PRODUTIVIDADE EM TERMINAIS INTERMODAIS DE GRÃOS: … · comparando a performance de uma unidade em...
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PRODUTIVIDADE EM TERMINAIS
INTERMODAIS DE GRÃOS: UM
ESTUDO MULTICASO UTILIZANDO A
ANALISE ENVOLTÓRIA DE DADOS -
DEA
Renato Luiz Sproesser (UFMS)
Vergilio Prado Sogabe (UFMS)
Alisson Alan Pereira (UFMS)
Patricia Campeão (UFMS)
Rodrigo Custódio de Mello (UFMS)
O agronegócio cresce em direção ao interior do Brasil levando
desenvolvimento a pequenas e médias cidades, gerando empregos e
distribuindo renda. Essa interiorização demanda por novos serviços
e infra-estrutura logística para aquisição de insumos e escoamento
de grãos. Os terminais intermodais ganham relevância por atender
as demandas de pericibilidade e qualidade dos alimentos e ainda
garantir a competitividade no mercado de commodities. A melhor
combinação entre modais reduz custos e alivia o trânsito na
saturada malha rodoviária nacional. Assim este trabalho se propõe
a averiguar a performance dos terminais intermodais, localizados
no corredor de escoamento da safra centro-oeste, através de
variáveis que indiquem a produtividade, comparando o desempenho
entre as unidades através da Análise Envoltoria de Dados - DEA. As
informações foram levantadas por meio de entrevista com um
questionário semi-estruturado junto aos terminais. A perforamance
dos terminais foi avaliada a partir dos seguintes inputs: número de
funcionários, capacidade de armazenagem e de transbordo; como
outputs consideramos a movimentação anual e o faturamento
estimado dos terminais. Duas situações diferentes foram
consideradas: com e sem o faturamento estimado. Os resultados
evidenciam a ociosidade em que operam os terminais e a
necessidade de ampliar a capacidade dos modais ferroviário e
hidroviário.
Palavras-chaves: Performance, agronegócio, eficiência
XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão.
Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009
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1. Introdução
Em 2007, o agronegócio gerou U$ 42 bilhões de superávit, respondendo por 36% de tudo o
que foi exportado pelo Brasil. O setor gerou ainda 37% dos empregos do país (MDIC -
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, 2008).
O Agrengócio cresceu em direção ao interior do Brasil, promovendo um aumento da
qualidade de vida nacional, uma vez que impulsiona o desenvolvimento em pequenas e
médias cidades gerando empregos e distribuindo renda, o que promove a interiorização e a
demanda por outros serviços que vão gerar mais riqueza para o país.
O próprio agronegócio, ao abrir novas frentes em regiões distantes dos portos de
exportação e dos grandes centros consumidores, exige maior infra-estrutura de serviços de
logística. Esta infra-estrutura atende não só a necessidade de escoamento da produção
como também garante o suprimento dos insumos e implementos que estão localizados nas
regiões mais industrializadas.
De acordo com o Geipot (1997), no transporte de grãos, para atender distâncias superiores
a 1200 km é indicado o modal hidroviário; para distâncias entre 500 e 1200 km o modal
ferroviário é mais o mais adequado; por fim, o modal rodoviário atende distâncias
inferiores a 500 km com mais eficiência.
No entanto, observamos que em nossa matriz de transporte não está em consonância com
essas orientações, o modal rodoviário, com baixos custos fixos, altos custos variáveis e
maior flexibilidade, tem sido, largamente, o mais utilizado. Segundo a Confederação
Nacional dos Transportes (CNT), aproximadamente 74% das rodovias do país são
classificadas como regular, ruim ou péssima (CNT, 2007). Os modais mais indicados para
atender a demanda do agronegócio brasileiro e seu novo arranjo espacial são os modais
hidroviário e o ferroviário. No entanto o cenário desses dois últimos modais também é
preocupante, suas expansões de capacidade dependem de licenças ambientais e vultuosos
investimentos em infra-estrutura.
Assim, é necessário um amplo estudo que considere as vantagens e desvantagens de cada
modal. O transporte de grãos demanda serviços que atendam as características de
conformidade para alimentos, principalmente no que diz respeito à perecibilidade, além de
baixo custo; observando ainda a conservação ambiental. Desta forma, a intermodalidade
surge para atender as necessidades de alta flexibilidade e de baixo custo.
A otimização na combinação do uso de caminhões para trasnportar produtos das regiões
mais deficientes em infra-estrutura até o local onde já exista o modal ferroviário ou
hidroviário garante maior eficiência e menores custos. De tal forma, ganha relevância o
papel dos operadores dos terminais de transbordo multi e intermodais brasileiros.
Os serviços de transbordo precisam, portanto, estar dentro de padrões de eficiência e
produtividade para que a intermodalidade garanta a competitividade da produção agrícola
nacional. Além de garantir a racionalização do sistema logístico brasileiro, a eficiência dos
terminais de transbordo pode levar à redução do fluxo de caminhões nas rodovias, carentes
de infra-estrutura.
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O aumento do desempenho dos terminais de transbordo passa a ser um dos objetivos mais
importantes a serem atingidos pelos seus gestores, dada a crescente demanda pelo serviço
gerado pelas novas oportunidades de investimento e crescimento econômico para o país.
Desta forma, ao avaliar o desempenho de uma determinada firma ou indústria somos
remetidos a idéia de comparabilidade. Esta, por sua vez, pressupõe que haja um referencial
de medição, este referencial pode ser os resultados anteriores da firma ou indústria, ou
ainda o resultado médio dos agentes que compõe o setor (CARRE, 1991).
Para tanto, este trabalho se propõe a avaliar a atividade nos terminais de transbordo de
maneira a estabelecer indicadores de desempenho que permitam a comparação entre os
operadores. Esses indicadores de desempenho consistem na avaliação entre os resultados
obtidos (outputs) e os recursos disponíveis para sua realização (inputs).
A análise envoltória (por envelopamento) dos dados – DEA, age no sentido de permitir que
diversas entradas e saídas possam ser utilizadas na análise do desempenho de várias
unidades organizacionais similares, no caso os terminais intermodais. A técnica DEA
permite incorporar várias entradas e saídas para o cálculo da produtividade sem que o
numerador e denominador estejam em uma base métrica comum. Isso permite que o
terminal logístico seja avaliado como um todo, ao invés de considerar medidas
operacionais isoladas e indicadores de desempenho baseados em custos, estes de difícil
obtenção.
Essa análise acontece por meio de uma programação linear padrão, que busca estabelecer a
eficiência máxima da unidade de serviço, expressa na razão entre inputs e outputs,
comparando a performance de uma unidade em relação ao grupo de unidades semelhantes.
A aplicação da técnica nos permite dizer quais unidades tem um desempenho mais
eficiente, sendo referidas como unidades 100% eficientes e as que são referidas como
ineficientes considerando o seu desempenho em relação às unidades mais eficientes.
Desta forma, o objetivo geral deste trabalho é avaliar a produtividade operacional em
movimentação de grãos nos terminais intermodais brasileiros. Especificamente pretende-se
elencar variáveis que indiquem a produtividade, analisar o fluxo atual de cada terminal e
comparar o desempenho entre eles através da Análise Envoltória de Dados.
2. Método
Este artigo pode ser classificado como uma pesquisa exploratória indutiva sob um enfoque
de estudo multicasos (COLLIS e HUSSEY, 2005).
Para o levantamento de dados foi realizada uma pesquisa bibliográfica, no primeiro
momento, levantando informações a respeito dos terminais e da teoria de avaliação de
desempenho. Para coleta dos dados primários foi realizada uma pesquisa do tipo Survey,
que consiste em entrevistas pessoais, utilizando questionário semi-estruturado, junto a sete
terminais (CRESWELL, 2007).
A amostragem é não probabilística e por conveniência de facilidade de acesso (MATTAR,
1999). A análise dos dados deu-se por meio da utilização da técnica de Análise Envoltória
de Dados – DEA.
Também conhecida por Análise por Envelopamento de dados, estabelecida por Charnes,
Copper e Rhodes (1978), ingualmente conhecida como modelo CCR. Esta técnica tem sido
amplamente utilizada para análise de eficiência em várias situações, inclusive no Brasil
(TAVARES, 2002).
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A análise envoltória de dados segue a seguinte função:
Essa função nos permite encontrar um conjunto de coeficientes associados com cada saída
e de coeficientes associados com cada entrada, que resultará na máxima eficiência possível
para o terminal analisado.
A função encontra a seguinte restrição:
Isso permite que a aplicação do mesmo conjunto de coeficientes de entrada e saída, em
terminais diferentes, não exceda 100% de eficiência. Isso porque todos os coeficientes são
positivos e diferentes de zero. Para a análise da performance destes terminais de transbordo
vamos utilizar o software Sistema Integrado de Apoio à Decisão V 3.0 (ANGULO MEZA,
BIONDI NETO e RIBEIRO, 2005)
3. Terminais intermodais
Entende-se por terminais intermodais aqueles nos quais ocorre o transbordo de grãos de
um modal para outro (por exemplo, do modal rodoviário para o ferroviário). A figura 1
apresenta as principais rodovias, ferrovias e hidrovias que compreendem o espaço de
influência dos terminais considerados neste estudo.
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Fonte: elaborado pelos autores.
Figura 1 - Principais terminais multimodais do corredor logístico agrícola Centro-Oeste
.
Observando esse mapa podemos visualizar os terminais, e observar que estes estão
localizados no corredor de escoamento da safra centro-oeste, que parte do Norte do Mato
Grosso, passando pelo sul de Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e parte do Paraná até
chegar aos dois principais portos marítimos de Santos e de Paranaguá (OJIMA & ROCHA,
2006).
4. Desempenho
O desempenho está ligado à idéia de comparabilidade, ele é medido somente em relação a
um referencial, como os resultados anteriores do operador ou ainda os resultados médios
da indústria na qual o operador está inserido.
A análise do desempenho coloca em evidência a necessidade de um exame detalhado de
um certo número de operadores, tais como as que obtêm os melhores resultados financeiros
ou as que detêm as maiores partes do mercado. Este exame permite a avaliação das
variáveis estratégicas mais importantes e a compreensão de como elas devem ser
manipuladas de forma a orientar os operadores para melhores desempenhos.
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Os principais problemas ligados à avaliação de performance são devidos a dificuldade de
definir o desempenho através de indicadores simples e realistas e da dificuldade de
conciliar estes indicadores com sistemas de informações ainda pouco desenvolvidos.
Tais dificuldades são ainda mais acentuadas considerando a necessidade de medir o
desempenho da atividade ao nível da indústria, assim como ao nível dos operadores que o
integram. Isto nos conduz, de um lado, à visualização do desempenho de maneira global,
onde intervêm, sobretudo, variáveis macroeconômicas como principais fatores
explicativos, e de outro lado, a visualização do desempenho específico a cada operador
onde os fatores intrínsecos, sobretudo os de ordem estratégica, tomam uma importância
predominante.
Em geral os trabalhos referentes ao desempenho fazem uma análise unidimensional deste,
considerando apenas aspectos ligados à eficiência da indústria ou dos operadores. Todavia,
o desempenho não é medido unicamente em termos de eficiência como a produtividade e a
rentabilidade. Vários autores (STERN L. e EL-ANSARY, 1982; INGENE, 1984; FILSER,
1987; GOLDMAN, 1992) sugerem que as dimensões de eficácia e de igualdade também
sejam consideradas para a obtenção de uma correta avaliação do desempenho global.
A medição de desempenho é o processo de quantificar a ação que leva ao desempenho
(CORRÊA E CORRÊA, 2007). Assim, segundo os autores, a medição de desempenho
ganha três dimensões:
Processo de quantificação da eficiência e eficácia
Métricas usadas para quantificar a eficiência e a eficácia das ações.
Conjunto coerente de métricas usado para quantificar ambas, a
eficiência e a eficácia das ações.
Para Martins e Laugeni (2009), a avaliação de desempenho é uma ação dos operadores que
estão preocupados com o seu futuro e que procuram melhorar suas atividades em relação a
outras empresas sendo estes concorrentes ou não.
Segundo Goldman (1992), o desempenho é um conceito multidimensional cuja avaliação
deve ser feita segundo as especificidades de cada sistema a ser avaliado, assim como ser
baseada em critérios próprios a cada atividade, e o todo ser analisado na perspectiva dos
diferentes agentes econômicos do sistema. A figura 2 apresenta um enquadramento geral
para a análise do desempenho.
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Fonte: Adaptado de STERN L., El-ANSARY (1982) e GOLDMAN (1992).
Figura 2 – Enquadramento para a análise do desempenho
Como este artigo procura medir a produtividade operacional dos terminais multimodais, a
discussão teórica se concentrará especificamente sobre este elemento de desempenho.
A eficiência consiste na avaliação da relação entre os resultados obtidos pelo operador e os
recursos colocados a disposição para sua realização.
A eficiência é mais freqüentemente avaliada em termos da relação de “output/input”. A
medida de “output” mais comumente utilizada é o faturamento realizado pela empresa.
Como “input”, grande número dos trabalhos científicos utilizam o trabalho, medido em
termos de nº de empregados ou em termos de horas–homem trabalhadas. Assim, a medida
da produtividade física capta, sobretudo, os efeitos da gestão operacional das empresas.
Índices financeiros como a rentabilidade dos ativos e a rentabilidade financeira são
também propostos como medidas de eficiência.
Enquanto a eficácia e igualdade são avaliadas, sobretudo, de maneira qualitativa, a
avaliação da eficiência lança mão de modelos matemáticos mais facilmente aceitos pelos
pesquisadores (GOLDMAN, 1992).
4.1. A medida do “output”
A definição de “output” não é evidente na medida em que o operador agrega toda uma
gama de serviços, como o transbordo, a secagem, o armazenamento, etc., os quais são
bastante difíceis de medir. Assim, a manipulação produto físico, é apenas uma parte do
produto ampliado proposto pelo operador.
Esses “outputs” representam também o desempenho organizacional e estão ligados aos
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seguintes critérios:
Qualidade: Entregar produtos isentos de erros.
Rapidez: Entregar os produtos ou serviços assim que solicitado pelo
cliente.
Confiabilidade: Apresentar os produtos sem erros e dentro do prazo
para os clientes sempre.
Flexibilidade: Estar em condições de se adaptar e mudar os processos
sempre que solicitado pelo cliente.
Custos: Disponibilizar os produtos a um preço de acordo com o seu
valor agregado, garantindo retornos satisfatórios a organização ou empresa.
Esses cinco critérios passam a ser os objetivos de desempenho do operador os quais terão
uma escala de importância diferente dependendo do posicionamento estratégico da
empresa (CORRÊA E CORRÊA, 2007; MARTINS E LAUGENI, 2005; SLACK,
CHAMBERS, E JOHNSTON, 2002).
4.2. A medida do “input”
Os “inputs” de um sistema compreendem o conjunto de fatores de produção empregados
pelo operador, como a mão de obra, capacidade de recepção, capacidade de expedição,
capacidade de armazenagem, a logística, os sistemas de informação, etc.. Entre os recursos
de produção mais utilizados como medida de “input” do sistema estão: os ativos totais, o
trabalho.
Várias relações de eficiência podem ser obtidas segundo os diversos “outputs” e “inputs”
que sejam colocados em relação. A escolha da relação mais conveniente depende
essencialmente da atividade específica sobre a qual será medida a eficiência.
Segundo Martins e Laugeni (2005) a produtividade é mais comumente ligada à mão-de-
obra, por geralmente ser o fator de maior custo, e também pelo fato do avanço tecnológico
estar mais associado ao deslocamento de mão de obra pelo aumento de produtividade do
que ao deslocamento de outros fatores de produção. Isso vai na contramão do que Neely
(1999) apud Corrêa e Corrêa (2007) diz, segundo este autor o desempenho tem ganhado
novas formas porque houve uma mudança na natureza dos negócios. Uma vez que, a mão-
de-obra não representa mais os 50-60% dos custos.
Para este estudo vamos considerar a capacidade instalada de armazenagem, transbordo e
número de funcionários como inputs. Como “outputs” foram definidos a quantidade
anualmente movimentada pelos terminais e seu faturamento médio estimado.
5. Desempenho dos terminais intermodais do corredor logístico agrícola centro-
oeste.
Na tabela 1 são apresentados os “inputs” e os “outputs” obtidos junto aos terminais
intermodais através de entrevista junto aos gerentes. Salienta-se o fato dos terminais 6 e 7
terem uma movimentação muito baixa no ano de 2008 devido a embargos ambientais. Esse
fato altera, em muito, a produtividade destes.
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Fonte: elaborado pelos autores
Tabela 1 – “Inputs” e “outputs” dos terminais multimodais do corredor logístico agrícola Centro-Oeste -
2008
É interessante ressaltar aqui que o nome dos terminais foi substituído por números de 1 a 7
atribuídos de forma aleatória. Em um primeiro momento (tabela 2) vamos aplicar a técnica
da Analise Envoltória de Dados utilizando o número médio de funcionários, capacidade de
armazenagem e capacidade de transbordo como inputs e a movimentação anual como
único output. Isso porque o terminal número 3, por ser um terminal privado exclusivo, não
tinha um preço de transbordo, o que não nos permitiu estimar o seu faturamento.
Em seguida vamos utilizar o DEA considerando o faturamento estimado como segundo
output, e sem incluir o terminal número 3. É interessante incluir essa analise porque é um
output clássico para analise da produtividade e também porque alguns terminais com um
volume menor de movimentação têm um alto valor agregado em seus serviços.
Assim, temos:
Simulação 1 – 07 terminais multimodais rodo-ferroviários e rodo-
hidroviários, tendo como output a quantidade de grãos anualmente movimentados.
Simulação 2 - 06 terminais multimodais rodo-ferroviários e rodo-
hidroviários, tendo como outputs a quantidade de grãos anualmente movimentados e o
faturamento estimado com a movimentação de grãos.
A tabela 2 apresenta os resultados da aplicação da técnica de Análise Envoltória de dados
(DEA) para os dois cenários.
Terminal Eficiência Simulação 1 Eficiência Simulação 2
1 100% 100%
2 30,3% 59,3%
3 48,8%
4 10,5% 19,3%
5 100% 100%
6 03,2% 8,7%
7 06,5% 23,2%
Terminal
Nº médio de
funcionários
Capacidade de
Armazenagem
(ton)
Capacidade de
transbordo
(ton/dia)
Movimentação
anual
(ton/ano)
Faturamento
anual estimado
(R$/ano)
1 70 25000 5000 1440000 7.920.000,00
2 77 50000 15000 1100000 5.060.000,00
3 15 6000 2500 300000 -*
4 17 50000 4000 100000 350.000,00
5 76 35000 21600 5040000 6.300.000,00
6 14 2700 1000 8100 74.520,00
7 14 10000 2500 40000 368.000,00
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Fonte: Elaborado pelos autores
Tabela 2 – Desempenho dos terminais segundo a Análise Envoltória de Dados
A priori podemos observar que ao considerar o faturamento estimado como um output,
todos os terminais apresentaram ganhos de desempenho. Isso demonstra o peso que a
formação de preço pode representar em competitividade no serviço de transbordo.
Como podemos observar o terminal 1 atingiu uma eficiência de 100% nas duas situações.
Isso ocorre porque este terminal é um caso de integração vertical da operadora da ferrovia,
através de participação com ações, o que lhe garante amplo acesso ao modal. Outro
diferencial desse terminal em relação aos concorrentes é o seu preço médio que está abaixo
da média. Ele consegue praticar um preço mais baixo porque, possivelmente, maximiza
seus lucros com a otimização do modal ferroviário.
O terminal número 2 é um terminal privado e apresentou níveis de eficiência diferentes nas
três situações. O ganho de eficiência considerando 2 outpus foi positivo, praticamente
dobrou.
O terminal 3 apresentou uma eficiência considerável em sua operação na primeira análise,
ocupando a terceira classificação. Essa boa eficiência pode ser explicada pelo bom
balanceamento das instalações para atender especificamente as necessidades do operador
do terminal. Cabe ressaltar que este terminal é de uso exclusivo de uma grande “trading”.
O Terminal 4 é estatal e seu uso está direcionado para atender mais as demandas sociais
como regulação de estoque e preços. Isso de certa forma explica seu baixo desempenho.
O Terminal 5 também atingiu 100% de eficiência nas duas situações. Isso pode ser
explicado também pela integração vertical, a exemplo do terminal 1. Este terminal se
destaca pelo grande volume de transbordo que apresenta. Resta dizer ainda que, hoje ele se
apresenta como terminal benchmark no país. Tanto na forma da sua gestão e operação
como em tecnologias. Ele apresenta as instalações mais modernas da amostra analisada.
Por fim podemos dizer que os terminais 6 e 7 apresentaram ganhos expressivos de
eficiência ao acrescentar o faturamento estimado, pelo fato do preço ser um pouco mais
elevado ao agregar o valor de desembaraço alfandegário de exportação. Esses terminais
tiveram um desempenho atípico no ano de 2008 devido ao embargo ambiental imposto ao
modal hidroviário, que serve estes terminais. A demora em encontrar uma solução para o
impasse acabou por prejudicar significativamente sua operação.
De modo geral, os terminais analisados operam com significativa capacidade ociosa por
restrições, notadamente, nos modais que os servem, sejam ferroviários ou hidroviários, ou
seja, suas eficiências estão limitadas à eficiência dos modais ferroviário e hidroviário.
6. Considerações finais
O uso das variáveis apresentadas neste trabalho mostrou uma consistência relevante para
medir o desempenho produtivo dos terminais intermodais amostrados. A análise envoltória
de dados se mostrou uma técnica pertinente de gerenciamento e apoio a tomada de decisão
gerencial. Ela consegue, de maneira fácil, medir as relações entre os “outputs” e os
“inputs”. Neste trabalho não consideramos a ferramenta que o DEA oferece, a qual
estabelece um balanceamento entre “inputs” para aumentar a eficiência e que poderia ser
largamente utilizada pelos gerentes dos terminais.
Evidenciamos uma subutilização das capacidades instaladas dos terminais. Isso se deve
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principalmente pelas restrições nas capacidades e disponibilidade dos modais. Essas
restrições de capacidade e disponibilidade no caso do modal ferroviário acontecem pelo
pequeno número de vagões, restrições de capacidade das linhas em relação à velocidade,
tamanho dos comboios, bitolas estreitas, congestionamentos de comboios em grandes
centros e próximo aos portos marítimos. A integração vertical se mostrou como diferencial
para o bom desempenho dos terminais.
O modal hidroviário, por sua vez, enfrenta restrições de navegabilidade em alguns trechos
e, em algumas épocas do ano, restrições quanto à largura e comprimento dos comboios,
calados pouco profundos, eclusas com baixa capacidade de operação, pequeno número de
embarcações, velocidade média muito baixa além de várias restrições e exigências
ambientais.
O escoamento de grãos, no caso dos dois modais, precisa competir ainda com outros
produtos de maior valor agregado que acabam ocupando a maior parte da infra-estrutura
modal disponível.
Podemos concluir, considerando as condições de pouca operância dos modais ferroviário e
hidroviário, que os terminais não apresentam gargalos e restrições de capacidade que
comprometam sua operação ou empecilhos que os impeçam de atingir melhores índices de
produtividade. De maneira geral os terminais apresentam diferenças em seus desempenhos
não por aspectos relacionados ao processo produtivo e sim as suas localizações e
dificuldades com os modais de transporte já expostos.
Ficou evidente durante a realização do trabalho a necessidade da ampliação das
capacidades dos modais ferroviário e hidroviário. Cabendo ao Estado o desenvolvimento
de políticas públicas para que haja maiores investimentos em infra-estrutura, não só de
origem pública, mas também privados.
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