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Universidade Federal de Pernambuco Centro de Ciências Sociais Aplicadas Departamento de Ciências Administrativas Programa de Pós Graduação em Administração - PROPAD Alessandra Cabral Nogueira Pontos de cultura, particularidades na gestão? um estudo na primeira capital brasileira da cultura Recife, 2007

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Universidade Federal de Pernambuco

Centro de Ciências Sociais Aplicadas

Departamento de Ciências Administrativas

Programa de Pós Graduação em Administração - PROPAD

Alessandra Cabral Nogueira

Pontos de cultura, particularidades na gestão? um estudo na primeira capital brasileira da cultura

Recife, 2007

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

CLASSIFICAÇÃO DE ACESSO A TESES E DISSERTAÇÕES

Considerando a natureza das informações e compromissos assumidos com suas fontes, o acesso a monografias do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal de Pernambuco é definido em três graus: - "Grau 1": livre (sem prejuízo das referências ordinárias em citações diretas e indiretas); - "Grau 2": com vedação a cópias, no todo ou em parte, sendo, em conseqüência, restrita a

consulta em ambientes de biblioteca com saída controlada; - "Grau 3": apenas com autorização expressa do autor, por escrito, devendo, por isso, o texto,

se confiado a bibliotecas que assegurem a restrição, ser mantido em local sob chave ou custódia;

A classificação desta dissertação/tese se encontra, abaixo, definida por seu autor.

Solicita-se aos depositários e usuários sua fiel observância, a fim de que se preservem as

condições éticas e operacionais da pesquisa científica na área da administração.

___________________________________________________________________________

Título da Monografia: Pontos de Cultura, particularidades na gestão? um estudo na

primeira capital brasileira da cultura

Nome do Autor: Alessandra Cabral Nogueira

Data da aprovação: 30 de março de 2007

Classificação, conforme especificação acima:

Grau 1

Grau 2

Grau 3

Recife 30 de março de 2007.

--------------------------------------- Alessandra Cabral Nogueira

X

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Universidade Federal de Pernambuco

Centro de Ciências Sociais Aplicadas

Departamento de Ciências Administrativas

Programa de Pós-Graduação em Administração - PROPAD

Alessandra Cabral Nogueira

Pontos de cultura, particularidades na gestão? um estudo na primeira capital brasileira da cultura

Orientador: Dra. Jackeline Amantino de Andrade

Dissertação apresentada como requisito complementar para obtenção do grau de Mestre em Administração, área de concentração em Gestão Organizacional, do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal de Pernambuco.

Recife, 2007

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Nogueira, Alessandra Cabral Pontos de cultura, particularidades na gestão? : um estudo na primeira capital brasileira da cultura / Alessandra Cabral Nogueira. – Recife : O Autor, 2007. 149 folhas : fig. e quadro. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco. CCSA. Administração, 2007. Inclui bibliografia. 1. Ação social. 2. Burocracia. 3. Desenvolvimento organizacional. 4. Administração. I. Título. 658 CDU (1997) UFPE 658 CDD (22.ed.) CSA2007-054

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Dedico este trabalho À minha família exemplo,

por ter me estimulado e acreditado junto comigo. Ao meu amor, Fábio

por compreender a minha ausência e o meu sonho. Aos meus colegas da turma 11 e 3

por não me deixarem desistir.

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“O ser humano resiste a ser despojado de seu

atributo essencial - a razão” Alberto Guerreiro Ramos

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AGRADECIMENTOS

Agradecer é recordar. É reviver cada momento e nesses momentos rever as pessoas que o fizeram tão lindo e real.

Sou imensamente grata á:

Deus, ser supremo e de amor incondicional, meu porto seguro em todas as horas; e a todos os seus anjos de luz, que me iluminaram e guiaram meu caminho até o fim;

Minha família exemplo, meus pais Pedro e Penha e meu irmão Márcio, meus alicerces fundamentais em tudo que sou, por não deixarem que as limitações da vida impedissem esse nosso sonho, aí esta ele, é real e somente nosso;

Ao meu amor, minha vida inteira, Fábio, pela confiança, paciência e compreensão com as ausências e a distância, estou de volta e completamente sua;

Minha Vó Dinalda pelo exemplo de coragem, força e resignação;

Minha família linda e verdadeira, meus tios e primos, por depositarem a credibilidade e a confiança de que sou capaz;

A irmã que ganhei nesse percurso, Flavia, as palavras são pequenas para expressarem o meu carinho e gratidão por você;

Amo todos vocês !!!!

A professora Jackeline Andrade, que me deu a oportunidade de realizar esse sonho;

Aos professores Carlos Milani e Sergio Alves, por todas as considerações que fizeram para que este trabalho se concretizasse; e aos professores do PROPAD/UFPE por me iniciarem na ciência.

A minha banda “P”, vocês são eternos, estarão sempre no meu coração; pensem numa banda que tenho orgulho em fazer parte.

Aos amigos especiais que conquistei com esse mestrado, Milka, Vinicius, Ana Márcia, Renata, as Cris, vocês são pessoas ímpares que apareceram na minha vida.

A uma nova amiga especialíssima, minha fotógrafa preferida, minha companheira das parafernálias da Internet, que dividiu as angústias, as decepções, a ansiedade, os brigadeiros, as noites de sono, abdicou até do conforto do seu lar para me fazer companhia, Ana Beatriz (BIA), “o amigo é um outro eu”, aquele reflexo no espelho que nem sempre se parece com a gente, mas que tem vontade própria e ao seu modo sabe o que é melhor para você. Muito obrigadaaaaaaaaaaaaa!!!!!

A Irani, nosso HD do propad, ela resolve tudo e mais alguma coisa, muito obrigada por tudo.

A todos que fazem o observatório da realidade organizacional, a convivência com vocês foi maravilhosa.

A todos os meus amigos que de longe ou de perto me ajudaram a vencer essa etapa, Ceiça, Marcinha, Márcia, Maira, Luciana, Maria de Lourdes, Márcia Caetano, sem vocês, eu não teria chegado até aqui.

Aos meus tios e tias por adoção maçônica, que torceram e velaram por mim, em especial a Reni e Dorinha, Evando e Zélia, Matos e Vera e Marcos e Fabiana, pelo carinho e zelo dedicado à minha família.

A todos que fazem a FASER, meus alunos, funcionários, meus colegas professores

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que se envolveram e dedicaram suas preciosas horas para me auxiliar, em especial a Carina, Rosa, Áurea, Sergio, Ivânia e Ademário, o meu reconhecimento a vocês.

Aos professores Lea e Valdiê, que acreditaram em mim e foram minhas referências para a academia.

A professora Cristina Carvalho, que me proporcionou uma lembrança viva da minha estada em Recife, o Athos.

Ao centro cultural coco de umbigada, na pessoa de mãe Lucia e Beth, que abriram as portas de suas casas e do próprio centro para que eu realizasse a pesquisa e a Graúna, na pessoa de Nilva, que me fez conhecer essa proposta linda que essa ONG.

Ao professor Mauricio Serva, por sua disponibilidade e atenção ao meu pedido. E a CAPES, pelo apoio financeiro para a realização deste sonho.

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RESUMO

O lançamento de um programa do Governo Federal com uma proposta abrangente de gestão

compartilhada e transformadora para organizações culturais, e os desafios encontrados por

estas entidades em se relacionar com o proponente, despertou a curiosidade em se verificar a

existência de influência deste na gestão das organizações denominadas Pontos de Cultura,

uma vez que as discussões nesse campo dos estudos organizacionais crescem ao decorrer dos

anos, principalmente as pautadas na ruptura com o modelo burocrático. Assim a pesquisa às

organizações analisadas foi fundamentada em duas categorias: graus de burocratização e

bases de racionalidade em sua lógica de ação. A dimensão graus de burocratização foi

encontrada em coeficientes de desenvolvimento diferentes, e no que concerne às bases de

racionalidades, foram verificadas em intensidades muito diferentes nos dois casos. As

conclusões demonstram que os perfis das organizações pesquisadas são diferenciados e que

em uma percebe-se o risco de uma mudança na sua lógica de ação original, haja vista o

cálculo utilitário permear as conseqüências de sua sobrevivência. E a outra a tendência a total

adesão ao modelo burocrático de gestão. Conclui-se ainda que existe influência do Programa

nas categorias analisadas, contudo não é visível uma ruptura com a burocracia como este se

propõe.

Palavras – chave: Ação social. Burocracia. Racionalidades. Gestão. Pontos de Cultura.

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ABSTRACT

The launching of Federal Government programs with a a wide-ranging proposal of sharing

management and transformer to cultural organizations, and the challenges managed by these

entities in the relationship with the proponent, aroused the curiosity in verifying the existence

of its influency on the management ways developed by them, called Points of Culture, since

the discussions about the organizational studies grow up by the years, mainly those about the

rupture of the bureaucracy model. In this way the research about the organizations analyzed

was based in two categories: The grades dimension of bureaucracy was found in different

developing levels, and in about basis of rationality, both of them had intensity different from

the instrumental.The conclusions show that the profile of the organizations researched are

differentiate and that it is noticed a risk that one shows of changing in the logic of the

original action because of the utility calculation which penetrate the consequences of its

survival. And the other the tendency to a total entry into a bureaucracy of management. It is

yet concluded that there is influency of the Program on the categories analyzed but it is not

visible a total rupture with the bureaucracy.

Key-words: Social Action. Bureaucracy. Rationalities. Management way. Points of Culture

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SUMÁRIO

1 Introdução 13 1.1 Objetivos 19 1.1.1 Objetivo geral 19 1.1.2 Objetivos Específicos 19 1.2 Justificativas 19 2 Fundamentação Teórico-Empírica 21 2.1 Conceitos e tipos organizacionais 21 2.2 A Ação Social Weberiana 26 2.3 Burocracia: conceitos e bases empíricas 32 2.4 Ação Administrativa, Racionalidades e Éticas 42 2.5 Modelo Multicêntrico e o Paradigma Paraeconômico 49 3 Os caminhos da pesquisa 63 3.1 Caracterização da Pesquisa 63 3.2 Estratégia da pesquisa 64 3.3 Definições constitutivas (DC) e operacionais (DO) das categorias de análise 66 3.4 Casos da Pesquisa 68 3.5 Coleta dos Dados 70 3.6 Análise dos dados 72 4 As Organizações Estudadas 75 4.1 O Centro Cultural Coco de Umbigada 75 4.1.1 O grau de burocratização 78 4.1.2 As bases de racionalidade e a delimitação organizacional 85 4.2 A GRAÚNA - Juventude, Gênero, Arte e Desenvolvimento. 96 4.2.1 O grau de burocratização 98 4.2.2 As bases de racionalidade e a delimitação organizacional 107 4.3 A influência do Programa Cultura Viva nos casos Estudados. 120 5 Considerações Finais 132 5.1 Conclusões 133 5.2 Implicação para a prática 137 5.3 Recomendações 137 Referências 139 APÊNDICE A – Instrumento de Coleta de Dados (Roteiro de Entrevista ) 141

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Lista de Figuras

Figura 1 (2) O Modelo Paraeconômico 55 Figura 2 (4) A representação das tipologias weberianas no ponto de Cultura Centro

Cultural Coco de Umbigada 91

Figura 3 (4) A estrutura hierárquica da Graúna – juventude, gênero, arte e desenvolvimento.

97

Figura 4 (4) A representação das tipologias weberianas no ponto de Cultura Graúna – juventude, gênero, artes e desenvolvimento.

112

Figura 5 (4) Delimitação organizacional do ponto de cultura centro Cultural coco de umbigada antes do vínculo com o Programa Cultura Viva

120

Figura 6 (4) Delimitação organizacional do ponto de cultura centro Cultural coco de umbigada após do vínculo com o Programa Cultura Viva

122

Figura 7 (4) Delimitação organizacional do ponto de cultura Graúna – juventude, gênero, arte e desenvolvimento.

124

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Lista de Quadros Quadro 1 (3) Quadro de Análise do Grau de Burocratização 66 Quadro 2 (3) Quadro de Análise das Bases de Racionalidades 67 Quadro 3 (3) Pontos de Cultura de Olinda 68 Quadro 4 (3) Casos estudados 69 Quadro 5 (4) Análise do Elemento Hierarquia do Centro cultural coco de

umbigada

80 Quadro 6 (4) Análise do Elemento Normas e Procedimentos do Centro cultural

coco de umbigada

81 Quadro 7 (4) Análise do Elemento Divisão de trabalho e Competência Técnica

do Centro cultural coco de umbigada

83 Quadro 8 (4) Análise do Elemento Impessoalidade do Centro cultural coco de

umbigada.

84 Quadro 9 (4) Análise do Elemento Racionalidade Instrumental do Centro

cultural coco de umbigada

88 Quadro 10 (4) Análise do Elemento Racionalidade Substantiva do Centro cultural

coco de umbigada

93 Quadro 11 (4) Análise do Elemento Hierarquia da GRAÚNA - Juventude, Gênero,

Arte e Desenvolvimento

103 Quadro 12 (4) Análise do Elemento Normas e Procedimentos da GRAÚNA -

Juventude, Gênero, Arte e Desenvolvimento

105 Quadro 13 (4) Análise do Elemento Divisão de trabalho e Competência Técnica

da GRAÚNA - Juventude, Gênero, Arte e Desenvolvimento

107 Quadro 14 (4) Análise do Elemento Impessoalidade da GRAÚNA - Juventude,

Gênero, Arte e Desenvolvimento

108 Quadro 15 (4) Análise do Elemento Racionalidade Instrumental da GRAÚNA -

Juventude, Gênero, Arte e Desenvolvimento

112 Quadro 16 (4) Análise do Elemento Racionalidade Substantiva da GRAÚNA -

Juventude, Gênero, Arte e Desenvolvimento

116

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1 Introdução

As abordagens da teoria organizacional têm sido muito questionadas quanto a sua

aplicabilidade às organizações como um todo. São inúmeras as perspectivas que permeiam

esta área da Administração acerca da lógica de ação das formas organizacionais hoje

existentes.

Formas essas oriundas de um contexto histórico caracterizado por grandes

transformações como, por exemplo, a revolução da informação. Numa conjuntura na qual as

organizações tornaram-se cruciais as necessidades econômicas e administrativas da sociedade,

como também em uma segunda instância de socialização do indivíduo. (SERVA, 1996)

Neste sentido, podem-se ressaltar os estudos de Max Weber, que a princípio, não

preceituava explicitamente as organizações e sim os seus efeitos dentro da sociedade,

conseqüências estas que conforme o autor constituía o homem como um sujeito histórico

determinado, orientado por uma sociedade organizada em grupos sociais específicos e

determinados. Weber fundamentou seus estudos no conceito de ação social, que é apreendida

como uma conduta dotada de sentido subjetivo orientada pelas ações dos outros, sendo

determinada por tipos de racionalidade, destacando que os princípios racionais são aqueles

que regem as relações sociais na sociedade moderna onde predomina um tipo de dominação: a

burocracia.

A burocracia ganhou forças e se desenvolveu em conjunto com o desenvolvimento do

capitalismo e dos Estados modernos, e de acordo com Weber (1978) estes últimos aderiram

fortemente à estrutura burocrática de dominação como forma de gestão. Além, de tornarem-se

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o princípio norteador das abordagens Administrativas.

Essas perspectivas acabaram por deixar de lado a relação entre organização e a

sociedade, como proposta por Weber. Desse autor, apenas enfatizaram a burocracia como

discurso e modelo administrativo de modo que as organizações, sob a lógica capitalista,

necessitam gerir eficientemente seus recursos a fim de atingir seus objetivos para serem

consideradas eficazes.

Em contrapartida a esta supervalorização da burocracia como forma de gestão, têm-se

os estudos de Alberto Guerreiro Ramos que, também baseados na ação social, desenvolve

“uma teoria que tem como ponto de partida a razão substantiva harmonizada ao senso comum

e que prevê a dimensão ético-valorativa como superior a qualquer outra enfocada pelos

estudos do social” (SERVA 1996).

No entanto, em razão das transformações ocorridas com a sociedade, onde a lógica do

mercado predomina, evidencia-se que antes eram conduzidas sobre uma lógica de ação mais

substantiva, como por exemplo, as organizações culturais, “submetidas a processos de

reestruturação nos quais são fundamentais os redesenhos estruturais que possam ser

compatíveis com as práticas e tecnologias de gestão” (GAMEIRO et. al, 2003, p. 200)

próprias ao universo empresarial.

Empiricamente, segundo Carvalho e Dellagnelo (2003), estudos realizados

especificamente pelo Observatório da Realidade Organizacional vêm apontando que práticas

antes de domínio exclusivo das organizações empresariais, irrompem no cenário dos campos

do lazer, da cultura e do desporto e, organizações antes submetidas fundamentalmente a

lógicas substantivas baseadas em valores e tradições, introduzem em suas ações, lógicas agora

subordinadas a critérios de eficiência, rentabilidade e competitividade. Nota-se, portanto, que

estas organizações têm adotado estruturas e processos das empresariais como referência em

sua gestão na medida em que a empresa é o modelo de organização que engloba todas as

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atividades humanas (SOLÉ, 2004).

Especificamente no campo da cultura, estudos do Observatório da Realidade

Organizacional analisam o processo de mercantilização da cultura e ao mesmo tempo

questionam o papel no Estado em todas essas mudanças (CARVALHO et al., 2004).

Entretanto, a organização do Estado brasileiro, desde 1988, prevê iniciativas com o objetivo

de integrar atores governamentais e da sociedade na garantia de direitos, inclui-se neles o

direito à cultura, através da deliberação e do estabelecimento de mecanismos de controle de

políticas sociais.

O Programa de Cultura, Educação e Cidadania – Cultura Viva instituído pelo

Ministério da Cultura através da Portaria 156/2004 - DOU 19/07/2004, destinado às

populações de baixa renda; estudantes da rede básica de ensino; comunidades indígenas,

rurais e quilombolas; agentes culturais, artistas, professores e militantes que desenvolvem

ações no combate à exclusão social e cultural indica em sua proposta uma reversão desse

quadro no campo.

Sua proposta busca “inverter o fluxo do processo histórico, da periferia a periferia:

depois, ao centro”, trazendo à tona a questão da realização de políticas culturais oriundas

unilateralmente da estrutura governamental e impostas à comunidade, propondo a esta última

a oportunidade de trabalhar em co-gestão com o poder público, moldando o “Estado brasileiro

à imagem do seu povo” (BRASIL, 2005, p. 15). O Cultura Viva, que “é concebido como uma

rede orgânica de criação e gestão cultural, mediado pelos Pontos de Cultura, sua principal

ação” sendo alguns dos seus objetivos:

• ampliar e garantir o acesso aos meios de fruição, produção e difusão cultural; • identificar parceiros e promover pactos com diversos atores sociais governamentais e não governamentais nacionais e estrangeiros, visando um desenvolvimento humano sustentável, tendo na cultura “a principal forma de construção e de expressão da identidade nacional, a forma como o povo se reinventa e pensa criticamente”; [...] • fomentar uma rede horizontal de “transformação, de invenção, de fazer e refazer, no sentido da geração de uma teia de significações que nos envolve

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a todos”; [...] • promover a cultura enquanto expressão e representação simbólica, direito e economia. (BRASIL, 2005, p. 18-19)

A sua estratégia está baseada em cinco ações:

PONTOS DE CULTURA

Esta ação é considerada a prioritária do programa e é a que articula todas as outras

ações. O ponto de cultura agrega agentes culturais articuladores de ações em suas

comunidades e entre si, além de servir com mediador na relação entre o Estado e a sociedade.

O Ponto não possui um modelo único, dependendo das ações previstas é que se define

as necessidades de instalações físicas e equipamentos, tendo exclusivamente como aspecto em

comum a “transversalidade da cultura e a gestão compartilhada entre poder público e

comunidade”.

O Ponto pode ser instalado em uma pequena casa, ou barracão, em um grande centro cultural, ou museu... Basta que os agentes da Cultura Viva se apresentem e se ofereçam. A partir do Ponto, desencadeia-se um processo orgânico agregando novos agentes e parceiros e identificando novos pontos de apoio: a escola mais próxima que mantém suas instalações e recursos fechados à comunidade do entorno, o salão da igreja, a sede da sociedade amigos do bairro, a garagem de algum voluntário que sonhou com (e fez) uma biblioteca comunitária. Até – por que não? – a sombra de uma árvore. (BRASIL, 2005, p.20).

CULTURA DIGITAL

Esta ação esta totalmente vinculada aos equipamentos adquiridos pelos pontos, os

quais promoverão a retenção da produção cultural dos pontos, além de incitar a formação da

rede digital interligando os pontos, e tudo que esta rede pode fornecer com base no software

livre e na metareciclagem.

ESCOLA VIVA

A ação escola viva tem como objetivo integrar os Pontos à escola de modo a colaborar

para a construção de um conhecimento reflexivo e sensível por meio da cultura. ”(BRASIL,

2005, p.26)”.

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AGENTE CULTURA VIVA

O Agente Cultura Viva é a ação que se articula ao Ponto de Cultura para incitar nos

jovens o interesse em iniciar uma profissão relacionada à cultura. Seu objetivo é capacitação

profissional, como também gerar alternativas de renda nas próprias comunidades, a partir de

uma economia solidária.

GRIÔS – MESTRE DOS SABERES

O termo griô, é de origem francesa, utilizada por jovens africanos estudantes na

França, que se preocupavam com seus contadores de história, e para o programa “são pessoas

que por diversas razões, circunstâncias e habilidades, acumularam conhecimentos que

pertencem às suas comunidades e que podemos entender como “patrimônio cultural imaterial”

(BRASIL, 2005, p. 28)” A ação griô visa à preservação de valores e da tradição das

comunidades tendo o Ponto de Cultura como referência.

O programa desenvolve a idéia de uma Gestão Compartilhada e Transformadora

dessas ações e tem a “intenção de estabelecer novos parâmetros de gestão e democracia na

relação, Estado e Sociedade” e evitar “uma estrutura fortemente institucionalizada e

hierarquizada, pesada na forma de gestão e controle, muito comum na burocracia pública”

(BRASIL, 2005, p. 16). Assim, essa proposta de gestão trabalha com os conceitos de

empoderamento, autonomia e protagonismo social, o que nos mostra uma preocupação com o

risco da sociedade se burocratizar, perder a espontaneidade, uma vez que através da

autonomia se respeitará a dinâmica própria do local onde se dará a ação. O empoderamento é

caracterizado como o instrumento pelo qual pode transformar as relações econômicas e de

poder e o protagonismo social surge com o entendimento das organizações como sujeito de

sua prática, que intervêm nas políticas de desenvolvimento social, nos hábitos da sociedade e

na elaboração das políticas públicas. (BRASIL, 2005, p. 33-35).

Diante da situação marginal em que sempre foi colocada a cultura no processo de

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gestão pública, detida de uma visão elitizada e concentradora, além de interligada às forças e

aos interesses do capitalismo global, o Governo Federal, através do Programa Cultura Viva,

está propondo uma prática de inclusão social que coloca a cultura como centro e dá impulso a

um desenvolvimento sustentável indispensável ao desenvolvimento humano, ao mesmo

tempo em que cultura como geradora de crescimento, emprego e renda.

No campo da cultura, através da alocução desse tipo de programa do governo federal,

é disseminada uma interação entre a sociedade civil e o poder público por intermédio de um

processo constante de construção, antevendo-se inclusive uma tensão, em que o primeiro

desconhece os mecanismos de gestão e de recursos públicos e o outro, está preso em seu

aparato burocrático a normas e regras rígidas. Isso evidentemente sugere a necessidade da

construção “de um novo tipo de Estado, ampliado, que compartilha poder com novos sujeitos

sociais, ouve quem nunca foi ouvido e conversa com quem nunca conversou” (BRASIL,

2005), mas também que adota outras formas de gestão.

Os Pontos de Cultura ao serem constituídos por organizações de caráter social e

cultural, e, por estarem conveniados com o Estado, maior representante do modelo

burocrático de gestão se encontram presos nessa tensão. Uma vez que no Estado brasileiro,

adotam-se os modelos de estruturação e gestão de processos que advém do modo de

organização burocrático e, que o modelo burocrático de gestão é o mais comum na

interpretação e compreensão das organizações e conduz a que novas situações sejam

continuamente identificadas em manter esse sentido para a atividade organizada (MOTTA,

1986, 2000), pareceu oportuno investigar:

Sob quais formas o Programa Cultura Viva pode influenciar a gestão das

organizações culturais selecionadas como Pontos de Cultura?

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1.1 Objetivos

1.1.1 Objetivo geral

Analisar as influências do Programa Cultura Viva do Ministério da Cultura na gestão

de organizações culturais, selecionadas como Pontos de Cultura, situadas no município de

Olinda, Pernambuco.

1.1.2 Objetivos Específicos

Para tanto foram definidos os seguintes objetivos específicos:

� Identificar o grau de burocratização das organizações culturais;

� Identificar as bases de racionalidade das organizações culturais

� Identificar a influência do Programa Cultura Viva no processo de burocratização

dessas organizações;

� Identificar a influência do Programa Cultura Viva na delimitação organizacional

dessas organizações;

� Avaliar a influência do Programa Cultura Viva na ação administrativa dessas

organizações;

1.2 Justificativas

No âmbito da Administração Pública Federal, por intermédio do Ministério da

Cultura, é disseminado um Programa que se apresenta como uma alternativa a “uma estrutura

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fortemente institucionalizada e hierarquizada, pesada na forma de gestão e controle, muito

comum à burocracia (BRASIL, 2005, p. 16) e tem como objetivo facilitar a consolidação de

uma política pública de cultura organizada a partir da sociedade de modo que as organizações

culturais, identificadas como Pontos de Cultura, construam uma proposta de gestão

compartilhada e transformadora.

Como a literatura e a prática em administração estão, primordialmente, voltadas para

os aspectos funcionais; a identificação dos elementos de gestão e das características

estruturais dessas organizações culturais é relevante uma vez que esse programa tem como

conceitos delineadores para seu processo de gestão: o empoderamento, a autonomia e

protagonismo social. Cabe relembrar que no contexto das organizações do terceiro setor, estas

padecem sob o determinismo do mercado no que concerne à regulamentação e ao

financiamento e podem ter suas ações emancipatórias transformadas em compensatórias

(TENÓRIO, 2002), levadas a atuar em busca da eficiência e do consumo, deixando de lado a

livre expressão de sua arte baseada em valores democráticos e de solidariedade humana.

Neste sentido esta pesquisa visa contribuir com o pensamento de Ramos de que, uma

teoria das organizações deveria também fazer "a avaliação das organizações em termos da

compreensão da conduta geralmente adequada a seres humanos, levando em consideração

tanto os requisitos substantivos como os funcionais" (RAMOS, 1986, p.50).

Assim, esta dissertação pode servir como subsídio para as organizações culturais

estudadas e a órgãos relacionados, no que diz respeito à estruturação e gestão destas no intuito

de se aproximarem aos objetivos de uma gestão compartilhada e transformadora trazidos pela

proposta do Programa Cultura Viva através de uma análise dos limites e potencialidades de

suas práticas na configuração de formas distintas de organização em referência a presença das

duas racionalidades aqui apresentadas.

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2 Fundamentação Teórico-Empírica

O presente capítulo serve de sustentação a este estudo, uma vez que é apresentada uma

síntese da literatura, tanto no que concerne à posição de autores a respeito dos conceitos a

serem utilizados, como no intento de apresentar abordagens consideradas importantes para a

área e suas perspectivas, as quais conduziram à pesquisa.

Em um primeiro momento, expõem-se alguns conceitos básicos pertinentes ao tema,

com o intuito de nortear o estudo. Em seguida, aborda-se sob uma perspectiva descritiva, a

ação social e a burocracia como fenômeno social dominante no mundo moderno, e alguns

resultados de estudos empíricos no que concernem à presença das dimensões burocráticas nas

organizações.

Seqüencialmente, apresenta-se uma abordagem teórica fundamentada sobre as éticas e

racionalidades das organizações, tendo como principal categoria de análise, a razão

substantiva como uma nova lógica de ação proposta no modo de organização. E um estudo

empírico relacionado à abordagem substantiva, que fundamentou o escopo de análise.

2.1 Conceitos e tipos organizacionais

Para Clegg (1998, p.3), é a organização, a forma característica da nossa condição

moderna, mesmo que estas em sua maioria sejam encaradas “como algo repressivo e

constrangedor e não como um fenômeno vantajoso ou benéfico”.

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O modo como o conceito de organização se configurou para sociedade, pode ser

percebido através da existência dessas para realizar as tarefas que indivíduos sozinhos não

podem desempenhar (HALL, 2004). Além disso, o impacto na construção de novos papéis e

nas formas de interação entre os indivíduos e entre si traz consigo um novo arranjo entre estes

e a Sociedade, sendo este agrupamento, o que realiza quase tudo no mundo moderno e

contemporâneo.

Weber (1999) define organização como “grupo corporativo” que envolve uma relação

social fechada ou limita a admissão de novos membros por meio de regras. Esta relação inclui

algumas parcelas da população e exclui outras, assim, estabelecendo fronteiras em que a

estruturação da interação social é imposta pela própria organização na medida em que esta se

faz por meio de uma associação formal, em vez de comunitária, para realizar um tipo

específico e contínuo de atividades direcionadas a um propósito e disseminar a idéia de

ordem, diferenciando-se de outros grupamentos sociais.

Em acordo com o autor acima, Barnard (1979) define organização como “um sistema

de atividades ou forças coordenadas conscientemente envolvendo duas ou mais pessoas”, de

modo que esta coordenação seja deliberadamente voltada a certos fins.

Dentro de uma perspectiva histórica, a partir dos estudos de Ronald Coase, percebe-se

na obra de March e Simon (1970), a organização como objeto de estudo destes pesquisadores

a organização sob a interpretação da sociologia, da economia, da psicologia social e das

ciências políticas. Segundo March e Simon (1970) as organizações são sistemas de ação

coordenados entre indivíduos e grupos com interesses, conhecimentos, informações diferentes

e, apesar de se encontrar o conceito de organização como fenômenos multidisciplinares, seus

estudos são de interesse apenas em organizações complexas1 e instrumentais.

Etzioni (1964) e Scott (1998), autores considerados contemporâneos, publicaram

1 De acordo com Clegg (1998, p. 31), “acção intencional orientada para a realização de certos objectivos e consubstanciada na rotina, na reprodução continua da acção social, das relações sociais e das estruturas sociais”.

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definições importantes, o primeiro diz que organizações são entidades sociais

deliberadamente criadas e recriadas para atingir metas específicas, e o segundo as define

como coletividades que foram estabelecidas para a concretização de objetivos relativamente

específicos de forma mais ou menos continua.

Já Hall (2004) estabelece uma definição através de uma tentativa de junção de todos

esses conceitos, e como o próprio autor dita, um tanto quanto confusa como o próprio assunto

em pauta.

Uma organização é uma coletividade com uma fronteira relativamente identificável, uma ordem normativa (regras), níveis de autoridade (hierarquia), sistemas de comunicação e sistemas de coordenação dos membros (procedimentos); essa coletividade existe em uma base relativamente continua, está inserida em um ambiente e toma parte de atividades que normalmente se encontram relacionadas a um conjunto de metas; as atividades acarretam conseqüências para os membros da organização, para a apropria organização e para a sociedade. (HALL, 2004: p.30)

No entanto, tais conceitos se referem apenas às organizações formais, ou como disse

Weber (1999), a organização social baseada na racionalidade instrumental. Corroborada por

Etzioni, quando diz que “existem muitos sinônimos da palavra organização. Um, a

burocracia”. (1964, p. 10), confirmando a posição de Ramos (1966) quanto à teoria das

organizações, de que está reduzida a estudos direcionados aos processos estruturais e

funcionais, desconsiderando os aspectos substantivos, e que hoje nos faz vislumbrar apenas

um tipo de organização; a empresa.

Em consonância com Ramos, Solé (2004) elucida que organização é um substantivo

que serve para designar um conjunto humano. E como afirma o próprio Etzioni (1964, p.10)

“mais do que qualquer outro agrupamento social, as organizações controlam sua natureza e

seu destino”.

Infere-se com isso que, em sua maioria, os estudiosos organizacionais quando se

referem a organizações, tencionam estas a empresa, ou seja, as teorias organizacionais são

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teorias de e para uma única organização - a empresa, (Solé, 2004). Outro ponto a ser

levantado é que os estudos organizacionais têm adotado um foco intenso com relação ao

ambiente, principalmente o social, haja vista ele englobar os concorrentes, agências

reguladoras e outras fontes de pressão e oportunidades, além do ambiente ser a fonte de

insumos e está sujeito a seus impactos. (HALL, 2004).

Diante de tantos conceitos e opiniões sobre as organizações, faz-se necessária uma

compreensão que trata além de um tipo básico, a empresa.

Para Hall (2004) a diferença entre organizações é atribuída de um grande significado

social, pois essas tipologias são construções sociais nossas da realidade. Seguindo esse

pensamento, o autor diferencia organizações tais como empresas, as que visam lucro e as

outras como sem fins lucrativos, porém esta tipologia relativamente simples não auxilia na

clarificação dessas organizações. O autor ainda afirma que são as características

organizacionais que servem como base classificatória das organizações, salientando que

qualquer iniciativa tipológica deve residir na determinação de variáveis críticas usadas para

diferenciar os fenômenos sob investigação.

Não trabalhando exclusivamente com um enfoque empresarial das organizações, o

autor classifica em seus estudos outro conjunto de organizações, caracterizando-as como

voluntárias a partir da definição de Knoke e Prenky,

[...] como sendo grupos conhecidos organizados formalmente, cuja maioria dos participantes não depende das atividades das organizações para viver, embora algumas posições possam ser remuneradas. Uma proporção considerável das associações é formada por organizações ou pessoas com interesses econômicos, [...] enquanto outras defendem interesses não-econômicos de seus membros. [...] (KNOKE; PRENKY apud HALL. 2004. p.42)

Entretanto, como Hall (2004) mesmo conclui, tipificar as organizações traz muito mais

dúvidas do que soluções, salientando que a melhor forma de classificá-las está em recorrer à

base empírica.

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Guerreiro Ramos (1981), traz uma abordagem um tanto quanto diferenciada para

organização, relata que uma abordagem substantiva para organização inclui duas tarefas

distintas: o desenvolvimento de um tipo de análise capaz de detectar os ingredientes

epistemológicos dos vários cenários organizacionais; e que essa análise seja expurgada de

padrões distorcidos de linguagem e conceitualização. Segundo Schon apud Ramos (1981) um

sistema social seja ele qual for, é consistido basicamente de uma estrutura, uma tecnologia e

uma teoria, onde essas dimensões são interdependentes, sendo possível visualizá-las como

círculos, ou como constituintes de uma “estrutura circular”.

O enfoque substantivo que o Ramos dar a organização é caracterizado pelas seguintes

considerações:

• Os limites da organização deveriam coincidir com seus objetivos, onde esses

limites representam as fronteiras específicas de uma organização econômica ou

empresa, sendo estas exigências não coincidentes com o requerido pela qualidade da

existência humana, devendo ser consideradas como um enclave conceptual e

pragmaticamente limitado no espaço vital humano;

• O comportamento administrativo exigido por intermédio da conduta individual

nas organizações econômicas é insultuoso e incompatível com o pleno

desenvolvimento das potencialidades humanas;

• Sendo a organização econômica apenas um tipo de sistema social, a importância

do comportamento exigido por esta diminui no sentido de sistemas sociais mais

apropriados à atualização humana;

• A abordagem substantiva reconhece o comportamento administrativo como

constituinte da atividade humana submetida a compulsões, e seu interesse é na

redução ou na própria eliminação destas;

• Quando os seres humanos se deparam com situações de atualização próprias, tais

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momentos têm exigência sistematicamente diferente do contexto de empresa.

A fim de proporcionar tais contextos para a atualização humana, o autor propõe a

formulação de tipologias de interesses humanos onde os sistemas sociais correspondam a tais,

e que o tenham como tópico de seu desenho organizacional. Salienta ainda que esta

abordagem reluta ser considerada como um instrumento de política cognitiva. Tal abordagem

será mais detalhada em uma seção especifica.

2.2 A Ação Social Weberiana

A ação social weberiana é entendida como uma conduta dotada de sentido subjetivo

orientada pelas ações dos outros que se manifesta na ação ou omissão da ação do sujeito

humano. Na perspectiva de Weber (1999), o caráter particular e específico de cada formação

social e histórica deve ser obrigatoriamente respeitado. Esse argumento oculta outro

pensamento weberiano: o de que os aspectos individuais de cada organização devem ser para

seus intérpretes, analisados e conduzidos com lucidez intelectual, emergindo um outro de que

o conhecimento histórico é a busca imprescindível da evidência, logo sua compreensão é um

poderoso instrumento para a formulação de suas explicações.

Weber propõe entender a sociedade através de dois olhares: um histórico, que respeita

as particularidades na busca do entendimento das sociedades humanas e, conseqüentemente,

das organizações; e outro sociológico, onde as preocupações com elementos mais gerais de

cada formação histórica são postas para a análise científica. Dessa forma, a compreensão da

realidade como manifestação dos fenômenos ainda desconhecidos pelo pesquisador apresenta

duas fases distintas, entretanto, imprescindíveis e complementares.

Ele não acreditava que a sucessão de fatos históricos fizesse sentido em si. Essa

argumentação, no plano teórico, o faz propor um novo método que seria capaz de explicar os

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fenômenos da realidade. Esse método seria construído a partir da compreensão, que no fundo,

seria um esforço interpretativo do passado de cada sociedade e de sua repercussão nas

características particulares e contemporâneas.

A formulação do termo ação social em Weber (1999) acaba por ser mais abrangente

que conceito de fenômeno social utilizado pela visão da sociologia francesa. Para Weber,

quando os indivíduos formulam a ação social não o fazem apenas de maneira passiva como na

sociologia durkheimiana, porém de forma passiva e (re) ativa orientando seus atos pela ação

dos outros e sendo por ela influenciados.

A ação social (incluindo omissão ou tolerância) orienta-se pelo comportamento de outros, seja este passado, presente ou esperado como futuro (vingança por ataques anteriores, defesa contra ataques presentes ou medidas de defesa para enfrentar ataques futuros). Os “outros” podem ser indivíduos e conhecidos ou uma multiplicidade indeterminada de pessoas completamente desconhecidas (“dinheiro”, por exemplo, significa um bem destinado à troca, que a agente aceita no ato de troca, porque a sua ação está orientada pela expectativa de que muitos outros, porém desconhecidos e nem número indeterminado, estarão dispostos a aceitá-lo também, por sua parte, num ato de troca futuro) (WEBER, 1999, p.13-14).

O autor também chama atenção para o fato de que nem todo tipo de ação é ação social.

No caso da ação exterior, ela deixa de ser social quando esta se manifesta orientada nas

expectativas de certas reações presentes nos objetos materiais visto que ali não houve

qualquer intenção subjetivamente humana. Ou seja, a ação social é ação intencional tem

outros sujeitos em mente e “o comportamento intimo só será ação quando estiver orientado

pelas ações de outras pessoas”.(2001, p.415)

Também salienta que alguns comportamentos merecem devida atenção é o caso do

comportamento religioso, que acaba sendo uma ação social, na medida em que sua prática é

efetivada em grupo, com a companhia de outras pessoas, onde se constata a prática solidária

entre os indivíduos envolvidos. Entende-se, ao se definir os termos da ação social, no entanto,

que nem todo contato também pode ser interpretado como social, mas apenas aquela ação

com sentido definido em referência à ação de outros envolvidos.

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Conseqüentemente, não há oposição entre indivíduo e sociedade uma vez que as

normas sociais só se tornam concretas quando manifestadas em cada indivíduo. Essa

observação traz à luz a noção de que as normas sociais precisam ser internalizadas através dos

costumes, da cultura em suas diferenças para adquirem efeitos próprios. O resultado dessa

internalização é materializado no comportamento dos indivíduos e pode ser observado através

do encaminhamento das ações oriundas das decisões individuais. Essa constatação pode

também ser observada nas organizações sob a forma tanto de motivação quanto de

comprometimento com o meio em que se está inserido.

Weber (1999; 2001) propõe que a ação não pode ser idêntica nem a uma ação

semelhante de muitos, nem a outra determinada pela influência do comportamento da maioria

de modo que:

Naturalmente entre os dois tipos há transições. Ambos os condicionamentos pela massa ou pela imitação de fluidos, representando casos limites da ação social, como os que encontramos freqüentemente, por exemplo, na ação tradicional. O fundamento da fluideza destes casos, como o de vários outros, consiste na orientação pelo comportamento alheio, e o sentido da própria ação de nenhuma maneira pode ser sempre especificado com absoluta clareza, e nem sempre é consciente. (WEBER, 2001, p.417)

É importante demonstrar que a definição da ação social weberiana é pautada na

racionalidade, e a base de sua compreensão é procedimento metodológico por ele adotado

baseado no ideal-típico. É na certeza dessa formulação que Weber propõe que a ação social

pode ser determinada de quatro modos:

Tradicional: determinada por costume arraigado. Afetivo: especialmente emocional, Determinada por afetos ou estados emocionais atuais. Racional Referente a Valores (Racionalidade Substantiva): pela crença consciente no valor – ético, estético, religioso ou qualquer que seja sua interpretação – absoluto e inerente a determinado comportamento como tal, independentemente do resultado. Racional Referente a Fins (Racionalidade Instrumental): por expectativas quanto ao comportamento de objetos do mundo exterior e de outras pessoas, utilizando essas expectativas com “condições” ou “meios” para alcançar fins próprios, ponderados e perseguidos racionalmente, como sucesso. (WEBER, 1999, p.15)

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Para Weber (1999) a ação pura e simplesmente tradicional é a que se apresenta entre o

entreposto do que se pode chamar efetivamente de uma ação dotada de sentido, isto é, “massa

de todas as ações cotidianas e habituais se aproxima desse tipo, que por sua vez inclui na

sistemática não somente enquanto caso limite, mas também porque a vinculação ao hábito

pode se manter consciente em diferentes graus e diferentes sentidos”.(WEBER, 2001, p.417).

A ação afetiva está diretamente vinculada a estados emocionais de indivíduos. Weber

chama atenção para se compreender a ação afetiva, especialmente aquela emotiva, onde os

laços sentimentais regem a vida dos indivíduos em alguns momentos de suas vidas. Estes

momentos podem estar presentes nas manifestações individuais, mas originados através de

um ato ou fato coletivo e conscientemente constituindo-se mais como uma reação a estímulos

fora do cotidiano.

A ação referente a valores distingue-se da afetiva por uma elaboração consciente e

conduzida de forma orientada na expressão de convicções. Ela se vincula aos valores na

determinação da convicção elaborada no próprio valor e essa crença apreendida no valor pode

ser entendida através de situações comuns no campo ético, estético, religioso ou qualquer

outra forma. Por isso, Weber (1999) afirma que essa tipologia de ação é sempre em relação a

uma “causa” ou também pode ser relativa a “mandatos” e “exigências” que o agente acredita

serem dirigidas a ele.

Como observa Ramos (1983), ao tratar dessa tipologia, a ação racional no tocante a

valores é portadora de consciência sistemática de sua intencionalidade, apresenta-se ditada

pelo mérito intrínseco do valor que a inspira, entretanto, é indiferente aos seus resultados. E,

ainda de acordo com Ramos (1983), constitui-se em conduta heróica ou polêmica que

testemunha fé ou crenças sedimentadas nos valores éticos, religiosos, estéticos ou de outra

natureza onde a racionalidade decorre de critérios transcendentes.

Por último, Weber (1999), define a ação referente a fins como aquela que se orienta

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conforme o fim, os meios e conseqüências implicadas e avalia racionalmente os meios em

relação aos fins, os fins relativos às conseqüências implicadas e diferentes fins possíveis entre

si. Ou como salienta Ramos (1983), ao comentar a tipologia weberiana, a ação racional no

tocante a fins é por si mesma sistemática, consciente, calculada, atenta ao ato de adequar as

condições e meios a fins, deliberadamente escolhidos.

Entretanto, como Weber (1999, p. 16) mesmo recorda, “a absoluta racionalidade de

ação com relação a fins, todavia, tem essencialmente o caráter de uma construção de um caso

limite”, uma vez que raras vezes a ação social “está exclusivamente orientada por uma ou

outra de suas modalidades”. É nesse sentido que Weber (1999) afirma que a compreensão da

ação social deve tratar “sempre de um conteúdo significativo empírico” e “nunca de um

sentido normativamente ‘justo’ ou metafisicamente ‘verdadeiro’”, pois deve ser evitada “a

substancialização desses conceitos”.

Observa-se, portanto, que o conceito de ação social weberiano é mais do que uma

simples decisão iniciada a partir da vontade humana. A ação social pode se referir a qualquer

ação possível, a partir dos objetivos em jogo e influenciado pela conduta humana. Atos

realizados pelos homens, não importando a escala temporal, que apresenta os traços de uma

ação, aqui tida simplesmente como social. Por isso, Weber enfatiza o fato de que como a

conduta humana é sempre dotada de sentido, o que por si só já caracterizaria a essência da

ação social

Ou seja, a ação, que provoca a (re) ação imediata ou não de outros indivíduos, é

também resultante de uma outra ação principiante a partir de desejos presentes na mente do

homem. Em se tratando do homem moderno, lapidado entre as fronteiras das sociedades

capitalistas, imerso num turbilhão de ações e por elas o tempo inteiro conduzido, torna-se

tarefa árdua e difícil distingui-las e mensurá-las.

Pois, o homem, entrelaçado nas sociedades modernas, molda sua conduta em sentidos

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diversos, seja em relações sociais racionalmente conduzidas em referência a fins, ou

racionalmente elaboradas na convicção de valores, mas também determinadas pelo modo

afetivo e da tradição. Em referência as sociedades modernas, capitalistas, as definições de

ação social weberianas trazem algumas implicações para a sua compreensão empírica.

Primeiro porque o homem passou a adquirir especificidade e significado tanto no plano

referente a fins como referente a valores; segundo, porque ele passou a dar sentido à ação

social, estabelecendo conexões entre o motivo da ação, como no caso das organizações, seja

por oportunidade econômica ideal para um empreendimento promissor, seja porque elas

podem se concretizar mediante crises, econômicas, de valores, etc., onde o peso da

consciência de seus partícipes determina o vigor da ação social de seus membros.

Nessa constatação, observa-se que existe uma espécie de comunicação entre a ação

propriamente dita e seus efeitos com o mundo externo. Dessa forma, o que caracteriza as

organizações no interior das sociedades modernas é exatamente a intensidade dessa ação.

Quando se constata, ao se referir, que a ação social é qualquer ato humano, aqui também se

faz inserir os motivos pelos quais esta ação é conduzida.

Nas ações racionais referentes a valores, há consciência sistemática da

intencionalidade do agente, uma vez que esta ação é ditada pelo mérito intrínseco do valor

que a inspira. (GONÇALVES, 2005, p.53), assim, os valores não anulam as preocupações

com as conseqüências de tal ação. Ou melhor, como afirma Weber,

A orientação racional referente a valores pode, estar em relações muito diversas com a orientação racional referente a fins. Do ponto de vista da racionalidade referente a fins, entretanto, a racionalidade referente a valores terá sempre caráter irracional, e tanto mais quanto mais eleve o valor pelo qual se orienta a um valor absoluto; pois quanto mais considere valor próprio da ação tanto menos refletirá as conseqüências dessa ação. (WEBER, 1999, p.16)

Logo, existem desejos de construir meios sedimentados pela justificativa

subjetivamente elaborada através de valores, também entrelaçados a fins, o que de forma

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alguma, nega-lhe o resultado da experiência individual ou coletiva racional, uma vez que a

conduta não pode ser organizada sob uma espécie exclusiva de racionalidade. O caráter social

da ação individual decorre da interdependência dos indivíduos e, é importante observar que,

tanto a racionalidade referente a fins quanto a racionalidade referente a valores podem

apresentar características que as tornam diferenciadas no meio onde estejam inseridas. Essa

diferenciação é possível graças a sua sobrevivência orgânica. Assim, pode-se afirmar que é a

ação social dotada de sentido nas organizações o que lhes dá fôlego frente aos desafios

externos do mundo contemporâneo em face à burocracia e ao domínio do modelo empresarial

de gestão.

2.3 Burocracia: conceitos e bases empíricas

O termo “burocracia” é utilizado no campo científico em muitos sentidos, o principal é

para designar uma administração racional e eficiente. Conforme Motta e Bresser (2004) é

também uma forma de poder que se estrutura por intermédio das organizações burocráticas.

A burocracia weberiana é segundo Motta, “uma construção conceitual realizada a

partir de certos elementos empíricos” (2000, p. 62), sendo a totalidade de suas características

impossível de se encontrar empiricamente numa organização e sim uma combinação entre

elas. Por isso denominada como uma tipologia social, em que a sociedade é racionalmente

organizada em estatutos sociais e, com ela, a legitimação da hierarquia de autoridade é

caracterizada pela divisão de trabalho, competência técnica, normas de procedimento para a

maioria das ações dos indivíduos dentro da organização, sendo a efetividade da autoridade

legal e a disciplina racional o principal fundamento da organização burocrática.

A burocracia, segundo Weber (1982), tem como pressuposto social e econômico o

desenvolvimento da economia monetária na medida em que uma concepção pecuniária aos

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funcionários é possível, como também a origem das fontes de tributação e da exploração

como propriedade privada; os arrendamentos e as regulamentações oriundas deste; o

nascimento de cargos estruturados em uma hierarquia, de concepção exclusivamente

econômica. O fortalecimento burocrático ocorreu concomitante ao desenvolvimento dos

Estados modernos, que se adequaram muito rapidamente à estrutura burocrática, aliada

também ao surgimento das indústrias, com a Revolução Industrial, que trouxe a idéia de

“cooperação na indústria” através da introdução das máquinas integradas ao processo de

trabalho. Segundo Weber, a burocracia se desenvolve na sociedade moderna,

Sob os auspícios do capitalismo, criou a necessidade de uma administração estável, rigorosa, intensiva e incalculável. É esta necessidade que dá à burocracia um papel central em nossa sociedade como elemento fundamental em qualquer tipo de administração de massas. (WEBER. 1978, p.26)

Assim, ela origina-se como grupo social exercendo a sua instrumentalidade de

dominação sobre a coletividade, sendo definida como “uma estrutura social na qual a direção

das atividades coletivas fica a cargo de um aparelho impessoal hierarquicamente organizado,

que deve agir segundo critérios impessoais e métodos racionais.” Dessa forma, Max Weber,

considerado o grande teórico da burocracia, parte da premissa de que o traço mais relevante

da sociedade ocidental, no século XX, é o agrupamento social em organizações, preocupando-

se em analisar a forma pela qual uma comunidade social, aparentemente amorfa, chega a se

transformar em uma sociedade dotada de racionalidade, ou pelo menos dirigida para uma

finalidade (MOTTA, 2000, p. 7)

Partindo de seu conceito básico já discutido na seção anterior, o de ação social, Weber

(1999, p. 16) apresenta mais um conceito que leva a compreensão da evolução dessa forma

social, a relação social que é um “comportamento referido quanto a seu conteúdo de sentido

por uma pluralidade de agentes e que se orienta por essa referência.” Para ele, a relação social

pode ter um caráter transitório ou implicar permanência, esta última se dá pela recorrência de

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maneira que o modo permanente de relação ocorre quando o seu conteúdo significativo tem

maior caráter racional. E, desta relação pode se constituir uma relação comunitária ou

associativa, onde a primeira “repousa no sentimento subjetivo dos participantes de pertencer

ao memso grupo” e a seguinte “num ajuste ou numa união de interesses racionalmente

motivados” sejam com referência a valores ou afins.(WEBER, 1999, p.16)

Acrescenta-se ao conceito de relação social, o conceito de dominação que nada mais é

que encontrar obediência a um determinado mandato fundada em “bases de legitimidade” – os

três tipos puros – constituindo “uma estrutura sociológica fundamental diversa do quadro e

dos meios administrativos” (WEBER, 1999, p 16). Weber realiza sua análise sociológica a

fim de identificar como se estabelece o poder nessas entidades e o “situa como núcleo

conceitual da sociedade em sua globalidade e o das organizações em um nível especifico de

análise” (CARVALHO, 1998, p. 31).

Para ele, a dominação é assim “a probabilidade de encontrar obediência a uma ordem

de determinado conteúdo, entre determinadas pessoas indicáveis” (WEBER, 1999, p.33) e tal

probabilidade se configura como,

Uma situação de fato, em que uma vontade manifesta (“mandado”) do “dominador” ou dos “dominadores” quer influenciar as ações de outras pessoas (do “dominado” ou dos “dominados”), e de fato as influencia de tal modo que estas ações, num grau socialmente relevante, se realizam como se os dominados tivessem feito do próprio conteúdo do mandado a máxima de suas ações (“obediência”). (WEBER, 1999, p.191, v.2)

O caráter sociológico da dominação pode revelar traços diferentes conforme

diferenças básicas nos fundamentos gerais da dominação, visto que essa relação pode ser

bilateral, e ainda conforme o próprio Weber (1999), a estrutura burocrática destruiu as formas

estruturais de dominação que não tinham caráter racional. Por intermédio da classificação

weberiana de dominação, pode-se esboçar alguns limites da separação entre a burocracia e os

demais sistemas sociais (MOTTA; BRESSER, 2004).

As três formas puras de dominação, são classificadas como: carismática, tradicional e

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racional-legal ou burocrática e a diferenças básicas estão na sua origem ou na sua

legitimidade para torna-lás efetivas.

A dominação de caráter carismático é aquela que tem por origem o “carisma”, uma

qualidade extraordinária e indefinível de uma pessoa, onde a legitimidade de seu domínio

baseia-se na crença e na devoção, ao extraordinário, porque vai além das qualidades humanas

normais (WEBER, 1999 e MOTTA; BRESSER, 2004).

Um sistema social tendo como tipo de poder a dominação carismática não possui base

racional, porque o poder é exercido de forma instável e arbitrária, e só é mantido até o

momento em que os dominados reconhecem no líder carismático forças extraordinárias. Além

do que este exercício de poder não pode ser delegado nem concedido como herança, ou

qualquer outro maneira de transferência, sendo pessoal e tem como arbitrariedade a ausência

de normas e regras que a regulamentem, sendo um poder exclusivamente exercido pelos

limites pessoais do líder.

A dominação patriarcal ou patrimonial (tradicional) é exercida por intermédio da

legitimidade da tradição, de origem extremamente conservadora opõe-se a qualquer

possibilidade de mudança social, uma vez que esta significa o abandono do uso e dos

costumes que são o poder. O líder tradicional não é simplesmente um superior, mas alguém a

quem se serve, características estas que excluem qualquer existência de racionalidade em sua

base.

O terceiro tipo de dominação a racional-legal, segundo Motta (2000), se legitima

através da crença na justiça da lei, compartilhada entre o povo e os governantes, em que este

último é acatado como superior, devido a tal posição ser alcançada através de nomeações

consideradas legais. O poder é exercido dentro dos limites fixados por um sistema de regras

que têm força de lei, e o aparato administrativo correspondente a esta dominação é a

burocracia.

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Vale salientar que a burocracia, assim como os outros tipos de dominação, nunca se

apresentam em sua forma pura, por isso se constituem num modelo de tipo ideal, ou seja

“uma construção conceitual realizada a partir de certos elementos empíricos, que se agrupam

logicamente em uma forma precisa e consistente” (MOTTA, 2000, p. 62), sendo a totalidade

de suas características impossível de se encontrar empiricamente numa organização.

Conforme Weber (1982) afirma, a burocracia não emergiu apenas com o capitalismo,

mas também com o surgimento do Estado moderno; uma organização baseada no direito, que

se sobrepõe às demais partes desta sociedade, tornando-se assim mais uma estrutura de

dominação. O autor ainda assevera que o Estado passa a existir quando a sociedade passa a

produzir excedente econômico, por conseqüência se divide em classes relacionadas à

apropriação deste excedente, possibilitando não só o domínio econômico, mas também

político, sendo, portanto, uma organização burocrática.

Para Motta (1986) a organização burocrática do Estado é um “grupo corporativo” que

envolve uma relação social fechada e limita a admissão de novos membros por meio de

regras, incluindo algumas parcelas da população e excluindo outras, assim estabelecendo

fronteiras em que a estruturação da interação é imposta pela própria organização, e esta se faz

por meio de uma associação formal, em vez de comunitária. Ela realiza um tipo específico e

continuo de atividades direcionadas a um propósito, disseminando a idéia de ordem,

diferenciando-se mais ainda de entidades sociais e caracterizando-se mais como uma empresa

de modo que,

A organização burocrática não é estudada sistematicamente como produto de determinações históricas que refletem determinado estágio da economia e da técnica, mas como um objeto natural, isto é como a única forma existente e possível de organização. (MOTTA, 1986, p.13)

Assim, esse conceito torna-se o princípio norteador do pensamento administrativo e,

deixando de lado a relação entre organização e a sociedade, como proposto por Weber, o

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discurso administrativo enfatiza que as organizações burocráticas, sob a lógica capitalista,

necessitam gerir eficazmente seus recursos, a fim de atingir seus objetivos, no intuito de

serem consideradas eficientes. Cria-se, por intermédio dessa forma organizacional, uma forma

de poder, que ao estruturar-se reivindica para si o monopólio da racionalidade e do

conhecimento administrativo pautando a direção e a orientação da conduta para que, através

dos agentes, possa-se obter a ação, e estes para agir, necessitam de objetivos, causando assim

uma movimentação estrutural no sentido desta ação.

As organizações modernas, segundo Weber, são caracterizadas por cargos

formalmente bem definidos, ordem hierárquica com linhas de autoridade e responsabilidades

bem delimitadas. Ao cunhar a expressão burocrática para representar um tipo ideal, o autor

descreve a organização de sistemas sociais num sentido que vai muito além de um significado

pejorativo atualmente utilizado e deve ser referido aos seguintes princípios2:

� Formalização: existência de normas racionais bem precisas e protegidas da

alteração arbitrária ao serem formalizadas por escrito, que definem as relações de

mando e subordinação.

� Divisão do trabalho: a distribuição das atividades a serem executadas é feita de

forma sistemática, onde cada elemento do grupo tem uma função específica, de

forma a evitar conflitos na atribuição de competências tendo em vista os fins

visados.

� Impessoalidade: forma pela qual as pessoas expressam sua racionalidade,

enquanto elementos da organização, limitam-se a cumprir as suas tarefas, podendo

sempre ser substituídas por outras - o sistema, como está formalizado funcionará

tanto com uma pessoa como com outra.

� Hierarquia: a impessoalidade dá forma a um sistema organizado em pirâmide,

2 Os princípios da burocracia foram interpretados a partir dos conceitos desenvolvidos por Max Weber (1999) e Fernando Motta (2000).

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sendo as funções subalternas controladas pelas funções de chefia, de forma a

permitir a coesão do funcionamento do sistema.

� Competência técnica: a escolha dos funcionários e cargos depende

exclusivamente do seu mérito e capacidades havendo necessidade da existência de

formas de avaliação objetivas.

� Separação entre propriedade e administração: os burocratas limitam-se a

administrar os meios de produção não os possuem.

� Profissionalização do funcionário: maior precisão e até mesmo menor custo.

Esses princípios, segundo Weber (1978), estão fundamentados na efetividade da

autoridade legal, pois esta valida algumas idéias interdependentes como:

Que toda norma legal pode ser estabelecida por acordo ou imposição, visando a fins utilitários ou valores racionais [...]; 1. Que todo direito consiste, essencialmente, num sistema integrado de normas abstratas, [...] em que o processo administrativo é a busca racional dos interesses [...]. 2. Que a pessoa que representa tipicamente a autoridade ocupa um cargo, [...] e que a obedece, o faz, apenas na qualidade de “membro” da associação. O que é obedecido é a lei. [...] E em conformidade com esta, a obediência não é como individuo, mas sim à ordem impessoal. (WEBER, 1978. p. 15-16).

Para ele, o tipo mais puro de dominação é o racional-legal que se exerce por meio de

um quadro administrativo burocrático, sendo esta administração inevitável paras as

necessidades da administração das massas, uma vez que significa a dominação em virtude de

conhecimento (WEBER, 1999).

Do ponto de vista social, a dominação burocrática siginifica em geral: 1. a tendência ao nivelamento no interesse da possibilidade de recrutamento

universal a partir dos profissionalmente mais qualificados; 2. a tendência à plutocratização no interesse de um processo muito extenso

de qualificação profissional; 3. a dominação da impessoalidade formalista: sine ira et studio, sem ódio e

paixão, e portanto sem “amor” e “entusiasmo”, sob a pressão de simples conceitos de dever, sem considerações pessoais, de modo formalmente igual para “cada um”, isto é, cada qual dos interessados que efetivamente se encontram em situação igual – é assim que o funcionário ideal exerce o cargo. (WEBER, 1999, p. 147) (grifos do autor)

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As organizações burocráticas estão vinculadas à estrutura social e reproduzem uma

formação social capitalista, onde os homens inculcam como sendo as relações sociais em

geral, ou seja, um sistema de classe social através da acumulação de capital, a divisão da força

do trabalho e das relações de poder e submissão. Como destaca Carvalho (1998), o processo

de burocratização, “como uma marcha inexorável da sociedade humana em direção a um

futuro de submissão e racionalização extrema”, haja vista essa forma de dominação estar

determinada pela superioridade técnica. Esta é também a compreensão de Ramos (1983) ao

afirmar que

A racionalidade que a tecnologia e a industrialização difundem, quando entregues a um processo cego, é a que submete o homem a critérios funcionais, antes que substanciais, de entendimento e compreensão. É nesta perspectiva que se fala hoje dos perigos da massificação e da robotização da conduta humana, e que se indaga sob que condições podem o saber tornar-se um modo de preservação da liberdade, num mundo em que a tecnologia, incoercivelmente, terá aplicação cada vez maior em todos os domínios da existência. (RAMOS, 1966, p.54)

Motta (2000) elucida que a sociedade moderna é uma sociedade de organizações

burocráticas, que tem como lógica duas funções fundamentais: serem mecanismos de

produção e de controle social. Afirmação esta corroborada pelo próprio Weber em sua obra,

quando afirma que a “burocratização cria um nivelamento estamental, todo nivelamento

social, por sua vez, fomenta a burocracia que, por toda parte, é a sombra inescapável da

progressiva “democracia de massas” (WEBER, 1999, p. 147). Entretanto, ele também

reconhece que, sob certas condições, a democracia pode criar bloqueios e rompimentos à

organização burocrática.

Conforme o próprio autor salienta, a burocracia é um tipo puro (ideal) de dominação,

por isso, uma dada organização pode apresentar um maior ou menor grau de burocratização,

dependendo da maior ou menor observância dos princípios, que são formulados para atender à

máxima racionalização e eficiência do sistema social organizado, sendo a empresa o mais

característico de todos.

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Muitos estudos, inclusive o de Hall (1978) sobre o conceito puro e racional da

burocracia, a concebe como uma série de dimensões de formas contínuas, e admitem que a

mensuração do grau de presença dessas características, não sob forma de dicotomia ausente-

presente das mesmas, e sim em sob a forma de um contínuo, tornando o conceito

empiricamente mais válido, uma vez que, não se presume que as organizações são ou

totalmente burocráticas ou não-burocráticas. A burocracia, segundo suas conclusões, em

geral, pode ser vista como uma questão de grau e não de natureza, além de as dimensões

burocráticas serem atributos significativos das estruturas organizacionais e de que o tipo de

atividade organizacional pode estar altamente relacionado com o grau de burocratização.

Por isso, Hall (1978), com base em estudos anteriormente desenvolvidos, questiona,

em primeiro lugar, “o uso do modelo burocrático como instrumento acabado e não como um

conjunto de hipóteses a serem verificadas por levantamentos empíricos” e a necessidade de

reelaborar as características do tipo puro weberiano como variáveis a fim de determinar

correlações empiricamente (HALL, 1978, p.30). Para o autor, o modelo burocrático é melhor

abordado a partir de uma perspectiva dimensional, definindo assim seis dimensões que foram

utilizadas em seu estudo, a saber:

1. Divisão do Trabalho baseado na especialização funcional.

2. Uma definida hierarquia de autoridade.

3. Um sistema de normas englobando os direitos e deveres dos ocupantes de cargos.

4. Um sistema de procedimentos que ordenam a atuação no cargo.

5. Impessoalidade das relações interpessoais.

6. Promoção e seleção segundo a competência técnica.

A presença em alto grau dessas dimensões representaria a burocracia do tipo ideal e a

ausência ou baixa freqüência das dimensões, configuraria as organizações “simples ou não-

burocratizadas” (HALL. 1978. p.33), questionando se as organizações concretas se

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enquadrariam em algum nesse tipo ideal para demonstrar a hipótese de que

as características burocráticas dimensionadas não são altamente intercorrelacionadas, e organizações altamente burocratizadas com respeito a uma das dimensões não o são necessariamente com relação às demais.[...] e que esta presume que as dimensões burocráticas existem de fato sob a forma de contínuos, e que esses contínuos são mensuráveis.(HALL, 1978.p. 35)

Para tal utilizou uma metodologia de natureza quantitativa e qualitativa, com uma

amostra de dez organizações dos mais variados tipos, idade e tamanho, e por intermédio da

percepção dos participantes da organização, também verificou a existência ou não de uma

estrutura oficial e uma real. Os resultados mostraram que “a burocracia em geral pode ser

vista como uma questão de grau e não de natureza” e que mesmo sendo muito pequeno o

número de organizações estudadas tais resultados “sugerem uma indicação de variabilidade

em que se podem manifestar os graus de burocratização”. (HALL, 1978, p. 42)

Embora o autor surgira estudos adicionais, suas conclusões elencaram as seguintes

proposições:

� As dimensões burocráticas são atributos significativos das estruturas

organizacionais.

� Quando medidas quantitativamente, as dimensões existem na forma de

contínuos ao invés de dicotomias.

� A magnitude das dimensões variou independentemente nas organizações

estudadas.

Outra conclusão foi a de que a “partir dos dados disponíveis, parece que o tipo de

atividade organizacional pode estar altamente relacionado com o grau de burocratização”, e

que os fatores de idade e tamanho, não são importantes no estudo. (HALL, 1978)

O que se pode observar neste estudo, mesmo propondo uma análise da ausência de

dicotomias das dimensões, o mesmo favorece a predominância da estrutura burocrática nas

organizações modernas, uma vez que ele elucida que o “uso dessa abordagem dimensional

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poderia levar a um esboço mais exato da forma organizacional ‘racional’ (grifos do autor)

para a consecução dos objetivos organizacionais”, ou seja, uma atitude tipicamente embasada

pela lógica de ação referente a fins.

2.4 Ação Administrativa, Racionalidades e Éticas

Em sua obra Administração e Estratégia do Desenvolvimento, Alberto Guerreiro

Ramos propõe uma reformulação do conceito de ação administrativa diante de uma nova

problematização teórica na Administração, que permanece presente até hoje, diante da

necessidade de novos conceitos para a compreensão das práticas organizacionais. Ao recorrer

ao modelo weberiano (assim categorizado por muitos autores) dos tipos de ação social,

Ramos (1966) compara a ação racional no tocante aos fins e a ação racional no tocante a

valores a fim de elucidar a ação administrativa. À luz dos estudos de Barnard (1979), que

afirma a utilidade de “considerar as pessoas em seu aspecto individual, como externas a

qualquer sistema corporativo”, Ramos questiona se é possível isolar os indivíduos das

organizações e instituições a que se integram, lembrando que para Barnard “a racionalidade

da organização não se confunde com a racionalidade geral” (RAMOS, 1966, p. 51), até

porque, quando tratadas as relações indivíduo, organização e o ambiente externo devem ser

consideradas tensões e conflitos racionais.

Ramos tem como preocupação distinguir elementos racionais e irracionais nas

organizações e recorre a Karl Mannheim. Este último (1942) define atos funcionais como

aqueles que podem ser racionais quando estiverem articulados com outros elementos que

fazem parte desta articulação. Mannheim trabalha aqui com um ponto de vista sistêmico de

modo que essas articulações teriam que atender a determinados objetivos elaborados e, em

função do seu pré-estabelecimento confirmariam um tipo de racionalidade funcional, logo:

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Na racionalidade funcional não se apresenta propriamente a qualidade intrínseca das ações, mas o seu maior ou menor concurso, numa série de outros, para atingir um fim preestabelecido, independentemente do conteúdo que possam ter as ações. (RAMOS, 1966, p. 52)

Por outro lado, segundo Mannheim, o ato substancialmente racional é aquele

intrinsecamente inteligente, baseado em um conhecimento lúcido e autônomo de relações

entre fatos e onde o ato não se dá através da integração positiva com uma série sistemática de

outros atos de modo que “racionalidade substancial é estreitamente relacionada com a

preocupação em resguardar a liberdade” (RAMOS, 1966, p. 52). A razão que preside esse ato

é vinculada ao sentido próprio de racionalidade substancial que o aproxima diretamente a

laços de liberdade.

Entretanto, para reconhecer essa racionalidade é necessário distingui-la de uma

irracionalidade substancial. De acordo com o autor, esta se aproxima de impulsos

manifestados, de explosões, de motivos justificados por superstições, de quimeras, de

preconceitos e “a natureza dessa irracionalidade se esclarece quando se considera que o ato

inteligente pode ser funcionalmente irracional desde que entre em choque com os objetivos

pré-determinados” (RAMOS, 1966, p 53).

A racionalidade substancial está na qualidade intrínseca das ações, e diferentemente da

racionalidade funcional não busca a integração do individuo a organização, mediante o

desenvolvimento deliberado de uma auto-racionalização da conduta. Ramos (1966) recorre a

Weber ao compreender que ações referidas a fins ou a valores não são de todos antagônicas

por se tratarem essencialmente de casos limites concordando que nenhum indivíduo organiza

sua conduta sob espécie exclusiva de racionalidade.

Por isso, ele propõe um “conceito radical de racionalidade” focado em um outro par

conceitual de inspiração weberiana. A ética de responsabilidade correspondente à ação

racional referida a fins que tem como critério fundamental à racionalidade funcional e a ética

de valor absoluto ou da convicção implícita em toda ação referida a valores admitindo a sua

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congruência sob tensões e não um antagonismo excludente (RAMOS, 1996, p. 58).

No delinear conceitual da ética da responsabilidade, permanece evidente a adoção de

um discurso, dos finais do século XX e início deste século, onde a prosperidade, ainda que

mantida com o esforço racional, mas pessoal, não viria somente a partir de um

empreendimento conduzido com brilhantismo pela vontade de seus partícipes, e sim com um

código onde as normas fossem estabelecidas e cumpridas por todos, a fim de que, escondido

nesse princípio, esteja também o princípio da justiça. A ética da responsabilidade induz e põe

o homem diante de decisões que precisará tomar de forma racional.

A ética da responsabilidade ainda para a maior parte dos teóricos permanece no campo

da ação estritamente racional, iluminada, é claro, pelos mecanismos da racionalidade humana.

Esse princípio weberiano põe-na numa situação em que este tipo de ética se vincula

diretamente a fins. Assim é que o espírito voltado para o mundo racional das sociedades

contemporâneas constrói no plano da praticidade racional a consolidação desse principio.

Esse tipo de ética apresenta-se também munido de um critério que soa como uma postura

metodológica em que se aliam os critérios da racionalidade funcional ou pragmática à

natureza acadêmica de seus executores.

A orientação conduzida pela racionalidade ou simplesmente orientação racional

diretamente vinculada a valores por apresentar multiplicidade na relação com a orientação

racional direcionada a fins. Em relação à segunda, a primeira poderia apresentar-se movida

pela irracionalidade. Esse comportamento ora torna-se mais ou menos intenso na proporção

em que o sentido (valores) a direcionam a aproximar-se do absoluto. (WEBER, 1999)

Entretanto, Ramos (1983) explica esse enunciado, argumentando que esses resultados,

refletidos sobre as conseqüências da ação, são menores na medida em que a atenção

direcionada e concedida ao valor próprio do ato em seu caráter absoluto seja mais intenso.

Nota-se que a ética do valor absoluto ou da convicção está diretamente vinculada a

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toda ação que possua relação com valores. Assim nas organizações que apresentam traços de

uma racionalidade substantiva a esse tipo de ética adquire conformidade de acordo com a

trajetória da organização, geralmente com objetivos, não tão padronizados e onde a certeza

humana é movida por uma outra estrutura de consentimento que a relacionada exclusivamente

a fins por detrás de suas decisões.

Logo, apesar de Ramos (1966, p.65) definir a “ação administrativa como toda

modalidade de ação social, dotada de racionalidade funcional, e que supõe estejam os seus

agentes, enquanto a exercem, sob a vigência predominante da ética da responsabilidade”,

entende-se que o universo organizacional como um todo não pode ser conduzido por um

único tipo de ética. As tensões éticas se fazem presentes nas organizações e no ambiente

social em que elas estão inseridas de modo a torná-las “sensitivas” e influenciáveis a essa

dinâmica ambígua tanto no domínio propriamente da organização, como da sociedade.

Portanto, mesmo ao observar certa ambigüidade no delineamento teórico das duas

formações éticas, não é possível entendê-las pelo caminho do antagonismo, pois em muitas

situações, pautadas na praticidade, as duas formas são visíveis.

No Brasil, estudos foram realizados no sentido de analisar em termos práticos essas

racionalidades delineadas teoricamente por Ramos. Um primeiro estudo foi realizado por

Serva (1996, 1997) que, sob a perspectiva da emancipação do homem no âmbito do trabalho,

e diante da ausência de abordagens empíricas que demonstrassem claramente a concretização

da racionalidade substantiva nas práticas administrativas, pesquisou três organizações

empresariais prestadoras de serviços situadas na cidade de Salvador, através de um estudo

etnográfico, analisando suas práticas e as ações dos seus participantes no cotidiano.

Esse autor constitui seu arcabouço teórico partindo da premissa de que a teoria

proposta por Ramos era puramente conceitual, o que exigia uma teoria de ação, sendo

escolhida a Teoria da Ação Comunicativa de Junger Habermas por possuir como “auto-

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realização e ponto de partida a emancipação do ser humano face aos constrangimentos

impostos pela sociedade contemporânea” (SERVA, 1996, p. 318). Seu objetivo foi identificar

“como e quando a racionalidade substantiva e também a instrumental3 se manifestam nas

operações desenvolvidas nas empresas pesquisadas, ou seja, como tais racionalidades se

concretizam em atos dos indivíduos enquanto membros da organização”. (SERVA, 1996, p.

340), definindo e operacionalizando essas racionalidades a partir de dois tipos de ações

relativas a elementos constitutivos e processos organizacionais.

Ação Racional Substantiva: aquela orientada na dimensão individual à auto -

realização, compreendida como concretização de potencialidades e satisfação e na dimensão

grupal ao entendimento, em direção da responsabilidade e satisfação social. (SERVA, 1996,

p. 340)

Tendo esta ação os seguintes elementos constitutivos:

a) Auto-realização - processos de concretização do potencial inato do indivíduo, complementados pela satisfação; b) Entendimento - ações pelas quais estabelecem-se acordos e consensos racionais, mediadas pela comunicação livre, coordenando atividades comuns sob a égide das responsabilidades e satisfação sociais; c) Julgamento ético - deliberação baseada em juízos de valor (bom, mal, verdadeiro, falso, correto, incorreto, etc.), que se dá através do debate racional das pretensões de validez emitidas; d) Autenticidade - integridade, honestidade e franqueza dos indivíduos nas interações; e) Valores emancipatórios - aqui destacam-se os valores de mudança e aperfeiçoamento do social, bem estar coletivo, solidariedade, respeito à individualidade, liberdade e comprometimento, presentes nos indivíduos e no contexto normativo do grupo; f) Autonomia - condição plena dos indivíduos para poder agir e expressar-se livremente nas interações. (SERVA, 1996, p. 341)

Ação Racional Instrumental: aquela baseada no cálculo e orientada para o alcance de

metas técnicas ou de finalidades ligadas a interesses econômicos ou de poder social, através

da maximização dos recursos disponíveis. (SERVA, 1996, p. 342)

Apresentando a ação instrumental os seguintes elementos constitutivos:

3 Serva (1996, 1997) adota o termo racionalidade instrumental ao invés de racionalidade funcional utilizado por Ramos (1996).

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a) Cálculo - projeção utilitária das conseqüências dos atos humanos; b) Fins - metas de natureza técnica, econômica ou política (aumento de poder); c) Maximização de recursos - busca da eficácia e da eficácia máximas no tratamento de recursos disponíveis, quer sejam humanos, materiais, financeiros, técnicos, energéticos ou ainda, de tempo; d) Êxito, resultados - o alcance, em si mesmo, de padrões, níveis, estágios, situações, que são considerados como vitoriosos face a processos competitivos numa sociedade capitalista; e) Desempenho - performance individual elevada na realização de atividades; f) Utilidade - considerada na base das interações como valor generalizado; g) Rentabilidade - medida de retorno econômico dos êxitos e resultados alcançados; h) Estratégia interpessoal, entendida como influência planejada sobre outrem, a partir da antecipação das reações prováveis desse outrem a determinados estímulos e ações, visando atingir seus pontos fracos. (SERVA, 1996, p. 342-343)

Processos organizacionais: aqueles nos quais os indivíduos definem, mediante ações

específicas, o caráter básico do empreendimento grupal do qual participam, delineando seus

padrões de inter-relação e também as fronteiras e limites da ação do grupo perante a sociedade

que o envolve. Trata-se de um “conjunto de processos organizacionais e práticas

administrativas específicas, aspectos, idéias e representações concernentes a uma dada

dimensão do cotidiano da empresa” (SERVA, 1996, p. 312) identificados como 1) hierarquia

e normas; 2) valores e objetivos organizacionais; 3) tomada de decisão; 4) controle; 5) divisão

do trabalho; 6) reflexão sobre a organização; 7) conflitos; 8) comunicação e relações

interpessoais; satisfação individual; 9) dimensão simbólica e 10) ação social e relações

ambientais.

Conclui o autor que, sob a perspectiva proposta, os indivíduos associados em qualquer

tipo de organização podem

estabelecer relações gratificantes entre si, alcançar níveis consideráveis de auto-realização e embasar-se numa lógica não utilitária; ao passo que, suas organizações alcançam graus de desempenho satisfatórios num mercado competitivo.(SERVA, 1996, p. 587)

Uma outra conclusão é de que a sociedade centrada no mercado é apenas uma forma

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recente de ordenação da vida humana associada e que outras formas de ordenação social e de

produção podem ser encontradas, sendo necessários outros mecanismos de interpretação, e

também referenciais teóricos alternativos à lógica utilitarista (SERVA, 1996).

Outro estudo que analisa as racionalidades instrumental e substantiva nas organizações

foi desenvolvido por Dellagnelo (2000) em sua tese de doutorado. O estudo foi norteado sob

duas vertentes de análise, uma relativa a identificação de uma racionalidade dominante e outra

envolvendo indicadores da estrutura organizacional.

No que se refere à racionalidade como lógica de ação organizacional, a autora se

embasa na assertiva de Weber, de que as diferentes formas organizacionais encontradas na

realidade social podem ser explicadas pela predominância do uso de tipos específicos de

racionalidade, considerando também a discussão proposta por Ramos (1966) a cerca das

racionalidades. Com isso define racionalidade instrumental como a ação racional baseada no

cálculo utilitário de conseqüências no estabelecimento de relações meio-fim, e a racionalidade

substantiva como um tipo de ação orientada a dimensão individual e grupal,

operacionalizando esta última, com base em Serva (1997), através dos seguintes elementos:

auto-realização, julgamento ético e valores emancipatórios, e a primeira pela a presença

marcante do calculo utilitário de conseqüências em face à maximização dos recursos e ao

desempenho organizacional em termos de eficiência e eficácia.

Na análise dos dados verificou-se uma forte presença do cálculo utilitário nas ações

organizacionais que justiçavam considerações instrumentais na adoção de certas práticas em

direção a uma maior flexibilidade na estrutura e processos organizacionais. Entretanto,

também foram relatados alguns indicativos contrários à racionalidade instrumental que

evidenciavam mais explicitamente uma lógica de ação orientadora das práticas

organizacionais diferente da visão instrumental inerente a uma racionalidade formal;

burocrática.

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Conclui Dellagnelo (2000) que a assertiva de Serva (1997) de que uma empresa pode

sobreviver no mercado competitivo e, simultaneamente, tentar concretizar práticas baseadas

numa racionalidade substantiva, constitui-se em um grande desafio para essas organizações,

pois enfrentam ainda em seu cotidiano o domínio de um modelo organizacional único – a

burocracia – sempre fortalecida pela economia de mercado.

2.5 Modelo Multicêntrico e o Paradigma Paraeconômico

Alberto Guerreiro Ramos propôs um modelo de análise dos sistemas sociais,

desenvolvido durante seu exílio nos Estados Unidos. Mesmo considerando sua obra

inacabada, ele teve como objetivo central “[...] contrapor um modelo de análise de sistemas

sociais e de delineamento organizacional de múltiplos centros ao modelo atual centrado no

mercado [...]” (RAMOS, 1981, p.11).

Essa proposta inicia com uma crítica à razão moderna e sua influência sobre a teoria

da organização, desenvolvendo uma teoria substantiva da vida humana associada.

A teoria da organização, tal como tem prevalecido, é ingênua. Assume esse caráter porque se baseia na racionalidade instrumental inerente à ciência social dominante no Ocidente. Na realidade, até agora essa ingenuidade tem sido o fator fundamental de seu sucesso prático. Todavia, cumpre reconhecer agora que esse sucesso tem sido unidimensional e, como será mostrado, exerce um impacto desfigurador sobre a vida humana associada (RAMOS, 1981 p.1).

Desdobrando vários aspectos desta desfiguração, ele propõe o arcabouço de um

modelo para concepção de sistemas sociais, denominado “paraeconômico” que pretende,

sobretudo estabelecer a “delimitação do sistema de mercado” calcada numa epistemologia da

racionalidade substantiva. Por intermédio da análise dos pressupostos epistemológicos da

ciência social contemporânea, quanto ao conceito de razão, o autor posiciona-se criticamente

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sobre as primeiras concepções de Weber e Mannheim, as posteriores contribuições de

Voegelin e as perspectivas estabelecidas na chamada Escola de Frankfurt.

Referindo-se, particularmente, ao conceito de racionalidade substantiva como uma

proposta que deveria ser a base da vida social em substituição à racionalidade funcional, base

da lógica de mercado, da modernidade e da burocracia, autor assevera que,

[...] uma teoria substantiva da vida humana associada é algo que existe há muito tempo e seus elementos sistemáticos podem ser encontrados nos trabalhos dos pensadores de todos os tempos, passados e presentes, harmonizados ao significado que o senso comum atribui à razão, embora nenhum deles tenha jamais empregado a expressão razão substantiva. Na verdade, é graças às peculiaridades da época moderna, através das quais o conceito de razão foi escamoteado pelos funcionalistas de várias convicções, que temos presentemente que qualificar o conceito como substantivo. (RAMOS, 1981.p.27) (grifos do autor)

Ramos afirma que “a raiz do caráter enganoso da ciência social convencional está no

conceito de racionalidade que a permeia” (1981, p.194). Daí sua atenção, a princípio, em

analisar em que momento histórico e a partir de quais idéias o próprio conceito de razão foi

“invadido” pela lógica do cálculo utilitário das conseqüências, denominada então

racionalidade formal. Mais, “a distinção [entre racionalidade substantiva e racionalidade

formal] não deveria ser considerado um exercício didático: propõe um dilema existencial a

quem quer que escolha ser um cientista social” (RAMOS, 1981, p.194).

Segundo o autor, a teoria organizacional vigente não considera como deveria a

complexidade da análise e desenho dos sistemas sociais, e a justifica com os seus alicerces

psicológicos, elucidando que uma teoria científica precisa levar em consideração também

questões substantivas. Por isso, uma teoria organizacional deveria fazer "a avaliação das

organizações em termos da compreensão da conduta geralmente adequada a seres humanos,

levando em consideração tanto requisitos substantivos como funcionais" (RAMOS, 1981,

p.50).

Para Ramos, há que se distinguir comportamento de ação. A origem lingüística do

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51

termo comportamento é recente no idioma inglês, significando “conformidade a ordens e

costumes ditados pelas conveniências exteriores”. O comportamento, portanto, "é uma forma

de conduta que se baseia na racionalidade funcional ou na estimativa utilitária das

conseqüências [...] é desprovido de conteúdo ético [...] e ditado por imperativos exteriores”

(RAMOS, 1981, p.50-51). Por outro lado,

a ação é própria de um agente que delibera sobre coisas porque está consciente de suas finalidades intrínsecas. Pelo reconhecimento dessa finalidade, a ação constitui uma forma ética de conduta. A eficiência social e organizacional é uma dimensão incidental e não fundamental da ação humana. [...] Homens e mulheres já não vivem mais em comunidades onde o senso comum substantivo determina o curso de suas ações. Pertencem, em vez disso, a sociedades em que fazem pouco mais além de responder a persuasões organizadas. O indivíduo tornou-se uma criatura que se comporta. (RAMOS, 1981, p.51)

A síndrome comportamentalista é “uma característica básica das sociedades industriais

contemporâneas”, e condiciona as pessoas a incorporarem as regras das organizações

modernas à suas vidas como um todo. Está presente nas sociedades que se originam de um

processo histórico de ordenação da vida humana associada com base nos processos auto-

reguladores do mercado e, portanto, “é impróprio considerar como ciência social formal

àquela que se baseia na noção comportamental do ser humano”. (RAMOS, 1981, p.52) Esta

síndrome se apresenta através de quatro aspectos, quais sejam: a fluidez da individualidade, o

perspectivismo, o formalismo e o operacionalismo.

A concepção de Homem baseada na fluidez da individualidade está na base da lógica

utilitarista e da vida moderna. Pressupõe que “nada é bom ou mal em si mesmo” e que “a

natureza humana é fraca e inconstante”, ou seja, o indivíduo muda ao sabor das conveniências

pela sua própria natureza (RAMOS, 1981, p.53). Não há, portanto, valores substantivos

norteadores da ação, mas uma conduta conveniente voltada para a mudança incessante.

O conceito de perspectivismo surge como uma conseqüência natural da “visão

fluídica” do ser humano, na medida em que, “[...] com a interpretação da sociedade como um

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sistema de regras contratadas, o indivíduo é levado a compreender que tanto a sua conduta

quanto a conduta dos outros é afetada por uma perspectiva”. Através da análise do advento do

mercado de arte na Itália no século XVI, o autor afirma que "o mercado é a força subjacente,

geradora da visão perspectivista da vida humana associada" (RAMOS, 1981, p.58).

Já o formalismo se refere à "observância das regras que substitui a preocupação pelos

padrões éticos substantivos" (RAMOS, 1981, p.59), fundamentando-se na aparência e

dissociando-se do bem comum. O sujeito do formalismo “não é uma individualidade

consistente, mas uma criatura fluída, pronta a desempenhar papéis convenientes” (RAMOS,

1981, p.60). A legitimação da conduta humana, para o autor, é o postulado básico da ciência

do comportamento, focada nos seus processos e não na sua substância.

Por fim, o operacionalismo diz respeito a um conceito que muito tem influenciado a

teoria organizacional, segundo o qual apenas as normas inerentes ao método de uma ciência

natural de características matemáticas são adequadas para a validação e a verificação do

conhecimento. Em outras palavras, "apenas aquilo que pode ser fisicamente medido ou

avaliado merece ser considerado como conhecimento" (RAMOS, 1981, p.63).

Assim, os traços básicos da síndrome comportamentalista "são o credo não enunciado

de instituições e organizações que funcionam na sociedade centrada no mercado" e a teoria

organizacional existente, por estar ela mesma submissa a esses traços básicos, “não pode

ajudar o indivíduo a superar essa situação” (RAMOS, 1981, p.67).

Um conceito apresentado por Ramos e composto de uma carga grandiosa de crítica, é

o de “política cognitiva que consiste no uso consciente ou inconsciente de uma linguagem

distorcida, cuja finalidade é levar as pessoas a interpretarem a realidade em termos adequados

aos interesses dos agentes diretos e/ou indiretos de tal distorção” (RAMOS , 1981, p.87). Ela

tornou-se a mais “importante dimensão oculta da psicologia da sociedade centrada no

mercado” (RAMOS , 1981, p.1).

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Quando o autor afirma que, “a política cognitiva é a moeda corrente psicológica da

sociedade centrada no mercado” (p.90), enfatiza o seu caráter obscuro. Ao fazer um paralelo

contrário a expressões como: política do petróleo e política da poluição (mais claras), explana

que aqueles que estão à frente dela não têm razão alguma em expor suas intenções para não

enfraquecerem seu papel, nem se tornarem alvos de questionamentos éticos.

A sociedade centrada no mercado é a responsável por uma visão limitada da natureza

humana, restringindo suas motivações, anseios e valores à competição, interesse pelo ganho e

características puramente econômicas. Nela “foi o indivíduo induzido a comportar-se como

um ser econômico” (RAMOS, 1981, p.93), um requisito essencial para seu sucesso.

Nessa sociedade organizacional a valorização do indivíduo fica subordinada ao seu

papel de detentor de um emprego, e “numa sociedade assim, não ser detentor de um emprego

corresponde a não ter valor – e mesmo a não existir” (RAMOS, 1981, p.101). Pressuposto

que, segundo ele, não havia ocorrido antes do surgimento da sociedade industrial, por

conseqüência, centrada no mercado e, contrário à possibilidade de atualização humana dentro

da esfera organizacional, Ramos expõe a seguinte assertiva:

Se uma pessoa permite que a organização se torne a referência primordial de sua existência, perde o contato com sua verdadeira individualidade e, em vez disso, adapta-se a uma realidade fabricada. [...] as organizações formais, têm metas que, só acidentalmente e secundariamente, consideram a atualização humana. (RAMOS, 1981, p. 99)

Como se vê o autor alerta para invasão de pressupostos característicos do enclave

econômico sobre todas as esferas da vida social que suportam o indivíduo, tanto em seu

interior como exterior. Ramos (1981, p. 92) ressalta ainda o fato de que, “[...] em nenhuma

sociedade anterior à sociedade industrial, as organizações de caráter econômico jamais

assumiram papel central e deliberado no processo de socialização” e, conforme suas palavras,

É duvidoso, na verdade, que em seu tempo fora do trabalho possa o indivíduo dispor de áreas suficientes, livres da penetração de pressões sociais

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organizadas, [e que] [...] o ambiente social, como um todo, tornou-se, ele próprio, um ambiente mecanomórfico e, pela interiorização de suas normas e exigências, o indivíduo é induzido a se transformar, [...], num sistema mecanomórfico (RAMOS, 1981, p.110-111).

A partir dessa análise de alguns dos pressupostos da teoria organizacional dominante,

Ramos alerta para a necessidade de uma nova abordagem, uma vez que aquela baseia suas

construções teóricas apenas no enclave econômico, tomando de outras disciplinas

inadequadamente conceitos e, assim condenando a si mesma a um caráter não analítico que a

posiciona numa condição nas ciências sociais. O intuito do autor é também alertar para as

limitações na percepção da organização econômica formal dentro de um enclave restrito entre

um leque de micro sistemas sociais. Por isso, na construção de sua abordagem substantiva, ele

propõe duas tarefas necessárias ao analista organizacional:

1) O desenvolvimento de um tipo de análise capaz de detectar os ingredientes

epistemológicos dos vários cenários organizacionais;

2) O desenvolvimento de um tipo de análise organizacional expurgado de padrões

distorcidos de linguagem e conceitualização.

A primeira tarefa, sem muitos aprofundamentos, é revelada através da demonstração

do papel das organizações no processo de percepção da realidade, pelo indivíduo. Uma vez

que “[...] as atuais organizações têm “protéica habilidade de moldar a sociedade” (PERROW

apud RAMOS, 1981, p.119), há motivo para “[...] um reexame da noção de ambiente4, [...] ao

invés do ambiente afetar a organização, parece que o contrário fica mais perto da verdade”

(RAMOS, 1981, p.119).

A segunda tarefa, a mais explorada por Ramos, é baseada na seguinte afirmação do

autor, “[...] os sistemas sociais cujo desenho evita considerações substantivas deformam,

caracteristicamente, a linguagem e os conceitos através dos quais a realidade é apreendida.

[...] nossa atenção deve voltar-se, agora, para uma abordagem substantiva da organização”

4 Grifos do autor

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55

(RAMOS, 1981, p.120). A seguir ele expõe os pontos cegos da teoria organizacional corrente

que a impedem de se interpretar de forma crítica.

O primeiro ponto identifica o comportamento econômico como principal constituinte

da natureza humana. Para o autor esse comportamento é pertinente somente quando o

indivíduo avalia as conseqüências econômicas de suas ações, portanto em enclaves

econômicos.

O segundo ponto apresenta a não distinção, pela teoria da organização, entre o

significado substantivo e o formal da organização. Conforme o autor, isso tornou obscura a

percepção das organizações econômicas como acontecimentos históricos recentes gerados por

imperativos da acumulação de capital e pela expansão de seus mecanismos.

O terceiro ponto explana a falta de compreensão da teoria em relação ao papel da

interação simbólica, no conjunto dos relacionamentos interpessoais. O autor considera que

“[...] a presente teoria da organização é, sobretudo, uma expressão da ideologia de mercado, e

é da natureza dessa ideologia negligenciar os pontos envolvidos pela interação simbólica [...]”

(RAMOS, 1981, p.127). De forma que ela

é um tipo de comunicação não-projetada e que se opõe às comunicações projetadas, [assim] A organização convencional perderia sua raison d’ être se fosse permitir a livre interação simbólica, e as comunicações no contexto de tais organizações são operacionais e não expressivas. (RAMOS , 1981, p.129).

O quarto e último ponto, frisado pelo autor, é a incapacidade da teoria organizacional

em distinguir entre trabalho e ocupação. Segundo Ramos, “o trabalho é a prática de um

esforço subordinada às necessidades objetivas inerentes ao processo de produção em si”

(RAMOS, 1981, p.130) , em que o indivíduo não tem deliberação prevalecendo a obrigação.

A “ocupação é a prática de esforços livremente produzidos pelo indivíduo [de sua

deliberação] em busca de sua atualização pessoal” (p.130), sendo intrinsecamente gratificante.

Afirma o autor, “[...] a velha distinção entre ocupação e trabalho precisava ser solapada, de

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outro modo os conflitos interiores da psique humana tornariam o sistema de mercado

impraticável [...]” (RAMOS, 1981, p.134).

O autor ao expor sua conceitualização de uma abordagem substantiva da organização

que, segundo ele, modificaria o caráter restrito da teoria organizacional contemporânea,

caracteriza o enfoque substantivo pelas seguintes considerações:

1) As organizações econômicas devem ser consideradas como pertencentes a um

enclave conceitual e limitado, dentro do espaço humano;

2) O comportamento administrativo é incompatível com o pleno desenvolvimento

das potencialidades humanas;

3) A importância do comportamento administrativo diminui quando se caminha

para sistemas sociais que não sejam planejados para obter lucro, mas que são mais propícios à

atualização humana;

4) Preocupa-se com a eliminação das compulsões operacionais características do

comportamento administrativo;

5) A atualização dos indivíduos depende de sistemas diferentes daqueles que

atendem aos contextos econômicos.

Conforme Ramos, “uma abordagem substantiva da organização resiste a tornar-se, sob

qualquer disfarce, um instrumento de política cognitiva” (RAMOS, 1981, p.135). Dessa

forma, a análise e planejamento dos sistemas sociais dominantes estão fundamentados na

lógica centrada no mercado, numa perspectiva unidimensional e, contrariamente a isto,

Ramos apresenta um novo modelo que delimita os sistemas de forma multidimensional. Neste

sentido, propõe uma nova perspectiva, um modelo chamado de “paradigma paraeconômico”,

em que o mercado é considerado um enclave social legítimo e necessário, porém, limitado e

regulado.

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57

Figura 1 - O Modelo Paraeconômico Fonte: RAMOS, 1981, p. 141

O pressuposto principal deste modelo é a noção de delimitação organizacional, a

saber:

a) Uma visão da sociedade constituída de vários enclaves, onde o homem se

envolve em várias atividades substantivas;

b) Um sistema de governo social capaz de formular e implementar as políticas e

decisões distributivas requeridas para a promoção do tipo ótimo de transações.

Neste novo paradigma existe lugar para a atualização individual livre de prescrições

impostas e é possível uma verdadeira escolha pessoal. O arcabouço epistemológico do

paradigma paraeconômico diferencia o conceito de ‘escolha pessoal’ da concepção de escolha

utilizada pelo modelo estabelecido que reduz o homem a um agente da maximização da

utilidade, permanentemente ocupado em atividades de comércio. A nova proposta estabelece

uma condição que permite ao indivíduo comportar-se diferentemente das expectativas de uma

realidade social dominada pelo mercado.

A delimitação organizacional é uma tentativa sistemática de superar o processo

contínuo de unidimensionalização da vida individual e coletiva. Esta unidimensionalização é

um tipo específico de socialização na qual o indivíduo internaliza profundamente o ethos do

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mercado. Este padrão é levado para todas as dimensões de sua vida e, é típica da sociedade

centrada no mercado. (RAMOS, 1981, p. 142)

A crença de que pode existir a total integração entre os objetivos organizacionais e dos

indivíduos é considerada equivocada, como também, é enganador querer igualar o

comportamento administrativo à natureza humana. Para o autor, este comportamento

funcionalista limita a atualização humana e despersonaliza o indivíduo, pois a atualização

humana é um esforço complexo, portanto, difícil de ser atendida apenas em um único tipo de

organização. Assim, o paradigma paraeconômico oferece uma variedade de ambientes

organizacionais.

Por isso, sua crítica à teoria organizacional estabelecida legitima a superorganização,

que nada mais é do que a transformação de toda a sociedade num universo operacionalizado,

onde o indivíduo desempenha um papel pré-estabelecido. Esta condição dificulta a

privacidade de lugar e tempo, padronizando comportamentos e emoções, fazendo a pessoa

abdicar de sua própria identidade para desempenhar determinado papel, nisto internaliza a

identidade que a sociedade espera dela.

A “[...] isonomia pode ser definida como um contexto em que todos os membros são

iguais” (RAMOS, 1981, p.150). Consoante ao autor, um contexto social de iguais pode

proporcionar maior possibilidade de uma verdadeira atualização humana, onde as mínimas

prescrições de comportamento são determinadas pelo consenso. As atividades são

compensadoras, “[...] participam de um tipo generoso de relacionamento social [...]”

(RAMOS, 1981, p.150), proporcionando recompensas intrínsecas. As decisões são tomadas

sem imposições, pois a liderança é situacional, dependendo da natureza do assunto, da

qualificação do indivíduo e do foco do problema.

Já a Fenonomia “[...] é um sistema social de caráter esporádico ou mais ou menos

estável, iniciado e dirigido por um único indivíduo ou um pequeno grupo [...]” (RAMOS ,

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59

1981, p. 152). Sua principal característica está na liberdade de ação, livre de qualquer

prescrição operacional formal. Constitui momentos que possibilitam a criatividade e

autonomia, onde a motivação e o comprometimento com a atividade são avaliados pelo

próprio indivíduo, sem nenhum vínculo com a lógica de mercado.

A economia é “[...] um contexto organizacional altamente ordenado, estabelecido para

a produção de bens e/ou para a prestação de serviços [...]” (RAMOS , 1981, p.147), seja ela

monopólio, empresa privada, organização sem-fins lucrativos. Apresenta cinco características

fundamentais, a saber:

� Presta seus serviços/produtos a clientes;

� Depende da eficiência para sobreviver;

� Normalmente, precisa assumir uma dimensão de tamanho grande e complexa;

� Seus membros são avaliados, exclusivamente, pelo seu desempenho enquanto

detentores de um emprego;

� As pessoas situadas nos vários níveis da estrutura condicionam a prestação de

informação aos interesses pessoais e empresariais.

“A anomia é conceituada como uma situação estanque, em que a vida pessoal e social

desaparece” (RAMOS, 1981, p. 146). Os anômicos são desprovidos de normas e raízes,

incapazes de modelar suas próprias vidas de acordo com um projeto pessoal. As instituições

devem compreender a natureza de suas funções e suas necessárias qualificações, que muitas

vezes parecem comportar-se dentro da lógica de mercado, perdendo seus objetivos sociais.

“Motim é a referência de coletividades desprovidas de normas, a cujos membros falta

o senso de ordem social” (RAMOS, 1981, p.147).

O Isolado é aquele que “[...] está excessivamente comprometido com uma norma que

para ele é única”. (RAMOS , 1981, p. 153). Este indivíduo tem seu próprio sistema de crença.

Diferentemente da Anomia e do Motim, esta pessoa se compromete com normas, ou seja, não

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é avesso a prescrições. O isolamento do indivíduo se dá de forma interior, preferindo não

expor sentimentos e convicções, porém não se exime de se relacionar com a sociedade.

O modelo do paradigma paraeconômico pressupõe uma nova proposta para uma nova

sociedade que, segundo Ramos, deve estar baseada na racionalidade substantiva e não deve

ser entendida como uma evolução do processo histórico e social, mas como um

“empreendimento intencional”. Deve-se planejar e implementar um novo estado, que possa

apoiar não apenas os objetivos orientados para o mercado, mas também que proporcionem

atualização pessoal, relacionamentos de convivência e atividades comunitárias dos cidadãos.

Nesse contexto, Ramos, apresenta a Lei dos Requisitos Adequados, como “um tópico

fundamental da nova ciência da organização” (RAMOS, 1981, p.156), indicando que, a

variedade de sistemas sociais constitui qualificação essencial de qualquer sociedade,

respondendo a necessidades de atualização pessoal.

A Lei dos Requisitos Adequados é ilustrada por uma análise da tecnologia, do

tamanho, da cognição, do espaço e do tempo dos sistemas sociais. A tecnologia deve ser vista

como “[...] uma parte essencial da estrutura de apoio de qualquer sistema social” (RAMOS,

1981, p.157). Um aspecto que deve ser levado em consideração é a necessidade de um

planejador analisar se aquela tecnologia usada pelo sistema social facilita ou dificulta o

alcance de seus objetivos.

Filósofos como Platão e Aristóteles, e mais recentemente teóricos como Madison,

Dahl, e Kohr, apresentaram significativa atenção na influência do tamanho sob a eficiência e

sob o caráter das relações interpessoais. Diante de uma dicotomia entre “o pequeno é o belo”

e “quanto maior, melhor”, Ramos, apresenta três enunciações importantes sobre o assunto,

que enfocam:

� A eficácia dos sistemas depende dos limites mínimos ou máximos a seu

tamanho;

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� Nenhuma norma geral pode ser formulada para determinar, com precisão, o

limite de tamanho de um cenário social;

� A intensidade das relações diretas entre os membros de um cenário social tende

a ser afetada na proporção direta do aumento de seu tamanho.

Um aspecto relevante quanto ao tamanho dos sistemas sociais é quando se analisa a

sua influência sobre a Anomia, ou seja, a sociedade industrial tende a estabelecer relações

funcionais em lugar de afetivas. Desta forma, a delimitação dos sistemas sociais pode

constituir uma mudança na crescente Anomia conseqüente da industrialização.

O paradigma paraeconômico apresenta vários ambientes nos quais podem ser

identificados diferentes sistemas cognitivos. Segundo Habermas (apud RAMOS, 1981), estes

ambientes podem ser classificados de acordo com seus interesses dominantes. O sistema

cognitivo funcional predomina nas economias (o interesse dominante é a produção e o

controle); o sistema cognitivo político, nas isonomias (o interesse é o estímulo aos padrões de

bem-estar social); o sistema cognitivo personalístico, nas fenonomias (o interesse pelo

desenvolvimento do conhecimento pessoal); e o sistema cognitivo deformado é característico

dos anômicos (desprovido de qualquer interesse central).

Ramos considera que

[...] a paraeconomia pode ser entendida também como proporcionadora da estrutura de uma teoria política substantiva de alocação de recursos e de relacionamentos funcionais entre enclaves sociais, necessários à estimulação qualitativa da vida social dos cidadãos.” (RAMOS, 1981, p. 177).

Assim, as Economias, as Isonomias e as Fenonomias devem ser agências legitimadas,

efetivando alocação de mão-de-obra e recursos, necessárias à viabilidade da sociedade. Essa

concepção apresenta-se como uma dimensão multifacetada, que proporcionará uma maior

qualidade e desenvolvimento da sociedade, aplicável no nível macro da sociedade. No

entanto, as dimensões que não são de mercado são efetivadas dentro de uma lógica que não é

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necessariamente de custo/benefício e seu funcionamento deve ser financiado por subvenções,

não pela lei clássica da oferta e da procura.

Em suma, um dos objetivos do novo paradigma está num equilíbrio na alocação de

recursos e uma das conseqüências desastrosas dessa sociedade industrial é, justamente, o

crescente desaparecimento destes recursos não-renováveis. Um novo modelo surge como uma

tentativa de superar a deterioração física do planeta e a qualidade da condição de vida da

humanidade.

“A raiz do caráter enganoso da ciência social convencional está no conceito de

racionalidade que a permeia”.(RAMOS, 1981, p.194) Com essa assertiva Ramos delineia toda

a sua proposta, desde a análise crítica dos pressupostos epistemológicos da ciência social

centrada no mercado, regida pela racionalidade funcionalista, até enfocar as várias concepções

da racionalidade substantiva que, segundo ele próprio e outros importantes pensadores, em

essência, trazem idéias opostas à precária da racionalidade funcional-formal.

Após apresentar vários argumentos sólidos e profundos, que demonstram a condição

deformadora da racionalidade que domina a sociedade, Ramos afirma que “[...] a atual teoria

da organização já cumpriu a missão que lhe cabia. A compreensão desse fato abre o caminho

para a elaboração de uma ciência multidimensional da organização” (RAMOS , 1981, p.198).

Outra questão importante a ser destacada é que sua proposta não é de eliminação, mas

de delimitação da presença das organizações na sociedade. Ele não desconsidera o papel das

organizações, mas alerta para o esquecimento do caráter substantivo que deveria reger a vida

social. A abordagem substantiva de Ramos pretende, então, mostrar “não apenas que há

múltiplos tipos de organização, mas também, e mais importante ainda, que cada um deles

pertence a enclaves distintos, no contexto da tessitura geral da sociedade” (RAMOS, 1981,

p.134).

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63

3 Os caminhos da pesquisa

3.1 Caracterização da Pesquisa

O estudo científico se distingue pela pesquisa, entendida como a

atividade básica da Ciência na sua indagação e construção da realidade. é a pesquisa que alimenta a atividade de ensino e a atualiza frente à atualidade do mundo. Portanto, embora seja uma prática teórica, a pesquisa vincula pensamento e ação. Ou seja, nada pode ser intelectualmente um problema senão tiver sido, em primeiro lugar, um problema da vida prática.5 (MINAYO, 1994, p. 17)

Uma pesquisa é caracterizada pela sua finalidade e pelo seu método, segundo Tripodi,

Fellin e Meyer (1981), ou seja, procura responder as questões da investigação através de

métodos científicos. Para Minayo (1994) estas questões se relacionam a interesses e

circunstâncias socialmente condicionadas; já que são resultados de inserções no real, e nele

encontrando suas razões e seus objetivos.

Esta pesquisa procura identificar se um programa governamental, o Cultura Viva,

influencia a gestão das organizações culturais vinculadas a ele, especificamente os pontos de

cultura, por meio de uma abordagem de natureza predominantemente qualitativa, uma vez que

ao “definir seu campo de interesse, torna possível um diálogo rico com a realidade”

(MINAYO, 1994, p. 52).

Os estudos que empregam uma metodologia qualitativa podem descrever a complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais, contribuir no processo de mudança de determinado grupo e possibilitar, em maior nível de profundidade, o entendimento das particularidades do comportamento dos indivíduos (RICHARDSON, 1999,

5 Grifos do autor.

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64

p.39).

Dessa forma, o estudo em questão será de natureza descritiva interpretativa, pois este

tipo de pesquisa tem como característica,

descobrir e classificar a relação entre variáveis, bem como nos que investigam a relação de causalidade entre fenômenos, haja vista que os estudos de natureza descritiva propõe-se investigar “o que é”, ou seja a descobrir as características de um fenômeno como tal. (RICHARDSON, 1999, p. 71)

Dado o caráter do estudo, percebe-se que na medida em que se busca o

aprofundamento a respeito de uma realidade da unidade de análise, este pode ser classificado

como um estudo de caso, definido por Yin (2005) como sendo um questionamento empírico

que investiga um fenômeno contemporâneo com seu contexto da vida real.

3.2 Estratégia da pesquisa

A estratégia de Pesquisa escolhida para esta pesquisa é a de estudo de caso, uma vez

que é “utilizada em muitas ações, para contribuir com o conhecimento que temos de

fenômenos organizacionais, [...] além de outros fenômenos não relacionados”. (YIN, 2005, p.

20)

De acordo com Triviños (1987), o estudo de caso é particularmente importante por

permitir a análise de fenômenos em profundidade dentro de seu contexto de vida real.

Conforme Yin (2005) a especialidade do estudo de caso é a capacidade de lidar com uma

grande variedade de dados.

Também para este autor:

A investigação de estudo de caso • Enfrenta uma situação tecnicamente única em que haverá muito mais variáveis de interesse do que pontos de dados, [...] • Beneficia-se do desenvolvimento prévio de proposições teóricas para conduzir a coleta e a análise de dados. (YIN, 2005, p. 33)

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65

“O estudo de caso pode ser único ou de casos múltiplos e a unidade de análise pode

ser um ou mais indivíduos, grupos, organizações, eventos, países ou regiões”. (ROESCH,

1996, p. 197). Sendo o de casos múltiplos considerados de maior empáfia, já que cada caso

deve servir a um propósito especifico dentro do escopo global da investigação. (YIN, 2005)

Apesar de serem os estudos de casos múltiplos muito comparados a experimentos

múltiplos, Yin (2005), os diferencia em seus fundamentos lógicos, onde o primeiro se

caracteriza pela lógica da replicação e o segundo a da amostragem.

Para Triviños (1987), os estudos de casos múltiplos são realizados com natureza

exclusivamente comparativa. Embora existam diferentes casos, tal método apresenta o mesmo

princípio do estudo de caso único. Ainda de acordo com esse autor, o estudo comparativo

permite uma melhor compreensão sobre o objeto investigado, já que por meio das

comparações, podem-se verificar semelhanças e diferenças entre os casos pesquisados.

Sendo esta pesquisa classificada como um estudo de casos múltiplos, de dois casos

com 02 (dois) Pontos de Cultura da cidade de Olinda-PE, tendo como unidade de análise o

ponto de cultura, seguindo a uma lógica da subjacência de uma replicação literal.

Levando em consideração que esta pesquisa tem como objeto uma situação específica,

a influência na gestão dos pontos de cultura classificados pelos editais do programa Cultura

Viva , este estudo procurou responder a seguinte pergunta de pesquisa:

Como (de que forma) o Programa Cultura Viva pode influenciar a gestão das

organizações culturais selecionadas como Pontos de Cultura?

A fim de obter tal resposta, foram elaboradas as questões de pesquisa que devem ser

respondidas segundo os objetivos específicos estabelecidos, portanto questiona-se:

• Qual o grau de burocratização das organizações culturais?

• Quais as bases de racionalidade das organizações culturais?

• Qual a influência do Programa Cultura Viva no processo de burocratização dessas

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organizações?

• Qual a influência do Programa Cultura Viva na delimitação organizacional dessas

organizações?

• Qual a influência do Programa Cultura Viva na ação administrativa dessas

organizações?

3.3 Definições constitutivas (DC) e operacionais (DO) das

categorias de análise

Conforme salientam Marconi e Lakatos (1999, p.225) “Para que se possa esclarecer o

fato ou fenômeno que se está investigando e ter possibilidade de comunicá-lo, de forma não

ambígua, é necessário defini-lo com precisão”. Dependendo do contexto em que os termos

são empregados, os mesmos passam a ter significados distintos. De acordo com Kerlinger

(1980), a definição das categorias de análise pode ser realizada de duas formas. A primeira,

definição constitutiva, que se caracteriza por uma definição conceitual já utilizada por algum

autor e em consonância com a teoria utilizada. Esse tipo de definição nem sempre é suficiente

para atender às especificidades da pesquisa científica, sendo assim, torna-se necessário tecer

as definições operacionais. Para Kerlinger (1980), a definição operacional, permite que seja

conferido um significado para a categoria de análise através da especificação de seus

indicadores.

Os termos relevantes a serem abordados na pesquisa são:

Definições constitutivas das categorias de análise:

• Burocratização - é o reflexo do processo de racionalização da sociedade

ocidental, na qual se busca um instrumento de adequação dos meios aos fins, desde o

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desenvolvimento do capitalismo no início do século XX (WEBER, 2000).

• Racionalidade conforme fins (instrumental) - corresponde à ação relativa a

um fim em que o agente calcula as condições ou os meios para obter o fim desejado e as

conseqüências de sucesso ou fracasso. (WEBER, 2001)

• Racionalidade conforme valores (substantiva) – corresponde à ação que é

realizada em virtude de algum princípio superior ético, estético ou religioso, independente de

resultados, senão puramente em virtude desse valor. (WEBER, 2001)

Definições Operacionais das categorias de análise:

A análise e identificação das categorias de análise serão operacionalizadas em função

dos quadros 1 e 2, conforme abaixo especificados.

Categorias Elementos Indicadores Detalhamento

Tomada de decisão

Descreve o grau em que a autoridade está concentrada e o nível de participação dos membros. (tipo de decisão/interesse)

Hierarquia e Autoridade

Sistemas de Controle

Refere-se a coordenação das atividades concernentes aos processos de trabalho (comportamento), de produtos, de habilidades, ou de normas e valores compartilhados.

Comunicação

Refere-se aos canais de comunicação utilizados na organização, podendo ser eles formais, como por exemplo, documentos escritos e reuniões ou informais.

Normas e procedimentos

Formalização

Grau em que são explícitos as regras, normas, políticas e procedimentos que governam as atividades organizacionais.

Divisão de Trabalho/ Competência técnica

É o modo como o trabalho é dividido na organização. Caracterizando a diferenciação horizontal. e a especialização funcional.

Grau de Burocratização

Impessoalidade

Forma pela qual as pessoas expressam sua racionalidade, enquanto elementos da organização, limitam-se a cumprir as suas tarefas, podendo sempre ser substituídas por outras - o sistema, como está formalizado funcionará tanto com uma pessoa como com outra.

Quadro 1 – Análise do Grau de Burocratização

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Categorias Elementos Indicadores Detalhamento

Maximização de recursos Busca da eficácia e da eficiência no tratamento de recursos disponíveis, quer sejam humanos, materiais, financeiros, técnicos, energéticos ou ainda, de tempo.

Resultados/ fins Metas de natureza técnica, econômica ou política (aumento de poder).

cálculo Projeção utilitária das conseqüências dos atos humanos.

Instrumental

desempenho Performance individual elevada na realização de atividades;

Julgamento ético Deliberação baseada em juízos de valor (bom, mal, verdadeiro, falso, correto, incorreto, etc.), que se dá através do debate racional das pretensões de validez emitidas.

Valores emancipatórios Os valores de mudança e aperfeiçoamento do social, bem estar coletivo, solidariedade, respeito à individualidade, liberdade e comprometimento, presentes nos indivíduos e no contexto normativo do grupo que levam a satisfação.

Autonomia Condição plena dos indivíduos para poder agir e expressar-se livremente nas interações.

Racionalidades

Substantiva

Entendimento Ações pelas quais se estabelecem acordos e consensos racionais, mediadas pela comunicação livre, coordenando atividades comuns sob a égide das responsabilidades e satisfações sociais.

Quadro 2 – Análise das Bases de Racionalidade

3.4 Casos da Pesquisa

Segundo Yin (2005, p. 71), “cada estudo de caso em particular consiste em um estudo

“completo” (grifos do autor), no qual se procuram evidencias convergentes com respeito aos

fatos e às conclusões para o caso”.

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Deste modo foi feito um levantamento dos pontos de cultura classificados nos três

primeiros editais do Programa Cultura Viva, no período de setembro de 2004 a dezembro

2005, perfazendo um total de 384 pontos em todo o país, em que tais organizações foram

selecionadas, e constituem o foco desta pesquisa.

Dentre estes, foram escolhidos os Pontos de Cultura da cidade de Olinda-PE, como

primeiro critério de seleção, uma vez que em 30 de junho de 2005 este município foi eleito

como 1ª Capital Brasileira da Cultura. E ainda ser esta cidade considerada como um dos

berços da cultura brasileira, uma “universidade de cultura popular a céu aberto” (BRASIL,

2006).

Pôde-se então identificar um total de 13 Pontos de Cultura, listados no quadro 3,

salientando que 01 ponto não foi instalado por motivo de desistência de seu proponente, que

em seguida submeteu novo projeto e foi selecionado novamente.

EDITAL NOME DA ENTIDADE TÍTULO DO PROJETO Edital 01 Associação Recreativa Carnavalesca

Afoxé Alafin Oyó Carnaval da Ala Alafin Mimi

Edital 01 Associação Nacional de Cooperação Agrícola - ANCA

Centro de Cultura da Reforma Agrária e Cidadania do Centro Francisco Julião - Olinda-PE

Edital 01 Centro de Cultura Popular Viva Arte Cinema de Animação

Edital 01 C.A.I.S. do Parto: Centro Ativo de Integração do Ser

De Antena Ligada

Edital 03 Djumbay - Direitos Humanos e Desenvolvimento Local Sustentável

Ensinamento de Mãe Preta (troca de saberes tradicionais dos terreiros de candomblé de Pernambuco)

Edital 03 Clube de Alegorias e Críticas o Homem da Meia Noite

Gigante Cidadão - Entardecer em Olinda

Edital 03 Maracatu Piaba de Ouro Maracatu Piaba de Ouro - Formação Continuada

Edital 01 Djumbay - Direitos Humanos e Desenvolvimento Local Sustentável

Núcleo de Memória e Produção de Cultura Popular Coco de Umbigada

Edital 01 Associação Veredas: cidadania, cultura e patrimônio

Nossos Patrimônios Vivos

Edital 01 GRAÚNA - Juventude, Gênero, Arte e Desenvolvimento

OCAS - Oficinas Culturais de Artes e Saúde

Edital 01 Associação dos Amigos do Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano

Projeto Memorial Severina Paraíso da Silva - Mãe Biu

Edital 03 Centro de Cultura Luiz Freire Quartas Literárias

Edital 01 Centro de Cultura Luiz Freire Rede de comunicação e Cultura Semi-árido (DESISTENTE)

Quadro 3 – Pontos de Cultura da Cidade de Olinda

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EDITAL NOME DA ENTIDADE TÍTULO DO PROJETO Edital 01 GRAÚNA - Juventude, Gênero, Arte e

Desenvolvimento OCAS - Oficinas Culturais de Artes e

Saúde Edital 01 Djumbay - Direitos Humanos e

Desenvolvimento Local Sustentável (APENAS PROPONENTE)

(CENTRO CULTURAL COCO DE UMBIGADA)

Núcleo de Memória e Produção de Cultura Popular Coco de Umbigada

Edital 03 Djumbay - Direitos Humanos e Desenvolvimento Local Sustentável

(APENAS PROPONENTE) (CENTRO CULTURAL COCO DE

UMBIGADA)

Ensinamento de Mãe Preta (troca de saberes tradicionais dos terreiros de

candomblé de Pernambuco)

Quadro 4 – Casos da Pesquisa

3.5 Coleta dos Dados

O processo de coleta de dados foi realizado em três etapas distintas que compõe a

coleta de dados primários e coleta de dados secundários.

Na primeira etapa, inicialmente, se buscou informação preliminar na Internet, assim

como em jornais e outros documentos, com o intuito de conhecer a proposta do Programa.

Yin (2005, p.109) salienta que o maior objetivo da utilização de documentos é “corroborar e

valorizar as evidências oriundas de outras fontes”.

Em um segundo momento foram realizadas visitas de caráter observatório, a eventos

de reunião geral destes pontos, como conferências municipais e estaduais de cultura, e reunião

de fóruns, o que proporcionou um prévio conhecimento das pessoas e organizações

relacionadas ao programa, bem como a escolha intencional dos casos.

Ao mesmo tempo, foram recolhidos e lidos todos os documentos, cartas ao público,

jornais e panfletos distribuídos pelas organizações, uma vez que, nestas publicações estão

expressas opiniões, idéias, e valores dos emitentes.

Por o objeto se tratar, de algo específico ao funcionamento das organizações, sendo a

primeira etapa muito vaga e a segunda constituída de um grande conglomerado de pessoas,

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sabe-se da ocorrência de perdas de perspectivas. Por isso foi escolhido como última etapa e

instrumento principal da coleta de dados: a técnica de entrevistas individuais dos tipos semi-

estruturadas com participantes das organizações e narrativas com as lideranças das mesmas.

Salienta-se ainda que a pesquisa foi realizada no campo natural de estudo o que

proporcionou um encontro em “firsthand” com o tema escolhido, Merrian, (1998), neste caso,

a influência do programa Cultura Viva na gestão de organizações culturais.

Para Gaskell,

A entrevista qualitativa fornece os dados básicos para o desenvolvimento e a compreensão das relações entre os atores sociais e sua situação, e tem como objetivo uma compreensão detalhada das crenças, atitudes, valores e motivações, em relação aos comportamentos das pessoas em contextos sociais específicos. (GASKELL, 2002, p. 64)

Ainda para este artífice, a entrevista qualitativa, [...] tem como finalidade real explorar

o espectro de opiniões, as diferentes representações sobre o assunto em questão [...]

(GASKELL, 2002, p. 68). Sendo esse argumento a justificativa para a escolha por entrevistas

semi-estruturadas individuais, como o próprio autor corrobora, pode-se obter esclarecimentos

e acréscimos em pontos importantes.

De acordo com Triviños (1987), a entrevista semi-estruturada oferece todas as

perspectivas possíveis para que o entrevistado alcance a liberdade e a espontaneidade

necessárias para enriquecer a pesquisa.

Podemos entender por entrevista semi-estruturada, em geral, aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante (TRIVIÑOS, 1987, p.146).

Diante do exposto foi elaborado um roteiro contendo 23 questões, baseado nos

elementos operacionais das categorias definidas no item 3.3 deste capítulo, disponibilizado no

apêndice A, sendo aplicado a todos os entrevistados.

Aliado a isso, foi implementada a técnica de entrevistas narrativas com as lideranças

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dos casos pesquisados, por ser através da narrativa, que se expressam às lembranças de uma

experiência, encadeada e com as possíveis explicações para a construção da vida individual e

social destes. (JOVCHELOVITCH; BAUER, 2002), e serem as lideranças pessoas

completamente responsáveis pelo surgimento e desenvolvimento das organizações em estudo.

Narrações são ricas de colocações indexicadas, a) porque elas se referem á experiência pessoal, e b) porque elas tendem a serem detalhadas com um enfoque nos acontecimentos e ações. [...] a narração reconstrói ações e contexto da maneira mais adequada: ela mostra o lugar, o tempo, a motivação e as orientações do sistema simbólico do ator. (JOVCHELOVITCH; BAUER, 2002, p. 92)

Isto posto, foram realizadas 06 entrevistas com cada organização o que perfaz um total

de 12 de entrevistas, e os integrantes selecionados foram da seguinte forma: para a

organização Centro cultural coco de umbigada, foram todos que fazem a organização e sua

gestão; na Graúna - -juventude, gênero, arte e desenvolvimento, a seleção foi de acordo com

as funções que ocupam na organização, abrangendo todos os níveis hierárquicos da mesma.

Tais entrevistas foram registradas através de gravações de áudio, posteriormente

transcritas e analisadas em seu conteúdo, que sugerido por Taylor e Bogdan apud Merrian

(1998) possibilitam mudar de uma lente de ângulo ampla para um mais estreito (foco) e

buscar as palavras-chaves nas considerações das pessoas. E ainda segundo Adler e Adler

(1994) facilitam a aceitação da pesquisa, dando a esta uma maior confiabilidade.

3.6 Análise dos dados

Roesch (1996) estabelece que, ao final da coleta, o investigador, se depara com uma

imensa quantidade de notas de pesquisa ou depoimentos materializados em forma de texto,

que deverão ser organizados e depois interpretados. Sendo assim, o objetivo da análise de

dados é descrever e interpretar os dados coletados de maneira que venha responder às

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questões formuladas no estudo (Gil, 1999).

Considerando a perspectiva predominantemente qualitativa deste estudo, utilizou-se a

técnica da análise interpretativa do conteúdo das entrevistas como método adotado para a

análise dos dados coletados nas mesmas. Minayo (1994) afirma que este tipo de análise busca

uma compreensão aprofundada frente ao problema de pesquisa, além disso, a autora

argumenta que a análise dos dados deve atender a três finalidades: compreender os dados

coletados, confirmar ou não os pressupostos da pesquisa e ampliar o conhecimento sobre o

assunto pesquisado.

Contudo, após serem realizadas as entrevistas, Bardin (1977) sugere três fases

fundamentais, que foram utilizadas no presente trabalho, para se proceder a uma análise de

conteúdo: (1) a pré-análise, que se refere à organização do material obtido; (2) a descrição

analítica, que consiste na codificação, classificação e categorização dos dados; e (3) o

tratamento dos resultados, etapa onde ocorre a interpretação dos dados.

Como forma de analisar os dados secundários, utilizou-se a técnica de análise

documental.

Em termos gerais, a análise documental consiste em uma série de operações que visam estudar e analisar um ou vários documentos para descobrir circunstâncias sociais e econômicas com as quais podem estar relacionados (...) é o método histórico que consiste em estudar os documentos visando investigar os fatos sociais e suas relações com o tempo sócio-cultural-cronológico (RICHARDSON, 1999, p. 182).

A análise documental e a análise de conteúdo diferenciam-se em alguns aspectos, pois

a documental trabalha com documentos, e a de conteúdo, com mensagens. “O objetivo da

análise documental é a representação condensada da informação, para consulta e

armazenagem; o da análise de conteúdo é a manipulação de mensagens (conteúdo e expressão

desse conteúdo), para evidenciar os indicadores que permitam inferir sobre uma outra

realidade que não a da mensagem” (BARDIN, 1977, p.41).

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Na análise de conteúdo, a mensagem pode ser submetida a uma ou várias dimensões

de análise, sustenta Bardin (1977). Utiliza um tipo de análise de conteúdo categorial, que

segundo a autora, corresponde à classificação dos elementos de um determinado conjunto por

diferenciação, e reagrupamentos conforme critérios previamente definidos. Este tipo de

análise de conteúdo consiste, portanto, na divisão do texto em unidades ou categorias segundo

reagrupamentos analógicos.

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4 As Organizações Estudadas

Conforme expõe BAUER (2002, p. 203), “a análise de conteúdo é uma construção

social. Como qualquer construção viável, ela leva em consideração alguma realidade”. Isto

posto, esta pesquisa comporta a análise de duas organizações culturais localizadas na cidade

de Olinda, estado de Pernambuco, que configuram o caso.

Neste sentido, serão apresentados os casos pesquisados individualmente. Com uma

breve apresentação da organização em questão, em seqüência a análise das dimensões

concernentes ao grau de burocratização e a intensidade das racionalidades nos casos em

estudo.

Ao final do capítulo tem-se uma análise dos casos no que concerne a sua característica

em comum: o Programa Cultura Viva

4.1 O Centro Cultural Coco de Umbigada

O Centro Cultural Coco de Umbigada surgiu a partir do desejo de liberdade de um

determinado grupo de mulheres pertencentes ao candomblé, insatisfeitas com proibição de seu

gênero em tocar instrumentos de tal religião. Através de muitas pesquisas descobriram então

que tal proibição pertencia a uma dissidência do candomblé brasileiro. E durante os últimos

26 anos, o grupo foi se formando a partir de um afoxé, mais conhecido como candomblé de

rua, que não resistiu à intolerância do preceito, em seguida por um maracatu, o Maracatu

Abadia e por fim através do terreiro que estas mulheres e suas famílias integram.

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Assim como o terreiro, o centro cultural está situado no largo de Guadalupe na cidade

de Olinda, bairro onde a maioria de seus componentes reside e realiza suas ações.

Durante os últimos dez anos foram realizadas atividades de fomento e divulgação da

música de raiz afro-descendente, mais precisamente o coco, o coco da aldeia, que tem sua raiz

na aldeia de Paratibe e que por 40 anos ficou desaparecido. Como esse grupo possui em seus

integrantes um descendente nato desta aldeia, o cônjuge de uma das mulheres, que por sinal é

a líder e a principal idealizadora de tudo que o centro realiza.

Antes do surgimento do centro cultural, já era realizado um evento com este foco: a

sambada de coco de umbigada, que acontece uma vez por mês, uma a manifestação de dança

e raízes de matriz africana, além de um cine clube, com projeções de filme de conteúdo sobre

a matriz africana, o “Cine Clube Macaíba” em alusão ao beco onde essa comunidade se

encontra.

Com o lançamento do programa Cultura Viva em 2004, e toda a sua proposta, os

integrantes do grupo decidiram então, tentar dar maior visibilidade às ações de

empoderamento de sua matriz africana. O primeiro impasse veio por não possuírem registro

para se tornarem proponente, explicando-se assim a presença de uma segunda organização

como proponente nos projetos desta entidade, a Djumbay - Direitos Humanos e

Desenvolvimento Local Sustentável.

Apesar de a relação ser bastante amigável e harmoniosa, com o decorrer do tempo e

das atividades executadas nestes últimos dois anos, o grupo verbalizou a necessidade de mais

autonomia, principalmente no que tange a recursos financeiros, uma vez que a entidade

proponente fica com uma parte da verba, apenas por ceder sua identidade física.

Assim, a partir de janeiro de 2007 a organização obteve o seu registro e CNPJ,

constituindo-se, no entanto na unidade de análise desta pesquisa.

Em termos organizacionais a entidade está instalada em uma casa vizinha ao terreiro

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que a originou, terreiro este que também é a residência de seus idealizadores. Neste local são

realizadas as oficinas dos projetos que possui, sendo todos vinculados ao Programa Cultura

Viva.

O centro foi constituído inicialmente por 03 pessoas, todas ligadas à religião do

candomblé, e hoje é composto oficialmente por 07 pessoas, sendo algumas voluntárias e

outras vinculadas como professores das oficinas dos projetos. Os voluntários procuram

conciliar suas atividades no grupo com as suas outras ocupações.

O Centro detém hoje dois projetos classificados como ponto de cultura, intitulados:

Núcleo de Memória e Produção de Cultura Popular Coco de Umbigada e Ensinamento de

Mãe Preta (troca de saberes tradicionais dos terreiros de candomblé de Pernambuco).

O Núcleo de Memória e Produção de Cultura Popular Coco de Umbigada tem como

objetivo “Criar o Núcleo de Memória e Produção de Cultura Popular Coco de Umbigada,

tornando-o referência na produção, pesquisa e acervo da cultura popular, em especial a cultura

do coco” (BRASIL, 2006) e tem como público alvo a comunidade de baixa renda do bairro

onde se localiza o centro.

O projeto Ensinamento de Mãe Preta (troca de saberes tradicionais dos terreiros de

candomblé de Pernambuco) tem como escopo o empoderamento e valorização, da

comunidade de candomblé do Recife, principalmente no que tange ao gênero feminino, uma

vez que o público alvo desse projeto são as Mães de santo de candomblé. Tendo como ação

final a criação de um canal de rádio direcionado a esta crença.

Atreladas a esses projetos são realizadas 04 oficinas, semanalmente em dois períodos,

vespertino e noturno, que são: ritmo, teatro de bonecos, Vídeo e os contos de Ifá.- cidadania

afro-descendente, sendo essa última relacionada ao segundo projeto.

O centro cultural caracteriza-se por manter um comprometimento e dedicação dos seus

membros em todas as atividades relativas ao grupo sem perder a preocupação com o foco do

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grupo, ou seja, a valorização da matriz africana os trabalhos são realizados de forma coletiva,

inclusive as decisões, porém com a anuência da líder, uma vez que é unânime sua propriedade

com os objetivos do grupo.

4.1.1 O grau de burocratização

Segundo Solé (2004), uma organização é o conjunto de relações entre humanos, e que

estas relações podem ser de ordem calculada mas também da ordem vital das relações

humanitárias. Já para Etzioni (1964) este termo representa as coletividades que foram

estabelecidas para a concretização de objetivos relativamente específicos de forma mais ou

menos continua. Neste sentido, pretende-se identificar qual a orientação do centro cultural

coco de umbigada como forma organizacional.

A seguir, apresentam-se as dimensões de análise da categoria “Grau de

Burocratização” conforme definido no capítulo da metodologia utilizada neste trabalho, que

contribuíram para a identificação e análise dos elementos da burocracia presentes na

organização do Centro Cultural Coco de Umbigada.

Hierarquia e Autoridade

Partindo da premissa de que a hierarquia é caracterizada pela distribuição de

autoridade em vários níveis, principalmente a diferenciação vertical.

O Centro Cultural possui em sua configuração, uma coordenadora geral, que ocupa

esse posto por ser considerada a idealizadora do centro, além de deter o conhecimento com

propriedade da matriz africana e a experiência de viver da música e do coco, sem contar a

dedicação total ao centro. Sendo com esses atributos que influencia os outros integrantes,

além de ser a responsável por toda a articulação externa e interna do centro. Uma outra razão

observada é a visão e a atitude da mesma em que todos vêm para agregar conhecimento e

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possibilidades de desenvolvimento para o centro.

Além da hierarquia de função, existe uma outra hierarquia, seguida pelos integrantes,

que é o respeito e a veneração às duas mães de santos integrantes do grupo. Uma pela idade,

conhecimento e luta dos preceitos religiosos do candomblé, e a outra pela propriedade com a

causa do centro.

A coordenadora B, junto com mãe L é a gestão, [...], só que todos nós lá somos ligados a certa espiritualidade, que nos envolve, que eu acho que o axé é a coisa mais importante que tem ali dentro do coco de umbigada, que eu acho que não foi por acaso que nos encontramos ali dentro, as idéias baterem e fazer a coisa. [...]. (ENTREVISTADO 05)

Aliada a essa função percebe-se outras unidades de comando, porém relacionadas ao

domínio técnico de cada integrante.

Com isso, as decisões no centro cultural são permeadas por discussão e orientação,

através das reuniões de sistematização realizadas semanalmente, para deliberarem as

atividades e programações do centro. Todavia é muito perceptível que a decisão final é

tomada pela coordenadora geral, como ressaltam os entrevistados,

As decisões a gente implantou aqui que as segundas-feiras a gente se reúne para discutir com as pessoas sobre cada seguimento e identificou também como gestão. Na quarta, de projetos. A gente faz assim, Cada um faz uma programação e discute-se. Quem está no projeto,quem está na comunicação, quem está na mobilização popular, quem ta na articulação, (a coordenadora) fica mais na parte de articulação e comigo na de gestão e das decisões das coisas, a gente conversa com o grupo. (Entrevistado 03)

Para o entrevistado 02

A gente respeita a coordenadora geral, toda decisão ela é sempre tomada em grupo, mas com o fechamento dela, porque ela realmente se apropria mesmo, ela sabe, não perde o rumo, às vezes agente ate se atrapalha assim, o projeto poderia ter esse rumo, ela como? Não de jeito nenhum você ta se perdendo, a gente tem que focar etc., é quando a gente percebe que a gente migrou para ótica da indústria cultural, e a gente meio que ta viciado na ação e ela opa, colocando no rumo sempre, sem problema nenhum (entrevistado 02).

Diante da verbalização a seguir, “(a coordenadora) fica mais na parte de articulação e

comigo na de gestão e das decisões das coisas, a gente conversa com o grupo.” (Entrevistado

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03), podemos perceber que se configura a presença de um indivíduo como responsável pelo

controle funcional da organização e uma voluntária com experiência em gestão, porém o

controle geral é realizado pela coordenadora geral.

Com isso, se ver emergir a presença de um sistema de controle, tanto relativos às

atividades de operacionalização da organização como o controle de sua orientação valorativa.

No entanto é necessário salientar que a organização possui registrado em seu estatuto um

plano de trabalho com prazo de 4 anos, que se remete a classificar tal sistema como bem

elaborado e em fase de desenvolvimento, o qual pode ser confirmado pelas palavras do

entrevistado a seguir:

o coco de umbigada é um núcleo de memória, então ele tem um plano de trabalho, então existe um plano de trabalho de alcance, do que a gente quer alcançar daqui a 4 anos, e já fazem 2 anos entrando para o terceiro, e o núcleo que eu tomo conta é o núcleo de música, entendeu,[...] Tudo lá é um processo, se B vai lá acerta, eu vou lá e monto o som, se ela não vai, eu não posso montar o som, e se eu montar o som sem B lá, não adianta de nada, ta entendendo, é essa troca mesmo, a gente se junta e diz oh, [...]. E acho que no final desses 4 anos, como tem no processo da evolução de nosso estatuto, que a gente tem um plano de base onde é divido cada núcleo e cada núcleo tem suas ações, então a gente começa por essas ações, dessa aqui temos que chegar nessa outra, depois outra, para poder chegar daqui a 4 anos e chegar nesta ação definida. E eu acredito de daqui a 4 anos vai estar tudo bem, já se passaram 2 e estamos indo ok. (entrevistado 05)

O exercício desse domínio representa para os integrantes a solução para os problemas

de recursos financeiros no qual está associado à sobrevivência da organização. Verbalizado

pela integrante abaixo.

Na outra traz os resultados se cobra, no inicio a gente não se adapta depois a gente vai percebendo que a historia é por ai mesmo, aí a historia do projeto, a historia da sistematização do projeto saiu em dezembro agora, faz um mês que a gente tem, a gente fez três reuniões de sistematização do projeto que é de quinze em quinze dias, mas aí olhar. que editais estão abertos?. Tem que ter essa relação, O que é que sustenta? E a gente começa a perceber o seguinte a gente não pode mais ficar fazendo coco com a dificuldade que a gente faz sem fôlego nenhum, sabe, tendo que ficar refém de prefeitura de fulano e sicrano, não tem autonomia, não profissionalismo, não tem qualidade e aí? Como é que vai fazer isso? Recurso quem traz é projeto. Então o tamanho do alcance é o tamanho né! Do compromisso de você fazer e captar tal e tal. Então a gente vai aprendendo isso. E aí pronto, ta rolando, rola a sistematização de projeto, rola a sistematização da instituição de uma maneira geral. (entrevistada 01)

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Infere-se com isso que o elemento hierarquia, apresenta-se de maneira expressiva no

centro cultural, como podemos observar no quadro 5, que representa a síntese da análise deste

elemento.

Elemento Indicadores Resultados

Tomada de decisão Permeada por discussão e orientação, contudo centralizada.

Hierarquia e Autoridade

Sistema de Controle Elaborado e definido.

Quadro 5 - Análise do Elemento Hierarquia

Com base nos indicadores tomada de decisão e sistema de controle infere-se que o

elemento estar presente em duas formas: de maneira funcional e tradicional, sendo esta última

de maior influência.

Normas e Procedimentos

Para Motta (2000) a legitimação da hierarquia de autoridade é caracterizada entre

outros fatores pelas normas de procedimento para a maioria das atuações dos indivíduos

dentro da organização.

Quanto às normas do centro cultural coco de umbigada, elas não estão explicitas nem

formalizadas, no entanto, as normas comportamentais estão implícitas nas ações de cada um,

principalmente no que se orienta pela crença religiosa.

hoje nós somos a organização, eu a B, a B fomenta as articulações, e eu a indumentária, é roupa, saída, organização de chamar na grande o povo quando ta ficando meio “troncho”, o que ela diz eu não desmancho, o que não me agradar, depois a gente senta e o pau quebra, o que eu faço, ela não ta doida de desmanchar, ela que diz: - oh mãe L, hoje a senhora esta muito chata, aí eu digo: - hoje eu to mais exigente, é diferente to bem mais exigente e acredito que foi essa exigência mesmo de pegar no pé que fez com que a gente se gabaritasse. (entrevistada 06)

No que tange aos procedimentos, como o grupo está em fase de estruturação, os

registros formais como atas, lista de freqüências das oficinas, e decisões, começaram a ser

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feitas, também em virtude da exigência do próprio programa a que o centro esta vinculado.

Contudo, há uma total flexibilidade para as execuções das atividades.

A comunicação entre os integrantes da entidade é feita de forma informal, direta e em

linguagem comum, por meio eletrônico, via telefone ou e-mail, dependendo da necessidade de

contato.

Como ressalta o entrevistado, “A gente usa muito e-mail. Ou se comunica por

telefone, porque no dia a dia, a gente ta por aqui mesmo”. (entrevistado 03)

Com isso, pode-se auferir no que concerne a normas e procedimentos, que o centro

cultural coco de umbigada está aquém do sugerido para uma organização burocrática.

Elemento Indicadores Resultados

Comunicação Informal, direta e em linguagem comum, por meio eletrônico.

Normas e

Procedimentos Formalização Em fase inicial de elaboração.

Quadro 6 – Análise do Elemento Normas e Procedimentos

Como pode ser observado no Quadro acima as normas não são explícitas nem

formalizadas, sendo as ações orientadas fundamentalmente com base nas crenças. Já os

procedimentos, em fase inicial de elaboração, tem característica flexíveis.

Divisão de trabalho

Para Weber (1978), uma organização burocrática pautada na efetividade da autoridade

legal, tem como uma de suas característica fundamental:

uma área específica de competência, que implica: a) uma esfera de obrigações no desempenho das funções, diferenciadas como parte de uma sistemática divisão do trabalho; b) atribuição ao responsável da necessária autoridade para desempenho das funções; c) definição clara dos instrumentos necessários de coerção e limitação de seu uso a condições definidas.(WEBER, 1978, p. 16)

A organização em estudo tem suas atividades centradas nos projetos do Programa

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Cultura Viva, portanto nas oficinas e na realização da sambada mensalmente. As tarefas são

divididas de acordo com a identificação e facilidade de realização de cada um, porém sempre

em consonância com as atividades profissionais de cada voluntário.

Hoje o centro cultural coco de umbigada, possui uma estrutura organizacional, não

disposta em organograma explícito, mas cada um sabe de suas obrigações e tarefas, dispostas

da seguinte maneira, uma voluntária para a sistematização da gestão e da tecnologia, outro

voluntário para a articulação com o núcleo da música, outra voluntária com a divulgação e

visibilidade do centro e suas ações, um voluntário que se responsabiliza pela organização e

limpeza do espaço físico, um outro responsável pelas oficinas de ritmos e música, que é filho

da aldeia de Paratibe, local onde nasceu o coco de umbigada e uma voluntária e mãe de santo,

responsável pela oficina dos ensinamentos de mãe preta, indumentárias e em conjunto com a

coordenadora geral a manutenção da crença e dos valores religiosos que permeiam as ações

do centro.

Registra-se no quadro 7, uma elevada divisão de trabalho e forte tendência à

especialização das funções.

Elemento Resultados

Divisão de Trabalho e Competência técnica

As tarefas são divididas de acordo com a identificação e facilidade de realização de cada um, porém sempre em consonância com as atividades profissionais de cada voluntário.

Quadro 7 – Análise do Elemento Divisão de trabalho e Competência Técnica.

Impessoalidade

Para Weber uma das conseqüências principais e mais generalizadas da dominação

burocrática é:

a dominação da impessoalidade formalista: sine ira et studio, sem ódio e paixão, e portanto sem “amor” e “entusiasmo”, sob a pressão de simples conceitos de dever, sem considerações pessoais, de modo formalmente igual para “cada um”, isto é, cada qual dos interessados que efetivamente se encontram em situação igual – é assim que o funcionário ideal exerce o

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cargo. (WEBER, 1999, p. 147) (grifos do autor)

Percebe-se quanto a essa formalização uma completa ausência, a linguagem utilizada

pelos integrantes é sempre no plural e as responsabilidades são sempre atribuídas ao conjunto.

Como se pode apreender nas palavras do entrevistado abaixo.

a gente sempre faz, por exemplo, a cada sambada a gente se reúne na segunda depois, já pra isso, olha o som falhou em determinado momento, esquecemos de passar ou circular determinada informação, ou valeu o esforço, corrigimos determinada prioridade, que na sambada passada a gente tinha como meta corrigir, então assim a gente ta sempre procurando, melhorar e levantar erros e acertos, a cada sambada. (entrevistado 02)

Elemento Resultados

Impessoalidade

Completa ausência; linguagem sempre no plural; responsabilidades coletivas.

Quadro 8 – Análise do Elemento Impessoalidade.

Por fim, pode-se dizer assim como Hall (1978), que

as características burocráticas dimensionadas não são altamente intercorrelacionadas, e organizações altamente burocratizadas com respeito a uma das dimensões não o são necessariamente com relação às demais.[...] e que esta presume que as dimensões burocráticas existem de fato sob a forma de contínuos, e que esses contínuos são mensuráveis.(HALL, 1978.p. 35)

Neste sentido, pode-se concluir que a apresentação das dimensões burocráticas em

graus variados de intensidade, confirma a assertiva da pesquisa de Hall (1978) de que a

burocracia pode ser vista como uma questão de grau e não de natureza. No caso do centro

cultural coco de umbigada, podemos afirmar que esta organização encontra-se hoje com um

grau baixo de burocratização, tendenciando a elevação do mesmo, uma vez que se registra

também a busca pela eficácia, e por conseqüência a projeção utilitária dos atos humanos e de

seu desempenho haja vista o consenso e a busca incessante pela autonomia da organização.

Autonomia esta orientada pela maximização da captação de recursos, todavia, essa busca

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incessante pelos recursos, não se sobrepõe ao objetivo principal da entidade que é legitimar a

matriz africana na sociedade. Como podemos observar no desejo de um integrante.

Que é que a gente pode? Que é que é permitido pra gente? É permitido tudo , né? Desde que seja ético, desde que tenha um fim social, desde que tenha realmente uma representação, um compromisso com a comunidade, com a cultura popular, com a missão do ponto de cultura, acha que tudo é permitido sim, que tenha muitos editais, que eles continuem que a gente possa criar fôlego, q a gente possa capacitar cada vez nossos profissionais pra captar recursos, que a gente possa fazer essas parcerias público, privadas e nada nos segura, estatuto, CNPJ, tudo certinho, tudo direitinho, "poxa", vamos inventar o 4º setor. (entrevistado 02)

4.1.2 As bases de racionalidade e a delimitação organizacional

Diante da proposta do modelo paraeconômico de Ramos (1981), que se propõe a uma

visão da sociedade constituída de vários enclaves, onde o homem se envolve em várias

atividades substantivas, contrapondo-se as análises e planejamentos dos sistemas sociais

dominantes na sociedade moderna, fundamentadas na lógica centrada no mercado. E aliados à

operacionalização realizada por Serva (1986) desta proposta, uma vez que o autor, Guerreiro

Ramos, a delineou apenas no âmbito conceitual, apresentaremos a seguir uma análise quanto à

intensidade das racionalidades do caso estudado do centro cultural coco de umbigada.

Assim sendo, em acordo com as racionalidades dimensionadas no item 3.3 como

instrumental ou substantiva, em que a primeira é norteada pela lógica de ação utilitária e a

segunda por uma lógica valorativa, analisaremos de acordo com o seus indicadores qual a

base de racionalidade predominante no centro cultural coco de umbigada.

Racionalidade instrumental

No que concerne aos indicadores de instrumentalidade, maximização de recursos,

resultado/fins, calículo e desempenho, podemos inferir que:

• Maximização de recursos

Quanto à maximização de recursos, a entidade em estudo ainda apresenta um baixo

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índice de busca pela eficácia, contudo é claramente verbalizado por seus integrantes a

necessidade de se buscar tal otimização, como condição sine qua non de sobrevivência e

visibilidade.

E aí foi o que eu trouxe para cá, eu trouxe essa experiência em Gestão Administrativa que eu tenho, [...] Aí eu trouxe essa experiência, e agora a gente está começando. Aí a primeira coisa que eu comecei a desenvolver aqui foi identificar nossas ações. Eu comecei com o programa, organizei o organograma. [...] Aí a gente começou a organizar, o primeiro projeto a aprovado foi o ponto cultura. Foi o primeiro a trabalhar, organizar as coisas, Hoje nosso proponente foi responsável pela compra de todo os materiais que para a gente a nível de qualidade não foi boa. A gente tem esta questão financeira a gente tem que ter mais alcance. Trouxe também a relação de se ter autonomia que é muito importante para a ação de uma organização, principalmente Organização de Trabalho, Organização de Cultura, Divertimento e Lazer. Ela precisa ter autonomia. A gente trouxe essa relação de autonomia. Aí você vê o que a gente vê o que é que a gente demos importância as coisas de cultura, demos importância a dar melhor estrutura à sambada, adquirimos toldos, já estamos dando uma melhorada na relação de instrumentos, na relação do som, tipo, adquirimos um projetor que é uma autonomia muito grande. Falta só a grande tela .que a gente vai esta providenciando para comprar também. Aí nesse processo de gestão, o nosso foco é a autonomia. (entrevistada 03)

Uma outra maneira de se perceber foi quando questionados sobre os desejos deles para

a entidade;

[...] que a gente possa capacitar cada vez nossos profissionais pra captar recursos, que a gente possa fazer essas parcerias públicos privadas e nada nos segura, estatuto, CNPJ, tudo certinho. [...]. (entrevistada 02)

Nas tomadas de decisão destaca-se a inserção do indicador de maximização de

recursos, uma vez que começam a deliberar na escolha do melhor fim para a organização.

• Resultados/ Fins

Quanto a esse elemento, percebe-se um grau de presença no que concerne apenas a

metas políticas, uma vez que a entidade nasceu com o intuito de legitimar a cultura popular da

matriz africana, diante da intolerância à crença religiosa do candomblé, perante a sociedade.

A gente não tinha recurso, porque os terreiros, nunca foram reconhecidos nesse país, nunca tivemos recursos, pelo contrario, a gente convivia eternamente com a intolerância da política pública. (entrevistada 01)

Entretanto também se apreende a presença, não de mesma intensidade, de elementos

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como fins e rentabilidade, uma vez que há uma presença muito forte de familiares da

coordenadora geral, envolvidos como facilitadores das oficinas e na verbalização dos desejos

de uma entrevistada, para o centro.

independência, que a gente consiga realmente os nossos objetivos, que é essas parcerias, para que a gente possa cada vez mais investir na capacitação entre nós,[...] eu acho que esse trabalho voluntário, eu tenho algumas ressalvas, acho que existe uma coisa de você trabalhar voluntariamente quando você ta começando uma nova etapa da tua vida, uma nova profissão, é importante esse cuidado, e quando você já, cumpriu com tua etapa profissional, você já foi reconhecido profissionalmente, você já recebeu recursos pela tua vida inteira, em relação ao que você galgou até então, então financeiramente você ta tranqüilo, você ta só investindo em projeto na sua vida, aí eu acho que é super importante, mas enquanto nós, novos profissionais dessa nova comunicação, o trabalho voluntário ele tem um tempo, [...], então assim trabalhar como voluntária num terceiro turno, né, num projeto tão grande que exige dedicação como um ponto de cultura, é quase assim uma loucura, coisa de idealista feito a gente, né? Mas como existe uma estrutura aberta, esse idealismo pode vir a ser um sonho fácil, fácil não, mas vamos dizer assim, possíveis de se concretizar, [...] pois tão dando continuidade pra esse novo formato de gestão e isso é fundamental pra gente, então eu acredito que o sacrifício de nós funcionários da comunicação, que ainda fazemos esse trabalho voluntário, é um sacrifício que tem limite, então eu espero, e estamos lutando muito, participando de editais, e assim nos reunimos, segunda à noite, quarta à noite, sábado às vezes o dia todo, leva filho, junta os filhos, [...], pra poder realmente conciliar interesse de família, de lazer e de trabalho, já que a gente gosta muito do que a gente faz, né? Então a gente trabalha muito mesmo, né? Então eu acredito que esse trabalho sobre essa perspectiva, tenha um fim, o voluntariado, que a gente possa se remunerar bem, porque somos bons profissionais, todos capacitados, a equipe toda, nós temos graças a deus uma equipe muito boa, e a gente precisa realmente dessa autonomia. (entrevistada 02)

• Cálculo

Não foi percebida nenhuma incidência deste indicador.

• Desempenho

Este elemento foi identificado em grau baixo, já que cada um tem a liberdade para

definir prioridades de suas tarefas, desde que não comprometa a coesão da organização.

Deste modo, infere-se que a racionalidade instrumental está presente na organização

em uma intensidade baixa, conforme análise exposta no quadro 9.

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Elemento Indicadores Resultados

Maximização de Recursos

Baixa presença Condição de Sobrevivência.

Resultados/Fins Metas políticas rentabilidade

Cálculo Sem incidência.

Instrumental

Desempenho Grau baixo Liberdade para definir prioridades de suas tarefas.

Quadro 9 – Análise do Elemento Racionalidade Instrumental.

Racionalidade Substantiva

• Julgamento ético

Neste sentido, é notória a autenticidade e a liberdade de seus integrantes, em suas

ações, contudo não se pode deixar de registrar a busca por resultados.

No centro cultural coco de umbigada, seus integrantes estão todos imbuídos da

vontade de fazer cultura popular e legitimar a matriz africana do candomblé, independente

dos julgamentos da sociedade, é perceptível também o respeito mútuo e comprometimento

com o objetivo da organização.

O retorno que a gente quer é difundir a cultura popular e você vê a ação da sambada, ela trás uma relação muito forte de inclusão cultural. A gente vê que hoje é possível fomentar e difundir a cultura popular dentro da nossa própria comunidade. Isso é uma grande experiência (entrevistada 03) É maravilhoso estar ali, desde o axé q você tem lá dentro, as amizades, as chamadas, as broncas os carãos, sabe é construtivo.[...] pretendo olhar aquele centro de cultura ,pretendo olhar ali e ver um prédio de 3 andares tudo funcionando, isso é o q eu almejo, [...] ali ainda vai ser uma "puta" de uma instituição, que vai bater valendo na auto-estima daquela comunidade, porque empoderar aqueles jovens,levantar auto-estima, ele ser musico, vir da produção musical, isso é formidável, você da uma esperança de vida para as pessoas, já tem jovens ali que já são musicista, já estão tocando com a galera, sabe. (entrevistado 05)

O centro cultural está vinculado ao programa Cultura Viva do Governo Federal que

propõe o empoderamento da cultura popular. Até mesmo para desmistificar a opinião das

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organizações culturais de que,

pode ser até que eu esteja errada, mas o governo se apropriou de uma história que já se fazia, o cultura viva, os pontos de cultura de fato eles já existiam, tanto é que tem ponto de cultura aí que não são conveniados, e nem projeto enviaram e são pontos de cultura e vão continuar sendo pontos de cultura.[...] (mas) o que eu acho muito legal é a construção da rede de tudo isso, as construções das redes que o ponto de cultura possibilitou, por exemplo, a gente tinha rede de audiovisual, a gente não é do audiovisual, o terreiro tem esse perfil, só que como a gente tem uma atitude de inclusão digital pelo cine-clube Macaíba que a gente tem um cine-clube aqui... Já, já existia antes do ponto. Esse cine-clube começou a existir em 2002, vai fazer 5 anos, justamente porque a gente sente uma necessidade muito grande de uma mídia que retrate a nossa cara, que retrate a nossa linguagem, o nosso sotaque. A gente tem uma mídia dentro de casa, todos nós que além de não retratar a nossa cultura, além de subestimar essa riqueza e essa diversidade cultural enorme que nós temos, no nosso caso da matriz africana ainda é pior porque eles satanizam aquilo que a gente tem como sagrado. (entrevistado 01)

Percebe-se então o julgamento do que se quer obter com as ações do ponto, “Acho que

a gente inclusive tem esse papel de aproximar e minimizar essa distancia dos saberes.”

(Entrevistado 01)

• Valores emancipatórios

O centro cultural coco de umbigada tem como propósito intrínseco o desenvolvimento

da auto -estima afro-descendente, a legitimização do coco de umbigada da comunidade em

que está inserido. Pata tal, realiza ações de divulgação da raiz africana, de preceitos religiosos

do candomblé, e também de inclusão social para aqueles que estão em torno de sua

localização.

No que se refere à inserção no meio social e a relação entre os objetivos estabelecidos

e a ação social propriamente dita, podemos inferir que o centro cultural possui uma elevada

intensidade dos valores emancipatórios professados pelos seus integrantes, contudo há uma

busca pelo êxito de suas ações e conquistas, que se verbaliza nas palavras do entrevistado.

a gente tem 2 contextos. A gente tem dois pontos de cultura na qual eu coordeno. Um é o Núcleo de Memória Coco de Umbigada que é esse aqui. O coco a gente traz da herança ancestral dos avós. Mais ou menos há 10 anos atrás a gente tem né imbuído da auto-estima, volta a fazer a sambada de coco, porque eles morreram e parou a sambada, mais ou menos 30 ou 40 anos sem sambada. (zabumba de 100 anos) Aí Com a morte dos mestres, dos

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avós, o coco fica quieto na aldeia de Paratibe, não é aqui, é em Paratibe, Paulista. Porque? Porque não se tem muita auto-estima, principalmente há trinta, quarenta anos atrás, pra você ter uma idéia, pra fazer uma sambada, tinha que pedir autorização à policia, que não era permitido o maracatu, o coco e pior o candomblé, bote aí 50 anos atrás, era proibido por lei. Então era complicado ter auto-estima e voltar fazer as coisas com a cultura popular, cultura popular de raiz. [...] Então, na realidade a gente passou por esse processo todo, agora eu compreendo isso como um processo de resultado da intolerância da política pública do país com a cultura popular. Esse resquício foi deixado com essa coisa mesmo do não investimento, da não percepção de que a cultura popular ela tem essa força mas ela precisa ter estrutura. (entrevistado 01)

uma outra explanação

Mas embora, bom, embora o convênio não rolou ainda, mas a gente continua porque o que permeia a gente é a atitude (...) não é o recurso, os terreiros vem fazendo Assim é aquela história a gente não parou apesar da gente ficar 10 meses consecutivos sem recurso a gente não parou. (entrevistada 01)

Compreende-se a presença da maioria dos valores definidos no item 3.3 deste estudo,

como: os valores de aperfeiçoamento social, bem estar coletivo, da liberdade, principalmente

de crença e expressão, comprometimento.

[...] as coisas estão se estruturando, é porque exige tempo, a não ser que um de nós ganhe na mega sena amanhã, aí era outra coisa, mas é muito difícil, porque aquele ponto de cultura tem que passar de geração, não pode ficar ali para daqui a 2, 3 anos ter se acabado, ele tem que passar de geração, as crianças que estão ali hoje tem que levar aquilo ali a diante, o nosso sonho é este, que daqui a uns anos a gente esteja não mais em condições de trabalhar mas que o ponto esteja funcionando [...] vai chegar uma hora que vai ter uma diversidade de coisa desde o axé do seu espírito da sua alma até o trabalho que você quer desenvolver, e como sobreviver nesse mercado de mundo de cão. (Entrevistado 05)

Vale ressaltar as palavras de uma voluntária no que concerne a valores e objetivos dos

indivíduos:

O retorno que a gente quer é difundir a cultura popular e você vê a ação da sambada, ela trás uma relação muito forte de inclusão cultural. A gente vê que hoje é possível fomentar e difundir a cultura popular dentro da nossa própria comunidade. Isso é uma grande experiência. eu acho que foi alcançada E a partir daí a gente construir desde o Centro Cultural o empoderamento dessa comunidade. Trazendo capacitação pra ela. (entrevistada 03)

Ressalta-se também o uso em comum de alguns termos pelos integrantes como:

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autonomia, intolerância religiosa, legitimidade da matriz africana, imbuídos de axé.

Por isso podemos inferir que os valores emancipatórios na entidade tem um elevado

grau de presença nas ações.

• Autonomia

Esse indicador é um termo muito usado por todos os integrantes, e nas mais variadas

opiniões, é sim perceptível a elevada intensidade dessa referência, que vai desde o uso para

explicitar busca de independência administrativa financeira pela organização para realizar

suas ações: “É. Agora a gente já conseguiu CNPJ para que a gente consiga ter realmente

autonomia de mercado.” (entrevistada 03). Até o sentido de liberdade moral e intelectual,

independência,

“B” é o centro, é a nossa coordenadora geral que dá o prumo para qualquer caminho que agente queira seguir, né? e a gente busca isso, a gente busca trabalhar cada vez mais trabalhar com autonomia, receber os recursos do MINC e trabalhar esse selo e esse recurso para que a gente possa realmente se capacitar cada vez mais, criar fôlego p gente poder ter essa autonomia nos nossos projetos, então a gente ta sempre buscando essa troca de saberes da rede de matriz africana. (entrevistada 02)

E,

[...] mas ta quebrando esse paradigma, aos poucos, vamos construir, devagar, porque como é uma construção para a vida toda e não para acabar daqui a dois anos, é lenta, por isso a diferença,[...] o coco de umbigada não tinha CNPJ, o primeiro ponto de cultura como o segundo, foi voltado dentro de outra instituição, hoje já temos nosso CNPJ, já temos tudo, já começamos a andar com nossas próprias pernas, então é a evolução, já temos a própria documentação, não precisamos de mais ninguém pra fazer nada, hoje o coco de umbigada já tem sua documentação, suas certidões, tudo apta a fazer qualquer ciosa, e pensamos que ia demorar mais e já conseguimos com 2 anos, que passa rapidão.... (entrevistado 05)

• Entendimento

A presença desse indicador pode ser percebida no elemento hierarquia, uma vez que

em todas as 06 entrevistas realizadas nesta entidade, foi unânime a verbalização da existência

de acordos e consensos entre todos que fazem a organização, além de respeito a opiniões e

decisões tomadas.

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Nas tomadas de decisão, também é perceptível a presença do indicador entendimento

associado ao julgamento ético realizado pela coordenadora,

As decisões são o núcleo, ela é a gestora mas não do tipo que diz, isso aqui quem decide sou eu! Ela bota tudo na mesa e a gente discute e vê o melhor caminho de se fazer a coisa, e bem centrada as coisa, depois de tomada aí cada um tem o rumo do que vai fazer a coisa, mas é aquela coisa, ela é a gestora, ninguém passa na frente dela, ninguém pode, mas as decisões dela são aceitas, assim como ela aceita as nossas decisões, e isso é o bom do centro, porque ela sabe que eu não vou discutir com ela como esse axé tem que ser plantado e aonde, do mesmo jeito que ela não vem discutir sobre colocação de cabos de som, entendeu, tem essa troca, não é aquela coisa autoritária, é bem democrática e é bem aberta, ela abre para todo mundo,não só dentro do núcleo, como dentro da banda....., mas perante a sociedade tem que ter os núcleos divididos, para resolver isso, de tecnologia é c K, de show é H, de comunicação é A, de espiritualidade é mãe L[...] (entrevistado 05)

Deste modo compreende-se que este elemento permeia as ações dos indivíduos e da

própria entidade como organização em um grau alto de intensidade.

Assim identifica-se a presença dos indicadores da racionalidade substantiva no que

concerne às ações de entendimento, autorealização e autonomia, nas realizações das tarefas

dos indivíduos, uma vez que todos realizam aquilo que lhe é mais conveniente e que domina.

Elemento Indicadores Resultados

Julgamento ético Presente e de forma bem deliberada. Valores emancipatórios � Presença elevada

� aperfeiçoamento social, � bem estar coletivo, � a liberdade, principalmente de crença

e expressão, � comprometimento.

Autonomia Presente e de forma bem deliberada

Substantiva

Entendimento Acordos e consensos entre todos, além de respeito a opiniões e decisões tomadas. Nas tomadas de decisões, é perceptível a presença deste, associado ao julgamento ético realizado pela coordenadora

Quadro 10 – Análise do Elemento Racionalidade Substantiva.

A partir da análise das intensidades da presença dos indicadores estabelecidos, e em

consonância com o conceito proposto por Serva (1986) de que a racionalidade substantiva é

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uma ação orientada para duas dimensões: na dimensão individual e na dimensão grupal,

ambas direcionadas para satisfação seja individual ou social, concluímos que o centro cultural

coco de umbigada possui uma alta intensidade da presença da racionalidade substantiva em

sua lógica de ação.

Partindo da afirmação weberiana (1999) de que toda ação é dotada de sentido e que é a

intensidade dessa ação que caracteriza as organizações no interior das sociedades modernas.

Ainda segundo esse autor, o resultado dessa internalização é materializado no

comportamento dos indivíduos e pode ser observado através do encaminhamento das ações

oriundas das decisões individuais. Essa constatação pode também ser mensurada nas

organizações sob a forma tanto de motivação quanto de comprometimento nos meios os quais

estejam inseridos.

Originando com isso a relação social que é um “comportamento referido quanto ao seu

conteúdo de sentido por uma pluralidade de agentes e que se orienta por essa referencia″

(WEBER, 1999,p.16). e que é aposto pelo conceito de dominação, ou seja obediência a um

mandato.

Com isso, e diante da interpretação das categorias de grau de burocratização e

intensidade de racionalidades podemos incidir em uma outra interpretação.

Contudo não se pode deixar de salientar a assertiva de Weber, de que tanto os tipos de

ação social como a tipologia da dominação, constituem um modelo de tipo ideal, sendo a

totalidade de suas características impossível de se encontrar empiricamente numa

organização, bem como a presença especificamente de uma, e sim acuidade de presença,

optou-se por interpretar tais conceitos e demonstrar a forma pela qual essas tipologias se

configuram na organização em estudo. Para tal, foi elaborada uma figura 2 que permita uma

melhor percepção da análise.

Para Weber (1999, 2001) a ação tradicional é a mais dotada de sentido, além da

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vinculação ao hábito. Por ser o centro cultural coco de umbigada originado a partir de uma

crença religiosa e ter como principal propósito a busca da legitimidade da raiz africana,

interpreta-se com isso, que a ação tradicional é a mais incidente, uma vez que permeia as

ações e objetivos da entidade.

Atrelada a essa tradição tem-se a ação racional relacionada a valores, uma vez que esta

é conduzida de forma orientada na expressão das convicções, e mais uma vez pode-se

perceber tal presença na entidade em estudo, haja vista ter como principal ação a divulgação

de suas crenças e valores originários da raiz africana, e também a inclusão social para aqueles

que estão entorno destes preceitos, uma vez que esta crença é a mais atingida pela intolerância

religiosa e social do país.

Figura 2 – A representação das tipologias weberianas no ponto de Cultura Centro Cultural Coco

de Umbigada

Tipologia da Ação

socialTipologias de

Dominação

Racionalcom relação

a Fins

Afetiva

Tradicional

Racionalcom relação

a Valores

Relação Associativa

Relação Comunitária

Racional - legal(materializado na

Burocracia)

Carismática

Tradicional

incidência Inicio de incidência

Tipologia da Ação

socialTipologias de

Dominação

Racionalcom relação

a Fins

Afetiva

Tradicional

Racionalcom relação

a Valores

Relação Associativa

Relação Comunitária

Racional - legal(materializado na

Burocracia)

Carismática

Tradicional

Tipologia da Ação

socialTipologias de

Dominação

Racionalcom relação

a Fins

Afetiva

Tradicional

Racionalcom relação

a Valores

Relação Associativa

Relação Comunitária

Racional - legal(materializado na

Burocracia)

Carismática

Tradicional

Racionalcom relação

a Fins

Afetiva

Tradicional

Racionalcom relação

a Valores

Racionalcom relação

a Fins

Afetiva

Tradicional

Racionalcom relação

a Valores

Relação Associativa

Relação Comunitária

Relação Associativa

Relação Comunitária

Racional - legal(materializado na

Burocracia)

Carismática

Tradicional

incidência Inicio de incidência

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A ação social afetiva é percebida quando é verbalizada através dos laços que unem a

coordenadora geral e seu cônjuge, uma vez que este último é descendente nato da aldeia

originária da dança do coco de umbigada, demonstrando assim à presença dos laços

sentimentais regindo a vida dos indivíduos e confirmando a afirmação de Weber de que .

Estes momentos podem estar presentes nas manifestações individuais, mas originados através

de um ato ou fato coletivo. É conscientemente constituindo-se mais como uma reação a

estímulos fora do cotidiano.

Já a ação relacionada a fins, pode ser percebida na organização como a mais recente

norteadora de suas ações, uma vez que é caracterizada como sistemática, consciente,

calculada, atenta ao ato de adequar as condições e meios a fins, deliberadamente escolhidos

(RAMOS, 1983). Pode-se perceber nas ações da entidade após a seleção como ponto de

cultura e constituição oficial de sua existência. Além de estar verbalizada nos desejos para a

organização: sua independência financeira e muitas parcerias fomentadoras de recursos para

atingir seus objetivos.

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4.2 A GRAÚNA - Juventude, Gênero, Arte e

Desenvolvimento.

A Graúna – juventude, gênero, arte e desenvolvimento, surgiu em 2001, quando

findava um projeto de formação de jovens e educadores populares na área de arte e cidadania,

no Centro Luiz Freire, e duas das educadoras em conjunto com os jovens queriam trabalhar

mais, tudo que estava relacionado aos direitos da juventude, direito sexual, reprodutivo,

educação de qualidade e inclusiva, inclusive combate a violência (doméstica e sexual),

formação de arte e ofícios e política. Em virtude da juventude não ser uma linha programática,

do centro.

Iniciou suas atividades em agosto de 2001, numa sala cedida pelo próprio centro Luis

Freire que o originou, com atividades de teatro relacionando-o a violência da mulher e

doenças sexualmente transmissíveis no carnaval de Olinda e datas comemorativas, dos

pequenos projetos apresentavam até conseguir um contrato com o DAD - serviço de alemão

de cooperação técnica foi que conseguiram alugar casas e adquirir equipamentos. Em 2004,

tornaram-se pontos de cultura e em 2005 viabilizaram um convênio com a Petrobrás. Projeto

este que possibilitou dispor de alguma mão de obra fixa, como a coordenação Adm-

financeira, e duas auxiliares.

Durante uma das entrevistas da pesquisa foi lido um folder sobre a missão e as ações

da graúna:

A graúna é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, feminista, com a missão de contribuir para a democratização radical do estado e da sociedade, visando o fim da exclusão social, através da promoção dos direitos da juventude”. Trabalhando numa perspectiva que incorpore as diferenças de gênero, raça/etnia, classe social, geração, orientação sexual e condição física. (Entrevistada 01)

Em termos organizacionais a Graúna por ser uma organização feminista, integra a

coordenação Fórum de mulheres de Pernambuco, é hoje constituída por 12 pessoas ligadas

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diretamente ao funcionamento da organização, fora duas sócias, e as educandas aprendizes

que se renovam a cada semestre. Dentre estes apenas 02 pessoas do sexo masculino e nenhum

deles em atividades de coordenação.

Apesar de não ter organograma desenhado, a estrutura da graúna se configura em uma

coordenação geral, uma coordenação administrativa financeira, duas assessorias: uma

psicológica e outra de comunicação, sendo estas duas também educadoras da entidade; duas

auxiliares gerais, umas de cozinha e outra geral, e seis educadores.

A entidade está situada no bairro monte na cidade Olinda, e abrange jovens das

redondezas e de todo município.

A organização atua dentro de 06 linhas programáticas: Artes e ofícios; direitos sexuais

e reprodutivos; prevenção e enfretamento à violência doméstica sexual; educação e

diversidade; comunicação e formação de jovens lideranças. Em três programas: o de Artes e

ofícios, a Plataforma Multicultural e o OCAS - oficinas culturais de Arte e Saúde.

O programa de artes e ofícios é voltado para a qualificação profissional de jovens em

artes e ofícios, difusão da sua produção cultural, tem por objetivo abrir frentes alternativas de

geração de trabalho e renda e promover a qualidade de vida e de sua família.

O projeto plataforma multicultural - a energia jovem nas artes, tem como objetivo

proporcionar a juventude prioritariamente das comunidades do cinturão da pobreza no entorno

do sitio histórico de Olinda, oportunidades de inclusão social través da criação artística e de

uma possibilidade nova de inserção no mundo do trabalho através da cultura.

O projeto OCAS – Oficinas de arte e saúde, é o projeto vinculado ao programa cultura

viva e está subdividido em três núcleos:

• O núcleo de artes e ofícios: modo específico de formação com as seguintes

oficinas:

1. Oficinas de artes gráficas;

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2. Oficina de artesanato em papel;

3. Ateliê de design e confecção de Moda e figurinos;

4. Oficina de letras;

5. Laboratório experimental de dança;

6. Laboratório experimental de Teatro; e

7. Oficina de comunicação social.

• O núcleo de educação e cidadania é básico de formação e comum a todas as

oficinas, se instrumentaliza com encontros de orientação psicopedagógica e profissional e as

oficinas do ateliê coletivo de cidadania.

• O núcleo de geração de trabalho e renda com as oficinas de socioeconômica

solidária e pela criação de unidades produtivas solidárias e produção e participação em

eventos culturais.

A parceria com a Petrobrás esta possibilitando a realização de uma consultoria para

elaboração do planejamento estratégico da organização para um prazo de cinco anos, com

avaliações anuais.

4.2.1 O grau de burocratização

Para March e Simon (1970) as organizações são sistemas de ação coordenados entre

indivíduos e grupos com interesses, conhecimentos e informações diferentes. Neste sentido, e

por intermédio da interpretação das dimensões estabelecidas nesta pesquisa. Apresentar-se-á o

grau de burocratização, as bases de racionalidade e a sua lógica de ação.

Hierarquia e autoridade

Segundo os principios básicos da burocracia proposto pela fundamentaçao teórico-

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empírica desta pesquisa, a hierarquia representa a impessoalidade que dá forma a um sistema

organizado em pirâmide, de modo a permitir a coesão do funcionamento do sistema. E com

ela o nível de autoridade vertical e horizontal existentes que complementam o controle e a

linha decisória em uma organização.

Há na Graúna – juventude, gênero, Arte e desenvolvimento, uma definição clara, no

que tange a hierarquia entre os integrantes. Existe uma estrutura muito bem determinada e

delimitada: uma coordenadora geral, uma coordenação administrativo-financeira que se

responsabiliza por toda a parte estrutural de funcionamento, e duas assessorias de

comunicação e orientação psicopedagógica, em seguida os educadores que são seis e duas

funcionárias registradas, uma auxiliar de serviços gerais e uma cozinheira, salienta-se ainda

que as coordenações e as assessorias também são educadores, exceto a coordenadora adm-

financeira.

[...] na parte da coordenação geral, as competências/habilidades ela cuida tanto da parte da articulação com as outras instituições, da parte do setor de financiadores, dessa comunicação; ela faz o intercâmbio com todos os setores daqui da Graúna, setor de artes e ofícios, setor de núcleo de cidadania, com o pessoal da elaboração de projetos que sou eu, H ou ela e às vezes um outro educador que veja, que se interesse e que venha; ela cuida também, [...[, ela também é educadora social ela também promove os eventos e cuida dessa questão pedagógica, também cuida da sistematização de todos os relatórios, também cuida de uma série de questões operacionais, dividindo em competência já com a coordenação administrativa, cuida da parte financeira, cuida da administração geral da entidade, cuida também da parte do recurso pros eventos, desse planejamento, [...]. E aí, toda essa parte das prestações de contas, dos desembolsos, dos salários, da rotina financeira aí vem a parte de gerenciamento que seria os setores do foco de orientação psicopedagógica que seria eu, enquanto setor de psicologia, aí óbvio que tem todo o corpo de, [...] que trabalha externamente, nas articulações, nos encontros, nos eventos que é o pessoal que consta no estatuto também, que são todos nos movimentos social, tem algumas pessoas que são efetivas em outras entidades [...] os educadores e educadoras e vem a Vanuza que é tanto operacional como auxiliar dos serviços gerais também e tem Rosa que é a cozinheira, que estava te falando,que aqui tem uma importância grande [...]

Com isso pode-se perceber claramente os níveis de autoridade horizontais e verticais,

com supervisão direta, no entanto existe uma outra hierarquia intrínseca na entidade, a do

gênero, uma vez que a organização se declara como feminista, sendo no nível de educadores o

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único a encontrarmos pessoas do sexo oposto, e mesmo assim em minoria. O que denota todo

o controle e decisão do sexo feminino.

A figura 3 representa o organograma da entidade, por intermédio dos dados coletados.

É necessário ressaltar que esta estrutura é fruto da interpretação pesquisadora.

Figura 3 – A estrutura hierárquica da Graúna – juventude, gênero, arte e

desenvolvimento

Quantos as decisões o estilo é bem definido, tendo em sua maioria um fluxo orientado

de cima para baixo, ou seja, da coordenação as auxiliares, contudo tais deliberações são

permeadas pela discussão, como podemos visualizar nas verbalizações.

Veja só, M ela é extremamente democrática e, assim, todas as opiniões são levadas em consideração, do micro ao macro, sempre foi assim nas reuniões, não se faz aquilo que não se pode né, e ela até faz sabe, aí depois – eu tirei do meu bolso pra fazer não sei o que; eu também faço isso, ela também faz isso.É verdade, mas aí das coisas micro e macro, se atrasou a parcela de um financiamento pra outro, que a gente faz, como é que a gente vê isso, até data vamos estipular, datas pros salários, vamos estipular que os salários saiam com as entregas, com as prestações de contados materiais, dos relatórios, é consenso, vamos lá. Então a prática de decisão ela é consensual, ela é livre, ela é espontânea, ela é democrática, ela só não é imposta e nem ultrapassa o limite da alçada de cada um. Tem coisas que vêm da instância maior desse corpo que se reúne com Mônica, desses encaminhamentos, mas são coisas que, assim, hoje mesmo posso dizer com toda sinceridade, são poucas as coisas que elas definem, assim, hoje é mais decidido com quem estar sistematicamente na entidade, todo trabalho que a gente faz é evidenciado e ela dá todo um estímulo pra que a gente sinta-se parte. (entrevistada 01)

Coordenação Geral

Coordenação Administrativo -Financeira

Assessoria de Comunicação

Assessoria Psicopedagógica

Educadores

Auxiliares

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E,

As decisões ta muito no âmbito da coordenação, a coordenação. é quem tem o poder da decisão, não que aconteça de uma forma imposta, ou autoritária no sentido que não esteja aberta para o diálogo, muita coisa se conversa, se pensa, se experimenta, como os formatos das reuniões, mas quem detém o poder é a coordenação. (entrevistada 04)

Conforme Carvalho (1998) o controle em entidades sem fins lucrativos detém uma

ambigüidade, uma vez que estas organizações possuem uma variedade de fatores externos que

interferem em seus escopos de ação, como a organização em questão se identifica com tal

assertiva, inferimos que o haja vista a organização está passando por um processo de

elaboração de seu planejamento estratégico.

O controle qualitativo na Graúna repousa nas sistematizações e convivências diárias

de atividades como horário, presença, e o quantitativo nas avaliações de oficinas e de

educadores, uma vez que são aplicados questionários previamente elaborados e depois

mensurados e analisados, como podemos perceber na verbalização abaixo.

O acompanhamento das atividades pelos educadores é feito pelos educadores nas reuniões e eles têm que preencher um formulário de três em três meses. Um os educadores preenchem pra os jovens e outro que os jovens preenchem. Os formulários de avaliação tá! Oh aqui é a ficha de acompanhamento de atividades, Aqui é de geração de renda, mais, na verdade isso serve pra todas elas, porque muitos jovens conseguiram emprego em outras organizações Na sua própria comunidade. E alguns jovens como educadores mesmo, outros comercializando particularmente seus produtos, aí pô isso é o resultado do trabalho da gente e a gente fez e aí vamos mapear essa gente. Daí a gente fez essa ficha pra saber desses jovens pra saber qual oficina de dentro da Graúna e qual o prazo que a gente acompanhou, qual a atividade renda que ele ta realizando e onde tão realizando se é na área empresarial ou governamental, ou ONGs, porque uns estão no agente jovem, como jovens educadores, e aí localização na própria comunidade, quanto recebendo, o horário.desde quando está realizando, como você entrou nessa atividade, como foi o processo de seleção, se foi indicado por alguém ou outra forma. É simples mais uma forma de a gente ta acompanhando essa garotada. Aí essa é a folha de avaliação individual. Ou seja, pra cada aluno, para cada jovem o educador tem que preencher uma ficha dessa a cada três meses, então na oficina o educador tem que avaliar: interesse, grau de participação, quem preenche é o educador, grau de facilidade, iniciativa, facilidade de trabalhar em grupo, progresso na verbalização de sentimentos, progresso na leitura e compreensão de texto, progresso na expressão escrita, clássica poética, resolução de conflitos e diminuição de comportamento violento, aí depois, a justificativa. tem uma pasta de cada aluno e aí na hora de fazer relatório pra fazer a prestação de

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conta, o educador junta a turma inteira, vê as avaliações e faz a tabulação, acompanha tudo. isso a cada semestre, e eu, porque sou eu que esquematizo tudo, tenho um olhar bem claro, de cada grupo que estão avançando, isso foi por exemplo, Uma das coisas que provocou algumas mudanças no trabalho da instituição, relacionado a metodologia, no conteúdo e a própria pessoa, o profissional das oficina, foram justamente esses relatórios, que por eles você sabia as oficinas que estavam indo bem, as que não estavam, porque não tava, juntava os jovens e conversava, o que estava acontecendo, e isso provocou muitas mudanças, até alguns educadores tiveram que sair. Porque os jovens também fazem avaliação dos educadores e da própria instituição, Os relatórios mostram a oficina em todos os ângulos além da atuação do educador, da instituição e do próprio aluno. (ela mostra um formulário) Então assim, por essas coisas que a gente vai avaliando a gente acompanha o grupo e vai acompanhando um por um, processos diferentes, etapas diferentes de idade, recriação, aprendizagem, porque as realidades são diferentes. (entrevistada 05)

Um outro ponto do controle realizado pela organização através dessas avaliações é acerca de

seus objetivos e resultados em seu público alvo.

a avaliação que agente faz do impacto dessas oficinas, foi que o trabalho de formação que é feito com todos aqueles objetivos que eu falei pra você, desenvolvimento da arte desenvolvimento da consciência cidadã, da coisa do trabalho de multiplicação desses conceitos desses novos conceitos da condição de coletividade pra transformação social; então tem toda essa questão. (entrevistada 01)

Assim sendo, pode-se afirmar que a hierarquia na graúna esta presente em uma alta

intensidade e muito bem definida, conforme a análise do quando 11.

Elemento Indicadores Resultados

Tomada de decisão Fluxo orientado de cima para baixo; As deliberações são permeadas pela discussão

Hierarquia e Autoridade

Sistema de Controle • Qualitativo: sistematizações de atividades • Quantitativo: avaliações de oficinas e de

educadores Quadro 11 – Análise do Elemento Hierarquia e Autoridade.

Normas e Procedimentos

Sendo este indicador o principal responsável pela formalização e das relações de

mando e subordinação, em acordo com os princípios da burocracia elencados no corpo teórico

deste trabalho, serão apresentados a seguir a sua composição na Graúna.

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As normas são estabelecidas pelo estatuto da organização e algumas não registradas

em documentos oficiais, mas verbalizadas nas entrevistas e retratadas nos cartazes afixados

nas paredes da organização.

A organização se reúne semanalmente para discutir sobre as ações, eventos e avaliar

resultados das oficinas, com todos os envolvidos e integrantes da organização, salvo as duas

auxiliares que são comunicadas após o término sobre as deliberações.

A reunião daqui é na sexta-feira, então a gente já sabe sexta feira é dia de reunião. E o que acontece na reunião a gente sabe porque “N”, passa pra gente ou então as meninas chegam comentando. “M” também depois chega com a gente e conversa o que teve na reunião. Porque quando tem oficina não tem tempo pra gente ver se a reunião ta rolando, às vezes ta acontecendo uma oficina não tem como a gente participar da reunião, não. (entrevistado 03)

Nas reuniões e no dia a dia, é percebido um entendimento, nos consensos e

deliberações sobre a organização como um todo.

Um dos elementos que constituem o sistema de normas e procedimentos é o processo

de comunicação existente na organização. E o da organização em estudo está estruturado de

modo informal, contudo com elementos de formalização explicita.

O fator informal se arrola a comunicação entre integrantes, que é feita através de e-

mails e via telefone quando necessário,

Veja só, hoje cada setor tem seu computador, com acesso a internet, 24 horas que é outra coisa que agente conquistou, tem também as salas do tele-centro que também tem computador disponível par isso, por isso hoje mesmo que educador não tenha acesso a internet, ao computador, ele tem disponível aqui na graúna, então assim, a comunicação ela é feita semanalmente, no decorrer das atividades, na reunião de sexta-feira, muita, muita, hoje 80% é on-line, é via on-line, ou então por telefone assim, na minoria das vezes, até porque não vem esse recurso mesmo pra gente ta, então a gente usa e abusa da maneira on-line que agente hoje acredita que é a mais. (entrevistada 01)

O fator formal se destaca nas reuniões de sistematização e nas formas de avaliações

entre o publico e as ações realizadas pela organização. Por exemplo quanto a divulgação das

decisões.

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Entrevistador - E todo mundo tem acesso a essas decisões? Entrevistado - tem, tem as coisas que vai para todo mundo, p lista de e-mail, ate rosa, van, elas fazem parte da reunião de planejamento, claro que não da para colocá-las em todos os momentos, porque se rosa tiver por exemplo, não vai ter os almoços dos jovens. Mas no que gente puder contemplar e convidá-las, a gente coloca, até porque assim, no meu ver e acho que da instituição, ta em contato com os jovens. (entrevistada 04)

O processo de disponibilização de informações e discussão é feito através “do boletim

interno da graúna eletrônico, para gente também criar maneiras de se informar e de se fazer

presente mesmo que não fisicamente, esse boletim interno, criar web-group pra gente ta se

comunicando, muita coisa funciona pela internet, relatórios, datas, funciona assim”.

(entrevistada 04)

Com isso, pode-se afirmar que a entidade em estudo tem um sistema de normas e

procedimentos em nível alto de desenvolvimento, conforme interpretação de seus indicadores

no quadro 12.

Elemento Indicadores Resultados

Comunicação Informal na execução Normas e Procedimentos

Formalização Sistematização; avaliação

Quadro 12 – Análise do Elemento Normas e Procedimentos.

Pode-se apreender que no elemento normas e procedimentos, as primeiras são

explícitas e formalizadas, com procedimentos definidos.

Divisão de Trabalho

Segundo Motta (2004, p.16) “a divisão de tarefas é feita [...], a fim de permitir o

exercício das tarefas necessárias à consecução dos objetivos da organização.” Neste sentido a

Graúna se caracteriza como uma organização bem definida e deliberada.

assim cada um é responsável pela oficina, agora é aquela historia, se tem um planejamento, cada um tem que planejar as oficinas, e isso tem que ser de certa forma compartilhado, principalmente com quem ta na frente da gestão,

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se relacionar com a coordenação [...] e aí as divisões, tem as coisas da área de comunicação, que eu sou responsável, outras coisas colocadas pela equipe, que “M” coloca, isso numa reunião, ou uma demanda que aparece é enviado um e-mail, ou quando nos encontramos aqui, aí conversa, mas geralmente as tarefas cada um já entra aqui sabendo o que vai fazer. (entrevistado 04)

Quanto a especialização funcional, podemos entender que ela está presente na entidade

pesquisada e de maneira bem relacionada a competência e habilidades de seus integrantes,

como é explicitado na verbalização a seguir.

As tarefas são integradas sim, mas cada um desenvolve suas competências a partir das suas habilidades aqui na Graúna. Você fala em termos de estrutura né. - É, a quando não é, termina tentando ser, quando um pede um pouquinho termina a gente tendo que reestruturar a coisa pra não dizer. Ah se acontecer de fulano estar com 5 atividades e fulano só com 01, vamos conversar pra vê se faz parte da habilidade e tal. (entrevistada 01)

A diferenciação horizontal e a funcionalidade é algo bem visível nas atividades da

entidade, uma vez que seus integrantes têm tempos diferentes para a realização das atividades,

assim como graus de envolvimento distinto.

O quadro 13 permite o entendimento da pesquisadora no que concerne aos indicadores

do elemento em estudo.

Elemento Resultados Divisão de trabalho e Competência técnica

Definida e deliberada, Especialização funcional =competências e habilidades Diferenciação horizontal

Quadro 13 – Análise do Elemento Divisão de Trabalho e Competência Técnica.

No que tange a divisão de trabalho compreendemos ser esta bem definida e deliberada,

com a presença da diferenciação horizontal e quanto à competência técnica, podemos

caracterizá-la com uma forte presença da especialização funcional.

Impessoalidade

A separação completa entre função e a personificação das pessoas é algo indispensável

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na burocracia (MOTTA, 2004). Contudo no ponto de cultura graúna, esta partição é pouco

considerada para o grau de burocratização, primeiro tem que compartilhar dos valores para

depois ser analisado a especialidade.

Como toda a parte do corpo da graúna; então assim, como é um trabalho que a gente faz que é sistemático e a gente tem esse trabalho de formar o formador, mesmo o educador quando vem pra cá, tem que participar do movimento, tem que participar da militância, tem que participar das fóruns e debates e tal, então pra poder adquirir toda essa linguagem né, isso é uma das coisas q a graúna preza muito que a gente não só venha pra cá nesse intuito, mas que milite que é aí a gente consegue padronizar. (entrevistada 01)

Esse elemento é algo muito discutido dentro da organização, conforme a citação

abaixo, muitas vezes torna-se indicador de afastamento e reformulação das atividades.

o que é q eu senti quando cheguei aqui na graúna na verdade, e também se você quer dar além, se você quer fazer um trabalho que vá além daquilo que for pedido; eu acho que hoje na graúna, hoje mais não, q isso a gente vê lá fora e tal, a graúna, os educadores, vinculam aqui e em outros espaços e assim a gente nota que as pessoas vão lá, trabalha aqui, ali e termina como se fosse um complemento do seu salário. É no ano passado a gente tinha uma série de educadores, de que assim, vinham com esse intuito, eu vou lá dou minha oficina e vou embora e isso foi estressante! Mônica terminou tendo uma estafa mental, porque você sabe que é difícil quem trabalha por ideologia é obvio que tem que respeitar a hipocrisia, é obvio a questão financeira, mas quando foge daquilo que a gente tem fonte dentro da gente, aí é bronca é bronca mesmo. (entrevistado 01)

O quadro 14 encerra este elemento e a conclusão de sua análise.

Elemento Resultados

Impessoalidade

pouco considerada, primeiro tem que compartilhar dos valores para depois ser analisado a especialidade

Quadro 14 – Análise do Elemento Impessoalidade.

Assim sendo conclui-se que a Graúna – juventude, arte e desenvolvimento é uma

organização com um grau de burocratização alto.

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4.2.2 As bases de racionalidade e a delimitação organizacional

Mauricio Serva buscou em seus estudos descobrir como as racionalidades se

concretizam em atos dos indivíduos enquanto membros da organização (1996), para isso

construiu um quadro de referência o qual relacionava os processos organizacionais e os

elementos constitutivos das racionalidades. Sendo por intermédio deste estudo, que definimos

nossos indicadores e apresentaremos a seguir a identificação dessas bases na entidade em

questão.

Racionalidade instrumental

Sendo a ação racional instrumental “aquela baseada no cálculo e orientada para o

alcance de metas técnicas ou de finalidades ligadas a interesses econômicos ou de poder

social, através da maximização dos recursos disponíveis.” (SERVA, 1996, p. 342),

apresentaremos a seguir os indicadores de sua intensidade.

• Maximização de recursos

No que se relaciona a busca da eficácia e da eficiência, a graúna é uma organização em

fase de crescimento dessa ótica, são inúmeras as justificativas para tal afirmação, desde a

existência de uma pessoa exclusiva para gestão, articulação e capacitação de recursos à

concepção de um planejamento estratégico de longo prazo.

Conforme se percebe na externalização de suas integrantes,

[...] Os meus desejos pra graúna, aqui todo mundo já sabe, eu quero que nos próximos 5 anos, a graúna fique bem estruturada, tenha uma nova coordenação geral, [...] eu quero que a graúna fique no auge, fique que o trabalho da gente seja uma referencia, que realmente a gente esteja incluídos nas políticas publicas da juventude, [...] acabar com a relação verticais e entrar nas relações horizontais sociais de solidariedade e compreensão, que esteja todo mundo aqui trabalhando legal, com salários bons, carteira assinada, FGTS, férias, [...] (entrevistada 05)

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Uma outra ressalva é a de que o termo recurso para essa organização se estrutura em

três níveis, em primeiro lugar como financeiro, o capital para realizar as ações, e em segundo

plano viria o político e o humano, ou seja, toda a sua sobrevivência depende exclusivamente

dos financiamentos e parcerias, da aprovação de seus projetos, salienta-se ainda que seus

integrantes estão se especializando em buscar e conhecer os órgãos de melhor financiamento

para a organização e que já tem esse domínio, que são os de cooperação internacional.

a minha expectativa é que a gente possa ta ampliando o setor de comunicação, ter mais gente, ter mais recurso, para poder viabilizar nossas ações, porque não adianta pensar as ações e não ter recurso e que possa dar esse retorno institucional, que a graúna tenha realmente essa visibilidade, que os jovens sejam muito protagonistas nesse processo da comunicação. (entrevistada 04) os recursos vêem basicamente desses projetos, desses editais, a gente estava pleiteando, a gente sabe que toda entidade, ela precisa de um mantenedor que cubra coisas que as rubricas de projetos não cobrem, na maioria deles, como aluguel de casa, manutenção de luz, encanamento, o jardim que precisa ser... os próprios salários, dos encargos, nessas questões, e aí esse ano, a gente colocou como meta e eu acredito que isso no resultado do planejamento estratégico que o consultor de São Paulo tá fazendo, a captação de recurso estrangeiro, porque eles é que na verdade, a maior parte dos recursos das entidades estrangeiras é que tem esse foco de entendimento de que as entidades elas não sobrevivem só de rubrica pra recursos humanos, de material didático, e permanente e dessas questões, mas do telefone que a gente usa, assim, pra mobilizar as pessoas pra vim pros eventos, falar com educandos, pra falar com o próprio financiador, pra questão da estrutura da entidade, mas hoje, assim, quando a gente fala de financiamento interno, nacional, a gente ainda não tem isso, é mais externo, é uma coisa que a gente ta galgando, porque a Graúna, hoje, ela ainda não tem essa independência nesse sentido, sabe é tudo com muito sacrifício ainda, no que se refere a manutenção da casa, dessas coisas que aparentemente são pequenas, mas que quando você junta é uma lacuna grande no orçamento geral da entidade. Então, assim, é importante esse intercâmbio, que é uma das coisas que pra 2007, eu acho que importante serem vistas, serem intensificadas também, é a questão da captação de recursos estrangeiro, pra fazer a manutenção e pra própria preservação e assistência da entidade também. (entrevistada 01)

• Resultados/ Fins

O estabelecimento de metas é algo que já faz parte da cultura da Graúna e agora muito

mais estruturado e em acordo com os procedimentos, uma vez que a entidade está desde

dezembro de 2006 elaborando seu planejamento estratégico.É visto como uma excelente

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ferramenta de gestão e de visibilidade para o público que atua e que se relaciona quanto a

fomento e financiamento.

Um outro ponto a se ressaltar é a estrutura de avaliação presente na organização, bem

delineada e com grande importância na definição das atividades. Conforme uma entrevistada

“A diversidade que a gente tem das oficinas, todas as ações que são promovidas enquanto

retorno é tanto nas questões qualitativas quanto nas questões quantitativas.” (entrevistada 01)

• Cálculo

Sendo o elemento definido como a projeção utilitária do ato humano, na graúna esse

indicador é visto em um alto grau de comprometimento, uma vez que se percebe a existência

de uma relação muito marcante entre a especialização e a estrutura funcional, no entanto os

integrantes o visualizam como empenho em se preservar os valores organizacionais.

“A Graúna, ela tem a preocupação com o atendimento de meta quantitativa! Mas a

gente sempre acha que ela é realmente conseqüência do trabalho qualitativo que a gente

apresenta” (entrevistado 01);

Com isso, infer-se que esse elemento está presente na organização em grau médio, e

na visão de seus integrantes como preservação de seus valores.

• Desempenho

O componente desempenho é visualizado através das avaliações individual e geral

feita pelos alunos, e o elemento fins, também emerge, quando nas discussões, se verificam os

objetivos e resultados esperados com aquela determinada ação.

Veja só, enquanto integrante da Graúna eu desejo, enquanto integrante mesmo que a gente possa a cada dia cuidar dessa questão da organização, se vê enquanto organização, do fortalecimento de que somos corpo e aqui já existe isso, mas que espero que com o passar do tempo isso possa ser cada vez mais fortalecido; cada um tem sua importância aqui e que a gente possa estar cuidando da inovação do trabalho e que a gente tá bem, tá bem, mas que não fique estagnado nessas questões, assim que a gente possa tá

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buscando esses espaços de formação de intercambio com outros espaços com movimento social, pra gente não ta perdendo esse vinculo, pra que a gente possa ta inovando; quando falo inovação no sentido de não só de proteção metodológica, de sistema pedagógico, mas também do planejamento estratégico, do sentar junto,de Ter uma linguagem linear , de a gente entender que a gente faz uma seleção, eu, “M”, a gente fica nessa coisa de seleção assim, de a Graúna não perder seus critérios, não perder seus valores e de a gente não perder essa perspectiva do sentido de crescimento e igualdade. (Entrevistada 01)

Por intermédio do quadro 15, pode-se sintetizar a análise do elemento em estudo e

seus resultados.

Elemento Indicadores Resultados

Maximização de Recursos Em crescimento Funcionalidade e planejamento

Resultados/fins Em especialização

Cálculo Grau médio Metas quantitativas e qualitativas

Instrumental Desempenho Grau alto

Avaliação individual e organizacional

Quadro 15 – Análise do Elemento Racionalidade Instrumental

Portanto, a base de racionalidade instrumental da Graúna é de intensidade alta, e

confirma o conceito de Serva (1996) de que uma organização com a predominância desta

base, tem por base a lógica de ação orientada pelo alcance de metas técnicas ou de finalidades

ligadas a interesses econômicos ou de poder social, nesse caso se traduz em poder social e

sobrevivência.

Racionalidade Substantiva

Partindo do pressuposto que a racionalidade substancial está na qualidade intrínseca

das ações (RAMOS, 1966), e que para esse autor nenhum indivíduo ou organização esteja sob

a égide de apenas uma racionalidade, ele propõe tal análise através das tensões éticas

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existentes, entre a ética da responsabilidade e a da convicção ou do valor absoluto, em que a

primeira repousa sobre a ação racional a fins e a posterior a valores.

Ainda que essas tensões éticas se fazem presentes nas organizações e no ambiente

social em que elas estão inseridas de modo a torná-las “sensitivas” e influenciáveis a essa

dinâmica ambígua tanto no domínio propriamente da organização (RAMOS, 1966), como da

sociedade, apresentaremos a seguir os indicadores da presença da ética de convicção.

� Julgamento ético

No que se refere à discussão, respeito ao próximo, liberdade de expressão e consenso,

é algo perfeitamente perceptível na organização graúna, inclusive porque sua linha de ação

assenta-se nos direitos da juventude, direito sexual, reprodutivo, educação de qualidade e

inclusiva, inclusive combate à violência (doméstica e sexual), formação de arte e ofícios e

política.

Na graúna – juventude, gênero, arte e desenvolvimento, para se constituir como

participe tem que comungar dos critérios e conceitos praticados dentro da organização.

eu, “M”, a gente fica nessa coisa de seleção assim, de a Graúna não perder seus critérios, não perder seus valores e de a gente não perder essa perspectiva do sentido de crescimento e igualdade, uma coisa que eu sempre pergunto nas entrevistas o que é a pessoa sentiu quando ela chegou à Graúna, pra saber se ela tem o mesmo sentimento, porque a Graúna, assim, ela desperta uma coisa boa no profissional, você chega aqui você não sente aquela pressão no trabalho que você sente em outros espaços é um aprendizado que ele vem naturalmente é a convivência que é tranqüila sabe, é trabalho que dá retorno aquela coisa assim; a Graúna é diferente pra mim, enquanto profissional posso dizer que é diferente porque em outros espaços eu sinto que talvez o tipo de prestação de serviço que eu faço, já tá muito bombardeado: então tem muito profissionais bons que tem esse caráter de inovação e aqui na Graúna sente que não, meu trabalho faz a diferença que eu vinho pra colaborar, que o que eu tinha pra trazer de novo podia aplicar, podia replicar e dava certo, eu senti que, assim, não era um espaço a mais, era o espaço que eu estava vindo trabalhar e até hoje eu tenho esse sentimento, às vezes eu fico me perguntando, assim, o quê que a gente poderia fazer de novo, sempre pensando, eu acho que a minha perspectiva é sempre estar nessa dinâmica do trabalho multidisciplinar, inter e multidisciplinar na casa da preservação mesmo das questões que a Graúna preserva não saindo do foco, mas trabalhando na perspectiva da inovação, acho que é isso. (entrevistado 01)

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Um outro ponto a ressaltar é a importância dada ás avaliações, não só como dados para

financiadores ou utilização dos recursos, mas também para avaliar a legitimidade de suas

ações nos jovens atendidos. Como se pode perceber “Então acho que tudo isso são resultados

importantes pra gente e, assim, a Graúna, ela tem a preocupação com o atendimento de meta

quantitativa! Mas a gente sempre acha que ela é realmente conseqüência do trabalho

qualitativo que a gente apresenta” (entrevistado 01)

� Valores Emancipatórios

Os valores declarados pela graúna estão relacionados à questões do Gênero, inclusão

social e direitos sexuais livres. Como identidade, respeito à diversidade, liberdade, e do

empoderamento da juventude quanto aos seus direitos e deveres. Como a entidade é membro

e integrante da coordenação do Fórum de Mulheres de Pernambuco, denota com isso, o

feminismo como dominante no grupo.

isso é uma regra da instituição, de estar promovendo a mulher no mercado de trabalho, então você vai ver q na equipe o peso bem maior é equipe formada por mulheres, então a gente tem isso como política, não é nem regra, mas uma política de estabelecer q 70% do corpo seja formado por mulheres, outra coisa comportamento, a gente não quer ta promovendo nada que venha de encontro a nossa missão e princípios, uma coisa q a gente coloca para os jovens como para os educadores é não permitir musicas que venham denegrir a imagem da mulher, ta promovendo a violência, quer escutar o brega, o funk, escute, mas vamos ver a letra, enfim acho q isso é uma regra institucional. (entrevistada 04)

Os valores apresentados pela graúna se correlacionam com os valores emancipatórios

definidos na operacionalização da análise, além de integrarem como elemento de auto-

realização de seus integrantes.

Aqui a gente aprende muito. Depois que eu cheguei aqui eu aprendi muita coisa com a graúna. Como lidar com as pessoas, né? Que tem pessoas que são diferentes que com um sentimento pensa uma coisas de uma forma, outra já pensa de outra maneira e aí então a gente vai conhecendo que ninguém é igual ao outro. A gente tem que ter várias maneiras de tratar as pessoas. Por comparação, eu tenho que lhe observar pra pode lhe tratar, né? Foi uma coisa que eu aprendi aqui dentro. E que todo mundo é igual e ninguém é diferente de ninguém, né? E eu aprendi muita coisa aqui. Aqui eu tenho apoio. Eu cheguei aqui me deram apoio para estudar, eu to estudando, eh! Aprendi muitas coisas que eu não tenho sabia mesmo aqui dentro. E eu tenho muito

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que agradecer. No momento que eu trabalho, eu aqui também to aprendendo. (entrevistada 03)

Quanto aos objetivos organizacionais, pode-se dizer que há uma congruência com os

valores praticados haja vista o projeto político da organização está ligado a valores

subjugados da sociedade como, questões de gênero, educação e arte.

O Projeto político da instituição é o projeto feminista da sociedade e do brasileiro, as ações desenvolvidas do ponto de vista da educação pedagógico vão dando os subsídios para que possa fortalecer para outros projetos, inclusive que se possam propor políticas públicas de inclusão e não de exclusão, as oficinas de artes fazem sentido, se fosse para ensinar o jovem a ter um o oficio, quem tem que construir a escola é o estado. Acho um absurdo não ter escola de arte pública![...] A ideologia é totalmente contrario, a política de primeiro emprego ela focaliza o mercado, é o contrario, que fazem capacitação com jovem para colocar no mercado de trabalho.Não que não se trabalhe o conceito, mas para nos tem outra conotação. Nós trabalhamos com um conceito de muito trabalho e não de mercado! É um modelo econômico que a própria instituição questiona e contesta, tem que trabalhar como eles com o mundo de trabalho, não do mercado, tem se criar alternativa, o jovem que ser artista e artesão, ele fica. Fazer o que gosta e não fazer o que o Bom preço oferece! Tem uma demanda muito grande de caixas, então vamos treinar garotos pra serem caixa de supermercado. Pode ter algum que queria ser caixa, mas eu tenho certeza que não muitos não querem. Você pode perguntar pro caixas do Bom preço que ele gosta daí, muitos vão responder que estão ali por necessidade. Como eu já vi várias vezes. (entrevistada 05)

Neste sentido, depreende-se que este elemento constitutivo da entidade em questão

tem uma intensidade de presença alta.

� Autonomia

Este indicador representa para a entidade a sua busca constante pela emancipação da

juventude e em especial da mulher no que tange aos seus direitos e necessidades. Em termos

de atividades organizacionais, é visível a espontaneidade com que os educadores e demais

integrantes realizam suas atividades, contudo todas as suas ações devem estar em consonância

com a gestão e os objetivos da organização.

Assim cada um é responsável pela oficina, agora é aquela historia, se tem um planejamento, cada um tem q planejar as oficinas, e isso tem que ser de certa

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forma compartilhado, principalmente com quem ta na frente da gestão. (Entrevistada 04)

E a perspectiva de trabalho aqui, eu falei que era nova aqui, na verdade eu entrei no ano passado, e assim é uma entidade que você sente desejo e vontade de trabalhar, principalmente quando você vem conhecer o trabalho porque existe toda uma liberdade do profissional trabalhar e exercer sua metodologia e ao mesmo tempo a preocupação metódica de você realizar um trabalho sistemático que tenha uma coerência, uma seqüência de estudar os passos pedagógicos, fazer o planejamento junto de todas essas questões. (Entrevistada 01)

Com isso, intruje-se que a autonomia na graúna, ela é limitada uma vez que representa

a peça chave de sua visão como organização, porém nas ações ela esta delimitada as metas

organizacionais.

� Entendimento

A consonância na organização é algo acessível na entidade em estudo, uma vez que o

discurso sobre os objetivos e a rotina das atividades foi único em todas as entrevistas,

principalmente no que se arrola as decisões para a organização.

O espírito de equipe e a preocupação com o resultado final da organização são

percebíveis principalmente nos discursos dos educadores, na preocupação em mapear os

resultados e os vínculos com a graúna depois do desligamento dos jovens das oficinas.

Uma outra questão é no que tange as decisões, que em sua maioria são verbalizadas

como consensuais e discutidas nas reuniões de sistematização,

Quanto às decisões, aí a gente sempre tenta um consenso. Juntam-se todas as oficinas e a gente decide o que é melhor ou não para a instituição. Tanto a gente como os alunos também. Então a gente senta, primeiro entre a gente e depois a gente tem outra reunião com os jovens para ver se eles concordam ou não. Sempre tem um consenso. Nada é decidido por uma pessoa só. (entrevistada 06)

Deste modo aufere-se que este elemento trespassa as ações dos indivíduos e da própria

entidade como organização em um grau médio de intensidade.

Destarte, após perfilharmos os indicadores da racionalidade substantiva nas ações e em

toda a estrutura da organização, e em comunhão com o conceito de racionalidade substantiva

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de que “na dimensão grupal é orientada ao entendimento, em direção da responsabilidade e

satisfação social”. (SERVA, 1996, p. 340)

Pode-se emitir a afirmação de que a Graúna – juventude, gênero, arte e

desenvolvimento têm uma intensidade considerável de substantividade em sua atuação,

contudo não superior a instrumental, como se observa no quadro 16.

Elemento Indicadores Resultados

Julgamento ético Presente Legitimidade das ações nos focos

Valores emancipatórios Presença alta • Gênero • inclusão social • direitos sexuais livres • Auto-realização

Indicadores Resultados

Autonomia Limitada Visão organizacional Metas organizacionais

Substantiva

Entendimento Acordos e consensos Discurso único

Quadro 16 – Análise do Elemento Racionalidade Substantiva.

Na perspectiva de Weber (1999), o caráter particular e específico de cada formação

social e histórica deve ser obrigatoriamente respeitado. Esse argumento oculta outro

pensamento weberiano: o de que os aspectos individuais de cada organização devem ser para

seus intérpretes, analisados e conduzidos com lucidez intelectual. Nesse intento formula o

conceito de ação social que segundo ele, “orienta-se pelo comportamento de outros, seja este

passado, presente ou esperado como futuro” (WEBER, 1999, p.13).

Um outro ponto é o de que o contato social só se caracteriza quando não há oposição

entre indivíduo e sociedade uma vez que as normas sociais só se tornam concretas quando

manifestadas em cada indivíduo. Trazendo assim a necessidade de serem internalizadas

através dos costumes, da cultura em suas diferenças para adquirem efeitos próprios.

Por isso que este autor assevera de que é a intensidade dessa ação que especifica as

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atitudes das organizações no âmbito das sociedades modernas. Uma vez que existe uma

espécie de comunicação entre a ação propriamente dita e seus efeitos com o mundo externo,

caracterizando assim a relação social que pode ser de caráter transitório ou implicar

permanência, esta última se dá pela recorrência de maneira que o modo permanente de relação

ocorre quando o seu conteúdo significativo tem maior caráter racional. (WEBER, 1999)

Diante do exposto e através das análises apresentadas anteriormente, expõe-se a seguir

uma outra análise da Graúna no que concerne a sua lógica de ação. Através da forma e de que

maneira essas tipologias se configuram. Para tal, foi elaborada uma figura 4 respeitando a

tipologia ideal apresentada por Weber, no que se refere à ação social, e dominação.

Figura 4 - A representação das tipologias weberianas no ponto de Cultura Graúna – juventude,

gênero, artes e desenvolvimento

Tipologia da Ação

socialTipologias de

Dominação

Racionalcom relação

a Fins

Afetiva

Tradicional

Racionalcom relação

a Valores

Relação Associativa

Relação Comunitária

Racional - legal(materializado na

Burocracia)

Carismática

Tradicional

incidência Inicio de incidência

Tipologia da Ação

socialTipologias de

Dominação

Racionalcom relação

a Fins

Afetiva

Tradicional

Racionalcom relação

a Valores

Relação Associativa

Relação Comunitária

Racional - legal(materializado na

Burocracia)

Carismática

Tradicional

Tipologia da Ação

socialTipologias de

Dominação

Racionalcom relação

a Fins

Afetiva

Tradicional

Racionalcom relação

a Valores

Racionalcom relação

a Fins

Afetiva

Tradicional

Racionalcom relação

a Valores

Relação Associativa

Relação Comunitária

Relação Associativa

Relação Comunitária

Racional - legal(materializado na

Burocracia)

Carismática

Tradicional

incidência Inicio de incidência

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Ramos (1983), trata a ação racional no tocante a valores como portadora de

consciência sistemática de sua intencionalidade, apresenta-se ditada pelo mérito intrínseco do

valor que a inspira, entretanto, é indiferente aos seus resultados. E, ainda de acordo com

Ramos (1983), constitui-se em conduta heróica ou polêmica que testemunha fé ou crenças

sedimentadas nos valores éticos, religiosos, estéticos ou de outra natureza onde a

racionalidade decorre de critérios transcendentes.

Por ser a graúna originária de uma (re)ação de duas individuas que já tinham

trabalhavam no setor, porem em outra entidade, entidade esta que não tinha como linha

programática a linha da Graúna, podemos inferir que a Graúna é originária de uma ação

portadora de consciência sistemática de sua intencionalidade (RAMOS, 1983), ou seja ação

racional com relação a valores como podemos observar na verbalização abaixo.

eu não idealizei sozinha, teve outras pessoas. A gente trabalhava, eu e a CN que hoje esta na Loucas de Pedra Lilás, era educadora no Centro Luiz Freire, para teatro para o de desenvolvimento humano e desenvolvimento local. quando chegou em 2001, terminamos um projeto de formação de jovens de educadores populares na área de arte e cidadania, A gente queria todo mundo mais, desde o jovem, queria trabalhar tudo que estava relacionado aos direitos da juventude, direito sexual, reprodutivo, educação de qualidade e inclusiva, inclusive combate a violência (doméstica e sexual), formação de arte e ofícios e política. Tudo que tem haver com política e com juventude. Aí não dava, a juventude não é uma linha programática, pois o Luiz Freire não é no desenvolvimento local, Aí fizemos uma reunião e decidimos sair do centro, e criamos uma organização relacionada a juventude. Conversando com a coordenadora do centro, instalamos na TV Viva na salinha que tem lá em baixo, durante um ano, mais de um ano a gente ficou e o centro Luiz Freire foi muito parceiros e a TV Viva Daí nós nos mudamos, éramos nós duas e mais 15 jovens.(entrevistada 05)

No entanto, sendo suas integrantes originárias de organizações mais estruturadas e

completamente instrumental, e conhecedoras de todos os trâmites legais relacionados a

funcionamento e manutenção desse tipo de organização. A ação relacionada a valores dá

espaço para mais um tipo de ação, a referente a fins, caracterizada por Weber(1999) como

aquela que se orienta conforme o fim, os meios e as conseqüências implicadas, dotada de

caráter sistemático, consciente, calculado, atenta ao ato de adequar as condições e meios a

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fins, deliberadamente escolhidos.

Entretanto, como Weber (1999, p. 16) mesmo recorda, “a absoluta racionalidade de

ação com relação a fins, todavia, tem essencialmente o caráter de uma construção de um caso

limite”, uma vez que raras vezes a ação social “está exclusivamente orientada por uma ou

outra de suas modalidades”.

É nesse sentido que Weber (1999) afirma que a compreensão da ação social deve tratar

“sempre de um conteúdo significativo empírico” com isso podemos demonstrar que os

integrantes da Graúna, estão envoltos com esse dois tipos de ações, uma vez que permeiam

suas ações às crenças e propósitos da organização, aliadas as sistemáticas práticas

administrativas oriundas de organizações complexas (CLEGG, 1998). “Essa visão de que o

recurso é única e exclusivamente para desenvolver a ação aí é que mata as instituições, é ela

que mata as organizações, principalmente se não têm outros parâmetros, outras referencias”

(entrevistada 04).

Diante da análise de weberiana de que uma relação social “consiste em um

relacionamento recíproco entre as ações de ambas as partes [...] ações reciprocamente referida

quanto aos sentidos” (WEBER, 1999, p. 16). Podendo ser de forma unilateral ou bilateral

sendo esta ultima, quando há correspondências quanto ao conteúdo dos sentidos. E ter um

caráter inteiramente transitório ou permanente.

Auferimos que a entidade em estudo detém uma relação social bilateral e permanente

uma vez que é público em seus integrantes o entendimento, o consenso e a vontade de

permanecer nesta forma social.

eu desejo, enquanto integrante mesmo que a gente possa a cada dia cuidar dessa questão da organização, se vê enquanto organização, do fortalecimento de que somos corpo e aqui já existe isso, mas que espero que com o passar do tempo isso possa ser cada vez mais fortalecido; cada um tem sua importância aqui e que a gente possa estar cuidando da inovação do trabalho. (entrevistada 01)

Sendo esta relação classificada como Associativa, haja vista o autor a conceituar como

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“um ajuste ou numa união de interesses racionalmente motivados” sejam com referência a

valores ou afins.(WEBER, 1999, p.16).

E sendo de uma densidade majoritária a presença da ação racional com relação a fins

na graúna, pode inferir que seus integrantes convivem sob a dominação racional-legal,

legitimada pela necessidade de gerir eficazmente seus recursos, a fim de atingir seus

objetivos, no intuito de serem consideradas eficientes. Uma vez que as execuções de

atividades estão arroladas a estrutura burocrática do Estado e de outras organizações

complexas(CLEGG, 1998) em caráter de financiamentos.

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4.3 A influência do Programa Cultura Viva nos casos

Estudados.

Sob o desenvolvimento do capitalismo e dos estados modernos, a burocracia tornou-se

o fundamento principal da organização da sociedade, tendo como forma de dominação a

autoridade racional-legal, e tendo como “objetivo organizar a atividade humana de modo

estável para a consecução de fins organizacionais explícitos” (MOTTA e VASCONCELOS,

2004, p. 19).

Por muito tempo esse principio serviu de base para os estudos organizacionais,

corroborado ainda pela alta competitividade, trazida com a revolução da informação e a busca

de novos mercados, exigindo com isso novos arranjos e modos de produção capazes de

manter tais organizações no contexto em que estão inseridas. (BALDI, 2002).

Contudo, a emergência de movimentos sociais, nas últimas décadas, e o surgimento do

terceiro setor a partir do crescimento da influência de organizações que possuem outras

matrizes de significado, e sua participação em áreas que eram, anteriormente, de

responsabilidade exclusiva do Estado, fez com que despertasse a curiosidade de muitos

estudiosos sobre como essas entidades se organizavam além de manterem uma relação direta

com o Estado burocrático.

A promulgação da Constituição de 1988 em que foram definidos os 14 princípios

participativos na organização do Estado Brasileiro; a participação da Sociedade civil na

deliberação sobre as políticas públicas foi considerada como o mais importante, e ainda tendo

como aliado o princípio de comunidade de Rousseau, que defende à eliminação de “todos os

obstáculos às interações políticas entre cidadãos, uma vez que só a partir destas pode emergir

uma vontade geral não distorcida” (SANTOS, 2001, p.252); Iniciativas governamentais vêm

sendo tomadas com o objetivo de integrar os atores sociais na deliberação e no

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estabelecimento de mecanismos de controle nas políticas sociais.

Atrelado a isso, O Governo Federal, por intermédio do Ministério da Cultura (MINC),

vem propondo ações inerentes à cultura a partir de um conceito articulado em três dimensões:

“cultura como usina de símbolos, cultura como direito e cidadania, cultura como economia”

(BRASIL, 2005), estimulando com isso a participação da “sociedade civil” na formação de

políticas públicas culturais.

Como indicativo desse “encantamento social”, foi lançado um programa nacional, O

Cultura Viva, que “é concebido como uma rede orgânica de criação e gestão cultural,

mediado pelos Pontos de Cultura, sua principal ação” (BRASIL, 2005). Sua implantação

presume um “processo contínuo e dinâmico e seu desenvolvimento é semelhante ao de um

organismo vivo, que se articula com atores pré-existentes”. (BRASIL, 2005).

A proposta apresentada salienta que o programa traz à discussão das políticas culturais

oriundas unilateralmente da estrutura governamental e impostas à comunidade, propondo a

esta última à oportunidade de trabalhar em co-gestão com o poder público.

O programa desenvolve a idéia de uma Gestão Compartilhada e transformadora para

as ações do mesmo e tem a “intenção de estabelecer novos parâmetros de gestão e democracia

na relação, Estado e Sociedade” (BRASIL, 2005).

A gestão do programa está envolvida pelos conceitos de empoderamento, autonomia e

protagonismo social, o que nos mostra uma preocupação com o risco da sociedade se

burocratizar, perder a espontaneidade, uma vez que através da autonomia se respeitará a

dinâmica própria do local onde se dará a ação. O empoderamento é caracterizado como o

instrumento pelo qual podem transformar as relações econômicas e de poder e o protagonismo

social surge com o entendimento das organizações como sujeitos de sua práticas, que

intervêm nas políticas de desenvolvimento social, nos hábitos da sociedade e na elaboração

das políticas públicas. (BRASIL, 2005 p. 33-35).

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O Cultura Viva é executado mediante editais de convite á organizações privadas e

instituições públicas, legalmente constituídas, de caráter cultural e social, desde que as não

governamentais sejam sem fins lucrativos; e estas apresentem projetos de parcerias e

participação nas ações do programa, tornado-se assim um Ponto de cultura, a ação prioritária

do programa.

Sendo estes pontos de cultura nossa unidade de análise (Yin, 2005), representados por

organizações com as mais variadas lógicas de ações e matrizes de significado, e aliado a

proposta teórica desta pesquisa apresentaremos a seguir a influência desse programa nos seus

processos de burocratização, em sua delimitação organizacional e na sua ação administrativa.

Cumprindo assim os objetivos estipulados nessa investigação.

Vale ressaltar o conceito proposto por Ramos (1981) sobre delimitação

organizacional, e suas categorias delimitadoras, uma vez que o modelo proposto por este

autor, “não proclama a possibilidade de uma total integração das metas individuais e

organizacionais, e sim mostrar que a atualização humana é um esforço complexo e jamais

poderá ser empreendido num tipo único de organização” (RAMOS, 1981, p.143).

Pode-se afirmar que foi o vínculo com o programa cultura viva o principal fator para

que o centro cultural coco de umbigada iniciasse a sua burocratização, sendo outro fator, a

chegada de voluntários com experiências em organizações sociais.

Conforme já apresentado no item 1.1, o centro cultural coco de umbigada nasceu junto

com o programa, porém, “O nome coco de umbigada, vem de uma representatividade através

de um trabalho de “B” que ela já vem desenvolvendo há vários anos, eu sou novo só 2 anos, e

ela já faz 10anos. (entrevistado 05). Para essa entidade o Cultura viva veio para reconhecer os

terreiros de candomblé como fazedores da cultura popular.

A gente não tinha recurso, porque os terreiros, nunca foram reconhecidos nesse país, nunca tivemos recursos, pelo contrario, a gente convivia eternamente com a intolerância da política publica, mas a partir do momento que os recursos chega, você passa a ter uma despesa fixa real. Acho que o programa cultura viva apesar de toda dificuldade, de todo entrave, ele deu

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essa resposta, entendeu? Acho Gil, o próprio Célio Turino, nesse conceito mesmo, nessa percepção de protagonizar quem tá na ponta, de atender quem nunca foi atendido sabe? nesse sentido assim acertou apesar de toda dificuldade de todo entrave mas foi um programa que atendeu pela primeira vez no país quem nunca foi atendido. Onde que os terreiros nesse país iriam ser atendidos com esse recurso e com estrutura? Na ilha de edição por exemplo. Quando? Onde? Em que momento? Nenhum. (entrevistado 01)

Vale salientar que os integrantes do centro têm a consciência da presença dos

elementos burocráticos, porém os realizam como forma de sobrevivência de suas intenções e

atitudes.

Sem o registro, você não existe, essa coisa burocrática, tem gente do candomblé que ta se negando terminantemente a se registrar, eu tenho uma outra visão da coisa, não é esse registro que vai modificar as minhas as ações, e vai modificar o meu ritual, a minha base espiritual. (entrevistada 06)

Um outro ponto a ressaltar é a visão deste centro em relação ao programa, é público

que existem os questionamentos quanto a execução deste, mesmo assim o programam é visto

como quem,

Deu uma oportunidade...mais do que isso, mais do que dar oportunidade, reconheceu quem já vinha tendo, a cultura em gestão. Teve esse conceito mesmo de compreender o processo, o povo mesmo que é o povo que tem a cultura em gestão, os Afoxés, o maracatu, o coco, a ciranda, essa coisa que nunca foi reconhecido nesse país”. (entrevistada 01)

Quanto a graúna, já não podemos inferir a mesma coisa, esta entidade já existia há 3 anos antes da publicação do programa, além de já possuir uma gama de vínculos com organizações governamentais, através de parcerias e financiamentos, inclusive de âmbito internacional. O Cultura Viva representa para a graúna apenas mais uma oportunidade de captar recursos para suas ações e com ressalvas. Que foram identificadas na verbalização a seguir:

A gente só consegue ser ponto de cultura só por causa da Petrobrás na retaguarda, pois não dá para viver com recursos de ponto de cultura. Se gasta R$ 36.000,00, por semestre, não paga as contas. A gente consegue ter estrutura, por causa da Petrobrás, que banca aluguel, luz, telefone, banca tudo. Se não fosse isso, teríamos que fazer outra coisa, só teatro e não seria ponto de cultura! Não paga o aluguel dessa casa que é R$ 2.000,00. O grande problema do financiador nacional, a cooperativa internacional tem outra visão, eles sabem que não adianta mandar o projeto sem ter estrutura física e pessoal e equipamento que possa garantir o sucesso do projeto, mas se já quando aprova um seu já está implícito. Ou se tem outro financiador ela dá direito de receber a 10% sobre a taxa administrativa. O financiador brasileiro esquece que tem taxa bancária e cpmf. O financiador brasileiro esquece que existem outras taxas pra pagar para existir uma conta no banco! Então é muito complicado.[...] “há diferença da Graúna para outros pontos de cultura, as ações de cultura que a gente faz não são os objetivos finais da

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instituição” (entrevistada 04) Neste sentido, leva-se a concluir que no processo de burocratização o Programa

Cultura viva apenas potencializa o já existente.

Aliado a esse processo de burocratização não se pode deixar de falar sobre a proposta

do programa de uma gestão compartilhada, e de estabelecer novos parâmetros de gestão entre

o estado e a sociedade, ou seja, uma gestão bilateral e multidimensional, completamente

contrária aos princípios burocráticos do Estado. A fim de averiguar esta proposta, utilizou-se a

abordagem substantiva da organização proposta por Ramos (1986) que sugere uma análise de

sistemas sociais através de uma visão multidimensional em que o “mercado é considerado

necessário e legítimo, mas limitado e regulado” (RAMOS, 1986, p.140).

O modelo proposto apresenta categorias heurísticas orientadas por dimensões que

“consideram a atualização humana livre de prescrições impostas, que podem ocorrer tanto em

pequenos ambientes exclusivos quanto em comunidades de regular tamanho” (RAMOS,

1986, p. 141), todas dispostas em um continuo, que vão da orientação individual a

comunitária e da prescrição a ausência de normas. Tal modelo foi chamado pelo autor de

Paradigma econômico.

Ressalta-se ainda que os enclaves como estão dispostos no paradigma, não se espera

que existam em partes separadas do espaço físico, e o autor afirma ainda que só existem de

forma mista.

Isto posto, foi elaborada uma figura para representar a identificação quanto a

delimitação organizacional dos casos estudados.

No que concerne ao ponto de cultura centro cultural coco de umbigada, foram

detectadas duas delimitações organizacionais, uma antes da seleção como ponto de cultura e

outra após.

Na primeira delimitação, conforme a figura 5, foi caracterizada, de forma mista, como

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o próprio autor defende, entre um enclave de motim e de isonomia, sendo a primeira por se

referenciar a uma coletividade, no entanto provida de normas, fundamentadas nos preceitos

religiosos que unem seus integrantes.

Figura 5 - Delimitação organizacional do ponto de cultura centro Cultural coco de umbigada

antes do vínculo com o Programa Cultura Viva.

No que diz respeito à isonomia, que é definida como um contexto em que todos os

membros são iguais. A entidade foi classificada como tal, em consonância com as

características apresentadas pelo autor conforme listadas a baixo:

1. O centro cultural tem como objetivo a busca da legitimidade e da preservação da

matriz africana na sociedade, ou seja “permitir a atualização de seus membros

independentes de prescrições impostas” (RAMOS, 1986. p. 150)

2. No centro cultural coco de umbigada, seus integrantes estão todos imbuídos da

vontade em fazer cultura popular e legitimar a matriz africana do candomblé, em

que a troca de saberes que estes proporcionam a comunidade, é devolvida na forma

Orientação Comunitária

Orientação Individual

Ausência de Normas

Prescrição

Centro Cultural Coco de Umbigada

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de auto-realização. Isto, é amplamente gratificante, pois na isonomia, os

indivíduos desempenham atividades compensadoras em si mesma.(Idem, 1986)

3. Na entidade em questão os integrantes são voluntários, ou educadores, que

iniciaram como voluntários e que chegaram a organização por vontade de fazer

cultura popular. Conforme Ramos (1986), a maximização da utilidade não tem

importância para os interesses fundamentais do indivíduo.

4. As decisões no Centro são de caráter consensual e em grupo, de acordo com a

natureza dos assuntos, no entanto a orientação e deliberação final são feitas pela

coordenadora, o que não se configura como uma isonomia pura, uma vez que nessa

delimitação a autoridade é conferida pela deliberação de todos.

5. Os relacionamentos interpessoais dentro da entidade são de caráter primário, ainda

que a organização tenha crescido além do esperado nesse ultimo ano.

Em um segundo momento, após a seleção como ponto de cultura, fato que levou a

formalização da existência da entidade, foram encontradas outras delimitações

organizacionais e mistas, confirmando mais uma vez a ausência pura e especifica de uma

única delimitação, conforme figura 6.

O Centro Cultural Coco de Umbigada foi delimitado de forma mista entre uma

isonomia e uma economia. O que o faz esclarecer como um processo de transição entre

ausência de normas e a prescrição, se mantendo em uma orientação comunitária.

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Figura 6 - Delimitação organizacional do ponto de cultura centro Cultural coco de umbigada

após do vínculo com o Programa Cultura Viva.

No que se refere a isonomia as características encontradas permanecem iguais após

essa seleção.

Quanto à delimitação como economia, que é definida como “um contexto

organizacional altamente ordenado para a produção de bens/serviços” (RAMOS, 1986, p.

148). Foram encontradas as seguintes características:

1. Presta serviços a comunidade, de inclusão social até de busca de da

legitimidade africana, isso faz com que esta comunidade influencie direta ou

indiretamente nas suas atividades.

2. A explicitação clara e o desejo de que a organização assuma grandes

dimensões em tamanho e complexidade. O que já é visível, haja vista já ter

mudado de localização, extrapolando os limites do terreiro, e a divisão clara e

funcional das tarefas.

3. Seus membros apesar de não serem empregados, acumulam funções de acordo

Orientação Individual

Ausência de Normas

Prescrição

Centro Cultural Coco de Umbigada

Orientação Comunitária

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com suas ocupações profissionais.

Tal resultado é relacionado ao processo de adequação que a entidade necessita passar

para se moldar às normas vigentes das instituições financiadoras da cultura nacional, sejam

elas governamentais ou não.

Um outro item a destacar é a incongruência que se percebe entre a proposta do

programa e o que ele executa, a princípio traz à discussão das políticas culturais oriundas

unilateralmente da estrutura governamental e impostas à comunidade, propondo a esta última

à oportunidade de trabalhar em co-gestão com o poder público. No entanto o que se vê é mais

um edital de financiamento da cultura popular, com uma única ressalva, dando abertura para

tipos diferenciados e organizações, desde que possuam as características básicas do calculo

utilitário em sua matriz de significado.

O ponto de cultura Graúna - juventude, gênero, arte e desenvolvimento, tem sua

delimitação organizacional um tanto quanto diferenciada da organização anterior.

Durante a realização desta pesquisa não foi percebida nenhuma alteração da

organização em virtude desta ser classificada como ponto de cultura, o que nos remete a

construção de uma única figura que a delimite.

A delimitação encontrada nesta organização também é de forma mista e de igual

formulação que a do centro cultural após a vinculação com o programa, com uma única

ressalva; as características do enclave econômico são mais intensas e de maior proporção que

as de isonomias.

No que se reporta à delimitação econômica forma encontradas as seguintes

características:

1. Seu público alvo é a juventude de baixa renda de seu entorno e de outras

localizações do município de Olinda, ao passo que este público é quem realiza

suas avaliações, tornando-se com isso personagem de muita influência nos

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planos e execuções das atividades.

Figura 7 - Delimitação organizacional do ponto de cultura Graúna – juventude, gênero, arte e

desenvolvimento.

2. Sua dimensão e complexidade estão em desenvolvimento, no entanto já é bem

maior que o centro cultural.

3. Todos os seus integrantes são vinculados a projetos, um que denota uma

relação de emprego.

4. A comunicação é bem estruturada e difundida de forma igual aos vários níveis

de estrutura, por intermédio de meios eletrônicos, contudo os níveis mais

baixos não têm inclusão digital ainda.

No tocante a isonomia, encontra-se a relação primaria de comportamento, a

gratificação e auto- realização nas atividades realizadas por seus integrantes, é algo

verbalizado, e seu sistema de decisão possui certa abrangência.

O ponto de cultura Graúna - juventude, gênero, arte e desenvolvimento, no que se

Orientação Comunitária

Orientação Individual

Ausência de Normas

Prescrição

Graúna - Juventude, gênero e Arte

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relaciona ao programa cultura viva, não sofre influências, ao passo que este representa apenas

mais um financiador para as suas atividades e suas exigências concebem as rubricas

comumente estabelecidas por organizações governamentais para financiamento.

Além disso, de acordo com o conceito de ação administrativa de Ramos(1966, 1983,

p. 65), que a ver como toda modalidade de ação social, dotada de racionalidade funcional, e

que supõe estejam os seus agentes, enquanto a exercem, sob a vigência predominante da ética

da responsabilidade”. Para esse autor, esse tipo de ética apresenta-se também munido de um

critério que soa como uma postura metodológica em que se aliam os critérios da racionalidade

funcional ou pragmática à natureza acadêmica de seus executores.

Em contrapartida Ramos, traz o conceito de racionalidade baseado na ética de valor

absoluto ou da convicção implícita, que está diretamente vinculada a toda ação que possua

relação com valores. Admitindo a sua congruência com a ética da responsabilidade, sob

tensões e não um antagonismo excludente (RAMOS, 1996).

Neste sentido, compreende-se que a gestão organizacional não pode ser conduzida por

um único tipo de ética. As tensões éticas se fazem presentes nas organizações e no ambiente

social em que elas estão inseridas de modo a torná-las “sensitivas” e influenciáveis a essa

dinâmica ambígua tanto no domínio propriamente da organização, como da sociedade.

Diante das análises feitas em nossas unidades de análise, e a conclusão a que

chegamos de que ambas têm as suas ações permeadas pelas duas racionalidades, ou seja, pelas

éticas da responsabilidade e da convicção, o que contribui para demonstrar não só a presença

de práticas substantivas na organização como a sua coerência com as práticas instrumentais

realizadas por estas organizações.

Uma outra evidência é a tendência em organizações de lógicas instrumental, neste

caso o Programa Cultura Viva do Minc, insistirem no determinismo do mercado no que

concerne à regulamentação e ao financiamento de organizações como os Pontos de cultura,

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levando a probabilidade de ter suas ações emancipatórias transformadas em compensatórias

(TENÓRIO, 2002), levadas a atuar em busca da eficiência e do consumo, deixando de lado a

livre expressão de sua arte baseada em valores democráticos e de solidariedade humana.

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5 Considerações Finais

A pesquisa teve como objetivo compreender a influência de um programa

governamental o Cultura Viva, que tem a cultura como foco, na gestão das organizações

culturais que a ele se vinculam. Além de procurar identificar a existência de uma nova forma

de gestão em organizações culturais, especificamente os pontos de cultura. Vale ressaltar que

com este estudo não foram esgotadas as formas de entender a realidade das organizações

culturais classificadas como Ponto de Cultura.

Nesta investigação procurou-se identificar a preponderância que um programa

governamental pode ter sobre a gestão de organizações culturais, haja vista este difundir uma

interação entre a sociedade civil e o poder público por intermédio de um processo de co-

gestão, inclusive prevendo as diferenças que possuem em suas matrizes de significados, em

que de um lado, encontram-se os que desconhecem os mecanismos de gestão e de recursos

públicos e do outro, o que está preso em seu aparato burocrático a normas e regras rígidas,

características dos Estados modernos.

Para tal intento foram elaboradas alguns questionamentos que conforme Merriam

(1998) produzem os efeitos necessários ao alcance do objetivo proposto, que são:

• Qual o grau de burocratização das organizações culturais?

• Quais as bases de racionalidade das organizações culturais?

• Qual a influência do Programa Cultura Viva no processo de burocratização dessas

organizações?

• Qual a influência do Programa Cultura Viva na delimitação organizacional dessas

organizações?

• Qual a influência do Programa Cultura Viva na ação administrativa dessas

organizações?

Isto posto, foi desenvolvido um estudo de múltiplos casos qualitativo a fim de

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responder essas indagações. A coleta de dados privilegiou a realização de entrevistas semi-

estruturadas, as quais aconteceram com seis pessoas de cada organização que possuíam

informações relevantes sobre a gestão dos pontos de cultura.

Todas as entrevistas foram transcritas, totalizando um volume aproximado de 200

páginas. Sendo estas, a principal fonte do processo de análise e responsáveis pela

categorização e sistematização dos dados.

O trabalho de análise de dados identificou níveis diferenciados de influência do

programa Cultura viva na gestão das organizações estudadas. A discussão desses resultados

foi feita a partir de uma analogia entre o conteúdo das entrevistas e a proposta teórica deste

trabalho, a partir da qual foi possível estabelecer conexões que oferecessem respostas às

questões propostas.

Esta seção tem como objetivo apresentar as conclusões, assim como as limitações

deste estudo, além de propor sugestões para futuras pesquisas, através de algumas questões

que emergiram com o fim deste trabalho e que poderão contribuir com os estudos

organizacionais.

5.1 Conclusões

Nessa seção são expostas duas assertivas que se propõem a responder às indagações

mencionadas como perguntas de pesquisa.

1. O processo de burocratização das unidades de análise foi influenciado em graus

diferentes pelo Programa Cultura Viva.

A identificação do grau de burocratização em dois níveis diferenciados nas unidades

de análise favoreceu a conceituação de Hall (1978) de que a burocracia pode ser analisada

como uma questão de grau e não de natureza, e independente da quantidade de organizações

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estudadas.

Os resultados “sugerem uma indicação de variabilidade em que se podem manifestar

os graus de burocratização” (HALL, 1978, p.42). Também indicam o nivelamento estamental

criado pela burocratização, que desencadeia na “democracia de massas”.(WEBER, 1999)

Após ser classificado como ponto de cultura, o centro cultural coco de umbigada passa

a dar uma maior observância aos princípios da racionalização e eficiência, principalmente no

que concerne a maximização de recursos, e hierarquia.

Já o ponto Graúna – juventude, gênero, arte e desenvolvimento, manteve-se inalterado

quanto ao grau de burocratização, uma vez que, já se provia de uma elevada estrutura e

princípios racionais-legais, confirmando com isso o descrédito de Weber (1999) quanto à

sucessão de fatos históricos fazerem sentido em si.

Destaca-se com isso, a presença em si dos princípios da burocracia em organizações

antes submetidas essencialmente a lógicas substantivas baseadas em valores e tradições,

mesmo que em intensidades diferentes, confirmando a assertiva de Weber (2000) que a

burocratização é o reflexo do processo de racionalização da sociedade ocidental, na qual se

busca um instrumento de adequação dos meios aos fins.

Assim sendo este estudo vem contribuir para as pesquisas no campo da cultura do

Observatório da Realidade Organizacional que analisam o processo de mercantilização da

cultura e ao mesmo tempo questionam o papel no Estado em todas essas mudanças.

(CARVALHO et al., 2004).

2. A delimitação organizacional e sua ação administrativa, do ponto de cultura centro

cultural coco de umbigada, tiveram uma extensão significativa a partir do programa cultura

viva, o que não foi percebido na Graúna – juventude, gênero, arte e desenvolvimento.

No que se reporta às bases de racionalidades presentes nas organizações, foi verificado

a presença em intensidades diferentes, mas congruentes, das racionalidades substantiva e

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instrumental, validando as afirmações de Ramos (1966) fundamentada em Weber (1999) de

que as ações referidas a fins ou a valores não são de todo antagônicas por se tratarem

essencialmente de conceitos heurísticos, e que nenhum indivíduo organiza sua conduta sob

espécie exclusiva de racionalidade.

No que tange a delimitação organizacional, os resultados incidem sobre um

contraponto da proposta do paradigma paraeconômico de Ramos, que é a de ajustar o

mercado para funcionar em consonância com as exigências dos sistemas sociais que elevam a

qualidade de vida comunitária em geral, da convivência e da atualização pessoas dos

indivíduos. (RAMOS, 1981)

A inclinação a se transformarem cada vez mais em economia, também contraria a

intenção da sociedade multicêntrica proposta por Ramos(1981). Haja vista, este

empreendimento envolver

planejamento e implementação de um novo tipo de estado, com o poder de formular e pôr em prática diretrizes distributivas de apoio não apenas de objetivos orientados para o mercado, mas também de cenários sociais adequados à atualização pessoal, a relacionamentos de convivência e a atividades comunitárias dos cidadãos. (RAMOS, 1981, p. 155)

Outro requisito a este modelo multidimensional, são as iniciativas partidas dos

cidadãos, o que remete as unidades de análise em estudo, porém esta pesquisa confirma a

mudança de suas lógicas de ação, principalmente o centro cultural coco de umbigada diante

do vinculo com o estado, através do programa cultura viva, uma vez que este sistema social é

coagido a se ajustar ao enclave social do mercado e de seu estado burocrático.(RAMOS,1981)

A delimitação da Graúna – juventude, gênero, arte e desenvolvimento mostra-se como

uma iniciativa da “sociedade sensível às necessidades básicas de atualização de seus

membros” (RAMOS, p. 156), contudo como o próprio autor expõe “cada um desses sistemas

sociais determina seus próprios requisitos de planejamento” no caso da organização em

questão, um planejamento completamente delineado pelo enclave social do mercado.

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Partindo da premissa de que

a paraeconomia pode ser entendida também como proporcionadora da estrutura de uma teoria política substantiva de alocação de recursos e de relacionamentos funcionais entre enclaves sociais, necessários à estimulação qualitativa da vida social dos cidadãos.(RAMOS,1981, p. 177)

Percebe-se com esta pesquisa, que as novas formas organizacionais, presentes na

maioria das pautas dos estudos organizacionais, encerradas como uma ruptura ao modelo

burocrático, e que dão oportunidade a substantividade racional, ainda carece de mais

questionamentos empíricos que a fortaleçam, uma vez que suas idéias podem ser vistas como

uma forma de entender a realidade social ou como um período concreto em que podem ser

configuradas.

Tais formas alternativas representadas pelo paradigma paraeconômico apresentam

como uma de suas evidências, a emergência de uma sociedade pós-industrial (RAMOS,

1981), caracterizada pela predominância do setor de serviços em relação a produção, e a

descentralização.(DELLAGNELO e MACHADO da SILVA, 2000)

Cabe esclarecer que esta sociedade pós-industrial visualizada pelo paradigma

paraeconômico, “só poderá vir a existi como resultado de vigorosa oposição por parte dos

agentes cujo projeto pessoal consiste em resistir às tendências intrínsecas da sociedade

centrada no mercado”.(RAMOS, 1981, p.155)

No entanto esse estudo, assim como os de Serva (1996), Dellagnelo (2000), Baldi

(2002), vem refutar o rompimento com o modelo burocrático organizacional, e ainda

fortalecê-los, haja vista as evidências empíricas serem sutis, ainda que em organizações

culturais como os pontos de cultura, entidades muito diversas que mantêm apenas um aspecto

em comum a “transversalidade da cultura e a gestão compartilhada entre poder público e

comunidade” (BRASIL, 2005) serem exigidas as mesmas práticas organizacionais para se

classificarem como tal.

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5.2 Implicação para a prática

Devido ser o estudo de caráter qualitativo, os resultados desta investigação não podem

ser generalizados, sendo apropriado apenas para o universo em que foi aplicado.

Por apenas estudar as organizações culturais que sofrem influências do Programa

Cultura Viva esta pesquisa possui outra limitação em relação ao universo pesquisado, visto

que, todas as organizações do campo não foram pesquisadas, haja vista o interesse de

identificar a influência que o Programa Cultura Viva tem em suas gestões.

Devido aos prazos que esta pesquisa tem que cumprir, não foi possível dar

continuidade à idéia prévia do projeto desta pesquisa, o qual se propunha a investigar os

pontos de cultura da região nordeste do país, tendo em vista a grande participação da região

no programa em estudo, representada por 36% dos projetos selecionados. Atrelado a isso,

houve um atraso na implantação dos Pontos de Cultura, as organizações responsáveis pela

implementação das ações do Programa Cultura Viva do Ministério da Cultura, o que também

acarretou um atraso quanto a coleta de dados.

É importante salientar que o uso apenas de uma técnica de pesquisa limitou a

realização de um aprofundamento maior nas organizações estudadas.

5.3 Recomendações

Tem sido constante o desenvolvimento de estudos acerca das formas de gestão de

organizações culturais pelo grupo de pesquisa Observatório da Realidade Organizacional, um

grupo de caráter interinstitucional que está ligado ao Programa de Pós-Graduação em

Administração da Universidade Federal de Pernambuco (PROPAD/UFPE), à Escola

Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas

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(EBAPE/FGV) e ao Curso de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal de

Santa Catarina (CPGA/UFSC). Com essa dissertação espera-se, ter atingindo todos os

objetivos para ela traçados, porém a realidade organizacional não se exaure com esta

investigação, adversamente surgem outros questionamentos e inquietações que sugerem

outros estudos a fim de obter uma melhor compreensão da gestão de organizações culturais.

Sendo uma das limitações desta pesquisa o universo pesquisado relacionado ao

Programa estudado, fica como sugestão para outros estudos a identificação das influências de

gestão pelo Programa nas organizações localizadas na região nordeste, uma vez que esta

região denota características socioculturais e econômicas análogas, bem como em outras

regiões do país que o programa abrange.

Também seria pertinente verificar as técnicas utilizadas para a pesquisa, uma vez que

este estudo assume um caráter exploratório, sabe-se que a triangulação de dados é

recomendada como forma para melhor compreender o fenômeno em análise, na expectativa

de aproximar o máximo possível o pesquisador da realidade, mediante a riqueza de

informações compartilhadas (PATTON, 2002; MERRIAM, 1998).

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SOLÉ, Andreù.¿Qué és uma empresa? Construcción de um ideal tipo transdiciplinário. 2004. 16p. Ensaio apresentado em aula do Curso de Doutorado em Administração da Universidade federal de Pernambuco. 2004 TENÓRIO, Fernando Guilherme. Tem razão a administração? Ensaios de teoria organizacional e gestão social. Ijuí: Unijuí, 2002. 224 p. TRIPODI, Tony; FELLIN, Phillip; MEYER, Henry. Análise da pesquisa social. 2 ed. Rio de Janeiro: F. Alves, 1981.

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APÊNDICE A – Instrumento de Coleta de Dados (Entrevista Semi-estruturada)

ROTEIRO DE ENTREVISTA

Este instrumento de coleta de dados faz parte de uma pesquisa acadêmica realizada para a obtenção do título de Mestre em Administração pelo PROPAD-UFPE sobre o grau de burocratização das organizações culturais constituídas como Ponto de Cultura do município de Olinda e será utilizado com os participantes dos Pontos de Cultura que compõem os casos da pesquisa.

NOME DA ORGANIZAÇÃO:

TEMPO DE EXISTENCIA DA ORGANIZAÇÃO:

NUMERO DE PESSOAS VINCULADAS A ORGANIZAÇÃO:

PROJETO PARA O PONTO DE CULTURA:

AÇÃO DO PROJETO:

NUMERO DE PESSOAS QUE O PROJETO ABRANGE:

1. O QUE FEZ COM QUE VOCES CONSTITUISSEM A ORGANIZAÇÃO/PONTO

DE CULTURA?

Valores e objetivos

2. A ORGANIZAÇÃO ALMEJA ALGO COM A REALIZAÇÃO DE SEUS

TRABALHOS? ESPERAM ALGUM RETORNO? QUE TIPO DE RETORNO? DE

QUEM?

Comunicação e Relações interpessoais

Ação social e Relações ambientais

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3. O QUE VOCÊ ENQUANTO INTEGRANTE ALMEJA PARA A ORGANIZAÇÃO?

Valores e objetivos

Reflexão sobre a organização

Satisfação individual

4. EXISTEM RESULTADOS ESPECÍFICOS, DEFINIÇÕES PRÉVIAS DE

ATIVIDADES QUE DEVEM SER REALIZADAS EM DETERMINADO PERÍODO?

A) COMO SÃO DEFINIDOS?

B) QUEM DEFINE?

Hierarquia e normas

Comunicação e Relações interpessoais

Ação social e Relações ambientais

Controle

Divisão do trabalho

5. A ORGANIZAÇÃO FAZ AVALIAÇÕES EM RELAÇÃO AOS SEUS

TRABALHOS? COMO?

A) O QUE É CONSIDERADO NA AVALIAÇÃO? QUAIS SÃO OS PARÂMETROS

UTILIZADOS?

B) QUEM PARTICIPA DA AVALIAÇÃO?

C) EXISTE ALGUM TIPO DE FORMALIZAÇÃO DESTA AVALIAÇÃO?

D) EXISTE ALGUM TIPO DE DIVULGAÇÃO DESTA AVALIAÇÃO?

E) ERA FEITO ANTES DA EXISTENCIA DO PONTO?

Reflexão sobre a organização

Conflitos

Satisfação individual

Dimensão simbólica

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6. QUAIS SÃO AS ATIVIDADES REALIZADAS PELA ORGANIZAÇÃO? COMO

ESTÃO DISTRIBUÍDAS? QUEM FAZ O QUÊ? EXISTE DISTINÇÃO ENTRE AS

ATIVIDADES?

Hierarquia e normas

Valores e objetivos

Tomada de decisão

Controle

Divisão do trabalho

Satisfação individual

7. EM RELAÇÃO À REALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES DA ORGANIZAÇÃO, CADA

INTEGRANTE REALIZA CONFORME SUAS PRÓPRIAS ORIENTAÇÕES OU

EXISTE ALGUMA ORIENTAÇÃO ESTABELECIDA PELA ORGANIZAÇÃO?

Hierarquia e normas

Valores e objetivos

Tomada de decisão

Controle

Divisão do trabalho

8. EXISTEM REQUISITOS PARA A REALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES? QUAIS?

QUEM DEFINE ISTO?

Tomada de decisão

Controle

Divisão do trabalho

9. A ORGANIZAÇÃO SEMPRE DESENVOLVEU AS MESMAS ATIVIDADES

DESDE SUA CRIAÇÃO?

Valores e objetivos

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10. QUAIS FORAM OS PRINCIPAIS PROJETOS DA ORGANIZAÇÃO?

Valores e objetivos

11. COMO ACONTECE O ACOMPANHAMENTO EM RELAÇÃO À REALIZAÇÃO

DAS ATIVIDADES DA ORGANIZAÇÃO?

A)EXISTEM RESPONSÁVEIS POR ISTO?

B)EXISTE ALGUMA FORMALIZAÇÃO DESTE PROCESSO (REGISTROS

DIVERSOS)?

Hierarquia e normas

Controle

Divisão do trabalho

12. EXISTE ALGUMA COBRANÇA POR PARTE DA ORGANIZAÇÃOEM

RELAÇÃO À REALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES OU AO COMPORTAMENTO DOS

INTEGRANTES? QUAIS?

Valores e objetivos

Dimensão simbólica

13. COMO SÃO TOMADAS AS DECISÕES? COMO SÃO DEFINIDOS OS

PRÓXIMOS PASSOS DA ORGANIZAÇÃO? QUEM TOMA AS DECISÕES

RELATIVAS A RECURSOS, PROGRAMAÇÃO, DIVULGAÇÃO, ETC.? SEMPRE

FOI ASSIM DESDE O INÍCIO?

Hierarquia e normas

Valores e objetivos

Tomada de decisão

Controle

Conflitos

Satisfação individual

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14. TODOS OS INTEGRANTES TÊM ACESSO ÀS DECISÕES E DEMAIS

ASSUNTOS RELATIVOS À ORGANIZAÇÃO? DE QUE FORMAS TÊM

CONHECIMENTO DISTO?

Tomada de decisão

Controle

Conflitos

Satisfação individual

15. DE ONDE CONSEGUEM OS RECURSOS PARA REALIZAÇÃO DOS

TRABALHOS DA ORGANIZAÇÃO?

A)COMO SÃO CAPTADOS OS RECURSOS ATUALMENTE, E COMO ERA

ANTES, NO INÍCIO?

B)HÁ DIFICULDADE EM OBTER OS RECURSOS? POR QUÊ?

Comunicação e Relações interpessoais

Ação social e Relações ambientais

16. A ORGANIZAÇÃO ESTÁ VINCULADA A OUTRA (S) ORGANIZAÇÃO (ÕES)

(ORG. PÚBLICAS, ASSOCIAÇÕES, INSTITUIÇÕES DE ENSINO,

PATROCINADORES, ETC.)? QUE TIPO DE RELAÇÃO EXISTE? JÁ ESTEVE

VINCULADO?

Ação social e Relações ambientais

17. A ORGANIZAÇÃO COSTUMA SE RELACIONAR COM OUTRAS

ORGANIZAÇÕES (ORG. PÚBLICAS, ASSOCIAÇÕES, INSTITUIÇÕES DE

ENSINO, PATROCINADORES, ETC.)? POR QUÊ?

Ação social e Relações ambientais

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18. EXISTEM REGRAS RELATIVAS AO COMPORTAMENTO DA

ORGANIZAÇÃOOU ÀS ATIVIDADES A SEREM REALIZADAS? DE QUE FORMA

A ORGANIZAÇÃOTOMA CONHECIMENTO DISTO?

Hierarquia e normas

19. A ORGANIZAÇÃO REALIZA, REUNIÕES OU ENCONTROS? COM QUE

FREQÜÊNCIA? QUAL O MOTIVO?

Comunicação e Relações interpessoais

Valores e objetivos

20. QUAIS AS FORMAS DE CONTATO ENTRE OS INTEGRANTES DA

ORGANIZAÇÃO? (Virtual, telefone, etc.)

21. E COM OUTRAS ORGANIZAÇÕES, COMO SE ESTABELECE O CONTATO?

Comunicação e Relações interpessoais

Ação social e Relações ambientais

22. VOCÊ PERCEBEU ALGUMA TRANSFORMAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO AO

LONGO DOS ANOS DE TRABALHO? QUAIS?

Valores e Objetivos

23. VOCÊ PERCEBEU ALGUMA TRANSFORMAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO APÓS

SE TORNAR UM PONTO DE CULTURA? QUAIS?

Valores e Objetivos