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Programa de Pós-Graduação em Música Escola de Comunicações e Artes Universidade de São Paulo Elementos para a estruturação de um curso de composição de canção no ensino técnico e superior Supervisor: Paulo de Tarso Camargo Cambraia Salles Candidato: Marcelo Segreto

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Programa de Pós-Graduação em Música Escola de Comunicações e Artes Universidade de São Paulo

Elementos para a estruturação de um curso de composição de canção no ensino técnico e

superior

Supervisor: Paulo de Tarso Camargo Cambraia Salles

Candidato: Marcelo Segreto

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Elementos para a estruturação de um curso de composição de canção no ensino técnico e

superior

Supervisor: Paulo de Tarso Camargo Cambraia Salles

Candidato: Marcelo Segreto

Instituição sede: Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP)

Resumo

Este projeto pretende estruturar um curso de composição de canção a partir de três

perspectivas teóricas distintas: a musicologia, a semiótica da canção e a teoria literária. Nosso

objetivo é, por meio dessas diferentes abordagens, identificar os seus procedimentos criativos

mais recorrentes e produzir um livro com análises e propostas de atividades de criação que

possa ser utilizado em cursos de música do ensino superior ou técnico. Acreditamos que nosso

trabalho poderá suprir uma carência significativa na área, visto que não há obras em língua

portuguesa que orientem disciplinas de composição de canção de modo sistemático e afinado

com as pesquisas acadêmicas mais recentes, o que talvez justifique a carência do ensino de

criação cancional nos cursos regulares de música do país. Nosso projeto visa a estruturação de

um curso de criação artística a partir de uma abordagem abrangente que abarque e articule

diferentes enfoques sobre o assunto, contemplando a pluralidade de pensamentos que orbitam

em torno da canção. Além disso, com o intuito de evitar a ênfase em determinadas orientações

estéticas, adotaremos uma postura teórica que entende cada um dos procedimentos criativos

como princípios gradativos que podem ser utilizados com maior ou menor presença.

Baseando-nos em “princípios cancionais”, desejamos, então, abandonar uma postura

normativa ou prescritiva no ensino da composição de canção. Por fim, diferentemente das

propostas trazidas pelos principais métodos de criação estrangeiros (dos quais faremos uma

análise rigorosa) e considerando a canção uma linguagem artística autônoma (ainda que

sincrética), desejamos tratar os seus componentes de modo sempre articulado, sem jamais

isolar os aspectos musicais dos aspectos linguísticos, por exemplo.

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Elements for structuring a songwriting course in technical and higher education

Supervisor: Paulo de Tarso Camargo Cambraia Salles

Post-doctoral candidate: Marcelo Costa Segreto

Host institution: Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP)

Abstract

This research project aims to structure a songwriting course based on three distinct theoretical

perspectives: musicology, song semiotics and literary theory. Considering these different

approaches, we want to identify the most common creative procedures and make a book with

analyses and exercises that could be used in higher education and on technical music courses.

We think that this work can satisfy a demand in the area since there are no existing

publications in Portuguese that systematically guide songwriting programs and are in tune

with the latest academic research (which may explain the lack of songwriting teaching on

Brazilian music courses). Our goal is to structure an artistic creation course based on a

comprehensive approach that encompasses and articulates different perspectives on the

subject, looking at the plurality of thoughts that orbit around song. Furthermore, in order to

avoid emphasis on certain aesthetic orientations, we decided to adopt a scientific stance that

understands each of the creative procedures as gradual principles that can be used to greater

or lesser degrees. Then, relying on “song laws”, we want to avoid a normative or prescriptive

stance in teaching song composition. Finally, unlike the proposals brought by the main

foreign songwriting methods (which we will analyse rigorously) and considering song a

syncretic but autonomous artistic language, we wish to study its components in an integrated

manner, without ever isolating the musical elements from the linguistic elements, for

example.

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1) Enunciado do problema:

A canção popular comercial obteve, ao longo do século XX, um lugar de significativo

destaque na cultura brasileira. O seu prestígio, potencializado pela popularização do rádio, na

década de 1930, e da televisão, a partir dos anos 1960, produziu, ao final do século, uma forte

demanda em nossa sociedade. De fato, o gênero passou a despertar interesse cada vez maior

de pensadores e artistas pertencentes às mais diversas áreas. Na universidade, começou a ser

estudado por pesquisadores de diferentes campos do conhecimento, da literatura à

musicologia, passando pela história, pela sociologia e pela linguística. No entanto, ainda que

tenhamos atualmente uma diversificada e excelente produção acadêmica dedicada à canção,

acreditamos que a sua presença na universidade, sobretudo nos departamentos de música, é

ainda insuficiente. Primeiramente, constatamos a carência de disciplinas de composição de

canção nos cursos regulares de música do país. Em segundo lugar, observamos a inexistência

de materiais didáticos em língua portuguesa que abordem o assunto de maneira aprofundada.

Por fim, acreditamos que, via de regra, os cursos não consideram certas especificidades da

linguagem da canção, estudando-a com as mesmas ferramentas analíticas da música ou da

poesia escrita, por exemplo. São, talvez, três aspectos que se referem ao mesmo problema:

como abordar a criação de canção nas universidades e conservatórios? Antes de discutirmos o

que pretendemos com nosso trabalho, delineemos de modo mais detalhado os três pontos

acima mencionados (para os quais nossa pesquisa pretende apresentar caminhos).

Como dissemos, ainda que a canção desperte forte interesse de estudantes e

pesquisadores, via de regra, não observamos a presença de disciplinas ou cursos específicos

de criação de canção na grade curricular regular dos centros de ensino de música do país

(universidades, conservatórios e cursos livres). Nos cursos de graduação em música popular,

por exemplo, não há aulas de composição de canção tão estruturadas e consolidadas quanto as

matérias de arranjo, prática instrumental, história da música popular, harmonia, análise etc.

Nesse sentido, é significativo observarmos que o curso de música popular do Instituto de

Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o primeiro a ser criado no Brasil,

possui no momento uma configuração curricular predominantemente voltada para a prática

interpretativa, sem incorporar de modo regular a atividade de criação de canção (para a qual

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reserva ocasionalmente disciplinas optativas) . A área de criação fica restrita, então, sobretudo 1

às disciplinas de arranjo. Via de regra, essa fisionomia curricular parece ecoar nos demais

programas das universidades brasileiras. Por exemplo, a segunda instituição a implementar

um curso de música popular, a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) , 2

atualmente o oferece com a denominação “Bacharelado em Música Popular Brasileira -

Arranjo Musical”, o que já evidencia o seu foco principal nas questões ligadas ao arranjo

instrumental em detrimento de outros aspectos criativos da canção. Outrossim, a

Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR), a terceira universidade brasileira a possuir

bacharelado em música popular (2003), possui em sua estrutura curricular plena apenas uma

disciplina voltada para a criação de canção, “Composição de canções I”, oferecida no terceiro

ano do curso . Diferentemente, a disciplina “Arranjo Musical” possui dois semestres no 3

currículo pleno e mais dois de disciplinas optativas, o que demonstra a sua maior presença . 4

Partindo para o segundo ponto de nosso problema, acreditamos que essa presença

tímida das disciplinas de composição de canção nas universidades brasileiras deve-se

possivelmente a uma carência de publicações que possam amparar o aprendizado dessa

atividade específica de criação de modo sistemático e abrangente. Ao contrário dos estudos

analíticos de canção, que são numerosos e diversificados, há pouquíssimas obras em língua

portuguesa voltadas à disciplina prática de composição. No Brasil, dirigida especificamente à

canção, encontramos apenas uma, o livro Composição: uma discussão sobre o processo

criativo brasileiro (1997) do pianista e professor carioca Antonio Adolfo. Publicações

estrangeiras, ao contrário, são mais numerosas e diversificadas. Devemos mencionar,

sobretudo, as obras publicadas pela Berklee Press, editora da Berklee College of Music,

O curso surgiu em 1986 por iniciativa do então chefe do departamento de música Maestro Benito Juarez, mas 1

foi implementado de fato em 1989 com o ingresso da primeira turma de alunos. Atualmente, a faculdade oferece, na área da música popular, habilitações em cordas, percussão, sopros, teclados e voz.

O curso da UNIRIO foi criado em 1998.2

A disciplina “Composição de canções II” é optativa, não constando na grade curricular obrigatória.3

O mesmo ocorre em outros cursos de música popular. Observamos uma maior ênfase em disciplinas de arranjo 4

ao mesmo tempo em que as aulas de criação de canção são significativamente escassas. Outras instituições passaram a oferecer cursos superiores em música popular a partir dos anos 2000. Podemos citar aqui o Curso Sequencial de Formação Específica da Universidade Estadual do Ceará – UECE (2005), o Bacharelado Interdisciplinar em Música Popular da Universidade Federal da Bahia - UFBA (2009), o Curso superior em Música Popular da Universidade Federal da Paraíba - UFPB (2009), o Bacharelado em Música Popular da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG (2009), o Bacharelado em Música Popular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS (2012) e o Bacharelado em Música Popular da Universidade Federal de Pelotas – UFPel (2013).

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instituição norte-americana que possui cursos de composição de canção muito estruturados . 5

Destacam-se as obras escritas por Jimmy Kachulis , Barbara L. Jordan e Pat Pattison , 6 7 8

professores que atuam nesse centro educacional e que realizam estudos bastante rigorosos do

tema. Grande parte das publicações estrangeiras voltadas para a atividade prática de criação,

no entanto, não possui o mesmo rigor acadêmico. Dirige-se, em geral, a um público não

profissional e possui caráter fortemente comercial. São manuais e métodos que abordam o

assunto de modo muito simplificado, sem qualquer postura científica ou proposta pedagógica

que possa fundamentar aulas de composição em universidades, por exemplo.

A terceira faceta de nosso problema refere-se à maneira como os cursos e publicações

existentes abordam o processo criativo do compositor de canções. Via de regra, pouco se fala

sobre a questão da relação entre o texto verbal e o texto musical. Em grande parte das

publicações estrangeiras sobre o assunto, estuda-se questões ligadas à harmonia, à melodia, ao

arranjo ou aos recursos poéticos (metáforas, aliterações etc.) sem incorporar um pensamento

sobre a combinação entre letra e música. É como se esses componentes da canção fossem

tratados de modo isolado ou como se atuassem da mesma forma como operam na poesia

escrita ou na música instrumental. Diferentemente, acreditamos que os procedimentos

poéticos e musicais, na canção, possuem uma especificidade. A relação entre a língua e a

música modula a utilização desses recursos. Por isso, a abordagem desses conceitos não deve

ser realizada, a nosso ver, da mesma forma como é tratada em cursos de criação de poesia ou

de composição musical. Por exemplo, quando analisamos a ocorrência de uma figura de

linguagem de som como a aliteração em uma canção, observamos o quanto a sua combinação

com a melodia torna-se significativa:

Trata-se de uma faculdade norte-americana localizada na cidade de Boston (Massachusetts). Nessa instituição, 5

há um departamento de canção que oferece diferentes tipos de curso e até mesmo um bacharelado em canção com duração de oito semestres no qual há diversas disciplinas práticas de criação.

The Songwriter’s Workshop: Melody (2003) e The Songwriter’s Workshop: Harmony (2005). 6

Songwriters Playground: Innovative Exercises in Creative Songwriting (1994).7

Songwriting: Essential Guide to Lyric Form and Structure: Tools and Techniques for Writing Better Lyrics 8

(1991).

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Figura 1. A aliteração sob a perspectiva da canção em Morena de Angola (Chico Buarque)

No exemplo acima, a expressividade gerada pela repetição do som consonantal [ʃ] nos

vocábulos “mexe” e “chocalho” está intimamente ligada ao padrão rítmico da melodia e do

acompanhamento instrumental. O fato de a canção apresentar uma configuração rítmica

regular faz com que a aparição dessas consoantes fricativas sugira uma interessante marcação

rítmica em diálogo com a regularidade sonora da obra. No poema escrito, evidentemente, cuja

sonoridade não é tão estabilizada, não teríamos um efeito tão preciso como esse que notamos

em Morena de Angola. Em Chuva, suor e cerveja, de Caetano Veloso, observamos que o uso

da aliteração estabelece relações não apenas com a configuração rítmica, mas também com a

recorrência no âmbito da altura.

Figura 2. A aliteração sob a perspectiva da canção em Chuva, suor e cerveja (Caetano Veloso)

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Antes de tudo, observemos como essa canção utiliza o processo aliterativo

combinando a repetição dos sons consonantais [ʃ] (“abaixo”, “acho” e “chuva”) e [ʒ] (“ajuda”

e “gente”). Visto que ambos são consoantes palatais fricativas (a primeira surda e a segunda

sonora), notamos que suas resultantes sonoras são próximas. Ao conjugá-las, o compositor

produz um efeito aliterativo que sugere uma aproximação com o ruído gerado pela chuva,

tema presente no conteúdo da letra. Tendo em vista o intuito de nossa pesquisa em delimitar

precisamente a linguagem artística do compositor de canções, diferenciando-a do trabalho do

poeta ou do músico (ainda que tenhamos, evidentemente, muitas confluências entre eles), não

devemos jamais interromper nossa análise nesse ponto. Mais do que notar a aparição da

repetição dos sons consonantais, devemos observar a sua relação com a linha melódica.

Vejamos. Examinando os compassos 16 a 19, constatamos que essas consoantes fricativas são

posicionadas regularmente em síncopas entre o primeiro e o segundo tempo de cada

compasso. Nesse exemplo, portanto, a aliteração está combinada a uma marcante reiteração

rítmica, aspecto que consideramos essencial para a leitura da obra. De modo distinto, no

poema, não observamos tamanho grau de estabilização sonora. Tomando apenas o segmento

“Acho que a chuva”, por exemplo, acreditamos que a sua leitura em um texto escrito

naturalmente enfatizaria as sílabas tônicas dos vocábulos. Com isso, a sílaba átona de “acho”,

importante por sua carga aliterativa, não se destacaria de forma tão intensa. Em Chuva, suor e

cerveja, a melodia faz com que a sílaba tônica de “acho” seja levemente minimizada em prol

do realce em sua sílaba átona que contém o som consonantal [ʃ]. Além disso, ainda analisando

o último pentagrama da figura acima, notamos que a aliteração acontece nas notas mais

agudas da melodia, sobretudo no caso das palavras “acho”, “chuva” e “ajuda”, cujos sons

fricativos coincidem com a nota Dó, a mais aguda de todo o fragmento. Trata-se, então, de

mais uma relação (agora ligada ao parâmetro altura) entre o componente musical e o

componente linguístico, o que demonstra que as figuras de linguagem, na canção, possuem

um uso próprio, específico. Afinal, a canção, e não o poema, consegue delimitar de modo

preciso a execução sonora do texto verbal. Por isso, nossa pesquisa, ao tratar do processo

criativo do cancionista, não deve desconsiderar a combinação entre os dois componentes.

Verificamos, portanto, uma importante diferença entre a apreensão estética do poema

escrito e da letra de canção. Esta contém configurações sonoras que o primeiro não prevê. O

poeta, em contrapartida, trabalha com aspectos visuais e espaciais (na página do livro) que

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uma canção obviamente não possui. Algo similar ocorre em relação à linguagem musical. Há,

por exemplo, diferenças significativas entre o processo de composição de uma melodia

instrumental e o procedimento de criação de uma linha melódica para ser cantada combinada

ao texto linguístico. Durante a atividade criativa, as palavras podem transformar essa melodia

a partir dos acentos da língua, por exemplo. Por vezes, versões distintas de uma mesma

canção apresentam diferentes configurações melódicas. Comparemos dois fonogramas da

canção Piano na Mangueira, o primeiro presente no álbum Paratodos (1993) de Chico

Buarque e o segundo no disco Antônio Brasileiro (1994) de Tom Jobim, ambos autores da

obra.

Figura 3. Piano na Mangueira (Tom Jobim / Chico Buarque) na versão de Chico Buarque

Figura 4. Piano na Mangueira (Tom Jobim / Chico Buarque) na versão de Tom Jobim

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É conhecido o episódio em que o compositor Tom Jobim se mostrou descontente com

um detalhe da letra apresentada por seu parceiro Chico Buarque. De fato, na primeira figura,

transcrição da versão do letrista, constatamos que o incômodo de Jobim se deve ao fato de a

palavra “mandei” sofrer deslocamento silábico gerado por fatores ligados à intensidade e à

altura: a sua primeira sílaba, átona, coincide com uma síncopa para o tempo mais forte do

compasso e com uma nota mais aguda do que a da sílaba tônica do vocábulo . Interessa-nos, 9

assim, observar a maneira pela qual Tom Jobim reescreveu o mesmo trecho, numa tentativa

de eliminar o desvio acentual. O compositor, ao alterar a letra de Piano na Mangueira,

seguindo o caráter melódico sincopado de toda a obra (e também uma característica do 10

gênero no qual a canção está inserida), reposicionou a sílaba tônica do vocábulo “mandei”

recolocando-a na síncopa para o primeiro tempo forte do oitavo compasso . Com isso, 11

eliminando o advérbio “já” e antecipando a aparição da palavra “mandei”, o compositor

também fez coincidir a sílaba átona desse vocábulo com a nota Dó# e a sua sílaba tônica com

uma nota mais aguda (Mi natural). Esse pequeno salto intervalar o auxiliou, então, a eliminar

o deslocamento silábico que o incomodava.

Portanto, observamos nas figuras acima alterações na linha melódica que são resultado

de uma vontade estética ligada à combinação entre o texto verbal e a melodia. É para

reacomodar a prosódia da palavra “mandei” que Jobim realiza tais modificações . 12

Constatamos aqui, mais um exemplo de que a relação entre a letra e a melodia deve estar

sempre presente no trabalho de análise e, consequentemente, nas atividades pedagógicas dos

cursos de composição de canção. Trata-se, portanto, de estabelecermos as possíveis diferenças

entre a linguagem da canção e a linguagem poética e musical. Enfim, para que a canção seja

abordada com o mesmo rigor acadêmico com o qual são abordados outros assuntos estudados

nos cursos superiores de música, devemos buscar uma abordagem que incorpore a relação

entre os aspectos linguísticos e musicais.

A sílaba átona “man” coincide com a nota Mi natural e a sílaba tônica “dei” encontra a nota Ré natural. 9

É notável que a versão presente no álbum de Tom Jobim apresenta uma linha melódica significativamente 10

mais sincopada.

Em nossa tese de doutorado analisamos esse fenômeno ligado à acentuação de sílabas posicionadas em 11

síncopas para os tempos forte ou meio-forte do compasso. Sobre esse assunto ver SEGRETO, 2019: 230-232.

Além das mudanças rítmicas a transformação melódica realizada por Jobim também eliminou a nota Ré que 12

observamos no primeiro tempo do compasso oito na versão presente no álbum de Chico Buarque.

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É possível que a dificuldade da inserção da canção nas universidades e conservatórios

(a qual situamos a partir da carência de três aspectos: disciplinas de criação, materiais

didáticos em português e abordagem que considere a especificidade de sua linguagem) seja o

resultado da sua constituição estética singular. De fato, podemos considerar a canção como

uma linguagem artística sincrética e isso pode tornar mais difícil o seu exame. Expliquemos.

Uma vez que a canção articula, sobretudo, elementos musicais e linguísticos, é comum a

tendência de estudá-la por meio das ferramentas analíticas da musicologia e da literatura, suas

linguagens adjacentes. No entanto, nem uma, nem outra, possui, como principal questão, o

estudo dessa articulação, o que torna essas análises algo escorregadias e restritas, ainda que

riquíssimas e indispensáveis. Um crítico literário poderá encontrar canções cujas letras

contêm aspectos poéticos cultivados pelos poetas mais importantes de nossa língua. Um

musicólogo se deparará com obras de nosso cancioneiro que utilizam procedimentos criativos

usados pelos compositores da música erudita contemporânea. Ambos deixarão de lado, no

entanto, uma enorme quantidade de canções e de significados que não incluem nenhum desses

aspectos poéticos ou musicais. Afinal, suas letras não são poemas e suas usuais melodias

acompanhadas não constituem peças musicais propriamente ditas. São, afinal, obras

cancionais. Assim, o fato de haver uma combinação simultânea de questões orais e sonoras

faz com que o pesquisador precise convocar conhecimentos não apenas musicais, mas

também linguísticos e literários, e, sobretudo, o incita a tratar dessa articulação.

Por ser inseparavelmente musical e verbal, é difícil tanto compor a canção como analisá-la. Ela

remete a diferentes códigos e, ao mesmo tempo, apresenta uma unidade que os ultrapassa: como não é um poema musicado, o texto não pode ser examinado em si, independentemente da melodia – se isso for feito, pode-se ter, quando muito, uma análise temática (FAVARETTO, 2007: 32-33)

Essa ideia da relação entre a melodia e a letra, cara ao nosso projeto, foi intuída por

diversos pensadores e artistas ligados à canção popular. Na mesma direção apontada por

Celso Favaretto, o compositor Chico Buarque, em entrevista à revista Manchete, criticando o

que julgava ser um “preconceito intelectual” relacionado à canção popular, explicita o seu

entendimento de que esse gênero atua na junção entre o aspecto entoativo e o aspecto musical

e jamais no tratamento isolado de cada um deles.

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Não se pode tratar assim a música brasileira; música popular brasileira é “música” e “letra”. Se

você tomar separadamente, é claro que não vai se comparar com o instrumental do Stravinsky, porque não comportaria uma letra, e não é música popular, não será nunca. E a letra também, se quiser comparar com os poetas mais avançados, também não dá. Música popular é uma combinação das duas coisas. A parte literária é mais pobre que a literatura mais avançada, e a parte

musical talvez seja mais pobre que Stravinsky. Agora, a combinação das duas na música popular brasileira é inédita. Já quiseram lançar livro com letras, e discos com músicas minhas – lançaram um, agora, sem eu saber -, sou contra. Não vou competir com Stravinsky, musicalmente, nem

literariamente com James Joyce. A música popular brasileira – isso é reconhecido por gente que entende – é riquíssima, pela combinação das duas formas. Existe um preconceito intelectual muito grande com relação à música popular. (BUARQUE, 1980 Apud TATIT, 1982: 13)

Favaretto e Buarque apresentam entendimento similar: a canção deve ser

compreendida como a conjugação de dois componentes e a quebra desse vínculo, isto é, o

exame da letra ou da música em separado, distancia o estudioso de seu objeto de análise, pois

desintegra-o. Nenhum deles, no entanto, dirige sua respectiva pesquisa ou reflexão no sentido

de investigar a fundo os mecanismos que fundamentam essa integração essencial. Afinal, por

que a união entre o componente linguístico e o componente musical, mesmo que tenhamos

uma letra literariamente imatura ou uma melodia musicalmente banal, pode gerar tamanho

encantamento nos ouvintes? Quais são as suas diferentes possibilidades combinatórias? Como

abordar a canção a partir de ferramentas analíticas próprias que consigam dar conta de sua

especificidade?

O primeiro teórico brasileiro a aprofundar essas questões, apresentando de modo

sistemático os mecanismos ligados ao trabalho artístico de combinação entre a letra e a

melodia foi o semioticista Luiz Tatit, criador da chamada semiótica da canção. A inadequação

entre o seu objeto de estudo, a canção popular, e as ferramentas analíticas da música e da

literatura fez com que o autor fundamentasse toda a sua pesquisa na hipótese de que a

associação entre a melodia e a letra é a característica diferencial desse tipo de composição,

sendo o seu sentido “uma resultante da função contraída entre um conjunto significante

linguístico e um conjunto significante melódico, ambos operantes sobre uma única matéria de

expressão fornecida pela voz” (TATIT, 1982: 12). Ao investigar os aspectos ligados à essa

junção, a semiótica da canção tentará preencher o que parecia configurar um certo “vazio”

teórico, almejando a constituição de uma abordagem específica da canção, até então inédita.

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Trata-se, como se pode ver, de um procedimento diferente daquele que tenta avaliar uma canção

pela qualidade dos versos tomados de um ponto de vista literário ou pela qualidade da melodia sob um enfoque musical. O que o compositor nos apresenta é uma proposta de integração e não uma proposta de justaposição de linguagens paralelas. (TATIT, 2007: 104)

O curso de composição de canção que pretendemos estruturar a partir desta pesquisa

se fundamentará nos princípios ligados à relação entre língua e música estudados pela

semiótica da canção sem deixar de lado, entretanto, diversos aspectos relacionados à

composição musical e poética. Discutiremos adiante esse assunto ao tratarmos dos meios e

métodos adotados para superar nossos desafios científicos. Por ora, devemos salientar que o

problema abordado por nossa pesquisa constitui, atualmente, uma questão muito relevante

para os cursos superiores de música popular. Tendo em vista o forte valor cultural da canção

na sociedade brasileira, bem como o interesse que ela desperta em boa parte dos estudantes

que se matriculam nas faculdades de música do país, a discussão sobre a inserção de

habilitações ou disciplinas voltadas para a criação cancional está cada vez mais presente . 13

Parece-nos, então, que a iminência de sua inclusão nas universidades exige um debate mais

profundo sobre o assunto. Torna-se imprescindível examinar os estudos e métodos de criação

que já foram produzidos na área com o objetivo de viabilizar um curso de composição de

canção bem estruturado e condizente com a cultura musical brasileira. Naturalmente, tentando

dar conta de todo espectro de possibilidades de atividades profissionais na área da música, as

instituições cada vez mais diversificam os seus catálogos e grades curriculares, para além dos

cursos tradicionais de formação instrumental, licenciatura, composição erudita, regência etc.

A canção, objeto com o qual grande parte dos formados irá se deparar (seja como cantor,

instrumentista, compositor, arranjador, produtor etc.), deve, portanto, ser igualmente

incorporada. Um curso estruturado de composição de canção é, por isso, imprescindível para

que os estudantes das faculdades de música popular travem algum contato com a atividade de

criação e obtenham maior intimidade com a sua linguagem estética específica.

Considerando-se a iminência da implementação de cursos de criação de canção e a

carência de obras sobre o assunto em língua portuguesa, cremos que nosso projeto constituirá

uma significativa contribuição para a área. Esta pesquisa resultará em uma publicação cujo

O Departamento de Música da Universidade Estadual de Campinas (DMU-UNICAMP), por exemplo, 13

atualmente discute a reformulação do catálogo do curso e estuda a possível implementação de uma nova habilitação em composição popular denominada “Processos Criativos” que abarcaria diferentes formas de composição popular: canção, instrumental, arranjo, mediação tecnológica etc.

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intuito é auxiliar na organização e orientação de disciplinas de composição de canção em

universidades, conservatórios, escolas de música e cursos livres, sanando a falta de um livro

didático sobre o assunto. Além disso, ainda que nossa pesquisa parta da experiência

composicional de compositores de canção popular, acreditamos que nossa abordagem poderá

contribuir igualmente para momentos específicos em que os alunos dos cursos de composição

erudita se dedicam à música vocal.

2) Resultados esperados:

A partir de nossa pesquisa, desejamos fundamentar um curso de composição de canção

voltado sobretudo para alunos de cursos superiores ou técnicos. Nosso objetivo é elaborar

uma publicação denominada Princípios de Composição de Canção (análises e exercícios) que

contenha discussões teóricas e propostas de atividades práticas de criação, apresentando o

artesanato do compositor de canções de maneira sistemática. A criação de canção popular,

ligada à tradição oral, cujo aprendizado se dá, via de regra, de modo intuitivo e informal,

parece muitas vezes ocultar, até mesmo dos próprios compositores, os seus procedimentos

técnicos. No entanto, assim como em outras atividades criativas (composição musical,

arquitetura, artes plásticas, montagem cinematográfica etc.), há, evidentemente, habilidades

para serem praticadas e aprendidas.

Princípios de Composição de Canção será dividido em três partes . A primeira, 14

“Aspectos cancionais” abordará questões específicas da linguagem da canção, isto é, aspectos

que surgem a partir da combinação entre o texto linguístico e o texto musical. São

procedimentos centrais para o cancionista e não tão relevantes, por exemplo, para o poeta ou

para o compositor de música instrumental (visto que o principal foco desses artistas não é

trabalhar com a junção entre a palavra e a música). Trataremos, então, de aspectos ligados aos

diferentes tipos de oralização, à acentuação silábica, à acentuação lexical, ao recorte frasal, ao

mapeamento da letra e da melodia, ao uso do português padrão e não-padrão, ao timbre vocal

como ferramenta composicional, às relações entre interpretação e criação, entre outras

questões. Além disso, nesta parte inicial, abordaremos alguns tópicos estudados pela

semiótica da canção que representam interessantes elementos para se trabalhar a composição

Inserimos ao final do projeto um sumário provisório da pesquisa com os nomes de cada parte e de seus 14

respectivos capítulos.

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a partir de sua relação com a língua oral: os dêiticos, os tonemas, a elasticidade melódica, a

faixa entoativa e as unidades entoativas (SEGRETO, 2019: 61-86).

A segunda parte, “Aspectos linguísticos”, abordará, sob a perspectiva da canção,

diversos elementos ligados à criação da poesia escrita. Os seus componentes serão então

tratados a partir da relação estabelecida entre a língua e os elementos musicais (melodia,

harmonia, arranjo etc.). Discutiremos as noções de sentido denotativo e conotativo, as figuras

de linguagem de som (aliteração, assonância, paronomásia e onomatopeia), de pensamento

(antítese, paradoxo, oximoro, eufemismo, hipérbole, ironia, gradação, prosopopeia e

apóstrofe), de sintaxe (elipse, zeugma, silepse, pleonasmo, anáfora, anadiplose, hipérbato,

anástrofe, assíndeto e polissíndeto) e de palavras (metáfora, catacrese, metonímia, sinestesia e

perífrase). Além disso, trataremos da criação de neologismos, da rima, da métrica, do ritmo do

texto linguístico, dos gêneros literários (épico, lírico e dramático) e da relação entre forma e

conteúdo.

Finalmente, na terceira e última parte de nossa pesquisa, “Aspectos musicais”, com o

intuito de não limitar nossa proposta ao trabalho exclusivo com a tonalidade, por exemplo,

abordaremos procedimentos de criação a partir de configurações musicais diversas. Nesse

sentido, após tratarmos de aspectos importantes ligados à composição para voz, discutiremos

possibilidades de criação melódica a partir de bases musicais tonais e não-tonais, de estruturas

rítmicas regulares e irregulares, de procedimentos contrapontísticos e da criação de

acompanhamentos texturais e timbrísticos. Trabalharemos, evidentemente, com aspectos

ligados à harmonia tonal, mas sempre a partir da perspectiva específica da canção, isto é, sem

jamais desconsiderar a combinação entre a música e o texto linguístico. Nos capítulos finais,

examinaremos elementos ligados ao arranjo musical discutindo mais uma vez possibilidades

de trabalho com estruturas tonais e não tonais, texturas polifônicas, formas de estruturar e

planejar o arranjo, entre outras questões.

Todos os capítulos que compõem as três partes brevemente detalhadas acima

apresentarão estruturas similares: uma parte inicial teórica e analítica e, ao final, propostas de

atividades de criação de canção a partir do assunto tratado no capítulo. Além disso, é

importante assinalar que cada aspecto composicional selecionado será abordado a partir de

uma mesma postura teórica que entende cada um desses procedimentos criativos como

princípios gradativos que podem ser utilizados com maior ou menor presença. Expliquemo-

Page 16: Programa de Pós-Graduação em Música Escola de …

nos. Ao tratarmos do uso de aliterações na letra, por exemplo, discutiremos as diferenças

expressivas entre trechos com maior ou menor utilização de repetições consonantais e

estimularemos o estudante a desenvolver a capacidade de compor obras que atravessem todo

esse espectro de possibilidades. O mesmo ocorre com a utilização da tonalidade e da não-

tonalidade. Nossa pesquisa tratará essa questão como um aspecto composicional que possui

uma gama extensa de opções, levando o aluno a percorrer diferentes caminhos criativos. Com

isso, desejamos destacar que o curso a ser desenvolvido a partir de nossa pesquisa, ao tratar os

aspectos criativos como princípios gradativos e não como normas a serem seguidas, jamais

valorizará determinado uso em detrimento de outro. Afinal, uma letra com grande quantidade

de aliterações não deve ser considerada esteticamente superior a outra que não faz uso desse

recurso. Diferentemente, entendemos apenas que elas trabalham com expressividades

distintas.

Acreditamos que a adoção desse tipo de postura condiz com nosso intuito de produzir

uma publicação a ser utilizada por diferentes instituições de ensino em diferentes regiões do

país. Não é recomendável elegermos certos gêneros, certos tipos de harmonia ou certas

características linguísticas quando observamos que a cultura da canção brasileira é formada

por um número muito extenso de fisionomias artísticas, da canção tradicional à canção

experimental, passando pelo rap, pelo sertanejo universitário e pelo funk carioca, por

exemplo. Acreditamos que uma postura científica deve prevalecer sobre uma conduta

normativa para que possamos abarcar, na universidade, as diferentes culturas cancionais

trazidas pelos estudantes. Desejamos, desse modo, começar a formar o arcabouço para uma

possível disciplina prática de composição de canção, com princípios técnicos que norteiem o

aprendizado e ultrapassem as questões ligadas ao gosto pessoal do professor.

Tendo em vista o caráter pedagógico de nossa pesquisa, isto é, o seu intuito de

estruturar um curso de criação de canção a partir da ideia de gradação dos princípios

composicionais, a forma como os resultados obtidos serão avaliados e disseminados deverá

contemplar, além de apresentações em congressos, seminários e encontros acadêmicos,

oficinas de composição em diferentes instituições de ensino musical nas quais possamos

debater e experimentar os exercícios propostos com os próprios estudantes e professores. Por

isso, como detalharemos no item 5, “Disseminação e avaliação”, planejamos organizar cursos

de criação em sete instituições ligadas ao ensino musical e artístico no Estado de São Paulo:

Page 17: Programa de Pós-Graduação em Música Escola de …

Escola de Música do Estado de São Paulo (EMESP), Conservatório Dramático e Musical Dr.

Carlos de Campos de Tatuí, Escola Municipal de Música de São Paulo (EMM), Casa das

Rosas - Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, Instituto de Artes da Universidade

de Campinas (IA-Unicamp), Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (UNESP) e

Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP).

Além disso, temos fortíssimo interesse em realizar uma parte de nossa pesquisa no

exterior, possivelmente na cidade de Boston (EUA). Como já mencionamos acima, há nessa

cidade uma importante instituição de ensino norte-americana, a Berklee College of Music.

Trata-se de uma faculdade de música internacionalmente reconhecida, sobretudo pelos seus

cursos na área da música popular. No campo da canção, é talvez a instituição que mais se

dedica ao desenvolvimento de cursos e materiais didáticos no mundo. A Berklee Press, editora

da faculdade, é responsável pela publicação dos livros mais relevantes da área da composição

de canção popular. A instituição possui ainda um departamento de canção responsável pela

estruturação de diversos tipos de programa (graduação e pós-graduação) dos quais

destacamos o seu bacharelado em canção, curso que possui duração de quatro anos e oferece

diversas disciplinas de criação. Interessa-nos sobretudo as pesquisas dos professores Pat

Pattison e Bonnie Hayes. O primeiro possui uma linha de pesquisa ligada sobretudo à criação

de letra , utilizando uma abordagem que muitas vezes se aproxima de aspectos presentes na 15

teoria desenvolvida por Luiz Tatit. A professora Hayes dirige, entre outros cursos, disciplinas

de composição de canção, composição de letra e arranjo. Além disso, é a atual diretora do

departamento de canção. Acreditamos que a sua experiência nessa área poderá contribuir

para as nossas reflexões sobre o desenvolvimento de uma matriz curricular para um curso

de composição de canção no Brasil. Portanto, o estágio nessa faculdade norte-americana

representaria uma significativa contribuição para nossa pesquisa. Além de viabilizar a

consulta aos seus acervos especializados e o acompanhamento de suas propostas pedagógicas,

o intercâmbio nos proporcionará a orientação de importantes pesquisadores e professores.

Interessa-nos fortemente a possível discussão, com docentes e estudantes, de questões ligadas

à música brasileira e, sobretudo, de certos aspectos da teoria desenvolvida por Luiz Tatit.

Pat Pattison é professor responsável pelas disciplinas Lyric Writing, Advanced Lyric Writing e Creative 15

Writing: Poetry e autor de cinco livros sobre o assunto (ver bibliografia).

Page 18: Programa de Pós-Graduação em Música Escola de …

3) Desafios científicos e tecnológicos e os meios e métodos para superá-los:

Nossa proposta de pesquisa pretende superar três principais desafios científicos. Tendo

em vista o número cada vez maior de cursos de música popular nas universidades brasileiras

ou mesmo o forte interesse pela área por parte de alunos que ingressam nos cursos de música

erudita, nosso primeiro obstáculo é a ausência de livros didáticos em língua portuguesa que

abordem a composição de canção popular com viés científico e finalidade pedagógica. Isto é,

partindo do pressuposto de que cursos de música popular tendem a incorporar disciplinas de

criação de canção, a falta de uma publicação brasileira nessa área torna-se de fato um

problema. Como mencionamos acima, há somente uma pequena publicação em português

sobre o assunto, o livro Composição: uma discussão sobre o processo criativo brasileiro

(1997) de Antonio Adolfo . Essa obra, no entanto, ainda que discuta diversos aspectos da 16

canção, tanto musicais quanto linguísticos, o faz por meio de uma abordagem muito pouco

aprofundada, que não estabelece diálogos com os principais estudos da área e, acima de tudo,

não apresenta propostas de atividades práticas de composição, aspecto pedagógico que deverá

guiar nossa pesquisa.

Nosso segundo desafio científico é estruturar um curso de composição fundado no

entendimento de que a canção é uma linguagem artística sincrética, porém autônoma. Ou seja,

ainda que ela incorpore elementos provenientes de suas linguagens adjacentes (a música e a

poesia, sobretudo), o que a configura como linguagem específica é o trabalho de combinação

dos aspectos musicais e linguísticos, jamais o tratamento isolado de algum deles. Trata-se de

um desafio, posto que, mesmo os métodos estrangeiros de criação de canção que abordam o

assunto de modo mais aprofundado geralmente não tratam da relação entre a letra e a melodia.

Ao contrário, costumam abordar, de modo isolado, aspectos criativos como a melodia, a

harmonia, a forma e as questões poéticas. Consideramos, então, a importância de uma

abordagem dos diferentes elementos que compõem a linguagem cancional pautada na

combinação entre o texto verbal e a música.

Nosso terceiro desafio é estruturar um curso de criação artística que não se

fundamente em uma postura normativa ou prescritiva. A partir das análises dos diferentes

aspectos composicionais selecionados, desejamos construir uma metodologia que, baseada em

“princípios cancionais”, evite enfatizar orientações estéticas. Não queremos, ainda que esse

Pianista e educador musical carioca, proprietário de uma conhecida escola de música na cidade do Rio de 16

Janeiro.

Page 19: Programa de Pós-Graduação em Música Escola de …

tipo de publicação possa trazer benefícios ao estudante, organizar um curso no qual o

professor ensina ao aluno a sua própria maneira de compor. Diferentemente, desejamos

apenas oferecer estímulos diversos para a criação. Sem a indicação de caminhos preferenciais,

mas apresentando um amplo espectro de possibilidades estéticas, o estudante poderá

livremente formar o seu próprio percurso artístico, perseguindo os elementos pelos quais

possui maior afeição. Acreditamos que essa abordagem, ao tratar o assunto com maior rigor

científico e amplitude, proporcionará uma contribuição significativa às disciplinas de criação

de canção na universidade: uma vez que não pretende eleger caminhos criativos prioritários,

poderá incorporar diferentes fisionomias artísticas e contemplar a experiência cancional

trazida por cada estudante.

Para superarmos esses desafios científicos devemos, em primeiro lugar, realizar um

estudo aprofundado dos métodos de criação de canção existentes. Fizemos uma seleção de

quarenta e oito obras, das quais já destacamos as publicações da editora Berklee Press, ligada

à Berklee College of Music . Pretendemos examinar detalhadamente a abordagem de cada 17

um desses métodos observando sobretudo a presença ou ausência de reflexões sobre a

compatibilização entre o texto linguístico e a música. Estaremos aptos, ao final dessa etapa, a

organizar essas publicações, mapeando as suas propostas e o que possuem de semelhante ou

de diferente entre si. Em seguida, devemos fazer uma articulação entre diferentes perspectivas

de estudo teórico da canção. A nosso ver, a maneira mais adequada de incorporar a criação de

canção na universidade é aquela que encerra um olhar mais abrangente da matéria. Assim,

interessa-nos articular o estudo específico da canção (aquele que sistematiza o seu artesanato

intrínseco, a relação entre a melodia e a letra) com pesquisas, igualmente imprescindíveis,

ligadas à música popular, à música erudita, à literatura, à sociologia, à história, entre outras

áreas. Isto é, uma vez que a canção se apresenta como uma linguagem autônoma, porém

sincrética, não devemos ignorar os elementos provenientes de suas linguagens adjacentes,

sobretudo da poesia e da música . Essa articulação entre diferentes perspectivas de estudo é 18

Das quarenta e oito obras listadas em nossa bibliografia, trinta e sete são editadas nos Estados Unidos, sendo 17

que dez pertencem à editora Berklee Press.

Cremos que os três pilares de nossa pesquisa são os estudos musicais, os estudos linguísticos e os estudos da 18

semiótica da canção. O fato de termos empreendido estudos anteriores nessas três áreas também poderá contribuir para a superação dos desafios científicos aqui mencionados (cursamos graduação em letras, graduação em música/composição e pós-graduação em semiótica da canção).

Page 20: Programa de Pós-Graduação em Música Escola de …

fundamental para superarmos o nosso primeiro desafio: a estruturação de um curso de

composição de canção em língua portuguesa com maior profundidade teórica.

Para a resolução dos outros dois desafios científicos (a necessidade do entendimento

da canção como linguagem artística específica e, por fim, nosso interesse em abandonar

posturas normativas no ensino da criação artística), adotaremos o aparato teórico da semiótica

da canção. No nosso entendimento, essa teoria oferece diversos benefícios metodológicos. Em

primeiro lugar, concebe a canção como linguagem autônoma, dado crucial para nossa

pesquisa. Além disso, tendo suas raízes ligadas à linguística moderna, nos oferece uma

interessante visão analítica que, de maneira técnica e descritiva, privilegia o estudo do

funcionamento da linguagem, superando posições prescritivas. A teoria é construída para

abarcar todos os fenômenos. O seu principal propósito é descrevê-los, não os julgar

esteticamente. Essa visão descritiva da semiótica da canção tem sua raiz nos estudos

empreendidos pela linguística moderna surgida no início do século XX (em contraposição à

perspectiva mais normativa dos gramáticos do século XIX). Uma discussão similar ocorre no

âmbito das reflexões sobre a língua portuguesa, com o chamado “preconceito linguístico” . É 19

quando, ignorando o funcionamento e as tendências naturais de transformação de nosso

idioma, um registro de língua, mais valorizado socialmente, é tido como “correto” ou

“superior”, em detrimento de outro, considerado “errado” e “inferior”. A descrição técnica da

linguagem é substituída, então, por valores ideológicos e concepções prescritivas. Por isso,

julgamos ser necessário separar a descrição do julgamento estético. Este, podendo vir a

posteriori, deve estar centrado em critérios pertinentes (dos quais também devem fazer parte o

artesanato específico do cancionista). Portanto, a preocupação primeira da semiótica da

canção é analisar a constituição das obras e não as aspirações estéticas de cada indivíduo. A

sua perspectiva técnica, quase fria, nos lega essa reflexão fundamental: devemos observar as

leis e os princípios, abandonando, ainda que por um momento, as opiniões pessoais e

preferências artísticas particulares. Nesse sentido, essa teoria nos oferece uma postura

analítica fundamental para a nossa pesquisa.

Sobre esse assunto, destacamos as publicações de Marcos Bagno (ver bibliografia).19

Page 21: Programa de Pós-Graduação em Música Escola de …

4) Cronograma:

* Como já existe a previsão de realização de estágio no exterior, ao submetermos esta proposta, indicamos a duração de 24 meses de pesquisa no país e acrescentamos o período de 12 meses a ser cumprido na universidade estrangeira.

5 Disseminação e avaliação:

Uma vez que o principal objetivo do projeto está ligado à estruturação de um curso de

criação de canção (com a produção de uma publicação denominada Princípios de

Composição de Canção (análises e exercícios)), acreditamos que os resultados alcançados

pela pesquisa deverão ser avaliados e disseminados de diferentes maneiras. Em primeiro

lugar, como forma de estabelecer diálogos com outros pesquisadores, sobretudo da área da

composição musical, música popular e educação musical, prevemos a participação em

diversos eventos acadêmicos (congressos, simpósios, encontros etc.). Acreditamos que a

discussão de nosso projeto com esses estudiosos certamente nos trará importantes

contribuições para o resultado final da pesquisa. Em segundo lugar, paralelamente ao

desenvolvimento da produção escrita da pesquisa, e tendo em vista o viés pedagógico do

trabalho, organizaremos cursos de composição de canção em diversas instituições públicas de

ensino do Estado de São Paulo. Haverá o oferecimento de duas disciplinas eletivas dentro do

programa de graduação e pós graduação em música da Escola de Comunicação e Artes da

Universidade de São Paulo (ECA-USP). Para o curso de graduação será proposta uma

disciplina denominada “Composição de canção: letra e melodia”, com duração de um

ATIVIDADES

2020 2021 2022

trimestre trimestre trimestre

1º 2º 3º 4º 1º 2º 3º 4º 1º 2º 3º 4º

Leitura e estudo dos métodos de composição de canção listados no projeto

Elaboração e redação de artigos

Elaboração e redação do texto Princípios de composição de canção

Oferecimento de disciplinas (ECA-USP)

Oferecimento de oficinas de composição (UNICAMP, UNESP, EMESP, EMM, Conservatório de Tatuí e Casa das Rosas)

Intercâmbio

Redação dos relatórios

Page 22: Programa de Pós-Graduação em Música Escola de …

semestre. Para o programa de pós-graduação será oferecida a disciplina “A composição de

canção a partir de princípios gradativos”. A linha de atuação de ambas as disciplinas está

intimamente ligada às nossas pesquisas de mestrado e doutorado, orientadas pelo Prof. Dr.

Luiz Tatit, nas quais nos dedicamos ao estudo da linguagem da canção. Além disso, é

importante destacar que a ECA-USP não possui disciplinas similares em nenhum de seus

cursos. Desse modo, poderemos colaborar para a complementação da formação da

comunidade discente suprindo a ausência de atividades ligadas à criação de canção.

Além do oferecimento das duas disciplinas semestrais em nossa instituição sede,

prevemos igualmente a realização de cursos de composição de canção de menor duração em

outras instituições de ensino do Estado de São Paulo. Com enfoques distintos, cada uma

dessas oficinas de criação terá duração de um mês com carga horária total de dezesseis horas.

Como forma de abarcar diferentes tipos de instituições, realizaremos esses cursos em mais

duas universidades (Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas - Unicamp e

Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista - UNESP), em três importantes

conservatórios públicos do Estado (Escola de Música do Estado de São Paulo - EMESP,

Conservatório Dramático e Musical Dr. Carlos de Campos de Tatuí e Escola Municipal de

Música de São Paulo - EMM) e, por fim, na Casa das Rosas - Espaço Haroldo de Campos de

Poesia e Literatura. Acreditamos que, ao apresentarmos nossa pesquisa em escolas de ensino

superior, ensino técnico e em um curso livre, poderemos avaliar de modo mais eficiente a

nossa proposta de estruturação de um curso de composição.

Além dessas atividades pedagógicas, fundamentais para nossa pesquisa,

disseminaremos os resultados parciais e finais de nosso estudo com a elaboração de seis

artigos, quatro dedicados à nossa proposta de desenvolvimento do curso de criação de canção

e dois voltados para a discussão das publicações e da estrutura curricular dos cursos de

composição da Berklee College of Music, instituição na qual pretendemos realizar uma parte

de nossa pesquisa.

6) Outros apoios:

Para a realização das oficinas de criação de canção, obtivemos o apoio das seguintes

instituições de ensino do Estado de São Paulo, das quais apresentaremos cartas oficiais

assinadas por seus respectivos dirigentes: EMESP - Escola de Música do Estado de São

Page 23: Programa de Pós-Graduação em Música Escola de …

Paulo, Escola Municipal de Música de São Paulo, Conservatório Dramático e Musical Dr.

Carlos de Campos de Tatuí, Casa das Rosas - Espaço Haroldo de Campos de Poesia e

Literatura, Universidade Estadual de Campinas - Unicamp e Universidade Estadual Paulista -

UNESP.

7) Bibliografia:

ADOLFO, Antonio. Composição: uma discussão sobre o processo criativo brasileiro. Rio de

Janeiro: Lumiar Editora, 1997.

BAGNO, Marcos. A língua de Eulália: novela sociolinguística. São Paulo: Contexto, 2001.

BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Ed. Loyola, 1999.

FAVARETO, Celso Fernando. Tropicália: Alegoria, Alegria. 4. ed. – Cotia, SP: Ateliê

Editorial, 2007.

JORDAN, Barbara L. Songwriters Playground: Innovative Exercises in Creative Songwriting.

Boston (EUA): Barbara L. Jordan, 1994.

KACHULIS, Jimmy. The Songwriter’s Workshop: Melody. Boston (EUA): Berklee Press,

2003.

KACHULIS, Jimmy. The Songwriter’s Workshop: Harmony. Boston (EUA): Berklee Press,

2005.

PATTISON, Pat. Songwriting: Essential Guide to Lyric Form and Structure: Tools and

Techniques for Writing Better Lyrics (Songwriting Guides). Boston, Massachusetts (EUA):

Berklee Press, 1991.

SEGRETO, Marcelo. A canção e a oralização: sílaba, palavra e frase. Tese de doutorado.

São Paulo: FFLCH-USP, 2019.

TATIT, Luiz. Por uma semiótica da canção popular. Dissertação de mestrado. São Paulo:

Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 1982.

TATIT, Luiz. Todos entoam: ensaios, conversas e canções. São Paulo: Publifolha, 2007.

Lista dos fonogramas dos exemplos apresentados

BUARQUE, Chico. “Morena de Angola”. In: LP Vida. Philips, 1980.

BUARQUE, Chico. “Piano na Mangueira”. In: LP Paratodos. RCA, 1993.

JOBIM, Tom. “Piano na Mangueira”. In: LP Antônio Brasileiro. Columbia Records, 1994.

VELOSO, Caetano. “Chuva, Suor e Cerveja”. In: LP Muitos Carnavais. Philips, 1977.

Page 24: Programa de Pós-Graduação em Música Escola de …

Anexos

Lista de métodos de composição de canção e livros sobre composição

ADOLFO, Antonio. Composição: uma discussão sobre o processo criativo brasileiro. Rio de

Janeiro: Lumiar Editora, 1997.

ALMADA, Carlos. Arranjo. Campinas: Ed. UNICAMP, 2000.

ALZOFON, David. Compose Yourself: Songwriting and Creative Musicianship in Four Easy

Lessons. Riverside, Califórnia (EUA): David Alzofon, 2010.

AUSTIN, Dave, PETERIK, Jim & AUSTIN, Cathy Lynn. Songwriting For Dummies.

Hoboken, Nova Jersey (EUA): Wiley Publishing, 2010

BELL, Ed. The Art of Songwriting: How to Create, Think and Live Like a Songwriter (E-

book). Londres (Reino Unido): The Song Foundry, 2017.

BLUME, Jason. Six Steps to Songwriting Success. Revised Edition: The Comprehensive

Guide to Writing and Marketing Hit Songs. Berkeley, Califórnia (EUA): Ten Speed Press,

2010.

CAZAUBON, Mantius. Songwriting for Beginners: Tips, Techniques and Secrets to

Songwriting Success. E-Book. Soufrière (Santa Lúcia): Mantius Cazaubon, 2015.

DAVIES, Anton. Songwriting - Crafting A Tune: A Step By Step Guide To Songwriting!.

Seattle, Washington (EUA): Amazon (eBook Kindle), 2015.

DAVIES, Sheila. The Songwriter’s Idea Book. Cincinnati (EUA): Writer’s Digest Books,

1992.

FINDEISEN, Friedemann. The Addiction Formula: A Holistic Approach to Writing

Captivating, Memorable Hit Songs. Enschede (Países Baixos): Albino Publishing, 2015.

FREDERICK, Robin. The 30 Minute Songwriter: Write, Develop, Polish, and Pitch Your

Songs in 30 Minutes a Day. Los Angeles, Califórnia (EUA): Robin Frederick, 2014.

FREZE, Mike. 100 Tips For Successful Songwriting – Chord Progressions: A Guide and

Manual For All Songwriters. E-Book. Anaconda, Montana (EUA): Mike Freze, 2015

HAUSER, Christian V., TOMAL, Daniel R. & RAJAN, Rekha S. Songwriting: Strategies for

Musical Self-Expression and Creativity. Lanham, Maryland (EUA): Rowman & Littlefield,

2017.

Page 25: Programa de Pós-Graduação em Música Escola de …

HELSON, Rake. Songwriting 101: Inspiration, Tips, Tricks, and Lessons for the Beginner,

Intermediate, and Advanced Songwriter. Seattle, Washington (EUA): Amazon (eBook

Kindle), 2014.

HOWARD, John. Aprendendo a compor – Coleção cadernos de música da Universidade de

Cambridge. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.

JORDAN, Barbara L. Songwriters Playground: Innovative Exercises in Creative Songwriting.

Boston (EUA): Barbara L. Jordan, 1994.

KACHULIS, Jimmy. The Songwriter’s Workshop: Melody. Boston (EUA): Berklee Press,

2003.

KACHULIS, Jimmy. The Songwriter’s Workshop: Harmony. Boston (EUA): Berklee Press,

2005.

KACHULIS, Jimmy & FEIST, Jonathan. Essential Songwriter: Craft Great Songs & Become

a Better Songwriter. Boston (EUA): Berklee Press, 2004.

KELLY, Casey & HODGE, David. The art of songwriting. Indianapolis (EUA): Alpha Books,

2011.

KEYS, Scarlet. The Craft of Songwriting: Music, Meaning and Emotion. Boston (EUA):

Berklee Press, 2018.

LEMESLE, Claude. L’art d’écrire une chanson. Paris: Eyrolles, 2010.

MCGANN, Emma. The Songwriter's Handbook for Beginners: Motivational Methods. E-

Book. Conventry (Reino Unido): Emma Mcgann, 2016.

MURPHY, Ralph. Murphy’s Laws of Songwriting. Seattle, Washington (EUA): Amazon

(eBook Kindle), 2013.

OLIVER, Brian. How Not to Write a Hit Song. Montreal (Canadá): Rapido Books (e-book),

2013.

OLIVER, Brian. How Not to Write Great Lyrics. Montreal (Canadá): Big 6 Publishing (e-

book), 2016.

PATTISON, Pat. Songwriting Without Boundaries. Cincinnati, Ohio (EUA): Writer’s Digest

Books, 2011.

PATTISON, Pat. Songwriting: Essential Guide to Lyric Form and Structure: Tools and

Techniques for Writing Better Lyrics (Songwriting Guides). Boston, Massachusetts (EUA):

Berklee Press, 1991.

Page 26: Programa de Pós-Graduação em Música Escola de …

PATTISON, Pat. Writing Better Lyrics. Cincinnati, Ohio (EUA): Writer’s Digest Books, 1995.

PATTISON, Pat. Essential Guide to Rhyming: A Step-By-Step Guide to Better Rhyming for

Poets and Lyricists. Boston, Massachusetts (EUA): Berklee Press, 2014.

PERRICONE, Jack. Melody in Songwriting: Tools and Techniques for Writing Hit Songs

(Berklee Guide). Boston, Massachusetts (EUA): Berklee Press, 2000.

PERRICONE, Jack. Great Songwriting Techniques. Cary, Carolina do Norte (EUA): Oxford

University Press, 2017.

PETERSONS, Egils. Songwriting - How to Start a Song: Song: Song Structure, Title Ideas,

Chord Progressions, Songwriting Inspiration & Tips (E-book). Riga (Letônia): Egils

Petersons, 2015.

ROOKSBY, Rikky. The Songwriting Sourcebook: How to Turn Chords into Great Songs.

Milwaukee, Wisconsin (EUA): Hal Leonard Corporation, 2011.

SCHOENBERG, Arnold. Fundamentos da Composição musical. São Paulo: EDUSP, 1991.

SIMOS, Mark. Songwriting Strategies. Boston, Massachusetts (EUA): Berklee Press, 2014.

SMITH, William E. Compose and Produce Music Like a Pro: A Comprehensive Guide to

Songwriting, Composition, Arranging and Producing. E-Book. Bowie, Maryland (EUA):

William E. Smith, 2016.

SOLTERO, William. Songwriting for Beginners: The Ultimate Guide to Writing Your First

Song, Even if You’re a Terrible Writer. Seattle, Washington (EUA): Amazon (eBook Kindle),

2015.

STOCKER, Olmir. Método de composição popular: diferentes formas de harmonizar. São

Paulo: Olmir Stocker Ed., 2011.

STOLPE, Andrea. Popular Lyric Writing: 10 Steps to Effective Storytelling. Boston,

Massachusetts (EUA): Berklee Press, 2007.

STOLPE, Andrea & STOLPE, Jan. Beginning Songwriting: Writing Your Own Lyrics,

Melodies, and Chords. Boston, Massachusetts (EUA): Berklee Press, 2015.

TAMMS, Tiffany. How to Write a Song. Seattle, Washington (EUA): Amazon (eBook

Kindle), 2017.

TRAGTENBERG, Livio. Contraponto: uma arte de compor. São Paulo: EDUSP, 2017.

TURNER, Frank. Try this at home: Adventures in songwriting. Londres (Reino Unido):

Headline, 2019.

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WALKER, Nancy H. Instant Songwriting: Musical Improv from Dunce to Diva. Seattle,

Washington (EUA): Amazon (eBook Kindle), 2012.

WEBB, Jimmy. Tunesmith: inside the art of songwriting. New York, New York (EUA):

Hachette Books, 1999.

WEISSMAN, Dick. Songwriting: The Words, The Music And The Money. Milwaukee,

Wisconsin (EUA): Hal Leonard Corporation, 2010.

WILLIAMS, Justin & WILLIAMS, Katherine. The Singer-Songwriter Handbook. New York,

New York (EUA): Bloomsbury, 2017.

WRIGHT, Alexander. Songwriting: How to Write Lyrics for Beginners in 24 Hours or Less.

Seattle, Washington (EUA): Amazon (eBook Kindle), 2016.

WRIGHT, Alexander. How to Write a Song: Beginner’s Guide to Writing a Song in 60

Minutes or Less. Seattle, Washington (EUA): Amazon (eBook Kindle), 2015.

WRIGHT, Alexander. Lyric and Melody Writing for Beginners. Seattle, Washington (EUA):

Amazon (eBook Kindle), 2015.

ZOLLO, Paul. More Songwriters on Songwriting. Boston, Massachusetts (EUA): Da Capo

Press, 2016.

Sumário provisório da pesquisa

Princípios de composição de canção

Introdução: “Princípios e gradações: um curso de criação de canção não-normativo”

Parte I – Aspectos cancionais

Capítulo 1: A canção como linguagem autônoma: a relação entre a letra e a música

Capítulo 2: Oralização e musicalização

Capítulo 3: Oralização linear e não-linear

Capítulo 4: A acentuação silábica

Capítulo 5: A acentuação lexical

Capítulo 6: O recorte da frase

Capítulo 7: A forma da canção sob a perspectiva da oralização

Page 28: Programa de Pós-Graduação em Música Escola de …

Capítulo 8: Os dêiticos

Capítulo 9: Os tonemas

Capítulo 10: A elasticidade melódica

Capítulo11: A faixa entoativa

Capítulo12: As unidades entoativas

Capítulo 13: O mapeamento da melodia

Capítulo 14: O mapeamento da letra

Capítulo 15: A “letra monstro”: provisoriedade e permanência

Capítulo 16: A criação melódica a partir da entoação da fala

Capítulo 17: Português padrão e português não padrão

Capítulo 18: A criação a partir de um modelo entoativo

Capítulo 19: O timbre vocal como ferramenta composicional

Capítulo 20: Interpretação e composição

Parte II – Aspectos linguísticos

Capítulo 1: A relação entre canção e poesia: encontros e desencontros

Capítulo 2: Sentido denotativo e sentido conotativo

Capítulo 3: Figuras de linguagem de som I: aliteração

Capítulo 4: Figuras de linguagem de som II: assonância

Capítulo 5: Figuras de linguagem de som III: paronomásia e onomatopeia

Capítulo 6: Figuras de linguagem de pensamento I: antítese, paradoxo e oximoro

Capítulo 7: Figuras de linguagem de pensamento II: eufemismo, hipérbole e ironia

Capítulo 8: Figuras de linguagem de pensamento III: gradação, prosopopeia e apóstrofe

Capítulo 9: Figuras de linguagem de sintaxe I: elipse, zeugma, silepse

Capítulo 10: Figuras de linguagem de sintaxe II: pleonasmo, anáfora e anadiplose

Capítulo 11: Figuras de linguagem de sintaxe III: hipérbato, anástrofe. assíndeto e

polissíndeto

Capítulo 12: Figuras de linguagem de palavras I: metáfora e catacrese

Capítulo 13: Figuras de linguagem de palavras II: metonímia

Capítulo 14: Figuras de linguagem de palavras III: sinestesia e antonomásia (perífrase)

Page 29: Programa de Pós-Graduação em Música Escola de …

Capítulo 15: A criação de neologismos

Capítulo 16: A rima sob a perspectiva cancional

Capítulo 17: A métrica do texto linguístico sob a perspectiva cancional

Capítulo 18: O ritmo do texto linguístico sob a perspectiva cancional

Capítulo 19: Os gêneros literários sob a perspectiva cancional: épico, lírico e dramático

Capítulo 20: A Forma e o conteúdo

Parte III – Aspectos musicais

Capítulo 1: A relação entre canção e música: encontros e desencontros

Capítulo 2: A composição para voz

Capítulo 3: A criação melódica: repetição e contraste

Capítulo 4: A criação melódica a partir de uma base rítmica regular: os gêneros de canção

Capítulo 5: A criação melódica a partir de uma base rítmica irregular

Capítulo 6: A criação melódica a partir de uma base musical tonal

Capítulo 7: A criação melódica a partir de uma base musical não-tonal

Capítulo 8: A criação de uma melodia vocal a partir de uma linha instrumental

Capítulo 9: A criação de duas ou mais melodias vocais simultâneas e contrastantes

Capítulo 10: A forma da canção: repetição e contraste

Capítulo 11: Relações entre melodia e harmonia

Capítulo 12: O ritmo harmônico

Capítulo 13: Diferentes propostas de harmonização de uma melodia

Capítulo 14: A expansão da tonalidade

Capítulo 15: A criação de acompanhamentos texturais e timbrísticos

Capítulo 16: O arranjo: estrutura e planejamento

Capítulo 17: O arranjo que parte da composição e a composição que parte do arranjo

Capítulo 18: O arranjo que explora a relação entre forma e conteúdo

Capítulo 19: O arranjo a partir de texturas polifônicas

Capítulo 20: O arranjo a partir de estruturas tonais e não-tonais