi Francés, Sisco Aparici e Philippe

Spiesser Em 2011, dão concertos no I Festival de Canals SO XXI (Valencia, Espanha), Perpignan

(França), Cox (Alicante, Espanha), Elda (Alicante, Espanha), Petrer (Alicante, Espanha), Villena

(Alicante, Espanha) e Alzira (Valencia, Espanha) Em junho de 2011 conseguem o 3 º Prémio no

Concurso Internacional de Música de Câmara “Josep Mirabent i Magrans” de Sitges (Barcelona,

Espanha) Posteriormente ganham em 2012 o 1 º Prémio no III Concurso de Música de Câmara de

Alzira e no VI Certame de Música de Câmara “Jacobo Soto Carmona” em Albox (Almería, Espa-

nha) Em abril de 2012 vencem o 3 º Prémio no III Concurso Internacional de Música de Câmara

de Villalgordo del Júcar (Albacete, Espanha) Em junho de 2012 são agraciados com o 1 º Prémio

do Concurso Internacional de Música de Câmara “Antón García Abril” de Baza (Granada, Espa-

nha) Entre os cursos de 2010-2011 e 2011-2012, ambos realizam uma Pós Graduação de Música de

Câmara no Conservatoire à Rayonnement Régional Perpignan (França), dirigidos pelo solista inter-

nacional Philippe Spiesser e concluída em 2012 com notas máximas Em 2013 são convidados a

participar no “III Festival de Cultura i Arts Contemporànies” de Canals (Valencia), I Festival “Golpe

Arte” de Almoradí (Alicante), III Festival de Cultura e Artes Cénicas de Baza (Granada), Percufest

2013 (La Font de la Figuera, Valencia), Festival de Concertos “Concerts d’estiu” em Petrer (Alicante)

e no Festival de Concertos “Cultura al Castell, Música i Arts Escèniques” de Benidorm (Espanha)

Em 2013 vencem o 2 º Prémio no IV Concurso Internacional de Música de Câmara de Villalgordo

del Júcar (Albacete) Em outubro de 2013 vencem o 2 º Prémio ex-aequo da Categoria Sénior do III

Concurso Internacional de Música de Câmara “Cidade de Alcobaça” (CIMCA)

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Pulsat Percussion Group19 de julho, sábado, 23h00 Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça Vários espaços

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ProgramaJoão Carlos Pacheco · (...o o o...). PT

Owen Clayton Condon · Fractalia

Aurél Holló · the dream of the Manichaeian / beFORe JOHN3

Nigel Westlake · Omphalo Centric Lecture

Daniel Bernardes · in memoriam Bernardo Sassetti

Jorge Prendas · Mappa

1. Pele

3. Cage da Serra

Pulsat Percussian Group*André Dias, Nuno Simões, Pedro Góis e Renato Penêda, percussão

*2 º Prémio ex-aequo da Categoria Sénior do III Concurso Internacional de Música de Câmara “Cidade de Alcobaça” (CIMCA)

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Notas à Margem

João Carlos Pacheco: (...o o o...). PT (2013)

Obra escrita para percussão e computadores e encomendada pelo Pulsat Percussion Group,

começa com uma divagação em torno de um soneto de Bocage, a partir do qual vai ganhando

forma O material sonoro é recheado de fragmentos de música tradicional portuguesa, ruído e

pequenos clips, bastante cómicos, daquilo que é o património cultural e musical de Portugal

Os materiais são trabalhados digitalmente e tocados pelos intérpretes no teclado dos compu-

tadores A percussão funciona como complemento à eletrónica e, no final da obra, surge como

expoente materializado em instrumentos e ritmos populares portugueses

Owen Clayton Condon: Fractalia (2011)

Obra escrita para os Third Coast Percussion, Fractalia é o resultado de uma conjugação sonora

dos fractais (formas geométricas), cujos fragmentos são pequenas cópias de um todo As

melodias desta obra do americano Owen Clayton Condon são criadas pela passagem de uma

figura repetida pelos quatro percussionistas em diferentes registos da marimba, criando uma

infinidade de ideias texturais enquadradas entre si

Aurél Holló: the dream of the Manichaeian / beFORe JOHN3 (1997)

“Esta noite Manichaeian está deitado na sua cama, atormentado e torturado por febres altas

Alucinações; parece que as paredes do seu quarto se contraem e expandem Ouve vozes, vê

imagens diante dele Os seus sonhos são um fluxo de vibrações esvaziados pela sua alma Trans-

piram um do outro parecendo criar uma história ”

“Palco, instrumentos, marimbas, parafernália curiosa, caixixi, choca, arcos, rods de madeira,

baquetas de esponja, 4 percussionistas – acessórios Impressões do céu na terra?” [tradução de

texto de Aurel Holló, compositor húngaro nascido em Mór em 1966 ]

Nigel Westlake, Omphalo Centric Lecture (1984)

Escrita originalmente para dois percussionistas e clarinete baixo, Omphalo Centric Lecture é

atualmente uma das obras para quarteto de percussão mais tocadas em todo o mundo As obras

do australiano Nigel Westlake (n Perth, 1958) exibem uma clara influência da música tradicional

africana, especialmente pela sonoridade do balafon (instrumento tradicional de África) e pela

energia, movimento e ritmo que a obra transmite através da utilização de fragmentos melódicos

e ostinatos rítmicos simples, que quando contrapostos adquirem estruturas complexas Ao nível

da instrumentação, o compositor explora essencialmente as capacidades tímbricas de duas

marimbas tocadas por quatro percussionistas, acrescentando sonoridades distintas dos pratos

splash e chineses, log drum e shaker

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Daniel Bernardes: in memoriam Bernardo Sassetti (2013)

Obra encomendada pelo Pulsat Percussion Group e composta em 2013, trata-se de uma homena-

gem ao pianista Bernardo Sassetti O compositor alcobacense Daniel Bernardes (n 1986) lança-se

num desafio de improvisações no piano, complementando um lirismo e ambiência noturna

criado pelas harmonias e efeitos nos vibrafones, marimba, glockenspiel, tom-toms, pratos e

tam-tam

Jorge Prendas: Mappa (2013)

Este Mappa conduz o ouvinte numa viagem pela cultura popular portuguesa com distinto

caráter e representação simbólica Em Pele, o compositor explora timbricamente instrumentos

de pele natural como adufes, bombos e caixas, simbolicamente representando os tradicionais

grupos de bombos e despiques entre ambos nas romarias portuguesas O Cage da Serra surge no

ambiente da feira de S Mateus em Viseu, lembrando uma banca de produtos com panelas, cane-

cas, chaves, galos de Barcelos, explorados timbricamente A exploração destes “instrumentos” do

quotidiano é característica do compositor americano John Cage

Pulsat Percussion Group

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Pulsat Percussion GroupO Pulsat Percussion Group é um grupo de percussão constituído por quatro jovens talentos,

André Dias, Nuno Simões, Pedro Góis e Renato Penêda Criado em março de 2012 com o nome de

Pulsat Quartet foi, desde logo, premiado com o 2 º lugar no Prémio Jovens Músicos, na categoria

de Música de Câmara, Nível Superior, seguindo-se o 2 º Prémio ex-aequo da Categoria Sénior

do III Concurso Internacional de Música de Câmara “Cidade de Alcobaça” (CIMCA), em 2013 Os

Pulsat apresentaram-se em palco por diversas vezes, destacando-se o concerto integrado no

Harmos Festival na Casa da Música, o concerto no Teatro Helena Sá e Costa no âmbito do Euro-

classical, e o concerto no Auditório de Espinho A simpatia do grupo e a qualidade musical da sua

performance surpreendem todos os presentes, elevando a música contemporânea nacional e

internacional ao mais alto nível Entre os diversos compositores do reportório do Pulsat Percus-

sion Group destacam-se obras de John Cage, Steve Reich, Christopher Deane, Lukas Ligeti, Nigel

Westlake, Jesus Torres, Luís Tinoco, João Pacheco, Jorge Prendas, Igor Silva, Daniel Bernardes e

Paulo Perfeito

André DiasAndré Dias (n 1991) iniciou os seus estudos musicais aos oito anos Estudou na Academia de

Música de Espinho (AME) e na Escola Profissional de Música de Espinho (EPME), tendo concluído

em 2013 a licenciatura na ESMAE sob orientação de Miquel Bernat e Manuel Campos, com a

classificação máxima no recital final Foi distinguido nos mais variados concursos: 2 º prémio em

solo snare drum no VI Concurso Internacional de Percussão de Fermo (Itália, 2008), vencedor do

Concurso Helena Sá e Costa (2011) e 1 º prémio na categoria de percussão solo –nível superior do

Prémio Jovens Músicos (2013), ao qual se seguiu o prémio especial da “European Union of Music

Youth Competitions” Enquanto solista já teve a oportunidade de tocar com a Orquestra Clássica

de Espinho, a Orquestra Sinfonieta da ESMAE e a Orquestra Gulbenkian Atualmente é membro

do Pulsat Percussion Group, chefe de naipe da Banda Sinfónica Portuguesa, 1 º reforço na

Orquestra Sinfónica do Porto – CdM e docente na Academia de Música Costa Cabral, colaborando

regularmente com o Drumming GP e Orquestra Gulbenkian De referir ainda que foi selecionado

para a Academia do Festival de Lucerna 2014, sob a orientação artística de Pierre Boulez

Nuno SimõesNuno Simões nasceu em Aveiro em 1987 Iniciou os seus estudos no Conservatório Calouste

Gulbenkian, na sua cidade natal, passando pela Escola Profissional de Música de Espinho e pela

ESMAE, onde completou a licenciatura em 2009 Foi laureado em diversos concursos, com

destaque para: 1 º prémio no 2 º Concurso Ibérico de Caixa “Tum-pa-Tum-pa”, categoria C (2006);

3 º prémio na categoria percussão – nível superior do Prémio Jovens Músicos (PJM) (2007); 1 º

prémio na categoria percussão – nível superior do PJM (2010); 2 º prémio na categoria música de

câmara – nível superior do PJM (2012) Apresentou-se como solista com a Orquestra Gulbenkian,

a Orquestra Clássica de Espinho e a Banda Sinfónica Portuguesa Atualmente é membro dos

Pulsat Percussion Group e do duo pt, bem como solista do naipe de percussão da Orquestra

Sinfónica do Porto Casa da Música

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Pedro GóisPedro Góis nasceu a 26 de dezembro de 1989 em Espinho e iniciou os seus estudos musicais aos

oito anos de idade Em 2004 foi admitido no curso de percussão da Escola Profissional de Música

de Espinho (EPME) e em 2007 na ESMAE, tendo trabalhado com os professores Manuel Campos,

Miquel Bernat, Nuno Aroso e Rui Gomes Participou em várias masterclasses com músicos de

renome internacional como Jeffery Davis, Pedro Carneiro e Rainer Siegers, entre muitos outros

Atuou nas seguintes orquestras e grupos: Orquestra Gulbenkian; Orquestra Sinfónica do Porto

Casa da Música; Orquestra Sinfónica Portuguesa; Orquestra Metropolitana de Lisboa; Ictus

Ensemble; Drumming; Orquestra do Algarve; Orquestra Utópica; Orquestra Clássica de Espinho;

Orquestra Sinfonietta (ESMAE); Orquestra da APROART; Orquestra Clássica da Póvoa de Varzim

Atualmente é membro do grupo Pulsat Percussion Group, que em 2012 obteve o segundo lugar

no concurso Prémio Jovens Músicos Portugueses (Música de Câmara – Nível Superior)

Renato PenêdaRenato Penêda (n 1990) iniciou os seus estudos musicais aos 14 anos, no Conservatório de

Música do Porto Mais tarde ingressou na ESMAE e estuda atualmente na Codarts Rotterdam

(Roterdão, Holanda) Frequentou várias masterclasses com professores como Nick Woud, Frank

Epstein, Benoît Cambreling, Mark Ford, Markus Leoson e Tatiana Koleva É membro da Banda

Sinfónica Portuguesa e da Orquestra XXI, reforço regular da Orquestra Sinfónica do Porto Casa da

Música e chefe de naipe de percussão da Orquestra Filarmonia de Vermoim Colaborou recente-

mente com a prestigiada Orquestra de Câmara do Festival de Verbier (Suíça), a Residentie Orkest

(Haia, Holanda) e o grupo de percussão Slagwerk Den Haag (Haia, Holanda) É membro da NJO

(Orquestra de Jovens da Holanda) e da Rotterdam Philharmonic Codarts Academy (Holanda)

desde 2013 É membro fundador do Pulsat Percussion Group, premiado no 26 º Prémio Jovens

Músicos (2012) e no III Concurso Internacional de Música de Câmara “Cidade de Alcobaça”

(CIMCA)

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Hopkinson Smith E U A

Recital de Tiorba

20 de julho, domingo, 19h00 Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça Sala do Capítulo

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ProgramaJohann Sebastian Bach (1686 – 1750), Suite em dó maior BWV 1007

Prélude

Allemande

Courante

Sarabande

Menuet I

Menuet II

Gigue

Johann Sebastian Bach: Suite em ré menor BWV 1008

Prélude

Allemande

Courante

Sarabande

Menuett I

Menuett II

Gigue

Johann Sebastian Bach: Suite em fá maior BWV 1009

Prélude

Allemande

Courante

Sarabande

Bourrée I

Bourrée II

Gigue

Hopkinson Smith, tiorba alemã

Tiorba construída por Joel van Lennep, New Hampshire, E U A

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Notas à Margem

Johann Sebastian Bach: Suites BWV 1007 – 1009

As obras “oficiais” de Bach para alaúde são essencialmente arranjos individuais do séc XVIII

que nunca foram concebidos como uma unidade (como eram, por exemplo, as suites inglesas

e francesas para piano, as suites para violoncelo ou as sonatas e partitas para violino) Algumas

dessas adaptações para alaúde vieram do próprio Bach (é o caso da suite BWV 995 baseada

na quinta suite para violoncelo e da suite BWV 1006, baseada na 3 ª partita para violino), tendo

vindo outras do seu círculo mais próximo As minhas próprias adaptações das obras de Bach

para alaúde incluem uma gravação para alaúde da quarta e sexta suites para violoncelo, lançada

no início dos anos 1990, assim como um duplo CD dos meus arranjos das sonatas completas

para violino e partitas, lançado em 2000 A revista Gramophone chamou-lhe generosamente “”a

melhor gravação destas obras em qualquer instrumento”

As primeiras três suites para violoncelo, bastante diferentes das últimas três, têm um encanto

melódico único e uma energia singular Desde há muito que tenho ponderado a melhor forma de

concretizar estas obras num instrumento de cordas Sinto que falta ao alaúde barroco a profun-

didade e nobreza que o violoncelo consegue oferecer em termos de alcance, e que a tiorba

francesa e italiana possuem demasiada carga histórica, geográfica e estética para este repertório

Uma solução que eu julgo ser mais satisfatória em todos os aspetos é a tiorba alemã Tem maior

comprimento de cordas e é afinada uma terceira abaixo do alaúde barroco, dando-lhe mais

ressonância e aproximando-a mais do universo poético do violoncelo, e as suas cordas duplas

nos baixos (onde a nota mais grave é reforçada por uma nota uma oitava acima) lhe acrescentam

uma eloquência que a variante francesa e italiana de cordas simples não tem

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Hopkinson SmithHopkinson Smith, natural de New York, graduou-se em Música na Universidade de Harvard em

1972 No ano seguinte veio para a Europa, onde estudou com Emílio Pujol e Eugen Dombois

Participou em diversos projetos de música de câmara, incluindo a criação do agrupamento

Hesperion XX A partir dos anos 1980 concentra-se quase exclusivamente no repertório solista

produzindo para a etiqueta Astrée uma série de gravações premiadas, compostas por obras para

vihuela, alaúde renascentista, guitarra e alaúde barrocos de autores espanhóis, franceses, italia-

nos e alemães Em 2000 grava as suas transcrições para alaúde das sonatas e partitas de Bach,

consideradas pelo Gramophone Magazine “a melhor gravação destas obras em qualquer instru-

mento” Nos últimos anos tem ganho vários Diapason d’Or pelas gravações de obras de Pierre

Attaingnant, John Dowland e Francesco da Milano, altamente elogiados pela crítica mundial Os

seus concertos e masterclasses abrangem toda a Europa, América do Norte e do Sul, Austrália,

Coreia e Japão Em 2007 e 2009 apresentou-se na Palestina sob os auspícios da Barenboim-Said

Foundation e do Conselho das Artes Suíço, onde também dirigiu workshops Em 2010 recebeu

em Itália o Prémio de Música da Região de Puglia com a inscrição “mestre dos mestres, máximo

intérprete da música para alaúde de antiga Europa Mediterrânea” A sua última gravação data de

2012 com as suas transcrições para tiorba das suites n º 1, 2 e 3, de Bach, originais para violoncelo

Ensina na Schola Cantorum Basiliensis, na Suiça

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Gabriel Antão e Pedro CostaRecital de Trombone e Piano

25 de julho, sexta-feira, 19h00 Museu do Vinho de Alcobaça Adega dos Balseiros

26 de julho, sábado, 21h30 Igreja Matriz de São Martinho do Porto

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Programa1.ª Parte

Georg Philipp Telemann · Sonata em fá menor

I. Triste

II. Allegro

III. Andante

IV. Vivace

Maurice Ravel · Valses Nobles et Sentimentales

1. Modéré, très franc

2. Assez lent, avec une expression intense

3. Modéré

4. Assez animé

5. Presque lent, dans un sentiment intime

6. Vif

7. Moins vif

8. Épilogue. Lent

Stjepan Sulek · Sonata Vox Gabrieli

2.ª Parte

Modest Mussorgski · Quadros de uma Exposição

(arranjo para trombone e piano de Christian Lindberg)

1. Promenade (Passeio) – Introdução

2. Gnomus (Gnomo)

3. Promenade (Passeio)

4. Il Vecchio Castello (O Velho Castelo)

5. Promenade (Passeio)

6. Tuileries (Tulherias)

7. Bydlo (Carro de Bois)

8. Promenade (Passeio)

9. Ballet des Petits Poussins dans leurs Coques (Bailado dos Pintaínhos nas suas Cascas)

10. Samuel Goldenberg et Schmuyle

11. Promenade (Passeio)

12. Limoges, le marché (O Mercado de Limoges)

13. Catacombae, Sepulcrum Romanum (Catacumbas, Sepulcro Romano)

14. Cum Mortuis in Lingua Mortua (Com os Mortos em Língua Morta)

15. La Cabane de Baba-Yaga sur de Pattes de Poule (A Cabana de Baba-Yaga sobre Patas de Galinha)

16. La Grande Porte de Kiev (A Grande Porta de Kiev)

Gabriel Antão, trombone*

Pedro Costa, piano*

Apoio: Paróquia, Junta de Freguesia e Casa da Cultura de São Martinho do Porto

*1 º Prémio ex-aequo do 15 º Concurso Internacional de Interpretação do Estoril

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Notas à Margem

Georg Philipp Telemann: Sonata em fá menor

Georg Philipp Telemann (Magdeburg, 1681 – Hamburgo, 1767) foi um dos compositores mais

conceituados da sua época A sua longevidade, que lhe permitiu abarcar o período barroco e a

transição para o período rococó, contribuiu também para que fosse um dos mais produtivos: o

seu catálogo de mais de 3 000 obras faz dele, segundo o Guiness o compositor mais prolífico da

história da música

A sua produção instrumental abrange uma grande variedade de formações e tipologias,

incluindo obras a solo, duos, trios, quartetos, sonatas, suites, concertos, etc , na sua maioria ante-

riores a 1740 Esta sonata em fá menor, publicada pela primeira vez em 1728-29 e originalmente

escrita para fagote (ou flauta) e baixo contínuo, tem a invulgar indicação “Triste” no primeiro

andamento e é exemplo de como Telemann soube escrever música capaz de comover e seduzir

não apenas os seus contemporâneos

Maurice Ravel, Valses Nobles et Sentimentales

Publicadas em 1911, as Valses Nobles et Sentimentales são uma suite de oito valsas que Ravel

(Ciboure 1875 – Paris 1937) dedicou a Louis Aubert, pianista francês que a estreou a 9 de maio de

1911 em Paris, num concerto realizado pela Société Musicale Indépendante. Neste concerto, lança-

ram o desafio ao público de tentarem adivinhar os compositores das obras executadas Surgiram

várias sugestões da audiência, tais como Eric Satie, Zoltán Kodály, e até mesmo uma resposta

correta vinda de Debussy, cujos ouvidos não poderiam ser enganados pela qualidade inconfun-

dível que ele apreciava em Ravel

Ravel compôs esta obra numa alusão direta às valsas para piano que Schubert publicou com

esses adjetivos, declarando que o título “indica com clareza suficiente a minha intenção de

compor uma sucessão de valsas seguindo o exemplo de Schubert” A partitura tem como

epígrafe uma citação de Henri de Régnier: “ le plaisir délicieux et toujours nouveau d’une occu-

pation inutile” – “ o prazer delicioso e sempre renovado de uma ocupação inútil”

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Stjepan Sulek, Sonata Vox Gabrieli (1973)

Stjepan Sulek foi um compositor e maestro croata que viveu entre 1914 e 1986 Esta sonata, “Vox

Gabrieli” (Voz de Gabriel), retrata o acontecimento bíblico da Anunciação do Anjo Gabriel à

Virgem É uma sonata num só andamento, em si bemol menor, que apresenta uma complexa

sobreposição de elementos com métrica ternária (evocativos da Santíssima Trindade e outras

referências ao Divino) sobre elementos com métrica binária (representando o Homem), e vice-

-versa, como num diálogo A grande complexidade rítmica do piano ajuda a criar um ambiente

evocativo, que alterna partes extremamente densas com outras cristalinas, sobre as quais surge

o trombone com um timbre escuro e lírico É também de notar que é no final da peça que surgem

as notas mais extremas em termos de registo, como que evocando a passagem/ligação do

mundo terreno aos Céus e ao Divino

Gabriel Antão

Modest Mussorgski · Quadros de uma Exposição

Modest Mussorgski, considerado o mais russo de todos os compositores exerceu uma grande

influência tanto nos músicos seus contempôraneos como nos que se lhe seguiram Membro do

famoso “Grupo dos Cinco”, juntamente com Alexander Borodin, Rimski-Korsakov, Mili Balakirev

e César Cui, defendeu tal como estes ideias nacionalistas, propondo libertar a música culta das

influências ocidentais e renová-la a partir do espiríto do folclore russo

O ciclo para piano “Quadros de uma Exposição” surgiu em 1874, em memória do falecido amigo e

pintor Victor Hartmann, do qual se tinha exposto uma série de aguarelas e desenhos

Os quadros são descritos por meios musicais de uma forma tão realista que parece que os vemos

formalmente Entre eles encontram-se representações naturalistas, como as resmungonas

vendedoras de hortaliça (“na praça do mercado de Limoges”), junto a temas fabulosos (como

o “Bailado dos Pintaínhos nas suas Cascas” ou o do “Gnomus”, um anão que “anda a espernear

sobre as suas pernas arqueadas”), outros de tradição popular russa (“A Grande Porta de Kiev”) e,

finalmente, outros simbolistas como “Catacombae, Sepulcrum Romanum”

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Gabriel AntãoTROMBONE

Gabriel Antão deu os primeiros passos com o trombone na Banda Visconde de Salreu, tendo

prosseguido para o Conservatório de Aveiro com o professor Luís Castro Formou-se na ESMAE,

na classe do professor Severo Martinez, e mais tarde na Universidade de Artes de Berlim, como

bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, na classe dos professores Stefan Schulz, Andreas

Klein e Rainer Vogt Neste momento é trombone solista da orquestra Tonkünstler em Viena

(Áustria) e tem colaborado com diversas orquestras, como a Wiener Philharmoniker, a Wiener

Staatsoper, a Opernhaus Zürich, a Rundfunk-Sinfonieorchester Berlin, a Deutsches Sinfonieor-

chester Berlin, a Wiener Volksoper, a Orquestra Gulbenkian, a Orchestra of Europe, aOrquesta

Ciudad de Granada e a Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música, entre outras A nível

de música de câmara, é membro do grupo Mr SC and the Wildbones Gang, e colabora com

frequência com ensembles como Les Dissonances (Paris), RSBrass (Berlim) e PhilBlech (Viena)

Recebeu o Prémio Helena Sá e Costa, o Prémio Emory Remington (com a classe de trombones da

Universidade de Berlim), o Prémio dos Rotários do Porto, o 2 ° Prémio no Prémio Jovens Músicos,

o 1 ° Prémio no Concurso Internacional de Instrumentos de Sopro “Terras de La Salette” e mais

recentemente o 1 ° Prémio ex-aequo com o Pianista Pedro Costa no Concurso de Interpretação

do Estoril Apresentou-se como solista com a Deutches Sinfonie-Orchester Berlin na Philharmo-

nie de Berlim, com a Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras, com a Orquestra Sinfonietta da

ESMAE e com a Banda Sinfónica do Conservatório de Música de Aveiro

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Pedro CostaPIANO

Pedro Costa nasceu em Macau em 1989 Iniciou o estudo de piano aos 7 anos de idade com a

professora Suzana Ralha na Associação Cultural “Os Gambozinos” e mais tarde no Conservatório

de Música do Porto com a professora Anne Marie Soares Concluiu em 2007 a Escola Profissio-

nal de Música de Espinho onde estudou 3 anos com o professor Fausto Neves Licenciado em

2012 no curso de Piano (classe do professor Luís Filipe Sá) da ESMAE, frequenta atualmente

o mestrado em piano no Koninklijk Conservatorium Brussel, na Bélgica, com o professor Piet

Kuijken, onde jé estudara um ano ao abrigo do programa ERASMUS, com o professor Daniel

Blumenthal Aperfeiçoou-se em cursos com Akiko Ebi, Álvaro Teixeira Lopes, Constantin

Sandu, Katia Veekmans, Luís Moura Castro, Miguel Borges Coelho, Pedro Burmester e Sequeira

Costa Colabora regularmente com cantores como Sarah Defrise, Julietta Kochorova, Marina

Pacheco, Sara Amorim e Noora Karhuluoma Nos dois últimos anos participou no International

Lied Master Classes, em Bruxelas, tendo a oportunidade de trabalhar com músicos como Udo

Reinemann, Peter Schreier, Hartmut Höll, Mistuko Shirai, Jospeh Breinl, Christianne Stotijn, David

Selig, Urszula Kryger, Wolfgang Holzmair, Juilus Drake e Christoph Pregardien, entre outros

Foram-lhe atribuídos vários prémios: 1 º Prémios no Concurso Santa Cecília (Porto, 2007), no

Concurso “ConCursos” (Aveiro, 2011), no Concurso Florinda Santos (S João da Madeira, 2012), no

Concurso Internacional Cidade do Fundão” (Fundão, 2012) e o 2 º Prémio e o Prémio Lopes-Graça

no Concurso Lopes-Graça (Tomar, 2008) Músico de Câmara ativo, foi premiado com o 3 º lugar

no Concurso Internacional de Música de Câmara de Alcobaça (Alcobaça, 2009), o 1 º Prémio

no III Concurso de Música de Câmara da ESMAE ( 2011), o 1 º Prémio no Concurso de Música

de Câmara “ConCursos” (Aveiro, 2011) e com o 3 º Prémio no Prémio Jovens Músicos (categoria

música de câmara – nível superior) em 2013 Em 2013 foi laureado no Concurso “New Tenuto” na

Bélgica (2 º prémio), com o “Prémio Helena Sá e Costa” no Porto e com o 1 º Prémio no Concurso

de Interpretação do Estoril Tem vindo a apresentar-se em recitais a solo, música de câmara e

acompanhamento de canto em salas de concerto em Portugal, Bélgica e Itália Tocou em festivais

de música como o Festival de Outono de Aveiro, o Harmos Classical no Porto, o Festival de Música

de Espinho e o Festival L’Europe en Musique em Bruxelas Teve também a oportunidade de tocar

a solo com a Orkest der Lage Landen sob a direção do maestro Walter Proost, com a Koninklijk

Muziekkapel van de Gidsen sob a direção do maestro Yves Segers, com a Orquestra Filarmonia

das Beiras sob a direção do maestro Luís Carvalho, com a Orquestra Sinfonieta da ESMAE sob a

direção do maestro António Saiote e a Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras sob a direção do

maestro Zvonimir Hacko

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Os Músicos do TejoÓpera Il mondo della luna Concerto de Encerramento

Marcos Magalhães, direção musical e cravo

27 de julho, domingo, 18h00 Cine-Teatro de Alcobaça João d’Oliva Monteiro

Patrocínio

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ProgramaIl Mondo della Luna

Dramma Giocoso em três atos

Música de Pedro António Avondano

Libreto de Carlo Goldoni

Ecclitico, falso astrónomo e pretendente de Clarice – Fernando Guimarães, tenor

Buona Fede, pai de Clarice e Flamínia – Luís Rodrigues, barítono

Ernesto, fidalgo, pretendente de Flaminia – Carlos Guilherme, tenor

Cecco, criado de Ernesto – João Fernandes, baixo

Clarice – Sara Braga Simões, soprano

Flaminia – Sandra Medeiros, soprano

Lisetta, criada de Buona Fede – Carla Simões, soprano

Os Músicos do TejoMarcos Magalhães, direção musical e cravo

Marta Araújo, coordenação geral e cravo

Agradecimentos: ISEG, Instituto Superior de Economia e Gestão

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Notas à Margem

Pedro António Avondano e o seu tempo

A chegada de D José ao poder, em 1750, é marcada por uma muito maior distanciação entre o

Estado e a Igreja do que tinha acontecido com o seu antecessor, D João V Grande apaixonado da

caça e da música, D José não parece interessado em ser rei de facto e entrega o poder ao Marquês

de Pombal, que se torna o verdadeiro senhor do país, submetendo todos os que se lhe opõem,

do clero (expulsão dos Jesuítas) ou da nobreza As suas importantes e inovadoras reformas vão

estimular a economia e provocar em vários setores da sociedade atividades culturais que até aí

não existiam É criada a Arcádia Lusitana, cujos membros vão contribuir para o desenvolvimento

de uma pequeno burguesia cultivada

Todo este movimento não chega para implantar em Portugal uma verdadeira corrente ilumi-

nista, em voga noutras partes da Europa: o ensino antiquado, o conservadorismo da sociedade e

do clero e a existência da censura impedem que se implantem entre nós ideias estéticas coeren-

tes, críticas e especulativas Apesar de alguma agitação a sociedade portuguesa continua pobre,

cultural e materialmente, e apenas a ópera se vai distinguir

Tanto D José como D Mariana Vitória são grandes adeptos da ópera italiana e vão dar-lhe um

impulso marcante no contexto geral da cultura portuguesa D José começa a organizar um

verdadeiro teatro de corte: contrata alguns dos melhores cantores estrangeiros, como Anton Raff

e o castrado Gizziello, a quem são pagos salários elevadíssimos, o arquiteto teatral Giovanni Carlo

Bibiena, o pintor Giacomo Azzolini, o maquinista Petronio Mazzoni, o coreógrafo Andrea Alberti

e o célebre compositor David Perez, antigo mestre da Real Capela Palatina de Palermo É com

óperas suas que são estreados os novos teatros: o do Forte, no Torreão da Casa da Índia, em 1752,

o de Salvaterra, em 1753, e a luxuosíssima Casa da Ópera, modernamente conhecida como Ópera

do Tejo, que é, apenas sete meses mais tarde, completamente destruída pelo terramoto

É a Ópera do Tejo que assume, para os espetáculos de ópera, a função representativa do poder

real, que era, com D João V, desempenhada pelas grandes cerimónias religiosas O rei assiste

pomposamente ao espetáculo, para o qual são convidadas as pessoas mais importantes do

reino, que incluem autoridades religiosas, juízes, oficiais, membros do governo, embaixadores

estrangeiros, mas também negociantes e comerciantes, de acordo com a política pombalina de

incentivo e dignificação das novas classes produtivas Os convidados ouvem a música em silên-

cio e nos intervalos viram-se para o rei, prestando-lhe a devida homenagem

Depois do terramoto, a Ópera do Tejo não é reconstruída O Marquês de Pombal consegue impor

as suas ideias de uma maior separação entre a administração pública e o rei, e este vai afastar-se

do Terreiro do Paço, instalando-se num palácio de madeira construído na Ajuda (a Real Barraca)

Entre 1755 e 1763 não há espetáculos operáticos, e estes, quando recomeçam, em Salvaterra ou na

Ajuda, destinam-se já mais ao divertimento da família real do que a funções representativas do

poder absoluto

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Os compositores portugueses, apesar de terem algum apoio (João de Sousa Carvalho, Jerónimo

Francisco Lima e Brás Francisco Lima estudam entre 1761 e 1767 no Conservatório napolitano de

Santo Onofrio a Capuana) e da ação pedagógica do Seminário da Patriarcal, são pouco utilizados

na música dramática Até ao ano da morte de D José, apenas se representam óperas de João

Cordeiro da Silva (duas), Luciano Xavier dos Santos (cinco), João de Sousa Carvalho (duas),

Jerónimo Francisco Lima (uma) e Il mondo della luna, de Pedro António Avondano

Pedro António Avondano foi batizado em Lisboa em abril de 1714 (portanto deve ter nascido

pouco antes) e morreu em 1782, também em Lisboa Seu pai, Pietro Giorgio Avondano, genovês,

estabeleceu-se em Lisboa, com 19 anos, no tempo de D João V, e foi primeiro violino da Orquestra

da Real Câmara Sua mãe era francesa, nascida em Nantes Pedro António foi também violinista

da Real Câmara, entre 1754 e 1782, e as suas obrigações incluíam a composição de música para os

bailados que acompanhavam as óperas Foi o mais importante compositor de música instrumen-

tal em Portugal na segunda metade do século XVIII, sendo autor de música para tecla, música

de câmara, sobretudo minuetos, e música orquestral, que inclui peças para violoncelo solo,

destinadas provavelmente ao seu irmão Jorge Baptista André Avondano, primeiro violoncelo da

Real Câmara e bolseiro de D José em Paris

A Irmandade de Santa Cecília era uma organização com fins religiosos, de promoção da caridade

e fraternidade entre os músicos, mas também de caráter associativo, de defesa dos seus interes-

ses profissionais Pedro António foi um dos principais obreiros da sua reorganização, em 1765 A

reunião para aprovação dos estatutos foi mesmo feita em sua casa, suficientemente ampla para

acolher os 152 membros da Irmandade Foi nessa mesma casa que Avondano fundou a Assem-

bleia das Nações Estrangeiras, onde a colónia estrangeira se reunia duas vezes por semana para

jogar cartas e dançar, e onde também se davam concertos Para estes bailes compôs grande

número de minuetos, dos quais duas coleções foram editadas em Londres, custeadas pela coló-

nia inglesa Recebeu em 1767 o grau da Ordem de Cristo

Il mondo della luna

Carlo Goldoni, o autor do libreto, nasceu em Veneza, em 1707, filho de um médico de Perúgia

Escreveu cerca de 80 libretos, a maior parte para óperas cómicas Foi inovador, sobretudo pela

preocupação com a ligação dramáticas das cenas, pela caracterização das personagens e pela

procura de uma lógica em que as árias e canções aparecessem de um modo natural, sem inter-

romper a ação D José contactou (e pressionou) Goldoni para que este criasse obras para a corte

portuguesa, pagando-o generosamente Cerca de dez óperas com libretos da sua autoria devem

ter sido representadas em Portugal

Il mondo della luna, libreto de grande sucesso, foi posto em música pelos compositores Galuppi

(Veneza, 1750), Gassmann (Turim, 1760), Avondano (Salvaterra, 1765), Piccini (Milão, 1770), Astari-

tta (Veneza, 1775), Joseph Haydn (Esterház, 1777), Pisiello (Florença, 1792) e Aici (Palazzoli, 1809)

Ecclittico, um falso astrónomo, montou um telescópio em sua casa e está com os discípulos a

observar os astros Decide pregar uma partida a Buona Fede, fazendo-lhe crer que com o seu

poderoso telescópio pode ver perfeitamente o mundo lunar, não só ao longe mas também as

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casas, as ruas e as pessoas, e sobretudo as mulheres Ele e os seus discípulos montam cuidado-

samente uma cena e conseguem que Buona Fede veja na lua uma rapariga apaixonada por um

velho, um marido a bater na mulher e uma amante a puxar a amada pelo nariz

Ecclittico e o seu amigo Ernesto estão apaixonados pelas filhas de Buona Fede, Clarice e Flami-

nia, e Cecco, criado de Ernesto, quer Lisetta, a criada de Buona Fede Todas correspondem aos

desejos dos seus apaixonados, mas não conseguem escapar à asfixiante vigilância do pai, no

caso de Flaminia e Clarice, e às investidas amorosas do patrão, no caso de Lisetta

Ecclittico vai despedir-se de Buona Fede, contando-lhe que foi convidado para se juntar ao

imperador da lua Buona Fede insiste em ir com ele e bebe uma poção mágica que o transportará

pelos ares Acorda num maravilhoso jardim (o jardim de Ecclittico) onde tudo está preparado e

todos disfarçados para dar a ilusão do mundo lunar Buona Fede fica deslumbrado com tudo o

que vê e ouve É vestido a rigor e recebido pelo imperador (que é Cecco disfarçado) Lisetta, que

não sabe de nada, é trazida de olhos vendados, não quer acreditar que está no mundo lunar mas,

convidada a casar-se com o imperador, não resiste à tentação de poder e honrarias, aceita (no

meio dos protestos do patrão) e é coroada imperatriz

Clarice e Flaminia, cúmplices de toda a combinação, chegam numa máquina voadora, e através

de uma hábil manipulação de Cecco a Buona Fede, são concedidas em casamento a Ecclittico e

Ernesto, e acabam mesmo por ver as suas uniões abençoadas pelo pai

Os dois casais recém formados e Cecco acham que é boa altura, agora que têm tudo o que preten-

dem, de regressar ao seu mundo verdadeiro Buona Fede não compreende Cecco e Ecclittico

explicam-lhe então tudo o que se passou Ele fica furioso e acusa-os de traição, enquanto Lisetta

lamenta a perda da sua posição de imperatriz

O primeiro ato introduz e desenvolve a intriga, define claramente os seus objetivos e concretiza a

primeira grande parte: a viagem É o ato da construção da ação É um ato racional

O segundo ato, todo baseado na dualidade amor-ciúme (utilizando Lisetta como charneira), é

construído num crescendo de ilusão, desde o acordar de Buona Fede na lua até à coroação de

Lisetta É um ato ilusório, o clímax dramático da obra É um a to emocional

As quatro primeiras cenas do terceiro ato são sobre a ambição social e o poder A última cena,

que junta vários acontecimentos, é o desfecho natural da história: primeiro os casamentos,

depois o desmoronar do mundo virtual de Buona Fede e das ilusões da imperatriz Lisetta, de

novo na cozinha

Il mondo della luna tem duas importantes conclusões morais, entre outras de menor relevo A

primeira e mais importante defende que cada um deve procurar em si próprio e no seu mundo a

solução para os seus problemas É dita por Ecclittico: “quantos tolos mortais com falsos telescó-

pios crêem ver a verdade e não sabem descobrir a falsidade Quantos vão olhando para o que os

outros fazem e a si mesmos não se sabem conhecer ” Também é retomada por Cecco: “Ó gente

louca do mundo sublunar [real]! Procuram conhecer as estrelas e a vós mesmos não vos conhe-

ceis ” E ainda por Ecclittico e Cecco em simultâneo: “Isto é o que sucede a quem quer mudar o

destino Ao homem não pode a lua dar a felicidade” A segunda, sobre a realidade e a verdade, é

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dita por Cecco: “Fazem-me rir os que crêem que a verdade é aquilo que vêem Assim não fazem

os ingénuos, que fingem constantemente e enchem a verdade de falsidade” Também é exposta

por Clarice: “Cada um quer o saber, mas quanto mais estuda menos entende, e deixa-se enganar ”

E finalmente por Flaminia: “o coração insensato não entende a alegria nem a dor, e não sabe

descobrir o que é verdadeiro ”

Jorge Matta

Os Músicos do TejoOs Músicos do Tejo são um novo projeto musical no campo da música antiga, fundado e dirigido

por Marcos Magalhães e Marta Araújo Tiveram a sua primeira apresentação em Setúbal em

dezembro de 2005 e na sua curta existência como grupo especializado em música antiga já

desenvolveram uma parceria com o CCB que os levou produzir três óperas, editaram dois discos,

apresentaram-se em inúmeros concertos em Portugal e no estrangeiro e foram objeto de diversos

apoios institucionais (Fundações Gulbenkian, Oriente e Stanley Ho; Câmara Municipal de Lisboa,

Direção Geral de Reinserção Social e Instituto Camões) e mecenáticos (AMARSUL, mecenas

privados) As óperas La Spinalba de F A de Almeida e Lo frate nanmorato de G B Pergolesi, estrea-

das no CCB, foram recebidas com grande sucesso a nível de público e obtiveram críticas entusiás-

ticas por parte da totalidade da crítica especializada (Publico, Diário Notícias, Jornal de Letras,

Expresso) A ópera La Spinalba foi objeto de uma digressão em Portugal e Espanha e já vai na sua

décima apresentação Também no CCB, estrearam em maio de 2011 a ópera Le Carnaval et la folie

de A C Destouches e em janeiro de 2013 a serenata Il trionfo d’ amore de F A Almeida, ambas

com excelente acolhimento por parte do público e da crítica especializada O disco “As Sementes

do Fado” (com Ana Quintans, Ricardo Rocha e Marcos Magalhães) obteve 4 estrelas (em 5) no

jornal Público e foi considerado pelos críticos do JL como um dos melhores discos nacionais do

ano de 2007 Graças a este disco, o programa Sementes do Fado já foi apresentado 6 vezes, entre

as quais em outubro de 2011 na Église des Billetes em Paris Nessa altura foram também convida-

dos do programa de Gaëtan Naulleau Le matin des Musiciens, na rádio France Musique O disco

“As Árias de Luisa Todi” (com a soprano Joana Seara), que apresenta o repertório cantado pela

célebre prima-donna portuguesa do século XVIII, obteve igualmente 4 estrelas (em 5) no jornal

Público Em 2010 colaboraram com o Teatro Praga no espetáculo Sonho de uma Noite de Verão,

estreado no CCB e apresentado no festival Facyl em Salamanca em 2011, no Festival Le Standard

Idéal em Bobigny (Paris) em 2012 e em Guimarães – Capital da Cultura Em 2012 apresentaram-se

no Festival das Artes em Coimbra e no âmbito dos concertos - Rota dos Mosteiros, em Tomar,

Alcobaça, Batalha e Jerónimos Os Músicos do Tejo apresentaram-se em concerto em locais tão

variados como Mafra, Vigo, Brest, Paris, Goa na Índia, Sastmala na Finlândia e Praga na República

Checa A Associação Cultural Os Músicos do Tejo foi criada em junho de 2009 Em novembro de

2012 foi editado pela Naxos a sua gravação da ópera La Spinalba de F A de Almeida, com apoio

da DGArtes, CML e do ISEG, que obteve no jornal Público 5 estrelas (em 5) e na prestigiada revista

de música “Diapason” 4 estrelas (em 5) Este disco foi selecionado entre os 10 melhores de música

clássica de 2012 pelo Público, e pelo Expresso como um dos 50 discos imprescindíveis, de entre

todos os discos editados mundialmente Os Músicos do Tejo lançaram o triplo disco La Spinalba

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no CCB e realizaram diversas sessões de apresentação do mesmo na Fnac Chiado, Almada entre

outros No dia 25 de abril de 2013, tiveram a sua estreia no Grande Auditório da F C Gulbenkian

com a ópera Dido e Eneias de H Purcell, com excelente crítica no semanário Expresso (5 estrelas

em 5) A 15 de julho estrearam-se em concerto no Festival Internacional de Música da Póvoa de

Varzim No Dia Mundial da Música estrearam-se no Fórum Luísa Todi em Setúbal, participaram

nos Concertos de Natal da EGEAC nos anos 2012 e 2013 e foram o grupo escolhido para atuar no

Teatro D Maria II no âmbito da entrega do Prémio de Arquitetura Secil Participam com regulari-

dade nos Dias da Música em Belém, no CCB Na edição deste ano acompanharam Paul Badura

Skoda no Concerto n º 27 para piano de Mozart Próximos projetos incluem a edição do disco Il

Trionfo d’ Amore na NAXOS, a reposição de La Spinalba no Festival Internacional de Música da

Póvoa de Varzim e duas récitas da ópera Paride e Elena de Gluck no CCB

Marco MagalhãesDIREÇÃO MUSICAL E CRAVO

Marco Magalhães, nascido em Lisboa, estudou na Escola Superior de Música de Lisboa e no

CNSM de Paris com Christophe Rousset, Kenneth Gilbert, Ketil Haugsand, Françoise Marmin,

Cremilde Rosado Fernandes e Kenneth Weiss Mais recentemente tem tido aulas de direção

de orquestra com Jean Marc Burfin Marcos Magalhães tem desenvolvido intensa atividade

concertística tanto em Portugal como no estrangeiro: com o Ensemble Barroco do Chiado na

Temporada Gulbenkian, Centro Cultural Gulbenkian em Paris, Festa da Música – CCB, nos festi-

vais de Espinho, Mafra, Encontros com o Barroco do Porto; com outros agrupamentos (“Orphée

et Caetera”) – concertos em Paris, Bratislava, festival “les Baroquiales” em Nice e no festival dos

Capuchos No verão de 2003 tocou com o Ensemble Barroco do Chiado a convite da Fundação

Oriente na Índia (Nova Deli, Goa e Bangalore) e Sri Lanka (Colombo) Tocou na Festa da Música a

solo e em duo com Paulo Gaio Lima e a solo com a Orquestra Gulbenkian no Festival de Alcobaça

sob a direção de Joana Carneiro Participou em várias produções de ópera e integrou a Orquestra

Gulbenkian, a Orquestra Metropolitana de Lisboa, Orquestra da Madeira e a Orquestra Barroca

da União Europeia em variadas ocasiões Fundou também, em conjunto com Marta Araújo, “Os

Músicos do Tejo”, grupo dedicado à música antiga Em 2007 editou o disco “Sementes do Fado”

juntamente com Ana Quintans e Ricardo Rocha Dirigiu no CCB “Os Músicos do Tejo” nas óperas

“La Spinalba” de F A de Almeida em 2009 e “Lo Frate Nnamorato” de G B Pergolesi, ambas com

enorme sucesso junto do público e da crítica especializada Dirigiu, em 2010, a parte musical do

espetáculo “Sonho de Uma Noite de verão” do Teatro Praga com música da ópera “Fairy Queen”

de Purcell no Grande Auditório do CCB Também em 2010 editou o CD “As Árias de Luísa Todi”

Em maio de 2011 dirigiu no CCB a ópera “Le Carnaval et la Folie” de A C Destouches e em janeiro

de 2013 a serenata de F A de Almeida Il Trionfo d’Amore No outono de 2012 foi editado pela

Naxos a gravação da ópera La Spinalba de F A de Almeida que dirigiu Está neste momento a

realizar, na Universidade Nova, doutoramento orientado por David Cranmer em torno das Modi-

nhas Luso-Brasileiras É bolseiro da F C T

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