PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO: O MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE JÚNIAS

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UNIVERSIDADE LUSÍADA DO PORTO PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMONIO ARQUITECTÓNICO: O MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE JÚNIAS João Carlos Moreira da Silva Azevedo Dissertação para obtenção do Grau de Mestre Porto, 27 de Setembro de 2011. Demo (Visit http://www.pdfsplitmerger.com)

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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM ARQUITECTURA

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UNIVERSIDADE LUSÍADA DO PORTO

PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMONIO ARQUITECTÓNICO:

O MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE JÚNIAS

João Carlos Moreira da Silva Azevedo

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

Porto, 27 de Setembro de 2011.

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Agradecimentos

Como não há palavras capazes de descrever de forma autêntica o sentimento sui

géneris que caracteriza este marco do meu percurso pessoal e profissional, deixo um

simples OBRIGADO, carregado de um sentimento de sorte, misturado com privilégio e

muito trabalho, pelo facto de ter a meu lado, em primeiro lugar, a Arq. Professora Doutora

Maria Xavier Diogo e Arq. Professor João Paulo Rapagão, pela orientação deste trabalho, e

pela persistência no cuidado e construção que dedicaram à minha personalidade

Profissional.

Aos professores que ao longo do meu percurso académico deixaram um pouco de si

comigo, concretamente ao Arq. Jorge Carvalho e o Arq. Francisco Vieira de Campos.

Agradeço ainda ao Arq. Alcino Soutinho pela gentil cedência de desenhos e memória

descritiva e pela sua colaboração.

Como não poderia deixar de ser, agradeço o carinho incondicional dos meus pais,

da Rita e da Raquel.

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Resumo

Propomo-nos, neste trabalho, efectuar uma abordagem ao projecto de reabilitação e

recuperação de edifícios de carácter patrimonial, com foco no Mosteiro de Santa Maria de

Júnias, procurando construir-se uma resposta sob forma de projecto, baseada em princípios

metodológicos e ainda sobre o estudo e reflexão histórica relativa à preexistência do lugar

à forma construída.

O presente trabalho desenvolve-se tendo por base as metodologias do tema

projectual, como hipótese de melhorar a relação do existente com os padrões exigíveis de

conforto, acessibilidades e programa contemporâneo, com vista à valorização e

preservação das Ruínas do Mosteiro de Santa Maria de Júnias.

Pretende-se, assim, problematizar o modo de adoptar a preexistência a novos usos,

ou por outro lado, adoptar os novos usos à preexistência.

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I

Abstract

We propose, with this work, to make an approach to the project of rehabilitation

and restoring of heritage buildings, with focus on the Monastery of Santa Maria de Júnias,

seeking to build a response in the form of a project, based on methodical principles and on

the historical reflection and study concerning the pre-existed place built form.

This present work develops based on the methodological principles of the

project theme, as a chance to improve the existent relationship with the required standards

of comfort, accessibilities and contemporary program, having as target the appreciation

and preservation of the ruins of the Monastery of Santa Maria de Junias.

We pretend, therefore, to create a problem in the way to adopt the pre-

existent to the new uses, and on the other hand, to adopt the new uses to pre-existing ones.

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PáginaIV

Índice

Agradecimentos I

Resumo II

Abstract III

Índice IV

Índice de imagens V

Introdução X

Capítulo I – Análise e Interpretação 17

1.1 – Localização 1.2 – Descrição do conjunto 1.3 – Evolução morfotipológica 1.4 – Levantamento

Capítulo II – Princípios Metodológicos 36

2.1 – Abordagem metodológica 2.2 – Valor patrimonial / valor histórico 2.3 – Em retrospecção 2.4 – Reabilitação e recuperação

Capítulo III – Proposta – Mosteiro de Santa Maria de Júnias 76

3.1 – Perspectivas diacrónicas em discussão; a sua implementação 3.2 – Proposta: dissertação e viabilidade 3.3 – Soluções aplicadas 3.4 – Considerações finais

Bibliografia 98

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Índice de imagens

Fig. 1 – Esquema realizado pelo candidato a partir dos desenhos topográficos, cedidos pela C. M. Montalegre

Fig. 2 – Esquema realizado pelo candidato a partir do ortofotomapa, cedidos pela C. M. Montalegre

Fig .3 – Fotografia panorâmica realizada pelo candidato

Fig. 4 – Fotografia panorâmica realizada pelo candidato

Fig. 5 – Fotografia panorâmica realizada pelo candidato

Fig. 6 - Esquema fotográfico realizado pelo candidato

Fig. 7 - Esquema realizado pelo candidato, com base nos esquemas apresentados por Mário Barroca in

“Mosteiro de Santa Maria de Júnias – Notas para o estudo da sua evolução arquitectónica.”

Fig. 8- Fotografia panorâmica realizada pelo candidato

Fig. 9- Fotografia panorâmica realizada pelo candidato

Fig. 10- Fotografia realizada pelo candidato

Fig. 11- Fotografia realizada pelo candidato

Fig. 12- Esquema realizado pelo candidato no local, com apoio nos desenhos de levantamento, gentilmente

cedidos pelo Arq. João Paulo Rapagão

Fig. 13- Fotografia realizada pelo candidato

Fig. 14- Desenho de levantamento realizado pelo candidato no local, com apoio nos desenhos de

levantamento cedidos pelo Arq. João Paulo Rapagão

Fig. 15- Desenho de levantamento realizado pelo candidato no local, com apoio nos desenhos de

levantamento cedidos pelo Arq. João Paulo Rapagão

Fig. 16- Fotografia panorâmica realizada pelo candidato

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I

Fig. 17- Desenho de levantamento realizado pelo candidato no local, com apoio nos desenhos de

levantamento cedidos pelo Arq. João Paulo Rapagão

Fig. 18- Desenho de levantamento realizado pelo candidato no local, com apoio nos desenhos de

levantamento cedidos pelo Arq. João Paulo Rapagão

Fig. 19- Fotografia realizada pelo candidato

Fig. 20- Desenho de levantamento realizado pelo candidato no local, com apoio nos desenhos de

levantamento cedidos pelo Arq. João Paulo Rapagão

Fig. 21- Desenho de levantamento realizado pelo candidato no local, com apoio nos desenhos de

levantamento cedidos pelo Arq. João Paulo Rapagão

Fig. 22- Fotografia panorâmica realizada pelo candidato

Fig. 23- Cópia do desenho original, gentilmente cedido pelo Arq. Alcino Soutinho

Fig. 24- Desenho cedido pelo Arq. João Paulo Rapagão

Fig. 25 – Esquiço de processo realizado pelo candidato

Fig. 26 – Fotografia realizada pelo candidato

Fig. 27 - Desenhos finais da proposta realizado pelo candidato

Fig. 28 - Esquema realizado pelo candidato, com base nos esquemas apresentados por Mário Barroca in

“Mosteiro de Santa Maria de Júnias – Notas para o estudo da sua evolução arquitectónica.”

Fig. 29 – Esquiços de processo realizados pelo candidato

Fig. 30 – Desenhos finais da proposta realizados pelo candidato

Fig. 31 – Esquiços de processo realizados pelo candidato

Fig. 32 - Esquiços de processo realizados pelo candidato

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II

Fig. 33 – Fotografias da maqueta de trabalho realizada pelo candidato

Fig. 34 - Esquiços de processo realizados pelo candidato

Fig .35 - Esquiços de processo realizados pelo candidato

Fig. 36 - Esquiços de processo realizados pelo candidato

Fig. 37 - Desenhos finais da proposta realizados pelo candidato

Fig. 38 - Desenhos finais da proposta realizados pelo candidato

Fig. 39 – Fotografias da maqueta de trabalho realizada pelo candidato

Fig. 40 - Desenhos finais da proposta realizada pelo candidato

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III

“ Restaurar um edifício não é mantê-lo, repara-lo ou refaze-lo, é

restabelece-lo num estado completo que pode nunca ter existido num

dado momento.”

Viollet-Le-Duc

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PáginaIX

Palavras-Chave:

Património, Arquitectura, Reabilitação e Mosteiro de Santa Maria de Júnias.

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PáginaX

Introdução

enquadramento

Portador das nossas origens, muito mais do que meros edifícios antigos, o

Património é o que de palpável se preserva dos nossos antecessores, é o que nos transporta

ao passado e que, através de uma análise longitudinal/diacrónica1, nos permite

compreender a evolução dos tempos.

O conceito de património arquitectónico sofreu, ao longo do século XX,

significativas reestruturações, já que, se inicialmente este conceito se centrava apenas em

elementos isolados e singulares, posteriormente alargou-se a todo o contexto envolvente,

realçando-se a importância das relações existentes entre Edifício e Lugar (Marado e

Correia, 2005: 88), assumindo uma dimensão territorial, ambiental e sociocultural,

contraindo um patamar intangível. Paralelamente, a par da transformação do conceito de

Património, os modelos, estratégias e instrumentos que promovem a sua protecção

sofreram também significativas e pertinentes alterações que permitiram o

acompanhamento da evolução do constructo em análise, assumindo um importante papel

na sua salvaguarda e nos critérios que medeiam as intervenções nestes imóveis de valor

cultural e social incalculável.

É neste âmbito que a questão da conservação do património se revela uma

pertinente área de investigação e investimento, na procura de contributos para a diminuição

da controvérsia que se gera neste contexto, salvaguardando, antes de mais, a autenticidade

do edificado, pois “o património em qualquer país é sempre espelho da identidade

nacional” (Pedras, Matos e Crespo, 1992: 124).

1 Carácter dos fenómenos ou factos, estudados do ponto de vista da sua evolução no tempo.

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I

Neste seguimento, a reabilitação arquitectónica vem desempenhar um papel

fundamental na recuperação de estruturas, assim como na preservação de vivências

socioculturais. Através desta ideia procura-se, actualmente, promover a regeneração destes

espaços, constituindo-se a reabilitação como temática da ordem do dia, procurando-se, um

pouco por toda a parte, estabelecer um método eficaz de intervenção, multifacetado, como

um modelo, que sirva de base a toda e qualquer intervenção que se proponha à preservação

de edificados classificados, em que simultaneamente se promova uma intervenção

harmoniosa e se evite perdas irreparáveis na identidade destes espaços.

A reabilitação engloba o tratamento da construção, de modo a conservar as

características essenciais de um monumento, prevendo uma reformada manutenção como

via privilegiada para o alcance de protecção e consequente projecção para o futuro. Nesta

sequência, torna-se inevitável ter em consideração a opinião da população residente que é

detentora, em parte, do património, ousando ainda afirmar que a mesma se constitui como

a totalitária base de sustentação e usufruto do local e, mais concretamente, do objecto em

análise, já que o seu vigor não dependerá apenas de um olhar episódico, mas de uma

vivência permanente.

É igualmente pretendido com, e através da reabilitação, a produção de dinamismo,

procurando-se estimular o carácter turístico, reconhecendo paralelamente que o factor

económico e social é preponderante neste género de intervenções, sendo portanto

igualmente propósito a contribuição para o comércio enquanto estimulo ao

desenvolvimento e manutenção cultural do local.

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II

âmbito

A presente dissertação desenvolve-se no âmbito da proposta da unidade curricular

de Projecto III do curso de arquitectura da Faculdade de Arquitectura e Artes da

Universidade Lusíada do Porto (FAAULP), na área de intervenção do Centro de

Investigação de Território, Arquitectura e Design (CITAD), tendo-nos sido proporcionada

a oportunidade de intervir em dois territórios fronteiriços do interior, nomeadamente os

concelhos de Chaves e Montalegre.

Após uma exploração dos concelhos previamente propostos e de um breve

levantamento bibliográfico, considerámos que estávamos perante um dos maiores

estímulos ao início e desenvolvimento da temática em análise, a reabilitação, sendo o

Mosteiro de Santa Maria de Júnias o principal objecto de estudo neste âmbito, considerada

um dos pontos mais significativos da região Barrosã, no Concelho de Montalegre,

classificado monumento nacional pelo decreto-lei 37728 de 5 de Janeiro de 1950.

motivações

Motivados pela autenticidade, identidade e significado de características

arquitectónicas e culturais em espaços de cariz patrimonial e tendo em conta que se

constituem como marcos na formação do território nacional, procura-se a sua preservação

enquanto testemunho de civilização antepassada, mantendo uma intima ligação com o

presente e futuro.

Enfatizando as relevantes áreas que constituem o percurso formativo na área da

arquitectura, salienta-se a atracção e pertinência que a temática da reabilitação provoca,

suscitando uma significativa necessidade de conhecer e aprofundar a mesma,

compreendendo as dificuldades inerentes à sua operacionalização. Neste campo de acção,

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III

o Mosteiro de Santa Maria de Júnias, sustentado pela sua beleza, enquadramento

geográfico e paisagístico, revela-se um premente objecto de estudo, no campo disciplinar

da arquitectura.

objectivos

Pretende-se com esta investigação, perceber até que ponto espaços de cariz

patrimonial poderão ser ou não reabilitados, sendo que, considerando-se essa hipótese,

tornar-se-á peremptório dar respostas às novas valências e realidades e ao mesmo tempo

preservar a sua identidade sociocultural, patrimonial e arquitectónica.

Assim, procura-se questionar e valorizar a arquitectura, sem descorar a

compreensão da reabilitação como um caminho legítimo a seguir, bem como um meio

promotor de novas valências. Entendemos que o património deve ser preservado, e, em

Portugal, grande parte deste é negligenciado, transformando-se inevitavelmente em ruínas,

caindo no esquecimento. Devemos assim também concentrar-nos, sobretudo, nos marcos

patrimoniais que se situam fora dos grandes centros urbanos, como é o caso do Mosteiro de

Santa Maria de Júnias.

Pretendemos, também, obter respostas relativas a questões inerentes ao tema,

procurando-se aferir qual a importância da reabilitação de espaços classificados; como se

reabilitam e quais as tendências. Pretende-se, ainda, com a percepção dos resultados que se

poderão obter, analisar se os mesmos garantem a manutenção da fidedignidade das

propriedades que os definem enquanto património, visto que estas intervenções partem de

premissas reais, que possuem uma história e características que é imperativo dar a

conhecer.

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IV

Emerge, assim, a questão fulcral que este trabalho procura problematizar: como

construir uma estratégia de intervenção de modo a melhorar o edifício, construído no

século IX, com os padrões exigíveis de acessibilidade, bem como um novo programa e

modo contemporâneo de utilização?

estado da arte

São vários os investigadores que detêm um papel activo no desenvolvimento desta

temática, sendo significativos os contributos fomentados no que respeita à reabilitação dos

espaços em análise.

Como tal, esta dissertação terá como principal suporte de análise a perspectiva de

alguns autores, entre eles Viollet-Le-Duc, que defende, a este propósito o “Restauro

Estilístico”; John Ruskin defensor da teoria do “Anti-Restauro” e do “Culto da Ruína”; e

na perspectiva de Camillo Boito, a reabilitação deve ser veneradora de todas as

componentes do edifício: a estética, a histórica, a espiritual e também a material, sem

renegar ao diálogo entre o antigo e o moderno. Recorreremos também a Cesare Brandi,

cujo contributo da sua investigação incide sobre a natureza da criação artística, vista como

um valor supremo da vida, através da consciencialização da existência e efeitos do factor

tempo, que se encontram inerentes a uma obra de arte. Ainda neste âmbito, foram

evocados outros autores que, directa ou indirectamente, através da sua capacidade de

análise, descrição autêntica e opinião fundamentada, muito contribuíram para a promoção

de sinergia nesta área, nomeadamente, o arquitecto José Aguiar, o arquitecto João

Appleton, o arquitecto Alves Costa, o arquitecto Solá-Morales, o arquitecto Eduardo souto

Moura, o arquitecto Miguel Tomé, a critica de arte Françoise Choay, entre outros grandes

nomes que fomentaram contributos relevantes para esta temática.

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V

Numa perspectiva de matriz histórica sublinha-se por M. J. Barroca, referente à

evolução arquitectónica do Mosteiro de Santa Maria de Júnias, o estudo desenvolvido por

Ana Maria Martins, cognominado “Espaço Monástico: da Cidade de Deus à cidade do

Homem”.

metodologia

Intervir com eficiência num edifício antigo, implica conhecê-lo aprofundadamente,

sendo que o mesmo, permitirá identificar a importância da interpretação e conhecimento

dos seus marcos históricos, de modo a poder agir sobre ele.

A metodologia perfilhada ambiciona um aprofundamento das veracidades em jogo,

o lugar e pré existência, o seu modo de uso e a vontade do interveniente lhe auferir uma

nova forma e funcionalidade, sendo estas as premissas condutoras de toda a investigação.

Como tal, do ponto de vista metodológico, o processo assenta na constituição de

etapas de investigação teórica, que comportam a análise, informação e aplicação. Ressalva-

se que estas etapas deverão ser entendidas como um processo complementar e

desenvolvido em paralelo ao processo desenhado. Desta forma procura-se através de um

enquadramento histórico e cultural, seguir as etapas pelas quais a temática da reabilitação

tem passado, quais os seus antecedentes, quais as suas teorias, qual o seu posicionamento e

contingências que se vêm inseridos, bem como um enquadramento ao nível territorial,

efectuando-se observações in loco, de registos fotográficos, análises gráficas das

características arquitectónicas, desenhos à mão levantada e a rigoroso do território em

estudo, de forma a construir uma análise particular, histórica e construtiva do lugar,

edifício e programa.

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VI

Procuraremos ainda, de uma forma comparativa, analisar outros casos de estudo,

não com o desígnio de debater as legitimidades dos projectos efectuados, mas antes

convocar a consistência de características e de valores capazes de enaltecer esses espaços,

como agentes de uma permanente divulgação e manutenção cultural, e ressalva da sua

identidade. Toda esta incursão à literatura promoverá um patamar mais seguro para o

estudo do caso prático no qual nos centramos: o Mosteiro de Santa Maria de Júnias.

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CAPÍTULO I – Análise e Interpretação Descrição do problema

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Fig.1- Planta de localização de Pitões da Júnias: acessibilidades

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de Pitões da Júnias: acessibilidades

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Fig.2- Pitões da Júnias: acessibilidade automóvel e pedonal entre a aldeia e o mosteiro

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1.1 – Localização

Fig.3- Panorâmica sobre a aldeia

situação

O objecto de estudo deste trabalho situa-se em terras do Barroso, no concelho

transmontano de Montalegre, num contexto rural, situado numa zona intermédia entre o

Gerês e do Barroso (fig.1), a cerca de 15 km a noroeste do centro da vila, mais

concretamente na freguesia de Pitões da Júnias (fig.3), considerada a capital do turismo

Barrosã e a capital do Parque Nacional da Peneda do Gerês.

Localizada a 1200 metros de altitude, a proveniência da aldeia de Pitões da Júnias,

segundo Mário Barroca, baralha-se com a do Mosteiro de Santa Maria de Júnias devido a

sua proximidade, entre os séculos IX e XI. Apresenta-se como sendo uma pequena aldeia

de cunho comunitário de casas em pedra granítica, que se desenvolvem de forma orgânica

moldadas às condições morfológicas, onde se sente que o tempo corre devagar, vivendo

em completa harmonia com a natureza, sendo da mesma que a população originária obtém

todo o seu sustento.

Devido à sua localização num extremo norte de Portugal, o seu clima inóspito no

inverno e uma consequente imigração cooperaram para que a aldeia, conservasse o seu

semblante característico da época medieval, de forma que, sustentada pelas suas

construções em pedra, pela sua beleza natural e enquadramento geográfico e paisagístico,

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fizessem com que, nos anos 90, se convertesse num marco de referência dos roteiros do

turismo ecológico português.

Fig.4 - Panorâmica sobre o mosteiro

O terreno (fig.4) onde se encontra o objecto de estudo situa-se cerca de 1500 metros a

sudeste do centro da aldeia (fig.2), encravado numa pequena plataforma no estreito vale da

ribeira de Campesinho, na Serra de Mourela, entre os penedos do Ceres e do Larouco,

numa posição de abrigo dos ventos, com uma boa exposição solar, abundância de água e

com uma proximidade de pequenas áreas propícias à exploração agrícola e pastorícia,

factores que se avultam, em contraste com outros cenóbios1 do norte de Portugal que, no

geral, são possuidores de produtivos coutos2, de tal forma revelador da dependência que

esta primeira comunidade de monges da Júnias tinha sobre factores naturais e de

isolamento.

Não se podendo afirmar sobre os interesses económicos e dos seus meios de

subsistência, os factores anteriormente enunciados são reveladores da modéstia que esta

primeira comunidade possuía, quer em número de monges quer em termos de poder

económico, o que se espelha também no tamanho das instalações erguidas em volta do

1 Habitação de religiosos

2 Terra reservada para pasto

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claustro, e ainda no que respeita à sua subsistência e localização, não se deve descorar os

testemunhos dos habitantes sobre um possível interesse existente por parte dos monges de

Júnias num trilho secundário vindo de Chaves e Montalegre, que levava os peregrinos a

Santiago de Compostela por Santa Comba de Bande e São Miguel de Celanova.

Porém importa ainda salientar, como complementaridade da ideia anteriormente

mencionada, a descrição que Mário Barroca faz sobre o trilho secundário vindo de Chaves

e Montalegre, “… o interesse que por certo os monges teriam no apoio a peregrinos (…)

mesmo que esporádico já que se trata de um caminho secundário, traduzir-se-ia,

certamente, em algumas esmolas e dadivas que não seriam descuradas pela comunidade

monástica.” (Barroca, 1994: 426).

Datado dos finais do século IX, pensa-se que inicialmente terá sido apenas um

pequeno eremitério de origem pré-romana, comungando da mesma opinião vários autores,

tendo como base as afirmações do Fr. Leão Tomas, na Beneditina Lusitana, onde

referencia a sua existência desde 889. No entanto, Mário Barroca reforça o facto deste

documento apenas ter sido visado pelo Fr. Leão Tomas, acrescentando ainda: “… não há

qualquer testemunho seguro – documental ou arquitectónico – que permita fazer recuar as

origens de Santa Maria de Júnias até uma época tão antiga. Pelo contrário, todos os

elementos disponíveis, apesar de relativamente escassos, apontam para uma fundação dos

finais do século XII, em torno do ano de 1147.” (Idem: 419) sendo, portanto, ao nível da

sua origem e fundação, um dos principais problemas que Santa Maria de Júnias nos

oferece. Contudo, a sua filiação é conhecida, embora em períodos alternados, ao Mosteiro

de Oseira na Galiza e ao Mosteiro de Santa Maria do Bouro3, na região de Terras do

Bouro, no distrito de Braga.

3 “O mosteiro podia ter origem numa fundação de raiz ou da afiliação (…) Só após um período experimental de dois

anos, o mosteiro poderia ser aceite como membro de pleno direito da ordem. Este caso é muito comum entre os mosteiros portugueses: pequenos mosteiros beneditinos como Arouca, ou comunidades de eremitas como o Bouro, Tarouca, Lafões que se filiavam na nova ordem.(…) A nova abadia teria de ser consagrada a Santa Maria e deveriam ser erigidos os edifícios monásticos essenciais…” (Amado, 2007: 18)

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O mosteiro de Santa Maria de Júnias

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evolução geográfica

Plantado num magnífico vale, o monumento apresenta-se de uma forma isolada,

sujeito a severas condições climáticas, muitas vezes coberto de neve, e de difícil acesso,

permitindo que, até ao presente, se integre numa prefeita comunhão com a paisagem

envolvente praticamente idêntica à que lhe deram os seus criadores.

Inicialmente, segundo o mesmo autor, pensava-se que se destinava apenas ao

albergue de Frades Beneditinos, tendo sido, por volta do século XII, entregue à Ordem

religiosa de Cister. Porém, como consequência da adaptação a uma nova regra monástica,

não há sinal da existência de testemunhos claros de grandes alterações arquitectónicas.

Quanto aos monges, cistercienses, continuaram a utilizá-lo, pelo facto, de não se afastar

das exigências de austeridade e isolamento impostos pela regra cisterciense, o que lhes

introduzia um carácter familiar.

Fig.5 - Panorâmica sobre a ruína

O seu abandono e consequente estado de ruína (fig.5), julga-se ter início por volta do

século XVI, época na qual o Mosteiro de Santa Maria de Júnias terá passado por uma

profunda crise sócio-histórica, à qual não terá resistido. Contudo, “…a documentação

permite precisar um pouco melhor no tempo quando começou a ruína do Mosteiro

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medieval. Anotemos que no ano Numeramento de 1527 não se refere qualquer mosteiro

quando se regista a população de Pitões, o que é um indício de que ele já então deveria

estar abandonado.” (Idem: 430).

Ao nível de acessos ao mosteiro, na actualidade (fig.2), o percurso pode ser feito de

carro até determinado local (aprox. 350 metros), prosseguindo-se a partir daí a pé pelo

antigo caminho carreteiro, de lajes em pedra e de carácter irregular, que se tem vindo a

deteriorar ao longo das últimas décadas, facto que torna o percurso praticamente

intransitável em grande parte do ano (concretamente ao longo das estações

Outono/Inverno), sendo este caminho a principal via de aproximação entre a Aldeia e o

Mosteiro.

Sendo considerado um dos mais expressivos monumentos de toda a terra do

Barroso, o seu significado local encontra-se traído por uma ausência de vínculo cultural

efectivo, consequência em grande parte do factor anteriormente mencionado, o que se

reflecte no próprio estado do edifício que tem vindo nas últimas décadas, de uma forma

inevitável e negligente, caindo em ruína. Em consequência deste facto, deparamo-nos com

a impossibilidade do monumento servir, como até a um passado próximo, de igreja

paroquial e principal ponto religioso da aldeia. Não obstante, o monumento bem como os

terrenos adjacentes são propriedade da fábrica da igreja de Pitões da Júnias.

A este propósito, Ana Martins refere também que, apesar do seu estado de

conservação ser caótico, o monumento é alvo de visitas por parte dos amantes da natureza

e do património arquitectónico, sendo registado um significativo aumento destas visitas

principalmente nos meses de Julho, Agosto e Setembro. Torna-se ainda premente referir

que, ao nível religioso todos os anos pelo dia 15 de Agosto, o mosteiro é alvo de

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O mosteiro de Santa Maria de Júnias

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uma peregrinação efectuada por parte da população de toda região, para homenagear a

Santa Maria de Júnias, sendo também importante realçar o facto de, embora acontecendo

de uma forma esporádica, os naturais da vizinha aldeia de Pitões da Júnias emigrados

noutros países, regressarem a Portugal com o intento de, na igreja do mosteiro, poderem

celebrar o seu matrimónio.

1.2 – Descrição do conjunto

o erudito e o rural

Um dos aspectos mais marcantes que podemos adiantar na descrição do edifício em

estudo, é a sua pertença à ordem religiosa de Cister4, por tal, torna-se importante, antes de

mais, referir as suas características, que se distinguem pela sede de ascese5 e do

despojamento total, sem qualquer tipo de solicitações externas à alma, procurando atingir

um paraíso perdido, tentando recriar estes espaços monásticos como um reflexo de um

mundo ideal, de uma visão ímpar do mundo e um sistema de valores que tudo organiza e

modela. Neste âmbito, a autora reforça a ideia que o mosteiro mostra-se possuidor de todos

os elementos necessários à sua subsistência, “ Se possível for, deve o mosteiro ser

construído de forma a ter de portas a dentro tudo o necessário, a saber: água, moinho,

horta, oficinas onde se exerçam os diversos ofícios, para que os monges não tenham

necessidade de andar lá por fora, o que não é nada conveniente para as suas almas”,

(Martins, 2006: 97)6.

4 “A ordem de Cister surge no início do segundo milénio tornando-se, num curto período de tempo, um dos maiores

movimentos monásticos da história do cristianismo. Com origem em França, na região de Borgonha, foi fundada por três abades beneditinos, Alberico, Estêvão Harding e Roberto de Molesmes.” (Amado, 2007: 18) 5 A ascese é a prática da renúncia ao prazer ou mesmo a não satisfação de algumas necessidades primárias.

6 Citado por Martins em Espaço Monástico: da Cidade de Deus à Cidade do Homem, do Capitulo LXVI, in Regra do Patriarca de S. Bento, traduzido e anotado do latim pelos Monges de Singeverga, Edições “Ora & Labora”, Mosteiro de Singeverga, 1992, p.132

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Como tal, ousamos então efectuar

erudito, revelador de profundos e vastos conhecimentos e

intrínsecos que também se revelam

também um aspecto comum entre a comunidade residente do mosteiro e os habitantes da

aldeia, o facto de o seu sustento ser obtido do trabalho das suas mãos, do cultivo das

e da criação de animais. Paralelamente, também

localização da região combinavam com os

intencionalmente procuravam localizar

isolada e longe das cidades7

Em suma, percebe

longínqua e de vincada presença de elementos locais

região, em que a preocupação do desenho

das formas e dos materiais,

forma clara na relação da igreja e o espaço monástico e em consequente

harmonia com a natureza.

Deste modo, no nosso entender,

conquistaram, sem fronteiras

particulares da região, o que nos remete para

que se encontram entre um carácter de índole erudito e rural.

Fig.6 - Analogia entre o carácter do mosteiro e da aldeia

7 “…por montanhas escarpadas, rochosas e quase estéreis,(…) a solidão de Fiães (…) as ruínas de Júnias”.

PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO

O mosteiro de Santa Maria de Júnias

usamos então efectuar uma analogia entre este monumento de carácter

erudito, revelador de profundos e vastos conhecimentos e os aspectos rurais

intrínsecos que também se revelam nas hostes quotidianas da aldeia, sendo de

também um aspecto comum entre a comunidade residente do mosteiro e os habitantes da

seu sustento ser obtido do trabalho das suas mãos, do cultivo das

e da criação de animais. Paralelamente, também as condições climáticas

combinavam com os interesses dos Cistercienses

intencionalmente procuravam localizar-se nos desertos mais inóspitos e severos7.

, percebe-se muito de uma arquitectura reveladora

longínqua e de vincada presença de elementos locais, nomeadamente nas construções

em que a preocupação do desenho ao nível da simplicidade das linhas,

das formas e dos materiais, da luminosidade e do seu claro-escuro, são perceptíveis de uma

forma clara na relação da igreja e o espaço monástico e em consequente

no nosso entender, podemos constatar que os grandes estilos eruditos,

conquistaram, sem fronteiras, expressões locais, resultantes de uma adaptação à

região, o que nos remete para a ideia de que se constituem como edifícios

que se encontram entre um carácter de índole erudito e rural.

entre o carácter do mosteiro e da aldeia

por montanhas escarpadas, rochosas e quase estéreis, (…) Ermelo, entre o céu, o rio e as montanhas escarpadas

(…) a solidão de Fiães (…) as ruínas de Júnias”. (Marques, 1998: 72)

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O mosteiro de Santa Maria de Júnias

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uma analogia entre este monumento de carácter

aspectos rurais a ele

nas hostes quotidianas da aldeia, sendo de salientar

também um aspecto comum entre a comunidade residente do mosteiro e os habitantes da

seu sustento ser obtido do trabalho das suas mãos, do cultivo das terras

as condições climáticas bem como a

interesses dos Cistercienses, já que

nos desertos mais inóspitos e severos, de forma

reveladora de uma erudição

, nomeadamente nas construções da

simplicidade das linhas, da pureza

perceptíveis de uma

forma clara na relação da igreja e o espaço monástico e em consequente vivência em

andes estilos eruditos,

, resultantes de uma adaptação às condições

de que se constituem como edifícios

(…) Ermelo, entre o céu, o rio e as montanhas escarpadas

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1.3 – Evolução morfotipológica

forma construída

Fig. 7 – Evolução morfotipológica do edifício

Quando mergulhamos nesta temática e ambicionámos esboçar a evolução deste

conjunto edificado, implica remontar às razões que levaram à sua formação, factos esses já

abordados anteriormente.

Mesmo assim, importa salientar que se trata de uma construção de evidente

equilíbrio, apesar de construída em épocas diferentes. De planta de dois rectângulos, de

nave única e abside, que mantém ao longo dos tempos, o plano típico característico das

abadias Cistercienses8, desenvolveu todo o seu conjunto em volta da sua igreja.

Fig.8 - Vista norte do Mosteiro, relação com a ribeira.

8 Fechada para o mundo, vivia num regime de clausura absoluta.

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A igreja surge implantada a oeste, junto à ribeira de Campesinho(fig.8), sendo de todo

o conjunto monástico a única que se conserva, como testemunho dos primeiros tempos de

vida monástica, em Santa Maria de Júnias. Apresenta-se como uma igreja de nave única,

estruturada de uma forma longitudinal, em pedra granítica característica da arquitectura

românica, tipo construtivo que surge por volta do século XI, como consequência de uma

junção da arte bizantina e da arte românica, com uma cobertura de duas águas em madeira,

com pavimentos interiores em lajes de granito e cabeceira rectangular abobadada.

Adjacente à igreja, encontra-se a capela-mor de planta rectangular, com uma

cobertura de uma única água, orientada no sentido Sul-Norte. De características românicas,

foi inicialmente implantada a uma cota inferior, como se pode constatar na parede a

nascente que se encontra voltada à ribeira, sendo reconstruída de novo, devido aos

sucessivos assoreamentos9 que o edifício foi sofrendo, desta feita de características

plenamente góticas. A Norte, observa-se a zona do cemitério (fig.8) do mosteiro, encerrada

por um alto muro que se desencadeia por toda a fachada norte, incluído a cabeceira,

delimitando uma área relativamente grande em forma de trapézio, “… encontra-se o

cemitério cristão, utilizado pela população de Pitões da Júnias, que devia acorrer ao

Mosteiro regularmente, utilizando-o como templo paroquial. A comunidade monástica, no

entanto, deve ter utilizado o Claustro como local de enterramento, como era comum a

época...”. (Barroca, 1994: 428).

Fig.9 - Vista interior do espaço monástico, sendo perceptível o claustro e zona monástica em forma de ”L” ,bem como a

sua entrada.

9Termo Geológico que significa obstrução, por areia ou por sedimentos quaisquer, de um rio, canal ou estuário, geralmente em consequência de redução da correnteza

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A Sul da Igreja e da capela-mor desenvolve-se todo o conjunto monástico, sendo a

sua entrada principal (fig.9) à direita da entrada da igreja, através de uma porta rectangular.

Toda esta zona monástica, é composta por uma construção em forma de “L” (fig.9),

desenvolvida em dois pisos construídos ao longo ao longo da ribeira de Campesinho.

Apesar do seu estado de degradação, ainda é possível ter uma percepção das suas

dependências, principalmente no piso do rés-do-chão.

A sua cobertura era efectuada através de um telhado de duas águas, como se pode

constatar pelo remate por apoio, na fachada sul da cabeceira. No pátio interior, “…é

possível que se encontrem ainda algumas tampas sepulcrais medievais ou modernas,

encobertas pela camada de terra que se esconde o piso medieval da zona claustral.”

(Ibidem), ao nível de pavimentações, “… As alas do claustro eram pavimentadas com

lajeado de granito que, (…) no local, enterrado a uma cota de c. 30cm…). (Ibidem).

Implantado paralelamente à fachada sul da igreja, e já dentro da área monástica,

surge o seu claustro (fig.9), que, embora não se contemplem testemunhos claros de alterações

efectuadas por consequência da mutação da sua regra monástica como anteriormente

referido, sendo esta construção também não muito clara nesse aspecto, “… É possível que

o claustro, denunciando tendências góticas, embora socorrendo-se ainda de arcos de volta

perfeita, corresponda a tempos anteriores á adopção da regra de Cister, (…) não temos

certeza absoluta, já que se afigura igualmente plausível que ele tenha sido erguido pouco

depois da adopção da nova regra monástica, nos meados do século XIII.” (Idem: 427).

A sudoeste, situa-se a o espaço da cozinha do mosteiro que marca a sua presença

pela sua grande chaminé de forma piramidal, rematada por um pináculo.

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Fig.10 - Analogia entre o moinho da aldeia e o do mosteiro;

A noroeste do conjunto, do outro lado da ribeira, aparece

o moinho do mosteiro, de pequena escala, em comparação com moinhos comunit

característicos da região (fi

(fig.11) em madeira, que se encontra

elo de ligação entre os dois conjuntos.

duas águas.

É de referir que, em volta de todo o conjunto, é perceptível a

água efectuadas através de canais

num dele, é visível a sua ligação à

sobrelevada, bem como os vestígios de uma escada a Sul

Através das sucessiva

claro que aqueles grandes muros e paredes encerram um conhecimento ma

aquilo que têm à primeira vista. Apesar de ser uma construção pobre

de pequenos vãos e pé direitos baixos

se que foi construído por alguém conhecedor da aplicação das regras

da lógica geométrica e da métrica dos edifícios.

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O mosteiro de Santa Maria de Júnias

moinho da aldeia e o do mosteiro; Fig.11 - ponte de ligação entre os dois

A noroeste do conjunto, do outro lado da ribeira, aparece-nos de uma forma anexa,

o moinho do mosteiro, de pequena escala, em comparação com moinhos comunit(fig.10). O seu acesso é efectuado através de uma pequena

em madeira, que se encontra também num alto estado de degradação, que servia de

elo de ligação entre os dois conjuntos. O seu pequeno telhado desenvolve

e referir que, em volta de todo o conjunto, é perceptível a existência

de canais em pedra que possivelmente serviriam o mosteiro

, é visível a sua ligação à cozinha. A existência de uma poça a poente numa co

s vestígios de uma escada a Sul, são também evidentes.

sucessivas aproximações, permitimo-nos adiantar que foi

muros e paredes encerram um conhecimento ma

primeira vista. Apesar de ser uma construção pobre e de pequena escala

e pé direitos baixos, a sua beleza e simplicidade é peculiar

se que foi construído por alguém conhecedor da aplicação das regras vitruvianas, através

a e da métrica dos edifícios.

PRESERVAÇÃO DE UM PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO

O mosteiro de Santa Maria de Júnias

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ligação entre os dois conjuntos

nos de uma forma anexa,

o moinho do mosteiro, de pequena escala, em comparação com moinhos comunitários

uma pequena ponte

também num alto estado de degradação, que servia de

desenvolve-se também em

existência de linhas de

que possivelmente serviriam o mosteiro, pois,

existência de uma poça a poente numa cota

, são também evidentes.

nos adiantar que foi-nos tornado

muros e paredes encerram um conhecimento mais vasto do que

e de pequena escala,

peculiar, percebendo-

vitruvianas, através

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programa

Como foi referido no ponto anterior, a igreja de uma única nave possui medições

que, segundo a DGEMN é de 7.10 m de largura por 15 m de comprimento. Das medições

da largura da igreja é de salientar o facto desta medida servir como um módulo de

referência utilizado pelos construtores de Júnias, “… Por outro lado, houve um segundo

módulo que foi utilizado de forma mais ou menos livre pelos monges-arquitectos: a

largura do templo – 7,10 metros – volta a ser repetida nas construções modernas das alas

Leste e Sul – com 7,20 metros. Há, assim, uma certa uniformidade na largura das

construções ao longo de diversas épocas, o que ajuda a conferir certa harmonia a todo o

conjunto arquitectónico, apesar da longa diacrónica que separa algumas construções.”

(Ibidem).

Não se podendo auferir alterações arquitectónicas ao nível do programa funcional

da zona conventual, a não ser o desaparecimento de partes devido ao seu estado já

anteriormente enunciado, os anexos monásticos desenvolviam-se em quadrilátero10 em

volta do pátio e da zona claustral.

Como tal, também não se pode auferir com rigor a funcionalidade de todos os

espaços que constituíam a globalidade da construção, embora alguns que se encontram

perceptíveis, não nos deixam dúvidas, como seja, partindo da nave da igreja percebe-se a

existência da sacristia, da sala capitular, de várias celas, do refeitório e da cozinha.

Pela sua localização, pode entender-se, também, um pouco da sua organização

padrão, sendo a ala sudeste (lado da ribeira) destinada à habitação e à administração.

10

“ O mosteiro seguia uma estrutura básica do quadrado em que um dos seus lados, segundo o eixo nascente/poente era formado pela igreja, que se encontra sempre situada no ponto mais elevado do terreno, de modo que os outros braços pudessem ser implantados ora para norte ora para sul conforme a situação do terreno.” (Amado, 2007: 23)

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A ala sudoeste (lado da horta) por sua vez, compreendia a zona de serviços. Estas

duas partes referentes a planta baixa, conservam-se quase na sua totalidade. Os serviços de

hospedaria e recepção tiveram lugar reservado na ala norte (lado da encosta), ala esta que

já não comporta vestígios.

Percebe-se no entanto, que as alas desenvolviam-se por dois pisos, sendo o piso

baixo constituído por paredes mais espessas, e o primeiro piso constituído de paredes mais

estreitas sem afeiçoamento de faces, o que nos leva a percepcionar o nível estrutural do

edifício. Como tal, as plantas e fotografias apresentadas, pretendem dar uma melhor

percepção da organização do programa anteriormente descrito.

Fig. 12 – Plantas de piso 0 e piso 1

Fig.13 – Vista do conjunto

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1.4 – Levantamento

Fig. 14 – Corte pelo interior da área monástica - relativamente ao claustro, acredita-se ter sido construído numa altura em

que o mosteiro ainda não adoptava a regra de Cister. Para Além dos sinais no terreno, restam apenas três arcadas.

Fig.15 – Corte pela igreja

Fig.16 – Panorâmica sobre pátio interior – do complexo monástico padrão como se patenteia, nada subsiste, sendo visível

pelas edificações que ainda restam, e pelo emparelhamento pouco cuidado das mesmas.

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Fig. 17 – Alçado nascente – a fachada nascente dá-nos informações preciosas sobre a evolução do edifício. Permite-nos

perceber, através da marca do beiral, que inicialmente a cabeceira era coberta por duas águas. Do antigo telhado foi

deixada a cruz latina, que coroava a empena.

Fig.18 – Alçado poente

Fig.19 – Interior da igreja – no seu interior, a parede da fachada principal, é percorrida por dois frisos que se destacam do

emparelhamento; um ao nível das impostas e o outro ao nível das frestas. As portas, como é visível, são em arcos de volta

inteiros, com o tímpano vazado.

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Fig. 20 – Alçado norte – cercada pelo cemitério, na fachada sobre o friso abrem-se frestas rectangulares estreitas e

perspectivadas. É uma fachada lisa, rematada superiormente por uma cornija moldurada e percorrida por um friso ornado

que não chega aos extremos da fachada.

Fig.21 – Alçado sul

Fig.22 – Panorâmica sobre alçado sul, zona hortícola – a fachada sul é constituída por uma empena de duas águas

praticamente cega, sendo apenas visíveis duas aberturas. Dá continuidade a empena, sobrepondo-se mesmo a aba

esquerda do telhado, sobre o muro da cerca, devido à subida de cota, sendo rematado o mesmo por um arco. É visível

ainda, na aba esquerda, a chaminé da cozinha.

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CAPÍTULO II – Princípios metodológicos Caminhos para a solução

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2.1 – Abordagem metodológica

passado, presente e futuro

“Restaurar, recuperar ou reutilizar, para Távora, é sempre a busca de uma síntese

que recolha o fluir do tempo e possa acolher serenamente o futuro (…) Neste aparente

paradoxo, se constrói o conceito para cada projecto, sendo que este será sempre

decorrente da exaustiva análise formal e histórica de cada objecto arquitectónico. É

evidentemente uma leitura pessoal, porque tem implícita uma vontade artística de

formalizar uma transformação.” (Alves Costa, 2003: 42).

Escorados pelas palavras de Alves Costa, ambicionamos com este capítulo reflectir

sobre as possíveis metodologias e abordagens inerentes a um trabalho de projecto sobre a

temática da reabilitação e recuperação de edifícios, estabelecendo uma maior incidência

sobre os de cariz patrimonial. Em consonância, esta segunda parte de prova compreende

esta mesma finalidade, procurando identificar questões e abordar toda a sua complexidade.

Sendo de realçar os espaços arquitectónicos que se encontram como marcos e

testemunhos de vivências e formação histórica, a preservação entende-se simultaneamente

forçosa e atractiva. A hesitação que se revela intrusiva e inevitável é a autenticidade do

contributo que lhes poderá ser auferido de forma a moldar-se às exigências do presente e

futuro. Deverá reconhecer-se que esse contributo, certamente não será o mesmo dado no

passado longínquo, aquando da sua origem.

Perante o modo de desenvolvimento geográfico e sociocultural, a arquitectura tem

forçosamente de acompanhar essa evolução, devendo-se tal facto às marcas que o espaço

cronológico compreendido entre o passado e o presente deixa no quotidiano das

sociedades, que por sua vez se agregam e se desenvolvem em determinados lugares em

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detrimento de outros, condicionando directamente as formas, e principalmente os

programas e usos a dar à arquitectura. Como tal, é válido afirmar que o espaço

cronológico, a par do arquitecto, é também capaz de recriar espaços e ambientes

potencialmente promotores de proeminente carga emotiva e que estejam intimamente

ligados à história e à imagem não só das cidades mas também dos monumentos, exigindo

esta análise uma compreensão da reciprocidade entre estas duas variáveis.

Assim, toda a obra pode estimular e preservar memórias do passado, ou até apontar

linhas do futuro, mas estará sempre condenada às marcas do presente e ao modo e

importância dos lugares que se implantam aquando da sua recriação. A questão que neste

caso se aplica é: preservar restaurando ou reabilitando? Dissecando e compreendendo qual

o caminho, aplica-se a questão do como o fazer e compreender qual a condição primordial

da sua recriação, baseada na sua autenticidade, identidade ou na utilidade que se lhe pode

conseguir?

As respostas a estas questões não consistem numa verdade absoluta, não existindo

fórmulas lineares de abordar estes tipos de intervenção arquitectónica, mas existindo sim

abordagens metodológicas efectuadas por vários estudiosos e entidades ligadas ao tema,

que em conjunto com as pré-existências e através das suas marcas, transmitem pistas para

uma adequada intervenção por parte do arquitecto, sendo neste momento que se começa a

imaginar, juntar os indícios e a construir as evidências.

Os responsáveis por essas marcas, são irremediavelmente o espaço cronológico

inerente à sua existência, espaço esse compreendido como tempo, lugar, tradição, que

sugere o caminho certo para a coexistência harmoniosa entre a arquitectura e o contexto,

ou seja, entre o que foi e onde foi, e o homem enquanto criador, colaborador, que

personaliza todas estas intervenções de forma a fazer uma arquitectura para um

determinado lugar de determinada identidade, respondendo assim de forma clara e directa

para quem e com que finalidade.

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2.2 – Valor patrimonial

arte e memória

O conceito de património não é compreendido de forma irrevogável, sendo

actualmente tão díspar quanto à “expansão tipológica do património histórico: um mundo

de edifícios modestos, nem memoráveis nem prestigiosos, reconhecidos e valorizados por

novas disciplinas, como integrados no corpus patrimonial.” (Choay, 2008: 184).

Para este trabalho interessa-nos, sobretudo, o conceito de património edificado,

aquele que se confronta directamente com a disciplina da arquitectura. No passado, não

utilizaríamos a expressão património edificado mas sim monumento histórico, porém, o

seu significado deixou de ser entendido de uma forma análoga, “Desde os anos sessenta

do séc. XX, os monumentos históricos constituem apenas parte de uma herança que não

pára de aumentar. (…) Desde então, todas as formas da arte de edificar, eruditas e

populares, urbanas e rurais e todas as categorias de edifícios, públicos e privados,

sumptuários e utilitários, foram anexadas sob novas denominações: arquitectura menor,

para as construções privadas não monumentais; arquitectura vernacular, que distingue os

edifícios característicos dos diversos territórios; arquitectura industrial.” (Idem: 12).

Esta mutação deu-se a partir da consciência de que “todo o objecto do passado

pode ser convertido em monumento histórico sem ter ido por isso na sua origem um

destino memorial, (…) constituído à posteriori pelos olhares convergentes do historiador e

do amador, que o seleccionam de entre a massa dos edifícios existentes.” (Idem: 9) Como

tal, esta distinção pode residir no caso de o objecto ter sido, por exemplo, proscénio de um

acontecimento relevante para a reconstituição histórica de determinado período do

passado, ou por outro lado, conter particularidades que o tornam imprescindíveis para a

narrativa da arquitectura.

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Portanto, o seu valor enquanto monumento não reside só no seu conceito natural,

sendo também importante o valor que lhes é atribuído pelos sujeitos das gerações que

seguem e analisam a sua afirmação. Neste panorama, pode ser atribuído um valor

informativo ao edifício, “que num caso se dirige à razão histórica e, no outro, à razão

estética.”1. (Idem: 24).

Os edifícios, a par da sua importância enquanto testemunhos, “possuem, antes de

mais, um valor afectivo de memória para aqueles para quem, desde há gerações, eles

eram o território e o horizonte e que procuram não ser deles desapossados.” (Idem: 192).

Como tal, para aqueles cuja história de vida se confunde com a história dos

próprios edifícios, é neste ponto que a sua evocação revela a importância na construção de

identidade de um lugar e de um espaço. No entanto, mesmo que um determinado edifício

não possua qualquer classificação por parte de entidades para que possa ser entendido

como património, ele pode ganhar um estatuto semelhante por parte dos seus proprietários,

sendo que a sua única diferença reside na sua escala de abrangência ao nível territorial.

Porém, ainda segundo o mesmo autor, importa salientar que a manutenção viva dos

edifícios antigos é mostrada como um instrumento de luta não apenas pela protecção de

particularidades étnicas e locais, mas também contra o sistema planetário de banalização e

de normalização das sociedades e consequentemente do ambiente.

1 “A diferença entre monumento e monumento histórico, foi posta em evidência por Riegl, no começo deste século (XX):

o monumento é uma criação deliberada, cujo destino foi assumido à priori e à primeira tentativa, ao passo que o monumento histórico não é desejado inicialmente e criado como tal.” (Choay, 2008: 24).

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valor histórico

É de salientar ainda que, a natureza de uma intervenção arquitectónica relativa ao

tema da recuperação ou reabilitação, está também ligada de forma intrínseca a dois

factores: o edifício no auge de todas as suas múltiplas valências, nomeadamente o seu

valor enquanto testemunho histórico e construtivo de uma determinada época; e o seu

estado de conservação.

Segundo Jorge Figueira, “Recuperar toca no domínio da intervenção patrimonial,

variando o peso desta componente de acordo com o valor absoluto de cada caso.”

(Figueira, 2006: 4), Mediante esta ideia, poderemos salientar, que intervir num espaço

monástico difere, logo à partida, de uma intervenção efectuada numa habitação, não só mas

também, pela disparidade do seu valor patrimonial. O enfoque na observação do edifício

centraliza-se, deste modo, na sua organização formal - a chave analítica do ponto de vista

tipológico - a par do conhecimento daquelas particularidades que o prendem a um

determinado espaço e o transformam num caso arquitectónico e urbano irrepetível.

“A tipologia estuda as formas recorrentes da arquitectura considerando essas

formas como manifestações dos modos de vida e da relação do Homem com o seu meio:

ou seja, analisa a forma arquitectónica na sua autonomia, mas tratando de compreender

os vínculos que estabelece com a sociedade e com a cultura, amplamente entendidas.”2

(Marti Aris, 1993: 81). Assim, é com base numa conexão entre o género construtivo e a

especificidade do lugar, que surgem aquelas características que permitem conferir à

arquitectura os seus cunhos urbanos, individuais, tornando-se irrepetíveis. “A arquitectura

está marcada por uma condição que faz com que cada uma das suas manifestações seja

2 “La tipologia estudia las formas recurrentes de la arquitectura considerando esas formas como manifestación de los modos de vida y de la relacion del hombre com su médio; es decir, analiza la forma arquitectónica en su autonomia, pero tratando de comprender los ví ulos que establece com la sociedad y com la cultura, ampliamente entendidas.” Tradução do Espanhol pelo candidato.

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necessariamente diversa das outras, a saber: a sua radicação a um lugar e a sua definitiva

pertença a ele. (…) A arquitectura ao enraizar-se num lugar preciso e ficar envolvida na

sua peculiaridade, resulta literalmente irrepetível, assim como ao propor-se a construção

de um lugar, extrai dele a sua qualidade específica.” 3 (Idem: 90).

Partindo do desígnio, os edifícios arquitectónicos podem ser entendidos como

fazendo parte de uma sequência formal, que na perspectiva de George Kubler, tal

sequência baseia-se na ideia de estabelecer uma rede histórica que repita os mesmos traços

arquitectónicos, porém importa ainda salientear que, “Cada classe de formas consiste de

uma dificuldade real e de soluções reais. (…) Qualquer objecto prova a existência de uma

necessidade para a qual é a solução mesmo quando esse objecto é apenas uma cópia

tardia numa longa serie de produtos grosseiros, já muito afastados da clareza e da

intensidade de um original.” (Kluber, 1998: 46).

Posto isto, e na perspectiva de Alois Reigl, tal factor poderá entender-se que tudo o

que permaneceu até à contemporaneidade, jamais o teria conseguido, se não tivesse

constado num vínculo insubstituível inerente a uma cadeia evolutiva e, como tal, toda a

actuação humana da qual se tenha conservado enquanto testemunho de acontecimento

passado, tem o direito a reclamar para si um valor histórico. Deste modo, o grau de

relevância histórica de um monumento será tanto maior, quanto o seu carácter de

excepcionalidade e exclusividade, na medida em que se apresenta como testemunho

singular e, por isso, constitui-se num monumento imprescindível. Porém, ainda segundo

Alois Riegl, importa reforçar que, “ o sentido e significado de monumento não concernem

ás obras em virtude do seu destino original, mas antes somos nós, os sujeitos modernos

quem os atribui.” (Riegl, 2007: 54).

3 “La arquitectura está marcada por una condicion que hace que cada una de sus manifestaciones sea necesariamente diversa de las otras, a saber: su ra cacion a un lugar y su definitiva pertenencia a él. (…) la arquitectura, al arraigar en un lugar preciso y quedar involucrada en su peculiaridad, resulta literalmente irrepetible, assim como “al proponerse la construccion de un lugar, extrae de el su calidad especifica.” Tradução do Espanhol pelo candidato.

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É precisamente esta ideia que leva a que a noção de património abranja, hoje, um espectro

maior de edifícios e que “no discurso da análise da problemática da classificação de

monumentos, a ideia de património tenha ultrapassado o conjunto de imóveis

classificados.” (Tomé, 2002: 220).

Por exemplo, em Portugal, por influência do Inquérito à Arquitectura Popular, as

arquitecturas denominadas como anónimas, encontram aí o seu enquadramento projectual.

A partir deste enquadramento, o projecto de recuperação ou reabilitação de edifícios deixa

de incidir apenas em monumentos de valor patrimonial consensual, passando também a

incidir necessariamente em edifícios não necessariamente classificados. Percebe-se deste

modo, a utilidade da interpretação e sapiência dos factos históricos pré-existentes para

determinar o seu porte histórico que a eles se imputa e, consequentemente, encontrar a sua

natureza da intervenção, uma vez que, segundo Sola-Morales, a conexão entre uma nova

operação e uma arquitectura já presente, é um fenómeno que sofre uma mutação de acordo

com os valores culturais a ele imputados conjuntamente ao sentido da arquitectura histórica

e ao propósito de uma nova operação. (Sola-Morales, 2003: 69).

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2.3 – Em retrospecção

Viollet-le-Duc, Ruskin, Boito e Giovannoni e Brandi

“A procura de aproximações teoricamente mais sólidas conduzirá à gradual

definição da nova disciplina a que os continentais (sobretudo os italianos e os franceses)

chamarão Restauro e os ingleses Conservação. Nessa diferença inaugura-se uma longa

disputa conceptual que ultrapassará em muito o tempo da própria vida dos seus primeiros

protagonistas: John Ruskin e Viollet-le-Duc.” (Aguiar, 2002: 38)

Com o intuito de definir princípios, regras e objectivos, as teorias do restauro e

conservação apregoadas ao longo dos tempos, pretendem dar apoio às intervenções que

visam objectos arquitectónicos considerados património. Revestem-se de muitas críticas e

reflexões, feitas por muitos estudiosos, críticos e profissionais do mundo da arte e da

arquitectura, que ao longo de muitos anos se debateram pela ressalva e preservação do

património histórico, urbano e cultural.

Entre vários intervenientes, evidenciam-se, no início da discussão da salvaguarda

do património, o arquitecto francês Viollet-le-Duc e o poeta e crítico de arte, o inglês John

Ruskin. Mais tarde, não com o intuito surgir com o debate, mas para apurá-lo e registá-lo,

surgem outras três importantes e incontornáveis figuras, curiosamente todos italianos: o

engenheiro e arquitecto Camilo Boito, o arquitecto e urbanista Gustavo Giovannoni e o

crítico e historiador Cesare Brandi.

Como em todas as temáticas, para que exista controvérsia e para que uma resultante

evolução aconteça, é fundamental a presença de pelo menos duas convicções divergentes,

dois pontos de vista opostos, como tal, é partindo deste pressuposto que surge a menção a

Viollet-le-Duc, em que a sua ênfase provém de uma teoria intervencionista de restauro, e

John Ruskin, cuja ênfase resulta de uma convicção oposta, baseada numa teoria anti-

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intervencionista. Por outro lado, a menção efectuada a Camillo Boito, Gustavo Giovannoni

e Cesare Brandi, deve-se ao facto dos mesmos terem dissecado e questionado as duas

posições iniciais, tirando de ambas o que lhes advém de positivo, dando assim origem a

novas e mais moderadas vertentes.

Como tal, esta temática de preservação do património, ganha evidência na segunda

metade do século XVIII, e na perspectiva de José Aguiar, “Diversos estudiosos da história

da conservação apontam a Revolução Francesa não só como o momento da origem da

moderna jurisprudência para a salvaguarda do património, mas também como a matriz do

conjunto de ideias que dará corpo ao conceito de Restauro Moderno.” (Idem: 36). Não

obstante, não se pode afirmar que neste período se falava de teorias de restauro ou

conservação, mas antes, questionava-se a necessidade que se sentia na altura, de

salvaguardar o património, conceito esse que hoje em dia já não é entendido da mesma

maneira, pois nessa altura, tal atribuição era compreendida apenas às construções que

apresentassem algum valor histórico, ou algum interesse nacional, o mesmo que dizer, que

só os monumentos teriam direito ao restauro.

Tal noção de património resulta de uma escolha ponderada dos monumentos a

intervir, sendo uma noção própria e proveniente de França, nomeadamente de Viollet-le-

Duc. O forte interesse pelo tema do restauro, concretamente em França, foi impulsionado,

como já anteriormente supracitado, pela revolução Francesa4 de 1789.

Num período pós revolução, caracterizado por uma maior acalmia, era visível o

grande impacto de revolução nos edifícios, assumindo-se, desde logo, uma premente

necessidade de restaurar os monumentos que se viam destruídos, numa tentativa de

estabilização social. Imediatamente, as questões colocadas foram: quais os monumentos

que interessam restaurar? E como é que os vamos restaurar? Tal resposta, surgiu

4 Acontece como consequência de um período de instabilidade social e económica que se vivia no país, originando a

revolta do povo perante uma má qualidade de vida e de uma péssima governação monárquica.

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do arquitecto Viollet-le-Duc5. O arquitecto, pautando-se pelo seu patriotismo, começou por

admitir o restauro como uma intervenção que potenciava a imagem e o valor nacional,

procurando assim transfigurar a ruína, num exemplar ideal da arquitectura. Para ele, não

interessava rememorar, restaurar ou revitalizar o passado caótico e as suas memórias

traumáticas, mas sim reconstruir um futuro.

É, pois neste contexto, que nasce a sua teoria, mencionada por restauro estilístico.

Tendo como característica principal uma ideia intervencionista, as ideias de Viollet-

le-Duc visavam, de uma forma emproada, a reconstrução do monumento com base no seu

conceito natural, sendo válido o acabamento das omissões através da soma de cópias de

elementos existentes. Estimulava, em prol da uniformidade estilística nacional, a subtração

de outros elementos que, na perspectiva do estilo unitário, divergiam e não traziam

benefícios nenhuns ao monumento.

Tal factor anteriormente supracitado, parece-nos contraditório: pois se por um lado,

pretendia-se salvaguardar o monumento, toda a sua identidade e valor através da sua

imagem e estilo original, por outro lado, permitia-se a adição de novos elementos, que,

embora semelhantes aos já existentes como referência, não passam de uma simples cópia

actual, assimilando-se que na perspectiva de Viollet-le-Duc, a autenticidade do monumento

era compreendida nas suas características formais e não na sua materialidade, pois entendia

que uma cópia fiel tinha o mesmo valor que o original, devendo o antigo e o novo integrar-

se de uma forma homogénea.

No entanto, é de reconhecer que, por vezes, as contradições e a existência de falhas

são entendidas como normais relativamente aos que arriscam a novidade, devendo sempre

reconhecer-lhe a coragem por procurar deslumbrar o lado positivo da questão, porém, no

caso de Viollet-le-Duc e da sua teoria, deixaram como herança ideais que ainda hoje

5 É ainda inspector dos monumentos históricos, o que lhe dá uma noção muito completa e real da quantidade e qualidade

dos diferentes monumentos candidatos à salvaguarda.

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ecoam nas mais recentes teorias do restauro, através do seu sentido funcional e reciclável

do monumentos desprezados e danificados, admitindo que a sua utilização é o melhor meio

de prevenir a ruína, de conservar e manter a vida do objecto arquitectónico e de lhe

garantir algum futuro, podendo, de certa forma, perceber o afecto que os restauradores têm

pela arquitectura.

Porém, para existir controvérsia, teria de haver outra visão preferencialmente

oposta, e, neste sentido, existe sempre quem defenda que o afecto pela arquitectura não se

mostra suficiente, pois há que existir respeito pelo objecto arquitectónico, pelo monumento

enquanto objecto ímpar de arte.

“A revolução industrial enquanto ruptura com os modelos tradicionais de

produção abria uma fractura irredutível entre dois períodos da criação humana.

Quaisquer que tenham sido as suas datas, variáveis de acordo com os países, o corte

resultante da industrialização permaneceu, durante toda esta fase, a intransponível linha

de divisão entre um antes, em que se encontra acantonado o monumento histórico e um

depois, com o qual começa a modernidade.” (Choay, 2000: 112). Assim, ganha evidência,

em meados do século XVIII em Inglaterra, o conservadorismo, uma teoria de salvaguarda

do património arquitectónico, com base numa ideia defensora da ruína, enquanto

testemunho histórico.

Ao contrário do que antecedera, em Inglaterra atravessava-se um período de

grandes avanços tecnológicos, marcado pela revolução industrial. Em termos

arquitectónicos, os valores do futuro pareciam incertos, ao mesmo tempo que se

adivinhava algo que não teria nada a ver com os valores antepassados, facto que assustava

muitos românticos conservadores, levando-os a uma inesperada tomada de consciência.

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Neste contexto, é importante perceber que a sociedade não rejeitava a modernidade,

porém, cabia-lhes salvar a sua história enquanto bem único e valioso. Neste ponto, a

revolução industrial representou um marco na sequência lógica dos vários estilos

consequentes que evoluíam naturalmente uns dos outros, e que então deveriam ser

lembrados para sempre, sendo que o edifício deveria congelar no tempo.

Segundo John Ruskin, o papel do arquitecto na presente discussão é o de garantir a

perpetuidade da história do monumento, mais do que a sua própria materialidade e

nacionalidade. Françoise Choay corrobora a perspectiva anterior: “o trabalho das gerações

passadas confere aos edifícios que elas nos legaram um carácter sagrado. As marcas que

o tempo imprimiu sobre elas fazem parte da sua essência. (…), o carácter único e

insubstituível de qualquer acontecimento, bem como o de toda a obra pertencente ao

passado.” (Idem: 139).

Françoise Choay, ressalva a perspectiva de John Ruskin, relatando que “querer

restaurar um objecto ou um edifício é ferir a autenticidade que constitui o seu próprio

sentido. Parece que para eles o destino de qualquer monumento histórico é a ruína e a

desagregação progressiva.” (Idem: 160). Como tal, Ruskin defendia a manutenção das

obras do passado contra as incongruências do presente, admitindo somente intervenções

que compreendessem esta intencionalidade, a conservação, considerando tal factor, como a

chave para evitar o seu restauro, sendo que, caso esse tipo de intervenção se torne

inevitável, ela deve ser totalmente distinta dos elementos antigos, ao contrário do que

defendia Viollet-le-Duc.

No entanto, a postura anti-intervencionista, poderia ser entendia como uma postura

fatalista, onde os edifícios eram deixados “abandonados”, apenas com o intuito de serem

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admirados enquanto obras de arte limitadas a um espaço circunscrito, em vez de serem

usados enquanto obras de arquitectura.

Até ao período de análise, assistiu-se a duas atitudes extremas e antagónicas.

Descontente com esta situação e distante o suficiente das ideias anteriormente vincadas,

ganhou destaque, na segunda metade do século XIX, em Itália, o Arquitecto Camillo

Boito.

Este arquitecto teve a perspicácia de reconhecer e entender os pontos positivos das

teorias anteriores, construindo daí a sua própria teoria, “a Ruskin e Morris a sua

concepção dos monumentos, fundada sobre a noção de autenticidade. (…), a par de

Viollet-le-Duc, contra Ruskin e Morris, Boito sustenta a prioridade do presente sobre o

passado e afirma a legitimidade do restauro.” (Idem: 168). É de referir como ponto

comum, a ideia anteriormente supracitada, “Quanto às posturas derivadas de Ruskin,

Boito as considera de uma forma lógica impiedosa, por interpretar que o edifício deveria

apenas ser deixado à própria sorte e cair em ruínas. (…) a Viollet-le-Duc aponta os

perigos de se querer alcançar um estado completo que pode não ter existido nunca,

devendo o arquitecto restaurador, para tal, colocar-se na posição do arquitecto inicial.”6.

Torna-se assim perceptível a admiração que Camillo Boito tinha por ambos os

autores. Não obstante, discordando com os resultados práticos das suas teorias, introduziu

um novo e relevante aspecto, tendo como base a reutilização do edifício. Respeitava,

porém, todas as componentes do edificio: a estética, a histórica e também a material, sem

renunciar o diálogo entre o antigo e o moderno, aspectos esses que enuncia nos oito

princípios que apresentara em 1883, no III Congresso de Arquitectos e Engenheiros,

critérios esses, que hoje em dia se encontram patentes em alguns casos: “diferença de

6 Transcrito do livro “Os Restauradores” de Camillo Boito, p. 24

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estilo entre o novo e o velho; diferença de materiais de construção; supressão de linhas ou

de ornatos; exposição das velhas partes renovadas, da data da restauração ou de um sinal

convencionado; epigrafe descritiva gravada sobre o monumento; descrição e fotografia

dos diversos períodos das obras, expostas no edifício ou em local próximo a ele, ou ainda

descrições em publicações; notoriedade.”7

Entretanto, contemporâneo e conterrâneo de Camillo Boito, entra em cena

Giovannoni, que, tal como Boito, acreditava que o restauro é o último dos recursos para a

salvaguarda de um monumento, sendo preferível a sua consolidação estrita e manutenção

regular. Porém, ambos os princípios de intervenção mínima mostram-se muito semelhantes

aos princípios conservacionistas de Ruskin, pretendendo com esta atitude garantir a

autenticidade e historicidade dos monumentos, através da sua conservação integral.

No entanto, o maior contributo de Giovannoni para as teorias de conservação e

restauro, não foi no campo interventivo da metodologia, mas sim na definição e

actualização dos conceitos base mais importantes.

Para Giovannoni, a arquitectura não se restringia apenas a uma construção

individual, pois era, acima de tudo, o espaço e ambiente, cultura e história; as relações

entre edifícios constituíam uma peça fulcral na formação, definição dos valores espaciais

dos monumentos. Fazer arquitectura para ele era fazer urbanismo, e, neste sentido, o

restauro deve ser assimilado pelo facto de ter em consideração o contexto e as relações que

os monumentos estabelecem com o ecossistema. Tal factor é realçado por José Aguiar:

“Ao fundamentar uma ampliação significativa do conceito de monumento, Giovannoni

realçou a importância das relações contextuais que os monumentos travam com o sítio da

sua implantação, com a arquitectura e o urbanismo da sua envolvente.” (Aguiar, 2002:

50).

7 Transcrito do livro “Os Restauradores” de Camillo Boito, p. 26

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Esta nova incidência sobre a questão da salvaguarda do património, veio mostrar

que um edifício monumental de grande valor histórico e cultural, nunca faria sentido numa

paisagem sem referências, e, se tal acontecesse, jamais teria os mesmos valores. Esta

perspectiva contribuiu para o lançamento do mote para a criação e aplicação das teorias de

conservação nas matrizes urbanas, nomeadamente os centros históricos. Choay é muito

directivo na análise que efectua a Giovannoni: “A terceira figura da cidade antiga pode

ser definida como a síntese e a superação das suas precedentes. Ela constitui a base de

qualquer interrogação actual, não apenas sobre o destino dos antigos tecidos urbanos,

mas sobre a própria natureza dos estabelecimentos a que se continua hoje a chamar

cidades. (…) G.Giovannoni, que concede simultaneamente um valor de utilização e um

valor museológico aos conjuntos urbanos antigos, ao integra-los numa concepção geral

da organização territorial.” (Choay, 2008: 207).

Finalmente, com as atenções conquistadas nas teorias da salvaguarda do

património, motivadas pelo impacto das revoluções anteriormente referidas, dá-se, em

plena Europa, a Segunda Guerra Mundial, episódio este que veio mutilar, e em grande

parte destruir, muito do património arquitectónico, cultural e consequentemente histórico.

Como resultado, revelou-se urgente de (re)construir tudo o que se encontrava danificado,

de forma a reatar a organização social. Perante esta premência, vários países criticaram a

minúcia, demora e impraticabilidade dos processos de avaliação dos valores históricos e

documentais das teorias de Camillo Boito e Giovannoni. As circunstâncias descritas deram

força às críticas efectuadas a ambas as teorias que até então tinham ganho destaque,

censura essa liderada por Cesare Brandi, cuja ênfase de estudo promoveu a teoria do

restauro crítico.

Cesare Brandi, nunca negando a utilidade do objecto arquitectónico como

documento histórico, e tendo sempre bem claro que a arquitectura é apenas parte de um

todo urbano que deve ser considerado, volta a ressaltar a importância dos valores estéticos

e formais na preservação da identidade do contexto inserido. Isto é, tanto o restauro

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científico de Giovannoni já anteriormente descrito, como o restauro crítico de Cesare

Brandi, defendem a reutilização do objecto arquitectónico restaurado. Mas, enquanto o

primeiro defende o programa original do edifício, admitindo apenas pequenas e ligeiras

nuances; o segundo defende que esse mesmo ambiente e identidade são garantidos pela

presença iconográfica e volumétrica dos edifícios.

De referir que Cesare Brandi teorizava acerca de uma intervenção de restauro sobre

obras de arte, e, por isso, tal como abordava a pintura e a escultura, o sentido funcional do

objecto era secundário para a afirmação da sua identidade, sendo apenas essencial o

reconhecimento e restauro do seu valor artístico. Se o objecto arquitectónico é uma obra de

arte, deve ser recuperada a sua autenticidade, patente no seu valor estético como matéria e

no seu valor histórico como documento, e não no seu uso como programa.

Assim, o restauro crítico defende que a intervenção de salvaguarda seja feita sobre

a matéria da obra de arte, constituída principalmente pela imagem, mas também pela sua

história. Na eventualidade de ser necessário prejudicar uma delas em detrimento da outra,

pois então, admite-se que a imagem tem mais valor, e por isso, o lado histórico deverá ser

sacrificado. Por “imagem” Cesare Brandi8 considera o resultado da relação entre aspecto e

estrutura, e mais uma vez, se alguma destas particularidades tiver que ser sacrificada, neste

caso, será a estrutura, pois está normalmente escondida, e o aspecto é que acaba por

assumir o papel de promotor estético e o provedor dos ambientes através dos materiais,

cores, texturas, brilhos, transparências, opacidades e reflexos.

Na sequência deste pensamento, é ainda de salientar que Cesare Brandi teve o

cuidado de mencionar que, para um determinado material desenhar determinado aspecto,

8 BRANDI, Cesare - Teoria do restauro. Lisboa: Edições Orion, 2006.

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que por sua vez oferece um determinado ambiente, tem que ter em conta o lugar e todas as

suas características, principalmente o clima e a luz.

Outro ponto defendido por Cesare Brandi, idêntico ao conceito de restauro

arqueológico,da tutela de Viollet-le-Duc, tem a ver com o complemento das lacunas.

Enquanto Ruskin afirmava que não se devia acrescentar nada à pré-existência, como já

anteriormente referido, Viollet-le-Duc insistia que o seu preenchimento deveria ser feito

através de elementos formalmente semelhantes aos originais, apenas mais simplificados e

com materiais diferentes, de modo a salvaguardar a integridade do monumento. Brandi

concorda com a perspectivas de Viollet-le-Duc, concretamente de reaver o edifício na sua

totalidade, pois, segundo ele, uma obra de arte, como é um monumento de arquitectura, é o

todo que resulta da relação entre as partes e não as várias partes isoladas e distantes entre

si. Ouso aqui evocar o princípio da Gestalt9.

Resumindo, o grande contributo de Cesare Brandi para as teorias de salvaguarda

dos monumentos arquitectónicos foi a consciencialização da presença de resultados do

factor tempo numa obra de arte. Existe primeiro o tempo de criação, com todas as suas

partes e características estilísticas e construtivas, estéticas e estruturais, que deram origem

a um todo completo e unitário, aclamado de obra de arte. Em segundo, o tempo

compreendido desde o exacto momento que seguiu a sua criação, do passado mais próximo

à contemporaneidade, que afectou o monumento original desde demolições, alterações,

acrescentos, à própria patina10 nos materiais, e que deve também ser alvo de consideração,

ponderação e salvaguarda, pois constituem grande parte do valor histórico e por isso

cultural e patrimonial. Em terceiro e último, o tempo presente à intervenção de restauro ou

9 Gestalt é um termo intraduzível do alemão, utilizado para abarcar a teoria da percepção visual baseada na psicologia da forma. 10 Carbonato de cobre que se forma nas estátuas e medalhas ou moedas de cobre antigas, constituindo uma camada geralmente verde ou esverdeada.

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conservação, que deve ser encarado também ele como um presente de criação que deverá

documentar a sua própria história e cultura às gerações futuras.

A este último ponto, há, no entanto, que fazer uma pequena ressalva: Cesare Brandi

respeita a obra de arte tal como ela é, e portanto a intervenção do presente deve basear-se

na reconstrução e não na adição de partes, de modo a garantir a autenticidade do todo

original, e não a criação de um novo todo.

É, sem dúvida alguma, muito interessante e diria-mos de extrema relevância,

conhecer e perceber a evolução que as teorias de salvaguarda do património arquitectónico

tiveram ao longo destes vários séculos de história. Cada vez mais se percebe que o sucesso

do futuro, está no conhecimento do passado, e nas lições e ilações que se tiram dele. E é

sobre estes factos que se descobre a verdadeira importância das teorias de conservação e

restauro.

Perante toda esta panóplia evolutiva, torna-se pertinente comentar que, apesar dos

esforços de Boito e Giovannoni em afirmar o contributo essencial do contexto, ou seja, das

construções ditas menores no valor e sentido do monumento, ainda hoje, a insipiência e

comodidade são revestidos de explicações aparentemente complexas mas capazes de

simplificar a destruição das pré-existências e acabar assim com um terreno limpo e livre de

referências e condicionamentos, que ilusoriamente facilitam o trabalho ao arquitecto e

permitem-lhe uma maior liberdade criativa.

Será este o preço a pagar para termos hoje uma arquitectura que responda às nossas

necessidades quotidianas? É necessário apagar o passado para termos um futuro? O esforço

está no sentido da adequação e actualização, e não na eliminação e substituição.

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Foi com este objectivo que todos estes amantes da arte e da arquitectura, desde

Viollet-le-Duc e Ruskin, até Boito, Giovannoni e Brandi, se esforçaram e debateram sobre

as suas teorias de salvaguarda do património arquitectónico e, directa ou indirectamente,

contribuíram para a criação das Cartas, Recomendações e Convenções Internacionais sobre

o restauro e conservação do património arquitectónico.

de Atenas a Cracóvia

Pelo facto das cartas precederem umas das outras, e visto encontrarem-se

publicadas e facilmente acessíveis, no livro “ Patrimonio arqueológico – Cartas,

recomendações e Convenções Internacionais” de Flavio Lopes e Miguel Correia,

concentramo-nos apenas em perceber: o que são; qual a sua importância para a disciplina;

para que foram criadas; e qual terá sido o seu efeito prático no desenvolvimento de uma

metodologia de preservação do património arquitectónico.

As Cartas, Recomendações e Convenções Internacionais são documentos que

reverteram da preocupação e premência de atestar e definir uma metodologia, capaz de

proteger o património arquitectónico. A partir do início do século XX, quando muito já se

tinha teorizado sobre os temas do restauro e da conservação, e quando a própria

intervenção de salvaguarda já era muito comum, exigida e até obrigatória em alguns casos,

houve a necessidade de reunir todas as conclusões teóricas que até então se teriam tirado

através da aplicação prática em diversos casos de património, criando assim as bases

metodológicas da nova disciplina da arte e da arquitectura: o restauro e conservação.

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Porém, torna-se importante salientar que, relativamente aos documentos referidos,

estes constituem-se efectivamente apenas como as bases da metodologia de salvaguarda do

património, estando posteriormente à responsabilidade de cada um dos países, urbanistas e

arquitectos adoptá-las e adaptá-las ao seu próprio contexto e necessidade. Sendo com base

neste contexto que surgiram, por exemplo em Itália, no mesmo ano da Carta de Atenas, a

Carta del Restauro de 1931 e, poucos anos mais tarde, a Carta de Veneza, as Cartas del

Restauro de 1972 e de 1987.

Ainda com o objectivo de responder aos problemas mais específicos sobre a

salvaguarda do património rural e vernáculo, foram criadas na segunda metade do século

XX várias cartas, recomendações e apelos. nomeadamente a Recomendação sobre a

Salvaguarda da Beleza e do Carácter das Paisagens e dos Sítios de 1962; o Apelo de

Granada sobre a Arquitectura Rural e o Ordenamento do Território de 1977; a Convenção

para a Salvaguarda do Património Arquitectónico da Europa de 1985; a Recomendação n.º

R(89) 6 sobre a Protecção e a Valorização do Património Arquitectónico Rural de 1989; a

Carta de Lisboa sobre a Reabilitação Urbana Integrada de 1995; a Carta sobre o Património

Construído Vernáculo de 1999 e, finalmente, a Carta de Cracóvia sobre os Princípios para

a Conservação e o Restauro do Património Construído de 2000.

"Como um estudioso do mundo medieval admira Viollet, mas rejeita a restauração

de seus seguidores, alegando que a metodologia já foi ultrapassada no final do século

XIX. Também animado com as teorias de Ruskin (...). Mas Boito abre um novo caminho a

meio caminho entre o Inglês e o Francês 11" (Rivera, 1997: 139)

11 “Como estudioso del mundo medieval admira a Viollet pero rechaza las restauraciones de sus seguidores por considerar que la metodología ya estaba anticuada a finales del siglo XIX. También se entusiasma ante las teorías de Ruskin (…). Pero Boito inaugura una via nueva a medio camino entre el inglés y el francés Traduzido do espanhol pelo candidato

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Assente nas palavras de Rivera, torna-se relevante estabelecer uma metodologia

bem fundamentada. É importante começar por algum lado, sendo através da Carta de

Atenas de 1931 o marco que estabeleceu o início. Este documento encontra-se

directamente influenciado pelos pensadores abordados anteriormente, nomeadamente

Giovannoni.

Próximo à proposta de Boito, a carta de Atenas, sob influência de Giovannoni,

defende a (re)utilização dos monumentos, desde que o novo uso sugerido se aproxime ao

original. O respectivo documento defende ainda que qualquer intervenção deverá ter em

consideração o relacionamento existente dos edifícios com a envolvente próxima, tanto os

edifícios como as próprias vegetações, de modo a garantir a preservação do enquadramento

visual já estabelecido.

Sendo estas as principais características da carta de Atenas de 1931, este

documento, no entanto, defendia que devia ser estabelecido um ordenamento e

classificação do território por zonas, de modo a estabelecer-se regras orientadoras de

ocupação e uso, tendo em vista a manutenção e salvaguarda dos ambientes e valores locais.

Esta recomendação visa também o regulamento dos materiais, cores e alturas das novas

(re)construções, além dos seus índices de implantações e impermeabilizações.

Desta forma, encontra-se então claramente valorizada a contextualização do local, o

que torna indispensável a visita ao terreno, apoderando-se e sentindo-se o ambiente. Só

depois se poderá pensar numa intervenção adequada não só ao edifício, como também à

envolvente próxima e ainda ao contexto urbano. Essa intervenção deverá prevenir a

construção descontrolada de edifícios que, ou pela estética ou pelo programa, não se

emolduram harmoniosamente na paisagem, por ausência de referências ou por tentativa de

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imitação. Nestas medidas, são incluídas também a proibição da desarborização, sendo esta,

em muitos casos, uma das principais características da paisagem rural. Por outro lado, e

quando já não for possível prevenir, pois então deverão ser corrigidas aquelas acções que

alteraram o ambiente e aspecto das paisagens, na tentativa de reaver a sua forma original,

pratica esta assente sobre o principio de anastilose12.

“A protecção da paisagem e dos sítios deverá ser assegurada através do recurso

aos métodos a seguir enunciados: Fiscalização por parte das autoridades responsáveis;

Criação de servidões nos planos de urbanização e de ordenamento do território a todos os

níveis: regionais, rurais ou urbanos; Classificação de vastas paisagens «por zonas»;

Classificação de sítios isoladas; Criação e manutenção de reservas naturais e de parques

nacionais; Aquisição de sítios pelas colectividades públicas.” (Lopes & Correia, 2004: 98)

Alguns destes conceitos ganharam lugar na Carta de Veneza de 1964, talvez

redigidas de uma outra forma, mas defendendo essencialmente o mesmo, por exemplo, a

sobrevalorização da estética e da história, a preferência pela manutenção ao restauro, a

conservação da envolvente próxima ao monumento a salvaguardar, a recusa pela procura

de uma unidade estilística ao género de Viollet-le-duc e a preferência pela anastilose

encontram-se presentes, sendo que as grandes novidades que se avultam, são as evoluções

e aperfeiçoamento destes conceitos base.

Partindo como principio que o sentido pratico e funcional da arquitectura através do

restauro ou conservação deverá sempre ter como objectivo a serventia da população,

através do respeito pelos valores estéticos e históricos, o resultado dessa intervenção não

deverá nunca alterar a imagem exterior, nem a divisão interior dos espaços, sendo que esta

acção deve também ser tomada em conta relativamente ao espaço envolvente, conservando

12 Anastilose significa a recomposição de partes existentes.

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assim o traço original enquanto protecção do carácter do foco local e carácter e valor do

monumento em causa.

Por fim, ainda sobre a Carta de Veneza, mostra-se relevante salientar que toda a

intervenção deverá ser registada e documentada, de forma precisa (Idem: 107), de modo a

conservar as características originais do monumento e orientar, assim, eventuais e

posteriores alterações.

Analisadas ambas as Cartas, a grande diferença da Carta de Veneza relativamente à

Carta de Atenas é que, na última entende-se os sítios rurais e urbanos também como

“monumentos” portadores de história e cultura, que exige salvaguarda. Neste sentido, não

só os edifícios monumentais merecem consideração, mas também as construções modestas.

Em consequência, a construção adjectivada por menor, que agora implica também

salvaguarda, não necessita de estar próxima do monumento, pois essas, por consequência,

já são consideradas património, podendo ser aglomerados habitacionais ou mesmo centros

históricos, desde que se possa provar o seu interesse e valor histórico e cultural. Substitui-

se subtilmente o termo “envolvente” por “contexto”, e assim reafirma-se a noção de que

um monumento tem uma história, que por sua vez está ligado a um sítio e cultura, aos

quais não se devem nunca separar.

Desta forma, percebeu-se que o valor do “particular” isolado depende do “todo” à

sua volta. Isto levou à missão de preservar a integridade urbana, sem nunca condicionar a

sanidade, organização e valorização do ambiente urbano. Porém, para finalizar esta ideia

relativa à recomposição por anastilose, defende-se que estas deverão continuar as linhas

mentoras da pré-existência, garantindo uma actualização e adequação ao tempo da

intervenção. Para tal, apoia-se o uso de técnicas modernas de construção na consolidação

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do monumento, respeitando sempre a sua antiguidade e autenticidade. Até aqui nada de

novo, sendo que a grande mudança, avulta-se no que toca à modernização da intervenção,

recaindo sobre os materiais a empregar no preenchimento das lacunas, onde antes, na Carta

de Atenas de 1931, teriam que ser divergentes, e agora apenas têm que se tornar

perceptíveis.

No entanto, a neutralidade patente da Carta de Veneza de 1964, com finalidade de

fornecer uma resposta a uma realidade global, acaba por implicar uma adaptação a um

novo contexto, surgindo, desta vez em Itália, uma nova Carta de Restauro de 1972. Este

documento, ganha destaque por ser fortemente dominado pelas Teorias de Restauro de

1963 de Brandi, e acabaria por especificar as várias artes, personificando o tipo de restauro

a ser-lhes aplicado. Constituída por 12 artigos e 4 anexos, a nova Carta sobrevaloriza em

todas as suas terminações, essencialmente a estética sobre a estrutura e a história. Este

princípio operante é particularmente relevante referenciar, por ser uma das particularidades

mais marcantes e comentadas pelas cartas posteriores. Esta preferência pela estética

acontece pelas mãos do historiador e grande amante de arte que é Brandi, o que

provavelmente faz sentido quando se trata de uma pintura ou escultura, arte puramente

alegórica, mas que facilmente não se mostra propício à arte funcional que é a arquitectura.

Não podemos, no entanto, censurar os métodos anotados nesta Carta, pois afiguram

uma grande actualização e modernização do tema da conservação e restauro, tão actual

que, em pleno século XXI, ainda se constituída referência.

Importa ainda mencionar, que houve a preocupação de prever e orientar o modo de

intervir no património arquitectónico, de modo a prevenir as patologias físicas e orgânicas

próprias desta arte, como são as humidades, as fissuras, a oxidação e vegetação. Os

revestimentos de feição, devem ser distinguíveis para facultar o seu reconhecimento e logo

a sua reversibilidade.

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Sendo que a Carta de Restauro de 1972 se mostra como sendo mais completa

relativamente às anteriores, mas em boa verdade, para nós, arquitectos, interessa

particularmente os anexos sobre o restauro arquitectónico e sobre a defesa dos centros

históricos. No primeiro anexo, veremos repetidamente declarada a opção na manutenção

sobre a preservação, e a preservação sobre o restauro. Deparamo-nos também com o

reconhecimento do valor histórico e cultural dos acrescentos. Até revemos o particular

interesse pela reutilização do monumento. Mas é aqui que começam as pequenas grandes

diferenças, pois, entendeu-se que o aproveitamento da ruína e a sua intromissão no

quotidiano dos cidadãos, são a melhor solução para a prevenção do abandono e sequente

degradação.

Acreditou-se assim, que o carácter e enunciação desse quotidiano provinham

directamente do ambiente urbano, que por sua vez seria excepcionalmente causado pelo

programa dos monumentos, mas mais ainda, pelo seu aspecto.

Esta convicção levou a que a apropriação do edifício ao novo programa fosse

verdadeiramente abalizada, mas nunca se sobrepondo, ou pondo em causa a autenticidade

do material do monumento. Dito isto, em caso algum aceitar-se-ia alterar o aspecto

exterior, ou a disposição interior, respeitando assim os valores mais preciosos da arte: o

histórico, e claro, o estético. Basicamente, enquanto a Carta de Veneza salva uma

reutilização ajustada às urgências da sociedade, aceitando um ajuste do programa, a Carta

del Restauro de 1972 prefere a conservação da tipologia, conservando assim também o

carácter individual do edifício e o seu ambiente.

Por outro lado, já no segundo anexo, verificamos algo aparentemente antagónico ao

que a Carta del Restauro de 1972 propôs para o património arquitectónico. No caso dos

centros históricos, esta Carta resguarda que o seu valor histórico é mais importante que o

artístico ou formal, e por isso, independentemente do seu valor estético, todos os agrupados

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arquitectónicos, urbanos ou rurais, são dignos de salvaguarda e restauro desde que provado

o seu valor histórico. Aparentemente antagónico porque, na realidade, a Carta define que o

valor histórico está na matéria e no seu aspecto, e por isso, acaba por ser este o alvo da

operação, ou seja, para salvaguardar o valor histórico deve ser preservado, garantido, e/ou

restaurado o valor estético.

No seguimento da ideia, este princípio dependeria, entre outras, particularmente de

três atitudes: da junção e comunicação dos centros históricos com as áreas atraentes com

grande potencial de desenvolvimento; da conservação do contexto, ou seja, do ambiente

urbano constituído não só pelos edifícios, mas pela conexão entre estes e as ruas, praças,

pátios, jardins, rios, bosques, etc., elementos também sujeitos a salvaguarda; e ainda da

preservação, não só do aspecto das construções, mas também do seu uso e programa.

Desta forma, remete-nos salientar alguns dos princípios que surgiram com o intuito

de criticar e modernizar a Carta de Restauro de 1972, a Carta de restauro de 1987. Sendo

esta mais uma crítica ou modernização, esta carta apresentou-se como uma opção aos

métodos conservacionistas da Carta de 1972. Seguia uma estrutura semelhante de 12

artigos, mas, desta vez, com 6 anexos, dos quais, aos arquitectos, apenas importarão

repetidamente os relativos à arquitectura e aos centros históricos. Nestes anexos o diálogo

é sempre feito no sentido de aceitar a oportunidade de uma conservação ao estilo da Carta

de 1972, mas não de obrigá-la, prevendo, preferindo e até encaminhando uma intervenção

mais penetrante e restauradora. Exemplos disso são a operação sobre a pátina, onde antes

seria indubitavelmente salvaguardada, e agora derivando do seu estado e dos seus efeitos

sobre os próprios materiais, aprova-se a sua remoção desde que reconhecida a sua mais-

valia; e ainda, contra todas aquelas teorias que sustentavam o tempo e história como

factores únicos e irrepetíveis, a reconsideração das inserções analógicas, ainda que

unicamente aplicadas à estrutura.

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Neste contexto, este ponto revela-se particularmente interessante, pois contraria um

dos princípios da metodologia de conservação e restauro mais marcadas e tidas como

certos, desde a Carta de Atenas de 1931. Por um lado, a Carta de 1987 arremessa a

sobrevalorização da imagem e do semblante em conformidade à forma e à estrutura,

definindo inclusivamente pela utilização de materiais harmonizáveis com a pré-existência

pelas suas propriedades, em vez das características estéticas; mas, por outro lado, antepõe a

aplicação de materiais e técnicas tradicionais, claro que pela sua melhor adaptação

construtiva à pré-existência, mas também pelo seu efeito estético, pois estimula a

procriação de elementos figurativos que (re)compõem a imagem “original” do monumento,

designadamente a estereotomia das pedras, que delineiam o semblante de um portal, uma

janela, uma rosácea, um cunhal ou um pavimento.

Porventura, este princípio poderá eventualmente ter sido o maior auxílio da carta de

1987, a primazia pelos materiais e técnicas tradicionais nas operações, embora

incessantemente distinguíveis mas contextualizados, veio reforçar o respeito pelo

património histórico, arriscando na reversibilidade, mas, acima de tudo, veio reaver o gosto

e o conhecimento tradicional e acautelar a identidade cultural própria de cada país, região

ou povoação.

No entanto, para se conseguir um método adequado para uma intervenção num

edifício que embora de carácter patrimonial, se revela como modesto, inserido em território

rural, como é o caso do objecto de estudo em que se centra esta dissertação, torna-se

necessário regressar ao ano de 1977, aquando da criação do apelo de Granada sobre a

arquitectura rural e o ordenamento do território. Este documento brotou na tentativa de

acautelar o abandono das áreas rurais, e consentânea erosão do seu património

arquitectónico. Neste sentido, a solução é a sua (re)utilização. Não obstante, tendo

presente a conservação da imagem e ambiente local, a intervenção de restauro deve ser

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antecipado por um levantamento dos materiais e técnicas tradicionais, não só pelo efeito

estético, mas pelas qualidade e sabedoria inerentes às construções vernáculas; e ainda por

uma pesquisa histórica e das condições socioeconómicas, de maneira a entender o

argumento no qual se intercede, e assim colaborar com uma solução amoldada e ajustada

às pré-existências.

“(...) a política de conservação, no âmbito do ordenamento do território, só é possível se existir um

inventário dos bens a manter.

Estes inventários podem ser de diferentes tipos:

uma lista sumária dos sítios naturais e construídos que apresentem um interesse genérico;

um inventário mais pormenorizado compreendendo um triplo objectivo:

- levantamento dos dados demográficos e sócio-económicos, ao nível municipal ou regional,

abrangendo: população (estrutura e composição), estruturas económicas, caracterização das actividades

(emprego, rendimento);

- levantamento dos sítios compreendendo quer a descrição física, quer a análise da estrutura

histórica da paisagem;

- levantamento das edificações, realizado com o apoio de fichas individuais, com a descrição

pormenorizada do objecto, uma apreciação da arquitectura, seus valores histórico e estético, estado de

conservação, relação com o meio envolvente.” (Idem: 192).

Em 1985 foi criada a Convenção para a ressalva do Património Arquitectónico da

Europa, com o propósito de cuidar da integridade e autenticidade do património

arquitectónico através da preservação e transmissão das características e actividades

económicas, sociais e culturais de cada região, sendo este propósito executado através da

utilização e adaptação dos edifícios, técnicas e materiais tradicionais às necessidades e

realidade do presente, evitando assim a deterioração do património e o desaparecimento da

identidade cultural.

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Mas, foi anos mais tarde, no ano de 1989, com a recomendação nº (89) 6 sobre a

Protecção e a Valorização do Património Arquitectónico Rural, que se estabeleceram os

princípios operantes de intervenção no ambiente rural.

Sendo a arquitectura o reflexo do uso/programa, a adequação ao contexto em

analise – rural, torna-se inevitável, sendo crucial corresponder as actividades primarias,

como a agricultura e o artesanato, praticas estas que têm sido abaladas pela evolução da

tecnologia, implicando riscos no que respeita á sua identidade original. O único pré-

requisito é o seu valor documental e pedagógico no âmbito dos materiais, técnicas e

proporções tradicionais. Estes são os valores que acarreta aprender, reter, conservar e

aplicar, de modo a aguentar viva a arquitectura local e assim conservar a imagem e o

ambiente dos distintos locais e paisagens.

Porém, o propósito das operações em património arquitectónico não é agora apenas

o de preservar o objecto em si e os seus valores, mas similarmente o de convalescer a

qualidade de vida nos núcleos rurais ou urbanos danificados ou abandonados, através da

utilização das construções antigas e da oferta de novos usos revitalizadores na vida social e

económica. Estas posturas apontam, em última instância, banir o êxodo rural, ou seja, o

abandono e “morte” dos centros históricos.

No seguimento da ideia anterior, a Carta de Lisboa sobre a Reabilitação Urbana

integrada de 1995, veio enaltecer uma metodologia apoiada no levantamento histórico de

modo a entender as características e necessidades dos locais e assim planear uma

intervenção ajustada, tanto no programa como na linguagem arquitectónica. No entanto,

essa referência deve ser comedida, de modo a evitar a cópia e discrepância de elementos

arquitectónicos e de usos resultantes do restauro da preexistência. Estes princípios,

encontram-se também enquadrados na carta sobre o Património Construído Vernáculo de

1999, que basicamente surge como uma reafirmação que o objectivo principal passa por

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preservar a integridade, autenticidade, historicidade e estética das construções e paisagens.

Neste sentido, aconselha o levantamento tanto do edifício (forma e organização) como dos

sítios e dos seus valores culturais. É também fortificada a ideia de manter a imagem das

paisagens (construídas e naturais) através da utilização dos materiais (aspecto, textura, cor,

etc.), técnicas de construção, arborização e tipologias, tipicamente locais. Em caso de

ampliação, os materiais não são forçosamente os mesmos que os originais, nem deverão

ser distintos, devem ser sim, congruentes com a pré-existência, e simultaneamente “

apropriada manutenção no contexto da sociedade contemporânea”. (Idem: 293).

Por último, a carta de Cracóvia sobre os princípios para a conservação e o restauro

do património construído de 2000, veio aperfeiçoar a metodologia de salvaguarda expressa

na carta de 1999. Insiste-se novamente na adequação da nova função relativamente ao

novo edifício, lembrando que devem ser respeitados, tanto a sua disposição interior, como

a decoração, forma e materiais preexistentes, de forma a preservar o seu valor histórico e

cultural. No entanto, prevê-se não só a conservação e o restauro, mas também a

manutenção a reparação e, em último caso, a ampliação. A manutenção e reparação devem

ser feitas através da análise estrutural e do diagnóstico periódico das patologias e posterior

correcção. A ampliação de áreas ou programas é aceite, desde que se prove indispensável

ao bom funcionamento e uso do edifício. No entanto, estabeleceu-se que toda a nova

construção deve respeitar os vários “tempos” do edifício e assumir a sua própria

contemporaneidade na linguagem arquitectónica adoptada. Já a reconstrução deve ser

antecedida de uma análise histórica rigorosa, de modo a fundamentar as opções tomadas,

prevenindo assim a reconstrução baseada na suposição que resulta num falso historicismo e

compromete a autenticidade e identidade, primeiro do edifício e depois do sítio e da

paisagem.

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cada caso é um caso

A dissertação que se propõe, em primeira instância, a este género de operações,

“como intervir?” – sendo que nem a própria interpretação de património pode encarar-se

como concludente - não pode ser contestada caindo no “erro de considerar-se que alguém

pode estabelecer uma doutrina permanente ou formular uma definição científica de

intervenção arquitectónica.” (Solá-Morales, 2003: 69).

Como reitera Alves Costa, “A intervenção em edifícios antigos só se pôs como

problema cultural, a partir da segunda metade do séc. XVIII; ou seja, foi rigorosamente

contemporâneo do aparecimento da noção de património histórico. Todas as hipóteses de

intervenção se puseram desde o início: introduzir o novo no velho; não tocar no velho

(ideia característica do romantismo); reconstruir o velho de acordo com a arqueologia e a

história; recriar o velho.” (Alves Costa, 2003: 8). Actualmente, porém, segundo Sola-

Morales, devido à falta cultural que se vive, baseada em ideais e protótipos de

características universais, na contemporaneidade, não se vigora praticável formar um

sistema capaz de ser aplicado para além de situações individuais. (Ibidem)

Sendo assim, a resposta à questão como?, será dada, por um lado, com eficácia

através do conhecimento exaustivo da pré-existência, daquilo que foi e como existe no

momento da intervenção, e por outro, da clarificação daquilo que se pretende que seja.

Como tal, e com base em duas operações efectuadas em Portugal no passado

século, concretamente nos anos 70, apresentam-se como “marcos fundamentais para o

entendimento e para a reformulação dos princípios de actuação” (Tomé, 2002: 210), os

projectos de reconversão do Castelo de Vila Nova de Cerveira (fig.23), por Alcino Soutinho e

do Convento de Santa Marinha da Costa (fig.24), em Guimarães, por Fernando Távora. A

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acção elaborada por ambos os arquitectos, veio a testemunhar, segundo Tomé, a basilar

utilidade na regeneração de uma abordagem projectual, e principalmente no debate

empregue com outras práticas profissionais, de tal forma que, a seu maior tributo,

desenvolveu-se sobre a aderência as circunstâncias específicas do projecto, principalmente

a “reflexão sobre os instrumentos de intervenção: sobre o papel da história e sobre os

mecanismos de análise e de conhecimento.” (Idem: 211-212). Podendo sobre esta condição

ser mencionado dois ensejos metodológicos basilares:

Fig. 23 - Pousada do Castelo de Vila Nova de Cerveira – Arq. Alcino Soutinho

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a) A identificação do valor do objecto, pelo reconhecimento das qualidades formais

(no seu carácter estético, na sua capacidade funcional e na sua dimensão simbólica),

através de uma interpretação crítica e subjectiva. O passo fundamental para esta

interpretação foi o conhecimento do edifício, realizado através de mecanismos de análise

histórica, técnica e artística;

b) A recuperação da dimensão artística do objecto, através da preservação do valor

expressivo ou da essência da obra. (…) Considerou-se, deste modo, que a história do

objecto arquitectónico se ligava, não só aos dados rigorosos e objectivos das ciências

históricas, mas à concreta materialidade do objecto.” (Idem: 211-212).

Sendo assim, são ambos os ensejos metodológicos que acarretaram, num primeiro

momento, o entendimento da natureza do edifício e do seu respectivo decurso evolutivo,

sendo que o seu próprio alicerce metodológico de intervenção, baseia-se nomeadamente na

sua própria forma “e não tanto enquanto valor plástico, mas enquanto estrutura.” (Idem:

212-215).

Neste sentido, ”a análise tipomorfológica, ligada aos aspectos espaciais e

geográficos, impôs o necessário realismo ao procurar compreender o sentido evolutivo

das formas e a história particular do monumento. Superaram-se, desta forma, os

problemas mais superficiais ligados à linguagem ou aos omnipresentes temas filosóficos

de autenticidade e de legitimidade da intervenção. O projecto integrava, numa solução de

continuidade formal e temporal, as invariantes, as indeterminações os impulsos e os

desejos encerrados no objecto, assimilando e confrontando a natural sedimentação das

formas.(…) O valor do monumento residia na capacidade de absorver o tempo e as

transformações, integrando-os no seu corpo.” Em Santa Marinha da Costa, o mesmo autor

refere que, “Távora não procurou o que o edifício foi ou poderia ter sido, mas o que o

edifício podia e queria ser.” (Ibidem

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Fig. 24- Pousada de Santa Marinha da Costa – Arq. Fernando Távora

Na sequência destes princípios operantes, a reconversão do Mosteiro de Santa

Maria de Bouro, por Eduardo Souto Moura, no final dos anos 90, representou uma

abordagem própria relativa ao confronto entre o novo e o velho, sendo que a perda de

complexos analogamente à nova operação, revelou-se essencial para a lógica do projecto,

licitada pelo estudo dos estratos temporais presentes na ruína. Este estudo assumiu-se

como base metodológica, essencial para todo o processo e, também aqui, se debelam os

problemas superficiais da autenticidade do conjunto.

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Apoiando-nos nas palavras de Eduardo Souto Moura, o objectivo final na obra de

Santa Maria do Bouro não passa por “reconstruir a imagem do mosteiro do sec.XX (…)

terei de escolher um século para mim, a única possibilidade será o sec.XX. (…) Não faz

sentido construí-lo seiscentos anos mais velho.” (Souto Moura, 2001: 46). Sintetizando a

ideia de projecto inerente, o objectivo passa por adaptar o conjunto a um programa

contemporâneo de o vivenciar, e não recuperá-lo à luz da sua imagem e programa original.

Como podemos constatar, o trabalho da arquitectura responde sempre a partir de

uma pré-existencia, seja ela construída ou não, assumindo posturas de continuidade ou

ruptura, de tal forma que prontificamo-nos a assegurar que não existem fórmulas ou

dogmas totalitários que acautelem com eficácia a montagem de um projecto, sendo ainda

de referir, que cada caso é um caso e que só daí brotará uma nova teoria de intervenção,

podendo ser ou não baseada nas doutrinas anteriormente mencionadas, de forma a

estabelecer-se uma metodologia de intervenção, sem que se converta numa solução que se

possa generalizar.

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2.4 – Reabilitar / Recuperar

propriedade da operação

Analisando o ponto anterior, percebe-se que “a maior dificuldade consiste em

saber antes de mais avaliar com justiça a necessidade ou a oportunidade da intervenção,

localizá-la, determinar a sua natureza e a sua importância”.” (Choay, 2000: 137).

Importa, então, neste momento, ilustrar quais os termos que serão empregues numa

definição de objectivos de trabalho, e consequentemente, definir qual a natureza de

intervenção a desenvolver. “Apenas os trabalhos de conservação de um edifício ficam

rigorosamente circunscritos aos limites do próprio objecto. Porém, onde acaba realmente

a conservação e começa a modificação? Os limites imprecisos, haveria que encontra-los

entre noções de restauro e reabilitação.”13 (Gracia, 1992: 137). Neste caso, o termo mais

aproximado ao tipo de trabalho que se pretende desenvolver no Mosteiro de Santa Maria

de Júnias é “reabilitação”. Entende-se este término como uma intervenção, definida como

um método projectual que inclui outros métodos de trabalho geralmente efectuados, como

por exemplo conservação, restauro ou reutilização.

O método “reabilitação tem de ser entendido de forma clara, como significando

uma intervenção que vai além da conservação, embora desta possa conter partes

importantes. Deve pois considerar-se, quando se aplica esta noção, que numa intervenção

mais ou menos profunda num edifício está subjacente um conceito e até uma necessidade

de modernização que inviabilizam o restauro ou a conservação entendidas na forma mais

pura" (Appleton, 1995: 44). Porém, ousamos referir que a analogia inerente ao conceito de

13 “Solo las labores de conservacion de un edificio quedan rigurosamente circunscritas a los limites del propio objeto. Pero dónde acaba realmente la conservación y empieza la modificacion? Los limites imprecisos habría queencontrarlos entre las nociones de restauracion e rehabilitacíon.” Traduzido do Espanhol pelo candidato.

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reabilitação e conservação fixa-se num equilíbrio mutável que varia intrinsecamente da

essência e qualidade da pré-existência. Como tal, numa operação de reabilitação, a

demolição de pré-existências pode adquirir a mesma importância que a adição de novos

elementos, pois os seus propósitos, alimentam-se maioritariamente na afinidade entre o que

é deduzido e somado à preexistência.

Provindo da realidade em que se intervém, ela pode arcar uma forte componente de

conservação e restauro, de tal forma que a sua transformação pode ser mais ou menos

acentuada, quando assim se justifique. Porém é com base no grau de transformação a

estabelecer, que se ditam as imposições de conservação de semblantes que se considerem

necessários, a par das necessidades a ter na melhoria a nível funcional e de conforto,

implicando sempre a existência de um compromisso inerente a ambos os aspectos.

Deste modo, não se pode afirmar com clareza que a reabilitação inviabilize a

conservação entendida na sua vertente mais pura: “Reabilitar um edifício antigo é adopta-

lo a novos usos, o que pode querer dizer apenas dar-lhe uma limpeza ou partir-lhe duas

paredes por dentro. Mas reabilitar um edifício pode ser encontrar-lhe a alma, a vocação

que andava perdida: o que nunca tinha chegado a ser.” (Graça Dias, 1994: 42). Como tal,

mais uma vez não se torna claro que tenham de ser os edifícios antigos a adaptar-se a

novas funcionalidades uma vez que, a intervenção num edifício histórico difere da

construção do novo porque opera sobre uma pré-existência, sendo que, ocasionalmente,

inviabilizam as transformações.

Podemos portanto corroborar a adopção de novos programas ou novos usos em

edifícios antigos e não o processo contrário, ou seja, a adaptação dos próprios edifícios

antigos aos novos usos, o que por sua vez, significa garantir condições de integração de um

novo programa, implicando, porventura, uma renúncia pontual do mesmo.

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É portanto de salientar que, os agentes de intervenção tenham presente que, neste

tipo de processo, nem sempre será possível obter resultados semelhantes àqueles que se

obtêm na construção de edifícios de raiz, sendo que, o que se deve e se pode procurar é a

aproximação do seu limite. “A questão é como adaptar os novos programas aos edifícios

históricos, e isto é um desafio para o arquitecto porque o uso não justifica tampouco a

transformação dos edifícios a qualquer preço.”14 (Siza Vieira, 2008: 18). Reiteramos

assim esta como a primordial diferença entre reabilitar e recuperar, ou seja, o respeito pelo

que o edifício quer ser e não reduzir a intervenção a conceitos meramente técnicos.

Recuperar em arquitectura, é um conceito que se encontra implícito no facto de

poder dar uma nova luz a aspectos da vida do edifício que se foram perdendo, não apenas

sob o ponto de vista construtivo, mas também da recuperação de ambientes. ”O mais

importante é manter a integridade, o carácter, atmosfera do lugar e a autenticidade das

coisas, há que trabalhar com mais integridade ao enfrentarmos com o património, o que

não impossibilita a modernização do uso do edifício.” (Idem: 18). Sendo assim, com base

nesta última abordagem, o sentido da palavra recuperar em arquitectura adquire um sentido

ainda mais amplo, “é algo que vai mais além do físico e do material” (Ibidem) para além da

consolidação da sua materialidade. Não obstante, entendemos que ambos os termos -

reabilitar e recuperar - não se excluem, pois o conceito de uma intervenção pode passar

pela recuperação de uma identidade que se foi perdendo, ou mesmo a sua mutação para

uma identidade que nunca teve. Por outro lado, o conjunto das operações a serem

efectuadas para obter um diagnóstico do edifício e suas condicionantes poderão ser o

principal incitador de pistas que se mostram importantes para uma boa decisão projectual.

14 Siza in El Croquis nº140 – “Álvaro Siza 2001-2008. El Sentido de las Cosas” Madrid: 2008 pág. 18, tradução do espanhol pelo candidato

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estados de operação

O conjunto de trabalhos que se propõe implementar tem em vista a reabilitação do

objecto em estudo, podem definir-se em dois níveis de intervenção. Estes dois níveis

podem ser entendidos como “modificação circunscrita” como é apelidado por Gracia. O

primeiro nível provém de uma ideia de operação visada apenas ao edifício como sendo

uma realidade individual, assente na sua peculiaridade objectual, mais do que a sua

preocupação pela materialidade e volumetria, com o intuito de manipular o objecto que se

encontra em regeneração, modificando-se, passando pela sua mutação estrutural interna. O

segundo nível operativo supõe que o nível resultante da intervenção venha a interferir nas

relações do lugar onde se incide.”Podem incluir-se neste apartado ampliações de certa

dimensão a partir de edifícios existentes; corpos autónomos como ligaduras ou conectores

específicos que os vinculam aos edifícios principais; novos volumes capazes de actuar

como anexo entre outros pré-existentes.” (Gracia, 1992: 215).

Ambos os níveis verificam-se complementares, podendo ser possível o ajustamento

sob ponto de vista metodológico e projectual a esta investigação, percebendo desde cedo

que este demonstrava um elevado estado de degradação, revelado primordialmente pelas

dependências monástica, patenteando ainda uma baixa capacidade construtiva

inviabilizando, à partida, a implementação de uma nova estrutura interna.

Assim sendo, como observaremos nos próximos pontos, a proposta em discussão

centra-se no edifício em causa e numa zona sobre elevada, que se encontra como um

promontório sobre o monumento, pois, embora o objecto em análise possa ser

caracterizado como um elemento isolado, salientando apenas o facto de unicamente se

relacionar com as existências naturais que o envolvem, há factos históricos que narram

ligações profundas com a aldeia vizinha, o que faz, desde logo, com que a intervenção se

torne mais abrangente, ultrapassando os seus limites prévios.

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CAPÍTULO III – Proposta – Mosteiro de Santa Maria Júnias Resultados aplicados

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3.1 – Perspectivas diacrónicas em discussão, a sua implementação

A investigação teórica não deve ser compreendida, apenas, como um momento

analítico que antecede o processo de desenho, nem como matéria cujo conteúdo se assuma

à priori, mas como um método análogo e complementar, informando continuamente o

processo de desenho.

Desta forma, da analise exposta ao longo do capítulo II, podemos afirmar que

embora algumas teorias/posições tenham evidenciado algum poder, fruto do

empreendedorismo dos seus autores, nenhuma das metodologias pode ser considerada

como sendo unânime ou mesmo unívoca, mas sim consideradas metodologias capazes de

serem validadas e aplicáveis num projecto, devendo as mesmas apoiar-se na análise e

interpretação das característica da pré-existência, pois a intervenção em arquitectura só

pode ser entendida como um compromisso existente entre a possibilidade, a essência da

preexistência e o desejo do criador, podendo o real ser rejeitado, à priori, sendo

considerável ainda que “as ruínas podem ser testemunho de um genérico fluir do tempo”.

(Alves Costa, 2003: 7) Como tal, o objectivo derradeiro que se propõe, é o estabelecimento

de mais um passo que garanta uma harmoniosa continuidade do ciclo de vida do edifico,

ciclo este que se apresenta pelo acto criativo original sobrevivendo até ao seu estado

actual, por vários “presentes históricos que já tomaram um passado, de cujo transito e

obra conservou os traços. Todos estes tempos e as suas marcas têm de ser tomadas em

conta” (Aguiar, 2002: 52).

Ao trabalhar com ruínas, podemos afirmar que o tempo é a nossa principal

ferramenta de trabalho, podendo optar-se por várias vertentes de análise e intervenção,

usufruir da autenticidade das suas pré-existências, optar por transformá-las num sui géniris

ponto de observação como a exaltação da sua purificação, ou ficar atados às suas garras,

sendo a sua base original o limite da intervenção.

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estratégia

A estratégia define e é definida pelo objectivo da intervenção, determinando a

eficiência no confronto das intenções do criador com a essência da preexistência. Portanto,

em primeiro lugar, preservar uma identidade, como base no retomar de ligações que se

foram perdendo, bem como a estimulação do carácter turístico que o edifício acarreta

nomeadamente por parte de amantes da natureza e do património, de forma a garantir a sua

manutenção e divulgação cultural traduzem as principais intencionalidades da intervenção

em proposta. Deste modo, a estratégia (fig.25) passa pela adaptação do edifício a um novo

uso, sem, no entanto, deixar de lhe reaver uma nova e fiel luz, relativamente ao seu

carácter principal.

Em resposta a problemas inerentes ao edifício (fig.25), como o caso das

acessibilidades, a estratégia assenta numa estrutura que se desenvolve pela encosta,

definida por um percurso pedonal que se constitui como um elemento unificador de todo o

projecto, partindo de uma primeira intervenção com foco no edifício de recepção, numa

cota sobre elevada até à cota inferior onde se encontra implantado o edifício monástico.

Devido à fraca capacidade construtiva com que o edifício nos apresenta, a proposta passa

pela adaptação a novo uso, conferindo-lhe uma visão contemporânea de um edifício que

contem em si todos os tempos.

Como tal, a intervenção nasceu “usando o real, que contém o seu passado e o

futuro desejado, encontrando a regra a partir do existente” (Alves Costa, 2003: 13), e da

natureza evolutiva inerente à história dos edifícios semelhantes ao existente.

A questão sempre presente relativa a proximidade do velho e do novo é resolvida

com base na ideia de que ambos os elementos engrandecem-se mutuamente e adquirem

novos significados quando postos em relação, pois segundo Bresson, “é necessário que

uma imagem se transforme em contacto com outras imagens como uma cor se transforma

em contacto com outras cores. Um azul não é o mesmo azul ao lado de um verde, de um

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amarelo, de um vermelho“. (Bresson, 1975: 22), considerando que não poderá existir arte

sem transformação.

Fig. 25- Esquiço de estratégia conceptual

Fig. 26- Foto da encosta por onde se desenvolve a estratégia conceptual de intervenção

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3.2 – Proposta

Fig. 27 – Planta geral da intervenção

Processo metodológico

A execução de ensaios de exequibilidade constituiu-se como o processo utilizado

na primeira abordagem ao teste de soluções, no âmbito do primeiro confronto da estratégia

programática definida com a realidade da preexistência e sua envolvente. As referências

estudadas no capítulo anterior foram surgindo naturalmente ao longo do processo,

integrando esta intervenção de uma forma informal, servindo como guia. Deste modo, e

tendo em conta o programa que se pretendia implementar, estas referências tiveram que ser

testadas em diferentes alternativas, não só a nível construtivo como a nível de relações

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espaciais e de distribuição. Este estudo pareceu-nos essencial para o desenvolvimento de

soluções projectuais.

Das referências estudadas, como sendo o respeito pela obra defendido por Brandi e

a visão de Giovannoni que defendia que a arquitectura não se circunscrevia enquanto uma

intervenção de carácter individual, são aspectos que se mostraram importantes na definição

de um processo metodológico, sem esquecer que, cada caso é um caso, devendo esta

premissa ser validada através da identificação do valor do objecto, bem como a sua

recuperação enquanto dimensão artística e de memoria a preservar. Estes foram aspectos

vincados principalmente na obra de Santa Maria do Bouro, por Eduardo Souto Moura,

sendo fundamental para o processo final, pois, intervir neste caso, só faria sentido

reconstruindo naquilo que ele pode ser, e não naquilo que tinha sido, auferindo-lhe uma

nova visão contemporânea e polivalente, capaz de se adaptar às necessidades de hoje, sem

aniquilar a sua imagem histórica.

Ao nível da reconfiguração espacial e da resolução dos problemas construtivos e de

distribuição, a proposta assenta na ideia de localizar claramente as particulares

arquitectónicas intrínsecas à tipologia do edifício e aos seus sistemas estruturais e

construtivos, procurando compreender e incentivar as suas aptidões e qualidades que já se

encontram presentes, nomeadamente na área da igreja, bem como na área sul, gerando logo

à primeira vista uma apetecível intervenção, mais do que obrigar o edifício a sérios,

impetuosos e anti-económicos malabarismos arquitectónicos que se poderiam executar,

correndo o risco de desvirtuar a sua imagem enquanto ruína, que se transforma em

documento a preservar e divulgar.

Fig. 28- Esquema da evolução morfotipologica com proposta elaborada

[Escreva uma citação do

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Em primeiro lugar, surge a

existente, sendo encarada

(re)aproximação da povoação da aldeia ao

original, sendo que o restante se efectuará

desenvolvida em cerda de 250 metros sobrelevada

encosta, tendo como principio o facto de,

visuais tanto com o edifíc

derradeiros metros a par

aligeiramento de cota, e uma superior qualidade de acessibilidade, comparativamente ao

percurso original.

Fig. 29- Esquiços do acesso pedo

contemporânea, em madeira. O abrigo serve não só como elemento de união e rotação entre ambos os percursos

pedonais, mas também como elemento de pausa e de relações visuais entre ambas as

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O mosteiro de Santa

articulação e p

Em primeiro lugar, surge a indigência de reactivação e melhoria

encarada esta intervenção como um princípio

da povoação da aldeia ao mosteiro, em cerca de 50% do seu percurso

endo que o restante se efectuará por uma intervenção

desenvolvida em cerda de 250 metros sobrelevada (fig.29), que se apresentará “abraçada”

ncosta, tendo como principio o facto de, em todos os pontos, possibilitar

visuais tanto com o edifício de chegada e aproximação com o mosteiro, finalizado os

derradeiros metros a par do ribeiro, até junto do mesmo, permitindo

, e uma superior qualidade de acessibilidade, comparativamente ao

squiços do acesso pedonal e do abrigo de união entre o percurso original e o iní

contemporânea, em madeira. O abrigo serve não só como elemento de união e rotação entre ambos os percursos

pedonais, mas também como elemento de pausa e de relações visuais entre ambas as intervenções

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articulação e programa

melhoria da ligação

decisivo para a

mosteiro, em cerca de 50% do seu percurso

por uma intervenção contemporânea,

apresentará “abraçada” à

possibilitar-se relações

com o mosteiro, finalizado os

, permitindo assim um

, e uma superior qualidade de acessibilidade, comparativamente ao

ão entre o percurso original e o início da intervenção

contemporânea, em madeira. O abrigo serve não só como elemento de união e rotação entre ambos os percursos

intervenções.

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Fig. 30- Desenhos finais da proposta de intervenção do percurso pedonal e abrigo.

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Deste modo, a hierarquização do programa é feita pela sua distribuição dos

equipamentos de apoio, que serão implementados em ambas as cotas.

No edifico de recepção (fig.32) e na sua envolvente, encontra-se um programa de

características mais abrangentes e sazonais relativamente ao edifício em estudo, como por

exemplo um albergue, uma cafetaria, e um centro de recepção ao visitante do centro

interpretativo das ruínas do Mosteiro de Santa Maria de Júnias. Sendo também de referir

que será junto a esta primeira circunstância da proposta, designada em projecto como

“momento 1” (fig. 31), que se efectuará o estancamento automóvel numa zona destinada a

esse efeito - parqueamento.

Fig. 31- Esquiço da intervenção “momento 1”, edifício sinalizador de início do percurso e direcção da ruína, em forma de

barra levemente elevado relativamente ao solo, parecendo levitar, que por fruto do desnivelamento de cota na sua face

posterior, coloca-se como promontório sobre a encosta.

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Fig. 32- Desenhos finais da proposta de intervenção do “momento1”

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Fig. 33 – Fotografias da maqueta de trabalho – “momento 1”

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Recuperar toda a igreja, capela-mor e sacristia, esta já num elevado estado de

deterioração (fig.34), vem reforçar e reactivar em parte a sua função tendo em conta o seu

carácter original. As ruínas da área monástica, com o objectivo de divulgação e

consequente manutenção cultural, converter-se-ão num documento a preservar (fig. 38),

através de uma exploração arqueológica, que permita recolocar à vista, pavimentos, linhas

de águas e outros elementos que se encontrem ocultos por uma massa térrea que se foi

acumulando por toda a ruína, sendo estabelecido um percurso museológico pelas ruínas,

cerca de 0.50 cm acima da cota de ruína, constituído por grelhas metálicas vazadas

passíveis de serem removidas, para que o visitante o possa vivenciar de uma forma natural.

Fig. 34 – Esquiço da intervenção de recuperação da igreja, nova organização espacial, novos mobiliários em granito e aço

e nova pavimentação em placas de granito. Na intervenção, a relação da fachada principal da igreja com a encosta,

mantêm-se.

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Fig. 35- Esquiço da intervenção junto da ruína, que surge como apoio ao percurso museológico. Esta construção surge

encastrada na ruína, com dois pisos e constitui-se como o ponto principal de observação e interpretação da ruína situado

no piso elevado, albergando no nível inferior o principal ponto de abrigo e recepção ao ar livre do visitante.

A sul, desenvolver-se-á o equipamento anexo ao espaço museológico,

estabelecendo um “segundo claustro” (momento 2) (fig.31), que se pretende definido entre o

edifício que se vira e eleva para a encosta, permitindo assim maior permeabilização para a

paisagem natural que o envolve e não travando a relação entre vale e ribeiro e ao mesmo

tempo uma continuada abertura a sul.

Fig. 36- Esquiços da intervenção junto à ruína. Relação do edifico de expansão a sul que surge ligeiramente desalinhado,

com vértice da empena da aba direita da ruína, permitindo assim relação visual directa com os arcos do claustro que ainda

prevalecem, e também numa tentativa de marcação de continuidade do conjunto para o visitante que surge na entrada

original da ruína.

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O programa será constituído por um espaço de estar, uma zona expositiva

permanente, um área documental onde se poderá encontrar toda a informação sobre o

Mosteiro de Santa Maria de Júnias, uma área documental relativa à Ordem de Cister e sua

implementação no território nacional, um auditório e um espaço polivalente, passível de

receber outras actividades que se realizam sazonalmente em áreas próximas, como apoio a

provas de BTT – Bicicletas Todo-Terreno, apoio à caminhada, orientação, bem como a

celebrações religiosas que se possam realizar ao ar livre.

Fig. 37- Desenhos finais da proposta de intervenção do “momento2”

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Fig. 38- Desenhos finais da proposta de intervenção do “momento1” – cortes e perfis

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Fig. 39 – Fotografias da maqueta de trabalho – “momento 2”

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3.3– Soluções aplicadas

reversibilidade/revitalização construtiva

Como vimos anteriormente, o primeiro passo metodológico a tomar neste tipo de

intervenções é o conhecimento aprofundado da preexistência, de tal forma que o

diagnostico a efectuar, assume-se, por isso, fundamental para uma avaliação do estado de

saúde do edifício. Este diagnóstico, consiste em “operações cognoscitivas que permitem

avaliar o estado de conservação de um imóvel, nos seus elementos constitutivos e

identificar as causas dos fenómenos de degradação, observáveis nas características físico-

dimensionais e estático-construtivas, constituindo assim, o ponto de partida fundamental

para qualquer intervenção de recuperação, garantindo a real operatividade, exactidão e

eficácia.” (Gelsomino, 1984:17)

O diagnóstico tem como objectivo identificar, se as houver, anomalias existentes,

mas tão ou mais importante, identificar as causas que provocaram as anomalias, para evitar

a repatologia. Agir nestas causas e efeitos significa intervir localmente, nos sítios

afectados, sem perder de vista a lógica de funcionamento global das directamente

relacionadas com outros sectores, porém, tem também como objectivo elaborar um

levantamento geral de todo o edifício, capaz de se perceber o seu nível de capacidade

construtiva.

Após a identificação das anomalias e o estudo das principais técnicas de resolução

desses problemas, pretende-se agora aplicar esses resultados concretamente ao caso de

estudo, tendo em conta que a sua aplicação será condicionada pelo contexto específico

preexistente (cada caso é um caso). Aquilo que se propõe na parte final do trabalho

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consiste na resolução dos problemas relacionados com esses sintomas, assim como na

resolução dos problemas construtivos, resultantes dos objectivos de modificação, previstos

pelo projecto.

Desta forma, acordou-se que a abordagem operativa, para o caso em estudo, seria

mais eficaz quando pensada de forma a englobar todos os aspectos da construção da

preexistência, em vez de tratar cada sector como um somatório de intervenções. Como

princípio, a execução deveria ter em conta o ecossistema construtivo do edifício, sem que

lhe fosse estabelecido como somatório uma nova intervenção, mas sim estabelecer uma

estratégia capaz de absorver uma nova estrutura, capaz de auferir capacidade de

reversibilidade e revitalização (fig. 39) construtiva, mantendo presente, passado e futuro do

edifício, em detrimento de uma estratégia construtiva e programática finalizadora do ciclo

de vida do edifício.

Deste modo, a divisão em partes, que apontamos na discrição da estratégia

construtiva, existe apenas de forma a estabelecer mais uma leitura integral do edifício,

sendo também uma opção tomada de acordo com o objectivo final da estratégia

implementada para a intervenção, de tal forma que, apesar de considerarmos que os

resultados da reabilitação se condiciona pela preexistência, podendo por essa razão, dar-se

um sacrifício do novo programa, considerou-se como propósito que esses resultados se

aproximassem desse limite, estabelecendo-se um compromisso de parte a parte entre o

passado construtivo e as intenções do novo projecto.

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Fig. 40 – Desenhos finais – pormenores construtivos. Ressalva-se a cofragem visível nas figuras, promotoras de

fragmentação entre passado e presente construtivo do edifício

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3.4– Considerações finais

conclusão

O principal foco patente nesta dissertação, centra-se pela imutável interiorização do

papel do arquitecto, enquanto intermediário entre duas realidades: a histórica, caracterizada

pelo tempo – através das marcas deixadas nos edifícios, e as exigências sociais

contemporâneas (implícitas através da necessidade de novos padrões de conforto utilização

e vivência). Assim sendo, o percurso efectuado evidência o forte relacionamento que

acolhe o processo arquitectónico enquanto disciplina, também de índole social. Neste

contexto, desde o inicio, através da contextualização histórica do tema e respectiva

construção de estratégias, percebemos a génese conflituosa desta relação.

Torna-se importante perceber que, reutilizar uma ruína, que de uma forma por

vezes romântica admiramos pela marca histórica arquitectada pelo tempo, traduz, até certa

extensão, apagar a mesma memória do passado que paradoxalmente ambicionamos manter,

sendo que recuperando, mantêm-se o valor do estatuto, ou avoluma-se a novidade às custas

do valor da antiguidade. Consequentemente, geram-se dúvidas, abrindo um longo caminho

na exploração de novos domínios, desde a simples preservação, ao restauro ou reabilitação,

sendo que ainda hoje continuamos num processo evolutivo, cada vez mais célere, tanto de

adaptação constante às novas exigências, como também e ainda, na procura da melhor

forma de intervir no passado.

Assumiu-se, posto isto, uma intenção de centralizar os procedimentos da operação

num capítulo, afecto exclusivamente ao desenvolvimento arquitectónico, dedicando as

restantes camadas de interferência social, do respectivo confronto, a outro capítulo. Esta

decisão surge durante o trabalho, sobretudo, pelo forte intenção de focalizar a arquitectura

na sua vertente mais pura, facto este que surgiu no sentido oposto, o de união e constante

debate para uma melhor interiorização dos temas abordados.

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A análise de casos de estudo e de teorias permitiram, em parte, uma aproximação

independente, mantendo-se sempre em pano de fundo a relação entre arquitectura e factos

históricos. Foram abordadas diversas atitudes e condições que permitem à arquitectura

complementar o existente, pensamentos e atitudes que vão desde a analogia e

reinterpretação às formas, ou simplesmente completar um sistema, quer seja pela

reinterpretação ou pela ruptura arquitectónica. No entanto, nenhuma delas, pode ser

considerada, genericamente, mais correcta que as outras, pois cada caso é um caso, e aqui

neste trabalho pela identidade histórica inerente, ainda faz sentido que assim seja. Desta

forma, a arquitectura surge confrontada por uma realidade complexa de situações, formais

e funcionais, por vezes, de difícil decisão, que se agravam mais com o peso de património.

Portanto, torna-se essencial saber interpretar a história, e faze-lo de forma a

ultrapassar qualquer ambiguidade em que a sua cópia ou negação poderá resultar. Ficamos

a perceber de que forma o conhecimento do passado é um instrumento vital: primeiro para

se saber como actuar adequadamente e, segundo, para desenvolver um entendimento

crítico, inquisitivo e necessário na credibilização da arquitectura contemporânea.

Esta última condição é especialmente visível: na estratégia elaborada pela encosta e

consequente cota sobre elevada ao objecto central do trabalho, enquadrada numa análise

contextual mais ampla, onde outros factores (económicos, sociais e divulgação e estímulo

turístico) entram de forma mais completa, factor este onde a interpretação histórica e as

exigências sócias contemporâneas se misturam, pretendendo-se, acima de tudo, preservar a

autenticidade do espaço; constitui-se ainda intenção constante encontrar as ferramentas

ideais para proceder à sua reutilização enquanto documento a preservar. Como tal, um

conceito veio ao longo do trabalho, cada vez mais a apoderar-se da estratégia tanto

conceptual como construtiva - o conceito de reversibilidade.

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Numa primeira análise, mais uma vez, geraram-se dúvidas, pareceu-nos que uma

operação não deveria ser executada com a percepção que iria ser errada, e portanto

substituída. Nesse momento, era o que este conceito nos parecia significar. Porém, a

pesquisa sobre as técnicas de reabilitação correntemente utilizadas, assim como a reflexão

da análise histórica do objecto alvo de intervenção, dava-nos a ideia que a capacidade de

mutação de adaptabilidade que teve ao longo da sua história seria um factor a preservar.

Portanto, é na preocupação do pormenor de junção entre duas existências (preexistência e

nova existência), que mora o conceito de reversibilidade que se apoderou desta estratégia,

ou seja, a possibilidade de, a curto ou longo prazo, se poder rever a solução prevista na

intervenção, em serviços de conservação ou uma outro manobra de regeneração.

Em consequência, a proposta final eleita deu-se sob a tutela do método analítico e

propositivo, e da pesquisa teórica que contribuiu para a solidificação do projecto. É o

resultado da trasladação das variáveis abordadas, do local à figura construída, passando

pelos propósitos e intenções do mentor relativamente ao programa a estabelecer. Assim, a

arquitectura contemporânea define, cada vez melhor, o seu lugar na apropriação do

ambiente histórico, quer seja através de intervenções singulares ou excepcionais, quer seja

na revitalização constante desses espaços. O que antes suscitava alguma dúvida, pela sua

ambiguidade formal, mostra-se hoje uma oportunidade de potencializar.

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Citando Álvaro Siza,

“Sempre que recuperei um edifício, no final tenho certa sensação de insatisfação porque

sei que algo se perdeu com a intervenção. De imediato um edifício recuperado tem algo

decepcionante, carece do que só o tempo pode fazer e que nós, apesar de toda a tecnologia

ao nosso alcance, não conseguimos. Há um certo desencanto na recuperação de um

edifício porque ao recuperar há sempre, quer queiramos quer não, algo que se perde, que

desaparece.”

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