PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MULTIUNIDADES EM ENSINO...

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE FÍSICA “GLEB WATAGHIN” PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MULTIUNIDADES EM ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA CÁSSIA CRISTINA CAMPOS DUARTE ENSINO DE QUÍMICA PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL: MAPEAMENTO E INVESTIGAÇÃO DE PRODUÇÕES E APLICAÇÕES NO BRASIL. CAMPINAS 2019

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE FÍSICA “GLEB WATAGHIN”

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MULTIUNIDADES EM ENSINO

DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA

CÁSSIA CRISTINA CAMPOS DUARTE

ENSINO DE QUÍMICA PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL:

MAPEAMENTO E INVESTIGAÇÃO DE PRODUÇÕES E APLICAÇÕES NO

BRASIL.

CAMPINAS

2019

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CÁSSIA CRISTINA CAMPOS DUARTE

ENSINO DE QUÍMICA PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL:

MAPEAMENTO E INVESTIGAÇÃO DE PRODUÇÕES E APLICAÇÕES NO

BRASIL.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação

Multiunidades em Ensino de Ciências e Matemática

(PECIM), da Universidade Estadual de Campinas, como

parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestra

em Ensino de Ciências e Matemática, na área de Ensino

de Ciências e Matemática.

Orientadora: Profa. Dra. Adriana Vitorino Rossi.

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO DO

TEXTO FINAL DE DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

DA ALUNA CÁSSIA CRISTINA CAMPOS DUARTE, E

ORIENTADA PELA PROF(a). DR(a). ADRIANA

VITORINO ROSSI.

CAMPINAS

2019

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FOLHA DE APROVAÇÃO

COMISSÃO EXAMINADORA

Profa. Dra. Adriana Vitorino Rossi

Presidente da Comissão Examinadora

Prof. Dr. João Vilhete Viegas D’Abreu

Prof. Dr. Thiago Henrique Barnabé Corrêa

A Ata de Defesa com as respectivas assinaturas dos membros da Comissão Examinadora,

encontra-se no SIGA/Sistema de Fluxo de Dissertação/Tese e na Secretaria do Programa da

Unidade.

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“Ora, ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único Deus sábio, seja honra e glória para

todo o sempre. Amém.” (1 Timóteo: 1.17)

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, o centro e o fundamento de tudo em minha vida.

Deu-me forças para me concentrar e batalhar por meus objetivos, apesar de todas as

adversidades.

A meu esposo Rodolfo Gomes Cunha pela compreensão, amor, companheirismo e

todo o apoio dado, em minha jornada acadêmica.

Aos meus pais Ana Lucia Campos Duarte e João Aluizio da Silva Duarte que me

mostraram os valores da Educação e a importância de conquistar os sonhos.

A todos os colegas do GPQUAE - Grupo de Pesquisa em Química Analítica e

Educação - pelos ensinamentos e troca de experiências, participar desse grupo foi

significativo para a minha formação. Agradeço, ainda, às colegas do PECIM, Aline Caliman,

Franciéle Oliveira, Carla Terra e Letícia Moraes pela amizade e motivação.

A minha orientadora Profª. Drª. Adriana Vitorino Rossi, a quem admiro muito,

pela oportunidade, amizade, orientação, paciência e pelas grandes contribuições a este

trabalho.

Aos professores Prof. Dr. João Vilhete Viegas D’Abreu e Prof. Dr. Samuel Rocha

Oliveira, pelas orientações e considerações no exame de qualificação que contribuíram para a

finalização deste trabalho, o meu muito obrigada.

Finalmente, agradeço a todos que contribuíram para o desenvolvimento deste

trabalho.

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RESUMO

Na área de ensino, nos últimos anos, pesquisas estão sendo desenvolvidas visando analisar o

que prejudica o cumprimento dos direitos das pessoas com deficiência. Neste contexto,

educadores devem ser conscientizados da relevância da inclusão educacional e orientados

sobre formas de praticá-la. Há relativa disponibilidade de recursos didáticos no mercado

nacional, porém é notável que conteúdos escolares, principalmente do ensino médio, ainda

necessitam de apoio às atividades para estudantes com deficiência visual. Como hipótese,

consideramos que o acesso às produções referentes ao Ensino de Química a pessoas com

deficiência visual no Brasil é fragmentado. Entendemos que esta temática é incipiente e que

professores e estudantes enfrentam dificuldades para ensinar e aprender Química com as

propostas disponíveis. Tendo em vista a importância de ensinar Química para pessoas com

deficiência visual no ensino médio, justificamos a relevância de um estudo do tipo

levantamento bibliográfico e documental sobre essa abordagem, com o objetivo de

sistematizar e comentar produções de pesquisadores e de espaços educativos para “ensinar

Química a pessoas com deficiência visual”, buscando identificar aspectos positivos e

eventuais limitações. Realizamos entrevistas semiestruturadas com 8 participantes de ações

que envolvem o Ensino de Química a pessoas com deficiência visual, a saber: professores de

Química do ensino médio regular, professores pesquisadores e professores de sala de

recursos. De acordo com os pressupostos destacados, esta pesquisa discute as seguintes

questões norteadoras: Como a produção de trabalhos para o Ensino de Química a pessoas com

deficiência visual se distribui pelas instituições e pelas regiões do país? Quais são os focos

temáticos mais estudados? É possível encontrar informações sobre a comunicação entre

professores e outros agentes que interagem com pessoas com deficiência visual para

disseminação de estudos, estratégias e multiplicação do conhecimento? Quais contribuições

dessa produção para a melhoria do Ensino de Química a pessoas com deficiência visual?

Mapeamos produções nacionais publicadas a partir de 1996 e identificamos alguns espaços

educativos. Com as entrevistas, buscamos detalhar realidades no desenvolvimento e/ou uso de

propostas, sem pretensão de generalizar toda produção nacional. Como resultado dessa

investigação, no Google acadêmico foram encontradas 267 produções, a maior parte da região

Sudeste (74). No Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES, foram encontradas 39

produções, sendo 34 dissertações e 5 teses, com a região Sudeste concentrando o maior

número teses e dissertações: 16. No portal CAPES, foram encontrados 43 artigos, sendo a

maioria da região Sudeste: 14. Foram identificados 10 espaços educativos com projetos em

desenvolvimento. Identificamos, ainda, que as produções e os espaços estão voltados, em sua

maioria, para o desenvolvimento de material didático e formação de professores. Os dados,

inclusive das entrevistas, foram organizados para análise textual discursiva, para identificação

de tendências e contribuições. Essa pesquisa, somada a outras, deve contribuir para o

desenvolvimento de um quadro teórico sobre a temática do ensino inclusivo e para a formação

de professores.

Palavras-chave: Ensino de Química. Deficiência visual. Inclusão. Ensino Médio. Formação

de professores.

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ABSTRACT

In the area of education, in recent years, research has being developed to analyze what impairs

the fulfillment of the rights of people with disabilities. In this context, educators should be

made aware of the relevance of educational inclusion and oriented on ways to practice it.

There is a relative availability of didactic resources in the Brazilian market, but it is notable

that school contents, especially in high school, still need support of activities for students with

visual impairment. As a hypothesis, we consider that the access to the productions related to

teaching Chemistry for people with visual impairment in Brazil is fragmented. We understand

that this theme is incipient and that teachers and students face difficulties in teaching and

learning Chemistry with the available proposals. Due the importance of teaching Chemistry to

people with visual impairment in high school, we justify the relevance of a study such as a

bibliographic and documentary survey on this approach, with the aim of systematizing and

commenting productions from researchers and educational spaces to "teach Chemistry for

people with visual impairment", seeking to identify positive aspects and possible limitations.

We conducted semi-structured interviews with eigth participants of actions involving the

teaching of Chemistry to people with visual impairment, namely: high school chemistry

teachers, research teachers and resource room teachers. According to the highlighted

assumptions, this research discusses the following guiding questions: How is the production

of works about teaching Chemistry for visually impaired people distributed among

institutions and regions of Brazil? What are the most studied thematic? Is it possible to find

information on the communication between teachers and other agents who interact with

people with visual impairment to disseminate and share studies, strategies and knowledge?

What are the contributions of this production to improving teaching Chemistry for people

with visual impairment? We mapped Brazilian productions published since 1996 and

identified some educational spaces. With the interviews, we tried to detail realities in the

development and/or use of proposals, without intending to generalize all production. As result

of this investigation, 267 productions were found in Google Academia, most of them from the

Brazilian Southeast region (74). In the CAPES Catalogue of Theses and dissertations, 39

productions were found, 34 of which were dissertations and 5 theses, with the Southeast

region concentrating the largest number of theses and dissertations: 16. In the CAPES

Journals Gate, 43 articles were found, most of them from the Brazilian Southeastern region:

14. Ten educational spaces were identified with projects under development. We also

identified that the productions and spaces are mostly focused on the development of didactic

material and teacher trainning. The data, including the interviews, were organized for

discursive textual analysis, to identify trends and contributions. This research, added to others,

should contribute to the development of a theoretical framework on the theme of inclusive

education and teacher training.

Keywords: Chemistry teaching. Visual impairment. Inclusion. High School. Teacher training.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Adaptado do triângulo de Jonhstone.. ....................................................................... 34

Figura 2. Maquetes táteis e visuais para o ensino de química .................................................. 35

Figura 3. Representações de alguns recursos. .......................................................................... 39

Figura 4. Diagrama com 12 módulos projetado no software solidworks. ................................ 50

Figura 5. Representação da fórmula molecular e estrutural do metano e amônia .................... 51

Figura 6. Cartela de bingo químico em braille.. ....................................................................... 52

Figura 7. Tabela periódica em braille.. ..................................................................................... 55

Figura 8. Tabela periódica em braille.. ..................................................................................... 56

Figura 9. Exemplo de roteiro de experimento adaptado sobre átomos que emitem luz. .......... 59

Figura 10. Diagrama ilustrativo de cruzamento de dados das fontes pesquisadas ................... 69

Figura 11. Composição dos dados obtidos na fonte Google acadêmico .................................. 70

Figura 12. Evolução do número de produções no Ensino de Química para pessoas com

deficiência visual - Google acadêmico ..................................................................................... 71

Figura 13. Distribuição de produções sobre Ensino de Química para pessoas com deficiência

visual pelas regiões brasileiras - via Google acadêmico .......................................................... 72

Figura 14. Representação da obtenção de dados do Google acadêmico. ................................ 75

Figura 15. Evolução do número de teses e dissertações sobre Ensino de Química envolvendo

pessoas com deficiência visual - Catálogo de teses e dissertações da CAPES ........................ 77

Figura 16. Distribuição de teses e dissertações de Ensino de Química envolvendo pessoas com

deficiência visual nas regiões brasileiras - Catálogo de teses e dissertações da CAPES ......... 78

Figura 17. Representação da obtenção de dados do catálogo de teses e dissertações .............. 81

Figura 18. Evolução do número de artigos sobre o Ensino de química envolvendo pessoas

com deficiência visual - portal CAPES .................................................................................... 88

Figura 19. Distribuição do número de artigos sobre Ensino de Química envolvendo pessoas

com deficiência visual nas regiões brasileiras - portal CAPES ............................................... 88

Figura 20. Representação da obtenção de dados de periódicos - portal CAPES...................... 90

Figura 21. (a) Elementos químicos escritos em braille; (b) Etapa de validação com pessoa com

deficiência visual. ..................................................................................................................... 91

Figura 22. Tabela periódica acessível produzida em lona ........................................................ 92

Figura 23. Tabela periódica interativa ...................................................................................... 93

Figura 24. Teclas adaptadas para tabela periódica interativa ................................................... 93

Figura 25. Tabela periódica adaptada para o braille ................................................................. 94

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Figura 26. Representação de espaços educativos por região geográfica, que desenvolveram

pesquisas para o Ensino de Química para pessoas com deficiência visual .............................. 96

Figura 27. Estratificação de espaços educativos que desenvolvem projetos de pesquisa sobre o

Ensino de Química a pessoas com deficiência visual............................................................... 97

Figura 28. Representação da estratificação de dados de espaços educativos ........................... 98

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Resumo dos experimentos. ....................................................................................... 61

Tabela 2. Resumos dos resultados de avaliação das práticas experimentais. ........................... 62

Tabela 3. Perfil dos entrevistados. ............................................................................................ 65

Tabela 4. Corpus da pesquisa. .................................................................................................. 67

Tabela 5. Dados sobre produções de ensino de química para pessoas com deficiência visual

encontradas via Google acadêmico. ......................................................................................... 71

Tabela 6. Categorias e suas distribuições entre as produções encontradas – Google acadêmico.

.................................................................................................................................................. 73

Tabela 7. Subcategorias encontradas em categoria material didático – Google acadêmico. ... 74

Tabela 8. Dados de teses e dissertações sobre ensino de Química para pessoas com deficiência

visual encontrados no catálogo de teses e dissertações da CAPES. ......................................... 77

Tabela 9. Categorias e suas distribuições entre as produções encontradas no catálogo de teses

e dissertações da CAPES. ......................................................................................................... 79

Tabela 10. Subcategorias e suas distribuições entre as produções encontradas no catálogo de

teses e dissertações da CAPES. ................................................................................................ 80

Tabela 11. Dados de artigos brasileiros de ensino de química envolvendo pessoas com

deficiência visual encontrados no portal CAPES. .................................................................... 87

Tabela 12. Categorias e suas distribuições entre as produções encontradas – periódico da

CAPES. ..................................................................................................................................... 89

Tabela 13. Subcategorias que emergiram da categoria material didático – periódico da

CAPES. ..................................................................................................................................... 90

Tabela 14. Identificação de espaços educativos por região geográfica. ................................... 95

Tabela 15. Categorias e suas distribuições entre os projetos encontrados de espaços

educativos. ................................................................................................................................ 98

Tabela 16. Perfil dos entrevistados por região. ...................................................................... 101

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ................................................................................................................. 14

CAPÍTULO 1 – O ENSINO INCLUSIVO ........................................................................... 21

1.1. A psicologia histórico-cultural ........................................................................................ 22

1.2. Inclusão: Aspectos legais ................................................................................................. 27

CAPÍTULO 2 – ENSINO DE QUÍMICA PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

VISUAL ................................................................................................................................... 31

2.1. Formação de professores ................................................................................................ 31

2.1.1. Conhecer sobre a deficiência visual do aluno ................................................................ 32

2.1.2. Saber vincular os conceitos químicos através de representações que não dependam

estritamente da visão ................................................................................................................ 33

2.1.3. Saber trabalhar com a linguagem matemática ................................................................ 36

2.1.4. Saber realizar atividades comuns aos alunos com e sem deficiência visual .................. 37

2.1.5. Conhecer os recursos disponíveis que auxiliam no aprendizado de estudantes com

deficiência visual ...................................................................................................................... 38

2.1.5.1 Sala de recursos ........................................................................................................... 39

2.1.5.2 Desenho Universal da Aprendizagem .......................................................................... 41

2.1.5.3 Livro didático e Audiodescrição .................................................................................. 44

2.1.5.4 Tecnologias Assistivas .................................................................................................. 46

2.1.5.5 Grafia Química Braille ................................................................................................. 51

2.1.5.6 Experimentação ............................................................................................................ 57

CAPÍTULO 3 - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DE PESQUISA ................. 61

3.1. Instrumentos de coleta de dados .................................................................................... 63

3.1.1. Pesquisa bibliográfica e documental .............................................................................. 63

3.1.2. Entrevista semiestruturada .............................................................................................. 65

3.2. Análise de dados .............................................................................................................. 66

CAPÍTULO 4 – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .................... 69

4.1. Pesquisa bibliográfica e documental ............................................................................. 69

4.1.1. Google Acadêmico (GA) ............................................................................................... 70

4.1.1.1 Dados quantitativos ...................................................................................................... 70

4.1.1.2 Categorização ............................................................................................................... 72

4.1.2. Catálogo de Teses e Dissertações ................................................................................. 77

4.1.2.1 Dados quantitativos ..................................................................................................... 77

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4.1.2.2 Categorização .............................................................................................................. 78

4.1.3. Base de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior – CAPES .................................................................................................................. 87

4.1.3.1 Dados quantitativos ...................................................................................................... 87

4.1.3.2 Categorização ............................................................................................................... 88

4.1.4. Espaços Educativos ...................................................................................................... 95

4.1.4.1 Categorização ............................................................................................................... 97

4.1.5. Entrevistas ................................................................................................................... 101

CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................. 117

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 119

APÊNDICE 1: Roteiro para Entrevista de desenvolvedores de propostas e potenciais

usuários ................................................................................................................................... 130

APÊNDICE 2: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO .................. 131

APÊNDICE 3: Produções encontradas no catálogo de Teses e dissertações – CAPES

(Categoria: Formação de professores) .................................................................................... 134

APÊNDICE 4: Transcrição de Entrevistas ........................................................................... 135

ANEXO 1: PARECER DO COMITE DE ÉTICA ................................................................ 142

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APRESENTAÇÃO

O desafio de pesquisar o Ensino de Química para pessoas com deficiência visual

surgiu de atividades desenvolvidas na minha graduação em licenciatura em Química, na qual

tive a oportunidade de redigir meu trabalho de conclusão de curso: “Uso de material

alternativo de percepção tátil para o ensino de cinética química a alunos do ensino médio

com deficiência visual” (DUARTE, 2016). A partir dessa experiência, foi possível

compreender o quanto é importante estar preparado para ensinar estudantes com diferentes

necessidades.

No mestrado, sob orientação da professora Dra. Adriana Vitorino Rossi,

refletimos sobre trabalhos e projetos que estão sendo desenvolvidos no Brasil e surgiram

vários questionamentos relacionados à divulgação de trabalhos no Ensino de Química a

pessoas com deficiência visual, instituições envolvidas nesse contexto, participação de

pessoas com deficiência visual nas produções e a possível existência de interações entre os

núcleos de produção. Diante disso, buscamos entender alguns conceitos que norteiam esta

temática.

Na literatura, encontramos que deficiência visual consiste na perda total ou

parcial, congênita ou adquirida da visão, e a partir do nível de acuidade visual podem-se

distinguir dois grupos de deficiência: cegueira e baixa visão.

A cegueira consiste na perda total da visão ou baixíssima capacidade de enxergar,

sendo que a pessoa precisa utilizar o Sistema Braille1 para ter acesso à leitura e escrita

(INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT, 2017).

Já a baixa visão ou, também, denominada de visão subnormal caracteriza-se pelo

comprometimento do funcionamento visual dos olhos, apesar de tratamento ou correção. As

pessoas com baixa visão podem ler textos impressos ampliados ou com uso de recursos óticos

especiais (FUNDAÇÃO DORINA NOWILL, 2017).

Também buscamos dados sobre o número de pessoas no Brasil com tais

necessidades especiais. No Censo de 2010 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE, 2010), consta que há mais de 6,5 milhões de pessoas com deficiência

visual, sendo 582 mil cegas e seis milhões com baixa visão. Em consonância, dados do censo

da educação básica de 2016 apresentam que do total de 971.372 estudantes da educação

1 Processo de leitura e escrita para pessoas cegas, baseado em 64 símbolos em relevo, resultantes da combinação

de seis pontos, dispostos em duas colunas de três pontos cada (BAPTISTA, 2000).

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especial matriculados em escolas especializadas e regulares, 76.470 são cegos, surdocegos ou

têm baixa visão. Esses dados fortalecem as questões a respeito do espaço que lhe competem

como cidadãos integrados socialmente.

No contexto educacional, Lavorato e Mol (2016) afirmam que a inclusão2 é um

conceito relacionado com diversas temáticas, com a finalidade de quebrar barreiras e construir

bens e serviços que supram às necessidades individuais. Nos últimos anos, diversas pesquisas

e experiências têm sido desenvolvidas visando identificar e analisar o que inviabiliza o pleno

cumprimento dos direitos das pessoas com deficiências3.

Nosso trabalho aborda o Ensino de Química para pessoas com deficiência visual,

e, por isso, apresentamos algumas considerações sobre a importância de ensinar e aprender

Química, sobre o ensino para pessoas com deficiência visual e desafios a serem superados

nesta tarefa.

Destacamos que a importância do Ensino de Química está relacionada com a

inserção social do cidadão. Em vista disso, é primordial que as pessoas com deficiência visual

compreendam a Química, sem se limitar a aspectos teóricos e de sua representação dessa

ciência, pois o conhecimento químico deve ser articulado para a formação cidadã,

contribuindo para uma melhor percepção do mundo. As Orientações Educacionais

complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs+) afirmam que a Química

pode ser:

[…] um instrumento da formação humana, que amplia os horizontes

culturais e a autonomia, no exercício da cidadania, se o conhecimento

químico for promovido como um dos meios de interpretar o mundo e intervir

na realidade, se for apresentado como ciência, com seus conceitos, métodos

e linguagens próprios, e como construção histórica, relacionada ao

desenvolvimento tecnológico e aos muitos aspectos da vida em sociedade

(BRASIL, 2002a, p. 87).

Nessa direção, a Base Nacional Comum Curricular4 - BNCC, na área de Ciências

da Natureza e suas Tecnologias, que inclui a Química, aponta que:

A Ciência e a Tecnologia tendem a ser encaradas não somente como

ferramentas capazes de solucionar problemas, tanto os dos indivíduos como

os da sociedade, mas também como uma abertura para novas visões de

2 Implica uma mudança de perspectiva educacional, pois não atinge apenas alunos com deficiência e os que

apresentam dificuldades de aprender, mas todos os demais, para que obtenham sucesso na corrente educativa

geral (MANTOAN, 2003).

3 O termo “Pessoa com Deficiência” é oficialmente utilizado desde a Lei Federal n° 13.146/2015, que

regulamenta a Convenção dos Direitos da Pessoa com Deficiência da ONU, proclamada em 2006 (BRASIL,

2015). 4 Documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que

todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica (BRASIL, 2018).

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mundo [...]. Sendo assim, a aprendizagem deve valorizar a aplicação dos

conhecimentos na vida individual, nos projetos de vida, no mundo do

trabalho, favorecendo o protagonismo dos estudantes no enfrentamento de

questões sobre consumo, energia, segurança, ambiente, saúde, entre outras

(BRASIL, 2018, p. 549).

Retomando a questão para o ensino inclusivo, Costa (2016) ressalta que, para

ensinar Química a pessoas com deficiência visual, é importante superar diversos obstáculos,

tais como: inclusão, acessibilidade5, material adaptado, formação de professor, dentre outros.

A Química é estigmatizada como uma ciência de conteúdos difíceis de serem

aprendidos e com estereótipo de ser compreendida apenas por cientistas. Para pessoas com

deficiência visual, torna-se um desafio ainda maior compreendê-la, uma vez que a Química

usa modelos, simbologias e diversas representações visuais.

Assim, é essencial o esforço de professores e outros agentes que interagem com

pessoas com deficiência visual minimizarem falhas ou reducionismos problemáticos no

processo de Ensino de Química, buscando contribuir para a formação do conhecimento

químico pelo estudante com deficiência visual (LIMA; ONOFRE, 2015).

De acordo com Fernandes (2014), alguns autores (DIAS, 2010; PEREIRA et al.,

2009; PIRES, 2010) discutem a necessidade de desenvolvimento de materiais didáticos

adaptados para pessoas com deficiência visual, pois isto lhes oportuniza participarem do

contexto da sala de aula, contribui para a efetiva inclusão e deve diminuir dependência de

outras pessoas quando estão fora da sala de aula.

Diversos recursos, apresentados na literatura, podem minimizar as dificuldades

práticas de ensino e aprendizagem para estudantes com deficiência visual, tais como: o uso

dos programas de computador Dosvox6, Mecdaisy

7, Jaws

8, Virtual Vision

9 e Quatro

5 Condição para utilização, com segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários e

equipamentos urbanos, das edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de

comunicação e informação (BRASIL, 2015).

6 Sistema computacional, baseado na síntese de voz, desenvolvido pela UFRJ pelo Núcleo de Computação

Eletrônica (NCE), que se destina a facilitar o acesso de deficientes visuais a computadores (NCE/UFRJ, 2018).

7 Software desenvolvido pela UFRJ que permite a leitura/audição de livros no formato Daisy. O formato Daisy –

Digital Accessible Information System – é um padrão de digitalização de documentos utilizado para a produção

de livros acessíveis (NCE/UFRJ, 2018). 8 Software leitor de telas que permite o acesso ao computador a pessoas com deficiência visual. Foi desenvolvido

pela empresa norte-americana Henter-Joyce, pertencente ao grupo Freedom Scientific (BOER, 2005).

9 Software desenvolvido pela MicroPower. É uma aplicação da tecnologia de síntese de voz, ou seja, um "leitor

de telas", que pode ser adaptado em qualquer programa Windows (BOER, 2005).

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17

Estações10

; materiais didáticos adaptados; o uso de letras ampliadas e a utilização do sistema

Braille.

No entanto, existem fatores que determinam o recurso utilizado, como interesse,

necessidade, disposição e objetivos, assim como as condições de inserção familiar e

sociocultural. Não há uma alternativa única a ser seguida, mas diversas estratégias que podem

servir para viabilizar o trabalho escolar, minimizando barreiras de comunicação e de acesso ao

conhecimento para pessoas com deficiência visual (MELO, 2013).

No mercado nacional, há alguma oferta de recursos didáticos que são distribuídos

por instituições públicas em parceria com fundações e instituições de apoio, como o Instituto

Benjamin Constant, a Fundação Dorina Nowill e a Associação de Assistência ao Deficiente

Visual Laramara. Apesar disso, muitos conteúdos escolares, principalmente do ensino médio,

ainda carecem de recursos didáticos para apoio às atividades de ensino a estudantes com

deficiência visual (BORRÁS, 2016).

Entendemos que essa limitação de recursos didáticos específicos é uma grande

barreira para atender e apoiar estudantes com deficiência visual, recaindo aos professores a

responsabilidade de adoção ou criação de estratégias e de recursos didáticos para

desenvolvimento de suas aulas, em especial aos professores de Química.

Por outro lado, conforme apontaram Nascimento e colaboradores (2010),

podemos inferir que a preparação de professores para ensinar Química a pessoas com

deficiência visual ainda precisa ser aprimorada no Brasil, tanto em termos de formação inicial

quanto continuada.

No que diz respeito à formação inicial, Silva e Damasceno (2015) apresentam em

seu trabalho alguns autores (REGIANI; MÓL, 2013; MARIANO; REGIANI, 2015) que

apontaram a necessidade da inclusão em matrizes curriculares e projetos de cursos para

formação de professores, nesse caso de Química, de disciplinas que abordem e coloquem em

prática metodologias para atender as necessidades individuais dos estudantes.

No entanto, conforme Benite e colaboradores (2009), compreendemos que além

dos licenciandos, os professores em exercício também devem participar de ações formativas

que lhes proporcione posições de análise e reflexão sobre suas próprias condições de trabalho

e vivências, permitindo estabelecer relações entre a sua ação pedagógica e os pressupostos

teóricos que estão subjacentes a ela.

10

Ferramenta de software desenvolvida por Maria Betânia Ricci Boer, Unicamp, para pessoas com baixa visão.

Permite a construção de traços (linhas, círculos, quadrados, rabiscos e desenhos) em tamanho ampliado na tela

do computador permitindo uma maior visibilidade dos detalhes (BOER, 2005).

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Basso (2015) afirma que na formação inicial de professores de Química há uma

falha no preparo para incluir pessoas que possuem necessidades especiais. Dessa forma,

torna-se indispensável que a formação continuada minimize os impactos dessa lacuna,

integrando à prática do professor as produções recentes, visando subsidiar suas ações para

atendimento as pessoas com deficiência visual.

Concordamos com Mariano e Regiani (2015) que afirmam que professores de

pessoas com deficiência visual devem ser atentos às suas necessidades e preparados para

buscar novos modos de planejar, rever a forma de ensinar e criar estratégias didáticas que

envolvam esses estudantes.

Neste contexto, há muitos discursos referentes à relevância da educação inclusiva

no Ensino de Química, porém ainda há desafios a serem superados. Benite e colaboradores

(2008) defendem que a complexidade dos problemas atuais que existem no ambiente escolar

exige cooperação, olhares múltiplos e um modo de investigação na ação e pela ação. Isso

demanda do professor a consciência de que sua formação não se conclui ao final da

licenciatura, e dos gestores e responsáveis por políticas educacionais, que a formação

continuada é indispensável para aprimorar o Ensino de Química a pessoas com deficiência

visual.

Ressaltamos que o Ensino de Química deve ser transformado diante dos desafios

do ensino inclusivo, para promover a formação cidadã de estudantes com deficiência visual,

por meio de estudos, pesquisas específicas sobre o assunto e trocas de experiências entre os

educadores e pesquisadores.

Destacando a importância de trabalhos que tratam do Ensino de Química a

estudantes com deficiência visual, apontamos a relevância de um levantamento bibliográfico e

documental sobre essa produção, com a finalidade de identificar suas particularidades,

intenções e obstáculos.

Como hipótese de nossa pesquisa, consideramos que o acesso às produções

referentes ao Ensino de Química a pessoas com deficiência visual no Brasil é fragmentado. A

temática, ainda, é incipiente. Professores e estudantes enfrentam dificuldades para ensinar e

aprender Química com as propostas disponíveis, pois parece haver pouca repercussão dos

espaços educativos e suas produções para esse público, fragilizando a interação dos potenciais

usuários de seus resultados.

Na expectativa de poder contribuir para a promoção da temática, realizamos um

mapeamento de produções de pesquisadores e de espaços educativos para ensinar Química a

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pessoas com deficiência visual. Em um segundo momento, buscando encontrar informações

mais pontuais, onde realizamos uma entrevista semiestruturada com participantes de ações

que envolvem o Ensino de Química a pessoas com deficiência visual, a saber: professores de

Química do ensino médio regular, professores pesquisadores e professores de sala de

recursos.

Pesquisamos as produções em instituições de ensino e pesquisa, especificamente

voltadas para o Ensino de Química a pessoas com deficiência visual, a partir de 1996, para

vislumbrar a evolução do tema. As produções foram classificadas e analisadas de acordo com

os critérios: ano de apresentação, tema abordado, instituição e região geográfica de origem.

De acordo com as pretensões expostas, nossa pesquisa discutiu as seguintes

questões norteadoras:

Como a produção de trabalhos para o Ensino de Química a pessoas com

deficiência visual se distribui pelas instituições e pelas regiões do país? Quais

são os focos temáticos mais estudados?

É possível encontrar informações sobre a comunicação entre professores e

outros agentes que interagem com pessoas com deficiência visual para

disseminação de estudos, estratégias e multiplicação do conhecimento?

Quais são as contribuições dessa produção para a melhoria do Ensino de

Química a pessoas com deficiência visual?

Diante disso, o objetivo geral do trabalho consistiu em sistematizar e comentar

produções de pesquisadores e de espaços educativos para “ensinar Química a pessoas com

deficiência visual”, buscando identificar eventuais aspectos positivos e limitações. Esta

pesquisa de mestrado também representa uma tentativa de contribuir para a divulgação desses

trabalhos a professores e pesquisadores interessados na temática, com foco na realidade

brasileira. Para alcançar esse objetivo geral, tivemos como objetivos específicos:

1. Mapear produções sobre o Ensino de Química para pessoas com deficiência

visual, publicadas a partir de 1996.

2. Apresentar os focos temáticos mais estudados sobre o Ensino de Química para

pessoas com deficiência visual.

3. Pesquisar espaços colaborativos de pessoas envolvidas no Ensino de Química a

pessoas com deficiência visual.

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20

4. Investigar como interagem desenvolvedores de propostas e potenciais usuários

no Ensino de Química a pessoas com deficiência visual, através de entrevista.

Ao analisar os dados coletados, buscamos obter um cenário atualizado das

produções sobre Ensino de Química a estudantes com deficiência visual, para procurar

entender a realidade e refletir sobre suas transformações. Com as entrevistas de pessoas

envolvidas em ações e desenvolvimento de materiais para o ensino e aprendizagem de pessoas

com deficiência visual, buscamos obter dados para compreender como interagem, se há

acesso às produções e propostas para ensino e as dificuldades enfrentadas.

Para orientar a leitura deste texto, apresentamos uma breve descrição de seu

conteúdo.

No Capítulo 1, está o referencial teórico utilizado nesta dissertação. Iniciamos

uma aproximação da psicologia histórico-cultural de Vygotski, para demonstrar a importância

da interação social de pessoas com deficiência para seu desenvolvimento e sua aprendizagem.

Na sequência, abordamos a legislação relacionada às questões inclusivas.

No Capítulo 2, abordamos o Ensino de Química para pessoas com deficiência

visual no que tange a pesquisa para formação de professores e o uso de recursos para o

ensino.

No Capítulo 3, apresentamos a metodologia utilizada nesta pesquisa, a partir do

paradigma das pesquisas qualitativas, seguido do detalhamento do instrumento de coleta de

dados utilizado, para finalizar com as técnicas de análise dos dados obtidos.

Os resultados e discussões de nossa investigação estão apresentados no Capítulo

4, no qual analisamos os dados obtidos do levantamento bibliográfico, documental e das

entrevistas.

Finalmente, trazemos as considerações finais desta dissertação, as quais destacam

nossas conclusões sobre o trajeto percorrido na pesquisa.

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CAPÍTULO 1.

O ENSINO INCLUSIVO

Por um longo período histórico, as pessoas com deficiência visual, assim como

outras pessoas com necessidades especiais, viveram um duro processo de desvalorização e de

exclusão social. Suas diferenças, em especial a falta de visão, eram consideradas como um

estigma, uma marca diferencial que pressupunha vergonha, discriminação e até punição.

Foi na Europa, no século XVIII, que se iniciou o atendimento com medidas

educacionais às pessoas com deficiência visual. Em Paris, 1784, Valentin Haüy criou a

primeira escola para cegos, denominada Instituto Real dos Jovens Cegos. Neste espaço,

ensinava-se a ler por meio de impressão de textos em papel muito forte, que permitia dar

relevo às letras. No século XIX, esta proposta educacional foi difundida para outros países

com a elaboração de declarações, leis e decretos (SOUZA; PRADO, 2014).

Em 1819, Louis Braille ingressou no Instituto Real dos Jovens Cegos e mais tarde

desenvolveu um importante sistema com caracteres em relevo para escrita e leitura de cegos,

o atualmente reconhecido sistema Braille. Com a utilização desse sistema, a educação de

pessoas com deficiência visual teve um grande desenvolvimento. O sistema da época era bem

diferente dos dias atuais, todavia, foi o início ao que se conhece atualmente por alfabetização

em Braille (LIRA; SCHLINDWEIN, 2008; KLAUCH; MÜLLER, 2013).

No Brasil, o atendimento a alunos com necessidades educacionais especiais teve

início na época do Império. Em 1854, O imperador D. Pedro II criou o Instituto dos Meninos

Cegos. Este foi o primeiro passo concreto no país para garantir à pessoa com deficiência

visual o direito à cidadania. Em 1891, o instituto recebeu o nome que tem atualmente,

Instituto Benjamin Constant (INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT, 2017).

Dando continuidade ao contexto histórico, em 1945, no Brasil, a Fundação para

Livro do Cego no Brasil, hoje Fundação Dorina Nowill, iniciou processos de integração ao

realizar atendimentos educacionais de alunos com deficiência visual matriculados no sistema

estadual de ensino. Ao fim da década de 1950, surgiram serviços de educação especial nas

secretarias estaduais de educação e as primeiras campanhas nacionais de educação para

pessoas com deficiências ligadas ao Ministério da Educação e Cultura (MARIANO;

REGIANI, 2015).

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Abordando de maneira breve o contexto histórico, podemos identificar as

adversidades e avanços para a inclusão de pessoas com deficiência visual no que diz respeito

a uma educação inclusiva.

Diante disso, apresentamos uma breve abordagem da Psicologia Histórico-

Cultural, cujo principal representante é Lev Semyonovitch Vygotski, para trazer contribuições

para o Ensino de Química a pessoas com deficiência visual.

Vygotski, entre os seus trabalhos, desenvolveu um estudo sobre pessoas com

deficiência visual. Ele defendia que a deficiência visual não podia ser reduzida a um defeito e

distinguiu a deficiência primária da deficiência secundária, consistindo a primeira de

problema de ordem orgânica e a segunda às consequências psicossociais da deficiência. Outro

ponto relevante foi o estudo sobre a compensação social, a qual o autor ressalta ser uma

reação complexa do sujeito diante da deficiência, no sentido de superar as barreiras,

produzindo a reestruturação da atividade psíquica (VYGOTSKI, 1997).

1.1 A psicologia histórico-cultural

Vygotski e seus colaboradores, fundamentados nas hipóteses de Marx e Engels,

buscaram, a partir dos fundamentos do materialismo histórico-dialético11

, compreender e

desenvolver a caracterização do psiquismo humano (VYGOTSKI, 2008). Com isso,

pesquisaram como ocorre a relação do homem com o mundo, com os demais indivíduos, a

formação das estruturas de seu pensamento e a construção do conhecimento.

Vygotski12

, em seus estudos, dividiu a história dos cegos em três épocas para

explicar o processo de compensação da cegueira: a mística, a biológica e a científica ou sócio

psicológica. A época mística englobou o período da Antiguidade, Idade Média e parte da

Idade Moderna, quando pessoas sem visão eram envoltas em crenças e superstições. Por

vezes, acreditava-se que tais pessoas tinham uma visão espiritual e viam além das outras

pessoas para compensar a falta de visão. Em outros momentos, a pessoa com deficiência

visual era tratada como indefesa e abandonada (VYGOTSKI, 1997). Dentre as personalidades

cegas, nesta época (século VIII a.C.), houve Homero, talvez o primeiro grande poeta da

História, e Demócrito, um dos precursores da atomística, que se cegou para focar no estudo da

filosofia (LIRA; SCHLINDWEIN, 2008).

11

Caracteriza-se pelo movimento do pensamento através da materialidade histórica da vida dos homens em

sociedade, isto é, trata-se de descobrir (pelo movimento do pensamento) as leis fundamentais que definem a

forma organizativa dos homens em sociedade através da história (PIRES, 1997).

12 Neste trabalho citamos traduções de obras de Vygotski.

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Após a época mística, iniciou-se a época Biológica, sendo que o misticismo e o

preconceito foram substituídos pela ciência e pelo estudo. Essa fase ocorreu no século XVIII,

Idade Moderna, época do desenvolvimento do conhecimento, tempo do Iluminismo. Surgiu

um novo modo de compreender a pessoa com deficiência visual. Houve possibilidades de

assistência, de vida social e cultural para as pessoas cegas através da educação em instituições

segregadas. Porém, também foi um período ingênuo, quando se acreditava erroneamente que

a falta de visão seria substituída pelo grande desenvolvimento dos demais sentidos, como uma

audição extremamente ampliada (PIRES, 2010).

Segundo Lira e Schlindwein (2008), para Vygotski não há uma compensação

fisiológica direta, ou seja, a deficiência dos órgãos da visão não é substituída por outros

“super órgãos”, no entanto há uma exercitação e adaptação relacionadas a uma compensação

sociopsicológica. Vygotski define, ainda, que essa compensação sociopsicológica consiste em

um curso bem complexo e indireto, que envolve a reorganização da atividade psíquica. Isso

ocorre de tal modo, que permite compensar o conflito social devido à falta de visão,

estimulando a pessoa a vencer as limitações existentes.

Embora a concepção biológica tivesse uma compreensão distorcida, neste período

ocorreu uma evolução para a compreensão da cegueira. E ainda houve a criação do sistema

Braille, que contribuiu para que a pessoa com deficiência visual passasse a ter participação na

vida social e cultural.

A terceira época (científica ou sociopsicológica) surgiu com as reflexões

originadas da psicologia social, na idade contemporânea, neste período houve uma validação

dos direitos sociais das pessoas com deficiência visual. E ainda, foi nesta época que as

instituições de ensino que segregavam as pessoas com deficiência visual foram fortemente

criticadas. Pois, acreditava-se que o convívio social com pessoas videntes proporcionava o

desenvolvimento das pessoas com deficiência visual (PIRES, 2010).

O indivíduo, para Vygotski, é interativo, visto de maneira global, como um ser

biológico e social, com ênfase nas relações sociais, é um indivíduo histórico que estabelece

suas relações com o mundo natural e social. Desta forma, o comportamento é explicado pelas

relações no processo de desenvolvimento social e individual; ou seja, o indivíduo é

constituído socialmente, pois todas as suas funções psicológicas têm origem social (COSTA,

2006; VYGOTSKI, 2008; PIRES, 2010).

Desse modo, destacamos três fundamentos da teoria sócio-histórica de Vygotski.

O primeiro relaciona-se às funções psicológicas superiores do indivíduo (pensamento,

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linguagem e comportamento), que ocorre pela socialização do indivíduo com o meio cultural

e social. O segundo fundamento, defende que os processos mentais são mediados por

instrumentos e signos que são repetidos e combinados nas construções sócio-históricas e

culturais, por meio da reconstrução interna (apropriação) destas construções, por relações

sociais e assim, o indivíduo se desenvolve. O terceiro fundamento considera que os

experimentos permitem iluminar esses processos (PIRES, 2010).

Conforme aponta Silva (2017), ressaltamos que a linguagem foi preocupação

central para Vygotski, que a considerava ser constituidora do sujeito. Presumia-se, no início

do século XX, que essa relação não se alterava ao longo do desenvolvimento. Porém, para

Vygotski, ela evolui durante o desenvolvimento humano em um processo dinâmico e

dialético.

Ao atribuir importância às relações sociais e à linguagem para o desenvolvimento

das funções psíquicas superiores, a teoria histórico-cultural proporciona a compreensão dos

problemas inerentes à cegueira sob uma ótica otimista no que se relaciona às possibilidades de

desenvolvimento das pessoas com deficiência visual, desde que estejam inseridas na cultura e

nas práticas sociais. Deste modo, entende-se que:

O cego seguirá sendo cego, e o surdo, seguirá sendo surdo, mas deixarão de

ser deficientes, porque a deficiência é um conceito social […]. A cegueira

em si não faz a criança deficiente, não é um defeito, uma deficiência, uma

carência, uma enfermidade. Chega a ser só em certas condições sociais de

existência do cego. É um signo da diferença entre sua conduta e a conduta

dos outros. A educação social vencerá a deficiência (VYGOTSKI, 1997).

Diante disso, entendemos que o desenvolvimento e a aprendizagem passam pela

interação social, os conhecimentos individuais são apropriados e internalizados a partir do

conhecimento com e dos outros, numa relação mediada semioticamente pela linguagem

(VYGOTSKI, 2008).

Dentre suas ideias, Vygotski ressalta que, para melhorar o nível de aprendizagem,

é preciso interagir, uma vez que todo sujeito adquire seu conhecimento a partir de relações

interpessoais e trocas com o meio. A característica que aparentemente é individual, na

verdade, resulta de uma construção da sua relação com o outro. As particularidades e atitudes

individuais estão profundamente carregadas, resultantes de trocas com o coletivo e é

exatamente ali, que os seus valores e a negociação dos sentidos, entrelaçados pelos grupos

sociais, são construídos e acabam sendo internalizados (VYGOTSKI, 2008).

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Desse modo, compreende-se a mediação como o elo intermediário entre o

indivíduo e o meio. Quando realizada pelo “outro” (adultos, professores, colegas mais

capazes), costuma-se chamar de mediação pedagógica. Quando realizada pelos signos, dentre

os quais o mais importante é a linguagem, denomina-se de mediação semiótica. Essas

dimensões não são independentes, nem excludentes. Na realidade, são interdependentes e

acontecem ao mesmo tempo (COSTA, 2006; VYGOTSKI, 2008).

Os estudantes com deficiência visual, por exemplo, podem ter dificuldades em

compreender conteúdos e significados que sejam indissociáveis de representações visuais.

Porém, isso não significa que a aprendizagem não ocorre, mas que essa deve ocorrer de

maneira diferenciada. Segundo Vygotski, ela ocorrerá a partir da importância social do objeto

de estudo (VYGOTSKI, 1997; FOCHESATO; GUIMARÃES, 2017).

Nesse sentido, conceitos da neurociência cognitiva13

afirmam que a linguagem é

processada em determinados locais do cérebro, como a área de Broca, área motora

responsável pela produção da fala e linguagem – formação e expressão das palavras, e a área

de Wernicke. É a área de Wernicke, sensorial, em constante associação com a Área de Broca,

que possibilita a compreensão e a produção/expressão da fala e da linguagem, que todos os

diferentes tipos de sensações são interpretados a fim de ser encontrado um significado

comum, por isso, essa área é chamada de “área do conhecimento”. Ou seja, todos os

pensamentos das diferentes áreas sensoriais são correlacionados e pesados, um contra os

outros, para a obtenção de conclusões mais profundas (SANTOS, 2008; BASTOS; ALVES,

2013).

A partir da internalização das informações, o aluno consegue abstrair o conceito e

o atributo para uma aplicação mais generalizada, descobrindo então os muitos sentidos que o

objeto pode ter, adquirindo assim novos tons pessoais, tudo via mediação da linguagem, na

troca com os outros (interação) e consigo mesmo (internalização), adquirindo novos

conhecimentos, papéis sociais e valores (SILVA, 2017).

De acordo com Dantas Neto (2012), Vygotski considera que o sentido mais

específico de mediação é o uso de mediadores para expandir as possibilidades humanas para

alcançar um objetivo, para suprir determinadas necessidades, em um ciclo de relações sociais.

Em outras palavras, pode-se afirmar que para o desenvolvimento individual, Vygotski destaca

as possibilidades oferecidas pelas mediações estabelecidas.

13

Busca discutir como os processos cognitivos são elaborados funcionalmente pelo cérebro humano,

possibilitando a aprendizagem, a linguagem e o comportamento (SANTOS, 2008; BASTOS; ALVES, 2013).

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Concordamos com Estabel, Moro e Santarosa (2006) ao enfatizarem que a pessoa

com limitação visual precisa superar as dificuldades e assim obter maior autonomia. Contudo,

apenas com a colaboração do outro, ela conseguirá conquistar maior independência. É

necessário ter novos relacionamentos para descobrirem, uns nos outros, habilidades e a

contribuição que cada um pode proporcionar ao grupo em um processo de aprendizagem e

construção de conhecimento.

Sendo assim, entendemos que o isolamento da pessoa com deficiência visual

potencializa a neutralização do seu desenvolvimento, em vez de estimulá-lo. Este

desenvolvimento abrange as estruturas humanas fundamentais do pensamento e da linguagem,

que nem sempre se referem à língua falada, mas se referem a aspectos relacionados a

interações sociais como família e escola (COSTA, 2006; VYGOTSKI, 2008; OLIVEIRA

NETO, 2014).

Conforme aponta Dantas Neto (2012), Vygotski inovou ao defender que a cultura

integra a personalidade de cada pessoa. Ele ressaltou que a aprendizagem está vinculada a

internalização de conceitos que são obtidos no meio social de cada indivíduo, especialmente

no meio escolar. Quanto a isso, destacamos que a compensação da cegueira não ocorre pelo

superdesenvolvimento do tato ou por hipersensibilidade auditiva, e sim em processos

cognitivos complexos, como as funções mentais superiores, que abrangem o pensamento e

suas complexas relações com as estruturas da linguagem, a aprendizagem e as influências do

mundo exterior, relacionadas no desenvolvimento sociocultural no processo histórico do

indivíduo e na utilização da experiência social e comunicação com os adultos, professores,

colegas e colegas mais capazes (BASTOS; ALVES, 2013; FOCHESATO; GUIMARÃES,

2017). Neste contexto, consideramos fundamental que pessoas com deficiência visual sejam

incluídas no ensino regular, pois isso deve favorecer seu aprendizado e desevolvimento,

lembrando que o professor contribui no processo de mediação e materiais alternativos devem

permitir que alunos com deficiência visual tenham o mesmo acesso à aula que os demais

colegas.

Vygotski considera que a linguagem, os instrumentos, a mediação e a

internalização podem romper as barreiras sociais, em especial na escola. Estudantes,

professores, gestores e pais necessitam estar cientes de que deficiência não é incapacidade e

que a escola é fundamental para o processo de inclusão. É indispensável garantir o acesso à

educação. Cabe à sociedade apropriar-se dessa concepção e colocar em prática as leis, os

decretos e as declarações inclusivas existentes.

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1.2 Inclusão: Aspectos legais

Nas últimas décadas, no Brasil e internacionalmente, é crescente o discurso sobre

a cidadania da pessoa com necessidades educacionais especiais e seus direitos e deveres para

com a sociedade, questões a respeito do espaço que lhe compete como cidadão passaram a ser

discutidas (SILVA, 2014). No entanto, há um histórico longo de leis relacionadas com essa

problemática.

A Constituição Federal de 1988, nos Artigos 205 e 208, aborda sobre o direito de

todos à educação, inclusive os estudantes com deficiência, em escolas regulares, sendo dever

do Estado e da família promover e estimular, com a colaboração da sociedade, o pleno

desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para

o trabalho.

No âmbito internacional, em 1994 surgiu a Declaração de Salamanca 14

, que

representa um marco histórico da inclusão, tendo como foco a garantia de direitos

educacionais envolvendo princípios, políticas e práticas. A Declaração de Salamanca sugere

uma pedagogia centralizada no estudante, ou seja, que atenda a suas necessidades, especiais

ou não. O desafio tornou-se imenso e requer colaboração para atenuar índices de evasão e

reprovação, e ainda, promover a valorização das potencialidades dos estudantes

(FERNANDES; HUSSEIN; DOMINGUES, 2017).

Em 1996, no Brasil, foi promulgada a Lei de Diretrizes e Base da Educação (LDB

9.394/96). Em seu capítulo V, dedicado à Educação Especial, está definido que a educação

para estudantes com deficiência deve ser oferecida em classes regulares, garantindo-lhes a

total inclusão com os demais, que terão a oportunidade de conviver e aprender, o que é um

elemento indispensável a qualquer projeto educacional.

Tem-se ainda a criação da Portaria 2.678, de 24 de setembro de 2002 do MEC

(BRASIL, 2002b), com diretrizes e normas para o uso, o ensino, a produção e a difusão do

sistema Braille em todas as modalidades de ensino, compreendendo o projeto da grafia Braille

para a língua portuguesa e a recomendação para o seu uso em todo o território nacional.

O sistema Braille para escrita e leitura é utilizado por algumas pessoas com

deficiência visual. Em regra, quando a cegueira é congênita, a alfabetização já acontece

contemplando o método Braille. No entanto, algumas pessoas, sobretudo as que adquiriram a

14

Enfatizamos o ano de 1994, porém há registros de outras leis, decretos e declarações anteriores relacionadas

com o ensino inclusivo.

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28

deficiência após a alfabetização, apresentam dificuldades com o método (LAVORATO;

MOL, 2016).

Em 2006, a Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou a Convenção sobre

os Direitos das Pessoas com Deficiência, reconhecendo que a deficiência é um conceito em

evolução e que resulta da interação entre as pessoas com deficiência e as barreiras, atitudes e

ambientes, os quais impossibilitam a sua plena participação na sociedade de maneira

igualitária. Ou seja, corroborando com a teoria de Vygotski, a deficiência sobrepõe à questão

orgânica e abrange para uma deficiência secundária, a qual envolve aspectos psicológicos e

sociais.

O Brasil, signatário dessa convenção, assumiu o compromisso de assegurar um

sistema educacional inclusivo em todos os níveis. Neste sentido, deve haver garantias para

que as pessoas com deficiência não sejam excluídas do sistema regular de ensino e devem ser

promovidas ações que efetivem o acesso pleno a educação em ambientes que elevem seu

desenvolvimento acadêmico e social (BRASIL, 2008).

Historicamente, no Brasil, a educação especial foi organizada como um

atendimento educacional especializado, substituindo o ensino regular comum, o que evidencia

as distintas compreensões, terminologias e modalidades que levaram à criação de instituições

especializadas, escolas especiais e classes especiais (BRASIL, 2008). No entanto, isso vem

mudando no decorrer dos anos.

A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva

(BRASIL, 2008) foi o documento elaborado na expectativa de atender as necessidades das

pessoas com deficiência e instituir a inclusão de todos os estudantes da Educação Especial

(pessoas com deficiência, transtorno global do desenvolvimento e altas

habilidades/superdotação) no ensino regular, em classe comum, com atendimento educacional

especializado (AEE) no contra turno (SILVA; DAMASCENO, 2015).

Dentre o contexto dos aspectos legais para a inclusão, em 2008 foi promulgado o

Decreto15

nº 6.571, revogado pelo o Decreto nº 7.611/2011, que aborda o Atendimento

Educacional Especializado (AEE), definindo-o como “o conjunto de atividades, recursos de

acessibilidade e pedagógicos organizados institucionalmente, prestado de forma

complementar ou suplementar à formação dos estudantes no ensino regular” (BRASIL,

2011).

15

Os decretos não podem criar modificar ou mesmo extinguir direitos. Eles estão abaixo da constituição e das

leis. Disponível: <https://dicionariodireito.com.br/decreto>

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29

Em suma, o AEE deve ser disponibilizado em todos os níveis da educação básica

da rede regular de ensino, não de modo substitutivo, mas em complementação à escolarização

regular, permitindo interações entre os pares de mesma idade cronológica e relações que

contribuam com o desenvolvimento cognitivo, afetivo e motor do estudante.

No AEE, os recursos pedagógicos e de acessibilidade devem ser identificados,

elaborados e organizados para a ativa participação dos estudantes de acordo com suas

necessidades, objetivando-se o desenvolvimento de sua autonomia em espaços e atividades

dentro e fora da escola. Esse atendimento deve acontecer na própria escola, pois as

necessidades educacionais específicas dos estudantes precisam ser debatidas em conjunto,

pelos professores das disciplinas regulares e da educação especial, visando manter os

estudantes num ambiente comum a todos e com ensino de qualidade (BENITE et al., 2016).

Partindo desta conjectura, pode-se afirmar que Tecnologias Assistivas (TA)

desenvolvidas no AEE são muito importantes e consistem desde adaptar um utensílio na mão

para auxiliar a manipulação, até o desenvolvimento de um programa de computador

sofisticado, sendo primordial que as estratégias solucionem os problemas funcionais. Desse

modo, pode-se proporcionar que na escola e com o uso de TA, os estudantes com deficiência

visual tenham melhor interação com o mundo, comunicando-se na constante busca para o

pleno exercício da cidadania (SILVA, 2014).

Em 2015, foi instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (lei

nº 13.146/2015) destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício

dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão

social e cidadania (BRASIL, 2015). No capítulo IV, Art. 27 aborda-se o direito à educação:

A educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurado sistema

educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a

vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus

talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas

características, interesses e necessidades de aprendizagem (BRASIL, 2015,

art. 27).

Essa lei também indica o uso de formatos acessíveis dos arquivos digitais, isto é,

aqueles que possam ser reconhecidos e acessados por softwares leitores de telas ou outras

tecnologias assistivas que vierem a substituí-los. Isso deve permitir leitura com voz

sintetizada, ampliação de caracteres, diferentes contrastes e impressão em Braille (BRASIL,

2015).

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30

Em 2018, com a homologação da BNCC para a Educação Básica, o cenário

nacional inclui um planejamento com foco na igualdade, buscando reverter situações de

exclusão histórica e reconhecendo a necessidade de práticas pedagógicas inclusivas (BRASIL,

2018).

Contudo, apesar do empenho e das leis promulgadas nos últimos anos para

incentivar a inclusão no ensino escolar, este ainda é um processo em construção que não se

concretiza com decretos e leis, demanda-se tempo e mudanças estruturais na cultura e na

postura pedagógica (FERNANDES; HUSSEIN; DOMINGUES, 2017).

É importante buscar transformações na sociedade e no modo como professores,

gestores e sociedade em geral enfrentam o tema. É crucial compreender que a sustentação

legal faz parte do processo, mas não compreende o todo. As escolas precisam passar por

processo de modificações em seu projeto político-pedagógico, com a contribuição ativa de

gestores, professores, trabalhadores da escola, pais, estudantes e membros da comunidade na

qual se inserem para catalisar as necessárias transformações no contexto educacional, que

resultarão em mudanças de propostas, atitudes e práticas. Desse modo, todos os membros

desse contexto poderão se apropriar do novo significado da escola e identificar seu papel

nesta nova escola, entendendo sua função social e a contribuição para a comunidade.

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31

CAPÍTULO 2.

ENSINO DE QUÍMICA PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL

O Ensino de Química para pessoas com deficiência visual engloba diversas

discussões acerca da formação dos professores, das metodologias utilizadas e dos materiais

didáticos elaborados e/ou adaptados. Diante disso, apresentamos algumas contribuições

encontradas em produções científicas relacionadas com o tema para nortear nossa pesquisa.

2.1. Formação de professores

A ação docente é profundamente influenciada pela formação inicial e continuada,

pois são nelas que os professores se apropriam dos conhecimentos específicos de uma

determinada ciência, dos pressupostos teóricos e metodológicos imprescindíveis para a

reelaboração conceitual. É perceptível, ainda, que nas práticas do professor estão presentes

conhecimentos de diferentes naturezas, obtidos de vivências e de suas relações sociais

(FIELD’S, 2014). Ou seja, as experiências de vida do professor não podem ser

desconsideradas, pois se articulam com o saber construído academicamente. Diante disso,

buscamos compreender como se pode constituir a formação do professor e quais

contribuições são possíveis para o Ensino de Química a pessoas com deficiência visual.

Nesse contexto, Tardif (2007) defende que o saber docente origina-se de várias

fontes, definindo-o como um saber plural, constituído pela combinação de saberes

provenientes da formação profissional, cultural, disciplinar, curricular e experiencial. Para o

autor, o saber profissional é construído pelas instituições de formação de professores, sendo

destinado à formação científica. Para ele, o saber cultural é obtido das experiências

vivenciadas na família e escola. Ele explica, ainda, que o saber disciplinar consiste em

conhecimentos específicos de uma área de atuação, nos múltiplos campos do conhecimento

sob a forma de disciplinas, tais como matemática, química e biologia. Já o saber curricular

corresponde aos discursos, objetivos, conteúdos e métodos, consolidado pelo formato de

programa escolar. Finalmente, o saber experiencial é aquele fundamentado no trabalho de

rotina e no conhecimento do meio em que o professor está inserido, baseado em suas

experiências diárias (TARDIF, 2007; FIELD’S, 2014).

Diante disso, destacamos a importância dos professores mobilizarem tais saberes

para incluir os estudantes com deficiência visual nas atividades escolares, pois, a partir da

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regulamentação das políticas de inclusão16

e das mudanças ocorridas em salas de ensino

regular, torna-se indispensável propor novas práticas para adequação a realidade escolar.

Field’s (2014) defende a inclusão de saberes relacionados a processos de intervenção em

contextos educativos heterogêneos, e que aproximem os licenciandos de experiências que

encontrarão na vida profissional. A autora enfatiza que a formação inicial deve fomentar a

participação de futuros professores em pesquisas na área de ensino inclusivo, proporcionando

a compreensão das especificidades e desafios do contexto escolar, para que esses se

apropriem dos saberes experienciais e profissionais.

Para alcançar os objetivos de uma educação inclusiva, as práticas de formação

inicial e continuada do docente precisam ser revisadas. Necessidades formativas que surgem

ao longo da atuação do docente e que se relacionam com os conhecimentos e saberes

essenciais para incluir os estudantes, independente das necessidades que estes apresentam

devem ser supridas (PAULA, 2015). A análise destas necessidades torna-se crucial para

reestruturação e formação do docente.

Buscando compreender as necessidades formativas no contexto específico do

Ensino de Química para alunos com deficiência visual, utilizamos como base o estudo

realizado por Paula (2015) que apontou e discutiu as necessidades formativas para preparar o

professor de Química para a inclusão de seus estudantes com deficiência visual. Destacam-se

cinco necessidades formativas: conhecer sobre a deficiência visual do aluno; saber vincular os

conceitos científicos através de representações que não dependam estritamente da visão; saber

trabalhar com a linguagem matemática; saber realizar atividades comuns aos alunos com e

sem deficiência visual; e conhecer os recursos disponíveis que auxiliam no aprendizado de

alunos com deficiência.

Na sequência, detalhamos cada uma dessas necessidades.

2.1.1. Conhecer sobre a deficiência visual do aluno

Em relação à cegueira e baixa visão, é importante que o docente possua

conhecimentos sobre deficiência visual e não leve as concepções equivocadas e

preconceituosas para sala de aula. Tais conhecimentos podem ser aprendidos na formação

inicial e aprofundados na formação continuada, permitindo discussões sobre o assunto e

16

Verificar Capítulo 1: 1.2. Inclusão: Aspectos legais (pág. 27).

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33

subsidiando uma atuação docente autônoma e comprometida com o projeto de inclusão

(PAULA; GUIMARÃES; SILVA, 2018).

Além disso, o professor precisa conhecer o histórico e o tipo de deficiência visual

do estudante: se é cego de nascença, se perdeu a visão ao longo da vida, se tem baixa visão e

em qual nível. Isso é necessário para orientar a escolha do método de ensino, realizar a

adaptação das atividades e usar recursos básicos que atendam as particularidades de seus

alunos (PAULA, 2015). Conhecendo as características da deficiência visual de seu estudante,

o professor pode propor recursos para incluí-lo em sala de aula, e assim, ter oportunidades de

aprendizado como os demais colegas. Este processo ocorre pela adoção de uma didática

inclusiva, que considera e respeita as necessidades dos estudantes com deficiência visual

(PAULA, 2015).

Assim, quando a formação do docente inclui conhecimentos sobre diferenças dos

tipos de deficiência visual (cegueira e baixa visão), há subsídios básicos para melhorar o

atendimento das necessidades específicas de seu estudante. Além disso, o docente poderá

compreender a relevância de considerar o histórico do estudante no planejamento de suas

atividades e, de atentar-se tanto à comunicação escolhida, quanto aos materiais que serão

utilizados em sua aula.

Dando sequência às necessidades formativas para o professor de Química estar

preparado na inclusão de seus estudantes com deficiência visual, apresentamos aspectos

relativos à vinculação de conceitos químicos de modo independente da visão.

2.1.2. Saber vincular os conceitos químicos através de representações que não dependam

estritamente da visão

O professor precisa compreender que os significados científicos, que na maioria

das situações são vinculados a representações visuais, podem ser ensinados utilizando outro

tipo de percepção, como tátil, auditiva e/ou olfativa. Nessa perspectiva, percebemos o quanto

é importante que o professor esteja preparado para adotar em sua prática as diversas

representações de conceitos científicos, tornando-os acessíveis aos estudantes com deficiência

visual (CAMARGO, 2012; PAULA, 2015).

Para que estudantes, com e sem deficiência, possam aprender conceitos químicos,

é relevante contemplar três diferentes níveis de abordagem: macroscópico ou

fenomenológico, o microscópico ou teórico e o representacional ou simbólico, ilustrados na

Figura 1 (JOHNSTONE, 1982; MORTIMER; MACHADO; ROMANELLI, 2000).

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Figura 1. Adaptado do Triângulo de Jonhstone. Representação dos níveis de representação do conhecimento

químico. Fonte: Jonhstone, 1982; Mortimer; Machado; Romanelli, 2000.

O nível macroscópico aborda os fenômenos estudados pela Química. Nesse nível

concreto ocorrem as transformações e se observam as propriedades de substâncias e materiais,

como: formação de precipitados, mudanças de cor e liberação de gases. De modo geral, esse

nível é evidenciado no ensino formal em propostas de atividades experimentais realizadas por

estudantes ou demonstradas por professores (PIRES, 2010). Em relação a esse nível, a

realização de atividades experimentais propicia expor a relação entre o nível macroscópico e

os conceitos abstratos (BRASIL, 2017; PAULA, 2015). Assim, compreendemos que a

realização dessas atividades é importante para o Ensino de Química, tanto para aprendizagem

dos estudantes videntes, quanto para estudantes com deficiência visual. Diversos autores

(PIRES, 2010; PIRES, 2013; FERNANDES, 2014; OLIVEIRA NETO, 2014; FERNANDES;

HUSSEIN; DOMINGUES, 2017) apresentam em seus trabalhos possíveis adaptações que

podem ser realizadas para atividades experimentais17

visando romper as barreiras inicialmente

existentes para a compreensão dos fenômenos.

Destacamos, ainda, o nível microscópico, que corresponde às teorias e modelos

utilizados para descrever e explicar os fenômenos observados macroscopicamente. A

compreensão desse nível demanda ampla abstração, o que provoca o desenvolvimento da

capacidade de elaboração de ideias e da articulação de conceitos. Nesse nível, por exemplo,

estão as teorias que explicam a constituição da matéria e seus comportamentos em diferentes

condições, como teorias atômicas e modelos de ligação química (BRASIL, 2017). Nesse

sentido, apresentamos exemplos de autores como Pires R. (2010) e Pires L. (2013), que

utilizaram maquetes táteis e visuais para a representação de modelos que explicam alguns

fenômenos, contribuindo para a aprendizagem de estudantes com e sem deficiência visual

(Figura 2).

17

Exemplos serão apresentados no tópico 2.1.5.6 Experimentação (pág. 57).

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Figura 2. Maquetes táteis e visuais para o Ensino de Química: (a) Modelos atômicos; (b) Experimento de

Rutherford. Fonte: (a) PIRES R., 2010; (b) PIRES L., 2013.

Já o nível representacional na Química utiliza uma simbologia própria (fórmulas,

equações, gráficos e símbolos) que permite a representação das substâncias, suas propriedades

e suas transformações. Através dessa simbologia, podem ser representados fenômenos e

substâncias (BRASIL, 2017). Na maioria das vezes, a complexidade de abordar tais conceitos

aos estudantes com deficiência visual, deve-se a dificuldade de comunicação estabelecida, que

está restrita à visão.

O professor de Química precisa compreender e contemplar os três níveis de

abordagem, para explicação de conceitos e fenômenos em sala de aula para qualquer

estudante. A representação de estruturas e fenômenos através da linguagem simbólica pode se

tornar uma barreira, caso o estudante com deficiência visual não tenha acesso adaptado. Sem

ter acesso às representações ou suas descrições, o estudante com deficiência visual ficará

excluído do processo de ensino e aprendizagem.

Nesse contexto, destacamos a aplicação da Grafia Química em Braille18

, o uso de

materiais didáticos desenvolvidos para a representação de conceitos químicos e a adaptação

de experimentos. Esses materiais são instrumentos determinantes para o processo de

aprendizagem dos estudantes com deficiência visual, uma vez que, possibilitam que os

obstáculos existentes na comunicação sejam superados ao abordar os conceitos vinculados à

representação visual de modo diferenciado (PAULA, 2015; PAULA; GUIMARÃES; SILVA,

2017).

Diante do exposto, notamos ser fundamental que a formação inicial e continuada

prepare o docente para desconstruir a concepção de que é obrigatório observar os fenômenos

químicos para entendê-los (ou aprendê-los). O professor preparado pode adotar em sua prática

18

Este material, criado pelo Ministério da Educação em 2002, foi desenvolvido para padronizar a representação

dos símbolos, fórmulas e equações utilizadas na Química (BRASIL, 2017).

a b

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metodologias que proporcionem acesso aos diferentes níveis de conhecimentos da Química

aos estudantes com deficiência visual, a partir de modelos concretos, uso da grafia Química

em Braille e com a adaptação das atividades experimentais. Esse conjunto19

proporciona aos

estudantes com deficiência visual oportunidades de aprendizado similares às dos colegas

videntes.

Dando seguimento a discussão das necessidades formativas, introduzimos as

questões relacionadas com a linguagem matemática.

2.1.3. Saber trabalhar com a linguagem matemática

Como já foi apontado, a Química é uma área do conhecimento que relaciona

conceitos nos níveis fenomenológico, teórico e representacional, e também abrange operações

matemáticas, rica em símbolos, equações, análise e construção de gráficos e tabelas.

Destacamos que a linguagem matemática é muito importante no Ensino de Química para os

estudantes com deficiência visual, porém é um tema pouco discutido na formação de

professores. Isso gera dificuldades e apreensões dos docentes, para ensinar em uma sala de

aula que haja a presença de estudantes com deficiência visual (CAMARGO, 2012; PAULA,

2015).

Neste contexto, o que prejudica o processo de comunicação entre o professor e

estudantes com deficiência visual é a associação que ele realiza das representações por meio

da fala e das informações visuais (lousa, data show) de maneira dependente, tornando a

explicação inacessível ao estudante com deficiência visual. O uso de termos específicos

conectados aos registros visuais em uma explicação na aula, não permite atribuição de

qualquer significado para o estudante com deficiência visual, porque, apesar desse estudante

ter o conhecimento subjetivo dos códigos, a codificação é dificultada se a informação não for

acessível (PAULA, 2015).

Assim, apontamos que reconsiderar a comunicação oral firmada na relação entre

professor e estudantes é crucial para viabilizar o acesso à linguagem matemática pelos

estudantes com deficiência visual. Para isso, o professor deve alterar seus padrões de

comunicação, considerando a participação dos estudantes com deficiência visual da turma

durante as aulas.

Há alguns procedimentos de comunicação que podem ser praticados pelos

professores, para contribuir na realização das operações matemáticas por seus estudantes com

19

Exemplos serão apresentados no tópico 2.1.5 e seus subtópicos (pág. 38).

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deficiência visual. São eles: enfatizar a expressão verbal, relatando, quando possível, a

representação que estiver na lousa (gráficos, tabelas, equações), para que o estudante possa

participar da aula; trocar as expressões faciais por modificação na entonação da voz;

proporcionar o tempo necessário para o estudante tirar dúvidas, elaborar hipóteses de

resolução do problema, apresentar o raciocínio e efetuar as atividades propostas; observar se o

estudante entendeu a abordagem e o raciocínio do problema apresentado (CAMPOS, 2008;

PAULA, 2015).

Consideramos que tais procedimentos proporcionam ao estudante com deficiência

visual a chance de participação inclusiva nas atividades que envolvem a linguagem

matemática, favorecendo o compartilhamento de informações para o seu aprendizado com

todos os envolvidos. No entanto, o professor de Química precisa se preparar para viabilizar o

acesso na realização destas atividades, por comunicação oral apropriada, ou ainda, no uso de

materiais alternativos para adequar o mecanismo de avaliação.

Daremos continuidade à abordagem sobre os conhecimentos necessários aos

professores para viabilizar a inclusão de estudantes com deficiência visual em aulas de

Química. Tratamos agora das necessidades formativas para que o professor elabore e coloque

em prática atividades comuns aos estudantes com e sem deficiência visual, de maneira a

respeitar o princípio da educação inclusiva.

2.1.4. Saber realizar atividades comuns aos alunos com e sem deficiência visual

Destacamos a necessidade de o docente atentar-se a presença do aluno com

deficiência visual no planejamento de suas atividades, incluindo atividades realizadas no

laboratório. O professor pode propiciar formas de acessibilidade por meio do uso de recursos

desenvolvidos e de adaptações na sua metodologia de ensino, para que nenhum aluno fique

prejudicado em seu aprendizado. Reforçamos que a utilização de materiais didáticos de

interface tátil-visual permite o acesso dos alunos com e sem deficiência visual (PAULA,

2015).

Desta forma, os alunos com deficiência visual poderão se envolver nas discussões,

argumentar, manifestar suas ideias e tirar suas dúvidas. E ainda, o professor ao adotar, em sala

de aula, um ambiente de comunicação acessível a todos, permite o compartilhamento de

experiências e de conhecimentos entre os alunos com e sem deficiência visual,

proporcionando aprendizado e desenvolvimento intelectual de todos.

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Nesse contexto, onde buscamos apresentar as necessidades formativas dos

professores que emergem no Ensino de Química para alunos com deficiência visual (PAULA,

2015; PAULA; GUIMARÃES; SILVA, 2017), podemos inferir que para alcançar esse

conjunto de saberes, o docente precisa obter tanto conhecimentos da formação inicial, quanto

da formação continuada.

Para que isso ocorra, é crucial que o professor tenha condições favoráveis para

reflexão e discussão de sua docência; possa ter convívio com outros profissionais da

educação; aprenda as especificidades de seus alunos e, dessa forma, consiga obter ou elaborar

adaptações ao currículo; saiba utilizar formas de avaliação diferenciadas; e ainda, saiba

ensinar os conhecimentos científicos por meio de representações não visuais (PAULA, 2015).

Por fim, ao refletir sobre como saber realizar atividades comuns aos alunos com e

sem deficiência visual (PAULA, 2015; PAULA; GUIMARÃES; SILVA, 2017), entendemos

que a formação de professores necessita subsidiá-los para o desenvolvimento de práticas que

propiciem a participação de todos os alunos. Diante disso, o docente precisa aprender a

realizar atividades que proporcionem o diálogo e o aprendizado cooperativo, e deste modo

todos os participantes sintam-se incluídos na aula, independente de suas especificidades.

Neste contexto, apresentamos resumidamente algumas metodologias e recursos

didáticos que possibilitam ao professor de Química desenvolver uma aula inclusiva para

pessoas com e sem deficiência visual.

2.1.5. Conhecer os recursos disponíveis que auxiliam no aprendizado de estudantes com

deficiência visual

O docente necessita obter conhecimento de como utilizar os recursos disponíveis

que possibilitam auxiliá-lo nos processos de ensino e de aprendizagem, e que permitem

atender às necessidades particulares de estudantes com deficiência (PAULA; GUIMARÃES;

DA SILVA, 2017). Neste contexto, apresentamos, a abordagem sobre o conhecimento e a

utilização dos recursos educacionais, de tecnologia assistiva, os materiais didáticos adaptados

e as metodologias desenvolvidas, com o objetivo de propiciar o ensino inclusivo e fornecer

acesso ao conhecimento por estudantes com deficiência.

A seguir, discorremos sobre a sala de recursos e sua estrutura básica para

promover o Ensino de Química a estudantes com deficiência visual. Ressaltamos, ainda, a

importância de todas as escolas de ensino regular disporem ou terem acesso a uma sala de

recursos, pois o atendimento educacional da pessoa com deficiência visual requer um

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planejamento adequado e atuação de parcerias entre professores do ensino regular e da sala de

recursos. Isso deve favorecer transformações favoráveis para o desenvolvimento dos

estudantes com deficiência visual.

2.1.5.1 Sala de recursos

A sala de recursos é um espaço determinante para o ensino inclusivo e que requer

a presença permanente de um professor habilitado na área de inclusão, tendo à sua disposição

equipamentos, materiais e recursos pedagógicos para atender os estudantes de acordo com

suas necessidades (BRASIL, 2006).

Dispor de uma sala de recursos pode trazer vantagens, como: propiciar a inclusão

do estudante com deficiência visual na escola regular; promover o convívio e a participação

dos estudantes com e sem deficiência visual em todas as atividades, para desfazer opiniões

equivocadas sobre cegueira e baixa visão e permitir o desenvolvimento da linguagem e da

formação de conceitos (BRASIL, 2006).

Na sala de recursos deve haver recursos específicos para as pessoas cegas como:

máquinas Braille, impressora Braille (Figura 3.a), computadores com programas de voz,

sistema operacional para leitura da tela como Dosvox, Jaws e Virtual Vision (Figura 3.b),

réguas de escrita (reglete e punção), calculadoras que geram áudio com a resposta,

gravadores, soroban, livros escritos em Braille com ilustração em alto-relevo, maquetes, cola

para marcar relevo, mapas táteis, dentre outros. Já os recursos necessários para pessoas com

baixa visão podem ser: iluminação especial, carteira adaptada com a mesa inclinada, caderno

de pauta ampliada, lápis 4B ou 6B, lunetas, lupas óticas e eletrônicas para ampliação de textos

e softwares para a ampliação da tela.

Figura 3. Representações de alguns recursos: a) Impressora Braille

(http://www.uern.br/graduacao/dain/ajuda.html), b) Uso de programa de voz (http://intervox.nce.ufrj.br), c)

Reglete e punção (http://adaptafacil.com.br), d) Soroban ou Ábaco (http://aliexpress.com).

a

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Dentre as várias ferramentas que poderiam ser utilizadas nas salas de recursos, há

opções de tecnologias avançadas, com a disponibilização comercial de diversos recursos que

são de grande utilidade aos alunos com deficiência visual (BRASIL, 2006; PIRES, 2010).

Nesse sentido, destacamos a importância da impressora Braille, que consiste em um

equipamento conversor de textos para o Braille. Para seu uso, é necessário papel específico,

agulhas especiais, para fazer os pontos em relevo nas duas faces da folha e o programa Braille

Fácil20

, a partir do qual o texto pode ser digitado diretamente no programa ou importado a

partir de um editor de textos convencional (NCE/UFRJ, 2018). A impressora Braille é um

grande facilitador para o docente, pois sabendo utilizar o programa Braille Fácil, ele pode

adaptar diferentes materiais, permitindo a digitação de textos especiais (como com

codificações matemáticas) e a criação de desenhos táteis através de um editor gráfico.

Outra forma para escrita de textos em Braille pode ser através de reglete e punção,

onde a escrita ocorre da direita para esquerda e a leitura ocorre da esquerda para direita (lado

inverso da folha) – Figura 3.c, todavia, a escrita requer maior conhecimento do Braille e

habilidades do docente (BRASIL, 2006; PIRES, 2010).

Para operações matemáticas como soma e subtração tem-se o soroban ou ábaco

(Figura 3.d) (BRASIL, 2006; PIRES, 2010).

Destacamos também o software Quatro Estações, um recurso diferenciado que

visa educar ou reeducar pessoas de baixa visão. Esse software, quando executado em conjunto

a mesa digitalizadora acoplada a um computador, permite que os movimentos realizados na

mesa por uma caneta especial sejam reproduzidos na forma de traços na tela do computador

em tamanho ampliado (BOER, 2005). Consideramos que tais ferramentas têm potencial para

aplicações no Ensino de Química a pessoas de baixa visão, porque permitem desenhar

representações e simbologias, que podem, com a mediação do professor, favorecer a

aprendizagem do estudante com estímulos para desenvolver sua autonomia.

Outro recurso interessante é a impressora 3D21

, que funciona com uma técnica de

prototipagem, permitindo a construção de objetos tridimensionais. Contribui para que o

estudante possa conhecer modelos de estruturas, como modelos atômicos, com elevado

20

O Braille Fácil é distribuído gratuitamente. Os direitos autorais do programa pertencem ao Instituto Benjamin

Constant. Este programa foi produzido com recursos provenientes do FNDE para os projetos do Livro Didático

em Braille e dos Centros de Apoio Pedagógico do MEC – Brasil (NCE/UFRJ, 2018). Disponível em:

http://intervox.nce.ufrj.br/brfacil/.

21 Conhecida como fabricação aditiva, é o processo pelo qual objetos físicos são criados pela deposição de

materiais em camadas, com base em um modelo digital. Todos os processos de impressão 3D requerem o

trabalho conjunto de software, hardware e materiais. Disponível em: https://www.autodesk.com.br/solutions/3d-

printing.

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potencial para aprendizagem. Ao interagir com a volumetria22

, a pessoa com deficiência

visual constrói uma imagem mental, distinta da imagem mental dos videntes, já que elas estão

relacionadas ao modo de interação com os objetos e sua realidade. Destacamos que as

representações volumétricas são cruciais, principalmente, para pessoas com cegueira

congênita, devido às barreiras naturais e a ausência de memória visual.

A impressora 3D, ainda é um recurso caro e com poucos relatos de uso para

produção de materiais didáticos para Ensino de Química (BERNARDI, 2007; BORRÁS,

2016; FERNANDES, 2011; XAVIER; SILVA; RIZZATTI, 2017). Contudo, destacamos sua

potencialidade para adaptações aos estudantes com deficiência visual em função do que foi

discutido. Na sequência, abordamos a importância do Desenho Universal da Aprendizagem

(DUA) no ensino inclusivo.

2.1.5.2 Desenho Universal da Aprendizagem

Referente aos recursos educacionais, apresentamos o conceito de Desenho

Universal da Aprendizagem (DUA) que foi estabelecido pelo Centro de Tecnologia Especial

Aplicada23

(CAST) nos Estados Unidos, o qual amplia o conceito de desenho universal24

ao

aplicar a ideia de flexibilidade inerente ao currículo educacional (PACHECO, 2017).

A partir da compreensão de como o cérebro aprende, o DUA propõe um conjunto

de princípios para a prática pedagógica, que precisam ser organizados de acordo com os

objetivos de aprendizagem relacionados às características cognitivas dos estudantes e

envolvem a escolha e o desenvolvimento de materiais e métodos adequados a estas

características. Desse modo, o DUA possibilita a organização do contexto de ensino, visando

à aprendizagem para todos os estudantes (LINDEMANN; BASTOS; ROMAN, 2017).

Três importantes princípios organizam a proposição metodológica do DUA, tais

são: proporcionar modos múltiplos de apresentação, de ação e expressão, e de

autodesenvolvimento.

Nesse contexto, define-se que proporcionar modos múltiplos de apresentação

consiste em apresentar alternativas para a compreensão de conteúdos que se pretende ensinar,

empregando distintos órgãos de sentido. Trata-se de apresentar meios de diferenciação na

22

Neste caso com sentido de objeto tridimensional (BERNARDI, 2007) e não de técnica de análise química

quantitativa. 23

CAST: National Center on Universal Design for Learning é uma organização americana sem fins lucrativos

para a investigação e aprendizagem para todas as pessoas, especialmente aquelas com deficiência. Disponível

em: www.educadua.es.

24 Tem por objetivo projetar produtos e ambientes que propiciem seu uso por todas as pessoas, sem a necessidade

de adaptação ou design especializado (PACHECO, 2017).

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apresentação da informação; proporcionar opções à informação auditiva, bem como à visual;

tornar compreensível a terminologia e os símbolos empregados; proporcionar meios para a

compreensão em várias línguas; elucidar com exemplos, utilizando diferentes mediadores;

oferecer alternativas para a compreensão; providenciar conhecimentos de base; nortear o

processamento da informação, a visualização e a manipulação (LINDEMANN; BASTOS;

ROMAN, 2017).

Este princípio, relacionado à rede do reconhecimento da informação, compreende

que os estudantes têm maneiras diferentes de apreender e distinguir a informação, o que

demanda ao professor, flexibilidade no modo de apresentá-la. Ele precisa articular diversos

meios de apresentação da informação e/ou conteúdo, mediante recursos e estratégias de

ensino que movimentem as diferentes vias de acesso ao conhecimento, como a visual,

auditiva e sinestésica (PACHECO, 2017).

Na escola, pretende-se preparar os estudantes para transformar uma informação

acessível em conhecimento prático, ou seja, em um conhecimento que possa transformar suas

realidades. Sendo assim, cabe ao professor criar estratégias didáticas que propiciem a

compreensão do novo conhecimento de maneira que este seja efetivamente internalizado pelo

estudante com e sem deficiência visual.

No caso de estudantes com cegueira e baixa visão, pode-se aproveitar na

personalização da informação materiais como: maquetes de acesso tátil ao conteúdo; materiais

digitais, com suporte em áudio, como o áudio-livro; relevo e ampliação de fontes, dentre

outros (PACHECO, 2017).

Outro princípio do DUA, a destacar, consiste em proporcionar modos múltiplos

de ação e expressão. Trata-se de diferenciar os métodos para realizar e responder as atividades

escolares e de avaliação do conteúdo; aperfeiçoar o acesso a instrumentos e tecnologias de

apoio; proporcionar alternativas para a expressão e a comunicação; empregar meios

midiáticos múltiplos para a comunicação; utilizar instrumentos diversos para a construção e

composição de materiais de apoio ao ensino; construir fluências com níveis graduais de apoio

à prática e ao desempenho; oferecer alternativas para as funções executivas; interceder na

gerência da informação e dos recursos (LINDEMANN; BASTOS; ROMAN, 2017).

Este segundo princípio do DUA está relacionado à rede estratégica, ou seja, a

forma como os estudantes evidenciam seus conhecimentos e competências. Este princípio

compreende que eles têm diferentes maneiras de agir e expressar suas aprendizagens, o que

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requer o planejamento de formas alternativas de participação em sala de aula (PACHECO,

2017).

Entendemos que, na perspectiva do DUA, o professor precisa dispor de diferentes

ferramentas e tecnologias de apoio ao processo de ensino e aprendizagem. Os estudantes com

deficiência devem ter oportunidade de aproveitar essas ferramentas, tecnologias e participar

ativamente dos processos de ensino e aprendizagem.

O terceiro princípio do DUA consiste em proporcionar modos múltiplos de

autodesenvolvimento. Isto significa oportunizar alternativas para impulsionar o interesse;

diversificar as exigências e os recursos para aperfeiçoar os desafios; elevar o reforço ao saber

adquirido (LINDEMANN; BASTOS; ROMAN, 2017).

Estudantes são diferentes nos interesses, motivações e no modo de se envolverem

com as atividades. Esses por sua vez se modificam, com a aquisição de conhecimentos,

habilidades, vivências, etc. O interesse, quando mobilizado em processos de aprendizagem,

amplia as funções executivas de atenção e memória, melhorando o processo de aprendizagem.

Ao professor cabe a mobilização de estratégias que colaborem para a manutenção do

interesse. Para que ocorra o processo da melhor maneira, é crucial que se forneçam recursos

adequados e flexíveis ao entendimento do aluno (PACHECO, 2017).

Para o DUA, o processo de ensino e aprendizagem e os objetos e recursos nele

empregados devem ser construídos de maneira acessível, possibilitando ao estudante, com

deficiência ou não, o acesso aos elementos curriculares. Para essa construção, as barreiras à

aprendizagem precisam ser identificadas e o planejamento do currículo deve ser flexível, de

modo a superá-las. O currículo precisa ser estabelecido a partir de quatro elementos: as metas,

os métodos, os materiais e as avaliações.

Nesse sentido, o DUA visa eliminar obstáculos para a concretização do processo

de aprendizagem para todos os estudantes, de modo a potencializá-la, independente das suas

características individuais. Ele assume que as diferenças dos estudantes, no que se refere à

construção do processo de ensino e aprendizagem, uma vez identificadas, proporcionam

currículos mais flexíveis e dinâmicos. Isso coopera para a escolarização de estudantes com ou

sem deficiência visual.

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Em complementação ao que já foi exposto, sobre uma nova abordagem,

consideramos importante apresentar sete características do DUA25

em um contexto mais

abrangente (PRADO, 2003):

1. Utilização equitativa: pode ser utilizado por qualquer grupo de usuários;

2. Flexibilidade de utilização: engloba uma ampla gama de preferências e

capacidades individuais;

3. Utilização simples e intuitiva: fácil compreensão, independente da experiência

do usuário, dos seus conhecimentos, aptidões linguísticas ou nível de concentração;

4. Informação perceptível: fornece ao usuário a informação necessária, qualquer

que sejam as condições ambientais/físicas existentes ou as capacidades sensoriais;

5. Tolerância ao erro: minimiza riscos e consequências negativas decorrentes de

ações acidentais ou involuntárias;

6. Esforço físico mínimo: pode ser usado de maneira eficaz e confortável com um

mínimo de fadiga;

7. Dimensão e espaço de abordagem e de utilização: espaço e dimensão adequada

para a abordagem, manuseamento e uso, independente da estatura, mobilidade ou postura do

usuário.

Nesse contexto, ao idealizar processos de aprendizagem acessíveis, é importante

atender padrões e princípios do DUA, de forma que a opção das técnicas, dinâmicas, espaço e

recursos didáticos considerem o uso por pessoas com habilidades e limitações diferentes.

Também se deve buscar que promovam os mesmos significados de uso para todos: idêntico

quando possível, equivalente quando não for possível (LAVORATO; MARTINEZ; MÓL,

2016).

Diante do exposto, entendemos que as contribuições do DUA são pertinentes ao

Ensino de Química inclusivo, pois permitem subsidiar professores para ensinar estudantes

com e sem deficiência visual.

Na sequência, abordamos a importância do livro didático no ensino inclusivo.

2.1.5.3 Livro didático e Audiodescrição

O livro didático possui papel relevante no Ensino de Química, seu conteúdo

atende a padrões instituídos por editais do PNLD/EM26

(Programa Nacional do Livro

25

De modo geral, estas características básicas são voltadas para o desenho universal, mas faremos uso para a

área da educação.

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Didático para o Ensino Médio). Sendo considerado um instrumento norteador de

cumprimento dos conteúdos curriculares na escola, por vezes, é o único recurso utilizado

pelos docentes. Apesar disso, ressaltamos que os professores precisam buscar outros

referenciais para melhor planejamento, preparação de suas aulas e melhores avaliações

(MOURA; GUERRA, 2013; PASSINATO, 2017; SILVA et al., 2013; SANTOS; SILVA;

FERRO, 2016).

Considerando o Ensino de Química inclusivo, o uso do livro didático precisa ser

adequado a partir da audiodescrição de imagens e/ou da utilização de livros traduzidos para o

Braille. O professor pode, ainda, trabalhar com modelos adaptados das ilustrações e trabalhar

em conjunto com a sala de recursos para obter instrumentos que facilitem a compressão dos

conceitos.

A audiodescrição é um recurso de acessibilidade que visa descrever toda e

qualquer informação relevante para as pessoas com deficiência visual, e assim, buscando

tornar as ilustrações acessíveis. É possível descrever imagens como uma pintura, um desenho,

um gráfico, além de estruturas tridimensionais apresentadas no livro didático. A proposta de

audiodescrição pode beneficiar a todos, pois aumenta as chances de eliminação de obstáculos,

além de propiciar acesso ao universo das imagens. Esta estratégia é uma forma de

acessibilidade que pode caminhar em harmonia com o DUA e pode trazer benefícios a um

número maior de pessoas (LAVORATO; MARTINEZ; MÓL, 2016; SANTOS; SILVA;

FERRO, 2016).

Audiodescrições de imagens do livro didático podem ser feitas através de voz

sintetizada, áudio humano ou mesmo leitura do professor. Todos esses tipos de mediação são

distintos do processo da leitura pelo próprio aluno, o que traz mudanças na compreensão de

conceitos. Há indicativos de que a mediação realizada por terceiros melhora o entendimento

dos assuntos (PASSINATO, 2017). Assim, ressaltamos que a participação do docente no

processo de ensino é crucial para que o estudante tenha melhor compreensão e possa aprender

o assunto ensinado.

Com o intuito de atender os requisitos da inclusão em sala de ensino regular,

desde 2011, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) passou a exigir que

os livros aprovados nos editais PNLD fossem entregues também no formato para serem lidos

em MecDaisy27

. O MEC dispõe no decreto 9.099/2017, Capítulo IV, artigo 25 a respeito da

26

Implantado em 2004, o PNLEM prevê a distribuição de livros didáticos para os alunos do ensino médio

público de todo o País. Porém, as coleções de Química foram inseridas a partir de 2007 (PASSINATO, 2017). 27

Detalhes na página 16 – nota 6.

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criação de livros acessíveis: “Art. 25. O Ministério da Educação adotará mecanismos para

promoção da acessibilidade no PNLD, destinados aos estudantes e aos professores com

deficiência” (BRASIL, 2017).

Diante disso, concordamos com Lavorato, Martinez e Mól (2016) que destacaram

a audiodescrição como estratégia pedagógica de grande potencial para promover a inclusão

educacional. Isso colabora para que o ensino de disciplinas, como a Química, possa ser

expandido e proporciona não somente o acesso à escola, mas a sua permanência.

Apesar disso, Passinato (2017) ressalta que o livro em áudio é importante para o

estudante com cegueira, porém, requer atenção com a qualidade da produção. Se por um lado,

as barreiras epistemológicas podem ser contornadas em audiodescrições de representações

imagéticas mais simples, em contrapartida, em imagens mais complexas, isso não se repete.

Em ilustrações mais detalhadas, as barreiras encontradas são reforçadas ou podem ocorrer

erros graves nos roteiros áudio descritivos, repetindo a má qualidade do material impresso do

livro texto.

Desse modo, entendemos que o livro didático precisa ser acessível a pessoas com

deficiência visual. Além disso, o professor precisa ter a habilidade de comunicar a informação

do livro, sabendo discernir os conceitos. Isso remete a necessidade da formação inicial e

continuada promover a familiarização do professor com este recurso.

Dando continuidade, abordaremos sobre as tecnologias assistivas. No entanto,

ressaltamos que as tecnologias assistivas, o DUA, a grafia Química Braille, dentre outros

recursos estão muitas vezes entrelaçados e se complementam num mesmo projeto.

2.1.5.4 Tecnologias Assistivas

As tecnologias assistivas (TA) consistem em aplicações de avanços tecnológicos

que interagem para restaurar ou aprimorar a função humana. TA envolvem pesquisa,

fabricação, uso de equipamentos, recursos ou estratégias aplicadas para estimular as

habilidades funcionais das pessoas com deficiência, e, assim, propiciar valorização,

integração e inclusão dessas pessoas, promovendo seus direitos humanos, objetivando a

autonomia, independência e qualidade de vida (BENITE et al., 2016).

O uso de TA na vida escolar colabora para tornar os estudantes mais autônomos,

contribuindo para que se reconheçam como seres capazes. Isso eleva sua autoestima e

aumenta suas expectativas de vida em relação a diversas atividades do cotidiano escolar,

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como, por exemplo, romper com as barreiras que os impedem de aprender Química (SILVA,

2014).

Os recursos de TA devem ser pensados de forma conjunta com os usuários, de

modo a atender suas necessidades, contribuindo para o desenvolvimento de uma metodologia

com ampliação de possibilidades de expressões e interação do mundo com a escola

(MARCHI; SILVA, 2016).

A temática de TA constitui foco de estudo e reflexão para construção de materiais

didáticos. Dentre as referências pesquisadas, foram encontradas 24 produções28

que

abordaram sobre Tecnologias Assistivas, pertencentes a diferentes localizações do Brasil e

usadas em diferentes contextos no ensino, no período de 1996 a 2018. Destacamos alguns

trabalhos para exemplificar possibilidades da tecnologia assistiva para o Ensino de Química,

como Marchi e Silva (2016), que apresentam uma intervenção a partir da realização de um

curso de formação continuada em TA, mais precisamente do programa Mecdaisy29

.

O curso foi oferecido a professores de química e professores auxiliares das escolas

públicas com estudantes com deficiência visual que frequentam o Centro de Apoio

Pedagógico para Atendimento à Pessoa com Deficiência Visual de Boa Vista/RR

(CAP/DV/RR). Nas atividades, houve apresentação e debate de literaturas sobre o programa

Mecdaisy, atividades práticas nos computadores com o software instalado e discussões sobre

as vivências de cada participante. Após o curso, foi aplicado um questionário para investigar

as percepções dos participantes sobre os possíveis usos das tecnologias assistivas em sala de

aula (MARCHI; SILVA, 2016).

Os participantes realizaram atividades como: criar materiais em Daisy, traduzindo

imagens em palavras e criando livros. As autoras destacaram que os participantes

apresentaram algumas dificuldades na produção do material, mas declararam em seus

discursos que as TA são recursos importantes para facilitar a aprendizagem dos estudantes

com deficiência visual e, por isso, consideraram ser válido dedicar um tempo para o

aperfeiçoamento dessa ferramenta.

A leitura do trabalho indica que a formação continuada é promovedora de reflexão

e desenvolvimento profissional, estimulando que os participantes revejam suas práticas

pedagógicas para o ensino de Química inclusivo. Apontamos, ainda, que mais cursos

abordando TA sejam desenvolvidos, divulgados e oferecidos para professores de Ensino de

28 Discutidos no Capítulo 4. Apresentação e discussão dos resultados (página 69).

29 Detalhes na página 16 – nota 6.

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Química, pois isso colabora para minimizar as possíveis dificuldades existentes na sala de

aula, no que concerne ao ensino inclusivo. Ressaltamos que o professor precisa de

embasamento teórico e prático sobre a área de TA para proporcionar o acesso ao

conhecimento. Em especial, o professor precisa inteirar-se dos recursos educacionais para a

acessibilidade e aprendizagem, saber usar os materiais didáticos em Braille, áudio,

computadores com programas de sintetizador de voz, softwares para comunicação, bem como

saber trabalhar com outros recursos técnicos.

Dando continuidade ao tema, citamos Benite e colaboradores (2015), que

consideram a TA uma alternativa de acessibilidade para superar barreiras originadas da

deficiência. Os autores realizaram uma pesquisa com a montagem de um termômetro

adaptado por professores em formação inicial que foi testado em aula de apoio no Centro

Brasileiro de Reabilitação e Apoio ao Deficiente Visual, em Goiânia/GO, para alunos com

deficiência visual do primeiro ano do ensino médio.

Benite e colaboradores (2015) apontam que na aula de química, experimentos

apresentam informações que geralmente são obtidas pela visão, como pesagem e medidas de

temperatura. Assim, o termômetro foi desenvolvido com comandos específicos, tendo sido

escolhidos hardwares e softwares baseados nas necessidades especiais, resultando na

informação da temperatura por um comando de voz. Foi proposto um experimento simples de

aquecimento de água utilizando o termômetro.

Neste trabalho, foram utilizados os diálogos da aula para evidenciar o

envolvimento dos estudantes, sendo possível identificar que o experimento propiciou a

compreensão de conceitos sobre a temperatura de ebulição, fusão e densidade da água

(BENITE et al., 2015).

Nesse contexto, entendemos que para o aprendizado do estudante com deficiência

visual, na experimentação, é crucial propiciar meios para o acesso às informações. O

termômetro adaptado surgiu como um instrumento eficaz para permitir a participação ativa do

estudante com deficiência visual no experimento que trata de fenômenos microscópicos

existentes nas mudanças de estado da água. Podemos considerar que o termômetro adaptado

representa uma mediação instrumental, citada nos conceitos de Vygotski, que pode favorecer

a reelaboração de conhecimentos dos estudantes com deficiência visual em seu processo de

aprendizagem.

Nesse mesmo sentido, Benite e colaboradores (2015) defendem que, na

experimentação, o professor age como mediador através do uso da linguagem e instrumentos,

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incentivando o estudante com deficiência visual a aprender por estímulos e pela interação

social. Tal exemplo de pesquisa está em concordância com as ideias de Vygotski (2008), que

defende não existir uma natureza humana separada do meio, sendo a mediação pela

intervenção pedagógica primordial para o desenvolvimento cognitivo de ensino e

aprendizagem.

Dando continuidade à abordagem sobre TA, outro exemplo é o trabalho de

detecção de cores para pessoas com deficiência visual utilizando a biblioteca Open Source

Computer Vision30

(OpenCV), que foi desenvolvido em João Pessoa/PB (ALVES; REGIS;

CORREIA, 2016). Os autores apresentaram um sistema para auxiliar pessoas com deficiência

visual na percepção das cores, em reações ácido-base e de complexação. O sistema baseou-se

em técnicas de processamento digital de imagens utilizando OpenCV, um software de código

aberto, amplamente aplicado em visão computacional31

. Com uma webcam, imagens de

reações foram capturadas, tratadas e convertidas para criar padrões que, ao serem detectados,

emitissem um som informando o resultado encontrado.

Os autores detalham o desenvolvimento do detector de cores em linguagem

técnica de computação, abordando apenas o teste da funcionalidade do detector que consegue

discriminar 8 cores, empregando-se uma câmera de baixa resolução. Alves e colaboradores

(2016) apontaram potencialidades do sistema criado já que usa software livre, pode ser

aplicado em tempo real e contribui para a inclusão e a autonomia dos estudantes nas aulas

práticas. No entanto, não foram apresentados testes de validação com os estudantes com

deficiência visual.

Ressaltamos que esse trabalho, apesar de ser focado nas técnicas de

processamento digital de imagens, remete à importância de trabalhar com as diferentes áreas

para promover a acessibilidade ao estudante com deficiência visual. Um professor de química

não precisa dominar todas as técnicas, contudo, sabendo das possíveis ferramentas, pode

buscar trabalhar em parceria com profissionais de diversas áreas.

Apresentamos, também, a contribuição de Ferreira e colaboradores (2017), que

criaram um modelo tridimensional do diagrama de Linus Pauling adaptado para pessoas com

deficiência visual, na região sul do país (Bagé/RS). Foi utilizado o software CAD

30

Foi desenvolvida pela Intel e possui mais de 500 funções, com o objetivo de tornar a visão computacional

acessível a usuários e programadores em áreas como a interação humano-computador em tempo real

(MARENGONI; STRINGHINI, 2009).

31 É o campo da computação que estuda maneiras de extrair informação dos objetos de uma imagem, tais como

suas formas e velocidades. (MARENGONI; STRINGHINI, 2009).

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SolidWorks32

para a modelagem do diagrama (Figura 4). Com a impressão 3D do diagrama,

os autores esperavam que as pessoas com deficiência visual obtivessem maior autonomia e

conhecimento ao usar recursos como o Diagrama de Linus Pauling, mas a etapa do trabalho

descrito esclarece que isso ainda não foi feito ou avaliado.

Figura 4. Diagrama com 12 módulos projetado no software SolidWorks. Fonte: Ferreira e colaboradores

(2017).

Por outro lado, apesar de entendermos que há assuntos muito relevantes para a

aprendizagem e formação do estudante que também mereceriam modelagem 3D. Nossos

exemplos limitam-se a ilustrar a aplicação de tecnologias atuais para tentar incluir o estudante

com deficiência visual na abordagem de assuntos da Química.

Os trabalhos comentados indicam que TA representam um campo de

conhecimento interdisciplinar que reúne produtos, recursos, metodologias, estratégias,

práticas e serviços de apoio ao desenvolvimento da pessoa com deficiência, buscando

favorecer sua inclusão. Destacamos, também, o valor do trabalho em conjunto entre

professores de química e professores da sala de recursos, cuja parceria é necessária, já que a

troca de saberes é fundamental para o desenvolvimento dos materiais didáticos.

Apesar das limitações existentes, como a falta de tempo para o preparo de

atividades inclusivas ou limitações na formação dos professores para esse tipo de tarefa,

espera-se que esses materiais sejam cada vez mais utilizados em todos os níveis de ensino.

Isso deve proporcionar aos estudantes com deficiência visual o acesso ao conhecimento

científico e as mesmas oportunidades de aprendizado ofertadas aos demais estudantes.

No contexto dos recursos didáticos, retomamos um recurso já citado e que se

tornou um instrumento de grande relevância para a inclusão escolar de estudantes com

deficiência visual no Brasil: a Grafia Química Braille.

32

Sigla CAD (Computer Aided Design) por definição é Desenho Assistido por Computador. Disponível em:

https://www.solidworks.com/pt-br/category/3d-cad.

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2.1.5.5 Grafia Química Braille

Para atender às particulares da linguagem química foi criada, em 2002, pelo

Ministério da Educação, a Grafia Química Braille para Uso no Brasil (BRASIL, 2017). Trata-

se de um instrumento muito importante para o aprendizado de química e o acompanhamento

da evolução da ciência por pessoas com deficiência visual, bem como auxilia professores e/ou

profissionais nesse processo.

Por meio dessa grafia, podem ser feitas representações de equações, estruturas

moleculares, símbolos e fórmulas (Figura 5), que permitem o acesso a essas informações

pelas pessoas com deficiência visual, que fazem uso do Braille como meio de leitura e escrita.

Além de apresentar orientações para promover a transcrição dos símbolos e estruturas

químicas por docentes, transcritores e usuários, o documento elaborado contém um numeroso

conjunto de conceitos químicos desenvolvidos próprios para a grafia em Braille.

A edição de 2017 da Grafia Química Braille para uso no Brasil apresenta

símbolos representativos para transcrição em Braille do componente curricular de química,

nos quais foram revisados os conteúdos químicos apresentados em livros didáticos do Ensino

Médio e Superior (BRASIL, 2017). Na definição dos símbolos Braille, foram utilizados

diversos sinais representativos das edições de 2002 e 2014 anteriores desse material. Outros

símbolos foram convencionados na intenção de elaborar um trabalho de Grafia Química

contendo o maior número possível de símbolos para transcrição de textos sobre química,

assim como vários e diversificados exemplos ilustrativos.

Figura 5: Representação da fórmula molecular e estrutural das substâncias metano (a) e amônia (b) em Grafia

Química Braille, onde as celas Braille são em alto relevo. Fonte: Grafia Química Braille para Uso no Brasil

(BRASIL, 2017).

Foram consideradas, ainda, abordagens e regras apresentadas pela International

Union of Pure and Applied Chemistry (IUPAC), simbologias e representações Braille

adotadas por grafias químicas de outros países, como Alemanha, França, Austrália, Espanha e

Reino Unido. Foram incluídos novos símbolos, utilizados no ensino médio e no ensino

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superior, a exemplo, da seta de duas pontas inteiras e da simbologia Braille representacional

para a "deslocalização da dupla ligação" usadas na representação das estruturas de

ressonância; dipolos de uma molécula, representação esquemática de células eletroquímicas,

dentre outros (BRASIL, 2017).

Enfatizando a importância da Grafia Química Braille, apresentamos algumas

produções das quais abordam o tema. Restringimos os exemplos, buscando verificar as

produções ao longo dos anos e regiões desenvolvidas.

Iniciamos com o trabalho de Drescher, Oliveira e Silva (2012) que apresentam

uma alternativa para trabalhar os elementos químicos mais conhecidos da tabela periódica.

Eles criaram e aplicaram o jogo Bingo Química em Braille, inserindo a linguagem Braille

com materiais simples, de baixo custo e fácil acesso, como: recortes de MDF, miçangas, cola

colorida, cartolina, canetões entre outros materiais. A iniciativa buscou a inclusão de

estudante com deficiência visual em aulas de química a partir de uma atividade lúdica.

O trabalho foi desenvolvido em uma turma de 1º ano do ensino médio com 17

estudantes de uma escola pública, na cidade de Santa Maria/RS, dentre os quais havia um

estudante com deficiência visual. Primeiramente, foi realizada uma abordagem sobre os

elementos da tabela periódica. Em seguida, o jogo foi realizado conforme as regras

tradicionais do bingo. O professor “cantava” os números, que nesse bingo eram os elementos

químicos. Cada estudante escolhia uma cartela onde havia representação dos elementos no

alfabeto Braille e em escrita “tradicional” (Figura 6) para tentar preencher com os elementos

cantados e fazer o bingo.

Figura 6. Cartela de Bingo Químico em Braille. Fonte: Drescher, Oliveira e Silva (2012).

Drescher, Oliveira e Silva (2012) apontaram que jogos educacionais podem ser

bons recursos e estratégias para desenvolver a construção do conhecimento e habilidades do

estudante, se forem bem elaborados e explorados. Assim sendo, podem promover o processo

de ensino-aprendizagem, tornando-o interessante e desafiador. Os autores ressaltam, ainda,

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que há três aspectos que justificam a incorporação dos jogos nas aulas, o caráter lúdico, o

desenvolvimento intelectual e a formação de relações sociais.

Pelas respostas a um questionário aplicado e observações da aula, os autores

consideraram que o jogo aumentou a curiosidade dos estudantes, tanto sobre os elementos

químicos quanto sobre a escrita Braille, destacando a importância da utilização de recursos

para estimulação de funções psicológicas e neurológicas (DRESCHER; OLIVEIRA; SILVA,

2012).

No entanto, questionamos o uso dessa ferramenta para abordagem de elementos

químicos. Apesar de existirem diversos trabalhos sobre a tabela periódica, o foco da

abordagem pode ser pouco significativo em termos conceituais para estudantes com ou sem

deficiência visual. É importante olhar criticamente o uso de jogos em sala de aula, pois o

aspecto lúdico não é suficiente para qualificar seu uso didático.

Em outro trabalho, Resende Filho e colaboradores (2013) buscaram avaliar o nível

de conhecimento dos estudantes com deficiência visual matriculados no Ensino Médio em

João Pessoa/PB, no que tange à grafia Química Braille e Matemática Braille. Para a pesquisa,

os autores procuraram instituições públicas e privadas de Ensino médio com estudantes com

deficiência visual. Nessa triagem foram encontradas apenas 5 escolas no perfil desejado e o

total de 14 estudantes com deficiência visual, dentre 91 escolas do município. Entrevistas com

os estudantes forneceram informações sobre o quadro educacional, social e familiar no qual

estavam inseridos. Em seguida, foram aplicados dois questionários, um referente à Grafia

Matemática Braille (GMB) e outro à Grafia Química Braille (GQB), com respostas

classificadas em três níveis: conhecimento elevado (CE), parcial (CP) e baixo (CB).

Os resultados indicaram um baixo nível de conhecimento da GQB. Nas

entrevistas realizadas com os estudantes, a Química apareceu como abstrata e uma das

disciplinas mais difíceis de aprender. Os autores apontaram, ainda, um dado relevante no que

diz respeito à simbologia da Química, já que para 65% dos participantes da pesquisa, esse é

um aspecto de baixo conhecimento. Esse pode ser considerado como fator destacado para

dificultar a aprendizagem de Química.

Nesse contexto, foram sugeridas algumas ações para mudar esse panorama, tais

como cursos específicos da Grafia Química Braille para os estudantes com deficiência visual;

capacitação dos professores no Sistema Braille e metodologias de ensino adequadas às

necessidades dos estudantes, além de oficinas para confeccionar materiais didáticos que

procurem explorar as mais diversas percepções sensoriais (RESENDE et al., 2013).

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Concordamos com Resende e colaboradores (2013) ao defender que os estudantes

com deficiência visual precisam aprender a grafia química Braille para acessarem a

informação escrita, construir e reconstruir ideias e poderem expressar seus conhecimentos.

Ressaltamos, ainda, que a grafia Braille tem ação crucial no processo de ensino-aprendizagem

inclusivo e entendemos que, definitivamente, a formação de professores em relação ao uso da

Grafia Braille fará a diferença na sala de aula.

Em relação à formação inicial, Ladeia e colaboradores (2014) apresentaram uma

oficina de Braille, desenvolvida por bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de

Iniciação à Docência - PIBID, tendo como público alvo os estudantes de Licenciatura Plena

em Química do IFBaiano – Campus Guanambi, envolvendo ainda estudantes com deficiência

visual e professores.

A atividade envolveu três momentos. Primeiramente, houve debates e relatos de

experiências entre alunos cegos do IFBaiano e de outras instituições do município, além de

reunir docentes de diferentes áreas do conhecimento que lecionaram para estudantes com

deficiência visual. No segundo momento, houve uma oficina de Braille com um professor

Técnico em Braille, formado no Instituto para Cegos em Salvador. E por último, a atividade

desenvolvida na oficina foi a apresentação dos recursos disponibilizados pelo Núcleo de

Assistência a Pessoas com Deficiência Específicas (NAPNE) do IFBaiano Campus

Guanambi.

Os autores (LADEIA et al., 2014) apontam que a participação de estudantes com

deficiência visual na oficina permitiu discutir metodologias, socializar e obter sugestões de

como melhorar a abordagem de conceitos químicos dentro da sala de aula. Os autores

ressaltam, ainda, que é preciso investir em pesquisas e em garantir efetivamente políticas para

consolidar o envolvimento e participação dos estudantes com deficiência visual, exercendo a

inclusão de fato. Outro ponto destacado foi que a presença de professores na oficina trouxe

contribuições enriquecedoras, pois, eles apresentaram as metodologias que desenvolvem para

trabalhar com os seus alunos com deficiência visual. Para os licenciandos em química, esse

momento permite compreender a essência da docência e também valorizar a construção de

saberes, habilidades e competências.

Com a realização da oficina, os autores consideram que aprender Braille, na

graduação, permite ao futuro docente se preparar para a realidade de um aluno com

deficiência visual dentro do contexto escolar. Escolhemos citar esse trabalho, porque suas

contribuições remetem à possibilidade de inserção de oficinas, aulas de extensão ou

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disciplinas no currículo de formação inicial da graduação em licenciatura em Química, além

de apontar uma lacuna no que concerne ao domínio da grafia Química Braille, tanto para o

professor quanto para o estudante com deficiência visual.

Pensando em utilizar métodos para atender as necessidades de estudantes com ou

sem deficiência visual, Masson e colaboradores (2016), na cidade de São Carlos/SP,

construíram uma tabela periódica tradicional contendo a escrita em Braille. O trabalho

envolveu a participação de bolsistas de iniciação científica e bolsistas de iniciação científica

júnior.

Para produzir a tabela foram utilizados materiais como: suporte de madeira,

quadrados pequenos de madeira, miçangas para a escrita em Braille dos símbolos químicos e

números atômicos. Os grupos da tabela foram destacados em diferentes formas em relevo

para melhor percepção da pessoa com deficiência visual, como ilustra a Figura 7. Essa

produção foi escolhida por abordar um assunto recorrente e importante para o Ensino de

Química inclusivo, com a descrição de adaptações simples em recursos de fácil acesso ao

professor.

Figura 7. Tabela periódica em Braille. Fonte: Masson e colaboradores (2016).

Para validação da tabela produzida, ela foi apresentada a um estudante com

deficiência visual. Assim, foi possível avaliar a correção da escrita em Braille, a

acessibilidade do design da tabela e a potencialidade facilitadora de aprendizagem do material

para um estudante com deficiência. Posteriormente, os autores aplicaram o material em uma

sala de aula do ensino médio regular, onde havia um estudante com deficiência visual. Eles

consideraram a tabela inclusiva por ter permitido que o estudante participasse da aula como os

alunos videntes (MASSON et al., 2016).

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Chaves e colaboradores (2017) também trabalharam com tabela periódica

adaptada em Braille, visando potencializar e facilitar o processo de ensino e aprendizagem

dos alunos com deficiência visual na disciplina de química. O trabalho foi desenvolvido na

cidade de Macapá/AP, onde o Centro de Apoio Pedagógico ao Deficiente Visual

confeccionou 13 tabelas periódicas em Braille e distribuiu para 11 escolas da rede regular de

ensino com Atendimento Educacional Especializado. As tabelas, a partir de então, começaram

a ser utilizadas pelos professores na disciplina de química durante suas aulas.

Os autores construíram uma matriz tátil da tabela periódica em Braille usando o

Programa Braille Fácil, pelo qual o texto pode ser digitado diretamente ou importado a partir

de um editor de textos convencional. Foram usados barbantes para as indicações das linhas

existentes na tabela periódica, formando quadrados semelhantes ao modelo convencional, e

adicionaram o título em Braille. A tabela periódica foi pintada de cores semelhantes às de

tabelas comuns, para que pudesse ser utilizada por alunos com ou sem deficiência visual,

conforme pode ser observado na Figura 8.

Figura 8. Tabela Periódica em Braille. Fonte: Chaves e colaboradores (2017).

A despeito do valor da iniciativa, os autores não descreveram se e como os

professores das escolas as utilizaram, nem se as ações foram efetivas. Contudo, o trabalho

desenvolvido evidência a importância dos Centros de Apoio Pedagógico para promover a

inclusão de pessoas com deficiência visual nas escolas.

Considerando os trabalhos citados, notamos que conhecer a escrita e leitura da

Grafia Química Braille amplia as possibilidades do professor adequar sua metodologia e seus

instrumentos de ensino para tornar suas aulas acessíveis aos estudantes com deficiência

visual. Além desses exemplos, existem outros trabalhos e pesquisas distribuídos pelo país

(LOURENÇO, 2003; ROSA; MENDES, 2012; PIRES, 2013; RODRIGUES E.;

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RODRIGUES I., 2015), com os objetivos similares, tais como: oferecer aos professores

alternativas de instrumentos e metodologias de ensino, permitir a inclusão e favorecer a

aprendizagem de estudantes com deficiência visual em sala de aula. Prosseguindo na busca

para alcançar esses objetivos, passamos a tratar do potencial da experimentação.

2.1.5.6 Experimentação

A partir de atividades experimentais, é possível reconstruir concepções dos

estudantes, contribuindo para a mudança conceitual. Assim, aprender a observar, investigar o

fenômeno observado, controlar variáveis, manipular equipamentos, registrar e sistematizar as

informações são etapas imprescindíveis para a compreensão de conhecimentos e são previstas

pelas atividades experimentais (BENITE et al., 2015).

No entanto, a experimentação apresenta uma característica visual, que dificulta o

acesso a estudantes com deficiência visual. As informações que precisam ser obtidas

dependem predominantemente de registros visuais, como por exemplo: mudança de

coloração, liberação de gás, formação de precipitados, dentre outros.

No movimento da educação inclusiva, todos os estudantes precisam conviver

juntos e realizar as atividades com nível de exigências condizente com o da turma em que

estão, bem como, receber oportunidades iguais de aprendizado. Diante disso, é crucial que o

professor realize atividades experimentais buscando envolver todos os estudantes para

propiciar um ambiente inclusivo, onde todos tenham acesso e condições de participar

ativamente (PAULA; GUIMARÃES; SILVA, 2017).

As atividades experimentais visam promover a ação reflexiva, podendo

intensificar e estimular o interesse do estudante para se apropriar do conhecimento científico.

Contudo, precisam ser adaptadas para permitir que o estudante com deficiência visual tenha

acesso aos diferentes níveis de abordagem da química. As orientações devem ser adaptadas

para garantir a segurança do estudante com deficiência visual, em especial, se for usar o tato

ou olfato; os materiais devem ser substituídos, se necessário; e tudo deve ser apresentado com

orientações de uso para executar a atividade (MORTIMER; MACHADO; ROMANELLI,

2000; PAULA; GUIMARÃES; SILVA, 2017).

Considerando que a experimentação deve fazer parte do aprendizado dos

estudantes com e sem deficiência visual; alguns autores apresentam adaptações de atividades

experimentais que promovam a aprendizagem e acesso a todos os estudantes.

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Nesse contexto, apresentamos Pires (2010), que traz uma “Proposta de guia para

apoiar a prática pedagógica de professores de Química em sala de aula inclusiva com alunos

que apresentam deficiência visual”, incluindo sugestões de adaptações de atividades

experimentais. A autora reconhece que as atividades experimentais devem ser adaptadas,

valorizando o tato, olfato, audição e em alguns casos o paladar. Por exemplo, para um

experimento em que ocorre precipitação, a autora propõe utilizar substâncias que não sejam

tóxicas, para que o estudante utilize o tato para a percepção do fenômeno, como no caso de

precipitação de carbonato de cálcio. Sugere-se, ainda, para atividades experimentais com

liberação de gás, uma alternativa que seria adaptar para o aluno ouvir o som da liberação de

gás através da efervescência, em experimento com antiácido estomacal. Outro teste muito

comum envolve a condução de eletricidade por diferentes materiais em diversas condições. A

adaptação consiste em substituir a lâmpada, geralmente utilizada, por um alarme sonoro para

indicar se o material conduz ou não conduz a eletricidade (PIRES, 2010).

Tais propostas integram um guia desenvolvido no Laboratório de Pesquisa em

Ensino de Química – LPEQ – e no Laboratório de Apoio ao Deficiente Visual – LDV – da

Universidade de Brasília. Ele foi avaliado por cinco estudantes com deficiência visual do

ensino médio regular do Distrito Federal, sendo considerada possível sua aplicação em sala de

aula. Em outro momento, o guia foi apresentado e aplicado em oficina na IX Semana de

Extensão da Universidade de Brasília contando com a participação de docentes da educação

básica e licenciandos da Universidade de Brasília e todos os participantes puderam se

familiarizar com as propostas inclusivas.

Este trabalho (PIRES, 2010) indica que existem possibilidades para o

desenvolvimento de práticas experimentais de Química inclusivas e que pesquisas e

colaborações das partes (docentes, estudantes e instituições) viabilizam o atendimento de

demandas para o ensino inclusivo.

Do mesmo modo, Dantas Neto (2012) propôs adaptações nos roteiros de todas as

atividades experimentais do livro didático Química Cidadã (SANTOS; MÓL, 2010). Cada

adaptação experimental buscou manter o objetivo principal de cada um dos roteiros originais

do livro. As orientações inseridas na proposta de roteiro adaptado foram destacadas em

negrito, itálico e vermelho para diferenciar da proposta original (Figura 9).

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Figura 9. Exemplo de roteiro de experimento adaptado sobre Átomos que emitem luz.

Fonte: Dantas Neto, 2012.

Dantas Neto (2012) desenvolveu o trabalho em parceria com estudantes do ensino

médio com deficiência visual e com seus professores de Química, de uma escola inclusiva

pública do Distrito Federal. O trabalho foi dividido em três etapas, sendo que na primeira

foram apresentados os experimentos adaptados aos estudantes com deficiência visual. Na

segunda etapa, houve a reformulação dos roteiros com estudantes e professores da escola e, na

terceira etapa, os professores avaliaram os roteiros experimentais adaptados, respondendo a

um questionário. Pelas respostas obtidas nos questionários, o autor considerou que os roteiros

experimentais adaptados permitiram iguais possibilidades de aprendizagem para os estudantes

com deficiência visual, quando comparadas às dos estudantes sem deficiência. Seu trabalho

também apontou a necessidade de cursos de formação continuada para professores que

atendem aos estudantes com deficiência visual.

Apesar dos resultados favoráveis de Dantas Neto (2012), ao verificarmos a

proposta de alguns roteiros, percebemos que predominaram descrições do experimento ao

estudante, como ilustrado na Figura 9. Isto nos faz refletir quanto à efetiva aprendizagem do

estudante com deficiência visual, pois entendemos que descrições não são suficientes para

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uma aula experimental. No entanto, consideramos adaptações de roteiros experimentais

válidas e importantes para a inclusão, entendendo que o conteúdo deva ser interativo para o

estudante com deficiência visual.

Outro ponto a considerar, foi que Dantas Neto (2012) buscou experimentos de um

livro didático para realizar as adaptações. Isso demonstra que o professor pode buscar apoio

em diferentes fontes bibliográficas e realizar as adequações conforme o perfil de sua classe,

sendo necessário analisar criticamente todas as fontes consultadas e tentar evitar a reprodução

ou criação de erros conceituais. As formações (inicial e continuada) do professor são

decisivas para subsidiar essas ações.

Outro trabalho abordando experimentação foi desenvolvido por Fernandes (2014),

com uma metodologia multissensorial. Utilizando todos os sentidos humanos possíveis para

captar informação do meio, foi desenvolvida uma sequência didática visando facilitar o

processo ensino e aprendizagem do conteúdo sobre reações químicas para estudantes com ou

sem deficiência visual. A pesquisa foi realizada com 27 estudantes do 2º ano do Ensino

Médio em escola estadual em Curitiba/PR, sendo 4 com deficiência visual.

Conforme Fernandes (2014) explica, as aulas práticas foram divididas em três

etapas (Tabela 1). Na primeira etapa, foram realizados experimentos para identificar se os

fenômenos observados envolveriam ou não reações químicas, descrevendo as características

iniciais e finais dos sistemas, para encontrar as evidências que os descreviam. Foram

estudadas as reações decorrentes da dissolução de comprimido efervescente em água, da

mistura de bicarbonato de sódio com vinagre e da mistura de ácido clorídrico com hidróxido

de sódio. Além das evidências visuais, esperava-se que sons indicassem aos estudantes a

liberação de gás; o tato indicaria o desprendimento das bolhas e a mudança de temperatura; a

mudança do odor devido ao consumo do vinagre seria captada pelo olfato; e ainda, identificar

casos de reações que não apresentam mudanças macroscópicas.

Na segunda etapa, outros sistemas foram observados para verificar que alguns

fenômenos físicos levam a mudanças macroscópicas no sistema, sem, contudo, formar novos

materiais. Seriam casos nos quais as famosas evidências relacionadas com modificações

macroscópicas não estariam relacionadas com a ocorrência de reação química. Os

experimentos realizados foram dissolução de ureia em água, dissolução de hidróxido de sódio

e mistura de bala de menta com refrigerante. Nestes casos, os estudantes observaram as

mudanças no sistema, sempre destacando a importância de usar todos os sentidos. Alguns

estudantes ainda consideraram que as dissoluções de hidróxido de sódio e uréia poderiam ser

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reações devido à mudança de temperatura, mas no caso do refrigerante todos identificaram

que não houve reação porque o gás não foi formado, pois era proveniente do refrigerante.

(FERNANDES, 2014).

Na última etapa, foram realizados três experimentos, com resumos apresentados

na Tabela 1, envolvendo mistura de hidróxido de sódio e sulfato de cobre II; mistura de

bicarbonato de sódio com vinagre e queima de uma esponja de aço, sempre medindo a massa

do sistema antes e após as observações de alguma modificação. Buscava-se observar

experimentalmente o que ocorre com a massa nas reações químicas em sistema aberto, para

introduzir posteriormente a discussão da lei de conservação das massas. Os estudantes com

deficiência visual utilizavam balanças de dois pratos para visualizar manualmente se haveria

desequilíbrio no sistema, observando assim a mudança de massa. Para concluir esta aula foi

feita a discussão coletiva, retomando a lei da conservação da massa (FERNANDES, 2014).

Tabela 1. Resumo dos experimentos.

Etapa Experimentos

1 Dissolução de comprimido

efervescente em água

Mistura de bicarbonato de

sódio com vinagre

Mistura de ácido clorídrico

com hidróxido de sódio

2 Dissolução de ureia em água Dissolução de hidróxido

de sódio

Mistura de bala de menta com

refrigerante

3 Mistura de hidróxido de sódio e

sulfato de cobre II

Mistura de bicarbonato de

sódio com vinagre

Queima de uma esponja de

aço

Fonte: (FERNANDES, 2014).

Após as práticas, os estudantes sem deficiência visual fizeram um relato escrito

sobre a interação com os colegas com deficiência visual. Todos apontaram positivamente a

participação e interação e indicaram que os colegas com deficiência visual ajudaram a

perceber evidências não visuais, auxiliando na compreensão dos fenômenos (FERNANDES,

2014).

Para avaliar as aulas práticas foram aplicados questionários respondidos por 21

estudantes sem deficiência visual e 4 com deficiência visual. Com relação aos experimentos, a

maioria dos estudantes sem deficiência visual (16) afirmou que gostaram de realizar os

experimentos, sendo que 15 deles concordaram plena ou parcialmente que conseguiram

relacioná-los com as teorias e equações vistas na sala de aula (Tabela 2). Porém, 6 estudantes

responderam não ter conseguido fazer esta relação. Em relação aos estudantes com

deficiência, um estudante concordou parcialmente que conseguiu relacionar as práticas

experimentais com a teoria, enquanto que três concordaram plenamente, e todos disseram ter

gostado de fazer os experimentos (FERNANDES, 2014).

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Tabela 2. Resumos dos resultados de avaliação das práticas experimentais.

PARTICIPANTES

ITENS 21 estudantes

sem deficiência visual

4 estudantes

com deficiência visual

Conseguiram relacionar

com teorias e equações

Plenamente

15 3

Conseguiram relacionar

com teorias e equações

Parcialmente

0 1

Não conseguiram relacionar

com teorias e equações 6 0

Fonte: (FERNANDES, 2014).

Apesar da experimentação ainda ser pouco explorada nas escolas brasileiras para

as aulas de química, consideramos oportuno apresentar esses exemplos de produções, para

indicar possíveis maneiras de vencer as dificuldades e discutir o ensino inclusivo de Química.

Conforme Benite e colaboradores (2015) afirmam, para que um estudante com deficiência

visual aprenda a partir de atividades experimentais, é crucial a aquisição de informações por

meio dos sentidos remanescentes. Desta forma, a potencialização desses estudantes surge pela

quantidade e qualidade dos estímulos oferecidos e pela interação social, mediada pelo

professor com o uso da linguagem e instrumentos.

Diante do exposto, consideramos que a experimentação é um diferencial para o

ensino e aprendizagem dos estudantes de uma sala de aula inclusiva, pois permite desenvolver

percepções e raciocínios que somente a aula teórica não consegue alcançar.

Finalizamos esta introdução e trazemos, no próximo capítulo, os procedimentos

metodológicos que nortearam esta pesquisa qualitativa, destacando a pesquisa bibliográfica e

documental. Também apresentamos nosso instrumento de coleta de dados e a estratégia para

interpretação dos dados através da análise textual discursiva.

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CAPÍTULO 3.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DE PESQUISA

Neste capítulo, apresentamos os aspectos metodológicos aplicados na elaboração

de nossa pesquisa. Discutimos sobre sua natureza e a etapa de composição de dados, que

inclui a revisão bibliográfica e documental, a seleção dos documentos que foram analisados e

a escolha dos participantes da pesquisa, que nos permitirão responder as questões norteadoras.

Também apresentamos a metodologia para a análise dos dados.

3.1 Instrumentos de coleta de dados

3.1.1. Pesquisa bibliográfica e documental

Este trabalho de mestrado é de cunho qualitativo. Uma etapa inicial envolve

pesquisa bibliográfica e documental no âmbito da produção de trabalhos que abordam a

temática do Ensino de Química para pessoas com deficiência visual, e uma busca pela internet

sobre espaços educativos que atuam nessa temática. Por opção, estabelecemos o ano de 1996,

data de promulgação da LDB, como o ano inicial do levantamento de dados sobre as

produções relativas ao tema proposto.

Segundo Gil (2008), a pesquisa documental é semelhante à pesquisa bibliográfica,

mas difere na natureza das fontes. Na pesquisa bibliográfica, as fontes são constituídas por

material impresso localizadas em bibliotecas e banco de dados, enquanto que na pesquisa

documental, as fontes são muito mais diversificadas e dispersas. A pesquisa documental vale-

se de materiais que ainda não receberam um tratamento analítico, ou que ainda podem ser

reelaborados de acordo com os objetos da pesquisa (relatórios de pesquisa, relatórios de

empresas e tabelas estatísticas).

Na pesquisa bibliográfica usamos livros e artigos, dentre outras produções. Já na

pesquisa documental, incluímos o levantamento de dados de instituições e/ou grupos de

pesquisa que trabalham com pessoas com deficiência visual.

Os dados obtidos e informações complementares foram analisados, organizados e

classificados, conforme as questões norteadoras da pesquisa. As etapas seguidas na pesquisa

foram: identificação de produções na área, seleção e classificação dos documentos e

instituições, descrição e análise das características das produções.

Para a coleta de dados, buscando um panorama para os professores brasileiros do

ensino médio, foram consultadas três bases de dados: o site de buscas Google Acadêmico; o

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catálogo de Teses e Dissertações e a base de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento

de Pessoal de Nível Superior – CAPES.

Na seleção e classificação dos documentos, as produções foram identificadas a

partir da leitura dos títulos, resumos e palavras-chave. Utilizamos palavras de busca como:

Ensino de Química e deficiência visual; Ensino de Química e Braille; Ensino de Química e

inclusão; Ensino de Química e cego; inclusão de alunos com necessidades educacionais

especiais; Ensino de Química para alunos cegos/baixa visão; materiais alternativos para

Ensino de Química e inclusão e formação de professores para o Ensino de Química a pessoas

com deficiência visual.

Vale ressaltar, que restringimos a pesquisa a referências em português, tentando

simular um cenário acessível para professores brasileiros. Consideramos que o professor em

sua rotina poderia buscar subsídios na internet e, no primeiro momento, pesquisaria no site

Google acadêmico, por seu fácil acesso e interação. Caso o professor tenha maior

familiaridade com a pesquisa, poderia buscar informações no catálogo de Teses e

Dissertações e/ou na base de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Nível Superior – CAPES.

As produções selecionadas foram analisadas a partir de seus resumos e

categorizadas de acordo com alguns critérios como: ano de publicação, instituição e região de

origem, e tema de ensino abordado. Conforme a concentração de produções na categoria

tema, realizamos a análise dos textos. As demais categorias de análise foram construídas a

posteriori, emergindo dos dados.

Em relação aos espaços educativos, realizamos a triagem de dados através de uma

pesquisa no Diretório de Grupos de Pesquisa, vinculado a Plataforma Lattes - CNPq

utilizando a palavra chave “Ensino/Educação de Química”. Dos dados obtidos de Grupos de

Pesquisa, analisamos seus respectivos sites e os currículos Lattes33

dos líderes/pesquisadores,

para verificar alguma relação com o ensino inclusivo para pessoas com deficiência visual.

Foram extraídos os espaços educativos que desenvolveram e/ou desenvolvem atividades

relacionadas ao tema da pesquisa. Dentre esses, foram obtidos os espaços educativos que

possuem projetos de pesquisa em andamento. Preferencialmente, destacamos os espaços

educativos pelas instituições, pois as pesquisas por vezes estão vinculadas ao pesquisador e

não a um grupo de pesquisa.

33

http://lattes.cnpq.br/

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65

3.1.2. Entrevista semiestruturada

Em uma segunda etapa, escolhemos a utilização de entrevista semiestruturada

como instrumento de coleta de dados. Nas entrevistas semiestruturadas tem-se um roteiro

previamente definido, no entanto, é permitida a elucidação de ideias que surgem de modo

espontâneo. A realização de entrevista semiestruturada permite a coleta de dados de forma

autêntica, com flexibilidade, possibilitando adaptações e, ainda, o entrevistador pode

esclarecer ou reformular a pergunta (APPOLINÁRIO, 2006).

Para realização desta parte da pesquisa, sua proposta foi submetida ao Comitê de

Ética em Pesquisa34

(CEP) da UNICAMP, tendo sido aprovada em 31/03/2018, com número

do parecer: 2.572.601/ CAAE:82918117.5. 0000. 8142 – Anexo 1.

Nesta pesquisa qualitativa buscamos entrevistar pessoas envolvidas em ações e

desenvolvimento de materiais para o ensino e aprendizagem de pessoas com deficiência

visual, a saber: professores de Química do ensino médio regular, professores pesquisadores e

professores de salas de recursos. Depois de realizados os convites para participação da

entrevista, obtivemos retorno de 8 voluntários (Tabela 3).

Tabela 3. Perfil dos entrevistados.

Entrevistado Atuação

1 Professor de Química do ensino médio regular

2 Professor de Química do ensino médio regular 3 Professor de Química do ensino médio regular 4 Professor pesquisador

5 Professor pesquisador

6 Professor de sala de recursos

7 Professor de sala de recursos

8 Professor de sala de recursos

Fonte: Elaboração Própria.

Neste contexto, realizamos entrevistas semiestruturadas, que seguiram o roteiro35

descrito no Apêndice 1. Tais entrevistas foram presenciais ou via Whatsapp, de acordo com a

preferência do participante da pesquisa, com data agendada em comum acordo das partes

envolvidas (pesquisadora e voluntários). Cada participante obrigatoriamente entregou o

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido36

assinado (modelo do TCLE – Apêndice 2) via

correio, ou pessoalmente ou por e-mail (neste caso digitalizado).

34

É responsável pela avaliação e acompanhamento dos aspectos éticos de todas as pesquisas envolvendo seres

humanos. Disponível em: <https://www.prp.unicamp.br/pt-br/cep-comite-de-etica-em-pesquisa>. 35

Utilizamos um único roteiro de entrevista para os 3 perfis de entrevistados (Apêndice 1). 36

Documento que visa assegurar os direitos e deveres do participante e é elaborado em duas vias, uma que deve

ficar com o pesquisado e outra que fica com o pesquisador. Disponível em:

<http://www.fcm.unicamp.br/fcm/sites/default/files/3_estrutura_basica_tcle.docx>.

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66

Quando o participante da pesquisa optou pela entrevista presencial, a

pesquisadora foi ao seu encontro, em horário acordado por ambos. O tempo estimado de

duração para a entrevista foi de 30 minutos. Tal entrevista foi realizada, de forma anônima e

voluntária.

Os dados coletados em áudio foram transcritos e analisados, sendo apresentados

recortes na respectiva análise de resultados.

3.2. Análise de Dados

A análise de dados constitui-se em uma etapa de grande relevância para o

pesquisador, principalmente em uma pesquisa de natureza qualitativa que visa compreender

os fenômenos investigados a partir de uma análise profunda e criteriosa da informação obtida,

na qual não se tem intenção de testar hipóteses para comprová-las ou refutá-las. A intenção ao

adotar tal metodologia é compreender e reconstruir os conhecimentos existentes sobre o tema

investigado (MORAES, 2003; MORAES; GALIAZZI, 2016).

As análises textuais têm sido crescentemente empregadas em pesquisas

qualitativas. Sua matéria prima é constituída essencialmente de produções textuais. Os textos

que constituem o corpus37

da análise podem tanto ser produzidos especialmente para a

pesquisa (transcrição de entrevistas, registros de observações) quanto podem ser documentos

já existentes (MORAES, 2003).

Para interpretação dos dados, empregamos a análise textual discursiva (ATD), que

é caracterizada como uma abordagem de análise de dados intermediária da análise de

conteúdo e de discurso, constituída por três elementos: unitarização, categorização e

comunicação. A linguagem desempenha um papel central na ATD. É através dela que o

pesquisador pode inserir-se no movimento da compreensão, de construção e reconstrução das

realidades. A linguagem constrói e amplia os campos de consciência pessoais, entrelaçando-

os com os de outros sujeitos, sempre a partir dos contextos que investiga (MORAES, 2003;

MORAES; GALIAZZI, 2016).

A organização da abordagem da ATD envolve:

1. Unitarização: consiste na desmontagem do texto do corpus para a

categorização. Ou seja, investigação dos dados esmiuçados, fragmentando-os no sentido de

atingir unidades constituintes, enunciados referentes aos fenômenos estudados.

37

Conjunto que representa as informações da pesquisa, define-se uma amostra a partir de um conjunto maior de

textos (MORAES, 2003).

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67

2. Categorização: neste processo se constrói relações entre as unidades,

combinando-as e classificando-as no sentido de compreender como esses elementos unitários

podem ser reunidos na formação de conjuntos mais complexos, podendo gerar vários níveis

de categorias de análise (MORAES; GALIAZZI, 2016).

3. Captação do novo emergente: a intensa impregnação nos dados da análise

estimulada pelas duas etapas anteriores propicia o aparecimento de uma compreensão

renovada do todo. O investimento na comunicação dessa nova compreensão, assim como de

sua crítica e validação, compõe o último elemento do ciclo de análise proposto. O metatexto

resultante desse processo evidencia a compreensão que se obteve como produto de uma nova

combinação dos elementos construídos ao longo do processo de análise (MORAES, 2003).

O ciclo de análise descrito, composto de elementos racionalizados e planejados,

em seu todo consiste um processo auto-organizado do qual emergem novas compreensões. Os

resultados finais podem ser criativos e originais. Mesmo assim é primordial o esforço de

preparação e impregnação para que a emergência do novo possa se concretizar (MORAES,

2003). A ATD é uma ferramenta aberta, demandando dos usuários aprender a conviver com

uma abordagem que exige constantemente a (re) construção de caminhos (MORAES;

GALIAZZI, 2016).

Neste contexto, entendemos que a ATD tem no exercício da escrita seu

fundamento enquanto ferramenta mediadora na produção de significados e por isso, em

processos recursivos, a análise se desloca do empírico para a abstração teórica, que só pode

ser alcançada se o pesquisador fizer um movimento intenso de interpretação e produção de

argumentos.

O corpus da ATD representa as informações da pesquisa para a obtenção de

resultados válidos e confiáveis, desta maneira demanda uma delimitação rigorosa. Nesse

contexto, delimitamos o corpus de nossa pesquisa, de acordo com a tabela 4.

Tabela 4. Corpus da pesquisa.

Corpus da Pesquisa Interlocutores/Documentos

Produções Nacionais

267 Trabalhos – Google Acadêmico

39 Trabalhos – Catálogo de e Teses de dissertações da CAPES

43 Artigos – Periódicos CAPES

Espaços Educativos 28 Instituições

Entrevistas

03 Professores de Química do ensino médio regular

02 Professores Pesquisadores

03 Professores de sala de recursos

Ao delimitar o corpus de nossa pesquisa e de posse dos materiais a serem

analisados, iniciamos o ciclo de análise, por meio do processo de desconstrução e unitarização

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68

do corpus. Nesse processo de desconstrução, as unidades de análise foram identificadas com

base nos propósitos da pesquisa, cada unidade constitui um elemento pertinente ao fenômeno

que está sendo investigado.

A unitarização é um processo que produz desordem a partir de um conjunto de

textos ordenados. Unitarizar é interpretar e isolar ideias elementares de sentido sobre os temas

investigados. Constitui leitura cautelosa de vozes de outros sujeitos, processo no qual o

pesquisador assume suas interpretações (MORAES; GALIAZZI, 2016).

Após o processo de desconstrução e unitarização do texto, foi realizada a segunda

etapa do ciclo da análise, que consiste na categorização das unidades anteriormente

constituídas. A elaboração das categorias foi realizada através do método indutivo, a partir das

unidades de significado, que provêm das construções teóricas que são produzidas a partir da

análise do corpus. Tal processo se configura na construção de categorias emergentes.

(MORAES; GALIAZZI, 2016).

Na terceira e última etapa do ciclo da ATD com a nossa impregnação nos

materiais de análise, nos possibilitará uma nova compreensão, a partir de uma recombinação

dos dados, que é apontada através da construção dos metatextos.

Com a descrição das ATD, buscamos detalhar a forma como realizamos a análise

dos dados de nossa pesquisa, com intuito de estudar e analisar as questões de nossa pesquisa.

Dando continuidade, apresentamos na sequência os dados obtidos.

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69

CAPÍTULO 4.

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.1. Pesquisa bibliográfica e documental

Como indicado no Capítulo 3, a pesquisa bibliográfica e documental foi restrita a

produção nacional em português, pois buscamos simular possíveis estratégias de pesquisa de

um professor brasileiro. Os dados foram coletados, a partir do uso de palavras de busca, nas

seguintes fontes: o site de buscas Google Acadêmico; o catálogo de Teses e Dissertações da

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES e a base de

periódicos da CAPES.

Diante disso, as produções foram categorizadas a partir de seus títulos e resumos,

de acordo com alguns critérios, como: ano de publicação, instituição, região de origem e

principais conteúdos de ensino abordados. As informações obtidas através da categorização

serão apresentadas em tabelas e gráficos, buscando subsidiar a elaboração do panorama das

produções de Ensino de Química para pessoas com deficiência visual no Brasil.

Todo processo de busca foi repetido por 3 vezes, para tentar evitar que qualquer

dado ficasse excluído. Para realizar comparações, identificar eventuais diferenças ou

repetições, foi realizado o cruzamento dos dados obtidos nas 3 fontes pesquisadas (Figura 10),

por meio de análise de planilhas de Excel.

Figura 10. Diagrama ilustrativo de cruzamento de dados das fontes pesquisadas. Fonte: Elaboração Própria.

O levantamento quantitativo de produções e espaços educativos está disposto em

forma de tabelas e gráficos. Os resultados foram analisados e, assim, apresentadas as

tendências e contribuições encontradas na pesquisa.

Google Acadêmico

Periódicos Teses e

Dissetações

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70

4.1.1 Google Acadêmico (GA)

4.1.1.1 Dados quantitativos

Nesta base de dados, foram encontradas 267 produções, divididas de acordo com

a Figura 11.

Figura 11. Composição dos dados obtidos na fonte Google Acadêmico. Fonte: Elaboração Própria.

A maior parte das produções encontradas no Google acadêmico foi de trabalhos e

resumos de eventos, como congressos, encontro de Ensino de Química, seminários, dentre

outros. Isso pode indicar certa urgência para desenvolver e compartilhar alternativas para o

Ensino de Química para pessoas com deficiência visual, sendo que os autores buscam

compartilhar suas produções entre professores, escola e comunidade nesses eventos. Em

termos numéricos, essas produções superam os artigos encontrados no Portal CAPES, o que

pode sugerir menor enfoque metodológico de pesquisa na atuação dos grupos que

desenvolvem alternativas para o Ensino de Química para pessoas com deficiência visual.

Apesar de delimitarmos ao período de 1996 a 2018, foram encontradas produções

apenas a partir de 2002, como indicado na Tabela 5. O crescimento do número de trabalhos

nesse período é perceptível, conforme ilustra a Figura 12. Esse resultado pode ser atribuído às

52 Artigos

72 trabalhos completos

76 resumos

24 monografias

5 teses

37 dissertações

1 guia de proposta

pedagógica

GA

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71

dificuldades de um sistema educacional, que persistem há décadas. São necessárias

modificações para superar falhas dos métodos tradicionais e adaptações à realidade social

vivenciada pelos estudantes. É necessário que as políticas públicas venham ser executadas

efetivamente, saindo do âmbito de documentos normativos para a formação de professores e

prática escolar. Os dados da Tabela 5 indicam que se trata de um processo lento e gradativo

em nosso país.

Tabela 5. Dados sobre produções de Ensino de Química para pessoas com deficiência visual encontradas via

Google Acadêmico.

Ano Número de produções Predominância de Região

2002 1 Sudeste

2003 1 Sudeste

2004 2 Centro-Oeste/Sudeste

2005 2 Nordeste/Sudeste

2006 1 Nordeste

2007 0 -

2008 4 Centro-Oeste

2009 2 Centro-Oeste/Sudeste

2010 15 Centro-Oeste

2011 9 Centro-Oeste

2012 26 Nordeste

2013 16 Sul

2014 38 Sudeste

2015 20 Nordeste

2016 56 Sul

2017 39 Sudeste

2018 35 Sudeste

TOTAL 267

Fonte: Elaboração Própria.

Figura 12. Evolução do número de produções no Ensino de Química para pessoas com deficiência visual,

encontradas via Google acadêmico. Fonte: Elaboração Própria.

1 1 2 2 1 0 4

2

15

9

26

16

38

20

56

39 35

0

10

20

30

40

50

60

20

02

20

03

20

04

20

05

20

06

20

07

20

08

20

09

20

10

20

11

20

12

20

13

20

14

20

15

20

16

20

17

20

18

mer

o d

e P

rod

uçõ

es

Ano

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72

Na figura 12, identificamos que números mais expressivos de produção nos anos

pares, provavelmente devido a eventos como o Encontro Nacional de Ensino de Química

(ENEQ38

), que é um evento da Divisão de Ensino da Sociedade Brasileira de Química (SBQ).

Destacou-se também o número de produções do ano de 2017, o que pode ser atribuído à

realização do Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências (ENPEC), um evento

bienal promovido pela Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências

(ABRAPEC)39

. Nesse contexto, é perceptível o crescimento de debates e reflexão sobre o

Ensino de Química a pessoas com deficiência visual.

Através dos dados ilustrados na Figura 13, identificamos que a região Sudeste

apresentou maior número de produções no Google Acadêmico com 74 produções. E no

período de 2002 a 2018, apresentou uma constância na produção relativa ao tema, que pode

ser explicada pela concentração de centros de pesquisas na região. Em seguida, aparecem as

regiões: Sul (58), Nordeste (55), Centro-Oeste (54) e o Norte (26).

Figura 13. Distribuição de produções sobre Ensino de Química para pessoas com deficiência visual pelas

regiões brasileiras, encontradas via Google Acadêmico. Fonte: Elaboração Própria.

Na tentativa de compreender o desenvolvimento da pesquisa sobre o Ensino de

Química a estudantes com deficiência visual, trazemos a categorização realizada para

obtenção dos focos temáticos mais estudados.

4.1.1.2 Categorização

Apresentamos os resultados de nossa investigação, sendo que as unidades de

significado criadas, a partir da análise dos textos lidos, foram agrupadas em 7 categorias,

conforme descrito na Tabela 6. Destacamos, contudo, que cada produção pode transitar por

38

https://www.eneq2018noacre.com.br/conteudo/view?ID_CONTEUDO=383 39

http://www.abrapecnet.org.br/enpec/xii-enpec/.

Norte

26

Nordeste

55

Centro-

Oeste

54

Sudeste

74

Sul

58

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73

mais de uma categoria em função das unidades de sentido que possam ter emergido dela e,

por isso, a soma de categorias não representa o total de produções.

Tabela 6. Categorias e suas distribuições entre as produções encontradas – Google Acadêmico.

Categorias Número de produções dos quais emergiram unidades

de significado que foram incluídas na categoria

Material didático 133

Formação de professores 46

Prática pedagógica 40

Revisão bibliográfica 24

Tecnologia Assistiva 24

Concepções de professores 12

Percepção de alunos 2

Fonte: Elaboração Própria.

Conforme podemos verificar, as produções estão concentradas em maior

quantidade na categoria: Material didático. Justificamos esses resultados com o apontamento

de Melo (2013) que enfatizou que os materiais didáticos adaptados existentes ainda são

poucos e, por vezes, os professores não sabem utilizá-los. Ou seja, o enfoque em produções

sobre Material didático parece vir suprir a falta de materiais inclusivos, a necessidade de

compartilhar os materiais desenvolvidos e de orientar os professores.

Analisando os dados, podemos concordar com Menezes (2017) ao ressaltar que a

pesquisa no Ensino de Química com relação à educação inclusiva tem contribuído para a

produção de materiais didáticos, pois houve um crescimento de pesquisa nessa temática

(Tabela 6). Dessa forma, a pesquisa em Ensino de Química pode promover mudanças no

processo de ensino e aprendizagem, propiciando aos professores de Química possibilidade de

adquirir uma nova visão do seu papel na sala de aula, frente ao desafio de ensinar pessoas

com deficiência visual.

Em contrapartida, Marques (2018) destacou que apesar de contribuições

significativas para o Ensino de Química inclusivo na Educação Básica, como a criação da

Grafia Química Braille, outros materiais didáticos ainda são escassos. Isso reforça a

necessidade de avançar nesse aspecto tanto com novos conhecimentos provenientes de

pesquisas acadêmicas, quanto com a elaboração de novos materiais e equipamentos para a

utilização em sala de aula.

Consideramos que o aumento de produções referente a materiais didáticos seja um

dado positivo, já que a elaboração de materiais adaptados para o Ensino de Química a

estudantes com deficiência visual é uma estratégia crucial e necessária para a educação

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74

inclusiva, pois materiais didáticos atuam como facilitadores no processo de ensino e

aprendizagem de conceitos, juntamente, com a mediação do professor. Por outro lado,

destacamos que a quantidade de produções, pode não refletir sua aplicabilidade em sala de

aula, pois isso requer senso crítico e analítico do professor para evitar conceitos equivocados

sem fugir do propósito de ensinar Química de forma inclusiva.

Outro dado a destacar, na Tabela 6, é o baixo número de produções (2) voltadas

para o entendimento das percepções dos estudantes com deficiência visual no processo de

ensino de Química. Nesse contexto, retomamos as ideias de Vygotski (2008) e Paula (2015)

ao considerarmos que as necessidades e percepções de estudantes com deficiência visual

precisam ser compreendidas sob a perspectiva de atendimento do indivíduo no processo

ensino e aprendizagem. É essencial que professores tenham capacidade para compreender o

seus estudantes e interpretar suas necessidades, que podem envolver as escolhas e os níveis de

adaptação de materiais didáticos definidos, a partir da análise das necessidades individuais,

faixa etária, preferências, interesses e habilidades desses estudantes.

Continuando nossa discussão, analisamos as produções da categoria Material

didático. Unidades de significado emergiram e foram agrupadas em 16 subcategorias, que

sugerem a variabilidade de assuntos discutidos nesse foco temático (Tabela 7).

Tabela 7. Subcategorias encontradas em categoria material didático – Google Acadêmico.

SUBCATEGORIA Número de produções dos quais emergiram unidades de

significado que foram incluídas na subcategoria

Tabela Periódica 30

Braille 23

Modelo atômico 22

Modelo molecular 20

Experimentação 17

Jogos 15

Tecnologia Assistiva 13

Representação 6

Material alternativo 5

Solução 4

Ácidos e Bases 3

Audiodescrição 2

Revisão bibliográfica 2

Metodologia 2

Entrevista 1

Estados físicos 1

Fonte: Elaboração Própria.

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75

Na análise desses dados, identificamos predominância da subcategoria: Tabela

Periódica, conforme ilustrado na Figura 1440

. Esta predominância pode ser entendida a partir

do que foi apontado por autores como Gomes e colaboradores (2018) que consideram a

classificação periódica dos elementos como uma das maiores e mais fundamentais

generalizações científicas. Sua abordagem é relevante, pois, desde a sua concretização, a

tabela periódica orienta pesquisas em Química, tendo-se tornado um valioso instrumento

didático no ensino da Química (TOLENTINO; ROCHA FILHO; CHAGAS, 1997), embora

em nossa opinião, nem sempre com o devido enfoque.

Figura 14. Representação da obtenção de dados do Google Acadêmico. Fonte: Elaboração Própria.

Para corroborar com o exposto, apresentamos Brito (2006), enfatizando a

importância de pesquisar o tema Tabela Periódica em seu trabalho:

Optamos por escolher a lei periódica dos elementos com o sistema Braille

para os deficientes visuais pelo fato de ser a Tabela Periódica

indiscutivelmente o conceito mais iminente da Química, tanto do ponto de

vista teórico quanto prático. Além do mais, ela está presente no dia a dia de

alunos e professores de Química, sobretudo como fonte primordial ao

desenvolvimento de novas linhas de pesquisa nessa área, para alunos do

Ensino Médio, Graduação e Pós Graduação (BRITO, 2006, p. 53).

O termo Tabela Periódica está relacionado com a periodicidade, que consiste na

repetição das propriedades dos elementos químicos de cada grupo. O estudo da tabela

periódica pode contribuir para a compreensão de diversos aspectos relacionados com os

40

Cada produção pode transitar por mais de uma categoria em função das unidades de sentido que possam ter

emergido dela. Por isso, as quantidades apresentadas para categorias e subcategorias não representam o total de

produções.

267

PRODUÇÕES

133

CATEGORIA MATERIAL DIDÁTICO

30

SUBCATEGORIA

TABELA PERIÓDICA

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76

elementos químicos, as propriedades periódicas, o conceito de átomo e das transformações

químicas das substâncias. Entretanto, os estudantes (com e sem deficiência visual)

demonstram dificuldades de compreensão nesse conteúdo, pois a abordagem da Tabela

Periódica no Ensino de Química vem privilegiando aspectos teóricos, de forma tão complexa

que os tornam abstratos para os estudantes (BRITO, 2006; FERNANDES; PATROCÍNIO;

FREITAS-REIS, 2018).

Diante desse contexto, pesquisadores e professores têm a necessidade de adotar

uma abordagem crítica para tratar do conteúdo de Tabela Periódica ministrado para pessoas

com e sem deficiência visual, sendo que para esses últimos podem ser utilizadas estratégias

como: transcrições em Braille (BRITO, 2006; MASSON et al., 2016; CHAVES et al., 2017);

uso de material alternativo como areia, E.V.A, tinta, cola e barbante (BRITO, 2006; COLETI,

2013; BASTOS, 2016); e utilização de áudio (BASTOS, 2016; GOMES et al., 2018); dentre

outras adaptações.

Nessa perspectiva, Freitas-Reis e colaboradores (2017) defenderam que os

materiais criados e validados por uma pessoa com deficiência visual, podem representar um

recurso didático significativo para professores que possuem, em suas turmas, estudante com

deficiência visual. Ressaltamos a importância de materiais didáticos, como as tabelas

periódicas inclusivas, passarem por um processo de validação, sendo testadas com estudantes

com deficiência visual, para avaliar sua viabilidade de uso em sala de aula.

Melo (2013), também, contribui ao enfatizar a importância de parceria do

profissional especializado com o professor de Química em sala de aula para organizar,

planejar e desenvolver materiais didáticos. O professor de Química precisa identificar as

possíveis alternativas e parcerias para atingir o propósito de desenvolvimento de aula

inclusiva.

Ao desenvolver tabelas periódicas inclusivas, diversos autores (BASTOS, 2016;

MASSON et al., 2016; CHAVES et al., 2017; GOMES et al., 2018) identificaram que as

adaptações e proposições realizadas, como forma alternativa ao ensino da tabela periódica,

podem alcançar êxito e demonstram que a inclusão no ensino regular é viável, desde que

sejam consideradas as características dos estudantes e aplicados os recursos pedagógicos

adequados. A expectativa é de que estudantes com e sem deficiência visual possam aprender

em conjunto, utilizando o mesmo material didático, pois assim tende‐se a diminuir o

preconceito e as diferenças em sala de aula.

Dando continuidade a apresentação e discussão dos resultados obtidos,

apresentamos os dados referentes ao Catálogo de Teses e Dissertações.

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77

4.1.2 Catálogo de Teses e Dissertações

4.1.2.1 Dados quantitativos

Nesta base, foram encontradas 39 produções abordando o Ensino de Química para

pessoas com deficiência visual, sendo 34 dissertações e 5 teses. A quantidade de dissertações

foi menor em relação ao do Google Acadêmico, possivelmente devido à tardia inserção dos

trabalhos na plataforma Catálogo de Teses e Dissertações. Encontramos produções apenas a

partir de 2009, embora o levantamento tenha sido realizado no período de 1996 a 2018. Os

dados obitidos estão descritos na Tabela 8 e ilustrados na Figura 15.

Tabela 8. Dados de teses e dissertações sobre Ensino de Química para pessoas com deficiência visual

encontrados no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES.

Ano Número de produções Predominância de Região

2002 0 -

2003 0 -

2004 0 -

2005 0 -

2006 0 -

2007 0 -

2008 0 -

2009 1 Sudeste

2010 2 Centro-Oeste

2011 2 Centro-Oeste

2012 3 Centro-Oeste

2013 3 Sudeste

2014 7 Centro-oeste

2015 3 Sul

2016 2 Nordeste/Sudeste

2017 9 Sudeste

2018 7 Sudeste

TOTAL 39

Fonte: Elaboração Própria.

Figura 15. Evolução do número de teses e dissertações sobre Ensino de Química envolvendo pessoas com

deficiência visual, encontradas no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES. Fonte: Elaboração Própria.

0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1

2 2 3 3

7

3 2

9

7

0

2

4

6

8

10

20

02

20

03

20

04

20

05

20

06

20

07

20

08

20

06

20

07

20

08

20

09

20

10

20

11

20

12

20

13

20

14

20

15

20

16

20

17

20

18

Qu

an

tid

ad

e

Ano

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78

Na figura 15, identificamos que os anos 2014, 2017 e 2018 tiveram os maiores

número de produções. Inferimos que ao aumentar o interesse e discussão pela temática, foram

realizados projetos e trabalhos que culminaram em dissertações e teses.

Em relação à predominância por região, novamente a Região Sudeste concentra o

maior número teses e dissertações encontradas: 16. Tal resultado está em concordância com

os resultados obtidos a partir do Google Acadêmico, provavelmente devido à existência de

grande número de centros de pesquisa de referência na região. Na sequência, aparecem a

Região Centro-Oeste (11), Sul (5), Nordeste (5) e Norte (2), conforme ilustrado na Figura 16.

Figura 16. Distribuição de teses e dissertações de Ensino de Química envolvendo pessoas com deficiência visual

nas regiões brasileiras, encontradas no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES. Fonte: Elaboração Própria.

Nesse contexto, seguimos com a categorização dos dados para obtenção dos focos

temáticos mais encontrados no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES.

4.1.2.2 Categorização

Apresentamos os resultados referentes às teses e dissertações, sendo que as

unidades de significado criadas a partir da análise dos textos lidos foram agrupadas em 6

categorias, descritas na Tabela 9. Destacamos, contudo, que cada produção pode transitar por

mais de uma categoria em função das unidades de sentido que possam ter emergido dela.

Dessa forma, a soma de categorias não representa o total de produções.

Norte

2

Nordeste

5

Centro-Oeste

11

Sudeste

16

Sul

5

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79

Tabela 9. Categorias e suas distribuições entre as produções encontradas no Catálogo de Teses e Dissertações da

CAPES.

Categorias Número de produções dos quais emergiram

unidades de significado incluídas na categoria

Formação de professores 15

Material didático 13

Prática pedagógica 7

Tecnologia Assistiva 3

Revisão bibliográfica 1

Concepções de professores 1

Fonte: Elaboração Própria.

É possível notar que as teses e dissertações estão concentradas em sua maioria na

categoria: Formação de professores, e principalmente no ano de 2018. O Apêndice 3 traz

dados de todas as teses e dissertações dessa categoria.

Consideramos a formação inicial ou continuada de professores, no Ensino de

Química inclusivo, um tema de extrema relevância. Field’s (2014) destacou que todos os

profissionais da educação presentes no ambiente escolar precisam se envolver nas mudanças

da Escola, não apenas profissionais ligados à Educação Especial, mas todos os demais

professores para que busquem transformar suas atividades em práticas de inclusão. Para isso,

é muito importante que aconteçam momentos de reflexões entre todos os envolvidos no

processo de ensino e aprendizagem.

Nesse contexto, a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da

Educação Inclusiva (BRASIL, 2008) aborda a importância da formação do professor

contemplar conhecimentos específicos para atuar na educação especial:

Para atuar na educação especial, o professor deve ter como base da sua

formação, inicial e continuada, conhecimentos gerais para o exercício da

docência e conhecimentos específicos da área. Essa formação possibilita a

sua atuação no atendimento educacional especializado, aprofunda o caráter

interativo e interdisciplinar da atuação nas salas comuns do ensino regular,

nas salas de recursos, nos centros de atendimento educacional especializado,

nos núcleos de acessibilidade das instituições de educação superior [...].

(BRASIL, 2008, p. 13).

Nessa perspectiva, referente ao Ensino de Química Inclusivo, Paula (2015)

afirma:

[...] Consideramos como providência a ser adotada a aplicação das

estratégias do Plano Nacional da Educação, desenvolvidas para atingir a

meta referente à Educação Inclusiva [...], que envolvem aspectos relativos à

garantia de atendimento inclusivo em todos os níveis e modalidades de

educação, e investimentos na pesquisa e na formação de professores

(PAULA, 2015, p.74).

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Apontamos a necessidade de formar o professor para ensinar estudantes com as

diferentes necessidades individuais, de modo que o profissional analise suas condições de

trabalho e experiências. Como a inclusão não ocorre, simplesmente, por decretos e leis, é

fundamental repensar a formação de professores.

Nesse mesmo sentido, Bohnert (2017) destacou que, apesar dos direitos da pessoa

com deficiência estarem previstos em vários dispositivos da legislação brasileira, como a

Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), a Lei de Diretrizes e bases (LDB), além da

Lei Brasileira de Inclusão (LBI), garantias, reconhecimento e aceitação ainda não estão

consolidados em muitos espaços, inclusive no espaço educacional.

Menezes (2017) corrobora esta ideia ao afirmar que as transformações da escola

acontecerão quando houver uma reestruturação na formação de professores e de suas práticas,

compatíveis com o que é discutido nas políticas públicas de inclusão, para que possam

reconhecer e aceitar a diversidade, superando os desafios da inclusão.

Diante dessas considerações, percebemos que as pesquisas voltadas para formação

de professores no Ensino Inclusivo de Química estão embasadas nas mudanças de políticas

públicas nacionais, devido à obrigatoriedade de pessoas com deficiência visual estudarem em

escolas de ensino regular. Isso demanda que pesquisadores compreendam esse universo e

contribuam para uma educação de qualidade a todos com urgência.

Para melhor compreensão do tema abordado, foram analisados os textos da

categoria Formação de Professores e emergiram 5 subcategorias indicadas na Tabela 10 e

ilustradas na Figura 17.

Tabela 10. Subcategorias e suas distribuições entre as produções encontradas no Catálogo de Teses e

Dissertações da CAPES.

Subcategorias Número de produções dos quais emergiram

unidades de significado incluídas na categoria

Formação inicial 10

Formação continuada 8

Ações formativas 5

Ações colaborativas 3

Saberes docentes 3

Fonte: Elaboração Própria.

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81

Figura 17. Representação da obtenção de dados do Catálogo de Teses e Dissertações. Fonte: Elaboração

Própria.

Dos resultados que emergiram, identificamos a predominância de produções

voltadas para a formação inicial (10) e formação continuada (8).

A formação de professores para o Ensino de Química inclusivo e a realidade nas

escolas tem sido tema bastante discutido pelos pesquisadores da área (FRANÇA, 2018).

Relembramos, ainda, que o censo da educação básica de 2016 revelou a existência de 76.470

de estudantes com deficiência visual matriculados em escolas regulares (BRASIL, 2017).

Esses dados indicam a importância do debate sobre a formação do professor e do

desenvolvimento de estudos, que visam responder questionamentos, obter conhecimentos e

compreensão numa perspectiva teórica e prática.

Concordamos com Molena (2018) ao afirmar que o professor tem um papel

relevante para alcançar os objetivos do processo de ensino e aprendizagem, já que ele também

é um mediador do conhecimento científico, com grande responsabilidade na adaptação

metodológica para atender às necessidades dos estudantes.

Entendemos que, no paradigma da inclusão, a educação pode ser reestruturada a

partir da formação de professores, que são os agentes que podem atuar efetivamente na

reorganização da escola buscando condições para o acesso e a permanência de todos nas

classes regulares. Visando contribuir para a melhoria da formação docente, as perspectivas

atuais tendem a incorporar a ideia do professor reflexivo e pesquisador de sua própria prática,

como condições para o desenvolvimento profissional e a melhoria de sua ação docente

(BENITE, 2011; NÓVOA, 1992).

39

PRODUÇÕES

15

CATEGORIA

FORMAÇÃO DE PROFESSORES

10 + 8

SUBCATEGORIAS

Formação inicial

+

Formação continuada

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Dentre as Teses e Dissertações relacionadas com formação de professores

(Apêndice 3), identificamos pesquisas que demonstraram diferentes formas de desenvolver a

formação docente: ações entre redes colaborativas (BENITE, 2011; MELO, 2013; FRANÇA,

2018); saberes docentes e identificação de necessidades formativas para a inclusão (FIELD’S,

2014; PAULA, 2015); percepções de professores (MOLENA, 2018); cursos de extensão

(ALVES, 2018; SILVA, 2018) e criação de website (SIMÕES, 2018).

Trazemos algumas informações sobre algumas dessas pesquisas, com foco nos

principais aspectos e sem a pretensão de aprofundar discussões sobre os trabalhos.

Benite (2011), em sua investigação, contribuiu para a compreensão da utilização

de redes de pesquisa como espaços de reflexão crítica, para elaboração de intervenções na

ação pedagógica e o estudo da formação de professores de Química no âmbito da inclusão

escolar. Participaram da investigação cinco professores formadores, oito pós-graduandos,

treze graduandos e doze professores da educação básica, além de licenciandos de quatro

instituições de ensino superior, todos do Estado de Goiás. Os resultados permitiram identificar

os processos por meio dos quais os participantes se apropriam de linguagens sociais relativas

à ação pedagógica voltada ao Ensino de Química numa perspectiva inclusiva, quando

mediadas por professores mais experientes, visando o entendimento mútuo dos envolvidos.

Ou seja, a aprendizagem ocorre a partir das interações sociais entre pares com conhecimentos

diferenciados. Neste caso, os diferentes participantes atuaram como vozes que forneceram

para os sujeitos possibilidades variadas de construção de conhecimento. Textos, palestras,

discussões, exemplos e a própria ação constituiram um conjunto de opções para os sujeitos

desta investigação.

Através desse trabalho, podemos refletir sobre a importância de recursos que

viabilizem o debate e a reflexão e que contribuam para a formação inicial e continuada do

professor de Química. Vale destacar que o autor tratou as interações sociais entre pares de

conhecimentos distintos, as quais podem proporcionar desenvolvimento e aprendizagem de

todos, conforme defendido por Vygotski (2008).

Neste contexto, vale comentar sobre o trabalho de Melo (2013), que propôs ações

colaborativas entre uma professora de Química e uma professora da Educação Especial de

uma escola onde havia o atendimento a alunos com deficiência visual de primeiro ano do

ensino médio, no interior paulista. O trabalho visou contribuir com a formação continuada dos

profissionais em seu contexto de trabalho. Os resultados mostraram que a parceria da

professora de Química com a professora de Educação Especial foi positiva, resultando na

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83

adaptação de materiais para intervenção em sala de aula que contribuiram para melhores notas

nas avaliações dos estudantes com deficiência visual. Na aplicação das avaliações bimestrais,

foi identificado que ainda existem algumas barreiras a serem transpostas, tanto pela escola

quanto pelos estudantes com deficiência visual.

Destacamos a importância de desenvolvimento de ações colaborativas, pois

permitem compreender a globalidade do sujeito, assumindo a formação como um processo

interativo e dinâmico. A troca de experiências e de saberes consolidam ambientes de

formação mútua, nos quais cada professor é convidado a exercer, simultaneamente, o papel de

formador e de formando (NÓVOA, 1992).

França (2018), também, estudou as contribuições da parceria colaborativa

universidade/escola como proposta formativa de professores para a inclusão escolar. A

pesquisa ocorreu em um Centro de Apoio a pessoas com deficiência visual por meio do

atendimento educacional especializado, envolvendo um professor formador, uma professora

de apoio, uma professora em formação continuada (pós-graduação) e cinco licenciandos em

química, além de estudantes com deficiência visual da educação básica. Os resultados

apontaram que a formação de professores, em parcerias colaborativas com instituições de

ensino, pode ser uma alternativa para aprimorar o ensino inclusivo nas salas de aulas

regulares. A autora assumiu a reflexão teórica da prática no Atendimento Educacional

Especializado como alternativa para a construção de conhecimentos necessários à formação

do professor.

Nóvoa (1992) defende que o diálogo entre os professores é determinante para

consolidar saberes emergentes da prática profissional. Nesse contexto, reforçamos a ideia de

que é crucial haver o compartilhamento de experiências de formação, realizadas entre

universidades e escolas, na busca do apriomoramento da qualificação profissional para as

necessidades da sociedade.

Continuando a abordagem de trabalhos de pós-graduação sobre a formação de

professores para o Ensino de Química a pessoas com deficiência visual, citamos Field’s

(2014) que contribuiu na elaboração de uma disciplina para licenciandos em Química e no

acompanhamento de estágios supervisionados no Centro Brasileiro de Reabilitação e Apoio

ao Deficiente Visual (CEBRAV). Essa pesquisa permitiu investigar a mobilização e a

construção de saberes docentes voltados à formação inicial de professores de Química para a

inclusão escolar. Os participantes desta investigação foram os estudantes da disciplina e os

estagiários do curso de Licenciatura em Química. Os resultados obtidos indicaram que os

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estudantes se apropriaram das discussões promovidas nos grupos, mediante a reflexão pelo

confronto do que a legislação prevê com a realidade das escolas públicas do estado de Goiás.

A autora defendeu a participação de futuros professores em pesquisas na área de educação

inclusiva, para compreensão das diversidades e dos dilemas do contexto escolar.

Diante do exposto, podemos inferir que a formação de professores não se constrói

por acumulação (de cursos, de conhecimentos ou de técnicas), mas sim através de um trabalho

reflexivo e crítico sobre suas práticas.

Autores como Paula (2015) auxiliam-nos a refletir sobre as necessidades

formativas que precisam ser abordadas durante a formação inicial, para contemplar o Ensino

de Química a pessoas com deficiência visual. Algumas necessidades foram abordadas com

mais detalhes no capítulo 2. Entretanto, relembramos que a pesquisa de Paula (2015)

apresentou que a formação de professores de Química voltada à temática inclusiva deve

proporcionar aos licenciandos subsídios para a organização do currículo, a proposta de

metodologias e formas diversificadas de avaliação dos estudantes com deficiência visual, o

desenvolvimento de comunicação adequada para atingir o público alvo e que considere as

características dos estudantes, a fim de que a compreensão dos conceitos científicos não seja

vinculada a referenciais visuais. A autora destaca que esses são aspectos básicos que devem

estar presentes na formação de professores de Química, para proporcionar aos estudantes com

deficiência visual acesso ao conhecimento e condições igualitárias de participação e

aprendizado.

Entendemos que o professor de Química estará preparado adequadamente para

promover a inclusão na sala de aula ao minimizar as necessidades formativas e ao se apropriar

de saberes docentes voltados ao Ensino de Química para pessoas com deficiência visual, em

processos de formação inicial e continuada.

Seguindo a análise de desenvolvimento de pesquisas sobre a formação de

professores, apresentamos Molena (2018), que buscou identificar as percepções de

licenciandos em Química e professores de Química em exercício no ensino médio regular

sobre o processo de conceitualização em Química por parte dos alunos com deficiência visual.

Os resultados indicaram que a maioria dos participantes compreendeu ser possível ensinar

conceitos e fenômenos químicos a alunos com deficiência visual, mas apontaram dificuldades

que perpassam esse processo, como: necessidade da formação docente, elaboração de recursos

especiais, metodologias adaptadas às necessidades, condições de trabalho docente, adaptações

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85

experimentais e aplicação dos 3 níveis de abordagem do Ensino de Química (teórico,

fenomenológico e representacional).

Na formação inicial, aprender conceitos relevantes para a Educação Inclusiva

pode contribuir para que o professor de Química tenha consciência de sua atuação na sala de

aula e de que as diferenças não podem ser negligenciadas para promover o ensino e

aprendizagem de todos os estudantes (com e sem deficiência visual).

Trazemos o trabalho de Silva (2018), que propôs práticas pedagógicas específicas

para aperfeiçoar a formação inicial de professores de Química no que diz respeito à educação

inclusiva de pessoas com deficiência visual. Foram investigadas questões sobre educação

inclusiva entre um grupo de docentes dos cursos de Licenciatura em Química de dois campi

de um Instituto Federal e de uma Universidade Federal. Foram desenvolvidas atividades de

produção de materiais didáticos inclusivos para capacitação pedagógica. Um evento de

extensão voltado para professores em formação nos níveis de graduação e pós-graduação,

tendo Ensino de Química para estudantes com deficiência visual como tema, foi promovido e

avaliado. Buscando refletir sobre o impacto do desenvolvimento dessas atividades na

formação inicial específica de futuros professores de Química. O autor defendeu ter

incentivado os sujeitos participantes, tanto licenciandos quanto professores, para a melhoria

da qualidade na formação inicial de professores de Química.

Ressaltamos que é determinante propiciar aos licenciandos em Química o

desenvolvimento de práticas pedagógicas em sua formação, e assim, promover contribuições

para uma educação de qualidade. Ou seja, é necessário avançar na preparação de futuros

profissionais no sentido de criarem uma postura inclusiva, que pode fazer a diferença na

prática cotidiana no ambiente escolar.

Alves (2018) corrobora essas ideias ao apontar que apenas reflexões teóricas não

são suficientes para romper com o processo de exclusão. A formação inicial precisa incentivar

atividades práticas entre os licenciandos e alunos com deficiência visual. Esse convívio

permite que o futuro professor reveja suas concepções, possibilitando a reformulação de seus

conceitos sobre a deficiência visual e preparando-o para ensinar uma pessoa com deficiência

visual.

Simões (2018) apresentou um website como ferramenta de apoio para professores

de Química na elaboração de planejamentos, utilizando recursos didáticos no Ensino de

Química para alunos com deficiência visual. O autor buscou contribuir para difundir o acesso

do docente a materiais pedagógicos que possam minimizar as barreiras existentes entre

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estudantes com e sem deficiência visual. No site, professores podem ter acesso a diferentes

recursos didáticos, tais como: a grafia química Braille, artigos que descrevem os processos de

elaboração e construção de tabelas periódicas, modelos atômicos, geometrias moleculares,

dentre outros. Há também acesso a guias de apoio para os professores e de especialista no

atendimento de alunos com deficiência visual nas classes de ensino regular. Foi constatado

que as principais dificuldades do Ensino de Química em turmas com estudante com

deficiência visual estão relacionadas à capacitação dos professores e profissionais de apoio,

assim como a escassez e dificuldade de localização de materiais didáticos inclusivos.

De acordo com que foi exposto nos trabalhos abordados, podemos inferir que as

discussões em nível de teses e dissertações brasileiras envolvem a análise de vivências e

saberes dos professores formadores, professores em formação, professores de ensino médio

regular e relações com estudantes com deficiência visual. Os trabalhos desenvolvidos

demonstram que professores e pesquisadores estão buscando entender as necessidades

especiais de estudantes com deficiência visual e realizar a inclusão em sala de aula. Isso

sugere que haverá mais embasamento teórico e prático para atingirmos uma educação

inclusiva neste contexto.

Destacamos, ainda, que apesar da discussão sobre a formação de professores para

o Ensino de Química a pessoas com deficiência visual progredir nos últimos anos, ainda há

muito por fazer. Há questões a serem superadas no que diz respeito à efetiva formação

acadêmica e capacitação dos professores, ao acesso e à elaboração de materiais didáticos

adaptados, às inter-relações de instituições para o indispensável compartilhamento de

vivências e estudos, e para a divulgação de pesquisas e projetos que envolvam a educação

básica e a educação superior. É fundamental prosseguir e fomentar a trajetória com debates,

reflexões, pesquisa teórica, pesquisa em campo para tentar compreender e entender as

demandas dos estudantes e dos professores.

Partimos para a análise e discussões dos resultados obtidos a parrtir da base de

Periódicos da CAPES.

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87

4.1.3 Base de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior – CAPES

4.1.3.1 Dados quantitativos

No portal CAPES, foram encontrados 43 artigos que abordam o Ensino de

Química a pessoas com deficiência visual. Em termos numéricos, essas produções não

superam os artigos encontrados no Google Acadêmico, o que pode ser justificado pelo maior

enfoque metodológico de pesquisa exigido para o portal CAPES, ou pela tardia inserção de

artigos ao banco de dados estudado.

Apesar de delimitarmos ao período de 1996 a 2018, foram encontrados artigos

apenas a partir de 2008, como indicado na Tabela 11.

Notamos que a pesquisa sobre o Ensino de Química para pessoas com deficiência

visual vêm crescendo ao longo dos anos, como indica a variação do número de publicações

recentes, principalmente a partir de 2013, conforme ilustrado na Figura 18.

Ao analisar os dados, identificamos que o maior número de artigos (14) foi

produzido na Região Sudeste, como ilustra a Figura 19, provavelmente devido à existência de

grande número de centros de pesquisa desta região. Esse resultado também foi observado com

os dados obtidos no Google Acadêmico.

Tabela 11. Dados de artigos brasileiros de Ensino de Química envolvendo pessoas com deficiência visual

encontrados no portal CAPES.

Ano Número de produções Predominância de Região/ano

2002 0 -

2003 0 -

2004 0 -

2005 0 -

2006 0 -

2007 0 -

2008 1 Sudeste

2009 1 Centro-Oeste

2010 1 Centro-Oeste

2011 0 -

2012 0 -

2013 4 Norte/Nordeste/Centro-

Oeste/Sul

2014 3 Nordeste/Centro-Oeste/Sul

2015 4 Sudeste

2016 11 Sul

2017 8 Sudeste/Sul

2018 10 Sudeste

TOTAL 43

Fonte: Elaboração Própria.

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88

Figura 18. Evolução do número de artigos sobre o Ensino de Química envolvendo pessoas com deficiência

visual, encontradas no Portal CAPES. Fonte: Elaboração Própria.

Figura 19. Distribuição do número de artigos sobre Ensino de Química envolvendo pessoas com deficiência

visual nas regiões brasileiras, encontrados no portal CAPES. Fonte: Elaboração Própria.

Nesse contexto, seguiremos com a categorização realizada para obtenção dos

focos temáticos encontrados nos periódicos do portal da CAPES.

4.1.3.2 Categorização

Apresentamos os resultados de nossa investigação referentes aos periódicos,

sendo que as unidades de significado criadas a partir da análise dos textos lidos foram

agrupadas em 6 categorias, conforme descrito na tabela 12. Destacamos, contudo, que cada

produção pode transitar por mais de uma categoria em função das unidades de sentido que

possam ter emergido dela e, por isso, a soma de categorias não representa o total de

produções.

0 0 0 0 0 0 1 1 1

0 0

4 3

4

11

8

10

0

2

4

6

8

10

12

20

02

20

03

20

04

20

05

20

06

20

07

20

08

20

09

20

10

20

11

20

12

20

13

20

14

20

15

20

16

20

17

20

18

Qu

an

tid

ad

e

Ano

Norte

3

Nordeste

8

Centro-

Oeste

7 Sudeste

14

Sul

11

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Tabela 12. Categorias e suas distribuições entre as produções encontradas – Periódico da CAPES.

Categorias Número de produções dos quais emergiram

unidades de significado incluídas na categoria

Material didático 16

Formação de professores 10

Prática Pedagógica 7

Tecnologia Assistiva 4

Revisão bibliográfica 4

Concepções de professores 4

Fonte: Elaboração Própria.

Verificamos que a maioria dos artigos está na categoria material didático, análogo

ao resultado do Google acadêmico. Conforme já discutido nessa dissertação, entendemos que

o aumento de trabalhos abordando material didático é devido ao contexto da sociedade

brasileira: existência de leis inclusivas; necessidade gerada nas escolas, com o aumento de

matrículas de estudantes com deficiência visual; e inexperiência de professores para elaborar

materiais/recursos em atendimento às demandas do público-alvo.

Relembramos que o uso de materiais adaptados oferece ao estudante com

deficiência visual vias de ensino que não exploram o aspecto visual. Quando a utilização da

Grafia Braille não é suficiente para a representação e apreensão de conhecimentos científicos,

os conceitos podem ser ensinados através de modelos, maquetes, gráficos em relevo e

experimentos adaptados. O manuseio de material adaptado possibilita ao estudante com

deficiência visual compreender através do tato e outros sentidos, que podem servir como

referenciais para construção de imagens mentais (RAPOSO; MÓL, 2010; RAZUCK;

GUIMARÃES, 2014).

Concordamos com Fochesato e Guimarães (2017) quando afirmam que ainda há

um grande percurso para o desenvolvimento de materiais didáticos inclusivos. Existe,

também, a necessidade de pesquisar quais recursos e estratégias podem ser mais eficientes

para o ensino de um conteúdo químico específico, a fim de nortear os educadores e propiciar a

inclusão de estudantes que possuem deficiência visual.

Para melhor compreensão dos temas abordados nos trabalhos encontrados no

levantamento dos dados, foram criadas subcategorias descritas na Tabela 13. Identificamos

que a subcategoria que mais emergiu na análise foi Tabela Periódica, como destacado na

Figura 20. Tal resultado foi similar ao apresentado na análise do Google Acadêmico,

demonstrando coerência nos dados.

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Tabela 13. Subcategorias que emergiram da categoria Material didático – Periódico da CAPES.

Subcategorias Número de produções dos quais emergiram

unidades de significado incluídas na subcategoria

Tabela Periódica 5

Braille 4

Modelo atômico 3

Experimentação 3

Tecnologia Assistiva 3

Modelo molecular 1

Jogo 1

Fonte: Elaboração Própria.

Figura 20. Representação da obtenção de dados de Periódicos - Portal CAPES. Fonte: Elaboração Própria.

A classificação periódica dos elementos surgiu de uma base experimental e

passou por etapas que promoveram o despertar da curiosidade científica. Confirmada depois

por fatos que lhe deram um apoio definitivo, revelou-se importante para conhecimento

humano, sendo aplicada no Ensino de Química (TOLENTINO; ROCHA FILHO; CHAGAS,

1997). No entanto, Fernandes, Patrocínio e Freitas-Reis (2018) apontam que o estudo da

Tabela Periódica é um conteúdo desafiador para o professor de Química, pelas dificuldades

que os estudantes (com e sem deficiência) apresentam em compreender propriedades

periódicas e aperiódicas.

Identificamos que os artigos encontrados sobre a tabela periódica

adaptada/inclusiva, no Portal de periódicos CAPES, visam apresentar, principalmente,

alternativas de desenvolvimento, adaptação e validação (Figura 21).

43

PRODUÇÕES

16

CATEGORIA

MATERIAL

DIDÁTICO

5

SUBCATEGORIA

TABELA

PERIÓDICA

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Dessa forma, o trabalho de Masson41

e colaboradores (2016), desenvolvido no

Instituto de Estudos Avançados Pólo São Carlos da USP, visou atingir um âmbito social,

colocando em prática o objetivo proposto pelo movimento da inclusão, na tentativa de igualar

o ensino para alunos com ou sem deficiência visual. O foco não foi apenas desenvolver o

material didático inclusivo para o Ensino de Química, mas buscou proporcionar melhorias no

trabalho do professor e a aproximá-lo a seus estudantes.

Figura 21. (a) Elementos químicos escritos em Braille; (b) Etapa de validação com pessoa com deficiência

visual. Fonte: Masson e colaboradores (2016).

No trabalho de Bastos (2016), foi realizada a apresentação de uma Tabela

Periódica construída a partir das premissas do desenho universal da aprendizagem. A autora

discutiu os procedimentos a serem adotados na construção da tabela periódica inclusiva.

Abordou sobre os conceitos teóricos do desenho universal e a questão de tornar a tabela

acessível não apenas para estudantes com deficiência visual, mas também a estudantes sem e

com outras deficiências.

A construção e adaptação da tabela envolveu a participação de estudantes com

deficiência visual. As etapas consistiram em adaptação tátil, ampliação da fonte, transcrição

em Braille; caixas de referências com objetos representativos dos elementos químicos e

verbetes químicos (pequenos textos explicativos para cada elemento). Na validação, a Tabela

Periódica foi considerada mediadora do processo de ensino e aprendizagem, por se constituir

a partir do reconhecimento dos estilos cognitivos de seus usuários e permitir o acesso à

informação.

Ressaltamos que as adaptações não podem tratar o conteúdo escolar de forma

reducionista, para tentar evitar prejuizo à aprendizagem dos estudantes. Dentre os cuidados no

desenvolvimento da tabela, Bastos (2016) citou o domínio do conteúdo específico a ser

ensinado, que deve ser apresentado ao estudante com deficiência visual com o mesmo grau de

41

Verificar página 55.

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aprofundamento que é apresentado aos demais, sendo que o uso de recursos táteis devem

representar de maneira confiável os conceitos a serem ensinados.

Nessa perspectiva, apresentamos o estudo de Bastos, Dantas e Teixeira (2017),

que investigaram o potencial mediador de recursos alternativos, produzidos para o ensino da

tabela periódica, para alunos com deficiência visual. A Tabela Periódica foi aplicada a

estudantes com deficiência visual de uma escola estadual gaúcha. Participaram do projeto:

três estudantes cegos, a professora do atendimento educacional especializado, a professora

responsável pela pesquisa e 2 estudantes pibidianos do curso em Licenciatura em Química.

A Tabela foi produzida em lona, como ilustrado na Figura 22. Os elementos

químicos foram representados em três conjuntos: metais, não metais e gases nobres. Cada

família recebeu uma cor (pista visual) e uma marca tátil (pista tátil), representativas das

características de seus elementos. As cores/marcas táteis utilizadas no recurso para dar

acessibilidade, foram escolhidas a partir das relações atribuídas pelos estudantes, entre os

conhecimentos científicos, provenientes da química e, os conceitos espontâneos, provenientes

de suas vivências.

Os recursos foram construídos a partir das premissas do desenho universal da

aprendizagem, da neurociência aplicada à educação e da temática da educação especial, tendo

sido aplicados e avaliados por estudantes com deficiência visual. Na avaliação, foi verificada

a adequação dos materiais com relação à discriminação tátil e visual; a facilidade de

manuseio; a portabilidade; a segurança; o grau de fidelidade dos materiais com relação aos

conceitos científicos e o potencial mediador com relação aos objetivos de ensino. Os

resultados da aplicação demonstraram viabilidade do ensino de conceitos químicos de

natureza visual vinculados a tabela periódica para alunos com deficiência visual, mediante a

garantia de recursos acessíveis e as características dos estudantes.

Figura 22. Tabela Periódica Acessível produzida em lona. Fonte: Bastos, Dantas e Teixeira (2017).

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93

Gomes e colaboradores (2018) apresentaram o desenvolvimento de uma Tabela

Periódica Interativa (TPI) com áudio para utilização como material didático para ensinar

Química a alunos com deficiência visual, que frequentam escolas de ensino regular.

Adaptações para possibilitar a utilização do recurso para os estudantes com deficiência visual

foram feitas, tais como: desenvolvimento de software para reproduzir os áudios referentes a

cada elemento químico dos Grupos e/ou Famílias e teclado com os símbolos dos elementos

transcritos na simbologia Braille (Figura 23).

Figura 23. Tabela Periódica Interativa. Fonte: Gomes e colaboradores (2018).

O teclado de computador foi a base da tabela, suas teclas foram adaptadas para

representar os elementos químicos, como indicado na Figura 24. As peças foram adesivadas

com material colante e, em seguida, foram adaptadas com a escrita em Braille, feita com cola.

Os áudios, gravados e inseridos no software, descrevendo o nome e o símbolo do elemento,

sua massa e número atômico, a família e o período, além de outras informações, como as

características físicas do elemento e exemplos de seu uso.

Figura 24. Teclas adaptadas para tabela periódica interativa. Fonte: Gomes e colaboradores (2018).

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94

Nessa perspectiva, Gomes e colaboradores (2018) destacam que no

desenvolvimento da TPI, evidenciou-se a importância da elaboração de novos recursos

didáticos que conciliem conteúdo curricular, tecnologia e baixo custo, para favorecer o ensino

de Química a estudantes com deficiência visual. Professores e estudantes que participaram da

pesquisa reconheceram as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) como

ferramentas didáticas que precisam ser mais inseridas nas salas de aula, para fomentar a

participação e aprendizado dos estudantes.

Seguindo uma abordagem diferenciada, Fernandes, Patrocínio e Freitas-Reis

(2018) divulgaram a experiência da confecção de uma Tabela Periódica adaptada para o

Braille, aplicada em aulas de química junto a dois estudantes com deficiência visual,

valorizando a história da descoberta dos elementos químicos e de sua organização até a tabela

atual. Os autores ressaltaram que as abordagens da História da Ciência favoreceram a

participação ativa dos estudantes com deficiência visual em sua aprendizagem, já que a

estratégia privilegiou a imaginação e construção de um raciocínio lógico independente de

aspectos visuais. Entendemos que a História da Ciência, quando abordada considerando

contexto científico, religioso, econômico e social em que o conhecimento foi desenvolvido,

contribui para apresentar a natureza da produção do conhecimento cientifico.

Na Tabela desenvolvida, foram apresentadas as informações, como: número

atômico, número de massa e nome do elemento em Braille (Figura 25). Além disso, foram

utilizadas diferentes texturas de fundo para diferenciar os metais dos ametais e gases nobres.

Essas informações também foram colocadas visualmente tornando a tabela acessível a todos

os estudantes. (FERNANDES; PATROCÍNIO; FREITAS-REIS, 2018).

Figura 25. Tabela Periódica adaptada para o Braille. Fonte: Fernandes, Patrocínio e Freitas-Reis (2018).

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95

Nesse contexto, compreendemos que tabelas periódicas adaptadas para o ensino a

pessoas com deficiência visual favorecem a aprendizagem e resultados ainda melhores podem

ser alcançados ao se relacionar o conteúdo com História da Ciência. Aliada aos materiais e ao

contexto histórico, a mediação do professor é indispensável para que os estudantes (com e

sem deficiência visual) aprendam.

Os artigos destacados indicam que existem diversas possibilidades e vários

recursos que o professor pode utilizar para tratar da tabela periódica com estudantes com

deficiência visual. O professor deve avaliar as especificidades de seus alunos, ter acesso aos

recursos, conhecer e dominar o conteúdo para fazer a melhor opção para sua prática.

Cabe destacar que consideramos haver poucas publicações (Portal de periódicos

da CAPES) a respeito do tema exposto. Em contrapartida, reconhecemos que os estudos

desenvolvidos são pertinentes e podem inspirar o desenvolvimento e/ou aprimoramento de

novas abordagens. Compreendemos que a pesquisa sobre o Ensino de Química a pessoas com

deficiência visual vem progredindo gradativamente e há potencial para que se promova

educação inclusiva.

Dando continuidade a análise e discussão dos resultados, trazemos os dados sobre

os Espaços Educativos.

4.1.4. Espaços Educativos

Na investigação sobre Espaços Educativos42

, foram encontrados 132 grupos de

pesquisa43

que se classificavam por Ensino/Educação de Química. Analisando seus

respectivos sites e os currículos Lattes dos líderes, extraímos 28 Espaços Educativos que

desenvolveram e/ou desenvolvem atividades relacionadas ao tema “Ensino de Química a

pessoas com deficiência visual”. A Tabela 14 traz a distribuição desses espaços nas regiões do

país.

Tabela 14. Identificação de Espaços Educativos por região geográfica.

Região Espaços Educativos

Norte 1

Nordeste 5

Centro-Oeste 3

Sudeste 8

Sul 11

Fonte: Elaboração Própria.

42

Denominamos espaços educativos aos grupos de pesquisa/instituições de ensino que desenvolveram ou

desenvolvem projetos de pesquisa para o Ensino de Química a pessoas com deficiência visual. 43

Segundo diretório de grupos de pesquisa no Brasil Lattes/CNPq. Fonte: http://lattes.cnpq.br/web/dgp.

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96

Conforme ilustra a Figura 26, há núcleos de pesquisas em todo o país que

desenvolveram e/ou desenvolvem projetos de pesquisa sobre o Ensino de Química a pessoas

com deficiência visual. Destacando-se a região Sul (11) e Sudeste (8) com maior número de

núcleos de pesquisa. Nesse panorama, apesar de identificarmos a presença de espaços

educativos em todo o País, podemos considerar que os números são tímidos para a dimensão

da tarefa representada pelo Ensino de Química Inclusivo, em um país continental como o

Brasil. Mais uma vez, os dados indicam que ainda há um longo percurso a se percorrer para

expandir e descentralizar os estudos e debates dessa temática.

Figura 26. Representação de espaços educativos por região geográfica, que desenvolveram pesquisas para o

Ensino de Química para pessoas com deficiência visual. Fonte: Elaboração Própria.

Ao relacionar o levantamento de espaços educativos com o levantamento das

produções existentes por região, percebemos que embora a região Sul possua mais espaços

educativos, a região Sudeste tem maior quantitativo de produção acadêmica.

Do total de Espaços Educativos, identificamos 10 Espaços Educativos com

projetos de pesquisa em desenvolvimento. Optamos por destacar esses espaços pelas

instituições de origem, como aparece na Figura 27. Nas instituições com o símbolo asterisco

(*) foram encontrados dois pesquisadores com projetos distintos.

Norte

1

Nordeste

5

Centro – Oeste

3

Sudeste

8

Sul

11

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97

Figura 27. Estratificação de Espaços Educativos que desenvolvem projetos de pesquisa sobre o Ensino de

Química a pessoas com deficiência visual. Fonte: Elaboração Própria.

Seguimos com a categorização dos projetos de pesquisa dos 10 espaços

educativos, para obter dados sobre os trabalhos em andamento.

4.1.4.1 Categorização

Dos 10 espaços educativos selecionados, analisamos a descrição dos projetos, a

partir das informações nos currículos Lattes dos responsáveis, para apresentar algumas

características. As unidades de significado criadas a partir da análise dos textos lidos foram

agrupadas em 4 categorias, descritas na Tabela 15. Destacamos, contudo, que cada projeto

Pla

tafo

rma

L

att

es

13

2 E

spa

ços

Ed

uca

tiv

os

En

sin

o/E

du

caçã

o Q

uím

ica

28 Espaços educativos Trabalhos de Ensino

Inclusivo

10 Espaços Educativos

desenvolvendo Projetos de Pesquisa

E1 - Universidade Federal de Juiz de

Fora

E2 - Universidade Federal de Santa

Catarina

E3 - Universidade Tecnológica Federal

do Paraná*

E4 - Universidade Estadual da Paraíba

E5 - Instituto Federal de São Paulo

E6 - Universidade Federal do Paraná

E7-Universidade Federal da Bahia

E8 - Instituto Federal de Educação , Ciência e Tecnologia do Pará

E9 - Universidade Federal de Goiás*

E10 - Universidade de Brasília

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pode transitar por mais de uma categoria em função das unidades de sentido que possam ter

emergido dele, por isso a soma de categorias não representa o total de projetos.

Tabela 15. Categorias e suas distribuições entre os projetos encontrados de espaços educativos.

Categorias Número de projetos dos quais emergiram

unidades de significado incluídas na categoria

Material didático 5

Formação de professores 4

Experimentação 3

Prática pedagógica 3

Fonte: Elaboração Própria.

Buscando extrair alguma interpretação da categorização apresentada, percebemos

que as palavras que definem estes espaços educativos, quando o assunto é Ensino de Química

para pessoas com deficiência visual, são: material didático, formação de professores,

experimentação e prática pedagógica. Nesse contexto, observamos a predominância da

categoria material didático, conforme ilustra a Figura 28. Esse resultado concorda com o que

já obtivemos a partir dos levantamentos das produções do Google Acadêmico e no Portal de

Periódicos CAPES, sendo que as demais categorias também são semelhantes, indicando que

as discussões nos espaços educativos seguem as mesmas tendências.

Figura 28. Representação da estratificação de dados de Espaços Educativos. Fonte: Elaboração Própria.

Esta análise sugere que os espaços educativos buscam apresentar aos professores,

em formação inicial e/ou continuada, os materiais didáticos disponíveis que podem auxiliar o

aprendizado de estudantes com deficiência visual e prováveis estratégias de ensino. Neste

contexto, destacamos a descrição de projeto do E344

, que buscou:

Possibilitar melhorias no Ensino de Química para alunos com deficiência

visual, utilizando materiais didáticos próprios para esse público, a fim de

44

Retirado de currículo Lattes de pesquisador do Espaço Educativo 3: http://lattes.cnpq.br/3622391715613904

132

GRUPOS ENSINO/EDUCAÇÃO

QUÍMICA

10

ESPAÇOS EDUCATIVOS

PESQUISA ATUAL

5

CATEGORIA

MATERIAL DIDÁTICO

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99

facilitar o cotidiano desses alunos a partir da identificação de produtos

químicos por meio de experiências sensoriais (PROJETO E3).

Nessa perspectiva, Fiscarelli (2007) defende que o material didático consiste em

um objeto a ser utilizado em sala de aula, como forma de instrumentalizar o processo de

ensino e aprendizagem. Ou seja, é facilitador da aprendizagem e promove a fixação do

conhecimento, auxiliando o professor e o estudante. Essa questão vem em concordância com

Vygotski (1997), que define os instrumentos de mediação como objetos construídos com uma

função: ser um objeto social e mediador da relação entre o indivíduo e o mundo.

Compartilhamos dessa ideia, uma vez que um material didático pode proporcionar

uma participação mais ativa e dinâmica do estudante em sala de aula. O material didático

pode ser ferramenta para orientar o estudante, com e sem deficiência visual, à compreensão da

teoria com a prática, contribuindo para a formação cidadã.

Notamos que os espaços educativos destacam que o conhecimento, a utilização

dos recursos educacionais, a tecnologia assistiva, os materiais didáticos adaptados e as

metodologias desenvolvidas favorecem o Ensino de Química inclusivo e possibilitam acesso

ao conhecimento a estudantes com deficiência visual. Nessa direção, a descrição de projeto do

E945

nos diz que:

A proposta é desenvolver experimentos com o auxílio da tecnologia assistiva

que possibilitem aos futuros professores se apropriarem de conhecimentos

necessários para sua formação no âmbito da inclusão escolar e,

consequentemente, reflitam nas suas ações contribuindo para o

desenvolvimento de metodologias de ensino variadas e factíveis envolvendo

a participação efetiva de todos os alunos, incluindo aqueles com

necessidades educativas especiais [...] (PROJETO E9).

Para Corrêa (2018), apoiar-se nas tecnologias educacionais é uma alternativa de

aproximar disciplinas consideradas complexas e com linguagens específicas, como a

Química, para uma linguagem do cotidiano dos estudantes. No ensino inclusivo,

consideramos pertinente o uso de tecnologias educacionais, não apenas para o estudante, mas

no preparo do professor para o ensino.

Notamos, ainda, na análise de informações coletadas que há um entrelaçamento

entre a abordagem sobre materiais didáticos e a formação de professores de Química, no

âmbito do ensino a pessoas com deficiência visual. Conforme o exposto, os Espaços

Educativos relacionaram o desenvolvimento de materiais didáticos e a formação do docente:

45

Retirado de currículo Lattes de pesquisador do Espaço Educativo 9: http://lattes.cnpq.br/9059906601238363

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100

A metodologia e/ou material didático a ser produzido neste projeto poderá

ser empregada tanto para o Ensino de Química aos alunos com DV, como

também nas aulas do curso de Licenciatura em Química nos tópicos

relacionados à formação do professor para a educação inclusiva (PROJETO

E5)46

.

[...] Criamos estratégias de Ensino de Química, com práticas de ensino

diferenciadas que atendam às peculiaridades de ser cego, tendo como parte

integrante e ativa da pesquisa o sujeito aprendiz com cegueira. Objetiva-se

também, contribuir com a formação de professores da educação básica que

buscam se especializar, na tentativa de fazer uma real inclusão do cego em

sala de aula, fomentando a importância de respeitar e incentivar o aluno

diferente no ambiente da escola [...] (PROJETO E1)47

.

Esses trechos indicam que os materiais didáticos são importantes à prática

docente, com o que concordamos. No entanto, materiais didáticos sem a mediação do

professor perdem sua funcionalidade. Por isso, há inquietação para uma melhor formação do

professor de Química para a educação inclusiva. O professor tem papel determinante no

processo de ensino e aprendizagem.

Para Gonçalves, Regiani e Batista (2016) um dos desafios do Ensino de Química é

avançar nos processos formativos para professores de Química, contemplando o estudo do

ensino para pessoas com deficiência visual. Defendem, ainda, que tais processos sejam

acompanhados de investigações que colaborem para a construção de um quadro teórico em

torno do assunto.

Schuindt, Matos e Silva (2016) destacam que houve um aumento de estudantes de

graduação e professores de ensino médio e superior envolvidos em trabalhos relacionados à

Educação Química Inclusiva. Isso evidencia que vem ocorrendo interação universidade-

escola, com o indispensável diálogo entre a pesquisa científica e a prática de sala de aula,

levando-nos a inferir que o tema se encontra em crescimento e expansão. Tal crescimento

também pode ser reflexo do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência

(PIBID), que expande os campos de interesse na formação de professores a partir das relações

estabelecidas entre universidade e escola, com a inserção dos licenciandos no contexto escolar

e o estímulo ao desenvolvimento de pesquisa. Isto aparece em um dos projetos do E9:

Este projeto de pesquisa busca, no âmbito da formação inicial e continuada

de professores de ciências, desenvolver estratégias e metodologias de ensino

orientadas para a educação especial em parceria entre a universidade e a

Secretaria de Educação de Goiás visando à reflexão sobre a prática e a

autoformação docente por meio da pesquisa (PROJETO E9).

46

Descrição retirada de currículo Lattes de pesquisador do Espaço Educativo 5:

http://lattes.cnpq.br/6012628866857551 47 Descrição retirada de currículo Lattes de pesquisador do Espaço Educativo 1:

http://lattes.cnpq.br/1467344879836529

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101

Nas características identificadas nos projetos de pesquisa, notamos certa

inquietação sobre como professores e estudantes estão no “modelo” de escola inclusiva; há

propostas de adaptações e estudos para que todos os sujeitos integrem o espaço de ensino e de

aprendizagem. Ressaltamos a importância que os materiais didáticos assumem na prática

docente e o papel que desempenham na conquista da autonomia do estudante com deficiência

visual. Entendemos que a utilização de metodologias adaptadas são estratégias que

contribuem na construção das relações de inclusão, além de promoverem a capacitação dos

professores e funcionários de espaços educativos. Torna-se, também, necessária a formação

de professores que faça com que se considerem capazes diante de situações que exijam

habilidades e conhecimentos específicos para inclusão.

Para finalizar a análise de resultados, apresentamos as informações obtidas a partir

das entrevistas de pessoas envolvidas em ações e desenvolvimento de materiais para o ensino

e aprendizagem de pessoas com deficiência visual.

4.1.5. Entrevistas

Nesta dissertação, procuramos encontrar algumas características do Ensino de

Química para pessoas com deficiência visual no Brasil. Para isso, mapeamos as produções

existentes, os espaços educativos ativos e, por fim, não menos importante, investigamos os

olhares de pessoas envolvidas no processo de ensino e aprendizagem de Química para pessoas

com deficiência visual.

Entrevistamos 8 voluntários, sendo: 3 professores de Química do ensino médio

regular, 2 pesquisadores e 3 professores de sala de recursos. Tais voluntários residem nas

regiões: Centro-Oeste, Sudeste e Sul (Tabela 16). A transcrição das entrevistas está

apresentada no Apêndice 4. Recortes das entrevistas são apresentados e discutidos na

sequência.

Tabela 16. Perfil dos entrevistados por região.

Entrevistado Atuação Região

1 Professor de Química do ensino

médio regular

Sudeste

2 Professor de Química do ensino

médio regular

Sudeste

3 Professor de Química do ensino

médio regular

Sudeste

4 Pesquisador Sudeste

5 Pesquisador Sul

6 Professor de sala de recursos Centro-Oeste

7 Professor de sala de recursos Sudeste

8 Professor de sala de recursos Sudeste

Fonte: Elaboração Própria.

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102

Para ilustrar os enfoques e os encaminhamentos das discussões, os desafios e as

potencialidades do processo da inclusão, bem como a importância desta temática no

desenvolvimento do Ensino de Química, apresentamos trechos de discursos dos participantes,

quando abordados sobre cada uma das 8 questões do roteiro da entrevista disponível no

Apêndice 1:

1. A frequência na utilização de recursos ou tecnologias que contribuem para

proporcionar ou ampliar habilidades de pessoas com alguma deficiência para aprender

Química.

Os professores de ensino regular apontaram algumas dificuldades, como a falta de

recursos e tecnologias. No entanto, os entrevistados apontaram disponibilidade e tentativas

para minimizar barreiras no ensino:

Infelizmente, não possuímos recursos e nem tecnologias para aprendizagem

em Química, a dificuldade é muito grande. Sempre que possível eu faço

adaptações com materiais como: pedra, barbante, etc (ENTREVISTADO 1).

Sempre que possível tento facilitar o aprendizado desses alunos, sendo

através de materiais didáticos adaptados ou programas disponíveis na

internet que faça audiodescrição (ENTREVISTADO 2).

Utilizo com grande frequência a apostila da secretária da educação do estado

de São Paulo, onde ela traz alguns roteiros simplificados e questões que

envolvem o cotidiano (ENTREVISTADO 3).

Os pesquisadores indicam uso de recursos e tecnologias em fases de estudos, já

que não atuam diretamente ensinando alunos com deficiência visual:

Quando trabalhei no mestrado com alunos cegos, eu usei bastante

(ENTREVISTADO 4).

No momento não estou dando aulas para deficientes visuais, apenas

investigando estes e seus professores na pesquisa de mestrado em ensino de

ciências e matemática (ENTREVISTADO 5).

Já os professores de sala de recursos, devido às atribuições específicas de suas

atividades escolares, indicaram uso frequente de materiais para o Ensino de Química a

pessoas com deficiência visual:

Em meu trabalho, como professor de Química e transcritor Braille, utilizo

com muita frequência, diariamente, um recurso tecnológico específico, o

programa Braille Fácil. Este programa permite representar a linguagem

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103

Química (fórmulas, equações, símbolos) para o Braille. E ainda, representar

estruturas das moléculas no plano (ENTREVISTADO 648

).

Todo o tempo a gente está interagindo. Adaptamos diariamente materiais,

conforme solicitação do professor de ensino regular. Aqui a gente utiliza

tudo, lixa, áspera, mais macia [...]. Têm professores que fazem parte do

material e só pedem ajuda. Outros solicitam para nós fazermos todas as

adaptações. Nós temos um email, o professor já manda nesse email os

materiais que precisam ser produzidos em Braille para o aluno.

Tem um professor de Química que manda bastante material mesmo. Tem

muito material bom de Química sendo produzido. Nós fizemos muito

material, inclusive na impressora Braille. Nós podemos fazer alguns

desenhos, utilizando o programa Braille Fácil e o desenho sai em alto relevo!

Mas, produzimos o material e entregamos para o professor, não ficamos com

os materiais (ENTREVISTADO 7).

Frequentemente, porque os alunos que acompanhamos vêm com muita

atividade de Química. Eu aprendi a usar a impressora Braille. A gente tira

um tempo para fazer isso... O professor precisa mandar com antecedência

para fazermos as adaptações dos materiais, fazer na hora não tem como.

Apesar, de disponibilizarmos a sala de recursos, ainda tem muito professor

que desconhece ou não quer utilizá-la. (ENTREVISTADO 8).

Cada um dos três grupos de professores (Ensino Regular, Pesquisadores e Sala de

Recursos) tem uma relação própria com estudantes com deficiência visual e o uso de recursos

ou tecnologias para ensino e aprendizagem. Foi perceptível que o grupo professores de ensino

regular, apesar de estar em sala de aula com pessoas com deficiência visual, não está

totalmente preparado (com instrumentos e base teórica) para lecionar de maneira inclusiva.

Por outro lado, os pesquisadores podem ter um embasamento teórico, mas não convivem com

pessoas com deficiência visual. Em contrapartida, os professores de sala de recursos, como

era esperado, parecem ter muitas contribuições para o Ensino de Química, pois, interagem

com os estudantes com deficiência visual e possuem recursos para adaptar materiais. As falas

dos entrevistados 7 e 8, demonstram que já existem interações entre as escolas e os centros de

AEE, mas destacaram que muitos professores ainda desconhecem a possibilidade de ter

acesso a sala de recursos.

Esse contexto remete, mais uma vez, à necessidade de estabelecer/expandir a

interação universidade-escola-sala de recursos, em benefício do ensino de Química a pessoas

com deficiência visual. Relembramos que esses dados não objetivam generalizar a realidade

brasileira, no entanto, sugerem reflexões sobre o cenário atual. Nessa direção, Benite e

colaboradores (2014) destacaram que o estabelecimento de diálogo entre professores (em

48

O entrevistado 6, além de ser professor de sala de recursos, é Licenciado em Química. Os demais professores

de sala de recursos são da área de Pedagogia e Letras.

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104

diferentes níveis) é relevante na mobilização de saberes docentes, pois permite ampliar a

compreensão de questões pedagógicas envolvidas com o Ensino de Química para pessoas

com deficiência visual, por meio da interação com professores capacitados, numa perspectiva

mais ampla da situação. Também concordamos com Paula (2015) que aponta que estabelecer

parcerias entre Universidade, Escolas, Secretarias de Educação e Centros de AEE, propicia o

necessário diálogo entre as diferentes esferas, promovendo novas compreensões da educação

inclusiva e a formação docente, com vistas à formação de profissionais mais habilitados.

Continuando nossa análise, partimos para a questão sobre o acesso as produções e

propostas.

2. Acesso às produções e propostas para Ensino de Química a pessoas com deficiência

visual.

Entre os professores de ensino regular, foi perceptível a dificuldade em procurar e

encontrar produções e propostas de ensino. Parece faltar um caminho metodológico definido

para obter seus materiais, como indicam suas falas:

Sempre consulto sites no Google e, mesmo assim, encontro muita

dificuldade (ENTREVISTADO 1).

É difícil achar um material que esteja passo a passo e, até mesmo, que

compartilhe os arquivos. Então, acabo produzindo materiais para esses

alunos (ENTREVISTADO 2).

Tenho uma aluna com dificuldades de visão, usa óculos de grande vergência.

Porém, ela realiza as atividades propostas sem dificuldades em relação a sua

baixa visão. Também não recebi nenhum material específico para trabalhar

com alunos com essas características (ENTREVISTADO 3).

Ressaltamos que o professor deve se conscientizar de que em sua sala de aula

pode haver estudante(s) com deficiência visual e, que por isso, necessita de recursos e

mudanças de atitudes ao explicar o conteúdo. Ou seja, saber identificar o nível de

desenvolvimento cognitivo dos estudantes resulta em saber adequar o ensino, as metodologias

e os materiais às diferentes realidades encontradas (PIRES, 2010; RIBEIRO, 2011).

Concordamos com Paula, Guimarães e Silva (2017): a formação do professor deve suprir as

necessidades formativas de conhecer as características da deficiência que seu aluno apresenta

e saber realizar atividades comuns aos alunos com e sem deficiência visual, sendo que as

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105

especificidades de cada aluno devem ser consideradas pelos professores no planejamento de

suas atividades.

Por outro lado, os pesquisadores entrevistados indicaram ter um percurso

metodológico definido para ter acesso às produções e propostas, usando bases de dados de

fontes científicas e instituições renomadas:

Eu acesso via internet, através de produções do IBC (Instituto Benjamin

Constant), por periódicos e publicações, teses, dissertações, seminários,

encontros temáticos, etc (ENTREVISTADO 4).

Meu acesso é via internet, em artigos publicados e nas oficinas e cursos

oferecidos pela escola especial Louis Braille em Pelotas (ENTREVISTADO

5).

Isso também apareceu entre professores de sala de recursos que destacaram outro

ponto importante: a troca de experiências com outros profissionais, conforme aparece nos

fragmentos a seguir:

Por meio da leitura de artigos científicos de Química, publicados pelo

Instituto Benjamin Constant. Ainda, em publicações da Química Nova na

Escola e Encontros de Química; uma vez que, o Ensino de Química para

pessoas com deficiência visual, tem tido espaços para discussão e divulgação

no meio acadêmico. E também de professores de Sala de Recursos e outros

professores, que atendem alunos com deficiência visual, que me procuram

para mostrar e discutir suas adaptações de alguns conteúdos de Química e da

Grafia Química Braille (ENTREVISTADO 6).

Toda a nossa produção e material vem da secretaria de educação.

Especificamente da Química, tivemos uma orientação técnica, um encontro

para aprendermos a trabalhar com a Grafia Química Braille. A gente também

vai lendo e aprendendo por pesquisas na internet e com outros professores

(ENTREVISTADO 7).

A gente vai à pesquisa... O aluno que acompanho vem com muitas dúvidas

[...] Que nem os gráficos, aqui no Braille Fácil, até aprendi... A gente faz e

manda imprimir na impressora em Braille. Eu aprendi a mexer primeiro e

ensinei minha colega. Não é só o gráfico, tem muita coisa que podemos

adaptar... Eu pesquiso na internet ou com algum professor da área

(ENTREVISTADO 8).

As falas dos entrevistados apontam que o acesso às produções e propostas poderia

ser aprimorado por: promoção de oficinas, atividades colaborativas envolvendo a

universidade, escola e sala de recursos para favorecer construção e compartilhamento de

conhecimentos; debates para minimizar dúvidas; e elaboração de estratégias e ações para

disseminação do Ensino de Química a pessoas com deficiência visual e ações mais efetivas.

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106

Outro ponto interessante é como os entrevistados entendem que as pessoas com

deficiência visual aprendem Química.

3. Aprendizagem em Química de pessoas com deficiência visual.

Na perspectiva de professores do ensino regular, notamos opiniões que transitam

entre a falta de reflexão sobre como pessoas com deficiência visual podem aprender e o

entendimento de que é possível promover a aprendizagem desses estudantes. Nesse contexto,

foi evidenciada a falta de experiência e confiança em suas respostas, demonstrando que

existem oportunidades de aprendizado nesse sentido:

Acho que eles aprendem nada ou quase nada, pois os professores não sabem

como fazer com alunos deficientes visuais (ENTREVISTADO 1).

Tudo dependerá do professor que trabalhará com esse aluno, pode ser de

forma mecânica, através da memorização ou através do lúdico

(ENTREVISTADO 2).

Para quem não possui visão, será mais complexo, porque a química parte das

sensibilidades do ser humano para a sua compreensão, e a visão talvez seja a

mais importante ao se relacionar a experimentação ao conteúdo teórico. O

aluno, no caso, deverá “ver” o experimento acontecer, para ter significado

naquilo que lhe foi falado ou lido através de uma linguagem especifica

(ENTREVISTADO 3).

Muitos professores apenas obtêm informação e formação sobre estudantes com

deficiência visual, quando se encontram com eles na sala de aula. Os sentimentos de

ansiedade e resistência do docente para com estes discentes surgem do pouco ou nenhum

conhecimento sobre estes alunos em sua formação inicial (REGIANI; MÓL, 2013). Assim,

inferimos que os cursos de formação inicial e continuada para professores de Química

precisam estimular os professores a refletirem criticamente sobre os conhecimentos e

necessidades de estudantes com deficiência visual, para que possam atuar no processo de

ensino e aprendizagem.

Em contrapartida, os pesquisadores entrevistados apresentaram impressões mais

fundamentadas e ambos destacaram a importância da mediação do professor:

Quando conseguem ter acesso a informação e aos livros, além de quando

conseguem explicações de professores e mediadores que os deem atenção

devida (ENTREVISTADO 4).

Através da mediação didática que acontece com a interação entre professor e

aluno (ENTREVISTADO 5).

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Nesse sentido, Lippe (2010) enfatiza que o professor deve realizar ações que

contribuam para o desenvolvimento das funções psicológicas superiores de seus alunos com

deficiência visual, atuando como um mediador. Ou seja, como parceiro mais capaz, que

possibilita a realização de atividades que o aluno ainda não consegue realizar autonomamente.

Atuando desse modo, o professor contribui para o desenvolvimento potencial desses alunos,

distanciando-os de concepções errôneas.

Os professores de sala de recursos demonstram dúvidas nas respostas, destacando

que estudantes com deficiência visual aprendem com o uso de recursos e materiais adaptados:

Eis um questionamento, que ainda hoje não tenho uma resposta. Porém,

acredito, por meio da minha experiência no atendimento a alunos cegos e

com baixa visão em Sala de Recursos e no Ensino Regular, que este

aprendizado ocorra, além dos aspectos conceitual e fenomenológico, com o

contato de diversos recursos. Como, por exemplo, a Grafia Braille de

Química, modelos moleculares comerciais e adaptados, materiais táteis

(representações em relevo) de esquemas, fórmula estruturais, e gráficos

(ENTREVISTADO 6).

Será que aprendem mesmo? Na verdade, elas aprendem desde que interajam

com material tridimensional. Desde que você produza um material da melhor

forma possível e sempre com orientação, não adianta produzir um material

adaptado e entregar para o aluno. O professor de Química precisa orientá-lo

(ENTREVISTADO 7).

Eu acho que aprendem manualmente... Simplesmente a criança tem que

pegar, senão tiver o manuseio pela criança não vai entender. A participação

do professor da sala de recursos é essencial (ENTREVISTADO 8).

Nessa perspectiva dos professores de sala de recursos, Nunes e Lamônaco (2010)

contribuem ao afirmarem que usando maquetes e outros materiais táteis, vinculam-se os

significados a representações táteis e, esses significados tornam-se acessíveis aos estudantes

com deficiência visual. Corroborando com esse entendimento, Pires (2013) afirma que as

adaptações na metodologia adotada pelo docente, para estudantes com deficiência visual,

devem contemplar a percepção do ambiente por outras vias, como a audição, o tato e o olfato.

Diante do contexto, identificamos que os 3 grupos entrevistados apresentaram

olhares diferentes a como estudantes com deficiência visual podem aprender. Os professores

de ensino médio regular apresentam ainda uma visão superficial e indefinida; os

pesquisadores têm entendimento que o professor é fundamental no processo de ensino e

aprendizagem; e os professores de sala de recursos destacam a importância de materiais e

recursos adaptados. Podemos notar que suas falas convergiram para as suas vivências.

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Assim sendo, voltamos ao princípio de que medidas devem ser tomadas para

incentivar o desenvolvimento de ações de formação inicial e continuada para capacitação dos

professores, com estímulos para o compartilhamento das vivências de suas práticas em sala de

aula com outros profissionais, a fim de suprir dificuldades que surgem nesta realidade.

Continuando a nossa análise, discutimos a motivação para o desenvolvimento de

recursos didáticos para pessoas com deficiência visual, na perspectiva dos entrevistados.

4. Motivação para o desenvolvimento de recursos didáticos para ensinar pessoas com

deficiência visual.

Todos os professores demonstraram que a motivação para o desenvolvimento de

recursos, provém das dificuldades enfrentadas para ensinar Química a esse público em estudo,

devido à falta de materiais e necessidade de realizar o processo de inclusão:

Acredito que a motivação vem da vontade de ensinar (ENTREVISTADO 1).

Entendo que a motivação vem para facilitar o ensinar e o aprender, para os

alunos e para os professores (ENTREVISTADO 2).

A primícia de que todos são capazes de aprender, claro que com ambiente,

recursos e materiais adequados para cada necessidade todos poderão

aprender química e construir conceitos dentro da própria Ciência

(ENTREVISTADO 3).

A dificuldade de compreensão através do realismo das ilustrações de livros

didáticos, dos modelos do Ensino de Química, dos gráficos matemáticos,

esquemas, diagramas e por aí vai (ENTREVISTADO 4).

As dificuldades que os professores apresentam para ensinar alunos com

deficiência visual (ENTREVISTADO 5).

Nesse contexto, entendemos que a adequação dos recursos às necessidades destes

sujeitos é essencial para que os materiais sejam instrumentos adequados, deve haver

acompanhamento do professor, buscando tornar as aulas mais significativas para proporcionar

aos estudantes com deficiência visual a compreensão dos conteúdos ensinados (ARAGÃO;

SILVA, 2010). Além disso, são imprescindíveis ações capazes de orientar e qualificar os

educadores na formação de sujeitos, valorizando a diversidade e fazendo valer o sentido da

inclusão enquanto processo de reconhecimento e respeito das diferentes identidades,

aproveitando-as para beneficiar a todos (REGIANI; MÓL, 2013).

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Outro ponto destacado foi a característica do Ensino de Química que,

predominantemente, é ensinada através de aspectos visuais. Tais aspectos precisam ser

adaptados para que os estudantes com deficiência possam aprender:

Os motivos são que a Química é uma Ciência que utiliza muito “fenômenos

visuais”. Nós professores de Química, ao levantarmos exemplos cotidianos

de alguns processos químicos, remetemos a fatos que os alunos comumente

presenciam, como a coloração da chama de uma vela ou a chama de um

fogão, fumaças, mudança de cor na cor de uma roupar provocada por água

sanitária. Não, obstante, a analogia que usamos para facilitar a compreensão

em alguns modelos, é preciso ter imagens visuais para que os alunos criem

suas próprias imagens mentais (ENTREVISTADO 6).

Justamente, o fato de eles não terem nada pronto. Eles precisam desse

material adaptado. Se o professor está ensinado um determinado conteúdo e

não tem nada especifico para o estudante com deficiência visual, isso motiva

a gente a produzir esse material (ENTREVISTADO 7).

Os motivos são que os estudantes com deficiência visual têm que frequentar

a sala de recursos, porque diariamente eles trazem atividades de química e

precisam aprender (ENTREVISTADO 8).

Em concordância com as falas dos entrevistados 7 e 8, Nunes e Lamônaco (2010)

relembram a exigência legal de que o estudante com deficiência visual seja matriculado em

uma escola regular e receba o apoio de um professor especializado para assegurar o

atendimento de suas necessidades. Porém, apesar dessa obrigatoriedade legal, ainda falta

muito para que tenhamos uma sociedade alicerçada nos ideais da inclusão, disponibilizando e

mantendo recursos, serviços, materiais e equipamentos que possibilitem o acesso ao

conhecimento. Nessa direção, apontamos que, independente das diferenças de cada estudante,

todos possuem o direito a uma formação ampla, tendo as instituições de ensino o dever de

disponibilizar aos diferentes estudantes os recursos que lhes tornem o conhecimento acessível.

Seguimos, apresentando os trechos de falas dos entrevistados sobre a questão da

participação de pessoas com deficiência visual em testes de validação de materiais.

5. A colaboração/participação de pessoas com deficiência visual na elaboração e/ou

testes de propostas de Ensino de Química.

Todos os entrevistados entendem a importância da validação de materiais

adaptados e da participação de pessoas com deficiência visual nesse processo:

Acredito que a colaboração de estudantes com deficiência visual junto com o

especialista na área seria um bom começo para obtermos materiais que

atendessem as necessidades dos estudantes (ENTREVISTADO 1).

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Entendo que a participação de pessoas com deficiência visual em testes de

propostas pode ser efetiva e fico extremamente feliz por saber que

independente da “barreira”, qualquer pessoa é capaz de contribuir e aprender

(ENTREVISTADO 2).

Muito válido e importante, ter cada vez mais pessoas engajadas no

desenvolvimento de vários produtos, porque isso diminui as distâncias entre

quem tem certa limitação física, fortalecendo a inclusão (ENTREVISTADO

3).

Importantíssima. Nada para eles, sem eles. Eles nos ajudam a ajudá-los

(ENTREVISTADO 4).

A participação do aluno com deficiência visual é fundamental para a

construção da ferramenta didática e também para o processo de validação

desta ferramenta (ENTREVISTADO 5).

Considero de suma importância a participação da pessoa com deficiência

visual no envolvimento destas propostas. Pois, embora, as pesquisas na área

de Deficiência Visual no Ensino de Química tenham crescido no meio

acadêmico, essas ainda são muito escassas. Assim, entendo que o

envolvimento de uma pessoa cega, por exemplo, na avaliação de uma

adaptação de um material em relevo, será importante para que se façam as

adequações necessárias (ENTREVISTADO 6).

Considero importante. A gente sempre vai perguntando se o estudante está

entendo as propostas dos materiais [...] (ENTREVISTADO 7).

Se o aluno está frequentando (a sala de recursos) ele tem uma participação.

A participação é muito importante para ele testar... O importante é o

estudante entender (ENTREVISTADO 8).

Os três grupos de entrevistados enfatizaram que estudantes com deficiência visual

são cruciais no processo de elaboração de recursos, pois são eles que efetivamente serão

indicadores da usabilidade desses materiais.

Talvez em nenhuma outra forma de educação os recursos didáticos assumam tanta

importância como no ensino a pessoas com deficiência visual. A elaboração de materiais,

tanto quanto possível, deve ser feita com a participação do próprio estudante (CERQUEIRA;

FERREIRA, 2000). Nessa perspectiva, ressaltamos a importância de estudantes com

deficiência visual participarem ativamente no processo de construção e/ou adaptação de

recursos didáticos, pois suas percepções contribuem para a produção de recursos didáticos

mais adequados para o processo de ensino e aprendizagem.

A seguir, abordamos as dificuldades enfrentadas no Ensino de Química inclusivo.

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6. Dificuldades na elaboração ou no uso de propostas.

Ao abordar a questão sobre as dificuldades encontradas no Ensino de Química a

pessoas com deficiência visual, os professores de ensino regular indicaram as atividades

experimentais e a pouca oferta de sala de recursos:

Sinto dificuldade na adaptação de atividades realizadas em laboratório

(ENTREVISTADO 1).

O uso de experimentação é algo que me deixa sem saber como trabalhar com

os alunos com deficiência visual, aulas extremamente tradicionais também

(ENTREVISTADO 2).

Primeiramente as estruturas escolares que não oferecem sala de recursos

para estes alunos, a nível estadual não encontrei ainda nenhuma escola que

possa ter este atendimento. Nas escolas municipais existem e fazem bem o

seu uso. Porém, em Sorocaba, por exemplo, não temos ensino médio nas

escolas municipais onde seria ensinado química para esses alunos

(ENTREVISTADO 3).

Apesar dessa perspectiva dos professores de ensino regular, no decorrer desta

dissertação, abordamos a experimentação49

como algo que pode ser incorporado no Ensino de

Química a pessoas com deficiência visual. Relembramos que o professor precisa saber

vincular os conceitos químicos através de representações que não dependam estritamente da

visão. Isso demanda conhecimentos sobre o uso de metodologias que considerem a presença

do estudante e lhe permita o acesso aos diferentes níveis de conhecimentos para o Ensino de

Química (macroscópico, microscópico e representacional).

Nessa direção, os pesquisadores voltaram suas respostas para a dificuldade na

elaboração de modelos e a realização de áudio-descrição de imagens, que também recaem no

acesso e domínio dos três níveis de abordagem do conhecimento em Química (macroscópico,

microscópico e representacional):

Nas abstrações para modelos químicos mais elaborados. Os modelos táteis

são a reprodução do realismo do vidente, quando o que precisamos é de

materiais que usem o tato, sim, mas que levem ao cego pensar e abstrair e

não se prender às representações pobres que são utilizadas tradicionalmente

em livros didáticos, por exemplo (ENTREVISTADO 4).

Por enquanto não sei fazer áudio-descrição de imagens, mas pretendo fazer

um curso voltado para isto, pois acredito ser uma ferramenta importante para

o ensino de pessoa com deficiência (ENTREVISTADO 5).

49

Vide tópico 2.1.5.6 Experimentação (página 57).

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Vale ressaltar que somente a teoria não é suficiente para a formação de um

professor inclusivo, pois é preciso que a prática, a metacognição e um “enfrentamento” façam

parte de tal formação (LIMA; CASTRO, 2012).

Os professores de sala de recursos dividiram suas opiniões em adaptação de aulas

experimentais, comunicação com os professores do ensino regular e falta de conhecimento

teórico:

Uma das dificuldades, conforme disse anteriormente, são os aspectos

visuais, muito comuns nas aulas práticas, as mudanças de cor, a liberação de

gases, a formação de precipitados. Outra dificuldade é a linguagem

simbólica da Química. Assim, um grande desafio para nós professores de

Química, é adaptar tais aulas experimentais, e possibilitar que o aluno com

deficiência visual possa ter acesso a essa linguagem. Outra grande

dificuldade é interpretação de representações gráficas, como por exemplo,

gráficos de Entalpia, de velocidade de reações e de equilíbrio químico, de

decaimento radioativo, entre outros (ENTREVISTADO 6).

As maiores dificuldades estão nas barreiras de comunicação com os

professores de química. Muitos professores da rede não sabem lhe dar com

pessoas com deficiência visual. Tem toda uma área de inclusão para ajudar

os professores na rede, mas mesmo assim tem muitos professores resistentes

a inclusão.

A gente encontra muita resistência entre os professores para estar

desenvolvendo materiais adaptados. A gente não consegue entrar em

consenso com alguns professores (ENTREVISTADO 7).

Às vezes, por não ser professora de química, eu não entendo algumas coisas,

uma vez eu perdi uma semana para fazer uma fórmula [...]

(ENTREVISTADO 8).

A falta de preparo e informação dos professores sobre métodos de ensino,

materiais didáticos adaptados e a falta de comunicação entre professores e esses alunos geram

uma carência, que dificulta o acesso e a permanência do estudante com deficiência visual na

escola. Diante disso, identificamos que a necessidade formativa de saber vincular os conceitos

científicos através de representações que não dependam estritamente da visão precisa ser

suprida, para que a educação seja efetiva. Compreendemos que o problema não se resolve

com a criação de disciplinas, que só aumentaria a carga horária dos cursos de licenciatura.

Sugerimos a abordagem da inclusão em diferentes contextos de disciplinas, grupos de

extensão e nos estágios supervisionados concordando com diversos autores (RIBEIRO, 2011;

REGIANI; MÓL, 2013; PAULA, 2015).

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O penúltimo tema da entrevista envolveu o uso de estratégias diferenciadas para

ensinar Química a estudantes com deficiência visual na formação dos professores, com

discutimos na sequência.

7. O uso de Oficinas e Recursos didáticos na formação de professores.

Esta questão emergiu da necessidade formativa de professores de química de

“conhecer os recursos disponíveis que auxiliam no aprendizado de estudantes com deficiência

visual”. A grande maioria de professores, que atuam no sistema regular de ensino, não teve

acesso aos conhecimentos relativos às necessidades especiais educacionais na sua formação

inicial e, raramente, há formação continuada que visa à inclusão. Trata-se de uma falha de

formação que precisa ser resolvida, também apontada por outros autores (FERNANDES,

2012; PAULA, 2015).

Sobre essa questão, todos os professores entrevistados consideraram necessárias

oficinas e atividades de formação continuada para obterem conhecimento sobre recursos

didáticos inclusivos e adaptados:

Faz-se necessário, pois os professores não conseguem trabalhar com alunos

deficientes visuais (ENTREVISTADO 1).

Muito importante! Para aprender o que não foi aprendido na faculdade

através de disciplina de educação inclusiva. Os futuros professores que

queiram trabalhar com esses alunos necessitam se atualizar e entender que

não é só explicar o conteúdo para um aluno com deficiência visual, que ele

entenderá. Mas, existem Grafias de Braille, formas de produzir um material

e maneiras de se trabalhar com esses alunos (ENTREVISTADO 2).

Totalmente de acordo, a capacitação dos professores em si é muito rasa em

se tratando de educação pública estadual, temos as aulas pedagógicas

(ATPC), porém, pouco se trabalha essas dificuldades, até porque os próprios

coordenadores não são capacitados para estes assuntos (ENTREVISTADO

3).

Interessante, mas somente auxilia em parte do processo de formação do

professor (ENTREVISTADO 4).

Penso ser de grande proveito e construtivo para todos os educadores

(ENTREVISTADO 5).

As oficinas oferecidas nas formações iniciais e continuadas de professores

de Química são muito importantes para o desenvolvimento e aprimoramento

de novas práticas metodológicas por parte desses professores. Eu tive o

privilégio, como acadêmico, de participar de Oficinas durante os Congressos

de Química e nas Semanas de Química da Universidade que cursei. Embora,

hoje as formações continuadas de Química sejam um pouco mais escassas.

(ENTREVISTADO 6)

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Acredito que o professor deva participar de oficinas. Pois, nestas formações

além dos conhecimentos de novos recursos didáticos e práticas pedagógicas,

há ainda a possibilidade de troca entre os professores (ENTREVISTADO 7).

Abre muito a mente participar de oficinas de extensão, pra mim foi ótimo. É

muito importante, na minha visão, ter a ajuda de outro professor, uma

segunda mão, nós não somos formados “de todas as matérias”, então a gente

vai aprendendo... O professor precisa está em parceria, para não multiplicar

um conceito indevido (ENTREVISTADO 8).

Interessante notar na fala do entrevistado 4, que as atividades formativas são

importantes, porém não são únicas vias de formação. Entendemos que o entrevistado quis

destacar que outros pontos precisam ser estruturados para o ensino inclusivo, como os saberes

docentes (profissional, cultural, disciplinar, curricular e experiencial).

O conjunto das falas sugere que, possivelmente, as turmas de ensino regular não

estão suprindo as necessidades de estudantes com deficiência visual, principalmente no que

diz respeito a buscar as vias de interagir com o meio que estão inseridos, seja por falta de

recursos materiais e/ou por despreparo dos professores, ou pela ausência de serviços

pedagógicos especializados nas escolas, para o apoio a estudantes e suporte a professores.

Para finalizar nossa análise, trazemos as sugestões dos entrevistados para

mudança do panorama do Ensino de Química inclusivo.

8. Sugestões para a melhoria do Ensino de Química para pessoas com deficiência visual.

Os dados das entrevistas indicaram certas dificuldades em relação ao processo de

ensino e aprendizagem dos conteúdos de Química, principalmente em relação aos aspectos

visuais predominantes, já que referências visuais são muito presentes. Por isso, detectamos

sugestões dos professores para o aperfeiçoamento do processo de ensino e aprendizagem,

como mudanças na formação de professores; efetivação da escola como acessível no sentido

físico e pedagógico; disponibilização de equipamentos e recursos didáticos, além de apoio do

atendimento educacional especializado:

Eu sugiro mais elaboração de recursos didáticos (ENTREVISTADO 1).

Primeiramente, disciplina de Educação Inclusiva na faculdade, seria

importante ofertar oficinas e cursos durante o período da graduação desse

profissional, como também a disponibilização de materiais na internet

(ENTREVISTADO 2).

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Sala de recursos com materiais próprios para cada dificuldade, material

didático específico, capacitação dos professores e gestão em relação aos

alunos deficientes (ENTREVISTADO 3).

Que possamos produzir textos e materiais que usem mais do poder de

abstração inata do cego e não a reprodução do nosso realismo, como no

ensino fundamental a educação especial deu conta, pois é o papel dela. O

papel do professor secundário, de Nível Médio, seria justamente o de incluir

o aluno em sala de aula e também de um desenvolvimento cognitivo mais

maduro (ENTREVISTADO 4).

Sugiro em primeiro lugar, provocar a sensibilidade dos professores para com

estes alunos. E assim tentar promover a inclusão, pois não basta só o aluno

estar em sala de aula, mas deve haver interação entre o aluno e o professor e

entre o aluno e seus colegas no que tange ao conteúdo (ENTREVISTADO

5).

Para a melhoria do Ensino de Química para pessoas com deficiência visual

seria vencer as dificuldades que apontei no questionamento 6. Dessa forma,

acredito que se o aluno compreender e utilizar a Grafia Química Braille

poderá se apropriar mais da linguagem simbólica da Química. Quanto às

representações gráficas, pode-se utilizar além do recurso do Sistema Braille,

as adaptações em relevo, ou ainda, o recurso da audiodescrição, destacando

elementos importantes de um gráfico, tais como, informações dos eixos

vertical e horizontal, escalas usadas nestes eixos, os valores numéricos, tipo

de crescimento ou decrescimento.

Agora, com relação às aulas práticas, fazer adequações que reforcem outras

formas de identificar as transformações químicas, além da mudança de cor.

Há relatos na literatura de algumas práticas adaptadas às pessoas com

deficiência visual, que podem ser encontradas na Revista Química Nova na

Escola e no Journal of Chemical Education (ENTREVISTADO 6).

Mais material concreto, mais acessível, mesmo no laboratório, coisas de

laboratório... Imagine se toda escola tivesse um laboratório inclusivo de

Química! (ENTREVISTADO 7).

Eu sugiro adaptações, materiais táteis, porque só tocando, examinando para

entender. Porque eles gostam de vir e ter contato com materiais táteis, porém

nem sempre temos as adaptações necessárias. Alguns professores usam

muito o computador e é o que normalmente o estudante com deficiência

visual utiliza para estudar (ENTREVISTADO 8).

Saber adotar metodologias, a fim de atender as necessidades educacionais de

estudante com deficiência visual, vai além do caráter puramente escolar, extrapolando a um

nível de discussão muito mais amplo e complexo, referente ao estabelecimento do indivíduo

como cidadão. Estudantes com deficiência visual podem aprender os conteúdos abordados

atuando ativamente na construção da sua aprendizagem, desde que haja uma rede de apoio e

serviços contínuos. Além disso, é preciso pensar a formação dos professores que ainda carece

de atenção quanto a um preparo incisivo frente à educação inclusiva.

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As entrevistas trouxeram interessantes informações sobre concepções,

expectativas e interações de desenvolvedores de propostas e potenciais usuários no Ensino de

Química a pessoas com deficiência visual. Devido a lacunas na formação de professores, suas

ações podem estar permeadas por insegurança e dúvidas, quanto ao modo de ensinar

estudantes com deficiência visual. Nesse contexto, emergiu a necessidade formativa

“conhecer as características da deficiência do aluno”, pois foi evidenciada dificuldade no

acesso aos conhecimentos relativos às necessidades especiais educacionais. Notamos, ainda, a

necessidade formativa de professores de Química de “conhecer os recursos disponíveis que

auxiliam no aprendizado de estudantes com deficiência visual”. Surgiram opções de

alternativas para melhorar o acesso à produção e propostas, como: oficinas, grupos de

pesquisa e atividades colaborativas envolvendo universidade, escola e sala de recursos,

inclusive para aprimorar a formação inicial/continuada de professores. Identificamos que os

professores precisam suprir a necessidade formativa de “saber vincular os conceitos químicos

através de representações que não dependam estritamente da visão”. Isto pode ser alcançado a

partir de metodologias e recursos adaptados, considerando a participação efetiva do aluno

para lhe proporcionar acesso aos diferentes níveis de abordagem de conhecimentos no Ensino

de Química (macroscópico, microscópico e representacional), em ambiente interativo para

todos possam compartilhar suas vivências e superar dificuldades.

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CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho, buscamos compreender como o Ensino de Química para pessoas

com deficiência visual vem se desenvolvendo no Brasil. Especificamente, reunimos

produções de pesquisadores e de espaços educativos para ensinar Química a pessoas com

deficiência visual, para identificar eventuais aspectos positivos e limitações. Esta pesquisa

também buscou contribuir na divulgação desses trabalhos a professores e pesquisadores

interessados na temática.

Esse movimento orientou o entendimento da temática e sua importância nas

pesquisas relacionadas aos processos de ensino e de aprendizagem em Química. Verificamos

que os trabalhos discutem o ensino inclusivo em diferentes aspectos e abordagens, sendo que

os focos temáticos concentram-se em materiais didáticos e formação de professores. Isso deve

refletir a grande preocupação em superar as barreiras (instrumentais e teóricas) para ensinar

de maneira inclusiva.

Com os dados obtidos no levantamento bibliográfico e documental, e nas

entrevistas, confirmamos a hipótese de que o acesso às produções referente ao Ensino de

Química a pessoas com deficiência visual no Brasil é fragmentado. Apesar da produção sobre

temática ser crescente nos últimos anos, ainda pode ser considerada incipiente.

Nesse contexto, professores e estudantes, ainda, enfrentam dificuldades para

ensinar e aprender Química com as propostas disponíveis. Porém, com o crescimento de

produções nos últimos anos, com projetos de pesquisas em andamento em todas as regiões do

país, o ensino de Química Inclusivo pode receber mais atenção, já que é uma demanda

reconhecida.

Avaliamos que o acesso a resultados de pesquisa, somados a outros aspectos

pertinentes, como foco na formação inicial e continuada de professores, pode favorecer o

desenvolvimento de um quadro teórico sobre o “Ensino de Química para pessoas com

deficiência visual”. Como apresentamos em diversos pontos deste trabalho, essa temática

ainda não está incorporada na formação de professores, o que deve ser corrigido com

urgência.

A análise dos dados obtidos trouxe indicativos positivos da existência de

comunicação entre professores e outros agentes que interagem com pessoas com deficiência

visual para disseminação de estudos, estratégias e multiplicação do conhecimento, incluindo

congressos, encontros e seminários.

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Nossos resultados indicaram que as pesquisas brasileiras em Ensino de Química a

pessoas com deficiência visual são relevantes para a sociedade e formação cidadã do público

alvo, tendo em vista o foco e o embasamento dos trabalhos aqui apresentados. Como

fragilidade, apontamos que a quantidade de pesquisadores e espaços educativos ainda é

pequena se comparada com números de outras temáticas.

Finalizamos esta dissertação, entusiasmadas com a análise do desenvolvimento do

Ensino de Química para pessoas com deficiência visual no Brasil, ainda de recente interesse

no quadro geral de pesquisas do Ensino de Química. Reafirmamos nossa expectativa de que

essa temática, a exemplo do que ocorre com outras, experimente crescimento expressivo,

trazendo contribuições para superar os desafios das aulas inclusivas de Química.

Assim, através do panorama apresentado, essa dissertação buscou nortear

professores e pesquisadores interessados no Ensino de Química para pessoas com deficiência

visual em termos de produções e potencialidades. Sugerimos, ainda, para enriquecer os

estudos, que sejam propostos trabalhos com a análise de concepções, dificuldades e

expectativas dos próprios estudantes com deficiência visual, pois isso deve contribuir para

expandir perspectivas para abordagem da questão, considerando-os como sujeitos de

pesquisa.

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APÊNDICE 1

Roteiro para Entrevista de desenvolvedores de propostas e potenciais usuários

1. Com qual frequência você utiliza recursos ou tecnologias que contribuem para proporcionar ou ampliar

habilidades de pessoas com alguma deficiência para aprender Química?

2. Como você tem acesso às produções e propostas para Ensino de Química a pessoas com deficiência visual?

3. Para você, como as pessoas com deficiência visual aprendem Química?

4. Em sua opinião, o que motiva o desenvolvimento de recursos didáticos para ensinar pessoas com deficiência

visual?

5. Como você entende a colaboração/participação de pessoas com deficiência visual na elaboração e/ou testes

de propostas de Ensino de Química?

6. Que tipos de dificuldades você encontra na elaboração ou no uso de propostas de Ensino de Química para

pessoas com deficiência visual?

7. Qual sua opinião sobre o uso de oficinas para desenvolvimento ou o uso de recursos didáticos na formação

continuada de professores?

8. O que você sugere para a melhoria do Ensino de Química para pessoas com deficiência visual?

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APÊNDICE 2

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Ensino de Química para pessoas com deficiência visual: Mapeamento e investigação de produções e

aplicações no Brasil

Pesquisadora responsável: Cássia Cristina Campos Duarte Orientadora: Adriana Vitorino Rossi

Número do CAAE: 82918117.5.0000.8142

Você está sendo convidado a participar como voluntário de um estudo. Este documento, chamado

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, visa assegurar seus direitos e deveres como participante da

pesquisa e é elaborado em duas vias, uma que deverá ficar com você e outra com a pesquisadora. Por favor, leia com atenção e calma, aproveitando para esclarecer suas dúvidas. Se houver perguntas

antes ou mesmo depois de assiná-lo, você poderá esclarecê-las com o pesquisador. Se preferir, pode levar para

casa e consultar seus familiares ou outras pessoas antes de decidir participar. Se você não quiser participar ou

retirar sua autorização, a qualquer momento, não haverá nenhum tipo de penalização ou prejuízo.

Justificativa e objetivos: Esta pesquisa está interessada em investigar a produção e divulgação de propostas de Ensino de

Química a pessoas com deficiência visual e mediante a realização de uma entrevista semiestruturada com um

grupo pequeno de participantes de ações que envolvem o Ensino de Química a pessoas com deficiência visual,

obter dados que esclareçam sobre o processo de produção e uso dessas propostas, a participação e relações

existentes.

Consideramos que o acesso às produções referentes ao Ensino de Química a pessoas com deficiência

visual no Brasil é fragmentado. Consideramos, ainda, que esta temática é incipiente e que professores e

estudantes enfrentam dificuldades para ensinar e aprender Química com as propostas disponíveis. Pode haver

pouca repercussão entre os espaços educativos, as produções e os potenciais usuários de seus resultados. Na

condição de pesquisadoras, entendemos a necessidade da comunicação, da divulgação e do acesso à produção

científica e pretendemos obter dados sobre os espaços educativos e as produções relacionadas disponíveis, além

de buscar encontrar informações sobre o uso e o processo de elaboração dessas produções a partir de impressões

de relações entre os sujeitos pesquisados.

Procedimentos: Participando do estudo você está sendo convidado a participar de uma entrevista semiestruturada, via

Skype ou presencial de acordo com a preferência do participante da pesquisa, agendada em comum acordo das

partes envolvidas (pesquisadora e pesquisado), após devolver esse termo assinado pelo correio, pessoalmente ou

por email (neste caso digitalizado). Caso o participante da pesquisa opte pela entrevista pessoal, a pesquisadora

irá ao encontro em horário acordado por ambos. O tempo estimado de duração para a entrevista é de 30 minutos.

Esta entrevista será aplicada a pessoa envolvida em ações e desenvolvimento de materiais para o ensino

e aprendizagem de pessoas com deficiência visual, a entrevista será respondida de forma anônima e voluntária.

Em nenhum momento, os voluntários serão identificados, garantindo-se total sigilo e anonimato. Você não terá

acesso às respostas nem à identificação dos demais participantes da pesquisa.

A entrevista tem questões abertas para coleta de informações, que serão posteriormente analisadas e

terão resultados divulgados, exclusivamente para finalidade científica e acadêmica, que caracterizará o único

propósito de uso desse material. Se concordar em participar dessa pesquisa, você deverá assinar este Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido e enviá-lo para a Pesquisadora Responsável digitalizado por email, via correio ou pessoalmente na

UNICAMP (o endereço do laboratório responsável por esta pesquisa segue no final deste Termo). Após a

confirmação do seu aceite através da assinatura deste Termo, poderemos agendar a entrevista.

Desconfortos e riscos: Participar desta pesquisa não oferece desconfortos ou riscos físicos e psicológicos previsíveis. Em todo

caso, se você sentir qualquer incômodo pelo teor das questões, você não deve participar desta pesquisa. Os

participantes da pesquisa serão entrevistados, de forma anônima e espontânea, visando contribuir para a coleta de

dados desta pesquisa, sendo o tempo estimado para entrevista de 30 minutos, garantindo-lhes que seus dados

serão confidenciais. Ressaltamos ainda, ser dever da pesquisadora responsável suspender a pesquisa imediatamente ao

perceber qualquer risco ou danos à saúde de qualquer participante da pesquisa, consequente de sua participação,

não previsto no termo de consentimento.

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Benefícios: A participação do voluntário não lhe trará, a priori, qualquer benefício individual direto. Como

resultado da pesquisa está a possibilidade de estimular e aprimorar a participação e desenvolvimento de

propostas de Ensino de Química, para ensino a pessoas com deficiência visual, que podem trazer impactos

positivos na formação inicial e continuada de professores de Química. Ainda, os resultados globais obtidos na

pesquisa poderão contribuir para a melhoria na condução de pesquisas educacionais, mediante o conhecimento

do perfil educacional dos agentes (participantes da pesquisa e pesquisadores) envolvidos neste processo. Fica

claro que qualquer esclarecimento pode ser feito antes, durante e após a realização da pesquisa. Não haverá

nenhuma forma de reembolso em dinheiro, pois a participação na pesquisa não resulta em remuneração nem

envolve qualquer gasto já que a pesquisadora irá até o local em que o participante da pesquisa trabalha e/ou

estuda, em horário que acordado entre ambos.

Acompanhamento e assistência: A pesquisadora responsável estará à disposição dos participantes da pesquisa para esclarecer sobre o

desenvolvimento do trabalho e os resultados obtidos que possam ser úteis para os participantes, inclusive para

promover o desligamento do participante e a exclusão de seus dados a qualquer momento anterior à publicação

dos resultados, opção que será prontamente respeitada sem qualquer questionamento do motivo para desistência

de participar da pesquisa.

Não são previsíveis situações de desconforto ou riscos gerados pela participação na pesquisa. No

entanto, a pesquisadora deverá ser contatada na eventualidade de um desconforto ou risco associado à pesquisa e

se compromete a dar assistência e acompanhamento ao participante, além de suspender a pesquisa.

Destacamos que qualquer esclarecimento pode ser feito antes, durante e após a realização da pesquisa. É

importante esclarecer que o voluntário ficará com uma via do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Caso venha ser necessária a complementação dos dados individuais sem que haja anuência do

participante da pesquisa, será possível rediscutir o delineamento do projeto, suspendê-lo ou até encerrá-lo.

Sigilo e privacidade: Você tem a garantia de que sua identidade será mantida em sigilo e nenhuma informação será dada a

outras pessoas que não façam parte da equipe de pesquisadores. Na divulgação dos resultados desse estudo, seu

nome não será citado.

Ressarcimento: O participante será ressarcido no caso de envio de material pelos Correios via depósito bancário,

combinado previamente entre pesquisadora e pesquisado, sendo que o valor a ser pago será de responsabilidade

da pesquisadora. No entanto, a participação na pesquisa não resulta em remuneração e a pesquisadora

compromete-se a se deslocar até o encontro do entrevistado. Caso ocorra algum dano efetivamente decorrente da

participação na pesquisa, haverá indenização conforme determina a lei.

Armazenamento de material: Os dados coletados serão guardados por 5 (cinco) anos e estarão sob responsabilidade da Pesquisadora

Responsável do Projeto.

Contato com as pesquisadoras: Em caso de dúvidas sobre o estudo, você poderá entrar em contato com:

Pesquisadora Responsável: Cássia Cristina Campos Duarte Fone: (15) 99693-7520. (15) 98140-4377. Email: [email protected]. Orientadora: Adriana Vitorino Rossi. (19) 3521-3082. Email: [email protected] Endereço das pesquisadoras: UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Química. Bloco I, laboratório I-125. Cidade

Universitária Zeferino Vaz, CP 6154, CEP 13083-970. Campinas, SP – Brasil. Em caso de denúncias ou reclamações sobre sua participação e sobre questões éticas do estudo, você

pode entrar em contato com a secretaria do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UNICAMP: Rua: Tessália

Vieira de Camargo, 126; CEP 13083-887 Campinas – SP; telefone (19) 3521-8936; fax (19) 3521-7187; e-mail:

[email protected]

Consentimento livre e esclarecido: Após ter tido esclarecimentos sobre a natureza da pesquisa, seus objetivos, métodos, benefícios

previstos, potenciais riscos e o incômodo que esta possa acarretar, aceito participar: Nome do(a) participante da pesquisa: __________________________________________

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_______________________________________________________Data: ____/_____/______.

(Assinatura do participante da pesquisa ou nome e assinatura do seu responsável)

Responsabilidade do Pesquisador: Asseguro ter cumprido as exigências da resolução 466/2012 CNS/MS e complementares na elaboração

do protocolo e na obtenção deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Asseguro, também, ter explicado

e fornecido uma via deste documento ao participante da pesquisa. Informo que o estudo foi aprovado pelo CEP

perante o qual o projeto foi apresentado e pela CONEP, quando pertinente. Comprometo-me a utilizar o material

e os dados obtidos nesta pesquisa exclusivamente para as finalidades previstas neste documento ou conforme o

consentimento dado pelo participante da pesquisa. ______________________________________________Data:____/___/____. (Assinatura do pesquisador)

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APÊNDICE 3 Produções encontradas no catálogo de Teses e dissertações – CAPES (Categoria:

Formação de professores)

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APÊNDICE 4 Transcrição de Entrevistas

ENTREVISTADO 1

1) Com qual frequência você utiliza recursos ou tecnologias que contribuem para proporcionar ou ampliar

habilidades de pessoas com alguma deficiência para aprender Química?

Infelizmente não possuímos recursos e nem tecnologias para aprendizagem em Química, a dificuldade é

muito grande. Sempre que possível, eu faço adaptações com materiais como: pedra, barbante etc.

2) Como você tem acesso às produções e propostas para ensino de Química a pessoas com deficiência visual?

Sempre consulto sites no Google e, mesmo assim, encontro muita dificuldade.

3) Para você, como as pessoas com deficiência visual aprendem Química?

Acho que eles aprendem nada ou quase nada, pois os professores não sabem como fazer com alunos

deficientes visuais.

4) Em sua opinião, o que motiva o desenvolvimento de recursos didáticos para ensinar pessoas com

deficiência visual?

Acredito que a motivação vem da vontade de ensinar.

5) Como você entende a colaboração/participação de pessoas com deficiência visual na elaboração e/ou testes

de propostas de ensino de Química?

Acredito que a colaboração de estudantes com deficiência visual junto com o especialista na área seria um

bom começo para obtermos materiais que atendessem as necessidades dos estudantes.

6) Que tipos de dificuldades você encontra na elaboração ou no uso de propostas de ensino de Química para

pessoas com deficiência visual?

Sinto dificuldade na adaptação de atividades realizadas em laboratório.

7) Qual sua opinião sobre o uso de oficinas para desenvolvimento ou o uso de recursos didáticos na formação

continuada de professores?

Faz-se necessário, pois os professores não conseguem trabalhar com alunos deficientes visuais.

8) O que você sugere para a melhoria do ensino de Química para pessoas com deficiência visual?

Eu sugiro mais elaboração de recursos didáticos.

ENTREVISTADO 2

1) Com qual frequência você utiliza recursos ou tecnologias que contribuem para proporcionar ou ampliar

habilidades de pessoas com alguma deficiência para aprender Química?

Sempre que possível tento facilitar o aprendizado desses alunos, sendo através de materiais didáticos

adaptados ou programas disponíveis na internet que faça audiodescrição.

2) Como você tem acesso às produções e propostas para ensino de Química a pessoas com deficiência visual?

É difícil achar um material que esteja passo a passo e, até mesmo, que compartilhe os arquivos. Então,

acabo produzindo materiais para esses alunos.

3) Para você, como as pessoas com deficiência visual aprendem Química?

Tudo dependerá do professor que trabalhará com esse aluno, pode ser de forma mecânica, através da

memorização ou através do lúdico.

4) Em sua opinião, o que motiva o desenvolvimento de recursos didáticos para ensinar pessoas com

deficiência visual?

Entendo que a motivação vem para facilitar o ensinar e o aprender, para os alunos e para os professores.

5) Como você entende a colaboração/participação de pessoas com deficiência visual na elaboração e/ou testes

de propostas de Ensino de Química?

Entendo que a participação de pessoas com deficiência visual em testes de propostas pode ser efetiva e fico

extremamente feliz por saber que independente da “barreira”, qualquer pessoa é capaz de contribuir e

aprender.

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6) Que tipos de dificuldades você encontra na elaboração ou no uso de propostas de ensino de Química para

pessoas com deficiência visual?

O uso de experimentação é algo que me deixa sem saber como trabalhar com os alunos com deficiência

visual, aulas extremamente tradicionais também.

7) Qual sua opinião sobre o uso de oficinas para desenvolvimento ou o uso de recursos didáticos na formação

continuada de professores?

Muito importante! Para aprender o que não foi aprendido na faculdade através de disciplina de educação

inclusiva. Os futuros professores que queiram trabalhar com esses alunos necessitam se atualizar e

entender que não é só explicar o conteúdo para um aluno com deficiência visual, que ele entenderá. Mas,

existem Grafias de Braille, formas de produzir um material e maneiras de se trabalhar com esses alunos.

8) O que você sugere para a melhoria do ensino de Química para pessoas com deficiência visual?

Primeiramente, disciplina de Educação Inclusiva na faculdade, seria importante ofertar oficinas e cursos

durante o período da graduação desse profissional, como também a disponibilização de materiais na

internet.

ENTREVISTADO 3

1) Com qual frequência você utiliza recursos ou tecnologias que contribuem para proporcionar ou ampliar

habilidades de pessoas com alguma deficiência para aprender Química?

Utilizo com grande frequência a apostila da secretária da educação do estado de São Paulo onde ela traz

alguns roteiros simplificados e questões que envolvem o cotidiano, facilitando o entendimento, também é

utilizado vídeos e atividades práticas, estes, porém, com menor frequência em decorrência das condições

estruturais da escola.

2) Como você tem acesso às produções e propostas para ensino de Química a pessoas com deficiência visual?

Tenho uma aluna com dificuldades de visão, usa óculos de grande vergência. Porém, ela realiza as

atividades propostas sem dificuldades em relação a sua baixa visão. Também não recebi nenhum material

específico para trabalhar com alunos com essas características.

3) Para você, como as pessoas com deficiência visual aprendem Química?

Para quem não possui visão, será mais complexo, porque a química parte das sensibilidades do ser humano

para a sua compreensão, e a visão talvez seja a mais importante ao se relacionar a experimentação ao

conteúdo teórico. O aluno, no caso, deverá “ver” o experimento acontecer, para ter significado naquilo que

lhe foi falado ou lido através de uma linguagem especifica.

4) Em sua opinião, o que motiva o desenvolvimento de recursos didáticos para ensinar pessoas com

deficiência visual? A primícia de que todos são capazes de aprender, claro que com ambiente, recursos e materiais adequados

para cada necessidade todos poderão aprender química e construir conceitos dentro da própria Ciência.

5) Como você entende a colaboração/participação de pessoas com deficiência visual na elaboração e/ou testes

de propostas de ensino de Química?

Muito válido e importante, ter cada vez mais pessoas engajadas no desenvolvimento de vários produtos,

porque isso diminui as distâncias entre quem tem certa limitação física, fortalecendo a inclusão.

6) Que tipos de dificuldades você encontra na elaboração ou no uso de propostas de ensino de Química para

pessoas com deficiência visual?

Primeiramente as estruturas escolares que não oferecem sala de recursos para estes alunos, a nível

estadual não encontrei ainda nenhuma escola que possa ter este atendimento. Nas escolas municipais

existem e fazem bem o seu uso. Porém, em Sorocaba, por exemplo, não temos ensino médio nas escolas

municipais onde seria ensinado química para esses alunos.

7) Qual sua opinião sobre o uso de oficinas para desenvolvimento ou o uso de recursos didáticos na formação

continuada de professores?

Totalmente de acordo, a capacitação dos professores em si é muito rasa em se tratando de educação

pública estadual, temos as aulas pedagógicas (ATPC), porém, pouco se trabalha essas dificuldades, até

porque os próprios coordenadores não são capacitados para estes assuntos.

8) O que você sugere para a melhoria do ensino de Química para pessoas com deficiência visual?

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Sala de recursos com materiais próprios para cada dificuldade, material didático específico, capacitação

dos professores e gestão em relação aos alunos deficientes.

ENTREVISTADO 4

1) Com qual frequência você utiliza recursos ou tecnologias que contribuem para proporcionar ou ampliar

habilidades de pessoas com alguma deficiência para aprender Química?

Quando trabalhei no mestrado com alunos cegos, eu usei bastante.

2) Como você tem acesso às produções e propostas para ensino de Química a pessoas com deficiência visual?

Eu acesso via internet, através de produções do IBC (Instituto Benjamin Constant), por periódicos e

publicações, teses, dissertações, seminários, encontros temáticos, etc.

3) Para você, como as pessoas com deficiência visual aprendem Química?

Quando conseguem ter acesso a informação e aos livros, além de quando conseguem explicações de

professores e mediadores que os deem atenção devida.

4) Em sua opinião, o que motiva o desenvolvimento de recursos didáticos para ensinar pessoas com deficiência

visual?

A dificuldade de compreensão através do realismo das ilustrações de livros didáticos, dos modelos do

Ensino de Química, dos gráficos matemáticos, esquemas, diagramas e por aí vai.

5) Como você entende a colaboração/participação de pessoas com deficiência visual na elaboração e/ou testes

de propostas de ensino de Química?

Importantíssima. Nada para eles, sem eles. Eles nos ajudam a ajudá-los.

6) Que tipos de dificuldades você encontra na elaboração ou no uso de propostas de ensino de Química para

pessoas com deficiência visual?

Nas abstrações para modelos químicos mais elaborados. Os modelos táteis são a reprodução do realismo

do vidente, quando o que precisamos é de materiais que usem o tato, sim, mas que levem ao cego pensar e

abstrair e não se prender às representações pobres que são utilizadas tradicionalmente em livros didáticos,

por exemplo.

7) Qual sua opinião sobre o uso de oficinas para desenvolvimento ou o uso de recursos didáticos na formação

continuada de professores?

Interessante, mas somente auxilia em parte do processo de formação do professor.

8) O que você sugere para a melhoria do ensino de Química para pessoas com deficiência visual?

Que possamos produzir textos e materiais que usem mais do poder de abstração inata do cego e não a

reprodução do nosso realismo, como no ensino fundamental a educação especial deu conta, pois é o papel

dela. O papel do professor secundário, de Nível Médio, seria justamente o de incluir o aluno em sala de

aula e também de um desenvolvimento cognitivo mais maduro.

ENTREVISTADO 5

1) Com qual frequência você utiliza recursos ou tecnologias que contribuem para proporcionar ou ampliar

habilidades de pessoas com alguma deficiência para aprender Química?

No momento não estou dando aulas para deficientes visuais, apenas investigando estes e seus professores

na pesquisa de mestrado em ensino de ciências e matemática.

2) Como você tem acesso às produções e propostas para ensino de Química a pessoas com deficiência visual?

Meu acesso é via internet, em artigos publicados e nas oficinas e cursos oferecidos pela escola especial

Louis Braille em Pelotas.

3) Para você, como as pessoas com deficiência visual aprendem Química?

Através da mediação didática que acontece com a interação entre professor e aluno.

4) Em sua opinião, o que motiva o desenvolvimento de recursos didáticos para ensinar pessoas com

deficiência visual?

As dificuldades que os professores apresentam para ensinar alunos com deficiência visual.

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5) Como você entende a colaboração/participação de pessoas com deficiência visual na elaboração e/ou testes

de propostas de ensino de Química?

A participação do aluno com deficiência visual é fundamental para a construção da ferramenta didática e

também para o processo de validação desta ferramenta.

6) Que tipos de dificuldades você encontra na elaboração ou no uso de propostas de ensino de Química para

pessoas com deficiência visual?

Por enquanto não sei fazer áudio-descrição de imagens, mas pretendo fazer um curso voltado para isto,

pois acredito ser uma ferramenta importante para o ensino de pessoa com deficiência.

7) Qual sua opinião sobre o uso de oficinas para desenvolvimento ou o uso de recursos didáticos na formação

continuada de professores?

Penso ser de grande proveito e construtivo para todos os educadores.

8) O que você sugere para a melhoria do ensino de Química para pessoas com deficiência visual?

Sugiro em primeiro lugar, provocar a sensibilidade dos professores para com estes alunos. E assim tentar

promover a inclusão, pois não basta só o aluno estar em sala de aula, mas deve haver interação entre o

aluno e o professor e entre o aluno e seus colegas no que tange ao conteúdo.

ENTREVISTADO 6

1) Com qual frequência você utiliza recursos ou tecnologias que contribuem para proporcionar ou ampliar

habilidades de pessoas com alguma deficiência para aprender Química?

Em meu trabalho como professor de Química e transcritor Braille, utilizo com muita frequência,

diariamente, um recurso tecnológico específico, o programa Braille Fácil. Este programa permite

representar a linguagem Química (fórmulas, equações, símbolos) para o Braille. E ainda, representar

estruturas das moléculas no plano.

2) Como você tem acesso às produções e propostas para ensino de Química a pessoas com deficiência visual?

Por meio da leitura de artigos científicos de Química, publicados pelo Instituto Benjamin Constant. Ainda,

em publicações da Química Nova na Escola e Encontros de Química; uma vez que o Ensino de Química

para pessoas com deficiência visual, tem tido espaços para discussão e divulgação no meio acadêmico. E

também de professores de Sala de Recursos e professores de Apoio, que atendem alunos com deficiência

visual, que me procuram para mostrar e discutir suas adaptações de alguns conteúdos de Química e a

Grafia Química Braille.

3) Para você, como as pessoas com deficiência visual aprendem Química?

Eis um questionamento, que ainda hoje não tenho uma resposta. Porém acredito, por meio da experiência

no atendimento a alunos cegos e com baixa visão, em Sala de Recursos e no Ensino Regular, que este

aprendizado ocorra, além dos aspectos conceitual e fenomenológico, com o contato de diversos recursos,

como por exemplo, a Grafia Braille de Química, modelos moleculares comerciais e adaptados, materiais

táteis (representações em relevo) de esquemas, fórmula estruturais, e gráficos.

4) Em sua opinião, o que motiva o desenvolvimento de recursos didáticos para ensinar pessoas com

deficiência visual?

Os motivos são que a Química é uma Ciência que utiliza muito “fenômenos visuais”. Nós professores de

Química, ao levantarmos exemplos cotidianos de alguns processos químicos, remetemos a fatos que os

alunos comumente presenciam, como a coloração da chama de uma vela ou a chama de um fogão, fumaças,

mudança de cor na cor de uma roupar provocada por água sanitária. Não, obstante, a analogia que usamos

para facilitar a compreensão em alguns modelos, é preciso ter imagens visuais para que os alunos criem

suas próprias imagens mentais.

5) Como você entende a colaboração/participação de pessoas com deficiência visual na elaboração e/ou testes

de propostas de ensino de Química?

Considero de suma importância a participação da pessoa com deficiência visual no envolvimento destas

propostas, pois embora, as pesquisas na área de Deficiência Visual no Ensino de Química têm crescido no

meio acadêmico, essas ainda são muito escassas. Assim, entendo que o envolvimento de uma pessoa cega,

por exemplo, na avaliação de uma adaptação de um material em relevo, será importante para que se façam

as adequações necessárias. Vale ressaltar que a experiência do aprendizado de Química dessa pessoa com

deficiência visual, precisa ser usada para a elaboração desses testes.

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6) Que tipos de dificuldades você encontra na elaboração ou no uso de propostas de ensino de Química para

pessoas com deficiência visual?

Uma das dificuldades, conforme disse anteriormente, são os aspectos visuais, muito comuns nas aulas

práticas, as mudanças de cor, a liberação de gases, a formação de precipitados. Outra dificuldade é a

linguagem simbólica da Química. Assim, um grande desafio para nós professores de Química, é adaptar

tais aulas experimentais, e possibilitar que o aluno com deficiência visual possa ter acesso a essa

linguagem. Outra grande dificuldade é interpretação de representações gráficas, como por exemplo,

gráficos de Entalpia, de velocidade de reações e de equilíbrio químico, de decaimento radioativo, entre

outros.

7) Qual sua opinião sobre o uso de oficinas para desenvolvimento ou o uso de recursos didáticos na formação

continuada de professores?

As oficinas oferecidas nas formações iniciais e continuadas de professores de Química são muito

importantes para o desenvolvimento e aprimoramento de novas práticas metodológicas por parte desses

professores. Eu tive o privilégio, como acadêmico, de participar de Oficinas durante os Congressos de

Química e nas Semanas de Química da Universidade que cursei. Embora, hoje as formações continuadas

de Química sejam um pouco mais escassas.

8) O que você sugere para a melhoria do ensino de Química para pessoas com deficiência visual?

Para a melhoria do Ensino de Química para pessoas com deficiência visual seria vencer as dificuldades

que apontei no questionamento 6. Dessa forma, acredito que se o aluno compreender e utilizar a Grafia

Química Braille poderá se apropriar mais da linguagem simbólica da Química. Quanto às representações

gráficas, pode-se utilizar além do recurso do Sistema Braille, as adaptações em relevo, ou ainda, o recurso

da audiodescrição, destacando elementos importantes de um gráfico, tais como, informações dos eixos

vertical e horizontal, escalas usadas nestes eixos, os valores numéricos, tipo de crescimento ou

decrescimento. Agora, com relação às aulas práticas, fazer adequações que reforcem outras formas de

identificar as transformações químicas, além da mudança de cor. Há relatos na literatura de algumas

práticas adaptadas às pessoas com deficiência visual, que podem ser encontradas na “Revista Química

Nova na Escola” e no “Journal of Chemical Education”.

ENTREVISTADO 7

1) Com qual frequência você utiliza recursos ou tecnologias que contribuem para proporcionar ou ampliar

habilidades de pessoas com alguma deficiência para aprender Química?

Todo o tempo a gente está interagindo. Adaptamos diariamente materiais, conforme solicitação do

professor de ensino regular. Aqui a gente utiliza tudo, lixa, áspera, mais macia [...]. Têm professores que

fazem parte do material e só pedem ajuda. Outros solicitam para nós fazermos todas as adaptações. Nós

temos um email, o professor já manda nesse email os materiais que precisam ser produzidos em Braille

para o aluno.

Tem um professor de Química que manda bastante material mesmo. Tem muito material bom de Química

sendo produzido. Nós fizemos muito material, inclusive na impressora Braille. Nós podemos fazer alguns

desenhos, utilizando o programa Braille Fácil e o desenho sai em alto relevo! Mas, produzimos o material e

entregamos para o professor, não ficamos com os materiais.

2) Como você tem acesso às produções e propostas para Ensino de Química a pessoas com deficiência visual?

Toda a nossa produção e material vem da secretaria de educação. Especificamente da Química, tivemos

uma orientação técnica, um encontro para aprendermos a trabalhar com a Grafia Química Braille. A gente

também vai lendo e aprendendo por pesquisas na internet e com outros professores.

3) Para você, como as pessoas com deficiência visual aprendem Química?

Será que aprendem mesmo? Na verdade, elas aprendem desde que interajam com material tridimensional.

Desde que você produza um material da melhor forma possível e sempre com orientação, não adianta

produzir um material adaptado e entregar para o aluno. O professor de Química precisa orientá-lo.

4) Em sua opinião, o que motiva o desenvolvimento de recursos didáticos para ensinar pessoas com deficiência

visual?

Justamente, o fato de eles não terem nada pronto. Eles precisam desse material adaptado. Se o professor

está ensinado um determinado conteúdo e não tem nada especifico para o estudante com deficiência visual,

isso motiva a gente a produzir esse material.

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5) Como você entende a colaboração/participação de pessoas com deficiência visual na elaboração e/ou testes

de propostas de Ensino de Química?

Considero importante. A gente sempre vai perguntando se o estudante está entendo as propostas dos

materiais. O estudante pode agregar muito no material, que ele vai utilizar em sala de aula.

6) Que tipos de dificuldades você encontra na elaboração ou no uso de propostas de Ensino de Química para

pessoas com deficiência visual?

As maiores dificuldades estão nas barreiras de comunicação com os professores de Química. Muitos

professores da rede não sabem lhe dar com pessoas com deficiência visual. Tem toda uma área de inclusão

para ajudar os professores na rede, mas mesmo assim tem muitos professores resistentes a inclusão.

A gente encontra muita resistência entre os professores para estar desenvolvendo materiais adaptados. A

gente não consegue entrar em consenso com alguns professores.

7) Qual sua opinião sobre o uso de oficinas para desenvolvimento ou o uso de recursos didáticos na formação

continuada de professores?

Acredito que o professor deva participar de oficinas. Pois, nestas formações além dos conhecimentos de

novos recursos didáticos e práticas pedagógicas, há ainda a possibilidade de troca entre os professores.

8) O que você sugere para a melhoria do Ensino de Química para pessoas com deficiência visual?

Mais material concreto, mais acessível, mesmo no laboratório, coisas de laboratório... Imagine se toda

escola tivesse um laboratório inclusivo de Química!

ENTREVISTADO 8

1) Com qual frequência você utiliza recursos ou tecnologias que contribuem para proporcionar ou ampliar

habilidades de pessoas com alguma deficiência para aprender Química?

Frequentemente, porque os alunos que acompanhamos vêm com muita atividade de Química. Eu aprendi a

usar a impressora Braille. A gente tira um tempo para fazer isso... O professor precisa mandar com

antecedência para fazermos as adaptações dos materiais, fazer na hora não tem como. Apesar, de

disponibilizarmos a sala de recursos, ainda tem muito professor que desconhece ou não quer utilizá-la.

2) Como você tem acesso às produções e propostas para Ensino de Química a pessoas com deficiência visual?

A gente vai à pesquisa... O aluno que acompanho vem com muitas dúvidas... Que nem os gráficos, aqui no

Braille Fácil, até aprendi... A gente faz e manda imprimir na impressora em Braille. Eu aprendi a mexer

primeiro e ensinei minha colega. Não é só o gráfico, tem muita coisa que podemos adaptar... Eu pesquiso

na internet ou com algum professor da área.

3) Para você, como as pessoas com deficiência visual aprendem Química?

Eu acho que aprendem manualmente... Simplesmente a criança tem que pegar, senão tiver o manuseio pela

criança não vai entender. A participação do professor da sala de recursos é essencial.

4) Em sua opinião, o que motiva o desenvolvimento de recursos didáticos para ensinar pessoas com deficiência

visual?

Os motivos são que os estudantes com deficiência visual têm que frequentar a sala de recursos, porque

diariamente eles trazem atividades de química e precisam aprender.

5) Como você entende a colaboração/participação de pessoas com deficiência visual na elaboração e/ou testes

de propostas de Ensino de Química?

Se o aluno está frequentando (a sala de recursos) ele tem uma participação. A participação é muito

importante para ele testar... O importante é o estudante entender.

6) Que tipos de dificuldades você encontra na elaboração ou no uso de propostas de Ensino de Química para

pessoas com deficiência visual?

Às vezes, por não ser professora de química, eu não entendo algumas coisas, uma vez eu perdi uma semana

para fazer uma fórmula.

7) Qual sua opinião sobre o uso de oficinas para desenvolvimento ou o uso de recursos didáticos na formação

continuada de professores?

Abre muito a mente participar de oficinas de extensão, pra mim foi ótimo. É muito importante, na minha

visão, ter a ajuda de outro professor, uma segunda mão, nós não somos formados “de todas as matérias”,

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então a gente vai aprendendo... O professor precisa está em parceria, para não multiplicar um conceito

indevido.

8) O que você sugere para a melhoria do Ensino de Química para pessoas com deficiência visual?

Eu sugiro adaptações, materiais táteis, porque só tocando, examinando para entender. Porque eles gostam

de vir e ter contato com materiais táteis, porém nem sempre temos as adaptações necessárias. Alguns

professores usam muito o computador e é o que normalmente o estudante com deficiência visual utiliza

para estudar.

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ANEXO 1

PARECER DO COMITE DE ÉTICA – Primeira e última página

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