^Problemas e questões na Medicina do Trabalho em que ainda...

40
“Problemas e questões na Medicina do Trabalho em que ainda não existem soluções objetivas: um convite à reflexão” Conferência III – 29ª Jornada da AMIMT Belo Horizonte, 7 de novembro de 2015 Prof. René Mendes

Transcript of ^Problemas e questões na Medicina do Trabalho em que ainda...

“Problemas e questões na Medicina do Trabalho em que ainda não existem

soluções objetivas: um convite à reflexão”

Conferência III – 29ª Jornada da AMIMT

Belo Horizonte, 7 de novembro de 2015

Prof. René Mendes

1. Contextualização do tema na 29ª Jornada e indagações iniciais

1. Contextualização e indagações iniciais

• Existem “soluções objetivas” em Medicina do Trabalho?

• Quais seriam as principais dificuldades para encontrar “soluções objetivas” em Medicina do Trabalho?

• Quais são os principais problemas e questões que (ainda) não têm “soluções objetivas”?

• Ou, talvez, quais são os problemas e questões em Medicina do Trabalho para os quais (já) existem “soluções objetivas”?

• Em problemas e questões de Medicina do Trabalho, é possível “ir direto ao ponto”?

• E se não, quais seriam os caminhos alternativos?

• Outras...

2. Algumas expressões práticas da “complexidade intrínseca” da

Medicina do Trabalho

Necessidade de tomar decisões, fazer escolhas...

Tomar decisões em Medicina do Trabalho (Exemplos)

• Definir e interpretar o rol de exames complementares a serem realizados na admissão: propósito, “sensibilidade”, “ especificidade”, “valor preditivo positivo”, “valor preditivo negativo”, interpretação e uso.

• Decidir sobre “Aptidão” ou “Inaptidão” para a função específica que o trabalhador vai exercer, exerce ou exerceu (NR 7.4.4.3.e)

• Decidir sobre “Capacidade” ou “Incapacidade,” na perspectiva “laborativa”, na Perícia Médica do INSS.

• Se o benefício é “B31” ou “B91”... • Decidir se é “normal” (dentro da “Curva normal de

Gauss”) ou é “normal” (oposto de “anormal” ou supostamente “patológico”...), ou não...

• Muitas outras situações práticas!

Médico do Trabalho

Múltiplos referenciais na Medicina do Trabalho (Exemplos)

• Referenciais “médicos” • Referenciais “clínicos” (individuais) • Referenciais “epidemiológicos” (coletivos) • Referenciais “biológicos”, “fisiológicos” • Referenciais legais e normativos (Saúde, Trabalho,

Previdência, CFM/CRMs etc) • Referenciais deontológicos, éticos e bioéticos • Referenciais “sociais” e “políticos” contextuais • Referenciais sindicais (acordos coletivos, por exemplo) • Referenciais “administrativos” da organização onde o médico

do trabalho está inserido • Referenciais “profissiográficos” (requeridos para postos e

trabalho específicos) • Outros

Informação que “corre a boca pequena”, ainda não confirmada: São Sebastião (256-286 dC) era “médico do trabalho”...

3. Algumas razões explicativas da “complexidade intrínseca” da

Medicina do Trabalho

3.1. Importância e vulnerabilidade da MT no conflito “Capital x Trabalho”

Friedrich Engels (1820-1895): “A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra” (1844)

Estudo de Louis-René Villermé (1782-1863), intitulado Tableau de l’etat physique et moral e des ouvriers employés dans les manufactures de coton, de laine et de soie. Paris, 1840..

3.2. Crescente complexidade do “mundo do trabalho” - Exemplo

CID 10 - Z56 - Problemas relacionados com o emprego e com o desemprego

Z56.0 - Desemprego não especificado Z56.1 - Mudança de emprego Z56.2 - Ameaça de perda de emprego Z56.3 - Ritmo de trabalho penoso Z56.4 - Desacordo com patrão e colegas de trabalho Z5.5 - Má adaptação ao trabalho Z56.6 - Outras dificuldades físicas e mentais relacionadas ao trabalho Z56.7 - Outros problemas e os não especificados relacionados com o emprego

3.3. Complexidade das velhas e novas formas de “agressão” (viés da Patologia...)

Exemplo: “perigos e riscos” socialmente determinados e distribuídos (e mutáveis)

Exemplo: “perigos e riscos” distribuídos segundo “posição social” ou “hierarquia”

Exemplo: “perigos e riscos” distribuídos segundo “classe social”

3.4. Velhas e novas estratégias de “defesa” (versus “vulnerabilidade”)

Exemplos do desenvolvimento de velhas e novas estratégias de “defesa”

Desenvolvimento de novas competências, capacidades ou habilidades

Desenvolvimento de comportamentos induzidos, considerados favoráveis à saúde (dieta, exercício físico, controle de peso etc.)

Busca ou construção de mecanismos de cooperação, de solidariedade e de “apoio social no trabalho” (Johnson, 1991)

Capitalização da experiência acumulada e da “senioridade” “Habilidades da prudência” (Cru, 1983) “Inteligência astuciosa” (Detienne e Vernant, 1974) Defasagem intencional entre o trabalho prescrito e o trabalho real

(Daniellou, Laville e Teiger, 1983) Utilização de outras estratégias defensivas individuais (Déjours,

1988) Utilização de outras estratégias defensivas coletivas (Déjours, 1988) Outros recursos comportamentais de defesa

Exemplo: utilização da estratégia da “cooperação” e do “trabalho em equipe”

Oposto: “vulnerabilidade” agravada por falta de informação e de amigos (= baixo “capital social”!)

E o que é “capital social”? (Não existe um conceito único, consensual, mas este é um dos melhores...)

“...é um conjunto de recursos atuais ou potenciais que estão ligados ao fato de possuir uma rede de relações (...); dito em outros termos, significa o pertencimento a um grupo. O volume de capital social que possui um indivíduo em particular depende, portanto, da extensão da rede de relações que este pode efetivamente mobilizar (...). Produzir e reproduzir vínculos duráveis e úteis (...) Investimento social consciente ou inconsciente...” (Pierre Bourdieu, 1980)

As várias e inesgotáveis dimensões do “Modelo Demanda–Controle–Apoio Social” (Karasek e Johnson)

(Slide montado a partir de texto do Dr. Julizar Dantas)

Dentro e fora do

trabalho...

3.5. A importância dos complexos mecanismos de “adaptação”!

Exemplos: desenvolvimento de mecanismos de “adaptação”

Capacitação e treinamento Exercícios e condicionamento físico induzidos por “necessidades”

do trabalho: atletas, bailarinos, modelos etc Desenvolvimento de aptidões ou de “talentos” Mudanças de hábitos alimentares, em função do trabalho

(horários, qualidade e quantidade de alimentação etc.): aeronautas, motoristas profissionais, trabalhadores noturnos, trabalho em temperaturas extremas etc.

Mudanças de hábitos de sono, em função do trabalho (horários, quantidade etc.)

Desenvolvimento de mecanismos de coping (Des)ajustes comportamentais induzidos pela “ideologia do

trabalho” Outros mecanismos comportamentais de adaptação

3.6. Velhas e novas expressões de “lesão” (e a dificuldade de reconhecê-las)

Saúde/Doença no contexto da Classificação Internacional de Atenção Primária - CIAP 2

“... A CIAP tem como principal critério de sistematização a

pessoa incluindo o contexto social (Capítulo Z), e não a doença”. “A CIAP engloba mais de 200

sinais e sintomas...” “Os motivos da consulta poderão

ser sintomas, queixas ou problemas de saúde /diagnóstico

(...) registrados a partir a partir do ponto de vista do paciente, e

totalmente baseado na descrição do motivo feita por ele.”

CIAP = Mudança de Paradigma

Médico do Trabalho

4. Reflexão final: frente a tantas complexidades,

determinantes e variáveis, pergunta-se se, de fato, existiriam “soluções

objetivas” em Medicina do Trabalho? E se não houver, quais seriam as

alternativas?