política Novo presidente aponta de C&T no Rio diretrizes ... · A pós quase 40 anos de buscas,...

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Fórum Nacional de C&T no Rio Os rumos da ciência brasileira são o tema da reunião nacional do Fórum dos Secretários de C&T e do Fórum das Fundações de Amparo à Pesquisa, que acontece em abril, no Rio Janeiro. Um dos destaques do encontro será a eleição e posse da nova diretoria do Fórum dos Secretários. (Pág. 11) A polêmica dos transgênicos A utilização ou não de organismos geneticamente modificados continua a dividir políticos, pesquisadores e a so- ciedade em geral. Na seção Opinião, pesquisadores de duas universidades foram convidados a expôr seus argu- mentos - contra e a favor – a respeito da questão. (Págs. 12 e 13) Rio em mapas - Balé DeAnima - Fármacos - Rede de Proteômica - Residências assistidas Novo presidente aponta diretrizes para a Fundação Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro – FAPERJ - Avenida Erasmo Braga, 118/6º andar – Centro – Rio de Janeiro – CEP.: 20.020-000 Visite nossa homepage: http://www.faperj.br Pedricto Rocha Filho: convênios e parcerias para o desenvolvimento da ciência fluminense Descoberto por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Nacional de Comahue, da Argentina, o Amazonsaurus maranhensis confirma as suspeitas de que a Região Amazônica foi habitada por dinossauros. A ilustração acima, de autoria de Pepi, sugere como deve ter sido o animal. (Pág. 3) Um dinossauro amazonense política FAPERJ investe na preservação de museus e acervos Nova fórmula de luminol reduz custo de perícia criminal Rio Inovação: edital apóia desenvolvimento de novos produtos Lucia Previato ganha prêmio L’Oreal-Unesco para mulheres (Pág. 5) (Pág. 15) (Pág. 5) opinião Em entrevista ao Jornal da FAPERJ, o novo diretor-presidente da Fundação, Pedricto Rocha Filho, aborda temas como a articulação de parcerias com o Ministério da Ciência e Tecnologia e instituições internacionais, e aponta metas de sua gestão. Entre os planos de Pedricto estão a ampliação do Programa Cientistas do Nosso Estado, que terá novo edital; a realização de um número crescente de eventos de caráter científico, tecnológico e cultural; e o incremento de convênios com os municípios flumi-nenses. A nova diretriz da FAPERJ dará ênfase às especificidades regionais, com uma visão interdisciplinar. (Págs. 8 e 9) (Pág. 6) Adriana Lorete

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Fórum Nacional de C&T no RioOs rumos da ciência brasileira são o tema dareunião nacional do Fórum dos Secretáriosde C&T e do Fórum das Fundações deAmparo à Pesquisa, que acontece em abril,no Rio Janeiro. Um dos destaques doencontro será a eleição e posse da novadiretoria do Fórum dos Secretários. (Pág. 11)

A polêmica dostransgênicosA utilização ou não de organismosgeneticamente modificados continua adividir políticos, pesquisadores e a so-ciedade em geral. Na seção Opinião,pesquisadores de duas universidadesforam convidados a expôr seus argu-mentos - contra e a favor – a respeito daquestão. (Págs. 12 e 13)

Rio em mapas - Balé DeAnima - Fármacos - Rede de Proteômica - Residências assistidas

Novo presidente apontadiretrizes para a Fundação

Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro – FAPERJ - Avenida Erasmo Braga, 118/6º andar – Centro – Rio de Janeiro – CEP.: 20.020-000 Visite nossa homepage: http://www.faperj.br

Pedricto Rocha Filho: convênios e parcerias para o desenvolvimento da ciência fluminense

Descoberto por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Nacional de Comahue, da Argentina, oAmazonsaurus maranhensis confirma as suspeitas de que a Região Amazônica foi habitada por dinossauros. A ilustração acima, de autoria de Pepi,sugere como deve ter sido o animal. (Pág. 3)

Um dinossauro amazonense

política

FAPERJ investe napreservação de museus e acervos

Nova fórmula deluminol reduz custo deperícia criminal

Rio Inovação: editalapóia desenvolvimentode novos produtos

Lucia Previato ganhaprêmio L’Oreal-Unescopara mulheres

(Pág. 5)

(Pág. 15)

(Pág. 5)

opinião

Em entrevista ao Jornal da FAPERJ, onovo diretor-presidente da Fundação,Pedricto Rocha Filho, aborda temascomo a articulação de parcerias com oMinistério da Ciência e Tecnologia einstituições internacionais, e apontametas de sua gestão.

Entre os planos de Pedricto estão aampliação do Programa Cientistas doNosso Estado, que terá novo edital; arealização de um número crescente deeventos de caráter científico, tecnológicoe cultural; e o incremento de convênioscom os municípios flumi-nenses. A novadiretriz da FAPERJ dará ênfase àsespecificidades regionais, com uma visãointerdisciplinar.

(Págs. 8 e 9)

(Pág. 6)

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pós um processo de reformulação gráfica eeditorial do informativo FAPERJ Notícias,chega aos leitores a primeira edição do Jornal

da FAPERJ. Mais do que uma simples mudança detítulo, a publicação passa a contar com um novo for-mato, que dará mais agilidade à sua proposta:divulgar as ações da FAPERJ e fornecer um pano-rama da produção científica apoiada pela Fundação.

Nesta primeira edição, as páginas centrais foramdedicadas à entrevista com o professor PedrictoRocha Filho, que, desde janeiro deste ano, é odiretor-presidente da FAPERJ. Subsecretário deDesenvolvimento Tecnológico da Secretaria deCiência e Tecnologia na gestão Anthony Garotinhoe no primeiro ano do atual governo, Pedricto falasobre as metas da fundação para 2004, daimportância do investimento em ciência e tecno-logia e do plano de desenvolvimento tecnológicopara a geração de divisas no estado.

Passado e futuro se cruzam nesta edição. Re-centemente, jornais e emissoras de rádio e televisãodo Brasil e do exterior deram ampla cobertura aoanúncio da descoberta de uma nova espécie dedinossauro, o Amazonsaurus maranhensis, queconfirmou a tese de que a Região Amazônica teriasido habitada por dinossauros. A pesquisa com-prova a tradição dos cientistas do Rio de Janeiro nosetor da paleontologia, que tem recebido o apoioconstante da FAPERJ.

De olho no futuro, a fundação também vemapoiando a inovação tecnológica. Depois de lançaro primeiro edital do Programa Rio Inovação, emparceria com a Financiadora de Estudos e Projetos(Finep), a FAPERJ dedica-se agora ao processo deseleção que apontará os projetos contempladospelo programa. O resultado final deverá seranunciado ainda no primeiro semestre.

A seção Opinião traz os artigos dos pesquisadoresLuiz Eduardo de Carvalho, da Faculdade deFarmácia da Universidade Federal do Rio deJaneiro (UFRJ), Carlos Ruiz-Miranda e CarlosRezende, do Laboratório de Ciências Ambientaisda Universidade Estadual do Norte Fluminense(Uenf). Os textos fazem uma reflexão sobre o usode organismos geneticamente modificados, umtema que continua a dividir políticos, pesqui-sadores e a sociedade em geral.

O símbolo “WWW+”, como o destacado noExpediente desta edição, indica que outrasinformações sobre o tema estão disponíveis napágina eletrônica da FAPERJ.

Começa aqui a história do Jornal da FAPERJ. Boaleitura.

Os editores

Cotas

A FAPERJ começou a pagar, emfevereiro, as bolsas do ProgramaJovens Talentos II, destinado a apoiaros alunos da Universidade Estadualdo Norte Fluminense (Uenf) e daUniversidade do Estado do Rio deJaneiro (Uerj), que ingressaram noscursos de graduação por meio dosistema de cotas. O pagamento éreferente a outubro de 2003, quandoo novo programa foi criado pelagovernadora Rosinha Garotinho. Asbolsas têm o valor de R$ 190 e serãodepositadas em contas bancáriasindividuais durante um ano.

Rede Rio

Com apoio da FAPERJ, a Rede Rio deComputadores ampliou de 45 Mbpspara 155 Mbps a velocidade do seuCanal Internacional, agora fornecidopela Embratel. Primeira rede acadê-mica de acesso à Internet do Brasil, aRede Rio foi criada em 1992 e, atual-mente, atende diretamente a cerca de90 instituições, entre órgãos públicos,centros de pesquisa e universidades.O número de usuários diretos é esti-mado em 400 mil. A rede conta, ain-da, com um outro canal de 200 Mbpsem parceria com a Rede Nacional deEducação e Pesquisa (RNP).

Homenagem

No Dia Internacional da Mulher – 8de março – a FAPERJ homenageousuas funcionárias com uma progra-mação especial, que incluiu palestras,aula de ioga e uma bela confrater-nização. As palestras ficaram a cargoda pesquisadora Marina LemetteMoreira, do Núcleo de Estudos e Açãosobre o Menor (NEAM/PUC-Rio), eda presidente do Conselho Estadualdos Direitos da Mulher (Cedim),Marta Rocha. A sessão de ioga foiconduzida pelo professor EdersonSequim. Dos 123 servidores daFAPERJ, 54 são mulheres.

expediente

notas

Aeditorial

Governo do Estado do Rio de JaneiroGovernadora | Rosinha Garotinho

Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e InovaçãoSecretário | Wanderley de Souza

FAPERJ – Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro

Diretor-presidente | Pedricto Rocha FilhoDiretor Científico | Jerson Lima Silva

Diretor de Tecnologia | Marcos CavalcantiDiretora de Administração e Finanças | Maria Carolina Pinto Ribeiro

Conselho Superior Presidente | Reinaldo Felippe Nery Guimarães, Vice-presidente |

Jésus Alvarenga Bastos, Angela Maria Cohen Uller, Antônio CelsoAlves Pereira, Carlos Alberto Aragão de Carvalho Filho, Carlos

Alberto Dias, Celso Pereira de Sá, César Camacho, EduardoEugênio Gouvêa Vieira, Maria Alice Rezende de Carvalho, Otávio

Guilherme Cardoso Alves Velho e Walter Araújo Zin.

Jornal da FAPERJ – ano I – no 1Publicação bimestral da FAPERJ

Coordenação editorial | Renata MoraesEdição | Marcos Patricio

Redação | Marcos Patricio, Marina Lemle, Paul Jürgens, RenataMoraes e Vinicius Zepeda

Design gráfico | Bia Alves Pinto e Tiago PeregrinoRevisão | Marcelo Bessa

Mala-Direta | André SouzaDistribuição | Alfredo Ulm

Colaboraram nesta edição | Adriana Antunes e Flávia Werlang(textos) e Lewy Moraes (fotos de arquivo), Adriana Lorete e Luiz

Alan Pereira (fotografias)

Núcleo de Difusão Científica e Tecnológica

Coordenação executiva | Renata Moraes Jornalismo | Marcos Patricio, Marina Lemle, Paul Jürgens e

Vinicius ZepedaDesigner | Bia Alves Pinto e Tiago Peregrino

Webdesigner | Mirian DiasProdução | Joseph Lynch e Luzimar Valetim

Secretária executiva | Viviane Lacerda Apoio | André Souza

Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação –Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado

do Rio de Janeiro – FAPERJ Avenida Erasmo Braga, 118/6º andar – Centro – Rio de Janeiro –

CEP: 20020-000 – Tel.: 3231-2929 – Fax: 2533-4453

Gráfica | Jornal do Commercio – Tiragem | 9.000

visite nossa homepage | http://www.faperj.br

Após quase 40 anos de buscas, pesqui-sadores da Universidade Federal do Riode Janeiro (UFRJ) confirmaram as suspei-

tas de que a Região Amazônica teria sido habi-tada por dinossauros. Cerca de cem fragmentoscoletados em escavações às margens do RioItapecuru, no norte do Maranhão, levaram ospaleontólogos à descoberta do Amazonsaurusmaranhensis, um novo gênero e espécie dasuperfamília de saurópodes conhecida comoDiplodocoidea. A pesquisa é mais uma prova datradição dos cientistas do Rio de Janeiro nocampo da paleontologia (veja quadro).

Publicado na revista holandesa Cretaceous Research, emdezembro de 2003, o trabalho coloca a paleontologiabrasileira em posição de destaque na ciência mundial. Oprojeto foi conduzido pelos pesquisadores Ismar de SouzaCarvalho, do Departamento de Geologia da UFRJ; Leonardodos Santos Avilla, do Departamento de Vertebrados doMuseu Nacional/UFRJ; e Leonardo Salgado, daUniversidade Nacional de Comahue, na Argentina.

Fósseis de 110 milhões de anosOs fragmentos do Amazonsaurus foram encontrados pertode outros fósseis de répteis, moluscos e peixes, o quepossibilitou a reconstrução do ambiente pantanoso emque viveu há 110 milhões de anos.

Entre os fragmentos fossilizados encontrados noMaranhão estavam as vértebras da coluna do dinossauro,que possuía espinhos grandes e altos. Entretanto, oAmazonsaurus era pequeno para um saurópode - tinha 10metros de comprimento e pesava 10 toneladas.

Apoiado pela FAPERJ, o estudo também identificousemelhanças entre a fauna fóssil continental do Maranhão

e fósseis de mesma idade do NoroesteAfricano, o que reforça a hipótese de que aAmérica do Sul e a África faziam parte deum só continente antes da formação doOceano Atlântico.

Estrela de telejornaisOs principais jornais e emissoras de rádio etelevisão do país deram enorme destaque àdescoberta do Amazonsaurus maranhensis. Sóem janeiro, 81 reportagens sobre o assuntoforam veiculadas na mídia nacional. Eleocupou 13 páginas de jornal e quase 11minutos de tempo nos telejornais brasileiros

de maior audiência.

A repercussão na mídia fez do Amazonsaurusmaranhensis um fato nacional, a ponto de virar tema dediscurso na Câmara dos Deputados. O deputadofederal Hamilton Casara, do PSB de Rondônia, dedicouseu discurso do dia 29 de janeiro à “formidáveldescoberta”.

O artigo da revista holandesa Cretaceous Researchtambém repercutiu no meio científico internacional.Diversas publicações do ramo da paleontologiadivulgaram a descoberta e o número de citações nãopára de aumentar.

Pesquisadores da UFRJ descobrem dinossauro na Amazônia maranhenseMais uma vez, a paleontologia brasileira ganha destaque na ciência mundial

paleontologia

3jornal da faperj | nº 1 março | abril de 2004

Candidodon itapecuruense – Pesquisadores da UFRJdescobriram, em novembro de 1999, o fóssil de umcrânio de crocodilo que viveu no Brasil há 135 milhõesde anos, na mesma época dos dinossauros. A descoberta,realizada em Itapecuru – Mirim, a 120 quilômetros de SãoLuís, no Maranhão, foi anunciada em 2000 pelo professorIsmar de Souza Carvalho. O nome Candidodonitapecuruense foi uma homenagem ao professor CândidoSimões Ferreira, que iniciou a pesquisa em 1962.

Santanaraptor placidus – A equipe do Setor dePaleovertebrados do Museu Nacional da UFRJ, chefiadapelo geólogo Alexander Kellner, anunciou em 2000 adescoberta de fósseis de uma espécie de dinossauro depequeno porte. Carnívoro, o Santanaraptor placidus (foto

acima) viveu na Bacia do Araripe, no Ceará, há cerca de 110milhões de anos. O fóssil preservava vasos sangüíneos efibras musculares. Pela primeira vez o tecido mole – querecobre o esqueleto – de um dinossauro era encontradopreservado em sua estrutura tridimensional.

Marilia suchus amarali – Entre 1999 e 2001, uma equipecoordenada pelos professores Ismar de Souza Carvalho(UFRJ) e Reinaldo Bertini, da Universidade EstadualPaulista (Unesp), descobriu, na região de Marília, fósseisde crocodilos primitivos praticamente completos eintactos, e fósseis de fezes e ovos. Os crocodilos, da espécieMarilia suchus amarali, sobreviveram à grande extinção quedizimou os dinossauros no fim do período Cretáceo, há 65milhõesde anos.

Thalassodromeus sethi – Adescoberta de uma novaespécie de pterossaurofoi anunciada em julhode 2002. O Thalassodro-meus sethi, cujo nomesignifica o corredor dosmares, é um réptil voa-dor extinto, que viveu há cerca de 110 milhões de anos. Ofóssil foi coletado em 1983, na Bacia do Araripe, região doCariri, no Ceará. A espécie foi descrita pelos paleontólogosAlexander Kellner, do Setor de Paleovertebrados do MuseuNacional (UFRJ) e por Diógenes de Almeida Campos, doDepartamento Nacional de Produção Mineral (DNPM).

O Amazonsaurus era maior que um elefante e menor que outros saurópodes

Outras descobertas apoiadas pela FAPERJ

Ariel Milani

Contra a dependência externa

Se a língua utilizada no balcão das farmácias brasi-leiras é o português, nas prateleiras a realidade éoutra. Os medicamentos praticamente desconhe-

cem o idioma de Camões – o terceiro mais falado nouniverso lingüístico ocidental depois do inglês e do es-panhol. Isso ocorre porque a grande maioria dosmedicamentos comercializados no país ainda utilizaprincípios ativos – ou fármacos – importados. Paratentar reverter esse quadro, dar novo alento à produçãode medicamentos voltada para as camadas de baixarenda e diminuir a dependência externa do Brasil nosetor, o estado do Rio ganhou, no início de outubro, oInstituto Virtual dos Fármacos (IVF).

O emprego de fórmulas estrangeiras representa umcusto adicional significativo na produção demedicamentos em solo brasileiro. Mesmo no caso defármacos cujas patentes já expiraram – o que significaque suas fórmulas podem ser usadas livremente –, asituação não é diferente. A imensa maioria dassubstâncias farmoquímicas ainda é comprada noexterior. “Uma nação não é soberana se não tiver umaindústria de fármacos que fale o seu idioma”, afirma ocoordenador do IVF Eliezer J. Barreiro, chefe doLaboratório de Avaliação e Síntese de SubstânciasBioativas (LASSBio) da Universidade Federal do Rio deJaneiro (UFRJ).

Dívida socialCriado por iniciativa da FAPERJ, o IVF pretendepotencializar o conhecimento e a capacidade instaladada área de fármacos no estado do Rio. A coordenaçãodo instituto espera, ainda, criar oportunidades para osagentes envolvidos na produção e na comercializaçãode fármacos, colocando frente a frente órgãos, institutose pesquisadores da área acadêmica e empresas do setorprivado. Até meados de 2004, o IVF espera reunirinformações e propostas que permitirão traçar umpainel do estado-da-arte do fármaco no Brasil.

“Nosso objetivo é fazer um workshop com especialistasinternacionais até o início de 2005. Se não podemos, por

ora, ter fármacos 100% nacionais, vamos buscar umacooperação, mesmo que isso resulte numa produção defármacos com um certo sotaque”, diz Eliezer Barreiro.Um dos obstáculos ao desenvolvimento de fórmulas éa falta de informação e a dificuldade na obtenção e noregistro de patentes no Brasil. “Sem um InstitutoNacional da Propriedade Industrial forte, não temoscapacidade de proteção intelectual. E, sem ela, nãoteremos fármacos”, alerta.

Em workshop realizado por ocasião do lançamento doIVF, no Centro de Convenções da Federação dasIndústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), quaseuma centena dos 126 profissionais que participaramdos debates se disse disposta a colaborar com ainiciativa. “Há uma dívida social importante no Brasil,decorrente da falta de investimentos em fármacos, e oatual debate mostra que há uma preocupação genuínade nossos governantes em reverter essa situação”,comemora Eliezer Barreiro. O IVF nasceu em 3 deoutubro de 2003, dia em que a Petrobrás, a prima ricada área de química, fez 50 anos. Agora, é torcer paraque o setor de fármacos obtenha idêntico sucesso.

Instituto virtual quer impulsionar a produção de fármacos no Brasil

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jornal da faperj | nº 1 4 março | abril de 2004

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Eliezer Barreiro

Estímulo aos inovadoresFAPERJ seleciona projetos para o Programa Rio Inovação

AFAPERJ anunciou, no dia 24 demarço, o resultado da primeira fasedo edital do Programa Rio Inovação.

Foram recebidos 109 projetos e os pré-qualificados continuam a participar doprocesso de seleção, que é dividido emtrês etapas. Lançado em dezembro de2003, o Rio Inovação é uma parceria entrea FAPERJ, a Financiadora de Estudos eProjetos (Finep), a Secretaria de Estado deCiência, Tecnologia e Inovação (Secti) e oMinistério da Ciência e Tecnologia (MCT).

O objetivo do Rio Inovação é apoiar o de-senvolvimento e o aprimoramento de pro-dutos, serviços e processos de interesseempresarial, que tragam benefícios à so-

ciedade fluminense, em áreas prioritárias,como biotecnologia, saúde, energia eagronegócios, entre outras. O programa évoltado a empresas – públicas ou pri-vadas, mesmo as ligadas a incubadoras –sediadas no Rio de Janeiro. Pesquisadorese profissionais inovadores também pude-ram participar do edital, desde que asso-ciados a empresas.

A FAPERJ e a Finep são responsáveis,cada uma, por 50% dos R$ 10 milhões queestão sendo aplicados nesse edital do RioInovação, o primeiro criado por uma fun-dação de amparo à pesquisa com verba doPrograma de Apoio à Pesquisa em Em-presas (Pappe). Um outro edital, de mes-

mo valor, tem previsão de lançamento nosegundo semestre de 2004.

Nova filosofiaPara o diretor de Tecnologia da FAPERJ,professor Marcos Cavalcanti, o Rio Ino-vação traduz uma nova filosofia da Fun-dação. “Não seremos só uma instituiçãoque investe em ciência e tecnologia, mastambém uma agência que contribui paraque a pesquisa efetivamente se trans-forme em benefícios para a sociedade”,explicou Marcos Cavalcanti.

Na segunda etapa do processo seletivo, aspropostas pré-qualificadas passarão por umestudo de viabilidade técnica e comercial.

“Para diminuir a chance de erro na ava-liação, ficou decidido que a FAPERJ con-tratará a equipe para fazer os estudos deviabilidade dos projetos pré-qualificados”,explicou o professor Marcos Cavalcanti.

Na terceira e última fase, serão feitos ojulgamento e a contratação das propostasselecionadas, que, segundo o diretor deTecnologia da FAPERJ, deverão começar areceber os recursos ainda no primeirosemestre de 2004. “Os recursos relativosao exercício de 2003 já estão disponíveisna Finep para serem repassados”, expli-cou Ada Gonçalves, da Financiadora deEstudos e Projetos.

LuciaMendonça

Previato, da UFRJ,

conquista oL’Oreal-Unescopara Mulheres

na Ciência

inovação

Pesquisadora recebe prêmio internacional

Apesquisadora Lucia Mendonça Previato,professora do Instituto de Biofísica daUniversidade Federal do Rio de Janeiro

(UFRJ) e coordenadora da área de CiênciasBiológicas e Biomédicas da FAPERJ, recebeuem 8 de março – Dia Internacional da Mulher

– o Prêmio L´Oreal-Unesco paraMulheres na Ciência, no valorde US$ 100 mil. Lucia Previatofoi premiada pelo seu trabalhosobre a interação entre o Trypa-nosoma cruzi, causador da doen-ça de Chagas, e as células de seuhospedeiro mamífero. A pesqui-sa contribui para o tratamento ea prevenção do mal, que, segun-do estimativas, afeta entre 16 e18 milhões de pessoas na Amé-rica Latina, onde é endêmico.

Contemplada pelo ProgramaCientistas do Nosso Estadodesde o seu primeiro edital, em1999, Lucia Previato dedica-se àglicobiologia – o estudo dosaçúcares complexos que seunem a outras moléculas, como

as proteínas. Eles revestem o exterior dascélulas e representam um papel-chave nacomunicação celular. A cientista e sua equipedecifraram o mecanismo da interação entre oTrypanosoma cruzi e as células hospedeirashumanas. O parasita usa uma de suasproteínas para retirar um açúcar das célulashospedeiras – o ácido siálico – e transferi-lopara uma glicoproteína da sua própria su-perfície. “A elucidação desse processo podelevar ao desenvolvimento de novos quimio-terápicos capazes de inibir esse mecanismode ação e que sejam menos tóxicos para opaciente”, explica a pesquisadora.

Anualmente, cinco pesquisadoras – uma decada continente – são laureadas com oL´Oreal-Unesco, cujo objetivo é destacar eestimular a contribuição das mulheres para aciência. Este ano, a premiação destinou-se atrabalhos inovadores em ciências da vida.Lucia Mendonça Previato é a segundabrasileira a receber a distinção, criada em1998. A primeira a receber foi a geneticistaMayana Zatz, da Universidade de São Paulo(USP), em 2001, pelas suas pesquisas sobredistrofia muscular.

O trabalho da pesquisadora Lúcia Mendonça Previato contribuirápara o tratamento e prevenção da doença de Chagas.

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5jornal da faperj | nº 1 março | abril de 2004

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A memória garantida

Ex-capital do Império e da República, oRio de Janeiro reúne um largonúmero de instituições voltadas para

a preservação da memória e de bensculturais do país. Com a transferência dopoder para Brasília, a cidade deixou de serprioridade para o governo federal eperdeu a atenção que as autoridadesreservavam ao seu patrimônio arqui-tetônico, artístico e cultural. Com o obje-tivo de preencher parte do vazio deixadocom a mudança da capital, a FAPERJcriou, no fim de 2002, o Programa de Pre-servação de Acervos (APQ4). Sua propos-ta é auxiliar instituições e pesquisadoresque trabalham com acervos museológicos,bibliográficos, científicos e afins.

A preocupação da FAPERJ com a conser-vação das coleções começou, na verdade,no ano 2000, quando os recursosdestinados a esse fim foram alocados noPrograma de Editoração. Entretanto, como aumento da demanda, a fundaçãodecidiu criar uma linha de apoio especí-fica para a preservação da memória e debens culturais. “Se nada fosse feito para apreservação de acervos do Rio, teria sidouma tragédia para a cidade”, afirmaFrancisco Carlos Teixeira da Silva, pro-fessor titular de História Moderna e Con-temporânea da Universidade Federal doRio de Janeiro (UFRJ), que coordenou oprograma até outubro de 2003.

A FAPERJ já destinou a essa linha maisde R$ 650 mil, contemplando 23 projetos.

A área que mais recebeu recursos foi a deartes, seguida de ciência da informação,letras e museologia. “O APQ4 é um pro-grama emergencial, se consideramos queesse trabalho deve ser atribuição do go-verno federal”, explica Francisco Carlos.

Mapas históricosUm exemplo de sucesso do programa é oprojeto Restauração de Mapas Históricosdo Rio de Janeiro, que permitiu a recupe-ração de 11 mapas do acervo do ArquivoHistórico do Exército (Ahex) feitos entreos séculos XIX e XX. De acordo com Paulo

Dartanham Marques de Amorim, diretordo Ahex, os documentos retratam dife-rentes regiões da cidade e têm grandeimportância histórica, antropológica eurbanística. “A cartografia histórica é umaimagem virtual do antigamente. Ela temum papel importante na recuperação dopassado”, afirma Dartanham.

O programa também destinou recursospara a catalogação e a recuperação doacervo do Instituto Cultural Cravo Albin.Com sede na Urca, o instituto guarda aimpressionante coleção do pesquisador e

musicólogo Ricardo Cravo Albin dedi-cada à música popular brasileira (MPB),que reúne mais 20 mil discos de vinilraros, partituras, fitas cassetes e gra-vações demo. Foi lançado, ainda, umdicionário virtual sobre a MPB. “O di-cionário é, hoje, o maior banco de dadosde música popular da América Latina”,comemora Cravo Albin.

O Instituto Tom Jobim e o projeto Folhetosde Papel – Memória de Cordel tambémcontaram com o auxílio do Programa dePreservação. O instituto, a partir de umconvênio entre a FAPERJ e a FundaçãoCasa de Rui Barbosa, está ordenando adocumentação do autor de “Águas demarço”, além de elaborar e conservar oinventário do acervo do maestro.

Já o projeto Folhetos de Papel – Memóriade Cordel tem como tema a obra doparaibano Leandro Gomes de Barros(1865–1918), o principal integrante donúcleo do Vale do Teixeira, na Paraíba,grupo fundador do cordel brasileiro. Sob acoordenação de Ivone Ramos Maya, daUniversidade Federal Fluminense (UFF), oprojeto permitiu a digitalização de 312poemas – cerca de 110 deles raros – doartista que se encontram na FundaçãoCasa de Rui Barbosa, no Rio. “A recupe-ração desses originais nos dá acesso a umahistoriografia popular sobre os fatos da-quela época. É como uma espécie de fontedocumental do país”, diz Ivone Maya.

Programa de Preservação de Acervos auxilia museus e instituições fluminenses

Paul Jürgens

O acervo da maestro Tom Jobim está sendo inventariado e conservado com apoio da FAPERJ

acervo

jornal da faperj | nº 1 6 março | abril de 2004

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Marcos Patricio

O Rio revelado em aquarelasDepois do Centro, Mangueira e São Cristóvão também vão ganhar mapa

Quem cruza apressadamente o Passeio Pú-blico, no Centro do Rio, pode até não saber,mas o local, aberto à visitação pública em

1788, fica em uma área aterrada onde, até o séculoXVIII, existia o Boqueirão da Ajuda. Do projetooriginal, de autoria de Valentim da Fonseca e Silva,o Mestre Valetim, restam apenas o portão, o chafa-riz e duas pirâmides. Essas e outras curiosidadessobre a região estão reunidas em um catálogo quefaz parte do projeto Rio de Janeiro em Mapas,lançado pela FAPERJ em novembro de 2003.

A proposta do projeto é destacar os principais lo-gradouros e construções de interesse arquitetônico ehistórico da capital e de cidades do interior doestado. A primeira fase do projeto foi dedicada aoCentro da cidade do Rio. Um mapa, pintado emaquarela pelo artista plástico Jorge de Salles, e umcatálogo com informações sobre monumentos,construções e instituições localizados no Centroforam distribuídos pela FAPERJ a escolas, bi-bliotecas e instituições culturais do Rio de Janeiro.

O Centro do Rio foi a região escolhida para darinício ao projeto pelo fato de as suas ruas teremservido de cenário para episódios de destaque nahistória nacional, desde o Brasil Colônia até os diasde hoje, passando pelo período em que o Rio foi acapital do país, entre 1763 a 1960.

De acordo com a diretora de administração efinanças da FAPERJ, Maria Carolina Pinto Ribeiro,este ano o projeto chegará a outros bairros e

cidades fluminenses. “A proposta do Rio deJaneiro em Mapas é destacar outros locais deinteresse histórico, na capital ou no interior doestado”, explicou. Segundo Maria Carolina, opróximo mapa será dedicado à área que abrangeSão Cristóvão e Mangueira.

A tarefa de criar o primeiro mapa e as ilustraçõesdo catálogo, todas em aquarela, coube ao artistaplástico Jorge de Salles. A base para as pinturasficou a cargo do arquiteto Kleris Albernaz e deEduardo Simabuguro Albernaz. A produção doprojeto foi de Luzimar Valentim e a coordenação,de Mariana Ribeiro, aluna do Mestrado em BensCulturais e Políticas Sociais da FGV/CPDOC.

Sem a forma fria e a rigidez métrica dos mapastradicionais, o mapa dedicado ao Centro destaca,entre outras construções, as igrejas de SãoFrancisco de Paula e de Nossa Senhora da Cande-lária, que têm em seu interior o talhe do MestreValentim. O mapa valoriza, ainda, as áreas verdes.

Já o catálogo traz informações sobre a história deprédios e instituições localizados na região, alémde um serviço sobre as entidades de pesquisa,igrejas, museus, centros culturais e bibliotecas. Sãofornecidos horário de funcionamento, endereços,telefones e outros dados que auxiliarão aquelesque desejam visitar os locais.

Preciosidades do Centro

cultura

Arcos da LapaConcluído em 1750, o Aqueduto daCarioca (Arcos da Lapa, ilustraçãoa esquerda) foi a maior obra do Riode Janeiro no período colonial.Inicialmente, era utilizado paralevar água do Rio Carioca para acidade. Desde 1896, passou a serusado como viaduto pelos bondescom destino a Santa Teresa.

Igreja de Nossa Senhora da CandeláriaUma das mais belas e tradicionaisdo Centro do Rio, a Igreja daCandelária (ilustração a direita) éricamente decorada. Tem interior

em mármore e portas em bronzeesculpidas pelo artista TeixeiraLopes. Localizada na Praça Pio X, éum dos pontos de referência doCentro.

Museu de Arte SacraO museu reúne o segundo maioracervo em ouro e objetos antigos doBrasil. Ligado à Ordem de SãoFrancisco, está instalado em umdos mais antigos prédios do país,de 1619, no Largo da Carioca, n. 5.O local era considerado estratégicopor causa de sua proximidade como mar, naquela época.

7jornal da faperj | nº 1 março | abril de 2004

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Jornal da FAPERJ

Quais as metas da FAPERJ a partir de 2004?

Pedricto Rocha FilhoNossa proposta é dar continuidade aoPrograma Básico, com a concessão debolsas e auxílios para atender à de-manda espontânea,e manter os Pro-gramas Especiais,como o Cientistasdo Nosso Estado eo Jovens Talentos, eos Programas Ori-entados, que inclu-em os Projetos Temáticos e InstitutosVirtuais. Pretendemos, também, am-pliar o alcance do Programa Cientistasdo Nosso Estado. Para tanto, estamos

finalizando um edital a ser lançado embreve, oferecendo mais cem bolsas debancada. Desejamos incentivar, emconjunto com as secretarias de estado, arealização de um número crescente deeventos internacionais de caráter cien-tífico, tecnológico e cultural. Vamos

contribuir, ainda, com a Secretaria deEstado de Ciência, Tecnologia eInovação (Secti) para a implantação de

uma política de desenvolvimentotecnológico.

Jornal da FAPERJ

As metas também incluem parcerias?

Pedricto Rocha FilhoVamos trabalharpara incrementar osconvênios com oMCT e com os mu-nicípios fluminensesde modo a duplicaros recursos dispo-níveis. Também pre-tendemos ampliar os

acordos de cooperação com instituiçõesinternacionais. Estamos mantendo con-tatos com instituições do exterior e, re-

“A atual política de C&T do estado tementre suas metas a melhoria da qualidade

de vida da população”

C&T para o desenvolvimentoeconômico e social do estado

Desde janeiro deste ano, a FundaçãoCarlos Chagas Filho de Amparo àPesquisa do Estado do Rio deJaneiro tem um novo diretor-presidente. Trata-se do professorPedricto Rocha Filho, subsecretáriode Desenvolvimento Tecnológico daSecretaria de Ciência e Tecnologiano Governo Anthony Garotinho eno primeiro ano da AdministraçãoRosinha Garotinho. Na subsecre-taria, Pedricto Rocha Filho coor-denou vários projetos, entre os quaiso Plano de Desenvolvimento Tecno-lógico do Estado, que resultou nacriação do Programa Tecnologia naPequena Empresa (TPE) implanta-do pela FAPERJ.

Com o apoio da governadora RosinhaGarotinho, Pedricto pretende darnovo impulso às atividades daFundação, que este ano deverá ter amaior execução orçamentária de suahistória. Nesta entrevista, o novodiretor-presidente fala sobre asprincipais metas da FAPERJ, daparceria com o Ministério da Ciênciae Tecnologia (MCT) e da adoção deum sistema de indicadores paraavaliar o desempenho dos pro-gramas de fomento e focar a dis-tribuição de recursos.

entrevista | Pedricto Rocha Filho

jornal da faperj | nº 1 8 março | abril de 2004

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Professor Pedricto Rocha Filho, diretor-presidente da FAPERJ

centemente, recebemos as visitas derepresentantes do sistema deCiência e Tecnologia de Portugal,do National Science Foundation(EUA) e do Ministério da Ciência eTecnologia da Colômbia.

Jornal da FAPERJ

Há previsão paracriação de novosprogramas?

Pedricto Rocha FilhoNossa intenção é,assim que forpossível, fomen-tar programas queintegrem as di-versas áreas doconhecimento humano com umavisão interdisciplinar. Além disso,vamos intensificar os programasde apoio ao desenvolvimento tec-nológico, de inovação e de em-preededorismo.

Jornal da FAPERJ

A FAPERJ deverá ter este ano a maiorexecução orçamentária de sua his-tória, com a previsão de um repassede R$ 120 milhões. De que formaesses recursos serão distribuídos?

Pedricto Rocha FilhoAlém de dar continuidade aosprogramas de fomento em curso,vamos considerar as desigualda-des e especificidades regionais eatribuir especial atenção às causassociais que possam se beneficiardo trabalho desenvolvido por em-presas, órgãos e universidades emparceria com a FAPERJ. A apro-priada utilização desses recursos,norteada por critérios meritórios,permitirá grandes realizações.

Jornal da FAPERJ

Um sistema de in-dicadores poderá serutilizado para focar adistribuição dos re-cursos?

Pedricto RochaFilhoOs indicadores são instrumentospreciosos para o planejamento e oentendimento da dinâmica daciência e tecnologia. Vamos in-vestir no desenvolvimento de ín-dices de percepção que indiquem

se estamos no caminho do futuro,que meçam a real contribuição dosprogramas da FAPERJ para amelhoria da qualidade de vida.Vamos considerar aspectos so-ciais, econômicos, ambientais e aefetiva ação do poder público.

Nesse sentido, pretendemos in-tensificar nosso intercâmbio com aFundação Cide e as universidadesque já vêm desenvolvendo estudosrelacionados a esses indicadoresque avaliam as contribuições para amelhoria do bem-estar.

Jornal da FAPERJ

Qual a importância do investimento emciência e tecnologia para o estado?

Pedricto Rocha FilhoO estatuto da FAPERJ é claro quan-to aos objetivos da fundação, quedeve fomentar a pesquisa e a for-mação científica e tecnológica ne-cessárias ao desenvolvimento so-ciocultural do estado do Rio. Aatual política de C&T do estado tementre suas metas a melhoria da qua-lidade de vida da população e o au-mento da competitividade da pro-dução local de bens e serviços, fo-mentado pelo desenvolvimento tec-nológico, dentro de um contextocontemporâneo de sustentabilidade.

Jornal da FAPERJ

Qual o maior problema do setor de C&Thoje?

Pedricto Rocha FilhoO maior desafio do segmento deC&T é acompanhar o estado do

conhecimento e, ao mesmo tempo,evitar que esse conhecimentoprovoque o aumento da exclusãosocial. Atualmente, estamos vi-venciando um período de grandedesenvolvimento científico e tec-nológico, especialmente na área

espacial e naspesquisas relacio-nadas ao homem,como a clonagem.Para le lamente ,assistimos a notá-veis avanços naárea de tecnologiada informação eno desenvolvi-mento de novosmateriais. Em um

quadro dinâmico como esse, édifícil se manter na fronteira doconhecimento em todas as áreas, oque demanda cada vez mais in-vestimentos. Esse conhecimentocientífico e tecnológico tem de sercompreendido dentro de um ce-nário de desenvolvimento sus-tentável, que considere aspectosambientais e sociais, como a ge-ração e a distribuição de renda.

Jornal da FAPERJ

Qual a importância de um programade desenvolvimento tecnológico paraa sociedade fluminense?

Pedricto Rocha FilhoUm programa de desenvolvimentotecnológico deve ser uma estratégiado governo do estado para a im-plantação de um conjunto de açõesque têm por objetivo a transfor-mação da sociedade do estado emuma sociedade capaz de gerar edistribuir riqueza por meio dainovação tecnológica. A nossa pro-

posta é incorpo-rar novas tecnolo-gias ao setor pro-dutivo e, dessaforma, alavancara economia, o quedeve proporcio-nar transforma-

ções nos métodos de produção,gerando produtos de alta demandamundial. Isso é de extrema impor-tância, sobretudo se conside-rarmos que a defasagem tecno-lógica é um dos fatores que con-tribuem para o déficit da balançacomercial.

Natural de Cuiabá, Mato Grosso,

Pedricto Rocha Filho, 53 anos, é

mestre em Mecânica dos Solos e

doutor em Geotécnica pelo

Imperial College da

Universidade de Londres. É

professor visitante da

Universidade de Tóquio (Japão),

Universidade de Trondhein

(Noruega), da Universidade de

Alberta (Canadá) e do Building

Research Station (Reino Unido).

Foi subsecretário de

Desenvolvimento Tecnológico da

Secretaria de Ciência e

Tecnologia no governo Anthony

Garotinho e no primeiro ano da

administração Rosinha

Garotinho.

Pedricto Rocha Filho foi um dos

principais integrantes da

comissão, coordenada por Darcy

Ribeiro, que implantou a

Universidade Estadual do Norte

Fluminense (Uenf), em Campos,

em 1993. Professor e ex-diretor do

Departamento de Engenharia

Civil da PUC-Rio, é pesquisador

do Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (CNPq) e coordenou

inúmeros convênios com

instituições nacionais e

internacionais. Com dezenas de

trabalhos técnico-científicos

publicados em revistas e anais de

congressos, orientou mais de 30

dissertações de mestrado e teses

de doutorado.

“Assim que for possível, vamosfomentar programas que integrem

as diversas áreas do conhecimento”

Perfil

9jornal da faperj | nº 1 março | abril de 2004

“O maior desafio do setor de C&T éacompanhar o estado do

conhecimento e, ao mesmo tempo,evitar com que ele provoque oaumento da exclusão social”

Ahistória gravada no fundo do mar não apenas revelao passado do planeta como também traz dadoscruciais para o nosso futuro ambiental e econômico.

Exemplo disso são os nanofósseis calcários – secreções dealgas unicelulares que medem de 0,25 a 50 microns –capazes de informar, entre outros itens, o potencialpetrolífero de uma bacia.

De acordo com Maria Dolores Wanderley, coordenadorado Grupo de Estudos dos Nanofósseis Calcários doDepartamento de Geologia da Universidade Federal doRio de Janeiro (UFRJ), esses vestígios são ferramentafundamental no estudo de campo sobre petróleo. Elesajudam a estimar o potencial petrolífero de uma baciasedimentar, o local e a profundidade de uma perfuração,a extensão e arquitetura da bacia e seu históricosedimentar.

“A pesquisa de nanofósseis é estratégica para a indústriade hidrocarbonetos do país, sobretudo levando em contaque o aluguel de uma sonda para a verificação daprofundidade do petróleo custa cerca de US$ 100mil/dia”, explica Maria Dolores.

A Petrobras foi pioneira no estudo dos nanofósseis nadécada de 1970. Hoje, o grupo de estudos da UFRJ, criadoem 2002 com apoio da FAPERJ, analisa amostras do

período cretáceo aos dias atuais colhidas no Rio Grandedo Norte, Ceará, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Platô deSão Paulo.

A grande maioria dos nanofósseis calcários é formadapelos cocólitos, que são placas da carapaça de algasunicelulares chamadas cocolitoforídeos. Cada algacontém de 10 a 150 cocólitos, unidos por substância or-gânica que forma a cocosfera. Essa camada protege a algada água do mar. Após a sua morte, a cocosfera geralmentese desintegra deposistando os cocólitos no fundooceânico. Os cocolitoforídeos, presentes em todos osoceanos, são fundamentais para o ambiente marinho epara o ecossistema terrestre, porque produzem oxigêniopara a atmosfera e estão no início da cadeia alimentar. Omapeamento de diferentes espécies revela climas antigose a direção de antigas correntes.

“O aspecto mais importante da pesquisa é a segurança eprecisão em datar e correlacionar os estratos rochosos, oque facilita a exploração e produção do óleo”, explicaMaria Dolores. Segundo ela, o estudo nessa área, noBrasil, tem franca aplicação.

Imagem de uma cocosfera inteira

Criado em 2002, com apoio da FAPERJ, o InstitutoVirtual de Paleontologia (IVP) reúne instituiçõesdo Rio de Janeiro que se dedicam a essa área do

conhecimento científico. O IVP atua em três eixos:incentivo à atividade econômica, políticas públicas edivulgação científica.

Na última área, destaca-se o projeto “Tirinhas dePaleontologia”, uma parceria do IVP com a “Oficinade Educação Através de Histórias em Quadrinhos(EDUHQ)”, projeto coordenado pelo professorFrancisco Caruso, da Universidade do Estado do Riode Janeiro (Uerj). Essa oficina já existe há dois anos,mas inicialmente era voltada para outras áreas doensino de ciências nos colégios públicos.

Nessa parceria com o projeto coordenado peloprofessor Caruso, o instituto realizará palestras emescolas públicas, que selecionarão alunos paradesenvolver pequenas histórias em quadrinhos queincentivem o ensino da paleontologia.

O site do IVP já se encontra disponível. Nele, além dastirinhas de paleontologia, há informações gerais sobreo instituto. O endereço eletrônico do IVP éhttp://www.ivp-rj.geologia.ufrj.br.

Paleontologia em quadrinhosProjetoincentiva ointeressepela ciênciapor meio dehistórias

geologia

educação

jornal da faperj | nº 1 10 março | abril de 2004

Nanofósseis calcários fornecempistas sobre presença de petróleo

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IVP

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Marina Lemle

Reunindo pesquisadores de diferentes instituiçõescientíficas, a Rede de Proteômica do Rio de Janeiro jáestá apresentando os resultados iniciais de suas

pesquisas em diversos eventos nacionais e internacionais. Oprimeiro artigo da rede em revista indexada será publicadona edição de abril ou maio da norte-americana Proteomics.Criada em novembro de 2001 pela FAPERJ, a Rede deProteômica foi a primeira desse tipo a ser lançada no Brasil.

O artigo aprovado em novembro pela Proteomics é ummapa proteômico da Vibrio cholera, a bactéria causadora dacólera. Nele, são mostradas cerca de 500 diferentes bandasde proteínas das quais foram identificados por

espectrometria de massas cerca de80 tipos diferentes. “A propostadesse grupo de pesquisa é iden-tificar o conjunto de proteínasexpressas pela bactéria, em par-ticular aquelas ligadas à viru-lência, ou seja, as que fazem comque ela seja agressiva ao homem”,explica o professor Paulo MascarelloBisch, coordenador da Rede deProteômica. As proteínas são res-ponsáveis por toda a ação biológicadas células e a proteômica é oestudo do conjunto das proteínas.

Além do vibrião da cólera, os cientistas da rede também estãose dedicando a outros três objetos de pesquisa: toxinas animais(veneno de cobras), a ação do vírus da dengue em célulashepáticas humanas e o estudo da Gluconacetobacterdiazotrophicus, bactéria responsável pela fixação de nitrogênioem culturas como a da cana-de-açúcar. No último caso, oestudo está em estágio adiantado e deverá ter seus resultadosdivulgados em conjunto com a fase final do Projeto Genomado Rio de Janeiro (RioGene), dedicado ao estudo da mesmabactéria, no primeiro semestre de 2004.

As informações geradas nesses quatro projetos de estudopoderão servir de subsídio para diferentes temas de pesquisa,como o aumento da produtividade agrícola, a redução do usode fertilizantes nitrogenados e o desenvolvimento de vacinase medicamentos contra a dengue, a cólera e os malesrelacionados à coagulação sangüínea.

A Rede de Proteômica do Rio de Janeiro é formada porpesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ); Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf);Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz); PontifíciaUniversidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio);Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e da EmpresaBrasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Desvendando as proteínasRede de Proteômica do Rio de Janeiro apresenta os primeiros resultados

política de C&T

11jornal da faperj | nº 1 março | abril de 2004

Nos dias 1° e 2 de abril, o Rio de Janeiro se transformana capital da ciência e tecnologia, com a reuniãonacional do Fórum dos Secretários de C&T e do

Fórum das Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs). Oencontro acontece no Hotel Novo Mundo, no bairro doFlamengo, com a presença de cerca de 40 dirigentes dossistemas estaduais de C&T. O ministro Eduardo Camposconfirmou presença no segundo dia do evento. Naocasião, será eleito e empossado o novo presidente doFórum de Secretários de C&T.

"Espero que a reunião do Fórum Nacional de Secretáriospara Assuntos de C&T aqui no Rio de Janeiro possa servirpara uma reflexão sobre as atuações do órgão nos últimosanos, sobretudo no ano de 2003, quando foram realizadas

diversas parcerias concretas com o Ministério de Ciência eTecnologia", declarou o secretário de Ciência, Tecnologia eInovação do Rio de Janeiro, Wanderley de Souza, que seráo anfitrião do evento, juntamente com o diretor-presidenteda FAPERJ, Pedricto Rocha Filho.

O Fórum Nacional de Secretários Estaduais para Assuntos deC&T foi criado em 1987 com o objetivo de definir um posicio-namento de interesse comum dos estados. A atual presidentedo órgão é Denise Carvalho, secretária de C&T de Goiás.

Em audiência concedida a Denise Carvalho dia 16 demarço, o ministro afirmou que conta com o Fórum comoparceiro estratégico e que pretende dar continuidade àpolítica de contrapartidas nas parcerias com os estados,

levando-se em consideração aquilo que seja prioritário emcada unidade da federação.

O ministro solicitou, ainda, que durante o Fórum lhe sejaapresentada uma proposta detalhando os critérios para aexecução das contrapartidas nas parcerias do MCT com osestados. A meta, disse Campos, é estabelecer uma agendade unidade e integração com os estados, com a avaliaçãoe aperfeiçoamento das parcerias.

"Esta participação do ministro abre perspectivas defazermos um trabalho mais cotidiano com o MCT", disseDenise Carvalho, ressaltando que essa integração de ativi-dades contribuirá para a superação das diferenças re-gionais existentes no Brasil.

Rio sedia Fórum Nacional de C&T

O professor PauloBisch, coordenadorda Rede deProteômica, nolaboratório daUniversidadeFederal do Rio deJaneiro

biologia

Secretários de estado e dirigentes das FAPs discutem políticas para o setor

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Ser contra ou a favor de transgênicos équestão ideológica. Tão ideológica quetodos repudiam essa hipótese, preferindo

acusar de ideológico o argumento oponente. Opróprio presidente Lula, ator ideológico na cenabrasileira, diz que não vai tomar decisõesideológicas e que, se vai liberar o plantio, éapenas por "cientificamente" ter sido convencido.

O milho que recebe gene do Bacillus thuringiensispassa a produzir a toxina desse microorganismoe mata insetos; o salmão recebe gene de porco, e,em 12 meses, seu criador já o vende com otamanho de um salmão de cinco anos; aEscherichia coli transgênica se transforma numausina fabricante de quimosina, a enzima docoalho; e a soja RR, transgênica, se tornaresistente ao herbicida Round up que, despejadona lavoura, mata as ervas daninhas, semdanificar a soja. Muitos são os transgênicos, cadaum com suas finalidades, especificidades,vantagens e riscos. Aliás, é com uma bactériatransgênica que se fabrica a insulina tãoimportante para os diabéticos.

Os transgênicos fazem mal à saúde? Trazem riscoao meio ambiente? Tais questões necessitamanálises caso a caso, à luz dos experimentos. Masnão parece existir uma prova científica, ou sequeruma palavra mágica, capaz de reverter a posiçãode alguém. Nosso presidente é uma exceção, masnão vale como exemplo, pois sua opinião mudoutambém em outras questões, como o FundoMonetário Internacional (FMI), a Previdência, osalário dos servidores, os juros etc.

Comer ou não transgênicos é sim uma decisãoideológica. Se fosse apenas científica, estaríamoscomendo rações extrusadas, mastigando, comoos cães, caroços nutricionalmente balanceados,com proteínas vegetais maximizadas em seuvalor biológico, com aminoácidos, vitaminas e

minerais de origem farmacêutica, além deflavorizantes e corantes para diversificar a cor, ocheiro e a textura, quebrando, assim, amonotonia dos tarugos padronizados.

Se a opção alimentar fosse apenas científica, enada contivesse de ideológico, Bin Laden estariatomando Diet Coke nas cavernas, médicos nãoconsumiriam uísque e chiclete anticárie,nutricionistas são seriam obesos. Se o Ministérioda Saúde fosse minimamente científico, aAgência Nacional de Vigilância Sanitária(Anvisa) não permitiria bebidas "ricas emenergia, com zero caloria".

Não se pode ser pró ou contra a transgenia deforma generalizada. Transgênicos são umconceito e a biobalística uma invenção da mentehumana. As tecnologias para transferir genes, deum organismo a outro, até podem ser vistas peloestrito viés "geneticista". Mas transgênicos sãomais que isso e incorporam importantescomponentes de ordem simbólica, que remetemao imaginário social.

Quanto mais mentiras são descobertas, mais opúblico fica receoso e refratário. Se algo contra osorganismos geneticamente modificados (OGMs)pode ser feito, é continuar a impor decisões semcomprovações científicas suficientes, a criarmedidas provisórias violando a Constituição econtrariando decisões judiciais, a ocultar artigosliberando transgênicos em medidas provisóriastratando de políticas de habitação, com apresidência da República contrabandeando leiscomo antes outros contrabandearam sementes. Afavor dos transgênicos, o melhor é falar a verdade.

*Engenheiro de alimentos e professor da Facul-dade de Farmácia da Universidade Federal doRio de Janeiro (UFRJ) - www.ufrj.br/consumo.

É ideologiaou ciência?

Luiz Eduardo R. de Carvalho*

Uma questãopolêmica

opinião | transgênicos

Consumir ou não orga-nismos geneticamente mo-dificados? A questão con-tinua a dividir políticos,pesquisadores e a socie-dade em geral. Em Opi-nião, o Jornal da FAPERJtraz dois artigos sobretransgênicos. Um, a favor,assinado pelo engenheirode alimentos e professor daFaculdade de Farmácia daUniversidade Federal doRio de Janeiro (UFRJ), LuizEduardo de Carvalho; e ooutro, contrário, de autoriados professores CarlosRuiz-Miranda e CarlosRezende, do Laboratório deCiências Ambientais daUniversidade Estadual doNorte Fluminense (Uenf).

jornal da faperj | nº 1 12 março | abril de 2004

Atecnologia de produzir organismos trans-gênicos promete resolver vários problemasde produção agrícola, o fim dos agrotóxicos

e o início da produção eficiente de substânciascomo a insulina. Tanto os cientistas como opúblico em geral estão à expectativa dessa novatecnologia que promete um mundo melhor. Masa experiência nos ensina que temos de serobjetivos ao analisar os benefícios e custos deuma proposta dessa magnitude. Neste texto,levantaremos algumas bandeiras vermelhas,para alertar que importantes questões estãosendo ignoradas.

As críticas aos transgênicos são de ordem social,econômica, ambiental e da saúde. Nem todasessas críticas são aplicáveis a todos os usos detransgênicos. Os problemas sociais têm relaçãocom a dependência em cash crops (cultivos de altoretorno econômico) e a distribuição dos lucros einvestimentos. O uso da soja transgênica écriticado porque gera uma forte dependênciaeconômica para o agricultor. Nesse casoespecífico, temos uma firma multinacional quefaz no Brasil investimentos moderados emlaboratórios de pesquisa em universidades ou naEmpresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária(Embrapa) – o famoso “R & D” –, mas receberálucros milionários dos royalties, pois são donosda patente. Não é difícil imaginar outros arranjosnas relações entre produtores, governo e asfirmas que atendam a questões como: que tipo deresguardo existe para a propriedade intelectualdos pesquisadores brasileiros em instituiçõespúblicas? Como serão compartilhadas aspatentes e quanto dos royalties irão para asuniversidades? Essas são questões importantespara o futuro das universidades públicas.

As questões ambientais para serem resolvidasestão ligadas à perda de biodiversidade. A

euforia causada pela promessa de uma novaagricultura lucrativa tem levado ao desmata-mento de grandes áreas de cerrado e do panta-nal. O processo histórico do cultivo do cafétambém é um exemplo. Hoje, o café não possuigrandes estímulos econômicos, mas florestasforam devastadas, especialmente a MataAtlântica.

As outras duas ameaças à biodiversidade sãomais sutis. A resistência dos transgênicos aosagentes de controle de plantações pode levar auma explosão ecológica e de uma subseqüenteinvasão de áreas não reservadas para aagricultura. Esses transgênicos poderiam cruzarcom congêneres causando mudanças naestrutura de comunidades de plantas e animais.Esse problema parece ser contornado pelo uso desementes modificadas para formar plantas nãoreprodutoras. Mas essa é a raiz do problema dedependência. Nem todas as variedades detransgênicos resultam em adultos nãoreprodutores. Um outro problema potencialacontece quando o transgênico repele uma pragaanimal. A hipótese de que a praga desapareceprecisa ser examinada, pois tem a mesma pro-babilidade de a praga procurar um outro alvo. Ese o novo alvo é uma ou mais espécies nativas?Qual seria o efeito na biodiversidade dessamudança de nicho ecológico da praga? Essasquestões ambientais não vêm sendo estudadas.

Uma última série de preocupações relaciona-secom os possíveis efeitos nocivos à saúdehumana. No caso de uma planta transgênicaproduzir uma toxina para eliminar uma praga,quais poderiam ser os efeitos cumulativos àsaúde humana de consumir alimentos com essatoxina? Essa questão é difícil de ser abordada,pois não se presta às pesquisas tradicionaisbaseadas num modelo de toxicidade. Então, o

modelo de pesquisa precisa mudar e consideraroutras variáveis.

Os proponentes dessa tecnologia ainda não têmmostrado que esses problemas assinalados nãoexistem ou estão sendo abordados paralelamentecom a mesma intensidade que o aperfeiçoamentodas técnicas. O que agrava mais essas questões éque nenhuma discussão tem sido realmentecolocada na mídia para que a opinião públicapossa estar mais informada sobre as implicaçõesdiante dessas tomadas de decisão. O otimismoque acompanha o desenvolvimento de novastécnicas não deve deixar de lado a cautela e arelação custo/benefício. Uma vez que novastecnologias são instaladas, a sociedade tem dearcar com os custos e os problemas decorrentesda implementação. Os problemas criados pornovas tecnologias nem sempre são resolvidos porrefinamentos ou por outras novas tecnologias.Vejamos a energia nuclear com seus dejetosradioativos e o espectro na guerra nuclear.Lembremos da revolução verde, quando osagrotóxicos representaram a redenção daagricultura mundial, até mesmo com a promessade acabar com a fome. Hoje, temos clareza dosproblemas ambientais e dos riscos à saúdehumana provocados pela utilização, muitasvezes inadequada, de fertilizantes e pesticidas. Ea fome persiste. Por essas razões, é ainda muitocedo para liberar o uso indiscriminado detransgênicos na agricultura.

*Pesquisadores do Laboratório de CiênciasAmbientais da Universidade Estadual do NorteFluminense (Uenf)

Passos cautelososante a nova panacéia

Carlos R. Ruiz-Miranda e Carlos Eduardo de Rezende*

13jornal da faperj | nº 1 março | abril de 2004

opinião | transgênicos

Para pesquisadores são sempre bem-vindas asobras de referência como o livro Pensando asfavelas do Rio de Janeiro – 1906–2000: uma bi-

bliografia analítica, lançado com apoio da FAPERJ.Elaborado pelas sociólogas Licia do Prado Valladares eLídia Medeiros, do Urbandata-Brasil, o livro é resultado

de quatro anos de coletade dados e apresentaamplo panorama sobre oque foi estudado, quemestudou e quais favelascariocas foram estu-dadas entre os anos de1906 e 2000. São 668verbetes que resumem oconteúdo de teses, ar-tigos, depoimentos, dis-sertações, reportagens,relatórios, catálogos eoutros tipos de docu-

mentos produzidos em áreas variadas em diversosâmbitos.

O levantamento partiu das 394 referências do acervoque existiam no próprio Urbandata-Brasil no início dapesquisa, em 1997. O número quase dobrou depois daconsulta a 46 bibliotecas, pelo menos 14 bases de dadosna Internet, catálogos diversos e outras fontes. A formacomo o material foi organizado permite ao leitor umavisão geral e sintética da memória de pesquisa sobre otema das favelas. “O trabalho partiu de nossaimpressão de que faltava algo semelhante para auxiliaras pesquisas sobre o assunto”, relembra LídiaMedeiros. “Já temos cem novas referências. Queremosdisponibilizar esses dados na Internet e lançar umsegundo volume, atualizado.”

Quatro índices orientam a consulta: autores, refe-rências espaciais, assuntos e disciplinas. A lista das bi-bliotecas consultadas remete aos documentos originais.Os quatro índices revelam quem pesquisou o quê,quando e onde; indicam quais disciplinas abordam fa-velas e suas populações; apontam quais temas são tra-tados como prioritários pelos autores (429 brasileiros eestrangeiros). Como bem diz o autor do texto da“orelha”, o jornalista Marcos Sá Correa, o livro é umaprova de que é possível pôr ordem nas favelas cariocas.

Colocando asfavelas emordemBibliografia reúne estudossobre as favelas do Rio noséculo 20C

riar alternativas para incluirsocialmente portadores dedeficiência mental. Essa é a

proposta do programa A Ciência ea Exceção, iniciado em 1996 pelaAcademia Brasileira de Ciências(ABC), por intermédio do projetoIntegrando a Exceção. O projeto ébaseado no conceito de residênciaassistida, ou seja, um local pla-nejado de modo a permitir queportadores de necessidades es-peciais vivam o seu cotidiano sobacompanhamento de profissio-nais. Lá, realizam tarefas quedificilmente poderiam desempe-nhar sem a atenção constante depessoal especializado.

Até o momento, o projeto prestaassistência técnica a moradias assis-tidas em Niterói e em Nova Fri-burgo. Na primeira, vivem quatropessoas, e, na outra, nove. Os mo-radores, que têm idades entre 25 e58 anos, fazem tarefas básicas,como a higiene pessoal, arrumaçãoe a limpeza da casa, jardinagem epequenas atividades de manu-tenção. Tudo sob a orientação decuidadores (acompanhantes), quegeralmente são pessoas da comu-nidade treinadas e supervisio-nadas pelos participantes do pro-jeto Integrando a Exceção. Alémdisso, os residentes realizam di-versas atividades fora da moradiaque incluem a prática de esportes,a dança e ações terapêuticas.

O modelo de residência assistidapode ser estendido a idosos edeficientes físicos, pois os conceitose os métodos operacionais têmsemelhanças. “O padrão dasmoradias assistidas para pessoasportadoras de deficiência mental étotalmente aplicável a outrosgrupos. A idéia de morar comcuidado serve para as maisvariadas pessoas”, explica oneurocientista Carlos Eduardo da

Rocha Miranda, vice-presidente daABC e presidente do Centro deApoio a Moradias Assistidas(CAM).

Para manter o Integrando a Exceção,a ABC conta com o apoio daFAPERJ. Os profissionais que atuamno projeto são pagos por meio debolsas de apoio técnico. “A par-ticipação da FAPERJ é fundamentalpara a permanência das pessoasligadas ao projeto”, explica o dr.Paulo Rodrigues, coordenador deprojetos e professor da Univer-sidade Federal Fluminense (UFF).

Com o apoio da Fundação Vitae, aABC reestruturou o site do pro-jeto, que pode ser acessado em<www.integrando.org.br>. Em vir-tude da natureza multidisciplinardo projeto, o centro de apoio dá àsresidências assessoria administra-tiva, financeira e jurídica. Além dosuporte científico, o Integrando aExceção se dispõe a assessorar paisque desejam criar novas moradiasque utilizem esse conceito.

A exceção integrada Academia Brasileira de Ciências usa o conceito deresidências assistidas para promover a inclusão deportadores de deficiências mentais

inclusão resenha

jornal da faperj | nº 1 14 março | abril de 2004

Os moradores realizam atividades assistidas

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Luminol: uma luz contra o crime

Pesquisadores do Laboratório de Síntese e Análise de ProdutosEstratégicos (Lasape), do Instituto de Química da UniversidadeFederal do Rio de Janeiro (UFRJ), desenvolveram uma nova

abordagem de síntese e formulação para o reagente químico luminol. Asubstância é utilizada em investigações policiais para detectar vestígios desangue. A vantagem do produto do Lasape é o seu valor, que pode custarde três a cinco vezes menos que o similar importado, cujo preço está emtorno de R$ 3 mil.

O luminol produz uma reação de quimioluminescência – semelhante àproduzida pelos vaga-lumes – sem necessitar da luz ultravioleta paracaracterizar as manchas de sangue em locais sob suspeita de crime. Asensibilidade química do reagente é fantástica: a substância consegueidentificar manchas de sangue até a proporção de 1 em 1 bilhão, mesmo emlocais extremamente lisos – como azulejos, pisos cerâmicos e madeira – eque já tenham sido exaustivamente lavados.

“A eficácia do produto é tão grande que é possível detectar o sanguemesmo após seis anos da ocorrência do crime. Outra vantagem é que areação química produzida pelo produto não afeta a cadeia de DNA,possibilitando, assim, o reconhecimento dos criminosos ou das vítimas”,afirma Cláudio Lopes, professor do Departamento de Química Analíticada UFRJ e coordenador da equipe que conta com o apoio da FAPERJ.

O kit de luminol desenvolvido no Lasape teve a sua eficiência testada nasinvestigações da morte do comerciante chinês Chan Kim Chang, agredidono presídio Ary Franco. “Os resultados foram facilmente visualizadosatravés do fenômeno da quimioluminescência, já conhecido através detestes anteriormente realizados utilizando reagentes importados. Osresultados desejados foram obtidos satisfatoriamente”, explica o perito

criminal Marcio Coelho, do Instituto de Criminalística Carlos Éboli.Posteriormente, o reagente também foi utilizado na investigação doassassinato do executivo da Shell, Zera Todd Staheli, e da mulher dele,Michelle, no fim de novembro, na Barra da Tijuca.

A equipe que desenvolveu o kit foi integrada pelos professores CláudioCerqueira Lopes, Jari Nóbrega Cardoso e Rosângela Sabbatini CapellaLopes; a pós-doutoranda Jaqueline Alves da Silva, bolsista da FAPERJ; eLetícia Gomes Ferreira, aluna do curso de Química da UFRJ e bolsista deiniciação científica, que realizou em bancada todas as etapas da preparaçãoda nova formulação.

Fórmula desenvolvida na UFRJ reduz o custo de reagente usado para detectar sangue

Daqui a alguns anos, a indústria brasileira deferramentas e instrumentos diamantados de-verá ganhar valioso auxílio graças a estudos

desenvolvidos na Universidade Estadual do NorteFluminense Darcy Ribeiro (Uenf). Pesquisadores doSetor de Materiais Superduros do Laboratório deMateriais Avançados (Lamav) desenvolveram tecno-logia experimental para a síntese de pó de diamante.O produto é sintetizado a partir da mistura de pós degrafite e de uma ligasolvente, ambos nacionais. Ofilão é promissor e significativo para a balança co-mercial: o Brasil gasta anualmente cerca de US$ 20,4milhões importando ferramentas diamantadas.

A equipe, coordenada pelo pesquisadorGuerold Bobrovnitchii, registrou o pedido depatente para a construção de um dispositivoresistente à alta pressão, que é utilizado para asíntese e sinterização do pó de diamante. Osestudos também deram origem a 70 trabalhoscientíficos e a 16 publicações em revistasinternacionais e nacionais. A FAPERJ vem apoiandoo projeto, que já recebeu cerca de R$ 250 mil.

Riqueza em póEquipe da Uenf sintetiza pó de diamante; material é empregadona fabricação de ferramentas variáveis de corte

química

novos materiais

Letícia Gomes Ferreira realiza uma das etapas de produção do luminol

15jornal da faperj | nº 1 março | abril de 2004

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Cidadania coreografadaCompanhiaDeAnima BalletContemporâneoabre caminhos parajovens de áreascarentes

Conhecer o Programa Social DeAnimaequivale a testemunhar que a artepode, de fato, salvar vidas. Vale

perguntar qual seria o destino, por exemplo,do adolescente Maximiliam Oliveira daSilva se não fossem as aulas de dança,teatro, inglês e informática que recebenoestúdio da companhia DeAnima BalletContemporâneo. Aos 15 anos, morador doComplexo da Maré (grupo de favelas naZona Norte do Rio de Janeiro), Maximiliamteria grande chance de virar soldado dotráfico. “Antes eu só ficava na rua. Agoraaprendo um monte de coisas”, confirma orapaz.

Assim como Maximilian, outros 80 garotos egarotas tiveram suas vidas reorientadas apartir do projeto, idealizado por doisartistas da dança, o americano RichardCragun e o carioca Roberto de Oliveira.“Queremos mostrar caminhos de vida paraeles. Nem todos têm o talento para setornarem bailarinos, mas aqui conhecemalternativas. Podem se tornar coreógrafos,iluminadores, professores ou seguir outroscaminhos, como a informática”, explicaRichard Cragun, diretor artístico doDeAnima e também diretor do corpo debaile do Theatro Municipal do Rio deJaneiro.

Segundo Cragun, o sonho compartilhadocom Oliveira de terem a própria companhiade dança incluiu, desde o início, o programasocial. O sonho se tornou real em 2001 e,hoje, é desenvolvido em colaboração com aFundação Darcy Vargas/Casa do PequenoJornaleiro e com a Cia. Étnica de Dança eTeatro. Um dos aspectos que fortalecem aligação da garotada com o DeAnima é aincorporação de passos de street dance nodia-a-dia das aulas e ensaios.

A continuidade do projeto é garantida comapoio da FAPERJ, entre outras parcerias. “Odesenvolvimento da ciência também incluio desenvolvimento das manifestaçõesculturais e artísticas. Essa iniciativa estáaliada à intenção do Governo em popu-larizar a ciência e a cultura”, destaca osecretário de estado de Ciência, Tecnologia eInovação, Wanderley de Souza. Por isso,afirma ele, cabe a participação da Secretariade Estado de Ciência, Tecnologia e Inovaçãoe da FAPERJ em projetos que utilizam novasmetodologias para o ensino das artes, comoo desenvolvido pela companhia DeAnima.

Renata Moraes

1- Cena do espetáculo Anunciação 2- Despertarfoi coreografado por Roberto de Oliveira 3- Grupo DeAnima reunido 4- Richard Cragun eRoberto de Oliveira 5- Espetáculo Cinderela

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jornal da faperj | nº 1 16 março | abril de 2004

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