Praia de iracema turismo, tumores & câncer bb

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TURISMO, TUMORES & CÂNCER Uma Aproximação ao Diagóstico e ao Tratamento da PRAIA DE IRACEMA & de “Outras Praias” Autor: Fernando Zornitta – Tratamento B dez 04 TURISMO, TUMORES & CÂNCER - Uma Aproximação ao Diagóstico e ao Tratamento da PRAIA DE IRACEMA & de “Outras Praias”, faz uma analogia do turismo com o câncer e, também, uma análise, diagnóstico e uma prescrição de “remédios” para um tradicional e turístico bairro de Fortaleza, que se depreciou. Faz uma analogia do “câncer” com os problemas que o turismo mal administrado pode oportunizar e dá os indicativos dos remédios para a cura e re-inserção do paciente no convívio familiar. O TURISMO – DIAGNOSTICANDO A DOENÇA O câncer se caracteriza pela manifestação de um conjunto de células anômalas agrupadas num tumor maligno o qual, para não se expandir e generalizar-se por todo o organismo deve ser eliminado, retirado o quanto antes, para não culminar com a morte do acometido. O turismo também gera tumores, a partir de células anômalas do sistema, as quais podem ser tratadas e eliminadas a tempo, para que o tecido afetado não vire um câncer. No “organismo turístico” (que toma corpo na própria localidade visitada e onde as relações de consumo ocorrem) os tumores são de todas as ordens – cultural e dos costumes, social, territorial, ambiental, econômico, de gestão,– dentre dezenas de outros tipos classificáveis. Como a agressão é continuada e via-de-regra não existe a prevenção, os tumores precisam ser retirados a tempo para que não se alastrem (metástase) para o tecido social, para o ambiental, para o sistema econômico ou se aloje nos órgãos periféricos e mais fracos e acabem por destruir a própria destinação. O turismo, que a primeira vista só trás benefícios, também trás efeitos maléficos. É uma atividade autofágica, destrói e consome a si mesmo. Milhares são os exemplos de localidades, que pelos seus atrativos privilegiados trouxeram o turista, aceleraram os investimentos e os empreendimentos e, na sua evolução descuidada, destruíram o seu patrimônio de base – o ambiente natural e/ou o sociocultural, trouxeram reflexos negativos de todas as ordens e inviabilizaram a própria

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Praia de Iracema, turismo, desleixo e conflitos de usos.

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ddaa PPRRAAIIAA DDEE IIRRAACCEEMMAA && ddee ““OOuuttrraass PPrraaiiaass”” Autor: Fernando Zornitta *¹ – Tratamento B dez 04

TURISMO, TUMORES & CÂNCER - Uma Aproximação ao Diagóstico e ao Tratamento da PRAIA DE IRACEMA & de “Outras Praias”, faz uma analogia do turismo com o câncer e, também, uma análise, diagnóstico e uma prescrição de “remédios” para um tradicional e turístico bairro de Fortaleza, que se depreciou. Faz uma analogia do “câncer” com os problemas que o turismo mal administrado pode oportunizar e dá os indicativos dos remédios para a cura e re-inserção do paciente no convívio familiar.

OO TTUURRIISSMMOO –– DDIIAAGGNNOOSSTTIICCAANNDDOO AA DDOOEENNÇÇAA O câncer se caracteriza pela manifestação de um conjunto de células anômalas agrupadas num tumor maligno o qual, para não se expandir e generalizar-se por todo o organismo deve ser eliminado, retirado o quanto antes, para não culminar com a morte do acometido.

O turismo também gera tumores, a partir de células anômalas do sistema, as quais podem ser tratadas e eliminadas a tempo, para que o tecido afetado não vire um câncer.

No “organismo turístico” (que toma corpo na própria localidade visitada e onde as relações de consumo ocorrem) os tumores são de todas as ordens – cultural e dos costumes, social, territorial, ambiental, econômico, de gestão,– dentre dezenas de outros tipos classificáveis.

Como a agressão é continuada e via-de-regra não existe a prevenção, os tumores precisam ser retirados a tempo para que não se alastrem (metástase) para o tecido social, para o ambiental, para o sistema econômico ou se aloje nos órgãos periféricos e mais fracos e acabem por destruir a própria destinação.

O turismo, que a primeira vista só trás benefícios, também trás efeitos maléficos. É uma atividade autofágica, destrói e consome a si mesmo. Milhares são os exemplos de localidades, que pelos seus atrativos privilegiados trouxeram o turista, aceleraram os investimentos e os empreendimentos e, na sua evolução descuidada, destruíram o seu patrimônio de base – o ambiente natural e/ou o sociocultural, trouxeram reflexos negativos de todas as ordens e inviabilizaram a própria

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destinação, que por um ou vários motivos, passou a causar a repulsa do visitante.

Como o turismo é uma porta para a entrada de recursos financeiros - que geralmente chegam diretamente nas localidades que têm atrativos para serem “explorados”; ele é incentivado por todas as esferas da sociedade – poder público, iniciativa privada, sociedade civil, entidades de classe dos setores produtivos; entretanto, focado exclusivamente na sua vertente empresarial e centrado no papagaiado discurso da “geração de emprego e renda”, mas raramente são previstos os impactos e o custo-benefício destas inversões no meio ambiente, no território, na sociedade, na cultura local e mesmo na economia. É o “desenvolvimento espontâneo”, em que “tudo pode”, desde que traga cada vez mais e maiores “investimentos”.

Estudos realizados por Miossec comprovaram em mais de 2000 localidades turísticas do planeta, a ascensão, a depreciação e a queda destes castelos de cartas construídos sem bases sólidas, que foram classificadas por ele nesse processo em 5 fases - que vão desde uma paisagem privilegiada intocada (antes da primeira iniciativa empresarial se estabelecer), até o a urbanização excessiva e os conflitos de uso, que acabam por destruir o atrativo original que motivou a visitação.

O turismo de Fortaleza é um dos milhares de exemplos de turismo espontâneo e desenvolveu no seu tecido urbano, ambiental e social vários tumores, alguns benignos, mas outros malignos, ou seja, já está com câncer e se generalizando.

Vários destes tumores se desenvolveram nos mais tradicionais espaços de referência dos fortalezenses e alguns dos quais se localizaram na Praia de Iracema, que acometida do mal está moribunda, com vários nódulos, e segundo o nosso diagnóstico, também está com câncer.

É o mesmo câncer que acomete todas as cidades e localidades turísticas mal cuidadas e mal administradas, as quais, em não se considerando todos os aspectos que envolvem essa atividade humana, deixada a sua própria sorte e incentivada em tudo sem uma devida análise do custo-benefício econômico, sociocultural e ecológico-ambiental, traz reflexos no território e nas próprias relações humanas.

A Praia de Iracema e tantos outros “entes queridos” de todos os fortalezenses estão muito doentes, foram esquecidos, usados, prostituídos, enganados, mal cuidados e, hoje, estão entregues a sua

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própria sorte, nas mãos de piratas e alienígenas os quais não têm nenhum comprometimento com a sobrevivência dos moribundos explorados e nem com o que eles representam para a comunidade e para o cidadão. E, são justamente estes agentes agressores que compõe grande parte das células do próprio câncer, que têm de ser eliminado, desaparecer, escafeder-se; para os entes queridos poderem ter a chance de sobreviver.

A doença que estes entes-pacientes têm há tempos, que todos habitantes sabem e enxergam nas suas feridas abertas (virando-lhes a cara) é grave, mas embora grave, ainda pode ser tratada. Deve ser tratada, senão pela importância dos pacientes para o contexto social de Fortaleza, que seja então pelo respeito que devemos ter por nós mesmos, para com os nossos e pelo que nos é significativo.

Enquanto vemos sucumbir os nossos pontos e os espaços de referência, perdemos também o sentido e a qualidade da nossa própria vida – a nossa história, um pouco do que somos e do que gostamos, que vai se desintegrando e desaparecendo junto com eles.

Seja pela omissão ou pela ação danosa permissionada, não é por acaso que temos uma Fortaleza maltratada, sugada e acabada, com seus recantos mais sagrados depreciados pelo desleixo e pelo próprio turismo; uma cidade cada vez mais cara para o consumo e para a sobrevivência do habitante; contaminada com redes e quadrilhas de prostituição do turismo sexual atuando às claras; uma cidade que vê estes espaços de referência do cidadão se depreciarem, enquanto a alma da sociedade é corroída pelo câncer, permitido e legalmente autorizado de se estabelecer: o turismo espoliador e o turismo desqualificado.

O TRATAMENTO DA DOENÇA (DA PRAIA DE IRACEMA E DE OUTRAS PRAIAS)

Embora esse fatídico diagnóstico e prognóstico de morte, esses tipos de tumores que o turismo traz e dos quais a Praia de Iracema foi acometida, em sua maioria são benignos, têm cura e ainda podem ser tratados, embora outros não.

O tratamento deve ser de choque, rápido e o remédio a ser prescrito é único, amargo, mas imprescindível.

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No primeiro momento, o paciente acometido deve ser internado numa UTI para ser cuidado e tratado por todos - cidadãos, governo (através dos 3 poderes) e por especialistas.

Devem ser solicitados os exames e ministrados os remédios prescritos na receita, a saber:

Remédio 1 - Uma boa dose de vergonha na cara – Soro endovenoso, 24 h por dia, durante sempre.

Considerações: Se fizermos uma enquête com os cidadãos fortalezenses, certamente todos reconhecerão a importância da Praia de Iracema e o que ela significa para a cidade. Entretanto, estes são os mesmos cidadãos que até então ficaram omissos aos principais problemas do seu ente querido; sabendo deles, mas se omitindo da ação, enquanto o paciente pouco a pouco morria bem debaixo dos seus narizes. Hipocritamente uns se proclamavam apaixonados, outro amigos, alguns boêmios, outros artistas, muitos cara-pintadas, administradores, políticos comprometidos – mas despreocupados com a coisa pública.

Mas, para todos estes que viram e foram omissos, que dormiram e não estenderam-lhe a mão nos momentos que ela mais precisava, ainda resta uma saída digna: uma boa e contínua dose de vergonha na cara.

Ações: Fazer o “mea culpa” individual e coletivo e compor com urgência uma representativa comissão ética para desenvolver um Plano Diretor de Desenvolvimento Turístico, que contemple ações e um projeto de revitalização da Praia de Iracema, integrado e concomitante a outro projeto que deve ser desenvolvido na Beira-mar e para o restante da cidade (o PDDTUR DE FORTALEZA e da sua REGIÃO METROPOLITANA).

Remédio 2 – Radioterapia (Tratamento de choque para parar imediatamente com o agente agressor) – 1ª Sessão com urgência absoluta com o paciente já internado na UTI”.

Considerações: A ação pública corajosa é determinante e é o único caminho possível para que os tumores existentes sejam estacionados, com a completa e total paralisação dos agentes agressores, que em Fortaleza e especificamente na Praia de Iracema são de várias ordens – da ocupação territorial imprópria, dos conflitos

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de uso, dos costumes, da não valorização da sua tradição (da cultura local – dos artistas e das artes), da sua paisagem (que dia após dia, cada vez mais se deteriora).

Ações (imediatas): Tombar e desapropriar todos os imóveis da faixa em frente ao mar (que é um bem de uso comum desde a constituição de 1988), independentemente do uso, do ocupante -alienígena ou não; do tipo de pirataria ou mesmo de proprietário legal. Caçar todos os alvarás concedidos para a área até então, a exceção dos meios de hospedagem já existentes. Negar autorizações e barrar os novos negócios, as construções, os empreendimentos. Orientar o futuro desta faixa de forma integrada e com gestão co-participativa.

Para estas ações, mobilizar todas as esferas do poder público – Ministério Público, SPU, Prefeitura, Estado e União; meios de comunicação comprometidos com a sociedade, entidades da sociedade civil e organismos internacionais – como a UNESCO.

♦ Planejamento – concurso público de um “ante-projeto” urbanístico para uma Praia de Iracema Rejuvenescida (e curada), que priorize o lazer coletivo, devolvendo-a à sociedade e ao visitante.

♦ Concurso Público - baseado numa análise/diagnóstico técnica da extensão dos nódulos, dos tumores e da doença, mas também no seu potencial desta nobre área, para as atividades de tempo livre, de lazer e recreação e, dentre estas, do turismo.

Exames preliminares já procedidos:

- Ao ser radiografada – do seu espigão no mar para o seu corpo em terra – já se observam as células imobiliárias anômalas – que ajudam o câncer a se estabelecer nela - corroendo-lhe as carnes pela periferia do núcleo;

- Conflitos de Uso – comercial x residencial x lazer urbano e turístico. Embora o lazer devesse ter sido priorizado, o uso comercial é que tem tido a prioridade (num loteamento permissionado de bares, restaurantes, casas noturnas) e residencial (prédios de apartamentos) que foram os autorizados para a ocupação, ou seja, o privado vencendo o patrimônio e o interesse coletivo;

- Repulsa do Espaço Pela População Residente – O público que freqüenta a Praia de Iracema é o próprio espelho do abandono a que

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ela foi acometida. São crianças abandonadas a sua própria sorte e moradores de rua que dormem ao relento, são artesões que trabalham e expõe nos bancos públicos, são marginais e prostitutas que ocupam ruas, os espaços públicos, são as casas noturnas e um cem número de impropérios que inviabilizam o tradicional recanto da boemia e o encontro entre a população residente com os seus artistas e com os visitantes – para uma relação saudável que seria a do intercâmbio artístico e das diferentes culturas;

- Os Prédios Estão nas Mãos de Alienígenas – Seja a título de comércio, de habitação ou de lazer turístico – original ou camuflado nas casas noturnas, nos bares ou em restaurantes que se prestam ao incentivo da prostituição escancarada ou não - os prédios na faixa em frente ao mar e no núcleo comercial “estão nas mãos de estrangeiros” - os quais não tem nenhum comprometimento com o que a Praia de Iracema significa para a coletividade, mas tão somente para o seu “negócio”. É total a ausência de espaços para a manifestação da cultura local e regional e inexiste uma política pública e nem participativa de interação com a sociedade que se aproprie dos espaços para a manifestação artística e cultural.

Remédio 3 - Organização da Gestão do Lazer, da Recreação e do Turismo no Contexto Urbano de Fortaleza – Planejamento hoje e sempre, acompanhando e realinhando as ações em doses contínuas.

Considerações: A desorganização, o desenvolvimento espontâneo com a falta de uma correta gestão - com raras e esporádicas pinceladas de “urbanização” que ocorrem (mas de forma desintegrada de um projeto significativo e sem qualquer orientação especializada) - sempre foi a tônica prevalente da Praia de Iracema. Pela importância e significado do bairro para a comunidade e para o turismo saudável, uma ação constante de planejamento para a organização da gestão do lazer, da recreação e do turismo no contexto urbano de Fortaleza, deve ser estruturada e gestionada.

Ações (imediatas): Elaboração do Plano Diretor de Desenvolvimento Turístico de Fortaleza, que contemple projetos e ações específicas para a Praia de Iracema, integrada a Beira-Mar, ao Centro e à cidade.

Remédio 4 – Acompanhando a Ação de Reordenamento Celular com Co-gestão Participativa – Remédio SINCATUR*, com doses

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sincronizadas de reforço da ação de planejamento e de acompanhamento da evolução do paciente.

Considerações: O turismo é uma atividade de difícil coordenação, que se desenvolve a nível local e é por isso considerado um "produto anômalo" - é o consumidor que se desloca até o produto e não o produto até ele, como ocorre com os demais “produtos”. O turismo é "consumido onde é produzido, a nível local" e na sua fórmula entram diversos componentes que devem ser valorizados, melhorados, protegidos, qualificados. A infra e a superestruturas turísticas, os equipamentos complementares e de animação, os recursos humanos devem ser organizados, qualificados e alocados - tudo em sintonia com o “sistema turismo” e favorecendo o habitante da localidade.

A organização do turismo envolve diversos interesses, ações e agentes (do poder público, da iniciativa privada, das entidades de classe, da sociedade civil e dos seus respectivos interesses, nas vertentes da economia, da cultura, do meio ambiente, da sociedade e, também de outros setores e organismos direta e indiretamente envolvidos com a atividade) os quais, embora possam procurar compor o todo que vai satisfazer a expectativa do consumidor, não têm compromisso direto com a sustentabilidade do sistema que, por ser dependente de diversos níveis de decisão, não sendo facilmente coordenáveis entre si, emperram o sistema e ajudam a depreciá-lo, enquanto priorizam a vertente dos negócios, dos investimentos, dos empreendimentos.

Cada uma destas vertentes e entidades representativas destes diversos níveis de decisão, promovem as suas ações específicas e interagem entre si em função dos seus objetivos – “cada um puxando a brasa para o seu assado” e, por vezes imprescindem da participação uns dos outros, sendo criada uma “estrutura administrativa instável” do setor (setorizada pelas vertentes econométricas), a qual é dependente destes diversos níveis de decisão e atua mais por interesses imediatos e menos pelos interesses coletivos, ambientais, culturais – dentre outros - e pela sustentabilidade do sistema.

Ação: Organização da pasta do turismo, envolvendo uma co-gestão participativa, através da aplicação do remédio SINCATUR*² ou outro medicamento genérico, pode oferecer a correta forma de gestão, a viabilização, a valorização e a sustentabilidade do turismo local e regional.

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Remédio 5 - Fartas doses de coragem, comprometimento e competência dos gestores – 1 vez ao dia, durante sempre.

Considerações: Antes, durante e depois do tratamento, para a saúde do “enfermo” e o suporte do “ideal planejado” para o bairro, a corajosa participação e o comprometimento de toda a “equipe médica” – toda a sociedade e todos, a começar pelo poder público – o executivo, o legislativo e o judiciário; as comunidades, as entidades de classe e a sociedade civil; os tradicionais companheiros - artistas e boêmios; o cidadão comum e o economicamente privilegiado; os meios de comunicação e todas as instituições devem despejar fartas doses de coragem, comprometimento e de competência para manter a saúde e usufruírem de um espaço e de um futuro sustentável;

Ação: Mobilização da sociedade e de todos os atores a partir da existência de uma estrutura de gestão nos moldes do proposto pelo SINCATUR.

MEDIDAS PREVENTIVAS – Auto-exames contínuos. Sempre.

Considerações: Só existe um e único caminho a seguir para a sustentabilidade do sistema turismo, para ele se instalar, se desenvolver e ajudar a promover a melhoria da qualidade de vida das comunidades que podem se beneficiar; para proteger e ajudar a valorizar o patrimônio ambiental local e para fazer cumprir alguns dos seus mais relevantes papéis; dentre estes o da elevação do espírito humano e a promoção da cultura de paz através do intercâmbio de pessoas e povos.

A “prevenção do câncer” nas localidades turísticas deve ser o caminho a ser seguido, a partir da construção da correta estrutura de co-gestão participativa, que passa pelo processo de educação e de conscientização de toda a comunidade.

As possibilidades de rumo para o turismo são muitas, mas para saber-se qual das hipóteses será a mais indicada, é imprescindível uma boa dose de conhecimento e de sabedoria até chegar ao nível da consciência individual e coletiva, fundamentada na ética e nos princípios de sustentabilidade.

A vertente do turismo, que é relativamente nova, para ser corretamente organizado, deve por isso passar também pelo processo educativo e da conscientização da sua dualidade - do seu amplo potencial e da probabilidade da manifestação dos seus efeitos nefastos - para se

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chegar ao conhecimento e às melhores propostas a serem elegidas localmente, regionalmente e nacionalmente.

A consciência, quando despertada, pode fazer o colapso dessas múltiplas possibilidades para transformar as melhores opções em uma realidade concreta e sustentável dentre todas as possibilidades aleatórias que se apresentaram, as quais na forma que conhecemos até então (do desenvolvimento espontâneo do turismo) certamente não poderiam ser previstos resultados sustentáveis.

E, assim, despertada essa consciência e a vontade do ideal - que passa pela participação - ajudarão a fazer o salto quântico, pois certamente estar-se-á escolhendo a realidade do futuro ideal, entre todas as possibilidades existentes e dentre as quais serão elegidas e orientadas pela sapiência humana.

Ação: A partir do conhecimento e da consciência individual e coletiva despertada pelo processo educativo, fazer coletivamente a escolha dentre todas as possibilidades e vertentes de desenvolvimento, daquelas melhores e mais viáveis opções – as que beneficiem toda a coletividade e que sejam sustentáveis nas variáveis, tempo, espaço, meio ambiente e sociedade.

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*¹ Fernando Zornitta – Doutorando pela Universidade de Barcelona (Planejamento Territorial e Desenvolvimento – Proposta de Tese TURISMO NA AMÉRICA LATINA E CARIBE – Política de Desenvolvimento Econômico, Territorial e de Sustentabilidade), diplomado em Arquitetura e Urbanismo; pós-graduado - Especialização em Lazer e Recreação na UFRGS em Porto Alegre, Especialização em Turismo (Centro de Treinamento da OMT/ONU Para a Europa - SIST Roma/Itália), com Estágio de Aperfeiçoamento em Planejamento Turístico (Laboratório de Geografia Econômica da Universidade de Messina - Messina/Itália). Participou de cursos da OMT em Roma de Sub-especialização em Marketing Turístico em Sub-especialização em Relações Públicas e Publicidade para o Turismo e Sub-especialização em Técnica de Organização de Congressos. É Técnico de Realização Audiovisual, Instituto Dragão do Mar (Fortaleza-CE). Foi professor (Marketing Turístico II e Elementos de Ciência do Meio Ambiente em Curso Universitário de Turismo e em cursos de extensão). Co-idealizador, fundador e participante do Movimento GREEN WAVE, da APOLO - Associação de Cinema e Vídeo e da UNISPORTS - Esportes, Lazer e Cidadania. É consultor de ongs e oscips.

Autor, ministrante e coordenador de cursos, dentre os quais: TURISMO E PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO, GESTÃO MUNICIPAL DO TURISMO, MARKETING TURÍSTICO, TURISMO SUSTENTÁVEL e ANIMAÇÃO TURÍSTICA..

Autor do SINCATUR – Sistema Integrado de Câmaras do turismo, apresentado no Seminário Internacional MED AMERICA em Barcelona em abril de 2002 e no PLANEFOR – Cidades que se Planejam, em Fortaleza em novembro de 2003 e também aprovado pelo Comitê Científico do MERCOCIDADES 2004 em Porto Alegre para apresentação. É também autor de vários artigos e trabalhos sobre lazer, recreação e turismo e está finalizando o livro intitulado TURISMO, PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E MUNICIPALIZAÇÃO NUMA ABORDAGEM HOLÍSTICA

Apresentou trabalho na Conferência Mundial Sobre Turismo Sustentável em Lanzarote, Ilhas Canárias em 1995, cujo projeto GEOGRAFIA DO TURISMO NA AMÉRICA DO SUL, CENTRAL E CARIBE, contribuiu

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com idéias para a CARTA DO TURISMO SUSTENTÁVEL – UNESCO/ONU (18 princípios para a promoção do turismo sustentável), na qual o trabalho e o autor estão relacionados no documento final. � E-mails: [email protected] / [email protected] � Fones: (51) 93250793 / (85) 99480120

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*² SINCATUR – Sistema Integrado de Câmaras de Turismo (Administração Integrada e Sustentável do Turismo)

O SINCATUR é uma proposta de organização do turismo para ser aplicado em países, regiões, cidades e localidades que têm uma estrutura administrativa federativa; podendo também ser adaptado em outros países com distintas formas de organização política e subdivisões.

O sistema proposto visa adequar e atender as prerrogativas e características da administração desta atividade, destacando-se dentre estas a dificuldade de coordenação, da organização e da administração dos diversos elementos e dos agentes envolvidos (e daqueles que ficam a margem do processo), de formas a apontar para as necessárias correções de rumo na inter-relação dos componentes sócio-econômicos, socioculturais e ecológico-ambientais - os quais, pela tradicional forma de administração, só têm contribuído para a depreciação manifestada fisicamente no espaço turístico - que sedimenta a infra e a superestrutura necessárias (mas não sempre adequadas), induzindo a reflexos socioculturais e ambientais, gerando conflitos, ineficiência e insustentabilidade.

Saindo da esfera pública como única condutora das políticas (que via-de-regra atende prioritariamente aos interesses empresariais, que é omissa aos principais problemas; que é ultrapassada, centralizadora, ineficaz, incompetente e contaminada pela “política partidária” e se esquece do contexto global do turismo), o SINCATUR propõe uma estrutura administrativa e organizacional ideal e alinhada tecnicamente com o “sistema turismo” - co-gestão e ações compartilhadas e participativas entre todos os envolvidos - na condução e no controle desta potencial atividade a nível local, regional e nacional, favorecendo a colaboração entre os agentes e interesses envolvidos (que normalmente atuam centrados na defesa dos seus interesses específicos – mas raramente a partir de uma visão global e planejada) e, também, em função de atender a premente necessidade de qualificação do espaço turístico onde as relações turista-visitante ocorrem e planejar a evolução da atividade.

O SINCATUR, foi apresentado no III Congresso Internacional MED AMÉRICA em Barcelona em 2002, no Congresso Internacional do PLANEFOR em Fortaleza em 2003 e aprovado para apresentação no VI Congresso Internacional MERCOCIDADES em Porto Alegre em 2004, mas até o presente momento, por propor uma reformulação na tradicional forma de administração do turismo, que sai das esferas públicas e abre espaços para a co-gestão participativa, ainda não foi elegido como uma alternativa viável e correta de administração do turismo – que sempre fica nas mãos do poder público coagido pela iniciativa privada em função dos interesses setoriais, que sempre inviabilizam a correta condução e sustentabilidade do sistema.

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Os conceitos aqui apresentados no texto TURISMO, TUMORES & CANCER – Uma Aproximação ao Diagnóstico e ao Tratamento da Praia de Iracema & de “Outras Praias” são de inteira responsabilidade do autor. Fica autorizada a reprodução total ou parcial do texto – para fins didáticos e de publicação em quaisquer veículos, desde que sempre citada a fonte, feita a referência e citada a autoria do mesmo.