PROCESSO DE TRABALHO E SERVIÇO · PDF file1. Introdução Ao analisar a...

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  • PROCESSO DE TRABALHO E SERVIO SOCIAL: particularidades do debate crtico sobre a

    profisso

    Cynthia Santos Ferrarez

    Natureza do trabalho: Reflexo terica

    Eixo III: SERVIO SOCIAL, FUNDAMENTOS, FORMAO E TRABALHO PROFISSIONAL

    Tema: - Trabalho Profissional

    Formao e titulao: Assistente Social e doutoranda do programa de ps-graduao em Servio

    Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ.

    Telefone: (32) 98866-3335 / (21) 98133-3030

    E-mail: [email protected]

    RESUMO

    A discusso sobre processo de trabalho e a insero do Servio Social

    no mercado de trabalho necessita de uma ateno especial, em que

    podemos identificar diferentes conceitos que expressam na atuao

    profissional. Sendo assim, o presente estudo aborda a viso alguns

    autores renomados sobre a temtica e parte do pressuposto que a

    profisso, assim como tantas outras presentes na ordem do capital.

    PALAVRAS-CHAVE: Processo de trabalho; Servio Social; Servios

    ABSTRACT

    The discussion of the work process and the inclusion of social work in

    the labor market requires special attention, we can identify different

    concepts that express the professional performance. Thus, this study

    addresses the vision some renowned authors on the subject, and

    assumes that the profession, like many others present in the capital

    order.

    1. Introduo

    Ao analisar a atual configurao do capital, observa-se a retomada de preceitos que sustentam o

    Estado Mnimo, que por sua vez resultam no aumento do assistencialismo e na reduo de direitos e

    gastos sociais pblicos. O Servio Social, neste contexto, enquanto profisso inserida na diviso social

    e tcnica do trabalho deve reconfigurar-se na busca de atender melhor as demandas vivenciadas por

    mailto:[email protected]

  • seu pblico alvo (o trabalhador e sua reproduo social) almejando uma hegemonia profissional

    baseada na garantia e defesa de direitos sociais, econmicos, polticos, culturais e da classe

    trabalhadora.

    O ajuste neoliberal configura um quadro crescente de retrocesso social, principalmente, em

    pases como o Brasil que sofrem brutalmente com a explorao exercida pelos pases com alta

    potncia financeira mundial, isso se d precisamente porque estamos confrontados com a burguesia

    plenamente construda e a Barbrie revela sua face contempornea. (NETTO, 2006 p. 41)

    Na contemporaneidade direito e participao econmica no so articulados. Essa articulao

    mostra-se essencial, uma vez que parte da necessidade de garantir acesso ao bem comum para toda a

    sociedade, o que implica em recuperar a capacidade de ao e de sentido do Estado e dos demais

    atores sociais. Essa recuperao transita na contramo dos canais contemporneos de controle social e

    nesse sentido que o Servio Social se fundamenta.

    O Assistente Social trabalha com essas expresses cotidianamente, tendo que pensar de forma

    propositiva para a superao das desigualdades sociais, no adotando uma postura messinica, mas

    buscando, por meio de uma interveno pautada em preceitos tico-polticos construdos

    coletivamente e atravs da articulao com projetos macro-societrios contra-hegemnicos. O projeto

    tico poltico profissional vem afirmar essa essencialidade de pensar e repensar o cotidiano de forma

    totalizante, haja vista que o profissional de Servio Social est inserido no contexto Neoliberal e sofre

    a mesma problemtica que os demais trabalhadores. Afirma Iamamoto que o cotidiano da vida em

    sociedade, o modo de viver e de trabalhar, de forma socialmente determinada, dos indivduos em

    sociedade, envolve a reproduo do modo de produo. (IAMAMOTO; CARVALHO, 2006 p. 72)

    Considerando que o Assistente Social se depara com limitaes cotidianas de enfrentamento das

    expresses da questo social, buscando ser um profissional propositivo e no meramente um tcnico

    executor de atividades previamente determinadas, impensadas e pontuais, destaca-se que essa pesquisa

    se desenvolveu, abordando os desafios e limitaes colocados aos profissionais e usurios dos servios

    pblicos, em funo das transformaes advindas do atual estgio de desenvolvimento do capital

    marcado pela acirrada manipulao ideolgica e econmica promovida pelos neoliberalistas.

    2. A expanso dos servios e as requisies postas ao Servio Social

    As relaes sociais atingem a totalidade da vida cotidiana, abarcando no s o trabalho, mas a

    famlia, o lazer, a escola, dentre outros. Diante disso, "o Estado passa a intervir diretamente nas

    relaes entre empresariado e classe trabalhadora, estabelecendo no s uma regulamentao jurdica

  • do mercado de trabalho" (IAMAMOTO; CARVALHO, 2006 p. 77), mas administrando a organizao

    e prestao de servios sociais, como um novo tipo de enfrentamento da questo social.

    Almeida (1996) destaca a importncia do Estado para o desenvolvimento dos servios:

    A expanso, aqui referida anteriormente, do setor de servios forjou um conjunto significativo

    de distribuio do excedente econmico produzido, dentre as quais situamos os chamados

    servios sociais. Sua materializao, contudo, deu-se no interior do aparato estatal e privado de operacionalizao desses servios, a partir de uma especializao crescente da diviso do

    trabalho que no se restringiu esfera produtiva. (ALMEIDA, 1996 p. 39)

    Mandel (1982) afirma que o Estado produto da diviso social do trabalho, ou seja, ele criado

    para sustentar a estrutura de classe e relaes de produo. O autor destaca, ainda, que o Estado tem

    como principais funes:

    1) Criar as condies gerais de produo que no podem ser asseguradas pelas atividades privadas dos membros da classe dominante; 2) Reprimir qualquer ameaa das classes dominadas ou fraes particulares das classes dominantes ao modo de produo corrente atravs do Exrcito, da polcia, do sistema

    judicirio e penitencirio;

    3) Integrar as classes dominadas, garantir que a ideologia da sociedade continue sendo a da classe dominante, e, em consequncia, que as classes exploradas aceitem sua prpria

    explorao sem o exerccio do direito da represso contra elas (porque acreditam que isso

    inevitvel, ou que "dos males o menor", ou a "vontade suprema", ou porque nem percebem

    a explorao). (MANDEL, 1982 p. 333-334)

    Mandel considera os servios improdutivos, exceto os servios de transporte, gs e energia

    eltrica, que so por ele considerados como parte da infraestrutura da produo industrial. De acordo

    com Costa (1998):

    Mandel expe um interessante argumento que parece explicar, por exemplo, a expanso

    mercantil dos servios de sade, educao, previdncia, lazer, considerados como de consumo

    coletivo para os trabalhadores. Assim, Mandel mostra que a diferenciao das necessidades de

    consumo, sobretudo a dos consumidores assalariados, especialmente da classe operria, constitui um dos elementos e/ou pr-requisitos expanso do processo de acumulao.

    (COSTA, 1998 p. 102)

    Almeida (1996) destaca que diante dos "novos arranjos e desenhos do Estado, das polticas

    sociais e dos prprios movimentos sociais, que se configuram na tica neoliberal e resultam em novas

    demandas" postas ao profissional de Servio Social, sendo assim, a anlise do processo de trabalho se

    mostra fundamental para pensar o trabalho diante da ofensiva neoliberal, diante da reforma do Estado.

    O processo de trabalho no qual est inserido o assistente social no exclusivamente da

    profisso, nas palavras de Iamamoto (2005, p. 28), preciso evitar uma superestimao artificial da

    profisso, pois este um profissional chamado desempenhar suas atribuies em um processo coletivo

    de trabalho. Novos espaos scio-ocupacionais abrindo um conjunto de especializaes profissionais,

    no s para assistentes sociais, mas para socilogos, cientistas polticos, educadores e etc. Entendendo

  • que o significado social da profisso remete a sua insero na sociedade, situando-a na lgica das

    relaes sociais manipuladas pelo capital e articulando-a aos valores que a legitimam, sua funo

    social e seus objetivos, conhecimentos tericos, metodolgicos, dentre outros.

    Almeida e Alencar (2011 p. 119) destacam que o percurso histrico da profisso perpassado

    por "produtos histricos determinados pelas condies em que se efetivam as intervenes do Estado

    em relao aos conflitos de classes, sobretudo a partir de suas polticas econmicas, sociais e

    culturais".

    As transformaes societrias incidem diretamente na atuao profissional, seja pela reduo

    e/ou transferncia de algumas demandas (em espaos ocupacionais j determinados historicamente),

    ou pelo surgimento de novas demandas (surgindo tambm novos espaos ocupacionais para a

    profisso), exigindo do profissional criatividade e eficcia para dar respostas s expresses da questo

    social.

    Perante contexto, o Servio Social brasileiro, durante o perodo de reestruturao do capital,

    desencadeado mundialmente nos anos 1970, se via as voltas com a reformulao da profisso,

    buscando legitimidade profissional e ruptura com o conservadorismo. Embora esse processo tenha se

    concretizado no incio da dcada de 1980, algumas questes relativas ao processo de formao e

    atuao profissional ainda permanecem, principalmente no que diz respeito polmica sobre o Servio

    Social ser Trabalho ou no.

    A anlise que o Servio Social como trabalho abordada na publicao de Marilda Villela

    Iamamoto e Raul de Carvalho na dcada de 1980, inaugurando, com isso, um processo de discusso

    aprofund