Primeiro Filosofo Cristao Nash

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    O Primeiro Filsofo Cristo

    Ronald H. Nash

    Traduo: Felipe Sabino de Arajo Neto1

    A pessoa insinuada neste captulo foi a primeira a fornecer um esboo da filosofia crist da histria explicitamente. Muitos leitores vendo o ttulo deste captulo poderiam pensar em algum pensador cristo aps o trmino do primeiro sculo d.C., tais como Orgenes (185-254 d.C.) ou Tertuliano (160-230 d.C.). Outros suporiam Justino Mrtir (100-165 d.C.)2, um platonista pago (antes de sua converso) que foi morto em Roma por causa de sua f crist. Mas a pessoa que melhor se encaixa nessa descrio ser mencionada mais tarde neste captulo. Antes de faz-lo, importante examinar a viso da histria apresentada no Antigo Testamento.

    O Pano de Fundo do Antigo Testamento

    O entendimento da vida e histria que achamos no Antigo Testamento uma introduo indispensvel viso crist da histria. Fora da esfera da influncia hebraica, a abordagem pag da histria produz nada seno pessimismo e desespero, o resultado natural do ciclicismo e da recorrncia eterna. Uma vez que entendemos a abordagem da histria sem esperana sustentada pelas culturas no-hebraicas do mundo pr-cristo, a exclusividade da doutrina hebraica brilha como uma luz nas trevas.

    O ato mais significante de Deus na histria do Antigo Testamento foi o xodo, a libertao dos hebreus da escravido egpcia. Mas o xodo no foi simplesmente o fim de algo; foi parte de um processo com propsito que levou primeiro conquista e ocupao da Palestina pelos judeus e ento ao reino de Davi. Isso levou adicionalmente ao cumprimento das promessas com respeito ao Messias vindouro.

    Os profetas do Antigo Testamento tomavam a histria muito seriamente. O poder e as promessas de Deus eram centrais para o seu entendimento do passado. Quando eles voltavam sua ateno para o futuro, viam a histria como o drama do triunfo eventual de Deus sobre o mal. Sua viso da histria produziu o chamado deles para Israel se arrepender e obedecer. Os profetas do Antigo Testamento criam que Iav controla o processo inteiro da histria; o plano de Deus infunde significado na histria.

    1 E-mail para contato: [email protected]. Traduzido em maio/2007. 2 As datas para Orgenes, Tertuliano e Justino Mrtir so as mais prximas que pudemos conseguir.

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    O que comeou como uma histria envolvendo somente os descendentes de Abrao, Isaque e Jac se torna, como vemos no livro de Ams,3 um plano envolvendo pessoas de todo segmento do mundo.

    Porque os escritores do Antigo Testamento criam que a histria est sob o controle de Deus, eles puderam refletir sobre o propsito da histria. As promessas que Deus fez no passado, combinadas com a confiana dos profetas na veracidade e no poder de Deus, levaram-nos a ver o futuro com confidncia. Nem todas dessas promessas diziam respeito promessa da salvao de Deus para aqueles que confiam nele. A noo de confiana e esperana para com o futuro compartilhada pelos escritores do Antigo Testamento talvez a caracterstica determinante do entendimento veterotestamentrio da histria.

    Judasmo Helenista e Filo de Alexandria

    O que podemos chamar hoje de Judasmo Helenista era diferente do seu predecessor a religio do Antigo Testamento e do seu sucessor o Judasmo Rabnico. No comeo da era crist, Alexandria, no Egito, tinha se tornado o principal centro do pensamento helenista.4 Alexandria tambm se tornou uma grande comunidade de judeus que tinham sido desalojados da Palestina. Essa colnia de judeus alexandrinos5 se tornou helenizada no idioma e cultura. A traduo das suas Escrituras hebraicas, o Antigo Testamento, para o idioma grego (a Septuaginta) aumentou o isolamento cultural deles das suas razes hebraicas. Aps isso, eles ento tinham ainda menos incentivos para permanecer fluentes no idioma hebraico.

    Dado os interesses intelectuais dos judeus alexandrinos, era apenas natural que eles ficassem sob a influncia das filosofias do Platonismo e Estoicismo que tinham sido transplantadas para Alexandria. Filo (25 a.C. a 50 d.C.) fornece o melhor exemplo de como os judeus intelectuais da Disperso, isolados da Palestina e sua cultura nativa, permitiram que as influncias helenistas mudassem sua teologia e filosofia. Seus escritos so uma mistura de idias, promovidas largamente por meio de uma alegorizao deformadora do Antigo Testamento. Para chegar ao cerne dos escritos de Filo, necessrio superar as obscuridades e contradies dispersas por toda parte.

    3 Veja Ams 6:14; 9:8-9. 4 A palavra helenista dada ao perodo da histria que comeou com a morte de Alexandre o Grande em 323 a.C. e terminou com a conquista romana em 30 a.C. do maior vestgio do imprio de Alexandre, o Egito de Clepatra. Eventualmente, o termo passou a ser aplicado cultura do Imprio Romano tambm. Embora Roma tenha alcanado a supremacia militar e poltica em todo o mundo Mediterrneo, ela adotou a cultura do mundo helenista que precedeu sua ascenso ao poder. 5 Judasmo Helenista o termo oficial para as crenas e costumes de judeus que adotaram o idioma grego e a filosofia e pensamento de sua cultura helenista. Judasmo Alexandrino , obviamente, um rtulo para os judeus que se submeteram s influencias helenistas por causa de seu contato com a comunidade judaica em Alexandria, Egito.

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    Filo exagerou tanto a transcendncia (o ser outro) de Deus que ele tinha problemas em explicar como o seu Deus teria contacto com os humanos e o universo fsico. Filo tentou lidar com esse problema alegando que Deus age sobre o mundo por meio de seres intermedirios. O nome de Filo para os mais importantes desses intermedirios era logos, uma palavra que ele tomou emprestado dos filsofos esticos. De forma lamentvel, impossvel encontrar qualquer uso claro ou consistente da palavra nos muitos escritos de Filo. Por exemplo, ele usou logos para se referir ao mundo das formas eternas (idias) de Plato, mente de Deus, e a um princpio subordinado a Deus. Em outras ocasies, ele aplicou logos a vrios mediadores entre Deus e os humanos, tais como os anjos, Moiss, Melquisedeque, e o sumo-sacerdote judeu. comum em certos crculos insistir que o uso de logos no primeiro captulo do Evangelho de Joo como um nome para Jesus reflete a influncia de Filo sobre o pensamento da igreja primitiva.6 A indefensibilidade dessa teoria tem sido amplamente conhecida por dcadas.7

    Filo e a Viso Cclica da Histria

    As influncias filosficas dominando a cultura alexandrina foram to poderosas que Filo efetivamente abandonou a viso da histria do Antigo Testamento em favor da viso cclica. Como vimos no captulo anterior, os filsofos gregos pensavam na histria em termos de crculos eternamente recorrentes, pensando que a histria um grande crculo: Tudo que acontece j aconteceu vrias vezes antes e acontecer novamente. Tal viso deprecia a histria. Se a histria gira e gira, nunca chegando a algum lugar, para sempre se repetindo, ento no pode existir nenhum objetivo ou propsito na histria para os seres humanos como indivduos ou para a raa humana. Tudo o que acontece aos indivduos acontecer novamente; tudo o que os humanos realizam, eles devem realizar novamente e novamente para sempre. Os escritos de Filo revelam que a comunidade alexandrina tinha aceitado a viso cclica do tempo.8

    A Epstola aos Hebreus e o Judasmo Alexandrino

    O primeiro filsofo cristo o autor do livro do Novo Testamento conhecido como a Epstola aos Hebreus. O autor de Hebreus era um judeu helenizado, originalmente de Alexandria, que era totalmente familiarizado com a linguagem e idias filosficas presentes no Judasmo Alexandrino dos seus

    6 Joo 1:1 diz: No princpio era o Verbo (Logos), e o Verbo (Logos) estava com Deus, e o Verbo (Logos) era Deus. 7 Veja Ronald Nash, The Gospel and the Greeks (Richardson, Tx: Probe Books, 1992), cap. 5-6. 8 Veja os seguintes livros de Filo: Interpretation Allegorical 3,25 e On the Creation 60. Para mais sobre esse assunto, veja Ronald Williamson, Philo and the Epistle to the Hebrews (Leiden: E. J. Brill, 1970), 148ss. Para uma edio recentemente publicada dos escritos de Filo, veja The Works of Philo, traduo C. D. Yonge (Peabody, Mass.: Hendrickson, 1993).

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    dias. No mnimo, o escritor de Hebreus compartilhou com Filo uma educao comum no pensamento alexandrino. E ento, em algum ponto, ele se tornou um crente em Cristo que escreveu sua carta a uma comunidade de outros judeus alexandrinos que tinham se tornado cristos.9 O escritor de Hebreus assume que seus leitores esto familiarizados com a filosofia e teologia alexandrina. A viso que o livro de Hebreus um legado ao Cristianismo procedente do Judasmo helenizado de Alexandria compartilhada por muitos comentaristas.10 Contudo, no tempo em que escreveu sua epstola, ele estava determinado a contrastar suas convices crists e aquelas de sua comunidade de outros convertidos do Judasmo Helenista com a filosofia Alexandrina que ele agora via como incompatvel com o Cristianismo.11 Excederia o escopo deste livro fazer o grande retorno necessrio para entrar em grande detalhe sobre tudo isso. Os leitores interessados podem achar mais informaes e argumentos apoiadores em outro livro.12

    Um propsito, se no o maior objetivo do escritor de Hebreus, era expor a incompetncia dos mediadores ou logoi alexandrinos. Os mediadores da comunidade alexandrina eram identificados com palavras tais como Logos (Razo), Sofia (Sabedoria), anjos, Moiss, Melquisedeque (o sacerdote que abenoou a Abrao), e o sumo-sacerdote judeu. Filo tinha aplicado o termo logos a cada membro dessa lista. O escritor de Hebreus cr que Jesus superior a todo mediador citado no sistema alexandrino. Uma das palavras-chave de Hebreus melhor: Jesus melhor do que os anjos, Moiss, Melquisedeque, e o sumo-sacerdote judeu. Para o autor de Hebreus, Jesus o nico mediador verdadeiro entre Deus e os homens. Jesus o verdadeiro Logos, a verdadeira 9 Analisando vrias passagens de Hebreus, possvel duvidar da genuinidade do comprometimento feito por alguns membros dessa comunidade, como testemunhado por Hebreus 6:1-12. Nenhuma das expresses aplicadas aos recipientes da carta nesses versculos descreve necessariamente as pessoas que tinham passado por uma experincia de converso genuna. 10 Ronald Williamson cita a maioria das fontes importantes de ambos os lados da questo no primeiro captulo do seu livro Philo and the Epistle to the Hebrews, j citado. Embora Williamson reconhea a familiaridade do autor com o Judasmo Alexandrino, ele ctico quando diz respeito questo de uma relao pessoal com a filosofia de Filo. Evanglicos contemporneos como F. F. Bruce tm apontado a aparente familiaridade do escritor de Hebreus com alguns ensinos de Filo. Veja F. F. Bruce, The Epistle to the Hebrews (Grand Rapids: Eerdmans, 1964), lxix e seguintes, bem como o comentrio de Bruce sobre Hebreus em Peakess Commentary on the Bible, ed. M. Black and H. H. Rowley, rev. ed. (New York: Nelson, 1962), 1008. 11 Existem duas vises diametralmente opostas com respeito relao entre o livro de Hebreus e o pensamento de Filo e o Judasmo Alexandrino. Um extremo, tipificado pelo erudito francs C. Spicq, sustenta que o autor de Hebreus foi definitivamente influenciado de uma maneira direta pelos escritos de Filo. O escritor pode ter conhecido Filo pessoalmente; ele certamente leu algumas de suas obras; ele pode ter sido um convertido do Judasmo Alexandrino para o Cristianismo. Muitas verses moderadas dessa tese tm por anos achado expresso na literatura sobre Hebreus. O comentrio de Spicq sobre Hebreus permanece uma das obras mais detalhadas e plenamente documentadas argindo por uma forte e direta influncia filnica sobre Hebreus. Em 1970, contudo, Ronald Williamson desafiou as alegaes de Spicq. Williamson apresentou com sucesso vrias fraquezas no caso apresentado por Spicq. Embora Williamson tenha se enganado tambm, ao ir longe demais na direo oposta em seu esforo para eliminar qualquer influncia filnica, ele estava correto em alegar que os interpretes tm tendido a exagerar a influncia de Filo sobre o livro de Hebreus. 12 Veja Nash, The Gospel and the Greeks, cap. 6.

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    Sofia, e o Grande Sumo-Sacerdote. Ele muito superior aos anjos, Moiss e Melquisedeque. Cristo e o pensamento cristo so melhores do que a cosmoviso encontrada no Judasmo Alexandrino. Uma forma na qual o Cristianismo era superior era em sua viso da histria, especialmente sua oposio viso cclica da histria que Filo tinha tomado emprestado dos esticos.

    Para algum como Filo, que mantinha a viso cclica da histria, eventos na histria nunca poderiam alcanar o significado ou valor atribudo aos eventos histricos pelo Antigo Testamento (o xodo, por exemplo) ou pelo escritor de Hebreus. Quando o autor de Hebreus se tornou um cristo e ento escreveu sua epstola aos hebreus, ele tinha abandonado a posio cclica de seus anos alexandrinos. Ele repetidamente enfatiza a exclusividade histrica do que Jesus fez para efetuar a redeno da humanidade. Jesus no tem necessidade de oferecer sacrifcios dia aps dia ele o fez uma vez por todas quando a si mesmo se ofereceu.13 No necessrio, ele adiciona mais tarde, que Cristo se oferecesse repetidas vezes como os sacrifcios oferecidos no sistema sacrificial judaico. Mas, ele observa, Cristo apareceu uma vez por todas no fim dos tempos, para aniquilar o pecado mediante o sacrifcio de si mesmo Cristo foi oferecido em sacrifcio uma nica vez, para tirar os pecados de muitos.14 Comentrios similares sobre a finalidade da obra redentora de Cristo aparecem em Hebreus 10:10-14. Dado tudo o que agora sabemos sobre o pano de fundo alexandrino desse escritor e sobre a proeminncia do padro cclico da histria em Alexandria, a nfase na epstola sobre o sacrifcio nico, de uma vez por todas e irrepetvel de Jesus no pode ser uma coincidncia. Esse um sinal claro da substituio do autor de sua viso cclica anterior da histria por uma viso linear, na qual a morte de Cristo ocupa um estgio central.

    O sacrifcio de uma vez por todas, plenamente completo, irrepetvel e de carter final de Jesus contrasta severamente com os sacrifcios contnuos dos sacerdotes levitas. Diferente do sacerdote do Antigo Testamento, cuja obra de sacrifcio nunca era finalizada, a obra redentora de Jesus est consumada. Jesus a fez de uma vez por todas.

    Um helenista poderia rapidamente observar o desdm explcito do autor pela viso estica e filnica de tempo e histria. Como Ronald Williamson declara: Para os hebreus o tempo importa, no se repete (eventos acontecem dentro do uma vez por todas) Eventos no tempo podem ser decisivos, cruciais e climticos Eventos no tempo nunca poderiam ter para Filo aquele significado eterno e valor final que possuem para o escritor de

    13 Hebreus 7:27, NVI, nfase do autor. 14 Hebreus 9:25-28, NVI.

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    Hebreus.15 O escritor de Hebreus percebe o tempo no como cclico, mas como linear. Essa perspectiva permite que ele veja a histria como progredindo para um objetivo, a vitria final de Deus. A viso linear da histria permite que o autor veja momentos particulares na histria, tais como a Crucificao, como eventos nicos e no-repetveis. Assim, essa nfase em Hebreus colide de maneira irreconcilivel com a mentalidade helenista sobre o tempo.

    Cinco pontos parecem ter sido claramente estabelecidos: (1) O autor de Hebreus era totalmente familiarizado com o pensamento do Judasmo Alexandrino e seu vocabulrio tcnico; (2) Parece altamente provvel que ele estava familiarizado com pelo menos alguns dos escritos de Filo e alguns dos detalhes do sistema de Filo; (3) Os dois primeiros pontos sugerem fortemente que o autor de Hebreus era um judeu helenista instrudo, mui provavelmente de Alexandria; (4) A evidncia tambm sugere que era familiar com a sntese interessante de Platonismo e Estoicismo ensinada por pensadores alexandrinos como Filo; (5) Certamente no envolve nenhuma imaginao forada chamar o autor de Hebreus de um filsofo, visto que ele claramente demonstra facilidade em lidar com as idias dos pensadores alexandrinos. Visto que razovel considerar o autor de Hebreus como um filsofo, o qualificamos como o primeiro filsofo cristo.

    A Identidade do Primeiro Cristo Filsofo

    O material apresentado acima fornece vrias pistas importantes sobre a identidade do autor de Hebreus:

    (1) O autor de Hebreus era um crente judeu em Jesus Cristo. Nenhum gentio poderia ter escrito a Epstola aos Hebreus.

    (2) O autor era um judeu helenista. Isso significa que o autor de Hebreus era um judeu que falava grego, um dentre aquele grande nmero de judeus helenistas cujo idioma e cultura refletiam mais a sntese grega e romana, que se desenvolveu aps a morte de Alexandre o Grande, do que a cultura palestina comum aos cristos primitivos tais como Pedro.

    (3) O autor era um judeu helenista de Alexandria.

    (4) O autor era altamente instrudo.

    (5) O autor era um grande pregador. Isso aparente uma vez que percebemos que a Epstola aos Hebreus na verdade um tipo de sermo escrito.

    15 Williamson, Philo and the Epistle to the Hebrews, 148.

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    (6) O autor tambm parece ter tido um relacionamento pessoal com o apstolo Paulo e Timteo (veja os ltimos poucos versculos de Hebreus). Assim, aqui esto seis marcas distinguidoras do autor de Hebreus. A prxima questo deveria ser bvia: Existe alguma pessoa no Novo Testamento que se encaixa nessa descrio? A resposta reside em duas passagens.

    A primeira dessas Atos 18:24-19:7. Citarei somente Atos 18:24-26 dessa primeira passagem:

    Nesse meio tempo, chegou a feso um judeu, natural de Alexandria, chamado Apolo, homem eloqente e poderoso nas Escrituras. Era ele instrudo no caminho do Senhor; e, sendo fervoroso de esprito, falava e ensinava com preciso a respeito de Jesus, conhecendo apenas o batismo de Joo. Ele, pois, comeou a falar ousadamente na sinagoga. Ouvindo-o, porm, Priscila e qila, tomaram-no consigo e, com mais exatido, lhe expuseram o caminho de Deus.

    Cinco das caractersticas distinguidoras do escritor de Hebreus so atribudas a Apolo nesses versculos. Ele era um judeu culto, instrudo, que falava grego, que possua um nome grego de Alexandria, e que era obviamente um orador e mestre dotado. Embora possusse boa informao sobre Jesus antes de sua converso, sua compreenso da f crist era deficiente em vrios aspectos importantes, sendo um deles sua confuso sobre o batismo de Joo o Batista. Apolo foi discipulado por Priscila e quila (Atos 18:26), bem como pelo apstolo Paulo (Atos 19:1-7).

    Uma vez que seus erros foram corrigidos, Apolo se tornou uma presena poderosa na igreja, como aprendemos do nosso segundo texto (1Co. 1:11-17), onde Paulo discute a dissenso na igreja em Corinto ente aqueles que seguiram a pregao de Apolo, aqueles que seguiram a Pedro,16 e aqueles que seguiram a Paulo. O fato que Apolo mencionado na companhia de Paulo e Pedro serve como testemunho de seus dons pessoais e ministeriais.

    Nenhuma outra pessoa mencionada no Novo Testamento se encaixa com a descrio do primeiro filsofo cristo, o autor de Hebreus, melhor que Apolo. Se o nome do autor de Hebreus mencionado em algum lugar no Novo Testamento, esse nome quase que certamente deve ser Apolo.

    A Identidade do Primeiro Cristo Filsofo

    A viso cclica da histria minimiza a significncia da histria. Se Pel deve marcar o seu 1000 gol durante cada ciclo do processo histrico, o

    16 Cefas um equivalente grego de Pedro.

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    evento perde a sua exclusividade. Qualquer evento que deva ser repetido inmeras vezes perde sua significncia em tal entendimento da histria. Mas para o Cristianismo, a histria no se repete. A histria no um crculo; uma linha com um princpio (a criao) e um fim (o julgamento final e a eternidade). Porque a histria uma linha, os eventos individuais que ocorrem na histria e os indivduos que vivem na histria tm significncia.

    Para Leitura Adicional

    F. F. Bruce, The Epistle to the Hebrews (Grand Rapids: Eerdmans, 1964).

    Ronald Nash, The Gospel and the Greeks (Richardson, Tex.: Word, 1992).

    Ronald Nash, The Word of God and the Mind of Man (Phillipsburg, N.J.: Presbyterian and Reformed, 1992).

    Philo, The Works of Philo, traduo C. D. Yonge (Peabody, Mass.: Hendrickson, 1993).

    Ronald Williamson, Philo and the Epistle to the Hebrews (Leiden: E. J. Brill, 1970).

    Fonte: The Meaning of History, Ronald H. Nash, Broadman & Holman Publishers, p. 41-48.