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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X PRÁTICAS DE CUIDADO NO CAMPO E NA CIDADE: DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO E ACESSO À CRECHE Renata Faleiros Camargo Moreno 1 Taís Viudes de Freitas 2 Resumo: A demanda por compartilhar o trabalho de cuidado de crianças pequenas faz parte das lutas das mulheres no campo e na cidade. O acesso à creche e pré-escola aparece como uma estratégia importante para esse compartilhamento. Em que pese a tendência à universalização do acesso à pré-escola (para crianças de 4 e 5 anos) e a ampliação do acesso à creche (0 a 3 anos), verificadas desde meados dos anos 2000, os dados indicam desigualdades marcantes, permeadas pela dimensão de classe, raça e localização geográfica. São as crianças de nível socioeconômico mais elevado, brancas, vivendo em centros urbanos que têm mais acesso a creches quando comparadas às crianças que vivem no campo e em famílias mais pobres. Este artigo propõe uma discussão sobre as práticas cotidianas de cuidado de crianças pequenas, considerando as possibilidades de externalização do cuidado para creches e pré-escolas no campo e na cidade. A análise se baseia em dados coletados em pesquisas qualitativas com mulheres mães que vivem no campo e na cidade. A dimensão de classe e a relação entre campo e cidade são articuladas para analisar quais são as aproximações, e também as diferenças, entre as expectativas das mulheres quanto ao cuidado das crianças pequenas em instituições escolares, as estratégias para garantir o cuidado das crianças pequenas, inclusive quando o acesso à educação infantil não é realidade, e as dinâmicas da divisão sexual do trabalho em seus cotidianos. Palavras-chave: Cuidado. Divisão sexual do trabalho. Creche. A reivindicação por creches está presente, há décadas, no movimento de mulheres, tanto no campo como na cidade. Desde os anos 1970, o movimento feminista aponta que o pessoal é político e denuncia que uma grande carga de trabalho é realizada pelas mulheres, de forma gratuita, sendo vista na sociedade como uma responsabilidade que elas assumem em nome do amor e da família. No entanto, essa carga de trabalho que permite a reprodução social e da força de trabalho é decisiva para o desenvolvimento capitalista, sendo apropriada por sua lógica, sem, contudo, receber qualquer valorização ou reconhecimento social. As mulheres reivindicam que o Estado assuma parte da responsabilidade pelas atividades de reprodução social, retirando das famílias a obrigação de resolverem sozinhas e em âmbito privado tais tarefas. Do mesmo modo, indicam a necessidade de que os homens participem dessas atividades, dividindo igualmente as responsabilidades. Atualmente, nas famílias, são, sobretudo, as 1 Socióloga. Doutoranda em sociologia pela Universidade de São Paulo (São Paulo, Brasil). 2 Socióloga. Doutora em sociologia pela Universidade Estadual de Campinas (Campinas-Brasil).

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

PRÁTICAS DE CUIDADO NO CAMPO E NA CIDADE: DIVISÃO SEXUAL DO

TRABALHO E ACESSO À CRECHE

Renata Faleiros Camargo Moreno1

Taís Viudes de Freitas2

Resumo: A demanda por compartilhar o trabalho de cuidado de crianças pequenas faz parte das

lutas das mulheres no campo e na cidade. O acesso à creche e pré-escola aparece como uma

estratégia importante para esse compartilhamento. Em que pese a tendência à universalização do

acesso à pré-escola (para crianças de 4 e 5 anos) e a ampliação do acesso à creche (0 a 3 anos),

verificadas desde meados dos anos 2000, os dados indicam desigualdades marcantes, permeadas

pela dimensão de classe, raça e localização geográfica. São as crianças de nível socioeconômico

mais elevado, brancas, vivendo em centros urbanos que têm mais acesso a creches quando

comparadas às crianças que vivem no campo e em famílias mais pobres. Este artigo propõe uma

discussão sobre as práticas cotidianas de cuidado de crianças pequenas, considerando as

possibilidades de externalização do cuidado para creches e pré-escolas no campo e na cidade. A

análise se baseia em dados coletados em pesquisas qualitativas com mulheres mães que vivem no

campo e na cidade. A dimensão de classe e a relação entre campo e cidade são articuladas para

analisar quais são as aproximações, e também as diferenças, entre as expectativas das mulheres

quanto ao cuidado das crianças pequenas em instituições escolares, as estratégias para garantir o

cuidado das crianças pequenas, inclusive quando o acesso à educação infantil não é realidade, e as

dinâmicas da divisão sexual do trabalho em seus cotidianos.

Palavras-chave: Cuidado. Divisão sexual do trabalho. Creche.

A reivindicação por creches está presente, há décadas, no movimento de mulheres, tanto no

campo como na cidade. Desde os anos 1970, o movimento feminista aponta que o pessoal é político

e denuncia que uma grande carga de trabalho é realizada pelas mulheres, de forma gratuita, sendo

vista na sociedade como uma responsabilidade que elas assumem em nome do amor e da família.

No entanto, essa carga de trabalho – que permite a reprodução social e da força de trabalho – é

decisiva para o desenvolvimento capitalista, sendo apropriada por sua lógica, sem, contudo, receber

qualquer valorização ou reconhecimento social.

As mulheres reivindicam que o Estado assuma parte da responsabilidade pelas atividades de

reprodução social, retirando das famílias a obrigação de resolverem sozinhas e em âmbito privado

tais tarefas. Do mesmo modo, indicam a necessidade de que os homens participem dessas

atividades, dividindo igualmente as responsabilidades. Atualmente, nas famílias, são, sobretudo, as

1 Socióloga. Doutoranda em sociologia pela Universidade de São Paulo (São Paulo, Brasil). 2 Socióloga. Doutora em sociologia pela Universidade Estadual de Campinas (Campinas-Brasil).

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mulheres que assumem as tarefas de cuidado e trabalho doméstico3. A reorganização e

redistribuição do trabalho doméstico e de cuidados entre Estado, homens e mulheres ocupa, assim,

lugar destacado no enfrentamento às desigualdades.

A mobilização das mulheres no período em que antecede à Constituinte de 1988 é

reconhecida como decisiva para a legitimação da creche como necessidade e um direito a ser

garantido pelo Estado. Ao longo dos anos, a luta por creche ganhou novas configurações e outros

horizontes. Movimentos sociais, inclusive no campo da educação, passaram a considerar, cada vez

mais, a criança como sujeito de direitos. Em decorrência dessas lutas, a legislação brasileira foi

sendo alterada. A Educação Infantil (EI), já anunciada na Constituição de 1988, foi instituída como

primeira etapa da Educação Básica pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação4, sendo, portanto,

um direito da criança e da família, e um dever do Estado ofertá-la e garanti-la.

A oferta de Educação Infantil se constitui como uma política que aglutina necessidades tanto

das crianças, como das mulheres: das crianças, devido ao papel decisivo da Educação Infantil como

educadora e cuidadora, garantindo, assim, seu desenvolvimento pleno e integral; das mulheres, por

possibilitar liberá-las de parte da carga de trabalho que assumem no âmbito doméstico e ampliar as

condições para a aquisição de sua autonomia econômica. Uma série de estudos indica que o acesso

dos filhos à creche afeta positivamente a vida das mulheres, possibilitando que elas tenham maiores

condições de se inserirem no mercado de trabalho, em trabalhos formais e melhores remunerados

(MONTALI, 2014; SORJ & FONTES, 2010).

A presente análise, dentro de uma perspectiva feminista, procura compreender a relação

entre o acesso à creche pelas crianças pequenas e as dinâmicas da vida das mulheres. Para isso,

debruça-se sobre os resultados de duas pesquisas realizadas por cada uma das autoras. A pesquisa

de Taís Freitas foi desenvolvida, em parceria com a SOF Sempreviva Organização Feminista,

visando compreender como se dá o acesso à creche pelas famílias de mulheres em âmbito rural, a

partir de uma pesquisa qualitativa com a realização de grupos focais5. A pesquisa de Renata

3 No Brasil, as mulheres dedicam muito mais tempo aos afazeres domésticos do que os homens,

independentemente se estão ou não inseridas no mercado de trabalho. No ano de 2014, as mulheres ocupadas gastavam

21,2 horas com estas tarefas, enquanto os homens, apenas 10 horas semanais. Ao somar o tempo gasto com o trabalho

profissional e com o trabalho doméstico e de cuidados, as mulheres assumiam uma carga de trabalho de 56,3 horas

semanais e os homens, de 51,3 horas (IBGE, 2015). 4 Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 9394 de 1996). Disponível em

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em 13 jun. 2017. 5 Trata-se de uma pesquisa realizada no âmbito de convênio firmado entre a Sempreviva Organização Feminista

(SOF) e o extinto (em maio de 2016) Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Como parte da pesquisa, foram

realizados grupos focais com mulheres rurais residentes em três Territórios da Cidadania (TC): uma comunidade rural

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Moreno, em desenvolvimento no âmbito de seu doutoramento junto ao Programa de Pós-graduação

em Sociologia da USP, tem como objetivo compreender a distribuição dos cuidados entre Estado,

mercado e família, com foco no acesso à creche. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, realizada por

meio de entrevistas em profundidade com mulheres e homens responsáveis pelo cuidado de

crianças pequenas de diferentes estratos socioeconômicos no Município de São Paulo.

Ambas as pesquisas têm em comum a busca por estabelecer relações entre as percepções e

expectativas das mulheres em relação às creches, o acesso a essas instituições e o modo como se

dão suas práticas cotidianas em torno do cuidado. A presente análise não visa realizar comparações

entre os resultados das duas pesquisas, mas sim, a partir de realidades e contextos distintos, ampliar

o foco da análise, procurando identificar dinâmicas comuns na vida das mulheres de baixa renda,

tanto no campo como na cidade.

Esse artigo está estruturado em torno de três eixos. O primeiro visa compreender as

percepções e expectativas das mulheres em relação à creche e à política de Educação Infantil. O

segundo eixo procura identificar como se dá o acesso à creche, indicando as barreiras e desafios

encontrados pelas famílias em diferentes realidades. E, por fim, o terceiro eixo analisa as práticas

cotidianas das mulheres em torno do cuidado e a divisão sexual do trabalho, sobretudo quando o

acesso à creche não se faz presente. Nesse sentido, é um estudo que compreende as práticas sociais

a partir da imbricação entre as relações de gênero, classe e área geográfica6, procurando entender

como o acesso à creche interfere na vida das mulheres, nas dinâmicas familiares e nas

desigualdades de gênero.

O acesso à creche e desigualdades

A oferta de creches e pré-escolas vem apresentando um crescimento contínuo no País desde

o início dos anos 2000, fenômeno ligado à pressão dos movimentos sociais, inclusive de mulheres,

mudanças nas legislações brasileiras e no lugar da Educação Infantil na política pública,

assegurando financiamento para tal expansão. Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de

Domicílio (PNAD) indicam que, em 2004, a taxa de escolarização das crianças de 0 a 3 anos era de

quilombola no TC Serra Geral, em Minas Gerais; uma comunidade de mulheres pescadoras no TC Noroeste, no estado

do Rio de Janeiro; e um bairro rural no TC Vale do Ribeira, em São Paulo. 6 Consideramos a dimensão de raça fundamental nessa imbricação, compreendendo-a como decisiva no modo

como as relações sociais se estabelecem em nossa sociedade. Porém, ela não será abordada no escopo desse artigo, uma

vez que essa dimensão não foi foco de todas as pesquisas que servem de base para essa análise. Contudo, ao considerar

as relações de classe e gênero, afirmamos a relação de raça como indissociável das demais relações sociais.

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13,4% enquanto a das crianças de 4 e 5 anos de idade era de 61,5%. Em 2014, elas eram,

respectivamente, 24,6% e 82,7% (IBGE, 2015)7.

Apesar desse avanço, o acesso à Educação Infantil ainda é insuficiente frente à demanda e

marcado por profundas desigualdades. São as crianças de nível socioeconômico mais elevado,

brancas, vivendo em centros urbanos que têm mais possibilidades de acesso a creches quando

comparadas às crianças que vivem no campo e em famílias mais pobres.

Segundo dados da PNAD, em 2014, a frequência das crianças pequenas à creche era 32,8%

maior entre as famílias mais ricas do que entre as mais pobres (IBGE, 2014). Na relação entre

campo e cidade, em 2012, a taxa de matrícula na Educação Infantil em área urbana era de 88,2%,

enquanto na área rural era de apenas 11,8%. Já a taxa de frequência8 das crianças de até 5 anos de

idade era de 42,9% no meio urbano e 30,3% no meio rural (MEC, 2014).

As desigualdades se acentuam quando se considera a idade das crianças. As crianças

menores (0 a 3 anos) estão mais frequentemente fora das instituições de Educação Infantil

(ROSEMBERG & ARTES, 2012). Para as crianças pequenas vivendo em meio rural, o acesso à

creche parece ser ainda mais difícil: em 2010, 14,8% de todas as crianças brasileiras de até dois

anos de idade frequentavam a creche, sendo que no meio rural essa porcentagem era de apenas

6,3% (MEC & UFRGS, 2012).

Diante desse panorama, cabe analisar como se dá o acesso na prática das famílias à creche,

suas percepções e práticas cotidianas.

Perspectivas e expectativas em relação à creche

As motivações para matricular a criança em uma creche são variadas, mas as pesquisas

realizadas junto às mulheres tanto no campo como na cidade revelam alguns elementos comuns,

que jogam luz para a análise dessa problemática.

7 Vale lembrar que a Lei 11.274/2006 tornou a matrícula no ensino fundamental obrigatória a partir dos 6 anos

de idade, passando a Educação infantil atender as crianças de 0 a 5 anos, conforme Emenda Constitucional n. 53/2006.

A partir de 2016, a matrícula de crianças na pré-escola se tornou obrigatória (Lei n. 12.796/2013), alterando a LDB. Em

2014, o Plano Nacional da Educação (PNE) estabeleceu como meta para a Educação Infantil a universalização do

atendimento às crianças de 4 e 5 anos em pré-escolas, até o ano de 2016, e o atendimento de 50% das crianças de 0 a 3

anos em creches até o ano de 2024. Ver: Plano Nacional de Educação 2011-2020. Disponível em:

<http://www.observatoriodopne.org.br/metas-pne/1-educacao-infantil>. Acesso em: 13 jun. 2017 8 A taxa de frequência é a percentagem de pessoas que frequentam escola ou creche de um grupo etário em

relação ao total de pessoas do mesmo grupo etário, de acordo com definição do IBGE. Disponível em:

<http://seriesestatisticas.ibge.gov.br/series.aspx?vcodigo=CAJ318 >. Acesso em: 13 jun. 2017.

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A necessidade de trabalhar é uma dessas motivações, ainda que as modalidades de trabalho

variem significativamente no meio rural e no urbano. Nas entrevistas realizadas em São Paulo, a

necessidade de garantir uma fonte de renda ou de ampliar os recursos econômicos da família

apareceu como um fator importante que leva a busca por creche. Mesmo entre as mulheres

desempregadas, esse aspecto apareceu com destaque, por possibilitar que elas tivessem tempo para

procurar emprego.

Em meio rural, o acesso dos filhos à creche foi apontado pelas mulheres como decisivo para

que elas pudessem se dedicar às atividades no roçado, nos quintais ou na pesca, por exemplo, ou

ainda para procurar outros tipos de atividades remuneradas (muitas vezes, fora das localidades

rurais). Trata-se, portanto, da necessidade de liberação de tempo das mulheres.

Convive com a necessidade de ter tempo liberado para o trabalho, a expectativa de que as

crianças se socializem com outras da mesma idade, para brincar e ter mais estímulos. Entre as

mulheres rurais as falas indicaram a percepção da creche como um espaço voltado à educação, ao

cuidado e à socialização dos filhos. Segundo elas, a frequência dos filhos à creche ou pré-escola é

uma garantia que esses convivam e brinquem com outras crianças, estando protegidos e sob

cuidado, assegurando o bem-estar deles. A mesma percepção aparece entre as mulheres urbanas,

que indicaram compreender a creche também como espaço de socialização e cuidado, importante

para o desenvolvimento das crianças.

No entanto, a decisão de matricular os filhos em creche nem sempre é a primeira opção das

famílias. A justificativa de que a criança frequenta a creche porque não existe uma pessoa da

família para cuidar da criança enquanto a mãe e/ou o pai trabalham foi encontrada na pesquisa

realizada em São Paulo.

Esse aspecto parece ser comum na vida das famílias. Martins (2006), ao estudar famílias

rurais em Santa Catarina, indicou a preferência dessas que as crianças pequenas fossem cuidadas,

preferencialmente, pelas mães. Estas são vistas como as pessoas mais indicadas para garantir a

atenção e a proteção integral das crianças. Essa percepção foi corroborada na pesquisa com

mulheres rurais por nós realizada. Uma das participantes apontou considerar que a frequência da

criança à creche seria importante caso a mãe exercesse uma atividade remunerada, mas que, caso

contrário, seria preferível ela mesma cuidar do filho. Interessante indicar o ciclo vicioso que se

forma, visto que o cuidado das crianças sob responsabilidade quase exclusiva das mulheres é um

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dos limitadores do acesso delas ao mercado formal de trabalho, estando ligado à reprodução das

desigualdades de gênero.

A dimensão da confiança interfere, assim, nessa definição. Muitas entrevistadas relataram

ter receios e medos de deixar as crianças nas creches, especialmente relacionados a doenças, brigas

com outras crianças e maus tratos. A visão negativa é atribuída, sobretudo, às notícias veiculadas

nos meios de comunicação.

No entanto, é interessante observar que, diante da necessidade que a criança frequente a

creche, a experiência das pessoas entrevistadas é de que a confiança é uma relação que vai sendo

construída na frequência cotidiana. A pesquisa realizada com as mulheres em meio urbano revelou

como os momentos de relação direta entre as famílias e a instituição, mesmo que breves,

impulsionam o estabelecimento de vínculos entre as partes. Nesse sentido, destacam-se como

importantes os diálogos, ainda que rápidos, nos momentos de levar e buscar a crianças e,

especialmente, a comunicação por meio da agenda. Ao contrário da tarefa de levar e buscar os

filhos na creche – que é compartilhada entre pais e mães –, o acompanhamento da agenda é uma

tarefa realizada pelas mulheres entrevistadas. Segundo as entrevistadas, as educadoras escrevem

todos os dias, mesmo que seja apenas um “bom dia”, o que contribui para estabelecer uma relação

de confiança entre elas.

Colocar os filhos em creche, portanto, é uma decisão das famílias que envolve fatores como

o trabalho remunerado das mães, a liberação de tempo, a possibilidade de encontrar um emprego ou

se dedicar às atividades produtivas, assim como a compreensão da importância que as crianças

interajam com outras crianças e a ausência de possibilidade de que as crianças sejam cuidadas por

membros da família. Fatores que muitas vezes se mesclam nas dinâmicas familiares.

Acesso à creche no campo e na cidade

Entre a decisão de colocar a criança na creche e a efetivação deste direito, há um longo

caminho a percorrer. Como os dados confirmam, a maior demanda não atendida de acesso à creche

se encontra entre as famílias de estrato de renda inferior. Mesmo considerando as famílias deste

estrato de renda, a frequência à creche é ainda menor entre aquelas que vivem no meio rural.

Uma das formas de mensurar essa demanda é a “fila de espera” por vaga em creche. Muitas

famílias solicitam a vaga, tendo que aguardar meses ou até anos para consegui-la (o que é comum

nas periferias dos grandes centros urbanos, por exemplo). No município de São Paulo, a dimensão

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de renda é a que mais marca a dificuldade no acesso a creches. Em 2016, a lista de espera9 em

alguns bairros na periferia da cidade chegou a ter 5.215 crianças aguardando vaga em creches, caso

do Jardim Ângela, ou 4.069 crianças em espera, como no Capão Redondo, ambos na zona sul. Em

bairros mais centrais e elitizados como Alto de Pinheiros e Jardim Paulista, a lista de espera

continha 20 crianças10.

No entanto, é preciso aqui problematizar a questão da demanda. Esses números tratam de

famílias que chegam a solicitar a vaga em creche e não necessariamente correspondem às demandas

reais das famílias. Muitas delas deixam de buscar a vaga na creche diante da dificuldade em obtê-la.

Nesse sentido, Rosemberg (2001) fala que a demanda pode ser explícita, quando materializada na

procura de um serviço, ou pode ser latente, quando ela existe, mas não é expressa por alguma

motivação.

No meio rural, a oferta de estabelecimentos de Educação Infantil é muito limitada,

particularmente no que concerne às creches. Alguns municípios não ofertam creches, descumprindo

o estabelecido em lei, como um dos municípios do Vale do Ribeira onde as mulheres rurais

participantes da pesquisa viviam. Entre as outras entrevistadas, não havia creche no bairro em que

viviam, havendo a necessidade de seus filhos se deslocarem em transporte escolar.

Essa é uma realidade comum das famílias em meio rural. A política pública frequentemente

adotada nos municípios tem sido a de fechar escolas rurais em bairros mais afastados e substituí-las

por escolas em bairros com maiores densidades populacionais ou centrais, aliada à oferta de

transporte escolar (PASUCH & SANTOS, 2012). Entre as participantes, o transporte escolar foi

indicado como um dos aspectos mais preocupantes, visto que esses, geralmente, não são

apropriados para crianças, o que é ainda mais grave no caso daquelas na faixa etária entre 0 e 3

anos, tornando-se motivo de preocupação entre elas. Foram relatados casos em que algumas mães

frequentemente acompanhavam as crianças nesses transportes, temendo o risco de acidentes. Além

disso, as longas distâncias, as condições das estradas e a dependência em relação a esse transporte

também foram indicadas como motivos de preocupação e dificultadores (muitas vezes, empecilhos)

para a frequência das crianças aos estabelecimentos educacionais.

9 O sistema de vagas e lista de espera é organizado de forma unificada junto à Secretaria Municipal de

Educação (SME), mas regionalizada. De acordo com o local de moradia ou trabalho, as famílias inscrevem a criança em

uma unidade educacional e o sistema da SME indica as creches localizadas em um raio de dois quilômetros. 10 Secretária Municipal de Educação de São Paulo, dezembro de 2016.

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Na cidade de São Paulo, mesmo quando conseguem a vaga, parte das famílias ainda

dispensa dinheiro para garantir seu acesso. A maioria das pessoas entrevistadas que vive nos bairros

da periferia afirmou optar por contratar um transporte coletivo particular para levar e buscar a

criança na creche e na pré-escola, motivadas pela distância e para compatibilizar com os horários de

trabalho de seus membros. Além disso, encontramos outros arranjos que se combinam com o acesso

à creche para garantir o cuidado das crianças pequenas, notadamente o apoio de pessoas da família

ou da vizinhança, por meio de remuneração.

Práticas cotidianas de cuidado

As práticas sociais de cuidado de crianças pequenas são marcadas pela divisão sexual do

trabalho, pela possibilidade ou não de externalização e delegação dessa atividade, e pelas vivências

e expectativas das famílias. O modo como as mulheres organizam suas vidas cotidianas e suas

experiências de trabalho produtivo determinam e são determinadas por essas possibilidades.

Um dos primeiros aspectos a apontar é que as práticas cotidianas das mulheres são

fortemente marcadas pela necessidade e responsabilidade de garantir os cuidados dos filhos. Tanto

no caso das mulheres urbanas como rurais investigadas, as atividades diárias são, em grande parte,

organizadas em função dos horários das creches. Para muitas delas, isso desponta como um desafio.

Segundo Hirata & Kergoat (2008), a necessidade em articular o trabalho produtivo com as

atividades domésticas e de cuidado é sempre fonte de conflito na vida das mulheres, marcada por

tensões. No caso da pesquisa em meio rural, as falas das participantes evidenciaram que o exercício

das atividades produtivas e os cuidados dos filhos se mesclam continuamente. O quintal e a casa são

espaços muito próximos, onde, muitas vezes, ambas as atividades acontecem ao mesmo tempo11.

Mesmo no caso em que as participantes tinham filhos frequentando alguma instituição escolar, o

horário do transporte coletivo era aquele que delimitava o tempo dedicado a cada atividade. Assim,

as atividades rurais, a limpeza da casa e o cuidado da família eram organizados em função dos

horários de partida e de chegada dos filhos na pré-escola ou escola. Além disso, recorrentemente

encontramos mulheres que tinham um dos filhos frequentando pré-escola ou escolas, porém, diante

da ausência de creches nas localidades, elas seguiam responsáveis pelo cuidado do(s) filho(s)

menor(es), mantendo a necessidade de ter que conciliar ambas as atividades.

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Sobre esse debate ver Moura & Moreno (2013).

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Para as mulheres em meio urbano, essa tensão entre os tempos também teve destaque. A

pesquisa realizada no Município de São Paulo evidenciou que o acesso das crianças às creches tem

desdobramentos sobre a vida das pessoas responsáveis pelo cuidado – majoritariamente as mulheres

mães. Como já foi apontado, a ausência de creche influencia as possibilidades de dedicação das

mulheres às atividades remuneradas. E, mesmo com acesso dos filhos à creche, elas se deparam

com a incompatibilidade entre sua jornada de trabalho, o deslocamento – longas distâncias entre a

casa e o trabalho – e o horário das creches12.

Esses conflitos se tornam mais intensos na medida em que elas são responsáveis quase que

exclusivamente sozinhas pelo cuidado. Na pesquisa em âmbito rural, a ausência dos pais das

crianças nos lares apareceu com frequência. Quando esses estavam presentes, foram poucas as

menções de participação deles nos cuidados, tendo sido indicada como uma ajuda. As participantes

chegaram a afirmar que a presença de um marido as oneraria com mais trabalho.

Na pesquisa realizada em São Paulo, o compartilhamento do cuidado na experiência das

entrevistadas que viviam com o pai das crianças revela a permanência da divisão sexual do trabalho,

sendo que, majoritariamente, os homens participavam do cuidado em atividades relacionadas com o

entretenimento ou brincadeiras, sem se responsabilizar pelo conjunto das tarefas que compõem as

necessidades do cuidado, entre as quais estão incluídas as tarefas do trabalho doméstico.

As mulheres, diante dos conflitos temporais e das cargas de trabalho, adotam estratégias

para organizarem suas atividades cotidianas. Em ambas as pesquisas, apareceu a necessidade de

acionar outras mulheres para compartilhar o cuidado. Normalmente, são outras mulheres da família

ou vizinhas, que participam desse cuidado de forma recorrente ou em momentos específicos, com

ou sem remuneração. Diversos estudos apontam ser essa uma prática comum ao longo do tempo,

sendo o trabalho doméstico e de cuidados partilhada entre as mulheres da família (CHABAUD-

RYCHTER, FOUGEYROLLAS-SCHWEBEL, SONTHONNAX, 1985; SOUZA-LOBO, 2011)13.

12 Vale apontar que a incompatibilidade dos tempos sociais, inclusive dos cuidados, com o das instituições, e os

desdobramentos sobre a vida das mulheres é alvo de interessantes estudos. Ver, entre outros, Carrasco (2003); Prats,

Garcia & Canoves (1995). 13 A análise sobre como a disponibilidade das mulheres à família é incorporada e utilizada na lógica capitalista,

sendo reforçada diante da flexibilização das relações de trabalho, foi tema da tese de doutorado de Freitas (2016). A

pesquisa aponta como há um paradoxo que toca à vida das mulheres: para que umas se mantenham inseridas no

mercado, dentro de uma lógica que exige, cada vez mais, disponibilidade das trabalhadoras à empresa, é necessário que

outras mulheres se mantenham inseridas na esfera doméstica, garantindo o cuidado.

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No caso da pesquisa realizada em São Paulo, constatou-se que as mulheres recorrem às

mães, sogras e a vizinhas que “olham”14 por um período curto de tempo ou buscam outros espaços

informais de cuidado no bairro (os dois últimos envolvendo alguma remuneração). Muitas vezes,

pagar outra mulher para cuidar de seu filho se dá mesmo quando esse frequenta a creche, em razão

da incompatibilidade de seu tempo de trabalho e deslocamento, com o funcionamento dos

estabelecimentos. Assim, o acesso à creche se combina com outros apoios para garantir o cuidado

das crianças, seja no âmbito familiar, comunitário ou mercantil.

Já na pesquisa rural, não foi identificada a prática de se pagar outro estabelecimento para o

cuidado dos filhos. As experiências em que outra mulher era paga para realizar esse cuidado

também pouco apareceram. As estratégias indicadas passam, sobretudo, por contar com o apoio de

uma familiar ou vizinha, na forma de ajuda, sem envolver troca monetária, ou por estabelecer

dinâmicas em que os filhos estejam sempre por perto, mesmo quando estão trabalhando em

atividades rurais, permitindo a elas, assim, garantir a realização do trabalho produtivo e, ao mesmo

tempo, o cuidado e a proteção dos filhos.

Um elemento a ser destacado que ganhou importância na fala entre as mulheres urbanas

pesquisadas se refere às percepções sobre as diferenças e semelhanças entre o cuidado

proporcionado pela família e por outras pessoas, seja na creche, seja na comunidade. As pessoas

entrevistadas avaliam que é comum o afeto e o zelo entre de todas as pessoas que cuidam de seus

filhos, mas identificam diferenças nas relações e dinâmicas estabelecidas, sobretudo relacionadas à

autoridade, à disciplina com relação aos horários de comer, brincar, dormir, que são mais rígidas

nas creches. A relação com a creche também significa mudanças no cuidado que as mulheres têm

com as crianças em casa, indicando tanto a maior partilha dos cuidados, como aprendizagens e

apoio aos processos de desenvolvimento infantil. Essa relação pode resultar em um processo de

reflexão das famílias sobre o cuidado infantil, contribuindo para desnaturalizá-lo.

Considerações Finais

A responsabilidade pelo trabalho doméstico e de cuidados recai quase exclusivamente sobre

as mulheres, sendo a partilha dessa responsabilidade com os homens e Estado, portanto, fortemente

desigual. As vivências e práticas das mulheres revelam que compartilhar o cuidado é uma

necessidade que aparece tanto entre aquelas residentes em áreas rurais como urbanas.

14 Termo utilizado pelas entrevistadas.

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Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

O acesso à creche é uma política que aglutina necessidade e direitos das crianças e das

mulheres e famílias. Para as mulheres, esse acesso amplia suas possibilidades de autonomia

econômica, compreendida não apenas como via de acesso ao trabalho remunerado, mas também de

maior possibilidade de dispor de tempo para a produção, ainda que seja para o autoconsumo. No

entanto, o alcance de tal política é marcado por profundas desigualdades em termos de renda, o que

se amplia quando consideramos a localização geográfica e a relação rural/urbano.

As experiências das mulheres urbanas e rurais pesquisadas revelaram as dificuldades que as

famílias vivenciam para ter esse direito garantido e, mesmo quando existente, outros desafios ainda

são vivenciados, inclusive na organização dos tempos sociais. Esses desafios se mostram mais

fortes quando são analisadas as dinâmicas na vida das mulheres dada a ausência dos homens no

cotidiano do cuidado.

As análises sobre as dinâmicas do cuidado, marcadas pela divisão sexual do trabalho e

outros eixos de desigualdade, lançam luz para a necessária reflexão sobre os modelos de

externalização do cuidado de crianças pequenas, notadamente as creches, no que se refere

especialmente aos horários de funcionamento e à localização. A expansão do acesso a esse direito é

um passo fundamental para a aquisição da autonomia econômica das mulheres, e para a

desnaturalização da ideia de que o cuidado de crianças pequenas seria responsabilidade exclusiva

das famílias – e nelas, das mulheres mães.

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Care practices in rural and urban areas: sexual division of labor and access to childcare

facilities

Astract: The demand for sharing little children's care work is part of women's struggle both in rural

and urban areas. The access to childcare and preschool facilities is an important strategy in that

direction. In spite of the tendency towards the universalization of access to preschool (for 4-5 year

old children) and the expansion of the access to childcare (0-3 year old), verified since the mid-

2000s, the available data indicate remarkable inequalities, related to class, race and geographic

location dimensions. White and urban children of higher socioeconomic level are those who have

more access to childcare, when compared to those living in rural areas and from poorer families.

This article raises a discussion about daily childcare practices, considering the possibilities of

externalizing care work to preschools and childcare institutions. The analysis is based on data

collected in qualitative research with mothers that live both in rural and urban areas. Class and

geographic location dimensions are articulated to point out the similarities and differences between

women's expectations about the childcare in educational institutions, the strategies adopted to

ensure their children are taken care of (even if childcare institutions are not available) and the

sexual division of labour dinamics in their daily experience.

Keywords: Care. Sexual division of labor. Childcare facilities.