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Minerva, 3(2): 151-158 PÓS-TRATAMENTO DE EFLUENTES DE LAGOAS ANAERÓBIAS POR MEIO DE PROCESSO FÍSICO-QUÍMICO UTILIZANDO SULFATO DE ALUMÍNIO COMO COAGULANTE Aline Akabochi Fabreti Engenheira Civil – Universidade Estadual de Londrina, Mestranda do Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária – Escola Politécnica – Universidade de São Paulo – PHD/EP/USP Luís Fernando Rossi Léo Engenheiro Civil – Escola de Engenharia de Lins, Doutorando do Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária – Escola Politécnica – Universidade de São Paulo – PHD/EP/USP Roque Passos Piveli Engenheiro Civil – Escola de Engenharia de São Carlos da USP, Mestre em Hidráulica e Saneamento – EESC/USP, Doutor em Engenharia Hidráulica e Sanitária – Escola Politécnica da USP, Professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária – EP/USP Resumo Neste trabalho estudou-se o pós-tratamento de efluente de lagoa anaeróbia por processo físico-químico à base de coagulação e floculação. Comparou-se a decantação acelerada com a flotação com ar dissolvido como etapas de separação de sólidos. A motivação principal para o desenvolvimento da pesquisa foi a dificuldade desse tipo de sistema de lagoas de estabilização para atender aos limites de qualidade da água impostos pela Resolução 357/2005 do CONAMA para os corpos receptores de despejos. A hipótese formulada foi a de que o pós-tratamento do efluente de lagoa anaeróbia pode produzir resultados iguais ou superiores a quando aplicado ao efluente de lagoa facultativa, levando à reflexão sobre a utilização destas quando se necessita de eficiência elevada na remoção de fósforo do esgoto. Utilizou-se um sistema de fluxo contínuo de coagulação, floculação e decantação laminar ou flotação com ar dissolvido para a separação de sólidos, determinando-se dosagens prévias de sulfato de alumínio em ensaios em escala de laboratório. Ambos os processos de separação de sólidos se monstraram eficientes, obtendo-se residuais de 0,1 e 0,2 mgP/L com a decantação laminar e com a flotação com ar dissolvido, respectivamente. Nos dois casos, obteve-se aumento substancial na redução da DQO do efluente da lagoa anaeróbia (70% com flotação e 57% com decantação) e de sólidos em suspensão (75% com flotação e 85% com decantação). Com isso, demonstrou-se ser possível garantir com segurança os padrões de emissão estabelecidos para a DBO 5,20 em alguns Estados brasileiros e um bom nível de clarificação do esgoto tratado. O tratamento físico-químico tem por principal obstáculo seu custo operacional, estimado em R$ 0,10/m 3 de esgoto, considerando-se apenas o consumo de coagulante. A utilização agrícola do efluente da lagoa pode ser alternativa interessante, eliminando a necessidade do tratamento físico-químico enquanto o efluente estiver sendo usado na irrigação. Atenção também deve ser dada à necessidade de enquadramento dos esgotos ao padrão de emissão imposto para o nitrogênio amoniacal de 20 mg N/L, não enfocado neste estudo. O encaminhamento do lodo produzido no tratamento físico-químico e a presença de alumínio no esgoto tratado são questões adicionais a serem consideradas. Palavras-chave: lagoa anaeróbia, pós-tratamento, flotação com ar dissolvido, decantação acelerada, sulfato de alumínio.

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PÓS-TRATAMENTO DE EFLUENTES DELAGOAS ANAERÓBIAS POR MEIO DE

PROCESSO FÍSICO-QUÍMICO UTILIZANDOSULFATO DE ALUMÍNIO COMO COAGULANTE

Aline Akabochi FabretiEngenheira Civil – Universidade Estadual de Londrina,

Mestranda do Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária –Escola Politécnica – Universidade de São Paulo – PHD/EP/USP

Luís Fernando Rossi LéoEngenheiro Civil – Escola de Engenharia de Lins,

Doutorando do Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária –Escola Politécnica – Universidade de São Paulo – PHD/EP/USP

Roque Passos PiveliEngenheiro Civil – Escola de Engenharia de São Carlos da USP,

Mestre em Hidráulica e Saneamento – EESC/USP,Doutor em Engenharia Hidráulica e Sanitária – Escola Politécnica da USP,

Professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária – EP/USP

ResumoNeste trabalho estudou-se o pós-tratamento de efluente de lagoa anaeróbia por processo físico-químico à base decoagulação e floculação. Comparou-se a decantação acelerada com a flotação com ar dissolvido como etapas de separaçãode sólidos. A motivação principal para o desenvolvimento da pesquisa foi a dificuldade desse tipo de sistema de lagoasde estabilização para atender aos limites de qualidade da água impostos pela Resolução 357/2005 do CONAMA paraos corpos receptores de despejos. A hipótese formulada foi a de que o pós-tratamento do efluente de lagoa anaeróbiapode produzir resultados iguais ou superiores a quando aplicado ao efluente de lagoa facultativa, levando à reflexãosobre a utilização destas quando se necessita de eficiência elevada na remoção de fósforo do esgoto. Utilizou-se umsistema de fluxo contínuo de coagulação, floculação e decantação laminar ou flotação com ar dissolvido para a separaçãode sólidos, determinando-se dosagens prévias de sulfato de alumínio em ensaios em escala de laboratório. Ambos osprocessos de separação de sólidos se monstraram eficientes, obtendo-se residuais de 0,1 e 0,2 mgP/L com a decantaçãolaminar e com a flotação com ar dissolvido, respectivamente. Nos dois casos, obteve-se aumento substancial na reduçãoda DQO do efluente da lagoa anaeróbia (70% com flotação e 57% com decantação) e de sólidos em suspensão (75%com flotação e 85% com decantação). Com isso, demonstrou-se ser possível garantir com segurança os padrões deemissão estabelecidos para a DBO5,20 em alguns Estados brasileiros e um bom nível de clarificação do esgoto tratado.O tratamento físico-químico tem por principal obstáculo seu custo operacional, estimado em R$ 0,10/m3 de esgoto,considerando-se apenas o consumo de coagulante. A utilização agrícola do efluente da lagoa pode ser alternativainteressante, eliminando a necessidade do tratamento físico-químico enquanto o efluente estiver sendo usado na irrigação.Atenção também deve ser dada à necessidade de enquadramento dos esgotos ao padrão de emissão imposto para onitrogênio amoniacal de 20 mg N/L, não enfocado neste estudo. O encaminhamento do lodo produzido no tratamentofísico-químico e a presença de alumínio no esgoto tratado são questões adicionais a serem consideradas.

Palavras-chave: lagoa anaeróbia, pós-tratamento, flotação com ar dissolvido, decantação acelerada, sulfato de alumínio.

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152 FABRETI, LÉO & PIVELI

IntroduçãoEste trabalho teve por origem estudos similares de

pós-tratamento de efluente de lagoa facultativa por processofísico-químico, visando principalmente à remoção de fósforo.Como as concentrações de sólidos em suspensão e dematéria orgânica biodegradável no efluente da lagoa facul-tativa são ainda um pouco elevadas, não muito distantesdas respectivas concentrações no efluente da lagoa anaeróbia,decidiu-se estender os estudos a esta. Caso os resultadossejam semelhantes em termos de eficiência e de consumode coagulante, as lagoas facultativas tornam-se dispensáveisquando se pretende complementar o tratamento por processofísico-químico.

O lançamento de efluente contendo nitrogênio efósforo é bastante prejudicial, principalmente em lagos elagoas, pois são os nutrientes essenciais ao desenvolvimentode algas, ou seja, estes são, dentre outras substâncias, osresponsáveis pela eutrofização das águas naturais. O fatorlimitante para a eutrofização desses corpos d’água é aquantidade de fósforo, pois certas algas são capazes defixar o nitrogênio atmosférico, caso este não esteja disponívelno meio aquático, já a única fonte de fósforo seria atravésdo lançamento do mesmo juntamente com os despejosde esgoto doméstico e/ou industrial.

Grande parte dos problemas de qualidade dos efluentesdas lagoas fotossintéticas está relacionada com o crescimentoda biomassa algal. Em decorrência disso, é comum que oesgoto tratado possua maior concentração de sólidos emsuspensão que à sua entrada, caso seja precedida por umalagoa anaeróbia. A inclusão de novos critérios de qualidadena Resolução no 357, como as concentrações decianobactérias e de clorofila a, trará maiores dificuldadespara o enquadramento dos efluentes de lagoas. Tambéma Portaria no 518 do Ministério da Saúde, implantada noano 2000 e que estabelece os padrões de potabilidadevigentes, faz restrição à quantidade de microcistinas emáguas naturais, o que também traz implicações para osefluentes das lagoas de tratamento de esgoto. Para que oefluente de lagoa de estabilização seja capaz de atingiresses valores é necessário pós-tratamento.

Embora haja diferenças na configuração e nosaspectos operacionais entre reatores UASB e lagoasanaeróbias, o tratamento dos efluentes dessas lagoas porprocesso físico-químico torna o sistema comparável aoprocesso “UASB – Flotação”, porém, com um reatoranaeróbio de primeiro estágio mais simples, que podeser empregado onde não haja maior restrição de área paraa implantação do sistema de tratamento nem problemascom a geração de odores ofensivos. Além disso, a lagoaanaeróbia pode ser utilizada também para armazenar, adensare digerir o lodo flotado.

Em experiência realizada por Penetra (1999),utilizando coagulação, floculação e flotação com ar dissolvidocomo pós-tratamento de UASB, foi possível atingir valores

de fósforo total abaixo de 1 mg P/L com dosagens de 20a 40 mg Fe/L.

Utilizando o processo físico-químico (coagulação/floculação/sedimentação lamelar) como pós-tratamentode UASB, Yoshida (2005) concluiu que a melhor faixapara o funcionamento do processo em relação à remoçãode fósforo total ficou entre as dosagens cuja relação ferro/fósforo total de entrada variou de 1,2 a 2,8, com eficiênciamédia de remoção de 90% e desvio-padrão de 7% produzindoefluente com média de 0,46 mg P/L. As dosagens de ferroadotadas variou de 10 a 20 mg Fe/L.

Deve ser lembrado que ambas as concepções nãosão orientadas para a remoção de nitrogênio amoniacal,ficando esta necessidade pendente. Aliás, o principal objetivodeste estudo não é propor tal concepção de tratamento e,sim, subsidiar a reflexão sobre os destinos dos sistemasde lagoas de estabilização, quando se antevê a necessidadede complementação do tratamento para a remoção de fósforo.A Resolução 357/2005 do CONAMA impõe limitesrestritivos para esse constituinte em águas naturais, e muitosmunicípios dos Estados do Paraná e de São Paulo têm osseus esgotos inevitavelmente lançados em corpos receptoresde baixa capacidade diluidora. Mesmo anteparando-sena premissa filosófica de estabelecimento de metasprogressivas na implantação de estações de tratamentode esgotos, estaria decretado o fim dos sistemas tradicionaisde lagoas de estabilização? Seria inviável a implantaçãode um novo sistema de lagoas de estabilização, incluindo-se o pós-tratamento por processo físico-químico? As lagoasfacultativas tornam-se dispensáveis?

Buscando-se respostas a essas indagações, foramrealizados estudos de pós-tratamento de efluente da lagoaanaeróbia do sistema de tratamento de esgotos de Lins,SP, pertencente à SABESP, constituído de três módulosparalelos de lagoas anaeróbias seguidas de lagoas facultativas.Testaram-se o sulfato de alumínio e o cloreto férrico comocoagulantes e a flotação com ar dissolvido e a decantaçãolamelar como processos de separação de sólidos. Apesardo menor custo da aplicação de cloreto férrico em relaçãoao sulfato de alumínio, considerando-se os resultados obtidosde dosagens necessárias de cada coagulante, optou-se porapresentar e discutir os resultados do emprego do sulfatode alumínio, em virtude da excelência dos resultados obtidos.Talvez seja a única forma de conseguir atender aos padrõesdo CONAMA em inúmeras situações de lançamento sobbaixo grau de diluição, apontando-se com clareza os esforçoseconômicos e operacionais necessários e embasando-sea avaliação da viabilidade atual da implantação de taissistemas.

ObjetivoO objetivo deste trabalho é avaliar comparativamente

as características técnicas e econômicas do pós-tratamentode efluente de lagoa anaeróbia por processo de coagulação

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e floculação com sulfato de alumínio, com separação desólidos por sedimentação e por flotação por ar dissolvido.

Mais especificamente, pretende-se associar as dosagensnecessárias com as eficiências na remoção de DQO, fósforoe sólidos em suspensão, além de outras característicasconsideradas secundárias, avaliando-se as possibilidadesde atendimento à Resolução 357/2005 do CONAMA.

MetodologiaA Estação de Tratamento de Esgoto de Lins, SP

(Figura 1), é composta por três módulos em paralelo delagoas anaeróbias seguidas de lagoas facultativas. O sistemaopera recebendo a carga plena considerada no projeto,desde o ano de 1997, sem remoção de lodo acumuladono fundo das lagoas.

O sistema de tratamento em escala piloto possuium tanque de mistura rápida (coagulação), seguido deum tanque de mistura lenta com três compartimentos emsérie (floculação) e dois sistemas de separação sólido-líquido alternativos: decantador lamelar e flotador por ardissolvido. Esses processos de pós-tratamento foram

projetados para atender a uma vazão de 200 L/h provenientede um dos módulos de lagoa de estabilização da ETE –Lins-SP.

Os estudos tiveram como principal variável de controlea dosagem dos coagulantes, associada à remoção de DQO,sólidos em suspensão e fósforo. Foram feitos ensaiosexploratórios em escala de laboratório utilizando-se aparelhosde “Jar Test” e “Flotateste”, sendo testadas dosagens de12 a 28 mg Al/L, com o objetivo de orientar os testesdefinitivos no sistema piloto de fluxo contínuo (Figuras 2a 5), que operou com vazão de 200 L/h. A mistura rápidatem duração de 1,5 min, sendo o gradiente de velocidadeutilizado de 1000 s–1, e a mistura lenta, cujo tanque erasubdividido em três câmaras, tem tempo de detenção de15 min e gradiente de velocidade de 60 s–1, 45 s–1 e 30 s–1.

O tanque de decantação lamelar possui tempo dedetenção de 15 min, já o tanque de flotação tem tempode detenção de 24 min. A câmara de saturação de ar possuitempo de detenção de 30 min (a câmara de saturação foisuperdimensinada), sendo a pressão de saturação de 5bar e a vazão de recirculação de 50 L/h, ou seja, 25% davazão de alimentação com o efluente da lagoa anaeróbia.

Figura 1 Sistema de lagoa de estabilização, ETE – Lins-SP.

Figura 2 Tanque de coagulação e de floculação.

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Figura 3 Decantador lamelar.

Figura 4 Tanque de flotação por ar dissolvido.

Figura 5 Câmara de saturação.

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Os ensaios foram feitos à temperatura ambiente erealizados no verão, quando a temperatura ficou em tornode 28°C. As dosagens que resultaram em eficiência superiorà mínima desejável foram reproduzidas nos estudos emescala piloto. Nestes, os efluentes em que foram aplicadasas dosagens “ótimas” de coagulantes, indicadas pela remoçãode DQO e fósforo, foram utilizados para análises completas,incluindo diversos indicadores biológicos. A dosagemescolhida foi de 20 mg Al/L para ambos os processos deseparação sólido-líquido, sedimentação e flotação.

Resultados e DiscussãoDurante os ensaios de fluxo contínuo, não se exerceu

a correção de pH, e o valor médio de 7,1 do efluente dalagoa anaeróbia reduziu-se para 6,4 em conseqüência daadição do sulfato de alumínio. A adição do coagulanteprovocou o consumo de cerca de 50% da alcalinidade doefluente, que era da ordem de 330 mg CaCO3/L.

Na Tabela 1 são apresentados os dados estatísticosda concentração de fósforo no efluente da lagoa anaeróbiaantes e depois dos tratamentos físico-químicos.

Os resultados das determinações laboratoriais sãolançados em diagramas do tipo “box-plot” na Figura 6.

Podem ser observados excelentes resultados na remoçãode fósforo do efluente da lagoa anaeróbia, com ligeiravantagem da decantação lamelar (98% de eficiência, emmédia) em relação à flotação com ar dissolvido (96%,em média). Concentrações de fósforo residuais tão baixasquanto 0,1 mg P/L foram obtidas e, ainda assim, serianecessária diluição de cinco vezes para o enquadramentoao rigoroso limite de 0,02 mg P/L para águas classe 1de ambientes lênticos, imposto pela Resolução 357/2005do CONAMA.

Na Tabela 2 apresenta-se o resumo dos dadosestatísticos da DQO do efluente da lagoa anaeróbia, antese depois do tratamento físico-químico.

Os resultados das análises laboratoriais são lançadosem diagramas do tipo “box-plot” na Figura 7.

Também a eficiência na remoção de DQO do efluenteda lagoa anaeróbia pelo processo físico-químico pode serconsiderada substancial, porém, em relação a essa variável,ocorreu nítida vantagem da separação de sólidos por flotaçãocom ar dissolvido (70% contra 57%). A concentraçãomédia de DQO de 59 mg/L obtida com a flotação permite,com segurança, o enquadramento no padrão de emissãode 60 mg/L para a DBO5,20 estabelecido em alguns Estadosbrasileiros.

P total (mg P/L)

Lagoa anaeróbia Flotação com 20 mg Al/L Decantação com 20 mg Al/L

Média 5,06 0,20 0,11

Desvio-padrão 0,58 0,11 0,06

Coef. variância 0,12 0,53 0,49

Máximo 6,15 0,32 0,21

Mínimo 4,04 0,09 0,05

Eficiência 96% 98%

Tabela 1 Análise estatística dos resultados de fósforo total (mg P/L).

Figura 6 Resultados de fósforo total (mg P/L).

0

1

2

3

4

5

6

7

Anaeróbia Flotação com20 mg Al/L

Decantação com20 mg Al/L

Fósfo

roto

tal(m

g/L

)

25%

50%

90%

10%

Mín

Máx

75%

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Na Tabela 3 apresenta-se o resumo dos dadosestatísticos de sólidos em suspensão no efluente da lagoaanaeróbia e do tratamento físico-químico.

Os resultados das análises laboratoriais são lançadosem diagramas do tipo “box-plot” na Figura 8.

Observa-se que a clarificação do efluente da lagoaanaeróbia é bastante acentuada, com reduções naconcentração de sólidos em suspensão de 75% para aflotação com ar dissolvido e de 85% para a sedimentaçãolaminar. As concentrações de SST no efluente pós-tratado

reduziram-se para valores abaixo de 20 mg/L, atingindoem média apenas 10 mg/L no caso do efluente decantado,inferiores a efluentes de sistemas de lodos ativadosconvencionais. Paralelamente, a turbidez do efluente reduziu-se de valores acima de 100 UNT para abaixo de 30 UNT,assumindo características bastante favoráveis para orecebimento de desinfecção final por cloração ou aplicaçãode radiação ultravioleta. Foi testada também a dosagemde 15 mg Al/L para os dois processos e os resultadosobtidos são apresentados na Tabela 4.

Tabela 2 Análise estatística dos resultados de DQO (mg O2/L).

DQO (mg O2/L)

Lagoa anaeróbia Flotação com 20 mg Al/L Decantação com 20 mg Al/L

Média 194 59 96

Desvio-padrão 22,19 14,38 36,79

Coef. variância 0,11 0,25 0,38

Máximo 221 75 142

Mínimo 141 40 41

Eficiência 70% 57%

Tabela 3 Análise estatística dos resultados de sólidos em suspensão total (mg/L).

SST (mg/L)

Lagoa anaeróbia Flotação com 20 mg Al/L Decantação com 20 mg Al/L

Média 66 17 10

Desvio-padrão 8,96 9,63 6,32

Coef. variância 0,14 0,58 0,63

Máximo 80 32 18

Mínimo 56 6 2

Eficiência 75% 85%

Figura 7 Resultados de DQO (mg O2/L).

0

50

100

150

200

250

Anaeróbia Flotação com20 mg Al/L

Decantação com20 mg Al/L

DQ

O(m

g/L

)

25%

50%

90%

10%

Mín

Máx

75%

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Verifica-se que dosagens mais econômicas podemser aplicadas, selecionadas pelo nível de concentraçãode fósforo a ser atingido ou de outra característica doefluente tomada por referência. As diferenças de resultadosentre os dois processos de separação de sólidos são pequenas;na dosagem de 15 mg Al/L, confirma-se o rendimentoligeiramente superior do processo de decantação que, alémdisso, é operacionalmente mais simples.

Nos ensaios com 20 mg Al/L, alguns indicadoresbiológicos foram utilizados. A remoção de ovos de helmintosfoi praticamente completa; a redução na densidade de E.coli manteve-se na faixa surpreendente de três a quatrounidades logarítmicas. Paralelamente, a redução na contagemde cistos de protozoários, Cryptosporidium e Giardia, resultouem níveis superiores a 80%. Os resultados de colimetriasão apresentados na Tabela 5.

A produção média de lodo resultou em 0,10 kg ST/m³ de efluente tratado, com separação de sólidos por flotação,e em 0,10 kg ST/m3, quando se empregou a sedimentação,ou seja, resultados bastante semelhantes. Atenção deveser dada à destinação do lodo produzido nessa etapa,recomendando-se a realização de ensaios de desidratação.Outra possibilidade é o retorno desse lodo para a entradada lagoa anaeróbia, que terá por conseqüência reduçãono intervalo necessário entre remoções de lodo depositadono fundo desta, mas que eliminará a necessidade contínuade operações de adensamento e desidratação de lodo. Outra

preocupação relevante refere-se à presença de alumíniono lodo a ser disposto, que, dependendo da concentraçãofinal resultante, poderá inviabilizar determinadas práticasde disposição ou utilização. Também o residual de alumíniono efluente final tratado deve ser observado, em vista daexistência de padrões para alumínio solúvel na Resolução357/2005 do CONAMA. No entanto, a concentração decerca de 1,0 a 2,0 mg/L de alumínio detectado no efluentetratado associa-se a pequenos flocos formados e nãoseparados nas unidades piloto, mas que muito provavelmentesão removíveis por filtração e, desta forma, não acusarãoalumínio solúvel.

A concentração de Al na solução de sulfato de alumíniocomercial, Al2(SO4).14H2O líquido 48% (d = 1320 g/L),foi determinada em laboratório, utilizando espectrofotômetrode absorção atômica, resultando em 50,4 g Al/L.

O sulfato de alumínio comercial custa aproxima-damente R$ 525,00/ton de Al2(SO4).14H2O, assim, utilizandodosagem de 20 mg Al/L, o custo seria de R$ 0,12/m³ deesgoto tratado ou ainda R$ 0,56/hab.mês. Caso a dosagemseja de 15 mg Al/L, este preço será de R$ 0,09/m³ deesgoto tratado ou R$ 0,42/hab.mês. Esses custos podemser considerados significativos, e o uso agrícola dos efluentesde lagoas, quando esta prática estiver regulamentada noBrasil, pode ser a solução para a redução substancial doscustos, aplicando-se o tratamento físico-químico ao efluenteda lagoa apenas quando não puder ser aplicado na agricultura.

Figura 8 Resultados de sólidos em suspensão total (mg/L).

Ptotal (mgP/L) DQO (mg O2/L) SST (mg/L)

Lagoa anaeróbia 5,33 197 60

Flotação com 15 mg Al/L 0,24 106 12

Decantação com 15 mg Al/L 0,23 78 2

Tabela 4 Resultados dos testes com dosagem de 15 mg Al/L.

0

20

40

60

80

100

Anaeróbia Flotação com20 mg Al/L

Decantação com20 mg Al/L

SS

T(m

g/L

)

25%

50%

90%

10%

Mín

Máx

75%

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Flotação Sedimentação Coliformes

totais Escherichia

coli Coliformes

totais Escherichia

coli

Efluente da lagoa anaeróbia 7 . 105 4. 105 1,3 . 107 1,1. 107

Efluente do tratamento físico-químico

4 . 10² 2 . 10² 3 . 10³ 2,3 . 10³

Tabela 5 Resultados de colimetria.

ConclusõesResultados bastante positivos podem ser esperados

quando se aplica pós-tratamento físico-químico ao efluentede lagoa anaeróbia empregando-se sulfato de alumíniocomo coagulante. No presente estudo, residuais de fósforotão baixos quanto 0,1 mgP/L ou 0,2 mgP/L foram obtidosquando se separaram sólidos em decantadores laminaresou flotadores com ar dissolvido, respectivamente. Alémdisso, a remoção adicional de DQO promovida por essaetapa de tratamento foi de 70% quando se empregou aflotação e 57% com decantação laminar. Obteve-se também85% de remoção de sólidos em suspensão totais comdecantação e 75% com flotação. Com base nesses resultadosglobais, o uso de decantadores laminares pode ser maisaconselhável em função da maior simplicidade operacionale da razoável semelhança entre os resultados, porém deveser dada atenção especial à quantidade de oxigênio dissolvidono efluente do processo físico-químico. Geralmente, apósum processo anaeróbio aplica-se um processo aeróbio afim de elevar a concentração de oxigênio dissolvido; tendoem vista este parâmetro, a flotação pode ser mais vantajosado que a decantação.

Objetivos paralelos importantes foram alcançados,sobretudo sob a ótica dos indicadores biológicos, tendoocorrido: redução de mais de três unidades logarítmicasna densidade de E. coli do efluente, eliminação de ovosviáveis de helmintos e remoção de cistos de protozoáriosacima de 80%.

Em estudo paralelo desenvolvido com efluente delagoa facultativa, surpreendentemente, obteve-se efluentefinal de qualidade inferior, mesmo empregando-se maiordosagem de coagulante. Esses resultados remetem ànecessidade de reflexão sobre a concepção e a utilizaçãode sistemas de lagoas de estabilização, ante as novasexigências do CONAMA.

Encaminhamento também deve ser dado à questãoda redução de nitrogênio amoniacal, o que pode ser feitopor meio da nitrificação biológica, seja em reatores decrescimento em suspensão complementares ou em reatores

com biomassa aderida. A cloração final pode ser umamedida para a redução parcial da concentração de amôniano efluente, contribuindo também para a desinfecção. Esão exatamente essas necessidades adicionais que induzema idéia de que, em concepção original, o emprego de lagoasfica praticamente descartado em função das exigênciasda Resolução 357/2005 do CONAMA, e mesmo para ascentenas de sistemas existentes no Brasil não é fácil proporadaptações viáveis operacional e economicamente.

O custo do tratamento físico-químico pode serconsiderado elevado e a alternância com o uso agrícolado efluente da lagoa anaeróbia pode constituir soluçãobastante atrativa futuramente. O encaminhamento do lododo processo físico-químico é outra questão a ser encaminhada,sugerindo-se a avaliação da viabilidade de descarga naprópria lagoa anaeróbia. A avaliação da concentração residualde alumínio solúvel no efluente tratado também deve serrealizada.

Referências Bibliográficas

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MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria n. 518, 25 de marçode 2004.

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YOSHIDA, F. Remoção de matéria orgânica e fósforode efluente de tratamento anaeróbio por processo físico-químico. 2005. Dissertação (Mestrado) – Escola Politécnica,Universidade de São Paulo, São Paulo.