Postulação do Instituto Cavanis Após este dialogo fraterno nasce a pequena escola ... fez o mesmo...

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Postulação do Instituto Cavanis

O Instituto Cavanis A Graça dos primeiros tempos

CONGREGAÇÃO DAS ESCOLAS DE CARIDADE INSTITUTO CAVANIS

_________________________ Stampa: anno 2008 Curia generalizia dei Padri Cavanis Via Casilina, 600 00177 ROMA

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1. Os Servos de Deus, os irmãos Antonio e Marcos Cavanis

Introdução

Estamos em Veneza no ano de 1797. Antônio é padre já há dois anos e exercita o seu ministério ajudando o pároco da sua paróquia natal de Santa Inês, ao redor de Dorso Duro.

Marcos cada dia vai ao seu escritório perto do Palácio Ducal: de fato está a serviço da República Vêneta na posição de secretário, como todos os Cavanis antes dele.

São dias duros e tristes pela perda da independência para sua pátria; a antiga e gloriosa República de São Marcos invadida pelas tropas francesas do general Napoleão Bonaparte, e entregue ao Império Austriaco-Ungaro com o tratado de Campoformio. Marcos percebe que o último salario que lhe é entregue está escrito no endereço: “ao cidadão Marcos Antonio Cavanis”, não mais “ao nobre Conde Cavanis”, que estava habituado a receber. Mas não se preocupa, nem se torna mesquinho por isso: é um jovem de 22 anos, crescido em uma familia de grande fé e se empenha muito na instrução dos jovens na catequese paroquial e na assistência humana e social aos pobres, que na cidade são sempre mais numerosos.

Seu pai de fato o fez crescer com este espirito de participação na vida paroquial e na caridade e solidariedade com as familias mais pobres do seu bairro. Alguns anos antes, pouco antes da sua morte o conde João Cavanis tinha feito aos seus dois filhos esta recomendação: “tenham amor a mãe de vocês e aos pobres”.

Uma bela tarde de outono Antônio e Marcos observavam da janela central de sua casa o entardecer a distância no mar da laguna. E falando do entardecer da própria Pátria, dos antigos esplendores e das angústias presentes, das incertezas futuras... não tanto para eles, quanto para a gente simples, para as famílias dos pescadores e dos operários. Eles, agradecidos ao Senhor, haviam feito bons estudos: Antônio é sacerdote e nunca ficará sem trabalho. Marcos trabalha no palácio Ducal: nenhum governo renunciaria aos seus serviços, muito apreciado pela sua competência, o respeito pela justiça e o sentido do dever que teve ocasiões de demonstrar.

Quando o sol desapareceu e as trevas começaram a avançar sobre a cidade e as ilhas da Laguna, Marcos diz ao irmão: “Veja padre Antônio, tenho algo no coração, devemos fazer algo pelos jovens, para os filhos do povo. Porque, veja, após o tramonto vem a noite e depois a aurora: e os jovens são a aurora, são o amanhã, são o futuro da sociedade e da Igreja, de uma Veneza nova. Veja, eu cada dia devo ir ao escritório; mas você, que é um padre, encontra um pouco de tempo... algumas horas a semana para os meninos pobres”. Antônio silencia, pensa: “Meu irmão tem razão, por que resignar-se com as trevas, quando temos a certeza da aurora, de um novo dia? Mas como fazer isto? Já estou muito ocupado na igreja, com as missas, escritório e confissões; nas casas com as visitas aos idosos, aos doentes. Porém, é verdade: consagrei-me ao Senhor por toda a vida. E se fosse Ele a fazer tomar um novo rumo no meu ministério?” Marcos insiste: “Por favor padre Antônio, tem um filho da senhora Teresa, Francisco Agazzi, que já me disse que teria tanta vontade de estudar...”

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1. Os inícios

Após este dialogo fraterno nasce a pequena escola doméstica da casa Cavanis e depois o oratório festivo e portanto a congregação mariana. Mas deixemos a palavra ao livro: Notícias a respeito da fundação da Congregação das Escolas da Caridade.

“O pequeno ato de caridade praticado por um dos irmãos (Padre Antônio) de dar assistência a um jovem que por seus dotes dava esperança, e de fato deu, foi um excelente resultado, depois fez o mesmo com a mesma gratuidade e amor a outros: foi a tênue fonte de onde brotou a grande e plena água fecundadora...”. Aqui o escritor nos faz perceber a sabedoria da “máxima salutar de fazer bem as obras de piedade que embora pareçam pequenas, porque as vezes são também causa e raiz de bens grandiosos e perenes”.*O livro continua de fato a falar do crescimento da Obra dos irmãos Cavanis e da aprovação da nova Congregação religiosa por eles fundada, da parte do Papa Gregório XVI no ano de 1836. Como aconteceu que de uma pequena escola doméstica chegou-se a organizar um florescente grupo de jovens, chamado congregação mariana, aos 2 de maio de 1802? E sendo assim em janeiro de 1804 iniciar uma pequena Escola de Caridade? A compra do Palácio Da Mosto e o terreno anexo, para os jovens que se tornariam centenas? A iniciar uma Escola de Caridade Feminina para a educação e instrução das jovens pobres de1808? Colocar os fundamentos de duas Congregações, dos Sacerdotes e das mestras da Caridade, para a educação da juventude?

Vejamos ainda o comentário das “Notícias a respeito da fundação...”

“Encontrando-se de fato Padre Antônio, sem quase dar-se conta pouco a pouco estava empenhado no ensinamento e custódia da juventude e procurando quanto mais possível ajudá-los, sendo mais pai que mestre, como padre sentia no coração o desejo de consagrar-se inteiramente a um grande ministério como esse. Enquanto porém queria ver crescer ao redor de si uma coroa de caríssimos filhos, em Veneza, o Padre Luis Mozzi, um zelantissimo anunciador do Evangelho pleno de luz nos caminhos do Senhor, porquanto fosse desconhecido, foi visitá-lo, e insistiu em ser aconselhado sobre como deveria comportar-se para apressar a vinda dos pobres jovens ao salutar refúgio de uma caridosa educação. Foi sugerido de abrir um Oratório festivo sob o refúgio da Grande Virgem, indicou-lhe as práticas religiosas e discretas e lhe prognosticou um feliz êxito. Gostou do projeto e procurou realizá-lo, encontrando para isso uma oportuna Capela na qual poderia acolher os jovens para os dias festivos, e empenhando-se para encontrar quem quisesse inscrever-se no Oratório devoto”.

Vemos neste texto belíssimo a resposta afetiva e efetiva, fruto de comoção e de generosidade, do jovem sacerdote no trabalho da graça de Deus nele. Inicialmente parecia-lhe impossível, por falta de tempo, aceitar o convite feito pelo irmão; mas aceita, por um ato de compaixão e de caridade, de ocupar-se do jovem Francisco (mais tarde será chamado Francisco semente). Agora se encontra empenhado em ensinar e acompanhar a juventude, isto é, iluminar a mente e formar o coração das crianças e jovens. Antes, percebe que é importante ser mestres, mas é mais importante ainda ser pais: a juventude precisa de apoio, de um exemplo, de um guia para preparar-se convenientemente para a vida. Desponta no horizonte um tempo novo, aquela aurora

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que os dois irmãos Antônio e Marcos haviam sonhado alguns anos atrás.

Quando Antônio e Marcos (que segue e encoraja o trabalho do irmão) vêem os primeiros frutos do incessante cuidado com o qual procuram ajudar os jovens, pensavam sem dúvida no fermento do Evangelho, na pequena semente que cresce e se torna planta.

É importante lembrar quanto Antônio confidenciou no seu diário pessoal, a tarde da sua Ordenação sacerdotal, dia 21 de Marco de 1795: “Deus queira que este se torne o dia mais feliz para mim, correspondendo a tanta graça, não querendo outro que Deus mesmo, que seja só a minha riqueza e o meu bem agora e para a eternidade” (EMM I pag. 111)

A felicidade sacerdotal, nos diz o nosso venerável Fundador, não é um dia; maior é a nossa fidelidade e correspondência, maior e mais completa é a felicidade de quem se consagrou. Deus se revela presente nos jovens que tem necessidade de serem instruídos e educados, de serem amados e socorridos. Padre Antônio diz que quer ocupar-se somente de Deus e que esse o Deus que deve ocupar-se: e nos jovens que Deus tem fome e sede de justiça, isto e de educação. “Sentiu no coração desejo de consagrar a si mesmo inteiramente a este grande ministério”. Nasceu nestes dias do inicio do século XIX a vocação especial de padre Antônio Cavanis e do irmão Marcos ainda leigo: o que ó chamamos um carisma, um dom dado por Deus para o bem da Igreja.

A vontade de consagrar-se totalmente a educação da juventude se torna um ministério, um serviço sagrado: o senhor amado como único bem e única riqueza de suas vidas, faz com que eles encontrem a alegria de difundir esta riqueza e este bem entre os jovens.

Inicialmente era uma pastoral juvenil de fim de semana. Seguem o conselho de Padre Luis Mozzi na Congregação Mariana de Santa Inês: mas padre Antônio que é o diretor, estará sempre disponível para a instrução e o conselho. Enquanto haviam a necessidade da autorização e benção do pároco, de um lugar tranquilo para a oração e as outras práticas de piedade, e depois de um campo, de um espaço para os jogos, um salão para as conferências, os diálogos teatrais e a biblioteca.

Padre Antônio decide começar com um pequeno grupo: somente nove jovens, com responsável seu irmao Marcos, como prefeito da congregação, na pequena e pobre Capela do Crucifixo colocada no átrio da Igreja paroquial de Santa Inês.

2. A Congregação mariana e as escolas de caridade

É o dia 2 de Maio de 1802! Na Missa paroquial o pequeno grupo é apresentado ao povo pelo pároco Don Antonio Ferrari. A novidade provoca entusiasmo e esperança na maioria, mas também qualquer dúvida nos pessimistas, alguém exclama: “quanto durará?”

O próprio padre Antônio Cavanis sabe que as Obras de Deus encontram sempre dificuldades, mas está também seguro da ajuda do Senhor. Alguns meses mais tarde, escrevendo a congregação mariana de Noventa de Piave, tem a alegria de comunicar que os jovens do grupo já são sessenta (60) “vindos por si mesmos ou pelo contágio fervoroso dos congregados mesmos”. ! 5

“Infelizmente é verdade que quanto mais se conhece com a experiência, onde abundam as comodidades da vida reina mais facilmente o dissipamento e que na populosa cidade, quanto maior e a atração das coisas que atraem os sentidos, tanto menor é o numero daqueles que estão dispostos a abraçar com fervor novos exercícios de piedade”.

Primeiro de Maio, na primeira reunião na Capela do Crucifixo, os jovens são nove, inclusive Marcos chamado a ser o responsável deles. “Se por um lado pelo escasso número trazia um desconforto, por outro lado, vem consolado pela esperança que o exemplo deles, e sobretudo a especial proteção da Virgem Maria – a qual devem ser gratos como congregação – promoveriam o fervor e o número”.

Na mesma carta encontramos preciosas indicações sobre o método de pastoral juvenil escolhido pelo sacerdote Antônio Cavanis e pelo seu irmão Marcos. Faz bem recordar que frequentemente os documentos do arquivo histórico do Instituto Cavanis falam somente do mais velho dos irmãos, isto e do diretor da congregação mariana e das Escolas de Caridade; mas nos devemos entender que tudo faz referência ao irmão Marcos Cavanis também.

Sendo Marcos encarregado do arquivo dos documentos da Obra, por espirito de humildade falava sobretudo do irmão, atribuindo a ele todos os méritos.

Comenta Padre Servini na Positio super introductione causae et virtutibus: “certamente Antônio era padre, e como diretor da congregação, tocava a ele o dever da direção espiritual; a Marcos, ao contrario, como prefeito (responsável) tocavam as preocupações organizacionais, que – notemos – melhor adequavam-se a sua índole e ao fato que era ainda leigo. Todavia os campos de trabalho não vão assim drasticamente separados. A formação dos jovens no espirito da piedade aparece como a primeira e máxima preocupação de ambos”. (Positio, pag. 159).

E ainda: “É verdade que eles atribuíam o mérito do desenvolvimento (da congregação mariana) e o aumento dos benfeitores ao fervor dos congregados e as graças divinas... mas se o filhos eram generosos e fervorosos, o eram por mérito do grande entusiasmo que os dois irmãos – cada um a seu modo, mas em perfeita harmonia – sabiam transmitir, arrastando-os com a força persuasiva da palavra, mas sobretudo com a potência do próprio exemplo: Antônio com a sua vida sacerdotal e sem receios, humilde e serenamente alegre na união com Deus; Marcos mostrando praticamente em si mesmo o modelo de como se pode viver no mundo e nos empregos públicos, sem jamais comprometer a própria consciência cristã nem perder a alegria de espirito; ambos com a própria piedade e próprio zelo” (Positio, pag. 160).

Citemos ainda uma carta do ano 1802:

“Para tornar sólido o resultado que desta piedosa instituição do benemérito fundador foi comtemplado, conhecendo-se bem a necessária frequência dos Santíssimos Sacramentos, o diretor tem o máximo cuidado para instruir aqueles jovens que houvessem necessidade, e decidiu-se portanto a chamar em casa aqueles que não tinham recebido ainda a Santa Comunhão, tendo em vista de usar esta oportunidade para fazê-los conhecer o espírito da

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religião que professam, descobrir-lhes a indole e as tendências, e de modo criativo orientá-los a um um exemplar teor de vida, a animá-los a serem constantes nas virtuosas realizações. E visto que nossa congregação abunda de jovens com tenra idade, necessitados de importante instruções, era impossível de admiti-los todos juntos a estas privadas conferências sem se perder muito do fruto dependente em grande parte da quietude e do silêncio, que não se pode esperar de um grande número de jovens vivazes. Não havia nenhuma vantagem fazer as lições breves, enquanto não estivesse bem radicada na almas dos jovens a preciosa semente da divina Palavra. No entanto vem fixado o método de instruir inicialmente o discreto número de oito ou dez juntos juntos uma hora ao dia no período de um mês aproximadamente, e após chamar um a um para expôr o que havia entendido das instruções recebidas, fazê-los conhecer mais vivamente a força e inspirar-lhes um sentimento de amor pela Religião católica, afim que os corações tenros permanecessem recolhidos e reflexivos. Portanto rapidamente pode-se perceber que não era apenas questão de aprender as noções básicas para achegar-se a Santa Mesa, mas que foi principal estudo do diretor o fazer, com a ajuda divina, a reforma dos costumes, criando em suas mentes a devida veneração às sublimes verdades da Fé e infundindo em seus corações um afetuoso apego a suavidade da lei”.

Após a leitura desta página, estamos de acordo com aqueles que afirmam que os dois irmãos “entraram no campo da educação quase mestres, expertos de uma arte que é sempre difícil”. É verdade que eles pediam conselhos e que aceitavam de boa vontade daqueles que lhes ofereciam; cremos que neles aparece evidente uma pré-disposição que embora fundando-se nos dons naturais eram também dom particular de Deus (Positio, pag. 159).

O Senhor que chama os operários e os manda na sua vinha, havia dado a juventude de Veneza dois apóstolos desejosos de consagrar-se totalmente a este ministério tanto útil e rico de preparação espiritual e pedagógica incomum.

Para os religiosos Cavanis de hoje, estudantes e sacerdotes queremos sublinhar o fato que na análise deste documento histórico de 1802, nós encontramos algumas riquezas de espírito e de método educativo que entraram a fazer do patrimônio da Congregação das Escolas de Caridade fundada mais tarde pelo Antônio e Marcos Cavanis. Este patrimônio precisa também hoje ser estudado e colocado em prática para que, como religiosos possamos viver com alegria a nossa consagração, e como leigos educadores, oferecer uma boa formação aos jovens.

Referimo-nos por exemplo a necessidade da frequência dos santos Sacramentos, de fazer conhecer aos jovens o espirito da religião que professam, de inspirar neles um sentimento de amor pela religião católica, de excitar suas mentes para a verdadeira veneração as sublimes verdades da Fé, infundindo em seus corações um afetuoso relacionamento a suavidade da lei... tudo para chegar com o a ajuda divina a reforma dos costumes deles.

Piedade entendida não como a observância mecânica de práticas externas, que possam ser também sinal de fidelidade as tradições, mas a formação do coração, isto é, do caráter, da capacidade de resposta as graças divinas, da atenção a Palavra e para adquirir os hábitos bons, isto é, das virtudes.

Os dois irmãos Cavanis, após poucos meses de empenho formativo com as crianças e jovens da

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congregação mariana de Santa Inês, entenderam que esta e a finalidade, a essência da sua vocação: para os jovens, oferecer um ambiente familiar onde eles possam crescer e formar-se para a vida e as próprias responsabilidades na sociedade e na Igreja; por si mesmos, crescer na imitação de Cristo até oferecer não somente as próprias riquezas, mas a própria vida ao Senhor crucificado, na fidelidade a vocação especial que receberam.

E esta uma “vocação aberta”, isto é, disponível a escolher todos os meios que, segundo a realidade social e eclesial (sinal dos tempos!) pareçam os mais oportunos ou necessários para alcançar o fim essencial.

Levam portanto a sua iniciativa ao conhecimento dos muitos amigos que haviam no bairro e na cidade, os quais formarão o grupo dos protetores ou benfeitores.

O dia 2 de janeiro de 1804, com o titulo da Caridade, dirá Padre Antônio aos inspetores do Governo, dão inicio a prima escola de caridade, ou seja a primeira escola popular na história de Veneza e portanto gratuita, porque todos as crianças tem direito a uma instrução a mais completa possível.

A Escola de caridade se tornará o meio mais importante, porque é o mais necessário, na vida e no apostolado dos dois Servos de Deus. Tornar-se-a sempre mais completa, também com o estudo da filosofia quando, aumentando sempre mais a procura de inscrições, os Padres Fundadores decidiram comprar o Palácio Da Mosto como Sede Central das suas escolas e de todas as atividades.

Continua de fato aquele “complexo de ajuda” que fortifica a vocação deles: oratório e atividades conexas, retiros e exercícios espirituais, conferências formativas, campos de jogos, sobretudo obras de caridade e ajuda material aos alunos mais pobres e suas familias.

Padre Marcos Cavanis será aquele que procura e administra as ofertas que a Divina Providência lhes dará por meio de benfeitores. Padre Antônio, o Diretor: todos os dois são também professores; escolhem e preparam seus colaboradores leigos e padres; compõem os textos escolares para o estudo da lingua italiana e latina, muito apreciados também em outras escolas. Todos os dois, sempre acreditando na amorosa Providência Divina, no ano de 1808 dão inicio e dirigem uma escola e internato para a educação das filhas pobres e sua formação a vida e ao apostolado.

Apos cerca de 20 anos a Obra dos Servos de Deus é muito apreciada pelo bem realizado em favor da sociedade e da Igreja, que o Patriarca de Veneza Mons. F.M.Milesi autoriza a fundação das duas Congregações juntas e assegura o seu futuro: Padre Antônio começa assim no ano de 1820 o primeiro ano de Noviciado para aqueles que queriam dedicar-se, como religiosos consagrados, a educação da juventude.

3. A vocação especial: Patrimônio do Instituto

“Cada Congregação tem um espirito e um dom próprio; espírito que é a alma e o principio de fecundidade; e também a sua razão de ser aprovada pela Santa Sé” (Beato Don Alberione).

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Padre Ciardi, no seu livro “A escuta do Espirito”, Roma 1996, p. 66, observa:

“lendo os escritos e testemunhas dos Fundadores ficamos impressionados com a consciência que eles tinham de serem instrumentos do Espirito, escolhidos, inspirados e conduzidos por um caminho novo e desconhecido, cuja dimensão se abre gradualmente frente a eles pela ação do mesmo Espírito”.

E uma observação validissima para nós do Instituto Cavanis, também pela abundância dos escritos dos nossos Veneráveis Fundadores Servo de Deus Antônio e Marcos Cavanis. Notemos que os irmãos Cavanis, referendo-se a vontade de Deus e a sua ação em suas vidas e obra, preferem falar da Divina Providência e suas vias.

“Para promover a desejada expansão das escolas, dispôs a Providência que se houvesse a oportunidade de haver um vasto local...”

“Concordou-se a estipulação do instrumento com a devida fé na Providência Divina...”

“...Foi verdadeiramente uma disposição amorosa da Providência que isto fosse feito quando o Instituto saiu da sua inicial pequenez e obscuridade” (Positio, passim, p. 694-696).

“Confortados Fundadores destes sinais amorosos da Providência, e considerando que tudo levava a crer numa dilatação da Piedosa Obra...colocaram-se no árduo empenho de conseguir um vasto recinto com um belo Orto no meio” (Positio, p. 987).

Sempre no mesmo texto, a propósito do inicio da nossa Congregação, após a aprovação do Patriarca Mons. Francesco Maria Milesi, escrevem:

“Cultivando com atenção a idéia de uma tal fundação, na qual havia conduzido misteriosamente a Divina Providência com sucessiva e inesperada implementação do piedoso Instituto...” (Positio, 697-698).

Deus é sempre um Pai amoroso; a sua vontade e amabilíssima; eles sentem-se filhos.

Consideramos portanto parte essencial do Patrimônio da Congregação fundada por Antônio e Marcos Cavanis, estes princípios de espiritualidade e de empenho pastoral:

A consagração ao ministério da educação da juventude, vocação especial.

A paternidade espiritual e o relacionamento pessoal com os jovens.

A formação do coração:

“As Escolas de Caridade propõe-se como fim atender principalmente a cultura do coração; os alunos são como filhos, e os professores os assistem como pais, nisto consiste o caráter essencial do piedoso Instituto” (Positio, 701) Jesus crucificado é o Mestre e Senhor de cada educador.

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Educação através de um complexo de ajuda formativas, culturais e também materiais (escola, catequese, oratório, reuniões culturais e espirituais, jogos).

A consagração.

Padre Antônio Cavanis, guiado pela fé e pelo Espírito, entendeu e aceitou o valor de sua vocação e consagração sacerdotal como escolha radical de Deus como único bem e riqueza de sua vida.

Inicia assim um caminho em direção a felicidade, feita de correspondência a graça e aos dons do Senhor. Nos primeiros tempos do seu sacerdócio nasce e amadurece a chamada à pastoral da juventude:

“Sente o desejo de consagrar totalmente a si mesmo a tão grande ministério, mais como Pai que como Mestre”.

Podemos colocar como início oficial desta consagração o famoso 2 de maio de 1802 e como término de sua atividade a renúncia ao encargo de Superior Geral da Congregação aos 5 de julho de 1852. Cinquenta (50) anos de vida santa num empenho constante e multiplo, na educação e na formação do coração, seja na escola, na catequese, nas conferências, seja na direção da comunidade religiosa.

Padre Marcos Cavanis, como dissemos, foi o primeiro a perceber como urgente o problema da juventude pobre e privada dos meios de promoção humana e cristã: convenceu e ajudou o irmão sacerdote, colaborando como leigo para o bem dos jovens da congregação mariana e do Oratório festivo.

Depois de 10 anos, vencidas as muitas dificuldades, pediu também a ordenação sacerdotal para consagrar-se totalmente ao serviço dos pobres e a educação na Escola de Caridade Cavanis. Também ele, como irmão sente que um verdadeiro amor paterno pelas crianças e jovens deve ser gratuito e desinteressado.

Acreditando totalmente na amorosa Divina Providência os dois irmãos vivem na pobreza e na humildade colocando todo o dinheiro recebido dos benfeitores e os bens da própria familia para o bem do Instituto, masculino e feminino, fundados em Veneza para crianças e jovens e ajudando as familias pobres.

Esta consagração e este estilo de vida vêem como uma necessidade também para aqueles que serão chamados a serem filhos e colaboradores na Obra. Antes ainda de codificar nas Constituições da Congregação das Escolas de Caridade, com um livrinho de Notícias, o levam ao conhecimento de todos, sobretudo dos bispos e sacerdotes, em vista e na esperança de novas vocações.

Atender paternalmente os jovens e uma missão delicada e fadigosa: pode faze-lo somente quem e “dotado do Supremo Distribuidor dos dons de vocações ao difícil ministério. Sem este Espirito nos operários dedicados a cultura desta vinha, faltaria nesses a luz, a atividade, a paciência, a graça de penetrar ate o coração e corrigir-lhes, reformar-lhes e instruir-lhes...” (Positio, 702). ! 10

De fato, o grupo de sacerdotes e clérigos que formam comunidade com eles “são acostumados a conduzir uma vida trabalhosa e simples, alheios de toda sombra de temporal interesse; são dedicados pelo espirito de vocação a preservar, a assistir, a admoestar a juventude, alegres e contentes em sacrificar as próprias substâncias e a própria vida a maior glória de Deus e vantagem e conforto da sociedade civil” (ibidem).

A paternidade, como era vivida pelos irmãos Antônio e Marcos Cavanis chamados “verdadeiros pais da juventude”.

As crianças, adolescentes e jovens são filhos para fazer crescer, instruir e formar; não são alunos indistintos e desconhecidos que entram na escola só para cumprir um dever e para desenvolver um trabalho. Desde o inicio, na escola doméstica, Padre Antônio percebe que os frutos da educação são assegurados somente se o mestre se comporta como um Pai e não como um simples professor.

O amor paterno, dom de Deus Pai deve ser fundamental na vida de todos os colaboradores, em particular para quem entra como religioso a fazer parte da Congregação das Escolas de Caridade.

Afirmam-no em tantos documentos oficiais e durante todo o arco de suas vidas: “Nas Escolas de Caridade propuseram-se como objetivo atender principalmente a cultura do coração; os estudantes são vistos como filhos, os mestres lhe dão assistência como pais, nisto consiste o caráter essencial do piedoso Instituto”.

As Constituições, no texto fundamental de 1837 dizem que e dever de todos os congregados: “acolher com amor paterno crianças e jovens, educá-los gratuitamente, defender-lhes com solicita vigilância dos males deste mundo, formar-lhes cada dia na inteligência e na piedade”.

Ainda no capitulo VII, sobre o exercício das Escolas de Caridade, os Servos de Deus insistem: “Dediquem-se a educação da juventude com a maior caridade... o exercício nas escolas, cada trabalho e fadiga pela educação dos jovens devemos oferecer tudo gratuitamente”.

Portanto a paternidade e a gratuidade são sempre vistas na nossa tradição Cavanis como os pilares portadores seja de uma vida religiosa de verdadeira imitação de Cristo, seja de um ministério pastoral e profissional de eficaz formação dos jovens, pessoas a nós confiadas.

No seu livro sobre a pedagogia dos irmãos Cavanis, Padre Francesco Saverio Zanon escreve: “Toda a suavidade santissima do amor paterno, pela qual milhas e milhas de distância da autoridade mundana, conservando nos modos toda a autoridade e a dignidade que se soma a santidade do sacerdócio, concediam aos seus alunos uma amizade paterna, fonte de confiança espiritual, onde as almas dos filhos prediletos não temiam manifestar-se e deixavam-se guiar docemente a sabedoria educativa que os formava em Cristo e os armava fortemente aos combates da vida” (Zanon, F.S. Padri Educatori, Venezia 1950, p.49).

Continua Padre Zanon dizendo que este afeto paterno de caridade está na base dos sacrifícios indescritíveis... porque o “educar gratuitamente comportava nos Cavanis uma vida de pobreza e algumas vezes a falta do necessário; comportava o relacionamento com todo o seu tempo, de todos os seus estudos, a consagração de todos seus pensamentos e de toda a sua atividade as crianças e jovens” (ibidem).

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A formação do coração.

Dos escritos dos fundadores: “Dar a conhecer aos alunos que os encarregados mostram a eles um coração de Pais tem o efeito que correspondam docilmente a sua disciplina caritativa e revidem facilmente amor por amor. Torna-se mais fácil aos mestres e mais frutuosa a correção oportuna e mais pronto e aberto o caminho para entrar nos corações dos filhos e reafirmar e dirigir suas índoles e costumes por eles vividas” (EMM, III p. 78: 5.12.1830, relação ao Patriarca J. Monico sobre a Obra e sobre a Congregação das Escolas de Caridade).

Padre Zanon após ter observado que a pedagogia da santa caridade e do zelo das almas forma, na essência, o método educativo de todos os Santos (e cita S. Agostinho, S. Bento, S. Tomas, S. Jose de Calazans, S. Felipe Neri, S. Inacio de Loyola, S. Girolamo Miani, e, apos os Cavanis, S. João Bosco e uma multidão de santos educadores), sublinha a originalidade dos servos de Deus Antonio e Marcos Cavanis, os quais havia conhecimento que o seu Instituto era diferente, distinguia-se de todos os outros: a escola dos Cavanis não e um fim em si mesma, ela e o meio pela qual a caridade deles encontra para poder acercar-se da juventude e salvá-la.

"Salvá-la fazendo-se amar por ela e vigiá-la atentamente para preservá-la dos perigos: nisto se encontra a originalidade da Obra deles, a característica do seu método educativo” (o.c., p. 59).

Portanto amar como Pais e fazer-se amar, estudar a indole dos jovens e ganhar sua confidência, iniciar um relacionamento interpessoal em um ambiente familiar, suscitando nos jovens o interesse e a corresponsabilidade também no campo formativo.

Chegar ao coração para abri-lo ao Senhor e a sua Palavra.

Isto se obtem em particular na catequese e na escola, levando os jovens a conhecer o espírito da religião que professam, a apreciar a beleza das sublimes verdades da Fé, e infundir em seus corações um afetuoso acolhimento a suavidade da Lei: é um programa, escolhido pelos dois irmãos já no ano de 1802, no inicio da Congregação Mariana, e e seu programa de toda uma vida, como já temos observado.

Jesus crucificado: Mestre e Senhor. Parece-nos poder dizer que os dois Servos de Deus são para os jovens e alunos a “sarça ardente”. Admirando a beleza da chama e o seu calor, os jovens entravam em contato com o Senhor, sentiam sua voz e obedeciam. O educador entende que dedicar-se a uma missão assim delicada e importante exige preparação e formação. O fundador Padre Antônio, em seu comentário a introdução das Constituições nos ensina quais devem ser as motivações, que sera sempre o modelo insuperável que dará a força, a perseverança e a alegria necessárias, e como seguir o caminho para alcançar as necessárias virtudes de educador e de formador.

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A imitação de Cristo e dever de todo cristão e de cada pessoa de vida consagrada.

De Jesus Cristo os Fundadores Cavanis nos apresentam a obediência ao Pai; reconhecem n’Ele a fonte de toda perfeição porque Jesus antes viveu as virtudes e depois as ensinou. Veem em Jesus Cristo o Mestre e Senhor que acolhe os jovens e e por isso que os congregados devem acolher os jovens com grande amor e respeito, sendo eles o exemplo na modéstia e em todas as virtudes, e educá-los cada dia na piedade e na inteligência.

Mas contemplam como icone da nossa fidelidade a caridade e paternidade de Deus, Jesus crucificado, as suas Sagradas Chagas, o seu Divino Coração: e ele o Mestre e Senhor.

Demos a palavra a Padre Antonio Cavanis. “Pueros et juvenes paterna dilectione complecti”.

Portanto excitar e acender sempre mais uma particular atenção para com a juventude, porque Deus a ama com afeto distinto e pelo o grande bem que se pode fazer a ela defendendo-a das quedas e ajudando a retornar ao bom caminho. E continua explicando que e necessário cuidado também como atitude constante no relacionamento interpessoal: assim os jovens abrem seus corações aos mestres e se sentem dispostos a seguir docilmente avisos e ordens. O religioso educador e pai sente que e necessário um amor forte para cumprir a sua missão; isto o obriga a um empenho de ascese para adquirir as virtude próprias que são: vigilância, paciência, solicitude (fortaleza e coragem), esperança de de frutos e oração.

E e aqui que o Fundador nos manifesta qual e o aspecto fundamental do mistério de Cristo Senhor que todos devemos reviver com particular intensidade na nossa vocação. Jesus crucificado e em particular o seu Divino Coração. É necessário orar; a oração e fruto da caridade e se pode oferecer “a chaga do Sagrado Lado de Cristo, que abre a todos a entrada aquele Coração Divino que se fez por nos todos vitima de caridade”.

Alguns místicos receberam o dom das estigmas, como sinal externo de um amor profundo a Jesus Cristo, e este, Crucificado. Os padres Fundadores nos convidam a olhar sempre as cinco chagas do Senhor Jesus, porque Ele mesmo aparecendo aos discípulos havia dito: “Por que estais perturbados? Por que vos ocorrem essas dúvidas? Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo. Tocai e vede: um fantasma não tem carne e osso como vedes que eu tenho” (Lc 24, 38-39).

Assim, escreve Padre Antônio, a vigilância e a paciência podemos usá-las em honra das duas chagas das sagradas mãos de Jesus Cristo: elas nos recordam quanto cautela e constância se deve usar com as mãos, se se deve fazer um trabalho tão fino e precioso.

A fortaleza e a coragem que nasce da esperança pode-se oferecer em honra das duas sagradas chagas dos pés, os quais acompanhados de tais dotes farão chegar a vitória nos mais duros cimentos (cfr. Positio, p. 590-510). Diz Padre Fabio Ciardi: “se compreende porque cada fundador não havia querido seguir um aspecto de Cristo, mas todo o Cristo, não uma palavra do Evangelho, mas o Evangelho na sua integridade”.

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Intervir com todos os meios, segundo as necessidades. Antes de concluir, uma palavra sobre a autoconsciência de Antônio e Marcos Cavanis que, como todos os Fundadores, quando olham a própria Obra a vêem como a mais completa, isto é a mais bela naquele tempo, naquele tipo de apostolado: “Apreçam as outras e talvez a avaliam melhores sob múltiplos aspectos, mas na própria encontram sempre algo de original, que aos seus olhos, a vêem como a melhor”. (cf. Ciardi, o.c.p.73).

Por isso dizia São Francisco de Sales as Irmãs da Visitação: “prefiram as outras Ordens a vossa por quanto diz respeito a honra e a estima, mas prefiram a vossa a todas as outras por quanto diz respeito ao amor”.

Padre Marcos, nos seus memoriais a autoridade da Igreja e do Estado, retorna frequentemente sobre este conceito: em tantos institutos, escolas, orfanatos, se faz algo pela juventude, mas não tem uma Obra como a nossa onde se oferece um completo de ajudas para a formação dos jovens.

Pietro Braido assim se expressa, falando dos nossos Fundadores da nossa Congregação das Escolas de Caridade: “As escolas de Caridade Cavanis oferecem instrução gratuita elementar e media, formação religiosa, assistência na atividade recreativa, “prevenção” dos perigos físicos e morais. A paterna familiaridade pode considerar-se o núcleo do metodo educativo, caracterizado pela assidua vigilância, “continua, amorosa vigilância”, “amorosa disciplina”, em função da realização de uma síntese vital e educativa de valores religiosos e humanos. Harmonizando-se algumas fundamentais prescrições das “Constituições”, da sociedade religiosa chega-se a uma autêntica espiritualidade educativa”.

“O Instituto abraça com amor paterno crianças e adolescentes, os educa gratuitamente, os defende do contágio do mundo e não mede sacrifícios e fadigas para compensar, quanto é possível as danosas e quase universais deficiências da educação doméstica”.

“Os ensinamentos se propõem de exercer a tarefa entre os jovens não tanto como mestres, mas como pais; para tanto se assumem o cuidado dos jovens com a máxima caridade, não ensinam nada que não seja temperado com o sal da piedade; se estude sempre de inculcar-lhe os costumes cristãos, preservar-lhes com paterna vigilância do contágio do mundo; sejam solicitos em atrai-los com grande amor a si com os oratórios, as reuniões espirituais, os catecismos diários, as escolas, e também com jogos inocentes, sempre lembrando das suavíssimas palavras do Mestre Divino: deixai que os pequenos vem a mim; o superior pessoalmente o por meio de outros, não deixe de solicitar a caridade dos fiéis para poder suprir as necessidades dos jovens pobres e prover melhor a sua educação”. (Constituições das Escolas de Caridade, N.3 e 4)

Dom Bosco mesmo, continua o culto salesiano, atesta de ter utilizado as Constituições dos Cavanis ao redigir aquela da Sociedade Salesiana. (Cfr. Braido P., Prevenire non reprimere, Roma, 1999, p. 94).

Conclusão Os nossos Fundadores insistem sempre sobre este fundamental principio pedagógico: e necessário conhecer bem as pessoas para oferecer os meios educativos mais oportunos a idade, e toda nossa atenção com a máxima caridade “quam maxima caritate”, e ter então o retorno de uma boa instrução e aceitação cordial de uma solida base de vida virtuosa. ! 14

Citamos como conclusão a este proposito uma parte de quanto os padres Antônio e Marcos escrevem no ano 1847:

“(a solicita vigilância) ajuda muitíssimo a manter tranquila e recolhida a mente dos jovens na escuta de salutares instruções... mas isto não basta, convém que da mente passem ao coração e se tornem em prática. A este importantissimo fim se vai indagando com discrição a indole vária dos jovens, o desenvolvimento das paixões nascentes, as circunstâncias nas quais se encontram e se confortam com amorosas admoestações e se dirigem com oportunos conselhos e se procura assisti-los no momento de receber os santos sacramentos, se se observa como praticam os exercícios de religião, e se dispõem a formar um hábito bom que os sustenta por todo o curso de suas vidas” (EMM VII, pag. 142) . 1

Da carta aos jovens de Noventa de Piave do ano 1802, o artigo para a revista “Veneza e os seus Lagos” passam mais de 40 anos: e toda uma vida para um educador e um sacerdote; é um trabalho de presença constante entre os jovens do Oratório e da Escola, fundado sob estes pontos fortes:

É necessário acolher alunos se jovens com amor paterno, para conhecer a indole, o grau de desenvolvimento da pessoa se as paixões nascentes, as circunstâncias atuais (de familia, de preparação, de projetos).

Cada coisa deve ser feita com a maior caridade, dizem os dois veneráveis irmãos nas Regras para seus mestres e para os sacerdotes. Não se fala jamais de punições, mas sempre de amorosas admoestações.

Os jovens devem sentir que são amados e a formação a piedade dever levá-los a amar também a suavidade da Lei, além de conhecer e estimar o espirito da sua Fé e religião.

Insiste-se muito sobre o exercício das boas atitudes, seja pelas práticas de piedade seja pelo estudo e/ou o trabalho. O exercício regular dos próprios deveres leva a virtude, isto é, a uma força profissional e ética que ser torna riqueza para toda a vida. Eis porque queriam que também seus colaboradores fossem mestres e pais dos jovens, mas mais pais que mestres.

Concluímos este trabalho com a noticia de um recente apelo, Novembro de 2005, firmado por sessenta (60) intelectuais, docentes, diretores de jornais etc. Este apelo denuncia: “uma emergência grave que se chama educação. Esta crescendo (na Itália) aquilo que antes não tinha nunca acontecido. Está em crise a capacidade de uma geração de adultos de educar os próprios filhos. Corre-se o risco de uma geração de jovens crescer e sentir-se sem pais e sem mestres”.

Setembro de 1847 aconteceu em Veneza o IX Congresso dos cientistas italianos, ao qual participou como membro também 1

Padre Marcos Cavanis. Ele narra em uma carta a Padre José Rovigo que se encontrava a Tezze de Grigno para um periodo de férias. “Aqui estamos cheios de doutores, de visitas e de ocupacões, assim que sem gasto de viagem podemos encontrar com gente de toda a Italia. Virá também uma Comissão instituida pelo Congresso cientifico a visitar-nos: enquanto é encarregada, dizem, de conhecer de perto os Estabelecimentos que aqui se encontram de beneficiência e de caridade...”. Para a ocasio foi publicado um pequeno volume “Veneza e os seus Lagos”, com uma série de estudos que ilustram a cidade, a sua história, o seu patrimonio artistico e vários aspectos geológicos e biológicos do seu ambiente natural, a Laguna. Padre Marcos contribui enviando uma “breve noticia do Instituto das Escolas de Caridade”, que serviu ao doutor R. Arrigoni na sua relação “Dos Institutos de educação escolástica e moral”.! 15

Também por isto temos apresentado brevemente uma vocação especial esta recebida dos dois irmãos Antônio e Marcos Cavanis de Veneza, que fez deles dois dois pais da juventude. E uma vocação sempre atual e necessária na sociedade e na igreja.

Padre João De Biasio Postulador Geral

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2. Os Anos de 1806-1808 na vida dos Servos de Deus

“Re-ler na vida e na experiência cotidiana as riquezas espirituais do próprio carisma

em um contato renovado com as mesmas fontes das quais surgiram,

da experiência do Espirito dos Fundadores, a chama da vida nova e das novas obras,

as especificas releituras do Evangelho que se encontram em cada carisma”

(Repartir do Cristo, 23).

Apresentação

Cada dia tem sua importância na nossa vida, como naquela das pessoas que nós veneramos pela sua sabedoria e santidade. Cada dia tem a vinda do amor e a divina Providência, que nunca cessa, e a resposta da nossa fidelidade feita de oração fiel e de amor na dedicação à nossa missão.

Lendo a vida das pessoas santas e dos fundadores de Ordens e Congregações religiosas, nós encontramos algumas datas, ou períodos em suas vidas que são particularmente significativos, pelas graças recebidas, pelas iniciativas tomadas, pelas lutas e dificuldades do apostolado.

Para os nossos veneráveis Servos de Deus, os Padres Fundadores Antônio e Marcos Cavanis se pode classificar como especial o periodo que compreende o ano de 1806 e também os seguintes.

1. No Ano 1806 Antonio é sacerdote já há 10 anos. Tem 34 anos de idade, ocupa-se expressamente da pastoral dos jovens desde aos 2 de maio de 1802, quando com a permissão do pároco de Santa Inês de Veneza e com a colaboração do irmão dá vida a uma congregação mariana, um grupo de jovens de formação cristã para crianças e jovens. De 2 de maio de 1804 é também mestre e diretor da Escola de Caridade, fundada para a educação paterna e gratuita dos jovens do bairro, sobretudo os pobres.

No ano 1806 Marcos Cavanis tem 32 anos de idade, é leigo e empenhado já há 12 anos no Palácio Ducal de Veneza, como secretário responsável do ministério, antes na república Veneta e depois nas dependência do Império Austríaco. Jovem de grande fé está sempre presente nas atividades da sua paróquia em particular para a catequese e para a assistência das familias pobres. É ele que exortou o irmão a romper com a indecisão e reconhecer na juventude, pobre e abandonada, o campo especifico de uma pastoral sacerdotal e educativa ocupando todo o tempo;

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com entusiasmo o ajudava no atendimento ao grupo da congregação mariana, tornando-se o prefeito.

Conservou viva a amizade com um velho companheiro de escola, Federico Bonlini; jovem com os seus trinta anos, falavam sempre de seus futuros. Que fazer? Qual profissão o missão escolher? Todos os dois sentem um forte desejo de colocar-se a serviço do Senhor como sacerdotes da Igreja. Marcos tem consciência de fazer seu trabalho com coragem, honestidade e respeito a lei: todos o admiram mas ele não está satisfeito porque sente-se chamado e preparado a fazer algo a mais.

Assim no ano de 1806 e seguintes tornam-se especiais para os dois irmãos, no desenvolvimento espiritual e ministerial de suas vidas e personalidades antes de tudo, e portanto, para o inicio de uma colaboração muito profunda e total de ambos no projeto educativo e também de vida consagrada que durará até a morte. Hoje diremos: durará para sempre porque sentimos o fascínio de seu exemplo e a suave proteção deles lá do céu.

Brevemente, os fatos. Em dezembro de 1805 Napoleão Imperador dos franceses vence a batalha de Auterlitz e pega o Lombardo – Veneto aos Austríacos, formando um reino anexo ao seu império.

Veneza sofre esta nova mudança de donos. “Havia rumores de paz (de Presburgo) – escreve Padre Marcos em 1° de janeiro de 1806 – vieram os comissários franceses, e chegava o tempo da confusão e turbulência”. O Patriarca de Veneza, após a morte do Cardeal Ludovico Flangini, não tinha ainda o seu pastor e coloca temporariamente como vigário capitular o Bispo de Chioggia monsenhor Peruzzi.

Os dois amigos Federico e Marcos tomam a sua decisão: ao chamado do Senhor acrescenta-se agora fortemente os sinais dos tempos. Vencidas as ultimas dificuldades, Bonlini aos 19 de janeiro e Marcos aos 13 de fevereiro entram na carreira eclesiástica renunciando a todos os empregos civis. Juntos fazem os exercícios espirituais e juntos são ordenados neste mesmo ano de 1806 diáconos e aos 20 de dezembro sacerdotes.

Para Marcos isto significa também escolher a pobreza, como não tem mais o salário, escolhe o trabalho com o irmão e a humildade de pedir ajuda a todos para a escola, para os jovens seminaristas, para os tantos, muitos pobres da paróquia e do Bairro. Para ambos irmãos sacerdotes Antônio e Marcos Cavanis a história destes tempos se torna especial pelo crescimento na fé – a renovada e total confiança no amor providente de Deus – pela riqueza dos frutos recolhidos na escola e na formação, que se qualifica também pelo aumento das vocações para a vida sacerdotal e religiosa – pela alegria de sentir viva, constante, materna a proteção de Maria Santissima sobre eles, sobre a escola, no crescimento, formação e/ou conversão de jovens e adultos. Quem os conhece e ve a maravilha destes dois irmãos que querem dar uma grande contribuição para o bem da sociedade e da igreja, começando dos jovens e dos pobres, ficam admirados, os louva...mas se perguntam “conseguirão nestes tempos, sem meios e com tantas tribulações?” “ou veremos sucumbir a sua utópica iniciativa sob o peso das dívidas?”

É necessário ampliar a Escola, acrescentar outras classes, aumentar o numero dos Professores, porque aumentam continuamente o pedido de inscrições... e depois o Orto, o espaço livre para reuniões e recreações, não se pode deixar pra lá, também se o Demanio quer o retorno do

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primeiro Orto do Oratório da congregação mariana, com a sala anexa que havia feito um ótimo serviço para as recitas dos “Diálogos” e para as catequeses comuns.

2. O ano de 1806 e a aquisição do Palácio Da Mosto. É este um Palácio que se encontra não muito longe da Igreja paroquial, exatamente em frente do terreno – salão e Orto – onde os dois irmãos havia recolhido os adolescentes e jovens para o seu primeiro apostolado especifico. Os dois irmãos o conhecem por terem feito nos arredores do palácio um retiro espiritual para os seus jovens, e preparação a primeira Eucaristia: as salas possuem grande espaço, muito propicias para acolher de 35 a 40 alunos; o pátio interno, com um pouco de jardim arborizado, é apropriado para as recreações (no caso o Demanio insistisse em negar a eles o velho Orto), seja para passar algum tempo no recolhimento e oração, como se faz durante os exercícios espirituais.

Descobrem que o proprietário, Vestor Da Mosto, muito velho e sozinho, tem a intenção de vender a propriedade, palácio, orto e jardim. Mas o preço é proibido aos dois irmãos. No primeiro volume do Epistolário e Memória (EMM I) nós encontramos toda a história contada: a decisão de Antônio e Marcos de comprar todo o ambiente não obstante a falta de qualquer fonte de renda, porque as ofertas dos protetores da congregação mariana não são suficientes nem para a gestão da Escola e para ajudar os alunos mais pobres para o alimento e as vestimentas; as tratativas para um acordo quanto ao preço, depois para encontrar os amigos e conhecidos que pudessem dar uma mão com ofertas ou com um empréstimo com juros; portanto para tratar com um pedreiro os necessários trabalhos de adaptação, etc. Mas nós encontramos sobretudo a história de sua grande fé em Deus e na sua Providência e na proteção de Maria Santíssima – é de fato o 16 de Julho o dia decisivo para a assinatura do contrato de compra. Encontramos ainda as testemunhas de sua admirável pobreza e do reconhecimento pelos benfeitores, como também a certeza vocacional que os sustenta e os empurra a empenhos e sacrifícios sempre maiores.

É o Senhor que os quer totalmente dedicados a educação da juventude de seu tempo, de sua cidade e promover com os retiros espirituais um trabalho de uma séria formação cristã e o espirito de conversão também para os adultos da paróquia e das familias dos alunos.

Estamos nas mãos do Senhor, não temos motivos em temer algum mal. O memorialista Marcos escreve “...fechou-se toda estrada para conseguir o efeito desejado (o de renovar o aluguel para poder ainda usufruir do velho Ordo demaniale) e convém colocar-se totalmente nas mãos da Divina Providência”. Continuam a orar e a procurar, sem interromper por isto a atividade e a vida da escola e do oratório; antes, visto que os jovens continuam a crescer em numero, “nesta mesma manhã – dia 15.06.1806 – se separam os pequenos dos maiores: para eles se faz uma reunião em uma sala ao lado da Canônica... com um catecismo mais familiar e instrutivo e depois são conduzidos a Igreja Santa Inês, para ouvir junto aos outros a Missa da Congregação: (EMM I, pag. 360).

3. O dia do Senhor será 16 de julho, festa de Nossa Senhora do Carmo: neste dia estipulou-se o contrato de compra de um palácio vastissimo, um outro em anexo e duas casinhas perto da Santa Inês...”.

O Padre Marcos o chamará logo depois o palácio do paraíso, porque permitiu o desenvolvimento e a estabilidade das Escolas de Caridade Cavanis (também hoje, após 200 anos, a entrada, o oratório das escolas e algumas classes com o museo de ciências, se encontram neste palácio e na casa anexa construída pelo sucessor dos Fundadores, Padre Casara);

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permitiu ainda a continuação da pastoral para os exercícios espirituais. O salão nobre se torna um amplo e decoroso oratório (necessário quando Napoleão fechou a igreja paroquial de Santa Inês), seja para as escolas, seja para a juventude da congregação mariana que continuou a sua atividade de culto e de formação como oratório da nova paroquia de Santa Maria do Rosário, quando as associações de jovens vieram suprimidas . 2

O livro das Memórias fala das dificuldades para chegar a assinatura do contrato e daquelas ainda mais graves para pagar a parcela do débito de quatro mil ducados: a primeira parcela de mil ducados deveria ser desembolsada dentro de trinta dias. Quantas vezes eles colocam os pensamentos, preocupações e esperanças aos pés de Maria Santissima.

“No dia 16 de julho dedicato a B.V. do Carmo, indo o diretor a celebrar a Santa Missa na igreja dos padres Carmelitanos no altar de Maria Santissima, no dia mesmo e na mesma manhã, antes, na mesma hora na qual havia oferecido a intenção (a compra do palácio), o divino Sacrificio e pela mediação da Grande Mãe, teve impensadamente a esperada noticia da conclusão do negócio” (EMM I, 362).

No fim de agosto “... a divina Providência dispôs que entre as ofertas e outras re recolhessem mil ducados, para atender as gravíssimas dificuldades e soma de numerosos, consegue dificilmente e por muitos impossível meios encontrar subvenção de dinheiro não com menos notáveis sacrifícios de antes” (ib., 365).

Padre Antônio Cavanis, diretor, vai entregar os mil ducados da primeira parcela “havendo antes mostrado aos jovens das escolas de caridade todo o dinheiro recolhido, exortando-os a corresponder a tão grande ajuda divina e dar as graças devidas, e para isso se recitou o Te Deum com o acréscimo de uma Ave Maria a Virgem Maria e dois Glórias em honra de São Luis e de São José de Calazans”.

Seja-nos permitido sublinhar aqui o grande valor pedagógico e formativo do gesto de Padre Antonio ao mostrar aos alunos o dinheiro recolhido com tanta fadiga, para ajudá-los a compreender as dificuldades da vida, e do amor com que o Senhor e os educadores os acompanham e ajudam e para convidar-lhes a agradecer e a corresponder. Ser agradecidos e retribuir os sacrifícios feitos pelos pais e educadores, aceitar ativamente a escola e a formação para crescer na piedade e na ciência: parecem, hoje, sentimentos muito longe, mas não é verdade.

Para nós Cavanis formam a parte perene do trabalho educativo e da nossa espiritualidade.

Dificuldades pastorais para os irmãos Cavanis durante o governo napoleonico, (1806-1814): abolição da congregação 2

mariana e de toda companhia ou associação leiga. Frequente invasões de militares para os exercícios do imperador; graves as consequências para as familias pobres e para uma normal pastoral dos jovens. Abolição da paróquia Santa Inês, fechamento da igreja e dos ambientes da canonica que passam al Demanio. Precariedade no governo eclesiástico do patriarcado de Veneza, con longos períodos de sede vacante e de bispos não nomeados pelo Papa. Venda do terreno demaniale, com salão e e campo de jogos, onde se tinha desenvolvido a vida dos jovens da congregação mariana. Burocracia no funcionamento do oratório das escolas e também para haver o ex-convento dos Eremitas para o Instituto feminino das Escolas de Caridade.! 20

Outra coisa admirável nos dois Servos de Deus é vê-los continuar com serenidade neste ano 1806 e nos outros sucessivos a sua atividade, porque a vida deve continuar, não obstante as dividas e as infinitas dificuldades causadas pela burocracia o outras contrariedades. São constrangidos a abandonar também o titulo de congregação mariana, mas evitam que os seus jovens se dispersem, mediante a formação do oratório. Continua portanto o florescer das vocações, que eles dirigem espiritualmente e ajudam nos estudos e também materialmente; como exemplo recordamos a vocação de José Contro “que experimentou de modo muito particular a proteção de Maria Santissima que hoje se venera com o titulo do Rosário” (era o dia 5 de outubro de 1806).

Já o dia 19 de março de 1807 nas Memórias manifestam a sua alegria para com os jovens clérigos Zlivani, Schiaolin e Zaros que foram ordenados leitores e ostiários.

“de joelhos diante do Diretor, ele faz um discurso no qual explica a dignidade recebida, lhes exorta a corresponder com o exemplo na igreja, com empenho para o seu decoro, com o zelo pelas almas” (EMM I, 369).

Quando pois o Seminario Patriarcal foi aberto e reorganizado, escrevem: “21 de novembro de 1808. hoje caindo na festa da Apresentação de Maria os clérigos da nossa Paróquia, todos filhos do oratória (crescidos e educados na escola e na congregação mariana dos Fundadores) entram no Seminário aberto recentemente. Dois destes, Schiaolin e Contro, não havendo nem um vintém para suprir as despesas necessárias para manter-se ... Ficaram portanto inteiramente por conta dos Diretores do oratório, os quais encontravam-se sem o dinheiro indispensável para as despesas do ingresso não que da primeira parcela de alimentos (80 ducados para cada um). Todavia se pensou em não abandonar estes pobres clérigos, da qual verdadeira vocação se tinha bons argumentos...e se colocaram no Seminário com a fé que a divina Providência haveria de ajudar” (EMM I 380-381).

4. São estes anos nos quais se abrem para duas importantes novidades: iniciar uma obra também em favor das meninas e jovens das familias pobres e será este o ramo feminino das Escolas de Caridade, e começar uma tipografia.

Não terminou ainda o pagamento do palácio das escolas, mas as dividas coexistem com a caridade, antes, a aumentam. Quando a Senhora Maria Dorotea Ploner fala a eles da necessidade de organizar algo também para as meninas privadas de educação “os encontrou prontamente dispostos a dar inicio a essa atividade. Primícias porém a oração e o conselho, foi estabelecido iniciar esta obra acreditando na Divina Providência. Tinha uma doação para o aluguel de uma casa...mas não havia nenhum dinheiro para prover a manutenção das meninas” (EMM I, 645).

Antônio e Marcos são animados de viva fé na ajuda do Senhor e dão inicio ao Instituto feminino na estrada São Vio, aos 10 de setembro de 1808, dia de sábado. Damos ainda a palavra aos Fundadores Servos de Deus Antonio e Marcos Cavanis. Já no inicio do ano havia declarado que “...não sem uma particular assistência de Deus, a qual devemos atribuir a amorosa potente intercessão de Maria, nunca seria completado um negócio assim importante nas nossas atuais necessidades” (tratava-se de encontrar quem antecipasse 1000 ducados necessários para pagar a parcela para a compra do palácio).

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E continuam os Padres a anotar, sem duvida não para celebrar a si mesmos, mas para o nosso ensinamento e para indicar um estilo de vida para a Congregação por eles fundada: “...as prorrogações serviram para ver mais claramente como depois de encontrar-se em dificuldades, exercitada a fé, a amorosa Providência ajuda pelos caminhos os mais impensados, no momento precisamente no qual mais se tem necessidade” (EMM I, 374) . 3

Com este espirito de força interior, iluminados pela caridade de Cristo, no mês de abril abarem uma Casa de Trabalho, que será uma gráfica dependente do Tipógrafo Antônio Curti e por ele dirigida, sem peso econômico para os Padres que observam: “desse modo pode-se abrir, além da nossa expectativa, um novo refugio a pobre juventude: acontecimento que sempre mais nos anima a abandonar-nos nas mãos da Divina amável Providência” (EMM I, 375).

5. Terminando este acontecimento na vida dos nossos Fundadores, 200 anos mais ou menos, e além das vicissitudes históricas verdadeiramente difíceis na qual se desenvolveu e amadureceu a sua vocação para com a juventude e a Obra do Instituto, parece-me útil concluir com duas observações: Antônio e Marcos Cavanis são conscientes de ter iniciado uma grande estrada, porém desconhecida, sem um guia seguro, nem da parte do Estado (sujeito a continuas mudanças de reinantes e de politica), nem da parte da Igreja. São eles que devem tomar as decisões, seja para a vida cotidiana da juventude assistida, seja para a pedagogia, o método da instrução e da formação, as várias iniciativas (congregação mariana, oratório, escola, casa de trabalho, instituto feminino, cuidado das vocações). São prudentes e sábios e sempre prontos a pedir um parecer, um conselho; mas assumem com coragem a sua responsabilidade, sempre.

Não se deixam jamais intimidar, nem amedrontar-se dos acontecimentos externos, nem de suspeitas, controles, decretos de qualquer gênero. São, vivem e transmitem a certeza de fé que tem um Pai nos céus, acima de tudo e de todos. Assim a amorosa Providência Divina, o amor do de Deus Pai, se manifesta quando humanamente não tem mais nada a ser feito, quando as portas dos homens parecem todas fechadas. Intervém oportunamente quando todos parecem aceitar o dado de fato, a dificuldade insuperável: somente no coração dos dois irmãos queima ainda o amor de Deus, uma sarça ardente que não se consuma.

A pobreza, as dividas, a impossibilidade de encontrar dinheiro de beneficência o emprestado com juros, se torna uma constante em suas vidas: não se trata de uma doença crônica, mas de uma condição de vida, de pobreza e de serviço, que eles cuidam. Afinal das contas “Deus somente é rico de uma riqueza que basta a tudo e a todos”.

A pobreza permite a eles de viver como pobres, para os pobres, com os pobres por mais de 50 anos. Todos as suas iniciativas pastorais, de educação e de formação serão feitas na alegria, porque a Obra é do Senhor. É ele que os quer totalmente dedicados a juventude, sustentados por um amor paterno e gratuito, porque “Deus nos ama e nos ama gratuitamente”.

O Instituto Feminino foi diretamente administrado pelos Padres Fundadores e seus sucessores, Padre Vittorio 3

Frigiolini e Padre Sebastião Casara, até o ano de 1863. depois foi assumido pelas Irmã de Santa Madalena de Canossa. Pela metade do século XX, com o mesmo espirito dos nossos Fundadores e sob a Direção de alguns Padres Cavanis do Instituto de Porcari, surgiu o Pio Instituto do Santo Nome de Deus – Irmãs Cavanis.! 22

A sua vocação especial é consagração total a Deus e a formação de Cristo no coração dos jovens, com caridade paterna e com os meios mais oportunos, mas sobretudo na escola, na catequese, na direção espiritual, as ajudas materiais . 4

Outra coisa que parece-me digna de salientar é o coinvolgimento dos jovens da escola e do oratório nas coisas que lhes dizem respeito, como se faz numa familia. Os filhos devem ter conhecimento, participar e colaborar: o bom resultado pessoal e do grupo depende também de uma boa resposta, efetiva e afetiva, aos problemas de casa, as necessidades da vida, as atividades de um bom crescimento como o estudo, a oração, a fidelidade as reuniões e aos jogos, o reconhecimento a Deus e aos benfeitores, a escolha da vocação e dos empenhos futuros. Temos já citado o exemplo da compra do Palácio das Escolas: os alunos devem saber de onde vem o dinheiro do pagamento, fruto de caridade e da estima para o ministério pastoral dos dois irmãos; são convidados a rezar e agradecer a Deus.

6. Uma escola tem necessidade de um belo ambiente, mas também de bons mestres, preparados e dispostos a serem padres mais que simples professores. Quando o primeiro entre os ex-alunos decide de retribuir a educação recebida e de se tornar professor nas Escolas de Caridade, encontramos esta memória chegada até nós; “1° de abril de 1811. nesta mesma manhã o jovem Andrea Salsi, aluno das escolas e do oratório, tornou-se professor de caráter normal no Palácio mesmo das escolas. É este o primeiro caso no qual um aluno do oratório se torna nosso colaborador.merecida para este jovem, pela sua bem fundamentada piedade e extraordinária preparação para os estudos... O Diretor, anunciando aos alunos no oratório após a Santa Missa, a consolante noticia disse que fosse imitado o exemplo e inculcando aqueles que deveriam ser seus discipulos, a aplicação aos estudos e a disciplina, exortou a todos a dar graças ao Senhor pela feliz decisão deste jovem, e pelo acréscimo de uma outra escola para o comum beneficio” (EMM I, 385).

Verdadeiros contemplativos na ação, se auto impõem um estilo de vida de profunda união com Deus e intensa atividade: para a escola, a educação da juventude, a caridade para com os pobres, o cuidado pastoral também dos adultos. A sua saúde sente: antes o Padre Antônio no ano de 1810, com um disturbo nervoso que se tornará crônico, depois o Padre Marcos com a grave crise

Padre Aldo Servini, Postulador, sobre este periodo da vida dos Fundadores assim se exprime, ressaltando a fé e a coragem dos 4

dois Servos de Deus e sobretudo a fortaleza de Padre Marcos na sua dedicação total a Obra e aos pobres, em união com o irmão. “Amadurece assim, próprio nestes anos, no coração de Padre Marcos sobretudo, o programa vasto e completo de cura integral de toda a juventude. Para os jovens capazes de progredir no caminho dos estudos temos as escolas de caridade, que encontram a sede definitiva no amplo palácio Da Mosto; para aqueles que nã se demonstram aptos o não podem avançar nos estudos, abre-se uma casa de trabalho com tipografia (26 de abril de 1808); para as meninas pobres e abandonadas se abre edificio para acolhê-las (10 de setembro 1808) e portanto uma escola externa de caridade (1810). É verdade que não eram poucos aqueles que apreciavam e admiravam os esforços dos Cavanis, mas se as boas palavras dão conforto e coragem, não bastam para mandar em frente as instituições, dar de comer a muitas dezenas de pessoas, fazer ir em frente uma tipografia, manter em pé uma escola com algumas centenas de alunos, nenhum dos quais ajudava com qualquer dinheiro: porque era norma indiscutível o mais completo desinteresse dos fundadores. Tudo portanto vinha cair sobre as costas do Padre Marcos: economia, sempre humanamente doente; relacionamento com as autoridades, nem sempre amigável; procura de proteção e de ajudas materiais, sempre inferiores as necessidades. Como se isso não bastasse, no ano 1809 adoecia Padre Antonio; e em um dos momentos mais cruciais, Marcos e encontrou sozinho a combater as suas batalhas em muitas frentes: com a burocracia, com as dividas, com os falatórios daqueles que tem tempo somente para maldizer. Apesar disso são nestes anos que ele pode experimentar a suave mão da Providência, a generosa cooperação de muitas pessoas, entre as quais devemos mencionar a Beata Madalena de Canossa e a contribuição operante de outros. Tantas atividades e sofrimentos, tantas cruzes e satisfações, justificam bem o abandono da parte de Marcos do escritório e da glória de uma honrada carreira que teria podido talvez mortificar seus ímpetos de caridade. No meio dos pobres e dos necessitados de educação cristã ele encontrou, junto ao irmão, o modo de exprimir todo o seu amor por Deus e por quem sofre. A serenidade de espirito que o caracteriza nos momentos mais dramáticos, também contra a sua indole fogosa e sensível, dá a medida da grandeza e força de tal amor: que coisa pode parecer pesada para quem faz tudo por amor e com amor?” (EMM I, p. 315).! 23

de enterite. O unico repouso que eles concedem a si mesmos são os poucos dias de férias de verão passadas aqui e ali no Veneto em casa de amigos, mas não todos os anos.

Padre João Chiereghin nos deixou a descrição de um “domingo normal” de Padre Antônio: oração comum – confissões dos alunos – discurso do domingo – celebração da Santa Missa; a tarde assistência ao oratório, reuniões de oração e catequese, para fechar a tarde com a famosa “conferência” para os alunos maiores, a gente da estrada do bairro, os sacerdotes. Sem falar do fervor, do amor inteligente e diligente com o qual vivia todos estes deveres e empenhos sacerdotais.

Nós Cavanis, religios e leigos, somos filhos destes santos! 5

Roma, 16 de julio de 2006 Padres João De Biasio, Postulador Geral

Todas as citações deste opusculo levam a sigla EMM I, p...: nos referimos ao primeiro volume da cartas, memórias e 5

documentos dos dois Servos de Deus os Irmãos Cavanis: AA.-MA.CAVANIS, Epistolario e Memorie, 8 voll., Ro0ma 1985-1994.! 24

3. Os irmãos Antônio e Marcos Cavanis, São José de Calasanz e os Escolápios

Introdução.

Devoção e imitação dos santos nos Servos de Deus Antônio e Marcos Cavanis. As memórias da família Cavanis e da educação que os dois Servos de Deus receberam de seus pais, como também o Diário do Instituto e as Cartas dos nossos Fundadores, nos ajudam a entender claramente que a devoção aos santos da Igreja Católica foi muito profunda nos dois, a começar pelo lugar privilegiado que deram à Mãe de Jesus e rainha de todos os santos, Maria Santíssima.

Antônio e Marcos viam nos santos pessoas a serem veneradas e amadas, porque excelentes imitadores de Jesus Cristo e praticantes de virtudes; pessoas a serem imitadas porque, compartilhando a nossa condição humana e enfrentando as mesmas condições que nós, foram exemplos na vivência radical do Evangelho e na fidelidade à graça; enfim, os santos podem ser invocados porque são protetores, advogados e por isso mesmo, envolvidos com nossas experiências. Numa carta de 1835, Padre Antônio escreve ao irmão: “quanto a dinheiro, até agora só consegui gastar e não arrecadar nada; contudo, espero na Divina Providência e na proteção da querida Mãe e de nossos três advogados: São José de Calasanz, São Vicente de Paulo e São Caetano de Thiene.” (EMM II, pag. 495)

O relatório da viagem a Roma, do Padre Marcos Cavanis, feito em 1835, e as cartas enviadas ao Irmão Antonio e aos outros religiosos, assim como as que ele recebeu deles, nos confirmam muito bem como os dois servos de Deus, e o Padre Marcos, em particular, vivessem num contínuo relacionamento de veneração – oração – gratidão com os santos do céu, de modo especial com aqueles que eram escolhidos e tidos como protetores. Padre Marcos aproveita dos longos meses que necessita passar em Roma, para visitar igrejas, templos, habitações dos santos e celebrar ali a sua Santa Missa cotidiana. Vejamos um exemplo disso num relatório de viagem no EMM IV, pag. 460:

- “26 de fevereiro: nessa manhã celebrou o divino sacrifício na igreja dos Padres da Missão, em Monte Citorio, no altar de São Vicente de Paulo, protetor do outro Instituto das Escolas femininas de Caridade, erigido pelo mesmo sacerdote.

- 27 de fevereiro: como merecesse também um ato de distinta devoção o mesmo Protetor dos dois Institutos, São Luiz Gonzaga, nesta manhã foi celebrar a Santa Missa no Colégio Romano, no quarto que o santo habitava.

- 28 de fevereiro: nesse dia, prosseguindo na missão e conseguir para o objetivo de sua viagem a proteção dos santos particularmente Advogados, foi celebrar em Valicella no Oratório e sobre o mesmo altar em que São Filipe costumava celebrar. Voltou depois a São Pantaleão para venerar as relíquias que estão conservadas no quarto de São José de Calasanz e que são muitas: a cama

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e os vários móveis de seu uso, nove volumes de cartas escritas de próprio punho e um magnífico relicário de prata onde estão contidos o seu coração, a língua, o fígado e o baço. Também, visitou hoje a igreja de Santo André em Monte Cavallo onde repousa o sagrado corpo São Estanislau Kostka...”

Padre Marcos sente a importância de sua missão, cujo “grande objetivo” era obter do Sumo Pontífice a aprovação apostólica da pequena Congregação e está consciente das reais dificuldades que pode encontrar. Várias vezes se declara necessitado também da ajuda das orações e afeto fraterno do Padre Antônio e da sua comunidade, dizendo humildemente que era um pecador capaz de arruinar toda a missão. Vive, porém, na certeza de que a educação da juventude é uma grande missão e que precisa fazer de tudo para salvar do mal e da ignorância tantos pobres filhos abandonados e dispersos.

Os nossos Fundadores vivem a sua vocação num caminho de constante ascese e por isto recorrem ainda aos santos, ao seu exemplo de fidelidade ao Senhor. Nas suas cartas encontramos contínua invocação ao nosso “pai”, o nosso São José de Calasanz: sua fortaleza, sua paciência, sua aceitação da vontade divina Vontade, sua humildade na escola e na catequese dos pequeninos.

Falando das escolas de espiritualidade que mais influenciaram na formação dos Servos de Deus, o postulador Padre Aldo Servini, conclui:

“Se, portanto, é verdade que a espiritualidade dos Cavanis se vale daquela típica do seu período histórico no qual viviam, é também verdade que a mesma se vale da ajuda de outra fonte de inspiração: a espiritualidade calasanciana. São José de Calasanz torna-se o padroeiro das suas escolas de caridade desde 1805 e o modelo preferido no qual inspiravam como educadores e sacerdotes. Dele assimilaram as mesmas preferências pela juventude especialmente pobre, a doação desinteressada de si mesmos e na absoluta gratuidade das escolas para todos os alunos indistintamente; eles se propuseram imitar enfrentando com força e constância, todas as contrariedades, e praticando o espírito de pobreza e humildade, como sumamente necessários a quem se dedica a educação da juventude pobre. São José de Calasanz foi, portanto, o modelo que propuseram não apenas a si mesmos, como também, aos próprios religiosos para uma imitação fiel e corajosa. Não é por nada que incentivavam muitas vezes a leitura de sua biografia, preparavam a festa com novenas e a celebravam com alegria e solenidade convidando para almoços, benfeitores e colaboradores e, por fim, reservando aquele dia para as premiações escolares.” (Positio, 645-646)

Por ocasião da próxima reunião da Família Calasanziana, que acontecerá no mês de junho de 2006, em São Pantaleão, ofereceremos ao Prepósito geral dos Padres Escolápios, Padre Jesus Maria Lecea e confrades, e a todas as Congregações que, como a nossa, nasceram imitando São José de Calasanz e a sua obra para a educação da juventude, esse livreto que contém uma breve e interessante pesquisa de Padre Mario Zendron, C.S.Ch.,sobre “Os Irmãos Cavanis, São José de Calasanz e os Escolápios”.

Serão acrescentados alguns documentos do nosso Arquivo de Congregação das Escolas de Caridade, que julgamos interessantes e úteis para a história e para a hagiografia.

Roma, 13 de Maio de 2006 - Pe. Giovanni De Biasio, Postulador geral

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Os irmãos Antonio e Marcos Cavanis, São José de Calasanz e os Escolápios.

São José de Calansanz Duas foram as grandes devoções dos Irmãos Cavanis: a nossa Senhora e a São José de Calasanz. Este santo “foi o modelo preferido em quem inspiraram as suas vidas de educadores e de sacerdotes. Dele assimilaram a preferência pela juventude, especialmente a mais pobre, a desinteressada doação de si mesmos e na absoluta gratuidade das escolas, indistintamente, para todos os alunos.” (Positio, 645)

Como conheceram e quando escolheram este Santo como padroeiro das suas Escolas? A este propósito existe o testemunho de Padre Giovanni Paoli que diz: “(Padre Antônio) desde quando começou a recitar o Ofício divino dizia de ter desenvolvido uma grande estima por este santo, lendo no breviário o oficio das Leituras. Quando começou a dedicar-se aos jovens e cuidar deles, logo que soube que em Chioggia alguns piedosos sacerdotes tinham tomado este santo por protetor das escolas que tinham e dos seus jovens, pensou em elevá-lo a padroeiro principal do seu Instituto... então, se começou desde ano de 1806 a solenizar com a maior solenidade possível o dia 27 de agosto; essa forma de celebrar o santo, por sua iniciativa, foi sendo aperfeiçoada ano após ano.” (Positio, 923)

A primeira referência a São José de Calasanz como protetor das Escolas Cavanis está registrada nas “Memórias do Instituto Masculino” e remonta ao dia 01 de setembro de 1805:

“Esta manhã, um bom número de Congregados (marianos) visitaram a recém instituída Congregação Mariana de São João Novo, satisfazendo o anseio do zeloso Pároco. Foram também o Diretor (Padre Antônio) e o Prefeito da mesma (Padre Marcos Cavanis). A esses foi dedicada uma calorosa acolhida e deram ao primeiro a liberdade de exprimir-se e ao segundo, o primeiro lugar entre os Congregados. Após o almoço foi recitada na sala do oratório e pelo clérigo Zalivani o panegírico de São José de Calasanz, introduzindo assim a uma devota função em honra do Santo que foi eleito como especial padroeiro da nossa Escola de Caridade.” (EMM I 353)

Passamos agora ao ano de 1809: “Hoje, 31 de agosto – sendo quinta-feira da oitava da festa de São José de Calasanz, Padroeiro das Escolas, realizou-se no oratório da casa a primeira função solene do Santo. Após uma devota novena de poucas preces, na manhã desse dia, estando o altar ornamentado com grande solenidade, celebraram-se três Missas e vários jovens receberam a santa comunhão... Após o almoço um dos jovens das Escolas (Roberto Diedo) diante de um grande número de pessoas recitou o panegírico por ele mesmo composto; depois do que se cantou a ladainha e um salmo, formados por várias passagens das sagradas Escrituras, em sintonia com a festividade do dia. Finalmente cantou-se o Hino dos confessores e os presentes foram tocados com as Relíquias do Santo.” (EMM I 382)

O dia da Festa de São José tornou-se cada vez mais importante; foi escolhida como o dia para a vestição dos novos agregados ao Instituto. Muitas vezes este dia tornou-se ainda mais solene dada à presença do Patriarca o qual, muitas vezes conferiu na ocasião, o Sacramento da Crisma. Outro modo encontrado para solenizar ainda mais a festividade foi a apresentação, nesse dia, dos resultados escolares e as premiações para os alunos destacados.

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Disto se tem notícia na festa do ano de 1813:

“Sendo hoje a festa de São José de Calasanz, Padroeiro das Escolas, aconteceu a solene premiação aos alunos pelo Rev.mo Pároco, no Oratório. Fez-se, primeiramente a leitura dos resultados de cada um, ficando sempre no centro do Oratório o jovem de quem se apresentava o resultado.” (EMM I 397)

Nesta festa de 1817 esteve presente também o Patriarca. Para alguns dos alunos foi bem mais que um dia de premiação. Eis a narração:

“Monsenhor Francisco M. Milesi veio ao Oratório para celebrar a santa Missa e depois com grande afabilidade permaneceu esperando que chegasse o momento da premiação que ele mesmo fez, sentando-se na cadeira que para isso estava preparada. O jovem Tiberio Franco pronunciou com distinção um breve discurso para dar início à apresentação dos resultados escolares dos alunos e à distribuição dos prêmios. Concluído este discurso de abertura o Prelado fez também sua alocução para a nossa agradável surpresa, porque tínhamos entendido que estava apressado e sem tempo... Suas palavras foram incisivas e verdadeiramente paternas... Foi mesmo um verdadeiro espetáculo de ternura ver a afabilidade com que animava os jovens que das suas mãos recebiam a premiação e o interesse com que procurava incentivar os negligentes visto que pela apresentação dos dois jovens Angelo Fossati e Vincenzo Monello os mesmos mereciam de serem, por rebeldia e distração, expulsos das Escolas. Percebeu-se vivamente o seu coração amoroso que não deixou de evocar uma correção paterna e de interceder para que os mesmos pudessem ficar ainda mais um mês.” (EMM I 427 / 428)

A preparação da festa iniciava desde o mês de junho, dedicando para este fim a quinta-feira. Temos alguns acenos na correspondência enviada ao Padre Marcos, que encontrava-se em Roma, pelos clérigos Da Col e Giovannini. Escreve o primeiro:

“Na vigília da primeira destas quintas-feiras, que nós com especial devoção consagramos à honra de nosso Pai São José, em preparação de sua festa... Esperamos o Pai, que neste tempo em que tanto se esforça pelo Instituto, e é o tempo no qual procuramos honrá-lo de modo especial, esse nosso Padroeiro e Pai São José, nos dará, por divina graça, a sua valiosa proteção a benefício deste Instituto e também a nós, seus filhos, para que nos tornemos, com a ajuda celeste, membros sempre mais aptos e idôneos, para trabalhar nesta vinha eleita pelo Senhor, especialmente pelo bem da juventude.” (EMM IV 294)

E o segundo:

“Quinta-feira passada, dia 25 de junho, começamos a render o costumeiro louvor ao nosso grande São José, com breves discursos recitados pelo Scarpa.” (Ibidem 305)

São José de Calasanz tornou-se para os Cavanis “o Santo”, “o nosso Santo”, “o nosso grande Pai”. Sobre o quanto a devoção a este santo estivesse enraizada nos dois, encontramos um exemplo em Padre Marcos, durante a sua estadia em Roma, no ano de 1835. Ele chegou à Cidade Eterna no dia 24 de fevereiro. Era uma terça-feira, “dia – como ele anota no diário – da feliz passagem de São José de Calasanz, Padroeiro principal das Escolas de Caridade em nome das quais estava de viagem.” (EMM IV 459)

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No mesmo dia de sua chegada a primeira visita que fez foi à igreja de São Pantaleão para venerar o Santo.

Ainda: a primeira missa (25 de fevereiro de 1835) em Roma sentiu o dever de celebrá-la no quarto onde por 36 anos o Santo viveu e onde morreu, em São Pantaleão, o “gloriosíssimo Pai José de Calasanz”. “Imaginem – escreve ao irmão – com que consolação e com quanto amor por mim, por vocês e por todos os caros filhos.” (EMM IV 31)

Retorna a São Panteleão também no dia 28 de fevereiro: “para venerar as relíquias que são conservadas no quarto de São José de Calasanz” (EMM IV 460) e, muitas outras vezes, especialmente antes de compromissos importantes. E, sempre em Roma: “tive a consolação, esta manhã (30 de julho de 1835), de celebrar na igreja de S. Dorotéia no Trastevere (berço inicial da Ordem das Escolas Pias), no altar de São José de Calasanz e de São Caetano, já que São Caetano, alguns anos antes, ali lançou o alicerce de sua Congregação.” (ibidem. 383)

Quase como que para desculpar-se de ter ido apenas depois que estava a tanto tempo na cidade, acrescenta: “Não foi por minha culpa que demorei tanto para exercer esse ato de devoção, mas fui várias vezes antes sem conseguir, pois tal altar estava assaz abandonado e sem toalha. Faltava, na verdade, também hoje, mas o sacristão, desta vez, foi paciente e arrumou o altar e permitiu que eu partisse feliz.” (ibidem)

Em Santa Dorotéia tinha ido, de fato, o dia 29 de março: “Celebrou esta manhã a Santa Missa no Colégio Nazareno num altar do oratório interno onde existe uma imagem da Bem Aventurada, colocada pelo próprio São José de Calasanz… Nesse dia visitou também, no Trastevere a igreja de Santa Dorotéia em cuja Paróquia o Santo deu início às suas caridosas Escolas, fato que é recordado por uma inscrição colocada na mesma igreja.” (EMM IV 477)

Comunica sempre com prazer por carta tudo o que recorda ou se refere a São José de Calasanz: “A mesma praça deste templo (o Panteão) – escreve – recorda um triunfo, pois passando por ela, o Papa Paulo V, quando São José saía do Panteão, o chamou para perto de si, mandando que parasse a liteira e toda a Coorte pontifical, e perguntou-lhe sobre o estado da sua Congregação, o animou a prosseguir a grande obra com empenho, e assaz benignamente conversou com ele longamente tanto que a humildade do Santo foi muito apreciada por esta extraordinária demonstração da pontifícia benevolência e todos pressagiavam para ele grandes honras.” (ibidem 385)

Com prazer descobre que o Cardeal Castracane que se ofereceu para ser o Cardeal Protetor da nova Congregação era um ex-aluno dos Escolápios: “O Excelentíssimo Castracane ontem se dignou de convidar-me novamente para almoçar com ele. O prato mais saboroso foi poder percebê-lo todo inflamado de empenho para favorecer a causa, e como estava seguro de um êxito favorável. Ele também reconhece como Pai São José de Calasanz (veja só a bonita disposição da Providência) sendo que ele foi educado pelos religiosos Escolápios.” (Ibidem 413)

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Também Padre Antônio, por sua parte, sublinha ao irmão Marcos algumas providenciais coincidências: “A vossa carta (898) nos transportou, direi, fora de nós mesmos de tanta alegria. Não imaginava de receber tanta sólida esperança sobre o bom êxito desta grande missão (aprovação da Congregação); tanta caridade de Monsenhor Traversi; tanta grandeza de coração e tanta confiança a ponto de nos consolar a todos no ótimo, zeloso e piedosíssimo Cardeal Ponente. Que sinais amorosos de Providência: ele mesmo, como o nosso bendito Patriarca Milesi, por sorte foram educados pelos filhos de nosso Santo, e encontram sinais de terna devoção para com ele; e um deles foi destinado por Deus para dar início ao nosso pobre Instituto e outro parece já pronto para iniciar... Agradeçamos Deus de todo coração, a grande Virgem e o querido Santo.” (EMM IV 418)

Quando em 1819 o Patriarca Milesi adoeceu gravemente a ponto de morrer, os Cavanis iniciaram por ele, entre os seus alunos: “uma Coroa de flores e um dos Diretores levou ao doente uma Relíquia de São José de Calasanz”.

Na história inicial do Instituto encontram-se alguns acontecimentos importantes ligados à data da festa de São José de Calasanz. Foi no dia da festa dele que em 1820 “se começou a habitar na Casa que fora preparada para a nova Congregação”. No dia 25 de agosto de 1831, chegou aos Cavanis a carta do Papa Gregório XVI onde, entre outras coisas, o Pontífice dizia: “As escolas denominadas da Caridade, das quais vocês são os instituidores, nas quais possuis o objetivo de formar aos costumes cristãos os meninos e as meninas... são também por nós aprovadas, não menos do que foram tão justamente por nossos predecessores de felizes memórias, Pio VII, Leão XII e Pio VIII.” (EMM 105)

“Esta carta do Santo Padre, chegada quinta-feira, dia 25 deste mês, foi pela primeira vez apresentada no Oratório com grande solenidade. Caindo, de fato, hoje a festa de São José de Calasanz, aconteceu de o Monsenhor Patriarca celebrar a Santa Missa e fazer aos jovens uma paterna alocução, e ele mesmo, nessa ocasião, tornou pública aos alunos do Instituto e à grande multidão presente, a grande graça do Santo Padre.” (EMM I 535 / 536)

É no dia 27 de agosto de 1835 que chega a notícia da aprovação da Congregação por parte da Sagrada Congregação dos Bispos. Desta forma é que Padre Antonio dá a notícia a Padre Marcos, ainda em viagem, voltando de Roma: “Creio mesmo que seja o dia de São José de Calasanz. Ver abaixo (trata-se da carta do Cardeal Castracane que dava a notícia) como nos pagou a colheita. Oh, que dia belo. Que dia memorável. E pense que tudo indicava que a festa esse ano seria mais bem banhada de lágrimas. Nada de vestição, sem a presença do Patriarca e sem também a tua presença; e, no entanto, de um momento para outro se tornou uma festa memorável e a mais alegre de todas até agora.” (EMM IV 442)

A estima por São José de Calasanz teve consequências práticas primeiro na inspiração mesma do método pedagógico e depois, na codificação das Regras do Instituto dos Cavanis. Inicialmente mais que a intenção de erigir uma Congregação totalmente nova, os dois irmãos pensaram num instituto que fosse uma “ramificação da Ordem dos Clérigos regulares pobres da Mãe de Deus das Escolas Pias.” (EMM II 112)

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Em estes termos se expressaram no plano apresentado a Pio VII no dia 28 de maio de 1814 (EMM II, 112).

Isso demonstra como se reconheceram no espírito da obra de Calasanz. Existe um manuscrito significativo de Padre Marcos: “O método das escolas”. Trata-se de um regulamento pedagógico didático-disciplinar tirado das Constituições escolápias, ao qual deviam inspirar-se as escolas Cavanis. O manuscrito não tem data. Pode-se colocá-lo entre o fim de 1805, ano no qual os Servos de Deus introduziram entre os alunos a devoção a São José de Calasanz e o ano de 1813, no máximo.” (Positio, 473 nota 6)

Deste método calasanziano Don Federico Bonlini, colaborador dos Cavanis, fala em 1815. Ele podia escrever “que de São José de Calasanz tinha sido adotado quase que inteiramente o método escolástico (...). (Positio 473)

Outra referência importante é aquela relativa à redação das mesmas Constituições Cavanis. “Ao redigir as suas Constituições, os Servos de Deus inspiraram-se nas seguintes fontes: os Filipinos, os sacerdotes da Congregação de São José de Calasanz de Chioggia, os Jesuítas, os Escolápios.” (Positio 485)

É através da associação de Chioggia, intitulada “Congregação de São José de Calasanz” que eles chegaram a conhecer a espiritualidade do Santo.“Não existe dúvida que as Constituições dos Cavanis repetem na sua origem aquelas dos escolápios (tal qual); seja pela impostação que pelo espírito que está na base. Sabe-se que de 160 normas, exatas 112 são tiradas do texto escolápio. Isso, no entanto, não significa que se trata de uma simples cópia de um código para outro, porque as normas que foram transferidas de forma inalterada são mesmo muito poucas e no complexo não são assim tão incidentes.” (Positio, 486)

Estando Padre Marcos em Roma, no dia 21 de março de 1835, foi a São Pantaleão “para pedir àqueles religiosos que encontrassem o Plano estabelecido por São José de Calasanz como regulamento de seu Instituto quando era ainda simples Congregação desejando adotá-lo como norma para o nosso caso e eles gentilmente prometeram de procurá-lo diligentemente.” (EMM IV 474)

“Dia 22 de março – celebrada nessa manhã a Santa missa na igreja de São Pantaleão, Padre Marcos foi apresentar o mesmo pedido ao Rev.mo Padre Vigário geral Cassela que se comprometeu amavelmente de passar-lhe toda informação útil que pudesse e lhe presenteou ainda com uma bela relíquia do Santo Fundador, uma sua Vida escrita pelo Padre Talenti e vários outros livros de devoção.” (EMM IV, 474).

Os Padres Escolápios e os Cavanis Não foram muitos os Padres Escolápios com quem os Cavanis estiveram em contato ou conheceram. Os primeiros foram os irmãos Padre Francisco e Padre Urbano Appendini. O mais velho, Padre Francisco, tinha nascido no Piemonte em 1769: “Entrou na Ordem dos Escolápios e ainda jovem os superiores o enviaram para Ragusa, na Dalmácia onde permaneceu até a morte, em Zara, no dia 30 de janeiro de 1837. É autor de um interessante estudo sobre a história literária de Ragusa que publicou em 1802. Seu irmão Urbano, mais novo que ele dois anos, foi seu companheiro e colaborador de 1795 em diante. Em

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1824 o Imperador o nomeou diretor do novo Instituto filosófico e Liceo com alunos internos de Zara e depois também diretor dos Ginásios de toda a província.” (EMM II 266 / 67)

Sua morte se dá em Zara, no dia 07 de dezembro de 1834.

Os irmãos Appendini foram contatados para a fundação de um Instituto em Lendinara. As tratativas com eles, no entanto, não deram certo e por isso o Sr. Francisco Marchiori entrou em contato com os Cavanis. A correspondência com Padre Francisco tinha sido iniciada em 1821 e foi aberta por Padre Marcos: “A vossa bondade singular abre-me um acesso para satisfazer com grande desejo que nutro a muito tempo de estabelecer um contato com algum religioso da ilustre Ordem das Escolas Pias, uma vez que eu também, em estreita união com meu irmão, professo uma particular devoção a São José de Calasanz e o reconheço de algum modo, como Pai.” (EMM II 267)

Que o Padre Francisco desejasse corresponder-se com os Cavanis, ficaram sabendo pelo livreiro veneziando Sr. Occhi. “Consideramos uma grande honra e ventura estabelecer um relacionamento com um religioso que nos é assaz notável, pelo que se distingue pelo zelo, pela piedade e doutrina. Já que se dedicam de todo o coração e por força da vocação à assistência dos nossos alunos que já são cerca de trezentos e desejamos, no entanto de prover muito melhor o seu proveito, assim não podemos perder a ocasião tão bela para alcançar tal intento e ousamos pedir a V.P.M.R. (Vossa Paternidade Mui Reverenda) de colaborar com alguma parte do método interno das suas escolas e das pias iniciativas para cultivar o coração dos jovens.” (Ibidem)

Padre Marcos aproveita a ocasião para enviar ao Sacerdote o elenco dos livros “compostos e impressos para uso escolar por ele e pelo irmão Antonio. Padre Francisco Appendini, em novembro, responde demonstrando-se “afeiçoadíssimo ao Instituto”. Acontece então uma troca de correspondência e de livros: “Esteja certo também V.P.M .R que eu lhe sou muito agradecido – escreve Padre Marcos - e pela vossa grande gentileza e expressões generosas e do dom precioso com o qual quis honrar-me (...) Nós dois gostamos muito e a erudita Obra de V.P. sobre Ragusa e as delicadíssimas composições poéticas de seu digníssimo irmão (...). Apresento a devida gratidão pela cortês atenção dispensada aos nossos livretos.” (Ibidem 284)

O Padre Francisco Appendini havia pedido que lhe fosse endereçado algum jovem aspirante. O Padre Marcos escreve: “quisera corresponder aos louváveis desejos de V.P.M.R. (...) porém, por mais que tenha procurado de fazer a minha parte, não consegui encontrar nenhum. Os tempos são tristes e também a grande distância geográfica que nos separa, estabelece um impedimento notável.” (Ibidem)

Padre Francisco tinha ido a Viena e aí escutou falar muito bem dos Cavanis: “Em Viena – escreve de Ragusa, o dia 16 de dezembro de 1823 – escutei com especial prazer falar do seu Instituto e do zelo incansável que têm pelo mesmo”. Responde Padre Marcos: “Alegrei-me muitíssimo do bom êxito que me faz saber a partir de sua viagem a Viena e lhe desejo de coração prosperidades maiores também no futuro. A mim me toca exercitar, no que diz respeito do trabalho que o senhor (P. Francisco) leva adiante, “gaudere cum gaudentibus” (alegrar com quem está feliz) e V. P. (Vossa Paternidade), eu diria, deve

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exercitar, no que se refere aos meus trabalhos, o oficio piedoso de “flere cum flentibus” (chorar com quem chora). Verdadeiramente há muito tempo temos sofrido na manutenção de nosso caritarivo Instituto e por muitas e fortes dificuldades e tantas amargas vicissitudes; mas, saiba que temos preocupações, porém não nos afligimos, porque nos conforta muito os bons progressos da nossa queridíssima juventude e a esperança bem firme de que o Senhor Deus nos bendize em cada acontecimento; vivendo nosso presente com Sua ajuda, conformes as suas divinas disposições”. (EMM II 406)

Do desabafo, o Padre Marcos passa a pedir informações que poderiam ser úteis por ocasião da próxima vinda do Imperador a Veneza: “Peço-lhe de tomar um tempinho para informar-me: “dos privilégios havidos ou esperados da sua comunidade religiosa a respeito do funcionamento das escolas, o reconhecimento legal do ensino, e a aprovação dos Mestres de Noviços; da forma válida e exigências aos Estabelecimentos públicos com os quais se façam o seu curso junto deles os alunos externos; dos Decretos que fossem oportunos no tocante às escolas mantidas por Corporações”. (ibidem) Padre Francisco responde informando: “sobre o método que os seus religiosos das Escolas Pias devem cumprir no curso de seus estudos e exercer o ensino”. (EMM I 490).

E com uma carta de janeiro de 1835 lhe informa também sobre os privilégios acordados na Dalmacia para o exercício escolástico a seu instituto (EMM I 597). A amizade entre o Padre Francisco Appendini e os Cavanis se intensifica. Quiseram-no hóspede no seu Instituto.

“Ver substituída por uma carta à suspiradíssima visita de sua pessoa, por todo título a mim assim tão querida, não poderei menos de entristecer sensivelmente contentando-me com o prazer que habitualmente sinto com cada pequena linha com a sua letra ... Quisera crer que, quando se concretize a sua vinda a Veneza, o senhor não desdenhasse de estabelecer o seu alojamento na casa do pobre pio Instituto, enquanto por ser um religioso das Escolas Pias deve ser certamente pré-escolhida a única casa que é posta sob a proteção do seu grande Pai.” (EMM II 581)

Padre Marcos o mantém informado também sobre a situação do Instituto: “recebeu há muitos anos a sanção real e está fundando uma Congregação Eclesiástica para a sua subsistência no futuro. Os atuais alunos (os agregados) são verdadeiramente de ótima esperança. Tenho já outros cinco prontos para serem agregados”. (ibidem).

A correspondência continua. “Quanto é grande a estima e afetuosa a consideração que lhe professo; tanto bem quistas para mim as cartas com as quais Vossa Paternidade de quando em quando me brinda”. (EMM II 616). Insiste ainda para tê-lo como hóspede: “Eu apresso com o desejo o momento que o Senhor me manifeste a decisão de recebê-la em Veneza e de poder verificar pessoalmente com o senhor (...) sendo esta a única casa em Veneza que mais se assemelhe as comunidades dos Padres das Escolas Pias me parece haver um direito de tê-la como hóspede, melhor, o tenho já por certo”. (Ibidem 371).

Padre Francisco Appendini prometeu uma relíquia de São José de Calasanz; Pe. Marcos por sua vez lhe exprime toda a sua gratidão e ainda uma vez o convida a Veneza: “Coisa muito bonita seria que o senhor se encontrasse a celebrar conosco a festa de São José (de Calasanz). Oh quanto é solene e alegre esse dia! A intervenção do nosso carinhoso Prelado, a vestição dos novos clérigos, o concurso das muitas missas, os cantos alegres que ressoam

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destes muros, o discurso panegírico que mais com o coração do que com os lábios é feito por um dos nossos alunos, a flórida coroa de pessoas qualificadas amantes do Instituto as quais se unem a nós para celebrar as glórias do S. Padre, formam um tal complexo que fazem desta festa incrivelmente única, devota, decorosa e alegre.” (EMM III 14)

O Pe. Urbano Appendini chegaria em Veneza, pela metade de setembro do 1829: “nos fez outras visitas amorosíssimas e nos prometeu espontaneamente de obter-nos a agregação à Ordem das Escolas Pias” (EMM I 522). A promessa é mantida e na data de 13 de março de 1832 chega a Veneza a notícia que ele “obteve a agregação de todos os indivíduos da nossa Congregação à Ordem dos Escolápios e espera expedir brevemente o relativo certificado! (EMM I 154 – 13 de março de 1932).

O 18 de setembro de 1832, P. Urbano “remete o certificado de afiliação sagrada da nossa Congregação à Ordem das Escolas Pias, assinada em Roma o dia 27 de agosto pelo Rvmº Pe. Vigário Geral, o Padre Cassella Pompilio” (EMM I 545). Ao Pe. Cassella é endereçada a carta de agradecimento do P. Marcos: “Este singularíssimo beneficio que nos faz com o novo título pertencer ao glorioso Santo Fundador vosso, ao mesmo tempo, nos torna partícipes, de um modo especial, dos muitos benefícios operados continuamente por tantos zelosos religiosos, seus filhos, foi para nós de grandíssima consolação”. (EMM III 148)

P. Francisco Appendini envia aos Cavanis um volume de Prosa e Poesias composto por ele mesmo: “Tão bela e querida surpresa experimentei com o gentil presente do qual V.P.R.ma (Vossa Paternidade Reverendíssima) quis favorecer-me ... pelo novo título caríssimo de seu presente, vem nele a receber uma consoladora prova do real bom estado de saúde do senhor, malgrado as graves e incessantes preocupações, para tudo se dá um tempo”. (EMM III 97) Em outra ocasião envia também as composições poéticas do seu irmão. Responde Pe. Marcos: “hoje somente me chegou a apreciadíssima carta do dia 18 de setembro que acompanha o precioso presente dos versos preciosos (de ouro) compostos magristralmente pelo seu irmão, e não posso deixar passar um dia sem dar-me conta do maior sentimento de gratidão. Lamento, porém, que o apreciado livro, me despertou a muito triste recordação: a inesperada perda do ilustre autor!”. (EMM IV 8)

Com esta carta termina a correspondência com o P. Francisco.

Outro encontro com um padre Escolápio é aquele tido pelo Padre Marcos durante a sua chegada a Roma no ano 1835.

“Apresentei-me, escreve, ao Reverendíssimo Padre Geral Cassella que me abraçou como um filho, quase chorava de ternura, me mostrou o seu grande amor pelo nosso pobre instituto e acrescentou por fim que poucos dias atrás havia expressado aos seus confrades que seria coisa muito bem feita (se não fossem tão escassos de número) ir a Veneza junto com o senhor (Padre Marcos) para unir-se à nossa comunidade”. (ibidem 31)

Estes foram os encontros mais significativos; tiveram lugar outros fortuitos como aqueles com os Piaristas (Escolápios) de Viena. Assim, São José de Calasanz foi para os Cavanis um ponto de referência de grande importância seja no tocante a espiritualidade, como também na inspiração da mesma obra. Eles tiveram ainda os Padres Escolápios como “irmãos maiores” empenhados na ! 34

mesma missão.

(Pos.: Antonii Angeli et Marci Antonii Cavanis. Positio super introductione causae et virtutibus Romae, 1979; EMM: Antonio Angelo e Marco Antonio Cavanis, Epistolario e Memorie – 8 volumes. Roma, 1985-1994).

P. Mario Zendron, C.S.Ch. (Capezzano Pianore, 1995)

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4. Documentos

1. EMM III 148 – Os irmãos Cavanis “Ao Rev.mo Padre Pompilio Cassella de São Domingos Vigário Geral dos Cléricos Regulares das Escolas Pias – Roma”.

Introdução.

É a carta de agradecimento que os dois irmãos Antônio e Marcos Cavanis enviaram ao vigário geral Pe. Cassella, por haver recebido o Certificado de “Afiliação sagrada” à Ordem das Escolas Pias.

É digno de nota que este reconhecimento foi concedido para os dois Institutos das Escolas de Caridade, o masculino e o feminino, isto é, seja para os padres, como também para as irmãs mestras. No ano 1832 as nossas duas congregações havia o reconhecimento e a aprovação diocesana, concedida pelo Patriarca Milesi no ano 1819.

Ainda mais: desta agregação evidenciam, sobretudo, as vantagens espirituais, tais como a proteção especial de São José de Calasanz, fundador das Escolas Pias, as orações que os fervorosos religiosos Escolápios fazem também pelos nossos institutos, e a participação “dos muitos bens que se fazem continuamente por tão zelantíssimos religiosos, seus filhos”. (EMM III, 148)

R.mo P. P.ron Col.mo Quanto mais preciosa a graça, e nós nos reconhecemos indignos de recebê-la, tanto é maior o embaraço que provamos em ver-nos, sem nenhum mérito, favorecidos pela apreciadíssima afiliação à ilustre Ordem das Escolas Pias, estendida também recentemente ao outro nosso Instituto de caridosa educação às meninas. Este singularíssimo benefício que nos faz com o novo título de pertença ao glorioso Santo seu Fundador, e nos torna de um modo especial, partícipes dos muitos bens que se fazem continuamente por tantos religiosos zelosos, seus filhos, foi para nós de grandíssima consolação e nos obriga a apresentar-lhe V.P.R.ma, sem demora nenhuma, o mais devido e mais vivo agradecimento. Se até agora se dignou o Senhor de sustentar-nos em meio as asperezas da ação do maligno, e fazer que, malgrado tantas contradições, crescesse a nossa volta um bom número de ótimos alunos eclesiásticos e de zelosos mestres dos quais dispõe as duas novas Congregações para prover a subsistência e estabilidade do Pios Institutos das Escolas de Caridade, muito mais agora somos confortados a esperar uma vez que através de V. P. Rma. nos aceitou oficialmente sob a proteção especial do nosso Santo, e nos vejamos graciosamente assistidos pela piedade de tantos fervorosos religiosos que impetram sobre nós as mais copiosas bênçãos. Com este pensamento consolador renovamos, com maior sentimento, por tão distinto favor os mais devotos agradecimentos, e com a mais profunda veneração temos a honra de manifestar-nos. 15 de outubro de 1832.

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2. Testemunho do Pe. Giovanni Paoli: sobre a “devoção a São José de Calasanz”. Positio, 923-925.

Introdução.

O Padre Giovanni Luigi Paoli foi um dos primeiros alunos da nossa Congregação, formado nos estudos, na piedade e na vida religiosa pelos veneráveis Fundadores. Por diversos anos foi mestre dos noviços. O seu testemunho sobre a devoção a São José de Calasanz do Pe. Antônio Cavanis é muito viva. Trata-se de uma devoção singular no coração e no apostolado dos dois irmãos.

O Calasanz era o modelo do espírito de piedade e abandono no Senhor, de fortaleza na adversidade e de amor à juventude. Na página de P. Paoli nos vemos quanto eficazmente o Pe. Antonio comunicava amor e devoção pelo Santo protetor seja aos religiosos, seja a todos os alunos que eram convidados também a contribuir, com os seus pequenos discursos, ao brilho da festa do 27 de agosto. Tal festa que tinha os seus reflexos também na cidade: naquele dia muitos sacerdotes e religiosos vinham à nossa igreja para celebrar a santa missa do Santo e invocá-lo para o bem do Instituto. É digno de nota que por muito tempo na nossa Congregação os religiosos eram exortados a serem “verdadeiros calasancianos”.

Um exemplo o Pe. Giuseppe Rovigo (1817 – 1892) do qual se diz “foi o verdadeiro modelo de educador calasanciano, quais nos queriam todos os nossos Santos Fundadores” (Chiereghin, Dois heróis da educação popular, Veneza, pag. 172).

“Singular e teneríssima era a sua devoção a São José de Calasanz. Desde quando começou a recitar o Ofício Divino dizia de haver concebido uma altíssima estima deste grande santo, lendo as leituras no Breviário. Quando depois começou a ter o cuidado dos jovens e a eles se dedicou, apenas soube que em Chioggia alguns piedosos sacerdotes tinham assumido este santo por protetor das suas escolas e dos jovens, deliberou de constituí-lo protetor principal do seu Instituto. Então, se começou desde o ano 1806 a solenizar com a maior solenidade possível o dia 27 de agosto. Esta solenidade, ano após ano, foi crescendo pelo seu esforço. E para preparar os jovens para o dia festivo, quis que por nove quintas feiras precedentes, por parte de um dos alunos de humanidades, fosse celebrada desde o púlpito as suas virtudes e se cantasse um salmo composto inteiramente a partir de frases bíblicas adaptados à vida do Santo; e isso para que se preparassem bem para a feliz festividade; não deixava de intervir pessoalmente para ouvi-los até que pode, e encorajar o jovem orador elogiando e quando oportuno dando-lhe algum prêmio. Em seguida, a novena imediata à festa era por obra sua um tempo de extraordinário fervor para os jovens empenhados a fazer as coroas de flores espirituais em honra do Santo. Sobretudo depois no Oratório doméstico aos seus clérigos, pelo longo curso de outros 25 anos, nunca se deixou de fazer fervorosos discursos, ora explicando as máximas espirituais do Santo, ora desenvolvendo a vida, que traduziu resumindo-a e conservou-a de próprio punho, até quando perdeu a vista: fato que se deduz da letra não mais inteligível. Quem tivesse escutado falar do santo! Por quanto durante todo o dia tivesse sido abatido pelas suas convulsões, até a aquele ponto no qual era chamado a falar-nos, tornava-se então maior de que ele mesmo. Era o coração que falava, penetrado e ardente da mais terna devoção. A última noite se efervescia ainda mais, e encantava assim, que por quanto tivesse mantido longo o seu discurso, não só não se cansava jamais, mas deixava-nos em êxtase e enamorados. E quando passeava pelo Oratório tendo nas mãos a relíquia do santo para dar-lhe a que fosse beijada, parecia fora de si. Tanto

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mais no dia da solenidade, parecia que não tocasse o chão. Até que pode, nunca se absteve de celebrar, para poder comunicar. Depois fazia no Oratório público a vestição dos clérigos que era sempre reservado para aquele dia; e tinha dois breves discursos, daqueles que de deixar absortos os que o ouviam. Função comovedora ao extremo, que trazia sempre às lágrimas dos que estavam presentes, e mais vezes trouxe dos jovens para agregar-se eles também ao piedoso Instituto. Solene, em seguida, era a Missa com cantos, solene o banquete e sem economia, até que foi restringido por ele em atenção à pobreza religiosa, quando foi erigida a Congregação; e daí o panegírico, composto sempre e recitado por um dos jovens ou dos alunos clérigos; e nas horas intermédias fazia ter por muitos anos pelos jovens uma academia de poesias compostas por eles mesmos em honra ao Santo. Sua Excelência o Patriarca Milesi honrava a função com a celebração da Santa Missa e com o entregar pessoalmente os prêmios aos alunos. O Eminentíssimo Cardeal Monico por muitos anos, com suma dignação, vinha a celebrar ele mesmo e a comunicar pessoalmente a bela coroa de jovens fervorosos e administrar a crisma; e nesta ocasião tinha um daqueles seus melífluos discursos sobre o sacramento, sobre o santo, sobre o Instituto, dirigindo-se aos jovens e aos adultos, que enamorava a todos. Nem com o dia solene terminava tudo. Queria o padre que os seus sacerdotes houvesse no próprio quarto uma cópia da vida do santo, escrita pelo Pe. Tosetti, e a lessem freqüentemente; e mais vezes durante o ano ou a uma ou outra nos fazia ler no refeitório. Quando se ordenaram os primeiros sacerdotes, deu a cada um uma relíquia do santo. Sempre impunha na penitência sacramental alguma oração a São José, que ele queria que fosse chamado por antonomásia de o Santo. A primeira igreja do Instituto que foi aberta em Lendinara assim como o Oratório maior das Escolas quis que fosse intitulado a São José. O altar mais importante, depois daquele da Virgem Maria, na igreja de Santa Inês o dedicou ao Santo. Havia correspondência fraterna com os religiosos das Escolas Pias, especialmente com os padres Appendini de Zara; e quantos se encontravam em Veneza todos os aceitava na sua casa. Sendo eles por alguns anos até 1848 na direção do liceu internato-externato em Veneza, toda forma de relacionamento mais familiar se dirigiam a eles, alegrando-se de honrar através dos filhos o Pai-Patrono; e acrescentava que eram eles os nossos irmãos, os primogênitos do mesmo pai. Em resumo, não perdiam oportunidade de honrá-lo; antes, a última oração por ele recitada, no último de suas forças, foi aquela a São José, ao qual devotamente dava a crer que agora se juntaria no céu, enquanto foi imitador digno, não só das suas heróicas virtudes, mas do espírito e do zelo, no especial gênero de apostolado da terna jovem”.

3. EMM V, pag. 643-64. Carta do clérigo Da Col ao P. Paoli em Lendinara sobre a novena e a festa de São José de Calasanz, em Veneza. Introdução.

Estamos no ano de 1840. A Igreja de Santa Inés, depois de tantos anos de abandono, necessita de muitos trabalhos para ser recolocada em funcionamento para as celebrações.

Portanto a festa do grande santo, que o clérigo Da Col chama “nosso particular advogado” é realizada no oratório, que se encontra no salão nobre do Palácio Da Mosto. Tudo é descrito minuciosamente: a novena, as primeiras e segundas vésperas, aquela solene das onze horas, o discurso panegírico realizado por Don Zambelli, as pessoas que se recebe, por falta de espaço também ao longo das escadas e no hall de entrada. Não havia concelebrações naqueles tempos, e então foram celebradas 55 santas missas em honra do Santo, o dia 27 de agosto.

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É de sublinhar que no nosso Instituto a solenidade de São José de Calasanz foi celebrada com estas características por mais de 150 anos (EMM V, 643-644).

Apreciadíssimo M.to Rdo P. Giovanni, “Esta vez verei de suprir ao descuido precendente, e por isso, depois de haver-me consolado em nome de toda esta casa, da bela celebração feita aqui no dia do nosso Santo, me ocupo de descrevê-la. E para começar a preparação do Oratório, se necessita que este fosse o mais brilhante e inédita daquilo que acostumamos nos anos passados, esperando que este possa ser o último ano no qual tal celebração seja realizada no oratório, já que se vai restaurando, seja nos permitido dizê-lo, a magnífica igreja a pouco comprada. Além daquilo que foi feito com habilidade que o Senhor bem sabe, se tirou quase inteiramente ao Oratório o aspecto de sala, tirando da vista as traves que foram cobertas de telas, mas no modo que melhor podemos conseguir; foram estas coisas de fato inimagináveis e que a muitos deixou estufados. A vigília da grande solenidade se cantaram as Primeiras Vésperas com música, em suas partes principais, executada pelos dois famosos cantores Perieti e Mazorin, como no dia da festa. À tarde da mesma vigília se terminou a novena no nosso Oratório doméstico, da qual lhe direi uma coisa extremamente consoladora, notificando como o amabilíssimo nosso Padre fez os habituais discursos, mas graças a Deus com tal força que não parecia mais aquele mesmo que um pouco antes mostrava-se sofrido por causa dos seus quase cotidianos achaques. Despontou por fim a aurora do faustíssimo dia seguinte consagrado ao grande Santo, e já por tempo se começou a celebração das Missas, que se contaram até 55. Às 8 horas da manhã e foi tão decorada a sagrada função com o intervenção o de S. E. o Cardeal Patriarca, que celebrou o Divino Sacrifício; porém, não tivemos a satisfação de escutar a sua voz pastoral, por não haver jovens para serem crismados e apurado pelos outros compromissos que o esperavam; bem porém ouvimos como muito prazer que dirigiu ao nosso P. Prepósito, que proferiu palavras extraordinárias de consolação admirado pela piedade de nossos jovenzinhos, que em belo número comungaram das suas mãos. Depois as 10 horas mais ou menos se fez com o pleno concurso de pessoas devotas a vestição do jovem de Chioggia, que se manifesta ligadíssimo à nossa Congregação, da qual já tinha revestido a batina e, dá tão belas esperanças ... Pelas 11 horas foi celebrada a Missa solene e assim se encerrou a comemoração da parte da manhã. Depois do almoço ... cantaram-se as Vésperas em músicas também mais solenes que da vigília. A estes seguiu logo o discurso panegírico feito pelo nosso neo sacerdote D. Giuseppe Zambelli, cuja voz robusta e clara alcançou a toda a gente da sala do Oratório, nas escadarias e até a entrada do palácio. Finalmente com o Hino tradicional se deu por encerrada a alegríssima solenidade ... de sincera devoção ao grande Santo, nosso particular advogado ... ” De Veneza, 29 de agosto de 1840.

4. Dos documentos oficiais da Igreja

Introdução

Transcrevemos parte de estes documentos oficiais: o Decreto de aprovação diocesana para as duas congregações das Escolas de Caridade (1819), o Decretum Laudis, o constituído da Carta do Papa Leão XII (1828) e a homília feita pelo Cardeal Monico, Patriarca de Veneza, o dia 16 de julho de 1838, dia da instituição canônica da nossa Congregação, aprovada pelo Papa Gregório XVI no ano 1836, para evidenciar que a indicação de São José de Calasanz como padroeiro, não era de caráter de devoção privada, mas era oficial na Igreja, porque assim tinham querido os dois santos Fundadores Cavanis. Deveria sinalizar a direção da obra, motivar-lhe a espiritualidade e sustentar o fervor apostólico dos congregados. ! 39

4.1. Decreto do Patriarca Francesco Maria Milesi, 16 setembro de 1819 com o qual aprova a fundação das duas congregações, dos sacerdotes e das mestras das Escolas de Caridade: Positio, 345-46.

“... nós por tanto que, como é de dever pelo nosso serviço pastoral, nos encontramos sempre atentos e zelosos em tomar cuidado do crescimento da religião e do bem do rebanho que nos foi confiado, depois de haver séria e diligentemente examinado os ordenamentos e as regras do dito Instituto das Escolas de Caridade que nos foram entregues nos dias 27 de julho e 14 de outubro do ano passado, e de haver considerados dignos de louvor e de aprovação em virtude do presente decreto concedemos aos beneméritos Irmãos Cavanis a faculdade de dar início e livremente desenvolver a Congregação dos sacerdotes seculares sob a proteção de São José de Calasanz, e das Mestras sob a proteção de São Vicente de Paula, para formar no espírito de inteligência e de piedade a juventude, sobretudo dos meninos e meninas pobres. Queremos ainda e ordenamos que nas duas congregações das Escolas de Caridade se leve vida comum na casa religiosa, se ofereça a educação com espírito de caridade e gratuitamente e venham observadas em tudo as regras estabelecidas pelos dois Fundadores, sacerdotes Antonio e Marcos Cavanis ...”

4.2. Decretum Laudis do Papa Leão XII, 08 de março de 1828. Da carta do Papa: Positio, 435.

“... nenhuma outra coisa acostuma vir a nossa mente como mais idônea e oportuna, quanto o ocupar-se de semear, por assim dizer, novos rebentos de homens, quase tenras plantas dispersas num campo, e fazer-lhes surgir à esperança de uma idade mais feliz; e reputamos por isso nenhum ser mais benemérito nas cidades daqueles que a tal objeto concentre a própria atenção, a própria obra e os próprios bens. Argumento em qual nada podendo de fazer de mais excelente daquilo que já fizeram até agora, continuam fazendo no presente, uma vez que já empregaram para tal finalidade os vossos bens, vos empenhais com expressivo fruto a bondosa ajuda dos fiéis; e além do mais, preocupais pessoalmente, com extrema dedicação a cultivar as tenras almas dos meninos e meninas principalmente mais pobres, e mover a este piedoso ofício também a obra de outros, e pensando também no futuro haveis aberto uma Casa para educar jovens Eclesiásticos, os quais, assim com vós, seguindo os passos de são José de Calasanz todos sejam dedicados ao mesmo fim de formar as crianças no espírito da ciência e da religião...”

4.3. Da “Homília do Cardeal Jacopo Monico, Patriarca de Veneza na Instituição da Congregação das Escolas de Caridade o dia 16 de julho de 1838: Positio, 552.

“E quais normas se impuseram (os irmãos Cavanis) em este caritativo oficio? As normas de um santo, que se fez célebre nos anais da Igreja em edificar justamente os pobres jovenzinhos no temor santo de Deus, e na disciplina útil e justa, tal qual foi São José de Calasanz. E que finalidade puseram como objetivo neste difícil empreendimento? Não certamente a celebridade, que de outra forma podiam adquirir com sua capacidade intelectual, porque mesmo se confortados por tantas boas ajudas ... tiveram todavia que resistir a inumeráveis contradições e censuras do mundo, que não perdoa jamais a quem quer corrigir os seus vícios corrompidos ... Consumidas os seus bens na obra piedosa tiveram a coragem de empobrecer-se a si mesmos e de fazer por assim dizer “mendicantes” para os seus pobrezinhos. O exemplo não era novo nesta cidade, que havia já visto nos séculos passos um Pedro Acotanto, um Jacopo Salomonio, e um Jerônimo Miani consumir os seus patrimônios em ajuda aos pobres. Mas era nova a forma.

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Porque estes santos patrícios se contentavam de empobrecer paraminimizar os males da pobreza daqueles que eram oprimidos; onde os Cavanis no entanto se empobreceram para tirar, do ócio, da ignorância, e do vício e que não podem ser vencidas de outra forma que com uma boa educação. Falta então dizer que, o bem verdadeiro da juventude foi o único fim, ao qual destinaram sempre os seus infatigáveis cuidados ...”

5. EMM I, 536 – Difusão da devoção a São Jose de Calasanz fora do Instituto (Veneza).

Introdução.

Antonio e Marcos Cavanis tinham uma sensibilidade especial pelas vocações e foram numerosos os jovens do Oratório da congregação mariana e depois das Escolas de Caridade, aqueles que manifestaram a vontade de fazer-se sacerdotes. Os dois irmãos os seguiam com particular atenção e com a direção espiritual, os ajudavam economicamente, preparavam-nos a receber as ordens sacras com os retiros espirituais, os acompanhavam eles mesmos ao Seminário Patriarcal ou as Casas religiosas, escolhidas vocacionalmente.

Rezavam sempre “ao dono da messe para que mande operários na sua messe”, e as jaculatórias escolhidas para os dias da semana, faziam sempre acrescentar o “Domine mitte operários” (“Senhor envie operários”).

Natural fruto deste amor pelas vocações, foi uma comunicação de espiritualidade calasanciana entre os padres e os seus filhos. Grande exemplo para nós é esta festa em honra do nosso santo padroeiro, instituída em uma paróquia da cidade de Veneza.

Na Congregação as duas sedes Cavanis abertas durante a vida dos Fundadores, Lendinara (Ro) e Possagno (Tv) tiveram a capela dedicada a São José de Calasanz.

01 de setembro de 1831. “... Neste dia celebrou-se pela primeira vez uma solene liturgia de São José de Calasanz numa igreja paroquial desta cidade, sendo a quinta feira na oitava, dia em qual foi estabelecido de celebrar também em seguida, para não interferir de nenhum modo a participação da celebração no Oratório das Escolas de Caridade no dia da festa do Santo. La paróquia na qual vem celebrada tal festividade foi aquela de São Pantaleão, que é dirigida pelo R.mo Don Andrea Salsi aluno do Instituto, que conservando-se agradecido e devoto ao glorioso Santo, sob cujo auspício foi educado, quer promover a devoção, apoiando também assim de bom grado aos desejos e encorajamento feitos pelos diretores do mesmo Instituto. Um destes foi cordialmente convidado a dar ao povo neste dia a benção com o Santíssimo Sacramento, depois de ter assistido ao panegírico feito com grande empenho e fervor pelo Rdo. Dom Angelo Cerchieri, ex-aluno também ele do Instituto, em seguida passando ao serviço de dita igreja”.

6. Carteio Cavanis – Próvolo.

Introdução.

Seja o Certificado de “afiliação sagrada” à Ordem das Escolas Pias, obtida no ano 1832, para as duas congregações das Escolas de Caridade fundada dos irmãos Cavanis no ano 1819, seja a correspondência entre o servo de Deus Don Antonio Próvolo e o Padre Marcos Cavanis são uma manifestação “ante litteram” do espírito que anima a atual Família Calasanciana.

Trata-se de fato daquela ligação sagrada que deriva de reconhecer em São José de Calasanz o

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comum inspirador, modelo e protetor de algumas congregações religiosas, masculinas e femininas, surgidas para a educação da juventude nos séculos XIX e XX e que motiva a fraterna ajuda no campo formativo, pedagógico e pastoral juvenil entre ditas congregações e a Ordem dos clérigos regulares pobres da Mãe de Deus das Escolas Pias.

Padre Marcos Cavanis fez numerosas viagens na Itália do Norte (Veneto, Lombardia, Piemonte, Módena, Trento), seja para encontrar benfeitores para a Obra Cavanis masculina e feminina, seja para fazer conhecer o Instituto e suscitar entre o clero um interesse pela educação da juventude que chegasse a motivar alguma vocação.

Ele tinha um senso ou dom particular para conhecer e estreitar amizade com pessoas santas (Madalena de Canossa, Bertoni, Mazza, Pavoni, Biraghi, etc) e para visitar instituições onde se ocupassem da juventude (oratórios, orfanatos, escolas, oficinas, etc.).

Foi assim que no ano 1825 em Verona encontrou a maneira de passar um domingo na paróquia de São Lourenço e naquele oratório “belíssimo de jovens” fundado pelo pároco Don G. B. Frisoni. Nesta paróquia, alguns anos depois, torna-se colaborador Don Antonio Próvolo que em seguida se orientou à educação dos surdos-mudos e fundou a dúplice Sociedade de Maria para meninos e meninas.

A primeira carta de Padre Marcos Cavanis a Don Próvolo é do dia 13 de novembro de 1831: nessa se congratula pela santíssima instituição do sacerdote de Verona e quer fazê-lo conhecer o nosso Instituto enviando-lhe a carta do Papa Gregório XVI, na qual o Pontífice louva os irmãos Cavanis e os exorta a continuar constantes na educação da juventude.

Don Próvolo visitou o Instituto Cavanis de Veneza em 1837, e Padre Marcos, passando por Verona, duas vezes fez visita ao amigo, no ano 1838 com Padre Casara e no ano 1840 com o Clérigo Scarella. O dia 6 de dezembro de 1837, respondendo a uma carta de Don Próvolo, Padre Marcos pede orações para o nosso Instituto e pelas vocações a ele e aos seus confrades, com estas comoventes palavras: “não cessem de rezar para que nós também possamos ser fiéis e operosos ministros do Senhor... Nos ajudem com sua caridade a tornar mais forte a oração que aqui fazemos sempre dizendo: Domine envie operários, enquanto até que Ele não aumente o número dos pastores, o abandonado rebanho dos jovenzinhos permanece disperso e a mercê dos lobos”. (EMM V, 79)

As cartas nas quais se fala do patrono e protetor São José de Calasanz são duas. Evidentemente também Don Antonio havia escolhido como santo padroeiro da sua obra o fundador das Escolas Pias e pede aos irmãos Cavanis, em duas sucessivas ocasiões, primeira a Novena em honra do Santo, e depois também alguma relíquia e algum livro com a vida de São José de Calasanz.

Em 1840, no dia 11 de julho, Padre Marcos escreve: “torna-se a mim agradável cada ocasião que se me apresenta de poder satisfazer ao Senhor, quanto mais é para mim querida aquela que o senhor me oferece na sua pregmª carta do dia 7 deste mês tratando-se de promover a devoção ao Gran Santo Protetor do meu Instituto! ...” Envia então a Novena e a cançãozinha em honra ao Santo e se recomenda: “me faria uma caridade muito bela invocando-o também por mim que me encontro em grandíssima necessidade”. (EMM V, pag. 605)

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No ano 1842, o dia 21 de maio, Padre Marcos refere a Don Próvolo de haver finalmente recebido do Padre Gatteschi das Escolas Pias as relíquias de São José de Calasanz que tinha pedido e também duas cópias do Compêndio da vida do Santo escrita pelo Padre Tosetti. Tudo está preparado ali em Veneza para Don Antonio Próvolo; para evitar as incertezas do correio, pode ele mandar alguém a retirar o pacote.

Don Antônio Próvolo concluiu a sua breve e santa vida no dia 4 de novembro do mesmo ano 1842, e o seu sucessor Don Luigi Maestrelli enviou ao Padre Marcos o Elogio fúnebre do fundador do Instituto dos Surdos-mudos. Pe. Marcos respondeu assim, em maio de 1843: “mui rev.do Senhor: quanto é grande a veneração que professo à bela alma de Don Antonio Próvolo, que foi uma grande satisfação receber o presente do Elogio fúnebre, que recolhe as preciosas memórias da sua vida. Eu não merecia este obséquio e esta consideração me torna ainda mais obrigado. Me alegro muito com V.S.M.R. em vê-la presidir com tanto zelo a uma instituição assim santa, e peço do Senhor todas as mais eleitas bênçãos; ao manter o árduo empreendimento o senhor pode se reconfortar com a fundada esperança de ter no piedoso fundador um novo e validíssimo protetor no céu...”. (EMM VI, pag. 270)

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ÍNDICE

CAPÍTULO 01: Os Servos de Deus, os irmãos Antonio e Marcos Cavanis: uma vocação especial para o apostolado da juventude pag. 03 - Os inícios pag. 04 - A Congregação mariana e as escolas de caridade pag. 05 - A vocação especial: Patrimônio do Instituto pag. 08 - A consagração pag. 10 - A formação do coração pag. 12 - Jesus crucificado: Mestre e Senhor pag. 12 - Intervir com todos os meios, segundo as necessidades pag. 14 - Conclusão pag. 14

CAPÍTULO 02: Os Anos de 1806-1808 na vida dos Servos de Deus pag. 17 - No Ano 1806 Antonio é sacerdote já há 10 anos pag. 17 - O ano de 1806 e a aquisição do Palácio Da Mosto pag. 19 - O dia do Senhor será 16 de julho, festa de Nossa Senhora do Carmo pag. 19 - São estes anos nos quais se abrem para duas importantes novidades pag. 21 - Terminando este acontecimento na vida dos nossos Fundadores pag. 22 - Uma escola tem necessidade de um belo ambiente, mas também de bons mestres, preparados e dispostos a serem padres mais que simples professores pag. 23

CAPÍTULO 03: Os irmãos Antônio e Marcos Cavanis, São José de Calasanz e os Escolápios pag. 25 São José de Calasanz pag. 27 Os Padres Escolápios e os Cavanis pag. 31

CAPÍTULO 04: Documentos pag. 36

Curia generalizia dei Padri Cavanis Via Casilina, 600 00177 - ROMA

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