Processos velados de seleção de alunos em escolas públicas e Esforços educativos de famílias de...

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interdependência competitiva em escolas paulistanas

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Apresentação das pesquisas Processos velados de seleção de alunos em escolas públicas e Esforços educativos de famílias de localidades vulneráveis - realizados entre 2011 e 2013 no âmbito da pesquisa “Educação em territórios de alta vulnerabilidade social na metrópole”. Apresentação realizada durante o Seminário Desigualdades socioespaciais e escolares Veja a cobertura completa aqui: http://bit.ly/17qjCnR

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interdependência competitiva em escolas paulistanas

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Interdependência competitiva em escolas paulistanas

Objetivos gerais

Analisar a hipótese elaborada em pesquisa anterior a respeito da existência de concorrência entre escolas no contexto brasileiro;

Verificar possíveis relações entre concorrência e desigualdades socioespaciais

Objetivos específicos

Estudo I: Analisar o processo de concorrência de professores por escolas, buscando desvendar se e como as desigualdades socioespaciais e a composição sociocultural do corpo discente das escolas influenciam as escolhas docentes.

Estudo II: Analisar as relações de concorrência entre escolas por estudantes, manifestada por processos seletivos ocultos, bem como apreender os fatores que motivam esses processos e seus mecanismos de efetivação.

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Estudo I: concorrência de professores por escolas

Por que investigar o fenômeno?

• O modelo de alocação de docentes nas escolas enseja a distribuição desigual de profissionais em regiões marcadas pela segregação socioespacial (HANUSHEK, 2005)

• Estudos indicam que a rotatividade docente impacta a qualidade de ensino ofertada pelas escolas (BONDI; FELÍCIO, 2007);

• Conhecer melhor os critérios que balizam as escolhas dos professores possibilita o delineamento de políticas públicas que visem a estabilidade do corpo docente;

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Desigualdades socioespaciais e concorrência de professores por escolas

Campo teórico

aqueles que se dedicam ao entendimento de como as desigualdades socioespaciais afetam a oferta educacional em grandes centros urbanos e

os que investigam as maneiras como escolas estabelecem relações de interdependência, competitiva afetando o cotidiano umas das outras.

A pesquisa busca relacionar dois campos de estudos:

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A carreira docente e seus mecanismos de ascensão (BECKER, 1952)

Ascensão vertical

• Movimento para cima ou para baixo entre posições diferenciadas em termos de hierarquia, prestígio e rendimentos. (Ex. concurso de acesso para coordenador pedagógico)

Ascensão horizontal

• Cargos de um mesmo nível hierárquico não são idênticos entre si, se diferenciam em função dos locais de trabalho, tanto em termos espaciais, quanto em se tratando das relações que se estabelecem. Mover-se nesse eixo objetiva a melhoria das condições de trabalho.

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Eixos de ascensão horizontal

Espacial

Diz respeito à localização da escola e diferencia aquelas

situadas no centro das situadas na periferia

Econômico cultural

Se refere à composição socioeconômica e cultural

do alunado da escola

A ascensão horizontal se dá pela combinação dos dois eixos, pois se fosse ponderada apenas a localização, o professor poderia ser levado a avaliações errôneas sobre a composição do alunado e, portanto, a escolhas equivocadas, como uma escola com alunos de classe baixa em um bairro de classe social mais elevada

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Escolhas metodológicas de nosso estudo

Construção de um banco de dados a partir das publicações em Diário Oficial referentes à remoção de professores efetivadas entre os anos de 2005 e 2011;

Recortes metodológicos• Professores removidos de ou para uma das 23 escolas municipais de

ensino fundamental da subprefeitura de São Miguel Paulista;• Foram consideradas as remoções de professores do ensino

fundamental I e, a partir de 2007, professores de educação infantil e ensino fundamental I;

Variáveis de análise• Eixo território: IPVS do entorno da escola• Eixo composição cultural: índice de heterogeneidade calculado a partir

dos recursos culturais dos alunos

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Escolhas metodológicas de nosso estudo

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Divisão dos professores por quartil

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Escolhas metodológicas de nosso estudo Capital profissional, posição na carreira e remoção

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Conclusão I: Desvantagem na atração e manutenção de professores em SMP

Enquanto157 professores chegaram a SMP vindos de outras regiões de São Paulo, 229 saíram de SMP rumo a outras subprefeituras paulistanas: déficit de 72 docentes;

Proporcionalmente, as áreas mais vulneráveis de SMP são aquelas que mais perdem docentes

Entrada e saída de professores de SMP por área de IPVS

Saíram Entraram Saldo

Baixa 11 23 12

Média 152 89 -63

Alta 66 42 -24

Total 229 157 -72Começar daqui

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Capital profissional e remoção SMP-SP

SMP “perde” professores que acumularam maior capital profissional e “ganha” aqueles com menor capital;

Dos 154 professores de primeiro quartil que se removem entre a subprefeitura de SMP e o restante da cidade de São Paulo, 33% chegam à subprefeitura e 67% a deixam.

Em contrapartida, a análise do último quartil mostra que dos 74 que transitam entre SMP e São Paulo, 60% chegam em SMP e 40% saem.

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As escolhas docentes e as hierarquias sociespaciais e socioeconômicas

Os professores pior classificados no concurso ingressam, em sua grande maioria, em escolas situadas em áreas mais vulneráveis e que concentram alunos com baixos recursos culturais

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Conclusão II: Remoção e ascensão socioespacial

A análise de remoções de escolas agrupadas em três categorias de acordo com IPVS e IH revela que a maioria dos professores que atuam em áreas mais vulneráveis se transfere para áreas menos vulneráveis

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Ascensão socioespacial

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Pontos para discussão

Que políticas públicas garantiriam a atração e manutenção de professores nas áreas vulneráveis?

Que aspectos podem ser abordados/aprofundados em pesquisas futuras?

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Estudo II: Processos velados de seleção de alunos

Questões norteadoras

• Como se organizam processos de seleção de alunos realizados pelas escolas?

• O que motiva esses processos?

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Estudo II: Processos velados de seleção de alunos

Principais referências

• Van Zanten (2005)• a concorrência entre estabelecimentos de ensino

nem sempre é impulsionada por políticas deliberadas de quase-mercado.

• pode decorrer de situações contextuais, tais como a presença de pais mais ambiciosos, que adotam estratégias em busca de escolas que lhes interessam ou de escolas com alunos predominantemente de nível socioeconômico mais baixo, as quais tendem a por em prática estratégias competitivas para não ter que lidar com alunos que, na sua avaliação, afetam seu ambiente escolar.

• Costa e Koslinski (2012)• apresentaram evidências de seleção de alunos na

rede municipal do Rio de Janeiro, mas em escolas de reputação diferenciada: “há forte seletividade por parte de alguns estabelecimentos mais conceituados, o que ocorre de forma velada”.

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Metodologia

Entrevistas semi-estruturadas com:

• Oito funcionários públicos responsáveis pela realização da matrícula, escolhidos mediante a técnica “bola de neve”• Entrevistas com técnicos das secretarias municipal e estadual de educação

Pesquisa documental

Trabalho de campo: outubro de 2011/março de 2012

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Regras de matrícula em São Paulo

Setorização tem como critério o endereço de referência do aluno

• Indicativo• Residência• Escola

Escola designada para matrícula: no máximo 2km do endereço de referência

A partir de 2012: Cadastro de intenção de transferência

Expressiva diminuição da autonomia da escola para efetivar seleção de alunos no acesso ao ensino fundamental

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Limite não é um impeditivo Tentativa de escolha se revela por meio de:

Efetivação do cadastro na escola pleiteada Deslocamento de matrícula e transferência Uso de comprovantes de terceiros

Setorização de matrícula: limite à escolha

Lógica da família versus lógica da Sec. de ed.

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Dois modelos de seleção Ativa e ReativaSeleção reativa: reage à tentativa de escolha das famílias

Porém, os argumentos parecem se fundar em justificativas pouco claras que se confundem com estigmas sociais: Famílias mais vulneráveis / Local de moradia Estereótipo de masculinidade pobre violenta

Objetivo: Evitar alunos menos conformes à lógica escolar: aqueles supostamente indisciplinados

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Critérios de seleção reativa

justificativas para a transferência

período letivo em que esta é demandada

idade

comportamento manifesto no momento da solicitação

notas

número de faltas

sobrenome

relações com funcionários da escola fora da instituição

escola de origem

morador de favela

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Procedimentos de averiguação da adequação do candidato à vaga:

Entrevista com pais/responsáveis e alunos

Análise dos prontuários

Ligação para a escola de origem

Negativa de vaga nos casos de suspeita de mau comportamento

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Seleção ativa

EXPULSÃO

COOPERATIVA

ACORDOS PRÉVIOS COM

OUTRAS ESCOLAS

TROCA DE ALUNOS

PROBLEMAS

COMPETITIVA

“PASSA A BOLA PARA OUTRO”

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• Uso de drogas na escola• Agressões a professores• Agressões a colegas

• Ameaça de morte

Gerência de conflitos já existentes

Critérios de expulsão

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Conclusões I

Os processos seletivos, para o grupo investigado, não visam a formação de um corpo discente cujo desempenho possibilite melhores condições de competição por resultados acadêmicos

Escolas procuram assegurar melhores condições de funcionamento em termos disciplinares

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Conclusões I

A pesquisa evidencia que a seleção de alunos não ocorre necessariamente somente em escolas públicas com reputação diferenciada.

Ratifica a visão de Van Zanten (2005) para quem escolas cujos alunos são predominantemente de NSE mais baixos tendem a práticas competitivas para evitar turbulências em seus ambientes escolas.

Cabe ressaltar que a pesquisa denota que as práticas de seleção veladas de alunos identificadas são baseadas em pré-noções e não em evidências empíricas de associação entre indisciplina e perfil do aluno.