Os Mass Media e a Possibilidade de Emancipao no Pensamento de Gianni Vattimo

4

OS MASS MEDIA E A POSSIBILIDADE DE EMANCIPAO NO PENSAMENTO DE GIANNI VATTIMO

The mass media and the likelihood of emancipation in Gianni Vattimos thought

Antonio Glaudenir Brasil Maia[footnoteRef:1]* [1: *Mestrando em filosofia na Universidade Estadual do Cear. Email: glaudenirbrasil@bol.com.br]

RESUMO

A temtica Os Mass media e a Possibilidade de Emancipao no Pensamento de Gianni Vattimo, enquanto uma pesquisa bibliogrfica, suscita uma reflexo cerca do fenmeno da comunicao, considerado pressuposto basilar da compreenso da emancipao ocorrida na sociedade ps-moderna. O referencial terico dessa reflexo ser o pensamento de Gianni Vattimo. Alguns acontecimentos e mudanas, apontadas por Vattimo, evidenciam o carter emancipativo assumido na ps-modernidade a partir da atuao dos mass media, a saber: a) a nova experincia artstica ausente do carter aurtico da obra de arte e a estetizao porque passa a sociedade nos dias de hoje; b) a libertao e o reconhecimento das culturas particulares, rompendo assim com o eurocentrismo; c) e, por fim, o prprio surgimento da diversidade de vises de mundo, com suas propriedades e dialetos. Adorno, ao contrrio, percebe-os como expresses negativas da sociedade capitalista por entender que h uma relao implcita entre os media e a lgica do mercado. Porm, para Vattimo, estes acontecimentos projetam uma sociedade marcada por uma efervescncia cultural relativizada, onde o particular ganha um status quo jamais visto outrora. Isso evidencia a recusa e a inviabilidade dos grandes sistemas filosficos [os metarelatos] como expresses de compreenso sobre o mundo. Os media, promovem assim um novo sentido cultural para a ps-modernidade, configurada pela presena de culturas particulares, com seus dialetos prprios. Alm desse contexto emancipativo emergente com os media no horizonte cultural atual, tambm o encontramos na experincia artstica. Esta foi transposta para o cenrio da vida cotidiana num processo de estetizao geral da mesma, dissolvendo assim o carter aurtico da obra de arte, defendido pela Tradio.

Palavras-chave: Mass Media, emancipao, ps-modernidade, cultura, experincia artstica.

ABSTRACT

This bibliographic research on the mass media and the emancipation possibility in Gianni Vattimos thought brings a reflection about the communication phenomenon, considered an important aspect to understand the emancipation in the post-modernity society. Some aspects and changes, as Gianni Vattimo suggests, can show clearly an emancipative character in the post-modernity, especially evidenced from the mass media, such as: a) the new artistic experience; b) the liberty of specific cultures out of the euro-centrism; c) finally, the big diversity of new interpretations of the world. Theodor Adorno, in contrast, points these out as a negative expression of the capitalist society. This author understands that there is a relationship between the mass media end the market structure. Vattimo, in the other hand, suggests that these aspects are characteristics of a new society, where the idea of particular takes a status quo never had before. It puts in evidence the negation and impossibility of big philosophic systems as expressions to understand the world. The mass media brings a new character to the post-modernity, where is possible to identify the presence of particular cultures, with its own dialectics. Together to this emergent emancipative context with the mass media presence in cultural horizon, we can also identify a new artistic experience. This experience was transferred to everyday context in the process of general esthetization, redefining the traditional character of the arts.

Keywords: Mass media, emancipation, post-modernity, culture, artistic experience.

1. INTRODUO

A problemtica em torno do fim da modernidade e a concretizao da nova experincia oferecida na ps-modernidade tem como pressuposto a ao dos mass media. Por isso, se pretende neste ensaio uma reflexo sobre a comunicao e sua relao com a experincia ps-moderna. O nosso objetivo, nesse momento, compreender o significado assumido pelos mass media, buscando explicitar, a partir de Vattimo, seu lugar na sociedade atual e a nova configurao cultural presente na sociedade ps-moderna. Para atingir este objetivo tematizaremos o sentido da emancipao posta pelos media e os reflexos dos mesmos na experincia artstica presente. Tal sentido e reflexos so indicados pelo prprio Vattimo como positivos para o contexto histrico-cultural designado, como se sabe, com o termo ps-modernidade. Isso evidencia o lugar de destaque ocupado pelos mass media ao mesmo tempo em que procura apontar o sentido de tal emancipao a partir da exploso cultural presente em nossos dias, considerando nossa sociedade como sendo uma sociedade da comunicao generalizada. Nessa sociedade, a experincia artstica sofre transformaes em sua constituio e em seu sentido j anunciadas por Walter Benjamin. Vattimo pretende assinalar os efeitos da ao dos media presentes na experincia artstica e, para isso, reporta-se reflexo benjaminiana. Todo esse contexto configura o carter da experincia cultural na ps-modernidade e que, por isso, merece nossa ateno.Tendo como propsito a tematizao desta questo, este ensaio est estruturado da seguinte forma: a) Sentido e emancipao: os mass media o fim do centralismo cultural a partir do fenmeno da comunicao e a exploso de culturas; b) Emancipao e culturas efervescncia cultural reconhecida pelo dialeto prprio de culturas particulares; e, por fim, c) A experincia artstica na ps-modernidade a experincia artstica presente na vida cotidiana, destituda a aura da prpria obra de arte. Esperamos assim atingir os objetivos propostos aqui.

2. SENTIDO E EMANCIPAO: OS MASS MEDIA

Vattimo em sua obra A Sociedade Transparente [1989], discute a cerca da posio assumida pelos mass media, afirmando que so veculos que recolhem e distribuem informaes sobre os acontecimentos, com grande rapidez e que, por isso, gozam de muito prestgio como a televiso, o rdio, os jornais..., junto a nossa sociedade atual, designada pelo mesmo como uma sociedade da comunicao generalizada. Por isso, a partir do advento dos mass media afirma-se, segundo Vattimo, a ampliao do horizonte cultural da humanidade nunca vista em tempos de outrora. Em outras palavras, com o surgimento dos media tivemos como conseqncia uma abertura cultural de diversas culturas e, sucessivamente, colocou a humanidade numa nova experincia como fruto do mesmo surgimento e, nesse aspecto, se dissolveu toda perspectiva moderna. Perspectiva que tinha como tese uma centralidade cultural, o chamado eurocentrismo.Esta experincia dos media possibilita segundo explicita o autor a partir do avano informacional a emancipao das culturas particulares, negando assim a centralidade na compreenso dos acontecimentos, como se fez na modernidade. Disso ressalta uma nova forma de encarar a humanidade em suas condies atuais composta pela complexidade e pelas culturas diferenciadas. Mas diante de toda esta perspectiva, existem, segundo o autor, alguns pensadores que vem nos media outra funcionalidade, como por exemplo, o pensamento de Adorno. Para este pensador, os media provocam e promovem a massificao de nossa sociedade, no sentido que os mesmos produziram uma homologao geral, mediante o controle, a distribuio e a venda de imagens do mundo aos indivduos como forma de manter a ordem econmico-social no presente (ADORNO, 1947, p.136). Em meio a esta perspectiva crtica, negativista e unidimensional realizada por Adorno, Vattimo (1989, p. 11) rechaa-a afirmando que:O que de fato aconteceu, porm, no obstante todos os esforos dos monoplios e das grandes centrais capitalistas, que a rdio, a televiso, os jornais se tornaram elementos de uma grande exploso e multiplicao de Weltanschauungen, de vises do mundo.

Diferentemente de Adorno e outros que vem nos media uma forma de manipulao, Vattimo defende que os mesmos proporcionaram o surgimento e a emancipao de culturas particulares, no tocante ao fato de promoveram, e ainda promovem, a exploso de subculturas das mais diversas. Subculturas deve ser entendida aqui como culturas consideradas inferiores e marginalizadas como a cultura africana, a homossexualidade... em relao a perspectiva que defendia uma cultura unvoca, tal como o eurocentrismo. Em princpio, Vattimo j considera como um carter emancipativo a prpria exploso de diferentes vises de mundo e o reconhecimento prprio desta diversidade cultural, mesmo que tal acontecimento no tenha sido realizado na esfera econmica. Ele reconhece que ainda persiste o centralismo do capital e que, por isso, alguns autores, como Adorno, fazem tal objeo quanto a essa questo. Apesar de Vattimo no ter dedicado sua reflexo para o campo propriamente econmico e a relao dos media para com o mesmo, coloca que tudo hoje se transformou em objeto de comunicao at mesmo o prprio mercado. Para ele, o verdadeiro sentido desta emancipao, ainda no presente no aspecto econmico, reside na libertao de culturas, onde a exploso e os confrontos destas demonstrou o fim daquela centralidade cultural. A evidncia de tal acontecimento encontra-se no fato da transformao radical da cultura e o nmero de subculturas presentes no contexto atual de nossa civilizao, como efeito da ao dos mass media. Isso aponta para a constatao da impossibilidade da concepo de mundo e da histria a partir de uma perspectiva central. Esse rompimento cultural visvel em escala planetria e implode os prprios pontos de vistas unitrios europeus. H, portanto, culturas. Este o modismo atual denominado ps-modernidade. E o relativismo cultural, ocorrido a partir da libertao de culturas realizadas pelos media inviabilizou a postulao de uma concepo de mundo tambm unitria. Vivemos hoje uma efervescncia cultural nunca vista em nossa histria, defendida pelos discursos ps-modernos. nesse contexto, no confrontar de culturas e no reconhecimento das mesmas que se estabeleceu a experincia do presente como fruto dos mass media. Tal experincia pode ser tambm indicada, segundo Vattimo, no rompimento do princpio de realidade posta pela tradio. Isso porque com o avano dos media no mais concebvel tal princpio de forma objetiva; queles possibilitam imagens, interpretaes e reconstrues do mundo desconectadas do real concreto. por este aspecto que Vattimo adota a postura de Nietzsche quanto afirmao de que o mundo transformou-se em fbula, afirmada por este no Crepsculo dos dolos (2000 p. 36). Diante desta circunstncia e mesmo na tese de emancipao difundida pelos media, Vattimo (1989, p. 13) dir que:A tese que pretendo propor que na sociedade dos media, em vez de um ideal de emancipao modelado pela autoconscincia completamente definida, conforme o perfeito conhecimento de quem sabe como esto as coisas (...), abre caminho a um ideal de emancipao que tem antes na sua base a oscilao, a pluralidade, e por fim o desgaste do prprio princpio de realidade.

No precisamos mais conhecer, na perspectiva indicada por Nietzsche e adotada por Vattimo em sua reflexo, a estrutura necessria da realidade para logo podermos nos adaptar a mesma. Basta-nos agora reconhecer o novo sentido da realidade e pronto. Isso gera satisfao e atende as novas exigncias postas pela sociedade da comunicao generalizada, indicada por Vattimo. A perda do sentido da realidade, defendida pela tradio, com a multiplicao das imagens no resultou em algo assustador, pois o prprio mundo da tecnocincia, mensurvel e manipulado, transformou-se num mundo das mercadorias e tambm de imagens devido os media.Portanto, o significado do sentido da realidade, para Vattimo, nas circunstncias atuais ps a ao dos mass media, da prpria esfera do mecanicismo, tornou-se imagens. A ao dos media, ao contrrio da perspectiva posta pela modernidade de uma realidade nos parmetros da estabilidade e unitarismo, reside em subsidiar culturas particulares, as quais faltava-lhes reconhecimento como tais, no tocante ao aspecto emancipativo daquele princpio [realidade] posto metafisicamente. Com tal ao, na tica do prprio Vattimo, podemos prescrever que possvel uma universalizao da esfera de libertao da problemtica do sentido de uma realidade tecno-cientfica.

3. EMANCIPAO E CULTURAS

Mas, como ser realmente possvel, a partir da ao dos mass media, a emancipao das culturas particulares, apresentada por Vattimo? O prprio Vattimo (1989, p. 13) responder dizendo que: A emancipao consiste mais no desenraizamento que tambm, e ao mesmo tempo, libertao das diferenas, dos elementos locais, daquilo que poderamos chamar, globalmente, o dialecto.

O sentido indicado por Vattimo para tal emancipao consiste numa descentralizao de toda posio da histria, que antes era concebida num contexto de centralidade. A partir da ao dos mass media temos como seu fruto a multiplicidade de culturas particulares, inseridas no mundo da comunicao generalizada. Tais culturas, em suas diversas caractersticas, expressar-se-o em suas condies prprias [tnicas, religiosas, estticas...], no sentido que ao tomarem a palavra promover-se-o enquanto individualidades e, sendo assim, puderem ser reconhecidas como tais, destruindo toda perspectiva de uma forma nica de humanidade. Dessa forma, tal emancipao e seu sentido tambm so designados por Vattimo (1989, p. 14) da seguinte maneira:O sentido emancipador da libertao das diferenas e dos dialetos consiste mais no complexo efeito de desenraizamento que acompanha o primeiro efeito de identificao.

Isso equivale a dizer que, para Vattimo, esse desenraizamento toma forma de uma libertao das diferenas culturais e ao mesmo tempo, com a exploso desta multiplicidade cultural, temos o reconhecimento e uma auto-afirmao de tais culturas. Em outras palavras, a partir dos media temos a descentralizao cultural, onde diversas culturas particulares expressar-se-o em suas caractersticas prprias, em seus dialetos, e tero tanto suas autoconscincia [enquanto condies de sua individualidade e reconhecimento como tal] como tambm devero reconhecer tal diversidade cultural.Ento, segundo Vattimo com o advento dos mass media [os conhecidos meios de comunicao de massa], temos uma sociedade da comunicao generalizada e uma pluralidade de culturas particulares, onde temos o contato e a possibilidade de existncia de diversos modos de vida e dialetos - mesmo que isso no seja garantido para sempre - pelo menos como possibilidade da experincia atual, da constatao de tal diversidade, vivenciado por todos. Por enquanto, diz Vattimo, como efeito da ao dos mass media isto algo constatvel e definido como uma experincia de emancipao que assim configura a ps-modernidade.

4. A EXPERINCIA ARTSTICA NA PS-MODERNIDADE

Segundo Vattimo, a experincia artstica inserida no contexto da experincia ps-moderna deve ser considerada como uma outra conseqncia da ao dos mass media, devido perceber certas transformaes decisivas na mesma. Para nossa reflexo sobre tal acontecimento, elegemos os captulos A arte da oscilao e A morte ou ocaso da arte das respectivas obras Sociedade Transparente [1989] e O fim da modernidade: niilismo e hermenutica na cultura ps-moderna [1985] fontes inesgotveis para nossa reflexo sobre a temtica Os Mass media e a possibilidade de emancipao no pensamento de Gianni Vattimo. O fulcro desse novo contexto da arte, segundo Vattimo, evidenciar que a prpria obra de arte e a experincia artstica encontram-se hoje num horizonte cultural bastante diferente do apresentado pela tradio artstica. Pretendemos aqui apenas indicar, a partir das postulaes de Vattimo, os efeitos da ao dos mass media presentes na atividade artstica e como marco notrio da ps-modernidade cultural. Em outros termos, procuraremos apresentar a nova configurao da experincia artstica oferecida pela sociedade da comunicao generalizada, defendida por Vattimo.J no incio do captulo da Sociedade Transparente [1989] sob o ttulo A obra da oscilao, Vattimo afirma que as reflexes sobre a experincia artstica aps o preldio benjaminiano so inconsistentes e no perceberam a nova essncia da obra de arte produzida pela tcnica, ou como o prprio Vattimo denomina, pela ao dos mass media.A referncia de Vattimo a Walter Benjamin ser constante no somente nesta obra, mas tambm realizada no Fim da modernidade [1985], devido tal pensador ter refletido desde a nova compreenso da histria numa perspectiva das culturas inferiores at a questo da obra de arte na poca de suas reprodues tcnicas [1936] ttulo da obra de Benjamin onde anuncia que a obra de arte perdeu sua aura a partir da tcnica, popularizando-se e em oposio da arte celebrada pela tradio artstica. A insustentabilidade das reflexes sobre a arte no contexto da tecnologia, nas palavras de Vattimo, ocorreu devido no compreenderem-a para alm da tradio. Compreendem-a apenas como controvrsia a sua reproduo mercadolgica e que este processo reprodutivista destruir-lhe- sua verdadeira essncia, entendida em sua inteligibilidade em relao vida. Uma compreenso um tanto negativista e que advoga pelo carter aurtico da obra de arte no que diz respeito s novas condies de produo e reproduo da mesma, presentes na sociedade dos mass media como enfatiza Vattimo. Vattimo pretende, ao propor tal discusso, demonstrar o verdadeiro sentido da obra de arte em sua positividade a partir da ao dos media. Para isso, reporta-se a Benjamin e reprope refletir sobre suas postulaes, chegando a defender que devemos encarar a tcnica ou os media como condies positivas para a produo artstica na ps-modernidade. Ou como o prprio Vattimo (1985, p. 52) afirma: [...] a idia de que as novas condies da produo e da fruio artstica que surgem na sociedade dos mass media modificaram de maneira substancial a essncia, o Wesen da arte (um termo que aqui usaremos no sentido de Heidegger: no a natureza eterna da arte, mas o modo de dar-se na poca atual.

Ora, afirma Vattimo, o que queles leitores de Benjamin e defensores da aura da arte procuram simplesmente o isolamento da obra de arte da vida cotidiana a fim de que possa assumir uma postura crtica em relao existncia. Isso reflete o aspecto metafsico da arte como espao de conciliao e perfeio que, apesar da tentativa de resgate do seu aspecto aurtico, se tornou uma tarefa impossvel de ser realizada na sociedade tecnolgica, no conseguindo assim mudar a essncia da arte no contexto presente. A essncia da arte, diz Vattimo, encontra-se hoje, com a ao dos mass media, presente na vida cotidiana com maior intensidade nunca vista at esse momento. por esse motivo que Vattimo prope essa reflexo sobre os novos aspectos essenciais da arte na ps-modernidade a partir das postulaes de Benjamin e da ao dos media. Parece, ao que tudo indica, que alm do aspecto da reprodutibilidade o que mais caracteriza a arte o seu impacto no cotidiano, impacto esse presente, por exemplo, no cinema. Este considerado como o agente mais eficaz da reproduo da arte, transformando-a num fenmeno de massa (BENJAMIN, 1983, p. 08). O que de fato ocorreu, segundo Vattimo, mediante as novas tecnologias de reproduo, os mass media, foi transposio da obra de arte para o cenrio da vida cotidiana, tornando-a assim em objeto de consumo e nivelando-a as condies socioculturais oferecidas pela sociedade atual. Essa transposio na tica de Benjamin foi positiva e decisiva devido arte ter ganhado um valor expositivo adaptvel s exigncias dos mecanismos de reproduo. Com isso, apresentado que a significao esttica da arte ganha sucesso e interpretabilidade tanto a nvel cultural como tambm em certos aspectos da sociedade atual, com o cinema. O expectador forado, segundo indica Vattimo, a viver em meio aos processos de adaptao e readaptao constante, devido sucesso de imagens projetadas pelo mesmo. A familiaridade do cinema possibilitou a desmistificao da arte e sua reduo ao horizonte cotidiano. Nesse sentido, a arte passa a habitar o solo caracterizado pela oscilao e no mais eternizado como pretendia a tradio.Para Vattimo, todo esse novo contexto da obra de arte ofereceu uma experincia de desenraizamento, entendido e defendido, no somente por ele, mas tambm por Benjamin, como experincia constante de libertao. Isso aponta para a esttica como possibilitadora desse desenraizamento, pois se segue o ritmo dos novos veculos de produo e reproduo artstica. Apesar do j enunciado at aqui sobre a experincia artstica, poderamos indagar o seguinte: em que sentido seria verdico falar da experincia esttica como experincia de desenraizamento mediante as circunstncias oferecidas no presente pelos mass media? Segundo Vattimo, a prpria teoria esttica ainda no reconheceu as possibilidades oferecidas pelos media devido perseguir a soluo da essencialidade da arte em termos de criatividade e conciliao reflexo da perspectiva tradicional. Pelo contrrio, entende tais possibilidades como uma ameaa e procura rejeit-las. Nesse sentido, Vattimo afirma que a teoria esttica percebe ser inconciliveis as condies oferecidas pelos media com as exigncias da criatividade artstica. O motivo que levou a esse entendimento o fato da comunicao banalizar qualquer espcie de mensagem e porque tal teoria apresenta-se como uma reao ao consumo posto pelos media estes rompem com qualquer radicalidade da obra de arte como no caso da moda, citada por Vattimo. Devido esse no reconhecimento das condies postas pelos mass media Vattimo (1985, p. 63) dir que: Com efeito, a todos os contedos que divulgam, os mass media conferem um peculiar carter de precariedade e superficialidade; este choca duramente contra os preconceitos de uma esttica sempre inspirada, mais ou menos explicitamente, no ideal da obra de arte como monumentum aere perennius, e da experincia esttica como experincia que envolve profunda e autenticamente o sujeito, criador ou expectador. Estabilidade e perenidade da obra, profundidade e autenticidade da experincia produtiva fruidora so certamente coisas que j no podemos esperar na experincia esttica da modernidade avanada, dominada pela potncia (e impotncia) dos media.

Com isso, Vattimo procura evidenciar que na experincia esttica e na arte atual esto presentes, no mais os elementos de eternidade e profundidade, mas o precrio e o superficial. Devido presena desse novo carter da arte e da experincia, devemos reconhecer o grande papel exercido pelos mass media: o de transformao e transposio da essencialidade da experincia artstica. Tal acontecimento pode ser apontado a partir do deslocamento do eixo, digamos, artsticos, ou seja, mediante a ao dos media a arte no se encontra mais centrada na prpria obra, mas na experincia.A partir dessa mudana, afirma Vattimo, a experincia artstica tem o sentido de desenraizamento, que pode ser vista com a ao dos media. Nesse sentido, Vattimo coloca que esta experincia representa uma ruptura com a perspectiva artstica que defendia a experincia artstica em termos de autenticidade e a arte em termos de eternidade.A evidncia da impossibilidade de tal perspectiva se torna inquestionvel, devido levarmos em considerao todas as implicaes posta pelos media em relao obra e a experincia artstica. No faltam objees a novo contexto destas, diz Vattimo, pois enfatizam, alm de defenderem o carter aurtico da arte, o fato das mesmas terem sido transformadas em elementos constitutivos da cultura de massa, j criticada por Adorno.Porm, Vattimo defende que essas objees so equivocadas por situarem esse novo contexto como nvel condicional da alienao poltica, no percebendo as novidades presentes na existncia trazidas pelos mass media. Para ele, por no terem distinguido-as, equivocam-se e no entendem que a superficialidade e a precariedade presentes na experincia esttica no so necessariamente mecanismos de alienao. Por isso, e devido a tais equvocos, afirmar Vattimo (1985, p. 65): Contrariamente ao que durante muito tempo e com boas razes, infelizmente acreditou a sociologia critica, a massificao niveladora, a manipulao do consenso, os erros do totalitarismo no so o nico resultado possvel do advento da comunicao generalizada, dos mass media, da reprodutibilidade. Ao lado da possibilidade que deve ser decidida politicamente destes resultados, abre-se tambm uma possibilidade alternativa: o advento dos media comporta tambm efectivamente uma acentuada mobilidade e superficialidade da experincia, que contrasta com as tendncias para a generalizao do domnio, ao mesmo tempo em que d lugar a uma espcie de enfraquecimento da prpria noo de realidade, com o conseqente enfraquecimento tambm de toda a sua coaco. A sociedade do espetculo de que falaram os situacionistas no apenas a sociedade das aparncias manipuladas pelo poder; tambm a sociedade em que a realidade se apresenta com caractersticas mais brandas e fluidas, e em que a experincia pode adquirir os aspectos da oscilao, do desenraizamento, do jogo.

Com o anunciado at aqui, sobre a situao da arte a partir do captulo A arte da oscilao, nosso passo seguinte ter um carter conclusivo sobre tal problemtica exposta por Vattimo no Fim da modernidade [1985] sob o ttulo Morte ou ocaso da arte. Apesar de tal trabalho ter sido escrito anteriormente Sociedade Transparente [1989], anuncia a efervescncia cultural na ps-modernidade de forma objetiva e, que por isso, achamos melhor enfocar alguns aspectos da experincia artstica, apontados por Vattimo, como vis conclusivo deste ensaio.Ao falar sobre a temtica A morte ou ocaso da arte, Vattimo reporta-se ao fim do pensamento metafsico desenvolvido nas reflexes de Nietzsche e Heidegger, assumidas por ele mesmo. Tal problemtica concebida como um evento presente em nossa experincia histrico-cultural, onde no se entende mais a arte como algo especifico e isolada da experincia.Como tambm j anunciamos, a perspectiva da arte como algo privilegiado se tornou impossvel e impotente a partir da ao dos mass media. Porm, Vattimo apontar esse acontecimento em termos de ocaso, pois a arte se realiza ainda em sentido tradicional. O fato que esse sentido no tem mais tanto impacto na experincia artstica atual como em outrora: agora a arte problematiza-se e ultrapassa seus prprios limites.Para Vattimo, toda a obra de arte atual, a partir dos media, tornou-se objeto de consumo comum, no sentido de que os mesmos a transportam ao mundo, com a informao intensificada, passando a constituir assim uma multiplicidade de belos ao mesmo tempo em que conferem novas formas de estetizao. Aqui, torna-se perceptvel que os media destituem a utopia de uma esttica unificada a partir do eurocentrismo e proporcionam o surgimento da diversidade de subsistemas artsticos ao estabelecerem uma generalizao da esteticidade. A experincia esttica assume agora um sentido tecnolgico em contrapartida ao utpico presente na tradio. Assim, Vattimo afirma que a partir das novas tecnologias a experincia esttica atual, assume, e esse o seu objetivo, um carter de desenraizamento ao promover a multiplicao de belos na condio artstica atual. Esta Vattimo (1985, p.44) designar como sendo: [...] aquela que de fato j vivemos na sociedade da cultura de massa, em que se pode falar da estetizao geral da vida na medida em que a mdia, que distribui informao, cultura, entretenimento, mas sempre sob critrios de beleza[atrao formal dos produtos], assumiu na vida de todos um peso infinitamente maior que em qualquer outra poca do passado.

Isso significa dizer que, segundo Vattimo, um dos efeitos concretos da ao dos media reside no fato de que, ao distriburem informao, os mesmos estabelecem ao nvel da esfera pblica consenso, gostos e sentimentos semelhantes. A nova experincia esttica na sociedade atual, com os mass media, uma estetizao geral. O que na verdade ocorre, o fato de que os media promovem, com a divulgao de informao, de cultura, de moda..., uma estetizao sob o signo de beleza e, conseqentemente, a exploso de mltiplos belos demonstrando assim que tal estetizao mais uma forma de descentralizao ao mesmo tempo que reconhece a diversidade cultural. Tal conseqncia vista por Vattimo como positiva para o presente no sentido que os media tornam acessvel e realizvel uma experincia esttica atual fora dos clssicos ambientes artsticos, realizando-se em diversos lugares, nos quais percebemos que a estetizao geral de belos mostra a extenso do domnio e a ampliao cultural, vistas sob o ideal emancipatrio de culturas particulares, como fruto da ao dos mass media. Portanto, a ao dos mass media promove a passagem da perspectiva utpica de um centralismo histrico-cultural posto pela modernidade para a perspectiva que concebe nossa cultura e nossa histria em termos de multiplicidade. Em outras palavras, a ao dos media provoca no presente desenraigamento do utopismo moderno e permite o surgimento do heterotopismo ps-moderno. Este o sentido da ps-modernidade cultural defendida por Gianni Vattimo.

5. CONSIDERAES FINAIS

O pensamento de Vattimo reflete, sem sombra de dvida, o contexto histrico-cultural em que vive a humanidade hoje. A esfera da comunicao, apesar das controvrsias, favorece ao homem um novo horizonte, marcado pelo mltiplo e pelo divergente, os quais configuram no s a cultura, mas o pensamento filosfico ocidental.Nesse novo horizonte, um fato indubitvel aconteceu: a ao dos mass media promoveu a exploso de culturas particulares, inviabilizando o centralismo cultural posto pela tradio moderna. Isso defendido como um processo de emancipao e traz em seio uma diversidade cultural, marco notrio hoje para a humanidade e que, por isso, somos levados a reconhec-lo inevitavelmente. Agora se vive uma efervescncia cultural, e Vattimo precisou-o com seu olhar filosfico. Os mass media modificaram o cotidiano, dando-lhe um novo sentido. Este constitudo pela presena da individualidade cultural reconhecida em sua diferena e propriedades prprias. A prpria experincia artstica, com os media, rompeu com sua inteligibilidade passando a fazer parte da vida cotidiana.Todo esse contexto reflete a emancipao cultural vivenciada enquanto experincia ps-moderna e apresenta-se como uma nova possibilidade para a humanidade frente s condies de vida atuais. Longe de querer obscurecer tal realidade, reconhecendo positivamente a ao dos media, deve-se eleg-la como objeto de reflexo por vivenci-la enquanto uma chance para a humanidade, nos diria Vattimo.

6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

ADORNO, T. W. 1985. A dialtica do esclarecimento: fragmentos filosficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora.

BENJAMIN, W. 1983. A obra de arte na poca de suas tcnicas de reproduo. So Paulo: Abril Cultural (Coleo Os Pensadores).

NIETZSCHE, F. 2000. Crepsculo dos dolos ou como filosofar com o martelo. Rio de Janeiro: Relume e Dumar.

VATTIMO, G. 1992. Sociedade transparente. Lisboa: Relgio Dgua Editores.

______________. 1996. O fim da modernidade: hermenutica e niiilismo na cultura ps-moderna. So Paulo: Martins Fontes.