PROCESSO DE ESTRUTURAÇÃO DE PROBLEMAS …

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PROCESSO DE ESTRUTURAÇÃO DE PROBLEMAS INCORPORANDO ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DOS INDIVÍDUOS Bruna Cecília Costa Lima [email protected] Leydiana de Sousa Pereira [email protected] Danielle Morais [email protected] Modelar um problema é uma atividade árdua, principalmente quando envolve uma situação na qual seu contexto é não estruturado, existindo aspectos conflitantes e mesmo desconhecidos aos decisores. Nessa perspectiva, são úteis os métodos de estruturação de problemas. Dentre as abordagens conhecidas pode ser destacado o método SODA (Strategic Options Development and Analysis), que tradicionalmente, inclui aspectos cognitivos dos indivíduos, mas não são registrados aspectos comportamentais e fisiológicos. Consequentemente, foi observada a oportunidade para o aprimoramento do método SODA, sendo aqui proposto um modelo incorporando informações subjetivas e de comportamentos que expressem as reais preferências do decisor a fim de obter uma modelagem mais adequada e precisa, permitindo melhor interpretação dos cursos de ações obtidos ao fim da estruturação do problema. Palavras-chave: PO Soft, soda, Análises psicofisiológicas XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil” Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.

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PROCESSO DE ESTRUTURAÇÃO DE

PROBLEMAS INCORPORANDO

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DOS

INDIVÍDUOS

Bruna Cecília Costa Lima

[email protected]

Leydiana de Sousa Pereira

[email protected]

Danielle Morais

[email protected]

Modelar um problema é uma atividade árdua, principalmente quando

envolve uma situação na qual seu contexto é não estruturado, existindo

aspectos conflitantes e mesmo desconhecidos aos decisores. Nessa

perspectiva, são úteis os métodos de estruturação de problemas.

Dentre as abordagens conhecidas pode ser destacado o método SODA

(Strategic Options Development and Analysis), que tradicionalmente,

inclui aspectos cognitivos dos indivíduos, mas não são registrados

aspectos comportamentais e fisiológicos. Consequentemente, foi

observada a oportunidade para o aprimoramento do método SODA,

sendo aqui proposto um modelo incorporando informações subjetivas e

de comportamentos que expressem as reais preferências do decisor a

fim de obter uma modelagem mais adequada e precisa, permitindo

melhor interpretação dos cursos de ações obtidos ao fim da

estruturação do problema.

Palavras-chave: PO Soft, soda, Análises psicofisiológicas

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1. Introdução

Em um processo de tomada de decisão, sua primeira fase requer a compreensão de todos os

aspectos do problema, suas influências e interconexões (de ALMEIDA, 2013). Os problemas,

geralmente, são complexos e dispõem de uma grande quantidade de informações.

Consequentemente, tornam-se difícil para o indivíduo compreender tais situações sem o

auxilio de metodologias adequadas e formais.

Nessa perspectiva, sobressai-se a abordagem soft da pesquisa operacional. Esses métodos

surgiram para conferir maior atenção aos aspectos qualitativos e subjetivos dos processos de

decisão (de ALMEIDA et al. 2012). Em geral, um problema deve ser estruturado quando sua

atual configuração não está pronta para a modelagem. Consequentemente, almeja-se através

da exploração de espaços de solução, proporcionar uma estrutura ideal para a tomada de

decisão (FRANCO et al. 2004; ROSENHEAD, 1996).

Propriamente, considerando os métodos de estruturação de problemas, Mingers (2011)

destaca como as principais abordagens: o Strategic Options Development and Analysis

(SODA), Soft Systems Methodology (SSM), o Strategic Choice Approach (SCA) e o Value

Focused Thinking (VFT). Cada método apresenta uma particularidade: o SODA volta-se a

construção de mapas cognitivos e a análise de clusters; o SSM ressalta mudanças passíveis de

implementação tanto no presente como no futuro; o SCA foca nas incertezas incluindo a

projeção dos planos de contingência; e o VFT, diferentemente das abordagens descritas, que

trabalham com foco nas alternativas, tem como foco os valores na prossecução dos objetivos.

Dentre as abordagens de estruturação de problemas, pode-se evidenciar o SODA, em razão da

sua perspectiva interativa, e sua promoção de aprendizagem durante sua construção.

A complexidade agregada em cada problema está relacionada diretamente com a sua própria

dificuldade de resolução e com a capacidade cognitiva do indivíduo. Estes dois aspectos

limitam a capacidade de tomar decisões em condições de perfeita racionalidade (SIMON,

1986). Ao considerar essas limitações, é importante envolver a quantidade de informações

disponíveis, os riscos e os aspectos psicológicos associados, de modo a possibilitar o

estabelecimento das preferências individuais e, por conseguinte, entender seus efeitos

(CLEMEN, 1996).

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Esse contexto relaciona-se com a Teoria dos Prospectos, na qual preconiza que todas as

decisões possuem um impacto para o indivíduo. Esse impacto é gerado pela perda de um

determinado valor, que por sua vez é mais forte em termos do impacto relacionado ao ganho

do mesmo valor. Por conseguinte, o indivíduo tende mais a evitar perdas do que a desejar

ganhos, contrastando em certo ponto com o paradigma que o decisor é puramente racional e

deseja maximizar o valor esperado a todo custo (KAHNEMAN, TVERSKY, 1979, 1992).

Em um processo decisório, um aspecto fundamental para a redução de erros é a capacidade do

indivíduo compreender cognitivamente o problema (KIRS et al. 2001). Particularmente, cada

indivíduo tem uma forma de responder às situações na qual são expostos, que podem ser

analisados por meio de processos fisiológicos como: frequência cardíaca, monitoramento

eletrofisiológico da atividade cerebral, dilatação da pupila, resposta galvânica da pele, entre

outros. Estas respostas são conhecidas como biofeedback e ocorrem de forma inconsciente

(HENRIQUES et al. 2011; STRUNK et al. 2009).

Alguns desses biofeedbacks podem ser mensurados por instrumentos não invasivos, tais como

o Eletroencefalograma (EEG), capaz de registrar a atividade elétrica do cérebro por meio de

eletrodos distribuídos em pontos estratégicos no couro cabelo que medindo as flutuações de

tensão resultantes dos impulsos nervosos geradas pelas atividades dos neurônios e também as

ondas cerebrais e suas frequências; e o Eye Tracker, capaz de realizar um rastreamento ocular,

medição do tamanho da pupila, medição do tempo de fixação entre outras métricas por meio

de uma luz infravermelha, que é lançada pelo equipamento, reflete no olho e em seguida é

detectada novamente pelo equipamento por meio de um sensor óptico ou uma câmera de

vídeo.

Considerando a importância das abordagens soft para a estruturação de problemas, juntamente

aos crescentes interesses em estudos de aspectos fisiológicos na decisão, este estudo promove

a integração desses contextos.

Em termos da subdivisão desta pesquisa, inicialmente, é apresentada uma síntese dos dois

equipamentos e suas métricas de análises psicofisiológicas. Adicionalmente, é proposto um

modelo, voltado ao método de estruturação SODA, visando demonstrar a agregação de

informações neuropsicofisiológicas, especialmente o esforço cognitivo e dilatação da pupila,

aos métodos de decisão. Esse modelo pretende fornecer ao decisor uma forma de obter uma

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maior quantidade e qualidade de informações para que ele possa estruturar o seu problema da

melhor maneira possível e com isto, tomar uma decisão mais adequada e eficaz.

2. Estruturação de problemas e as análises comportamentais

As situações decisórias mais complexas que um decisor pode enfrentar são àquelas que os

resultados obtidos não são produto apenas de suas decisões, e sim de diversos atores.

Normalmente estas decisões possuem um impacto profundo, de longo prazo e de relevância

para a organização, de tal modo que quanto maior o crescimento em importância maior as

variáveis de incerteza e de risco, e com isto, o processo decisório converge para algo mais

complicado e com resultados imprevisíveis e imprecisos (OMAKI, 2015).

Desta forma, é necessária uma interação racional estratégica entre as partes interessadas para

que nenhuma decisão seja prejudicial a ninguém. É importante observar que as interações

mais importantes não são pontuais, mas interdependentes, visto que o desenvolvimento de

interações impacta em outras interações, e ao final interferem na estratégia do negócio.

O método SODA (Eden, 2004) tem o objetivo de apoiar o decisor, de forma mais eficaz, a

entender e gerenciar a complexidade na definição de um problema para que a solução

proposta seja a adequada para as variáveis do problema. Em sua construção, requer o uso dos

mapas cognitivos e clusters, ou seja, instrumentos de auxílio documental e visual.

Os mapas cognitivos são representações gráficas hierarquizadas capazes de estruturar

problemas ou situações de problemas por meio de um conjunto de informações fornecidas

pelo ator, normalmente de maneira falada por meio de entrevistas, para um facilitador sobre

um problema. O facilitador deve representar no mapa o que absorveu das interações

particulares do ator de forma neutra durante a entrevista ou após ela (EDEN, 2004).

O modelo de Eden (1988) pode ser entendido como sendo composto por duas partes, uma fase

inicial onde será extraído as ideias ou pensamentos do ator pelo facilitador. Na segunda etapa,

é apresentado ao ator às informações coletadas e sua estruturação, possibilitando sua uma

leitura e interpretação, e consequentemente, sua validação.

2.1 O comportamento do decisor

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Simon (1986) e Borenstein (1997) difundem a importância de agregar aspectos cognitivos de

apoio à decisão aos aspectos empíricos, para que unindo estes fatores abstratos aos concretos,

possam apoiar melhor o decisor.

Os processos decisórios sofrem interferências de diversos fatores, sendo alguns deles bem

conhecidos, tais como: tempo, disponibilidade de recurso, grau de importância, entre outros.

No entanto, nesse processo também se deve considerar a interferência do comportamento

humano, incluindo suas emoções. Nessa perspectiva, diversos estudos estão sendo realizados

mediante auxílio de equipamentos como: EEG, Imagem por ressonância magnética funcional

(fMRI, do inglês Functional Magnetic Ressonance Imaging), Eye Tracker, Espectroscopia no

infravermelho próximo (NIRS, o inglês Near-InfraRed Spectroscopy), entre outros.

2.1.1 Análise das atividades elétricas cerebrais

Segundo Eagleman (2015), o cérebro é o principal órgão do corpo humano, sendo responsável

por controlar todo o funcionamento do corpo. Cada indivíduo, dependendo de suas

experiências na vida, suas memórias e sua formação, reage diferentemente a estímulos, por

isso temos diferentes ações para um mesmo problema. O EEG é o mais comumente utilizado

para avaliar o trabalho cerebral de forma não invasiva. Diversos fatores são atribuídos, tais

como: acessibilidade em termos do custo em relação às outras ferramentas com essa

finalidade, precisão temporal e a possibilidade de ser portátil.

O EEG identifica os tipos de ondas cerebrais, a partir de diferenças de potenciais elétricos

entre pares de eletrodos. Esses eletrodos são dispositivos sensitivos que ficam instalados

acima da região cortical de interesse ou em pontos estratégicos distribuídos pela cabeça. Os

sinais coletados podem ser divididos em bandas de frequências como: delta (δ) possui

variação típica de 13-30 Hz e estão relacionadas a estados de excitação mental, alerta e

processamento consciente de informações; alpha (α) caracteristicamente variam de 8-13 Hz e

estão associadas com estado de relaxamento e bem-estar; theta (θ) tem frequências de 4-8 Hz

e são associadas ao início de sono ou hipnose e estados de meditação; por fim, tem o beta (β)

que possui frequência menor do que 4 Hz e significa um estado sonolento (BHAT, 2010;

GRUZELIER, 2009).

As funcionalidades do EEG foram empregadas para apoiar músicos diminuindo a ansiedade

pré-apresentações buscando fornecer um estado de relaxamento (GRUZELIER, 2009). Outro

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estudo utilizou o RSA e o EEG em conjunto para induzir uma diminuição de ondas beta e

aumento de ondas alpha demonstrando a redução no nível do estresse (SHERLIN et al. 2010).

Segundo Hosseini e Khalilzadeh (2010), o estresse pode ser definido como uma resposta para

o desgaste físico, mental ou emocional por meio de uma mudança do estado de calma para o

de agitação, provocando uma alteração do rendimento físico e cognitivo do indivíduo.

O EEG pode ser utilizado para detectar diferenças neurais na avaliação de recompensas

hipotéticas e reais e como elas afetam os processos de avaliação, encontrando assim

fundamentos neurais que podem explicar a mudança na atitude de risco em relação ao valor

esperado de uma loteria (MORGENSTERN et al. 2014). E também para investigar quais áreas

do cérebro são ativadas durante o processo de elicitação de um problema e poder encontrar o

que está concebendo um maior conflito para o decisor para poder atuar e melhorar o sistema

(ROSELLI et al. 2017).

2.1.2 Análises pupilométricas

O estudo da pupilometria é frequentemente empregado para analisar o processamento

cognitivo. Isto, pois o tamanho da pupila está diretamente relacionado ao esforço cognitivo

requisitado na realização de determinada tarefa. Um instrumento muito utilizado para análises

dessa natureza é o Eye Tracker. Este hardware permite captar a atenção visual coletando

informações a respeito da posição e movimentação dos olhos na tela, utilizando raios de

infravermelho (WATANABE, 2013; KLINGNER et al., 2008; HOSSAIN; YEASIN, 2014).

O tamanho da pupila é alterado involuntariamente na realização de qualquer trabalho

cognitivo, o que diferencia é o quanto de esforço cognitivo será requisitado. A dilatação é

feita de maneira proporcional, ou seja, com um aumento no esforço cognitivo para realizar

certa atividade a pupila irá se dilatar e, contrariamente, uma diminuição do esforço, as pupilas

irão se contraindo até atingir o tamanho natural. Vale ressaltar que isto ocorre de maneira

milimétrica e progressivamente (PRIVITERA et al., 2008; KAHNEMAN; BEATTY, 1966).

Esta reação involuntária é capaz de informar os limiares da decisão (Sirois, Brisson 2014)

bem como ser capaz de medir o grau de incerteza de forma implícita (GENG et al. 2015).

Alguns estudos foram realizados utilizando a pupilometria como: estudo sobre a atenção

visual utilizando um modelo computacional preditivo que simulava diversos efeitos sobre

algumas métricas, entre elas a dilatação da pupila para compreender a probabilidade dos

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profissionais da área da saúde em aceitar a participar da prática da eutanásia (FERNANDES,

2017). Outra pesquisa foi feita junto a participantes que tinham que realizar tarefas

relacionadas à simulação de condução de carro e tinham diferentes níveis de dificuldade,

como resultados obtiveram: à medida que a dificuldade da tarefa aumentava, o Eye Tracker

reconhecia precisamente o aumento do diâmetro da pupila a medida, diminuição do tempo de

fixação e também o estreitando o campo de atenção (CEGOVNIK et al., 2018).

Na seção a seguir é proposta a construção de um modelo para a incorporação de análises

psicofisiológicas na abordagem de estruturação de problemas do SODA.

3. Proposta de modelo

De acordo com Eden (1992), o método SODA tem como principal característica fornecer

uma ferramenta de apoio visual que são os mapas cognitivos, porém tradicionalmente esse

procedimento não incorpora componentes cognitivos e nem comportamentais.

Diante deste cenário, esta pesquisa tem por finalidade propor um modelo (Figura 1) que

amplie a visão do SODA, tornando-o capaz de absorver informações que descrevam atitudes e

comportamentos dos decisores. Esse modelo tem como perspectiva o uso de métricas das

análises cerebrais e de pupilometria. Consequentemente, será possível enriquecer as

informações extraídas através da abordagem SODA, em razão das métricas psicofisiológicas

dos decisores.

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Figura 1. Esquema do modelo de estruturação proposto

Fonte: Esta Pesquisa (2018)

Descrevendo as atividades envolvidas no modelo proposto, tem-se:

Etapa 1:

Essa etapa centra-se na coleta de dados a respeito do problema a ser estruturado.

Consequentemente, são também identificados os decisores envolvidos no processo, ou seja, os

atores que agem/ interferem no problema em questão. O facilitador é posicionado como um

ator responsável apenas pela organização das informações e pela condução da aprendizagem

do processo, não sendo cabível a expressão de julgamentos de valores.

Etapa 2:

Nesse momento, a preocupação está relacionada com a construção dos mapas cognitivos.

Assim, o facilitador entrevista individualmente cada decisor, estimulando-os a expressarem

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seus conhecimentos e experiências com o problema em questão. Em seguida, o facilitador

deve validar a representação construída com cada ator, sendo possível a promoção das

alterações que julgar necessário. Finalizado a construção dos mapas para cada ator envolvido,

o facilitador pode, considerando a hierarquia entre os atores, elaborar o mapa global do

processo.

Etapa 3

Esta fase corresponde ao diferencial do modelo proposto em relação à tradicional aplicação do

SODA. Isto, pois são acrescidas as análises, seja em termos das atividades cerebrais bem

como do rastreamento da pupila.

A proposta consiste em oferecer maior robustez ao procedimento do workshop para validação

do mapa global. Consequentemente, esse mapa grupal construído pelo facilitador na etapa

anterior, deve ser projetado para que o decisor faça sua leitura e acalente uma discussão

acerca dos nós e relacionamentos estabelecidos. Nesse momento, algumas reações

comportamentais e fisiológicas seriam captadas, para posterior tratamento e análise.

Nesse contexto, podem ser obtidas quais áreas do cérebro do decisor foram mais requisitas, e

em que pontos do mapa global estão sendo requisitados maiores esforços cognitivos (ou seja,

onde está apresentando maior dificuldade de compreensão). Essas métricas podem ser

verificadas a partir de componentes de análises de Event-Related Potential (ERP), tais como o

P300, que também está alicerçada no processo de aprendizagem.

Uma vez que há a exploração visual ao mostrar o mapa global aos participantes no processo

de workshop, pode-se notar a expressão do processamento de imagens em atividades elétricas

do cérebro a partir do ERP conhecido como P100.

Em contrapartida, pelos dados fornecidos através da ferramenta pupilométrica tem-se a

possibilidade de identificar em que partes do mapa está obtendo mais fixações (ou seja, os

pontos pra qual o decisor mais direciona seu olhar, e consequentemente inferir os nós que

mais chama atenção do decisor) e a amplitude de dilatação da pupila do decisor. Essa é uma

métrica que permite ser correlacionada com o esforço cognitivo, visto que o aumento do

diâmetro da pupila indica maior esforço cerebral, e por sua vez sugere que estamos diante de

uma situação de compreensão complexa.

Etapa 4:

Por fim, na etapa 4, finalizada a realização de todos os procedimentos são obtidas as ações de

decisões. Nesse momento deve ser pontuada a riqueza dessas ações, visto que foram

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identificadas a partir da confluência da perspectiva de diversos decisores e analisadas via

medidas psicocomportamentais. Dessa forma, tendem a ser mais representativas e,

consequentemente a possibilitarem uma maior eficiência ao problema.

4. Considerações finais

A proposta de integração do uso de aspectos fisiológicos aos aspectos cognitivos feita por esta

pesquisa está relacionada com os potenciais benefícios que estes aspectos são capazes de

agregar ao método SODA de análises subjetivas e cognitivas, contribuindo para um

melhoramento na concepção e no alcance do método. Estes insights auxiliam na modelagem

de preferências no processo de tomada de decisão, visto que, fornecem ricas informações

psicofisiológicas por meio de uma combinação de métricas de áreas cerebrais ativadas

(fornecidas pelo eletroencefalograma) e pela dilatação da pupila. Diante disso, a saber, se os

mapas cognitivos estão requerendo pouco ou muito esforço cognitivo, quais aspectos estão

gerando mais conflitos aos atores e corrigi-los, bem como identificar as reais preferências dos

decisores, e com isto, propicia ao método maior confiabilidade, e assim, a difundir mais o seu

uso.

Agradecimentos

Os autores expressam agradecimentos ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento

Cientifico e Tecnológico) e à CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior).

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