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VI CONGRESSO DA GEOGRAFIA PORTUGUESA LISBOA, 17-20 OUTUBRO DE 2007 1 POR UMA TEORIA DA DECISÃO! 1 Premissas de um modelo de governação da cidade 2 Isabel Marcos e-GEO Centro de Estudos de Geografia e Planeamento Regional da Universidade Nova de Lisboa [email protected] Resumo O processo estratégico de decisão em urbanismo demonstrará que o urbanismo e a arquitectura não podem escapar à sua dimensão comunicacional. Para ilustrar esta afirmação, considerarei três intervenções urbanísticas em frentes de água que me parecem paradigmáticas: a de Bilbau (o projecto do Museu Guggenheim de Frank Gehry), a de Paris (os grandes projectos do presidente Mitterrand) e a de Lisboa (o projecto da exposição internacional – Expo 98). As três intervenções permitir-nos-ão mostrar que o sucesso destes projectos está ligado às significações que deles emergem. Na nossa sociedade onde a comunicação é quem dá enfase ao valor, essas significações devem ser meticulosamente estudadas. E é aqui que o analista em semiótica do espaço assume toda a sua pertinência no contexto do processo estratégico de decisão em urbanismo. O processo estratégico sob a perspectiva semiótica, permite-nos actuar na: 1 – Especificação : definir os valores que devem direccionar todo o projecto urbano e estabelecer as competências de cada um dos actantes da decisão; 2 – Pré-concepção : simular os efeitos de significação esperados (conceber alguns cenários urbanos esquemáticos); 3 – Concepção : recomendar e preconizar as soluções mais adaptadas; 1 A elaboração deste artigo foi possível graças ao apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia de Portugal e do e-GEO - Centro de Estudos de Geografia e Planeamento Regional da Universidade Nova de Lisboa. As figuras foram concebidas e realizadas por Isabel Marcos e Rosa Girão. 2 Uma primeira versão do presente artigo, encontra-se divulgada em CD-Rom com algumas modificações: 2008. « Estratégias de decisão em urbanismo. Três intervenções em frentes de água: Bilbao, Paris e Lisboa », (éd.), in Actas do VII Congresso Ibérico de Urbanismo: Paisagem, Frentes de Água e Território Aprender com casos de sucesso, Lisboa.

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LISBOA, 17-20 OUTUBRO DE 2007

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POR UMA TEORIA DA DECISÃO! 1

Premissas de um modelo de governação da cidade2

Isabel Marcos

e-GEO Centro de Estudos de Geografia e Planeamento Regional da Universidade Nova de Lisboa

[email protected]

Resumo

O processo estratégico de decisão em urbanismo demonstrará que o urbanismo e a

arquitectura não podem escapar à sua dimensão comunicacional. Para ilustrar esta

afirmação, considerarei três intervenções urbanísticas em frentes de água que me

parecem paradigmáticas: a de Bilbau (o projecto do Museu Guggenheim de Frank

Gehry), a de Paris (os grandes projectos do presidente Mitterrand) e a de Lisboa (o

projecto da exposição internacional – Expo 98). As três intervenções permitir-nos-ão

mostrar que o sucesso destes projectos está ligado às significações que deles

emergem. Na nossa sociedade onde a comunicação é quem dá enfase ao valor,

essas significações devem ser meticulosamente estudadas. E é aqui que o analista

em semiótica do espaço assume toda a sua pertinência no contexto do processo

estratégico de decisão em urbanismo. O processo estratégico sob a perspectiva

semiótica, permite-nos actuar na:

1 – Especificação : definir os valores que devem direccionar todo o projecto urbano

e estabelecer as competências de cada um dos actantes da decisão;

2 – Pré-concepção : simular os efeitos de significação esperados (conceber alguns

cenários urbanos esquemáticos);

3 – Concepção : recomendar e preconizar as soluções mais adaptadas;

1 A elaboração deste artigo foi possível graças ao apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia de Portugal e do e-GEO - Centro de Estudos de Geografia e Planeamento Regional da Universidade Nova de Lisboa. As figuras foram concebidas e realizadas por Isabel Marcos e Rosa Girão. 2 Uma primeira versão do presente artigo, encontra-se divulgada em CD-Rom com algumas modificações: 2008. « Estratégias de decisão em urbanismo. Três intervenções em frentes de água: Bilbao, Paris e Lisboa », (éd.), in Actas do VII Congresso Ibérico de Urbanismo: Paisagem, Frentes de Água e Território Aprender com casos de sucesso, Lisboa.

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4 – Gestão do projecto : acompanhar e gerir o conjunto das etapas do processo

estratégico.

Palavras-chave: Estratégias de decisão; Urbanismo; Semiótica & Comunicação;

Marketing; Valores Simbólicos da Urbanidade; Estruturação do Espaço.

A dimensão comunicacional do urbanismo e da arquitectura

Ao proceder a uma primeira segmentação do objecto de análise, as três intervenções em

frentes de água tornaram-se objectos de análise incontornáveis, não só por serem

paradigmáticas do urbanismo contemporâneo, mas sobretudo, e como mostrarei ao longo

deste artigo, estas revelam três formas de expressão da dimensão comunicacional. Ou seja,

Bilbau salienta a questão da identidade urbana através de uma política de comunicação

arquitectónica, Paris sublinha a questão dos projectos monumentais como utensílios de

comunicação política, e Lisboa permite-nos colocar a questão da reactualização dos grandes

valores simbólicos da urbanidade.

A dimensão comunicacional deve ser entendida da seguinte maneira: a arquitectura e o

urbanismo são formas inteligíveis da actividade humana, no sentido em que podemos

compreendê-las de maneira organizada e racional. Em consequência, a significação pode ser

interpretada e essa interpretação obedece, por sua vez, a regras explícitas e reprodutíveis. Não

se trata apenas de procurar o que é comunicado, e ainda menos do que se quer comunicar,

mas, mais comummente os efeitos de significação que determinados espaços produzem num

contexto sócio-cultural. É esta a dimensão comunicacional que me interessa explanar ao longo

deste parágrafo.

Observemos os exemplos de Bilbau, de Paris e de Lisboa:

Bilbau

• Bilbau é uma cidade pós-industrial que conseguiu transformar a sua identidade urbana

através da política de comunicação arquitectónica do projecto do Museu Guggenheim de

Frank Gehry. O sucesso deste projecto deve-se essencialmente a uma articulação perfeita

entre três binómios: arte & tecnologia – arquitectura & integração urbana – identidade &

comunicação.

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O museu, através da sua integração no tecido urbano e da campanha de marketing gerada à

sua volta, tornou-se um objecto de comunicação, trazendo a esta cidade uma identidade

associada a valores culturais e artísticos (Cf. figura nº1).

Figura nº1 – Integração do projecto do Museu Guggenheim no tecido urbano.

Paris

• Em França, os chamados “grandes projectos” de Mitterrand são alguns dos utensílios de

comunicação da política deste presidente. Esses projectos representam, por um lado, o

retorno a uma arquitectura monumental com vocação “cultural”, e por outro lado, recriam

as bases de uma “civilização urbana” que constitui a expressão, por excelência, do

programa de Mitterrand. Os “grandes projectos” justapõem duas representações3 :

1. A primeira corresponde ao poder político presidencial que se manifesta através da

marcação topológica da capital com edifícios monumentais tais como: o Cubo da

Defense, a Pirâmide do Louvre, o Instituto do Mundo Árabe, a Biblioteca Nacional de

França (Cf. figura nº2). Este movimento de centralização foi contrabalançado

parcialmente com um conjunto de projectos na província.

3 Para aprofundar as questões dos “grandes projectos” de Mitterrand poderá consultar a obra de Devillard, 2000.

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2. A segunda representação é a de uma nova ordem cultural que se exprime concretamente

através da constituição de um património monumental contemporâneo.

Figura nº2 – O poder político presidencial manifesta-se através da marcação topológica da capital com

edifícios monumentais.

Assim os “grandes projectos de Mitterrand”, de carácter monumental, tornaram-se

progressivamente utensílios de comunicação política. Permitindo simultaneamente, e através

da constituição de um património contemporâneo, restabelecer a tradição monumental da

arquitectura e do urbanismo franceses4.

4 Basta pensar no Rei Luís XIV ou no Barão Haussman.

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Lisboa

• Lisboa através do projecto da exposição internacional a Expo 98 conseguiu transformar a

sua estrutura morfológica abstracta5 que tinha ficado estável desde o renascimento, criando

novas relações topológicas na estrutura interna da cidade e restabelecendo, ainda que

timidamente, o seu elo de relação com o Tejo (Cf. figura nº3).

Figura nº3 – Lisboa através do projecto da exposição internacional a Expo 98 conseguiu transformar a sua

estrutura morfológica abstracta.

1. Lisboa estruturalmente é uma cidade dividida por dois tipos de relação: uma com a

Europa, e a outra com as terras de Além-Mar. Organizando-se, em consequência, em

duas partes: uma a Oriente da colina de São Jorge e a outra a Ocidente, como pude

demonstrar nas minhas diversas pesquisas sobre a cidade de Lisboa6. As fortes

interacções7 desta frente de água, ao longo dos séculos, deu origem a um eixo à volta do

5 A “estrutura morfológica abstracta” corresponde a um nível cartográfico intermédio que permite representar os motivos sócio-culturais distribuídos em zonas. Esta estrutura torna estáveis e inteligíveis as diversas formas concretas que podemos observar na superfície aparente de uma cidade. Podemos assim afirmar, que as formas concretas não se desdobram de forma aglutinadora num espaço geográfico reduzido a um simples continuum amorfo, mas antes, elas dependem do desdobramento de uma estrutura morfológica abstracta que permite organizar as formas concretas do espaço urbano. Estrutura esta, que é engendrada pela topologia dinâmica interna à morfogénese urbana, formando valores de posição politica. Sublinho ainda que esta estrutura não é, nem concebida, nem planificada, do exterior por um actor social, mas ela é antes a resultante interna de um processo de estratificação espácio-temporal da forma urbana (Marcos, 1996 : 80). 6 Cf. (Marcos, 1996, 2007). 7 Ou seja, dinâmicas internas de apropriação territorial e de organização do estabelecimento humano.

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qual se organizaram actividades da ordem do poder político, religioso e comercial,

nomeei-o, eixo da autoridade.

O projecto da exposição internacional Expo 98 conseguiu desdobrar o eixo da

autoridade para oriente. É necessário saber que este eixo a oriente não se tinha

desenvolvido desde a Idade Média. Uma vez que desde o tempo das descobertas o

desdobramento do eixo da autoridade se fez progressivamente a partir da Baixa e em

direcção a ocidente.

2. O projecto da exposição internacional Expo 98 conseguiu restabelecer, ainda que

timidamente, a velha relação de Lisboa com o Tejo. A cidade foi progressivamente

cortando a sua relação com o rio, por um lado, à medida que o fluxo de mercadorias

vindas das descobertas deixou de afluir aos cais de Lisboa e, por outro lado, à medida

que foram sendo construídas diversas infra-estruturas industriais ao longo das margens

do Tejo, de ocidente a oriente, a partir do século XIX. Os novos projectos para a frente

ribeirinha serão, sem dúvida, a realização do restabelecimento desse elo com o Tejo

perdido no tempo.

O desdobramento em direcção a oriente do eixo da autoridade e o restabelecimento da velha

relação de Lisboa com o rio, ainda que parcial, fez arrancar massivamente uma nova Era

urbanística de grandes projectos urbanos : os programas polis, e a construção massiva de

outros projectos urbanos, … O projecto da Expo 98 permitiu compreender de que forma um

projecto urbano pode transformar a estrutura profunda de uma cidade pelo restabelecimento

de alguns valores simbólicos.

As políticas de comunicação arquitectónica de Bilbau e de Paris tornaram a função social dos

seus projectos mais evidentes, enquanto que no caso de Lisboa essa politica de comunicação

lembrou “apenas” que a forma urbana guarda a memória colectiva de uma sociedade.

As três intervenções em frentes de água revelaram três formas de expressão da dimensão

comunicacional. O sucesso desses projectos está ligado às significações que deles emergem.

Na nossa sociedade onde a comunicação é quem dá enfase ao valor, essas significações

devem ser meticulosamente estudadas. E é aqui que o analista em semiótica do espaço assume

toda a sua pertinência no contexto do processo estratégico de decisão em urbanismo. Ao

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longo do próximo parágrafo exploraremos alguns utensílios de análise semiótica urbana

através do exemplo de Paris Rive Gauche.

O processo estratégico de decisão em urbanismo sob a perspectiva semiótica8

Acabei de apresentar três projectos monumentais como instrumentos de comunicação de

cidades, tornando-se nesta medida a comunicação um sector estratégico no processo de re-

significação urbana9. Mostrei ainda que o sucesso desses projectos está ligado às significações

que deles emergem. Sendo o objecto da semiótica a significação, ela surge naturalmente como

método adequado à nossa pesquisa. A semiótica aplicada ao projecto urbano permite-nos

pensar e agir:

• na permanência, no tempo das nossas historicidades e para o tempo da História;

• em função dos vários interlocutores da urbanidade, assim como das suas “noções do viver

em comunidade”;

• em função da identidade de uma cidade e dos seus valores simbólicos.

Permitindo-nos a semiótica, aplicada ao processo estratégico de decisão em urbanismo,

delimitar as etapas, assim como os percursos constitutivos do processo de emergência da

significação de um projecto.

Definir, Simular, Recomendar, Preconizar e Avaliar

O processo estratégico sob a perspectiva semiótica, permite-nos actuar na:

1 – Especificação : definir os valores que devem direccionar todo o projecto urbano e

estabelecer as competências de cada um dos actantes10 da decisão;

2 – Pré-concepção : simular os efeitos de significação esperados (conceber alguns cenários

urbanos esquemáticos);

8 Os artigos de Jacques Fontanille (1999) e de EriK Bertin (1999) serviram como matriz inspiradora deste parágrafo. 9 Toda actividade económica depende de uma boa estratégia comunicacional, seja para credibilizar o valor da sua acção, seja para entrar noutros mercados, nomeadamente internacionais. O marketing e a comunicação urbana produzem consequências importantes para toda a actividade económica, uma vez que as cidades são o seu lugar de expressão, o turismo é, sem dúvida, um dos sectores mais visíveis a beneficiar dessa estratégia. 10 Um actante é um actor ao qual se atribuíram determinados papéis a desempenhar ao longo do processo da acção, sendo a acção, neste caso, o aspecto que assegura a coerência do processo estratégico de decisão em urbanismo (Greimas, 1979: 3).

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3 – Concepção : recomendar e preconizar as soluções mais adaptadas;

4 – Gestão do projecto : acompanhar e gerir o conjunto das etapas do processo estratégico.

É neste sentido que o analista em semiótica encontra o seu lugar natural enquanto chefe de

projecto, consultor ou adjunto da direcção de projectos11. Podemos afirmar globalmente que

se trata de liderar um projecto urbano numa perspectiva estratégica.

As quatro etapas do processo estratégico permitem-nos segmentar progressivamente a

“matéria significante”, que contribuirá à definição dos contornos da intervenção urbana de

Paris Rive Gauche12. Escolhi neste objecto de estudo imenso, uma perspectiva de análise que

consiste em observar o percurso do valor13 da continuidade urbana, à medida que este se

“propaga” e se vai exprimindo concretamente nos diversos sistemas de discursos oficiais,

cenários urbanos esquemáticos, estudos e nas formas concretas do projecto. Restringirei ainda

mais a referida perspectiva ao estudo da Especificação uma vez que é ao longo desta etapa

que são definidas as grandes questões ligadas aos valores sócio-urbanos convocados num

projecto. Neste contexto, trabalharei apenas sobre a figuratividade urbana, procedendo à

segmentação deste corpus14 diferenciando e hierarquizando os seus componentes. Os

princípios de permanência e de coerência da continuidade como valor da urbanidade

constituem os princípios motores da acção de planeamento estratégico deste projecto.

1ª Etapa – Especificação (duas fases): Especificar os Valores e as Competências

Ao longo desta etapa definem-se, numa primeira fase, os actantes decisores e as

modalidades15 que os caracterizam, fazem-se ainda os estudos prévios. Especificam-se numa

segunda fase, quais são os valores sócio-urbanos do projecto Paris Rive Gauche, para em

seguida “vestir” esses valores de competências16 que intervirão à medida que o projecto se desenvolve.

11 Fontanille (1999: 15). 12 A nossa análise tem como base três tipos de fontes: • o discurso oficial da empresa SEMAPA (Société d’économie mixte d’aménagement de Paris) ; • a ZAC – Zone d’Amenagement Concerte de Paris Rive Gauche (Plano Director Municipal) ; • e ainda informação diversa que fui recolhendo ao longo de vários anos. 13 Enquanto valor temático. 14 Na tradição semiótica a noção de corpus remete-nos para um conjunto de enunciados constituídos sob perspectiva da análise. Podemos entender esta noção como um todo de significação que visa no início da análise atingir intuitivamente um objectivo (Greimas, 1979: 73-74). 15 As modalidades de um projecto urbano serão as acções que transformarão o sentido da acção estratégica. 16 Estas competências actualizam-se à medida que o projecto se desenvolve, o que pressupõe a sua existência virtual. Ou seja, os actantes decisores estabeleceram um determinado número de competências que serão actualizadas sob a perspectiva de uma determinada acção.

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1ª Fase – Quem são os actantes decisores e as modalidades que os caracterizam?

• Actantes decisores: SNCF (Caminhos-de-Ferro17) e Câmara Municipal de Paris.

Os actantes decisores, segundo livros e algumas revistas publicadas pela SEMAPA (Société

d’économie mixte d’aménagement de Paris), são em primeiro lugar dois: a SNCF18 e a

Câmara Municipal de Paris. A SNCF retirou da sua experiência anterior da Gare

Montparnasse19 alguns ensinamentos, decidindo ser um actante decisor. É neste contexto que

a Câmara de Paris funda a SEMAPA, entrando a SNCF no capital da empresa criada para

urbanizar o conjunto de terrenos entre a Gare de Austerlitz e o limite de Paris.

• Modalidades dos actantes:

As modalidades dos actantes decisores são, evidentemente, múltiplas à medida que o projecto

se desenvolve. Seleccionei, como exemplo, a decisão da construção da Biblioteca Nacional de

França em Tolbiac, uma vez que esta decisão será a modalidade que fará arrancar toda uma

“concepção” de projecto. Concepção esta que se repercutirá nomeadamente na escolha dos

valores associados ao projecto. Assim, esta modalidade transformou claramente o sentido da

acção estratégica, uma vez que as discussões antes da decisão BNF se orientavam noutras

direcções. Esta decisão obrigou rapidamente a empresa a estabelecer o caderno de encargos

para o concurso público dessa Biblioteca20.

2ª Fase – Quais são os seus valores de base e as competências requeridas para realizar o

projecto?

• Valores sócio-urbanos: Restabelecer a continuidade com a cidade e com o rio Sena, …

A Continuidade21 nos discursos políticos

17 Proprietários dos terrenos a urbanizar. 18 “A SNCF adquire e reforça duas culturas. A cultura de proprietário fundiário (…) e um discurso de empresa ferroviária, procurando desenvolver ao máximo o controlo ferroviário de superfície para um melhor usufruto dos seus utilizadores. Estas duas culturas representam, por vezes, posições opostas mas não contraditórias (SEMAPA, 1997: 37)”. 19 “Após a venda de uma parte dos seus terrenos por cima das vias de caminho-de-ferro a um construtor imobiliário, a SNCF viu como os terrenos foram urbanizados e construídos. Esta experiência levou a SNCF a tomar a decisão, de por um lado, fazer doravante parte integrante das operações de ordenamento, e por outro, de vender progressivamente os seus terrenos (SEMAPA, 1997: 37) “. 20 “”O projecto da Biblioteca Nacional apareceu num momento da discussão entre a SNCF e a Camâra Municipal de Paris”, lembra o urbanista François Grether, e “como era necessário escrever o caderno de encargos do concurso”, acrescenta, “a Biblioteca Nacional de França tornou-se um elemento constrangedor no processo de decisão do projecto Paris Rive Gauche” (SEMAPA, 1997: 39)”. 21 A continuidade como valor surge desde o início nos discursos oficiais da empresa.

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O presidente da câmara do XIIIº bairro de Paris, Jacques Toubon, afirma22, alias em

concordância perfeita com o discurso oficial da SEMAPA, que esta cidade nasceu de uma

espécie de continuidade construtiva com rio Sena, suscitando este rio as mais belas obras de

arquitectura e os mais belos bairros. O projecto Paris Rive Gauche surge naturalmente desta

continuidade construtiva. Como se o rio reflectisse ou mesmo suscitasse, a construção do eixo

monumental desta cidade. Os diversos discursos evocam implicitamente ou explicitamente os

“grandes projectos” de Mitterrand, que se dispõem em torno desse mesmo eixo

monumental23: o Cubo da Defense, a Pirâmide do Louvre, o Instituto do Mundo Árabe, a

Biblioteca Nacional de França.

O factor aglutinador nos diversos discursos, entre um eixo monumental, que nem sempre se

localiza nas margens no Sena, e o rio como eixo monumental, deve-se certamente ao facto de

que as margens do Sena a ocidente da Catedral Notre Dame de Paris foram classificadas

como património mundial da UNESCO. Os diversos discursos sobre o projecto fazem sempre

referência a este facto.

Figura nº4 – Esta figura corresponde à etapa da Pré-concepção, onde se concebem alguns cenários urbanos

22 (SEMAPA, 1997: 5). 23 Cf. Primeiro parágrafo deste artigo.

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esquemáticos. Contudo introduzi-a neste momento da análise para que o leitor possa visualizar a amplitude das

fronteiras evocadas e dos problemas que o projecto deve resolver.

A continuidade urbana como ruptura monumental

O território escolhido para construção de Paris Rive Gauche entende-se ao longo de dois

quilómetros e meio de comprimento, e possui várias características físicas que impedem essa

continuidade urbana ao longo das margens do Sena: as linhas de caminho-de-ferro, o conjunto

de fábricas, e os armazéns acentuam a separação dos dois bairros vizinhos o XIII e o XII24.

A ideia do projecto será precisamente tornar as fronteiras – caminho-de-ferro, o conjunto de

fábricas, armazéns e rio Sena – em elementos de expressão da continuidade urbana:

A primeira fronteira será abolida uma vez que a cidade passará por cima das linhas de

caminho de ferro ficando o projecto ancorado na estrutura pré-existente, como podemos ver

na figura nº425.

A segunda fronteira, o conjunto de fábricas e armazéns serão na sua maioria demolidos e os

edifícios de interesse público serão integrados no projecto.

A terceira fronteira será ultrapassada no momento da construção monumental da Biblioteca

Nacional de França e da avenida de França paralela ao rio (Cf. figura nº4).

Por um lado, a BNF26 sublinha o seu carácter monumental através de uma imensa escadaria

em madeira e, por outro, as suas paredes de vidro reflectem o rio, tal como a grande maioria

dos edifícios do projecto Paris Rive Gauche. A continuidade com o rio e com o eixo

monumental torna-se progressivamente o princípio gerador do projecto. Este eixo acentua-se

ainda mais através da construção da avenida de França que se tornará progressivamente o

elemento estruturante deste projecto, fazendo referência em termos estruturais, aos Campos

Elísios uma vez que este projecto se situa, segundo o sistema de discursos, na continuidade do

eixo monumental de Paris.

24 “Desde 1977, a cidade de Paris tinha lançado, uma grande reflexão sobre o conjunto deste sector, prosseguida em 1983 através do programa Este parisiense, cuja parte “Sena Sudeste ” consistia em tornar as margens do Sena e a sua contiguidade, num espaço de desenvolvimento e de reencontro entre os bairros XIII e XII. Estes bairros que, antigamente, viravam as costas à cidade a fim de se abrirem para o rio, tal como nos bairros centrais, onde o rio Sena e as suas margens constituem um local emblemático (SEMAPA, 1997: 5)”. 25 “Este esquema ilustra a distinção que é feita entre a estrutura invariante da avenida de França das ruas que ligam o XIIIº bairro de Paris ao rio Sena, e os seus quarteirões recortados que serão urbanizados ao longo do tempo de forma progressiva (SEMAPA, 1997: 38)”. 26 Como já referi anteriormente, a BNF insere-se no conjunto dos “grandes projectos” de Mitterrand que se dispõem em torno desse eixo monumental.

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Jean-Marie Floch na sua longa obra sobre a semiótica como praxis, desenvolveu um conjunto de

modelos figurativos susceptíveis de estruturar o universo de valores e de fazer aparecer claramente a

posição diferencial dos universos de significação em estudo. No esquema da figura nº5, o princípio é o

mesmo. Podemos observar que o valor temático da continuidade urbana se desdobra ao longo do

eixo27 monumental, o seu ponto de instabilidade máxima é C – Ruptura Monumental, que é, por sua

vez a posição intermédia entre dois atractores28: A – Formas, e B – Forças. Os actantes decisores,

como figuras29 (estados internos do sistema) organizam cenários possíveis de projecto, estes que são

controlados pelo espaço externo da fronce. O valor temático selecciona um estado interno como

estado actual e virtualiza os outros. Poderemos dizer que o espaço interno corresponde aos cenários

que são dados pelos actantes decisores, enquanto que o espaço externo articula os parâmetros, as

posições e os deslocamentos do valor, ou seja, a catástrofe:

Figura nº5 – Poderemos dizer que o espaço interno da fronce30 corresponde aos cenários possíveis que são

dados pelos actantes decisores, enquanto que o espaço externo articula os parâmetros, as posições e os

deslocamentos do valor, ou seja, a catástrofe.

27 Esta zona é a mais instável da fronce, ela oscila entre o valor temático e C – Ruptura monumental. 28 Os dois atractores são as posições de maior estabilidade. 29 O actantes decisores apresentam-se como um agenciamento de figuras dispostas em percursos (percursos modais que transformam claramente o sentido da acção estratégica) a sua articulação específica pode determinar os valores temáticos. 30 René Thom, criador da teoria das catástrofe, concebeu a fronce que é uma forma matemática.

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O eixo horizontal da figura nº5 articula os dois atractores: A – Formas, e B – Forças, surgindo

progressivamente dessa dinâmica de posições o conceito do projecto Paris Rive Gauche. O

movimento de concepção do projecto é desencadeado pelas forças discursivas dos actantes

decisores e engendrado por intermédio de formas de manifestação, ou seja, articulam-se as

forças (discursos decisivos) e as formas (cenários urbanos esquemáticos, estudos e formas

concretas do projecto). A figura nº5 evidencia ainda as variações do conceito deste projecto,

permitindo compreender os estados internos e externos desta forma projectual.

Eixo vertical da figura nº5 – o valor temático da continuidade urbana desdobra-se ao longo

do eixo monumental exprime-se virtualmente nos discursos e actualiza-se no projecto através

de três elementos urbanísticos: a construção da Avenida de França, o ordenamento das

margens do Sena, e a construção monumental da BNF. As variações de cada um destes

elementos projectuais influenciam a dinâmica geral da “significação” deste projecto. Por

exemplo, a BNF é uma ruptura monumental no sentido que esta nos remete ao tão referido

eixo monumental que ultrapassa os limites do projecto.

• Competências requeridas: urbanistas, arquitectos de renome e responsáveis políticos de

Paris31.

O processo de especificação de competências actualiza-se à medida que o projecto se

desenvolve. Ou seja, os actantes decisores estabeleceram um determido número de

competências que serão actualizadas sob a perspectiva de uma determinada acção.

Vejamos concretamente como é que este processo de especificação de competências se

realizou: a definição dos primeiros valores sócio-urbanos levou ao desenho de um esquema

que não satisfez os decisores. Em 1989, depois da decisão de instalar a Biblioteca Nacional32

em Tolbiac e da atribuição do projecto da BNF a Dominique Perrault, iniciou-se então um

processo de consulta “iterativa” de um conjunto de especialistas e responsáveis políticos. O

processo de consulta deu origem a vários concursos públicos, destaco a consulta Massena,

onde se destinguiu o trabalho inovador do arquitecto Christian de Portzamparc, este propôs

31 Foi decidido que as competências seriam delimitadas à medida que o debate se ampliaria (SEMAPA, 1997: 39). 32 Segundo a mesma fonte, a decisão de implantar a BNF no site de Tolbiac foi benéfica por vários motivos: os terrenos estavam vazios, disponíveis, situam-se dentro de Paris e nas margens do rio sena. Esta situação confere ao edifício monumental o prestigio e a garantia de uma construção rápida, devido aos vários estudos feitos e projectos imaginados para esta região (SEMAPA, 1997: 39).

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uma nova noção da parcela que marcará sem dúvida o futuro do projecto de Paris Rive

Gauche.

2ª etapa – Pré-concepção (três fases): Simular os efeitos de significação esperados

Ao longo desta etapa, na primeira fase, integram-se e segmentam-se, numa perspectiva

histórica, os três níveis de significação: simbólico-antropológico, sócio-cultural nas “formas

concretas” da cidade de Paris33. Articulam-se, numa segunda fase, a escala local e a global34

deste projecto urbano. Concebem-se, numa terceira fase35, os primeiros cenários esquemáticos

do projecto, analisa-se a sua coerência colocando em relação os diversos planos directores e

os resultados da 1ª fase e da 2ª fase.

1ª Fase – Integrar e Segmentar

Quais são níveis de significação que intervêm neste projecto?

2ª Fase – Articular e Conceber

Como é que os espaços da mundialização se integram na escala local do nosso projecto?

3ª Fase –Analisar e Acompanhar

Quais são as funções urbanas explicitadas pelos cenários esquemáticos e de que forma estas

vestem os valores sócio-urbanos?

Qual é o posicionamento deste projecto na urbanidade?

3ª etapa – Concepção: Preconizar e recomendar as soluções mais adequadas

Os valores sócio-urbanos para o projecto Paris Rive Gauche foram decididos assim como os

cenários desejados. É neste momento que o conjunto de resultados deve ser apresentado

diante dos vários actores intervenientes no projecto.

Quais as estratégias de comunicação do projecto?

33 Nesta fase, os urbanistas da SEMAPA utilizaram a análise semiótica sobre da morfogénese de Paris de Desmarais (1995). 34 Alguns espaços urbanos e arquitectónicos são exemplo desta escala global: as estruturas portuárias, os aeroportos internacionais, as cadeias de fast-food, as cadeias de proto-a-vestir, as instalações itinerantes da presidência europeia, as sedes de instituições multinacionais, etc. Estes espaços são a expressão da mundialização na escala local das nossas cidades e é por essa razão que distingo as duas escalas: a local e a global. 35 O trabalho de concertação pública começa durante esta fase.

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4ª etapa – Gestão do projecto: Articular o conjunto de etapas do processo estratégico

Após uma primeira proposta, verificar se os resultados são coerentes e se estão de acordo com

aos “valores sócio-urbanos”. A constituição e a redefinição das novas soluções devem ser

concebidas em equipa pelo analista em semiótica e pelos urbanistas.

Os princípios de permanência e de coerência constituem os princípios motores da toda acção

de planeamento estratégico. Verificar e articular sob a perspectiva estratégica os diversos

passos da decisão em urbanismo.

Nota metodológica: A interdisciplinaridade como território natural da semiótica

Todo o projecto urbano, como vimos através dos vários exemplos, convoca uma diversidade

de fenómenos a diferenciar e a hierarquizar, exigindo na sua busca incessante de coerência a

interdisciplinaridade como disciplina. Contudo, à medida que o projecto avança, esses

fenómenos são segmentados e trabalhados por diversas disciplinas. Cada disciplina constrói

os seus conceitos e modelos de análise numa evolução que é específica a cada domínio do

conhecimento. Uma vez que o objecto da semiótica é a significação, este método não se limita

a tal ou tal disciplina. É necessário segmentar a matéria significante e integrar os

conhecimentos estudados pelas várias disciplinas convocadas pelo corpus em análise. Na sua

operação de delimitação do corpus convertem-se os vários níveis de significação por uma

espécie de ir e vir entre os níveis de superfície até aos níveis mais profundos36 (Cf. figura nº6).

Se o nosso corpus convoca várias disciplinas, por exemplo: antropologia, história e

sociologia, delimitamos e convertemos os conceitos e componentes do objecto de cada uma

das disciplinas para em seguida procedermos ao que nomeamos a inter-semiótica, que

permite, finalmente, comparar níveis conceptuais comparáveis. É por isso que a

interdisciplinaridade é o território natural da semiótica. Os instrumentos interdisciplinares da

análise semiótica permitem-nos:

36 Na figura nº3 o nível mais profundo é o 1º Nível – categorização físico-antropológica – “formas simbólicas”.

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Figura nº6 – A cidade é uma espessura de sentido que se desdobra no tempo.

O nosso esquema organiza essa espessura em três níveis de significação e dois sentidos da leitura.

1. segmentar três níveis de significação;

2. converter os conceitos de cada uma das disciplinas intervenientes no objecto a analisar

em níveis de significação;

3. proceder à articulação inter-semiótica que nos permitirá comparar os níveis de

significação.

Esta forma de pensar e agir convoca diferentes dimensões semióticas, e exige um conjunto de

instrumentos que permitem ao analista em semiótica abordar essas dimensões enquanto níveis

estruturais (Cf. figura nº6):

• 1º Nível – categorização físico-antropológica – “formas simbólicas”;

• 2º Nível – distribuição sócio-cultural – “formas abstractas”;

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• 3º Nível – posicionamento das configurações arquitectónicas na cidade – “formas

concretas”.

Se a nossa leitura do espaço visa o estabelecimento de uma estratégia urbana, a análise deve

ser elaborada a partir do 1º nível estrutural que é o mais profundo, até ao 3º nível que é o mais

superficial. A articulação dinâmica dos três níveis, pode assim ser lida, no sentido da leitura

estratégica (percurso morfogenético) ou no sentido da leitura do utente (percurso

sémiogenético)37. A figura nº6 permite-nos apreender esquematicamente a lógica subjacente à

semiótica estratégica. A noção de articulação inter-semiótica inscrita nos dois sentidos de

leitura é incontornável se quisermos construir uma semiótica estratégica do projecto urbano.

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37 Apresentando-se sob a forma de um processo de criação em níveis estruturais, indo do mais profundo ao mais superficial, o percurso morfogenético do assentamento humano (Desmarais, 1995) aproxima-se do que chamamos percurso generativo na teoria semiótica de A.-J. Greimas. A nossa abordagem partilha alguns traços destes instrumentos de análise, mas fundamenta-se também numa semiótica morfodinâmica (Brandt,1992).

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