Prof. Roger Gil Vicente (1465 1536) e o teatro...

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Gil Vicente (1465 1536) e o teatro português criador do teatro português e maior comediógrafo da língua; transição da Idade Média para a Renascença; sátira contrabalançada por elevados valores cristãos; negou a estrutura do teatro clássico; obra popular para a Corte; criticou as pessoas, nunca as instituições. Prof. Roger

Transcript of Prof. Roger Gil Vicente (1465 1536) e o teatro...

Gil Vicente (1465 – 1536) e o teatro português

criador do teatro português e maior

comediógrafo da língua;

transição da Idade Média para a

Renascença;

sátira contrabalançada por elevados

valores cristãos;

negou a estrutura do teatro clássico;

obra popular para a Corte;

criticou as pessoas, nunca as

instituições.

Prof. Roger

Encenado pelo próprio autor

na câmara da Rainha D.

Maria, esposa de D. Manuel,

por ocasião do nascimento do

futuro rei D. João III.

A exemplo de Jesus, a

criança recebe a visita e

presentes de pastores

(vaqueiros).

Influência do teatro pastoril de

Juan del Encina.

Auto da Visitação ou Monólogo do Vaqueiro (1502) Prof. Roger

Auto da Índia (1509)

Peça bilingüe – primeira escrita em português.

Desprende-se da influência espanhola e inicia a

crítica social.

Introduz o real contemporâneo no teatro português: o

problema do adultério, da dissolução das famílias

causado pela sede de fama, glória e dinheiro que os

homens iam buscar à Índia.

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Leia o fragmento em que Constança justifica sua traição.

O certo é dar prazer.

Para que é envelhecer

esperando pelo vento?

Quanto eu por mui néscia sendo

a que o contrário fizer.

Partem em Maio daqui,

quando o sangue novo atiça...

Parece-te que é justiça?

(...)

Prof. Roger

Auto da Lusitânia

Peça alegórica em que os vícios da sociedade da época são satirizados

pelos seguintes personagens: um rico mercador, chamado Todo o Mundo, um homem

pobre que é Ninguém e dois diabos: Berzebu e Dinato, sendo que o primeiro dita e o

segundo anota.

Ninguém Como é teu nome, cavaleiro?

Todo o Mundo

Eu tenho nome Todo o Mundo,

E meu tempo todo inteiro

Sempre é buscar dinheiro

E sempre nisto me fundo.

Ninguém E eu tenho nome Ninguém

E busco a consciência.

Berzebu para Dinato:

Esta é boa experiência!

Dinato, escreve isto bem.

Prof. Roger

Dinato Que escreverei, companheiro?

Berzebu

Que Ninguém busca consciência,

e Todo o Mundo dinheiro.

(...)

Todo o Mundo para Ninguém:

Folgo muito d´ enganar,

e mentir nasceu comigo.

Ninguém Eu sempre a verdade digo,

sem nunca me desviar.

Berzebu para Dinato:

Ora escreve lá, compadre,

não sejas tu preguiçoso!

Dinato Quê?

Berzebu Que Todo o Mundo é mentiroso,

e Ninguém diz a verdade.

Auto da Barca do Inferno

Este auto é de estrutura simples e apresenta

uma galeria de tipos sociais bem definidos, tendo

como tema o juízo final. Duas barcas aguardam

pelas almas recém desencarnadas: a barca do

paraíso (Anjo) e a do

inferno (Diabo e seu

companheiro).

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Personagens:

Quatro Cavaleiros – vêm cantando e trazem cada um a cruz de Cristo. Morreram em poder dos Mouros.

Parvo (bobo, ingênuo)

Frade (clero) – traz uma moça, uma garrafa e uma espada.

Brígida Vaz – alcoviteira. Traz instrumentos para a prática do aborto.

Fidalgo (nobreza) – traz um pajem, uma roupa extravagante e uma cadeira luxuosa.

Corregedor e o Procurador (justiça corrupta) – o primeiro traz processos; o segundo, livros.

Sapateiro – traz o avental e fôrmas de trabalho.

Onzeneiro, Judeu e o Enforcado (agiotas e ladrões) – o judeu traz um bode às costas.

Salvam-se os Cavaleiros e o Parvo que nada trazem, pois a carga é a materialização dos pecados em vida.

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Leia o trecho do embarque do Fidalgo.

Fidalgo Esta barca onde vai ora,

que assim está apercebida

Diabo Vai para a ilha-perdida,

e há de partir logo agora.

Fidalgo Para lá vai a senhora?

Diabo Senhor, a vosso serviço.

Fidalgo Parece-me isso cortiço...

Diabo Porque a vedes lá de fora!

Fidalgo Porém, a que terra passais?

Diabo Para o Inferno, senhor.

Fidalgo Terra é bem sem-sabor!

Diabo Quê? E também cá zombais?

Fidalgo E passageiros achais

para tal habitação?

Diabo Vejo-vos eu com feição

para ir ao nosso cais...

Prof. Roger

Farsa de Inês Pereira

O próprio Gil Vicente apresenta a peça dizendo que duvidavam certos homens de bom saber se o autor fazia de si mesmo estas obras, ou se as furtava de outros autores, lhe deram este tema sobre o que fizesse, a saber, um exemplo comum que dizem “mais quero asno que me leve, que cavalo que me derrube”.

Inês Fantesiosa, em que se apresenta uma moça pobre

confinada aos serviços domésticos. Sua mãe, mulher prática,

quer que Inês se case com um homem rico, mas a jovem sonha

com o marido ideal;

Inês Mal-Maridada mostra a moça casada com Brás da Mata,

homem estúpido e grosseiro, que vai à África lutar contra os

mouros, mas é morto por um só pastor;

Inês Quite e Desforrada revela Inês livre para casar-se com o

rico e tolo Pero Marques, inicialmente preterido por ela.

Prof. Roger

Personagens:

Inês – jovem sonhadora.

Mãe de Inês – mulher prática.

Lianor Vaz – alcoviteira.

Pero Marques – filho de um rico

lavrador.

Brás da Mata – escudeiro. Marido

ciumento de Inês.

Ermitão – antigo namorado de Inês.

Latão e Vidal – judeus casamenteiros.

Prof. Roger

Leia o fragmento final da peça.

Inês Cantemos, marido, quereis?

Pero Eu não saberei entoar...

Inês Pois eu hei só de cantar,

e vós me respondereis

cada vez que eu acabar:

“pois assim se fazem as cousas”.

Canta Inês Pereira

Marido Cuco me levais

e mais duas lousas.

Pero Pois assim se fazem as cousas.

Inês Bem sabeis vós, [meu] marido

quanto vos amo;

sempre fostes decidido

para gamo;

carregado ides, nosso amo,

com duas lousas.

Pero Pois assim se fazem as cousas.

Inês Bem sabeis vós, [meu] marido,

quanto vos quero;

sempre fostes percebido

para cervo.

Agora vos tomou o demo

com duas lousas.

Pero Pois assim se fazem as cousas.

E assim se acaba a dita farsa.

Prof. Roger