Pré-modernismo

download Pré-modernismo

of 3

Transcript of Pré-modernismo

"No h um s homem de corao bem formado que no se sinta confrangido ao contemplar o doloroso quadro oferecido pelas sociedades atuais com sua moral mercantil e egosta" Euclides da Cunha PR-MODERNISMO (FIM SC. XIX E INCIO XX) Marco inicial = publicao dos livros Os Sertes, de Euclides da Cunha e Cana, de Graa Aranha em 1902. Marco final = Semana de Arte Moderna de 1922. Esta poca apresenta, na literatura, um entrecruzar de vrias correntes estticas. Na mesma poca, ento, vai surgir uma prosa de fico que, ligada tradio realista, vai revelar criticamente as tenses da sociedade brasileira. No pode ser considerada uma escola literria, mas sim um perodo literrio de transio para o Modernismo. REFERNCIAS HISTRICAS Bahia - Rev. de Canudos, Nordeste - Ciclo do Cangao, Cear - milagres de Padre Ccero gerando clima de histeria fantico-religiosa, Amaznia - Ciclo da Borracha, Rio de Janeiro - Revolta da Chibata (1910), revolta contra a vacina obrigatria (varola) - Oswaldo Cruz, repblica do caf-com-leite (grandes proprietrios rurais), imigrantes, notadamente os italianos, surto de urbanizao de SP - greves gerais de operrios (1917),contrastes da realidade brasileira Sudeste em prosperidade e Nordeste na misria e Europa prepara-se para a 1 GM - tempo de incertezas. CARACTERSTICAS Na prosa, tem-se Euclides da Cunha, Graa Aranha, Lima Barreto e Monteiro Lobato que se posicionam diante dos problemas sociais e culturais, criticando o Brasil arcaico e negando o academicismo dominante. Na poesia, Augusto dos Anjos modifica o Simbolismo, injetando-lhe traos expressionistas e revelando uma viso escatolgica (cenas de fim do mundo) da vida. Quanto s caractersticas, percebe-se um individualismo muito forte, ainda assim pode-se destacar alguns pontos de aproximao desses autores.Ruptura com o passado, principalmente em Augusto dos Anjos que afronta a poesia parnasiana ainda em vigor.Denncia da realidade brasileira, mostrando o Brasil no oficial do serto, dos caboclos e dos subrbios.Regionalismo N e NE com Euclides; Vale do Paraba e interior paulista com Lobato; ES com Graa Aranha e subrbio carioca com Lima Barreto.Tipos humanos marginalizados (sertanejo, nordestino, mulato, caipira, funcionrio pblico), e apresentao crtica do real na fico. AUTORES

Graa Aranha (1866/1931)Seguiu a carreira diplomtica depois de ser juiz no Maranho e no Esprito Santo. Participou ativamente do movimento modernista, como doutrinador. Colaborou na fundao da ABL e da Semana de Arte Moderna de 22, por isso sendo considerado por muitos um modernista. Obras principais: Cana (1902/romance), Esttica da Vida (1921/ensaio)Esprito Moderno (1925/ensaio) e A Viagem Maravilhosa (1927/romance)

Euclides da Cunha (1866/1909)Exerceu a funo de engenheiro civil no meio militar. Foi membro da ABL, do Instituto Histrico e catedrtico em Lgica pelo Colgio Dom Pedro II. Viajou muito e escreveu Os Sertes pela experincia prpria de ter testemunhado a Guerra de Canudos como correspondente jornalstico. A obra juntamente com Cana marcam essa fase literria. Envolvido num grande escndalo familiar, foi assassinado em duelo pelo amante da esposa. Determinista, seu estilo pessoal e inconformismo caracterizam-no como um pr-modernista. Foi o primeiro escritor brasileiro a diagnosticar o subdesenvolvimento do pas, diagnosticando os 2 Brasis (litoral e serto).As passagens a seguir provm de Os Sertes, sendo cada uma de uma parte da obra. "O sertanejo , antes de tudo, um forte. No tem o raquitismo exaustivo dos mestios do litoral. A sua aparncia, entretanto, no primeiro lance de vista, revela o contrrio(...). desgracioso, desengonado, torto. Hrcules-Quasimodo (...) o homem permanentemente fatigado (...) Entretanto, toda essa aparncia de cansao ilude (...) No revs o homem transfigura-se . (...) e da figura vulgar do tabaru canhestro reponta, inesperadamente, o aspecto dominador de um tit acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de fora e agilidade extraordinrias. O Homem Obras principais: Os Sertes (1902),Contrastes e Confrontos (1906), Peru Versus Bolvia (1907),Castro Alves e seu Tempo (1908), Margem da Histria (1909),Canudos: DirIo de uma Expedio (1939

Lima Barreto (1881/1922)Nascido de pai portugus e me escrava, era mulato e pobre. Afilhado do Visconde do Ouro Preto, conseguiu estudar e ingressar aos 15 anos na Escola Politcnica. L sofreu toda sorte de humilhaes e preconceitos e, quando estava no 3 ano, teve de trabalhar e sustentar a famlia, pois o pai enlouquecera. Presta concurso para escriturrio no Ministrio da Guerra, permanecendo nessa modesta funo at aposentar-se. Lima Barreto torna-se alcolatra e passa por profundas crises depressivas, sendo internado por duas vezes. Em todos os seus romances, percebe-se trao autobiogrfico, principalmente atravs de personagens negros ou mestios que sofrem preconceitos. Mostra um perfeito retrato do subrbio carioca, criticando a misria das favelas e dos cortios. Posiciona-se contra o nacionalismo ufanista, a educao recebida pelas mulheres, voltada para o casamento, e a Repblica com seu exagerado militarismo. Utiliza-se da alta sociedade para desmacarla, desmitific-la em sua banalidade.Seus personagens so humildes funcionrios pblicos, alcolatras e miserveis.. Sua linguagem jornalstica e at panfletria.Triste Fim de Policarpo Quaresma a obra que lhe garante notoriedade.. Obras principais: Romance: Recordaes do Escrivo Isaas Camnha (tematiza preconceito racial e crtica ao jornalismo carioca - 1909), Triste Fim de Policarpo Quaresma (inicialmente publicado em folhetins - 1915), Numa e Ninfa (1915), Vida e Morte de M. J. Gonzaga e S (1919) e Clara dos Anjos (1948). Conto: Histria e Sonhos (1956), Stira Poltica e Literria:Os Bruzundangas

Monteiro Lobato (1882/1948)Homem de diversas atividades (escritor, editor, relojoeiro, fazendeiro, promotor, industrial, comerciante, professor, adido comercial etc.). Tem por formao Direito e participa de grupos e jornais literrios, entre eles o Minarete.Torna-se editor com a instalao da Editora Monteiro Lobato, que traz grandes inovaes para o mercado editorial brasileiro. Ainda assim, Lobato acaba falido. No ano de 1925, funda a Companhia Editora Nacional e comea a escrever sua vasta obra de literatura infantil. Isso se d por decepo com o mundo adulto, por isso comea a investir no futuro do Brasil. Em 1917, publica, no jornal O Estado de So Paulo, o artigo contra a pintora Anita Malfatti (estopim do Modernismo). A Propsito da Exposio Malfatti, expressa uma postura agressiva contra as novas tendncias artsticas do sculo XX, que resultar no seu desligamento dos principais participantes da Semana de Arte Moderna de 1922. Sua crtica acalorada se d porque ele no admitia a submisso da cultura brasileira s idias europias, da ser chamado de Policarpo Lobato. Faz uma crtica fecunda ao Brasil rural e pouco desenvolvido, como no Jeca Tatu (esteretipo do caboclo abandonado pelas autoridades governamentais) do livro Urups. Curioso que, na quarta edio de Urups, o autor, no prefcio, pede desculpas ao homem do interior, enfatizando suas doenas e dificuldades. Obras principais: Contos: Urups (1919),Idias de Jeca Tatu (1918),Cidades Mortas (1919) Negrinha (1920),Mundo da Lua (1923 Literatura Infantil: Reinaes de Narizinho,Viagem ao Cu,O Saci.

Augusto dos Anjos (1884/1914)Formou-se em direito, mas foi sempre professor de Literatura. Nervoso, misantropo e solitrio, este possvel ateu morreu de forte gripe antes de assumir um cargo que lhe daria mais recursos. Publicou apenas um nico livro de poesias, Eu, mais tarde reeditado como Eu e outras poesias. Sua obra cientificista, profundamente pessimista. Sua viso da morte como o fim, o linguajar e os temas usados por muitos so considerados como sendo de mau gosto, mas caracterizam sua poesia como nica na literatura brasileira. Sua viso de mundo e a interrogao do mistrio da existncia e do estar-no-mundo marcam esta nova vertente potica. H uma aflio pessoal demonstrada com intensidade dramtica, alm do pessimsmo. Constncia da morte, desintegrao e os vermes.Obra Principal: Poesias - Eu (1912) Versos ntimos O beijo, amigo, a vspera do escarro, Vs! Ningum assistiu ao formidvel A mo que afaga a mesma que Enterro de tua ltima quimera. apedreja. Somente a Ingratido esta pantera Se a algum causa inda pena a tua Foi tua companheira inseparvel! chaga, Apedreja essa mo vil que te afaga, Acostuma-te lama que te espera! Escarra nessa boca que te beija! O homem, que, nesta terra miservel, Mora, entre feras, sente inevitvel --Augusto dos Anjos Necessidade de tambm ser fera. Toma um fsforo. Acende teu cigarro!